0% acharam este documento útil (0 voto)
406 visualizações80 páginas

4 Câncer - A Rainha Do Zodíaco - Gemma James

Enviado por

solange
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
406 visualizações80 páginas

4 Câncer - A Rainha Do Zodíaco - Gemma James

Enviado por

solange
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 80

Título Original: Cancer

Copyright © 2020 por Gemma James


Copyright da tradução © 2021 por Editora Bookmarks.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada
ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito
dos editores.

Tradução e diagramação de e-book: Andreia Barboza


Copidesque: Mariana Dias
Revisão final e capa: Luizyana Poletto
Imagem de capa: @ chrishall / Depositphotos

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua


Portuguesa.
Sinopse:
Doze homens. Uma rainha virgem. Um casamento arranjado.

Três colheres.
Dois homens.
Uma escolha.
Isso é o que me espera na Casa de Câncer. O presente de Vance Morgan
é inesperado: uma noite com qualquer membro da Irmandade que eu escolher.
Meu coração me dá duas opções.
Meu corpo quer o leão.
Mas minha mente quer a verdade.
E aquelas três colheres que mencionei? Elas contêm um elixir que reduz
as inibições. Com meu julgamento prejudicado, erros podem ser cometidos.
Espero que um deles não seja confiar no homem errado.
Índice
Playlist
Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Leia também
Playlist
1. “Compass” — Zella Day
2. “Meet Me in the Woods” — Lord Huron
3. “Deep End” — Ruelle
4. “Underneath It All” — Jung Youth
5. “Foolish Games” — Jewel
6. “Walk Through the Fire” — Klergy
7. “Prisoner” — Raphael Lake
8. “Can’t Take My Eyes Off You” — Cary Brothers
9. “Principles of Lust” — Enigma
10. “I Am the Fire” — Ghost Monroe
11. “Shadow Man” — Ghost Monroe
12. “Run Baby Run” — The Rigs
13. “The Hunted” — The Rigs
Um
21 de junho

