Rede Cordimariana de Educação
Unidade Educacional Coração Imaculado de Maria
(UNECIM)
O RACISMO NO BRASIL
Disciplinas: Filosofia e Sociologia
Professor: José Wilson Correa Garcia
Equipe: Letícia Queiroz Rodrigues, Samila Maria Lima de Oliveira, Sara
Maria Araújo Brito, Thaissa Rodrigues Gonçalves de Lima
Série: 2ª 1
Russas-CE
Introdução
O corpo social contemporâneo, mais especificamente o brasileiro,
encontra-se em um estado no qual as relações interpessoais são
extremamente permeadas por uma série de preconceitos que,
posteriormente, se convertem em ações concretas, manifestando-se através
da discriminação. Sendo assim, a máxima do referido fenômeno social
baseia-se em aspectos fenotípicos, principalmente no que concerne à cor da
pele, o que, por sinal, se constitui a partir de algo exacerbadamente antigo e
infundamentado: o famigerado racismo.
Ao longo de toda sua trajetória histórica, o Brasil foi maculado por
ideais hierarquizantes em termos raciais, tal qual nos é provado por
intermédio do seu processo de “formação” enquanto nação, o que se deu
forçosamente através da colonização portuguesa, acarretando o sofrimento
e morte de milhares de indivíduos cuja cor da pele era preta, por meio da
instituição e legitimação da escravidão em âmbito social.
Ademais, a vigência dessa estrutura de exploração e opressão
imposta socialmente perdurou durante séculos, atingindo seu ápice em
momentos específicos, tais como a relutância em relação à abolição da
escravatura, a negação de oportunidades aos pretos após a abolição,
culminando na incabível política de embranquecimento. Entretanto,
expondo uma contradição presente no contexto hodierno, ainda enfrentam-
se as consequências dos resquícios dessa situação.
Portanto, é indubitável a relevância de um trabalho como este nesse
contexto, à medida que a persistência do racismo até a contemporaneidade
é extraordinariamente inconcebível. Em vista dos fatos elencados, urge a
explicitação desse entrave que tanto prejudica a harmonia, coesão social,
almejando a conscientização de um maior contingente populacional e, por
conseguinte, a busca por mudanças efetivas no que se refere ao
comportamento individual e nas oportunidades oferecidas a essas pessoas
desamparadas pelo sistema social.
O racismo, preconceito oriundo de aspectos fenotípicos, que pode
converter-se em ações concretas por intermédio da discriminação e da
segregação, é exacerbadamente presente no contexto atual. Esse fenômeno
foi legitimado socialmente no Brasil, trazendo consigo os 300 anos de
escravidão, processo de exploração e opressão extrema, e, mesmo após a
abolição da escravatura, tardia, com a lei Áurea de 1.888, o referido deixou
resquícios que afetam até hoje a coletividade.
Um dos fatores que contribuíram para persistência do supracitado
imbróglio consiste no seu processo de “camuflação”, o que, por sua vez,
teve embasamento teórico, a título de exemplificação pode-se citar a obra
“Casa Grande e Senzala", de Gilberto Freyre, à medida que a partir dela
formulou-se o conceito de democracia racial, segundo o qual as “raças”
constituintes da nação brasileira convivem harmoniosamente, fato
excepcionalmente incondizente com a realidade, já que há um histórico de
sofrimento em relação a indivíduos pretos que, por sinal, ainda persistem.
Assim, é fulcral mencionar o que é enfrentado por parte de pessoas
não-brancas, frisando dois conceitos jurídicos importantíssimos que, muitas
vezes, são confundidos: a injúria racial e o crime racial. A injúria racial
consiste em ofender a dignidade ou a honra de alguém, valendo-se
geralmente de palavras depreciativas referentes à raça, cor, etnia, religião
ou origem. Já o crime racial implica na conduta discriminatória dirigida a
determinado grupo ou que atinge uma coletividade indeterminada de
indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça e, geralmente,
refere-se a crimes mais amplos. O crime relacionado ao racismo, enquadra
uma série de situações, a título de ilustração tem-se o ato de recusar ou
impedir o acesso a um estabelecimento comercial, à entradas sociais em
edifícios, elevadores e escadas, negar ou obstar emprego em empresa
privada, entre outros, de acordo com a lei 7.716/1989.
