Monografia Empilhadeira
Monografia Empilhadeira
ESCOLA DE ENGENHARIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ERGONOMIA
Belo Horizonte
2012
Marcio Jorge Salim
Belo Horizonte
2012
RESUMO
The work of a forklift operator refractories industry is the focus of this investigative work,
which aims to meet demands formulated by the health and safety of an industrial
transportation company and find elements that will subsidize the negotiations on improving
working conditions in the sector. It was developed the hypothesis that low back pain were
related will adopt awkward postures of the lumbar spine; requirements arising from the path
of the forklift, the time pressure and the physical effort of the operator in performing the tasks
We sought to identify the main risk factors for low back pain in the operator taking into
consideration their tasks and activities.The study was conducted in an industrial yard in the
city of Contagem (MG). The Ergonomic Work Analysis (AET) was used to know and study
the situations experienced by the worker, and from this knowledge, actions were proposed
improvements, aiming to minimize the stresses of work. The study showed problems for the
tasks, especially the dimensions of the workplace, characteristics of forklifts and time
pressure.This paper presents the final recommendations for improvements in the physical
environment and ways of performing the tasks of the operator to reduce the difficulties
pointed out by workers, which can avoid losses on the transportation industry.
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 9
2 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 12
2.1 Objetivo Geral .................................................................................................................... 12
2.2 Objetivos Específicos ......................................................................................................... 12
4 RESULTADOS ..................................................................................................................... 15
4.1 Funcionamento da empresa e o setor estudado .................................................................. 15
4.1.1 O funcionamento da empresa .......................................................................................... 15
4.1.2 O setor estudado .............................................................................................................. 15
4.2 O trabalho prescrito ............................................................................................................ 16
4.3 A empilhadeira ................................................................................................................... 17
4.4 Características do operador de empilhadeira ...................................................................... 19
4.5 A organização do trabalho .................................................................................................. 19
4.6 A dinâmica do trabalho do operador de empilhadeira no setor de pré-moldados .............. 20
4.7 A atividade do operador de empilhadeira ........................................................................... 21
4.7.1 As exigências do trajeto das empilhadeiras .................................................................... 21
4.7.2 Análise do tempo na tarefa do operador ......................................................................... 24
4.7.3 O esforço físico do operador na execução das tarefas ................................................... 25
4.7.4 Observação sistemática de posturas durante a atividade do operador de empilhadeira
.................................................................................................................................................. 30
5 DISCUSSÃO ......................................................................................................................... 33
6 DIAGNÓSTICO .................................................................................................................... 35
7 RECOMENDAÇÕES............................................................................................................ 36
7.1 Recomendações relativas às condições materiais ............................................................... 36
7.1.1 Recomendações relativas ao trajeto das empilhadeiras ................................................. 36
7.1.2 Recomendações relativas ao equipamento empilhadeira (componentes) ....................... 38
7.1.3 Recomendações relativas ao equipamento Empilhadeira (utilização) ........................... 39
7.1.4 Recomendações relativas ao risco de colisões e atropelamentos ................................... 40
7.2 Recomendações relativas à organização da produção ........................................................ 40
7.3 Recomendações relativas à organização do trabalho ......................................................... 41
8 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 42
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 43
1 INTRODUÇÃO
A demanda inicial para o presente estudo ocorreu em meados de março de 2011, onde o
Médico do trabalho da empresa expressou seu interesse em conhecer as causas de lombalgias
dos operadores de empilhadeiras do setor de pré-moldados envolvidos na tarefa de transporte
industrial, principalmente por ter recebido informações do técnico de segurança da empresa
de que o trabalho exige muitas manobras e é muito penoso. Importante ressaltar seu relato:
“todo dia tem operador de empilhadeira vindo aqui pegar remédio para dor de coluna [...] fico
preocupado porque excesso de remédio faz mal”. O engenheiro de segurança relatou que o
operador efetivo do setor de pré-moldados havia se afastado recentemente para tratamento da
coluna lombar; o que contribuiu para a escolha deste setor para o estudo ergonômico.