DESINTERESSADA, AFASTADA DE SI MESMA, separada da


existência. Nunca entendi totalmente como eram esses sentimentos até agora.
A atividade vibra ao meu redor enquanto estou sentada com a Irmandade do
Zodíaco na grande mesa circular. O lustre espalhafatoso brilha acima de nós,
proporcionando uma iluminação ambiente. Os empregados tiram as bandejas
de aperitivo e as substituem pelo próximo prato gourmet, garfos arranham a
porcelana fina e as taças de vinho chegam aos lábios dolorosamente belos.
Cada homem presente nesta farsa de jantar de boas-vindas é bonito.
Alguns são régios, outros discretos ou malandramente sensuais. Não é justo
ver o quanto o sadismo e a corrupção contaminam tal beleza. E é injusto que
nenhum deles pareça notar como estou aqui apenas no sentido físico
enquanto minha mente está presa em uma névoa suave que escurece nas
bordas. O prato na minha frente fica borrado. As vozes, enfraquecem. Os
últimos três meses lampejam em minha consciência, e vejo as memórias
como cenas de um filme.
Minha primeira experiência de joelhos para o Chanceler. O jogo de
xadrez e a maneira como ele me fez implorar depois que perdi. O calor em
seus olhos quando me levou ao orgasmo pela primeira vez. A tristeza
naquelas lindas profundezas castanhas quando tivemos que dizer adeus.
Não quero pensar no que vem a seguir, mas as memórias me dominam
antes que eu possa afastá-las. Sr. Bordeaux e suas regras. Minha amizade
inesperada com Loren. As punições degradantes.
Meus cílios estremecem, dispersando as lembranças e me trazendo de
volta ao aqui e agora. Não há dúvida de que esses meses me mudaram,
destruindo o véu de inocência que protegia a menina imatura que eu
costumava ser. Sobreviver a um destino desses, que transverte a alma, deveria
ter me preparado para qualquer coisa.
Não preparou.
Porque meu tempo na Casa de Gêmeos não destruiu apenas a mim, mas
também a base de toda a minha vida. E ainda estou tentando recolher os
cacos, apesar de ser outro mês e de estarmos em outro signo do zodíaco.
Em outro jantar.
Os homens da Irmandade parecem inalterados. Por fora, eu também,
mas minhas entranhas estão embrulhadas, e minha confiança, se
transformando conforme a verdade que descobri há três dias rompe as
barreiras da falsidade.
Liam está sentado na cadeira de sempre, o primeiro signo do zodíaco. O
carneiro é rígido em seu papel de líder, a responsabilidade e a obrigação
combinam com ele, bem como os ternos caros cor de carvão que prefere. Há
um calor familiar em seus olhos, oferecendo conforto e segurança, mas meu
coração não responde com a dança que a presença dele geralmente inspira.
O imperturbável Heath Bordeaux ocupa o espaço ao lado do Chanceler.
Se alguém deste lado da mesa permaneceu o mesmo nas últimas semanas, é o
negociador de pedras preciosas.
Meu olhar vagueia para Landon Astor, o homem que ainda tenho
dificuldade em considerar como meu irmão. Elise está sentada ao seu lado,
com um diamante na mão esquerda. A pedra não é tão grande quanto a que
está no meu dedo, mas conhecendo Elise do jeito que conheço, meu irmão
escolheu o gesto perfeito para demonstrar seu amor.
Com canto do olho, vejo a expressão de expectativa do dr. Vance
Morgan em mim e forço minha atenção nas palavras que saem de seus lábios
finos.
— O cordeiro não está do seu agrado, minha rainha? — Ele indica, com
a cabeça, o prato de comida intocado na minha frente. — O chef pode trazer
outra coisa se você quiser.
— Não, tudo bem. — Ofereço a ele um sorriso apreensivo antes de dar
uma garfada.
Minhas papilas gustativas não são o problema. O aviso que Landon me
deu há três dias é. Ele acredita que o pai de Liam esteve por trás do acidente
de avião que matou meus pais e, como se isso não fosse ruim o bastante, ele
acha que os Castle me querem morta depois que o leilão terminar.
O aviso não para de girar na minha cabeça, ricocheteando nas paredes da
minha mente com um eco sinistro. Levanto o queixo e encontro os olhos
castanhos de Liam em mim mais uma vez, mas tenho um acesso de
consciência e me lembro de que não posso mais confiar nesse homem.
E mesmo que eu não tivesse dúvidas sobre o Chanceler, Landon ordenou
que eu ficasse longe dele, aconteça o que acontecer.
Mas não sei se posso deixar essa questão de lado.
O resto do jantar se resume em uma conversa tranquila. Elise responde
às perguntas de Liam sobre o casamento no próximo mês. Quando ela
menciona que estou desenhando seu vestido, o olhar do Chanceler se volta
para mim outra vez. Ele olha em minha direção sempre que tem
oportunidade, como se pudesse sentir a batalha interna dentro do meu
coração.
Tento imaginá-lo conspirando para tirar tudo de mim, proclamando seu
afeto e proteção em um momento e planejando minha ruína no próximo. Não
importa que haja verdade na confissão do meu irmão, ou certeza nas palavras
do meu pai, escritas à próprio punho uma semana antes de morrer. O âmago
do meu ser não acredita que Liam seja capaz de conspirar para me matar com
o intuito de que meu tio possa assumir o trono.
Não consigo imaginar um mundo em que Liam Castle me queira morta.
Engolindo em seco, desvio o olhar e vejo a reprovação no rosto de Landon,
acompanhada por um balançar quase imperceptível de sua cabeça.
Deixe isso para lá, ele está dizendo. Esqueça o Liam.
Vance pigarreia, ganhando a atenção de todos na mesa.
— Antes de passarmos para a sobremesa, gostaria de dar à rainha o meu
presente. — Ele sinaliza para uma mulher que entra na sala no momento em
que o prato principal termina. Quando ela se aproxima, me lembro que esteve
presente no exame médico, há três meses.
Ela sorri e coloca uma bandeja na minha frente. Retribuo com um breve
sorriso, porque ela foi gentil ao segurar minha mão durante o exame. Essa
estranha enfrentou a violação ao meu lado, se certificando de que eu não
estivesse sozinha, uma vez que a Irmandade não havia permitido a presença
de minhas damas.
A assistente de Vance desaparece tão rápido quanto chegou, deixando
para trás uma oferta estranha: uma colher de chá de prata e uma garrafinha de
vidro fosco.
Arqueio a sobrancelha para Vance.
— O que é isso?
Em vez de responder, ele pega a colher, curvando os lábios em um
sorriso malicioso, e a entrega para mim.
— Tome três colheres e descubra.
— E se eu não tomar?
— Se não o fizer, perderá a oportunidade de escolher a atenção de
qualquer homem nesta mesa pelo resto da noite. — Ele se inclina para mais
perto e baixa a voz, embora eu tenha certeza de que todos o escutam. — E a
melhor parte? — Outra pausa, outro sorriso. — O escolhido não terá controle
sobre você.
Sinto as palavras do médico no baixo ventre, em triunfo. Pela primeira
vez desde que me sentei, sinto leão se mexer à minha esquerda. Cada
movimento de sua perna rouba meu foco, sendo que há trinta segundos, eu
poderia tê-lo ignorado por completo.
Eu estava orgulhosa da minha indiferença fingida com relação a
Sebastian Stone.
Mas agora estou dolorosamente ciente de sua proximidade, algo que não
fez durante todo o jantar. Por outro lado, quanto mais me movo na direção de
Sebastian, mais a distância de Liam aumenta. Odeio não poder confiar no
Chanceler e odeio que a carta do meu pai me tenha feito duvidar do primeiro
homem que me fez sentir segura nesta torre.
Olho a colher balançando na minha frente e meu coração se aperta com a
constatação. É uma oferta preciosa, o sonho de passar uma noite sem estar
sob o controle de um homem. Que conceito inesperado.
Se eu pudesse ao menos acreditar que era verdade... porque tomar o que
esteja dentro da garrafa não é um pedido. O presente do médico é uma
exigência, tanto quanto o pedido de Liam para que eu me provasse ficando de
joelhos. É uma ordem, assim como a de Landon me dizendo para ficar longe
do Chanceler.
Minha vida se tornou uma série de ordens disfarçadas de escolhas.
Quando pego a colher, Elise inspira, com os olhos azuis arregalados em
alarme. Posso dizer que está nervosa. Se a dinâmica fosse outra, ela me
imploraria para não ceder.
Mas tudo continua igual. Nós duas estamos em solo estrangeiro, presas
pelo dever a uma sociedade que nos vê como criaturas subservientes. Antes
que eu possa questionar a sabedoria do que estou fazendo, despejo o líquido,
com a consistência de um xarope, e o vejo encher a colher.
Não sinto gosto de nada, bem como nas próximas duas doses. Coloco a
colher de volta na bandeja ao lado da garrafa. Expectativa corta o ar. Se eu
não soubesse, acharia que todos estavam prendendo a respiração.
O momento se quebra quando os criados aparecem com fatias de
cheesecake enfeitadas com frutas vermelhas. As conversas são retomadas
enquanto garfos raspam os pratos de sobremesa. Mãos firmes reabastecem as
taças de vinho. Chego na metade da sobremesa quando uma sensação
estranha me atinja.
Um calor intenso irradia do meu ventre, se espalhando pelas pernas e
por todo o caminho até os dedos dos pés, que se curvam. Pressiono as coxas,
mas a sensação fica cada vez mais quente até se tornar um pulsar persistente
em meu núcleo. Engolindo um gemido, levo a palma da mão à bochecha
esquerda, surpresa ao descobrir que está fria.
Vance coloca a mão no meu joelho, uma carícia quente através da seda
azul royal, e o puxa com suavidade até que minhas coxas se separem alguns
centímetros.
— O que você está fazendo? — Minha voz falha, e sinto a humilhação
cobrir meu rosto enquanto olho para os homens ao redor da mesa. Ninguém
está prestando atenção em mim... até eu encontrar os olhos conhecedores de
Sebastian. Um sorriso contamina sua expressão, e tento juntar as pernas em
resposta.
Vance traz meu olhar de volta para si, apertando meu joelho com força.
— Não lute contra. — Ele se inclina para perto. Sua boca aquece minha
orelha, e eu estremeço. — A pulsação entre suas pernas não vai a lugar
nenhum nas próximas horas.
Umedeço os lábios e um suspiro escapa.
— O que você me deu?
— Um elixir estimulante. — Seus lábios formam um sorriso secreto. —
Mas que também tem o potencial de frustrar.
— Como assim? — murmuro, de repente ciente do perfume com infusão
de frutas cítricas que exala do médico. Sua colônia provoca meus sentidos, e
não só ouço Sebastian se mover de novo, mas imagino sua calça jeans se
esfregando contra a almofada do assento.
Quero ser essa almofada.
— Uma colher excita uma mulher, duas a fazem implorar e três resultam
nas duas coisas, ao mesmo tempo que causa um curioso efeito colateral.
Silêncio.
Ele circula a mesa, amplificando a batida estrondosa do meu coração, e
sinto todos os olhares sobre mim, pesados como os tijolos dispostos na
passarela dos penhascos. Minhas bochechas coram de vergonha.
— Que efeito colateral? — pergunto, atraída pelo brilho acobreado no
cabelo de Liam enquanto o peso de seu olhar, do outro lado da mesa, me
prende no lugar.
Vance vira meu rosto até que estejamos cara a cara novamente. Os seus
olhos não são verdes ou azuis, nem mesmo castanhos. São de um cinza
profundo com tons de avelã. De longe, esses olhos não assustam nem
chamam a atenção, mas de perto, abalam qualquer um.
— Já ouviu falar do termo anorgasmia? — ele pergunta.
Balanço a cabeça, e Vance se aproxima ainda mais.
— É o termo médico para quando alguém não consegue atingir o
orgasmo. — Ele acena com a cabeça em direção ao elixir que me deu, ainda
posicionado de forma inofensiva na mesa. — Uma mistura bastante perversa.
Três colheres de chá causam uma excitação intensa, deixando a pessoa
incapaz de atingir o clímax.
— Fiz algo para irritá-lo, dr. Morgan?
— É Vance. — Ele se encosta na cadeira. — E não, não fez. Eu
simplesmente gosto de fazer você se contorcer.
E é então que percebo que subestimei o médico, acreditando que ele era
um dos poucos homens de bom coração nesta torre: gentil nos maneirismos e
atencioso no sentido profissional. Baixei a guarda e agora, estou pagando por
isso.
Quero juntá-las, para manter a intensidade do calor pulsante dentro de
mim, mas minha calcinha está inegavelmente molhada. É tarde demais,
porque seja lá o que ele me deu está correndo no meu sangue, causando
estragos ao meu orgulho. E cada alhar aqui é uma testemunha da minha
humilhação.
— Pode me dar licença?
— Termine sua sobremesa — Vance fala enquanto passa os dedos sobre
meu vestido e alcança a pele da minha coxa. Engulo um gemido desesperado.
— Por favor — murmuro, arfando.
Seu olhar cai sobre meu decote.
— Seja a boa menina que sei que você pode ser. — Ele aponta com a
cabeça para o cheesecake na metade. — Depois, vai receber sua recompensa.
Minha recompensa...
Meus olhos colidem com os de Liam, mas a energia sexual que emana
de Sebastian me deixa ofegante. Sua presença me acaricia como um toque de
fogo, tão real quanto a mão que sobe pela minha coxa. Com uma lentidão
agonizante, levo um pedaço de sobremesa à boca e forço o olhar para cima do
leão.
É quando Vance enfia um dedo pela borda de renda da calcinha. Minha
boca se fecha ao redor da colher, abafando um gemido, mas ainda assim...
Sebastian ouve, percebe e sente. Aqueles olhos azuis se arregalam um
pouco e suas narinas dilatam. O movimento de seu peito acelera.
No mês passado, ele me teve sob seu comando, livre para fazer o que
quisesse, e se conteve, especialmente na noite do baile de caridade. Eu me
arrisquei e fui ao seu andar, querendo uma dança.
Querendo que ele me desejasse.
Mas ele quis Lilith Astor ao invés de mim.
O nome dela deixa uma mancha desagradável na minha mente. Engulo o
resto do cheesecake, e Vance tira a mão do meio das minhas pernas e a traz
para minha boca, passando o dedo por meu lábio. O gosto da minha excitação
é inebriante, uma amostra da luxúria proibida que anseio experimentar nos
lábios de dois homens sentados à esta mesa.
— Quem vai ser, minha rainha? — Vance empurra o dedo em minha
boca antes de puxá-lo para fora outra vez. — Por quem você está molhada?
Dou a ele a resposta mais diplomática que posso.
— Por todos vocês, considerando a poção que você me deu. — É quase
uma mentira, exceto pela parte do elixir. No instante em que o líquido invadiu
minhas veias, meu corpo pegou fogo com a excitação.
Contra a qual eu não posso lutar.
Saber que Sebastian está sentado à minha esquerda só intensifica a
sensação e nem a possibilidade de traição do Chanceler extingue o que sinto.
— Você não pode ter todos essa noite. Só pode escolher um.
Olho ao redor da mesa sem pressa, observando cada homem, mas
especialmente Sebastian. Seu olhar ousado me provoca.
Me escolha, ele desafia com triunfo presunçoso, como se acreditasse que
a escolha estivesse feita. Meu irmão inclina a cabeça, me dizendo a mesma
coisa em silêncio. O leão e sua suposta rede de proteção são a única opção.
Talvez seja a exigência implacável em suas expressões, ou a maneira
como todos nesta torre acreditam ser direito de cada um me controlar, mas
quando meus olhos encontram os de Liam, e ele os desvia com um brilho de
decepção dolorosa, sei o que devo fazer.
Porque, acima de tudo, preciso descobrir se posso confiar nele.
— Eu escolho o Chanceler.
Dois
DEPOIS DO JANTAR, A sala fica vazia de repente, a maioria dos
homens quietos e reservados ao saírem um por um. Sebastian é o primeiro a
ir, e embora não diga palavra alguma, não é necessário. A cadência de sua
saída fala por ele e seus passos pesados e raivosos ecoam em meus ouvidos.
Ele desaparece no corredor e a promessa de seu ciúme irado flutua no ar, se
agarrando à minha pele como o suor do desejo.
O Chanceler se demora perto das portas abertas e sua presença me atrai
para si. Vance me entrega para ele.
— Ela é toda sua hoje à noite.
O sorriso de Liam é tão genuíno que um fio de culpa se infiltra pelas
rachaduras da minha armadura. Ele não sabe dos meus motivos ocultos e
acredita que o escolhi porque o queria. Pego sua mão estendida, afasto a
culpa e forço minha expressão a se transformar em uma máscara de
normalidade enquanto ele me conduz para o corredor.
Nesse momento, Landon nos puxa de lado com seu foco no Chanceler.
— Posso ter alguns momentos com a Novalee? É sobre o casamento —
meu irmão explica.
— Você precisa pedir a ela. — Liam solta minha mão. — Esta noite, o
poder está em suas mãos. — Algo faz sua boca estremecer. Diversão?
Relutância? Não consigo saber, e isso me deixa ainda mais determinada a
chegar ao cerne da alma deste homem.
— Você se importaria de me esperar na biblioteca? — pergunto ao
Chanceler.
Liam arqueia uma sobrancelha.
— Na biblioteca?
— Sim.
— Ficaríamos mais confortáveis na cobertura.
— A biblioteca vai servir. — Levanto o queixo, fingindo uma
demonstração de assertividade da qual não estou acostumada, mas não tenho
intenção de começar a noite em sua cobertura. Pelos ângulos severos do rosto
do meu irmão, sei que ele vai explodir se eu seguir Liam para seu domínio. A
biblioteca é perigosa o suficiente com seu clima masculino. O espaço guarda
memórias dos tempos que passei com ele.
— Muito bem então. — Liam endurece a mandíbula como se quisesse
protestar, mas puxando a lapela com resignação, se contém. Ele se vira e
segue pelo corredor com passos largos e confiantes. Assim que desaparece,
Landon me segura pelo braço.
— O que você pensa que está fazendo? — ele pergunta em voz baixa e
seus olhos ganham um tom de esmeralda.
— Vance me disse para escolher, e eu aprendi que é melhor seguir as
ordens do homem que me controla durante o mês.
— Você está proibida de passar um tempo com o Chanceler.
— Sorte a minha — digo, puxando o braço — que estamos no mês de
câncer.
— Esse jogo é perigoso. — Seus lábios se comprimem em uma linha
severa. — Posso puni-la por sua desobediência.
— O Vance pode me punir, mas qual será a sua razão para pedir que o
faça? — Dou um passo à frente e me aproximo, me recusando a ceder, apesar
de seu exterior indignado. — Nós dois sabemos que você não vai contar a
verdade a ele.
— Qual é o seu plano? Você ainda está sob a influência do elixir. — Ele
olha para o corredor como se esperasse encontrar Liam nos observando. —
Não pense que o Chanceler não vai tirar vantagem de você agora que está
mais vulnerável.
— Sei cuidar de mim mesma. Mas não consigo lidar com a incerteza.
Preciso ver com meus próprios se o Liam quer me machucar.
— Sim, alguém nessa torre quer mesmo te machucar! — Com um
suspiro, ele abaixa a voz. — Tudo que sei é que não sou eu, nem o Sebastian.
— Resta dez outras casas, então por que seria o Castle?
— Além da carta que o seu pai escreveu? Já eliminei várias casas.
— Quais?
— Não importa . Meu instinto diz que é ele.
— Mas isso não significa que Liam esteja envolvido.
— Também não significa que não esteja. — Landon balança a cabeça.
— Sei que você se preocupa com ele, mas está deixando sua emoção
atrapalhar a razão. Você não pode se dar ao luxo de estar errada a respeito
disso.
— Melhor prevenir do que remediar, é isso?
— Você não concorda?
— Concordo em buscar a verdade. — Minha ira leva o melhor de mim,
e cruzo os braços em uma pose de rebeldia. — Minha vida inteira foi baseada
em uma mentira, Landon. Chega delas.
Algo em meu tom, postura ou necessidade feroz de recuperar uma parte
insignificante da minha vida, afrouxa a rigidez dos ombros dele. Com um
aceno resignado, ele olha para baixo.
— O que você vai dizer ao Liam?
Sua pergunta direta me desarma um pouco.
— Não sei.
— Então vai para lá sem um plano? — Landon me segura pelos ombros.
— Você é louca?
— Se ele é culpado de tal traição... de assassinato... — Meus olhos
ardem com a ameaça de lágrimas. — Preciso saber a verdade, e farei de tudo
para obtê-la, não importa o quanto possa parecer louco ou arriscado para
você.
— Não faça isso — ele implora.
— Não estou mais na sua casa. Você não pode me impedir.
Suas mãos caem dos meus ombros.
— Você é mais parecida com os Astor do que imagina.
— Por que diz isso?
— Porque você é teimosa como uma mula.
— Achei que a obstinação fosse um traço da Casa de Touro. — Minha
resposta é cheia de sarcasmo.
— Obstinação é da natureza humana. Alguns a têm mais do que outros.
— Ele amplia o espaço entre nós, e vejo a mandíbula do meu irmão tensa
com a minha decisão de ir contra sua vontade. — Faça o que tiver que fazer,
mas tome cuidado. Quem está trabalhando com seu tio tem os traços de um
camaleão. Nunca se esqueça disso. — Landon segue pelo corredor, e eu
espero até que ele desapareça antes de seguir adiante.
Seu aviso ecoa em meus ouvidos como um presságio do qual não
consigo me livrar. O nervosismo faz das minhas pernas reféns enquanto sigo
para a biblioteca, apreensiva com a ideia de ter essa conversa... ou confronto
com Liam, considerando que ainda não sei o que vai acontecer. Em silêncio,
abro a porta e ofego.
O alvorecer lança uma sombra etérea sobre o Chanceler, delineando sua
silhueta. Ele está de costas para mim, e sigo as linhas de seu terno, da largura
dos ombros até a curva da cintura. O corte da peça é perfeito, e estou
convencida de que não há homem vivo que preencha um terno melhor do que
Liam Castle.
Ao som da porta fechando, ele se vira. Nenhum de nós diz palavra
alguma, mas não consigo desviar meus olhos dos seus. O espaço entre minhas
coxas arde de desejo, e me dou um lembrete severo de que não posso confiar
em minhas reações esta noite. Não com o elixir de Vance correndo nas
minhas veias.
— Ver você sempre rouba meu fôlego — ele fala, dando três passos