Ambos os comportamentos preconceituosos possuem condutas legais
previstas na legislação brasileira. Consta, no Código Penal, no artigo 140,
parágrafo 3º, que o crime de injúria racial tem prescrição de oito anos,
antes de transitar em julgamento até a sentença final. Já o crime de racismo
é imprescritível (pode ser denunciado a qualquer tempo,
independentemente da data em que o delito foi cometido) e inafiançável
(não se cogita o pagamento de fiança e consequente liberdade provisória do
envolvido no delito). Quanto às punições: no caso da injúria racial, pode se
estabelecer a pena de reclusão de um a três anos e multa, além da pena
correspondente à violência, para quem cometê-la; no crime racial, as penas
podem condenar o infrator a até cinco anos de reclusão, variando de acordo
com o tipo de delito, além de possíveis multas.
Ademais, tendo em vista esses conceitos, é de extrema relevância,
também, a diferenciação entre racismo institucional e o estrutural. O
primeiro refere-se a qualquer sistema de desigualdade que se baseia na raça
e que ocorre em instituições como órgãos públicos governamentais,
corporações empresariais privadas e universidades. Um exemplo de
manifestação desse tipo de racismo está relacionado às formas de
abordagem de policiais contra negros, que tendem a ser mais agressivas,
fato comprovado pelo jornal Folha de São Paulo, que revela os seguintes
dados: 48% dos negros dizem já ter sido revistados por policiais, contra
46% dos pardos e 34% dos brancos.
Já o segundo, correspondente ao racismo estrutural, explana um
conjunto de práticas, hábitos, situações e falas embutidas em nossos
costumes que promovem a discriminação racial. Essa forma de preconceito
tende a ser ainda mais perigosa por ser de difícil percepção, disfarçada por
meio de “piadas”, gestos e afins, como exemplo tem-se o caso do goleiro
Aranha, então jogador do time Santos, que, em 2014, foi chamado de
“macaco” por vários torcedores do Grêmio após o time sofrer derrota em
um jogo da Copa do Brasil.
Apesar de todo esse esclarecimento legal, sabe-se que o Estado é
extraordinariamente falho no que concerne à fiscalização em ambientes
públicos, denúncias, além, obviamente, da aplicação punitiva. Fato esse
que contribui imensuravelmente para a perpetuação do racismo.
Analisando dados que evidenciam a marginalização das vítimas de
racismo na sociedade, é possível notar que, segundo o Atlas da Violência
2018, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a população
negra é a que está mais exposta à violência no Brasil, representando 54%
da população brasileira, porém correspondendo a 71,5% das pessoas
assassinadas a cada ano no país. Além disso, uma pesquisa realizada pelo
Departamento Penitenciário Nacional (Depen) aponta que 65% da
população carcerária é composta por pretos e pardos.
Coerente a essas informações, o 13º Anuário da Violência,
compilado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em 2019, aponta
que mulheres classificadas como negras representam 61% das vítimas de
feminicídio e 50,9% das vítimas de estupro. Somando-se à esses dados, o
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), no mercado de trabalho,
revela que 68,6% dos cargos gerenciais eram ocupados por brancos, e
somente 29,9%, por pretos ou pardos.
Uma vez evidenciado o racismo, suas causas podem ser associadas,
principalmente, à longa escravização de povos de origem africana e a tardia
abolição da escravidão, concretizada irresponsavelmente, uma vez que não
se preocupou em inserir os ex-escravos, agora indivíduos autônomos, livres
na educação e no mercado de trabalho, resultando em um sistema de
marginalização que perdura até hoje. Os ex-escravos recém-libertos foram
habitar locais de difícil acessibilidade e com condições extremamente
precárias sem saneamento básico, os morros, na costa da Região Sudeste,
formando as favelas. Sem emprego, sem moradia digna e sem condições
básicas de sobrevivência, o fim do século XIX e a primeira metade do
século XX do Brasil foram marcados pela miséria e sua resultante violência
entre a população negra marginalizada.
O referido quadro deletério vem sendo retratado na arte e na
literatura brasileiras há séculos, como exemplo tem-se obra clássica “O
Cortiço”, enquadrada no naturalismo, trazendo um retrato cru da sociedade
da época, publicada em 1980 e escrita por Aluísio Azevedo. O livro contém
construções racistas, trazendo, por exemplo, duas personagens negras
altamente estereotipadas: Rita Baiana, que retrata a “mulata”
hipersexualizada, e Bertoleza, representando a mulher retinta, animalizada,
humilhada, que se expõe ao serviço e se esconde em um relacionamento. O
livro também retrata a hipocrisia dos que se diziam abolicionistas na época,
por meio do personagem João Romão, que enganou Bertoleza, vítima de
sua exploração, com uma falsa carta de alforria e que, no último capítulo,
deixou-a morrer por culpa do supracitado, enquanto ele recebia um
certificado de honorário do grupo de abolicionistas.
