Informativos STF STJ Tse 2020
Informativos STF STJ Tse 2020
INFORMATIVOS 2020
DIREITO CONSTITUCIONAL 10
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 10
LIBERDADE DE EXPRESSÃO 16
ACESSO À INFORMAÇÃO 16
DIREITO À INFORMAÇÃO 17
PUBLICIDADE 17
DIREITOS SOCIAIS 17
DIREITO À EDUCAÇÃO 18
DIREITO À SAÚDE 19
AUTONOMIA DOS ENTES 19
INTERVENÇÃO 19
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 20
PODER LEGISLATIVO 28
IMUNIDADE PARLAMENTAR 29
PROCESSO LEGISLATIVO 30
MEDIDAS PROVISÓRIAS 30
TRIBUNAIS DE CONTAS 31
PODER JUDICIÁRIO 32
CNJ 33
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 34
CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO 39
ADVOCACIA PÚBLICA 39
DEFENSORIA PÚBLICA 42
MINISTÉRIO PÚBLICO 44
SEGURANÇA PÚBLICA 47
SEGURIDADE SOCIAL 49
ÍNDIOS 49
TEMAS DIVERSOS 50
ENTIDADES DESPORTIVAS 50
LIBERDADE PROFISSIONAL 51
DIREITO ADMINISTRATIVO 51
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS 51
PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA 52
PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE 52
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA 53
EMPRESAS PÚBLICAS 55
SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA 55
FUNDAÇÃO 55
CONSELHOS PROFISSIONAIS 56
INFORMATIVOS 2020 - 2
PODERES ADMINISTRATIVOS 56
PODER DE POLÍCIA 56
COMPETÊNCIA 57
SERVIÇOS PÚBLICOS 58
PROCESSO ADMINISTRATIVO 58
AUTOTUTELA 59
SERVIDORES PÚBLICOS 59
APOSENTADORIA 64
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 66
CONCURSO PÚBLICO 67
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 70
LICITAÇÕES E CONTRATOS 72
LEI DA RELICITAÇÃO 74
RESPONSABILIDADE CIVIL 74
RESPONSABILIZAÇÃO DE AGENTES PÚBLICOS 75
RESSARCIMENTO AO ERÁRIO 76
INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE 76
LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA 76
DESAPROPRIAÇÃO 77
BENS PÚBLICOS 77
TEMAS DIVERSOS 78
FUNDEF 79
INFRAÇÕES DE TRÂNSITO 80
DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR 80
DIREITO CIVIL 80
DIREITOS DA PERSONALIDADE 80
DIREITO AO ESQUECIMENTO 81
DIREITO À IMAGEM 81
PESSOA JURÍDICA 82
EIRELI 83
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 83
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 83
CONTRATOS EM ESPÉCIE 85
COMPRA E VENDA 85
SEGURO 86
DPVAT 87
FIANÇA 88
ARBITRAGEM 88
DOAÇÃO 88
MANDATO 89
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS 89
CONTRATO DE CONCESSÃO COMERCIAL 90
LOCAÇÃO COMERCIAL 90
INFORMATIVOS 2020 - 3
RESPONSABILIDADE CIVIL 91
DANOS MORAIS 95
POSSE 95
DIREITOS REAIS 96
USUCAPIÃO 96
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 98
ARRENDAMENTO MERCANTIL 101
CONDOMÍNIO 102
CONDOMÍNIO EDILÍCIO 103
DÍVIDAS CONDOMINIAIS 103
DIREITO DE FAMÍLIA 103
UNIÃO ESTÁVEL 103
PARENTESCO 104
AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE 105
ALIMENTOS 105
PRISÃO CIVIL 109
DIREITO REAL DE HABITAÇÃO 110
BEM DE FAMÍLIA 111
DIVÓRCIO 112
DIREITO DAS SUCESSÕES 113
SUCESSÃO LEGÍTIMA 114
TESTAMENTO 115
INVENTÁRIO 115
LOCAÇÃO DE IMÓVEIS URBANOS 116
TEMAS DIVERSOS 116
CRÉDITO RURAL 116
ARRENDAMENTO RESIDENCIAL 117
DIREITOS AUTORAIS 117
USUFRUTO VIDUAL 118
CONTRATO MARÍTIMO 118
COOPERATIVAS 118
INFORMATIVOS 2020 - 4
RECONVENÇÃO 128
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA 129
IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA 132
PROCEDIMENTOS ESPECIAIS 133
EMBARGOS DE TERCEIROS 133
AÇÃO DE EXIGIR CONTAS 133
AÇÃO MONITÓRIA 134
EXECUÇÃO 135
EMBARGOS À EXECUÇÃO 137
PENHORA 137
IMPENHORABILIDADE 139
PRECATÓRIOS 140
EXPROPRIAÇÃO 143
EXECUÇÃO FISCAL 143
ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS 145
TÉCNICA DE AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO 145
IRDR 146
RECLAMAÇÃO 146
AÇÃO RESCISÓRIA 147
RECURSOS 148
ASPECTOS GERAIS 148
AGRAVO DE INSTRUMENTO 152
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO 153
RECURSO EXTRAORDINÁRIO 154
REPERCUSSÃO GERAL 155
RECURSO ESPECIAL 155
JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DO RESP E RE 156
JUIZADOS ESPECIAIS 156
TEMAS DIVERSOS 157
ERRO MATERIAL 157
MANDADO DE SEGURANÇA 157
SUSTENTAÇÃO ORAL 158
DANOS MORAIS COLETIVOS 158
FUNDAMENTOS DA DECISÃO 159
SUSPEIÇÃO 160
IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA 160
INFORMATIVOS 2020 - 5
DOSIMETRIA DA PENA 163
AGRAVANTES 165
REINCIDÊNCIA 166
MEDIDA DE SEGURANÇA 166
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE 167
PRESCRIÇÃO 167
INFORMATIVOS 2020 - 6
FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO 199
PROVAS 199
PROVA TESTEMUNHAL 204
DA PRISÃO E DAS MEDIDAS CAUTELARES 205
MEDIDAS CAUTELARES 205
PRISÃO PREVENTIVA 205
PRISÃO DOMICILIAR 208
LIBERDADE PROVISÓRIA 208
TRIBUNAL DO JÚRI 208
NULIDADES 211
RECURSOS 212
HABEAS CORPUS 213
JUIZADOS ESPECIAIS 215
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO 215
TEMAS DIVERSOS 216
COLABORAÇÃO PREMIADA 216
INGRESSO EM DOMICÍLIO SEM AUTORIZAÇÃO 218
SUSPENSÃO DO PROCESSO 218
FIXAÇÃO DE VALOR MÍNIMO 219
INDULTO 219
ASSISTENTE DE DEFESA 220
INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL 220
MULTA POR ABANDONO DO PROCESSO (ART. 265 DO CPP) 220
IMPEDIMENTO / SUSPEIÇÃO 220
ASTREINTES 221
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA 221
AUSÊNCIA A ATO PROCESSUAL 222
INFORMATIVOS 2020 - 7
TEMAS DIVERSOS 241
COBRANÇA JUDICIAL INDEVIDA 241
BANCOS DE DADOS DE CONSUMIDORES 241
TRANSPORTE AÉREO 242
CONTRATOS BANCÁRIOS 242
DANO MORAL COLETIVO 243
°°ECA 243
GUARDA 243
ADOÇÃO 244
DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR 245
COMPETÊNCIA 246
PROTEÇÃO ESPECIAL 246
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA DOS PROGRAMAS DE RÁDIO E TV 246
PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE 247
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 247
INTERNAÇÃO 247
ASPECTOS CÍVEIS 248
PROTEÇÃO CÍVEL 249
AMBIENTAL 250
RESPONSABILIDADE CIVIL 250
COMPETÊNCIA 250
CÓDIGO FLORESTAL 251
PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL 251
INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA 252
AÇÃO POPULAR 252
TEMAS DIVERSOS 253
EMPRESARIAL 254
TÍTULOS DE CRÉDITO 254
NOTA PROMISSÓRIA 255
DUPLICATA 255
LETRA DE CÂMBIO 255
FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL 256
FALÊNCIA 256
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 258
PROPRIEDADE INDUSTRIAL 264
MARCA 265
TEMAS DIVERSOS 266
CONTRATOS BANCÁRIOS 266
LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL 267
CONTRATO DE SHOPPING CENTER 268
CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL 268
TRIBUTÁRIO 269
INFORMATIVOS 2020 - 8
PRINCÍPIOS 269
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE 269
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA 269
IMPOSTOS FEDERAIS 271
IR 271
II 273
IPI 273
IMPOSTOS ESTADUAIS 274
ICMS 274
IMPOSTOS MUNICIPAIS 277
IPTU 277
ITBI 277
ISS 278
PIS E COFINS 278
IRPJ e a CIDE 279
TAXAS 280
CONTRIBUIÇÕES 280
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA 281
CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS 281
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA 281
PROCESSO TRIBUTÁRIO 282
PARCELAMENTO TRIBUTÁRIO 282
CRÉDITO TRIBUTÁRIO 283
RESTITUIÇÃO DE VALORES DEVIDOS AO CONTRIBUINTE 284
DIREITO ADUANEIRO 284
FINANCEIRO 285
LRF 287
ELEITORAL 289
DIREITOS POLÍTICOS 289
PARTIDOS POLÍTICOS 289
SISTEMAS ELEITORAIS 290
INELEGIBILIDADE 291
PRAZOS ELEITORAIS 291
INFORMATIVOS 2020 - 9
INTERNACIONAL 297
EXPULSÃO 297
INFORMATIVOS 2020 - 10
DIREITO CONSTITUCIONAL
Imunidade tributária das certidões requeridas ao Poder Judiciário voltadas para a defesa de direitos ou o
O STF julgou parcialmente procedente a ADIN 2259, realizando uma interpretação conforme à Constituição da
Reconhecer a imunidade tributária das certidões requeridas ao Poder Judiciário que forem voltadas para a
quando a certidão pleiteada for concernente ao próprio requerente, sendo desnecessária, nessa
Por outro lado, para a concessão da gratuidade da certidão quando o pedido tiver objeto interesse indireto
STF. Plenário. ADI 2259, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/02/2020.
É constitucional o art. 52 da Lei 13.146/2015, que prevê que as locadoras deverão manter uma cota de
A Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com deficiência) prevê que as locadoras deverão manter uma cota de
Art. 52. As locadoras de veículos são obrigadas a oferecer 1 (um) veículo adaptado para uso de pessoa com
Parágrafo único. O veículo adaptado deverá ter, no mínimo, câmbio automático, direção hidráulica, vidros
O STF considera constitucionais medidas legislativas objetivando a inclusão social das pessoas com deficiência,
como é o caso.
O princípio da livre iniciativa, fundamento da ordem econômica brasileira, tem de ser ponderado com outros
valores constitucionais, como a função social da propriedade, a defesa do consumidor, a proteção do meio
ambiente e a redução das desigualdades sociais, para se “assegurar a todos a existência digna, conforme os
INFORMATIVOS 2020 - 11
A determinação legal de disponibilidade de veículo adaptado a cada conjunto de vinte automóveis da frota não
inviabiliza a atividade econômica de locadoras nem impõe às empresas ônus excessivo, atendendo-se ao
princípio da proporcionalidade.
STF. Plenário. ADI 5452, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/09/2020.
Poder Público pode determinar a vacinação compulsória contra a Covid-19 (o que é diferente de
vacinação forçada).
O STF julgou parcialmente procedente ADI, para conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 3º, III, “d”,
da Lei nº 13.979/2020. Ao fazer isso, o STF disse que o Poder Público pode determinar aos cidadãos que se
O Estado pode impor aos cidadãos que recusem a vacinação as medidas restritivas previstas em lei
(multa, impedimento de frequentar determinados lugares, fazer matrícula em escola), mas não pode
fazer a imunização à força. Também ficou definido que os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios
(A) A vacinação compulsória não significa vacinação forçada, por exigir sempre o consentimento do usuário,
podendo, contudo, ser implementada por meio de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre outras, a
restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, desde que previstas em lei,
ou dela decorrentes, e
(ii) venham acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações dos
imunizantes,
(B) tais medidas, com as limitações acima expostas, podem ser implementadas tanto pela União como pelos
STF. Plenário. ADI 6586, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 17/12/2020. (Info 1003)
É ilegítima a recusa dos pais à vacinação compulsória de filho menor por motivo de convicção filosófica.
É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que, registrada em órgão de vigilância
sanitária,
INFORMATIVOS 2020 - 12
(iii) seja objeto de determinação da União, estado, Distrito Federal ou município, com base em consenso
médico-científico.
Em tais casos, não se caracteriza violação à liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais ou
STF. Plenário. ARE 1267879/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 16 e 17/12/2020 (Repercussão Geral –
O que se entende por aviso prévio para os fins do direito de reunião do art. 5º, XVI, da CF/88?
O art. 5º, XVI, da CF/88 prevê o direito de reunião nos seguintes termos:
XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de
autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas
A exigência constitucional de aviso prévio relativamente ao direito de reunião é satisfeita com a veiculação de
informação que permita ao poder público zelar para que seu exercício se dê de forma pacífica ou para
STF. Plenário. RE 806339/SE, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
estabelecimentos prisionais fere a dignidade de presos sob sua custódia. A determinação de que o Estado
forneça banho quente aos presos está relacionada com a dignidade da pessoa humana, naquilo que concerne à
integridade física e mental a todos garantida. O Estado tem a obrigação inafastável e imprescritível de tratar
prisioneiros como pessoas, e não como animais. O encarceramento configura pena de restrição do direito
disseminação de patologias. STJ. 2ª Turma. REsp 1.537.530-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
No início da pandemia decorrente do covid-19 foi proposta ADO pedindo que o Presidente da República e os
Presidentes da Câmara e do Senado editassem lei instituindo o pagamento de um valor mínimo em favor dos
mais necessitados a fim de assegurar a alimentação, o mínimo existencial e a dignidade da pessoa humana.
INFORMATIVOS 2020 - 13
Alguns dias após o ajuizamento da ADO, foi publicada a Lei nº 13.982/2020, que criou um benefício semelhante
ao que se pretendia na ação. A Lei nº 13.982/2020 instituiu o “auxílio emergencial”, um benefício financeiro no
valor de R$ 600,00 por mês, pago pela União a trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI),
autônomos e desempregados, e que tem por objetivo fornecer proteção emergencial, pelo prazo de 3 meses, às
pessoas que perderam sua renda em virtude da crise causada pelo coronavírus.
a) conhecer da ação (significa que o STF entendeu ser cabível, em tese, ação direta de inconstitucionalidade por
b) mas, quanto ao mérito, julgar o pedido prejudicado uma vez que foi aprovado o auxílio emergencial (Lei nº
13.982/2020) e, consequentemente, foi satisfeito o objeto da ADO. STF. Plenário. ADO 56/DF, Rel. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 30/4/2020 (Info 975).
telefonia fixa e móvel deveriam fornecer ao IBGE os dados dos seus clientes: relação dos nomes, números de
telefone e endereços. Segundo a MP, essas informações seriam utilizadas para a produção das estatísticas
oficial, com o objetivo de realizar entrevistas não presenciais com os clientes das empresas. As informações
disciplinadas pela MP 954/2020 configuram dados pessoais e, portanto, estão protegidas pelas cláusulas
constitucionais que asseguram a liberdade individual (art. 5º, caput), a privacidade e o livre desenvolvimento da
personalidade (art. 5º, X e XII). Sua manipulação e tratamento deverão respeitar esses direitos e os limites
estabelecidos pela Constituição. A MP 954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição porque diz que
os dados serão utilizados exclusivamente para a produção estatística oficial, mas não delimita o objeto da
estatística a ser produzida, nem a finalidade específica ou a sua amplitude. A MP 954/2020 não apresenta
também mecanismos técnico ou administrativo para proteger os dados pessoais de acessos não autorizados,
vazamentos acidentais ou utilização indevida. Diante disso, constata-se que a MP violou a garantia do devido
processo legal (art. 5º, LIV, da CF), em sua dimensão substantiva (princípio da proporcionalidade). STF. Plenário.
ADI 6387, ADI 6388, ADI 6389, ADI 6390 e ADI 6393 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 6 e 7/5/2020
(Info 976)
Compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (art. 22, XXIV, da
CF), de modo que os Municípios não têm competência para editar lei proibindo a divulgação de material
com referência a “ideologia de gênero” nas escolas municipais. Existe inconstitucionalidade formal. Há
também inconstitucionalidade material nessa lei. Lei municipal proibindo essa divulgação viola:
• a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber (art. 206, II, CF/88); e
Essa lei contraria ainda um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, que é a promoção do
INFORMATIVOS 2020 - 14
Por fim, essa lei não cumpre com o dever estatal de promover políticas de inclusão e de igualdade, contribuindo
para a manutenção da discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero. STF. Plenário. ADPF
O parágrafo único do art. 4º da Lei 9.883/99 prevê que os órgãos que compõem o SISBIN deverão fornecer
informações para a ABIN: Art. 4º (...) Parágrafo único. Os órgãos componentes do Sistema Brasileiro de
Inteligência fornecerão à ABIN, nos termos e condições a serem aprovados mediante ato presidencial, para fins
de integração, dados e conhecimentos específicos relacionados com a defesa das instituições e dos interesses
nacionais.
O Plenário do STF afirmou que esse dispositivo é constitucional desde que seja interpretado com base em
quatro critérios definidos pela Corte. Assim, o STF conferiu interpretação conforme à Constituição Federal ao
a) os órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) somente podem fornecer dados e
conhecimentos específicos à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) quando comprovado o interesse público da
medida, afastada qualquer possibilidade de esses dados atenderem interesses pessoais ou privados;
b) toda e qualquer decisão que solicitar os dados deverá ser devidamente motivada para eventual controle de
c) mesmo quando presente o interesse público, os dados referentes a comunicações telefônicas ou dados
sujeitos à reserva de jurisdição não podem ser compartilhados na forma do dispositivo em razão daquela
limitação, decorrente do respeito aos direitos fundamentais; e d) nas hipóteses cabíveis de fornecimento de
eletrônicos de segurança e registro de acesso, inclusive para efeito de responsabilização, em caso de eventuais
omissões, desvios ou abusos. STF. Plenário. ADI 6529 MC/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 13/8/2020 (Info
986).
É inconstitucional lei estadual que proíba que a Administração Pública contrate empresa cujo diretor,
gerente ou empregado tenha sido condenado por crime ou contravenção relacionados com a prática de
atos discriminatórios. Essa lei viola os princípios da intransmissibilidade da pena, da responsabilidade pessoal
e do devido processo legal. STF. Plenário. ADI 3092, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Info 987 –
clipping).
Surgem constitucionais os artigos 5º e 6º, inciso I, da Lei nº 13.021/2014, no que previsto ser do farmacêutico a
responsabilidade técnica por drogaria. STF. Plenário. RE 1156197, Rel. Marco Aurélio, julgado em 24/08/2020
É inconstitucional, por transgressão ao princípio da isonomia entre homens e mulheres (art. 5º, I, da CF/88), a
exigência de requisitos legais diferenciados para efeito de outorga de pensão por morte de ex-servidores
INFORMATIVOS 2020 - 15
públicos em relação a seus respectivos cônjuges ou companheiros/companheiras (art. 201, V, da CF/88). STF.
Plenário. RE 659424/RS, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 457) (Info
994).
Os arts. 6º a 8º do Decreto nº 21.981/1932 exigem que o indivíduo que quiser exercer a profissão de leiloeiro
preste uma garantia (caução). A exigência de garantia para o exercício da profissão de leiloeiro, prevista nos arts.
6º a 8º do Decreto 21.981/1932, é compatível com o art. 5º, XIII, da Constituição Federal de 1988. Isso porque o
leiloeiro lida diariamente com o patrimônio de terceiros, de forma que a prestação de fiança como condição
para o exercício de sua profissão busca reduzir o risco de dano ao proprietário, o que reforça o interesse social
da norma protetiva, bem como justifica a limitação para o exercício da profissão. STF. Plenário. RE 1263641/RS,
rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral –
As disposições da Lei nº 9.656/98, à luz do art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, somente incidem sobre os
contratos celebrados a partir de sua vigência, bem como sobre os contratos que, firmados anteriormente, foram
adaptados ao seu regime, sendo as respectivas disposições inaplicáveis aos beneficiários que, exercendo sua
autonomia de vontade, optaram por manter os planos antigos inalterados. STF. Plenário. RE 948634, Rel. Min.
Ricardo Lewandowski, julgado em 20/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 123) (Info 995).
A quebra do sigilo de dados armazenados não obriga a autoridade judiciária a indicar previamente as
pessoas que estão sendo investigadas, até porque o objetivo precípuo dessa medida é justamente de
proporcionar a identificação do usuário do serviço ou do terminal utilizado. Logo, a ordem judicial para quebra
do sigilo dos registros, delimitada por parâmetros de pesquisa em determinada região e por período de
tempo, não se mostra medida desproporcional, porquanto, tendo como norte a apuração de gravíssimos
crimes, não impõe risco desmedido à privacidade e à intimidade dos usuários possivelmente atingidos
por tal diligência. STJ. 3ª Seção. RMS 61.302-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/08/2020 (Info 678)
É inconstitucional a lei distrital que preveja que 40% das vagas das universidades e faculdades públicas
do Distrito Federal serão reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas do Distrito Federal.
Essa lei, ao restringir a cota apenas aos alunos que estudaram no Distrito Federal, viola o art. 3º, IV e o art. 19, III,
da CF/88, tendo em vista que faz uma restrição injustificável entre brasileiros. Vale ressaltar que a
inconstitucionalidade não está no fato de ter sido estipulada a cota em favor de alunos de escolas públicas, mas
sim em razão de a lei ter restringindo as vagas para alunos do Distrito Federal, em detrimento dos estudantes de
outros Estados da Federação. STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.
INFORMATIVOS 2020 - 16
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
A decisão judicial que proibiu a realização de entrevista com Adélio Bispo, autor da facada contra Jair Bolsonaro,
não significa restrição indevida à liberdade de imprensa nem representa censura prévia. Logo, essa decisão não
configura ofensa ao entendimento firmado pelo STF na ADPF 130, que julgou não recepcionada a Lei de
Imprensa (Lei nº 5.250/67). A decisão judicial impediu a entrevista com o objetivo de proteger as investigações e
evitar possíveis prejuízos processuais, inclusive quanto ao direito ao silêncio do investigado. Além disso, a
decisão teve como finalidade proteger o próprio custodiado, que autorizou a entrevista, mas cuja sanidade
mental era discutível na época, tendo sido, posteriormente, declarado inimputável em razão de “transtorno
delirante persistente”. STF. 1ª Turma. Rcl 32052 AgR/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info
973).
A imprensa divulgou que o Ministério da Justiça estaria investigando e elaborando dossiês sigilosos contra um
grupo de servidores públicos identificados como integrantes do “movimento antifascismo”. Os principais alvos
ajuizou ADPF para que o STF declare que essa investigação viola os preceitos fundamentais da liberdade de
expressão, reunião, associação, inviolabilidade de intimidade, vida privada e honra. O STF deferiu medida
cautelar para suspender todo e qualquer ato do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) de produção ou
compartilhamento de informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e políticas, as práticas cívicas de
cidadãos, servidores públicos federais, estaduais e municipais identificados como integrantes de movimento
político antifascista, professores universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites da legalidade,
exerçam seus direitos de livremente expressar-se, reunir-se e associar-se. STF. Plenário. ADPF 722 MC/DF, Rel.
seu conteúdo desagrada parcela da população, ainda que majoritária, não encontra fundamento em uma
sociedade democrática e pluralista como a brasileira. STF. 2ª Turma. Rcl 38782/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes,
ACESSO À INFORMAÇÃO
É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020, porque ele impõe uma série
de restrições ao livre acesso do cidadão a informações. O art. 6º-B não estabelece situações excepcionais e
concretas impeditivas de acesso à informação. Pelo contrário, transforma a regra constitucional de publicidade e
toda sociedade. STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min.
INFORMATIVOS 2020 - 17
DIREITO À INFORMAÇÃO
Jornal poderá acessar dados sobre mortes registradas em ocorrências policiais. Caso concreto: o jornal
Folha de São Paulo pediu para que o Governo do Estado fornecesse informações relacionadas a mortes
registradas pela polícia em boletins de ocorrência. O pedido foi negado sob o fundamento de que, apesar de
terem natureza pública, esses dados deveriam ser divulgados com cautela e não seriam indispensáveis para o
trabalho jornalístico. O STJ não concordou e afirmou que não cabe à administração pública ou ao Poder
Judiciário discutir o uso que se pretende dar à informação de natureza pública. A informação, por ser
aos interesses a que se destina. Não se pode vedar o exercício de um direito – acessar a informação pública –
pelo mero receio do abuso no exercício de um outro e distinto direito – o de livre comunicar. Em suma: veículo
de imprensa jornalística possui direito líquido e certo de obter dados públicos sobre óbitos relacionados a
ocorrências policiais. STJ. 2ª Turma. REsp 1.852.629-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 06/10/2020 (Info 682).
PUBLICIDADE
A redução da transparência dos dados referentes à pandemia de COVID-19 representa violação a preceitos
publicidade e transparência da Administração Pública e o direito à saúde. STF. Plenário. ADPF 690 MC-Ref/DF,
ADPF 691 MC-Ref/DF e ADPF 692 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000)
DIREITOS SOCIAIS
O art. 8º, VIII, da CF/88 prevê que os dirigentes sindicais não podem ser demitidos, salvo se cometerem falta
grave. O art. 522 da CLT prevê um número máximo empregados que podem ser dirigentes sindicais. Assim que a
CF/88 foi promulgada, alguns doutrinadores começaram a sustentar a tese de que o art. 522 da CLT não teria
sido recepcionado pela Carta Constitucional. Isso porque o inciso I do art. 8º da Constituição prevê que a
liberdade sindical, ou seja, proíbe que o poder público interfira na organização dos sindicatos. O TST e o STF não
concordaram com essa tese. A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui caráter
absoluto. A previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados de estabilidade de emprego
não esvazia a liberdade sindical. Essa garantia constitucional existe para que possa assegurar a autonomia da
entidade sindical, mas não serve para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem a
razoabilidade e a finalidade da norma constitucional garantidora do direito. Logo, o art. 522 da CLT foi
INFORMATIVOS 2020 - 18
recepcionado pela Constituição Federal de 1988. STF. Plenário. ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em
A norma fundada no art. 7º, XXXIII, da Constituição Federal, na alteração que lhe deu a Emenda Constitucional
20/1998, tem plena validade constitucional. Logo, é vedado “qualquer trabalho a menores de dezesseis
anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”. STF. Plenário. ADI 2096/DF, Rel. Min. Celso
Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário mínimo vigente. Tal
previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o salário mínimo seja utilizado como
referência (parâmetro) para outras finalidades que não sejam a remuneração do trabalho. No entanto, o STF
afirmou que seria possível conferir interpretação conforme a Constituição e dizer que o dispositivo previu que o
valor do benefício seria igual ao salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$ 545). Após isso,
mesmo o salário mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar
automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que ele não pode servir
como indexador. Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo contida na lei estadual
seja considerada como um valor certo que vigorava na data da edição da lei, passando a ser corrigido nos
anos seguintes por meio de índice econômico diverso. Com isso, o benefício continua existindo e será
necessário ao governo do Amapá apenas reajustar esse valor por meio de índices econômicos. STF. Plenário. ADI
DIREITO À EDUCAÇÃO
desenvolvimento do ensino. A definição de quais despesas podem ou não ser consideradas como manutenção e
desenvolvimento de ensino é feita por meio de lei editada pela União. A Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional), em seus arts. 70 e 71, definiu quais despesas podem ser consideradas como sendo
servidores inativos e os repasses efetuados pelo Estado para cobrir o déficit no regime próprio de
previdência não podem ser computados como aplicação de recursos na manutenção e desenvolvimento
de ensino, para os fins do art. 212 da CF/88. Logo, é inconstitucional lei estadual que faça essa previsão. STF.
Plenário. ADI 5719, Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Info 990 – clipping).
INFORMATIVOS 2020 - 19
DIREITO À SAÚDE
câncer) por pacientes diagnosticados com neoplasia maligna mesmo sem que existam estudos
conclusivos sobre os efeitos colaterais em seres humanos e mesmo sem que haja registro sanitário da
substância perante a ANVISA. Ante o postulado da separação de Poderes, o Congresso Nacional não pode
permitir a distribuição de substâncias químicas, segundo protocolos cientificamente validados. O controle dos
supervisionado pelo Poder Executivo. O direito à saúde não será plenamente concretizado se o Estado
deixar de cumprir a obrigação de assegurar a qualidade de droga mediante rigoroso crivo científico, apto
a afastar desengano, charlatanismo e efeito prejudicial. STF. Plenário. ADI 5501/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,
Compete ao Ministro da Justiça determinar a ida da Força Nacional de Segurança Pública para atuar em
No entanto, e se o Ministro da Justiça determina o envio da Força Nacional mesmo sem pedido do Governador?
NÃO. Isso viola o princípio da autonomia estadual. Foi o que decidiu o STF, em juízo de delibação, ao apreciar
medida liminar em ação cível originária. Afirmou a Corte: É plausível a alegação de que a norma inscrita no art. 4º
do Decreto 5.289/2004, naquilo em que dispensa a anuência do governador de estado no emprego da Força
Nacional de Segurança Pública, viole o princípio da autonomia estadual. STF. Plenário. ACO 3427 Ref-MC/BA, Rel.
INTERVENÇÃO
A Constituição Estadual não pode trazer hipóteses de intervenção estadual diferentes daquelas que são
INFORMATIVOS 2020 - 20
CF/88 são taxativas. Caso concreto: STF julgou inconstitucional dispositivo da Constituição de Pernambuco que
previa que o Estado-membro poderia intervir nos Municípios caso ali ocorressem atos de corrupção e
improbidade administrativa. STF. Plenário. ADI 2917, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020
Viola a Constituição Federal a previsão contida na Constituição Estadual atribuindo aos Tribunais de Contas a
competência para requerer ou decretar intervenção em Município. Essa previsão não encontra amparo nos arts.
34 e 36 da CF/88. STF. Plenário. ADI 3029, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É constitucional norma local voltada a coibir fraude considerado o serviço público de transporte coletivo.
É inconstitucional norma local que condiciona a liberação de veículo aprendido ao pagamento de multas, preços
STF. Plenário. RE 661702, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 546)
É constitucional lei distrital (ou lei municipal) que trate sobre fraude à prestação do serviço de transporte
coletivo de passageiros, de forma remunerada, sem prévia concessão, permissão ou autorização do Governo do
Distrito Federal. Isso porque essa lei se insere na competência prevista no art. 30, V, da CF/88.
Por outro lado, é inconstitucional norma local que estabelece que os veículos apreendidos somente poderão
ser liberados após o pagamento das multas, preços públicos e demais encargos devidos ao DETRAN.
Lei estadual não pode impor investimentos em preservação ambiental a concessionárias de energia.
A norma estadual que impõe à concessionária de geração de energia elétrica a promoção de investimentos, com
recursos identificados como parcela da receita que aufere, voltados à proteção e à preservação de mananciais
STF. Plenário. RE 827538, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão Luiz Fux, julgado em 11/05/2020
CE não pode prever que o Governador (ou o Vice) precisará de autorização para se ausentar do país "em
qualquer tempo"; a autorização só pode ser exigida se o período afastamento for superior a 15 dias.
ausentarem-se, “em qualquer tempo”, do território nacional mostra-se incompatível com os postulados da
INFORMATIVOS 2020 - 21
A Constituição Federal, em seu art. 49, III e em seu art. 83, prevê que é da competência do Congresso Nacional
autorizar o Presidente e o Vice-presidente da República a se ausentarem do País quando a ausência for por
Logo, afronta os princípios da separação dos Poderes e da simetria a norma da Constituição estadual que
exige prévia licença da Assembleia Legislativa para que o Governador e o Vice-governador se ausentem
Os Estados-membros não podem criar novas ingerências de um Poder na órbita de outro que não derivem
STF. Plenário. ADI 5373, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 24/08/2020.
É inconstitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias ou permissionárias façam o
corte do fornecimento de água, energia elétrica e dos serviços de telefonia, por falta de pagamento, em
STF. Plenário. ADI 3824/MS, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 02/10/2020.
Alterou a Lei nº 8.987/95 e a Lei nº 13.460/2017 para deixar mais explícito que é possível a interrupção do serviço
público em caso de inadimplemento do usuário, desde que ele seja previamente avisado.
Art. 5º O usuário de serviço público tem direito à adequada prestação dos serviços, devendo os agentes públicos
(...)
XVI – comunicação prévia ao consumidor de que o serviço será desligado em virtude de inadimplemento, bem
como do dia a partir do qual será realizado o desligamento, necessariamente durante horário comercial.
Parágrafo único. A taxa de religação de serviços não será devida se houver descumprimento da exigência de
notificação prévia ao consumidor prevista no inciso XVI do caput deste artigo, o que ensejará a aplicação de
(...)
Parágrafo único. É vedada a suspensão da prestação de serviço em virtude de inadimplemento por parte do
usuário que se inicie na sexta-feira, no sábado ou no domingo, bem como em feriado ou no dia anterior a
feriado.
INFORMATIVOS 2020 - 22
O entendimento acima foi positivado em nível nacional. A Lei nº 14.015/2020 inseriu o § 4º ao art. 6º da Lei nº
Art. 6º (...)
§ 4º A interrupção do serviço na hipótese prevista no inciso II do § 3º deste artigo não poderá iniciar-se na
A exploração de loterias ostenta natureza jurídica de serviço público (art. 175, caput, da CF/88), dada a existência
serviços de loteria, não foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988, pois colidem frontalmente com
o art. 25, § 1º, da CF/88, ao esvaziarem a competência constitucional subsidiária dos Estados-membros para a
prestação de serviços públicos que não foram expressamente reservados pelo texto constitucional à exploração
A competência privativa da União para legislar sobre sistemas de consórcios e sorteios (art. 22, XX, da CF/88) não
preclui a competência material dos Estados para explorar as atividades lotéricas nem a competência
regulamentar dessa exploração. Por esse motivo, a Súmula Vinculante 2 não trata da competência material
dos Estados de instituir loterias dentro das balizas federais, ainda que tal materialização tenha
Por outro lado, as legislações estaduais instituidoras de loterias, seja via lei estadual ou por meio de decreto,
devem simplesmente viabilizar o exercício de sua competência material de instituição de serviço público
titularizado pelo Estado-membro, de modo que somente a União pode definir as modalidades de atividades
STF. Plenário. ADI 3050, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/11/2020.
A Lei 3.528/2019, do Estado de Tocantins, instituiu o Cadastro Estadual de Usuários e Dependentes de Drogas.
Essa norma é formalmente inconstitucional, uma vez que, ao criar o Cadastro Estadual de Usuários e
Dependentes de Drogas, no âmbito da Secretaria Estadual de Segurança Pública, com informações relacionadas
com o registro de ocorrência policial, inclusive sobre reincidência, a lei invadiu competência privativa da União
para legislar sobre matéria penal e processual penal (art. 22, I, da CF/88).
Além disso, o exercício da competência concorrente em matéria de direito sanitário (art. 24, XII), no federalismo
cooperativo, deve maximizar direitos fundamentais e não pode ir de encontro à norma federal. No caso, nos
termos da Lei federal n.º 11.343/2006, a sistematização de informações é competência da União (art. 8º-A, XII).
INFORMATIVOS 2020 - 23
Materialmente, também há inconstitucionalidade. A seletividade social do cadastro é incompatível com o
igualdade (art. 5º, caput ), a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), o direito à intimidade e à vida
STF. Plenário. ADI 6561 MC, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 13/10/2020.
É constitucional lei estadual que obriga as empresas prestadoras de serviço público de fornecimento de
energia elétrica e água a notificarem, com aviso de recebimento, a realização de vistoria técnica em
medidor localizado nas residências de usuários, ante a competência concorrente dos Estados para legislar
STF. Plenário. ADI 4914, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 21/12/2020.
É inconstitucional a legislação estadual que estabelece a redução obrigatória das mensalidades da rede
privada de ensino durante a vigência das medidas restritivas para o enfrentamento da emergência de
Essa lei viola a competência privativa da União para legislar sobre Direito Civil (art. 22, I, da CF/88).
Ao estabelecer uma redução geral dos preços fixados nos contratos para os serviços educacionais, a leis alterou,
de forma geral e abstrata, o conteúdo dos negócios jurídicos, o que as caracteriza como norma de Direito Civil.
Os efeitos da pandemia sobre os negócios jurídicos privados, inclusive decorrentes de relações de consumo,
foram tratados pela Lei federal nº 14.010/2020. Ao estabelecer o Regime Jurídico Emergencial e Transitório das
relações jurídicas de Direito Privado (RJET) para o período, a norma reduziu o espaço de competência
complementar dos estados para legislar e não contém previsão geral de modificação dos contratos de prestação
de serviços educacionais.
STF. ADI 6575, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/12/2020 (Info 1003).
É formalmente inconstitucional lei estadual que concede descontos aos idosos para aquisição de
STF. Plenário. ADI 2435/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em
É inconstitucional lei estadual que fixa critério etário para o ingresso no Ensino Fundamental diferente
STF. Plenário. ADI 6312, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/12/2020 (Info 1003).
A Lei nº 13.979/2020 prevê medidas que poderão ser adotadas pelo Brasil para enfrentamento da emergência
INFORMATIVOS 2020 - 24
inciso VI do art. 3º da Lei nº 13.979/2020 e acrescentou os §§ 8º a 11 ao art. 3º da Lei nº 13.979/2020. Foi ajuizada
uma ADI contra esta MP. O STF, ao apreciar a medida cautelar, decidiu:
• confirmar a medida acauteladora concedida monocraticamente pelo Relator para “tornar explícita, no campo
adotadas pelo Governo Federal “não afastam atos a serem praticados por Estado, o Distrito Federal e
Município considerada a competência concorrente na forma do artigo 23, inciso II, da Lei Maior.”
• dar interpretação conforme à Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei nº 13.979/2020, a fim de explicitar que o
Presidente da República pode dispor, mediante decreto, sobre os serviços públicos e atividades
essenciais, no entanto, esse decreto deverá preservar a atribuição de cada esfera de governo, nos termos
do inciso I do art. 198 da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6341 MC-Ref/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/
É constitucional lei estadual que autoriza a comercialização de bebidas alcoólicas nas arenas desportivas
e nos estádios. Trata-se de legislação sobre consumo, matéria de competência concorrente (art. 24, V, da
CF/88). O art. 13-A, II, da Lei nº 10.671/2003 (Estatuto do Torcedor) indica como “condições de acesso e
permanência do torcedor no recinto esportivo”, entre outras, “não portar objetos, bebidas ou substâncias
proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência”. Não há, contudo, uma vedação
geral e absoluta por parte do Estatuto do Torcedor, de modo que o legislador estadual, no exercício de sua
autorizando, por exemplo, a venda de cerveja e chope (bebidas de baixo teor alcoólico) nos estádios. Vale
lembrar que isso já é autorizado nos grandes eventos mundiais de futebol e outros esportes, inclusive na Copa
do mundo organizada pela FIFA e nas Olimpíadas. STF. Plenário. ADI 6195, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 27/03/2020
documentos arquivados nos cartórios extrajudiciais do Estado. Esse tema envolve registros públicos e
responsabilidade civil dos notários e registros, matéria que é de competência privativa da União, nos termos do
art. 22, XXV, da CF/88. STF. Plenário. ADI 3723, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.
É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e
testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes. A proteção da fauna é
matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, VI, da CF/88). A Lei federal nº 11.794/2008 possui uma
natureza permissiva, autorizando, a utilização de animais em atividades de ensino e pesquisas científicas, desde
que sejam observadas algumas condições relacionadas aos procedimentos adotados, que visam a evitar e/ou
atenuar o sofrimento dos animais. Mesmo que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela lei
estadual, isso não se mostra inconstitucional porque, em princípio, é possível que os Estados editem normas
INFORMATIVOS 2020 - 25
mais protetivas ao meio ambiente, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na preponderância de
seu interesse, conforme o caso. STF. Plenário. ADI 5996, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info
975).
A Lei nº 13.979/2020 previu, em seu art. 3º, um rol exemplificativo de oito medidas que podem ser adotadas pelo
poder público para o combate ao coronavírus. O art. 3º, VI, “b”, e os §§ 6º e 7º, II, da Lei nº 13.979/2020
estabeleceram que os Estados e Municípios somente poderia adotar algumas medidas se houvesse autorização
a) suspender parcialmente, sem redução de texto, o disposto no art. 3º, VI, “b”, e §§ 6º e 7º, II, da Lei nº
federal; e b) conferir interpretação conforme aos referidos dispositivos no sentido de que as medidas neles
previstas devem ser precedidas de recomendação técnica e fundamentada, devendo ainda ser resguardada a
locomoção dos produtos e serviços essenciais definidos por decreto da respectiva autoridade federativa, sempre
Estados/DF e Municípios podem, mesmo sem autorização da União, adotar medidas como isolamento,
intermunicipal em rodovias, portos ou aeroportos. Vale ressaltar que Estados e Municípios não podem fechar
fronteiras, pois sairiam de suas competências constitucionais. A adoção de medidas restritivas relativas à
locomoção e ao transporte, por qualquer dos entes federativos, deve estar embasada em recomendação técnica
essenciais, assim definidos nos decretos da autoridade federativa competente. STF. Plenário. ADI 6343
MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/5/2020 (Info 976).
Padece de inconstitucionalidade formal lei de iniciativa parlamentar que disponha sobre atribuições de órgãos
da Administração Pública (art. 61, § 1º, II, "e" e art. 84, VI, da Constituição Federal). STF. Plenário. ADI 3981, Rel.
É inconstitucional lei estadual que afasta as exigências de revalidação de diploma obtido em instituições
de ensino superior de outros países para a concessão de benefícios e progressões a servidores públicos.
Essa lei invade a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (art.
22, XXIV, CF/88). STF. Plenário. ADI 6073, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/03/2020.
É constitucional lei estadual que estabeleça que as instituições de ensino superior privada são obrigadas a
devolver o valor da taxa de matrícula, podendo reter, no máximo, 5% da quantia, caso o aluno, antes do início
das aulas, desista do curso ou solicite transferência. STF. Plenário. ADI 5951, Rel. Cármen Lúcia, julgado em
INFORMATIVOS 2020 - 26
É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que preveja que os serviços públicos de
saneamento e de abastecimento de água serão prestados por pessoas jurídicas de direito público ou por
sociedade de economia mista sob controle acionário e administrativo, do Poder Público Estadual ou
Municipal. Compete aos Municípios a titularidade dos serviços públicos de saneamento básico. Assim, a
eles cabe escolher a forma da prestação desses serviços, se diretamente ou por delegação à iniciativa privada
mediante prévia licitação. Isso é garantido pelo art. 30, I e IV, da CF/88. Além disso, essa previsão da Constituição
Estadual também viola o art. 175 da Constituição Federal, que atribui ao poder público a escolha da prestação de
serviços públicos de forma direta ou sob regime de concessão ou permissão mediante prévia licitação. STF.
Plenário. ADI 4454, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 05/08/2020 (Info 988 – clipping).
O art. 3º, caput, VII e § 7º, III, da Lei nº 13.979/2020 autoriza que os gestores locais de saúde (secretarias
estaduais e municipais, p. ex.), mesmo sem autorização do Ministério da Saúde, façam a requisição de bens e
serviços. O STF afirmou que esses dispositivos são constitucionais. Não se exige autorização do Ministério da
Saúde para que os Estados-membros, Distrito Federal e Municípios decretem a requisição administrativa
prevista no art. 3º, caput, VII e § 7º, III, da Lei nº 13.979/2020, no exercício de suas competências
constitucionais. STF. Plenário. ADI 6362/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 2/9/2020 (Info 989).
A segurança pública é de competência comum dos Estados-membros (art. 144 da CF/88), sendo também sua
competência remanescente a prerrogativa de legislar sobre transporte intermunicipal (art. 25, § 1º). A concessão
de dois assentos a policiais militares devidamente fardados nos transportes coletivos intermunicipais vai
ao encontro da melhoria das condições de segurança pública nesse meio de locomoção, em benefício de
toda a Sociedade, questão flagrantemente de competência dos Estados-membros (art. 144 da CF/88) e
afasta qualquer alegação de desrespeito ao princípio da igualdade, uma vez que o discrímen adotado é
legítimo e razoável, pois destinado àqueles que exercem atividade de polícia ostensiva e visam à
preservação da ordem pública. Essa lei estadual não representa indevida interferência no contrato de
concessão firmado com a concessionária, uma vez que não há alteração na equação do equilíbrio
financeiro-econômico do contrato administrativo. STF. Plenário. ADI 1052, Rel. Luiz Fux, Rel. p/ Acórdão:
É constitucional lei estadual que proíba, no âmbito estadual, a inserção de cláusulas que exijam a
fidelização nos contratos prestação de serviços. A fidelização contratual consiste em contrapartida exigida do
serviços, todavia, não se confunde com esse. A cláusula de fidelidade contratual é autônoma e agregativa ao
contrato de prestação de serviço, inserindo-se no espaço comercial das prestadoras, e não no campo regulatório
das atividades de caráter público. O objeto da norma estadual impugnada em nada interfere no regime de
exploração ou na estrutura remuneratória da prestação do serviço. Essa lei busca apenas a proteção do
INFORMATIVOS 2020 - 27
consumidor, ainda que realizada paralelamente a contrato de prestação de serviço. STF. Plenário. ADI 5963, Rel.
A competência da União para legislar exclusivamente sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive
loterias, não obsta a competência material (administrativa) para a exploração dessas atividades pelos
entes estaduais ou municipais, nem a competência regulamentar dessa exploração. Os arts. 1º e 32, caput
e § 1º, do Decreto-Lei 204/1967 não foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988. STF. Plenário. ADPF
492/RJ, ADPF 493/DF e ADI 4986/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 30/9/2020 (Info 993).
É inconstitucional Lei estadual que, a pretexto de proteger a saúde da população, estabelece limites de
radiação para a instalação de antenas transmissoras de telefonia celular. Essa lei adentra na esfera de
competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações. A União, no exercício de suas
competências (art. 21, XI e art. 22, IV, da CF/88), editou a Lei nº 9.472/97, que, de forma nítida, atribui à ANATEL a
definição de limites para a tolerância da radiação emitida por antenas transmissoras. A União, por meio da Lei nº
11.934/2009, fixou limites proporcionalmente adequados à exposição humana a campos elétricos, magnéticos e
eletromagnéticos. Dessa forma, a presunção de que gozam os entes menores para, nos assuntos de interesse
comum e concorrente, legislarem sobre seus respectivos interesses (presumption against preemption) foi
É inconstitucional norma estadual que dispõe sobre a implantação de instalações industriais destinadas à
produção de energia nuclear no âmbito espacial do território estadual. STF. Plenário. ADI 330/RS, Rel. Min.
gêneros alimentícios destinados ao consumo humano e animal, que sejam constituídos ou produzidos a
partir de organismos geneticamente modificados, no percentual igual ou superior a 1%, no âmbito do Estado
federado. É o caso, por exemplo, da Lei nº 14.274/2010, do Estado de São Paulo. STF. Plenário. ADI 4619/SP, Rel.
São inconstitucionais normas estaduais que imponham obrigações de compartilhamento de dados com
privativa da União para legislar sobre telecomunicações (arts. 21, XI e 22, IV, da CF/88). STF. Plenário. ADI
estabelecimentos comerciais. STF. Plenário. ADI 5166/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/11/2020 (Info
997).
INFORMATIVOS 2020 - 28
É constitucional a Lei nº 5.751/98, do estado do Espírito Santo, de iniciativa parlamentar, que versa sobre a
responsabilidade do ente público por danos físicos e psicológicos causados a pessoas detidas por motivos
políticos. STF. Plenário. ADI 3738/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997)
É inconstitucional, na acepção formal, norma de iniciativa parlamentar que prevê a criação de órgão público e
organização administrativa, levando em conta iniciativa privativa do Chefe do Executivo – arts. 25 e 61, §
1º, II, alíneas “b” e “e”, da CF/88. STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info
998)
postagem de boletos referentes a pagamento de serviços prestados por empresas públicas e privadas. STF.
Plenário. ARE 649379/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
É constitucional norma estadual que disponha sobre a obrigação de as operadoras de telefonia móvel e fixa
utilizados na modalidade de planos “pré-pagos”. Trata-se de norma sobre direito do consumidor que
admite regulamentação concorrente pelos Estados-Membros, nos termos do art. 24, V, da Constituição
Federal. STF. Plenário. ADI 5724/PI, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
É inconstitucional norma estadual que autoriza a suspensão, pelo prazo de 120 dias, do cumprimento de
relações obrigacionais firmadas entre instituições de crédito e os tomadores de empréstimos, a lei adentrou em
matéria relacionada com direito civil e com política de crédito, assuntos que são de competência legislativa
privativa da União, nos termos do art. 22, I e VII, da CF/88. STF. Plenário. ADI 6495/RJ, Rel. Min. Ricardo
É inconstitucional lei estadual que determina a suspensão temporária da cobrança das consignações
voluntárias contratadas por servidores públicos estaduais. STF. Plenário. ADI 6484, Rel. Roberto Barroso,
julgado em 05/10/2020
PODER LEGISLATIVO
Não é possível a recondução dos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal para o
INFORMATIVOS 2020 - 29
Por outro lado, é possível a reeleição dos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal em caso
de nova legislatura.
Ex: o mandato de Presidente da Câmara e de Presidente do Senado é de 2 anos. Cada legislatura tem a duração
de 4 anos. Imagine que João foi eleito Deputado Federal para a legislatura de 2013 a 2016. Suponhamos que ele
foi escolhido para ser Presidente da Câmara no período de 2013-2014. Significa que João não poderá ser reeleito
como Presidente da Câmara para o biênio de 2015-2016. Isso porque seria uma reeleição dentro da mesma
legislatura.
Ex2: Pedro foi eleito Deputado Federal para a legislatura de 2013 a 2016. Suponhamos que ele foi escolhido para
ser Presidente da Câmara no período de 2015-2016. Em 2016, ele foi reeleito Deputado Federal para a
legislatura de 2017 a 2020. Significa que Pedro poderá ser novamente Presidente da Câmara para no biênio de
§ 4º Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da
legislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos,
Foi proposta uma ADI com o objetivo de dar interpretação conforme e dizer que esse dispositivo foi derrogado
pela Emenda Constitucional nº 16/97, que permitiu uma reeleição para os cargos do Poder Executivo. O STF,
contudo, não concordou com a alegação e manteve a literalidade do art. 57, § 4º.
STF. Plenário. ADI 6524, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/12/2020.
informações na Casa, afirmando que a sua ausência configura crime de responsabilidade. O art. 50 da
CF/88, norma de reprodução obrigatória, somente autoriza que o Poder Legislativo convoque autoridades do
Poder Executivo, e não do Poder Judiciário ou do Ministério Público. Não podem os Estados-membros ampliar o
rol de autoridades sujeitas à convocação pelo Poder Legislativo e à sanção por crime de responsabilidade, por
violação ao princípio da simetria e à competência privativa da União para legislar sobre o tema. STF. Plenário.
ADI 2911, Rel. Carlos Britto, julgado em 10/08/2006. STF. Plenário. ADI 5416, Rel. Gilmar Mendes, julgado em
IMUNIDADE PARLAMENTAR
O então Deputado Federal Wladimir Costa (SD-PA) proferiu discurso no Plenário da Câmara dos Deputados no
qual afirmou que determinados artistas seriam “bandidos”, “membros de quadrilha”, “verdadeiros ladrões”,
“verdadeiros vagabundos da Lei Rouanet”. Esses artistas ingressaram com queixa-crime contra o então
Deputado afirmando que ele teria cometido os crimes de difamação (art. 139) e injúria (art. 140 do Código
INFORMATIVOS 2020 - 30
Penal). O STF recebeu esta queixa-crime. O fato de o parlamentar estar na Casa legislativa no momento em
que proferiu as declarações não afasta a possibilidade de cometimento de crimes contra a honra, porque
ele depois divulgou essas ofensas na Internet. Outro argumento está no fato de que a inviolabilidade material
somente abarca as declarações que apresentem nexo direto e evidente com o exercício das funções
parlamentares. No caso concreto, embora tenha feito alusão à Lei Rouanet, o parlamentar nada acrescentou ao
debate público sobre a melhor forma de distribuição dos recursos destinados à cultura, limitando-se a proferir
palavras ofensivas à dignidade dos querelantes. A liberdade de expressão política dos parlamentares, ainda que
vigorosa, deve se manter nos limites da civilidade. STF. 1ª Turma. PET 7174/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes,
PROCESSO LEGISLATIVO
É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que trate sobre isenção de custas judiciais.
Isso porque, os órgãos superiores do Poder Judiciário possuem reserva de iniciativa (competência privativa) para
apresentar os projetos de lei que tenham por objetivo tratar sobre redução das custas judiciais (artigos 98, § 2º,
STF. Plenário. ADI 3629, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 03/03/2020.
É possível o Chefe do Poder Executivo promulgar a parte incontroversa de projeto de lei que não foi
vetada.
É constitucional a promulgação, pelo Chefe do Poder Executivo, de parte incontroversa de projeto da lei que não
foi vetada, antes da manifestação do Poder Legislativo pela manutenção ou pela rejeição do veto, inexistindo
vício de inconstitucionalidade dessa parte inicialmente publicada pela ausência de promulgação da derrubada
dos vetos.
STF. Plenário. ARE RE 706103, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 27/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 595).
Surge constitucional lei de iniciativa parlamentar a criar conselho de representantes da sociedade civil,
integrante da estrutura do Poder Legislativo, com atribuição de acompanhar ações do Executivo. STF.
Plenário. RE 626946/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 1040) (Info
994).
MEDIDAS PROVISÓRIAS
Inexistindo comprovação da ausência de urgência, não há espaço para atuação do Poder Judiciário no
controle dos requisitos de edição de medida provisória pelo chefe do Poder Executivo. STF. Plenário. ADI
INFORMATIVOS 2020 - 31
TRIBUNAIS DE CONTAS
A competência técnica do Tribunal de Contas do Estado, ao negar registro de admissão de pessoal, não se
No complexo feixe de atribuições fixadas ao controle externo, a competência desempenhada pelo Tribunal de
Contas não é, necessariamente, a de mero auxiliar do poder legislativo. A Constituição Federal lhes atribui
A Câmara Municipal não detém competência para rever o ato do Tribunal de Contas do Estado que nega o
A competência técnica do Tribunal de Contas do Estado, ao negar registro de admissão de pessoal, não se
Se fosse aceito que os Municípios, por meio de suas Câmaras Municipais, pudessem simplesmente rejeitar a
decisão do Tribunal de Contas, isso acabaria por subordinar a competência técnica das cortes de
STF. Plenário. RE 576920, Rel. Edson Fachin, julgado em 20/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 47).
É constitucional norma do Estado a fixar prazo para que o Tribunal de Contas atue nos processos
STF. Plenário. ADI 5259, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15/12/2020.
Isso não impede que o Poder Legislativo possa fiscalizar as contas dos órgãos que o auxiliam. Em outras
STF. Plenário. ADI 4978, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 07/12/2020.
Art. 151. O Tribunal de Contas do Município de São Paulo será composto por cinco Conselheiros e obedecerá, no
Parágrafo único. Aplicam-se aos Conselheiros do Tribunal de Contas do Município de São Paulo as normas
Para o STF, essa previsão não ofende a autonomia municipal nem viola o princípio da simetria. Se a
Constituição Federal prevê nove conselheiros para a composição do TCU e sete para composição dos tribunais
de contas dos estados, é razoável que um tribunal de contas municipal tenha um número inferior de
conselheiros. Desse modo, não se vislumbra nenhuma ofensa ao princípio da simetria. Vale ressaltar que essa
norma da Constituição Estadual não equipara os vencimentos dos conselheiros do Tribunal de Contas do
Município aos dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. A fixação da remuneração dos conselheiros
INFORMATIVOS 2020 - 32
cabe ao Município (mesmo que em valor diverso do fixado para os conselheiros estaduais). STF. Plenário. ADI
346/SP e ADI 4776/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 3/6/2020 (Info 980).
funcionamento do Tribunal de Contas estadual (TCE). Isso porque os Tribunais de Contas possuem reserva de
iniciativa (competência privativa) para apresentar os projetos de lei que tenham por objetivo tratar sobre a sua
Os Tribunais de Contas, conforme reconhecido pela CF/88 e pelo STF, gozam das prerrogativas da autonomia e
do autogoverno, o que inclui, essencialmente, a iniciativa privativa para instaurar processo legislativo que
pretenda alterar sua organização e funcionamento. STF. Plenário. ADI 4191, Rel. Roberto Barroso, julgado em
O TCU, por força do art. 71, VI, da CF/88, tem competência para fiscalizar o uso dos recursos federais
repassados a outros entes federados, como no caso de verbas federais repassadas ao Distrito Federal.
Vale ressaltar, contudo, que, diante da autonomia própria dos entes federados, a fiscalização, pelo TCU, dos
recursos federais repassados ao Distrito Federal não impede que o TCDF também faça a fiscalização da
aplicação desses mesmos recursos, até porque ele tem pleno e legítimo interesse na regular prestação dos
serviços de saúde no seu território. Assim, por força dos arts. 71 e 75 da Constituição Federal e do art. 78 da Lei
Orgânica do Distrito Federal, o Tribunal de Contas do Distrito Federal tem competência para fiscalizar a aplicação
de recursos federais repassados ao Distrito Federal. STJ. 1ª Turma. RMS 61.997-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
PODER JUDICIÁRIO
Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, o servidor exonerado não possui o direito de
reingresso no cargo. Isso porque o atual ordenamento constitucional impõe a prévia aprovação em concurso
público como condição para o provimento em cargo efetivo da Administração Pública. O STF já declarou a
nos quadros da magistratura: ADI 2983, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em 23/02/2005. O CNJ também já
expediu orientação normativa vinculante afirmando que não são possíveis formas de provimentos dos cargos
relacionados à carreira da Magistratura que não estejam explicitamente previstas na Constituição Federal nem
na LOMAN. Assim, o magistrado que pediu exoneração não tem direito de readmissão no cargo mesmo que
essa possibilidade esteja prevista em lei estadual. STJ. 2ª Turma. RMS 61.880-MT, Rel. Min. Mauro Campbell
INFORMATIVOS 2020 - 33
Inexiste ilegalidade em portaria editada pelo Juiz Diretor do Foro da Comarca de Sete Quedas que restringiu o
ingresso de pessoas portando arma de fogo nas dependências do Fórum. STJ. 1ª Turma. RMS 38.090-MS, Rel.
A promoção na magistratura por antiguidade precede a mediante remoção. STF. Plenário. RE 1037926, Rel.
Marco Aurélio, julgado em 16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 964) (Info 994).
O art. 62 da Constituição do Estado de São Paulo, ao restringir o universo dos possíveis candidatos aos órgãos de
cúpula do TJ/SP aos integrantes de seu órgão especial, é inconstitucional porque desrespeitou a autonomia
administrativa dos tribunais, consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88. O art. 102 da LOMAN (LC 35/79)
não foi recepcionado pela CF/88, considerando que não é compatível com a Constituição Federal a regra
segundo a qual apenas os Desembargadores mais antigos possam concorrer aos cargos diretivos dos tribunais.
Essa matéria, em razão da autonomia consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88, deve ser remetida à
disciplina regimental de cada tribunal. STF. Plenário. ADI 3976/SP e MS 32451/DF, Rel. Min. Edson Fachin,
É constitucional norma que inclui, entre as incumbências dos oficiais de justiça, a tarefa de “auxiliar os serviços
de secretaria da vara, quando não estiverem realizando diligência.” STF. Plenário. ADI 4853/MA, Rel. Min. Rosa
teto remuneratório da magistratura federal. A correta interpretação do art. 37, XI e § 12, da Constituição
Federal exclui a submissão dos membros da magistratura estadual ao subteto de remuneração. STF.
Plenário.ADI 3854/DF e ADI 4014/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 4/12/2020 (Info 1001)
A fixação de limite etário, máximo e mínimo, como requisito para o ingresso na carreira da magistratura
viola o disposto no art. 93, I, da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 5329/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio,
CNJ
O Conselho Nacional de Justiça pode proceder à revisão disciplinar de juízes e membros de tribunais
desde que observado o requisito temporal: processos disciplinares julgados há menos de 1 ano (art. 103-B,
§ 4º, V, da CF/88). Vale ressaltar que, depois de instaurada a revisão, não existe prazo para que o CNJ julgue o
procedimento. A Constituição Federal e o Regimento Interno do CNJ conferem legitimidade universal para
propositura da revisão disciplinar, que pode ser instaurada por provocação de terceiros e até mesmo de ofício.
As hipóteses de cabimento da revisão estão elencadas no art. 83 do Regimento Interno do CNJ. O inciso I prevê
INFORMATIVOS 2020 - 34
que cabe a revisão quando a decisão for contrária a texto expresso da lei. Se o Tribunal aplica a pena de censura
para um magistrado que praticou conduta grave, essa decisão enseja revisão disciplinar por ser contrária ao
texto expresso da lei. Isso porque, segundo o art. 44 da LC 35/79 (LOMAN) a pena de censura será aplicada “se a
infração não justificar punição mais grave”. STF. 2ª Turma. MS 30364/PA, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência exclusiva do STF processar e julgar,
originariamente, todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP proferidas no
exercício de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, § 2º,
da CF/88. STF. Plenário. Pet 4770 AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/11/2020 (Info 1000). STF.
Plenário. Rcl 33459 AgR/PE, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000). STF. Plenário.
ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).
O art. 106 do Regimento Interno do CNJ prevê o seguinte: Art. 106. O CNJ determinará à autoridade recalcitrante,
sob as cominações do disposto no artigo anterior, o imediato cumprimento de decisão ou ato seu, quando
O STF afirmou que essa previsão é constitucional e decorre do exercício legítimo de poder normativo atribuído
constitucionalmente ao CNJ, que é o órgão formulador da política judiciária nacional. Assim, o CNJ pode
determinar à autoridade recalcitrante o cumprimento imediato de suas decisões, ainda que impugnadas perante
a Justiça Federal de primeira instância, quando se tratar de hipótese de competência originária do STF. STF.
Plenário. ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
O ingresso de amicus curiae é previsto para as ações de natureza objetiva, sendo excepcional a admissão no
processo subjetivo quando a multiplicidade de demandas similares indicar a generalização do julgado a ser
proferido.
STJ. 2ª Turma. AgInt na PET no REsp 1700197/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 19/06/2018.
É imprescindível a demonstração, pela entidade pretendente a colaborar com a Corte, de que não está a
INFORMATIVOS 2020 - 35
Isso porque, não se trata de uma intervenção de terceiros, e sim de um ato de admissão informal de um
colaborador da corte.
STJ. 4ª Turma. EDcl no REsp 1733013/PR, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, julgado em 29/06/2020.
STF. Plenário ADPF 501-AgR, Rel. para acórdão Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 14/09/2020.
É possível aplicar a teoria do desvio de poder no plano das atividades legislativas a fim de declarar
A teoria do desvio de poder, quando aplicada ao plano das atividades legislativas, permite que se contenham
Poder Público, pois o Estado não pode, no desempenho de suas atribuições, dar causa à instauração de
situações normativas que comprometam e afetem os fins que regem a prática da função de legislar.
Assim, dentro da perspectiva da extensão da teoria do desvio de poder ao plano das atividades legislativas,
deve-se reconhecer que o Estado não dispõe de competência para legislar ilimitadamente, de forma imoderada
e irresponsável, gerando, com o seu comportamento institucional, situações normativas de absoluta distorção e,
até mesmo, de subversão dos fins que regem o desempenho da função estatal.
STF. Plenário. ADI 2667, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 05/10/2020.
É cabível ação direta de inconstitucionalidade contra deliberação administrativa do Tribunal que determina o
pagamento de reajuste decorrente da conversão da URV em reais (“plano real”) aos magistrados e servidores.
Depois que a ADI foi proposta, e antes que fosse julgada, o TRT decidiu revogar essa deliberação administrativa.
Diante disso, indaga-se: o mérito da ação foi julgado? NÃO. Em decorrência da revogação da deliberação, o STF
julgou prejudicada a ADI, por perda superveniente de objeto. STF. Plenário. ADI 1244 QO-QO/SP, Rel. Min. Gilmar
Exige-se quórum de MAIORIA ABSOLUTA dos membros do STF para modular os efeitos de decisão proferida
em julgamento de recurso extraordinário repetitivo, com repercussão geral, no caso em que NÃO tenha
Qual é o quórum para que o STF, no julgamento de recurso extraordinário repetitivo, com repercussão geral
STF. Plenário. RE 638115 ED-ED/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/12/2019 (Info 964)
INFORMATIVOS 2020 - 36
Os Procuradores (do Estado, do Município, da ALE, da Câmara etc.) possuem legitimidade para a
interposição de recursos em ação direta de inconstitucionalidade. STF. 2ª Turma. RE 1126828 AgR/SP, rel.
orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado em 4/2/2020 (Info 965).
Novo julgado sobre o tema: "desde que o legitimado tenha outorgado poderes" (tal requisito não havia sido
Procurador público possui capacidade postulatória para interpor recurso extraordinário em ação de controle
STF. Plenário. RE 1068600 AgR-ED-EDv/RN, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 4/6/2020 (Info 980).
Ilegitimidade do amicus curiae para pleitear medida cautelar. O amicus curiae não tem legitimidade para
propor ação direta; logo, também não possui legitimidade para pleitear medida cautelar. Assim, a entidade que
foi admitida como amicus curiae em ADPF não tem legitimidade para, no curso do processo, formular
pedido para a concessão de medida cautelar. STF. Plenário. ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio,
Relator não pode, de ofício, na ADPF que trata sobre o Estado de Coisas Inconstitucional dos presídios,
determinar medidas para proteger os presos do Covid-19. A decisão do Ministro Relator que, de ofício, na
ADPF que trata sobre o Estado de Coisas Inconstitucional no sistema prisional, determina medidas para proteger
os presos do Covid19 amplia indevidamente o objeto da ação. É certo que no controle abstrato de
constitucionalidade, a causa de pedir é aberta. No entanto, o pedido é específico. Nenhum dos pedidos da ADPF
347 está relacionado com as questões inerentes à prevenção do Covid-19 nos presídios. Não é possível,
portanto, a ampliação do pedido cautelar já apreciado anteriormente. A Corte está limitada ao pedido.
Aceitar a sua ampliação equivale a agir de ofício, sem observar a legitimidade constitucional para
propositura da ação. Ademais, em que pese a preocupação de todos em relação ao Covid-19 nas
penitenciárias, a medida cautelar, ao conclamar os juízes de execução, determina, fora do objeto da ADPF, a
realização de megaoperação para analisar detalhadamente, em um único momento, todas essas possibilidades
e não caso a caso, como recomenda o Conselho Nacional de Justiça. O STF entendeu que, neste momento, o
Poder Judiciário deve seguir as recomendações sobre a questão emitidas pelo Conselho Nacional de Justiça CNJ e
por portaria conjunta dos Ministérios da Saúde e da Justiça. Para evitar a disseminação do novo coronavírus nas
A Recomendação 62/2020 do CNJ traz orientações aos Tribunais e aos magistrados quanto à adoção de medidas
preventivas contra a propagação do Covid-19 no âmbito dos sistemas de justiça penal e socioeducativo. STF.
Plenário. ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
INFORMATIVOS 2020 - 37
O advogado que assina a petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade precisa de procuração com
poderes específicos. A procuração deve mencionar a lei ou ato normativo que será impugnado na ação.
Repetindo: não basta que a procuração autorize o ajuizamento de ADI, devendo indicar, de forma específica, o
ato contra o qual se insurge. Caso esse requisito não seja cumprido, a ADI não será conhecida. Vale ressaltar,
contudo, que essa exigência constitui vício sanável e que é possível a sua regularização antes que seja
reconhecida a carência da ação. STF. Plenário. ADI 6051, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 27/03/2020.
Lei estadual que dispõe sobre criação, incorporação, fusão ou desmembramento de municípios possui
natureza normativa e abstrata, desafiando o controle concentrado. STF. Plenário. ADI 1825, Rel. Min. Luiz
Os procuradores públicos têm capacidade postulatória para interpor recursos extraordinários contra
que o legitimado para a causa outorgue poderes aos subscritores das peças recursais. STF. Plenário. RE 1068600
O aditamento à petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade para que sejam incluídos novos
dispositivos legais somente é possível nas hipóteses em que a inclusão da nova impugnação:
Assim, por exemplo, se o autor, depois que o processo já está em curso, pede a inclusão no objeto da ADI de
novos dispositivos legais que ampliam o escopo da ação, esse aditamento deve ser indeferido porque isso
exigiria que novos pedidos de informações à Assembleia Legislativa ou ao Congresso Nacional, bem como novas
economia e da celeridade processuais. Ademais, a inclusão dos dispositivos prejudicaria o objeto da ação direta,
na medida em que ampliaria o seu escopo. STF. Plenário. ADI 1926, Rel. Roberto Barroso, julgado em 20/04/2020
Cabe ADPF contra o conjunto de decisões judiciais que determinam medidas de constrição judicial em desfavor
do Estado-membro, das Caixas Escolares ou das Unidades Descentralizadas de Execução da Educação UDEs e
que recaiam sobre verbas destinadas à educação. STF. Plenário. ADPF 484/AP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
É recorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae. É possível a impugnação
recursal por parte de terceiro, quando denegada sua participação na qualidade de amicus curiae. STF. Plenário.
ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/8/2020 (Info 985).
INFORMATIVOS 2020 - 38
Vale ressaltar que existem decisões em sentido contrário e que o tema não está pacificado. Nesse sentido:
Tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível
(STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018.
Info 920).
A pessoa física não tem representatividade adequada para intervir na qualidade de amigo da Corte em ação
direta. STF. Plenário. ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/8/2020 (Info 985).
A CF/88 e a lei preveem que a “entidade de classe de âmbito nacional” possui legitimidade para propor ADI, ADC
e ADPF. A jurisprudência do STF, contudo, afirma que apenas as entidades de classe com associados ou
membros em pelo menos 9 (nove) Estados da Federação dispõem de legitimidade ativa para ajuizar ação
de controle abstrato de constitucionalidade. Assim, não basta que a entidade declare no seu estatuto ou ato
constitutivo que possui caráter nacional. É necessário que existam associados ou membros em pelo menos 9
(nove) Estados da Federação. Isso representa 1/3 dos Estados-membros/DF. Trata-se de um critério objetivo
construído pelo STF com base na aplicação analógica da Lei Orgânica dos Partidos Políticos (art. 7º, § 1º, da Lei nº
9.096/95). STF. Plenário. ADI 3287, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Ricardo Lewandowski, julgado em
Não há impedimento, nem suspeição de ministro, nos julgamentos de ações de controle concentrado,
exceto se o próprio ministro firmar, por razões de foro íntimo, a sua não participação. STF. Plenário. ADI
A entidade que não representa a totalidade de sua categoria profissional não possui legitimidade ativa
para ajuizamento de ações de controle concentrado de constitucionalidade. Por esse motivo, a Federação
Nacional do Fisco Estadual e Distrital - FENAFISCO não tem legitimidade para a propositura de ADI na medida em
que constitui entidade representativa de apenas parte de categoria profissional, já que não abrange os auditores
fiscais federais e municipais. STF. Plenário. ADI 6465 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
processo constituinte derivado, pela prática de ilícitos que infirmam a moralidade, a probidade
administrativa e fragilizam a democracia representativa. Caso concreto: ADEPOL ajuizou ADI pedindo a
declaração de inconstitucionalidade formal da EC 41/2003 e da EC 47/2005 sob o argumento de que elas foram
aprovadas com votos “comprados” de Deputados Federais condenados no esquema do “Mensalão” (AP 470). O
STF afirmou que, sob o aspecto formal, as emendas constitucionais devem respeitar o devido processo
legislativo, que inclui, entre outros requisitos, a observância dos princípios da moralidade e da probidade. Assim,
INFORMATIVOS 2020 - 39
é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade formal no processo de reforma constituinte quando
houver vício de manifestação de vontade do parlamentar, pela prática de ilícitos. Porém, para tanto, é necessária
a demonstração inequívoca de que, sem os votos viciados pela ilicitude, o resultado teria sido outro. No caso,
apenas sete Deputados foram condenados pelo Supremo na AP 470, por ficar comprovado que eles
participaram do esquema de compra e venda de votos e apoio político conhecido como Mensalão. Portanto, o
número comprovado de “votos comprados” não é suficiente para comprometer as votações das ECs 41/2003 e
47/2005. Ainda que retirados os votos viciados, permanece respeitado o rígido quórum estabelecido na
Constituição Federal para aprovação de emendas constitucionais, que é 3/5 em cada casa do Congresso
Nacional. STF. Plenário. ADI 4887/DF, ADI 4888/DF e ADI 4889/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/11/2020
(Info 998).
O afastamento de norma legal por órgão fracionário, de modo a revelar o esvaziamento da eficácia do
Vinculante.
Caso concreto: a 4ª Turma do TRF da 1ª Região, ou seja, um órgão fracionário do TRF1, ao julgar apelação,
permitiu que uma empresa comercializasse determinada espécie de cigarro mesmo isso sendo contrário às
Decreto, a 4ª Turma afirmou que ele seria contrário ao princípio da livre concorrência, que é previsto no art. 170,
IV, da CF/88. Ao desobrigar a empresa de cumprir as regras do decreto afirmando que ele violaria o princípio da
livre iniciativa, o que a 4ª Turma fez foi julgar o decreto inconstitucional. Ocorre que isso deveria ter sido feito
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de
tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte. STF. 1ª Turma. RE 635088 AgR-segundo/DF, rel. Min. Marco
ADVOCACIA PÚBLICA
As Procuradorias de Estado, por integrarem os respectivos Poderes Executivos, não gozam de autonomia
funcional, administrativa ou financeira, uma vez que a administração direta é una e não comporta a criação
de distinções entre órgãos em hipóteses não contempladas explícita ou implicitamente pela Constituição
Federal. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020
INFORMATIVOS 2020 - 40
A garantia da inamovibilidade conferida pela Constituição Federal aos magistrados, aos membros do
Ministério Público e aos membros da Defensoria Pública (arts. 93, VIII; 95, II; 128, § 5º, b; e 134, parágrafo
único) não pode ser estendida aos procuradores de estado. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em
15/04/2020.
não podem ser estendidos às Procuradorias de Estado, porquanto as atribuições dos procuradores de estado
– sujeitos que estão à hierarquia administrativa – não guardam pertinência com as funções conferidas aos
membros daquelas outras instituições. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.
advocacia (representação judicial e consultoria jurídica) do Estado-membro (art. 132 da CF/88). A parcialidade é
inerente às suas funções, sendo, por isso, inadequado cogitar-se independência funcional, nos moldes da
Magistratura, do Ministério Público ou da Defensoria Pública (art. 95, II; art. 128, § 5º, I, b; e art. 134, § 1º, da
CF/88). STF. Plenário. ADI 1246, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/04/2019.
É inconstitucional lei estadual que preveja que servidor de autarquia (no caso, era Técnico Superior do DETRAN)
• representar a entidade “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse da autarquia”.
• praticar “todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto, exercer as suas
funções profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos Advogados do Brasil OAB”. Tais
previsões violam o “princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e do Distrito Federal”,
A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria paralela, atribuiu ao cargo de Técnico
Superior do Detran/ES, com formação em Direito, diversas funções privativas de advogado. Ao assim agir,
conferiu algumas atribuições de representação jurídica do DETRAN a pessoas estranhas aos quadros da
Procuradoria-Geral do Estado, com violação do art. 132, caput, da CF/88. O STF decidiu modular os efeitos da
decisão para:
• declarar a validade dos atos praticados (ex: contestações, recursos etc.) até a data do julgamento, com base na
ATENÇÃO. Por outro lado, é válido que esses servidores façam a atuação jurídica no âmbito interno da
autarquia, sobretudo em atividades de compliance, tais como conceber e formular medidas e soluções de
otimização, fiscalização e auditoria (exs: interpretar textos e instrumentos legais, elaborar pareceres sobre
questões jurídicas que envolvam as atividades da entidade, elaborar editais, contratos, convênios etc.). Essas
atribuições podem sim ser exercidas* pelos Técnicos Superiores do DETRAN, sem que isso ofenda o princípio da
INFORMATIVOS 2020 - 41
unicidade da representação judicial. O STF entendeu que não se pode deslocar qualquer atuação técnico-jurídica
da autarquia para a PGE, porque esta não conseguirá fazer frente a essa gama de trabalho, sob pena de ter suas
atividades inviabilizadas. STF. Plenário. ADI 5109/ES, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/12/2018 (Info 927).
No dia 04/06/2020, o STF julgou embargos de declaração opostos neste processo e fez os seguintes acréscimos:
• também são inconstitucionais os dispositivos da lei que preveem que o Técnico Superior do DETRAN possa
“apresentar recursos em qualquer instância”, “comparecer às audiências e outros atos para defender os direitos
do órgão” e “promover medidas administrativas e judiciais para proteção dos bens e patrimônio do DETRAN-ES”;
cargo de Técnico Superior que sejam privativas de Procurador do Estado. Assim, as atribuições de “elaborar
estudos de pareceres sobre questões jurídicas que envolvam as atividades do DETRAN-ES; elaborar editais,
contratos, convênios, acordos e ajustes celebrados pela autarquia, com a emissão de parecer” devem ser
exercidas sob supervisão de Procurador do Estado do Espírito Santo. * Com base no que foi completado no
julgamento dos embargos, conclui-se que as atribuições jurídicas consultivas dos ocupantes do cargo de Técnico
Superior devem ser obrigatoriamente exercidas sob a supervisão de Procurador do Estado, por ser esta a
interpretação que melhor prestigia o art. 132 da CF/88 e a jurisprudência do STF. STF. Plenário. ADI 5109
determinação constitucional de remuneração exclusiva mediante subsídio (arts. 39, § 4º, e 135 da CF/88).
O art. 39, § 4º, da Constituição Federal, não constitui vedação absoluta de pagamento de outras verbas além do
subsídio. Os advogados públicos podem receber honorários sucumbenciais, mas, como eles recebem os
valores em função do exercício do cargo, esse recebimento precisa se sujeitar ao regime jurídico de
direito público. Por essa razão, mesmo sendo compatível com o regime de subsídio, sobretudo quando
estruturado como um modelo de remuneração por performance, com vistas à eficiência do serviço público, a
possibilidade de advogados públicos perceberem verbas honorárias sucumbenciais não afasta a incidência
do teto remuneratório estabelecido pelo art. 37, XI, da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6053, Rel.
Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 22/06/2020 (Info 985 – clipping).
O entendimento acima vale tanto para os advogados públicos federais como também para os Procuradores do
aos advogados públicos, observando-se, porém, o limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da
Constituição. STF. Plenário. ADI 6159 e ADI 6162, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 25/08/2020.
Para que o Procurador do Estado possa propor ação civil pública (ex: ação civil pública de improbidade
INFORMATIVOS 2020 - 42
anuência do Procurador-Geral do Estado. STF. 1ª Turma. ARE 1165456 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio,
porém, o limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição. STF. Plenário. ADI 6159 e ADI 6162, Rel.
observado o teto previsto no art. 37, XI, da Constituição Federal no somatório total às demais verbas
remuneratórias recebidas mensalmente. STF. Plenário. ADI 6135/GO, ADI 6160/AP, ADI 6161/AC, ADI 6169/MS,
ADI 6177/PR e ADI 6182/RO, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 19/10/2020 (Info 995).
É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função para
Defensores Públicos e Procuradores do Estado. Constituição estadual não pode atribuir foro por prerrogativa
de função a autoridades diversas daquelas arroladas na Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6501 Ref-MC/PA,
ADI 6508 Ref-MC/RO, ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 RefMC/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em
DEFENSORIA PÚBLICA
É inviável o acolhimento do requerimento formulado pela DPU para assistir parte em processo que
tramita no STJ nas hipóteses em que a Defensoria Pública Estadual atuante possui representação em
Brasília ou aderiu ao portal de intimações eletrônicas. O STJ indeferiu pedido da DPU para, em substituição à
Defensoria Pública de Alagoas, atuar em recurso especial sob o argumento de que a Defensoria Estadual não
possui representação em Brasília. Isso porque, embora a DPE/AL não possua espaço físico em Brasília, ela aderiu
ao Portal de Intimações Eletrônicas do STJ e, portanto, pode atuar normalmente no processo a partir de sua
sede local.
A DPU só pode atuar nos processos das Defensorias Públicas estaduais se a respectiva Defensoria Pública
estadual:
• não tiver aderido ao Portal de Intimações Eletrônicas do STJ. STJ. 5ª Turma. PET no AREsp 1.513.956-AL, Rel.
