Modelos Constitutivos para Rejeito de Minério
Modelos Constitutivos para Rejeito de Minério
Dissertação
Avaliação Comparativa de
Modelos Constitutivos para
um Rejeito de Minério de
Ferro do Quadrilátero
Ferrífero
2022
ANDRÉ DE OLIVEIRA FARIA
OURO PRETO
2022
SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO
CDU 624.13
FOLHA DE APROVAÇÃO
Avaliação comparativa de modelos constitutivos para um rejeito de minério de ferro do Quadrilátero Ferrífero
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geotecnia do Núcleo de Geotecnia da Escola de Minas da Universidade
Federal de Ouro Preto, como parte integrante dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Geotecnia
Membros da banca
Prof. Dr. Lucas Deleon Ferreira - Orientador (Universidade Federal de Ouro Preto)
Prof. Dr. Eleonardo Lucas Pereira - (Universidade Federal de Ouro Preto)
Prof. Dr. Alessandro Cirone - (PUC/RJ)
O Prof. Lucas Deleon Ferreira, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito no Repositório Institucional da
UFOP em 06/12/2022.
Documento assinado eletronicamente por Lucas Deleon Ferreira, PROFESSOR DE MAGISTERIO SUPERIOR,
em 07/12/2022, às 10:29, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto
nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.
Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.003230/2022-31 SEI nº 0439247
ii
DEDICATÓRIA
Aos meus pais João Batista e Lenir, pelo amor incondicional e pelo incentivo incansável
na dedicação aos estudos.
Aos meus irmãos Vinícius e Ana Carolina, exemplos de pessoas e profissionais.
iii
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo dom da vida e por me proporcionar saúde e sabedoria todos os dias.
Aos amigos Mauro, Marcus e Felipe, pela amizade e exemplo de dedicação profissional.
iv
RESUMO
A Mecânica dos Solos em sua abordagem clássica apresenta limitações no que tange,
principalmente, o comportamento plástico dos solos na medida em que aspectos de
resistência e de deformabilidade são tratados de maneira distinta e simplificada. Neste
contexto, a Mecânica dos Solos dos Estados Críticos propõe uma abordagem integrada
do comportamento do solo, introduzindo o conceito de estado crítico associado à teoria
da plastificação com endurecimento e amolecimento. Essa consideração permite um
tratamento mais rigoroso na resolução dos problemas, em especial àqueles relacionados
ao comportamento tensão-deformação. A disseminação desse conceito ainda é
relativamente nova no Brasil, uma vez que o tema não é usualmente abordado na esfera
acadêmica e tem sido aplicado pontualmente no mercado de trabalho, em que
tradicionalmente são adotadas soluções de modelagem mais simples. Neste contexto, o
objetivo deste trabalho consiste em comparar a capacidade preditiva de três modelos
constitutivos para a simulação do comportamento de um rejeito de minério de ferro do
Quadrilátero Ferrífero, considerando o modelo de Mohr-Coulomb, amplamente utilizado
no mercado de trabalho, Cam-Clay Modificado e NorSand, os quais consideram o
conceito de estado crítico em suas formulações. Para o desenvolvimento das modelagens
foi utilizado o programa GeoStudio (SIGMA/W) e dados experimentais disponíveis na
literatura. Os resultados numéricos a partir da utilização do modelo constitutivo Mohr-
Coulomb confirmaram as suas limitações em termos de resposta perfeitamente plástica.
Dentre os três modelos, o NorSand foi aquele que apresentou melhor representatividade
numérica em relação ao comportamento experimental, o que pode estar atrelado à
utilização do maior número de parâmetros, à aplicação do parâmetro de estado, bem como
à natureza siltosa do rejeito analisado. Adicionalmente, observou-se dificuldade em
simular o comportamento denso do material, o que pode estar associado à formação de
planos de cisalhamento durante o ensaio triaxial, bem como à complexidade em modelar
a ocorrência desse fenômeno em ensaios virtuais utilizando o modelo NorSand. Por fim,
a melhor aderência aos resultados experimentais evidenciou a importância da aplicação
da Mecânica dos Solos dos Estados Críticos nos estudos tensão-deformação, a qual pode
ser eventualmente adotada na simulação do comportamento de estruturas reais
submetidas a altas tensões, como perspectiva de pesquisas futuras.
Palavras-chave: estado crítico; tensão-deformação; modelo constitutivo; Cam-Clay
Modificado; NorSand.
v
ABSTRACT
Soil Mechanics in its classical approach has limitations regarding, mainly, the plastic
behavior of soils insofar as aspects of strength and deformability are treated in a different
and simplified way. In this context, Critical State Soil Mechanics proposes an integrated
approach to soil behavior, introducing the concept of critical state associated with the
theory of hardening and softening plasticization. This consideration allows a more
rigorous treatment in solving problems, especially those related to stress-strain behavior.
The dissemination of this concept is still relatively new in Brazil, where the topic is not
usually addressed in the academic sphere and has been applied occasionally in the job
market, where simpler modelling solutions are traditionally adopted. In this context, the
objective of this research is to compare the predictive capacity of three constitutive
models to simulate the behavior of an iron ore tailings from the Quadrilátero Ferrífero,
considering the Mohr-Coulomb model, widely used in the job market, Modified Cam-
Clay and NorSand, which consider the concept of critical state in their formulations. For
the modelling development, the GeoStudio (SIGMA/W) and experimental data available
in the literature were used. Numerical results from the use of the Mohr-Coulomb model
confirmed its limitations in terms of a perfectly plastic response. Among the three models,
the NorSand was the one that presented the best numerical representation in relation to
the experimental behavior, which may be linked to the use of the largest number of
parameters, to the application of the state parameter, as well as the silty nature of the
tailings analyzed. Additionally, it was observed difficulty in simulating the material dense
behavior, which may be associated with the formation of shear bands during the triaxial
test, as well as the complexity in modeling the occurrence of this phenomenon in virtual
tests using the NorSand model. Finally, the best adherence to the experimental results
highlighted the importance of applying Critical State Soil Mechanics in stress-strain
studies, which can eventually be adopted in the simulation of the behavior of real
structures subjected to high stresses, as a perspective of future research.
Key words: critical state; stress-strain; constitutive model; Modified Cam-Clay; NorSand.
vi
Lista de Figuras
vii
Figura 2.23 - Variações de estado para ensaios em amostras de areia “fofa” e densa
(adaptado de Atkinson e Bransby, 1978). ...................................................................... 45
Figura 2.24 - Superfície de escoamento de Mohr-Coulomb no espaço de tensões
principais. ....................................................................................................................... 47
Figura 2.25 - Superfície de escoamento de Mohr-Coulomb. ......................................... 47
Figura 2.26 - Superfície limite dos estados do modelo Cam-Clay original (adaptado de
Maranha das Neves, 2016). ............................................................................................ 49
Figura 2.27 - Região da superfície limite dos estados (adaptado de Roscoe e Burland,
1968). .............................................................................................................................. 50
Figura 2.28 - Relação entre p’ e q na compressão isotrópica e no estado crítico. .......... 51
Figura 2.29 - Projeção da superfície de cedência no plano q-p' para o modelo Cam-Clay
original (adaptado de Silva, 1996). ................................................................................. 52
Figura 2.30 - Incremento de deformação plástica no modelo Cam-Clay original (Maranha
das Neves, 2016). ........................................................................................................... 53
Figura 2.31 - Funções de plastificação (iguais às funções de potencial plástico) dos
modelos Cam-Clay (Maranha das Neves, 2016). ........................................................... 54
Figura 2.32 - Superfície de cedência do modelo Cam-Clay Modificado projetada no plano
q-p’ (adaptado de Maranha das Neves, 2016). ............................................................... 55
Figura 2.33 - Superfície limite de estados nos modelos (a) Cam-Clay e (b) Cam-Clay
Modificado (adaptado de Silva, 1996). .......................................................................... 56
Figura 2.34 - Definição de parâmetro de estado (adaptado de Jefferies e Been, 2016). 59
Figura 2.35 - Avaliação da trajetória de tensões para areias sob diferentes condições
(adaptado de Jefferies e Been, 2016). ............................................................................. 60
Figura 2.36 - Avaliação da dilatância máxima para materiais arenosos submetidos ao
ensaio de compressão triaxial drenado (adaptado de Jefferies e Been, 2016). ............... 61
Figura 2.37 - (a) Cam-Clay; (b) Modelo NorSand (adaptado de Jefferies e Been, 2016).
........................................................................................................................................ 62
Figura 2.38 - (a) Todos os ensaios na mesma escala; (b) Ensaio 874/MT; (c) Ensaio
LDUL-1/PV; (d) Ensaio LDUL-2/PV e (e) Ensaio LDUL-3/PV em escala expandida
(adaptado de Jefferies e Been, 2000). ............................................................................. 63
Figura 2.39 - Superfície de escoamento para materiais no estado “fofo” (adaptado de
Jefferies e Been, 2016). .................................................................................................. 67
Figura 2.40 - Superfície de escoamento para materiais na condição densa (adaptado de
Jefferies e Been, 2016). .................................................................................................. 67
viii
Figura 2.41 - Evolução da superfície de escoamento (adaptado de Jefferies, 1993). ..... 69
Figura 3.1 - Distribuição granulométrica segundo ASTM D422. .................................. 72
Figura 3.2 - Curva de compressibilidade. ....................................................................... 72
Figura 3.3 - Variação da tensão desviadora (q) com a deformação axial (εa). .............. 75
Figura 3.4 - Variação da deformação volumétrica (εV) com a deformação axial (εa)... 75
Figura 3.5 - Trajetórias de tensão e envoltória de máxima tensão desviadora. .............. 76
Figura 3.6 - Projeção da linha de estados críticos no plano e-p’. ................................... 77
Figura 3.7 - Projeção da linha de estados críticos no plano q-p’. ................................... 78
Figura 3.8 - Metodologia utilizada na modelagem computacional. ............................... 79
Figura 3.9 - (a) Sólido axissimétrico; (b) Geometria adotada nas análises. ................... 79
Figura 3.10 - Avaliação de sensibilidade da altura do CP durante as modelagens. ....... 80
Figura 3.11 - Condições de contorno aplicadas para a etapa de adensamento. .............. 81
Figura 3.12 - Condições de contorno aplicadas para a etapa de cisalhamento. .............. 82
Figura 3.13 - Avaliação ângulo de dilatância. ................................................................ 84
Figura 3.14 - Avaliação de sensibilidade do OCR para resposta tensão-deformação - CID-
03 (200 kPa) Modelo Cam-Clay Modificado. ................................................................ 85
Figura 3.15 - Avaliação de sensibilidade do OCR para relação de deformações - CID-03
(200 kPa) Modelo Cam-Clay Modificado. ..................................................................... 86
Figura 3.16 - Relação Ψ- Dmin. ..................................................................................... 88
Figura 3.17 - Relação Dmin- ηmáx................................................................................ 88
Figura 3.18 - Relação H- Ψ0. ......................................................................................... 89
Figura 4.1 - Tensão-deformação consolidada – Modelo Mohr-Coulomb. ..................... 90
Figura 4.2 - Relação de deformações consolidada – Modelo Mohr-Coulomb............... 91
Figura 4.3 - Variação do índice de vazios – Modelo Mohr-Coulomb. ........................... 92
Figura 4.4 - Tensão-deformação CID-03 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. ........... 93
Figura 4.5 - Relação de deformações CID-03 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. .... 93
Figura 4.6 - Variação do índice de vazios CID-03 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb.
