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Texto ba se

Filosofia e
ética

Roberto Bazanini
Equipe técnica editorial

Gestão da EAD: Prof. Dr. Elias Estevão Goulart

Professor conteudista: Roberto Bazanini

Revisão: Karen Francis Pellomo Ringis

Projeto gráfico e capa: Renata Kuba, Luana Santos do Nascimento,

Juliana Pereira Alves e Wallace Campos de Siqueira

Diagramação: Luana Santos do Nascimento

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Filosofia e ética

Roberto Bazanini
Evolução das ideias sociais

Introdução .................................................................. 76
Pensadores .................................................................. 77
Maquiavel (1469-1527) ...................................................................77
René Descartes (1596-1650) ...........................................................82
John Locke (1632-1704) .................................................................84
Adam Smith (1723-1790) ................................................................87
Charles Darwin (1809-1882) ...........................................................90
Karl Marx (1818-1883) ....................................................................93
Augusto Comte (1798-1857) ...........................................................97
Primeiros anos do século XX ................................. 98
Visão Filosófica do Modelo Taylorista..............................................98
O fim do capitalismo?.....................................................................101
Duas Ideias Sociais predominantes sobre o Trabalho ....................102
Aprofundamentos dos Estudos – Filosofia e Metáforas .................103
Referências................................................................. 107
Filosofia e ética
Unidade 3

Introdução

A filosofia para ser efetiva utiliza a análise (decompor), a síntese


(união) e a evolução (transformação) ocorridas no pensamento hu-
mano. Essa transformação foi magnificamente descrita pelo pensa-
dor Heráclito de Éfeso.

Texto 10 – As Águas do Rio


Não entramos duas vezes no mesmo rio, não apenas porque as águas sempre são
outras, mas porque estamos constantemente mudando.

Como pode ser interpretada em nossa contemporaneidade essa


afirmação? O efeito-neo, isto é, o pensamento de heráclito atualizado
para o tempo presente, por exemplo, não se pode viver a mesma reali-
dade de nossos pais, como exposto no texto.

Texto 11 – A estória que nossos pais não contaram


Algum dia, num futuro não muito distante, um historiador escreverá um relato inte-
ressante. Durante 200 anos – entre 1850 e 2050 existiu um fenômeno denominado
“mercado de trabalho”. Uma pessoa se associava a uma empresa, em uma condição
formal de trabalho conhecida como vínculo empregatício. Em troca do aluguel mensal
de seu tempo e de seu talento, essa pessoa recebia várias compensações. A principal
delas era um pagamento fixo. Mas havia muito mais: férias anuais, assistência médica,
um salário extra por ano, aposentadoria, cesta básica, vale-transporte, vale-refeição.
Anteriormente a isso, existiram os camponeses que plantavam para o proprietário das
terras e ficavam com uma parte muito pequena de parte da colheita, para seu próprio
sustento. Existiram soldados, que recebiam um soldo e eram autorizados a saquear as
cidades conquistadas para melhorar seu orçamento.Foi com o surgimento do mercado de
trabalho que transferiu a maior parte das populações do campo para a cidade. A atração
estava nos benefícios de longo prazo, inexistentes nas roças, e na possibilidade de uma
carreira profissional. Esse fenômeno atingiu seu auge no período entre 1940 e 1990. A partir
daí, a curva começou a se inverter.

76
Evolução das ideias socias
Unidade 3

A possibilidade de um bom emprego em uma boa empresa passou a ficar mais difícil. E
a quantidade de autônomos começou, proporcionalmente, a aumentar.
Mas os jovens que entraram no mercado de trabalho a partir de 1990 não sabiam que
estavam no ponto de inflexão da história. Suas referências eram aquelas que seus pais
lhe transmitiram: estude, arranje um emprego, e você poderá desfrutar das delícias da
classe média trabalhadora pelo resto de sua vida.

Pensadores

As ideias governam o mundo. Alguns pensadores do passado estão


presentes em todos os campos da atividade humana, orientando, edu-
cando, sugerindo diferentes visões de mundo. Pelo efeito-neo, o pen-
samento proposto há séculos, continua presente em nosso cotidiano.
Dentre esses pensadores que contribuíram decisivamente para a evo-
lução das ideias sociais, pode-se destacar Nicolau Maquiavel, Renè
Descartes; John Locke,

Maquiavel (1469-1527)

Nicolau Maquiavel secularizou a filosofia política e separou o exer-


cício do poder da moral cristã. Diplomata e administrador expe-
riente, cético e realista, defende a constituição de um estado forte
e aconselha o governante a preocupar-se apenas em conservar a
própria vida e o estado, pois na política o que vale é o resultado. O Você sabia ?
príncipe deve buscar o sucesso sem se preocupar com os meios. Maquiavel marcou o rompi-
Nicolau Maquiavel secularizou a filosofia política e separou o exer- mento com a moral da política
antiga e medieval e o predo-
cício do poder da moral cristã. Diplomata e administrador expe- mínio dos aspectos mentais:
astúcia e força.
riente, cético e realista, defende a constituição de um estado forte
Escreveu a metáfora da raposa
e aconselha o governante a preocupar-se apenas em conservar a e do leão. O governante deve
própria vida e o estado, pois na política o que vale é o resultado. O possuir como virtude a astúcia
da raposa e a força do leão.
príncipe deve buscar o sucesso sem se preocupar com os meios.

77
Filosofia e ética
Unidade 3

Tabela 3.1 - Filosofia de Maquiavel

Pragmatismo radical: “Os fins justificam os meios”

“A distância entre como se deveria viver e como se vive de fato é tão ampla que
um homem que deixe de lado aquilo que de fato faz em favor do que deveria ser
aprende antes o caminho da autodestruição que da autopreservação”.

ƒƒ O Príncipe (1513)
Obras:
ƒƒ Os Discursos de Tito Lívio (1514)

Tabela 3.2 -

Concepção de mundo Atitude necessária Referência


A natureza humana da É preciso saber con-
maioria dos homens é viver com os homens
Próximo ao pensamento
má, desejosas de poder por meio da ousadia,
dos sofistas ao acentu-
e glória. Impera a busca prudência e simulação.
ar a não moralidade de
da vantagem pessoal Ao governante é preciso
princípios.
em detrimento do bem- possuir a força do leão e
-estar do próximo a astúcia da raposa.

Com Maquiavel surgiram os primeiros contornos da doutrina da


razão de estado, segundo a qual a segurança do estado tem tal
importância que, para garanti-la, o governante pode violar qualquer
norma jurídica, moral, política e econômica, sendo o primeiro pensa-
dor a fazer distinção entre a moral pública e a moral particular.
Recomenda a astúcia e a força. O governante deve possuir como
virtude a astúcia da raposa e a força do leão. Rompe com toda e
qualquer subordinação da política a sistemas morais que não con-
sideram a especificidade da ação política, como ocorre nos escri-
tos denominados Ética à Nicômaco de Aristóteles, nos quais a ética
aparece associada à política, como se a excelência do caráter do
individuo se definisse por sua relação com a cidade e esta depen-
desse das qualidades de seus cidadãos, isto é, a conduta individual
só poderá ser boa se orientada pelas leis da cidade que só serão
boas quando produzidas por bons legisladores.
Contrariamente a essa postura, Maquiavel esclarece que a políti-
ca possui uma lógica própria e razões que nem sempre são com-

78
Evolução das ideias socias
Unidade 3

patíveis com os princípios que norteiam a ação humana em outros


domínios, aponta para a necessidade de uma moral apropriada à
política. Não contesta a adoção de princípios da moral cristã ou de
outra moral nas relações pessoais. Apenas enfatiza que os valores
que regulam a ação dos outros domínios – familiar, profissional, etc.
Nem sempre coincidem com aqueles que regulam a ação política.
Assim, ao lado de uma moral privada, de foro intimo, haveria uma
moral pública, mais apropriada às relações políticas, defendendo
assim, a adoção de uma moral própria em relação ao Estado, ao
considerar legítima a lógica da força. Importam os resultados e não
a política em si, por isso, considerou legítimo o uso da violência con-
tra os que se opunham aos interesses estatais.
Em sua principal obra O Príncipe, Maquiavel emite vários conse-
lhos sobre a arte de conquistar e manter o poder ao recomendar
que para alcançar esse fim, o agente político não dispõe de um an-
teparo moral absoluto, pois ao se defrontar constantemente com a
incerteza, a instabilidade e a mutação inerentes aos acontecimentos
políticos, o governante não pode recorrer a um conjunto de regras
fixas, sendo preciso ajustar sua ação às circunstâncias, pautando-
-se pelos aspectos objetivos e reais do mundo da experiência e não
por critérios de valor que expressam o plano do ideal.
Em relação aos príncipes de até então, deixa de lado as coisas
imaginadas para discorrer sobre a realidade:

Muitos imaginaram repúblicas e principados que jamais foram


vistos e que nem se soube se existiram na verdade, porque há
tamanha distância entre como se vive e como se deveria viver,
que aquele quer trocar o que se faz por aquilo que se deveria
fazer aprende antes sua ruína do que sua preservação...

