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CURIOSIDADES DA FÍSICA

José Maria Filardo Bassalo


www.bassalo.com.br

Newton e as Leis de Kepler.

Para mim, e, provavelmente, para alguns leitores, devido à interpretação equivocada de leituras
realizadas em alguns livros didá cos e de divulgação cien fica (inclusive os meus primeiros ar gos),
parecia um fato histórico inques onável que o sico e matemá co inglês Sir Isaac Newton (1642-1727)
havia demonstrado as Leis de Kepler usando um novo método matemá co, o método das fluxões
(hoje conhecido como Cálculo Diferencial), que ele próprio havia criado. Contudo, isso não é verdade,
conforme mostraremos neste verbete. Antes, faremos uma revisão histórica daquelas Leis.
Segundo vimos em verbetes desta série, entre 151-157 de nossa Era Cristã, o astrônomo
grego Cláudio Ptolomeu (85-165) retomou e sistema zou os modelos planetários geocêntricos, tais
como o das esferas homocêntricas, formulado pelos astrônomos gregos Eudoxo de Cnido (c.408-c.355)
e Calipo de Cízico (c.370-c.300), e o do epiciclo-deferente-excêntrico-equante que havia sido
desenvolvido pelos gregos, o matemá co Apolônio de Perga (c.261-c.190) e o astrônomo Hiparco de
Nicéia (c.190-c.120). Essa sistema zação foi apresentada por Ptolomeu em seu célebre Hè
Mathèma kè Syntaxis (A Compilação Matemá ca), para poder explicar o movimento dos planetas e
suas irregularidades. Essa obra, composta de 13 livros, foi traduzida por volta do Século 9, pelos
árabes, recebendo então o nome de Almagest, que é uma corruptela do nome hispano-árabe Al-
Magis (O Grande Tratado). [Cláudio Ptolomeu, Great Books of the Western World 15 (Encyclopaedia
Britannica, Inc./Chicago, 1993)].
O modelo geocêntrico de Ptolomeu permaneceu aceito por muitos séculos até ser
ques onado e rejeitado pelo padre e astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1453-1543) no famoso
livro De Revolu onibus Orbium Coeles um (Das Revoluções dos Corpos Celestes) [Great Books of the
Western World 15 (Encyclopaedia Britannica, Inc./Chicago, 1993)], publicado em 1543, no qual
consolidou o modelo heliocêntrico para o nosso sistema planetário, cuja primeira formulação fora
apresentada pelo astrônomo grego Aristarco de Samos (c.320-c.250).
O modelo heliocêntrico de Copérnico teve seguidores e opositores e, dentre estes, destaca-
se o astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601). Ao observar que os planetas giravam em torno
do Sol e, mais ainda, a não observação das paralaxes estelares, indicando este fato uma imobilidade da
Terra, Tycho Brahe formulou o seu próprio modelo, segundo o qual os planetas giravam em torno do
Sol, e este, juntamente com a Lua e o céu das estrelas fixas, giravam em torno da Terra imóvel. Apesar
dessa visão equivocada do sistema solar, Tycho Brahe deu grandes contribuições à Astronomia,
principalmente com as observações sobre as órbitas dos planetas, destacando-se as observações do
planeta Marte. [Carl Sagan, Cosmos (Francisco Alves, 1982)].
Dentre os seguidores de Copérnico, encontrava-se o astrônomo alemão Johannes Kepler
(1571-1630) que, ao aprender sobre o heliocentrismo copernicano de seu mestre, o astrônomo alemão
Michael Maestlin (1550-1631), procurou uma demonstração matemá ca para o mesmo, uma vez que
era um profundo conhecedor de toda a obra do grande matemá co grego Euclides de Alexandria (323-
285), reunida no famoso livro in tulado Elementos, no qual ele estudou a Geometria [Great Books of
the Western World 10 (Encyclopaedia Britannica, Inc./Chicago, 1993)].
Usando o modelo copernicano, com o Sol em seu centro, Kepler colocou nos espaços entre as
esferas que con nham os seis (6) planetas então conhecidos (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e
Saturno) os cinco (5) sólidos perfeitos platônicos (tetraedro, hexaedro, octaedro, dodecaedro e
icosaedro), cada um encaixado dentro do seguinte. Assim, dispondo os sólidos na ordem correta, os
diâmetros das esferas acabariam por apresentar quase as mesmas proporções que as órbitas dos
planetas. Esse primeiro modelo planetário de Kepler foi publicado no livro de nome Mysterium
Cosmographicum (Mistério Cosmográfico), editado em 1596