As Constituições estaduais não podem ampliar a excepcionalidade admitida pelo art. 22 do ADCT da
CF/88. O art. 15 do ADCT da CE/SE ampliou o limite temporal de excepcionalidade previsto pelo art. 22 do ADCT
INFORMATIVOS 2020 - 43
da CF/88 e, por essa razão, feriu a regra do concurso público (art. 37, II, da Constituição Federal). O art. 22 do
ADCT criou, de modo excepcional, uma forma derivada de investidura em cargo público. Trata-se de uma
exceção à regra geral do concurso público e, portanto, não pode ser ampliada pelo constituinte estadual.
STF. Plenário. ADI 5011, Rel. Edson Fachin, julgado em 08/06/2020 (Info 984)
Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168 da CF/88. O
Governador do Estado é obrigado a efetuar o repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 20 de cada
mês, da integralidade dos recursos orçamentários destinados à Defensoria Pública estadual pela Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) para o exercício financeiro, inclusive quanto às parcelas já vencidas, assim
também em relação a eventuais créditos adicionais destinados à instituição. STF. Plenário. ADPF 384 Ref-MC/MG,
É dever constitucional do Poder Executivo o repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 20 de cada
mês (art. 168 da CRFB/88), da integralidade dos recursos orçamentários destinados a outros Poderes e
órgãos constitucionalmente autônomos, como o Ministério Público e a Defensoria Pública, conforme previsão da
respectiva Lei Orçamentária Anual. STF. Plenário. ADPF 339/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2016 (Info
826).
Havendo convênio entre a Defensoria e a OAB possibilitando a atuação dos causídicos quando não
houver defensor público para a causa, os honorários podem ser executados nos próprios autos, mesmo
se o Estado não tiver participado da ação de conhecimento. Caso concreto: advogado atuou como defensor
dativo em ação de alimentos. Esse advogado atuou porque na localidade não há Defensoria Pública e existe um
convênio com a OAB para que esse serviço seja realizado por advogados que receberão honorários pagos pelo
Estado. Na sentença, o magistrado arbitrou a verba honorária conforme disposto na tabela do convênio. Porém,
o Estado pagou só uma parte. Neste caso, o STJ afirmou que o advogado poderá executar (cobrar) os honorários
do Estado, nos próprios autos, mesmo o Estado não tendo participado da ação de conhecimento. Se for exigido
que os advogados promovam uma ação específica contra a Fazenda Pública para poderem receber seus
honorários, isso fará com que eles sejam muito resistentes em aceitar a função de advogado dativo,
porque terão de trabalhar não só na ação para a qual foram designados, mas também em outra ação que
terão de propor contra a Fazenda Pública. O fato de o Estado não ter participado da lide na ação de
conhecimento não impede que ele seja intimado a pagar os honorários, que são de sua responsabilidade
em razão de convênio celebrado entre a Defensoria Pública e a Ordem dos Advogados do Brasil, em
cumprimento de sentença. STJ. Corte Especial. EREsp 1.698.526-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Rel. Acd. Min.
É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função para
Defensores Públicos e Procuradores do Estado. Constituição estadual não pode atribuir foro por prerrogativa
INFORMATIVOS 2020 - 44
de função a autoridades diversas daquelas arroladas na Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6501 Ref-MC/PA,
ADI 6508 Ref-MC/RO, ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 RefMC/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em
MINISTÉRIO PÚBLICO
Se o membro do MP ingressou na instituição após a CF/88, ele não pode exercer atividade político
Não há possibilidade de filiação político-partidária, de exercício de cargo eletivo e de função no âmbito do Poder
Executivo, por membros do Ministério Público que ingressaram na carreira após o regime jurídico instaurado
A vedação ao exercício de atividade político partidária aos membros do Ministério Público constitui causa
absoluta de inelegibilidade, impedindo a filiação a partidos políticos e a disputa de qualquer cargo eletivo, salvo
se estiverem aposentados ou exonerados, independentemente de o ingresso ter sido após a EC 45/04 ou entre
Ao membro do Ministério Público é vedado exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função
STF. Plenário. ADI 2534, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em
24/08/2020.
O membro do Ministério Público pode participar de Conselhos da Administração Pública (órgãos com
atribuição legal para se manifestar, em caráter deliberativo ou consultivo, sobre a formulação de políticas
A participação em Conselhos da Administração Pública – órgãos com atribuição legal para se manifestar, em
caráter deliberativo ou consultivo, sobre a formulação de políticas públicas de interesse social – é compatível
com as atribuições previstas pela Constituição Federal e pela Lei nº 8.625/93 para o Ministério Público, desde
que:
a) a representação do Ministério Público seja exercida por membro nato, indicado pelo Procurador-Geral de
Justiça;
b) a participação desse membro ocorra a título de exercício das atribuições institucionais do Ministério Público; e
STF. Plenário. ADI 3161, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 13/10/2020.
INFORMATIVOS 2020 - 45
A avocação, pelo Procurador-Geral de Justiça, de funções afetas a outro membro do Ministério Público,
prevista no art. 10, IX, “g”, da LONMP, depende da concordância deste e da deliberação (prévia à
STF. Plenário. ADI 2854, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em
13/10/2020.
São constitucionais os arts. 44, 77, caput e parágrafo único, e 80 da Lei 8.625/93 – LONMP.
O artigo 128, § 5º, II, d, da Constituição da República veda o exercício, ainda que em disponibilidade, de qualquer
outra função pública, salvo uma de magistério. Ressalva à atividade desenvolvida no âmbito de abrangência da
própria Instituição. Em sendo assim, é possível o membro do Parquet manter vínculos de confiança, desde que
O art. 44, parágrafo único, da LONMP ressalvou a vedação de atividade desenvolvida no âmbito da própria
instituição, ou seja, na sua administração superior, nos centros de estudo e nas entidades de representação. A
contrario sensu, vedado é o desempenho de atividades em cargos externos ao próprio Ministério Público. Logo,
REGRA: não há qualquer possibilidade de que um membro do Ministério Público sujeito à proibição do art. 128,
§ 5°, II, “d”, da Constituição Federal venha a ocupar cargo, emprego ou função de nível equivalente ou maior na
b) na hipótese de que o membro do Ministério Público, admitido antes da promulgação da Constituição de 1988,
tenha feito a opção pelo regime jurídico anterior, conforme o art. 29, § 3º, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias – ADCT.
O artigo 80 da LONMP, ao prever que “Aplicam-se aos Ministérios Públicos dos Estados, subsidiariamente, as
normas da Lei Orgânica do Ministério Público da União”, manteve plena a competência legislativa dos Estados.
Disposição da LONMP, como norma geral para os Estados, que determina apenas subsidiariamente a aplicação a
STF. Plenário. ADI 2612, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 23/11/2020.
INFORMATIVOS 2020 - 46
Ação Civil de perda de cargo de Promotor de Justiça cuja causa de pedir não esteja vinculada a ilícito
capitulado na Lei nº 8.429/92 deve ser julgada pelo Tribunal de Justiça. STJ. 2ª Turma. REsp 1.737.900-SP, Rel.
O art. 227, VIII, da LC 75/93 prevê que os membros do MPU terão direito ao pagamento de auxílio-moradia,
desde que estejam em uma lotação considerada particularmente difícil ou onerosa. Esse dispositivo legal
autoriza que ato do PGR imponha outras restrições ao recebimento do auxílio-moradia, como é o caso de prazo
máximo de duração do benefício. Desse modo, a estipulação de prazo de duração para o recebimento do
auxílio-moradia não ofende o princípio da legalidade e está em harmonia com o regime de subsídio, em
parcela única, previsto no art. 39, § 4º e no art. 128, § 5º, I, “c”, da CF/88. A fixação de restrição temporal para
o recebimento do auxílio-moradia está de acordo com o princípio da razoabilidade, pois o auxílio-moradia tem
caráter provisório e precário, não devendo se dilatar eternamente no tempo. O recebimento do aludido
benefício sem limitação temporal configuraria verdadeira parcela remuneratória. STF. 2ª Turma. MS
26415/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/3/2020 (Info 970)
Lei Orgânica estadual do Ministério Público pode atribuir privativamente ao Procurador-Geral de Justiça
a competência para interpor recursos dirigidos ao STF e STJ. Não há inconstitucionalidade formal nessa
previsão. Isso porque a Lei federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público - LONMP) não
pormenoriza a atuação dos Procuradores-Gerais de Justiça e dos Procuradores de Justiça em sede recursal e, por
expressa dicção do caput de seu artigo 29, o rol de atribuições dos Procuradores-Gerais de Justiça não é
exaustivo, de forma que as leis orgânicas dos Ministérios Públicos estaduais podem validamente ampliar tais
atribuições. Além disso, não há ofensa aos princípios do promotor natural e da independência funcional
• se trata de mera divisão de atribuições dentro do Ministério Público estadual, veiculada por meio de lei;
• e não se possibilita a ingerência do PGJ nas atividades dos Procuradores de Justiça, que conservam
plena autonomia no exercício de seus misteres legais. STF. Plenário. ADI 5505, Rel. Luiz Fux, julgado em
15/04/2020.
É constitucional a Resolução 27/2008, do CNMP, que proíbe que os servidores do Ministério Público exerçam
advocacia. O CNMP possui capacidade para a expedição de atos normativos autônomos (art. 130-A, § 2º, I, da
CF/88), desde que o conteúdo disciplinado na norma editada se insira no seu âmbito de atribuições
constitucionais. A Resolução 27/2008 do CNMP tem por objetivo assegurar a observância dos princípios
pelo escopo de atuação do CNMP (art. 130-A, § 2º, II). A liberdade de exercício profissional não é um direito
absoluto, devendo ser interpretada dentro do sistema constitucional como um todo. STF. Plenário. ADI 5454, Rel.
INFORMATIVOS 2020 - 47
Os Ministérios Públicos dos Estados podem atuar, diretamente, na condição de partes, perante os
Estadual e o Ministério Público da União. Tal conclusão, entretanto, não pode ser aplicada ao Ministério
Público do Trabalho, considerando que o MPT é sim órgão vinculado ao Ministério Público da União, conforme
dispõe o art. 128, I, “b”, da Constituição Federal. O MPT integra a estrutura do MPU, atuando perante o Tribunal
Superior do Trabalho, não tendo legitimidade para funcionar no âmbito do STJ, tendo em vista que esta
Federal. STJ. 1ª Seção. AgRg no CC 122.940-MS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 07/04/2020 (Info 670).
A Constituição Estadual não pode determinar que membro do Ministério Público participe de banca de concurso
público relacionado com cargos externos aos quadros da instituição. Essa não é uma atribuição compatível com
as finalidades constitucionais do Ministério Público. Assim, não pode o ato impugnado exigir a participação do
Ministério Público nas bancas de concursos para os cargos e empregos públicos do Estado. STF. Plenário. ADI
Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos
estaduais. STF. Plenário. ACO 843/SP, Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 05/06/2020. STF.
Plenário. Pet 4891, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 16/06/2020 (Info 985
– clipping).
Cursos de pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) podem ser considerados como tempo de
• Para os concursos da Magistratura: NÃO. Isso porque a Resolução nº 75/2009-CNJ não prevê.
• Para os concursos do Ministério Público: SIM. Existe previsão nesse sentido na Resolução nº 40/2009-CNMP.
pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) podem ser considerados como tempo de atividade
jurídica para fins de concurso público no âmbito do Ministério Público. Se o bacharel em Direito concluir uma
especialização, mestrado ou doutorado, ele terá adquirido um conhecimento que extrapola os limites
Público está, portanto, autorizado a densificar o comando constitucional de exigência de “atividade jurídica” com
cursos de pós-graduação. STF. Plenário. ADI 4219, Rel. Cármen Lúcia, Relator p/ Acórdão Edson Fachin, julgado
SEGURANÇA PÚBLICA
INFORMATIVOS 2020 - 48
É inconstitucional lei estadual que criou a figura de policial militar temporário.
O Programa de militares estaduais temporários da brigada militar, criado por lei estadual, não tem amparo na
legislação nacional que cuida da organização das Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares dos
Estados, dos Território e do Distrito Federal (Decreto-lei nº 667/69, Decreto nº 88.777/86 e Lei nº 10.029/2000).
Ao cuidar de matéria de competência privativa da União a Lei estadual afrontou o art. 22, inc. XXI, da
Constituição da República:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: XXI - normas gerais de organização, efetivos, material
bélico, garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e dos corpos de
bombeiros militares;
A falta de contingente policial para combater a violência não viabiliza a contratação temporária prevista no art.
37, IX, da Constituição porque a demanda não tem contornos de temporariedade, tampouco decorre de
Privilegiar soluções provisórias para problemas permanentes desatende o comando constitucional e agrava as
As atividades a serem desenvolvidas pelos policiais temporários assemelham-se àquelas exercidas pelos policiais
de carreira.
A exigência de concurso público para o preenchimento de cargos e funções nos quadros da Brigada Militar do
Estado é medida que viabilizará o acesso democrático ao serviço público, em cumprimento aos princípios da
STF. Plenário. ADI 3222, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 18/08/2020.
Não é possível que os Estados-membros criem órgão de segurança pública diverso daqueles que estão
previstos no art. 144 da CF/88. Os Estados-membros e o Distrito Federal devem seguir o modelo federal. O art.
144 da Constituição aponta os órgãos incumbidos do exercício da segurança pública, sendo esse rol taxativo.
Assim, a Constituição Estadual não pode prever a criação de Polícia Científica como órgão integrante da
segurança pública. Vale ressaltar que nada impede que a Polícia Científica, criada pelo Estado-membro para ser
o órgão responsável pelas perícias, continue a existir e a desempenhar suas funções, sem estar,
necessariamente, vinculada à Polícia Civil. No entanto, deve-se afastar qualquer interpretação que lhe outorgue
caráter de órgão de segurança pública. STF. Plenário. ADI 2575/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/6/2020
(Info 983).
A Constituição Federal, nos incisos do art. 144, estabelece quais são os órgãos de segurança pública. Esse rol é
Estados-membros não podem atribuir o exercício de atividades de segurança pública a órgãos diversos
daqueles previstos na Constituição Federal. Assim, a lei distrital, ao estabelecer que os agentes de trânsito
INFORMATIVOS 2020 - 49
exercem atividades de segurança pública, possui vício de inconstitucionalidade material porque violou o rol
taxativo dos órgãos encarregados da segurança pública previsto no art. 144 da CF/88. Compete aos órgãos e
agentes de trânsito estaduais, distritais e municipais o exercício da “segurança viária”, que compreende a
educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao
cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente (art. 144, § 10, da CF/88). As atividades de segurança viária não
se confundem com “segurança pública”. Compete à União, nos termos do art. 21, VI; e 22, I, da Constituição, a
definição dos requisitos para a concessão do porte de arma de fogo e dos possíveis titulares de tal direito,
regulamentação do tema no país, questão afeta a políticas de segurança pública de âmbito nacional. Desse
modo, é inconstitucional a lei distrital que disponha sobre porte de arma de fogo, criando hipóteses não
Desarmamento). STF. Plenário. ADI 3996, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020 (Info 987 – clipping).
SEGURIDADE SOCIAL
Os Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte ajuizaram ação cível
originária, em face da União, com pedido de tutela provisória, questionando a redução de recursos do Programa
Bolsa Família destinados à Região Nordeste. O Min. Marco Aurélio (relator) deferiu medida cautelar
determinando que:
a) a União disponibilize dados que justifiquem a concentração de cortes de benefícios do Programa Bolsa Família
na Região Nordeste, bem assim dispense aos inscritos nos Estados autores tratamento isonômico em relação
c) a liberação de recursos para novas inscrições seja uniforme considerados os Estados da Federação.
O Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida. STF. Plenário. ACO 3359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco
ÍNDIOS
A associação “Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e seis partidos políticos ajuizaram arguição de
descumprimento de preceito fundamental alegando que o Poder Público estava falhando na proteção dos povos
indígenas com relação à pandemia da Covid-19. Os autores apontaram uma série de atos comissivos e omissivos
INFORMATIVOS 2020 - 50
do Poder Público que, segundo eles, estavam causando alto risco de contágio e de extermínio dos povos
indígenas. Os requerentes apontaram que tais atos violam a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88),
o direito à vida (art. 5º, caput) e o direito à saúde (arts. 6º e 196), além do direito de tais povos a viverem em seu
território, de acordo com suas culturas e tradições (art. 231). Na ação, os autores pedem a realização de diversas
medidas necessárias para a proteção dos povos indígenas. O Min. Roberto Barroso (relator) deferiu parcialmente
2. Criação de Sala de Situação, para gestão de ações de combate à pandemia quanto aos Povos Indígenas em
pela União.
O Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida. STF. Plenário. ADPF 709 Ref-MC/DF, Rel. Min.
TEMAS DIVERSOS
ENTIDADES DESPORTIVAS
futebol brasileiro). Essa lei alterou o Estatuto do Torcedor (Lei nº 10.671/2003) para incluir entre os critérios
técnicos, além da colocação obtida em campeonato anterior, a apresentação de Certidão Negativa de Débitos
comprovação de pagamentos de obrigações previstas nos contratos de trabalho e nos contratos de imagem dos
atletas. Assim, por força da Lei nº 13.155/2015, um clube de futebol da série “A” (“1ª divisão”) do Campeonato
Brasileiro caso não cumprisse os requisitos de regularidade fiscal, regularidade com o FGTS e com os salários
dos atletas seria rebaixado para a série “B”. Para o STF, a exigência da regularidade fiscal fere a autonomia das
entidades desportivas em relação à sua organização e seu funcionamento (art. 217 da CF/88) e constitui forma
indireta de coerção estatal ao pagamento de tributos. A retirada do clube do campeonato pelo não pagamento
de tributos ou do FGTS é medida gravíssima, que demonstra falta de proporcionalidade e razoabilidade, além de
configurar uma sanção política. Com a exclusão automática do campeonato, o clube jamais conseguiria pagar
INFORMATIVOS 2020 - 51
tributos e refinanciamentos, trazendo prejuízos à União, aos atletas, aos funcionários e à ideia de fomentar o
desporto. Resultado: foi declarada a inconstitucionalidade do art. 40 da Lei nº 13.155/2015, na parte em que
altera o art. 10, §§ 1º, 3º e 5º da Lei nº 10.671/2003, mantendo-se a vigência e eficácia de todos os demais
dispositivos impugnados. STF. Plenário. ADI 5450 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
LIBERDADE PROFISSIONAL
São constitucionais as restrições impostas aos auditores independentes pelo art. 31 da Instrução 308/99 da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM). STF. Plenário. ADI 3033/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
DIREITO ADMINISTRATIVO
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
Para que haja a inscrição de ente subnacional em cadastro de inadimplentes é necessário o prévio julgamento
A inscrição de entes federados em cadastro de inadimplentes (ou outro que dê causa à negativa de realização de
convênios, acordos, ajustes ou outros instrumentos congêneres que impliquem transferência voluntária de
recursos), pressupõe o respeito aos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal,
somente reconhecido:
a) após o julgamento de tomada de contas especial ou procedimento análogo perante o Tribunal de Contas, nos
casos de descumprimento parcial ou total de convênio, prestação de contas rejeitada, ou existência de débito
b) após a devida notificação do ente faltoso e o decurso do prazo nela previsto (conforme constante em lei,
regras infralegais ou em contrato), independentemente de tomada de contas especial, nos casos de não
prestação de contas, não fornecimento de informações, débito decorrente de conta não prestada, ou quaisquer
STF. Plenário. RE 1067086, Rel. Rosa Weber, julgado em 16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 327)
A tomada de contas especial é a medida adequada para se alcançar o reconhecimento definitivo das
irregularidades detectadas. Só a partir daí é que se permite a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao
crédito organizados e mantidos pela União. O processo de contas é essencial para a apuração de
INFORMATIVOS 2020 - 52
responsabilidades. Não se pode impor sanção sem anterior identificação de responsáveis. STF. Plenário.
ACO 2910 AgR, Rel. Roberto Barroso, julgado em 29/06/2020 (Info 988 – clipping).
PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA
violação do princípio da intranscendência, na medida em que o Governo do Estado não tem competência
para intervir na esfera orgânica dessa instituição autônoma. O Poder Executivo não pode ser impedido de
contratar operações de crédito em razão do descumprimento dos limites setoriais de despesa com pessoal por
outros poderes e órgãos autônomos (art. 20, II, e 23, § 3º, da Lei de Responsabilidade Fiscal). STF. Plenário. ACO
É possível ao Município obter certidão positiva de débitos com efeito de negativa quando a Câmara
Municipal do mesmo ente possui débitos com a Fazenda Nacional, tendo em conta o princípio da
intranscendência subjetiva das sanções financeiras. STF. Plenário. RE 770149, Rel. Min. Marco Aurélio,
Relator p/ Acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral – tema 743) (Info 993).
PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE
A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que Estado-membro impugna
Caso concreto
O Estado do Amapá possui débitos com o INCRA e com o IBAMA, duas autarquias federais. Em razão desses
débitos, o Estado foi inserido no SIAFI, no CADIN e no CAUC, cadastros de inadimplência mantidos pela União.
Tanto o INCRA como o IBAMA ajuizaram execução fiscal para cobrar os débitos e o Estado expediu precatórios,
que, no entanto, ainda estão pendentes de pagamento. O Estado do Amapá ajuizou ação cível originária contra a
A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que Estado-membro impugna
inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de restrição de crédito, mesmo que os débitos
sejam decorrentes de dívidas com entidades federais (e não com a administração direta). Isso porque os
Sistemas SIAFI/CAUC/CADIN são organizados e mantidos pela União, conforme suas leis de regência, do que
INFORMATIVOS 2020 - 53
Manutenção nos cadastros viola o princípio da razoabilidade
administrativas relativas a débitos já submetidos a pagamento por precatório. Isso porque a CF/88 já
federal no ente inadimplente. Logo, é incompatível com o postulado da razoabilidade onerar duplamente o
Estado-membro, tanto com a possibilidade de intervenção federal quanto com a sua inscrição em cadastros
desabonadores. STF. Plenário. ACO 3083, Rel. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
O exercício da atividade de treinador ou de instrutor de tênis não exige o registro no Conselho Regional
de Educação Física.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1767702-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 29/06/2020 (Info 677).
STJ: NÃO
Os créditos decorrentes da relação jurídica travada entre a OAB e os advogados não compõem o erário e,
STJ. 1ª Turma. REsp 1574642/SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/02/2016.
STF: SIM
As anuidades cobradas pelos conselhos profissionais caracterizam-se como tributos da espécie contribuições de
interesse das categorias profissionais, nos termos do art. 149 da Constituição da República.
As fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção das custas processuais.
A isenção das custas processuais somente se aplica para as entidades com personalidade de direito público.
Dessa forma, para as Fundações Públicas receberem tratamento semelhante ao conferido aos entes da
Administração Direta é necessário que tenham natureza jurídica de direito público, que se adquire no momento
STJ. 4ª Turma. REsp 1409199-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/03/2020 (Info 676).
INFORMATIVOS 2020 - 54
O art. 58, § 3º da Lei nº 9.649/98 prevê o seguinte:
§ 3º Os empregados dos conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são regidos pela legislação
trabalhista, sendo vedada qualquer forma de transposição, transferência ou deslocamento para o quadro da
Os Conselhos Profissionais, enquanto autarquias corporativas criadas por lei com outorga para o exercício de
atividade típica do Estado, tem maior grau de autonomia administrativa e financeira, constituindo espécie sui
generis de pessoa jurídica de direito público não estatal, a qual não se aplica a obrigatoriedade do regime
Em razão da natureza peculiar dos Conselhos Profissionais, permite-se o afastamento de algumas das regras
STF. Plenário. ADC 36, Rel. Cármen Lúcia, Rel. p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 08/09/2020.
O Metrô-DF é sociedade de economia mista prestadora de serviço público essencial, atividade desenvolvida em
regime de exclusividade (não concorrencial) e sem intuito lucrativo. Por essa razão, os seus débitos devem se
STF. Plenário. ADPF 524 MC-Ref, Rel. Min. Edson Fachin, Relator p/ Acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 13/10/2020.
É possível que o chefe do Poder Executivo estadual convide, em consenso com a OAB, um representante da
Ordem para integrar órgão da Administração. Isso é válido. No entanto, a lei não pode impor a presença de
representante da OAB (“autarquia federal”) em órgão da Administração Pública local. STF. Plenário. ADI 4579/RJ,
É possível que o chefe do Poder Executivo estadual convide, em consenso com a OAB, um representante da
Ordem para integrar órgão da Administração. Isso é válido. No entanto, a lei não pode impor a presença de
representante da OAB (“autarquia federal”) em órgão da Administração Pública local. STF. Plenário. ADI 4579/RJ,
É inconstitucional norma de Constituição Estadual que exija prévia arguição e aprovação da Assembleia
Legislativa para que o Governador do Estado nomeie os dirigentes das autarquias e fundações públicas, os
presidentes das empresas de economia mista e assemelhados, os interventores de Municípios, bem como os
titulares da Defensoria Pública e da Procuradoria Geral do Estado. STF. Plenário. ADI 2167/RR, rel. orig. Min.
Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/6/2020 (Info 980)
INFORMATIVOS 2020 - 55
EMPRESAS PÚBLICAS
O Metrô-DF é empresa pública, regida pelo direito privado. Embora preste serviço de utilidade pública, a
empresa não desempenha serviço público essencial em sentido típico ou de caráter monopolístico. O Metrô-DF
desenvolve atividade econômica com a exploração comercial de marcas, patentes, tecnologia e serviços técnicos
especializados, com a distribuição de dividendos, o que permite a penhora de seus bens. Vale ressaltar ainda
que há distribuição de lucros entre os acionistas da empresa. Diante desse contexto, não há como se aplicar o
regime de precatório para o Metrô-DF. STF. 1ª Turma. Rcl 29637 AgR/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min.
Petrobrás pode criar subsidiárias e, em seguida, alienar o controle acionário delas sem licitação e sem
Caso concreto: a Petrobrás elaborou um plano de desinvestimento por meio do qual ela decidiu vender 8
refinarias. Para isso, a Petrobrás criou subsidiárias que passaram a ser as proprietárias dessas refinarias e, em
seguida, o controle acionário dessas subsidiárias será alienado, sem licitação e sem prévia autorização
de sociedade de economia mista (empresa-mãe). Não há necessidade dessa prévia e específica anuência
para a criação e posterior alienação de ativos da empresa subsidiária, dentro de um elaborado plano de
alienação societária em relação à autorização legislativa genérica para a criação de subsidiárias corresponde à
concessão, pelo Congresso Nacional ao Poder Executivo, de um importante instrumento de gestão empresarial,
para garantir a eficiência e a eficácia da sociedade de economia mista no cumprimento de suas finalidades
societárias. Portanto, na criação ou extinção de subsidiárias, o preceito maior de gestão empresarial que deve
ser seguido é garantir a melhor atuação, eficiência e eficácia da empresa-mãe. STF. Plenário. Rcl 42576 MC/DF,
rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 30/9 e 1º/10/2020 (Info 993)
FUNDAÇÃO
É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide sobre as relações
de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com personalidade jurídica de direito privado,
destinadas à prestação de serviços de saúde. STF. Plenário. ADI 4247/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
INFORMATIVOS 2020 - 56
CONSELHOS PROFISSIONAIS
O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê que o advogado que deixar de pagar as contribuições devidas à OAB
(anuidades) pratica infração disciplinar (art. 34, XXIII, da Lei nº 8.906/94) e pode ser suspenso do exercício,
ficando proibido de exercer a advocacia enquanto não pagar integralmente a dívida, com correção monetária
(art. 37, § 2º). O STF entendeu que esses dispositivos são inconstitucionais porque representam medida
desproporcional que caracteriza sanção política, além de ofender a livre iniciativa e a liberdade
laboral de seus inscritos por inadimplência de anuidades, pois a medida consiste em sanção política em matéria
tributária. STF. Plenário.RE 647885, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/04/2020 (Repercussão Geral –Tema
O Decreto-lei nº 9.295/46 criou o Conselho Federal de Contabilidade e definiu as atribuições do Contador. A Lei
nº 12.249/2010 alterou o art. 12 do DL 9.295/46 para dizer que os contadores e técnicos em contabilidade
somente poderão exercer a profissão após a regular conclusão do curso de Bacharelado em Ciências Contábeis,
reconhecido pelo Ministério da Educação, aprovação em Exame de Suficiência e registro no Conselho Regional
de Contabilidade a que estiverem sujeitos. A implementação dos requisitos para a inscrição no conselho
dentro do prazo por ela previsto. STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1.830.687-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em
PODERES ADMINISTRATIVOS
PODER DE POLÍCIA
Em cidades tomadas por veículos automotores, a maior parte deles a serviço de minoria privilegiada, calçadas
integram o mínimo existencial de espaço público dos pedestres, a maioria da população. No Estado Social de
Direito, o ato de se deslocar a pé, em segurança e com conforto, qualifica-se como direito de todos, com
atenção redobrada para a acessibilidade dos mais vulneráveis, aí incluídos idosos, crianças e pessoas
com deficiência. Vale ressaltar que as calçadas são consideradas bens públicos, como bens de uso comum
do povo (art. 99, I, do Código Civil). A ninguém é lícito ocupar espaço público (no caso, a calçada), exceto se
espaço urbano público ocorre ilegalmente, incumbe ao administrador, sob risco de cometimento de
INFORMATIVOS 2020 - 57
desocupação de bem turbado ou esbulhado. STJ. 2ª Turma. REsp 1.846.075-DF, Rel. Min. Herman Benjamin,
2) operadoras de cartão de crédito em sentido estrito, que são empresas não financeiras que emitem e
As instituições financeiras que emitem e administram cartões próprios ou de terceiros (primeiro tipo acima) já
eram fiscalizadas pelo Bacen, nos termos do art. 10, IX, da Lei nº 4.595/64. Por outro lado, as operadoras de
cartão de crédito em sentido estrito só passaram a ser reguladas e fiscalizadas pelo CMN e pelo Bacen após a
edição da MP 615/2013. Antes da edição da MP 615/2013, não havia dispositivo legal que obrigasse o CMN a
regular e o Bacen a fiscalizar as atividades das operadoras de cartão de crédito em sentido estrito. Isso porque a
intermediação que essas fazem não tem natureza financeira para os fins do art. 17 da Lei nº 4.595/64.
Atualmente, existe previsão legal de normatização e fiscalização das operadoras em sentido estrito por parte do
CMN e do Bacen, quadro que se formou com a edição da MP 615/2013. STJ. 2ª Turma. REsp 1.359.624-SP, Rel.
É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado
integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem
exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial. STF. Plenário. RE
633782/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 23/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 532) (Info 996).
COMPETÊNCIA
STF determina que Justiça Eleitoral de 1ª instância apure crime eleitoral e também crime federal conexos; ao
receber os autos, Justiça Eleitoral arquiva a investigação do crime eleitoral e remete os autos à Justiça Federal;
Caso concreto (com adaptações): Marcos era Ministro de Estado. Havia suspeitas de que ele teria cometido dois
crimes conexos: um crime eleitoral e um crime federal “comum”. Considerando que ele possuía foro por
prerrogativa de função, foi instaurado, no âmbito do STF, um inquérito para apurar os fatos. Antes que houvesse
denúncia, Marcos foi exonerado do cargo de Ministro e, portanto, perdeu o foro privativo. Diante disso, o STF
determinou a remessa da investigação para a 1ª instância. O caso foi remetido para a 1ª instância da Justiça
Eleitoral porque segundo o entendimento do STF, em caso de conexão entre crime de competência da Justiça
comum (federal ou estadual) e crime eleitoral, os delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça Eleitoral. O
processo foi distribuído para o 1ª Zona Eleitoral de Brasília (DF). O Promotor Eleitoral pediu sumariamente o
INFORMATIVOS 2020 - 58
arquivamento da investigação no que tange ao crime eleitoral. O Juiz Eleitoral acolheu o pedido do Ministério
Público Eleitoral e arquivou a investigação quanto ao crime eleitoral. Restava, no entanto, um outro delito, qual
seja, o crime federal. O Juiz Eleitoral declinou da competência para processar o feito para a Seção Judiciária de
São Paulo (SP), local onde supostamente o crime teria sido praticado. Inconformada, a defesa de Marcos ajuizou
reclamação alegando que a decisão declinatória do Juiz Eleitoral teria afrontado a decisão do STF. Houve um
empate na votação e prevaleceu a decisão mais favorável ao investigado. Para o Ministro Gilmar Mendes, houve
sim violação à autoridade da decisão proferida pelo STF, uma vez que as instâncias inferiores não observaram as
diretrizes que resultaram na definição da competência da Justiça Eleitoral para apuração e processamento dos
fatos. O MPE promoveu o arquivamento do crime eleitoral imediatamente após o recebimento dos autos, não
tendo sequer empreendido qualquer diligência investigativa para apurar os indícios de tais crimes. Além disso, o
Juízo Eleitoral arquivou o inquérito e remeteu os autos à Justiça Federal, mesmo diante da expressa decisão
dessa Corte que fixou sua competência para supervisão dos fatos. As instâncias inferiores, portanto, ignoraram
os termos da decisão reclamada, que assentou a competência da Justiça Eleitoral para o processamento e a
apuração dos fatos em questão. STF. 2ª Turma. Rcl 34805 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.
SERVIÇOS PÚBLICOS
pressupõe prévia licitação. STF. Plenário. RE 1001104, Rel. Marco Aurélio, julgado em 15/05/2020 (Repercussão
PROCESSO ADMINISTRATIVO
administrativo tramitará de forma eletrônica. Caso concreto: determinada interessada estava participando
de processo administrativo no âmbito da administração pública federal; o processo “físico” foi migrado para
“eletrônico”; a interessada fez cadastro neste sistema eletrônico, aceitou as condições e chegou a peticionar
eletronicamente; ela foi, então, intimada eletronicamente para apresentar documentos e não o fez; diante disso,
perdeu o direito de contratar com o Poder Público; em seguida, alegou, em mandado de segurança, que não foi
oficialmente informada de que a comunicação dos atos administrativos do seu processo seria realizada
INFORMATIVOS 2020 - 59
exclusivamente por meio eletrônico; o STJ não aceitou a argumentação. STJ. 1ª Seção. MS 24.567-DF, Rel. Min.
AUTOTUTELA
No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever os atos de concessão de anistia a
cabos da Aeronáutica com fundamento na Portaria 1.104/1964, quando se comprovar a ausência de ato com
processo legal e a não devolução das verbas já recebidas. Ex: 2003, João, ex-militar da Aeronáutica, recebeu
anistia política, concedida por meio de portaria do Ministro da Justiça. Em 2006, a AGU emitiu nota técnica
fazendo alguns questionamentos sobre a forma indevida pela qual estavam sendo concedidas anistias políticas,
dentre elas a que foi outorgada a João. Em 2011, o Ministro da Justiça determinou que fossem revistas as
concessões de anistia de inúmeros militares, inclusive a de João. Em 2012, foi aberto processo administrativo
para examinar a situação de João e, ao final, determinou-se a anulação da anistia política. Mesmo tendo-se
passado mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível, seja por força da parte final do art. 54 da Lei nº 9.784/99,
seja porque o prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta
diretamente a Constituição Federal. STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019
É possível a anulação do ato de anistia pela Administração Pública, evidenciada a violação direta do art.
8º do ADCT, mesmo quando decorrido o prazo decadencial contido na Lei nº 9.784/99. STJ. 1ª Seção. MS
19.070-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 668).
SERVIDORES PÚBLICOS
A Constituição Federal não prevê adicional noturno aos Militares Estaduais ou Distritais.
Mandado de Injunção será cabível para que se apliquem, aos militares estaduais, as normas que
regulamentam o adicional noturno dos servidores públicos civis, desde que o direito a tal parcela
Federal.
STF. Plenário. RE 970823, Rel. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 18/08/2020
Não cabe mandado de injunção para regulamentar direito à progressão na carreira militar
INFORMATIVOS 2020 - 60
Nos termos do art. 5º, LXXI, da CF, o mandado de injunção somente é cabível quando houver mora do Poder
Embora o art. 142, § 3º, X, da CF, preveja que a lei disporá sobre "direitos" e "prerrogativas" dos militares, não
assegura especificamente o pretendido direito à promoção na carreira, que é de natureza essencialmente legal,
tal como ressaltado no art. 50, IV, m, da Lei 6.880/80 (Estatuto dos Militares).
Assim, não havendo omissão na edição de norma regulamentadora para garantir direitos assegurados
STJ. Corte Especial. AgInt no MI 345/DF, Rel. Ministro Raul Araújo, julgado em 12/05/2020.
O mero transcurso do período de 3 anos do estágio probatório não gera, automaticamente, direito à
estabilidade.
O art. 41 da Constituição Federal estabelece que são requisitos básicos a serem apurados no estágio probatório:
"I - idoneidade moral; II - assiduidade e pontualidade; III - disciplina; IV- eficiência; V - aptidão" (§ 1º).
Dessa forma, findo o período do estágio probatório - três (3) anos de efetivo exercício, a estabilidade do servidor
no serviço público não se dará de forma automática. Isso porque o § 4º do art. 41 da CF/88 impõe como
condição obrigatória para a aquisição da estabilidade a avaliação especial de desempenho por comissão
STJ. 1ª Turma. AgInt no RMS 52.138/GO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 08/06/2020.
É inconstitucional lei que, ao aumentar a exigência de escolaridade de determinado cargo de nível médio
para superior, assegura isonomia remuneratória aos ocupantes dos cargos em extinção que haviam feito
STF. Plenário. RE 740008/RR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 697)
(Info 1003).
É constitucional a norma estadual pela qual se impõe demissão por ineficiência no serviço público,
No caso que chegou ao STF, havia uma lei estadual de São Paulo com a finalidade de avaliação de desempenho
que pode resultar na anotação de elogio em prontuário, aferição do mérito dos integrantes da carreira para fins
de promoção e demissão por ineficiência decorrente de descumprimento de dever funcional que, no caso,
subsume-se à hipótese do inc. II do § 1º do art. 41 da Constituição (perda do cargo por processo administrativo
INFORMATIVOS 2020 - 61
Cuidado: não se está disciplinando procedimento autônomo de avaliação periódica de desempenho prevista no
inc. III do § 1º do art. 41 da Constituição da República o que contraria a repartição de competências, pois é de
competência da União.
No caso, trata-se de hipótese prevista no inc. II do § 1º do art. 41 da Constituição da República que não equivale
à perda de cargo público por avaliação de desempenho a que se refere o inc. III do § 1º do art. 41 da Constituição
da República.
STF. Plenário. ADI 5437, Relatora Min. Carmem Lúcia, julgado em 23/11/2020
Os servidores públicos federais, quando desempenhavam funções gratificadas tinham direito de incorporar, em
assessoramento. Isso estava previsto na redação original do art. 62 da Lei nº 8.112/90. Isso ficou conhecido
como incorporação de quintos em razão do exercício de funções gratificadas. Houve uma discussão se os
servidores públicos federais tiveram direito à incorporação dos quintos no período que vai de 08/04/1998 a
04/09/2001. Após várias decisões favoráveis aos servidores, o STF decidiu em sentido contrário. Em 2015, o STF
decidiu que não era permitida a incorporação dos quintos nesse período e que essa possibilidade acabou com a
edição da MP 1.595-14 (convertida na Lei nº 9.527/97). Ocorre que muitos servidores estavam recebendo os
quintos referentes ao período de 08/04/1998 a 04/09/2001 por força de decisões judiciais ou administrativas.
Como ficou a situação dessas pessoas? O STF, em embargos de declaração, decidiu modular os efeitos da
• é indevida a cessação imediata do pagamento dos quintos quando houve uma decisão judicial transitada em
julgado em favor do servidor. Neste caso, o servidor já incorporou definitivamente os quintos ao seu patrimônio
jurídico;
• se o servidor estava recebendo os quintos em razão de decisão administrativa ou de decisão judicial não
definitiva, o pagamento dos quintos é indevido. No entanto, os efeitos da decisão foram modulados, de modo
que aqueles que recebem a parcela até a data de hoje terão o pagamento mantido até a sua absorção integral
por quaisquer reajustes futuros concedidos aos servidores. Em outras palavras, a remuneração ou os proventos
não diminuirão de valor imediatamente. No entanto, quando houver um aumento, esse valor dos quintos
sumirá, sendo absorvido pelo aumento. STF. Plenário. RE 638115 ED-ED/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
Algumas leis municipais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de Vereador fará jus, após deixar o
mandato, a um subsídio mensal e vitalício. Alguns chamam isso de representação, outros de pensão vitalícia e
outros de pensão civil. A previsão desse pagamento é compatível com a CF/88? NÃO. O STF fixou a seguinte tese
a respeito do tema: Lei municipal a versar a percepção, mensal e vitalícia, de “subsídio” por ex-vereador e
a consequente pensão em caso de morte não é harmônica com a Constituição Federal de 1988. STF.
INFORMATIVOS 2020 - 62
Plenário. RE 638307/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/12/2019 (Tema 672 – repercussão geral) (Info
964).
Inexiste direito adquirido para os médicos cooperados estrangeiros de permanecer nos quadros de agentes
públicos da saúde pública, ainda que já tenham sido vinculados ao Projeto Mais Médicos para o Brasil. STJ. 2ª
Turma. RO 213-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 05/12/2019 (Info 663)
Escrevente notarial do Estado de São Paulo que se aposentou segundo as regras da Lei estadual nº 10.393/70
pode ser atingido pelas regras da Lei estadual 14.016/2010, que alterou a forma de reajuste das aposentadorias
e aumentou as alíquotas da contribuição previdenciária. A Lei estadual nº 14.016/2010 previu novos critérios
para os reajustes futuros da aposentadoria e, conforme jurisprudência do STF, não existe direito adquirido à
manutenção de regime jurídico anterior. A Lei estadual 10.393/70 indexava a aposentadoria ao valor do
salário-mínimo, o que é expressamente vedado pelo art. 7º, IV, da Constituição Federal. Nesse sentido também é
que não existe direito adquirido a regime jurídico e, a contribuição previdenciária possui natureza jurídica
tributária, não havendo norma jurídica válida que confira o direito ao não recolhimento de tributo. Vale ressaltar
que, na ADI 4420, o STF garantiu a situação jurídica de quem já tinha se aposentado ou preenchido os requisitos
para a obtenção do benefício. Não houve, contudo, a intenção de se assegurar o direito à manutenção da
contribuição previdenciária. Esses assuntos não foram discutidos na ADI 4420. STF. 1ª Turma. Rcl 37892 AgR/SP,
rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 10/3/2020 (Info 969)
A regra que estabelece a necessidade de residência do servidor no município em que exerce suas funções
é compatível com a Constituição de 1988, a qual já prevê obrigação semelhante para magistrados, nos
termos do seu art. 93, VII. Por outro lado, viola a Constituição a lei estadual que proíba a saída do servidor do
Município sede da unidade em que atua sem autorização do superior hierárquico. Essa previsão configura grave
violação da liberdade fundamental de locomoção (art. 5º, XV, da CF/88) e do devido processo legal (art. 5º, LIV).
STF. Plenário. ADPF 90, Rel. Luiz Fux, julgado em 03/04/2020 (Info 977)
No julgamento de Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta para questionar a validade de leis que criam
cargos em comissão, ao fundamento de que não se destinam a funções de direção, chefia e assessoramento, o
Tribunal deve analisar as atribuições previstas para os cargos. Na fundamentação do julgamento, o Tribunal não
está obrigado a se pronunciar sobre a constitucionalidade de cada cargo criado, individualmente. STF. Plenário.
RE 719870/MG, rel. orig. Min. Marco, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/10/2020 (Repercussão
INFORMATIVOS 2020 - 63
É inconstitucional norma que preveja a concessão de aposentadoria com paridade e integralidade de
É inconstitucional norma que preveja a concessão de “adicional de final de carreira” a policiais civis. STF.
Plenário. ADI 5039/RO, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 10/11/2020 (Info 998).
Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar qualquer verba de servidores
públicos de carreiras distintas sob o fundamento de isonomia, tenham elas caráter remuneratório ou
indenizatório. A vedação da Súmula Vinculante 37 se aplica tanto para as verbas remuneratórias como também
para as parcelas de caráter indenizatório. Logo, a SV 37 também proíbe que Poder Judiciário equipare o
Súmula vinculante 37-STF: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos
de servidores públicos sob fundamento de isonomia. STF. Plenário. RE 710293, Rel. Luiz Fux, julgado em
O Poder Judiciário não possui competência para determinar ao Poder Executivo a apresentação de
projeto de lei que vise a promover a revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos, tampouco
para fixar o respectivo índice de correção. STF. Plenário. RE 843112, Rel. Luiz Fux, julgado em 22/09/2020
É vedada a vinculação remuneratória de seguimentos do serviço público, nos termos do art. 37, XIII, da
Constituição Federal. STF. Plenário. ADPF 328/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13/11/2020 (Info 999)
Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição Federal, é possível à Administração Pública, inclusive durante o
estágio probatório, estabelecer critérios alternativos para o regular exercício dos deveres funcionais
inerentes aos cargos públicos, em face de servidores que invocam escusa de consciência por motivos de
crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, não se caracterize o desvirtuamento do
exercício de suas funções e não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de
maneira fundamentada. STF. Plenário. RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin,
julgado em 19/11, 25/11 e 26/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 386) (Info 1000).
É inconstitucional lei que equipara, vincula ou referencia espécies remuneratórias devidas a cargos e
Poderes e níveis federativos diferentes. STF. Plenário. ADI 6436/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
O parágrafo único do art. 137 da Lei nº 8.112/90 proíbe, para sempre, o retorno ao serviço público federal de
servidor que for demitido ou destituído por prática de crime contra a Administração Pública, improbidade
INFORMATIVOS 2020 - 64
administrativa, aplicação irregular de dinheiro público, lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio
nacional e corrupção. Essa previsão viola o art. 5º, XLVII, “b”, da CF/88, que afirma que não haverá penas de
caráter perpétuo. STF. Plenário. ADI 2975, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 04/12/2020
empresas estatais deve observar diretrizes específicas fixadas pelo Poder Executivo ao qual as entidades
estejam sujeitas. STF. Plenário. ADI 5417/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 4/12/2020 (Info 1001)
APOSENTADORIA
Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos
ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,
reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas. STF. Plenário. RE
636553/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2020 (repercussão geral – Tema 445) (Info 967).
Até a edição da Emenda Constitucional nº 103/2019, o direito à conversão, em tempo comum, do prestado
sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física de servidor público decorre da previsão
de adoção de requisitos e critérios diferenciados para a jubilação daquele enquadrado na hipótese prevista no
então vigente inciso III do § 4º do art. 40 da Constituição da República, devendo ser aplicadas as normas do
regime geral de previdência social relativas à aposentadoria especial contidas na Lei nº 8.213/91 para viabilizar
Após a vigência da EC nº 103/2019, o direito à conversão em tempo comum, do prestado sob condições
especiais pelos servidores obedecerá à legislação complementar dos entes federados, nos termos da
competência conferida pelo art. 40, § 4º-C, da Constituição da República. STF. Plenário. RE 1014286, Rel. Luiz Fux,
Relator p/ Acórdão Edson Fachin, julgado em 31/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 942) (Info 992 – clipping)
Servidor público municipal (geralmente, de pequenas cidades do interior do Brasil) apresenta requerimento de
aposentadoria. O Município não dispõe de regime próprio de previdência social. Logo a aposentadoria é
solicitada perante o INSS. O Estatuto dos Servidores do Município prevê que a aposentadoria constitui hipótese
de vacância do cargo público. Afastado do cargo, o servidor ajuíza ação buscando voltar aos quadros do
Município, acumulando os vencimentos do cargo público com os proventos do RGPS. Esse pedido deve ser
acolhido?
NÃO. A legislação dispõe que a aposentadoria é causa de vacância do cargo público, o que determina o
afastamento do servidor dos quadros da Administração. O acesso a cargos públicos rege-se pela
Constituição Federal e pela legislação de cada unidade federativa. Se o legislador estabeleceu que a
aposentadoria é causa de vacância, o servidor não pode, sem prestar novo concurso público, ser
INFORMATIVOS 2020 - 65
reintegrado ao mesmo cargo depois de se aposentar. Além disso, a acumulação de proventos e vencimentos
somente é permitida quando se tratar de cargos, funções ou empregos acumuláveis na atividade, na forma
permitida pela Constituição. STF. 1ª Turma. ARE 1234192 AgR/PR e ARE 1250903 AgR/PR, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 16/6/2020 (Info 982)
Art. 40 (...) § 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentadorias e pensões concedidas pelo regime
de que trata este artigo que superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de
previdência social de que trata o art. 201, com percentual igual ao estabelecido para os servidores titulares de
cargos efetivos.
Art. 9º Aplica-se o disposto no art. 17 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias aos vencimentos,
remunerações e subsídios dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta,
autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou
qualquer outra natureza. STF. Plenário. ADI 3133/DF, ADI 3143/DF e ADI 3184/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado
Servidores temporários não fazem jus a décimo terceiro salário e férias remuneradas acrescidas do terço
constitucional, salvo:
STF. Plenário. RE 1066677, Rel. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 22/05/2020
Ocorrida a morte do instituidor da pensão em momento posterior ao da Emenda Constitucional 19/1998, o teto
constitucional previsto no inciso XI do art. 37 da Constituição Federal incide sobre o somatório de remuneração
ou provento e pensão percebida por servidor. STF. Plenário. RE 602584/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
Cuidado para não confundir com esse outro entendimento: Se a pessoa acumular licitamente dois cargos
públicos ela poderá receber acima do teto Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulação de cargos,
empregos e funções, a incidência do art. 37, XI, da Constituição Federal pressupõe consideração de cada um dos
vínculos formalizados, afastada a observância do teto remuneratório quanto ao somatório dos ganhos do
INFORMATIVOS 2020 - 66
agente público. STF. Plenário. RE 612975/MT e RE 602043/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 26 e
detalhada dos fatos a serem apurados. STJ. 1ª Seção. Aprovada em 18/02/2020, DJe 19/02/2020.
Não há parcialidade de membro da Comissão Processante apenas por compor outra Comissão em PAD,
que apura outros fatos pelos quais é investigado o mesmo servidor público.
envolvendo o mesmo investigado não macula a imparcialidade quando a apuração tratar de fatos distintos.
STJ. 1ª Seção. MS 22.019/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ acórdão Min. Og Fernandes, julgado em
27/05/2020.
A estabilidade prevista no art. 149 da Lei nº 8.112/90 deve ser no cargo, não sendo suficiente que o
membro da comissão goze de estabilidade no serviço público. O art. 149 da Lei nº 8.112/90 determina que a
comissão condutora do processo administrativo disciplinar seja composta por servidores estáveis e se exige que,
no momento da designação, estes já tenham atingido a estabilidade no desempenho do cargo que exercem e
que os legitima participar da comissão. Não haverá, contudo, nulidade do PAD se, no caso concreto, a
Administração Pública, ao perceber o vício formal, substituiu o servidor em estágio probatório por outro estável,
sem aproveitar qualquer ato decisório do servidor substituído. Isso porque, nesta hipótese, não terá havido
qualquer prejuízo concreto à defesa. STF. 2ª Turma. RMS 32357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
No PAD, vigora a independência relativa das esferas penal e administrativa, havendo repercussão apenas
A sentença proferida no âmbito criminal somente repercute na esfera administrativa quando reconhecida:
Assim, se a absolvição ocorreu por ausência de provas, a administração pública não está vinculada à decisão
proferida na esfera penal. STF. 2ª Turma. RMS 32357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970)
contributivo conferido àquela, especialmente porque nada impede que, na seara própria, haja o acertamento
de contas entre a administração e o servidor aposentado punido. Assim, constatada a existência de infração
disciplinar praticada enquanto o servidor estiver na ativa, o ato de aposentadoria não se transforma
INFORMATIVOS 2020 - 67
num salvo conduto para impedir o sancionamento do ilícito pela administração pública. Faz-se necessário
observar o regramento contido na Lei n. 8.112/1990, aplicando-se a penalidade compatível com as infrações
apuradas. STJ. 1ª Seção. MS 23.608-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes,
julgado em 27/11/2019 (Info 666). STF. 2ª Turma. AgR no ARE 1.092.355, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
17/5/2019.
públicos, disposta nos arts. 127, IV, e 134 da Lei nº 8.112/90. A aplicação da penalidade de cassação de
previdência dos servidores públicos. A perda do cargo público foi prevista no texto constitucional como uma
sanção que integra o poder disciplinar da Administração. É medida extrema aplicável ao servidor que apresentar
conduta contrária aos princípios básicos e deveres funcionais que fundamentam a atuação da Administração
tratamento diverso entre servidores ativos e inativos, para o sancionamento dos mesmos ilícitos, em prejuízo do
Administração em relação a servidores aposentados que cometeram faltas graves enquanto em atividade,
favorecendo a impunidade. STF. Plenário. ADPF 418, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020
CONCURSO PÚBLICO
No edital de concurso público não é necessária a previsão exaustiva de subtemas pertencentes ao tema
STJ. Corte Esepcial. MS 24.453/DF, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 17/06/2020
"Havendo previsão de um determinado tema, cumpre ao candidato estudar e procurar conhecer, de forma
global, todos os elementos que possam eventualmente ser exigidos nas provas, o que decerto envolverá o
conhecimento dos atos normativos e casos julgados paradigmáticos que sejam pertinentes, mas a isto não se
resumirá. Portanto, não é necessária a previsão exaustiva, no edital, das normas e dos casos julgados que
(MS 30860, Relator(a): LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 28/08/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-217
INFORMATIVOS 2020 - 68
Em regra, não é necessário a formação de litisconsórcio passivo necessário entre candidatos de concurso
Exceções: 1) em concurso público que se destinou à outorga de delegações de serventias extrajudiciais de Notas
STJ. 1 ª Seção. MS 22.822/DF, Rel. p/ Acórdão Ministra Aussete Magalhães, julgado em 09/09/2020.
Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não é legítima a cláusula de edital de
concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato de responder a inquérito ou a
ação penal. STF. Plenário. RE 560900/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 5 e 6/2/2020 (repercussão geral
Compete à Justiça comum processar e julgar controvérsias relacionadas à fase pré-contratual de seleção
indireta, nas hipóteses em que adotado o regime celetista de contratação de pessoal. STF. Plenário. RE
960429/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/3/2020 (repercussão geral – Tema 992) (Info 968).
A exclusão do candidato, que concorre à vaga reservada em concurso público, pelo critério da
heteroidentificação, seja pela constatação de fraude, seja pela aferição do fenótipo ou por qualquer
outro fundamento, exige o franqueamento do contraditório e da ampla defesa. STJ. 2ª Turma. RMS
Em regra, o STJ acompanha o entendimento do STF e decide que é inaplicável a teoria do fato consumado aos
concursos públicos, não sendo possível o aproveitamento do tempo de serviço prestado pelo servidor
que tomou posse por força de decisão judicial precária, para efeito de estabilidade. Contudo, em alguns
casos, o STJ afirma que há a solidificação de situações fáticas ocasionada em razão do excessivo decurso
de tempo entre a liminar concedida e os dias atuais, de maneira que, a reversão desse quadro implicaria
que existem situações excepcionais nas quais a solução padronizada ocasionaria mais danos sociais do
tempo de serviço prestado por força de decisão liminar, em necessária flexibilização da regra. Caso
concreto: determinado indivíduo prestou concurso para o cargo de Policial Rodoviário Federal e foi aprovado nas
provas teóricas, tendo sido, contudo, reprovado em um dos testes práticos. O candidato propôs mandado de
segurança questionando esse teste. O juiz concedeu a liminar determinando a nomeação e posse, o que ocorreu
em 1999. Em sentença, o magistrado confirmou a liminar e julgou procedente o pedido do autor. Anos mais
tarde, o TRF, ao julgar a apelação, entendeu que a exigência do teste prático realizado não continha nenhum
vício. Em virtude disso, reformou a sentença. O servidor, contudo, continuou cautelarmente no cargo até 2020,
quando houve o trânsito em julgado da decisão contrária ao seu pleito. O STJ assegurou a manutenção definitiva
INFORMATIVOS 2020 - 69
do impetrante no cargo. STJ. 1ª Turma. AREsp 883.574-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
20/02/2020 (Info 666). STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1569719/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 08/10/2019
Nos casos de preterição de candidato na nomeação em concurso público, o termo inicial do prazo
prescricional quinquenal recai na data em que foi nomeado outro servidor no lugar do aprovado no
certame. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.643.048-GO, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 05/03/2020 (Info
668).
A equiparação de carreira de nível médio a outra de nível superior constitui ascensão funcional, vedada
pelo art. 37, II, da CF/88. STF. Plenário. ADI 3199, Rel. Roberto Barroso, julgado em 20/04/2020 (Info 977).
É inconstitucional lei estadual que afirma que “o servidor público estadual à disposição do Tribunal de Contas
em 30 de novembro de 1994 poderá requerer sua integração ao Quadro Especial de Pessoal do referido
Tribunal, no prazo de 30 (trinta) dias contados da data da publicação desta lei.” Essa lei viola o princípio do
concurso público, previsto no art. 37, II, da CF/88. STF. Plenário. ADI 1251/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
O Estado responde subsidiariamente por danos materiais causados a candidatos em concurso público
organizado por pessoa jurídica de direito privado (art. 37, § 6º, da CRFB/88), quando os exames são
cancelados por indícios de fraude. STF. Plenário. RE 662405, Rel. Luiz Fux, julgado em 29/06/2020 (Repercussão
É inconstitucional a fixação de critério de desempate em concursos públicos que favoreça candidatos que
pertencem ao serviço público de um determinado ente federativo. Caso concreto: lei do Estado do Pará
previa que, em caso de empate de candidatos no concurso público, teria preferência para a ordem de
classificação o candidato que já pertencesse ao serviço público do Estado do Pará e, persistindo a igualdade,
aquele que contasse com maior tempo de serviço público ao Estado do Pará. Essa previsão viola o art. 19, III, da
CF/88, que veda a criação de distinções entre brasileiros ou preferências entre si. STF. Plenário. ADI 5358/PA, Rel.
É possível que o candidato a concurso público consiga a alteração das datas e horários previstos no edital
por motivos religiosos, desde que cumpridos alguns requisitos . Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição
Federal, é possível a realização de etapas de concurso público em datas e horários distintos dos previstos em
edital, por candidato que invoca escusa de consciência por motivo de crença religiosa, desde que presentes a
razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade entre todos os candidatos e que não acarrete
ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de maneira fundamentada. STF. Plenário.
INFORMATIVOS 2020 - 70
RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 19/11, 25/11 e 26/11/2020
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
O que acontece se, no momento do trânsito em julgado, o condenado ocupa cargo diferente daquele que
exercia na prática do ato? Se o agente público tiver mudado de cargo, ele poderá perder aquele que
atualmente ocupa? Ex: em 2012, João, na época policial federal, praticou um ato de improbidade
administrativa; o MP ajuizou ação de improbidade contra ele; em 2018, a sentença transitou em julgado
condenando João à perda da função pública; ocorre que João é atualmente Defensor Público; ele perderá o
cargo de Defensor?
O agente perde a função pública que estiver ocupando no momento do trânsito em julgado, ainda que seja
A penalidade de perda da função pública imposta em ação de improbidade administrativa atinge tanto o cargo
que o infrator ocupava quando praticou a conduta ímproba quanto qualquer outro que esteja ocupando ao
A sanção de perda da função pública visa a extirpar da Administração Pública aquele que exibiu inidoneidade
(ou inabilitação) moral e desvio ético para o exercício da função pública, abrangendo qualquer atividade que o
STJ. 1ª Seção. EREsp 1701967/RS, Rel. para acórdão Min. Francisco Falcão, julgado em 09/09/2020.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.813.255-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/03/2020.
Em regra, não.
Em regra, a perda da função pública atinge apenas o vínculo de mesma qualidade e natureza que o agente
Exceção: nas hipóteses do art. 9º, o magistrado, em caráter excepcional, poderá estender essa sanção (essa
perda da função) aos demais vínculos, consideradas as circunstâncias do caso e a gravidade da infração.
Desse modo, a Lei nº 14.230/2021 teve por objetivo superar o entendimento do STJ sobre o tema.
INFORMATIVOS 2020 - 71
Comete ato de improbidade administrativa previsto no art. 11, caput, e I, da Lei nº 8.429/92 o professor
universitário submetido ao regime de dedicação exclusiva que acumula função remunerada em outra
instituição de ensino.
Eventual compatibilidade de horários não tem o efeito de facultar à parte o desempenho de outra atividade
remunerada, uma vez que o docente fora contratado explicitamente para se dedicar, com exclusividade, ao
magistério. Exclusividade significa monopólio, impossibilidade de concorrência com outro emprego. Trata-se de
característica inerente ao próprio regime, não havendo espaço para a adoção de interpretação extensiva.
Considerando que o réu foi remunerado pelos cofres públicos para o exercício de atividade exclusiva e que, não
obstante, deixou de obedecer aos requisitos aplicáveis ao regime para o qual havia sido contratado, fica patente
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1.473.709/MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 12/6/2018.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1621947/CE, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 01/12/2020.
Dirigente de entidade privada que administra recursos públicos pode responder sozinho por
improbidade.
Caso concreto: foi ajuizada ação de improbidade contra uma Organização Não Governamental (ONG) e seu
gestor pela suposta prática de atos ímprobos na execução de convênio que envolveu o recebimento de recursos
do governo federal. Não foi inserido no polo passivo nenhum servidor público. Diante disso, a defesa do gestor
afirmou que não seria possível o ajuizamento de ação de improbidade exclusivamente contra o dirigente.
- é verdade que a ação de improbidade administrativa não pode ser ajuizada apenas contra particular. O STJ
afirma que, para que o terceiro seja responsabilizado pelas sanções da Lei nº 8.429/92 é indispensável que seja
- ocorre que, no caso concreto, a referida ONG pode ser enquadrada no parágrafo único do art. 1º da LIA e seu
- logo, no caso concreto, este dirigente não pode ser classificado como mero particular (terceiro), sendo
considerado agente público em sentido amplo (para fins de improbidade) e, portanto, podendo figurar sozinho
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1845674/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ Acórdão Min. Gurgel de
Os benefícios de colaboração premiada previstos na nº Lei 9.807/99 - que instituiu o Programa Federal de
Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas -, bem como na antiga Lei Antitruste (Lei nº 8.884/94), não
são aplicáveis para os casos em que não se discute a prática de crimes contra a ordem econômica, nem
INFORMATIVOS 2020 - 72
estão demonstradas as hipóteses de proteção previstas na Lei nº 9.807/99. STJ. 2ª Turma. REsp
1.464.287-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/03/2020 (Info 674)
Observação: os fatos julgados pelo STJ ocorreram antes da Lei nº 12.850/2013 e da Lei nº 13.964/2019. O § 1º do
art. 17 da Lei nº 8.492/92 proibia a realização de transação, acordo ou conciliação nas ações de improbidade
administrativa. A Lei nº 13.964/2019 alterou esse dispositivo para admitir a celebração de acordo de não
persecução cível. Veja a redação atual: Art. 17. (...) § 1º As ações de que trata este artigo admitem a celebração de
É incompatível com a Constituição Federal norma de Constituição estadual que disponha sobre nova
hipótese de foro por prerrogativa de função, em especial relativo a ações destinadas a processar e julgar
atos de improbidade administrativa. STF. Plenário. ADI 4870/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/12/2020
(Info 1002).
A pena de suspensão dos direitos políticos por ato de improbidade administrativa alcança qualquer
mandato eletivo que esteja sendo ocupado à época do trânsito em julgado da condenação. Uma vez que o
pleno exercício dos direitos políticos é pressuposto para o exercício da atividade parlamentar, determinada a
suspensão de tais direitos, é evidente que essa suspensão alcança qualquer mandato eletivo que esteja sendo
suspensão ao mandato que serviu de instrumento para a prática da conduta ilícita. Diante do escopo da
Lei de Improbidade Administrativa de extirpar da Administração Pública os condenados por atos ímprobos, a
suspensão dos direitos políticos abrange qualquer atividade que o agente esteja exercendo ao tempo da
condenação irrecorrível pelo tempo que imposta a pena. STJ. 2ª Turma. REsp 1.813.255-SP, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 03/03/2020 (Info 678). STJ. EREsp 1701967/RS, Rel. para acórdão Min. Francisco Falcão,
julgado em 09/09/2020
LICITAÇÕES E CONTRATOS
colaborador todos aqueles que, atendendo as motivadas exigências públicas, manifestem interesse em
firmar contrato ou acordo administrativo.” (TORRES, Ronny Charles Lopes de. Leis de Licitações Públicas
comentadas. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 348). Desse modo, o credenciamento é um procedimento por meio
do qual a Administração Pública anuncia que precisa de pessoas para fornecer determinados bens ou
para prestarem algum serviço e que irá contratar os que se enquadrem nas qualificações que ela exigir.
Após esse chamamento público, os interessados podem se habilitar para serem contratados. Fala-se que é uma
INFORMATIVOS 2020 - 73
hipótese de inexigibilidade de licitação porque não haverá competição (disputa) entre os interessados.
Todos os interessados que preencham os requisitos anunciados serão considerados “credenciados” e estarão
aptos a serem contratos. O Banco do Brasil publicou edital para credenciamento de advogados para prestar
serviços advocatícios. Ocorre que o edital de credenciamento publicado previu um critério de pontuação, de
forma que os advogados e escritórios que se inscrevessem iriam ser avaliados e organizados segundo uma
ordem de classificação baseada no currículo, experiência etc. O TCU e o STJ entendem que isso não é válido. O
credenciamento é considerado como uma espécie de inexigibilidade de licitação justamente pelo fato de
não ser possível, em tese, a competição entre os interessados. Logo, a previsão de critérios de pontuação
admite a existência de requisitos mínimos. Se o interessado preencher, ele está credenciado; se não atender,
encontra-se eliminado. Os critérios permitidos são, portanto, meramente eliminatórios (e não classificatórios).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.747.636-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 03/12/2019 (Info 662).
O edital de licitação não pode fixar um preço mínimo a ser oferecido pelos licitantes (art. 40, X, da Lei nº
8.666/93). Só um preço máximo. Essa vedação se justifica porque o objetivo da licitação é o de selecionar a
proposta mais vantajosa. Ocorre que algumas propostas apresentadas são claramente inexequíveis, ou seja, o
licitante não conseguirá custear o bem ou prestar o serviço e ainda ter lucro. Isso significa que, mais a frente,
haverá transtornos para a Administração Pública com a inexecução do contrato. Diante disso, alguns entes
públicos passaram a exigir algo que denominaram de “taxa de administração”. Essa taxa é o percentual de
remuneração que a empresa irá obter com aquela venda ou serviço. Se a taxa for equivalente a zero ou mesmo
negativa, a proposta é claramente inexequível considerando que não haverá lucro para a empresa. Assim,
alguns editais passaram a exigir um percentual mínimo de taxa de administração (ex: a empresa deverá
demonstrar que, na planilha de custos que gerou o preço, está prevista a sua remuneração em, no mínimo, 1%).
Essa prática é válida? O ente público pode estipular cláusula editalícia em licitação/pregão prevendo
fere expressamente a norma contida no inciso X do art. 40 da Lei nº 8.666/93. A taxa de administração é
uma forma de remuneração do contratado pela Administração Pública, integrando, portanto, o conceito de
preço. Logo, ao exigir um percentual mínimo de taxa de administração, o edital está fixando um preço mínimo.
Sendo o objetivo da licitação selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração (art. 3º da Lei nº
8.666/93), a fixação de um preço mínimo atenta contra essa finalidade. A Lei de Licitações prevê outros
mecanismos de combate às propostas inexequíveis em certames licitatórios, permitindo que o licitante preste
garantia adicional, tal como caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública, seguro-garantia e fiança
INFORMATIVOS 2020 - 74
bancária. STJ. 1ª Seção. REsp 1.840.113-CE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/09/2020 (Recurso Repetitivo –
O art. 18 da Lei nº 8.666/93 estabelece o valor da caução, na fase de habilitação de concorrência pública para
venda de bens imóveis, no percentual de 5% da avaliação do imóvel. É proibido que a Administração Pública
fixe caução em valor diverso do estabelecido em lei. Não cabe, assim, estabelecer percentual diverso ou
mesmo aceitar valor de caução inferior a 5% da avaliação do imóvel, em face do princípio da legalidade. STJ. 2ª
Turma. REsp 1.617.745-DF, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. Acd. Min. Assusete Magalhães, julgado em 22/10/2019
(Info 669).
LEI DA RELICITAÇÃO
As normas previstas na Lei da Relicitação para a prorrogação antecipada dos contratos de concessão não violam
competitividade. As regras complementam os requisitos da legislação geral (Lei nº 8.987/95) sobre o regime de
concessão de serviços públicos, que exige a regularidade, a continuidade, a eficiência, a segurança e a fixação de
tarifas em valores razoáveis (modicidade). A prorrogação é analisada caso a caso e está sujeita à fiscalização da
agência reguladora. Vale ressaltar, ainda, que o contrato deve ser submetido à consulta pública, havendo ainda a
necessidade de encaminhar ao TCU o termo aditivo para análise final. STF. Plenário. ADI 5991 MC/DF, Rel. Min.
RESPONSABILIDADE CIVIL
preços no setor sucroalcooleiro a comprovação de efetivo prejuízo econômico, mediante perícia técnica
STF. Plenário. ARE 884325, Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral - Tema 826).
A União, na condição de acionista controladora da Petrobras, não pode ser submetida à cláusula
compromissória arbitral prevista no Estatuto Social da Companhia, seja em razão da ausência de lei autorizativa,
seja em razão do próprio conteúdo da norma estatutária. Caso concreto: um grupo de acionistas da Petrobrás
formulou requerimento para instauração de procedimento arbitral perante a Câmara de Arbitragem do Mercado
(CAM-BOVESPA) contra a União e a Petrobrás, no qual pedem o ressarcimento pelos prejuízos decorrentes da
desvalorização dos ativos da Petrobras, em razão dos desgastes oriundos da Operação Lava Jato. O
procedimento foi instaurado com base no art. 58 do Estatuto Social da Petrobrás, onde consta uma cláusula
INFORMATIVOS 2020 - 75
compromissória dizendo que as disputas que envolvam a Companhia seus acionistas, administradores e
conselheiros fiscais deverão ser resolvidas por meio de arbitragem. A União afirmou que não estava obrigada a
participar dessa arbitragem, argumento que foi acolhido pelo STJ. STJ. 2ª Seção. CC 151.130-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/11/2019 (Info 664).
Para que fique caracterizada a responsabilidade civil do Estado por danos decorrentes do comércio de fogos de
artifício, é necessário que exista a violação de um dever jurídico específico de agir, que ocorrerá quando
for concedida a licença para funcionamento sem as cautelas legais ou quando for de conhecimento do
poder público eventuais irregularidades praticadas pelo particular. STF. Plenário. RE 136861/SP, rel. orig.
Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/3/2020 (repercussão geral – Tema 366)
(Info 969)
Aplica-se igualmente ao estado o que previsto no art. 927, parágrafo único, do Código Civil, relativo à
responsabilidade civil objetiva por atividade naturalmente perigosa, irrelevante o fato de a conduta ser
comissiva ou omissiva. STJ. 2ª Turma. REsp 1.869.046-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 09/06/2020
(Info 674)
Nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a responsabilidade civil objetiva do
Estado por danos decorrentes de crime praticado por pessoa foragida do sistema prisional, quando não
demonstrado o nexo causal direto entre o momento da fuga e a conduta praticada. STF. Plenário. RE
608880, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 08/09/2020 (Repercussão
A MP 966/2020, que dispõe sobre a responsabilização de agentes públicos por ação e omissão em atos
relacionados com a pandemia da covid-19. O STF decidiu que a MP é, em princípio, constitucional, mas deverá
ser feita uma interpretação conforme à Constituição. Desse modo, o Plenário do STF deferiu parcialmente a
a) de standards, normas e critérios científicos e técnicos, tal como estabelecidos por organizações e entidades
INFORMATIVOS 2020 - 76
2) conferir, ainda, interpretação conforme à Constituição ao art. 1º da MP 966/2020, para explicitar que, para os
fins de tal dispositivo, a autoridade à qual compete a decisão deve exigir que a opinião técnica trate
expressamente:
(i) das normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria, tal como estabelecidos por organizações e
(ii) da observância dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção. Foram fixadas as seguintes teses:
1. Configura erro grosseiro o ato administrativo que ensejar violação ao direito à vida, à saúde, ao meio
2. A autoridade a quem compete decidir deve exigir que as opiniões técnicas em que baseará sua decisão tratem
expressamente:
i) das normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria, tal como estabelecidos por organizações e
ii) da observância dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção, sob pena de se tornarem
Vale ressaltar que a MP não trata de crime ou de ato ilícito. Assim, qualquer interpretação do texto impugnado
que dê imunidade a agentes públicos quanto a ato ilícito ou de improbidade deve ser excluída. STF. Plenário. ADI
6421 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20 e 21/5/2020 (Info 978).
RESSARCIMENTO AO ERÁRIO
É prescritível a pretensão de ressarcimento ao erário fundada em decisão de Tribunal de Contas. STF. Plenário.
RE 636886/AL, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 20/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 899) (Info 983 –
clipping)
LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA
Edição de leis ambientais que restringem o uso da propriedade caracterizam-se como limitações
administrativas.
As restrições ao direito de propriedade, impostas por normas ambientais, ainda que esvaziem o conteúdo
A desapropriação indireta só ocorre quando existe o efetivo apossamento da propriedade pelo Poder Público.
INFORMATIVOS 2020 - 77
Logo, as restrições ao direito de propriedade impostas por normas ambientais configuram limitações
administrativas.
STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 1443672/SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 11/02/2020.
O prazo prescricional para exercer a pretensão de ser indenizado por limitações administrativas é de 5 anos, nos
STJ. 2ª Turma. EDcl no REsp 1784226/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 06/06/2019.
Imóvel do particular foi incluído em unidade de conservação. Houve, no caso, uma limitação administrativa. Ele
ajuizou ação de desapropriação indireta pedindo indenização. Mesmo não tendo havido desapropriação
indireta, mas sim mera limitação administrativa, o juiz deverá conhecer da ação e julgar seu mérito. Devem ser
observados os princípios da instrumentalidade das formas e da primazia da solução integral do mérito. STJ. 1ª
Turma. REsp 1.653.169-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 19/11/2019 (Info 662)
DESAPROPRIAÇÃO
Exceção: o prazo será de 15 anos se ficar comprovada a inexistência de obras ou serviços públicos no local. Em
regra, portanto, o prazo prescricional das ações indenizatórias por desapropriação indireta é de 10 anos porque
existe uma presunção relativa de que o Poder Público realizou obras ou serviços públicos no local.
concreta e devidamente, que não foram feitas obras ou serviços no local, afastando a presunção legal.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.575.846-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/06/2019 (Info 658).
O prazo prescricional aplicável à desapropriação indireta, na hipótese em que o Poder Público tenha
realizado obras no local ou atribuído natureza de utilidade pública ou de interesse social ao imóvel, é de
10 anos, conforme parágrafo único do art. 1.238 do CC. STJ. 1ª Seção. REsp 1.757.352-SC, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 12/02/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1109) (Info 671). Obs: a súmula 119 do STJ está
BENS PÚBLICOS
As terras devolutas pertencem, em regra, aos Estados-membros, com exceção daquelas indispensáveis à
defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à
INFORMATIVOS 2020 - 78
preservação ambiental, que são de propriedade da União (art. 20, II, da CF/88). As terras devolutas
pertencem aos Estados-membros desde a Constituição de 1891, que delas excetuava apenas a porção do
território indispensável para a defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e estradas de ferro
federais. Esse mesmo tratamento jurídico foi mantido, com pequenas variações, nas Constituições de 1934,
1937, 1946, 1967, EC 1 de 1969 e, finalmente, na Constituição Federal de 1988. Caso concreto: no Estado de São
Paulo havia uma grande área que era considerada como terra devoluta. Diante disso, em 1939, o Estado ajuizou
ação discriminatória para regularizar essa área, tendo o pedido sido julgado procedente, com a expedição de
A União, posteriormente, propôs ação anulatória alegando que as referidas terras seriam de sua propriedade
desde 1872, por anexação. O Estado de São Paulo, por sua vez, alegou que eram terras devolutas, e, por isso,
passíveis de alienação a particulares. Apesar de inexistente, à época, qualquer registro imobiliário no sentido de
se cuidar de terras devolutas, não se exigiria prova nesse sentido, pois a regra então vigente era no sentido da
presunção da natureza devoluta dessas terras. Assim, havia presunção de que eram terras devolutas e cabia à
União o ônus de provar que adquiriu as terras por meio de compra ou anexação; que as terras lhe eram úteis; e
a exata individuação para fins de saber se elas coincidem com as áreas em relação às quais o estado de São
Paulo expediu os títulos que se pretende anular. É possível concluir que a União adquiriu terras na região,
mediante compra ou anexação. Entretanto, não há provas de que essas terras tenham sido efetivamente úteis
para o suposto fim original a que se prestariam. Além disso, não há qualquer precisão na individuação dessas
terras à época da aquisição. A União não se desincumbiu de seu ônus probatório. STF. Plenário. ACO 158/SP, Rel.
TEMAS DIVERSOS
Na equipe que compõe as Ambulâncias de Suporte Básico - Tipo B e as Unidades de Suporte Básico de
Vida Terrestre (USB) do SAMU não é necessária a presença de enfermeiro, bastando um técnico ou
auxiliar de enfermagem.
A composição da tripulação das Ambulâncias de Suporte Básico - Tipo B e das Unidades de Suporte Básico de
Vida Terrestre (USB) do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU sem a presença de enfermeiro não
ofende, mas sim concretiza, o que dispõem os artigos 11, 12, 13 e 15 da Lei n.º 7.498/86, que regulamenta o
exercício da enfermagem.
STJ. 1ª Seção. REsp 1828993-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 12/08/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1024)
(Info 677).
Pessoa jurídica de direito público tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da
INFORMATIVOS 2020 - 79
honra ou da imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre
Imagine que um particular profere palavras ofensivas contra a administração pública. A pessoa jurídica de
direito público terá direito à indenização por danos morais sob a alegação de que sofreu violação da sua honra
ou imagem?
NÃO. Em regra, pessoa jurídica de direito público não pode pleitear, contra particular, indenização por dano
moral relacionado à violação da honra ou da imagem. Nesse sentido: REsp 1.258.389/PB, REsp 1.505.923/PR e
Suponha, contudo, que uma autarquia foi vítima de grande esquema criminoso que desviou vultosa quantia e
gerou grande repercussão na imprensa, acarretando descrédito em sua credibilidade institucional. Neste caso,
os particulares envolvidos poderiam ser condenados a pagar indenização por danos morais à autarquia?
SIM. Pessoa jurídica de direito público tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da
honra ou da imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre os
Nos três julgados acima mencionados nos quais o STJ negou direito à indenização, o que estava em jogo era a
livre manifestação do pensamento, a liberdade de crítica dos cidadãos ou o uso indevido de bem imaterial do
ente público. No caso concreto é diferente. A indenização está sendo pleiteada em razão da violação à
credibilidade institucional da autarquia que foi fortemente agredida em razão de crimes praticados contra ela.
STJ. 2ª Turma. REsp 1722423-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/11/2020 (Info 684).
FUNDEF
Valorização do Magistério (Fundef) deve ser calculado com base no valor mínimo nacional por aluno extraído da
média nacional. A complementação ao Fundef realizada a partir do valor mínimo anual por aluno fixada em
desacordo com a média nacional impõe à União o dever de suplementação de recursos, mantida a vinculação
prejudicados com o cálculo incorreto do valor mínimo nacional por aluno deverão ser indenizados por conta do
montante pago a menor a título de complementação pela União no período de vigência do FUNDEF, isto é, nos
exercícios financeiros de 1998 a 2007. O tema acima foi definido pelo STJ (no REsp 1101015/BA) e pelo STF nas
ACO 648/BA, ACO 660/AM, ACO 669/SE e ACO 700/RN, jugadas em 6/9/2017. Diante disso, é possível que o
Ministro do STF, Relator de ações com pedidos semelhantes, decida monocraticamente e julgue procedente os
pedidos formulados por outros Estados-Membros contra a União. Não haverá, neste caso, violação ao princípio
da colegialidade. STF. Plenário. ACO 701 AgR/AL, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 18/12/2019 (Info 964)
INFORMATIVOS 2020 - 80
INFRAÇÕES DE TRÂNSITO
No processo administrativo para imposição de multa de trânsito, são necessárias as notificações da autuação
e da aplicação da pena decorrente da infração. Tais notificações, se feitas por remessa postal, não precisam
ser acompanhadas de aviso de recebimento (AR). Não há essa exigência no Código de Trânsito Brasileiro nem
nas Resoluções do CONTRAN. STJ. 1ª Seção. PUIL 372-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 11/03/2020 (Info
668).
