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Modelos Constitutivos para Rejeito de Minério

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Núcleo de Geotecnia

Programa de Pós-Graduação em Geotecnia


PPGEO

Dissertação

Avaliação Comparativa de
Modelos Constitutivos para
um Rejeito de Minério de
Ferro do Quadrilátero
Ferrífero

André de Oliveira Faria

2022
ANDRÉ DE OLIVEIRA FARIA

AVALIAÇÃO COMPARATIVA DE MODELOS


CONSTITUTIVOS PARA UM REJEITO DE
MINÉRIO DE FERRO DO QUADRILÁTERO
FERRÍFERO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Geotecnia do Núcleo de Geotecnia
da Escola de Minas da Universidade Federal de
Ouro Preto, como parte integrante dos requisitos
para obtenção do título de Mestre em Geotecnia.

Área de concentração: Geotecnia.

Orientador: Prof. Dr. Lucas Deleon Ferreira.


Coorientador: Prof. Dr. Bruno Guimarães Delgado.

OURO PRETO
2022
SISBIN - SISTEMA DE BIBLIOTECAS E INFORMAÇÃO

F224a Faria, André de Oliveira.


FarAvaliação comparativa de modelos constitutivos para um rejeito de
minério de ferro do quadrilátero ferrífero. [manuscrito] / André de
Oliveira Faria. - 2022.
Far125 f.: il.: color., gráf., tab..

FarOrientador: Prof. Dr. Lucas Deleon Ferreira.


FarCoorientador: Prof. Dr. Bruno Guimarães Delgado.
FarDissertação (Mestrado Acadêmico). Universidade Federal de Ouro
Preto. Núcleo de Geotecnia da Escola de Minas. Programa de Pós-
Graduação em Geotecnia.
FarÁrea de Concentração: Geotecnia.

Far1. Barragens de rejeitos - Minérios de ferro. 2. Deformações e tensões.


3. Deformações e tensões - Modelo constitutivo. 4. Modelo Cam-Clay
Modificado (MCC). 5. Deformações e tensões - Modelo constitutivo -
NorSand. I. Delgado, Bruno Guimarães. II. Ferreira, Lucas Deleon. III.
Universidade Federal de Ouro Preto. IV. Título.

CDU 624.13

Bibliotecário(a) Responsável: Maristela Sanches Lima Mesquita - CRB-1716


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
REITORIA
ESCOLA DE MINAS
PROGRAMA DE POS-GRADUACAO EM GEOTECNIA

FOLHA DE APROVAÇÃO

André de Oliveira Faria

Avaliação comparativa de modelos constitutivos para um rejeito de minério de ferro do Quadrilátero Ferrífero

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geotecnia do Núcleo de Geotecnia da Escola de Minas da Universidade
Federal de Ouro Preto, como parte integrante dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Geotecnia

Aprovada em 10 de novembro de 2022

Membros da banca

Prof. Dr. Lucas Deleon Ferreira - Orientador (Universidade Federal de Ouro Preto)
Prof. Dr. Eleonardo Lucas Pereira - (Universidade Federal de Ouro Preto)
Prof. Dr. Alessandro Cirone - (PUC/RJ)

O Prof. Lucas Deleon Ferreira, orientador do trabalho, aprovou a versão final e autorizou seu depósito no Repositório Institucional da
UFOP em 06/12/2022.

Documento assinado eletronicamente por Lucas Deleon Ferreira, PROFESSOR DE MAGISTERIO SUPERIOR,
em 07/12/2022, às 10:29, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto
nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.

A autenticidade deste documento pode ser conferida no site


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Referência: Caso responda este documento, indicar expressamente o Processo nº 23109.003230/2022-31 SEI nº 0439247

R. Diogo de Vasconcelos, 122, - Bairro Pilar Ouro Preto/MG, CEP 35402-163


Telefone: (31)3559-1164 - www.ufop.br

ii
DEDICATÓRIA

Aos meus pais João Batista e Lenir, pelo amor incondicional e pelo incentivo incansável
na dedicação aos estudos.
Aos meus irmãos Vinícius e Ana Carolina, exemplos de pessoas e profissionais.

iii
AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida e por me proporcionar saúde e sabedoria todos os dias.

À Bruna, pelo amor e carinho diário.

Agradecimento especial ao Bruno Delgado, por todos os ensinamentos durante a


orientação, por me apresentar os conceitos da Mecânica dos Solos Dos Estados Críticos
e por mostrar a importância da aplicação da técnica na resolução dos problemas da
engenharia geotécnica.

Ao professor Lucas Deleon, pelos ensinamentos durante a graduação e orientação de


mestrado.

Aos amigos Mauro, Marcus e Felipe, pela amizade e exemplo de dedicação profissional.

Ao Ian Paes, pela disponibilidade durante as discussões técnicas realizadas ao longo do


trabalho.

Aos amigos da Pimenta de Ávila, por me mostrarem diariamente a importância da


qualidade técnica nos estudos e projetos desenvolvidos.

Ao Danilo Eloi, pela pronta disponibilização dos dados necessários para o


desenvolvimento da pesquisa.

À UFOP e Escola de Minas, pela formação acadêmica de qualidade e por me permitir o


contato com tantas mentes brilhantes.

iv
RESUMO

A Mecânica dos Solos em sua abordagem clássica apresenta limitações no que tange,
principalmente, o comportamento plástico dos solos na medida em que aspectos de
resistência e de deformabilidade são tratados de maneira distinta e simplificada. Neste
contexto, a Mecânica dos Solos dos Estados Críticos propõe uma abordagem integrada
do comportamento do solo, introduzindo o conceito de estado crítico associado à teoria
da plastificação com endurecimento e amolecimento. Essa consideração permite um
tratamento mais rigoroso na resolução dos problemas, em especial àqueles relacionados
ao comportamento tensão-deformação. A disseminação desse conceito ainda é
relativamente nova no Brasil, uma vez que o tema não é usualmente abordado na esfera
acadêmica e tem sido aplicado pontualmente no mercado de trabalho, em que
tradicionalmente são adotadas soluções de modelagem mais simples. Neste contexto, o
objetivo deste trabalho consiste em comparar a capacidade preditiva de três modelos
constitutivos para a simulação do comportamento de um rejeito de minério de ferro do
Quadrilátero Ferrífero, considerando o modelo de Mohr-Coulomb, amplamente utilizado
no mercado de trabalho, Cam-Clay Modificado e NorSand, os quais consideram o
conceito de estado crítico em suas formulações. Para o desenvolvimento das modelagens
foi utilizado o programa GeoStudio (SIGMA/W) e dados experimentais disponíveis na
literatura. Os resultados numéricos a partir da utilização do modelo constitutivo Mohr-
Coulomb confirmaram as suas limitações em termos de resposta perfeitamente plástica.
Dentre os três modelos, o NorSand foi aquele que apresentou melhor representatividade
numérica em relação ao comportamento experimental, o que pode estar atrelado à
utilização do maior número de parâmetros, à aplicação do parâmetro de estado, bem como
à natureza siltosa do rejeito analisado. Adicionalmente, observou-se dificuldade em
simular o comportamento denso do material, o que pode estar associado à formação de
planos de cisalhamento durante o ensaio triaxial, bem como à complexidade em modelar
a ocorrência desse fenômeno em ensaios virtuais utilizando o modelo NorSand. Por fim,
a melhor aderência aos resultados experimentais evidenciou a importância da aplicação
da Mecânica dos Solos dos Estados Críticos nos estudos tensão-deformação, a qual pode
ser eventualmente adotada na simulação do comportamento de estruturas reais
submetidas a altas tensões, como perspectiva de pesquisas futuras.
Palavras-chave: estado crítico; tensão-deformação; modelo constitutivo; Cam-Clay
Modificado; NorSand.
v
ABSTRACT

Soil Mechanics in its classical approach has limitations regarding, mainly, the plastic
behavior of soils insofar as aspects of strength and deformability are treated in a different
and simplified way. In this context, Critical State Soil Mechanics proposes an integrated
approach to soil behavior, introducing the concept of critical state associated with the
theory of hardening and softening plasticization. This consideration allows a more
rigorous treatment in solving problems, especially those related to stress-strain behavior.
The dissemination of this concept is still relatively new in Brazil, where the topic is not
usually addressed in the academic sphere and has been applied occasionally in the job
market, where simpler modelling solutions are traditionally adopted. In this context, the
objective of this research is to compare the predictive capacity of three constitutive
models to simulate the behavior of an iron ore tailings from the Quadrilátero Ferrífero,
considering the Mohr-Coulomb model, widely used in the job market, Modified Cam-
Clay and NorSand, which consider the concept of critical state in their formulations. For
the modelling development, the GeoStudio (SIGMA/W) and experimental data available
in the literature were used. Numerical results from the use of the Mohr-Coulomb model
confirmed its limitations in terms of a perfectly plastic response. Among the three models,
the NorSand was the one that presented the best numerical representation in relation to
the experimental behavior, which may be linked to the use of the largest number of
parameters, to the application of the state parameter, as well as the silty nature of the
tailings analyzed. Additionally, it was observed difficulty in simulating the material dense
behavior, which may be associated with the formation of shear bands during the triaxial
test, as well as the complexity in modeling the occurrence of this phenomenon in virtual
tests using the NorSand model. Finally, the best adherence to the experimental results
highlighted the importance of applying Critical State Soil Mechanics in stress-strain
studies, which can eventually be adopted in the simulation of the behavior of real
structures subjected to high stresses, as a perspective of future research.

Key words: critical state; stress-strain; constitutive model; Modified Cam-Clay; NorSand.

vi
Lista de Figuras

Figura 2.1 - Representação do comportamento plástico dos materais. .......................... 27


Figura 2.2 - Superfície de Tresca.................................................................................... 27
Figura 2.3 - Superfície de Von Mises. ............................................................................ 28
Figura 2.4 - Comparação das superfícies de Tresca e Von Mises. ................................. 28
Figura 2.5 - Superfície de Drucker e Prager (1952). ...................................................... 29
Figura 2.6 - Superfície de Drucker et al. (1957) (adaptado de Nader, 1993). ................ 30
Figura 2.7 - Variações da superfície de escoamento (Silva, 1996). ............................... 31
Figura 2.8 - Endurecimento misto (Silva, 1996). ........................................................... 31
Figura 2.9 – (a) Endurecimento isotrópico e (b) Fluxo plástico associado (Schofield e
Wroth, 1968)................................................................................................................... 32
Figura 2.10 - Efeitos do cisalhamento no volume dos solos (adaptado de Casagrande,
1936). .............................................................................................................................. 33
Figura 2.11 - Comportamento dos ensaios de cisalhamento direto em areias sob condição
drenada (adaptado de Casagrande, 1975). ...................................................................... 35
Figura 2.12 - Diagrama ilustrativo LCN e LEC (adaptado de Taylor, 1948)................. 36
Figura 2.13 - Projeção da linha de estados críticos no plano τ-σ’. ................................. 37
Figura 2.14 - Projeção da linha de estados críticos no plano q-p’. ................................. 38
Figura 2.15 - LEC no espaço q, p’, e (adaptado de Atkinson e Bransby, 1978). ........... 39
Figura 2.16 - Localização das regiões de comportamento contrátil, dilatante e estados
impossíveis (adaptado de Maranha das Neves, 2016). ................................................... 40
Figura 2.17 - Valores de q e p’ (eixos normalizados) obtidos na ruptura (adaptado de
Schofiel e Worth, 1968).................................................................................................. 41
Figura 2.18 - Plano inclinado (0A), Superfície de Hvorslev (AB) e Linha de Estados
Críticos (B) (adaptado de Atkinson e Bransby, 1978).................................................... 42
Figura 2.19 - Valores de q e p’ (eixos normalizados) obtidos na ruptura (adaptado de
Atkinson e Bransby, 1978). ............................................................................................ 42
Figura 2.20 - Famílias de ensaios drenados e não drenados no espaço q, p’, e (adaptado de
Atkinson e Bransby, 1978). ............................................................................................ 43
Figura 2.21 - Superfície limite de estados (adaptado de Wood, 1990). ......................... 44
Figura 2.22 - Superfície limite de estados avaliada nos eixos normalizados (adaptado de
Atkinson e Bransby, 1978). ............................................................................................ 44

vii
Figura 2.23 - Variações de estado para ensaios em amostras de areia “fofa” e densa
(adaptado de Atkinson e Bransby, 1978). ...................................................................... 45
Figura 2.24 - Superfície de escoamento de Mohr-Coulomb no espaço de tensões
principais. ....................................................................................................................... 47
Figura 2.25 - Superfície de escoamento de Mohr-Coulomb. ......................................... 47
Figura 2.26 - Superfície limite dos estados do modelo Cam-Clay original (adaptado de
Maranha das Neves, 2016). ............................................................................................ 49
Figura 2.27 - Região da superfície limite dos estados (adaptado de Roscoe e Burland,
1968). .............................................................................................................................. 50
Figura 2.28 - Relação entre p’ e q na compressão isotrópica e no estado crítico. .......... 51
Figura 2.29 - Projeção da superfície de cedência no plano q-p' para o modelo Cam-Clay
original (adaptado de Silva, 1996). ................................................................................. 52
Figura 2.30 - Incremento de deformação plástica no modelo Cam-Clay original (Maranha
das Neves, 2016). ........................................................................................................... 53
Figura 2.31 - Funções de plastificação (iguais às funções de potencial plástico) dos
modelos Cam-Clay (Maranha das Neves, 2016). ........................................................... 54
Figura 2.32 - Superfície de cedência do modelo Cam-Clay Modificado projetada no plano
q-p’ (adaptado de Maranha das Neves, 2016). ............................................................... 55
Figura 2.33 - Superfície limite de estados nos modelos (a) Cam-Clay e (b) Cam-Clay
Modificado (adaptado de Silva, 1996). .......................................................................... 56
Figura 2.34 - Definição de parâmetro de estado (adaptado de Jefferies e Been, 2016). 59
Figura 2.35 - Avaliação da trajetória de tensões para areias sob diferentes condições
(adaptado de Jefferies e Been, 2016). ............................................................................. 60
Figura 2.36 - Avaliação da dilatância máxima para materiais arenosos submetidos ao
ensaio de compressão triaxial drenado (adaptado de Jefferies e Been, 2016). ............... 61
Figura 2.37 - (a) Cam-Clay; (b) Modelo NorSand (adaptado de Jefferies e Been, 2016).
........................................................................................................................................ 62
Figura 2.38 - (a) Todos os ensaios na mesma escala; (b) Ensaio 874/MT; (c) Ensaio
LDUL-1/PV; (d) Ensaio LDUL-2/PV e (e) Ensaio LDUL-3/PV em escala expandida
(adaptado de Jefferies e Been, 2000). ............................................................................. 63
Figura 2.39 - Superfície de escoamento para materiais no estado “fofo” (adaptado de
Jefferies e Been, 2016). .................................................................................................. 67
Figura 2.40 - Superfície de escoamento para materiais na condição densa (adaptado de
Jefferies e Been, 2016). .................................................................................................. 67
viii
Figura 2.41 - Evolução da superfície de escoamento (adaptado de Jefferies, 1993). ..... 69
Figura 3.1 - Distribuição granulométrica segundo ASTM D422. .................................. 72
Figura 3.2 - Curva de compressibilidade. ....................................................................... 72
Figura 3.3 - Variação da tensão desviadora (q) com a deformação axial (εa). .............. 75
Figura 3.4 - Variação da deformação volumétrica (εV) com a deformação axial (εa)... 75
Figura 3.5 - Trajetórias de tensão e envoltória de máxima tensão desviadora. .............. 76
Figura 3.6 - Projeção da linha de estados críticos no plano e-p’. ................................... 77
Figura 3.7 - Projeção da linha de estados críticos no plano q-p’. ................................... 78
Figura 3.8 - Metodologia utilizada na modelagem computacional. ............................... 79
Figura 3.9 - (a) Sólido axissimétrico; (b) Geometria adotada nas análises. ................... 79
Figura 3.10 - Avaliação de sensibilidade da altura do CP durante as modelagens. ....... 80
Figura 3.11 - Condições de contorno aplicadas para a etapa de adensamento. .............. 81
Figura 3.12 - Condições de contorno aplicadas para a etapa de cisalhamento. .............. 82
Figura 3.13 - Avaliação ângulo de dilatância. ................................................................ 84
Figura 3.14 - Avaliação de sensibilidade do OCR para resposta tensão-deformação - CID-
03 (200 kPa) Modelo Cam-Clay Modificado. ................................................................ 85
Figura 3.15 - Avaliação de sensibilidade do OCR para relação de deformações - CID-03
(200 kPa) Modelo Cam-Clay Modificado. ..................................................................... 86
Figura 3.16 - Relação Ψ- Dmin. ..................................................................................... 88
Figura 3.17 - Relação Dmin- ηmáx................................................................................ 88
Figura 3.18 - Relação H- Ψ0. ......................................................................................... 89
Figura 4.1 - Tensão-deformação consolidada – Modelo Mohr-Coulomb. ..................... 90
Figura 4.2 - Relação de deformações consolidada – Modelo Mohr-Coulomb............... 91
Figura 4.3 - Variação do índice de vazios – Modelo Mohr-Coulomb. ........................... 92
Figura 4.4 - Tensão-deformação CID-03 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. ........... 93
Figura 4.5 - Relação de deformações CID-03 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. .... 93
Figura 4.6 - Variação do índice de vazios CID-03 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb.
........................................................................................................................................ 94
Figura 4.7 - Tensão-deformação consolidada – Modelo Cam-Clay Modificado. .......... 95
Figura 4.8 - Relação de deformações consolidada – Modelo Cam-Clay Modificado. ... 96
Figura 4.9 - Variação do índice de vazios – Modelo Cam-Clay Modificado. ................ 96
Figura 4.10 - Tensão-deformação – Modelo Cam-Clay Modificado. ............................ 97
Figura 4.11 - Relação de deformações – Modelo Cem-Clay Modificado. ..................... 97

ix
Figura 4.12 - Variação do índice de vazios CID-03 (200 kPa) – Modelo Cam-Clay
Modificado. .................................................................................................................... 99
Figura 4.13 - Tensão-deformação consolidada – Modelo NorSand. ............................ 100
Figura 4.14 - Relação de deformações consolidada para a condição NorSand Calibração.
...................................................................................................................................... 100
Figura 4.15 - Relação de deformações consolidada para a condição NorSand Final. .. 101
Figura 4.16 - Variação do índice de vazios para a condição NorSand Calibração. ...... 101
Figura 4.17 - Variação do índice de vazios para a condição NorSand Final. ............... 102
Figura 4.18 - Avaliação de sensibilidade para calibração considerando Gref = 10 MPa –
Modelo NorSand condição “fofa”: (a) tensão de 400 kPa; (b) tensão de 200 kPa e (c)
tensão de 100 kPa. ........................................................................................................ 103
Figura 4.19 - Tensão-deformação CID-03 (200 kPa) – Modelo NorSand. .................. 104
Figura 4.20 - Relação de deformações CID-03 (200 kPa) – Modelo NorSand. ........... 104
Figura 4.21 - Variação do índice de vazios CID-03 (200 kPa) – Modelo NorSand. .... 105
Figura 4.22 - Avaliação de sensibilidade χ para relação de deformações - CID-03 (200
kPa) Modelo NorSand. ................................................................................................. 106
Figura 4.23 - Avaliação de sensibilidade para calibração considerando Gref = 10 MPa –
Modelo NorSand condição densa: (a) Comportamento Tensão-Deformação e (b) Relação
entre deformações axiais e volumétricas. ..................................................................... 107
Figura 4.24 - Tensão-deformação Modelo Cam-Clay Modificado – Não Drenado. .... 108
Figura 4.25 - Tensão-deformação Modelo NorSand – Não Drenado........................... 108
Figura 4.26 – Análise de sensibilidade parâmetro k – Modelo Cam-Clay Modificado Não
Drenado. ....................................................................................................................... 109
Figura A.1 - Tensão-deformação CID-01 (400 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. ........ 117
Figura A.2 - Relação de deformações CID-01 (400 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. . 117
Figura A.3 - Tensão-deformação CID-02 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. ........ 118
Figura A.4 - Relação de deformações CID-02 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. . 118
Figura A.5 - Tensão-deformação CID-04 (100 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. ........ 119
Figura A.6 - Relação de deformações CID-04 (100 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb. . 119
Figura B.1 - Tensão-deformação CID-01 (400 kPa) – Modelo Cam-Clay Modificado.
...................................................................................................................................... 120
Figura B.2 - Relação de deformações CID-01 (400 kPa) – Modelo Cam-Clay Modificado.
...................................................................................................................................... 120

x
Figura B.3 - Tensão-deformação CID-02 (200 kPa) – Modelo Cam-Clay Modificado.
...................................................................................................................................... 121
Figura B.4 - Relação de deformações CID-02 (200 kPa) – Modelo Cam-Clay Modificado.
...................................................................................................................................... 121
Figura B.5 - Tensão-deformação CID-04 (100 kPa) – Modelo Cam-Clay Modificado.
...................................................................................................................................... 122
Figura B.6 - Relação de deformações CID-04 (100 kPa) – Modelo Cam-Clay Modificado.
...................................................................................................................................... 122
Figura C.1 - Tensão-deformação CID-01 (400 kPa) – Modelo NorSand. ................... 123
Figura C.2 - Relação de deformações CID-01 (400 kPa) – Modelo NorSand. ............ 123
Figura C.3 - Tensão-deformação CID-02 (200 kPa) – Modelo NorSand. ................... 124
Figura C.4 - Relação de deformações CID-02 (200 kPa) – Modelo NorSand. ............ 124
Figura C.5 - Tensão-deformação CID-04 (100 kPa) – Modelo NorSand. ................... 125
Figura C.6 - Relação de deformações CID-04 (100 kPa) – Modelo NorSand. ............ 125

xi
Lista de Tabelas

Tabela 3.1 - Valores obtidos para os coeficientes 𝐶𝐶, 𝐶𝑆 e 𝐶𝑅. .................................... 73