........................................................................................................................................ 94
Figura 4.7 - Tensão-deformação consolidada – Modelo Cam-Clay Modificado. .......... 95
Figura 4.8 - Relação de deformações consolidada – Modelo Cam-Clay Modificado. ... 96
Figura 4.9 - Variação do índice de vazios – Modelo Cam-Clay Modificado. ................ 96
Figura 4.10 - Tensão-deformação – Modelo Cam-Clay Modificado. ............................ 97
Figura 4.11 - Relação de deformações – Modelo Cem-Clay Modificado. ..................... 97
ix
Figura 4.12 - Variação do índice de vazios CID-03 (200 kPa) – Modelo Cam-Clay
Modificado. .................................................................................................................... 99
Figura 4.13 - Tensão-deformação consolidada – Modelo NorSand. ............................ 100
Figura 4.14 - Relação de deformações consolidada para a condição NorSand Calibração.
...................................................................................................................................... 100
Figura 4.15 - Relação de deformações consolidada para a condição NorSand Final. .. 101
Figura 4.16 - Variação do índice de vazios para a condição NorSand Calibração. ...... 101
Figura 4.17 - Variação do índice de vazios para a condição NorSand Final. ............... 102
Figura 4.18 - Avaliação de sensibilidade para calibração considerando Gref = 10 MPa –
Modelo NorSand condição “fofa”: (a) tensão de 400 kPa; (b) tensão de 200 kPa e (c)
tensão de 100 kPa. ........................................................................................................ 103
Figura 4.19 - Tensão-deformação CID-03 (200 kPa) – Modelo NorSand. .................. 104
Figura 4.20 - Relação de deformações CID-03 (200 kPa) – Modelo NorSand. ........... 104
Figura 4.21 - Variação do índice de vazios CID-03 (200 kPa) – Modelo NorSand. .... 105
Figura 4.22 - Avaliação de sensibilidade χ para relação de deformações - CID-03 (200
kPa) Modelo NorSand. ................................................................................................. 106
Figura 4.23 - Avaliação de sensibilidade para calibração considerando Gref = 10 MPa –
Modelo NorSand condição densa: (a) Comportamento Tensão-Deformação e (b) Relação
entre deformações axiais e volumétricas. ..................................................................... 107
Figura 4.24 - Tensão-deformação Modelo Cam-Clay Modificado – Não Drenado. .... 108
Figura 4.25 - Tensão-deformação Modelo NorSand – Não Drenado........................... 108
Figura 4.26 – Análise de sensibilidade parâmetro k – Modelo Cam-Clay Modificado Não
Drenado. ....................................................................................................................... 109
Figura A.1 - Tensão-deformação CID-01 (400 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. ........ 117
Figura A.2 - Relação de deformações CID-01 (400 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. . 117
Figura A.3 - Tensão-deformação CID-02 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. ........ 118
Figura A.4 - Relação de deformações CID-02 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. . 118
Figura A.5 - Tensão-deformação CID-04 (100 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. ........ 119
Figura A.6 - Relação de deformações CID-04 (100 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. . 119
Figura B.1 - Tensão-deformação CID-01 (400 kPa) – Modelo Cam-Clay Modificado.
...................................................................................................................................... 120
Figura B.2 - Relação de deformações CID-01 (400 kPa) – Modelo Cam-Clay Modificado.
...................................................................................................................................... 120
x
Figura B.3 - Tensão-deformação CID-02 (200 kPa) – Modelo Cam-Clay Modificado.
...................................................................................................................................... 121
Figura B.4 - Relação de deformações CID-02 (200 kPa) – Modelo Cam-Clay Modificado.
...................................................................................................................................... 121
Figura B.5 - Tensão-deformação CID-04 (100 kPa) – Modelo Cam-Clay Modificado.
...................................................................................................................................... 122
Figura B.6 - Relação de deformações CID-04 (100 kPa) – Modelo Cam-Clay Modificado.
...................................................................................................................................... 122
Figura C.1 - Tensão-deformação CID-01 (400 kPa) – Modelo NorSand. ................... 123
Figura C.2 - Relação de deformações CID-01 (400 kPa) – Modelo NorSand. ............ 123
Figura C.3 - Tensão-deformação CID-02 (200 kPa) – Modelo NorSand. ................... 124
Figura C.4 - Relação de deformações CID-02 (200 kPa) – Modelo NorSand. ............ 124
Figura C.5 - Tensão-deformação CID-04 (100 kPa) – Modelo NorSand. ................... 125
Figura C.6 - Relação de deformações CID-04 (100 kPa) – Modelo NorSand. ............ 125
xi
Lista de Tabelas
xii
Lista de Símbolos e Nomenclaturas
Nomenclaturas
Alfabeto latino
Alfabeto grego
xv
Lista de Apêndices
xvi
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO................................................................................. 19
2.2. ELASTICIDADE..................................................................................................... 24
xvii
4.1.2. Ensaios CID-01, 02 e 04 (Condição “Fofa”) ................................................. 90
4.1.3. Ensaio CID-03 (Condição Densa) ................................................................. 92
xviii
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
A Mecânica dos Solos é a ciência aplicada que estuda o comportamento mecânico e hidráulico
do solo. Segundo as ideias de Terzaghi e Peck (1967), não se pode aplicar aos solos leis teóricas
de uso corrente desenvolvidas para outros materiais de engenharia, como o concreto e o aço.
Logo, não é suficiente determinar em laboratório parâmetros de resistência e deformabilidade
em amostras de solo e aplicá-los a modelos teóricos desenvolvidos para outros materiais.
A Mecânica dos Solos dos Estados Críticos (CSSM, da sigla em inglês) propõe uma abordagem
integrada do comportamento mecânico dos solos, correlacionando aspectos de deformabilidade
e de resistência ao cisalhamento, tratados de maneira distinta pela Mecânica dos Solos Clássica.
Um solo alcança o estado crítico quando continua a se deformar sob tensão e volume constantes
(Roscoe et al., 1958).
1.2. JUSTIFICATIVA
19
definição dos parâmetros obtidos nos ensaios de campo e laboratório configuram-se como
fundamentais nesse processo. Neste contexto, a execução do presente trabalho se justifica como
forma de contribuir com a necessidade da utilização dos conceitos da teoria dos estados críticos
em estudos de tensão-deformação.
Dessa forma, fazem-se necessários estudos à luz da Mecânica dos Solos dos Estados Críticos a
fim de se obter parâmetros últimos intrínsecos a estes materiais, independente do estado de
tensão e da condição de carregamento imposta (drenada ou não drenada). Nesse aspecto,
possibilitando a obtenção de parâmetros necessários a fim de utilizar modelos constitutivos
mais representativos do comportamento elastoplástico característico de solos e meios
particulados em geral, como, por exemplo, rejeitos de mineração.
1.3. OBJETIVOS
Essa abordagem busca promover uma discussão sobre a necessidade da utilização dos conceitos
da Mecânica dos Solos dos Estados Críticos em estudos de tensão-deformação, considerada nos
modelos Cam-Clay Modificado e NorSand, em complemento à ampla utilização comercial do
modelo Mohr-Coulomb, o qual não considera a teoria dos estados críticos. Além de possibilitar
uma avaliação do modelo constitutivo que melhor consegue capturar o comportamento de um
rejeito de minério de ferro específico, objetivando análises mais confiáveis acerca da segurança
das estruturas geotécnicas associadas a esse material. Ressalta-se que a utilização do modelo
Mohr-Coulomb foi priorizada, dentre os modelos da literatura que não consideram a teoria dos
estados críticos, tendo em vista a sua ampla utilização comercial.
20
1. Modelar pelo Método de Elementos Finitos (MEF) o comportamento tensão-
deformação do material considerando três modelos constitutivos (Mohr-Coulomb,
Cam-Clay Modificado e NorSand);
2. Comparar os resultados de cada modelo estudado com os resultados observados
experimentalmente;
3. Definir o modelo constitutivo que apresenta o comportamento mais representativo ao
observado nos ensaios triaxiais.
O presente trabalho foi elaborado em 5 capítulos. O presente capítulo busca oferecer uma
introdução acerca do assunto, evidenciar a motivação que justificou o tema escolhido para a
pesquisa, bem como os objetivos geral e específicos da dissertação.
O quarto capítulo apresenta e discute os resultados obtidos através das análises numéricas de
tensão-deformação. São feitas análises comparativas entre a resposta computacional e o
comportamento experimental, discutindo para cada modelo estudado os resultados obtidos para
as diferentes condições de estado inicial do rejeito adotado (condições “fofa” e densa).
21
CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os solos são meios particulados que respondem aos carregamentos a eles impostos por
meio da interação interparticular, constituindo-se, assim, num meio essencialmente
discreto. No entanto, dada a dificuldade prática em se compatibilizar as condições de
equilíbrio em tais circunstâncias, a Mecânica dos Solos considera, por simplificação, que
o comportamento mecânico dos solos, e demais materiais de constituição particulada,
pode ser satisfatoriamente compreendido assumindo-se a hipótese de um meio contínuo
cujo comportamento, no entanto, é regido pela tensão efetiva (decorrente dos efeitos da
poropressão que podem atuar nos vazios do material) e não, exclusivamente, pela tensão
total aplicada.
Entende-se por tensão, uma força atuando numa unidade de área, bem como por
deformação, uma intensidade de deslocamento que se traduz por variação da distância em
uma unidade de comprimento. Forças e tensões devem estar em equilíbrio, a fim de se
evitar que o corpo sofra aceleração. Nesse mesmo sentido, os deslocamentos ao darem
origem às deformações devem ser compatíveis, ou então o corpo pode exibir
descontinuidades ou sobreposições (Maranha das Neves, 2016).
22
Em um estado de tensões axissimétrico, as variáveis de tensão e deformação são
representadas de forma simplificada em termos de direções principais, em que, tomando
o estado de tensão efetiva, tem-se que 𝜎′1 e 𝜎′3 representam a tensão principal maior
efetiva e a tensão principal menor efetiva, respectivamente, sendo 𝜎′2 = 𝜎′3 (condição de
axissimetria). Da mesma forma, tem-se que 𝜀1 e 𝜀3 representam as componentes de
deformação associadas a essas tensões principais, respectivamente.
Nestes termos, sob a condição axissimétrica tem-se que a tensão média efetiva ou
volumétrica (𝑝′ ) é responsável por gerar variação volumétrica no material, bem como a
tensão desviadora ou distorcional (𝑞) está associada à ocorrência das variações de forma,
sendo expressas pelas Equações (2.1) e (2.2).
1
𝑝′ = (𝜎′1 + 2𝜎′3 ) (2.1)
3
𝑞 = 𝜎′1 − 𝜎′3 (2.2)
𝑞
𝜂= (2.3)
𝑝′
𝜀𝑣 = 𝜀1 + 2𝜀3 (2.4)
2
𝜀𝑠 = (𝜀1 − 𝜀3 ) (2.5)
3
em que:
𝜀𝑣 é a deformação volumétrica; e
𝜀𝑠 representa a deformação distorcional.
Conhecidas tais relações, pode-se definir que o trabalho realizado durante um incremento
de deformação volumétrica (𝛿𝜀𝑣 ) e distorcional (𝛿𝜀𝑠 ), 𝛿𝑊 (densidade de trabalho), pode
ser dado pela Equação (2.6).
23
𝛿𝑊 = 𝑞𝛿𝜀𝑠 + 𝑝′ 𝛿𝜀𝑣 (2.6)
Maranha das Neves (2016) esclarece que tensões e deformações podem se relacionar por
intermédio de equações constitutivas, de modo que a escolha da equação adequada
depende do grau de aproximação com que se pretende descrever o comportamento real
do material. Quanto maior for essa aproximação, maior será a complexidade da relação
e, consequentemente, mais parâmetros relacionados com as propriedades mecânicas do
material em causa.