hesitantes e chegando mais perto.
Meus pés querem se mover para ajudá-lo a acabar com esse vazio entre
nós, mas estou paralisada. Agora que meus olhos se ajustaram à escuridão da
sala, vejo as linhas de expressão ao redor de sua boca. Ele inclina a cabeça, e
aqueles lindos olhos castanhos observam cada centímetro meu como se
estivessem tentando decifrar um quebra-cabeça complexo.
— As coisas estão diferentes agora, não estão, minha doce menina?
— Por que diz isso? — Suspeita contamina o meu tom. Ele sabe a
verdade sobre o acidente de avião dos meus pais? Ou sente que minha
confiança vacilou?
— Porque você não me olha mais da mesma forma.
Engulo em seco.
— Por que as coisas estariam diferentes?
Um instante pesado se passa.
— Acho que você sabe o porquê. — Ele dá mais um passo em minha
direção, e balanço a cabeça, sentindo o medo e a saudade colidirem em meu
peito.
— Não sei do que você está falando.
— Sabe, sim, Novalee.
— Bem, estou dizendo que não sei, então por que não me explica?
A tristeza tensiona os cantos de sua boca.
— Você me olha diferente porque está apaixonada por outro.
Não é a resposta que eu esperava, mas não é menos chocante do que
todas as coisas que ele poderia ter dito – as coisas que meu coração espera
que ele nunca diga.
— Se for verdade, por que estou aqui com você e não com ele?
— Não sei por que você me escolheu. — Colocando as mãos nos bolsos,
ele ocupa o espaço entre nós. — Mas pretendo descobrir.
— E como planeja fazer isso?
Com uma risada discreta, ele balança a cabeça, hesitando ao estender a
mão e prender uma mecha de cabelo loiro atrás da minha orelha.
— Não faço ideia.
O toque de seus dedos na minha bochecha me faz fechar os olhos. Solto
um suspiro quando meu coração, em conflito, acelera. Minha pele atinge a
mesma temperatura de uma das praias do lar que abandonei.
— Acho que nós dois estamos tentando descobrir algo.
— O que você está tentando descobrir? — ele pergunta.
Um nó de apreensão obstrui minha garganta, mas eu o engulo. É agora
ou nunca, e independentemente do que meu irmão tenha dito, não posso
ignorar a parede invisível que há entre mim e o Chanceler.
— Alguém me disse que eu não deveria confiar em você.
Me preparo para o choque em suas pupilas escuras, que se dilatam com a
descrença, mas ele não chega. Em vez de recuar em defesa, Liam se
aproxima, embalando minha bochecha com a palma da mão quente. Como
alguém que me toca de maneira tão gentil e amorosa poderia me querer
morta?
— Quem disse isso tem razão, Novalee. Você não deve confiar em
ninguém nesta torre.
Um suspiro escapa quando ele desliza o polegar pelo meu lábio inferior.
Minha língua o alcança, e seu gosto salgado atinge minhas papilas gustativas,
acendendo o desejo pelo proibido.
— Eu não deveria confiar em você... mas quero.
— Você quer? Ou é o elixir do médico te pedindo para ceder?
— Acho que é um pouco dos dois.
Suas narinas se dilatam, e minha confissão cobre a sala com uma
promessa enquanto sua atenção se fixa na minha boca. Ele mergulha o
polegar entre meus lábios em uma exibição obscena de insinuações.
— Você está no controle esta noite, minha doce menina. Pode fazer o
que quiser, mesmo que seja confiar em mim.
Ah, como eu quero, mas preciso saber com o que estou lidando.
— E se eu estiver apaixonada pelo Sebastian? — Mantenho meu olhar
no seu, precisando examinar cada nuance do que vem a seguir. — Você o
ajudaria a ganhar o leilão?
Empalidecendo, ele fecha os olhos e os segundos se passam a cada
batida do meu coração que se quebra. Ele afasta o polegar do meu lábio e
segura meu queixo.
— Sim — ele finalmente diz, e sua voz falha. — Se é o que você quer.
— Você morreria por mim?
Ele abre os olhos.
— Por que está me perguntando isso?
Cinco segundos de silêncio carregado se passam sorrateiramente. Eu
poderia contar tudo a ele, mas isso abriria a caixa de Pandora: uma verdade
perigosa que Landon me implorou para não compartilhar com ninguém,
muito menos com o Chanceler.
— Porque sou uma rainha, e o mundo é um lugar traiçoeiro para as
rainhas, especialmente nesta ilha.
Seus ombros caem de alívio, como se estivesse esperando que eu
contasse a ele sobre um perigo específico. Talvez tenha achado que eu estava
me referindo à suposta ameaça de sua família à minha vida? Ou à outra
coisa? Mas antes que eu possa analisar as perguntas e todas as respostas em
potencial, ele se ajoelha e segura minha mão esquerda.
— É claro que eu morreria por você. — A adoração suaviza seu olhar, e
ele toca o enorme diamante em meu dedo com o polegar. — Quando coloquei
esse anel no seu dedo, foi uma promessa. Foram muitas promessas. E uma
delas é que faria tudo ao meu alcance para te proteger.
— E se...? — Minha coragem vacila.
— O que, minha doce menina?
— E se me casar com Sebastian garantisse minha segurança?
— A vida não oferece garantias.
— E se me casar com ele fosse a coisa mais próxima que eu tivesse
disso?
Ele semicerra os olhos.
— De onde está vindo isso?
— Não posso te dizer.
— Se você está com problemas, precisa me contar. Não posso te ajudar
se você não disser nada.
— Não posso entrar em detalhes, então, por favor, não pergunte.
— Alguém virou você contra mim. — Sua declaração amarga me atinge
bem no peito. — O que o Sebastian disse?
— Não foi o Sebastian.
— Outra pessoa então?
Fechando os olhos, respiro fundo e prendo o ar por cinco segundos antes
de encontrar a inquisição em seu olhar.
— Já falei demais. — Faço uma pausa, procurando a verdade em seu
rosto, algum sinal de que posso confiar minha vida a ele, assim como meu
coração. — Quero confiar em você, mas preciso...
— Qualquer coisa — ele diz, com as mãos quentes e firmes em meus
quadris. — O que você precisa de mim?
Penso nas coisas que ele manteve escondidas para me proteger, nas
coisas que ainda não me disse, e percebo que só preciso de uma coisa dele.
— Da sua honestidade absoluta.
Ele assente de leve.
— O que você quer saber?
Que pergunta carregada. Em minha mente, percorro as coisas que estou
morrendo de vontade de perguntar.
Os pais dele tiveram contato com os meus antes de o avião cair?
Os Castle estão trabalhando com meu tio?
Liam está determinado a se casar comigo apenas para me ver morta?
Não consigo entender nada disso, mas não posso fazer essas perguntas,
então me contento com algo que ele não me contou na primeira vez que o
questionei.
— Por que você vendeu o colar da sua família para o sr. Bordeaux?
Liam pisca.
— Suas dúvidas têm algo a ver com o colar?
— Não posso dizer. Só preciso que me conte a verdade.
Ele franze a testa.
— Parece que estamos em um impasse.
— Não vai me contar?
— Não posso, Novalee. Tudo o que posso dizer é que precisava do
dinheiro para ter certeza de que você estaria protegida.
— Protegida de quê?
— Em algum momento, vou poder te contar tudo.
— Mas agora, não. — Minha mandíbula trava de frustração, assim como
a dele. Olhamos um para o outro até o carrilhão do relógio interromper o
momento.
Balançando a cabeça em derrota, ele abaixa as mãos até a pele sensível
sob a bainha do meu vestido.
— Tudo o que posso dizer é que estou apaixonado por você e vou te
proteger com a minha vida.
A verdade rouca em suas palavras amolece meu coração antes de atingir
o alvo entre minhas coxas. Estremeço com o aperto de suas mãos gentis.
— Me toque — digo, em um sussurro falhado.
Sem quebrar o contato visual, ele passa a palma da mão pela minha
coxa, e os dedos desaparecem por baixo da seda requintada. O peso de seu
toque, o calor e a intensidade em sua expressão... ele rouba meu fôlego.
— Me diga o que você quer, Novalee.
— Quero a sua boca em mim. — Puxo o vestido pela cabeça e endireito
a postura. A roupa escorrega pela ponta dos meus dedos, caindo no chão
enquanto ele puxa minha calcinha. Um sorriso diverte sua boca.
O sinal de uma conquista. Uma contração de triunfo nas bordas daqueles
lábios carnudos.
Tiro a calcinha, e suas mãos seguram minhas coxas, me abrindo. Não
consigo respirar fundo e não quero. Oxigênio significa clareza, e não quero
pensar sobre as questões não resolvidas entre nós, a divisão em minha alma
por dois homens ou o fato de que qualquer um poderia entrar na biblioteca e
nos interromper.
— Sua boceta é tão bonita. Em algumas noites, sonho em te provar de
novo.
— Preciso de você — suspiro enquanto minha pélvis arqueia pela
promessa de sua língua.
Ele toca meu clitóris. Lábios quentes e úmidos me alcançam, e solto um
gemido alto quando enfio as mãos em seu cabelo grosso acobreado, puxando
as mechas, desesperada. Ele geme em aprovação contra minha boceta, e eu
quase desabo.
— Liam... mais, por favor. — Inclino a cabeça em rendição enquanto as
tranças caem ao redor dos meus ombros, e o seguro contra mim conforme
fico mais e mais excitada. Meu pulso acelera cada vez mais. Sua técnica é um
ataque implacável, que transforma minhas entranhas em um líquido ígneo, e
estou muito perto de gozar em sua língua.
Imploro e me esforço.
Mas nada acontece.
Com um grito desesperado, puxo seu cabelo com ainda mais força.
— Por favor! Preciso... Caramba, por favor...
Liam se levanta e segura meu rosto entre as mãos.
— Você está muito molhada — ele fala contra meus lábios, transferindo
meu gosto de sua boca para a minha. — Mas o Vance se certificou de que
você não pudesse gozar. Continuar seria tortura.
— Eu não ligo. — Tento empurrá-lo para o chão novamente, mas ele
recua cerca de um metro.
— Eu ligo, Novalee.
— Mas sou eu quem está no controle esta noite.
Liam pressiona os lábios, como se estivesse reprimindo um pedido. O
que há com os homens nesta torre e suas demandas incessantes? Vance foi a
primeira pessoa a fingir que se preocupava com o que eu queria, mesmo que
apenas por uma noite.
Liam negociou com o sr. Bordeaux para passar um tempo comigo.
Landon decidiu com quem eu deveria me casar.
E Sebastian fez um acordo com o médico para ter minha virgindade anal
e depois me afastou em favor de outra mulher.
A raiva e indignação vêm à tona. Cerro os dentes e avanço, cobrindo o
espaço que Liam tentou criar entre nós.
— Você me perguntou o que eu queria — eu o lembro.
Ele realmente parece preocupado, e quase rio, porque caçá-lo é ridículo,
mas é isso o que parece – uma inversão de papéis. O caçador se tornando a
presa.
— Tem razão. Perguntei. — Ele enfia as mãos nos bolsos, totalmente
vestido com o terno caro enquanto eu o persigo usando nada além dos saltos
nos meus pés.
— Quero que você tire a minha virgindade anal — digo, agarrando-o
pela gravata marrom. — Esta noite, em sua cobertura. E não quero que
discuta comigo por causa disso.
— Por quê? — Ele estuda minha expressão, e preciso me esforçar muito
para não desviar o olhar.
Para manter minhas razões escondidas do encontro de nossos olhares.
— Quero que seja você.
Ele pega minha calcinha do chão, pendurando a renda fina em seu dedo,
e segura o fio-dental na frente do meu rosto.
— Minha cobertura a aguarda.
Três
DOIS MESES É UM período muito curto na longa duração da vida.
Apenas sessenta dias. Nem mesmo um quarto da extensão de um ano.
Enquanto Liam me conduz para a Casa de Áries e o cheiro familiar picante de
homem me cerca, os dois meses anteriores parecem uma eternidade. A porta
se fecha atrás de nós, excluindo o resto da torre e seus habitantes da
cobertura, e minha atenção se concentra naquele pesado pedaço de madeira
que nos isola de todos os outros.
Ele me deu um beijo de despedida enquanto lágrimas ardiam em meus
olhos e eu implorava a ele para me deixar ficar. Tanta coisa mudou desde
aquele dia, quando eu teria dado tudo para permanecer dentro dessas paredes,
segura em seus braços.
Segura na ilusão de proteção.
Mas cada novo mês traz seus próprios desafios e descobertas, e temo
não reconhecer a garota no espelho quando o último mês terminar.
Liam tira o paletó e o coloca no braço de uma cadeira da sala. As portas
francesas da varanda estão abertas, permitindo que o ar da noite inunde o
espaço com o cheiro salgado do mar. A brisa não é tão úmida quanto no verão
em casa, mas ainda prefiro a minha versão mais amena do calor ao frio da
primavera na ilha.
— Devo abrir uma garrafa? — Olhando para mim com expectativa,
Liam acena em direção à cozinha e sua coleção considerável de vinhos.
Balanço a cabeça.
— Prefiro não adicionar álcool à mistura. — Com o elixir de Vance nas
veias, preciso manter a mente o mais limpa possível.
— Nunca tomei o elixir de excitação — ele comenta, seu olhar
apreciando meu corpo sem pressa. Meus mamilos estão duros e perceptíveis
sem o sutiã e a calcinha, tão encharcada que não ficaria surpresa em encontrar
uma mancha molhada no vestido.
— Esse é o nome oficial? — Vou até a soleira da varanda, sentindo o
peso do olhar de Liam na minha bunda.
— Não tem um nome oficial — ele murmura, muito mais perto do que
eu imaginava. Seu calor alcança minhas costas, arrepiando meus braços. —
Mas eu não ficaria surpreso se Vance o colocasse no mercado. Ouvi dizer que
os efeitos são intensos.
Intenso. Que descrição apropriada. Me movo um pouco em sua direção
até sentir um formigamento na coluna.
— Como você se sente, minha doce menina?
— Sinto calor, mesmo quando estou com frio. — Eu me abraço,
esfregando as mãos pela pele arrepiada dos braços conforme a brisa suave
passa ao nosso redor. — Estou dolorida, agitada e...
— E?
— Frustrada.
Ele hesita por um momento, e então sua respiração sopra calor na minha
nuca.
— Não precisamos fazer isso.
— É a minha noite, certo?
Ele apoia a mão na minha bunda, e minha respiração fica presa nos
pulmões. O restinho de sol se põe no horizonte, trazendo a promessa de um
céu escuro e sem lua.
— É a sua noite — ele responde, provocando minha orelha com os
lábios carnudos e sedutores —, mas se vamos fazer isso, vai ser do meu jeito.
Por que isso não me surpreende?
— O que você tem em mente?
— Uma breve preparação.
Fecho os olhos. A respiração fica presa em meus lábios, e inclino a
cabeça para trás.
— E o que mais?
— Um entendimento.
— Que tipo de entendimento?
— Você toma a decisão inicial, mas assim que começarmos, estou no
comando.
Rindo, me viro para encará-lo.
— Você já entregou o controle alguma vez na vida, Chanceler?
Ele arqueia uma sobrancelha, parecendo pensar sobre isso.
— Não que eu me lembre.
— E se eu disser não?
— Pode dizer, mas nada na diretriz de Vance dizia que tenho que comer
sua bunda esta noite.
Sua vulgaridade deveria me afastar – da sua ideia tentadora de roubar o
meu controle –, mas a ferocidade em sua voz só aumenta minha excitação.
Uma mistura de medo e entusiasmo me atinge, parecendo mais inebriante do
que o melhor dos vinhos.
Mais viciante do que o cheiro de seu feromônio no ar.
— Está bem — murmuro, agitada demais para discutir. — Faremos do
seu jeito.
Ele abaixa a cabeça e a pressão firme de sua boca me faz abrir os lábios.
Sua língua desliza para dentro, massageando a minha até a rendição,
enquanto ele nos empurra para a varanda com passos cuidadosos.
— Vire-se — ele geme contra meus lábios.
A adrenalina corre por mim ao encarar o mar, e estou tremendo quando
ele puxa o vestido pela minha cabeça.
— Eu te daria o mundo se pudesse, minha doce menina.
— Acredito em você. — Seguro a grade de ferro e olho para os vastos
gramados verdes da Propriedade do Zodíaco. Além das falésias, o pôr do sol
brilha no oceano. A mistura de cores me lembra orquídea e manga, doçura e
inocência. Os aromas da grama recém-cortada e da riqueza do verão
impregnam meus sentidos.
A noite não está quente nem fria demais. Parece certo quando Liam
encosta em mim por trás, deixando o calor de seu corpo me envolver e
afugentando a ausência do sol. Ele afasta meu cabelo de um ombro e coloca a
boca ali, lábios quentes e famintos sobre minha pele.
— Que delícia — digo, inclinando a cabeça para lhe dar melhor acesso.
— Você é uma delícia. — Segurando meu seio, ele passa a mão livre na
frente da calcinha e enfia dois dedos em mim. — Tão molhada...
Não consigo falar. Só posso gemer e murmurar enquanto ele me provoca
com os dedos. O comprimento duro de sua ereção me cutuca por trás, um
precursor do que está por vir.
— Caramba, linda. Senti tanto a sua falta. — Ele se afasta por tempo
suficiente para abaixar a calcinha pelos meus quadris, mas não a remove por
completo. O tecido se agarra às coxas, expondo minhas nádegas, e algo na
constrição daquela renda me faz estremecer de antecipação.
É indecente e proibido... um ato de desespero.
Sua respiração fica pesada e irregular ao levar os dedos para o meio das
minhas pernas de novo, desta vez colhendo a excitação que se acumulou ali.
Liam abre minhas nádegas, passando os dedos úmidos sobre meu ânus.
— Espere... — A dúvida me atinge de forma inesperada. — Quero dizer,
o que você está fazendo? — Fui tola em pensar que não ficaria com medo ou
nervosa. Não sei como aquilo funciona, ou o que esperar. E mesmo tendo a
certeza de que Liam é experiente, não consigo me acalmar.
— Estou preparando você. — Ele pressiona um dedo contra meu ânus
apertado. — Relaxe. Seu corpo vai se ajustar.
— Não sei como.
— Confia em mim?
Não estou aqui para descobrir se posso confiar nele? Devo arriscar?
— Sim — digo, porque ele vale o risco. Lentamente, Liam empurra o
dedo para frente, reivindicando minha bunda, e eu sibilo ao respirar. — Isso
dói.
— Vai doer no começo. — Ele esfrega meu clitóris com a mão livre, e
eu gemo. Seu toque é um vórtice constante de céu e inferno que me atira cada
vez mais alto até que não haja dúvida de que não existe nenhum outro lugar
para ir.
Mas sou uma prisioneira nesse precipício, cada átomo da minha pele
ansiando pela queda.
— Você me quer? — Sua pergunta é repleta de dúvida, e se o elixir do
médico não for suficiente para me manter com os pés no chão, a sugestão de
suspeita no tom de Liam o faz.
— Claro que quero. — Cada pedaço de mim implora por ele.
— Você não vai gozar com isso. — Ele penetra outro dedo ao lado do
primeiro, e a pressão aumenta conforme ele se aprofunda mais.
— Não me importo — gemo, tentando não gritar por causa do ardor.
— Ainda dói?
— Não.
Ele para com os dedos posicionados tão fundo quanto possível.
— Não minta para mim. Anal pode ser incrivelmente bom, mas requer
paciência e experiência. Se acha que está doendo com os meus dedos,
imagine como será a sensação com o meu pau.
Solto outro gemido ao pensar nisso. Estou curiosa, excitada e apavorada
ao mesmo tempo.
— Vai doer pra caramba, e você não será capaz de ter um orgasmo para
compensar a dor.
— Por que está me dizendo isso agora? Achei que você queria me
ajudar.
— Quero. Muito.
— Então qual é o problema? — Estico o pescoço e encontro seu olhar
por cima do ombro.
Ele semicerra os olhos escuros e turbulentos. Olhos conhecedores.
— Que tal usarmos um pouco daquela honestidade de que você estava
falando antes? Por que quer que eu faça isso?
Tento afastar a verdade, lhe dando apenas metade dela.
— Se não quiser, outra pessoa o fará.
— Quem? — ele praticamente grunhe.
— Vance. — A mentira vibra em meus lábios antes que eu possa me
impedir de dizer.
Liam balança a cabeça, afastando seu toque.
— Não acredito que você mentiu para mim de novo, ainda mais sobre
isso.
Meu coração se aperta e me sinto tomada pela vergonha.
— C-como você sabia?
— Eu estava lá quando o Sebastian fez o acordo com o médico. O Vance
não vai tirar a sua virgindade anal.
Suspiro, sentindo as bochechas queimarem com meu deslize. Porque eu
sabia, mas tinha me esquecido de que Liam estava na sala na noite em que
tentei seduzir Sebastian. Ele até me disse que o Chanceler não ficou feliz com
o acordo que fizeram, mas afastei o assunto da cabeça, sobrepujada pela
intensidade do que aconteceu no meu quarto aquela noite.
A noite em que coloquei a boca em Sebastian pela primeira vez.
— Sinto muito — digo, e minha voz falha quando me afasto alguns
centímetros. Não consigo encontrar seu olhar enquanto puxo a calcinha de
volta ao lugar. Pegando meu vestido, seguro-o contra o peito, tremendo sob a
afronta de sua decepção.
— Quero você mais do que jamais quis qualquer coisa. — Ele faz uma
pausa e sua respiração é tão rápida e violenta quanto o mar. — Mas não
assim, com seu coração em conflito. — A sola macia de seus sapatos o traz
para mais perto, e ele levanta meu queixo. — Quero você como minha
esposa, recebendo tanto prazer quanto você me dá.
— Você disse que faríamos do seu jeito. Por que me enganar se não
planejava ir em frente?
— Achei que poderia, mas não posso. — Ele passa a mão pela minha
bochecha antes de entrelaçar os dedos no meu cabelo. — Não enquanto ele
fizer parte das suas motivações. — O Chanceler abaixa o olhar para esconder
sua decepção, ou talvez porque não aguenta mais olhar para mim.
— Liam... não quero que ele faça isso.
— Por quê?
Meu olhar se fixa no seu e percebo o quanto a minha resposta é
importante para ele.
— Ele me assusta — sussurro, e minha confissão carrega o peso de
muitas razões.
Sebastian Stone é o monstro desconhecido debaixo da cama, a besta que
se esconde no meu armário à noite. Ele tem o poder de me machucar
fisicamente, mas também de transformar meu coração em cinzas. A atração
que sinto por ele é forte e assustadora, mas essas são coisas que não quero
admitir para Liam. Não quero magoá-lo mais do que já fiz.
Liam tensiona a mandíbula, e os ângulos de seu belo rosto estão