Tabela 3.2 - Valores obtidos para os coeficientes λ e k. ................................................ 74
Tabela 3.3 - Resumos das condições dos corpos de prova em cada fase dos ensaios (Eloi,
2021). .............................................................................................................................. 74
Tabela 3.4 - Parâmetros etapa de adensamento. ............................................................. 82
Tabela 3.5 - Parâmetros modelo Mohr-Coulomb. .......................................................... 84
Tabela 3.6 - Parâmetros modelo Cam-Clay Modificado. ............................................... 86
Tabela 3.7 - Parâmetros modelo NorSand. ..................................................................... 89

xii
Lista de Símbolos e Nomenclaturas

Nomenclaturas

ASTM American Society of Testing and Materials


CID Consolidação Isotrópica Drenada
CSL Critical State Line
CSSM Critical State Soil Mechanics
IFM Interactive Forward Modeling
LCN Linha de Consolidação Normal
LEC Linha de Estados Críticos
OCR Overconsolidation Ratio
PLCN Pseudo Linha de Consolidação Normal

Alfabeto latino

𝑐′ intercepto de coesão efetiva


𝑑 operador derivada
𝐷 taxa de dilatância
𝐷𝑚𝑖𝑛 dilatância máxima
𝐷𝑃 parcela plástica da dilatância
𝑒0 índice de vazios inicial
𝑒𝑐 índice de vazios no estado crítico
𝑒𝑖 índice de vazios no estado crítico para a condição de imagem
𝑒𝑘 índice de vazios na linha 𝑘 para 𝑝’ = 1 𝑘𝑃𝑎
𝐸 módulo de Young
𝐸′ módulo de Young efetivo
𝐸50 módulo elástico secante
𝐹, 𝐹 ′ função de plastificação
𝐺 módulo de distorção ou cisalhante
𝐺𝑠 densidade real dos grãos
𝐻 módulo de endurecimento plástico
módulo de endurecimento plástico para a condição de parâmetro de estado
𝐻0
igual a zero
𝐻𝑦 módulo de endurecimento plástico como função do parâmetro de estado
𝐼1 primeiro invariante de tensões
𝐽2 segundo invariante de tensões
𝐾 módulo de compressibilidade volumétrica
𝑘 constante positiva característica do solo
𝑘 inclinação da linha de recompressão/expansão
xiii
razão de tensões no estado crítico (obtida em ensaio triaxial de
𝑀, 𝑀𝑡𝑐
compressão)
𝑀𝑖 razão de tensões no estado crítico para a condição de imagem
𝑚 expoente elástico
𝑁 coeficiente de acoplamento volumétrico
𝑝′ tensão média efetiva ou volumétrica
𝑝𝑐′ tensão média efetiva no estado crítico
𝑝𝑖 tensão média na condição de imagem
𝑝𝑖̇ incremento de tensão média na condição de imagem
𝑝𝑖,𝑚á𝑥 tensão média máxima na condição de imagem

𝑝𝑟𝑒𝑓 tensão média efetiva de referência
𝑝𝑦′ tensão média efetiva de cedência
𝑞 tensão desviadora ou distorcional
𝑌 tensão de escoamento obtida através do ensaio de tração axial

Alfabeto grego

α constante positiva característica do solo


dilatância de estado (definida a partir do ensaio de compressão triaxial
𝜒, 𝜒𝑡𝑐
drenado)
𝜒𝑖 dilatância de estado na condição de imagem
intercepto da LEC com o eixo das ordenadas para o nível de tensão 𝑝’ =
Г
1 𝑘𝑃𝑎
𝛿𝑊 densidade de trabalho
𝜀1 deformação principal maior
𝜀3 deformação principal menor
𝑝
𝜀𝑖𝑗 componente incremento de deformação plástica
𝜀𝑠 deformação distorcional
𝜀𝑠𝑒 deformação distorcional elástica
𝑝
𝜀𝑠 deformação distorcional plástica
𝜀𝑣 deformação volumétrica
𝜀𝑣𝑒 deformação volumétrica elástica
𝑝
𝜀𝑣 deformação volumétrica plástica
𝛿𝜀𝑠 , 𝜀𝑠̇ incremento de deformação distorcional
𝛿𝜀𝑠𝑒 incremento de deformação distorcional elástica
𝑝
𝛿𝜀𝑠 incremento de deformação distorcional plástica
𝛿𝜀𝑣 , 𝜀𝑣̇ incremento de deformação volumétrica
𝛿𝜀𝑣𝑒 incremento de deformação volumétrica elástica
𝑝
𝛿𝜀𝑣 incremento de deformação volumétrica plástica
𝜂 razão de tensões (𝑞/𝑝′)
𝜂𝑚á𝑥 razão de tensões máxima
𝜆 inclinação da LEC no espaço 𝑒 − 𝑝′
xiv
𝜆 inclinação da LCN

𝜎 tensão normal efetiva
𝜎1 tensão principal maior
𝜎3 tensão principal menor
𝜎1′ tensão principal maior efetiva
𝜎3′ tensão principal menor efetiva
𝜎𝑖𝑗′ componente incremento de tensão efetiva
𝜏 tensão cisalhante
𝑣 coeficiente de Poisson
𝜈 volume específico
𝜙′ ângulo de atrito em termos de tensão efetiva
𝜙𝑐′ ângulo de atrito efetivo no estado crítico
𝜓 ângulo de dilatância
𝛹 parâmetro de estado
𝛹𝑖 parâmetro de estado na condição de imagem

xv
Lista de Apêndices

APÊNDICE A – Gráficos Tensão-Deformação e Relação de Deformações Modelo


Numérico Mohr-Coulomb ............................................................................................ 117
APÊNDICE B – Gráficos Tensão-Deformação e Relação de Deformações Modelo
Numérico Cam-Clay Modificado ................................................................................. 120
APÊNDICE C – Gráficos Tensão-Deformação e Relação de Deformações Modelo
Numérico Norsand ........................................................................................................ 123

xvi
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO................................................................................. 19

1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................... 19

1.2. JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 19

1.3. OBJETIVOS ............................................................................................................ 20

1.4. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO....................................................................... 21

CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................ 22

2.1. DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS TENSÃO-DEFORMAÇÃO .............................. 22

2.2. ELASTICIDADE..................................................................................................... 24

2.3. PLASTICIDADE ..................................................................................................... 25


2.3.1. Função de Plastificação ................................................................................. 26
2.3.2. Lei de Endurecimento.................................................................................... 30
2.3.3. Lei De Fluxo e Critério de Estabilidade ........................................................ 31

2.4. MECÂNICA DOS SOLOS DOS ESTADOS CRÍTICOS ...................................... 33


2.4.1. Conceito ......................................................................................................... 33
2.4.2. Superfície Limite dos Estados ....................................................................... 41

2.5. MODELOS CONSTITUTIVOS .............................................................................. 45


2.5.1. Mohr-Coulomb .............................................................................................. 46
2.5.2. Cam-Clay Modificado ................................................................................... 48
2.5.3. NorSand ......................................................................................................... 57

CAPÍTULO 3 – MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................ 71

3.1. CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DO REJEITO ........................................... 71

3.2. MODELAGEM COMPUTACIONAL .................................................................... 78


3.2.1. Características do Modelo Numérico ............................................................ 78
3.2.2. Parâmetros dos Modelos Constitutivos ......................................................... 83

CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES.................................................... 90

4.1. MOHR-COULOMB ................................................................................................ 90

xvii
4.1.2. Ensaios CID-01, 02 e 04 (Condição “Fofa”) ................................................. 90
4.1.3. Ensaio CID-03 (Condição Densa) ................................................................. 92

4.2. CAM CLAY MODIFICADO .................................................................................. 95


4.2.1. Ensaios CID-01, 02 e 04 (Condição “Fofa”) ................................................. 95
4.2.2. Ensaio CID-03 (Condição Densa) ................................................................. 97

4.3. NORSAND .............................................................................................................. 99


4.3.1. Ensaios CID-01, 02 e 04 (Condição “Fofa”) ................................................. 99
4.3.2. Ensaio CID-03 (Condição Densa) ............................................................... 104

4.4. RESPOSTA NÃO DRENADA – CAM-CLAY MODIFICADO E NORSAND.. 107

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES .................................................. 110

5.1. CARACTERIZAÇÃO DO REJEITO E MODELAGEM COMPUTACIONAL . 110

5.2. DESEMPENHO DOS MODELOS CONSTITUTIVOS AVALIADOS .............. 111

5.3. MODELO CONSTITUTIVO MAIS REPRESENTATIVO ................................. 112

5.4. SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS ......................................................... 113

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 114

xviii
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Mecânica dos Solos é a ciência aplicada que estuda o comportamento mecânico e hidráulico
do solo. Segundo as ideias de Terzaghi e Peck (1967), não se pode aplicar aos solos leis teóricas
de uso corrente desenvolvidas para outros materiais de engenharia, como o concreto e o aço.
Logo, não é suficiente determinar em laboratório parâmetros de resistência e deformabilidade
em amostras de solo e aplicá-los a modelos teóricos desenvolvidos para outros materiais.

O avanço da Mecânica dos Solos se dá pelo aprimoramento da experimentação, observação e


análise do comportamento das obras, o que torna imprescindível a necessidade de se atentar
para as peculiaridades dos solos com base no entendimento dos seus mecanismos de
comportamento.

A Mecânica dos Solos dos Estados Críticos (CSSM, da sigla em inglês) propõe uma abordagem
integrada do comportamento mecânico dos solos, correlacionando aspectos de deformabilidade
e de resistência ao cisalhamento, tratados de maneira distinta pela Mecânica dos Solos Clássica.

Um solo alcança o estado crítico quando continua a se deformar sob tensão e volume constantes
(Roscoe et al., 1958).

Sabendo-se da existência de modelos que descrevem a resistência do solo sob aspectos


relacionados à tensão, torna-se necessária a existência de modelos capazes de descrever a
resistência em termos de tensão e deformação. Diante disso, a utilização da Mecânica dos Solos
dos Estados Críticos se apresenta como uma ferramenta fundamental para uma compreensão
mais rigorosa do comportamento dos solos e de outros materiais particulados.

1.2. JUSTIFICATIVA

O estudo rigoroso do comportamento tensão-deformação dos solos e meios particulados em


geral requer considerações que consigam prever com razoável confiabilidade o comportamento
generalizado dos materiais, associado quer à resistência quer à deformabilidade, para o qual a

19
definição dos parâmetros obtidos nos ensaios de campo e laboratório configuram-se como
fundamentais nesse processo. Neste contexto, a execução do presente trabalho se justifica como
forma de contribuir com a necessidade da utilização dos conceitos da teoria dos estados críticos
em estudos de tensão-deformação.

Dessa forma, fazem-se necessários estudos à luz da Mecânica dos Solos dos Estados Críticos a
fim de se obter parâmetros últimos intrínsecos a estes materiais, independente do estado de
tensão e da condição de carregamento imposta (drenada ou não drenada). Nesse aspecto,
possibilitando a obtenção de parâmetros necessários a fim de utilizar modelos constitutivos
mais representativos do comportamento elastoplástico característico de solos e meios
particulados em geral, como, por exemplo, rejeitos de mineração.

1.3. OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho consiste em comparar a capacidade preditiva de três modelos


constitutivos para a simulação do comportamento de um rejeito de minério de ferro do
Quadrilátero Ferrífero, considerando o modelo de Mohr-Coulomb, Cam-Clay Modificado e
NorSand.

Essa abordagem busca promover uma discussão sobre a necessidade da utilização dos conceitos
da Mecânica dos Solos dos Estados Críticos em estudos de tensão-deformação, considerada nos
modelos Cam-Clay Modificado e NorSand, em complemento à ampla utilização comercial do
modelo Mohr-Coulomb, o qual não considera a teoria dos estados críticos. Além de possibilitar
uma avaliação do modelo constitutivo que melhor consegue capturar o comportamento de um
rejeito de minério de ferro específico, objetivando análises mais confiáveis acerca da segurança
das estruturas geotécnicas associadas a esse material. Ressalta-se que a utilização do modelo
Mohr-Coulomb foi priorizada, dentre os modelos da literatura que não consideram a teoria dos
estados críticos, tendo em vista a sua ampla utilização comercial.

Diante do exposto, tem-se como objetivos específicos deste trabalho:

20
1. Modelar pelo Método de Elementos Finitos (MEF) o comportamento tensão-
deformação do material considerando três modelos constitutivos (Mohr-Coulomb,
Cam-Clay Modificado e NorSand);
2. Comparar os resultados de cada modelo estudado com os resultados observados
experimentalmente;
3. Definir o modelo constitutivo que apresenta o comportamento mais representativo ao
observado nos ensaios triaxiais.

1.4. ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

O presente trabalho foi elaborado em 5 capítulos. O presente capítulo busca oferecer uma
introdução acerca do assunto, evidenciar a motivação que justificou o tema escolhido para a
pesquisa, bem como os objetivos geral e específicos da dissertação.

O segundo capítulo fornece a revisão bibliográfica empreendida para a contextualização do


estado da arte associado ao trabalho, iniciando pela abordagem das variáveis principais
utilizadas em estudos tensão-deformação, os conceitos de elasticidade e plasticidade, bem como
a aplicação da Mecânica dos Solos dos Estados Críticos. Na sequência, é abordado sobre as
formulações que caracterizam os modelos constitutivos de Mohr-Coulomb, Cam-Clay
Modificado e NorSand, respectivamente.

No Capítulo 3 são apresentados os materiais e métodos envolvidos na pesquisa. Neste capítulo


são ilustrados os ensaios experimentais que foram utilizados, a metodologia para o
desenvolvimento das modelagens computacionais, bem como os parâmetros aplicados aos
modelos numéricos adotados.

O quarto capítulo apresenta e discute os resultados obtidos através das análises numéricas de
tensão-deformação. São feitas análises comparativas entre a resposta computacional e o
comportamento experimental, discutindo para cada modelo estudado os resultados obtidos para
as diferentes condições de estado inicial do rejeito adotado (condições “fofa” e densa).

Finalmente, no Capítulo 5 são apresentadas as conclusões obtidas em decorrência do trabalho,


bem como as sugestões para o desenvolvimento de pesquisas futuras.

21
CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS TENSÃO-DEFORMAÇÃO

Os solos são meios particulados que respondem aos carregamentos a eles impostos por
meio da interação interparticular, constituindo-se, assim, num meio essencialmente
discreto. No entanto, dada a dificuldade prática em se compatibilizar as condições de
equilíbrio em tais circunstâncias, a Mecânica dos Solos considera, por simplificação, que
o comportamento mecânico dos solos, e demais materiais de constituição particulada,
pode ser satisfatoriamente compreendido assumindo-se a hipótese de um meio contínuo
cujo comportamento, no entanto, é regido pela tensão efetiva (decorrente dos efeitos da
poropressão que podem atuar nos vazios do material) e não, exclusivamente, pela tensão
total aplicada.

Modernamente algumas abordagens têm buscado sobrepujar essas simplificações por


meio de métodos discretos com suporte computacional, como o Método dos Elementos
Discretos (MED), com iniciativas em pesquisas aplicadas, que visam, inclusive, calibrar
os modelos baseados na mecânica dos meios contínuos (Delgado, 2020). No entanto, o
esforço computacional associado a tais modelos ainda é relativamente elevado e tais
abordagens, por enquanto, permanecem afastadas das análises correntes no cotidiano da
prática profissional. Nesse sentido, este trabalho se concentra ainda no domínio da
mecânica dos meios contínuos, a qual trata das tensões e das deformações que se instalam
num corpo deformável, constituído por um material contínuo, o qual não pode exibir
descontinuidades ou sobreposições, buscando, porém, leis constitutivas que possam
melhor representar o comportamento experimental observado nos materiais, no caso
específico em questão, num rejeito de minério de ferro.

Entende-se por tensão, uma força atuando numa unidade de área, bem como por
deformação, uma intensidade de deslocamento que se traduz por variação da distância em
uma unidade de comprimento. Forças e tensões devem estar em equilíbrio, a fim de se
evitar que o corpo sofra aceleração. Nesse mesmo sentido, os deslocamentos ao darem
origem às deformações devem ser compatíveis, ou então o corpo pode exibir
descontinuidades ou sobreposições (Maranha das Neves, 2016).

22
Em um estado de tensões axissimétrico, as variáveis de tensão e deformação são
representadas de forma simplificada em termos de direções principais, em que, tomando
o estado de tensão efetiva, tem-se que 𝜎′1 e 𝜎′3 representam a tensão principal maior
efetiva e a tensão principal menor efetiva, respectivamente, sendo 𝜎′2 = 𝜎′3 (condição de
axissimetria). Da mesma forma, tem-se que 𝜀1 e 𝜀3 representam as componentes de
deformação associadas a essas tensões principais, respectivamente.

Nestes termos, sob a condição axissimétrica tem-se que a tensão média efetiva ou
volumétrica (𝑝′ ) é responsável por gerar variação volumétrica no material, bem como a
tensão desviadora ou distorcional (𝑞) está associada à ocorrência das variações de forma,
sendo expressas pelas Equações (2.1) e (2.2).

1
𝑝′ = (𝜎′1 + 2𝜎′3 ) (2.1)
3
𝑞 = 𝜎′1 − 𝜎′3 (2.2)

A relação entre essas tensões (η) é dada pela Equação (2.3):

𝑞
𝜂= (2.3)
𝑝′

Com respeito às deformações resultantes das tensões 𝑝′ e 𝑞, tem-se, na condição de


axissimetria, que:

𝜀𝑣 = 𝜀1 + 2𝜀3 (2.4)
2
𝜀𝑠 = (𝜀1 − 𝜀3 ) (2.5)
3

em que:
𝜀𝑣 é a deformação volumétrica; e
𝜀𝑠 representa a deformação distorcional.

Conhecidas tais relações, pode-se definir que o trabalho realizado durante um incremento
de deformação volumétrica (𝛿𝜀𝑣 ) e distorcional (𝛿𝜀𝑠 ), 𝛿𝑊 (densidade de trabalho), pode
ser dado pela Equação (2.6).
23
𝛿𝑊 = 𝑞𝛿𝜀𝑠 + 𝑝′ 𝛿𝜀𝑣 (2.6)

Maranha das Neves (2016) esclarece que tensões e deformações podem se relacionar por
intermédio de equações constitutivas, de modo que a escolha da equação adequada
depende do grau de aproximação com que se pretende descrever o comportamento real
do material. Quanto maior for essa aproximação, maior será a complexidade da relação
e, consequentemente, mais parâmetros relacionados com as propriedades mecânicas do
material em causa.

2.2. ELASTICIDADE

Para os materiais elásticos, tem-se que o trabalho realizado pelas tensões externas durante
um incremento de deformação é armazenado e pode ser recuperado no descarregamento
da tensão inicialmente aplicada. Schofield e Wroth (1968) definem que um contínuo
elástico isotrópico apresenta propriedades lineares que envolvem apenas duas constantes
fundamentais dos materiais, sendo uma relacionada aos efeitos gerados pela tensão
volumétrica e a outra pelos efeitos da tensão desviadora, respectivamente: i) módulo de
compressibilidade volumétrica 𝐾 e ii) módulo de distorção 𝐺. Nesse aspecto, tem-se que:

𝑑𝑞
3𝐺 = (2.7)
𝑑𝜀𝑠
𝑑𝑝
𝐾= (2.8)
𝑑𝜀𝑣

Ainda segundo esses autores, é usual a definição de constantes elásticas alternativas a


partir de ensaios de tração e compressão axial, de modo a obter-se o módulo de Young 𝐸
(Equação 2.9), bem como o coeficiente de Poisson 𝜈 (Equação 2.10), fazendo:

𝜎1
𝐸= (2.9)
𝜀1𝑒
𝜀3𝑒
𝜈=− (2.10)
𝜀1𝑒

em que o sobrescrito 𝑒 representa a parcela elástica da deformação avaliada.


24
Adicionalmente, pode-se relacionar os módulos 𝐸, 𝐺, 𝐾 e o coeficiente 𝜈 tomando:

𝐸
𝐺= (2.11)
2(1 + 𝜈)
𝐸
𝐾= (2.12)
3(1 − 2𝜈)

2.3. PLASTICIDADE

Enquanto no domínio da elasticidade o trabalho realizado pelas tensões externas pode ser
recuperado na fase de descarregamento, para o incremento de deformações plásticas o
trabalho realizado é dissipado, de modo que estas deformações não são recuperáveis na
fase de descarregamento.

Para os materiais perfeitamente elásticos é considerada a linearidade entre o incremento


de tensão e o incremento de deformação, de modo que os problemas podem ser resolvidos
a partir da aplicação de cada incremento de tensão ao corpo não solicitado (ou já
plastificado), com a posterior sobreposição das soluções considerando cada problema a
parte. Nesse aspecto, para os materiais inelásticos, é necessário considerar a aplicação de
incrementos de tensão em um corpo já inicialmente solicitado, de modo que cada
deformação será dependente da tensão no interior do corpo em um estágio particular de
carregamento, bem como dependente do incremento particular de tensão externa.

Jefferies e Been (2016) defendem que a Teoria da Plasticidade é uma metodologia


dominante para a modelagem constitutiva de geomateriais, uma vez que ela é capaz de
capturar os comportamentos observados experimentalmente destes materiais de forma
computável, a partir das considerações matemáticas estabelecidas.

Ainda segundo os referidos autores, uma das diferenças principais entre a plasticidade e
a elasticidade está no tratamento das deformações. Na elasticidade, considerando a
condição isotrópica, os incrementos de deformações principais estão na mesma direção
dos incrementos das tensões principais (coaxialidade entre tensões e deformações). Para
a plasticidade, o desenvolvimento teórico se concentra inicialmente na identificação do

25
estado de tensões sob as quais as deformações plásticas ocorrem, a fim de definir a
superfície de escoamento ou de cedência plástica (lugar geométrico dos estados de
tensões que levam às deformações plásticas). Adicionalmente, faz-se necessária a
definição adicional da magnitude e da direção em que as deformações plásticas ocorrem.

Diante do exposto, para descrever as relações de tensão-deformação inerentes ao


comportamento plástico, são necessárias as definições dos conceitos de: i) função de
plastificação (ou de cedência); ii) lei de endurecimento e iii) lei de fluxo.

2.3.1. Função de Plastificação

As funções que definem a combinação de tensões nas quais o material se plastifica,


segundo uma dada teoria da resistência dos materiais, são definidas como funções de
plastificação, as quais podem ser representadas no espaço de tensões principais para
materiais isotrópicos conforme indicado na Equação (2.13).

𝐹 = 𝑓(𝜎1 , 𝜎2 , 𝜎3 ) (2.13)

em que 𝑓(𝜎) < 0 corresponde ao regime elástico do material, enquanto 𝑓(𝜎) = 0


corresponde à ocorrência de deformações plásticas (irreversíveis) e 𝑓(𝜎) > 0 representa
os estados impossíveis.