A moral, a virtude e honestidade não são mais características es-


senciais do príncipe, enquanto governante: este deve a principio,
de uma forma ou de outra, garantir o poder, sempre se associando
ao povo. Sua astúcia e “jogo de cintura” se tornam umas de suas
características mais importantes:

79
Filosofia e ética
Unidade 3

...não deverá importar-se de incorrer na infâmia dos vícios sem


os quais lhe seria difícil conservar o Estado porque, consideran-
do tudo muito bem, se encontrará alguma coisa que parecerá
virtú e, sendo praticada levaria à ruína; enquanto uma outra que
parecerá vício, quem a praticar poderá alcançar segurança e
bem-estar.

Curiosamente seu pensamento estendeu-se para inúmeras outras


atividades além da política pelo seu pragmatismo radical, postura
essa que parece ser a tônica de boa parte dos executivos, estan-
do presente nas rotinas das empresas, mormente aquelas voltadas
para a obtenção de resultados a qualquer custo, acentuadamente
na escola estratégica do poder, na qual “os fins justificam os meios.
Importa, pois, conquistar e manter o poder”.

Texto 12 – Parecer e não Ser


A um príncipe, portanto, não é necessário ter de fato todas as qualidades supracita-
das, mas é indispensável parecer tê-las. Aliás, ousarei dizer que, se as tiver e utilizar
sempre, serão danosas, enquanto que, se parecer tê-las, serão úteis. Assim, deves
parecer clemente, fiel, humano, íntegro, religioso – e sê-lo, mas com a condição de es-
tares com o ânimo disposto a, quando necessário, não o seres, de modo que possas e
sabias como tornar-se o contrário.

Decorre daí que a primeira responsabilidade de um príncipe é a de


permanecer no poder. Consegue-o, por vezes, empregando meios le-
gais; mas há casos em que ele se vê obrigado a recorrer à força bruta.
Deve imitar, da raposa, a astúcia, a fim de poder distinguir as armadi-
lhas, e, do leão, a ferocidade e a força, para afugentar o inimigo.

O Efeito-Neo em Maquiavel
Para se entender o pensamento de Maquiavel em nossos dias é
bastante simples: basta analisar o modo de pensar de qualquer po-
lítico. Durante as eleições prometem saúde, segurança, casa para o

80
Evolução das ideias socias
Unidade 3

povo, surgem inúmeros escândalos de seus adversários (para que


eles passem por mocinhos contra os bandidos). Passada a eleição,
aumentam a passagem dos transportes, aumentam os impostos,
desaparecem. Evidentemente, após quatro anos voltam para se re-
elegerem. Eis a astúcia da raposa e a força do leão, tão bem descri-
tas por Maquiavel.
Gerald Griffin, em sua obra “Maquiavel na Administração”, enfatiza
que as ideias políticas de Maquiavel se aplicam com bastante pro-
priedade às organizações empresarias do século XX, pois segundo
ele, seus preceitos podem ser traduzidos em modernos princípios
de administração.

Texto 13 – Os Generais e os Executivos


Os gerentes de hoje fazem o que os generais de antigamente faziam. Planejamento,
organização, direção e controle em todos os níveis administrativos são as mesmas
atividades de criar e manter exércitos, sofrer certas perdas e conquistar o inimigo em
nome do que o conquistador – o executivo – define como certo.

Prossegue, fazendo analogias entre a guerra e o ambiente nas


empresas:

Texto 14 – Campos de Batalha e Reunião de Diretoria


As lutas e as guerras de vida e morte que ocorriam nos campos de batalha agora são
travados nas salas de reunião da diretoria. Os capitães de cavalaria foram substituídos
pelo capitão de indústria. As decisões dos generais não são a respeito de tomar colinas
e vales, mas sobre a conquista de novos mercados, não são decisões sobre o trata-
mento a ser dispensado aos prisioneiros de guerra, mas sobre como tratar as pessoas
afetadas pela compra de uma empresa.

Desse modo, a necessidade deve orientar a ação e justificar os atos:


a hipocrisia, por exemplo, considerada como defeito nas relações so-
ciais, na política e no mundo dos negócios são consideradas virtudes,

81
Filosofia e ética
Unidade 3

enquanto a espontaneidade, considerada virtude nas relações so-


ciais, é considerada defeito na política. O êxito político e empresarial,
medidos sempre pelo resultado da ação, depende dessa disposição
de adequar as estratégias às particularidades de cada momento, por
isso, as qualidades necessárias ao agente político não podem ser
mais aquelas virtudes inventariadas pela tradição e que a educação
da família, da escola e da religião estabelecem como corretas.

René Descartes (1596-1650)

A ênfase do pensamento de Descartes se volta para a razão e o


mundo sensível, como fontes de conhecimento, colocou o conheci-
mento medieval a prova a fim de descobrir um fundamento seguro
sobre o qual erigir toda estrutura do entendimento humano, ao rom-
per radicalmente com a estrutura de pensamento medieval, estabe-
Você sabia ? leceu o conflito Deus versus homem, como medida das coisas no
sentido de fazer emergir o conhecimento do sujeito pensante não
Um dos marcos da filosofia
moderna. Descartes rompeu
mais como atributo do divino na vertente que a tradição eclesiástica
com o pensamento medieval e referendara há séculos. O funcionamento do corpo humano é com-
propôs o método cientifico.
parado ao funcionamento de uma máquina.

Tabela 3.3 - Filosofia de Descartes

Racioalismo: a supremacia da razão:

“Dei-me conta que embora decidisse pensar que tudo era falso, seguia-se necessa-
riamente que eu que pensara isso tinha de ser alguma coisa... Penso, logo existo”.

Discurso sobre o Método (1637)


Obras:
Meditações (1639)

Tabela 3.4 -

Visão Parcial da Realidade Conduta Privilegiada Referência

A natureza humana pode ter É preciso conduzir o pen- Mais próximo ao


acesso à realidade se conduzir samento de tal maneira pensamento de
claramente o pensamento por que esses se tornem cla- Platão do que
meio das regras do método ros e seguros evidentes. de Aristóteles.

82
Evolução das ideias socias
Unidade 3

Texto 15 – Homem e Máquina


O que não parecerá de forma alguma estranho àqueles que, sabendo quantos diver-
sos autômatos ou máquinas móveis a indústria dos homens pode fazer empregando
pouquíssimas peças, em comparação com a grande quantidade de ossos, de múscu-
los, de nervos, de artérias, de veias e de todas as outras partes existentes no corpo de
cada animal, considerarão esse corpo como uma máquina que, tendo sido feita pelas
mãos de Deus, é incomparavelmente melhor ordenada e contém em si movimentos mais
admiráveis do que qualquer uma daquelas que podem ser inventadas pelos homens

O Discurso sobre o Método proposto por Descartes, publicado em


1637, compõe-se de quatro regras básicas:

Texto 16 – Regras do Discurso sobre o Método


A primeira delas era não aceitar nada como sendo verdadeiro que eu não reconhe-
cesse claramente como o sendo: ou seja, evitar cuidadosamente julgamentos preci-
pitados e preconceituosos e aceitar neles nada além do que foi apresentado a minha
mente de forma tão nítida e específica que eu não pudesse ter chance de duvidar
A segunda era dividir cada uma das dificuldades que examinava no maior número
de partes possíveis, e, conforme parecesse necessário para que elas pudessem ser
resolvidas da melhor maneira possível.
A terceira era refletir nos momentos certos, começando com objetos mais simples e
mais fáceis de entender, a fim de chegar, pouco a pouco, ou por etapas, ao conheci-
mento do mais completo, presumindo uma ordem, mesmo que fictícia, para as quais
não seguem uma sequência natural com relação umas às outras. A última era, em
todos os casos, fazer enumerações tão completas e análises tão gerais que me permi-
tissem ter certeza de não ter omitido nada.