1
A metodologia do NTEP consiste em identificar quais doenças e acidentes estão relacionados com a prática de
uma determinada atividade profissional, o que caracteriza o acidente de trabalho quando o trabalhador contrai
uma enfermidade. Com o NPEP fica estabelecido para a Previdência, com base na presunção relativa entre
doença e a atividade profissional, o nexo causal relacionando À Classificação Internacional de Doenças (CID) e
a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). Importante ressaltar a inversão do ônus da prova
após o advento do NTEP, desincumbindo o empregado acometido de doença ocupacional, de comprovar a
aquisição da mesma no local de trabalho ou em função do mesmo, cabendo, agora à empresa, demonstrar a
inexistência de nexo causal entre o trabalho e o agravo.
2
Esse seguro vem assumindo maior relevância na legislação brasileira e com o advento da Constituição Federal
de 1988 e a sua obrigatoriedade limita-se inteiramente à exigência de culpa grave ou dolo para condicionar a
responsabilidade civil à indenização acidentária, em caso de o empregador concorrer para o acidente de trabalho,
com culpa em qualquer grau.
10
qualidade e gestão ambiental pela International Organization for Standardization (ISO- 9001
e ISO 9014) 3.
Iniciou suas atividades em 1970, após uma decisão dos proprietários da contratante, na época,
em delegar a um funcionário exemplar a abertura da referida empresa com a atividade fim
direcionada exclusivamente àquele pátio industrial.
Atualmente é dirigida pelos filhos do sócio- fundador e possui 112 funcionários com 58
empilhadeiras trabalhando em 3 turnos e horário central distribuído em (17) setores
(subdivisões que compõem o pátio industrial do objetivo de estudo).
A coleta de dados no setor de saúde ocupacional revelou que há casos de adoecimentos, com
predominância de afecções musculoesqueléticas na coluna vertebral; porém sem registros de
absenteísmo elevado nos últimos anos. Segundo os informes, recentemente um operador foi
submetido à cirurgia de hérnia de disco4.
3
A International Organization for Standardization (ISO) foi fundada em 1947, em Genebra, da qual participam
hoje cerca de 160 países com a missão de elaborar um conjunto de normas sistêmicas para a qualidade. A ISO
9001 é a norma que define os critérios que a empresa deve cumprir caso deseje operar de acordo com a norma e
obter a certificação. A ISO 9004 define diretrizes para melhoria de desempenho. Essas normas são genéricas,
não se prendem a um produto ou a um setor em particular, mas tratam da avaliação, sob a ótica da gestão da
qualidade, do processo produtivo como um todo, qualquer que seja ele. A adoção delas é vantajosa para as
organizações, pois confere maior credibilidade tanto no mercado nacional, quanto no mercado internacional,
quando os processos organizacionais necessitam ser avaliadors através de auditorias externas independentes
(PORTAL DO CONSUMIDOR, 2012).
4
Na fala do operador folguista 1: “O problema é que é muita manobra pra dar conta de tudo [...] pra uma só
pessoa tem que ser experiente [...] teve um novato que correram com ele. Era muito cuidadoso, mais era mole; ai
não serviu. Aqui a gente tem que dar conta do serviço, mesmo no fim do dia. Fico com corpo todo doendo”.
11
Portanto, o estudo dos fatores de risco para lombalgia é fundamental para melhoria das
condições de trabalho dos operadores. Surgem as primeiras perguntas: A pressão temporal é
determinada pelo atendimento de solicitações de outras chefias? A adoção de postura
desconfortável é determinada pelo tipo de empilhadeira e o tipo de carga a ser içada? O
aumento de esforço físico e o uso da musculatura decorrentes da distribuição das tarefas é um
determinante para o adoecimento por lombalgia? O trajeto da pista, o risco de acidentes, a
necessidade de ser mais rápido que determina o maior número de manobras podem atuar
como agravantes dos fatores acima expostos?
Este relatório, incluindo esta introdução, está dividido em mais oito partes. Na sequência
apresentam-se os procedimentos metodológicos; os resultados, discorrendo-se sobre o
funcionamento da empresa e o setor estudado, bem como o trabalho prescrito, a empilhadeira,
as características do operador de empilhadeira, a organização, dinâmica e atividades de seu
trabalho, focando exigências do trajeto das manobras da empilhadeira, a análise do tempo na
tarefa, o esforço físico e a observação sistemática de posturas durante a atividade; a discussão;
o diagnóstico; as recomendações e a conclusão. Referências bibliográficas e os anexos são
apresentados a seguir.
