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Informativos STF STJ Tse 2020

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INFORMATIVOS 2020 - 1

INFORMATIVOS 2020

DIREITO CONSTITUCIONAL 10
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS 10
LIBERDADE DE EXPRESSÃO 16
ACESSO À INFORMAÇÃO 16
DIREITO À INFORMAÇÃO 17
PUBLICIDADE 17
DIREITOS SOCIAIS 17
DIREITO À EDUCAÇÃO 18
DIREITO À SAÚDE 19
AUTONOMIA DOS ENTES 19
INTERVENÇÃO 19
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 20
PODER LEGISLATIVO 28
IMUNIDADE PARLAMENTAR 29
PROCESSO LEGISLATIVO 30
MEDIDAS PROVISÓRIAS 30
TRIBUNAIS DE CONTAS 31
PODER JUDICIÁRIO 32
CNJ 33
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 34
CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO 39
ADVOCACIA PÚBLICA 39
DEFENSORIA PÚBLICA 42
MINISTÉRIO PÚBLICO 44
SEGURANÇA PÚBLICA 47
SEGURIDADE SOCIAL 49
ÍNDIOS 49
TEMAS DIVERSOS 50
ENTIDADES DESPORTIVAS 50
LIBERDADE PROFISSIONAL 51

DIREITO ADMINISTRATIVO 51
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS 51
PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA 52
PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE 52
ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA 53
EMPRESAS PÚBLICAS 55
SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA 55
FUNDAÇÃO 55
CONSELHOS PROFISSIONAIS 56

INFORMATIVOS 2020 - 2
PODERES ADMINISTRATIVOS 56
PODER DE POLÍCIA 56
COMPETÊNCIA 57
SERVIÇOS PÚBLICOS 58
PROCESSO ADMINISTRATIVO 58
AUTOTUTELA 59
SERVIDORES PÚBLICOS 59
APOSENTADORIA 64
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 66
CONCURSO PÚBLICO 67
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA 70
LICITAÇÕES E CONTRATOS 72
LEI DA RELICITAÇÃO 74
RESPONSABILIDADE CIVIL 74
RESPONSABILIZAÇÃO DE AGENTES PÚBLICOS 75
RESSARCIMENTO AO ERÁRIO 76
INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE 76
LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA 76
DESAPROPRIAÇÃO 77
BENS PÚBLICOS 77
TEMAS DIVERSOS 78
FUNDEF 79
INFRAÇÕES DE TRÂNSITO 80
DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR 80

DIREITO CIVIL 80
DIREITOS DA PERSONALIDADE 80
DIREITO AO ESQUECIMENTO 81
DIREITO À IMAGEM 81
PESSOA JURÍDICA 82
EIRELI 83
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 83
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 83
CONTRATOS EM ESPÉCIE 85
COMPRA E VENDA 85
SEGURO 86
DPVAT 87
FIANÇA 88
ARBITRAGEM 88
DOAÇÃO 88
MANDATO 89
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS 89
CONTRATO DE CONCESSÃO COMERCIAL 90
LOCAÇÃO COMERCIAL 90

INFORMATIVOS 2020 - 3
RESPONSABILIDADE CIVIL 91
DANOS MORAIS 95
POSSE 95
DIREITOS REAIS 96
USUCAPIÃO 96
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA 98
ARRENDAMENTO MERCANTIL 101
CONDOMÍNIO 102
CONDOMÍNIO EDILÍCIO 103
DÍVIDAS CONDOMINIAIS 103
DIREITO DE FAMÍLIA 103
UNIÃO ESTÁVEL 103
PARENTESCO 104
AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE 105
ALIMENTOS 105
PRISÃO CIVIL 109
DIREITO REAL DE HABITAÇÃO 110
BEM DE FAMÍLIA 111
DIVÓRCIO 112
DIREITO DAS SUCESSÕES 113
SUCESSÃO LEGÍTIMA 114
TESTAMENTO 115
INVENTÁRIO 115
LOCAÇÃO DE IMÓVEIS URBANOS 116
TEMAS DIVERSOS 116
CRÉDITO RURAL 116
ARRENDAMENTO RESIDENCIAL 117
DIREITOS AUTORAIS 117
USUFRUTO VIDUAL 118
CONTRATO MARÍTIMO 118
COOPERATIVAS 118

PROCESSO CIVIL 119


PRINCÍPIOS 119
PETIÇÃO INICIAL 120
PROVAS 120
PROVA TESTEMUNHAL 120
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA 120
DAS PARTES E DOS PROCURADORES 121
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 121
COMPETÊNCIA 125
CITAÇÃO E INTIMAÇÃO 127
CITAÇÃO 127
RESPOSTA DO RÉU 128

INFORMATIVOS 2020 - 4
RECONVENÇÃO 128
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA 129
IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA 132
PROCEDIMENTOS ESPECIAIS 133
EMBARGOS DE TERCEIROS 133
AÇÃO DE EXIGIR CONTAS 133
AÇÃO MONITÓRIA 134
EXECUÇÃO 135
EMBARGOS À EXECUÇÃO 137
PENHORA 137
IMPENHORABILIDADE 139
PRECATÓRIOS 140
EXPROPRIAÇÃO 143
EXECUÇÃO FISCAL 143
ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS 145
TÉCNICA DE AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO 145
IRDR 146
RECLAMAÇÃO 146
AÇÃO RESCISÓRIA 147
RECURSOS 148
ASPECTOS GERAIS 148
AGRAVO DE INSTRUMENTO 152
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO 153
RECURSO EXTRAORDINÁRIO 154
REPERCUSSÃO GERAL 155
RECURSO ESPECIAL 155
JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DO RESP E RE 156
JUIZADOS ESPECIAIS 156
TEMAS DIVERSOS 157
ERRO MATERIAL 157
MANDADO DE SEGURANÇA 157
SUSTENTAÇÃO ORAL 158
DANOS MORAIS COLETIVOS 158
FUNDAMENTOS DA DECISÃO 159
SUSPEIÇÃO 160
IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA 160

DIREITO PENAL - PENAL GERAL 161


PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL 161
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 161
ARREPENDIMENTO POSTERIOR 162
DAS PENAS 163
PENA DE MULTA 163
APLICAÇÃO DA PENA 163

INFORMATIVOS 2020 - 5
DOSIMETRIA DA PENA 163
AGRAVANTES 165
REINCIDÊNCIA 166
MEDIDA DE SEGURANÇA 166
EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE 167
PRESCRIÇÃO 167

direito PENAL – PARTE ESPECIAL 168


HOMICÍDIO 168
FURTO 170
ROUBO 170
ESTELIONATO 171
DIFAMAÇÃO 173
INJÚRIA 173
CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL 174
ESTUPRO DE VULNERÁVEL 174
CRIME DE INCÊNDIO 176
ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA 177
DESOBEDIÊNCIA 177
PECULATO 177
CORRUPÇÃO PASSIVA 178
TRÁFICO DE INFLUÊNCIA 179
DESACATO 179
SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA 180

DIREITO PENAL - LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE 180


ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA 180
LEI DE DROGAS 180
LEI MARIA DA PENHA 185
LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO 186
ESTATUTO DO DESARMAMENTO 186
CRIMES AMBIENTAIS 187
LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS 188
CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA 188
LEI ANTITERRORISMO 191
CRIMES DO CÓDIGO DE TRÂNSITO 191
CRIMES DO ECA 192
CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS 193
CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO 193

PROCESSO PENAL 194


INQUÉRITO POLICIAL 194
DENÚNCIA ANÔNIMA 196
AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA 196
COMPETÊNCIA 197

INFORMATIVOS 2020 - 6
FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO 199
PROVAS 199
PROVA TESTEMUNHAL 204
DA PRISÃO E DAS MEDIDAS CAUTELARES 205
MEDIDAS CAUTELARES 205
PRISÃO PREVENTIVA 205
PRISÃO DOMICILIAR 208
LIBERDADE PROVISÓRIA 208
TRIBUNAL DO JÚRI 208
NULIDADES 211
RECURSOS 212
HABEAS CORPUS 213
JUIZADOS ESPECIAIS 215
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO 215
TEMAS DIVERSOS 216
COLABORAÇÃO PREMIADA 216
INGRESSO EM DOMICÍLIO SEM AUTORIZAÇÃO 218
SUSPENSÃO DO PROCESSO 218
FIXAÇÃO DE VALOR MÍNIMO 219
INDULTO 219
ASSISTENTE DE DEFESA 220
INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL 220
MULTA POR ABANDONO DO PROCESSO (ART. 265 DO CPP) 220
IMPEDIMENTO / SUSPEIÇÃO 220
ASTREINTES 221
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA 221
AUSÊNCIA A ATO PROCESSUAL 222

EXECUÇÃO PENAL 223


EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA 223
FALTA GRAVE 224
PAD 225
TRABALHO EXTERNO 225
PROGRESSÃO DE REGIME 226
TEMAS DIVERSOS 227

DIREITO DO CONSUMIDOR 229


CONCEITO DE CONSUMIDOR 229
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO 230
VÍCIO DO PRODUTO 232
OFERTA 233
PUBLICIDADE ENGANOSA 234
PRÁTICAS ABUSIVAS 234
PLANO DE SAÚDE 235

INFORMATIVOS 2020 - 7
TEMAS DIVERSOS 241
COBRANÇA JUDICIAL INDEVIDA 241
BANCOS DE DADOS DE CONSUMIDORES 241
TRANSPORTE AÉREO 242
CONTRATOS BANCÁRIOS 242
DANO MORAL COLETIVO 243

°°ECA 243
GUARDA 243
ADOÇÃO 244
DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR 245
COMPETÊNCIA 246
PROTEÇÃO ESPECIAL 246
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA DOS PROGRAMAS DE RÁDIO E TV 246
PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE 247
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 247
INTERNAÇÃO 247
ASPECTOS CÍVEIS 248
PROTEÇÃO CÍVEL 249

AMBIENTAL 250
RESPONSABILIDADE CIVIL 250
COMPETÊNCIA 250
CÓDIGO FLORESTAL 251
PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL 251
INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA 252
AÇÃO POPULAR 252
TEMAS DIVERSOS 253

EMPRESARIAL 254
TÍTULOS DE CRÉDITO 254
NOTA PROMISSÓRIA 255
DUPLICATA 255
LETRA DE CÂMBIO 255
FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL 256
FALÊNCIA 256
RECUPERAÇÃO JUDICIAL 258
PROPRIEDADE INDUSTRIAL 264
MARCA 265
TEMAS DIVERSOS 266
CONTRATOS BANCÁRIOS 266
LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL 267
CONTRATO DE SHOPPING CENTER 268
CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL 268

TRIBUTÁRIO 269
INFORMATIVOS 2020 - 8
PRINCÍPIOS 269
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE 269
IMUNIDADE TRIBUTÁRIA 269
IMPOSTOS FEDERAIS 271
IR 271
II 273
IPI 273
IMPOSTOS ESTADUAIS 274
ICMS 274
IMPOSTOS MUNICIPAIS 277
IPTU 277
ITBI 277
ISS 278
PIS E COFINS 278
IRPJ e a CIDE 279
TAXAS 280
CONTRIBUIÇÕES 280
CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA 281
CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS 281
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA 281
PROCESSO TRIBUTÁRIO 282
PARCELAMENTO TRIBUTÁRIO 282
CRÉDITO TRIBUTÁRIO 283
RESTITUIÇÃO DE VALORES DEVIDOS AO CONTRIBUINTE 284
DIREITO ADUANEIRO 284

FINANCEIRO 285
LRF 287

ELEITORAL 289
DIREITOS POLÍTICOS 289
PARTIDOS POLÍTICOS 289
SISTEMAS ELEITORAIS 290
INELEGIBILIDADE 291
PRAZOS ELEITORAIS 291

DIREITO DO TRABALHO 292


LIBERDADE SINDICAL 292
CONTRATO DE TRABALHO 292
TRABALHADORES PORTUÁRIOS AVULSOS 293
COMPETÊNCIA 294
RECURSOS 295
RESPONSABILIDADE CIVIL 296
SALÁRIO-FAMÍLIA 296
TEMAS DIVERSOS 296

INFORMATIVOS 2020 - 9
INTERNACIONAL 297
EXPULSÃO 297

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 297


COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 297
REGIME JURÍDICO 298
REGISTRO DE IMÓVEIS 298

DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS 299

INFORMATIVOS 2020 - 10
DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Imunidade tributária das certidões requeridas ao Poder Judiciário voltadas para a defesa de direitos ou o

esclarecimento de situação de interesse pessoal.

O STF julgou parcialmente procedente a ADIN 2259, realizando uma interpretação conforme à Constituição da

Tabela IV da Lei nº 9.289/96, para:

Reconhecer a imunidade tributária das certidões requeridas ao Poder Judiciário que forem voltadas para a

defesa de direitos ou o esclarecimento de situação de interesse pessoal, presumindo essas finalidades

quando a certidão pleiteada for concernente ao próprio requerente, sendo desnecessária, nessa

hipótese, expressa e fundamentada demonstração dos fins e das razões do pedido.

Por outro lado, para a concessão da gratuidade da certidão quando o pedido tiver objeto interesse indireto

ou de terceiros, mostra-se imprescindível a demonstração da finalidade.

STF. Plenário. ADI 2259, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/02/2020.

É constitucional o art. 52 da Lei 13.146/2015, que prevê que as locadoras deverão manter uma cota de

veículos adaptados para pessoas com deficiência.

A Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com deficiência) prevê que as locadoras deverão manter uma cota de

veículos adaptados para pessoas com deficiência:

Art. 52. As locadoras de veículos são obrigadas a oferecer 1 (um) veículo adaptado para uso de pessoa com

deficiência, a cada conjunto de 20 (vinte) veículos de sua frota.

Parágrafo único. O veículo adaptado deverá ter, no mínimo, câmbio automático, direção hidráulica, vidros

elétricos e comandos manuais de freio e de embreagem.

Essa previsão é constitucional.

O STF considera constitucionais medidas legislativas objetivando a inclusão social das pessoas com deficiência,

como é o caso.

O princípio da livre iniciativa, fundamento da ordem econômica brasileira, tem de ser ponderado com outros

valores constitucionais, como a função social da propriedade, a defesa do consumidor, a proteção do meio

ambiente e a redução das desigualdades sociais, para se “assegurar a todos a existência digna, conforme os

ditames da justiça social” (art. 170 da Constituição).

INFORMATIVOS 2020 - 11
A determinação legal de disponibilidade de veículo adaptado a cada conjunto de vinte automóveis da frota não

inviabiliza a atividade econômica de locadoras nem impõe às empresas ônus excessivo, atendendo-se ao

princípio da proporcionalidade.

STF. Plenário. ADI 5452, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/09/2020.

Poder Público pode determinar a vacinação compulsória contra a Covid-19 (o que é diferente de

vacinação forçada).

O STF julgou parcialmente procedente ADI, para conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 3º, III, “d”,

da Lei nº 13.979/2020. Ao fazer isso, o STF disse que o Poder Público pode determinar aos cidadãos que se

submetam, compulsoriamente, à vacinação contra a Covid-19, prevista na Lei nº 13.979/2020.

O Estado pode impor aos cidadãos que recusem a vacinação as medidas restritivas previstas em lei

(multa, impedimento de frequentar determinados lugares, fazer matrícula em escola), mas não pode

fazer a imunização à força. Também ficou definido que os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios

têm autonomia para realizar campanhas locais de vacinação.

A tese fixada foi a seguinte:

(A) A vacinação compulsória não significa vacinação forçada, por exigir sempre o consentimento do usuário,

podendo, contudo, ser implementada por meio de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre outras, a

restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, desde que previstas em lei,

ou dela decorrentes, e

(i) tenham como base evidências científicas e análises estratégicas pertinentes,

(ii) venham acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações dos

imunizantes,

(iii) respeitem a dignidade humana e os direitos fundamentais das pessoas;

(iv) atendam aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, e

(v) sejam as vacinas distribuídas universal e gratuitamente; e

(B) tais medidas, com as limitações acima expostas, podem ser implementadas tanto pela União como pelos

Estados, Distrito Federal e Municípios, respeitadas as respectivas esferas de competência.

STF. Plenário. ADI 6586, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 17/12/2020. (Info 1003)

É ilegítima a recusa dos pais à vacinação compulsória de filho menor por motivo de convicção filosófica.

É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que, registrada em órgão de vigilância

sanitária,

(i) tenha sido incluída no Programa Nacional de Imunizações ou

(ii) tenha sua aplicação obrigatória determinada em lei ou

INFORMATIVOS 2020 - 12
(iii) seja objeto de determinação da União, estado, Distrito Federal ou município, com base em consenso

médico-científico.

Em tais casos, não se caracteriza violação à liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais ou

responsáveis, nem tampouco ao poder familiar.

STF. Plenário. ARE 1267879/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 16 e 17/12/2020 (Repercussão Geral –

Tema 1103) (Info 1003).

O que se entende por aviso prévio para os fins do direito de reunião do art. 5º, XVI, da CF/88?

O art. 5º, XVI, da CF/88 prevê o direito de reunião nos seguintes termos:

XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de

autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas

exigido prévio aviso à autoridade competente;

Qual é o sentido de “prévio aviso” mencionado pelo dispositivo constitucional?

O STF fixou a seguinte tese:

A exigência constitucional de aviso prévio relativamente ao direito de reunião é satisfeita com a veiculação de

informação que permita ao poder público zelar para que seu exercício se dê de forma pacífica ou para

que não frustre outra reunião no mesmo local.

STF. Plenário. RE 806339/SE, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em

14/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 855) (Info 1003).

A omissão injustificada da Administração em providenciar a disponibilização de banho quente nos

estabelecimentos prisionais fere a dignidade de presos sob sua custódia. A determinação de que o Estado

forneça banho quente aos presos está relacionada com a dignidade da pessoa humana, naquilo que concerne à

integridade física e mental a todos garantida. O Estado tem a obrigação inafastável e imprescritível de tratar

prisioneiros como pessoas, e não como animais. O encarceramento configura pena de restrição do direito

de liberdade, e não salvo-conduto para a aplicação de sanções extralegais e extrajudiciais, diretas ou

indiretas. Em presídios e lugares similares de confinamento, ampliam-se os deveres estatais de proteção

da saúde pública e de exercício de medidas de assepsia pessoal e do ambiente, em razão do risco

agravado de enfermidades, consequência da natureza fechada dos estabelecimentos, propícia à

disseminação de patologias. STJ. 2ª Turma. REsp 1.537.530-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em

27/04/2017 (Info 666)

No início da pandemia decorrente do covid-19 foi proposta ADO pedindo que o Presidente da República e os

Presidentes da Câmara e do Senado editassem lei instituindo o pagamento de um valor mínimo em favor dos

mais necessitados a fim de assegurar a alimentação, o mínimo existencial e a dignidade da pessoa humana.

INFORMATIVOS 2020 - 13
Alguns dias após o ajuizamento da ADO, foi publicada a Lei nº 13.982/2020, que criou um benefício semelhante

ao que se pretendia na ação. A Lei nº 13.982/2020 instituiu o “auxílio emergencial”, um benefício financeiro no

valor de R$ 600,00 por mês, pago pela União a trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI),

autônomos e desempregados, e que tem por objetivo fornecer proteção emergencial, pelo prazo de 3 meses, às

pessoas que perderam sua renda em virtude da crise causada pelo coronavírus.

Diante disso, o STF decidiu:

a) conhecer da ação (significa que o STF entendeu ser cabível, em tese, ação direta de inconstitucionalidade por

omissão para discutir o tema);

b) mas, quanto ao mérito, julgar o pedido prejudicado uma vez que foi aprovado o auxílio emergencial (Lei nº

13.982/2020) e, consequentemente, foi satisfeito o objeto da ADO. STF. Plenário. ADO 56/DF, Rel. Min. Marco

Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 30/4/2020 (Info 975).

A MP 954/2020 determinava que, durante a emergência de saúde decorrente do covid-19, as empresas de

telefonia fixa e móvel deveriam fornecer ao IBGE os dados dos seus clientes: relação dos nomes, números de

telefone e endereços. Segundo a MP, essas informações seriam utilizadas para a produção das estatísticas

oficial, com o objetivo de realizar entrevistas não presenciais com os clientes das empresas. As informações

disciplinadas pela MP 954/2020 configuram dados pessoais e, portanto, estão protegidas pelas cláusulas

constitucionais que asseguram a liberdade individual (art. 5º, caput), a privacidade e o livre desenvolvimento da

personalidade (art. 5º, X e XII). Sua manipulação e tratamento deverão respeitar esses direitos e os limites

estabelecidos pela Constituição. A MP 954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição porque diz que

os dados serão utilizados exclusivamente para a produção estatística oficial, mas não delimita o objeto da

estatística a ser produzida, nem a finalidade específica ou a sua amplitude. A MP 954/2020 não apresenta

também mecanismos técnico ou administrativo para proteger os dados pessoais de acessos não autorizados,

vazamentos acidentais ou utilização indevida. Diante disso, constata-se que a MP violou a garantia do devido

processo legal (art. 5º, LIV, da CF), em sua dimensão substantiva (princípio da proporcionalidade). STF. Plenário.

ADI 6387, ADI 6388, ADI 6389, ADI 6390 e ADI 6393 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 6 e 7/5/2020

(Info 976)

Compete privativamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (art. 22, XXIV, da

CF), de modo que os Municípios não têm competência para editar lei proibindo a divulgação de material

com referência a “ideologia de gênero” nas escolas municipais. Existe inconstitucionalidade formal. Há

também inconstitucionalidade material nessa lei. Lei municipal proibindo essa divulgação viola:

• a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber (art. 206, II, CF/88); e

• o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas (art. 206, III).

Essa lei contraria ainda um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, que é a promoção do

bem de todos sem preconceitos (art. 3º, IV, CF/88).

INFORMATIVOS 2020 - 14
Por fim, essa lei não cumpre com o dever estatal de promover políticas de inclusão e de igualdade, contribuindo

para a manutenção da discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero. STF. Plenário. ADPF

457, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020 (Info 980 – clipping).

O parágrafo único do art. 4º da Lei 9.883/99 prevê que os órgãos que compõem o SISBIN deverão fornecer

informações para a ABIN: Art. 4º (...) Parágrafo único. Os órgãos componentes do Sistema Brasileiro de

Inteligência fornecerão à ABIN, nos termos e condições a serem aprovados mediante ato presidencial, para fins

de integração, dados e conhecimentos específicos relacionados com a defesa das instituições e dos interesses

nacionais.

O Plenário do STF afirmou que esse dispositivo é constitucional desde que seja interpretado com base em

quatro critérios definidos pela Corte. Assim, o STF conferiu interpretação conforme à Constituição Federal ao

parágrafo único do art. 4º da Lei 9.883/99, para estabelecer que:

a) os órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) somente podem fornecer dados e

conhecimentos específicos à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) quando comprovado o interesse público da

medida, afastada qualquer possibilidade de esses dados atenderem interesses pessoais ou privados;

b) toda e qualquer decisão que solicitar os dados deverá ser devidamente motivada para eventual controle de

legalidade pelo Poder Judiciário;

c) mesmo quando presente o interesse público, os dados referentes a comunicações telefônicas ou dados

sujeitos à reserva de jurisdição não podem ser compartilhados na forma do dispositivo em razão daquela

limitação, decorrente do respeito aos direitos fundamentais; e d) nas hipóteses cabíveis de fornecimento de

informações e dados à Abin, é imprescindível procedimento formalmente instaurado e existência de sistemas

eletrônicos de segurança e registro de acesso, inclusive para efeito de responsabilização, em caso de eventuais

omissões, desvios ou abusos. STF. Plenário. ADI 6529 MC/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 13/8/2020 (Info

986).

É inconstitucional lei estadual que proíba que a Administração Pública contrate empresa cujo diretor,

gerente ou empregado tenha sido condenado por crime ou contravenção relacionados com a prática de

atos discriminatórios. Essa lei viola os princípios da intransmissibilidade da pena, da responsabilidade pessoal

e do devido processo legal. STF. Plenário. ADI 3092, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Info 987 –

clipping).

Surgem constitucionais os artigos 5º e 6º, inciso I, da Lei nº 13.021/2014, no que previsto ser do farmacêutico a

responsabilidade técnica por drogaria. STF. Plenário. RE 1156197, Rel. Marco Aurélio, julgado em 24/08/2020

(Repercussão Geral – Tema 1.049) (Info 991 – clipping).

É inconstitucional, por transgressão ao princípio da isonomia entre homens e mulheres (art. 5º, I, da CF/88), a

exigência de requisitos legais diferenciados para efeito de outorga de pensão por morte de ex-servidores

INFORMATIVOS 2020 - 15
públicos em relação a seus respectivos cônjuges ou companheiros/companheiras (art. 201, V, da CF/88). STF.

Plenário. RE 659424/RS, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 457) (Info

994).

Os arts. 6º a 8º do Decreto nº 21.981/1932 exigem que o indivíduo que quiser exercer a profissão de leiloeiro

preste uma garantia (caução). A exigência de garantia para o exercício da profissão de leiloeiro, prevista nos arts.

6º a 8º do Decreto 21.981/1932, é compatível com o art. 5º, XIII, da Constituição Federal de 1988. Isso porque o

leiloeiro lida diariamente com o patrimônio de terceiros, de forma que a prestação de fiança como condição

para o exercício de sua profissão busca reduzir o risco de dano ao proprietário, o que reforça o interesse social

da norma protetiva, bem como justifica a limitação para o exercício da profissão. STF. Plenário. RE 1263641/RS,

rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral –

Tema 455) (Info 994).

As disposições da Lei nº 9.656/98, à luz do art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal, somente incidem sobre os

contratos celebrados a partir de sua vigência, bem como sobre os contratos que, firmados anteriormente, foram

adaptados ao seu regime, sendo as respectivas disposições inaplicáveis aos beneficiários que, exercendo sua

autonomia de vontade, optaram por manter os planos antigos inalterados. STF. Plenário. RE 948634, Rel. Min.

Ricardo Lewandowski, julgado em 20/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 123) (Info 995).

A quebra do sigilo de dados armazenados não obriga a autoridade judiciária a indicar previamente as

pessoas que estão sendo investigadas, até porque o objetivo precípuo dessa medida é justamente de

proporcionar a identificação do usuário do serviço ou do terminal utilizado. Logo, a ordem judicial para quebra

do sigilo dos registros, delimitada por parâmetros de pesquisa em determinada região e por período de

tempo, não se mostra medida desproporcional, porquanto, tendo como norte a apuração de gravíssimos

crimes, não impõe risco desmedido à privacidade e à intimidade dos usuários possivelmente atingidos

por tal diligência. STJ. 3ª Seção. RMS 61.302-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/08/2020 (Info 678)

É inconstitucional a lei distrital que preveja que 40% das vagas das universidades e faculdades públicas

do Distrito Federal serão reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas do Distrito Federal.

Essa lei, ao restringir a cota apenas aos alunos que estudaram no Distrito Federal, viola o art. 3º, IV e o art. 19, III,

da CF/88, tendo em vista que faz uma restrição injustificável entre brasileiros. Vale ressaltar que a

inconstitucionalidade não está no fato de ter sido estipulada a cota em favor de alunos de escolas públicas, mas

sim em razão de a lei ter restringindo as vagas para alunos do Distrito Federal, em detrimento dos estudantes de

outros Estados da Federação. STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.

INFORMATIVOS 2020 - 16
LIBERDADE DE EXPRESSÃO

A decisão judicial que proibiu a realização de entrevista com Adélio Bispo, autor da facada contra Jair Bolsonaro,

não significa restrição indevida à liberdade de imprensa nem representa censura prévia. Logo, essa decisão não

configura ofensa ao entendimento firmado pelo STF na ADPF 130, que julgou não recepcionada a Lei de

Imprensa (Lei nº 5.250/67). A decisão judicial impediu a entrevista com o objetivo de proteger as investigações e

evitar possíveis prejuízos processuais, inclusive quanto ao direito ao silêncio do investigado. Além disso, a

decisão teve como finalidade proteger o próprio custodiado, que autorizou a entrevista, mas cuja sanidade

mental era discutível na época, tendo sido, posteriormente, declarado inimputável em razão de “transtorno

delirante persistente”. STF. 1ª Turma. Rcl 32052 AgR/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info

973).

A imprensa divulgou que o Ministério da Justiça estaria investigando e elaborando dossiês sigilosos contra um

grupo de servidores públicos identificados como integrantes do “movimento antifascismo”. Os principais alvos

da investigação seriam professores e policiais autointitulados de “antifascistas”. Determinado partido político

ajuizou ADPF para que o STF declare que essa investigação viola os preceitos fundamentais da liberdade de

expressão, reunião, associação, inviolabilidade de intimidade, vida privada e honra. O STF deferiu medida

cautelar para suspender todo e qualquer ato do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) de produção ou

compartilhamento de informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e políticas, as práticas cívicas de

cidadãos, servidores públicos federais, estaduais e municipais identificados como integrantes de movimento

político antifascista, professores universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites da legalidade,

exerçam seus direitos de livremente expressar-se, reunir-se e associar-se. STF. Plenário. ADPF 722 MC/DF, Rel.

Min. Cármen Lúcia, julgado em 19 e 20/8/2020 (Info 987)

Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado em plataforma de “streaming” apenas porque

seu conteúdo desagrada parcela da população, ainda que majoritária, não encontra fundamento em uma

sociedade democrática e pluralista como a brasileira. STF. 2ª Turma. Rcl 38782/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes,

julgado em 3/11/2020 (Info 998)

ACESSO À INFORMAÇÃO

É inconstitucional o art. 6º-B da Lei nº 13.979/2020, incluído pela MP 928/2020, porque ele impõe uma série

de restrições ao livre acesso do cidadão a informações. O art. 6º-B não estabelece situações excepcionais e

concretas impeditivas de acesso à informação. Pelo contrário, transforma a regra constitucional de publicidade e

transparência em exceção, invertendo a finalidade da proteção constitucional ao livre acesso de informações a

toda sociedade. STF. Plenário. ADI 6351 MC-Ref/DF, ADI 6347 MC-Ref/DF e ADI 6353 MC-Ref/DF, Rel. Min.

Alexandre de Moraes, julgados em 30/4/2020 (Info 975).

INFORMATIVOS 2020 - 17
DIREITO À INFORMAÇÃO

Jornal poderá acessar dados sobre mortes registradas em ocorrências policiais. Caso concreto: o jornal

Folha de São Paulo pediu para que o Governo do Estado fornecesse informações relacionadas a mortes

registradas pela polícia em boletins de ocorrência. O pedido foi negado sob o fundamento de que, apesar de

terem natureza pública, esses dados deveriam ser divulgados com cautela e não seriam indispensáveis para o

trabalho jornalístico. O STJ não concordou e afirmou que não cabe à administração pública ou ao Poder

Judiciário discutir o uso que se pretende dar à informação de natureza pública. A informação, por ser

pública, deve estar disponível ao público, independentemente de justificações ou considerações quanto

aos interesses a que se destina. Não se pode vedar o exercício de um direito – acessar a informação pública –

pelo mero receio do abuso no exercício de um outro e distinto direito – o de livre comunicar. Em suma: veículo

de imprensa jornalística possui direito líquido e certo de obter dados públicos sobre óbitos relacionados a

ocorrências policiais. STJ. 2ª Turma. REsp 1.852.629-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 06/10/2020 (Info 682).

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A redução da transparência dos dados referentes à pandemia de COVID-19 representa violação a preceitos

fundamentais da Constituição Federal, nomeadamente o acesso à informação, os princípios da

publicidade e transparência da Administração Pública e o direito à saúde. STF. Plenário. ADPF 690 MC-Ref/DF,

ADPF 691 MC-Ref/DF e ADPF 692 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000)

DIREITOS SOCIAIS

O art. 8º, VIII, da CF/88 prevê que os dirigentes sindicais não podem ser demitidos, salvo se cometerem falta

grave. O art. 522 da CLT prevê um número máximo empregados que podem ser dirigentes sindicais. Assim que a

CF/88 foi promulgada, alguns doutrinadores começaram a sustentar a tese de que o art. 522 da CLT não teria

sido recepcionado pela Carta Constitucional. Isso porque o inciso I do art. 8º da Constituição prevê que a

liberdade sindical, ou seja, proíbe que o poder público interfira na organização dos sindicatos. O TST e o STF não

concordaram com essa tese. A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui caráter

absoluto. A previsão legal de número máximo de dirigentes sindicais dotados de estabilidade de emprego

não esvazia a liberdade sindical. Essa garantia constitucional existe para que possa assegurar a autonomia da

entidade sindical, mas não serve para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem a

razoabilidade e a finalidade da norma constitucional garantidora do direito. Logo, o art. 522 da CLT foi

INFORMATIVOS 2020 - 18
recepcionado pela Constituição Federal de 1988. STF. Plenário. ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em

15/05/2020 (Info 980 – clipping)

A norma fundada no art. 7º, XXXIII, da Constituição Federal, na alteração que lhe deu a Emenda Constitucional

20/1998, tem plena validade constitucional. Logo, é vedado “qualquer trabalho a menores de dezesseis

anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”. STF. Plenário. ADI 2096/DF, Rel. Min. Celso

de Mello, julgado em 9/10/2020 (Info 994).

Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário mínimo vigente. Tal

previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o salário mínimo seja utilizado como

referência (parâmetro) para outras finalidades que não sejam a remuneração do trabalho. No entanto, o STF

afirmou que seria possível conferir interpretação conforme a Constituição e dizer que o dispositivo previu que o

valor do benefício seria igual ao salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$ 545). Após isso,

mesmo o salário mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar

automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que ele não pode servir

como indexador. Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo contida na lei estadual

seja considerada como um valor certo que vigorava na data da edição da lei, passando a ser corrigido nos

anos seguintes por meio de índice econômico diverso. Com isso, o benefício continua existindo e será

necessário ao governo do Amapá apenas reajustar esse valor por meio de índices econômicos. STF. Plenário. ADI

4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

DIREITO À EDUCAÇÃO

A Constituição prevê o dever de aplicação de percentual mínimo para investimentos na manutenção e

desenvolvimento do ensino. A definição de quais despesas podem ou não ser consideradas como manutenção e

desenvolvimento de ensino é feita por meio de lei editada pela União. A Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional), em seus arts. 70 e 71, definiu quais despesas podem ser consideradas como sendo

destinadas à manutenção e desenvolvimento do ensino. As despesas com encargos previdenciários de

servidores inativos e os repasses efetuados pelo Estado para cobrir o déficit no regime próprio de

previdência não podem ser computados como aplicação de recursos na manutenção e desenvolvimento

de ensino, para os fins do art. 212 da CF/88. Logo, é inconstitucional lei estadual que faça essa previsão. STF.

Plenário. ADI 5719, Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Info 990 – clipping).

INFORMATIVOS 2020 - 19
DIREITO À SAÚDE

É inconstitucional a Lei nº 13.269/2016, que autorizou o uso da fosfoetanolamina sintética ("pílula do

câncer) por pacientes diagnosticados com neoplasia maligna mesmo sem que existam estudos

conclusivos sobre os efeitos colaterais em seres humanos e mesmo sem que haja registro sanitário da

substância perante a ANVISA. Ante o postulado da separação de Poderes, o Congresso Nacional não pode

autorizar, atuando de forma abstrata e genérica, a distribuição de medicamento. Compete à ANVISA

permitir a distribuição de substâncias químicas, segundo protocolos cientificamente validados. O controle dos

medicamentos fornecidos à população leva em conta a imprescindibilidade de aparato técnico especializado,

supervisionado pelo Poder Executivo. O direito à saúde não será plenamente concretizado se o Estado

deixar de cumprir a obrigação de assegurar a qualidade de droga mediante rigoroso crivo científico, apto

a afastar desengano, charlatanismo e efeito prejudicial. STF. Plenário. ADI 5501/DF, Rel. Min. Marco Aurélio,

julgado em 23/10/2020 (Info 996).

AUTONOMIA DOS ENTES

Compete ao Ministro da Justiça determinar a ida da Força Nacional de Segurança Pública para atuar em

determinado Estado-membro ou Distrito Federal. Segundo a redação do art. 4º do Decreto nº 5.289/2004 a

determinação do emprego da Força Nacional pode ocorrer de duas formas:

1) mediante solicitação expressa do Governador formulada ao Ministro da Justiça;

2) mediante iniciativa do próprio Ministro da Justiça, mesmo sem solicitação do Governador.

Se o próprio Governador solicita o auxílio, não há qualquer problema ou questionamento.

No entanto, e se o Ministro da Justiça determina o envio da Força Nacional mesmo sem pedido do Governador?

Essa atuação seria constitucionalmente válida?

NÃO. Isso viola o princípio da autonomia estadual. Foi o que decidiu o STF, em juízo de delibação, ao apreciar

medida liminar em ação cível originária. Afirmou a Corte: É plausível a alegação de que a norma inscrita no art. 4º

do Decreto 5.289/2004, naquilo em que dispensa a anuência do governador de estado no emprego da Força

Nacional de Segurança Pública, viole o princípio da autonomia estadual. STF. Plenário. ACO 3427 Ref-MC/BA, Rel.

Min. Edson Fachin, julgado em 24/9/2020 (Info 992)

INTERVENÇÃO

A Constituição Estadual não pode trazer hipóteses de intervenção estadual diferentes daquelas que são

previstas no art. 35 da Constituição Federal. As hipóteses de intervenção estadual previstas no art. 35 da

INFORMATIVOS 2020 - 20
CF/88 são taxativas. Caso concreto: STF julgou inconstitucional dispositivo da Constituição de Pernambuco que

previa que o Estado-membro poderia intervir nos Municípios caso ali ocorressem atos de corrupção e

improbidade administrativa. STF. Plenário. ADI 2917, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020

Viola a Constituição Federal a previsão contida na Constituição Estadual atribuindo aos Tribunais de Contas a

competência para requerer ou decretar intervenção em Município. Essa previsão não encontra amparo nos arts.

34 e 36 da CF/88. STF. Plenário. ADI 3029, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS

É constitucional norma local voltada a coibir fraude considerado o serviço público de transporte coletivo.

É inconstitucional norma local que condiciona a liberação de veículo aprendido ao pagamento de multas, preços

públicos e demais encargos decorrentes de infração.

STF. Plenário. RE 661702, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 546)

É constitucional lei distrital (ou lei municipal) que trate sobre fraude à prestação do serviço de transporte

coletivo de passageiros, de forma remunerada, sem prévia concessão, permissão ou autorização do Governo do

Distrito Federal. Isso porque essa lei se insere na competência prevista no art. 30, V, da CF/88.

Por outro lado, é inconstitucional norma local que estabelece que os veículos apreendidos somente poderão

ser liberados após o pagamento das multas, preços públicos e demais encargos devidos ao DETRAN.

Lei estadual não pode impor investimentos em preservação ambiental a concessionárias de energia.

A norma estadual que impõe à concessionária de geração de energia elétrica a promoção de investimentos, com

recursos identificados como parcela da receita que aufere, voltados à proteção e à preservação de mananciais

hídricos, é inconstitucional por configurar intervenção indevida do Estado no contrato de concessão da

exploração do aproveitamento energético dos cursos de água, atividade de competência da União,

conforme art. 21, XII, b, da Constituição Federal.

STF. Plenário. RE 827538, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão Luiz Fux, julgado em 11/05/2020

(Repercussão Geral - Tema 774)

CE não pode prever que o Governador (ou o Vice) precisará de autorização para se ausentar do país "em

qualquer tempo"; a autorização só pode ser exigida se o período afastamento for superior a 15 dias.

A exigência de prévia autorização da assembleia legislativa para o governador e o vice-governador do Estado

ausentarem-se, “em qualquer tempo”, do território nacional mostra-se incompatível com os postulados da

simetria e da separação dos Poderes.

INFORMATIVOS 2020 - 21
A Constituição Federal, em seu art. 49, III e em seu art. 83, prevê que é da competência do Congresso Nacional

autorizar o Presidente e o Vice-presidente da República a se ausentarem do País quando a ausência for por

período superior a 15 dias.

Logo, afronta os princípios da separação dos Poderes e da simetria a norma da Constituição estadual que

exige prévia licença da Assembleia Legislativa para que o Governador e o Vice-governador se ausentem

do País por qualquer prazo.

Os Estados-membros não podem criar novas ingerências de um Poder na órbita de outro que não derivem

explícita ou implicitamente de regra ou princípio previsto na Constituição Federal.

STF. Plenário. ADI 5373, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 24/08/2020.

É inconstitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias ou permissionárias façam o

corte do fornecimento de água, energia elétrica e dos serviços de telefonia, por falta de pagamento, em

determinados dias (ex: sextas-feiras, vésperas de feriados etc.).

STF. Plenário. ADI 3824/MS, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 02/10/2020.

NOVIDADE LEGISLATIVA - Lei nº 14.015/2020

Alterou a Lei nº 8.987/95 e a Lei nº 13.460/2017 para deixar mais explícito que é possível a interrupção do serviço

público em caso de inadimplemento do usuário, desde que ele seja previamente avisado.

Confira os dispositivos inseridos na Lei nº 13.460/2017:

Art. 5º O usuário de serviço público tem direito à adequada prestação dos serviços, devendo os agentes públicos

e prestadores de serviços públicos observar as seguintes diretrizes:

(...)

XVI – comunicação prévia ao consumidor de que o serviço será desligado em virtude de inadimplemento, bem

como do dia a partir do qual será realizado o desligamento, necessariamente durante horário comercial.

Parágrafo único. A taxa de religação de serviços não será devida se houver descumprimento da exigência de

notificação prévia ao consumidor prevista no inciso XVI do caput deste artigo, o que ensejará a aplicação de

multa à concessionária, conforme regulamentação.

Art. 6º São direitos básicos do usuário:

(...)

VII – comunicação prévia da suspensão da prestação de serviço.

Parágrafo único. É vedada a suspensão da prestação de serviço em virtude de inadimplemento por parte do

usuário que se inicie na sexta-feira, no sábado ou no domingo, bem como em feriado ou no dia anterior a

feriado.

INFORMATIVOS 2020 - 22
O entendimento acima foi positivado em nível nacional. A Lei nº 14.015/2020 inseriu o § 4º ao art. 6º da Lei nº

8.987/95 com a seguinte redação:

Art. 6º (...)

§ 4º A interrupção do serviço na hipótese prevista no inciso II do § 3º deste artigo não poderá iniciar-se na

sexta-feira, no sábado ou no domingo, nem em feriado ou no dia anterior a feriado.

É constitucional lei estadual que disponha sobre o serviço público de loteria?

A exploração de loterias ostenta natureza jurídica de serviço público (art. 175, caput, da CF/88), dada a existência

de previsão legal expressa.

Os arts. 1º e 32 do Decreto-Lei 204/1967, ao estabelecerem a exclusividade da União sobre a prestação dos

serviços de loteria, não foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988, pois colidem frontalmente com

o art. 25, § 1º, da CF/88, ao esvaziarem a competência constitucional subsidiária dos Estados-membros para a

prestação de serviços públicos que não foram expressamente reservados pelo texto constitucional à exploração

pela União (art. 21 da CF/88).

A competência privativa da União para legislar sobre sistemas de consórcios e sorteios (art. 22, XX, da CF/88) não

preclui a competência material dos Estados para explorar as atividades lotéricas nem a competência

regulamentar dessa exploração. Por esse motivo, a Súmula Vinculante 2 não trata da competência material

dos Estados de instituir loterias dentro das balizas federais, ainda que tal materialização tenha

expressão através de decretos ou leis estaduais, distritais ou municipais.

Por outro lado, as legislações estaduais instituidoras de loterias, seja via lei estadual ou por meio de decreto,

devem simplesmente viabilizar o exercício de sua competência material de instituição de serviço público

titularizado pelo Estado-membro, de modo que somente a União pode definir as modalidades de atividades

lotéricas passíveis de exploração pelos Estados.

STF. Plenário. ADI 3050, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/11/2020.

É inconstitucional lei estadual que institui cadastro estadual de usuários de drogas.

A Lei 3.528/2019, do Estado de Tocantins, instituiu o Cadastro Estadual de Usuários e Dependentes de Drogas.

Essa norma é formalmente inconstitucional, uma vez que, ao criar o Cadastro Estadual de Usuários e

Dependentes de Drogas, no âmbito da Secretaria Estadual de Segurança Pública, com informações relacionadas

com o registro de ocorrência policial, inclusive sobre reincidência, a lei invadiu competência privativa da União

para legislar sobre matéria penal e processual penal (art. 22, I, da CF/88).

Além disso, o exercício da competência concorrente em matéria de direito sanitário (art. 24, XII), no federalismo

cooperativo, deve maximizar direitos fundamentais e não pode ir de encontro à norma federal. No caso, nos

termos da Lei federal n.º 11.343/2006, a sistematização de informações é competência da União (art. 8º-A, XII).

INFORMATIVOS 2020 - 23
Materialmente, também há inconstitucionalidade. A seletividade social do cadastro é incompatível com o

Estado de Direito e os direitos fundamentais que a Constituição de 1988 protege, especialmente, a

igualdade (art. 5º, caput ), a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), o direito à intimidade e à vida

privada (art. 5º, X) e o devido processo legal (art. 5º, LIV).

STF. Plenário. ADI 6561 MC, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 13/10/2020.

É constitucional lei estadual que obriga as empresas prestadoras de serviço público de fornecimento de

energia elétrica e água a notificarem, com aviso de recebimento, a realização de vistoria técnica em

medidor localizado nas residências de usuários, ante a competência concorrente dos Estados para legislar

sobre proteção aos consumidores.

STF. Plenário. ADI 4914, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 21/12/2020.

É inconstitucional a legislação estadual que estabelece a redução obrigatória das mensalidades da rede

privada de ensino durante a vigência das medidas restritivas para o enfrentamento da emergência de

saúde pública decorrente do novo Coronavírus.

Essa lei viola a competência privativa da União para legislar sobre Direito Civil (art. 22, I, da CF/88).

Ao estabelecer uma redução geral dos preços fixados nos contratos para os serviços educacionais, a leis alterou,

de forma geral e abstrata, o conteúdo dos negócios jurídicos, o que as caracteriza como norma de Direito Civil.

Os efeitos da pandemia sobre os negócios jurídicos privados, inclusive decorrentes de relações de consumo,

foram tratados pela Lei federal nº 14.010/2020. Ao estabelecer o Regime Jurídico Emergencial e Transitório das

relações jurídicas de Direito Privado (RJET) para o período, a norma reduziu o espaço de competência

complementar dos estados para legislar e não contém previsão geral de modificação dos contratos de prestação

de serviços educacionais.

STF. ADI 6575, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/12/2020 (Info 1003).

É formalmente inconstitucional lei estadual que concede descontos aos idosos para aquisição de

medicamentos em farmácias localizadas no respectivo estado.

STF. Plenário. ADI 2435/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em

18/12/2020 (Info 1003).

É inconstitucional lei estadual que fixa critério etário para o ingresso no Ensino Fundamental diferente

do estabelecido pelo legislador federal e regulamentado pelo Ministério da Educação.

STF. Plenário. ADI 6312, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/12/2020 (Info 1003).

A Lei nº 13.979/2020 prevê medidas que poderão ser adotadas pelo Brasil para enfrentamento da emergência

de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus. A MP 926/2020 alterou o caput e o

INFORMATIVOS 2020 - 24
inciso VI do art. 3º da Lei nº 13.979/2020 e acrescentou os §§ 8º a 11 ao art. 3º da Lei nº 13.979/2020. Foi ajuizada

uma ADI contra esta MP. O STF, ao apreciar a medida cautelar, decidiu:

• confirmar a medida acauteladora concedida monocraticamente pelo Relator para “tornar explícita, no campo

pedagógico e na dicção do Supremo, a competência concorrente.” Em outras palavras, as providências

adotadas pelo Governo Federal “não afastam atos a serem praticados por Estado, o Distrito Federal e

Município considerada a competência concorrente na forma do artigo 23, inciso II, da Lei Maior.”

• dar interpretação conforme à Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei nº 13.979/2020, a fim de explicitar que o

Presidente da República pode dispor, mediante decreto, sobre os serviços públicos e atividades

essenciais, no entanto, esse decreto deverá preservar a atribuição de cada esfera de governo, nos termos

do inciso I do art. 198 da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6341 MC-Ref/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/

o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 15/4/2020 (Info 973).

É constitucional lei estadual que autoriza a comercialização de bebidas alcoólicas nas arenas desportivas

e nos estádios. Trata-se de legislação sobre consumo, matéria de competência concorrente (art. 24, V, da

CF/88). O art. 13-A, II, da Lei nº 10.671/2003 (Estatuto do Torcedor) indica como “condições de acesso e

permanência do torcedor no recinto esportivo”, entre outras, “não portar objetos, bebidas ou substâncias

proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência”. Não há, contudo, uma vedação

geral e absoluta por parte do Estatuto do Torcedor, de modo que o legislador estadual, no exercício de sua

competência concorrente complementar, observadas as especificidades locais, pode regulamentar a matéria,

autorizando, por exemplo, a venda de cerveja e chope (bebidas de baixo teor alcoólico) nos estádios. Vale

lembrar que isso já é autorizado nos grandes eventos mundiais de futebol e outros esportes, inclusive na Copa

do mundo organizada pela FIFA e nas Olimpíadas. STF. Plenário. ADI 6195, Rel. Min. Alexandre de Moraes,

julgado em 27/03/2020

Os Estados-membros não possuem competência legislativa para determinar a microfilmagem de

documentos arquivados nos cartórios extrajudiciais do Estado. Esse tema envolve registros públicos e

responsabilidade civil dos notários e registros, matéria que é de competência privativa da União, nos termos do

art. 22, XXV, da CF/88. STF. Plenário. ADI 3723, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.

É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e

testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes. A proteção da fauna é

matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, VI, da CF/88). A Lei federal nº 11.794/2008 possui uma

natureza permissiva, autorizando, a utilização de animais em atividades de ensino e pesquisas científicas, desde

que sejam observadas algumas condições relacionadas aos procedimentos adotados, que visam a evitar e/ou

atenuar o sofrimento dos animais. Mesmo que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela lei

estadual, isso não se mostra inconstitucional porque, em princípio, é possível que os Estados editem normas

INFORMATIVOS 2020 - 25
mais protetivas ao meio ambiente, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na preponderância de

seu interesse, conforme o caso. STF. Plenário. ADI 5996, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info

975).

A Lei nº 13.979/2020 previu, em seu art. 3º, um rol exemplificativo de oito medidas que podem ser adotadas pelo

poder público para o combate ao coronavírus. O art. 3º, VI, “b”, e os §§ 6º e 7º, II, da Lei nº 13.979/2020

estabeleceram que os Estados e Municípios somente poderia adotar algumas medidas se houvesse autorização

da União. O STF, ao apreciar ADI contra a Lei, decidiu:

a) suspender parcialmente, sem redução de texto, o disposto no art. 3º, VI, “b”, e §§ 6º e 7º, II, da Lei nº

13.979/2020, a fim de excluir estados e municípios da necessidade de autorização ou de observância ao ente

federal; e b) conferir interpretação conforme aos referidos dispositivos no sentido de que as medidas neles

previstas devem ser precedidas de recomendação técnica e fundamentada, devendo ainda ser resguardada a

locomoção dos produtos e serviços essenciais definidos por decreto da respectiva autoridade federativa, sempre

respeitadas as definições no âmbito da competência constitucional de cada ente federativo. Assim, os

Estados/DF e Municípios podem, mesmo sem autorização da União, adotar medidas como isolamento,

quarentena, exumação, necropsia, cremação e manejo de cadáver e restrição à locomoção interestadual e

intermunicipal em rodovias, portos ou aeroportos. Vale ressaltar que Estados e Municípios não podem fechar

fronteiras, pois sairiam de suas competências constitucionais. A adoção de medidas restritivas relativas à

locomoção e ao transporte, por qualquer dos entes federativos, deve estar embasada em recomendação técnica

fundamentada de órgãos da vigilância sanitária e tem de preservar o transporte de produtos e serviços

essenciais, assim definidos nos decretos da autoridade federativa competente. STF. Plenário. ADI 6343

MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/5/2020 (Info 976).

Padece de inconstitucionalidade formal lei de iniciativa parlamentar que disponha sobre atribuições de órgãos

da Administração Pública (art. 61, § 1º, II, "e" e art. 84, VI, da Constituição Federal). STF. Plenário. ADI 3981, Rel.

Min. Roberto Barroso, julgado em 15/04/2020 (Info 978).

É inconstitucional lei estadual que afasta as exigências de revalidação de diploma obtido em instituições

de ensino superior de outros países para a concessão de benefícios e progressões a servidores públicos.

Essa lei invade a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (art.

22, XXIV, CF/88). STF. Plenário. ADI 6073, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/03/2020.

É constitucional lei estadual que estabeleça que as instituições de ensino superior privada são obrigadas a

devolver o valor da taxa de matrícula, podendo reter, no máximo, 5% da quantia, caso o aluno, antes do início

das aulas, desista do curso ou solicite transferência. STF. Plenário. ADI 5951, Rel. Cármen Lúcia, julgado em

16/06/2020 (Info 985 – clipping).

INFORMATIVOS 2020 - 26
É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que preveja que os serviços públicos de

saneamento e de abastecimento de água serão prestados por pessoas jurídicas de direito público ou por

sociedade de economia mista sob controle acionário e administrativo, do Poder Público Estadual ou

Municipal. Compete aos Municípios a titularidade dos serviços públicos de saneamento básico. Assim, a

eles cabe escolher a forma da prestação desses serviços, se diretamente ou por delegação à iniciativa privada

mediante prévia licitação. Isso é garantido pelo art. 30, I e IV, da CF/88. Além disso, essa previsão da Constituição

Estadual também viola o art. 175 da Constituição Federal, que atribui ao poder público a escolha da prestação de

serviços públicos de forma direta ou sob regime de concessão ou permissão mediante prévia licitação. STF.

Plenário. ADI 4454, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 05/08/2020 (Info 988 – clipping).

O art. 3º, caput, VII e § 7º, III, da Lei nº 13.979/2020 autoriza que os gestores locais de saúde (secretarias

estaduais e municipais, p. ex.), mesmo sem autorização do Ministério da Saúde, façam a requisição de bens e

serviços. O STF afirmou que esses dispositivos são constitucionais. Não se exige autorização do Ministério da

Saúde para que os Estados-membros, Distrito Federal e Municípios decretem a requisição administrativa

prevista no art. 3º, caput, VII e § 7º, III, da Lei nº 13.979/2020, no exercício de suas competências

constitucionais. STF. Plenário. ADI 6362/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 2/9/2020 (Info 989).

A segurança pública é de competência comum dos Estados-membros (art. 144 da CF/88), sendo também sua

competência remanescente a prerrogativa de legislar sobre transporte intermunicipal (art. 25, § 1º). A concessão

de dois assentos a policiais militares devidamente fardados nos transportes coletivos intermunicipais vai

ao encontro da melhoria das condições de segurança pública nesse meio de locomoção, em benefício de

toda a Sociedade, questão flagrantemente de competência dos Estados-membros (art. 144 da CF/88) e

afasta qualquer alegação de desrespeito ao princípio da igualdade, uma vez que o discrímen adotado é

legítimo e razoável, pois destinado àqueles que exercem atividade de polícia ostensiva e visam à

preservação da ordem pública. Essa lei estadual não representa indevida interferência no contrato de

concessão firmado com a concessionária, uma vez que não há alteração na equação do equilíbrio

financeiro-econômico do contrato administrativo. STF. Plenário. ADI 1052, Rel. Luiz Fux, Rel. p/ Acórdão:

Alexandre de Moraes, julgado em 24/08/2020 (Info 991).

É constitucional lei estadual que proíba, no âmbito estadual, a inserção de cláusulas que exijam a

fidelização nos contratos prestação de serviços. A fidelização contratual consiste em contrapartida exigida do

consumidor, em razão de benefícios oferecidos pela prestadora na formação do contrato de prestação de

serviços, todavia, não se confunde com esse. A cláusula de fidelidade contratual é autônoma e agregativa ao

contrato de prestação de serviço, inserindo-se no espaço comercial das prestadoras, e não no campo regulatório

das atividades de caráter público. O objeto da norma estadual impugnada em nada interfere no regime de

exploração ou na estrutura remuneratória da prestação do serviço. Essa lei busca apenas a proteção do

INFORMATIVOS 2020 - 27
consumidor, ainda que realizada paralelamente a contrato de prestação de serviço. STF. Plenário. ADI 5963, Rel.

Rosa Weber, julgado em 29/06/2020 (Info 992 – clipping)

A competência da União para legislar exclusivamente sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive

loterias, não obsta a competência material (administrativa) para a exploração dessas atividades pelos

entes estaduais ou municipais, nem a competência regulamentar dessa exploração. Os arts. 1º e 32, caput

e § 1º, do Decreto-Lei 204/1967 não foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988. STF. Plenário. ADPF

492/RJ, ADPF 493/DF e ADI 4986/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 30/9/2020 (Info 993).

É inconstitucional Lei estadual que, a pretexto de proteger a saúde da população, estabelece limites de

radiação para a instalação de antenas transmissoras de telefonia celular. Essa lei adentra na esfera de

competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações. A União, no exercício de suas

competências (art. 21, XI e art. 22, IV, da CF/88), editou a Lei nº 9.472/97, que, de forma nítida, atribui à ANATEL a

definição de limites para a tolerância da radiação emitida por antenas transmissoras. A União, por meio da Lei nº

11.934/2009, fixou limites proporcionalmente adequados à exposição humana a campos elétricos, magnéticos e

eletromagnéticos. Dessa forma, a presunção de que gozam os entes menores para, nos assuntos de interesse

comum e concorrente, legislarem sobre seus respectivos interesses (presumption against preemption) foi

nitidamente afastada por norma federal expressa (clear statement rule)

É inconstitucional norma estadual que dispõe sobre a implantação de instalações industriais destinadas à

produção de energia nuclear no âmbito espacial do território estadual. STF. Plenário. ADI 330/RS, Rel. Min.

Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Info 994).

É constitucional norma estadual que dispõe sobre a obrigatoriedade de rotulagem em produtos de

gêneros alimentícios destinados ao consumo humano e animal, que sejam constituídos ou produzidos a

partir de organismos geneticamente modificados, no percentual igual ou superior a 1%, no âmbito do Estado

federado. É o caso, por exemplo, da Lei nº 14.274/2010, do Estado de São Paulo. STF. Plenário. ADI 4619/SP, Rel.

Min. Rosa Weber, julgado em 9/10/2020 (Info 994)

São inconstitucionais normas estaduais que imponham obrigações de compartilhamento de dados com

órgãos de segurança pública às concessionárias de telefonia, por configurar ofensa à competência

privativa da União para legislar sobre telecomunicações (arts. 21, XI e 22, IV, da CF/88). STF. Plenário. ADI

5040/PI, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997)

É constitucional norma estadual que disponha sobre a exposição de produtos orgânicos em

estabelecimentos comerciais. STF. Plenário. ADI 5166/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/11/2020 (Info

997).

INFORMATIVOS 2020 - 28
É constitucional a Lei nº 5.751/98, do estado do Espírito Santo, de iniciativa parlamentar, que versa sobre a

responsabilidade do ente público por danos físicos e psicológicos causados a pessoas detidas por motivos

políticos. STF. Plenário. ADI 3738/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997)

É inconstitucional, na acepção formal, norma de iniciativa parlamentar que prevê a criação de órgão público e

organização administrativa, levando em conta iniciativa privativa do Chefe do Executivo – arts. 25 e 61, §

1º, II, alíneas “b” e “e”, da CF/88. STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info

998)

Os Estados-membros e o Distrito Federal têm competência legislativa para estabelecer regras de

postagem de boletos referentes a pagamento de serviços prestados por empresas públicas e privadas. STF.

Plenário. ARE 649379/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em

13/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 491) (Info 999).

É constitucional norma estadual que disponha sobre a obrigação de as operadoras de telefonia móvel e fixa

disponibilizarem, em portal da “internet”, extrato detalhado das chamadas telefônicas e serviços

utilizados na modalidade de planos “pré-pagos”. Trata-se de norma sobre direito do consumidor que

admite regulamentação concorrente pelos Estados-Membros, nos termos do art. 24, V, da Constituição

Federal. STF. Plenário. ADI 5724/PI, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,

julgado em 27/11/2020 (Info 1000).

É inconstitucional norma estadual que autoriza a suspensão, pelo prazo de 120 dias, do cumprimento de

obrigações financeiras referentes a empréstimos realizados e empréstimos consignados. Ao interferir nas

relações obrigacionais firmadas entre instituições de crédito e os tomadores de empréstimos, a lei adentrou em

matéria relacionada com direito civil e com política de crédito, assuntos que são de competência legislativa

privativa da União, nos termos do art. 22, I e VII, da CF/88. STF. Plenário. ADI 6495/RJ, Rel. Min. Ricardo

Lewandowski, julgado em 20/11/2020 (Info 1000)

É inconstitucional lei estadual que determina a suspensão temporária da cobrança das consignações

voluntárias contratadas por servidores públicos estaduais. STF. Plenário. ADI 6484, Rel. Roberto Barroso,

julgado em 05/10/2020

PODER LEGISLATIVO

Não é possível a recondução dos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal para o

mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente, dentro da mesma legislatura.

INFORMATIVOS 2020 - 29
Por outro lado, é possível a reeleição dos Presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal em caso

de nova legislatura.

Ex: o mandato de Presidente da Câmara e de Presidente do Senado é de 2 anos. Cada legislatura tem a duração

de 4 anos. Imagine que João foi eleito Deputado Federal para a legislatura de 2013 a 2016. Suponhamos que ele

foi escolhido para ser Presidente da Câmara no período de 2013-2014. Significa que João não poderá ser reeleito

como Presidente da Câmara para o biênio de 2015-2016. Isso porque seria uma reeleição dentro da mesma

legislatura.

Ex2: Pedro foi eleito Deputado Federal para a legislatura de 2013 a 2016. Suponhamos que ele foi escolhido para

ser Presidente da Câmara no período de 2015-2016. Em 2016, ele foi reeleito Deputado Federal para a

legislatura de 2017 a 2020. Significa que Pedro poderá ser novamente Presidente da Câmara para no biênio de

2017-2018. Isso porque seria uma reeleição para nova legislatura.

O fundamento para isso está no art. 57, § 4º da CF/88:

§ 4º Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da

legislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato de 2 (dois) anos,

vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente.

Foi proposta uma ADI com o objetivo de dar interpretação conforme e dizer que esse dispositivo foi derrogado

pela Emenda Constitucional nº 16/97, que permitiu uma reeleição para os cargos do Poder Executivo. O STF,

contudo, não concordou com a alegação e manteve a literalidade do art. 57, § 4º.

STF. Plenário. ADI 6524, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/12/2020.

É inconstitucional norma da Constituição Estadual que preveja a possibilidade de a Assembleia

Legislativa convocar o Presidente do Tribunal de Justiça ou o Procurador-Geral de Justiça para prestar

informações na Casa, afirmando que a sua ausência configura crime de responsabilidade. O art. 50 da

CF/88, norma de reprodução obrigatória, somente autoriza que o Poder Legislativo convoque autoridades do

Poder Executivo, e não do Poder Judiciário ou do Ministério Público. Não podem os Estados-membros ampliar o

rol de autoridades sujeitas à convocação pelo Poder Legislativo e à sanção por crime de responsabilidade, por

violação ao princípio da simetria e à competência privativa da União para legislar sobre o tema. STF. Plenário.

ADI 2911, Rel. Carlos Britto, julgado em 10/08/2006. STF. Plenário. ADI 5416, Rel. Gilmar Mendes, julgado em

03/04/2020 (Info 977).

IMUNIDADE PARLAMENTAR

O então Deputado Federal Wladimir Costa (SD-PA) proferiu discurso no Plenário da Câmara dos Deputados no

qual afirmou que determinados artistas seriam “bandidos”, “membros de quadrilha”, “verdadeiros ladrões”,

“verdadeiros vagabundos da Lei Rouanet”. Esses artistas ingressaram com queixa-crime contra o então

Deputado afirmando que ele teria cometido os crimes de difamação (art. 139) e injúria (art. 140 do Código

INFORMATIVOS 2020 - 30
Penal). O STF recebeu esta queixa-crime. O fato de o parlamentar estar na Casa legislativa no momento em

que proferiu as declarações não afasta a possibilidade de cometimento de crimes contra a honra, porque

ele depois divulgou essas ofensas na Internet. Outro argumento está no fato de que a inviolabilidade material

somente abarca as declarações que apresentem nexo direto e evidente com o exercício das funções

parlamentares. No caso concreto, embora tenha feito alusão à Lei Rouanet, o parlamentar nada acrescentou ao

debate público sobre a melhor forma de distribuição dos recursos destinados à cultura, limitando-se a proferir

palavras ofensivas à dignidade dos querelantes. A liberdade de expressão política dos parlamentares, ainda que

vigorosa, deve se manter nos limites da civilidade. STF. 1ª Turma. PET 7174/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes,

red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/3/2020 (Info 969).

PROCESSO LEGISLATIVO

É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que trate sobre isenção de custas judiciais.

Isso porque, os órgãos superiores do Poder Judiciário possuem reserva de iniciativa (competência privativa) para

apresentar os projetos de lei que tenham por objetivo tratar sobre redução das custas judiciais (artigos 98, § 2º,

e 99, caput e § 1º da CF).

STF. Plenário. ADI 3629, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 03/03/2020.

É possível o Chefe do Poder Executivo promulgar a parte incontroversa de projeto de lei que não foi

vetada.

É constitucional a promulgação, pelo Chefe do Poder Executivo, de parte incontroversa de projeto da lei que não

foi vetada, antes da manifestação do Poder Legislativo pela manutenção ou pela rejeição do veto, inexistindo

vício de inconstitucionalidade dessa parte inicialmente publicada pela ausência de promulgação da derrubada

dos vetos.

STF. Plenário. ARE RE 706103, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 27/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 595).

Surge constitucional lei de iniciativa parlamentar a criar conselho de representantes da sociedade civil,

integrante da estrutura do Poder Legislativo, com atribuição de acompanhar ações do Executivo. STF.

Plenário. RE 626946/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 1040) (Info

994).

MEDIDAS PROVISÓRIAS

Inexistindo comprovação da ausência de urgência, não há espaço para atuação do Poder Judiciário no

controle dos requisitos de edição de medida provisória pelo chefe do Poder Executivo. STF. Plenário. ADI

5599/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 23/10/2020 (Info 996)

INFORMATIVOS 2020 - 31
TRIBUNAIS DE CONTAS

A competência técnica do Tribunal de Contas do Estado, ao negar registro de admissão de pessoal, não se

subordina à revisão pelo Poder Legislativo respectivo.

No complexo feixe de atribuições fixadas ao controle externo, a competência desempenhada pelo Tribunal de

Contas não é, necessariamente, a de mero auxiliar do poder legislativo. A Constituição Federal lhes atribui

competência para fiscalizar atos do próprio poder legislativo.

A Câmara Municipal não detém competência para rever o ato do Tribunal de Contas do Estado que nega o

registro de admissão de pessoal.

A competência técnica do Tribunal de Contas do Estado, ao negar registro de admissão de pessoal, não se

subordina à revisão pelo Poder Legislativo respectivo.

Se fosse aceito que os Municípios, por meio de suas Câmaras Municipais, pudessem simplesmente rejeitar a

decisão do Tribunal de Contas, isso acabaria por subordinar a competência técnica das cortes de

contas ao poder legislativo que é também por elas fiscalizado.

STF. Plenário. RE 576920, Rel. Edson Fachin, julgado em 20/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 47).

É constitucional norma do Estado a fixar prazo para que o Tribunal de Contas atue nos processos

administrativos a ele submetidos.

STF. Plenário. ADI 5259, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15/12/2020.

É inconstitucional emenda à Constituição estadual que retira competência do Tribunal de Contas do

Estado para apreciar contas dos demais Poderes e órgãos autônomos.

Isso não impede que o Poder Legislativo possa fiscalizar as contas dos órgãos que o auxiliam. Em outras

palavras, isso não impede de o Poder Legislativo fiscalizar o Tribunal de Contas.

STF. Plenário. ADI 4978, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 07/12/2020.

A Constituição do Estado de São Paulo previu a seguinte regra:

Art. 151. O Tribunal de Contas do Município de São Paulo será composto por cinco Conselheiros e obedecerá, no

que couber, aos princípios da Constituição Federal e desta Constituição.

Parágrafo único. Aplicam-se aos Conselheiros do Tribunal de Contas do Município de São Paulo as normas

pertinentes aos Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado.

Para o STF, essa previsão não ofende a autonomia municipal nem viola o princípio da simetria. Se a

Constituição Federal prevê nove conselheiros para a composição do TCU e sete para composição dos tribunais

de contas dos estados, é razoável que um tribunal de contas municipal tenha um número inferior de

conselheiros. Desse modo, não se vislumbra nenhuma ofensa ao princípio da simetria. Vale ressaltar que essa

norma da Constituição Estadual não equipara os vencimentos dos conselheiros do Tribunal de Contas do

Município aos dos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. A fixação da remuneração dos conselheiros

INFORMATIVOS 2020 - 32
cabe ao Município (mesmo que em valor diverso do fixado para os conselheiros estaduais). STF. Plenário. ADI

346/SP e ADI 4776/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 3/6/2020 (Info 980).

É inconstitucional lei estadual, de origem (iniciativa) parlamentar, que discipline a organização e o

funcionamento do Tribunal de Contas estadual (TCE). Isso porque os Tribunais de Contas possuem reserva de

iniciativa (competência privativa) para apresentar os projetos de lei que tenham por objetivo tratar sobre a sua

organização ou o seu funcionamento (art. 96, II c/c arts. 73 e 75 da CF/88)

Os Tribunais de Contas, conforme reconhecido pela CF/88 e pelo STF, gozam das prerrogativas da autonomia e

do autogoverno, o que inclui, essencialmente, a iniciativa privativa para instaurar processo legislativo que

pretenda alterar sua organização e funcionamento. STF. Plenário. ADI 4191, Rel. Roberto Barroso, julgado em

22/05/2020 (Info 986 – clipping).

O TCU, por força do art. 71, VI, da CF/88, tem competência para fiscalizar o uso dos recursos federais

repassados a outros entes federados, como no caso de verbas federais repassadas ao Distrito Federal.

Vale ressaltar, contudo, que, diante da autonomia própria dos entes federados, a fiscalização, pelo TCU, dos

recursos federais repassados ao Distrito Federal não impede que o TCDF também faça a fiscalização da

aplicação desses mesmos recursos, até porque ele tem pleno e legítimo interesse na regular prestação dos

serviços de saúde no seu território. Assim, por força dos arts. 71 e 75 da Constituição Federal e do art. 78 da Lei

Orgânica do Distrito Federal, o Tribunal de Contas do Distrito Federal tem competência para fiscalizar a aplicação

de recursos federais repassados ao Distrito Federal. STJ. 1ª Turma. RMS 61.997-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves,

julgado em 16/06/2020 (Info 674)

PODER JUDICIÁRIO

Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, o servidor exonerado não possui o direito de

reingresso no cargo. Isso porque o atual ordenamento constitucional impõe a prévia aprovação em concurso

público como condição para o provimento em cargo efetivo da Administração Pública. O STF já declarou a

inconstitucionalidade de lei estadual que previa a possibilidade de o magistrado exonerado reingressar

nos quadros da magistratura: ADI 2983, Rel. Min. Carlos Velloso, julgado em 23/02/2005. O CNJ também já

expediu orientação normativa vinculante afirmando que não são possíveis formas de provimentos dos cargos

relacionados à carreira da Magistratura que não estejam explicitamente previstas na Constituição Federal nem

na LOMAN. Assim, o magistrado que pediu exoneração não tem direito de readmissão no cargo mesmo que

essa possibilidade esteja prevista em lei estadual. STJ. 2ª Turma. RMS 61.880-MT, Rel. Min. Mauro Campbell

Marques, julgado em 03/03/2020 (Info 666)

INFORMATIVOS 2020 - 33
Inexiste ilegalidade em portaria editada pelo Juiz Diretor do Foro da Comarca de Sete Quedas que restringiu o

ingresso de pessoas portando arma de fogo nas dependências do Fórum. STJ. 1ª Turma. RMS 38.090-MS, Rel.

Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

A promoção na magistratura por antiguidade precede a mediante remoção. STF. Plenário. RE 1037926, Rel.

Marco Aurélio, julgado em 16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 964) (Info 994).

O art. 62 da Constituição do Estado de São Paulo, ao restringir o universo dos possíveis candidatos aos órgãos de

cúpula do TJ/SP aos integrantes de seu órgão especial, é inconstitucional porque desrespeitou a autonomia

administrativa dos tribunais, consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88. O art. 102 da LOMAN (LC 35/79)

não foi recepcionado pela CF/88, considerando que não é compatível com a Constituição Federal a regra

segundo a qual apenas os Desembargadores mais antigos possam concorrer aos cargos diretivos dos tribunais.

Essa matéria, em razão da autonomia consagrada no art. 96, I, “a”, e no art. 99 da CF/88, deve ser remetida à

disciplina regimental de cada tribunal. STF. Plenário. ADI 3976/SP e MS 32451/DF, Rel. Min. Edson Fachin,

julgados em 25/6/2020 (Info 983).

É constitucional norma que inclui, entre as incumbências dos oficiais de justiça, a tarefa de “auxiliar os serviços

de secretaria da vara, quando não estiverem realizando diligência.” STF. Plenário. ADI 4853/MA, Rel. Min. Rosa

Weber, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

Não é possível o estabelecimento de subteto remuneratório para a magistratura estadual inferior ao

teto remuneratório da magistratura federal. A correta interpretação do art. 37, XI e § 12, da Constituição

Federal exclui a submissão dos membros da magistratura estadual ao subteto de remuneração. STF.

Plenário.ADI 3854/DF e ADI 4014/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 4/12/2020 (Info 1001)

A fixação de limite etário, máximo e mínimo, como requisito para o ingresso na carreira da magistratura

viola o disposto no art. 93, I, da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 5329/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio,

rel. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 14/12/2020 (Info 1002)

CNJ

O Conselho Nacional de Justiça pode proceder à revisão disciplinar de juízes e membros de tribunais

desde que observado o requisito temporal: processos disciplinares julgados há menos de 1 ano (art. 103-B,

§ 4º, V, da CF/88). Vale ressaltar que, depois de instaurada a revisão, não existe prazo para que o CNJ julgue o

procedimento. A Constituição Federal e o Regimento Interno do CNJ conferem legitimidade universal para

propositura da revisão disciplinar, que pode ser instaurada por provocação de terceiros e até mesmo de ofício.

As hipóteses de cabimento da revisão estão elencadas no art. 83 do Regimento Interno do CNJ. O inciso I prevê

INFORMATIVOS 2020 - 34
que cabe a revisão quando a decisão for contrária a texto expresso da lei. Se o Tribunal aplica a pena de censura

para um magistrado que praticou conduta grave, essa decisão enseja revisão disciplinar por ser contrária ao

texto expresso da lei. Isso porque, segundo o art. 44 da LC 35/79 (LOMAN) a pena de censura será aplicada “se a

infração não justificar punição mais grave”. STF. 2ª Turma. MS 30364/PA, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em

17/3/2020 (Info 970)

Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência exclusiva do STF processar e julgar,

originariamente, todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP proferidas no

exercício de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, § 2º,

da CF/88. STF. Plenário. Pet 4770 AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/11/2020 (Info 1000). STF.

Plenário. Rcl 33459 AgR/PE, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000). STF. Plenário.

ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

O art. 106 do Regimento Interno do CNJ prevê o seguinte: Art. 106. O CNJ determinará à autoridade recalcitrante,

sob as cominações do disposto no artigo anterior, o imediato cumprimento de decisão ou ato seu, quando

impugnado perante outro juízo que não o Supremo Tribunal Federal.

O STF afirmou que essa previsão é constitucional e decorre do exercício legítimo de poder normativo atribuído

constitucionalmente ao CNJ, que é o órgão formulador da política judiciária nacional. Assim, o CNJ pode

determinar à autoridade recalcitrante o cumprimento imediato de suas decisões, ainda que impugnadas perante

a Justiça Federal de primeira instância, quando se tratar de hipótese de competência originária do STF. STF.

Plenário. ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

É possível a intervenção de amicus curiae em processos subjetivos?

SIM, no entanto, de forma excepcional.

O ingresso de amicus curiae é previsto para as ações de natureza objetiva, sendo excepcional a admissão no

processo subjetivo quando a multiplicidade de demandas similares indicar a generalização do julgado a ser

proferido.

STJ. 2ª Turma. AgInt na PET no REsp 1700197/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 19/06/2018.

É imprescindível a demonstração, pela entidade pretendente a colaborar com a Corte, de que não está a

defender interesse privado, mas, isto sim, relevante interesse público

INFORMATIVOS 2020 - 35
Isso porque, não se trata de uma intervenção de terceiros, e sim de um ato de admissão informal de um

colaborador da corte.

STJ. 4ª Turma. EDcl no REsp 1733013/PR, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, julgado em 29/06/2020.

Cabe ADPF contra súmula.

É viável Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental em face de enunciado de Súmula de

Jurisprudência predominante editada pelo Tribunal Superior do Trabalho.

STF. Plenário ADPF 501-AgR, Rel. para acórdão Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 14/09/2020.

É possível aplicar a teoria do desvio de poder no plano das atividades legislativas a fim de declarar

inconstitucional lei imoderada e arbitraria.

A teoria do desvio de poder, quando aplicada ao plano das atividades legislativas, permite que se contenham

eventuais excessos decorrentes do exercício imoderado e arbitrário da competência institucional outorgada ao

Poder Público, pois o Estado não pode, no desempenho de suas atribuições, dar causa à instauração de

situações normativas que comprometam e afetem os fins que regem a prática da função de legislar.

Assim, dentro da perspectiva da extensão da teoria do desvio de poder ao plano das atividades legislativas,

deve-se reconhecer que o Estado não dispõe de competência para legislar ilimitadamente, de forma imoderada

e irresponsável, gerando, com o seu comportamento institucional, situações normativas de absoluta distorção e,

até mesmo, de subversão dos fins que regem o desempenho da função estatal.

STF. Plenário. ADI 2667, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 05/10/2020.

É cabível ação direta de inconstitucionalidade contra deliberação administrativa do Tribunal que determina o

pagamento de reajuste decorrente da conversão da URV em reais (“plano real”) aos magistrados e servidores.

Depois que a ADI foi proposta, e antes que fosse julgada, o TRT decidiu revogar essa deliberação administrativa.

Diante disso, indaga-se: o mérito da ação foi julgado? NÃO. Em decorrência da revogação da deliberação, o STF

julgou prejudicada a ADI, por perda superveniente de objeto. STF. Plenário. ADI 1244 QO-QO/SP, Rel. Min. Gilmar

Mendes, julgado em 19/12/2019 (Info 964).

Exige-se quórum de MAIORIA ABSOLUTA dos membros do STF para modular os efeitos de decisão proferida

em julgamento de recurso extraordinário repetitivo, com repercussão geral, no caso em que NÃO tenha

havido declaração de inconstitucionalidade da lei ou ato normativo.

Qual é o quórum para que o STF, no julgamento de recurso extraordinário repetitivo, com repercussão geral

reconhecida, faça a modulação dos efeitos da decisão?

• Se o STF declarou a lei ou ato inconstitucional: 2/3 dos membros.

• Se o STF não declarou a lei ou ato inconstitucional: maioria absoluta.

STF. Plenário. RE 638115 ED-ED/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/12/2019 (Info 964)

INFORMATIVOS 2020 - 36
Os Procuradores (do Estado, do Município, da ALE, da Câmara etc.) possuem legitimidade para a

interposição de recursos em ação direta de inconstitucionalidade. STF. 2ª Turma. RE 1126828 AgR/SP, rel.

orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

Novo julgado sobre o tema: "desde que o legitimado tenha outorgado poderes" (tal requisito não havia sido

exigido pela 2ª Turma do STF - RE 1126828 AgR/SP).

Procurador público possui capacidade postulatória para interpor recurso extraordinário em ação de controle

concentrado de constitucionalidade, desde que o legitimado tenha outorgado poderes.

STF. Plenário. RE 1068600 AgR-ED-EDv/RN, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 4/6/2020 (Info 980).

Ilegitimidade do amicus curiae para pleitear medida cautelar. O amicus curiae não tem legitimidade para

propor ação direta; logo, também não possui legitimidade para pleitear medida cautelar. Assim, a entidade que

foi admitida como amicus curiae em ADPF não tem legitimidade para, no curso do processo, formular

pedido para a concessão de medida cautelar. STF. Plenário. ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio,

red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/3/2020 (Info 970)

Relator não pode, de ofício, na ADPF que trata sobre o Estado de Coisas Inconstitucional dos presídios,

determinar medidas para proteger os presos do Covid-19. A decisão do Ministro Relator que, de ofício, na

ADPF que trata sobre o Estado de Coisas Inconstitucional no sistema prisional, determina medidas para proteger

os presos do Covid19 amplia indevidamente o objeto da ação. É certo que no controle abstrato de

constitucionalidade, a causa de pedir é aberta. No entanto, o pedido é específico. Nenhum dos pedidos da ADPF

347 está relacionado com as questões inerentes à prevenção do Covid-19 nos presídios. Não é possível,

portanto, a ampliação do pedido cautelar já apreciado anteriormente. A Corte está limitada ao pedido.

Aceitar a sua ampliação equivale a agir de ofício, sem observar a legitimidade constitucional para

propositura da ação. Ademais, em que pese a preocupação de todos em relação ao Covid-19 nas

penitenciárias, a medida cautelar, ao conclamar os juízes de execução, determina, fora do objeto da ADPF, a

realização de megaoperação para analisar detalhadamente, em um único momento, todas essas possibilidades

e não caso a caso, como recomenda o Conselho Nacional de Justiça. O STF entendeu que, neste momento, o

Poder Judiciário deve seguir as recomendações sobre a questão emitidas pelo Conselho Nacional de Justiça CNJ e

por portaria conjunta dos Ministérios da Saúde e da Justiça. Para evitar a disseminação do novo coronavírus nas

prisões, o CNJ recomendou a análise de situações de risco caso a caso.

A Recomendação 62/2020 do CNJ traz orientações aos Tribunais e aos magistrados quanto à adoção de medidas

preventivas contra a propagação do Covid-19 no âmbito dos sistemas de justiça penal e socioeducativo. STF.

Plenário. ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em

18/3/2020 (Info 970).

INFORMATIVOS 2020 - 37
O advogado que assina a petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade precisa de procuração com

poderes específicos. A procuração deve mencionar a lei ou ato normativo que será impugnado na ação.

Repetindo: não basta que a procuração autorize o ajuizamento de ADI, devendo indicar, de forma específica, o

ato contra o qual se insurge. Caso esse requisito não seja cumprido, a ADI não será conhecida. Vale ressaltar,

contudo, que essa exigência constitui vício sanável e que é possível a sua regularização antes que seja

reconhecida a carência da ação. STF. Plenário. ADI 6051, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 27/03/2020.

Lei estadual que dispõe sobre criação, incorporação, fusão ou desmembramento de municípios possui

natureza normativa e abstrata, desafiando o controle concentrado. STF. Plenário. ADI 1825, Rel. Min. Luiz

Fux, julgado em 15/04/2020 (Info 978).

Os procuradores públicos têm capacidade postulatória para interpor recursos extraordinários contra

acórdãos proferidos em sede de ação de controle concentrado de constitucionalidade, nas hipóteses em

que o legitimado para a causa outorgue poderes aos subscritores das peças recursais. STF. Plenário. RE 1068600

AgR-ED-EDv/RN, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 4/6/2020 (Info 980)

O aditamento à petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade para que sejam incluídos novos

dispositivos legais somente é possível nas hipóteses em que a inclusão da nova impugnação:

a) dispense a requisição de novas informações e manifestações; e

b) não prejudique o cerne da ação.

Assim, por exemplo, se o autor, depois que o processo já está em curso, pede a inclusão no objeto da ADI de

novos dispositivos legais que ampliam o escopo da ação, esse aditamento deve ser indeferido porque isso

exigiria que novos pedidos de informações à Assembleia Legislativa ou ao Congresso Nacional, bem como novas

manifestações da Advocacia-Geral da União e da Procuradoria-Geral da República, o que violaria os princípios da

economia e da celeridade processuais. Ademais, a inclusão dos dispositivos prejudicaria o objeto da ação direta,

na medida em que ampliaria o seu escopo. STF. Plenário. ADI 1926, Rel. Roberto Barroso, julgado em 20/04/2020

(Info 980 – clipping).

Cabe ADPF contra o conjunto de decisões judiciais que determinam medidas de constrição judicial em desfavor

do Estado-membro, das Caixas Escolares ou das Unidades Descentralizadas de Execução da Educação UDEs e

que recaiam sobre verbas destinadas à educação. STF. Plenário. ADPF 484/AP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em

4/6/2020 (Info 980).

É recorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae. É possível a impugnação

recursal por parte de terceiro, quando denegada sua participação na qualidade de amicus curiae. STF. Plenário.

ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/8/2020 (Info 985).

INFORMATIVOS 2020 - 38
Vale ressaltar que existem decisões em sentido contrário e que o tema não está pacificado. Nesse sentido:

Tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do amicus curiae é irrecorrível

(STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 17/10/2018.