marcados por agonia, como se tivesse ouvido tudo o que eu não disse.
— Me mata saber que ele será o primeiro.
— Ele não tem que ser. Por favor. Por que não faz isso por mim?
— Eu não posso! — Ele passa a mão pelo cabelo, olhando para o céu
que escurece. — A Irmandade vive segundo um código. — Liam balança a
cabeça, e é possível ver as ondas de agravamento quase palpáveis refletidas
nele. — Fui tolo ao pensar que poderia quebrá-lo.
— Estou farta de seus códigos, regras e mentiras. — Fecho os olhos por
vários segundos, lutando para manter a compostura. — Eu te quero e você me
quer. Isso não vale nada?
— Nossos métodos não são isentos de complicações, Novalee. Você
sabe a resposta. — Ele dá um passo para trás, aumentando o espaço entre nós.
É simbólico – essa distância parece mais intransponível a cada segundo
que o céu escurece, passando rapidamente pelos tons de azul como as
amostras de cores em meu arsenal de moda. Posso jogar fora esboços ruins e
começar de novo sem pensar duas vezes, sem desistir até ter um design do
jeito que eu quero nos mínimos detalhes.
Mas isso aqui eu não posso consertar.
A Irmandade, suas leis e costumes arcaicos estão fora do meu conjunto
de habilidades. Mesmo como Chanceler, Liam detém uma quantidade
limitada de poder.
— Quero que seja você — digo, me recusando a desistir, não importa o
quanto seja fútil.
— Sobre a questão da sua virgindade anal, a escolha não é sua. Vance já
fez o acordo, e você pertence a ele este mês.
— Não. — Sinto a raiva emanar de mim. — Não pertenço a ninguém.
— Tem certeza disso? — Ele arqueia uma sobrancelha, lançando um
desafio. — Pelo que me disse na biblioteca, você deixou claro que pertence
ao Sebastian.
— Eu não pertenço a ele — digo, com os dentes cerrados.
— Não? — Ele se aproxima, seu corpo me pressionando na grade. —
Porque você queria minha bênção para se casar com ele há menos de uma
hora.
— Não importa o que eu quero. Ele não me quer.
A risada amarga de Liam ecoa no ar.
— Talvez você sentiria algo diferente se soubesse do que ele abriu mão
pela sua virgindade anal.
Abro a boca, mas as palavras não saem. O que devo dizer? Devo fingir
que não estou intrigada com a informação que ele acabou de soltar? Não
quero continuar nessa dança de partir o coração com ele.
Nenhum de nós vai sair vencedor.
— Sinto muito — digo em um sussurro sufocado. — Preciso ir embora.
— Me movo para passar por Liam, mas ele segura meu braço e me puxa
contra si. Não tenho tempo para me preparar para seu beijo. Seus lábios
cobrem os meus, os forçando a se abrirem, e sua língua me reivindica direto
pela alma. Ele despeja tudo naquele beijo, toda frustração, sofrimento e amor.
Este homem me ama. Ainda que eu não descubra mais nada no tempo
que passarmos juntos esta noite, sei que aquilo é verdade.
Se a sua família me quer morta, ele não quer.
Eu me afasto enquanto as lágrimas caem, incapaz de segurá-las por mais
tempo.
— Não posso. Por favor, me deixe ir.
Emoldurando meu rosto, ele balança a cabeça com um sorriso triste.
— Eu nunca vou deixar você ir. — Nos encaramos por um longo
momento, e a brisa agita o aroma de sândalo ao meu redor.
Antes que eu busque seus lábios outra vez, corro pelas portas abertas da
varanda, colocando minha roupa enquanto fujo e abandono a silhueta de um
homem magoado com a noite como pano de fundo.
Quatro
A CASA DE CÂNCER tem um design contemporâneo e sem qualquer
barreira. Ladrilhos de concha em cores quentes conectam os espaços de
conceito aberto. Os saltos batem no chão, ecoando alto demais em meus
ouvidos, e tento suavizar os passos ao procurar o médico na luz fraca.
— Olá?
Não obtenho resposta, e isso me deixa nervosa, porque ele não me deu
instruções sobre como devo cumprimentá-lo. Também não sei para onde ir
neste andar, pois estive no meu quarto uma única vez antes do jantar para um
banho e me trocar.
Passo pela cozinha imaculada e pela sala de jantar antes de seguir o
caminho para cômodo seguinte. A tinta branca dá lugar à lareira de pedra
cinza de ardósia que se destaca como o ponto focal da sala, atraindo olhares
do chão ao teto. As persianas estão fechadas, e vejo o brilho das primeiras
estrelas roubando o céu noturno.
— Chegou bem na hora — Ouço uma voz dizendo.
Me viro para a esquerda e encontro Vance esparramado em uma cadeira
ampla de frente para as janelas, com o cabelo loiro solto e caindo sobre os
ombros musculosos. Ele está sem paletó, gravata e sem qualquer senso de
modéstia, já que se acaricia.
— Hum... — vacilo, boquiaberta com a exibição descarada na minha
frente, observando a mão se mover com firmeza na braguilha aberta da calça.
— Gostou do seu tempo com o Chanceler?
Pisco várias vezes.
— S-sim.
— Que bom. Agora é minha vez. — Ele gesticula em direção ao pênis
ereto. — Venha montar em mim.
Estou paralisada, incapaz de compreender seu tom autoritário e
indiferente. Esses dois não deveriam andar juntos, mas de alguma forma, o
médico os mistura com perfeição.
— Você quer que eu... o quê? — Incapaz de tirar os olhos do movimento
constante de sua mão, engulo em seco.
— Meu pau te intimida?
Meu olhar se fixa no dele.
— Deveria? — Estou aprendendo que responder a uma pergunta com
outra é uma boa estratégia quando se trata desses homens.
Ele passa a língua sobre o lábio inferior, movendo os quadris no ritmo
das carícias de sua mão.
— É apenas carne, Novalee. A mesma da boceta quente entre suas
pernas. — Seu olhar semicerrado vai de meus mamilos endurecidos até meus
joelhos pressionados.
— Não é apenas carne. — Forço o argumento a sair da minha garganta
apertada.
— Imagino que não seja. — Ele faz uma pausa, diminuindo o ritmo da
mão. — Não vou te comer. Nós dois sabemos que isso é contra as regras. Mas
vou te tocar. — O aceno severo de sua cabeça em direção ao próprio colo me
faz correr para cumprir suas ordens, e o piso frio dá lugar a um tapete
felpudo.
Paro, trêmula entre suas pernas abertas.
— Você disse que estou no controle esta noite. — O lembrete é fraco, na
melhor das hipóteses, pois o médico detém todo o poder. Seu presente de me
libertar do comando de um homem durante a noite foi um estratagema, uma
mentira habilmente construída: ele assumiu o poder antes de entregá-lo, com
a ajuda de três colheres de chá.
Vance Morgan tem uma mente diabólica.
— Sua noite para deixar Liam Castle de joelhos acabou. Poderia ter me
escolhido, mas não o fez. — Ele empurra o pau em minha direção. — Não
vou repetir, minha rainha. Quero você no meu colo.
Rastejo sobre o sofá de couro, encaixando os joelhos nas laterais do
corpo de Vance, e meu vestido se acumula ao redor dos quadris, mal cobrindo
minha bunda. A ereção dele está quente contra minha calcinha molhada.
Tento manter um pouco de distância entre nossos corpos, mas ele me segura
pelas nádegas e me puxa para cima de pau enorme.
O médico sibila ao respirar.
— O Chanceler encharcou essa boceta. Sente isso? — Ele esfrega seu
comprimento contra meu sexo. — Essa é a sua maior fraqueza, amor.
— Do que você está falando?
— O elixir não causa algo que não existe. Ele apenas reduz as inibições.
— Uma mão vai para minha nuca, segura meu cabelo e me coloca a
centímetros de sua boca. — Só torna uma boceta carente ainda mais
necessitada. — Seu sorriso é tão perverso quanto seu elixir. — Agora sei o
que mexe com você. E quem.
Arregalo os olhos, percebendo que sua escolha foi um teste, mas não sei
o que ele planeja fazer com o que descobriu. E de qualquer maneira, os
resultados estão distorcidos, uma vez que Vance não sabe das minhas
verdadeiras razões para ter escolhido Liam. Se meu corpo tivesse feito a
escolha sozinho, eu teria optado por Sebastian.
— Tire o vestido — ele ordena.
Quero protestar. A garota que eu costumava ser – antes que a Casa de
Touro me transformasse em uma mulher obediente – teria resistido. A mulher
que sou agora sabe que é inútil resistir a um membro da Irmandade.
Não há controle nesta torre de homens alfa.
O vestido de seda cai no chão pela terceira vez esta noite. Me inclino
para frente até que o cabelo caia sobre meus ombros e embora meus mamilos
empurrem as mechas trançadas, não me sinto tão nua com esse resquício de
modéstia misericordiosa.
Mas ele vê através da manobra. Um sorriso inclina sua boca quando
afasta meu cabelo e expõe meus seios. Vance segura minhas mãos e as puxa
para trás.
— Se apoie nos meus joelhos — ele ordena, apertando meus pulsos
antes de me soltar.
Assim que me levanta, meu peito se impulsiona para frente. Observo a
tempestade que se aprofunda nos olhos dele e sua apreciação pela visão
diante de si ao levar os dedos aos meus mamilos rosados.
— Tão bonita — ele murmura enquanto os acaricia, usando os polegares
e indicadores com a quantidade perfeita de pressão.
Solto um gemido baixo em seu colo e meu corpo fica impossivelmente
mais quente. O que ele está fazendo é um tipo de tortura feliz contra a qual
não tenho forças para lutar. Ele disse que gostaria de fazer com que eu me
contorcesse, e está conseguindo. O sorriso malicioso e triunfante em seu rosto
significa minha derrota. Incapaz de me segurar, esfrego a boceta em seu
comprimento duro.
— Boa menina — ele murmura, e a fricção entre nossos corpos me
mantém cativa de todos os seus caprichos. Não tenho defesa contra seu elixir,
um fato do qual ele sabe muito bem.
Vance apoia a cabeça no encosto da cadeira e aperta meus seios,
moldando as palmas e sentindo o peso deles enquanto seu corpo se move no
mesmo ritmo que o meu. Gemendo, ele fecha os olhos, dominado pelo prazer.
É apenas carne. Apenas carne, apenas carne...
Intimidade como essa nunca será apenas carne aos meus olhos, e odeio
meu corpo por ceder ao seu veneno, por estar tão aberto em seu colo quando
meu coração não quer fazer parte disso.
Há uma desconexão entre corpo e coração, e estou presa em algum lugar
no meio.
— Tão perfeita e responsiva. — Um gemido ressoa do fundo de seu
peito. — Se Sebastian não tivesse me oferecido um acordo tão irrecusável...
— Ele leva as mãos até minha bunda novamente, alcançando minhas
nádegas.
Disfarço um suspiro quando um único dedo me pressiona bem ali.
— Mas você fez um acordo — digo, com um arrepio de medo na voz,
porque a ideia de Vance ser o primeiro deixa meu coração doendo.
É quando percebo a verdade, o desejo em meu coração que tentei
ignorar. Por conta da raiva e da dor que Sebastian me causou na noite do
baile, quis tirar isso dele, mas no fundo...
Quero que ele o faça.
— Sim. E sempre honro os acordos que faço. — Ele remove as mãos da
minha bunda. — Então teremos que cuidar disso de outra maneira. — Com
um aceno de cabeça para o chão, ele me diz para ficar de joelhos.
O medo enche minha alma e paraliso em seu colo. Já estamos tão perto
um do outro, nossa intimidade se tocando de forma tão escandalosa... A
imagem mental que passa pela minha cabeça me deixa enjoada.
— Por favor, Novalee. Não me faça pedir de novo.
Não quero fazer isso, pois ainda estou muito desconfiada de Vance para
ficar de joelhos. Com o coração batendo forte no peito, me inclino sobre seu
colo e entreabro os lábios.
Seu dedo quente levanta meu queixo, me fazendo parar.
— Não é minha intenção fazer isso — ele diz baixinho ao encontrar meu
olhar. — Só quero que você assista.
— Ah. — Pisco surpresa quando uma onda de alívio desce pelas minhas
costas. Me posicionando, espero que ele faça o próximo movimento.
Sem perder tempo, Vance pega o pau duro com uma das mãos, e a
movimentação atrai meu foco em fascinação mórbida. Não que haja algo
mórbido em dar prazer a si mesmo. É bela e natural a maneira como ele
suspira a cada estocada, fechando os olhos e esticando o pescoço conforme
vai chegando mais perto.
A única coisa que não pertence a esta imagem sou eu.
Nem a dor entre minhas coxas. Não está tão forte quanto nas últimas
horas, pois os efeitos diminuíram, mas o desejo ainda aquece meu sangue.
Vance solta um grunhido, e eu mordo o lábio, quase como se pudesse
sentir seu prazer no meu íntimo. Ele abre os olhos, com as pálpebras
semicerradas sobre a névoa luxuriosa presente e me encara conforme acelera
o movimento. É um homem em uma missão, seu pau estocando a mão
apertada até que o atrito o leve a um fim excitante. Um grito gutural sai dos
lábios apertados, e seu gozo jorra pelo topo da mão.
Respirações ofegantes ecoam no ar por vários segundos. Ele interrompe
o momento tirando alguns lenços de papel de uma caixinha na mesa lateral e
limpa o caos que causou.
— Obrigado por assistir, minha rainha.
— De nada — digo, e as palavras soam estranguladas enquanto desvio o
olhar, como se minhas cordas vocais não quisessem trabalhar.
— Não sinta vergonha por ter aproveitado o show. — A palma de sua
mão alisa meu cabelo e, e ele inclina meu queixo para cima com o polegar. —
O orgasmo é tão natural quanto a respiração. Você terá muitos deles no
próximo mês.
— Próximo mês?
— Faz parte do acordo. Sem orgasmos enquanto você estiver na minha
casa. Sebastian a quer pronta para ele.
Sua admissão aumenta a indignação que apodrece por baixo da minha
compostura.
— O que ele te deu por tudo isso? — Minha voz soa irritada, e é preciso
um grande esforço para controlá-la. — O Liam mencionou que houve uma
troca.
Quero lembrar ao médico que não sou uma posse, que sou um ser
humano com sentimentos, desejos e necessidades próprias, mas aprendi
minha lição sobre inutilidade no dia em que coloquei os pés na Ilha do
Zodíaco.
Vance sorri como se tivesse ouvido a objeção em meu tom.
— Durma um pouco — ele diz, evitando minha pergunta. Então, me
puxa para ficar de pé antes de fechar o zíper da calça. — Te vejo pela manhã.
Cinco
A LUZ DO SOL espalha calor em meu rosto. Por alguns momentos,
permaneço no reino calmo entre a vigília e o sono, a salvo da realidade e da
escuridão distorcida que ultimamente permeia meus sonhos. Desde que
Landon me contou sobre a carta do meu pai e a ameaça potencial à minha
vida, tenho pesadelos com um homem sinistro que se parece com Liam, mas
não é ele.
Sei que é apenas o meu subconsciente tentando compreender meus
medos e dando sentido à revelação do meu irmão, mas a sensação de mau
presságio nos sonhos não para de me atormentar.
Ouço alguém pigarrear e abro os olhos. Me viro para longe das janelas,
que me cegam com a luz do sol, uma vez que me esqueci de fechar as
cortinas na noite passada, e encontro Vance parado na porta do quarto. Posso
ter me esquecido de fechar as cortinas, mas sei que fechei a porta antes de
dormir.
— Bom dia. — Ele entra sem hesitar e a soberania atrevida em seus
passos me diz que privacidade não é um direito em sua casa. — Acho que
devemos repassar algumas regras básicas.
— Tudo bem. — Minha voz sai rouca de sono quando me sento e puxo
o cobertor até o queixo. A camisola que encontrei no armário na noite
passada me cobre o suficiente, mas não consigo deixar de me sentir nua,
como se o olhar do médico pudesse ultrapassar as camadas de tecido e
modéstia para cobiçar a pele por baixo.
Vance vai até a cama e se acomoda na beirada. Solto um suspiro de
alívio com o espaço que fica entre nós.
— Dormiu bem, minha rainha?
— Sim, obrigada.
— Se precisar de algo para tornar sua estadia mais confortável, espero
que me avise.
— Pode deixar, obrigada. — Pareço um disco quebrado com minhas
respostas curtas e educadas, mas Vance me deixa nervosa. Não consigo lê-lo
da mesma forma que leio os outros.
Com Liam, houve uma conexão quase instantânea, inexplicável, mas tão
real quanto a assinatura do meu tio no contrato que vendeu meu corpo e alma
para um harém de dominadores sensuais. Saí da Casa de Áries como uma
tola, sem entender meu papel na dinâmica desta torre.
Então, o sr. Bordeaux me quebrou no primeiro dia no calabouço, com
suas regras inflexíveis. Entendi o rigor da situação em que me encontrava
com ele, pois todas as expectativas foram desnudadas.
Meu relacionamento com Landon foi gravado em pedra desde o
nascimento, muito antes de eu saber que ele existia. Se há um homem neste
lugar com quem posso ser eu mesma, é meu irmão.
Mas nenhuma dessas experiências me preparou para o dr. Vance
Morgan. Não sei como me comportar perto dele, principalmente quando sua
presença se intromete na minha suposta privacidade. Precisando de uma
distração, dou uma olhada ao redor da sala, empurrando o desconforto para o
fundo da mente, deixando para lidar com isso mais tarde. Meus aposentos na
Casa de Câncer ficam em algum lugar entre o luxo da cobertura de Liam e o
quarto desinteressante que o sr. Bordeaux me deu por um mês.
Apenas um quarto modesto em metragem quadrada, embora não a ponto
de causar claustrofobia, e decorado com bom gosto em tons de rosa e cinza.
Duas cadeiras de vime e uma mesa compõem a única área de estar em frente
às portas francesas que se abrem para a varanda. O closet é generoso em
tamanho, e minhas roupas estão penduradas de forma organizada e ajeitadas
nas prateleiras e gavetas embutidas.
Vance se mexe no colchão, trazendo minha atenção de volta para ele.
— Não precisa ficar nervosa. Você se provou ser um exemplo em
obediência. Acho que dificilmente terei motivos para puni-la.
Não tenho certeza do que dizer sobre isso. Cada punição que suportei
neste lugar foi injustificada. Duvido que o médico apreciaria saber o que
penso.
— Você mencionou regras básicas — eu o lembro.
— Talvez regras seja a palavra errada — ele diz, pegando minha mão e
esfregando o polegar por ela, como se quisesse oferecer conforto. — Vamos
chamá-las de limites. Um pouco de estrutura que deve deixá-la à vontade.
Você não concorda?
— Pode ser. Eu aprecio a oportunidade de saber o que você espera de
mim.
— Senti isso. — Ele solta minha mão e se levanta, seu olhar absorvendo
a claridade do dia além das janelas. — Me disseram que você estabeleceu
uma rotina na Casa de Gêmeos em relação ao seu estúdio. Não tenho
problemas com você trabalhar durante o dia, mas espero te ver em casa todas
para o jantar, às seis. Haverá momentos em que não poderei acompanhá-la
devido às emergências médicas, mas mesmo assim, quero você aqui.
— Entendo. — Observo enquanto ele vagueia pelo quarto, roçando os
dedos na mesa de cerejeira escura encostada em uma parede. Ele abaixa a
cabeça para cheirar o buquê de flores silvestres, que alguém deixou ali cima,
antes de abrir as portas francesas para o ar perfumado da manhã entrar.
— Não se masturbe. — Ele se vira para mim com uma sobrancelha
arqueada e a expressão severa. — Você vai tomar o elixir de novo, mas como
eu disse ontem à noite, não tem permissão para ter orgasmos na minha casa.
O constrangimento é uma consequência inevitável que nunca deixa de
tomar conta das minhas bochechas. Desvio os olhos, engolindo a confissão de
que a masturbação já é um fruto proibido para mim por causa da promessa
que fiz ao Chanceler.
— Posso falar livremente? — pergunto.
— Claro.
Me forço a olhar para ele.
— Tenho perguntas.
— Farei o meu melhor para respondê-las. — Algo na maneira como ele
enfia as mãos nos bolsos me lembra Liam, e meu coração bate em protesto no
peito. Não quero gostar do médico. Odiar os membros da Irmandade me
parece mais seguro e menos complicado, especialmente porque já compliquei
demais a situação ao desenvolver sentimentos por dois dos doze homens
nesta torre.
Vance caminha em direção à porta aberta do quarto.
— Assim que estiver vestida para o dia, junte-se a mim para um café da
manhã na varanda.
Depois que ele desaparece de vista, me levanto e fecho a porta, soltando
um suspiro de alívio quando a ilusão de privacidade me envolve. Ter meu
próprio espaço nos últimos meses, não importa o quão pequeno ou sem luxo
seja, foi a única coisa que me ajudou a sobreviver. O presente generoso do
meu estúdio foi a maior das bênçãos, e não importa quantas vezes meu irmão
tente me intimidar para o bem da minha segurança, estou eternamente em
dívida com ele por essa bondade que transformou a minha vida.
Abro o armário e uma sensação de poder toma conta de mim. Todos os
dias, escolho minhas próprias roupas. Sinto muita saudade das minhas damas,
mas aceitei a mulher forte que me tornei. Aquela que pode cuidar de suas
próprias necessidades sem a ajuda dos outros. Enquanto tiro um vestido de
verão azul-petróleo de um cabide, penso em minha educação e nas boas
maneiras que vieram com o meu sangue nobre.
É bom me livrar de algumas delas e aprender a ser algo diferente da
jovem rainha de uma nação à beira do colapso. Posso ser uma prisioneira
dentro dessas paredes circulares, uma vítima da ganância e da sede de poder
do meu tio, mas pelo menos encontrei alguns aspectos positivos em uma
situação horrível que esteve fora do meu controle desde o início.
Talvez seja a luz do sol entrando pelas janelas ou a brisa fresca do mar
passando pelas portas francesas, mas uma pontada de otimismo surge dentro
de mim, e eu a carrego comigo para encontrar Vance na varanda principal.
Ele sorri para mim quando me sento em frente a ele.
— Você está linda.
— Obrigada. — Deixo minha atenção permanecer nele por alguns
segundos, observando a mandíbula forte e bem barbeada – uma característica
que fica mais proeminente pela maneira como ele prende o cabelo.
— Não sei quais são os seus gostos, então pedi um pouco de tudo da
cozinha. — Ele acena para o banquete impressionante sobre a mesa. —