2.2. ELASTICIDADE
Para os materiais elásticos, tem-se que o trabalho realizado pelas tensões externas durante
um incremento de deformação é armazenado e pode ser recuperado no descarregamento
da tensão inicialmente aplicada. Schofield e Wroth (1968) definem que um contínuo
elástico isotrópico apresenta propriedades lineares que envolvem apenas duas constantes
fundamentais dos materiais, sendo uma relacionada aos efeitos gerados pela tensão
volumétrica e a outra pelos efeitos da tensão desviadora, respectivamente: i) módulo de
compressibilidade volumétrica 𝐾 e ii) módulo de distorção 𝐺. Nesse aspecto, tem-se que:
𝑑𝑞
3𝐺 = (2.7)
𝑑𝜀𝑠
𝑑𝑝
𝐾= (2.8)
𝑑𝜀𝑣
𝜎1
𝐸= (2.9)
𝜀1𝑒
𝜀3𝑒
𝜈=− (2.10)
𝜀1𝑒
𝐸
𝐺= (2.11)
2(1 + 𝜈)
𝐸
𝐾= (2.12)
3(1 − 2𝜈)
2.3. PLASTICIDADE
Enquanto no domínio da elasticidade o trabalho realizado pelas tensões externas pode ser
recuperado na fase de descarregamento, para o incremento de deformações plásticas o
trabalho realizado é dissipado, de modo que estas deformações não são recuperáveis na
fase de descarregamento.
Ainda segundo os referidos autores, uma das diferenças principais entre a plasticidade e
a elasticidade está no tratamento das deformações. Na elasticidade, considerando a
condição isotrópica, os incrementos de deformações principais estão na mesma direção
dos incrementos das tensões principais (coaxialidade entre tensões e deformações). Para
a plasticidade, o desenvolvimento teórico se concentra inicialmente na identificação do
25
estado de tensões sob as quais as deformações plásticas ocorrem, a fim de definir a
superfície de escoamento ou de cedência plástica (lugar geométrico dos estados de
tensões que levam às deformações plásticas). Adicionalmente, faz-se necessária a
definição adicional da magnitude e da direção em que as deformações plásticas ocorrem.
𝐹 = 𝑓(𝜎1 , 𝜎2 , 𝜎3 ) (2.13)
Deve salientar-se que em cada um dos casos apresentados na Figura 2.1 (perfeitamente
plástico, endurecimento e amolecimento) as deformações totais para um dado nível de
tensão são a soma das componentes elásticas e plásticas.
26
Figura 2.1 - Representação do comportamento plástico dos materais.
𝐹 = 𝜎1 − 𝜎3 − 2𝑘 = 0 (2.14)
27
em que 𝑌 representa a tensão de escoamento obtida através do ensaio de tração axial. A
representação da função de plastificação no espaço de tensões pode ser definida segundo
uma superfície prismática de base cilíndrica centrada no eixo hidrostático (Figura 2.3).
28
𝐹 = 𝐽2 − (𝑘 + 𝛼𝐼1 )2 = 0 (2.16)
Após observado que a superfície proposta levava à previsão exagerada das deformações
plásticas, Drucker et al. (1957) propuseram uma nova superfície de escoamento fechada
(Figura 2.6), afirmando que os solos não podem ser tratados como materiais plásticos
perfeitos e que seu comportamento se assemelha ao de materiais elastoplásticos com
endurecimento e amolecimento. Adicionalmente, os autores indicaram que a superfície
de escoamento dos solos deve obrigatoriamente interceptar a diagonal (eixo isotrópico)
do espaço de tensões (𝜎1 = 𝜎2 = 𝜎3 ).
29
Figura 2.6 - Superfície de Drucker et al. (1957) (adaptado de Nader, 1993).
Segundo Owen e Hinton (1980), a superfície de escoamento varia para cada estágio da
deformação plástica, com exceção dos materiais tratados como perfeitamente plásticos,
para os quais não há variação dessa superfície, conforme Figura 2.7a. Para aqueles que
apresentam comportamento de endurecimento, há três casos típicos: i) endurecimento
isotrópico: ocorre a expansão uniforme da superfície de escoamento sem translação
(Figura 2.7b); ii) endurecimento cinemático: ocorre a translação da superfície no espaço
de tensões, como um corpo rígido (Figura 2.7c) e iii) endurecimento misto: combinação
dos dois tipos anteriores, através da expansão e translação da superfície de escoamento
(Figura 2.8).
30
Figura 2.7 - Variações da superfície de escoamento (Silva, 1996).
Da Figura 2.9a, tem-se que o vetor 𝜎𝑖𝑗′ representa uma combinação de tensões que leva o
material ao ponto de plastificação, de modo que o conjunto de pequenos vetores
representa a combinação de diferentes componentes de incrementos de tensão capazes de
31
resultar no mesmo endurecimento isotrópico, levando o material para uma nova superfície
de escoamento (F’ = 0).
A Figura 2.9b mostra o vetor normal à superfície de escoamento, indicando que não
importa qual vetor de incremento de tensão é aplicado, o mesmo incremento de
deformação plástica irá ocorrer, uma vez que sua ocorrência está ligada à combinação dos
incrementos de tensão que levaram o material à plastificação, definida anteriormente pela
função de plastificação. Assim, tem-se que os incrementos de deformação plástica não
estão relacionados diretamente aos incrementos de tensão e não são diretamente
proporcionais a esses componentes de tensão.
Figura 2.9 – (a) Endurecimento isotrópico e (b) Fluxo plástico associado (Schofield e
Wroth, 1968).
𝑝
𝜎𝑖𝑗′ 𝜀𝑖𝑗 ≥0 (2.17)
32
2.4. MECÂNICA DOS SOLOS DOS ESTADOS CRÍTICOS
2.4.1. Conceito
O estado crítico é considerado como o estágio final que o solo atinge quando continua se
deformando sob tensão e volume constantes, independente do estado inicial (tensão e/ou
compacidade) ou da sua condição de carregamento.
33
100 kPa para três condições de compacidade: i) areia “fofa”, ii) areia densa e iii) amostra
com índice de vazios crítico, conforme observado na Figura 2.11.
Para responder o que aconteceria caso uma areia saturada na condição “fofa” fosse
submetida ao cisalhamento sob volume constante (condição não drenada), Casagrande
(1975) considerou a condição de adensamento da amostra e tensão confinante
representada pelo ponto “p” da Figura 2.11c. Dessa forma, adotando a restrição de
volume, a tendência da amostra a se contrair durante o cisalhamento não drenado levaria
ao aumento da poropressão, reduzindo a tensão efetiva até alcançar a linha de estados
críticos no ponto “q”.
34
Figura 2.11 - Comportamento dos ensaios de cisalhamento direto em areias sob
condição drenada (adaptado de Casagrande, 1975).
Taylor (1948) observou que o índice de vazios crítico é afetado pela tensão média efetiva,
se tornando menor com o aumento das tensões aplicadas à massa de solo. O autor
procurou avaliar o comportamento do solo durante a fase de plastificação, condição não
considerada inicialmente nas considerações de Terzaghi, e observou que a relação entre
o índice de vazios final e o logaritmo da tensão aplicada pode ser dada como uma linha
reta paralela e ligeiramente inferior à Linha de Consolidação Normal (LCN), classificada
como a condição última ou estática do material (Figura 2.12). Tal observação permitiu
concluir que a relação entre o índice de vazios crítico e a tensão média efetiva ou
volumétrica (𝑝’) aplicada define a Linha de Estados Críticos (LEC), ou Critical State Line
(CSL, da sigla em inglês).
35
Figura 2.12 - Diagrama ilustrativo LCN e LEC (adaptado de Taylor, 1948).
36
em que:
𝑒𝑐 é o índice de vazios crítico;
Г é o intercepto da LEC com o eixo das ordenadas para o nível de tensão 𝑝’ = 1 kPa;
𝜆 é a inclinação da LEC; e
𝑝𝑐, é a tensão média efetiva no estado crítico.
Pela Equação (2.18) tem-se que o índice de vazios crítico existente em um volume
unitário de partículas em plastificação irá diminuir com o aumento do logaritmo da tensão
média efetiva aplicada.
37
Figura 2.14 - Projeção da linha de estados críticos no plano 𝑞 − 𝑝’.
𝑞 = 𝑀𝑝′ (2.19)
Para ensaios de compressão triaxial pode-se determinar M por meio da correlação com o
ângulo de atrito efetivo no estado crítico (𝜙𝑐′ ) determinado no plano 𝜏 − 𝜎’ (Figura 2.13),
fazendo:
6𝑠𝑒𝑛𝜙𝑐′
𝑀= (2.20)
3 − 𝑠𝑒𝑛𝜙𝑐′
6𝑠𝑒𝑛𝜙𝑐′
𝑀= (2.21)
3 + 𝑠𝑒𝑛𝜙𝑐′
Segundo Jefferies e Been (2016) podem ser encontrados na literatura três meios para
determinação do módulo 𝑀 em compressão, a saber: (a) ensaios triaxiais de compressão
drenados em amostras de densidade variável; (b) ensaios triaxiais de compressão na
condição drenada ou não drenada em amostras de areias “fofas” e (c) ensaio de
38
cisalhamento DSS (direct simple shear), sendo os métodos indicados em (a) e (b) os mais
usuais.
Ainda segundo Jefferies e Been (2016), para amostras no estado “fofo”, o ensaio não
drenado deve ser sempre o ponto inicial de partida na tentativa de se obter a LEC, visto
sua praticidade comercial. No entanto, no ensaio drenado a amostra move-se para o estado
crítico a uma taxa mais lenta quando comparado à condição não drenada, o que torna mais
clara a visualização do estado crítico, além da vantagem em determinar o índice de vazios
e a tensão média no estado crítico com maior precisão.
Tomando as abordagens apresentadas, tem-se que a LEC corresponde a uma relação única
entre 𝜏, 𝜎’, 𝑒, sendo definida no espaço 𝑞, 𝑝’, 𝑒 através das Equações (2.18) e (2.19). A
Figura 2.15 fornece a representação tridimensional da LEC, de modo que a projeção dos
pontos A, B e C contidos na Linha de Estados Críticos é feita a partir da indicação dos
pontos A1, B1 e C1 no plano 𝑞 − 𝑝’ e dos pontos A2, B2 e C2 no plano 𝑒 − 𝑝’, o qual
também compreende a indicação da LCN.
39
O conhecimento da posição da LEC, bem como do estado que o material se encontra
permite a definição da sua resposta mecânica durante o cisalhamento. Nesse aspecto,
Schofield e Worth (1968) definem duas regiões distintas, as quais indicam padrões de
comportamento do solo sob cisalhamento, consoante a posição de estado inicial em
relação a LEC:
• Lado úmido: estado no qual o material se encontra mais “fofo” do que na condição
de estado crítico e diminui de volume durante o cisalhamento drenado ou exibem
aumento de poropressão sob cisalhamento não drenado. Esse estado caracteriza
os materiais contráteis, normalmente adensados (NC, da sigla em inglês para
Normally Consolidated) e ligeiramente sobreadensados (OC, da sigla em inglês
para Overconsolidated);
• Lado seco: estado no qual o material se encontra mais denso que no estado crítico
e aumento de volume quando submetido ao cisalhamento drenado, bem como
exibe diminuição de poropressão para a condição de cisalhamento não drenado.
Esse estado caracteriza os materiais dilatantes, fortemente sobreadensados (OC).
Os estados impossíveis descrevem a região acima da LCN, a qual não pode ser alcançada
pelos materiais quando submetidos a carregamento ou descarregamento.