Info 920).

A pessoa física não tem representatividade adequada para intervir na qualidade de amigo da Corte em ação

direta. STF. Plenário. ADI 3396 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/8/2020 (Info 985).

A CF/88 e a lei preveem que a “entidade de classe de âmbito nacional” possui legitimidade para propor ADI, ADC

e ADPF. A jurisprudência do STF, contudo, afirma que apenas as entidades de classe com associados ou

membros em pelo menos 9 (nove) Estados da Federação dispõem de legitimidade ativa para ajuizar ação

de controle abstrato de constitucionalidade. Assim, não basta que a entidade declare no seu estatuto ou ato

constitutivo que possui caráter nacional. É necessário que existam associados ou membros em pelo menos 9

(nove) Estados da Federação. Isso representa 1/3 dos Estados-membros/DF. Trata-se de um critério objetivo

construído pelo STF com base na aplicação analógica da Lei Orgânica dos Partidos Políticos (art. 7º, § 1º, da Lei nº

9.096/95). STF. Plenário. ADI 3287, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Ricardo Lewandowski, julgado em

05/08/2020 (Info 988 – clipping)

Não há impedimento, nem suspeição de ministro, nos julgamentos de ações de controle concentrado,

exceto se o próprio ministro firmar, por razões de foro íntimo, a sua não participação. STF. Plenário. ADI

6362/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 2/9/2020 (Info 989)

A entidade que não representa a totalidade de sua categoria profissional não possui legitimidade ativa

para ajuizamento de ações de controle concentrado de constitucionalidade. Por esse motivo, a Federação

Nacional do Fisco Estadual e Distrital - FENAFISCO não tem legitimidade para a propositura de ADI na medida em

que constitui entidade representativa de apenas parte de categoria profissional, já que não abrange os auditores

fiscais federais e municipais. STF. Plenário. ADI 6465 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em

19/10/2020 (Info 995)

Em tese, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade formal no processo constituinte

reformador quando eivada de vício a manifestação de vontade do parlamentar no curso do devido

processo constituinte derivado, pela prática de ilícitos que infirmam a moralidade, a probidade

administrativa e fragilizam a democracia representativa. Caso concreto: ADEPOL ajuizou ADI pedindo a

declaração de inconstitucionalidade formal da EC 41/2003 e da EC 47/2005 sob o argumento de que elas foram

aprovadas com votos “comprados” de Deputados Federais condenados no esquema do “Mensalão” (AP 470). O

STF afirmou que, sob o aspecto formal, as emendas constitucionais devem respeitar o devido processo

legislativo, que inclui, entre outros requisitos, a observância dos princípios da moralidade e da probidade. Assim,

INFORMATIVOS 2020 - 39
é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade formal no processo de reforma constituinte quando

houver vício de manifestação de vontade do parlamentar, pela prática de ilícitos. Porém, para tanto, é necessária

a demonstração inequívoca de que, sem os votos viciados pela ilicitude, o resultado teria sido outro. No caso,

apenas sete Deputados foram condenados pelo Supremo na AP 470, por ficar comprovado que eles

participaram do esquema de compra e venda de votos e apoio político conhecido como Mensalão. Portanto, o

número comprovado de “votos comprados” não é suficiente para comprometer as votações das ECs 41/2003 e

47/2005. Ainda que retirados os votos viciados, permanece respeitado o rígido quórum estabelecido na

Constituição Federal para aprovação de emendas constitucionais, que é 3/5 em cada casa do Congresso

Nacional. STF. Plenário. ADI 4887/DF, ADI 4888/DF e ADI 4889/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/11/2020

(Info 998).

CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO

O afastamento de norma legal por órgão fracionário, de modo a revelar o esvaziamento da eficácia do

preceito, implica contrariedade à cláusula de reserva de plenário e ao Enunciado 10 da Súmula

Vinculante.

Caso concreto: a 4ª Turma do TRF da 1ª Região, ou seja, um órgão fracionário do TRF1, ao julgar apelação,

permitiu que uma empresa comercializasse determinada espécie de cigarro mesmo isso sendo contrário às

regras do Decreto nº 7.212/2010. Embora não tenha declarado expressamente a inconstitucionalidade do

Decreto, a 4ª Turma afirmou que ele seria contrário ao princípio da livre concorrência, que é previsto no art. 170,

IV, da CF/88. Ao desobrigar a empresa de cumprir as regras do decreto afirmando que ele violaria o princípio da

livre iniciativa, o que a 4ª Turma fez foi julgar o decreto inconstitucional. Ocorre que isso deveria ter sido feito

respeitando-se a cláusula de reserva de plenário, conforme explicitado na SV 10:

Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de

tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder

Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte. STF. 1ª Turma. RE 635088 AgR-segundo/DF, rel. Min. Marco

Aurélio, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

ADVOCACIA PÚBLICA

As Procuradorias de Estado, por integrarem os respectivos Poderes Executivos, não gozam de autonomia

funcional, administrativa ou financeira, uma vez que a administração direta é una e não comporta a criação

de distinções entre órgãos em hipóteses não contempladas explícita ou implicitamente pela Constituição

Federal. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020

INFORMATIVOS 2020 - 40
A garantia da inamovibilidade conferida pela Constituição Federal aos magistrados, aos membros do

Ministério Público e aos membros da Defensoria Pública (arts. 93, VIII; 95, II; 128, § 5º, b; e 134, parágrafo

único) não pode ser estendida aos procuradores de estado. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em

15/04/2020.

Os princípios institucionais e as prerrogativas funcionais do Ministério Público e da Defensoria Pública

não podem ser estendidos às Procuradorias de Estado, porquanto as atribuições dos procuradores de estado

– sujeitos que estão à hierarquia administrativa – não guardam pertinência com as funções conferidas aos

membros daquelas outras instituições. STF. Plenário. ADI 5029, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

A Procuradoria-Geral do Estado é o órgão constitucional e permanente ao qual se confiou o exercício da

advocacia (representação judicial e consultoria jurídica) do Estado-membro (art. 132 da CF/88). A parcialidade é

inerente às suas funções, sendo, por isso, inadequado cogitar-se independência funcional, nos moldes da

Magistratura, do Ministério Público ou da Defensoria Pública (art. 95, II; art. 128, § 5º, I, b; e art. 134, § 1º, da

CF/88). STF. Plenário. ADI 1246, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/04/2019.

É inconstitucional lei estadual que preveja que servidor de autarquia (no caso, era Técnico Superior do DETRAN)

será responsável por:

• representar a entidade “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse da autarquia”.

• praticar “todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto, exercer as suas

funções profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos Advogados do Brasil OAB”. Tais

previsões violam o “princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e do Distrito Federal”,

insculpido no art. 132 da CF/88.

A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria paralela, atribuiu ao cargo de Técnico

Superior do Detran/ES, com formação em Direito, diversas funções privativas de advogado. Ao assim agir,

conferiu algumas atribuições de representação jurídica do DETRAN a pessoas estranhas aos quadros da

Procuradoria-Geral do Estado, com violação do art. 132, caput, da CF/88. O STF decidiu modular os efeitos da

decisão para:

• manter os cargos em questão, excluídas as atribuições judiciais inerentes às procuradorias;

• declarar a validade dos atos praticados (ex: contestações, recursos etc.) até a data do julgamento, com base na

teoria do funcionário de fato.

ATENÇÃO. Por outro lado, é válido que esses servidores façam a atuação jurídica no âmbito interno da

autarquia, sobretudo em atividades de compliance, tais como conceber e formular medidas e soluções de

otimização, fiscalização e auditoria (exs: interpretar textos e instrumentos legais, elaborar pareceres sobre

questões jurídicas que envolvam as atividades da entidade, elaborar editais, contratos, convênios etc.). Essas

atribuições podem sim ser exercidas* pelos Técnicos Superiores do DETRAN, sem que isso ofenda o princípio da

INFORMATIVOS 2020 - 41
unicidade da representação judicial. O STF entendeu que não se pode deslocar qualquer atuação técnico-jurídica

da autarquia para a PGE, porque esta não conseguirá fazer frente a essa gama de trabalho, sob pena de ter suas

atividades inviabilizadas. STF. Plenário. ADI 5109/ES, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/12/2018 (Info 927).

No dia 04/06/2020, o STF julgou embargos de declaração opostos neste processo e fez os seguintes acréscimos:

• também são inconstitucionais os dispositivos da lei que preveem que o Técnico Superior do DETRAN possa

“apresentar recursos em qualquer instância”, “comparecer às audiências e outros atos para defender os direitos

do órgão” e “promover medidas administrativas e judiciais para proteção dos bens e patrimônio do DETRAN-ES”;

• a declaração de inconstitucionalidade parcial do ato normativo abrange as atribuições jurídicas consultivas do

cargo de Técnico Superior que sejam privativas de Procurador do Estado. Assim, as atribuições de “elaborar

estudos de pareceres sobre questões jurídicas que envolvam as atividades do DETRAN-ES; elaborar editais,

contratos, convênios, acordos e ajustes celebrados pela autarquia, com a emissão de parecer” devem ser

exercidas sob supervisão de Procurador do Estado do Espírito Santo. * Com base no que foi completado no

julgamento dos embargos, conclui-se que as atribuições jurídicas consultivas dos ocupantes do cargo de Técnico

Superior devem ser obrigatoriamente exercidas sob a supervisão de Procurador do Estado, por ser esta a

interpretação que melhor prestigia o art. 132 da CF/88 e a jurisprudência do STF. STF. Plenário. ADI 5109

ED-segundos/ES, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/6/2020 (Info 980).

A percepção de honorários de sucumbência pelos advogados públicos não representa ofensa à

determinação constitucional de remuneração exclusiva mediante subsídio (arts. 39, § 4º, e 135 da CF/88).

O art. 39, § 4º, da Constituição Federal, não constitui vedação absoluta de pagamento de outras verbas além do

subsídio. Os advogados públicos podem receber honorários sucumbenciais, mas, como eles recebem os

valores em função do exercício do cargo, esse recebimento precisa se sujeitar ao regime jurídico de

direito público. Por essa razão, mesmo sendo compatível com o regime de subsídio, sobretudo quando

estruturado como um modelo de remuneração por performance, com vistas à eficiência do serviço público, a

possibilidade de advogados públicos perceberem verbas honorárias sucumbenciais não afasta a incidência

do teto remuneratório estabelecido pelo art. 37, XI, da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6053, Rel.

Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 22/06/2020 (Info 985 – clipping).

O entendimento acima vale tanto para os advogados públicos federais como também para os Procuradores do

Estado, do DF e do Município. Nesse sentido: É constitucional o pagamento de honorários sucumbenciais

aos advogados públicos, observando-se, porém, o limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da

Constituição. STF. Plenário. ADI 6159 e ADI 6162, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 25/08/2020.

Para que o Procurador do Estado possa propor ação civil pública (ex: ação civil pública de improbidade

administrativa), não é necessária autorização do Governador do Estado. No entanto, é indispensável a

INFORMATIVOS 2020 - 42
anuência do Procurador-Geral do Estado. STF. 1ª Turma. ARE 1165456 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio,

red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/9/2020 (Info 989).

É constitucional o pagamento de honorários sucumbenciais aos advogados públicos, observando-se,

porém, o limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição. STF. Plenário. ADI 6159 e ADI 6162, Rel.

Min. Roberto Barroso, julgados em 25/08/2020.

É constitucional a percepção de honorários de sucumbência por procuradores de estados-membros,

observado o teto previsto no art. 37, XI, da Constituição Federal no somatório total às demais verbas

remuneratórias recebidas mensalmente. STF. Plenário. ADI 6135/GO, ADI 6160/AP, ADI 6161/AC, ADI 6169/MS,

ADI 6177/PR e ADI 6182/RO, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 19/10/2020 (Info 995).

É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função para

Defensores Públicos e Procuradores do Estado. Constituição estadual não pode atribuir foro por prerrogativa

de função a autoridades diversas daquelas arroladas na Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6501 Ref-MC/PA,

ADI 6508 Ref-MC/RO, ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 RefMC/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em

20/11/2020 (Info 1000)

DEFENSORIA PÚBLICA

É inviável o acolhimento do requerimento formulado pela DPU para assistir parte em processo que

tramita no STJ nas hipóteses em que a Defensoria Pública Estadual atuante possui representação em

Brasília ou aderiu ao portal de intimações eletrônicas. O STJ indeferiu pedido da DPU para, em substituição à

Defensoria Pública de Alagoas, atuar em recurso especial sob o argumento de que a Defensoria Estadual não

possui representação em Brasília. Isso porque, embora a DPE/AL não possua espaço físico em Brasília, ela aderiu

ao Portal de Intimações Eletrônicas do STJ e, portanto, pode atuar normalmente no processo a partir de sua

sede local.

A DPU só pode atuar nos processos das Defensorias Públicas estaduais se a respectiva Defensoria Pública

estadual:

• não tiver representação em Brasília; e

• não tiver aderido ao Portal de Intimações Eletrônicas do STJ. STJ. 5ª Turma. PET no AREsp 1.513.956-AL, Rel.

Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 17/12/2019 (Info 664)

As Constituições estaduais não podem ampliar a excepcionalidade admitida pelo art. 22 do ADCT da

CF/88. O art. 15 do ADCT da CE/SE ampliou o limite temporal de excepcionalidade previsto pelo art. 22 do ADCT

INFORMATIVOS 2020 - 43
da CF/88 e, por essa razão, feriu a regra do concurso público (art. 37, II, da Constituição Federal). O art. 22 do

ADCT criou, de modo excepcional, uma forma derivada de investidura em cargo público. Trata-se de uma

exceção à regra geral do concurso público e, portanto, não pode ser ampliada pelo constituinte estadual.

STF. Plenário. ADI 5011, Rel. Edson Fachin, julgado em 08/06/2020 (Info 984)

Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168 da CF/88. O

Governador do Estado é obrigado a efetuar o repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 20 de cada

mês, da integralidade dos recursos orçamentários destinados à Defensoria Pública estadual pela Lei de

Diretrizes Orçamentárias (LDO) para o exercício financeiro, inclusive quanto às parcelas já vencidas, assim

também em relação a eventuais créditos adicionais destinados à instituição. STF. Plenário. ADPF 384 Ref-MC/MG,

Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/8/2020 (Info 985).

É dever constitucional do Poder Executivo o repasse, sob a forma de duodécimos e até o dia 20 de cada

mês (art. 168 da CRFB/88), da integralidade dos recursos orçamentários destinados a outros Poderes e

órgãos constitucionalmente autônomos, como o Ministério Público e a Defensoria Pública, conforme previsão da

respectiva Lei Orçamentária Anual. STF. Plenário. ADPF 339/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/5/2016 (Info

826).

Havendo convênio entre a Defensoria e a OAB possibilitando a atuação dos causídicos quando não

houver defensor público para a causa, os honorários podem ser executados nos próprios autos, mesmo

se o Estado não tiver participado da ação de conhecimento. Caso concreto: advogado atuou como defensor

dativo em ação de alimentos. Esse advogado atuou porque na localidade não há Defensoria Pública e existe um

convênio com a OAB para que esse serviço seja realizado por advogados que receberão honorários pagos pelo

Estado. Na sentença, o magistrado arbitrou a verba honorária conforme disposto na tabela do convênio. Porém,

o Estado pagou só uma parte. Neste caso, o STJ afirmou que o advogado poderá executar (cobrar) os honorários

do Estado, nos próprios autos, mesmo o Estado não tendo participado da ação de conhecimento. Se for exigido

que os advogados promovam uma ação específica contra a Fazenda Pública para poderem receber seus

honorários, isso fará com que eles sejam muito resistentes em aceitar a função de advogado dativo,

porque terão de trabalhar não só na ação para a qual foram designados, mas também em outra ação que

terão de propor contra a Fazenda Pública. O fato de o Estado não ter participado da lide na ação de

conhecimento não impede que ele seja intimado a pagar os honorários, que são de sua responsabilidade

em razão de convênio celebrado entre a Defensoria Pública e a Ordem dos Advogados do Brasil, em

cumprimento de sentença. STJ. Corte Especial. EREsp 1.698.526-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Rel. Acd. Min.

Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 05/02/2020 (Info 673).

É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função para

Defensores Públicos e Procuradores do Estado. Constituição estadual não pode atribuir foro por prerrogativa

INFORMATIVOS 2020 - 44
de função a autoridades diversas daquelas arroladas na Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6501 Ref-MC/PA,

ADI 6508 Ref-MC/RO, ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 RefMC/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em

20/11/2020 (Info 1000)

MINISTÉRIO PÚBLICO

Se o membro do MP ingressou na instituição após a CF/88, ele não pode exercer atividade político

partidária mesmo que o ingresso tenha ocorrido antes da EC 45/2004.

Não há possibilidade de filiação político-partidária, de exercício de cargo eletivo e de função no âmbito do Poder

Executivo, por membros do Ministério Público que ingressaram na carreira após o regime jurídico instaurado

pela Constituição Federal de 1988.

A vedação ao exercício de atividade político partidária aos membros do Ministério Público constitui causa

absoluta de inelegibilidade, impedindo a filiação a partidos políticos e a disputa de qualquer cargo eletivo, salvo

se estiverem aposentados ou exonerados, independentemente de o ingresso ter sido após a EC 45/04 ou entre

essa e a promulgação do texto constitucional.

Ao membro do Ministério Público é vedado exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função

pública, salvo uma de magistério.

STF. Plenário. ADI 2534, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em

24/08/2020.

O membro do Ministério Público pode participar de Conselhos da Administração Pública (órgãos com

atribuição legal para se manifestar, em caráter deliberativo ou consultivo, sobre a formulação de políticas

públicas de interesse social)?

A participação em Conselhos da Administração Pública – órgãos com atribuição legal para se manifestar, em

caráter deliberativo ou consultivo, sobre a formulação de políticas públicas de interesse social – é compatível

com as atribuições previstas pela Constituição Federal e pela Lei nº 8.625/93 para o Ministério Público, desde

que:

a) a representação do Ministério Público seja exercida por membro nato, indicado pelo Procurador-Geral de

Justiça;

b) a participação desse membro ocorra a título de exercício das atribuições institucionais do Ministério Público; e

c) vedada a percepção de remuneração adicional. 4. Ação Direta julgada parcialmente procedente.

STF. Plenário. ADI 3161, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 13/10/2020.

INFORMATIVOS 2020 - 45
A avocação, pelo Procurador-Geral de Justiça, de funções afetas a outro membro do Ministério Público,

prevista no art. 10, IX, “g”, da LONMP, depende da concordância deste e da deliberação (prévia à

avocação e posterior à aceitação pelo promotor natural) do Conselho Superior respectivo.

STF. Plenário. ADI 2854, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em

13/10/2020.

São constitucionais os arts. 44, 77, caput e parágrafo único, e 80 da Lei 8.625/93 – LONMP.

1) Funções diretivas no próprio órgão, em entidades de representação de classe e a constitucionalidade do art.

44, parágrafo único, da LONMP:

O artigo 128, § 5º, II, d, da Constituição da República veda o exercício, ainda que em disponibilidade, de qualquer

outra função pública, salvo uma de magistério. Ressalva à atividade desenvolvida no âmbito de abrangência da

própria Instituição. Em sendo assim, é possível o membro do Parquet manter vínculos de confiança, desde que

na própria administração superior da Instituição.

O art. 44, parágrafo único, da LONMP ressalvou a vedação de atividade desenvolvida no âmbito da própria

instituição, ou seja, na sua administração superior, nos centros de estudo e nas entidades de representação. A

contrario sensu, vedado é o desempenho de atividades em cargos externos ao próprio Ministério Público. Logo,

o art. 44, parágrafo único, da LONMP é constitucional.

2) Afastamento da carreira e a constitucionalidade do art. 75, caput e parágrafo único, da LONMP:

REGRA: não há qualquer possibilidade de que um membro do Ministério Público sujeito à proibição do art. 128,

§ 5°, II, “d”, da Constituição Federal venha a ocupar cargo, emprego ou função de nível equivalente ou maior na

Administração Direta ou Indireta:

EXCEÇÃO: a referida regra constitucional é excepcionada apenas no caso

a) do exercício de uma função de magistério, ou

b) na hipótese de que o membro do Ministério Público, admitido antes da promulgação da Constituição de 1988,

tenha feito a opção pelo regime jurídico anterior, conforme o art. 29, § 3º, do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias – ADCT.

3) Autonomia federativa e a constitucionalidade do art. 80 da LONMP:

O artigo 80 da LONMP, ao prever que “Aplicam-se aos Ministérios Públicos dos Estados, subsidiariamente, as

normas da Lei Orgânica do Ministério Público da União”, manteve plena a competência legislativa dos Estados.

Disposição da LONMP, como norma geral para os Estados, que determina apenas subsidiariamente a aplicação a

Lei Orgânica do Ministério Público da União.

STF. Plenário. ADI 2612, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 23/11/2020.

INFORMATIVOS 2020 - 46
Ação Civil de perda de cargo de Promotor de Justiça cuja causa de pedir não esteja vinculada a ilícito

capitulado na Lei nº 8.429/92 deve ser julgada pelo Tribunal de Justiça. STJ. 2ª Turma. REsp 1.737.900-SP, Rel.

Min. Herman Benjamin, julgado em 19/11/2019 (Info 662).

O art. 227, VIII, da LC 75/93 prevê que os membros do MPU terão direito ao pagamento de auxílio-moradia,

desde que estejam em uma lotação considerada particularmente difícil ou onerosa. Esse dispositivo legal

autoriza que ato do PGR imponha outras restrições ao recebimento do auxílio-moradia, como é o caso de prazo

máximo de duração do benefício. Desse modo, a estipulação de prazo de duração para o recebimento do

auxílio-moradia não ofende o princípio da legalidade e está em harmonia com o regime de subsídio, em

parcela única, previsto no art. 39, § 4º e no art. 128, § 5º, I, “c”, da CF/88. A fixação de restrição temporal para

o recebimento do auxílio-moradia está de acordo com o princípio da razoabilidade, pois o auxílio-moradia tem

caráter provisório e precário, não devendo se dilatar eternamente no tempo. O recebimento do aludido

benefício sem limitação temporal configuraria verdadeira parcela remuneratória. STF. 2ª Turma. MS

26415/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/3/2020 (Info 970)

Lei Orgânica estadual do Ministério Público pode atribuir privativamente ao Procurador-Geral de Justiça

a competência para interpor recursos dirigidos ao STF e STJ. Não há inconstitucionalidade formal nessa

previsão. Isso porque a Lei federal nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público - LONMP) não

pormenoriza a atuação dos Procuradores-Gerais de Justiça e dos Procuradores de Justiça em sede recursal e, por

expressa dicção do caput de seu artigo 29, o rol de atribuições dos Procuradores-Gerais de Justiça não é

exaustivo, de forma que as leis orgânicas dos Ministérios Públicos estaduais podem validamente ampliar tais

atribuições. Além disso, não há ofensa aos princípios do promotor natural e da independência funcional

dos membros do Parquet, uma vez que:

• se trata de mera divisão de atribuições dentro do Ministério Público estadual, veiculada por meio de lei;

• e não se possibilita a ingerência do PGJ nas atividades dos Procuradores de Justiça, que conservam

plena autonomia no exercício de seus misteres legais. STF. Plenário. ADI 5505, Rel. Luiz Fux, julgado em

15/04/2020.

É constitucional a Resolução 27/2008, do CNMP, que proíbe que os servidores do Ministério Público exerçam

advocacia. O CNMP possui capacidade para a expedição de atos normativos autônomos (art. 130-A, § 2º, I, da

CF/88), desde que o conteúdo disciplinado na norma editada se insira no seu âmbito de atribuições

constitucionais. A Resolução 27/2008 do CNMP tem por objetivo assegurar a observância dos princípios

constitucionais da isonomia, da moralidade e da eficiência no Ministério Público, estando, portanto, abrangida

pelo escopo de atuação do CNMP (art. 130-A, § 2º, II). A liberdade de exercício profissional não é um direito

absoluto, devendo ser interpretada dentro do sistema constitucional como um todo. STF. Plenário. ADI 5454, Rel.

Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info 978).

INFORMATIVOS 2020 - 47
Os Ministérios Públicos dos Estados podem atuar, diretamente, na condição de partes, perante os

Tribunais Superiores, em razão da não existência de vinculação ou subordinação entre o Parquet

Estadual e o Ministério Público da União. Tal conclusão, entretanto, não pode ser aplicada ao Ministério

Público do Trabalho, considerando que o MPT é sim órgão vinculado ao Ministério Público da União, conforme

dispõe o art. 128, I, “b”, da Constituição Federal. O MPT integra a estrutura do MPU, atuando perante o Tribunal

Superior do Trabalho, não tendo legitimidade para funcionar no âmbito do STJ, tendo em vista que esta

atribuição é reservada aos Subprocuradores-gerais da República integrantes do quadro do Ministério Público

Federal. STJ. 1ª Seção. AgRg no CC 122.940-MS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 07/04/2020 (Info 670).

A Constituição Estadual não pode determinar que membro do Ministério Público participe de banca de concurso

público relacionado com cargos externos aos quadros da instituição. Essa não é uma atribuição compatível com

as finalidades constitucionais do Ministério Público. Assim, não pode o ato impugnado exigir a participação do

Ministério Público nas bancas de concursos para os cargos e empregos públicos do Estado. STF. Plenário. ADI

3841, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 16/06/2020 (Info 985 – clipping).

Compete ao CNMP dirimir conflitos de atribuições entre membros do MPF e de Ministérios Públicos

estaduais. STF. Plenário. ACO 843/SP, Rel. para acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 05/06/2020. STF.

Plenário. Pet 4891, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 16/06/2020 (Info 985

– clipping).

Cursos de pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) podem ser considerados como tempo de

atividade jurídica para fins de concurso público?

• Para os concursos da Magistratura: NÃO. Isso porque a Resolução nº 75/2009-CNJ não prevê.

• Para os concursos do Ministério Público: SIM. Existe previsão nesse sentido na Resolução nº 40/2009-CNMP.

É constitucional a previsão contida na Resolução nº 40/2009, do CNMP, no sentido de que os cursos de

pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) podem ser considerados como tempo de atividade

jurídica para fins de concurso público no âmbito do Ministério Público. Se o bacharel em Direito concluir uma

especialização, mestrado ou doutorado, ele terá adquirido um conhecimento que extrapola os limites

curriculares da graduação em Direito. Em sua atividade regulamentadora, o Conselho Nacional do Ministério

Público está, portanto, autorizado a densificar o comando constitucional de exigência de “atividade jurídica” com

cursos de pós-graduação. STF. Plenário. ADI 4219, Rel. Cármen Lúcia, Relator p/ Acórdão Edson Fachin, julgado

em 05/08/2020 (Info 993 – clipping).

SEGURANÇA PÚBLICA

INFORMATIVOS 2020 - 48
É inconstitucional lei estadual que criou a figura de policial militar temporário.

O Programa de militares estaduais temporários da brigada militar, criado por lei estadual, não tem amparo na

legislação nacional que cuida da organização das Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares dos

Estados, dos Território e do Distrito Federal (Decreto-lei nº 667/69, Decreto nº 88.777/86 e Lei nº 10.029/2000).

Ao cuidar de matéria de competência privativa da União a Lei estadual afrontou o art. 22, inc. XXI, da

Constituição da República:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: XXI - normas gerais de organização, efetivos, material

bélico, garantias, convocação, mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e dos corpos de

bombeiros militares;

A falta de contingente policial para combater a violência não viabiliza a contratação temporária prevista no art.

37, IX, da Constituição porque a demanda não tem contornos de temporariedade, tampouco decorre de

interesse público é excepcional.

Privilegiar soluções provisórias para problemas permanentes desatende o comando constitucional e agrava as

dificuldades enfrentadas pela sociedade.

As atividades a serem desenvolvidas pelos policiais temporários assemelham-se àquelas exercidas pelos policiais

de carreira.

A exigência de concurso público para o preenchimento de cargos e funções nos quadros da Brigada Militar do

Estado é medida que viabilizará o acesso democrático ao serviço público, em cumprimento aos princípios da

legalidade, da igualdade, da impessoalidade, da eficiência e, também, da moralidade.

STF. Plenário. ADI 3222, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 18/08/2020.

Não é possível que os Estados-membros criem órgão de segurança pública diverso daqueles que estão

previstos no art. 144 da CF/88. Os Estados-membros e o Distrito Federal devem seguir o modelo federal. O art.

144 da Constituição aponta os órgãos incumbidos do exercício da segurança pública, sendo esse rol taxativo.

Assim, a Constituição Estadual não pode prever a criação de Polícia Científica como órgão integrante da

segurança pública. Vale ressaltar que nada impede que a Polícia Científica, criada pelo Estado-membro para ser

o órgão responsável pelas perícias, continue a existir e a desempenhar suas funções, sem estar,

necessariamente, vinculada à Polícia Civil. No entanto, deve-se afastar qualquer interpretação que lhe outorgue

caráter de órgão de segurança pública. STF. Plenário. ADI 2575/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/6/2020

(Info 983).

A Constituição Federal, nos incisos do art. 144, estabelece quais são os órgãos de segurança pública. Esse rol é

taxativo e de observância obrigatória pelo legislador infraconstitucional. Como consequência, os

Estados-membros não podem atribuir o exercício de atividades de segurança pública a órgãos diversos

daqueles previstos na Constituição Federal. Assim, a lei distrital, ao estabelecer que os agentes de trânsito

INFORMATIVOS 2020 - 49
exercem atividades de segurança pública, possui vício de inconstitucionalidade material porque violou o rol

taxativo dos órgãos encarregados da segurança pública previsto no art. 144 da CF/88. Compete aos órgãos e

agentes de trânsito estaduais, distritais e municipais o exercício da “segurança viária”, que compreende a

educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao

cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente (art. 144, § 10, da CF/88). As atividades de segurança viária não

se confundem com “segurança pública”. Compete à União, nos termos do art. 21, VI; e 22, I, da Constituição, a

definição dos requisitos para a concessão do porte de arma de fogo e dos possíveis titulares de tal direito,

inclusive no que se refere a servidores públicos estaduais ou municipais, em prol da uniformidade da

regulamentação do tema no país, questão afeta a políticas de segurança pública de âmbito nacional. Desse

modo, é inconstitucional a lei distrital que disponha sobre porte de arma de fogo, criando hipóteses não

previstas na legislação federal de regência, notadamente a Lei federal nº 10.826/2003 (Estatuto do

Desarmamento). STF. Plenário. ADI 3996, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020 (Info 987 – clipping).

SEGURIDADE SOCIAL

Os Estados da Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte ajuizaram ação cível

originária, em face da União, com pedido de tutela provisória, questionando a redução de recursos do Programa

Bolsa Família destinados à Região Nordeste. O Min. Marco Aurélio (relator) deferiu medida cautelar

determinando que:

a) a União disponibilize dados que justifiquem a concentração de cortes de benefícios do Programa Bolsa Família

na Região Nordeste, bem assim dispense aos inscritos nos Estados autores tratamento isonômico em relação

aos beneficiários dos demais entes da Federação.

b) não haja cortes no Programa enquanto perdurar o estado de calamidade pública;

c) a liberação de recursos para novas inscrições seja uniforme considerados os Estados da Federação.

O Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida. STF. Plenário. ACO 3359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco

Aurélio, julgado em 5/8/2020 (Info 985)

ÍNDIOS

A associação “Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e seis partidos políticos ajuizaram arguição de

descumprimento de preceito fundamental alegando que o Poder Público estava falhando na proteção dos povos

indígenas com relação à pandemia da Covid-19. Os autores apontaram uma série de atos comissivos e omissivos

INFORMATIVOS 2020 - 50
do Poder Público que, segundo eles, estavam causando alto risco de contágio e de extermínio dos povos

indígenas. Os requerentes apontaram que tais atos violam a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88),

o direito à vida (art. 5º, caput) e o direito à saúde (arts. 6º e 196), além do direito de tais povos a viverem em seu

território, de acordo com suas culturas e tradições (art. 231). Na ação, os autores pedem a realização de diversas

medidas necessárias para a proteção dos povos indígenas. O Min. Roberto Barroso (relator) deferiu parcialmente

a medida cautelar para que a União implemente, em resumo, as seguintes providências:

Quanto aos povos indígenas em isolamento ou povos indígenas de recente contato:

1. Criação de barreiras sanitárias, que impeçam o ingresso de terceiros em seus territórios;

2. Criação de Sala de Situação, para gestão de ações de combate à pandemia quanto aos Povos Indígenas em

Isolamento e de Contato Recente.

Quanto aos povos indígenas em geral:

1. Inclusão de medida emergencial de contenção e isolamento dos invasores em relação às comunidades

indígenas ou providência alternativa, apta a evitar o contato.

2. Imediata extensão dos serviços do Subsistema Indígena de Saúde.

3. Elaboração e monitoramento de um Plano de Enfrentamento da COVID-19 para os Povos Indígenas Brasileiros

pela União.

O Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida. STF. Plenário. ADPF 709 Ref-MC/DF, Rel. Min.

Roberto Barroso, julgado em 3 e 5/8/2020 (Info 985).

TEMAS DIVERSOS

ENTIDADES DESPORTIVAS

A Lei 13.155/2015 institui o PROFUT (Programa de modernização da gestão e de responsabilidade fiscal do

futebol brasileiro). Essa lei alterou o Estatuto do Torcedor (Lei nº 10.671/2003) para incluir entre os critérios

técnicos, além da colocação obtida em campeonato anterior, a apresentação de Certidão Negativa de Débitos

Federais, de certificado de regularidade de contribuição ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e

comprovação de pagamentos de obrigações previstas nos contratos de trabalho e nos contratos de imagem dos

atletas. Assim, por força da Lei nº 13.155/2015, um clube de futebol da série “A” (“1ª divisão”) do Campeonato

Brasileiro caso não cumprisse os requisitos de regularidade fiscal, regularidade com o FGTS e com os salários

dos atletas seria rebaixado para a série “B”. Para o STF, a exigência da regularidade fiscal fere a autonomia das

entidades desportivas em relação à sua organização e seu funcionamento (art. 217 da CF/88) e constitui forma

indireta de coerção estatal ao pagamento de tributos. A retirada do clube do campeonato pelo não pagamento

de tributos ou do FGTS é medida gravíssima, que demonstra falta de proporcionalidade e razoabilidade, além de

configurar uma sanção política. Com a exclusão automática do campeonato, o clube jamais conseguiria pagar

INFORMATIVOS 2020 - 51
tributos e refinanciamentos, trazendo prejuízos à União, aos atletas, aos funcionários e à ideia de fomentar o

desporto. Resultado: foi declarada a inconstitucionalidade do art. 40 da Lei nº 13.155/2015, na parte em que

altera o art. 10, §§ 1º, 3º e 5º da Lei nº 10.671/2003, mantendo-se a vigência e eficácia de todos os demais

dispositivos impugnados. STF. Plenário. ADI 5450 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em

18/12/2019 (Info 964).

LIBERDADE PROFISSIONAL

São constitucionais as restrições impostas aos auditores independentes pelo art. 31 da Instrução 308/99 da

Comissão de Valores Mobiliários (CVM). STF. Plenário. ADI 3033/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em

10/11/2020 (Info 998).

DIREITO ADMINISTRATIVO

PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS

Para que haja a inscrição de ente subnacional em cadastro de inadimplentes é necessário o prévio julgamento

da tomadas de contas especial?

A inscrição de entes federados em cadastro de inadimplentes (ou outro que dê causa à negativa de realização de

convênios, acordos, ajustes ou outros instrumentos congêneres que impliquem transferência voluntária de

recursos), pressupõe o respeito aos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal,

somente reconhecido:

a) após o julgamento de tomada de contas especial ou procedimento análogo perante o Tribunal de Contas, nos

casos de descumprimento parcial ou total de convênio, prestação de contas rejeitada, ou existência de débito

decorrente de ressarcimento de recursos de natureza contratual (salvo os de conta não prestada) e;

b) após a devida notificação do ente faltoso e o decurso do prazo nela previsto (conforme constante em lei,

regras infralegais ou em contrato), independentemente de tomada de contas especial, nos casos de não

prestação de contas, não fornecimento de informações, débito decorrente de conta não prestada, ou quaisquer

outras hipóteses em que incabível a tomada de contas especial.

STF. Plenário. RE 1067086, Rel. Rosa Weber, julgado em 16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 327)

A tomada de contas especial é a medida adequada para se alcançar o reconhecimento definitivo das

irregularidades detectadas. Só a partir daí é que se permite a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao

crédito organizados e mantidos pela União. O processo de contas é essencial para a apuração de

INFORMATIVOS 2020 - 52
responsabilidades. Não se pode impor sanção sem anterior identificação de responsáveis. STF. Plenário.

ACO 2910 AgR, Rel. Roberto Barroso, julgado em 29/06/2020 (Info 988 – clipping).

PRINCÍPIO DA INTRANSCENDÊNCIA

A imposição de sanções ao Poder Executivo estadual em virtude de pendências de órgãos dotados de

autonomia institucional e orgânico-administrativa, tais como o Ministério Público estadual, constitui

violação do princípio da intranscendência, na medida em que o Governo do Estado não tem competência

para intervir na esfera orgânica dessa instituição autônoma. O Poder Executivo não pode ser impedido de

contratar operações de crédito em razão do descumprimento dos limites setoriais de despesa com pessoal por

outros poderes e órgãos autônomos (art. 20, II, e 23, § 3º, da Lei de Responsabilidade Fiscal). STF. Plenário. ACO

3072, Rel. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping)

É possível ao Município obter certidão positiva de débitos com efeito de negativa quando a Câmara

Municipal do mesmo ente possui débitos com a Fazenda Nacional, tendo em conta o princípio da

intranscendência subjetiva das sanções financeiras. STF. Plenário. RE 770149, Rel. Min. Marco Aurélio,

Relator p/ Acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral – tema 743) (Info 993).

PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE

A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que Estado-membro impugna

inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de restrição de crédito

Caso concreto

O Estado do Amapá possui débitos com o INCRA e com o IBAMA, duas autarquias federais. Em razão desses

débitos, o Estado foi inserido no SIAFI, no CADIN e no CAUC, cadastros de inadimplência mantidos pela União.

Tanto o INCRA como o IBAMA ajuizaram execução fiscal para cobrar os débitos e o Estado expediu precatórios,

que, no entanto, ainda estão pendentes de pagamento. O Estado do Amapá ajuizou ação cível originária contra a

União pedindo a exclusão do Estado dos cadastros restritivos.

Legitimidade da União para figurar no polo passivo

A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que Estado-membro impugna

inscrição em cadastros federais desabonadores e/ou de restrição de crédito, mesmo que os débitos

sejam decorrentes de dívidas com entidades federais (e não com a administração direta). Isso porque os

Sistemas SIAFI/CAUC/CADIN são organizados e mantidos pela União, conforme suas leis de regência, do que

decorre a legitimidade desta para figurar no polo passivo.

INFORMATIVOS 2020 - 53
Manutenção nos cadastros viola o princípio da razoabilidade

É indevida a inscrição do Estado-membro nos cadastros desabonadores em decorrência de pendências

administrativas relativas a débitos já submetidos a pagamento por precatório. Isso porque a CF/88 já

previu que, em caso de descumprimento do pagamento do precatório, existe a possibilidade de intervenção

federal no ente inadimplente. Logo, é incompatível com o postulado da razoabilidade onerar duplamente o

Estado-membro, tanto com a possibilidade de intervenção federal quanto com a sua inscrição em cadastros

desabonadores. STF. Plenário. ACO 3083, Rel. Ricardo Lewandowski, julgado em 24/08/2020 (Info 991 – clipping).

ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA

O exercício da atividade de treinador ou de instrutor de tênis não exige o registro no Conselho Regional

de Educação Física.

STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1767702-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 29/06/2020 (Info 677).

A anuidade cobrada pela OAB possui natureza tributária?

Os Tribunais Superiores divergem sobre o tema:

STJ: NÃO

Os créditos decorrentes da relação jurídica travada entre a OAB e os advogados não compõem o erário e,

consequentemente, não têm natureza tributária.

STJ. 1ª Turma. REsp 1574642/SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/02/2016.

STF: SIM

As anuidades cobradas pelos conselhos profissionais caracterizam-se como tributos da espécie contribuições de

interesse das categorias profissionais, nos termos do art. 149 da Constituição da República.

STF. Plenário. RE 647885, Rel. Edson Fachin, julgado em 27/04/2020.

As fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção das custas processuais.

A isenção das custas processuais somente se aplica para as entidades com personalidade de direito público.

Dessa forma, para as Fundações Públicas receberem tratamento semelhante ao conferido aos entes da

Administração Direta é necessário que tenham natureza jurídica de direito público, que se adquire no momento

de sua criação, decorrente da própria lei.

STJ. 4ª Turma. REsp 1409199-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/03/2020 (Info 676).

Contratação de empregados de conselhos profissionais pela CLT é constitucional.

INFORMATIVOS 2020 - 54
O art. 58, § 3º da Lei nº 9.649/98 prevê o seguinte:

§ 3º Os empregados dos conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são regidos pela legislação

trabalhista, sendo vedada qualquer forma de transposição, transferência ou deslocamento para o quadro da

Administração Pública direta ou indireta.

Essa previsão é constitucional.

Os Conselhos Profissionais, enquanto autarquias corporativas criadas por lei com outorga para o exercício de

atividade típica do Estado, tem maior grau de autonomia administrativa e financeira, constituindo espécie sui

generis de pessoa jurídica de direito público não estatal, a qual não se aplica a obrigatoriedade do regime

jurídico único preconizado pelo art. 39 da CF/88 (regime jurídico único).

Em razão da natureza peculiar dos Conselhos Profissionais, permite-se o afastamento de algumas das regras

ordinárias impostas às pessoas jurídicas de direito público.

STF. Plenário. ADC 36, Rel. Cármen Lúcia, Rel. p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 08/09/2020.

O Metrô-DF é sociedade de economia mista prestadora de serviço público essencial, atividade desenvolvida em

regime de exclusividade (não concorrencial) e sem intuito lucrativo. Por essa razão, os seus débitos devem se

submeter ao regime de precatórios (art. 100 da CF/88).

STF. Plenário. ADPF 524 MC-Ref, Rel. Min. Edson Fachin, Relator p/ Acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado

em 13/10/2020.

É possível que o chefe do Poder Executivo estadual convide, em consenso com a OAB, um representante da

Ordem para integrar órgão da Administração. Isso é válido. No entanto, a lei não pode impor a presença de

representante da OAB (“autarquia federal”) em órgão da Administração Pública local. STF. Plenário. ADI 4579/RJ,

Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/2/2020 (Info 966).

É possível que o chefe do Poder Executivo estadual convide, em consenso com a OAB, um representante da

Ordem para integrar órgão da Administração. Isso é válido. No entanto, a lei não pode impor a presença de

representante da OAB (“autarquia federal”) em órgão da Administração Pública local. STF. Plenário. ADI 4579/RJ,

Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/2/2020 (Info 966).

É inconstitucional norma de Constituição Estadual que exija prévia arguição e aprovação da Assembleia

Legislativa para que o Governador do Estado nomeie os dirigentes das autarquias e fundações públicas, os

presidentes das empresas de economia mista e assemelhados, os interventores de Municípios, bem como os

titulares da Defensoria Pública e da Procuradoria Geral do Estado. STF. Plenário. ADI 2167/RR, rel. orig. Min.

Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 3/6/2020 (Info 980)

INFORMATIVOS 2020 - 55
EMPRESAS PÚBLICAS

O Metrô-DF é empresa pública, regida pelo direito privado. Embora preste serviço de utilidade pública, a

empresa não desempenha serviço público essencial em sentido típico ou de caráter monopolístico. O Metrô-DF

desenvolve atividade econômica com a exploração comercial de marcas, patentes, tecnologia e serviços técnicos

especializados, com a distribuição de dividendos, o que permite a penhora de seus bens. Vale ressaltar ainda

que há distribuição de lucros entre os acionistas da empresa. Diante desse contexto, não há como se aplicar o

regime de precatório para o Metrô-DF. STF. 1ª Turma. Rcl 29637 AgR/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min.

Roberto Barroso, julgado em 30/6/2020 (Info 984).

SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA

Petrobrás pode criar subsidiárias e, em seguida, alienar o controle acionário delas sem licitação e sem

autorização legislativa específica.

Caso concreto: a Petrobrás elaborou um plano de desinvestimento por meio do qual ela decidiu vender 8

refinarias. Para isso, a Petrobrás criou subsidiárias que passaram a ser as proprietárias dessas refinarias e, em

seguida, o controle acionário dessas subsidiárias será alienado, sem licitação e sem prévia autorização

legislativa. Desse modo, na prática, é como se a Petrobrás estivesse alienando as refinarias.

O STF afirmou que essa prática é legítima.

A específica autorização legislativa somente é obrigatória na hipótese de alienação do controle acionário

de sociedade de economia mista (empresa-mãe). Não há necessidade dessa prévia e específica anuência

para a criação e posterior alienação de ativos da empresa subsidiária, dentro de um elaborado plano de

gestão de desinvestimento, voltado para garantir maiores investimentos e, consequentemente, maior

eficiência e eficácia da empresa-mãe. Isso porque a inexistência de expressa proibição ou limitação de

alienação societária em relação à autorização legislativa genérica para a criação de subsidiárias corresponde à

concessão, pelo Congresso Nacional ao Poder Executivo, de um importante instrumento de gestão empresarial,

para garantir a eficiência e a eficácia da sociedade de economia mista no cumprimento de suas finalidades

societárias. Portanto, na criação ou extinção de subsidiárias, o preceito maior de gestão empresarial que deve

ser seguido é garantir a melhor atuação, eficiência e eficácia da empresa-mãe. STF. Plenário. Rcl 42576 MC/DF,

rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 30/9 e 1º/10/2020 (Info 993)

FUNDAÇÃO

É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide sobre as relações

de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com personalidade jurídica de direito privado,

destinadas à prestação de serviços de saúde. STF. Plenário. ADI 4247/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em

3/11/2020 (Info 997).

INFORMATIVOS 2020 - 56
CONSELHOS PROFISSIONAIS

O Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) prevê que o advogado que deixar de pagar as contribuições devidas à OAB

(anuidades) pratica infração disciplinar (art. 34, XXIII, da Lei nº 8.906/94) e pode ser suspenso do exercício,

ficando proibido de exercer a advocacia enquanto não pagar integralmente a dívida, com correção monetária

(art. 37, § 2º). O STF entendeu que esses dispositivos são inconstitucionais porque representam medida

desproporcional que caracteriza sanção política, além de ofender a livre iniciativa e a liberdade

profissional. É inconstitucional a suspensão realizada por conselho de fiscalização profissional do exercício

laboral de seus inscritos por inadimplência de anuidades, pois a medida consiste em sanção política em matéria

tributária. STF. Plenário.RE 647885, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/04/2020 (Repercussão Geral –Tema

732) (Info 978).

O Decreto-lei nº 9.295/46 criou o Conselho Federal de Contabilidade e definiu as atribuições do Contador. A Lei

nº 12.249/2010 alterou o art. 12 do DL 9.295/46 para dizer que os contadores e técnicos em contabilidade

somente poderão exercer a profissão após a regular conclusão do curso de Bacharelado em Ciências Contábeis,

reconhecido pelo Ministério da Educação, aprovação em Exame de Suficiência e registro no Conselho Regional

de Contabilidade a que estiverem sujeitos. A implementação dos requisitos para a inscrição no conselho

profissional surge no momento da conclusão do curso. Assim, é dispensável a submissão ao exame de

suficiência pelos técnicos em contabilidade formados anteriormente à promulgação da Lei nº 12.249/2010 ou

dentro do prazo por ela previsto. STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1.830.687-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em

30/03/2020 (Info 669).

PODERES ADMINISTRATIVOS

PODER DE POLÍCIA

Em cidades tomadas por veículos automotores, a maior parte deles a serviço de minoria privilegiada, calçadas

integram o mínimo existencial de espaço público dos pedestres, a maioria da população. No Estado Social de

Direito, o ato de se deslocar a pé, em segurança e com conforto, qualifica-se como direito de todos, com

atenção redobrada para a acessibilidade dos mais vulneráveis, aí incluídos idosos, crianças e pessoas

com deficiência. Vale ressaltar que as calçadas são consideradas bens públicos, como bens de uso comum

do povo (art. 99, I, do Código Civil). A ninguém é lícito ocupar espaço público (no caso, a calçada), exceto se

estritamente conforme a legislação e após regular procedimento administrativo. Se o apossamento do

espaço urbano público ocorre ilegalmente, incumbe ao administrador, sob risco de cometimento de

improbidade e infração disciplinar, fazer a imediata demolição de eventuais construções irregulares e a

INFORMATIVOS 2020 - 57
desocupação de bem turbado ou esbulhado. STJ. 2ª Turma. REsp 1.846.075-DF, Rel. Min. Herman Benjamin,

julgado em 03/03/2020 (Info 671).

Existem dois tipos de instituições que podem emitir cartões de crédito:

1) instituições financeiras, que emitem e administram cartões próprios ou de terceiros e concedem

financiamento direto aos portadores;

2) operadoras de cartão de crédito em sentido estrito, que são empresas não financeiras que emitem e

administram cartões próprios ou de terceiros, que não financiam os seus clientes.

As instituições financeiras que emitem e administram cartões próprios ou de terceiros (primeiro tipo acima) já

eram fiscalizadas pelo Bacen, nos termos do art. 10, IX, da Lei nº 4.595/64. Por outro lado, as operadoras de

cartão de crédito em sentido estrito só passaram a ser reguladas e fiscalizadas pelo CMN e pelo Bacen após a

edição da MP 615/2013. Antes da edição da MP 615/2013, não havia dispositivo legal que obrigasse o CMN a

regular e o Bacen a fiscalizar as atividades das operadoras de cartão de crédito em sentido estrito. Isso porque a

intermediação que essas fazem não tem natureza financeira para os fins do art. 17 da Lei nº 4.595/64.

Atualmente, existe previsão legal de normatização e fiscalização das operadoras em sentido estrito por parte do

CMN e do Bacen, quadro que se formou com a edição da MP 615/2013. STJ. 2ª Turma. REsp 1.359.624-SP, Rel.

Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/03/2020 (Info 674)

É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado

integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem

exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial. STF. Plenário. RE

633782/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 23/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 532) (Info 996).

COMPETÊNCIA

STF determina que Justiça Eleitoral de 1ª instância apure crime eleitoral e também crime federal conexos; ao

receber os autos, Justiça Eleitoral arquiva a investigação do crime eleitoral e remete os autos à Justiça Federal;

isso afronta a decisão do STF.

Caso concreto (com adaptações): Marcos era Ministro de Estado. Havia suspeitas de que ele teria cometido dois

crimes conexos: um crime eleitoral e um crime federal “comum”. Considerando que ele possuía foro por

prerrogativa de função, foi instaurado, no âmbito do STF, um inquérito para apurar os fatos. Antes que houvesse

denúncia, Marcos foi exonerado do cargo de Ministro e, portanto, perdeu o foro privativo. Diante disso, o STF

determinou a remessa da investigação para a 1ª instância. O caso foi remetido para a 1ª instância da Justiça

Eleitoral porque segundo o entendimento do STF, em caso de conexão entre crime de competência da Justiça

comum (federal ou estadual) e crime eleitoral, os delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça Eleitoral. O

processo foi distribuído para o 1ª Zona Eleitoral de Brasília (DF). O Promotor Eleitoral pediu sumariamente o

INFORMATIVOS 2020 - 58
arquivamento da investigação no que tange ao crime eleitoral. O Juiz Eleitoral acolheu o pedido do Ministério

Público Eleitoral e arquivou a investigação quanto ao crime eleitoral. Restava, no entanto, um outro delito, qual

seja, o crime federal. O Juiz Eleitoral declinou da competência para processar o feito para a Seção Judiciária de

São Paulo (SP), local onde supostamente o crime teria sido praticado. Inconformada, a defesa de Marcos ajuizou

reclamação alegando que a decisão declinatória do Juiz Eleitoral teria afrontado a decisão do STF. Houve um

empate na votação e prevaleceu a decisão mais favorável ao investigado. Para o Ministro Gilmar Mendes, houve

sim violação à autoridade da decisão proferida pelo STF, uma vez que as instâncias inferiores não observaram as

diretrizes que resultaram na definição da competência da Justiça Eleitoral para apuração e processamento dos

fatos. O MPE promoveu o arquivamento do crime eleitoral imediatamente após o recebimento dos autos, não

tendo sequer empreendido qualquer diligência investigativa para apurar os indícios de tais crimes. Além disso, o

Juízo Eleitoral arquivou o inquérito e remeteu os autos à Justiça Federal, mesmo diante da expressa decisão

dessa Corte que fixou sua competência para supervisão dos fatos. As instâncias inferiores, portanto, ignoraram

os termos da decisão reclamada, que assentou a competência da Justiça Eleitoral para o processamento e a

apuração dos fatos em questão. STF. 2ª Turma. Rcl 34805 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.

Gilmar Mendes, julgado em 1º/9/2020 (Info 989)

SERVIÇOS PÚBLICOS

Salvo situações excepcionais, devidamente comprovadas, o implemento de transporte público coletivo

pressupõe prévia licitação. STF. Plenário. RE 1001104, Rel. Marco Aurélio, julgado em 15/05/2020 (Repercussão

Geral – Tema 854) (Info 982 – clipping).

PROCESSO ADMINISTRATIVO

O cadastro e o peticionamento no Sistema Eletrônico de Informações denotam a ciência de que o processo

administrativo tramitará de forma eletrônica. Caso concreto: determinada interessada estava participando

de processo administrativo no âmbito da administração pública federal; o processo “físico” foi migrado para

“eletrônico”; a interessada fez cadastro neste sistema eletrônico, aceitou as condições e chegou a peticionar

eletronicamente; ela foi, então, intimada eletronicamente para apresentar documentos e não o fez; diante disso,

perdeu o direito de contratar com o Poder Público; em seguida, alegou, em mandado de segurança, que não foi

oficialmente informada de que a comunicação dos atos administrativos do seu processo seria realizada

INFORMATIVOS 2020 - 59
exclusivamente por meio eletrônico; o STJ não aceitou a argumentação. STJ. 1ª Seção. MS 24.567-DF, Rel. Min.

Benedito Gonçalves, julgado em 11/03/2020 (Info 667).

AUTOTUTELA

No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever os atos de concessão de anistia a

cabos da Aeronáutica com fundamento na Portaria 1.104/1964, quando se comprovar a ausência de ato com

motivação exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado, em procedimento administrativo, o devido

processo legal e a não devolução das verbas já recebidas. Ex: 2003, João, ex-militar da Aeronáutica, recebeu

anistia política, concedida por meio de portaria do Ministro da Justiça. Em 2006, a AGU emitiu nota técnica

fazendo alguns questionamentos sobre a forma indevida pela qual estavam sendo concedidas anistias políticas,

dentre elas a que foi outorgada a João. Em 2011, o Ministro da Justiça determinou que fossem revistas as

concessões de anistia de inúmeros militares, inclusive a de João. Em 2012, foi aberto processo administrativo

para examinar a situação de João e, ao final, determinou-se a anulação da anistia política. Mesmo tendo-se

passado mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível, seja por força da parte final do art. 54 da Lei nº 9.784/99,

seja porque o prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta

diretamente a Constituição Federal. STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019

(repercussão geral – Tema 839) (Info 956).

É possível a anulação do ato de anistia pela Administração Pública, evidenciada a violação direta do art.

8º do ADCT, mesmo quando decorrido o prazo decadencial contido na Lei nº 9.784/99. STJ. 1ª Seção. MS

19.070-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 668).

SERVIDORES PÚBLICOS

A Constituição Federal não prevê adicional noturno aos Militares Estaduais ou Distritais.

Mandado de Injunção será cabível para que se apliquem, aos militares estaduais, as normas que

regulamentam o adicional noturno dos servidores públicos civis, desde que o direito a tal parcela

remuneratória esteja expressamente previsto na Constituição Estadual ou na Lei Orgânica do Distrito

Federal.

STF. Plenário. RE 970823, Rel. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 18/08/2020

(Repercussão Geral - Tema 1038).

Não cabe mandado de injunção para regulamentar direito à progressão na carreira militar

INFORMATIVOS 2020 - 60
Nos termos do art. 5º, LXXI, da CF, o mandado de injunção somente é cabível quando houver mora do Poder

Estatal em editar norma jurídica para garantir direitos assegurados constitucionalmente.

Embora o art. 142, § 3º, X, da CF, preveja que a lei disporá sobre "direitos" e "prerrogativas" dos militares, não

assegura especificamente o pretendido direito à promoção na carreira, que é de natureza essencialmente legal,

tal como ressaltado no art. 50, IV, m, da Lei 6.880/80 (Estatuto dos Militares).

Assim, não havendo omissão na edição de norma regulamentadora para garantir direitos assegurados

constitucionalmente, é imprópria a via do mandado de injunção.

STJ. Corte Especial. AgInt no MI 345/DF, Rel. Ministro Raul Araújo, julgado em 12/05/2020.

O mero transcurso do período de 3 anos do estágio probatório não gera, automaticamente, direito à

estabilidade.

O art. 41 da Constituição Federal estabelece que são requisitos básicos a serem apurados no estágio probatório:

"I - idoneidade moral; II - assiduidade e pontualidade; III - disciplina; IV- eficiência; V - aptidão" (§ 1º).

Dessa forma, findo o período do estágio probatório - três (3) anos de efetivo exercício, a estabilidade do servidor

no serviço público não se dará de forma automática. Isso porque o § 4º do art. 41 da CF/88 impõe como

condição obrigatória para a aquisição da estabilidade a avaliação especial de desempenho por comissão

instituída para essa finalidade.

STJ. 1ª Turma. AgInt no RMS 52.138/GO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 08/06/2020.

É inconstitucional lei que, ao aumentar a exigência de escolaridade de determinado cargo de nível médio

para superior, assegura isonomia remuneratória aos ocupantes dos cargos em extinção que haviam feito

concurso para o cargo de nível médio.

É inconstitucional o aproveitamento de servidor, aprovado em concurso público a exigir formação de nível

médio, em cargo que pressuponha escolaridade superior.

STF. Plenário. RE 740008/RR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 697)

(Info 1003).

É constitucional a norma estadual pela qual se impõe demissão por ineficiência no serviço público,

apurada em processo administrativo disciplinar, assegurada a ampla defesa.

No caso que chegou ao STF, havia uma lei estadual de São Paulo com a finalidade de avaliação de desempenho

que pode resultar na anotação de elogio em prontuário, aferição do mérito dos integrantes da carreira para fins

de promoção e demissão por ineficiência decorrente de descumprimento de dever funcional que, no caso,

subsume-se à hipótese do inc. II do § 1º do art. 41 da Constituição (perda do cargo por processo administrativo

disciplinar, assegurada a ampla defesa).

INFORMATIVOS 2020 - 61
Cuidado: não se está disciplinando procedimento autônomo de avaliação periódica de desempenho prevista no

inc. III do § 1º do art. 41 da Constituição da República o que contraria a repartição de competências, pois é de

competência da União.

No caso, trata-se de hipótese prevista no inc. II do § 1º do art. 41 da Constituição da República que não equivale

à perda de cargo público por avaliação de desempenho a que se refere o inc. III do § 1º do art. 41 da Constituição

da República.

STF. Plenário. ADI 5437, Relatora Min. Carmem Lúcia, julgado em 23/11/2020

Os servidores públicos federais, quando desempenhavam funções gratificadas tinham direito de incorporar, em

sua remuneração, a vantagem decorrente do cargo em comissão ou da função de direção, chefia e

assessoramento. Isso estava previsto na redação original do art. 62 da Lei nº 8.112/90. Isso ficou conhecido

como incorporação de quintos em razão do exercício de funções gratificadas. Houve uma discussão se os

servidores públicos federais tiveram direito à incorporação dos quintos no período que vai de 08/04/1998 a

04/09/2001. Após várias decisões favoráveis aos servidores, o STF decidiu em sentido contrário. Em 2015, o STF

decidiu que não era permitida a incorporação dos quintos nesse período e que essa possibilidade acabou com a

edição da MP 1.595-14 (convertida na Lei nº 9.527/97). Ocorre que muitos servidores estavam recebendo os

quintos referentes ao período de 08/04/1998 a 04/09/2001 por força de decisões judiciais ou administrativas.

Como ficou a situação dessas pessoas? O STF, em embargos de declaração, decidiu modular os efeitos da

decisão e afirmou o seguinte:

• é indevida a cessação imediata do pagamento dos quintos quando houve uma decisão judicial transitada em

julgado em favor do servidor. Neste caso, o servidor já incorporou definitivamente os quintos ao seu patrimônio

jurídico;

• se o servidor estava recebendo os quintos em razão de decisão administrativa ou de decisão judicial não

definitiva, o pagamento dos quintos é indevido. No entanto, os efeitos da decisão foram modulados, de modo

que aqueles que recebem a parcela até a data de hoje terão o pagamento mantido até a sua absorção integral

por quaisquer reajustes futuros concedidos aos servidores. Em outras palavras, a remuneração ou os proventos

não diminuirão de valor imediatamente. No entanto, quando houver um aumento, esse valor dos quintos

sumirá, sendo absorvido pelo aumento. STF. Plenário. RE 638115 ED-ED/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em

18/12/2019 (Info 964).

Algumas leis municipais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de Vereador fará jus, após deixar o

mandato, a um subsídio mensal e vitalício. Alguns chamam isso de representação, outros de pensão vitalícia e

outros de pensão civil. A previsão desse pagamento é compatível com a CF/88? NÃO. O STF fixou a seguinte tese

a respeito do tema: Lei municipal a versar a percepção, mensal e vitalícia, de “subsídio” por ex-vereador e

a consequente pensão em caso de morte não é harmônica com a Constituição Federal de 1988. STF.

INFORMATIVOS 2020 - 62
Plenário. RE 638307/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/12/2019 (Tema 672 – repercussão geral) (Info

964).

Inexiste direito adquirido para os médicos cooperados estrangeiros de permanecer nos quadros de agentes

públicos da saúde pública, ainda que já tenham sido vinculados ao Projeto Mais Médicos para o Brasil. STJ. 2ª

Turma. RO 213-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 05/12/2019 (Info 663)

Escrevente notarial do Estado de São Paulo que se aposentou segundo as regras da Lei estadual nº 10.393/70

pode ser atingido pelas regras da Lei estadual 14.016/2010, que alterou a forma de reajuste das aposentadorias

e aumentou as alíquotas da contribuição previdenciária. A Lei estadual nº 14.016/2010 previu novos critérios

para os reajustes futuros da aposentadoria e, conforme jurisprudência do STF, não existe direito adquirido à

manutenção de regime jurídico anterior. A Lei estadual 10.393/70 indexava a aposentadoria ao valor do

salário-mínimo, o que é expressamente vedado pelo art. 7º, IV, da Constituição Federal. Nesse sentido também é

a Súmula Vinculante 4. A alíquota da contribuição previdenciária também é perfeitamente possível considerando

que não existe direito adquirido a regime jurídico e, a contribuição previdenciária possui natureza jurídica

tributária, não havendo norma jurídica válida que confira o direito ao não recolhimento de tributo. Vale ressaltar

que, na ADI 4420, o STF garantiu a situação jurídica de quem já tinha se aposentado ou preenchido os requisitos

para a obtenção do benefício. Não houve, contudo, a intenção de se assegurar o direito à manutenção da

indexação de benefício de aposentadoria ao salário mínimo ou impedir a majoração das alíquotas da

contribuição previdenciária. Esses assuntos não foram discutidos na ADI 4420. STF. 1ª Turma. Rcl 37892 AgR/SP,

rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 10/3/2020 (Info 969)

A regra que estabelece a necessidade de residência do servidor no município em que exerce suas funções

é compatível com a Constituição de 1988, a qual já prevê obrigação semelhante para magistrados, nos

termos do seu art. 93, VII. Por outro lado, viola a Constituição a lei estadual que proíba a saída do servidor do

Município sede da unidade em que atua sem autorização do superior hierárquico. Essa previsão configura grave

violação da liberdade fundamental de locomoção (art. 5º, XV, da CF/88) e do devido processo legal (art. 5º, LIV).

STF. Plenário. ADPF 90, Rel. Luiz Fux, julgado em 03/04/2020 (Info 977)

No julgamento de Ação Direta de Inconstitucionalidade proposta para questionar a validade de leis que criam

cargos em comissão, ao fundamento de que não se destinam a funções de direção, chefia e assessoramento, o

Tribunal deve analisar as atribuições previstas para os cargos. Na fundamentação do julgamento, o Tribunal não

está obrigado a se pronunciar sobre a constitucionalidade de cada cargo criado, individualmente. STF. Plenário.

RE 719870/MG, rel. orig. Min. Marco, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/10/2020 (Repercussão

Geral – Tema 670) (Info 994).

INFORMATIVOS 2020 - 63
É inconstitucional norma que preveja a concessão de aposentadoria com paridade e integralidade de

proventos a policiais civis.

É inconstitucional norma que preveja a concessão de “adicional de final de carreira” a policiais civis. STF.

Plenário. ADI 5039/RO, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar qualquer verba de servidores

públicos de carreiras distintas sob o fundamento de isonomia, tenham elas caráter remuneratório ou

indenizatório. A vedação da Súmula Vinculante 37 se aplica tanto para as verbas remuneratórias como também

para as parcelas de caráter indenizatório. Logo, a SV 37 também proíbe que Poder Judiciário equipare o

auxílio-alimentação, ou qualquer outra verba desta espécie, com fundamento na isonomia.

Súmula vinculante 37-STF: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos

de servidores públicos sob fundamento de isonomia. STF. Plenário. RE 710293, Rel. Luiz Fux, julgado em

16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 600) (Info 998 – clipping).

O Poder Judiciário não possui competência para determinar ao Poder Executivo a apresentação de

projeto de lei que vise a promover a revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos, tampouco

para fixar o respectivo índice de correção. STF. Plenário. RE 843112, Rel. Luiz Fux, julgado em 22/09/2020

(Repercussão Geral – Tema 624) (Info 998)

É vedada a vinculação remuneratória de seguimentos do serviço público, nos termos do art. 37, XIII, da

Constituição Federal. STF. Plenário. ADPF 328/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13/11/2020 (Info 999)

Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição Federal, é possível à Administração Pública, inclusive durante o

estágio probatório, estabelecer critérios alternativos para o regular exercício dos deveres funcionais

inerentes aos cargos públicos, em face de servidores que invocam escusa de consciência por motivos de

crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, não se caracterize o desvirtuamento do

exercício de suas funções e não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de

maneira fundamentada. STF. Plenário. RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin,

julgado em 19/11, 25/11 e 26/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 386) (Info 1000).

É inconstitucional lei que equipara, vincula ou referencia espécies remuneratórias devidas a cargos e

carreiras distintos, especialmente quando pretendida a vinculação ou a equiparação entre servidores de

Poderes e níveis federativos diferentes. STF. Plenário. ADI 6436/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em

27/11/2020 (Info 1000).

O parágrafo único do art. 137 da Lei nº 8.112/90 proíbe, para sempre, o retorno ao serviço público federal de

servidor que for demitido ou destituído por prática de crime contra a Administração Pública, improbidade

INFORMATIVOS 2020 - 64
administrativa, aplicação irregular de dinheiro público, lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio

nacional e corrupção. Essa previsão viola o art. 5º, XLVII, “b”, da CF/88, que afirma que não haverá penas de

caráter perpétuo. STF. Plenário. ADI 2975, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 04/12/2020

É constitucional a determinação de que a participação de trabalhadores nos lucros ou resultados de

empresas estatais deve observar diretrizes específicas fixadas pelo Poder Executivo ao qual as entidades

estejam sujeitas. STF. Plenário. ADI 5417/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 4/12/2020 (Info 1001)

APOSENTADORIA

Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos

ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria,

reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas. STF. Plenário. RE

636553/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2020 (repercussão geral – Tema 445) (Info 967).

Até a edição da Emenda Constitucional nº 103/2019, o direito à conversão, em tempo comum, do prestado

sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física de servidor público decorre da previsão

de adoção de requisitos e critérios diferenciados para a jubilação daquele enquadrado na hipótese prevista no

então vigente inciso III do § 4º do art. 40 da Constituição da República, devendo ser aplicadas as normas do

regime geral de previdência social relativas à aposentadoria especial contidas na Lei nº 8.213/91 para viabilizar

sua concretização enquanto não sobrevier lei complementar disciplinadora da matéria.

Após a vigência da EC nº 103/2019, o direito à conversão em tempo comum, do prestado sob condições

especiais pelos servidores obedecerá à legislação complementar dos entes federados, nos termos da

competência conferida pelo art. 40, § 4º-C, da Constituição da República. STF. Plenário. RE 1014286, Rel. Luiz Fux,

Relator p/ Acórdão Edson Fachin, julgado em 31/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 942) (Info 992 – clipping)

Servidor público municipal (geralmente, de pequenas cidades do interior do Brasil) apresenta requerimento de

aposentadoria. O Município não dispõe de regime próprio de previdência social. Logo a aposentadoria é

solicitada perante o INSS. O Estatuto dos Servidores do Município prevê que a aposentadoria constitui hipótese

de vacância do cargo público. Afastado do cargo, o servidor ajuíza ação buscando voltar aos quadros do

Município, acumulando os vencimentos do cargo público com os proventos do RGPS. Esse pedido deve ser

acolhido?

NÃO. A legislação dispõe que a aposentadoria é causa de vacância do cargo público, o que determina o

afastamento do servidor dos quadros da Administração. O acesso a cargos públicos rege-se pela

Constituição Federal e pela legislação de cada unidade federativa. Se o legislador estabeleceu que a

aposentadoria é causa de vacância, o servidor não pode, sem prestar novo concurso público, ser

INFORMATIVOS 2020 - 65
reintegrado ao mesmo cargo depois de se aposentar. Além disso, a acumulação de proventos e vencimentos

somente é permitida quando se tratar de cargos, funções ou empregos acumuláveis na atividade, na forma

permitida pela Constituição. STF. 1ª Turma. ARE 1234192 AgR/PR e ARE 1250903 AgR/PR, rel. orig. Min. Marco

Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 16/6/2020 (Info 982)

É constitucional o art. 40, § 18, da CF/88, incluído pela EC 41/2003:

Art. 40 (...) § 18. Incidirá contribuição sobre os proventos de aposentadorias e pensões concedidas pelo regime

de que trata este artigo que superem o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de

previdência social de que trata o art. 201, com percentual igual ao estabelecido para os servidores titulares de

cargos efetivos.

Também é constitucional o art. 9º da EC 41/2003:

Art. 9º Aplica-se o disposto no art. 17 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias aos vencimentos,

remunerações e subsídios dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta,

autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou

outra espécie remuneratória percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de

qualquer outra natureza. STF. Plenário. ADI 3133/DF, ADI 3143/DF e ADI 3184/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado

em 24/6/2020 (Info 983)

Servidores temporários não fazem jus a décimo terceiro salário e férias remuneradas acrescidas do terço

constitucional, salvo:

I) expressa previsão legal e/ou contratual em sentido contrário, ou

II) comprovado desvirtuamento da contratação temporária pela Administração Pública, em razão de

sucessivas e reiteradas renovações e/ou prorrogações.

STF. Plenário. RE 1066677, Rel. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 22/05/2020

(Repercussão Geral – Tema 551) (Info 984 – clipping).

Ocorrida a morte do instituidor da pensão em momento posterior ao da Emenda Constitucional 19/1998, o teto

constitucional previsto no inciso XI do art. 37 da Constituição Federal incide sobre o somatório de remuneração

ou provento e pensão percebida por servidor. STF. Plenário. RE 602584/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em

6/8/2020 (Repercussão Geral – Tema 359) (Info 985).

Cuidado para não confundir com esse outro entendimento: Se a pessoa acumular licitamente dois cargos

públicos ela poderá receber acima do teto Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulação de cargos,

empregos e funções, a incidência do art. 37, XI, da Constituição Federal pressupõe consideração de cada um dos

vínculos formalizados, afastada a observância do teto remuneratório quanto ao somatório dos ganhos do

INFORMATIVOS 2020 - 66
agente público. STF. Plenário. RE 612975/MT e RE 602043/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 26 e

27/4/2017 (Repercussão Geral – Temas 337 e 384) (Info 862).

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

Súmula 641-STJ: A portaria de instauração do processo administrativo disciplinar prescinde da exposição

detalhada dos fatos a serem apurados. STJ. 1ª Seção. Aprovada em 18/02/2020, DJe 19/02/2020.

Não há parcialidade de membro da Comissão Processante apenas por compor outra Comissão em PAD,

que apura outros fatos pelos quais é investigado o mesmo servidor público.

A participação de membro da comissão processante em mais de um processo administrativo disciplinar

envolvendo o mesmo investigado não macula a imparcialidade quando a apuração tratar de fatos distintos.

STJ. 1ª Seção. MS 22.019/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ acórdão Min. Og Fernandes, julgado em

27/05/2020.

A estabilidade prevista no art. 149 da Lei nº 8.112/90 deve ser no cargo, não sendo suficiente que o

membro da comissão goze de estabilidade no serviço público. O art. 149 da Lei nº 8.112/90 determina que a

comissão condutora do processo administrativo disciplinar seja composta por servidores estáveis e se exige que,

no momento da designação, estes já tenham atingido a estabilidade no desempenho do cargo que exercem e

que os legitima participar da comissão. Não haverá, contudo, nulidade do PAD se, no caso concreto, a

Administração Pública, ao perceber o vício formal, substituiu o servidor em estágio probatório por outro estável,

sem aproveitar qualquer ato decisório do servidor substituído. Isso porque, nesta hipótese, não terá havido

qualquer prejuízo concreto à defesa. STF. 2ª Turma. RMS 32357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em

17/3/2020 (Info 970).

No PAD, vigora a independência relativa das esferas penal e administrativa, havendo repercussão apenas

em se tratando de absolvição no juízo penal por inexistência do fato ou negativa de autoria

A sentença proferida no âmbito criminal somente repercute na esfera administrativa quando reconhecida:

a) a inexistência material do fato; ou

b) a negativa de sua autoria.

Assim, se a absolvição ocorreu por ausência de provas, a administração pública não está vinculada à decisão

proferida na esfera penal. STF. 2ª Turma. RMS 32357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/3/2020 (Info 970)

A pena de cassação de aposentadoria é compatível com a Constituição Federal, a despeito do caráter

contributivo conferido àquela, especialmente porque nada impede que, na seara própria, haja o acertamento

de contas entre a administração e o servidor aposentado punido. Assim, constatada a existência de infração

disciplinar praticada enquanto o servidor estiver na ativa, o ato de aposentadoria não se transforma

INFORMATIVOS 2020 - 67
num salvo conduto para impedir o sancionamento do ilícito pela administração pública. Faz-se necessário

observar o regramento contido na Lei n. 8.112/1990, aplicando-se a penalidade compatível com as infrações

apuradas. STJ. 1ª Seção. MS 23.608-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes,

julgado em 27/11/2019 (Info 666). STF. 2ª Turma. AgR no ARE 1.092.355, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em

17/5/2019.

Não há inconstitucionalidade na previsão da penalidade de cassação de aposentadoria de servidores

públicos, disposta nos arts. 127, IV, e 134 da Lei nº 8.112/90. A aplicação da penalidade de cassação de

aposentadoria ou disponibilidade é compatível com o caráter contributivo e solidário do regime próprio de

previdência dos servidores públicos. A perda do cargo público foi prevista no texto constitucional como uma

sanção que integra o poder disciplinar da Administração. É medida extrema aplicável ao servidor que apresentar

conduta contrária aos princípios básicos e deveres funcionais que fundamentam a atuação da Administração

Pública. A impossibilidade de aplicação de sanção administrativa a servidor aposentado, a quem a penalidade de

cassação de aposentadoria se mostra como única sanção à disposição da Administração, resultaria em

tratamento diverso entre servidores ativos e inativos, para o sancionamento dos mesmos ilícitos, em prejuízo do

princípio isonômico e da moralidade administrativa, e representaria indevida restrição ao poder disciplinar da

Administração em relação a servidores aposentados que cometeram faltas graves enquanto em atividade,

favorecendo a impunidade. STF. Plenário. ADPF 418, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020

CONCURSO PÚBLICO

Concurso Público: desnecessidade de pormenorização exaustiva no edital.

No edital de concurso público não é necessária a previsão exaustiva de subtemas pertencentes ao tema

principal de que poderão ser referidos nas questões do certame.

STJ. Corte Esepcial. MS 24.453/DF, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 17/06/2020

Sobre o tema, assim já se posicionou o Ministro Luiz Fux:

"Havendo previsão de um determinado tema, cumpre ao candidato estudar e procurar conhecer, de forma

global, todos os elementos que possam eventualmente ser exigidos nas provas, o que decerto envolverá o

conhecimento dos atos normativos e casos julgados paradigmáticos que sejam pertinentes, mas a isto não se

resumirá. Portanto, não é necessária a previsão exaustiva, no edital, das normas e dos casos julgados que

poderão ser referidos nas questões do certame."

(MS 30860, Relator(a): LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 28/08/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-217

DIVULG 05-11-2012 PUBLIC 06-11-2012)

INFORMATIVOS 2020 - 68
Em regra, não é necessário a formação de litisconsórcio passivo necessário entre candidatos de concurso

público, na medida em que eles têm apenas expectativa de direito à nomeação.

Exceções: 1) em concurso público que se destinou à outorga de delegações de serventias extrajudiciais de Notas

e de Registro; 2) em concursos de promoção.

STJ. 1 ª Seção. MS 22.822/DF, Rel. p/ Acórdão Ministra Aussete Magalhães, julgado em 09/09/2020.

Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não é legítima a cláusula de edital de

concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato de responder a inquérito ou a

ação penal. STF. Plenário. RE 560900/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 5 e 6/2/2020 (repercussão geral

– Tema 22) (Info 965)

Compete à Justiça comum processar e julgar controvérsias relacionadas à fase pré-contratual de seleção

e de admissão de pessoal e eventual nulidade do certame em face da Administração Pública, direta e

indireta, nas hipóteses em que adotado o regime celetista de contratação de pessoal. STF. Plenário. RE

960429/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/3/2020 (repercussão geral – Tema 992) (Info 968).

A exclusão do candidato, que concorre à vaga reservada em concurso público, pelo critério da

heteroidentificação, seja pela constatação de fraude, seja pela aferição do fenótipo ou por qualquer

outro fundamento, exige o franqueamento do contraditório e da ampla defesa. STJ. 2ª Turma. RMS

62.040-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17/12/2019 (Info 666).

Em regra, o STJ acompanha o entendimento do STF e decide que é inaplicável a teoria do fato consumado aos

concursos públicos, não sendo possível o aproveitamento do tempo de serviço prestado pelo servidor

que tomou posse por força de decisão judicial precária, para efeito de estabilidade. Contudo, em alguns

casos, o STJ afirma que há a solidificação de situações fáticas ocasionada em razão do excessivo decurso

de tempo entre a liminar concedida e os dias atuais, de maneira que, a reversão desse quadro implicaria

inexoravelmente em danos desnecessários e irreparáveis ao servidor. Em outras palavras, o STJ entende

que existem situações excepcionais nas quais a solução padronizada ocasionaria mais danos sociais do

que a manutenção da situação consolidada, impondo-se o distinguishing, e possibilitando a contagem do

tempo de serviço prestado por força de decisão liminar, em necessária flexibilização da regra. Caso

concreto: determinado indivíduo prestou concurso para o cargo de Policial Rodoviário Federal e foi aprovado nas

provas teóricas, tendo sido, contudo, reprovado em um dos testes práticos. O candidato propôs mandado de

segurança questionando esse teste. O juiz concedeu a liminar determinando a nomeação e posse, o que ocorreu

em 1999. Em sentença, o magistrado confirmou a liminar e julgou procedente o pedido do autor. Anos mais

tarde, o TRF, ao julgar a apelação, entendeu que a exigência do teste prático realizado não continha nenhum

vício. Em virtude disso, reformou a sentença. O servidor, contudo, continuou cautelarmente no cargo até 2020,

quando houve o trânsito em julgado da decisão contrária ao seu pleito. O STJ assegurou a manutenção definitiva

INFORMATIVOS 2020 - 69
do impetrante no cargo. STJ. 1ª Turma. AREsp 883.574-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em

20/02/2020 (Info 666). STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1569719/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 08/10/2019

Nos casos de preterição de candidato na nomeação em concurso público, o termo inicial do prazo

prescricional quinquenal recai na data em que foi nomeado outro servidor no lugar do aprovado no

certame. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.643.048-GO, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 05/03/2020 (Info

668).

A equiparação de carreira de nível médio a outra de nível superior constitui ascensão funcional, vedada

pelo art. 37, II, da CF/88. STF. Plenário. ADI 3199, Rel. Roberto Barroso, julgado em 20/04/2020 (Info 977).

É inconstitucional lei estadual que afirma que “o servidor público estadual à disposição do Tribunal de Contas

em 30 de novembro de 1994 poderá requerer sua integração ao Quadro Especial de Pessoal do referido

Tribunal, no prazo de 30 (trinta) dias contados da data da publicação desta lei.” Essa lei viola o princípio do

concurso público, previsto no art. 37, II, da CF/88. STF. Plenário. ADI 1251/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em

6/8/2020 (Info 985).

O Estado responde subsidiariamente por danos materiais causados a candidatos em concurso público

organizado por pessoa jurídica de direito privado (art. 37, § 6º, da CRFB/88), quando os exames são

cancelados por indícios de fraude. STF. Plenário. RE 662405, Rel. Luiz Fux, julgado em 29/06/2020 (Repercussão

Geral – Tema 512) (Info 986 – clipping)

É inconstitucional a fixação de critério de desempate em concursos públicos que favoreça candidatos que

pertencem ao serviço público de um determinado ente federativo. Caso concreto: lei do Estado do Pará

previa que, em caso de empate de candidatos no concurso público, teria preferência para a ordem de

classificação o candidato que já pertencesse ao serviço público do Estado do Pará e, persistindo a igualdade,

aquele que contasse com maior tempo de serviço público ao Estado do Pará. Essa previsão viola o art. 19, III, da

CF/88, que veda a criação de distinções entre brasileiros ou preferências entre si. STF. Plenário. ADI 5358/PA, Rel.

Min. Roberto Barroso, julgado em 27/11/2020 (Info 1000)

É possível que o candidato a concurso público consiga a alteração das datas e horários previstos no edital

por motivos religiosos, desde que cumpridos alguns requisitos . Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição

Federal, é possível a realização de etapas de concurso público em datas e horários distintos dos previstos em

edital, por candidato que invoca escusa de consciência por motivo de crença religiosa, desde que presentes a

razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade entre todos os candidatos e que não acarrete

ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de maneira fundamentada. STF. Plenário.

INFORMATIVOS 2020 - 70
RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 19/11, 25/11 e 26/11/2020

(Repercussão Geral – Tema 386) (Info 1000).

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

O que acontece se, no momento do trânsito em julgado, o condenado ocupa cargo diferente daquele que

exercia na prática do ato? Se o agente público tiver mudado de cargo, ele poderá perder aquele que

atualmente ocupa? Ex: em 2012, João, na época policial federal, praticou um ato de improbidade

administrativa; o MP ajuizou ação de improbidade contra ele; em 2018, a sentença transitou em julgado

condenando João à perda da função pública; ocorre que João é atualmente Defensor Público; ele perderá o

cargo de Defensor?

• Antes da Lei nº 14.230/2021: SIM

O agente perde a função pública que estiver ocupando no momento do trânsito em julgado, ainda que seja

diferente daquela que ocupava no momento da prática do ato de improbidade.

A penalidade de perda da função pública imposta em ação de improbidade administrativa atinge tanto o cargo

que o infrator ocupava quando praticou a conduta ímproba quanto qualquer outro que esteja ocupando ao

tempo do trânsito em julgado da sentença condenatória.

A sanção de perda da função pública visa a extirpar da Administração Pública aquele que exibiu inidoneidade

(ou inabilitação) moral e desvio ético para o exercício da função pública, abrangendo qualquer atividade que o

agente esteja exercendo no momento do trânsito em julgado da condenação.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1701967/RS, Rel. para acórdão Min. Francisco Falcão, julgado em 09/09/2020.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.813.255-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/03/2020.

• Depois da Lei nº 14.230/2021: em regra, NÃO.

Em regra, não.

Em regra, a perda da função pública atinge apenas o vínculo de mesma qualidade e natureza que o agente

público ou político detinha com o poder público na época do cometimento da infração.

Exceção: nas hipóteses do art. 9º, o magistrado, em caráter excepcional, poderá estender essa sanção (essa

perda da função) aos demais vínculos, consideradas as circunstâncias do caso e a gravidade da infração.

Desse modo, a Lei nº 14.230/2021 teve por objetivo superar o entendimento do STJ sobre o tema.

INFORMATIVOS 2020 - 71
Comete ato de improbidade administrativa previsto no art. 11, caput, e I, da Lei nº 8.429/92 o professor

universitário submetido ao regime de dedicação exclusiva que acumula função remunerada em outra

instituição de ensino.