(Google Imagens)

Ao receber esse livro das mãos de Kepler, Tycho Brahe ficou impressionado com o seu
conteúdo matemá co, muito embora não concordasse com o modelo heliocêntrico ali apresentado.
Mesmo assim, convidou-o a trabalhar com ele em Praga, onde morava. Ao chegar nessa cidade, em
janeiro de 1600, Kepler recebeu de Tycho a tarefa de calcular a órbita de Marte. Ao analisar as
observações que Tycho fizera desse planeta, pensou que em pouco tempo encontraria a forma da
órbita marciana. No entanto, foram necessários anos de árduo trabalho para encontrá-la, conforme
veremos a seguir, e cujos detalhes podem ser encontrados, em vários textos, como, por exemplo:
Arthur Koestler, O Homem e o Universo (IBRASA, 1989); Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Kepler: A
Descoberta das Leis do Movimento Planetário (Odysseus, 2003); Stephen Hawking, Os Gênios da
Ciência: Sobre os Ombros de Gigantes (Elsevier/Campus, 2005); Marcelo Gleiser, A Harmonia do
Mundo (Companhia das Letras, 2006).
Em subs tuição a Tycho Brahe, que morreu subitamente em 24 de outubro de 1601, Kepler
conseguiu, em 1602, ser designado Matemá co Imperial de Rodolpho II (1552-1612), Rei da Hungria e
Boêmia e Imperador do Sacro Império Romano, com sede em Praga. Em vista disso, e com alguma
dificuldade, Kepler conseguiu dos herdeiros de Tycho os preciosos dados que este havia coletado sobre
o sistema planetário, primeiro no Observatório Uraniborg, na ilha de Haveen (hoje, Ven) na Dinamarca,
e depois em Praga. Uma primeira análise das observações tychobraheanas levou Kepler, logo em 1602,
a enunciar a hoje conhecida:

Lei das Áreas (1602): O raio vetor ligando um planeta ao Sol descreve áreas iguais em
tempos iguais.

Por outro lado, as observações da órbita de Marte realizadas por Tycho indicavam que
quanto mais afastado esse planeta se encontrava do Sol, mais lento era seu movimento e, portanto,
menor era sua velocidade, além de indicar, também, uma pequena excentricidade em sua órbita. Em
vista disso, Kepler tentou, inicialmente, uma série de combinações de círculos para a órbita marciana.
Porém, como encontrou uma diferença de oito minutos (8´) de arco e achando que seu mestre Tycho
não cometeria tal erro, passou a experimentar órbitas ovaladas, depois de considerar, sem êxito, que
cada esfera caracterís ca de um planeta era na realidade uma carapaça esférica de espessura suficiente
que pudesse explicar a excentricidade orbital. Depois de realizar setenta (70) tenta vas para ajustar os
dados de Brahe aos do modelo de Copérnico e do próprio Brahe, Kepler chegou finalmente à órbita
elíp ca. Registre-se que a ideia desse po de órbita já havia sido sugerida pelo astrônomo árabe-
espanhol Azarquiel (Al-Zarqãli) de Toledo (c.1029-1100), em 1081, para explicar a órbita de Mercúrio.
Assim, no livro in tulo Astronomia Nova, seu Physica Coeles s (Astronomia Nova ou Física Celeste),
publicado em 1609, além de enunciar a sua Lei das Áreas, de 1602, conforme vimos, Kepler enunciou,
também, a:
Lei das Órbitas (1609): Os planetas se deslocam em torno do Sol em órbitas elíp cas, tendo o
Sol como um dos focos.

Havendo descoberto as leis que regem os movimentos dos planetas, par u Kepler para
determinar a relação entre as distâncias e os períodos dos mesmos. Depois de realizar algumas
tenta vas relacionando potências das distâncias e dos períodos planetários, Kepler chegou finalmente à
sua terceira lei, apresentada no livro Harmonice Mundi (Harmonia do Mundo) [Great Books of the
Western World 15 (Encyclopaedia Britannica, Inc./Chicago, 1993)], publicado em 1619, e com o
seguinte enunciado:

Lei dos Períodos (1619): A relação entre o quadrado do período ( ) de revolução dos
planetas e o cubo de sua distância média ( ) ao Sol é uma constante: = Cte.