Assim, em Descartes o teocentrismo medieval é substituído pelo


racionalismo mecanicista, abordagem na qual plantas e animais são
concebidos como formas superiores de máquinas, inclusive nós se-
res humanos que possuímos à enorme capacidade de utilizar sinais
e palavras como base para o discurso e também devido a enorme

83
Filosofia e ética
Unidade 3

capacidade que temos para raciocinar. A filosofia moderna come-


çando com Descartes, cuja certeza fundamental é a existência de
si mesmo e de seus pensamentos, dos quais o mundo exterior deve
ser inferido, caracteriza o pensamento individualista e liberal da mo-
dernidade ao justificar a separação entre corpo e mente e entre su-
jeito e objeto, numa tentativa de colocar o processo de raciocínio
humano dentro de uma base tão sólida quanto possível.

Texto 17 – Elementos do Método Cartesiano


A forma como a ciência é desenvolvida na atualidade, nos termos da racionalidade,
deve-se ao método cartesiano, isto mesmo, de René Descartes o mesmo da frase fa-
mosa “penso logo existo” (ou em latim “cogito ergo sem”). Este método institui a dúvida
que se torna evidente na procura de provar a existência de algo, daí surgiu a tão famo-
sa frase quando Descartes tentou provar a sua existência baseado na dúvida do pró-
prio eu (que duvida, portanto, é sujeito de algo. Naturalmente o método se desenvolveu
com o passar dos séculos e hoje pode ser apresentado da seguinte forma:
ƒƒ Caracterização: Quantificações, observações e medidas;
ƒƒ Hipótese: Explicações hipotéticas das observações e medidas;
ƒƒ Previsões: Deduções lógicas das hipóteses;
ƒƒ Experimentos: Testes dos três elementos acima

Um conhecimento científico, ou um conjunto destes, necessariamente deve passar


por estas etapas.

John Locke (1632-1704)

Você sabia ?
Para John Locke não existem ideias inatas, nem pensamento
John Locke foi o defensor dos a priori, nem princípios práticos inatos como propuseram Platão
princípios da democracia mo-
derna. Rompeu com a postura
e posteriormente Descartes. Concebe que o ser humano nasce
de Recolhimento Interior. Pre- como uma folha de papel em branco. As experiências da vida es-
domínio da experiência.
creverão o texto.

84
Evolução das ideias socias
Unidade 3

Tabela 3.5 - Filosofia de Locke

Empirismo: o conhecimento pelos sentidos:

“Suponhamos que a mente seja um papel em branco, sem nenhum caractere, sem
nenhuma idéia. Como ele é preenchido?
... a isso respondo com uma palavra: a partir da experiência”.

Ensaio sobre o entendimento humano (1689)


Obras:
Dois Tratados sobre o Governo (1690)

Tabela 3.6 -

Visão Parcial da Realidade Conduta Privilegiada Referência

A natureza humana ao É preciso propiciar experi-


Bastante próximo
nascer é neutra. As experi- ências significativas para o
ao pensamento
ências da vida formarão a desenvolvimento pleno das
de Aristóteles.
personalidade do individuo. capacidades humanas

Resgata parcialmente o pensamento de Aristóteles, todavia, acen-


tua fortemente que todo nosso conhecimento está fundado na ex-
periência, pois toda ideia, seja ela simples ou complexa é sempre
resultado da comparação ou união de ideias, assim como as qua-
lidades dos objetos podem ser primárias (inseparáveis dos obje-
tos) ou secundárias (modalidades do espírito). Explica que a busca
pelos universais é um erro porque essas ideias estão separadas
das circunstâncias particulares que foram responsáveis pela sua
criação. Escreveu o seguinte texto:

Texto 18 – A Abstração das Ideias


Visto que todas as coisas que existem são apenas particulares, como formamos os
termos gerais, ou onde encontramos essas naturezas gerais que eles supostamente
significam? As palavras tornam-se gerais por serem estabelecidas como os sinais das
ideias gerais; e as ideias tornam-se gerais, separando-os delas as circunstâncias de
tempo e lugar, e quaisquer outras ideias que possam determiná-las para esta ou aquela
existência particular. Por esse meio de abstração elas tornam-se capazes de represen-
tar mais do que um individuo, cada um dos quais, tendo nisto uma conformidade com
esta ideia abstrata, é (como o denominamos) desta espécie.

85
Filosofia e ética
Unidade 3

Então, a razão humana possui como atributos a capacidade de


descobrir e encontrar provas, a ordenação, a percepção a cone-
xão entre estas provas e a capacidade de tirar conclusões, entre-
tanto, o nexo secreto de todas as coisas são as experiências que,
posteriormente, produzem sua representação em ideias gerais por
meio de uma relação mental, uma vez que o entendimento capta a
semelhança entre os objetos da natureza e realiza um trabalho de
classificação.

O Efeito-Neo em Locke
Dubet acentua a necessidade de se permitir experiências as pes-
soas como essenciais ao desenvolvimento do sujeito:

Texto 19 – Igualdade individual das oportunidades


Além dos conhecimentos, das competências e de sua utilidade social, a escola pro-
duz um bem educativo particular que é a formação dos indivíduos como sujeitos capa-
zes de dominar sua vida, de construir suas capacidades subjetivas de confiança em si
e de confiança em outrem. Essa aprendizagem resulta menos dos saberes adquiridos
que do seu modo de transmissão e do estilo educativo escolhido pela escola. Não
somente uma escola justa deve ser útil à integração social dos alunos, mas ela deve
formar os sujeitos de uma sociedade democrática e solidária. É nesse sentido que é
preciso entender a igualdade individual das oportunidades.

John Locke é o grande ideólogo dos dois princípios da democracia


moderna, tais como: liberdade de expressão e direito de propriedade.

Ideologia dos Negócios


Contexto da Revolução Industrial
Com a Revolução Industrial ocorrida nos séculos XVIII (1760) na
Inglaterra e XIX (1850), surge “a era da fábrica”, a ideologia ca-
valheiresca do antigo regime cede lugar ao modo de vida do bur-
guês moderno. Em decorrência do gigantismo das novas empre-
sas, surgem os administradores profissionais, hábeis, destinados a

86
Evolução das ideias socias
Unidade 3

suprir as deficiências dos proprietários no planejamento, operação


e controle da produção, intermediando, também, a relação confli-
tuosa entre capital e trabalho. Até, então, os administradores eram
até certo ponto, dispensáveis, uma vez que as pequenas oficinas
dos mestres artesãos podiam ser administradas por eles próprios
sem maiores dificuldades. Posteriormente, na segunda metade do
século XX, a presença de administradores profissionais estendeu-
-se para todos os tipos de organizações: universidades, repartições
governamentais, igrejas, hospitais, etc..
A Revolução Industrial concretiza a doutrina liberal de Locke, onde
o indivíduo possibilita a construção do Estado para, primeiramente,
conservar os direitos naturais: a vida, a propriedade e a liberdade.
O direito à propriedade, é que coloca Locke como um dos primeiros
representantes de um Estado liberal.
Liberalismo clássico (também conhecido como Liberalismo tradi-
cional ou liberalismo laisse-faire ou Liberalismo de mercado é uma
forma de liberalismo que defende as liberdades individuais, igual-
dade perante a lei, limitação constitucional do governo, direito de
propriedade, direitos naturais, proteção das liberdades civis e restri-
ções fiscais ao governo.
A partir de então, as ideias sociais estarão voltadas para defender
ou atacar os princípios do capitalismo industrial.