Eventual compatibilidade de horários não tem o efeito de facultar à parte o desempenho de outra atividade

remunerada, uma vez que o docente fora contratado explicitamente para se dedicar, com exclusividade, ao

magistério. Exclusividade significa monopólio, impossibilidade de concorrência com outro emprego. Trata-se de

característica inerente ao próprio regime, não havendo espaço para a adoção de interpretação extensiva.

Considerando que o réu foi remunerado pelos cofres públicos para o exercício de atividade exclusiva e que, não

obstante, deixou de obedecer aos requisitos aplicáveis ao regime para o qual havia sido contratado, fica patente

o prejuízo ao erário, sendo de rigor o ressarcimento do respectivo montante aplicável.

STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1.473.709/MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 12/6/2018.

STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1621947/CE, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 01/12/2020.

OBS: A lei nº 14.230/21 revogou o inciso I do art. 11 da LIA.

Dirigente de entidade privada que administra recursos públicos pode responder sozinho por

improbidade.

Caso concreto: foi ajuizada ação de improbidade contra uma Organização Não Governamental (ONG) e seu

gestor pela suposta prática de atos ímprobos na execução de convênio que envolveu o recebimento de recursos

do governo federal. Não foi inserido no polo passivo nenhum servidor público. Diante disso, a defesa do gestor

afirmou que não seria possível o ajuizamento de ação de improbidade exclusivamente contra o dirigente.

A tese da defesa não foi acolhida. Isso porque:

- é verdade que a ação de improbidade administrativa não pode ser ajuizada apenas contra particular. O STJ

afirma que, para que o terceiro seja responsabilizado pelas sanções da Lei nº 8.429/92 é indispensável que seja

identificado algum agente público como autor da prática do ato de improbidade.

- ocorre que, no caso concreto, a referida ONG pode ser enquadrada no parágrafo único do art. 1º da LIA e seu

dirigente considerado agente público por equiparação (art. 2º).

- logo, no caso concreto, este dirigente não pode ser classificado como mero particular (terceiro), sendo

considerado agente público em sentido amplo (para fins de improbidade) e, portanto, podendo figurar sozinho

no polo passivo da ação de improbidade.

STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1845674/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. p/ Acórdão Min. Gurgel de

Faria, julgado em 01/12/2020.

Os benefícios de colaboração premiada previstos na nº Lei 9.807/99 - que instituiu o Programa Federal de

Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas -, bem como na antiga Lei Antitruste (Lei nº 8.884/94), não

são aplicáveis para os casos em que não se discute a prática de crimes contra a ordem econômica, nem

INFORMATIVOS 2020 - 72
estão demonstradas as hipóteses de proteção previstas na Lei nº 9.807/99. STJ. 2ª Turma. REsp

1.464.287-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/03/2020 (Info 674)

Observação: os fatos julgados pelo STJ ocorreram antes da Lei nº 12.850/2013 e da Lei nº 13.964/2019. O § 1º do

art. 17 da Lei nº 8.492/92 proibia a realização de transação, acordo ou conciliação nas ações de improbidade

administrativa. A Lei nº 13.964/2019 alterou esse dispositivo para admitir a celebração de acordo de não

persecução cível. Veja a redação atual: Art. 17. (...) § 1º As ações de que trata este artigo admitem a celebração de

acordo de não persecução cível, nos termos desta Lei

É incompatível com a Constituição Federal norma de Constituição estadual que disponha sobre nova

hipótese de foro por prerrogativa de função, em especial relativo a ações destinadas a processar e julgar

atos de improbidade administrativa. STF. Plenário. ADI 4870/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/12/2020

(Info 1002).

A pena de suspensão dos direitos políticos por ato de improbidade administrativa alcança qualquer

mandato eletivo que esteja sendo ocupado à época do trânsito em julgado da condenação. Uma vez que o

pleno exercício dos direitos políticos é pressuposto para o exercício da atividade parlamentar, determinada a

suspensão de tais direitos, é evidente que essa suspensão alcança qualquer mandato eletivo que esteja sendo

ocupado à época do trânsito em julgado da sentença condenatória. É descabido restringir a aludida

suspensão ao mandato que serviu de instrumento para a prática da conduta ilícita. Diante do escopo da

Lei de Improbidade Administrativa de extirpar da Administração Pública os condenados por atos ímprobos, a

suspensão dos direitos políticos abrange qualquer atividade que o agente esteja exercendo ao tempo da

condenação irrecorrível pelo tempo que imposta a pena. STJ. 2ª Turma. REsp 1.813.255-SP, Rel. Min. Herman

Benjamin, julgado em 03/03/2020 (Info 678). STJ. EREsp 1701967/RS, Rel. para acórdão Min. Francisco Falcão,

julgado em 09/09/2020

LICITAÇÕES E CONTRATOS

O CREDENCIAMENTO é uma hipótese de inexigibilidade de licitação na qual “a Administração aceita como

colaborador todos aqueles que, atendendo as motivadas exigências públicas, manifestem interesse em

firmar contrato ou acordo administrativo.” (TORRES, Ronny Charles Lopes de. Leis de Licitações Públicas

comentadas. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 348). Desse modo, o credenciamento é um procedimento por meio

do qual a Administração Pública anuncia que precisa de pessoas para fornecer determinados bens ou

para prestarem algum serviço e que irá contratar os que se enquadrem nas qualificações que ela exigir.

Após esse chamamento público, os interessados podem se habilitar para serem contratados. Fala-se que é uma

INFORMATIVOS 2020 - 73
hipótese de inexigibilidade de licitação porque não haverá competição (disputa) entre os interessados.

Todos os interessados que preencham os requisitos anunciados serão considerados “credenciados” e estarão

aptos a serem contratos. O Banco do Brasil publicou edital para credenciamento de advogados para prestar

serviços advocatícios. Ocorre que o edital de credenciamento publicado previu um critério de pontuação, de

forma que os advogados e escritórios que se inscrevessem iriam ser avaliados e organizados segundo uma

ordem de classificação baseada no currículo, experiência etc. O TCU e o STJ entendem que isso não é válido. O

estabelecimento de critérios de classificação para a escolha de licitantes em credenciamento é ilegal. O

credenciamento é considerado como uma espécie de inexigibilidade de licitação justamente pelo fato de

não ser possível, em tese, a competição entre os interessados. Logo, a previsão de critérios de pontuação

entre os interessados contraria a natureza do processo de credenciamento. Assim, no credenciamento só se

admite a existência de requisitos mínimos. Se o interessado preencher, ele está credenciado; se não atender,

encontra-se eliminado. Os critérios permitidos são, portanto, meramente eliminatórios (e não classificatórios).

STJ. 1ª Turma. REsp 1.747.636-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 03/12/2019 (Info 662).

O edital de licitação não pode fixar um preço mínimo a ser oferecido pelos licitantes (art. 40, X, da Lei nº

8.666/93). Só um preço máximo. Essa vedação se justifica porque o objetivo da licitação é o de selecionar a

proposta mais vantajosa. Ocorre que algumas propostas apresentadas são claramente inexequíveis, ou seja, o

licitante não conseguirá custear o bem ou prestar o serviço e ainda ter lucro. Isso significa que, mais a frente,

haverá transtornos para a Administração Pública com a inexecução do contrato. Diante disso, alguns entes

públicos passaram a exigir algo que denominaram de “taxa de administração”. Essa taxa é o percentual de

remuneração que a empresa irá obter com aquela venda ou serviço. Se a taxa for equivalente a zero ou mesmo

negativa, a proposta é claramente inexequível considerando que não haverá lucro para a empresa. Assim,

alguns editais passaram a exigir um percentual mínimo de taxa de administração (ex: a empresa deverá

demonstrar que, na planilha de custos que gerou o preço, está prevista a sua remuneração em, no mínimo, 1%).

Essa prática é válida? O ente público pode estipular cláusula editalícia em licitação/pregão prevendo

percentual mínimo de taxa de administração como forma de se resguardar de eventuais propostas

inexequíveis? Não. A fixação de percentual mínimo de taxa de administração em edital de licitação/pregão

fere expressamente a norma contida no inciso X do art. 40 da Lei nº 8.666/93. A taxa de administração é

uma forma de remuneração do contratado pela Administração Pública, integrando, portanto, o conceito de

preço. Logo, ao exigir um percentual mínimo de taxa de administração, o edital está fixando um preço mínimo.

Sendo o objetivo da licitação selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração (art. 3º da Lei nº

8.666/93), a fixação de um preço mínimo atenta contra essa finalidade. A Lei de Licitações prevê outros

mecanismos de combate às propostas inexequíveis em certames licitatórios, permitindo que o licitante preste

garantia adicional, tal como caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública, seguro-garantia e fiança

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bancária. STJ. 1ª Seção. REsp 1.840.113-CE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/09/2020 (Recurso Repetitivo –

Tema 1038) (Info 683).

O art. 18 da Lei nº 8.666/93 estabelece o valor da caução, na fase de habilitação de concorrência pública para

venda de bens imóveis, no percentual de 5% da avaliação do imóvel. É proibido que a Administração Pública

fixe caução em valor diverso do estabelecido em lei. Não cabe, assim, estabelecer percentual diverso ou

mesmo aceitar valor de caução inferior a 5% da avaliação do imóvel, em face do princípio da legalidade. STJ. 2ª

Turma. REsp 1.617.745-DF, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. Acd. Min. Assusete Magalhães, julgado em 22/10/2019

(Info 669).

LEI DA RELICITAÇÃO

As normas previstas na Lei da Relicitação para a prorrogação antecipada dos contratos de concessão não violam

os princípios constitucionais da eficiência, da razoabilidade, da impessoalidade, da moralidade e da

competitividade. As regras complementam os requisitos da legislação geral (Lei nº 8.987/95) sobre o regime de

concessão de serviços públicos, que exige a regularidade, a continuidade, a eficiência, a segurança e a fixação de

tarifas em valores razoáveis (modicidade). A prorrogação é analisada caso a caso e está sujeita à fiscalização da

agência reguladora. Vale ressaltar, ainda, que o contrato deve ser submetido à consulta pública, havendo ainda a

necessidade de encaminhar ao TCU o termo aditivo para análise final. STF. Plenário. ADI 5991 MC/DF, Rel. Min.

Cármen Lúcia, julgado em 20/2/2020 (Info 967).

RESPONSABILIDADE CIVIL

É imprescindível para o reconhecimento da responsabilidade civil do Estado em decorrência da fixação de

preços no setor sucroalcooleiro a comprovação de efetivo prejuízo econômico, mediante perícia técnica

em cada caso concreto.

STF. Plenário. ARE 884325, Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral - Tema 826).

A União, na condição de acionista controladora da Petrobras, não pode ser submetida à cláusula

compromissória arbitral prevista no Estatuto Social da Companhia, seja em razão da ausência de lei autorizativa,

seja em razão do próprio conteúdo da norma estatutária. Caso concreto: um grupo de acionistas da Petrobrás

formulou requerimento para instauração de procedimento arbitral perante a Câmara de Arbitragem do Mercado

(CAM-BOVESPA) contra a União e a Petrobrás, no qual pedem o ressarcimento pelos prejuízos decorrentes da

desvalorização dos ativos da Petrobras, em razão dos desgastes oriundos da Operação Lava Jato. O

procedimento foi instaurado com base no art. 58 do Estatuto Social da Petrobrás, onde consta uma cláusula

INFORMATIVOS 2020 - 75
compromissória dizendo que as disputas que envolvam a Companhia seus acionistas, administradores e

conselheiros fiscais deverão ser resolvidas por meio de arbitragem. A União afirmou que não estava obrigada a

participar dessa arbitragem, argumento que foi acolhido pelo STJ. STJ. 2ª Seção. CC 151.130-SP, Rel. Min. Nancy

Andrighi, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/11/2019 (Info 664).

Para que fique caracterizada a responsabilidade civil do Estado por danos decorrentes do comércio de fogos de

artifício, é necessário que exista a violação de um dever jurídico específico de agir, que ocorrerá quando

for concedida a licença para funcionamento sem as cautelas legais ou quando for de conhecimento do

poder público eventuais irregularidades praticadas pelo particular. STF. Plenário. RE 136861/SP, rel. orig.

Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/3/2020 (repercussão geral – Tema 366)

(Info 969)

Aplica-se igualmente ao estado o que previsto no art. 927, parágrafo único, do Código Civil, relativo à

responsabilidade civil objetiva por atividade naturalmente perigosa, irrelevante o fato de a conduta ser

comissiva ou omissiva. STJ. 2ª Turma. REsp 1.869.046-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 09/06/2020

(Info 674)

Nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a responsabilidade civil objetiva do

Estado por danos decorrentes de crime praticado por pessoa foragida do sistema prisional, quando não

demonstrado o nexo causal direto entre o momento da fuga e a conduta praticada. STF. Plenário. RE

608880, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 08/09/2020 (Repercussão

Geral – Tema 362) (Info 993).

RESPONSABILIZAÇÃO DE AGENTES PÚBLICOS

A MP 966/2020, que dispõe sobre a responsabilização de agentes públicos por ação e omissão em atos

relacionados com a pandemia da covid-19. O STF decidiu que a MP é, em princípio, constitucional, mas deverá

ser feita uma interpretação conforme à Constituição. Desse modo, o Plenário do STF deferiu parcialmente a

medida cautelar para:

1) conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 2º da MP 966/2020, no sentido de estabelecer que, na

caracterização de erro grosseiro, deve-se levar em consideração a observância, pelas autoridades:

a) de standards, normas e critérios científicos e técnicos, tal como estabelecidos por organizações e entidades

internacional e nacionalmente conhecidas; bem como

b) dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção; e

INFORMATIVOS 2020 - 76
2) conferir, ainda, interpretação conforme à Constituição ao art. 1º da MP 966/2020, para explicitar que, para os

fins de tal dispositivo, a autoridade à qual compete a decisão deve exigir que a opinião técnica trate

expressamente:

(i) das normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria, tal como estabelecidos por organizações e

entidades reconhecidas nacional e internacionalmente;

(ii) da observância dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção. Foram fixadas as seguintes teses:

1. Configura erro grosseiro o ato administrativo que ensejar violação ao direito à vida, à saúde, ao meio

ambiente equilibrado ou impactos adversos à economia, por inobservância:

i) de normas e critérios científicos e técnicos; ou

ii) dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção.

2. A autoridade a quem compete decidir deve exigir que as opiniões técnicas em que baseará sua decisão tratem

expressamente:

i) das normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria, tal como estabelecidos por organizações e

entidades internacional e nacionalmente reconhecidas; e

ii) da observância dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção, sob pena de se tornarem

corresponsáveis por eventuais violações a direitos.

Vale ressaltar que a MP não trata de crime ou de ato ilícito. Assim, qualquer interpretação do texto impugnado

que dê imunidade a agentes públicos quanto a ato ilícito ou de improbidade deve ser excluída. STF. Plenário. ADI

6421 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20 e 21/5/2020 (Info 978).

RESSARCIMENTO AO ERÁRIO

É prescritível a pretensão de ressarcimento ao erário fundada em decisão de Tribunal de Contas. STF. Plenário.

RE 636886/AL, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 20/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 899) (Info 983 –

clipping)

INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE

LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA

Edição de leis ambientais que restringem o uso da propriedade caracterizam-se como limitações

administrativas.

As restrições ao direito de propriedade, impostas por normas ambientais, ainda que esvaziem o conteúdo

econômico, não configuram desapropriação indireta.

A desapropriação indireta só ocorre quando existe o efetivo apossamento da propriedade pelo Poder Público.

INFORMATIVOS 2020 - 77
Logo, as restrições ao direito de propriedade impostas por normas ambientais configuram limitações

administrativas.

STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 1443672/SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 11/02/2020.

O prazo prescricional para exercer a pretensão de ser indenizado por limitações administrativas é de 5 anos, nos

termos do art. 10 do Decreto-Lei 3.365/1941, disposição de regência específica da matéria.

STJ. 2ª Turma. EDcl no REsp 1784226/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 06/06/2019.

Imóvel do particular foi incluído em unidade de conservação. Houve, no caso, uma limitação administrativa. Ele

ajuizou ação de desapropriação indireta pedindo indenização. Mesmo não tendo havido desapropriação

indireta, mas sim mera limitação administrativa, o juiz deverá conhecer da ação e julgar seu mérito. Devem ser

observados os princípios da instrumentalidade das formas e da primazia da solução integral do mérito. STJ. 1ª

Turma. REsp 1.653.169-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 19/11/2019 (Info 662)

DESAPROPRIAÇÃO

Qual é o prazo da ação de desapropriação indireta?

Regra: 10 anos (art. 1.238, parágrafo único, do CC/2002).

Exceção: o prazo será de 15 anos se ficar comprovada a inexistência de obras ou serviços públicos no local. Em

regra, portanto, o prazo prescricional das ações indenizatórias por desapropriação indireta é de 10 anos porque

existe uma presunção relativa de que o Poder Público realizou obras ou serviços públicos no local.

Admite-se, excepcionalmente, o prazo prescricional de 15 anos, caso a parte interessada comprove,

concreta e devidamente, que não foram feitas obras ou serviços no local, afastando a presunção legal.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.575.846-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/06/2019 (Info 658).

O prazo prescricional aplicável à desapropriação indireta, na hipótese em que o Poder Público tenha

realizado obras no local ou atribuído natureza de utilidade pública ou de interesse social ao imóvel, é de

10 anos, conforme parágrafo único do art. 1.238 do CC. STJ. 1ª Seção. REsp 1.757.352-SC, Rel. Min. Herman

Benjamin, julgado em 12/02/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1109) (Info 671). Obs: a súmula 119 do STJ está

superada (Súmula 119-STJ: A ação de desapropriação indireta prescreve em vinte anos).

BENS PÚBLICOS

As terras devolutas pertencem, em regra, aos Estados-membros, com exceção daquelas indispensáveis à

defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à

INFORMATIVOS 2020 - 78
preservação ambiental, que são de propriedade da União (art. 20, II, da CF/88). As terras devolutas

pertencem aos Estados-membros desde a Constituição de 1891, que delas excetuava apenas a porção do

território indispensável para a defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e estradas de ferro

federais. Esse mesmo tratamento jurídico foi mantido, com pequenas variações, nas Constituições de 1934,

1937, 1946, 1967, EC 1 de 1969 e, finalmente, na Constituição Federal de 1988. Caso concreto: no Estado de São

Paulo havia uma grande área que era considerada como terra devoluta. Diante disso, em 1939, o Estado ajuizou

ação discriminatória para regularizar essa área, tendo o pedido sido julgado procedente, com a expedição de

títulos de domínio das terras em favor do autor.

A União, posteriormente, propôs ação anulatória alegando que as referidas terras seriam de sua propriedade

desde 1872, por anexação. O Estado de São Paulo, por sua vez, alegou que eram terras devolutas, e, por isso,

passíveis de alienação a particulares. Apesar de inexistente, à época, qualquer registro imobiliário no sentido de

se cuidar de terras devolutas, não se exigiria prova nesse sentido, pois a regra então vigente era no sentido da

presunção da natureza devoluta dessas terras. Assim, havia presunção de que eram terras devolutas e cabia à

União o ônus de provar que adquiriu as terras por meio de compra ou anexação; que as terras lhe eram úteis; e

a exata individuação para fins de saber se elas coincidem com as áreas em relação às quais o estado de São

Paulo expediu os títulos que se pretende anular. É possível concluir que a União adquiriu terras na região,

mediante compra ou anexação. Entretanto, não há provas de que essas terras tenham sido efetivamente úteis

para o suposto fim original a que se prestariam. Além disso, não há qualquer precisão na individuação dessas

terras à época da aquisição. A União não se desincumbiu de seu ônus probatório. STF. Plenário. ACO 158/SP, Rel.

Min. Rosa Weber, julgado em 12/3/2020 (Info 969).

TEMAS DIVERSOS

Na equipe que compõe as Ambulâncias de Suporte Básico - Tipo B e as Unidades de Suporte Básico de

Vida Terrestre (USB) do SAMU não é necessária a presença de enfermeiro, bastando um técnico ou

auxiliar de enfermagem.

A composição da tripulação das Ambulâncias de Suporte Básico - Tipo B e das Unidades de Suporte Básico de

Vida Terrestre (USB) do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU sem a presença de enfermeiro não

ofende, mas sim concretiza, o que dispõem os artigos 11, 12, 13 e 15 da Lei n.º 7.498/86, que regulamenta o

exercício da enfermagem.

STJ. 1ª Seção. REsp 1828993-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 12/08/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1024)

(Info 677).

Pessoa jurídica de direito público tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da

INFORMATIVOS 2020 - 79
honra ou da imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre

os demais jurisdicionados em geral for evidente.

Imagine que um particular profere palavras ofensivas contra a administração pública. A pessoa jurídica de

direito público terá direito à indenização por danos morais sob a alegação de que sofreu violação da sua honra

ou imagem?

NÃO. Em regra, pessoa jurídica de direito público não pode pleitear, contra particular, indenização por dano

moral relacionado à violação da honra ou da imagem. Nesse sentido: REsp 1.258.389/PB, REsp 1.505.923/PR e

AgInt no REsp 1.653.783/SP.

Suponha, contudo, que uma autarquia foi vítima de grande esquema criminoso que desviou vultosa quantia e

gerou grande repercussão na imprensa, acarretando descrédito em sua credibilidade institucional. Neste caso,

os particulares envolvidos poderiam ser condenados a pagar indenização por danos morais à autarquia?

SIM. Pessoa jurídica de direito público tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da

honra ou da imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre os

demais jurisdicionados em geral for evidente.

Nos três julgados acima mencionados nos quais o STJ negou direito à indenização, o que estava em jogo era a

livre manifestação do pensamento, a liberdade de crítica dos cidadãos ou o uso indevido de bem imaterial do

ente público. No caso concreto é diferente. A indenização está sendo pleiteada em razão da violação à

credibilidade institucional da autarquia que foi fortemente agredida em razão de crimes praticados contra ela.

STJ. 2ª Turma. REsp 1722423-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/11/2020 (Info 684).

FUNDEF

O valor da complementação da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorização do Magistério (Fundef) deve ser calculado com base no valor mínimo nacional por aluno extraído da

média nacional. A complementação ao Fundef realizada a partir do valor mínimo anual por aluno fixada em

desacordo com a média nacional impõe à União o dever de suplementação de recursos, mantida a vinculação

constitucional a ações de desenvolvimento e manutenção do ensino. Em outras palavras, os Estados

prejudicados com o cálculo incorreto do valor mínimo nacional por aluno deverão ser indenizados por conta do

montante pago a menor a título de complementação pela União no período de vigência do FUNDEF, isto é, nos

exercícios financeiros de 1998 a 2007. O tema acima foi definido pelo STJ (no REsp 1101015/BA) e pelo STF nas

ACO 648/BA, ACO 660/AM, ACO 669/SE e ACO 700/RN, jugadas em 6/9/2017. Diante disso, é possível que o

Ministro do STF, Relator de ações com pedidos semelhantes, decida monocraticamente e julgue procedente os

pedidos formulados por outros Estados-Membros contra a União. Não haverá, neste caso, violação ao princípio

da colegialidade. STF. Plenário. ACO 701 AgR/AL, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 18/12/2019 (Info 964)

INFORMATIVOS 2020 - 80
INFRAÇÕES DE TRÂNSITO

No processo administrativo para imposição de multa de trânsito, são necessárias as notificações da autuação

e da aplicação da pena decorrente da infração. Tais notificações, se feitas por remessa postal, não precisam

ser acompanhadas de aviso de recebimento (AR). Não há essa exigência no Código de Trânsito Brasileiro nem

nas Resoluções do CONTRAN. STJ. 1ª Seção. PUIL 372-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 11/03/2020 (Info

668).

DIREITO ADMINISTRATIVO MILITAR

A definição de viuvez do art. 2º, V, da Lei nº 8.059/90 contempla a viúva de militar que passa a conviver em união

estável, após a óbito do beneficiário, mesmo sem contrair novas núpcias, porquanto já constituída instituição

familiar equiparável ao casamento. STJ. 1ª Turma. REsp 1.386.713-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em

10/03/2020 (Info 668).

DIREITO CIVIL

DIREITOS DA PERSONALIDADE

Na exposição pornográfica não consentida, o fato de o rosto da vítima não estar evidenciado de maneira

flagrante é irrelevante para a configuração dos danos morais.

Caso concreto: Paulo e Letícia eram namorados. Paulo tirou fotografias de Letícia em que ela aparece de biquini,

em poses sensuais, mas sem aparecer seu rosto. Após o fim do relacionamento, Paulo, como forma de vingança,

publicou tais imagens em um perfil criado no Facebook. Letícia denunciou as publicações por meio dos canais

disponibilizados pelo Facebook, no entanto, a plataforma não aceitou retirar as fotografias alegando que não

são fotografias pornográficas (considerando que não há nudez), além do fato de não estar sendo exposto de

forma evidente.

O STJ não concordou com os argumentos do Facebook e o condenou a pagar indenização por danos morais em

favor da autora.

A “exposição pornográfica não consentida”, da qual a “pornografia de vingança” é uma espécie, constituiu uma

grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa exposta indevidamente, além de configurar uma grave

forma de violência de gênero que deve ser combatida de forma contundente pelos meios jurídicos disponíveis.

Não há como descaracterizar um material pornográfico apenas pela ausência de nudez total. Neste caso

concreto, a autora encontra-se sumariamente vestida, em posições com forte apelo sexual.

INFORMATIVOS 2020 - 81
O fato de o rosto da vítima não estar evidenciado nas fotos de maneira flagrante é irrelevante para a

configuração dos danos morais na hipótese, uma vez que a mulher vítima da pornografia de vingança sabe que

sua intimidade foi indevidamente desrespeitada e, igualmente, sua exposição não autorizada lhe é humilhante e

viola flagrantemente seus direitos de personalidade.

STJ. 3ª Turma. REsp 1735712-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

DIREITO AO ESQUECIMENTO

Existindo evidente interesse social no cultivo à memória histórica e coletiva de delito notório, incabível o

acolhimento da tese do direito ao esquecimento para proibir qualquer veiculação futura de matérias

jornalísticas relacionadas ao fato criminoso cuja pena já se encontra cumprida. O chamado direito ao

esquecimento, apesar de ser reconhecido pela jurisprudência, não possui caráter absoluto. Em caso de

evidente interesse social no cultivo à memória histórica e coletiva de delito notório, não se pode proibir a

veiculação de matérias jornalísticas relacionados com o fato criminoso, sob pena de configuração de

censura prévia, vedada pelo ordenamento jurídico pátrio. Em tal situação, não se aplica o direito ao

esquecimento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.803-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info

670)

Matéria jornalística que, sob o pretexto de noticiar crime histórico, expõe a intimidade do atual marido e dos

filhos da condenada, pessoas que não têm relação direta com o fato, ofende o princípio da intranscendência ou

da pessoalidade da pena, descrito no art. 5º, XLV, da CF/88 e no art. 13 do Código Penal. Isso porque, ao expor

publicamente a intimidade dos referidos familiares em razão do crime ocorrido, a reportagem compartilhou

dimensões evitáveis e indesejáveis dos efeitos da condenação então estendidas à atual família da ex-condenada.

Especificamente quanto aos filhos, menores de idade, ressalta-se a Opinião Consultiva n. 17, de 28 de agosto de

2002 da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que entende que o melhor interesse das crianças e dos

adolescentes é reconhecido como critério regente na aplicação de normas em todos os aspectos da vida dos

denominados “sujeitos em desenvolvimento”. Ademais, a exposição jornalística da vida cotidiana dos

infantes, relacionando-os, assim, ao ato criminoso, representa ofensa ao direito ao pleno

desenvolvimento de forma sadia e integral, nos termos do art. 3º do ECA e do art. 16 da Convenção sobre

os Direitos da Criança, promulgada pelo Decreto nº 99.710/90. STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.803-RJ, Rel. Min.

Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 28/04/2020 (Info 670).

DIREITO À IMAGEM

Em regra, a autorização para uso da imagem deve ser expressa; no entanto, a depender das

circunstâncias, especialmente quando se trata de imagem de multidão, de pessoa famosa ou ocupante

INFORMATIVOS 2020 - 82
de cargo público, há julgados do STJ em que se admite o consentimento presumível, o qual deve ser

analisado com extrema cautela e interpretado de forma restrita e excepcional.

De um lado, o uso da imagem da torcida - em que aparecem vários dos seus integrantes - associada à partida de

futebol, é ato plenamente esperado pelos torcedores, porque costumeiro nesse tipo de evento; de outro lado,

quem comparece a um jogo esportivo não tem a expectativa de que sua imagem seja explorada

comercialmente, associada à propaganda de um produto ou serviço, porque, nesse caso, o uso não decorre

diretamente da existência do espetáculo. A imagem é a emanação de uma pessoa, a forma com a qual ela se

projeta, se identifica e se individualiza no meio social. Não há violação ao direito à imagem se a divulgação

ocorrida não configura projeção, identificação e individualização da pessoa nela representada. No caso concreto,

o autor não autorizou ainda que tacitamente a divulgação de sua imagem em campanha publicitária de

automóvel. Ocorre que, pelas circunstâncias, não há que se falar em utilização abusiva da imagem, tampouco

em dano moral porque o vídeo divulgado não destaca a sua imagem, mostrando o autor durante poucos

segundos inserido na torcida, juntamente com vários outros torcedores. STJ. 3ª Turma. REsp 1.772.593-RS, Rel.

Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/06/2020 (Info 674)

PESSOA JURÍDICA

A responsabilidade do ex-cooperado pelo rateio dos prejuízos acumulados não se limita ao prazo de 2

anos contados do desligamento da cooperativa, previsto no art. 1.003, parágrafo único, e no art. 1.032, do

Código Civil. Exemplo: João fazia parte de uma cooperativa e saiu formalmente em 2010. Em 2014, a cooperativa

ajuizou ação contra João cobrando o pagamento de parte proporcional de prejuízo que a entidade sofreu em

2009. O STJ afirmou o ex-cooperado pode responder porque não se aplica o limite de prazo de 2 anos, previsto

no art. 1.003, parágrafo único e no art. 1.032, do Código Civil: Art. 1.003 (...) Parágrafo único. Até dois anos depois

de averbada a modificação do contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário, perante a

sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio. Art. 1.032. A retirada, exclusão ou morte do

sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois

anos após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em igual

prazo, enquanto não se requerer a averbação. Esses dispositivos mencionados pertencem ao regime das

sociedades simples e somente se aplicariam às cooperativas caso a lei fosse omissa (art. 1.096 do CC). Ocorre

que o art. 89 da Lei nº 5.764/71 trata sobre o tema e não estipula prazo. Por fim, vale mencionar que o prazo

prescricional para cobrança de ato cooperativo é de 10 anos, nos temos do art. 205 do CC. STJ. 3ª Turma. REsp

1.774.434-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info 682)

INFORMATIVOS 2020 - 83
EIRELI

A exigência de integralização do capital social por empresas individuais de responsabilidade limitada (EIRELI), no

montante previsto no art. 980-A do Código Civil, com redação dada pelo art. 2º da Lei nº 12.441/2011, não viola a

regra constitucional que veda a vinculação do salário-mínimo para qualquer fim e também não configura

impedimento ao livre exercício da atividade empresarial. O art. 980-A do Código Civil exige que o capital social da

empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) não seja inferior a 100 vezes o maior salário-mínimo

vigente no País. Essa previsão é constitucional. Não há violação ao art. 7º, IV, da CF/88 porque não existe, no

art. 980-A, qualquer forma de vinculação que possa interferir ou prejudicar os reajustes periódicos do

salário mínimo. Não há afronta ao art. 170 da CF/88 (livre iniciativa) porque essa exigência de capital social

mínimo tem por objetivo proteger os interesses de eventuais credores, além do que não impede que a pessoa

exerça a livre iniciativa, sendo apenas um requisito para a constituição de EIRELI. STF. Plenário. ADI 4637/DF, Rel.

Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/12/2020 (Info 1001)

OBS; EIRELI foi extinta com a MP 1085/21

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Em regra, não é cabível a condenação em honorários advocatícios em qualquer incidente processual,

ressalvados os casos excepcionais. Tratando-se de incidente de desconsideração da personalidade jurídica,

não cabe a condenação nos ônus sucumbenciais em razão da ausência de previsão legal. Logo, é

irrelevante apurar quem deu causa ou foi sucumbente no julgamento final do incidente. STJ. 3ª Turma. REsp

1.845.536-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

A imputação dos pagamentos primeiramente nos juros é instituto que, via de regra, alcança todos os

contratos em que o pagamento é diferido em parcelas. O objetivo de fazer isso é o de diminuir a oneração do

devedor. Ao impedir que os juros sejam integrados ao capital para, só depois dessa integração, ser abatido o

valor das prestações, evita que sobre eles (juros) incida novo cômputo de juros. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp

1.843.073-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 30/03/2020 (Info 669)

A cobrança de juros remuneratórios superiores aos limites estabelecidos pelo Código Civil é excepcional e

deve ser interpretada restritivamente. Apenas às instituições financeiras, submetidas à regulação, controle e

fiscalização do Conselho Monetário Nacional, é permitido cobrar juros acima do teto legal. A previsão do art. 2º

da Lei nº 6.463/77 faz referência a um sistema obsoleto, em que a aquisição de mercadorias a prestação

INFORMATIVOS 2020 - 84
dependia da atuação do varejista como instituição financeira e no qual o controle dos juros estava sujeito ao

escrutínio dos próprios consumidores e à regulação e fiscalização do Ministério da Fazenda.

O art. 2º da Lei 6.463/77 não possui mais suporte fático apto à sua incidência, sendo, portanto, ineficaz, não

podendo ser interpretado extensivamente para permitir a equiparação dos varejistas a instituições financeiras e

não autorizando a cobrança de encargos cuja exigibilidade a elas é restrita. STJ. 3ª Turma. REsp 1.720.656-MG,

Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

O FIDC, ao adquirir do condomínio créditos de cotas condominiais não-pagas, sub-roga-se e passa a ter os

mesmos direitos que o condomínio possuía, com as mesmas prerrogativas no momento de cobrar os

inadimplentes.

Situação concreta: vários condôminos estavam inadimplentes com as taxas condominiais. O condomínio cedeu

esses créditos para um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). O FIDC, ao adquirir do condomínio

esses créditos, sub-roga-se e passa a ter os mesmos direitos que o condomínio possuía, com as mesmas

prerrogativas. A cessão de crédito não implica a alteração da natureza do crédito cedido. Na atividade de

securitização de créditos condominiais, os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) valem-se do

instituto da cessão de créditos e, ao efetuarem o pagamento das cotas condominiais inadimplidas, sub-rogam-se

na mesma posição do condomínio cedente, com todas as prerrogativas legais a ele conferidas. STJ. 3ª Turma.

REsp 1.570.452-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/09/2020 (Info 680).

Se o contrato, ao tratar sobre os encargos, menciona a taxa de juros mensal e anual, mas não prevê qual é a

taxa diária dos juros, há abusividade. Viola o dever de informação, o contrato que somente prevê uma

cláusula genérica de capitalização diária, sem informar a taxa diária de juros remuneratórios. A

informação acerca da capitalização diária, sem indicação da respectiva taxa diária, subtrai do consumidor a

possibilidade de estimar previamente a evolução da dívida, e de aferir a equivalência entre a taxa diária

e as taxas efetivas mensal e anual. A falta de previsão da taxa diária, portanto, dificulta a compreensão do

consumidor acerca do alcance da capitalização diária, o que configura descumprimento do dever de informação

trazido pelo art. 46 do CDC. STJ. 2ª Seção. REsp 1.826.463-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em

14/10/2020 (Info 682)

O réu, citado na ação monitória, pode apresentar embargos monitórios, que são uma forma de defesa,

semelhante à contestação (art. 702 do CPC). Os embargos podem se fundar em qualquer matéria que poderia

ser alegada como defesa no procedimento comum (§ 1º do art. 702). Assim, o réu pode, nos embargos

monitórios, alegar que a dívida já está paga e pedir a repetição de indébito em dobro, nos termos do art.

940 do CC. A condenação ao pagamento em dobro do valor indevidamente cobrado pode ser formulada em

qualquer via processual, inclusive, em sede de embargos à execução, embargos monitórios e ou reconvenção,

INFORMATIVOS 2020 - 85
até mesmo reconvenção, prescindindo de ação própria para tanto. STJ. 3ª Turma. REsp 1.877.292-SP, Rel. Min.

Nancy Andrighi, julgado em 20/10/2020 (Info 682)

CONTRATOS EM ESPÉCIE

COMPRA E VENDA

O STJ possui enunciado afirmando que: “é admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação

de posse advinda do compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro” (Súmula

84-STJ).

Esse entendimento se aplica mesmo que o imóvel, adquirido na planta, ainda esteja em fase de construção.

Assim, a Súmula 84 do STJ pode ser aplicada mesmo quando ainda não houve a entrega das chaves ao

promitente comprador.

STJ. 3ª Turma. REsp 1861025/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

A averbação do desmembramento de imóvel urbano é condição indispensável para a procedência da

ação de adjudicação compulsória.

Exemplo hipotético: Jasmim Ltda. ajuizou ação de adjudicação compulsória contra Dimensão Ltda. alegando em

síntese que celebrou contrato de promessa de compra e venda de um lote que se encontrava em fase de

desmembramento perante a “Prefeitura” (Município). Afirma que, apesar de celebrado o negócio, a ré ainda não

outorgou a escritura definitiva do imóvel. A requerida defendeu-se afirmando que não outorgou a escritura

pública porque ainda não houve o desdobro do imóvel prometido à venda e que isso seria obstáculo à

procedência da adjudicação compulsória.

Em um caso semelhante a esse, o STJ decidiu que não é possível a procedência da ação de adjudicação

compulsória.

O art. 37 da Lei nº 6.766/79 (Lei de parcelamento do solo urbano) afirma que “é vedado vender ou prometer

vender parcela de loteamento ou desmembramento não registrado”.

Além disso, segundo o regramento previsto no Decreto-Lei nº 58/1937, julgada procedente a ação de

adjudicação compulsória, a sentença valerá como título para transcrição no cartório de registro de imóveis

respectivo. Assim, se o imóvel de cuja escritura se exige a outorga não tem matrícula própria, individualizada no

registro de imóveis, eventual sentença que substitua a declaração de vontade do promitente vendedor torna-se

inócua, considerando que não será possível a sua transcrição.

A existência de imóvel registrável (imóvel que pode ser levado a registro) é condição específica da ação de

adjudicação compulsória, de modo que a averbação do desmembramento de imóvel urbano, devidamente

aprovado pelo Município, é formalidade que antecede necessariamente o registro de área fracionada.

INFORMATIVOS 2020 - 86
STJ. 3ª Turma. REsp 1851104-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do

alienante expressamente houverem consentido (art. 496 do CC). O prazo para anular a venda direta entre

ascendente e descendente é de 2 anos, a contar da conclusão do ato (art. 179 do CC). A venda de bem entre

ascendente e descendente, por meio de interposta pessoa, também é ato jurídico anulável, devendo ser

aplicado o mesmo prazo decadencial de 2 anos previsto no art. 179 do CC. Isso porque a venda por interposta

pessoa não é outra coisa que não a tentativa reprovável de contornar-se a exigência da concordância dos

demais descendentes e também do cônjuge. Em outras palavras, é apenas uma tentativa de se eximir da regra

do art. 496 do CC, razão pela qual deverá ser aplicado o mesmo prazo decadencial de 2 anos. STJ. 3ª Turma. REsp

1.679.501-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

SEGURO

No seguro de vida, se o segurado se suicidar, a seguradora continua tendo obrigação de pagar a indenização?

1) Entendimento ANTERIOR (até 08/04/2015) (Súmulas 105 do STF e 61 do STJ): O critério era o da premeditação:

• Se o suicídio foi premeditado: NÃO • Se o suicídio não foi premeditado: SIM

2) Entendimento ATUAL (Súmula 610 do STJ): O critério passou a ser o meramente temporal:

• Suicídio nos dois primeiros anos: SEM direito à indenização.

• Suicídio após os dois primeiros anos: TEM direito à indenização.

Caso concreto: segurado cometeu suicídio antes de terminarem os dois primeiros anos do contrato. Ficou

demonstrado que o suicídio não foi premeditado. Assim, pelo entendimento anterior, o beneficiário do seguro

teria direito à indenização (porque o suicídio não foi premeditado). Por outro lado, pelo entendimento atual, o

filho de João não teria direito à indenização (porque o suicídio ocorreu nos dois primeiros anos do contrato). O

beneficiário ajuizou a ação contra a seguradora quando ainda vigorava o entendimento anterior do STJ, tendo,

inclusive, obtido uma sentença favorável. Ocorre que, quando o processo chegou ao STJ por meio de recurso, o

entendimento já havia mudado. Neste caso, o STJ afirmou que, mesmo tendo havido alteração da jurisprudência,

deveria ser aplicado o entendimento anterior. STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.716-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi,

julgado em 10/12/2019 (Info 662)

Em regra, é válida a cláusula de reajuste por faixa etária em contrato de seguro de vida.

Essa cláusula somente não será válida nos casos em que o contrato já tenha previsto alguma outra

técnica de compensação do “desvio de risco” dos segurados idosos, como nos casos de constituição de

reserva técnica para esse fim, a exemplo dos seguros de vida sob regime da capitalização (em vez da repartição

simples).

INFORMATIVOS 2020 - 87
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 632.992/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 19/03/2019. STJ. 3ª Turma.

REsp 1.816.750-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/11/2019 (Info 663)

No seguro de vida em grupo, não há abusividade na cláusula que permite a não renovação do contrato ou

a renovação condicionada a reajuste por faixa etária. É válida a cláusula contratual que confere a

prerrogativa de a seguradora optar por não renovar o contrato de seguro de vida em grupo. Também é válida a

cláusula contratual que preveja a possibilidade de alteração da cobertura contratada e de reajuste por

implemento de idade, mediante prévia comunicação, quando da formalização da estipulação da nova

apólice. Em outras palavras, no contrato de seguro de vida em grupo, não há abusividade no reajuste por

implemento de idade quando da formalização da nova apólice. Tais cláusulas são decorrentes da própria

natureza do contrato. STJ. 4ª Turma. REsp 1.769.111-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/12/2019

(Info 665)

No contrato de seguro de vida em grupo, cuja estipulação é feita em favor de terceiros, três são as partes

interessadas:

a) estipulante, responsável pela contratação com o segurador (ex: empresa ou associação);

b) seguradora, que oferece a cobertura dos riscos especificados na apólice;

c) o grupo segurado, usufrutuários dos benefícios, que assumem suas obrigações para com o estipulante (ex:

trabalhadores ou associados).

Uma pessoa está decidindo se irá ou não aderir a um seguro de vida em grupo oferecido pelo empregador

(estipulante). De quem é o dever de informar previamente ao segurado a respeito das cláusulas

limitativas/restritivas do contrato? Esse dever é da seguradora ou do estipulante?

• Estipulante. É a posição atual da 3ª Turma do STJ: Incumbe exclusivamente ao estipulante o dever de prestar

informação prévia ao segurado a respeito das cláusulas limitativas/restritivas nos contratos de seguro de vida

em grupo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.825.716-SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/10/2020 (Info 683).

• Seguradora. É o entendimento da 4ª Turma do STJ: A seguradora tem o dever de prestar informações ao

segurado, mesmo nos contratos de seguro de vida em grupo. Tal responsabilidade não pode ser transferida

integralmente à estipulante, eximindo a seguradora. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.848.053/SC, Rel. Min. Raul

Araújo, julgado em 10/3/2020.

DPVAT

As alterações no seguro obrigatório só podem ser feitas por meio de lei complementar. Isso porque o

sistema de seguros integra o sistema financeiro nacional, subordinado ao Banco Central do Brasil. Pode-se dizer

que o sistema de seguros é um subsistema do sistema financeiro nacional. De acordo com o art. 192 da

Constituição Federal, é necessário lei complementar para tratar dos aspectos regulatórios do sistema financeiro.

INFORMATIVOS 2020 - 88
Desse modo, a regulação do DPVAT (Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores

de Vias Terrestres) e do DPEM (Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Embarcações ou por sua

Carga) deve ser feita por meio de lei complementar, nos termos do art. 192 da Constituição Federal. É vedada a

edição de medida provisória que disponha sobre matéria sob reserva de lei complementar (art. 62, § 1º,

III, da CF/88). Logo, é inconstitucional a MP 904/2019, que pretendia extinguir o DPVAT e o DPEM, a partir

de 1º de janeiro de 2020. Essa MP viola o art. 62, § 1º, III c/c o art. 192 da CF/88. STF. Plenário virtual. ADI

6262/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 19/12/2019.

FIANÇA

É necessária a outorga conjugal para fiança em favor de sociedade cooperativa. STJ. 4ª Turma. REsp

1.351.058-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/11/2019 (Info 664).

ARBITRAGEM

A União, na condição de acionista controladora da Petrobras, não pode ser submetida à cláusula

compromissória arbitral prevista no Estatuto Social da Companhia, seja em razão da ausência de lei autorizativa,

seja em razão do próprio conteúdo da norma estatutária. Caso concreto: um grupo de acionistas da Petrobrás

formulou requerimento para instauração de procedimento arbitral perante a Câmara de Arbitragem do Mercado

(CAM-BOVESPA) contra a União e a Petrobrás, no qual pedem o ressarcimento pelos prejuízos decorrentes da

desvalorização dos ativos da Petrobras, em razão dos desgastes oriundos da Operação Lava Jato. O

procedimento foi instaurado com base no art. 58 do Estatuto Social da Petrobrás, onde consta uma cláusula

compromissória dizendo que as disputas que envolvam a Companhia, seus acionistas, administradores e

conselheiros fiscais deverão ser resolvidas por meio de arbitragem. A União afirmou que não estava obrigada a

participar dessa arbitragem, argumento que foi acolhido pelo STJ. STJ. 2ª Seção. CC 151.130-SP, Rel. Min. Nancy

Andrighi, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/11/2019 (Info 664).

DOAÇÃO

É nula a doação entre cônjuges casados sob o regime da comunhão universal de bens, na medida em que a

hipotética doação resultaria no retorno do bem doado ao patrimônio comum amealhado pelo casal diante

da comunicabilidade de bens no regime e do exercício comum da copropriedade e da composse. STJ. 3ª Turma.

REsp 1.787.027-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/02/2020 (Info 670).

INFORMATIVOS 2020 - 89
MANDATO

O Código Civil de 1916 previa que “o reconhecimento da letra e firma no instrumento particular é condição

essencial à sua validade, em relação a terceiros” (art. 1.289, §4º). Embora o respeito à forma prescrita em lei

tenha relevância, a jurisprudência do STJ admite, ainda que excepcionalmente, a relativização de vícios formais,

especialmente aqueles que se podem reputar como menos graves e que sejam insuficientes para comprometer

a substância do ato negocial. Assim, em um caso ocorrido na vigência do CC/1916, o STJ afirmou que, embora

não tenha havido o reconhecimento de firma da assinatura do mandante do contrato de mandato, não deveria

ser reconhecida a nulidade do mandato considerando que qualquer dúvida acerca da autenticidade do

documento foi dirimida pela prova pericial grafotécnica. Vale ressaltar que o Código Civil de 2002 não traz uma

regra tão rígida quanto a do diploma passado e prevê apenas que “o terceiro com quem o mandatário tratar

poderá exigir que a procuração traga a firma reconhecida” (art. 654, § 2º, do CC/2002). STJ. 3ª Turma. REsp

1.787.027-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/02/2020 (Info 670).

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS

Nos contratos de prestação de serviços advocatícios com cláusula de remuneração exclusivamente por

verbas sucumbenciais, a revogação unilateral do mandato pelo mandante acarreta a remuneração do

advogado pelo trabalho desempenhado até o momento da rescisão contratual. Nessas hipóteses, o risco

assumido pelo advogado é calculado com base na probabilidade de êxito da pretensão de seu cliente, sendo

esse o limite do consentimento das partes no momento da contratação. Não é possível que o risco assumido

pelo causídico venha a abarcar a hipótese de o contratante, por ato próprio e sem uma justa causa, anular o seu

direito à remuneração, rescindindo o contrato. O cliente pode, sem dúvida, exercer o direito de não mais ser

representado pelo advogado antes contratado, mas deve, por outro lado, assumir o ônus de remunerá-lo pelo

trabalho desempenhado até aquele momento, sob pena de ser desconsiderado todo o trabalho desempenhado.

Desse modo, é cabível o arbitramento judicial da verba honorária, levando em consideração as atividades

desenvolvidas pelo causídico. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.560.257-PB, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado

em 20/04/2020 (Info 670).

O Código de Ética e Disciplina da OAB (CED-OAB), ao dispor sobre as relações entre cliente e advogado, assevera

expressamente que o fundamento que as norteia é a confiança recíproca. Assim, em razão da relação de fidúcia

(confiança) entre advogado e cliente (considerando se tratar de contrato personalíssimo), o Código de Ética

prevê, em seu art. 16, que o mandato perdura enquanto houver confiança recíproca entre cliente e advogado.

Como existe a possibilidade de quebra da fidúcia (confiança) entre cliente/advogado, há o direito potestativo do

patrono em renunciar ao patrocínio (sem prejuízo do cliente ser reparado por eventuais danos sofridos), bem

como do cliente em revogar o mandato outorgado (sem prejuízo do causídico em receber verba remuneratória

pelos serviços então prestados). Dessa forma, a revogação unilateral, pelo cliente, do mandato outorgado

INFORMATIVOS 2020 - 90
ao advogado é causa lícita de rescisão do contrato de prestação de serviços advocatícios, não ensejando

o pagamento de multa prevista em cláusula penal. A mesma lógica pode e deve ser aplicada também quando

ocorrer o inverso, na hipótese de renúncia do mandato pelo causídico. Vale ressaltar, por fim, que é possível a

existência de cláusula penal nos contratos de prestação de serviços advocatícios, contudo adstrita às situações

de mora e/ou inadimplemento, desde que respeitada a razoabilidade, sob pena de interferência judicial. STJ. 3ª

Turma. REsp 1.882.117-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/10/2020 (Info 682)

CONTRATO DE CONCESSÃO COMERCIAL

Entre a pessoa jurídica fabricante (montadora de carros, chamada de concedente; ex: General Motors) e o

distribuidor (concessionária), há uma relação de concessão comercial cujo objeto é o veículo a ser vendido ao

consumidor. Esse vínculo, sob o ponto de vista comercial, é regido pela Lei nº 6.729/79, conhecida como Lei

Ferrari. Caso concreto: a montadora (concedente) e a concessionária celebraram contrato de concessão de

veículos, peças e acessórios por prazo indeterminado. A montadora promoveu a resolução do contrato, sob

alegação de que a concessionária teria praticado diversas irregularidades graves, como a adulteração de ordens

de serviço. A concessionária ajuizou ação pedindo o pagamento da indenização prevista no art. 24 da Lei Ferrari,

que diz: “Art. 24. Se o concedente der causa à rescisão do contrato de prazo indeterminado, deverá reparar o

concessionário: (...)” O STJ entendeu que era descabida a condenação da montadora. O art. 24 da Lei Ferrari

prevê uma série de parcelas indenizatórias devidas à concessionária no caso de resolução do contrato, mas esse

pagamento só ocorre se o concedente tiver dado causa a essa resolução. Na situação em tela, as irregularidades

praticadas pela concessionária foram graves, a ponto de ensejar o reconhecimento de sua culpa pela resolução

do contrato. STJ. 3ª Turma. REsp 1.683.245-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 06/10/2020 (Info

682).

LOCAÇÃO COMERCIAL

A ação revisional é destinada para as hipóteses em que não há acordo entre locador e locatário sobre o valor do

aluguel. Com base na autonomia privada, nada impede que as partes contratantes (locador e locatário) se

ajustem sobre:

i) os gastos relativos à acessão sejam descontados do valor do aluguel por determinado tempo;

ii) a acessão seja realizada por investimento exclusivo de uma das partes com a correspondente

indenização ao final do contrato, seja pelo locador, seja pelo locatário;

iii) a acessão seja custeada por apenas uma parte, renunciando-se à indenização correspondente ao

investimento.

Contudo, se não houver consenso entre as partes, em sede de ação revisional de locação comercial, o

novo aluguel deve refletir o valor patrimonial do imóvel locado, inclusive decorrente de benfeitorias e

INFORMATIVOS 2020 - 91
acessões nele realizadas pelo locatário, pois estas incorporam-se ao domínio do locador, proprietário do bem.

STJ. Corte Especial. EREsp 1.411.420-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/06/2020 (Info 678).

EMPRÉSTIMO

Analfabeto pode celebrar empréstimo consignado, no entanto, alguém tem que assinar por ele a seu

rogo; não é válido o empréstimo consignado firmado por analfabeto e no qual constou apenas a sua

digital (sem a assinatura a rogo).

É válida a contratação de empréstimo consignado por analfabeto mediante a assinatura a rogo, a qual, por sua

vez, não se confunde, tampouco poderá ser substituída pela mera aposição de digital ao contrato escrito.

STJ. 3ª Turma. REsp 1868099-CE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/12/2020 (Info 684).

SFH

Os prejuízos resultantes de sinistros relacionados a vícios estruturais de construção estão acobertados

pelo seguro habitacional obrigatório, vinculado a crédito imobiliário concedido para aquisição de imóvel

pelo SFH.

Os vícios estruturais de construção estão cobertos pelo seguro habitacional obrigatório vinculado ao crédito

imobiliário concedido pelo Sistema Financeiro da Habitação - SFH, ainda que só se revelem depois da extinção

do contrato.

No âmbito do SFH, o seguro habitacional ganha conformação diferenciada, uma vez que integra a política

nacional de habitação, destinada a facilitar a aquisição da casa própria, especialmente pelas classes de menor

renda da população. Trata-se, portanto, de contrato obrigatório que visa à proteção da família e à salvaguarda

do imóvel que garante o respectivo financiamento imobiliário, resguardando, assim, os recursos públicos

direcionados à manutenção do sistema.

A partir dessa perspectiva, infere-se que uma das justas expectativas do segurado, ao aderir ao seguro

habitacional obrigatório para aquisição da casa própria pelo SFH, é a de receber o bem imóvel próprio e

adequado ao uso a que se destina. E a essa expectativa legítima de garantia corresponde a de ser devidamente

indenizado pelos prejuízos suportados em decorrência de danos originados na vigência do contrato e geradores

dos riscos cobertos pela seguradora, segundo o previsto na apólice, como razoavelmente se pressupõe ocorrer

com os vícios estruturais de construção.

STJ. 2ª Seção. REsp 1804965-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/05/2020 (Info 672).

RESPONSABILIDADE CIVIL

INFORMATIVOS 2020 - 92
A caracterização do infortúnio como acidente de trabalho não impede, necessariamente, que esse

também seja considerado como um acidente causado por veículo automotor e, portanto, coberto pelo

seguro DPVAT.

O art. 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal,

sendo constitucional a responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes de

trabalho nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida, por sua

natureza, apresentar exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva, e implicar ao

trabalhador ônus maior do que aos demais membros da coletividade. STF. Plenário. RE 828040/DF, Rel. Min.

Alexandre de Moraes, julgado em 12/3/2020 (repercussão geral – Tema 932) (Info 969).

A decretação da prescrição da pretensão punitiva do Estado na ação penal não fulmina o interesse

processual no exercício da pretensão indenizatória a ser deduzida no juízo cível pelo mesmo fato. STJ. 3ª

Turma. REsp 1.802.170-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2020 (Info 666)

Acidente de trânsito, responsabilidade civil e possibilidade de ajuizamento de ação para

complementação das verbas já recebidas por força de acordo extrajudicial.

Em regra, a quitação ampla, geral e irrevogável efetivada em acordo extrajudicial deve ser presumida válida e

eficaz, não se autorizando o ingresso na via judicial para ampliar verbas indenizatórias anteriormente aceitas e

recebidas. Existem, contudo, exceções a essa regra.

O curto espaço de tempo entre o acidente e a assinatura do acordo e desconhecimento da integralidade

dos danos constitui exceção à regra de que a quitação plena e geral desautoriza o ajuizamento de ação

para ampliar a verba indenizatória aceita e recebida.

Caso concreto: o acidente de trânsito foi em 20/04/2015; o acordo foi celebrado em 08/05/2015, ou seja, em data

muito próxima à do sinistro; nessa época, a autora ainda não tinha conhecimento da integralidade do prejuízo

que havia sofrido; após a assinatura do termo, a parte tomou ciência de que necessitaria de amplo tratamento

dentário, razão pela qual ajuizou ação cobrando o custo disso e que não estava coberto pelo acordo. STJ. 4ª

Turma. AgInt no REsp 1.833.847-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/04/2020 (Info 671)

O ato de vandalismo que resulta no rompimento de cabos elétricos de vagão de trem não exclui

necessariamente a responsabilidade da concessionária/transportadora. Caso concreto: houve uma

explosão elétrica no vagão de trem durante o transporte, o que gerou tumulto e pânico entre os passageiros.

Essa explosão decorreu de ato de vandalismo. Mesmo que o dano tenha sido decorrente de uma conduta de

terceiro, persiste a responsabilidade da concessionária. Isso porque a conduta do terceiro, neste caso, está

inserida no risco do transportador, relacionando-se com a sua atividade. Logo, configura o chamado fortuito

interno, que não é capaz de excluir a responsabilidade. O contrato de transporte de passageiros envolve a

chamada cláusula de incolumidade, segundo a qual o transportador deve empregar todos os expedientes

INFORMATIVOS 2020 - 93
que são próprios da atividade para preservar a integridade física do passageiro, contra os riscos

inerentes ao negócio, durante todo o trajeto, até o destino final da viagem. Assim, o ato de vandalismo

que resulta no rompimento de cabos elétricos de vagão de trem não exclui a responsabilidade da

concessionária/transportadora, pois cabe a ela cumprir protocolos de atuação para evitar tumulto, pânico e

submissão dos passageiros a mais situações de perigo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.786.722-SP, Rel. Min. Nancy

Andrighi, julgado em 09/06/2020 (Info 673)

Poder Judiciário pode obrigar empresa responsável pela rede social a fornecer os dados de todos os

usuários que acessaram determinado perfil dessa rede social em determinado intervalo de tempo. Caso

concreto: um casal publicou, de livre e espontânea vontade, fotos e vídeos em uma rede social adulta voltada

para swing, chamada “Sexlog”. Esse material foi indevidamente capturado por algum usuário da rede e

distribuído por WhatsApp. O casal ajuizou ação contra a empresa responsável pela rede pedindo para que ela

fornecesse os dados de todos os usuários que acessaram o perfil dos requerentes no período compreendido

entre janeiro e abril de 2017.

O pedido do casal pode ser acolhido? A empresa responsável pela rede tem a obrigação de fornecer esses

dados? SIM. O art. 15 da Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) prevê:

Art. 15. O provedor de aplicações de internet constituído na forma de pessoa jurídica e que exerça essa atividade

de forma organizada, profissionalmente e com fins econômicos deverá manter os respectivos registros de

acesso a aplicações de internet, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis) meses,

nos termos do regulamento.

Diante da obrigação legal de guarda de registros de acesso a aplicações de internet, não há como afastar a

possibilidade jurídica de obrigar os provedores de aplicação ao fornecimento dessas informações (quais

usuários acessaram um perfil na rede social num período), considerando que se trata de mero desdobramento

dessas obrigações. Em suma: é juridicamente possível obrigar os provedores de aplicação ao fornecimento

de IPs e de dados cadastrais de usuários que acessaram perfil de rede social em um determinado período

de tempo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.651-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/08/2020 (Info 678).

Os provedores de aplicações de internet não são obrigados a guardar e fornecer dados pessoais dos

usuários, sendo suficiente a apresentação dos registros de número IP. Exemplo: João foi ofendido por meio

de mensagens veiculadas em e-mail. O autor das mensagens utilizava um e-mail com domínio do Hotmail (que

pertence à Microsoft). João ajuizou ação contra a Microsoft pedindo que ela fosse condenada a fornecer os

dados pessoais do titular do e-mail utilizado para as ofensas (nome, RG, CPF e endereço). O magistrado julgou o

pedido procedente, sentença mantida pelo TJ. A empresa recorreu afirmando que só é obrigada a guardar o IP

INFORMATIVOS 2020 - 94
dos usuários. A tese da Microsoft é acolhida pelo STJ. O provedor tem o dever de propiciar meios para que se

possa identificar cada um dos usuários, coibindo o anonimato e atribuindo a cada manifestação uma

autoria certa e determinada. Para cumprir essa obrigação, é suficiente que o provedor guarde e forneça o

número IP correspondente à publicação ofensiva indicada pela parte. Ainda que não exija os dados

pessoais dos seus usuários, o provedor de conteúdo, que registra o número de protocolo na internet (IP) dos

computadores utilizados para o cadastramento de cada conta, mantém um meio razoavelmente eficiente de

rastreamento dos seus usuários, medida de segurança que corresponde à diligência média esperada dessa

modalidade de provedor de serviço de internet. STJ. REsp 1.829.821-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em

25/08/2020 (Info 680)

Pessoa residente no Brasil foi ameaçada por e-mail enviado de conta hospedada no exterior; Justiça

brasileira é competente para determinar que a empresa responsável pela conta identifique o titular do

e-mail. Caso concreto: Luís recebeu ameaças por mensagens eletrônicas enviadas por meio da conta de e-mail

[email protected]. Diante disso, Luís ajuizou ação contra a Microsoft (proprietária do outlook) pedindo que ela

fosse condenada a fornecer as informações necessárias (IP, data e horário de acesso) para a identificação do

usuário da conta responsável pelas ameaças. A Microsoft alegou que a Justiça Brasileira não teria competência

para apreciar a causa e para determinar o fornecimento dos dados. Isso porque o provedor de conexão se

encontra localizado fora do Brasil, o endereço eletrônico foi acessado no exterior e as ameaças foram escritas

em inglês. O STJ não concordou com a alegação de incompetência. Em caso de ofensa ao direito brasileiro em

aplicação hospedada no estrangeiro (ex: uma ofensa veiculada contra residente no Brasil feita no

Facebook por um estrangeira), é possível sim a determinação judicial, por autoridade brasileira, de que

tal conteúdo seja retirado da internet e que os dados do autor da ofensa sejam apresentados à vítima.

Não fosse assim, bastaria a qualquer pessoa armazenar informações lesivas em países longínquos para não

responder por seus atos danosos. Com base no art. 11 do Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014),

tem-se a aplicação da lei brasileira sempre que qualquer operação de coleta, armazenamento, guarda e

tratamento de registros, de dados pessoais ou de comunicações por provedores de conexão e de

aplicações de internet ocorra em território nacional, mesmo que apenas um dos dispositivos da

comunicação esteja no Brasil e mesmo que as atividades sejam feitas por empresa com sede no

estrangeiro. STJ. 3ª Turma. REsp 1.745.657-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/11/2020 (Info 683).

Havendo pedido de indenização por perdas e danos em geral, pode o juiz reconhecer a aplicação da perda

de uma chance sem que isso implique em julgamento fora da pretensão autoral. Caso concreto:

determinada empresa ajuizou de ação de indenização por danos materiais contra Henrique postulando o

pagamento de R$ 35 mil sob o argumento de que o réu, então advogado da empresa em um processo, perdeu o

prazo para apresentar embargos monitórios. O juízo a quo condenou o requerido com base na perda de uma

chance. Ocorre que a autora não requereu expressamente a aplicação dessa teoria. O julgamento foi extra

INFORMATIVOS 2020 - 95
petita? Não. O princípio da congruência ou da adstrição determina que o magistrado deve decidir a lide

dentro dos limites fixados pelas partes. O pedido formulado deve ser examinado a partir de uma

interpretação lógico-sistemática, não podendo o magistrado se esquivar da análise ampla e detida da relação

jurídica posta, mesmo porque a obrigatória adstrição do julgador ao pedido expressamente formulado pelo

autor pode ser mitigada em observância aos brocardos da mihi factum dabo tibi ius (dá-me os fatos que te darei

o direito) e iura novit curia (o juiz é quem conhece o direito). Logo, não existe julgamento extra petita, pois o

autor postulou indenização por danos materiais e o juízo a quo condenou o réu em conformidade com o pedido

utilizando, contudo, como fundamento jurídico a teoria da perda de uma chance. STJ. 3ª Turma. REsp

1.637.375-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 17/11/2020 (Info 683)

DANOS MORAIS

Súmula 642-STJ: O direito à indenização por danos morais transmite-se com o falecimento do titular, possuindo

os herdeiros da vítima legitimidade ativa para ajuizar ou prosseguir a ação indenizatória.

POSSE

Não é possível o reconhecimento de ofício do direito ao recebimento de indenização por benfeitorias

úteis ou necessárias em ação possessória. Caso concreto: a empresa imobiliária (promitente-vendedora), em

razão da inadimplência do promitente-comprador, ajuizou ação de resolução de contrato c/c reintegração de

posse. O promitente-vendedor foi revel. O juiz julgou os pedidos da autora procedente, mas reconheceu, de

ofício, o direito do réu ao recebimento de indenização pelas benfeitorias úteis ou necessárias realizadas no

imóvel. O STJ afirmou que não era possível o reconhecimento de ofício desse direito. Os arts. 1.219 e 1.220 do

CC/2002 dispõem que o possuidor de boa-fé tem direito à indenização e à retenção do valor das

benfeitorias necessárias e úteis, bem como a faculdade de levantar as benfeitorias voluptuárias se não

lhe forem pagas – desde que o faça sem deteriorar a coisa. Porém, no caso analisado, em que não houve

apresentação de contestação pela parte a ser beneficiada com a indenização pelas benfeitorias, nem a

formulação de pedido posterior nesse sentido, o juiz não poderia determinar de ofício o pagamento. Ao fazê-lo,

houve julgamento extra petita. O deferimento do pleito de indenização por benfeitorias pressupõe a

necessidade de comprovação da existência delas e da discriminação de forma correta. A fase de

liquidação de sentença não é momento processual adequado para o reconhecimento da existência de

benfeitorias a serem indenizadas, tendo o objetivo - apenas - de especificar o quantum debeatur (apuração do

valor da indenização). STJ. 3ª Turma. REsp 1.836.846-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info

680)

INFORMATIVOS 2020 - 96
DIREITOS REAIS

USUCAPIÃO

Usucapião urbano também se aplica a apartamentos.

O instituto do usucapião urbano, previsto no art. 183 da Constituição Federal, também se aplica a apartamentos

em condomínios residenciais, e não apenas a lotes urbanos.

STF. Plenário. RE 305416, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 31/08/2020.

Usucapião extraordinário e possibilidade de a área do imóvel ser inferior ao "módulo urbano".

Se forem preenchidos os requisitos do art. 1238 do CC/2002, a pessoa terá direito à usucapião extraordinária e o

fato de o imóvel em questão não atender ao mínimo dos módulos urbanos exigidos pela legislação municipal

para a respectiva área (dimensão do lote) não é motivo suficiente para se negar esse direito, pois não há na

legislação ordinária própria à disciplina da usucapião regra que especifique área mínima.

Para que seja deferido o direito à usucapião extraordinária basta o preenchimento dos requisitos exigidos pelo

Código Civil, de modo que não se pode impor obstáculos, através de leis municipais, para impedir que se

aperfeiçoe, em favor de parte interessada, o modo originário de aquisição de propriedade.

STJ. 2ª Seção. REsp 1667842/SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 03/12/2020 (Tema 985 - Repetitivo).

A tentativa de usucapião extrajudicial não é condição indispensável para o ajuizamento da ação de

usucapião. Mesmo que estejam preenchidos os requisitos para a usucapião extrajudicial, o interessado pode

livremente optar pela propositura de ação judicial. O próprio legislador deixou claro, no art. 216-A da Lei de

Registros Públicos, que a existência da possibilidade de usucapião extrajudicial não traz prejuízo à busca da

usucapião na via jurisdicional: Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de

reconhecimento extrajudicial de usucapião (...) STJ. 3ª Turma.REsp 1.824.133-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso

Sanseverino, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

A existência de contrato de arrendamento mercantil do bem móvel impede a aquisição de sua

propriedade pela usucapião, contudo, verificada a prescrição da dívida, inexiste óbice legal para

prescrição aquisitiva.

Exemplo: João celebrou contrato de arrendamento mercantil com o banco para aquisição de um automóvel; em

1998, o arrendatário deixou de pagar as prestações; o arrendador tinha o prazo de 5 anos para ajuizar ação de

cobrança, ou seja, até 2003; até essa data (2003), não se podia falar em usucapião; a partir de 2003, como o

arrendador já não mais poderia ajuizar a ação de cobrança, entende-se que cessaram os vícios que maculavam a

posse do arrendatário; logo, a partir de 2003 começou a ser contado o prazo de usucapião; como o prazo de

INFORMATIVOS 2020 - 97
usucapião extraordinário de bem móvel é de 5 anos, o arrendatário adquiriu a propriedade por usucapião em

2008. STJ. 4ª Turma. REsp 1.528.626-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, julgado em

17/12/2019 (Info 667).

O art. 197, I, do Código Civil prevê que não corre a prescrição entre os cônjuges, na constância da sociedade

conjugal. Essa causa impeditiva de fluência do prazo prescricional prevista no art. 197, I, do CC, embora esteja

topologicamente inserida no capítulo da prescrição extintiva, também se aplica às prescrições aquisitivas, ou

seja, à usucapião. Assim, em regra, um cônjuge não poderia adquirir por meio de usucapião um bem do

outro cônjuge enquanto não houvesse a separação judicial ou divórcio. Isso porque, na vigência da

sociedade conjugal, não estaria sendo computado o prazo para fins de usucapião (prescrição aquisitiva) por

força do art. 197, I. Ocorre que, para o STJ, a separação de fato de um casal é suficiente para cessar a causa

impeditiva da fluência do prazo prescricional prevista no art. 197, I, do CC. Logo, estando o casal separado

de fato, é possível iniciar a contagem do prazo para a prescrição aquisitiva do imóvel (usucapião). Desse modo, a

constância da sociedade conjugal, exigida para a incidência da causa impeditiva da prescrição extintiva ou

aquisitiva (art. 197, I, do CC/2002), cessará não apenas nas por longo período, tendo em vista que

igualmente não subsistem, nessa hipótese, as razões de ordem moral que justificam a existência da

referida norma. STJ. 3ª Turma. REsp 1.693.732-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671)

A usucapião especial urbana apresenta como requisitos a posse ininterrupta e pacífica, exercida como dono, o

decurso do prazo de cinco anos, a dimensão da área (250 m² para a modalidade individual e área superior a

esta, na forma coletiva), a moradia e o fato de não ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural. O uso

misto da área a ser adquirida por meio de usucapião especial urbana não impede seu reconhecimento

judicial, se a porção utilizada comercialmente é destinada à obtenção do sustento do usucapiente e de

sua família. É necessário que a área pleiteada seja utilizada para a moradia do requerente ou de sua família,

mas a lei não proíbe que o autor a utilize também para seu sustento. Assim, o fato de o autor da ação de

usucapião utilizar uma parte do imóvel para uma atividade comercial que serve ao sustento da família

domiciliada no imóvel não inviabiliza a prescrição aquisitiva buscada. STJ. 3ª Turma. REsp 1.777.404-TO, Rel.

Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671)

É admissível a determinação de emenda à petição inicial, mesmo após a citação do réu e a apresentação de

defesa, quando não houver alteração no pedido ou na causa de pedir. Eventuais alterações no memorial

descritivo do imóvel podem ser feitas unilateralmente antes da angularização da relação jurídico-processual ou,

depois da citação, somente com a anuência explícita do réu. Não há como concluir que a mera juntada da planta

e do memorial descritivo georreferenciado implicou alteração objetiva da demanda, ou seja, do pedido

formulado na petição inicial da ação de usucapião. No caso concreto, não houve prejuízo aos litigantes, visto

que, depois da apresentação dos documentos, o magistrado de primeiro grau determinou a intimação do

INFORMATIVOS 2020 - 98
demandado, dos confinantes e das Fazendas Públicas, em observância ao devido processo legal, ao

contraditório e à ampla defesa. STJ. 3ª Turma. REsp 1.685.140-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado

em 25/08/2020 (Info 679)

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

Notificação frustrada pelo motivo “ausente” não constitui em mora o devedor fiduciante.

João firmou um contrato de compra e venda de veículo automotor com garantia de alienação fiduciária. Como

João não realizou o pagamento devido, a credora fiduciária enviou uma notificação extrajudicial pelos Correios

para o endereço do devedor, a fim de comprovar a mora. Essa notificação, porém, foi frustrada, após três

tentativas de entrega, pelo motivo "Ausente".

Não viola a boa-fé objetiva a notificação frustrada pelo simples fato da ausência do devedor de sua residência.

Portanto, a ausência não constitui em mora o devedor fiduciante.

STJ. 3ª Turma. REsp 1848836/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/11/2020.

Nos contratos de financiamento com cláusula de alienação fiduciária, quando houver a conversão da ação de

busca e apreensão em ação de execução nos moldes do art. 4º do Decreto-Lei nº 911/1969, o débito exequendo

deve representar o valor da integralidade da dívida (soma das parcelas vencidas e vincendas do

contrato). STJ. 3ª Turma. REsp 1.814.200-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020 (Info 665)

Em caso de mora do mutuário, o credor mutuante poderá: 1) ingressar com ação de busca e apreensão

requerendo que lhe seja entregue o bem (art. 3º do DL 911/69); ou

2) ajuizar uma ação de execução (arts. 4º e 5º do DL 911/69).

Assim, diz-se que, na hipótese de inadimplemento ou mora no cumprimento das obrigações contratuais pelo

devedor, o credor pode optar pela excussão da garantia ou pela ação de execução. Vale ressaltar que o credor

fiduciário, na hipótese de inadimplemento do contrato, não é obrigado a promover a venda do bem alienado

fiduciariamente, antes de proceder à inscrição dos nomes dos devedores em cadastros de proteção ao crédito.

Assim, independentemente da via eleita pelo credor para a satisfação de seu crédito, não há ilicitude na

inscrição do nome do devedor e seu avalista nos órgãos de proteção ao crédito, ante o incontroverso

inadimplemento da obrigação. STJ. 3ª Turma. REsp 1.833.824-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em

05/05/2020 (Info 671).

O prazo de 5 dias para pagamento da integralidade da dívida, previsto no art. 3º, § 2º, do Decreto-Lei nº

911/1969, deve ser considerado de direito material, não se sujeitando, assim, à contagem em dias úteis,

prevista no art. 219, caput, do CPC/2015. STJ. 3ª Turma. REsp 1.770.863-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em

09/06/2020 (Info 673).

INFORMATIVOS 2020 - 99
O art. 3º do Decreto-Lei nº 911/69 foi recepcionado pela Constituição Federal, sendo igualmente válidas as

sucessivas alterações efetuadas no dispositivo. STF. Plenário. RE 382928, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/

Acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 22/09/2020 (Info 995 – clipping)

O contrato de alienação fiduciária em garantia de bem móvel não se extingue somente por força da

consolidação da propriedade em nome do credor fiduciário. A reversão da propriedade plena (consolidação)

em favor do credor fiduciário (banco) constitui apenas uma etapa da execução do contrato, não pondo fim a ele.

O julgamento extra petita está configurado quando o magistrado concede prestação jurisdicional diversa da

pleiteada na inicial. No caso concreto, mesmo sem pedido de rescisão do contrato de alienação fiduciária, a

sentença reconheceu extinta a relação contratual, sendo, portanto, considerada extra petita. Há julgamento

extra petita na hipótese em que, julgado procedente o pedido de busca e apreensão de bem alienado

fiduciariamente, o juiz, sem o requerimento expresso do autor, extingue o contrato firmado entre o devedor

fiduciante e o credor fiduciário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.779.751-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em

16/06/2020 (Info 678).

Os arts. 2º e 3º do DL 911/69 preveem que, após a execução da liminar de busca e apreensão do bem, o devedor

terá o prazo de 5 dias para pagar a integralidade da dívida pendente, oportunidade em que o bem lhe será

restituído sem o respectivo ônus. No entanto, caso o devedor não efetue o pagamento no prazo legal, haverá a

consolidação da propriedade e da posse plena e exclusiva do bem móvel objeto da alienação fiduciária no

patrimônio do credor. Consolidado o bem no patrimônio do credor, estará ele investido em todos os poderes

inerentes à propriedade, podendo vender o bem. Se, contudo, efetivar a venda e a sentença vier a julgar

improcedente o pedido, o risco do negócio é seu, devendo ressarcir os prejuízos que o devedor fiduciante sofrer

em razão da perda do bem. Privado indevidamente da posse de seu veículo automotor, a composição do

prejuízo do devedor fiduciante deve traduzir-se no valor de mercado do veículo no momento de sua apreensão

indevida (valor do veículo na Tabela FIPE à época da ocorrência da busca e apreensão). Isso porque é indiscutível

que tal valor é o que melhor exprime o montante do desequilíbrio financeiro sofrido pelo devedor fiduciante.

Saliente-se que a tabela FIPE é comumente utilizada para pesquisa do preço médio de veículos e serve como

balizador de valores dos veículos automotores terrestres, considerando, inclusive, os diversos fatores de

depreciação existentes. STJ. 3ª Turma. REsp 1.742.897-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info

679).

Em caso de inadimplemento ou mora nas obrigações contratuais garantidas mediante alienação

fiduciária, o credor poderá optar por uma das seguintes medidas para a satisfação do seu crédito:

• ação de busca e apreensão do bem (art. 3º do DL 911/1969); ou

• ação de execução (arts. 4º e 5º).

INFORMATIVOS 2020 - 100


Imagine que houve a mora do devedor fiduciário (que havia comprado um carro mediante alienação fiduciária) e

que o banco (credor fiduciante) ingressou com ação de busca e apreensão. Apreendido o bem, deverá ser feita a

venda extrajudicial da coisa. Efetivada a venda, podem ocorrer duas situações:

• o valor arrecadado com a venda do bem foi maior que as dívidas. Neste caso, o banco credor deverá entregar

essa sobra ao devedor.

• o valor arrecadado foi menor que as dívidas. Significa que continua havendo um saldo devedor e o adquirente

fiduciante continua sendo responsável pelo seu pagamento.

O devedor fiduciante pode pleitear a prestação de contas relativa à venda extrajudicial do bem alienado

fiduciariamente no bojo da própria ação de busca e apreensão? Não. Será necessário o ajuizamento de ação

autônoma para esse objetivo. O devedor fiduciário tem direito à prestação de contas relacionada com a

venda extrajudicial do bem, porém tal pretensão deve ser buscada pela via adequada, qual seja, a ação

de exigir/prestar contas. As questões concernentes à venda extrajudicial do bem, imputação do valor

alcançado no pagamento do débito e apuração acerca de eventual saldo remanescente em favor do devedor

não podem ser discutidas, incidentalmente, no bojo da ação de busca e apreensão. O processo de busca e

apreensão tem por objetivo tão somente a consolidação da propriedade do bem no patrimônio do credor

fiduciário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.866.230-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info 680)

Configura quebra antecipada do contrato o pedido de resolução do contrato de compra e venda com

pacto de alienação fiduciária em garantia por desinteresse do adquirente, mesmo que ainda não tenha

havido mora no pagamento das prestações. Exemplo: João celebrou contrato de compra e venda com

alienação fiduciária em garantia de um imóvel. O ajuste previa o pagamento em 120 prestações mensais. Após

60 prestações pagas, João ajuizou ação de resolução do contrato contra a construtora alegando que não tinha

mais condições de continuar pagando as parcelas. Na ação, o autor pediu a dissolução do vínculo obrigacional,

afirmando que entrega o imóvel e que, como consequência, quer receber de volta as prestações pagas, podendo

o vendedor reter 10% dos valores já recebidos a título de despesas que eventualmente tenha sido, nos termos

do art. 53 do CDC. O pedido do autor deve ser acolhido? Não. No caso concreto, o que houve foi uma quebra

antecipada do contrato por parte do comprador. De acordo com a quebra antecipada do contrato (chamada

de antecipatory breach, na common law), há inadimplemento, mesmo antes do vencimento, quando o

devedor pratica atos abertamente contrários ao cumprimento do contrato. Neste caso, é possível o

desfazimento do contrato, no entanto, a devolução dos valores pagos pelo autor não se dará na forma do

art. 53 do CDC, mas sim segundo o procedimento estabelecido nos arts. 26 e 27 da Lei nº 9.514/97, pelo

qual, resolvido o contrato de compra e venda, consolida-se a propriedade do bem na pessoa do credor

fiduciário que irá vende-lo por meio de leilão. Com o resultado, serão pagos os débitos, devolvendo-se ao

antigo adquirente o que sobrar. STJ. 3ª Turma. REsp 1.867.209-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado

em 08/09/2020 (Info 680).

INFORMATIVOS 2020 - 101


Nos contratos de mútuo imobiliário com pacto adjeto de alienação fiduciária, é possível que o devedor

fiduciante faça a purgação da mora após a consolidação da propriedade em nome do fiduciário?

Exemplo: João celebrou com a CEF contrato de alienação fiduciária para a compra de seu imóvel residencial. João

comprometeu-se a pagar a dívida em 180 prestações. Ocorre que, por dificuldades financeiras, o

mutuário/fiduciante tornou-se inadimplente. Havendo mora por parte do mutuário, o credor deverá fazer a

notificação extrajudicial (“intimação”) do devedor de que este se encontra em débito, comprovando, assim, a

mora. Se, passados 15 dias da intimação, o fiduciante não pagar a dívida (purgar a mora), o art. 26 da Lei nº

9.514/97 afirma que ocorre a consolidação da propriedade em nome do fiduciário. Após a consolidação da

propriedade, a Lei impõe ao fiduciário a obrigação de tentar alienar o imóvel por meio de leilão público (art. 27).

É possível que o devedor fiduciante faça a purgação da mora após a consolidação da propriedade em nome do

fiduciário?

a) antes da entrada em vigor da Lei nº 13.465/2017: SIM. Mesmo que já consolidada a propriedade do imóvel

dado em garantia em nome do credor fiduciário, era possível a purgação da mora. A purgação era admitida até a

assinatura do auto de arrematação.

b) a partir da entrada em vigor da Lei nº 13.465/2017: NÃO. Nos contratos de mútuo imobiliário com pacto

adjeto de alienação fiduciária, com a entrada em vigor da Lei nº 13.465/2017, não se admite a purgação da mora

após a consolidação da propriedade em favor do credor fiduciário, sendo assegurado ao devedor fiduciante tão

somente o exercício do direito de preferência. STJ. 3ª Turma. REsp 1.649.595-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,

julgado em 13/10/2020 (Info 681).

ARRENDAMENTO MERCANTIL

O arrendante é responsável pelo pagamento das despesas de remoção e estadia de veículo em pátio de

propriedade privada quando a apreensão do bem ocorreu por ordem judicial no bojo de ação de reintegração

de posse por ele ajuizada em desfavor do arrendatário que se tornou inadimplente. Enquanto perdurar o

arrendamento mercantil, o arrendante é o seu proprietário. As despesas decorrentes do depósito do veículo em

pátio privado referem-se ao próprio bem, ou seja, constituem obrigações propter rem. Isso significa dizer que as

despesas com a remoção e a guarda dos veículos objeto de contrato de arrendamento mercantil estão

vinculadas ao bem e a seu proprietário, isto é, ao arrendante. Assim, o arrendante é o responsável final

pelo pagamento das despesas com a estadia do automóvel junto a pátio privado, pois permanece na

propriedade do bem alienado enquanto perdurar o pacto de arrendamento mercantil. STJ. 3ª Turma. REsp

1.828.147-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2020 (Info 665).

QUEM DEVERÁ PAGAR AS DESPESAS COM A REMOÇÃO E ESTADIA DO CARRO APREENDIDO?

ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

INFORMATIVOS 2020 - 102


1) Veículo apreendido em ação de busca e apreensão por inadimplemento contratual: o credor-fiduciário (ex:

banco) (REsp 1657752/SP)

2) Veículo apreendido por infração de trânsito: o credor-fiduciário (AgInt no AREsp 1.210.496/SP)

ARRENDAMENTO MERCANTIL

1) Veículo apreendido em ação de reintegração de posse por inadimplemento contratual: o arrendante (ex:

banco) (REsp 1.828.147/SP)

2) Veículo apreendido por infração de trânsito: o arrendatário. Fundamento: art. 4º da Resolução nº 149/2003 do

Contran (REsp 1.114.406/SP)

CONDOMÍNIO

É nula a cláusula de convenção do condomínio outorgada pela própria construtora que prevê a redução

da taxa condominial das suas unidades imobiliárias ainda não comercializadas. Caso concreto: a

convenção de condomínio previu que a construtora – proprietária das unidades imobiliárias ainda não

comercializadas – precisaria pagar apenas 30% do valor da taxa condominial por unidade. Assim, enquanto os

demais condôminos pagariam 100% da quota condominial, a construtora teria que pagar apenas 30% por

unidade. O STJ considerou que essa cláusula é nula. A convenção outorgada pela construtora/incorporadora não

pode estabelecer benefício de caráter subjetivo a seu favor com a finalidade de reduzir ou isentar do pagamento

da taxa condominial. A taxa condominial é fixada de acordo com a previsão orçamentária de receitas e de

despesas, bem como para constituir o fundo de reserva com a finalidade de cobrir eventuais gastos de

emergência. A redução ou isenção da quota condominial a favor de um ou vários condôminos implica

oneração aos demais, com evidente violação da regra da proporcionalidade prevista no inciso I do art.