No âmbito das deformações plásticas, um material pode ser denominado perfeitamente


plástico ou com o comportamento de endurecimento/amolecimento, a depender da sua
função de plastificação. Tomando essa função fixa, tem-se que o material é perfeitamente
plástico, enquanto caso a função de plastificação admita mudanças em virtude das
deformações plásticas, o material pode apresentar comportamento de endurecimento ou
amolecimento, conforme apresentado na Figura 2.1.

Deve salientar-se que em cada um dos casos apresentados na Figura 2.1 (perfeitamente
plástico, endurecimento e amolecimento) as deformações totais para um dado nível de
tensão são a soma das componentes elásticas e plásticas.

26
Figura 2.1 - Representação do comportamento plástico dos materais.

A partir de experiências em metais, é possível citar as funções de plastificação de Tresca


e Von Mises. O primeiro critério sugere que a plastificação ocorre quando a tensão
cisalhante máxima atinge o valor crítico 𝑘, descrito pela Equação (2.14).

𝐹 = 𝜎1 − 𝜎3 − 2𝑘 = 0 (2.14)

Em que a representação da função de plastificação de Tresca no espaço de tensões


principais é dada por uma superfície prismática de base hexagonal, centrada no eixo
hidrostático (𝜎1 = 𝜎2 = 𝜎3 ) conforme apresentado na Figura 2.2.

Figura 2.2 - Superfície de Tresca.

Segundo o critério de Von Mises, a plastificação ocorre segundo a Equação (2.15).

𝐹 = (𝜎1 − 𝜎2 )2 + (𝜎2 − 𝜎3 )2 + (𝜎3 − 𝜎1 )2 − 2𝑌 2 = 0 (2.15)

27
em que 𝑌 representa a tensão de escoamento obtida através do ensaio de tração axial. A
representação da função de plastificação no espaço de tensões pode ser definida segundo
uma superfície prismática de base cilíndrica centrada no eixo hidrostático (Figura 2.3).

Figura 2.3 - Superfície de Von Mises.

A Figura 2.4 apresenta o comparativo dos dois critérios de plastificação, os quais se


assemelham pela não alteração do formato das superfícies de escoamento consoante o
incremento da tensão volumétrica (𝑝′), o que é característico de materiais com
comportamento perfeitamente plástico (Schofield e Wroth, 1968).

Figura 2.4 - Comparação das superfícies de Tresca e Von Mises.

No campo da Mecânica dos Solos, e objetivando contornar algumas limitações dos


modelos de plastificação anteriores, Drucker e Prager (1952) propuseram uma
generalização do critério de Von Mises, por meio de uma função de plastificação que
define uma superfície cônica de base circular descrita pela Equação (2.16).

28
𝐹 = 𝐽2 − (𝑘 + 𝛼𝐼1 )2 = 0 (2.16)

em que 𝐼1 e 𝐽2 representam o primeiro e segundo invariantes de tensões, bem como 𝛼 e 𝑘


representam constantes positivas e características do solo.

No espaço de tensões principais a superfície de Drucker-Prager apresenta o formato


tridimensional conforme indicado na Figura 2.5.

Figura 2.5 - Superfície de Drucker e Prager (1952).

Após observado que a superfície proposta levava à previsão exagerada das deformações
plásticas, Drucker et al. (1957) propuseram uma nova superfície de escoamento fechada
(Figura 2.6), afirmando que os solos não podem ser tratados como materiais plásticos
perfeitos e que seu comportamento se assemelha ao de materiais elastoplásticos com
endurecimento e amolecimento. Adicionalmente, os autores indicaram que a superfície
de escoamento dos solos deve obrigatoriamente interceptar a diagonal (eixo isotrópico)
do espaço de tensões (𝜎1 = 𝜎2 = 𝜎3 ).

29
Figura 2.6 - Superfície de Drucker et al. (1957) (adaptado de Nader, 1993).

Um outro critério de plastificação muito difundido, e empregado em análises diversas


envolvendo solos e rejeitos, é também baseado em plasticidade perfeita, tendo sido
posteriormente adaptado para incorporar uma superfície de escoamento interceptando o
eixo isotrópico. Trata-se do modelo de Mohr-Coulomb e será abordado em detalhes,
posteriormente, por ocasião da apresentação dos modelos constitutivos utilizados neste
trabalho.

2.3.2. Lei de Endurecimento

A função de plastificação define apenas o critério de ocorrência das deformações


plásticas. A variação da superfície de escoamento durante o carregamento, estabelecendo
as condições para as plastificações subsequentes, é caracterizada pela lei de
endurecimento.

Segundo Owen e Hinton (1980), a superfície de escoamento varia para cada estágio da
deformação plástica, com exceção dos materiais tratados como perfeitamente plásticos,
para os quais não há variação dessa superfície, conforme Figura 2.7a. Para aqueles que
apresentam comportamento de endurecimento, há três casos típicos: i) endurecimento
isotrópico: ocorre a expansão uniforme da superfície de escoamento sem translação
(Figura 2.7b); ii) endurecimento cinemático: ocorre a translação da superfície no espaço
de tensões, como um corpo rígido (Figura 2.7c) e iii) endurecimento misto: combinação
dos dois tipos anteriores, através da expansão e translação da superfície de escoamento
(Figura 2.8).

30
Figura 2.7 - Variações da superfície de escoamento (Silva, 1996).

Figura 2.8 - Endurecimento misto (Silva, 1996).

Para alguns materiais, a superfície de escoamento pode apresentar o comportamento de


amolecimento (interpretado como um endurecimento negativo), em que o nível da tensão
de plastificação em um ponto diminui com o aumento da deformação plástica.

2.3.3. Lei De Fluxo e Critério de Estabilidade

A determinação da orientação dos incrementos de deformação plástica em um dado


material quando inicia-se a sua plastificação, sob determinado estado de tensão, é descrita
pela lei de fluxo. Essa lei é definida por uma função chamada de potencial plástico, a qual
pode ser igual à função de plastificação, o que caracteriza a lei de fluxo associada e
garante a condição de normalidade entre o vetor componente de incremento de
𝑝
deformação plástica (𝜀𝑖𝑗 ) e a superfície descrita pela função de plastificação (F),
conforme ilustrado na Figura 2.9.

Da Figura 2.9a, tem-se que o vetor 𝜎𝑖𝑗′ representa uma combinação de tensões que leva o
material ao ponto de plastificação, de modo que o conjunto de pequenos vetores
representa a combinação de diferentes componentes de incrementos de tensão capazes de

31
resultar no mesmo endurecimento isotrópico, levando o material para uma nova superfície
de escoamento (F’ = 0).

A Figura 2.9b mostra o vetor normal à superfície de escoamento, indicando que não
importa qual vetor de incremento de tensão é aplicado, o mesmo incremento de
deformação plástica irá ocorrer, uma vez que sua ocorrência está ligada à combinação dos
incrementos de tensão que levaram o material à plastificação, definida anteriormente pela
função de plastificação. Assim, tem-se que os incrementos de deformação plástica não
estão relacionados diretamente aos incrementos de tensão e não são diretamente
proporcionais a esses componentes de tensão.

Figura 2.9 – (a) Endurecimento isotrópico e (b) Fluxo plástico associado (Schofield e
Wroth, 1968).

Tomando o interesse particular na classe de materiais plásticos que apresentam


endurecimento, bem como na condição de fluxo associado, Drucker (1964) fornece o
conceito de estabilidade, definindo que para todos os vetores de incremento de tensão
direcionados para fora da superfície de escoamento, o vetor produto do incremento de
tensão com o vetor incremento de deformação plástica sempre será positivo, garantindo
que nunca haja qualquer energia que o sistema não consiga dissipar ou absorver,
conforme descrito pela Equação (2.17).

𝑝
𝜎𝑖𝑗′ 𝜀𝑖𝑗 ≥0 (2.17)

32
2.4. MECÂNICA DOS SOLOS DOS ESTADOS CRÍTICOS

2.4.1. Conceito

O estado crítico é considerado como o estágio final que o solo atinge quando continua se
deformando sob tensão e volume constantes, independente do estado inicial (tensão e/ou
compacidade) ou da sua condição de carregamento.

Casagrande (1936), ao avaliar o comportamento de areias no estado “fofo” e compacto,


por meio de ensaios de cisalhamento direto em condição drenada, encontrou que as areias
“fofas” ao serem cisalhadas apresentavam comportamento contrátil e aquelas na condição
compacta indicavam comportamento dilatante, conforme indicado na Figura 2.10.

Figura 2.10 - Efeitos do cisalhamento no volume dos solos (adaptado de Casagrande,


1936).

Para grandes deformações (superiores a 10%), Casagrande (1975) observou que os


materiais apresentavam o mesmo índice de vazios, o qual ele denominou índice de vazios
crítico (𝑒𝑐 ). Para explicar o conceito de índice de vazios crítico o autor utilizou resultados
obtidos em ensaios de cisalhamento direto em condição drenada, com tensão normal de

33
100 kPa para três condições de compacidade: i) areia “fofa”, ii) areia densa e iii) amostra
com índice de vazios crítico, conforme observado na Figura 2.11.

Na Figura 2.11c as linhas Lc, Dc e Mc representam as curvas de adensamento das


amostras determinadas em ensaios de adensamento oedométrico e os pontos x, y e z
representam as condições de início do cisalhamento direto. Nesse aspecto, pela Figura
2.11b tem-se que a curva L’ fornece a resposta contrátil da areia “fofa” quando submetida
ao cisalhamento, bem como a curva D’ representa a resposta dilatante para a areia densa
e a linha horizontal M’ representa o índice de vazios crítico que ambas as amostras
alcançariam caso o cisalhamento continuasse ou se os ensaios iniciassem para essa
condição de índice de vazios. Adicionalmente, o conjunto de pontos que caracterizam os
índices de vazios críticos para cada nível de tensão confinante foi definido como Linha E
(da expressão em inglês, E Line). Lógica semelhante é avaliada para a Figura 2.11a, na
qual observa-se que ambas as amostras (“fofa” e densa), quando submetidas ao aumento
de tensão cisalhante, alcançam a mesma resistência última.

Para responder o que aconteceria caso uma areia saturada na condição “fofa” fosse
submetida ao cisalhamento sob volume constante (condição não drenada), Casagrande
(1975) considerou a condição de adensamento da amostra e tensão confinante
representada pelo ponto “p” da Figura 2.11c. Dessa forma, adotando a restrição de
volume, a tendência da amostra a se contrair durante o cisalhamento não drenado levaria
ao aumento da poropressão, reduzindo a tensão efetiva até alcançar a linha de estados
críticos no ponto “q”.

34
Figura 2.11 - Comportamento dos ensaios de cisalhamento direto em areias sob
condição drenada (adaptado de Casagrande, 1975).

Taylor (1948) observou que o índice de vazios crítico é afetado pela tensão média efetiva,
se tornando menor com o aumento das tensões aplicadas à massa de solo. O autor
procurou avaliar o comportamento do solo durante a fase de plastificação, condição não
considerada inicialmente nas considerações de Terzaghi, e observou que a relação entre
o índice de vazios final e o logaritmo da tensão aplicada pode ser dada como uma linha
reta paralela e ligeiramente inferior à Linha de Consolidação Normal (LCN), classificada
como a condição última ou estática do material (Figura 2.12). Tal observação permitiu
concluir que a relação entre o índice de vazios crítico e a tensão média efetiva ou
volumétrica (𝑝’) aplicada define a Linha de Estados Críticos (LEC), ou Critical State Line
(CSL, da sigla em inglês).

35
Figura 2.12 - Diagrama ilustrativo LCN e LEC (adaptado de Taylor, 1948).

Na década de 1960, Gonzalo Castro (Castro, 1969) realizou um conjunto de ensaios


triaxiais com controle de tensão a fim de reproduzir as condições de carregamento de
campo avaliadas por Casagrande (1936). Esses ensaios em areias “fofas” resultaram em
rupturas por liquefação, levando ao final dos testes à condição definida como estado
permanente de deformação.

Poulos (1981) formalizou a definição de estado permanente de deformação como o estado


em que a massa está se deformando continuamente sob volume constante, tensão efetiva
normal constante, tensão cisalhante constante e velocidade constante. Definindo a relação
entre o índice de vazios crítico e a tensão média efetiva como Linha de Estado
Permanente.

A fim de examinar as possíveis diferenças entre a LEC e a Linha de Estado Permanente,


Been et al. (1991) concluíram que, para fins práticos, ambas as condições podem ser
assumidas como equivalentes.

Em busca de quantificar de forma matemática a correlação entre o índice de vazios crítico


e a tensão média efetiva e determinar a LEC, pode-se tomar a relação semilogarítmica
para todos os solos segundo a Equação (2.18).

𝑒𝑐 = Г − 𝜆ln (𝑝𝑐, ) (2.18)

36
em que:
𝑒𝑐 é o índice de vazios crítico;
Г é o intercepto da LEC com o eixo das ordenadas para o nível de tensão 𝑝’ = 1 kPa;
𝜆 é a inclinação da LEC; e
𝑝𝑐, é a tensão média efetiva no estado crítico.

Pela Equação (2.18) tem-se que o índice de vazios crítico existente em um volume
unitário de partículas em plastificação irá diminuir com o aumento do logaritmo da tensão
média efetiva aplicada.

Complementarmente à avaliação do índice de vazios em relação à tensão média efetiva


para definição da LEC, deve-se determinar também esta condição através da razão de
tensões no espaço formado pela tensão cisalhante (𝜏) e tensão normal efetiva (𝜎’) (Figura
2.13), determinando o ângulo de atrito efetivo no estado crítico ou a volume constante
(𝜙𝑐′ ), ou através de ensaios triaxiais, no espaço formado pela tensão desviadora (𝑞) e
tensão média efetiva (𝑝’), conforme indicado na Figura 2.14 determinando o parâmetro
𝑀.

Figura 2.13 - Projeção da linha de estados críticos no plano 𝜏 − 𝜎’.

37
Figura 2.14 - Projeção da linha de estados críticos no plano 𝑞 − 𝑝’.

O parâmetro 𝑀 representa a inclinação da linha de estados críticos no plano 𝑞 − 𝑝’,


representado matematicamente para condições de ensaios de compressão triaxial segundo
a Equação (2.19).

𝑞 = 𝑀𝑝′ (2.19)

Para ensaios de compressão triaxial pode-se determinar M por meio da correlação com o
ângulo de atrito efetivo no estado crítico (𝜙𝑐′ ) determinado no plano 𝜏 − 𝜎’ (Figura 2.13),
fazendo:

6𝑠𝑒𝑛𝜙𝑐′
𝑀= (2.20)
3 − 𝑠𝑒𝑛𝜙𝑐′

No caso de ensaios triaxiais em extensão a Equação (2.20) assume a forma:

6𝑠𝑒𝑛𝜙𝑐′
𝑀= (2.21)
3 + 𝑠𝑒𝑛𝜙𝑐′

Segundo Jefferies e Been (2016) podem ser encontrados na literatura três meios para
determinação do módulo 𝑀 em compressão, a saber: (a) ensaios triaxiais de compressão
drenados em amostras de densidade variável; (b) ensaios triaxiais de compressão na
condição drenada ou não drenada em amostras de areias “fofas” e (c) ensaio de

38
cisalhamento DSS (direct simple shear), sendo os métodos indicados em (a) e (b) os mais
usuais.

Ainda segundo Jefferies e Been (2016), para amostras no estado “fofo”, o ensaio não
drenado deve ser sempre o ponto inicial de partida na tentativa de se obter a LEC, visto
sua praticidade comercial. No entanto, no ensaio drenado a amostra move-se para o estado
crítico a uma taxa mais lenta quando comparado à condição não drenada, o que torna mais
clara a visualização do estado crítico, além da vantagem em determinar o índice de vazios
e a tensão média no estado crítico com maior precisão.

Tomando as abordagens apresentadas, tem-se que a LEC corresponde a uma relação única
entre 𝜏, 𝜎’, 𝑒, sendo definida no espaço 𝑞, 𝑝’, 𝑒 através das Equações (2.18) e (2.19). A
Figura 2.15 fornece a representação tridimensional da LEC, de modo que a projeção dos
pontos A, B e C contidos na Linha de Estados Críticos é feita a partir da indicação dos
pontos A1, B1 e C1 no plano 𝑞 − 𝑝’ e dos pontos A2, B2 e C2 no plano 𝑒 − 𝑝’, o qual
também compreende a indicação da LCN.

Figura 2.15 - LEC no espaço 𝑞, 𝑝’, 𝑒 (adaptado de Atkinson e Bransby, 1978).

39
O conhecimento da posição da LEC, bem como do estado que o material se encontra
permite a definição da sua resposta mecânica durante o cisalhamento. Nesse aspecto,
Schofield e Worth (1968) definem duas regiões distintas, as quais indicam padrões de
comportamento do solo sob cisalhamento, consoante a posição de estado inicial em
relação a LEC:

• Lado úmido: estado no qual o material se encontra mais “fofo” do que na condição
de estado crítico e diminui de volume durante o cisalhamento drenado ou exibem
aumento de poropressão sob cisalhamento não drenado. Esse estado caracteriza
os materiais contráteis, normalmente adensados (NC, da sigla em inglês para
Normally Consolidated) e ligeiramente sobreadensados (OC, da sigla em inglês
para Overconsolidated);

• Lado seco: estado no qual o material se encontra mais denso que no estado crítico
e aumento de volume quando submetido ao cisalhamento drenado, bem como
exibe diminuição de poropressão para a condição de cisalhamento não drenado.
Esse estado caracteriza os materiais dilatantes, fortemente sobreadensados (OC).

Figura 2.16 - Localização das regiões de comportamento contrátil, dilatante e estados


impossíveis (adaptado de Maranha das Neves, 2016).

Os estados impossíveis descrevem a região acima da LCN, a qual não pode ser alcançada
pelos materiais quando submetidos a carregamento ou descarregamento.

40
2.4.2. Superfície Limite dos Estados

Os solos, tanto no campo quanto em laboratório, podem atingir o estado crítico ao serem
carregados a partir de um estado inicial. A trajetória de estados, representada pelo trajeto
que a amostra descreve do estado inicial até o estado crítico, quando avaliada para
diferentes índices de vazios, resulta em uma superfície limite de estados. Este conceito,
por contribuição dos trabalhos desenvolvidos por Hvorslev na década de 1930, define que
o estado de um solo, descrito e definido no espaço 𝑞, 𝑝′ , 𝑒, reside sempre dentro de uma
superfície de estado limite, a qual separa os estados dos solos possíveis dos impossíveis.

Hvorslev (1937) verificou que, a partir de ensaios de cisalhamento direto em amostras de


argilas considerando diferentes índices de vazios iniciais, os índices de vazios na ruptura
se agrupavam segundo uma superfície de estado.

Parry (1960), por meio da execução de ensaios triaxiais em amostras de argila


sobreadensadas nas condições drenada e não drenada, observou que os valores de pico,
quando avaliados nos eixos normalizados em relação à tensão média efetiva no estado
crítico, definem uma reta que intercepta a linha de estados críticos (Figura 2.17), a qual
confirma a existência da superfície citada por Hvorslev (1937), classificada como
superfície limite dos estados de pico e situada no lado dilatante em relação ao crítico.

Figura 2.17 - Valores de q e p’ (eixos normalizados) obtidos na ruptura (adaptado de


Schofiel e Worth, 1968).

41
Para baixos valores de tensão, a superfície é limitada por um plano inclinado que
representa a superfície limite de estados sob tração. Assumindo que o solo não é capaz de
suportar tensões efetivas de tração, o maior valor de 𝑞/𝑝’ que o material poderia suportar
é aquele descrito pela condição de 𝜎3′ = 0, ou seja, 𝑞 = 3𝑝′ , conforme apresentado pela
reta ̅̅̅̅
0𝐴 na Figura 2.18.

Figura 2.18 - Plano inclinado (0A), Superfície de Hvorslev (AB) e Linha de Estados
Críticos (B) (adaptado de Atkinson e Bransby, 1978).

̅̅̅̅) não separa estados possíveis de estados


Vale ressaltar que esse plano inclinado (0𝐴
impossíveis, mas sim estados de compressão (interiores à superfície de Hvorslev) de
estados de tração (condição que os solos não podem suportar). Além disso, os resultados
mais representativos de ensaios em amostras de argilas normalmente adensadas, os quais
demonstraram a existência da superfície de estados de solos contráteis, são apresentados
por Atkinson e Bransby (1978), conforme indicado na Figura 2.19.

Figura 2.19 - Valores de q e p’ (eixos normalizados) obtidos na ruptura (adaptado de


Atkinson e Bransby, 1978).
42
Os referidos autores definem que as trajetórias de estado para as famílias de ensaios
drenados e não drenados em amostras normalmente adensadas indicam uma superfície
tridimensional no espaço 𝑞, 𝑝’, 𝑒, que contém a LCN e a LEC, conforme apresentado na
Figura 2.20.

Figura 2.20 - Famílias de ensaios drenados e não drenados no espaço 𝑞, 𝑝’, 𝑒 (adaptado
de Atkinson e Bransby, 1978).

Tal superfície é nomeada de Superfície de Roscoe, em homenagem ao fundador do Soil


Mechanics Group da Universidade de Cambridge, escola onde foi desenvolvido o modelo
Cam-Clay.

A partir da combinação da superfície de Roscoe (situada no lado contrátil em relação à


LEC) e de Hvorslev (situada no lado dilatante em relação à LEC), obtém-se uma
superfície limitada para a combinação de estados possíveis para solos normalmente
adensados e sobreadensados, conforme apresentado na Figura 2.21 e na Figura 2.22.

43
Figura 2.21 - Superfície limite de estados (adaptado de Wood, 1990).

Figura 2.22 - Superfície limite de estados avaliada nos eixos normalizados (adaptado de
Atkinson e Bransby, 1978).

Para materiais arenosos, Atkinson e Bransby (1978) reportam que o comportamento


durante o cisalhamento pode ser generalizado com base no mesmo conceito, incorporando
a ideia da mesma superfície limite de estados indicada anteriormente para argilas,
conforme evidenciado nos resultados dos ensaios ilustrados na Figura 2.23.

44
Figura 2.23 - Variações de estado para ensaios em amostras de areia “fofa” e densa
(adaptado de Atkinson e Bransby, 1978).