12
2 OBJETIVOS
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Utilizando o método de Análise Ergonômica do Trabalho (AET) (GUÈRIN et. al, 2001)
foram observados o funcionamento, as características do posto de trabalho e atividade
desenvolvida pelo operador de empilhadeira5. Foram utilizados os seguintes instrumentos para
realizar a AET:
5
O fluxograma e as tarefas do operador de empilhadeira se encontram no ANEXO A e os tipos de empilhadeiras
no ANEXO B.
14
i) Sessões em grupo (2) com 1 encarregado, 1 operador efetivo, 1 operador folguista para
fins de feedback, discussão da análise realizada, conclusões e recomendações.
Nas observações foram realizados os recursos de fotos e filmagens para facilitar posterior
análise dos modos operatórios do trabalhador. Foram realizadas sessões de auto confrontação
cruzada (5), em que dois operadores observaram-se executando as tarefas e discutiram a
respeito das estratégias desenvolvidas por cada uma para lidar com as diversas situações de
trabalho encontradas. Dessa sessão, foi possível identificar as estratégias individuais e
coletivas adotadas pelos operadores para algumas situações de trabalho.
15
4 RESULTADOS
O setor onde um único operador trabalha encontra-se dentro de um galpão do pátio industrial
e abrange uma área de 90m de comprimento por 30m de largura com pé direito de
aproximadamente 15metros. Possui piso regular em cimento acabado, paredes de alvenaria,
teto em estrutura metálica com telhas em zinco e translúcidas. O galpão tem iluminação mista
(natural e artificial) e ventilação natural. Este setor foi criado em 1985 e é destinado a
produção de refratários. Ele funciona somente no horário central, ou seja, de 07:00 às 16: hs
de segunda a sexta com uma de intervalo para almoço em escalas. A planta baixa a seguir
(FIG. 1) representa, de forma esquemática, a área deste setor.
16
As atividades prescritas para o operador em sua rotina são: receber e conferir, através de
check-list, o funcionamento da empilhadeira; dirigir a empilhadeira do estacionamento até o
setor de pré-moldados com segurança; receber as ordens verbais do encarregado; obedecer à
sequência de abastecimentos determinada pelo encarregado; dirigir a empilhadeira de acordo
com o treinamento inicial; comunicar ao encarregado quaisquer anormalidades durante a
jornada de trabalho e participar de todas as etapas que compõem o processo produtivo.
As atividades prescritas para o operador de acordo com as normas de segurança são realizar o
transporte industrial, em conformidade com as seguintes normas:
17
c) TRÂNSITO COM CARGAS: tomar cuidado especial com piso molhado, sujo de óleo
ou irregular\observar a altura das portas e passagens\evitar solavancos, partidas e freadas
bruscas\usar a marcha – ré, sempre que estiver descendo rampas ou quando a carga impedir a
visão da frente.
4.3 A empilhadeira
6
Norma regulamentadora sobre transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais.
18
liquefeito (GLP) 7 e elétricas. Possuem capacidade de carga que vão de 1.000 kg a 16.000 kg,
e de 2,00 metros até mais de 14 metros. São disponibilizados também vários acessórios que
podem aumentar a capacidade, autonomia e adequação a trabalhos específicos. Existem outros
tipos e modelos, tais como: elétricas, manuais, e portuárias.