40
2.4.2. Superfície Limite dos Estados
Os solos, tanto no campo quanto em laboratório, podem atingir o estado crítico ao serem
carregados a partir de um estado inicial. A trajetória de estados, representada pelo trajeto
que a amostra descreve do estado inicial até o estado crítico, quando avaliada para
diferentes índices de vazios, resulta em uma superfície limite de estados. Este conceito,
por contribuição dos trabalhos desenvolvidos por Hvorslev na década de 1930, define que
o estado de um solo, descrito e definido no espaço 𝑞, 𝑝′ , 𝑒, reside sempre dentro de uma
superfície de estado limite, a qual separa os estados dos solos possíveis dos impossíveis.
41
Para baixos valores de tensão, a superfície é limitada por um plano inclinado que
representa a superfície limite de estados sob tração. Assumindo que o solo não é capaz de
suportar tensões efetivas de tração, o maior valor de 𝑞/𝑝’ que o material poderia suportar
é aquele descrito pela condição de 𝜎3′ = 0, ou seja, 𝑞 = 3𝑝′ , conforme apresentado pela
reta ̅̅̅̅
0𝐴 na Figura 2.18.
Figura 2.18 - Plano inclinado (0A), Superfície de Hvorslev (AB) e Linha de Estados
Críticos (B) (adaptado de Atkinson e Bransby, 1978).
Figura 2.20 - Famílias de ensaios drenados e não drenados no espaço 𝑞, 𝑝’, 𝑒 (adaptado
de Atkinson e Bransby, 1978).
43
Figura 2.21 - Superfície limite de estados (adaptado de Wood, 1990).
Figura 2.22 - Superfície limite de estados avaliada nos eixos normalizados (adaptado de
Atkinson e Bransby, 1978).
44
Figura 2.23 - Variações de estado para ensaios em amostras de areia “fofa” e densa
(adaptado de Atkinson e Bransby, 1978).
Relativo ao comportamento dos materiais quanto à deformação, tem-se que um solo cujo
estado se desloca para o interior da superfície apresentará apenas deformações elásticas,
enquanto aquele que se mantém na própria superfície limite apresentará deformações
elásticas e plásticas, coexistentes. Adicionalmente, uma vez atingida essa superfície, o
estado não se desloca para o seu exterior (Maranha das Neves, 2016).
45
Existem diferentes modelos constitutivos que adotam parâmetros distintos a fim de
caracterizar o comportamento tensão-deformação de uma estrutura. Tais parâmetros
podem ser estimados por interpretação e calibração de investigações geológico-
geotécnicas, com o intuito de obter-se uma avaliação do comportamento dos materiais
que compõem a estrutura em estudo.
2.5.1. Mohr-Coulomb
τ = c ′ + σ′ tang(ϕ′ ) (2.22)
em que:
c ′ é o intercepto de coesão efetiva;
σ′ é a tensão normal efetiva; e
ϕ′ é o ângulo de atrito em termos de tensão efetiva.
46
em que:
𝜎′1 é a tensão principal maior efetiva; e
𝜎′3 é a tensão principal menor efetiva.
No espaço das tensões principais, esta função representa uma pirâmide de seção
transversal hexagonal (Figura 2.24), a qual é fixada no espaço de tensões e não muda de
tamanho com a ocorrência de deformações plásticas. Dessa forma, o modelo é
normalmente descrito como elástico perfeitamente plástico.
47
plástica continua a se desenvolver indefinidamente com cisalhamento adicional, quando
se tem a condição de ângulo de dilatância (𝜓) maior que zero.
A criação do modelo Cam-Clay foi possível através da evolução dos estudos iniciais de
Roscoe et al. (1958), em que partindo do conceito de estado crítico fundamentado por
evidências experimentais, a teoria do modelo foi desenvolvida até a sua descrição final
por Schofield e Worth (1968) e posteriormente modificado por Roscoe e Burland (1968),
quando passou a ser referenciado como Cam-Clay Modificado.
Segundo Schofield e Worth (1968) o modelo é voltado para materiais contínuos, os quais
não podem exibir descontinuidades ou sobreposições durante as deformações, isotrópicos
de comportamento elastoplástico. O nome dado ao modelo se deve a analogia ao curso
inferior do rio existente próximo ao laboratório da Universidade de Cambridge, nomeado
de “Cam”, bem como ao comportamento argiloso dos materiais estudados, resultando no
nome designado Cam-Clay.
Classificado como o primeiro modelo a considerar a Mecânica dos Solos dos Estados
Críticos, Roscoe et al. (1958) definem que um elemento de solo/material submetido à
distorção cisalhante, eventualmente atinge uma condição de estado crítico capaz de
continuar a se deformar sem alteração adicional do índice de vazios. O modelo inicial
explica o comportamento de materiais na condição de baixa densificação inicial sem
48
considerar a ocorrência de cimentação das partículas. Segundo Roscoe e Burland (1968)
o modelo retrata o comportamento mecânico de amostras com comportamento típico de
argilas, normalmente (NC) a ligeiramente sobreadensadas (OC) (𝑂𝐶𝑅 ≤ 2,72), as quais
apresentam o comportamento contrátil durante o cisalhamento.
Schofield e Worth (1968) definem que no espaço 𝑞, 𝑝’, 𝑒 a superfície limite dos estados
para o modelo original pode ser dada pela Equação (2.24).
𝑞 𝜆 ´
Г−𝜈
+ ( ) ln 𝑝 − ( )=1 (2.24)
𝑀𝑝′ 𝜆−𝑘 𝜆−𝑘
em que:
λ é a inclinação da Linha de Consolidação Normal (LCN);
𝑘 representa a inclinação da linha de recompressão/expansão, no caso de um solo que
passou por um carregamento prévio seguido de um descarregamento;
𝜈 indica o volume específico.
Figura 2.26 - Superfície limite dos estados do modelo Cam-Clay original (adaptado de
Maranha das Neves, 2016).
49
Definida a superfície limite dos estados, é possível tomar a Figura 2.27 de modo a
verificar as trajetórias de estado do material, a fim de avaliar as características do modelo.
Figura 2.27 - Região da superfície limite dos estados (adaptado de Roscoe e Burland,
1968).
Ainda tomando a Figura 2.27, a fim de avaliar o efeito da tensão desviadora 𝑞 no material,
é possível considerar um elemento no estado inicial em B, localizado na curva de
50
recompressão. Sabendo-se que as deformações plásticas ocorrem apenas quando o estado
da amostra se encontra na superfície de escoamento, tem-se que a menos que a tensão 𝑞
seja suficientemente grande para atingir tal condição, todas as deformações resultantes
das mudanças de 𝑞 serão recuperáveis. Dessa forma, tem-se que o estado do material será
necessariamente elástico sempre que ele se encontrar no espaço formado entre a
superfície limite dos estados e o plano de corte 𝑞 = 0 (região do ponto D).
𝑒 = 𝑒𝑘 − 𝑘 ln (𝑝′ ) (2.25)
Segundo Roscoe et al. (1963) existem duas condições para o comportamento elástico do
modelo, a saber: i) é assumido que a superfície elástica é vertical e representada por uma
parede, ou seja, a curva de limite elástico AXF se alinha diretamente sobre a curva de
recarregamento ABR (Figura 2.27), formando a parede elástica; e ii) é assumido que não
há energia recuperável associada a deformações cisalhantes e, portanto, as únicas
deformações elásticas serão aquelas associadas à variação volumétrica provocada pelo
incremento de 𝑝′.
51
Maranha das Neves (2016) define que uma curva de cedência é formada pela interseção
da parede elástica com a superfície limite dos estados (curva AXF representada na Figura
2.27). Dessa forma, tem-se que a função que descreve a curva de cedência definida pelo
modelo original é dada pela Equação (2.26).
𝑞 𝑝′
′
+ ln ( ′ ) = 1 (2.26)
𝑀𝑝 𝑝𝑐
52
condição de material estável, bem como a lei de fluxo associado, assim como definido
por Drucker (1964) e discutido por Roscoe et al. (1963), o vetor de deformação plástica
é normal à superfície A’F’ no ponto X’. Dessa forma, tem-se a relação dos incrementos
de deformação plástica do modelo original segundo a Equação (2.27).
𝛿𝜀𝑣𝑝
=𝑀−𝜂 (2.27)
𝛿𝜀𝑠𝑝
Pela Equação (2.27) no estado crítico (𝑀 = 𝜂) tem-se que 𝛿𝜀𝑣𝑝 = 0. Para 𝜂 < 𝑀 tem-se
𝑝
𝛿𝜀𝑣 > 0, o que representa diminuição de volume e comportamento contrátil. De forma
análoga, para 𝜂 > 𝑀 tem-se 𝛿𝜀𝑣𝑝 < 0, o que representa aumento de volume e
comportamento dilatante, conforme ilustrado na Figura 2.30.
53
Pela Figura 2.30 tem-se o comportamento de endurecimento para a região de 𝜂 < 𝑀 e de
amolecimento (endurecimento negativo) para a região acima da LEC (𝜂 > 𝑀). A
classificação das regiões quanto à estabilidade segue o critério definido por Drucker
(1964), conforme a Equação (2.17).
54
Conforme observado na Figura 2.31, a forma da curva de cedência para o modelo Cam-
Clay Modificado consiste em uma elipse descrita pela Equação (2.28), de modo que a
superfície limite dos estados será caracterizada por um elipsoide no espaço das tensões
principais.
𝑝′ 𝑀2
= (2.28)
𝑝𝑦′ 𝑀2 + 𝜂2
Dessa forma, a Equação (2.28) descreve um conjunto de elipses, todas com a mesma
forma, controladas por 𝑀, passando pela origem e tendo sua dimensão definida por 𝑝𝑦′
(Figura 2.32). Assim como no modelo original, o Cam-Clay Modificado assume que a
curva de cedência se expande isotropicamente, caracterizando a lei de endurecimento
isotrópica.
A Figura 2.33 ilustra de modo tridimensional a superfície limite dos estados para os dois
modelos (Cam-Clay e Cam-Clay Modificado), possibilitando a comparação entre os seus
formatos.
55
Figura 2.33 - Superfície limite de estados nos modelos (a) Cam-Clay e (b) Cam-Clay
Modificado (adaptado de Silva, 1996).
𝛿𝜀𝑣𝑝 𝑀2 − 𝜂 2
= (2.29)
𝛿𝜀𝑠𝑝 2𝜂
1 ′
𝛿𝜀𝑣𝑒 = 𝛿𝑝 (2.30)
𝐾
em que:
𝛿𝜀𝑣𝑒 é o incremento de deformação volumétrica elástica; e
𝛿𝑝′ representa o incremento de tensão média efetiva.
Segundo Maranha das Neves (2016), para o novo modelo, admite-se ainda que as
deformações distorcionais recuperáveis podem ser descritas pela Equação (2.31).
1
𝛿𝜀𝑠𝑒 = 𝛿𝑞 (2.31)
3𝐺
em que:
𝛿𝜀𝑠𝑒 é o incremento de deformação distorcional elástica; e
56
𝛿𝑞 representa o incremento de tensão desviadora.
2.5.3. NorSand
O modelo NorSand também se baseia na Mecânica dos Solos dos Estados Críticos e foi
desenvolvido durante as décadas de 80 e 90, tomando-se como base a experiência
adquirida com a construção de estruturas sobre areias “fofas”. A análise de ocorrência de
liquefação estática durante a construção dessas estruturas contribuiu para o
desenvolvimento do modelo proposto inicialmente por Jefferies (1993) e posteriormente
por outros trabalhos compilados didaticamente em Jefferies e Been (2016).
Logo, como o nome sugere, o modelo foi inicialmente proposto objetivando a descrição
do comportamento de areias “fofas” e densas, em condições quer drenadas ou não
drenadas, de forma a melhor representar comportamentos observados experimentalmente
nesses materiais. Nesse aspecto, podendo prever com boa aproximação comportamentos
de liquefação estática e de dilatância, observados nesses materiais.