Adam Smith (1723-1790)

Tabela 3.7 - Filosofia de Adam Smith

Utilitarista: não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro


que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover
seu”autointeresse”.:

“ao dirigir essa indústria de tal forma que seu produto atinja o maior valor, ele tem em
mente apenas seu próprio ganho; neste como em muitos outros casos, ele está guia-
do por uma mão invisível para promover um fim que não era parte de sua intenção”

Obras: A Riqueza das Nações (1776)

87
Filosofia e ética
Unidade 3

Tabela 3.8

Visão Parcial da Realidade Conduta Privilegiada Referência

A natureza humana ao O autointeresse é a Próximo aos pen-


nascer busca o seu próprio mola mestra do desen- sadores iluministas,
autointeresse e com isso volvimento social, visto que possuíam uma
beneficia toda sociedade. O que, as trocas se tornam crença otimista no
autointeresse é o fundamen- vantajosas para todos os progresso da huma-
to do bem (econômico) geral envolvidos nidade

Adam Smith é o pai da economia moderna, e é considerado o


mais importante teórico do liberalismo econômico. Suas ideias servi-
ram de base para a teoria do valor-trabalho. Foi o primeiro pensador
Você sabia ? a elaborar um modelo coerente do sistema capitalista. É um típico
representante do Iluminismo. Procurou demonstrar que a riqueza
Adam Smith propôs o libera-
lismo econômico, defendeu das nações resultava da atuação de indivíduos que, movidos ape-
o egoísmo ético. Marcou com nas pelo seu próprio interesse (self-interest), promoviam o cresci-
as ideias: A livre-concorrência
conduz ao progresso de todos mento econômico e a inovação tecnológica. Assim acreditava que
A riqueza das nações é produ- a iniciativa privada deveria agir livremente, com pouca ou nenhuma
to do auto interesse
intervenção governamental.
A competição livre entre os diversos fornecedores levaria não só à
queda do preço das mercadorias, mas também a constantes inova-
ções tecnológicas, no afã de baratear o custo de produção e vencer
os competidores. Analisou a divisão do trabalho como um fator evo-
lucionário poderoso a propulsionar a economia. Uma frase de Adam
Smith se tornou famosa, assim, o mercador ou comerciante, movido
apenas pelo seu próprio interesse egoísta (self-interest), é levado
por uma mão invisivel a promover algo que nunca fez parte do inte-
resse dele: o bem-estar da sociedade. Como resultado da atuação
dessa “mão invisível”, o preço das mercadorias deveria descer e os
salários deveriam subir.
As ideias sociais liberais exerceram uma rápida e intensa influência
na visão de mundo dos comerciantes, industriais e financistas dese-
josos de acabar com os direitos feudais e com o mercantilismo, base-
ados na “Mão Invisivel” e “Divisão do Trabalho”.

88
Evolução das ideias socias
Unidade 3

Texto 20 – A Mão Invisivel


O egoismo do empresário é ético, pois, conduz ao bem geral. A mão invisivel regula
o livre-mercado. Se todos buscarem promover o seu interesse, a sociedade prospera
como um todo. Mesmo sem pretender o interesse publico, o egoismo conduz ao pro-
gresso.Em síntese, essa mão invisível simplesmente simboliza o verdadeiro orquestra-
dor da harmonia social – o livre mercado.

Texto 21 – A Divisão do Trabalho


Ganha-se agilidade e produtividade
Os processos de produção se tornam eficientes

O exemplo clássico de Smith é a fábrica de alfinetes, onde ao invés


de cada trabalhador começar do arame até chegar ao alfinete acaba-
do, seria mais inteligente dividir o trabalho entre os diversos processos
de produção, ganhando-se agilidade e produtividade. A mão invisível
e a divisão do trabalho devem ser complementadas pela honestidade.
A honestidade é a melhor política na condução dos negócios.
Quando há um cenário de confiança entre os agentes, as opera-
ções se dão de forma mais fluida, sem a participação de interme-
diários ou ferramentas que atestem a validade do que está sendo
proposto. Em outras palavras ganha-se tempo e dinheiro, pois se
alcança opinião favorável junto aos nossos pares.

Texto 22 – Busca da Opinião Favorável


“A natureza, quando formou o homem para a sociedade, dotou-o de um desejo original
de agradar e de uma aversão original a ofender os irmãos. Ela lhe ensinou a sentir prazer
quando o avaliam de maneira favorável e dor quando o avaliam de maneira desfavorável.”
“O êxito da maioria (...) quase sempre depende da simpatia e da opinião favorável
dos semelhantes; e sem uma conduta toleravelmente regular, é raro obtê-las. O bom e
velho provérbio, portanto, segundo o qual a honestidade é sempre a melhor política, se
mantém, em tais situações, e quase sempre é verdadeiro.”

89
Filosofia e ética
Unidade 3

Em suma, para o pensamento liberal, todos são iguais perante à


lei, base concreta da igualdade formal entre os membros de uma
sociedade.

Charles Darwin (1809-1882)

Tabela 3.9 - Filosofia de Charles Darwin

O homem ainda traz em sua estrutura física a marca indelével de sua origem primitiva.

“As espécies se originam por processos inteiramente naturais, contradiz a crença


religiosa na criação divina tal como é apresentada na Biblia, no livro de Gênesis”

Obras: A Riqueza das Nações (1776)

Tabela 3.10

Visão Parcial da Realidade Conduta Privilegiada Referência

Possui semelhanças
A natureza humana pos-
É preciso saber lutar e se com o pensamento
sui atributos animais, visto
proteger, pois, no reino do sofista Trasímaco
que, trazemos em nos mar-
selvagem só os mais ap- que concebia a jus-
cas de nossos descenden-
tos sobrevivem. tiça como “o direito
tes habitantes da selva.
do mais forte”.

Charles Darwin formulou a doutrina evolucionista, segundo a qual


as espécies procedem umas das outras por evolução. Em virtude
Você sabia ? da seleção natural sobrevivem os indivíduos e as espécies melhor
Charles Darwin propôs a luta
adaptados. Esse pensamento oriundo do mundo da natureza, quan-
pela sobrevivência. Formulou do aplicado às sociedades humanas, recebeu o nome e darwinismo
as ideias de que possuímos
descendencia animal, as es-
social Em 1944, o termo foi popularizado pelo historiador americano
pecies evoluem e a sobrevi- Richard Hofstadter e, geralmente, tem sido usado mais por críticos
vência dos mais aptos
do que por defensores do que o termo supostamente representa.
O darwinismo social foi empregado pelas classes dominantes para
tentar explicar a pobreza pós-revolução industrial, sugerindo que os
que estavam pobres eram os menos aptos (segundo a teoria de Da-
rwin) e os mais ricos que evoluíram economicamente seriam os mais
aptos a sobreviver por isso os mais evoluídos. Durante o século XIX

90
Evolução das ideias socias
Unidade 3

as potências europeias também usaram o darwinismo social como


justificativa para o Imperialismo europeu. Tendo como base, a teoria
da seleção natural das espécies de Charles Darwin, o darwinismo
social foi uma tentativa de explicar a diversidade de espécies de se-
res vivos através da evolução. Com a teoria da evolução em mente,
diversos cientistas criaram correntes na ciência que defendiam a tese
das diferenças raciais entre os seres humanos, da importância de um
controle sobre a demografia humana, da possível inferioridade dos
povos negros, principalmente no que se refere à inteligência, a alta
taxa de criminalidade e o combate contra a miscigenação. De acordo
com esse pensamento, existiriam características biológicas e sociais
que determinariam que uma pessoa seja superior à outra e que as
pessoas que se enquadrassem nesses critérios seriam as mais aptas.
Geralmente, alguns padrões determinados como indícios de su-
perioridade em um ser humano seriam o maior poder aquisitivo e a
habilidade nas ciências humanas e exatas em detrimento das outras
ciências, como a arte, por exemplo, e a raça da qual ela faz parte.
Um conjunto de pensadores atribui a fonte do darwinismo social ao
próprio Darwin, que na sua obra: A Origem do Homem havia aplica-
do a sua teoria ao mundo social. Nesta obra, Darwin ocupa-se da
evolução humana e ao fazê-lo aplica os mesmos critérios que utiliza
em A Origem das Espécies. Entretanto, foi Herbert Spencer o autor
que popularizou a ideia de que grupos e sociedades evoluem atra-
vés do conflito e da competição.