O úl mo trabalho de Kepler foi o livro Tabulae Rudolphinae (Tabelas Rodolfinas), editado em


1627, em homenagem ao seu an go protetor, o Imperador Rodolfo II, e dedicado à memória de Tycho
Brahe. Esse livro, que contém as observações de Tycho e do próprio Kepler sobre os movimentos
planetários, foi durante um século um clássico e, para a sua confecção, ele u lizou um novo método de
cálculo matemá co, os logaritmos (vide verbete nesta série), que havia sido inventado pelo
matemá co escocês John Napier (1550-1617), em 1614.
A par r de agora trataremos de Newton. Nascido no dia 25 de dezembro de 1642, em
Woolsthorpe, perto da aldeia de Colsterworth, cerca de 11 km ao sul de Grantham, em Lincolshire, na
Inglaterra, filho de uma pequena família de pequenos fazendeiros e órfão de pai aos dois meses de
idade, a Newton estava des nado seguir a profissão agrícola. No entanto, na Escola Real de Grantham
foi um garoto estranho, pois seu interesse maior era pelos instrumentos mecânicos por ele mesmo
construídos. O diretor dessa Escola e mais o seu o materno, o Reverendo William Ayscough, que era
membro do Trinity College, em Cambridge, convenceram sua mãe de que seu filho deveria cursar
aquela Universidade, aonde chegou em 05 de junho de 1661, obtendo aí o grau de Bacharel em Letras,
sem dis nção, em 1665. Contudo, quando se preparava para defender o Mestrado, teve que
abandonar por dois anos (1665-1666) Cambridge e voltar para Woolsthorpe, devido à peste bubônica
que então grassava em Londres. Foi durante esse período que Newton elaborou os fundamentos de
sua obra em Matemá ca, Óp ca e Astronomia. [Sobre mais detalhes da vida de Newton, ver: Richard S.
Wes all, A Vida de Isaac Newton (Nova Fronteira, 1995); David Berlinski, O Dom de Newton: como Sir
Isaac Newton desvendou o sistema do mundo (Globo, 2002); Eduardo de Campos Valadares, Newton:
a órbita da Terra em um copo d´água (Odysseus, 2003)].
Segundo sua própria afirmação (Wes all, op. cit.), Newton inventou os métodos direto e
indireto das fluxões, entre novembro de 1665 e maio de 1666. Muito embora essa nova técnica
matemá ca fosse o modo natural de lidar com grandezas variáveis, como as que ocorrem, por
exemplo, no caso das velocidades variáveis dos planetas, conforme indica a Lei das Áreas de Kepler,
Newton não usou aquela nova técnica para chegar à Lei da Gravitação Universal; ele usou,
basicamente, a Lei dos Períodos de Kepler, ainda segundo suas próprias palavras (Wes all, op. cit.): - ...
no mesmo ano (1666), comecei a pensar na gravidade como se estendendo até a órbita da Lua e
(depois de descobrir como calcular a força com que um globo girando dentro de uma esfera pressiona
a super cie da esfera) a par r da regra de Kepler de que os períodos dos planetas estão numa
proporção sesquiáltera com suas distâncias do centro de suas órbitas, deduzi que as forças que
mantêm os planetas em suas órbitas devem variar, reciprocamente, com o quadrado de sua distância
do centro em torno do qual eles giram: e a par r disso, comparei a força necessária para manter a Lua
em sua órbita com a força da gravidade na super cie da Terra, e descobri que elas se correspondem
bem de perto.
Esses primeiros cálculos realizados por Newton permi ram-lhe pensar na hipótese de uma lei
universal regendo o movimento dos planetas em torno do Sol. No entanto, havia muito trabalho a ser
realizado para que essa hipótese se transformasse em realidade. Com efeito, no começo da década de
1680 um grupo de sicos estava firmemente interessado no desenvolvimento das novas ciências
matemá co-experimentais; eles então se reuniam para relatar suas pesquisas e propor novos
problemas. Assim é que para esse grupo de sicos, os ingleses Jeremiah Horrocks (1619-1641), Robert
Hooke (1635-1703), Sir Christopher Wren (1632-1723) (o construtor da Catedral de São Paulo),
Edmund Halley (1656-1742) e o holandês Chris aan Huygens (1629-1695), dentre os problemas que
discu am, um deles era bastante intrigante: - Que po de força leva um planeta a descrever uma órbita
elíp ca em torno do Sol?
Apesar de Kepler haver sugerido que uma força do po magné ca (anima motrix) e