A definição de viuvez do art. 2º, V, da Lei nº 8.059/90 contempla a viúva de militar que passa a conviver em união
estável, após a óbito do beneficiário, mesmo sem contrair novas núpcias, porquanto já constituída instituição
familiar equiparável ao casamento. STJ. 1ª Turma. REsp 1.386.713-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
DIREITO CIVIL
DIREITOS DA PERSONALIDADE
Na exposição pornográfica não consentida, o fato de o rosto da vítima não estar evidenciado de maneira
Caso concreto: Paulo e Letícia eram namorados. Paulo tirou fotografias de Letícia em que ela aparece de biquini,
em poses sensuais, mas sem aparecer seu rosto. Após o fim do relacionamento, Paulo, como forma de vingança,
publicou tais imagens em um perfil criado no Facebook. Letícia denunciou as publicações por meio dos canais
disponibilizados pelo Facebook, no entanto, a plataforma não aceitou retirar as fotografias alegando que não
são fotografias pornográficas (considerando que não há nudez), além do fato de não estar sendo exposto de
forma evidente.
O STJ não concordou com os argumentos do Facebook e o condenou a pagar indenização por danos morais em
favor da autora.
A “exposição pornográfica não consentida”, da qual a “pornografia de vingança” é uma espécie, constituiu uma
grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa exposta indevidamente, além de configurar uma grave
forma de violência de gênero que deve ser combatida de forma contundente pelos meios jurídicos disponíveis.
Não há como descaracterizar um material pornográfico apenas pela ausência de nudez total. Neste caso
concreto, a autora encontra-se sumariamente vestida, em posições com forte apelo sexual.
INFORMATIVOS 2020 - 81
O fato de o rosto da vítima não estar evidenciado nas fotos de maneira flagrante é irrelevante para a
configuração dos danos morais na hipótese, uma vez que a mulher vítima da pornografia de vingança sabe que
sua intimidade foi indevidamente desrespeitada e, igualmente, sua exposição não autorizada lhe é humilhante e
STJ. 3ª Turma. REsp 1735712-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/05/2020 (Info 672).
DIREITO AO ESQUECIMENTO
Existindo evidente interesse social no cultivo à memória histórica e coletiva de delito notório, incabível o
acolhimento da tese do direito ao esquecimento para proibir qualquer veiculação futura de matérias
jornalísticas relacionadas ao fato criminoso cuja pena já se encontra cumprida. O chamado direito ao
esquecimento, apesar de ser reconhecido pela jurisprudência, não possui caráter absoluto. Em caso de
evidente interesse social no cultivo à memória histórica e coletiva de delito notório, não se pode proibir a
veiculação de matérias jornalísticas relacionados com o fato criminoso, sob pena de configuração de
censura prévia, vedada pelo ordenamento jurídico pátrio. Em tal situação, não se aplica o direito ao
esquecimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.803-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info
670)
Matéria jornalística que, sob o pretexto de noticiar crime histórico, expõe a intimidade do atual marido e dos
filhos da condenada, pessoas que não têm relação direta com o fato, ofende o princípio da intranscendência ou
da pessoalidade da pena, descrito no art. 5º, XLV, da CF/88 e no art. 13 do Código Penal. Isso porque, ao expor
publicamente a intimidade dos referidos familiares em razão do crime ocorrido, a reportagem compartilhou
dimensões evitáveis e indesejáveis dos efeitos da condenação então estendidas à atual família da ex-condenada.
Especificamente quanto aos filhos, menores de idade, ressalta-se a Opinião Consultiva n. 17, de 28 de agosto de
2002 da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que entende que o melhor interesse das crianças e dos
adolescentes é reconhecido como critério regente na aplicação de normas em todos os aspectos da vida dos
desenvolvimento de forma sadia e integral, nos termos do art. 3º do ECA e do art. 16 da Convenção sobre
os Direitos da Criança, promulgada pelo Decreto nº 99.710/90. STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.803-RJ, Rel. Min.
DIREITO À IMAGEM
Em regra, a autorização para uso da imagem deve ser expressa; no entanto, a depender das
INFORMATIVOS 2020 - 82
de cargo público, há julgados do STJ em que se admite o consentimento presumível, o qual deve ser
De um lado, o uso da imagem da torcida - em que aparecem vários dos seus integrantes - associada à partida de
futebol, é ato plenamente esperado pelos torcedores, porque costumeiro nesse tipo de evento; de outro lado,
quem comparece a um jogo esportivo não tem a expectativa de que sua imagem seja explorada
comercialmente, associada à propaganda de um produto ou serviço, porque, nesse caso, o uso não decorre
diretamente da existência do espetáculo. A imagem é a emanação de uma pessoa, a forma com a qual ela se
projeta, se identifica e se individualiza no meio social. Não há violação ao direito à imagem se a divulgação
ocorrida não configura projeção, identificação e individualização da pessoa nela representada. No caso concreto,
o autor não autorizou ainda que tacitamente a divulgação de sua imagem em campanha publicitária de
automóvel. Ocorre que, pelas circunstâncias, não há que se falar em utilização abusiva da imagem, tampouco
em dano moral porque o vídeo divulgado não destaca a sua imagem, mostrando o autor durante poucos
segundos inserido na torcida, juntamente com vários outros torcedores. STJ. 3ª Turma. REsp 1.772.593-RS, Rel.
PESSOA JURÍDICA
A responsabilidade do ex-cooperado pelo rateio dos prejuízos acumulados não se limita ao prazo de 2
anos contados do desligamento da cooperativa, previsto no art. 1.003, parágrafo único, e no art. 1.032, do
Código Civil. Exemplo: João fazia parte de uma cooperativa e saiu formalmente em 2010. Em 2014, a cooperativa
ajuizou ação contra João cobrando o pagamento de parte proporcional de prejuízo que a entidade sofreu em
2009. O STJ afirmou o ex-cooperado pode responder porque não se aplica o limite de prazo de 2 anos, previsto
no art. 1.003, parágrafo único e no art. 1.032, do Código Civil: Art. 1.003 (...) Parágrafo único. Até dois anos depois
sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio. Art. 1.032. A retirada, exclusão ou morte do
sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois
anos após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em igual
prazo, enquanto não se requerer a averbação. Esses dispositivos mencionados pertencem ao regime das
sociedades simples e somente se aplicariam às cooperativas caso a lei fosse omissa (art. 1.096 do CC). Ocorre
que o art. 89 da Lei nº 5.764/71 trata sobre o tema e não estipula prazo. Por fim, vale mencionar que o prazo
prescricional para cobrança de ato cooperativo é de 10 anos, nos temos do art. 205 do CC. STJ. 3ª Turma. REsp
INFORMATIVOS 2020 - 83
EIRELI
A exigência de integralização do capital social por empresas individuais de responsabilidade limitada (EIRELI), no
montante previsto no art. 980-A do Código Civil, com redação dada pelo art. 2º da Lei nº 12.441/2011, não viola a
regra constitucional que veda a vinculação do salário-mínimo para qualquer fim e também não configura
impedimento ao livre exercício da atividade empresarial. O art. 980-A do Código Civil exige que o capital social da
empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) não seja inferior a 100 vezes o maior salário-mínimo
vigente no País. Essa previsão é constitucional. Não há violação ao art. 7º, IV, da CF/88 porque não existe, no
art. 980-A, qualquer forma de vinculação que possa interferir ou prejudicar os reajustes periódicos do
salário mínimo. Não há afronta ao art. 170 da CF/88 (livre iniciativa) porque essa exigência de capital social
mínimo tem por objetivo proteger os interesses de eventuais credores, além do que não impede que a pessoa
exerça a livre iniciativa, sendo apenas um requisito para a constituição de EIRELI. STF. Plenário. ADI 4637/DF, Rel.
não cabe a condenação nos ônus sucumbenciais em razão da ausência de previsão legal. Logo, é
irrelevante apurar quem deu causa ou foi sucumbente no julgamento final do incidente. STJ. 3ª Turma. REsp
1.845.536-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/05/2020 (Info 673).
A imputação dos pagamentos primeiramente nos juros é instituto que, via de regra, alcança todos os
contratos em que o pagamento é diferido em parcelas. O objetivo de fazer isso é o de diminuir a oneração do
devedor. Ao impedir que os juros sejam integrados ao capital para, só depois dessa integração, ser abatido o
valor das prestações, evita que sobre eles (juros) incida novo cômputo de juros. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp
1.843.073-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 30/03/2020 (Info 669)
A cobrança de juros remuneratórios superiores aos limites estabelecidos pelo Código Civil é excepcional e
deve ser interpretada restritivamente. Apenas às instituições financeiras, submetidas à regulação, controle e
fiscalização do Conselho Monetário Nacional, é permitido cobrar juros acima do teto legal. A previsão do art. 2º
da Lei nº 6.463/77 faz referência a um sistema obsoleto, em que a aquisição de mercadorias a prestação
INFORMATIVOS 2020 - 84
dependia da atuação do varejista como instituição financeira e no qual o controle dos juros estava sujeito ao
O art. 2º da Lei 6.463/77 não possui mais suporte fático apto à sua incidência, sendo, portanto, ineficaz, não
podendo ser interpretado extensivamente para permitir a equiparação dos varejistas a instituições financeiras e
não autorizando a cobrança de encargos cuja exigibilidade a elas é restrita. STJ. 3ª Turma. REsp 1.720.656-MG,
O FIDC, ao adquirir do condomínio créditos de cotas condominiais não-pagas, sub-roga-se e passa a ter os
mesmos direitos que o condomínio possuía, com as mesmas prerrogativas no momento de cobrar os
inadimplentes.
Situação concreta: vários condôminos estavam inadimplentes com as taxas condominiais. O condomínio cedeu
esses créditos para um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). O FIDC, ao adquirir do condomínio
esses créditos, sub-roga-se e passa a ter os mesmos direitos que o condomínio possuía, com as mesmas
prerrogativas. A cessão de crédito não implica a alteração da natureza do crédito cedido. Na atividade de
instituto da cessão de créditos e, ao efetuarem o pagamento das cotas condominiais inadimplidas, sub-rogam-se
na mesma posição do condomínio cedente, com todas as prerrogativas legais a ele conferidas. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.570.452-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/09/2020 (Info 680).
Se o contrato, ao tratar sobre os encargos, menciona a taxa de juros mensal e anual, mas não prevê qual é a
taxa diária dos juros, há abusividade. Viola o dever de informação, o contrato que somente prevê uma
cláusula genérica de capitalização diária, sem informar a taxa diária de juros remuneratórios. A
informação acerca da capitalização diária, sem indicação da respectiva taxa diária, subtrai do consumidor a
possibilidade de estimar previamente a evolução da dívida, e de aferir a equivalência entre a taxa diária
e as taxas efetivas mensal e anual. A falta de previsão da taxa diária, portanto, dificulta a compreensão do
consumidor acerca do alcance da capitalização diária, o que configura descumprimento do dever de informação
trazido pelo art. 46 do CDC. STJ. 2ª Seção. REsp 1.826.463-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
O réu, citado na ação monitória, pode apresentar embargos monitórios, que são uma forma de defesa,
semelhante à contestação (art. 702 do CPC). Os embargos podem se fundar em qualquer matéria que poderia
ser alegada como defesa no procedimento comum (§ 1º do art. 702). Assim, o réu pode, nos embargos
monitórios, alegar que a dívida já está paga e pedir a repetição de indébito em dobro, nos termos do art.
940 do CC. A condenação ao pagamento em dobro do valor indevidamente cobrado pode ser formulada em
qualquer via processual, inclusive, em sede de embargos à execução, embargos monitórios e ou reconvenção,
INFORMATIVOS 2020 - 85
até mesmo reconvenção, prescindindo de ação própria para tanto. STJ. 3ª Turma. REsp 1.877.292-SP, Rel. Min.
CONTRATOS EM ESPÉCIE
COMPRA E VENDA
O STJ possui enunciado afirmando que: “é admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação
de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro” (Súmula
84-STJ).
Esse entendimento se aplica mesmo que o imóvel, adquirido na planta, ainda esteja em fase de construção.
Assim, a Súmula 84 do STJ pode ser aplicada mesmo quando ainda não houve a entrega das chaves ao
promitente comprador.
STJ. 3ª Turma. REsp 1861025/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
Exemplo hipotético: Jasmim Ltda. ajuizou ação de adjudicação compulsória contra Dimensão Ltda. alegando em
síntese que celebrou contrato de promessa de compra e venda de um lote que se encontrava em fase de
desmembramento perante a “Prefeitura” (Município). Afirma que, apesar de celebrado o negócio, a ré ainda não
outorgou a escritura definitiva do imóvel. A requerida defendeu-se afirmando que não outorgou a escritura
pública porque ainda não houve o desdobro do imóvel prometido à venda e que isso seria obstáculo à
Em um caso semelhante a esse, o STJ decidiu que não é possível a procedência da ação de adjudicação
compulsória.
O art. 37 da Lei nº 6.766/79 (Lei de parcelamento do solo urbano) afirma que “é vedado vender ou prometer
Além disso, segundo o regramento previsto no Decreto-Lei nº 58/1937, julgada procedente a ação de
adjudicação compulsória, a sentença valerá como título para transcrição no cartório de registro de imóveis
respectivo. Assim, se o imóvel de cuja escritura se exige a outorga não tem matrícula própria, individualizada no
registro de imóveis, eventual sentença que substitua a declaração de vontade do promitente vendedor torna-se
A existência de imóvel registrável (imóvel que pode ser levado a registro) é condição específica da ação de
aprovado pelo Município, é formalidade que antecede necessariamente o registro de área fracionada.
INFORMATIVOS 2020 - 86
STJ. 3ª Turma. REsp 1851104-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
alienante expressamente houverem consentido (art. 496 do CC). O prazo para anular a venda direta entre
ascendente e descendente é de 2 anos, a contar da conclusão do ato (art. 179 do CC). A venda de bem entre
ascendente e descendente, por meio de interposta pessoa, também é ato jurídico anulável, devendo ser
aplicado o mesmo prazo decadencial de 2 anos previsto no art. 179 do CC. Isso porque a venda por interposta
pessoa não é outra coisa que não a tentativa reprovável de contornar-se a exigência da concordância dos
demais descendentes e também do cônjuge. Em outras palavras, é apenas uma tentativa de se eximir da regra
do art. 496 do CC, razão pela qual deverá ser aplicado o mesmo prazo decadencial de 2 anos. STJ. 3ª Turma. REsp
SEGURO
No seguro de vida, se o segurado se suicidar, a seguradora continua tendo obrigação de pagar a indenização?
1) Entendimento ANTERIOR (até 08/04/2015) (Súmulas 105 do STF e 61 do STJ): O critério era o da premeditação:
2) Entendimento ATUAL (Súmula 610 do STJ): O critério passou a ser o meramente temporal:
Caso concreto: segurado cometeu suicídio antes de terminarem os dois primeiros anos do contrato. Ficou
demonstrado que o suicídio não foi premeditado. Assim, pelo entendimento anterior, o beneficiário do seguro
teria direito à indenização (porque o suicídio não foi premeditado). Por outro lado, pelo entendimento atual, o
filho de João não teria direito à indenização (porque o suicídio ocorreu nos dois primeiros anos do contrato). O
beneficiário ajuizou a ação contra a seguradora quando ainda vigorava o entendimento anterior do STJ, tendo,
inclusive, obtido uma sentença favorável. Ocorre que, quando o processo chegou ao STJ por meio de recurso, o
entendimento já havia mudado. Neste caso, o STJ afirmou que, mesmo tendo havido alteração da jurisprudência,
deveria ser aplicado o entendimento anterior. STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.716-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi,
Em regra, é válida a cláusula de reajuste por faixa etária em contrato de seguro de vida.
Essa cláusula somente não será válida nos casos em que o contrato já tenha previsto alguma outra
técnica de compensação do “desvio de risco” dos segurados idosos, como nos casos de constituição de
reserva técnica para esse fim, a exemplo dos seguros de vida sob regime da capitalização (em vez da repartição
simples).
INFORMATIVOS 2020 - 87
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 632.992/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 19/03/2019. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.816.750-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/11/2019 (Info 663)
No seguro de vida em grupo, não há abusividade na cláusula que permite a não renovação do contrato ou
a renovação condicionada a reajuste por faixa etária. É válida a cláusula contratual que confere a
prerrogativa de a seguradora optar por não renovar o contrato de seguro de vida em grupo. Também é válida a
cláusula contratual que preveja a possibilidade de alteração da cobertura contratada e de reajuste por
apólice. Em outras palavras, no contrato de seguro de vida em grupo, não há abusividade no reajuste por
implemento de idade quando da formalização da nova apólice. Tais cláusulas são decorrentes da própria
natureza do contrato. STJ. 4ª Turma. REsp 1.769.111-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/12/2019
(Info 665)
No contrato de seguro de vida em grupo, cuja estipulação é feita em favor de terceiros, três são as partes
interessadas:
c) o grupo segurado, usufrutuários dos benefícios, que assumem suas obrigações para com o estipulante (ex:
trabalhadores ou associados).
Uma pessoa está decidindo se irá ou não aderir a um seguro de vida em grupo oferecido pelo empregador
• Estipulante. É a posição atual da 3ª Turma do STJ: Incumbe exclusivamente ao estipulante o dever de prestar
informação prévia ao segurado a respeito das cláusulas limitativas/restritivas nos contratos de seguro de vida
em grupo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.825.716-SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/10/2020 (Info 683).
segurado, mesmo nos contratos de seguro de vida em grupo. Tal responsabilidade não pode ser transferida
integralmente à estipulante, eximindo a seguradora. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.848.053/SC, Rel. Min. Raul
DPVAT
As alterações no seguro obrigatório só podem ser feitas por meio de lei complementar. Isso porque o
sistema de seguros integra o sistema financeiro nacional, subordinado ao Banco Central do Brasil. Pode-se dizer
que o sistema de seguros é um subsistema do sistema financeiro nacional. De acordo com o art. 192 da
Constituição Federal, é necessário lei complementar para tratar dos aspectos regulatórios do sistema financeiro.
INFORMATIVOS 2020 - 88
Desse modo, a regulação do DPVAT (Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores
de Vias Terrestres) e do DPEM (Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Embarcações ou por sua
Carga) deve ser feita por meio de lei complementar, nos termos do art. 192 da Constituição Federal. É vedada a
edição de medida provisória que disponha sobre matéria sob reserva de lei complementar (art. 62, § 1º,
III, da CF/88). Logo, é inconstitucional a MP 904/2019, que pretendia extinguir o DPVAT e o DPEM, a partir
de 1º de janeiro de 2020. Essa MP viola o art. 62, § 1º, III c/c o art. 192 da CF/88. STF. Plenário virtual. ADI
FIANÇA
É necessária a outorga conjugal para fiança em favor de sociedade cooperativa. STJ. 4ª Turma. REsp
1.351.058-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/11/2019 (Info 664).
ARBITRAGEM
A União, na condição de acionista controladora da Petrobras, não pode ser submetida à cláusula
compromissória arbitral prevista no Estatuto Social da Companhia, seja em razão da ausência de lei autorizativa,
seja em razão do próprio conteúdo da norma estatutária. Caso concreto: um grupo de acionistas da Petrobrás
formulou requerimento para instauração de procedimento arbitral perante a Câmara de Arbitragem do Mercado
(CAM-BOVESPA) contra a União e a Petrobrás, no qual pedem o ressarcimento pelos prejuízos decorrentes da
desvalorização dos ativos da Petrobras, em razão dos desgastes oriundos da Operação Lava Jato. O
procedimento foi instaurado com base no art. 58 do Estatuto Social da Petrobrás, onde consta uma cláusula
compromissória dizendo que as disputas que envolvam a Companhia, seus acionistas, administradores e
conselheiros fiscais deverão ser resolvidas por meio de arbitragem. A União afirmou que não estava obrigada a
participar dessa arbitragem, argumento que foi acolhido pelo STJ. STJ. 2ª Seção. CC 151.130-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/11/2019 (Info 664).
DOAÇÃO
É nula a doação entre cônjuges casados sob o regime da comunhão universal de bens, na medida em que a
hipotética doação resultaria no retorno do bem doado ao patrimônio comum amealhado pelo casal diante
REsp 1.787.027-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/02/2020 (Info 670).
INFORMATIVOS 2020 - 89
MANDATO
O Código Civil de 1916 previa que “o reconhecimento da letra e firma no instrumento particular é condição
essencial à sua validade, em relação a terceiros” (art. 1.289, §4º). Embora o respeito à forma prescrita em lei
tenha relevância, a jurisprudência do STJ admite, ainda que excepcionalmente, a relativização de vícios formais,
especialmente aqueles que se podem reputar como menos graves e que sejam insuficientes para comprometer
a substância do ato negocial. Assim, em um caso ocorrido na vigência do CC/1916, o STJ afirmou que, embora
não tenha havido o reconhecimento de firma da assinatura do mandante do contrato de mandato, não deveria
ser reconhecida a nulidade do mandato considerando que qualquer dúvida acerca da autenticidade do
documento foi dirimida pela prova pericial grafotécnica. Vale ressaltar que o Código Civil de 2002 não traz uma
regra tão rígida quanto a do diploma passado e prevê apenas que “o terceiro com quem o mandatário tratar
poderá exigir que a procuração traga a firma reconhecida” (art. 654, § 2º, do CC/2002). STJ. 3ª Turma. REsp
Nos contratos de prestação de serviços advocatícios com cláusula de remuneração exclusivamente por
advogado pelo trabalho desempenhado até o momento da rescisão contratual. Nessas hipóteses, o risco
assumido pelo advogado é calculado com base na probabilidade de êxito da pretensão de seu cliente, sendo
esse o limite do consentimento das partes no momento da contratação. Não é possível que o risco assumido
pelo causídico venha a abarcar a hipótese de o contratante, por ato próprio e sem uma justa causa, anular o seu
direito à remuneração, rescindindo o contrato. O cliente pode, sem dúvida, exercer o direito de não mais ser
representado pelo advogado antes contratado, mas deve, por outro lado, assumir o ônus de remunerá-lo pelo
trabalho desempenhado até aquele momento, sob pena de ser desconsiderado todo o trabalho desempenhado.
Desse modo, é cabível o arbitramento judicial da verba honorária, levando em consideração as atividades
desenvolvidas pelo causídico. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.560.257-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado
O Código de Ética e Disciplina da OAB (CED-OAB), ao dispor sobre as relações entre cliente e advogado, assevera
expressamente que o fundamento que as norteia é a confiança recíproca. Assim, em razão da relação de fidúcia
(confiança) entre advogado e cliente (considerando se tratar de contrato personalíssimo), o Código de Ética
prevê, em seu art. 16, que o mandato perdura enquanto houver confiança recíproca entre cliente e advogado.
Como existe a possibilidade de quebra da fidúcia (confiança) entre cliente/advogado, há o direito potestativo do
patrono em renunciar ao patrocínio (sem prejuízo do cliente ser reparado por eventuais danos sofridos), bem
como do cliente em revogar o mandato outorgado (sem prejuízo do causídico em receber verba remuneratória
pelos serviços então prestados). Dessa forma, a revogação unilateral, pelo cliente, do mandato outorgado
INFORMATIVOS 2020 - 90
ao advogado é causa lícita de rescisão do contrato de prestação de serviços advocatícios, não ensejando
o pagamento de multa prevista em cláusula penal. A mesma lógica pode e deve ser aplicada também quando
ocorrer o inverso, na hipótese de renúncia do mandato pelo causídico. Vale ressaltar, por fim, que é possível a
existência de cláusula penal nos contratos de prestação de serviços advocatícios, contudo adstrita às situações
de mora e/ou inadimplemento, desde que respeitada a razoabilidade, sob pena de interferência judicial. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.882.117-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/10/2020 (Info 682)
Entre a pessoa jurídica fabricante (montadora de carros, chamada de concedente; ex: General Motors) e o
distribuidor (concessionária), há uma relação de concessão comercial cujo objeto é o veículo a ser vendido ao
consumidor. Esse vínculo, sob o ponto de vista comercial, é regido pela Lei nº 6.729/79, conhecida como Lei
veículos, peças e acessórios por prazo indeterminado. A montadora promoveu a resolução do contrato, sob
alegação de que a concessionária teria praticado diversas irregularidades graves, como a adulteração de ordens
de serviço. A concessionária ajuizou ação pedindo o pagamento da indenização prevista no art. 24 da Lei Ferrari,
que diz: “Art. 24. Se o concedente der causa à rescisão do contrato de prazo indeterminado, deverá reparar o
concessionário: (...)” O STJ entendeu que era descabida a condenação da montadora. O art. 24 da Lei Ferrari
prevê uma série de parcelas indenizatórias devidas à concessionária no caso de resolução do contrato, mas esse
pagamento só ocorre se o concedente tiver dado causa a essa resolução. Na situação em tela, as irregularidades
praticadas pela concessionária foram graves, a ponto de ensejar o reconhecimento de sua culpa pela resolução
do contrato. STJ. 3ª Turma. REsp 1.683.245-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 06/10/2020 (Info
682).
LOCAÇÃO COMERCIAL
A ação revisional é destinada para as hipóteses em que não há acordo entre locador e locatário sobre o valor do
aluguel. Com base na autonomia privada, nada impede que as partes contratantes (locador e locatário) se
ajustem sobre:
i) os gastos relativos à acessão sejam descontados do valor do aluguel por determinado tempo;
ii) a acessão seja realizada por investimento exclusivo de uma das partes com a correspondente
iii) a acessão seja custeada por apenas uma parte, renunciando-se à indenização correspondente ao
investimento.
Contudo, se não houver consenso entre as partes, em sede de ação revisional de locação comercial, o
novo aluguel deve refletir o valor patrimonial do imóvel locado, inclusive decorrente de benfeitorias e
INFORMATIVOS 2020 - 91
acessões nele realizadas pelo locatário, pois estas incorporam-se ao domínio do locador, proprietário do bem.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.411.420-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/06/2020 (Info 678).
EMPRÉSTIMO
Analfabeto pode celebrar empréstimo consignado, no entanto, alguém tem que assinar por ele a seu
rogo; não é válido o empréstimo consignado firmado por analfabeto e no qual constou apenas a sua
É válida a contratação de empréstimo consignado por analfabeto mediante a assinatura a rogo, a qual, por sua
vez, não se confunde, tampouco poderá ser substituída pela mera aposição de digital ao contrato escrito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1868099-CE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/12/2020 (Info 684).
SFH
pelo seguro habitacional obrigatório, vinculado a crédito imobiliário concedido para aquisição de imóvel
pelo SFH.
Os vícios estruturais de construção estão cobertos pelo seguro habitacional obrigatório vinculado ao crédito
imobiliário concedido pelo Sistema Financeiro da Habitação - SFH, ainda que só se revelem depois da extinção
do contrato.
No âmbito do SFH, o seguro habitacional ganha conformação diferenciada, uma vez que integra a política
nacional de habitação, destinada a facilitar a aquisição da casa própria, especialmente pelas classes de menor
renda da população. Trata-se, portanto, de contrato obrigatório que visa à proteção da família e à salvaguarda
do imóvel que garante o respectivo financiamento imobiliário, resguardando, assim, os recursos públicos
A partir dessa perspectiva, infere-se que uma das justas expectativas do segurado, ao aderir ao seguro
habitacional obrigatório para aquisição da casa própria pelo SFH, é a de receber o bem imóvel próprio e
adequado ao uso a que se destina. E a essa expectativa legítima de garantia corresponde a de ser devidamente
indenizado pelos prejuízos suportados em decorrência de danos originados na vigência do contrato e geradores
dos riscos cobertos pela seguradora, segundo o previsto na apólice, como razoavelmente se pressupõe ocorrer
STJ. 2ª Seção. REsp 1804965-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/05/2020 (Info 672).
RESPONSABILIDADE CIVIL
INFORMATIVOS 2020 - 92
A caracterização do infortúnio como acidente de trabalho não impede, necessariamente, que esse
também seja considerado como um acidente causado por veículo automotor e, portanto, coberto pelo
seguro DPVAT.
O art. 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal,
trabalho nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida, por sua
natureza, apresentar exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva, e implicar ao
trabalhador ônus maior do que aos demais membros da coletividade. STF. Plenário. RE 828040/DF, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 12/3/2020 (repercussão geral – Tema 932) (Info 969).
A decretação da prescrição da pretensão punitiva do Estado na ação penal não fulmina o interesse
processual no exercício da pretensão indenizatória a ser deduzida no juízo cível pelo mesmo fato. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.802.170-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2020 (Info 666)
Em regra, a quitação ampla, geral e irrevogável efetivada em acordo extrajudicial deve ser presumida válida e
eficaz, não se autorizando o ingresso na via judicial para ampliar verbas indenizatórias anteriormente aceitas e
dos danos constitui exceção à regra de que a quitação plena e geral desautoriza o ajuizamento de ação
Caso concreto: o acidente de trânsito foi em 20/04/2015; o acordo foi celebrado em 08/05/2015, ou seja, em data
muito próxima à do sinistro; nessa época, a autora ainda não tinha conhecimento da integralidade do prejuízo
que havia sofrido; após a assinatura do termo, a parte tomou ciência de que necessitaria de amplo tratamento
dentário, razão pela qual ajuizou ação cobrando o custo disso e que não estava coberto pelo acordo. STJ. 4ª
Turma. AgInt no REsp 1.833.847-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/04/2020 (Info 671)
O ato de vandalismo que resulta no rompimento de cabos elétricos de vagão de trem não exclui
explosão elétrica no vagão de trem durante o transporte, o que gerou tumulto e pânico entre os passageiros.
Essa explosão decorreu de ato de vandalismo. Mesmo que o dano tenha sido decorrente de uma conduta de
terceiro, persiste a responsabilidade da concessionária. Isso porque a conduta do terceiro, neste caso, está
inserida no risco do transportador, relacionando-se com a sua atividade. Logo, configura o chamado fortuito
interno, que não é capaz de excluir a responsabilidade. O contrato de transporte de passageiros envolve a
chamada cláusula de incolumidade, segundo a qual o transportador deve empregar todos os expedientes
INFORMATIVOS 2020 - 93
que são próprios da atividade para preservar a integridade física do passageiro, contra os riscos
inerentes ao negócio, durante todo o trajeto, até o destino final da viagem. Assim, o ato de vandalismo
que resulta no rompimento de cabos elétricos de vagão de trem não exclui a responsabilidade da
concessionária/transportadora, pois cabe a ela cumprir protocolos de atuação para evitar tumulto, pânico e
submissão dos passageiros a mais situações de perigo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.786.722-SP, Rel. Min. Nancy
Poder Judiciário pode obrigar empresa responsável pela rede social a fornecer os dados de todos os
usuários que acessaram determinado perfil dessa rede social em determinado intervalo de tempo. Caso
concreto: um casal publicou, de livre e espontânea vontade, fotos e vídeos em uma rede social adulta voltada
para swing, chamada “Sexlog”. Esse material foi indevidamente capturado por algum usuário da rede e
distribuído por WhatsApp. O casal ajuizou ação contra a empresa responsável pela rede pedindo para que ela
fornecesse os dados de todos os usuários que acessaram o perfil dos requerentes no período compreendido
O pedido do casal pode ser acolhido? A empresa responsável pela rede tem a obrigação de fornecer esses
Art. 15. O provedor de aplicações de internet constituído na forma de pessoa jurídica e que exerça essa atividade
de forma organizada, profissionalmente e com fins econômicos deverá manter os respectivos registros de
acesso a aplicações de internet, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis) meses,
Diante da obrigação legal de guarda de registros de acesso a aplicações de internet, não há como afastar a
usuários acessaram um perfil na rede social num período), considerando que se trata de mero desdobramento
de IPs e de dados cadastrais de usuários que acessaram perfil de rede social em um determinado período
de tempo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.651-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/08/2020 (Info 678).
Os provedores de aplicações de internet não são obrigados a guardar e fornecer dados pessoais dos
usuários, sendo suficiente a apresentação dos registros de número IP. Exemplo: João foi ofendido por meio
de mensagens veiculadas em e-mail. O autor das mensagens utilizava um e-mail com domínio do Hotmail (que
pertence à Microsoft). João ajuizou ação contra a Microsoft pedindo que ela fosse condenada a fornecer os
dados pessoais do titular do e-mail utilizado para as ofensas (nome, RG, CPF e endereço). O magistrado julgou o
pedido procedente, sentença mantida pelo TJ. A empresa recorreu afirmando que só é obrigada a guardar o IP
INFORMATIVOS 2020 - 94
dos usuários. A tese da Microsoft é acolhida pelo STJ. O provedor tem o dever de propiciar meios para que se
possa identificar cada um dos usuários, coibindo o anonimato e atribuindo a cada manifestação uma
autoria certa e determinada. Para cumprir essa obrigação, é suficiente que o provedor guarde e forneça o
número IP correspondente à publicação ofensiva indicada pela parte. Ainda que não exija os dados
pessoais dos seus usuários, o provedor de conteúdo, que registra o número de protocolo na internet (IP) dos
computadores utilizados para o cadastramento de cada conta, mantém um meio razoavelmente eficiente de
rastreamento dos seus usuários, medida de segurança que corresponde à diligência média esperada dessa
modalidade de provedor de serviço de internet. STJ. REsp 1.829.821-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
Pessoa residente no Brasil foi ameaçada por e-mail enviado de conta hospedada no exterior; Justiça
brasileira é competente para determinar que a empresa responsável pela conta identifique o titular do
e-mail. Caso concreto: Luís recebeu ameaças por mensagens eletrônicas enviadas por meio da conta de e-mail
[email protected]. Diante disso, Luís ajuizou ação contra a Microsoft (proprietária do outlook) pedindo que ela
fosse condenada a fornecer as informações necessárias (IP, data e horário de acesso) para a identificação do
usuário da conta responsável pelas ameaças. A Microsoft alegou que a Justiça Brasileira não teria competência
para apreciar a causa e para determinar o fornecimento dos dados. Isso porque o provedor de conexão se
encontra localizado fora do Brasil, o endereço eletrônico foi acessado no exterior e as ameaças foram escritas
em inglês. O STJ não concordou com a alegação de incompetência. Em caso de ofensa ao direito brasileiro em
aplicação hospedada no estrangeiro (ex: uma ofensa veiculada contra residente no Brasil feita no
Facebook por um estrangeira), é possível sim a determinação judicial, por autoridade brasileira, de que
tal conteúdo seja retirado da internet e que os dados do autor da ofensa sejam apresentados à vítima.
Não fosse assim, bastaria a qualquer pessoa armazenar informações lesivas em países longínquos para não
responder por seus atos danosos. Com base no art. 11 do Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014),
tem-se a aplicação da lei brasileira sempre que qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda e
aplicações de internet ocorra em território nacional, mesmo que apenas um dos dispositivos da
comunicação esteja no Brasil e mesmo que as atividades sejam feitas por empresa com sede no
estrangeiro. STJ. 3ª Turma. REsp 1.745.657-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/11/2020 (Info 683).
Havendo pedido de indenização por perdas e danos em geral, pode o juiz reconhecer a aplicação da perda
de uma chance sem que isso implique em julgamento fora da pretensão autoral. Caso concreto:
determinada empresa ajuizou de ação de indenização por danos materiais contra Henrique postulando o
pagamento de R$ 35 mil sob o argumento de que o réu, então advogado da empresa em um processo, perdeu o
prazo para apresentar embargos monitórios. O juízo a quo condenou o requerido com base na perda de uma
chance. Ocorre que a autora não requereu expressamente a aplicação dessa teoria. O julgamento foi extra
INFORMATIVOS 2020 - 95
petita? Não. O princípio da congruência ou da adstrição determina que o magistrado deve decidir a lide
dentro dos limites fixados pelas partes. O pedido formulado deve ser examinado a partir de uma
interpretação lógico-sistemática, não podendo o magistrado se esquivar da análise ampla e detida da relação
jurídica posta, mesmo porque a obrigatória adstrição do julgador ao pedido expressamente formulado pelo
autor pode ser mitigada em observância aos brocardos da mihi factum dabo tibi ius (dá-me os fatos que te darei
o direito) e iura novit curia (o juiz é quem conhece o direito). Logo, não existe julgamento extra petita, pois o
autor postulou indenização por danos materiais e o juízo a quo condenou o réu em conformidade com o pedido
utilizando, contudo, como fundamento jurídico a teoria da perda de uma chance. STJ. 3ª Turma. REsp
1.637.375-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 17/11/2020 (Info 683)
DANOS MORAIS
Súmula 642-STJ: O direito à indenização por danos morais transmite-se com o falecimento do titular, possuindo
POSSE
posse. O promitente-vendedor foi revel. O juiz julgou os pedidos da autora procedente, mas reconheceu, de
ofício, o direito do réu ao recebimento de indenização pelas benfeitorias úteis ou necessárias realizadas no
imóvel. O STJ afirmou que não era possível o reconhecimento de ofício desse direito. Os arts. 1.219 e 1.220 do
CC/2002 dispõem que o possuidor de boa-fé tem direito à indenização e à retenção do valor das
benfeitorias necessárias e úteis, bem como a faculdade de levantar as benfeitorias voluptuárias se não
lhe forem pagas – desde que o faça sem deteriorar a coisa. Porém, no caso analisado, em que não houve
apresentação de contestação pela parte a ser beneficiada com a indenização pelas benfeitorias, nem a
formulação de pedido posterior nesse sentido, o juiz não poderia determinar de ofício o pagamento. Ao fazê-lo,
houve julgamento extra petita. O deferimento do pleito de indenização por benfeitorias pressupõe a
benfeitorias a serem indenizadas, tendo o objetivo - apenas - de especificar o quantum debeatur (apuração do
valor da indenização). STJ. 3ª Turma. REsp 1.836.846-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info
680)
INFORMATIVOS 2020 - 96
DIREITOS REAIS
USUCAPIÃO
O instituto do usucapião urbano, previsto no art. 183 da Constituição Federal, também se aplica a apartamentos
Se forem preenchidos os requisitos do art. 1238 do CC/2002, a pessoa terá direito à usucapião extraordinária e o
fato de o imóvel em questão não atender ao mínimo dos módulos urbanos exigidos pela legislação municipal
para a respectiva área (dimensão do lote) não é motivo suficiente para se negar esse direito, pois não há na
legislação ordinária própria à disciplina da usucapião regra que especifique área mínima.
Para que seja deferido o direito à usucapião extraordinária basta o preenchimento dos requisitos exigidos pelo
Código Civil, de modo que não se pode impor obstáculos, através de leis municipais, para impedir que se
STJ. 2ª Seção. REsp 1667842/SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 03/12/2020 (Tema 985 - Repetitivo).
usucapião. Mesmo que estejam preenchidos os requisitos para a usucapião extrajudicial, o interessado pode
livremente optar pela propositura de ação judicial. O próprio legislador deixou claro, no art. 216-A da Lei de
Registros Públicos, que a existência da possibilidade de usucapião extrajudicial não traz prejuízo à busca da
usucapião na via jurisdicional: Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de
reconhecimento extrajudicial de usucapião (...) STJ. 3ª Turma.REsp 1.824.133-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso
propriedade pela usucapião, contudo, verificada a prescrição da dívida, inexiste óbice legal para
prescrição aquisitiva.
Exemplo: João celebrou contrato de arrendamento mercantil com o banco para aquisição de um automóvel; em
1998, o arrendatário deixou de pagar as prestações; o arrendador tinha o prazo de 5 anos para ajuizar ação de
cobrança, ou seja, até 2003; até essa data (2003), não se podia falar em usucapião; a partir de 2003, como o
arrendador já não mais poderia ajuizar a ação de cobrança, entende-se que cessaram os vícios que maculavam a
posse do arrendatário; logo, a partir de 2003 começou a ser contado o prazo de usucapião; como o prazo de
INFORMATIVOS 2020 - 97
usucapião extraordinário de bem móvel é de 5 anos, o arrendatário adquiriu a propriedade por usucapião em
2008. STJ. 4ª Turma. REsp 1.528.626-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, julgado em
O art. 197, I, do Código Civil prevê que não corre a prescrição entre os cônjuges, na constância da sociedade
conjugal. Essa causa impeditiva de fluência do prazo prescricional prevista no art. 197, I, do CC, embora esteja
seja, à usucapião. Assim, em regra, um cônjuge não poderia adquirir por meio de usucapião um bem do
outro cônjuge enquanto não houvesse a separação judicial ou divórcio. Isso porque, na vigência da
sociedade conjugal, não estaria sendo computado o prazo para fins de usucapião (prescrição aquisitiva) por
força do art. 197, I. Ocorre que, para o STJ, a separação de fato de um casal é suficiente para cessar a causa
impeditiva da fluência do prazo prescricional prevista no art. 197, I, do CC. Logo, estando o casal separado
de fato, é possível iniciar a contagem do prazo para a prescrição aquisitiva do imóvel (usucapião). Desse modo, a
constância da sociedade conjugal, exigida para a incidência da causa impeditiva da prescrição extintiva ou
aquisitiva (art. 197, I, do CC/2002), cessará não apenas nas por longo período, tendo em vista que
igualmente não subsistem, nessa hipótese, as razões de ordem moral que justificam a existência da
referida norma. STJ. 3ª Turma. REsp 1.693.732-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671)
A usucapião especial urbana apresenta como requisitos a posse ininterrupta e pacífica, exercida como dono, o
decurso do prazo de cinco anos, a dimensão da área (250 m² para a modalidade individual e área superior a
esta, na forma coletiva), a moradia e o fato de não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural. O uso
misto da área a ser adquirida por meio de usucapião especial urbana não impede seu reconhecimento
sua família. É necessário que a área pleiteada seja utilizada para a moradia do requerente ou de sua família,
mas a lei não proíbe que o autor a utilize também para seu sustento. Assim, o fato de o autor da ação de
usucapião utilizar uma parte do imóvel para uma atividade comercial que serve ao sustento da família
domiciliada no imóvel não inviabiliza a prescrição aquisitiva buscada. STJ. 3ª Turma. REsp 1.777.404-TO, Rel.
É admissível a determinação de emenda à petição inicial, mesmo após a citação do réu e a apresentação de
defesa, quando não houver alteração no pedido ou na causa de pedir. Eventuais alterações no memorial
descritivo do imóvel podem ser feitas unilateralmente antes da angularização da relação jurídico-processual ou,
depois da citação, somente com a anuência explícita do réu. Não há como concluir que a mera juntada da planta
formulado na petição inicial da ação de usucapião. No caso concreto, não houve prejuízo aos litigantes, visto
que, depois da apresentação dos documentos, o magistrado de primeiro grau determinou a intimação do
INFORMATIVOS 2020 - 98
demandado, dos confinantes e das Fazendas Públicas, em observância ao devido processo legal, ao
contraditório e à ampla defesa. STJ. 3ª Turma. REsp 1.685.140-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
Notificação frustrada pelo motivo “ausente” não constitui em mora o devedor fiduciante.
João firmou um contrato de compra e venda de veículo automotor com garantia de alienação fiduciária. Como
João não realizou o pagamento devido, a credora fiduciária enviou uma notificação extrajudicial pelos Correios
para o endereço do devedor, a fim de comprovar a mora. Essa notificação, porém, foi frustrada, após três
Não viola a boa-fé objetiva a notificação frustrada pelo simples fato da ausência do devedor de sua residência.
STJ. 3ª Turma. REsp 1848836/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/11/2020.
Nos contratos de financiamento com cláusula de alienação fiduciária, quando houver a conversão da ação de
busca e apreensão em ação de execução nos moldes do art. 4º do Decreto-Lei nº 911/1969, o débito exequendo
deve representar o valor da integralidade da dívida (soma das parcelas vencidas e vincendas do
contrato). STJ. 3ª Turma. REsp 1.814.200-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020 (Info 665)
Em caso de mora do mutuário, o credor mutuante poderá: 1) ingressar com ação de busca e apreensão
Assim, diz-se que, na hipótese de inadimplemento ou mora no cumprimento das obrigações contratuais pelo
devedor, o credor pode optar pela excussão da garantia ou pela ação de execução. Vale ressaltar que o credor
fiduciário, na hipótese de inadimplemento do contrato, não é obrigado a promover a venda do bem alienado
fiduciariamente, antes de proceder à inscrição dos nomes dos devedores em cadastros de proteção ao crédito.
Assim, independentemente da via eleita pelo credor para a satisfação de seu crédito, não há ilicitude na
inscrição do nome do devedor e seu avalista nos órgãos de proteção ao crédito, ante o incontroverso
inadimplemento da obrigação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.833.824-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
O prazo de 5 dias para pagamento da integralidade da dívida, previsto no art. 3º, § 2º, do Decreto-Lei nº
911/1969, deve ser considerado de direito material, não se sujeitando, assim, à contagem em dias úteis,
prevista no art. 219, caput, do CPC/2015. STJ. 3ª Turma. REsp 1.770.863-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
INFORMATIVOS 2020 - 99
O art. 3º do Decreto-Lei nº 911/69 foi recepcionado pela Constituição Federal, sendo igualmente válidas as
sucessivas alterações efetuadas no dispositivo. STF. Plenário. RE 382928, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/
O contrato de alienação fiduciária em garantia de bem móvel não se extingue somente por força da
em favor do credor fiduciário (banco) constitui apenas uma etapa da execução do contrato, não pondo fim a ele.
O julgamento extra petita está configurado quando o magistrado concede prestação jurisdicional diversa da
pleiteada na inicial. No caso concreto, mesmo sem pedido de rescisão do contrato de alienação fiduciária, a
sentença reconheceu extinta a relação contratual, sendo, portanto, considerada extra petita. Há julgamento
extra petita na hipótese em que, julgado procedente o pedido de busca e apreensão de bem alienado
fiduciariamente, o juiz, sem o requerimento expresso do autor, extingue o contrato firmado entre o devedor
fiduciante e o credor fiduciário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.779.751-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
Os arts. 2º e 3º do DL 911/69 preveem que, após a execução da liminar de busca e apreensão do bem, o devedor
terá o prazo de 5 dias para pagar a integralidade da dívida pendente, oportunidade em que o bem lhe será
restituído sem o respectivo ônus. No entanto, caso o devedor não efetue o pagamento no prazo legal, haverá a
consolidação da propriedade e da posse plena e exclusiva do bem móvel objeto da alienação fiduciária no
patrimônio do credor. Consolidado o bem no patrimônio do credor, estará ele investido em todos os poderes
inerentes à propriedade, podendo vender o bem. Se, contudo, efetivar a venda e a sentença vier a julgar
improcedente o pedido, o risco do negócio é seu, devendo ressarcir os prejuízos que o devedor fiduciante sofrer
em razão da perda do bem. Privado indevidamente da posse de seu veículo automotor, a composição do
prejuízo do devedor fiduciante deve traduzir-se no valor de mercado do veículo no momento de sua apreensão
indevida (valor do veículo na Tabela FIPE à época da ocorrência da busca e apreensão). Isso porque é indiscutível
que tal valor é o que melhor exprime o montante do desequilíbrio financeiro sofrido pelo devedor fiduciante.
Saliente-se que a tabela FIPE é comumente utilizada para pesquisa do preço médio de veículos e serve como
balizador de valores dos veículos automotores terrestres, considerando, inclusive, os diversos fatores de
depreciação existentes. STJ. 3ª Turma. REsp 1.742.897-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info
679).
fiduciária, o credor poderá optar por uma das seguintes medidas para a satisfação do seu crédito:
que o banco (credor fiduciante) ingressou com ação de busca e apreensão. Apreendido o bem, deverá ser feita a
• o valor arrecadado com a venda do bem foi maior que as dívidas. Neste caso, o banco credor deverá entregar
• o valor arrecadado foi menor que as dívidas. Significa que continua havendo um saldo devedor e o adquirente
O devedor fiduciante pode pleitear a prestação de contas relativa à venda extrajudicial do bem alienado
fiduciariamente no bojo da própria ação de busca e apreensão? Não. Será necessário o ajuizamento de ação
autônoma para esse objetivo. O devedor fiduciário tem direito à prestação de contas relacionada com a
venda extrajudicial do bem, porém tal pretensão deve ser buscada pela via adequada, qual seja, a ação
alcançado no pagamento do débito e apuração acerca de eventual saldo remanescente em favor do devedor
não podem ser discutidas, incidentalmente, no bojo da ação de busca e apreensão. O processo de busca e
apreensão tem por objetivo tão somente a consolidação da propriedade do bem no patrimônio do credor
fiduciário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.866.230-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info 680)
Configura quebra antecipada do contrato o pedido de resolução do contrato de compra e venda com
pacto de alienação fiduciária em garantia por desinteresse do adquirente, mesmo que ainda não tenha
havido mora no pagamento das prestações. Exemplo: João celebrou contrato de compra e venda com
alienação fiduciária em garantia de um imóvel. O ajuste previa o pagamento em 120 prestações mensais. Após
60 prestações pagas, João ajuizou ação de resolução do contrato contra a construtora alegando que não tinha
mais condições de continuar pagando as parcelas. Na ação, o autor pediu a dissolução do vínculo obrigacional,
afirmando que entrega o imóvel e que, como consequência, quer receber de volta as prestações pagas, podendo
o vendedor reter 10% dos valores já recebidos a título de despesas que eventualmente tenha sido, nos termos
do art. 53 do CDC. O pedido do autor deve ser acolhido? Não. No caso concreto, o que houve foi uma quebra
antecipada do contrato por parte do comprador. De acordo com a quebra antecipada do contrato (chamada
devedor pratica atos abertamente contrários ao cumprimento do contrato. Neste caso, é possível o
desfazimento do contrato, no entanto, a devolução dos valores pagos pelo autor não se dará na forma do
art. 53 do CDC, mas sim segundo o procedimento estabelecido nos arts. 26 e 27 da Lei nº 9.514/97, pelo
qual, resolvido o contrato de compra e venda, consolida-se a propriedade do bem na pessoa do credor
fiduciário que irá vende-lo por meio de leilão. Com o resultado, serão pagos os débitos, devolvendo-se ao
antigo adquirente o que sobrar. STJ. 3ª Turma. REsp 1.867.209-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado
Exemplo: João celebrou com a CEF contrato de alienação fiduciária para a compra de seu imóvel residencial. João
comprometeu-se a pagar a dívida em 180 prestações. Ocorre que, por dificuldades financeiras, o
mutuário/fiduciante tornou-se inadimplente. Havendo mora por parte do mutuário, o credor deverá fazer a
notificação extrajudicial (“intimação”) do devedor de que este se encontra em débito, comprovando, assim, a
mora. Se, passados 15 dias da intimação, o fiduciante não pagar a dívida (purgar a mora), o art. 26 da Lei nº
9.514/97 afirma que ocorre a consolidação da propriedade em nome do fiduciário. Após a consolidação da
propriedade, a Lei impõe ao fiduciário a obrigação de tentar alienar o imóvel por meio de leilão público (art. 27).
É possível que o devedor fiduciante faça a purgação da mora após a consolidação da propriedade em nome do
fiduciário?
a) antes da entrada em vigor da Lei nº 13.465/2017: SIM. Mesmo que já consolidada a propriedade do imóvel
dado em garantia em nome do credor fiduciário, era possível a purgação da mora. A purgação era admitida até a
b) a partir da entrada em vigor da Lei nº 13.465/2017: NÃO. Nos contratos de mútuo imobiliário com pacto
adjeto de alienação fiduciária, com a entrada em vigor da Lei nº 13.465/2017, não se admite a purgação da mora
após a consolidação da propriedade em favor do credor fiduciário, sendo assegurado ao devedor fiduciante tão
somente o exercício do direito de preferência. STJ. 3ª Turma. REsp 1.649.595-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
ARRENDAMENTO MERCANTIL
O arrendante é responsável pelo pagamento das despesas de remoção e estadia de veículo em pátio de
propriedade privada quando a apreensão do bem ocorreu por ordem judicial no bojo de ação de reintegração
de posse por ele ajuizada em desfavor do arrendatário que se tornou inadimplente. Enquanto perdurar o
pátio privado referem-se ao próprio bem, ou seja, constituem obrigações propter rem. Isso significa dizer que as
despesas com a remoção e a guarda dos veículos objeto de contrato de arrendamento mercantil estão
vinculadas ao bem e a seu proprietário, isto é, ao arrendante. Assim, o arrendante é o responsável final
pelo pagamento das despesas com a estadia do automóvel junto a pátio privado, pois permanece na
propriedade do bem alienado enquanto perdurar o pacto de arrendamento mercantil. STJ. 3ª Turma. REsp
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
ARRENDAMENTO MERCANTIL
1) Veículo apreendido em ação de reintegração de posse por inadimplemento contratual: o arrendante (ex:
2) Veículo apreendido por infração de trânsito: o arrendatário. Fundamento: art. 4º da Resolução nº 149/2003 do
CONDOMÍNIO
É nula a cláusula de convenção do condomínio outorgada pela própria construtora que prevê a redução
da taxa condominial das suas unidades imobiliárias ainda não comercializadas. Caso concreto: a
convenção de condomínio previu que a construtora – proprietária das unidades imobiliárias ainda não
comercializadas – precisaria pagar apenas 30% do valor da taxa condominial por unidade. Assim, enquanto os
demais condôminos pagariam 100% da quota condominial, a construtora teria que pagar apenas 30% por
unidade. O STJ considerou que essa cláusula é nula. A convenção outorgada pela construtora/incorporadora não
pode estabelecer benefício de caráter subjetivo a seu favor com a finalidade de reduzir ou isentar do pagamento
da taxa condominial. A taxa condominial é fixada de acordo com a previsão orçamentária de receitas e de
despesas, bem como para constituir o fundo de reserva com a finalidade de cobrir eventuais gastos de
oneração aos demais, com evidente violação da regra da proporcionalidade prevista no inciso I do art.
1.334 do CC/2002. STJ. 3ª Turma. REsp 1.816.039-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 04/02/2020
(Info 664)
Os condomínios são entes despersonalizados, pois não são titulares das unidades autônomas, tampouco
das partes comuns, além de não haver, entre os condôminos, a affectio societatis, tendo em vista a
ausência de intenção dos condôminos de estabelecerem, entre si, uma relação jurídica, sendo o vínculo entre
eles decorrente do direito exercido sobre a coisa e que é necessário à administração da propriedade comum.
Caracterizado o condomínio como uma massa patrimonial, não há como reconhecer que seja ele próprio
dotado de honra objetiva. Qualquer ofensa ao conceito (reputação) que possui perante a comunidade
representa, em verdade, uma ofensa individualmente dirigida a cada um dos condôminos, pois quem
goza de reputação são os condôminos e não o condomínio, ainda que o ato lesivo seja a este endereçado.
Diferentemente do que ocorre com as pessoas jurídicas, qualquer repercussão econômica negativa será
condominiais, e/ou pelos respectivos proprietários, no caso de eventual desvalorização dos imóveis no mercado
imobiliário. Assim, o condomínio, por ser uma massa patrimonial, não possui honra objetiva e não pode
sofrer dano moral. STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.593-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/02/2020 (Info 665)
Se um dos condôminos de uma coisa indivisível decidir vender a sua parte, ele terá que, antes de efetivada a
venda, dar ciência aos demais condôminos, os quais terão preferência na aquisição da quota, desde que assim
requeiram, no prazo decadencial de 180 dias,depositando o preço equivalente àquele ofertado ao terceiro.
Trata-se de um direito de preferência, previsto no art. 504 do CC. A partir de quando se inicia esse prazo de 180
dias? Inicia-se com a notificação feita pelo alienante ao outro condômino. Se não houver a notificação, o
prazo decadencial do exercício do direito de preferência inicia-se com o registro da escritura pública de
compra e venda da fração ideal da coisa comum indivisa. STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.478-MG, Rel. Min. Marco
CONDOMÍNIO EDILÍCIO
imobiliário urbano de proprietário não associado até o advento da Lei nº 13.465/2017, ou de anterior lei
municipal que discipline a questão, a partir da qual se torna possível a cotização dos proprietários de imóveis,
i) já possuindo lote, adiram ao ato constitutivo das entidades equiparadas a administradoras de imóveis; ou
ii) sendo novos adquirentes de lotes, o ato constitutivo da obrigação esteja registrado no competente Registro
de Imóveis. STF. Plenário.RE 695911, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/12/2020 (Repercussão Geral –Tema
492)
DÍVIDAS CONDOMINIAIS
O imóvel gerador dos débitos condominiais pode ser objeto de penhora em cumprimento de sentença,
ainda que somente o ex-companheiro tenha figurado no polo passivo da ação de conhecimento. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.683.419-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2020 (Info 666).
DIREITO DE FAMÍLIA
UNIÃO ESTÁVEL
Em regra, não é possível o reconhecimento de união estável envolvendo pessoa casada nem a existência
§ 1º, do Código Civil, impede o reconhecimento de novo vínculo referente ao mesmo período, inclusive para fins
jurídico-constitucional brasileiro.
STF. Plenário. RE 1045273, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/12/2020 (Repercussão Geral – Tema
reconhecimento e dissolução de união estável post mortem. Exemplo: João faleceu sem deixar descendentes
e ascendentes vivos; Regina quer ajuizar para que seja declarado que ela vivia em união estável com João até o
momento de morte do companheiro. Na ausência de herdeiros necessários, não é necessário que a ação seja
proposta contra os herdeiros colaterais do falecido (eventuais irmãos, tios e sobrinhos). Esses herdeiros
colaterais não são litisconsortes necessários. O STF, ao julgar o RE 646721/RS e o RE 878694/MG, ambos com
repercussão geral reconhecida, fixou a tese de que “é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios
entre cônjuges e companheiros prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas
hipóteses de casamento quanto nas de união estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002.” Assim, na falta
colaterais, tais como irmãos, tios e sobrinhos, são herdeiros de quarta e última classe na ordem de vocação
da ordem legal de vocação hereditária. Apesar do interesse dos colaterais no resultado da ação de
reconhecimento e dissolução de união estável, isso não é suficiente para a sua qualificação como litisconsortes
passivos necessários, pois, nessa demanda, não há nenhum pedido contra eles formulado. STJ. 3ª Turma. REsp
1.759.652-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 23/06/2020 (Info 680).
PARENTESCO
A representação legal do filho menor é uma das vertentes do poder familiar e deverá ser exercida, em
regra, pelos pais, conforme prevê o art. 1.634, VII, do Código Civil. Assim, somente em algumas hipóteses é que
o menor poderá deixar de ser representado pelos seus pais. O fato de ter sido concedida a guarda do menor
para uma outra pessoa que não compõe o núcleo familiar NÃO SIGNIFICA QUE TENHA HAVIDO A
DESTITUIÇÃO AUTOMÁTICA DO PODER FAMILIAR. Logo, mesmo em tais casos, a competência para
representar este menor em juízo é do pai ou da mãe (e não da guardiã). STJ. 3ª Turma. REsp 1.761.274-DF, Rel.
A averbação de sentença proferida em ação negatória de filiação não consubstancia, em si, um direito subjetivo
autônomo das partes litigantes, tampouco se confunde com o direito personalíssimo ali discutido.
Exemplo hipotético: João tinha três filhos registrados em seu nome (Antônio, Bento e Carlos). João ajuizou ação
negatória de filiação contra Carlos. A sentença julgou o pedido procedente declarando que João não era pai de
Carlos. Ocorre que essa sentença não foi averbada no registro civil de Carlos. Não se tomou essa providência.
Assim, em todos os assentos civis de Carlos continuou constando que João seria seu pai. Mais de 30 anos depois
do trânsito em julgado, João faleceu. Carlos habilitou-se no processo de inventário utilizando sua certidão de
nascimento, na qual ainda consta que João seria seu pai. Os herdeiros de João não concordaram e pediram ao
juízo onde tramitou a ação negatória que expedisse o mandado de averbação. O juízo acatou o pedido e, contra
esta decisão, Carlos impetrou mandado de segurança alegando que com o falecimento de João a averbação da
sentença não mais poderia ser feita, porque seria um direito personalíssimo do falecido. Além disso, afirmou
A averbação da sentença, neste caso, constitui consequência legal obrigatória, destinada a conferir publicidade e
segurança jurídica ao desfecho que restou declarado e reconhecido judicialmente. Isso se dá, inclusive,
normalmente, de ofício.
Não existe nenhuma faculdade conferida às partes envolvidas a respeito de proceder ou não à referida
Não se pode confundir o exercício do direito subjetivo de ação de caráter personalíssimo, como o é a pretensão
de desconstituir estado de filiação, cuja prerrogativa é exclusiva das pessoas insertas nesse vínculo jurídico
(pai/mãe e filho), com o ato acessório da averbação da sentença de procedência transitada em julgado, que se
Mesmo que essa providência (averbação) não tenha sido feita na época oportuna, ela poderá ser realizada
STJ. 3ª Turma. RMS 56941/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/05/2020 (Info 672).
O juiz deve adotar todas as medidas indutivas, mandamentais e coercitivas, como autoriza o art. 139, IV, do CPC,
com vistas a refrear a renitência de quem deve fornecer o material para exame de DNA, especialmente quando a
presunção contida na Súmula 301/STJ se revelar insuficiente para resolver a controvérsia. STJ. 2ª Seção. Rcl
ALIMENTOS
obrigação alimentar.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1852422/MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 22/06/2020.
Existência de proposta escrita dispensa presença física de devedor preso em audiência de conciliação
A discussão acerca do percentual fixado a título de alimentos é objetiva e, portanto, passível de ser formulada
por escrito, sendo desnecessária a presença física do alimentante em audiência para tanto.
STJ. 3ª Turma. REsp 1708334/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/05/2020.
• 4ª Turma do STJ e CNJ: entendiam que a prisão civil por dívida alimentar deveria ser cumprida em prisão
domiciliar.
• 3ª Turma do STJ: afirmava que, durante a pandemia de Covid-19, deveria ser suspensa a prisão civil dos
A Lei nº 14.010/2020 adotou a mesma solução jurídica da 4ª Turma do STJ e do CNJ e previu o seguinte:
Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e seguintes da
Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser cumprida exclusivamente sob a
Desse modo, o certo é que, seja antes ou depois da Lei nº 14.010/2020, o devedor de alimentos não poderia
STJ. 3ª Turma. HC 569014-RN, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/10/2020 (Info 681).
O valor percebido pelo alimentante a título de participação nos lucros e resultados não deve ser incluído
A participação nos lucros e resultados deve ser desvinculado do salário ou da remuneração habitualmente
recebida.
Essa é a conclusão que se chega a partir da interpretação do art. 7º, XI, da Constituição Federal e do art. 3º da Lei
nº 10.101/2000.
redefinição do valor dos alimentos a serem prestados, ressalvadas as situações em que as necessidades do
alimentado não foram inicialmente satisfeitas ou sofreram alterações supervenientes que justificam a
readequação do valor.
Não há relação direta e indissociável entre as eventuais variações positivas nos rendimentos auferidos pelo
acréscimo do valor dos alimentos, ressalvadas as hipóteses de ter havido redução proporcional do percentual
necessidade, casos em que as variações positivas eventuais do alimentante deverão ser incorporadas aos
STJ. 2ª Seção. REsp 1854488/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/12/2020.
O valor recebido pelo alimentante a título de horas extras, mesmo que não habituais, embora não ostente
caráter salarial para efeitos de apuração de outros benefícios trabalhistas é verba de natureza remuneratória e,
portanto, integra a base de cálculo para a incidência dos alimentos fixados em percentual sobre os rendimentos
líquidos do devedor.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.741.716-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 25/05/2021 (Info 698).
STJ. 4ª Turma. REsp 1098585/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/06/2013.
Em ação judicial que versa sobre alimentos ajuizada por menor, não é admissível que a concessão da
representante legal.
Caso concreto: uma criança, representada por sua mãe, ingressou com execução de alimentos contra o pai; o
juiz indeferiu o pedido de gratuidade de justiça porque a mãe do autor (representante do menor) não provou a
sua insuficiência de recursos. O direito ao benefício da gratuidade de justiça possui natureza individual e
personalíssima. Assim, os requisitos para a concessão ou não do direito à gratuidade deverão ser preenchidos,
em regra, pela própria parte, e não pelo seu representante legal. É evidente que, em se tratando de menores
representados pelos seus pais, haverá sempre um forte vínculo entre a situação desses dois diferentes sujeitos
de direitos e obrigações, sobretudo em razão da incapacidade civil e econômica do próprio menor. Isso não
significa, contudo, que se deva automaticamente examinar o direito à gratuidade a que poderia fazer jus o
menor à luz da situação financeira de seus pais. Assim, em se tratando de direito à gratuidade de justiça
pleiteado por menor de 18 anos, deve o juiz, inicialmente, aplicar a regra do §3º do art. 99, deferindo o benefício
em razão da presunção de sua insuficiência de recursos. Existe, todavia, a possibilidade de a outra parte
demonstrar, com base no § 2º, a ausência dos pressupostos legais que justificam a gratuidade, pleiteando, em
Não incide desconto de pensão alimentícia sobre as parcelas denominadas diárias de viagem e tempo de
espera indenizado. STJ. 3ª Turma. REsp 1.747.540-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
Na ausência de expressa previsão no acordo de alimentos a respeito do seu termo inicial, deve prevalecer
o disposto no § 2º do art. 13 da Lei nº 5.478/68 (Lei de Alimentos), segundo o qual, em qualquer caso, os
Art. 13 (...) § 2º Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação. Se a lei diz expressamente
que “em qualquer caso” os alimentos retroagem, não cabe ao intérprete fazer restrições onde o legislador não o
fez, de modo que não há justificativa para que os alimentos fixados em acordo celebrado em ação investigatória
de paternidade não receba o mesmo tratamento, sob o singelo argumento de que ajuste foi omisso a respeito
do seu termo inicial. STJ. 3ª Turma. REsp 1.821.107-ES, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/03/2020 (Info 667).
devedor perante o Judiciário e com a concordância do representante da parte contrária apto a tanto tem
caráter vinculante em relação ao proponente. Caso concreto: “M” ajuizou ação de execução de alimentos
contra seu pai (“J”) pedindo para receber as parcelas correspondentes aos meses de maio/2007 a abril/2009. O
juiz designou audiência de conciliação. “M” não compareceu. “J” se fez presente e propôs o pagamento da dívida
relativa aos 2 últimos meses da pensão alimentícia perante o Magistrado e o Promotor de Justiça, tendo a
proposta sido homologada com a concordância do advogado de “M”. Essa proposta feita pelo genitor/executado
pode ser considerada como reconhecimento parcial da dívida? Sim. A proposta de pagamento parcial por
patrono da parte contrária, vincula o devedor no limite da proposta, restando assegurada nova
negociação quanto ao valor remanescente. STJ. 3ª Turma. REsp 1.821.906-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
O dever de prestar alimentos entre ex-cônjuges é transitório, devendo ser assegurado alimentos apenas
durante certo tempo, até que o ex-cônjuge consiga prover o seu sustento com meios próprios. Assim, ao se
analisar se o ex-cônjuge ainda deve continuar recebendo os alimentos, deve-se examinar não apenas o binômio
necessidade-possibilidade, devendo ser consideradas outras circunstâncias, tais como a capacidade potencial
para o trabalho e o tempo decorrido entre o seu início e a data do pedido de desoneração. STJ. 3ª Turma. REsp
1.829.295-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/03/2020 (Info 669).
contudo, renunciar aos alimentos pretéritos devidos e não prestados. Isso porque a irrenunciabilidade
atinge o direito, e não o seu exercício. STJ. 3ª Turma. REsp 1.529.532-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
O alimentante não-guardião tem o direito de averiguar se os valores que paga a título de pensão
alimentícia estão sendo realmente dirigidos ao beneficiário e voltados ao pagamento de suas despesas e
ao atendimento dos seus interesses básicos fundamentais. Essa possibilidade decorre do exercício pleno do
§ 5º A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos, e, para
possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte legítima para solicitar informações e/ou
prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem a
Vale ressaltar, no entanto, que o legítimo interesse processual em ação dessa natureza é exclusivamente a
finalidade protetiva da criança ou do adolescente beneficiário dos alimentos, diante da sua possível
malversação. Esta ação não pode buscar eventual acertamento de contas, perseguições ou picuinhas com a(o)
alimentos são irrepetíveis. STJ. 3ª Turma. REsp 1.814.639-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min.
PRISÃO CIVIL
Durante a pandemia de Covid-19, deve-se assegurar prisão domiciliar aos presos em decorrência de
dívidas alimentícias. O contexto atual de gravíssima pandemia devido ao chamado coronavírus desaconselha a
manutenção do devedor em ambiente fechado, insalubre e potencialmente perigoso. Assim, diante do iminente
risco de contágio pelo Covid-19, bem como em razão dos esforços expendidos pelas autoridades públicas em
reduzir o avanço da pandemia, é recomendável o cumprimento da prisão civil por dívida alimentar em prisão
domiciliar. STJ. 4ª Turma. HC 561.257-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 05/05/2020 (Info 671).
Durante a pandemia de Covid-19, deve-se suspender a prisão civil dos devedores (e não assegurar a
prisão domiciliar). Em virtude da pandemia causada pelo coronavírus (covid-19), admite-se, excepcionalmente,
a suspensão da prisão dos devedores por dívida alimentícia em regime fechado. Assegurar aos presos por
dívidas alimentares o direito à prisão domiciliar é medida que não cumpre o mandamento legal e que fere, por
encarceramento pelo confinamento social, o que, aliás, já é a realidade da maioria da população, isolada em prol
diferimento provisório da execução da obrigação cível enquanto pendente a pandemia. A prisão civil suspensa
terá seu cumprimento no momento processual oportuno, já que a dívida alimentar remanesce íntegra, pois não
se olvida que, afinal, também está em jogo a dignidade do alimentando, em regra, vulnerável. STJ. 3ª Turma. HC
574.495-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/05/2020 (Info 673).
Depois das decisões acima expostas, foi sancionada a Lei nº 14.010/2020, que adotou a mesma solução jurídica
Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e seguintes
da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser cumprida exclusivamente sob
Diante disso, a 3ª Turma do STJ também teve que se curvar ao entendimento: STJ. 3ª Turma. HC 578.282/SP, Rel.
Logo, depois da Lei nº 14.010/2020, não há mais dúvidas: o cumprimento da prisão civil por dívida alimentar,
até 30/10/2020, é feito exclusivamente sob a modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das
respectivas obrigações.
Seja antes ou depois da Lei nº 14.010/2020, o devedor de alimentos não poderia permanecer preso no regime
fechado durante a pandemia da Covid-19. STJ. 3ª Turma. HC 569.014-RN, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
Os alimentos devidos em razão da prática de ato ilícito possuem natureza indenizatória (arts. 948, 950 e
951 do Código Civil) e, portanto, não se aplica o rito excepcional da prisão civil como meio coercitivo para o
adimplemento.
Exemplo: João cometeu homicídio contra Pedro e foi condenado a pagar pensão mensal de 3 salários mínimos
aos filhos da vítima. Caso ele se torne inadimplente, o juiz não poderá decretar prisão civil como meio coercitivo
para o pagamento. STJ. 4ª Turma. HC 523.357-MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 01/09/2020 (Info
681)
O direito real de habitação possui como finalidade precípua garantir o direito à moradia ao
cônjuge/companheiro supérstite, preservando o imóvel que era destinado à residência do casal, restringindo
habitação, visto que de titularidade comum a terceiros estranhos à relação sucessória que ampararia o
pretendido direito. Como o direito real de habitação já é uma exceção criada pelo legislador, não pode haver
interpretação extensiva para incluir no mesmo tratamento situações não previstas em lei, como, por exemplo, a
hipótese em que o imóvel seja objeto de copropriedade anterior com terceiros. O direito real à habitação
limita (restringe) os direitos de propriedade e, portanto, só quem deve suportar tal limitação são os
herdeiros do de cujus (quem recebeu o bem na herança), e não quem já era proprietário do imóvel antes
do óbito.
Caso concreto: o STJ negou o pedido de uma viúva que pretendia ver reconhecido o direito real de habitação
sobre o imóvel em que morava, comprado pelo seu falecido marido em copropriedade com um filho dele, antes
do casamento. STJ. 2ª Seção. EREsp 1.520.294-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/08/2020 (Info
680). No mesmo sentido é a Tese 10 do Jurisprudência em Teses (Ed. 50): 10) Não subsiste o direito real de
habitação se houver copropriedade sobre o imóvel antes da abertura da sucessão ou se, àquele tempo, o
BEM DE FAMÍLIA
A proteção legal conferida ao bem de família pela Lei nº 8.009/90 não pode ser afastada por renúncia do
devedor ao privilégio, pois é princípio de ordem pública, prevalente sobre a vontade manifestada. A despeito
disso, o bem de família legal não gera inalienabilidade. Logo, é possível que o proprietário pratique atos de
disposição dele, podendo, por exemplo, oferecê-lo como objeto de alienação fiduciária em garantia. A utilização
abusiva do direito à proteção do bem de família viola o princípio da boa-fé objetiva e, portanto, não deve
ser tolerada. Assim, deve ser afastado o benefício conferido ao titular do bem de família que exerce o direito em
desconformidade com o ordenamento jurídico. STJ. 4ª Turma. REsp 1.595.832-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
Para a aplicação da exceção à impenhorabilidade do bem de família prevista no art. 3º, IV, da Lei nº
8.009/90 é preciso que o débito de natureza tributária seja proveniente do próprio imóvel que se
pretende penhorar.
Exemplo: João celebrou com Pedro contrato de “permuta de imóveis urbanos”. Ficou acertado que João
transmitiria a propriedade de sua casa para Pedro e, em troca, Pedro faria a transferência de seu apartamento a
João. Ficou consignado que cada parte iria transmitir o imóvel sem quaisquer dívidas tributárias. Depois da
permuta e da transferência da posse, Pedro constatou que a casa cedida por João possuía débitos de IPTU. Para
regularizar a situação, Pedro quitou essas dívidas. Em seguida, Pedro ajuizou ação contra João pedindo o
ressarcimento desses valores considerando que houve um descumprimento do contrato neste ponto. O pedido
foi julgado procedente. No cumprimento de sentença, Pedro pediu a penhora do apartamento que, depois da
execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: IV - para cobrança de
impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar; Pode-se apontar três
argumentos principais:
• Não se está cobrando um imposto devido em função do imóvel; o que se está pleiteando é o ressarcimento
• As hipóteses de exceção à regra da impenhorabilidade do bem de família são taxativas, não comportando
interpretação extensiva.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.332.071-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 18/02/2020 (Info 665)
O inciso VI do art. 3º da Lei nº 8.009/90 afirma que é possível a penhora do bem de família caso ele tenha “sido
adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento,
indenização ou perdimento de bens”. Para a incidência da exceção prevista no art. 3º, VI, da Lei nº 8.009/90, é
indispensável que a sentença penal condenatória já tenha transitada em julgado, por não ser possível a
interpretação extensiva. STJ. 3ª Turma. REsp 1.823.159-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/10/2020
(Info 681). STJ. 4ª Turma. REsp 1.021.440/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/05/2013.
Imóvel bem de família oferecido como caução imobiliária em contrato de locação não pode ser objeto de
penhora.
Caso concreto: em um contrato de locação de terceiro, João ofereceu sua casa como caução (garantia) da relação
locatícia (art. 37, I, da Lei nº 8.245/91). O terceiro (locatário) não pagou os aluguéis e a empresa locadora
executou o locatário e João pedindo a penhora da casa objeto da caução. Ocorre que se trata de bem de família
onde João reside. Será possível a penhora? Não. As hipóteses excepcionais nas quais o bem de família pode
ser penhorado estão previstas, taxativamente, no art. 3º da Lei nº 8.009/90. Tais hipóteses não admitem
interpretação extensiva. A caução imobiliária oferecida em contrato de locação não consta como uma
situação na qual o art. 3º da Lei autorize a penhora do bem de família. Assim, não é possível a penhora do
bem de família mesmo que o proprietário tenha oferecido o imóvel como caução em contrato de locação. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.873.203-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/11/2020 (Info 683).
DIVÓRCIO
Incidem juros e correção monetária sobre o valor econômico de cotas sociais objeto de partilha em
divórcio sendo que, após a separação de fato do casal, essa empresa ficou sob a administração exclusiva
João continuou administrando a sociedade empresária por mais algum tempo, até que houve o encerramento
das atividades da empresa. No momento do divórcio, foi reconhecido que Regina tinha direito à metade do valor
integralizado das cotas empresariais que pertenciam a João. Considerando que houve o encerramento das
atividades da empresa após a separação do então casal o objeto partilhado consiste, em última instância, no
Considerando que a empresa encerrou suas atividades e que ela ficou sendo administrada exclusivamente por
João, não se pode impor a Regina o ônus de arcar com os prejuízos decorrentes dessa administração exclusiva.
Logo, Regina tem direito de receber o valor que as cotas tinham acrescido de juros e correção monetária.
Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária
STJ. 3ª Turma. REsp 1689220-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info 672).
Em dissolução de vínculo conjugal, é possível a partilha de direitos possessórios sobre bem edificado em
loteamento irregular, quando ausente a má-fé dos possuidores. Caso concreto: em um processo de divórcio
litigioso, foi reconhecido que seria possível a partilha dos direitos possessórios sobre um imóvel localizado em
área irregular. Em alguns casos, a falta de regularização do imóvel que se pretende partilhar não ocorre por
má-fé ou desinteresse das partes, mas por outras razões, como a incapacidade do poder público de promover a
formalização da propriedade ou, até mesmo, pela hipossuficiência das pessoas para dar continuidade aos
trâmites necessários para a regularização. Nessas situações, os titulares dos direitos possessórios devem sim
receber a tutela jurisdicional. A melhor solução para tais hipóteses é admitir a possibilidade de partilha dos
direitos possessórios sobre o bem edificado em loteamento irregular, quando não for identificada má-fé dos
possuidores. Essa medida faz com que resolva de forma imediata a questão da dissolução do vínculo conjugal,
propriedade sobre o bem imóvel. STJ. 3ª Turma. REsp 1.739.042-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
A cessão de direitos hereditários sobre bem singular viabiliza a transmissão da posse, que pode ser
A cessão de direitos hereditários sobre bem singular, desde que celebrada por escritura pública e não envolva o
direito de incapazes, não é negócio jurídico nulo, tampouco inválido, ficando apenas a sua eficácia condicionada
partilha.
Assim, aberta a sucessão, o coerdeiro pode ceder os seus direitos hereditários, bem como o quinhão de que
disponha, por escritura pública, conforme prevê o caput do art. 1.793 do Código Civil.
Como esse negócio não é nulo (tem apenas a sua eficácia suspensa), conclui-se que a cessão de direitos
hereditários sobre bem singular tem força para transmitir a posse desse bem ao cessionário. Logo, o cessionário
pode tutelar a posse sobre o bem, inclusive por meio de embargos de terceiro.
compra e venda de imóvel, mesmo que desprovido do registro. Esse mesmo entendimento deve ser aplicado na
hipótese em que a posse é defendida com base em instrumento público de cessão de direitos hereditários.
STJ. 3ª Turma. REsp 1809548-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info 672).
SUCESSÃO LEGÍTIMA
Aquele que renuncia a herança não tem legitimidade para pleitear eventual nulidade de negócio jurídico
que envolva um dos bens que integram o patrimônio do de cujus. Exemplo hipotético: João, Pedro, Tiago e
Regina são irmãos. Em 2010, Regina, que tinha sérios problemas de saúde, vendeu um apartamento para seu
irmão Tiago por preço bem abaixo do mercado. Os demais irmãos não souberam dessa venda. Em 2011, Regina
faleceu. Não tinha cônjuge, descendentes ou ascendentes. Diante disso, os únicos herdeiros eram seus
irmãos.João optou por renunciar a herança em favor do monte. Logo depois que fez isso, João tomou
conhecimento da venda do apartamento ocorrida em 2010. Ele ficou revoltado porque considerou que sua irmã
não estava em sua perfeita condição mental, tendo sido, portanto, “enganada” por Tiago. João ingressou com
ação declaratória de nulidade do negócio jurídico. O juiz deverá extinguir o processo sem resolução do mérito
porque João não possui legitimidade ativa ad causam considerando que ele renunciou expressamente a herança
deixada por Regina, de sorte que, mesmo se anulada a venda, não teria nenhum proveito econômico com isso.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.433.650-GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/11/2019 (Info 664).
A restituição de quantia recebida indevidamente é um dever de quem se enriqueceu sem causa (art.884
do CC). De acordo com as alegações do ente público, a vantagem econômica foi auferida pelos herdeiros do
ex-servidor. O ex-servidor público não tinha mais personalidade jurídica quando o Distrito Federal depositou a
quantia ora pleiteada considerando que estava morto (art. 6º do CC). Se o saque indevido da quantia
disponibilizada pelo Poder Público não pode ser imputado ao falecido (não foi decorrente de qualquer ato
do falecido), o espólio não pode ser obrigado a restituir. Isso porque o espólio é obrigado a cumprir as
dívidas do autor da herança por força do art. 796 do CPC/2015. Logo, se o espólio não pode ser vinculado,
nem mesmo abstratamente, ao dever de restituir, ele não pode ser considerado parte legítima nesta ação nos
termos do art. 17 do CPC/2015. O espólio não possui legitimidade passiva ad causam na ação de
herdeiros. STJ. 2ª Turma. REsp 1.805.473-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 03/03/2020 (Info
667).