Espero que goste.
— Tudo parece delicioso, obrigada.
— Não precisa me agradecer toda vez que fala, Novalee.
— Estou sendo educada.
— Não tem problema ser polida, mas quero que seja você mesma.
Levando alguns instantes para encher um pequeno prato com frutas,
iogurte e um ovo cozido, formulo uma resposta que espero que seja
diplomática.
— Encontrei muitas personalidades únicas desde que cheguei à ilha. —
Forço meu olhar para o seu, afastando qualquer timidez persistente. — Acho
que ainda não aprendi a ser eu mesma com nenhum de vocês.
Ele assente antes de tomar um gole de suco de laranja.
— Sua cautela é compreensível, mas ainda insisto que relaxe. Não vou
te morder. — Um sorriso sedutor surge em seus lábios. — Apesar de você
ser muito bonita.
— Obrigada.
Ele ri.
— Vejo que temos um longo caminho a percorrer.
— Desculpe, é um hábito.
— Você disse que tinha algumas perguntas. — Ele se encosta na cadeira,
a comida esquecida por ora. — Sou todo ouvidos.
Empurro um pedaço de melancia pelo prato antes de espetá-lo com um
garfo.
— Por que você quis que eu assistisse ontem à noite?
— Porque isso me excita. — Não há surpresa com a minha pergunta, e
acho sua resposta direta... surpreendente. Ele franze a sobrancelha loira, me
observando do outro lado da mesa. — Esperava que eu dissesse algo
diferente?
— Não tenho certeza do que esperava. Ninguém quis que eu assistisse...
até agora... nesta torre. — O calor sobe pelo meu pescoço, e me repreendo
por ser tão inepta com coisas de natureza sexual. Levo o pedaço de melancia
aos lábios, e seu olhar me acompanha, brilhando como peltre.
— Gosto do toque de uma mulher. Não se engane, amor. Mas sou o que
você chamaria de exibicionista.
Pisco. Claro, eu sei o que essa palavra significa.
— Se você ganhar o leilão — digo, parando para mordiscar o lábio —
as... as pessoas vão nos assistir?
Com um sorriso cheio de segredos, ele coloca uma uva na boca.
— Você presume que pretendo vencer o leilão.
— Não pretende?
— Você quer que eu o vença?
Ele está roubando minha estratégia de desvio, e fui pega de surpresa.
— Eu... eu...
— É uma pergunta simples.
Nada é simples. Eu escolheria o médico em vez do sr. Bordeaux ou Pax,
mas não posso dizer que quero que ele saia vencedor. Precisando de alguns
segundos para organizar meus pensamentos, tomo um longo gole de suco de
laranja.
— Não sei como responder a isso.
— Bem — ele se esquiva —, você escolheu o Chanceler na noite
passada. Está esperando que ele ganhe?
Há um mês, antes de Landon sacudir meu mundo, eu teria dito sim. Mas
mesmo depois de passar um tempo com Liam e decidir que não há como ele
me machucar, é o rosto de Sebastian que passa pela minha mente.
Meu coração acelera de forma traiçoeira.
— Se dependesse de mim, nenhum de vocês ganharia.
— Mas isso não vai acontecer.
Ele tem um talento especial para apontar o óbvio. Retribuo seu olhar, me
recusando a deixá-lo mudar de assunto.
— Tenho outra pergunta.
— Achei que teria.
— Na verdade, eu te perguntei ontem à noite, mas você não respondeu.
Ele semicerra os olhos por um longo momento, então assente.
— O acordo.
— Sim. O que Sebastian deu a você?
O médico se levanta para ficar na grade, voltando as costas largas para
mim, em uma camisa cinza casual enquanto lança sua atenção ao mar. Dedos
longos e finos, pertencentes a mãos que curam os enfermos, seguram a grade.
— Você sabe o que é querer tanto alguém que não consegue respirar? —
Ele pergunta, com uma melancolia no tom, mas tão suave que quase se perde
na brisa.
Engulo em seco.
— Acho que talvez eu saiba.
— Sempre quis uma pessoa específica durante a maior parte da minha
vida, mas ela sempre esteve fora de alcance. — Seus ombros se erguem com
uma inspiração longa e fortalecedora. — Estar com ela vai contra tudo que
fui ensinado e condicionado a acreditar. — Ele se vira para mim, e a dor corta
sua expressão, linhas duras de desejo sombreando seu rosto. — Não apenas o
código da Irmandade, mas...
Prendo a respiração, mantendo as mãos cerradas no assento em
expectativa.
— Mas?
— O código da amizade. Eu a quero há anos, mas desejava a permissão
de Sebastian primeiro.
Meu batimento cardíaco pulsa na clavícula, e sinto um aperto doloroso
em volta da garganta.
— Permissão para quê?
— Para tentar um relacionamento sexual com Lilith Astor. — Seus olhos
brilham com a absolvição. — E agora ele me concedeu.
Seis
RISK, RISK, RISK.
Meu lápis carvão aprofunda as linhas no amplo decote em V, acentuando
uma ideia na roupa de Elise no esboço. O vestido ostenta um corpete tipo
envelope e uma saia romântica em corte A que escorre até o chão em ondas
suaves de tule. Enfeites sutis adicionam decoração, garantindo um design
simples, mas elegante. Dos seis esboços que completei, trazendo ao papel
vários estilos de vestido de baile até modelos sereia, acho que Elise vai
escolher este.
Algo no design alude ao estilo dela, como se sua aura carinhosa saltasse
da página. Paro meu trabalho por tempo suficiente para olhar o relógio. Elise
deve chegar a qualquer momento, e minhas entranhas se remexem com a
ideia de que o futuro marido possa estar junto.
Sei que ele vai querer falar sobre o que aconteceu com Liam na noite
passada, mas minha cabeça ainda está confusa com o que Vance me disse
pela manhã.
Porque se o que ele falou for verdade, isso significa que Sebastian
trocou a mulher que ama pela minha virgindade anal, e não faço ideia de
como processar isso. Não tenho energia mental para encontrar o significado
oculto em uma descoberta tão surpreendente.
Volto a desenhar, confortada pelo som do carvão encontrando o papel. A
sala está terrivelmente silenciosa sem minha equipe, mas com a mudança de
Gêmeos para Câncer, dei a eles alguns dias de folga. Devem voltar depois de
amanhã para me ajudar com o protótipo de Elise.
O som revelador dos saltos no piso quebra o silêncio, e olho para cima a
tempo de ver Elise entrar no estúdio. Está usando um terninho frente única
projetado para conforto em vez de poder, com o cabelo loiro caindo sobre os
ombros nus e bronzeados. A gravidez combina com ela e sua pele está
brilhante e tem um sorriso eterno nos lábios. Landon a faz delirar de alegria, e
isso é tudo que importa agora.
Solto o lápis e reúno os esboços.
— Bem na hora. Acabei de finalizar o último. — Saindo da mesa de
desenho, faço um gesto para que ela me siga até a área de estar. Ela vibra de
animação quando nos acomodamos lado a lado.
— Mal posso esperar para ver o que você fez.
— Espero que goste. Caso queira algo diferente, posso fazer alterações
ou começar do zero. — Entrego os desenhos a ela e espero enquanto ela faz
oohs e aahs sobre os papéis. Ela coloca cada um na mesa com reverência,
como se fossem tão delicados quanto as asas de uma borboleta. Quando
chega ao último, seus olhos azuis se arregalam.
— Este. — Seu tom está repleto de certeza quando olha para mim. — É
perfeito, Novalee. É como se você tivesse entrado na minha cabeça e criado
meu vestido dos sonhos.
Algo dentro de mim cintila com seu elogio, uma sensação de encanto,
esperança e justiça. Posso fazer isso: desenhar roupas lindas para vestir o
mundo. É um dom, um chamado, uma certeza que nunca senti na alma até
este momento.
Porque ver a alegria no rosto dela é a melhor coisa que existe. Antes que
eu perceba, eu a abraço, piscando para conter as lágrimas.
— Estou tão feliz por você — sussurro, tremulando os cílios para evitar
que gotas quentes de felicidade escapem.
Alguém pigarreia e quando Elise e eu nos separamos, encontro Landon
nos observando com olhos verdes cheios de curiosidade. Antes que ele espie
o desenho escolhido, ela coloca o papel na mesa, virado para baixo.
— Desculpe interromper, garotas.
Um brilho secreto em seus olhos me diz que ela está tão emocionada
quanto eu com o momento que acabamos de compartilhar.
— A Novalee estava me mostrando alguns esboços.
Landon sorri.
— Mal posso esperar para ver você caminhando para altar no próximo
mês.
Eles planejaram o casamento com pressa, pois querem se casar antes que
a barriga comece a aparecer. De repente, uma nuvem escura lança sombras
sobre meu humor. Vou planejar meu próprio casamento em breve, só não sei
quem será o noivo. Ao final dessa percepção perturbadora, entendo que
talvez eu não tenha direito algum a opinar sobre o que quero.
Não posso sequer escolher o noivo. O que me faz pensar que vou poder
escolher o vestido, o bolo ou o esquema de cores?
Elise se levanta e se joga nos braços de Landon.
— Mal posso esperar para me casar com você também. — Sua
demonstração de afeto aquece e parte meu coração ao mesmo tempo,
realçando a dor em meu peito, que anseia por esse mesmo tipo de amor e
lealdade.
Mas como uma rainha presa a doze homens, fico preocupada em nunca
ter a chance de encontrar o que eles têm.
— Você se importa de nos dar alguns minutos? — ele pergunta a Elise,
dando um beijo em sua testa. — Preciso falar com a Novalee.
— Tudo bem. Tenho uma reunião daqui a pouco com a organizadora do
casamento. — Elise me abraça antes de sair da sala, fechando a porta atrás de
si e nos dando privacidade.
— Se estiver aqui para me repreender mais uma vez a respeito da minha
escolha na noite passada, por favor, não o faça.
— Não vim aqui para discutir — ele diz, enfiando as mãos nos bolsos da
calça.
— Você contou a ela suas suspeitas sobre Liam? — Aceno para a porta
por onde Elise acabou de sair.
— Ainda não. Vou contar depois de nos casarmos. Ela tem o suficiente
com que se preocupar agora: o casamento, o bebê e...
— E?
— Jerome. Vou acabar com ele. A Elise está tentando ser corajosa, mas
sei que ele é um fardo em seus ombros.
— O que você está planejando fazer?
Landon se senta à minha frente.
— Sei o que é importante para ele. Não posso colocá-lo na prisão, mas
posso destruir a vida daquele canalha de outras maneiras. — Ele deixa um
instante passar. — Posso expulsá-lo da ilha para que Elise nunca mais tenha
que ver seu rosto.
Aperto minhas coxas.
— Não vai ser o suficiente.
— Vai ter que ser. Quando eu terminar com ele, vai ser.
Quero protestar, argumentar e me enfurecer contra a injustiça, mas a
convicção em sua voz me impede. Além disso, no fundo, sei que tornar
público o ataque é a última coisa de que Elise precisa. O fato de Jerome vir a
ter poder sobre ela caso descubra que é o pai da criança é uma realidade
nojenta que não posso ignorar.
— Não vim aqui para falar sobre Jerome — meu irmão diz, se
inclinando para frente com as mãos entrelaçadas entre os joelhos. — O que
aconteceu com o Liam noite passada?
— Nada.
Ele me lança um olhar de descrença.
— Novalee. — Meu nome é um aviso em seus lábios, três pequenas
sílabas que me dizem para pensar melhor.
— Eu não contei nada específico ao Liam. Disse apenas que alguém me
falou para não confiar nele. Eu não disse o porquê.
— E qual foi a resposta?
— Ele me disse que eu não deveria confiar em ninguém nesta torre.
Landon ri.
— É um bom aviso.
— Não é nada que ele não tenha dito antes.
— Você deveria ouvi-lo.
— Eu o ouvi, Landon. Ele disse que me ama, e acredito nele. Não há
dúvida em meu coração de que ele morreria antes de me machucar.
Landon fica de pé, a expressão tensa com uma frustração impotente.
— Você já teve uma intuição tão forte que te deixou enjoada?
Pisco.
— Quando cheguei na torre. — E no início de cada mês.
— Bem, minha intuição está gritando, Novalee. Ao longo dos anos,
aprendi a não ignorar isso. O Chanceler está envolvido.
— Sua intuição não descarta a minha. — Eu me levanto, encontrando
seus olhos e firmando meu terreno nesta questão. — Até que você me traga
alguma prova, vou seguir meu instinto.
Ele balança a cabeça, se recusando a abandonar o controle teimoso sobre
minha vontade.
— Mesmo que o Chanceler não esteja envolvido, você ainda vai se casar
com o Sebastian.
— Com quem vou me casar está fora do meu controle — digo, cruzando
os braços enquanto olho para seus pés.
— Não está fora do meu.
— Se o Liam é inocente, por que não ele? Por que você insiste tanto em
Sebastian?
— Porque ele é meu melhor amigo. Confio nele acima de qualquer
pessoa, e... — Ele solta um suspiro, passando os dedos pelos cabelos grossos
e escuros. — Depois de tudo que ele enfrentou, merece encontrar a
felicidade.
— Ele não quer nada disso!
— Você não sabe.
— Sei, sim. E... — Minha voz falha, porque eu não deveria ter que
perguntar isso a ele, mas pergunto de qualquer maneira. — E a minha
felicidade?
— Jesus, Novalee. Você é tão cega quanto ele.
— O que isso quer dizer?
— Que vi a maneira como vocês se olham. Sei que você se preocupa
com o Liam. Ele foi o primeiro a conhecê-la, mas acho que você também
sabe, lá no fundo, que existe algo ainda mais forte entre você e Sebastian.
Um nó se forma na minha garganta e tento engoli-lo, mas não consigo.
— Me diga que estou errado — ele me desafia em um tom suave.
Não posso, e isso só aumenta o fardo de traição em minha alma.
— Acho que você deveria ir embora.
— Novalee...
— Por favor, Landon. Não quero mais falar sobre isso.
Ele fica quieto por alguns momentos, ponderando tudo. Agora, eu o
conheço bem o suficiente para saber quando está prestes a se intrometer e
discutir mais.
— Tenho trabalho a fazer — digo, lançando um olhar penetrante para os
esboços que Elise deixou na mesa.
— Tudo bem, vamos deixar isso de lado por enquanto. — Assentindo de
forma resignada, ele sai.
Mas eu menti. Não tenho trabalho e não faço ideia de como resolver essa
divisão inflamada em meu peito.
Sete
— GWEN DISSE QUE DEVERÍAMOS dar um jantar completo no
salão de baile. — Elise semicerra os olhos por conta do sol enquanto
caminhamos. — Mas desde que eu era pequena, imagino espaços abertos,
pessoas conversando, uma variedade de lugares para alimentação com os
convidados livres, caminhando e se sentando onde quiserem.
— Gosto da ideia. — Chuto uma pedra ao seguirmos o caminho que
serpenteia os penhascos.
— Não seria muito casual? — Ela move a mão ao nosso redor,
indicando os amplos gramados verdes e o céu aberto, tudo voltado para o mar
como pano de fundo. — Porque este é o cenário perfeito para o que tenho em
mente.
— Bem, não é tradicional, mas o casamento é seu — aponto.
— Gwen acha que um homem da posição de Landon merece algo
tradicional. Testado e aprovado, ela disse.
— Quem é Gwen mesmo?
Elise levanta as sobrancelhas.
— Gwendolyn Price. A famosa organizadora de casamentos? — Ela
diminui o passo e me lança um olhar especulativo. — Você está bem? Parece
preocupada.
— Desculpe estar tão atordoada. — Balanço a cabeça, me forçando a
voltar ao aqui e agora. — Não tenho dormido bem nas últimas semanas.
— É o médico? Ele está te tratando mal?
— Não. Surpreendentemente, ele é uma companhia excelente.
Vance é mais gentil e atencioso do que pensei que seria, e gosto de
nossos jantares, pois a interação humana impede que a solidão me coma viva.
— Certo, então não é o médico, mas algo está te incomodando — Elise
diz, e seu tom me pede para desabafar com ela.
Mas temo que não haja solução para o meu problema, porque não
consigo tirar um certo leão da cabeça... nem o líder desta torre louca e cheia
de homens. Apesar dos muitos dias de trabalho sem pausas no estúdio, sem
mencionar o tempo que passo com Elise, a divisão em meu coração não
deixou de ser um problema.
Com meu silêncio contínuo, ela segura minha mão e me leva a um banco
de frente para o oceano.
— Fale comigo, Novalee.
— Não é importante. Você está planejando um casamento e...
— Não é importante? — ela interrompe, com a voz incrédula. —
Novalee, você é minha rainha.
— Eu sou um desastre.
— Não. — Seu rosto reflete empatia enquanto aperta minha mão. —
Você é o exemplo perfeito de força. Perdeu seus pais muito jovem, foi criada
por um monstro durante a adolescência e está sendo usada e abusada desde
que chegou aqui. Estou surpresa que ainda seja a rainha para quem tive a
honra de servir nos últimos anos.
— Nem tudo foi ruim. Eu tinha você e a Faye.
Mencionar minha amiga de longa data lança uma nuvem de melancolia
sobre nossa conversa, e caímos em um longo momento de mal-estar.
— Você teve notícias dela? — pergunto, sentindo o nó de tristeza na
minha garganta que se recusa a diminuir.
— Ela me escreveu uma vez para dizer que estava bem. — Elise hesita
enquanto mordisca o lábio inferior. — Está noiva. Eu deveria ter te contado
antes, mas não quis te chatear.
— Tudo bem. Entendo você não ter mencionado. — A brisa empurra
uma mecha de cabelo em meus olhos, e eu a afasto, fazendo com que a luz do
sol reluza no diamante em meu dedo.
A atenção de Elise vai para o anel.
— Você está chateada por causa do plano de Landon de você se casar
com Sebastian?
Estou me sentindo oprimida, apavorada e animada – tudo confuso em
uma bola pesada no estômago. Mas não tenho certeza de como colocar isso
em palavras.
— Não sei como me sinto.
— Você sente alguma coisa por ele?
— Estaria mentindo se dissesse que não. — Olho para ela com o canto
do olho, desejando poder falar tudo, mas até que meu irmão conte toda a
história a ela, não posso. — Não estou convencida de que o Sebastian quer se
casar comigo.
— Por que ele não iria querer? — Ela se aproxima para me encarar. —
Acho que todos querem ganhar sua mão, exceto Landon, é claro.
Retribuo o sorriso dela com a menção do nome de seu futuro marido.
— A família do Sebastian quer, mas ele está apaixonado por outra
pessoa.
— Por quem?
— Pela irmã do Landon.
Ela arregala os olhos azuis.
— O Landon não me disse isso. — Após um instante, ela franze o
cenho. — Por que você não me contou?
— Você anda ocupada e... — Eu balanço a cabeça. — Não sei por que
não contei. O Sebastian tem uma história com a Lilith e desde a noite do
baile, estou tão confusa...
— O que tem te deixado tão confusa assim? — ela pergunta baixinho.
— O problema é que também gosto do Liam.
— Isso me parece um dilema.
Quase zombo em voz alta.
— Não sei o que fazer. Nada me preparou para os homens desse lugar.
— Aponto para trás, onde a torre ostenta seus treze andares. — Eles não são
o que eu esperava, e não achei que me apaixonaria por nenhum deles, muito
menos por dois.
Elise assente.
— A Irmandade vem de uma linhagem menos convencional, o que torna
irônica a insistência de Gwen em um casamento tradicional. — Ela ri,
combinando ação com palavras. — Nem sempre concordo com as decisões
do Landon, mas ele é tão protetor e leal... Eu o amo ainda mais por isso.
O brilho de adoração em seus olhos me deixa com inveja.
— O Liam tem os mesmo traços, mas o Sebastian...
— Ele não é protetor nem leal?
— Ele é luxúria e paixão, tortura e intensidade. Ele chama minha
atenção apenas por estar na mesma sala.
— Para mim, parece que existe algo aí, Novalee.
— É loucura. Uma união com ele nunca vai dar certo. Nós dois seremos
infelizes.
— Talvez devesse dar uma chance a ele no próximo mês.
— Você tem conversado demais com o Landon — reclamo.
— Bem, pelo que ele me disse, você poderia acabar com alguém pior.
Estou feliz por ela não mencionar Liam como opção, porque eu teria que
me esquivar do motivo pelo qual Landon não me quer perto do Chanceler, e
não tenho intenção de mentir para minha amiga.
— O Sebastian ainda está preso ao passado, o que é um ponto negativo.
— O passado dele não está aqui. Você, sim.
Isso poderia ser verdade, mas até agora, o passado provou ter o pior
timing imaginável.
E por falar em timing...
— Preciso voltar. — Me levanto, notando como o sol caiu mais um
pouco em sua jornada até o horizonte. O trabalho ainda me espera no estúdio
antes do jantar.
Voltamos para a torre e nos separamos com um abraço antes de eu seguir
pelo labirinto de corredores, sentindo os cabelos da nuca se arrepiarem
quando passo pelos retratos dos ancestrais da Irmandade. Estou distraída ao
virar um corredor, e é quando dou de cara com Sebastian.
Literalmente.
Ele me segura pelos ombros para que eu não caia de bunda, e vejo seus
olhos azuis turbulentos quando ele faz uma careta para mim.
— Você tem que olhar por onde anda. Nunca se sabe o que pode estar
escondido nestes corredores.
Vê-lo provoca minha raiva, e ajo como sempre faço quando se trata dele.
Eu ataco.
— A única coisa que encontrei até agora foram homens idiotas.
— Exatamente o tipo ao que você não resiste, certo? — Sorrindo, ele me
empurra um passo para trás, e o formato de sua boca deliciosa deixa suas
intenções claras. Ele vai me fazer ansiar, vejo pelo jeito que consome todo o
oxigênio do corredor. Eu poderia passar por debaixo do seu braço e correr,
reivindicando refúgio em meu estúdio, mas em vez disso, eu o empurro e
planto a mão no meio de seu peito amplo, coberto com a blusa de algodão.
— Não, Sebastian. — As palavras saem em um comando tão simples e
tão cheio convicção e confiança que surpreende a nós dois.
— Princesa, não precisa me dizer não. — Ele levanta o queixo e me
encara. — Você deixou sua escolha bem clara no jantar.
— Você também, na noite do baile, ou já se esqueceu de Lilith Astor?
Sua risada amarga ecoa no corredor, incompatível com a maneira gentil
com que segura minha mão e entrelaça os dedos quentes ao redor dos meus.
— Ela não é uma mulher de se esquecer. — Ele faz uma pausa e a voz
suaviza. — Nem você.
Suas palavras me desarmam, destruindo minha concentração, e não
consigo respirar fundo com ele assim tão perto, muito menos lhe dar uma
