Aula 5- Princípios do treinamento
Princípio da sobrecarga
Esse princípio consiste em sobrecarregar o organismo do aluno, de maneira adequada,
variando-se a frequência, a intensidade, o volume e a duração do treinamento. A sobrecarga
deve ser individualizada e aplicada de forma progressiva ao longo do processo de treinamento.
Para Dantas (1995), logo após a realização de uma carga de treinamento, o organismo passa
por um processo de recuperação, com o qual busca restabelecer o equilíbrio. Segundo o autor,
uma relação ideal entre a carga aplicada e o tempo de recuperação é fundamental para garantir
o pronto restabelecimento desse equilíbrio e proporcionar adaptações biológicas importantes
para o desempenho, processo conhecido como supercompensação, como pode ser observado
na figura abaixo.
Para Tubino (1984), a aplicação do princípio da sobrecarga deve ser observada com
base em variáveis relacionadas à carga como o volume (quantidade) e a intensidade
(qualidade) do treinamento, os quais podem ser alterados pela utilização dos vários métodos,
como, por exemplo, o contínuo e o intervalado.
A resposta do organismo ao estresse ocorre por meio de ações coordenadas entre
cérebro, glândulas, hormônios, sistema imunológico, coração, musculatura esquelética, sangue
e pulmões, o que permite a adequação no fornecimento de oxigênio (O2) e de energia, bem
como aumentos de força e de resistência muscular, resistência à dor, acuidade mental, além
de uma proteção temporária contra infecções. Ou seja, o objetivo desse tipo de estresse
decorrente do treinamento não é causar doença ou algum tipo de dano. Representa, sim, um
mecanismo evolutivo conservado, pelo qual as células se defendem contra mudanças abruptas
e adversas do meio ambiente, adaptando-se positivamente a elas (WELCH, 1993).
Dessa maneira, quando o tempo dedicado ao período regenerativo é adequado em
relação às cargas de trabalho, os níveis de atividade enzimática e de substratos metabólicos
são restabelecidos acima dos que são observados antes do treinamento, e as fibras musculares
se regeneram plenamente dos traumas sofridos. Esse processo, já mencionado anteriormente,
é conhecido na literatura como supercompensação e propicia melhor suprimento energético
para exercícios que venham a requerer maior mobilização metabólica ou, ao contrário, uma
economia de energia em atividades físicas habituais na estrutura de treinamento (WELCH,
1993).
Nesse momento, se for imposta uma mesma carga de esforço físico, ou seja, se os
treinos forem sempre iguais, os mecanismos homeostáticos não serão rompidos na mesma
extensão (WELCH, 1993); daí advém a necessidade de se modular constantemente as cargas
de esforço em um programa de treinamento, para que ele sempre produza uma resposta
adaptativa positiva. Por outro lado, se não for aplicada uma nova carga de esforço no tempo
correto, haverá involução dos benefícios adquiridos.
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De maneira prática, quando o treinador aplica continuamente o mesmo treino, e com a
mesma carga, a um atleta, obtém inicialmente uma melhora da aptidão física. O aluno, uma vez
adaptado a essa carga, não sofre nenhuma nova adaptação em resposta a ela. Da mesma
forma, se as cargas de treino são aplicadas com intervalos muito grandes, ocorre um retorno
da aptidão física ao nível inicial, ou seja, a aptidão do atleta volta sempre aos seus níveis iniciais,
indicando que treinos com cargas muito espaçadas ou a repetição do mesmo treinamento por
um longo período produzirão pouca ou nenhuma melhoria da aptidão física.
Quando se faz referência à alteração ou ao aumento da carga de treinamento, incluem-
se diferentes medidas práticas, tais como:
- aumento no número de repetições;
- repetições realizadas com a mesma velocidade;
- períodos de recuperação mais curtos;
- cargas mais elevadas.
Essas medidas caracterizam alterações nas chamadas componentes da carga.
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Princípio da reversibilidade
O princípio da reversibilidade parte da seguinte afirmação: “o que não se usa, perde-se”.
Segundo Barbanti (2010), esse princípio assegura que as alterações corporais obtidas com o
treinamento físico sejam de natureza transitória. Assim, as mudanças funcionais, morfológicas
e de desempenho das capacidades físicas adquiridas com o treinamento retornam aos níveis
iniciais após a sua interrupção. Esse retorno ocorre na mesma velocidade da aquisição, ou seja,
aquilo que se ganhou rapidamente é perdido também rapidamente, ao passo que aquisições
realizadas lentamente, em um período prolongado, são mantidas com mais facilidade e
desaparecem com mais lentidão.