Lema do Capitalismo:
Quem não tem competência não se estabelece

O efeito-neo em Smith e Darwin


Contemporaneamente, o efeito-neo do liberalismo econômico
pode ser encontrado em economistas como Milton Friedman, um
dos grandes responsáveis pela volta do liberalismo clássico no sé-
culo XX após ele ter decaído em meados do século XIX e boa parte
do século XX, cujos principios podem ser assim sintetizados.

91
Filosofia e ética
Unidade 3

Princípios Básicos do Neoliberalismo econômicas mais simplificadas para facilitar


o funcionamento das atividades econômicas;
ƒƒ Mínima participação estatal nos rumos da ƒƒ diminuição do tamanho do estado, tornan-
economia de um país; do-o mais eficiente;
ƒƒ pouca intervenção do governo no mercado ƒƒ posição contrária aos impostos e tributos
de trabalho; excessivos;
ƒƒ política de privatização de empresas estatais; ƒƒ aumento da produção, como objetivo básico
ƒƒ livre circulação de capitais internacionais e para atingir o desenvolvimento econômico;
ênfase na globalização; ƒƒ contra o controle de preços dos produtos e
ƒƒ livre circulação de capitais internacionais e serviços por parte do estado, ou seja, a lei
ênfase na globalização; da oferta e demanda é suficiente para regu-
ƒƒ abertura da economia para a entrada de lar os preços;
multinacionais; ƒƒ a base da economia deve ser formada por
ƒƒ adoção de medidas contra o protecionismo empresas privadas;
econômico; ƒƒ defesa dos princípios econômicos do ca-
ƒƒ desburocratização do estado: leis e regras pitalismo.

O governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1994-


2002) constitui um instrutivo exemplo da adoção dos ideais do neo-
liberalismo, ao defender os princípios econômicos do capitalismo, a
mínima participação estatal e as privatizações das empresas Com-
panhia Vale do Rio Doce, Companhia Telefônica, etc.

Teorias Socialistas: Oposição ao liberalismo


Em meados do século XIX, estávamos no início do capitalismo
industrial, período no qual predominou no contexto social, vertigino-
sas mudanças econômicas e, sobretudo, escandalosa exploração
dos trabalhadores, baseados no principio do liberalismo econômi-
co. Nesse cenário, em oposição ao liberalismo político, surgiram as
teorias socialistas em suas duas vertentes, a utópica e a científica.
A primeira desenvolvida por pensadores como Saint- Simon e Ro-
bert Owen, a segunda, por Karl Marx e Frederich Engels.

92
Evolução das ideias socias
Unidade 3

Karl Marx (1818-1883)

Tabela 3.11 - Filosofia de Charles Marx

O Socialismo Cientifico
Materialismo: a matéria como determinante

“As espécies se originam por processos inteiramente naturais, contradiz a crença


religiosa na criação divina tal como é apresentada na Biblia, no livro de Gênesis”

O Manifesto Comunista (1848)


Obras:
O Capital (1867

Tabela 3.12

Visão Parcial da Realidade Conduta Privilegiada Referência

Não existe natureza hu-


Na luta revolucionaria da
mana em si. A natureza Próximo aos pen-
realidade cotidiana com-
humana é decorrente da sadores revolu-
bater o opressivo sistema
estrutura do sistema social cionários que o
capitalista por meio de
na qual está inserida em antecederam como
associações, greves, sin-
consequência da luta de Saint-Simon e Owen.
dicatos, etc..
classes.

Karl Marx e Friedrich Engels (1820-1895) desenvolvem a teoria do


socialismo científico, que deixou marcas profundas e duradouras na
evolução das ideias políticas. Seu socialismo não é um ideal a que
a sociedade deva adaptar-se, mas “o movimento real que suprime
o atual estado de coisas”, e “cujas condições decorrem de pres- Você sabia ?
supostos já existentes”. Na visão marxista, o socialismo sucederia
Marx fez duras criticas ao ca-
ao capitalismo assim como o capitalismo sucedeu ao feudalismo e pitalismo e estudou o proble-
será a solução das contradições do capitalismo. Assim, sua realiza- ma dos detentores dos meios
de produção e da exploração
ção não seria utópica, mas resultaria de uma exigência objetiva do de mão de obra. Formulou a
processo histórico em determinada fase de seu desenvolvimento. O ideia de que a matéria é ante-
rior à consciência.
Estado, expressão política da classe economicamente dominante,
desapareceria numa sociedade sem classes.
Que todos os fatos históricos foram motivados pela luta entre as
classes existentes na sociedade. As classes dominantes exploravam
as classes menos favorecidas, obtendo assim ganhos econômicos.
Por isso, elas desejavam manter o poder, enquanto as classes que

93
Filosofia e ética
Unidade 3

realmente produziam a riqueza, não usufruindo dela, desejavam mu-


dar a situação. Segundo a visão marxista, tudo que aconteceu na
história da humanidade foi motivado, direta ou indiretamente, pelo
dinheiro ou busca de privilégios de um grupo minoritário sobre os
demais, majoritários.
Desse modo, o marxismo é o conjunto de idéias filosóficas, econô-
micas, políticas e sociais elaboradas primariamente por Karl Marx e
Friedrich Engels e desenvolvidas mais tarde por outros seguidores.
Interpreta a vida social conforme a dinâmica da luta de classes e
prevê a transformação das sociedades de acordo com as leis do
desenvolvimento histórico de seu sistema produtivo.
O marxismo influenciou os mais diversos setores da atividade hu-
mana ao longo do século XX, desde a política e a prática sindical
até a análise e interpretação de fatos sociais, morais, artísticos, his-
tóricos e econômicos. Tornou-se base para as doutrinas oficiais uti-
lizadas nos países socialistas, segundo os autores dessas doutrinas
pelo sua orientação materialista da história. O grande interesse de
Marx estava me denunciar a ideologia do sistema capitalista, siste-
ma esse, que procura mascarar a verdadeira relações entre os ho-
mens utilizando os mais diversos subterfúgios. Um instrutivo exem-
plo desses subterfúgios se encontra na Crítica da Religião.

Texto 23 – As Flores e a Cadeia


A crítica colheu as flores imaginárias da cadeia não para que homem use a prosaica
e triste a cadeia, mas para que jogue fora esta e apanhe a flor viva.
A crítica da Religião desaponta o homem com fito de fazê-lo pensar, agir, criar sua
realidade como um homem desapontado que recobrou a razão a fim de girar em torno
de si mesmo e, portanto, de seu verdadeiro sol.
A religião é apenas um sol fictício que se desloca em torno do homem enquanto este
não se move em torno de si mesmo..
As armas da crítica não podem, de fato, substituir a crítica das armas; a força material
tem de ser deposta por força material, mas a teoria também se converte em força mate-
rial uma vez que se aposse dos homens.

94
Evolução das ideias socias
Unidade 3

A teoria é capaz de prender os homens desde que se demonstre sua verdadeira face
ao homem, desde que se torne radical. “ser radical é aprender algo em suas raízes”.
Para o homem, porém, a raiz é o próprio homem...
A crítica da religião termina com a ideia do homem como ser supremo para si pró-
prio. Por isso, com o imperativo categórico mudam todas as circunstâncias em que
o homem é um ser humilhado, escravizado, a abandonado, desdenhoso... A teoria é
realizada em uma nação somente até o ponto em que ela é uma realização das verda-
deiras necessidades desta
A coisa é um corpo apenas para deus, que tudo sabe; para o homem, que só conhe-
ce o exterior, ela é apenas a superfície, Não é a consciência dos homens que determi-
na sua existência, porém, pelo contrário, é a sua existência social que lhes determina
a consciência.

As ideias de Marx influenciaram fortemente as ciências sociais.