A preterição de herdeiro ou a inclusão de terceiro estranho à sucessão merecem tratamento igual, considerando
que são situações antagonicamente idênticas, submetendo-se à mesma regra prescricional prevista no art. 177
do Código Civil de 1916, qual seja, o prazo vintenário, vigente à época da abertura da sucessão para hipóteses de
nulidade absoluta, que não convalescem. STJ. 2ª Seção.EAREsp 226.991-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
TESTAMENTO
O art. 1.876, § 2º do Código Civil afirma que um dos requisitos do testamento particular é que ele seja assinado
pelo testador. Vale ressaltar, contudo, que o STJ decidiu que: É válido o testamento particular que, a despeito
de não ter sido assinado de próprio punho pela testadora, contou com a sua impressão digital.
Caso concreto: a falecida deixou um testamento particular elaborado por meio mecânico; o testamento foi lido
na presença de três testemunhas, que o assinaram; vale ressaltar, no entanto, que esse testamento não foi
assinado pela testadora em razão de ela se encontrar hospitalizada na época e estar com uma limitação física
que a impedia assinar; para suprir essa falta de assinatura, a testadora colocou a sua impressão digital no
sobretudo, que aquela era mesmo a manifestação de última vontade da testadora; o STJ considerou válido o
testamento. STJ. 2ª Seção. REsp 1.633.254-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2020 (Info 667)
INVENTÁRIO
A fixação de determinado valor a ser recebido mensalmente pelo herdeiro a título de adiantamento de
herança NÃO CONFIGURA NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL ATÍPICO na forma do art. 190, caput, do
CPC/2015. O acordo firmado entre os herdeiros para autorizar a retirada mensal dos valores não é um acordo
puramente processual. Isso porque o seu objeto é o próprio direito material que se discute e que se pretende
obter na ação de inventário, ou seja, a divisão do patrimônio do autor da herança. O que se está fazendo,
portanto, é simplesmente antecipar a fruição e uso do direito material. STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.656-RJ, Rel. Min.
É POSSÍVEL o inventário extrajudicial, ainda que exista testamento, se os interessados forem capazes e
concordes e estiverem assistidos por advogado, desde que o testamento tenha sido previamente
1.808.767-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/10/2019 (Info 663).
A notificação premonitória é pressuposto processual para a ação de despejo por denúncia vazia de
Antes que o locador ajuíze ação de despejo por denúncia vazia em caso de locação por prazo indeterminado, é
obrigatório que ele faça comunicação dirigida ao locatário manifestando sua intenção na retomada do imóvel,
Art. 46 (...) § 2º Ocorrendo a prorrogação, o locador poderá denunciar o contrato a qualquer tempo, concedido o
A finalidade da notificação premonitória é a de evitar que o locatário seja surpreendido pelo ajuizamento da
ação de despejo, o que ainda lhe poderá acarretar o pagamento dos ônus sucumbenciais. Ao ser comunicado,
Caso a ação de despejo seja ajuizada sem essa prévia notificação, o processo deverá ser extinto sem a resolução
Exceção: é permitido ao locador ajuizar diretamente a ação de despejo, dispensando a notificação prévia, desde
STJ. 3ª Turma. REsp 1812465/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
A ação de despejo não exige a formação de litisconsórcio ativo necessário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.737.476-SP,
TEMAS DIVERSOS
CRÉDITO RURAL
O art. 26 da Lei nº 8.177/71 é inconstitucional porque permite a incidência da TR em substituição ao IPC nos
contratos celebrados antes do início de sua vigência, o que se afigura incompatível com a garantia fundamental
de proteção ao ato jurídico perfeito, previsto no inciso XXXVI do art. 5º da Constituição Federal. Art. 5º (...) XXXVI -
a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. STF. Plenário. ADI 3005/DF, Rel.
O arrendamento residencial não tem natureza jurídica de compra e venda nem de promessa de compra e
venda, não se aplicando ao arrendatário, que tem conceito definido na Lei nº 10.188/2001, as disposições do art.
1.333 do Código Civil. STJ. 4ª Turma. REsp 1.576.651-SE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 09/06/2020
(Info 674)
DIREITOS AUTORAIS
O art. 235, I, do CC/1916 afirmava que era necessária a autorização do cônjuge para hipotecar bens,
independentemente do regime matrimonial. O art. 1.647, I, do CC/2020 prevê que, em regra, é necessária a
autorização do cônjuge para a hipoteca. No entanto, afirma que essa autorização é dispensada se o regime de
bens do casamento for o da separação absoluta. Imagine que João e Regina são casados sob o regime da
separação total. Eles se casaram na vigência do CC/1916. Em 2010, ou seja, já na vigência do CC/2002, João foi
conceder hipoteca. Ele precisa da autorização da esposa? Não. Em negócios celebrados após a entrada em vigor
do CC/2002, deverá ser aplicada a regra do seu art. 1.647, I, que prevê a dispensa da autorização conjugal como
condição de eficácia da hipoteca no regime da separação absoluta de bens, mesmo que o casamento tenha
acontecido ainda sob o CC/1916. O art. 2.039 do CC/2002, ao estabelecer uma regra de transição quanto ao
regime de bens, teve por finalidade específica disciplinar as relações familiares entre os cônjuges na perspectiva
patrimonial, ditando o modo pelo qual se dará, por exemplo, a partilha de seus bens por ocasião da dissolução
do vínculo conjugal, bem como a possibilidade de alteração motivada e judicial do regime de bens. Dessa forma,
a referida regra de direito transitório não deve influenciar, na perspectiva da definição da legislação aplicável, as
hipóteses em que deveria ser dada a autorização conjugal, pois esse instituto, a despeito de se relacionar com o
regime de bens, é, na realidade, uma condição de eficácia do negócio jurídico cuja validade se examina. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.797.027-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/09/2020 (Info 680)
A utilização do trecho de maior sucesso de uma música como título de programa televisivo, em conjunto
com o fonograma, sem autorização do titular do direito, viola os direitos do autor. Caso concreto: a música
de maior sucesso do cantor de funk MC Leozinho é intitulada “Ela só pensa em beijar”. No refrão da música
existe a seguinte frase: “Se ela dança, eu danço”. Alguns anos depois da música ser lançada, a produtora do
cantor recebeu um e-mail no qual o SBT pediu para usar a obra na abertura de um programa, mas, em virtude
do baixo valor oferecido e dos interesses comerciais que mantinha com outra emissora, o cantor não concedeu
a autorização. A despeito disso, alguns meses depois, o programa estreou, tendo se apropriado do refrão, como
nome, e do fonograma, como fundo musical. Em sua defesa, o SBT sustentou que o envio do e-mail para a
produtora do cantor, no qual solicitou autorização para utilizar a música, foi feito nos termos previstos em ajuste
existente entre as partes, e que a falta de resposta significaria autorização tácita. O STJ não concordou com o
e prévia do autor, nos termos do art. 29 da Lei de Direitos Autorais (Lei nº 9.618/98). A escolha do trecho de
maior sucesso da obra musical como título de programa televisivo e seu uso em conjunto com o fonograma,
gerou uma associação inadequada do autor da obra musical com a emissora, que utilizou o sucesso da música
como título em sua programação semanal também como forma de atrair audiência. STJ. 3ª Turma. REsp
1.704.189-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/10/2020 (Info 681).
USUFRUTO VIDUAL
O usufruto vidual era um instituto previsto no art. 1.611, § 1º do Código Civil de 1916, nos seguintes termos:
Art. 1.611 (...) § 1º O cônjuge viúvo, se o regime de bens do casamento não era o da comunhão universal, terá
direito, enquanto durar a viuvez, ao usufruto da quarta parte dos bens do cônjuge falecido, se houver filhos,
deste ou do casal, e à metade, se não houver filhos embora sobrevivam ascendentes do de cujus. O objetivo era
garantir um mínimo necessário ao cônjuge que não tinha direito à herança do falecido.
Na interpretação teleológica do instituto, não faz jus ao usufruto legal a que alude o art. 1.611, § 1º, do Código
Civil revogado, a viúva meeira. Isso porque ela já foi contemplada com parcela significativa do patrimônio,
afastando a necessidade econômica autorizativa da benesse. No caso concreto, o STJ negou a uma viúva o
reconhecimento do usufruto vidual porque a mulher já havia sido contemplada com a meação de bens.
Além disso, já tinha havido a separação de corpos, ocorrida dois anos antes do falecimento.
Obs: o Código Civil de 2002 não previu o usufruto vidual, porém, em compensação, estendeu o direito real de
habitação a todos os regimes de bens (art. 1.831), sem as restrições então previstas. Além disso, o cônjuge
passou a ser herdeiro necessário. STJ. 4ª Turma. REsp 1.280.102-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
CONTRATO MARÍTIMO
previamente estabelecidos em contrato de transporte marítimo (unimodal) prescreve em 5 (cinco) anos, a teor
do que dispõe o art. 206, § 5º, inciso I, do Código Civil de 2002. STJ. 2ª Seção. REsp 1.819.826-SP, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 28/10/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1035) (Info 682).
COOPERATIVAS
qualquer ação judicial contra a entidade, pelo prazo de 1 ano (art. 76 da Lei nº 5.764/71). Esse prazo pode ser
prorrogado por mais 1 ano. Não é possível ampliar essa suspensão para além do limite legal de 2 anos, não
da Lei nº 11.101/2005). O art. 76 da Lei nº 5.764/71 possui caráter excepcional porque atribui atribuir a uma
deliberação privada o condão de suspender a prestação da atividade jurisdicional. Em suma: não é cabível a
suspensão do cumprimento de sentença contra cooperativa em regime de liquidação extrajudicial para além do
prazo de 1 ano, prorrogável por mais 1 ano. STJ. 3ª Turma. REsp 1.833.613-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso
PROCESSO CIVIL
PRINCÍPIOS
A regra do art. 489, §1º, VI, do CPC, segundo a qual o juiz, para deixar de aplicar enunciado de súmula,
jurisprudência ou precedente invocado pela parte, deve demonstrar a existência de distinção ou de superação,
somente se aplica às súmulas ou precedentes vinculantes, mas não às súmulas e aos precedentes apenas
persuasivos, como, por exemplo, os acórdãos proferidos por Tribunais de 2º grau distintos daquele a que
o julgador está vinculado. O art. 489, §1º, VI, do CPC/2015, dispõe: “Art. 489. São elementos essenciais da
sentença: (...) §1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou
acórdão, que: (...) VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte,
Turma. REsp 1.698.774-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info 679).
A nova legislação processual civil instrumentaliza a denominada Justiça Multiportas, incentivando a solução
consensual dos conflitos, especialmente por meio das modalidades de conciliação e mediação. O art. 334
réu. Não comparecendo o INSS à audiência de conciliação, inevitável a aplicação da multa prevista no art.
334, § 8º do CPC/2015, que estabelece que o não comparecimento injustificado do autor ou do réu à
audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da Justiça e será sancionado com
multa de até 2% da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União
ou do Estado. Qualquer interpretação que relativize esse dispositivo será um retrocesso na evolução do Direito
pela via jurisdicional e um desserviço à Justiça. STJ. 1ª Turma. REsp 1.769.949-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia
Descumprida a determinação de emenda a inicial com relação à apresentação do original de uma das
cártulas que embasou a monitória, não é juridicamente possível se falar em extinção total da demanda.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.837.301-SC, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 18/02/2020 (Info 665).
PROVAS
PROVA TESTEMUNHAL
Caso a testemunha tenha sido ouvida no juízo deprecado, pelo método audiovisual, de quem é a
degravação de depoimento colhido nos autos de carta precatória por sistema audiovisual na vigência do
CPC/2015. Na vigência do CPC/2015, a colheita de prova testemunhal por gravação passou a ser um método
convencional (comum; regra geral), ficando a degravação prevista apenas para hipóteses excepcionais em que,
em autos físicos, for interposto recurso, sendo impossível o envio da documentação eletrônica. Em caso de
precatória inquiritória, a gravação dos depoimentos colhidos em audiência pelo método audiovisual é suficiente
degravação, deverá ser realizada pelo juízo deprecante ou pela parte interessada. STJ. 2ª Seção. CC 150.252/SP,
Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/06/2020 (Info 974)
Quanto à inversão do ônus da prova, o art. 373, § 1º, do Código de Processo Civil, em perfeita sintonia com a
Constituição de 1988, reproduz, na relação processual, a transição da isonomia formal para a isonomia
material. Não se trata de prerrogativa judicial irrestrita, pois depende ora de previsão legal (direta ou
indireta, p. ex., como consectário do princípio da precaução), ora, na sua falta, de peculiaridades da causa,
probante, quer à maior capacidade de obtenção da prova pela parte contrária. Naquela hipótese, em
reação à natureza espinhosa da produção probatória, a inversão foca em dificuldade do beneficiário da inversão;
nesta, prestigia a maior facilidade, para tanto, do detentor da prova do fato contrário. Qualquer elemento
probatório, pontualmente - ou todos eles conjuntamente -, pode ser objeto da decretação de inversão, desde
que haja adequada fundamentação judicial. A alteração ope legis ou ope judicis da sistemática probatória
ordinária leva consigo o custeio da carga invertida, não como dever, mas como simples faculdade. Logo, não
beneficiário. Modificada a atribuição, desaparece a necessidade de a parte favorecida provar aquilo que, daí em
diante, integrar o âmbito da inversão. Ilógico e supérfluo requisitar que produza o réu prova de seu exclusivo
interesse disponível, já que a omissão em nada prejudicará o favorecido ou o andamento processual. Ou seja, a
inversão não implica transferência ao réu de custas de perícia requerida pelo autor da demanda, pois de
duas, uma: ou tal prova continua com o autor e somente a ele incumbe, ou a ele comumente cabia e foi
deslocada para o réu, titular da opção de, por sua conta e risco, cumpri-la ou não. Claro, se o sujeito titular
do ônus invertido preferir não antecipar honorários periciais referentes a seu encargo probatório,
presumir-se-ão verdadeiras as alegações da outra parte. STJ. 2ª Turma. REsp 1.807.831-RO, Rel. Min. Herman
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Nos casos em que o acolhimento da pretensão não tenha correlação com o valor da causa ou não se
observe proveito econômico com a extinção sem resolução do mérito da execução fiscal, os honorários
de sucumbência devem ser arbitrados por apreciação equitativa, com observância dos critérios dos §§ 2º
e 8º do art. 85 do CPC/2015.
Caso concreto: o Município ajuizou execução fiscal contra a empresa; a executada informou que o débito
cobrado está sendo discutido em ação declaratória em tramitação, na qual foi proferida sentença e acórdão
extraordinário; diante disso, o Município pediu a desistência da execução, com a extinção do processo sem
julgamento do mérito.
Nessa situação, os honorários advocatícios deverão ser fixados, não com base no § 3º do art. 85, mas sim com
fundamento no § 8º. Isso porque a extinção da execução fiscal não acarreta impacto direto na questão de fundo,
vez que o crédito tributário é ainda objeto de controvérsia judicial na outra ação.
Art. 85 (...) § 8º Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da
causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por apreciação equitativa, observando o disposto nos
incisos do § 2º.
STJ. 1ª Turma. REsp 1776512-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
O juiz condenou o réu a pagar indenização por danos morais, no entanto, o valor fixado foi inferior ao
Nos termos da Súmula 326/STJ, na ação de compensação por danos morais, a condenação em montante inferior
A indenização por danos morais e materiais fixada em montante inferior ao pedido não configura sucumbência
STJ. 3ª Turma. AgInt no AgInt no AREsp 1546407/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/05/2020.
Súmula 326-STJ: Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1835957/RJ, Rel. Ministro Sérgio Kukina, julgado em 15/06/2020.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1310070/MS, Rel. Ministro Raul Araújo, julgado em 04/05/2020.
Em caso de extinção da execução por acordo , os honorários advocatícios e as despesas com custas
Caso concreto: o Banco da Amazônia (BASA) ajuizou execução de cédula de crédito rural pignoratícia e
hipotecária. Houve um acordo entre a instituição financeira e o devedor, tendo sido o processo extinto em razão
Neste caso, os honorários advocatícios e as despesas com custas processuais são de responsabilidade de cada
sendo orientada, em caráter principal, pelo princípio da sucumbência e, subsidiariamente, pelo da causalidade.
O princípio da causalidade atende a uma razão de justiça distributiva e demanda que se questione
A aplicação da causalidade e a justa distribuição das despesas e dos honorários resulta na imputação da
responsabilidade a quem tornou necessário o processo ou quem seja responsável pela causa superveniente que
O processo executivo pode encontrar termo de maneira anômala e antecipada nos casos em que se extingue o
próprio direito de crédito do exequente, por qualquer dos meios liberatórios previstos no direito material, ainda
que extraprocessuais.
O acordo bilateral entre as partes, envolvido na renegociação da dívida, demanda reciprocidade das concessões,
não caracteriza sucumbência e é resultado da conduta de ambas as partes. Nessa situação, os honorários
devem ser arcados por cada parte, em relação a seu procurador (arts. 90, § 2º, do CPC/15 e 12 da Lei 13.340/16).
STJ. 3ª Turma. REsp 1836703/TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/10/2020.
São devidos os honorários de sucumbência ao procurador que não participou de acordo firmado entre as
partes, realizado e homologado antes do trânsito em julgado da sentença que fixou tal verba. Caso
foram bem realizados. O juiz julgou parcialmente procedente, condenando a empresa a pagar R$ 200 mil.
Ambas as partes apelaram. O TJ manteve a sentença, mas antes que houvesse trânsito em jugado, as partes
ingressaram com petição afirmando que haviam feito um acordo de R$ 150 mil. O ponto controverso é que o
condomínio foi representado por Juliana, nova advogada que participou apenas do acordo e cuja procuração
revogou o mandato que havia sido outorgada ao advogado anterior (Pedro), que ajuizou e acompanhou a ação.
Pedro peticionou nos autos requerendo que fosse preservado o valor que ele teria direito de receber a título de
honorários advocatícios sucumbenciais definidos na sentença condenatória (10% de 200 mil). A sentença
homologou o acordo firmado entre as partes, e indeferiu o pedido de Pedro, deixando expressamente
consignado que, como o acordo foi apresentado antes do trânsito em julgado da sentença, não haveria que se
falar em honorários sucumbenciais. Pedro tem direito aos honorários? Sim. O acordo firmado entre as partes,
sem a concordância do advogado, não pode atingir o direito desse profissional de receber os honorários
advocatícios fixados na sentença judicial, desde que esta já tenha transitada em julgado. No caso, a despeito de
não ter havido trânsito em julgado da sentença que fixou os honorários, existem peculiaridades que permitem
concluir ser possível a manutenção dos honorários. Em 1º grau, a sentença condenou a empresa ao pagamento
de 10% de honorários advocatícios sucumbenciais, condenação esta que foi mantida pelo TJ e que estava prestes
a transitar em julgado, não fosse pelo fato de as partes terem, neste meio tempo, atravessado pedido de
homologação de acordo extrajudicial - que sequer fez menção ao pagamento de qualquer verba honorária -,
com a participação de nova advogada constituída nos autos, o que revogou automaticamente anterior
procuração outorgada pelo Condomínio. Dada as particularidades da situação, convém reconhecer o direito
Turma. REsp 1.851.329-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info 681).
São devidos os honorários de sucumbência ao procurador que não participou de acordo firmado entre as
partes, realizado e homologado antes do trânsito em julgado da sentença que fixou tal verba. Caso
concreto: condomínio ajuizou ação de indenização contra empresa de engenharia em razão de serviços que não
foram bem realizados. O juiz julgou parcialmente procedente, condenando a empresa a pagar R$ 200 mil.
Ambas as partes apelaram. O TJ manteve a sentença, mas antes que houvesse trânsito em jugado, as partes
ingressaram com petição afirmando que haviam feito um acordo de R$ 150 mil. O ponto controverso é que o
condomínio foi representado por Juliana, nova advogada que participou apenas do acordo e cuja procuração
revogou o mandato que havia sido outorgada ao advogado anterior (Pedro), que ajuizou e acompanhou a ação.
Pedro peticionou nos autos requerendo que fosse preservado o valor que ele teria direito de receber a título de
honorários advocatícios sucumbenciais definidos na sentença condenatória (10% de 200 mil). A sentença
homologou o acordo firmado entre as partes, e indeferiu o pedido de Pedro, deixando expressamente
consignado que, como o acordo foi apresentado antes do trânsito em julgado da sentença, não haveria que se
sem a concordância do advogado, não pode atingir o direito desse profissional de receber os honorários
advocatícios fixados na sentença judicial, desde que esta já tenha transitada em julgado. No caso, a despeito de
não ter havido trânsito em julgado da sentença que fixou os honorários, existem peculiaridades que permitem
concluir ser possível a manutenção dos honorários. Em 1º grau, a sentença condenou a empresa ao pagamento
de 10% de honorários advocatícios sucumbenciais, condenação esta que foi mantida pelo TJ e que estava prestes
a transitar em julgado, não fosse pelo fato de as partes terem, neste meio tempo, atravessado pedido de
homologação de acordo extrajudicial - que sequer fez menção ao pagamento de qualquer verba honorária -,
com a participação de nova advogada constituída nos autos, o que revogou automaticamente anterior
procuração outorgada pelo Condomínio. Dada as particularidades da situação, convém reconhecer o direito
Turma. REsp 1.851.329-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info 681).
O caput do art. 85 do CPC afirma que “a sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do
vencedor”. Nos honorários advocatícios contratuais, existe uma relação jurídica da parte com seu
advogado. Nos honorários advocatícios sucumbenciais, a relação jurídica se estabelece entre a parte
litigante e o advogado da parte contrária. Não se pode adotar o entendimento de que, havendo
sucumbência recíproca, cada parte se responsabiliza pelos honorários advocatícios sucumbenciais do seu
respectivo advogado. Isso porque, no caso de deferimento de gratuidade de justiça, por exemplo, esse
entendimento faria com que houvesse um conflito de interesses entre o advogado e a parte beneficiária por ele
representada, criando situação paradoxal de um causídico defender um benefício ao seu cliente que, de forma
reflexa, o prejudicaria. Além disso, nas hipóteses em que a sucumbência recíproca não é igualitária (ex: 80% a
20%), a prevalência do entendimento de que cada uma das partes arcará com os honorários sucumbenciais do
próprio causídico que constituiu poderia dar ensejo à situação de o advogado da parte que sucumbiu mais no
processo receber uma parcela maior dos honorários de sucumbência, ou de a parte litigante que menos
sucumbiu na demanda pagar uma parcela maior dos honorários de sucumbência. Desse modo, uma vez
estabelecido o grau de sucumbência recíproca entre os litigantes, a parte autora fica responsável pelo
pagamento dos honorários advocatícios de sucumbência do advogado do réu, e o réu, responsável pelo
pagamento dos honorários advocatícios de sucumbência do advogado do autor. STJ. 4ª Turma. AgInt no
AREsp 1.495.369-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 01/09/2020 (Info 681).
O art. 85, § 11 do CPC trata sobre a possibilidade, na fase de recurso, haver a majoração dos honorários
advocatícios. É cabível a majoração dos honorários advocatícios com base no § 11 do art. 85 do CPC mesmo que
• NÃO. Há julgados da 2ª e da 3ª Turmas do STJ nesse sentido: Não cabem honorários recursais na hipótese de
inexistência de condenação prévia em honorários sucumbenciais principais, quando, por exemplo, houver a
1.697.387/RO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/12/2017). Havendo sucumbência recíproca, em
que cada parte se responsabiliza pela remuneração do seu respectivo patrono, sem a fixação expressa de
valores, é incabível a majoração dos honorários advocatícios com base no art. 85, § 11, do CPC/2015 (STJ. 3ª
Turma. AgInt no AREsp 1340890/PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/05/2019).
• SIM. A 4ª Turma do STJ decidiu dessa forma: A sucumbência recíproca, por si só, não é óbice à majoração dos
honorários advocatícios em sede recursal, com base no § 11 do art. 85 do CPC. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp
1.495.369-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 01/09/2020 (Info 681).
COMPETÊNCIA
O STF conferia interpretação restritiva ao art. 102, I, “r”, da CF/88 e afirmava que ele (STF) somente seria
competente para julgar as ações em que o próprio CNJ ou CNMP figurassem no polo passivo. Seria o caso de
No caso de serem propostas ações ordinárias para impugnar atos do CNJ e CNMP, a competência seria da Justiça
Nos termos do artigo 102, inciso I, alínea ‘r’, da Constituição Federal, é competência exclusiva do Su-premo
Tribunal Federal processar e julgar originariamente todas as decisões do Conselho Nacional de Justiça e do
Conselho Nacional do Ministério Público proferidas nos exercício de suas competências constitucionais
respectivamente previstas nos artigos 103-B, parágrafo 4º, e 130-A, parágrafo 2º, da Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 4412, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020.
Compete à Justiça comum processar e julgar causa de servidor público municipal admitido mediante
aprovação em concurso público sob o regime da CLT e que, posteriormente, passou a ser regido pelo
estatuto dos servidores públicos municipais (estatutário). Caso concreto: o servidor ingressou no serviço
público do Município em 1997 no cargo de auxiliar de serviços gerais sob o regime celetista e, em julho de 2010,
passou a ser regido pelo regime estatutário. Em 2013, ele ajuizou ação na Justiça do Trabalho para pleitear o
recolhimento de parcelas do FGTS no período em que esteve regido pelas regras da CLT. Como o vínculo do
servidor com a administração pública é atualmente estatutário, a competência para julgar a causa é da Justiça
comum, ainda que as verbas requeridas sejam de natureza trabalhista e relativas ao período anterior à alteração
Compete à Justiça comum processar e julgar controvérsias relacionadas à fase pré-contratual de seleção
indireta, nas hipóteses em que adotado o regime celetista de contratação de pessoal. STF. Plenário. RE
960429/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/3/2020 (repercussão geral – Tema 992) (Info 968)
Compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer e julgar originariamente causas que envolvam a
pacto federativo. STF. Plenário. ACO 1098, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/05/2020 (Info 980 – clipping)
Compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas contra o CNJ e contra o CNMP no
exercício de suas atividades-fim Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência exclusiva
do STF processar e julgar, originariamente, todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP
proferidas no exercício de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas nos arts. 103-B, § 4º, e
130-A, § 2º, da CF/88. STF. Plenário. Pet 4770 AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/11/2020 (Info
1000). STF. Plenário. Rcl 33459 AgR/PE, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).
Decisões administrativas do CNJ devem ser cumpridas mesmo que exista decisão judicial em sentido
contrário proferida por outro órgão judiciário que não seja o STF. O art. 106 do Regimento Interno do CNJ
prevê o seguinte: Art. 106. O CNJ determinará à autoridade recalcitrante, sob as cominações do disposto no
artigo anterior, o imediato cumprimento de decisão ou ato seu, quando impugnado perante outro juízo que não
o Supremo Tribunal Federal. O STF afirmou que essa previsão é constitucional e decorre do exercício
legítimo de poder normativo atribuído constitucionalmente ao CNJ, que é o órgão formulador da política
judiciária nacional. Assim, o CNJ pode determinar à autoridade recalcitrante o cumprimento imediato de suas
decisões, ainda que impugnadas perante a Justiça Federal de primeira instância, quando se tratar de hipótese de
competência originária do STF. STF. Plenário. ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info
1000)
Compete às Turmas que compõem a Segunda Seção do STJ (especializada em direito privado) apreciar
recurso em que se discute ressarcimento pelo desconto de mensalidades de plano de saúde cobradas em
fatura de energia elétrica. Caso concreto: análise do recurso especial relacionado com ação de indenização
ajuizada contra a concessionária de energia elétrica pelo fato de ela ter inserido irregularmente, na conta de
energia elétrica do autor, um desconto relacionado com mensalidade de plano de saúde. Essa discussão versa
claramente sobre direito obrigacional privado, sobre responsabilização de empresa privada e de concessionária
de serviço público pela cobrança indevida de prestações alusivas a plano de saúde. Não se trata de discussão
(especializada em direito privado) e não das Turmas da 1ª Seção (que aprecia matérias de direito público). STJ.
Corte Especial. CC 171.348-DF, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 02/09/2020 (Info 679).
Compete à Justiça comum julgar conflitos entre Município e servidor contratado depois da CF/88, ainda
que sem concurso público, pois, uma vez vigente regime jurídico-administrativo, este disciplinará a absorção de
pessoal pelo poder público. Logo, eventual nulidade do vínculo e as consequências daí oriundas devem ser
apreciadas pela Justiça comum, e não pela Justiça do Trabalho. STF. Plenário. ARE 1179455 AgR/PI, rel. orig. Min.
Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 5/5/2020 (Info 976).
CITAÇÃO E INTIMAÇÃO
CITAÇÃO
A citação de pessoa física pelo correio se dá com a entrega da carta citatória diretamente ao citando, cuja
assinatura deverá constar no respectivo aviso de recebimento, nos termos do art. 248, § 1º do CPC:
Art. 248 (...) § 1º A carta será registrada para entrega ao citando, exigindo-lhe o carteiro, ao fazer a entrega, que
assine o recibo.
No caso concreto, a carta citatória não foi entregue ao citando, mas sim à pessoa estranha ao feito, sendo,
Vale ressaltar que o fato de a citação postal ter sido enviada ao estabelecimento comercial onde o citando
exerce suas atividades como sócio administrador não é suficiente para afastar norma processual expressa,
sobretudo porque não há como se ter certeza de que o réu tenha efetivamente tomado ciência da ação
A possibilidade da carta de citação ser recebida por terceira pessoa somente ocorre quando o citando for pessoa
jurídica, nos termos do disposto no § 2º do art. 248 do CPC/2015, ou nos casos em que, nos condomínios
edilícios ou loteamentos com controle de acesso, a entrega do mandado for feita a funcionário da portaria
§ 2º Sendo o citando pessoa jurídica, será válida a entrega do mandado a pessoa com poderes de gerência geral
funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência, que, entretanto, poderá recusar o
recebimento, se declarar, por escrito, sob as penas da lei, que o destinatário da correspondência está ausente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1840466/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/06/2020.
Segundo o art. 240 do CPC/2015, a citação válida do réu constitui em mora o devedor, ressalvadas as hipóteses
previstas nos arts. 397 e 398 do Código Civil. E se houver mais de um réu (litisconsórcio) e eles foram citados em
datas diferentes? Neste caso, qual será considerado o momento em que eles estarão constituídos em mora: a
data da primeira ou da última citação? A data da primeira, nos termos do art. 280 do CC: Art. 280. Todos os
devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a ação tenha sido proposta somente contra um; mas o
Obs: isso vale mesmo que a obrigação não seja solidária. Os efeitos da citação não podem ser confundidos com
o início do prazo para a defesa dos litisconsortes. Por isso, não se aplica, para a constituição em mora, a regra
processual disciplinadora do termo inicial do prazo para contestar (art. 231, § 1º, do CPC). STJ. 3ª Turma. REsp
RESPOSTA DO RÉU
RECONVENÇÃO
questão que justifique a propositura tenha surgido na contestação ou na primeira reconvenção. Caso
concreto: Djalma ajuizou ação contra Reinaldo pedindo o pagamento de honorários advocatícios. Após ser
citado, Reinaldo não apenas apresentou contestação, em que impugnou a existência da alegada dívida, como
também propôs reconvenção, na qual formulou pedido de repetição do indébito ao fundamento de que teria
pagado ao autor, a título de honorários advocatícios, valor maior do que o devido. Djalma foi intimado para
responder à reconvenção e, então, propôs reconvenção à reconvenção, na qual alegou que o pedido de Reinaldo
(devolução de valores alegadamente pagos a maior) é manifestamente incabível porque os valores foram fixados
em decisão judicial, razão pela qual ele (Reinaldo) deve ser a pagar a sanção civil do art. 940 do Código Civil. A
reconvenção sucessiva foi liminarmente indeferida pelo juiz sob o fundamento de que não existiria autorização
legal para o seu manejo. O STJ não concordou com a decisão do juiz e afirmou que o sistema processual
brasileiro admite a reconvenção sucessiva (reconvenção à reconvenção), desde que seu exercício tenha
reconvenção, desde que a questão que justifica a propositura da reconvenção sucessiva tenha como origem a
CPC/2015 reforçou essa possibilidade. Isso porque agora o autor-reconvindo é intimado para apresentar
resposta, e não mais contestação (art. 343). A palavra “resposta” é mais ampla e abrange também nova
reconvenção. Outro argumento está no fato de que o § 6º do art. 702 do CPC/2015 proibiu expressamente a
reconvenção à reconvenção apenas na hipótese da ação monitória, razão pela qual houve um silêncio eloquente
quanto às demais hipóteses, revelando que é possível. STJ. 3ª Turma. REsp 1.690.216-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info 680)
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
Na fase de cumprimento de sentença não se pode alterar os critérios de atualização dos cálculos
estabelecidos na decisão transitada em julgado, ainda que para adequá-los ao entendimento do STF
Sem que a decisão acobertada pela coisa julgada tenha sido desconstituída, não é cabível ao juízo da fase
de cumprimento de sentença alterar os parâmetros estabelecidos no título judicial, ainda que no intuito
STJ. 2ª Turma. REsp 1861550-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/06/2020 (Info 676).
O prazo para impugnação se inicia após 15 dias da intimação para pagar o débito, ainda que o executado
realize o depósito para garantia do juízo no prazo para pagamento voluntário, independentemente de
nova intimação.
Exemplo: o credor iniciou o cumprimento da sentença. Em 19/4/2016, o devedor foi intimado para que, em 15
dias, efetuasse o pagamento. Em 09/05/2016, o devedor depositou em juízo o valor da condenação apenas para
fins de garantia do juízo e para obter efeito suspensivo na impugnação que ainda iria apresentar. Em
03/06/2016, o devedor apresentou a impugnação. O exequente alegou que a impugnação foi apresentada fora
do prazo. Isso porque o prazo de 15 dias para a impugnação deveria ser contado da data em que foi feito o
depósito judicial (09/05/2016). O STJ não concordou e disse que o prazo de 15 dias para a impugnação começa a
STJ. 3ª Turma. REsp 1761068-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em
O inciso II do art. 516 do CPC prevê que o cumprimento da sentença será feito perante o juízo que decidiu a
causa no primeiro grau de jurisdição. O parágrafo único, por sua vez, afirma que o exequente poderá optar
c) no juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou de não fazer.
É possível que o exequente faça a opção de que trata o parágrafo único do art. 516 do CPC/2015 mesmo após já ter
SIM. O credor pode optar pela remessa dos autos ao foro de domicílio do executado, mesmo após o início
do cumprimento de sentença. STJ. 3ª Turma. REsp 1.776.382-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
João ingressa com pedido de cumprimento de sentença cobrando determinada quantia de Pedro. Após ser
intimado a pagar, Pedro depositou em juízo o valor da condenação, mas apresentou petição narrando que
aquilo não era pagamento e sim mera garantia do Juízo para obter o efeito suspensivo na futura impugnação.
Hipótese 1: Pedro, logo em seguida ao ato acima, apresentou impugnação ao cumprimento de sentença. A
impugnação foi julgada improcedente. Pedro terá que pagar a multa de 10% do art. 523, § 1º? SIM. Veja: A multa
a que se refere o art. 523 do CPC/2015 será excluída apenas se o executado depositar voluntariamente a
quantia devida em juízo, sem condicionar seu levantamento a qualquer discussão do débito. STJ. 3ª
Turma. REsp 1803985/SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/11/2019. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp
Hipótese 2: Pedro depositou em juízo o valor da condenação e apresentou petição narrando que aquilo não era
pagamento e sim garantia do Juízo. Apesar disso, Pedro não apresentou a impugnação. Transcorrido o prazo,
como o devedor não ingressou com a impugnação, o credor pediu a expedição de guia para levantamento do
valor depositado, o que foi deferido pelo juiz mediante alvará. Pedro terá que pagar a multa de 10% do art. 523,
§ 1º? NÃO. Não haverá a incidência da multa mesmo o devedor tendo afirmado que não estava pagando.
Isso porque para incidir a multa é necessário que haja a efetiva resistência do devedor por meio da
propositura de impugnação, o que não ocorreu. Assim, considerando o depósito efetuado e a ausência de
resistência ao cumprimento de sentença, não se justifica a incidência da multa. Para incidência da multa do art.
523, § 1º, do CPC, é preciso a efetiva resistência do executado ao cumprimento de sentença. STJ. 3ª Turma. REsp
O § 3º do art. 782 do CPC/2015 prevê que o juiz, a requerimento da parte, pode determinar a inclusão do nome
do executado nos cadastros de inadimplentes (exs: SPC/SERASA). Embora o magistrado não esteja obrigado a
deferir o pedido de inclusão do nome do executado no cadastro de inadimplentes, visto que a norma do
causa, não se revela idôneo condicionar a referida medida à prévia recusa administrativa das entidades
mantenedoras do respectivo cadastro. Assim, o credor pode requerer essa providência diretamente ao juízo,
não sendo necessário comprovar que este pedido foi feito antes, extrajudicialmente, para as entidades
mantenedoras do cadastro e que elas recusaram. STJ. 3ª Turma. REsp 1.835.778-PR, Rel. Min. Marco Aurélio
No cálculo dos honorários advocatícios devidos na fase de cumprimento de sentença, após escoado o
prazo legal para o pagamento voluntário da obrigação, não devem ser incluídas as parcelas vincendas da
dívida. Ex: em ação de indenização, a empresa ré foi condenada a pagar 60 prestações mensais de 1 salário
mínimo para o autor ofendido; transitou em julgado e a empresa não pagou nada; iniciou-se o cumprimento de
sentença; a empresa está devendo 1 ano de pensão mensal (12 prestações); o valor a ser pago irá, portanto,
aumentar; isso porque incidirá 10% de multa e 10% de honorários advocatícios, nos termos do § 1º do art. 523
do CPC; esses 10% dos honorários advocatícios incidirão apenas sobre as 12 prestações atualmente em atraso
(parcelas vencidas) ou sobre o total das 60 prestações (parcelas vencidas e também vincendas)? Apenas sobre as
parcelas vencidas (no caso, 12 prestações). O § 1º do art. 523 afirma que, se não ocorrer o pagamento voluntário
dentro do prazo de 15 dias, o débito será acrescido em 10% a título de honorários, além da multa de 10%. A
expressão “débito”, para fins de honorários, engloba apenas as parcelas vencidas da pensão mensal, visto que,
momento. Não faz sentido condenar a parte executada ao pagamento de honorários de sucumbência sobre
Não confundir.
Cálculo dos honorários advocatícios na ação de indenização com o objetivo de obter o pagamento de pensão
mensal:
• Na fase de conhecimento: o percentual dos honorários advocatícios deverá incidir todas as parcelas
vencidas e mais 12 parcelas vincendas, ou seja, parcelas vencidas + 1 ano de parcelas vincendas (art. 85, § 9º,
do CPC/2015).
• Na fase de cumprimento de sentença: o percentual dos honorários advocatícios deverá incidir apenas
sobre as parcelas vencidas. STJ. 3ª Turma. REsp 1.837.146-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
Em regra, a intimação para cumprimento da sentença é feita na pessoa do advogado do devedor (art. 513,
§ 2º, I, do CPC/2015). O devedor revel que tenha sido pessoalmente intimado na fase de conhecimento e,
mesmo assim ficou inerte, deverá ser intimado para o cumprimento de sentença por meio de carta com
autos:
Art. 513 (...) § 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença: II - por carta com aviso de recebimento, (...)
quando não tiver procurador constituído nos autos; STJ. 3ª Turma. REsp 1.760.914-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
O § 1º do art. 523 afirma que, se não ocorrer o pagamento voluntário dentro do prazo de 15 dias, o débito será
acrescido em 10% a título de honorários, além da multa de 10%. Esse percentual de 10% não admite
2) a fixação equitativa da verba honorária só tem lugar nas hipóteses em que constatado que o proveito
econômico é inestimável ou irrisório, ou o valor da causa é muito baixo (art. 85, § 8º); e
3) os próprios critérios de fixação da verba honorária previstos no art. 85, § 2º, já estabelecem que o valor
mínimo será de 10%. STJ. 3ª Turma. REsp 1.701.824-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/06/2020 (Info
673)
O art. 475-J do CPC/1973 previa que o prazo para impugnação ao cumprimento de sentença somente era
O art. 525 do CPC/2015, por sua vez, afirma que, transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento
voluntário, inicia-se o prazo de 15 dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova
intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação. Após a entrada em vigor do CPC/2015, o juiz deve
intimar o executado para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença, caso tenha transcorrido
Ex: a parte foi intimada, em 02/03/2016 (ainda na vigência do CPC/1973) para pagar uma condenação judicial no
prazo de 15 dias, nos termos do art. 475-J do CPC/1973; o prazo de 15 dias começou a ser computado no dia
seguinte (03/03/2016), terminando em 17/03/2016, sem que tenha havido pagamento; no dia 18/03/2016, entrou
em vigor o CPC/2015; nesse exemplo, deve o juiz intimar o executado para apresentar impugnação ao
Enunciado 530/FPPC: Após a entrada em vigor do CPC-2015, o juiz deve intimar o executado para apresentar
impugnação ao cumprimento de sentença, em quinze dias, ainda que sem depósito, penhora ou caução, caso
tenha transcorrido o prazo para cumprimento espontâneo da obrigação na vigência do CPC-1973 e não tenha
àquele tempo garantido o juízo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.833.935-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado
EMBARGOS DE TERCEIROS
Os embargos de terceiro não são a via processual adequada para a defesa dos ocupantes de um imóvel
impugnar ordem de despejo em ação da qual não fizeram parte, ajuizada contra o suposto locatário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1714870/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/11/2020.
Não são cabíveis embargos de terceiro para desconstituir decisão judicial que permite a averbação de
O protesto contra a alienação de bens é uma medida judicial por meio da qual o promovente comunica a
Mesmo que o protesto tenha sido registrado na matrícula do imóvel, o único efeito produzido é o de comunicar
aos interessados na aquisição do bem, que alguém alega possuir direitos sobre este bem.
O protesto não acrescenta nem diminui direitos do promovente. Ele é unilateral e apenas dá ciência sobre a
manifestação do promovente. Se essa manifestação tem relevância ou não, isso somente será decidido no
Os embargos de terceiro são remédio processual a disposição do terceiro prejudicado por um esbulho judicial, o
qual se configura quando a atuação jurisdicional alcança bens que excedam os limites patrimoniais da obrigação
exigida. Em palavras mais simples, os embargos de terceiro têm por objetivo desfazer o ato constritivo judicial
Assim, é pressuposto dos embargos de terceiro a existência de um ato de constrição judicial sobre o bem que o
A averbação do protesto na matrícula do imóvel não afeta a posse ou a propriedade de terceiro alheio ao
procedimento e não configura apreensão judicial. Logo, não são cabíveis embargos de terceiro contra essa
determinação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1758858-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/05/2020 (Info 672).
em honorários advocatícios quando há decisão de procedência na primeira fase da ação de exigir contas.
Com efeito, assim como no antigo CPC, o autor exige as contas e o réu pode contestar tal obrigação.
Acaso a decisão da primeira fase condene o réu a prestá-las, encerrando, via de consequência, aquela fase,
parcial de mérito, se assemelhando àquela sentença prevista no art. 915, § 2º, do CPC/73.
Assim, com a procedência do pedido do autor (condenação à prestação das contas exigidas), conclui-se que o
réu fica vencido na primeira fase da ação de exigir contas, devendo arcar com os honorários advocatícios como
STJ. 3ª Turma. REsp 1874603/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/11/2020
O procedimento da ação de prestação de contas (ação de exigir contas) tem como característica a existência,
1ª fase: nela, o juiz irá decidir se existe ou não a obrigação de o réu prestar contas. Se o julgador decidir
que não, o processo encerra-se nesta fase. Contudo, se decidir que sim, será aberta uma segunda fase.
2ª fase: servirá para que o réu propriamente preste as contas pleiteadas pelo autor e para que o julgador
Imagine que o juiz, ainda na vigência do CPC/1973, julgou procedente o pedido, na primeira fase, condenando o
réu a prestar as contas exigidas. Houve o trânsito em julgado e o autor ingressou com cumprimento de
sentença. Logo em seguida, entrou em vigor o CPC/2015. Neste caso, as contas serão prestadas segundo as
regras do CPC/1973 ou do CPC/2015? De acordo com o CPC/1973. O legislador processual adotou a teoria do
isolamento dos atos processuais (art. 14 do CPC/2015). Considerando que houve sentença e trânsito em julgado
da primeira fase da ação, bem como início da segunda fase da ação, tudo sob a égide do CPC/1973, essa deverá
ser a lei regente quanto ao modo de apuração dos débitos, créditos e saldo porventura existentes, na medida
em que o autor adquiriu o direito de exigi-las na constância da lei revogada. STJ. 3ª Turma. REsp 1.823.926-MG,
AÇÃO MONITÓRIA
O réu, citado na ação monitória, pode apresentar embargos monitórios, que são uma forma de defesa,
semelhante à contestação (art. 702 do CPC). Os embargos podem se fundar em qualquer matéria que
poderia ser alegada como defesa no procedimento comum (§ 1º do art. 702). Assim, o réu pode, nos
embargos monitórios, alegar que a dívida já está paga e pedir a repetição de indébito em dobro, nos termos do
art. 940 do CC. A condenação ao pagamento em dobro do valor indevidamente cobrado pode ser formulada em
qualquer via processual, inclusive, em sede de embargos à execução, embargos monitórios e ou reconvenção,
até mesmo reconvenção, prescindindo de ação própria para tanto. STJ. 3ª Turma. REsp 1.877.292-SP, Rel. Min.
É impenhorável a pequena propriedade rural familiar constituída de mais de 01 (um) terreno, desde que
contínuos e com área total inferior a 04 (quatro) módulos fiscais do município de localização.
STF. Plenário. ARE 1038507, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 18/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 961) (Info
1003).
Os entes federados são competentes para estabelecer, por meio de leis próprias e segundo a sua
capacidade econômica, o valor máximo das respectivas obrigações de pequeno valor, não podendo tal
valor ser inferior àquele do maior benefício do regime geral de previdência social (artigo 100, §§ 3º e 4º, da
As unidades federadas podem fixar os limites das respectivas requisições de pequeno valor em patamares
inferiores aos previstos no artigo 87 do ADCT, desde que o façam em consonância com sua capacidade
econômica.
A aferição da capacidade econômica do ente federado, para fins de delimitação do teto para o pagamento de
seus débitos por meio de requisição de pequeno valor, não se esgota na verificação do quantum da receita do
Estado, mercê de esta quantia não refletir, por si só, os graus de endividamento e de litigiosidade do ente
federado.
O cônjuge que apenas autorizou seu consorte a prestar aval, nos termos do art. 1.647, III, do Código Civil
(outorga uxória), não é avalista. Dessa forma, não havendo sido prestada garantia real, não é necessária sua
citação como litisconsorte, bastando a mera intimação do cônjuge que apenas autorizou o aval. STJ. 4ª Turma.
REsp 1.475.257-MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 10/12/2019 (Info 663).
Quando houver sentença homologatória de transação firmada entre as partes e esta não dispor sobre os
honorários sucumbenciais, a decisão inicial que arbitra os honorários advocatícios em execução de título
extrajudicial pode ser considerada título executivo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.819.956-SP, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/12/2019 (Info 663).
Havendo penhora de bem indivisível (ex: um apartamento), a meação do cônjuge alheio à execução deve
recair sobre o produto da alienação do bem. Para impedir que a penhora recaia sobre a sua meação, o
cônjuge meeiro deve comprovar que a dívida executada não foi contraída em benefício da família.
sucumbenciais em demanda da qual o cônjuge meeiro não participou, é inegável o direito deste à reserva de sua
não se podendo exigir do cônjuge meeiro, que não integrou a relação processual da lide originária, a
comprovação de que a dívida executada não foi contraída em benefício do casal ou da família. Exemplo: João
ajuizou ação ordinária contra Pedro, tendo o pedido sido julgado improcedente. O autor foi condenado a pagar
R$ 200 mil de honorários advocatícios em favor de Pedro. Marcos (advogado de Pedro) ingressou com execução
contra João cobrando os R$ 200 mil. O juiz determinou a penhora de uma sala comercial que está em nome de
João. Raquel, esposa de João, apresentou embargos de terceiro contra essa penhora. Sua quota-parte deverá ser
preservada, não sendo necessário que ela comprove que essa dívida contraída foi exclusiva do marido. STJ. 3ª
Turma.REsp 1.670.338-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 04/02/2020 (Info 664).
Ainda que perfectibilizada a arrematação do bem objeto de penhora na execução civil, os valores levantados
devem ser restituídos ao juízo, quando, coexistindo execução fiscal, ausente a prévia intimação da Fazenda
Pública.
Caso concreto: banco ajuizou execução contra devedor e conseguiu a penhora de um imóvel; algum tempo
depois, a União ajuizou execução fiscal contra esse mesmo devedor e conseguiu a penhora desse mesmo
imóvel; no primeiro processo (o do banco), o juiz autorizou a alienação judicial do bem (hasta pública); o dinheiro
obtido foi depositado e o juiz, sem ouvir a Fazenda Nacional (União) autorizou que o banco fizesse o
levantamento da quantia; em uma situação como essa, o banco terá que devolver o dinheiro; isso porque
coexistindo execução fiscal e execução civil, contra o mesmo devedor, com pluralidade de penhoras recaindo
sobre o mesmo bem, o produto da venda judicial, por força de lei, deve satisfazer o crédito fiscal em primeiro
lugar. STJ. 3ª Turma. REsp 1.661.481-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/03/2020 (Info 667).
Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação judicial, já
que não enseja, necessariamente, a liquidação da quota. STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.250-SP, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/06/2020 (Info 675).
É possível a inscrição em cadastro de inadimplentes do devedor que figura no polo passivo de execução
fiscal. Caso concreto: uma empresa exequente pediu ao juiz a inclusão do nome da executada nos cadastros de
inadimplentes, nos termos do art. 782, § 3º do CPC. O requerimento foi indeferido pelo magistrado sob o
argumento de que a exequente possui condições de pedir diretamente a inscrição. O STJ não concordou com a
recusa. O requerimento da inclusão do nome da executada em cadastros de inadimplentes (art. 782, § 3º, do
CPC/2015) não pode ser indeferido pelo juiz tão somente sob o fundamento de que as exequentes possuem
meios técnicos e a expertise necessária para promover, por si mesmas, a inscrição direta junto aos órgãos de
proteção ao crédito. O art. 782, § 3º, do CPC/2015 prevê que, a requerimento da parte, o juiz pode
referido dispositivo legal que, havendo o requerimento, não há a obrigação legal de o Juiz determinar a
negativação do nome do devedor, tratando-se de mera discricionariedade. A medida, então, deverá ser
analisada casuisticamente, de acordo com as particularidades do caso concreto. Não cabe, contudo, ao
julgador criar restrições que a própria lei não criou, limitando o seu alcance, por exemplo, à comprovação
da hipossuficiência da parte. Tal atitude vai de encontro ao próprio espírito da efetividade da tutela
jurisdicional, norteador de todo o sistema processual. STJ. 3ª Turma. REsp 1.887.712-DF, Rel. Min. Nancy
EMBARGOS À EXECUÇÃO
Excepcionalmente, o art. 919, § 1º, do CPC/2015 prevê que o magistrado poderá atribuir efeito suspensivo
a) requerimento do embargante;
b) relevância da argumentação;
d) garantia do juízo.
Caso concreto: empresa ajuizou ação de execução contra João alegando ser credora de R$ 300 mil, decorrente
ajuizamento da ação de execução, já havia ajuizado ação de rescisão contratual cumulada com declaração de
inexigibilidade de débito, questionando a higidez do contrato, bem como ação cautelar de sustação de protesto
onde foi oferecido um bem móvel em garantia em valor superior ao da execução. Como houve caução na ação
cautelar e tendo em vista que o débito ali discutido é o mesmo que se cobra na ação de execução, não há por
que se determinar que o devedor ofereça nova caução, podendo ser aproveitada a garantia do juízo que já foi
prestada na ação conexa (cautelar) para que seja concedido o efeito suspensivo aos embargos à execução. STJ.
3ª Turma. REsp 1.743.951-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/10/2020 (Info 681)
PENHORA
A arma de fogo pode ser penhorada e expropriada, desde que assegurada pelo Juízo da execução a observância
das mesmas restrições impostas pela legislação de regência para a sua comercialização e aquisição.
STJ. 2ª Turma. REsp 1866148-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/05/2020 (Info 677).
do devedor, não gozam de proteção da impenhorabilidade atribuída aos salários, proventos e pensões.
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por
Assim, a quantia decorrente de empréstimo consignado, embora seja descontada diretamente da folha de
pagamento do mutuário, não tem caráter salarial, sendo, em regra, passível de penhora.
A proteção da impenhorabilidade ocorre somente se o mutuário (devedor) comprovar que os recursos oriundos
STJ. 3ª Turma. REsp 1820477-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info 672).
A instituição financeira que cumpre ordem judicial de indisponibilização de saldos encontrados em contas
bancárias atua como auxiliar da Justiça. A atuação dos auxiliares da Justiça é dirigida e orientada pelo Juízo
auxiliares não detêm nenhuma faculdade ou ônus processual, devendo, entretanto, observar os deveres
estabelecidos no art. 77 do CPC/2015 (art. 14 do CPC/1973). Assim, os auxiliares da Justiça podem ser
responsabilizados civil, administrativa ou penalmente pelos danos que causarem, em razão de dolo ou culpa. A
responsabilidade civil dos auxiliares da Justiça deve ser apurada mediante observância dos princípios do
contraditório e ampla defesa, em via processual adequada para sua inclusão como parte.
Exemplo: o Juiz da 3ª Vara Cível determinou ao Banco Itaú que efetuasse o bloqueio dos valores existentes na
conta bancária da empresa Fênix S/A. A instituição financeira cumpriu a ordem e foi bloqueado R$ 1 milhão.
Passados alguns meses, o Juiz da 3ª Vara Cível determinou a transferência do valor bloqueado. O banco
respondeu que o dinheiro não existia mais, uma vez que foi retirado por determinação do Juiz da 5ª Vara Cível,
onde tramitava outra execução proposta contra a Fênix S/A. O Juiz da 3ª Vara Cível entendeu que houve
descumprimento de ordem judicial e, em razão disso, determinou a penhora do mesmo valor (R$ 1 milhão, com
as atualizações) nas contas do Banco Itaú. O STJ considerou que essa determinação foi ilegal. STJ. 3ª Turma. RMS
49.265-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/12/2019 (Info 662)
A Fundação Habitacional do Exército (FHE) é uma entidade vinculada ao Exército Brasileiro, criada pela Lei nº
6.855/80. A FHE tem por objetivo facilitar a aquisição da “casa própria” para os militares e demais associados,
além de prestar outras formas de “apoio social” aos militares (exs: consórcios, seguros, planos odontológicos
1) a FHE possui características de autarquia federal (e os bens das autarquias são impenhoráveis);
inclusive quanto à impenhorabilidade. STJ. 1ª Turma. REsp 1.802.320-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado
Verbas estaduais não podem ser objeto de bloqueio, penhora e/ou sequestro para pagamento de valores
devidos em ações trabalhistas, ainda que as empresas reclamadas detenham créditos a receber da
administração pública estadual, em virtude do disposto no art. 167, VI e X, da CF/88, e do princípio da separação
de poderes (art. 2º da CF/88). STF. Plenário. ADPF 485/AP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 4/12/2020 (Info
1001).
IMPENHORABILIDADE
Não é possível a penhora da remuneração, aposentadoria ou qualquer outra verba salarial do devedor
Os honorários advocatícios são considerados como verba de natureza alimentar. Possuem natureza alimentícia.
Os honorários advocatícios são equiparados a salário considerando que ambos são verbas remuneratórias,
responsáveis por assegurar o sustento de quem as recebe. Por essa razão, essas verbas merecem uma proteção
legislativa maior quando comparadas com outros créditos que não possuem a mesma finalidade.
Vale ressaltar, contudo, que verba de natureza alimentar não é o mesmo que alimentos (prestação alimentícia).
Não se pode afirmar que as verbas remuneratórias, ainda que sejam destinadas à subsistência do credor, sejam
iguais aos alimentos disciplinados pelo Código Civil. Diferentemente das verbas remuneratórias, os alimentos
são devidos para a pessoa que não pode prover a sua subsistência com sua própria força ou que teve essa força
diminuída.
As verbas remuneratórias destinadas à subsistência do credor e de sua família são essenciais, razão pela qual
merecem uma atenção especial do legislador. No entanto, os alimentos estão revestidos de grave urgência,
porque o alimentando depende exclusivamente da pessoa obrigada, não tendo outros meios para se socorrer,
justificando um tratamento mais sensível ainda do que aquele conferido às verbas remuneratórias.
... não se estendem para a execução de honorários advocatícios nem para a execução de outras verbas de
natureza alimentar.
Se esses benefícios fossem estendidos para a execução de honorários advocatícios, teriam que ser também
admitidos para a cobrança dos honorários devidos a quaisquer profissionais liberais, como médicos,
As Unidades Executoras Próprias (UEx), como, por exemplo, Caixas Escolares, podem receber recursos públicos
destinados à educação, via transferência, para a melhoria da infraestrutura física e pedagógica, o reforço da
autogestão escolar e a elevação dos índices de desempenho da educação básica, por meio da gestão
descentralizada. A Justiça do Trabalho, em processos de execução, não pode decretar medidas de constrição
judicial que recaiam sobre essas verbas recebidas pelas Caixas Escolares destinadas à educação. Esses valores
são impenhoráveis porque estão afetados a finalidades públicas e à realização das atividades e serviços públicos
decorrentes do exercício obrigatório da função administrativa. Vale ressaltar, no entanto, que não se aplica o
regime de precatório para as Caixas Escolares ou Unidades Descentralizadas de Educação (UDEs). Isso porque
tais entes possuem natureza jurídica de direito privado, não integram a Administração Pública e não compõem o
orçamento público. As Caixas Escolares recebem doações particulares, e assumem outras obrigações não
necessariamente vinculadas com a educação pública. Em relação a essas obrigações, calcadas em patrimônio
decorrente de doações privadas, não é razoável que devam ser pagas por precatório. STF. Plenário. ADPF
PRECATÓRIOS
Os Estados e o Distrito Federal devem observar o prazo de dois meses, previsto no art. 535, § 3º, II, do CPC,
Não é razoável impedir a satisfação imediata da parte incontroversa de título judicial, devendo-se observar, para
efeito de determinação do regime de pagamento — se por precatório ou requisição de pequeno valor —, o valor
total da condenação.
STF. Plenário. ADI 5534/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 18/12/2020 (Info 1003).
A cessão de crédito alimentício não implica a alteração da natureza. Desse modo, a cessão não altera a
natureza do precatório, podendo o cessionário gozar da preferência de que trata o § 1º do art. 100 da
Constituição Federal, quando a origem do débito assim permitir, mantida a posição na ordem cronológica
originária. STF. Plenário. RE 631537, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 361)
O § 2º do art. 100 da CF/88 prevê preferência no pagamento do precatório para o titular que se enquadre em
Art. 100 (...) § 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares, originários ou por sucessão hereditária,
tenham 60 (sessenta) anos de idade, ou sejam portadores de doença grave, ou pessoas com deficiência, assim
definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente
finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório.
A preferência autorizada pela Constituição não pode ser reconhecida duas vezes em um mesmo
precatório porque isso implicaria, por via oblíqua, a extrapolação do limite previsto na norma
constitucional. Aliás, o próprio § 2º do art. 100 da CF/88 revela que, após o fracionamento para preferência,
eventual saldo remanescente deverá ser pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. Portanto,
as hipóteses autorizadoras da preferência (idade, doença grave ou deficiência) devem ser consideradas,
isoladamente, em cada precatório, ainda que tenha como destinatário um mesmo credor. STJ. 1ª Turma. AgInt
no RMS 61.014-RO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 20/04/2020 (Info 670)
Durante o período previsto no § 5º do art. 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios
que nele sejam pagos. Não incidem juros de mora no período compreendido entre a data da expedição do
precatório e seu efetivo pagamento, desde que realizado no prazo estipulado constitucionalmente.
Trata-se de entendimento sumulado do STF: SV 17-STF: Durante o período previsto no parágrafo 1º (obs: atual §
5º) do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos. STF.
Plenário. RE 594892 AgR-ED-EDv/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1/7/2020 (Info 984).
Durante o período previsto no § 5º do art. 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os
precatórios que nele sejam pagos. Em 10/11/2009, o STF editou a SV 17 afirmando que “durante o período
previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele
sejam pagos”. Pouco tempo depois, em 09/12/2009, foi promulgada a Emenda Constitucional 62, que promoveu
ampla reformulação no art. 100 da Constituição. Não obstante a norma à qual se refere a SV 17 tenha sido
deslocada do § 1º para o § 5º do art. 100, tal modificação não altera o sentido do enunciado sumular - que, aliás,
não foi afetado por qualquer disposição da Emenda 62. O período previsto no art. 100, § 5º, da Constituição
(precatórios apresentados até 1º de julho, devendo ser pagos até o final do exercício seguinte) costuma ser
chamado de “período de graça constitucional”. Nesse interregno, não cabe a imposição de juros de mora, pois o
ente público não está inadimplente. Caso não haja o pagamento integral dentro deste prazo, os juros de mora
passam a correr apenas a partir do término do “período de graça”. Tese fixada para fins de repercussão geral: “O
enunciado da Súmula Vinculante 17 não foi afetado pela superveniência da Emenda Constitucional 62/2009, de
modo que não incidem juros de mora no período de que trata o § 5º do art. 100 da Constituição. Havendo o
inadimplemento pelo ente público devedor, a fluência dos juros inicia-se após o ‘período de graça’”. STF.
Plenário. RE 1169289, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 16/06/2020
Surge constitucional expedição de precatório ou requisição de pequeno valor para pagamento da parte
1205530, Rel. Marco Aurélio, julgado em 08/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 28) (Info 984).
O art. 2º da Lei nº 13.463/2017 previu que “ficam cancelados os precatórios e as RPV federais expedidos e cujos
valores não tenham sido levantados pelo credor e estejam depositados há mais de dois anos em instituição
financeira oficial.” O credor poderá requerer a expedição de novo precatório ou nova RPV, na forma do art. 3º da
Lei: “cancelado o precatório ou a RPV, poderá ser expedido novo ofício requisitório, a requerimento do credor.” A
Lei nº 13.463/2017 não prevê um prazo para que o interessado formule esse pedido.
Isso significa que essa pretensão é imprescritível? Não. A pretensão de expedição de novo precatório ou nova
RPV, após o cancelamento de que trata o art. 2º da Lei nº 13.463/2017 prescreve em 5 anos, nos termos do
art. 1º do Decreto 20.910/32. STJ. 2ª Turma. REsp 1.859.409-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
O § 3º do art. 100 da CF/88 prevê uma exceção ao regime de precatórios. Este parágrafo estabelece que, se a
condenação imposta à Fazenda Pública for de “pequeno valor”, o pagamento será realizado sem a
necessidade de expedição de precatório. Este quantum poderá ser estabelecido por cada ente federado
(União, Estado, DF, Município) por meio de leis específicas, conforme prevê o § 4º do art. 100. E se o ente
federado não editar a lei prevendo o quantum do “pequeno valor”? Nesse caso, segundo o art. 87 do ADCT da CF/88,
para os entes que não editarem suas leis, serão adotados, como “pequeno valor” os seguintes montantes:
Os entes federados podem editar leis reduzindo a quantia considerada como de pequeno valor, para fins
Vale ressaltar, no entanto, que a lei que reduz o teto do art. 87 do ADCT não pode retroagir para incidir
sobre as execuções em curso. Lei disciplinadora da submissão de crédito ao sistema de execução via
precatório possui natureza material e processual, sendo inaplicável a situação jurídica constituída em data que a
anteceda. STF. Plenário. RE 729107, Rel. Marco Aurélio, julgado em 08/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 792)
O art. 2º da Lei nº 13.463/2017 previu que “ficam cancelados os precatórios e as RPV federais expedidos e cujos
valores não tenham sido levantados pelo credor e estejam depositados há mais de dois anos em instituição
financeira oficial.” O credor poderá requerer a expedição de novo precatório ou nova RPV, na forma do art. 3º da
Lei: “cancelado o precatório ou a RPV, poderá ser expedido novo ofício requisitório, a requerimento do credor.” A
Lei nº 13.463/2017 não prevê um prazo para que o interessado formule esse pedido. Isso significa que essa
pretensão é imprescritível?
É imprescritível a pretensão de expedição de novo precatório ou nova Requisição de Pequeno Valor - RPV, após o
cancelamento de que trata o art. 2º da Lei n. 13.463/2017. A Lei nº 13.463/2017 não previu um prazo
prescricional. De acordo com o sistema jurídico brasileiro, nenhum direito perece sem que haja previsão
expressa do fenômeno apto a produzir esse resultado. Portanto, não é lícito estabelecer-se, sem lei escrita, ou
seja, arbitrariamente, uma causa inopinada de prescrição. STJ. 1ª Turma. REsp 1.856.498-PE, Rel. Min. Napoleão
• 2ª corrente: NÃO.
A pretensão de expedição de novo precatório ou nova RPV, após o cancelamento de que trata o art. 2º da Lei nº
13.463/2017 prescreve em 5 anos, nos termos do art. 1º do Decreto 20.910/32. STJ. 2ª Turma. REsp 1.859.409-RN,
EXPROPRIAÇÃO
Compete ao juízo da execução realizar a alienação judicial eletrônica, ainda que o bem esteja situado em
comarca diversa. Caso concreto: a empresa Italpa Ltda. estava sendo executada em processo que tramita na
comarca de Belo Horizonte (MG). O juízo determinou a penhora de um imóvel da empresa situado em São
Carlos (SP). O CPC/2015 determina que, se não for realizada a adjudicação ou a alienação por iniciativa
particular, deverá ser feita a alienação por meio de leilão judicial (art. 881). O leilão judicial deverá ser feito por
meio eletrônico, salvo se isso não for possível (art. 882). Essa alienação judicial eletrônica será feita pelo juízo de
Belo Horizonte (onde tramita a execução) ou por meio de carta precatória pelo juízo de São Carlos (onde está
acesso simples à internet, sem necessidade de sua presença física no local do leilão, não há motivos para que a
realização do ato de alienação judicial eletrônica seja praticado em comarca diversa do juízo da execução. STJ. 1ª
Seção. CC 147.746-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/05/2020 (Info 673)
EXECUÇÃO FISCAL
afastando, portanto, a presunção de certeza e de exigibilidade de que goza a Certidão de Dívida Ativa, cabendo
STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 1718316/RS, Rel. Ministro Og Fernandes, julgado em 16/11/2020.
STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 1.628.478/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes, julgado em 8/6/2020.
profissionais e estão sujeitas a lançamento de ofício, que apenas se aperfeiçoa com a notificação do contribuinte
para efetuar o pagamento do tributo e o esgotamento das instâncias administrativas, em caso de recurso.
i) o prazo de redirecionamento da Execução Fiscal, fixado em 5 anos, contado da diligência de citação da pessoa
jurídica, é aplicável quando o referido ato ilícito, previsto no art. 135, III, do CTN, for precedente a esse ato
processual;
ii) a citação positiva do sujeito passivo devedor original da obrigação tributária, por si só, não provoca o
início do prazo prescricional quando o ato de dissolução irregular for a ela subsequente, uma vez que, em
tal circunstância, inexistirá, na aludida data (da citação), pretensão contra os sócios-gerentes (conforme decidido
no REsp 1.101.728/SP, no rito do art. 543-C do CPC/1973, o mero inadimplemento da exação não configura ilícito
atribuível aos sujeitos de direito descritos no art. 135 do CTN). O termo inicial do prazo prescricional para a
cobrança do crédito dos sócios-gerentes infratores, nesse contexto, é a data da prática de ato inequívoco
promovida contra a empresa contribuinte, a ser demonstrado pelo Fisco, nos termos do art. 593 do CPC/1973
(art. 792 do novo CPC - fraude à execução), combinado com o art. 185 do CTN (presunção de fraude contra a
Fazenda Pública); e,
iii) em qualquer hipótese, a decretação da prescrição para o redirecionamento impõe seja demonstrada a inércia
da Fazenda Pública, no lustro que se seguiu à citação da empresa originalmente devedora (REsp 1.222.444/RS)
ou ao ato inequívoco mencionado no item anterior (respectivamente, nos casos de dissolução irregular
precedente ou superveniente à citação da empresa), cabendo às instâncias ordinárias o exame dos fatos e
provas atinentes à demonstração da prática de atos concretos na direção da cobrança do crédito tributário no
decurso do prazo prescricional. STJ. 1ª Seção. REsp 1.201.993-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
A questão decidida na ação cautelar de caução prévia tem natureza jurídica de incidente processual inerente
à execução fiscal, não guardando autonomia a ensejar condenação em honorários advocatícios em desfavor de
qualquer das partes. STJ. 1ª Turma. AREsp 1.521.312-MS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 09/06/2020 (Info
675).
executada pela suposta prática de crime falimentar mesmo que não tenha havido ainda o trânsito em
julgado da sentença penal condenatória. Se há indícios e/ou provas de prática de ato de infração à lei (penal),
a hipótese se subsume ao art. 135 do CTN. Importante acrescentar que mesmo a eventual absolvição em ação
penal não conduz necessariamente à revogação do redirecionamento, pois o ato pode não constituir ilícito
penal, e, mesmo assim, continuar a representar infração à lei civil, comercial, administrativa, etc. (independência
das esferas civil, lato sensu, e penal). É por essa razão que caberá ao juiz natural, competente para processar
e julgar a execução fiscal, analisar, caso a caso, o conteúdo da denúncia pela prática de crime falimentar
e decidir se cabe ou não o redirecionamento. Não é necessário, portanto, aguardar o trânsito em julgado da
sentença penal condenatória para que o Juízo da Execução Fiscal analise o pleito de redirecionamento da
execução contra o sócio. STJ. 2ª Turma. REsp 1.792.310-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 04/02/2020
(Info 678).
A execução fiscal pode ser redirecionada em desfavor da empresa sucessora para cobrança de crédito
tributário relativo a fato gerador ocorrido posteriormente à incorporação empresarial e ainda lançado
em nome da sucedida, sem a necessidade de modificação da Certidão de Dívida Ativa, quando verificado
que esse negócio jurídico não foi informado oportunamente ao fisco. STJ. 1ª Seção. REsp 1.848.993-SP, Rel. Min.
Gurgel de Faria, julgado em 26/08/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1049) (Info 678).
Em se tratando de aclaratórios opostos a acórdão que julga agravo de instrumento, a aplicação da técnica
de julgamento ampliado somente ocorrerá se os embargos de declaração forem acolhidos para modificar
o julgamento originário do magistrado de primeiro grau que houver proferido decisão parcial de mérito.
Quando se tratar de embargos de declaração contra acórdão que decidiu agravo de instrumento, só será caso
de ampliação do colegiado se, ao julgar os embargos declaratórios, o colegiado - por maioria - deliberar por
reformar decisão de mérito (o que significa dizer que se terá, por deliberação não unânime, atribuído efeitos
infringentes aos embargos de declaração, reformando-se a decisão embargada e, por conseguinte, reformando
a decisão parcial de mérito prolatada pelo órgão de primeira instância) (CÂMARA, Alexandre Freitas. A ampliação
do colegiado em julgamentos não unânimes. Revista de Processo, ano 43, vol. 282, ago/2018, p. 264). STJ. 3ª
Turma. REsp 1.841.584-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/12/2019 (Info 662).
apelação quando o voto vencido nascido apenas nos embargos for suficiente para alterar o resultado
inicial do julgamento, independentemente do desfecho não unânime dos declaratórios (se rejeitados ou se
acolhidos, com ou sem efeito modificativo). STJ. 3ª Turma. REsp 1.786.158-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd.
IRDR
submetida ao julgamento sob o rito dos recursos repetitivos, previsto no art. 1.037, §§9º a 13, do CPC, aplica-se
também ao IRDR.
Exemplo: o TJ/SP está recebendo milhares de apelações discutindo se os bancos podem ou não cobrar a tarifa
bancária “X”. É instaurado um IRDR no TJ/SP para decidir o tema. O Desembargador Relator determina a
suspensão de todos processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam no Estado de São Paulo
envolvendo a cobrança da tarifa bancária “X”. Antes da instauração do IRDR, Pedro havia ajuizado, na comarca
de Santos (SP), ação contra o Banco Itaú questionando a cobrança da tarifa “X”.O processo estava tramitando
normalmente, mas o Juiz foi informado de que o TJ/SP determinou o sobrestamento de todos os processos que
tratem sobre o tema. Diante disso, o magistrado proferiu decisão determinando a suspensão do processo
envolvendo Pedro e o Banco Itaú. Pedro, contudo, não concorda com essa suspensão. Isso porque a matéria
discutida na ação por ele proposta envolve a constitucionalidade da tarifa “X” (e não a sua legalidade). Logo,
seria, em seu ponto de vista, um caso diferente daquele que será julgado pelo TJ/SP no IRDR. Pedro poderá
interpor, imediatamente, um agravo de instrumento contra esta decisão do Juiz? Não. Antes de interpor o agravo
de instrumento, Pedro deverá adotar o procedimento de distinção previsto no art. 1.037, §§ 9º a 13, do CPC. Mas
esse procedimento foi previsto para os recursos repetitivos. Mesmo assim, ele se aplica também para o IRDR?
Sim. Tanto os recursos especiais e extraordinários repetitivos como o IRDR compõem um microssistema
integração entre os dois mecanismos que pertencem ao mesmo sistema de formação de precedentes
vinculantes. Não há diferença ontológica nem tampouco justificativa teórica para um tratamento assimétrico
(diferente). STJ. 3ª Turma. REsp 1.846.109-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/12/2019 (Info 662)
RECLAMAÇÃO
STF determinou a devolução do recurso extraordinário para o tribunal de origem a fim de que ficasse
aguardando o julgamento do tema afetado como recurso extraordinário repetitivo. Após o julgamento pelo STF,
o Presidente do Tribunal de origem julgou prejudicado o referido recurso extraordinário. Contra esta decisão do
Presidente do Tribunal de origem, a parte prejudicada interpôs recurso inadequado, que não foi admitido.
decisão do Presidente do Tribunal de origem descumpriu a decisão do STF que determinou o retorno dos autos
ao Tribunal para aguardar o julgamento do tema afetado. Deve ser negado seguimento a esta reclamação. Isso
Súmula 734-STF: Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato judicial que se alega tenha
Além disso, o ato do STF que determina a devolução do recurso extraordinário para que aguarde o julgamento
do tema afetado não tem cunho decisório. STF. 1ª Turma. Rcl 24810 AgR/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
AÇÃO RESCISÓRIA
A jurisprudência do STJ tem entendido ser desnecessária a inclusão dos causídicos no polo passivo de
demandas rescisórias, quando os próprios honorários de sucumbência não são o objeto do pedido
rescindendo, pois os advogados não teriam vínculo jurídico com o objeto litigioso, mas apenas interesse
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1645421/SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 22/10/2019.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1845303/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 29/06/2020.
O advogado em favor de quem foram arbitrados honorários sucumbenciais na ação rescindenda é parte
STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 1759374/RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 29/10/2019
O advogado não é parte legítima para figurar no polo passivo de ação rescisória ajuizada sob
fundamentos que só alcançam a relação jurídica formada entre as partes da demanda originária.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1717140/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/03/2019.
Na ação rescisória fundada em literal violação de lei, não cabe o reexame de toda a decisão rescindenda,
para verificar se nela haveria outras violações à lei não alegadas pelo demandante, mesmo que se trate
de questão de ordem pública. Quando o autor da rescisória propõe a ação com fundamento na hipótese de
violação literal à disposição de lei - art. 485, V, CPC/1973 (art. 966, V, CPC/2015) – ele tem o ônus de indicar o(s)
dispositivo(s) que foi(foram) violado(s). O Tribunal que julgará a rescisória só irá examinar se houve violação
aos dispositivos indicados, não podendo reexaminar toda a decisão rescindenda, para verificar se nela
haveria outras violações a literal disposição de lei não alegadas pelo demandante, nem mesmo ao
argumento de se tratar de matéria da ordem pública.” (YARSHELL, Flávio. Ação rescisória: juízos rescindente
e rescisório. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 151). Desse modo, na ação rescisória fundada no art. 485, V,
apontados pelo autor como literalmente violados, não podendo haver exame de matéria estranha à apontada
na inicial, mesmo que o tema possua a natureza de questão de ordem pública, sob pena de transformar a ação
rescisória em um recurso, natureza jurídica que ela não possui. STJ. 3ª Turma. REsp 1.663.326-RN, Rel. Min.
Em regra, a desistência do recurso ou a renúncia ao prazo recursal constituem ato unilateral de vontade do
recorrente que independe da aquiescência da parte contrária e produz efeitos imediatos, ensejando o trânsito
em julgado. Desse modo, a desistência do recurso ou a renúncia ao prazo recursal determinam, em regra,
o trânsito em julgado da decisão impugnada, se não houver recurso pendente de julgamento da outra
parte. Contudo, se ainda não houve homologação judicial, o princípio do contraditório impede que o
trânsito em julgado seja reconhecido antes da ciência da parte contrária. Não se pode permitir a
abertura do prazo decadencial de 2 anos da ação rescisória antes que ocorra a indispensável intimação
da parte interessada no fato processual que lhe dá origem. Nesse contexto, deve ser contado o prazo
decadencial da data da intimação da parte contrária, após o pedido de renúncia. STJ. 1ª Turma. REsp
A ação rescisória não é sucedânea (“substituta”) de embargos de declaração. Assim, não deve ser julgada
procedente ação rescisória na qual a parte alega que a decisão transitada em julgado incidiu em suposto “erro
de fato” e que não apreciou petição de renúncia constante dos autos. Se a decisão incidiu em “erro de fato”
porque não apreciou a renúncia, significa que houve omissão e isso deveria ter sido questionado pela
parte por meio de embargos de declaração. Se foi verificada a ocorrência de omissão, não é possível que a
parte deixe de embargar para, após o trânsito em julgado, pleitear a desconstituição do julgado por meio de
ação rescisória. Admitir o contrário poderia constituir precedente no sentido de que toda omissão poderia ser
caracterizada como erro de fato. Vale ressaltar, ainda, que não havia nos autos procuração com poderes
específicos para a desistência do recurso ou a renúncia ao direito em que se funda a ação. STF. Plenário. AR
2107/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 16/9/2020 (Info 991)
RECURSOS
ASPECTOS GERAIS
Não é necessária a comunicação formal de todos os possíveis afetados pela tese fixada em sede de
nulidade do julgado, uma vez que tal situação criaria um processo multitudinário e potencialmente insolúvel.
Tampouco foi esta a intenção do legislador, que não condicionou a legitimidade do julgamento repetitivo à
prévia intimação de todos aqueles que possam, eventualmente, suportar as consequências práticas da tese
fixada.
STJ. AR 5.692/SC, Rel. Ministro, Rel. Min. Napolão Nunes Maia Filho, julgado em 23/09/2020
Não há nulidade na técnica de ampliação de colegiado quando o início do julgamento previsto no art. 942
ocorra na mesma sessão em que se formou a divergência, colhendo-se apenas o voto do 4º julgador, e
que, ato contínuo, seja suspenso o julgamento ao aguardo da convocação do 5º julgador (que se
STJ. 3ª Turma. REsp 1888386/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2020
Não há repercussão geral na controvérsia em que se questiona a validade de regulamento editado por
órgão do Judiciário estadual que, com base na lei de organização judiciária local, preceitua a convolação
STF. Plenário. RE 1040229/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/12/2020 (Info
Não comprovação da divergência constitui vício substancial que não permite a complementação da
resultante da não observância do rigor técnico exigido na interposição do recurso, apresentando-se, pois,
descabida a incidência do parágrafo único do art. 932 do CPC/2015 para complementação da fundamentação,
possível apenas em relação a vício estritamente formal, nos termos do Enunciado Administrativo 6/STJ.
STJ. Corte Especial. AgInt nos EAREsp 1414158/PR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado 01/12/2020.
Nos recursos tempestivos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de
18 de março de 2016), somente será concedido o prazo previsto no art. 932, parágrafo único, c/c o art. 1.029, §
3º, do novo CPC para que a parte sane vício estritamente formal.
A parte, ao apresentar recurso especial ou recurso extraordinário, tem o ônus de explicar e comprovar que, na
SIM. O art. 1.003, § 6º, do CPC/2015 trouxe expressamente um dispositivo dizendo que a comprovação do
feriado local deverá ser feita, obrigatoriamente, no ato de interposição do recurso: “O recorrente
Imagine que em um recurso especial interposto, a parte mencionou que havia um feriado local, mas não juntou
qualquer documento comprovando esse fato. Ao adotar essa prática, a parte comprovou validamente a existência do
feriado local? A mera referência (menção) às normas estaduais é suficiente para comprovar a ocorrência de feriado
local?