Relativo ao comportamento dos materiais quanto à deformação, tem-se que um solo cujo
estado se desloca para o interior da superfície apresentará apenas deformações elásticas,
enquanto aquele que se mantém na própria superfície limite apresentará deformações
elásticas e plásticas, coexistentes. Adicionalmente, uma vez atingida essa superfície, o
estado não se desloca para o seu exterior (Maranha das Neves, 2016).

2.5. MODELOS CONSTITUTIVOS

O comportamento de deformabilidade dos solos e geomateriais não é um elemento


dissociado do comportamento de resistência e vice-versa. A correlação entre a
deformabilidade e resistência está associada por meio de uma superfície de escoamento
tridimensional que envolve 𝑞, 𝑝’, 𝑒, a qual pode ser representada através de equações
matemáticas descritas em modelos constitutivos elastoplásticos, nos quais as deformações
podem ser tratadas nos domínios elástico e plástico separadamente.

Ortigão (2007) afirma que os modelos elastoplásticos diferem quanto à forma ou à


equação matemática assumida para representar a superfície de escoamento plástico. Tais
modelos manifestam um ou mais tipos de comportamento de plastificação, sendo eles:
elástico perfeitamente plástico (plasticidade perfeita), plastificação com endurecimento
ou plastificação com amolecimento.

45
Existem diferentes modelos constitutivos que adotam parâmetros distintos a fim de
caracterizar o comportamento tensão-deformação de uma estrutura. Tais parâmetros
podem ser estimados por interpretação e calibração de investigações geológico-
geotécnicas, com o intuito de obter-se uma avaliação do comportamento dos materiais
que compõem a estrutura em estudo.

No presente trabalho serão abordados os modelos de Mohr-Coulomb, Cam-Clay


Modificado e NorSand. O primeiro por ser amplamente utilizado, o segundo por ter sido
um dos modelos pioneiros propostos que incorporam a elastoplasticidade e o terceiro por
estar em evidência atualmente, dada a sua proposição inicial de melhor representar o
comportamento de areias, principalmente em estado “fofo” e, consequentemente, tem
sido conjecturado como uma boa possibilidade para análise do comportamento de rejeitos
de mineração dispostos hidraulicamente.

2.5.1. Mohr-Coulomb

O modelo elastoplástico de Mohr-Coulomb é o mais comum na análise de geomateriais


e solos. Neste modelo é estabelecida uma relação linear entre a tensão de cisalhamento
num plano e a tensão normal atuante nele, sugerindo que a plastificação começa quando
a resistência ao cisalhamento (𝜏) satisfaz a Equação (2.22):

τ = c ′ + σ′ tang(ϕ′ ) (2.22)

em que:
c ′ é o intercepto de coesão efetiva;
σ′ é a tensão normal efetiva; e
ϕ′ é o ângulo de atrito em termos de tensão efetiva.

A função de plastificação/ruptura, em termos de tensões principais é dada segundo a


Equação (2.23):

𝐹𝑠 (𝜎) = (𝜎′1 − 𝜎′3 ) − (𝜎′1 + 𝜎′3 ) ∙ 𝑠𝑒𝑛ϕ′ − 2 ∙ cosϕ′ ∙ c′ (2.23)

46
em que:
𝜎′1 é a tensão principal maior efetiva; e
𝜎′3 é a tensão principal menor efetiva.

No espaço das tensões principais, esta função representa uma pirâmide de seção
transversal hexagonal (Figura 2.24), a qual é fixada no espaço de tensões e não muda de
tamanho com a ocorrência de deformações plásticas. Dessa forma, o modelo é
normalmente descrito como elástico perfeitamente plástico.

Figura 2.24 - Superfície de escoamento de Mohr-Coulomb no espaço de tensões


principais.

A Figura 2.25 fornece a superfície de Mohr-Coulomb para o espaço tridimensional.

Figura 2.25 - Superfície de escoamento de Mohr-Coulomb.

Dentre as limitações da utilização do modelo, verifica-se que a condição de plastificação


perfeita torna-se inviável, uma vez que, a deformação volumétrica referente à parcela

47
plástica continua a se desenvolver indefinidamente com cisalhamento adicional, quando
se tem a condição de ângulo de dilatância (𝜓) maior que zero.

2.5.2. Cam-Clay Modificado

No final da década de 1950 o grupo de Mecânica dos Solos da Universidade de


Cambridge, liderado por K.H. Roscoe, deu início a uma série de pesquisas voltadas para
o comportamento de materiais argilosos, apoiando-se em uma sólida base experimental
desenvolvida pelos membros do grupo e por pesquisas externas, bem como utilizando os
conceitos da Teoria da Plasticidade estabelecidos por Drucker et al. (1957).

A criação do modelo Cam-Clay foi possível através da evolução dos estudos iniciais de
Roscoe et al. (1958), em que partindo do conceito de estado crítico fundamentado por
evidências experimentais, a teoria do modelo foi desenvolvida até a sua descrição final
por Schofield e Worth (1968) e posteriormente modificado por Roscoe e Burland (1968),
quando passou a ser referenciado como Cam-Clay Modificado.

Segundo Schofield e Worth (1968) o modelo é voltado para materiais contínuos, os quais
não podem exibir descontinuidades ou sobreposições durante as deformações, isotrópicos
de comportamento elastoplástico. O nome dado ao modelo se deve a analogia ao curso
inferior do rio existente próximo ao laboratório da Universidade de Cambridge, nomeado
de “Cam”, bem como ao comportamento argiloso dos materiais estudados, resultando no
nome designado Cam-Clay.

Desenvolvido a partir de um sistema conceitual associado a dados experimentais oriundos


de ensaios triaxiais, o objetivo da criação do modelo foi mostrar que é aceitável comparar
o comportamento mecânico de um solo/material real com o comportamento ideal de um
modelo de endurecimento isotrópico segundo a teoria da plasticidade.

Classificado como o primeiro modelo a considerar a Mecânica dos Solos dos Estados
Críticos, Roscoe et al. (1958) definem que um elemento de solo/material submetido à
distorção cisalhante, eventualmente atinge uma condição de estado crítico capaz de
continuar a se deformar sem alteração adicional do índice de vazios. O modelo inicial
explica o comportamento de materiais na condição de baixa densificação inicial sem

48
considerar a ocorrência de cimentação das partículas. Segundo Roscoe e Burland (1968)
o modelo retrata o comportamento mecânico de amostras com comportamento típico de
argilas, normalmente (NC) a ligeiramente sobreadensadas (OC) (𝑂𝐶𝑅 ≤ 2,72), as quais
apresentam o comportamento contrátil durante o cisalhamento.

Schofield e Worth (1968) definem que no espaço 𝑞, 𝑝’, 𝑒 a superfície limite dos estados
para o modelo original pode ser dada pela Equação (2.24).

𝑞 𝜆 ´
Г−𝜈
+ ( ) ln 𝑝 − ( )=1 (2.24)
𝑀𝑝′ 𝜆−𝑘 𝜆−𝑘

em que:
λ é a inclinação da Linha de Consolidação Normal (LCN);
𝑘 representa a inclinação da linha de recompressão/expansão, no caso de um solo que
passou por um carregamento prévio seguido de um descarregamento;
𝜈 indica o volume específico.

No espaço 𝑞, 𝑝′ , 𝑒 a Equação (2.24) descreve a superfície apresentada na Figura 2.26.

Figura 2.26 - Superfície limite dos estados do modelo Cam-Clay original (adaptado de
Maranha das Neves, 2016).

49
Definida a superfície limite dos estados, é possível tomar a Figura 2.27 de modo a
verificar as trajetórias de estado do material, a fim de avaliar as características do modelo.

Figura 2.27 - Região da superfície limite dos estados (adaptado de Roscoe e Burland,
1968).

Roscoe e Burland (1968), ao descreverem as características do modelo original, definem


que a partir de uma amostra de argila normalmente adensada (NC), no estado de equilíbrio
sob determinada pressão isotrópica, pode considerar-se o seu estado correspondente ao
ponto A da Figura 2.27. Com a redução da tensão aplicada, o estado da amostra irá se
deslocar em direção ao ponto B, localizado ao longo da curva AR, de modo que no
carregamento subsequente, tem-se que o seu estado retorna novamente pela curva AR e
se dirige para a curva que define a LCN. Desse modo, segundo o modelo, tem-se que o
ponto A representa um ponto de cedência (plastificação), a curva AC representa a curva
de endurecimento do trabalho gerado pela relação tensão-deformação, uma vez que a
amostra terá sido submetida a novos carregamentos, e a curva AR representa a curva de
recarregamento responsável pelas deformações elásticas recuperáveis (linha de
recompressão/expansão).

Ainda tomando a Figura 2.27, a fim de avaliar o efeito da tensão desviadora 𝑞 no material,
é possível considerar um elemento no estado inicial em B, localizado na curva de

50
recompressão. Sabendo-se que as deformações plásticas ocorrem apenas quando o estado
da amostra se encontra na superfície de escoamento, tem-se que a menos que a tensão 𝑞
seja suficientemente grande para atingir tal condição, todas as deformações resultantes
das mudanças de 𝑞 serão recuperáveis. Dessa forma, tem-se que o estado do material será
necessariamente elástico sempre que ele se encontrar no espaço formado entre a
superfície limite dos estados e o plano de corte 𝑞 = 0 (região do ponto D).

O modelo preconiza que as curvas de recarregamento (linha de recompressão/expansão)


são lineares e paralelas de inclinação 𝑘, quando plotadas no espaço 𝑒 − ln 𝑝′, conforme
representado na Figura 2.28 e descrito pela Equação (2.25).

𝑒 = 𝑒𝑘 − 𝑘 ln (𝑝′ ) (2.25)

em que 𝑒𝑘 representa o índice de vazios na linha 𝑘 para 𝑝’ = 1 𝑘𝑃𝑎.

Figura 2.28 - Relação entre 𝑝’ e 𝑞 na compressão isotrópica e no estado crítico.

Segundo Roscoe et al. (1963) existem duas condições para o comportamento elástico do
modelo, a saber: i) é assumido que a superfície elástica é vertical e representada por uma
parede, ou seja, a curva de limite elástico AXF se alinha diretamente sobre a curva de
recarregamento ABR (Figura 2.27), formando a parede elástica; e ii) é assumido que não
há energia recuperável associada a deformações cisalhantes e, portanto, as únicas
deformações elásticas serão aquelas associadas à variação volumétrica provocada pelo
incremento de 𝑝′.

51
Maranha das Neves (2016) define que uma curva de cedência é formada pela interseção
da parede elástica com a superfície limite dos estados (curva AXF representada na Figura
2.27). Dessa forma, tem-se que a função que descreve a curva de cedência definida pelo
modelo original é dada pela Equação (2.26).

𝑞 𝑝′

+ ln ( ′ ) = 1 (2.26)
𝑀𝑝 𝑝𝑐

Dada a Equação (2.26), para o caso em que 𝑞 = 0, ou seja, no plano 𝑒 − 𝑝’ (região na


qual se encontra a LCN), tem-se que a tensão média efetiva (𝑝′ ) é igual à tensão média
efetiva de cedência (ou de plastificação, 𝑝𝑦′ ). Portanto, pode-se definir para o modelo que
𝑝𝑦′ ⁄𝑝𝑐′ = 2,72, o que indica que para valores até essa igualdade, tem-se a condição de
normalmente adensado a ligeiramente sobreadensado para os materiais.

A Figura 2.29 representa o formato da superfície de cedência projetada no espaço 𝑞 − 𝑝′,


a qual é igual à curva de potencial plástico (condição que define a lei de fluxo associada).

Figura 2.29 - Projeção da superfície de cedência no plano 𝑞 − 𝑝′ para o modelo Cam-


Clay original (adaptado de Silva, 1996).

Considerando um elemento localizado no ponto X da Figura 2.27, sobre a superfície


limite dos estados e consequentemente sobre uma curva de cedência, tem-se que qualquer
incremento de tensão aplicada a esse ponto, resultará no movimento deste ponto para uma
nova curva de cedência, diferente da atual, e na formação de parcelas plásticas de
deformação (ocorrência de endurecimento ou amolecimento). Nesse aspecto, tomando a

52
condição de material estável, bem como a lei de fluxo associado, assim como definido
por Drucker (1964) e discutido por Roscoe et al. (1963), o vetor de deformação plástica
é normal à superfície A’F’ no ponto X’. Dessa forma, tem-se a relação dos incrementos
de deformação plástica do modelo original segundo a Equação (2.27).

𝛿𝜀𝑣𝑝
=𝑀−𝜂 (2.27)
𝛿𝜀𝑠𝑝

em que 𝛿𝜀𝑣𝑝 é o incremento de deformação volumétrica plástica e 𝛿𝜀𝑠𝑝 é o incremento de


deformação distorcional plástica.

Pela Equação (2.27) no estado crítico (𝑀 = 𝜂) tem-se que 𝛿𝜀𝑣𝑝 = 0. Para 𝜂 < 𝑀 tem-se
𝑝
𝛿𝜀𝑣 > 0, o que representa diminuição de volume e comportamento contrátil. De forma
análoga, para 𝜂 > 𝑀 tem-se 𝛿𝜀𝑣𝑝 < 0, o que representa aumento de volume e
comportamento dilatante, conforme ilustrado na Figura 2.30.

Figura 2.30 - Incremento de deformação plástica no modelo Cam-Clay original


(Maranha das Neves, 2016).

53
Pela Figura 2.30 tem-se o comportamento de endurecimento para a região de 𝜂 < 𝑀 e de
amolecimento (endurecimento negativo) para a região acima da LEC (𝜂 > 𝑀). A
classificação das regiões quanto à estabilidade segue o critério definido por Drucker
(1964), conforme a Equação (2.17).

Segundo Schofield e Worth (1968), a plastificação da amostra está permanentemente se


movendo de uma curva de recompressão (linha-𝑘 conforme Figura 2.28), associada a uma
dada curva de cedência, para outra curva de recompressão, associada a uma nova curva
de cedência. A mudança da linha-𝑘 está associada à alteração de volume plástico e
governa a quantidade de deformação distorcional que ocorre durante a plastificação.

Após a definição do modelo foi observada a possibilidade de ocorrência de incrementos


de deformação distorcional plástica para incrementos de 𝑝’ na condição de 𝜂 = 0, ou seja,
no eixo 𝑝’, o que classficia-se como uma incoerência do modelo, tendo em vista que a
ocorrência de deformações distorcionais devem estar associadas a aplicação de tensões
desviadoras (𝑞). Adicionalmente, segundo Roscoe e Burland (1968), as equações
propostas pelo modelo inicialmente superestimavam os valores de incremento de
deformação para estágios iniciais dos ensaios triaxiais de compressão (baixos valores de
𝜂), bem como o modelo também superestimava os valores do coeficiente de empuxo no
repouso (𝐾0 ). Nesse aspecto, Roscoe e Burland (1968) propuseram uma nova superfície
limite dos estados, de modo a corrigir tais pontos observados no modelo original. A
Figura 2.31 ilustra o comparativo entre as duas superfícies.

Figura 2.31 - Funções de plastificação (iguais às funções de potencial plástico) dos


modelos Cam-Clay (Maranha das Neves, 2016).

54
Conforme observado na Figura 2.31, a forma da curva de cedência para o modelo Cam-
Clay Modificado consiste em uma elipse descrita pela Equação (2.28), de modo que a
superfície limite dos estados será caracterizada por um elipsoide no espaço das tensões
principais.

𝑝′ 𝑀2
= (2.28)
𝑝𝑦′ 𝑀2 + 𝜂2

Dessa forma, a Equação (2.28) descreve um conjunto de elipses, todas com a mesma
forma, controladas por 𝑀, passando pela origem e tendo sua dimensão definida por 𝑝𝑦′
(Figura 2.32). Assim como no modelo original, o Cam-Clay Modificado assume que a
curva de cedência se expande isotropicamente, caracterizando a lei de endurecimento
isotrópica.

Figura 2.32 - Superfície de cedência do modelo Cam-Clay Modificado projetada no


plano 𝑞 − 𝑝’ (adaptado de Maranha das Neves, 2016).

A Figura 2.33 ilustra de modo tridimensional a superfície limite dos estados para os dois
modelos (Cam-Clay e Cam-Clay Modificado), possibilitando a comparação entre os seus
formatos.

55
Figura 2.33 - Superfície limite de estados nos modelos (a) Cam-Clay e (b) Cam-Clay
Modificado (adaptado de Silva, 1996).

Com respeito ao incremento de deformações plásticas, o novo modelo apresenta o vetor


de incremento normal à superfície de cedência, conforme ilustrado na Figura 2.31,
matematicamente descrito segundo a Equação (2.29).

𝛿𝜀𝑣𝑝 𝑀2 − 𝜂 2
= (2.29)
𝛿𝜀𝑠𝑝 2𝜂

O comportamento elástico no interior da superfície de cedência é equivalente ao proposto


pelo modelo original, ou seja, para qualquer variação de 𝑝′ tem-se variações de volumes
recuperáveis segundo a Equação (2.30).

1 ′
𝛿𝜀𝑣𝑒 = 𝛿𝑝 (2.30)
𝐾

em que:
𝛿𝜀𝑣𝑒 é o incremento de deformação volumétrica elástica; e
𝛿𝑝′ representa o incremento de tensão média efetiva.

Segundo Maranha das Neves (2016), para o novo modelo, admite-se ainda que as
deformações distorcionais recuperáveis podem ser descritas pela Equação (2.31).

1
𝛿𝜀𝑠𝑒 = 𝛿𝑞 (2.31)
3𝐺

em que:
𝛿𝜀𝑠𝑒 é o incremento de deformação distorcional elástica; e
56
𝛿𝑞 representa o incremento de tensão desviadora.

2.5.3. NorSand

O modelo NorSand também se baseia na Mecânica dos Solos dos Estados Críticos e foi
desenvolvido durante as décadas de 80 e 90, tomando-se como base a experiência
adquirida com a construção de estruturas sobre areias “fofas”. A análise de ocorrência de
liquefação estática durante a construção dessas estruturas contribuiu para o
desenvolvimento do modelo proposto inicialmente por Jefferies (1993) e posteriormente
por outros trabalhos compilados didaticamente em Jefferies e Been (2016).

Logo, como o nome sugere, o modelo foi inicialmente proposto objetivando a descrição
do comportamento de areias “fofas” e densas, em condições quer drenadas ou não
drenadas, de forma a melhor representar comportamentos observados experimentalmente
nesses materiais. Nesse aspecto, podendo prever com boa aproximação comportamentos
de liquefação estática e de dilatância, observados nesses materiais.

De modo a promover o melhor entendimento do modelo, bem como previamente à


discussão das suas características, faz-se necessário o entendimento de alguns conceitos
importantes: i) dilatância; ii) parâmetro de estado; iii) dilatância de estado; e iii)
consideração da existência de múltiplas Linhas de Consolidação Normal (LCN) para os
materiais.

• Dilatância (𝑫)

Reynolds (1885) ao desenvolver os primeiros estudos relacionados ao fenômeno da


dilatância definiu que a sua ocorrência é dada como a tendência que os solos apresentam
de mudarem de volume enquanto sob cisalhamento.

Taylor (1948) sugere que a definição de dilatância retoma à ideia de que o material
apresenta um atrito verdadeiro, determinado pelo trabalho realizado enquanto ocorre a
dilatação. A compreensão do papel da dilatância foi bem definida por Rowe (1962) ao
mostrar que a dilatação pode ser avaliada através do comportamento tensão-deformação
de materiais particulados e não apenas a algo relacionado ao pico de resistência, ou seja,
57
a dilatância é reconhecida como um mecanismo de transferência de trabalho, ao invés de
uma resistência intrínseca do material. Assim, a dilatância pode ser definida como a razão
entre os trabalhos realizados pela conjugação dos incrementos de deformação devido às
tensões 𝑝′ e 𝑞, segundo a Equação (2.32).

𝜀𝑣̇
𝐷= (2.32)
𝜀𝑠̇
em que:
𝜀𝑣̇ é o incremento de deformação volumétrica; e
𝜀𝑠̇ é o incremento de deformação distorcional.

Jefferies e Been (2016) definem que uma característica chave para materiais densos, quer
arenoso ou argiloso, reside no fato de que a dilatância se limita a um valor máximo
(designado como 𝐷𝑚𝑖𝑛 devido a convenção adotada na Mecânica dos Solos na qual
tensões de compressão são definidas como positivas) para um dado estado específico do
solo.

• Parâmetro de Estado (𝜳)

Uma referência possível de ser utilizada para a definição do estado de materiais arenosos
é a distância que o índice de vazios do material se encontra na condição corrente de tensão
comparativamente ao índice de vazios do mesmo material no estado crítico (Been e
Jefferies, 1985). Dessa forma, tem-se que essa distância, ou trajetória de estado, indica
uma representação direta da tendência à variação volumétrica do solo sob cisalhamento,
a qual define o parâmetro de estado (𝛹) segundo a Equação (2.33).

𝛹 = 𝑒 − 𝑒𝑐 (2.33)

em que:
𝑒 é o índice de vazios corrente do solo; e
𝑒𝑐 é o índice de vazios do solo ao atingir o estado crítico.

A Figura 2.34 ilustra a definição de parâmetro de estado.

58
Figura 2.34 - Definição de parâmetro de estado (adaptado de Jefferies e Been, 2016).

Dadas as considerações feitas anteriormente relativas ao comportamento dilatante e


contrátil consoante as regiões designadas, respectivamente, por lado seco e lado úmido
em relação a LEC, pode concluir-se da Figura 2.34 que valores negativos de 𝛹 são
representativos de materiais com tendências dilatantes sob cisalhamento drenado, bem
como valores positivos são indicativos de tendências contráteis sob as mesmas condições.

Been e Jefferies (1985) definiram que a utilização do parâmetro de estado para avaliação
do comportamento dos materiais é fundamental, uma vez que a avaliação do
comportamento esperado a partir de parâmetros como índice de vazios e densidade
relativa não resguarda o rigor necessário, conforme ilustrado na Figura 2.35.