inversamente linear, emanada do Sol, era a responsável pelo movimento planetário, essa hipótese não
foi aceita pelos sicos referidos acima. Assim, numa reunião da Royal Society of London for the
Promo on of Natural Knowledge (criada em 1660), em janeiro de 1684, Halley chegou à conclusão de
que a força que atua sobre os planetas variava na razão inversa do quadrado da distância, porém não
foi capaz de deduzir dessa hipótese as Leis de Kepler, principalmente a Lei das Órbitas. Em fevereiro
de 1684 Halley, Sir Wren e Hooke se encontraram e concordaram com a tal hipótese. Hooke chegou a
afirmar, nessa ocasião, que já a havia considerado e que demonstrara com a mesma todas as leis do
movimento celeste. Em vista disso, Sir Wren ofereceu um prêmio para que Hooke, Halley ou qualquer
outro sico escrevesse um livro sobre tão interessante tema.
Como esse livro não foi escrito, em agosto de 1684, Halley resolveu ir até Cambridge e
consultar Newton. Ao perguntar-lhe sobre qual a curva descrita pelos planetas sob a ação de uma força
do po inverso do quadrado da distância, recebeu de Newton a resposta imediata de que a mesma era
uma elipse, pois já a havia demonstrado, porém não conseguiu, naquele momento, encontrar tal
demonstração, mas prometeu enviá-la depois para Halley.
Es mulado pela visita de Halley, Newton retomou os cálculos que fizera antes das órbitas dos
planetas há quase 20 anos. Assim, no outono de 1684, Newton apresentou uma série de conferências
na Universidade de Cambridge, nas quais foram abordadas suas ideias sobre o movimento dos corpos
em geral, sobre os conceitos de força, de massa, de tempo, bem como sua famosa Lei da Gravitação
Universal. Em novembro de 1684, Newton enviou para Halley um pequeno trabalho in tulado De
motu corporum in gyrum (Do movimento dos corpos em uma órbita), reunindo aquelas conferências e
cumprindo a promessa que lhe fizera em agosto desse mesmo ano. Nesse pequeno trabalho de nove
(9) páginas, Newton havia demonstrado que uma força inversamente proporcional ao quadrado da
distância implicava uma órbita cônica (elipse) para velocidades abaixo de certo limite (Wes all, op. cit.).
Incen vado por Halley, Newton começou a expandir o De motu e, por volta de novembro de
1685, transformou-o em um tratado em dois volumes, ao qual deu o nome de De motu corporum (Do
movimento dos corpos). Neste, há a demonstração de um resultado importante para sua Teoria da
Gravitação Universal, qual seja, a de que a ação de uma esfera homogênea sobre uma par cula
exterior é a mesma que seria se toda a massa dessa esfera es vesse concentrada em seu centro. Assim,
para Newton, todas as par culas da vasta Terra combinar-se-iam para atrair tanto a maçã situada a
alguns pés acima de sua super cie, quanto a Lua. É interessante destacar que, segundo a versão do
polí co inglês John Conduit (1688-1737), marido de Catherine Barton (1679-1740), sobrinha de
Newton, este teve a ideia da gravitação universal quando observou, em 1666, no pomar de sua casa em
Lincolshire, a queda de uma maçã. Dessa observação, ocorreu-lhe a hipótese de que o poder da
gravidade terrestre (que derrubara a maçã) não estava limitado a certa distância da Terra, mas deveria
estender-se muito mais além do que costuma considerar e, quem sabe, até a Lua (Wes all, op. cit.).
Contudo, esse tratado só se transformou no famoso Philosophiae Naturalis Principia
Mathema ca (Princípios Matemá cos da Filosofia Natural) [Great Books of the Western World 32
(Encyclopaedia Britannica, Inc./Chicago, 1993)], em 1687, depois que Newton estendeu o principio da
gravitação universal, inicialmente aplicado ao movimento da Lua, a todos os corpos celestes. O
Principia é cons tuído de três Livros. No Livro I (Nova Stella/EDUSP, 1990), e logo em seu começo, há a
formulação das famosas Leis de Newton: Lei da Inércia, Lei da Força e Lei da Ação e Reação. No Livro
II, há o estudo dos movimentos dos corpos em meios resistentes e o da teoria de ondas. Ainda nesse
Livro II, Newton demonstrou que, se os movimentos periódicos dos planetas se desenvolvessem nos
turbilhões (vór ces) de matéria fluida, segundo o modelo proposto pelo matemá co e lósofo francês