NÃO. A comprovação da existência de feriado local que dilate o prazo para interposição de recursos
dirigidos ao STJ deverá ser realizada por meio de documentação idônea, não sendo suficiente a simples
menção ou referência nas razões recursais. A ocorrência de feriado local, recesso, paralisação ou interrupção
do expediente forense deve ser demonstrada, no ato da interposição do recurso que pretende seja conhecido
por este Tribunal, por documento oficial ou certidão expedida pelo Tribunal de origem, não bastando a mera
menção ao feriado local nas razões recursais, tampouco a apresentação de documento não dotado de fé
pública. STJ. 3ª Turma. REsp 1.763.167-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em
A tempestividade recursal pode ser aferida, excepcionalmente, por meio de informação constante em
disponibilizada pelo Tribunal de origem induz a parte em erro. Caso concreto: o TJ/MS negou provimento a
uma apelação que havia sido interposta pela parte; na movimentação processual existente no site do TJ/MS,
constou a informação de que o vencimento do prazo recursal para a interposição de recurso ao STJ contra o
acórdão do TJ se daria no dia 10/12; assim, no dia 10/12, a parte apresentou recurso especial contra o acórdão
do TJ; ocorre que essa informação estava errada; o termo final do prazo era dia 09/12; isso significa que parte
interpôs o recurso especial intempestivamente; vale ressaltar, contudo, que a parte foi induzida em erro pela
informação constante no sítio oficial do TJ; o STJ, excepcionalmente, considerou tempestivo o recurso. STJ. Corte
Especial. EAREsp 688.615-MS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 04/03/2020 (Info 666)
A parte, ao apresentar recurso especial ou recurso extraordinário, tem o ônus de explicar e comprovar que, na
SIM. O art. 1.003, § 6º, do CPC/2015 trouxe expressamente um dispositivo dizendo que a comprovação do
feriado local deverá ser feita, obrigatoriamente, no ato de interposição do recurso: “O recorrente
Assim, a comprovação da ocorrência de feriado local deve ser feita no ato da interposição do recurso, sendo
intempestivo quando interposto fora do prazo previsto na lei processual civil. Esse entendimento acima
Em regra: não. Depois da entrada em vigor do CPC/2015, a comprovação da ocorrência de feriado local deve ser
feita no ato da interposição do recurso, sendo intempestivo quando interposto fora do prazo previsto na lei
modulação de efeitos.
Exceção: no caso do feriado de segunda-feira de carnaval, há uma modulação dos efeitos. Segunda-feira
de carnaval não é um feriado nacional. No entanto, em diversos Estados, trata-se de feriado local.
• Se o recurso especial foi interposto antes de 18/11/2019 (data de publicação do REsp 1.813.684-SP) e a parte
não comprovou que segunda-feira de carnaval era feriado no Tribunal de origem: é possível a abertura de vista
para que a parte comprove isso mesmo após a interposição do recurso, sanando o vício.
• Se o recurso especial foi interposto depois de 18/11/2019 (data de publicação do REsp 1.813.684-SP) e a parte
não comprovou que segunda-feira de carnaval era feriado no Tribunal de origem: não é possível a abertura de
vista para que a parte comprove esse feriado, ou seja, o vício não pode mais ser sanado. STJ. Corte Especial. QO
no REsp 1813684/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/02/2020 (Info 666).
A multa do art. 1.021, § 4º, do CPC/2015 tem como destinatário a parte contrária e não o Fundo de
Art. 1.021 (...) § 4º Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente em
votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará o agravante a pagar ao agravado
multa fixada entre um e cinco por cento do valor atualizado da causa. STJ. 2ª Turma. REsp 1.846.734-RS, Rel. Min.
Os direitos subjetivos decorrem da concretização dos requisitos legais previstos pelo direito objetivo vigente.
Eventual direito aos honorários advocatícios recursais será devido quando os requisitos previstos no art.
85, § 11, do CPC/2015 se materializam após o início de vigência deste novo Código. Por isso, o STJ editou o
Enunciado Administrativo n. 7, que diz: “somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a partir de
18 de março de 2016, será possível o arbitramento de honorários sucumbenciais recursais, na forma do art. 85,
§ 11, do novo CPC”. No caso concreto, a sentença foi proferida durante a vigência do CPC/1973; porém, o
acórdão a quo (acórdão do TJ) que julgou apelação contra a sentença já foi publicado durante a vigência do
CPC/2015. A parte interpôs recurso especial contra esse acórdão e o STJ, ao negar provimento ao recurso, o
momento da publicação do acórdão recorrido (acórdão do TJ), os requisitos do art. 85, § 11, do CPC/2015
estavam em vigor. STJ. 1ª Seção. EAREsp 1.402.331-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
A existência de feriado, de recesso forense ou ponto facultativo local que ocasione a suspensão do prazo
processual necessita de comprovação por documento idôneo, ou seja, cópia da lei, ato normativo ou certidão
exarada por servidor habilitado. A simples juntada de ato emanado pelo Poder Executivo Estadual, lei e
momento da interposição recursal, fazer a juntada de documento idôneo, o qual, no caso, consistia no inteiro
teor do Aviso do tribunal estadual, a fim de vincular a decretação do feriado nas repartições públicas estaduais
com a suspensão dos prazos pela Corte de Justiça. STJ. 3ª Turma. EDcl no AgInt no AREsp 1.510.568-RJ, Rel. Min.
Ao julgar o recurso, o Tribunal de Justiça prolatou um acórdão genérico no qual apenas elencou os
entendimentos pacificados na jurisprudência daquela Corte, sem resolver, efetivamente, as questões devolvidas
no caso concreto sob julgamento. Após expor sobre os entendimentos, o Tribunal delegou para que o juiz
aplicasse aquele se enquadraria no caso concreto, sob a justificativa da existência de multiplicidade de recursos
versando sobre as questões. A necessidade de que as decisões judiciais sejam particularizadas, no exercício
difuso da jurisdição, é regra basilar do processo civil, encontrando-se enunciada no art. 489, III, e § 1º, III e V, do
CPC/2015. Assim, o referido acórdão foi anulado por inobservância do art. 489, § 1º, inciso V, do CPC/2015. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.880.319-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 17/11/2020 (Info 683).
AGRAVO DE INSTRUMENTO
decisões interlocutórias após a publicação do acórdão em que se fixou a tese referente ao tema
repetitivo 988, segundo a qual “o rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a
Caso concreto: juiz indeferiu pedido de designação da audiência de conciliação prevista no art. 334 do CPC, ao
fundamento de “dificuldade de pauta”. Essa decisão foi proferida em 07/02/2019, ou seja, após a publicação do
acórdão do STJ que definiu a tese da taxatividade mitigada (Tema 998 - REsp 1.704.520-MT - DJe 19/12/2018).
Logo, neste caso, essa decisão interlocutória somente seria impugnável por agravo de instrumento, não
STJ. 3ª Turma. RMS 63202-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em
falimentar e recuperacional.
Cabe agravo de instrumento de todas as decisões interlocutórias proferidas no processo de recuperação judicial
A Lei nº 14.112/2020 incluiu o § 1º ao art. 189 da Lei nº 11.101/2005 acolhendo o entendimento jurisprudencial e
Art. 189. Aplica-se, no que couber, aos procedimentos previstos nesta Lei, o disposto na Lei nº 13.105, de 16 de
março de 2015 (Código de Processo Civil), desde que não seja incompatível com os princípios desta Lei. § 1º Para
os fins do disposto nesta Lei: (...) II - as decisões proferidas nos processos a que se refere esta Lei serão passíveis
de agravo de instrumento, exceto nas hipóteses em que esta Lei previr de forma diversa.
Cabe agravo de instrumento contra o pronunciamento judicial que, na fase de cumprimento de sentença,
determinou a intimação do executado, na pessoa do advogado, para cumprir obrigação de fazer, sob
pena de multa. STJ. 3ª Turma. REsp 1.758.800-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020 (Info 666).
A decisão que aplica a multa do art. 334, §8º, do CPC, à parte que deixa de comparecer à audiência de
conciliação, sem apresentar justificativa adequada, não pode ser impugnada por agravo de instrumento, não
se inserindo na hipótese prevista no art. 1.015, II, do CPC. Tal decisão poderá, no futuro, ser objeto de recurso de
apelação, na forma do art. 1.009, §1º, do CPC. STJ. 3ª Turma. REsp 1.762.957-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
Admite-se a conversão do embargos de declaração em agravo interno quando houver nítido pleito de
STJ. Corte Especial. EDcl no RE nos EDcl no AgInt no AREsp 926.632-PB, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis
STF. 1ª Turma. Rcl-ED-ED 39.695-MA, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/08/2020.
São cabíveis embargos de declaração, com efeitos infringentes, para que a decisão embargada seja
reajustada de acordo com a jurisprudência firmada em teses que o Supremo Tribunal Federal e o
Superior Tribunal de Justiça adotarem. STF. 1ª Turma. Rcl 15724 AgR-ED/PR, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/
Configura erro grosseiro que impede a aplicação do princípio da fungibilidade a interposição de agravo
em recurso extraordinário quando cabível agravo interno contra a decisão que nega seguimento ao
Nos termos do art. 1.030, § 2º, do Código de Processo Civil, contra a decisão que nega seguimento ao recurso
extraordinário, observando a sistemática da repercussão geral, cabe agravo interno e não agravo em recurso
Assim, pacificou-se nos Tribunais Superiores o entendimento de que a interposição do recurso incorreto contra
a decisão que nega seguimento ao recurso extraordinário configura erro grosseiro, impedindo a aplicação do
princípio da fungibilidade.
STJ. Corte Especial. ARE-RE-EDcl-AgInt-AREsp 939.065/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, DJE 18/12/2020.
A discussão envolvendo a possibilidade ou não de retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito
relativo a diferenças do FUNDEF possui natureza infraconstitucional, de forma que não cabe recurso
extraordinário para apreciá-la considerando que não há matéria constitucional a ser analisada. STF. 1ª Turma.
ARE 1066359 AgR/AL, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/11/2019 (Info 961). STF. 1ª Turma. ARE 1107296
chegar-se à conclusão contrária à adotada pelo tribunal de origem. No caso concreto, o juiz e o Tribunal de
recolhido a mais. A empresa interpôs recurso extraordinário alegando violação ao art. 150, § 7º da CF/88 (que
trata sobre substituição tributária): § 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição
de responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente,
assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido.
Ocorre que a decisão do Tribunal de origem (TJ) foi baseada em lei estadual que exige que o contribuinte
substituído apresente requerimento administrativo ao Fisco e cumpra determinado procedimento para obter o
aproveitamento do ICMS recolhido a mais, em razão da venda de mercadoria por preço inferior ao presumido,
ou seja, no regime de substituição tributária para frente. Desse modo, o STF entendeu que não cabia recurso
extraordinário porque a decisão do Tribunal de origem foi baseada na inobservância da norma infralegal. Logo,
incide a Súmula 280 do STF: Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário. STF. 2ª Turma. ARE
1184956 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 22/9/2020 (Info 992).
Lei 6.110/1994 do Estado do Maranhão. STF. Plenário. RE 523086/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
REPERCUSSÃO GERAL
correção monetária dos depósitos judiciais (Tema 1.016). Reconhecida a repercussão geral, o STF determinou
a suspensão nacional de todos os processos que envolvam discussão sobre expurgos inflacionários dos planos
econômicos nos depósitos judiciais. Tal decisão foi proferida com base no art. 1.035, § 5º do CPC/2015. STF.
Plenário. RE 1141156 AgR/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 19/12/2019 (Info 964)
RECURSO ESPECIAL
A menção a convenções abstratas que não possuem validade e eficácia no Direito Interno não é
internacional, que nem sequer se enquadra no conceito de “lei federal” para fins de interposição de recurso
especial.
Caso concreto: a argumentação deduzida no recurso especial foi unicamente baseada em dispositivos da
Convenção Modelo da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que não tem força
normativa em nosso país, sendo uma espécie de recomendação, um instrumento de soft law.
STJ. 2ª Turma. REsp 1821336-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 04/02/2020 (Info 684).
Não é necessária a comunicação formal de todos os possíveis afetados pela tese fixada em sede de
É natural que o entendimento a ser firmado pelo STJ em julgamentos repetitivos produza um impacto processual
e material sobre uma quantidade indeterminada de pessoas, cujos processos terão seus resultados vinculados,
Se fosse necessária a prévia intimação de todos os sujeitos potencialmente afetados pela decisão proferida,
Tal técnica processual destina-se, por sua própria natureza, a disciplinar situações marcadas pela multiplicidade
de sujeitos, geralmente até indeterminados. É evidente, deste modo, a impossibilidade prática de intimar
formalmente todos eles, uma vez que tal situação criaria um processo multitudinário e potencialmente insolúvel.
STJ. 1ª Seção. AR 5.692/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 23/09/2020.
julgamento do respectivo recurso, desde que, interposto recurso especial, sejam reiterados nas contrarrazões
da parte vencedora. STJ. Corte Especial. EAREsp 227.767-RS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 17/06/2020
(Info 674).
A reclamação constitucional não trata de instrumento adequado para o controle da aplicação dos
reclamação foram elencadas nos incisos do caput do art. 988. O § 5º do art. 988 trata sobre situações nas quais
não se admite reclamação. O § 5º do art. 988 foi introduzido no CPC pela Lei nº 13.256/2016 com o objetivo
justamente de proibir reclamações dirigidas ao STJ e STF para o controle da aplicação dos acórdãos sobre
questões repetitivas. Essa parte final do § 5º é fruto de má técnica legislativa. Se for admitida reclamação nessa
hipótese isso irá em sentido contrário à finalidade do regime dos recursos especiais repetitivos, que surgiu como
mecanismo de racionalização da prestação jurisdicional do STJ, diante dos litígios de massa. O meio adequado e
eficaz para forçar a observância da norma jurídica oriunda de um precedente, ou para corrigir a sua
aplicação concreta, é o recurso, instrumento que, por excelência, destina-se ao controle e revisão das
decisões judiciais. STJ. Corte Especial. Rcl 36.476-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/02/2020 (Info 669)
JUIZADOS ESPECIAIS
Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal
até o valor de 60 salários mínimos (art. 3º da Lei nº 10.259/2001). Suponhamos que o indivíduo quer pleitear da
União uma vantagem econômica equivalente a 65 salários mínimos. Ele poderá ajuizar essa ação no Juizado
Especial (em regra, é mais célere), desde que aceite renunciar, já na petição inicial, os 5 salários mínimos que
excedem o teto do JEF. Ao autor que deseje litigar no âmbito de Juizado Especial Federal Cível, é lícito renunciar,
de modo expresso e para fins de atribuição de valor à causa, ao montante que exceda os 60 (sessenta) salários
mínimos previstos no art. 3º, caput, da Lei nº 10.259/2001, aí incluídas, sendo o caso, as prestações vincendas.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.807.665-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 28/10/2020 (Recurso Repetitivo – Tema
• Na hipótese de o pedido englobar prestações vencidas e vincendas, o teto do JEF é calculado pela soma das
prestações vencidas mais doze parcelas vincendas. Essa soma não pode ser superior a 60 salários mínimos (STJ.
3ª Seção. CC 91.470/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 13/8/2008).
nº 10.259/2001, observando-se, para isso, o valor da causa (STJ. 2ª Turma. REsp 1.707.486/PB, Rel. Min. Og
TEMAS DIVERSOS
ERRO MATERIAL
acórdão.
É possível a correção do resultado proclamado para adequá-lo às razões de decidir e ao dispositivo do acórdão,
STJ. 3ª Turma. REsp 1685092/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020.
MANDADO DE SEGURANÇA
STJ. 1ª Seção. AgInt na PET no MS 23.310/DF, Rel. Min. Aussete Magalhães, julgado em 28/04/2020.
STF. 2ª Turma. RExt-AgR-ED 1.046.278/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJE 06/11/2020.
O incidente da suspensão de liminar e de sentença, por não ser sucedâneo recursal, é inadequado para a
STJ. Corte Especial. AgInt na SLS 2.564/SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 27/10/2020.
Tal instituto não tem natureza jurídica de recurso, razão pela qual não propicia a devolução do conhecimento da
Sua análise deve restringir-se à verificação de possível lesão à ordem, à saúde, à segurança ou à economia
causa principal.
Em regra, o STJ afirma que não cabe recurso especial contra decisões proferidas no âmbito do pedido de
suspensão. O recurso especial se destina a combater argumentos que digam respeito a exame de legalidade, ao
passo que o pedido de suspensão ostentaria juízo político. Caso excepcional no qual o STJ admitiu o recurso
especial: juiz concedeu liminar determinando que o Estado de SP fornecesse banho quente aos presos;
Presidente do TJ/SP suspendeu a liminar; contra esta decisão foi interposto agravo; a Corte Especial do TJ
em jogo aspectos elementares da dignidade da pessoa humana. STJ. 2ª Turma. REsp 1.537.530-SP, Rel. Min.
O instituto da suspensão de segurança, por não ser sucedâneo recursal, é inadequado para a apreciação
do mérito da controvérsia.
causa originária não é atribuição jurisdicional da presidência da corte competente, salvo se relacionado com os
requisitos da própria via suspensiva – direcionada à tutela dos preceitos previstos na legislação de regência.
Porém, permite-se um mínimo de juízo de delibação sobre a questão de fundo quando se confunde com o
STJ. Corte Especial. AgInt na SS 3.082/CE. Rel. Ministro João Otávio de Noronha, julgado em 10/03/2020.
SUSTENTAÇÃO ORAL
O Min. Alexandre de Moraes era relator de uma ação direta de inconstitucionalidade. Ele incluiu esse processo
para ser julgado pelo Plenário Virtual. O relator apresentou seu voto e os Ministros começaram a votar. Ocorre
que o Min. Marco Aurélio formulou pedido de destaque, requerendo que a referida ADI fosse julgada
presencialmente pelo Plenário físico. Diante disso, o Min. Alexandre de Moraes retirou o processo da pauta de
julgamentos eletrônicos e o encaminhou ao Plenário físico para julgamento presencial, tendo havido nova
publicação de pauta. O advogado da parte, quando viu a publicação da pauta, pediu para fazer sustentação oral
no Plenário físico. O Min. Alexandre de Moraes negou o pedido sob o argumento de que já havia apresentado
seu voto no Plenário Virtual e a sustentação oral ocorre sempre antes de o relator votar. Depois que o relator
vota, não cabe mais sustentação oral. A maioria dos Ministros, contudo, concordou com o pedido de
sustentação oral da parte. Quando há o deslocamento do Plenário Virtual para o Plenário físico, o
julgamento se reinicia, havendo, portanto, direito de ser formulado pedido de sustentação oral. Além
disso, os advogados somente têm acesso ao que foi deliberado na sessão virtual depois de prolatados
todos os votos. Logo, o advogado da parte não teve acesso ao voto do relator que foi liberado no Plenário
Virtual. STF. Plenário. ADI 4735/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/2/2020 (Info 965).
indisponível, quando transcender a esfera de interesses puramente particulares, envolvendo bens, institutos ou
A grave lesão de interesses individuais homogêneos acarreta o comprometimento de bens, institutos ou valores
jurídicos superiores, cuja preservação é cara a uma comunidade maior de pessoas, razão pela qual é capaz de
STJ. 3ª Turma. REsp 1586515/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/05/2018.
O dano moral coletivo é aferível in re ipsa, ou seja, sua configuração decorre da mera constatação da prática de
conduta ilícita que, de maneira injusta e intolerável, viole direitos de conteúdo extrapatrimonial da coletividade,
Independentemente do número de pessoas concretamente atingidas pela lesão em certo período, o dano moral
coletivo deve ser ignóbil e significativo, afetando de forma inescusável e intolerável os valores e interesses
coletivos fundamentais.
O dano moral coletivo é essencialmente transindividual, de natureza coletiva típica, tendo como destinação os
interesses difusos e coletivos, não se compatibilizando com a tutela de direitos individuais homogêneos.
A condenação em danos morais coletivos tem natureza eminentemente sancionatória, com parcela pecuniária
arbitrada em prol de um fundo criado pelo art. 13 da LACP - fluid recovery - , ao passo que os danos morais
individuais homogêneos, em que os valores destinam-se às vítimas, buscam uma condenação genérica,
STJ. 4ª Turma. REsp 1610821/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/12/2020.
FUNDAMENTOS DA DECISÃO
Não há nulidade quando o juiz ou Tribunal utilizar argumentos jurídicos diferentes daqueles invocados
pelas partes.
Não há que falar em julgamento extra petita quando o órgão julgador não afronta os limites objetivos da
pretensão inicial, tampouco concede providência jurisdicional diversa da requerida, respeitando o princípio da
congruência.
Não se configura julgamento extra petita quando o julgador, adstrito às circunstâncias fáticas e ao pedido
constante nos autos, procede à subsunção normativa com amparo em fundamentos jurídicos diversos dos
Aplicação dos princípios da mihi factum dabo tibi ius (dá-me os fatos que te darei o direito) e iura novit curia (o
SUSPEIÇÃO
sido adiado não gera suspeição do relator. Essa falha não se enquadra em nenhuma das hipóteses taxativas
de suspeição previstas no art. 135 do CPC. As hipóteses taxativas de cabimento da exceção devem ser
magistrado no desempenho de suas funções. STJ. 2ª Seção. AgInt na ExSusp 198-PE, Rel. Min. Marco Aurélio
O juiz, apesar de não participar como parte ou terceiro prejudicado da relação jurídica de direito material
é sujeito do processo e figura como parte no incidente de suspeição, por defender de forma parcial
direitos e interesses próprios, possuindo, portanto, interesse jurídico e legitimação recursal para
impugnar, via recurso, a decisão que julga procedente a exceção de suspeição, ainda que não lhe seja
atribuído o pagamento de custas e honorários advocatícios. STJ. 4ª Turma. REsp 1.237.996-SP, Rel. Min.
Marco Buzzi, julgado em 20/10/2020 (Info 683). O CPC/2015 traz a seguinte regra sobre o tema: Art. 146 (...) § 5º
Acolhida a alegação, tratando-se de impedimento ou de manifesta suspeição, o tribunal condenará o juiz nas
custas e remeterá os autos ao seu substituto legal, podendo o juiz recorrer da decisão
A prolação da decisão de acolhimento da impugnação do valor da causa em momento posterior à decisão que
julgara o mérito da causa principal constitui mera irregularidade, não gerando prejuízo suficiente para
das custas atinge seu objetivo, sem que para tanto seja necessária a decretação da nulidade do ato. Não se
vislumbra prejuízo suficiente para a parte atingida pela irregularidade, pois o recolhimento das custas pode se
dar de forma posterior, tendo por norte o fato de que o princípio da instrumentalidade das formas anda sempre
de mãos dadas com o princípio da primazia da resolução de mérito. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1.667.308-SP,
Se houve mudança na jurisprudência, é possível aplicar esse novo entendimento mesmo que o crime tenha
Vigora no ordenamento jurídico brasileiro, o princípio da irretroatividade da norma mais gravosa. Esse princípio
não se aplica (não vale) para interpretação jurisprudencial. Esse princípio se aplica apenas para lei penal.
Assim, mesmo que a nova interpretação seja mais gravosa, deve ser aplicada para fatos anteriores.
A CF/88 diz, no art. 5º, XL, que "a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;".
A partir da leitura desse art. 5º, XL, é possível extrair dois preceitos:
Esses preceitos constitucionais são inaplicáveis para precedentes jurisprudenciais (para decisões do Poder
Judiciário).
Assim, o art. 5º, XL, da CF/88 - que trazem esses preceitos - não se aplica para mudanças de entendimento
STF. 1ª Turma. HC 161452 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 6/3/2020.
STJ. 5ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 1361814/RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
19/05/2020.
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Não pode ser aplicado para fins de incidência do princípio da insignificância nos crimes tributários
estaduais o parâmetro de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002,
devendo ser observada a lei estadual vigente em razão da autonomia do ente federativo.
STJ. 5ª Turma. AgRg-HC 549.428-PA. Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020.
É possível utilizar o parâmetro mínimo de 20 mil reais (criado para a execução fiscal) como critério para
NÃO.
Não é possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes tributários de acordo com o montante
STF. 1ª Turma. HC-AgR 144.193-SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020.
É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes tributários e de descaminho quando o débito
tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei
n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda.
STF. 2ª Turma. HC-AgR 160.239-SP, Rel. Min. Gilmar Mendes; Julg. 22/05/2020.
STF. 2ª Turma. HC-AgR 174.329-SC, Rel. Min. Ricardo Lewandowski; Julg. 05/11/2019; DJE 18/11/2019.
STJ. 3ª Seção. HC 535.063-SP. Rel. Min. Sebastião Reis Júnior; Julg. 10/06/2020; DJE 25/08/2020
É possível a aplicação do princípio da insignificância para o agente que praticou o furto de um carrinho de
mão avaliado em R$ 20,00 (3% do salário-mínimo), MESMO ELE POSSUINDO ANTECEDENTES CRIMINAIS
POR CRIMES PATRIMONIAIS. STF. 1ª Turma. RHC 174784/MS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
A despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à primeira vista, impedir o reconhecimento da
atipicidade material da conduta, a análise conjunta das circunstâncias pode demonstrar a ausência de
553.872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/02/2020 (Info 665)
É possível aplicar o princípio da insignificância para o furto de mercadorias avaliadas em R$ 29,15, mesmo
que a subtração tenha ocorrido durante o período de repouso noturno e mesmo que o agente seja
reincidente. Vale ressaltar que os produtos haviam sido furtados de um estabelecimento comercial e que logo
após o agente foi preso, ainda na porta do estabelecimento. Objetos furtados: R$ 4,15 em moedas, uma garrafa
de Coca-Cola, duas garrafas de cerveja e uma garrafa de pinga marca 51, tudo avaliado em R$ 29,15. STF. 2ª
Turma. HC 181389 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info 973).
ARREPENDIMENTO POSTERIOR
(arrependimento posterior) para o caso em que o agente fez o ressarcimento da dívida principal (efetuou
a reparação da parte principal do dano) antes do recebimento da denúncia, mas somente pagou os
valores referentes aos juros e correção monetária durante a tramitação da ação penal. Nas exatas
palavras do STF: “É suficiente que ocorra arrependimento, uma vez reparada parte principal do dano, até o
recebimento da inicial acusatória, sendo inviável potencializar a amplitude da restituição.” STF. 1ª Turma. HC
Não existe direito subjetivo do réu em optar, na substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos por qual medida prefere cumprir, cabendo ao judiciário fixar a medida mais adequada ao caso concreto.
AgRg no HC 582.302/SC, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 03/11/2020, DJe
16/11/2020.
Não existe direito subjetivo do réu em optar, na substituição da pena privativa de liberdade, se prefere duas
AgRg no HC 456.224/SC, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, DJe 01/04/2019.
AgRg no HC 587.473/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 25/08/2020, DJe 04/09/2020.
Não é possível a aplicação da detração, na pena privativa de liberdade, do valor recolhido a título de
prestação pecuniária.
Isto porque, a prestação pecuniária tem caráter penal e indenizatório, com consequências jurídicas distintas da
STJ. 5ª Turma. REsp 1853916/PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em04/08/2020.
PENA DE MULTA
O STF, ao julgar a ADI 3.150/DF, declarou que, à luz do preceito estabelecido pelo art. 5º, XLVI, da Constituição
Federal, a multa, ao lado da privação de liberdade e de outras restrições – perda de bens, prestação social
prática de crimes, não perdendo ela sua natureza de sanção penal. Diante da eficácia erga omnes e do
vinculante dessa decisão, não se pode mais declarar a extinção da punibilidade pelo cumprimento integral da
pena privativa de liberdade quando pendente o pagamento da multa criminal. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp
1.850.903-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/04/2020 (Info 671).
não obsta o reconhecimento da extinção da punibilidade. STJ. 3ª Seção. REsp 1.785.383-SP e REsp
1.785.861/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgados em 24/11/2021 (Recurso Repetitivo - Tema 931)
(Info 720).
DOSIMETRIA DA PENA
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 548.769/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro Aurélio, em 10/03/2020.
A existência de condenação anterior, ocorrida em prazo superior a cinco anos, contado da extinção da
pena, poderá ser considerada como maus antecedentes? Após o período depurador, ainda será possível
SIM.
As condenações atingidas pelo período depurador quinquenal do art. 64, inciso I, do CP, embora afastem os
efeitos da reincidência, não impedem a configuração de maus antecedentes, na primeira etapa da dosimetria da
pena.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 558.745/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 15/09/2020.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 471.346/MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 21/05/2019.
Não se aplica para o reconhecimento dos maus antecedentes o prazo quinquenal de prescrição da reincidência,
STF. Plenário. RE 593818/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/8/2020 (Repercussão Geral - Tema 150).
O que foi explicado acima é a regra geral. Vale ressaltar, contudo, que o STJ possui o entendimento no sentido
de que, quando os registros da folha de antecedentes do réu são muito antigos, admite-se o afastamento de sua
Quando os registros da folha de antecedentes do réu são muito antigos, como no presente caso, admite-se o
Não se pode tornar perpétua a valoração negativa dos antecedentes, nem perenizar o estigma de criminoso
para fins de aplicação da reprimenda, pois a transitoriedade é consectário natural da ordem das coisas. Se o
transcurso do tempo impede que condenações anteriores configurem reincidência, esse mesmo fundamento - o
lapso temporal - deve ser sopesado na análise das condenações geradoras, em tese, de maus antecedentes.
STJ. 6ª Turma. HC 452.570/PR, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 02/02/2021.
Havendo pluralidade de causas de aumento de pena e sendo apenas uma delas empregada na terceira
fase, as demais podem ser utilizadas nas demais etapas da dosimetria da pena.
Exemplo: Camila foi condenada pela prática do crime de roubo circunstanciado com o reconhecimento de três
O juiz pode empregar a majorante do inciso II (concurso de agentes) na terceira fase da dosimetria e utilizar as
STJ. 3ª Seção. HC 463434-MT, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/11/2020 (Info 684).
É possível o aumento de pena-base fundado nos abalos psicológicos causados à vítima sobrevivente.
No caso concreto, a pena-base foi exasperada em razão do abalo psicológico causado à ofendida que precisou
vender sua residência por valor muito inferior ao de mercado, pois não conseguia conviver com as lembranças
que o local lhe trazia e precisou adquirir com urgência outro imóvel para morar.
A presença de sequelas psicológicas decorrentes do crime tem sido considerado fundamento idôneo para
justificar o afastamento da pena-base do piso legal, pois demonstra que a conduta do agente extrapolou os
Para tanto, a exasperação da pena-base deve estar fundamentada em dados concretos extraídos da conduta
imputada ao acusado, os quais devem desbordar dos elementos próprios do tipo penal.
STJ. 5ª Turma. HC 624.350/SC, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/12/2020.
Demonstrada mera falta de técnica na sentença, o habeas corpus pode ser deferido para nominar de
forma correta os registros pretéritos da paciente, doravante chamados de maus antecedentes, e não de
conduta social, sem afastar, todavia, o dado desabonador que, concretamente, existe nos autos e
justifica diferenciada individualização da pena. O juiz mencionou cinco condenações definitivas do réu como
justificativa para o aumento da pena na primeira fase da dosimetria. O magistrado deveria ter denominado os
registros como “maus antecedentes”, mas, em vez disso, os enquadrou como “conduta social” negativa. O erro
do pronunciamento está relacionado somente à atecnia na nomeação da circunstância legal. Assim, em habeas
corpus, deve ser corrigida a palavra imprópria, para que o dado concreto levado em conta pelo juiz seja
chamado de maus antecedentes. STJ. 6ª Turma. HC 501.144/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
AGRAVANTES
Não se aplica a agravante prevista no art. 61, II, “h”, do Código Penal na hipótese em que o crime de furto
imóvel, não havendo que se falar, portanto, em ameaça à vítima ou em benefício do agente para a prática
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida; STJ. 5ª Turma. HC 593.219-SC, Rel.
REINCIDÊNCIA
Para fins de comprovação da reincidência, é necessária documentação hábil que traduza o cometimento de
novo crime depois de transitar em julgado a sentença condenatória por crime anterior, mas não se exige,
contudo, forma específica para a comprovação. Desse modo, é possível que a reincidência do réu seja
demonstrada com informações processuais extraídas dos sítios eletrônicos dos tribunais. STJ. 5ª Turma. AgRg no
HC 448.972/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 16/08/2018. STF. 1ª Turma. HC 162548 AgR/SP,
MEDIDA DE SEGURANÇA
Art. 97. Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como
crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.
• Se o agente praticou fato punido com RECLUSÃO, ele receberá, obrigatoriamente, a medida de internação.
• Por outro lado, se o agente praticou fato punido com DETENÇÃO, o juiz, com base na periculosidade do
O STJ, contudo, abrandou a regra legal e construiu a tese de que o art. 97 do CP não deve ser aplicado de
forma isolada, devendo analisar também qual é a medida de segurança que melhor se ajusta à natureza
do tratamento de que necessita o inimputável. Em outras palavras, o STJ afirmou o seguinte: mesmo que o
inimputável tenha praticado um fato previsto como crime punível com reclusão, ainda assim será
possível submetê-lo a tratamento ambulatorial (não precisando ser internação), desde que fique
demonstrado que essa é a medida de segurança que melhor se ajusta ao caso concreto. À luz dos
segurança a ser aplicada não deve ser considerada a natureza da pena privativa de liberdade aplicável,
mas sim a periculosidade do agente, cabendo ao julgador a faculdade de optar pelo tratamento que melhor se
adapte ao inimputável. Desse modo, mesmo em se tratando de delito punível com reclusão, é facultado ao
O art. 149 do CPP, ao exigir que o acusado seja submetido a exame médico-legal, não contempla hipótese de
prova legal ou tarifada. A despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais processuais
semiimputabilidade do réu (art. 26, caput e parágrafo único do CP) depende da prévia instauração de
incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto. Vale ressaltar, por fim,
que o magistrado poderá discordar das conclusões do laudo, desde que o faça por meio de decisão
devidamente fundamentada. STJ. 6ª Turma. REsp 1.802.845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
PRESCRIÇÃO
• SIM. É a posição atual da 1ª Turma do STF. O acórdão confirmatório da sentença implica a interrupção da
prescrição. A prescrição é, como se sabe, o perecimento da pretensão punitiva ou da pretensão executória pela
inércia do próprio Estado. No art. 117 do Código Penal que deve ser interpretado de forma sistemática todas as
causas interruptivas da prescrição demonstram, em cada inciso, que o Estado não está inerte. Não obstante a
posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre acórdão condenatório inicial e acórdão
condenatório confirmatório da decisão. Não há, sistematicamente, justificativa para tratamentos díspares. A
ideia de prescrição está vinculada à inércia estatal e o que existe na confirmação da condenação é a atuação do
Tribunal. Consequentemente, se o Estado não está inerte, há necessidade de se interromper a prescrição para o
cumprimento do devido processo legal. STF. 1ª Turma. RE 1237572 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/
Acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 26/11/2019. STF. 1ª Turma. RE 1241683 AgR/RS, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 4/2/2020 (Info 965).
• NÃO. É a posição da doutrina, do STJ e da 2ª Turma do STF. O art. 117, IV do CP estabelece que o curso da
apenas CONFIRMA a condenação ou então REDUZ a pena do condenado, ele não terá o condão de
interromper a prescrição. STF. 2ª Turma. RE 1238121 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 06/12/2019. STJ.
5ª Turma. AgRg no AREsp 1557791/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 06/02/2020. STJ. Corte Especial. AgRg no
RE nos EDcl no REsp 1301820/RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/11/2016.
condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo”. Ao
interpretar o referido dispositivo legal, o STJ pacificou o entendimento de que o cumprimento de pena imposta
em outro processo, ainda que em regime aberto ou em prisão domiciliar, impede o curso da prescrição
executória. Assim, não há que se falar em fluência do prazo prescricional, o que impede o
reconhecimento da extinção de sua punibilidade. O fato de o prazo prescricional não correr durante o
tempo em que o condenado está preso por outro motivo não depende da unificação das penas. STJ. 5ª
Turma. AgRg no RHC 123.523-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 13/04/2020 (Info 670).
Nos termos do inciso IV do art. 117 do Código Penal, o acórdão condenatório sempre interrompe a
punitiva ou da pretensão executória pela inércia do próprio Estado. No art. 117 do Código Penal, que deve ser
interpretado de forma sistemática, todas as causas interruptivas da prescrição demonstram, em cada inciso, que
o Estado não está inerte. Não obstante a posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre
acórdão condenatório inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão. Não há, sistematicamente,
justificativa para tratamentos díspares. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1.668.298-SP, Rel. Min. Felix Fischer,
julgado em 12/05/2020 (Info 672). STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
HOMICÍDIO
NÃO HÁ INCOMPATIBILIDADE entre o dolo eventual e o reconhecimento do meio cruel, na medida em que
o dolo do agente, direto ou indireto, não exclui a possibilidade de a prática delitiva envolver o emprego de meio
mais reprovável, como veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel (art. 121, § 2º, III,
do CP). Caso concreto: réu atropelou o pedestre e não parou o veículo, arrastando a vítima por 500 metros,
assumindo, portanto, o risco de produzir o resultado morte; mesmo tendo havido dolo eventual, deve-se
reconhecer também a qualificadora do meio cruel prevista no art. 121, § 2º, III, do CP. STJ. 5ª Turma. AgRg no
REsp 1573829/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/04/2019. STJ. 6ª Turma. REsp
quanto a isso. Trata-se da posição do STJ e do STF. O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado
morte(dolo eventual), não exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o
dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta. STJ. 6ª Turma. REsp
1ª corrente: SIM
O dolo eventual no crime de homicídio é compatível com as qualificadoras objetivas previstas no art. 121, § 2º, III
e IV, do Código Penal. As referidas qualificadoras serão devidas quando constatado que o autor delas se utilizou
dolosamente como meio ou como modo específico mais reprovável para agir e alcançar outro resultado, mesmo
sendo previsível e tendo admitido o resultado morte. STJ. 5ª Turma. REsp 1836556-PR, Rel. Min. Joel Ilan
2ª corrente: NÃO
O dolo eventual não se compatibiliza com a qualificadora do art. 121, § 2º, IV (traição, emboscada dissimulação).
Para que incida a qualificadora da surpresa é indispensável que fique provado que o agente teve a vontade de
surpreender a vítima, impedindo ou dificultando que ela se defendesse. Ora, no caso do dolo eventual, o agente
não tem essa intenção, considerando que não quer matar a vítima, mas apenas assume o risco de produzir esse
resultado. Como o agente não deseja a produção do resultado, ele não direcionou sua vontade para causar
surpresa à vítima. Logo, não pode responder por essa circunstância (surpresa). STF. 2ª Turma. HC 111442/RS,
A qualificadora de natureza objetiva prevista no inciso III do § 2º do art. 121 do Código Penal não se compatibiliza
com a figura do dolo eventual, pois enquanto a qualificadora sugere a ideia de premeditação, em que se exige
do agente um empenho pessoal, por meio da utilização de meio hábil, como forma de garantia do sucesso da
execução, tem-se que o agente que age movido pelo dolo eventual não atua de forma direcionada à obtenção de
ofensa ao bem jurídico tutelado, embora, com a sua conduta, assuma o risco de produzi-la. STJ. 6ª Turma. EDcl
O homicídio perpetrado conta a vítima jovem ceifa uma vida repleta de possibilidades e perspectivas, que não
guardam identidade ou semelhança com aquelas verificadas na vida adulta. Há que se sopesar, ainda, as
consequências do homicídio contra vítima de tenra idade no núcleo familiar respectivo: pais e demais familiares
enlutados por um crime que subverte a ordem natural da vida. Não se pode olvidar, ademais, o aumento
crescente do número de homicídios perpetrados contra adolescentes no Brasil, o que reclama uma resposta
estatal. Assim, deve prevalecer a orientação no sentido de que a tenra idade da vítima (menor de 18 anos de
idade) é elemento concreto e transborda aqueles inerentes ao crime de homicídio, sendo apto, pois, a
ressalvada, para evitar bis in idem, a hipótese em que aplicada a causa de aumento prevista no art. 121, §
4º (parte final), do Código Penal. STJ. 3ª Seção. AgRg no REsp 1.851.435-PA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
FURTO
Para a configuração da circunstância majorante do § 1º do art. 155 do Código Penal, basta que a conduta delitiva
tenha sido praticada durante o repouso noturno, dada a maior precariedade da vigilância e a defesa do
patrimônio durante tal período e, por consectário, a maior probabilidade de êxito na empreitada criminosa,
sendo irrelevante o fato das vítimas não estarem dormindo no momento do crime, ou, ainda, que tenha
ocorrido em estabelecimento comercial ou em via pública, dado que a lei não faz referência ao local do crime.
STJ. 5ª Turma. AgRg-AREsp 1.746.597-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 17/11/2020.
STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1849490/MS, Rel. Min. Antonio Saldanha, julgado em 15/09/2020.
Em relação à figura do furto privilegiado, o art. 155, § 2º, do Código Penal impõe a aplicação do benefício penal
na hipótese de adimplemento dos requisitos legais da primariedade e do pequeno valor do bem furtado, assim
considerado aquele inferior ao salário mínimo ao tempo do fato. Trata-se, em verdade, de direito subjetivo do
réu, não configurando mera faculdade do julgador a sua concessão, embora o dispositivo legal empregue o
verbo "poder".
STJ, HC 583.023/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 04/08/2020, DJe 10/08/2020.
ROUBO
A Lei nº 13.654/2018 entrou em vigor no dia 24/04/2018. Antes dessa Lei, o emprego de arma branca era
considerado causa e aumento de pena no roubo. Essa Lei, contudo, deixou de prever a arma branca como
majorante. Suponhamos que, no dia 25/04/2018, João, usando um canivete, ameaçou a vítima, subtraindo dela o
telefone celular. O juiz, ao condenar o réu, não poderá, na 3ª fase da dosimetria da pena, utilizar a “arma
branca” como causa de aumento de pena. Diante disso, nada impede que o magistrado utilize esse fato
(emprego de arma branca) como uma circunstância judicial negativa, aumentando a pena-base na 1ª fase
da dosimetria da pena. Assim, no período de aplicação da Lei nº 13.654/2018, o juiz está proibido de utilizar essa
circunstância (emprego de arma branca) como causa de aumento de pena, mas nada impede que considere isso
Configura o crime de roubo (e não estelionato) a conduta do funcionário de uma empresa que combina
com outro indivíduo para que este simule que assalta o empregado com uma arma de fogo e, dessa
forma, leve o dinheiro da empresa. João trabalhava em uma empresa, sendo responsável por receber
pagamentos em dinheiro e levá-los para depósito no banco. João combinou com Pedro um plano criminoso. No
dia do pagamento, Pedro entraria na empresa, supostamente ameaçaria João (seu comparsa oculto), que a ele
entregaria o dinheiro. Depois, os dois dividiriam a quantia subtraída. Assim, no dia dos fatos, Pedro, já sabendo
que havia entrado uma grande soma em dinheiro, chegou na empresa e, simulando portar arma de fogo, exigiu
que João e Ricardo (outro funcionário da empresa que não sabia do plano) entregassem o dinheiro, o que foi
feito. Posteriormente, a polícia conseguiu prender Pedro, que confessou todo o plano criminoso. João e Pedro
praticaram roubo majorado, e não estelionato. STF. 1ª Turma. HC 147584/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
ESTELIONATO
Caso concreto: o réu foi denunciado pelo MPF pela prática de estelionato qualificado, porque, na qualidade
médico de hospital universitário federal, teria registrado seu ponto e se retirado do local, sem cumprir sua carga
A jurisprudência do STJ não tem admitido, nos casos de prática de estelionato “qualificado”, a incidência do
princípio da insignificância (princípio inspirado na fragmentariedade do Direito Penal). Isso porque se identifica,
No caso concreto, o STJ afirmou que não era possível o trancamento da ação penal, sob o fundamento de
inexistência de prejuízo expressivo para a vítima, considerando que, em se tratando de hospital universitário, os
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 548869-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
Na hipótese em que o estelionato se dá mediante vantagem indevida, auferida mediante o depósito em favor
de conta bancária de terceiro, A COMPETÊNCIA DEVERÁ SER DECLARADA EM FAVOR DO JUÍZO NO QUAL SE
SITUA A CONTA FAVORECIDA. No caso em que a vítima, induzida em erro, efetuou depósito em dinheiro e/ou
transferência bancária para a conta de terceiro (estelionatário), a obtenção da vantagem ilícita ocorreu quando o
Seção. CC 167.025/RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 14/08/2019. STJ. 3ª Seção. CC
169.053-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/12/2019 (Info 663).
Não confundir:
• ESTELIONATO QUE OCORRE POR MEIO DO SAQUE (OU COMPENSAÇÃO) DE CHEQUE CLONADO,
ADULTERADO OU FALSIFICADO: a competência é do local onde a vítima possui a conta bancária. Isso
porque, nesta hipótese, o local da obtenção da vantagem ilícita é aquele em que se situa a agência bancária
onde foi sacado o cheque adulterado, ou seja, onde a vítima possui conta bancária. Aplica-se o raciocínio da
súmula 48 do STJ (Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de
• ESTELIONATO QUE OCORRE QUANDO A VÍTIMA, INDUZIDA EM ERRO, SE DISPÕE A FAZER DEPÓSITOS OU
onde o estelionatário possui a conta bancária. Isso porque, neste caso, a obtenção da vantagem ilícita ocorre
quando o estelionatário efetivamente se apossa do dinheiro, ou seja, no momento em que ele é depositado em
sua conta.
Art. 70. (...) § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos
em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será
definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela
prevenção.”
A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei nº 13.964/2019, retroage para alcançar
os processos penais que já estavam em curso? Mesmo que já houvesse denúncia oferecida, será necessário
estelionato não retroage aos processos cuja denúncia já foi oferecida. STJ. 3ª Seção. HC 610201/SP, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 24/03/2021 (Info 691). STF. 1ª Turma. HC 187341, Rel. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 13/10/2020.
o exercício da pretensão punitiva do Estado à representação da pessoa ofendida, deve ser aplicada de forma
retroativa a abranger tanto as ações penais não iniciadas quanto as ações penais em curso até o trânsito em
julgado. STF. 2ª Turma. HC 180421 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/6/2021 (Info 1023).”
A falsidade ideológica é crime formal e instantâneo, cujos efeitos podem se protrair no tempo.
A despeito dos efeitos que possam, ou não, gerar, a falsidade ideológica se consuma no momento em que é
praticada a conduta.
Diante desse contexto, o termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão punitiva é o momento
Caso concreto: em 2010, foi incluído um sócio “laranja” no contrato social da empresa. Ele não iria ser sócio
realmente, sendo isso uma falsidade ideológica. Logo, considera-se que aí foi praticado o crime. Não se pode
afirmar que esse crime (essa conduta) teria sido reiterado quando, por ocasião da alteração contratual ocorrida
em 2019, deixou-se de regularizar o nome do sócio verdadeiramente titular da empresa, mantendo-se o nome
do “laranja”. Isso porque não há como se entender que constitui novo crime a omissão em corrigir informação
falsa por ele inserida em documento público, quando teve oportunidade para tanto. Logo, o termo inicial da
STJ. 3ª Seção. RvCr 5233-DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 13/05/2020 (Info 672).
DIFAMAÇÃO
Configura difamação a conduta do agente que publica vídeo de um discurso no qual a frase completa do
orador é editada, transmitindo a falsa ideia de que ele estava falando mal de negros e pobres. A edição de
um vídeo ou áudio tem como objetivo guiar o espectador e, quando feita com o objetivo de difamar a honra de
uma pessoa, configura dolo da prática criminosa. Vale ressaltar que esta conduta do agente, ainda que
praticada por Deputado Federal, não estará protegida pela imunidade parlamentar. Caso concreto:
durante a reunião de uma CPI, o então Deputado Federal Jean Wyllys proferiu a seguinte frase: “tem um
imaginário impregnado, sobretudo nos agentes das forças de segurança, de que uma pessoa negra e pobre é
potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média. Esse é um imaginário que
está impregnado na gente”. O Deputado Federal Eder Mauro publicou, em sua página no Facebook, um vídeo no
qual o discurso de Jean Wyllys é editado. No vídeo publicado, a parte inicial e final da frase são cortadas e
ouve-se apenas: “Uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma pessoa
branca de classe média”. Para o STF, essa conduta configurou o crime de difamação agravada. STF. 1ª Turma. AP
A ausência de previsibilidade de que a ofensa chegue ao conhecimento da vítima afasta o dolo específico
Exemplo: Rita e Adriana trabalhavam em um órgão público. Rita ligou para o ramal telefônico de Adriana para
falar sobre um requerimento de abono de faltas que ela havia solicitado. Adriana avisou, então, que Reginaldo
(chefe do setor) havia indeferido o pedido. Ao saber de tal fato, Rita passou a proferir ofensas contra ele,
afirmando para Adriana: “este macaco, preto sem vergonha está indeferindo a minha falta”. Vale ressaltar,
contudo, que, momentos antes, Reginaldo, que estava no mesmo setor que Adriana, havia retirado o telefone do
gancho para fazer uma ligação e acabou por ouvir as palavras injuriosas proferidas por Rita. O Ministério Público
ofereceu denúncia contra Rita pela prática do crime de injúria racial (art. 140, § 3º do CP):
Art. 140 (...) § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a
condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa.
Para o STJ, não houve crime. Isso porque o delito de injúria se consuma quando a ofensa chega ao conhecimento
A acusada não tinha como saber que a vítima estava ouvindo o teor da conversa pela extensão telefônica.
Como a injúria se consuma com a ofensa à honra subjetiva de alguém, não há que se falar em dolo específico no
caso em que a vítima não era seu interlocutor na conversa telefônica e, acidentalmente, tomou conhecimento
do teor da conversa.
O tipo penal em questão exige que a ofensa seja dirigida ao ofendido com a intenção de menosprezá-lo,
STJ. 6ª Turma. REsp 1765673-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/05/2020 (Info 672).
ESTUPRO DE VULNERÁVEL
Não há nenhuma nulidade quando o Juiz refuta o exame pericial não esclarecedor nos crimes de estupro de
vulnerável sem conjunção carnal, para, acolhendo as demais provas, principalmente o depoimento da vítima e
das testemunhas, concluir pela condenação do réu, porque no sistema jurídico penal brasileiro vigora o princípio
STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no RHC 127.089/MG, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, julgado em 24/11/2020.
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública
condicionada à representação. Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública
Segundo tese defensiva, o estupro de vulnerável do art. 217-A, § 1º, do CP somente é de ação penal pública
incondicionada quando a vulnerabilidade for permanente (ex: doente mental). Se a vulnerabilidade for
temporária (ex: decorrente de embriaguez), a ação penal seria condicionada à representação. Assim, quando o
art. 225, parágrafo único do CP (com redação dada pela Lei nº 12.015/2009) fala em “pessoa vulnerável”, ele está
se referindo à pessoa que é vulnerável (vulnerabilidade permanente) e não à pessoa que está vulnerável
(vulnerabilidade temporária).
5ª Turma do STJ: NÃO Em casos de vulnerabilidade da ofendida, a ação penal é pública incondicionada, nos
moldes do parágrafo único do art. 225 do CP. Esse dispositivo não fez qualquer distinção entre a vulnerabilidade
temporária ou permanente, haja vista que a condição de vulnerável é aferível no momento do cometimento do
crime, ocasião em que há a prática dos atos executórios com vistas à consumação do delito. Em outras palavras,
seja a vulnerabilidade permanente ou temporária, no caso de estupro de vulnerável a ação penal é sempre
incondicionada. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1103678/PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 26/02/2019
6ª Turma do STJ: SIM A “pessoa vulnerável” de que trata o parágrafo único do art. 225 do CP é somente aquela
que possui uma incapacidade permanente de oferecer resistência à prática dos atos libidinosos. Se a pessoa é
incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos libidinosos, ela não pode ser
considerada vulnerável para os fins do parágrafo único do art. 225, de forma que a ação penal permanece sendo
vítima, sob a égide do art. 225 do Código Penal com a redação dada pela Lei nº 12.015/2009, a ação penal pública
é condicionada à representação. STJ. 6ª Turma. REsp 1.814.770-SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado
ATENÇÃO: A discussão acima exposta existia antes da Lei nº 13.718/2018. Atualmente não interessa mais,
salvo para definir situações pretéritas. Isso porque a Lei 13.718/2018 alterou a redação do art. 225 do CP e
passou a prever que TODOS os crimes contra a dignidade sexual são de ação pública incondicionada
A irmã de vítima do crime de estupro de vulnerável responde por conduta omissiva imprópria se assume
o papel de garantidora. Caso concreto: “J” (30 anos) era casado com “M” (20 anos). “J” praticou, durante anos,
estupro de vulnerável contra a sua cunhada “L” (criança de 6 anos de idade). “L” era irmã de “M”. Os abusos
mas, apesar disso, não tomou qualquer atitude para impedir que as condutas criminosas continuassem. Ao
contrário, continuou permitindo que a irmã fosse até a sua casa e que ficasse sozinha na residência com o
marido. “M”, a irmã da vítima, deve responder pelo delito de estupro de vulnerável por omissão imprópria. Para
que uma pessoa responda por um crime omissivo impróprio é preciso que, na situação concreta, ela
tivesse o dever legal de agir e, mesmo assim, deixou de atuar, o que acabou auxiliando na produção do
resultado delituoso. Existem três hipóteses legais nas quais há esse dever de agir.
Essas situações estão previstas nas alíneas do § 2º do art. 13 do CP: Art. 13 (...) § 2º A omissão é penalmente
relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:a)
tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de
impedir o resultado;c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
Muito embora uma irmã mais velha não possa ser enquadrada na alínea “a” do art. 13, §2º, do CP, pois o
mero parentesco não torna penalmente responsável um irmão para com o outro, ela pode, de acordo
com o caso concreto, se amoldar à figura do “garantidor”, nos termos previstos nas duas alíneas seguintes
“b” e “c”. No caso concreto, a acusada omitiu-se, durante anos, quanto aos abusos sexuais praticados pelo seu
marido, na residência do casal, contra sua irmã menor. Vale ressaltar que ela assumiu a responsabilidade ao
levar a criança para a sua casa sem a companhia da genitora e criou risco da ocorrência do resultado ao não
denunciar o agressor, mesmo ciente de suas condutas, bem como ao continuar deixando a menina sozinha em
casa. STJ. 5ª Turma. HC 603.195-PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 06/10/2020 (Info 681)
CRIME DE INCÊNDIO
A materialidade do delito de incêndio (art. 250, § 1º, I, do CP), cuja prática deixa vestígios, deve ser
comprovada, em regra, mediante exame de corpo de delito, nos termos do art. 158 do CPP. Existe até uma
previsão específica para o caso do crime de incêndio:Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa
e o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a
extensão do dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.Vale ressaltar,
no entanto, que a substituição do exame pericial por outros meios de prova é possível em hipóteses
conforme autoriza o art. 167 do CPP. Para que a utilização de outros meios de prova seja válida, é necessário
que se demonstre que houve uma justificativa para a não realização do laudo pericial. Em um caso concreto, o
STF entendeu que essa utilização estava justificada. Isso porque o réu, mesmo após ser orientado pelo Corpo de
permaneceu inerte durante sete dias. A não elaboração da perícia oficial ocorreu, portanto, em razão do
preservação do local. Por essa razão a materialidade do delito foi demonstrada pela prova testemunhal,
corroborada por cópias da apólice do seguro, aviso de sinistro, ocorrência policial, relatório de regulação de
sinistros, fotografias, laudos de averiguação e pelo laudo elaborado pela seguradora. Levando em conta a
por outros meios de prova, foi correta a aplicação do art. 167 do CPP no presente caso. STF. 1ª Turma. HC
ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA
A configuração do crime de associação criminosa (art. 288 do Código Penal) não ocorre pela inclusão de um
número mínimo de pessoas no polo passivo da ação penal, mas sim pelo intuito do agente de tomar parte em
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1789273/P, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 25/08/2020.
DESOBEDIÊNCIA
Comete crime de desobediência (art. 330 do CP) o indivíduo que não atende a ordem dada pelo oficial de
indivíduo, depositário do bem, recusou-se a entregar o veículo ou a indicar sua localização. Essa conduta
configura ato atentatório à dignidade da justiça (art. 77, IV, do CPC/2015), havendo a previsão de multa
processual (art. 77, § 2º). Ocorre que a Lei afirma expressamente que a aplicação da multa ocorre sem prejuízo
de responsabilização na esfera penal. STF. 1ª Turma. HC 169417/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
PECULATO
contracheques dos servidores para pagamento de empréstimo consignado não sejam repassados ao
banco, mas sim utilizados para quitação de dívidas do Estado. O administrador que desconta valores da
folha de pagamento dos servidores públicos para quitação de empréstimo consignado e não os repassa a
próprio ou alheio, bastando a mera vontade de realizar o núcleo do tipo. Peculato-desvio é crime formal para
cuja consumação não se exige que o agente público ou terceiro obtenha vantagem indevida mediante prática
criminosa, bastando a destinação diversa daquela que deveria ter o dinheiro. Caso concreto: diversos servidores
estaduais possuíam empréstimos consignados. Assim, todos os meses a Administração Pública estadual fazia o
desconto das parcelas do empréstimo da remuneração dos servidores e repassava a quantia ao banco que
concedeu o mútuo. Ocorre que o Governador do Estado determinou ao Secretário de Planejamento que
repassasse ao banco, utilizando essa quantia para pagamento das dívidas do Estado. Esta conduta configurou o
crime de peculato-desvio (art. 312 do CP), gerando a condenação do Governador, com a determinação, inclusive,
de perda do cargo (art. 92, I, do CP). STJ. Corte Especial. APn 814-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. Acd.
Governador do Estado que desvia grande soma de recursos públicos de empresas estatais, utilizando
esse dinheiro para custear sua campanha de reeleição, pratica o crime de peculato-desvio. As empresas
estatais gozam de autonomia administrativa e financeira. Mesmo assim, pode-se dizer que o Governador tem a
posse do dinheiro neste caso? É possível. Isso porque a posse necessária para configuração do crime de peculato
deve ser compreendida não só como a disponibilidade direta, mas também como disponibilidade jurídica,
exercida por meio de ordens. STJ. 5ª Turma. REsp 1.776.680-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 11/02/2020
(Info 666).
CORRUPÇÃO PASSIVA
Pratica corrupção passiva o Deputado Federal que recebe vantagem indevida para interceder junto a
diretor da Petrobrás com o intuito de fazer com que a empresa faça acordo com empresa privada e
pague a ela determinadas quantias em atraso. Uma determinada empresa havia prestado serviços para a
Petrobrás e não tinha recebido todo o valor que entendia devido. Essa empresa entrou em contato com
determinado Deputado Federal para que ele resolvesse a situação. Este Deputado comprometeu-se a falar com
o diretor de abastecimento da Petrobrás, mas exigiu o pagamento de vantagem indevida. O Deputado conseguiu
que a Petrobrás pagasse, por meio de um acordo extrajudicial, R$ 69 milhões para a empresa e, em troca,
(art. 317 do CP). STF. 2ª Turma. AP 1002/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/6/2020 (Info 981).
TRÁFICO DE INFLUÊNCIA
Aquele que compra o prestígio de alguém que alegava ter influência junto a órgão público para impedir um ato
de fiscalização, apesar de praticar ato antiético e imoral, não comete nenhum ilícito se, ao fim e ao cabo, é
A conduta de entregar dinheiro para outrem, que solicitou o recebimento de vantagem pecuniária, com a
promessa de influenciar servidor da Receita Federal a não praticar ato de ofício referente a uma autuação fiscal,
por ter sido extrapolado o limite de importação na modalidade simplificada, não se enquadra no delito de tráfico
Aquele que “compra” o prestígio de alguém que alegava ter influência junto a um órgão público e que poderia
impedir a realização de um ato de ofício da Administração Pública, a despeito de praticar uma ato antiético e
imoral não praticou nenhum ato ilícito, pois, no caso, o ato administrativo foi realizado e o “comprador de
STJ. 5ª Turma. RHC 122.913, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/12/2020.
DESACATO
A norma do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato, foi recepcionada pela Constituição
conformidade com a Convenção Americana de Direitos Humanos, bem como a recepção pela Constituição de
1988, do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato. De acordo com a jurisprudência da Corte
Interamericana de Direitos Humanos e do Supremo Tribunal Federal, a liberdade de expressão não é um direito
absoluto e, em casos de grave abuso, é legítima a utilização do direito penal para a proteção de outros
interesses e direitos relevantes. A diversidade de regime jurídico – inclusive penal – existente entre agentes
públicos e particulares é uma via de mão dupla: as consequências previstas para as condutas típicas são diversas
não somente quando os agentes públicos são autores dos delitos, mas, de igual modo, quando deles são
vítimas. A criminalização do desacato não configura tratamento privilegiado ao agente estatal, mas
proteção da função pública por ele exercida. Vale ressaltar, no entanto, que, considerando que os agentes
públicos em geral estão mais expostos ao escrutínio e à crítica dos cidadãos, deles se exige maior tolerância à
função pública. STF. Plenário. ADPF 496, Rel. Roberto Barroso, julgado em 22/06/2020 (Info 992 – clipping).
A complexidade do sistema tributário, a alta carga tributária e o suposto ineficiente emprego dos tributos
(art. 337-A do CP) para fins de aplicação da atenuante inominada do art. 66 do CP, pois não são circunstâncias
específicas do caso concreto, vez que alcançam a todos que exercem atividade econômica e se submetem ao
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1648761/RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 06/10/2020.
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).
LEI DE DROGAS
A condenação por tráfico pode ocorrer mesmo que não haja a apreensão da droga?
Existem diversos julgados que afirmam que a condenação não pode ocorrer se não houve a apreensão da droga:
É imprescindível a apreensão da droga para que a materialidade delitiva, quanto ao crime de tráfico de drogas,
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1655529/ES, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 06/10/2020.
Hipótese em que o édito condenatório pelo delito do art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006 está amparado apenas
em testemunhos orais e informações extraídas de interceptações telefônicas. Não houve a apreensão da droga
delito de tráfico de drogas, razão pela qual impõe-se a absolvição do paciente e demais corréus.
Vale ressaltar, no entanto, que também são encontrados inúmeros outros acórdãos em sentido contrário, ou
A ausência de apreensão da droga não torna a conduta atípica se existirem outros elementos de prova aptos a
STJ. 6ª Turma. HC 131455-MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 2/8/2012.
A materialidade do crime de tráfico de entorpecentes pode ser atestada por outros meios idôneos existentes
nos autos quando não houve apreensão da droga e não foi possível realizar o exame pericial, especialmente se
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1116262/GO, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 06/11/2018.
A ausência de apreensão da droga não torna a conduta atípica se existirem outros elementos de prova aptos a
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1662300/RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 16/06/2020.
Esta Corte já se manifestou no sentido de que a ausência de apreensão da droga não torna a conduta atípica se
existirem outras provas capazes de comprovarem o crime, como no caso, as interceptações telefônicas e os
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1471280/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 26/05/2020.
Não é empecilho para o reconhecimento do crime único o fato de que, mesmo que as tratativas para o comércio
ilícito, entre os associados e o líder da associação, tenham ocorrido em datas variadas, mas dentro de um
período de 2 (dois) meses (no caso concreto), é possível o reconhecimento de houve um único crime de
De igual modo, o fato haver integrantes da associação em diversas cidades da mesma região, não impede que se
configure crime único. O crime de associação para o tráfico é necessariamente plurissubjetivo e pode ser
plurilocal, não sendo impeditivo para a sua consumação o fato de que os seus agentes estejam em localidades
diferentes. Não é incomum, inclusive, que os membros da mesma associação estejam em cidades ou estados
STJ. 6ª Turma. REsp 1845496/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 03/11/2020.
determinante para a conclusão de que a substância se destinava a consumo pessoal, mas também o local e as
condições em que se desenvolveu a ação, as circunstâncias sociais e pessoais, bem como a conduta e os
antecedentes do agente.
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1740201/AM, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/11/2020.
O art. 28 da Lei nº 11.343/2006 prevê o crime de porte de drogas para consumo pessoal. Art. 28. Quem adquirir,
guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou
em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência
sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a
programa ou curso educativo. Em regra, as penas dos incisos II e III só podem ser aplicadas pelo prazo máximo
de 5 meses
O § 4º prevê que: “em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão
Assim, se um indivíduo já condenado definitivamente por roubo, pratica o crime do art. 28, ele não se enquadra
no § 4º. Isso porque se trata de reincidente genérico. O § 4º ao falar de reincidente, está se referindo ao crime do
caput do art. 28. STJ. 6ª Turma. REsp 1.771.304-ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 10/12/2019 (Info 662)
A previsão da redução de pena contida no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 tem como fundamento distinguir
o traficante contumaz e profissional daquele iniciante na vida criminosa, bem como do que se aventura na vida
da traficância por motivos que, por vezes, confundem-se com a sua própria sobrevivência e/ou de sua família.
Assim, para legitimar a não aplicação do redutor é essencial a fundamentação corroborada em elementos
capazes de afastar um dos requisitos legais, sob pena de desrespeito ao princípio da individualização da
Desse modo, a habitualidade e o pertencimento a organizações criminosas deverão ser comprovados, não
valendo a simples presunção. Não havendo prova nesse sentido, o condenado fará jus à redução de pena. Em
outras palavras, militará em favor do réu a presunção de que é primário e de bons antecedentes e de que não se
dedica a atividades criminosas nem integra organização criminosa. O ônus de provar o contrário é do Ministério
Público. Assim, o STF considerou preenchidas as condições da aplicação da redução de pena, por se estar diante
de ré primária, com bons antecedentes e sem indicação de pertencimento a organização criminosa. STF. 2ª
Turma. HC 154694 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2020
(Info 965).
É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas com base no fato de o acusado ser
investigado em inquérito policial ou ser réu em outra ação penal que ainda não transitou em julgado?
convicção de que o réu se dedica a atividades criminosas, de modo a afastar o benefício legal previsto no
art. 33, § 4º, da Lei n.º 11.343/2006. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.431.091-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em
14/12/2016 (Info 596). STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 539.666/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 05/03/2020
• STF: NÃO. Não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico privilegiado, prevista no art.
33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, com fundamento no fato de o réu responder a inquéritos policiais ou
processos criminais em andamento, mesmo que estejam em fase recursal, sob pena de violação ao art. 5º,
LIV (princípio da presunção de não culpabilidade). STF. 1ª Turma. HC 173806/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado
em 18/2/2020 (Info 967). STF. 2ª Turma. HC 144309 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 19/11/2018.
O tráfico de drogas cometido em local próximo a igrejas não foi contemplado pelo legislador no rol das
majorantes previstas no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006, não podendo, portanto, ser utilizado
com esse fim tendo em vista que no Direito Penal incriminador não se admite a analogia in malam
partem.
Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:
III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou
locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de
em transportes públicos; STJ. 6ª Turma. HC 528.851-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 05/05/2020
(Info 671).
O STF, interpretando os §§ 2º e 3º do art. 48 da Lei nº 11.343/2006, afirmou que o autor do crime previsto no
art. 28 da Lei nº 11.343/2006 deve ser encaminhado imediatamente ao juiz e o próprio magistrado irá
disponibilidade do juízo competente, deve o autor ser encaminhado à autoridade policial, que então adotará
essas providências (termo circunstanciado e requisição). Não há qualquer inconstitucionalidade nessa previsão.
Isso porque a lavratura de termo circunstanciado e a requisição de exames e perícias não são atividades de
investigação. Considerando-se que o termo circunstanciado não é procedimento investigativo, mas sim uma
mera peça informativa com descrição detalhada do fato e as declarações do condutor do flagrante e do autor do
fato, deve-se reconhecer que a possibilidade de sua lavratura pela autoridade judicial (magistrado) não ofende
do art. 48 da Lei nº 11.343/2006 foram editadas em benefício do usuário de drogas, visando afastá-lo do
ambiente policial, quando possível, e evitar que seja indevidamente detido pela autoridade policial. STF. Plenário.
ADI 3807, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 29/06/2020 (Info 986 – clipping).
ao tipo descrito no § 1º, I, do art. 33 da Lei nº 11.343/2006, que criminaliza o transporte de matéria-prima
Caso concreto: o agente foi preso com 4,4 kg de folhas de coca, adquiridas na Bolívia, tendo a substância sido
encontrada no estepe do veículo. As folhas seriam transportadas até Uberlândia/MG para rituais de mascar,
fazer infusão de chá e até mesmo bolo, rituais esses associados à prática religiosa indígena de Instituto ao qual
pertenceria o acusado. A folha de coca não é considerada droga; porém pode ser classificada como
matéria-prima ou insumo para sua fabricação. STJ. 3ª Seção. CC 172.464-MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Diante do reiterado descumprimento da jurisprudência das cortes superiores pelo TJSP, o STJ concedeu
habeas corpus para fixar o regime aberto a todas as pessoas condenadas no estado por tráfico
privilegiado, com pena de um ano e oito meses. Caso concreto: DPE/SP impetrou habeas corpus pedindo para
que seja determinada a fixação do regime inicial aberto em todos os casos em que houve condenação por
tráfico privilegiado (art. 33, §4º da Lei de Drogas) e que a pena tenha sido fixada no mínimo legal na 1ª fase da
dosimetria e a pena final não tenha superado 4 anos de reclusão. A impetrante argumentou existem mais de mil
presos que, a despeito da reconhecida prática de crime de tráfico privilegiado, cumprem pena de 1 ano e 8
meses, em regime fechado, com respaldo exclusivo no ultrapassado entendimento de que a conduta caracteriza
crime assemelhado a hediondo. Segundo entendimento consolidado do STF e do STJ, não é considerado
hediondo o delito de tráfico de drogas, na modalidade prevista no art. 33, § 4º da Lei nº 11.343/2006. Em 2019,
foi editada a Lei nº 13.964/2019, que acrescentou o § 5º ao art. 112 da LEP positivando esse entendimento: Art.
112 (...) § 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico de drogas
previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Quanto ao regime inicial para o
cumprimento da pena, é também pacífico o entendimento do STF e do STJ no sentido de que não é possível a
fixação de regime de cumprimento de pena fechado ou semiaberto para crime de tráfico privilegiado de drogas
sem a devida justificação. A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação
idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada (Súmula 718 do
STF). Esses julgados, por força do art. 927, III e V, do CPP, aplicável ao processo penal em razão do art. 3º do CPP,
devem ser observados por juízes e tribunais do país, em nome da segurança jurídica, da estabilidade das
decisões do Poder Judiciário, da coerência sistêmica e da igualdade de tratamento dos jurisdicionados, que não
podem ficar à mercê de interpretações divergentes, sobre questões de cunho eminentemente jurídico. As
diretrizes para individualização da pena e segregação cautelar dos autores de crime de tráfico privilegiado, por
decorrerem de precedentes qualificados das Cortes Superiores, devem ser observadas, sempre ressalvada,
• concedam o regime aberto para os presos condenados a 1 ano e 8 meses por tráfico privilegiado (pena
• reavaliem a situação dos presos condenados por tráfico privilegiado a penas maiores que 1 ano e 8
meses, no entanto, menores do que 4 anos de reclusão. STJ. 6ª Turma. HC 596.603-SP, Rel. Min. Rogerio
É atípica a conduta de importar pequena quantidade de sementes de maconha. STJ. 3ª Seção. EREsp
1.624.564-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/10/2020 (Info 683). STF. 2ª Turma. HC 144161/SP, Rel. Min.
É irrelevante o lapso temporal da dissolução do vínculo conjugal para se firmar a competência do Juizados
Especiais de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher nos casos em que a conduta imputada como
Assim, é necessário apenas que a conduta delitiva imputada esteja vinculada à relação íntima de afeto mantida
entre as partes.
STJ. 5ª Turma. HC 542.828/AP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 18/02/2020.
A Lei Maria da Penha objetiva proteger a mulher da violência doméstica e familiar que, cometida no âmbito da
unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto, cause-lhe morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico, e dano moral ou patrimonial. Estão no âmbito de abrangência do delito de violência
doméstica e podem integrar o polo passivo da ação delituosa as esposas, as companheiras ou amantes,
bem como a mãe, as filhas, as netas do agressor e também a sogra, a avó ou qualquer outra parente que
mantém vínculo familiar ou afetivo com ele. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1.626.825-GO, Rel. Min. Felix
Se o fator determinante que ensejou a prática do crime foi a tenra idade da vítima fica afastada a vara de
violência doméstica e familiar? Ex: estupro de vulnerável praticado por pai contra a filha, de 4 anos.
• SIM. Posição da 5ª Turma do STJ: Se o fato de a vítima ser do sexo feminino não foi determinante para a
caracterização do crime de estupro de vulnerável, mas sim a tenra idade da ofendida, que residia sobre o
mesmo teto do réu, que com ela manteve relações sexuais, não há que se falar em competência do
• NÃO. Julgado recente da 6ª Turma do STJ: A idade da vítima é irrelevante para afastar a competência da
vara especializada em violência doméstica e familiar contra a mulher e as normas protetivas da Lei Maria
da Penha. STJ. 6ª Turma. RHC 121.813-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/10/2020 (Info 682)
policial instaurado para apuração de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores.
Com base nesse entendimento, o STF declarou inconstitucional o art. 17-D da Lei de Lavagem de Dinheiro
(Lei nº 9.613/98):
Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e
demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno. O
afastamento do servidor somente se justifica quando ficar demonstrado nos autos que existe risco caso ele
continue no desempenho de suas funções e que o afastamento é medida eficaz e proporcional para se tutelar a
investigação e a própria Administração Pública. Tais circunstâncias precisam ser apreciadas pelo Poder
Judiciário. STF. Plenário. ADI 4911/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
ESTATUTO DO DESARMAMENTO
A prerrogativa de porte de arma de fogo deferida aos magistrados pela LOMAN não os exonera da
obrigação de efetivar o registro da arma na Polícia Federal, bem como a renovação periódica da
certificação.
STJ. Corte Especial. APn 955/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 07/10/2020.
Depois da Lei nº 13.497/2017, é possível afirmar que o antigo parágrafo único (atual § 1º) do art. 16 do
5ª Turma do STJ: SIM. Tanto o caput como o parágrafo único do art. 16 da Lei nº 10.826/2003 são crimes
hediondos.
O art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 8.072/90 (com a redação dada pela Lei nº 13.497/2017) não restringe a sua
aplicação apenas ao caput do art. 16 da Lei nº 10.826/2003. Portanto, é possível concluir que a alteração
Desarmamento, inclusive as figuras equiparadas, previstas no parágrafo único do mesmo dispositivo legal.
STJ. 5ª Turma. HC 624.903/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/12/2020.
A 6ª Turma alterou seu entendimento anterior e instaurou divergência, passando a decidir que apenas o caput
A Lei nº 13.497/2017 equiparou a hediondo apenas o crime do caput do art. 16 da Lei nº 10.826/2003, não
Assim, o crime de posse ou porte de arma de fogo de uso permitido com numeração, marca ou qualquer outro
sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado não integra o rol dos crimes hediondos.
STJ. 6ª Turma. HC 525249-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 15/12/2020 (Info 684).
• Antes da Lei 13.497/2017: o art. 16 do Estatuto do Desarmamento não era crime hediondo.
• Depois da Lei 13.497/2017: divergência. 5ª Turma do STJ: tanto o caput como o parágrafo único do art. 16 são
• Depois da Lei 13.964/2019: somente é hediondo o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso
PROIBIDO, previsto no § 2º do art. 16. Não abrange mais os crimes posse ou porte de arma de fogo de uso
restrito.
A Corte Especial do STJ decidiu que, uma vez realizado o registro da arma, o vencimento da autorização não
caracteriza ilícito penal, mas mera irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e
aplicação de multa (APn n. 686/AP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, DJe de 29/10/2015). Tal
entendimento, todavia, é restrito ao delito de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da Lei
nº 10.826/2003), não se aplicando ao crime de porte ilegal de arma de fogo (art. 14), muito menos ao delito
de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16), cujas elementares são diversas e a reprovabilidade
mais intensa. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 885.281-ES, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em
CRIMES AMBIENTAIS
É possível o concurso formal entre o crime do art. 2º da Lei n. 8.176/91 (que tutela o patrimônio da União,
proibindo a usurpação de suas matérias-primas), e o crime do art. 55 da Lei n. 9.605/98 (que protege o meio
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1856109/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti, julgado em 16/06/2020.
... que se resumem na ação de causar poluição ambiental que provoque danos à população e ao próprio
Caso concreto: a empresa ré armazenou inadequadamente causando grave poluição da área degradada, sendo
que, até o momento de prolação do julgado, não havia tomado providências para reparar o dano,
caracterizando a continuidade da prática infracional. Desse modo, constata-se que o crime de poluição
qualificada é permanente, ainda que por omissão da ré, que foi prontamente notificada a reparar o dano
causado, mas não o fez. STJ. 5ª Turma.AgRg no REsp 1.847.097-PA, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
A previsão do art. 19 da Lei das Contravenções Penais continua válida ainda hoje?
• Em relação à arma de fogo: NÃO. O porte ilegal de arma de fogo caracteriza, atualmente, o crime previsto nos
• Em relação à branca: SIM. O art. 19 do Decreto-lei nº 3.688/41 permanece vigente quanto ao porte de outros
branca como contravenção prevista no art. 19 do DL 3.688/41, não havendo que se falar em violação ao
princípio da intervenção mínima ou da legalidade. STJ. 5ª Turma. RHC 56.128-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
própria ou em livros fiscais o imposto devido não tem o condão de elidir (fazer desaparecer) ou exercer
nenhuma influência na prática do delito, visto que este não pressupõe a clandestinidade (não se exige que seja
feito às escondidas).
Ademais, o crime previsto no art. 2º, II, da Lei 8.137/90 não exige para sua configuração a existência de ardil,
fraude ou falsidade.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 609.039/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 17/11/2020.
formalmente no tipo previsto no art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 (apropriação indébita tributária), desde que
comprovado o dolo
O não repasse do ICMS recolhido pelo sujeito passivo da obrigação tributária, em qualquer hipótese,
enquadra-se (formalmente) no tipo previsto art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90, desde que comprovado o dolo. Em
outras palavras, o tipo do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 não fica restrito apenas às hipóteses em que há
substituição tributária. O que se criminaliza é o fato de o sujeito passivo se apropriar do dinheiro relativo
ao imposto, devidamente recebido de terceiro, quer porque descontou do substituído tributário, quer
porque cobrou do consumidor, não repassando aos cofres públicos. STJ. 3ª Seção. HC 399.109-SC, Rel. Min.
O contribuinte que, de forma contumaz e com dolo de apropriação, deixa de recolher o ICMS cobrado do
adquirente da mercadoria ou serviço, incide no tipo penal do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90. O valor do ICMS
cobrado do consumidor não integra o patrimônio do comerciante, o qual é mero depositário desse ingresso de
caixa que, depois de devidamente compensado, deve ser recolhido aos cofres públicos. Vale ressaltar, contudo,
que, para caracterizar o delito, é preciso comprovar a existência de intenção de praticar o ilícito (dolo). STF.
Plenário. RHC 163334/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/12/2019 (Info 964)
Para a incidência do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 em caso de sonegação fiscal de tributos federais, é
necessário que o valor da dívida seja igual ou superior a R$ 1 milhão; se a sonegação fiscal for de tributos
estaduais ou municipais, deve-se analisar o que define a Fazenda local. O art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 prevê
que a pena do crime de sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90) deverá ser aumentada no caso de o delito
“ocasionar grave dano à coletividade”. A jurisprudência entende que se configura a referida causa de aumento
quando o agente deixa de recolher aos cofres públicos uma vultosa quantia. Em outras palavras, se o valor
sonegado foi alto, incide a causa de aumento do art. 12, I. Nesse cálculo deve-se incluir também os juros e multa:
Para os fins da majorante do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 (grave dano à coletividade), o dano tributário
deve ser valorado considerando seu valor atual e integral, incluindo os acréscimos legais de juros e
multa. A Portaria nº 320, editada pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, prevê que os contribuintes que
prioritário na atuação dos Procuradores. O STJ utiliza, então, essa Portaria como parâmetro para analisar a
incidência ou não da causa de aumento do art. 12, I: A majorante do grave dano à coletividade, trazida pelo art.
12, I, da Lei nº 8.137/90, deve se restringir a situações especiais de relevante dano. Desse modo, é possível, para
os tributos federais, utilizar, analogamente, o critério previsto no art. 14 da Portaria 320/PGFN, por meio do qual
se definiu administrativamente os créditos prioritários como sendo aqueles de valor igual ou superior a R$
E se a sonegação fiscal envolver tributos estaduais ou municipais, como deverá ser o parâmetro nesses casos?
Em se tratando de tributos estaduais ou municipais, o critério deve ser, por equivalência, aquele definido
como prioritário ou de destacados créditos (grandes devedores) para a fazenda local. Dito de outro modo,
em caso de tributos estaduais ou municipais, não se de deve utilizar a Portaria 320/PGFN, mas sim os eventuais
atos normativos estaduais e municipais que definam o que sejam “grandes devedores” para o Fisco local. STJ. 3ª
Seção. REsp 1.849.120-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/03/2020 (Info 668).