Analisando a Figura 2.35 percebe-se que são representadas trajetórias de tensão efetivas
normalizadas em relação à tensão volumétrica no estado crítico, avaliadas para diferentes
índices de vazios, níveis de tensão e densidades relativas (testes 37, 45, 103, 108, 112 e
113). Observa-se que os testes 103 e 108 apresentaram parâmetro de estado equivalente
(comportamento dilatante), sob diferentes condições de índice de vazios e densidade
relativa. Da mesma maneira é observado que para os testes 45 e 112 tem-se o mesmo
valor do parâmetro de estado (comportamento contrátil), sob diferentes condições de
índices de vazios e densidade relativa. Tais evidências mostram a relevância sobre a
consideração do parâmetro 𝛹 para a avaliação do estado inicial dos materiais, e,
consequentemente, para o seu comportamento esperado quando submetido a solicitações
diversas.

59
Figura 2.35 - Avaliação da trajetória de tensões para areias sob diferentes condições
(adaptado de Jefferies e Been, 2016).

• Dilatância de Estado (𝝌)

A partir da avaliação de um conjunto de 29 materiais arenosos com diferentes teores de


finos, Jefferies e Been (2016) sugerem uma relação única entre o parâmetro de estado (𝛹)
e a dilatância máxima (𝐷𝑚𝑖𝑛 ), conforme apresentado na Figura 2.36 e definido pela
Equação (2.34).

𝐷𝑚𝑖𝑛 = 𝜒𝑡𝑐 𝛹 (2.34)

em que χtc representa uma propriedade do solo definida a partir do ensaio de compressão
triaxial drenado e a dilatância máxima (𝐷𝑚𝑖𝑛 ) ocorre no pico da razão de tensões (i.e.
𝜂𝑚á𝑥 ).

Shuttle e Jefferies (2016) argumentam que a Equação (2.34) representa a melhor


expressão para definir o efeito do estado no comportamento do solo, tomando para isso a
limitação da dilatação e não da resistência máxima.

Destaca-se a ausência de padronização estabelecida na língua portuguesa para a


nomenclatura do parâmetro 𝜒. Silva (2022) utiliza o termo “introdução da propriedade de
dilatação”, enquanto Coutinho (2022) adota a expressão “parâmetro de relação entre a
dilatância e o parâmetro de estado” como referência. Para o presente trabalho a

60
nomenclatura adotada foi aquela indicada na biblioteca do programa GeoStudio 2021.3
como dilatância de estado.

Figura 2.36 - Avaliação da dilatância máxima para materiais arenosos submetidos ao


ensaio de compressão triaxial drenado (adaptado de Jefferies e Been, 2016).

• Múltiplas Linhas de Consolidação Normal

Diferentemente dos modelos que consideram a existência de uma única LCN paralela à
LEC, como ocorre no modelo Cam-Clay (Figura 2.37a), o modelo NorSand introduz o
conceito de infinitas Linhas de Consolidação Normal que se diferem segundo o índice de
vazios inicial do solo e o seu histórico de deformação, interceptando a LEC como
mostrado na Figura 2.37b.

Destaca-se que a hipótese de uma infinidade de LCNs foi inicialmente proposta por
Ishihara et al. (1975), com base em observações laboratoriais.

61
Figura 2.37 - (a) Cam-Clay; (b) Modelo NorSand (adaptado de Jefferies e Been, 2016).

Jefferies e Been (2000) compararam os resultados obtidos em ensaios triaxiais de


compressão isotrópica com medição da etapa de adensamento, realizados em amostras de
areia com diferentes densidades, com a LEC das amostras estudadas. Dessa forma, quatro
amostras com 0,60 ≤ 𝑒 ≤ 0,84 foram testadas utilizando múltiplos estágios de carga e
descarga, a fim de separar os componentes de comportamento elástico e plástico. A Figura
2.38 ilustra os comportamentos obtidos, em que as visões expandidas representam os
resultados dos ciclos de carga e descarga.

Ainda segundo os referidos autores, de modo a evidenciar a não aplicação da abordagem


sobre a existência de uma única LCN para a condição sob altas tensões, conforme descrito
por Atkinson e Bransby (1978), foi utilizada a linha pontilhada PLCN (em que “P”
significa pseudo). A referida linha foi desenhada paralela à LEC, de modo a considerar a
teoria utilizada pelo modelo Cam-Clay, bem como separada a partir da relação de
espaçamento do modelo (𝑝𝑦′ ⁄𝑝𝑐′ = 2,72). Dessa forma, Jefferies e Been (2000) sugerem
que se a proposição de uma LCN única apenas para a condição de altas tensões estivesse
correta, não poderiam existir amostras acima da PLCN, conforme ocorre na Figura 2.38.

62
Figura 2.38 - (a) Todos os ensaios na mesma escala; (b) Ensaio 874/MT; (c) Ensaio
LDUL-1/PV; (d) Ensaio LDUL-2/PV e (e) Ensaio LDUL-3/PV em escala expandida
(adaptado de Jefferies e Been, 2000).

Dado esse padrão de inúmeras LCNs, Jefferies e Been (2016) consideram necessária a
utilização de dois parâmetros para caracterizar o estado de um solo: i) o parâmetro de
estado (𝛹), responsável por estabelecer a localização individual de cada LCN no espaço
𝑒 − 𝑝′; e ii) a razão de sobreadensamento (𝑂𝐶𝑅), que se relaciona à proximidade do
estado do material em relação à LCN, quando avaliado ao longo do eixo 𝑝′. Nesse aspecto,
o modelo NorSand classifica-se como o primeiro modelo a considerar o parâmetro de
estado dentro da abordagem da Mecânica dos Solos dos Estados Críticos.

Ainda segundo Jefferies e Been (2016), no modelo Cam-Clay os solos com densidade
superior à condição de estado crítico não dilatam de forma realista, uma vez que, ao tratar
a densidade como um sobreadensamento efetivo, normalmente tem-se rigidez irreal e
resistências elevadas na resposta do modelo. Os autores, a partir da avaliação de
parâmetros para areias, demonstraram a obtenção de valores de OCR consideravelmente
altos, quando da utilização dos conceitos do modelo Cam-Clay. Dessa forma, Jefferies e
Been (2016) afirmam que tal ocorrência está associada à consideração de que todas as
superfícies de escoamento interceptam a linha de estados críticos (LEC), fato que pode
ser ajustado ao desconsiderar essa premissa e reconhecer que os materiais particulados
existem em um conjunto de estados, os quais definem uma infinidade de LCNs no espaço
𝑒 − 𝑝′, a depender do índice de vazios inicial de cada material durante a sua deposição.
63
Os referidos autores abordam que a importância da infinidade de LCNs retoma ao
conceito de Drucker et al. (1957), ao afirmarem que a superfície de escoamento deve
interceptar a LCN, uma vez que, a compressão normal produz deformações irrecuperáveis
no material. Nesse aspecto, cada LCN pode ser vista como uma lei de endurecimento para
uma dada superfície de escoamento associada, de modo que uma infinidade de LCNs
representa múltiplas superfícies de escoamento.

Ao considerar que todas as superfícies de escoamento interceptam a LEC, o modelo Cam-


Clay adota o parâmetro 𝑀 como uma constante do solo. Assim, o modelo NorSand busca
através do conceito de condição de imagem (condição transitória do material da condição
contrátil para a dilatante) correlacionar 𝑀 com o parâmetro de estado (𝛹), classificando
esse parâmetro como uma taxa de variação, de modo que, se o estado atual do material se
afasta do estado crítico, mais rápidas as mudanças de estado podem ocorrer. Nesse
contexto, Jefferies e Been (2016) consideram que o parâmetro de estado é a base para
generalizar adequadamente as nuances do estado crítico em um modelo constitutivo.

• Características do Modelo

Jefferies (1993), ao apresentar os conceitos originais do modelo NorSand, estabelece que


a sua concepção observou os dois axiomas fundamentais da teoria de estados críticos,
implícitos no trabalho da Escola de Cambridge, quais sejam:

1. A existência de uma região única no espaço 𝑞, 𝑝′, 𝑒 em que o solo pode se


deformar sem limites, sob tensão constante e índice de vazios constante, nomeada
de estado crítico;
2. A LEC define a condição última para todo o processo de cisalhamento do solo, de
modo que todas as trajetórias de estado, definidas a partir das tensões
distorcionais, tendem para essa condição.

Assim, Jefferies (1993) define que o atendimento ao Axioma 2 pode ocorrer a partir da
definição do parâmetro de estado, afirmando que o parâmetro tende a zero à medida em
que as deformações devido às tensões distorcionais aumentam indefinidamente:

64
𝛹 → 0 assim como 𝜀𝑠 → ∞ (2.35)

Jefferies e Been (2016) definem que o ponto inicial para a descrição do modelo pode ser
dado pela relação dilatância-tensão, a qual define a lei de fluxo utilizada (igualdade entre
a função de plastificação e potencial plástico) e segue o mesmo princípio adotado pela
relação entre os incrementos de deformação plástica do modelo Cam-Clay (Equação
2.27), descrita segundo a Equação (2.36).

𝐷𝑝 = 𝑀𝑖 − 𝜂 (2.36)

em que:
𝐷𝑝 é a parcela plástica da dilatância; e
𝑀𝑖 é a razão de tensões no estado crítico para a condição de imagem.

A Equação (2.36) se difere da relação utilizada no modelo Cam-Clay devido à


consideração do conceito de condição de imagem, de modo que o parâmetro 𝑀𝑖 pode ser
dado segundo a Equação (2.37).

𝜒𝑖 𝑁|𝛹𝑖 |
𝑀𝑖 = 𝑀 (1 − ) (2.37)
𝑀𝑡𝑐

em que 𝑀𝑖 tende para a razão de tensões no estado crítico (𝑀) com a ocorrência de
deformação cisalhante; 𝑀𝑡𝑐 é o valor corrente de 𝑀 para um estado de compressão
triaxial. Além disso, o subscrito 𝑖 representa a condição de imagem para cada parâmetro
e N representa o coeficiente de acoplamento volumétrico, definido como o coeficiente
angular da Equação (2.38), citado por Jefferies e Schuttle (2002).

𝜂máx = 𝑀𝑡𝑐 − (1 − 𝑁)𝐷𝑚𝑖𝑛 (2.38)

Jefferies e Been (2016) definem a condição de imagem como uma condição transiente do
material, na qual a taxa de deformação volumétrica se altera de contrátil para dilatante e
tem-se 𝐷𝑝 = 0. Ishihara et al. (1975) se referem a essa condição transitória como uma
transformação de fase, enquanto outros autores a definem como estado pseudo-estável.

65
A dilatância de estado para a condição de imagem (𝜒𝑖 ) pode ser relacionada com a
dilatância de estado obtida em ensaios triaxiais (𝜒𝑡𝑐 ) segundo a Equação (2.39).

𝜒𝑡𝑐
𝜒𝑖 =
𝜒 𝜆 (2.39)
(1 − 𝑡𝑐 )
𝑀𝑡𝑐

Além disso, o parâmetro de estado na condição de imagem (𝛹𝑖 ) pode ser definido a partir
do índice de vazios no estado crítico para a condição de imagem (𝑒𝑖 ), conforme a Equação
(2.40).

𝛹𝑖 = 𝑒 − 𝑒𝑖 (2.40)

Com respeito à superfície de escoamento, o modelo a descreve segundo a Equação (2.41),


a qual utiliza o mesmo princípio da curva de cedência apresentada para o modelo Cam-
Clay [Equação (2.26)].

𝑝
𝜂 = 𝑀𝑖 [1 − 𝑙𝑛 ( )] (2.41)
𝑝𝑖

em que a tensão média na condição de imagem (𝑝𝑖 ) pode ser obtida como apresentado na
Equação (2.42).
𝜂
( −1) (2.42)
𝑝𝑖 = 𝑝 ∙ 𝑒 𝑀𝑖

A superfície de escoamento se difere do modelo Cam-Clay devido à consideração do


conceito de condição de imagem, bem como da não utilização da tensão média no estado
crítico (𝑝𝑐 ) e razão de tensões também no estado crítico (𝑀). Além disso, tem-se que a
tensão média na condição de imagem (𝑝𝑖 ) descreve o tamanho da superfície de
escoamento, da mesma forma em que no modelo Cam-Clay o tamanho da superfície de
escoamento foi associada com a LEC (ver Figura 2.32). Adicionalmente, o modelo
NorSand considera que o material pode se deformar de maneira plástica em qualquer
parte do domínio 𝑒 − 𝑝’, de modo que não há nenhuma parede elástica confinando o
comportamento plástico, como no modelo Cam-Clay.

66
A Figura 2.39 ilustra a superfície de escoamento (ou de cedência) do modelo NorSand
para materiais no estado “fofo”, enquanto a Figura 2.40 representa essa superfície para
materiais na condição densa. Destaca-se que nestas figuras a superfície de cedência é
representada num espaço de tensões normalizadas em relação à tensão média na condição
de imagem (𝑝𝑖 ).

Figura 2.39 - Superfície de escoamento para materiais no estado “fofo” (adaptado de


Jefferies e Been, 2016).

Figura 2.40 - Superfície de escoamento para materiais na condição densa (adaptado de


Jefferies e Been, 2016).

Ao avaliar a Figura 2.39 e a Figura 2.40 pode-se afirmar que: i) é utilizada a condição de
normalidade entre o vetor taxa de deformação plástica e a superfície de escoamento, assim
67
como ocorre no modelo Cam-Clay; ii) para materiais no estado “fofo”, a condição de
imagem apresenta tensões superiores ao estado crítico e a superfície de escoamento se
contrai em relação ao referido estado; iii) para materiais na condição densa, a condição
de imagem apresenta tensões inferiores quando comparada ao estado crítico e a superfície
de cedência se expande em relação a esse estado até atingir a condição de dilatância
máxima (limite interno). Nesse aspecto, o limite interno, ou limite de endurecimento, é
definido segundo a Equação (2.43).

𝑝𝑖 𝜒Ψ
(− i i )
( ) = e M𝑖𝑡𝑐 (2.43)
𝑝 𝑚𝑎𝑥

Jefferies (1993) apresenta a evolução da superfície de escoamento no espaço 𝑞, 𝑝, 𝑒


durante um ensaio triaxial drenado com tensão média (𝑝) constante, conforme ilustrado
na Figura 2.41. Interpretando a referida figura, deve-se tomar uma amostra de areia
inicialmente mais densa que o estado crítico e normalmente adensada (OCR = 1),
conforme apresentado na superfície de escoamento “a”. Com a aplicação das tensões
cisalhantes, a superfície tende a se expandir com o aumento de 𝑝𝑖 até atingir a condição
de 𝑝𝑖 = 𝑝, na qual tem-se 𝐷𝑝 = 0 (superfície “b”) e, consequentemente, a alteração do
estado do material de contrátil para dilatante. Segundo o autor, até esse estágio a
deformação volumétrica é contrátil devido à condição de normalidade, resultando na
redução do índice de vazios. Sabendo-se que na superfície “b” tem-se Ψi ≠ 0, portanto,
a expansão da superfície tende a continuar com o acréscimo de 𝑝𝑖 e comportamento
dilatante, até que seja alcançada a condição de dilatância máxima (limite máximo de
endurecimento), conforme representado pela superfície “c”. O fenômeno de dilatância
tende a ocorrer com a variação da superfície até que o estado crítico seja alcançado (Ψi =
0), conforme indicado na superfície “d”. Para essa condição, o material se deforma sem
endurecimento/amolecimento adicional e não há alteração da superfície de cedência
plástica.

Segundo Jefferies (1993), duas suposições combinadas são tomadas para a representação
dos limites das superfícies no espaço 𝑞 − 𝑝: i) a existência da LCN requer que a superfície
de escoamento intercepte o eixo 𝑝 para valores diferentes de zero, ou seja, 𝑝 ≠ 0 (Drucker
et al., 1957); e ii) a consideração de que não existe coesão intrínseca entre as partículas
requer que a superfície também intercepte o eixo 𝑝 em zero (𝑝 = 0).
68
Figura 2.41 - Evolução da superfície de escoamento (adaptado de Jefferies, 1993).

A lei de endurecimento do modelo é dada segundo a Equação (2.44):

𝑝𝑖̇ 𝑝𝑖 2 (−𝜒𝑀𝑖 𝛹𝑖 ) 𝑝𝑖
= 𝐻 ( ) [𝑒 𝑖𝑡𝑐 − ] 𝜀̇ (2.44)
𝑝 𝑝 𝑝 𝑠

em que 𝑝𝑖̇ e 𝜀𝑠̇ indicam parcelas de incremento de tensão média na condição de imagem
e deformação distorcional, respectivamente, bem como 𝐻 representa o módulo de
endurecimento plástico, necessário devido ao desacoplamento do tamanho da superfície
de escoamento em relação ao índice de vazios (Jefferies, 1993). Além disso, tem-se que
𝐻 pode ser idealizado como uma constante ou uma função de 𝛹 (Equação 2.45), a
depender da calibração do modelo para os dados experimentais (Jefferies e Been, 2016).

𝐻 = 𝐻0 − 𝐻𝑦 𝛹 (2.45)

em que:
𝐻0 é o módulo de endurecimento plástico para a condição de parâmetro de estado igual a
zero; e
𝐻𝑦 é o módulo de endurecimento plástico como função do parâmetro de estado.

69
O modelo utiliza o conceito de elasticidade isotrópica, apesar da ampla evidência de que
os materiais particulados tendem a apresentar comportamento anisotrópico. Jefferies e
Been (2016) argumentam que é ineficaz partir para o estudo de modelos sofisticados com
muitos parâmetros para representação do comportamento anisotrópico, quando não se
tem o entendimento claro do comportamento de materiais particulados a partir de uma
abordagem isotrópica. Assim, pode-se afirmar que a abordagem anisotrópica ainda é
predominantemente acadêmica e de difícil aplicação prática.

O modelo considera dois parâmetros para a representação das condições elásticas durante
as análises: i) coeficiente de Poisson 𝑣 e ii) Índice de rigidez (𝐼𝑟 = 𝐺/𝑝′ ). O segundo
parâmetro pode ser descrito através da variação do módulo cisalhante (𝐺) com a tensão
média efetiva (𝑝′ ) através da Equação (2.46).

𝑚
𝑝′
𝐺 = 𝐺𝑟𝑒𝑓 ( ′ ) (2.46)
𝑝𝑟𝑒𝑓


em que 𝐺 𝑟𝑒𝑓 representa o módulo cisalhante para a tensão de referência; 𝑝𝑟𝑒𝑓 é a tensão
média efetiva de referência (usualmente adotada como 100 kPa) e 𝑚 é o expoente elástico
(assume valores entre 0 e 1).

70
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS E MÉTODOS

Neste capítulo é apresentado o banco de dados experimental utilizado para o estudo, bem
como a metodologia adotada para o desenvolvimento da modelagem computacional.

O Item 3.1 é dedicado à apresentação da caracterização geotécnica do rejeito, disponível


na literatura, adotado como material de referência nas modelagens numérico-
computacionais, enquanto no Item 3.2 é apresentada a metodologia de modelagem
empregada nas análises tensão-deformação, bem como os parâmetros utilizados em cada
modelo constitutivo aplicado ao estudo.

3.1. CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DO REJEITO

Os dados utilizados no trabalho foram provenientes da campanha de ensaios executados


no Laboratório de Geotecnia (LabGeo) da Faculdade de Engenharia da Universidade do
Porto (FEUP), apresentados no trabalho de Eloi (2021) e reinterpretados para o presente
estudo. O autor dissertou sobre os procedimentos laboratoriais convencionais e avançados
para avaliação de estados críticos em rejeitos de ferro, a partir da execução de ensaios
triaxiais em condição drenada.

Para a caracterização geotécnica do rejeito foram realizados os ensaios de: i) distribuição


granulométrica dos grãos, conforme especificação LNEC E 196 (1966); ii) determinação
da densidade real dos grãos (𝐺𝑠 ), segundo norma portuguesa NP-83 (1965); ii)
adensamento oedométrico e iii) ensaios triaxiais drenados submetidos a tensões
confinantes de 100, 200 e 400 kPa. Segundo apresentado por Eloi (2021), os ensaios para
determinação dos limites de Atterberg definiram o material como não plástico.

Conforme apresentado na curva de distribuição granulométrica (Figura 3.1) e de acordo


com a ASTM D422-63 (2007), cerca de 8,1% do material é caracterizado como areia fina,
passante na peneira #40 (0,425 mm) e retido na peneira #200 (0,075 mm). A fração fina
(passante na peneira #200) representa cerca de 91,9% do material, dos quais 8,3% podem
ser classificados como partículas com dimensões de argila (diâmetro inferior a 5 μm) e
83,6% como silte.

71
5 μm #200 #40 #10 #4
100

90

80

70
% Passante

60

50

40

30

20

10

0
0,00 0,01 0,10 1,00 10,00
Areia
Argila Silte Areia Fina Areia Média Pedregulho
Grossa
Diâmetro dos grãos (mm)

Figura 3.1 - Distribuição granulométrica segundo ASTM D422.

O valor da densidade real dos grãos (𝐺𝑠 ) obtido para o rejeito foi de 4,548. Para o ensaio
oedométrico, foi definida a curva de compressibilidade apresentada na Figura 3.2, que
resguarda paralelismo em relação a Linha de Consolidação Normal (LCN-3D) do
material, logo, o mesmo gradiente (inclinação).

1,30

1,20

1,10
Índice de Vazios

Cc1
1,00
CS1 e CR1

0,90
CS2 e CR2
Cc2

0,80

CS3
0,70
1 10 100 1000 10000
Tensão ( kPa )

Figura 3.2 - Curva de compressibilidade.


72
Analisando a Figura 3.2 é notória uma inclinação mais acentuada da LCN desde a
condição inicial do ensaio até valores de tensão próximos a 12 kPa, o que, segundo Eloi
(2021), pode ser explicado em virtude da conformação inicial do material devido ao
método de moldagem (moist tamping) do corpo de prova (CP) para a execução do ensaio.
A partir de 12 kPa observa-se o abatimento da LCN e uma pronunciada tendência de
linearidade até valores de tensão próximos a 800 kPa, a partir dos quais observa-se um
aumento sutil da inclinação da reta, o que segundo o autor pode estar atrelado à geração
adicional de finos no corpo de prova durante o ensaio (quebra de grãos).

Para a definição dos coeficientes de compressibilidade (𝐶𝐶 ), descompressão (𝐶𝑠 ) e


recompressão (𝐶𝑅 ), foi utilizada a Equação (3.1), aplicando-a para cada região da curva
apresentada na Figura 3.2.