• Dilatância (𝑫)
Taylor (1948) sugere que a definição de dilatância retoma à ideia de que o material
apresenta um atrito verdadeiro, determinado pelo trabalho realizado enquanto ocorre a
dilatação. A compreensão do papel da dilatância foi bem definida por Rowe (1962) ao
mostrar que a dilatação pode ser avaliada através do comportamento tensão-deformação
de materiais particulados e não apenas a algo relacionado ao pico de resistência, ou seja,
57
a dilatância é reconhecida como um mecanismo de transferência de trabalho, ao invés de
uma resistência intrínseca do material. Assim, a dilatância pode ser definida como a razão
entre os trabalhos realizados pela conjugação dos incrementos de deformação devido às
tensões 𝑝′ e 𝑞, segundo a Equação (2.32).
𝜀𝑣̇
𝐷= (2.32)
𝜀𝑠̇
em que:
𝜀𝑣̇ é o incremento de deformação volumétrica; e
𝜀𝑠̇ é o incremento de deformação distorcional.
Jefferies e Been (2016) definem que uma característica chave para materiais densos, quer
arenoso ou argiloso, reside no fato de que a dilatância se limita a um valor máximo
(designado como 𝐷𝑚𝑖𝑛 devido a convenção adotada na Mecânica dos Solos na qual
tensões de compressão são definidas como positivas) para um dado estado específico do
solo.
Uma referência possível de ser utilizada para a definição do estado de materiais arenosos
é a distância que o índice de vazios do material se encontra na condição corrente de tensão
comparativamente ao índice de vazios do mesmo material no estado crítico (Been e
Jefferies, 1985). Dessa forma, tem-se que essa distância, ou trajetória de estado, indica
uma representação direta da tendência à variação volumétrica do solo sob cisalhamento,
a qual define o parâmetro de estado (𝛹) segundo a Equação (2.33).
𝛹 = 𝑒 − 𝑒𝑐 (2.33)
em que:
𝑒 é o índice de vazios corrente do solo; e
𝑒𝑐 é o índice de vazios do solo ao atingir o estado crítico.
58
Figura 2.34 - Definição de parâmetro de estado (adaptado de Jefferies e Been, 2016).
Been e Jefferies (1985) definiram que a utilização do parâmetro de estado para avaliação
do comportamento dos materiais é fundamental, uma vez que a avaliação do
comportamento esperado a partir de parâmetros como índice de vazios e densidade
relativa não resguarda o rigor necessário, conforme ilustrado na Figura 2.35.
Analisando a Figura 2.35 percebe-se que são representadas trajetórias de tensão efetivas
normalizadas em relação à tensão volumétrica no estado crítico, avaliadas para diferentes
índices de vazios, níveis de tensão e densidades relativas (testes 37, 45, 103, 108, 112 e
113). Observa-se que os testes 103 e 108 apresentaram parâmetro de estado equivalente
(comportamento dilatante), sob diferentes condições de índice de vazios e densidade
relativa. Da mesma maneira é observado que para os testes 45 e 112 tem-se o mesmo
valor do parâmetro de estado (comportamento contrátil), sob diferentes condições de
índices de vazios e densidade relativa. Tais evidências mostram a relevância sobre a
consideração do parâmetro 𝛹 para a avaliação do estado inicial dos materiais, e,
consequentemente, para o seu comportamento esperado quando submetido a solicitações
diversas.
59
Figura 2.35 - Avaliação da trajetória de tensões para areias sob diferentes condições
(adaptado de Jefferies e Been, 2016).
em que χtc representa uma propriedade do solo definida a partir do ensaio de compressão
triaxial drenado e a dilatância máxima (𝐷𝑚𝑖𝑛 ) ocorre no pico da razão de tensões (i.e.
𝜂𝑚á𝑥 ).
60
nomenclatura adotada foi aquela indicada na biblioteca do programa GeoStudio 2021.3
como dilatância de estado.
Diferentemente dos modelos que consideram a existência de uma única LCN paralela à
LEC, como ocorre no modelo Cam-Clay (Figura 2.37a), o modelo NorSand introduz o
conceito de infinitas Linhas de Consolidação Normal que se diferem segundo o índice de
vazios inicial do solo e o seu histórico de deformação, interceptando a LEC como
mostrado na Figura 2.37b.
Destaca-se que a hipótese de uma infinidade de LCNs foi inicialmente proposta por
Ishihara et al. (1975), com base em observações laboratoriais.
61
Figura 2.37 - (a) Cam-Clay; (b) Modelo NorSand (adaptado de Jefferies e Been, 2016).
62
Figura 2.38 - (a) Todos os ensaios na mesma escala; (b) Ensaio 874/MT; (c) Ensaio
LDUL-1/PV; (d) Ensaio LDUL-2/PV e (e) Ensaio LDUL-3/PV em escala expandida
(adaptado de Jefferies e Been, 2000).
Dado esse padrão de inúmeras LCNs, Jefferies e Been (2016) consideram necessária a
utilização de dois parâmetros para caracterizar o estado de um solo: i) o parâmetro de
estado (𝛹), responsável por estabelecer a localização individual de cada LCN no espaço
𝑒 − 𝑝′; e ii) a razão de sobreadensamento (𝑂𝐶𝑅), que se relaciona à proximidade do
estado do material em relação à LCN, quando avaliado ao longo do eixo 𝑝′. Nesse aspecto,
o modelo NorSand classifica-se como o primeiro modelo a considerar o parâmetro de
estado dentro da abordagem da Mecânica dos Solos dos Estados Críticos.
Ainda segundo Jefferies e Been (2016), no modelo Cam-Clay os solos com densidade
superior à condição de estado crítico não dilatam de forma realista, uma vez que, ao tratar
a densidade como um sobreadensamento efetivo, normalmente tem-se rigidez irreal e
resistências elevadas na resposta do modelo. Os autores, a partir da avaliação de
parâmetros para areias, demonstraram a obtenção de valores de OCR consideravelmente
altos, quando da utilização dos conceitos do modelo Cam-Clay. Dessa forma, Jefferies e
Been (2016) afirmam que tal ocorrência está associada à consideração de que todas as
superfícies de escoamento interceptam a linha de estados críticos (LEC), fato que pode
ser ajustado ao desconsiderar essa premissa e reconhecer que os materiais particulados
existem em um conjunto de estados, os quais definem uma infinidade de LCNs no espaço
𝑒 − 𝑝′, a depender do índice de vazios inicial de cada material durante a sua deposição.
63
Os referidos autores abordam que a importância da infinidade de LCNs retoma ao
conceito de Drucker et al. (1957), ao afirmarem que a superfície de escoamento deve
interceptar a LCN, uma vez que, a compressão normal produz deformações irrecuperáveis
no material. Nesse aspecto, cada LCN pode ser vista como uma lei de endurecimento para
uma dada superfície de escoamento associada, de modo que uma infinidade de LCNs
representa múltiplas superfícies de escoamento.
• Características do Modelo
Assim, Jefferies (1993) define que o atendimento ao Axioma 2 pode ocorrer a partir da
definição do parâmetro de estado, afirmando que o parâmetro tende a zero à medida em
que as deformações devido às tensões distorcionais aumentam indefinidamente:
64
𝛹 → 0 assim como 𝜀𝑠 → ∞ (2.35)
Jefferies e Been (2016) definem que o ponto inicial para a descrição do modelo pode ser
dado pela relação dilatância-tensão, a qual define a lei de fluxo utilizada (igualdade entre
a função de plastificação e potencial plástico) e segue o mesmo princípio adotado pela
relação entre os incrementos de deformação plástica do modelo Cam-Clay (Equação
2.27), descrita segundo a Equação (2.36).
𝐷𝑝 = 𝑀𝑖 − 𝜂 (2.36)
em que:
𝐷𝑝 é a parcela plástica da dilatância; e
𝑀𝑖 é a razão de tensões no estado crítico para a condição de imagem.
𝜒𝑖 𝑁|𝛹𝑖 |
𝑀𝑖 = 𝑀 (1 − ) (2.37)
𝑀𝑡𝑐
em que 𝑀𝑖 tende para a razão de tensões no estado crítico (𝑀) com a ocorrência de
deformação cisalhante; 𝑀𝑡𝑐 é o valor corrente de 𝑀 para um estado de compressão
triaxial. Além disso, o subscrito 𝑖 representa a condição de imagem para cada parâmetro
e N representa o coeficiente de acoplamento volumétrico, definido como o coeficiente
angular da Equação (2.38), citado por Jefferies e Schuttle (2002).
Jefferies e Been (2016) definem a condição de imagem como uma condição transiente do
material, na qual a taxa de deformação volumétrica se altera de contrátil para dilatante e
tem-se 𝐷𝑝 = 0. Ishihara et al. (1975) se referem a essa condição transitória como uma
transformação de fase, enquanto outros autores a definem como estado pseudo-estável.
65
A dilatância de estado para a condição de imagem (𝜒𝑖 ) pode ser relacionada com a
dilatância de estado obtida em ensaios triaxiais (𝜒𝑡𝑐 ) segundo a Equação (2.39).
𝜒𝑡𝑐
𝜒𝑖 =
𝜒 𝜆 (2.39)
(1 − 𝑡𝑐 )
𝑀𝑡𝑐
Além disso, o parâmetro de estado na condição de imagem (𝛹𝑖 ) pode ser definido a partir
do índice de vazios no estado crítico para a condição de imagem (𝑒𝑖 ), conforme a Equação
(2.40).
𝛹𝑖 = 𝑒 − 𝑒𝑖 (2.40)
𝑝
𝜂 = 𝑀𝑖 [1 − 𝑙𝑛 ( )] (2.41)
𝑝𝑖
em que a tensão média na condição de imagem (𝑝𝑖 ) pode ser obtida como apresentado na
Equação (2.42).
𝜂
( −1) (2.42)
𝑝𝑖 = 𝑝 ∙ 𝑒 𝑀𝑖
66
A Figura 2.39 ilustra a superfície de escoamento (ou de cedência) do modelo NorSand
para materiais no estado “fofo”, enquanto a Figura 2.40 representa essa superfície para
materiais na condição densa. Destaca-se que nestas figuras a superfície de cedência é
representada num espaço de tensões normalizadas em relação à tensão média na condição
de imagem (𝑝𝑖 ).
Ao avaliar a Figura 2.39 e a Figura 2.40 pode-se afirmar que: i) é utilizada a condição de
normalidade entre o vetor taxa de deformação plástica e a superfície de escoamento, assim
67
como ocorre no modelo Cam-Clay; ii) para materiais no estado “fofo”, a condição de
imagem apresenta tensões superiores ao estado crítico e a superfície de escoamento se
contrai em relação ao referido estado; iii) para materiais na condição densa, a condição
de imagem apresenta tensões inferiores quando comparada ao estado crítico e a superfície
de cedência se expande em relação a esse estado até atingir a condição de dilatância
máxima (limite interno). Nesse aspecto, o limite interno, ou limite de endurecimento, é
definido segundo a Equação (2.43).
𝑝𝑖 𝜒Ψ
(− i i )
( ) = e M𝑖𝑡𝑐 (2.43)
𝑝 𝑚𝑎𝑥
Segundo Jefferies (1993), duas suposições combinadas são tomadas para a representação
dos limites das superfícies no espaço 𝑞 − 𝑝: i) a existência da LCN requer que a superfície
de escoamento intercepte o eixo 𝑝 para valores diferentes de zero, ou seja, 𝑝 ≠ 0 (Drucker
et al., 1957); e ii) a consideração de que não existe coesão intrínseca entre as partículas
requer que a superfície também intercepte o eixo 𝑝 em zero (𝑝 = 0).