GLP
a. Capacidade até 2 ton
i. 2 estágios
ii. 3 estágios
b. Capacidade de 2.5 até 3.5 ton
i. 2 estágios
ii. 3 estágios
c. Capacidade de 4 até 6.5 ton
i. 2 estágios
ii. 3 estágios
d. Capacidade de 7.5 até 9 ton
i. 2 estágios
ii. 3 estágios
e. Capacidade acima de 10 ton estágios
No setor estudado, o peso das cargas a serem transportadas nos bags e sacarias; varia de 500
kilos até 1 uma tonelada. O operador também transporta cargas porcionadas das sobras. Este
transporte é realizado no máximo de duas em duas toneladas chamadas de “dobras”. Por
7
As empilhadeiras utilizadas no setor estudado são do tipo de combustão de gás liquefeito que é uma mistura
de gases de hidrocarbonetos utilizado como combustível em aplicações de aquecimento (como em fogões) e
veículos. O GPL é a mistura de gases condensáveis presentes no gás natural ou dissolvidos no petróleo, com
componentes fáceis de condensar, ou seja, a mistura dos gases propano e butano.
19
isso, são utilizados somente dois modelos de empilhadeiras; a Hyster H60(3000 t) e a Hyster
Challenger 55(2500 t) (os comandos de acionamentos estão descritos no ANEXO B).
O operador inicia a sua jornada ás 07h00min e termina às 16h48min. Ele é o responsável por
executar todo transporte industrial necessário para as etapas que compõem o fluxograma de
produção.
Durante as observações, foi constatado que o operador, por questões gerenciais, recebe
verbalmente tais tarefas, ou seja, não existe uma ordem de serviço (OS) formal.
O operador relatou que não há solicitação de horas extras e que preferiu trabalhar nos
feriados religiosos, época em que a quantidade de serviços diminui para 50%. Constatou-se
através das planilhas do Planejamento e Controle de Produção (PCP); que o ritmo de
trabalho permanece contínuo e elevado no restante do ano. Foi verificado que não existem
pausas pré-estabelecidas e que não há espaços para troca de informações entre o operador e a
gerência.
Observou-se que tais comunicações verbais incluem as tarefas e os prazos que o operador
deverá cumprir durante a sua jornada de trabalho. Todos os setores que compõem as etapas
do processo produtivo deverão ser abastecidos pelo operador através das tarefas de carga e
descarga,empilhamento e transporte.
Existe uma sequência definida pelo encarregado e comunicada ao operador para que o
abastecimento ocorra de maneira ágil e ao mesmo tempo de forma segura.
Assim, um exemplo desta seqüência a ser cumprida pelo operador, em um dia normal de
produção, seria o abastecimento dos setores 1, 3, 5, e 8 de insumos, nesta ordem. Por outro
lado, como dissemos anteriormente, em um dia atípico, por exemplo em um feriado
religioso, o operador recebe uma seqüência menor. Um exemplo, seria abastecer somente o
setor 1.
Foi possível verificar durante o estudo, que a atividade desenvolvida pelo operador vai muito
além do que o explicitado pelo encarregado. Quando questionado a respeito, o encarregado
revelou: “com o tempo, eles vão adquirindo experiências e alguns procedimentos vão sendo
substituídos [...]”.
O operador inicia a sua jornada de trabalho na expedição. Neste momento, ele já recebeu as
orientações do encarregado para realizar as tarefas necessárias.
Em uma manhã típica de trabalho, o operador realiza as manobras de carga de sacarias que
são acondicionadas nos paletes. Para cada manobra, ele aciona a lança da torre da
22
FIGURA 2 - Trabalhador realiza uma flexão de coluna a 45º e uma rotação lateral do tronco a E;
colocando a cabeça para fora do habitáculo e conferindo o posicionamento da carga na torre.
Fonte: Dados de pesquisa
23
Percebeu-se que o trajeto percorrido pelo operador pode ser uma fonte de agravantes. A pista
e a área de manobras reduzidas pela colocação de cargas paralelas e dispostas à frente das
prateleiras é uma variação importante, segundo o comentário do operador:
[...] aqui neste setor, a pista é mais reduzida; repara pra você ver; por causa destas
cargas [...] Aqui a gente faz mais manobras para fazer o mesmo serviço do que se
fosse em outro setor. E tem que ter mais cuidado e ser rápido também (OPERADOR
1)
E quando questionado como ser rápido e cuidadoso interfere no seu trabalho, ele revelou:
“para trabalhar aqui tem que ser experiente... tem que ter rapidez porque as cargas dificultam
as manobras e cuidado para não bater a empilhadeira, estragar as cargas”. E em relação às
dimensões reduzidas da pista, o entrevistado informou:
As outras pistas do pátio geralmente tem de 4 á 4.5 m de largura. Neste setor, com as
cargas, que têm 1m de largura, na frente das prateleiras, a pista fica reduzida para até
2m quando as cargas são colocadas nos 2 lados... Isso dificulta muito o trabalho
(OPERADOR 1)
Evidenciou-se que com o tempo o operador adquire estratégias para cumprir as metas de
produção. Ele move o olhar em todas as direções e ao mesmo tempo coloca o pescoço e o
tronco para fora do habitáculo da máquina. Ele adota estas posturas desconfortáveis para ter
uma visão melhor e, ao mesmo tempo, evitar manobras desnecessárias.