𝛥𝑒
𝐶𝐶 = 𝐶𝑆 = 𝐶𝑅 = − (3.1)
𝛥log (𝜎𝑣′ )

Dado o contexto de diferença de inclinação para cada trecho da LCN, bem como os
diferentes valores para os ramos de descompressão e recompressão encontrados, foram
obtidos os parâmetros apresentados na Tabela 3.1.

Tabela 3.1 - Valores obtidos para os coeficientes 𝐶𝐶 , 𝐶𝑆 e 𝐶𝑅 .


Compressão Descompressão Recompressão
CC1 CC2 CS1 CS2 CS3 CR1 CR2
0,136 0,175 0,005 0,011 0,015 0,009 0,014

Esclarece-se que para a definição de 𝐶𝐶1 foi utilizado o trecho da LCN que compreende
os valores de tensões entre 12 e 800 kPa, enquanto para o coeficiente 𝐶𝐶2 foi adotado o
trecho da curva com valores de tensão superiores a 800 kPa. Para a definição da inclinação
da LCN, bem como das curvas de descompressão e recompressão para a condição de
adensamento sob compressão isotrópica (LCN-3D), foi utilizada a relação apresentada na
Equação (3.2) e na Equação (3.3).

𝐶𝐶
𝜆= (3.2)
2,3

73
𝐶𝑆 𝐶𝑅
𝑘= = (3.3)
2,3 2,3

A partir dos valores apresentados na Tabela 3.1 tem-se os parâmetros 𝜆 e 𝑘 conforme


indicado na Tabela 3.2.

Tabela 3.2 - Valores obtidos para os coeficientes λ e k.


Compressão Descompressão Recompressão
𝜆1 𝜆2 𝑘1 𝑘2 𝑘3 𝑘1 𝑘2
0,059 0,076 0,002 0,005 0,007 0,004 0,006

Com respeito aos estados de tensão adotados nos ensaios triaxiais drenados (do tipo CID,
da sigla em inglês para Consolidated Isotropically Drained) conforme já referido, o autor
executou quatro ensaios distintos com o mesmo material em níveis de confinamento de
100, 200 e 400 kPa (três, CID-01, CID-02 e CID-04, com o material suficientemente
“fofo” de maneira a apresentar comportamento contrátil e um com o material em condição
inicial suficientemente densa para gerar comportamento dilatante durante o cisalhamento
CID-03), conforme condições gerais apresentadas na Tabela 3.3.

Tabela 3.3 - Resumos das condições dos corpos de prova em cada fase dos ensaios
(Eloi, 2021).
Peso
Peso Seco Teor Peso Índice
Tensão Úmido
Diâmetro Altura da de Específico de
Efetiva da
Ensaio Fase* Amostra Água Seco Vazios
Amostra
σ’c D H W Wd w d
e
(kPa) (mm) (mm) (g) (g) (%) (kN/m³)
A 70,87 144,09 1148,73 1095,83 4,83 18,91 1,36
CID-01 400 B 65,78 134,76 1312,97 1095,94 19,80 23,47 0,90
C 74,69 98,24 1285,44 1095,94 17,29 24,98 0,79
A 71,55 143,55 1227,21 1139,99 7,65 19,38 1,30
CID-02 200 B 67,44 135,96 1373,15 1137,57 20,71 22,98 0,94
C 76,40 99,40 1343,12 1137,57 18,07 24,49 0,82
A 72,23 145,90 1615,90 1536,35 5,18 25,21 0,77
CID-03 200 B 71,40 144,26 1773,97 1533,55 15,68 26,05 0,71
C 81,46 112,34 1781,89 1533,55 16,19 25,69 0,74
A 71,22 143,68 1227,21 1146,28 7,06 19,65 1,27
CID-04 100 B 67,56 136,83 1384,48 1145,88 20,82 22,92 0,95
C 77,65 97,83 1357,20 1145,88 18,44 24,26 0,84
*A = Início Adensamento; B = Fim Adensamento; C = Fim Cisalhamento.

74
Para os quatro ensaios realizados, a variação da tensão desviadora (𝑞) com a deformação
axial (𝜀𝑎 ), bem como da deformação volumétrica (𝜀𝑣 ) com a deformação axial (𝜀𝑎 ),
podem ser observadas na Figura 3.3 e na Figura 3.4, respectivamente.

1200
1100
1000
900
800 CID-01 (400 kPa)
700 CID-02 (200 kPa)
q (kPa)

600
500 CID-03 (200 kPa)
400 CID-04 (100 kPa)
300
200
100
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura 3.3 - Variação da tensão desviadora (𝑞) com a deformação axial (𝜀𝑎 ).

5
CID-01 (400 kPa)
4

3 CID-02 (200 kPa)


εv (%)

2 CID-03 (200 kPa)


1
CID-04 (100 kPa)
0
0 5 10 15 20 25 30
-1

-2
εa (%)

Figura 3.4 - Variação da deformação volumétrica (𝜀𝑉 ) com a deformação axial (𝜀𝑎 ).

A partir da avaliação da Figura 3.3 e da Figura 3.4 nota-se uma grande coerência para o
comportamento esperado dos ensaios CID-01, CID-02 e CID-04, evidenciada pelo ganho
de resistência consoante o incremento da tensão de confinamento e uma resposta contrátil

75
típica de materiais pouco densificados (condição “fofa”). Para estes ensaios considerou-
se que foi alcançada a condição de deformação sob tensão e volume constantes,
característico do estado crítico do material.

O ensaio CID-03, com o material na condição inicialmente densa, apresentou


inconsistências na resposta tensão-deformação e, por isso, este foi utilizado apenas para
a definição dos parâmetros relacionados ao fenômeno de dilatância do modelo NorSand
(parâmetro dilatância de estado χ e coeficiente de acoplamento N). Nesse aspecto, para a
definição dos parâmetros de resistência drenada do material, foram utilizados apenas os
ensaios CID-01, CID-02 e CID-04, bem como o critério de máxima tensão desviadora (𝑐’
= 0 kPa e 𝜙’ = 35,12°) segundo Equação 3.4 e Equação 3.5, conforme apresentado na
Figura 3.5.


𝜎1′ + 𝜎3′
𝑠 = (3.4)
2
𝜎1 − 𝜎3
𝑡= (3.5)
2

600
t = 0,5753s'
R² = 0,9999
500

400
CID-01 (400 kPa)
t (kPa)

300
CID-02 (200 kPa)

200 CID-04 (100 kPa)


Envoltória
100

0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000
s' (kPa)

Figura 3.5 - Trajetórias de tensão e envoltória de máxima tensão desviadora.

Assim como assumido para a definição da resistência drenada dos materiais, para a
avaliação da condição de estado crítico foram utilizados os ensaios CID-01, CID-02 e
CID-04, uma vez que estes alcançaram tal condição, conforme apresentado na Figura 3.3
e Figura 3.4. A Figura 3.6 apresenta a projeção da Linha de Estados Críticos (LEC), no

76
plano 𝑒 − 𝑝′ , obtida a partir da variação do índice de vazios (𝑒) e tensão média efetiva
(𝑝’) durante os ensaios.

1,00
e = -0,037ln(p') + 1,0377
0,95 R² = 0,9657

0,90 CID-01 (400 kPa)

CID-02 (200 kPa)


0,85
e

CID-03 (200 kPa)


0,80
CID-04 (100 kPa)
0,75
LEC

0,70
10 100 1000 10000
p' (kPa)

Figura 3.6 - Projeção da linha de estados críticos no plano 𝑒 − 𝑝’.

Da Figura 3.6 tem-se que o ensaio CID-03 não alcançou o estado crítico, o que pode estar
atrelado à possível formação de planos preferenciais de cisalhamento devido à condição
densa do material durante o ensaio. Adicionalmente, considerando a Equação (2.18),
pode-se definir os parâmetros 𝜆 e Г iguais a 0,037 e 1,0377, respectivamente.

Complementarmente à avaliação do índice de vazios com a tensão média efetiva para


definição da LEC no plano 𝑒 − 𝑝′ , pode-se plotar a projeção da LEC no plano 𝑞 − 𝑝’,
formado pelos semieixos ordenados da tensão desviadora (𝑞) e da tensão média efetiva
(𝑝’), conforme foi realizado para os três ensaios com comportamento contrátil, os quais
são apresentados na Figura 3.7.

77
1200
1100
q = 1,3972p'
1000 R² = 0,9999
900
800
700 CID-01 (400 kPa)
q (kPa)

600 CID-02 (200 kPa)


500
CID-04 (100 kPa)
400
LEC
300
200
100
0
0 200 400 600 800 1000
p' (kPa)

Figura 3.7 - Projeção da linha de estados críticos no plano 𝑞 − 𝑝’.

Definida a projeção da linha de estados críticos no plano 𝑞 − 𝑝’, a partir da inclinação da


LEC é possível determinar a razão de tensões no estado crítico (𝑀) igual a 1,3972. Dessa
forma, a partir da Equação (2.20) tem-se o valor do ângulo de atrito crítico (𝜙𝑐′ ) igual a
34,52º. O coeficiente de empuxo no repouso (𝐾0 ), que define a razão entre o valor das
tensões horizontais e verticais iniciais (𝜎ℎ0 ⁄𝜎𝑣0 ) para todos os modelos estudados, foi
estimado através da relação simplificada proposta, inicialmente para areias, por Jaky
(1944):

𝐾0 = 1 − 𝑠𝑒𝑛𝜙𝑐′ (3.6)

Com base no ângulo de atrito crítico (𝜙𝑐′ ) e na Equação (3.6) foi estimado o valor de 𝐾0
como sendo de 0,433.

3.2. MODELAGEM COMPUTACIONAL

3.2.1. Características do Modelo Numérico

A modelagem computacional foi realizada com recurso ao Método dos Elementos Finitos
(MEF) no módulo SIGMA/W do programa GeoStudio 2021.3, a fim de representar o

78
comportamento experimental do material sob compressão axissimétrica. A Figura 3.8
ilustra de forma esquemática as etapas envolvidas na modelagem utilizada no estudo.

Adensamento Resultados
• Modelagem de ¼ do • Aplicação dos parâmetros
Corpo de Prova (CP) de cada modelo ao
de cada ensaio; • Aplicação do material material; • Comparação dos
• Definição da altura e elástico isotrópico à • Definição das condições resultados obtidos na
diâmetro segundo geometria; de contorno (deformação modelagem com os
condição inicial do CP. • Definição das controlada). resultados
condições de contorno experimentais dos
e tensões confinantes. ensaios.
Geometria Cisalhamento

Figura 3.8 - Metodologia utilizada na modelagem computacional.

Os problemas que envolvem sólidos axissimétricos tridimensionais ou sólidos de


revolução, sujeitos a carregamentos axissimétricos, como no ensaio triaxial, podem ser
reduzidos a simples problemas bidimensionais. Devido à simetria da geometria e da carga
em torno do eixo 𝑧 indicado na Figura 3.9, todas as tensões e deformações são
independentes do ângulo de rotação Ө que forma o sólido. Adicionalmente, tem-se a
condição de simetria em relação ao eixo 𝑥, quando considerada a altura do CP. Nesse
sentido, o problema pode ser visto como bidimensional e definido pela área de rotação
conforme apresentado na Figura 3.9, na qual a largura e a altura da geometria foram
definidas a partir dos valores apresentados na Tabela 3.3, considerando ¼ do CP ensaiado.

Figura 3.9 - (a) Sólido axissimétrico; (b) Geometria adotada nas análises.
79
Dessa forma, a fim de verificar a resposta do modelo relativo às incertezas quanto a sua
simetria devido à condição de dilatância, em termos de altura, foi avaliado o resultado
numérico obtido a partir da consideração da metade da altura do CP (H/2) e do seu valor
total (H), tomando como referência o ensaio CID-01. Assim, conforme apresentado na
Figura 3.10, foi verificada a mesma resposta do modelo para ambas as condições de altura
utilizadas. Diante desse aspecto, foi adotada, em todas as modelagens, a altura relativa à
metade do CP ensaiado, de modo a otimizar o tempo computacional associado às análises.

Figura 3.10 - Avaliação de sensibilidade da altura do CP durante as modelagens.

Após definida a geometria do modelo, foram realizadas as análises referentes à etapa de


adensamento do ensaio triaxial. Para isso, foram aplicadas as condições de contorno
apresentadas na Figura 3.11.

Os vínculos utilizados para a restrição da estrutura foram definidos adotando-se apoios


de primeira ordem com restrição de deslocamento horizontal e vertical, uma vez que não
há interesse em que o modelo simule deformações horizontais e verticais que ultrapassem
a extensão fixada para a modelagem, bem como tendo em vista a condição de simetria
em relação aos eixos x e z ilustrados na Figura 3.9. Dessa forma, as deformações verticais,
correspondentes ao adensamento do material, foram permitidas até o limite inferior do
modelo.

80
Malha de
elementos Tensões
finitos. confinantes
.
Restrição de
deslocamento Material
horizontal e elástico
vertical. isotrópico.

Figura 3.11 - Condições de contorno aplicadas para a etapa de adensamento.

Com respeito à malha de elementos finitos utilizada nas modelagens, foi aplicada a malha
quadrática com elementos no tamanho de 0,01 m. De forma análoga à análise de
sensibilidade realizada para a verificação da resposta do modelo quanto à altura do CP,
foram verificados os resultados obtidos ao considerar a malha de 0,01 m e com maior
nível de refinamento (0,001 m), sendo obtido o mesmo resultado de resposta numérica
para ambos os valores a despeito do maior intervalo de tempo e esforço computacional
desprendido para a resolução da malha mais refinada. Assim, foi adotado nas análises a
malha com abertura de 0,01 m.

Para a modelagem da etapa de adensamento foram utilizadas como referência as tensões


confinantes, bem como os parâmetros do material e os valores de diâmetro e altura de
cada ensaio, conforme apresentado na Fase A (Início Adensamento) da Tabela 3.3. A
calibração do módulo de elasticidade efetivo (𝐸’) e do coeficiente de Poisson (𝑣) foi
aferida a partir da comparação dos valores de diâmetro e altura ao final das análises
numéricas com os valores de diâmetro e altura de cada ensaio apresentado na Fase B (Fim
Adensamento) da referida Tabela 3.3. Dessa forma, os parâmetros utilizados durante a
etapa de adensamento das análises podem ser avaliados segundo a Tabela 3.4.

81
Tabela 3.4 - Parâmetros etapa de adensamento.
Parâmetros CID-01 CID-02 CID-03 CID-04
𝑒0 0,90 0,94 0,71 0,95
𝛾 (kN/m³)* 28,12 27,73 30,13 27,69

𝐸 (kPa) 2.500,00 1.500,00 7.000,00 900,00
𝜈 0,10 0,10 0,10 0,10
*Parâmetro obtido através a relação 𝛾 = 𝛾𝑑 (1 + 𝑤) e valores de 𝛾𝑑 e
𝑤 provenientes da Tabela 3.3.

Após realizada a etapa de adensamento, foi feita a modelagem da etapa de cisalhamento


segundo as condições de contorno apresentadas na Figura 3.12, tomando a fase de
adensamento como análise parente, a fim de considerar o cenário de tensões confinantes
do ensaio.

Malha de
elementos
finitos.
Restrição de
deslocamento.

Material
Restrição de segundo o
deslocamento modelo
horizontal e avaliado.
vertical.

Figura 3.12 - Condições de contorno aplicadas para a etapa de cisalhamento.

Os parâmetros assumidos para o material na etapa de cisalhamento foram definidos


segundo os modelos adotados no estudo: i) Mohr-Coulomb; ii) Cam-Clay Modificado e
iii) NorSand. Ressalta-se que durante esta etapa de análises foi adotado como referência
o controle de deslocamentos, a fim de manter a fidelidade do arranjo experimental
possibilitando uma comparação mais assertiva.

82
Após o término da etapa de cisalhamento, os resultados numéricos foram comparados
com os dados experimentais, de modo a avaliar a aderência do modelo e necessidade de
ajustes na calibração adotada.

3.2.2. Parâmetros dos Modelos Constitutivos

• Mohr-Coulomb

Os parâmetros utilizados no modelo Mohr-Coulomb consideraram a condição inicial do


material previamente à execução da fase de cisalhamento do ensaio, representados pelo
peso específico (𝛾) e índice de vazios inicial (𝑒0 ), bem como os parâmetros de
elasticidade, representados pelo módulo de Young efetivo (𝐸 ′ ) e pelo coeficiente de
Poisson (𝜈).

Para a resposta plástica do modelo, foram definidos os parâmetros de resistência segundo


o critério de ruptura de Mohr-Coulomb, representados pelo intercepto de coesão efetiva
(𝑐 ′ ) e pelo ângulo de atrito efetivo (𝜙 ′ ) conforme Equação (2.22).

Destaca-se que, para a resposta dilatante do ensaio CID-03, foi considerada a utilização
do ângulo de dilatância (𝜓) definido conforme Equação (3.7), uma vez que o módulo
SIGMA/W do programa GeoStudio 2021.3 permite a consideração desse parâmetro para
o modelo Mohr-Coulomb.

𝜀𝑣
𝜓 = tan−1 ( ) (3.7)
𝜀𝑠

Tendo em vista a bilinearidade observada para o trecho identificado na Figura 3.13, foram
avaliadas duas regiões para a definição do ângulo de dilatância. Dessa forma, a partir da
aplicação da Equação (3.7) em cada trecho da região avaliada, foram obtidos os valores:
i) 𝜓1 = 1,01° e ii) 𝜓2 = 2,36°. Assim, após avaliação do parâmetro que resultou na
melhor convergência para o modelo, foi adotado o valor de 𝜓2 = 2,36° para as análises
numéricas.

83
0,50

0,00

-0,50
εv (%)

CID-03 (200 kPa)


-1,00

ψ1
-1,50
ψ2
-2,00
0 5 10 15 20 25
εs (%)

Figura 3.13 - Avaliação ângulo de dilatância.

A Tabela 3.5 fornece uma compilação dos parâmetros utilizados nas modelagens
considerando o modelo Mohr-Coulomb.

Tabela 3.5 - Parâmetros modelo Mohr-Coulomb.


Parâmetros CID-01 CID-02 CID-03 CID-04
Condição 𝑒0 0,90 0,94 0,71 0,95
Inicial 𝛾 (kN/m³) 28,12 27,73 30,13 27,69

𝐸 (kPa) 15.000,00 7.000,00 70.000,00 4.000,00
Rigidez
𝜈 0,10

𝑐 (kPa) 0,00
Resistência ′
𝜙 (°) 35,12
𝜓 (°) 0,00 0,00 2,36 0,00

Para a calibração do modelo foram avaliados diferentes valores para o módulo de Young
efetivo (𝐸 ′ ) e coeficiente de Poisson (𝜈), considerando a faixa de valores disponíveis para
cada estado de tensão dos ensaios, de modo que os valores que indicaram melhor
calibração foram aqueles apresentados na Tabela 3.5. Destaca-se que a verificação das
calibrações a partir da utilização do módulo elástico secante (𝐸50 ) resultou em cenários
de menor aderência aos resultados experimentais.

84
• Cam-Clay Modificado

Assim como no modelo Mohr-Coulomb, para o modelo Cam-Clay Modificado foi


considerada a condição inicial do material por meio da utilização do peso específico (𝛾)
e índice de vazios inicial (𝑒0 ), incorporando-se, no entanto, a razão de sobreadensamento
(𝑂𝐶𝑅), uma vez que o modelo permite essa consideração nas análises.

Para definição do OCR, foi tomada a condição do material normalmente adensado (OCR
= 1) para os ensaios com material na condição “fofa” (CID-01, CID-02 e CID-04) e
sobreadensado (OCR = 6) para o ensaio com material na condição densa (CID-03), uma
vez que este valor apresentou melhor convergência do modelo, conforme observado na
Figura 3.14 e na Figura 3.15.

Para os parâmetros de compressibilidade, foi adotado o valor de 𝜆 correspondente ao


ramo de altas tensões (acima de 800 kPa), conforme apresentado na Figura 3.2 e
quantificado na Tabela 3.2. Adicionalmente, para o parâmetro 𝑘 foi utilizada a média das
curvas de descompressão da Figura 3.2. Destaca-se que a utilização de tais considerações
na definição dos parâmetros resultou na calibração mais aderente para o estudo.

900
800
700
CID-03 (200 kPa)
600
OCR = 6
500
q (kPa)

400 OCR = 5

300 OCR = 3
200 OCR = 1
100
0
0 5 10 15 20 25
εa (%)

Figura 3.14 - Avaliação de sensibilidade do OCR para resposta tensão-deformação -


CID-03 (200 kPa) Modelo Cam-Clay Modificado.

85
7

5 CID-03 (200 kPa)


4
OCR = 6
3
εv (%)

OCR = 5
2
OCR = 3
1
OCR = 1
0
0 5 10 15 20 25
-1

-2
εa (%)

Figura 3.15 - Avaliação de sensibilidade do OCR para relação de deformações - CID-03


(200 kPa) Modelo Cam-Clay Modificado.

Uma vez que o modelo pode ser considerado o primeiro a adotar os conceitos da Mecânica
dos Solos dos Estados Críticos, foram tomados os parâmetros característicos da LEC no
espaço 𝑞 − 𝑝’, representada pelo ângulo de atrito crítico (𝜙𝑐′ ) e pela razão de tensões no
estado crítico (𝑀). A Tabela 3.6 fornece uma compilação dos parâmetros utilizados nas
modelagens considerando o modelo Cam-Clay Modificado.

Tabela 3.6 - Parâmetros modelo Cam-Clay Modificado.


Parâmetros CID-01 CID-02 CID-03 CID-04
𝑒0 0,90 0,94 0,71 0,95
Condição
Inicial 𝛾 (kN/m³) 28,12 27,73 30,13 27,69
OCR 1,00 1,00 6,00 1,00
𝜆 0,076
Rigidez 𝑘 0,0045
𝜈 0,10
𝜙𝑐 ()
′ 34,52
Resistência
𝑀 1,397

• NorSand

Semelhante ao adotado para o modelo Cam-Clay Modificado, para a representação da


condição inicial do material durante as análises com o modelo NorSand, foram utilizados

86
os parâmetros de peso específico (𝛾), índice de vazios inicial (𝑒0 ) e razão de
sobreadensamento (𝑂𝐶𝑅).