1.334 do CC/2002. STJ. 3ª Turma. REsp 1.816.039-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 04/02/2020

(Info 664)

Os condomínios são entes despersonalizados, pois não são titulares das unidades autônomas, tampouco

das partes comuns, além de não haver, entre os condôminos, a affectio societatis, tendo em vista a

ausência de intenção dos condôminos de estabelecerem, entre si, uma relação jurídica, sendo o vínculo entre

eles decorrente do direito exercido sobre a coisa e que é necessário à administração da propriedade comum.

Caracterizado o condomínio como uma massa patrimonial, não há como reconhecer que seja ele próprio

dotado de honra objetiva. Qualquer ofensa ao conceito (reputação) que possui perante a comunidade

representa, em verdade, uma ofensa individualmente dirigida a cada um dos condôminos, pois quem

goza de reputação são os condôminos e não o condomínio, ainda que o ato lesivo seja a este endereçado.

Diferentemente do que ocorre com as pessoas jurídicas, qualquer repercussão econômica negativa será

INFORMATIVOS 2020 - 103


suportada, ao fim e ao cabo, pelos próprios condôminos, a quem incumbe contribuir para todas as despesas

condominiais, e/ou pelos respectivos proprietários, no caso de eventual desvalorização dos imóveis no mercado

imobiliário. Assim, o condomínio, por ser uma massa patrimonial, não possui honra objetiva e não pode

sofrer dano moral. STJ. 3ª Turma. REsp 1.736.593-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/02/2020 (Info 665)

Se um dos condôminos de uma coisa indivisível decidir vender a sua parte, ele terá que, antes de efetivada a

venda, dar ciência aos demais condôminos, os quais terão preferência na aquisição da quota, desde que assim

requeiram, no prazo decadencial de 180 dias,depositando o preço equivalente àquele ofertado ao terceiro.

Trata-se de um direito de preferência, previsto no art. 504 do CC. A partir de quando se inicia esse prazo de 180

dias? Inicia-se com a notificação feita pelo alienante ao outro condômino. Se não houver a notificação, o

prazo decadencial do exercício do direito de preferência inicia-se com o registro da escritura pública de

compra e venda da fração ideal da coisa comum indivisa. STJ. 3ª Turma. REsp 1.628.478-MG, Rel. Min. Marco

Aurélio Bellizze, julgado em 03/11/2020 (Info 683)

CONDOMÍNIO EDILÍCIO

É inconstitucional a cobrança por parte de associação de taxa de manutenção e conservação de loteamento

imobiliário urbano de proprietário não associado até o advento da Lei nº 13.465/2017, ou de anterior lei

municipal que discipline a questão, a partir da qual se torna possível a cotização dos proprietários de imóveis,

titulares de direitos ou moradores em loteamentos de acesso controlado, que:

i) já possuindo lote, adiram ao ato constitutivo das entidades equiparadas a administradoras de imóveis; ou

ii) sendo novos adquirentes de lotes, o ato constitutivo da obrigação esteja registrado no competente Registro

de Imóveis. STF. Plenário.RE 695911, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/12/2020 (Repercussão Geral –Tema

492)

DÍVIDAS CONDOMINIAIS

O imóvel gerador dos débitos condominiais pode ser objeto de penhora em cumprimento de sentença,

ainda que somente o ex-companheiro tenha figurado no polo passivo da ação de conhecimento. STJ. 3ª Turma.

REsp 1.683.419-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2020 (Info 666).

DIREITO DE FAMÍLIA

UNIÃO ESTÁVEL

Em regra, não é possível o reconhecimento de união estável envolvendo pessoa casada nem a existência

de uniões estáveis simultâneas.

INFORMATIVOS 2020 - 104


A preexistência de casamento ou de união estável de um dos conviventes, ressalvada a exceção do artigo 1.723,

§ 1º, do Código Civil, impede o reconhecimento de novo vínculo referente ao mesmo período, inclusive para fins

previdenciários, em virtude da consagração do dever de fidelidade e da monogamia pelo ordenamento

jurídico-constitucional brasileiro.

STF. Plenário. RE 1045273, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/12/2020 (Repercussão Geral – Tema

529) (Info 1003).

É desnecessária a inclusão dos parentes colaterais do de cujus no polo passivo da ação de

reconhecimento e dissolução de união estável post mortem. Exemplo: João faleceu sem deixar descendentes

e ascendentes vivos; Regina quer ajuizar para que seja declarado que ela vivia em união estável com João até o

momento de morte do companheiro. Na ausência de herdeiros necessários, não é necessário que a ação seja

proposta contra os herdeiros colaterais do falecido (eventuais irmãos, tios e sobrinhos). Esses herdeiros

colaterais não são litisconsortes necessários. O STF, ao julgar o RE 646721/RS e o RE 878694/MG, ambos com

repercussão geral reconhecida, fixou a tese de que “é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios

entre cônjuges e companheiros prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas

hipóteses de casamento quanto nas de união estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002.” Assim, na falta

de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge ou companheiro

sobrevivente, ressalvada eventual disposição de última vontade. Após o reconhecimento da

inconstitucionalidade da distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, os parentes

colaterais, tais como irmãos, tios e sobrinhos, são herdeiros de quarta e última classe na ordem de vocação

hereditária, herdando apenas na ausência de descendentes, ascendentes e cônjuge ou companheiro, em virtude

da ordem legal de vocação hereditária. Apesar do interesse dos colaterais no resultado da ação de

reconhecimento e dissolução de união estável, isso não é suficiente para a sua qualificação como litisconsortes

passivos necessários, pois, nessa demanda, não há nenhum pedido contra eles formulado. STJ. 3ª Turma. REsp

1.759.652-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 23/06/2020 (Info 680).

PARENTESCO

A representação legal do filho menor é uma das vertentes do poder familiar e deverá ser exercida, em

regra, pelos pais, conforme prevê o art. 1.634, VII, do Código Civil. Assim, somente em algumas hipóteses é que

o menor poderá deixar de ser representado pelos seus pais. O fato de ter sido concedida a guarda do menor

para uma outra pessoa que não compõe o núcleo familiar NÃO SIGNIFICA QUE TENHA HAVIDO A

DESTITUIÇÃO AUTOMÁTICA DO PODER FAMILIAR. Logo, mesmo em tais casos, a competência para

representar este menor em juízo é do pai ou da mãe (e não da guardiã). STJ. 3ª Turma. REsp 1.761.274-DF, Rel.

Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/02/2020 (Info 664).

INFORMATIVOS 2020 - 105


AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

A averbação de sentença proferida em ação negatória de filiação não consubstancia, em si, um direito subjetivo

autônomo das partes litigantes, tampouco se confunde com o direito personalíssimo ali discutido.

Exemplo hipotético: João tinha três filhos registrados em seu nome (Antônio, Bento e Carlos). João ajuizou ação

negatória de filiação contra Carlos. A sentença julgou o pedido procedente declarando que João não era pai de

Carlos. Ocorre que essa sentença não foi averbada no registro civil de Carlos. Não se tomou essa providência.

Assim, em todos os assentos civis de Carlos continuou constando que João seria seu pai. Mais de 30 anos depois

do trânsito em julgado, João faleceu. Carlos habilitou-se no processo de inventário utilizando sua certidão de

nascimento, na qual ainda consta que João seria seu pai. Os herdeiros de João não concordaram e pediram ao

juízo onde tramitou a ação negatória que expedisse o mandado de averbação. O juízo acatou o pedido e, contra

esta decisão, Carlos impetrou mandado de segurança alegando que com o falecimento de João a averbação da

sentença não mais poderia ser feita, porque seria um direito personalíssimo do falecido. Além disso, afirmou

que houve decadência do direito de fazer a averbação.

Em um caso semelhante a esse, o STJ não concordou com os argumentos do impetrante.

A averbação da sentença, neste caso, constitui consequência legal obrigatória, destinada a conferir publicidade e

segurança jurídica ao desfecho que restou declarado e reconhecido judicialmente. Isso se dá, inclusive,

normalmente, de ofício.

Não existe nenhuma faculdade conferida às partes envolvidas a respeito de proceder ou não à referida

averbação, como se tal providência constituísse, em si, um direito personalíssimo.

Não se pode confundir o exercício do direito subjetivo de ação de caráter personalíssimo, como o é a pretensão

de desconstituir estado de filiação, cuja prerrogativa é exclusiva das pessoas insertas nesse vínculo jurídico

(pai/mãe e filho), com o ato acessório da averbação da sentença de procedência transitada em julgado, que se

afigura como mera consequência legal obrigatória.

Mesmo que essa providência (averbação) não tenha sido feita na época oportuna, ela poderá ser realizada

depois, não se submetendo a prazo decadencial ou prescricional.

STJ. 3ª Turma. RMS 56941/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

O juiz deve adotar todas as medidas indutivas, mandamentais e coercitivas, como autoriza o art. 139, IV, do CPC,

com vistas a refrear a renitência de quem deve fornecer o material para exame de DNA, especialmente quando a

presunção contida na Súmula 301/STJ se revelar insuficiente para resolver a controvérsia. STJ. 2ª Seção. Rcl

37.521-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/05/2020 (Info 673)

ALIMENTOS

O alcance da maioridade pelo alimentando não implica a redução ou o afastamento automático da

obrigação alimentar.

INFORMATIVOS 2020 - 106


A redução de pensão alimentícia a filho que alcançou a maioridade não é automática, dependendo da prova da

redução das suas necessidades ou da diminuição das possibilidades do seu genitor.

STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1852422/MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 22/06/2020.

Existência de proposta escrita dispensa presença física de devedor preso em audiência de conciliação

sobre dívida alimentar.

A discussão acerca do percentual fixado a título de alimentos é objetiva e, portanto, passível de ser formulada

por escrito, sendo desnecessária a presença física do alimentante em audiência para tanto.

STJ. 3ª Turma. REsp 1708334/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/05/2020.

É ilegal/teratológica a prisão civil do devedor de alimentos, sob o regime fechado, no período de

pandemia, anterior ou posterior à Lei nº 14.010/2020.

Como ficou a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia da Covid-19?

Antes da Lei nº 14.010/2020:

• 4ª Turma do STJ e CNJ: entendiam que a prisão civil por dívida alimentar deveria ser cumprida em prisão

domiciliar.

• 3ª Turma do STJ: afirmava que, durante a pandemia de Covid-19, deveria ser suspensa a prisão civil dos

devedores (e não assegurar a prisão domiciliar).

Depois da Lei nº 14.010/2020:

A Lei nº 14.010/2020 adotou a mesma solução jurídica da 4ª Turma do STJ e do CNJ e previu o seguinte:

Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e seguintes da

Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser cumprida exclusivamente sob a

modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das respectivas obrigações.

Desse modo, o certo é que, seja antes ou depois da Lei nº 14.010/2020, o devedor de alimentos não poderia

permanecer preso no regime fechado durante a pandemia da Covid-19.

STJ. 3ª Turma. HC 569014-RN, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/10/2020 (Info 681).

O valor percebido pelo alimentante a título de participação nos lucros e resultados não deve ser incluído

à prestação alimentar fixada em percentual sobre a remuneração.

A participação nos lucros e resultados deve ser desvinculado do salário ou da remuneração habitualmente

recebida.

Trata-se de uma bonificação de natureza indenizatória, eventual e que depende do desenvolvimento e do

sucesso profissional no cumprimento das metas estabelecidas.

Essa é a conclusão que se chega a partir da interpretação do art. 7º, XI, da Constituição Federal e do art. 3º da Lei

nº 10.101/2000.

INFORMATIVOS 2020 - 107


O recebimento, pelo alimentante (devedor), de valores adicionais e eventuais não impacta, em regra, na

redefinição do valor dos alimentos a serem prestados, ressalvadas as situações em que as necessidades do

alimentado não foram inicialmente satisfeitas ou sofreram alterações supervenientes que justificam a

readequação do valor.

Não há relação direta e indissociável entre as eventuais variações positivas nos rendimentos auferidos pelo

alimentante (como na hipótese da participação nos lucros e resultados) e o automático e correspondente

acréscimo do valor dos alimentos, ressalvadas as hipóteses de ter havido redução proporcional do percentual

para se ajustar à capacidade contributiva do alimentante ou de haver superveniente alteração no elemento

necessidade, casos em que as variações positivas eventuais do alimentante deverão ser incorporadas aos

alimentos a fim de satisfazer integralmente às necessidades do alimentado.

STJ. 2ª Seção. REsp 1854488/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/12/2020.

Cuidado com a exceção das horas extras:

O valor recebido pelo alimentante a título de horas extras, mesmo que não habituais, embora não ostente

caráter salarial para efeitos de apuração de outros benefícios trabalhistas é verba de natureza remuneratória e,

portanto, integra a base de cálculo para a incidência dos alimentos fixados em percentual sobre os rendimentos

líquidos do devedor.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.741.716-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 25/05/2021 (Info 698).

STJ. 4ª Turma. REsp 1098585/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/06/2013.

Em ação judicial que versa sobre alimentos ajuizada por menor, não é admissível que a concessão da

gratuidade de justiça esteja condicionada a demonstração de insuficiência de recursos de seu

representante legal.

Caso concreto: uma criança, representada por sua mãe, ingressou com execução de alimentos contra o pai; o

juiz indeferiu o pedido de gratuidade de justiça porque a mãe do autor (representante do menor) não provou a

sua insuficiência de recursos. O direito ao benefício da gratuidade de justiça possui natureza individual e

personalíssima. Assim, os requisitos para a concessão ou não do direito à gratuidade deverão ser preenchidos,

em regra, pela própria parte, e não pelo seu representante legal. É evidente que, em se tratando de menores

representados pelos seus pais, haverá sempre um forte vínculo entre a situação desses dois diferentes sujeitos

de direitos e obrigações, sobretudo em razão da incapacidade civil e econômica do próprio menor. Isso não

significa, contudo, que se deva automaticamente examinar o direito à gratuidade a que poderia fazer jus o

menor à luz da situação financeira de seus pais. Assim, em se tratando de direito à gratuidade de justiça

pleiteado por menor de 18 anos, deve o juiz, inicialmente, aplicar a regra do §3º do art. 99, deferindo o benefício

em razão da presunção de sua insuficiência de recursos. Existe, todavia, a possibilidade de a outra parte

demonstrar, com base no § 2º, a ausência dos pressupostos legais que justificam a gratuidade, pleiteando, em

INFORMATIVOS 2020 - 108


razão disso, a revogação do benefício concedido. STJ. 3ª Turma. REsp 1.807.216-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,

julgado em 04/02/2020 (Info 664)

Não incide desconto de pensão alimentícia sobre as parcelas denominadas diárias de viagem e tempo de

espera indenizado. STJ. 3ª Turma. REsp 1.747.540-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em

10/03/2020 (Info 667).

Na ausência de expressa previsão no acordo de alimentos a respeito do seu termo inicial, deve prevalecer

o disposto no § 2º do art. 13 da Lei nº 5.478/68 (Lei de Alimentos), segundo o qual, em qualquer caso, os

alimentos fixados retroagem à data da citação.

Art. 13 (...) § 2º Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação. Se a lei diz expressamente

que “em qualquer caso” os alimentos retroagem, não cabe ao intérprete fazer restrições onde o legislador não o

fez, de modo que não há justificativa para que os alimentos fixados em acordo celebrado em ação investigatória

de paternidade não receba o mesmo tratamento, sob o singelo argumento de que ajuste foi omisso a respeito

do seu termo inicial. STJ. 3ª Turma. REsp 1.821.107-ES, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

A oferta de pagamento espontâneo em audiência de conciliação em execução de dívida alimentar pelo

devedor perante o Judiciário e com a concordância do representante da parte contrária apto a tanto tem

caráter vinculante em relação ao proponente. Caso concreto: “M” ajuizou ação de execução de alimentos

contra seu pai (“J”) pedindo para receber as parcelas correspondentes aos meses de maio/2007 a abril/2009. O

juiz designou audiência de conciliação. “M” não compareceu. “J” se fez presente e propôs o pagamento da dívida

relativa aos 2 últimos meses da pensão alimentícia perante o Magistrado e o Promotor de Justiça, tendo a

proposta sido homologada com a concordância do advogado de “M”. Essa proposta feita pelo genitor/executado

pode ser considerada como reconhecimento parcial da dívida? Sim. A proposta de pagamento parcial por

devedor de alimentos em audiência de conciliação já na fase de cumprimento de sentença, perante o

patrono da parte contrária, vincula o devedor no limite da proposta, restando assegurada nova

negociação quanto ao valor remanescente. STJ. 3ª Turma. REsp 1.821.906-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas

Cueva, julgado em 20/10/2020 (Info 682).

O dever de prestar alimentos entre ex-cônjuges é transitório, devendo ser assegurado alimentos apenas

durante certo tempo, até que o ex-cônjuge consiga prover o seu sustento com meios próprios. Assim, ao se

analisar se o ex-cônjuge ainda deve continuar recebendo os alimentos, deve-se examinar não apenas o binômio

necessidade-possibilidade, devendo ser consideradas outras circunstâncias, tais como a capacidade potencial

para o trabalho e o tempo decorrido entre o seu início e a data do pedido de desoneração. STJ. 3ª Turma. REsp

1.829.295-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/03/2020 (Info 669).

INFORMATIVOS 2020 - 109


É irrenunciável o direito aos alimentos presentes e futuros (art. 1.707 do Código Civil). O credor pode,

contudo, renunciar aos alimentos pretéritos devidos e não prestados. Isso porque a irrenunciabilidade

atinge o direito, e não o seu exercício. STJ. 3ª Turma. REsp 1.529.532-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,

julgado em 09/06/2020 (Info 673)

O alimentante não-guardião tem o direito de averiguar se os valores que paga a título de pensão

alimentícia estão sendo realmente dirigidos ao beneficiário e voltados ao pagamento de suas despesas e

ao atendimento dos seus interesses básicos fundamentais. Essa possibilidade decorre do exercício pleno do

poder familiar e tem previsão expressa no § 5º do art. 1.538 do CC:

§ 5º A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos, e, para

possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte legítima para solicitar informações e/ou

prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem a

saúde física e psicológica e a educação de seus filhos.

Vale ressaltar, no entanto, que o legítimo interesse processual em ação dessa natureza é exclusivamente a

finalidade protetiva da criança ou do adolescente beneficiário dos alimentos, diante da sua possível

malversação. Esta ação não pode buscar eventual acertamento de contas, perseguições ou picuinhas com a(o)

guardiã(ao), ficando vedada a possibilidade de apuração de créditos ou preparação de revisional pois os

alimentos são irrepetíveis. STJ. 3ª Turma. REsp 1.814.639-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min.

Moura Ribeiro, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

PRISÃO CIVIL

Como fica a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia da Covid-19?

4ª Turma do STJ e CNJ: prisão domiciliar

Durante a pandemia de Covid-19, deve-se assegurar prisão domiciliar aos presos em decorrência de

dívidas alimentícias. O contexto atual de gravíssima pandemia devido ao chamado coronavírus desaconselha a

manutenção do devedor em ambiente fechado, insalubre e potencialmente perigoso. Assim, diante do iminente

risco de contágio pelo Covid-19, bem como em razão dos esforços expendidos pelas autoridades públicas em

reduzir o avanço da pandemia, é recomendável o cumprimento da prisão civil por dívida alimentar em prisão

domiciliar. STJ. 4ª Turma. HC 561.257-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

3ª Turma do STJ: suspensa

Durante a pandemia de Covid-19, deve-se suspender a prisão civil dos devedores (e não assegurar a

prisão domiciliar). Em virtude da pandemia causada pelo coronavírus (covid-19), admite-se, excepcionalmente,

a suspensão da prisão dos devedores por dívida alimentícia em regime fechado. Assegurar aos presos por

dívidas alimentares o direito à prisão domiciliar é medida que não cumpre o mandamento legal e que fere, por

INFORMATIVOS 2020 - 110


vias transversas, a própria dignidade do alimentando. Por esse motivo, não é plausível substituir o

encarceramento pelo confinamento social, o que, aliás, já é a realidade da maioria da população, isolada em prol

do bem-estar de toda a coletividade. A excepcionalidade da situação emergencial de saúde pública permite o

diferimento provisório da execução da obrigação cível enquanto pendente a pandemia. A prisão civil suspensa

terá seu cumprimento no momento processual oportuno, já que a dívida alimentar remanesce íntegra, pois não

se olvida que, afinal, também está em jogo a dignidade do alimentando, em regra, vulnerável. STJ. 3ª Turma. HC

574.495-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

Depois das decisões acima expostas, foi sancionada a Lei nº 14.010/2020, que adotou a mesma solução jurídica

da 4ª Turma do STJ e do CNJ e previu a seguinte regra:

Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e seguintes

da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser cumprida exclusivamente sob

a modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das respectivas obrigações.

Diante disso, a 3ª Turma do STJ também teve que se curvar ao entendimento: STJ. 3ª Turma. HC 578.282/SP, Rel.

Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 25/08/2020.

Logo, depois da Lei nº 14.010/2020, não há mais dúvidas: o cumprimento da prisão civil por dívida alimentar,

até 30/10/2020, é feito exclusivamente sob a modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das

respectivas obrigações.

Seja antes ou depois da Lei nº 14.010/2020, o devedor de alimentos não poderia permanecer preso no regime

fechado durante a pandemia da Covid-19. STJ. 3ª Turma. HC 569.014-RN, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,

julgado em 06/10/2020 (Info 681).

Os alimentos devidos em razão da prática de ato ilícito possuem natureza indenizatória (arts. 948, 950 e

951 do Código Civil) e, portanto, não se aplica o rito excepcional da prisão civil como meio coercitivo para o

adimplemento.

Exemplo: João cometeu homicídio contra Pedro e foi condenado a pagar pensão mensal de 3 salários mínimos

aos filhos da vítima. Caso ele se torne inadimplente, o juiz não poderá decretar prisão civil como meio coercitivo

para o pagamento. STJ. 4ª Turma. HC 523.357-MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 01/09/2020 (Info

681)

DIREITO REAL DE HABITAÇÃO

O direito real de habitação possui como finalidade precípua garantir o direito à moradia ao

cônjuge/companheiro supérstite, preservando o imóvel que era destinado à residência do casal, restringindo

temporariamente os direitos de propriedade originados da transmissão da herança em prol da solidariedade

INFORMATIVOS 2020 - 111


familiar. A copropriedade anterior à abertura da sucessão impede o reconhecimento do direito real de

habitação, visto que de titularidade comum a terceiros estranhos à relação sucessória que ampararia o

pretendido direito. Como o direito real de habitação já é uma exceção criada pelo legislador, não pode haver

interpretação extensiva para incluir no mesmo tratamento situações não previstas em lei, como, por exemplo, a

hipótese em que o imóvel seja objeto de copropriedade anterior com terceiros. O direito real à habitação

limita (restringe) os direitos de propriedade e, portanto, só quem deve suportar tal limitação são os

herdeiros do de cujus (quem recebeu o bem na herança), e não quem já era proprietário do imóvel antes

do óbito.

Caso concreto: o STJ negou o pedido de uma viúva que pretendia ver reconhecido o direito real de habitação

sobre o imóvel em que morava, comprado pelo seu falecido marido em copropriedade com um filho dele, antes

do casamento. STJ. 2ª Seção. EREsp 1.520.294-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/08/2020 (Info

680). No mesmo sentido é a Tese 10 do Jurisprudência em Teses (Ed. 50): 10) Não subsiste o direito real de

habitação se houver copropriedade sobre o imóvel antes da abertura da sucessão ou se, àquele tempo, o

falecido era mero usufrutuário do bem.

BEM DE FAMÍLIA

A proteção legal conferida ao bem de família pela Lei nº 8.009/90 não pode ser afastada por renúncia do

devedor ao privilégio, pois é princípio de ordem pública, prevalente sobre a vontade manifestada. A despeito

disso, o bem de família legal não gera inalienabilidade. Logo, é possível que o proprietário pratique atos de

disposição dele, podendo, por exemplo, oferecê-lo como objeto de alienação fiduciária em garantia. A utilização

abusiva do direito à proteção do bem de família viola o princípio da boa-fé objetiva e, portanto, não deve

ser tolerada. Assim, deve ser afastado o benefício conferido ao titular do bem de família que exerce o direito em

desconformidade com o ordenamento jurídico. STJ. 4ª Turma. REsp 1.595.832-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,

julgado em 29/10/2019 (Info 664)

Para a aplicação da exceção à impenhorabilidade do bem de família prevista no art. 3º, IV, da Lei nº

8.009/90 é preciso que o débito de natureza tributária seja proveniente do próprio imóvel que se

pretende penhorar.

Exemplo: João celebrou com Pedro contrato de “permuta de imóveis urbanos”. Ficou acertado que João

transmitiria a propriedade de sua casa para Pedro e, em troca, Pedro faria a transferência de seu apartamento a

João. Ficou consignado que cada parte iria transmitir o imóvel sem quaisquer dívidas tributárias. Depois da

permuta e da transferência da posse, Pedro constatou que a casa cedida por João possuía débitos de IPTU. Para

regularizar a situação, Pedro quitou essas dívidas. Em seguida, Pedro ajuizou ação contra João pedindo o

ressarcimento desses valores considerando que houve um descumprimento do contrato neste ponto. O pedido

foi julgado procedente. No cumprimento de sentença, Pedro pediu a penhora do apartamento que, depois da

INFORMATIVOS 2020 - 112


permuta, passou a pertencer a João e que é seu bem de família. Essa penhora não pode ser deferida porque não

se enquadra no inciso IV do art. 3º da Lei: Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de

execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: IV - para cobrança de

impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar; Pode-se apontar três

argumentos principais:

• A dívida era referente a outro imóvel (e não ao que se pretende penhorar).

• Não se está cobrando um imposto devido em função do imóvel; o que se está pleiteando é o ressarcimento

decorrente de inadimplemento contratual.

• As hipóteses de exceção à regra da impenhorabilidade do bem de família são taxativas, não comportando

interpretação extensiva.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.332.071-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 18/02/2020 (Info 665)

O inciso VI do art. 3º da Lei nº 8.009/90 afirma que é possível a penhora do bem de família caso ele tenha “sido

adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento,

indenização ou perdimento de bens”. Para a incidência da exceção prevista no art. 3º, VI, da Lei nº 8.009/90, é

indispensável que a sentença penal condenatória já tenha transitada em julgado, por não ser possível a

interpretação extensiva. STJ. 3ª Turma. REsp 1.823.159-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/10/2020

(Info 681). STJ. 4ª Turma. REsp 1.021.440/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/05/2013.

Imóvel bem de família oferecido como caução imobiliária em contrato de locação não pode ser objeto de

penhora.

Caso concreto: em um contrato de locação de terceiro, João ofereceu sua casa como caução (garantia) da relação

locatícia (art. 37, I, da Lei nº 8.245/91). O terceiro (locatário) não pagou os aluguéis e a empresa locadora

executou o locatário e João pedindo a penhora da casa objeto da caução. Ocorre que se trata de bem de família

onde João reside. Será possível a penhora? Não. As hipóteses excepcionais nas quais o bem de família pode

ser penhorado estão previstas, taxativamente, no art. 3º da Lei nº 8.009/90. Tais hipóteses não admitem

interpretação extensiva. A caução imobiliária oferecida em contrato de locação não consta como uma

situação na qual o art. 3º da Lei autorize a penhora do bem de família. Assim, não é possível a penhora do

bem de família mesmo que o proprietário tenha oferecido o imóvel como caução em contrato de locação. STJ. 3ª

Turma. REsp 1.873.203-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/11/2020 (Info 683).

DIVÓRCIO

Incidem juros e correção monetária sobre o valor econômico de cotas sociais objeto de partilha em

divórcio sendo que, após a separação de fato do casal, essa empresa ficou sob a administração exclusiva

de um dos ex-cônjuges até o encerramento de suas atividades.

INFORMATIVOS 2020 - 113


Exemplo: João e Regina eram casados. João era sócio de uma sociedade empresária. Houve separação de fato.

João continuou administrando a sociedade empresária por mais algum tempo, até que houve o encerramento

das atividades da empresa. No momento do divórcio, foi reconhecido que Regina tinha direito à metade do valor

integralizado das cotas empresariais que pertenciam a João. Considerando que houve o encerramento das

atividades da empresa após a separação do então casal o objeto partilhado consiste, em última instância, no

próprio capital investido na sociedade à época do relacionamento, devidamente atualizado.

Considerando que a empresa encerrou suas atividades e que ela ficou sendo administrada exclusivamente por

João, não se pode impor a Regina o ônus de arcar com os prejuízos decorrentes dessa administração exclusiva.

Logo, Regina tem direito de receber o valor que as cotas tinham acrescido de juros e correção monetária.

Aplica-se ao caso o art. 389 do Código Civil:

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária

segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

STJ. 3ª Turma. REsp 1689220-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

Em dissolução de vínculo conjugal, é possível a partilha de direitos possessórios sobre bem edificado em

loteamento irregular, quando ausente a má-fé dos possuidores. Caso concreto: em um processo de divórcio

litigioso, foi reconhecido que seria possível a partilha dos direitos possessórios sobre um imóvel localizado em

área irregular. Em alguns casos, a falta de regularização do imóvel que se pretende partilhar não ocorre por

má-fé ou desinteresse das partes, mas por outras razões, como a incapacidade do poder público de promover a

formalização da propriedade ou, até mesmo, pela hipossuficiência das pessoas para dar continuidade aos

trâmites necessários para a regularização. Nessas situações, os titulares dos direitos possessórios devem sim

receber a tutela jurisdicional. A melhor solução para tais hipóteses é admitir a possibilidade de partilha dos

direitos possessórios sobre o bem edificado em loteamento irregular, quando não for identificada má-fé dos

possuidores. Essa medida faz com que resolva de forma imediata a questão da dissolução do vínculo conjugal,

relegando a um segundo momento as eventuais discussões acerca da regularidade e da formalização da

propriedade sobre o bem imóvel. STJ. 3ª Turma. REsp 1.739.042-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em

08/09/2020 (Info 679)

DIREITO DAS SUCESSÕES

A cessão de direitos hereditários sobre bem singular viabiliza a transmissão da posse, que pode ser

objeto de tutela específica na via dos embargos de terceiro.

A cessão de direitos hereditários sobre bem singular, desde que celebrada por escritura pública e não envolva o

direito de incapazes, não é negócio jurídico nulo, tampouco inválido, ficando apenas a sua eficácia condicionada

INFORMATIVOS 2020 - 114


a evento futuro e incerto, consubstanciado na efetiva atribuição do bem ao herdeiro cedente por ocasião da

partilha.

Assim, aberta a sucessão, o coerdeiro pode ceder os seus direitos hereditários, bem como o quinhão de que

disponha, por escritura pública, conforme prevê o caput do art. 1.793 do Código Civil.

Como esse negócio não é nulo (tem apenas a sua eficácia suspensa), conclui-se que a cessão de direitos

hereditários sobre bem singular tem força para transmitir a posse desse bem ao cessionário. Logo, o cessionário

pode tutelar a posse sobre o bem, inclusive por meio de embargos de terceiro.

Admite-se a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do compromisso de

compra e venda de imóvel, mesmo que desprovido do registro. Esse mesmo entendimento deve ser aplicado na

hipótese em que a posse é defendida com base em instrumento público de cessão de direitos hereditários.

STJ. 3ª Turma. REsp 1809548-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

SUCESSÃO LEGÍTIMA

Aquele que renuncia a herança não tem legitimidade para pleitear eventual nulidade de negócio jurídico

que envolva um dos bens que integram o patrimônio do de cujus. Exemplo hipotético: João, Pedro, Tiago e

Regina são irmãos. Em 2010, Regina, que tinha sérios problemas de saúde, vendeu um apartamento para seu

irmão Tiago por preço bem abaixo do mercado. Os demais irmãos não souberam dessa venda. Em 2011, Regina

faleceu. Não tinha cônjuge, descendentes ou ascendentes. Diante disso, os únicos herdeiros eram seus

irmãos.João optou por renunciar a herança em favor do monte. Logo depois que fez isso, João tomou

conhecimento da venda do apartamento ocorrida em 2010. Ele ficou revoltado porque considerou que sua irmã

não estava em sua perfeita condição mental, tendo sido, portanto, “enganada” por Tiago. João ingressou com

ação declaratória de nulidade do negócio jurídico. O juiz deverá extinguir o processo sem resolução do mérito

porque João não possui legitimidade ativa ad causam considerando que ele renunciou expressamente a herança

deixada por Regina, de sorte que, mesmo se anulada a venda, não teria nenhum proveito econômico com isso.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.433.650-GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/11/2019 (Info 664).

A restituição de quantia recebida indevidamente é um dever de quem se enriqueceu sem causa (art.884

do CC). De acordo com as alegações do ente público, a vantagem econômica foi auferida pelos herdeiros do

ex-servidor. O ex-servidor público não tinha mais personalidade jurídica quando o Distrito Federal depositou a

quantia ora pleiteada considerando que estava morto (art. 6º do CC). Se o saque indevido da quantia

disponibilizada pelo Poder Público não pode ser imputado ao falecido (não foi decorrente de qualquer ato

do falecido), o espólio não pode ser obrigado a restituir. Isso porque o espólio é obrigado a cumprir as

dívidas do autor da herança por força do art. 796 do CPC/2015. Logo, se o espólio não pode ser vinculado,

nem mesmo abstratamente, ao dever de restituir, ele não pode ser considerado parte legítima nesta ação nos

termos do art. 17 do CPC/2015. O espólio não possui legitimidade passiva ad causam na ação de

INFORMATIVOS 2020 - 115


ressarcimento de remuneração indevidamente paga após a morte de ex-servidor e recebida por seus

herdeiros. STJ. 2ª Turma. REsp 1.805.473-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 03/03/2020 (Info

667).

A preterição de herdeiro ou a inclusão de terceiro estranho à sucessão merecem tratamento igual, considerando

que são situações antagonicamente idênticas, submetendo-se à mesma regra prescricional prevista no art. 177

do Código Civil de 1916, qual seja, o prazo vintenário, vigente à época da abertura da sucessão para hipóteses de

nulidade absoluta, que não convalescem. STJ. 2ª Seção.EAREsp 226.991-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,

julgado em 10/06/2020 (Info 675).

TESTAMENTO

O art. 1.876, § 2º do Código Civil afirma que um dos requisitos do testamento particular é que ele seja assinado

pelo testador. Vale ressaltar, contudo, que o STJ decidiu que: É válido o testamento particular que, a despeito

de não ter sido assinado de próprio punho pela testadora, contou com a sua impressão digital.

Caso concreto: a falecida deixou um testamento particular elaborado por meio mecânico; o testamento foi lido

na presença de três testemunhas, que o assinaram; vale ressaltar, no entanto, que esse testamento não foi

assinado pela testadora em razão de ela se encontrar hospitalizada na época e estar com uma limitação física

que a impedia assinar; para suprir essa falta de assinatura, a testadora colocou a sua impressão digital no

testamento; as testemunhas, ouvidas em juízo, confirmaram o cumprimento das demais formalidades e,

sobretudo, que aquela era mesmo a manifestação de última vontade da testadora; o STJ considerou válido o

testamento. STJ. 2ª Seção. REsp 1.633.254-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2020 (Info 667)

INVENTÁRIO

A fixação de determinado valor a ser recebido mensalmente pelo herdeiro a título de adiantamento de

herança NÃO CONFIGURA NEGÓCIO JURÍDICO PROCESSUAL ATÍPICO na forma do art. 190, caput, do

CPC/2015. O acordo firmado entre os herdeiros para autorizar a retirada mensal dos valores não é um acordo

puramente processual. Isso porque o seu objeto é o próprio direito material que se discute e que se pretende

obter na ação de inventário, ou seja, a divisão do patrimônio do autor da herança. O que se está fazendo,

portanto, é simplesmente antecipar a fruição e uso do direito material. STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.656-RJ, Rel. Min.

Nancy Andrighi, julgado em 03/12/2019 (Info 663)

É POSSÍVEL o inventário extrajudicial, ainda que exista testamento, se os interessados forem capazes e

concordes e estiverem assistidos por advogado, desde que o testamento tenha sido previamente

INFORMATIVOS 2020 - 116


registrado judicialmente ou haja a expressa autorização do juízo competente. STJ. 4ª Turma. REsp

1.808.767-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/10/2019 (Info 663).

LOCAÇÃO DE IMÓVEIS URBANOS

A notificação premonitória é pressuposto processual para a ação de despejo por denúncia vazia de

contrato de locação por prazo indeterminado.

Antes que o locador ajuíze ação de despejo por denúncia vazia em caso de locação por prazo indeterminado, é

obrigatório que ele faça comunicação dirigida ao locatário manifestando sua intenção na retomada do imóvel,

nos termos do art. 46, § 2º, da Lei nº 8.245/91:

Art. 46 (...) § 2º Ocorrendo a prorrogação, o locador poderá denunciar o contrato a qualquer tempo, concedido o

prazo de trinta dias para desocupação.

Isso é chamado de notificação premonitória.

A finalidade da notificação premonitória é a de evitar que o locatário seja surpreendido pelo ajuizamento da

ação de despejo, o que ainda lhe poderá acarretar o pagamento dos ônus sucumbenciais. Ao ser comunicado,

ele poderá procurar outro imóvel onde possa se instalar.

Caso a ação de despejo seja ajuizada sem essa prévia notificação, o processo deverá ser extinto sem a resolução

do mérito, por falta de condição essencial ao seu normal desenvolvimento.

Exceção: é permitido ao locador ajuizar diretamente a ação de despejo, dispensando a notificação prévia, desde

que o ajuizamento ocorra nos 30 dias seguintes ao termo final do contrato.

STJ. 3ª Turma. REsp 1812465/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

A ação de despejo não exige a formação de litisconsórcio ativo necessário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.737.476-SP,

Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/02/2020 (Info 664).

TEMAS DIVERSOS

CRÉDITO RURAL

O art. 26 da Lei nº 8.177/71 é inconstitucional porque permite a incidência da TR em substituição ao IPC nos

contratos celebrados antes do início de sua vigência, o que se afigura incompatível com a garantia fundamental

de proteção ao ato jurídico perfeito, previsto no inciso XXXVI do art. 5º da Constituição Federal. Art. 5º (...) XXXVI -

a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. STF. Plenário. ADI 3005/DF, Rel.

Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1/7/2020 (Info 984).

INFORMATIVOS 2020 - 117


ARRENDAMENTO RESIDENCIAL

O arrendamento residencial não tem natureza jurídica de compra e venda nem de promessa de compra e

venda, não se aplicando ao arrendatário, que tem conceito definido na Lei nº 10.188/2001, as disposições do art.

1.333 do Código Civil. STJ. 4ª Turma. REsp 1.576.651-SE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 09/06/2020

(Info 674)

DIREITOS AUTORAIS

O art. 235, I, do CC/1916 afirmava que era necessária a autorização do cônjuge para hipotecar bens,

independentemente do regime matrimonial. O art. 1.647, I, do CC/2020 prevê que, em regra, é necessária a

autorização do cônjuge para a hipoteca. No entanto, afirma que essa autorização é dispensada se o regime de

bens do casamento for o da separação absoluta. Imagine que João e Regina são casados sob o regime da

separação total. Eles se casaram na vigência do CC/1916. Em 2010, ou seja, já na vigência do CC/2002, João foi

conceder hipoteca. Ele precisa da autorização da esposa? Não. Em negócios celebrados após a entrada em vigor

do CC/2002, deverá ser aplicada a regra do seu art. 1.647, I, que prevê a dispensa da autorização conjugal como

condição de eficácia da hipoteca no regime da separação absoluta de bens, mesmo que o casamento tenha

acontecido ainda sob o CC/1916. O art. 2.039 do CC/2002, ao estabelecer uma regra de transição quanto ao

regime de bens, teve por finalidade específica disciplinar as relações familiares entre os cônjuges na perspectiva

patrimonial, ditando o modo pelo qual se dará, por exemplo, a partilha de seus bens por ocasião da dissolução

do vínculo conjugal, bem como a possibilidade de alteração motivada e judicial do regime de bens. Dessa forma,

a referida regra de direito transitório não deve influenciar, na perspectiva da definição da legislação aplicável, as

hipóteses em que deveria ser dada a autorização conjugal, pois esse instituto, a despeito de se relacionar com o

regime de bens, é, na realidade, uma condição de eficácia do negócio jurídico cuja validade se examina. STJ. 3ª

Turma. REsp 1.797.027-PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/09/2020 (Info 680)

A utilização do trecho de maior sucesso de uma música como título de programa televisivo, em conjunto

com o fonograma, sem autorização do titular do direito, viola os direitos do autor. Caso concreto: a música

de maior sucesso do cantor de funk MC Leozinho é intitulada “Ela só pensa em beijar”. No refrão da música

existe a seguinte frase: “Se ela dança, eu danço”. Alguns anos depois da música ser lançada, a produtora do

cantor recebeu um e-mail no qual o SBT pediu para usar a obra na abertura de um programa, mas, em virtude

do baixo valor oferecido e dos interesses comerciais que mantinha com outra emissora, o cantor não concedeu

a autorização. A despeito disso, alguns meses depois, o programa estreou, tendo se apropriado do refrão, como

nome, e do fonograma, como fundo musical. Em sua defesa, o SBT sustentou que o envio do e-mail para a

produtora do cantor, no qual solicitou autorização para utilizar a música, foi feito nos termos previstos em ajuste

existente entre as partes, e que a falta de resposta significaria autorização tácita. O STJ não concordou com o

INFORMATIVOS 2020 - 118


argumento porque considera que o uso de obra literária, artística ou científica depende de autorização expressa

e prévia do autor, nos termos do art. 29 da Lei de Direitos Autorais (Lei nº 9.618/98). A escolha do trecho de

maior sucesso da obra musical como título de programa televisivo e seu uso em conjunto com o fonograma,

gerou uma associação inadequada do autor da obra musical com a emissora, que utilizou o sucesso da música

como título em sua programação semanal também como forma de atrair audiência. STJ. 3ª Turma. REsp

1.704.189-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/10/2020 (Info 681).

USUFRUTO VIDUAL

O usufruto vidual era um instituto previsto no art. 1.611, § 1º do Código Civil de 1916, nos seguintes termos:

Art. 1.611 (...) § 1º O cônjuge viúvo, se o regime de bens do casamento não era o da comunhão universal, terá

direito, enquanto durar a viuvez, ao usufruto da quarta parte dos bens do cônjuge falecido, se houver filhos,

deste ou do casal, e à metade, se não houver filhos embora sobrevivam ascendentes do de cujus. O objetivo era

garantir um mínimo necessário ao cônjuge que não tinha direito à herança do falecido.

Na interpretação teleológica do instituto, não faz jus ao usufruto legal a que alude o art. 1.611, § 1º, do Código

Civil revogado, a viúva meeira. Isso porque ela já foi contemplada com parcela significativa do patrimônio,

afastando a necessidade econômica autorizativa da benesse. No caso concreto, o STJ negou a uma viúva o

reconhecimento do usufruto vidual porque a mulher já havia sido contemplada com a meação de bens.

Além disso, já tinha havido a separação de corpos, ocorrida dois anos antes do falecimento.

Obs: o Código Civil de 2002 não previu o usufruto vidual, porém, em compensação, estendeu o direito real de

habitação a todos os regimes de bens (art. 1.831), sem as restrições então previstas. Além disso, o cônjuge

passou a ser herdeiro necessário. STJ. 4ª Turma. REsp 1.280.102-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em

13/10/2020 (Info 681).

CONTRATO MARÍTIMO

A pretensão de cobrança de valores relativos a despesas de sobre-estadias de contêineres (demurrage)

previamente estabelecidos em contrato de transporte marítimo (unimodal) prescreve em 5 (cinco) anos, a teor

do que dispõe o art. 206, § 5º, inciso I, do Código Civil de 2002. STJ. 2ª Seção. REsp 1.819.826-SP, Rel. Min. Ricardo

Villas Bôas Cueva, julgado em 28/10/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1035) (Info 682).

COOPERATIVAS

Quando a assembleia-geral aprova a liquidação extrajudicial da cooperativa, isso acarreta a sustação de

qualquer ação judicial contra a entidade, pelo prazo de 1 ano (art. 76 da Lei nº 5.764/71). Esse prazo pode ser

prorrogado por mais 1 ano. Não é possível ampliar essa suspensão para além do limite legal de 2 anos, não

INFORMATIVOS 2020 - 119


sendo possível aplicar, por analogia, a regra de prorrogação do stay period da recuperação judicial (art. 6º, § 4º,

da Lei nº 11.101/2005). O art. 76 da Lei nº 5.764/71 possui caráter excepcional porque atribui atribuir a uma

deliberação privada o condão de suspender a prestação da atividade jurisdicional. Em suma: não é cabível a

suspensão do cumprimento de sentença contra cooperativa em regime de liquidação extrajudicial para além do

prazo de 1 ano, prorrogável por mais 1 ano. STJ. 3ª Turma. REsp 1.833.613-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso

Sanseverino, julgado em 17/11/2020 (Info 683).

PROCESSO CIVIL

PRINCÍPIOS

A regra do art. 489, §1º, VI, do CPC, segundo a qual o juiz, para deixar de aplicar enunciado de súmula,

jurisprudência ou precedente invocado pela parte, deve demonstrar a existência de distinção ou de superação,

somente se aplica às súmulas ou precedentes vinculantes, mas não às súmulas e aos precedentes apenas

persuasivos, como, por exemplo, os acórdãos proferidos por Tribunais de 2º grau distintos daquele a que

o julgador está vinculado. O art. 489, §1º, VI, do CPC/2015, dispõe: “Art. 489. São elementos essenciais da

sentença: (...) §1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou

acórdão, que: (...) VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte,

sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento”. STJ. 3ª

Turma. REsp 1.698.774-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info 679).

A nova legislação processual civil instrumentaliza a denominada Justiça Multiportas, incentivando a solução

consensual dos conflitos, especialmente por meio das modalidades de conciliação e mediação. O art. 334

do CPC estabelece a obrigatoriedade da realização de audiência de conciliação ou de mediação após a citação do

réu. Não comparecendo o INSS à audiência de conciliação, inevitável a aplicação da multa prevista no art.

334, § 8º do CPC/2015, que estabelece que o não comparecimento injustificado do autor ou do réu à

audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da Justiça e será sancionado com

multa de até 2% da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União

ou do Estado. Qualquer interpretação que relativize esse dispositivo será um retrocesso na evolução do Direito

pela via jurisdicional e um desserviço à Justiça. STJ. 1ª Turma. REsp 1.769.949-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia

Filho, julgado em 08/09/2020 (Info 680).

INFORMATIVOS 2020 - 120


PETIÇÃO INICIAL

Descumprida a determinação de emenda a inicial com relação à apresentação do original de uma das

cártulas que embasou a monitória, não é juridicamente possível se falar em extinção total da demanda.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.837.301-SC, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 18/02/2020 (Info 665).

PROVAS

PROVA TESTEMUNHAL

Caso a testemunha tenha sido ouvida no juízo deprecado, pelo método audiovisual, de quem é a

responsabilidade pela degravação do depoimento? Do juízo deprecante. Compete ao juízo deprecante a

degravação de depoimento colhido nos autos de carta precatória por sistema audiovisual na vigência do

CPC/2015. Na vigência do CPC/2015, a colheita de prova testemunhal por gravação passou a ser um método

convencional (comum; regra geral), ficando a degravação prevista apenas para hipóteses excepcionais em que,

em autos físicos, for interposto recurso, sendo impossível o envio da documentação eletrônica. Em caso de

precatória inquiritória, a gravação dos depoimentos colhidos em audiência pelo método audiovisual é suficiente

para a devolução da carta adequadamente cumprida. Na hipótese excepcional de se mostrar necessária a

degravação, deverá ser realizada pelo juízo deprecante ou pela parte interessada. STJ. 2ª Seção. CC 150.252/SP,

Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/06/2020 (Info 974)

INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Quanto à inversão do ônus da prova, o art. 373, § 1º, do Código de Processo Civil, em perfeita sintonia com a

Constituição de 1988, reproduz, na relação processual, a transição da isonomia formal para a isonomia

material. Não se trata de prerrogativa judicial irrestrita, pois depende ora de previsão legal (direta ou

indireta, p. ex., como consectário do princípio da precaução), ora, na sua falta, de peculiaridades da causa,

associadas quer à impossibilidade ou a excessivo custo ou complexidade de cumprimento do encargo

probante, quer à maior capacidade de obtenção da prova pela parte contrária. Naquela hipótese, em

reação à natureza espinhosa da produção probatória, a inversão foca em dificuldade do beneficiário da inversão;

nesta, prestigia a maior facilidade, para tanto, do detentor da prova do fato contrário. Qualquer elemento

probatório, pontualmente - ou todos eles conjuntamente -, pode ser objeto da decretação de inversão, desde

que haja adequada fundamentação judicial. A alteração ope legis ou ope judicis da sistemática probatória

ordinária leva consigo o custeio da carga invertida, não como dever, mas como simples faculdade. Logo, não

INFORMATIVOS 2020 - 121


equivale a compelir a parte gravada a pagar ou a antecipar pagamento pelo que remanescer de ônus do

beneficiário. Modificada a atribuição, desaparece a necessidade de a parte favorecida provar aquilo que, daí em

diante, integrar o âmbito da inversão. Ilógico e supérfluo requisitar que produza o réu prova de seu exclusivo

interesse disponível, já que a omissão em nada prejudicará o favorecido ou o andamento processual. Ou seja, a

inversão não implica transferência ao réu de custas de perícia requerida pelo autor da demanda, pois de

duas, uma: ou tal prova continua com o autor e somente a ele incumbe, ou a ele comumente cabia e foi

deslocada para o réu, titular da opção de, por sua conta e risco, cumpri-la ou não. Claro, se o sujeito titular

do ônus invertido preferir não antecipar honorários periciais referentes a seu encargo probatório,

presumir-se-ão verdadeiras as alegações da outra parte. STJ. 2ª Turma. REsp 1.807.831-RO, Rel. Min. Herman

Benjamin, julgado em 07/11/2019 (Info 679).

DAS PARTES E DOS PROCURADORES

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Nos casos em que o acolhimento da pretensão não tenha correlação com o valor da causa ou não se

observe proveito econômico com a extinção sem resolução do mérito da execução fiscal, os honorários

de sucumbência devem ser arbitrados por apreciação equitativa, com observância dos critérios dos §§ 2º

e 8º do art. 85 do CPC/2015.

Caso concreto: o Município ajuizou execução fiscal contra a empresa; a executada informou que o débito

cobrado está sendo discutido em ação declaratória em tramitação, na qual foi proferida sentença e acórdão

suspendendo a exigibilidade do crédito tributário, estando aguardando apenas o julgamento de recurso

extraordinário; diante disso, o Município pediu a desistência da execução, com a extinção do processo sem

julgamento do mérito.

Nessa situação, os honorários advocatícios deverão ser fixados, não com base no § 3º do art. 85, mas sim com

fundamento no § 8º. Isso porque a extinção da execução fiscal não acarreta impacto direto na questão de fundo,

vez que o crédito tributário é ainda objeto de controvérsia judicial na outra ação.

Art. 85 (...) § 8º Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da

causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por apreciação equitativa, observando o disposto nos

incisos do § 2º.

STJ. 1ª Turma. REsp 1776512-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

O juiz condenou o réu a pagar indenização por danos morais, no entanto, o valor fixado foi inferior ao

pedido pelo autor na inicial. Houve sucumbência recíproca neste caso?

Nos termos da Súmula 326/STJ, na ação de compensação por danos morais, a condenação em montante inferior

INFORMATIVOS 2020 - 122


ao postulado na petição inicial não implica sucumbência recíproca.

A indenização por danos morais e materiais fixada em montante inferior ao pedido não configura sucumbência

recíproca, pois o valor deduzido na petição inicial é meramente estimativo.

STJ. 3ª Turma. AgInt no AgInt no AREsp 1546407/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/05/2020.

Súmula 326-STJ: Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao postulado na

inicial não implica sucumbência recíproca.

É assegurada a quem foi concedido os benefícios da gratuidade de justiça a suspensão da exigibilidade

dos honorários e custas processuais, conforme o art. 98, § 3º, do CPC/2015.

STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1835957/RJ, Rel. Ministro Sérgio Kukina, julgado em 15/06/2020.

STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1310070/MS, Rel. Ministro Raul Araújo, julgado em 04/05/2020.

Em caso de extinção da execução por acordo , os honorários advocatícios e as despesas com custas

processuais são de responsabilidade de cada parte.

Caso concreto: o Banco da Amazônia (BASA) ajuizou execução de cédula de crédito rural pignoratícia e

hipotecária. Houve um acordo entre a instituição financeira e o devedor, tendo sido o processo extinto em razão

da renegociação da dívida, nos termos da Lei nº 13.340/2016.

Neste caso, os honorários advocatícios e as despesas com custas processuais são de responsabilidade de cada

parte, e a falta de seu pagamento não obsta a liquidação ou repactuação da dívida.

A condenação ao pagamento de honorários advocatícios é uma consequência objetiva da extinção do processo,

sendo orientada, em caráter principal, pelo princípio da sucumbência e, subsidiariamente, pelo da causalidade.

O princípio da causalidade atende a uma razão de justiça distributiva e demanda que se questione

comportamento das partes antes e no decorrer do processo.

A aplicação da causalidade e a justa distribuição das despesas e dos honorários resulta na imputação da

responsabilidade a quem tornou necessário o processo ou quem seja responsável pela causa superveniente que

ensejou sua extinção.

O processo executivo pode encontrar termo de maneira anômala e antecipada nos casos em que se extingue o

próprio direito de crédito do exequente, por qualquer dos meios liberatórios previstos no direito material, ainda

que extraprocessuais.

O acordo bilateral entre as partes, envolvido na renegociação da dívida, demanda reciprocidade das concessões,

não caracteriza sucumbência e é resultado da conduta de ambas as partes. Nessa situação, os honorários

devem ser arcados por cada parte, em relação a seu procurador (arts. 90, § 2º, do CPC/15 e 12 da Lei 13.340/16).

STJ. 3ª Turma. REsp 1836703/TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/10/2020.

São devidos os honorários de sucumbência ao procurador que não participou de acordo firmado entre as

partes, realizado e homologado antes do trânsito em julgado da sentença que fixou tal verba. Caso

INFORMATIVOS 2020 - 123


concreto: condomínio ajuizou ação de indenização contra empresa de engenharia em razão de serviços que não

foram bem realizados. O juiz julgou parcialmente procedente, condenando a empresa a pagar R$ 200 mil.

Ambas as partes apelaram. O TJ manteve a sentença, mas antes que houvesse trânsito em jugado, as partes

ingressaram com petição afirmando que haviam feito um acordo de R$ 150 mil. O ponto controverso é que o

condomínio foi representado por Juliana, nova advogada que participou apenas do acordo e cuja procuração

revogou o mandato que havia sido outorgada ao advogado anterior (Pedro), que ajuizou e acompanhou a ação.

Pedro peticionou nos autos requerendo que fosse preservado o valor que ele teria direito de receber a título de

honorários advocatícios sucumbenciais definidos na sentença condenatória (10% de 200 mil). A sentença

homologou o acordo firmado entre as partes, e indeferiu o pedido de Pedro, deixando expressamente

consignado que, como o acordo foi apresentado antes do trânsito em julgado da sentença, não haveria que se

falar em honorários sucumbenciais. Pedro tem direito aos honorários? Sim. O acordo firmado entre as partes,

sem a concordância do advogado, não pode atingir o direito desse profissional de receber os honorários

advocatícios fixados na sentença judicial, desde que esta já tenha transitada em julgado. No caso, a despeito de

não ter havido trânsito em julgado da sentença que fixou os honorários, existem peculiaridades que permitem

concluir ser possível a manutenção dos honorários. Em 1º grau, a sentença condenou a empresa ao pagamento

de 10% de honorários advocatícios sucumbenciais, condenação esta que foi mantida pelo TJ e que estava prestes

a transitar em julgado, não fosse pelo fato de as partes terem, neste meio tempo, atravessado pedido de

homologação de acordo extrajudicial - que sequer fez menção ao pagamento de qualquer verba honorária -,

com a participação de nova advogada constituída nos autos, o que revogou automaticamente anterior

procuração outorgada pelo Condomínio. Dada as particularidades da situação, convém reconhecer o direito

autônomo do advogado ao recebimento da verba honorária estabelecida na sentença condenatória. STJ. 3ª

Turma. REsp 1.851.329-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info 681).

São devidos os honorários de sucumbência ao procurador que não participou de acordo firmado entre as

partes, realizado e homologado antes do trânsito em julgado da sentença que fixou tal verba. Caso

concreto: condomínio ajuizou ação de indenização contra empresa de engenharia em razão de serviços que não

foram bem realizados. O juiz julgou parcialmente procedente, condenando a empresa a pagar R$ 200 mil.

Ambas as partes apelaram. O TJ manteve a sentença, mas antes que houvesse trânsito em jugado, as partes

ingressaram com petição afirmando que haviam feito um acordo de R$ 150 mil. O ponto controverso é que o

condomínio foi representado por Juliana, nova advogada que participou apenas do acordo e cuja procuração

revogou o mandato que havia sido outorgada ao advogado anterior (Pedro), que ajuizou e acompanhou a ação.

Pedro peticionou nos autos requerendo que fosse preservado o valor que ele teria direito de receber a título de

honorários advocatícios sucumbenciais definidos na sentença condenatória (10% de 200 mil). A sentença

homologou o acordo firmado entre as partes, e indeferiu o pedido de Pedro, deixando expressamente

consignado que, como o acordo foi apresentado antes do trânsito em julgado da sentença, não haveria que se

INFORMATIVOS 2020 - 124


falar em honorários sucumbenciais. Pedro tem direito aos honorários? Sim. O acordo firmado entre as partes,

sem a concordância do advogado, não pode atingir o direito desse profissional de receber os honorários

advocatícios fixados na sentença judicial, desde que esta já tenha transitada em julgado. No caso, a despeito de

não ter havido trânsito em julgado da sentença que fixou os honorários, existem peculiaridades que permitem

concluir ser possível a manutenção dos honorários. Em 1º grau, a sentença condenou a empresa ao pagamento

de 10% de honorários advocatícios sucumbenciais, condenação esta que foi mantida pelo TJ e que estava prestes

a transitar em julgado, não fosse pelo fato de as partes terem, neste meio tempo, atravessado pedido de

homologação de acordo extrajudicial - que sequer fez menção ao pagamento de qualquer verba honorária -,

com a participação de nova advogada constituída nos autos, o que revogou automaticamente anterior

procuração outorgada pelo Condomínio. Dada as particularidades da situação, convém reconhecer o direito

autônomo do advogado ao recebimento da verba honorária estabelecida na sentença condenatória. STJ. 3ª

Turma. REsp 1.851.329-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info 681).

O caput do art. 85 do CPC afirma que “a sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do

vencedor”. Nos honorários advocatícios contratuais, existe uma relação jurídica da parte com seu

advogado. Nos honorários advocatícios sucumbenciais, a relação jurídica se estabelece entre a parte

litigante e o advogado da parte contrária. Não se pode adotar o entendimento de que, havendo

sucumbência recíproca, cada parte se responsabiliza pelos honorários advocatícios sucumbenciais do seu

respectivo advogado. Isso porque, no caso de deferimento de gratuidade de justiça, por exemplo, esse

entendimento faria com que houvesse um conflito de interesses entre o advogado e a parte beneficiária por ele

representada, criando situação paradoxal de um causídico defender um benefício ao seu cliente que, de forma

reflexa, o prejudicaria. Além disso, nas hipóteses em que a sucumbência recíproca não é igualitária (ex: 80% a

20%), a prevalência do entendimento de que cada uma das partes arcará com os honorários sucumbenciais do

próprio causídico que constituiu poderia dar ensejo à situação de o advogado da parte que sucumbiu mais no

processo receber uma parcela maior dos honorários de sucumbência, ou de a parte litigante que menos

sucumbiu na demanda pagar uma parcela maior dos honorários de sucumbência. Desse modo, uma vez

estabelecido o grau de sucumbência recíproca entre os litigantes, a parte autora fica responsável pelo

pagamento dos honorários advocatícios de sucumbência do advogado do réu, e o réu, responsável pelo

pagamento dos honorários advocatícios de sucumbência do advogado do autor. STJ. 4ª Turma. AgInt no

AREsp 1.495.369-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 01/09/2020 (Info 681).

O art. 85, § 11 do CPC trata sobre a possibilidade, na fase de recurso, haver a majoração dos honorários

advocatícios. É cabível a majoração dos honorários advocatícios com base no § 11 do art. 85 do CPC mesmo que

na sentença tenha sido reconhecida a sucumbência recíproca?

• NÃO. Há julgados da 2ª e da 3ª Turmas do STJ nesse sentido: Não cabem honorários recursais na hipótese de

inexistência de condenação prévia em honorários sucumbenciais principais, quando, por exemplo, houver a

INFORMATIVOS 2020 - 125


estipulação de sucumbência recíproca. Inteligência do art. 85, § 11, do CPC/2015 (STJ. 2ª Turma. REsp

1.697.387/RO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/12/2017). Havendo sucumbência recíproca, em

que cada parte se responsabiliza pela remuneração do seu respectivo patrono, sem a fixação expressa de

valores, é incabível a majoração dos honorários advocatícios com base no art. 85, § 11, do CPC/2015 (STJ. 3ª

Turma. AgInt no AREsp 1340890/PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/05/2019).

• SIM. A 4ª Turma do STJ decidiu dessa forma: A sucumbência recíproca, por si só, não é óbice à majoração dos

honorários advocatícios em sede recursal, com base no § 11 do art. 85 do CPC. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp

1.495.369-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 01/09/2020 (Info 681).

COMPETÊNCIA

A competência para julgar ações contra CNJ e CNMP.

O STF conferia interpretação restritiva ao art. 102, I, “r”, da CF/88 e afirmava que ele (STF) somente seria

competente para julgar as ações em que o próprio CNJ ou CNMP figurassem no polo passivo. Seria o caso de

mandados de segurança, habeas corpus e habeas data contra os Conselhos.

No caso de serem propostas ações ordinárias para impugnar atos do CNJ e CNMP, a competência seria da Justiça

Federal de 1ª instância, com base no art. 109, I, da CF/88.

Houve, no entanto, mudança de entendimento. O que prevalece agora é o seguinte:

Nos termos do artigo 102, inciso I, alínea ‘r’, da Constituição Federal, é competência exclusiva do Su-premo

Tribunal Federal processar e julgar originariamente todas as decisões do Conselho Nacional de Justiça e do

Conselho Nacional do Ministério Público proferidas nos exercício de suas competências constitucionais

respectivamente previstas nos artigos 103-B, parágrafo 4º, e 130-A, parágrafo 2º, da Constituição Federal.

STF. Plenário. ADI 4412, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020.

Compete à Justiça comum processar e julgar causa de servidor público municipal admitido mediante

aprovação em concurso público sob o regime da CLT e que, posteriormente, passou a ser regido pelo

estatuto dos servidores públicos municipais (estatutário). Caso concreto: o servidor ingressou no serviço

público do Município em 1997 no cargo de auxiliar de serviços gerais sob o regime celetista e, em julho de 2010,

passou a ser regido pelo regime estatutário. Em 2013, ele ajuizou ação na Justiça do Trabalho para pleitear o

recolhimento de parcelas do FGTS no período em que esteve regido pelas regras da CLT. Como o vínculo do

servidor com a administração pública é atualmente estatutário, a competência para julgar a causa é da Justiça

comum, ainda que as verbas requeridas sejam de natureza trabalhista e relativas ao período anterior à alteração

INFORMATIVOS 2020 - 126


do regime de trabalho. STF. Plenário. CC 8018/PI, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de

Moraes, julgado em 19/12/2019 (Info 964).

Compete à Justiça comum processar e julgar controvérsias relacionadas à fase pré-contratual de seleção

e de admissão de pessoal e eventual nulidade do certame em face da Administração Pública, direta e

indireta, nas hipóteses em que adotado o regime celetista de contratação de pessoal. STF. Plenário. RE

960429/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/3/2020 (repercussão geral – Tema 992) (Info 968)

Compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer e julgar originariamente causas que envolvam a

interpretação de normas relativas à imunidade tributária recíproca, em razão do potencial abalo ao

pacto federativo. STF. Plenário. ACO 1098, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/05/2020 (Info 980 – clipping)

Compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas contra o CNJ e contra o CNMP no

exercício de suas atividades-fim Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência exclusiva

do STF processar e julgar, originariamente, todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP

proferidas no exercício de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas nos arts. 103-B, § 4º, e

130-A, § 2º, da CF/88. STF. Plenário. Pet 4770 AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/11/2020 (Info

1000). STF. Plenário. Rcl 33459 AgR/PE, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

Decisões administrativas do CNJ devem ser cumpridas mesmo que exista decisão judicial em sentido

contrário proferida por outro órgão judiciário que não seja o STF. O art. 106 do Regimento Interno do CNJ

prevê o seguinte: Art. 106. O CNJ determinará à autoridade recalcitrante, sob as cominações do disposto no

artigo anterior, o imediato cumprimento de decisão ou ato seu, quando impugnado perante outro juízo que não

o Supremo Tribunal Federal. O STF afirmou que essa previsão é constitucional e decorre do exercício

legítimo de poder normativo atribuído constitucionalmente ao CNJ, que é o órgão formulador da política

judiciária nacional. Assim, o CNJ pode determinar à autoridade recalcitrante o cumprimento imediato de suas

decisões, ainda que impugnadas perante a Justiça Federal de primeira instância, quando se tratar de hipótese de

competência originária do STF. STF. Plenário. ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info

1000)

Compete às Turmas que compõem a Segunda Seção do STJ (especializada em direito privado) apreciar

recurso em que se discute ressarcimento pelo desconto de mensalidades de plano de saúde cobradas em

fatura de energia elétrica. Caso concreto: análise do recurso especial relacionado com ação de indenização

ajuizada contra a concessionária de energia elétrica pelo fato de ela ter inserido irregularmente, na conta de

energia elétrica do autor, um desconto relacionado com mensalidade de plano de saúde. Essa discussão versa

claramente sobre direito obrigacional privado, sobre responsabilização de empresa privada e de concessionária

de serviço público pela cobrança indevida de prestações alusivas a plano de saúde. Não se trata de discussão

INFORMATIVOS 2020 - 127


que envolva matéria afeta ao regime jurídico-administrativo. Logo, a competência é das Turmas da 2ª Seção

(especializada em direito privado) e não das Turmas da 1ª Seção (que aprecia matérias de direito público). STJ.

Corte Especial. CC 171.348-DF, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 02/09/2020 (Info 679).

Compete à Justiça comum julgar conflitos entre Município e servidor contratado depois da CF/88, ainda

que sem concurso público, pois, uma vez vigente regime jurídico-administrativo, este disciplinará a absorção de

pessoal pelo poder público. Logo, eventual nulidade do vínculo e as consequências daí oriundas devem ser

apreciadas pela Justiça comum, e não pela Justiça do Trabalho. STF. Plenário. ARE 1179455 AgR/PI, rel. orig. Min.

Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 5/5/2020 (Info 976).

CITAÇÃO E INTIMAÇÃO

CITAÇÃO

A citação de pessoa física pelo correio se dá com a entrega da carta citatória diretamente ao citando, cuja

assinatura deverá constar no respectivo aviso de recebimento, nos termos do art. 248, § 1º do CPC:

Art. 248 (...) § 1º A carta será registrada para entrega ao citando, exigindo-lhe o carteiro, ao fazer a entrega, que

assine o recibo.

No caso concreto, a carta citatória não foi entregue ao citando, mas sim à pessoa estranha ao feito, sendo,

portanto, nula, conforme preconiza o art. 280 do CPC.

Vale ressaltar que o fato de a citação postal ter sido enviada ao estabelecimento comercial onde o citando

exerce suas atividades como sócio administrador não é suficiente para afastar norma processual expressa,

sobretudo porque não há como se ter certeza de que o réu tenha efetivamente tomado ciência da ação

monitória contra si ajuizada.

A possibilidade da carta de citação ser recebida por terceira pessoa somente ocorre quando o citando for pessoa

jurídica, nos termos do disposto no § 2º do art. 248 do CPC/2015, ou nos casos em que, nos condomínios

edilícios ou loteamentos com controle de acesso, a entrega do mandado for feita a funcionário da portaria

responsável pelo recebimento da correspondência, conforme estabelece o § 4º do referido dispositivo legal,

hipóteses, contudo, que não se subsumem ao presente caso:

Art. 248 (...)

§ 2º Sendo o citando pessoa jurídica, será válida a entrega do mandado a pessoa com poderes de gerência geral

ou de administração ou, ainda, a funcionário responsável pelo recebimento de correspondências.

INFORMATIVOS 2020 - 128


§ 4º Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com controle de acesso, será válida a entrega do mandado a

funcionário da portaria responsável pelo recebimento de correspondência, que, entretanto, poderá recusar o

recebimento, se declarar, por escrito, sob as penas da lei, que o destinatário da correspondência está ausente.

STJ. 3ª Turma. REsp 1840466/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 16/06/2020.

Segundo o art. 240 do CPC/2015, a citação válida do réu constitui em mora o devedor, ressalvadas as hipóteses

previstas nos arts. 397 e 398 do Código Civil. E se houver mais de um réu (litisconsórcio) e eles foram citados em

datas diferentes? Neste caso, qual será considerado o momento em que eles estarão constituídos em mora: a

data da primeira ou da última citação? A data da primeira, nos termos do art. 280 do CC: Art. 280. Todos os

devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a ação tenha sido proposta somente contra um; mas o

culpado responde aos outros pela obrigação acrescida.

Obs: isso vale mesmo que a obrigação não seja solidária. Os efeitos da citação não podem ser confundidos com

o início do prazo para a defesa dos litisconsortes. Por isso, não se aplica, para a constituição em mora, a regra

processual disciplinadora do termo inicial do prazo para contestar (art. 231, § 1º, do CPC). STJ. 3ª Turma. REsp

1.868.855-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info 680).

RESPOSTA DO RÉU

RECONVENÇÃO

É admissível a reconvenção sucessiva, também denominada de reconvenção à reconvenção, desde que a

questão que justifique a propositura tenha surgido na contestação ou na primeira reconvenção. Caso

concreto: Djalma ajuizou ação contra Reinaldo pedindo o pagamento de honorários advocatícios. Após ser

citado, Reinaldo não apenas apresentou contestação, em que impugnou a existência da alegada dívida, como

também propôs reconvenção, na qual formulou pedido de repetição do indébito ao fundamento de que teria

pagado ao autor, a título de honorários advocatícios, valor maior do que o devido. Djalma foi intimado para

responder à reconvenção e, então, propôs reconvenção à reconvenção, na qual alegou que o pedido de Reinaldo

(devolução de valores alegadamente pagos a maior) é manifestamente incabível porque os valores foram fixados

em decisão judicial, razão pela qual ele (Reinaldo) deve ser a pagar a sanção civil do art. 940 do Código Civil. A

reconvenção sucessiva foi liminarmente indeferida pelo juiz sob o fundamento de que não existiria autorização

legal para o seu manejo. O STJ não concordou com a decisão do juiz e afirmou que o sistema processual

brasileiro admite a reconvenção sucessiva (reconvenção à reconvenção), desde que seu exercício tenha

se tornado viável a partir de questão suscitada na contestação ou na primeira reconvenção. Sob a

vigência do CPC/1973, a doutrina se posicionou majoritariamente pela possibilidade da reconvenção à

reconvenção, desde que a questão que justifica a propositura da reconvenção sucessiva tenha como origem a

INFORMATIVOS 2020 - 129


contestação ou a primeira reconvenção. O entendimento permanece o mesmo com o CPC/2015. Aliás, o

CPC/2015 reforçou essa possibilidade. Isso porque agora o autor-reconvindo é intimado para apresentar

resposta, e não mais contestação (art. 343). A palavra “resposta” é mais ampla e abrange também nova

reconvenção. Outro argumento está no fato de que o § 6º do art. 702 do CPC/2015 proibiu expressamente a

reconvenção à reconvenção apenas na hipótese da ação monitória, razão pela qual houve um silêncio eloquente

quanto às demais hipóteses, revelando que é possível. STJ. 3ª Turma. REsp 1.690.216-RS, Rel. Min. Paulo de Tarso

Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info 680)

CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Na fase de cumprimento de sentença não se pode alterar os critérios de atualização dos cálculos

estabelecidos na decisão transitada em julgado, ainda que para adequá-los ao entendimento do STF

firmado em repercussão geral.

Sem que a decisão acobertada pela coisa julgada tenha sido desconstituída, não é cabível ao juízo da fase

de cumprimento de sentença alterar os parâmetros estabelecidos no título judicial, ainda que no intuito

de adequá-los à decisão vinculante do STF.

STJ. 2ª Turma. REsp 1861550-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/06/2020 (Info 676).

O prazo para impugnação se inicia após 15 dias da intimação para pagar o débito, ainda que o executado

realize o depósito para garantia do juízo no prazo para pagamento voluntário, independentemente de

nova intimação.

Exemplo: o credor iniciou o cumprimento da sentença. Em 19/4/2016, o devedor foi intimado para que, em 15

dias, efetuasse o pagamento. Em 09/05/2016, o devedor depositou em juízo o valor da condenação apenas para

fins de garantia do juízo e para obter efeito suspensivo na impugnação que ainda iria apresentar. Em

03/06/2016, o devedor apresentou a impugnação. O exequente alegou que a impugnação foi apresentada fora

do prazo. Isso porque o prazo de 15 dias para a impugnação deveria ser contado da data em que foi feito o

depósito judicial (09/05/2016). O STJ não concordou e disse que o prazo de 15 dias para a impugnação começa a

contar após terminar o prazo de 15 dias para o pagamento.

STJ. 3ª Turma. REsp 1761068-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em

15/12/2020 (Info 684).

O inciso II do art. 516 do CPC prevê que o cumprimento da sentença será feito perante o juízo que decidiu a

causa no primeiro grau de jurisdição. O parágrafo único, por sua vez, afirma que o exequente poderá optar

por ingressar com o cumprimento de sentença:

INFORMATIVOS 2020 - 130


a) no juízo do atual domicílio do executado;

b) no juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à execução;

c) no juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou de não fazer.

É possível que o exequente faça a opção de que trata o parágrafo único do art. 516 do CPC/2015 mesmo após já ter

sido iniciado o cumprimento de sentença?

SIM. O credor pode optar pela remessa dos autos ao foro de domicílio do executado, mesmo após o início

do cumprimento de sentença. STJ. 3ª Turma. REsp 1.776.382-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em

03/12/2019 (Info 663).

João ingressa com pedido de cumprimento de sentença cobrando determinada quantia de Pedro. Após ser

intimado a pagar, Pedro depositou em juízo o valor da condenação, mas apresentou petição narrando que

aquilo não era pagamento e sim mera garantia do Juízo para obter o efeito suspensivo na futura impugnação.

Hipótese 1: Pedro, logo em seguida ao ato acima, apresentou impugnação ao cumprimento de sentença. A

impugnação foi julgada improcedente. Pedro terá que pagar a multa de 10% do art. 523, § 1º? SIM. Veja: A multa

a que se refere o art. 523 do CPC/2015 será excluída apenas se o executado depositar voluntariamente a

quantia devida em juízo, sem condicionar seu levantamento a qualquer discussão do débito. STJ. 3ª

Turma. REsp 1803985/SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/11/2019. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp

1435744/SE, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 28/05/2019.

Hipótese 2: Pedro depositou em juízo o valor da condenação e apresentou petição narrando que aquilo não era

pagamento e sim garantia do Juízo. Apesar disso, Pedro não apresentou a impugnação. Transcorrido o prazo,

como o devedor não ingressou com a impugnação, o credor pediu a expedição de guia para levantamento do

valor depositado, o que foi deferido pelo juiz mediante alvará. Pedro terá que pagar a multa de 10% do art. 523,

§ 1º? NÃO. Não haverá a incidência da multa mesmo o devedor tendo afirmado que não estava pagando.

Isso porque para incidir a multa é necessário que haja a efetiva resistência do devedor por meio da

propositura de impugnação, o que não ocorreu. Assim, considerando o depósito efetuado e a ausência de

resistência ao cumprimento de sentença, não se justifica a incidência da multa. Para incidência da multa do art.

523, § 1º, do CPC, é preciso a efetiva resistência do executado ao cumprimento de sentença. STJ. 3ª Turma. REsp

1.834.337-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/12/2019 (Info 663).

O § 3º do art. 782 do CPC/2015 prevê que o juiz, a requerimento da parte, pode determinar a inclusão do nome

do executado nos cadastros de inadimplentes (exs: SPC/SERASA). Embora o magistrado não esteja obrigado a

deferir o pedido de inclusão do nome do executado no cadastro de inadimplentes, visto que a norma do

INFORMATIVOS 2020 - 131


art. 782, § 3º, do CPC/2015 não trata de uma imposição legal, mas mera faculdade atribuída ao juiz da

causa, não se revela idôneo condicionar a referida medida à prévia recusa administrativa das entidades

mantenedoras do respectivo cadastro. Assim, o credor pode requerer essa providência diretamente ao juízo,

não sendo necessário comprovar que este pedido foi feito antes, extrajudicialmente, para as entidades

mantenedoras do cadastro e que elas recusaram. STJ. 3ª Turma. REsp 1.835.778-PR, Rel. Min. Marco Aurélio

Bellizze, julgado em 04/02/2020 (Info 664).

No cálculo dos honorários advocatícios devidos na fase de cumprimento de sentença, após escoado o

prazo legal para o pagamento voluntário da obrigação, não devem ser incluídas as parcelas vincendas da

dívida. Ex: em ação de indenização, a empresa ré foi condenada a pagar 60 prestações mensais de 1 salário

mínimo para o autor ofendido; transitou em julgado e a empresa não pagou nada; iniciou-se o cumprimento de

sentença; a empresa está devendo 1 ano de pensão mensal (12 prestações); o valor a ser pago irá, portanto,

aumentar; isso porque incidirá 10% de multa e 10% de honorários advocatícios, nos termos do § 1º do art. 523

do CPC; esses 10% dos honorários advocatícios incidirão apenas sobre as 12 prestações atualmente em atraso

(parcelas vencidas) ou sobre o total das 60 prestações (parcelas vencidas e também vincendas)? Apenas sobre as

parcelas vencidas (no caso, 12 prestações). O § 1º do art. 523 afirma que, se não ocorrer o pagamento voluntário

dentro do prazo de 15 dias, o débito será acrescido em 10% a título de honorários, além da multa de 10%. A

expressão “débito”, para fins de honorários, engloba apenas as parcelas vencidas da pensão mensal, visto que,

em cumprimento de sentença, o devedor/executado é intimado para quitar os valores exigíveis naquele

momento. Não faz sentido condenar a parte executada ao pagamento de honorários de sucumbência sobre

prestações que ainda não venceram e, portanto, não são exigíveis.

Não confundir.

Cálculo dos honorários advocatícios na ação de indenização com o objetivo de obter o pagamento de pensão

mensal:

• Na fase de conhecimento: o percentual dos honorários advocatícios deverá incidir todas as parcelas

vencidas e mais 12 parcelas vincendas, ou seja, parcelas vencidas + 1 ano de parcelas vincendas (art. 85, § 9º,

do CPC/2015).

• Na fase de cumprimento de sentença: o percentual dos honorários advocatícios deverá incidir apenas

sobre as parcelas vencidas. STJ. 3ª Turma. REsp 1.837.146-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em

11/02/2020 (Info 665)

Em regra, a intimação para cumprimento da sentença é feita na pessoa do advogado do devedor (art. 513,

§ 2º, I, do CPC/2015). O devedor revel que tenha sido pessoalmente intimado na fase de conhecimento e,

mesmo assim ficou inerte, deverá ser intimado para o cumprimento de sentença por meio de carta com

INFORMATIVOS 2020 - 132


aviso de recebimento. Isso porque, neste caso, o devedor não terá procurador (advogado) constituído nos

autos:

Art. 513 (...) § 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença: II - por carta com aviso de recebimento, (...)

quando não tiver procurador constituído nos autos; STJ. 3ª Turma. REsp 1.760.914-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso

Sanseverino, julgado em 02/06/2020 (Info 673).

O § 1º do art. 523 afirma que, se não ocorrer o pagamento voluntário dentro do prazo de 15 dias, o débito será

acrescido em 10% a título de honorários, além da multa de 10%. Esse percentual de 10% não admite

mitigação (relativização, diminuição) pelo juiz por três razões:

1) a própria lei tarifou expressamente esse percentual fixo;

2) a fixação equitativa da verba honorária só tem lugar nas hipóteses em que constatado que o proveito

econômico é inestimável ou irrisório, ou o valor da causa é muito baixo (art. 85, § 8º); e

3) os próprios critérios de fixação da verba honorária previstos no art. 85, § 2º, já estabelecem que o valor

mínimo será de 10%. STJ. 3ª Turma. REsp 1.701.824-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/06/2020 (Info

673)

IMPUGNAÇÃO AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

O art. 475-J do CPC/1973 previa que o prazo para impugnação ao cumprimento de sentença somente era

contado a partir da intimação do auto de penhora e avaliação.

O art. 525 do CPC/2015, por sua vez, afirma que, transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento

voluntário, inicia-se o prazo de 15 dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova

intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação. Após a entrada em vigor do CPC/2015, o juiz deve

intimar o executado para apresentar impugnação ao cumprimento de sentença, caso tenha transcorrido

o prazo para cumprimento espontâneo da obrigação na vigência do CPC/1973.

Ex: a parte foi intimada, em 02/03/2016 (ainda na vigência do CPC/1973) para pagar uma condenação judicial no

prazo de 15 dias, nos termos do art. 475-J do CPC/1973; o prazo de 15 dias começou a ser computado no dia

seguinte (03/03/2016), terminando em 17/03/2016, sem que tenha havido pagamento; no dia 18/03/2016, entrou

em vigor o CPC/2015; nesse exemplo, deve o juiz intimar o executado para apresentar impugnação ao

cumprimento de sentença no prazo de 15 dias.

Enunciado 530/FPPC: Após a entrada em vigor do CPC-2015, o juiz deve intimar o executado para apresentar

impugnação ao cumprimento de sentença, em quinze dias, ainda que sem depósito, penhora ou caução, caso

tenha transcorrido o prazo para cumprimento espontâneo da obrigação na vigência do CPC-1973 e não tenha

àquele tempo garantido o juízo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.833.935-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado

em 05/05/2020 (Info 671)

INFORMATIVOS 2020 - 133


PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

EMBARGOS DE TERCEIROS

Os embargos de terceiro não são a via processual adequada para a defesa dos ocupantes de um imóvel

impugnar ordem de despejo em ação da qual não fizeram parte, ajuizada contra o suposto locatário.

STJ. 3ª Turma. REsp 1714870/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/11/2020.

Não são cabíveis embargos de terceiro para desconstituir decisão judicial que permite a averbação de

protesto na matrícula de um imóvel.

O protesto contra a alienação de bens é uma medida judicial por meio da qual o promovente comunica a

terceiros interessados que ele entende possuir direitos sobre o imóvel.

Mesmo que o protesto tenha sido registrado na matrícula do imóvel, o único efeito produzido é o de comunicar

aos interessados na aquisição do bem, que alguém alega possuir direitos sobre este bem.

O protesto não acrescenta nem diminui direitos do promovente. Ele é unilateral e apenas dá ciência sobre a

manifestação do promovente. Se essa manifestação tem relevância ou não, isso somente será decidido no

processo competente, se houver.

Os embargos de terceiro são remédio processual a disposição do terceiro prejudicado por um esbulho judicial, o

qual se configura quando a atuação jurisdicional alcança bens que excedam os limites patrimoniais da obrigação

exigida. Em palavras mais simples, os embargos de terceiro têm por objetivo desfazer o ato constritivo judicial

que recai sobre determinado bem.

Assim, é pressuposto dos embargos de terceiro a existência de um ato de constrição judicial sobre o bem que o

terceiro alega ser possuidor ou proprietário.

A averbação do protesto na matrícula do imóvel não afeta a posse ou a propriedade de terceiro alheio ao

procedimento e não configura apreensão judicial. Logo, não são cabíveis embargos de terceiro contra essa

determinação.

STJ. 3ª Turma. REsp 1758858-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

AÇÃO DE EXIGIR CONTAS

Prevalece o entendimento no CPC/2015 - firmado inicialmente na vigência do CPC/1973 -, que há condenação

em honorários advocatícios quando há decisão de procedência na primeira fase da ação de exigir contas.

Com efeito, assim como no antigo CPC, o autor exige as contas e o réu pode contestar tal obrigação.

Acaso a decisão da primeira fase condene o réu a prestá-las, encerrando, via de consequência, aquela fase,

acaba por julgar parcialmente o mérito da pretensão.

INFORMATIVOS 2020 - 134


Por isso é que se entende que a decisão da primeira fase, acaso julgue procedente o pedido do autor, é decisão

parcial de mérito, se assemelhando àquela sentença prevista no art. 915, § 2º, do CPC/73.

Assim, com a procedência do pedido do autor (condenação à prestação das contas exigidas), conclui-se que o

réu fica vencido na primeira fase da ação de exigir contas, devendo arcar com os honorários advocatícios como

consequência do princípio da sucumbência.