O condicionamento aeróbico é reversível assim como qualquer tipo de treinamento
físico, ou seja, os efeitos benéficos do treinamento não são cumulativos, mas, transitórios,
acometendo mesmo os atletas com anos de treinamento. Processando-se com certa rapidez,
após uma ou duas semanas, o princípio da reversibilidade ou o destreinamento afeta os índices
de VO2máx, reduzindo a performance do indivíduo (RIBEIRO, 1995). O VO2máx é o indicador
metabólico que aponta a quantidade de oxigênio que um indivíduo consegue captar e utilizar
em um esforço físico, ou seja, indica o atual estado de condicionamento cardiorrespiratório de
um indivíduo. Até certo ponto, o VO2 pode ser modificado por meio de treinamento, pois estima-
se que 90% de sua potencialidade é geneticamente dependente (RIBEIRO, 1995).
A frequência cardíaca de repouso aumenta acentuadamente com o destreinamento,
refletindo uma compensação cardiovascular de contrabalançar as reduções no volume
sanguíneo e no volume sistólico de ejeção (COYLE, 2002). A resposta da frequência cardíaca
intrínseca com o destreinamento, refletem-se como mais um dos resultantes da readaptação
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dos mecanismos que regulam o comportamento desta com a interrupção do treinamento físico
(McARDLE; KATCH; KATCH, 1998).
Corredores com maior queda no volume de treinamento semanal apresentam maior
aumento de peso:
BARBANTI, V. J. (2010). Treinamento esportivo: as capacidades motoras dos esportistas. Barueri:
Manole.
COYLE, E.F. Destreinamento e Retenção das Adaptações Induzidas pelo Treinamento de Endurance
In: Manual de Pesquisas das Diretrizes do ACSM para os Testes de Esforços e sua Prescrição. 4º
Edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. Cap. 21.
McARDLE, W.D., KATCH, F.I., KATCH, V.L. Fisiologia do exercício, energia, nutrição e performance
humana. 4 ed.Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998, 695p
RIBEIRO, J. P. . Limiares metabólicos e ventilatórios durante o exercício. Arquivos Brasileiros de
Cardiologia, v. 64, p. 171-181, 1995.
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Princípio da especificidade
Outro princípio importante, relacionado ao processo de treinamento, é o chamado
princípio da especificidade. De acordo com esse princípio, o treinamento deve se desenvolver
principalmente sobre os sistemas do organismo que predominam na atividade realizada pelo
atleta, ou seja, nos esportes de resistência, a capacidade aeróbia é a que prevalece em
aproximadamente 90% do tempo, enquanto os 10% restantes pertencem aos outros sistemas.
Em outras palavras: o conteúdo específico da carga de treino produz adaptações específicas.
A carga do treino deve ser específica, quer em relação à individualidade do atleta, quer
em relação às características típicas da modalidade escolhida. Em complemento, o treino geral
sempre deve ser realizado antes do treino específico, no planejamento em longo prazo. O treino
geral prepara o atleta para suportar a carga do treino específico. O volume de treino geral
determina a quantidade de treino específico que o atleta é capaz de realizar. Quanto maior for
o volume de treino geral, maior será a capacidade do atleta de realizar o treino específico.
Princípio da individualidade biológica
Segundo Tubino (1984), “define-se individualidade biológica o fenômeno que explica
a variabilidade entre elementos da mesma espécie, o que faz com que não existam pessoas
iguais”. Cada ser humano possui uma estrutura e uma formação física e psíquica próprias e,
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por isso, individualizar os estímulos de treinamento apresentaria melhores resultados, uma vez
que seriam obedecidas as características e as necessidades individuais dos praticantes de
esporte.
Isso possibilita o entendimento de como crianças da mesma faixa etária, ou atletas da
mesma especialidade, podem ter respostas diferenciadas frente a um mesmo tipo de
treinamento. Pode-se, inclusive, chegar aos mesmos desempenhos por meio de atividades
totalmente distintas.
Cada indivíduo é único e, por isso, cada indivíduo traz para o esporte as suas próprias
aptidões, capacidades e respostas aos estímulos do treino. Crianças e atletas diferentes
responderão de formas diferentes ao mesmo tipo de treino. Assim, não existe uma forma de
treino ideal que produza resultados ótimos para todos.
TUBINO, Manoel José Gomes. Metodologia científica do treinamento desportivo. 3ª edição. São Paulo:
Ibrasa, 1984.