René du Perron Descartes (1596-1650), em 1644, esses movimentos não sa sfaziam as Leis de Kepler
(vide verbetes nesta série).
Por fim, no Livro III, Newton usou alguns resultados ob dos nos dois Livros anteriores,
principalmente a Lei da Gravitação Universal, para demonstrar a estrutura do sistema do mundo.
Assim, dentre as proposições demonstradas neste Livro III, destacam-se: a) a explicação do movimento
kepleriano dos satélites da Terra, de Júpiter e de Saturno; b) o cálculo da forma da Terra (achatada nos
polos e alongada no equador, exatamente o contrário previsto pelo modelo cartesiano); c) a explicação
do fenômeno das marés (ação gravitacional conjunta do Sol e da Lua sobre as águas dos oceanos); d) e
a precessão dos equinócios [observada pela primeira vez pelo astrônomo babilônio Kiddinu [floresceu
cerca (f.c.) 397 a. C.] como sendo devida à diferença entre a força de gravitação do Sol e da Lua agindo
no plano equatorial alongado da Terra (Principia, op. cit.).
Na conclusão deste verbete (cuja versão espanhola foi publicado em ContactoS 31, p. 33,
1999), vamos apresentar alguns comentários sobre as demonstrações geométricas realizadas por
Newton das Leis de Kepler. Na demonstração da Lei das Áreas, Newton considerou que o movimento
de um planeta em torno do Sol é o resultado de uma compe ção entre a tendência de o mesmo seguir
em linha reta, com movimento uniforme, como se nenhuma força atuasse sobre ele (de acordo com a
sua Lei da Inércia), e o movimento devido à força central de gravitação exercida pelo Sol. Desse modo,
usando alguns teoremas da geometria plana, principalmente os relacionados com semelhanças e áreas
de triângulos, chegou àquela demonstração. É oportuno observar que somente com a Lei da
Conservação do Momento Angular proposta pelo sico e matemá co suíço Leonhard Euler (1707-
1783), em 1776, se percebeu que a Lei das Áreas decorre imediatamente da conservação do momento
angular do planeta em sua órbita. Hoje, o momento angular ( ) de um corpo de massa (m) com uma
velocidade ( ) em torno de um ponto fixo, este caracterizado pelo vetor posição ( ), é definido por:
(vide verbete nesta série).
Por outro lado, a demonstração da Lei das Órbitas foi realizada por Newton em várias
etapas, usando algumas propriedades geométricas das secções cônicas. Inicialmente, demonstrou que,
quando um corpo se move em uma órbita elíp ca sob a ação de uma força centrípeta (definida por ele
no Principia) dirigida para o foco dessa cônica, essa força varia com o inverso do quadrado da
distância. A seguir, provou que, se o corpo considerado acima se move em uma hipérbole ou parábola
sob a ação de uma força centrípeta dirigida para o foco da cônica considerada, a mesma também varia
com o inverso do quadrado da distância. Por úl mo, demonstrou o teorema inverso, qual seja: se um
corpo se move sujeito a uma força centrípeta que varia com o inverso do quadrado da distância, a
trajetória do corpo tem que ser uma cônica: elipse, parábola ou hipérbole (lembrar que o círculo é uma
elipse degenerada). É importante destacar que a hipótese de que a força centrípeta variava com o
inverso do quadrado da distância, usada por Newton para demonstrar a Lei das Órbitas, conforme
vimos acima, foi-lhe sugerida ao observar que a Lei dos Períodos se ajustava muito bem ao caso
par cular das órbitas circulares.
No fecho deste verbete, é interessante concluí-lo dizendo que o sico norte-americano
Richard Philips Feynman (1918-1988; PNF, 1965), por não entender bem a demonstração da Lei das
Órbitas realizada por Newton e referida acima, preparou uma outra demonstração geométrica da
mesma, em 1964. Essa demonstração está magnificamente apresentada por David L. Goodstein e
Judith R. Goodstein no livro in tulado A Lição Esquecida de Feynman: o Movimento dos Planetas em
Torno do Sol (Gradiva, 1997). Este livro me foi indicado pelo sico brasileiro José Acacio de Barros, e um
exemplar do mesmo me foi ofertado pelo sico brasileiro Vítor Façanha Serra. A eles, meu eterno
agradecimento.

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