resposta digna.
— Isso não é quebrar as regras? — Aponto com a cabeça para nossas
mãos unidas.
— Provavelmente, mas duvido que segurar sua mão conte como um
comportamento impróprio. — Ele volta a sorrir, apagando a sugestão de
ternura de um momento atrás.
— Tudo o que você faz é inapropriado. — Liberto minha mão, tentando
passar por ele antes que Sebastian perceba o quanto meu coração está
acelerado. Meu ombro roça em seu bíceps, e o cheiro amadeirado e limpo
dele invade meus sentidos. Sua presença me abala por completo, e não tenho
certeza se posso evitar tocá-lo ou cobrir seus lábios com os meus quando sua
proximidade irradia um pecado tão tentador.
Quando acho que escapei, ele me arrasta pelo corredor e me força a
entrar em seu estúdio. A porta bate atrás de nós, ecoando a promessa de muita
privacidade. Tento dar a volta nele, mas Sebastian me segura a cada passo.
— Me deixe sair daqui.
— Não até conversarmos. — Me perseguindo e dominando cada
centímetro do espaço, ele me empurra em uma cadeira e se inclina, as mãos
de artista segurando os braços da mobília.
Se não tivesse me prendido e roubado minha vontade de lutar, seu olhar
brilhante e arrogante seria o suficiente para me manter no lugar. Meus seios
sobem e descem rápido demais, e não importa o quanto desejo que isso tudo
desapareça, um rubor induzido por Sebastian sobe pelo meu pescoço.
— Então fale — digo com os dentes cerrados.
Um movimento perigoso, porque seu olhar baixa para a minha boca.
Não posso deixar de umedecer os lábios, embora não tenha certeza se o faço
para provocá-lo ou porque é uma resposta instintiva ao desejo em sua
expressão.
— Pare de me distrair — ele grunhe.
— Não sei do que você está falando.
Ele abre a boca e a luta interna que sinto nele – forte o suficiente para
inflamar o ar ao redor – vai direto para o meu sexo. Penso em apertar as
coxas, mas Sebastian coloca um joelho entre elas, como se soubesse qual
seria meu próximo movimento.
— Aposto que está excitada agora. — Ele abaixa a cabeça, quase
tocando os lábios nos meus. — Não está, Novalee? Quente, úmida e latejando
de necessidade?
Retribuindo seu olhar com coragem, me recuso a ceder.
— Pensar nisso deixa o seu pau duro?
— Se tratando de você, meu pau está sempre duro. — Equilibrando o
joelho na almofada, ele segura minha bochecha e esfrega o polegar em minha
boca. Isso é contra as regras, mas não consigo me importar.
— Sebastian. — Seu nome é como uma oração em meus lábios, um
apelo para que a dor no peito desapareça. Ele toca minha língua com a ponta
do polegar, e é uma tentação quente e salgada à qual não quero ceder, mas ele
sempre consegue me dobrar. Chupo o seu dedão.
Ele geme.
— Está tentando me causar problemas?
Mordisco a pele antes de deixar seu dedo escapar dos meus lábios.
— Por que eu faria uma coisa dessas?
— Assim você pode se casar com o Chanceler.
— E se eu quiser me casar com ele? — A pergunta é um desafio. Um
teste. — Isso te incomoda?
— Você tem mesmo que perguntar?
Uma gargalhada soa alto no meio do joguinho que nos envolve.
— Você não deixou muitas coisas claras até agora. — Mantenho o olhar
no dele, fazendo com que este momento significativo ganhe força entre nós.
— Por que você deu permissão ao Vance para ir atrás da Lilith?
— Ele te contou?
— Sim, mas não entendo por que você fez isso. Na noite do baile, você
disse...
— Nós dois dissemos coisas.— De pé, ele passa a mão pelo cabelo. —
Eu disse coisas que não queria ter dito.
— O que você não queria ter dito?
— Não queria ter insinuado que sentia algo por Lilith.
— Então está dizendo que não sente nada? — Prendo a respiração, com
medo de ouvir o que vem a seguir, ainda assim... espero a única resposta que
meu coração anseia.
— Tenho história demais com ela para não sentir nada, mas o que sinto
combina mais com o ódio do que com qualquer outra coisa.
— Porque você a odeia?
— Porque ela é uma deusa dos jogos mentais, e eu sou seu passatempo
favorito.
— Então você a odeia, mas... a quer? — O medo atinge minhas cordas
vocais, me fazendo ofegar com as palavras. Mas não importa o quanto esta
conversa seja perturbadora, ou o quanto eu não queira ouvir sobre a deusa dos
jogos mentais que partiu o coração dele em algum momento, preciso saber
em que pé estamos.
É então que me lembro de que isso é uma via de mão dupla e que talvez
ele sinta o mesmo por Liam.
Ele se inclina sobre mim outra vez, me prendendo com seus braços
musculosos e nossos olhos se encontram.
— Eu a desejava — ele murmura, abaixando a cabeça até o canto de sua
boca roçar a minha. — Então peguei você me espionando no corredor e algo
simplesmente mudou. — Sebastian inspira, deixando escapar um gemido
baixo no fundo da garganta, em seguida, expira contra meu pescoço e um
arrepio percorre meu ombro. — Sei que você sente o mesmo, e é por isso que
dei a Vance o que ele deseja há tanto tempo.
— E se ela não o quiser?
Ele dá uma risadinha.
— A Lilith sempre quer o que ela não pode ter. Ele é o prêmio mais
importante em seu radar por anos.
O fato de que ele está se abrindo comigo, mesmo que apenas um pouco,
enche minha alma de esperança.
— Nos últimos meses... não foi a primeira vez que senti isso —
confesso.
— Está falando sobre o dia em que nos conhecemos. — Ele se afasta,
procurando meu rosto. — Você tinha apenas doze anos. Era muito inocente.
— Não entendi isso na época, ou de onde vinha sua raiva, mas você me
intrigou.
Algo sombrio e doloroso passa por seu rosto.
— Eu estava com tanta raiva... Jesus, Novalee. Você me viu quando
ninguém mais o fez. — Ele se ajoelha entre meus pés e apoia a cabeça no
meu colo ao segurar meus quadris. O desejo de afundar os dedos em seu
cabelo é quase maior do que posso suportar. Coloco as mãos ao lado do
corpo, permanecendo tão imóvel quanto uma rocha.
— Eu ainda te vejo, Sebastian.
Ficamos assim por algum tempo e, eventualmente, não consigo me
segurar. Com um suspiro, passo os dedos por seu cabelo espesso e
despenteado, e meu coração bate forte enquanto sua respiração rápida aquece
o tecido que cobre minha coxa.
— A maneira como você olha para o Chanceler traz à tona o que há de
pior em mim.
Engulo em seco.
— Você não deve estar vendo a maneira como olho para você.
Ele inclina a cabeça e os olhos azuis-marinhos encontram os meus
novamente.
— Mas você o escolheu.
— Minha decisão não é o que você pensa.
Ele arqueia uma sobrancelha em descrença.
— Então não está apaixonada por ele?
— Eu me importo com ele, mas não é por isso que o escolhi.
— E o que eu deveria pensar? O Landon quer que eu me case com você,
mas na primeira chance que tem, você escolhe o Castle. Por quê?
Pisco, frustrada comigo mesma e me sentindo culpada pelo que pedi a
Liam para fazer na noite do jantar.
— Não posso te contar.
Ele fica de pé, e eu desvio a atenção do contorno de seu pênis naquele
jeans.
— Não gosto de jogos, princesa. Joguei a vida toda, mas deixei isso para
trás.
— Não é um jogo. — Avanço sobre ele, apoiando as mãos em seus
ombros e encontrando conforto em sua força. — Você terá que perguntar ao
Landon porque escolhi Liam.
— Mais segredos? — Ele segura minha nuca, me puxando rente ao seu
corpo enquanto abaixa a cabeça.
— Quando eu tiver permissão para te tocar... — ele murmura. Sua boca
é como uma leve provocação em meus lábios. — Pretendo extrair até o
último segredo de você.
A carga que irradia dele faz com que eu me afaste, e tremo em seu
aperto, quente e necessitada por dentro. Seguro seu rosto desalinhado,
mantendo um espaço insignificante entre nós, porque se ele me beijar agora,
não serei capaz de parar.
— Você precisa me deixar ir embora.
— Eu sei — ele fala, fechando os olhos com relutância. Sebastian dá um
passo para trás e cruza os braços. — Vá, antes que eu faça algo que foda
qualquer chance que eu tenha de me casar com você.
Sigo para o corredor, e minha respiração para nos pulmões enquanto
minhas terminações nervosas estalam e chiam. Não há elixir estimulante
nesta terra mais poderoso do que Sebastian Stone.
Especialmente quando ele insinua que quer se casar comigo.
Oito
O ANIVERSÁRIO DE VANCE vai marcar a terceira semana do meu
mês em sua casa. Mas na noite anterior, uma comoção se infiltra em meu
quarto pela porta fechada: muitos passos, uma mistura de vozes e pancadas
no chão.
Curiosa demais para o meu próprio bem, coloco o lápis comum na mesa
com o resto dos lápis carvão e vou para o corredor investigar. As portas
duplas em frente ao meu quarto, geralmente mantidas fechadas, estão
escancaradas. Vários assistentes rodeiam uma mulher que usa uma saia justa
e um top sem mangas enquanto dispara ordens como uma controladora de
tráfego.
— Os baús vão para o guarda-roupa — ela diz, com o dedo apontando
para a esquerda. Enquanto se esforçam para cumprir suas ordens, ela se vira,
me vê espreitando no corredor e logo franze as sobrancelhas perfeitamente
arqueadas sobre os profundos olhos verdes.
Meu coração quase para, porque o gelo vindo de Lilith Astor é frio o
suficiente para congelar meu sangue.
— Com licença — diz para sua comitiva antes de caminhar até a porta
da suíte. Ela junta os lábios vermelho-rubi em uma linha de
descontentamento. Sem outra palavra, fecha as portas na minha cara.
Uma hora depois, ainda estou magoada com sua grosseria. Vou para a
sala de jantar encontrar Vance. Ele está sentado à cabeceira da mesa, vestindo
uma camisa cinza escura de botões com os punhos enrolados. Me acomodo
em meu lugar habitual à sua esquerda. No momento em que o pessoal da
cozinha serve o jantar, Lilith ainda não chegou.
— A Lilith vai se juntar a nós? — pergunto.
— Sim. Vamos esperar — ele responde e uma carranca aparece em seu
rosto quando olha para o relógio.
— Não sei se ela gosta da minha presença aqui. — Aliso a saia de renda.
— Por que você diz isso?
— Eu a vi quando chegou, e não pareceu feliz em me ver.
A irritação enrijece sua mandíbula quadrada.
— O que ela fez?
— Fechou a porta na minha cara. — Duas delas, para ser exata.
Sua carranca se aprofunda.
— Isso é inaceitável. Vou falar com ela sobre seu comportamento.
— Por favor, não. — Eu me repreendo mentalmente por ter mencionado
aquilo. — Só vai piorar as coisas.
— Não percebi que havia tensão entre vocês duas.
— Não da minha parte.
— A Lilith não é a pessoa mais fácil de se conviver.
— Acho que ela pode estar chateada, porque... — Faço uma pausa,
respirando fundo e me perguntando se devo admitir minhas suspeitas para o
médico. Mas ele tem sido gentil comigo desde que vim para sua casa, e me
acostumei a conversar com ele. — Por causa do que há entre mim e
Sebastian.
Ele arregala os olhos, surpreso.
— Sebastian? Achei que fosse o Liam.
— Seria muito terrível se eu dissesse que são os dois?
Com um toque de diversão, seus lábios se esticam em um sorriso.
— Isso a tornaria humana, minha rainha.
Lilith aparece, e me pergunto se o ciúme me torna humana também. Ela
está linda em um vestido preto elegante, com duas fendas laterais que
mostram suas longas pernas. Esta é a mulher que enfiou as garras em
Sebastian e bagunçou sua cabeça. Em algum momento, ele a amou... quer
dizer, se ainda não a ama.
Então me lembro de que ela também é minha meia-irmã.
Pensamentos angustiantes giram na minha cabeça em um ciclo
interminável de futilidade. Refletir sobre a presença dela e o que isso pode
significar para mim e Sebastian não vai me ajudar agora, nem vai mudar o
fato de que tenho que morar com Lilith Astor, porque, a julgar pelos baús e os
assistentes pessoais que trouxe, ela está aqui para ficar.
— Você chegou atrasada — Vance diz enquanto ela se acomoda e passa
o olhar por mim como se eu não estivesse na sala. A inclinação de seu queixo
me diz o quanto sou insignificante para ela.
— Não consegui me acomodar e me preparar para o jantar em uma hora.
— Ela pega a taça de vinho tinto ao lado do prato e toma um longo gole. —
Você não precisava ter esperado por mim. — Ela acena com a cabeça para
sua comida intocada. — Não posso garantir que estarei presente em todos os
jantares, então é melhor que os seus planos não dependam de mim.
— Você vai estar aqui — ele diz, assumindo um tom severo. — Todas as
noites às seis. Está claro?
Me considerando digna de sua atenção, ela inclina a cabeça na minha
direção.
— Você deve estar me confundindo com a rainha. Não estou sob
contrato algum para seguir suas ordens.
Vance se levanta, e sua bravata diminui quando se inclina e segura o
queixo dela.
— Acho que você não entendeu, amor. — Ele mostra os dentes com um
toque sentimental e tortuoso no sorriso. — Se quiser se deitar na minha cama,
vai seguir minhas ordens.
Teimosia pura faz com que ela aperte os lábios.
— Está com a impressão errada se acha que quero me deitar em sua
cama.
— Então por que você está aqui?
— Eu estava entediada.
Com escárnio, ele a solta e retoma seu assento.
— Você nunca para de jogar, Lilith.
A ironia em sua acusação não me escapa. Sebastian disse algo no
mesmo sentido. Enquanto como a salada, eu a observo. Ela não parece o tipo
de mulher que se aborrece facilmente. Seus olhos são calculistas e a elevação
do queixo, exigente demais. Tudo nela grita temperamento difícil.
— Eu não como espinafre cru. — Ela afasta a salada com desdém.
— Se tivesse chegado na hora, poderia ter pedido à equipe para te trazer
outra coisa.
— Tudo bem. — Ela dispensa a salada com um aceno das unhas
pintadas em vermelho-rubi. — Posso assumir que você tem segundas
intenções por ter me convocado enquanto ela está aqui?
Há um desafio em sua pergunta, mas Vance apenas sorri.
— Não consigo esconder nada de você — ele afirma.
— Você se esqueceu que eu te conheço?
— Não, amor.
— Então pretende que ela assista?
— Obviamente.
Com os olhos arregalados, meu olhar vaga de um para o outro, como em
um jogo de pingue-pongue.
Lilith faz uma careta.
— Não vou participar de suas brincadeiras, Vance. Encontre outra
pessoa para se exibir. — Com o queixo erguido em desprezo, ela empurra a
cadeira para trás e se levanta.
— Sente-se. — A ordem de Vance troveja pela sala, e eu me assusto.
Lilith retoma seu assento sem reclamar. O médico pigarreia, aparentemente
para recuperar a compostura. — Não vou forçá-la a ir para a minha cama,
mas saiba que se você me negar, não terá outra chance.
— Você está blefando.
Ele arqueia uma sobrancelha.
— Estou? Vai querer arriscar depois de todos esses anos desejando ver o
interior do meu quarto?
Dou uma garfada na salada e mastigo, hipnotizada pelo confronto que
acontece na minha frente. Parte de mim não consegue deixar de se sentir
exultante por Vance estar derrubando Lilith do alto de seu cavalo. A outra
parte fica desconfortável em testemunhar o que deveria ser uma conversa
particular entre os dois.
Ela termina o vinho e volta a se levantar, aparentemente calma, apesar
do fogo em seu olhar.
— Considere seu blefe aceito. — Ela sai da sala de jantar, e Vance ri.
— Deus, adoro um desafio.
Nove
NA NOITE SEGUINTE, O jantar não é muito diferente. Vance e Lilith
se envolvem em mais discussões conforme a hora passa, e ela sai furiosa
antes de cortarmos o bolo de aniversário de Vance.
Com um suspiro, ele esfrega a ponte do nariz.
— Por favor, perdoe o comportamento dela. Acredite em mim, a culpa
não é sua, minha rainha.
Não sei como responder a isso, então não digo nada. Comemos a
sobremesa em silêncio, algo que está longe do clima amigável que
geralmente compartilhamos durante o jantar. Então Vance pede licença,
deixando a guloseima de aniversário pela metade.
— Venha para meus aposentos em uma hora — ele ordena.
Eu pisco.
— Você quer que eu vá para o seu quarto? — Já passei pelas portas
duplas várias vezes a caminho da academia que ele tem em casa, mas nunca
vi o interior de seu espaço pessoal.
— Sim. — Com a mandíbula rígida, ele olha na direção em que Lilith
desapareceu dez minutos atrás. — Você não vai precisar de roupas para o que
tenho em mente.
Arregalo os olhos quando ele sai da sala de jantar. Agora que o apetite se
foi, afasto o resto do bolo. Exceto pela minha primeira noite em sua casa,
quando ele me fez vê-lo atingir o clímax, o médico tem sido um perfeito
cavalheiro, me deixando intocada.
Tive mais conversas com Vance do que com qualquer outro homem
nesta torre. Contei a ele sobre meus anos com Faye antes da morte de meus
pais, detalhando as travessuras em que costumávamos nos envolver e a
liberdade que tínhamos para vagar pelos corredores, tendo a imaginação
como nosso único guia.
Acontece que Vance tem uma irmã mais velha que mora fora da ilha
com o marido – um cirurgião cardiotorácico mundialmente famoso que o
inspirou a entrar na medicina depois de se formar na escola. Fiquei surpresa
ao saber que ele faz vinte e nove anos hoje, pois não parece ter mais de vinte
e cinco.
Lilith é um ano mais jovem, o que significa que Sebastian se apaixonou
por uma mulher mais velha durante a adolescência. A minha ficha quanto à
diferença de idade de Lilith e Sebastian não havia caído totalmente até a
observar interagir com o médico nos últimos dias.
Eles parecem se mesclar como Sebastian e eu – com paixão e raiva se
fundindo em uma combinação explosiva.
A equipe de limpeza chega para tirar a mesa, e eu volto para o quarto
para me refrescar. Depois de tomar um banho e secar o cabelo, vou até o
armário e paro.
Sem roupas, ele disse, mas cada átomo do meu corpo quer esconder a
pele. Como um meio-termo, visto um robe de seda na altura dos joelhos antes
de sair descalça do quarto. Uma vibração nervosa explode no meu estômago
quando me aproximo de seu domínio.
Vance deixou a porta entreaberta, e eu a empurro para encontrá-lo de pé
e nu, com o cabelo loiro caindo sobre os ombros. Não há como negar que ele
é um homem bonito. Tem um pouco de pelos no peito e os bíceps fortes
foram conquistados ao levantar pesos na academia todas as manhãs antes de
sair para o trabalho.
— Entre — ele diz com aqueles olhos profundos percorrendo cada
centímetro de mim. — E tire o robe.
Adentro uma espaçosa sala de estar decorada em tons escuros e
aconchegantes, mobiliada em couro chocolate. A iluminação embutida lança
uma atmosfera proibida sobre o espaço sem janelas. Há espelhos pendurados
nas paredes e os móveis são ricos e estranhos – desenhados de uma forma que
me faz pensar em sensualidade. De um jeito sutil, a sala me lembra a
masmorra no térreo da torre, embora seja menos intimidante.
Quando tiro o robe e o coloco em um gancho perto da entrada, fico com
medo e fascinada em quantidades iguais.
Ele levanta um dedo.
— Venha aqui, minha rainha.
Meus seios balançam quando vou até ele e o desejo em seu olhar se
intensifica. Ele segura a minha mão e me leva a uma sala em forma de onda.
— Sente-se. — Com um leve empurrão, me deixa esparramada no couro
frio e macio. Seu aperto firme abre minhas pernas até que elas pendam nas
bordas, com os joelhos dobrados. Vance pega uma garrafa de uma mesa com
rodinhas e derrama o líquido em uma colher de chá.
— Abra — ele diz, aproximando a colher da minha boca.
Tenho medo de perder o controle do corpo novamente, mas os meses
que passei neste lugar me condicionaram a obedecer. Abro os lábios para sua
mistura e engulo. Ele segue com mais duas doses.
— Você vai me tocar? — Olho para ele com a apreensão apertando o
peito.
— Depende. — Ele olha entre minhas coxas. — Você quer que eu te
toque?
— Não leve isso para o lado pessoal, mas não.
Ele sorri.
— Sei que não sou sua escolha, amor. Não vejo problema nisso. — Se
inclinando, ele apoia as mãos na almofada. — Mas quero muito provar sua
boceta.
Uma doce tensão me atinge entre as pernas e, pela minha primeira
experiência com seu elixir, sei que só vai ficar mais intensa à medida que a
noite avançar.
Umedeço os lábios.
— Isso parece... pecaminoso.
— O quê?
— Compartilhar meu corpo com tantos homens. Me faz sentir suja.
— É o seu destino. — Ele passa a mão pela minha barriga, fazendo
meus músculos tremerem sob seu toque. — Em vez de lutar, talvez você
devesse abrir a mente e se divertir. — Ele circula o mamilo esquerdo, e eu
suspiro. — Então, vou perguntar de novo, amor: quer que eu coma a sua
boceta?
O desejo inunda meu interior e me contorço enquanto meu rosto
esquenta.
— Não quero dizer sim.
— Então não diga. — Sorrindo, ele se inclina mais e seu rosto paira
sobre minhas coxas. — Deixe seu corpo dizer por você.
Ele abaixa a cabeça e o cabelo faz cócegas na minha pele enquanto seu
hálito quente se espalha pelo meu clitóris pulsante. Com um gemido, eu me
curvo para o que ele está oferecendo, meu corpo articulando a linguagem do
consentimento. Sua língua provoca e saboreia, aumentando os efeitos
frustrantes do elixir, porque não há linha de chegada para mim esta noite.
Estou à mercê de sua mistura potente e do acordo que ele fez com
Sebastian. Enquanto o nome do leão ecoa em minha mente, eu grito, vencida
pela intensidade imoral entre minhas pernas.
— Por favor — sussurro, sentindo o desespero se formar dentro de mim.
Apertando as mãos na almofada, inclino meus quadris, procurando mais de
sua boca. Estou gemendo quando uma porta bate. Nos afastamos e
encontramos Lilith na porta com as mãos nos quadris e a ira refletida em sua
feição.
Vance se levanta devagar, passando as costas da mão pelos lábios
úmidos. Parece despreocupado com a carranca dela. Fico de pé, prestes a sair,