De modo geral, os revolucionários se apoiaram e, ainda se apoiam
em suas ideias, visto que, boa parte das revoluções e movimentos
sociais do séc. XX, desde a Revolução Russa de 1.917, a Revolução
chinesa de 1.949, a Revolução Cubana de 1959, até movimentos
contemporâneos, como o Movimento Sem Terra (MST) no Brasil são
movimentos que possuem como substrato à concepção marxista,
entre esses autores, pode-se destacar: Louis Althusser.

O Efeito-Neo em Marx
O pensamento marxista inspirou a revolução russa em 1.917, a
revolução chinesa em 1949, a revolução cubana em 1.959. Foi o
responsável pela divisão do mundo entre capitalismo e socialismo.
Inúmeros intelectuais foram inspirados pela visão de mundo pro-
posta por Karl Marx. No texto abaixo, Louis Althusser, descreve
como atua os aparelhos ideológicos do Estado para manipular a
consciência do povo.

95
Filosofia e ética
Unidade 3

Texto 24 – Aparelhos ideológicos do Estado


Apenas do ponto de vista das classes, isto é, da luta de classes, pode-se dar conta
das ideologias existentes numa formação social. Não é apenas a partir daí que se pode
dar conta da realização da ideologia dominante nos AIE e das formas da luta de clas-
ses das quais os AIE são a sede e o palco. Mas é, sobretudo, e também a partir daí que
se pode compreender de onde provêm as ideologias que se realizam e se confrontam
nos AIE. Porque se é verdade que os AIE representam a forma pela qual a ideologia da
classe dominante deve necessariamente se realizar, e a forma com a qual a ideologia
da classe dominada deve necessariamente medir-se e confrontar se, as ideologias não
“nascem” dos AIE, mas das classes sociais em luta: de suas condições de existência,
de suas práticas, de suas experiências de luta, etc.
Em outras palavras, a escola (mas também outras instituições do Estado, como a
Igreja e outros aparelhos como o Exército) ensina o ‘know-how’ mas sob a forma de
assegurar a submissão à ideologia dominante ou o domínio de sua ‘prática’. Todos os
agentes da produção, da exploração e da repressão, sem falar dos ‘profissionais da
ideologia’ (Marx) devem de uma forma ou de outra estar ‘imbuídos’ desta ideologia
para desempenhar ‘conscienciosamente’ suas tarefas, seja a de explorados (os operá-
rios), seja de exploradores (capitalistas), seja de auxiliares na exploração (os quadros),
seja de grandes sacerdotes da ideologia dominante (seus ‘funcionários’) etc.

O Positivismo: reforços das ideias liberais


O positivismo é uma corrente filosófica que surgiu na França no
começo do século XIX. Os principais idealizadores do positivismo
foram os pensadores Augusto Comte e John Stuart Mill. Esta escola
filosófica ganhou força na Europa na segunda metade do século XIX
e começo do XX, período em que chegou ao Brasil.
O positivismo defende a ideia de que o conhecimento científico é
a única forma de conhecimento verdadeiro. De acordo com os posi-
tivistas somente pode-se afirmar que uma teoria é correta se ela foi
comprovada através de métodos científicos válidos. Os positivistas
não consideram os conhecimentos ligados as crenças, superstição
qualquer outro que não possa ser comprovado cientificamente. Para
eles, o progresso da humanidade depende exclusivamente dos
avanços científicos.

96
Evolução das ideias socias
Unidade 3

Augusto Comte (1798-1857)

Tabela 3.13 - A filosofia positivista

A ciência como conhecimento verdadeiro

“O amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim”.

Obras: Curso de Filosofia Positiva (1839)

Augusto Comte em meados do século XIX pretende inaugurar a era


do pensamento cientifico nas ciências sociais. Resume sua concepção
sobre a evolução histórica e cultura da humanidade sintetizando o pro-
Você sabia ?
gresso do pensamento em três estágios ao afirmar:
Comte rompe com a religião
e com a filosofia. Inaugurou
...cada uma de nossas concepções principais, cada ramo de o período de supremacia da
nossos conhecimentos, passa sucessivamente por três está- ciência e marcou a fase da
consciência cientifica
dios históricos diferentes: estado teleológico ou fictício, estado
metafísico ou abstrato, estado científico ou positivo.”

Acreditava que a humanidade estava entrando na fase adulta, lon-


ge das superstições e crenças dos períodos anteriores, ou seja, esta-
mos na fase do conhecimento cientifico.

Tabela 3.14 - O Modelo Positivista

Estágio do Princípio de Produção dos Instância determinante na


Conhecimento Humano Fenômenos Produção dos Fenômenos
Imaginação de agentes
Teleológico5 Deus único
sobrenaturais

Entes ontológicos abs- Imaginação de entidades


Metafísico tratos (natureza mais o abstratas absolutas mais
íntimo do seres) razão (argumentos)
Observação dos fatos con-
Positivo Leis universais
cretos mais razão

5 Monoteísmo: Um único Deus é senhor universo. Politeísmo: Vários deuses atuam na natu-
reza. Fetichismo: O espírito é acompanhado tanto pelo homem como pelos demais seres.

97
Filosofia e ética
Unidade 3

Na perspectiva os estádios propostos por Comte, o período teleo-


lógico corresponde à mitologia; o período metafísico aos períodos fi-
losóficos e o positivismo, ao principio da razão suficiente alicerçado
em leis universais. Eis a essência da concepção positivista sobre o
mundo e sua crença inabalável no poder da ciência como conheci-
mento verdadeiro.

Primeiros anos do século XX


O pensamento liberal de Smith e a visão positivista de Comte ins-
piraram os filósofos do capitalismo. Frederich Taylor – inspirador do
modelo da Administração Científica, um pensador obstinado pelo
trabalho eficiência e produtividade, criticou o laissez-faire do em-
pirismo tradicional. Propôs o Modelo de Administração Científica –
responsável pela criação de melhores condições técnicas, porém,
frustrou grandemente o potencial humano no sentido de igualá-los
às máquinas. Inspirou o modelo “Fordista” da linha de montagem,
da produção em ‘serie e da divisão do trabalho e especialização.
O sucesso de Henry Ford incentivou a crença de que a produção a
baixo custo era a chave do sucesso das empresas.

Visão Filosófica do Modelo Taylorista

Quem é o ser humano para Taylor? dor e produtivo.


É negligente e cabe ao chefe atenuar essa Em que modelo pressupostos éticos se
negligência através da vigilância. apoia?
Qual a finalidade do trabalho? Na teoria fundamentalista da ética protes-
Fazê-lo produtivo e mais eficiente. tante, que concebe a natureza humana cor-
Qual o modelo ideal de administração? rompida pelo pecado e o trabalho como uma
O cartesiano/empírico/positivista, fiscaliza- bênção de Deus.

Com base nesses aspectos empírico-racionais, Taylor validou seu


experimento na prática procurando, inicialmente, um sujeito fisicamen-
te forte que atribuísse grande valor ao dinheiro. O indivíduo escolhido
foi um grandalhão imigrante holandês, a quem ele chamou de Schmidt.