Mensurou-se o tempo gasto por um operador inexperiente para realizar a mesma manobra.
Esta estratégia revelou um ganho de 2 minutos em relação ao trabalho do operador efetivo.
Quando adota estas posturas, situação frequente, o operador permanece em períodos de
contração estática dos membros superiores e do pescoço; o que pode levar ás DORTs. Um
relato significativo para essa constatação foi: “A gente fica muito numa mesma posição. No
fim do dia as costas e o pescoço doem muito” (OPERADOR 1).
24
O fato gerou constrangimento para o operador que comentou: “Olha pra você ver, não
consegui nem abastecer o meu setor ainda e tem este pedido ai (referindo-se ao chefe da
indústria) com urgência. “Se pelo menos ele pudesse esperar, ajudaria a não cansar tanto”.
(OPERADOR 1)
Apesar das diferentes chefias envolvidas nestes casos terem conhecimento destes fatos; esta
situação também contribui para a adoção de posturas adicionais pelo operador; que podem
resultar em adoecimento osteomuscular da coluna, conforme apresenta a FIG. 3.
Constatou-se que o tipo de empilhadeira utilizado pelo operador é uma variação significativa.
Quando o operador de empilhadeira se aproxima do local onde irá executar a descarga, o freio
é um fator desgastante. Ele passa devagar e na máquina onde o freio é mais duro, ele faz um
esforço maior ao acionar o pedal. Esta manobra é considerada penosa pelo operador. Veja-se
o relato: “É tanta força no pé que a noite a perna fica moída”. Esta postura desconfortável é
26
uma situação freqüente e contribui para a sobrecarga muscular que pode levar ao adoecimento
da coluna lombar.
Outro problema relatado pelo trabalhador é o banco com assento e encosto fixos. Quando o
operador circulou com a empilhadeira para conferir a descarga das sacarias no setor de
acabamento, ele flexionou 2 vezes a coluna em 30º de angulação; e também fez 2 rotações
laterais do tronco a D simultaneamente. Ele adota estas posturas para conferir a carga e
realizar as manobras com segurança. Neste momento, há sobrecarga muscular com períodos
de contração estática e dinâmica dos membros superiores.
Quando questionado como o banco fixo interfere no seu trabalho, ele comentou: “Quando a
gente vira para um lado, a coluna fica esticada. Depois doem as costas no fim do dia”.
O trabalhador adota algumas estratégias para cumprir as metas; e diminuir a sobrecarga física.
É prescrito que o operador observe a capacidade máxima de transporte da empilhadeira.
Entretanto, em alguns casos, não há indicação precisa da pesagem das sobras de materiais que
permanecem nas sacarias. Para evitar carregamentos desnecessários, que significam
27
retrabalho e aumento de esforço muscular, o operador adota uma estratégia. Ele inicia o
carregamento de forma habitual e na sequência, através da atenção, ele percebe e consegue
prever e antecipar o limite máximo da carga a ser transportada através dos seguintes sinais: os
pneus da empilhadeira abaixam-se; o diâmetro aumenta; os pneus ficam arriados; e a
suspensão da máquina também se abaixa. Assim, percebendo este conjunto de sinais, o
operador consegue circular com uma carga maior.
Mensurou-se o tempo gasto por um operador inexperiente para realizar a mesma tarefa
durante uma tarde de uma jornada típica. Observou-se, por 2 vezes, períodos em que o
operador inexperiente descia da máquina para conferir o bom encaixe da carga. Esta estratégia
revelou um ganho de 2 minutos, em cada período de manobra, em relação ao trabalho do
operador efetivo. A FIG. 5 ilustra a observação realizada.