68
Figura 2.41 - Evolução da superfície de escoamento (adaptado de Jefferies, 1993).
𝑝𝑖̇ 𝑝𝑖 2 (−𝜒𝑀𝑖 𝛹𝑖 ) 𝑝𝑖
= 𝐻 ( ) [𝑒 𝑖𝑡𝑐 − ] 𝜀̇ (2.44)
𝑝 𝑝 𝑝 𝑠
em que 𝑝𝑖̇ e 𝜀𝑠̇ indicam parcelas de incremento de tensão média na condição de imagem
e deformação distorcional, respectivamente, bem como 𝐻 representa o módulo de
endurecimento plástico, necessário devido ao desacoplamento do tamanho da superfície
de escoamento em relação ao índice de vazios (Jefferies, 1993). Além disso, tem-se que
𝐻 pode ser idealizado como uma constante ou uma função de 𝛹 (Equação 2.45), a
depender da calibração do modelo para os dados experimentais (Jefferies e Been, 2016).
𝐻 = 𝐻0 − 𝐻𝑦 𝛹 (2.45)
em que:
𝐻0 é o módulo de endurecimento plástico para a condição de parâmetro de estado igual a
zero; e
𝐻𝑦 é o módulo de endurecimento plástico como função do parâmetro de estado.
69
O modelo utiliza o conceito de elasticidade isotrópica, apesar da ampla evidência de que
os materiais particulados tendem a apresentar comportamento anisotrópico. Jefferies e
Been (2016) argumentam que é ineficaz partir para o estudo de modelos sofisticados com
muitos parâmetros para representação do comportamento anisotrópico, quando não se
tem o entendimento claro do comportamento de materiais particulados a partir de uma
abordagem isotrópica. Assim, pode-se afirmar que a abordagem anisotrópica ainda é
predominantemente acadêmica e de difícil aplicação prática.
O modelo considera dois parâmetros para a representação das condições elásticas durante
as análises: i) coeficiente de Poisson 𝑣 e ii) Índice de rigidez (𝐼𝑟 = 𝐺/𝑝′ ). O segundo
parâmetro pode ser descrito através da variação do módulo cisalhante (𝐺) com a tensão
média efetiva (𝑝′ ) através da Equação (2.46).
𝑚
𝑝′
𝐺 = 𝐺𝑟𝑒𝑓 ( ′ ) (2.46)
𝑝𝑟𝑒𝑓
′
em que 𝐺 𝑟𝑒𝑓 representa o módulo cisalhante para a tensão de referência; 𝑝𝑟𝑒𝑓 é a tensão
média efetiva de referência (usualmente adotada como 100 kPa) e 𝑚 é o expoente elástico
(assume valores entre 0 e 1).
70
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS E MÉTODOS
Neste capítulo é apresentado o banco de dados experimental utilizado para o estudo, bem
como a metodologia adotada para o desenvolvimento da modelagem computacional.
71
5 μm #200 #40 #10 #4
100
90
80
70
% Passante
60
50
40
30
20
10
0
0,00 0,01 0,10 1,00 10,00
Areia
Argila Silte Areia Fina Areia Média Pedregulho
Grossa
Diâmetro dos grãos (mm)
O valor da densidade real dos grãos (𝐺𝑠 ) obtido para o rejeito foi de 4,548. Para o ensaio
oedométrico, foi definida a curva de compressibilidade apresentada na Figura 3.2, que
resguarda paralelismo em relação a Linha de Consolidação Normal (LCN-3D) do
material, logo, o mesmo gradiente (inclinação).
1,30
1,20
1,10
Índice de Vazios
Cc1
1,00
CS1 e CR1
0,90
CS2 e CR2
Cc2
0,80
CS3
0,70
1 10 100 1000 10000
Tensão ( kPa )
𝛥𝑒
𝐶𝐶 = 𝐶𝑆 = 𝐶𝑅 = − (3.1)
𝛥log (𝜎𝑣′ )
Dado o contexto de diferença de inclinação para cada trecho da LCN, bem como os
diferentes valores para os ramos de descompressão e recompressão encontrados, foram
obtidos os parâmetros apresentados na Tabela 3.1.
Esclarece-se que para a definição de 𝐶𝐶1 foi utilizado o trecho da LCN que compreende
os valores de tensões entre 12 e 800 kPa, enquanto para o coeficiente 𝐶𝐶2 foi adotado o
trecho da curva com valores de tensão superiores a 800 kPa. Para a definição da inclinação
da LCN, bem como das curvas de descompressão e recompressão para a condição de
adensamento sob compressão isotrópica (LCN-3D), foi utilizada a relação apresentada na
Equação (3.2) e na Equação (3.3).
𝐶𝐶
𝜆= (3.2)
2,3
73
𝐶𝑆 𝐶𝑅
𝑘= = (3.3)
2,3 2,3
Com respeito aos estados de tensão adotados nos ensaios triaxiais drenados (do tipo CID,
da sigla em inglês para Consolidated Isotropically Drained) conforme já referido, o autor
executou quatro ensaios distintos com o mesmo material em níveis de confinamento de
100, 200 e 400 kPa (três, CID-01, CID-02 e CID-04, com o material suficientemente
“fofo” de maneira a apresentar comportamento contrátil e um com o material em condição
inicial suficientemente densa para gerar comportamento dilatante durante o cisalhamento
CID-03), conforme condições gerais apresentadas na Tabela 3.3.
Tabela 3.3 - Resumos das condições dos corpos de prova em cada fase dos ensaios
(Eloi, 2021).
Peso
Peso Seco Teor Peso Índice
Tensão Úmido
Diâmetro Altura da de Específico de
Efetiva da
Ensaio Fase* Amostra Água Seco Vazios
Amostra
σ’c D H W Wd w d
e
(kPa) (mm) (mm) (g) (g) (%) (kN/m³)
A 70,87 144,09 1148,73 1095,83 4,83 18,91 1,36
CID-01 400 B 65,78 134,76 1312,97 1095,94 19,80 23,47 0,90
C 74,69 98,24 1285,44 1095,94 17,29 24,98 0,79
A 71,55 143,55 1227,21 1139,99 7,65 19,38 1,30
CID-02 200 B 67,44 135,96 1373,15 1137,57 20,71 22,98 0,94
C 76,40 99,40 1343,12 1137,57 18,07 24,49 0,82
A 72,23 145,90 1615,90 1536,35 5,18 25,21 0,77
CID-03 200 B 71,40 144,26 1773,97 1533,55 15,68 26,05 0,71
C 81,46 112,34 1781,89 1533,55 16,19 25,69 0,74
A 71,22 143,68 1227,21 1146,28 7,06 19,65 1,27
CID-04 100 B 67,56 136,83 1384,48 1145,88 20,82 22,92 0,95
C 77,65 97,83 1357,20 1145,88 18,44 24,26 0,84
*A = Início Adensamento; B = Fim Adensamento; C = Fim Cisalhamento.
74
Para os quatro ensaios realizados, a variação da tensão desviadora (𝑞) com a deformação
axial (𝜀𝑎 ), bem como da deformação volumétrica (𝜀𝑣 ) com a deformação axial (𝜀𝑎 ),
podem ser observadas na Figura 3.3 e na Figura 3.4, respectivamente.
1200
1100
1000
900
800 CID-01 (400 kPa)
700 CID-02 (200 kPa)
q (kPa)
600
500 CID-03 (200 kPa)
400 CID-04 (100 kPa)
300
200
100
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
Figura 3.3 - Variação da tensão desviadora (𝑞) com a deformação axial (𝜀𝑎 ).
5
CID-01 (400 kPa)
4
-2
εa (%)
Figura 3.4 - Variação da deformação volumétrica (𝜀𝑉 ) com a deformação axial (𝜀𝑎 ).
A partir da avaliação da Figura 3.3 e da Figura 3.4 nota-se uma grande coerência para o
comportamento esperado dos ensaios CID-01, CID-02 e CID-04, evidenciada pelo ganho
de resistência consoante o incremento da tensão de confinamento e uma resposta contrátil
75
típica de materiais pouco densificados (condição “fofa”). Para estes ensaios considerou-
se que foi alcançada a condição de deformação sob tensão e volume constantes,
característico do estado crítico do material.
′
𝜎1′ + 𝜎3′
𝑠 = (3.4)
2
𝜎1 − 𝜎3
𝑡= (3.5)
2
600
t = 0,5753s'
R² = 0,9999
500
400
CID-01 (400 kPa)
t (kPa)
300
CID-02 (200 kPa)
0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
s' (kPa)
Assim como assumido para a definição da resistência drenada dos materiais, para a
avaliação da condição de estado crítico foram utilizados os ensaios CID-01, CID-02 e
CID-04, uma vez que estes alcançaram tal condição, conforme apresentado na Figura 3.3
e Figura 3.4. A Figura 3.6 apresenta a projeção da Linha de Estados Críticos (LEC), no
76
plano 𝑒 − 𝑝′ , obtida a partir da variação do índice de vazios (𝑒) e tensão média efetiva
(𝑝’) durante os ensaios.
1,00
e = -0,037ln(p') + 1,0377
0,95 R² = 0,9657
0,70
10 100 1000 10000
p' (kPa)
Da Figura 3.6 tem-se que o ensaio CID-03 não alcançou o estado crítico, o que pode estar
atrelado à possível formação de planos preferenciais de cisalhamento devido à condição
densa do material durante o ensaio. Adicionalmente, considerando a Equação (2.18),
pode-se definir os parâmetros 𝜆 e Г iguais a 0,037 e 1,0377, respectivamente.
77
1200
1100
q = 1,3972p'
1000 R² = 0,9999
900
800
700 CID-01 (400 kPa)
q (kPa)
𝐾0 = 1 − 𝑠𝑒𝑛𝜙𝑐′ (3.6)
Com base no ângulo de atrito crítico (𝜙𝑐′ ) e na Equação (3.6) foi estimado o valor de 𝐾0
como sendo de 0,433.
A modelagem computacional foi realizada com recurso ao Método dos Elementos Finitos
(MEF) no módulo SIGMA/W do programa GeoStudio 2021.3, a fim de representar o
78
comportamento experimental do material sob compressão axissimétrica. A Figura 3.8
ilustra de forma esquemática as etapas envolvidas na modelagem utilizada no estudo.
Adensamento Resultados
• Modelagem de ¼ do • Aplicação dos parâmetros
Corpo de Prova (CP) de cada modelo ao
de cada ensaio; • Aplicação do material material; • Comparação dos
• Definição da altura e elástico isotrópico à • Definição das condições resultados obtidos na
diâmetro segundo geometria; de contorno (deformação modelagem com os
condição inicial do CP. • Definição das controlada). resultados
condições de contorno experimentais dos
e tensões confinantes. ensaios.
Geometria Cisalhamento
Figura 3.9 - (a) Sólido axissimétrico; (b) Geometria adotada nas análises.
79
Dessa forma, a fim de verificar a resposta do modelo relativo às incertezas quanto a sua
simetria devido à condição de dilatância, em termos de altura, foi avaliado o resultado
numérico obtido a partir da consideração da metade da altura do CP (H/2) e do seu valor
total (H), tomando como referência o ensaio CID-01. Assim, conforme apresentado na
Figura 3.10, foi verificada a mesma resposta do modelo para ambas as condições de altura
utilizadas. Diante desse aspecto, foi adotada, em todas as modelagens, a altura relativa à
metade do CP ensaiado, de modo a otimizar o tempo computacional associado às análises.
80
Malha de
elementos Tensões
finitos. confinantes
.
Restrição de
deslocamento Material
horizontal e elástico
vertical. isotrópico.