98
Evolução das ideias socias
Unidade 3

Schmidt, como os demais carregadores, ganhava 1,15 dólar por


dia. Mesmo naquela época, mal dava para uma pessoa sobreviver.
Taylor ofereceu l,85 dólar por dia se ele fizesse exatamente aqui-
lo que mandasse, sem nada questionar, pois, esse era à condição
necessária para o aumento do valor da hora de trabalho. De posse
desses incentivos salariais, Schmidt se submeteu totalmente, Taylor
passou a ordenar que ele carregasse os lingotes de ferro, alternan-
do diversos fatores do trabalho para verificar o impacto que as mu-
danças teriam na produção diária de Schmidt.
Como parte do acordo, em alguns dias, por exemplo, Schmidt de-
veria erguer o lingote dobrando os joelhos; em outros, deveria manter
as pernas retas e usar as costas. Taylor experimentou períodos de
descanso, velocidade dos passos, posturas para carregar e outras
variáveis. Depois de um longo período ensaiando cientificamente vá-
rias combinações de procedimentos, técnicas e ferramentas, Taylor
conseguiu obter o nível de produtividade que ele julgava possível.
3.1 - Frederich Taylor
Designando a pessoa certa para o trabalho, com as ferramentas Fonte: http://www.stevens.
e o equipamento correios, fazendo o trabalhador seguir exatamen- edu/library/collections/frede-
rick-winslow-taylor
te suas instruções e motivando-o pelo incentivo econômico de um
salário diário significativamente mais alto, Taylor conseguiu alcan-
çar seu objetivo de 48 toneladas. Desse modo, utilizando técnicas
de científicas no processo de produção, Taylor conseguiu definir a
melhor maneira de fazer cada trabalho. De posse dessas informa-
ções, poderia, depois de selecionar as pessoas certas nas funções
certas treiná-las para que executassem as tarefas, precisamente,
de forma mais eficiente possível e, com esse intuito de motivar os
trabalhadores, concebia planos de incentivo salarial como recom-
pensa pela produtividade, como fizera com Schidmit.
De maneira geral, Taylor obteve melhorias constantes na produti-
vidade, aumentando a produtividade acima de 200%, reafirmando
o reafirmou o papel dos gerentes de planejar e controlar e o dos
trabalhadores de executar as tarefas designadas conforme instruído
pelos chefes, fundamento na premissa que todo trabalhador tem o
seu preço. E, assim, Schimidt foi utilizado como “cobaia” para que
os patrões pudessem chegar ao modelo do “trabalhador ideal”.
Eis todo o operacionalismo do maquiavelismo de Taylor.

99
Filosofia e ética
Unidade 3

Texto 25 – Taylor: o Maquiavel do Sistema Produtivo


Taylor era, antes de mais nada e, acima de tudo, um Maquiavel moderno, dotado de
genial capacidade de compreensão, formulação e execução das políticas mais favorá-
veis aos interesses dos donos de empresas, da classe dominante de seu tempo. Possi-
velmente se constitua no mais consequente ser político do tempo moderno. Sua contri-
buição fundamental não se situa na esfera da economia, da administração de empresas,
como geralmente se supõe. Seu achado decisivo, essencial, se localiza no terreno da
ciência política, da política, da arte de gerir o destino da “polis”, de influir, de modo radi-
cal, extenso, profundo, sobre a vida mesma, em todas as suas dimensões, dos homens.
O deslocamento, dos trabalhadores para a direção das empresas, da possibilidade
de determinação dos processos, do ritmo do trabalho, dos movimentos a executar no
decorrer da produção, reinaugura, agora de modo plenamente vocacionado a mais
absoluta dominação, o regime da grande indústria, forma mais plenamente acabada
de organização da produção no tempo/espaço moderno.

Reflexões sobre o sucesso do modelo Taylorista


Numa visão mais impressionista, Taylor pode ser considerado um
“sujeito sem alma”, todavia, é preciso ter em mente que seu tempe-
ramento fortemente autoritário contribuiu para atender às exigências
do contexto social no qual imperava:
1. baixo grau de instrução do trabalhador da época que possuía
pouquíssima qualificação e especialização, portanto, não poderia
ser deixado à vontade.
2. as teorias antigas alicerçadas no empirismo tradicional não propi-
ciavam eficácia no setor de produção.
3. a própria ideologia religiosa dos donos das fábricas que baseados
na doutrina protestante, entendiam que o trabalho era o resgate
da alma humana em sua peregrinação sobre a terra, pois a nature-
za humana em si mesma é negligente e pouco afeita ao trabalho.

Desse modo, o autoritarismo da Administração Científica predomi-


nante no inicio do capitalismo, se por um lado pode ser considerado
desumano, por outro, na perspectiva dos interesses dos patrões, re-
presentou adequadamente o conhecimento apropriado em relação
à realidade circundante.

100
Evolução das ideias socias
Unidade 3

Em consonância com esses procedimentos, Taylor, inicialmente,


procurou eliminar o desperdício e as perdas sofridas pelas indús-
trias americanas, elevando assim, o nível de produtividade através
de métodos e técnicas de engenharia. Estudava os tempos e movi-
mentos, a fragmentação das tarefas, reestruturando continuamente
o setor produtivo pelos resultados alcançados.
Em seu aspecto positivo, a Administração Científica foi a respon-
sável pela criação de melhores condições técnicas, em seu aspecto
negativo, porém, frustrou enormemente o potencial humano no sen-
tido de igualá-los às máquinas.

O fim do capitalismo?

A crise de 1929 funcionou como sinal de que, assim como os


princípios econômicos liberais vigentes até então, o paradigma da
administração também necessitava passar por uma reformulação Atenção
radical: desemprego, fortalecimento dos sindicatos, movimentos No ano de 1929 Ocorreu a
de reação às desigualdades sociais. A busca de uma maior efici- Quebra da Bolsa de Valores
de Nova York
ência nas empresas exigiu a reconsideração das relações e aspi-
rações dos elementos humanos na organização.
John Maynard Keynes (1852-1949) apresentou um programa de
ação para a promoção do pleno emprego. Propôs o fim do laissez-
-faire (mercado-livre) que sempre representou o chavão do liberalis-
mo, como forma de salvar o capitalismo. Percebeu que para que o
capitalismo sobrevivesse era preciso a intervenção do capitalismo
do Estado na economia.
Elton Mayo (1880-1949) propôs a Teoria das Relações Humanas.,
uma vez que, no cenário de crises é preciso atenuar os conflitos.
O modelo das Relações Humanas atenua os conflitos, procurando
fazer dos objetivos da empresa, os objetivos do empregado. A mo-
tivação se torna a palavra chave.
Na matriz da Teoria do Comportamento prevalece a autonomia da
ação dos agentes e o imperativo da legitimidade em que cada um
desempenha funções específicas, sob a coordenação das respecti-
vas chefias, possibilitando aos trabalhadores o privilégio de autodi-
rigir-se. Surge o modelo das Relações Humanas.

101
Filosofia e ética
Unidade 3

Visão Filosófica do Modelo das Relações Humanas

Quem é o ser humano para a Teoria das Em que modelo pressupostos éticos se
Relações Humanas? apoia?
É produtivo, desde que motivado. Na Teoria do Utilitarismo, embasada nas
Qual a finalidade do trabalho? idéias dos pensadores Jeremy Bentham e
Fazê-lo desenvolver suas potencialidades. John Stuart Mill. Adota-se o critério que o
Qual o modelo ideal de administração? comportamento socialmente aceitável é aquele
O motivador, quem propicia situações huma- que permite o maior bem ao maior número de
nas favoráveis ao desempenho dos funcionários. pessoas.

Duas Ideias Sociais predominantes sobre o Trabalho

O pesquisador Douglas M. McGregor (1906-1964) observou que os


diferentes pontos de vista dos métodos clássico e comportamental não
surgiram meramente da diferença de ênfase, ora no trabalho, ora no
trabalhador, mas também de uma profunda diferença originária da con-
cepção filosófica das ideias sociais, denominadas teoria x e teoria Y.

Tabela 3.15 - Reflexões sobre a teoria X e Y

Teoria pessimista (x) Teoria Y (otimista)


ƒƒ Os indivíduos não gostam de trabalhar ƒƒ O trabalhador não tem um desgosto
ƒƒ Evitarão o trabalho se possível. inerente pelo trabalho e reagirá as boas
ƒƒ Já que os indivíduos não gostam de tra- condições e atitudes de trabalho
balhar precisam ser coagidos, manipu- ƒƒ As pessoas exercitarão a automotivação
lados, dirigidos e controlados. e se empenharão para realizar metas
ƒƒ A pessoa normal deseja segurança, tem organizacionais com as quais estejam
pouca ambição e evitará o esforço. comprometidas
ƒƒ Trabalhadores precisam ser direcionados ƒƒ A pessoa normal pode aprender e acei-
e preferem que se digam o que precisa tar assumir responsabilidades dadas.
ser feito. ƒƒ A maioria das pessoas são criativas, en-
ƒƒ Poucas as pessoas realmente criativas. genhosas e imaginativas.
ƒƒ As limitadas capacidades intelectuais ƒƒ As capacidades individuais do traba-
dos trabalhadores comuns são desafia- lhador não são usadas por completo no
das pelo desenho moderno do trabalho ambiente industrial moderno.