Outra estratégia adotada pelo operador para diminuir a sobrecarga física é andar de ré. É
prescrito usar a marcha-ré sempre que estiver descendo rampas ou quando a carga impedir a
visão da frente. Entretanto, constatou-se que o operador passou a andar de ré com uma
frequência maior; quando comparado a andar de frente com a empilhadeira.
28
Como a maioria dos transportes e empilhamentos é chamada de “dobras” (que são cargas de
três volumes e que por obstruir a visão do operador, o impedem de andar de frente),
vislumbrou-se que para esta situação, o operador aprendeu que com este mecanismo, ele
sempre transportará uma carga maior (as dobras) em menor tempo. Caso contrário, ou seja,
dividindo a carga (uma e depois a outra) e dirigindo “de frente” ele sempre levará um tempo
maior. O operador fez o seguinte comentário sobre essa observação: “Transportando as
dobras de ré, a gente faz menos manobras”;
Mensurou-se o tempo gasto pelo operador para realizar o transporte de uma “dobra” de ré; e a
seguir dividindo a carga e realizando 2 transportes “de frente”.
Esta estratégia revelou um ganho de 4 minutos, para o mesmo volume de carga transportado,
quando o operador dirigiu de ré; que resultou em menor número de manobras.
É prescrito parar e buzinar ao atravessar portas e cruzamentos, usar a buzina como alerta
somente quando necessário, evitando assustar os pedestres.
Por outro lado, a disposição das cargas e a falta de sinalização na pista representam um
problema para o operador, conforme o seu comentário: “Aqui já ocorreram vários acidentes e
atropelamentos. O pessoal não respeita a gente”.
Constatou-se que este tipo de trânsito, enfrentado pelo operador, é comum todos os dias (FIG.
6).
29
Quando ele circula com a empilhadeira e se aproxima de quinas e dos locais onde os colegas
estão trabalhando, ele usa a visão que se torna mais aguçada com o tempo; e move o olhar em
todas as direções. Neste momento, ele se sente mais preocupado e adota posturas
desconfortáveis. Através das filmagens, pôde-se observar que durante 10 minutos, ao
transportar uma dobra, ele fez 4 deslocamentos de pescoço para a D e 2 a E; e 2 de tronco
para a D e 1 a E. Estas posturas implicam em sobrecarga muscular; e predispõe sintomas
relatados pelo operador: “A gente tem que olhar tudo ao nosso redor... no fim do dia o
pescoço fica doendo”.
Nos dias em que a pista está livre, ou seja, sem cargas e sem o trânsito dos colegas (por
exemplo, nos feriados), o operador relatou que se sente mais relaxado; e isso implica em
menor esforço físico. “Nos feriados o trabalho rende mais... a gente não tem que olhar para
todos os lados” (OPERADOR 1).
30
Inicialmente, filmou-se o trabalho do operador durante 3hs em um dia típico de trabalho; com
o objetivo de mensurar a prevalência das variações das tarefas. Conforme o GRAF. 1
evidenciou-se que a tarefa prevalente do operador é a carga e descarga.
A seguir, foi realizada a observação sistemática da variável postura, com aferição do tempo de
permanência durante a tarefa de carga e descarga. As aferições do tempo ocorreram em duas
datas distintas e por períodos de tempo idênticos, só considerando aquelas posturas realizadas
e mantidas por mais de 2 segundos.
Considerou-se relevante realizar uma segunda observação sistemática em outro operador para
fins de análise quantitativa das posturas adotadas. Portanto, no dia 27\10\11 filmou-se durante
40 minutos o trabalho do operador 2 do setor FTX.
12
10
8
4
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2
E s tudado)
0 O perador 2 (S etor F TX)
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GRÁFICO 2 - Posturas estereotipadas do operador de empilhadeira do setor de pré- moldados e do setor Ftx.
Fonte: Dados de pesquisa
Nota-se nesse resultado que houve uma diferença significativa no número de posturas
estereotipadas.