mas ele me para com um aceno de seus dedos.
— Quero que você assista. Considere isso um presente de aniversário
para mim. — Ele se move para um futon baixo do outro lado da sala e,
apertando um botão, o sofá se transforma em uma cama. Lançando um olhar
penetrante para Lilith, ele dispara um desafio com o queixo.
— Eu já te disse — ela diz, balançando a cabeça. — Não vou fazer isso
enquanto ela assiste.
— Acho que você vai mudar de ideia. — Sua atenção se concentra no
elixir, e Lilith arregala os olhos.
— Não! — Ela se vira, fazendo o cabelo preto voar, e desaparece no
corredor. Vance dá início à perseguição, com um sorriso satisfeito distorcendo
sua expressão. Nem dez segundos depois, ouço gritos e o que soa como
punhos batendo na parede. O tum, tum, tum fica mais urgente conforme
passos decididos se aproximam.
Vance entra novamente e a joga no sofá-cama.
— O que te faz pensar que pode me tratar assim? — Ela dá um sorriso
de escarnio, e o brilho em seus olhos é aparente de onde estou, atordoada e
em silêncio, na sala. Ela tenta se levantar, mas ele a empurra de volta para o
colchão.
— Pare de lutar comigo — ele diz, rastejando sobre ela e segurando-a
pelo pescoço. O uso da força me choca, porque Vance nunca sugeriu tamanha
brutalidade durante as três semanas que estive em sua casa.
— Você não pode me obrigar a isso!
— Não vou te obrigar, mas vou te oferecer um acordo. — Ele se
aproxima e fica quase testa a testa com ela. Tirando as batidas do meu
coração, o lugar está tão silencioso que um alfinete poderia cair e todos
ouviríamos.
— Você me acha idiota? Seus acordos só beneficiam a você.
— Sei que você quer meu pau. — Ele se acomoda entre as pernas dela,
empurrando os quadris contra os de Lilith como se quisesse demonstrar seu
ponto.
Ela balança a cabeça.
— Assim, não.
— Tome o elixir. Se não me implorar para transar com você aqui, esta
noite, com ela assistindo, vou te deixar ir embora. Vou até te dar outra chance
depois que a rainha partir.
Essa breve promessa acaba com a luta de seu corpo. Gemendo de
frustração, ela fica inerte no colchão.
— Você é irritante!
— Tão irritante que você não consegue resistir.
— Tudo bem. Vou tomar uma colher.
— Você vai tomar duas.
— Não vou.
— A menos que você prefira três? — Seu sorriso tortuoso se vira na
minha direção. — Novalee tomou a dose completa. Ela não vai ganhar
nenhum prêmio esta noite. — Ele faz uma pausa, roçando os lábios em seu
queixo teimoso. — Gostaria de se juntar a ela em uma pequena negação
sexual?
— Como foi que você se tornou tão idiota?
— Foi você que criou o monstro, amor. Por anos, me provocou, sabendo
que eu não poderia fazer nada a respeito.
— Errado — ela explode. — Você não fez nada a respeito.
— Estou fazendo agora.
O suspense cai sobre o quarto, intercalado com a respiração pesada e a
forte tensão sexual no ar. A embriaguez corre em minhas veias, formigando
minha pele com a excitação, e espero sua resposta com a respiração suspensa,
curiosa demais sobre o resultado da discussão.
— Você venceu — Lilith finalmente diz, virando a cabeça para longe em
derrota. Seus olhos encontram os meus por um instante, e por trás do ódio,
detecto outra coisa, embora não consiga identificá-la a princípio.
Algo que não é ódio, mas também não é gentileza. É uma compreensão,
uma espécie de afinidade – nossa filiação a um clube exclusivo para mulheres
governadas por homens.
Vance se levanta, fazendo-a se sentar. Ele pega o elixir e o serve em uma
colher de chá antes de levá-lo aos lábios de Lilith. Por dez longos segundos,
ela se recusa a abrir a boca e quase espero que volte a sair correndo.
Mas em vez disso, ela se apoia nos cotovelos e se abre para ele. A
maneira como ela fecha a boca em torno da colher, com o sorriso tímido e a
travessura nos olhos, demonstra de sua intenção. Se Vance percebe, não
questiona.
Apoiando um joelho no sofá, ele a serve outra dose antes de colocar a
garrafa e a colher de chá de volta na mesa.
— Tire a roupa — ele ordena.
— Se me quiser nua, faça você mesmo.
— Humm. — Ele observa seus seios, o decote ameaçando se abrir sobre
o corpete de amarrar. — Está ansiosa por minhas mãos, não é?
— Não! Não foi isso que eu...
Ele a silencia com um dedo em sua boca.
— Fico feliz em obedecer. — Passando a mão entre seus seios, ele
desamarra os laços da blusa, e sinto meus mamilos se contraírem em resposta.
Quero desviar os olhos, fingir que Vance não está prestes a transar com
ela naquele sofá, mas estou fascinada. Meu corpo é refém de sua poção
perversa enquanto ela aquece meu sangue. Os seios de Lilith caem em suas
mãos hábeis, e ela geme com o contato da pele.
A boca e as mãos dele estão por toda parte, fortalecidas pelos gemidos
suaves de Lilith e pela urgência que sinto nele. Quando o médico se coloca
sobre ela, empurra sua saia com dedos frenéticos, e o cabelo loiro, selvagem e
despenteado cai sobre as coxas da mulher. Não consigo respirar.
— Merda! — ela grita, curvando a coluna em um arco sem fim. Ela
entrelaça os dedos esmaltados no cabelo dele e se segura.
Esta batalha foi perdida antes mesmo da primeira colher que Vance deu
a ela.
Não é preciso muito para levá-la à beira do precipício, e é quando ele se
afasta com a umidade brilhando nos lábios sorridentes.
— Por que você parou? — ela grunhe em protesto.
— Diga as palavras, amor.
— Que palavras?
— Me implore para te comer.
— Vá para o inferno! — Ofegando por ar, ela se joga de volta no
colchão.
— Ainda quer jogar? — Ele rasteja por seu corpo, coxas fortes e
musculosas prendem seus ombros e então Vance segura o pau duro em uma
das mãos. — Sei que você quer isso. — Acariciando sua ereção, ele provoca
a boca de Lilith com a ponta. — Imagine como vai ser bom senti-lo dentro de
você.
Ela afasta a cabeça e, mais uma vez, nossos olhares se encontram. Os
dela estão dilatados e turvos, semicerrados com a necessidade, e sinto seu
desespero em cada terminação nervosa do meu corpo.
Neste ponto, estou implorando em silêncio para que ela faça o que ele
quer.
Ele aumenta os movimentos da mão, respirando com dificuldade a cada
carícia.
— Escolha — ele geme. — Posso gozar no seu rosto ou você pode
conseguir o que quer.
Ela se contorce debaixo dele.
— Saia de cima de mim!
Ele se levanta em um pulo, com o peito arfando enquanto a derrota
sombreia seu rosto.
— Mensagem recebida em alto e bom som, amor.
Eles se encaram por vários segundos, presos em um impasse. Então
Lilith pula da cama e o empurra para o sofá. Ela rasteja sobre seu corpo e o
monta em um impulso furioso, fazendo-o gemer conforme move os quadris
para tomar seu pênis ainda mais fundo.
Nunca vi um casal como este: cheio de raiva, desespero e paixão. É o
epítome da chama derretendo o gelo, o amanhecer ofuscando o crepúsculo, o
sol sobrepujando a lua. Assisto com admiração da primeira fila, excitação
relutante pingando na almofada, e enquanto rugem como animais, puxando o
cabelo e dando tapas nas bochechas, não tenho certeza se esta é uma batalha
que algum deles pode vencer.
Dez
ACORDO COM A MÃO entre as pernas. As ramificações do meu
sonho me acompanham em uma lenta retomada de consciência, e me agarro
aos detalhes, revivendo como aqueles lábios deliciosos contornaram meus
mamilos sensíveis, como o cabelo grosso escorregou por entre meus dedos
parecendo seda, e como uma língua quente e úmida me lambeu.
O que lembro, principalmente, é do olhar brilhante de um leão me
observando das sombras.
Permito o toque dos meus dedos, deslizando pela pele lisa e esfregando
em círculos constantes o clitóris necessitado. A pressão aumenta, me
aproximando do ponto de ruptura. Com um gemido, afasto a mão e
amaldiçoo Liam por me incitar a fazer uma promessa da qual agora me
arrependo.
E amaldiçoo Sebastian por invadir um sonho tão privado e sexualmente
explícito.
Acima de tudo, culpo Vance pelas imagens que nunca vou tirar da
cabeça.
Depois de usar o banheiro e me vestir para o café da manhã, vou até a
sala de estar principal. As portas francesas da varanda estão abertas, e vejo
Lilith apoiada na grade de costas para mim. Está olhando para o mar, com a
caneca de café em uma das mãos. Seu cabelo cai em cascata pelas costas em
uma bagunça emaranhada que os dedos de Vance causaram na noite passada.
Um negligé de cetim preto recai sobre seus tornozelos, agitado pela
brisa. Por alguma razão, vê-la provoca um aperto empático no meu coração.
Há uma aura de tristeza em torno dela, como se achasse a névoa do início da
manhã compatível com o que quer que esteja passando por sua cabeça. Ela é
um enigma: autoconfiante e segura em um momento, mas quieta e
contemplativa no próximo.
Eu a observo por vários segundos, mantendo minha presença
desconhecida até que ela se vira e me pega olhando.
— O Vance foi chamado para uma emergência — ela diz, voltando a
atenção para a comida que nos aguarda na mesa. — Ele não vai se juntar a
nós para o café da manhã.
— Não seria a primeira vez. — Me sento, sem saber o que fazer ou
dizer, e pego a chaleira. — Ele é muito dedicado ao trabalho.
— Dedicação e lealdade são dois de seus pontos fortes.
Caímos em um longo desconforto, e não aguento o constrangimento,
especialmente depois da experiência que compartilhamos na noite passada.
— Você o ama? — Pego a xícara de creme pela alça delicada e adiciono
um pouco no chá.
Ela arqueia uma sobrancelha.
— Não acho que seja da sua conta.
— Acho que é, considerando que ele pode ganhar o leilão.
O canto de sua boca se inclina em um sorriso sardônico.
— Sobre quem você está perguntando? Vance ou Sebastian?
Hesito por um momento, e então procuro ser honesta.
— Os dois?
— Bem, aí está a sua resposta.
Eu inclino a cabeça.
— Então você está apaixonada pelos dois?
— De maneiras diferentes, sim.
— Mas você não pode ter os dois.
Ela bufa, colocando o café na mesa.
— Apesar de você achar que é apropriado me dizer o que posso ou não
fazer, a verdade é que não posso ter nenhum dos dois. Nossas leis não
permitiriam isso.
— E se pudéssemos mudar as leis? — É uma esperança vã, mas não
posso deixar de perguntar. — Quem você escolheria?
Sua risada desdenhosa se choca com a serenidade da manhã.
— Somos cidadãs de segunda classe nesta sociedade distorcida. Não
temos escolhas.
— Eu não tinha percebido.
Ela cruza os braços.
— Tudo bem, vamos jogar. E você? Escolheria o Sebastian?
Aperto os lábios, sem saber como explicar. De alguma forma, ela parece
entender.
— Não é tão fácil, é? — Ela se acomoda na cadeira à minha frente. —
Parece que a indecisão nos amaldiçoa. — Uma sombra escurece seus olhos
verdes.
— Talvez, depois do próximo mês, eu ganhe um pouco de clareza. — A
tristeza rouba meu tom porque não quero machucar ninguém e, embora o
resultado do leilão não dependa da minha vontade, quero ser fiel a mim
mesma.
Se eu fizer uma escolha, deveria fazê-la por mim.
— Eu sei que você e Sebastian têm uma... — Ela para e revira os olhos.
— Essa coisa intensa acontecendo. Mas quem é o outro cretino sortudo que
pode ganhar o coração da rainha?
— Você acha que o que temos é intenso? — Estou surpresa que ela
tenha percebido, a menos que tenha falado com o irmão.
Nosso irmão.
Ela ri.
— Meu Deus, como você é fofa. — Ela toma um longo gole de café,
fechando os olhos enquanto o líquido desce por sua garganta. Em seguida,
seu olhar conhecedor me encara. — Você está mal.
— Não estou.
— Ah, está, sim. Fiz uma pergunta e você pulou direto para a parte
importante. Isso me diz tudo que preciso saber.
— Não acho que diga tudo.
— Você tem razão — ela responde com um aceno de cabeça. — Você
ainda não me respondeu.
— Se quer mesmo saber, é o Liam. Ele é o outro cretino sortudo. —
Meu tom zomba dela, e não faço questão de esconder.
— Não é uma escolha ruim. — Ela me dá um sorriso presunçoso. —
Aquele homem pode passar horas na cama.
Estou no meio da bebida quando ela joga as palavras contra mim, me
fazendo cuspir chá em todos os lugares.
— Você dormiu com ele? — É mais uma acusação do que uma pergunta,
mas minha voz soa estridente quando uso um guardanapo para limpar a
bebida esparramada.
Ela sorri.
— Foi só uma noite. O homem é insaciável, mas Sebastian também é.
O enjoo sobe pela minha garganta, queimando como ciúme possessivo.
Incapaz de olhar para ela, encaro a comida espalhada na mesa, de frutas e
iogurte a linguiça e ovos, embora eu não tenha vontade de provar nada disso.
Ela não tem o mesmo problema. Sinto sua atenção em mim, avaliando
minha reação enquanto passa manteiga em um croissant.
— Eles são homens, Novalee. Você não pode ficar ressentida com esse
tipo de coisa.
Minha cabeça recentemente condicionada me diz que ela tem razão, mas
meu coração não concorda.
— Bem, o passado está no passado — eu digo, dando de ombros e
fazendo o meu melhor para não me ressentir. Pelo menos, eu tento.
Ela morde o pão e umedece os lábios.
— Você é tão jovem e inocente. Nosso passado molda quem somos. Se
você acha que encontrará o príncipe encantado no final deste circo, talvez
deva se preparar.
— Por que você diz isso?
Ela se levanta, abandonando o resto de seu café da manhã.
— Um conselho — ela diz, parando ao meu lado. — Se concentre em
Liam, porque o passado de Sebastian não vai desaparecer. Quanto mais
rápido você aceitar isso, melhor.
Eu a observo abrindo caminho através da sala de estar, balançando os
quadris na camisola justa, e sua despedida deixa um gosto intolerável na
minha língua, como se eu tivesse engolido uma pílula amarga.
Mas há um toque de verdade em suas palavras, um lembrete de que ela e
Sebastian têm uma história, e que ela deixou claro que não vai se tornar
obsoleta quando eu entrar na Casa de Leão.
Onze
NA MINHA ÚLTIMA MANHÃ na Casa de Câncer, Vance e eu
compartilhamos o brunch na varanda, apenas nós dois, antes que ele me
acompanhe até o térreo da Propriedade do Zodíaco.
— Não estamos um pouco adiantados? — pergunto enquanto as portas
do elevador se abrem com um ding, anunciando nossa chegada no corredor
principal.
— Estamos — ele confirma. Justamente quando penso que Vance está
prestes a me conduzir em direção à biblioteca, ele faz uma curva abrupta, me
puxando com ele.
— Aonde estamos indo?
— Precisamos fazer um desvio primeiro. — Depois de várias voltas, ele
abre uma porta, e reconheço a sala enorme onde o exame médico ocorreu no
início de minha sentença de um ano.
— O que viemos fazer aqui?
— Preciso fazer uma coisa antes de entregá-la para Sebastian. — Ele
fecha a porta, nos garantindo privacidade. — Eu poderia ter feito isso em
casa, mas decidi trazer você aqui. Acho que o ambiente impessoal vai te
deixar mais confortável.
— Confortável para quê? — Pisco, recuando vários passos, sem apreciar
as memórias que este lugar evoca, apesar da decoração com tema de oceano
ter sido feita com o intuito de acalmar. Olho para a mesa e me vejo com as
pernas abertas, pés em estribos e minha parte feminina em exibição para os
doze homens da Irmandade do Zodíaco inspecionarem.
Essa foi a primeira vez que Sebastian me tocou, a primeira vez que tirou
uma reação física de mim, e desprezo que tenha acontecido aqui sob o olhar
atento de uma audiência depravada.
— Relaxe, Novalee. Só quero te preparar, mas será invasivo.
— Como assim, “invasivo”?
Ele enfia as mãos nos bolsos, como se tentasse não parecer ameaçador.
— Você sabe o que é um plug anal?
— Eu deveria saber o que... é isso?
— Sua inocência é revigorante. — Sorrindo, ele se inclina em um
balcão, me dando o espaço de que tanto preciso. — É um objeto usado para
brincadeiras anais, mas também pode ser usado para preparar alguém para o
sexo anal.
A lembrança do que Sebastian planeja fazer deixa minhas pernas
bambas, e eu agarro a mesa atrás de mim. Diversas emoções agitam meu
interior, gerando uma mistura de energias nervosas que me apavoram e
excitam em medidas iguais.
— E você planeja usar esse... plug em mim?
Ele hesita, e a contemplação endurece sua mandíbula bem barbeada.
— Não vou forçá-la, mas acredito que você possa se beneficiar com
isso. Depois de superar o medo da penetração anal, o sexo virá mais
naturalmente. Você pode até gostar.
— Não sei — eu digo, engolindo em seco.
— Antes de tomar sua decisão, me deixe te mostrar como é um plug. —
Vance retira uma caixa do armário atrás dele. Enquanto atravessa a sala, abre
a tampa e exibe um bulbo de vidro cônico, aninhado no fundo de veludo. Ele
pega o brinquedo e me deixa segurá-lo. O plug é pesado, sólido e a
superfície, lisa sob meus dedos.
— Por que tem este formato? — eu pergunto, tocando a extremidade
plana.
— Essa parte é a base. Ela mantém o plug no lugar.
— Como assim?
— Bem, isso impede que seja sugado para dentro de seu ânus.
Eu quase o derrubo, e a reação rápida de Vance impede o brinquedo de
cair no chão.
— Isso pode acontecer?
— Sim, mas não vai, porque estamos usando o tipo correto.
Balanço a cabeça.
— Não quero fazer isso.
— Novalee. — Ele passa a mão pela minha bochecha. — Confie em
mim, você é virgem e inexperiente. Não tenho dúvidas de que Sebastian será
gentil, mas quero pelo menos te dar uma vantagem.
— Vai doer?
— Dificilmente se inserido com cuidado. Você pode até ficar excitada.
Duvido, mas seu tom gentil e bajulador me incentiva a tentar. Olho para
o brinquedo e, apesar da minha apreensão, estou curiosa.
— Tudo bem.
— Boa menina. — Ele passa a mão na minha cabeça, prendendo uma
das tranças atrás da minha orelha. — Deite-se de lado. Vou preparar o plug.
Estou tremendo quando trago os joelhos ao peito, virada de costas para
ele na mesa. Vance atravessa a sala de exames, lava o bulbo de vidro e
quando retorna, também traz uma embalagem com um líquido transparente.
— É um lubrificante — ele explica, colocando os dois em uma bandeja
de metal. Contornando a bancada de exames, ele vira a bandeja, e eu cerro os
dentes em antecipação nervosa. — Preciso que você relaxe primeiro, amor.
— Ele levanta a parte de trás da minha saia e puxa a calcinha para baixo. —
Feche os olhos. Quero que inspire pelo nariz e expire lentamente pela boca.
Sigo suas instruções enquanto ele massageia minhas nádegas, seu toque
aquecendo minha pele. Vários minutos depois, estou mais relaxada do que
pensei ser possível.
— Continue respirando — ele murmura, e detecto o clique de uma
tampa, seguido por um esguicho. — Você vai sentir um friozinho no começo.
— Ele abre minhas nádegas, e um objeto frio e sólido cutuca meu traseiro.
Mordo o lábio inferior, esperando que ele me penetre com aquilo. Mas
ele só me provoca com a ponta, circulando meu ânus e aumentando a pressão
conforme o plug esquenta. Sinto o objeto avançar e recuar, rítmico como uma
onda suave.
— Como você está, amor?
— Estou bem.
Não há nada de sexy na situação e, por isso, sou grata. A iluminação
forte, combinada com a mesa de exame e o ambiente estéril, é o suficiente
para me manter focada no fato de que Vance é médico e que não está fazendo
isso em busca de prazer.
Está fazendo isso como uma gentileza para mim.
— Você está indo muito bem — ele fala baixinho. — Tente ficar
relaxada à medida que a pressão aumenta.
Ele empurra o plug mais fundo, e eu solto um assobio.
— Estamos quase lá. Você vai sentir algum desconforto e depois, alívio.
— Ai! — A dor diminui antes que eu tenha a chance de respirar fundo
novamente.
— É isso — ele diz, colocando a calcinha de volta no lugar. —
Terminamos. — Pegando minha mão, ele me ajuda a me sentar. — Como
você está?
Eu me movo para frente e para trás, testando a sensação estranha e a
plenitude, curiosa sobre os formigamentos que se espalham pelas minhas
coxas.
— Não dói. É uma sensação estranha.
— Deixe aí até que fique menos perceptível, então, pode retirá-lo. —
Uma sugestão de travessura ilumina seus olhos, trazendo à tona a cor de
avelã. — Ou você pode pedir para o Sebastian fazer isso. Tenho certeza de
que ele não vai se importar.
Ao me levantar, deixo as tranças caírem em volta do rosto,
proporcionando uma cortina de privacidade para o rubor que cobre minhas
bochechas.
— Vai doer para tirar?
— Não mais do que doeu para colocar.
— Obrigada — eu digo, e minha voz falha.
Ele puxa meu cabelo para trás e encara meu olhar.
— Pelo quê, minha rainha?
— Por sua gentileza.
Baixando o olhar, ele balança a cabeça.
— Nem todo mundo aqui é um monstro.
— Estou começando a acreditar nisso.
Ele assente, mas não responde. O que ele poderia dizer? Que não estarei
à mercê de mais monstros no futuro? Nós dois sabemos que é mentira.
Porque, na masmorra, o monstro mais assustador de todos aguarda sua
vez, a apenas dois meses de distância.
— Você se importa se eu for para a biblioteca sozinha? — Estou uma
pilha de nervos tão grande por ter que encarar Sebastian que praticamente
vibro com a ansiedade. Ele teve domínio sobre mim durante minha estada na
Casa de Gêmeos, mas um escudo de proteção se manteve, construído por
aposentos separados e pela própria discrição de Sebastian.
Desta vez, estarei presa na casa do leão, cercada por sua intensidade
vinte e quatro por dia.
— Nem um pouco, amor.
— Obrigada. — Eu me movo em direção à porta, mas Vance coloca uma
mão quente em meu braço, me parando.
— Se precisar de alguma coisa, não hesite em pedir.
Assentindo em gratidão, entro no corredor, me preparando para um mês
na Casa de Leão, e meu instinto me diz que encontrei um aliado no dr. Vance
Morgan.