O modelo considera dois parâmetros para a representação das condições elásticas durante
as análises: i) coeficiente de Poisson (𝑣) e ii) Índice de rigidez (𝐼𝑟 ). O coeficiente de
Poisson foi assumido como 0,1, assim como utilizado no modelo Mohr-Coulomb, uma
vez que este valor apresentou melhor convergência durante as análises. Jefferies e Been
(2016) definem que para materiais arenosos este parâmetro usualmente pode variar entre
0,1 e 0,3.

O índice de rigidez foi determinado conforme apresentado na Equação (2.46). Dessa


forma, foi definido o módulo cisalhante de referência (𝐺𝑟𝑒𝑓 ) e o expoente elástico (𝑚)
associado, tomando o melhor cenário de calibração durante as modelagens. Destaca-se
que tal consideração foi adotada uma vez que não foram realizados ensaios com bender
elements, instrumentações radiais específicas ou ensaios de coluna ressonante, o que
possibilitaria uma maior assertividade na definição do módulo cisalhante do material.

Os parâmetros para definição da LEC foram representados pelo intercepto com o eixo das
ordenadas para o nível de tensão 𝑝’ = 1 kPa (Г), bem como pela inclinação da LEC no
espaço 𝑒 − 𝑝′ (𝜆) e pela razão de tensões no estado crítico (𝑀).

A resposta plástica do modelo foi obtida através da consideração dos parâmetros: i)


dilatância de estado (χ); ii) coeficiente de acoplamento volumétrico (𝑁) e módulo de
endurecimento plástico (𝐻). Os dois primeiros foram definidos a partir do ensaio triaxial
CID-03, caracterizado pelo comportamento dilatante da amostra durante o cisalhamento.

O parâmetro de dilatância de estado (χ) foi obtido conforme relação apresentada na


Equação (2.34), a qual é indicada graficamente na Figura 3.16.

87
-0,10 -0,09 -0,08 -0,07 -0,06 -0,05 -0,04 -0,03 -0,02 -0,01 0,00
0,00

-0,10

-0,20
Dmin = 5,8226
Dmin

R² = 1 -0,30

-0,40

-0,50

-0,60
para Dmin avaliado

Figura 3.16 - Relação 𝛹 − 𝐷𝑚𝑖𝑛 .

O parâmetro 𝑁 pode ser obtido através da relação apresentada na Equação (2.38), o qual
é indicado de forma gráfica na Figura 3.17.

1,70

1,65

1,60

1,55
ηmáx

1,50

1,45

1,40 ηmáx = -0,5018Dmin + 1,3972


R² = 1
1,35
0,00 -0,10 -0,20 -0,30 -0,40 -0,50 -0,60
Dmin

Figura 3.17 - Relação 𝐷𝑚𝑖𝑛 − 𝜂𝑚á𝑥 .

Para o módulo de endurecimento plástico (𝐻), foi utilizado o processo de modelagem


interativa (da sigla em inglês IFM), conforme descrito por Jefferies e Been (2016). A
modelagem consiste no ajuste do parâmetro através de sucessivas interações, até
encontrar a resposta numérica que represente de modo mais aderente o comportamento
experimental. Nesse aspecto, conforme indicado pela Equação (2.45), foi definida a

88
relação de 𝐻 com 𝛹0 para o melhor cenário de calibração dos ensaios, sendo obtida a
relação conforme apresentado na Figura 3.18.

450
H = -1666Ѱ0 + 184,5
400 R² = 0,9917
350
300
250
H

200
150
100
50
0
-0,15 -0,10 -0,05 0,00 0,05 0,10 0,15
0

Figura 3.18 - Relação 𝐻 − 𝛹0 .

A Tabela 3.7 fornece a compilação dos parâmetros utilizados para as simulações com o
modelo NorSand.

Tabela 3.7 - Parâmetros modelo NorSand.


Parâmetros CID-01 CID-02 CID-03 CID-04
𝑒0 0,90 0,94 0,71 0,95
Condição 𝛾(kN/m³) 28,12 27,73 30,13 27,69
Inicial OCR 1,00
𝛹0 0,08 0,100 -0,128 0,08
𝑣 0,10
𝐺𝑟𝑒𝑓 (MPa) 50,00
Rigidez
𝑚 0,50

𝑝𝑟𝑒𝑓 (kPa) 100
Г 1,037
𝜆 0,037
𝑀 1,397
𝑁 0,498
Resistência
𝜒 5,822
𝐻 30 40 400 40
𝐻0 184,50
𝐻𝑦 1.666,00

89
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados obtidos a partir das modelagens
numéricas realizadas. O Item 4.1 apresenta os resultados obtidos para as modelagens
considerando o modelo Mohr-Coulomb, enquanto o Item 4.2 aborda sobre a resposta para
o modelo Cam-Clay Modificado e o Item 4.3 fornece os resultados para o modelo
NorSand. Por fim, no Item 4.4 são indicadas as diferenças de comportamento dos modelos
Cam-Clay Modificado e NorSand em termos de resposta não drenada.

Nos Apêndices A, B e C são apresentados os gráficos de tensão-deformação e relação de


deformações de forma individualizada para cada ensaio analisado na condição “fofa”.

4.1. MOHR-COULOMB

4.1.2. Ensaios CID-01, 02 e 04 (Condição “Fofa”)

Após a definição dos parâmetros do modelo Mohr-Coulomb, conforme apresentado na


Tabela 3.5, foram obtidos os comportamentos tensão-deformação e a relação deformação
axial e deformação volumétrica para os ensaios triaxiais com amostras na condição
“fofa”, conforme indicado na Figura 4.1 e Figura 4.2.

1200
1100 CID-01 (400 kPa)
1000
900 CID-02 (200 kPa)
800
700 CID-04 (100 kPa)
q (kPa)

600
500 CID-01 (400 kPa)
400 Mohr-Coulomb
300 CID-02 (200 kPa)
200 Mohr-Coulomb
100
CID-04 (100 kPa)
0 Mohr-Coulomb
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura 4.1 - Tensão-deformação consolidada – Modelo Mohr-Coulomb.

90
7
CID-01 (400 kPa)
6
CID-02 (200 kPa)
5

4 CID-04 (100 kPa)


εv (%)

3 CID-01 (400 kPa)


Mohr-Coulomb
2
CID-02 (200 kPa)
1 Mohr-Coulomb
CID-04 (100 kPa)
0 Mohr-Coulomb
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura 4.2 - Relação de deformações consolidada – Modelo Mohr-Coulomb.

A partir da análise da Figura 4.1 e Figura 4.2 verifica-se que: em termos de resistência, o
modelo numérico apresentou valores ligeiramente superiores aos dados experimentais,
com destaque para o ensaio CID-02, que apresentou maior diferença entre a resposta
tensão-deformação numérica e experimental. A exceção do ensaio CID-01, para os
demais ensaios a resposta do modelo numérico apresentou valores de deformações
volumétricas levemente superiores aos resultados experimentais.

Após a avaliação dos resultados dos ensaios nota-se a incapacidade do modelo em simular
o comportamento dúctil do material, se restringindo à resposta perfeitamente plástica,
característica da mudança abrupta do comportamento elástico/plástico para deformações
axiais próximas de 7%.

A Figura 4.3 ilustra o comportamento do índice de vazios para a resposta numérica obtida
nos três ensaios, bem como o comportamento experimental e a LEC considerada. Para os
três ensaios o modelo experimental foi capaz de representar com boa precisão a variação
do índice de vazios

91
1,00

0,95 CID-01 (400 kPa)

CID-02 (200 kPa)


0,90

CID-04 (100 kPa)


0,85
e

Modelo Numérico
0,80 Mohr-Coulomb
LEC
0,75

0,70
10 100 1000 10000
p' (kPa)

Figura 4.3 - Variação do índice de vazios – Modelo Mohr-Coulomb.

Destaca-se que os comportamentos supracitados ocorrem em função de limitações


inerentes ao modelo, o qual é caracterizado pelo comportamento perfeitamente plástico,
sem a variação da superfície de escoamento com deformações adicionais. Dadas as
limitações, considera-se evidente a necessidade de aplicação da Mecânica dos Solos à
Luz dos Estados Críticos nos estudos de tensão-deformação.

4.1.3. Ensaio CID-03 (Condição Densa)

Os resultados obtidos para o ensaio com amostra na condição densa (CID-03) são
ilustrados da Figura 4.4 à Figura 4.6, a fim de evidenciar de modo específico a resposta
numérica com o comportamento experimental.

92
900
800
700
600
q (kPa)

500 CID-03 (200 kPa)


400
Modelo Numérico
300 Mohr-Coulomb
200
100
0
0 5 10 15 20 25
εa (%)

Figura 4.4 - Tensão-deformação CID-03 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb.

1,00

0,50

0,00 CID-03 (200 kPa)


εv (%)

-0,50 Modelo Numérico


Mohr-Coulomb

-1,00

-1,50
0 5 10 15 20 25
εa (%)

Figura 4.5 - Relação de deformações CID-03 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb.

Pelos resultados nota-se que o modelo apresentou resistência inferior ao obtido


experimentalmente, de modo que a aproximação ocorreu para faixas de deformação axial
acima de 20% (Figura 4.4). Com respeito à deformação volumétrica, sua resposta foi
majoritariamente superior ao resultado experimental, de modo que a condição de ângulo
de dilatância para melhor convergência numérica foi a partir da utilização de 𝜓 = 2,36°.
Para a variação do índice de vazios ao longo do ensaio, a resposta numérica não foi capaz
de simular com precisão o comportamento experimental.

93
1,00

0,95

0,90
CID-03 (200 kPa)
0,85
e

Modelo Numérico
0,80 Mohr-Coulomb

0,75 LEC

0,70

0,65
10 100 1000 10000
p' (kPa)

Figura 4.6 - Variação do índice de vazios CID-03 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb.

Assim como observado nos resultados obtidos para as modelagens dos ensaios com o
material na condição “fofa”, nota-se a incapacidade de o modelo simular o
comportamento frágil do material, se restringindo à resposta perfeitamente plástica,
característica da mudança abrupta do comportamento elástico/plástico para deformações
axiais próximas a 2%. Tal comportamento reforça as limitações inerentes ao modelo ao
não contemplar em sua formulação a teoria da plasticidade com
endurecimento/amolecimento considerada nos modelos de estados críticos.

Ressalta-se, no entanto, que para aplicações correntes, em que o material apresente


comportamento contrátil (comportamento típico de materiais previamente compactados
e submetidos a níveis de tensão relativamente baixos), em que os níveis de tensão não
sejam conducentes a maiores níveis de deformação (𝜀𝑎 < 5%), o modelo resguarda uma
boa aderência as curvas experimentais (como pode ser observado nos gráficos 𝑞 − 𝜀𝑎
apresentados para os ensaios CID-01, CID-02 e CID-04), sendo o comportamento do
material aproximado de um comportamento perfeitamente elástico para estes níveis de
tensão. Esse fato tem justificado a ampla aplicação do modelo até os dias atuais. Contudo,
para estruturas submetidas a maiores níveis de tensão, associadas a materiais com
comportamento de amolecimento (strain softening) (ensaio CID-03) e elevados riscos
associados, tal aproximação pode se configurar numa simplificação exagerada.

94
4.2. CAM CLAY MODIFICADO

4.2.1. Ensaios CID-01, 02 e 04 (Condição “Fofa”)

Os resultados obtidos das simulações com o modelo Cam-Clay Modificado apresentaram


maior aderência ao comportamento experimental, quando comparados com os obtidos
das simulações com o modelo Mohr-Coulomb, conforme Figura 4.7 e Figura 4.8.

1200
1100 CID-01 (400 kPa)
1000
900 CID-02 (200 kPa)
800
700 CID-04 (100 kPa)
q (kPa)

600
500 CID-01 (400 kPa)
400 Cam-Clay Modificado
300 CID-02 (200 kPa)
200 Cam-Clay Modificado
100 CID-04 (100 kPa)
0 Cam-Clay Modificado
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura 4.7 - Tensão-deformação consolidada – Modelo Cam-Clay Modificado.

A partir dos resultados tensão-deformação utilizando o modelo constitutivo Cam-Clay


Modificado observa-se boa convergência na resposta do modelo numérico quando
comparado com o comportamento experimental. Em especial, nota-se que o modelo foi
capaz de representar o comportamento dúctil do material para todos os ensaios,
diferentemente dos resultados observados para o modelo Mohr-Coulomb.

Com respeito às deformações volumétricas, tem-se que a resposta numérica apresentou


valores ligeiramente inferiores aos dados advindos dos três ensaios, sendo mais acentuada
para o CID-01 e para o CID-02.

95
7
CID-01 (400 kPa)
6
CID-02 (200 kPa)
5

4 CID-04 (100 kPa)


εv (%)

3 CID-01 (400 kPa)


Cam-Clay Modificado
2 CID-02 (200 kPa)
Cam-Clay Modificado
1
CID-04 (100 kPa)
Cam-Clay Modificado
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura 4.8 - Relação de deformações consolidada – Modelo Cam-Clay Modificado.

Em relação à variação do índice de vazios, a representação foi satisfatória, com exceção


da variação para condições próximas à LEC, nas quais os modelos desviaram ligeiramente
do comportamento experimental, conforme observado na Figura 4.9.

1,00

0,95
CID-01 (400 kPa)
0,90
CID-02 (200 kPa)
0,85
e

CID-04 (100 kPa)

0,80 Modelo Numérico


Cam-Clay Modificado
0,75 LEC

0,70
10 100 1000 10000
p' (kPa)

Figura 4.9 - Variação do índice de vazios – Modelo Cam-Clay Modificado.

Pelos resultados obtidos nota-se a melhor aderência da aplicação do modelo Cam-Clay


Modificado, quando comparado ao modelo Mohr-Coulomb, o que proporciona uma
maior confiabilidade em análises diversas, independentes das condições impostas,

96
nomeadamente dos estados de tensão. Tal fato reforça a necessidade da consideração
simultânea de parâmetros de resistência e de deformabilidade plástica durante a
realização de estudos tensão-deformação.

4.2.2. Ensaio CID-03 (Condição Densa)

Os resultados obtidos para o ensaio com amostra na condição densa (CID-03) são
apresentados na Figura 4.10 e Figura 4.11.

900
800
700
600
CID-03 (200 kPa)
q (kPa)

500
400
Modelo Numérico
300 Cam-Clay Modificado
200
100
0
0 5 10 15 20 25
εa (%)

Figura 4.10 - Tensão-deformação – Modelo Cam-Clay Modificado.

0,50

0,00

-0,50 CID-03 (200 kPa)


εv (%)

-1,00 Modelo Numérico


Cam-Clay Modificado

-1,50

-2,00
0 5 10 15 20 25
εa (%)

Figura 4.11 - Relação de deformações – Modelo Cem-Clay Modificado.

97
Pela Figura 4.10 nota-se que a resposta numérica foi capaz de representar o efeito da
perda de resistência para baixas deformações (comportamento frágil), sendo ligeiramente
mais frágil na simulação numérica comparativamente ao observado experimentalmente.
Relativo ao comportamento dilatante do ensaio CID-03, o modelo foi capaz de simular
com boa precisão o comportamento experimental até deformações axiais na ordem de
5%, conforme ilustrado na Figura 4.11. Para deformações acima deste valor a resposta
numérica apresentou valores de deformação superiores aos observados
experimentalmente. Destaca-se, no entanto, que a existência de diferentes inclinações
para a deformação volumétrica medida durante o ensaio experimental não é esperada e
pode estar associada a imprecisões durante a execução desse ensaio.

Ainda avaliando a caracterização do comportamento em termos de deformação


volumétrica, a utilização da condição de 𝑂𝐶𝑅 = 6 foi aquela que apresentou melhor
convergência do modelo numérico com o resultado experimental, uma vez que para a
consideração de 𝑂𝐶𝑅 = 1 o modelo, como esperado, não foi capaz de simular o
comportamento dilatante do material. Tal consideração está associada ao fato de que o
modelo utiliza o referido parâmetro para simular o efeito de dilatância, assim como o
modelo NorSand se baseia no parâmetro de estado (𝛹) para a representação deste
fenômeno.

A limitação para a consideração do alto valor de OCR no Cam-Clay Modificado se deve


à condição de que o modelo melhor se aplica para materiais argilosos normalmente
adensados, os quais não se assemelham ao material siltoso na condição densa, utilizado
no presente estudo.

Com respeito à variação do índice de vazios do ensaio CID-03, a calibração numérica foi
próxima à representação do ensaio experimental. Dado o contexto, assim como observado
nos resultados obtidos durante as modelagens dos ensaios na condição “fofa”, nota-se a
melhor aderência da aplicação do modelo Cam-Clay Modificado, quando comparado ao
modelo Mohr-Coulomb.

98
1,00
0,95
0,90
0,85
0,80 CID-03 (200 kPa)
0,75
e

Modelo Numérico
0,70
Cam-Clay Modificado
0,65
0,60
0,55
0,50
10 100 1000 10000
p' (kPa)

Figura 4.12 - Variação do índice de vazios CID-03 (200 kPa) – Modelo Cam-Clay
Modificado.

4.3. NORSAND

4.3.1. Ensaios CID-01, 02 e 04 (Condição “Fofa”)

Para o modelo NorSand foram considerados dois cenários de modelagem: i) condição do


parâmetro 𝐻 específico para cada modelo (parâmetro variável conforme descrito na
Tabela 3.7), nomeada neste trabalho como “NorSand Calibração” e ii) condição de 𝐻 em
função de 𝛹, conforme relação apresentada na Equação (2.45) e descrita por Jefferies e
Been (2016), nomeada neste trabalho de “NorSand Final” (utilização dos parâmetros
𝐻0 e 𝐻𝑦 , conforme descrito na Tabela 3.7).

A partir da avaliação dos ensaios (Figura 4.13 à Figura 4.15) nota-se que o
comportamento tensão-deformação se mostrou próximo ao observado
experimentalmente, de modo que o ensaio CID-01 foi aquele que apresentou maior
divergência quando comparado com os demais ensaios na condição “fofa”.
Adicionalmente, observa-se que os resultados denominados de “NorSand Final”
tenderam a se distanciar ligeiramente do comportamento experimental, quando
comparados com a convergência obtida para aqueles referenciados como “NorSand
Calibração”.

99
1200
1100
1000
900
800
700
q (kPa)

600
500
400
300
200
100
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)
CID-01 (400 kPa) CID-02 (200 kPa) CID-04 (100 kPa)
CID-01 NorSand Calibração CID-02 NorSand Calibração CID-04 NorSand Calibração
CID-01 NorSand Final CID-02 NorSand Final CID-04 NorSand Final

Figura 4.13 - Tensão-deformação consolidada – Modelo NorSand.

4
εv (%)

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

CID-01 (400 kPa) CID-02 (200 kPa) CID-04 (100 kPa)

CID-01 NorSand Calibração CID-02 NorSand Calibração CID-04 NorSand Calibração

Figura 4.14 - Relação de deformações consolidada para a condição NorSand Calibração.

100
7

4
εv (%)

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

CID-01 (400 kPa) CID-02 (200 kPa) CID-04 (100 kPa)

CID-01 NorSand Final CID-02 NorSand Final CID-04 NorSand Final

Figura 4.15 - Relação de deformações consolidada para a condição NorSand Final.

A variação do índice de vazios após as modelagens e aquele obtido experimentalmente é


apresentada na Figura 4.16 e Figura 4.17.

1,00

0,95
CID-01 (400 kPa)
0,90
CID-02 (200 kPa)
0,85
e

CID-04 (100 kPa)

0,80 NorSand Calibração

0,75 LEC

0,70
10 100 1000 10000
p' (kPa)

Figura 4.16 - Variação do índice de vazios para a condição NorSand Calibração.

101
1,00

0,95
CID-01 (400 kPa)
0,90
CID-02 (200 kPa)
0,85
e

CID-04 (100 kPa)

0,80 NorSand Final

0,75 LEC

0,70
10 100 1000 10000
p' (kPa)

Figura 4.17 - Variação do índice de vazios para a condição NorSand Final.

Com respeito à relação de deformações, observa-se boa proximidade entre a resposta


numérica “NorSand Calibração” e o comportamento experimental, de modo que o modelo
“NorSand Final” se distanciou ligeiramente de ambos os cenários comparativos. Tal
comportamento pode estar atrelado a ordem de grandeza dos diferentes valores do
parâmetro 𝐻 para os materiais na condição “fofa” (𝐻 = 30 e 𝐻 = 40) e aquele adotado
para o ensaio na condição densa (𝐻 = 400), o que impacta diretamente a função 𝐻 =
𝑓(𝛹) considerada nas modelagens. Adicionalmente, foi observado que a redução do
módulo cisalhante para a condição de 𝐺𝑟𝑒𝑓 = 10 𝑀𝑃𝑎 e manutenção dos valores de 𝐻 =
30 e 𝐻 = 40 resultaram na melhor calibração do modelo para os ensaios na condição
“fofa”, conforme apresentado na Figura 4.18.

Contudo, foi adotada a condição de 𝐺𝑟𝑒𝑓 = 50 𝑀𝑃𝑎 para as modelagens tendo em vista
o melhor cenário de calibração para a amostra na condição densa e a padronização do
referido parâmetro para os ensaios avaliados, conforme será ilustrado no Item 4.3.2.

Assim como observado no comportamento tensão-deformação e na relação de


deformações, os resultados obtidos para a variação do índice de vazios foram mais
aderentes para a condição dita de calibração do que para a condição dita final, de modo
que ambas se aproximaram do comportamento experimental dos ensaios.

102
1200 600 300
1100
1000 500 250
900
800 400 200
700

q (kPa)
q (kPa)

q (kPa)
600 300 150
500
400 200 100
300
200 100 50
100
0 0 0
0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30
εa (%) εa (%) εa (%)
CID-01 (400 kPa) NorSand Calibração CID-02 (200 kPa) NorSand Calibração CID-04 (100 kPa) NorSand Calibração

7 7 7

6 6 6

5 5 5

4 4 4
εv (%)

εv (%)
εv (%)

3 3 3
2 2 2
1 1 1
0 0 0
0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30
εa (%) εa (%) εa (%)
CID-01 (400 kPa) NorSand Calibração CID-02 (200 kPa) NorSand Calibração CID-04 (100 kPa) NorSand Calibração

(a) (b) (c)

Figura 4.18 - Avaliação de sensibilidade para calibração considerando 𝐺𝑟𝑒𝑓 = 10 𝑀𝑃𝑎 – Modelo NorSand condição “fofa”: (a) tensão de 400
kPa; (b) tensão de 200 kPa e (c) tensão de 100 kPa.