Como observado nas duas situações acima, o operador 1 permanece mais de 30% do tempo,
para realizar as mesmas tarefas do operador 2, em posturas estereotipadas adicionais; razão
suficiente para explicar os sintomas de lombalgia neste setor.
Para muitos pesquisadores, a região da coluna vertebral comporta um grande interesse, pois a
dor lombar é um dos principais problemas médicos e socioeconômicos dos tempos modernos
(HALL, 2000).
32
O objetivo foi comparar o trajeto das empilhadeiras, as áreas de manobras e evidenciar as suas
relações com as posturas estereotipadas, o esforço físico demandado e a pressão temporal.
33
5 DISCUSSÃO
Neste estudo foi observado que esses movimentos são constantemente exigidos do operador
durante sua jornada de trabalho, tanto na carga e descarga quanto no empilhamento e
circulação com a empilhadeira.
Até mesmo pequenos graus de flexão anterior de tronco são considerados na literatura como
um fator de médio a alto risco para o surgimento de lesões lombares, principalmente flexões
anteriores de tronco acima de 15º (FATHALLAH et. al, 1998).
Durante o trabalho, o operador chega a realizar movimentos de flexão anterior com fortes
amplitudes, os quais podem ser causadores de elevadas forças compressivas na coluna
vertebral principalmente nos segmentos L5- S1, levando a dor lombar.
temporal, o operador adota posturas estereotipadas. Isso foi observado com maior freqüência
durante o trabalho de carga e descarga.
Além disso, durante a flexão lateral e torção axial do tronco são necessárias ativações mais
complexas dos músculos do tronco para realizarem os movimentos de flexão e extensão da
coluna vertebral, gerando forças de compressão discal.
Essas forças aumentam com o acréscimo do peso do corpo acima do disco vertebral
(membros superiores, tronco e cabeça). Quando esses movimentos de flexão anterior e torção
são repetidos ou em excesso, como no caso do operador, aumentam a probabilidade de
incidência de hérnia e disco, ocasionando sintomas de dor (FERNANDES, CARVALHO,
2000; NRC & IM, 2001).
Pode-se concluir que a exigência de esforço físico na execução das tarefas e a pressão
temporal levam a necessidade da adoção de posturas estereotipadas, e assim, ao adoecimento
por parte do operador. A interação destes fatores contribui para o surgimento de lombalgias.
35
6 DIAGNÓSTICO
7 RECOMENDAÇÕES
Quanto às dimensões da pista, atualmente elas podem chegar a 2.5m de largura. (4.5m de
largura menos 2m das cargas nos 2 lados das prateleiras). Com as recomendações, a pista
ficaria sempre com 3.5m de largura, que resultará em menor número de manobras e risco de
lombalgias pelo operador.
A – Situação Atual
Estacionamento a 400 m
do setor de Pré-Moldados
Estoque
Produção Expedição
Pré Moldados
Legenda
= Cargas na pista e paralelas as prateleiras.
= Largura da pista.
= Empilhadeira
B – Recomendação de Melhoria
ESTOQUE
Produção
Pré-moldados EXPEDIÇÃO
Legenda
= Cargas na pista e paralelas às prateleiras.
= Largura da pista.
= Empilhadeira
Sugere-se um banco de material PVC automotivo e nas seguintes dimensões: altura (460 a
600mm) X comprimento (500mm) X largura (500 a 570mm), enquanto não ocorram as
substituições das máquinas (renovação da frota) em longo prazo.
Constatou-se que o operador não possui autonomia para adequar o tipo de tarefa a ser
executada à empilhadeira que melhor o atenda naquele momento. Assim, ele recebe a
máquina aleatoriamente no início da jornada de trabalho. Este fato contribui para a adoção de
posturas estereotipadas e sobrecarga física do operador. A recomendação espontânea para o
operador é a seguinte: para executar a tarefa de transporte e empilhamento, utilizar a
empilhadeira Challenger 55 com freio mais duro, banco e assento fixos, comandos manuais de
acionamentos. A maior capacidade de carga (6 ton.) para transporte e o maior alcance da torre
(4.9m) para o empilhamento justificam a escolha.