Com respeito à malha de elementos finitos utilizada nas modelagens, foi aplicada a malha
quadrática com elementos no tamanho de 0,01 m. De forma análoga à análise de
sensibilidade realizada para a verificação da resposta do modelo quanto à altura do CP,
foram verificados os resultados obtidos ao considerar a malha de 0,01 m e com maior
nível de refinamento (0,001 m), sendo obtido o mesmo resultado de resposta numérica
para ambos os valores a despeito do maior intervalo de tempo e esforço computacional
desprendido para a resolução da malha mais refinada. Assim, foi adotado nas análises a
malha com abertura de 0,01 m.
81
Tabela 3.4 - Parâmetros etapa de adensamento.
Parâmetros CID-01 CID-02 CID-03 CID-04
𝑒0 0,90 0,94 0,71 0,95
𝛾 (kN/m³)* 28,12 27,73 30,13 27,69
′
𝐸 (kPa) 2.500,00 1.500,00 7.000,00 900,00
𝜈 0,10 0,10 0,10 0,10
*Parâmetro obtido através a relação 𝛾 = 𝛾𝑑 (1 + 𝑤) e valores de 𝛾𝑑 e
𝑤 provenientes da Tabela 3.3.
Malha de
elementos
finitos.
Restrição de
deslocamento.
Material
Restrição de segundo o
deslocamento modelo
horizontal e avaliado.
vertical.
82
Após o término da etapa de cisalhamento, os resultados numéricos foram comparados
com os dados experimentais, de modo a avaliar a aderência do modelo e necessidade de
ajustes na calibração adotada.
• Mohr-Coulomb
Destaca-se que, para a resposta dilatante do ensaio CID-03, foi considerada a utilização
do ângulo de dilatância (𝜓) definido conforme Equação (3.7), uma vez que o módulo
SIGMA/W do programa GeoStudio 2021.3 permite a consideração desse parâmetro para
o modelo Mohr-Coulomb.
𝜀𝑣
𝜓 = tan−1 ( ) (3.7)
𝜀𝑠
Tendo em vista a bilinearidade observada para o trecho identificado na Figura 3.13, foram
avaliadas duas regiões para a definição do ângulo de dilatância. Dessa forma, a partir da
aplicação da Equação (3.7) em cada trecho da região avaliada, foram obtidos os valores:
i) 𝜓1 = 1,01° e ii) 𝜓2 = 2,36°. Assim, após avaliação do parâmetro que resultou na
melhor convergência para o modelo, foi adotado o valor de 𝜓2 = 2,36° para as análises
numéricas.
83
0,50
0,00
-0,50
εv (%)
ψ1
-1,50
ψ2
-2,00
0 5 10 15 20 25
εs (%)
A Tabela 3.5 fornece uma compilação dos parâmetros utilizados nas modelagens
considerando o modelo Mohr-Coulomb.
Para a calibração do modelo foram avaliados diferentes valores para o módulo de Young
efetivo (𝐸 ′ ) e coeficiente de Poisson (𝜈), considerando a faixa de valores disponíveis para
cada estado de tensão dos ensaios, de modo que os valores que indicaram melhor
calibração foram aqueles apresentados na Tabela 3.5. Destaca-se que a verificação das
calibrações a partir da utilização do módulo elástico secante (𝐸50 ) resultou em cenários
de menor aderência aos resultados experimentais.
84
• Cam-Clay Modificado
Para definição do OCR, foi tomada a condição do material normalmente adensado (OCR
= 1) para os ensaios com material na condição “fofa” (CID-01, CID-02 e CID-04) e
sobreadensado (OCR = 6) para o ensaio com material na condição densa (CID-03), uma
vez que este valor apresentou melhor convergência do modelo, conforme observado na
Figura 3.14 e na Figura 3.15.
900
800
700
CID-03 (200 kPa)
600
OCR = 6
500
q (kPa)
400 OCR = 5
300 OCR = 3
200 OCR = 1
100
0
0 5 10 15 20 25
εa (%)
85
7
OCR = 5
2
OCR = 3
1
OCR = 1
0
0 5 10 15 20 25
-1
-2
εa (%)
Uma vez que o modelo pode ser considerado o primeiro a adotar os conceitos da Mecânica
dos Solos dos Estados Críticos, foram tomados os parâmetros característicos da LEC no
espaço 𝑞 − 𝑝’, representada pelo ângulo de atrito crítico (𝜙𝑐′ ) e pela razão de tensões no
estado crítico (𝑀). A Tabela 3.6 fornece uma compilação dos parâmetros utilizados nas
modelagens considerando o modelo Cam-Clay Modificado.
• NorSand
86
os parâmetros de peso específico (𝛾), índice de vazios inicial (𝑒0 ) e razão de
sobreadensamento (𝑂𝐶𝑅).
O modelo considera dois parâmetros para a representação das condições elásticas durante
as análises: i) coeficiente de Poisson (𝑣) e ii) Índice de rigidez (𝐼𝑟 ). O coeficiente de
Poisson foi assumido como 0,1, assim como utilizado no modelo Mohr-Coulomb, uma
vez que este valor apresentou melhor convergência durante as análises. Jefferies e Been
(2016) definem que para materiais arenosos este parâmetro usualmente pode variar entre
0,1 e 0,3.
Os parâmetros para definição da LEC foram representados pelo intercepto com o eixo das
ordenadas para o nível de tensão 𝑝’ = 1 kPa (Г), bem como pela inclinação da LEC no
espaço 𝑒 − 𝑝′ (𝜆) e pela razão de tensões no estado crítico (𝑀).
87
-0,10 -0,09 -0,08 -0,07 -0,06 -0,05 -0,04 -0,03 -0,02 -0,01 0,00
0,00
-0,10
-0,20
Dmin = 5,8226
Dmin
R² = 1 -0,30
-0,40
-0,50
-0,60
para Dmin avaliado
O parâmetro 𝑁 pode ser obtido através da relação apresentada na Equação (2.38), o qual
é indicado de forma gráfica na Figura 3.17.
1,70
1,65
1,60
1,55
ηmáx
1,50
1,45
88
relação de 𝐻 com 𝛹0 para o melhor cenário de calibração dos ensaios, sendo obtida a
relação conforme apresentado na Figura 3.18.
450
H = -1666Ѱ0 + 184,5
400 R² = 0,9917
350
300
250
H
200
150
100
50
0
-0,15 -0,10 -0,05 0,00 0,05 0,10 0,15
0
A Tabela 3.7 fornece a compilação dos parâmetros utilizados para as simulações com o
modelo NorSand.
89
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados obtidos a partir das modelagens
numéricas realizadas. O Item 4.1 apresenta os resultados obtidos para as modelagens
considerando o modelo Mohr-Coulomb, enquanto o Item 4.2 aborda sobre a resposta para
o modelo Cam-Clay Modificado e o Item 4.3 fornece os resultados para o modelo
NorSand. Por fim, no Item 4.4 são indicadas as diferenças de comportamento dos modelos
Cam-Clay Modificado e NorSand em termos de resposta não drenada.
4.1. MOHR-COULOMB
1200
1100 CID-01 (400 kPa)
1000
900 CID-02 (200 kPa)
800
700 CID-04 (100 kPa)
q (kPa)
600
500 CID-01 (400 kPa)
400 Mohr-Coulomb
300 CID-02 (200 kPa)
200 Mohr-Coulomb
100
CID-04 (100 kPa)
0 Mohr-Coulomb
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
90
7
CID-01 (400 kPa)
6
CID-02 (200 kPa)
5
A partir da análise da Figura 4.1 e Figura 4.2 verifica-se que: em termos de resistência, o
modelo numérico apresentou valores ligeiramente superiores aos dados experimentais,
com destaque para o ensaio CID-02, que apresentou maior diferença entre a resposta
tensão-deformação numérica e experimental. A exceção do ensaio CID-01, para os
demais ensaios a resposta do modelo numérico apresentou valores de deformações
volumétricas levemente superiores aos resultados experimentais.
Após a avaliação dos resultados dos ensaios nota-se a incapacidade do modelo em simular
o comportamento dúctil do material, se restringindo à resposta perfeitamente plástica,
característica da mudança abrupta do comportamento elástico/plástico para deformações
axiais próximas de 7%.
A Figura 4.3 ilustra o comportamento do índice de vazios para a resposta numérica obtida
nos três ensaios, bem como o comportamento experimental e a LEC considerada. Para os
três ensaios o modelo experimental foi capaz de representar com boa precisão a variação
do índice de vazios
91
1,00
Modelo Numérico
0,80 Mohr-Coulomb
LEC
0,75
0,70
10 100 1000 10000
p' (kPa)
Os resultados obtidos para o ensaio com amostra na condição densa (CID-03) são
ilustrados da Figura 4.4 à Figura 4.6, a fim de evidenciar de modo específico a resposta
numérica com o comportamento experimental.
92
900
800
700
600
q (kPa)
1,00
0,50
-1,00
-1,50
0 5 10 15 20 25
εa (%)
93
1,00
0,95
0,90
CID-03 (200 kPa)
0,85
e
Modelo Numérico
0,80 Mohr-Coulomb
0,75 LEC
0,70
0,65
10 100 1000 10000
p' (kPa)
Figura 4.6 - Variação do índice de vazios CID-03 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb.
Assim como observado nos resultados obtidos para as modelagens dos ensaios com o
material na condição “fofa”, nota-se a incapacidade de o modelo simular o
comportamento frágil do material, se restringindo à resposta perfeitamente plástica,
característica da mudança abrupta do comportamento elástico/plástico para deformações
axiais próximas a 2%. Tal comportamento reforça as limitações inerentes ao modelo ao
não contemplar em sua formulação a teoria da plasticidade com
endurecimento/amolecimento considerada nos modelos de estados críticos.
94
4.2. CAM CLAY MODIFICADO
1200
1100 CID-01 (400 kPa)
1000
900 CID-02 (200 kPa)
800
700 CID-04 (100 kPa)
q (kPa)
600
500 CID-01 (400 kPa)
400 Cam-Clay Modificado
300 CID-02 (200 kPa)
200 Cam-Clay Modificado
100 CID-04 (100 kPa)
0 Cam-Clay Modificado
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
95
7
CID-01 (400 kPa)
6
CID-02 (200 kPa)
5
1,00
0,95
CID-01 (400 kPa)
0,90
CID-02 (200 kPa)
0,85
e
0,70
10 100 1000 10000
p' (kPa)
96
nomeadamente dos estados de tensão. Tal fato reforça a necessidade da consideração
simultânea de parâmetros de resistência e de deformabilidade plástica durante a
realização de estudos tensão-deformação.
Os resultados obtidos para o ensaio com amostra na condição densa (CID-03) são
apresentados na Figura 4.10 e Figura 4.11.
900
800
700
600
CID-03 (200 kPa)
q (kPa)
500
400
Modelo Numérico
300 Cam-Clay Modificado
200
100
0
0 5 10 15 20 25
εa (%)
0,50
0,00
-1,50
-2,00
0 5 10 15 20 25
εa (%)
97
Pela Figura 4.10 nota-se que a resposta numérica foi capaz de representar o efeito da
perda de resistência para baixas deformações (comportamento frágil), sendo ligeiramente
mais frágil na simulação numérica comparativamente ao observado experimentalmente.
Relativo ao comportamento dilatante do ensaio CID-03, o modelo foi capaz de simular
com boa precisão o comportamento experimental até deformações axiais na ordem de
5%, conforme ilustrado na Figura 4.11. Para deformações acima deste valor a resposta
numérica apresentou valores de deformação superiores aos observados
experimentalmente. Destaca-se, no entanto, que a existência de diferentes inclinações
para a deformação volumétrica medida durante o ensaio experimental não é esperada e
pode estar associada a imprecisões durante a execução desse ensaio.