STJ. 3ª Turma. REsp 1874603/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/11/2020

O procedimento da ação de prestação de contas (ação de exigir contas) tem como característica a existência,

em regra, de duas fases.

1ª fase: nela, o juiz irá decidir se existe ou não a obrigação de o réu prestar contas. Se o julgador decidir

que não, o processo encerra-se nesta fase. Contudo, se decidir que sim, será aberta uma segunda fase.

2ª fase: servirá para que o réu propriamente preste as contas pleiteadas pelo autor e para que o julgador

avalie se aquele o fez corretamente, reconhecendo a existência de saldo credor ou devedor.

Imagine que o juiz, ainda na vigência do CPC/1973, julgou procedente o pedido, na primeira fase, condenando o

réu a prestar as contas exigidas. Houve o trânsito em julgado e o autor ingressou com cumprimento de

sentença. Logo em seguida, entrou em vigor o CPC/2015. Neste caso, as contas serão prestadas segundo as

regras do CPC/1973 ou do CPC/2015? De acordo com o CPC/1973. O legislador processual adotou a teoria do

isolamento dos atos processuais (art. 14 do CPC/2015). Considerando que houve sentença e trânsito em julgado

da primeira fase da ação, bem como início da segunda fase da ação, tudo sob a égide do CPC/1973, essa deverá

ser a lei regente quanto ao modo de apuração dos débitos, créditos e saldo porventura existentes, na medida

em que o autor adquiriu o direito de exigi-las na constância da lei revogada. STJ. 3ª Turma. REsp 1.823.926-MG,

Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 680).

AÇÃO MONITÓRIA

O réu, citado na ação monitória, pode apresentar embargos monitórios, que são uma forma de defesa,

semelhante à contestação (art. 702 do CPC). Os embargos podem se fundar em qualquer matéria que

poderia ser alegada como defesa no procedimento comum (§ 1º do art. 702). Assim, o réu pode, nos

embargos monitórios, alegar que a dívida já está paga e pedir a repetição de indébito em dobro, nos termos do

art. 940 do CC. A condenação ao pagamento em dobro do valor indevidamente cobrado pode ser formulada em

qualquer via processual, inclusive, em sede de embargos à execução, embargos monitórios e ou reconvenção,

até mesmo reconvenção, prescindindo de ação própria para tanto. STJ. 3ª Turma. REsp 1.877.292-SP, Rel. Min.

Nancy Andrighi, julgado em 20/10/2020 (Info 682)

INFORMATIVOS 2020 - 135


EXECUÇÃO

É impenhorável a pequena propriedade rural familiar constituída de mais de 01 (um) terreno, desde que

contínuos e com área total inferior a 04 (quatro) módulos fiscais do município de localização.

STF. Plenário. ARE 1038507, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 18/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 961) (Info

1003).

Os entes federados são competentes para estabelecer, por meio de leis próprias e segundo a sua

capacidade econômica, o valor máximo das respectivas obrigações de pequeno valor, não podendo tal

valor ser inferior àquele do maior benefício do regime geral de previdência social (artigo 100, §§ 3º e 4º, da

Constituição Federal, na redação da Emenda Constitucional 62/2009).

As unidades federadas podem fixar os limites das respectivas requisições de pequeno valor em patamares

inferiores aos previstos no artigo 87 do ADCT, desde que o façam em consonância com sua capacidade

econômica.

A aferição da capacidade econômica do ente federado, para fins de delimitação do teto para o pagamento de

seus débitos por meio de requisição de pequeno valor, não se esgota na verificação do quantum da receita do

Estado, mercê de esta quantia não refletir, por si só, os graus de endividamento e de litigiosidade do ente

federado.

STF. Plenário. ADI 5100, Rel. Luiz Fux, julgado em 27/04/2020.

O cônjuge que apenas autorizou seu consorte a prestar aval, nos termos do art. 1.647, III, do Código Civil

(outorga uxória), não é avalista. Dessa forma, não havendo sido prestada garantia real, não é necessária sua

citação como litisconsorte, bastando a mera intimação do cônjuge que apenas autorizou o aval. STJ. 4ª Turma.

REsp 1.475.257-MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 10/12/2019 (Info 663).

Quando houver sentença homologatória de transação firmada entre as partes e esta não dispor sobre os

honorários sucumbenciais, a decisão inicial que arbitra os honorários advocatícios em execução de título

extrajudicial pode ser considerada título executivo. STJ. 3ª Turma. REsp 1.819.956-SP, Rel. Min. Ricardo Villas

Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/12/2019 (Info 663).

Havendo penhora de bem indivisível (ex: um apartamento), a meação do cônjuge alheio à execução deve

recair sobre o produto da alienação do bem. Para impedir que a penhora recaia sobre a sua meação, o

cônjuge meeiro deve comprovar que a dívida executada não foi contraída em benefício da família.

Precedentes. No entanto, tratando-se de dívida proveniente da condenação ao pagamento de honorários

sucumbenciais em demanda da qual o cônjuge meeiro não participou, é inegável o direito deste à reserva de sua

INFORMATIVOS 2020 - 136


meação. Os honorários advocatícios consagram direito do advogado contra a parte que deu causa ao processo,

não se podendo exigir do cônjuge meeiro, que não integrou a relação processual da lide originária, a

comprovação de que a dívida executada não foi contraída em benefício do casal ou da família. Exemplo: João

ajuizou ação ordinária contra Pedro, tendo o pedido sido julgado improcedente. O autor foi condenado a pagar

R$ 200 mil de honorários advocatícios em favor de Pedro. Marcos (advogado de Pedro) ingressou com execução

contra João cobrando os R$ 200 mil. O juiz determinou a penhora de uma sala comercial que está em nome de

João. Raquel, esposa de João, apresentou embargos de terceiro contra essa penhora. Sua quota-parte deverá ser

preservada, não sendo necessário que ela comprove que essa dívida contraída foi exclusiva do marido. STJ. 3ª

Turma.REsp 1.670.338-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 04/02/2020 (Info 664).

Ainda que perfectibilizada a arrematação do bem objeto de penhora na execução civil, os valores levantados

devem ser restituídos ao juízo, quando, coexistindo execução fiscal, ausente a prévia intimação da Fazenda

Pública.

Caso concreto: banco ajuizou execução contra devedor e conseguiu a penhora de um imóvel; algum tempo

depois, a União ajuizou execução fiscal contra esse mesmo devedor e conseguiu a penhora desse mesmo

imóvel; no primeiro processo (o do banco), o juiz autorizou a alienação judicial do bem (hasta pública); o dinheiro

obtido foi depositado e o juiz, sem ouvir a Fazenda Nacional (União) autorizou que o banco fizesse o

levantamento da quantia; em uma situação como essa, o banco terá que devolver o dinheiro; isso porque

coexistindo execução fiscal e execução civil, contra o mesmo devedor, com pluralidade de penhoras recaindo

sobre o mesmo bem, o produto da venda judicial, por força de lei, deve satisfazer o crédito fiscal em primeiro

lugar. STJ. 3ª Turma. REsp 1.661.481-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação judicial, já

que não enseja, necessariamente, a liquidação da quota. STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.250-SP, Rel. Min. Marco

Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

É possível a inscrição em cadastro de inadimplentes do devedor que figura no polo passivo de execução

fiscal. Caso concreto: uma empresa exequente pediu ao juiz a inclusão do nome da executada nos cadastros de

inadimplentes, nos termos do art. 782, § 3º do CPC. O requerimento foi indeferido pelo magistrado sob o

argumento de que a exequente possui condições de pedir diretamente a inscrição. O STJ não concordou com a

recusa. O requerimento da inclusão do nome da executada em cadastros de inadimplentes (art. 782, § 3º, do

CPC/2015) não pode ser indeferido pelo juiz tão somente sob o fundamento de que as exequentes possuem

meios técnicos e a expertise necessária para promover, por si mesmas, a inscrição direta junto aos órgãos de

proteção ao crédito. O art. 782, § 3º, do CPC/2015 prevê que, a requerimento da parte, o juiz pode

determinar a inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes. O dispositivo legal que

autoriza a inclusão do nome do devedor nos cadastros de inadimplentes exige, necessariamente, o

INFORMATIVOS 2020 - 137


requerimento da parte, não podendo o juízo promovê-lo de ofício. Ademais, depreende-se da redação do

referido dispositivo legal que, havendo o requerimento, não há a obrigação legal de o Juiz determinar a

negativação do nome do devedor, tratando-se de mera discricionariedade. A medida, então, deverá ser

analisada casuisticamente, de acordo com as particularidades do caso concreto. Não cabe, contudo, ao

julgador criar restrições que a própria lei não criou, limitando o seu alcance, por exemplo, à comprovação

da hipossuficiência da parte. Tal atitude vai de encontro ao próprio espírito da efetividade da tutela

jurisdicional, norteador de todo o sistema processual. STJ. 3ª Turma. REsp 1.887.712-DF, Rel. Min. Nancy

Andrighi, julgado em 27/10/2020 (Info 682).

EMBARGOS À EXECUÇÃO

Como regra, os embargos à execução não possuem efeito suspensivo.

Excepcionalmente, o art. 919, § 1º, do CPC/2015 prevê que o magistrado poderá atribuir efeito suspensivo

aos embargos à execução quando presentes, cumulativamente, os seguintes requisitos:

a) requerimento do embargante;

b) relevância da argumentação;

c) risco de dano grave de difícil ou incerta reparação; e

d) garantia do juízo.

Caso concreto: empresa ajuizou ação de execução contra João alegando ser credora de R$ 300 mil, decorrente

do inadimplemento de contrato de locação de equipamentos firmado entre as partes. João, antes do

ajuizamento da ação de execução, já havia ajuizado ação de rescisão contratual cumulada com declaração de

inexigibilidade de débito, questionando a higidez do contrato, bem como ação cautelar de sustação de protesto

onde foi oferecido um bem móvel em garantia em valor superior ao da execução. Como houve caução na ação

cautelar e tendo em vista que o débito ali discutido é o mesmo que se cobra na ação de execução, não há por

que se determinar que o devedor ofereça nova caução, podendo ser aproveitada a garantia do juízo que já foi

prestada na ação conexa (cautelar) para que seja concedido o efeito suspensivo aos embargos à execução. STJ.

3ª Turma. REsp 1.743.951-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/10/2020 (Info 681)

PENHORA

A arma de fogo pode ser penhorada e expropriada, desde que assegurada pelo Juízo da execução a observância

das mesmas restrições impostas pela legislação de regência para a sua comercialização e aquisição.

STJ. 2ª Turma. REsp 1866148-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/05/2020 (Info 677).

INFORMATIVOS 2020 - 138


Os valores oriundos de empréstimo consignado em folha de pagamento, depositados em conta bancária

do devedor, não gozam de proteção da impenhorabilidade atribuída aos salários, proventos e pensões.

Não se aplica, neste caso, o art. 833, IV, do CPC/2015:

Art. 833. São impenhoráveis: IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os

proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por

liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador

autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º;

Assim, a quantia decorrente de empréstimo consignado, embora seja descontada diretamente da folha de

pagamento do mutuário, não tem caráter salarial, sendo, em regra, passível de penhora.

A proteção da impenhorabilidade ocorre somente se o mutuário (devedor) comprovar que os recursos oriundos

do empréstimo consignado são necessários à sua manutenção e à da sua família.

STJ. 3ª Turma. REsp 1820477-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

A instituição financeira que cumpre ordem judicial de indisponibilização de saldos encontrados em contas

bancárias atua como auxiliar da Justiça. A atuação dos auxiliares da Justiça é dirigida e orientada pelo Juízo

da causa, a quem subordinam-se e submetem-se, mediante regime administrativo, e, por isso, os

auxiliares não detêm nenhuma faculdade ou ônus processual, devendo, entretanto, observar os deveres

estabelecidos no art. 77 do CPC/2015 (art. 14 do CPC/1973). Assim, os auxiliares da Justiça podem ser

responsabilizados civil, administrativa ou penalmente pelos danos que causarem, em razão de dolo ou culpa. A

responsabilidade civil dos auxiliares da Justiça deve ser apurada mediante observância dos princípios do

contraditório e ampla defesa, em via processual adequada para sua inclusão como parte.

Exemplo: o Juiz da 3ª Vara Cível determinou ao Banco Itaú que efetuasse o bloqueio dos valores existentes na

conta bancária da empresa Fênix S/A. A instituição financeira cumpriu a ordem e foi bloqueado R$ 1 milhão.

Passados alguns meses, o Juiz da 3ª Vara Cível determinou a transferência do valor bloqueado. O banco

respondeu que o dinheiro não existia mais, uma vez que foi retirado por determinação do Juiz da 5ª Vara Cível,

onde tramitava outra execução proposta contra a Fênix S/A. O Juiz da 3ª Vara Cível entendeu que houve

descumprimento de ordem judicial e, em razão disso, determinou a penhora do mesmo valor (R$ 1 milhão, com

as atualizações) nas contas do Banco Itaú. O STJ considerou que essa determinação foi ilegal. STJ. 3ª Turma. RMS

49.265-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/12/2019 (Info 662)

A Fundação Habitacional do Exército (FHE) é uma entidade vinculada ao Exército Brasileiro, criada pela Lei nº

6.855/80. A FHE tem por objetivo facilitar a aquisição da “casa própria” para os militares e demais associados,

além de prestar outras formas de “apoio social” aos militares (exs: consórcios, seguros, planos odontológicos

etc.). Os bens da FHE são considerados impenhoráveis em razão de dois motivos:

1) a FHE possui características de autarquia federal (e os bens das autarquias são impenhoráveis);

INFORMATIVOS 2020 - 139


2) o art. 31 da Lei nº 6.855/80 prevê que o patrimônio da FHE goza dos privilégios próprios da Fazenda Pública,

inclusive quanto à impenhorabilidade. STJ. 1ª Turma. REsp 1.802.320-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado

em 12/11/2019 (Info 662)

Verbas estaduais não podem ser objeto de bloqueio, penhora e/ou sequestro para pagamento de valores

devidos em ações trabalhistas, ainda que as empresas reclamadas detenham créditos a receber da

administração pública estadual, em virtude do disposto no art. 167, VI e X, da CF/88, e do princípio da separação

de poderes (art. 2º da CF/88). STF. Plenário. ADPF 485/AP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 4/12/2020 (Info

1001).

IMPENHORABILIDADE

Não é possível a penhora da remuneração, aposentadoria ou qualquer outra verba salarial do devedor

para o pagamento de honorários advocatícios.

Os honorários advocatícios são considerados como verba de natureza alimentar. Possuem natureza alimentícia.

Os honorários advocatícios são equiparados a salário considerando que ambos são verbas remuneratórias,

responsáveis por assegurar o sustento de quem as recebe. Por essa razão, essas verbas merecem uma proteção

legislativa maior quando comparadas com outros créditos que não possuem a mesma finalidade.

Vale ressaltar, contudo, que verba de natureza alimentar não é o mesmo que alimentos (prestação alimentícia).

Não se pode afirmar que as verbas remuneratórias, ainda que sejam destinadas à subsistência do credor, sejam

iguais aos alimentos disciplinados pelo Código Civil. Diferentemente das verbas remuneratórias, os alimentos

são devidos para a pessoa que não pode prover a sua subsistência com sua própria força ou que teve essa força

diminuída.

As verbas remuneratórias destinadas à subsistência do credor e de sua família são essenciais, razão pela qual

merecem uma atenção especial do legislador. No entanto, os alimentos estão revestidos de grave urgência,

porque o alimentando depende exclusivamente da pessoa obrigada, não tendo outros meios para se socorrer,

justificando um tratamento mais sensível ainda do que aquele conferido às verbas remuneratórias.

Os benefícios destinados à execução de prestação alimentícia, como:

a) a possibilidade de penhora dos bens descritos no art. 833, IV e X, do CPC/2015;

b) a possibilidade de penhora do bem de família (art. 3º, III, da Lei nº 8.009/90); e

c) a prisão civil do devedor

... não se estendem para a execução de honorários advocatícios nem para a execução de outras verbas de

natureza alimentar.

Se esses benefícios fossem estendidos para a execução de honorários advocatícios, teriam que ser também

admitidos para a cobrança dos honorários devidos a quaisquer profissionais liberais, como médicos,

engenheiros, farmacêuticos etc.

INFORMATIVOS 2020 - 140


STJ. Corte Especial. REsp 1815055/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/08/2020.

As Unidades Executoras Próprias (UEx), como, por exemplo, Caixas Escolares, podem receber recursos públicos

destinados à educação, via transferência, para a melhoria da infraestrutura física e pedagógica, o reforço da

autogestão escolar e a elevação dos índices de desempenho da educação básica, por meio da gestão

descentralizada. A Justiça do Trabalho, em processos de execução, não pode decretar medidas de constrição

judicial que recaiam sobre essas verbas recebidas pelas Caixas Escolares destinadas à educação. Esses valores

são impenhoráveis porque estão afetados a finalidades públicas e à realização das atividades e serviços públicos

decorrentes do exercício obrigatório da função administrativa. Vale ressaltar, no entanto, que não se aplica o

regime de precatório para as Caixas Escolares ou Unidades Descentralizadas de Educação (UDEs). Isso porque

tais entes possuem natureza jurídica de direito privado, não integram a Administração Pública e não compõem o

orçamento público. As Caixas Escolares recebem doações particulares, e assumem outras obrigações não

necessariamente vinculadas com a educação pública. Em relação a essas obrigações, calcadas em patrimônio

decorrente de doações privadas, não é razoável que devam ser pagas por precatório. STF. Plenário. ADPF

484/AP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/6/2020 (Info 980)

PRECATÓRIOS

Os Estados e o Distrito Federal devem observar o prazo de dois meses, previsto no art. 535, § 3º, II, do CPC,

para pagamento de obrigações de pequeno valor.

Não é razoável impedir a satisfação imediata da parte incontroversa de título judicial, devendo-se observar, para

efeito de determinação do regime de pagamento — se por precatório ou requisição de pequeno valor —, o valor

total da condenação.

STF. Plenário. ADI 5534/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 18/12/2020 (Info 1003).

A cessão de crédito alimentício não implica a alteração da natureza. Desse modo, a cessão não altera a

natureza do precatório, podendo o cessionário gozar da preferência de que trata o § 1º do art. 100 da

Constituição Federal, quando a origem do débito assim permitir, mantida a posição na ordem cronológica

originária. STF. Plenário. RE 631537, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 361)

(Info 980 – clipping).

O § 2º do art. 100 da CF/88 prevê preferência no pagamento do precatório para o titular que se enquadre em

uma das situações ali previstas:

Art. 100 (...) § 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares, originários ou por sucessão hereditária,

tenham 60 (sessenta) anos de idade, ou sejam portadores de doença grave, ou pessoas com deficiência, assim

definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente

INFORMATIVOS 2020 - 141


ao triplo fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa

finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório.

A preferência autorizada pela Constituição não pode ser reconhecida duas vezes em um mesmo

precatório porque isso implicaria, por via oblíqua, a extrapolação do limite previsto na norma

constitucional. Aliás, o próprio § 2º do art. 100 da CF/88 revela que, após o fracionamento para preferência,

eventual saldo remanescente deverá ser pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. Portanto,

as hipóteses autorizadoras da preferência (idade, doença grave ou deficiência) devem ser consideradas,

isoladamente, em cada precatório, ainda que tenha como destinatário um mesmo credor. STJ. 1ª Turma. AgInt

no RMS 61.014-RO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 20/04/2020 (Info 670)

Durante o período previsto no § 5º do art. 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios

que nele sejam pagos. Não incidem juros de mora no período compreendido entre a data da expedição do

precatório e seu efetivo pagamento, desde que realizado no prazo estipulado constitucionalmente.

Trata-se de entendimento sumulado do STF: SV 17-STF: Durante o período previsto no parágrafo 1º (obs: atual §

5º) do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos. STF.

Plenário. RE 594892 AgR-ED-EDv/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1/7/2020 (Info 984).

Durante o período previsto no § 5º do art. 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os

precatórios que nele sejam pagos. Em 10/11/2009, o STF editou a SV 17 afirmando que “durante o período

previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele

sejam pagos”. Pouco tempo depois, em 09/12/2009, foi promulgada a Emenda Constitucional 62, que promoveu

ampla reformulação no art. 100 da Constituição. Não obstante a norma à qual se refere a SV 17 tenha sido

deslocada do § 1º para o § 5º do art. 100, tal modificação não altera o sentido do enunciado sumular - que, aliás,

não foi afetado por qualquer disposição da Emenda 62. O período previsto no art. 100, § 5º, da Constituição

(precatórios apresentados até 1º de julho, devendo ser pagos até o final do exercício seguinte) costuma ser

chamado de “período de graça constitucional”. Nesse interregno, não cabe a imposição de juros de mora, pois o

ente público não está inadimplente. Caso não haja o pagamento integral dentro deste prazo, os juros de mora

passam a correr apenas a partir do término do “período de graça”. Tese fixada para fins de repercussão geral: “O

enunciado da Súmula Vinculante 17 não foi afetado pela superveniência da Emenda Constitucional 62/2009, de

modo que não incidem juros de mora no período de que trata o § 5º do art. 100 da Constituição. Havendo o

inadimplemento pelo ente público devedor, a fluência dos juros inicia-se após o ‘período de graça’”. STF.

Plenário. RE 1169289, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 16/06/2020

(Repercussão Geral – Tema 1037) (Info 984 – clipping).

Surge constitucional expedição de precatório ou requisição de pequeno valor para pagamento da parte

incontroversa e autônoma do pronunciamento judicial transitada em julgado observada a importância

INFORMATIVOS 2020 - 142


total executada para efeitos de dimensionamento como obrigação de pequeno valor. STF. Plenário. RE

1205530, Rel. Marco Aurélio, julgado em 08/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 28) (Info 984).

O art. 2º da Lei nº 13.463/2017 previu que “ficam cancelados os precatórios e as RPV federais expedidos e cujos

valores não tenham sido levantados pelo credor e estejam depositados há mais de dois anos em instituição

financeira oficial.” O credor poderá requerer a expedição de novo precatório ou nova RPV, na forma do art. 3º da

Lei: “cancelado o precatório ou a RPV, poderá ser expedido novo ofício requisitório, a requerimento do credor.” A

Lei nº 13.463/2017 não prevê um prazo para que o interessado formule esse pedido.

Isso significa que essa pretensão é imprescritível? Não. A pretensão de expedição de novo precatório ou nova

RPV, após o cancelamento de que trata o art. 2º da Lei nº 13.463/2017 prescreve em 5 anos, nos termos do

art. 1º do Decreto 20.910/32. STJ. 2ª Turma. REsp 1.859.409-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em

16/06/2020 (Info 675).

O § 3º do art. 100 da CF/88 prevê uma exceção ao regime de precatórios. Este parágrafo estabelece que, se a

condenação imposta à Fazenda Pública for de “pequeno valor”, o pagamento será realizado sem a

necessidade de expedição de precatório. Este quantum poderá ser estabelecido por cada ente federado

(União, Estado, DF, Município) por meio de leis específicas, conforme prevê o § 4º do art. 100. E se o ente

federado não editar a lei prevendo o quantum do “pequeno valor”? Nesse caso, segundo o art. 87 do ADCT da CF/88,

para os entes que não editarem suas leis, serão adotados, como “pequeno valor” os seguintes montantes:

I - 40 salários mínimos para Estados e para o Distrito Federal;

II - 30 salários mínimos para Municípios.

Os entes federados podem editar leis reduzindo a quantia considerada como de pequeno valor, para fins

de RPV, prevista no art. 87 do ADCT da CF/88

Vale ressaltar, no entanto, que a lei que reduz o teto do art. 87 do ADCT não pode retroagir para incidir

sobre as execuções em curso. Lei disciplinadora da submissão de crédito ao sistema de execução via

precatório possui natureza material e processual, sendo inaplicável a situação jurídica constituída em data que a

anteceda. STF. Plenário. RE 729107, Rel. Marco Aurélio, julgado em 08/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 792)

(Info 991 – clipping).

O art. 2º da Lei nº 13.463/2017 previu que “ficam cancelados os precatórios e as RPV federais expedidos e cujos

valores não tenham sido levantados pelo credor e estejam depositados há mais de dois anos em instituição

financeira oficial.” O credor poderá requerer a expedição de novo precatório ou nova RPV, na forma do art. 3º da

Lei: “cancelado o precatório ou a RPV, poderá ser expedido novo ofício requisitório, a requerimento do credor.” A

Lei nº 13.463/2017 não prevê um prazo para que o interessado formule esse pedido. Isso significa que essa

pretensão é imprescritível?

INFORMATIVOS 2020 - 143


• 1ª corrente: SIM.

É imprescritível a pretensão de expedição de novo precatório ou nova Requisição de Pequeno Valor - RPV, após o

cancelamento de que trata o art. 2º da Lei n. 13.463/2017. A Lei nº 13.463/2017 não previu um prazo

prescricional. De acordo com o sistema jurídico brasileiro, nenhum direito perece sem que haja previsão

expressa do fenômeno apto a produzir esse resultado. Portanto, não é lícito estabelecer-se, sem lei escrita, ou

seja, arbitrariamente, uma causa inopinada de prescrição. STJ. 1ª Turma. REsp 1.856.498-PE, Rel. Min. Napoleão

Nunes Maia Filho, julgado em 06/10/2020.

• 2ª corrente: NÃO.

A pretensão de expedição de novo precatório ou nova RPV, após o cancelamento de que trata o art. 2º da Lei nº

13.463/2017 prescreve em 5 anos, nos termos do art. 1º do Decreto 20.910/32. STJ. 2ª Turma. REsp 1.859.409-RN,

Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16/06/2020 (Info 675)

EXPROPRIAÇÃO

Compete ao juízo da execução realizar a alienação judicial eletrônica, ainda que o bem esteja situado em

comarca diversa. Caso concreto: a empresa Italpa Ltda. estava sendo executada em processo que tramita na

comarca de Belo Horizonte (MG). O juízo determinou a penhora de um imóvel da empresa situado em São

Carlos (SP). O CPC/2015 determina que, se não for realizada a adjudicação ou a alienação por iniciativa

particular, deverá ser feita a alienação por meio de leilão judicial (art. 881). O leilão judicial deverá ser feito por

meio eletrônico, salvo se isso não for possível (art. 882). Essa alienação judicial eletrônica será feita pelo juízo de

Belo Horizonte (onde tramita a execução) ou por meio de carta precatória pelo juízo de São Carlos (onde está

situado o bem)? Pelo juízo de Belo Horizonte.

Considerando que a alienação eletrônica permite ao interessado participar do procedimento mediante um

acesso simples à internet, sem necessidade de sua presença física no local do leilão, não há motivos para que a

realização do ato de alienação judicial eletrônica seja praticado em comarca diversa do juízo da execução. STJ. 1ª

Seção. CC 147.746-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/05/2020 (Info 673)

EXECUÇÃO FISCAL

Anuidades e comprovação necessária de notificação do contribuinte.

A ausência da notificação administrativa implica o reconhecimento da irregularidade na constituição do crédito,

afastando, portanto, a presunção de certeza e de exigibilidade de que goza a Certidão de Dívida Ativa, cabendo

ao Conselho a prova de que efetuou a devida notificação ao executado.

STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 1718316/RS, Rel. Ministro Og Fernandes, julgado em 16/11/2020.

STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 1.628.478/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes, julgado em 8/6/2020.

INFORMATIVOS 2020 - 144


As anuidades devidas aos conselhos profissionais constituem contribuições de interesse das categorias

profissionais e estão sujeitas a lançamento de ofício, que apenas se aperfeiçoa com a notificação do contribuinte

para efetuar o pagamento do tributo e o esgotamento das instâncias administrativas, em caso de recurso.

Essa notificação, pode, inclusive, realizar-se por meio do envio de carnê.

De todo modo, é necessária a comprovação da remessa da comunicação, do contrário, considera-se

irregularmente constituído o título executivo, e elididas a certeza e a liquidez presumidamente conferidas à

certidão de dívida ativa.

i) o prazo de redirecionamento da Execução Fiscal, fixado em 5 anos, contado da diligência de citação da pessoa

jurídica, é aplicável quando o referido ato ilícito, previsto no art. 135, III, do CTN, for precedente a esse ato

processual;

ii) a citação positiva do sujeito passivo devedor original da obrigação tributária, por si só, não provoca o

início do prazo prescricional quando o ato de dissolução irregular for a ela subsequente, uma vez que, em

tal circunstância, inexistirá, na aludida data (da citação), pretensão contra os sócios-gerentes (conforme decidido

no REsp 1.101.728/SP, no rito do art. 543-C do CPC/1973, o mero inadimplemento da exação não configura ilícito

atribuível aos sujeitos de direito descritos no art. 135 do CTN). O termo inicial do prazo prescricional para a

cobrança do crédito dos sócios-gerentes infratores, nesse contexto, é a data da prática de ato inequívoco

indicador do intuito de inviabilizar a satisfação do crédito tributário já em curso de cobrança executiva

promovida contra a empresa contribuinte, a ser demonstrado pelo Fisco, nos termos do art. 593 do CPC/1973

(art. 792 do novo CPC - fraude à execução), combinado com o art. 185 do CTN (presunção de fraude contra a

Fazenda Pública); e,

iii) em qualquer hipótese, a decretação da prescrição para o redirecionamento impõe seja demonstrada a inércia

da Fazenda Pública, no lustro que se seguiu à citação da empresa originalmente devedora (REsp 1.222.444/RS)

ou ao ato inequívoco mencionado no item anterior (respectivamente, nos casos de dissolução irregular

precedente ou superveniente à citação da empresa), cabendo às instâncias ordinárias o exame dos fatos e

provas atinentes à demonstração da prática de atos concretos na direção da cobrança do crédito tributário no

decurso do prazo prescricional. STJ. 1ª Seção. REsp 1.201.993-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em

08/05/2019 (recurso repetitivo - Tema 444) (Info 662).

A questão decidida na ação cautelar de caução prévia tem natureza jurídica de incidente processual inerente

à execução fiscal, não guardando autonomia a ensejar condenação em honorários advocatícios em desfavor de

qualquer das partes. STJ. 1ª Turma. AREsp 1.521.312-MS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 09/06/2020 (Info

675).

INFORMATIVOS 2020 - 145


É possível o redirecionamento da execução fiscal contra o sócio-gerente da pessoa jurídica originalmente

executada pela suposta prática de crime falimentar mesmo que não tenha havido ainda o trânsito em

julgado da sentença penal condenatória. Se há indícios e/ou provas de prática de ato de infração à lei (penal),

a hipótese se subsume ao art. 135 do CTN. Importante acrescentar que mesmo a eventual absolvição em ação

penal não conduz necessariamente à revogação do redirecionamento, pois o ato pode não constituir ilícito

penal, e, mesmo assim, continuar a representar infração à lei civil, comercial, administrativa, etc. (independência

das esferas civil, lato sensu, e penal). É por essa razão que caberá ao juiz natural, competente para processar

e julgar a execução fiscal, analisar, caso a caso, o conteúdo da denúncia pela prática de crime falimentar

e decidir se cabe ou não o redirecionamento. Não é necessário, portanto, aguardar o trânsito em julgado da

sentença penal condenatória para que o Juízo da Execução Fiscal analise o pleito de redirecionamento da

execução contra o sócio. STJ. 2ª Turma. REsp 1.792.310-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 04/02/2020

(Info 678).

A execução fiscal pode ser redirecionada em desfavor da empresa sucessora para cobrança de crédito

tributário relativo a fato gerador ocorrido posteriormente à incorporação empresarial e ainda lançado

em nome da sucedida, sem a necessidade de modificação da Certidão de Dívida Ativa, quando verificado

que esse negócio jurídico não foi informado oportunamente ao fisco. STJ. 1ª Seção. REsp 1.848.993-SP, Rel. Min.

Gurgel de Faria, julgado em 26/08/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1049) (Info 678).

ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS

TÉCNICA DE AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO

Em se tratando de aclaratórios opostos a acórdão que julga agravo de instrumento, a aplicação da técnica

de julgamento ampliado somente ocorrerá se os embargos de declaração forem acolhidos para modificar

o julgamento originário do magistrado de primeiro grau que houver proferido decisão parcial de mérito.

Quando se tratar de embargos de declaração contra acórdão que decidiu agravo de instrumento, só será caso

de ampliação do colegiado se, ao julgar os embargos declaratórios, o colegiado - por maioria - deliberar por

reformar decisão de mérito (o que significa dizer que se terá, por deliberação não unânime, atribuído efeitos

infringentes aos embargos de declaração, reformando-se a decisão embargada e, por conseguinte, reformando

a decisão parcial de mérito prolatada pelo órgão de primeira instância) (CÂMARA, Alexandre Freitas. A ampliação

do colegiado em julgamentos não unânimes. Revista de Processo, ano 43, vol. 282, ago/2018, p. 264). STJ. 3ª

Turma. REsp 1.841.584-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/12/2019 (Info 662).

INFORMATIVOS 2020 - 146


A técnica de julgamento ampliado do art. 942 do CPC aplica-se aos aclaratórios opostos ao acórdão de

apelação quando o voto vencido nascido apenas nos embargos for suficiente para alterar o resultado

inicial do julgamento, independentemente do desfecho não unânime dos declaratórios (se rejeitados ou se

acolhidos, com ou sem efeito modificativo). STJ. 3ª Turma. REsp 1.786.158-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd.

Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/08/2020 (Info 678).

IRDR

O procedimento de alegação de distinção (distinguishing) entre a questão debatida no processo e a questão

submetida ao julgamento sob o rito dos recursos repetitivos, previsto no art. 1.037, §§9º a 13, do CPC, aplica-se

também ao IRDR.

Exemplo: o TJ/SP está recebendo milhares de apelações discutindo se os bancos podem ou não cobrar a tarifa

bancária “X”. É instaurado um IRDR no TJ/SP para decidir o tema. O Desembargador Relator determina a

suspensão de todos processos pendentes, individuais ou coletivos, que tramitam no Estado de São Paulo

envolvendo a cobrança da tarifa bancária “X”. Antes da instauração do IRDR, Pedro havia ajuizado, na comarca

de Santos (SP), ação contra o Banco Itaú questionando a cobrança da tarifa “X”.O processo estava tramitando

normalmente, mas o Juiz foi informado de que o TJ/SP determinou o sobrestamento de todos os processos que

tratem sobre o tema. Diante disso, o magistrado proferiu decisão determinando a suspensão do processo

envolvendo Pedro e o Banco Itaú. Pedro, contudo, não concorda com essa suspensão. Isso porque a matéria

discutida na ação por ele proposta envolve a constitucionalidade da tarifa “X” (e não a sua legalidade). Logo,

seria, em seu ponto de vista, um caso diferente daquele que será julgado pelo TJ/SP no IRDR. Pedro poderá

interpor, imediatamente, um agravo de instrumento contra esta decisão do Juiz? Não. Antes de interpor o agravo

de instrumento, Pedro deverá adotar o procedimento de distinção previsto no art. 1.037, §§ 9º a 13, do CPC. Mas

esse procedimento foi previsto para os recursos repetitivos. Mesmo assim, ele se aplica também para o IRDR?

Sim. Tanto os recursos especiais e extraordinários repetitivos como o IRDR compõem um microssistema

de julgamento de questões repetitivas, devendo o intérprete promover, sempre que possível, a

integração entre os dois mecanismos que pertencem ao mesmo sistema de formação de precedentes

vinculantes. Não há diferença ontológica nem tampouco justificativa teórica para um tratamento assimétrico

(diferente). STJ. 3ª Turma. REsp 1.846.109-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/12/2019 (Info 662)

RECLAMAÇÃO

STF determinou a devolução do recurso extraordinário para o tribunal de origem a fim de que ficasse

aguardando o julgamento do tema afetado como recurso extraordinário repetitivo. Após o julgamento pelo STF,

o Presidente do Tribunal de origem julgou prejudicado o referido recurso extraordinário. Contra esta decisão do

Presidente do Tribunal de origem, a parte prejudicada interpôs recurso inadequado, que não foi admitido.

INFORMATIVOS 2020 - 147


Houve trânsito em julgado. Diante disso, a parte prejudicada ingressou com reclamação afirmando que a

decisão do Presidente do Tribunal de origem descumpriu a decisão do STF que determinou o retorno dos autos

ao Tribunal para aguardar o julgamento do tema afetado. Deve ser negado seguimento a esta reclamação. Isso

porque É INADMISSÍVEL A RECLAMAÇÃO PROPOSTA APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO

RECLAMADA (art. 988, § 5º, I, do CPC/2015).

Súmula 734-STF: Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato judicial que se alega tenha

desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal.

Além disso, o ato do STF que determina a devolução do recurso extraordinário para que aguarde o julgamento

do tema afetado não tem cunho decisório. STF. 1ª Turma. Rcl 24810 AgR/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em

11/2/2020 (Info 966)

AÇÃO RESCISÓRIA

A jurisprudência do STJ tem entendido ser desnecessária a inclusão dos causídicos no polo passivo de

demandas rescisórias, quando os próprios honorários de sucumbência não são o objeto do pedido

rescindendo, pois os advogados não teriam vínculo jurídico com o objeto litigioso, mas apenas interesse

reflexo na manutenção do julgado.

STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1645421/SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 22/10/2019.

STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1845303/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 29/06/2020.

O advogado em favor de quem foram arbitrados honorários sucumbenciais na ação rescindenda é parte

ilegítima para figurar no polo passivo da ação rescisória.

STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 1759374/RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 29/10/2019

O advogado não é parte legítima para figurar no polo passivo de ação rescisória ajuizada sob

fundamentos que só alcançam a relação jurídica formada entre as partes da demanda originária.

STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1717140/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/03/2019.

Na ação rescisória fundada em literal violação de lei, não cabe o reexame de toda a decisão rescindenda,

para verificar se nela haveria outras violações à lei não alegadas pelo demandante, mesmo que se trate

de questão de ordem pública. Quando o autor da rescisória propõe a ação com fundamento na hipótese de

violação literal à disposição de lei - art. 485, V, CPC/1973 (art. 966, V, CPC/2015) – ele tem o ônus de indicar o(s)

dispositivo(s) que foi(foram) violado(s). O Tribunal que julgará a rescisória só irá examinar se houve violação

aos dispositivos indicados, não podendo reexaminar toda a decisão rescindenda, para verificar se nela

haveria outras violações a literal disposição de lei não alegadas pelo demandante, nem mesmo ao

argumento de se tratar de matéria da ordem pública.” (YARSHELL, Flávio. Ação rescisória: juízos rescindente

e rescisório. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 151). Desse modo, na ação rescisória fundada no art. 485, V,

INFORMATIVOS 2020 - 148


CPC/1973 (art. 966, V, CPC/2015), o juízo rescisdente do Tribunal se encontra vinculado aos dispositivos de lei

apontados pelo autor como literalmente violados, não podendo haver exame de matéria estranha à apontada

na inicial, mesmo que o tema possua a natureza de questão de ordem pública, sob pena de transformar a ação

rescisória em um recurso, natureza jurídica que ela não possui. STJ. 3ª Turma. REsp 1.663.326-RN, Rel. Min.

Nancy Andrighi, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

Em regra, a desistência do recurso ou a renúncia ao prazo recursal constituem ato unilateral de vontade do

recorrente que independe da aquiescência da parte contrária e produz efeitos imediatos, ensejando o trânsito

em julgado. Desse modo, a desistência do recurso ou a renúncia ao prazo recursal determinam, em regra,

o trânsito em julgado da decisão impugnada, se não houver recurso pendente de julgamento da outra

parte. Contudo, se ainda não houve homologação judicial, o princípio do contraditório impede que o

trânsito em julgado seja reconhecido antes da ciência da parte contrária. Não se pode permitir a

abertura do prazo decadencial de 2 anos da ação rescisória antes que ocorra a indispensável intimação

da parte interessada no fato processual que lhe dá origem. Nesse contexto, deve ser contado o prazo

decadencial da data da intimação da parte contrária, após o pedido de renúncia. STJ. 1ª Turma. REsp

1.344.716-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 05/05/2020 (Info 671)

A ação rescisória não é sucedânea (“substituta”) de embargos de declaração. Assim, não deve ser julgada

procedente ação rescisória na qual a parte alega que a decisão transitada em julgado incidiu em suposto “erro

de fato” e que não apreciou petição de renúncia constante dos autos. Se a decisão incidiu em “erro de fato”

porque não apreciou a renúncia, significa que houve omissão e isso deveria ter sido questionado pela

parte por meio de embargos de declaração. Se foi verificada a ocorrência de omissão, não é possível que a

parte deixe de embargar para, após o trânsito em julgado, pleitear a desconstituição do julgado por meio de

ação rescisória. Admitir o contrário poderia constituir precedente no sentido de que toda omissão poderia ser

caracterizada como erro de fato. Vale ressaltar, ainda, que não havia nos autos procuração com poderes

específicos para a desistência do recurso ou a renúncia ao direito em que se funda a ação. STF. Plenário. AR

2107/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 16/9/2020 (Info 991)

RECURSOS

ASPECTOS GERAIS

Não é necessária a comunicação formal de todos os possíveis afetados pela tese fixada em sede de

julgamento repetitivo, sob pena de inviabilidade prática do próprio instituto.

INFORMATIVOS 2020 - 149


É evidente, deste modo, a impossibilidade prática de intimar formalmente todos os atingidos, sob pena de

nulidade do julgado, uma vez que tal situação criaria um processo multitudinário e potencialmente insolúvel.

Tampouco foi esta a intenção do legislador, que não condicionou a legitimidade do julgamento repetitivo à

prévia intimação de todos aqueles que possam, eventualmente, suportar as consequências práticas da tese

fixada.

STJ. AR 5.692/SC, Rel. Ministro, Rel. Min. Napolão Nunes Maia Filho, julgado em 23/09/2020

Não há nulidade na técnica de ampliação de colegiado quando o início do julgamento previsto no art. 942

ocorra na mesma sessão em que se formou a divergência, colhendo-se apenas o voto do 4º julgador, e

que, ato contínuo, seja suspenso o julgamento ao aguardo da convocação do 5º julgador (que se

encontrava licenciado), quando houver ausência de prejuízo às partes.

STJ. 3ª Turma. REsp 1888386/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2020

Não há repercussão geral na controvérsia em que se questiona a validade de regulamento editado por

órgão do Judiciário estadual que, com base na lei de organização judiciária local, preceitua a convolação

de ação individual em incidente de liquidação no bojo da execução de sentença coletiva proferida em

Juízo diverso do inicial.

STF. Plenário. RE 1040229/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/12/2020 (Info

Não comprovação da divergência constitui vício substancial que não permite a complementação da

fundamentação prevista no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015.

A ausência de demonstração da divergência alegada no embargos de divergência constitui vício substancial

resultante da não observância do rigor técnico exigido na interposição do recurso, apresentando-se, pois,

descabida a incidência do parágrafo único do art. 932 do CPC/2015 para complementação da fundamentação,

possível apenas em relação a vício estritamente formal, nos termos do Enunciado Administrativo 6/STJ.

STJ. Corte Especial. AgInt nos EAREsp 1414158/PR, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado 01/12/2020.

Enunciado administrativo n. 6 do STJ:

Nos recursos tempestivos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de

18 de março de 2016), somente será concedido o prazo previsto no art. 932, parágrafo único, c/c o art. 1.029, §

3º, do novo CPC para que a parte sane vício estritamente formal.

A parte, ao apresentar recurso especial ou recurso extraordinário, tem o ônus de explicar e comprovar que, na

instância de origem, era feriado local ou dia sem expediente forense?

SIM. O art. 1.003, § 6º, do CPC/2015 trouxe expressamente um dispositivo dizendo que a comprovação do

feriado local deverá ser feita, obrigatoriamente, no ato de interposição do recurso: “O recorrente

comprovará a ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso.” Assim, a comprovação da

INFORMATIVOS 2020 - 150


ocorrência de feriado local deve ser feita no ato da interposição do recurso, sendo intempestivo quando

interposto fora do prazo previsto na lei processual civil.

Imagine que em um recurso especial interposto, a parte mencionou que havia um feriado local, mas não juntou

qualquer documento comprovando esse fato. Ao adotar essa prática, a parte comprovou validamente a existência do

feriado local? A mera referência (menção) às normas estaduais é suficiente para comprovar a ocorrência de feriado

local?

NÃO. A comprovação da existência de feriado local que dilate o prazo para interposição de recursos

dirigidos ao STJ deverá ser realizada por meio de documentação idônea, não sendo suficiente a simples

menção ou referência nas razões recursais. A ocorrência de feriado local, recesso, paralisação ou interrupção

do expediente forense deve ser demonstrada, no ato da interposição do recurso que pretende seja conhecido

por este Tribunal, por documento oficial ou certidão expedida pelo Tribunal de origem, não bastando a mera

menção ao feriado local nas razões recursais, tampouco a apresentação de documento não dotado de fé

pública. STJ. 3ª Turma. REsp 1.763.167-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em

18/02/2020 (Info 665)

A tempestividade recursal pode ser aferida, excepcionalmente, por meio de informação constante em

andamento processual disponibilizado no sítio eletrônico, quando informação equivocadamente

disponibilizada pelo Tribunal de origem induz a parte em erro. Caso concreto: o TJ/MS negou provimento a

uma apelação que havia sido interposta pela parte; na movimentação processual existente no site do TJ/MS,

constou a informação de que o vencimento do prazo recursal para a interposição de recurso ao STJ contra o

acórdão do TJ se daria no dia 10/12; assim, no dia 10/12, a parte apresentou recurso especial contra o acórdão

do TJ; ocorre que essa informação estava errada; o termo final do prazo era dia 09/12; isso significa que parte

interpôs o recurso especial intempestivamente; vale ressaltar, contudo, que a parte foi induzida em erro pela

informação constante no sítio oficial do TJ; o STJ, excepcionalmente, considerou tempestivo o recurso. STJ. Corte

Especial. EAREsp 688.615-MS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 04/03/2020 (Info 666)

A parte, ao apresentar recurso especial ou recurso extraordinário, tem o ônus de explicar e comprovar que, na

instância de origem, era feriado local ou dia sem expediente forense?

SIM. O art. 1.003, § 6º, do CPC/2015 trouxe expressamente um dispositivo dizendo que a comprovação do

feriado local deverá ser feita, obrigatoriamente, no ato de interposição do recurso: “O recorrente

comprovará a ocorrência de feriado local no ato de interposição do recurso.”

Assim, a comprovação da ocorrência de feriado local deve ser feita no ato da interposição do recurso, sendo

intempestivo quando interposto fora do prazo previsto na lei processual civil. Esse entendimento acima

explicado está sujeito a alguma modulação de efeitos?

Em regra: não. Depois da entrada em vigor do CPC/2015, a comprovação da ocorrência de feriado local deve ser

feita no ato da interposição do recurso, sendo intempestivo quando interposto fora do prazo previsto na lei

INFORMATIVOS 2020 - 151


processual civil. Esse entendimento está em vigor desde o início da vigência do CPC/2015 e não se submete a

modulação de efeitos.

Exceção: no caso do feriado de segunda-feira de carnaval, há uma modulação dos efeitos. Segunda-feira

de carnaval não é um feriado nacional. No entanto, em diversos Estados, trata-se de feriado local.

• Se o recurso especial foi interposto antes de 18/11/2019 (data de publicação do REsp 1.813.684-SP) e a parte

não comprovou que segunda-feira de carnaval era feriado no Tribunal de origem: é possível a abertura de vista

para que a parte comprove isso mesmo após a interposição do recurso, sanando o vício.

• Se o recurso especial foi interposto depois de 18/11/2019 (data de publicação do REsp 1.813.684-SP) e a parte

não comprovou que segunda-feira de carnaval era feriado no Tribunal de origem: não é possível a abertura de

vista para que a parte comprove esse feriado, ou seja, o vício não pode mais ser sanado. STJ. Corte Especial. QO

no REsp 1813684/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/02/2020 (Info 666).

A multa do art. 1.021, § 4º, do CPC/2015 tem como destinatário a parte contrária e não o Fundo de

Aparelhamento do Poder Judiciário.

Art. 1.021 (...) § 4º Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou improcedente em

votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada, condenará o agravante a pagar ao agravado

multa fixada entre um e cinco por cento do valor atualizado da causa. STJ. 2ª Turma. REsp 1.846.734-RS, Rel. Min.

Og Fernandes, julgado em 11/02/2020 (Info 666)

Os direitos subjetivos decorrem da concretização dos requisitos legais previstos pelo direito objetivo vigente.

Eventual direito aos honorários advocatícios recursais será devido quando os requisitos previstos no art.

85, § 11, do CPC/2015 se materializam após o início de vigência deste novo Código. Por isso, o STJ editou o

Enunciado Administrativo n. 7, que diz: “somente nos recursos interpostos contra decisão publicada a partir de

18 de março de 2016, será possível o arbitramento de honorários sucumbenciais recursais, na forma do art. 85,

§ 11, do novo CPC”. No caso concreto, a sentença foi proferida durante a vigência do CPC/1973; porém, o

acórdão a quo (acórdão do TJ) que julgou apelação contra a sentença já foi publicado durante a vigência do

CPC/2015. A parte interpôs recurso especial contra esse acórdão e o STJ, ao negar provimento ao recurso, o

deverá condenar o recorrente ao pagamento de honorários advocatícios recursais, considerando que, no

momento da publicação do acórdão recorrido (acórdão do TJ), os requisitos do art. 85, § 11, do CPC/2015

estavam em vigor. STJ. 1ª Seção. EAREsp 1.402.331-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em

09/09/2020 (Info 679)

A existência de feriado, de recesso forense ou ponto facultativo local que ocasione a suspensão do prazo

processual necessita de comprovação por documento idôneo, ou seja, cópia da lei, ato normativo ou certidão

exarada por servidor habilitado. A simples juntada de ato emanado pelo Poder Executivo Estadual, lei e

INFORMATIVOS 2020 - 152


decreto estaduais, determinando ponto facultativo nas repartições públicas estaduais, por si só, não

comprova a inexistência de expediente forense para aferição da tempestividade do recurso, em razão da

desvinculação administrativa e da separação entre os Poderes. Desse modo, caberia à recorrente, no

momento da interposição recursal, fazer a juntada de documento idôneo, o qual, no caso, consistia no inteiro

teor do Aviso do tribunal estadual, a fim de vincular a decretação do feriado nas repartições públicas estaduais

com a suspensão dos prazos pela Corte de Justiça. STJ. 3ª Turma. EDcl no AgInt no AREsp 1.510.568-RJ, Rel. Min.

Marco Aurélio Bellizze, julgado em 23/03/2020 (Info 669).

Ao julgar o recurso, o Tribunal de Justiça prolatou um acórdão genérico no qual apenas elencou os

entendimentos pacificados na jurisprudência daquela Corte, sem resolver, efetivamente, as questões devolvidas

no caso concreto sob julgamento. Após expor sobre os entendimentos, o Tribunal delegou para que o juiz

aplicasse aquele se enquadraria no caso concreto, sob a justificativa da existência de multiplicidade de recursos

versando sobre as questões. A necessidade de que as decisões judiciais sejam particularizadas, no exercício

difuso da jurisdição, é regra basilar do processo civil, encontrando-se enunciada no art. 489, III, e § 1º, III e V, do

CPC/2015. Assim, o referido acórdão foi anulado por inobservância do art. 489, § 1º, inciso V, do CPC/2015. STJ. 3ª

Turma. REsp 1.880.319-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 17/11/2020 (Info 683).

AGRAVO DE INSTRUMENTO

Não é admissível, nem excepcionalmente, a impetração de mandado de segurança para impugnar

decisões interlocutórias após a publicação do acórdão em que se fixou a tese referente ao tema

repetitivo 988, segundo a qual “o rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a

interposição de agravo de instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do

julgamento da questão no recurso de apelação”.

Caso concreto: juiz indeferiu pedido de designação da audiência de conciliação prevista no art. 334 do CPC, ao

fundamento de “dificuldade de pauta”. Essa decisão foi proferida em 07/02/2019, ou seja, após a publicação do

acórdão do STJ que definiu a tese da taxatividade mitigada (Tema 998 - REsp 1.704.520-MT - DJe 19/12/2018).

Logo, neste caso, essa decisão interlocutória somente seria impugnável por agravo de instrumento, não

cabendo, portanto, mandado de segurança.

STJ. 3ª Turma. RMS 63202-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em

01/12/2020 (Info 684).

É cabível a interposição de agravo de instrumento contra todas as decisões interlocutórias em processo

falimentar e recuperacional.

Cabe agravo de instrumento de todas as decisões interlocutórias proferidas no processo de recuperação judicial

e no processo de falência, por força do art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015.

INFORMATIVOS 2020 - 153


STJ. 2ª Seção. REsp 1717213-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/12/2020 (Recurso Repetitivo – Tema

1022) (Info 684).

A Lei nº 14.112/2020 incluiu o § 1º ao art. 189 da Lei nº 11.101/2005 acolhendo o entendimento jurisprudencial e

prevendo expressamente o cabimento do agravo de instrumento:

Art. 189. Aplica-se, no que couber, aos procedimentos previstos nesta Lei, o disposto na Lei nº 13.105, de 16 de

março de 2015 (Código de Processo Civil), desde que não seja incompatível com os princípios desta Lei. § 1º Para

os fins do disposto nesta Lei: (...) II - as decisões proferidas nos processos a que se refere esta Lei serão passíveis

de agravo de instrumento, exceto nas hipóteses em que esta Lei previr de forma diversa.

Cabe agravo de instrumento contra o pronunciamento judicial que, na fase de cumprimento de sentença,

determinou a intimação do executado, na pessoa do advogado, para cumprir obrigação de fazer, sob

pena de multa. STJ. 3ª Turma. REsp 1.758.800-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020 (Info 666).

A decisão que aplica a multa do art. 334, §8º, do CPC, à parte que deixa de comparecer à audiência de

conciliação, sem apresentar justificativa adequada, não pode ser impugnada por agravo de instrumento, não

se inserindo na hipótese prevista no art. 1.015, II, do CPC. Tal decisão poderá, no futuro, ser objeto de recurso de

apelação, na forma do art. 1.009, §1º, do CPC. STJ. 3ª Turma. REsp 1.762.957-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso

Sanseverino, julgado em 10/03/2020 (Info 668).

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

Admite-se a conversão do embargos de declaração em agravo interno quando houver nítido pleito de

reforma do julgamento, em atenção aos princípios da fungibilidade recursal e da instrumentalidade das

formas, com base no artigo 1024, §3º, do CPC.

STJ. Corte Especial. EDcl no RE nos EDcl no AgInt no AREsp 926.632-PB, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis

Moura, julgado em 12/05/2020.

STF. 1ª Turma. Rcl-ED-ED 39.695-MA, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/08/2020.

São cabíveis embargos de declaração, com efeitos infringentes, para que a decisão embargada seja

reajustada de acordo com a jurisprudência firmada em teses que o Supremo Tribunal Federal e o

Superior Tribunal de Justiça adotarem. STF. 1ª Turma. Rcl 15724 AgR-ED/PR, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/

o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 5/5/2020 (Info 976)

INFORMATIVOS 2020 - 154


RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Configura erro grosseiro que impede a aplicação do princípio da fungibilidade a interposição de agravo

em recurso extraordinário quando cabível agravo interno contra a decisão que nega seguimento ao

recurso extraordinário observando a sistemática da repercussão geral.

Nos termos do art. 1.030, § 2º, do Código de Processo Civil, contra a decisão que nega seguimento ao recurso

extraordinário, observando a sistemática da repercussão geral, cabe agravo interno e não agravo em recurso

extraordinário para o Supremo Tribunal Federal.

Assim, pacificou-se nos Tribunais Superiores o entendimento de que a interposição do recurso incorreto contra

a decisão que nega seguimento ao recurso extraordinário configura erro grosseiro, impedindo a aplicação do

princípio da fungibilidade.

STJ. Corte Especial. ARE-RE-EDcl-AgInt-AREsp 939.065/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, DJE 18/12/2020.

STF. 1ª Turma. HC 154737/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/06/2020.

A discussão envolvendo a possibilidade ou não de retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito

relativo a diferenças do FUNDEF possui natureza infraconstitucional, de forma que não cabe recurso

extraordinário para apreciá-la considerando que não há matéria constitucional a ser analisada. STF. 1ª Turma.

ARE 1066359 AgR/AL, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/11/2019 (Info 961). STF. 1ª Turma. ARE 1107296

AgR/PE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/2/2020 (Info 966)

Inviabiliza o recurso extraordinário a necessidade de análise de normas infraconstitucionais para

chegar-se à conclusão contrária à adotada pelo tribunal de origem. No caso concreto, o juiz e o Tribunal de

Justiça negaram à empresa (revendedora de combustíveis) o direito de obter o aproveitamento do ICMS

recolhido a mais. A empresa interpôs recurso extraordinário alegando violação ao art. 150, § 7º da CF/88 (que

trata sobre substituição tributária): § 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição

de responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente,

assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido.

Ocorre que a decisão do Tribunal de origem (TJ) foi baseada em lei estadual que exige que o contribuinte

substituído apresente requerimento administrativo ao Fisco e cumpra determinado procedimento para obter o

aproveitamento do ICMS recolhido a mais, em razão da venda de mercadoria por preço inferior ao presumido,

ou seja, no regime de substituição tributária para frente. Desse modo, o STF entendeu que não cabia recurso

extraordinário porque a decisão do Tribunal de origem foi baseada na inobservância da norma infralegal. Logo,

incide a Súmula 280 do STF: Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário. STF. 2ª Turma. ARE

1184956 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 22/9/2020 (Info 992).

INFORMATIVOS 2020 - 155


Não possui repercussão geral a discussão acerca da constitucionalidade da progressão funcional prevista na

Lei 6.110/1994 do Estado do Maranhão. STF. Plenário. RE 523086/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em

4/12/2020 (Info 1001).

REPERCUSSÃO GERAL

Há repercussão geral da questão constitucional referente à inclusão dos expurgos inflacionários na

correção monetária dos depósitos judiciais (Tema 1.016). Reconhecida a repercussão geral, o STF determinou

a suspensão nacional de todos os processos que envolvam discussão sobre expurgos inflacionários dos planos

econômicos nos depósitos judiciais. Tal decisão foi proferida com base no art. 1.035, § 5º do CPC/2015. STF.

Plenário. RE 1141156 AgR/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 19/12/2019 (Info 964)

RECURSO ESPECIAL

A menção a convenções abstratas que não possuem validade e eficácia no Direito Interno não é

suficiente à configuração do prequestionamento, mesmo que em sua forma implícita.

Não é possível o reconhecimento do prequestionamento implícito baseado em mera recomendação

internacional, que nem sequer se enquadra no conceito de “lei federal” para fins de interposição de recurso

especial.

Caso concreto: a argumentação deduzida no recurso especial foi unicamente baseada em dispositivos da

Convenção Modelo da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que não tem força

normativa em nosso país, sendo uma espécie de recomendação, um instrumento de soft law.

STJ. 2ª Turma. REsp 1821336-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 04/02/2020 (Info 684).

Não é necessária a comunicação formal de todos os possíveis afetados pela tese fixada em sede de

julgamento repetitivo, sob pena de inviabilidade prática do próprio instituto.

É natural que o entendimento a ser firmado pelo STJ em julgamentos repetitivos produza um impacto processual

e material sobre uma quantidade indeterminada de pessoas, cujos processos terão seus resultados vinculados,

pelo menos em alguma medida, ao que decidido no acórdão paradigma.

Se fosse necessária a prévia intimação de todos os sujeitos potencialmente afetados pela decisão proferida,

restaria verdadeiramente inviabilizada a sistemática de julgamento dos Recursos Especiais Repetitivos.

Tal técnica processual destina-se, por sua própria natureza, a disciplinar situações marcadas pela multiplicidade

de sujeitos, geralmente até indeterminados. É evidente, deste modo, a impossibilidade prática de intimar

formalmente todos eles, uma vez que tal situação criaria um processo multitudinário e potencialmente insolúvel.

STJ. 1ª Seção. AR 5.692/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 23/09/2020.

INFORMATIVOS 2020 - 156


Consideram-se prequestionados os fundamentos adotados nas razões de apelação e desprezados no

julgamento do respectivo recurso, desde que, interposto recurso especial, sejam reiterados nas contrarrazões

da parte vencedora. STJ. Corte Especial. EAREsp 227.767-RS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 17/06/2020

(Info 674).

JULGAMENTO POR AMOSTRAGEM DO RESP E RE

A reclamação constitucional não trata de instrumento adequado para o controle da aplicação dos

entendimentos firmados pelo STJ em recursos especiais repetitivos. As hipóteses de cabimento da

reclamação foram elencadas nos incisos do caput do art. 988. O § 5º do art. 988 trata sobre situações nas quais

não se admite reclamação. O § 5º do art. 988 foi introduzido no CPC pela Lei nº 13.256/2016 com o objetivo

justamente de proibir reclamações dirigidas ao STJ e STF para o controle da aplicação dos acórdãos sobre

questões repetitivas. Essa parte final do § 5º é fruto de má técnica legislativa. Se for admitida reclamação nessa

hipótese isso irá em sentido contrário à finalidade do regime dos recursos especiais repetitivos, que surgiu como

mecanismo de racionalização da prestação jurisdicional do STJ, diante dos litígios de massa. O meio adequado e

eficaz para forçar a observância da norma jurídica oriunda de um precedente, ou para corrigir a sua

aplicação concreta, é o recurso, instrumento que, por excelência, destina-se ao controle e revisão das

decisões judiciais. STJ. Corte Especial. Rcl 36.476-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/02/2020 (Info 669)

JUIZADOS ESPECIAIS

Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal

até o valor de 60 salários mínimos (art. 3º da Lei nº 10.259/2001). Suponhamos que o indivíduo quer pleitear da

União uma vantagem econômica equivalente a 65 salários mínimos. Ele poderá ajuizar essa ação no Juizado

Especial (em regra, é mais célere), desde que aceite renunciar, já na petição inicial, os 5 salários mínimos que

excedem o teto do JEF. Ao autor que deseje litigar no âmbito de Juizado Especial Federal Cível, é lícito renunciar,

de modo expresso e para fins de atribuição de valor à causa, ao montante que exceda os 60 (sessenta) salários

mínimos previstos no art. 3º, caput, da Lei nº 10.259/2001, aí incluídas, sendo o caso, as prestações vincendas.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.807.665-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 28/10/2020 (Recurso Repetitivo – Tema

1030) (Info 683)

Duas informações adicionais sobre o tema:

• Na hipótese de o pedido englobar prestações vencidas e vincendas, o teto do JEF é calculado pela soma das

prestações vencidas mais doze parcelas vincendas. Essa soma não pode ser superior a 60 salários mínimos (STJ.

3ª Seção. CC 91.470/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 13/8/2008).

INFORMATIVOS 2020 - 157


• A competência atribuída aos Juizados Especiais Federais possui natureza absoluta, a teor do art. 3º, § 3º, da Lei

nº 10.259/2001, observando-se, para isso, o valor da causa (STJ. 2ª Turma. REsp 1.707.486/PB, Rel. Min. Og

Fernandes, julgado em 3/4/2018).

TEMAS DIVERSOS

ERRO MATERIAL

Configura-se o erro material quando o resultado proclamado do julgamento se encontra clara e

completamente dissociado de toda a motivação e do dispositivo, revelando nítida incoerência interna no

acórdão.

É possível a correção do resultado proclamado para adequá-lo às razões de decidir e ao dispositivo do acórdão,

mesmo após o trânsito em julgado.

STJ. 3ª Turma. REsp 1685092/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020.

MANDADO DE SEGURANÇA

O rito procedimental do mandado de segurança é incompatível com a intervenção de terceiros, conforme

se extrai do art. 24 da Lei nº 12.016/09, ainda que na modalidade de assistência litisconsorcial.

STJ. 1ª Seção. AgInt na PET no MS 23.310/DF, Rel. Min. Aussete Magalhães, julgado em 28/04/2020.

STF. 2ª Turma. RExt-AgR-ED 1.046.278/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJE 06/11/2020.

O incidente da suspensão de liminar e de sentença, por não ser sucedâneo recursal, é inadequado para a

apreciação do mérito da controvérsia.

STJ. Corte Especial. AgInt na SLS 2.564/SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 27/10/2020.

Tal instituto não tem natureza jurídica de recurso, razão pela qual não propicia a devolução do conhecimento da

matéria para eventual reforma.

Sua análise deve restringir-se à verificação de possível lesão à ordem, à saúde, à segurança ou à economia

públicas, nos termos da legislação de regência, sem adentrar o mérito da

causa principal.

Em regra, o STJ afirma que não cabe recurso especial contra decisões proferidas no âmbito do pedido de

suspensão. O recurso especial se destina a combater argumentos que digam respeito a exame de legalidade, ao

passo que o pedido de suspensão ostentaria juízo político. Caso excepcional no qual o STJ admitiu o recurso

especial: juiz concedeu liminar determinando que o Estado de SP fornecesse banho quente aos presos;

Presidente do TJ/SP suspendeu a liminar; contra esta decisão foi interposto agravo; a Corte Especial do TJ

INFORMATIVOS 2020 - 158


manteve a suspensão da liminar; o STJ admitiu recurso especial contra esta decisão tendo em vista que estavam

em jogo aspectos elementares da dignidade da pessoa humana. STJ. 2ª Turma. REsp 1.537.530-SP, Rel. Min.

Herman Benjamin, julgado em 27/04/2017 (Info 666)

O instituto da suspensão de segurança, por não ser sucedâneo recursal, é inadequado para a apreciação

do mérito da controvérsia.

O entendimento prevalente no Superior Tribunal de Justiça é o de que, em princípio, a análise do mérito da

causa originária não é atribuição jurisdicional da presidência da corte competente, salvo se relacionado com os

requisitos da própria via suspensiva – direcionada à tutela dos preceitos previstos na legislação de regência.

Porém, permite-se um mínimo de juízo de delibação sobre a questão de fundo quando se confunde com o

exame da violação da ordem, da saúde, da segurança ou da economia públicas.

STJ. Corte Especial. AgInt na SS 3.082/CE. Rel. Ministro João Otávio de Noronha, julgado em 10/03/2020.

SUSTENTAÇÃO ORAL

O Min. Alexandre de Moraes era relator de uma ação direta de inconstitucionalidade. Ele incluiu esse processo

para ser julgado pelo Plenário Virtual. O relator apresentou seu voto e os Ministros começaram a votar. Ocorre

que o Min. Marco Aurélio formulou pedido de destaque, requerendo que a referida ADI fosse julgada

presencialmente pelo Plenário físico. Diante disso, o Min. Alexandre de Moraes retirou o processo da pauta de

julgamentos eletrônicos e o encaminhou ao Plenário físico para julgamento presencial, tendo havido nova

publicação de pauta. O advogado da parte, quando viu a publicação da pauta, pediu para fazer sustentação oral

no Plenário físico. O Min. Alexandre de Moraes negou o pedido sob o argumento de que já havia apresentado

seu voto no Plenário Virtual e a sustentação oral ocorre sempre antes de o relator votar. Depois que o relator

vota, não cabe mais sustentação oral. A maioria dos Ministros, contudo, concordou com o pedido de

sustentação oral da parte. Quando há o deslocamento do Plenário Virtual para o Plenário físico, o

julgamento se reinicia, havendo, portanto, direito de ser formulado pedido de sustentação oral. Além

disso, os advogados somente têm acesso ao que foi deliberado na sessão virtual depois de prolatados

todos os votos. Logo, o advogado da parte não teve acesso ao voto do relator que foi liberado no Plenário

Virtual. STF. Plenário. ADI 4735/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/2/2020 (Info 965).

DANOS MORAIS COLETIVOS

A violação de direitos individuais homogêneos é capaz de causar danos morais coletivos?

3ª Turma do STJ: SIM

INFORMATIVOS 2020 - 159


O interesse individual homogêneo é um direito individual que acidentalmente se torna coletivo e, pois,

indisponível, quando transcender a esfera de interesses puramente particulares, envolvendo bens, institutos ou

valores jurídicos superiores, cuja preservação importa à comunidade como um todo.

A grave lesão de interesses individuais homogêneos acarreta o comprometimento de bens, institutos ou valores

jurídicos superiores, cuja preservação é cara a uma comunidade maior de pessoas, razão pela qual é capaz de

reclamar a compensação de danos morais coletivos.

STJ. 3ª Turma. REsp 1586515/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/05/2018.

4ª Turma do STJ: NÃO

O dano moral coletivo é aferível in re ipsa, ou seja, sua configuração decorre da mera constatação da prática de

conduta ilícita que, de maneira injusta e intolerável, viole direitos de conteúdo extrapatrimonial da coletividade,

revelando-se despicienda a demonstração de prejuízos concretos ou de efetivo abalo moral.

Independentemente do número de pessoas concretamente atingidas pela lesão em certo período, o dano moral

coletivo deve ser ignóbil e significativo, afetando de forma inescusável e intolerável os valores e interesses

coletivos fundamentais.

O dano moral coletivo é essencialmente transindividual, de natureza coletiva típica, tendo como destinação os

interesses difusos e coletivos, não se compatibilizando com a tutela de direitos individuais homogêneos.

A condenação em danos morais coletivos tem natureza eminentemente sancionatória, com parcela pecuniária

arbitrada em prol de um fundo criado pelo art. 13 da LACP - fluid recovery - , ao passo que os danos morais

individuais homogêneos, em que os valores destinam-se às vítimas, buscam uma condenação genérica,

seguindo para posterior liquidação prevista nos arts. 97 a 100 do CDC.

STJ. 4ª Turma. REsp 1610821/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/12/2020.

FUNDAMENTOS DA DECISÃO

Não há nulidade quando o juiz ou Tribunal utilizar argumentos jurídicos diferentes daqueles invocados

pelas partes.

Não há que falar em julgamento extra petita quando o órgão julgador não afronta os limites objetivos da

pretensão inicial, tampouco concede providência jurisdicional diversa da requerida, respeitando o princípio da

congruência.

Não se configura julgamento extra petita quando o julgador, adstrito às circunstâncias fáticas e ao pedido

constante nos autos, procede à subsunção normativa com amparo em fundamentos jurídicos diversos dos

suscitados pelas partes.

Aplicação dos princípios da mihi factum dabo tibi ius (dá-me os fatos que te darei o direito) e iura novit curia (o

juiz é quem conhece o direito).

INFORMATIVOS 2020 - 160


STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1692558/AL, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 23/11/2020.

SUSPEIÇÃO

A falha procedimental consubstanciada na publicação antecipada de resultado de julgamento que havia

sido adiado não gera suspeição do relator. Essa falha não se enquadra em nenhuma das hipóteses taxativas

de suspeição previstas no art. 135 do CPC. As hipóteses taxativas de cabimento da exceção devem ser

interpretadas de forma restritiva, sob pena de comprometimento da independência funcional assegurada ao

magistrado no desempenho de suas funções. STJ. 2ª Seção. AgInt na ExSusp 198-PE, Rel. Min. Marco Aurélio

Bellizze, julgado em 17/03/2020 (Info 668).

O juiz, apesar de não participar como parte ou terceiro prejudicado da relação jurídica de direito material

é sujeito do processo e figura como parte no incidente de suspeição, por defender de forma parcial

direitos e interesses próprios, possuindo, portanto, interesse jurídico e legitimação recursal para

impugnar, via recurso, a decisão que julga procedente a exceção de suspeição, ainda que não lhe seja

atribuído o pagamento de custas e honorários advocatícios. STJ. 4ª Turma. REsp 1.237.996-SP, Rel. Min.

Marco Buzzi, julgado em 20/10/2020 (Info 683). O CPC/2015 traz a seguinte regra sobre o tema: Art. 146 (...) § 5º

Acolhida a alegação, tratando-se de impedimento ou de manifesta suspeição, o tribunal condenará o juiz nas

custas e remeterá os autos ao seu substituto legal, podendo o juiz recorrer da decisão

IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA

A prolação da decisão de acolhimento da impugnação do valor da causa em momento posterior à decisão que

julgara o mérito da causa principal constitui mera irregularidade, não gerando prejuízo suficiente para

decretação da nulidade do processo. Considerando o princípio da instrumentalidade, o recolhimento posterior

das custas atinge seu objetivo, sem que para tanto seja necessária a decretação da nulidade do ato. Não se

vislumbra prejuízo suficiente para a parte atingida pela irregularidade, pois o recolhimento das custas pode se

dar de forma posterior, tendo por norte o fato de que o princípio da instrumentalidade das formas anda sempre

de mãos dadas com o princípio da primazia da resolução de mérito. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1.667.308-SP,

Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 30/03/2020 (Info 669).

INFORMATIVOS 2020 - 161


DIREITO PENAL - PENAL GERAL

PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

Se houve mudança na jurisprudência, é possível aplicar esse novo entendimento mesmo que o crime tenha

ocorrido antes da mudança na jurisprudência.

Vigora no ordenamento jurídico brasileiro, o princípio da irretroatividade da norma mais gravosa. Esse princípio

não se aplica (não vale) para interpretação jurisprudencial. Esse princípio se aplica apenas para lei penal.

Assim, mesmo que a nova interpretação seja mais gravosa, deve ser aplicada para fatos anteriores.

A CF/88 diz, no art. 5º, XL, que "a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;".

A partir da leitura desse art. 5º, XL, é possível extrair dois preceitos:

- é retroativa a aplicação da norma penal benéfica

- é irretroativa a norma mais grave ao acusado

Esses preceitos constitucionais são inaplicáveis para precedentes jurisprudenciais (para decisões do Poder

Judiciário).

Assim, o art. 5º, XL, da CF/88 - que trazem esses preceitos - não se aplica para mudanças de entendimento

jurisprudencial (só valem para mudanças legislativas).

STF. 1ª Turma. HC 161452 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 6/3/2020.

STJ. 5ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 1361814/RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em

19/05/2020.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA

Não pode ser aplicado para fins de incidência do princípio da insignificância nos crimes tributários

estaduais o parâmetro de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002,

devendo ser observada a lei estadual vigente em razão da autonomia do ente federativo.

STJ. 5ª Turma. AgRg-HC 549.428-PA. Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020.

É possível utilizar o parâmetro mínimo de 20 mil reais (criado para a execução fiscal) como critério para

aplicação do princípio da insignificância nos crimes tributários?

NÃO.

Não é possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes tributários de acordo com o montante

definido em parâmetro estabelecido para a propositura judicial de execução fiscal.

STF. 1ª Turma. HC-AgR 144.193-SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020.

INFORMATIVOS 2020 - 162


SIM.

É possível a aplicação do princípio da insignificância aos crimes tributários e de descaminho quando o débito

tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei

n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda.

STF. 2ª Turma. HC-AgR 160.239-SP, Rel. Min. Gilmar Mendes; Julg. 22/05/2020.

STF. 2ª Turma. HC-AgR 174.329-SC, Rel. Min. Ricardo Lewandowski; Julg. 05/11/2019; DJE 18/11/2019.

STJ. 3ª Seção. HC 535.063-SP. Rel. Min. Sebastião Reis Júnior; Julg. 10/06/2020; DJE 25/08/2020

É possível a aplicação do princípio da insignificância para o agente que praticou o furto de um carrinho de

mão avaliado em R$ 20,00 (3% do salário-mínimo), MESMO ELE POSSUINDO ANTECEDENTES CRIMINAIS

POR CRIMES PATRIMONIAIS. STF. 1ª Turma. RHC 174784/MS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.

Alexandre de Moraes, julgado em 11/2/2020 (Info 966).

A despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à primeira vista, impedir o reconhecimento da

atipicidade material da conduta, a análise conjunta das circunstâncias pode demonstrar a ausência de

lesividade do fato imputado, recomendando a aplicação do princípio da insignificância. STJ. 5ª Turma. HC

553.872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/02/2020 (Info 665)

É possível aplicar o princípio da insignificância para o furto de mercadorias avaliadas em R$ 29,15, mesmo

que a subtração tenha ocorrido durante o período de repouso noturno e mesmo que o agente seja

reincidente. Vale ressaltar que os produtos haviam sido furtados de um estabelecimento comercial e que logo

após o agente foi preso, ainda na porta do estabelecimento. Objetos furtados: R$ 4,15 em moedas, uma garrafa

de Coca-Cola, duas garrafas de cerveja e uma garrafa de pinga marca 51, tudo avaliado em R$ 29,15. STF. 2ª

Turma. HC 181389 AgR/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info 973).

ARREPENDIMENTO POSTERIOR

É possível o reconhecimento da causa de diminuição de pena prevista no art. 16 do Código Penal

(arrependimento posterior) para o caso em que o agente fez o ressarcimento da dívida principal (efetuou

a reparação da parte principal do dano) antes do recebimento da denúncia, mas somente pagou os

valores referentes aos juros e correção monetária durante a tramitação da ação penal. Nas exatas

palavras do STF: “É suficiente que ocorra arrependimento, uma vez reparada parte principal do dano, até o

recebimento da inicial acusatória, sendo inviável potencializar a amplitude da restituição.” STF. 1ª Turma. HC

165312/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/4/2020 (Info 973). .

INFORMATIVOS 2020 - 163


DAS PENAS

Não existe direito subjetivo do réu em optar, na substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de

direitos por qual medida prefere cumprir, cabendo ao judiciário fixar a medida mais adequada ao caso concreto.

AgRg no HC 582.302/SC, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em 03/11/2020, DJe

16/11/2020.

Não existe direito subjetivo do réu em optar, na substituição da pena privativa de liberdade, se prefere duas

penas restritivas de direitos ou uma restritiva de direitos e uma multa.

AgRg no HC 456.224/SC, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, DJe 01/04/2019.

AgRg no HC 587.473/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 25/08/2020, DJe 04/09/2020.

Não é possível a aplicação da detração, na pena privativa de liberdade, do valor recolhido a título de

prestação pecuniária.

Isto porque, a prestação pecuniária tem caráter penal e indenizatório, com consequências jurídicas distintas da

prestação de serviços à comunidade (em que se admite a detração).

STJ. 5ª Turma. REsp 1853916/PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em04/08/2020.

PENA DE MULTA

O STF, ao julgar a ADI 3.150/DF, declarou que, à luz do preceito estabelecido pelo art. 5º, XLVI, da Constituição

Federal, a multa, ao lado da privação de liberdade e de outras restrições – perda de bens, prestação social

alternativa e suspensão ou interdição de direitos –, é espécie de pena aplicável em retribuição e em prevenção à

prática de crimes, não perdendo ela sua natureza de sanção penal. Diante da eficácia erga omnes e do

vinculante dessa decisão, não se pode mais declarar a extinção da punibilidade pelo cumprimento integral da

pena privativa de liberdade quando pendente o pagamento da multa criminal. STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp

1.850.903-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

● Na hipótese de condenação concomitante a pena privativa de liberdade e multa o

inadimplemento da sanção pecuniária pelo condenado que comprovar impossibilidade de fazê-lo,

não obsta o reconhecimento da extinção da punibilidade. STJ. 3ª Seção. REsp 1.785.383-SP e REsp

1.785.861/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgados em 24/11/2021 (Recurso Repetitivo - Tema 931)

(Info 720).

INFORMATIVOS 2020 - 164


APLICAÇÃO DA PENA

DOSIMETRIA DA PENA

As hipóteses de reincidência específica ou multirreincidência podem justificar a exasperação da pena, na

segunda fase da dosimetria, acima do patamar de 1/6, para a agravante de reincidência.

STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 548.769/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro Aurélio, em 10/03/2020.

A existência de condenação anterior, ocorrida em prazo superior a cinco anos, contado da extinção da

pena, poderá ser considerada como maus antecedentes? Após o período depurador, ainda será possível

considerar a condenação como maus antecedentes?

SIM.

As condenações atingidas pelo período depurador quinquenal do art. 64, inciso I, do CP, embora afastem os

efeitos da reincidência, não impedem a configuração de maus antecedentes, na primeira etapa da dosimetria da

pena.

STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 558.745/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 15/09/2020.

STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 471.346/MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 21/05/2019.

Não se aplica para o reconhecimento dos maus antecedentes o prazo quinquenal de prescrição da reincidência,

previsto no art. 64, I, do Código Penal.

STF. Plenário. RE 593818/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/8/2020 (Repercussão Geral - Tema 150).

O que foi explicado acima é a regra geral. Vale ressaltar, contudo, que o STJ possui o entendimento no sentido

de que, quando os registros da folha de antecedentes do réu são muito antigos, admite-se o afastamento de sua

análise desfavorável, em aplicação à teoria do direito ao esquecimento:

Quando os registros da folha de antecedentes do réu são muito antigos, como no presente caso, admite-se o

afastamento de sua análise desfavorável, em aplicação à teoria do direito ao esquecimento.

Não se pode tornar perpétua a valoração negativa dos antecedentes, nem perenizar o estigma de criminoso

para fins de aplicação da reprimenda, pois a transitoriedade é consectário natural da ordem das coisas. Se o

transcurso do tempo impede que condenações anteriores configurem reincidência, esse mesmo fundamento - o

lapso temporal - deve ser sopesado na análise das condenações geradoras, em tese, de maus antecedentes.

STJ. 6ª Turma. HC 452.570/PR, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 02/02/2021.

Havendo pluralidade de causas de aumento de pena e sendo apenas uma delas empregada na terceira

fase, as demais podem ser utilizadas nas demais etapas da dosimetria da pena.

INFORMATIVOS 2020 - 165


O deslocamento da majorante sobejante para outra fase da dosimetria, além de não contrariar o sistema

trifásico, é a que melhor se coaduna com o princípio da individualização da pena.

Exemplo: Camila foi condenada pela prática do crime de roubo circunstanciado com o reconhecimento de três

causas de aumento de pena (art. 157, § 2º, II, V e VII).

O juiz pode empregar a majorante do inciso II (concurso de agentes) na terceira fase da dosimetria e utilizar as

outras na primeira fase como circunstâncias judiciais negativas.

STJ. 3ª Seção. HC 463434-MT, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/11/2020 (Info 684).

É possível o aumento de pena-base fundado nos abalos psicológicos causados à vítima sobrevivente.

No caso concreto, a pena-base foi exasperada em razão do abalo psicológico causado à ofendida que precisou

vender sua residência por valor muito inferior ao de mercado, pois não conseguia conviver com as lembranças

que o local lhe trazia e precisou adquirir com urgência outro imóvel para morar.

A presença de sequelas psicológicas decorrentes do crime tem sido considerado fundamento idôneo para

justificar o afastamento da pena-base do piso legal, pois demonstra que a conduta do agente extrapolou os

limites ordinários do tipo penal violado, merecendo, portanto, maior repreensão.

Para tanto, a exasperação da pena-base deve estar fundamentada em dados concretos extraídos da conduta

imputada ao acusado, os quais devem desbordar dos elementos próprios do tipo penal.

STJ. 5ª Turma. HC 624.350/SC, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/12/2020.

Demonstrada mera falta de técnica na sentença, o habeas corpus pode ser deferido para nominar de

forma correta os registros pretéritos da paciente, doravante chamados de maus antecedentes, e não de

conduta social, sem afastar, todavia, o dado desabonador que, concretamente, existe nos autos e

justifica diferenciada individualização da pena. O juiz mencionou cinco condenações definitivas do réu como

justificativa para o aumento da pena na primeira fase da dosimetria. O magistrado deveria ter denominado os

registros como “maus antecedentes”, mas, em vez disso, os enquadrou como “conduta social” negativa. O erro

do pronunciamento está relacionado somente à atecnia na nomeação da circunstância legal. Assim, em habeas

corpus, deve ser corrigida a palavra imprópria, para que o dado concreto levado em conta pelo juiz seja

chamado de maus antecedentes. STJ. 6ª Turma. HC 501.144/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em

10/03/2020 (Info 669).

AGRAVANTES

Não se aplica a agravante prevista no art. 61, II, “h”, do Código Penal na hipótese em que o crime de furto

qualificado pelo arrombamento à residência ocorreu quando os proprietários não se encontravam no

imóvel, não havendo que se falar, portanto, em ameaça à vítima ou em benefício do agente para a prática

delitiva em razão de sua condição de fragilidade.

INFORMATIVOS 2020 - 166


Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:

II - ter o agente cometido o crime:

h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida; STJ. 5ª Turma. HC 593.219-SC, Rel.

Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/08/2020 (Info 679).

REINCIDÊNCIA

Para fins de comprovação da reincidência, é necessária documentação hábil que traduza o cometimento de

novo crime depois de transitar em julgado a sentença condenatória por crime anterior, mas não se exige,

contudo, forma específica para a comprovação. Desse modo, é possível que a reincidência do réu seja

demonstrada com informações processuais extraídas dos sítios eletrônicos dos tribunais. STJ. 5ª Turma. AgRg no

HC 448.972/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 16/08/2018. STF. 1ª Turma. HC 162548 AgR/SP,

Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 16/6/2020 (Info 982).

MEDIDA DE SEGURANÇA

Segundo o art. 97 do CP:

Art. 97. Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como

crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.

Assim, se fosse adotada a redação literal do art. 97 teríamos o seguinte cenário:

• Se o agente praticou fato punido com RECLUSÃO, ele receberá, obrigatoriamente, a medida de internação.

• Por outro lado, se o agente praticou fato punido com DETENÇÃO, o juiz, com base na periculosidade do

agente, poderá submetê-lo à medida de internação ou tratamento ambulatorial.