Por outro lado, para as tarefas de carga e descarga, transporte de sobras ou pequenas cargas, e
também para pequenos empilhamentos (carga, espaço físico e alcance da torre menor), utilizar
a empilhadeira Hyster H60.
A menor dimensão da máquina, o freio mais leve com transmissão eletrônica, o banco com
assento e encosto macios e reguláveis; para que o trabalhador opere a empilhadeira
40
Foi demonstrado que quando o operador transita com a empilhadeira na pista, ele está exposto
ao risco de colisões e atropelamentos. As quinas e os colegas são uma fonte de constante
preocupação. Ele usa a visão que se torna mais aguçada com o tempo e move o olhar em todas
as direções. Neste momento, ele adota postura estereotipada que potencializa os fatores de
risco para dor lombar. Para evitar o esforço físico na execução das tarefas, recomenda-se
sinalizar a pista com faixas para passagem de funcionários, bem como providenciar a
colocação de placas informativas e de espelhos.
Assim, o operador se sentirá mais relaxado para operar a máquina e adotará um número
menor de posturas estereotipadas, principalmente de movimentos de flexão, rotação lateral e
hiperextensão de pescoço.
A falta de autonomia sobre o ritmo de trabalho por parte do encarregado é um fator que
determina o efetivo reduzido e a pressão temporal a que o operador fica exposto.
Como já foi dito, o operador revelou que é auxiliado por outro operador em média 2 duas
vezes por ano. Mesmo com o efetivo reduzido, ele consegue realizar a sua atividade, o que
resulta na adoção de posturas estereotipadas.
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Foi observado que o operador não possui pausas durante a sua jornada de trabalho;o que não
permite que o corpo e mente do mesmo descansem. Segundo o relato do operador,ás vezes,
ele vai ao banheiro, deambula, ingeri um café como forma de deixar o posto de trabalho e
realizar pausas.
17.6.3. Nas atividades que exijam sobrecarga muscular estática ou dinâmica do pescoço,
ombros, dorso e membros superiores e inferiores, e a partir da análise ergonômica do trabalho,
deve ser observado o seguinte:
aproximação das chefias e operador, resultando na melhora das relações interpessoais; e uma
possível autonomia dos trabalhadores.
Outro tema a ser abordado, seria a utilização da estratégia “andar de ré “; que apesar de
facilitar o trabalho, resulta na adoção de posturas estereotipadas; aumentando o risco de
adoecimento durante o cumprimento das metas.
8 CONCLUSÃO
A análise ergonômica identificou como principal fator de risco a postura e esforço físico na
execução das tarefas, determinando posturas estereotipadas que resultam em sobrecarga
biomecânica para a coluna lombar.
A organização do trabalho mostrou-se outro fator agravante, visto que o operador atende ao
ritmo de trabalho imposto pela planilha do PCP, e também a outras demais chefias. A
ansiedade de atender com pontualidade e a contento; não permite que haja tempo de
recuperação da musculatura vertebral, agravando os danos sobre a coluna lombar.
.
As posturas estereotipadas adotadas pelo operador durante a sua atividade atuam como fatores
de risco acentuado para o adoecimento da coluna vertebral do empilhadeirista da Indústria de
refratários.
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REFERÊNCIAS
ABRAHÃO, Julia et. al. Introdução á ergonomia: da prática á teoria. São Paulo:
Blucher, 2009.
MODELO
Figura 4 Figura 5
Empilladeira Challenger 55 Empilhadeira Hyter H-60
Altura com torre abaixada: 5.20m Altura com torre abaixada: 2.60m
Altura com a torre estendida: 10.74m Altura com a torre estendida: 4.94m
DIMENSÕES
Comprimento: 5.56m Comprimento: 6.10m
Largura: 2.54m Largura: 1.16m
Banco com assento e encosto fixos Banco com assento e encosto
Direção Hidráulica reguláveis; assento giratório
Caixa de alavancas manuais Direção Hidráulica
CARACTERISTICAS Nível de ruído maior Sistema de comando elétrico
Nível de ruído menor, conforto,
facilidade de operação e
dirigibilidade.
Fonte: Dados de pesquisa