Com respeito à variação do índice de vazios do ensaio CID-03, a calibração numérica foi
próxima à representação do ensaio experimental. Dado o contexto, assim como observado
nos resultados obtidos durante as modelagens dos ensaios na condição “fofa”, nota-se a
melhor aderência da aplicação do modelo Cam-Clay Modificado, quando comparado ao
modelo Mohr-Coulomb.
98
1,00
0,95
0,90
0,85
0,80 CID-03 (200 kPa)
0,75
e
Modelo Numérico
0,70
Cam-Clay Modificado
0,65
0,60
0,55
0,50
10 100 1000 10000
p' (kPa)
Figura 4.12 - Variação do índice de vazios CID-03 (200 kPa) – Modelo Cam-Clay
Modificado.
4.3. NORSAND
A partir da avaliação dos ensaios (Figura 4.13 à Figura 4.15) nota-se que o
comportamento tensão-deformação se mostrou próximo ao observado
experimentalmente, de modo que o ensaio CID-01 foi aquele que apresentou maior
divergência quando comparado com os demais ensaios na condição “fofa”.
Adicionalmente, observa-se que os resultados denominados de “NorSand Final”
tenderam a se distanciar ligeiramente do comportamento experimental, quando
comparados com a convergência obtida para aqueles referenciados como “NorSand
Calibração”.
99
1200
1100
1000
900
800
700
q (kPa)
600
500
400
300
200
100
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
CID-01 (400 kPa) CID-02 (200 kPa) CID-04 (100 kPa)
CID-01 NorSand Calibração CID-02 NorSand Calibração CID-04 NorSand Calibração
CID-01 NorSand Final CID-02 NorSand Final CID-04 NorSand Final
4
εv (%)
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
100
7
4
εv (%)
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
1,00
0,95
CID-01 (400 kPa)
0,90
CID-02 (200 kPa)
0,85
e
0,75 LEC
0,70
10 100 1000 10000
p' (kPa)
101
1,00
0,95
CID-01 (400 kPa)
0,90
CID-02 (200 kPa)
0,85
e
0,75 LEC
0,70
10 100 1000 10000
p' (kPa)
Contudo, foi adotada a condição de 𝐺𝑟𝑒𝑓 = 50 𝑀𝑃𝑎 para as modelagens tendo em vista
o melhor cenário de calibração para a amostra na condição densa e a padronização do
referido parâmetro para os ensaios avaliados, conforme será ilustrado no Item 4.3.2.
102
1200 600 300
1100
1000 500 250
900
800 400 200
700
q (kPa)
q (kPa)
q (kPa)
600 300 150
500
400 200 100
300
200 100 50
100
0 0 0
0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30
εa (%) εa (%) εa (%)
CID-01 (400 kPa) NorSand Calibração CID-02 (200 kPa) NorSand Calibração CID-04 (100 kPa) NorSand Calibração
7 7 7
6 6 6
5 5 5
4 4 4
εv (%)
εv (%)
εv (%)
3 3 3
2 2 2
1 1 1
0 0 0
0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30
εa (%) εa (%) εa (%)
CID-01 (400 kPa) NorSand Calibração CID-02 (200 kPa) NorSand Calibração CID-04 (100 kPa) NorSand Calibração
Figura 4.18 - Avaliação de sensibilidade para calibração considerando 𝐺𝑟𝑒𝑓 = 10 𝑀𝑃𝑎 – Modelo NorSand condição “fofa”: (a) tensão de 400
kPa; (b) tensão de 200 kPa e (c) tensão de 100 kPa.
103
4.3.2. Ensaio CID-03 (Condição Densa)
Para o ensaio CID-03 os resultados são apresentados da Figura 4.19 à Figura 4.21. De
modo que, assim como o modelo Cam-Clay Modificado, a utilização do modelo NorSand
foi mais aderente que o Mohr-Coulomb, tendo em vista a consideração dos conceitos de
estado crítico.
900
800
700
600
q (kPa)
200
100
0
0 5 10 15 20 25
εa (%)
-1
NorSand Calibração
-3
NorSand Final
-4
-5
-6
0 5 10 15 20 25
εa (%)
104
1,00
0,95
NorSand Final
0,80 LEC
0,75
0,70
10 100 1000 10000
p' (kPa)
Figura 4.21 - Variação do índice de vazios CID-03 (200 kPa) – Modelo NorSand.
Diante deste contexto, foi observado que os valores de deformação volumétrica são
majoritariamente influenciados pelo parâmetro de dilatância de estado (𝜒), de modo que
a diminuição do valor desse parâmetro resulta em deformações volumétricas mais
aderentes àquelas obtidas experimentalmente.
105
Com relação à variação do índice de vazios, o modelo foi capaz de simular com boa
precisão o comportamento experimental (Figura 4.21) e nota-se que a resposta numérica
forneceu a variação de modo a extrapolar o seu comportamento até o alcance da linha de
estados críticos. Além disso, diferentemente das modelagens dos ensaios na condição
“fofa”, não foram observadas diferenças de resposta para a condição de calibração e a
condição final.
0
0 5 10 15 20 25
-1
CID-03 (200 kPa)
-2 χ=2
εv (%)
-3 χ=3
χ=4
-4
χ = 5,822
-5
-6
εa (%)
Tal qual foi realizado para as amostras na condição “fofa”, realizou-se a avaliação de
sensibilidade de 𝐺𝑟𝑒𝑓 = 10 𝑀𝑃𝑎, sendo observada a divergência da resposta tensão-
deformação e relação de deformações, conforme mostrado na Figura 4.23.
106
900
800
700
600
q (kPa)
0
0 5 10 15 20 25
-1
εv (%)
-3 NorSand Calibração
-4
-5
-6
εa (%)
(b)
107
resposta experimental não drenada para os modelos Cam-Clay Modificado e NorSand,
respectivamente. Destaca-se que o cenário base tomado para a verificação do modelo
NorSand foi aquele referenciado neste trabalho como “NorSand Final”.
300
300
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
108
Em termos de deformações, observa-se baixos valores para os estágios iniciais de
cisalhamento não drenado do modelo Cam-Clay Modificado, caracterizando considerável
rigidez para a reposta numérica. Tal constatação pode estar eventualmente associada ao
baixo valor atribuído ao parâmetro 𝑘 (inclinação da linha de recompressão/expansão),
dada a natureza siltosa do material. Uma vez que o referido parâmetro descreve a resposta
elástica do modelo, à medida em que o seu valor aumenta (característico de materiais
argilosos) tem-se maiores deformações para os estágios iniciais de cisalhamento não
drenado e, consequentemente, diminuição da rigidez na resposta numérica. A Figura 4.26
ilustra a análise de sensibilidade para a resposta do modelo, considerando diferentes
valores do parâmetro 𝑘.
600
500
400
q (kPa)
k = 0,0045
300
k = 0,035
200 k = 0,07
100
0
0 5 10 15 20
εa (%)
109
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES
Este capítulo tem por objetivo apresentar as principais conclusões do estudo e sugestões
de pesquisas futuras. Inicialmente são apresentadas as considerações acerca da
caracterização do rejeito e da modelagem computacional realizada. Na sequência, é
discutido sobre o desempenho dos modelos constitutivos, bem como é definido o modelo
mais representativo do estudo. Por fim, são apresentadas as sugestões de pesquisas
futuras.
110
5.2. DESEMPENHO DOS MODELOS CONSTITUTIVOS AVALIADOS
Assim como o modelo Cam-Clay Modificado, a utilização do modelo NorSand foi mais
aderente que o modelo Mohr-Coulomb, tendo em vista a consideração dos conceitos de
estado crítico. Com respeito às modelagens, foram considerados dois cenários: i)
condição do parâmetro 𝐻 específico para cada ensaio, nomeada de “NorSand Calibração”
e ii) condição de 𝐻 em função de 𝛹, referenciada como “NorSand Final”.
Foi observado que, para as amostras no estado “fofo” sob a condição drenada, os modelos
de estado crítico (Cam-Clay Modificado e NorSand) apresentaram resultados
aproximados e que a modelagem da condição densa ocorreu de forma distinta para cada
modelo: i) através da consideração de OCR = 6 para o Cam-Clay Modificado e ii) através
da utilização do parâmetro de estado para o NorSand.
Adicionalmente, para a simulação da condição não drenada, a qual foi realizada a partir
das calibrações obtidas sob a condição drenada, tendo em vista a ausência de ensaios
dessa natureza no estudo, foi verificada a capacidade do modelo NorSand em simular a
112
perda abrupta de resistência a baixas deformações (característico do fenômeno de
liquefação), diferentemente do modelo Cam-Clay Modificado. Tais constatações
evidenciam a melhor aplicação do modelo NorSand para o material em estudo (rejeito de
minério de ferro), dada a sua natureza siltosa, uma vez que o modelo Cam-Clay
Modificado é mais representativo do comportamento de materiais argilosos normalmente
adensados.
Por fim, após verificado o modelo mais aderente para a condição estudada, sugere-se a
sua aplicação em uma estrutura geotécnica real, de modo a considerar nas modelagens as
variações de nível freático e as condições de contorno e carregamento condicionadas por
tal estrutura, uma vez que os resultados obtidos para o presente trabalho levaram em
consideração apenas a modelagem específica de ensaios triaxiais.
113
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University Press, Cambridge.
116
APÊNDICES
1200
1100
1000
900
800
700 CID-01 (400 kPa)
q (kPa)
600
500 Modelo Numérico
400 Mohr-Coulomb
300
200
100
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
3 Modelo Numérico
Mohr-Coulomb
2
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
117
600
500
400
q (kPa)
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
4
εv (%)
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
118
300
250
200
CID-04 (100 kPa)
q (kPa)
150
Modelo Numérico
100 Mohr-Coulomb
50
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
4
εv (%)
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
119
APÊNDICE B – Gráficos Tensão-Deformação e Relação de Deformações Modelo
Numérico Cam-Clay Modificado
1200
1100
1000
900
800
700 CID-01 (400 kPa)
q (kPa)
600
500
Modelo Numérico
400 Cam-Clay Modificado
300
200
100
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
5
CID-01 (400 kPa)
4
εv (%)
3 Modelo Numérico
Cam-Clay Modificado
2
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
120
600
500
400
CID-02 (200 kPa)
q (kPa)
300
Modelo Numérico
200 Cam-Clay Modificado
100
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
4
εv (%)
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
121
300
250
200
CID-04 (100 kPa)
q (kPa)
150
Modelo Numérico
100 Cam-Clay Modificado
50
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
5
CID-04 (100 kPa)
4
εv (%)
3
Modelo Numérico
Cam-Clay Modificado
2
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
122
APÊNDICE C – Gráficos Tensão-Deformação e Relação de Deformações Modelo
Numérico Norsand
1200
1100
1000
900
800
700
q (kPa)
4
εv (%)
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
123
600
500
400
q (kPa)
100
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
7,00
6,00
5,00
1,00
0,00
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
124
300
250
200
q (kPa)
50
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
4
εv (%)
3 NorSand Calibração
NorSand Final
2
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
125
DECLARAÇÃO
Eu, André de Oliveira Faria, declaro que esta dissertação intitulada AVALIAÇÃO
COMPARATIVA DE MODELOS CONSTITUTIVOS PARA UM REJEITO DE
MINÉRIO DE FERRO DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO é inteiramente e
exclusivamente de minha autoria e que, com exceção das citações diretas e indiretas
claramente indicadas e referenciadas nesse trabalho, e do uso autorizado de banco de
dados, seu texto, figuras, gráficos, quadros, tabelas, algoritmos e demais dados foram por
mim obtidos e, portanto, não contêm plágio.
Data: 19/11/2022