Conforme o exposto, percebe-se que os rótulos impostos aos negros
na literatura brasileira acarretam um desserviço a essa parcela da sociedade,
que já, por muito tempo, é tratada com descaso e desprezo. Além de
aparecer na literatura brasileira muito mais como tema do que como voz
autoral, a presença de personagens negros na literatura, quando há, dá-se,
na maioria das vezes, em papéis secundários de coadjuvantes ou de vilões.
Representantes negros no protagonismo não são muito encontrados e,
quando são, estão quase sempre presos a ambientes predeterminados.
Trata-se, indubitavelmente, de uma produção literária escrita
majoritariamente por autores brancos, em que o negro é objeto de uma
literatura reafirmadora de estigmas raciais.
Foi principalmente a partir da década de 1960, com o fortalecimento
dos movimentos sociais organizados por negros, que o cenário começou a
mudar e em busca de romper com essa centenária coletânea de preconceitos
e padrões veiculados pela literatura canônica brasileira, autores de diversas
etnias passaram a publicar suas próprias obras como instrumento de
subjetivação e determinação cultural. Figuras como Luiz Gama, advogado
e poeta romântico abolicionista do século XIX, ou Maria Firmina dos Reis,
primeira mulher a escrever um romance abolicionista no Brasil, são
frequentemente relegados ao esquecimento pelo cânone literário brasileiro,
mas retomados como precursores do movimento pela literatura negra.
Apesar da superação de diversas barreiras, até os dias de hoje, essas
obras literárias produzidas por pessoas não-brancas encontram desafios
para serem valorizadas e incorporadas ao cânone, sendo continuamente
relegada à marginalidade. Assim, há uma dificuldade cabal em desfazer
esses estereótipos e em veicular uma literatura comprometida com a
representação da população brasileira como um todo. A relação entre
literatura e realidade é evidente quando pesquisas como as da UnB revelam
que o perfil do escritor brasileiro permanece o mesmo desde 1965,
mantendo o privilégio de publicações das grandes casas editoriais a
homens.
Em vista dos fatos elencados, foi realizada, pelas integrantes do
presente trabalho, uma entrevista, parâmetro afirmativo de que o racismo
não é algo que se encontra distante da nossa realidade, já que os dados
obtidos são similares às pesquisas mostradas anteriormente, tendo visto que
a supracitada serve como reflexo das relações cotidianas, não só dos casos
mostrados nos noticiários.
Em sua opinião, o
Acredita que o
Conhece alguma que poderia
racismo é algo real Já foi vítima de
vítima ou algum contribuir para a
e presente em nossa racismo?
caso de racismo? superação do
sociedade?
racismo?
“Sim. Infelizmente,
ocorre diversas
vezes em nosso país,
não presenciei, mas
conheço casos
famosos que vi na
internet. Algo que
“Ampliar o sistema
acontece bastante é,
de cotas, incentivo
Entrevistado 1 em lojas caras,
às denúncias de
(estudante do clientes negros
“Claro.” “Não.” ações racistas,
ensino médio; serem confundidos
diminuir o uso de
branca) com assaltantes
vocabulários
pelos atendentes.
racistas.”
Concretamente,
ações como a de
policiais que deram
80 tiros em um carro
de uma família
negra sem motivo,
me entristecem.”
“Denúncias
frequentes nas
“Nunca presenciei,
Entrevistado 2 plataformas legais e
“Sim, acredito que mas conheço casos,
(estudante do sociais, além da
vivemos numa falsa “Não, nunca.” como o do
ensino médio; educação sobre o
democracia racial.” entregador do
parda) assunto em
Ifood.”
instituições
escolares.”
“Conheço. Os casos
são muitos. Teve
aquele do goleiro do
Santos que foi
chamado de macaco,
“Eu acho muito
termo
difícil que o
preconceituoso.
Entrevistado 3 preconceito acabe.
“Com certeza, só Além disso, o caso
(trabalhador “Não, graças a Porém as pessoas
não é racista Jesus e de George Floyd,
autônomo; Deus.” devem ter mais
Nossa Senhora.” que foi vítima de
pardo/negro) respeito com o outro
uma severa agressão
e não praticar ações
policial, foi bem
racistas.”
triste. Tinha um
conhecido meu que
era preto e
chamavam-no de
pato preto.”
“Ensinamento de
pautas progressistas
nas escolas, um
maior engajamento
das igrejas e dos
setores da sociedade
Entrevistado 4
“Sim, com certeza.” “Não.” “Sim.” civil no combate a
(advogado; pardo)
descriminalização e
políticas afirmativas
que
comprovadamente
reduzam a
desigualdade racial.”