O STF comunga do mesmo entendimento e utiliza como parâmetro esses atos infralegais que definem
“grandes devedores”? Não. Existe julgado do STF no qual foi afastado esse critério: “Quanto à Portaria
320/2008 da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, anoto que essa norma infralegal apenas dispõe sobre o
Projeto Grandes Devedores no âmbito da PGFN, conceituando, para os seus fins, os “grandes devedores”, com o
objetivo de estabelecer, na Secretaria da Receita Federal do Brasil, método de cobrança prioritário a esses
sujeitos passivos de vultosas obrigações tributárias, sem limitar ou definir, no entanto, o grave dano à
coletividade, ao contrário do que afirma o impetrante.” (STF. 2ª Turma. HC 129284/PE, Rel. Min. Ricardo
reconhecimento da atipicidade da conduta. No caso dos autos, a conduta típica imputada ao réu restringe-se
ao não recolhimento do ICMS relativo a 1 (um) mês. Portanto, nos termos do atual entendimento do STF, deve-se
concluir que, embora a conduta do réu se se subsuma formalmente ao art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90, diante
da ausência de contumácia, não há tipicidade na conduta, o que gera, por conseguinte, à absolvição do
réu. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.867.109-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 25/08/2020 (Info 679).
A teoria do domínio do fato não permite, isoladamente, que se faça uma acusação pela prática de
qualquer crime, eis que a imputação deve ser acompanhada da devida descrição, no plano fático, do nexo
de causalidade entre a conduta e o resultado delituoso. Caso concreto: a ré, sócia-proprietária da empresa,
foi acusada de suprimir, dolosamente, ICMS, no montante de R$ 600 mil, fraudando a fiscalização tributária por
meio de inserção de elementos inexatos e omissão de operação em documentos exigidos pela lei fiscal. A
imputação foi baseada unicamente na teoria do domínio do fato. Afirmou-se que é autor do delito aquele que
delituoso vai acontecer ou não, independentemente dessa pessoa ter ou não realizado a conduta material de
inserir elemento inexato em documento exigido pela lei fiscal, por exemplo. O STJ não concordou com a
imputação. A teoria do domínio do fato funciona como uma ratio, a qual é insuficiente, por si só, para
aferir a existência do nexo de causalidade entre o crime e o agente. É equivocado afirmar que um
indivíduo é autor porque detém o domínio do fato se, no plano intermediário ligado à realidade, não há
nenhuma circunstância que estabeleça o nexo entre sua conduta e o resultado lesivo. Não há como
considerar, com base na teoria do domínio do fato, que a posição de gestor, diretor ou sócio administrador de
uma empresa implica a presunção de que houve a participação no delito, se não houver, no plano
fático-probatório, alguma circunstância que o vincule à prática delitiva. Em decorrência disso, também não é
correto, no âmbito da imputação da responsabilidade penal, partir da premissa ligada à forma societária, ao
número de sócios ou ao porte apresentado pela empresa para se presumir a autoria, sobretudo porque nem
sempre as decisões tomadas por gestor de uma sociedade empresária ou pelo empresário individual, - seja ela
qual for e de que forma esteja constituída -implicam o absoluto conhecimento e aquiescência com os trâmites
burocráticos subjacentes, os quais, não raro, são delegados a terceiros. STJ. 6ª Turma. REsp 1.854.893-SP, Rel.
LEI ANTITERRORISMO
A tipificação da conduta descrita no art. 5º da Lei Antiterrorismo (atos preparatórios de terrorismo) exige a
motivação por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, expostas
no art. 2º do mesmo diploma legal. STJ. 6ª Turma. HC 537.118-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
O crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor, tipificado no art. 302 do CTB, prevê, como uma
das penas aplicadas, a “suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor.”
Se o réu que praticou este crime é motorista profissional, ele pode, mesmo assim, receber essa sanção ou isso violaria
o direito constitucional ao trabalho? Não viola. O condenado pode sim receber essa sanção, ainda que se trate de
exercício de atividades profissionais (art. 5º, XIII) não é absoluto e a restrição imposta pelo legislador se mostra
A majorante do art. 302, § 1º, II, do CTB será aplicada tanto quando o agente estiver conduzindo o seu
veículo pela via pública e perder o controle do veículo automotor, vindo a adentrar na calçada e atingir a
vítima, como quando estiver saindo de uma garagem ou efetuando qualquer manobra e, em razão de sua
desatenção, acabar por atingir e matar o pedestre. Assim, aplica-se a referida causa de aumento de pena na
hipótese em que o condutor do veículo transitava pela via pública e, ao efetuar manobra, perdeu o controle do
carro, subindo na calçada e atropelando a vítima. STJ. 5ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1.499.912-SP, Rel. Min.
A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é constitucional, posto não
exclusão da tipicidade e da antijuridicidade. STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
É constitucional o tipo penal que prevê o crime de fuga do local do acidente (art. 305 do CTB). STF. Plenário.
ADC 35/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 9/10/2020 (Info 994).
CRIMES DO ECA
Se o sujeito armazena (art. 241-B) arquivos digitais contendo cena de sexo explícito e pornográfica envolvendo
crianças e adolescentes e depois disponibiliza (art. 241-A), pela internet, esses arquivos para outra pessoa, esse
indivíduo terá praticado dois crimes ou haverá consunção e ele responderá por apenas um dos delitos? Em
pornográfico infanto-juvenil. Isso porque o cometimento de um dos crimes não perpassa, necessariamente,
pela prática do outro. No entanto, é possível a absorção a depender das peculiaridades de cada caso,
quando as duas condutas guardem, entre si, uma relação de meio e fim estreitamente vinculadas. O
princípio da consunção exige um nexo de dependência entre a sucessão de fatos. Se evidenciado pelo caderno
probatório que um dos crimes é absolutamente autônomo, sem relação de subordinação com o outro, o réu
deverá responder por ambos, em concurso material. A distinção se dá em cada caso, de acordo com suas
especificidades. STJ. 6ª Turma. REsp 1.579.578-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 04/02/2020 (Info
666)
ou adolescente é ínsito ao crime descrito no art. 241-A da Lei nº 8.069/90, não sendo justificável a
dosimetria da pena (art. 59 do CP), o juiz aumentou a pena-base de 3 para 4 anos afirmando que a conduta
social e a personalidade do agente eram desfavoráveis: “Com base nos elementos constantes dos autos, percebo
que a conduta social e a personalidade do acusado demonstram certa periculosidade pelo grande interesse em
pornografia infantil. Fixo a pena-base privativa de liberdade em 4 (quatro) anos de reclusão nesta fase.” STJ. 6ª
Turma. REsp 1.579.578-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 04/02/2020 (Info 666).
O crime previsto no art. 1°, VII, do Decreto-Lei nº 201/1967 se perfectibiliza quando há uma clara intenção de
Se tiver havido a entrega da prestação de contas em momento posterior ao estipulado, mas se não tiver ficado
suficientemente demonstrada a intenção de atrasar e de descumprir os prazos previstos para se prestar contas,
Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário,
independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores: (...) VII - Deixar de prestar contas, no
devido tempo, ao órgão competente, da aplicação de recursos, empréstimos subvenções ou auxílios internos ou
STJ. 6ª Turma. REsp 1695266/PB, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/06/2020 (Infos 676 e 677).
pública, previstos pelo art. 1º, inciso I, do Decreto-Lei nº 201/67. O pagamento de salário não configura
apropriação ou desvio de verba pública, previstos pelo art. 1º, I, do Decreto-Lei nº 201/67, pois a remuneração é
devida, ainda que questionável a contratação de parentes do Prefeito. STJ. 6ª Turma.AgRg no AREsp
O delito do art.19 da lei 7.492/86, "obter mediante fraude financiamento em instituição financeira não
exige, para a sua configuração, efetivo ou potencial abalo ao Sistema Financeiro Nacional.
STJ. 5ª Turma. gRg no AgRg no AREsp 1642491/SP, Rel Min. Joel Ilan, julgado em 19/05/2020.
de que incide as disposições contidas na Lei nº 7.492/86 (Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro),
especialmente porque essa espécie de contrato caracteriza valor mobiliário, nos termos do art. 2º, IX, da Lei nº
6.385/76. Logo, compete à Justiça Federal apurar os crimes relacionados com essa conduta. Compete à Justiça
Federal julgar crimes relacionados à oferta pública de contrato de investimento coletivo em criptomoedas. STJ. 6ª
Turma. HC 530.563-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 05/03/2020 (Info 667)
PROCESSO PENAL
INQUÉRITO POLICIAL
É legal o auxílio da agência de inteligência ao Ministério Público Estadual durante procedimento criminal
STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).
Eventual nulidade na oitiva do acusado no curso da investigação preliminar não tem o condão de nulificar o
recebimento da denúncia e a ação penal deflagrada, quando existam elementos autônomos que sustentam a
decisão impugnada. Ademais, cabe ressaltar que eventuais vícios na fase extrajudicial não contaminam o
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 124.024/SP. Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/09/2020.
Não haverá infiltração policial se o agente apenas representa a vítima nas negociações de extorsão.
Não há infiltração policial quando agente lotado em agência de inteligência, sob identidade falsa, apenas
representa o ofendido nas negociações da extorsão, sem se introduzir ou se infiltrar na organização criminosa
com o propósito de identificar e angariar a confiança de seus membros ou obter provas sobre a estrutura e o
funcionamento do bando.
STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).
Não há nulidade na ação penal instaurada a partir de elementos informativos colhidos em inquérito
policial que não deveria ter sido conduzido pela Polícia Federal considerando que a situação não se
enquadrava no art. 1º da Lei 10.446/2002. Caso concreto: a Polícia Federal, sob a supervisão do Ministério
Público estadual e do Juízo de Direito, conduziu inquérito policial destinado a apurar crimes de competência da
Justiça Estadual. Entendeu-se que a Polícia Federal não tinha atribuição para apurar tais delitos considerando
disso, o STF entendeu que não havia nulidade na ação penal instaurada com base nos elementos informativos
colhidos. O fato de os crimes de competência da Justiça Estadual terem sido investigados pela Polícia
Federal não geram nulidade. Isso porque esse procedimento investigatório, presidido por autoridade de
Polícia Federal, foi supervisionado pelo Juízo estadual (juízo competente) e por membro do Ministério Público
estadual (que tinha a atribuição para a causa). O inquérito policial constitui procedimento administrativo,
finalidade consiste em subsidiar eventual denúncia a ser apresentada pelo Ministério Público, razão pela
qual irregularidades ocorridas não implicam, de regra, nulidade de processo-crime. O art. 5º, LIII, da
Constituição Federal, afirma que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente”. Esse dispositivo contempla o chamado “princípio do juiz natural”, princípio esse que não se
estende para autoridades policiais, considerando que estas não possuem competência para julgar. Logo, não é
possível anular provas ou processos em tramitação com base no argumento de que a Polícia Federal não teria
atribuição para investigar os crimes apurados. A desconformidade da atuação da Polícia Federal com as
disposições da Lei nº 10.446/2002 e eventuais abusos cometidos por autoridade policial, embora possam
implicar responsabilidade no âmbito administrativo ou criminal dos agentes, não podem gerar a
nulidade do inquérito ou do processo penal. STF. 1ª Turma. HC 169348/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
É constitucional a Portaria GP 69/2019, por meio da qual o Presidente do STF determinou a instauração do
Inquérito 4781, com o intuito de apurar a existência de notícias fraudulentas (fake news), denunciações
caluniosas, ameaças e atos que podem configurar crimes contra a honra e atingir a honorabilidade e a
segurança do STF, de seus membros e familiares. Também é constitucional o art. 43 do Regimento Interno do
STF, que foi recepcionado pela CF/88 como lei ordinária. O STF, contudo, afirmou que o referido inquérito, para
c) o objeto do inquérito deve se limitar a investigar manifestações que acarretem risco efetivo à
Isso pode ocorrer por meio de ameaças aos membros do STF e a seus familiares ou por atos que atentem contra
os Poderes instituídos, contra o Estado de Direito e contra a democracia; e, por fim, d) a investigação deve
anonimamente ou não, desde que não integrem esquemas de financiamento e divulgação em massa nas redes
sociais. O art. 43 do RISTF prevê o seguinte: “Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do
delegará esta atribuição a outro Ministro.” Muito embora o dispositivo exija que os fatos apurados ocorram na
“sede ou dependência” do próprio STF, o caráter difuso dos crimes cometidos por meio da internet permite
estender (ampliar) o conceito de “sede”, uma vez que o STF exerce jurisdição em todo o território nacional. Logo,
os crimes objeto do inquérito, contra a honra e, portanto, formais, cometidos em ambiente virtual, podem ser
considerados como cometidos na sede ou dependência do STF. STF. Plenário. ADPF 572 MC/DF, Rel. Min. Edson
A Lei nº 13.964/2019 (“Pacote Anticrime”) inseriu o art. 28-A ao CPP, criando, no ordenamento jurídico pátrio, o
instituto do acordo de não persecução penal (ANPP). A Lei nº 13.964/2019, no ponto em que institui o ANPP, é
considerada lei penal de natureza híbrida, admitindo conformação entre a retroatividade penal benéfica
e o tempus regit actum. O ANPP se esgota na etapa pré-processual, sobretudo porque a consequência da
sua recusa, sua não homologação ou seu descumprimento é inaugurar a fase de oferecimento e de
considerados válidos os atos praticados em conformidade com a lei então vigente. Dessa forma, a
retroatividade penal benéfica incide para permitir que o ANPP seja viabilizado a fatos anteriores à Lei nº
13.964/2019, desde que não recebida a denúncia. Assim, mostra-se impossível realizar o ANPP quando já
recebida a denúncia em data anterior à entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019. STJ. 5ª Turma. HC 607.003-SC,
Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2020 (Info 683). STF. 1ª Turma. HC 191464 AgR, Rel.
DENÚNCIA ANÔNIMA
Denúncias anônimas não podem embasar, por si sós, medidas invasivas como interceptações telefônicas,
notícia anônima de comércio de drogas ilícitas numa determinada casa, a polícia deve, antes de representar pela
expedição de mandado de busca e apreensão, proceder a diligências veladas no intuito de reunir e documentar
outras evidências que confirmem, indiciariamente, a notícia. Se confirmadas, com base nesses novos elementos
de informação o juiz deferirá o pedido. Se não confirmadas, não será possível violar o domicílio, sendo a
expedição do mandado desautorizada pela ausência de justa causa. O mandado de busca e apreensão expedido
exclusivamente com apoio em denúncia anônima é abusivo. STF. 2ª Turma. HC 180709/SP, Rel. Min. Gilmar
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA
jurisdição do Juízo que a determinou, deve ser efetivada por meio da condução do preso à autoridade judicial
competente na localidade em que ocorreu a prisão. NÃO SE ADMITE, POR AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL, A
SUA REALIZAÇÃO POR MEIO DE VIDEOCONFERÊNCIA, ainda que pelo Juízo que decretou a custódia cautelar.
STJ. 3ª Seção. CC 168.522-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/12/2019 (Info 663).
A audiência de custódia constitui direito público subjetivo, de caráter fundamental. A audiência de custódia (ou
de apresentação) constitui direito público subjetivo, de caráter fundamental, assegurado por convenções
internacionais de direitos humanos a que o Estado brasileiro aderiu, já incorporadas ao direito positivo interno
(Convenção Americana de Direitos Humanos e Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos). Traduz
prerrogativa não suprimível assegurada a qualquer pessoa. Sua imprescindibilidade tem o beneplácito do
magistério jurisprudencial (ADPF 347 MC) e do ordenamento positivo doméstico (Lei nº 13.964/2019 e Resolução
213/2015 do CNJ). STF. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/10/2020 (Info 994)
O que acontece se, injustificadamente, não for realizada a audiência de custódia? A ausência da realização da
audiência de custódia qualifica-se como causa geradora da ilegalidade da própria prisão em flagrante, com o
custódia e não apresentar uma motivação idônea para essa conduta, ele estará sujeito à tríplice
responsabilidade, nos termos do art. 310, § 3º do CPP. STF. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em
COMPETÊNCIA
O fato de as investigações estarem perto do fim e de já terem demorado anos não servem como
argumento jurídico válido para prorrogar a competência do STF. Apesar da efetiva evolução das
investigações, sob a supervisão do STF, não houve oferecimento de denúncia contra o agravante nem
encerramento da instrução processual penal. Logo, o marco temporal relativo à data de apresentação das
razões finais não foi alcançado. Além disso, quanto ao segundo argumento da defesa, o STF esclareceu que é
possível a imediata remessa dos autos às instâncias competentes, inclusive antes da publicação do acórdão ou
do trânsito em julgado, quando constatado o risco de prescrição. STF. 2ª Turma. Pet 7716 AgR/DF, Rel. Min.
Compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julgamento de homicídio praticado por militar contra outro
Militar do Estado do Piauí. Determinado dia, Francisco, que se encontrava de férias, passeava em Teresina (PI).
Samuel percebeu que Francisco estava armado e, mesmo estando de folga, abordou o soldado indagando sobre
a arma. Iniciou-se uma discussão e Francisco atirou três vezes contra Samuel, que faleceu em razão dos
disparos.
A vítima e o réu - ambos policiais militares à época dos fatos - estavam fora de serviço quando iniciaram a
discussão. Logo, não se pode falar que houve crime militar, devendo, portanto, o réu ser julgado pela Justiça
Comum estadual (Tribunal do Júri). STJ. 3ª Seção. CC 170.201-PI, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
A Justiça do Trabalho não tem competência para processar e julgar ações penais. STF. Plenário. ADI 3684,
Compete à Justiça Estadual o pedido de habeas corpus preventivo para viabilizar, para fins medicinais, o
cultivo, uso, porte e produção artesanal da Cannabis (maconha), bem como porte em outra unidade da
federação, quando não demonstrada a internacionalidade da conduta. STJ. 3ª Seção. CC 171.206-SP, Rel. Min.
Ausentes os elementos que revelem ter havido evasão de divisas ou lavagem de dinheiro em detrimento de
interesses da União compete à Justiça Estadual processar e julgar crimes relacionados a pirâmide financeira em
enquadra no conceito de atividade financeira, razão pela qual o deslocamento do feito para a Justiça
detrimento de bens e serviços ou interesse da União. STJ. 3ª Seção. CC 170.392-SP, Rel. Min. Joel Ilan
O TJDFT faz parte do Poder Judiciário da União. Mesmo assim, se for praticado falso testemunho em processo
que ali tramita, a competência será da Justiça do Distrito Federal (e não da Justiça Federal comum). Isso
porque a Justiça do Distrito Federal possui competência para julgar crimes, não havendo interesse direto e
específico da União a atrair o art. 109, IV, da CF/88. STJ. 3ª Seção. CC 166.732-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
Compete à Justiça Federal julgar os crimes dos arts. 241, 241-A e 241-B do ECA, se a conduta de
disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente tiver sido praticada
pela internet e for acessível transnacionalmente. Redação anterior da tese do Tema 393: Compete à Justiça
Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo
criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B da Lei nº 8.069/1990) quando praticados por meio da rede
Edson Fachin, julgado em 28 e 29/10/2015 (Repercussão Geral – Tema 393) (Info 805).
Redação atual, modificada em embargos de declaração: Compete à Justiça Federal processar e julgar os
envolvendo criança ou adolescente, quando praticados por meio da rede mundial de computadores (arts.
241, 241-A e 241-B da Lei nº 8.069/1990). STF. Plenário. RE 628624 ED, Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020
É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função para
Defensores Públicos e Procuradores do Estado. Constituição estadual não pode atribuir foro por prerrogativa
de função a autoridades diversas daquelas arroladas na Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6501 Ref-MC/PA,
ADI 6508 Ref-MC/RO, ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 RefMC/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em
PROVAS
As inovações do Pacote Anticrime na Lei n. 9.296/1996 não alteraram o entendimento de que é lícita a
prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do
outro.
STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).
Obs: o julgado acima foi proferido antes da derrubada dos vetos relativos ao Pacto Anticrime (Lei nº
13.964/2019). Depois que o Congresso Nacional rejeitou a maioria dos vetos, entrou em vigor o § 4º do art. 8º-A
da Lei nº 9.296/96, inserido pela Lei nº 12.964/2019. Veja o que diz esse dispositivo que, repito, é posterior ao
julgado do STJ:
§ 4º A captação ambiental feita por um dos interlocutores sem o prévio conhecimento da autoridade policial ou
do Ministério Público poderá ser utilizada, em matéria de defesa, quando demonstrada a integridade da
gravação.
conhecimento do outro só poderá ser utilizada em matéria de defesa. Não seria possível utilizá-la para imputar
crimes ao outro interlocutor que não sabe que está sendo gravado.
Logo, pela redação literal do dispositivo, teria havido mudança naquilo que se entendia na jurisprudência.
A ausência de exame de corpo de delito não inviabiliza, por si só, a pronúncia do réu quando presentes
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1861493/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 09/06/2020.
Não há ilegalidade ou nulidade na decisão do juiz que opta pela escolha de realização do interrogatório do réu
por meio de videoconferência em razão da dificuldade de deslocamento do acusado até o local da audiência,
bem como pelo risco à segurança pública, haja vista a insuficiência de agentes para realizar a escolta.
Em obediência ao princípio pas de nullité sans grief, que vigora plenamente no processo penal pátrio (art. 563 do
CPP), não se declara nulidade de ato se dele não resulta demonstrado efetivo prejuízo para a parte.
STJ. 6ª Turma. AgRg no RHC 125373/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 18/08/2020.
O ato de delegação da condução e direção de produção de prova oral à autoridade estrangeira, a fim de
que esta proceda diretamente à inquirição da testemunha ou do investigado, não encontra qualquer tipo
Caso concreto: o Tribunal de Paris solicitou cooperação jurídica em matéria penal, na modalidade auxílio direto,
a fim de que fossem realizadas diversas diligências no Brasil, dentre as quais a oitiva de investigado e busca e
apreensão no seu endereço, para subsidiar apuração criminal que ocorre na Justiça da França. O pedido da
autoridade francesa foi embasado em Acordo de Cooperação Judiciária em Matéria Penal, na Convenção das
Nações Unidas contra a Corrupção e na Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada
Transnacional. O pleito foi encaminhado ao Ministério da Justiça do Brasil, que o remeteu ao Procurador-Geral
da República o qual, por sua vez, designou Procurador da República atuante no Rio de Janeiro para a execução
das diligências. O Membro do Ministério Público Federal requereu o deferimento das medidas assecuratórias ao
O investigado impetrou habeas corpus sustentando a nulidade de sua oitiva porque todas as perguntas foram
formuladas direta e exclusivamente pela Autoridade Judiciária francesa que acompanhava o Membro do
O ato de delegação da condução e direção de produção de prova oral à autoridade estrangeira, a fim de que
esta proceda diretamente à inquirição da testemunha ou do investigado, não encontra qualquer tipo de
respaldo constitucional, legal ou jurisprudencial. Trata-se de ato eivado de nulidade absoluta, por ofensa à
STJ. 6ª Turma. RHC 102322-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
A escassez de agentes penitenciários para realizar a escolta de detentos é argumento válido para
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 587424/SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 06/10/2020.
O direito à produção de provas não é absoluto, haja vista que a própria lei processual penal, em seu
artigo 400, § 1º, faculta ao julgador, desde que de forma fundamentada, indeferir as provas consideradas
STF. 2ª Turma. HC 191858, 628075, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 30/11/2020.
Não é possível aplicar multa contra o WhatsApp pelo fato de a empresa não conseguir interceptar as
mensagens trocadas pelo aplicativo e que são protegidas por criptografia de ponta a ponta.
Caso concreto: o juiz expediu ordem para que o WhatsApp interceptasse as mensagens trocadas por
determinados investigados, suspeitos de integrarem uma organização criminosa que estariam ainda praticando
crimes. O WhatsApp respondeu que não consegue cumprir a determinação judicial por impedimentos de ordem
técnica. Isso porque as mensagens trocadas via aplicativo são criptografadas de ponta a ponta. O magistrado
Segundo a opinião dos especialistas, realmente não é possível a interceptação de mensagens criptografadas do
Ao utilizar a criptografia de ponta a ponta, a empresa está criando um mecanismo de proteção à liberdade de
expressão e de comunicação privada, garantia reconhecida expressamente na Constituição Federal (art. 5º, IX).
A criptografia é, portanto, um meio de se assegurar a proteção de direitos que, em uma sociedade democrática,
A criptografia protege os direitos dos usuários da internet, garantindo a privacidade de suas comunicações.
Logo, é do interesse do Estado brasileiro encorajar as empresas e as pessoas a utilizarem a criptografia e manter
Existe, contudo, uma ponderação a ser feita: em alguns casos a criptografia é utilizada para acobertar a prática
de crimes, como, por exemplo, os casos de pornografia infantil e de condutas antidemocráticas, como
manifestações xenófobas, racistas e intolerantes, que ameaçam o Estado de Direito. A partir daí, indaga-se: o
risco à segurança pública representado pelo uso da criptografia justifica restringir ou proibir a sua adoção pelas
empresas?
O tema está sendo apreciado pelo STF na ADPF 403 e na ADI 5527, que foi iniciado com os votos dos Ministros
Edson Fachin e Rosa Weber, tendo sido suspenso em razão de pedido de vista.
harmonia com os votos já proferidos pelos Ministros do STF, chegou à conclusão de que:
O ordenamento jurídico brasileiro não autoriza, em detrimento da proteção gerada pela criptografia de ponta a
Os benefícios advindos da criptografia de ponta a ponta se sobrepõem às eventuais perdas pela impossibilidade
Diante disso, o recurso foi provido para afastar a multa aplicada pelo magistrado ante a impossibilidade fática,
no caso concreto, de cumprimento da ordem judicial, haja vista o emprego da criptografia de ponta-a-ponta.
STJ. 3ª Seção. RMS 60531-RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/12/2020 (Info
684).
Mesmo que a investigação criminal tramite em segredo de justiça será possível que o investigado tenha
acesso amplo autos, inclusive a eventual relatório de inteligência financeira do COAF, sendo permitido,
contudo, que se negue o acesso a peças que digam respeito a dados de terceiros protegidos pelo segredo
de justiça. Essa restrição parcial não viola a súmula vinculante 14. Isso porque é excessivo o acesso de um
dos investigados a informações, de caráter privado de diversas pessoas, que não dizem respeito ao direito de
defesa dele. STF. 1ª Turma. Rcl 25872 AgR-AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/12/2019 (Info 964)
O art. 3º da LC 156/2010, do Estado de Pernambuco redenominou o cargo de datiloscopista policial para perito
papiloscopista, no âmbito da polícia civil. Para o STF, essa previsão é constitucional. A competência para dispor
sobre os peritos oficiais da polícia civil é concorrente, nos termos do art. 24, XVI, da CF/88, que prevê que
compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre organização, garantias,
direitos e deveres dos policiais civis. A União, cumprindo o que prevê o art. 24, XVI, da CF/88, editou as normas
gerais sobre o tema, ao aprovar a Lei nº 12.030/2009, que “dispõe sobre as perícias oficiais”. A LC estadual
156/2010 não possui nenhuma antinomia com a Lei federal nº 12.030/2009. O art. 5º da Lei nº 12.030/2009 não
foi exaustivo ao elencar determinados peritos. Podem existir outros. Além disso, a Lei nº 12.030/2009 não
abrange, portanto, todos os peritos oficiais que possuem a incumbência estatal de elucidar crimes, sendo
possível aventar um rol bem mais amplo de agentes que atuam como peritos oficiais. STF. Plenário. ADI 5182/PE,
A defesa alegou nulidade processual por desrespeito ao art. 212 do CPP, por ter o juízo inquerido diretamente as
testemunhas. A magistrada que presidia a audiência reputou observados o contraditório e a ampla defesa,
porque depois de perguntar, ela permitiu que os defensores e o MP fizessem questionamentos. A 1ª Turma do
STF discutiu se houve nulidade. Dois Ministros (Marco Aurélio e Rosa Weber) consideraram que não foi
nulidade processual a partir da audiência de instrução e julgamento. Os outros dois Ministros (Alexandre de
Moraes e Luiz Fux) entenderam que não deveria ser declarada a nulidade do processo porque a alteração
efetuada no art. 212 do CPP, ao permitir que as partes façam diretamente perguntas às testemunhas, não
retirou do juiz, como instrutor do processo, a possibilidade de inquiri-las diretamente. Diante do empate na
votação, prevaleceu a decisão mais favorável ao paciente. STF. 1ª Turma. HC 161658/SP, Rel. Min. Marco Aurélio,
Obs: prevalece no STF e no STJ que a inobservância do procedimento previsto no art. 212 do CPP pode
gerar, quando muito, nulidade relativa, cujo reconhecimento depende da demonstração do prejuízo para
a parte que a suscita (STF. 1ª Turma. HC 177530 AgR, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 20/12/2019).
Sem autorização judicial ou fora das hipóteses legais, é ilícita a prova obtida mediante abertura de carta,
telegrama, pacote ou meio análogo. STF. Plenário. RE 1116949, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p// Acórdão Min.
Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 1041) (Info 993).
A quebra do sigilo de dados armazenados não obriga a autoridade judiciária a indicar previamente as
pessoas que estão sendo investigadas, até porque o objetivo precípuo dessa medida é justamente de
proporcionar a identificação do usuário do serviço ou do terminal utilizado. Logo, a ordem judicial para
quebra do sigilo dos registros, delimitada por parâmetros de pesquisa em determinada região e por
período de tempo, não se mostra medida desproporcional, porquanto, tendo como norte a apuração de
gravíssimos crimes, não impõe risco desmedido à privacidade e à intimidade dos usuários possivelmente
atingidos por tal diligência. STJ. 3ª Seção. RMS 61.302-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/08/2020
(Info 678).
Não há nulidade na busca e apreensão efetuada por policiais, sem prévio mandado judicial, em
apartamento que não revela sinais de habitação, nem mesmo de forma transitória ou eventual, se a
aparente ausência de residentes no local se alia à fundada suspeita de que o imóvel é utilizado para a prática de
crime permanente. STJ. 5ª Turma. HC 588.445-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/08/2020
(Info 678).
Não é necessário especificar a limitação temporal para os acessos requeridos pelo Ministério Público, por
se tratar de dados estáticos, constantes nas plataformas de dados. Apesar de o art. 22, III, da Lei nº
12.965/2014 (Marco Civil da Internet) determinar que a requisição judicial de registro deve conter o período ao
qual se referem, tal quesito só é necessário para o fluxo de comunicações, sendo inaplicável nos casos de dados
já armazenados que devem ser obtidos para fins de investigações criminais. STJ. 6ª Turma. HC 587.732-RJ, Rel.
instrução processual, desde o interrogatório, por suposta violação do art. 400, do CPP, a 5ª Turma do STJ
consolidou o entendimento de que, para se reconhecer nulidade pela inversão da ordem de interrogatório, é
necessário:
• que o inconformismo da Defesa tenha sido manifestado tempestivamente, ou seja, na própria audiência em
• que seja comprovada a ocorrência de prejuízo que o réu teria sofrido com a citada inversão. STJ. 5ª Turma.
AgRg no AREsp 1573424/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 08/09/2020.
NÃO. Existe julgado da 6ª Turma do STJ nesse sentido: É desnecessária a comprovação de prejuízo para o
reconhecimento da nulidade decorrente da não observância do rito previsto no art. 400 do CPP, o qual
determina que o interrogatório do acusado seja o último ato a ser realizado. Embora, em regra, a decretação da
nulidade de determinado ato processual requeira a comprovação de prejuízo concreto para a parte - em razão
do princípio do pas de nullité sans grief -, o prejuízo à defesa é evidente e corolário da própria inobservância da
máxima efetividade das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa. STJ. 6ª Turma. REsp
1.808.389-AM, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/10/2020 (Info 683).
Obs: Segundo Márcio Cavalcante, prevalece a primeira corrente, havendo decisões da própria 6ª Turma do STJ
também exigindo a comprovação do prejuízo (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1617950/MG, Rel. Min. Antonio
PROVA TESTEMUNHAL
A vítima contratou um advogado para representar seus interesses no processo criminal. Sucede que, logo no
início do processo, ela e o advogado se desentenderam e a vítima revogou expressamente os poderes que havia
conferido ao advogado, proibindo-o de atuar no caso. Além disso, requereu que ele devolvesse qualquer
documento que estivesse em sua posse e que fosse relacionado com o fato apurado. Ao saber disso, o réu pediu
a oitiva do advogado como testemunha no processo penal. Esse advogado não poderá ser ouvido como
testemunha. Para que o advogado possa prestar seu testemunho é indispensável que haja o
consentimento válido do interessado direto na manutenção do segredo (cliente). Mesmo que a parte
interessada faça isso, ou seja, mesmo que ela autorize que o profissional revele os fatos resguardados
pelo sigilo, ainda assim ele é quem irá decidir se irá dar ou não seu testemunho. No caso concreto, o
advogado que foi arrolado como testemunha teve seus poderes como patrono da interessada expressamente
revogados, vedando-se sua atuação no caso. Além disso, requereu-se que devolvesse qualquer documento
de manter o segredo profissional sobre as informações e documentos de que teve conhecimento em razão da
atuação como defensor técnico. Portanto, o advogado não pode testemunhar sobre fatos de que tomou
conhecimento em razão de seu ofício, como para o exercício de sua atuação profissional a partir da narração
apresentada pelo cliente e eventuais documentos por ele entregues. STF. 2ª Turma. Rcl 37235/RR. Rel. Min.
MEDIDAS CAUTELARES
policial instaurado para apuração de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores.
Com base nesse entendimento, o STF declarou inconstitucional o art. 17-D da Lei de Lavagem de Dinheiro
(Lei nº 9.613/98):
Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e
demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno. O
afastamento do servidor somente se justifica quando ficar demonstrado nos autos que existe risco caso ele
continue no desempenho de suas funções e que o afastamento é medida eficaz e proporcional para se tutelar a
investigação e a própria Administração Pública. Tais circunstâncias precisam ser apreciadas pelo Poder
Judiciário. STF. Plenário. ADI 4911/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado
PRISÃO PREVENTIVA
A alegação de desproporcionalidade da prisão preventiva somente poderá ser aferível após a prolação de
sentença, não cabendo, durante o curso do processo, a antecipação da análise quanto a possibilidade de
cumprimento de pena em regime menos gravoso, caso seja prolatada sentença condenatória, sob pena
Assim, não há que se falar em ofensa ao princípio da homogeneidade das medidas cautelares porque não cabe
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 559.434/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 19/05/2020.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 539.502/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 19/05/2020.
No HC 143641/SP, a 2ª Turma do STF decidiu que, em regra, deve ser concedida prisão domiciliar para todas as
mulheres presas que sejam gestantes, puérperas, mães de crianças ou mães de pessoas com deficiência.
O fato de a mulher ser reincidente, por si só, não pode ser óbice à concessão da prisão domiciliar.
A lei é expressa sempre que a reincidência é circunstância apta a agravar a situação da pessoa envolvida na
persecução penal, e este não é o caso da concessão da prisão domiciliar prevista no art. 318 do Código de
Processo Penal.
STF. 2a Turma. Rcl 32579 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 01/09/2020.
A reforma legislativa operada pelo chamado “Pacote Anticrime” (Lei nº 13.964/2019) introduziu a revisão
periódica dos fundamentos da prisão preventiva, por meio da inclusão do parágrafo único ao art. 316 do CPP. A
redação atual prevê que o órgão emissor da decisão deverá revisar a necessidade de sua manutenção a cada
noventa dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar ilegal a prisão preventiva:
Art. 316 (...) Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a
necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena
Assim, a prisão preventiva é decretada sem prazo determinado. Contudo, o CPP agora prevê que o juízo
que decretou a prisão preventiva deverá, a cada 90 dias, proferir uma nova decisão analisando se ainda
está presente a necessidade da medida. Isso significa que a manutenção da prisão preventiva exige a
demonstração de fatos concretos e atuais que a justifiquem. A existência desse substrato empírico
mínimo, apto a lastrear a medida extrema, deverá ser regularmente apreciado por meio de decisão
fundamentada. A esse respeito, importante mencionar também o § 2º do art. 312 do CPP, inserido pelo Pacote
Anticrime: “A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e
existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada.” STF. 2ª
Turma. HC 179859 AgR/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/3/2020 (Info 968)
A inobservância do prazo nonagesimal do art. 316 do Código de Processo Penal não implica automática
revogação da prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado a reavaliar a legalidade e a
atualidade de seus fundamentos. STF. Plenário. SL 1395 MC Ref/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14 e
Tem direito à substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar — desde que observados os
requisitos do art. 318 do Código de Processo Penal e não praticados crimes mediante violência ou grave ameaça
ou contra os próprios filhos ou dependentes — os pais, caso sejam os únicos responsáveis pelos cuidados de
menor de 12 anos ou de pessoa com deficiência, bem como outras pessoas presas, que não sejam a mãe
STF. 2ª Turma. HC 165704/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 20/10/2020 (Info 996)
O parágrafo único do art. 316 do CPP prevê o seguinte: Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o
órgão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão
fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal. A obrigação de revisar, a cada 90 (noventa) dias,
a necessidade de se manter a custódia cautelar (art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal) é
imposta apenas ao juiz ou tribunal que decretar a prisão preventiva (julgador que a decretou
inicialmente). A norma contida no parágrafo único do art. 316 do CPP não se aplica aos Tribunais de Justiça e
aos Tribunais Regionais Federais, quando em atuação como órgão revisor. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC
569.701/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/06/2020. STJ. 6ª Turma. HC 589.544-SC, Rel. Min. Laurita Vaz,
A Recomendação 62/2020 do CNJ não é aplicável ao acusado que não está privado de liberdade no
sistema penal brasileiro. Caso concreto: a justiça brasileira decretou a prisão preventiva do réu, brasileiro que
mora regularmente nos EUA. O Governo norte-americano negou o pedido de extradição. A defesa desse réu
impetrou habeas corpus no Brasil pedindo a revogação da prisão decretada considerando que ele é idoso,
fumante e está com H1N1, de forma que pertence ao grupo de risco da Covid-19. O STJ indeferiu o pedido
considerando que o réu está no exterior há anos e não corre mais o risco de ser extraditado. Na Recomendação
62/2020, o CNJ afirma que os juízes e Tribunais deverão adotar medidas para prevenir a propagação da Covid-19
no âmbito do sistema de justiça penal, fazendo a revisão das prisões temporárias. Vale ressaltar, contudo, que
essa Recomendação não se aplica ao acusado porque ele não está inserido no sistema penal brasileiro. A adoção
de cautelas quanto à prisão por conta da pandemia da Covid-19 tem o objetivo de reduzir os riscos
epidemiológicos em unidades prisionais e não o de blindar pessoas que residem no exterior. STJ. 6ª Turma. AgRg
no HC 575.112-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 02/06/2020 (Info 673).
Depois da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), não é mais possível que o juiz, de ofício, converta a prisão em
flagrante em prisão preventiva (é indispensável requerimento). Não é possível a decretação “ex officio” de
prisão preventiva em qualquer situação (em juízo ou no curso de investigação penal), inclusive no contexto
de audiência de custódia, sem que haja, mesmo na hipótese da conversão a que se refere o art. 310, II, do
CPP, prévia, necessária e indispensável provocação do Ministério Público ou da autoridade policial. A Lei
nº 13.964/2019, ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art. 282, § 2º, e do art. 311, ambos do CPP,
vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva sem o prévio requerimento das partes ou
representação da autoridade policial. Logo, não é mais possível, com base no ordenamento jurídico vigente,
a atuação ‘ex officio’ do Juízo processante em tema de privação cautelar da liberdade. A interpretação do
art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz do art. 282, § 2º e do art. 311, significando que se tornou inviável,
em prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito, anterior e formal provocação do
Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do querelante ou do assistente do MP. STJ. 5ª
Turma. HC 590039/GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/10/2020. STF. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de
Em sentido contrário temos a posição minoritária da 6ª Turma do STJ, que deve ser superada em breve: mesmo
após as inovações trazidas pelo Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/2019), não há ilegalidade na conversão da prisão
em flagrante em preventiva, de ofício, pelo magistrado (STJ. 6ª Turma. HC 605.305-MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
PRISÃO DOMICILIAR
Qualquer prisão processual deve ser detraída da pena final imposta, não importa o local de seu
cumprimento - cadeia, domicílio ou hospital -, devendo, portanto, a decisão ser mantida por seus
próprios fundamentos.
Assim, mesmo o tempo em que o indivíduo ficou em prisão domiciliar também deve ser detraído do tempo total
de pena.
STJ. 6ª Turma. AgRg no AgRg nos EDcl no HC 442.538/PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 05/03/2020.
NÃO É POSSÍVEL a concessão de prisão domiciliar para condenada gestante ou que seja mãe ou
responsável por crianças ou pessoas com deficiência se já houver sentença condenatória transitada em
julgado e ela não preencher os requisitos do art. 117 da LEP. STF. 1ª Turma. HC 177164/PA, Rel. Min. Marco
LIBERDADE PROVISÓRIA
Em razão da pandemia de covid-19, concede-se a ordem para a soltura de todos os presos a quem foi
submetidos à privação cautelar em razão do não pagamento do valor. Não se mostra proporcional, neste
período de pandemia, a manutenção dos réus na prisão, tão somente em razão do não pagamento da fiança,
visto que os casos - notoriamente de menor gravidade – não revelam a excepcionalidade imprescindível para o
decreto preventivo. STJ. 3ª Seção. HC 568.693-ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 14/10/2020 (Info
681)
TRIBUNAL DO JÚRI
considerando que caberá ao jurados decidirem se essa situação se enquadra, ou não, na qualificadora em
tela.
feminicídio, o debate acerca da sua efetiva aplicação para vítima trans é tarefa que incumbirá aos jurados na
STJ. 5ª Turma. HC 541.237/DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/12/2020.
A anulação de decisão do tribunal do júri, por ser manifestamente contrária à prova dos autos, não viola
a regra constitucional que assegura a soberania dos veredictos do júri (art. 5º, XXXVIII, c, da CF/88). Vale
ressaltar, ainda, que não há contrariedade à cláusula de que ninguém pode ser julgado mais de uma vez pelo
mesmo crime. Ainda que se forme um segundo Conselho de Sentença, o julgamento é um só, e termina
com o trânsito em julgado da decisão. STF. 1ª Turma. RHC 170559/MT, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o
Na sessão plenária do Tribunal do Júri, na fase de sustentações orais, o Ministério Público falou durante 1h e
30min e, ao final de sua exposição, pediu a absolvição do réu. Em seguida, o advogado constituído fez
sustentação oral apenas concordando com o Ministério Público e pedindo igualmente a absolvição. A
manifestação da defesa durou apenas 3 minutos. Mesmo com a manifestação do MP pedindo a absolvição, os
jurados decidiram condenar o réu. O STJ e o STF afirmaram que não houve nulidade por ausência de defesa e
mantiveram a condenação. O réu foi acompanhado pela sua defesa na sessão de julgamento pelo Tribunal do
Júri, tendo reiterado o mandato conferido ao seu advogado na interposição da apelação. Assim, o próprio
paciente não se insurgiu contra a atuação de seu advogado, tanto assim que com ele permaneceu, inclusive para
fins de apelação criminal. Além disso, no caso, não houve ausência de defesa, de modo que não se pode falar
em nulidade absoluta. Se houve nulidade, esta teria sido apenas relativa, a qual depende da demonstração de
efetivo prejuízo, o que não ocorreu. Consolidou-se no âmbito dos Tribunais Superiores o entendimento de que
apenas a absoluta falta de defesa constitui nulidade absoluta da ação penal. Se a alegação é a de que a
defesa foi insuficiente, o julgamento só deverá ser anulado e ficar demonstrado o efetivo prejuízo. Isso porque a
defesa insuficiente é hipótese de nulidade relativa. Nesse sentido é a Súmula 523 do STF. Não se pode
classificar como insatisfatória a atuação do advogado, que exerceu a defesa de acordo com a estratégia
que considerou melhor no caso. STF. 2ª Turma. HC 164535 AgR/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
O desaforamento é medida excepcional, cabível apenas quando comprovada por fatos objetivos e
concretos a parcialidade do Conselho de Sentença. A simples presunção de que os jurados poderiam ter
sido influenciados por ampla divulgação do caso pela mídia e a mera suspeita acerca da parcialidade dos
Cabe apelação com fundamento no art. 593, III, “d”, do CPP (decisão manifestamente contrária à prova dos
A 3ª Seção do STJ firmou o entendimento de que a anulação da decisão absolutória do Conselho de Sentença
(ainda que por clemência), manifestamente contrária à prova dos autos, segundo o Tribunal de Justiça,
por ocasião do exame do recurso de apelação interposto pelo Ministério Público (art. 593, III, “d”, do CPP),
não viola a soberania dos veredictos. STJ. 5ª Turma. HC 560.668/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 18/08/2020.
A absolvição do réu, ante resposta a quesito genérico de absolvição previsto no art. 483, § 2º, do CPP, não
depende de elementos probatórios ou de teses veiculadas pela defesa. Isso porque vigora a livre convicção
dos jurados. Em razão da norma constitucional que consagra a soberania dos veredictos, a sentença
absolutória de Tribunal do Júri, fundada no quesito genérico de absolvição, não implica nulidade da
decisão a ensejar apelação da acusação. Os jurados podem absolver o réu com base na livre convicção e
independentemente das teses veiculadas, considerados elementos não jurídicos e extraprocessuais. STF. 1ª
Turma. HC 178777/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/9/2020 (Info 993).
quesitação aos jurados. Inseriu-se um quesito genérico e obrigatório, em que se pergunta ao julgador leigo: “O
jurado absolve o acusado?” (art. 483, III e §2º, CPP). Ou seja, o Júri pode absolver o réu sem qualquer
motivação na decisão dos jurados, configura-se a possibilidade de absolvição por clemência, ou seja, mesmo em
contrariedade manifesta à prova dos autos. Se ao responder o quesito genérico o jurado pode absolver o réu
sem especificar os motivos, e, assim, por qualquer fundamento, não há absolvição com tal embasamento que
possa ser considerada “manifestamente contrária à prova dos autos”. Limitação ao recurso da acusação com
base no art. 593, III, “d”, CPP, se a absolvição tiver como fundamento o quesito genérico (art. 483, III e §2º, CPP).
Inexistência de violação à paridade de armas. Presunção de inocência como orientação da estrutura do processo
penal. Inexistência de violação ao direito ao recurso (art. 8.2.h, CADH). Possibilidade de restrição do recurso
acusatório. STF. 2ª Turma. HC 185068, Rel. Celso de Mello, Relator p/ Acórdão Gilmar Mendes, julgado em
20/10/2020
A falta de abertura de prazo, após o encerramento da instrução, para manifestação das partes acerca do
interesse na feitura de diligências complementares constitui nulidade relativa, cujo reconhecimento pressupõe
que o inconformismo seja veiculado em momento oportuno, ou seja, quando da apresentação de alegações
finais.
STF. 1ª Turma. HC 147584/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2020 (Info 980).
É POSSÍVEL que o réu permaneça algemado durante o julgamento no Tribunal do Júri caso existam nos
autos informações fornecidas pela polícia no sentido de que o acusado integra milícia, possui extensa
folha de antecedentes criminais e foi transferido para presídio federal de segurança máxima justamente
em virtude da sua alta periculosidade. Não se pode desconsiderar o que está nos autos do processo e aquilo
que foi informado pela polícia. A questão da periculosidade, ou não, do réu é assunto de polícia e não de
juiz. Se a polícia informa que o réu é perigoso, o juiz que, normalmente, entra em contato com o réu pela
primeira vez, tem de confiar na presunção de legitimidade da informação passada pela autoridade
policial. Fora dos casos de abuso patente, é preciso dar credibilidade àquele que tem o encargo de zelar pela
segurança pública, inclusive no âmbito do tribunal. Em casos assim, a decisão do juízo que mantém as algemas
não viola a súmula vinculante 11. STF. 1ª Turma. Rcl 32970 AgR/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
A defesa do ex-Presidente Lula impetrou habeas corpus no STF pedindo o desentranhamento do “Termo de
Colaboração de Antônio Palocci Filho”, cuja juntada aos autos foi promovida de ofício, pelo então Juiz Federal
Sérgio Moro. O STF entendeu que essa juntada foi ilícita e determinou o seu desentranhamento. Os Ministros
apontaram três circunstâncias envolvendo essa conduta que revelariam a parcialidade do magistrado na
condução do processo: Em primeiro lugar, o termo de colaboração foi juntado quando a fase de instrução
processual havia sido encerrada, de forma que as declarações sequer estariam aptas a fundamentar a prolação
da sentença. Em segundo, aconteceu cerca de três meses após a decisão judicial que o homologara. Para os
Ministros, essa demora parece ter sido cuidadosamente planejada para gerar verdadeiro fato político na semana
que antecedia o primeiro turno das eleições presidenciais. Ato contínuo à juntada, foi determinado o imediato
levantamento do sigilo, com clara finalidade de que fosse dada publicidade às imputações dirigidas ao réu, sem
que as circunstâncias narradas no ajuste fossem relevantes para a ação penal em andamento. Em terceiro, o
fato de a juntada e o levantamento do sigilo terem ocorrido por iniciativa do próprio juiz, isto é, sem qualquer
provocação do órgão acusatório. A determinação da juntada desse termo de delação, nesses moldes,
Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).
Paulo foi condenado pelo então Juiz Federal Sérgio Moro por crimes contra o sistema financeiro nacional, no
âmbito da operação que ficou conhecida como “Caso Banestado”. A defesa pediu que o STF reconhecesse que o
referido magistrado quebrou a imparcialidade e, portanto, a sentença seria nula. Houve um empate na 2ª Turma
do STF e, diante disso, prevaleceu a posição mais favorável ao réu. Assim, foi declarada a nulidade da sentença
condenatória proferida nos autos do processo penal, por violação à imparcialidade do julgador. O simples fato
de o juiz ter feito a homologação dos acordos de colaboração ou mesmo ter realizado as oitivas dos
colaboradores não tem o condão de configurar, por si só, a quebra de sua imparcialidade para o
julgamento do réu ao qual imputados ilícitos no âmbito dos respectivos acordos. Todavia, as circunstâncias
particulares do caso concreto demonstram que o juiz se investiu na função persecutória ainda na fase
proeminência (um destaque) para a realização de perguntas feitas pelo juiz ao interrogado. O papel do
premiada. No entanto, o que se percebe pelas perguntas realizadas é que o juiz ultrapassou a mera realização
dessa função e atuou diretamente reforçando a acusação. Logo, não houve mera supervisão dos atos de
fortalecimento da tese acusatória. Além disso, ao final da instrução, depois das alegações finais, o magistrado
ordenou a juntada de documentos diretamente relacionados com os fatos criminosos imputados aos réus, sem
pedido do Ministério Público ou da defesa. Depois, ao sentenciar, ele utilizou expressamente tais elementos
para fundamentar a condenação. Mesmo que se pudesse invocar, em tese, a possibilidade jurídica da produção
de prova de ofício pelo julgador com base no art. 156 do CPP, na situação dos autos, sequer é possível falar
verdadeiramente em produção probatória. Os documentos juntados não poderiam ter sido utilizados para a
formação do juízo de autoria e materialidade das imputações, uma vez encerrada a instrução processual. STF. 2ª
Turma. RHC 144615 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/8/2020
(Info 988).
RECURSOS
Ofende o enunciado do non reformatio in pejus indireta o aumento da pena através de decisão em
recurso especial interposto pelo Ministério Público contra rejulgamento de apelação que não alterou
reprimenda do acórdão anterior, que havia transitado em julgado para a acusação e que veio a ser
anulado por iniciativa exclusiva da defesa. Exemplo: sentença condenou o réu a 10 anos de reclusão. Defesa
Defesa impetrou habeas corpus junto ao STJ, que concedeu a ordem para anular o acórdão do TJ por ausência
de prévia intimação. TJ rejulgou a apelação e manteve a condenação, fixando a pena em 9 anos (como na
primeira vez). Contra este segundo acórdão o Ministério Público interpôs recurso especial. STJ deu provimento
ao Resp para aumentar a pena do réu para 10 anos (como na sentença). Essa decisão do STJ violou o princípio da
non reformatio in pejus indireta considerando que colocou o sentenciado em situação pior do que aquela que
ele tinha antes do habeas corpus. Desse modo, deve ser afastado o acréscimo da pena (10 anos),
restabelecendo-se o segundo acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça no julgamento do recurso de apelação
(9 anos). STJ. 3ª Seção. RvCr 4.853-SC, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador Convocado do
Não é admissível a impetração de mandado de segurança contra ato jurisdicional que defere o
desbloqueio de bens e valores. Isso porque se trata de decisão definitiva que, apesar de não julgar o mérito da
ação, coloca fim ao procedimento incidente. O procedimento adequado para a restituição de bens é o incidente
legalmente previsto para este fim. O instrumento processual para impugnar a decisão que resolve esse incidente
é a apelação, sendo incabível a utilização de mandado de segurança como sucedâneo do recurso legalmente
previsto. STJ. 6ª Turma. REsp 1.787.449-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 10/03/2020 (Info 667)
HABEAS CORPUS
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 609730/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/11/2020.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 1697156/PR, Rel. Min. Mauro Campbell, julgado em 07/04/2020.
STJ. 3 Seção. AgRg nos EAREsp 693.298/SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, julgado em 28/10/2020.
A concessão de habeas corpus de ofício, no bojo de embargos de divergência, encontra óbice tanto no fato de
que o Relator não tem autoridade para conceder a ordem por meio de decisão monocrática, desconstituindo, na
prática, o resultado de acórdão proferido por outra Turma julgadora, como, tampouco a Seção detém
competência constitucional para conceder Habeas Corpus contra acórdão de Turma do próprio Tribunal.
Não cabe habeas corpus contra decisão de Ministro do STF que decreta a prisão preventiva de
investigado ou réu. Aplica-se, aqui, por analogia, o entendimento exposto no enunciado 606 da Súmula do STF.
proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso. STF. Plenário. HC 162285 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de
A concessão do benefício da transação penal impede a impetração de habeas corpus em que se busca o trancamento
da ação penal? Com a celebração da transação penal, o habeas corpus que estava pendente fica prejudicado ou o TJ
• STJ: SIM. Fica prejudicado. A concessão do benefício da transação penal impede a impetração de habeas
corpus em que se busca o trancamento da ação penal. STJ. 6ª Turma. HC 495.148-DF, Rel. Min. Antonio Saldanha
• STF: NÃO. Não impede e o TJ deverá julgar o mérito do habeas corpus. A realização de acordo de transação
A aceitação do acordo de transação penal não impede o exame de habeas corpus para questionar a legitimidade
da persecução penal. Embora o sistema negocial possa trazer aprimoramentos positivos em casos de delitos de
menor gravidade, a barganha no processo penal pode levar a riscos consideráveis aos direitos fundamentais do
acusado. Assim, o controle judicial é fundamental para a proteção efetiva dos direitos fundamentais do
imputado e para evitar possíveis abusos que comprometam a decisão voluntária de aceitar a transação. Não há
qualquer disposição em lei que imponha a desistência de recursos ou ações em andamento ou determine a
renúncia ao direito de acesso à Justiça. STF. 2ª Turma. HC 176785/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
O habeas corpus, quando impetrado de forma concomitante com o recurso cabível contra o ato impugnado,
b) se traduzir pedido diverso do objeto do recurso próprio e que reflita mediatamente na liberdade do
paciente.
Nas demais hipóteses, o habeas corpus não deve ser admitido e o exame das questões idênticas deve ser
reservado ao recurso previsto para a hipótese, ainda que a matéria discutida resvale, por via transversa, na
liberdade individual. STJ. 3ª Seção. HC 482.549-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/03/2020 (Info
669).
O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de natureza criminal diversas da
alcançando-se o direito de ir e vir. STF. 1ª Turma. HC 170735/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
solucionar questões de natureza processual. STF. 2ª Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin,
Não cabe pedido de habeas corpus originário para o Tribunal Pleno contra ato de Ministro ou outro órgão
fracionário da Corte. Ex: não cabe habeas corpus contra decisão de Ministro do STF que decreta a prisão
preventiva de investigado ou réu. Aplica-se, aqui, por analogia, o entendimento exposto no enunciado 606 da
Súmula do STF. Súmula 606-STF: Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno de decisão de turma,
ou do plenário, proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso. STF. Plenário. HC 162285 AgR/DF, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 19/12/2019 (Info 964) STF. Plenário. HC 170263, Rel. Edson Fachin, julgado em
JUIZADOS ESPECIAIS
Os Juizados Especiais Criminais são dotados de competência relativa para julgamento das infrações penais
de menor potencial ofensivo, razão pela qual se permite que essas infrações sejam julgadas por outro
juízo com vis atractiva para o crime de maior gravidade, pela conexão ou continência, observados, quanto
àqueles, os institutos despenalizadores, quando cabíveis. STF. Plenário. ADI 5264/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia,
A suspensão será obrigatoriamente revogada se, no curso do prazo o beneficiário vier a ser processado por
outro crime (art. 89, § 3º da Lei nº 9.099/95). Trata-se de causa de revogação obrigatória. Por outro lado, a
suspensão poderá ser revogada pelo juiz se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por
contravenção (art. 89, § 4º). Trata-se de causa de revogação facultativa. O processamento do réu pela prática
da conduta descrita no art. 28 da Lei de Drogas no curso do período de prova deve ser considerado como
causa de revogação FACULTATIVA da suspensão condicional do processo. A contravenção penal tem efeitos
primários mais deletérios que o crime do art. 28 da Lei de Drogas. Assim, mostra-se desproporcional que o
mero processamento do réu pela prática do crime previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006 torne
contravenção penal ocasione a revogação facultativa. STJ. 5ª Turma. REsp 1.795.962-SP, Rel. Min. Ribeiro
COLABORAÇÃO PREMIADA
O delatado possui o direito de ter acesso às declarações prestadas pelos colaboradores que o incriminem,
desde que já documentadas e que não se refiram à diligência em andamento que possa ser prejudicada.
STF. 2ª Turma. Rcl 30742 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/2/2020 (Info 965).
STF reconheceu, em habeas corpus impetrado por um dos delatados, a nulidade de acordo de
Ministério Público nas tratativas feitas com o delator. A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte:
Luiz, auditor da receita estadual, estava sendo investigado por supostamente estar recebendo vantagem
indevida (“propina”) para reduzir tributos. Ele não sabia que estava sendo investigado. Determinado dia, Luiz foi
preso em flagrante por suposto crime sexual (estupro de vulnerável). Depois de preso, o Ministério Público
ofereceu a Luiz e sua irmã a possibilidade de fazer um acordo de colaboração premiada. Eles aceitaram. No
acordo, Luiz confessou crimes e delatou infrações penais que teriam sido praticadas por outros colegas
auditores da receita estadual. Com base nessas declarações prestadas por Luiz e sua irmã, foi deflagrada a
“Operação Publicano IV”, no final de 2015, tendo sido decretada a prisão preventiva de diversos auditores da
receita estadual. Em maio de 2016, o Ministério Público constatou que Luiz descumpriu os termos do acordo de
colaboração premiada. Isso porque, segundo o Parquet, ele teria mentido e omitido fatos e cometido novos
crimes após a celebração do acordo. Assim, o acordo foi rescindido. Em fevereiro de 2017, foi realizado o
interrogatório judicial de Luiz. Ele declarou que a rescisão do acordo teria sido arbitrária. Acusou os Promotores
“de manipular suas declarações e ocultar todos os vídeos dos depoimentos que havia prestado
extrajudicialmente”. Posteriormente, o Ministério Público firmou com Luiz novo acordo de delação premiada,
sob a condição de que ele se retratasse das mencionadas acusações e ratificasse as declarações que fizeram
parte do acordo rescindido. O segundo acordo foi homologado pelo juiz sob o argumento de que seria apenas
um “termo aditivo” do primeiro. A defesa de Gilberto, um dos auditores delatados por Luiz, impetrou habeas
corpus alegando, dentre outros argumentos: a) a impossibilidade de se aditar acordo de colaboração premiada
rescindido; b) a relevância de o delator Luiz, na audiência realizada em fevereiro de 2017, ter exposto supostas
ilegalidades que teriam sido cometidas durante o primeiro acordo de colaboração premiada. A 2ª Turma do STF,
por empate na votação, concedeu a ordem de habeas corpus para declarar a nulidade da utilização, como meio
de prova, do segundo acordo de colaboração premiada firmado. O colegiado reconheceu a ilicitude das
declarações incriminatórias prestadas por Luiz e sua irmã. O relator ressaltou que o estabelecimento de balizas
legais para o acordo é uma opção do nosso sistema jurídico, para garantir a isonomia e evitar a corrupção dos
É preciso respeitar a legalidade, visto que as previsões normativas caracterizam limitação ao poder negocial no
processo penal. No caso de ilegalidade manifesta (evidente) em acordo de colaboração premiada, o Poder
Judiciário deve agir para a efetiva proteção de direitos fundamentais. O acordo de colaboração premiada é meio
de obtenção de prova. Portanto, trata-se de instituto de natureza semelhante, por exemplo, à interceptação
telefônica. O STF reconheceu, várias vezes, a ilegalidade de atos relacionados a interceptações telefônicas. Logo,
não há motivo para afastar essa possibilidade em ilegalidades que permeiam acordos de colaboração premiada.
STF. 2ª Turma. HC 142205, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 25/08/2020 (Info 988).
Os elementos de informação trazidos pelo colaborador a respeito de crimes que não sejam conexos ao
objeto da investigação primária devem receber o mesmo tratamento conferido à descoberta fortuita ou
ao encontro fortuito de provas em outros meios de obtenção de prova, como a busca e apreensão e a
interceptação telefônica. A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, NÃO CONSTITUI CRITÉRIO
colaborador aponte a existência de outros crimes e que o juízo perante o qual foram prestados seus
depoimentos ou apresentadas as provas que corroborem suas declarações ordene a realização de diligências
(interceptação telefônica, busca e apreensão etc.) para sua apuração, esses fatos, por si sós, não firmam sua
prevenção. STF. 2ª Turma. HC 181978 AgR/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/11/2020 (Info 999).
Realizado o acordo de colaboração premiada, ele será remetido ao juiz para análise e eventual homologação,
nos termos do art. 4º, § 7º, da Lei nº 12.850/2013. O magistrado poderá recusar a homologação da proposta
que não atender aos requisitos legais e esse ato judicial tem conteúdo decisório, pois impede o meio de
obtenção da prova. Entretanto, não existe previsão normativa sobre o recurso cabível para a sua
impugnação. Diante da lacuna na lei, o STJ entende que a apelação criminal é o recurso apropriado para
toda forma, como existe dúvida objetiva quanto ao recurso cabível, não constitui erro grosseiro caso a parte
ingresse com correição parcial contra a decisão do magistrado. Assim, mesmo sendo caso de apelação, se a
parte ingressou com correição parcial no prazo de 5 dias, é possível conhecer da irresignação como apelação,
aplicando-se o princípio da fungibilidade recursal (art. 579 do CPP). STJ. 6ª Turma. REsp 1.834.215-RS, Rel. Min.
A SV 14 prevê: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova
que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
colaboradores para viabilizar, de forma plena e adequada, sua defesa, invocando a SV 14? SIM, desde que
a) Requisito positivo: o acesso deve abranger somente documentos em que o requerente é de fato
mencionado como tendo praticado crime (o ato de colaboração deve apontar a responsabilidade criminal do
requerente); e
b) Requisito negativo: o ato de colaboração não se deve referir a diligência em andamento (devem ser
excluídos os atos investigativos e diligências que ainda se encontram em andamento e não foram
STF. 2ª Turma. Pet 7494 AgR/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em
A existência de denúncia anônima da prática de tráfico de drogas somada à fuga do acusado ao avistar a
polícia, por si sós, não configuram fundadas razões a autorizar o ingresso policial no domicílio do acusado
sem o seu consentimento ou sem determinação judicial. STJ. 5ª Turma. RHC 89.853-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 18/02/2020 (Info 666). STJ. 6ª Turma. RHC 83.501-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 06/03/2018
(Info 623).
SUSPENSÃO DO PROCESSO
Não há, no momento, decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU impedimento o prosseguimento
das ações penais que tramitam no Brasil contra o ex-Presidente Lula. A defesa do ex-Presidente Lula
formulou reclamação ao Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas alegando que o
processo penal que tramita contra ele no Brasil teria violado disposições do Pacto Internacional de Direitos Civis
e Políticos. Ainda não há decisão final de mérito do Comitê. A defesa impetrou habeas corpus no STF pedindo
que a ação penal proposta contra ele fique sobrestada até que haja um pronunciamento final do Comitê da
ONU. A 2ª Turma do STF, contudo, indeferiu o pedido de suspensão do julgamento da ação penal até
pronunciamento final do Comitê de Direitos Humanos da ONU. Segundo explicou o STF, a decisão do Comitê
negou a concessão de “medidas provisionais” em favor de Lula. Isso significa que o referido órgão não
determinou a suspensão de ações penais instauradas em desfavor do paciente. O comitê, em princípio, não
reconheceu a prática de ato imputável ao Estado brasileiro que pudesse vulnerar a ordem internacional. O
Ministro Ricardo Lewandowski afirmou que a deliberação final de mérito do Comitê da ONU, a depender do
resultado proclamado, poderá impedir, frustrar ou anular o os processos criminais que tramitam contra Lula. No
AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).
Em caso de inatividade processual decorrente de citação por edital, ressalvados os crimes previstos na
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o
processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas
consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312. STF.
Plenário. STF. Plenário. RE 600851, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 04/12/2020 (Repercussão Geral – Tema
No mesmo sentido:
Súmula 415-STJ: O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada.
O réu que praticou corrupção passiva pode ser condenado, no âmbito do próprio processo penal, a pagar
danos morais coletivos. O ordenamento jurídico tutela, no âmbito da responsabilidade, o dano moral não
apenas na esfera individual como também na coletiva, conforme previsto no inciso X do art. 5º da Constituição
Federal e no art. 186 do Código Civil. Destaque-se ainda a previsão do inciso VIII do art. 1º da Lei nº 7.347/85 (Lei
de Ação Civil Pública). STF. 2ª Turma. AP 1002/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/6/2020 (Info 981).
INDULTO
O descumprimento das condições do livramento condicional não pode servir para obstaculizar a
concessão do indulto. Para a análise do pedido de indulto ou comutação de penas, o magistrado deve
restringir-se ao exame do preenchimento dos requisitos previstos no decreto presidencial, uma vez que os
pressupostos para a concessão da benesse são da competência privativa do Presidente da República. Dessa
forma, qualquer outra exigência caracteriza constrangimento ilegal. O Decreto nº 7.873/2012 prevê que apenas
falta disciplinar de natureza grave prevista na Lei de Execução Penal, cometida nos 12 meses anteriores à data
livramento condicional não encontra previsão no art. 50 da Lei de Execuções Penais, o qual elenca de
forma taxativa quais são as faltas graves. Assim, eventual descumprimento de condições impostas não
pode ser invocado a título de infração disciplinar grave a fim de impedir a concessão do indulto. STJ. 5ª
Turma. AgRg no HC 537.982-DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 13/04/2020 (Info 670).
A Ordem dos Advogados do Brasil não tem legitimidade para atuar como assistente de defesa de advogado
réu em ação penal. Isso porque, no processo penal, a assistência é apenas da acusação, não existindo a figura
do assistente de defesa. STJ. 5ª Turma.RMS 63.393-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
23/06/2020 (Info 675). STJ. 6ª Turma. REsp 1815460/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 23/06/2020.
O art. 149 do CPP, ao exigir que o acusado seja submetido a exame médico-legal, não contempla hipótese de
prova legal ou tarifada. A despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais processuais
semiimputabilidade do réu (art. 26, caput e parágrafo único do CP) depende da prévia instauração de
incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto. Vale ressaltar, por fim,
que o magistrado poderá discordar das conclusões do laudo, desde que o faça por meio de decisão
devidamente fundamentada. STJ. 6ª Turma. REsp 1.802.845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
É constitucional a multa imposta ao defensor por abandono do processo, prevista no art. 265 do CPP: Art.
265. O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso, comunicado previamente
o juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções
A multa não se mostra inadequada nem desnecessária. Ao contrário, mostra-se razoável como meio prévio para
evitar o comportamento prejudicial à administração da justiça e ao direito de defesa do réu, tendo em vista a
multa do art. 265 do CPP não ofende o contraditório, a ampla defesa, o devido processo legal ou a
manifestação prévia do defensor, no entanto, é possível que ele, posteriormente, se justifique por meio
de pedido de reconsideração. Outra alternativa é a impetração de mandado de segurança. STF. Plenário. ADI
Não há impedimento ou suspeição de integrantes de Colegiado do STJ que apreciaram recurso especial e,
posteriormente, venham participar do julgamento de outro apelo raro oriundo de revisão criminal
ajuizada na origem. STJ. 3ª Seção. AgRg na ExSusp 209-DF, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em
Sobre o tema:
A regra do art. 252, inciso III, do Código de Processo Penal não admite interpretação ampliativa, razão pela qual
não há impedimento do Magistrado que atuou anteriormente no feito, porém, na mesma instância (STJ. 6ª
ASTREINTES
É possível a fixação de astreintes em desfavor de terceiros, não participantes do processo, pela demora
As normas do processo civil aplicam-se de forma subsidiária ao processo penal (art. 3º do CPP).
O poder geral de cautela do processo civil também pode ser aplicado, em regra, ao processo penal. O emprego
Diante da finalidade da multa cominatória, que é conferir efetividade à decisão judicial, é possível sua aplicação
em demandas penais.
Vale ressaltar que essa multa não se confunde com a multa por litigância de má-fé. A multa por litigância de
STJ. 3ª Seção. REsp 1568445-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
É possível ao juízo criminal efetivar o bloqueio via Bacen-Jud ou a inscrição em dívida ativa dos valores
Por derivar do poder geral de cautela, cabe ao magistrado, diante do caso concreto, avaliar qual a melhor
medida coativa ao cumprimento da determinação judicial, não havendo impedimento ao emprego do sistema
Bacen-Jud.
STJ. 3ª Seção. REsp 1568445-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
O prazo de 15 dias das interceptações telefônicas deve ser contado a partir da efetiva implementação da
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 114.973/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020.
Descobertos novos crimes durante a interceptação, a autoridade deve apurá-los, ainda que sejam
cometimento de novos ilícitos por parte daqueles cujas conversas foram monitoradas ou mesmo de terceiros, é
sua obrigação e dever funcional apurá-los, ainda que não possuam liame algum com os delitos cuja suspeita
Tal entendimento é aplicável ainda que as infrações descobertas fortuitamente sejam punidas com detenção,
pois o que a Lei nº 9.296/96 veda é o deferimento da quebra do sigilo telefônico para apurar delito que não seja
apenado com reclusão, não proibindo, todavia, que o referido meio de prova seja utilizado quando há, durante a
implementação da medida, a descoberta fortuita de eventuais ilícitos que não atendem a tal requisito.
No caso dos autos, as interceptações telefônicas foram inicialmente autorizadas para apurar os crimes de
corrupção ativa e passiva e organização criminosa, sendo que, no curso da medida, logrou-se descobrir que os
investigados também eram responsáveis por fraudes à licitações em diversos Municípios, não havendo que se
falar, assim, em nulidade das provas obtidas com a quebra de sigilo telefônico.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 114973/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020.
A ausência injustificada do advogado ou defensor público a apenas um ato processual pode configurar
Há divergência:
- 5ª Turma: SIM.
Caracteriza aplicação do art. 265 do CPP o abandono processual por não atuar em ato específico.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RMS 64.313/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 06/10/2020.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RMS 55.414/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/06/2019.
- 6ª Turma: NÃO.
Não é caso de aplicação do art. 265 do CPP a ausência injustificada do advogado ou defensor público a apenas
em 22/06/2021.
EXECUÇÃO PENAL
Juiz condenou o réu e negou a ele o direito de recorrer em liberdade por estarem presentes os requisitos da
prisão preventiva. Em apelação, o Tribunal de Justiça manteve a condenação. Contra esse acórdão, o réu
interpôs, simultaneamente, recurso especial e extraordinário. A decisão do TJ foi proferida na época em que o
entendimento do STF era no sentido de ser cabível a execução provisória da pena. Diante disso, o TJ, logo depois
cumprimento da pena.
Ocorre que logo depois, o STF alterou a sua posição e passou a proibir a execução provisória da pena (ADC
43/DF, julgada em 7/11/2019). A defesa do réu impetrou habeas corpus pedindo a liberdade imediata do
condenado. A 1ª Turma do STF afirmou o seguinte: realmente, atualmente, não cabe execução provisória da
pena. No entanto, no caso concreto, o juiz de 1ª instância decretou a prisão preventiva do acusado e, depois,
vedou-lhe o direito de recorrer em liberdade. Além disso, o Tribunal de Justiça, apesar de ordenar a execução
provisória, repetiu a necessidade de garantia da ordem pública. Logo, a manutenção da prisão não foi apenas
por conta da execução provisória da pena. Desse modo, não se pode dizer que a decisão do Tribunal de Justiça
tenha sido teratológica, flagrantemente ilegal, abusiva ou manifestamente contrária à jurisprudência do STF,
situações nas quais o STF poderia conceder de ofício o habeas corpus. STF. 1ª Turma. HC 176723/MG, rel. orig.
Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/12/2019 (Info 964)
Tribunal do Júri condenou o réu. Juiz-Presidente concedeu a ele o direito de recorrer em liberdade. Em apelação,
o Tribunal de Justiça manteve a condenação. Contra esse acórdão, o réu interpôs, simultaneamente, recurso
especial e extraordinário. A decisão do TJ foi proferida na época em que o entendimento do STF era no sentido
de ser cabível a execução provisória da pena. Diante disso, o TJ, logo depois de receber os recursos especial e
extraordinário, determinou que o condenado iniciasse imediatamente o cumprimento da pena. Ocorre que logo
depois, o STF alterou a sua posição e passou a proibir a execução provisória da pena (ADC 43/DF, julgada em
7/11/2019). A defesa do réu impetrou habeas corpus no STJ pedindo a liberdade imediata do condenado. O
Ministro Relator do STJ, monocraticamente, negou o pedido de liminar. A defesa impetrou, então habeas corpus
para o STF contra essa decisão do Ministro do STJ. Cabe habeas corpus neste caso? Não.
Exceções: a regra acima exposta pode ser afastada em casos excepcionais, quando a decisão atacada se
STF, situações nas quais o STF poderia conceder de ofício o habeas corpus.
No caso concreto, o STF entendeu que havia alguma situação excepcional que poderia justificar a concessão do
habeas corpus de ofício? Não. A 1ª Turma do STF afirmou o seguinte: realmente, atualmente, não cabe execução
provisória da pena. Isso foi decidido na ADC 43/DF, julgada em 7/11/2019). No entanto, o caso concreto envolve
uma condenação pelo Tribunal do Júri. Existem alguns Ministros do STF que entendem que seria possível a
execução provisória da pena nas condenações do Tribunal do Júri. Isso porque, em razão da soberania dos
vereditos, o Tribunal não pode reexaminar os fatos decididos pelos jurados. A discussão sobre a possibilidade ou
não de execução provisória das condenações do Tribunal do Júri será definida pelo STF no Recurso
Extraordinário 1235340, cujo relator é o Ministro Luís Roberto Barroso e que está previsto para ser julgado ainda
no ano de 2020. Logo, como existe essa possibilidade de o STF adotar a execução provisória nas condenações
envolvendo o Júri, não se pode dizer que a decisão do Tribunal de Justiça tenha sido teratológica, flagrantemente
ilegal, abusiva ou manifestamente contrária à jurisprudência do STF, situações nas quais o STF poderia conceder
de ofício o habeas corpus. STF. 1ª Turma. HC 175808/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre
FALTA GRAVE
A posse de drogas no interior de estabelecimentos prisionais, ainda que para uso próprio, configura falta
Há pratica de falta grave se apurado por meio de processo administrativo disciplinar que o apenado que tentou
empreender fuga do estabelecimento prisional, com a comprovação de troca de cela (por conta própria) e ajuda
a serrar a grade de suporte da porta da cela, configurando a falta grave nos termos dos arts. 50, II, da Lei de
Execuções Penais, que somente não se consumou pela intervenção dos agentes penitenciários.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 593.104, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 06/10/2020
O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato definido como crime doloso no curso da
execução penal dispensa o trânsito em julgado da condenação criminal no juízo do conhecimento, desde
que a apuração do ilícito disciplinar ocorra com observância do devido processo legal, do contraditório e
verse sobre a materialidade, a autoria e as circunstâncias do crime correspondente à falta grave. STF. Plenário.
RE 776823, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 04/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 758) (Info 1001).
PAD
A oitiva do condenado pelo Juízo da Execução Penal, em audiência de justificação realizada na presença
Disciplinar (PAD), assim como supre eventual ausência ou insuficiência de defesa técnica no PAD
instaurado para apurar a prática de falta grave durante o cumprimento da pena. STF. Plenário. RE 972598,
Rel. Roberto Barroso, julgado em 04/05/2020 (Repercussão Geral –Tema 941) (Info 985 – clipping).
Não há nulidade do PAD pela suposta inobservância do direito à não autoincriminação, quando a
testemunha, até então não envolvida, noticia elementos que trazem para si responsabilidade pelos
episódios em investigação. Caso concreto: foi instaurado PAD para apurar a conduta de João, servidor do INSS.
Pedro, outro servidor da autarquia que trabalhava no mesmo setor do investigado, foi convocado para depor na
condição de testemunha, tendo assinado termo de compromisso de dizer a verdade. Ocorre que Pedro não
apenas confirmou as imputações feitas contra João, mas também confessou que participou dos ilícitos em
apuração. Ao final do PAD, João e Pedro foram demitidos. Pedro alegou que que o PAD que originou sua
demissão se encontraria eivado de ilicitude, considerando que foi obrigado a produzir provas contra si mesmo.
Não houve nulidade. Quando o servidor foi chamado, ele não era investigado. Ele prestou voluntariamente seu
depoimento e, em nenhum momento, insurgiu-se contra isso, o que permite concluir que, também
voluntariamente, ele dispensou o uso da faculdade de não incriminar a si próprio. Logo, ele não pode,
posteriormente, invocar o direito ao silêncio considerando que, por sua própria vontade, apontou,
durante sua oitiva, fatos que atraíram para si a responsabilidade solidária pelos ilícitos em apuração. STJ.
1ª Seção. MS 21.205-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 14/10/2020 (Info 682).
TRABALHO EXTERNO
Durante a pandemia da Covid-19, os apenados que tiveram suspenso o exercício do trabalho externo,
Imagine a seguinte situação: o juízo das execuções penais proibiu o trabalho externo do apenado durante as
medidas restritivas impostas pelo Governo para combate à Covid-19. Diante disso, foi impetrado habeas corpus
Indaga-se: durante a pandemia da Covid-19, os apenados que tiveram suspenso o exercício do trabalho
externo, possuem direito à prisão domiciliar? O STJ está dividido sobre o tema:
A suspensão temporária do trabalho externo no regime semiaberto em razão da pandemia atende à Resolução
nº 62 do CNJ, cuja recomendação não implica automática substituição da prisão decorrente da sentença
condenatória pela domiciliar. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 580.495-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
Os reeducandos que cumprem pena em regime semiaberto e aberto e que tiveram suspenso o exercício do
trabalho externo como medida preventiva de combate à Covid-19, possuem direito ao regime domiciliar, desde
que não ostentem procedimento de apuração de falta grave. STJ. 6ª Turma. HC 575.495/MG, Rel. Min. Sebastião
PROGRESSÃO DE REGIME
A Lei nº 13.769/2018 incluiu o § 3º no art. 112 da Lei de Execuções Penais - LEP, prevendo progressão de regime
especial. Esse § 3º afirmou que a mulher gestante ou que for mãe/responsável por crianças ou pessoas com
deficiência poderá progredir de regime com 1/8 da pena cumprida (o que é um tempo menor do que a regra
Um dos requisitos para ter direito a essa progressão especial está no fato de que a reeducanda não pode ter
“integrado organização criminosa” (inciso V). Esse requisito deve ser interpretado de acordo com a definição de
organização criminosa da Lei nº 12.850/2013. Logo, essa expressão (“organização criminosa”) não pode ser
interpretada em sentido amplo para abranger toda e qualquer associação criminosa. A pessoa só estará
impedida de gozar da progressão com base nesse inciso em caso de ter praticado o crime previsto na Lei
nº 12.850/2013. STJ. 6ª Turma. HC 522.651-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 04/08/2020 (Info 678).