O STJ, contudo, abrandou a regra legal e construiu a tese de que o art. 97 do CP não deve ser aplicado de

forma isolada, devendo analisar também qual é a medida de segurança que melhor se ajusta à natureza

do tratamento de que necessita o inimputável. Em outras palavras, o STJ afirmou o seguinte: mesmo que o

inimputável tenha praticado um fato previsto como crime punível com reclusão, ainda assim será

possível submetê-lo a tratamento ambulatorial (não precisando ser internação), desde que fique

demonstrado que essa é a medida de segurança que melhor se ajusta ao caso concreto. À luz dos

princípios da adequação, da razoabilidade e da proporcionalidade, na fixação da espécie de medida de

segurança a ser aplicada não deve ser considerada a natureza da pena privativa de liberdade aplicável,

mas sim a periculosidade do agente, cabendo ao julgador a faculdade de optar pelo tratamento que melhor se

adapte ao inimputável. Desse modo, mesmo em se tratando de delito punível com reclusão, é facultado ao

INFORMATIVOS 2020 - 167


magistrado a escolha do tratamento mais adequado ao inimputável. STJ. 3ª Seção. EREsp 998.128-MG, Rel. Min.

Ribeiro Dantas, julgado em 27/11/2019 (Info 662)

O art. 149 do CPP, ao exigir que o acusado seja submetido a exame médico-legal, não contempla hipótese de

prova legal ou tarifada. A despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais processuais

penais que regem a matéria, deve-se concluir que o reconhecimento da inimputabilidade ou

semiimputabilidade do réu (art. 26, caput e parágrafo único do CP) depende da prévia instauração de

incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto. Vale ressaltar, por fim,

que o magistrado poderá discordar das conclusões do laudo, desde que o faça por meio de decisão

devidamente fundamentada. STJ. 6ª Turma. REsp 1.802.845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em

23/06/2020 (Info 675)

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

PRESCRIÇÃO

Acórdão que confirma ou reduz a pena interrompe a prescrição?

• SIM. É a posição atual da 1ª Turma do STF. O acórdão confirmatório da sentença implica a interrupção da

prescrição. A prescrição é, como se sabe, o perecimento da pretensão punitiva ou da pretensão executória pela

inércia do próprio Estado. No art. 117 do Código Penal que deve ser interpretado de forma sistemática todas as

causas interruptivas da prescrição demonstram, em cada inciso, que o Estado não está inerte. Não obstante a

posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre acórdão condenatório inicial e acórdão

condenatório confirmatório da decisão. Não há, sistematicamente, justificativa para tratamentos díspares. A

ideia de prescrição está vinculada à inércia estatal e o que existe na confirmação da condenação é a atuação do

Tribunal. Consequentemente, se o Estado não está inerte, há necessidade de se interromper a prescrição para o

cumprimento do devido processo legal. STF. 1ª Turma. RE 1237572 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/

Acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 26/11/2019. STF. 1ª Turma. RE 1241683 AgR/RS, rel. orig. Min.

Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

• NÃO. É a posição da doutrina, do STJ e da 2ª Turma do STF. O art. 117, IV do CP estabelece que o curso da

prescrição interrompe-se pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis. Se o acórdão

apenas CONFIRMA a condenação ou então REDUZ a pena do condenado, ele não terá o condão de

interromper a prescrição. STF. 2ª Turma. RE 1238121 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 06/12/2019. STJ.

5ª Turma. AgRg no AREsp 1557791/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 06/02/2020. STJ. Corte Especial. AgRg no

RE nos EDcl no REsp 1301820/RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/11/2016.

INFORMATIVOS 2020 - 168


De acordo com o parágrafo único do art. 116 do Código Penal, “depois de passada em julgado a sentença

condenatória, a prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo”. Ao

interpretar o referido dispositivo legal, o STJ pacificou o entendimento de que o cumprimento de pena imposta

em outro processo, ainda que em regime aberto ou em prisão domiciliar, impede o curso da prescrição

executória. Assim, não há que se falar em fluência do prazo prescricional, o que impede o

reconhecimento da extinção de sua punibilidade. O fato de o prazo prescricional não correr durante o

tempo em que o condenado está preso por outro motivo não depende da unificação das penas. STJ. 5ª

Turma. AgRg no RHC 123.523-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 13/04/2020 (Info 670).

Nos termos do inciso IV do art. 117 do Código Penal, o acórdão condenatório sempre interrompe a

prescrição, inclusive quando confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou

aumentando a pena anteriormente imposta. A prescrição é, como se sabe, o perecimento da pretensão

punitiva ou da pretensão executória pela inércia do próprio Estado. No art. 117 do Código Penal, que deve ser

interpretado de forma sistemática, todas as causas interruptivas da prescrição demonstram, em cada inciso, que

o Estado não está inerte. Não obstante a posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre

acórdão condenatório inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão. Não há, sistematicamente,

justificativa para tratamentos díspares. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1.668.298-SP, Rel. Min. Felix Fischer,

julgado em 12/05/2020 (Info 672). STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em

27/04/2020 (Info 990 – clipping).

direito PENAL – PARTE ESPECIAL

HOMICÍDIO

NÃO HÁ INCOMPATIBILIDADE entre o dolo eventual e o reconhecimento do meio cruel, na medida em que

o dolo do agente, direto ou indireto, não exclui a possibilidade de a prática delitiva envolver o emprego de meio

mais reprovável, como veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel (art. 121, § 2º, III,

do CP). Caso concreto: réu atropelou o pedestre e não parou o veículo, arrastando a vítima por 500 metros,

assumindo, portanto, o risco de produzir o resultado morte; mesmo tendo havido dolo eventual, deve-se

reconhecer também a qualificadora do meio cruel prevista no art. 121, § 2º, III, do CP. STJ. 5ª Turma. AgRg no

REsp 1573829/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/04/2019. STJ. 6ª Turma. REsp

1.829.601-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 04/02/2020 (Info 665).

“É possível haver homicídio qualificado praticado com dolo eventual?

INFORMATIVOS 2020 - 169


No caso das qualificadoras do motivo FÚTIL e/ou TORPE (art. 121, § 2º, I e II, do CP): SIM. Não há dúvidas

quanto a isso. Trata-se da posição do STJ e do STF. O fato de o réu ter assumido o risco de produzir o resultado

morte(dolo eventual), não exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o

dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o motivo que ensejou a conduta. STJ. 6ª Turma. REsp

1601276/RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 13/06/2017.

No caso de qualificadoras de MEIO (art. 121, § 2º, III e IV, do CP):

1ª corrente: SIM

O dolo eventual no crime de homicídio é compatível com as qualificadoras objetivas previstas no art. 121, § 2º, III

e IV, do Código Penal. As referidas qualificadoras serão devidas quando constatado que o autor delas se utilizou

dolosamente como meio ou como modo específico mais reprovável para agir e alcançar outro resultado, mesmo

sendo previsível e tendo admitido o resultado morte. STJ. 5ª Turma. REsp 1836556-PR, Rel. Min. Joel Ilan

Paciornik, julgado em 15/06/2021 (Info 701).

2ª corrente: NÃO

O dolo eventual não se compatibiliza com a qualificadora do art. 121, § 2º, IV (traição, emboscada dissimulação).

Para que incida a qualificadora da surpresa é indispensável que fique provado que o agente teve a vontade de

surpreender a vítima, impedindo ou dificultando que ela se defendesse. Ora, no caso do dolo eventual, o agente

não tem essa intenção, considerando que não quer matar a vítima, mas apenas assume o risco de produzir esse

resultado. Como o agente não deseja a produção do resultado, ele não direcionou sua vontade para causar

surpresa à vítima. Logo, não pode responder por essa circunstância (surpresa). STF. 2ª Turma. HC 111442/RS,

Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/8/2012 (Info 677).

A qualificadora de natureza objetiva prevista no inciso III do § 2º do art. 121 do Código Penal não se compatibiliza

com a figura do dolo eventual, pois enquanto a qualificadora sugere a ideia de premeditação, em que se exige

do agente um empenho pessoal, por meio da utilização de meio hábil, como forma de garantia do sucesso da

execução, tem-se que o agente que age movido pelo dolo eventual não atua de forma direcionada à obtenção de

ofensa ao bem jurídico tutelado, embora, com a sua conduta, assuma o risco de produzi-la. STJ. 6ª Turma. EDcl

no REsp 1848841/MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 2/2/2021.”

O homicídio perpetrado conta a vítima jovem ceifa uma vida repleta de possibilidades e perspectivas, que não

guardam identidade ou semelhança com aquelas verificadas na vida adulta. Há que se sopesar, ainda, as

consequências do homicídio contra vítima de tenra idade no núcleo familiar respectivo: pais e demais familiares

enlutados por um crime que subverte a ordem natural da vida. Não se pode olvidar, ademais, o aumento

crescente do número de homicídios perpetrados contra adolescentes no Brasil, o que reclama uma resposta

estatal. Assim, deve prevalecer a orientação no sentido de que a tenra idade da vítima (menor de 18 anos de

idade) é elemento concreto e transborda aqueles inerentes ao crime de homicídio, sendo apto, pois, a

INFORMATIVOS 2020 - 170


justificar o agravamento da pena-base, mediante valoração negativa das consequências do crime,

ressalvada, para evitar bis in idem, a hipótese em que aplicada a causa de aumento prevista no art. 121, §

4º (parte final), do Código Penal. STJ. 3ª Seção. AgRg no REsp 1.851.435-PA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,

julgado em 12/08/2020 (Info 679).

FURTO

Para a configuração da circunstância majorante do § 1º do art. 155 do Código Penal, basta que a conduta delitiva

tenha sido praticada durante o repouso noturno, dada a maior precariedade da vigilância e a defesa do

patrimônio durante tal período e, por consectário, a maior probabilidade de êxito na empreitada criminosa,

sendo irrelevante o fato das vítimas não estarem dormindo no momento do crime, ou, ainda, que tenha

ocorrido em estabelecimento comercial ou em via pública, dado que a lei não faz referência ao local do crime.

STJ. 5ª Turma. AgRg-AREsp 1.746.597-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 17/11/2020.

STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1849490/MS, Rel. Min. Antonio Saldanha, julgado em 15/09/2020.

Em relação à figura do furto privilegiado, o art. 155, § 2º, do Código Penal impõe a aplicação do benefício penal

na hipótese de adimplemento dos requisitos legais da primariedade e do pequeno valor do bem furtado, assim

considerado aquele inferior ao salário mínimo ao tempo do fato. Trata-se, em verdade, de direito subjetivo do

réu, não configurando mera faculdade do julgador a sua concessão, embora o dispositivo legal empregue o

verbo "poder".

STJ, HC 583.023/SC, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 04/08/2020, DJe 10/08/2020.

ROUBO

A Lei nº 13.654/2018 entrou em vigor no dia 24/04/2018. Antes dessa Lei, o emprego de arma branca era

considerado causa e aumento de pena no roubo. Essa Lei, contudo, deixou de prever a arma branca como

majorante. Suponhamos que, no dia 25/04/2018, João, usando um canivete, ameaçou a vítima, subtraindo dela o

telefone celular. O juiz, ao condenar o réu, não poderá, na 3ª fase da dosimetria da pena, utilizar a “arma

branca” como causa de aumento de pena. Diante disso, nada impede que o magistrado utilize esse fato

(emprego de arma branca) como uma circunstância judicial negativa, aumentando a pena-base na 1ª fase

da dosimetria da pena. Assim, no período de aplicação da Lei nº 13.654/2018, o juiz está proibido de utilizar essa

circunstância (emprego de arma branca) como causa de aumento de pena, mas nada impede que considere isso

INFORMATIVOS 2020 - 171


como circunstância judicial negativa, na fase do art. 59 do CP. STJ. 5ª Turma. HC 556.629-RJ, Rel. Min. Ribeiro

Dantas, julgado em 03/03/2020 (Info 668).

Configura o crime de roubo (e não estelionato) a conduta do funcionário de uma empresa que combina

com outro indivíduo para que este simule que assalta o empregado com uma arma de fogo e, dessa

forma, leve o dinheiro da empresa. João trabalhava em uma empresa, sendo responsável por receber

pagamentos em dinheiro e levá-los para depósito no banco. João combinou com Pedro um plano criminoso. No

dia do pagamento, Pedro entraria na empresa, supostamente ameaçaria João (seu comparsa oculto), que a ele

entregaria o dinheiro. Depois, os dois dividiriam a quantia subtraída. Assim, no dia dos fatos, Pedro, já sabendo

que havia entrado uma grande soma em dinheiro, chegou na empresa e, simulando portar arma de fogo, exigiu

que João e Ricardo (outro funcionário da empresa que não sabia do plano) entregassem o dinheiro, o que foi

feito. Posteriormente, a polícia conseguiu prender Pedro, que confessou todo o plano criminoso. João e Pedro

praticaram roubo majorado, e não estelionato. STF. 1ª Turma. HC 147584/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em

2/6/2020 (Info 980).

ESTELIONATO

Não se admite a incidência do princípio da insignificância na prática de estelionato qualificado por

médico que, no desempenho de cargo público, registra o ponto e se retira do hospital.

Caso concreto: o réu foi denunciado pelo MPF pela prática de estelionato qualificado, porque, na qualidade

médico de hospital universitário federal, teria registrado seu ponto e se retirado do local, sem cumprir sua carga

horária durante quase dois anos.

A jurisprudência do STJ não tem admitido, nos casos de prática de estelionato “qualificado”, a incidência do

princípio da insignificância (princípio inspirado na fragmentariedade do Direito Penal). Isso porque se identifica,

neste caso, uma maior reprovabilidade da conduta delitiva.

No caso concreto, o STJ afirmou que não era possível o trancamento da ação penal, sob o fundamento de

inexistência de prejuízo expressivo para a vítima, considerando que, em se tratando de hospital universitário, os

pagamentos aos médicos são provenientes de verbas federais.

STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 548869-RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

Na hipótese em que o estelionato se dá mediante vantagem indevida, auferida mediante o depósito em favor

de conta bancária de terceiro, A COMPETÊNCIA DEVERÁ SER DECLARADA EM FAVOR DO JUÍZO NO QUAL SE

SITUA A CONTA FAVORECIDA. No caso em que a vítima, induzida em erro, efetuou depósito em dinheiro e/ou

transferência bancária para a conta de terceiro (estelionatário), a obtenção da vantagem ilícita ocorreu quando o

INFORMATIVOS 2020 - 172


estelionatário se apossou do dinheiro, ou seja, no momento em a quantia foi depositada em sua conta. STJ. 3ª

Seção. CC 167.025/RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 14/08/2019. STJ. 3ª Seção. CC

169.053-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 11/12/2019 (Info 663).

Não confundir:

• ESTELIONATO QUE OCORRE POR MEIO DO SAQUE (OU COMPENSAÇÃO) DE CHEQUE CLONADO,

ADULTERADO OU FALSIFICADO: a competência é do local onde a vítima possui a conta bancária. Isso

porque, nesta hipótese, o local da obtenção da vantagem ilícita é aquele em que se situa a agência bancária

onde foi sacado o cheque adulterado, ou seja, onde a vítima possui conta bancária. Aplica-se o raciocínio da

súmula 48 do STJ (Compete ao juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de

estelionato cometido mediante falsificação de cheque.)

• ESTELIONATO QUE OCORRE QUANDO A VÍTIMA, INDUZIDA EM ERRO, SE DISPÕE A FAZER DEPÓSITOS OU

TRANSFERÊNCIAS BANCÁRIAS PARA A CONTA DE TERCEIRO (ESTELIONATÁRIO): a competência é do local

onde o estelionatário possui a conta bancária. Isso porque, neste caso, a obtenção da vantagem ilícita ocorre

quando o estelionatário efetivamente se apossa do dinheiro, ou seja, no momento em que ele é depositado em

sua conta.

“Veja o § 4º do art. 70 que foi inserido no CPP pela Lei nº 14.155/2021:

Art. 70. (...) § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código

Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de fundos

em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será

definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-se-á pela

prevenção.”

A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei nº 13.964/2019, retroage para alcançar

os processos penais que já estavam em curso? Mesmo que já houvesse denúncia oferecida, será necessário

intimar a vítima para que ela manifeste interesse na continuidade do processo?

•NÃO. É o entendimento do STJ e da 1ª Turma do STF: A exigência de representação da vítima no crime de

estelionato não retroage aos processos cuja denúncia já foi oferecida. STJ. 3ª Seção. HC 610201/SP, Rel. Min.

Ribeiro Dantas, julgado em 24/03/2021 (Info 691). STF. 1ª Turma. HC 187341, Rel. Min. Alexandre de Moraes,

julgado em 13/10/2020.

• SIM. É a posição da 2ª Turma do STF:

INFORMATIVOS 2020 - 173


A alteração promovida pela Lei nº 13.964/2019, que introduziu o § 5º ao art. 171 do Código Penal, ao condicionar

o exercício da pretensão punitiva do Estado à representação da pessoa ofendida, deve ser aplicada de forma

retroativa a abranger tanto as ações penais não iniciadas quanto as ações penais em curso até o trânsito em

julgado. STF. 2ª Turma. HC 180421 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/6/2021 (Info 1023).”

A falsidade ideológica é crime formal e instantâneo, cujos efeitos podem se protrair no tempo.

A despeito dos efeitos que possam, ou não, gerar, a falsidade ideológica se consuma no momento em que é

praticada a conduta.

Diante desse contexto, o termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão punitiva é o momento

da consumação do delito (e não o da eventual reiteração de seus efeitos).

Caso concreto: em 2010, foi incluído um sócio “laranja” no contrato social da empresa. Ele não iria ser sócio

realmente, sendo isso uma falsidade ideológica. Logo, considera-se que aí foi praticado o crime. Não se pode

afirmar que esse crime (essa conduta) teria sido reiterado quando, por ocasião da alteração contratual ocorrida

em 2019, deixou-se de regularizar o nome do sócio verdadeiramente titular da empresa, mantendo-se o nome

do “laranja”. Isso porque não há como se entender que constitui novo crime a omissão em corrigir informação

falsa por ele inserida em documento público, quando teve oportunidade para tanto. Logo, o termo inicial da

contagem da prescrição foi 2010.

STJ. 3ª Seção. RvCr 5233-DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 13/05/2020 (Info 672).

DIFAMAÇÃO

Configura difamação a conduta do agente que publica vídeo de um discurso no qual a frase completa do

orador é editada, transmitindo a falsa ideia de que ele estava falando mal de negros e pobres. A edição de

um vídeo ou áudio tem como objetivo guiar o espectador e, quando feita com o objetivo de difamar a honra de

uma pessoa, configura dolo da prática criminosa. Vale ressaltar que esta conduta do agente, ainda que

praticada por Deputado Federal, não estará protegida pela imunidade parlamentar. Caso concreto:

durante a reunião de uma CPI, o então Deputado Federal Jean Wyllys proferiu a seguinte frase: “tem um

imaginário impregnado, sobretudo nos agentes das forças de segurança, de que uma pessoa negra e pobre é

potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma pessoa branca de classe média. Esse é um imaginário que

está impregnado na gente”. O Deputado Federal Eder Mauro publicou, em sua página no Facebook, um vídeo no

qual o discurso de Jean Wyllys é editado. No vídeo publicado, a parte inicial e final da frase são cortadas e

ouve-se apenas: “Uma pessoa negra e pobre é potencialmente perigosa. É mais perigosa do que uma pessoa

branca de classe média”. Para o STF, essa conduta configurou o crime de difamação agravada. STF. 1ª Turma. AP

1021/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/8/2020 (Info 987).

INFORMATIVOS 2020 - 174


INJÚRIA

A ausência de previsibilidade de que a ofensa chegue ao conhecimento da vítima afasta o dolo específico

do delito de injúria, tornando a conduta atípica.

Exemplo: Rita e Adriana trabalhavam em um órgão público. Rita ligou para o ramal telefônico de Adriana para

falar sobre um requerimento de abono de faltas que ela havia solicitado. Adriana avisou, então, que Reginaldo

(chefe do setor) havia indeferido o pedido. Ao saber de tal fato, Rita passou a proferir ofensas contra ele,

afirmando para Adriana: “este macaco, preto sem vergonha está indeferindo a minha falta”. Vale ressaltar,

contudo, que, momentos antes, Reginaldo, que estava no mesmo setor que Adriana, havia retirado o telefone do

gancho para fazer uma ligação e acabou por ouvir as palavras injuriosas proferidas por Rita. O Ministério Público

ofereceu denúncia contra Rita pela prática do crime de injúria racial (art. 140, § 3º do CP):

Art. 140 (...) § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a

condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa.

Para o STJ, não houve crime. Isso porque o delito de injúria se consuma quando a ofensa chega ao conhecimento

da vítima, sendo necessário dolo específico de ofender a honra subjetiva da vítima.

A acusada não tinha como saber que a vítima estava ouvindo o teor da conversa pela extensão telefônica.

Como a injúria se consuma com a ofensa à honra subjetiva de alguém, não há que se falar em dolo específico no

caso em que a vítima não era seu interlocutor na conversa telefônica e, acidentalmente, tomou conhecimento

do teor da conversa.

O tipo penal em questão exige que a ofensa seja dirigida ao ofendido com a intenção de menosprezá-lo,

ofendendo-lhe a honra subjetiva.

STJ. 6ª Turma. REsp 1765673-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/05/2020 (Info 672).

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

ESTUPRO DE VULNERÁVEL

Não há nenhuma nulidade quando o Juiz refuta o exame pericial não esclarecedor nos crimes de estupro de

vulnerável sem conjunção carnal, para, acolhendo as demais provas, principalmente o depoimento da vítima e

das testemunhas, concluir pela condenação do réu, porque no sistema jurídico penal brasileiro vigora o princípio

do “livre convencimento motivado” do julgador.

STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no RHC 127.089/MG, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, julgado em 24/11/2020.

INFORMATIVOS 2020 - 175


O art. 225 do CP, na época da Lei 12.015/2009, tinha a seguinte redação:

Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública

condicionada à representação. Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública

incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável.

Segundo tese defensiva, o estupro de vulnerável do art. 217-A, § 1º, do CP somente é de ação penal pública

incondicionada quando a vulnerabilidade for permanente (ex: doente mental). Se a vulnerabilidade for

temporária (ex: decorrente de embriaguez), a ação penal seria condicionada à representação. Assim, quando o

art. 225, parágrafo único do CP (com redação dada pela Lei nº 12.015/2009) fala em “pessoa vulnerável”, ele está

se referindo à pessoa que é vulnerável (vulnerabilidade permanente) e não à pessoa que está vulnerável

(vulnerabilidade temporária).

Essa tese defensiva acima exposta é acolhida pelo STJ?

5ª Turma do STJ: NÃO Em casos de vulnerabilidade da ofendida, a ação penal é pública incondicionada, nos

moldes do parágrafo único do art. 225 do CP. Esse dispositivo não fez qualquer distinção entre a vulnerabilidade

temporária ou permanente, haja vista que a condição de vulnerável é aferível no momento do cometimento do

crime, ocasião em que há a prática dos atos executórios com vistas à consumação do delito. Em outras palavras,

seja a vulnerabilidade permanente ou temporária, no caso de estupro de vulnerável a ação penal é sempre

incondicionada. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1103678/PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 26/02/2019

6ª Turma do STJ: SIM A “pessoa vulnerável” de que trata o parágrafo único do art. 225 do CP é somente aquela

que possui uma incapacidade permanente de oferecer resistência à prática dos atos libidinosos. Se a pessoa é

incapaz de oferecer resistência apenas na ocasião da ocorrência dos atos libidinosos, ela não pode ser

considerada vulnerável para os fins do parágrafo único do art. 225, de forma que a ação penal permanece sendo

condicionada à representação da vítima. No crime sexual cometido durante vulnerabilidade temporária da

vítima, sob a égide do art. 225 do Código Penal com a redação dada pela Lei nº 12.015/2009, a ação penal pública

é condicionada à representação. STJ. 6ª Turma. REsp 1.814.770-SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado

em 05/05/2020 (Info 675).

ATENÇÃO: A discussão acima exposta existia antes da Lei nº 13.718/2018. Atualmente não interessa mais,

salvo para definir situações pretéritas. Isso porque a Lei 13.718/2018 alterou a redação do art. 225 do CP e

passou a prever que TODOS os crimes contra a dignidade sexual são de ação pública incondicionada

(sempre). Não há exceções!

A irmã de vítima do crime de estupro de vulnerável responde por conduta omissiva imprópria se assume

o papel de garantidora. Caso concreto: “J” (30 anos) era casado com “M” (20 anos). “J” praticou, durante anos,

estupro de vulnerável contra a sua cunhada “L” (criança de 6 anos de idade). “L” era irmã de “M”. Os abusos

INFORMATIVOS 2020 - 176


ocorriam nas vezes em que “L” ia visitar sua irmã. Certo dia, “M” descobriu que os estupros estavam ocorrendo,

mas, apesar disso, não tomou qualquer atitude para impedir que as condutas criminosas continuassem. Ao

contrário, continuou permitindo que a irmã fosse até a sua casa e que ficasse sozinha na residência com o

marido. “M”, a irmã da vítima, deve responder pelo delito de estupro de vulnerável por omissão imprópria. Para

que uma pessoa responda por um crime omissivo impróprio é preciso que, na situação concreta, ela

tivesse o dever legal de agir e, mesmo assim, deixou de atuar, o que acabou auxiliando na produção do

resultado delituoso. Existem três hipóteses legais nas quais há esse dever de agir.

Essas situações estão previstas nas alíneas do § 2º do art. 13 do CP: Art. 13 (...) § 2º A omissão é penalmente

relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:a)

tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de

impedir o resultado;c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.

Muito embora uma irmã mais velha não possa ser enquadrada na alínea “a” do art. 13, §2º, do CP, pois o

mero parentesco não torna penalmente responsável um irmão para com o outro, ela pode, de acordo

com o caso concreto, se amoldar à figura do “garantidor”, nos termos previstos nas duas alíneas seguintes

“b” e “c”. No caso concreto, a acusada omitiu-se, durante anos, quanto aos abusos sexuais praticados pelo seu

marido, na residência do casal, contra sua irmã menor. Vale ressaltar que ela assumiu a responsabilidade ao

levar a criança para a sua casa sem a companhia da genitora e criou risco da ocorrência do resultado ao não

denunciar o agressor, mesmo ciente de suas condutas, bem como ao continuar deixando a menina sozinha em

casa. STJ. 5ª Turma. HC 603.195-PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 06/10/2020 (Info 681)

CRIME DE INCÊNDIO

A materialidade do delito de incêndio (art. 250, § 1º, I, do CP), cuja prática deixa vestígios, deve ser

comprovada, em regra, mediante exame de corpo de delito, nos termos do art. 158 do CPP. Existe até uma

previsão específica para o caso do crime de incêndio:Art. 173. No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa

e o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a

extensão do dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.Vale ressaltar,

no entanto, que a substituição do exame pericial por outros meios de prova é possível em hipóteses

excepcionais quando desaparecidos os sinais ou as circunstâncias não permitirem a realização do laudo,

conforme autoriza o art. 167 do CPP. Para que a utilização de outros meios de prova seja válida, é necessário

que se demonstre que houve uma justificativa para a não realização do laudo pericial. Em um caso concreto, o

STF entendeu que essa utilização estava justificada. Isso porque o réu, mesmo após ser orientado pelo Corpo de

INFORMATIVOS 2020 - 177


Bombeiros a registrar, imediatamente, ocorrência policial e solicitar perícia técnica ao Instituto de Criminalística,

permaneceu inerte durante sete dias. A não elaboração da perícia oficial ocorreu, portanto, em razão do

desaparecimento dos vestígios do crime, considerada a demora em registrar a ocorrência e a falta de

preservação do local. Por essa razão a materialidade do delito foi demonstrada pela prova testemunhal,

corroborada por cópias da apólice do seguro, aviso de sinistro, ocorrência policial, relatório de regulação de

sinistros, fotografias, laudos de averiguação e pelo laudo elaborado pela seguradora. Levando em conta a

justificada inviabilidade da elaboração do exame de corpo de delito e a demonstração da materialidade do crime

por outros meios de prova, foi correta a aplicação do art. 167 do CPP no presente caso. STF. 1ª Turma. HC

136964/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/2/2020 (Info 967).

ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA

A configuração do crime de associação criminosa (art. 288 do Código Penal) não ocorre pela inclusão de um

número mínimo de pessoas no polo passivo da ação penal, mas sim pelo intuito do agente de tomar parte em

grupo criminoso formado por um quantitativo mínimo legal de integrantes.

STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1789273/P, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 25/08/2020.

DESOBEDIÊNCIA

Comete crime de desobediência (art. 330 do CP) o indivíduo que não atende a ordem dada pelo oficial de

justiça na ocasião do cumprimento de mandado de entrega de veículo, expedido no juízo cível. O

indivíduo, depositário do bem, recusou-se a entregar o veículo ou a indicar sua localização. Essa conduta

configura ato atentatório à dignidade da justiça (art. 77, IV, do CPC/2015), havendo a previsão de multa

processual (art. 77, § 2º). Ocorre que a Lei afirma expressamente que a aplicação da multa ocorre sem prejuízo

de responsabilização na esfera penal. STF. 1ª Turma. HC 169417/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.

Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/4/2020 (Info 975).

PECULATO

INFORMATIVOS 2020 - 178


Pratica o crime de peculato-desvio o Governador que determina que os valores descontados dos

contracheques dos servidores para pagamento de empréstimo consignado não sejam repassados ao

banco, mas sim utilizados para quitação de dívidas do Estado. O administrador que desconta valores da

folha de pagamento dos servidores públicos para quitação de empréstimo consignado e não os repassa a

instituição financeira pratica peculato-desvio, sendo desnecessária a demonstração de obtenção de proveito

próprio ou alheio, bastando a mera vontade de realizar o núcleo do tipo. Peculato-desvio é crime formal para

cuja consumação não se exige que o agente público ou terceiro obtenha vantagem indevida mediante prática

criminosa, bastando a destinação diversa daquela que deveria ter o dinheiro. Caso concreto: diversos servidores

estaduais possuíam empréstimos consignados. Assim, todos os meses a Administração Pública estadual fazia o

desconto das parcelas do empréstimo da remuneração dos servidores e repassava a quantia ao banco que

concedeu o mútuo. Ocorre que o Governador do Estado determinou ao Secretário de Planejamento que

continuasse a descontar mensalmente os valores do empréstimo consignado, no entanto, não mais os

repassasse ao banco, utilizando essa quantia para pagamento das dívidas do Estado. Esta conduta configurou o

crime de peculato-desvio (art. 312 do CP), gerando a condenação do Governador, com a determinação, inclusive,

de perda do cargo (art. 92, I, do CP). STJ. Corte Especial. APn 814-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. Acd.

Min. João Otávio de Noronha, julgado em 06/11/2019 (Info 664).

Governador do Estado que desvia grande soma de recursos públicos de empresas estatais, utilizando

esse dinheiro para custear sua campanha de reeleição, pratica o crime de peculato-desvio. As empresas

estatais gozam de autonomia administrativa e financeira. Mesmo assim, pode-se dizer que o Governador tem a

posse do dinheiro neste caso? É possível. Isso porque a posse necessária para configuração do crime de peculato

deve ser compreendida não só como a disponibilidade direta, mas também como disponibilidade jurídica,

exercida por meio de ordens. STJ. 5ª Turma. REsp 1.776.680-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 11/02/2020

(Info 666).

CORRUPÇÃO PASSIVA

Pratica corrupção passiva o Deputado Federal que recebe vantagem indevida para interceder junto a

diretor da Petrobrás com o intuito de fazer com que a empresa faça acordo com empresa privada e

pague a ela determinadas quantias em atraso. Uma determinada empresa havia prestado serviços para a

Petrobrás e não tinha recebido todo o valor que entendia devido. Essa empresa entrou em contato com

determinado Deputado Federal para que ele resolvesse a situação. Este Deputado comprometeu-se a falar com

o diretor de abastecimento da Petrobrás, mas exigiu o pagamento de vantagem indevida. O Deputado conseguiu

que a Petrobrás pagasse, por meio de um acordo extrajudicial, R$ 69 milhões para a empresa e, em troca,

INFORMATIVOS 2020 - 179


recebeu R$ 3 milhões de propina. O STF entendeu que esta conduta se enquadra no crime de corrupção passiva

(art. 317 do CP). STF. 2ª Turma. AP 1002/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/6/2020 (Info 981).

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA

Aquele que compra o prestígio de alguém que alegava ter influência junto a órgão público para impedir um ato

de fiscalização, apesar de praticar ato antiético e imoral, não comete nenhum ilícito se, ao fim e ao cabo, é

enganado e não obtém o resultado esperado.

A conduta de entregar dinheiro para outrem, que solicitou o recebimento de vantagem pecuniária, com a

promessa de influenciar servidor da Receita Federal a não praticar ato de ofício referente a uma autuação fiscal,

por ter sido extrapolado o limite de importação na modalidade simplificada, não se enquadra no delito de tráfico

de influência previsto no art. 332 do Código Penal.

Aquele que “compra” o prestígio de alguém que alegava ter influência junto a um órgão público e que poderia

impedir a realização de um ato de ofício da Administração Pública, a despeito de praticar uma ato antiético e

imoral não praticou nenhum ato ilícito, pois, no caso, o ato administrativo foi realizado e o “comprador de

fumaça” recebeu uma autuação fiscal.

STJ. 5ª Turma. RHC 122.913, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/12/2020.

DESACATO

A norma do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato, foi recepcionada pela Constituição

de 1988. Trata-se de arguição de descumprimento de preceito fundamental em que se questiona a

conformidade com a Convenção Americana de Direitos Humanos, bem como a recepção pela Constituição de

1988, do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato. De acordo com a jurisprudência da Corte

Interamericana de Direitos Humanos e do Supremo Tribunal Federal, a liberdade de expressão não é um direito

absoluto e, em casos de grave abuso, é legítima a utilização do direito penal para a proteção de outros

interesses e direitos relevantes. A diversidade de regime jurídico – inclusive penal – existente entre agentes

públicos e particulares é uma via de mão dupla: as consequências previstas para as condutas típicas são diversas

não somente quando os agentes públicos são autores dos delitos, mas, de igual modo, quando deles são

vítimas. A criminalização do desacato não configura tratamento privilegiado ao agente estatal, mas

proteção da função pública por ele exercida. Vale ressaltar, no entanto, que, considerando que os agentes

públicos em geral estão mais expostos ao escrutínio e à crítica dos cidadãos, deles se exige maior tolerância à

INFORMATIVOS 2020 - 180


reprovação e à insatisfação, limitando-se o crime de desacato a casos graves e evidentes de menosprezo à

função pública. STF. Plenário. ADPF 496, Rel. Roberto Barroso, julgado em 22/06/2020 (Info 992 – clipping).

SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA

A complexidade do sistema tributário, a alta carga tributária e o suposto ineficiente emprego dos tributos

arrecadados em nada diminuem a culpabilidade do autor do crime de sonegação de contribuição previdenciária

(art. 337-A do CP) para fins de aplicação da atenuante inominada do art. 66 do CP, pois não são circunstâncias

específicas do caso concreto, vez que alcançam a todos que exercem atividade econômica e se submetem ao

regime tributário nacional.

STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1648761/RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 06/10/2020.

DIREITO PENAL - LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE

ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

A ação controlada prevista no § 1º do art. 8º da Lei nº 12.850/2013 independe de autorização, bastando

sua comunicação prévia à autoridade judicial.

STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).

LEI DE DROGAS

A condenação por tráfico pode ocorrer mesmo que não haja a apreensão da droga?

Existem diversos julgados que afirmam que a condenação não pode ocorrer se não houve a apreensão da droga:

É imprescindível a apreensão da droga para que a materialidade delitiva, quanto ao crime de tráfico de drogas,

possa ser aferida, ao menos, por laudo preliminar.

STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1655529/ES, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 06/10/2020.

Hipótese em que o édito condenatório pelo delito do art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006 está amparado apenas

em testemunhos orais e informações extraídas de interceptações telefônicas. Não houve a apreensão da droga

INFORMATIVOS 2020 - 181


e, obviamente, inexiste o laudo de exame toxicológico, único elemento hábil a comprovar a materialidade do

delito de tráfico de drogas, razão pela qual impõe-se a absolvição do paciente e demais corréus.

STJ. 5ª Turma. HC 605.603/ES, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/03/2021.

Vale ressaltar, no entanto, que também são encontrados inúmeros outros acórdãos em sentido contrário, ou

seja, afirmando que outras provas podem suprir a falta de apreensão:

A ausência de apreensão da droga não torna a conduta atípica se existirem outros elementos de prova aptos a

comprovarem o crime de tráfico.

STJ. 6ª Turma. HC 131455-MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 2/8/2012.

A materialidade do crime de tráfico de entorpecentes pode ser atestada por outros meios idôneos existentes

nos autos quando não houve apreensão da droga e não foi possível realizar o exame pericial, especialmente se

encontrado entorpecentes com outros corréus ou integrantes da organização criminosa.

STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1116262/GO, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 06/11/2018.

A ausência de apreensão da droga não torna a conduta atípica se existirem outros elementos de prova aptos a

comprovarem o crime de tráfico.

STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1662300/RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 16/06/2020.

Esta Corte já se manifestou no sentido de que a ausência de apreensão da droga não torna a conduta atípica se

existirem outras provas capazes de comprovarem o crime, como no caso, as interceptações telefônicas e os

depoimentos das testemunhas.

STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1471280/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 26/05/2020.

O crime de associação para o tráfico é de natureza permanente.

Não é empecilho para o reconhecimento do crime único o fato de que, mesmo que as tratativas para o comércio

ilícito, entre os associados e o líder da associação, tenham ocorrido em datas variadas, mas dentro de um

período de 2 (dois) meses (no caso concreto), é possível o reconhecimento de houve um único crime de

associação para o tráfico.

De igual modo, o fato haver integrantes da associação em diversas cidades da mesma região, não impede que se

configure crime único. O crime de associação para o tráfico é necessariamente plurissubjetivo e pode ser

plurilocal, não sendo impeditivo para a sua consumação o fato de que os seus agentes estejam em localidades

diferentes. Não é incomum, inclusive, que os membros da mesma associação estejam em cidades ou estados

diversos ou até mesmo em países diferentes.

STJ. 6ª Turma. REsp 1845496/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 03/11/2020.

INFORMATIVOS 2020 - 182


Nos termos do art. 28, § 2º, da Lei n. 11.343/2006, não é apenas a quantidade de drogas que constitui fator

determinante para a conclusão de que a substância se destinava a consumo pessoal, mas também o local e as

condições em que se desenvolveu a ação, as circunstâncias sociais e pessoais, bem como a conduta e os

antecedentes do agente.

STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1740201/AM, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 17/11/2020.

O art. 28 da Lei nº 11.343/2006 prevê o crime de porte de drogas para consumo pessoal. Art. 28. Quem adquirir,

guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou

em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência

sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a

programa ou curso educativo. Em regra, as penas dos incisos II e III só podem ser aplicadas pelo prazo máximo

de 5 meses

O § 4º prevê que: “em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão

aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.”

A REINCIDÊNCIA DE QUE TRATA O § 4º É A REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA.

Assim, se um indivíduo já condenado definitivamente por roubo, pratica o crime do art. 28, ele não se enquadra

no § 4º. Isso porque se trata de reincidente genérico. O § 4º ao falar de reincidente, está se referindo ao crime do

caput do art. 28. STJ. 6ª Turma. REsp 1.771.304-ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 10/12/2019 (Info 662)

A previsão da redução de pena contida no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 tem como fundamento distinguir

o traficante contumaz e profissional daquele iniciante na vida criminosa, bem como do que se aventura na vida

da traficância por motivos que, por vezes, confundem-se com a sua própria sobrevivência e/ou de sua família.

Assim, para legitimar a não aplicação do redutor é essencial a fundamentação corroborada em elementos

capazes de afastar um dos requisitos legais, sob pena de desrespeito ao princípio da individualização da

pena e de fundamentação das decisões judiciais

Desse modo, a habitualidade e o pertencimento a organizações criminosas deverão ser comprovados, não

valendo a simples presunção. Não havendo prova nesse sentido, o condenado fará jus à redução de pena. Em

outras palavras, militará em favor do réu a presunção de que é primário e de bons antecedentes e de que não se

dedica a atividades criminosas nem integra organização criminosa. O ônus de provar o contrário é do Ministério

Público. Assim, o STF considerou preenchidas as condições da aplicação da redução de pena, por se estar diante

de ré primária, com bons antecedentes e sem indicação de pertencimento a organização criminosa. STF. 2ª

Turma. HC 154694 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2020

(Info 965).

É possível que o juiz negue o benefício do § 4º do art. 33 da Lei de Drogas com base no fato de o acusado ser

investigado em inquérito policial ou ser réu em outra ação penal que ainda não transitou em julgado?

INFORMATIVOS 2020 - 183


• STJ: SIM. É possível a utilização de inquéritos policiais e/ou ações penais em curso para formação da

convicção de que o réu se dedica a atividades criminosas, de modo a afastar o benefício legal previsto no

art. 33, § 4º, da Lei n.º 11.343/2006. STJ. 3ª Seção. EREsp 1.431.091-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em

14/12/2016 (Info 596). STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 539.666/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 05/03/2020

• STF: NÃO. Não se pode negar a aplicação da causa de diminuição pelo tráfico privilegiado, prevista no art.

33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, com fundamento no fato de o réu responder a inquéritos policiais ou

processos criminais em andamento, mesmo que estejam em fase recursal, sob pena de violação ao art. 5º,

LIV (princípio da presunção de não culpabilidade). STF. 1ª Turma. HC 173806/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado

em 18/2/2020 (Info 967). STF. 2ª Turma. HC 144309 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 19/11/2018.

O tráfico de drogas cometido em local próximo a igrejas não foi contemplado pelo legislador no rol das

majorantes previstas no inciso III do art. 40 da Lei nº 11.343/2006, não podendo, portanto, ser utilizado

com esse fim tendo em vista que no Direito Penal incriminador não se admite a analogia in malam

partem.

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:

III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou

hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de

locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de

serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou

em transportes públicos; STJ. 6ª Turma. HC 528.851-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 05/05/2020

(Info 671).

O STF, interpretando os §§ 2º e 3º do art. 48 da Lei nº 11.343/2006, afirmou que o autor do crime previsto no

art. 28 da Lei nº 11.343/2006 deve ser encaminhado imediatamente ao juiz e o próprio magistrado irá

lavrar o termo circunstanciado e requisitar os exames e perícias necessários. Se não houver

disponibilidade do juízo competente, deve o autor ser encaminhado à autoridade policial, que então adotará

essas providências (termo circunstanciado e requisição). Não há qualquer inconstitucionalidade nessa previsão.

Isso porque a lavratura de termo circunstanciado e a requisição de exames e perícias não são atividades de

investigação. Considerando-se que o termo circunstanciado não é procedimento investigativo, mas sim uma

mera peça informativa com descrição detalhada do fato e as declarações do condutor do flagrante e do autor do

fato, deve-se reconhecer que a possibilidade de sua lavratura pela autoridade judicial (magistrado) não ofende

os §§ 1º e 4º do art. 144 da Constituição, nem interfere na imparcialidade do julgador. As normas dos §§ 2º e 3º

do art. 48 da Lei nº 11.343/2006 foram editadas em benefício do usuário de drogas, visando afastá-lo do

ambiente policial, quando possível, e evitar que seja indevidamente detido pela autoridade policial. STF. Plenário.

ADI 3807, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 29/06/2020 (Info 986 – clipping).

INFORMATIVOS 2020 - 184


A conduta de transportar folhas de coca melhor se amolda, em tese e para a definição de competência,

ao tipo descrito no § 1º, I, do art. 33 da Lei nº 11.343/2006, que criminaliza o transporte de matéria-prima

destinada à preparação de drogas.

Caso concreto: o agente foi preso com 4,4 kg de folhas de coca, adquiridas na Bolívia, tendo a substância sido

encontrada no estepe do veículo. As folhas seriam transportadas até Uberlândia/MG para rituais de mascar,

fazer infusão de chá e até mesmo bolo, rituais esses associados à prática religiosa indígena de Instituto ao qual

pertenceria o acusado. A folha de coca não é considerada droga; porém pode ser classificada como

matéria-prima ou insumo para sua fabricação. STJ. 3ª Seção. CC 172.464-MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da

Fonseca, julgado em 10/06/2020 (Info 673).

Diante do reiterado descumprimento da jurisprudência das cortes superiores pelo TJSP, o STJ concedeu

habeas corpus para fixar o regime aberto a todas as pessoas condenadas no estado por tráfico

privilegiado, com pena de um ano e oito meses. Caso concreto: DPE/SP impetrou habeas corpus pedindo para

que seja determinada a fixação do regime inicial aberto em todos os casos em que houve condenação por

tráfico privilegiado (art. 33, §4º da Lei de Drogas) e que a pena tenha sido fixada no mínimo legal na 1ª fase da

dosimetria e a pena final não tenha superado 4 anos de reclusão. A impetrante argumentou existem mais de mil

presos que, a despeito da reconhecida prática de crime de tráfico privilegiado, cumprem pena de 1 ano e 8

meses, em regime fechado, com respaldo exclusivo no ultrapassado entendimento de que a conduta caracteriza

crime assemelhado a hediondo. Segundo entendimento consolidado do STF e do STJ, não é considerado

hediondo o delito de tráfico de drogas, na modalidade prevista no art. 33, § 4º da Lei nº 11.343/2006. Em 2019,

foi editada a Lei nº 13.964/2019, que acrescentou o § 5º ao art. 112 da LEP positivando esse entendimento: Art.

112 (...) § 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico de drogas

previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Quanto ao regime inicial para o

cumprimento da pena, é também pacífico o entendimento do STF e do STJ no sentido de que não é possível a

fixação de regime de cumprimento de pena fechado ou semiaberto para crime de tráfico privilegiado de drogas

sem a devida justificação. A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação

idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada (Súmula 718 do

STF). Esses julgados, por força do art. 927, III e V, do CPP, aplicável ao processo penal em razão do art. 3º do CPP,

devem ser observados por juízes e tribunais do país, em nome da segurança jurídica, da estabilidade das

decisões do Poder Judiciário, da coerência sistêmica e da igualdade de tratamento dos jurisdicionados, que não

podem ficar à mercê de interpretações divergentes, sobre questões de cunho eminentemente jurídico. As

diretrizes para individualização da pena e segregação cautelar dos autores de crime de tráfico privilegiado, por

decorrerem de precedentes qualificados das Cortes Superiores, devem ser observadas, sempre ressalvada,

naturalmente, a eventual indicação de peculiaridades do caso examinado, a permitir distinguir a hipótese em

INFORMATIVOS 2020 - 185


julgamento da que fora decidida nos referidos precedentes. Diante disso, o STJ concedeu a ordem para que os

juízes das varas de execução penal:

• concedam o regime aberto para os presos condenados a 1 ano e 8 meses por tráfico privilegiado (pena

mínima) e que estejam em regime fechado.

• reavaliem a situação dos presos condenados por tráfico privilegiado a penas maiores que 1 ano e 8

meses, no entanto, menores do que 4 anos de reclusão. STJ. 6ª Turma. HC 596.603-SP, Rel. Min. Rogerio

Schietti Cruz, julgado em 08/09/2020 (Info 681).

É atípica a conduta de importar pequena quantidade de sementes de maconha. STJ. 3ª Seção. EREsp

1.624.564-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/10/2020 (Info 683). STF. 2ª Turma. HC 144161/SP, Rel. Min.

Gilmar Mendes, julgado em 11/9/2018 (Info 915)

LEI MARIA DA PENHA

É irrelevante o lapso temporal da dissolução do vínculo conjugal para se firmar a competência do Juizados

Especiais de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher nos casos em que a conduta imputada como

criminosa está vinculada à relação íntima de afeto que tiveram as partes.

Assim, é necessário apenas que a conduta delitiva imputada esteja vinculada à relação íntima de afeto mantida

entre as partes.

STJ. 5ª Turma. HC 542.828/AP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 18/02/2020.

A Lei Maria da Penha objetiva proteger a mulher da violência doméstica e familiar que, cometida no âmbito da

unidade doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto, cause-lhe morte, lesão, sofrimento físico,

sexual ou psicológico, e dano moral ou patrimonial. Estão no âmbito de abrangência do delito de violência

doméstica e podem integrar o polo passivo da ação delituosa as esposas, as companheiras ou amantes,

bem como a mãe, as filhas, as netas do agressor e também a sogra, a avó ou qualquer outra parente que

mantém vínculo familiar ou afetivo com ele. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1.626.825-GO, Rel. Min. Felix

Fischer, julgado em 05/05/2020 (Info 671)

Se o fator determinante que ensejou a prática do crime foi a tenra idade da vítima fica afastada a vara de

violência doméstica e familiar? Ex: estupro de vulnerável praticado por pai contra a filha, de 4 anos.

• SIM. Posição da 5ª Turma do STJ: Se o fato de a vítima ser do sexo feminino não foi determinante para a

caracterização do crime de estupro de vulnerável, mas sim a tenra idade da ofendida, que residia sobre o

mesmo teto do réu, que com ela manteve relações sexuais, não há que se falar em competência do

INFORMATIVOS 2020 - 186


Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp

1020280/DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 23/08/2018.

• NÃO. Julgado recente da 6ª Turma do STJ: A idade da vítima é irrelevante para afastar a competência da

vara especializada em violência doméstica e familiar contra a mulher e as normas protetivas da Lei Maria

da Penha. STJ. 6ª Turma. RHC 121.813-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/10/2020 (Info 682)

LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO

É inconstitucional a determinação de afastamento automático de servidor público indiciado em inquérito

policial instaurado para apuração de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores.

Com base nesse entendimento, o STF declarou inconstitucional o art. 17-D da Lei de Lavagem de Dinheiro

(Lei nº 9.613/98):

Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e

demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno. O

afastamento do servidor somente se justifica quando ficar demonstrado nos autos que existe risco caso ele

continue no desempenho de suas funções e que o afastamento é medida eficaz e proporcional para se tutelar a

investigação e a própria Administração Pública. Tais circunstâncias precisam ser apreciadas pelo Poder

Judiciário. STF. Plenário. ADI 4911/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,

julgado em 20/11/2020 (Info 1000)

ESTATUTO DO DESARMAMENTO

A prerrogativa de porte de arma de fogo deferida aos magistrados pela LOMAN não os exonera da

obrigação de efetivar o registro da arma na Polícia Federal, bem como a renovação periódica da

certificação.

STJ. Corte Especial. APn 955/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 07/10/2020.

Depois da Lei nº 13.497/2017, é possível afirmar que o antigo parágrafo único (atual § 1º) do art. 16 do

Estatuto do Desarmamento também passou a ser crime hediondo?

5ª Turma do STJ: SIM. Tanto o caput como o parágrafo único do art. 16 da Lei nº 10.826/2003 são crimes

hediondos.

O art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 8.072/90 (com a redação dada pela Lei nº 13.497/2017) não restringe a sua

aplicação apenas ao caput do art. 16 da Lei nº 10.826/2003. Portanto, é possível concluir que a alteração

INFORMATIVOS 2020 - 187


legislativa trazida pela Lei nº 13.497/2017 alcança todas as condutas descritas no art. 16 do Estatuto do

Desarmamento, inclusive as figuras equiparadas, previstas no parágrafo único do mesmo dispositivo legal.

STJ. 5ª Turma. HC 624.903/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 09/12/2020.

6ª Turma do STJ: NÃO

A 6ª Turma alterou seu entendimento anterior e instaurou divergência, passando a decidir que apenas o caput

do art. 16 seria crime hediondo.

A Lei nº 13.497/2017 equiparou a hediondo apenas o crime do caput do art. 16 da Lei nº 10.826/2003, não

abrangendo as condutas equiparadas previstas no seu parágrafo único.

Assim, o crime de posse ou porte de arma de fogo de uso permitido com numeração, marca ou qualquer outro

sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado não integra o rol dos crimes hediondos.

STJ. 6ª Turma. HC 525249-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 15/12/2020 (Info 684).

• Antes da Lei 13.497/2017: o art. 16 do Estatuto do Desarmamento não era crime hediondo.

• Depois da Lei 13.497/2017: divergência. 5ª Turma do STJ: tanto o caput como o parágrafo único do art. 16 são

crimes hediondos. 6ª Turma do STJ: somente o caput do art. 16 é crime hediondo.

• Depois da Lei 13.964/2019: somente é hediondo o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso

PROIBIDO, previsto no § 2º do art. 16. Não abrange mais os crimes posse ou porte de arma de fogo de uso

restrito.

A Corte Especial do STJ decidiu que, uma vez realizado o registro da arma, o vencimento da autorização não

caracteriza ilícito penal, mas mera irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e

aplicação de multa (APn n. 686/AP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, DJe de 29/10/2015). Tal

entendimento, todavia, é restrito ao delito de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da Lei

nº 10.826/2003), não se aplicando ao crime de porte ilegal de arma de fogo (art. 14), muito menos ao delito

de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16), cujas elementares são diversas e a reprovabilidade

mais intensa. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 885.281-ES, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em

28/04/2020 (Info 671).

CRIMES AMBIENTAIS

É possível o concurso formal entre o crime do art. 2º da Lei n. 8.176/91 (que tutela o patrimônio da União,

proibindo a usurpação de suas matérias-primas), e o crime do art. 55 da Lei n. 9.605/98 (que protege o meio

INFORMATIVOS 2020 - 188


ambiente, proibindo a extração de recursos minerais), não havendo conflito aparente de normas já que

protegem bens jurídicos distintos.

STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1856109/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti, julgado em 16/06/2020.

Os delitos previstos no:

- art. 54, § 2º, I, II, III e IV e§ 3º e

- art. 56, § 1º, I e II,

- cumulados com a causa de aumento de pena do art. 58, I, da Lei nº 9.605/98,

... que se resumem na ação de causar poluição ambiental que provoque danos à população e ao próprio

ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas na legislação de proteção, e na omissão em adotar

medidas de precaução nos casos de risco de dano grave ou irreversível ao ecossistema,

... são crimes de natureza permanente, para fins de aferição da prescrição.

Caso concreto: a empresa ré armazenou inadequadamente causando grave poluição da área degradada, sendo

que, até o momento de prolação do julgado, não havia tomado providências para reparar o dano,

caracterizando a continuidade da prática infracional. Desse modo, constata-se que o crime de poluição

qualificada é permanente, ainda que por omissão da ré, que foi prontamente notificada a reparar o dano

causado, mas não o fez. STJ. 5ª Turma.AgRg no REsp 1.847.097-PA, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em

05/03/2020 (Info 667).

LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS

A previsão do art. 19 da Lei das Contravenções Penais continua válida ainda hoje?

• Em relação à arma de fogo: NÃO. O porte ilegal de arma de fogo caracteriza, atualmente, o crime previsto nos

arts. 14 ou 16 do Estatuto do Desarmamento.

• Em relação à branca: SIM. O art. 19 do Decreto-lei nº 3.688/41 permanece vigente quanto ao porte de outros

artefatos letais, como as armas brancas.

A jurisprudência do STJ é firme no sentido da possibilidade de tipificação da conduta de porte de arma

branca como contravenção prevista no art. 19 do DL 3.688/41, não havendo que se falar em violação ao

princípio da intervenção mínima ou da legalidade. STJ. 5ª Turma. RHC 56.128-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas,

julgado em 10/03/2020 (Info 668).

CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

INFORMATIVOS 2020 - 189


Para a configuração da apropriação indébita tributária, o fato de o agente registrar, apurar e declarar em guia

própria ou em livros fiscais o imposto devido não tem o condão de elidir (fazer desaparecer) ou exercer

nenhuma influência na prática do delito, visto que este não pressupõe a clandestinidade (não se exige que seja

feito às escondidas).

Ademais, o crime previsto no art. 2º, II, da Lei 8.137/90 não exige para sua configuração a existência de ardil,

fraude ou falsidade.

STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 609.039/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 17/11/2020.

A conduta de não recolher ICMS em operações próprias ou em substituição tributária enquadra-se

formalmente no tipo previsto no art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 (apropriação indébita tributária), desde que

comprovado o dolo

O não repasse do ICMS recolhido pelo sujeito passivo da obrigação tributária, em qualquer hipótese,

enquadra-se (formalmente) no tipo previsto art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90, desde que comprovado o dolo. Em

outras palavras, o tipo do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 não fica restrito apenas às hipóteses em que há

substituição tributária. O que se criminaliza é o fato de o sujeito passivo se apropriar do dinheiro relativo

ao imposto, devidamente recebido de terceiro, quer porque descontou do substituído tributário, quer

porque cobrou do consumidor, não repassando aos cofres públicos. STJ. 3ª Seção. HC 399.109-SC, Rel. Min.

Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/08/2018 (Info 633).

O contribuinte que, de forma contumaz e com dolo de apropriação, deixa de recolher o ICMS cobrado do

adquirente da mercadoria ou serviço, incide no tipo penal do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90. O valor do ICMS

cobrado do consumidor não integra o patrimônio do comerciante, o qual é mero depositário desse ingresso de

caixa que, depois de devidamente compensado, deve ser recolhido aos cofres públicos. Vale ressaltar, contudo,

que, para caracterizar o delito, é preciso comprovar a existência de intenção de praticar o ilícito (dolo). STF.

Plenário. RHC 163334/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/12/2019 (Info 964)

Para a incidência do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 em caso de sonegação fiscal de tributos federais, é

necessário que o valor da dívida seja igual ou superior a R$ 1 milhão; se a sonegação fiscal for de tributos

estaduais ou municipais, deve-se analisar o que define a Fazenda local. O art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 prevê

que a pena do crime de sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90) deverá ser aumentada no caso de o delito

“ocasionar grave dano à coletividade”. A jurisprudência entende que se configura a referida causa de aumento

quando o agente deixa de recolher aos cofres públicos uma vultosa quantia. Em outras palavras, se o valor

sonegado foi alto, incide a causa de aumento do art. 12, I. Nesse cálculo deve-se incluir também os juros e multa:

Para os fins da majorante do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 (grave dano à coletividade), o dano tributário

deve ser valorado considerando seu valor atual e integral, incluindo os acréscimos legais de juros e

multa. A Portaria nº 320, editada pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, prevê que os contribuintes que

INFORMATIVOS 2020 - 190


estão devendo acima de R$ 1 milhão são considerados “grandes devedores” e devem receber tratamento

prioritário na atuação dos Procuradores. O STJ utiliza, então, essa Portaria como parâmetro para analisar a

incidência ou não da causa de aumento do art. 12, I: A majorante do grave dano à coletividade, trazida pelo art.

12, I, da Lei nº 8.137/90, deve se restringir a situações especiais de relevante dano. Desse modo, é possível, para

os tributos federais, utilizar, analogamente, o critério previsto no art. 14 da Portaria 320/PGFN, por meio do qual

se definiu administrativamente os créditos prioritários como sendo aqueles de valor igual ou superior a R$

1.000.000,00 (um milhão de reais).

E se a sonegação fiscal envolver tributos estaduais ou municipais, como deverá ser o parâmetro nesses casos?

Em se tratando de tributos estaduais ou municipais, o critério deve ser, por equivalência, aquele definido

como prioritário ou de destacados créditos (grandes devedores) para a fazenda local. Dito de outro modo,

em caso de tributos estaduais ou municipais, não se de deve utilizar a Portaria 320/PGFN, mas sim os eventuais

atos normativos estaduais e municipais que definam o que sejam “grandes devedores” para o Fisco local. STJ. 3ª

Seção. REsp 1.849.120-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/03/2020 (Info 668).

O STF comunga do mesmo entendimento e utiliza como parâmetro esses atos infralegais que definem

“grandes devedores”? Não. Existe julgado do STF no qual foi afastado esse critério: “Quanto à Portaria

320/2008 da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, anoto que essa norma infralegal apenas dispõe sobre o

Projeto Grandes Devedores no âmbito da PGFN, conceituando, para os seus fins, os “grandes devedores”, com o

objetivo de estabelecer, na Secretaria da Receita Federal do Brasil, método de cobrança prioritário a esses

sujeitos passivos de vultosas obrigações tributárias, sem limitar ou definir, no entanto, o grave dano à

coletividade, ao contrário do que afirma o impetrante.” (STF. 2ª Turma. HC 129284/PE, Rel. Min. Ricardo

Lewandowski, julgado em 17/10/2017. Info 882)

A ausência de contumácia no não recolhimento do ICMS em operações próprias conduz ao

reconhecimento da atipicidade da conduta. No caso dos autos, a conduta típica imputada ao réu restringe-se

ao não recolhimento do ICMS relativo a 1 (um) mês. Portanto, nos termos do atual entendimento do STF, deve-se

concluir que, embora a conduta do réu se se subsuma formalmente ao art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90, diante

da ausência de contumácia, não há tipicidade na conduta, o que gera, por conseguinte, à absolvição do

réu. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.867.109-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 25/08/2020 (Info 679).

A teoria do domínio do fato não permite, isoladamente, que se faça uma acusação pela prática de

qualquer crime, eis que a imputação deve ser acompanhada da devida descrição, no plano fático, do nexo

de causalidade entre a conduta e o resultado delituoso. Caso concreto: a ré, sócia-proprietária da empresa,

foi acusada de suprimir, dolosamente, ICMS, no montante de R$ 600 mil, fraudando a fiscalização tributária por

meio de inserção de elementos inexatos e omissão de operação em documentos exigidos pela lei fiscal. A

imputação foi baseada unicamente na teoria do domínio do fato. Afirmou-se que é autor do delito aquele que

INFORMATIVOS 2020 - 191


detém o domínio da conduta, ou seja, o domínio final da ação. Logo, é autor aquele que decide se o fato

delituoso vai acontecer ou não, independentemente dessa pessoa ter ou não realizado a conduta material de

inserir elemento inexato em documento exigido pela lei fiscal, por exemplo. O STJ não concordou com a

imputação. A teoria do domínio do fato funciona como uma ratio, a qual é insuficiente, por si só, para

aferir a existência do nexo de causalidade entre o crime e o agente. É equivocado afirmar que um

indivíduo é autor porque detém o domínio do fato se, no plano intermediário ligado à realidade, não há

nenhuma circunstância que estabeleça o nexo entre sua conduta e o resultado lesivo. Não há como

considerar, com base na teoria do domínio do fato, que a posição de gestor, diretor ou sócio administrador de

uma empresa implica a presunção de que houve a participação no delito, se não houver, no plano

fático-probatório, alguma circunstância que o vincule à prática delitiva. Em decorrência disso, também não é

correto, no âmbito da imputação da responsabilidade penal, partir da premissa ligada à forma societária, ao

número de sócios ou ao porte apresentado pela empresa para se presumir a autoria, sobretudo porque nem

sempre as decisões tomadas por gestor de uma sociedade empresária ou pelo empresário individual, - seja ela

qual for e de que forma esteja constituída -implicam o absoluto conhecimento e aquiescência com os trâmites

burocráticos subjacentes, os quais, não raro, são delegados a terceiros. STJ. 6ª Turma. REsp 1.854.893-SP, Rel.

Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 08/09/2020 (Info 681)

LEI ANTITERRORISMO

A tipificação da conduta descrita no art. 5º da Lei Antiterrorismo (atos preparatórios de terrorismo) exige a

motivação por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, expostas

no art. 2º do mesmo diploma legal. STJ. 6ª Turma. HC 537.118-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em

05/12/2019 (Info 663).

CRIMES DO CÓDIGO DE TRÂNSITO

O crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor, tipificado no art. 302 do CTB, prevê, como uma

das penas aplicadas, a “suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo

automotor.”

Se o réu que praticou este crime é motorista profissional, ele pode, mesmo assim, receber essa sanção ou isso violaria

o direito constitucional ao trabalho? Não viola. O condenado pode sim receber essa sanção, ainda que se trate de

motorista profissional. É constitucional a imposição da pena de suspensão de habilitação para dirigir

INFORMATIVOS 2020 - 192


veículo automotor ao motorista profissional condenado por homicídio culposo no trânsito. O direito ao

exercício de atividades profissionais (art. 5º, XIII) não é absoluto e a restrição imposta pelo legislador se mostra

razoável. STF. Plenário. RE 607107/

A majorante do art. 302, § 1º, II, do CTB será aplicada tanto quando o agente estiver conduzindo o seu

veículo pela via pública e perder o controle do veículo automotor, vindo a adentrar na calçada e atingir a

vítima, como quando estiver saindo de uma garagem ou efetuando qualquer manobra e, em razão de sua

desatenção, acabar por atingir e matar o pedestre. Assim, aplica-se a referida causa de aumento de pena na

hipótese em que o condutor do veículo transitava pela via pública e, ao efetuar manobra, perdeu o controle do

carro, subindo na calçada e atropelando a vítima. STJ. 5ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1.499.912-SP, Rel. Min.

Ribeiro Dantas, julgado em 05/03/2020 (Info 668)

A regra que prevê o crime do art. 305 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é constitucional, posto não

infirmar o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e ressalvadas as hipóteses de

exclusão da tipicidade e da antijuridicidade. STF. Plenário. RE 971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em

14/11/2018 (Repercussão Geral – Tema 907) (Info 923).

É constitucional o tipo penal que prevê o crime de fuga do local do acidente (art. 305 do CTB). STF. Plenário.

ADC 35/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 9/10/2020 (Info 994).

CRIMES DO ECA

Se o sujeito armazena (art. 241-B) arquivos digitais contendo cena de sexo explícito e pornográfica envolvendo

crianças e adolescentes e depois disponibiliza (art. 241-A), pela internet, esses arquivos para outra pessoa, esse

indivíduo terá praticado dois crimes ou haverá consunção e ele responderá por apenas um dos delitos? Em

regra, não há automática consunção quando ocorrem armazenamento e compartilhamento de material

pornográfico infanto-juvenil. Isso porque o cometimento de um dos crimes não perpassa, necessariamente,

pela prática do outro. No entanto, é possível a absorção a depender das peculiaridades de cada caso,

quando as duas condutas guardem, entre si, uma relação de meio e fim estreitamente vinculadas. O

princípio da consunção exige um nexo de dependência entre a sucessão de fatos. Se evidenciado pelo caderno

probatório que um dos crimes é absolutamente autônomo, sem relação de subordinação com o outro, o réu

deverá responder por ambos, em concurso material. A distinção se dá em cada caso, de acordo com suas

especificidades. STJ. 6ª Turma. REsp 1.579.578-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 04/02/2020 (Info

666)

INFORMATIVOS 2020 - 193


O grande interesse por material que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança

ou adolescente é ínsito ao crime descrito no art. 241-A da Lei nº 8.069/90, não sendo justificável a

exasperação da pena-base a título de conduta social ou personalidade. Caso concreto: na 1ª fase da

dosimetria da pena (art. 59 do CP), o juiz aumentou a pena-base de 3 para 4 anos afirmando que a conduta

social e a personalidade do agente eram desfavoráveis: “Com base nos elementos constantes dos autos, percebo

que a conduta social e a personalidade do acusado demonstram certa periculosidade pelo grande interesse em

pornografia infantil. Fixo a pena-base privativa de liberdade em 4 (quatro) anos de reclusão nesta fase.” STJ. 6ª

Turma. REsp 1.579.578-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 04/02/2020 (Info 666).

CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS PREFEITOS

O crime previsto no art. 1°, VII, do Decreto-Lei nº 201/1967 se perfectibiliza quando há uma clara intenção de

descumprir os prazos para a prestação de contas.

Se tiver havido a entrega da prestação de contas em momento posterior ao estipulado, mas se não tiver ficado

suficientemente demonstrada a intenção de atrasar e de descumprir os prazos previstos para se prestar contas,

não haverá crime por falta de elemento subjetivo (dolo).

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário,

independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores: (...) VII - Deixar de prestar contas, no

devido tempo, ao órgão competente, da aplicação de recursos, empréstimos subvenções ou auxílios internos ou

externos, recebidos a qualquer título;

STJ. 6ª Turma. REsp 1695266/PB, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 23/06/2020 (Infos 676 e 677).

O pagamento de remuneração a funcionários fantasmas não configura apropriação ou desvio de verba

pública, previstos pelo art. 1º, inciso I, do Decreto-Lei nº 201/67. O pagamento de salário não configura

apropriação ou desvio de verba pública, previstos pelo art. 1º, I, do Decreto-Lei nº 201/67, pois a remuneração é

devida, ainda que questionável a contratação de parentes do Prefeito. STJ. 6ª Turma.AgRg no AREsp

1.162.086-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 05/03/2020 (Info 667).

CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO

O delito do art.19 da lei 7.492/86, "obter mediante fraude financiamento em instituição financeira não

exige, para a sua configuração, efetivo ou potencial abalo ao Sistema Financeiro Nacional.

STJ. 5ª Turma. gRg no AgRg no AREsp 1642491/SP, Rel Min. Joel Ilan, julgado em 19/05/2020.

INFORMATIVOS 2020 - 194


Se a denúncia imputa a oferta pública de contrato de investimento coletivo (sem prévio registro), não há dúvida

de que incide as disposições contidas na Lei nº 7.492/86 (Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro),

especialmente porque essa espécie de contrato caracteriza valor mobiliário, nos termos do art. 2º, IX, da Lei nº

6.385/76. Logo, compete à Justiça Federal apurar os crimes relacionados com essa conduta. Compete à Justiça

Federal julgar crimes relacionados à oferta pública de contrato de investimento coletivo em criptomoedas. STJ. 6ª

Turma. HC 530.563-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 05/03/2020 (Info 667)

PROCESSO PENAL

INQUÉRITO POLICIAL

Possibilidade de auxílio da agência de inteligência ao MP estadual.

É legal o auxílio da agência de inteligência ao Ministério Público Estadual durante procedimento criminal

instaurado para apurar graves crimes em contexto de organização criminosa.

STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).

Eventual nulidade na oitiva do acusado no curso da investigação preliminar não tem o condão de nulificar o

recebimento da denúncia e a ação penal deflagrada, quando existam elementos autônomos que sustentam a

decisão impugnada. Ademais, cabe ressaltar que eventuais vícios na fase extrajudicial não contaminam o

processo penal, dada a natureza meramente informativa do inquérito policial.

STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 124.024/SP. Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 22/09/2020.

Não haverá infiltração policial se o agente apenas representa a vítima nas negociações de extorsão.

Não há infiltração policial quando agente lotado em agência de inteligência, sob identidade falsa, apenas

representa o ofendido nas negociações da extorsão, sem se introduzir ou se infiltrar na organização criminosa

com o propósito de identificar e angariar a confiança de seus membros ou obter provas sobre a estrutura e o

funcionamento do bando.

STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).

Não há nulidade na ação penal instaurada a partir de elementos informativos colhidos em inquérito

policial que não deveria ter sido conduzido pela Polícia Federal considerando que a situação não se

enquadrava no art. 1º da Lei 10.446/2002. Caso concreto: a Polícia Federal, sob a supervisão do Ministério

Público estadual e do Juízo de Direito, conduziu inquérito policial destinado a apurar crimes de competência da

Justiça Estadual. Entendeu-se que a Polícia Federal não tinha atribuição para apurar tais delitos considerando

INFORMATIVOS 2020 - 195


que não se enquadravam nas hipóteses do art. 144, § 1º da CF/88 e do art. 1º da Lei nº 10.446/2002. A despeito

disso, o STF entendeu que não havia nulidade na ação penal instaurada com base nos elementos informativos

colhidos. O fato de os crimes de competência da Justiça Estadual terem sido investigados pela Polícia

Federal não geram nulidade. Isso porque esse procedimento investigatório, presidido por autoridade de

Polícia Federal, foi supervisionado pelo Juízo estadual (juízo competente) e por membro do Ministério Público

estadual (que tinha a atribuição para a causa). O inquérito policial constitui procedimento administrativo,

de caráter meramente informativo e não obrigatório à regular instauração do processo-crime, cuja

finalidade consiste em subsidiar eventual denúncia a ser apresentada pelo Ministério Público, razão pela

qual irregularidades ocorridas não implicam, de regra, nulidade de processo-crime. O art. 5º, LIII, da

Constituição Federal, afirma que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade

competente”. Esse dispositivo contempla o chamado “princípio do juiz natural”, princípio esse que não se

estende para autoridades policiais, considerando que estas não possuem competência para julgar. Logo, não é

possível anular provas ou processos em tramitação com base no argumento de que a Polícia Federal não teria

atribuição para investigar os crimes apurados. A desconformidade da atuação da Polícia Federal com as

disposições da Lei nº 10.446/2002 e eventuais abusos cometidos por autoridade policial, embora possam

implicar responsabilidade no âmbito administrativo ou criminal dos agentes, não podem gerar a

nulidade do inquérito ou do processo penal. STF. 1ª Turma. HC 169348/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em

17/12/2019 (Info 964).

É constitucional a Portaria GP 69/2019, por meio da qual o Presidente do STF determinou a instauração do

Inquérito 4781, com o intuito de apurar a existência de notícias fraudulentas (fake news), denunciações

caluniosas, ameaças e atos que podem configurar crimes contra a honra e atingir a honorabilidade e a

segurança do STF, de seus membros e familiares. Também é constitucional o art. 43 do Regimento Interno do

STF, que foi recepcionado pela CF/88 como lei ordinária. O STF, contudo, afirmou que o referido inquérito, para

ser constitucional, deve cumprir as seguintes condicionantes:

a) o procedimento deve ser acompanhado pelo Ministério Público;

b) deve ser integralmente observado o Enunciado 14 da Súmula Vinculante.

c) o objeto do inquérito deve se limitar a investigar manifestações que acarretem risco efetivo à

independência do Poder Judiciário (art. 2º da CF/88).

Isso pode ocorrer por meio de ameaças aos membros do STF e a seus familiares ou por atos que atentem contra

os Poderes instituídos, contra o Estado de Direito e contra a democracia; e, por fim, d) a investigação deve

respeitar a proteção da liberdade de expressão e de imprensa, excluindo do escopo do inquérito matérias

jornalísticas e postagens, compartilhamentos ou outras manifestações (inclusive pessoais) na internet, feitas

anonimamente ou não, desde que não integrem esquemas de financiamento e divulgação em massa nas redes

sociais. O art. 43 do RISTF prevê o seguinte: “Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do

INFORMATIVOS 2020 - 196


Tribunal, o Presidente instaurará inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou

delegará esta atribuição a outro Ministro.” Muito embora o dispositivo exija que os fatos apurados ocorram na

“sede ou dependência” do próprio STF, o caráter difuso dos crimes cometidos por meio da internet permite

estender (ampliar) o conceito de “sede”, uma vez que o STF exerce jurisdição em todo o território nacional. Logo,

os crimes objeto do inquérito, contra a honra e, portanto, formais, cometidos em ambiente virtual, podem ser

considerados como cometidos na sede ou dependência do STF. STF. Plenário. ADPF 572 MC/DF, Rel. Min. Edson

Fachin, julgado em 17 e 18/6/2020 (Info 982).

A Lei nº 13.964/2019 (“Pacote Anticrime”) inseriu o art. 28-A ao CPP, criando, no ordenamento jurídico pátrio, o

instituto do acordo de não persecução penal (ANPP). A Lei nº 13.964/2019, no ponto em que institui o ANPP, é

considerada lei penal de natureza híbrida, admitindo conformação entre a retroatividade penal benéfica

e o tempus regit actum. O ANPP se esgota na etapa pré-processual, sobretudo porque a consequência da

sua recusa, sua não homologação ou seu descumprimento é inaugurar a fase de oferecimento e de

recebimento da denúncia. O recebimento da denúncia encerra a etapa pré-processual, devendo ser

considerados válidos os atos praticados em conformidade com a lei então vigente. Dessa forma, a

retroatividade penal benéfica incide para permitir que o ANPP seja viabilizado a fatos anteriores à Lei nº

13.964/2019, desde que não recebida a denúncia. Assim, mostra-se impossível realizar o ANPP quando já

recebida a denúncia em data anterior à entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019. STJ. 5ª Turma. HC 607.003-SC,

Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2020 (Info 683). STF. 1ª Turma. HC 191464 AgR, Rel.

Roberto Barroso, julgado em 11/11/2020.

DENÚNCIA ANÔNIMA

Denúncias anônimas não podem embasar, por si sós, medidas invasivas como interceptações telefônicas,

buscas e apreensões, e devem ser complementadas por diligências investigativas posteriores. Se há

notícia anônima de comércio de drogas ilícitas numa determinada casa, a polícia deve, antes de representar pela

expedição de mandado de busca e apreensão, proceder a diligências veladas no intuito de reunir e documentar

outras evidências que confirmem, indiciariamente, a notícia. Se confirmadas, com base nesses novos elementos

de informação o juiz deferirá o pedido. Se não confirmadas, não será possível violar o domicílio, sendo a

expedição do mandado desautorizada pela ausência de justa causa. O mandado de busca e apreensão expedido

exclusivamente com apoio em denúncia anônima é abusivo. STF. 2ª Turma. HC 180709/SP, Rel. Min. Gilmar

Mendes, julgado em 5/5/2020 (Info 976)

AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA

INFORMATIVOS 2020 - 197


A audiência de custódia, no caso de mandado de prisão preventiva cumprido fora do âmbito territorial da

jurisdição do Juízo que a determinou, deve ser efetivada por meio da condução do preso à autoridade judicial

competente na localidade em que ocorreu a prisão. NÃO SE ADMITE, POR AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL, A

SUA REALIZAÇÃO POR MEIO DE VIDEOCONFERÊNCIA, ainda que pelo Juízo que decretou a custódia cautelar.

STJ. 3ª Seção. CC 168.522-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/12/2019 (Info 663).

A audiência de custódia constitui direito público subjetivo, de caráter fundamental. A audiência de custódia (ou

de apresentação) constitui direito público subjetivo, de caráter fundamental, assegurado por convenções

internacionais de direitos humanos a que o Estado brasileiro aderiu, já incorporadas ao direito positivo interno

(Convenção Americana de Direitos Humanos e Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos). Traduz

prerrogativa não suprimível assegurada a qualquer pessoa. Sua imprescindibilidade tem o beneplácito do

magistério jurisprudencial (ADPF 347 MC) e do ordenamento positivo doméstico (Lei nº 13.964/2019 e Resolução

213/2015 do CNJ). STF. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/10/2020 (Info 994)

O que acontece se, injustificadamente, não for realizada a audiência de custódia? A ausência da realização da

audiência de custódia qualifica-se como causa geradora da ilegalidade da própria prisão em flagrante, com o

consequente relaxamento da privação cautelar da liberdade. Se o magistrado deixar de realizar a audiência de

custódia e não apresentar uma motivação idônea para essa conduta, ele estará sujeito à tríplice

responsabilidade, nos termos do art. 310, § 3º do CPP. STF. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em

6/10/2020 (Info 994).

COMPETÊNCIA

O fato de as investigações estarem perto do fim e de já terem demorado anos não servem como

argumento jurídico válido para prorrogar a competência do STF. Apesar da efetiva evolução das

investigações, sob a supervisão do STF, não houve oferecimento de denúncia contra o agravante nem

encerramento da instrução processual penal. Logo, o marco temporal relativo à data de apresentação das

razões finais não foi alcançado. Além disso, quanto ao segundo argumento da defesa, o STF esclareceu que é

possível a imediata remessa dos autos às instâncias competentes, inclusive antes da publicação do acórdão ou

do trânsito em julgado, quando constatado o risco de prescrição. STF. 2ª Turma. Pet 7716 AgR/DF, Rel. Min.

Edson Fachin, julgado em 18/2/2020 (Info 967)

Compete à Justiça comum (Tribunal do Júri) o julgamento de homicídio praticado por militar contra outro

quando ambos estejam fora do serviço ou da função no momento do crime.

INFORMATIVOS 2020 - 198


Caso concreto: Francisco era soldado da Polícia Militar do Estado do Maranhão. Samuel era cabo da Polícia

Militar do Estado do Piauí. Determinado dia, Francisco, que se encontrava de férias, passeava em Teresina (PI).

Samuel percebeu que Francisco estava armado e, mesmo estando de folga, abordou o soldado indagando sobre

a arma. Iniciou-se uma discussão e Francisco atirou três vezes contra Samuel, que faleceu em razão dos

disparos.

A vítima e o réu - ambos policiais militares à época dos fatos - estavam fora de serviço quando iniciaram a

discussão. Logo, não se pode falar que houve crime militar, devendo, portanto, o réu ser julgado pela Justiça

Comum estadual (Tribunal do Júri). STJ. 3ª Seção. CC 170.201-PI, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em

11/03/2020 (Info 667).

A Justiça do Trabalho não tem competência para processar e julgar ações penais. STF. Plenário. ADI 3684,

Rel. Gilmar Mendes, julgado em 11/05/2020 (Info 980).

Compete à Justiça Estadual o pedido de habeas corpus preventivo para viabilizar, para fins medicinais, o

cultivo, uso, porte e produção artesanal da Cannabis (maconha), bem como porte em outra unidade da

federação, quando não demonstrada a internacionalidade da conduta. STJ. 3ª Seção. CC 171.206-SP, Rel. Min.

Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/06/2020 (Info 673).

Ausentes os elementos que revelem ter havido evasão de divisas ou lavagem de dinheiro em detrimento de

interesses da União compete à Justiça Estadual processar e julgar crimes relacionados a pirâmide financeira em

investimento de grupo em criptomoeda. A captação de recursos decorrente de “pirâmide financeira” não se

enquadra no conceito de atividade financeira, razão pela qual o deslocamento do feito para a Justiça

Federal se justifica apenas se demonstrada a prática de evasão de divisas ou de lavagem de dinheiro em

detrimento de bens e serviços ou interesse da União. STJ. 3ª Seção. CC 170.392-SP, Rel. Min. Joel Ilan

Paciornik, julgado em 10/06/2020 (Info 673)

O TJDFT faz parte do Poder Judiciário da União. Mesmo assim, se for praticado falso testemunho em processo

que ali tramita, a competência será da Justiça do Distrito Federal (e não da Justiça Federal comum). Isso

porque a Justiça do Distrito Federal possui competência para julgar crimes, não havendo interesse direto e

específico da União a atrair o art. 109, IV, da CF/88. STJ. 3ª Seção. CC 166.732-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em

14/10/2020 (Info 681).

Compete à Justiça Federal julgar os crimes dos arts. 241, 241-A e 241-B do ECA, se a conduta de

disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente tiver sido praticada

pela internet e for acessível transnacionalmente. Redação anterior da tese do Tema 393: Compete à Justiça

Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo

criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B da Lei nº 8.069/1990) quando praticados por meio da rede

INFORMATIVOS 2020 - 199


mundial de computadores. STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min.

Edson Fachin, julgado em 28 e 29/10/2015 (Repercussão Geral – Tema 393) (Info 805).

Redação atual, modificada em embargos de declaração: Compete à Justiça Federal processar e julgar os

crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material pornográfico, acessível transnacionalmente,

envolvendo criança ou adolescente, quando praticados por meio da rede mundial de computadores (arts.

241, 241-A e 241-B da Lei nº 8.069/1990). STF. Plenário. RE 628624 ED, Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020

(Repercussão Geral – Tema 393) (Info 990 – clipping).

FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função para

Defensores Públicos e Procuradores do Estado. Constituição estadual não pode atribuir foro por prerrogativa

de função a autoridades diversas daquelas arroladas na Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6501 Ref-MC/PA,

ADI 6508 Ref-MC/RO, ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 RefMC/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em

20/11/2020 (Info 1000)

PROVAS

As inovações do Pacote Anticrime na Lei n. 9.296/1996 não alteraram o entendimento de que é lícita a

prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do

outro.

STJ. 6ª Turma. HC 512290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).

Obs: o julgado acima foi proferido antes da derrubada dos vetos relativos ao Pacto Anticrime (Lei nº

13.964/2019). Depois que o Congresso Nacional rejeitou a maioria dos vetos, entrou em vigor o § 4º do art. 8º-A

da Lei nº 9.296/96, inserido pela Lei nº 12.964/2019. Veja o que diz esse dispositivo que, repito, é posterior ao

julgado do STJ:

Art. 8º-A (...)

§ 4º A captação ambiental feita por um dos interlocutores sem o prévio conhecimento da autoridade policial ou

do Ministério Público poderá ser utilizada, em matéria de defesa, quando demonstrada a integridade da

gravação.

INFORMATIVOS 2020 - 200


Assim, pela redação literal do dispositivo, a gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem o

conhecimento do outro só poderá ser utilizada em matéria de defesa. Não seria possível utilizá-la para imputar

crimes ao outro interlocutor que não sabe que está sendo gravado.

Logo, pela redação literal do dispositivo, teria havido mudança naquilo que se entendia na jurisprudência.

A ausência de exame de corpo de delito não inviabiliza, por si só, a pronúncia do réu quando presentes

outros elementos de prova.

STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1861493/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 09/06/2020.

Não há ilegalidade ou nulidade na decisão do juiz que opta pela escolha de realização do interrogatório do réu

por meio de videoconferência em razão da dificuldade de deslocamento do acusado até o local da audiência,

bem como pelo risco à segurança pública, haja vista a insuficiência de agentes para realizar a escolta.

Em obediência ao princípio pas de nullité sans grief, que vigora plenamente no processo penal pátrio (art. 563 do

CPP), não se declara nulidade de ato se dele não resulta demonstrado efetivo prejuízo para a parte.

STJ. 6ª Turma. AgRg no RHC 125373/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 18/08/2020.