103
4.3.2. Ensaio CID-03 (Condição Densa)

Para o ensaio CID-03 os resultados são apresentados da Figura 4.19 à Figura 4.21. De
modo que, assim como o modelo Cam-Clay Modificado, a utilização do modelo NorSand
foi mais aderente que o Mohr-Coulomb, tendo em vista a consideração dos conceitos de
estado crítico.

900
800
700
600
q (kPa)

500 CID-03 (200 kPa)


400 NorSand Calibração
300 Norsand Final

200
100
0
0 5 10 15 20 25
εa (%)

Figura 4.19 - Tensão-deformação CID-03 (200 kPa) – Modelo NorSand.

-1

-2 CID-03 (200 kPa)


εv (%)

NorSand Calibração
-3
NorSand Final
-4

-5

-6
0 5 10 15 20 25
εa (%)

Figura 4.20 - Relação de deformações CID-03 (200 kPa) – Modelo NorSand.

104
1,00

0,95

0,90 CID-03 (200 kPa)


NorSand Calibração
0,85
e

NorSand Final
0,80 LEC

0,75

0,70
10 100 1000 10000
p' (kPa)

Figura 4.21 - Variação do índice de vazios CID-03 (200 kPa) – Modelo NorSand.

Para o ensaio CID-03, o resultado numérico de tensão-deformação foi consideravelmente


próximo ao experimental, sendo capaz de simular com propriedade a perda de resistência
a baixas deformações (comportamento frágil), bem como a variação da tensão desviadora
com a deformação axial ao longo de todo o ensaio (Figura 4.19). Adicionalmente, na
simulação com o modelo NorSand já se percebe um maior acoplamento das curvas
tensão-deformação pré-pico, o que resguarda uma maior aderência em termos de
comportamento frágil comparativamente ao resultado experimental.

Ao avaliar a relação de deformações, o modelo foi capaz de simular o comportamento


experimental até a tensão distorcional (𝑞) de pico, assim como observado por Silva et al.
(2022). Segundo os autores, essa divergência pode estar associada à formação de planos
preferenciais de cisalhamento durante a execução do ensaio (fenômeno de ocorrência
apenas em amostras muito densas), bem como às limitações das condições de contorno
definidas na modelagem, dada a complexidade em modelar a ocorrência desse fenômeno
em ensaios virtuais por meio da utilização do modelo NorSand.

Diante deste contexto, foi observado que os valores de deformação volumétrica são
majoritariamente influenciados pelo parâmetro de dilatância de estado (𝜒), de modo que
a diminuição do valor desse parâmetro resulta em deformações volumétricas mais
aderentes àquelas obtidas experimentalmente.

105
Com relação à variação do índice de vazios, o modelo foi capaz de simular com boa
precisão o comportamento experimental (Figura 4.21) e nota-se que a resposta numérica
forneceu a variação de modo a extrapolar o seu comportamento até o alcance da linha de
estados críticos. Além disso, diferentemente das modelagens dos ensaios na condição
“fofa”, não foram observadas diferenças de resposta para a condição de calibração e a
condição final.

A Figura 4.22 ilustra a avaliação de sensibilidade realizada a partir da variação do


parâmetro 𝜒, considerando o limite adotado até um valor de 𝜒 = 2, conforme limite
inferior dos valores sugeridos por Jefferies e Been (2016). Fica evidente que valores
elevados desse parâmetro acabam por condicionar um relevante desacoplamento das
deformações volumétricas pós-pico. Tal aspecto reforça a necessidade de se realizar
ensaios muito cuidadosos objetivando buscar maior assertividade na definição desse
parâmetro, visando alimentar esse e outros modelos constitutivos mais sofisticados. Uma
referência em termos de cuidados laboratoriais para tal parametrização pode ser obtida
em Viana da Fonseca et al. (2021).

0
0 5 10 15 20 25
-1
CID-03 (200 kPa)
-2 χ=2
εv (%)

-3 χ=3
χ=4
-4
χ = 5,822
-5

-6
εa (%)

Figura 4.22 - Avaliação de sensibilidade 𝜒 para relação de deformações - CID-03 (200


kPa) Modelo NorSand.

Tal qual foi realizado para as amostras na condição “fofa”, realizou-se a avaliação de
sensibilidade de 𝐺𝑟𝑒𝑓 = 10 𝑀𝑃𝑎, sendo observada a divergência da resposta tensão-
deformação e relação de deformações, conforme mostrado na Figura 4.23.

106
900
800
700
600
q (kPa)

500 CID-03 (200 kPa)


400
NorSand Calibração
300
200
100
0
0 5 10 15 20 25
εa (%)
(a)

0
0 5 10 15 20 25
-1
εv (%)

CID-03 (200 kPa)


-2

-3 NorSand Calibração

-4

-5

-6
εa (%)
(b)

Figura 4.23 - Avaliação de sensibilidade para calibração considerando 𝐺𝑟𝑒𝑓 = 10 𝑀𝑃𝑎


– Modelo NorSand condição densa: (a) Comportamento Tensão-Deformação e (b)
Relação entre deformações axiais e volumétricas.

4.4. RESPOSTA NÃO DRENADA – CAM-CLAY MODIFICADO E NORSAND

A fim de verificar a diferença entre os modelos de estaco crítico em termos de


comportamento não drenado para as amostras na condição “fofa”, foram tomadas as
calibrações dos ensaios CID-01, CID-02 e CID-04, tendo em vista a ausência de ensaios
experimentais submetidos a essa condição. A Figura 4.24 e Figura 4.25 ilustram a

107
resposta experimental não drenada para os modelos Cam-Clay Modificado e NorSand,
respectivamente. Destaca-se que o cenário base tomado para a verificação do modelo
NorSand foi aquele referenciado neste trabalho como “NorSand Final”.

300

250 CID-01 (400 kPa)


Cam-Clay Modificado
200 Não Drenado
q (kPa)

CID-02 (200 kPa)


150 Cam-Clay Modificado
Não Drenado
100
CID-04 (100 kPa)
50 Cam-Clay Modificado
Não Drenado
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura 4.24 - Tensão-deformação Modelo Cam-Clay Modificado – Não Drenado.

300

250 CID-01 (400 kPa)


NorSand Não
200 Drenado
q (kPa)

CID-02 (200 kPa)


150 NorSand Não
Drenado
100 CID-04 (100 kPa)
NorSand Não
50 Drenado

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura 4.25 - Tensão-deformação Modelo NorSand – Não Drenado.

A partir dos resultados observa-se considerável distinção entre os modelos em termos de


perda de resistência. Enquanto o modelo NorSand simulou a perda abrupta de resistência
a baixas deformações (comportamento frágil), característico do fenômeno de liquefação,
o modelo Cam-Clay Modificado forneceu resposta dúctil nas simulações, característico
de materiais argilosos normalmente adensados.

108
Em termos de deformações, observa-se baixos valores para os estágios iniciais de
cisalhamento não drenado do modelo Cam-Clay Modificado, caracterizando considerável
rigidez para a reposta numérica. Tal constatação pode estar eventualmente associada ao
baixo valor atribuído ao parâmetro 𝑘 (inclinação da linha de recompressão/expansão),
dada a natureza siltosa do material. Uma vez que o referido parâmetro descreve a resposta
elástica do modelo, à medida em que o seu valor aumenta (característico de materiais
argilosos) tem-se maiores deformações para os estágios iniciais de cisalhamento não
drenado e, consequentemente, diminuição da rigidez na resposta numérica. A Figura 4.26
ilustra a análise de sensibilidade para a resposta do modelo, considerando diferentes
valores do parâmetro 𝑘.

600

500

400
q (kPa)

k = 0,0045
300
k = 0,035
200 k = 0,07

100

0
0 5 10 15 20
εa (%)

Figura 4.26 – Análise de sensibilidade parâmetro 𝑘 – Modelo Cam-Clay Modificado


Não Drenado.

Apesar de observada similaridade na resposta dos modelos para os ensaios no estado


“fofo” sob condições drenadas (ver Item 4.2.1 e Item 4.3.1), estes se diferenciaram
fortemente quando verificado o comportamento dos mesmos ensaios sob a condição não
drenada. Dessa forma, nota-se que o modelo NorSand é capaz de capturar com maior
propriedade o comportamento típico do fenômeno de liquefação (amolecimento sob
condição não drenada), quando comparado ao modelo Cam-Clay Modificado.

109
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Este capítulo tem por objetivo apresentar as principais conclusões do estudo e sugestões
de pesquisas futuras. Inicialmente são apresentadas as considerações acerca da
caracterização do rejeito e da modelagem computacional realizada. Na sequência, é
discutido sobre o desempenho dos modelos constitutivos, bem como é definido o modelo
mais representativo do estudo. Por fim, são apresentadas as sugestões de pesquisas
futuras.

5.1. CARACTERIZAÇÃO DO REJEITO E MODELAGEM COMPUTACIONAL

Para a realização do estudo foram utilizados ensaios de caracterização física,


adensamento oedométrico e triaxiais CID realizados por Eloi (2021), executados no
Laboratório de Geotecnia (LabGeo) da Faculdade de Engenharia da Universidade do
Porto (FEUP).

Com distribuição granulométrica majoritariamente siltosa, a avaliação da resistência do


rejeito foi realizada a partir de três ensaios triaxiais CID com o material na condição
“fofa”, referenciados no trabalho como CID-01, CID-02 e CID-04. Adicionalmente foi
utilizado um ensaio triaxial CID com amostra na condição densa (CID-03), o qual se fez
necessário tendo em vista os parâmetros característicos do modelo NorSand. Destaca-se
que, dentre os quatro ensaios, apenas o CID-03 não alcançou claramente a condição de
estado crítico, o que pode estar atrelado à possível formação de planos preferenciais de
cisalhamento devido à condição densa do material durante o ensaio.

As modelagens numéricas foram realizadas pelo Método de Elementos Finitos (MEF) no


módulo SIGMA/W do programa GeoStudio 2021.3. Neste aspecto, cada ensaio triaxial
foi modelado a partir da simulação do comportamento dos corpos de prova reais durante
as fases de adensamento e cisalhamento do material. A malha de elementos finitos
utilizada foi do tipo quadrática com elementos no tamanho de 0,01 m, tendo em vista que
o maior grau de refinamento, a partir da utilização do tamanho de 0,001 m, não
resguardou maior nível de precisão, embora tenha incrementado o tempo de cálculo dado
o maior esforço computacional.

110
5.2. DESEMPENHO DOS MODELOS CONSTITUTIVOS AVALIADOS

Os resultados numéricos a partir da utilização do modelo constitutivo Mohr-Coulomb


confirmaram as suas limitações em termos de resposta perfeitamente plástica, não sendo
capazes de simular o comportamento dúctil/frágil do material em nenhum dos quatro
ensaios simulados computacionalmente.

O modelo constitutivo Cam-Clay Modificado apresentou resultados com maior aderência


ao comportamento experimental, quando comparado com o modelo Mohr-Coulomb. Tal
fato é caracterizado principalmente pela simulação do comportamento dúctil/frágil do
material, quando submetido ao cisalhamento. Com respeito à simulação do fenômeno de
dilatância para o ensaio CID-03, foi observada a necessidade da consideração da condição
de OCR = 6.

A utilização de OCR = 6 se deve ao fato de que o modelo utiliza o referido parâmetro


para simular o efeito de dilatância, assim como o modelo NorSand se baseia no parâmetro
de estado (𝛹) para a representação deste fenômeno. A limitação para a consideração do
alto valor de OCR está associada à condição de que o modelo melhor se aplica para
materiais argilosos normalmente adensados, os quais não se assemelham perfeitamente
ao material siltoso na condição densa utilizada no presente estudo.

Assim como o modelo Cam-Clay Modificado, a utilização do modelo NorSand foi mais
aderente que o modelo Mohr-Coulomb, tendo em vista a consideração dos conceitos de
estado crítico. Com respeito às modelagens, foram considerados dois cenários: i)
condição do parâmetro 𝐻 específico para cada ensaio, nomeada de “NorSand Calibração”
e ii) condição de 𝐻 em função de 𝛹, referenciada como “NorSand Final”.

Em termos de resposta numérica, assim como o modelo Cam-Clay Modificado, foi


possível a simulação do comportamento dúctil/frágil do material, de modo que os
resultados para a condição de calibração foram mais aderentes do que para a condição
final, em especial quando avaliada a relação de deformações das modelagens. Tal
observação pode estar associada à diferença na ordem de grandeza dos valores do
parâmetro 𝐻 para as condições “fofa” e densa, o que impacta na resposta do modelo ao
considerar o parâmetro 𝐻 como função do parâmetro de estado (𝛹). Adicionalmente, para
111
os materiais na condição “fofa”, foi observada melhor aderência na calibração ao tomar
𝐺𝑟𝑒𝑓 = 10 𝑀𝑃𝑎, enquanto para a condição densa a calibração foi possível apenas para
𝐺𝑟𝑒𝑓 = 50 𝑀𝑃𝑎, dada a diferença de rigidez dos materiais.

Para o ensaio CID-03 (condição densa), a modelagem resultou em deformações


consideravelmente superiores comparativamente ao ensaio experimental, o que pode estar
associado à formação de planos preferenciais de cisalhamento durante a execução do
ensaio, bem como às limitações das condições de contorno definidas na modelagem, dada
a complexidade em representar a ocorrência desse fenômeno por meio da utilização do
modelo NorSand. Neste sentido, foi observado que a convergência do modelo tende a
melhorar à medida que o parâmetro 𝜒 é reduzido, de modo que, dentre os parâmetros
considerados pelo NorSand, a sua alteração se mostrou mais significativa em termos de
resposta quanto à deformação volumétrica.

Destaca-se a dificuldade de utilização do parâmetro de dilatância de estado (𝜒), uma vez


que este foi definido a partir da utilização de apenas um ensaio triaxial, enquanto a
existência de maior quantidade de ensaios na condição densa pode fornecer melhorias na
calibração deste parâmetro. Adicionalmente, notou-se a necessidade de execução de
ensaios de laboratório que sejam mais precisos na determinação do coeficiente cisalhante
𝐺, uma vez que, esse parâmetro apresentou relevante influência na convergência durante
as modelagens.

5.3. MODELO CONSTITUTIVO MAIS REPRESENTATIVO

Foi observado que, para as amostras no estado “fofo” sob a condição drenada, os modelos
de estado crítico (Cam-Clay Modificado e NorSand) apresentaram resultados
aproximados e que a modelagem da condição densa ocorreu de forma distinta para cada
modelo: i) através da consideração de OCR = 6 para o Cam-Clay Modificado e ii) através
da utilização do parâmetro de estado para o NorSand.

Adicionalmente, para a simulação da condição não drenada, a qual foi realizada a partir
das calibrações obtidas sob a condição drenada, tendo em vista a ausência de ensaios
dessa natureza no estudo, foi verificada a capacidade do modelo NorSand em simular a

112
perda abrupta de resistência a baixas deformações (característico do fenômeno de
liquefação), diferentemente do modelo Cam-Clay Modificado. Tais constatações
evidenciam a melhor aplicação do modelo NorSand para o material em estudo (rejeito de
minério de ferro), dada a sua natureza siltosa, uma vez que o modelo Cam-Clay
Modificado é mais representativo do comportamento de materiais argilosos normalmente
adensados.

Em complemento, as respostas obtidas pelos modelos Cam-Clay Modificado e NorSand


ao se mostrarem com melhor aderência frente ao modelo Mohr-Coulomb, foram capazes
de ilustrar a importância da consideração dos conceitos da Mecânica dos Solos à Luz dos
Estados Críticos nos estudos tensão-deformação.

5.4. SUGESTÕES DE PESQUISAS FUTURAS

Para a continuidade deste estudo, sugere-se a avaliação do comportamento dos modelos


Cam-Clay Modificado e NorSand para ensaios submetidos a altas tensões acima de 400
kPa, nas condições drenadas e, em especial, não drenadas, tendo em vista a ausência de
ensaios sob essa condição para o presente estudo. Propõe-se essa abordagem de modo a
avaliar a resposta dos modelos frente à possibilidade de quebra de grãos dos materiais,
bem como à possibilidade de alteração da linha de estados críticos.

Adicionalmente, sugere-se a elaboração de estudos acerca da formação de planos


preferenciais de cisalhamento para amostras na condição densa, com a adoção de práticas
muito cuidadosas e implementos laboratoriais muito específicos (Viana da Fonseca et al.,
2021), dada a complexidade de modelagem do referido fenômeno e que ainda não são de
uso corrente nos Laboratórios de Geotecnia, notadamente no Brasil.

Por fim, após verificado o modelo mais aderente para a condição estudada, sugere-se a
sua aplicação em uma estrutura geotécnica real, de modo a considerar nas modelagens as
variações de nível freático e as condições de contorno e carregamento condicionadas por
tal estrutura, uma vez que os resultados obtidos para o presente trabalho levaram em
consideração apenas a modelagem específica de ensaios triaxiais.

113
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University Press, Cambridge.

116
APÊNDICES

APÊNDICE A – Gráficos Tensão-Deformação e Relação de Deformações Modelo


Numérico Mohr-Coulomb

1200
1100
1000
900
800
700 CID-01 (400 kPa)
q (kPa)

600
500 Modelo Numérico
400 Mohr-Coulomb
300
200
100
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura A.1 - Tensão-deformação CID-01 (400 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb.

4 CID-01 (400 kPa)


εv (%)

3 Modelo Numérico
Mohr-Coulomb
2

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura A.2 - Relação de deformações CID-01 (400 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb.

117
600

500

400
q (kPa)

300 CID-02 (200 kPa)

200 Modelo Numérico


Mohr-Coulomb
100

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura A.3 - Tensão-deformação CID-02 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb.

4
εv (%)

CID-02 (200 kPa)


3
Modelo Numérico
2 Mohr-Coulomb

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura A.4 - Relação de deformações CID-02 (200 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb.

118
300

250

200
CID-04 (100 kPa)
q (kPa)

150
Modelo Numérico
100 Mohr-Coulomb

50

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura A.5 - Tensão-deformação CID-04 (100 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb.

4
εv (%)

CID-04 (100 kPa)


3
Modelo Numérico
Mohr-Coulomb
2

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura A.6 - Relação de deformações CID-04 (100 kPa) – Modelo Mohr-Coulomb.

119
APÊNDICE B – Gráficos Tensão-Deformação e Relação de Deformações Modelo
Numérico Cam-Clay Modificado

1200
1100
1000
900
800
700 CID-01 (400 kPa)
q (kPa)

600
500
Modelo Numérico
400 Cam-Clay Modificado
300
200
100
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura B.1 - Tensão-deformação CID-01 (400 kPa) – Modelo Cam-Clay Modificado.

5
CID-01 (400 kPa)
4
εv (%)

3 Modelo Numérico
Cam-Clay Modificado
2

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura B.2 - Relação de deformações CID-01 (400 kPa) – Modelo Cam-Clay


Modificado.

120
600

500

400
CID-02 (200 kPa)
q (kPa)

300
Modelo Numérico
200 Cam-Clay Modificado

100

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura B.3 - Tensão-deformação CID-02 (200 kPa) – Modelo Cam-Clay Modificado.

4
εv (%)

CID-02 (200 kPa)


3
Modelo Numérico
2 Cam-Clay Modificado

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura B.4 - Relação de deformações CID-02 (200 kPa) – Modelo Cam-Clay


Modificado.

121
300

250

200
CID-04 (100 kPa)
q (kPa)

150
Modelo Numérico
100 Cam-Clay Modificado

50

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura B.5 - Tensão-deformação CID-04 (100 kPa) – Modelo Cam-Clay Modificado.

5
CID-04 (100 kPa)
4
εv (%)

3
Modelo Numérico
Cam-Clay Modificado
2

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura B.6 - Relação de deformações CID-04 (100 kPa) – Modelo Cam-Clay


Modificado.

122
APÊNDICE C – Gráficos Tensão-Deformação e Relação de Deformações Modelo
Numérico Norsand

1200
1100
1000
900
800
700
q (kPa)

CID-01 (400 kPa)


600
500 NorSand Calibração
400 NorSand Final
300
200
100
0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura C.1 - Tensão-deformação CID-01 (400 kPa) – Modelo NorSand.

4
εv (%)

CID-01 (400 kPa)


3 NorSand Calibração
NorSand Final
2

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura C.2 - Relação de deformações CID-01 (400 kPa) – Modelo NorSand.

123
600

500

400
q (kPa)

300 CID-02 (200 kPa)


NorSand Calibração
200 NorSand Final

100

0
0 5 10 15 20 25 30

εa (%)

Figura C.3 - Tensão-deformação CID-02 (200 kPa) – Modelo NorSand.

7,00

6,00

5,00

4,00 CID-02 (200 kPa)


εv (%)

3,00 NorSand Calibração


NorSand Final
2,00

1,00

0,00
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura C.4 - Relação de deformações CID-02 (200 kPa) – Modelo NorSand.

124
300

250

200
q (kPa)

CID-04 (100 kPa)


150
NorSand Calibração
100 NorSand Final

50

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura C.5 - Tensão-deformação CID-04 (100 kPa) – Modelo NorSand.

4
εv (%)

CID-04 (100 kPa)

3 NorSand Calibração
NorSand Final
2

0
0 5 10 15 20 25 30
εa (%)

Figura C.6 - Relação de deformações CID-04 (100 kPa) – Modelo NorSand.

125
DECLARAÇÃO

Eu, André de Oliveira Faria, declaro que esta dissertação intitulada AVALIAÇÃO
COMPARATIVA DE MODELOS CONSTITUTIVOS PARA UM REJEITO DE
MINÉRIO DE FERRO DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO é inteiramente e
exclusivamente de minha autoria e que, com exceção das citações diretas e indiretas
claramente indicadas e referenciadas nesse trabalho, e do uso autorizado de banco de
dados, seu texto, figuras, gráficos, quadros, tabelas, algoritmos e demais dados foram por
mim obtidos e, portanto, não contêm plágio.

A verificação de similaridade com arquivos encontrados na internet foi realizada segundo


o programa CopySpider Versão 2.1.1, não sendo encontrado nenhum arquivo com
similaridade acima de 3%.

Assinado de forma digital por


Assinatura: ANDRÉ DE ANDRÉ DE OLIVEIRA FARIA

OLIVEIRA FARIA Dados: 2023.01.16 17:05:53


-03'00'

Data: 19/11/2022

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