A progressão de regime do reincidente não específico em crime hediondo ou equiparado com resultado
morte deve observar o que previsto no inciso VI, “a”, do art. 112 da LEP. Caso concreto: João está
cumprindo pena por homicídio qualificado (crime hediondo), cometido em 2019. Vale ressaltar que João é
reincidente genérico (não é reincidente específico; ele havia sido condenado anteriormente por receptação,
que não é crime hediondo). Diante disso, a previsão era a de que João tivesse direito à progressão de regime
revogou o referido art. 2º, § 2º e instituiu novas regras de progressão no art. 112 da LEP. Em qual inciso do
art. 112 se enquadra o réu condenado por crime hediondo, com resultado morte, reincidente não específico
(reincidente genérico)? Essa situação não foi contemplada na lei. Os incisos VII e VIII do art. 112 exigem a
reincidência específica. Diante da ausência de previsão legal, deve-se fazer analogia in bonam partem e a
ele deverá ser aplicada a mesma fração do condenado primário, ou seja, a regra do inciso VI, “a”, do art. 112
(50%):
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime
menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos: VI - 50% (cinquenta por
cento) da pena, se o apenado for: a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado
Resumindo:
• art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90: a fração mais grave deveria ser aplicada tanto ao reincidente específico
como genérico. A Lei de Crimes Hediondos não fazia distinção entre a reincidência genérica e a específica para
• incisos VII e VIII do art. 112 da LEP: a fração mais grave só se aplica para o reincidente específico. O
condenado pela prática de crime hediondo, com resultado morte, mas reincidente em crime comum irá
No exemplo dado, a Lei nº 13.964/2019 foi mais favorável porque o réu progredia com 3/5 (= 60%) e agora a
fração é de 50% (art. 112, VI, “a”, da LEP). Logo, ela se aplica, neste ponto, aos fatos ocorridos antes da sua
vigência. STJ. 6ª Turma. HC 581.315-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 06/10/2020 (Info 681)
TEMAS DIVERSOS
Mesmo que na sentença condenatória não tenha constado expressamente que o réu é reincidente, o
juízo da execução penal poderá reconhecer essa circunstância para fins de conceder ou não os
benefícios, como, por exemplo, a progressão de regime. Suponhamos que na sentença condenatória não
constou que o apenado é reincidente. O juízo da execução, contudo, na fase de cumprimento da pena, percebeu
que o condenado é reincidente. O juízo da execução penal poderá reconhecer essa circunstância negativa no
momento de analisar se concede ou não os benefícios (ex: progressão). O Juízo da Execução pode promover a
retificação do atestado de pena para constar a reincidência, com todos os consectários daí decorrentes,
ainda que não esteja reconhecida expressamente na sentença penal condenatória transitada em julgado.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.738.968-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/11/2019 (Info 662).
não pode ser restringido por normas ou práticas internas ou sequer por alegações de falta de estrutura.
Ademais, a alegação da reserva do possível não é capaz de chancelar a violação aos direitos básicos da
população carcerária.
Assim, o STF através de Habeas Corpus coletivo concedeu, a todos os presos (condenado quanto os provisório)
que, independentemente do estabelecimento penitenciário a que se achem recolhidos, o direito à saída da cela
O direito de visita pode sofrer limitações, diante das peculiaridades do caso concreto.
O direito do preso de receber visitas, assegurado pelo art. 41, X, da Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/1.984),
não é absoluto e deve ser sopesado, de acordo com a situação específica vivenciada no
caso concreto, em conjunto com outros princípios, dentre os quais o que visa a garantir a disciplina e a
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1602725/DF, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 20/10/2020.
O tempo excedido, na frequência escolar, ao limite legal de 12 horas a cada 3 dias deve ser considerado
O art. 126 da Lei de Execuções Penais prevê duas hipóteses de remição da pena: por trabalho ou por estudo.
Para fins de remição da pena pelo trabalho, a jornada não pode ser superior a 8 horas. O STJ, contudo, entende
que eventuais horas extras devem ser computadas quando excederem a oitava hora diária, hipótese em que se
No caso da remição pelo estudo, o reeducando poderá remir 1 dia de pena a cada 12 horas de atividade,
O STJ entende que, se o reeducando estudar mais que 12 horas, isso deverá ser considerado para fins de
remição da pena.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1720688/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 06/10/2020.
STJ. 6ª Turma. HC 461047-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 04/08/2020 (Info 677).
O indulto humanitário requer, para sua concessão, a necessária comprovação, por meio de laudo médico oficial
ou por médico designado pelo juízo da execução, de que a enfermidade que acomete o sentenciado é grave,
permanente e exige cuidados que não podem ser prestados no estabelecimento prisional.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 292.952/RS, Rel. Min. Antonio Saldanha, julgado em 27/10/2020
(a) o acometimento pelo apenado de doença grave e permanente que imponha importante limitação de
(b) exigência de cuidados contínuos que não possam ser prestados em estabelecimento prisional;
DIREITO DO CONSUMIDOR
CONCEITO DE CONSUMIDOR
Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor às relações entre acionistas investidores e a sociedade
anônima de capital aberto com ações negociadas no mercado de valores mobiliários. Caso concreto: João
ajuizou ação contra o Itaú Unibanco alegando que é acionista investidor da instituição financeira e que deveria
ter recebido dividendos correspondentes às suas ações preferenciais e que eles não foram pagos pelo banco.
Afirmou que se trata de relação de consumo e que, portanto, deveria ser aplicado o CDC. O STJ não concordou
com a tese. De acordo com a teoria finalista ou subjetiva, adotada pelo STJ, o conceito de consumidor,
para efeito de incidência das normas protetivas do CDC, leva em consideração a condição de destinatário
final do produto ou serviço, nos termos do art. 2º do código. Assim, segundo a teoria subjetiva ou finalista,
destinatário final é aquele que ultima a atividade econômica, isto é, que retira de circulação do mercado o bem
ou o serviço para consumi-lo, suprindo uma necessidade ou satisfação própria. O investidor, ao adquirir ações
no mercado imobiliário visando o recebimento de lucros e dividendos, não está abrangido pela proteção
do CDC. Na atividade de aquisição de ações não é possível identificar nenhuma prestação de serviço por parte
da instituição financeira, havendo sim uma relação de cunho puramente societário e empresarial. Situação
diferente ocorreria se a ação envolvesse o serviço de corretagem de valores e título mobiliários. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.685.098-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/03/2020 (Info
671).
O art. 39, IX, do CDC é inaplicável às instituições financeiras quando do encerramento unilateral de conta
Isto porque, o encerramento do contrato de conta corrente consiste em um direito subjetivo exercitável por
qualquer das partes contratantes, desde que observada a prévia e regular notificação.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1473795/RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 29/06/2020
destinatário final, razão pela qual, nesses casos, não incide o Código de Defesa do Consumidor.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 363.209/RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 15/06/2020.
Ressalvadas circunstâncias especiais, sobressai a natureza jurídica de relação de consumo havida entre
É possível aplicar o CDC à relação entre proprietário de imóvel e a imobiliária contratada por ele para
administrar o bem. Em outras palavras, a pessoa que contrata uma empresa administradora de imóveis pode
STJ. 3ª Turma. REsp 509.304-PR, Rel. Min. Villas Bôas Cueva, julgado em 16/5/2013 (Info 523).
Pelo contrato de administração imobiliária, o proprietário confia à administradora a gerência do imóvel visando,
em geral, a locação do bem a terceiros, daí exsurgindo, portanto, duas relações jurídicas distintas:
A administradora atua como mandatária do locador na gestão do imóvel, inclusive - e especialmente - perante o
locatário do bem, e, nessa condição, o locador, em regra, figura como destinatário final fático e econômico do
Em algumas situações, pode o locador se apresentar ainda como parte vulnerável - técnica, jurídica, fática e/ou
O serviço oferecido pela administradora possui caráter profissional pois, além de, em geral, dispor, em relação
Ressalvadas circunstâncias especiais, sobressai a natureza jurídica de relação de consumo havida entre locador
STJ. 3ª Turma. REsp 1846331/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/03/2020.
O risco inerente ao medicamento impõe ao fabricante um dever de informar qualificado (art. 9º do CDC), cuja
violação está prevista no § 1º, II, do art. 12 do CDC como hipótese de defeito do produto, que enseja a
responsabilidade objetiva do fornecedor pelo evento danoso dele decorrente. O ordenamento jurídico não
exige que os medicamentos sejam fabricados com garantia de segurança absoluta, até porque se trata de
os riscos considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, desde que o
consumidor receba as informações necessárias e adequadas a seu respeito (art. 8º do CDC). O fato de o
uso de um medicamento causar efeitos colaterais ou reações adversas, por si só, não configura defeito
do produto se o usuário foi prévia e devidamente informado e advertido sobre tais riscos inerentes, de
modo a poder decidir, de forma livre, refletida e consciente, sobre o tratamento que lhe é prescrito, além
de ter a possibilidade de mitigar eventuais danos que venham a ocorrer em função dele.
O risco do desenvolvimento, entendido como aquele que não podia ser conhecido ou evitado no momento em
que o medicamento foi colocado em circulação, constitui defeito existente desde o momento da concepção do
produto, embora não perceptível a priori, caracterizando, pois, hipótese de fortuito interno. STJ. 3ª Turma. REsp
Na hipótese de responsabilidade civil de médicos pela morte de paciente em atendimento custeado pelo
SUS incidirá o prazo do art. 1º-C da Lei nº 9.494/97, segundo o qual prescreverá em cinco anos a pretensão
de obter indenização.
Exemplo hipotético: uma criança foi atendida na emergência de um hospital particular conveniado ao SUS. Em
razão de erro médico, ela acabou falecendo. Os pais da criança pretendem ajuizar ação de indenização por
danos morais contra os médicos e o hospital. Qual é o prazo prescricional neste caso?
Art. 1º-C. Prescreverá em cinco anos o direito de obter indenização dos danos causados por agentes de pessoas
jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos.
mediante contrato ou convênio com a administração pública (art. 24, parágrafo único, da Lei nº 8.080/90).
Assim, o hospital privado que, mediante convênio, se credencia para exercer essa atividade de saúde pública,
recebendo, em contrapartida, remuneração dos cofres públicos, passa a desempenhar o múnus público. O
mesmo acontecendo com o profissional da medicina que, diretamente, se obriga com o SUS.
A participação complementar da iniciativa privada - seja das pessoas jurídicas, seja dos respectivos profissionais
- na execução de atividades de saúde caracteriza-se como serviço público indivisível e universal (uti universi), o
que afasta, por conseguinte, a incidência das regras do CDC. Logo, não se aplica o prazo prescricional do art. 27
Obs: na prática, não muda nada quanto ao prazo porque tanto o art. 27 como o art. 1º-C preveem o prazo de 5
anos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1771169-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/05/2020 (Info 672).
Concessionária de transporte ferroviário não tem que indenizar passageira que sofreu assédio sexual
Maria estava voltando para casa, por volta das 18h, em um trem da CPTM (Companhia Paulista de Trens
Ela estava em pé dentro do vagão e, de repente, “foi importunada por um homem que se postou atrás da
mesma, esfregando-se na região de suas nádegas”, sendo que, ao se queixar com o agressor, verificou que ele
Vale ressaltar que, na parada seguinte, Maria informou o fato à equipe da CPTM, que localizou e conduziu o
agressor à delegacia.
A vítima ficou muito abalada emocionalmente com o episódio e ingressou com ação de indenização por danos
morais contra a CPTM, empresa concessionária do transporte ferroviário, alegando que não foi oferecida a
A questão chegou até o STJ. A empresa concessionária tem o dever de indenizar neste caso?
NÃO. A concessionária de serviço público de transporte não tem responsabilidade civil em caso de assédio
A importunação sexual no transporte de passageiros, cometida por pessoa estranha à empresa, configura fato
de terceiro, que rompe o nexo de causalidade entre o dano e o serviço prestado pela concessionária – excluindo,
O crime era inevitável, quando muito previsível apenas em tese, de forma abstrativa, com alto grau de
generalização. Por mais que se saiba da possibilidade de sua ocorrência, não se sabe quando, nem onde, nem
como e nem quem o praticará. Apenas se sabe que, em algum momento, em algum lugar, em alguma
oportunidade, algum malvado o consumará. Então, só pode ter por responsável o próprio criminoso.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.833.722/SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 03/12/2020.
VÍCIO DO PRODUTO
O comerciante tem o dever de receber do consumidor o aparelho que esteja viciado (“defeituoso”) com o
objetivo de encaminhá-lo à assistência técnica para conserto? Sim. O comerciante tem a obrigação de
fabricação (vício oculto de inadequação), com a coleta em suas lojas e remessa ao fabricante e posterior
devolução. STJ. 3ª Turma. REsp 1.568.938-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 25/08/2020 (Info 678).
Ainda sobre o tema: Cabe ao consumidor a escolha para exercer seu direito de ter sanado o vício do
STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.851-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/09/2017 (Info 619).
defeito ao vendedor mesmo que na sentença essa obrigação não tenha ficado expressamente prevista.
Caso concreto: consumidor adquiriu veículo, que apresentou diversos problemas após a compra, tornando-se
inadequado ao uso. Consumidor propôs ação redibitória contra a concessionária, pedindo a devolução do preço
pago. A sentença foi procedente tendo o juiz determinado a restituição da quantia gasta com a aquisição do
carro. Não falou nada, contudo, sobre a devolução do carro à concessionária. Com o trânsito em jugado, o
consumidor deu início do cumprimento de sentença. A concessionária restituiu o valor pago e pediu a devolução
do veículo usado. O juiz negou o pleito afirmando que no título executivo não constou nenhum comando para
que o consumidor devolvesse o automóvel. Não agiu corretamente o magistrado. É obrigatória a devolução de
veículo considerado inadequado ao uso após a restituição do preço pelo fornecedor no cumprimento de
contrato de compra e venda, retornando as partes à situação anterior à sua celebração (status quo ante),
sendo uma das consequências automáticas da sentença a sua eficácia restitutória, com a restituição
atualizada do preço pelo vendedor e devolução da coisa adquirida pelo comprador. Constitui obrigação
do consumidor devolver o veículo viciado à fornecedora, sob pena de afronta ao princípio que veda o
enriquecimento sem causa e à proibição do venire contra factum proprium. STJ. 3ª Turma. REsp
1.823.284-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 13/10/2020 (Info 681).
OFERTA
Erro grosseiro de sistema não obriga empresas a emitir passagens compradas a preço muito baixo. Caso
concreto: em decorrência de uma falha no site da empresa de turismo Decolar.com, constou que duas
passagens aéreas, ida e volta, de Brasília para Amsterdã (Holanda) custariam cerca de R$ 1 mil. Um casal tentou
efetuar a compra, fazendo uma reserva no site. Dois dias depois, contudo, eles receberam um e-mail da
empresa explicando que houve uma falha, cancelando a reserva. Não houve necessidade de estorno no cartão
de crédito, pois a cobrança não foi feita no momento da reserva. Os consumidores ajuizaram ação pedindo a
emissão dos bilhetes no valor que havia sido ofertado. O STJ, entretanto, não acolheu o pedido. Para o Tribunal,
Consumidor não é somente um conjunto de artigos que protege o consumidor a qualquer custo. Antes de
tudo, ele é um instrumento legal que pretende harmonizar as relações entre fornecedores e
consumidores, sempre com base nos princípios da boa-fé e do equilíbrio contratual. No caso, os
consumidores promoveram a reserva de bilhetes aéreos com destino internacional a preço muito aquém do
praticado por outras empresas aéreas, não tendo sequer havido a emissão dos bilhetes eletrônicos (e-tickets)
crédito e, em curto período, os consumidores receberam e-mail informando a não conclusão da operação.
Nesse contexto, é inadmissível que, diante de inegável erro sistêmico grosseiro no carregamento de preços,
possa se reconhecer a falha da prestação dos serviços das empresas, que prontamente impediram o
lançamento de valores na fatura do cartão de crédito utilizado, informando, ainda, com antecedência necessária
ao voo, o cancelamento da operação. Por conseguinte, não há que se falar em violação do princípio da
vinculação da oferta (art. 30 do CDC). STJ. 3ª Turma. REsp 1.794.991-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
PUBLICIDADE ENGANOSA
A ausência de informação relativa ao preço, por si só, não caracteriza publicidade enganosa.
Para a caracterização da ilegalidade omissiva, a ocultação deve ser de qualidade essencial do produto, do
serviço ou de suas reais condições de contratação, considerando, na análise do caso concreto, o público alvo
do anúncio publicitário. STJ. 4ª Turma. REsp 1.705.278-MA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em
matriz à sua filial. Ainda que possuam CNPJ diversos e autonomia administrativa e operacional, as filiais são um
desdobramento da matriz por integrar a pessoa jurídica como um todo. Eventual decisão contrária à matriz por
Obs: a contrapropaganda é uma medida imposta nos casos de veiculação de publicidade inverídica ou
abusiva, que busca anular ou compensar os efeitos nocivos da publicidade ilícita. A finalidade, portanto,
é corrigir o desvio cometido na publicidade antijurídica veiculada pelo fornecedor. STJ. 3ª Turma. REsp
1.655.796-MT, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/02/2020 (Info 665)
PRÁTICAS ABUSIVAS
A decisão de comprar gêneros alimentícios cabe aos pais, especialmente em época de altos e preocupantes
índices de obesidade infantil, um grave problema nacional de saúde pública. Diante disso, consoante o art. 37, §
2º, do Código de Defesa do Consumidor, estão vedadas campanhas publicitárias que utilizem ou
manipulem o universo lúdico infantil. Se criança, no mercado de consumo, não exerce atos jurídicos em
de publicidade que, fazendo tábula rasa da realidade notória, a incita a agir como se plenamente capaz
fosse. STJ. 2ª Turma. REsp 1.613.561-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/04/2017 (Info 679)
informação por etapas e, assim, compelir o consumidor à tarefa impossível de juntar pedaços
analisado e julgado em relação a si mesmo, pois absurdo esperar que, para cada produto ou serviço oferecido, o
consumidor se comporte como Sherlock Holmes improvisado e despreparado à busca daquilo que, por dever
ope legis inafastável, incumbe somente ao fornecedor. Seria transformar o destinatário-protegido, à sua revelia,
vasculhar o universo dos meios de comunicação para ter uma informação completa. STJ. 2ª Turma. REsp
É lícita a cobrança de uma “taxa de conveniência” (um valor a mais) pelo fato de o ingresso estar sendo
adquirido pela internet. Algumas empresas especializadas na venda de ingressos cobram dos consumidores
um “valor” adicional pelo fato de eles estarem comprando os ingressos por meio da sua página na internet. Essa
cobrança é lícita, desde que o consumidor seja previamente informado sobre o preço total da aquisição do
ingresso, com o destaque de que está pagando um valor extra a título de “taxa de conveniência”. É válida a
mediante cobrança de “taxa de conveniência”, desde que o consumidor seja previamente informado do
preço total da aquisição do ingresso, com o destaque do valor da referida taxa. STJ. 3ª Turma. EDcl no REsp
1.737.428-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 06/10/2020 (Info
683).
PLANO DE SAÚDE
O plano de saúde somente é obrigado a reembolsar as despesas que o usuário teve com tratamento ou
atendimento fora da rede credenciada em hipóteses excepcionais, como por exemplo, em casos de:
STJ. 2ª Seção. EAREsp 1459849/ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/10/2020 (Info 684).
Os beneficiários de plano de saúde coletivo, após a resilição unilateral do contrato pela operadora, têm
STJ. 3ª Turma. REsp 1732511-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/08/2020 (Info 677).
Há litisconsórcio passivo necessário da União e da Agência Nacional de Saúde em ação coletiva que afete
ACP proposta pelo MP contra plano de saúde pedindo para que os usuários que estejam no período de carência
Ocorre que essa prática do plano de saúde está autorizada por Resolução do Conselho de Saúde Suplementar
(órgão da União).
Nessa ação é indispensável a participação da União e da Agência Nacional de Saúde (ANS) em litisconsórcio
passivo necessário, devendo, portanto, tramitar na Justiça Federal (art. 109, I, da CF/88).
STJ. 4ª Turma. REsp 1188443-RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
Nos contratos de plano de saúde não é abusiva a cláusula de coparticipação expressamente ajustada e
informada ao consumidor, à razão máxima de 50% (cinquenta por cento) do valor das despesas, nos casos de
internação superior a 30 (trinta) dias por ano, decorrente de transtornos psiquiátricos, preservada a
STJ. 2ª Seção. REsp 1809486-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 09/12/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1032)
(Info 684).
Condições assistenciais e de custeio do plano de saúde que devem ser mantidas aos aposentados, nos
contribuição não implicam interrupção da contagem do prazo de 10 (dez) anos previsto no art. 31 da Lei
9.656/98, devendo haver a soma dos períodos contributivos para fins de cálculo da manutenção proporcional ou
b) O art. 31 da Lei 9.656/98 impõe que ativos e inativos sejam inseridos em plano de saúde coletivo único,
contendo as mesmas condições de cobertura assistencial e de prestação de serviço, o que inclui, para todo o
diferenciação por faixa etária se for contratada para todos, cabendo ao inativo o custeio integral, cujo valor pode
ser obtido com a soma de sua cota-parte com a parcela que, quanto aos ativos, é proporcionalmente suportada
pelo empregador.
c) O ex-empregado aposentado, preenchidos os requisitos do art. 31 da Lei 9.656/98, não tem direito adquirido
respectivos valores, desde que mantida paridade com o modelo dos trabalhadores ativos e facultada a
portabilidade de carências.
STJ. 2ª Seção. REsp 1829862/SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 09/12/2020 (Recurso Repetitivo –
Tema 1034).
Aplica-se a Lei nº 9.656/98 à pessoa jurídica de direito público de natureza autárquica que presta serviço
de assistência à saúde de caráter suplementar aos servidores municipais. Considerando que o caput do art.
1º faz menção expressa às pessoas jurídicas de direito privado, pode-se interpretar que a escolha do termo
“entidade” no § 2º teve por objetivo ampliar a aplicação da lei para todas as pessoas jurídicas que prestam os
serviços de assistência à saúde suplementar, até porque não faria sentido a utilização de termos distintos. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.766.181-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
• SIM. Posição da 3ª Turma do STJ. O fato de o procedimento não constar no rol da ANS não significa que não
possa ser exigido pelo usuário, uma vez que se trata de rol exemplificativo. STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp
1442296/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 23/03/2020. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp
1.874.078-PE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/10/2020 (Info 682)
• NÃO. Posição da 4ª Turma do STJ. O rol de procedimentos e eventos em saúde da Agência Nacional de Saúde
Suplementar - ANS não é meramente exemplificativo. STJ. 4ª Turma. Resp 1.733.013-PR, Rel. Min. Luis Felipe
A demora para a autorização da cirurgia indicada como urgente pela equipe médica do hospital próprio
plano de saúde, resultando na sua responsabilização. A operadora de plano de saúde tem responsabilidade
solidária por defeito na prestação de serviço médico, quando o presta por meio de hospital próprio e médicos
contratados, ou por meio de médicos e hospitais credenciados. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.414.776-SP, Rel.
Não é abusiva a negativa de custeio, pela operadora do plano de saúde, do tratamento de fertilização in
vitro, quando não houver previsão contratual expressa. O art. 10, III, da Lei nº 9.656/98 estabelece que a
“inseminação artificial” não é um procedimento de cobertura obrigatória pelos planos de saúde. Em outras
palavras, o contrato pode ou não prever a cobertura desse tratamento. Se o contrato não cobrir expressamente
e o plano de saúde, em virtude disso, se recusar a custear, essa negativa não será abusiva. Vale ressaltar que a
fertilização in vitro não é mesmo que inseminação artificial. Mesmo assim, a partir de uma interpretação
se aplica para a fertilização in vitro e que este tratamento também não é de cobertura obrigatória. Nesse
sentido, a Resolução Normativa nº 428/2017, da ANS permite que o plano de saúde não ofereça inseminação
artificial e outras técnicas de reprodução humana assistida. Assim, ao falar em outras técnicas, pode-se incluir aí
a fertilização in vitro. STJ. 3ª Turma. REsp 1794629/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy
Andrighi, julgado em 18/02/2020. STJ. 4ª Turma. REsp 1.823.077-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 20/02/2020
(Info 666)
Compete à Justiça comum julgar as demandas relativas a plano de saúde de autogestão empresarial,
exceto quando o benefício for instituído em contrato de trabalho, convenção ou acordo coletivo, hipótese
em que a competência será da Justiça do Trabalho, ainda que figure como parte trabalhador aposentado ou
dependente do trabalhador. STJ. 2ª Seção. REsp 1.799.343-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd.
Vale ressaltar, contudo, que temos aqui uma “polêmica”. No mesmo dia, na mesma sessão de julgamento, a 2ª
Seção apreciou o CC 165.863-SP no qual foram redigidas teses aparentemente contraditórias com as do REsp
1.799.343-SP. Compare:
Compete à Justiça comum o julgamento das demandas entre usuário e operadora de plano de saúde,
sendo irrelevante a existência de norma acerca da assistência à saúde em contrato de trabalho, acordo
ou convenção coletiva. Para a definição da competência do julgamento das demandas entre usuário e
operadora de plano de saúde, é irrelevante a distinção entre trabalhador ativo, aposentado ou dependente do
trabalhador. STJ. 2ª Seção. CC 165.863-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/03/2020 (Tema
Foram opostos embargos de declaração nos dois processos, de forma que o tema deverá ser esclarecido em
breve. Penso, contudo, que irá prevalecer a redação da tese fixada no REsp 1.799.343-SP porque reflete o
O art. 10, III, da Lei nº 9.656/98, ao excluir a inseminação artificial do plano-referência de assistência à
saúde, também excluiu a técnica de fertilização in vitro. A inseminação artificial compreende a fertilização in
vitro, bem como todas as técnicas médico-científicas de reprodução assistida, sejam elas realizadas dentro ou
fora do corpo feminino. Isso significa que não é abusiva a negativa de custeio, pela operadora do plano de
saúde, do tratamento de fertilização in vitro, quando não houver previsão contratual expressa. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.7946.29/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020 (Info
667). STJ. 4ª Turma. REsp 1.823.077-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 20/02/2020 (Info 666)
prescrição da ação popular, que é o quinquenal (art. 21 da Lei nº 4.717/65), adotando-se também tal lapso na
A lacuna da Lei nº 7.347/85 é melhor suprida com a aplicação de outra legislação também integrante do
microssistema de proteção dos interesses transindividuais, como os coletivos e difusos, a afastar os prazos do
Código Civil, mesmo na tutela de direitos individuais homogêneos. Assim, a despeito da existência de recurso
especial julgado sob o rito dos recursos repetitivos sobre a prescrição trienal para ações de cobrança contra
plano de saúde, nota-se que esse versou sobre as ações ordinárias individuais, de modo que o entendimento
caso. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.807.990-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/04/2020 (Info 671).
A operadora de plano de saúde não é obrigada a custear o procedimento de fertilização in vitro associado
ao tratamento de endometriose profunda. Caso concreto: mulher, que estava fazendo quimioterapia, corria o
risco de se tornar infértil em razão do tratamento que gera falência ovariana. A forma de preservar a capacidade
reprodutiva, nestes casos, é o congelamento dos óvulos (criopreservação). Diante disso, ela pleiteou junto ao
plano de saúde que custeasse esse procedimento, o que foi negado. Para o STJ, é devida a cobertura, ou seja, o
plano de saúde tem que arcar com esse tratamento. O objetivo de todo tratamento médico, além de curar a
doença, é não causar mal. Esse é um dos princípios milenares da medicina conhecido pela locução “primum, non
nocere” (primeiro, não prejudicar). Esse princípio está consagrado no art. 35-F da Lei nº 9.656/98, segundo o qual
a cobertura dos planos de saúde abrange também a prevenção de doenças, no caso, a infertilidade. Vale
ressaltar que, depois de obter alta do tratamento quimioterápico, caberá à mulher custear o tratamento de
reprodução assistida, considerando que isso se encontra fora da cobertura do plano. STJ. 3ª Turma. REsp
1.815.796-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/05/2020 (Info 673).
• usuária é infértil e busca tratamento para a infertilidade (ex: inseminação artificial): plano de saúde não é
obrigado a custear.
• usuária é fértil e busca a criopreservação como forma de prevenir a infertilidade: plano de saúde é obrigado a
custear
médico-hospitalares alegadamente cobertas pelo contrato de plano de saúde (ou de seguro saúde), mas
que não foram adimplidas pela operadora. STJ. 2ª Seção. REsp 1.756.283-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
A eficácia do contrato de plano de saúde se protrai no tempo até que a operadora seja comunicada do
contrato. A morte é fato jurídico superveniente que implica o rompimento do vínculo entre o beneficiário
e a operadora do plano de saúde. Esse efeito, contudo, só produzirá efeitos para a operadora depois que
ela tomar conhecimento de sua ocorrência. Isso significa que a eficácia do contrato se protrai no tempo até
que a operadora seja comunicada do falecimento do beneficiário. A Resolução ANS nº 412/2016, que versa sobre
a solicitação de cancelamento do contrato do plano de saúde individual ou familiar pelo beneficiário titular,
e dispõe, por conseguinte, que só serão devidas, a partir de então, as contraprestações pecuniárias vencidas
e/ou eventuais coparticipações devidas, nos planos em pré-pagamento ou em pós-pagamento, pela utilização de
serviços realizados antes da solicitação (art. 15, II e III). Embora o ato normativo indique as formas apropriadas
ao pedido de cancelamento - presencial, por telefone ou pela internet, certo é que a notificação nos autos do
processo cujo objeto é o próprio contrato de plano de saúde atinge a mesma finalidade, de tal modo que,
obrigação assumida pelas partes. Assim, reputam-se indevidas todas as cobranças efetuadas em relação ao
Turma. REsp 1.879.005-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/08/2020 (Info 679)
Ex-empregado mantido no plano de saúde por mais de dez anos após a demissão, por liberalidade do
ex-empregador e com assunção de custeio integral do serviço, não poderá ser excluído da cobertura do
seguro. João era empregado de determinada empresa e, nessa qualidade, possuía plano de saúde oferecido aos
funcionários da instituição. Em 2001, João foi demitido sem justa causa e pediu para continuar no plano de
saúde com as mesmas condições de cobertura assistencial que gozava. Para tanto, ele se comprometeu a
assumir o custeio integral do plano de saúde. Ele possui esse direito? Sim. Tal possibilidade encontra-se prevista
no art. 30 da Lei nº 9.656/98. Vale ressaltar, no entanto, que, segundo o texto da lei, o trabalhador terá direito
de continuar com o plano de saúde por um tempo máximo de 24 meses (§ 1º do art. 30). Assim, João teria
direito ao plano até 2003. Ocorre que, por liberalidade da empresa, ele continuou com o plano de saúde até
2013, quando, já com 72 anos de idade, foi notificado de que estava excluído. O STJ considerou que essa
exclusão, após tantos anos, foi indevida. O ex-empregador, por sua liberalidade, manteve o ex-empregado no
plano por mais de 10 anos depois de findo o prazo. A manutenção do ex-empregado no plano de saúde por
capaz de criar no beneficiário a confiança de que a empresa renunciara ao direito de exclui-lo. Aplica-se
obrigação contratual na hipótese em que o não exercício do direito correspondente, pelo credor, gerar no
devedor a legítima expectativa de que esse não exercício se prorrogará no tempo. STJ. 3ª Turma. REsp
plano de saúde não é obrigado a custear o tratamento de fertilização in vitro. Existe julgado no qual o STJ
afirmou que é devida a cobertura, pelo plano de saúde, do procedimento de criopreservação de óvulos de
paciente fértil, até a alta do tratamento quimioterápico, como medida preventiva à infertilidade (STJ REsp
1.815.796/RJ). No entanto, nesse acórdão, foi feita a seguinte distinção aplicável aqui:
No caso concreto, o procedimento de fertilização in vitro não foi prescrito à mulher para prevenir a infertilidade
decorrente do tratamento para a endometriose. O procedimento foi prescrito como tratamento da infertilidade
coexistente à endometriose. Logo, não há cobertura do plano. STJ. 3ª Turma. REsp 1.859.606-SP, Rel. Min. Nancy
TEMAS DIVERSOS
Em caso de cobrança judicial indevida, é possível aplicar a sanção prevista no art. 940 do Código Civil
mesmo sendo uma relação de consumo. O art. 940 do CC e o art. 42 do CDC incidem em hipóteses diferentes,
tutelando, cada um deles, uma situação específica envolvendo a cobrança de dívidas pelos credores. Mesmo
diante de uma relação de consumo, se inexistentes os pressupostos de aplicação do art. 42, parágrafo único, do
CDC, deve ser aplicado o sistema geral do Código Civil, no que couber. O art. 940 do CC é norma complementar
ao art. 42, parágrafo único, do CDC e, no caso, sua aplicação está alinhada ao cumprimento do mandamento
constitucional de proteção do consumidor. STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.589-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
Admite-se a flexibilização da orientação contida na súmula 385/STJ para reconhecer o dano moral
decorrente da inscrição indevida do nome do consumidor em cadastro restritivo, ainda que não tenha
havido o trânsito em julgado das outras demandas em que se apontava a irregularidade das anotações
preexistentes, desde que haja nos autos elementos aptos a demonstrar a verossimilhança das alegações.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.704.002-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/02/2020 (Info 665).
A indenização decorrente de extravio de bagagem e de atraso de voo internacional está submetida à tarifação
As indenizações por danos morais decorrentes de extravio de bagagem e de atraso de voo internacional não
estão submetidas à tarifação prevista na Convenção de Montreal, devendo-se observar, nesses casos, a efetiva
reparação do consumidor preceituada pelo CDC. A tese fixada pelo STF no RE 636331/RJ (Tema 210) tem
aplicação apenas aos pedidos de reparação por danos materiais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.842.066-RS, Rel. Min.
CONTRATOS BANCÁRIOS
Nacional (CMN) às instituições financeiras para cobrarem tarifa bancária pela mera disponibilização de crédito
ao cliente na modalidade “cheque especial”. STF. Plenário. ADI 6407 MC-Ref /DF, Rel. Min. Gilmar Mendes,
Se o contrato, ao tratar sobre os encargos, menciona a taxa de juros mensal e anual, mas não prevê qual
é a taxa diária dos juros, há abusividade. Viola o dever de informação, o contrato que somente prevê uma
cláusula genérica de capitalização diária, sem informar a taxa diária de juros remuneratórios. A informação
acerca da capitalização diária, sem indicação da respectiva taxa diária, subtrai do consumidor a
possibilidade de estimar previamente a evolução da dívida, e de aferir a equivalência entre a taxa diária
e as taxas efetivas mensal e anual. A falta de previsão da taxa diária, portanto, dificulta a compreensão do
consumidor acerca do alcance da capitalização diária, o que configura descumprimento do dever de informação
trazido pelo art. 46 do CDC. STJ. 2ª Seção. REsp 1.826.463-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
integrar uma mesma cadeia de fornecimento, impondo-se a ambas o dever de apurar a regularidade do
relação aos danos decorrentes de falha na prestação do serviço. Reconhecida a fraude na assinatura do
contrato que deu ensejo à operação de portabilidade, impõe-se a reparação dos danos sofridos pelo
consumidor. STJ. 3ª Turma. REsp 1.771.984-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 20/10/2020 (Info 682)
É possível a limitação dos descontos em conta bancária de recebimento do BPC, de modo a não privar o
prestações seriam descontadas diretamente de sua conta bancária. Ocorre que todos os meses João recebe uma
única renda nessa conta bancária: o benefício de amparo assistencial (BPC), previsto no art. 20 da Lei nº
8.742/93. Em virtude dos descontos efetuados, João só está recebendo metade (50%) do valor do benefício
assistencial. Diante disso, ele ajuizou ação pedindo para que esses descontos sejam reduzidos para 30%. O
STJ. 3ª Turma. REsp 1834231-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/12/2020 (Info 684).
É válida a contratação de empréstimo consignado por analfabeto mediante a assinatura a rogo, a qual, por sua
vez, não se confunde, tampouco poderá ser substituída pela mera aposição de digital ao contrato escrito.
STJ. 3ª Turma. REsp 1868099-CE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/12/2020 (Info 684).
Em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal contra os réus que desenvolviam ilegalmente
atividade de bingo, foi determinada a sua condenação em danos morais coletivos. Considerou-se que há dano
moral in re ipsa. STJ. 2ª Turma. REsp 1.567.123-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/06/2016 (Info
678).
°° ECA
GUARDA
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) adota a chamada doutrina da proteção integral (art. 1º da Lei nº
Ressalvado o risco evidente à integridade física e psíquica, que não é a hipótese dos autos, o acolhimento
A observância do cadastro de adotantes não é absoluta porque deve ser sopesada com o princípio do melhor
O risco de contaminação pela Covid-19 em casa de acolhimento justifica a manutenção da criança com a família
substituta.
STJ. 3ª Turma. HC 572854-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 04/08/2020 (Info 676).
absoluto, devendo ceder ao princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, razão de ser de todo o
sistema de defesa erigido pelo ECA, que tem na doutrina da proteção integral sua pedra basilar.
STJ. 3ª Turma. HC 505730/SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/05/2020.
Sentença que afastou criança do lar não impede pedido judicial de guarda pela mesma família. Situação
hipotética: um casal exerceu irregularmente a guarda de uma criança nos anos de 2014 e 2016. O juiz,
atendendo a pedido do Ministério Público, determinou que essa criança fosse levada a acolhimento institucional
em razão de burla ao cadastro de adoção. Houve trânsito em julgado dessa decisão que determinou o
afastamento da criança do convívio com essa família. Ocorre que se passaram quatro anos e a criança
permanece no “abrigo”, sem que tenha sido adotada. Diante disso, em 2020, o casal formulou novo pedido de
guarda alegando que existem vínculos socioafetivos entre a criança e a família. O STJ afirmou que é possível o
deferimento do pedido. As ações que envolvam a guarda da criança, por suas características peculiares, são
modificáveis com o tempo, bastando que exista a alteração das circunstâncias fáticas que justificaram a sua
afastamento do convívio familiar de que resultou o acolhimento institucional da menor, quem exercia
irregularmente a guarda e pretende adotá-la possui interesse jurídico para, após considerável lapso temporal,
ajuizar ação de guarda cuja causa de pedir seja a modificação das circunstâncias fáticas que ensejaram o
acolhimento, não lhe sendo oponível a coisa julgada que se formou na ação de afastamento.
familiar não é oponível a quem exercia a guarda irregularmente e, após considerável lapso temporal,
pretende ajuizar ação de guarda cuja causa de pedir seja a modificação das circunstâncias fáticas. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.878.043-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 679).
ADOÇÃO
O registro civil de nascimento de pessoa adotada sob a égide do Código Civil/1916 não pode ser alterado
para a inclusão dos nomes dos ascendentes dos pais adotivos. O ordenamento jurídico vigente ao tempo em
que realizada a adoção simples da peticionante por meio de escritura pública (natureza contratual), previa que o
parentesco resultante da adoção era meramente civil e limitava-se ao adotante e ao adotado, não se
estendendo aos familiares do adotante visto que mantidos os vínculos do adotado com a sua família biológica.
Não se aplica o regime jurídico de adoção do ECA para este caso. STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.387-MG, Rel. Min.
Antonio Carlos Ferreira, Rel. Acd. Min. Marco Buzzi, julgado em 11/02/2020 (Info 666). leão Nunes Maia Filho,
• evitar inversões e confusões nas relações familiares - em decorrência da alteração dos graus de parentesco
Vale ressaltar, no entanto, que o STJ admite a sua mitigação (relativização) excepcional quando:
b) os avós (pretensos adotantes) exerçam, com exclusividade, as funções de mãe e pai do neto desde o seu
nascimento;
d) o adotando reconheça os - adotantes como seus genitores e seu pai (ou sua mãe) como irmão;
econômicos; e
Assim, é possível a mitigação da norma geral impeditiva contida no § 1º do art. 42 do ECA, de modo a se
autorizar a adoção avoenga em situações excepcionais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.448.969-SC, Rel. Min. Moura
Ribeiro, julgado em 21/10/2014 (Info 551). STJ. 4ª Turma. REsp 1.587.477-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
desfavor apenas da genitora, no caso em que pretenso pai biológico não conste na respectiva certidão de
nascimento do menor. Caso concreto: em ação proposta pelo Ministério Público, o juiz decretou a destituição
do poder familiar da mãe biológica e a sua adoção. Após o trânsito em julgado, o suposto pai biológico da
criança ajuizou ação declaratória de inexistência de sentença (querela nullitatis insanabilis) por meio da qual
tentou anular a destituição do poder familiar da mãe biológica. O argumento principal do autor foi a falta de sua
citação no processo de destituição. Ocorre que o STJ manteve válido o processo porque concluiu que o homem
era desconhecido na época do nascimento da criança, tanto que não constou de seu registro civil. Segundo os
autos, a criança foi abandonada no hospital pela genitora horas após o parto, e o registro de nascimento foi feito
apenas com o nome da mãe, já que era ignorada a identidade do pai. O ECA disciplinou de modo detalhado
como deverão ser citados os réus na ação de destituição de poder familiar, como forma de reduzir ao máximo a
possibilidade de inexistência ou irregularidade na citação, especialmente pela medida drástica que pode resultar
distinta da analisada nos autos, na qual o suposto genitor era absolutamente desconhecido na época da ação de
destituição ajuizada pelo Ministério Público. Por essa razão, o pretenso pai que não mantinha relação jurídica
de poder familiar com o menor não poderia ser réu na ação em que se pretendia decretar a destituição
desse poder. STJ. 3ª Turma. REsp 1.819.860-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info 679).
COMPETÊNCIA
do montante sucumbencial por ele arbitrado. A partir da leitura dos arts. 148 e 152 do ECA, art. 24, § 1º, do
Estatuto da Advocacia e art. 516, II, do CPC/2015, conclui-se que, como regra, o cumprimento da sentença (o que
inclui a imposição sucumbencial), deve ocorrer nos mesmos autos em que se formou o correspondente título
exequendo e, por conseguinte, perante o juízo prolator do título. STJ. 1ª Turma. REsp 1.859.295-MG, Rel. Min.
PROTEÇÃO ESPECIAL
Segundo decidiu o STF, é inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art.
254 do ECA. Assim, o Estado não pode determinar que os programas somente possam ser exibidos em
determinados horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado pelo texto constitucional por configurar
censura. O Poder Público pode apenas recomendar os horários adequados. A classificação dos programas é
indicativa (e não obrigatória) (STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 31/8/2016).
Vale ressaltar, no entanto, que a liberdade de expressão, como todo direito ou garantia constitucional, exige
responsabilidade no seu exercício, de modo que as emissoras deverão resguardar, em sua programação, as
cautelas necessárias às peculiaridades do público infanto juvenil. Logo, a despeito de ser a classificação da
programação apenas indicativa e não proibir a sua veiculação em horários diversos daquele
recomendado, cabe ao Poder Judiciário controlar eventuais abusos e violações ao direito à programação
sadia, previsto no art. 221 da CF/88. Diante disso, é possível, ao menos em tese, que uma emissora de televisão
seja condenada ao pagamento de indenização por danos morais coletivos em razão da exibição de filme fora do
horário recomendado pelo órgão competente, desde que fique constatado que essa conduta afrontou
gravemente os valores e interesses coletivos fundamentais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.840.463-SP, Rel. Min. Marco
Art. 78. As revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão
Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que contenham mensagens pornográficas ou obscenas
Esse dever de zelar pela correta comercialização de revistas pornográficas, em embalagens opacas,
lacradas e com advertência de conteúdo, não se limita aos editores e comerciantes, mas se estende a
Turma.REsp 1.584.134-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/02/2020 (Info 666)
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Tratando-se de medida socioeducativa aplicada sem termo, o prazo prescricional deve ter como
parâmetro a duração máxima da internação (3 anos), e não o tempo da medida, que poderá
Assim, deve-se considerar o lapso prescricional de 8 anos previsto no art. 109, IV, do Código Penal,
posteriormente reduzido pela metade em razão do disposto no art. 115 do mesmo diploma legal, de maneira a
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1856028-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 12/05/2020 (Info
672).
INTERNAÇÃO
Não há impeditivo legal para a internação de adolescente gestante ou com filho em amamentação, desde
que seja garantida atenção integral à saúde do adolescente, além de asseguradas as condições
liberdade permaneça com o seu filho durante o período de amamentação (arts. 60 e 63, § 2º da Lei nº
12.594/12 - SINASE). STJ. 5ª Turma. HC 543.279-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/03/2020
(Info 668
de processo-crime após a maioridade penal, entende que não restam objetivos pedagógicos em sua execução.
Exemplo: Adriano, de 20 anos, foi sentenciado a cumprir medida socioeducativa de internação em virtude de ato
infracional praticado quando ele era adolescente. A sentença transitou em julgado. Ocorre que o juízo da vara de
infância e juventude constatou que Adriano encontra-se preso em razão de crime de roubo cometido quando
ele já era adulto. Diante disso, o juízo da vara infracional extinguiu a execução da medida socioeducativa
afirmando que, tendo em vista a sua idade e o seu perfil pessoal agravado, não restam objetivos pedagógicos no
cumprimento da internação.
O art. 46, § 1º da Lei nº 12.594/2012 (Lei do SINASE) prevê a seguinte faculdade para o julgador:
Art. 46 (...) § 1º No caso de o maior de 18 (dezoito) anos, em cumprimento de medida socioeducativa, responder
a processo-crime, caberá à autoridade judiciária decidir sobre eventual extinção da execução, cientificando da
STJ. 6ª Turma. HC 551319-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
ASPECTOS CÍVEIS
jurídica fixada em precedente vinculante. Caso concreto: o MP/CE ajuizou contra o Município de Fortaleza 10
ações civis públicas nas quais alega que 10 diferentes crianças estão há mais tempo em acolhimento
institucional do que prevê a lei. Diante disso, o MP pediu que elas sejam encaminhadas à programa de
acolhimento familiar e que sejam indenizadas por danos morais. O juiz, invocando o art. 332, III, do CPC, julgou
trataria de controvérsia repetitiva justamente por se tratar de 10 ações civis públicas versando sobre o mesmo
i) o acolhimento por prazo superior a 2 anos, conquanto ilegal, algumas vezes indispensável porque, em muitas
ii) não há prova de que o Município teria agido de modo doloso, intencional ou negligente;
iii) o problema do acolhimento institucional por período superior a 2 anos é de natureza estrutural, eis que
O STJ afirmou que não era admissível o julgamento de improcedência liminar ou o julgamento antecipado do
pedido. Diferentemente do tratamento dado à matéria no revogado CPC/73, não mais se admite, no CPC/2015, o
julgamento de improcedência liminar do pedido com base no entendimento firmado pelo juízo em que tramita o
vinculantes, a saber: súmula do STF ou do STJ; súmula do TJ sobre direito local; tese firmada em recursos
Por se tratar de regra que limita o pleno exercício de direitos fundamentais de índole processual, em especial o
devem ser interpretadas restritivamente, não se podendo dar a elas amplitude maior do que aquela
textualmente indicada pelo legislador no art. 332 do novo CPC. De igual modo, para que possa o juiz resolver o
mérito liminarmente e em favor do réu, ou até mesmo para que haja o julgamento antecipado do mérito
imediatamente após a citação do réu, é indispensável que a causa não demande ampla dilação probatória. STJ.
3ª Turma. REsp 1.854.842/CE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/06/2020 (Info 673)
PROTEÇÃO CÍVEL
A intervenção da FUNAI nos litígios relacionados à destituição do poder familiar e à adoção de menores
indígenas ou menores cujos pais são indígenas é obrigatória e apresenta caráter de ordem pública. O
objetivo dessa intervenção é fazer com que sejam consideradas e respeitadas a identidade social e cultural do
povo indígena, os seus costumes e tradições, suas instituições, bem como que a colocação familiar ocorra
prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia. As regras do art. 28, §6º, I e
II, do ECA, visam conferir às crianças de origem indígena um tratamento verdadeiramente diferenciado,
pois, além de crianças, pertencem elas a uma etnia minoritária, historicamente discriminada e
minimizar a sua assimilação ou absorção pela cultura dominante. Nesse contexto, a obrigatoriedade e a
interdisciplinar e com conhecimentos aprofundados sobre as diferentes culturas indígenas, o que possibilita
uma melhor verificação das condições e idiossincrasias da família biológica, com vistas a propiciar o adequado
acolhimento do menor e, consequentemente, a proteção de seus melhores interesses, não se tratando, pois, de
formalismo processual exacerbado apenar de nulidade a sua ausência. STJ. 3ª Turma. REsp 1.698.635-MS, Rel.
RESPONSABILIDADE CIVIL
É imprescritível a pretensão de reparação civil de dano ambiental. STF. Plenário. RE 654833, Rel. Alexandre
de Moraes, julgado em 20/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 999) (Info 983 – clipping).
Os danos ambientais são regidos pela teoria do risco integral. A pessoa que explora a atividade econômica
ocupa a posição de garantidor da preservação ambiental, sendo sempre considerado responsável pelos danos
vinculados à atividade. Logo, não se pode admitir a exclusão da responsabilidade pelo fato exclusivo de terceiro
ou força maior. No caso concreto, a construção de um posto de gasolina causou danos em área ambiental
protegida. Mesmo tendo havido a concessão de licença ambiental – que se mostrou equivocada – isso não é
instalação do posto de combustível somente tenha ocorrido em razão de erro na concessão da licença
ambiental, é o exercício dessa atividade, de responsabilidade do empreendedor, que gera o risco concretizado
no dano ambiental, razão pela qual não há possibilidade de eximir-se da obrigação de reparar a lesão verificada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.612.887-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/04/2020 (Info 671).
COMPETÊNCIA
É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e
testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes. A proteção da fauna é
matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, VI, da CF/88). A Lei federal nº 11.794/2008 possui uma
natureza permissiva, autorizando, a utilização de animais em atividades de ensino e pesquisas científicas, desde
que sejam observadas algumas condições relacionadas aos procedimentos adotados, que visam a evitar e/ou
atenuar o sofrimento dos animais. Mesmo que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela lei
estadual, isso não se mostra inconstitucional porque, em princípio, é possível que os Estados editem normas
mais protetivas ao meio ambiente, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na preponderância de
seu interesse, conforme o caso. STF. Plenário. ADI 5996, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info
975).
O art. 15 da Lei nº 12.651/2012, que admite o cômputo da área de preservação permanente no cálculo do
percentual de instituição da reserva legal do imóvel, não retroage para alcançar situações consolidadas antes de
sua vigência. Em matéria ambiental, deve prevalecer o princípio tempus regit actum, de forma a não se admitir a
aplicação das disposições do novo Código Florestal a fatos pretéritos, sob pena de retrocesso ambiental. STJ. 1ª
Turma. REsp 1.646.193-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, julgado em
O cumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta deve ser regido pelo Código Florestal vigente à
época da celebração do acordo. Caso concreto: o Termo de Ajustamento de Conduta foi celebrado sob a égide
da Lei nº 4.771/65 (antigo Código Florestal). Ocorre que entrou em vigor o novo Código Florestal (Lei nº
12.651/2012) com regras diferentes daquelas que haviam sido ajustadas no TAC.
O novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais
adquiridos e a coisa julgada. Uma vez celebrado, e cumpridas as formalidades legais, o Termo de Ajustamento
de Conduta - TAC constitui ato jurídico perfeito, imunizado contra alterações legislativas posteriores que
enfraqueçam as obrigações ambientais nele estabelecidas. Deve, assim, ser cabal e fielmente implementado,
vedado ao juiz recusar sua execução, pois do contrário desrespeitaria a garantia da irretroatividade da lei nova,
prevista no art. 6º da LINDB STJ. 2ª Turma. REsp 1.802.754-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
A compensação de danos ambientais ocorridos em reserva legal em data anterior à vigência da Lei nº
12.651/2012 (Novo Código Florestal) não precisa ser feita na mesma microbacia, sendo suficiente que
ocorra no mesmo bioma do imóvel a ser compensado. STJ. 1ª Turma. REsp 1.532.719-MG, Rel. Min. Napoleão
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado se configura como direito fundamental da pessoa
INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA
A cobrança por Município de multa relativa a danos ambientais já paga à União anteriormente, pelo mesmo fato,
NÃO CONFIGURA BIS IN IDEM. O art. 76 da Lei nº 9.605/98 afirma que, se o Estado, Município, Distrito Federal
ou Território já tiver multado o infrator e esta tiver sido paga, não é mais possível que seja imposta uma “multa
federal”: Art. 76. O pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios
substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência. O inverso, contudo, não é verdadeiro. Assim, se a
União já tiver multado o infrator, essa “multa federal” não substitui a multa imposta pelo Estado, DF ou
Município considerando que isso não foi previsto pelo art. 76. Houve um silêncio eloquente do legislador. Se o
pagamento da multa imposta pela União também afastasse a possibilidade de cobrança por Estados,
Municípios, Distrito Federal e Territórios, a lei teria afirmado simplesmente que o adimplemento de sanção
aplicada por ente federativo afastaria a exigência de pena pecuniária por quaisquer dos outros. Dessa forma,
não há margem para interpretação de que a multa paga à União impossibilita a cobrança daquela
aplicada pelo Município, sob pena de bis in idem, uma vez que a atuação conjunta dos poderes públicos,
de forma cooperada, na tutela do meio ambiente, é dever imposto pela Constituição Federal. STJ. 2ª
Turma. REsp 1.132.682-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 13/12/2016 (Info 667).
ATENÇÃO: penso que esse entendimento está superado. Os fatos analisados neste julgado ocorreram quando
ainda não estava em vigor a LC 140/2011. Esta Lei previu que se, mais de um ente federativo lavrar auto de
infração ambiental, deverá prevalecer aquele que foi feito por órgão que detenha a atribuição de licenciamento
(art. 17, § 3º). Isso para evitar bis in idem. Logo, no caso concreto, seria preciso definir qual dos dois órgãos tinha
competência (União ou Município) e somente iria prevalecer o auto de infração lavrado por ele. Muito cuidado
AÇÃO POPULAR
Em 2019, houve o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério, localizada em Brumadinho (MG). O
rompimento resultou em um terrível desastre ambiental e humanitário. Felipe, na condição de cidadão, ajuizou
ação popular contra a União, o Estado de Minas Gerais e a Vale S.A., pedindo para que os réus fossem
condenados a recuperar o meio ambiente degradado, pagar indenização pelos danos causados e pagar multa
demanda foi distribuída para a 2ª Vara Federal de Campinas (SP). Ocorre que na 17ª Vara Federal de Minas
Gerais existem ações individuais, ações populares e ações civis públicas tramitando contra os mesmos réus e
Quem é competente para julgar esta ação popular: o juízo do domicílio do autor ou o juízo do local em que se
O juízo do local onde se consumou o dano (17ª Vara Federal de Minas Gerais).
Regra geral: em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de seu domicílio, mesmo que o dano
tenha ocorrido em outro local. Isso porque como a ação popular representa um direito político fundamental,
Exceção: o STJ entendeu que o caso concreto envolvendo Brumadinho era excepcional com inegáveis
peculiaridades que impõem a adoção de uma solução diferente para evitar tumulto processual em uma situação
de enorme magnitude social, econômica e ambiental. Assim, para o STJ é necessário superar, excepcionalmente,
a regra geral. Entendeu-se que seria necessário adotar uma saída pragmática para permitir uma resposta do
Poder Judiciário aos que sofrem os efeitos desta grande tragédia. A regra geral do STJ deve ser usada quando a
ação popular for isolada. Contudo, no caso de Brumadinho havia uma ação popular em Campinas (SP)
competindo e concorrendo com várias outras ações populares e ações civis públicas, bem como com centenas,
talvez milhares, de ações individuais tramitando em MG, razão pela qual, em se tratando de competência
concorrente, deve ser eleito o foro do local do fato. EM FACE DA MAGNITUDE ECONÔMICA, SOCIAL E
JULGAMENTO DE AÇÃO POPULAR QUE CONCORRE COM DIVERSAS OUTRAS AÇÕES INDIVIDUAIS,
POPULARES E CIVIS PÚBLICAS DECORRENTES DO MESMO DANO AMBIENTAL. STJ. 1ª Seção. CC 164.362-MG,
TEMAS DIVERSOS
A Lei nº 9.433/97 (Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos) e a Lei nº 11.445/2007 (Lei do Saneamento
Básico) preveem, de forma expressa, categórica e inafastável que é proibida a captação de água subterrânea
para uso de núcleos residenciais, sem que haja prévia outorga e autorização ambiental do Poder Público.
As normas locais devem respeitar essa regra geral fixada pela legislação federal, sob pena de serem
inconstitucionais. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.335.535-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/09/2018 (Info
678).
A Resolução nº 458/2013, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), estabelece procedimentos para
A Procuradoria-geral da República impugnou essa Resolução alegando que ela estabeleceu critérios
agrária e que isso ofenderia o princípio da prevenção, constante do art. 225 da Constituição Federal e a
exigência de estudo prévio de impacto ambiental, prevista no seu §1º, inciso IV, além da vedação do retrocesso e
Esse ato normativo busca adequar a proteção ambiental à justiça social, que, enquanto valor e fundamento da
ordem econômica (CRFB, art. 170, caput) e da ordem social (CRFB, art. 193), protege, ao lado da defesa do meio
ambiente, o valor social do trabalho, fundamento do Estado de Direito efetivamente democrático (art. 1º, IV, da
CRFB), e os objetivos republicanos de “construir uma sociedade livre, justa e solidária” e “erradicar a pobreza e a
Reserva-se às atividades a serem desenvolvidas pelos assentados a consideração acerca do potencial risco
ambiental. Caberá aos órgãos de fiscalização e ao Ministério Público concretamente fiscalizar eventual
vulneração do meio ambiente, que não estará na norma abstrata, mas na sua aplicação, cabendo o recurso a
É assim que a resolução questionada não denota retrocesso inconstitucional, nem vulnera os princípios da
STF. Plenário. ADI 5547, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/09/2020.
EMPRESARIAL
TÍTULOS DE CRÉDITO
A emissão de Cédula de Produto Rural — CPR em garantia de contrato de compra e venda de safra futura não
STJ. 3ª Turma. REsp 866414-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/6/2013 (Info 526).
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 1027435/GO, Rel. Min. Marco Aurelio Belizze, julgado em 24/08/2020
Em uma nota promissória constaram duas datas de vencimento; uma coincide com a data de emissão do
título; a outra é posterior; neste caso, deve prevalecer a data posterior já que, por ser futura, admite ser
presumida como a efetiva manifestação de vontade do emitente. Caso concreto: na nota promissória
constaram duas informações diferentes sobre a data de vencimento do título: “cinco de fevereiro de dois mil e
oito” e “05 de julho de 2008”. Vale ressaltar que a nota promissória foi emitida em 05.02.2008 (data de emissão).
Assim, a nota promissória contém duas datas de vencimento igualmente expressas por extenso quanto ao mês
(“fevereiro” e “julho”), sendo a primeira delas coincidente com a data de emissão da cártula, aposta
numericamente (05.02.2008). Qual delas deverá prevalecer? Deve prevalecer a data de 05 de julho. Diante da
divergência entre as expressões numérica e por extenso da data de vencimento de nota promissória, deve-se
presumir que a efetiva vontade do emitente da nota era a de que o vencimento se desse após a emissão,
prevalecendo, assim, a segunda e mais futura data de vencimento. A nota promissória é um título de crédito
próprio, e, como tal, se propõe à concessão de um prazo para o pagamento, distinto da data da emissão
da cártula, de forma que não faz sentido a emissão de uma nota promissória com data de vencimento
coincidente com a data de emissão. STJ. 3ª Turma. REsp 1.730.682-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
DUPLICATA
Segundo o art. 2º, § 1º da Lei nº 5.474/68 um dos requisitos da duplicata é a assinatura do sacador. O requisito
da assinatura do emitente deve ser considerado suprível nessa específica modalidade de título de
crédito, sobretudo quando não ocorre sua circulação. Existem dois principais argumentos que permitem
a) com fundamento no art. 13, § 1º da Lei nº 5.474/68, é dispensável a apresentação física da duplicata, bastando
para a constituição do título executivo extrajudicial: os boletos de cobrança bancária, os protestos por indicação
b) a duplicata, por ser um título causal, permite a incidência da literalidade indireta, que autoriza a
que lhe serve de ensejo, pois o devedor tem a ciência de que aquela obrigação também tem seus limites
definidos em outro documento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.790.004-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
LETRA DE CÂMBIO
Na letra de câmbio não aceita não há obrigação cambial que vincule o sacado e assim, o sacador somente
tem ação extracambial contra o sacado não aceitante, cujo prazo prescricional não sofre as
O aceite é o ato por meio do qual o sacado se vincula à ordem de pagamento emitida pelo sacador, tornando-se
Se não houve aceite, não há responsável e a letra de câmbio deixa de ter natureza de título de crédito,
Assim, na letra de câmbio não aceita não há obrigação cambial que vincule o sacado.
Nesse caso, o sacador somente tem ação extracambial contra esse sacado não aceitante. O prazo prescricional
A prescrição interrompida pelo protesto cambial se refere única e exclusivamente à ação cambiária, sendo
endereçada unicamente ao responsável principal e, eventualmente, aos devedores indiretos do título, entre os
STJ. 3ª Turma. REsp 1748779-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/05/2020 (Info 672).
FALÊNCIA
judicial e no processo de falência, por força do art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015.
STJ. 2ª Seção. REsp 1717213-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/12/2020 (Recurso Repetitivo – Tema
A legislação prevê que a cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de credores ou
habilitação em falência, recuperação judicial, concordata, inventário ou arrolamento (art. 187 do CTN e o art. 29
da Lei nº 6.830/80). Isso, contudo, não representa óbice à habilitação de créditos tributários no concurso de
credores da falência.
Esses dispositivos trazem, na verdade, a previsão de uma prerrogativa do ente público que pode optar entre
receber o pagamento de seu crédito pelo rito da execução fiscal, ou mediante habilitação nos autos da falência.
Assim, a despeito de existir a prerrogativa de cobrança do crédito tributário via execução fiscal, não existe óbice
para que o Fisco (no exercício de juízo de conveniência e oportunidade) venha a requerer a habilitação de seus
11.101/2005.
Desse modo, tendo o ente público escolhido um dos ritos à sua disposição (habilitar o crédito na falência), não
pode o juízo falimentar afirmar que não existe interesse de agir do poder público.
STJ. 3ª Turma. REsp 1857055-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
Uma empresa alienou dois imóveis no termo legal da falência (art. 99, II, da Lei 11.101/05).
Na sentença da ação revocatória o juiz entendeu ser desnecessária a comprovação de conluio fraudulento entre
as partes, pois no caso de alienação durante o termo legal a fraude seria presumida.
O STJ decidiu que o ato do falido considerado objetivamente ineficaz pela Lei de Recuperação Judicial e Falência
é o registro de transferência de propriedade após a decretação da quebra e não no termo legal da falência. Por
STJ. 3ª Turma. REsp 1597084/SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 01/12/2020.
O síndico (atual administrador judicial) é responsável pela prestação de contas da massa falida ao juízo a
partir do momento de sua nomeação, incluídos os atos realizados pelo gerente na continuidade
provisória das atividades. Esse gerente, que desempenhará funções específicas relacionadas ao comércio dos
bens, ficará sob a imediata fiscalização do síndico, cabendo, ao final, prestar contas de tudo que fez ao síndico.
Logo, o síndico é também responsável pelos atos realizados pelo gerente na continuidade provisória das
atividades, devendo prestar contas disso ao juiz. STJ. 4ª Turma. REsp 1.487.042-PR, Rel. Min. Luis Felipe
Obs: a Lei nº 11.101/2005 não mais utiliza a expressão “síndico”, chamando agora de “administrador judicial”.
Obs2: o caso acima foi apreciado com base na antiga Lei de Falências (DL 7.661/1945), no entanto, a solução
O inciso III do art. 104 da Lei nº 11.101/2005 prevê que a decretação da falência impõe ao falido o dever de
não se ausentar do lugar onde se processa a falência sem motivo justo e comunicação expressa ao juiz, e
sem deixar procurador bastante, sob as penas cominadas na lei. Vale ressaltar que a antiga Lei de Falências
(DL 7.661/1945) trazia regra mais restritiva e exigia que o falido obtivesse autorização judicial expressa para que
pudesse se ausentar do lugar da falência. A norma mais benéfica do art. 104, III, da Lei nº 11.101/2005, que
não exige mais autorização judicial, mas apenas a comunicação justificada sobre mudança de residência
do sócio, inclusive para o exterior, pode ser aplicada às quebras anteriores à sua vigência. STJ. 4ª Turma.
RHC 80.124-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/05/2020 (Info 673).
Se a Fazenda Pública habilitar o crédito na falência, ela deverá, OBRIGATORIAMENTE, renunciar a ação fiscal já
execução fiscal, na medida em que não se pode admitir bis in idem. Se a Fazenda Pública habilita o crédito
na falência e mantém a execução fiscal, isso significaria uma “garantia dúplice”, que não é permitida. STJ. 4ª
Turma. REsp 1466200/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 04/12/2018.
2ª corrente: NÃO. A tramitação da ação executiva fiscal não representa, por si só, uma garantia para o credor.
Diante do pedido de habilitação do crédito na falência, não haverá obrigatoriedade de a Fazenda Pública
renunciar a execução fiscal se, no processo executivo, não há constrição de bens. Logo, é cabível a
coexistência da habilitação de crédito na falência com a execução fiscal desprovida de garantia, desde que a
Fazenda Pública se abstenha de requerer a constrição de bens em relação ao executado que também figure no
polo passivo da ação falimentar. STJ. 1ª Turma. REsp 1.831.186-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd.
executada pela suposta prática de crime falimentar mesmo que não tenha havido ainda o trânsito em
julgado da sentença penal condenatória. Se há indícios e/ou provas de prática de ato de infração à lei (penal),
a hipótese se subsume ao art. 135 do CTN. Importante acrescentar que mesmo a eventual absolvição em ação
penal não conduz necessariamente à revogação do redirecionamento, pois o ato pode não constituir
ilícito penal, e, mesmo assim, continuar a representar infração à lei civil, comercial, administrativa, etc.
(independência das esferas civil, lato sensu, e penal). É por essa razão que caberá ao juiz natural,
competente para processar e julgar a execução fiscal, analisar, caso a caso, o conteúdo da denúncia pela prática
de crime falimentar e decidir se cabe ou não o redirecionamento. Não é necessário, portanto, aguardar o
trânsito em julgado da sentença penal condenatória para que o Juízo da Execução Fiscal analise o pleito de
redirecionamento da execução contra o sócio. STJ. 2ª Turma. REsp 1.792.310-RS, Rel. Min. Herman Benjamin,
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
STJ. 4ª Turma. REsp 1267282-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/06/2020 (Info 677).
Na recuperação judicial, os créditos decorrentes de condenação por danos morais imposta à recuperanda na
Ex: João ingressou com ação de indenização por danos morais contra a empresa em que trabalhou pelo fato de
STJ. 3ª Turma. REsp 1869964-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/06/2020 (Info 676).
Para o fim de submissão aos efeitos da recuperação judicial, considera-se que a existência do crédito é
Ex: em janeiro/2017, Lucas consumiu leite estragado comprado no Supermercado BR. Em fevereiro/2017, ajuizou
recuperação judicial. Em outubro/2017, o juiz julgou o pedido de Lucas procedente e condenou a empresa a
pagar R$ 50 mil. Houve o trânsito em julgado. Diante disso, Lucas ingressou com pedido de habilitação de seu
crédito na recuperação judicial. Esse crédito poderá ser habilitado na recuperação (art. 49 da Lei nº 11.101/2005)
porque foi constituído na data do acidente de consumo (janeiro/2017) e não na data da sentença, que apenas
STJ. 2ª Seção. REsp 1842911-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 09/12/2020 (Recurso Repetitivo –
Nos casos em que há aditamento ao plano de recuperação judicial, o termo inicial do prazo bienal de que
trata o art. 61, caput, da Lei nº 11.101/2005 deve ser a data da concessão da recuperação judicial.
O art. 61 da Lei nº 11.101/2005 estabeleceu o prazo de 2 anos para o devedor permanecer em recuperação
judicial. Esse prazo se inicia com a concessão da recuperação judicial e se encerra com o cumprimento de todas
Se houver o aditamento do plano de recuperação judicial, o termo inicial do prazo bienal de que trata o art. 61,
da Lei nº 11.101/2005 continuará sendo a data da concessão da recuperação judicial ou passará para a data em
A apresentação de aditivos ao plano de recuperação judicial pressupõe que o plano estava sendo cumprido e,
por situações que somente se mostraram depois, teve que ser modificado, o que foi admitido pelos credores.
Não há, assim, propriamente uma ruptura da fase de execução, motivo pelo qual inexiste justificativa para a
modificação do termo inicial da contagem do prazo bienal para o encerramento da recuperação judicial.
Assim, decorridos 2 anos da concessão da recuperação judicial, ela deve ser encerrada, seja pelo cumprimento
das obrigações estabelecidas para esse período, seja pela eventual decretação da falência.
STJ. 3ª Turma. REsp 1853347-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/05/2020 (Info 672).
Se o credor não requereu a habilitação de seu crédito e o quadro-geral de credores já foi homologado, a única
via que ainda resta para esse credor será pleitear a habilitação por meio de ação judicial autônoma que
tramitará pelo rito ordinário, nos termos do art. 10, § 6º, da LFRE:
observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil, requerer ao juízo da
falência ou da recuperação judicial a retificação do quadro-geral para inclusão do respectivo crédito. Vale
ressaltar, no entanto, que essa ação pedindo a habilitação retardatária somente pode ser proposta até a
prolação da decisão de encerramento do processo recuperacional. Desse modo, uma vez encerrada a
recuperação judicial, não se pode mais autorizar a habilitação ou a retificação de créditos. STJ. 3ª Turma. REsp
O Juízo da recuperação é competente para avaliar se estão presentes os requisitos para a concessão de
tutela de urgência objetivando antecipar o início do stay period ou suspender os atos expropriatórios
determinados em outros juízos, antes mesmo de deferido o processamento da recuperação. STJ. 2ª Seção. CC
168.000-AL, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/12/2019 (Info 663)
O art. 48 da Lei nº 11.101/2005 elenca requisitos que deverão ser cumpridos pelo devedor para que ele
possa requerer recuperação judicial. O primeiro requisito é a previsão de que o devedor deverá estar
exercendo regularmente suas atividades há, no mínimo, 2 anos no momento do pedido. O cômputo do
período de dois anos de exercício da atividade econômica, para fins de recuperação judicial, nos termos do art.
48 da Lei nº 11.101/2005, aplicável ao produtor rural, inclui aquele anterior ao registro do empreendedor. O
produtor rural, por não ser empresário sujeito a registro, está em situação regular, mesmo ao exercer atividade
econômica agrícola antes de sua inscrição, por ser esta, para ele, facultativa. Assim, para o empreendedor rural,
o registro, por ser facultativo, tem o efeito constitutivo de equipará-lo, para todos os efeitos, ao empresário
sujeito a registro, sendo tal efeito apto a retroagir (ex tunc), pois a condição regular de empresário já existia
antes mesmo do registro. Logo, para cumprir os 2 anos exigidos por lei, o produtor rural pode aproveitar o
período anterior ao registro, pois já naquela época ele estava exercendo regularmente atividade
empresarial. STJ. 4ª Turma. REsp 1.800.032-MT, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, julgado em
O crédito titularizado pela sociedade de seguros, decorrente do não repasse dos prêmios em contrato de
representação de seguro, submete-se à recuperação judicial da empresa representante. Ex: a empresa fez
um contrato de representação de seguro com uma seguradora (sociedade de seguros); a empresa recebia o
valor dos prêmios pagos pelos segurados e, depois de determinado tempo, teria que entregar essa quantia à
seguradora; a empresa entrou em recuperação judicial sem ter repassado esses prêmios; a seguradora terá que
habilitar esse crédito que tem para receber na recuperação judicial. STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.595-MG, Rel. Min.
Os créditos decorrentes da prestação de serviços contábeis e afins, mesmo que titularizados por
sociedade simples, são equiparados aos créditos trabalhistas para efeitos de sujeição ao processo de
refere à sujeição ao plano de recuperação judicial - deve ser o mesmo conferido aos créditos de origem
trabalhista, em virtude de ambos ostentarem natureza alimentar. Esse entendimento não é obstado pelo fato de
o titular do crédito ser uma sociedade de contadores, considerando que, mesmo nessa hipótese, a natureza
alimentar da verba não é modificada. STJ. 3ª Turma. REsp 1.851.770-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
O art. 66 da Lei nº 11.101/2005 afirma que é possível a alienação de bens integrantes do ativo permanente da
empresa em recuperação judicial, desde que o juiz responsável pela condução do processo reconheça a
existência de evidente utilidade na adoção de tal medida. O art. 66 da LFRE não exige qualquer formalidade
específica para fins de se alcançar o valor dos bens a serem alienados, tampouco explicita de que modo deverá
ser procedida a venda, deixando, portanto, a critério do juiz aceitar ou não o preço enunciado e a forma como
será feita a alienação. Assim, para a alienação tratada no art. 66 não se exige o cumprimento das
formalidades previstas no art. 142 da Lei nº 11.101/2005. STJ. 3ª Turma. REsp 1.819.057-RJ, Rel. Min. Nancy
Os créditos constituídos depois de ter o devedor ingressado com o pedido de recuperação judicial estão
excluídos do plano e de seus efeitos (art. 49, caput, da Lei nº 11.101/2005). A sentença (ou o ato jurisdicional
equivalente, na competência originária dos tribunais) é o ato processual por meio do qual nasce o direito à
sucumbenciais se deu posteriormente ao pedido de recuperação judicial, o crédito que dali emana,
necessariamente, nascerá com natureza extraconcursal, já que, nos termos do art. 49, caput da Lei nº 11.101/05,
sujeitam-se ao plano de soerguimento os créditos existentes na data do pedido de recuperação judicial, ainda
que não vencidos, e não os posteriores. Por outro lado, se a sentença que arbitrou os honorários advocatícios
for anterior ao pedido recuperacional, o crédito dali decorrente deverá ser tido como concursal, devendo ser
habilitado e pago nos termos do plano de recuperação judicial. STJ. 2ª Seção. REsp 1.841.960-SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/02/2020 (Info 669).
A alienação de unidades produtivas isoladas prevista em plano de recuperação judicial aprovado deve, em regra,
se dar na forma de alienação por hasta pública, conforme o disposto nos arts. 60 e 142 da Lei nº 11.101/2005. A
adoção de outras modalidades de alienação, na forma do art. 145 da Lei nº 11.101/2005, só pode ser admitida
em situações excepcionais, que devem estar explicitamente justificadas na proposta apresentada aos credores.
Nessas hipóteses, as condições do negócio devem estar minuciosamente descritas no plano de recuperação
judicial que deve ter votação destacada deste ponto, ser aprovado por maioria substancial dos credores e
homologado pelo juiz. Em suma: a alienação de unidades produtivas isoladas prevista em plano de
recuperação judicial aprovado somente poderá adotar outras modalidades de alienação em situações
Turma. REsp 1.689.187-RJ, Rel. Min. RicardoVillas Bôas Cueva, julgado em 05/05/2020 (Info 671).
De acordo com o art. 49, caput, da Lei nº 11.101/2005, não se submetem aos efeitos do processo de
soerguimento do devedor aqueles credores cujas obrigações foram constituídas após a data em que o devedor
ingressou com o pedido de recuperação judicial. O crédito passível de ser perseguido pelo fiador em face do
afiançado somente se constitui a partir do adimplemento da obrigação principal pelo garante. Antes
disso, não existe dever jurídico de caráter patrimonial em favor deste. STJ. 3ª Turma. REsp 1.860.368-SP, Rel.
A realidade econômica do País revela que as sociedades empresárias em crise usualmente possuem débitos
fiscais em aberto, podendo-se afirmar que as obrigações dessa natureza são as que em primeiro lugar deixam
de ser adimplidas, sobretudo quando se considera a elevada carga tributária e a complexidade do sistema atual.
Diante desse contexto, a apresentação de certidões negativa de débitos tributários pelo devedor que busca, no
Judiciário, o soerguimento de sua empresa representa exigência de difícil cumprimento. Dada a existência de
aparente antinomia entre a norma do art. 57 da LFRE e o princípio insculpido em seu art. 47 (preservação
Compete ao juízo da recuperação judicial a execução de créditos líquidos apurados em outros órgãos
judiciais, inclusive a destinação dos depósitos recursais no âmbito do processo do trabalho. STJ. 2ª Seção. CC
162.769-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/06/2020 (Info 675).
Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação judicial, já
que não enseja, necessariamente, a liquidação da quota. STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.250-SP, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/06/2020 (Info 675).
As astreintes, fixadas no âmbito de uma reclamação trabalhista (concebidas como sanção pecuniária de
natureza processual), não possuem origem, nem sequer indireta, no desempenho da atividade laboral do
credores, sobretudo na classe dos trabalhistas, em manifesta violação ao princípio da par conditio creditorum.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.804.563-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/08/2020 (Info 679).
Em uma impugnação de crédito incidente à recuperação judicial é possível que a empresa recuperanda alegue
e que o juiz reconheça a existência de abusividade na cláusula do contrato de que se originou o crédito
possibilitando o pleno contraditório e a ampla instrução probatória, em rito semelhante ao ordinário (arts. 13 e
15 da Lei nº 11.101/2005). Não há, na Lei nº 11.101/2005, qualquer restrição à defesa que pode ser
mas de procedimento semelhante ao ordinário. Diante disso, devem ser examinadas todas as alegações
trazidas pela recuperanda, o que inclui a eventual existência de abusividades nas cláusulas contratuais relativas
aos encargos moratórios que o impugnante busca acrescer aos seus créditos. STJ. 3ª Turma. Resp 1.799.932-PR,
O Juízo competente para processar e julgar pedido de recuperação judicial é aquele situado no local do
principal estabelecimento (art. 3º da Lei nº 11.101/2005), compreendido este como o local em que se encontra
“o centro vital das principais atividades do devedor”. No curso do processo de recuperação judicial, as
de negócios, sujeitas ao crivo do devedor, não acarretam a alteração do juízo competente, uma vez que os
negócios ocorridos no curso da demanda nem mesmo se sujeitam à recuperação judicial. STJ. 2ª Seção. CC
163.818-ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 23/09/2020 (Info 680).
Juiz deferiu a recuperação judicial; TJ reformou a decisão; STJ restaurou o entendimento de 1ª instância
individuais são nulos. Exemplo: João, empresário rural, pediu recuperação judicial, cujo processamento foi
deferido pelo juiz. Um dos credores recorreu alegando que não ficou comprovado o exercício da atividade
agrícola pelo período de 2 anos (art. 48 da Lei nº 11.101/2005). O TJ deu provimento ao recurso negando direito à
recuperação judicial. João recorreu ao STJ e o Ministro Relator concedeu tutela provisória para restabelecer a
decisão do juiz assegurando ao empresário o direito à recuperação judicial. Ocorre que, no período entre o
acórdão do TJ e a decisão do Ministro do STJ, as execuções individuais contra o empresário que estavam
suspensas voltaram a tramitar e foram praticados diversos atos executivos. Esses atos executivos são válidos? A
validade dos atos executivos realizados no bojo das execuções individuais, no interregno em que a
reformada (porém, sujeita a revisão por instância judicial superior), fica condicionada à confirmação, por
provimento judicial final, de que o empresário, de fato, não fazia jus ao deferimento do processamento
de sua recuperação judicial. Assim, no exemplo dado, se a decisão concedendo a recuperação judicial for
confirmada por provimento judicial final, os atos executivos que foram praticados serão considerados inválidos.
O credor assume os riscos de prosseguir com a sua execução individual. Ele deve saber, contudo, que, se for
confirmado o acerto da decisão que deferiu o processamento da recuperação judicial, com o restabelecimento
de todos os seus efeitos desde a sua prolação, os atos executivos realizados no âmbito das execuções
O empresário rural que objetiva se valer dos benefícios do processo recuperacional, instituto próprio do
regime jurídico empresarial, há de proceder à inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis, não
porque o registro o transforma em empresário, mas sim porque, ao assim proceder, passou a
voluntariamente se submeter ao aludido regime jurídico. Assim, a inscrição, sob esta perspectiva, assume a
condição de procedibilidade ao pedido de recuperação judicial. Ainda que relevante para viabilizar o pedido de
recuperação judicial, como instituto próprio do regime empresarial, o registro é absolutamente desnecessário
para que o empresário rural demonstre a regularidade (em conformidade com a lei) do exercício profissional de
sua atividade agropecuária pelo biênio mínimo, podendo ser comprovado por outras formas admitidas em
direito e, principalmente, levando-se em conta período anterior à inscrição. STJ. 3ª Turma. REsp 1.811.953-MT,
Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/10/2020 (Info 681). STJ. 4ª Turma. REsp 1.800.032-MT, Rel. Min.
Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, julgado em 05/11/2019 (Info 664)
A interpretação conjunta da regra do art. 52, V, da LFRE – que determina a intimação do Ministério Público
acerca da decisão que defere o processamento da recuperação judicial - e daquela constante no art. 179, II, do
CPC/2015 - que autoriza, expressamente, a interposição de recurso pelo órgão ministerial quando a este
incumbir intervir como fiscal da ordem jurídica - evidencia a legitimidade do Parquet para recorrer contra a
decisão que fixa os honorários do administrador na recuperação judicial. STJ. 3ª Turma. REsp 1.884.860-RJ, Rel.