O ato de delegação da condução e direção de produção de prova oral à autoridade estrangeira, a fim de

que esta proceda diretamente à inquirição da testemunha ou do investigado, não encontra qualquer tipo

de respaldo constitucional, legal ou jurisprudencial.

Caso concreto: o Tribunal de Paris solicitou cooperação jurídica em matéria penal, na modalidade auxílio direto,

a fim de que fossem realizadas diversas diligências no Brasil, dentre as quais a oitiva de investigado e busca e

apreensão no seu endereço, para subsidiar apuração criminal que ocorre na Justiça da França. O pedido da

autoridade francesa foi embasado em Acordo de Cooperação Judiciária em Matéria Penal, na Convenção das

Nações Unidas contra a Corrupção e na Convenção das Nações Unidas contra a Criminalidade Organizada

Transnacional. O pleito foi encaminhado ao Ministério da Justiça do Brasil, que o remeteu ao Procurador-Geral

da República o qual, por sua vez, designou Procurador da República atuante no Rio de Janeiro para a execução

das diligências. O Membro do Ministério Público Federal requereu o deferimento das medidas assecuratórias ao

Juízo da 9ª Vara Federal do Rio de Janeiro, no que foi atendido.

O investigado impetrou habeas corpus sustentando a nulidade de sua oitiva porque todas as perguntas foram

formuladas direta e exclusivamente pela Autoridade Judiciária francesa que acompanhava o Membro do

Ministério Público Federal nomeado para realizar as diligências.

O STJ concordou com o pedido da defesa.

O ato de delegação da condução e direção de produção de prova oral à autoridade estrangeira, a fim de que

esta proceda diretamente à inquirição da testemunha ou do investigado, não encontra qualquer tipo de

respaldo constitucional, legal ou jurisprudencial. Trata-se de ato eivado de nulidade absoluta, por ofensa à

INFORMATIVOS 2020 - 201


soberania nacional, o qual não pode produzir efeitos dentro de investigações penais que estejam dentro das

atribuições das autoridades brasileiras.

STJ. 6ª Turma. RHC 102322-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

A escassez de agentes penitenciários para realizar a escolta de detentos é argumento válido para

justificar a excepcionalidade da audiência por meio remoto.

STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 587424/SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 06/10/2020.

O direito à produção de provas não é absoluto, haja vista que a própria lei processual penal, em seu

artigo 400, § 1º, faculta ao julgador, desde que de forma fundamentada, indeferir as provas consideradas

irrelevantes, impertinentes ou protelatórias.

STF. 2ª Turma. HC 191858, 628075, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 30/11/2020.

Não é possível aplicar multa contra o WhatsApp pelo fato de a empresa não conseguir interceptar as

mensagens trocadas pelo aplicativo e que são protegidas por criptografia de ponta a ponta.

Caso concreto: o juiz expediu ordem para que o WhatsApp interceptasse as mensagens trocadas por

determinados investigados, suspeitos de integrarem uma organização criminosa que estariam ainda praticando

crimes. O WhatsApp respondeu que não consegue cumprir a determinação judicial por impedimentos de ordem

técnica. Isso porque as mensagens trocadas via aplicativo são criptografadas de ponta a ponta. O magistrado

não concordou com o argumento e aplicou multa contra a empresa.

Segundo a opinião dos especialistas, realmente não é possível a interceptação de mensagens criptografadas do

WhatsApp devido à adoção de criptografia forte pelo aplicativo.

Ao utilizar a criptografia de ponta a ponta, a empresa está criando um mecanismo de proteção à liberdade de

expressão e de comunicação privada, garantia reconhecida expressamente na Constituição Federal (art. 5º, IX).

A criptografia é, portanto, um meio de se assegurar a proteção de direitos que, em uma sociedade democrática,

são essenciais para a vida pública.

A criptografia protege os direitos dos usuários da internet, garantindo a privacidade de suas comunicações.

Logo, é do interesse do Estado brasileiro encorajar as empresas e as pessoas a utilizarem a criptografia e manter

o ambiente digital com a maior segurança possível para os usuários.

Existe, contudo, uma ponderação a ser feita: em alguns casos a criptografia é utilizada para acobertar a prática

de crimes, como, por exemplo, os casos de pornografia infantil e de condutas antidemocráticas, como

manifestações xenófobas, racistas e intolerantes, que ameaçam o Estado de Direito. A partir daí, indaga-se: o

risco à segurança pública representado pelo uso da criptografia justifica restringir ou proibir a sua adoção pelas

empresas?

O tema está sendo apreciado pelo STF na ADPF 403 e na ADI 5527, que foi iniciado com os votos dos Ministros

Edson Fachin e Rosa Weber, tendo sido suspenso em razão de pedido de vista.

INFORMATIVOS 2020 - 202


Apesar de o julgamento dessas ações constitucionais ainda não ter sido concluído, a 3ª Seção do STJ, em

harmonia com os votos já proferidos pelos Ministros do STF, chegou à conclusão de que:

O ordenamento jurídico brasileiro não autoriza, em detrimento da proteção gerada pela criptografia de ponta a

ponta, em benefício da liberdade de expressão e do direito à intimidade, sejam os desenvolvedores da

tecnologia multados por descumprirem ordem judicial incompatível com encriptação.

Os benefícios advindos da criptografia de ponta a ponta se sobrepõem às eventuais perdas pela impossibilidade

de se coletar os dados das conversas dos usuários da tecnologia.

Diante disso, o recurso foi provido para afastar a multa aplicada pelo magistrado ante a impossibilidade fática,

no caso concreto, de cumprimento da ordem judicial, haja vista o emprego da criptografia de ponta-a-ponta.

STJ. 3ª Seção. RMS 60531-RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/12/2020 (Info

684).

Mesmo que a investigação criminal tramite em segredo de justiça será possível que o investigado tenha

acesso amplo autos, inclusive a eventual relatório de inteligência financeira do COAF, sendo permitido,

contudo, que se negue o acesso a peças que digam respeito a dados de terceiros protegidos pelo segredo

de justiça. Essa restrição parcial não viola a súmula vinculante 14. Isso porque é excessivo o acesso de um

dos investigados a informações, de caráter privado de diversas pessoas, que não dizem respeito ao direito de

defesa dele. STF. 1ª Turma. Rcl 25872 AgR-AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/12/2019 (Info 964)

O art. 3º da LC 156/2010, do Estado de Pernambuco redenominou o cargo de datiloscopista policial para perito

papiloscopista, no âmbito da polícia civil. Para o STF, essa previsão é constitucional. A competência para dispor

sobre os peritos oficiais da polícia civil é concorrente, nos termos do art. 24, XVI, da CF/88, que prevê que

compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre organização, garantias,

direitos e deveres dos policiais civis. A União, cumprindo o que prevê o art. 24, XVI, da CF/88, editou as normas

gerais sobre o tema, ao aprovar a Lei nº 12.030/2009, que “dispõe sobre as perícias oficiais”. A LC estadual

156/2010 não possui nenhuma antinomia com a Lei federal nº 12.030/2009. O art. 5º da Lei nº 12.030/2009 não

foi exaustivo ao elencar determinados peritos. Podem existir outros. Além disso, a Lei nº 12.030/2009 não

proibiu que se equiparassem os cargos de datiloscopista ou papiloscopista. A expressão “perito criminal”

abrange, portanto, todos os peritos oficiais que possuem a incumbência estatal de elucidar crimes, sendo

possível aventar um rol bem mais amplo de agentes que atuam como peritos oficiais. STF. Plenário. ADI 5182/PE,

Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/12/2019 (Info 964)

A defesa alegou nulidade processual por desrespeito ao art. 212 do CPP, por ter o juízo inquerido diretamente as

testemunhas. A magistrada que presidia a audiência reputou observados o contraditório e a ampla defesa,

porque depois de perguntar, ela permitiu que os defensores e o MP fizessem questionamentos. A 1ª Turma do

STF discutiu se houve nulidade. Dois Ministros (Marco Aurélio e Rosa Weber) consideraram que não foi

INFORMATIVOS 2020 - 203


respeitada a aludida norma processual. Assim, votaram por conceder a ordem de habeas corpus para declarar a

nulidade processual a partir da audiência de instrução e julgamento. Os outros dois Ministros (Alexandre de

Moraes e Luiz Fux) entenderam que não deveria ser declarada a nulidade do processo porque a alteração

efetuada no art. 212 do CPP, ao permitir que as partes façam diretamente perguntas às testemunhas, não

retirou do juiz, como instrutor do processo, a possibilidade de inquiri-las diretamente. Diante do empate na

votação, prevaleceu a decisão mais favorável ao paciente. STF. 1ª Turma. HC 161658/SP, Rel. Min. Marco Aurélio,

julgado em 2/6/2020 (Info 980).

Obs: prevalece no STF e no STJ que a inobservância do procedimento previsto no art. 212 do CPP pode

gerar, quando muito, nulidade relativa, cujo reconhecimento depende da demonstração do prejuízo para

a parte que a suscita (STF. 1ª Turma. HC 177530 AgR, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 20/12/2019).

Sem autorização judicial ou fora das hipóteses legais, é ilícita a prova obtida mediante abertura de carta,

telegrama, pacote ou meio análogo. STF. Plenário. RE 1116949, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p// Acórdão Min.

Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 1041) (Info 993).

A quebra do sigilo de dados armazenados não obriga a autoridade judiciária a indicar previamente as

pessoas que estão sendo investigadas, até porque o objetivo precípuo dessa medida é justamente de

proporcionar a identificação do usuário do serviço ou do terminal utilizado. Logo, a ordem judicial para

quebra do sigilo dos registros, delimitada por parâmetros de pesquisa em determinada região e por

período de tempo, não se mostra medida desproporcional, porquanto, tendo como norte a apuração de

gravíssimos crimes, não impõe risco desmedido à privacidade e à intimidade dos usuários possivelmente

atingidos por tal diligência. STJ. 3ª Seção. RMS 61.302-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/08/2020

(Info 678).

Não há nulidade na busca e apreensão efetuada por policiais, sem prévio mandado judicial, em

apartamento que não revela sinais de habitação, nem mesmo de forma transitória ou eventual, se a

aparente ausência de residentes no local se alia à fundada suspeita de que o imóvel é utilizado para a prática de

crime permanente. STJ. 5ª Turma. HC 588.445-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/08/2020

(Info 678).

Não é necessário especificar a limitação temporal para os acessos requeridos pelo Ministério Público, por

se tratar de dados estáticos, constantes nas plataformas de dados. Apesar de o art. 22, III, da Lei nº

12.965/2014 (Marco Civil da Internet) determinar que a requisição judicial de registro deve conter o período ao

qual se referem, tal quesito só é necessário para o fluxo de comunicações, sendo inaplicável nos casos de dados

já armazenados que devem ser obtidos para fins de investigações criminais. STJ. 6ª Turma. HC 587.732-RJ, Rel.

Min. Nefi Cordeiro, julgado em 20/10/2020 (Info 682).

INFORMATIVOS 2020 - 204


Para que se reconheça a nulidade pela inobservância da regra do art. 400 do CPP (interrogatório como último

ato da instrução) é necessária a comprovação de prejuízo?

SIM. É o entendimento da 5ª Turma do STJ: No que tange à pretensão de reconhecimento da nulidade da

instrução processual, desde o interrogatório, por suposta violação do art. 400, do CPP, a 5ª Turma do STJ

consolidou o entendimento de que, para se reconhecer nulidade pela inversão da ordem de interrogatório, é

necessário:

• que o inconformismo da Defesa tenha sido manifestado tempestivamente, ou seja, na própria audiência em

que realizado o ato, sob pena de preclusão; e

• que seja comprovada a ocorrência de prejuízo que o réu teria sofrido com a citada inversão. STJ. 5ª Turma.

AgRg no AREsp 1573424/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 08/09/2020.

NÃO. Existe julgado da 6ª Turma do STJ nesse sentido: É desnecessária a comprovação de prejuízo para o

reconhecimento da nulidade decorrente da não observância do rito previsto no art. 400 do CPP, o qual

determina que o interrogatório do acusado seja o último ato a ser realizado. Embora, em regra, a decretação da

nulidade de determinado ato processual requeira a comprovação de prejuízo concreto para a parte - em razão

do princípio do pas de nullité sans grief -, o prejuízo à defesa é evidente e corolário da própria inobservância da

máxima efetividade das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa. STJ. 6ª Turma. REsp

1.808.389-AM, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/10/2020 (Info 683).

Obs: Segundo Márcio Cavalcante, prevalece a primeira corrente, havendo decisões da própria 6ª Turma do STJ

também exigindo a comprovação do prejuízo (STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1617950/MG, Rel. Min. Antonio

Saldanha Palheiro, julgado em 03/11/2020).

PROVA TESTEMUNHAL

A vítima contratou um advogado para representar seus interesses no processo criminal. Sucede que, logo no

início do processo, ela e o advogado se desentenderam e a vítima revogou expressamente os poderes que havia

conferido ao advogado, proibindo-o de atuar no caso. Além disso, requereu que ele devolvesse qualquer

documento que estivesse em sua posse e que fosse relacionado com o fato apurado. Ao saber disso, o réu pediu

a oitiva do advogado como testemunha no processo penal. Esse advogado não poderá ser ouvido como

testemunha. Para que o advogado possa prestar seu testemunho é indispensável que haja o

consentimento válido do interessado direto na manutenção do segredo (cliente). Mesmo que a parte

interessada faça isso, ou seja, mesmo que ela autorize que o profissional revele os fatos resguardados

pelo sigilo, ainda assim ele é quem irá decidir se irá dar ou não seu testemunho. No caso concreto, o

advogado que foi arrolado como testemunha teve seus poderes como patrono da interessada expressamente

revogados, vedando-se sua atuação no caso. Além disso, requereu-se que devolvesse qualquer documento

INFORMATIVOS 2020 - 205


relacionado ao fato que a ele tivesse sido entregue. Isso significa que a cliente não liberou o advogado do dever

de manter o segredo profissional sobre as informações e documentos de que teve conhecimento em razão da

atuação como defensor técnico. Portanto, o advogado não pode testemunhar sobre fatos de que tomou

conhecimento em razão de seu ofício, como para o exercício de sua atuação profissional a partir da narração

apresentada pelo cliente e eventuais documentos por ele entregues. STF. 2ª Turma. Rcl 37235/RR. Rel. Min.

Gilmar Mendes, julgado em 18/2/2020 (Info 967)

DA PRISÃO E DAS MEDIDAS CAUTELARES

MEDIDAS CAUTELARES

É inconstitucional a determinação de afastamento automático de servidor público indiciado em inquérito

policial instaurado para apuração de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores.

Com base nesse entendimento, o STF declarou inconstitucional o art. 17-D da Lei de Lavagem de Dinheiro

(Lei nº 9.613/98):

Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e

demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno. O

afastamento do servidor somente se justifica quando ficar demonstrado nos autos que existe risco caso ele

continue no desempenho de suas funções e que o afastamento é medida eficaz e proporcional para se tutelar a

investigação e a própria Administração Pública. Tais circunstâncias precisam ser apreciadas pelo Poder

Judiciário. STF. Plenário. ADI 4911/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado

em 20/11/2020 (Info 1000)

PRISÃO PREVENTIVA

A alegação de desproporcionalidade da prisão preventiva somente poderá ser aferível após a prolação de

sentença, não cabendo, durante o curso do processo, a antecipação da análise quanto a possibilidade de

cumprimento de pena em regime menos gravoso, caso seja prolatada sentença condenatória, sob pena

de exercício de adivinhação e futurologia, sem qualquer previsão legal.

Assim, não há que se falar em ofensa ao princípio da homogeneidade das medidas cautelares porque não cabe

ao STJ, em um exercício de futurologia, antecipar a provável colocação da paciente em regime aberto/semiaberto

ou a substituição da sua pena de prisão por restritiva de direitos.

STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 559.434/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 19/05/2020.

STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 539.502/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 19/05/2020.

INFORMATIVOS 2020 - 206


O fato de a mulher ser reincidente, por si só, não pode ser óbice à concessão da prisão domiciliar

No HC 143641/SP, a 2ª Turma do STF decidiu que, em regra, deve ser concedida prisão domiciliar para todas as

mulheres presas que sejam gestantes, puérperas, mães de crianças ou mães de pessoas com deficiência.

O fato de a mulher ser reincidente, por si só, não pode ser óbice à concessão da prisão domiciliar.

A lei é expressa sempre que a reincidência é circunstância apta a agravar a situação da pessoa envolvida na

persecução penal, e este não é o caso da concessão da prisão domiciliar prevista no art. 318 do Código de

Processo Penal.

STF. 2a Turma. Rcl 32579 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 01/09/2020.

A reforma legislativa operada pelo chamado “Pacote Anticrime” (Lei nº 13.964/2019) introduziu a revisão

periódica dos fundamentos da prisão preventiva, por meio da inclusão do parágrafo único ao art. 316 do CPP. A

redação atual prevê que o órgão emissor da decisão deverá revisar a necessidade de sua manutenção a cada

noventa dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar ilegal a prisão preventiva:

Art. 316 (...) Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a

necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena

de tornar a prisão ilegal.

Assim, a prisão preventiva é decretada sem prazo determinado. Contudo, o CPP agora prevê que o juízo

que decretou a prisão preventiva deverá, a cada 90 dias, proferir uma nova decisão analisando se ainda

está presente a necessidade da medida. Isso significa que a manutenção da prisão preventiva exige a

demonstração de fatos concretos e atuais que a justifiquem. A existência desse substrato empírico

mínimo, apto a lastrear a medida extrema, deverá ser regularmente apreciado por meio de decisão

fundamentada. A esse respeito, importante mencionar também o § 2º do art. 312 do CPP, inserido pelo Pacote

Anticrime: “A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e

existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada.” STF. 2ª

Turma. HC 179859 AgR/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/3/2020 (Info 968)

A inobservância do prazo nonagesimal do art. 316 do Código de Processo Penal não implica automática

revogação da prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado a reavaliar a legalidade e a

atualidade de seus fundamentos. STF. Plenário. SL 1395 MC Ref/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14 e

15/10/2020 (Info 995)

Tem direito à substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar — desde que observados os

requisitos do art. 318 do Código de Processo Penal e não praticados crimes mediante violência ou grave ameaça

ou contra os próprios filhos ou dependentes — os pais, caso sejam os únicos responsáveis pelos cuidados de

menor de 12 anos ou de pessoa com deficiência, bem como outras pessoas presas, que não sejam a mãe

INFORMATIVOS 2020 - 207


ou o pai, se forem imprescindíveis aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 anos ou com deficiência.

STF. 2ª Turma. HC 165704/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 20/10/2020 (Info 996)

O parágrafo único do art. 316 do CPP prevê o seguinte: Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o

órgão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão

fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal. A obrigação de revisar, a cada 90 (noventa) dias,

a necessidade de se manter a custódia cautelar (art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal) é

imposta apenas ao juiz ou tribunal que decretar a prisão preventiva (julgador que a decretou

inicialmente). A norma contida no parágrafo único do art. 316 do CPP não se aplica aos Tribunais de Justiça e

aos Tribunais Regionais Federais, quando em atuação como órgão revisor. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC

569.701/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/06/2020. STJ. 6ª Turma. HC 589.544-SC, Rel. Min. Laurita Vaz,

julgado em 08/09/2020 (Info 680).

A Recomendação 62/2020 do CNJ não é aplicável ao acusado que não está privado de liberdade no

sistema penal brasileiro. Caso concreto: a justiça brasileira decretou a prisão preventiva do réu, brasileiro que

mora regularmente nos EUA. O Governo norte-americano negou o pedido de extradição. A defesa desse réu

impetrou habeas corpus no Brasil pedindo a revogação da prisão decretada considerando que ele é idoso,

fumante e está com H1N1, de forma que pertence ao grupo de risco da Covid-19. O STJ indeferiu o pedido

considerando que o réu está no exterior há anos e não corre mais o risco de ser extraditado. Na Recomendação

62/2020, o CNJ afirma que os juízes e Tribunais deverão adotar medidas para prevenir a propagação da Covid-19

no âmbito do sistema de justiça penal, fazendo a revisão das prisões temporárias. Vale ressaltar, contudo, que

essa Recomendação não se aplica ao acusado porque ele não está inserido no sistema penal brasileiro. A adoção

de cautelas quanto à prisão por conta da pandemia da Covid-19 tem o objetivo de reduzir os riscos

epidemiológicos em unidades prisionais e não o de blindar pessoas que residem no exterior. STJ. 6ª Turma. AgRg

no HC 575.112-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 02/06/2020 (Info 673).

Depois da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), não é mais possível que o juiz, de ofício, converta a prisão em

flagrante em prisão preventiva (é indispensável requerimento). Não é possível a decretação “ex officio” de

prisão preventiva em qualquer situação (em juízo ou no curso de investigação penal), inclusive no contexto

de audiência de custódia, sem que haja, mesmo na hipótese da conversão a que se refere o art. 310, II, do

CPP, prévia, necessária e indispensável provocação do Ministério Público ou da autoridade policial. A Lei

nº 13.964/2019, ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art. 282, § 2º, e do art. 311, ambos do CPP,

vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva sem o prévio requerimento das partes ou

representação da autoridade policial. Logo, não é mais possível, com base no ordenamento jurídico vigente,

a atuação ‘ex officio’ do Juízo processante em tema de privação cautelar da liberdade. A interpretação do

art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz do art. 282, § 2º e do art. 311, significando que se tornou inviável,

INFORMATIVOS 2020 - 208


mesmo no contexto da audiência de custódia, a conversão, de ofício, da prisão em flagrante de qualquer pessoa

em prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito, anterior e formal provocação do

Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do querelante ou do assistente do MP. STJ. 5ª

Turma. HC 590039/GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/10/2020. STF. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de

Mello, julgado em 6/10/2020 (Info 994)

Em sentido contrário temos a posição minoritária da 6ª Turma do STJ, que deve ser superada em breve: mesmo

após as inovações trazidas pelo Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/2019), não há ilegalidade na conversão da prisão

em flagrante em preventiva, de ofício, pelo magistrado (STJ. 6ª Turma. HC 605.305-MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro,

Rel. Acd. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 06/10/2020).

PRISÃO DOMICILIAR

Qualquer prisão processual deve ser detraída da pena final imposta, não importa o local de seu

cumprimento - cadeia, domicílio ou hospital -, devendo, portanto, a decisão ser mantida por seus

próprios fundamentos.

Assim, mesmo o tempo em que o indivíduo ficou em prisão domiciliar também deve ser detraído do tempo total

de pena.

STJ. 6ª Turma. AgRg no AgRg nos EDcl no HC 442.538/PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 05/03/2020.

NÃO É POSSÍVEL a concessão de prisão domiciliar para condenada gestante ou que seja mãe ou

responsável por crianças ou pessoas com deficiência se já houver sentença condenatória transitada em

julgado e ela não preencher os requisitos do art. 117 da LEP. STF. 1ª Turma. HC 177164/PA, Rel. Min. Marco

Aurélio, julgado em 18/2/2020 (Info 967).

LIBERDADE PROVISÓRIA

Em razão da pandemia de covid-19, concede-se a ordem para a soltura de todos os presos a quem foi

deferida liberdade provisória condicionada ao pagamento de fiança e que ainda se encontram

submetidos à privação cautelar em razão do não pagamento do valor. Não se mostra proporcional, neste

período de pandemia, a manutenção dos réus na prisão, tão somente em razão do não pagamento da fiança,

visto que os casos - notoriamente de menor gravidade – não revelam a excepcionalidade imprescindível para o

decreto preventivo. STJ. 3ª Seção. HC 568.693-ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 14/10/2020 (Info

681)

TRIBUNAL DO JÚRI

INFORMATIVOS 2020 - 209


É possível a pronúncia do réu por feminicídio caso o crime tenha sido cometido contra transgênero

considerando que caberá ao jurados decidirem se essa situação se enquadra, ou não, na qualificadora em

tela.

No caso, havendo indicativo de prova e concatenada demonstração de possível ocorrência da qualificadora do

feminicídio, o debate acerca da sua efetiva aplicação para vítima trans é tarefa que incumbirá aos jurados na

vindoura Sessão de Julgamento do Tribunal do Júri.

STJ. 5ª Turma. HC 541.237/DF, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 15/12/2020.

A anulação de decisão do tribunal do júri, por ser manifestamente contrária à prova dos autos, não viola

a regra constitucional que assegura a soberania dos veredictos do júri (art. 5º, XXXVIII, c, da CF/88). Vale

ressaltar, ainda, que não há contrariedade à cláusula de que ninguém pode ser julgado mais de uma vez pelo

mesmo crime. Ainda que se forme um segundo Conselho de Sentença, o julgamento é um só, e termina

com o trânsito em julgado da decisão. STF. 1ª Turma. RHC 170559/MT, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o

ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/3/2020 (Info 969).

Na sessão plenária do Tribunal do Júri, na fase de sustentações orais, o Ministério Público falou durante 1h e

30min e, ao final de sua exposição, pediu a absolvição do réu. Em seguida, o advogado constituído fez

sustentação oral apenas concordando com o Ministério Público e pedindo igualmente a absolvição. A

manifestação da defesa durou apenas 3 minutos. Mesmo com a manifestação do MP pedindo a absolvição, os

jurados decidiram condenar o réu. O STJ e o STF afirmaram que não houve nulidade por ausência de defesa e

mantiveram a condenação. O réu foi acompanhado pela sua defesa na sessão de julgamento pelo Tribunal do

Júri, tendo reiterado o mandato conferido ao seu advogado na interposição da apelação. Assim, o próprio

paciente não se insurgiu contra a atuação de seu advogado, tanto assim que com ele permaneceu, inclusive para

fins de apelação criminal. Além disso, no caso, não houve ausência de defesa, de modo que não se pode falar

em nulidade absoluta. Se houve nulidade, esta teria sido apenas relativa, a qual depende da demonstração de

efetivo prejuízo, o que não ocorreu. Consolidou-se no âmbito dos Tribunais Superiores o entendimento de que

apenas a absoluta falta de defesa constitui nulidade absoluta da ação penal. Se a alegação é a de que a

defesa foi insuficiente, o julgamento só deverá ser anulado e ficar demonstrado o efetivo prejuízo. Isso porque a

defesa insuficiente é hipótese de nulidade relativa. Nesse sentido é a Súmula 523 do STF. Não se pode

classificar como insatisfatória a atuação do advogado, que exerceu a defesa de acordo com a estratégia

que considerou melhor no caso. STF. 2ª Turma. HC 164535 AgR/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em

17/3/2020 (Info 970).

O desaforamento é medida excepcional, cabível apenas quando comprovada por fatos objetivos e

concretos a parcialidade do Conselho de Sentença. A simples presunção de que os jurados poderiam ter

sido influenciados por ampla divulgação do caso pela mídia e a mera suspeita acerca da parcialidade dos

INFORMATIVOS 2020 - 210


jurados não justificam a adoção dessa medida excepcional. STJ. 5ª Turma. HC 492.964-MS, Rel. Min. Ribeiro

Dantas, julgado em 03/03/2020 (Info 668)

Cabe apelação com fundamento no art. 593, III, “d”, do CPP (decisão manifestamente contrária à prova dos

autos) se o júri absolver o réu?

STJ: SIM (posição pacífica).

STF: NÃO (posição majoritária).

A 3ª Seção do STJ firmou o entendimento de que a anulação da decisão absolutória do Conselho de Sentença

(ainda que por clemência), manifestamente contrária à prova dos autos, segundo o Tribunal de Justiça,

por ocasião do exame do recurso de apelação interposto pelo Ministério Público (art. 593, III, “d”, do CPP),

não viola a soberania dos veredictos. STJ. 5ª Turma. HC 560.668/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,

julgado em 18/08/2020.

A absolvição do réu, ante resposta a quesito genérico de absolvição previsto no art. 483, § 2º, do CPP, não

depende de elementos probatórios ou de teses veiculadas pela defesa. Isso porque vigora a livre convicção

dos jurados. Em razão da norma constitucional que consagra a soberania dos veredictos, a sentença

absolutória de Tribunal do Júri, fundada no quesito genérico de absolvição, não implica nulidade da

decisão a ensejar apelação da acusação. Os jurados podem absolver o réu com base na livre convicção e

independentemente das teses veiculadas, considerados elementos não jurídicos e extraprocessuais. STF. 1ª

Turma. HC 178777/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/9/2020 (Info 993).

Na reforma legislativa de 2008, alterou-se substancialmente o procedimento do júri, inclusive a sistemática de

quesitação aos jurados. Inseriu-se um quesito genérico e obrigatório, em que se pergunta ao julgador leigo: “O

jurado absolve o acusado?” (art. 483, III e §2º, CPP). Ou seja, o Júri pode absolver o réu sem qualquer

especificação e sem necessidade de motivação. Considerando o quesito genérico e a desnecessidade de

motivação na decisão dos jurados, configura-se a possibilidade de absolvição por clemência, ou seja, mesmo em

contrariedade manifesta à prova dos autos. Se ao responder o quesito genérico o jurado pode absolver o réu

sem especificar os motivos, e, assim, por qualquer fundamento, não há absolvição com tal embasamento que

possa ser considerada “manifestamente contrária à prova dos autos”. Limitação ao recurso da acusação com

base no art. 593, III, “d”, CPP, se a absolvição tiver como fundamento o quesito genérico (art. 483, III e §2º, CPP).

Inexistência de violação à paridade de armas. Presunção de inocência como orientação da estrutura do processo

penal. Inexistência de violação ao direito ao recurso (art. 8.2.h, CADH). Possibilidade de restrição do recurso

acusatório. STF. 2ª Turma. HC 185068, Rel. Celso de Mello, Relator p/ Acórdão Gilmar Mendes, julgado em

20/10/2020

INFORMATIVOS 2020 - 211


NULIDADES

A falta de abertura de prazo, após o encerramento da instrução, para manifestação das partes acerca do

interesse na feitura de diligências complementares constitui nulidade relativa, cujo reconhecimento pressupõe

que o inconformismo seja veiculado em momento oportuno, ou seja, quando da apresentação de alegações

finais.

STF. 1ª Turma. HC 147584/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/6/2020 (Info 980).

É POSSÍVEL que o réu permaneça algemado durante o julgamento no Tribunal do Júri caso existam nos

autos informações fornecidas pela polícia no sentido de que o acusado integra milícia, possui extensa

folha de antecedentes criminais e foi transferido para presídio federal de segurança máxima justamente

em virtude da sua alta periculosidade. Não se pode desconsiderar o que está nos autos do processo e aquilo

que foi informado pela polícia. A questão da periculosidade, ou não, do réu é assunto de polícia e não de

juiz. Se a polícia informa que o réu é perigoso, o juiz que, normalmente, entra em contato com o réu pela

primeira vez, tem de confiar na presunção de legitimidade da informação passada pela autoridade

policial. Fora dos casos de abuso patente, é preciso dar credibilidade àquele que tem o encargo de zelar pela

segurança pública, inclusive no âmbito do tribunal. Em casos assim, a decisão do juízo que mantém as algemas

não viola a súmula vinculante 11. STF. 1ª Turma. Rcl 32970 AgR/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em

17/12/2019 (Info 964).

A defesa do ex-Presidente Lula impetrou habeas corpus no STF pedindo o desentranhamento do “Termo de

Colaboração de Antônio Palocci Filho”, cuja juntada aos autos foi promovida de ofício, pelo então Juiz Federal

Sérgio Moro. O STF entendeu que essa juntada foi ilícita e determinou o seu desentranhamento. Os Ministros

apontaram três circunstâncias envolvendo essa conduta que revelariam a parcialidade do magistrado na

condução do processo: Em primeiro lugar, o termo de colaboração foi juntado quando a fase de instrução

processual havia sido encerrada, de forma que as declarações sequer estariam aptas a fundamentar a prolação

da sentença. Em segundo, aconteceu cerca de três meses após a decisão judicial que o homologara. Para os

Ministros, essa demora parece ter sido cuidadosamente planejada para gerar verdadeiro fato político na semana

que antecedia o primeiro turno das eleições presidenciais. Ato contínuo à juntada, foi determinado o imediato

levantamento do sigilo, com clara finalidade de que fosse dada publicidade às imputações dirigidas ao réu, sem

que as circunstâncias narradas no ajuste fossem relevantes para a ação penal em andamento. Em terceiro, o

fato de a juntada e o levantamento do sigilo terem ocorrido por iniciativa do próprio juiz, isto é, sem qualquer

provocação do órgão acusatório. A determinação da juntada desse termo de delação, nesses moldes,

INFORMATIVOS 2020 - 212


consubstancia inequívoca quebra da imparcialidade. STF. 2ª Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson

Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).

Paulo foi condenado pelo então Juiz Federal Sérgio Moro por crimes contra o sistema financeiro nacional, no

âmbito da operação que ficou conhecida como “Caso Banestado”. A defesa pediu que o STF reconhecesse que o

referido magistrado quebrou a imparcialidade e, portanto, a sentença seria nula. Houve um empate na 2ª Turma

do STF e, diante disso, prevaleceu a posição mais favorável ao réu. Assim, foi declarada a nulidade da sentença

condenatória proferida nos autos do processo penal, por violação à imparcialidade do julgador. O simples fato

de o juiz ter feito a homologação dos acordos de colaboração ou mesmo ter realizado as oitivas dos

colaboradores não tem o condão de configurar, por si só, a quebra de sua imparcialidade para o

julgamento do réu ao qual imputados ilícitos no âmbito dos respectivos acordos. Todavia, as circunstâncias

particulares do caso concreto demonstram que o juiz se investiu na função persecutória ainda na fase

pré-processual, violando o sistema acusatório. Ao se analisar as atas de depoimentos, percebe-se uma

proeminência (um destaque) para a realização de perguntas feitas pelo juiz ao interrogado. O papel do

magistrado era apenas o de fazer o controle da legalidade e voluntariedade do acordo de colaboração

premiada. No entanto, o que se percebe pelas perguntas realizadas é que o juiz ultrapassou a mera realização

dessa função e atuou diretamente reforçando a acusação. Logo, não houve mera supervisão dos atos de

produção de prova, mas o direcionamento e a contribuição do magistrado para o estabelecimento e para o

fortalecimento da tese acusatória. Além disso, ao final da instrução, depois das alegações finais, o magistrado

ordenou a juntada de documentos diretamente relacionados com os fatos criminosos imputados aos réus, sem

pedido do Ministério Público ou da defesa. Depois, ao sentenciar, ele utilizou expressamente tais elementos

para fundamentar a condenação. Mesmo que se pudesse invocar, em tese, a possibilidade jurídica da produção

de prova de ofício pelo julgador com base no art. 156 do CPP, na situação dos autos, sequer é possível falar

verdadeiramente em produção probatória. Os documentos juntados não poderiam ter sido utilizados para a

formação do juízo de autoria e materialidade das imputações, uma vez encerrada a instrução processual. STF. 2ª

Turma. RHC 144615 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/8/2020

(Info 988).

RECURSOS

Ofende o enunciado do non reformatio in pejus indireta o aumento da pena através de decisão em

recurso especial interposto pelo Ministério Público contra rejulgamento de apelação que não alterou

reprimenda do acórdão anterior, que havia transitado em julgado para a acusação e que veio a ser

anulado por iniciativa exclusiva da defesa. Exemplo: sentença condenou o réu a 10 anos de reclusão. Defesa

INFORMATIVOS 2020 - 213


apelou. Tribunal de Justiça reduziu a pena para 9 anos. Essa decisão transitou em julgado para ambas as partes.

Defesa impetrou habeas corpus junto ao STJ, que concedeu a ordem para anular o acórdão do TJ por ausência

de prévia intimação. TJ rejulgou a apelação e manteve a condenação, fixando a pena em 9 anos (como na

primeira vez). Contra este segundo acórdão o Ministério Público interpôs recurso especial. STJ deu provimento

ao Resp para aumentar a pena do réu para 10 anos (como na sentença). Essa decisão do STJ violou o princípio da

non reformatio in pejus indireta considerando que colocou o sentenciado em situação pior do que aquela que

ele tinha antes do habeas corpus. Desse modo, deve ser afastado o acréscimo da pena (10 anos),

restabelecendo-se o segundo acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça no julgamento do recurso de apelação

(9 anos). STJ. 3ª Seção. RvCr 4.853-SC, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Desembargador Convocado do

TJ/PE), julgado em 27/11/2019 (Info 663).

Não é admissível a impetração de mandado de segurança contra ato jurisdicional que defere o

desbloqueio de bens e valores. Isso porque se trata de decisão definitiva que, apesar de não julgar o mérito da

ação, coloca fim ao procedimento incidente. O procedimento adequado para a restituição de bens é o incidente

legalmente previsto para este fim. O instrumento processual para impugnar a decisão que resolve esse incidente

é a apelação, sendo incabível a utilização de mandado de segurança como sucedâneo do recurso legalmente

previsto. STJ. 6ª Turma. REsp 1.787.449-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 10/03/2020 (Info 667)

HABEAS CORPUS

A alteração da jurisprudência não autoriza o ajuizamento de revisão criminal.

STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 609730/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/11/2020.

Não cabe habeas corpus de ofício no bojo de embargos de divergência.

STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 1697156/PR, Rel. Min. Mauro Campbell, julgado em 07/04/2020.

STJ. 3 Seção. AgRg nos EAREsp 693.298/SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, julgado em 28/10/2020.

A concessão de habeas corpus de ofício, no bojo de embargos de divergência, encontra óbice tanto no fato de

que o Relator não tem autoridade para conceder a ordem por meio de decisão monocrática, desconstituindo, na

prática, o resultado de acórdão proferido por outra Turma julgadora, como, tampouco a Seção detém

competência constitucional para conceder Habeas Corpus contra acórdão de Turma do próprio Tribunal.

Não cabe habeas corpus contra decisão de Ministro do STF que decreta a prisão preventiva de

investigado ou réu. Aplica-se, aqui, por analogia, o entendimento exposto no enunciado 606 da Súmula do STF.

INFORMATIVOS 2020 - 214


Súmula 606-STF: Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno de decisão de turma, ou do plenário,

proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso. STF. Plenário. HC 162285 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de

Moraes, julgado em 19/12/2019 (Info 964)

A concessão do benefício da transação penal impede a impetração de habeas corpus em que se busca o trancamento

da ação penal? Com a celebração da transação penal, o habeas corpus que estava pendente fica prejudicado ou o TJ

deverá julgá-lo mesmo assim? •

• STJ: SIM. Fica prejudicado. A concessão do benefício da transação penal impede a impetração de habeas

corpus em que se busca o trancamento da ação penal. STJ. 6ª Turma. HC 495.148-DF, Rel. Min. Antonio Saldanha

Palheiro, julgado em 24/09/2019 (Info 657).

• STF: NÃO. Não impede e o TJ deverá julgar o mérito do habeas corpus. A realização de acordo de transação

penal não enseja a perda de objeto de habeas corpus anteriormente impetrado.

A aceitação do acordo de transação penal não impede o exame de habeas corpus para questionar a legitimidade

da persecução penal. Embora o sistema negocial possa trazer aprimoramentos positivos em casos de delitos de

menor gravidade, a barganha no processo penal pode levar a riscos consideráveis aos direitos fundamentais do

acusado. Assim, o controle judicial é fundamental para a proteção efetiva dos direitos fundamentais do

imputado e para evitar possíveis abusos que comprometam a decisão voluntária de aceitar a transação. Não há

qualquer disposição em lei que imponha a desistência de recursos ou ações em andamento ou determine a

renúncia ao direito de acesso à Justiça. STF. 2ª Turma. HC 176785/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em

17/12/2019 (Info 964).

O habeas corpus, quando impetrado de forma concomitante com o recurso cabível contra o ato impugnado,

será admissível apenas se:

a) for destinado à tutela direta da liberdade de locomoção ou

b) se traduzir pedido diverso do objeto do recurso próprio e que reflita mediatamente na liberdade do

paciente.

Nas demais hipóteses, o habeas corpus não deve ser admitido e o exame das questões idênticas deve ser

reservado ao recurso previsto para a hipótese, ainda que a matéria discutida resvale, por via transversa, na

liberdade individual. STJ. 3ª Seção. HC 482.549-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 11/03/2020 (Info

669).

O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de natureza criminal diversas da

prisão. Isso porque, se descumprida a “medida alternativa”, é possível o estabelecimento da custódia,

alcançando-se o direito de ir e vir. STF. 1ª Turma. HC 170735/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.

Alexandre de Moraes, julgado em 30/6/2020 (Info 984).

INFORMATIVOS 2020 - 215


Quando a liberdade de alguém estiver direta ou indiretamente ameaçada, cabe habeas corpus ainda que para

solucionar questões de natureza processual. STF. 2ª Turma. HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin,

red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).

Não cabe pedido de habeas corpus originário para o Tribunal Pleno contra ato de Ministro ou outro órgão

fracionário da Corte. Ex: não cabe habeas corpus contra decisão de Ministro do STF que decreta a prisão

preventiva de investigado ou réu. Aplica-se, aqui, por analogia, o entendimento exposto no enunciado 606 da

Súmula do STF. Súmula 606-STF: Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno de decisão de turma,

ou do plenário, proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso. STF. Plenário. HC 162285 AgR/DF, Rel. Min.

Alexandre de Moraes, julgado em 19/12/2019 (Info 964) STF. Plenário. HC 170263, Rel. Edson Fachin, julgado em

22/06/2020 (Info 985 – clipping)

JUIZADOS ESPECIAIS

Os Juizados Especiais Criminais são dotados de competência relativa para julgamento das infrações penais

de menor potencial ofensivo, razão pela qual se permite que essas infrações sejam julgadas por outro

juízo com vis atractiva para o crime de maior gravidade, pela conexão ou continência, observados, quanto

àqueles, os institutos despenalizadores, quando cabíveis. STF. Plenário. ADI 5264/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia,

julgado em 4/12/2020 (Info 1001)

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

A suspensão será obrigatoriamente revogada se, no curso do prazo o beneficiário vier a ser processado por

outro crime (art. 89, § 3º da Lei nº 9.099/95). Trata-se de causa de revogação obrigatória. Por outro lado, a

suspensão poderá ser revogada pelo juiz se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por

contravenção (art. 89, § 4º). Trata-se de causa de revogação facultativa. O processamento do réu pela prática

da conduta descrita no art. 28 da Lei de Drogas no curso do período de prova deve ser considerado como

causa de revogação FACULTATIVA da suspensão condicional do processo. A contravenção penal tem efeitos

primários mais deletérios que o crime do art. 28 da Lei de Drogas. Assim, mostra-se desproporcional que o

mero processamento do réu pela prática do crime previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006 torne

obrigatória a revogação da suspensão condicional do processo, enquanto o processamento por

contravenção penal ocasione a revogação facultativa. STJ. 5ª Turma. REsp 1.795.962-SP, Rel. Min. Ribeiro

Dantas, julgado em 10/03/2020 (Info 668).

INFORMATIVOS 2020 - 216


TEMAS DIVERSOS

COLABORAÇÃO PREMIADA

O delatado possui o direito de ter acesso às declarações prestadas pelos colaboradores que o incriminem,

desde que já documentadas e que não se refiram à diligência em andamento que possa ser prejudicada.

STF. 2ª Turma. Rcl 30742 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

STF reconheceu, em habeas corpus impetrado por um dos delatados, a nulidade de acordo de

colaboração premiada em virtude de suspeita de que teria havido irregularidade na atuação do

Ministério Público nas tratativas feitas com o delator. A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte:

Luiz, auditor da receita estadual, estava sendo investigado por supostamente estar recebendo vantagem

indevida (“propina”) para reduzir tributos. Ele não sabia que estava sendo investigado. Determinado dia, Luiz foi

preso em flagrante por suposto crime sexual (estupro de vulnerável). Depois de preso, o Ministério Público

ofereceu a Luiz e sua irmã a possibilidade de fazer um acordo de colaboração premiada. Eles aceitaram. No

acordo, Luiz confessou crimes e delatou infrações penais que teriam sido praticadas por outros colegas

auditores da receita estadual. Com base nessas declarações prestadas por Luiz e sua irmã, foi deflagrada a

“Operação Publicano IV”, no final de 2015, tendo sido decretada a prisão preventiva de diversos auditores da

receita estadual. Em maio de 2016, o Ministério Público constatou que Luiz descumpriu os termos do acordo de

colaboração premiada. Isso porque, segundo o Parquet, ele teria mentido e omitido fatos e cometido novos

crimes após a celebração do acordo. Assim, o acordo foi rescindido. Em fevereiro de 2017, foi realizado o

interrogatório judicial de Luiz. Ele declarou que a rescisão do acordo teria sido arbitrária. Acusou os Promotores

“de manipular suas declarações e ocultar todos os vídeos dos depoimentos que havia prestado

extrajudicialmente”. Posteriormente, o Ministério Público firmou com Luiz novo acordo de delação premiada,

sob a condição de que ele se retratasse das mencionadas acusações e ratificasse as declarações que fizeram

parte do acordo rescindido. O segundo acordo foi homologado pelo juiz sob o argumento de que seria apenas

um “termo aditivo” do primeiro. A defesa de Gilberto, um dos auditores delatados por Luiz, impetrou habeas

corpus alegando, dentre outros argumentos: a) a impossibilidade de se aditar acordo de colaboração premiada

rescindido; b) a relevância de o delator Luiz, na audiência realizada em fevereiro de 2017, ter exposto supostas

ilegalidades que teriam sido cometidas durante o primeiro acordo de colaboração premiada. A 2ª Turma do STF,

por empate na votação, concedeu a ordem de habeas corpus para declarar a nulidade da utilização, como meio

de prova, do segundo acordo de colaboração premiada firmado. O colegiado reconheceu a ilicitude das

declarações incriminatórias prestadas por Luiz e sua irmã. O relator ressaltou que o estabelecimento de balizas

legais para o acordo é uma opção do nosso sistema jurídico, para garantir a isonomia e evitar a corrupção dos

INFORMATIVOS 2020 - 217


imputados, mediante incentivos desmesurados à colaboração, e dos próprios agentes públicos, aos quais se

daria um poder sem limite sobre a vida e a liberdade dos imputados.

É preciso respeitar a legalidade, visto que as previsões normativas caracterizam limitação ao poder negocial no

processo penal. No caso de ilegalidade manifesta (evidente) em acordo de colaboração premiada, o Poder

Judiciário deve agir para a efetiva proteção de direitos fundamentais. O acordo de colaboração premiada é meio

de obtenção de prova. Portanto, trata-se de instituto de natureza semelhante, por exemplo, à interceptação

telefônica. O STF reconheceu, várias vezes, a ilegalidade de atos relacionados a interceptações telefônicas. Logo,

não há motivo para afastar essa possibilidade em ilegalidades que permeiam acordos de colaboração premiada.

STF. 2ª Turma. HC 142205, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 25/08/2020 (Info 988).

Os elementos de informação trazidos pelo colaborador a respeito de crimes que não sejam conexos ao

objeto da investigação primária devem receber o mesmo tratamento conferido à descoberta fortuita ou

ao encontro fortuito de provas em outros meios de obtenção de prova, como a busca e apreensão e a

interceptação telefônica. A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, NÃO CONSTITUI CRITÉRIO

DE DETERMINAÇÃO, DE MODIFICAÇÃO OU DE CONCENTRAÇÃO DA COMPETÊNCIA. Assim, ainda que o agente

colaborador aponte a existência de outros crimes e que o juízo perante o qual foram prestados seus

depoimentos ou apresentadas as provas que corroborem suas declarações ordene a realização de diligências

(interceptação telefônica, busca e apreensão etc.) para sua apuração, esses fatos, por si sós, não firmam sua

prevenção. STF. 2ª Turma. HC 181978 AgR/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/11/2020 (Info 999).

Realizado o acordo de colaboração premiada, ele será remetido ao juiz para análise e eventual homologação,

nos termos do art. 4º, § 7º, da Lei nº 12.850/2013. O magistrado poderá recusar a homologação da proposta

que não atender aos requisitos legais e esse ato judicial tem conteúdo decisório, pois impede o meio de

obtenção da prova. Entretanto, não existe previsão normativa sobre o recurso cabível para a sua

impugnação. Diante da lacuna na lei, o STJ entende que a apelação criminal é o recurso apropriado para

confrontar a decisão que recusar a homologação da proposta de acordo de colaboração premiada. De

toda forma, como existe dúvida objetiva quanto ao recurso cabível, não constitui erro grosseiro caso a parte

ingresse com correição parcial contra a decisão do magistrado. Assim, mesmo sendo caso de apelação, se a

parte ingressou com correição parcial no prazo de 5 dias, é possível conhecer da irresignação como apelação,

aplicando-se o princípio da fungibilidade recursal (art. 579 do CPP). STJ. 6ª Turma. REsp 1.834.215-RS, Rel. Min.

Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/10/2020 (Info 683)

A SV 14 prevê: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova

que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia

judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

INFORMATIVOS 2020 - 218


Terceiros que tenham sido mencionados pelos colaboradores podem obter acesso integral aos termos dos

colaboradores para viabilizar, de forma plena e adequada, sua defesa, invocando a SV 14? SIM, desde que

estejam presentes os requisitos positivo e negativo.

a) Requisito positivo: o acesso deve abranger somente documentos em que o requerente é de fato

mencionado como tendo praticado crime (o ato de colaboração deve apontar a responsabilidade criminal do

requerente); e

b) Requisito negativo: o ato de colaboração não se deve referir a diligência em andamento (devem ser

excluídos os atos investigativos e diligências que ainda se encontram em andamento e não foram

consubstanciados e relatados no inquérito ou na ação penal em tramitação).

STF. 2ª Turma. Pet 7494 AgR/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em

19/5/2020 (Info 978).

INGRESSO EM DOMICÍLIO SEM AUTORIZAÇÃO

A existência de denúncia anônima da prática de tráfico de drogas somada à fuga do acusado ao avistar a

polícia, por si sós, não configuram fundadas razões a autorizar o ingresso policial no domicílio do acusado

sem o seu consentimento ou sem determinação judicial. STJ. 5ª Turma. RHC 89.853-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas,

julgado em 18/02/2020 (Info 666). STJ. 6ª Turma. RHC 83.501-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 06/03/2018

(Info 623).

SUSPENSÃO DO PROCESSO

Não há, no momento, decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU impedimento o prosseguimento

das ações penais que tramitam no Brasil contra o ex-Presidente Lula. A defesa do ex-Presidente Lula

formulou reclamação ao Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas alegando que o

processo penal que tramita contra ele no Brasil teria violado disposições do Pacto Internacional de Direitos Civis

e Políticos. Ainda não há decisão final de mérito do Comitê. A defesa impetrou habeas corpus no STF pedindo

que a ação penal proposta contra ele fique sobrestada até que haja um pronunciamento final do Comitê da

ONU. A 2ª Turma do STF, contudo, indeferiu o pedido de suspensão do julgamento da ação penal até

pronunciamento final do Comitê de Direitos Humanos da ONU. Segundo explicou o STF, a decisão do Comitê

negou a concessão de “medidas provisionais” em favor de Lula. Isso significa que o referido órgão não

determinou a suspensão de ações penais instauradas em desfavor do paciente. O comitê, em princípio, não

reconheceu a prática de ato imputável ao Estado brasileiro que pudesse vulnerar a ordem internacional. O

Ministro Ricardo Lewandowski afirmou que a deliberação final de mérito do Comitê da ONU, a depender do

resultado proclamado, poderá impedir, frustrar ou anular o os processos criminais que tramitam contra Lula. No

INFORMATIVOS 2020 - 219


entanto, por ora, não há uma decisão impedindo o prosseguimento das ações penais. STF. 2ª Turma. HC 163943

AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/8/2020 (Info 985).

Em caso de inatividade processual decorrente de citação por edital, ressalvados os crimes previstos na

Constituição Federal como imprescritíveis, é constitucional limitar o período de suspensão do prazo

prescricional ao tempo de prescrição da pena máxima em abstrato cominada ao crime, a despeito de o

processo permanecer suspenso.

Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o

processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas

consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312. STF.

Plenário. STF. Plenário. RE 600851, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 04/12/2020 (Repercussão Geral – Tema

438) (Info 1001).

No mesmo sentido:

Súmula 415-STJ: O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo da pena cominada.

FIXAÇÃO DE VALOR MÍNIMO

O réu que praticou corrupção passiva pode ser condenado, no âmbito do próprio processo penal, a pagar

danos morais coletivos. O ordenamento jurídico tutela, no âmbito da responsabilidade, o dano moral não

apenas na esfera individual como também na coletiva, conforme previsto no inciso X do art. 5º da Constituição

Federal e no art. 186 do Código Civil. Destaque-se ainda a previsão do inciso VIII do art. 1º da Lei nº 7.347/85 (Lei

de Ação Civil Pública). STF. 2ª Turma. AP 1002/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 9/6/2020 (Info 981).

INDULTO

O descumprimento das condições do livramento condicional não pode servir para obstaculizar a

concessão do indulto. Para a análise do pedido de indulto ou comutação de penas, o magistrado deve

restringir-se ao exame do preenchimento dos requisitos previstos no decreto presidencial, uma vez que os

pressupostos para a concessão da benesse são da competência privativa do Presidente da República. Dessa

forma, qualquer outra exigência caracteriza constrangimento ilegal. O Decreto nº 7.873/2012 prevê que apenas

falta disciplinar de natureza grave prevista na Lei de Execução Penal, cometida nos 12 meses anteriores à data

de publicação do decreto, pode obstar a concessão do indulto. O descumprimento das condições do

livramento condicional não encontra previsão no art. 50 da Lei de Execuções Penais, o qual elenca de

forma taxativa quais são as faltas graves. Assim, eventual descumprimento de condições impostas não

pode ser invocado a título de infração disciplinar grave a fim de impedir a concessão do indulto. STJ. 5ª

Turma. AgRg no HC 537.982-DF, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 13/04/2020 (Info 670).

INFORMATIVOS 2020 - 220


ASSISTENTE DE DEFESA

A Ordem dos Advogados do Brasil não tem legitimidade para atuar como assistente de defesa de advogado

réu em ação penal. Isso porque, no processo penal, a assistência é apenas da acusação, não existindo a figura

do assistente de defesa. STJ. 5ª Turma.RMS 63.393-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em

23/06/2020 (Info 675). STJ. 6ª Turma. REsp 1815460/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 23/06/2020.

INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL

O art. 149 do CPP, ao exigir que o acusado seja submetido a exame médico-legal, não contempla hipótese de

prova legal ou tarifada. A despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais processuais

penais que regem a matéria, deve-se concluir que o reconhecimento da inimputabilidade ou

semiimputabilidade do réu (art. 26, caput e parágrafo único do CP) depende da prévia instauração de

incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto. Vale ressaltar, por fim,

que o magistrado poderá discordar das conclusões do laudo, desde que o faça por meio de decisão

devidamente fundamentada. STJ. 6ª Turma. REsp 1.802.845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em

23/06/2020 (Info 675)

MULTA POR ABANDONO DO PROCESSO (ART. 265 DO CPP)

É constitucional a multa imposta ao defensor por abandono do processo, prevista no art. 265 do CPP: Art.

265. O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso, comunicado previamente

o juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções

cabíveis. A previsão da multa afigura-se compatível com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.

A multa não se mostra inadequada nem desnecessária. Ao contrário, mostra-se razoável como meio prévio para

evitar o comportamento prejudicial à administração da justiça e ao direito de defesa do réu, tendo em vista a

imprescindibilidade da atuação do profissional da advocacia para o regular andamento do processo penal. A

multa do art. 265 do CPP não ofende o contraditório, a ampla defesa, o devido processo legal ou a

presunção de não culpabilidade. Não há necessidade de instauração de processo autônomo e de

manifestação prévia do defensor, no entanto, é possível que ele, posteriormente, se justifique por meio

de pedido de reconsideração. Outra alternativa é a impetração de mandado de segurança. STF. Plenário. ADI

4398, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 05/08/2020 (Info 993)..

INFORMATIVOS 2020 - 221


IMPEDIMENTO / SUSPEIÇÃO

Não há impedimento ou suspeição de integrantes de Colegiado do STJ que apreciaram recurso especial e,

posteriormente, venham participar do julgamento de outro apelo raro oriundo de revisão criminal

ajuizada na origem. STJ. 3ª Seção. AgRg na ExSusp 209-DF, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em

12/08/2020 (Info 678).

Sobre o tema:

A regra do art. 252, inciso III, do Código de Processo Penal não admite interpretação ampliativa, razão pela qual

não há impedimento do Magistrado que atuou anteriormente no feito, porém, na mesma instância (STJ. 6ª

Turma. AgRg no HC 457.696/RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 06/08/2019)

ASTREINTES

É possível a fixação de astreintes em desfavor de terceiros, não participantes do processo, pela demora

ou não cumprimento de ordem emanada do Juízo Criminal.

As normas do processo civil aplicam-se de forma subsidiária ao processo penal (art. 3º do CPP).

O poder geral de cautela do processo civil também pode ser aplicado, em regra, ao processo penal. O emprego

de cautelares inominadas só é proibido no processo penal se atingir a liberdade de ir e vir do indivíduo.

Diante da finalidade da multa cominatória, que é conferir efetividade à decisão judicial, é possível sua aplicação

em demandas penais.

Assim, o terceiro pode perfeitamente figurar como destinatário da multa.

Vale ressaltar que essa multa não se confunde com a multa por litigância de má-fé. A multa por litigância de

má-fé não é admitida no processo penal.

STJ. 3ª Seção. REsp 1568445-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em

24/06/2020 (Info 677).

É possível ao juízo criminal efetivar o bloqueio via Bacen-Jud ou a inscrição em dívida ativa dos valores

arbitrados a título de astreintes.

Por derivar do poder geral de cautela, cabe ao magistrado, diante do caso concreto, avaliar qual a melhor

medida coativa ao cumprimento da determinação judicial, não havendo impedimento ao emprego do sistema

Bacen-Jud.

STJ. 3ª Seção. REsp 1568445-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em

24/06/2020 (Info 677).

INFORMATIVOS 2020 - 222


INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

O prazo de 15 dias das interceptações telefônicas deve ser contado a partir da efetiva implementação da

medida, e não da respectiva decisão.

STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 114.973/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020.

Descobertos novos crimes durante a interceptação, a autoridade deve apurá-los, ainda que sejam

punidos com detenção.

Se a autoridade policial, em decorrência de interceptações telefônicas legalmente autorizadas, tem notícia do

cometimento de novos ilícitos por parte daqueles cujas conversas foram monitoradas ou mesmo de terceiros, é

sua obrigação e dever funcional apurá-los, ainda que não possuam liame algum com os delitos cuja suspeita

originariamente ensejou a quebra do sigilo telefônico.

Tal entendimento é aplicável ainda que as infrações descobertas fortuitamente sejam punidas com detenção,

pois o que a Lei nº 9.296/96 veda é o deferimento da quebra do sigilo telefônico para apurar delito que não seja

apenado com reclusão, não proibindo, todavia, que o referido meio de prova seja utilizado quando há, durante a

implementação da medida, a descoberta fortuita de eventuais ilícitos que não atendem a tal requisito.

No caso dos autos, as interceptações telefônicas foram inicialmente autorizadas para apurar os crimes de

corrupção ativa e passiva e organização criminosa, sendo que, no curso da medida, logrou-se descobrir que os

investigados também eram responsáveis por fraudes à licitações em diversos Municípios, não havendo que se

falar, assim, em nulidade das provas obtidas com a quebra de sigilo telefônico.

STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 114973/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020.

AUSÊNCIA A ATO PROCESSUAL

A ausência injustificada do advogado ou defensor público a apenas um ato processual pode configurar

abandono do processo (art. 265 do CPP: multa processual)?

Há divergência:

- 5ª Turma: SIM.

Caracteriza aplicação do art. 265 do CPP o abandono processual por não atuar em ato específico.

STJ. 5ª Turma. AgRg no RMS 64.313/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 06/10/2020.

STJ. 5ª Turma. AgRg no RMS 55.414/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/06/2019.

- 6ª Turma: NÃO.

Não é caso de aplicação do art. 265 do CPP a ausência injustificada do advogado ou defensor público a apenas

um ato processual específico, se permanecido no processo e atuado nos atos subsequentes.

INFORMATIVOS 2020 - 223


STJ. 6ª Turma. RMS 64.846/SP, Rel. Min. Olindo Menezes (desembargador convocado do TRF 1ª Região), julgado

em 22/06/2021.

EXECUÇÃO PENAL

EXECUÇÃO PROVISÓRIA DA PENA

Juiz condenou o réu e negou a ele o direito de recorrer em liberdade por estarem presentes os requisitos da

prisão preventiva. Em apelação, o Tribunal de Justiça manteve a condenação. Contra esse acórdão, o réu

interpôs, simultaneamente, recurso especial e extraordinário. A decisão do TJ foi proferida na época em que o

entendimento do STF era no sentido de ser cabível a execução provisória da pena. Diante disso, o TJ, logo depois

de receber os recursos especial e extraordinário, determinou que o condenado iniciasse imediatamente o

cumprimento da pena.

Ocorre que logo depois, o STF alterou a sua posição e passou a proibir a execução provisória da pena (ADC

43/DF, julgada em 7/11/2019). A defesa do réu impetrou habeas corpus pedindo a liberdade imediata do

condenado. A 1ª Turma do STF afirmou o seguinte: realmente, atualmente, não cabe execução provisória da

pena. No entanto, no caso concreto, o juiz de 1ª instância decretou a prisão preventiva do acusado e, depois,

vedou-lhe o direito de recorrer em liberdade. Além disso, o Tribunal de Justiça, apesar de ordenar a execução

provisória, repetiu a necessidade de garantia da ordem pública. Logo, a manutenção da prisão não foi apenas

por conta da execução provisória da pena. Desse modo, não se pode dizer que a decisão do Tribunal de Justiça

tenha sido teratológica, flagrantemente ilegal, abusiva ou manifestamente contrária à jurisprudência do STF,

situações nas quais o STF poderia conceder de ofício o habeas corpus. STF. 1ª Turma. HC 176723/MG, rel. orig.

Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/12/2019 (Info 964)

Tribunal do Júri condenou o réu. Juiz-Presidente concedeu a ele o direito de recorrer em liberdade. Em apelação,

o Tribunal de Justiça manteve a condenação. Contra esse acórdão, o réu interpôs, simultaneamente, recurso

especial e extraordinário. A decisão do TJ foi proferida na época em que o entendimento do STF era no sentido

de ser cabível a execução provisória da pena. Diante disso, o TJ, logo depois de receber os recursos especial e

extraordinário, determinou que o condenado iniciasse imediatamente o cumprimento da pena. Ocorre que logo

depois, o STF alterou a sua posição e passou a proibir a execução provisória da pena (ADC 43/DF, julgada em

7/11/2019). A defesa do réu impetrou habeas corpus no STJ pedindo a liberdade imediata do condenado. O

Ministro Relator do STJ, monocraticamente, negou o pedido de liminar. A defesa impetrou, então habeas corpus

para o STF contra essa decisão do Ministro do STJ. Cabe habeas corpus neste caso? Não.

INFORMATIVOS 2020 - 224


Em regra, não cabe habeas corpus para o STF contra decisão monocrática do Ministro do STJ. Aplica-se o

raciocínio da súmula 691 do STF.

Exceções: a regra acima exposta pode ser afastada em casos excepcionais, quando a decisão atacada se

mostrar teratológica, flagrantemente ilegal, abusiva ou manifestamente contrária à jurisprudência do

STF, situações nas quais o STF poderia conceder de ofício o habeas corpus.

No caso concreto, o STF entendeu que havia alguma situação excepcional que poderia justificar a concessão do

habeas corpus de ofício? Não. A 1ª Turma do STF afirmou o seguinte: realmente, atualmente, não cabe execução

provisória da pena. Isso foi decidido na ADC 43/DF, julgada em 7/11/2019). No entanto, o caso concreto envolve

uma condenação pelo Tribunal do Júri. Existem alguns Ministros do STF que entendem que seria possível a

execução provisória da pena nas condenações do Tribunal do Júri. Isso porque, em razão da soberania dos

vereditos, o Tribunal não pode reexaminar os fatos decididos pelos jurados. A discussão sobre a possibilidade ou

não de execução provisória das condenações do Tribunal do Júri será definida pelo STF no Recurso

Extraordinário 1235340, cujo relator é o Ministro Luís Roberto Barroso e que está previsto para ser julgado ainda

no ano de 2020. Logo, como existe essa possibilidade de o STF adotar a execução provisória nas condenações

envolvendo o Júri, não se pode dizer que a decisão do Tribunal de Justiça tenha sido teratológica, flagrantemente

ilegal, abusiva ou manifestamente contrária à jurisprudência do STF, situações nas quais o STF poderia conceder

de ofício o habeas corpus. STF. 1ª Turma. HC 175808/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre

de Moraes, julgado em 17/12/2019 (Info 964).

FALTA GRAVE

A posse de drogas no interior de estabelecimentos prisionais, ainda que para uso próprio, configura falta

disciplinar de natureza grave, nos moldes do art. 52 da Lei de Execução Penal.

STJ. 5ª Turma. HC 590.178/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 18/08/2020

Há pratica de falta grave se apurado por meio de processo administrativo disciplinar que o apenado que tentou

empreender fuga do estabelecimento prisional, com a comprovação de troca de cela (por conta própria) e ajuda

a serrar a grade de suporte da porta da cela, configurando a falta grave nos termos dos arts. 50, II, da Lei de

Execuções Penais, que somente não se consumou pela intervenção dos agentes penitenciários.

STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 593.104, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 06/10/2020

O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato definido como crime doloso no curso da

execução penal dispensa o trânsito em julgado da condenação criminal no juízo do conhecimento, desde

que a apuração do ilícito disciplinar ocorra com observância do devido processo legal, do contraditório e

INFORMATIVOS 2020 - 225


da ampla defesa, podendo a instrução em sede executiva ser suprida por sentença criminal condenatória que

verse sobre a materialidade, a autoria e as circunstâncias do crime correspondente à falta grave. STF. Plenário.

RE 776823, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 04/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 758) (Info 1001).

PAD

A oitiva do condenado pelo Juízo da Execução Penal, em audiência de justificação realizada na presença

do defensor e do Ministério Público, afasta a necessidade de prévio Procedimento Administrativo

Disciplinar (PAD), assim como supre eventual ausência ou insuficiência de defesa técnica no PAD

instaurado para apurar a prática de falta grave durante o cumprimento da pena. STF. Plenário. RE 972598,

Rel. Roberto Barroso, julgado em 04/05/2020 (Repercussão Geral –Tema 941) (Info 985 – clipping).

Não há nulidade do PAD pela suposta inobservância do direito à não autoincriminação, quando a

testemunha, até então não envolvida, noticia elementos que trazem para si responsabilidade pelos

episódios em investigação. Caso concreto: foi instaurado PAD para apurar a conduta de João, servidor do INSS.

Pedro, outro servidor da autarquia que trabalhava no mesmo setor do investigado, foi convocado para depor na

condição de testemunha, tendo assinado termo de compromisso de dizer a verdade. Ocorre que Pedro não

apenas confirmou as imputações feitas contra João, mas também confessou que participou dos ilícitos em

apuração. Ao final do PAD, João e Pedro foram demitidos. Pedro alegou que que o PAD que originou sua

demissão se encontraria eivado de ilicitude, considerando que foi obrigado a produzir provas contra si mesmo.

Não houve nulidade. Quando o servidor foi chamado, ele não era investigado. Ele prestou voluntariamente seu

depoimento e, em nenhum momento, insurgiu-se contra isso, o que permite concluir que, também

voluntariamente, ele dispensou o uso da faculdade de não incriminar a si próprio. Logo, ele não pode,

posteriormente, invocar o direito ao silêncio considerando que, por sua própria vontade, apontou,

durante sua oitiva, fatos que atraíram para si a responsabilidade solidária pelos ilícitos em apuração. STJ.

1ª Seção. MS 21.205-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 14/10/2020 (Info 682).

TRABALHO EXTERNO

Durante a pandemia da Covid-19, os apenados que tiveram suspenso o exercício do trabalho externo,

possuem direito à prisão domiciliar?

Imagine a seguinte situação: o juízo das execuções penais proibiu o trabalho externo do apenado durante as

medidas restritivas impostas pelo Governo para combate à Covid-19. Diante disso, foi impetrado habeas corpus

INFORMATIVOS 2020 - 226


afirmando que essa decisão seria ilegal e que deveria ser concedida, então, prisão domiciliar ao apenado, nos

termos da Recomendação nº 62 do CNJ.

Indaga-se: durante a pandemia da Covid-19, os apenados que tiveram suspenso o exercício do trabalho

externo, possuem direito à prisão domiciliar? O STJ está dividido sobre o tema:

• 5ª Turma do STJ: como regra, NÃO

A suspensão temporária do trabalho externo no regime semiaberto em razão da pandemia atende à Resolução

nº 62 do CNJ, cuja recomendação não implica automática substituição da prisão decorrente da sentença

condenatória pela domiciliar. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 580.495-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,

julgado em 09/06/2020 (Info 673).

• 6ª Turma do STJ: como regra, SIM

Os reeducandos que cumprem pena em regime semiaberto e aberto e que tiveram suspenso o exercício do

trabalho externo como medida preventiva de combate à Covid-19, possuem direito ao regime domiciliar, desde

que não ostentem procedimento de apuração de falta grave. STJ. 6ª Turma. HC 575.495/MG, Rel. Min. Sebastião

Reis Júnior, julgado em 02/06/2020 (Info 673)

PROGRESSÃO DE REGIME

A Lei nº 13.769/2018 incluiu o § 3º no art. 112 da Lei de Execuções Penais - LEP, prevendo progressão de regime

especial. Esse § 3º afirmou que a mulher gestante ou que for mãe/responsável por crianças ou pessoas com

deficiência poderá progredir de regime com 1/8 da pena cumprida (o que é um tempo menor do que a regra

geral), mas desde que cumpridos alguns requisitos elencados no dispositivo.

Um dos requisitos para ter direito a essa progressão especial está no fato de que a reeducanda não pode ter

“integrado organização criminosa” (inciso V). Esse requisito deve ser interpretado de acordo com a definição de

organização criminosa da Lei nº 12.850/2013. Logo, essa expressão (“organização criminosa”) não pode ser

interpretada em sentido amplo para abranger toda e qualquer associação criminosa. A pessoa só estará

impedida de gozar da progressão com base nesse inciso em caso de ter praticado o crime previsto na Lei

nº 12.850/2013. STJ. 6ª Turma. HC 522.651-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 04/08/2020 (Info 678).

A progressão de regime do reincidente não específico em crime hediondo ou equiparado com resultado

morte deve observar o que previsto no inciso VI, “a”, do art. 112 da LEP. Caso concreto: João está

cumprindo pena por homicídio qualificado (crime hediondo), cometido em 2019. Vale ressaltar que João é

reincidente genérico (não é reincidente específico; ele havia sido condenado anteriormente por receptação,

que não é crime hediondo). Diante disso, a previsão era a de que João tivesse direito à progressão de regime

INFORMATIVOS 2020 - 227


com 3/5 da pena (art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90). Ocorre que entrou em vigor a Lei nº 13.964/2019, que

revogou o referido art. 2º, § 2º e instituiu novas regras de progressão no art. 112 da LEP. Em qual inciso do

art. 112 se enquadra o réu condenado por crime hediondo, com resultado morte, reincidente não específico

(reincidente genérico)? Essa situação não foi contemplada na lei. Os incisos VII e VIII do art. 112 exigem a

reincidência específica. Diante da ausência de previsão legal, deve-se fazer analogia in bonam partem e a

ele deverá ser aplicada a mesma fração do condenado primário, ou seja, a regra do inciso VI, “a”, do art. 112

(50%):

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime

menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos: VI - 50% (cinquenta por

cento) da pena, se o apenado for: a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado

morte, se for primário, vedado o livramento condicional;

Resumindo:

• art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90: a fração mais grave deveria ser aplicada tanto ao reincidente específico

como genérico. A Lei de Crimes Hediondos não fazia distinção entre a reincidência genérica e a específica para

estabelecer o cumprimento de 3/5 da pena para fins de progressão de regime

• incisos VII e VIII do art. 112 da LEP: a fração mais grave só se aplica para o reincidente específico. O

condenado pela prática de crime hediondo, com resultado morte, mas reincidente em crime comum irá

progredir como se fosse primário.

No exemplo dado, a Lei nº 13.964/2019 foi mais favorável porque o réu progredia com 3/5 (= 60%) e agora a

fração é de 50% (art. 112, VI, “a”, da LEP). Logo, ela se aplica, neste ponto, aos fatos ocorridos antes da sua

vigência. STJ. 6ª Turma. HC 581.315-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 06/10/2020 (Info 681)

TEMAS DIVERSOS

Mesmo que na sentença condenatória não tenha constado expressamente que o réu é reincidente, o

juízo da execução penal poderá reconhecer essa circunstância para fins de conceder ou não os

benefícios, como, por exemplo, a progressão de regime. Suponhamos que na sentença condenatória não

constou que o apenado é reincidente. O juízo da execução, contudo, na fase de cumprimento da pena, percebeu

que o condenado é reincidente. O juízo da execução penal poderá reconhecer essa circunstância negativa no

momento de analisar se concede ou não os benefícios (ex: progressão). O Juízo da Execução pode promover a

retificação do atestado de pena para constar a reincidência, com todos os consectários daí decorrentes,

ainda que não esteja reconhecida expressamente na sentença penal condenatória transitada em julgado.

STJ. 3ª Seção. EREsp 1.738.968-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/11/2019 (Info 662).

INFORMATIVOS 2020 - 228


O direito ao banho de sol, que é imprescindível à saúde e à integridade física e psicológica dos presos,

não pode ser restringido por normas ou práticas internas ou sequer por alegações de falta de estrutura.

Ademais, a alegação da reserva do possível não é capaz de chancelar a violação aos direitos básicos da

população carcerária.

Assim, o STF através de Habeas Corpus coletivo concedeu, a todos os presos (condenado quanto os provisório)

que, independentemente do estabelecimento penitenciário a que se achem recolhidos, o direito à saída da cela

pelo período mínimo de 02 (duas) horas diárias para banho de sol.

STF. 2ª Turma. HC 172136, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 10/10/2020.

O direito de visita pode sofrer limitações, diante das peculiaridades do caso concreto.

O direito do preso de receber visitas, assegurado pelo art. 41, X, da Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/1.984),

não é absoluto e deve ser sopesado, de acordo com a situação específica vivenciada no

caso concreto, em conjunto com outros princípios, dentre os quais o que visa a garantir a disciplina e a

segurança dentro dos estabelecimentos prisionais.

STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1602725/DF, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 20/10/2020.

O tempo excedido, na frequência escolar, ao limite legal de 12 horas a cada 3 dias deve ser considerado

para fins de remição da pena.

O art. 126 da Lei de Execuções Penais prevê duas hipóteses de remição da pena: por trabalho ou por estudo.

Para fins de remição da pena pelo trabalho, a jornada não pode ser superior a 8 horas. O STJ, contudo, entende

que eventuais horas extras devem ser computadas quando excederem a oitava hora diária, hipótese em que se

admite o cômputo do excedente para fins de remição de pena.

No caso da remição pelo estudo, o reeducando poderá remir 1 dia de pena a cada 12 horas de atividade,

divididas, no mínimo, em 3 dias.

O STJ entende que, se o reeducando estudar mais que 12 horas, isso deverá ser considerado para fins de

remição da pena.

STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1720688/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 06/10/2020.

STJ. 6ª Turma. HC 461047-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 04/08/2020 (Info 677).

O indulto humanitário requer, para sua concessão, a necessária comprovação, por meio de laudo médico oficial

ou por médico designado pelo juízo da execução, de que a enfermidade que acomete o sentenciado é grave,

permanente e exige cuidados que não podem ser prestados no estabelecimento prisional.

STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 292.952/RS, Rel. Min. Antonio Saldanha, julgado em 27/10/2020

O Decreto n. 7.873/2012 estabeleceu como requisitos do chamado indulto humanitário:

(a) o acometimento pelo apenado de doença grave e permanente que imponha importante limitação de

INFORMATIVOS 2020 - 229


atividade;

(b) exigência de cuidados contínuos que não possam ser prestados em estabelecimento prisional;

(c) comprovação por laudo médico;

(d) não oposição do condenado.

DIREITO DO CONSUMIDOR

CONCEITO DE CONSUMIDOR

Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor às relações entre acionistas investidores e a sociedade

anônima de capital aberto com ações negociadas no mercado de valores mobiliários. Caso concreto: João

ajuizou ação contra o Itaú Unibanco alegando que é acionista investidor da instituição financeira e que deveria

ter recebido dividendos correspondentes às suas ações preferenciais e que eles não foram pagos pelo banco.

Afirmou que se trata de relação de consumo e que, portanto, deveria ser aplicado o CDC. O STJ não concordou

com a tese. De acordo com a teoria finalista ou subjetiva, adotada pelo STJ, o conceito de consumidor,

para efeito de incidência das normas protetivas do CDC, leva em consideração a condição de destinatário

final do produto ou serviço, nos termos do art. 2º do código. Assim, segundo a teoria subjetiva ou finalista,

destinatário final é aquele que ultima a atividade econômica, isto é, que retira de circulação do mercado o bem

ou o serviço para consumi-lo, suprindo uma necessidade ou satisfação própria. O investidor, ao adquirir ações

no mercado imobiliário visando o recebimento de lucros e dividendos, não está abrangido pela proteção

do CDC. Na atividade de aquisição de ações não é possível identificar nenhuma prestação de serviço por parte

da instituição financeira, havendo sim uma relação de cunho puramente societário e empresarial. Situação

diferente ocorreria se a ação envolvesse o serviço de corretagem de valores e título mobiliários. STJ. 3ª Turma.

REsp 1.685.098-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/03/2020 (Info

671).

O art. 39, IX, do CDC é inaplicável às instituições financeiras quando do encerramento unilateral de conta

bancária, afastando-se a obrigatoriedade de manutenção do contrato de conta-corrente.

Isto porque, o encerramento do contrato de conta corrente consiste em um direito subjetivo exercitável por

qualquer das partes contratantes, desde que observada a prévia e regular notificação.

STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1473795/RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 29/06/2020

INFORMATIVOS 2020 - 230


No contrato de compra e venda de insumos agrícolas, o produtor rural não pode ser considerado

destinatário final, razão pela qual, nesses casos, não incide o Código de Defesa do Consumidor.

STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 363.209/RS, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 15/06/2020.

Ressalvadas circunstâncias especiais, sobressai a natureza jurídica de relação de consumo havida entre

locador e administradora, atraindo, por conseguinte, a incidência do CDC.

É possível aplicar o CDC à relação entre proprietário de imóvel e a imobiliária contratada por ele para

administrar o bem. Em outras palavras, a pessoa que contrata uma empresa administradora de imóveis pode

ser considerada consumidora.

STJ. 3ª Turma. REsp 509.304-PR, Rel. Min. Villas Bôas Cueva, julgado em 16/5/2013 (Info 523).

Pelo contrato de administração imobiliária, o proprietário confia à administradora a gerência do imóvel visando,

em geral, a locação do bem a terceiros, daí exsurgindo, portanto, duas relações jurídicas distintas:

a) a primeira, de prestação de serviços, entre a administradora e o locador; e

b) a segunda, de locação, entre o locador e o locatário, intermediada pela administradora.

A administradora atua como mandatária do locador na gestão do imóvel, inclusive - e especialmente - perante o

locatário do bem, e, nessa condição, o locador, em regra, figura como destinatário final fático e econômico do

serviço prestado pela administradora - como consumidor, portanto.

Em algumas situações, pode o locador se apresentar ainda como parte vulnerável - técnica, jurídica, fática e/ou

informacional - em relação à administradora, sobretudo por se tratar, usualmente, de um contrato de adesão.

O serviço oferecido pela administradora possui caráter profissional pois, além de, em geral, dispor, em relação

ao locador, de superioridade no conhecimento das características da atividade que habitualmente exerce, é

evidente a sua natureza econômica.

Ressalvadas circunstâncias especiais, sobressai a natureza jurídica de relação de consumo havida entre locador

e administradora, atraindo, por conseguinte, a incidência do CDC.

STJ. 3ª Turma. REsp 1846331/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/03/2020.

RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO

O risco inerente ao medicamento impõe ao fabricante um dever de informar qualificado (art. 9º do CDC), cuja

violação está prevista no § 1º, II, do art. 12 do CDC como hipótese de defeito do produto, que enseja a

responsabilidade objetiva do fornecedor pelo evento danoso dele decorrente. O ordenamento jurídico não

exige que os medicamentos sejam fabricados com garantia de segurança absoluta, até porque se trata de

INFORMATIVOS 2020 - 231


uma atividade de risco permitido, mas exige que garantam a segurança legitimamente esperável, tolerando

os riscos considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, desde que o

consumidor receba as informações necessárias e adequadas a seu respeito (art. 8º do CDC). O fato de o

uso de um medicamento causar efeitos colaterais ou reações adversas, por si só, não configura defeito

do produto se o usuário foi prévia e devidamente informado e advertido sobre tais riscos inerentes, de

modo a poder decidir, de forma livre, refletida e consciente, sobre o tratamento que lhe é prescrito, além

de ter a possibilidade de mitigar eventuais danos que venham a ocorrer em função dele.

O risco do desenvolvimento, entendido como aquele que não podia ser conhecido ou evitado no momento em

que o medicamento foi colocado em circulação, constitui defeito existente desde o momento da concepção do

produto, embora não perceptível a priori, caracterizando, pois, hipótese de fortuito interno. STJ. 3ª Turma. REsp

1.774.372-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

Na hipótese de responsabilidade civil de médicos pela morte de paciente em atendimento custeado pelo

SUS incidirá o prazo do art. 1º-C da Lei nº 9.494/97, segundo o qual prescreverá em cinco anos a pretensão

de obter indenização.

Exemplo hipotético: uma criança foi atendida na emergência de um hospital particular conveniado ao SUS. Em

razão de erro médico, ela acabou falecendo. Os pais da criança pretendem ajuizar ação de indenização por

danos morais contra os médicos e o hospital. Qual é o prazo prescricional neste caso?

5 anos, com base no art. 1º-C, da Lei nº 9.494/97:

Art. 1º-C. Prescreverá em cinco anos o direito de obter indenização dos danos causados por agentes de pessoas

jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos.

A participação complementar da iniciativa privada na execução de ações e serviços de saúde se formaliza

mediante contrato ou convênio com a administração pública (art. 24, parágrafo único, da Lei nº 8.080/90).

Assim, o hospital privado que, mediante convênio, se credencia para exercer essa atividade de saúde pública,

recebendo, em contrapartida, remuneração dos cofres públicos, passa a desempenhar o múnus público. O

mesmo acontecendo com o profissional da medicina que, diretamente, se obriga com o SUS.

A participação complementar da iniciativa privada - seja das pessoas jurídicas, seja dos respectivos profissionais

- na execução de atividades de saúde caracteriza-se como serviço público indivisível e universal (uti universi), o

que afasta, por conseguinte, a incidência das regras do CDC. Logo, não se aplica o prazo prescricional do art. 27

do CDC, mas sim o do art. 1º-C da Lei nº 9.494/97.

Obs: na prática, não muda nada quanto ao prazo porque tanto o art. 27 como o art. 1º-C preveem o prazo de 5

anos.

STJ. 3ª Turma. REsp 1771169-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/05/2020 (Info 672).

Concessionária de transporte ferroviário não tem que indenizar passageira que sofreu assédio sexual

praticado por outro usuário no interior do trem.

INFORMATIVOS 2020 - 232


Imagine a seguinte situação:

Maria estava voltando para casa, por volta das 18h, em um trem da CPTM (Companhia Paulista de Trens

Metropolitanos), na cidade de São Paulo/SP.

Ela estava em pé dentro do vagão e, de repente, “foi importunada por um homem que se postou atrás da

mesma, esfregando-se na região de suas nádegas”, sendo que, ao se queixar com o agressor, verificou que ele

“estava com o órgão genital ereto”.

Vale ressaltar que, na parada seguinte, Maria informou o fato à equipe da CPTM, que localizou e conduziu o

agressor à delegacia.

A vítima ficou muito abalada emocionalmente com o episódio e ingressou com ação de indenização por danos

morais contra a CPTM, empresa concessionária do transporte ferroviário, alegando que não foi oferecida a

devida segurança a ela enquanto passageira.

A questão chegou até o STJ. A empresa concessionária tem o dever de indenizar neste caso?

NÃO. A concessionária de serviço público de transporte não tem responsabilidade civil em caso de assédio

sexual cometido por terceiro em suas dependências.

A importunação sexual no transporte de passageiros, cometida por pessoa estranha à empresa, configura fato

de terceiro, que rompe o nexo de causalidade entre o dano e o serviço prestado pela concessionária – excluindo,

para o transportador, o dever de indenizar.

O crime era inevitável, quando muito previsível apenas em tese, de forma abstrativa, com alto grau de

generalização. Por mais que se saiba da possibilidade de sua ocorrência, não se sabe quando, nem onde, nem

como e nem quem o praticará. Apenas se sabe que, em algum momento, em algum lugar, em alguma

oportunidade, algum malvado o consumará. Então, só pode ter por responsável o próprio criminoso.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.833.722/SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 03/12/2020.