102
Evolução das ideias socias
Unidade 3

Aprofundamentos dos Estudos – Filosofia e


Metáforas

Desses nove pré-requisitos, o nono requisito exige um esforço


mental maior para ser utilizado adequadamente. Para um maior apro-
fundamento nos conceitos filosóficos, torna-se imprescindível que o
aprendiz, paulatinamente, adentre ao estudo das metáforas. O livro
Filosofia e Evolução das Ideias Sociais, de autoria do professor
Roberto Bazanini, oferece excelentes subsídios para esse estudo.
As metáforas ensinam. Cada pensador ao seu modo, ao se utilizar
de uma determinada metáfora para explicar um conceito, ilustra com
imagens esse ensinamento ao propor uma visão parcial e ideológica
da realidade, na qual, determinada forma de conduta é privilegiada.
Portanto, a METÁFORA propicia a explicação de uma coisa em ter-
mos de outra, em que os dois termos se distinguem, embora parti-
lhem características comuns. Encerramos o conteúdo dessa discipli-
na apresentando o elenco de metáforas filosóficas e, posteriormente,
comentando rapidamente essas mesmas metáforas.

Tabela 3.16 - Elenco de Metáforas

Pensador Metáfora Lição Efeito - Neo


A realidade
Metáfora O trabalho em equipe,
Os cegos e o humana é perce-
sobre o o estudo em grupo são
elefante bida em partes
estudo de sempre mais eficazes
Texto 1 e não em sua
filosofia que a atividade individual
totalidade.

Texto 11: A estória que


As Águas do os nossos pais não con-
Heráclito Depreender-se
Rio taram adaptado do livro:
de Éfeso do passado
Texto 10 O melhor de Max Gehrin-
ger na CBN, p. 10-11

Texto 3: E agora? Minto


Deus todo po-
A persuasão do ou não minto? O melhor
Sofistas deroso
discurso de Max Gehringer na
Texto 2
CBN, p.21

103
Filosofia e ética
Unidade 3

Texto 5: Uma reprovação


é uma nova oportunida-
Escravo A realidade em
Sócrates de. Texto: O melhor de
Texto 4 nosso interior
Max Gehringer na CBN,
p. 20-21

O Mito da Ca-
A realidade invi- Texto 7: Os Três Eus.
Platão verna
sível Max Freedoom, p. 98.
Texto 6

O Arqueiro e Texto 9: O que vale mais


A precisão da
Aristóteles o Alvo a teoria ou a prática. Max
ciência
Texto 8 Gehringer, p.31.

Força e astúcia
Leão e a Rapo- para se conquis- Texto: Maquiavel na Ad-
Maquiavel
sa tar e manter o ministração. Griffin, p. 14
poder

Homem e má-
O conhecimento Alex Husenhack – O Mé-
Descartes quina
científico todo Cientifico, p. 28
Texto 15

A experiência As desigualdades multi-


Locke Tabula Rasa como determi- plicadas. DUBET, Fran-
nante çois, p. 06

Adam A mão invisível O mercado se Capitalism and Freedom


Smith Texto 20 autorregula Milton Friedman.

As flores e a
A ilusão da har- Aparelhos Ideológicos do
Marx cadeia
monia Estado. Louis Althusser.
Texto 23

O camelo, o A vontade de Metafísica do Trágico.


Nietzsche
leão e a criança poder Nuno Nabais.

Taylor – O Maquiavel do
Corpo de elefan-
Frederick A Alegoria Schi- Sistema Produtivo. Baza-
te, cérebro de
Taylor midt nini
passarinho.
Texto 25

Vamos analisar algumas dessas metáforas.


A metáfora dos “cegos e do elefante” ensina que o ser humano
capta parte da realidade, jamais a realidade em sua totalidade.
A metáfora do “Rio” em Heráclito de Éfeso ensina que as coisas
jamais continuam as mesmas, por isso, devemos estar atento às mu-
danças contínuas. Nossos sentidos nos oferecem uma imagem de

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Evolução das ideias socias
Unidade 3

estabilidade, ao passo que o pensamento percebe a verdade como


uma mudança contínua. Pela sua visão parcial e ideológica da reali-
dade, Heráclito privilegia como forma de conduta, observar o momen-
to que não mais se repete.
A metáfora do “Deus todo Poderoso” do sofista Górgias de Leontino
ensina o poder de sedução implícito nos gestos e nas palavras. Pela
sua visão parcial e ideológica da realidade, Górgias privilegia como
forma de conduta o saber dos discursos para sobrepujar os demais.
A metáfora do “Escravo” em Sócrates ensina que a origem do
conhecimento deve ser buscada em nosso interior. Pela sua visão
parcial e ideológica da realidade, Sócrates privilegia como forma de
conduta a interiorização do sujeito para remover seus bloqueios e,
assim, vivenciar plenamente a grandeza da existência.
A metáfora do “Mito da Caverna” ensina que a verdadeira reali-
dade está além daquilo que podemos captar com os nossos cinco
sentidos. Pela sua visão parcial e ideológica da realidade, Platão pri-
vilegia como forma de conduta agir para redescobrir a essência do
invisível que comanda tudo que existe no mundo material e então,
seremos plenamente felizes.
A metáfora do “Arqueiro” em Aristóteles ensina que a experiência
conduz à uma precisão cada vez maior. Pela sua visão parcial e ideoló-
gica da realidade, Aristóteles privilegia como forma de conduta a pes-
quisa empírica para alcançarmos a felicidade por meio do saber claro.
A metáfora do “Leão e da Raposa” em Nicolau Maquiavel ensi-
na as virtudes e os estratagemas que devem ser empregados por
aqueles que buscam conquistar e manter o poder. Pela sua visão
parcial e ideológica da realidade, Maquiavel privilegia como forma
de conduta o saber usar estratagemas para se desfrutar das facili-
dades e dos prazeres que o poder proporciona.
A metáfora da “Máquina” em René Descartes ensina que é pos-
sível por meio do método cientifico entender a regularidade me-
cânica do universo e assim, orientar nosso pensamento para a
percepção da clareza e evidência dos fenômenos. Pela sua visão
parcial e ideológica da realidade, Descarte privilegia como forma
de conduta a utilização de procedimentos claros e rigorosos para
se evitar o engano.

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Filosofia e ética
Unidade 3

A metáfora da “tabula rasa” em John Locke ensina a importân-


cia das boas experiências para o desenvolvimento de nossas ca-
pacidades. Pela sua visão parcial e ideológica da realidade, Locke
privilegia como forma de conduta a busca de experiências para se
alcançar o verdadeiro conhecimento e progresso.
A metáfora da “Mão Invisível” em Adam Smith ensina que o ego-
ísmo ético é saudável porque a realidade é paradoxal. A busca do
interesse próprio beneficia inúmeras outras pessoas. Smith privilegia
como forma de conduta a postura liberal voltada para o autointeresse.
A metáfora das “Flores e da Cadeia” em Karl Marx ensina o en-
godo das coisas fáceis e seguras provocados pela sedução das
belas palavras. Marx privilegia como forma de conduta voltada para
a luta revolucionária contra a classe dominante como forma de, futu-
ramente criar relacionamentos cada vez mais justos.
A metáfora Schidmit em Frederick Taylor ensina até que ponto o ho-
mem pode ser transformado em uma máquina animal. A percepção se
torna limitada e o ser humano passa a se conduzir como fosse possui-
dor de um corpo de elefante e miolo de passarinho.

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Evolução das ideias socias
Unidade 3

Referências

BÁSICA
BAZANINI, R. Filosofia e Evolução das Ideias Sociais. São Paulo,
Plêiade, 2010.
CHAUÍ, M. S. Convite à filosofia. 12 ed. São Paulo: Ática, 1999.
NETTO, A. J. A evolução das ideias sociais. São Paulo: Mc Graw-Hill,
1988.
POLANY, K. A grande transformação: As origens da nossa época.
Rio de Janeiro: Campus, 2001.

COMPLEMENTAR
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 13/19 ed. Rio de Janeiro: Graal,
1998.
MORIN, E.; LÊ MOIGNE, J. L. A Inteligência da Complexidade. São
Paulo, Petrópolis, 2000.
WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Pau-
lo: Pioneira, 1967.

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