“As pessoas devem
ter respeito pelos
“Sim, conheço outros e se
alguém que é conscientizarem de
Entrevistado 5 auxiliar de serviços que somos todos
(funcionária “Sim.” “Não.” gerais e sofreu iguais. O governo
pública; parda) humilhação no deve investir em
trabalho, por causa educação,
da cor da pele.” principalmente no
que diz respeito a
pautas raciais.”
Diante do que foi apresentado, é notório que o país ainda tem muito a
se fazer para que a propagação do racismo seja contida. Evidenciando pelos
dados, é perceptível o fato de que a população não-branca ainda sofre com
ações dos antepassados, o que traz sérias consequências. Ademais, pelas
entrevistas é possível conferir que atitudes racistas ocorrem no dia a dia e
são fáceis de serem abordadas. Estando imersa em um “mundo” de
preconceitos, o corpo social necessita urgentemente de uma tomada de
consciência para que a partir dela, possa-se, por uma perspectiva bem
otimista, extinguir o racismo.
Analogamente ao conceito de esclarecimento do filósofo Immanuel
Kant, saída do homem de sua menoridade intelectual, da qual ele próprio é
culpado, tendo como menoridade a incapacidade de fazer uso de seu
entendimento sem a influência de outro indivíduo, nota-se que, na realidade
atual, o ser humano nem sempre apresenta clareza, agindo irracionalmente.
Paralelo ao plano do racismo, muitos cidadãos são motivados a
expressarem ideias e ações preconceituosas, oriundas de seus familiares,
mostrando assim o quanto esse hábito está enraizado, à medida que adotam
uma postura de superioridade e exercem-na, sem nem questionar o porquê
dela.
Portanto, passar dessa fase de menoridade para a de esclarecimento é
de suma importância para evitar atitudes discriminatórias, sendo somente
possível alcançá-la, de acordo com o filósofo, pela autonomia, coragem e
busca da razão, que são pontos fundamentais para o conhecimento. Por
isso, buscar, pesquisar e ler sobre o assunto tem papel fundamental no
combate ao preconceito racial, então, é preciso ousar saber.
Conclusão
Em vista dos fatos elencados anteriormente, é notório a importância
do presente trabalho, uma vez que apresentado dados concretos e precisos
sobre o racismo, torna-se irrefutável a presença do referido entrave em
âmbito social, o que por sua vez se constitui como algo de fundamental
importância, à medida que muitos indivíduos ainda negam sua existência.
Portanto, é fundamental que esse óbice seja explicitado o mais
amplamente possível, almejando atingir um maior contingente
populacional. Destarte, a coletividade poderá unir-se cada vez mais em prol
da luta contra o racismo e assim instituir na prática e não somente na teoria,
a igualdade legal e respeito a todos os indivíduos, independentemente de
aspectos de qualquer ordem, inclusive e principalmente, biológicos, tais
como a cor da pele.
Fontes
http://www.revistacapitolina.com.br/nada-e-por-acaso-o-racismo-nos-
classicos-da-literatura-brasileira/
https://www.cnj.jus.br/conheca-a-diferenca-entre-racismo-e-injuria-racial/
https://m.brasilescola.uol.com.br/amp/literatura/a-representacao-negro-na-
literatura-brasileira.htm
https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/racismo.htm
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff060402.htm
https://observatorio3setor.org.br/noticias/racismo-mata-71-das-pessoas-
assassinadas-no-brasil-sao-negras/
https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/racismo-no-brasil.htm
Obra literária “O Cortiço”, de Aluísio de Azevedo
Relatório
Introdução e Conclusão: Letícia Queiroz Rodrigues
Pesquisa: Samila Maria Lima de Oliveira, Sara Maria Araújo Brito e
Thaissa Rodrigues Gonçalves de Lima
Desenvolvimento: Samila Maria Lima de Oliveira e Thaissa Rodrigues
Gonçalves de Lima
Referência e reflexão kantiana: Sara Maria Araújo Brito
Formatação e estruturação do texto: Letícia Queiroz Rodrigues, Samila
Maria Lima de Oliveira e Thaissa Rodrigues Gonçalves de Lima
Entrevista: Letícia Queiroz Rodrigues, Samila Maria Lima de Oliveira,
Sara Maria Araújo Brito e Thaissa Rodrigues Gonçalves de Lima
Organização das fontes: Sara Maria Araújo Brito
Relatório: Samila Maria Lima de Oliveira e Thaissa Rodrigues Gonçalves
de Lima