Continua em Leão...
Leia também:
“Até que a morte nos separe.”
A vida de Adriana Jensen não é nada fácil. Depois de sofrer inúmeras
perdas, ela se pergunta o quanto ainda precisa aguentar antes de desmoronar.
A morte de todas as pessoas que ela amou é um peso difícil de suportar. Mas
a morte que mais a deixou destruída foi a do marido.
Só que ele não morreu.
Blake Jensen foi forçado a se afastar da esposa. Agora, ele está de volta
e determinado a reconquistá-la. Será que o motivo que o manteve afastado
não será suficiente para fazer com que ela o perdoe? Ou o amor vai falar mais
alto e ela voltará para ele?
Volte para mim, da autora bestseller do USA Today, Kathy Coopmans,
é uma história devastadora sobre segunda chance.
Uma comédia romântica perfeita para fãs de humor cotidiano... no
banheiro!

Você já se sentou na frente de um homem incrivelmente gostoso, passou


o pé com aquele salto agulha pela lateral da perna dele e sentiu um ronco no
estômago? Um ronco tão feroz que você foi forçada a se apertar mais do que
pensava ser capaz?

Essa é a minha vida. Eu sofro de Síndrome do Intestino Irritável e isso


me afetou de formas que nem gosto de falar. Não só arruinou quase todos os
encontros que tive, simplesmente arruinou minha vida.

Fui a dezenas de médicos em busca de uma solução e todos os exames


foram inconclusivos. Isso até eu conhecer o dr. Channing... quero dizer,
Noah. Ele foi o gastroenterologista delicioso que me examinou cinco minutos
depois de nos conhecermos.

O amor foi instantâneo. A forma gentil com que ele segurou meu
bumbum me deu uma prévia de como meu futuro poderia ser.

Será que eu, a rainha do trono, vou ter alguma chance de ser a rainha do
seu coração?

Compre aqui.
Sinopse:

Às vezes, o amor precisa de uma segunda chance...

Nunca me arrependi de não ter ido ao meu próprio casamento, mesmo


que isso tenha me afastado da maior parte dos meus familiares. Oito anos
depois, tenho a vida que sempre quis. Como executiva de contas de
publicidade, meu mundo é quase perfeito...

Até eu ficar cara a cara com meu passado. Com o homem que já amei. O
homem que tem meu futuro nas mãos e que está decidido a se vingar de mim
por tê-lo deixado no altar.

Mesmo com todos os assuntos mal resolvidos entre nós, ainda amo Knox
Montgomery. O único problema?

Ele me ama... ou não?

Compre aqui.
Siga nossas redes sociais:
Facebook
Instagram
Twitter
E visite nosso site:
http://www.editorabookmarks.com

Você também pode gostar