UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE DIREITO PÚBLICO
CURSO DE DIREITO - DIREITO PENAL II
PROFESSOR MS. ANDREO ALEKSANDRO NOBRE MARQUES
Roteiro do ponto 3 – Penas privativas de liberdade - Suspensão condicional da
pena
11.1. Origem: instituto de origem belgo-francesa, sursis é o substantivo masculino derivado do
verbo surseoir, que significa suspender.
11.2. Conceito: consiste na suspensão da execução da pena privativa de liberdade imposta na
condenação, por certo prazo1 e mediante determinadas condições.
11.3. Natureza jurídica: prevalece o entendimento de que o sursis, presentes os requisitos legais,
consiste em direito público subjetivo do condenado. Para outra corrente, constitui forma de
execução da pena.
11.4. Requisitos: dividem-se em objetivos e subjetivos.
11.4.1. Objetivos: a) natureza e quantidade da pena – aplicável somente à pena privativa de
liberdade (art. 77 e 80, CP), não superior a 2 anos 2 para o sursis simples (art. 78, § 1º, CP) e especial
(art. 78, § 2º, CP), ou, não superior a 4 anos, no caso do sursis etário ou humanitário (art. 77, § 2º,
CP); b) impossibilidade de substituição por pena restritiva de direitos (art. 77, III, c/c o art. 44, CP).
11.4.2. Subjetivos: a) não-reincidência em crime doloso (art. 77, I, CP); b) quando a culpabilidade,
antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias
autorizarem a concessão do benefício, fazendo crer que o condenado não voltará a delinquir.
11.5. Espécies: a) sursis simples (art. 78, § 1º, CP) – neste, o condenado, durante o primeiro ano do
prazo de suspensão, deverá prestar serviços à comunidade (art. 46) ou submeter-se à limitação de
fim de semana, como condição legal obrigatória, além de ficar sujeito à observação e ao
cumprimento das condições estabelecidas pelo juiz; sursis especial (art. 78, § 2º, CP) – neste, o
condenado é dispensado da prestação de serviços à comunidade ou limitação de fim de semana no
primeiro ano do prazo, exigência que será substituída pelas condições descritas nas alíneas a a c do
§ 2º do art. 78 do CP, desde que tenha reparado o dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as
circunstâncias do art. 59 lhe forem inteiramente favoráveis; sursis etário ou humanitário (art. 77, §
2º, CP) – neste, em razão da avançada idade (maior de 70 anos na data da condenação, em
analogia com o ao art. 65, I, 2ª parte, CP) ou das condições de saúde do condenado, a pena privativa
de liberdade não superior a 4 anos, desde que presentes os requisitos descritos nos incisos I a III do
art. 77 do CP, poderá ser suspensa, mas será imposto um período de prova maior, de 4 a 6 anos.
1
O período de prova no sursis de contravenção penal é de 1 a 3 anos, de acordo com o art. 11, da LCP.
2
Em caso de crime contra o meio ambiente, é possível o sursis desde que a pena não seja superior a 3 anos (art. 16, da
Lei nº 9.605/98).
11.6. Condições judiciais: além das condições legais, obrigatórias (ver art. 78, § 1º, para o sursis
simples, e art. 78, § 2º, para o sursis especial), o art. 79, do CP, autoriza que o juiz imponha
discricionariamente outras condições, desde que adequadas ao fato e às condições pessoais do
condenado.
11.7. Fiscalização do cumprimento das condições do sursis: ver o § 3º do art. 158 da LEP.
11.8. Causas de revogação obrigatória: prescreve o art. 81, CP, que a suspensão será revogada se,
no curso do prazo3, o beneficiário: a) é condenado, em sentença irrecorrível, por crime doloso (inc.
I); b) frustra, embora solvente, a execução da pena de multa ou não efetua, sem motivo justificado,
a reparação do dano (inc. II); c) descumpre a condição do § 1º do art. 78 deste Código (inc. III).
Além disso, de acordo com o art. 161, da LEP, é causa de revogação obrigatória o não-
comparecimento, injustificado, do condenado à audiência admonitória.
11.9. Causas de revogação facultativa: ver o § 1º do art. 81 do CP. A suspensão poderá ser
revogada: a) se o condenado descumpre qualquer outra condição imposta, tanto as previstas pelo §
2º do art. 78, do CP (condições legais), quanto as fixadas pelo juiz com base no art. 79, CP
(condições judiciais); b) ou se é irrecorrivelmente condenado, por crime culposo ou por
contravenção, a pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos.
11.10. Causa de prorrogação obrigatória e automática do período de prova: segundo o § 2º do
art. 81 do CP, “se o beneficiário está sendo processado por outro crime ou contravenção, considera-
se prorrogado o prazo da suspensão até o julgamento definitivo.” Se houver condenação irrecorrível
por crime doloso (ver art. 81, I, CP), haverá revogação automática e obrigatória do sursis e o
condenado deverá cumprir as penas privativas de liberdade impostas nas duas condenações, mesmo
que este fato somente venha a ser notado após o decurso do período de prova.
11.11. Extinção da punibilidade pelo cumprimento das condições: ver o art. 82, CP. A única
exceção possível ao determinado por este dispositivo é justamente a hipótese debatida no item
anterior. No mais, mesmo a descoberta tardia de causas impeditivas do sursis irregularmente
concedido, não impedem a extinção da punibilidade que se perfaz, independentemente de
declaração judicial, com o decurso do período de prova sem revogação.
3
Notar que o fato de a lei ter utilizado a expressão “no curso do prazo” faz com que seja possível que o condenado se
beneficie com a suspensão condicional da pena em dois processos diversos, bastando que o segundo sursis seja
concedido antes do início do período de prova relativo ao primeiro sursis.