PROPRIEDADE INDUSTRIAL
Com o objetivo de fornecer recursos financeiros para o INPI, a Lei exigiu que o depositante do pedido de patente
ou a pessoa que já seja titular da patente deverão pagar, anualmente, a partir do 3º ano, um valor chamado
“retribuição anual” (art. 84 da LPI). A falta do pagamento da retribuição acarreta a extinção da patente (art. 86). O
art. 87 da LPI prevê, como forma de preservar o direito do titular da patente, o instituto da restauração. Assim,
esse artigo estabelece que, notificado do arquivamento do pedido ou da extinção da patente em razão do não
pagamento da retribuição anual, o depositante ou o titular poderá, no prazo de três meses contados dessa
notificação, restaurar o pedido ou a patente, por meio do pagamento de retribuição específica. O art. 13 da
Resolução nº 113/2013, do INPI, afasta a aplicação do art. 87 da Lei nº 9.279/96 nas hipóteses de
inadimplemento em mais de uma retribuição anual. A partir da análise sistemática da LPI, verifica-se que o INPI
extrapolou seu poder disciplinar. O referido ato infralegal vai além da disciplina estabelecida no art. 87 da LPI,
ao titular ou ao depositante de patente requerer a restauração, dentro do período de 3 (três) meses a partir da
notificação, a resolução do INPI limita a aplicação do instituto a um requisito não previsto na LPI - o
inadimplemento não superior a uma retribuição anual. Assim, é evidente que, ao afastar o direito de
restauração de patente em hipóteses não previstas na lei, o INPI restringiu ilegalmente o direito de
restauração. STJ. 3ª Turma. REsp 1.837.439-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 01/09/2020 (Info
679)
MARCA
A empresa que comercializa responde solidariamente com o fabricante de produtos contrafeitos pelos
danos causados pelo uso indevido da marca. Ainda que a solidariedade não seja expressamente prevista na
Lei nº 9.279/96, a responsabilidade civil é solidária para todos os autores e coautores que adotem condutas
danosas ao direito protegido de outrem, conforme sistema geral de responsabilidade estabelecido no art. 942
do Código Civil. STJ. 3ª Turma. REsp 1.719.131-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 11/02/2020 (Info
666).
A renúncia ao registro não enseja a perda do objeto da ação que veicula pretensão de declaração de
nulidade da marca. Caso concreto: a empresa Goiás Refrigerantes S/A registro, no INPI a marca JOCA COLA. Ao
tomar conhecimento disso, a “The Coca Cola Company” ajuizou ação contra a empresa Goiás Refrigerantes S/A e
contra o INPI pedindo a nulidade desse registro. Na contestação apresentada, a Goiás Refrigerantes pediu a
extinção do processo sem resolução do mérito por perda do objeto considerando que, logo após o ajuizamento
da ação, ela (ré) renunciou ao registro da marca JOCA COLA e isso já foi homologado administrativamente pelo
INPI. Mesmo com essa renúncia, o processo deverá prosseguir considerando que a renúncia opera efeitos ex
nunc e não implica reconhecimento de que o registro continha vícios. A declaração de nulidade, por outro lado,
produz efeitos ex tunc e significa o reconhecimento de que o registro foi concedido em desacordo com as
disposições da Lei. Logo, mesmo tendo havido renúncia à marca impugnada, a continuidade da ação é
necessária para proteção dos direitos da autora relativos ao período em que a marca esteve em vigor. STJ. 3ª
Turma. REsp 1.832.148-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2020 (Info 666)
Não compete à Justiça estadual, em sede de reconvenção proposta na ação de abstenção de uso de marca,
Justiça Estadual não pode, ao julgar uma ação de abstenção de uso de marca, negar o pedido da
proprietária da marca utilizando como argumento que o registro dessa marca conteria uma nulidade ou
Isso porque, nessa situação, haverá interesse jurídico do INPI na demanda, considerando que foi essa autarquia
federal que concedeu o registro, incidindo, portanto, na hipótese do art. 109, I, da CF/88. Caso concreto: uma
escola propôs ação pedindo para que outra empresa de educação não utilizasse o termo “Poliedro” como marca;
o TJ julgou o pedido improcedente afirmando que essa palavra não poderia ter sido registrada como marca;
logo, o registro seria nulo. STJ. 4ª Turma. REsp 1.393.123-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
O art. 175 da Lei de Propriedade Industrial exige que a ação de nulidade do registro de marca seja ajuizada no
foro da Justiça Federal, devendo o INPI, quando não for o autor, necessariamente intervir no feito. Não há, na lei,
qualquer exceção a essa regra. O mesmo, porém, não ocorre no que diz respeito à patente e ao desenho
industrial. Os arts. 56, § 1º, e 118, da Lei nº 9.279/96 preveem a possibilidade de arguição da nulidade de
Justiça Estadual, dispensando, nesses casos, a participação do INPI. Vale ressaltar, por fim, que o
reconhecimento da nulidade de patentes e de desenhos industriais pelo juízo estadual, por ocorrer apenas
incidenter tantum, não faz coisa julgada e não opera efeitos para fora do processo, tendo apenas o condão de
levar à improcedência do pedido veiculado na ação de infração. STJ. 3ª Turma. REsp 1.843.507-SP, Rel. Min. Paulo
TEMAS DIVERSOS
CONTRATOS BANCÁRIOS
sobre a taxa média aplicável aos Certificados de Depósitos Interbancários (CDIs). Nos depósitos
interbancários, como em qualquer outro tipo de empréstimo, a instituição tomadora paga juros à instituição
emitente. A denominada Taxa CDI, ou simplesmente DI, é calculada com base nas taxas aplicadas em tais
operações, refletindo, portanto, o custo de captação de moeda suportado pelos bancos. STJ. 3ª Turma.REsp
1.781.959-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/02/2020 (Info 665)
Nacional. Assim, por exemplo, se um banco passa por um processo de intervenção, de liquidação extrajudicial
ou mesmo de falência, o FGC assegura que os correntistas irão receber de volta os valores depositados. Vale
ressaltar, no entanto, que existe um limite (um “teto”) que é garantido pelo FGC. Atualmente, o valor máximo
garantido é de R$ 250 mil. Desse modo, se a pessoa tinha R$ 300 mil depositados no banco que “quebrou”, ela
receberá R$ 250 mil do FGC e deverá tentar buscar os R$ 50 mil restantes da instituição financeira (se conseguir).
Situação hipotética: foi instituído um fundo formado por 10 concessionárias de veículos, sendo administrado
pela associação que representa essas concessionárias. Esse fundo foi constituído para aglutinar todo o dinheiro
que as concessionárias utilizariam para fazer marketing na imprensa. Assim, todos contribuíam e o fundo
contratava as peças publicitárias. Os recursos financeiros desse fundo eram depositados numa conta do Banco
BMD. Ocorre que essa instituição financeira entrou em liquidação extrajudicial e as concessionárias não
conseguiram receber do banco o valor depositado. O FGC foi acionado. Suponhamos que havia R$ 2 milhões
depositados. As concessionárias argumentaram que deveriam receber do FGC os R$ milhões considerando que
o fundo é composto por 10 concessionárias. Logo, cada uma delas teria direito ao teto cobertura de R$ 250 mil.
250 mil x 10 = 2 milhões e 500 mil. O pedido não foi acolhido pelo STJ. O teto cobertura do FGC deverá ser
aplicado para o fundo (e não para cada concessionária que dele faz parte). Assim, o fundo todo terá
direito de receber R$ 250 mil e ele fundo que distribua entre as concessionárias. STJ. 3ª Turma. REsp
1.758.951-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 04/08/2020 (Info 678).
LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL
O caput do art. 24-A prevê que os administradores das operadoras de planos de saúde que estejam em regime
de direção fiscal ou de liquidação extrajudicial, ficarão com todos os seus bens indisponíveis. O § 1º afirma que
essa indisponibilidade atinge a todos aqueles que tenham estado no exercício das funções nos doze meses
Esse prazo legal pode ser ampliado pelo juiz para atingir algum ex-administrador que tenha saído há mais de
doze meses?
Sim. O prazo do § 1º do art. 24-A da Lei nº 9.656/98 pode ser ampliado pelo juízo da insolvência civil de
operadora de plano de saúde para atingir os bens de ex-conselheiro fiscal que deixou o cargo antes dos
doze meses que antecederam o ato de decretação da liquidação extrajudicial. Desde que observados os
requisitos legais, pode o Juízo, com base no poder geral de cautela, ampliar o alcance da norma quando verificar
concretamente, a eficácia e a utilidade do provimento jurisdicional de caráter satisfativo. STJ. 3ª Turma. REsp
Em regra, os honorários contratuais são devidos por aquele que contrata o advogado para atuar em seu favor,
respondendo cada uma das partes pelos honorários contratuais de seu advogado. A parte vencida, além dos
honorários contratuais do seu advogado, também arcará com o pagamento dos honorários sucumbenciais
devidos ao patrono da parte vencedora. No caso concreto, o contrato firmado entre as partes previa que o
locatário deveria pagar os honorários contratuais de seu advogado, assim como os do advogado do locador. Isso
não configura bis in idem, pois não se trata do pagamento da mesma verba, mas do repasse de custo do locador
para o locatário. A atividade empresarial é caracterizada pelo risco e regulada pela lógica da livre
concorrência, devendo prevalecer nesses ajustes, salvo situação excepcional, a autonomia da vontade e
o princípio pacta sunt servanda. Não há como afastar a incidência de cláusula de contrato de locação de
espaço em shopping center com base em alegação genérica de afronta à boa-fé objetiva, devendo ficar
demonstrada a situação excepcional que autoriza a intervenção do Poder Judiciário. STJ. 3ª Turma. REsp
1.644.890-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/08/2020 (Info 678).
Preenchidos os requisitos dispostos na Lei nº 4.886/65, compete à Justiça Comum o julgamento de processos
envolvendo relação jurídica entre representante e representada comerciais, uma vez que não há relação de
trabalho entre as partes. STF. Plenário. RE 606003, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 28/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 550) (Info 995 – clipping)
A representação comercial autônoma é uma espécie de contrato segundo o qual uma determinada pessoa
queiram adquirir os produtos ou serviços prestados por uma empresa, designada “representada”. O art.
27, “j”, da Lei nº 4.886/65 prevê que o representado deverá pagar uma indenização ao representante em caso de
rescisão imotivada, cujo montante não poderá ser inferior a 1/12 do total da retribuição auferida durante o
O valor dessa indenização pode ser pago antecipadamente, diluído no contrato de representação comercial?
NÃO. É nula a cláusula que prevê o pagamento antecipado da indenização devida ao representante comercial
no caso de rescisão injustificada do contrato pela representada. STJ. 3ª Turma. REsp 1.831.947-PR, Rel. Min.
PRINCÍPIOS
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
Aplica-se o princípio da anterioridade tributária, geral e nonagesimal, nas hipóteses de redução ou de supressão
de benefícios ou de incentivos fiscais, haja vista que tais situações configuram majoração indireta de tributos
(STF. Plenário. RE 564225 AgR-EDv-AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2019). Reintegra é um
programa econômico instituído pelo governo federal com o objetivo de incentivar as exportações.
anterioridade?
SIM. A redução ou supressão de benefícios ou incentivos fiscais decorrentes do Regime Especial de Reintegração
de Valores Tributários para Empresas Exportadoras (REINTEGRA) se sujeita à incidência dos princípios da
anterioridade tributária geral e da anterioridade nonagesimal, previstos no art. 150, III, “b” e “c”, da Constituição
Federal. A alteração no programa fiscal REINTEGRA, por acarretar indiretamente a majoração de tributos, deve
respeitar o princípio da anterioridade. STF. 1ª Turma. RE 1253706 AgR/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em
19/5/2020 (Info 978). STF. 2ª Turma. RE 1091378 AgR, Rel. Edson Fachin, julgado em 31/08/2018.
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
A lei complementar é forma exigível para a definição do modo beneficente de atuação das entidades de
Redação original: Os requisitos para o gozo de imunidade hão de estar previstos em lei complementar.
A lei complementar é forma exigível para a definição do modo beneficente de atuação das entidades de
assistência social contempladas pelo art. 195, § 7º, da CF, especialmente no que se refere à instituição de
STF. Plenário. RE 566622/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/2/2017 (repercussão geral – Tema 32) (Info
855). STF. Plenário. RE 566622 ED/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em
não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação. Trata-se de imunidade tributária criada com o
Se o fabricante ou produtor brasileiro faz a exportação por intermédio de uma empresa exportadora intermediária
(ex: trading company), incide igualmente a imunidade tributária? Incide a imunidade tributária no caso de operações
indiretas de exportação?
SIM. A norma imunizante contida no inciso I do § 2º do art. 149 da Constituição Federal alcança as receitas
sociedade exportadora intermediária. STF. Plenário. ADI 4735/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
12/2/2020 (Info 966). STF. Plenário. RE 759244/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 12/2/2020 (repercussão
Súmula vinculante 57: A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se à importação e
comercialização, no mercado interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes exclusivamente utilizados para
fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (e-readers), ainda que possuam funcionalidades acessórias. STF.
A imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da Constituição) impede que os entes públicos criem uns para
os outros obrigações relacionadas à cobrança de impostos, mas não veda a imposição de obrigações
acessórias. As obrigações acessórias sejam instituídas por meio de atos infralegais. STF. Plenário. ACO 1098, Rel.
Sociedade de economia mista, cuja participação acionária é negociada em Bolsas de Valores, e que,
inequivocamente, está voltada à remuneração do capital de seus controladores ou acionistas, não está
abrangida pela regra de imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição, unicamente em razão
das atividades desempenhadas. STF. Plenário. RE 600867, Rel. Joaquim Barbosa, Relator p/ Acórdão Luiz Fux,
Súmula vinculante 58: Inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à entrada de insumos isentos,
sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não cumulatividade. STF. Plenário.
Aprovada em 24/04/2020.
Não incide IPVA sobre veículo automotor adquirido, mediante alienação fiduciária, por pessoa jurídica de
direito público. STF. Plenário. RE 727851, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Repercussão Geral – Tema
IR
Não tendo participado do fato gerador do tributo, a declaração conjunta de imposto de renda não torna
o cônjuge corresponsável pela dívida tributária dos rendimentos percebidos pelo outro.
Exemplo hipotético: João e Carla são casados. Eles fizeram uma declaração conjunta do imposto de renda.
Ocorre que não se declarou que Carla recebeu R$ 10 mil por serviços prestados para uma determinada
empresa. Houve, portanto, omissão de rendimentos recebidos. Ao detectar a omissão, a Receita Federal fez
lançamento de auto de infração contra Carla e João. Não poderia ter feito contra João. O fato gerador (renda
auferida com os serviços prestados) foi praticado apenas pela mulher. Logo, o marido não pode ser considerado
como solidariamente obrigado. STJ. 1ª Turma. REsp 1.273.396-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado
O imposto de renda tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou de
proventos de qualquer natureza. Renda, para fins de incidência tributária, pressupõe acréscimo patrimonial ao
longo de determinado período, ou seja, riqueza nova agregada ao patrimônio do contribuinte. A quota
condominial é a obrigação mensal imposta a todos os condôminos para cobrir gastos necessários à manutenção
de um condomínio. Trata-se, portanto, de uma despesa, um encargo que é suportado pelos condôminos. Assim,
a dispensa do pagamento das taxas condominiais concedida ao síndico pelo trabalho por ele exercido
não pode ser considerada como pró-labore, rendimento nem tampouco como acréscimo patrimonial.
Logo, não está sujeita à incidência do imposto de renda, sob pena, inclusive, de violar o princípio da
capacidade contributiva. Quando o síndico deixa de pagar a quota condominial não há uma alteração entre o
patrimônio preexistente e o novo. Não há o ingresso de riqueza nova em seu patrimônio que justifique a
inclusão do valor correspondente à sua quota condominial como ganho patrimonial na apuração anual de
rendimentos tributáveis. STJ. 1ª Turma. REsp 1.606.234-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
É ilegal o art. 4º, I, da IN SRF nº 139/1989, que, ao suprimir a comunicação entre exercícios diferentes, traz
inovação limitadora não prevista no Decreto-lei nº 1.790/1980. O Decreto-lei nº 1.790/1980, que foi recepcionado
com força de lei ordinária, não estabeleceu restrição à compensação entre períodos diversos, isto é, não impôs
nenhuma limitação temporal ao exercício de tál direito. Assim, era perfeitamente possível a compensação do
imposto de renda retido na fonte mesmo que em calendários (exercícios) diferentes. STJ. 1ª Turma. REsp
1.628.374-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa, julgado em 04/02/2020 (Info 665)
graves e que estejam na inatividade não pagarão imposto de renda sobre os rendimentos recebidos a título de
aposentadoria, pensão ou reforma. Essa isenção é devida apenas às pessoas que recebem aposentadoria,
pensão ou reforma e não é possível que o Poder Judiciário estenda o benefício aos trabalhadores que estão em
atividade. Os juízes e Tribunais não podem, mesmo a pretexto de estabelecer tratamento isonômico, conceder
isenção tributária em favor daqueles não contemplados pelo favor legal, porque isso equivaleria, em última
análise, a converter o Poder Judiciário em inadmissível legislador positivo. A legislação optou por critérios
enfermidade grave, ainda que contraída após a aposentadoria ou reforma. STF. Plenário. ADI 6025, Rel.
Súmula 584-STF: Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente no
exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração. Esse enunciado é incompatível com os princípios
da irretroatividade e da anterioridade. Por essa razão, o STF decidiu pelo cancelamento do verbete. STF.
Plenário. RE 159180, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Info 987 – clipping).
O art. 476-A da CLT prevê que o contrato de trabalho pode ser suspenso, após celebração de acordo ou de
convenção coletiva com o sindicato da categoria, e anuência formal do empregado, pelo período de duração do
curso de requalificação de no mínimo 2 (dois) e no máximo, 5 (cinco) meses. Com a suspensão do contrato de
trabalho, nessa modalidade, o empregado recebe bolsa de qualificação profissional, custeada pelo FAT - Fundo
de Amparo ao Trabalhador, nos termos do art. 2º-A da Lei 7.998/90, durante o curso de aprimoramento
profissional, desde que a suspensão tenha duração máxima de cinco meses, após o que o encargo passa a ser
de responsabilidade do empregador, conforme o art. 476-A, § 7º, da CLT. Como há suspensão do contrato de
trabalho, tal ajuda compensatória evidentemente não se enquadra no inciso I do art. 43 do CTN. Além disso, ela
não configura proventos, entendidos como acréscimos patrimoniais descritos no inciso II do mesmo dispositivo.
O montante pago a título de ajuda compensatória, portanto, tem natureza jurídica de indenização,
do contrato de trabalho, como não influir no 13º salário proporcional, no depósito na conta vinculada do FGTS. O
valor recebido pelos trabalhadores a título de ajuda compensatória representa uma indenização do
patrimônio desfalcado do trabalhador, e não um acréscimo patrimonial tido como fato gerador do
imposto, motivo pelo qual não se sujeita à tributação pelo imposto de renda. STJ. 2ª Turma. REsp
O momento do fato gerador do Imposto de Renda Retido na Fonte - IRRF a ser recolhido pela sociedade
II
Os serviços de capatazia estão incluídos na composição do valor aduaneiro e integram a base de cálculo do
imposto de importação. Os serviços de capatazia integram o conceito de valor aduaneiro, tendo em vista
que tais atividades são realizadas dentro do porto ou ponto de fronteira alfandegado na entrada do
território aduaneiro. STJ. 1ª Seção. REsp 1.799.306-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, Rel. Acd. Min. Francisco Falcão,
IPI
O direito ao crédito presumido de IPI só surge na data de exportação e não na data de aquisição dos
insumos.
A Lei nº 9.363/96 pretendeu desonerar as exportações e elegeu como critério material para a fruição de referido
Assim, o critério temporal para a incidência da norma só pode ser a data da exportação, que se verifica no
momento do registro junto ao SISCOMEX (Sistema Integrado de Comércio Exterior) e embarque da mercadoria.
STJ. 1ª Turma. REsp 1168001-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 17/11/2020 (Info 684).
Art. 46. O imposto, de competência da União, sobre produtos industrializados tem como fato gerador:
II - a sua saída dos estabelecimentos a que se refere o parágrafo único do artigo 51;
A saída do estabelecimento a que refere o art. 46, II, do CTN, que caracteriza o aspecto temporal da hipótese de
Havendo mero deslocamento para outro estabelecimento ou para outra localidade, permanecendo o produto
STJ. 1ª Turma. REsp 1402138-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
ICMS
Não viola o princípio da não cumulatividade lei complementar que prorroga a compensação de créditos
de ICMS.
Não viola o princípio da não cumulatividade (art. 155, §2º, incisos I e XII, alínea c, da CF/88) lei complementar que
prorroga a compensação de créditos de ICMS relativos a bens adquiridos para uso e consumo no próprio
estabelecimento do contribuinte.
Conforme o art. 150, III, "c", da CF/88, o princípio da anterioridade nonagesimal aplica-se somente para leis que
instituem ou majoram tributos, não incidindo relativamente às normas que prorrogam a data de início da
STF. Plenário. RE 601967, Rel. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 18/08/2020
A cobrança do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) somente pode ser realizada
STF. Plenário. RE 1016605, Redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 16/09/2020 (Repercussão
A exceção prevista no art. 20, § 6º, I, da LC 87/96, que permite a manutenção de créditos nas operações que
envolvem produtos agropecuários, não é destinada àquele que realiza a venda contemplada pela isenção, mas
ao contribuinte da etapa posterior, que adquire a mercadoria isenta do imposto e que tem a sua operação de
saída normalmente tributada. STJ. 1ª Turma. REsp 1.643.875-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 19/11/2019
(Info 663).
Obs: existem julgados da 2ª Turma do STJ concedendo o direito à compensação, mas sem enfrentar com
profundidade esse argumento acima exposto. Nesse sentido: STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1606333/RS, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 02/02/2017. Para fins de prova, por enquanto, recomendo a adoção do
Os insumos que geram direito ao creditamento são aqueles que, extrapolando a condição de mera facilidade, se
incorporam ao produto final, de forma a modificar a maneira como esse se apresenta e configurar parte
essencial do processo produtivo. Sacos e filmes plásticos utilizados exclusivamente para o fornecimento de
produtos de natureza perecível são insumos indispensáveis à atividade desenvolvida pelos supermercados, de
modo que a sua aquisição gera direito ao creditamento do ICMS. Sacolas plásticas fornecidas aos clientes para o
transporte ou acondicionamento de produtos, bem como bandejas, não são insumos essenciais à atividade dos
O sujeito ativo da obrigação tributária de ICMS incidente sobre mercadoria importada é o Estado-membro no
qual está domiciliado ou estabelecido o destinatário legal da operação que deu causa à circulação da
mercadoria, com a transferência de domínio. STF. Plenário. ARE 665134, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
Em 30/11/2016, o STF julgou procedente a ADO 25 e declarou haver mora, por parte do Congresso Nacional, em
editar a aludida lei complementar de que trata o art. 91 do ADCT. Diante disso, o STF fixou um prazo de 12
meses para que o Legislativo fizesse a lei. Depois de a decisão transitar em julgado, a União requereu o
desarquivamento da ADO e a prorrogação do prazo por mais 24 meses. O Ministro Relator, monocraticamente,
manifestaram interesse em buscarem a composição amigável do litígio. A União concordou com o pleito e
prorrogaram o prazo fixado no julgamento do mérito da ADO. Os Ministros entenderam que fatos
supervenientes justificaram o abrandamento do termo fixado no julgamento de mérito. Além disso, o STF
homologou o acordo firmado entre a União e os Estados/DF, com o seu encaminhamento ao Congresso
Nacional para as providências cabíveis. STF. Plenário. ADO 25 QO/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
É indevida a incidência do ICMS sobre o valor correspondente à demanda de potência elétrica contratada, mas
não utilizada. STJ. 1ª Seção. REsp 960.476/SC, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 11/03/2009 (recurso
repetitivo). Súmula 391-STJ: O ICMS incide sobre o valor da tarifa de energia elétrica correspondente à demanda
de potência efetivamente utilizada. A demanda de potência elétrica não é passível, por si só, de tributação via
ICMS, porquanto somente integram a base de cálculo desse imposto os valores referentes àquelas operações
em que haja efetivo consumo de energia elétrica pelo consumidor. STF. Plenário. RE 593824, Rel. Min. Edson
Segundo o artigo 155, § 2º, X, b, da CF/1988, cabe ao Estado de destino, em sua totalidade, o ICMS sobre a
processo de industrialização, não podendo o Estado de origem cobrar o referido imposto. STF. Plenário. RE
748543, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral
automóvel com menos de 12 (doze) meses de aquisição da montadora. STF. Plenário. RE 1025986, Rel.
Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral – Tema
O estorno proporcional de crédito de ICMS efetuado pelo Estado de destino, em razão de crédito fiscal
presumido concedido pelo Estado de origem sem autorização do Conselho Nacional de Política Fazendária
(CONFAZ), não viola o princípio constitucional da não cumulatividade. STF. Plenário. RE 628075, Rel. Min. Edson
Fachin, Relator p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 490) (Info
993 – clipping)
Incide ISS sobre as operações de venda de medicamentos preparados por farmácias de manipulação sob
encomenda.
Incide ICMS sobre as operações de venda de medicamentos por elas ofertados aos consumidores em
prateleira.
STF. Plenário. RE 605552, Rel. Dias Toffoli, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 379) (Info 994 –
clipping).
A imunidade a que se refere o art. 155, § 2º, X, a, da CF não alcança operações ou prestações anteriores à
operação de exportação. STF. Plenário. RE 754917, Rel. Dias Toffoli, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral
O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) incidente nas operações de
importação de mercadorias tem como sujeito ativo o estado em que localizado o domicílio ou o
destinatário jurídico do bem depende da análise do negócio jurídico entabulado entre as partes e das
circunstâncias fáticas do caso concreto. Na importação própria, sob encomenda, o destinatário jurídico da
mercadoria é o estabelecimento importador. O fato de o gás natural não poder ser estocado no
estabelecimento do importador não altera a sujeição exacional ativa e passiva do ICMS-importação. STF.
Plenário. ACO 854/MS, ACO 1076/MS e ACO 1093/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 22/10/2020 (Info
996).
dilatação volumétrica do combustível não se amolda à descrição normativa hipotética que constitui o fato
cobrança a maior do ICMS, uma vez que, na hipótese, não há que se qualificar juridicamente um
ocorrido com a variação volumétrica de combustíveis líquidos, uma vez que não se está diante de uma nova
entrada ou saída intermediária não considerada para o cálculo do imposto antecipado, mas de mera expansão
física de uma mercadoria volátil por natureza. STJ. 1ª Turma. REsp 1.884.431-PB, Rel. Min. Benedito Gonçalves,
Não incide a imunidade tributária prevista no art. 155, § 2º, X, “b”, da CF/88 se houve apenas a aquisição interna
de óleo, não tendo havido, portanto, operação interestadual de venda de lubrificantes. Não incidirá ICMS “sobre
operações que destinem a outros Estados petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele
derivados, e energia elétrica” (art. 155, § 2º, X, “b”, da CF/88). STF. 1ª Turma. RE 642564 AgR/RJ, rel. Min. Roberto
importação efetuadas por pessoa, física ou jurídica, que não se dedica habitualmente ao comércio ou à
prestação de serviços, devendo tal tributação estar prevista em lei complementar federal.
II - As leis estaduais editadas após a EC 33/2001 e antes da entrada em vigor da Lei Complementar 114/2002,
com o propósito de impor o ICMS sobre a referida operação, são válidas, mas produzem efeitos somente a partir
da vigência da LC 114/2002. STF. Plenário. RE 1221330, Rel. Luiz Fux, Relator p/ Acórdão: Alexandre de Moraes,
IMPOSTOS MUNICIPAIS
IPTU
São constitucionais as leis municipais anteriores à Emenda Constitucional n° 29/2000, que instituíram alíquotas
diferenciadas de IPTU para imóveis edificados e não edificados, residenciais e não residenciais. STF. Plenário. RE
666156, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 523) (Info 982 – clipping).
ITBI
ITBI significa imposto sobre transmissão inter vivos, sendo tributo de competência dos Municípios. Segundo o
art. 156, II da CF/88, o ITBI será cobrado quando houver “transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato
oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de
garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição”. Exemplo: João vendeu uma casa a Pedro. Sobre essa
transmissão, há incidência do ITBI, que foi pago pelo comprador. Suponha, no entanto, que, posteriormente,
esse negócio jurídico (compra e venda) tenha sido anulada por sentença judicial transitada em julgado. Neste
é devida a restituição do ITBI que foi pago. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.493.162-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia
ISS
É constitucional a incidência de ISS sobre serviços de distribuição e venda de bilhetes e demais produtos
de loteria, bingos, cartões, pules ou cupons de apostas, sorteios e prêmios (item 19 da Lista de Serviços
Anexa à Lei Complementar 116/2003). Nesta situação, a base de cálculo do ISS é o valor a ser remunerado pela
prestação do serviço, independentemente da cobrança de ingresso, não podendo corresponder ao valor total da
aposta. STF. Plenário. RE 634764, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 08/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 700)
(Info 984)
É taxativa a lista de serviços sujeitos ao ISS a que se refere o art. 156, III, da Constituição Federal,
admitindo-se, contudo, a incidência do tributo sobre as atividades inerentes aos serviços elencados em
lei em razão da interpretação extensiva. STF. Plenário. RE 784439, Rel. Rosa Weber, julgado em 29/06/2020
PIS E COFINS
É cabível o creditamento de PIS e Cofins decorrentes da aquisição de bens e serviços provenientes de empresas
localizadas fora da Zona Franca de Manaus (ZFM), quando tais bens e serviços não são revendidos ou utilizados
como insumo em produtos ou serviços sujeitos a alíquota 0 (zero), isentos ou não alcançados pela contribuição.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.259.343-AM, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa, julgado em
dado que observa os princípios da legalidade, isonomia, capacidade contributiva global e não-confisco.
STF. Plenário. RE 570122/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 2/9/2020
ao PIS e à Cofins, consideradas empresas importadoras de autopeças não fabricantes de máquinas e veículos.
STF. Plenário. RE 633345, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 744) (Info
997).
permitiu ao Poder Executivo, prevendo as condições e fixando os tetos, reduzir e restabelecer as alíquotas da
Social (Cofins) incidentes sobre as receitas financeiras auferidas por pessoas jurídicas sujeitas ao regime não
cumulativo, estando presente o desenvolvimento de função extrafiscal. STF. Plenário. RE 1043313/RS, Rel. Min.
Dias Toffoli, julgado em 10/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 939) (Info 1002).
A apreciação do RE 1043313 (Tema 939) ocorreu em conjunto com o julgamento da ADI 5277. A ADI foi ajuizada
pela Procuradoria-Geral da República contra dispositivos da Lei nº 9.718/98, acrescentados pela Lei nº
11.727/2008, que autorizam o Poder Executivo a fixar e alterar coeficientes para redução das alíquotas
incidentes sobre a receita bruta auferida na venda de álcool. Explicando melhor. A Lei nº 9.718/98 também trata
sobre PIS/PASEP e COFINS. Em seu art. 5º, essa lei prevê que incide PIS/PASEP e COFINS sobre a receita bruta
auferida na venda de álcool. A Lei nº 11.727/2008 acrescentou os §§ 8º e 9º ao art. 5º dizendo que o Poder
Executivo fica autorizado a fixar e alterar coeficientes para redução dessas alíquotas. O STF julgou parcialmente
procedente o pedido formulado na ADI para dar interpretação conforme à Constituição aos §§ 8º e 9º do art. 5º
da Lei nº 9.718/98, incluídos pela Lei nº 11.727/2008, estabelecendo que as normas editadas pelo Poder
Executivo com base nesses parágrafos devem observar a anterioridade nonagesimal prevista no art. 150, III, “c”,
do texto constitucional. STF. Plenário. ADI 5277/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/12/2020 (Info 1002).
IRPJ e a CIDE
O Regulamento das Telecomunicações Internacionais - RTI só alcança os tributos incidentes sobre serviços
importados, não determinando a exclusão de outros tributos sobre a remessa do pagamento, como o IRPJ e a
CIDE. STJ. 1ª Turma. REsp 1.772.678-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 05/03/2020 (Info 667).
Os valores auferidos a título de “reembolso de materiais” adquiridos para a atividade de construção civil
não devem ser deduzidos da base de cálculo do IRPJ e da CSLL pelo lucro presumido. Caso concreto: a
empresa é optante da tributação do IRPJ e da CSLL pelo lucro presumido e pretendia deduzir da receita bruta,
base de cálculo dos tributos nesse regime, os valores que aufere a título de “reembolso de materiais” adquiridos
para a atividade de construção civil. Não é possível. O acolhimento de pedido tendente a excluir da receita bruta
dedução da base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Isso porque ao definir os percentuais aplicáveis ao regime do
lucro presumido, a lei já considera, em tese, todas as reduções possíveis, de acordo com cada ramo de atividade.
Se o contribuinte pretende que sejam considerados determinados custos ou despesas, deve optar pelo regime
de apuração pelo lucro real, que contempla essa possibilidade, não se podendo permitir que promova uma
combinação dos dois regimes, a fim de reduzir indevidamente a base de cálculo dos tributos. STJ. 1ª Turma. REsp
TAXAS
A atividade desenvolvida pelo Estado no âmbito da segurança pública é mantida ante impostos, sendo
imprópria a substituição, para tal fim, de taxa. STF. Plenário. ADI 4411, Rel. Marco Aurélio, julgado em
CONTRIBUIÇÕES
É constitucional a aplicação dos recursos arrecadados por meio de contribuição para o custeio da iluminação
STF. Plenário. RE 666404, Rel. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moras, julgado em 18/08/2020
É constitucional a contribuição social prevista no artigo 1º da Lei Complementar nº 110, de 29 de junho de 2001,
STF. Plenário. RE 878313, Rel. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 18/08/2020
As contribuições devidas ao Sebrae, à Apex e à ABDI com fundamento na Lei nº 8.029/90 foram recepcionadas
pela Emenda Constitucional 33/2001. STF. Plenário. RE 603624/SC, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 23/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 325) (Info 992).
A Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB) é uma contribuição social, de competência da União,
destinada a custear a Previdência Social. Foi instituída pela MP 540/2011, convertida na Lei nº 12.546/2011.
Inicialmente, esta Contribuição foi prevista para perdurar até 31/12/2014, mas acabou sendo prorrogada até
que a receita bruta decorrente de exportações está excluída da base de cálculo da CPRB. O art. 4º do Decreto-Lei
nº 288/1967 diz que, se uma mercadoria é vendida para a Zona Franca de Manaus, isso é como se fosse uma
exportação, ou seja, uma venda para o exterior. Em razão disso, entende-se que as vendas de mercadorias para
a Zona Franca de Manaus são alcançadas pela regra do art. 9º, II, da Lei nº 12.546/2011. Logo, as receitas
decorrentes das operações de vendas de mercadorias destinadas à Zona Franca de Manaus devem ser excluídas
da base de cálculo da contribuição previdenciária sobre a receita bruta (CPRB). STJ. 1ª Turma. REsp 1.579.967-RS,
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA
É constitucional, formal e materialmente, a contribuição social do segurado especial prevista no art. 25 da Lei nº
8.212/91. STF. Plenário. RE 761263, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Repercussão Geral – Tema
CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS
Têm direito ao crédito presumido de PIS/PASEP e Cofins as pessoas jurídicas, inclusive cooperativas, que
produzam mercadorias por meio de processo de industrialização de grãos de soja, milho e trigo adquiridos de
pessoa física, cerealista ou cooperado pessoa física. Os meros cerealistas não têm direito ao crédito presumido
de PIS/PASEP e Cofins. Para fazer jus ao benefício fiscal, a sociedade interessada deve produzir mercadorias, ou
seja, deve realizar processo de industrialização a partir de grãos de soja, milho e trigo adquiridos de pessoa
física, cooperado pessoa física ou cerealista, transformando-os em outros (v.g. óleo de soja, farelo de soja, leite
de soja, óleo de trigo, farinha de trigo, pães, massas, biscoitos, fubá, polenta etc). Se a pessoa faz apenas
limpeza, secagem, classificação e armazenagem, isso não ocasiona transformação do produto, razão pela qual
essa sociedade será considerada como mera cerealista, não podendo aproveitar o crédito. STJ. 2ª Turma. REsp
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA
É inconstitucional lei estadual que disciplina a responsabilidade de terceiros por infrações de forma diversa da
matriz geral estabelecida pelo Código Tributário Nacional (CTN). Há, neste caso, uma inconstitucionalidade
formal. Ao ampliar as hipóteses de responsabilidade de terceiros por infrações, prevista pelos arts. 134 e 135 do
complementar federal para estabelecer as normas gerais na matéria (art. 146, III, “b”, da CF/88).
Caso concreto: é inconstitucional lei estadual que atribui responsabilidade tributária solidária por
obrigação tributária, especialmente a advogado, economista e correspondente fiscal. STF. Plenário. ADI
Revela-se constitucional a sanção prevista no artigo 7º, inciso II, da Lei nº 10.426/2002, ante a ausência de ofensa
STF. Plenário. RE 606010, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 872).
PROCESSO TRIBUTÁRIO
a) uma, internamente, de natureza processual, consistente em defender o ato impugnado pela impetração;
trata-se de hipótese excepcional de legitimidade ad processum, em que o órgão da pessoa jurídica, não o
b) outra, externamente, de natureza executiva, vinculada à sua competência administrativa; ela é quem cumpre
a ordem judicial.
A legitimação da autoridade coatora deve ser aferida à base das duas funções acima descritas; só o órgão capaz
de as cumprir pode ser a autoridade coatora. Por essa razão, o Secretário de Estado da Fazenda não possui
legitimidade para figurar, como autoridade coatora, em mandado de segurança que visa afastar exigência fiscal
supostamente ilegítima considerando que ele não competência para a prática de lançamento fiscal. STJ. 2ª
Turma. RMS 54.823-PB, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 26/05/2020 (Info 673).
PARCELAMENTO TRIBUTÁRIO
(CG/Refis), no que suprimiu a notificação da pessoa jurídica optante do Refis, prévia ao ato de exclusão. STF.
Plenário. RE 669196/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 668) (Info 996).
tributário tiver sido após o trânsito em julgado da condenação, por respeito à coisa julgada.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1819693/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 06/02/2020.
Isto é, se a adesão ao parcelamento ocorreu apenas posteriormente ao trânsito em julgado da decisão que
reconheceu a improcedência dos embargos à execução e fixou a verba sucumbencial, são devidos os honorários
CRÉDITO TRIBUTÁRIO
A Lei nº 13.606/2018 acrescentou o art. 20-B à Lei nº 10.522/2002 prevendo um procedimento para o caso de
inscrição de créditos em dívida ativa da União. A alteração que gerou controvérsia foi o § 3º do art. 20-B. Esse
dispositivo previu que, se depois de 5 dias contados da notificação, o devedor não pagar a dívida, a Fazenda
Pública poderá:
1) comunicar essa dívida para que seja anotada nos cadastros restritivos de crédito, como por exemplo, SERASA
e SPC. Com isso, o devedor do Fisco fica “negativado” e terá dificuldades de obter créditos e financiamentos;
2) averbar a certidão de dívida ativa (CDA) nos registros públicos e, com isso, os bens e direitos do devedor
Art. 20-B (...) § 3º Não pago o débito no prazo fixado no caput deste artigo, a Fazenda Pública poderá:
I - comunicar a inscrição em dívida ativa aos órgãos que operam bancos de dados e cadastros relativos a
II - averbar, inclusive por meio eletrônico, a certidão de dívida ativa nos órgãos de registro de bens e direitos
Os incisos I e II do § 3º do art. 20-B da Lei nº 10.522/2002, acrescentados pela Lei nº 13.606/2018, são
constitucionais ou não?
O STF declarou:
• inconstitucional a parte final do inciso II do § 3º do mesmo art. 20-B, onde se lê “tornando-os indisponíveis”,
É constitucional lei que autoriza que o Fisco informe ao SERASA/SPC a relação dos devedores de tributos (inciso
I do § 3º do art. 20-B)
É constitucional lei que autoriza que o Fisco faça a averbação (“uma espécie de observação”) nos registros
públicos sobre a existência de CDA contra o titular daquele bem ou direito registrado (primeira parte do inciso
II)
É constitucional a averbação, inclusive por meio eletrônico, da certidão de dívida ativa (CDA) nos órgãos de
registro de bens e direitos sujeitos a arresto ou penhora, relativamente aos créditos inscritos em dívida ativa da
União.
É inconstitucional a previsão da indisponibilidade de bens e direitos do devedor tributário pelo simples fato de
É inconstitucional a previsão legal que permite à Fazenda Nacional tornar indisponíveis, administrativamente,
bens dos contribuintes devedores para garantir o pagamento dos débitos fiscais a serem executados. STF.
Plenário. ADI 5881/DF, ADI 5886/DF, ADI 5890/DF, ADI 5925/DF, ADI 5931/DF e ADI 5932/DF, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgados em 9/12/2020 (Info 1002).
É inconstitucional, por afronta ao art. 146, III, b, da CF, a expressão ’ou parcelados sem garantia’ constante do
parágrafo único do art. 73, da Lei nº 9.430/96, incluído pela Lei nº 12.844/13, na medida em que retira os efeitos
Em síntese, não é possível que uma lei ordinária condicione a suspensão do crédito tributário à apresentação de
garantia do valor objeto de parcelamento, por não haver previsão na lei complementar, como ensina o art. 146,
III, b da CF.
STF. Plenário. RE 917285, Rel. Min Dias Toffoli, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 874).
O termo inicial da correção monetária de ressarcimento de crédito escritural excedente de tributo sujeito ao
regime não cumulativo ocorre somente após escoado o prazo de 360 dias para a análise do pedido
administrativo pelo Fisco (art. 24 da Lei nº 11.457/2007). STJ. 1ª Seção. REsp 1.767.945-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina,
Súmula 640-STJ: O benefício fiscal que trata do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as
Empresas Exportadoras (REINTEGRA) alcança as operações de venda de mercadorias de origem nacional para a
Zona Franca de Manaus, para consumo, industrialização ou reexportação para o estrangeiro. STJ. 1ª Seção.
O art. 5º da Lei nº 8.032/90 concede o regime de drawback do art. 78, II, do DL 37/66 para as empresas que
forem participar de “licitação internacional”. A definição de licitação internacional para fins de concessão do
regime aduaneiro do drawback é aquela prevista no art. 3º da Lei nº 11.732/2008 (não se utilizando a Lei nº
8.666/93). Veja o que diz o art. 3º da Lei nº 11.732/2008: Art. 3º Para efeito de interpretação do art. 5º da Lei nº
8.032, de 12 de abril de 1990, licitação internacional é aquela promovida tanto por pessoas jurídicas de direito
público como por pessoas jurídicas de direito privado do setor público e do setor privado. Esse conceito
abrangente de licitação internacional previsto no art. 3º da Lei nº 11.732/2008 possui indiscutível caráter
interpretativo e, por isso, retroage para alcançar situações ocorridas antes de sua entrada em vigor.
Aplica-se o raciocínio contido no art. 106, I, do CTN: a lei aplica-se a ato ou fato pretérito em qualquer caso,
quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos
interpretados. STJ. 1ª Turma. REsp 1.715.820-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 10/03/2020 (Info 667)
arbitramento da autoridade fiscal. STF. Plenário. RE 1090591, Rel. Marco Aurélio, julgado em 16/09/2020
FINANCEIRO
O art. 82, § 1º do ADCT permite que os Estados aumentem em até 2% a alíquota do ICMS que é cobrado sobre
produtos e serviços considerados supérfluos. O valor arrecadado com esses 2% a mais deverão ser destinados
exclusivamente ao Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza: Art. 82. Os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios devem instituir Fundos de Combate à Pobreza, com os recursos de que trata este artigo e outros
que vierem a destinar, devendo os referidos Fundos ser geridos por entidades que contem com a participação
da sociedade civil. § 1º Para o financiamento dos Fundos Estaduais e Distrital, poderá ser criado adicional de até
dois pontos percentuais na alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS, sobre os
da Constituição, não se aplicando, sobre este percentual, o disposto no art. 158, IV, da Constituição. (...) As
receitas provenientes do adicional previsto pelo § 1º do art. 82 do ADCT não podem ser consideradas para efeito
de cálculo da amortização da dívida do Estado (não podem ser incluídas no cálculo da dívida pública do Estado
com a União). Por outro lado, tais recursos devem sim ser considerados para efeito de cálculo do montante
mínimo destinado à saúde e à educação. STF. Plenário. ACO 727/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
A Lei estadual, ao permitir a utilização dos recursos de depósitos judiciais em percentual superior ao previsto na
legislação nacional, e ainda para finalidades discricionárias, bem como ao estabelecer o repasse de rendimentos
dos depósitos judiciais ao Fundo de Reaparelhamento do Poder Judiciário, contraria o art. 101, §§ 2º, I e II, e 3º,
do ADCT e a Lei Complementar federal 151/2015, além de invadir a competência da União para legislar sobre
direito processual (art. 22, I, da CF/88) e sobre normas gerais de direito financeiro (art. 24, I, da CF/88). STF.
Plenário. ADI 5353 MC-Ref/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/09/2016 (Info 841). STF. Plenário. ADI
São inconstitucionais as fontes de receitas de fundo especial do Poder Judiciário provenientes de rendimentos
dos depósitos judiciais à disposição do Poder Judiciário do Estado, através de conta única. A administração da
conta dos depósitos judiciais e extrajudiciais, apesar de não configurar atividade jurisdicional, é tema de direito
processual, de competência legislativa privativa da União (art. 22, I, da CF/88). É igualmente inconstitucional a
incorporação de receitas extraordinárias decorrentes de fianças e cauções, exigidas nos processos cíveis e
criminais na justiça estadual, quando reverterem ao patrimônio do Estado; e percentual sobre os valores
recolhimentos procedidos em virtude de medidas assecuratórias cíveis e criminais. Isso porque tais matérias
envolvem direito penal e processual, que são de competência privativa da União (art. 22, I, da CF/88). São
inconstitucionais as fontes de receitas de fundo especial do Poder Judiciário provenientes de bens de herança
jacente e o saldo das coisas vagas pertencentes ao Estado. Há ofensa à competência legislativa privativa da
União para legislar sobre direito civil, também prevista no art. 22, I, da CF/88. Ademais, tais bens são
pertencentes aos municípios (ou ao Distrito Federal) ou à União, não cabendo aos estados federados sobre eles
disporem. Por outro lado, é constitucional a previsão, em lei estadual, da destinação ao fundo especial do Poder
Judiciário de valores decorrentes de multas aplicadas pelos juízes nos processos cíveis, salvo se destinadas às
partes ou a terceiros. Isso porque a norma vai ao encontro do que atualmente dispõem os arts. 96 e 97 do
CPC/2015, que autorizam destinar esses recursos aos fundos do poder judiciário estadual. Por fim, é
inconstitucional a norma estadual que atribui personalidade jurídica ao Fundo Especial do Poder Judiciário e
prevê que o presidente do Conselho da Magistratura será o ordenador de despesas e seu representante legal.
STF. Plenário. ADI 4981/RR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 14/11/2020 (Info 999).
remuneratórios previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal somente podem ser afastados quando a
despesa for de caráter temporário, com vigência e efeitos restritos à duração da calamidade pública, e
com propósito exclusivo de enfrentar tal calamidade e suas consequências sociais e econômicas. STF.
Plenário. ADI 6394/AC, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000)
LRF
A Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF (Lei Complementar nº 101/2000) é formalmente constitucional, não houve
qualquer vício na tramitação do projeto, tendo sido respeitado o devido processo legislativo.
No que tange ao aspecto material, o STF declarou a constitucionalidade dos arts. 4º, § 2º, II, e § 4º; 7º, caput e §
1º; 11, parágrafo único; 14, II; 17, §§ 1º a 7º; 18, § 1º; 20; 24; 26, § 1º; 28, § 2º; 29, I, e § 2º; 39; 59, § 1º, IV; 60; e 68,
caput, da LRF.
Por outro lado, o STF julgou inconstitucionais o art. 9º, § 3º, o caput dos arts. 56 e 57 e o § 2º do art. 23.
Quanto ao § 1º do art. 23, da LRF, o STF declarou a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, de
modo a obstar interpretação segundo a qual é possível reduzir valores de função ou cargo que estiver
provido
Art. 9º, § 3º
Art. 9º Se verificado, ao final de um bimestre, que a realização da receita poderá não comportar o cumprimento
das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os Poderes e o Ministério
Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias subsequentes, limitação de
empenho e movimentação financeira, segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias. (...)
§ 3º No caso de os Poderes Legislativo e Judiciário e o Ministério Público não promoverem a limitação no prazo
estabelecido no caput, é o Poder Executivo autorizado a limitar os valores financeiros segundo os critérios
Com relação ao § 3º do art. 9º, o STF entendeu que a norma prevista não guarda pertinência com o modelo de
financeira por parte dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Ministério Público. Isso porque o dispositivo
unilateralmente, limite os valores financeiros segundo os critérios fixados pela Lei de Diretrizes Orçamentárias
no caso daqueles outros dois Poderes e instituição não promoverem a limitação no prazo fixado no caput. A
defesa de um Estado Democrático de Direito exige o afastamento de normas legais que repudiam o sistema de
autonomias constitucionais.
Art. 56. As contas prestadas pelos Chefes do Poder Executivo incluirão, além das suas próprias, as dos
Presidentes dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Chefe do Ministério Público, referidos no art. 20,
Art. 57. Os Tribunais de Contas emitirão parecer prévio conclusivo sobre as contas no prazo de sessenta dias do
recebimento, se outro não estiver estabelecido nas constituições estaduais ou nas leis orgânicas municipais.
O STF considerou que houve um desvirtuamento do modelo previsto nos arts. 71 e seguintes da CF/88.
A Constituição determina que as contas do Poder Executivo englobarão todas as contas, receberão um parecer
conjunto do Tribunal de Contas, e serão julgadas pelo Congresso. No caso do Judiciário, do Ministério Público e
Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultrapassar os limites definidos no
mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos
dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as
§ 1º No caso do inciso I do § 3º do art. 169 da Constituição, o objetivo poderá ser alcançado tanto pela extinção
§ 2º É facultada a redução temporária da jornada de trabalho com adequação dos vencimentos à nova carga
horária.
Quanto ao § 1º do art. 23, da LRF, o STF declarou a inconstitucionalidade ial, sem redução de texto, de modo a
obstar interpretação segundo a qual é possível reduzir valores de função ou cargo que estiver provido.
dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal que permita a redução de vencimentos de servidores públicos
É inconstitucional o § 2º do art. 23 da LRF, que faculta a redução temporária da jornada de trabalho com
adequação dos vencimentos à nova carga horária, caso sejam ultrapassados os limites definidos na lei para
despesas com pessoal nas diversas esferas do poder público. Essa possibilidade de redução fere o princípio
constitucional da irredutibilidade de vencimentos (art. 37, XV, da CF/88). STF. Plenário. ADI 2238/DF, Rel. Min.
compatibilidade com a LDO, além da demonstração da origem dos recursos e a compensação de seus
efeitos financeiros nos exercícios seguintes. O art. 114 da LDO/2020 também traz restrições nesse sentido.
Durante a pandemia do coronavírus, o Governo precisava tomar uma série de medidas que implicariam
renúncia de receita ou então criação ou aumento de despesas e isso ofenderia as regras acima listadas. Diante
disso, o Presidente da República ajuizou ADI pedindo que o STF afastasse essas exigências da Lei de
Moraes, monocraticamente, deferiu medida cautelar concordando com o pedido. Depois da liminar foi editada a
Lei nº Lei nº 13.983/2020 e a EC 106/2020, que excepcionaram a aplicação dessas regras durante o período de
• referendar a medida cautelar deferida, ou seja, dizer que foi uma decisão juridicamente correta e que seus
• mas, ao mesmo tempo, o STF decidiu extinguir a ADI por perda superveniente de objeto. Vale ressaltar que o
art. 3º da EC 106/2020 é aplicável não apenas à União, mas também Estados, DF e Municípios. STF. Plenário. ADI
6357 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/5/2020 (Info 977).
ELEITORAL
DIREITOS POLÍTICOS
A ausência do título de eleitor no momento da votação não constitui, por si só, óbice ao exercício do
sufrágio. STF. Plenário. ADI 4467/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 19/10/2020 (Info 995).
PARTIDOS POLÍTICOS
São constitucionais as modificações realizadas pela Lei nº 13.107/2015 nos arts. 7º e 29 da Lei nº 9.096/95 (Lei
dos Partidos Políticos). A Constituição Federal garante a liberdade para a criação, fusão, incorporação e extinção
de partidos políticos, a eles assegurando a autonomia (art. 17). Ocorre que não há liberdade absoluta. Também
não se tem autonomia sem limitação. Logo, é possível que sejam estabelecidos requisitos e condições para a
condicionam a autonomia partidária, porque o espaço de atuação livre dos partidos políticos deve estar de
acordo com as a normas jurídicas que estabelecem condições pelas quais se pode dar a criação, ou recriação
por fusão ou incorporação de partido sem intervir no seu funcionamento interno. STF. Plenário. ADI 5311/DF,
SISTEMAS ELEITORAIS
É constitucional o art. 4º da Lei nº 13.165/2015, que deu nova redação ao art. 108 do Código Eleitoral, para dizer
que só será eleito o candidato que obtiver votos em número igual ou superior a 10% do quociente
eleitoral. Essa alteração não viola o princípio democrático ou o sistema proporcional, consistindo, antes, em
valorização da representatividade e do voto nominal, em consonância com o sistema de listas abertas e com o
comportamento cultural do eleitor brasileiro. A pessoa que está sendo eleita pelo partido tem que ter o
mínimo de representatividade popular e, por isso, se estabeleceu esses 10%. O objetivo do legislador foi o
de acabar com a figura do “puxador de votos”, excluindo da participação, no parlamento, candidatos que
pessoalmente tenham obtido votação inexpressiva e, por isso, tenham representatividade popular ínfima. STF.
Plenário. ADI 5920/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/3/2020 (Info 968)
É inconstitucional a expressão “número de lugares definido para o partido pelo cálculo do quociente
partidário do art. 107”, prevista no inciso I do art. 109 do Código Eleitoral, com redação dada pela Lei nº
13.165/2015. Com a declaração de inconstitucionalidade dessa expressão, deve-se adotar o critério de cálculo
anterior, ou seja, o que vigorava antes da Lei nº 13.165/2015. STF. Plenário. ADI 5420/DF, Rel. Min. Dias Toffoli,
É constitucional o art. 3º da Lei nº 13.488/2017 que deu nova redação do art. 109, § 2º, do Código Eleitoral e
estabeleceu que todos os partidos e coligações que participaram do pleito podem concorrer às denominadas
“sobras eleitorais”.
• Antes da Lei nº 13.488/2017: somente poderia concorrer à distribuição das sobras eleitorais os partidos ou as
• Depois da Lei nº 13.488/2017: podem concorrer à distribuição dos lugares todos os partidos e coligações
que participaram do pleito. Trata-se de uma opção legislativa legítima, que não viola diretamente
qualquer dispositivo da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 5947/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
que “a decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda do
mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas
expressão “após o trânsito em julgado” e decidiu que basta a exigência de decisão final da Justiça
Eleitoral. Assim, concluído o processo na Justiça Eleitoral (ex: está pendente apenas recurso
extraordinário), a nova eleição já pode ser realizada mesmo sem trânsito em julgado. STF. Plenário. ADI
Tirando esse trecho, o restante do § 3º do art. 224 do CE é constitucional. Veja a tese fixada pelo STF: É
constitucional, à luz dos arts. 1º, I e parágrafo único, 5º, LIV, e 14, caput e § 9º, da Constituição da República, o §
3º do art. 224 do Código Eleitoral, com a redação dada pela Lei nº 13.165/2015, no que determina a realização
automática de novas eleições, independentemente do número de votos anulados, sempre que o candidato
eleito, em pleito majoritário, for desclassificado, por indeferimento do registro de sua candidatura, ou em
virtude de cassação do diploma ou mandato. STF. Plenário. RE 1096029/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em
INELEGIBILIDADE
O art. 1º, I, “g”, da LC 64/90 prevê que são inelegíveis para qualquer cargo os que tiverem suas contas rejeitadas
pelo Tribunal de Contas “por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa”.
DETECTADA CONFIGURAR ATO DOLOSO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. Não é possível fazer uma
interpretação extensiva desse dispositivo para dizer que a simples violação da Lei de Licitações configura ato
doloso de improbidade administrativa e que, portanto, caracteriza essa hipótese de inelegibilidade. É necessário
fazer uma distinção entre “ato meramente ilegal” e “ato ímprobo”, exigindo para este último uma qualificação
especial: lesar o erário ou, ainda, promover enriquecimento ilícito ou favorecimento contra legem de terceiro.
STF. 2ª Turma. ARE 1197808 AgR-segundo e terceiro/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/3/2020 (Info 968)
PRAZOS ELEITORAIS
os prazos para filiação partidária e desincompatibilização previstos na legislação para a as eleições municipais de
2020. STF. Plenário. ADI 6359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 14/5/2020 (Info 977).
DIREITO DO TRABALHO
LIBERDADE SINDICAL
A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui caráter absoluto. A previsão legal de
número máximo de dirigentes sindicais dotados de estabilidade de emprego não esvazia a liberdade
sindical. Essa garantia constitucional existe para que possa assegurar a autonomia da entidade sindical, mas
não serve para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem a razoabilidade e a finalidade da
norma constitucional garantidora do direito. STF. Plenário. ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 15/05/2020
(Info 980).
CONTRATO DE TRABALHO
do estado de calamidade pública decorrente do covid-19. Com o objetivo de ajudar os empresários e evitar que
• a suspensão temporária do contrato de trabalho. A MP prevê que existe a possibilidade de essas medidas
serem implementadas por meio de acordo individual ou de negociação coletiva aos empregados. O § 4º do art.
11 da MP afirma que “Os acordos individuais de redução de jornada de trabalho e de salário ou de suspensão
temporária do contrato de trabalho, pactuados nos termos desta Medida Provisória, deverão ser comunicados
pelos empregadores ao respectivo sindicato laboral, no prazo de até dez dias corridos, contado da data de sua
celebração.” Esse acordo escrito individual firmado entre o empregado e o empregador é um ato jurídico
perfeito e acabado e não está sujeito ao referendo (aprovação) do sindicato. O STF, ao analisar o pedido de
medida cautelar na ADI proposta contra a Medida Provisória, decidiu manter a eficácia da MP 936/2020, que
sindical. STF. Plenário. ADI 6363 MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
A MP 927/2020 dispõe sobre a possibilidade de celebração de acordo individual escrito, a fim de garantir a
permanência do vínculo empregatício, durante o período da pandemia do novo coronavírus (covid-19), bem
como sobre diversas providências a serem tomadas nesse período de calamidade pública relativas aos contratos
de trabalho. No julgamento de medida cautelar, o STF decidiu suspender a eficácia apenas dos arts. 29 e 31 da
MP 927/2020, mantendo os demais dispositivos. Art. 29. Os casos de contaminação pelo coronavírus (covid-19)
não serão considerados ocupacionais, exceto mediante comprovação do nexo causal. Esse dispositivo não se
mostra razoável ao afirmar, de forma tão ampla, que a contaminação pelo coronavírus não seria doença
ocupacional, excluindo da proteção inclusive de trabalhadores de atividades essenciais que continuam expostos
aos riscos. Art. 31. Durante o período de cento e oitenta dias, contado da data de entrada em vigor desta Medida
Provisória, os Auditores Fiscais do Trabalho do Ministério da Economia atuarão de maneira orientadora, exceto
quanto às seguintes irregularidades: (...) Não existe razão para suspender, durante o período de 180 dias,
contados da data de entrada em vigor da MP, a atuação completa dos Auditores Fiscais do Trabalho. O
estabelecimento de uma fiscalização menor atenta contra a própria saúde do empregado e em nada auxilia na
pandemia. STF. Plenário. ADI 6342 Ref-MC/DF, ADI 6344 Ref-MC/DF, ADI 6346 Ref-MC/DF, ADI 6348 RefMC/DF,
ADI 6349 Ref-MC/DF, ADI 6352 Ref-MC/DF e ADI 6354 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Deve ser julgada prejudicada, por perda superveniente de objeto, a ação direta de inconstitucionalidade ajuizada
em face do art. 19 da MP 1.950-62/2000, convertida no art. 18 da Lei nº 10.192/2001, na parte em que revogou
convenções e acordos coletivos. A Lei nº 10.192/2001 revogou esses parágrafos e acabou com a ultratividade.
Mesmo que a Lei nº 10.192/2001 fosse julgada inconstitucional, isso seria inócuo porque agora a ultratividade é
proibida expressamente por outra norma, qual seja, o § 3º do art. 614 da CLT, com redação dada pela Lei nº
13.467/2017. STF. Plenário. ADI 2200/DF e ADI 2288/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgados em 4/6/2020 (Info 980)
termos, ao trabalhador portuário avulso. O art. 7º, XXXIV, da CF/88 tem nítido caráter protetivo da igualdade
material. Se há o pagamento do adicional de riscos como direito do trabalhador portuário com vínculo
permanente que labora em condições adversas, essa previsão também deve ser reconhecida aos trabalhadores
portuários avulsos submetidos às mesmas condições. STF. Plenário. RE 597124/PR, Rel. Min. Edson Fachin,
COMPETÊNCIA
A Justiça do Trabalho é competente para executar, de ofício, as contribuições previstas no art. 195, incisos
I, alínea “a”, e II, da Carta da República, relativamente a títulos executivos judiciais por si formalizados
em data anterior à promulgação da Emenda Constitucional nº 20/1998. STF. Plenário. RE 595326, Rel. Marco
Aurélio, julgado em 24/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 505) (Info 991 – clipping).
A Justiça do Trabalho não tem competência para processar e julgar ações penais. STF. Plenário. ADI 3684, Rel.
Compete à Justiça comum processar e julgar causa de servidor público municipal admitido mediante
aprovação em concurso público sob o regime da CLT e que, posteriormente, passou a ser regido pelo
estatuto dos servidores públicos municipais (estatutário). Caso concreto: o servidor ingressou no serviço
público do Município em 1997 no cargo de auxiliar de serviços gerais sob o regime celetista e, em julho de 2010,
passou a ser regido pelo regime estatutário. Em 2013, ele ajuizou ação na Justiça do Trabalho para pleitear o
recolhimento de parcelas do FGTS no período em que esteve regido pelas regras da CLT. Como o vínculo do
servidor com a administração pública é atualmente estatutário, a competência para julgar a causa é da Justiça
comum, ainda que as verbas requeridas sejam de natureza trabalhista e relativas ao período anterior à alteração
do regime de trabalho. STF. Plenário. CC 8018/PI, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Compete à Justiça comum processar e julgar controvérsias relacionadas à fase pré-contratual de seleção
indireta, nas hipóteses em que adotado o regime celetista de contratação de pessoal. STF. Plenário. RE
960429/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/3/2020 (repercussão geral – Tema 992) (Info 968).
Em 15/02/2020, o STF decidiu modular os efeitos da decisão acima e estabeleceu um marco temporal para a
competência da Justiça Comum (federal ou estadual) para processar e julgar ações ajuizadas por candidatos e
mérito (sentença) até 6/6/2018, data em que foi determinada a suspensão geral dos casos com o mesmo tema,
Compete à Justiça Comum processar e julgar controvérsias relacionadas à fase pré-contratual de seleção e de
admissão de pessoal e eventual nulidade do certame em face da Administração Pública, direta e indireta, nas
hipóteses em que adotado o regime celetista de contratação de pessoas, salvo quando a sentença de mérito
tiver sido proferida antes de 6 de junho de 2018, situação em que, até o trânsito em julgado e a sua execução, a
STF. Plenário. RE 960429 ED-segundos, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2020 (Repercussão Geral –
Tema 992).
Compete à Justiça comum julgar conflitos entre Município e servidor contratado depois da CF/88, ainda que sem
concurso público, pois, uma vez vigente regime jurídico-administrativo, este disciplinará a absorção de pessoal
pelo poder público. Logo, eventual nulidade do vínculo e as consequências daí oriundas devem ser apreciadas
pela Justiça comum, e não pela Justiça do Trabalho. STF. Plenário. ARE 1179455 AgR/PI, rel. orig. Min. Rosa
Weber, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 5/5/2020 (Info 976).
natureza jurídico-estatutária, em razão de que a competência da Justiça do Trabalho não alcança as ações
judiciais entre o Poder Público e seus servidores. Vale ressaltar também que o processo legislativo para edição
da Emenda Constitucional 45/2004, que deu nova redação ao inciso I do art. 114 da Constituição Federal, é, do
ponto de vista formal, constitucionalmente hígido (não houve qualquer inconstitucionalidade formal). STF.
Plenário. ADI 3395, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info 984 – clipping).
Compete à Justiça comum processar e julgar demandas em que se discute o recolhimento e o repasse de
contribuição sindical de servidores públicos regidos pelo regime estatutário. STF. Plenário. RE 1089282/AM,
Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 994) (Info 1001).
RECURSOS
A Fazenda Pública é condenada a pagar encargos trabalhistas de um empregado terceirizado que prestava
serviços ao Poder Público. Em outras palavras, o magistrado transferiu ao Poder Público contratante a
responsabilidade pelos encargos trabalhistas dos empregados da empresa contratada pelo Estado. Essa decisão
foi baseada no art. 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93. Após sucessivos recursos, o Ministro do TST negou seguimento ao
determinou a baixa imediata dos autos. A União ingressou com reclamação dirigida ao STF alegando que houve
afronta às decisões da Suprema Corte proferidas na ADC nº 16 e no RE nº 760.931-RG (Tema 246). O STF acolheu
o pedido formulado na reclamação? SIM. A 1ª Turma do STF, por maioria, cassou a decisão reclamada e afastou a
responsabilidade subsidiária da União. A matéria tratada nos autos teve sua repercussão geral reconhecida e
decidida pelo STF. De forma contrária a isso, o TST tem afirmado que essa questão não tem “transcendência”
(art. 896-A da CLT) e, como consequência, tem determinado o imediato trânsito em julgado. Isso impede que a
controvérsia chegue ao STF e possa ser analisado pela Corte. A análise da transcendência deve ser feita no
campo jurídico e o TST, ao barrar a transcendência, está a impedir que o STF aprecie a mesma questão jurídica,
já analisada anteriormente, sobre a qual foi editada uma tese da necessidade de exame detalhado de haver ou
não culpa. A Justiça do Trabalho resiste em aceitar a interpretação dada pelo STF e tem considerado, de forma
automática, que houve culpa in vigilando. Além disso, ao negar a transcendência e a subida do feito, no fundo, o
que se faz é impedir que a posição pacificada do STF prevaleça nos casos. STF. 1ª Turma. Rcl 36958 AgR/SP e Rcl
40652 AgR/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 8/9/2020 (Info
990).
RESPONSABILIDADE CIVIL
O art. 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal,
trabalho nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida, por sua
natureza, apresentar exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva, e implicar ao
trabalhador ônus maior do que aos demais membros da coletividade. STF. Plenário. RE 828040/DF, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 12/3/2020 (repercussão geral – Tema 932) (Info 969).
SALÁRIO-FAMÍLIA
A alteração de regência constitucional do salário-família não repercute nas relações jurídicas existentes na data
em que promulgada a Emenda Constitucional nº 20/1998. STF. Plenário. RE 657989, Rel. Marco Aurélio, julgado
TEMAS DIVERSOS
Devem ser utilizados na Justiça Trabalhista os mesmos índices de correção monetária vigentes para as
condenações cíveis em geral: o Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E), na fase
pré-judicial, e, a partir da citação, a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC).
STF. Plenário. ADC 58/DF, ADC 59/DF, ADI 5867/DF e ADI 6021/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
INTERNACIONAL
EXPULSÃO
Para a configuração das hipóteses legais de inexpulsabilidade não é exigível a contemporaneidade dessas
mesmas causas em relação aos fatos que deram ensejo ao ato expulsório.
Caso concreto: portaria de expulsão do estrangeiro foi publicada em 2017; enquanto aguardava a efetivação da
expulsão, esse estrangeiro teve um filho brasileiro, nascido em 2019; a Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017), em
seu art. 55, II, “a”, proíbe a expulsão caso o estrangeiro tenha filho brasileiro e ele esteja sob a sua guarda ou
dependência econômica ou socioafetiva; muito embora a portaria de expulsão tenha sido editada antes do
nascimento do filho brasileiro, o certo é que não se pode exigir para a configuração das hipóteses legais de
inexpulsabilidade a contemporaneidade dessas mesmas causas em relação aos fatos que deram ensejo ao ato
expulsório. STJ. 1ª Seção. HC 452.975-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 667)
O § 1º do art. 75 da Lei nº 6.815/80 não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, sendo vedada a
expulsão de estrangeiro cujo filho brasileiro foi reconhecido ou adotado posteriormente ao fato
ensejador do ato expulsório, uma vez comprovado estar a criança sob a guarda do estrangeiro e deste
depender economicamente. STF. Plenário. RE 608898/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/6/2020
arquivados nos cartórios extrajudiciais do Estado. Esse tema envolve registros públicos e responsabilidade civil
dos notários e registros, matéria que é de competência privativa da União, nos termos do art. 22, XXV, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3723, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020
REGIME JURÍDICO
O exercício da advocacia é critério adequado para a atribuição de título em concursos para carreiras jurídicas.
Assim, é constitucional lei estadual que preveja que o exercício da advocacia deve ser considerado como título
em concursos para cartório (serventias notariais e de registro). STF. Plenário. ADI 3760, Rel. Gilmar Mendes,
julgado em 15/04/2020.
Compete ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios a apresentação ao Congresso Nacional de
projeto de lei sobre organização, funcionamento e provimento de serventias extrajudiciais no Distrito Federal
por se cuidar de matéria afeta à organização judiciária. STF. Plenário. ADI 3498, Rel. Cármen Lúcia, julgado em
REGISTRO DE IMÓVEIS
O cancelamento do registro do loteamento pode ser requerido pelo loteador, ou quem por ele se
já realizado melhoramento. Caso concreto: no ano de 1982 foi pedido o registro de um loteamento de imóvel
junto ao 11º Cartório de Registro de Imóveis. O imóvel objeto do loteamento foi desmembrado em 16 unidades
independentes, com matrículas próprias. Por escritura de venda e compra, a empresa CAMPER (especializada
em negócios imobiliários) adquiriu todos os lotes que seriam objeto do loteamento. Diante do seu desinteresse
cancelamento do procedimento de registro do loteamento, o que não foi acolhido sob o argumento de que ela
não teria legitimidade. O STJ reconheceu a existência de legitimidade da requerente. A empresa incorporadora e
administradora de negócios imobiliários que adquire todos os lotes do loteamento e se sub-roga nos direitos do
loteador possui legitimidade para requerer o cancelamento do procedimento do registro do loteamento, vedada
algum melhoramento na área loteada e adjacências. No caso, não tinha havido ainda o registro do loteamento,
que se encontrava na fase de aprovação dos projetos perante a municipalidade. Ademais, não houve nenhum
tipo de obra ou melhoramento no imóvel objeto do loteamento ou nos seus arredores, tampouco ação do Poder
do Público, ou seja, o terreno encontrava-se da mesma forma tal como na época do início do procedimento,
razão pela qual a municipalidade não teria motivo para obstar o pedido de cancelamento. Destaca-se que
do loteamento, hipótese em que a tradição para a Municipalidade já se operou; naquela outra não. STJ. 3ª
Turma. RMS 60.343-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 18/08/2020 (Info 678)
Não é cabível a requisição da averbação de inquérito civil no registro imobiliário pelo Ministério Público,
com fixação de prazo para o seu cumprimento. Caso concreto: o Promotor de Justiça instaurou inquérito civil
para apurar suposto loteamento irregular. O membro do Parquet requisitou ao Oficial Registrador que fizesse a
averbação do inquérito civil na matrícula do imóvel relacionado, assinalando prazo para cumprimento. O
Registrador recusou-se a fazer. O STJ afirmou que o procedimento adotado pelo MP estadual não foi o
adequado. Caberia ao Ministério Público estadual requerer a averbação do inquérito civil no Registro Imobiliário
e o Oficial Registrador, conforme seu entendimento, poderia suscitar dúvida ao Juízo competente, em
consonância com o procedimento disciplinado nos arts. 198 a 207 da Lei nº 6.015/73. Todavia, o parquet
estadual, ao invés de requerer a aludida averbação, requisitou a sua realização, fixando prazo para o seu
cumprimento, o que não encontra amparo na legislação de regência. Em que pese a importância de se dar
boa-fé, adquirentes de suas frações, e contribuir para a ordenada ocupação do solo, há que se observar o
devido processo legal, assegurado no art. 5º, LIV, da CF/88, tal como previsto na Lei nº 6.015/73. Vale ressaltar
que o STJ afirmou que a decisão proferida não impede que o MP requeira, nos termos exigidos pelo art. 13, III,
da Lei nº 6.015/73, a pretendida averbação no Registro Imobiliário, podendo o Oficial Registrador, se for o caso,
suscitar dúvida ao Juízo competente, observando-se, então, o procedimento legal, previsto nos arts. 198 a 207 da
Lei nº 6.015/73, procedimento que, no caso, restou inviabilizado, pelo Órgão ministerial, ao formular requisição
da averbação, com fixação de prazo para o seu cumprimento. STJ. 2ª Turma. RMS 58.769-RJ, Rel. Min. Assusete
O Ministério Público Federal possui legitimidade para propor ação civil pública a fim de debater a
cobrança de encargos bancários supostamente abusivos praticados por instituições financeiras privadas.
abusiva a cobrança da tarifa bancária pela emissão de cheque de baixo valor. As atividades desenvolvidas pelas
instituições financeiras, sejam elas públicas ou privadas, estão subordinadas ao conteúdo de normas
regulamentares editadas por órgãos federais e de abrangência nacional. Logo, o cumprimento dessas normas
por parte dos bancos é um tema de interesse nitidamente federal, suficiente para conferir legitimidade ao
Ministério Público Federal para o ajuizamento da ação civil pública. STJ. 3ª Turma. REsp 1.573.723-RS, Rel. Min.
Em 2019, houve o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério, localizada em Brumadinho (MG). O
rompimento resultou em um terrível desastre ambiental e humanitário. Felipe, na condição de cidadão, ajuizou
ação popular contra a União, o Estado de Minas Gerais e a Vale S.A., pedindo para que os réus fossem
condenados a recuperar o meio ambiente degradado, pagar indenização pelos danos causados e pagar multa
por dano ambiental. Como Felipe mora em Campinas (SP), ele ajuizou a ação no foro de seu domicílio e a
demanda foi distribuída para a 2ª Vara Federal de Campinas (SP). Ocorre que na 17ª Vara Federal de Minas
Gerais existem ações individuais, ações populares e ações civis públicas tramitando contra os mesmos réus e
envolvendo pedidos semelhantes a essa ação popular ajuizada em Campinas.Quem é competente para julgar
esta ação popular: o juízo do domicílio do autor ou o juízo do local em que se consumou o ato danoso?O juízo do
Regra geral: em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de seu domicílio, mesmo que o dano
tenha ocorrido em outro local. Isso porque como a ação popular representa um direito político fundamental,
Exceção: o STJ entendeu que o caso concreto envolvendo Brumadinho era excepcional com inegáveis
peculiaridades que impõem a adoção de uma solução diferente para evitar tumulto processual em uma situação
Assim, para o STJ é necessário superar, excepcionalmente, a regra geral. Entendeu-se que seria necessário
adotar uma saída pragmática para permitir uma resposta do Poder Judiciário aos que sofrem os efeitos desta
grande tragédia. A regra geral do STJ deve ser usada quando a ação popular for isolada. Contudo, no caso de
Brumadinho havia uma ação popular em Campinas (SP) competindo e concorrendo com várias outras ações
populares e ações civis públicas, bem como com centenas, talvez milhares, de ações individuais tramitando em
MG, razão pela qual, em se tratando de competência concorrente, deve ser eleito o foro do local do fato. EM
JUÍZO DO LOCAL DO FATO PARA O JULGAMENTO DE AÇÃO POPULAR QUE CONCORRE COM DIVERSAS
OUTRAS AÇÕES INDIVIDUAIS, POPULARES E CIVIS PÚBLICAS DECORRENTES DO MESMO DANO AMBIENTAL.
STJ. 1ª Seção. CC 164.362-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/06/2019 (Info 662).
ativo por outra associação que possua a mesma finalidade temática. O microssistema de defesa dos
interesses coletivos privilegia o aproveitamento do processo coletivo, possibilitando a sucessão da parte autora
pelo Ministério Público ou por algum outro colegitimado (ex: associação), mormente em decorrência da
importância dos interesses envolvidos em demandas coletivas. STJ. 3ª Turma. EDcl no REsp 1.405.697-MG, Rel.
Ao julgar o Tema 499, o STF fixou a seguinte tese: A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de
ação coletiva, de rito ordinário, ajuizada por associação civil na defesa de interesses dos associados,
somente alcança os filiados, residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador, que o fossem em
momento anterior ou até a data da propositura da demanda, constantes da relação jurídica juntada à
inicial do processo de conhecimento (STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em
10/5/2017).
Essa tese do STF se aplica exclusivamente para ações coletivas ajuizadas sob o rito ordinário por associação
quando atua como representante processual dos associados. Isso significa que tal entendimento não se aplica
para mandado de segurança coletivo impetrado por associação. O mandado de segurança coletivo configura
hipótese de substituição processual, por meio da qual o impetrante, no caso a associação, atua em nome
próprio defendendo direito alheio, pertencente aos associados ou parte deles, sendo desnecessária, para a
impetração do mandamus, apresentação de autorização dos substituídos ou mesmo lista nominal. Por tal razão,
parte deles cuja situação jurídica seja idêntica àquela tratada no decisum, sendo irrelevante se a filiação
ocorreu após a impetração do writ. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.841.604-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell
Não é possível ajuizar cumprimento de sentença no Juizado Especial da Fazenda Pública para executar
individualmente título judicial oriundo de ação coletiva, ainda que o valor individual cobrado seja
inferior a 60 SM. Caso concreto: uma ação coletiva que envolveu milhares de servidores públicos de Santa
Catarina tramitou na vara da Fazenda Pública e foi julgada procedente. Um dos servidores formulou pedido de
cumprimento individual da sentença. Ocorre que esse pedido de execução foi feito no juizado especial da
Fazenda Pública (e não na vara da Fazenda Pública). O argumento do autor foi o de que o valor da execução
individual era inferior a 60 salários mínimos. O STJ afirmou que essa execução individual da sentença coletiva
não poderia tramitar no Juizado. Não é possível propor nos Juizados Especiais da Fazenda Pública a
execução de título executivo formado em ação coletiva que tramitou sob o rito ordinário, assim como
impor o rito sumaríssimo da Lei nº 12.153/2009 ao juízo comum da execução. O art. 2º, § 1º, I, da Lei nº
12.153/2009 afirma que não se incluem na competência do Juizado Especial da Fazenda Pública as demandas
sobre direitos ou interesses difusos e coletivos, o que é argumento suficiente para excluir a competência
subsidiária determinam que os Juizados Especiais da Fazenda Pública têm competência para apreciar apenas as
execuções de seus próprios julgados ou de títulos extrajudiciais. STJ. 1ª Seção. REsp 1.804.186-SC, Rel. Min.
Herman Benjamin, julgado em 12/08/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1029) (Info 679).
Não é cabível a requisição da averbação de inquérito civil no registro imobiliário pelo Ministério Público,
com fixação de prazo para o seu cumprimento. Caso concreto: o Promotor de Justiça instaurou inquérito civil
para apurar suposto loteamento irregular. O membro do Parquet requisitou ao Oficial Registrador que fizesse a
averbação do inquérito civil na matrícula do imóvel relacionado, assinalando prazo para cumprimento. O
Registrador recusou-se a fazer. O STJ afirmou que o procedimento adotado pelo MP estadual não foi o
adequado. Caberia ao Ministério Público estadual requerer a averbação do inquérito civil no Registro Imobiliário
e o Oficial Registrador, conforme seu entendimento, poderia suscitar dúvida ao Juízo competente, em
consonância com o procedimento disciplinado nos arts. 198 a 207 da Lei nº 6.015/73. Todavia, o parquet
estadual, ao invés de requerer a aludida averbação, requisitou a sua realização, fixando prazo para o seu
cumprimento, o que não encontra amparo na legislação de regência. Em que pese a importância de se dar
boa-fé, adquirentes de suas frações, e contribuir para a ordenada ocupação do solo, há que se observar o
devido processo legal, assegurado no art. 5º, LIV, da CF/88, tal como previsto na Lei nº 6.015/73. Vale ressaltar
que o STJ afirmou que a decisão proferida não impede que o MP requeira, nos termos exigidos pelo art. 13, III,
da Lei nº 6.015/73, a pretendida averbação no Registro Imobiliário, podendo o Oficial Registrador, se for o caso,
suscitar dúvida ao Juízo competente, observando-se, então, o procedimento legal, previsto nos arts. 198 a 207 da
Lei nº 6.015/73, procedimento que, no caso, restou inviabilizado, pelo Órgão ministerial, ao formular requisição
da averbação, com fixação de prazo para o seu cumprimento. STJ. 2ª Turma. RMS 58.769-RJ, Rel. Min. Assusete
Material extraído dos informativos (versão resumida), disponibilizados pelo prof. Márcio Cavalcante no site
https://www.dizerodireito.com.br, e destacados nas partes mais importantes pela equipe da Legislação Destacada.