VÍCIO DO PRODUTO

O comerciante tem o dever de receber do consumidor o aparelho que esteja viciado (“defeituoso”) com o

objetivo de encaminhá-lo à assistência técnica para conserto? Sim. O comerciante tem a obrigação de

intermediar a reparação ou a substituição de produtos nele adquiridos e que apresentem defeitos de

fabricação (vício oculto de inadequação), com a coleta em suas lojas e remessa ao fabricante e posterior

devolução. STJ. 3ª Turma. REsp 1.568.938-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 25/08/2020 (Info 678).

Ainda sobre o tema: Cabe ao consumidor a escolha para exercer seu direito de ter sanado o vício do

produto em 30 dias - levar o produto ao comerciante, à assistência técnica ou diretamente ao fabricante.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.634.851-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/09/2017 (Info 619).

INFORMATIVOS 2020 - 233


Consumidor que, em ação redibitória, recebeu a restituição do valor pago, deve devolver o veículo com

defeito ao vendedor mesmo que na sentença essa obrigação não tenha ficado expressamente prevista.

Caso concreto: consumidor adquiriu veículo, que apresentou diversos problemas após a compra, tornando-se

inadequado ao uso. Consumidor propôs ação redibitória contra a concessionária, pedindo a devolução do preço

pago. A sentença foi procedente tendo o juiz determinado a restituição da quantia gasta com a aquisição do

carro. Não falou nada, contudo, sobre a devolução do carro à concessionária. Com o trânsito em jugado, o

consumidor deu início do cumprimento de sentença. A concessionária restituiu o valor pago e pediu a devolução

do veículo usado. O juiz negou o pleito afirmando que no título executivo não constou nenhum comando para

que o consumidor devolvesse o automóvel. Não agiu corretamente o magistrado. É obrigatória a devolução de

veículo considerado inadequado ao uso após a restituição do preço pelo fornecedor no cumprimento de

sentença prolatada em ação redibitória. Acolhida a pretensão redibitória do consumidor, rescinde-se o

contrato de compra e venda, retornando as partes à situação anterior à sua celebração (status quo ante),

sendo uma das consequências automáticas da sentença a sua eficácia restitutória, com a restituição

atualizada do preço pelo vendedor e devolução da coisa adquirida pelo comprador. Constitui obrigação

do consumidor devolver o veículo viciado à fornecedora, sob pena de afronta ao princípio que veda o

enriquecimento sem causa e à proibição do venire contra factum proprium. STJ. 3ª Turma. REsp

1.823.284-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 13/10/2020 (Info 681).

OFERTA

Erro grosseiro de sistema não obriga empresas a emitir passagens compradas a preço muito baixo. Caso

concreto: em decorrência de uma falha no site da empresa de turismo Decolar.com, constou que duas

passagens aéreas, ida e volta, de Brasília para Amsterdã (Holanda) custariam cerca de R$ 1 mil. Um casal tentou

efetuar a compra, fazendo uma reserva no site. Dois dias depois, contudo, eles receberam um e-mail da

empresa explicando que houve uma falha, cancelando a reserva. Não houve necessidade de estorno no cartão

de crédito, pois a cobrança não foi feita no momento da reserva. Os consumidores ajuizaram ação pedindo a

emissão dos bilhetes no valor que havia sido ofertado. O STJ, entretanto, não acolheu o pedido. Para o Tribunal,

o erro sistêmico grosseiro no carregamento de preços e a rápida comunicação ao consumidor podem

afastar a falha na prestação do serviço e o princípio da vinculação da oferta. O Código de Defesa do

Consumidor não é somente um conjunto de artigos que protege o consumidor a qualquer custo. Antes de

tudo, ele é um instrumento legal que pretende harmonizar as relações entre fornecedores e

consumidores, sempre com base nos princípios da boa-fé e do equilíbrio contratual. No caso, os

consumidores promoveram a reserva de bilhetes aéreos com destino internacional a preço muito aquém do

praticado por outras empresas aéreas, não tendo sequer havido a emissão dos bilhetes eletrônicos (e-tickets)

INFORMATIVOS 2020 - 234


que pudessem formalizar a compra. Agrega-se o fato de que os valores sequer foram debitados do cartão de

crédito e, em curto período, os consumidores receberam e-mail informando a não conclusão da operação.

Nesse contexto, é inadmissível que, diante de inegável erro sistêmico grosseiro no carregamento de preços,

possa se reconhecer a falha da prestação dos serviços das empresas, que prontamente impediram o

lançamento de valores na fatura do cartão de crédito utilizado, informando, ainda, com antecedência necessária

ao voo, o cancelamento da operação. Por conseguinte, não há que se falar em violação do princípio da

vinculação da oferta (art. 30 do CDC). STJ. 3ª Turma. REsp 1.794.991-SE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em

05/05/2020 (Info 671).

PUBLICIDADE ENGANOSA

A ausência de informação relativa ao preço, por si só, não caracteriza publicidade enganosa.

Para a caracterização da ilegalidade omissiva, a ocultação deve ser de qualidade essencial do produto, do

serviço ou de suas reais condições de contratação, considerando, na análise do caso concreto, o público alvo

do anúncio publicitário. STJ. 4ª Turma. REsp 1.705.278-MA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em

19/11/2019 (Info 663).

É possível o redirecionamento da condenação de veicular contrapropaganda imposta a posto de gasolina

matriz à sua filial. Ainda que possuam CNPJ diversos e autonomia administrativa e operacional, as filiais são um

desdobramento da matriz por integrar a pessoa jurídica como um todo. Eventual decisão contrária à matriz por

atos prejudiciais a consumidores é extensível às filiais.

Obs: a contrapropaganda é uma medida imposta nos casos de veiculação de publicidade inverídica ou

abusiva, que busca anular ou compensar os efeitos nocivos da publicidade ilícita. A finalidade, portanto,

é corrigir o desvio cometido na publicidade antijurídica veiculada pelo fornecedor. STJ. 3ª Turma. REsp

1.655.796-MT, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/02/2020 (Info 665)

PRÁTICAS ABUSIVAS

A decisão de comprar gêneros alimentícios cabe aos pais, especialmente em época de altos e preocupantes

índices de obesidade infantil, um grave problema nacional de saúde pública. Diante disso, consoante o art. 37, §

2º, do Código de Defesa do Consumidor, estão vedadas campanhas publicitárias que utilizem ou

manipulem o universo lúdico infantil. Se criança, no mercado de consumo, não exerce atos jurídicos em

INFORMATIVOS 2020 - 235


seu nome e por vontade própria, por lhe faltar poder de consentimento, tampouco deve ser destinatária

de publicidade que, fazendo tábula rasa da realidade notória, a incita a agir como se plenamente capaz

fosse. STJ. 2ª Turma. REsp 1.613.561-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/04/2017 (Info 679)

Viola os princípios da vulnerabilidade, da boa-fé objetiva, da transparência e da confiança prestar

informação por etapas e, assim, compelir o consumidor à tarefa impossível de juntar pedaços

informativos esparramados em mídias, documentos e momentos diferentes. Cada ato de informação é

analisado e julgado em relação a si mesmo, pois absurdo esperar que, para cada produto ou serviço oferecido, o

consumidor se comporte como Sherlock Holmes improvisado e despreparado à busca daquilo que, por dever

ope legis inafastável, incumbe somente ao fornecedor. Seria transformar o destinatário-protegido, à sua revelia,

em protagonista do discurso mercadológico do fornecedor, atribuindo e transferindo ao consumidor missão de

vasculhar o universo dos meios de comunicação para ter uma informação completa. STJ. 2ª Turma. REsp

1.802.787-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 08/10/2019 (Info 679).

É lícita a cobrança de uma “taxa de conveniência” (um valor a mais) pelo fato de o ingresso estar sendo

adquirido pela internet. Algumas empresas especializadas na venda de ingressos cobram dos consumidores

um “valor” adicional pelo fato de eles estarem comprando os ingressos por meio da sua página na internet. Essa

cobrança é lícita, desde que o consumidor seja previamente informado sobre o preço total da aquisição do

ingresso, com o destaque de que está pagando um valor extra a título de “taxa de conveniência”. É válida a

intermediação, pela internet, da venda de ingressos para eventos culturais e de entretenimento

mediante cobrança de “taxa de conveniência”, desde que o consumidor seja previamente informado do

preço total da aquisição do ingresso, com o destaque do valor da referida taxa. STJ. 3ª Turma. EDcl no REsp

1.737.428-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 06/10/2020 (Info

683).

PLANO DE SAÚDE

O plano de saúde somente é obrigado a reembolsar as despesas que o usuário teve com tratamento ou

atendimento fora da rede credenciada em hipóteses excepcionais, como por exemplo, em casos de:

• inexistência ou insuficiência de estabelecimento ou profissional credenciado no local; e

• urgência ou emergência do procedimento.

STJ. 2ª Seção. EAREsp 1459849/ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/10/2020 (Info 684).

Os beneficiários de plano de saúde coletivo, após a resilição unilateral do contrato pela operadora, têm

direito à portabilidade de carências ao contratar novo plano observado o prazo de permanência no

INFORMATIVOS 2020 - 236


anterior, sem o cumprimento de novos períodos de carência ou de cobertura parcial temporária e sem

custo adicional pelo exercício do direito.

STJ. 3ª Turma. REsp 1732511-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/08/2020 (Info 677).

Há litisconsórcio passivo necessário da União e da Agência Nacional de Saúde em ação coletiva que afete

a esfera do poder regulador da entidade da Administração Pública.

ACP proposta pelo MP contra plano de saúde pedindo para que os usuários que estejam no período de carência

sejam atendidos, sem limite de tempo, em casos de emergência e urgência.

Ocorre que essa prática do plano de saúde está autorizada por Resolução do Conselho de Saúde Suplementar

(órgão da União).

O MP alega que essa Resolução viola a Lei nº 9.656/98.

Nessa ação é indispensável a participação da União e da Agência Nacional de Saúde (ANS) em litisconsórcio

passivo necessário, devendo, portanto, tramitar na Justiça Federal (art. 109, I, da CF/88).

STJ. 4ª Turma. REsp 1188443-RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em

27/10/2020 (Info 684).

Nos contratos de plano de saúde não é abusiva a cláusula de coparticipação expressamente ajustada e

informada ao consumidor, à razão máxima de 50% (cinquenta por cento) do valor das despesas, nos casos de

internação superior a 30 (trinta) dias por ano, decorrente de transtornos psiquiátricos, preservada a

manutenção do equilíbrio financeiro.

STJ. 2ª Seção. REsp 1809486-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 09/12/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1032)

(Info 684).

Condições assistenciais e de custeio do plano de saúde que devem ser mantidas aos aposentados, nos

termos do art. 31 da Lei 9.656/98.

a) Eventuais mudanças de operadora, de modelo de prestação de serviço, de forma de custeio e de valores de

contribuição não implicam interrupção da contagem do prazo de 10 (dez) anos previsto no art. 31 da Lei

9.656/98, devendo haver a soma dos períodos contributivos para fins de cálculo da manutenção proporcional ou

indeterminada do trabalhador aposentado no plano coletivo empresarial.

b) O art. 31 da Lei 9.656/98 impõe que ativos e inativos sejam inseridos em plano de saúde coletivo único,

contendo as mesmas condições de cobertura assistencial e de prestação de serviço, o que inclui, para todo o

universo de beneficiários, a igualdade de modelo de pagamento e de valor de contribuição, admitindo-se a

diferenciação por faixa etária se for contratada para todos, cabendo ao inativo o custeio integral, cujo valor pode

ser obtido com a soma de sua cota-parte com a parcela que, quanto aos ativos, é proporcionalmente suportada

pelo empregador.

c) O ex-empregado aposentado, preenchidos os requisitos do art. 31 da Lei 9.656/98, não tem direito adquirido

INFORMATIVOS 2020 - 237


de se manter no mesmo plano privado de assistência à saúde vigente na época da aposentadoria, podendo

haver a substituição da operadora e a alteração do modelo de prestação de serviços, da forma de custeio e os

respectivos valores, desde que mantida paridade com o modelo dos trabalhadores ativos e facultada a

portabilidade de carências.

STJ. 2ª Seção. REsp 1829862/SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 09/12/2020 (Recurso Repetitivo –

Tema 1034).

Aplica-se a Lei nº 9.656/98 à pessoa jurídica de direito público de natureza autárquica que presta serviço

de assistência à saúde de caráter suplementar aos servidores municipais. Considerando que o caput do art.

1º faz menção expressa às pessoas jurídicas de direito privado, pode-se interpretar que a escolha do termo

“entidade” no § 2º teve por objetivo ampliar a aplicação da lei para todas as pessoas jurídicas que prestam os

serviços de assistência à saúde suplementar, até porque não faria sentido a utilização de termos distintos. STJ. 3ª

Turma. REsp 1.766.181-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em

03/12/2019 (Info 662)

O rol de procedimentos e eventos da ANS é meramente explicativo?

• SIM. Posição da 3ª Turma do STJ. O fato de o procedimento não constar no rol da ANS não significa que não

possa ser exigido pelo usuário, uma vez que se trata de rol exemplificativo. STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp

1442296/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 23/03/2020. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp

1.874.078-PE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/10/2020 (Info 682)

• NÃO. Posição da 4ª Turma do STJ. O rol de procedimentos e eventos em saúde da Agência Nacional de Saúde

Suplementar - ANS não é meramente exemplificativo. STJ. 4ª Turma. Resp 1.733.013-PR, Rel. Min. Luis Felipe

Salomão, julgado em 10/12/2019 (Info 665)

A demora para a autorização da cirurgia indicada como urgente pela equipe médica do hospital próprio

ou credenciado, sem justificativa plausível, caracteriza defeito na prestação do serviço da operadora do

plano de saúde, resultando na sua responsabilização. A operadora de plano de saúde tem responsabilidade

solidária por defeito na prestação de serviço médico, quando o presta por meio de hospital próprio e médicos

contratados, ou por meio de médicos e hospitais credenciados. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.414.776-SP, Rel.

Min. Raul Araújo, julgado em 11/02/2020 (Info 666)

Não é abusiva a negativa de custeio, pela operadora do plano de saúde, do tratamento de fertilização in

vitro, quando não houver previsão contratual expressa. O art. 10, III, da Lei nº 9.656/98 estabelece que a

“inseminação artificial” não é um procedimento de cobertura obrigatória pelos planos de saúde. Em outras

palavras, o contrato pode ou não prever a cobertura desse tratamento. Se o contrato não cobrir expressamente

e o plano de saúde, em virtude disso, se recusar a custear, essa negativa não será abusiva. Vale ressaltar que a

fertilização in vitro não é mesmo que inseminação artificial. Mesmo assim, a partir de uma interpretação

INFORMATIVOS 2020 - 238


sistemática e teleológica, que garanta o equilíbrio atuarial do sistema, deve-se entender que o mesmo raciocínio

se aplica para a fertilização in vitro e que este tratamento também não é de cobertura obrigatória. Nesse

sentido, a Resolução Normativa nº 428/2017, da ANS permite que o plano de saúde não ofereça inseminação

artificial e outras técnicas de reprodução humana assistida. Assim, ao falar em outras técnicas, pode-se incluir aí

a fertilização in vitro. STJ. 3ª Turma. REsp 1794629/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy

Andrighi, julgado em 18/02/2020. STJ. 4ª Turma. REsp 1.823.077-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 20/02/2020

(Info 666)

Compete à Justiça comum julgar as demandas relativas a plano de saúde de autogestão empresarial,

exceto quando o benefício for instituído em contrato de trabalho, convenção ou acordo coletivo, hipótese

em que a competência será da Justiça do Trabalho, ainda que figure como parte trabalhador aposentado ou

dependente do trabalhador. STJ. 2ª Seção. REsp 1.799.343-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd.

Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/03/2020 (Tema IAC 5) (Info 668).

Vale ressaltar, contudo, que temos aqui uma “polêmica”. No mesmo dia, na mesma sessão de julgamento, a 2ª

Seção apreciou o CC 165.863-SP no qual foram redigidas teses aparentemente contraditórias com as do REsp

1.799.343-SP. Compare:

Compete à Justiça comum o julgamento das demandas entre usuário e operadora de plano de saúde,

sendo irrelevante a existência de norma acerca da assistência à saúde em contrato de trabalho, acordo

ou convenção coletiva. Para a definição da competência do julgamento das demandas entre usuário e

operadora de plano de saúde, é irrelevante a distinção entre trabalhador ativo, aposentado ou dependente do

trabalhador. STJ. 2ª Seção. CC 165.863-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/03/2020 (Tema

IAC 5) (Info 667).

Foram opostos embargos de declaração nos dois processos, de forma que o tema deverá ser esclarecido em

breve. Penso, contudo, que irá prevalecer a redação da tese fixada no REsp 1.799.343-SP porque reflete o

entendimento presentes em outros julgados do STJ.

O art. 10, III, da Lei nº 9.656/98, ao excluir a inseminação artificial do plano-referência de assistência à

saúde, também excluiu a técnica de fertilização in vitro. A inseminação artificial compreende a fertilização in

vitro, bem como todas as técnicas médico-científicas de reprodução assistida, sejam elas realizadas dentro ou

fora do corpo feminino. Isso significa que não é abusiva a negativa de custeio, pela operadora do plano de

saúde, do tratamento de fertilização in vitro, quando não houver previsão contratual expressa. STJ. 3ª Turma.

REsp 1.7946.29/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020 (Info

667). STJ. 4ª Turma. REsp 1.823.077-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 20/02/2020 (Info 666)

INFORMATIVOS 2020 - 239


Na falta de dispositivo legal específico para a ação civil pública, aplica-se, por analogia, o prazo de

prescrição da ação popular, que é o quinquenal (art. 21 da Lei nº 4.717/65), adotando-se também tal lapso na

respectiva execução, a teor da Súmula 150 do STF.

A lacuna da Lei nº 7.347/85 é melhor suprida com a aplicação de outra legislação também integrante do

microssistema de proteção dos interesses transindividuais, como os coletivos e difusos, a afastar os prazos do

Código Civil, mesmo na tutela de direitos individuais homogêneos. Assim, a despeito da existência de recurso

especial julgado sob o rito dos recursos repetitivos sobre a prescrição trienal para ações de cobrança contra

plano de saúde, nota-se que esse versou sobre as ações ordinárias individuais, de modo que o entendimento

referente à aplicação do prazo quinquenal às tutelas coletivas é específico e, consequentemente, prevalece no

caso. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.807.990-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 20/04/2020 (Info 671).

A operadora de plano de saúde não é obrigada a custear o procedimento de fertilização in vitro associado

ao tratamento de endometriose profunda. Caso concreto: mulher, que estava fazendo quimioterapia, corria o

risco de se tornar infértil em razão do tratamento que gera falência ovariana. A forma de preservar a capacidade

reprodutiva, nestes casos, é o congelamento dos óvulos (criopreservação). Diante disso, ela pleiteou junto ao

plano de saúde que custeasse esse procedimento, o que foi negado. Para o STJ, é devida a cobertura, ou seja, o

plano de saúde tem que arcar com esse tratamento. O objetivo de todo tratamento médico, além de curar a

doença, é não causar mal. Esse é um dos princípios milenares da medicina conhecido pela locução “primum, non

nocere” (primeiro, não prejudicar). Esse princípio está consagrado no art. 35-F da Lei nº 9.656/98, segundo o qual

a cobertura dos planos de saúde abrange também a prevenção de doenças, no caso, a infertilidade. Vale

ressaltar que, depois de obter alta do tratamento quimioterápico, caberá à mulher custear o tratamento de

reprodução assistida, considerando que isso se encontra fora da cobertura do plano. STJ. 3ª Turma. REsp

1.815.796-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

Cuidado para não confundir:

• usuária é infértil e busca tratamento para a infertilidade (ex: inseminação artificial): plano de saúde não é

obrigado a custear.

• usuária é fértil e busca a criopreservação como forma de prevenir a infertilidade: plano de saúde é obrigado a

custear

É decenal o prazo prescricional aplicável ao exercício da pretensão de reembolso de despesas

médico-hospitalares alegadamente cobertas pelo contrato de plano de saúde (ou de seguro saúde), mas

que não foram adimplidas pela operadora. STJ. 2ª Seção. REsp 1.756.283-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,

julgado em 11/03/2020 (Info 673).

A eficácia do contrato de plano de saúde se protrai no tempo até que a operadora seja comunicada do

falecimento da beneficiária, descabendo cobranças efetuadas em relação ao período posterior à

INFORMATIVOS 2020 - 240


comunicação e sendo viável que a notificação ocorra nos autos de processo cujo objeto seja o referido

contrato. A morte é fato jurídico superveniente que implica o rompimento do vínculo entre o beneficiário

e a operadora do plano de saúde. Esse efeito, contudo, só produzirá efeitos para a operadora depois que

ela tomar conhecimento de sua ocorrência. Isso significa que a eficácia do contrato se protrai no tempo até

que a operadora seja comunicada do falecimento do beneficiário. A Resolução ANS nº 412/2016, que versa sobre

a solicitação de cancelamento do contrato do plano de saúde individual ou familiar pelo beneficiário titular,

estabelece o efeito imediato do requerimento, a partir da ciência da operadora ou administradora de benefícios,

e dispõe, por conseguinte, que só serão devidas, a partir de então, as contraprestações pecuniárias vencidas

e/ou eventuais coparticipações devidas, nos planos em pré-pagamento ou em pós-pagamento, pela utilização de

serviços realizados antes da solicitação (art. 15, II e III). Embora o ato normativo indique as formas apropriadas

ao pedido de cancelamento - presencial, por telefone ou pela internet, certo é que a notificação nos autos do

processo cujo objeto é o próprio contrato de plano de saúde atinge a mesma finalidade, de tal modo que,

constatada a ciência inequívoca da operadora sobre o falecimento da beneficiária, cessa, imediatamente, a

obrigação assumida pelas partes. Assim, reputam-se indevidas todas as cobranças efetuadas em relação ao

período posterior à notificação da operadora do falecimento do beneficiário ao plano de saúde. STJ. 3ª

Turma. REsp 1.879.005-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/08/2020 (Info 679)

Ex-empregado mantido no plano de saúde por mais de dez anos após a demissão, por liberalidade do

ex-empregador e com assunção de custeio integral do serviço, não poderá ser excluído da cobertura do

seguro. João era empregado de determinada empresa e, nessa qualidade, possuía plano de saúde oferecido aos

funcionários da instituição. Em 2001, João foi demitido sem justa causa e pediu para continuar no plano de

saúde com as mesmas condições de cobertura assistencial que gozava. Para tanto, ele se comprometeu a

assumir o custeio integral do plano de saúde. Ele possui esse direito? Sim. Tal possibilidade encontra-se prevista

no art. 30 da Lei nº 9.656/98. Vale ressaltar, no entanto, que, segundo o texto da lei, o trabalhador terá direito

de continuar com o plano de saúde por um tempo máximo de 24 meses (§ 1º do art. 30). Assim, João teria

direito ao plano até 2003. Ocorre que, por liberalidade da empresa, ele continuou com o plano de saúde até

2013, quando, já com 72 anos de idade, foi notificado de que estava excluído. O STJ considerou que essa

exclusão, após tantos anos, foi indevida. O ex-empregador, por sua liberalidade, manteve o ex-empregado no

plano por mais de 10 anos depois de findo o prazo. A manutenção do ex-empregado no plano de saúde por

liberalidade do antigo empregador, consolidada pelo prolongado decurso do tempo, é circunstância

capaz de criar no beneficiário a confiança de que a empresa renunciara ao direito de exclui-lo. Aplica-se

aqui o instituto da supressio. A supressio indica a possibilidade de se considerar suprimida determinada

obrigação contratual na hipótese em que o não exercício do direito correspondente, pelo credor, gerar no

devedor a legítima expectativa de que esse não exercício se prorrogará no tempo. STJ. 3ª Turma. REsp

1.879.503-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/09/2020 (Info 680).

INFORMATIVOS 2020 - 241


O STJ possui entendimento consolidado no sentido de que, se não houver previsão contratual expressa, o

plano de saúde não é obrigado a custear o tratamento de fertilização in vitro. Existe julgado no qual o STJ

afirmou que é devida a cobertura, pelo plano de saúde, do procedimento de criopreservação de óvulos de

paciente fértil, até a alta do tratamento quimioterápico, como medida preventiva à infertilidade (STJ REsp

1.815.796/RJ). No entanto, nesse acórdão, foi feita a seguinte distinção aplicável aqui:

• tratamento da infertilidade: não é de cobertura obrigatória pelo plano de saúde;

• prevenção da infertilidade, enquanto efeito adverso do tratamento prescrito ao paciente: é coberto

pelo plano de saúde.

No caso concreto, o procedimento de fertilização in vitro não foi prescrito à mulher para prevenir a infertilidade

decorrente do tratamento para a endometriose. O procedimento foi prescrito como tratamento da infertilidade

coexistente à endometriose. Logo, não há cobertura do plano. STJ. 3ª Turma. REsp 1.859.606-SP, Rel. Min. Nancy

Andrighi, Turma, julgado em 06/10/2020 (Info 681)

TEMAS DIVERSOS

COBRANÇA JUDICIAL INDEVIDA

Em caso de cobrança judicial indevida, é possível aplicar a sanção prevista no art. 940 do Código Civil

mesmo sendo uma relação de consumo. O art. 940 do CC e o art. 42 do CDC incidem em hipóteses diferentes,

tutelando, cada um deles, uma situação específica envolvendo a cobrança de dívidas pelos credores. Mesmo

diante de uma relação de consumo, se inexistentes os pressupostos de aplicação do art. 42, parágrafo único, do

CDC, deve ser aplicado o sistema geral do Código Civil, no que couber. O art. 940 do CC é norma complementar

ao art. 42, parágrafo único, do CDC e, no caso, sua aplicação está alinhada ao cumprimento do mandamento

constitucional de proteção do consumidor. STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.589-MS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,

julgado em 04/02/2020 (Info 664)

BANCOS DE DADOS DE CONSUMIDORES

Admite-se a flexibilização da orientação contida na súmula 385/STJ para reconhecer o dano moral

decorrente da inscrição indevida do nome do consumidor em cadastro restritivo, ainda que não tenha

havido o trânsito em julgado das outras demandas em que se apontava a irregularidade das anotações

preexistentes, desde que haja nos autos elementos aptos a demonstrar a verossimilhança das alegações.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.704.002-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

INFORMATIVOS 2020 - 242


TRANSPORTE AÉREO

A indenização decorrente de extravio de bagagem e de atraso de voo internacional está submetida à tarifação

prevista na Convenção de Montreal?

Em caso de danos MATERIAIS: SIM.

Em caso de danos MORAIS: NÃO.

As indenizações por danos morais decorrentes de extravio de bagagem e de atraso de voo internacional não

estão submetidas à tarifação prevista na Convenção de Montreal, devendo-se observar, nesses casos, a efetiva

reparação do consumidor preceituada pelo CDC. A tese fixada pelo STF no RE 636331/RJ (Tema 210) tem

aplicação apenas aos pedidos de reparação por danos materiais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.842.066-RS, Rel. Min.

Moura Ribeiro, julgado em 09/06/2020 (Info 673).

CONTRATOS BANCÁRIOS

Contraria o ordenamento jurídico-constitucional a permissão dada por resolução do Conselho Monetário

Nacional (CMN) às instituições financeiras para cobrarem tarifa bancária pela mera disponibilização de crédito

ao cliente na modalidade “cheque especial”. STF. Plenário. ADI 6407 MC-Ref /DF, Rel. Min. Gilmar Mendes,

julgado em 27/11/2020 (Info 1000)

Se o contrato, ao tratar sobre os encargos, menciona a taxa de juros mensal e anual, mas não prevê qual

é a taxa diária dos juros, há abusividade. Viola o dever de informação, o contrato que somente prevê uma

cláusula genérica de capitalização diária, sem informar a taxa diária de juros remuneratórios. A informação

acerca da capitalização diária, sem indicação da respectiva taxa diária, subtrai do consumidor a

possibilidade de estimar previamente a evolução da dívida, e de aferir a equivalência entre a taxa diária

e as taxas efetivas mensal e anual. A falta de previsão da taxa diária, portanto, dificulta a compreensão do

consumidor acerca do alcance da capitalização diária, o que configura descumprimento do dever de informação

trazido pelo art. 46 do CDC. STJ. 2ª Seção. REsp 1.826.463-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em

14/10/2020 (Info 682)

As instituições financeiras envolvidas na operação de portabilidade, ainda que concorrentes, passam a

integrar uma mesma cadeia de fornecimento, impondo-se a ambas o dever de apurar a regularidade do

consentimento e da transferência da operação, recaindo sobre elas a responsabilidade solidária em

relação aos danos decorrentes de falha na prestação do serviço. Reconhecida a fraude na assinatura do

contrato que deu ensejo à operação de portabilidade, impõe-se a reparação dos danos sofridos pelo

consumidor. STJ. 3ª Turma. REsp 1.771.984-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 20/10/2020 (Info 682)

É possível a limitação dos descontos em conta bancária de recebimento do BPC, de modo a não privar o

idoso de grande parcela do benefício destinado à satisfação do mínimo existencial.

INFORMATIVOS 2020 - 243


Exemplo: João é correntista do Banco “X”. Ele fez dois contratos de mútuo com o banco. Ficou combinado que as

prestações seriam descontadas diretamente de sua conta bancária. Ocorre que todos os meses João recebe uma

única renda nessa conta bancária: o benefício de amparo assistencial (BPC), previsto no art. 20 da Lei nº

8.742/93. Em virtude dos descontos efetuados, João só está recebendo metade (50%) do valor do benefício

assistencial. Diante disso, ele ajuizou ação pedindo para que esses descontos sejam reduzidos para 30%. O

pedido deve ser deferido.

STJ. 3ª Turma. REsp 1834231-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/12/2020 (Info 684).

É válida a contratação de empréstimo consignado por analfabeto mediante a assinatura a rogo, a qual, por sua

vez, não se confunde, tampouco poderá ser substituída pela mera aposição de digital ao contrato escrito.

STJ. 3ª Turma. REsp 1868099-CE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/12/2020 (Info 684).

DANO MORAL COLETIVO

Em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal contra os réus que desenvolviam ilegalmente

atividade de bingo, foi determinada a sua condenação em danos morais coletivos. Considerou-se que há dano

moral in re ipsa. STJ. 2ª Turma. REsp 1.567.123-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/06/2016 (Info

678).

°° ECA

GUARDA

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) adota a chamada doutrina da proteção integral (art. 1º da Lei nº

8.069/90), segundo a qual deve-se observar o melhor interesse da criança.

Ressalvado o risco evidente à integridade física e psíquica, que não é a hipótese dos autos, o acolhimento

institucional não representa o melhor interesse da criança.

A observância do cadastro de adotantes não é absoluta porque deve ser sopesada com o princípio do melhor

interesse da criança, fundamento de todo o sistema de proteção ao menor.

O risco de contaminação pela Covid-19 em casa de acolhimento justifica a manutenção da criança com a família

substituta.

STJ. 3ª Turma. HC 572854-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 04/08/2020 (Info 676).

INFORMATIVOS 2020 - 244


A ordem cronológica de preferência das pessoas previamente cadastradas para adoção não tem um caráter

absoluto, devendo ceder ao princípio do melhor interesse da criança e do adolescente, razão de ser de todo o

sistema de defesa erigido pelo ECA, que tem na doutrina da proteção integral sua pedra basilar.

STJ. 3ª Turma. HC 505730/SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/05/2020.

Sentença que afastou criança do lar não impede pedido judicial de guarda pela mesma família. Situação

hipotética: um casal exerceu irregularmente a guarda de uma criança nos anos de 2014 e 2016. O juiz,

atendendo a pedido do Ministério Público, determinou que essa criança fosse levada a acolhimento institucional

em razão de burla ao cadastro de adoção. Houve trânsito em julgado dessa decisão que determinou o

afastamento da criança do convívio com essa família. Ocorre que se passaram quatro anos e a criança

permanece no “abrigo”, sem que tenha sido adotada. Diante disso, em 2020, o casal formulou novo pedido de

guarda alegando que existem vínculos socioafetivos entre a criança e a família. O STJ afirmou que é possível o

deferimento do pedido. As ações que envolvam a guarda da criança, por suas características peculiares, são

modificáveis com o tempo, bastando que exista a alteração das circunstâncias fáticas que justificaram a sua

concessão, ou não, no passado. Assim, transitada em julgado a sentença de procedência do pedido de

afastamento do convívio familiar de que resultou o acolhimento institucional da menor, quem exercia

irregularmente a guarda e pretende adotá-la possui interesse jurídico para, após considerável lapso temporal,

ajuizar ação de guarda cuja causa de pedir seja a modificação das circunstâncias fáticas que ensejaram o

acolhimento, não lhe sendo oponível a coisa julgada que se formou na ação de afastamento.

Em suma: o trânsito em julgado de sentença de procedência do pedido de afastamento do convívio

familiar não é oponível a quem exercia a guarda irregularmente e, após considerável lapso temporal,

pretende ajuizar ação de guarda cuja causa de pedir seja a modificação das circunstâncias fáticas. STJ. 3ª

Turma. REsp 1.878.043-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 679).

ADOÇÃO

O registro civil de nascimento de pessoa adotada sob a égide do Código Civil/1916 não pode ser alterado

para a inclusão dos nomes dos ascendentes dos pais adotivos. O ordenamento jurídico vigente ao tempo em

que realizada a adoção simples da peticionante por meio de escritura pública (natureza contratual), previa que o

parentesco resultante da adoção era meramente civil e limitava-se ao adotante e ao adotado, não se

estendendo aos familiares do adotante visto que mantidos os vínculos do adotado com a sua família biológica.

Não se aplica o regime jurídico de adoção do ECA para este caso. STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.387-MG, Rel. Min.

Antonio Carlos Ferreira, Rel. Acd. Min. Marco Buzzi, julgado em 11/02/2020 (Info 666). leão Nunes Maia Filho,

julgado em 20/02/2020 (Info 666)

INFORMATIVOS 2020 - 245


O art. 42, § 1º proíbe que os avós adotem seu neto (“Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do

adotando”). Essa regra proibitiva tem por objetivo:

• evitar inversões e confusões nas relações familiares - em decorrência da alteração dos graus de parentesco

• impedir a utilização do instituto com finalidade meramente patrimonial.

Vale ressaltar, no entanto, que o STJ admite a sua mitigação (relativização) excepcional quando:

a) o pretenso adotando seja menor de idade;

b) os avós (pretensos adotantes) exerçam, com exclusividade, as funções de mãe e pai do neto desde o seu

nascimento;

c) a parentalidade socioafetiva tenha sido devidamente atestada por estudo psicossocial;

d) o adotando reconheça os - adotantes como seus genitores e seu pai (ou sua mãe) como irmão;

e) inexista conflito familiar a respeito da adoção;

f) não se constate perigo de confusão mental e emocional a ser gerada no adotando;

g) não se funde a pretensão de adoção em motivos ilegítimos, a exemplo da predominância de interesses

econômicos; e

h) a adoção apresente reais vantagens para o adotando.

Assim, é possível a mitigação da norma geral impeditiva contida no § 1º do art. 42 do ECA, de modo a se

autorizar a adoção avoenga em situações excepcionais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.448.969-SC, Rel. Min. Moura

Ribeiro, julgado em 21/10/2014 (Info 551). STJ. 4ª Turma. REsp 1.587.477-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,

julgado em 10/03/2020 (Info 678)

DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR

É juridicamente existente a sentença proferida em ação de destituição de poder familiar ajuizada em

desfavor apenas da genitora, no caso em que pretenso pai biológico não conste na respectiva certidão de

nascimento do menor. Caso concreto: em ação proposta pelo Ministério Público, o juiz decretou a destituição

do poder familiar da mãe biológica e a sua adoção. Após o trânsito em julgado, o suposto pai biológico da

criança ajuizou ação declaratória de inexistência de sentença (querela nullitatis insanabilis) por meio da qual

tentou anular a destituição do poder familiar da mãe biológica. O argumento principal do autor foi a falta de sua

citação no processo de destituição. Ocorre que o STJ manteve válido o processo porque concluiu que o homem

era desconhecido na época do nascimento da criança, tanto que não constou de seu registro civil. Segundo os

autos, a criança foi abandonada no hospital pela genitora horas após o parto, e o registro de nascimento foi feito

apenas com o nome da mãe, já que era ignorada a identidade do pai. O ECA disciplinou de modo detalhado

como deverão ser citados os réus na ação de destituição de poder familiar, como forma de reduzir ao máximo a

possibilidade de inexistência ou irregularidade na citação, especialmente pela medida drástica que pode resultar

INFORMATIVOS 2020 - 246


dessa ação. Entretanto, as hipóteses legais se referem a pais biológicos conhecidos – situação completamente

distinta da analisada nos autos, na qual o suposto genitor era absolutamente desconhecido na época da ação de

destituição ajuizada pelo Ministério Público. Por essa razão, o pretenso pai que não mantinha relação jurídica

de poder familiar com o menor não poderia ser réu na ação em que se pretendia decretar a destituição

desse poder. STJ. 3ª Turma. REsp 1.819.860-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info 679).

COMPETÊNCIA

O juízo especializado da Justiça da Infância e da Juventude é competente para o cumprimento e a efetivação

do montante sucumbencial por ele arbitrado. A partir da leitura dos arts. 148 e 152 do ECA, art. 24, § 1º, do

Estatuto da Advocacia e art. 516, II, do CPC/2015, conclui-se que, como regra, o cumprimento da sentença (o que

inclui a imposição sucumbencial), deve ocorrer nos mesmos autos em que se formou o correspondente título

exequendo e, por conseguinte, perante o juízo prolator do título. STJ. 1ª Turma. REsp 1.859.295-MG, Rel. Min.

Sérgio Kukina, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

PROTEÇÃO ESPECIAL

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA DOS PROGRAMAS DE RÁDIO E TV

Segundo decidiu o STF, é inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art.

254 do ECA. Assim, o Estado não pode determinar que os programas somente possam ser exibidos em

determinados horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado pelo texto constitucional por configurar

censura. O Poder Público pode apenas recomendar os horários adequados. A classificação dos programas é

indicativa (e não obrigatória) (STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 31/8/2016).

Vale ressaltar, no entanto, que a liberdade de expressão, como todo direito ou garantia constitucional, exige

responsabilidade no seu exercício, de modo que as emissoras deverão resguardar, em sua programação, as

cautelas necessárias às peculiaridades do público infanto juvenil. Logo, a despeito de ser a classificação da

programação apenas indicativa e não proibir a sua veiculação em horários diversos daquele

recomendado, cabe ao Poder Judiciário controlar eventuais abusos e violações ao direito à programação

sadia, previsto no art. 221 da CF/88. Diante disso, é possível, ao menos em tese, que uma emissora de televisão

seja condenada ao pagamento de indenização por danos morais coletivos em razão da exibição de filme fora do

horário recomendado pelo órgão competente, desde que fique constatado que essa conduta afrontou

gravemente os valores e interesses coletivos fundamentais. STJ. 3ª Turma. REsp 1.840.463-SP, Rel. Min. Marco

INFORMATIVOS 2020 - 247


Aurélio Bellizze, julgado em 19/11/2019 (Info 663)

PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE

O art. 78 do ECA prevê o seguinte:

Art. 78. As revistas e publicações contendo material impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão

ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo.

Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas que contenham mensagens pornográficas ou obscenas

sejam protegidas com embalagem opaca.

Esse dever de zelar pela correta comercialização de revistas pornográficas, em embalagens opacas,

lacradas e com advertência de conteúdo, não se limita aos editores e comerciantes, mas se estende a

todos os integrantes da cadeia de consumo, inclusive aos transportadores e distribuidores. STJ. 1ª

Turma.REsp 1.584.134-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/02/2020 (Info 666)

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Tratando-se de medida socioeducativa aplicada sem termo, o prazo prescricional deve ter como

parâmetro a duração máxima da internação (3 anos), e não o tempo da medida, que poderá

efetivamente ser cumprida até que o socioeducando complete 21 anos de idade.

Assim, deve-se considerar o lapso prescricional de 8 anos previsto no art. 109, IV, do Código Penal,

posteriormente reduzido pela metade em razão do disposto no art. 115 do mesmo diploma legal, de maneira a

restar fixado em 4 anos.

STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1856028-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 12/05/2020 (Info

672).

INTERNAÇÃO

Não há impeditivo legal para a internação de adolescente gestante ou com filho em amamentação, desde

que seja garantida atenção integral à saúde do adolescente, além de asseguradas as condições

necessárias para que a adolescente submetida à execução de medida socioeducativa de privação de

liberdade permaneça com o seu filho durante o período de amamentação (arts. 60 e 63, § 2º da Lei nº

12.594/12 - SINASE). STJ. 5ª Turma. HC 543.279-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/03/2020

(Info 668

INFORMATIVOS 2020 - 248


É válida a extinção de medida socioeducativa de internação quando o juízo da execução, ante a superveniência

de processo-crime após a maioridade penal, entende que não restam objetivos pedagógicos em sua execução.

Exemplo: Adriano, de 20 anos, foi sentenciado a cumprir medida socioeducativa de internação em virtude de ato

infracional praticado quando ele era adolescente. A sentença transitou em julgado. Ocorre que o juízo da vara de

infância e juventude constatou que Adriano encontra-se preso em razão de crime de roubo cometido quando

ele já era adulto. Diante disso, o juízo da vara infracional extinguiu a execução da medida socioeducativa

afirmando que, tendo em vista a sua idade e o seu perfil pessoal agravado, não restam objetivos pedagógicos no

cumprimento da internação.

O STJ afirmou que a decisão foi acertada.

O art. 46, § 1º da Lei nº 12.594/2012 (Lei do SINASE) prevê a seguinte faculdade para o julgador:

Art. 46 (...) § 1º No caso de o maior de 18 (dezoito) anos, em cumprimento de medida socioeducativa, responder

a processo-crime, caberá à autoridade judiciária decidir sobre eventual extinção da execução, cientificando da

decisão o juízo criminal competente.

STJ. 6ª Turma. HC 551319-RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

ASPECTOS CÍVEIS

Em ACP na qual se questiona acolhimento institucional de menor, não é admissível o julgamento de

improcedência liminar ou o julgamento antecipado do pedido, especialmente quando não há tese

jurídica fixada em precedente vinculante. Caso concreto: o MP/CE ajuizou contra o Município de Fortaleza 10

ações civis públicas nas quais alega que 10 diferentes crianças estão há mais tempo em acolhimento

institucional do que prevê a lei. Diante disso, o MP pediu que elas sejam encaminhadas à programa de

acolhimento familiar e que sejam indenizadas por danos morais. O juiz, invocando o art. 332, III, do CPC, julgou

improcedente liminarmente o pedido (rectius: julgou antecipadamente o pedido), ao fundamento de que se

trataria de controvérsia repetitiva justamente por se tratar de 10 ações civis públicas versando sobre o mesmo

objeto. No mérito, a sentença afirmou que:

i) o acolhimento por prazo superior a 2 anos, conquanto ilegal, algumas vezes indispensável porque, em muitas

hipóteses, não há família adequada para recebê-lo;

ii) não há prova de que o Município teria agido de modo doloso, intencional ou negligente;

iii) o problema do acolhimento institucional por período superior a 2 anos é de natureza estrutural, eis que

envolve a falta de recursos do Poder Público.

O STJ afirmou que não era admissível o julgamento de improcedência liminar ou o julgamento antecipado do

pedido. Diferentemente do tratamento dado à matéria no revogado CPC/73, não mais se admite, no CPC/2015, o

julgamento de improcedência liminar do pedido com base no entendimento firmado pelo juízo em que tramita o

INFORMATIVOS 2020 - 249


processo sobre a questão repetitiva, exigindo-se, ao revés, que tenha havido a prévia pacificação da questão

jurídica controvertida no âmbito dos Tribunais, materializada em determinadas espécies de precedentes

vinculantes, a saber: súmula do STF ou do STJ; súmula do TJ sobre direito local; tese firmada em recursos

repetitivos, em incidente de resolução de demandas repetitivas ou em incidente de assunção de competência.

Por se tratar de regra que limita o pleno exercício de direitos fundamentais de índole processual, em especial o

contraditório e a ampla defesa, as hipóteses autorizadoras do julgamento de improcedência liminar do pedido

devem ser interpretadas restritivamente, não se podendo dar a elas amplitude maior do que aquela

textualmente indicada pelo legislador no art. 332 do novo CPC. De igual modo, para que possa o juiz resolver o

mérito liminarmente e em favor do réu, ou até mesmo para que haja o julgamento antecipado do mérito

imediatamente após a citação do réu, é indispensável que a causa não demande ampla dilação probatória. STJ.

3ª Turma. REsp 1.854.842/CE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/06/2020 (Info 673)

PROTEÇÃO CÍVEL

A intervenção da FUNAI nos litígios relacionados à destituição do poder familiar e à adoção de menores

indígenas ou menores cujos pais são indígenas é obrigatória e apresenta caráter de ordem pública. O

objetivo dessa intervenção é fazer com que sejam consideradas e respeitadas a identidade social e cultural do

povo indígena, os seus costumes e tradições, suas instituições, bem como que a colocação familiar ocorra

prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia. As regras do art. 28, §6º, I e

II, do ECA, visam conferir às crianças de origem indígena um tratamento verdadeiramente diferenciado,

pois, além de crianças, pertencem elas a uma etnia minoritária, historicamente discriminada e

marginalizada no Brasil, bem como pretendem, reconhecendo a existência de uma série de

vulnerabilidades dessa etnia, adequadamente tutelar a comunidade e a cultura indígena, de modo a

minimizar a sua assimilação ou absorção pela cultura dominante. Nesse contexto, a obrigatoriedade e a

relevância da intervenção obrigatória da FUNAI decorre do fato de se tratar do órgão especializado,

interdisciplinar e com conhecimentos aprofundados sobre as diferentes culturas indígenas, o que possibilita

uma melhor verificação das condições e idiossincrasias da família biológica, com vistas a propiciar o adequado

acolhimento do menor e, consequentemente, a proteção de seus melhores interesses, não se tratando, pois, de

formalismo processual exacerbado apenar de nulidade a sua ausência. STJ. 3ª Turma. REsp 1.698.635-MS, Rel.

Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/09/2020 (Info 679)

INFORMATIVOS 2020 - 250


AMBIENTAL

RESPONSABILIDADE CIVIL

É imprescritível a pretensão de reparação civil de dano ambiental. STF. Plenário. RE 654833, Rel. Alexandre

de Moraes, julgado em 20/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 999) (Info 983 – clipping).

Os danos ambientais são regidos pela teoria do risco integral. A pessoa que explora a atividade econômica

ocupa a posição de garantidor da preservação ambiental, sendo sempre considerado responsável pelos danos

vinculados à atividade. Logo, não se pode admitir a exclusão da responsabilidade pelo fato exclusivo de terceiro

ou força maior. No caso concreto, a construção de um posto de gasolina causou danos em área ambiental

protegida. Mesmo tendo havido a concessão de licença ambiental – que se mostrou equivocada – isso não é

causa excludente da responsabilidade do proprietário do estabelecimento. Mesmo que se considere que a

instalação do posto de combustível somente tenha ocorrido em razão de erro na concessão da licença

ambiental, é o exercício dessa atividade, de responsabilidade do empreendedor, que gera o risco concretizado

no dano ambiental, razão pela qual não há possibilidade de eximir-se da obrigação de reparar a lesão verificada.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.612.887-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

COMPETÊNCIA

É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para desenvolvimento, experimentos e

testes de produtos cosméticos, de higiene pessoal, perfumes e seus componentes. A proteção da fauna é

matéria de competência legislativa concorrente (art. 24, VI, da CF/88). A Lei federal nº 11.794/2008 possui uma

natureza permissiva, autorizando, a utilização de animais em atividades de ensino e pesquisas científicas, desde

que sejam observadas algumas condições relacionadas aos procedimentos adotados, que visam a evitar e/ou

atenuar o sofrimento dos animais. Mesmo que o tema tenha sido tratado de forma mais restrita pela lei

estadual, isso não se mostra inconstitucional porque, em princípio, é possível que os Estados editem normas

mais protetivas ao meio ambiente, com fundamento em suas peculiaridades regionais e na preponderância de

seu interesse, conforme o caso. STF. Plenário. ADI 5996, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info

975).

INFORMATIVOS 2020 - 251


CÓDIGO FLORESTAL

O art. 15 da Lei nº 12.651/2012, que admite o cômputo da área de preservação permanente no cálculo do

percentual de instituição da reserva legal do imóvel, não retroage para alcançar situações consolidadas antes de

sua vigência. Em matéria ambiental, deve prevalecer o princípio tempus regit actum, de forma a não se admitir a

aplicação das disposições do novo Código Florestal a fatos pretéritos, sob pena de retrocesso ambiental. STJ. 1ª

Turma. REsp 1.646.193-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Gurgel de Faria, julgado em

12/05/2020 (Info 673).

O cumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta deve ser regido pelo Código Florestal vigente à

época da celebração do acordo. Caso concreto: o Termo de Ajustamento de Conduta foi celebrado sob a égide

da Lei nº 4.771/65 (antigo Código Florestal). Ocorre que entrou em vigor o novo Código Florestal (Lei nº

12.651/2012) com regras diferentes daquelas que haviam sido ajustadas no TAC.

Será possível aplicar as regras do novo Código Florestal? Não.

O novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico perfeito, os direitos ambientais

adquiridos e a coisa julgada. Uma vez celebrado, e cumpridas as formalidades legais, o Termo de Ajustamento

de Conduta - TAC constitui ato jurídico perfeito, imunizado contra alterações legislativas posteriores que

enfraqueçam as obrigações ambientais nele estabelecidas. Deve, assim, ser cabal e fielmente implementado,

vedado ao juiz recusar sua execução, pois do contrário desrespeitaria a garantia da irretroatividade da lei nova,

prevista no art. 6º da LINDB STJ. 2ª Turma. REsp 1.802.754-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em

08/10/2019 (Info 679).

A compensação de danos ambientais ocorridos em reserva legal em data anterior à vigência da Lei nº

12.651/2012 (Novo Código Florestal) não precisa ser feita na mesma microbacia, sendo suficiente que

ocorra no mesmo bioma do imóvel a ser compensado. STJ. 1ª Turma. REsp 1.532.719-MG, Rel. Min. Napoleão

Nunes Maia Filho, julgado em 08/09/2020 (Info 679).

PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado se configura como direito fundamental da pessoa

humana. A mera revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis necessários ao

cumprimento da legislação ambiental, sem sua substituição ou atualização, aparenta comprometer a

observância da Constituição Federal, da legislação vigente e de compromissos internacionais. STF.

INFORMATIVOS 2020 - 252


Plenário. ADPF 747 MC-Ref/DF, ADPF 748 MC-Ref/DF e ADPF 749 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em

27/11/2020 (Info 1000).

INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA

A cobrança por Município de multa relativa a danos ambientais já paga à União anteriormente, pelo mesmo fato,

NÃO CONFIGURA BIS IN IDEM. O art. 76 da Lei nº 9.605/98 afirma que, se o Estado, Município, Distrito Federal

ou Território já tiver multado o infrator e esta tiver sido paga, não é mais possível que seja imposta uma “multa

federal”: Art. 76. O pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios

substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência. O inverso, contudo, não é verdadeiro. Assim, se a

União já tiver multado o infrator, essa “multa federal” não substitui a multa imposta pelo Estado, DF ou

Município considerando que isso não foi previsto pelo art. 76. Houve um silêncio eloquente do legislador. Se o

pagamento da multa imposta pela União também afastasse a possibilidade de cobrança por Estados,

Municípios, Distrito Federal e Territórios, a lei teria afirmado simplesmente que o adimplemento de sanção

aplicada por ente federativo afastaria a exigência de pena pecuniária por quaisquer dos outros. Dessa forma,

não há margem para interpretação de que a multa paga à União impossibilita a cobrança daquela

aplicada pelo Município, sob pena de bis in idem, uma vez que a atuação conjunta dos poderes públicos,

de forma cooperada, na tutela do meio ambiente, é dever imposto pela Constituição Federal. STJ. 2ª

Turma. REsp 1.132.682-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 13/12/2016 (Info 667).

ATENÇÃO: penso que esse entendimento está superado. Os fatos analisados neste julgado ocorreram quando

ainda não estava em vigor a LC 140/2011. Esta Lei previu que se, mais de um ente federativo lavrar auto de

infração ambiental, deverá prevalecer aquele que foi feito por órgão que detenha a atribuição de licenciamento

(art. 17, § 3º). Isso para evitar bis in idem. Logo, no caso concreto, seria preciso definir qual dos dois órgãos tinha

competência (União ou Município) e somente iria prevalecer o auto de infração lavrado por ele. Muito cuidado

como esse tema vai ser cobrado em prova.

AÇÃO POPULAR

Em 2019, houve o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério, localizada em Brumadinho (MG). O

rompimento resultou em um terrível desastre ambiental e humanitário. Felipe, na condição de cidadão, ajuizou

ação popular contra a União, o Estado de Minas Gerais e a Vale S.A., pedindo para que os réus fossem

condenados a recuperar o meio ambiente degradado, pagar indenização pelos danos causados e pagar multa

INFORMATIVOS 2020 - 253


por dano ambiental. Como Felipe mora em Campinas (SP), ele ajuizou a ação no foro de seu domicílio e a

demanda foi distribuída para a 2ª Vara Federal de Campinas (SP). Ocorre que na 17ª Vara Federal de Minas

Gerais existem ações individuais, ações populares e ações civis públicas tramitando contra os mesmos réus e

envolvendo pedidos semelhantes a essa ação popular ajuizada em Campinas.

Quem é competente para julgar esta ação popular: o juízo do domicílio do autor ou o juízo do local em que se

consumou o ato danoso?

O juízo do local onde se consumou o dano (17ª Vara Federal de Minas Gerais).

Regra geral: em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de seu domicílio, mesmo que o dano

tenha ocorrido em outro local. Isso porque como a ação popular representa um direito político fundamental,

deve-se facilitar o seu exercício.

Exceção: o STJ entendeu que o caso concreto envolvendo Brumadinho era excepcional com inegáveis

peculiaridades que impõem a adoção de uma solução diferente para evitar tumulto processual em uma situação

de enorme magnitude social, econômica e ambiental. Assim, para o STJ é necessário superar, excepcionalmente,

a regra geral. Entendeu-se que seria necessário adotar uma saída pragmática para permitir uma resposta do

Poder Judiciário aos que sofrem os efeitos desta grande tragédia. A regra geral do STJ deve ser usada quando a

ação popular for isolada. Contudo, no caso de Brumadinho havia uma ação popular em Campinas (SP)

competindo e concorrendo com várias outras ações populares e ações civis públicas, bem como com centenas,

talvez milhares, de ações individuais tramitando em MG, razão pela qual, em se tratando de competência

concorrente, deve ser eleito o foro do local do fato. EM FACE DA MAGNITUDE ECONÔMICA, SOCIAL E

AMBIENTAL DO CASO CONCRETO, É POSSÍVEL A FIXAÇÃO DO JUÍZO DO LOCAL DO FATO PARA O

JULGAMENTO DE AÇÃO POPULAR QUE CONCORRE COM DIVERSAS OUTRAS AÇÕES INDIVIDUAIS,

POPULARES E CIVIS PÚBLICAS DECORRENTES DO MESMO DANO AMBIENTAL. STJ. 1ª Seção. CC 164.362-MG,

Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/06/2019 (Info 662).

TEMAS DIVERSOS

A Lei nº 9.433/97 (Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos) e a Lei nº 11.445/2007 (Lei do Saneamento

Básico) preveem, de forma expressa, categórica e inafastável que é proibida a captação de água subterrânea

para uso de núcleos residenciais, sem que haja prévia outorga e autorização ambiental do Poder Público.

As normas locais devem respeitar essa regra geral fixada pela legislação federal, sob pena de serem

inconstitucionais. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.335.535-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/09/2018 (Info

678).

INFORMATIVOS 2020 - 254


Assentamentos de reforma agrária podem ter licenciamento ambiental simplificado.

A Resolução nº 458/2013, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), estabelece procedimentos para

licenciamento ambiental em assentamentos de reforma agrária.

A Procuradoria-geral da República impugnou essa Resolução alegando que ela estabeleceu critérios

diferenciados e aparentemente simplificados para o licenciamento ambiental dos assentamentos de reforma

agrária e que isso ofenderia o princípio da prevenção, constante do art. 225 da Constituição Federal e a

exigência de estudo prévio de impacto ambiental, prevista no seu §1º, inciso IV, além da vedação do retrocesso e

o princípio da proteção deficiente.

O STF julgou improcedente o pedido e declarou que a Resolução é constitucional.

Esse ato normativo busca adequar a proteção ambiental à justiça social, que, enquanto valor e fundamento da

ordem econômica (CRFB, art. 170, caput) e da ordem social (CRFB, art. 193), protege, ao lado da defesa do meio

ambiente, o valor social do trabalho, fundamento do Estado de Direito efetivamente democrático (art. 1º, IV, da

CRFB), e os objetivos republicanos de “construir uma sociedade livre, justa e solidária” e “erradicar a pobreza e a

marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais” (Art. 3º, I e III).

Deve-se compreender o projeto de assentamento não como empreendimento em si potencialmente poluidor.

Reserva-se às atividades a serem desenvolvidas pelos assentados a consideração acerca do potencial risco

ambiental. Caberá aos órgãos de fiscalização e ao Ministério Público concretamente fiscalizar eventual

vulneração do meio ambiente, que não estará na norma abstrata, mas na sua aplicação, cabendo o recurso a

outras vias de impugnação.

É assim que a resolução questionada não denota retrocesso inconstitucional, nem vulnera os princípios da

prevenção e da precaução ou o princípio da proteção deficiente.

STF. Plenário. ADI 5547, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/09/2020.

EMPRESARIAL

TÍTULOS DE CRÉDITO

A emissão de Cédula de Produto Rural — CPR em garantia de contrato de compra e venda de safra futura não

pressupõe, necessariamente, a antecipação do pagamento do produto.

STJ. 3ª Turma. REsp 866414-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/6/2013 (Info 526).

STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 1027435/GO, Rel. Min. Marco Aurelio Belizze, julgado em 24/08/2020

INFORMATIVOS 2020 - 255


NOTA PROMISSÓRIA

Em uma nota promissória constaram duas datas de vencimento; uma coincide com a data de emissão do

título; a outra é posterior; neste caso, deve prevalecer a data posterior já que, por ser futura, admite ser

presumida como a efetiva manifestação de vontade do emitente. Caso concreto: na nota promissória

constaram duas informações diferentes sobre a data de vencimento do título: “cinco de fevereiro de dois mil e

oito” e “05 de julho de 2008”. Vale ressaltar que a nota promissória foi emitida em 05.02.2008 (data de emissão).

Assim, a nota promissória contém duas datas de vencimento igualmente expressas por extenso quanto ao mês

(“fevereiro” e “julho”), sendo a primeira delas coincidente com a data de emissão da cártula, aposta

numericamente (05.02.2008). Qual delas deverá prevalecer? Deve prevalecer a data de 05 de julho. Diante da

divergência entre as expressões numérica e por extenso da data de vencimento de nota promissória, deve-se

presumir que a efetiva vontade do emitente da nota era a de que o vencimento se desse após a emissão,

prevalecendo, assim, a segunda e mais futura data de vencimento. A nota promissória é um título de crédito

próprio, e, como tal, se propõe à concessão de um prazo para o pagamento, distinto da data da emissão

da cártula, de forma que não faz sentido a emissão de uma nota promissória com data de vencimento

coincidente com a data de emissão. STJ. 3ª Turma. REsp 1.730.682-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em

05/05/2020 (Info 671)

DUPLICATA

Segundo o art. 2º, § 1º da Lei nº 5.474/68 um dos requisitos da duplicata é a assinatura do sacador. O requisito

da assinatura do emitente deve ser considerado suprível nessa específica modalidade de título de

crédito, sobretudo quando não ocorre sua circulação. Existem dois principais argumentos que permitem

chegar a essa conclusão:

a) com fundamento no art. 13, § 1º da Lei nº 5.474/68, é dispensável a apresentação física da duplicata, bastando

para a constituição do título executivo extrajudicial: os boletos de cobrança bancária, os protestos por indicação

e os comprovantes de entrega de mercadoria ou de prestação de serviços.

b) a duplicata, por ser um título causal, permite a incidência da literalidade indireta, que autoriza a

identificação de seus elementos no documento da compra e venda mercantil ou da prestação de serviços

que lhe serve de ensejo, pois o devedor tem a ciência de que aquela obrigação também tem seus limites

definidos em outro documento. STJ. 3ª Turma. REsp 1.790.004-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em

13/10/2020 (Info 681)

LETRA DE CÂMBIO

Na letra de câmbio não aceita não há obrigação cambial que vincule o sacado e assim, o sacador somente

tem ação extracambial contra o sacado não aceitante, cujo prazo prescricional não sofre as

INFORMATIVOS 2020 - 256


interferências do protesto do título de crédito.

O aceite é o ato por meio do qual o sacado se vincula à ordem de pagamento emitida pelo sacador, tornando-se

o responsável principal pela dívida inscrita na letra de câmbio.

Se não houve aceite, não há responsável e a letra de câmbio deixa de ter natureza de título de crédito,

consistindo em um mero documento, produzido unilateralmente pelo sacador.

Assim, na letra de câmbio não aceita não há obrigação cambial que vincule o sacado.

Nesse caso, o sacador somente tem ação extracambial contra esse sacado não aceitante. O prazo prescricional

dessa pretensão não sofre as interferências do protesto do título de crédito.

A prescrição interrompida pelo protesto cambial se refere única e exclusivamente à ação cambiária, sendo

endereçada unicamente ao responsável principal e, eventualmente, aos devedores indiretos do título, entre os

quais não se enquadra o sacado não aceitante.

STJ. 3ª Turma. REsp 1748779-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO JUDICIAL

FALÊNCIA

Cabe agravo de instrumento de todas as decisões interlocutórias proferidas no processo de recuperação

judicial e no processo de falência, por força do art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015.

STJ. 2ª Seção. REsp 1717213-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/12/2020 (Recurso Repetitivo – Tema

1022) (Info 684).

O ajuizamento de execução fiscal em momento anterior à decretação da quebra não enseja o

reconhecimento da ausência de interesse processual do ente federado para pleitear a habilitação do

crédito no processo de falência.

A legislação prevê que a cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de credores ou

habilitação em falência, recuperação judicial, concordata, inventário ou arrolamento (art. 187 do CTN e o art. 29

da Lei nº 6.830/80). Isso, contudo, não representa óbice à habilitação de créditos tributários no concurso de

credores da falência.

Esses dispositivos trazem, na verdade, a previsão de uma prerrogativa do ente público que pode optar entre

receber o pagamento de seu crédito pelo rito da execução fiscal, ou mediante habilitação nos autos da falência.

Assim, a despeito de existir a prerrogativa de cobrança do crédito tributário via execução fiscal, não existe óbice

para que o Fisco (no exercício de juízo de conveniência e oportunidade) venha a requerer a habilitação de seus

INFORMATIVOS 2020 - 257


créditos nos autos do procedimento falimentar, submetendo-se à ordem de pagamento prevista na Lei nº

11.101/2005.

Desse modo, tendo o ente público escolhido um dos ritos à sua disposição (habilitar o crédito na falência), não

pode o juízo falimentar afirmar que não existe interesse de agir do poder público.

STJ. 3ª Turma. REsp 1857055-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

Uma empresa alienou dois imóveis no termo legal da falência (art. 99, II, da Lei 11.101/05).

Na sentença da ação revocatória o juiz entendeu ser desnecessária a comprovação de conluio fraudulento entre

as partes, pois no caso de alienação durante o termo legal a fraude seria presumida.

O STJ decidiu que o ato do falido considerado objetivamente ineficaz pela Lei de Recuperação Judicial e Falência

é o registro de transferência de propriedade após a decretação da quebra e não no termo legal da falência. Por

isso, era sim necessária a comprovação de fraude.

STJ. 3ª Turma. REsp 1597084/SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 01/12/2020.

O síndico (atual administrador judicial) é responsável pela prestação de contas da massa falida ao juízo a

partir do momento de sua nomeação, incluídos os atos realizados pelo gerente na continuidade

provisória das atividades. Esse gerente, que desempenhará funções específicas relacionadas ao comércio dos

bens, ficará sob a imediata fiscalização do síndico, cabendo, ao final, prestar contas de tudo que fez ao síndico.

Logo, o síndico é também responsável pelos atos realizados pelo gerente na continuidade provisória das

atividades, devendo prestar contas disso ao juiz. STJ. 4ª Turma. REsp 1.487.042-PR, Rel. Min. Luis Felipe

Salomão, julgado em 05/12/2019 (Info 663).

Obs: a Lei nº 11.101/2005 não mais utiliza a expressão “síndico”, chamando agora de “administrador judicial”.

Obs2: o caso acima foi apreciado com base na antiga Lei de Falências (DL 7.661/1945), no entanto, a solução

seria a mesma no atual diploma (Lei nº 11.101/2005)

O inciso III do art. 104 da Lei nº 11.101/2005 prevê que a decretação da falência impõe ao falido o dever de

não se ausentar do lugar onde se processa a falência sem motivo justo e comunicação expressa ao juiz, e

sem deixar procurador bastante, sob as penas cominadas na lei. Vale ressaltar que a antiga Lei de Falências

(DL 7.661/1945) trazia regra mais restritiva e exigia que o falido obtivesse autorização judicial expressa para que

pudesse se ausentar do lugar da falência. A norma mais benéfica do art. 104, III, da Lei nº 11.101/2005, que

não exige mais autorização judicial, mas apenas a comunicação justificada sobre mudança de residência

do sócio, inclusive para o exterior, pode ser aplicada às quebras anteriores à sua vigência. STJ. 4ª Turma.

RHC 80.124-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

Se a Fazenda Pública habilitar o crédito na falência, ela deverá, OBRIGATORIAMENTE, renunciar a ação fiscal já

proposta que cobra o mesmo crédito?

INFORMATIVOS 2020 - 258


1ª corrente: SIM. Se o ente estatal optar por habilitar o crédito na falência, deverá renunciar o rito da

execução fiscal, na medida em que não se pode admitir bis in idem. Se a Fazenda Pública habilita o crédito

na falência e mantém a execução fiscal, isso significaria uma “garantia dúplice”, que não é permitida. STJ. 4ª

Turma. REsp 1466200/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 04/12/2018.

2ª corrente: NÃO. A tramitação da ação executiva fiscal não representa, por si só, uma garantia para o credor.

Diante do pedido de habilitação do crédito na falência, não haverá obrigatoriedade de a Fazenda Pública

renunciar a execução fiscal se, no processo executivo, não há constrição de bens. Logo, é cabível a

coexistência da habilitação de crédito na falência com a execução fiscal desprovida de garantia, desde que a

Fazenda Pública se abstenha de requerer a constrição de bens em relação ao executado que também figure no

polo passivo da ação falimentar. STJ. 1ª Turma. REsp 1.831.186-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd.

Min. Regina Helena Costa, julgado em 26/05/2020 (Info 674)

É possível o redirecionamento da execução fiscal contra o sócio-gerente da pessoa jurídica originalmente

executada pela suposta prática de crime falimentar mesmo que não tenha havido ainda o trânsito em

julgado da sentença penal condenatória. Se há indícios e/ou provas de prática de ato de infração à lei (penal),

a hipótese se subsume ao art. 135 do CTN. Importante acrescentar que mesmo a eventual absolvição em ação

penal não conduz necessariamente à revogação do redirecionamento, pois o ato pode não constituir

ilícito penal, e, mesmo assim, continuar a representar infração à lei civil, comercial, administrativa, etc.

(independência das esferas civil, lato sensu, e penal). É por essa razão que caberá ao juiz natural,

competente para processar e julgar a execução fiscal, analisar, caso a caso, o conteúdo da denúncia pela prática

de crime falimentar e decidir se cabe ou não o redirecionamento. Não é necessário, portanto, aguardar o

trânsito em julgado da sentença penal condenatória para que o Juízo da Execução Fiscal analise o pleito de

redirecionamento da execução contra o sócio. STJ. 2ª Turma. REsp 1.792.310-RS, Rel. Min. Herman Benjamin,

julgado em 04/02/2020 (Info 678)

RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Não é permitido à concordatária que descumpriu as obrigações assumidas na concordata efetuar o

pedido de recuperação judicial, nos termos do § 2º do art. 192 da Lei nº 11.101/2005.

STJ. 4ª Turma. REsp 1267282-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/06/2020 (Info 677).

Na recuperação judicial, os créditos decorrentes de condenação por danos morais imposta à recuperanda na

Justiça do Trabalho são classificados como trabalhistas.

Ex: João ingressou com ação de indenização por danos morais contra a empresa em que trabalhou pelo fato de

ter sofrido intoxicação alimentar em decorrência da ingestão de alimentos contaminados no refeitório. A

INFORMATIVOS 2020 - 259


empresa foi condenada e, logo em seguida, ingressou com pedido de recuperação judicial. Esse crédito será

habilitado na recuperação como crédito trabalhista (art. 41, I, da LFRE).

STJ. 3ª Turma. REsp 1869964-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/06/2020 (Info 676).

Para o fim de submissão aos efeitos da recuperação judicial, considera-se que a existência do crédito é

determinada pela data em que ocorreu o seu fato gerador.

Ex: em janeiro/2017, Lucas consumiu leite estragado comprado no Supermercado BR. Em fevereiro/2017, ajuizou

ação de indenização contra o Supermercado. Em setembro/2017, o supermercado ingressou com pedido de

recuperação judicial. Em outubro/2017, o juiz julgou o pedido de Lucas procedente e condenou a empresa a

pagar R$ 50 mil. Houve o trânsito em julgado. Diante disso, Lucas ingressou com pedido de habilitação de seu

crédito na recuperação judicial. Esse crédito poderá ser habilitado na recuperação (art. 49 da Lei nº 11.101/2005)

porque foi constituído na data do acidente de consumo (janeiro/2017) e não na data da sentença, que apenas

declarou uma obrigação já existente.

STJ. 2ª Seção. REsp 1842911-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 09/12/2020 (Recurso Repetitivo –

Tema 1051) (Info 684).

Nos casos em que há aditamento ao plano de recuperação judicial, o termo inicial do prazo bienal de que

trata o art. 61, caput, da Lei nº 11.101/2005 deve ser a data da concessão da recuperação judicial.

O art. 61 da Lei nº 11.101/2005 estabeleceu o prazo de 2 anos para o devedor permanecer em recuperação

judicial. Esse prazo se inicia com a concessão da recuperação judicial e se encerra com o cumprimento de todas

as obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 anos do termo inicial.

Se houver o aditamento do plano de recuperação judicial, o termo inicial do prazo bienal de que trata o art. 61,

da Lei nº 11.101/2005 continuará sendo a data da concessão da recuperação judicial ou passará para a data em

que foi homologado o aditivo ao plano?

Continuará a ser a data da concessão da recuperação judicial.

A apresentação de aditivos ao plano de recuperação judicial pressupõe que o plano estava sendo cumprido e,

por situações que somente se mostraram depois, teve que ser modificado, o que foi admitido pelos credores.

Não há, assim, propriamente uma ruptura da fase de execução, motivo pelo qual inexiste justificativa para a

modificação do termo inicial da contagem do prazo bienal para o encerramento da recuperação judicial.

Assim, decorridos 2 anos da concessão da recuperação judicial, ela deve ser encerrada, seja pelo cumprimento

das obrigações estabelecidas para esse período, seja pela eventual decretação da falência.

STJ. 3ª Turma. REsp 1853347-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/05/2020 (Info 672).

Se o credor não requereu a habilitação de seu crédito e o quadro-geral de credores já foi homologado, a única

via que ainda resta para esse credor será pleitear a habilitação por meio de ação judicial autônoma que

tramitará pelo rito ordinário, nos termos do art. 10, § 6º, da LFRE:

INFORMATIVOS 2020 - 260


§ 6º Após a homologação do quadro-geral de credores, aqueles que não habilitaram seu crédito poderão,

observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil, requerer ao juízo da

falência ou da recuperação judicial a retificação do quadro-geral para inclusão do respectivo crédito. Vale

ressaltar, no entanto, que essa ação pedindo a habilitação retardatária somente pode ser proposta até a

prolação da decisão de encerramento do processo recuperacional. Desse modo, uma vez encerrada a

recuperação judicial, não se pode mais autorizar a habilitação ou a retificação de créditos. STJ. 3ª Turma. REsp

1.840.166-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/12/2019 (Info 662).

O Juízo da recuperação é competente para avaliar se estão presentes os requisitos para a concessão de

tutela de urgência objetivando antecipar o início do stay period ou suspender os atos expropriatórios

determinados em outros juízos, antes mesmo de deferido o processamento da recuperação. STJ. 2ª Seção. CC

168.000-AL, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/12/2019 (Info 663)

O art. 48 da Lei nº 11.101/2005 elenca requisitos que deverão ser cumpridos pelo devedor para que ele

possa requerer recuperação judicial. O primeiro requisito é a previsão de que o devedor deverá estar

exercendo regularmente suas atividades há, no mínimo, 2 anos no momento do pedido. O cômputo do

período de dois anos de exercício da atividade econômica, para fins de recuperação judicial, nos termos do art.

48 da Lei nº 11.101/2005, aplicável ao produtor rural, inclui aquele anterior ao registro do empreendedor. O

produtor rural, por não ser empresário sujeito a registro, está em situação regular, mesmo ao exercer atividade

econômica agrícola antes de sua inscrição, por ser esta, para ele, facultativa. Assim, para o empreendedor rural,

o registro, por ser facultativo, tem o efeito constitutivo de equipará-lo, para todos os efeitos, ao empresário

sujeito a registro, sendo tal efeito apto a retroagir (ex tunc), pois a condição regular de empresário já existia

antes mesmo do registro. Logo, para cumprir os 2 anos exigidos por lei, o produtor rural pode aproveitar o

período anterior ao registro, pois já naquela época ele estava exercendo regularmente atividade

empresarial. STJ. 4ª Turma. REsp 1.800.032-MT, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, julgado em

05/11/2019 (Info 664).

O crédito titularizado pela sociedade de seguros, decorrente do não repasse dos prêmios em contrato de

representação de seguro, submete-se à recuperação judicial da empresa representante. Ex: a empresa fez

um contrato de representação de seguro com uma seguradora (sociedade de seguros); a empresa recebia o

valor dos prêmios pagos pelos segurados e, depois de determinado tempo, teria que entregar essa quantia à

seguradora; a empresa entrou em recuperação judicial sem ter repassado esses prêmios; a seguradora terá que

habilitar esse crédito que tem para receber na recuperação judicial. STJ. 3ª Turma. REsp 1.559.595-MG, Rel. Min.

Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/12/2019 (Info 665)

Os créditos decorrentes da prestação de serviços contábeis e afins, mesmo que titularizados por

sociedade simples, são equiparados aos créditos trabalhistas para efeitos de sujeição ao processo de

INFORMATIVOS 2020 - 261


recuperação judicial. O tratamento dispensado aos honorários devidos a profissionais liberais - no que se

refere à sujeição ao plano de recuperação judicial - deve ser o mesmo conferido aos créditos de origem

trabalhista, em virtude de ambos ostentarem natureza alimentar. Esse entendimento não é obstado pelo fato de

o titular do crédito ser uma sociedade de contadores, considerando que, mesmo nessa hipótese, a natureza

alimentar da verba não é modificada. STJ. 3ª Turma. REsp 1.851.770-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em

18/02/2020 (Info 665)

O art. 66 da Lei nº 11.101/2005 afirma que é possível a alienação de bens integrantes do ativo permanente da

empresa em recuperação judicial, desde que o juiz responsável pela condução do processo reconheça a

existência de evidente utilidade na adoção de tal medida. O art. 66 da LFRE não exige qualquer formalidade

específica para fins de se alcançar o valor dos bens a serem alienados, tampouco explicita de que modo deverá

ser procedida a venda, deixando, portanto, a critério do juiz aceitar ou não o preço enunciado e a forma como

será feita a alienação. Assim, para a alienação tratada no art. 66 não se exige o cumprimento das

formalidades previstas no art. 142 da Lei nº 11.101/2005. STJ. 3ª Turma. REsp 1.819.057-RJ, Rel. Min. Nancy

Andrighi, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

Os créditos constituídos depois de ter o devedor ingressado com o pedido de recuperação judicial estão

excluídos do plano e de seus efeitos (art. 49, caput, da Lei nº 11.101/2005). A sentença (ou o ato jurisdicional

equivalente, na competência originária dos tribunais) é o ato processual por meio do qual nasce o direito à

percepção dos honorários advocatícios sucumbenciais. Se a sentença que arbitrou os honorários

sucumbenciais se deu posteriormente ao pedido de recuperação judicial, o crédito que dali emana,

necessariamente, nascerá com natureza extraconcursal, já que, nos termos do art. 49, caput da Lei nº 11.101/05,

sujeitam-se ao plano de soerguimento os créditos existentes na data do pedido de recuperação judicial, ainda

que não vencidos, e não os posteriores. Por outro lado, se a sentença que arbitrou os honorários advocatícios

for anterior ao pedido recuperacional, o crédito dali decorrente deverá ser tido como concursal, devendo ser

habilitado e pago nos termos do plano de recuperação judicial. STJ. 2ª Seção. REsp 1.841.960-SP, Rel. Min. Nancy

Andrighi, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/02/2020 (Info 669).

A alienação de unidades produtivas isoladas prevista em plano de recuperação judicial aprovado deve, em regra,

se dar na forma de alienação por hasta pública, conforme o disposto nos arts. 60 e 142 da Lei nº 11.101/2005. A

adoção de outras modalidades de alienação, na forma do art. 145 da Lei nº 11.101/2005, só pode ser admitida

em situações excepcionais, que devem estar explicitamente justificadas na proposta apresentada aos credores.

Nessas hipóteses, as condições do negócio devem estar minuciosamente descritas no plano de recuperação

judicial que deve ter votação destacada deste ponto, ser aprovado por maioria substancial dos credores e

homologado pelo juiz. Em suma: a alienação de unidades produtivas isoladas prevista em plano de

recuperação judicial aprovado somente poderá adotar outras modalidades de alienação em situações

INFORMATIVOS 2020 - 262


excepcionais, que devem estar explicitamente justificadas na proposta apresentadas aos credores. STJ. 3ª

Turma. REsp 1.689.187-RJ, Rel. Min. RicardoVillas Bôas Cueva, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

De acordo com o art. 49, caput, da Lei nº 11.101/2005, não se submetem aos efeitos do processo de

soerguimento do devedor aqueles credores cujas obrigações foram constituídas após a data em que o devedor

ingressou com o pedido de recuperação judicial. O crédito passível de ser perseguido pelo fiador em face do

afiançado somente se constitui a partir do adimplemento da obrigação principal pelo garante. Antes

disso, não existe dever jurídico de caráter patrimonial em favor deste. STJ. 3ª Turma. REsp 1.860.368-SP, Rel.

Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

A realidade econômica do País revela que as sociedades empresárias em crise usualmente possuem débitos

fiscais em aberto, podendo-se afirmar que as obrigações dessa natureza são as que em primeiro lugar deixam

de ser adimplidas, sobretudo quando se considera a elevada carga tributária e a complexidade do sistema atual.

Diante desse contexto, a apresentação de certidões negativa de débitos tributários pelo devedor que busca, no

Judiciário, o soerguimento de sua empresa representa exigência de difícil cumprimento. Dada a existência de

aparente antinomia entre a norma do art. 57 da LFRE e o princípio insculpido em seu art. 47 (preservação

da empresa), a exigência de comprovação da regularidade fiscal do devedor para concessão da

recuperação judicial mostra-se contrária ao princípio da proporcionalidade. STJ. 3ª Turma. REsp

1.864.625-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/06/2020 (Info 674).

Compete ao juízo da recuperação judicial a execução de créditos líquidos apurados em outros órgãos

judiciais, inclusive a destinação dos depósitos recursais no âmbito do processo do trabalho. STJ. 2ª Seção. CC

162.769-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/06/2020 (Info 675).

Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação judicial, já

que não enseja, necessariamente, a liquidação da quota. STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.250-SP, Rel. Min. Marco

Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

As astreintes, fixadas no âmbito de uma reclamação trabalhista (concebidas como sanção pecuniária de

natureza processual), não possuem origem, nem sequer indireta, no desempenho da atividade laboral do

trabalhador. A interpretação demasiadamente alargada à noção de “crédito trabalhista”, a pretexto de beneficiar

determinado trabalhador, promove, em última análise, indesejado desequilíbrio no processo concursal de

credores, sobretudo na classe dos trabalhistas, em manifesta violação ao princípio da par conditio creditorum.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.804.563-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/08/2020 (Info 679).

Em uma impugnação de crédito incidente à recuperação judicial é possível que a empresa recuperanda alegue

e que o juiz reconheça a existência de abusividade na cláusula do contrato de que se originou o crédito

INFORMATIVOS 2020 - 263


impugnado? Sim. O incidente de impugnação de crédito configura procedimento de cognição exauriente,

possibilitando o pleno contraditório e a ampla instrução probatória, em rito semelhante ao ordinário (arts. 13 e

15 da Lei nº 11.101/2005). Não há, na Lei nº 11.101/2005, qualquer restrição à defesa que pode ser

apresentada na impugnação de crédito, não se tratando de procedimento simplificado ou mais célere,

mas de procedimento semelhante ao ordinário. Diante disso, devem ser examinadas todas as alegações

trazidas pela recuperanda, o que inclui a eventual existência de abusividades nas cláusulas contratuais relativas

aos encargos moratórios que o impugnante busca acrescer aos seus créditos. STJ. 3ª Turma. Resp 1.799.932-PR,

Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 01/09/2020 (Info 679).

O Juízo competente para processar e julgar pedido de recuperação judicial é aquele situado no local do

principal estabelecimento (art. 3º da Lei nº 11.101/2005), compreendido este como o local em que se encontra

“o centro vital das principais atividades do devedor”. No curso do processo de recuperação judicial, as

modificações em relação ao principal estabelecimento, por dependerem exclusivamente de decisões de gestão

de negócios, sujeitas ao crivo do devedor, não acarretam a alteração do juízo competente, uma vez que os

negócios ocorridos no curso da demanda nem mesmo se sujeitam à recuperação judicial. STJ. 2ª Seção. CC

163.818-ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 23/09/2020 (Info 680).

Juiz deferiu a recuperação judicial; TJ reformou a decisão; STJ restaurou o entendimento de 1ª instância

deferindo a recuperação; entre a decisão do TJ e do STJ os atos executivos praticados em execuções

individuais são nulos. Exemplo: João, empresário rural, pediu recuperação judicial, cujo processamento foi

deferido pelo juiz. Um dos credores recorreu alegando que não ficou comprovado o exercício da atividade

agrícola pelo período de 2 anos (art. 48 da Lei nº 11.101/2005). O TJ deu provimento ao recurso negando direito à

recuperação judicial. João recorreu ao STJ e o Ministro Relator concedeu tutela provisória para restabelecer a

decisão do juiz assegurando ao empresário o direito à recuperação judicial. Ocorre que, no período entre o

acórdão do TJ e a decisão do Ministro do STJ, as execuções individuais contra o empresário que estavam

suspensas voltaram a tramitar e foram praticados diversos atos executivos. Esses atos executivos são válidos? A

validade dos atos executivos realizados no bojo das execuções individuais, no interregno em que a

decisão de deferimento do processamento da recuperação judicial encontra-se sobrestada ou mesmo

reformada (porém, sujeita a revisão por instância judicial superior), fica condicionada à confirmação, por

provimento judicial final, de que o empresário, de fato, não fazia jus ao deferimento do processamento

de sua recuperação judicial. Assim, no exemplo dado, se a decisão concedendo a recuperação judicial for

confirmada por provimento judicial final, os atos executivos que foram praticados serão considerados inválidos.

O credor assume os riscos de prosseguir com a sua execução individual. Ele deve saber, contudo, que, se for

confirmado o acerto da decisão que deferiu o processamento da recuperação judicial, com o restabelecimento

de todos os seus efeitos desde a sua prolação, os atos executivos realizados no âmbito das execuções

INFORMATIVOS 2020 - 264


individuais tornam-se absolutamente nulos. STJ. 3ª Turma. REsp 1.867.694-MT, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,

julgado em 06/10/2020 (Info 681).

O empresário rural que objetiva se valer dos benefícios do processo recuperacional, instituto próprio do

regime jurídico empresarial, há de proceder à inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis, não

porque o registro o transforma em empresário, mas sim porque, ao assim proceder, passou a

voluntariamente se submeter ao aludido regime jurídico. Assim, a inscrição, sob esta perspectiva, assume a

condição de procedibilidade ao pedido de recuperação judicial. Ainda que relevante para viabilizar o pedido de

recuperação judicial, como instituto próprio do regime empresarial, o registro é absolutamente desnecessário

para que o empresário rural demonstre a regularidade (em conformidade com a lei) do exercício profissional de

sua atividade agropecuária pelo biênio mínimo, podendo ser comprovado por outras formas admitidas em

direito e, principalmente, levando-se em conta período anterior à inscrição. STJ. 3ª Turma. REsp 1.811.953-MT,

Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/10/2020 (Info 681). STJ. 4ª Turma. REsp 1.800.032-MT, Rel. Min.

Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, julgado em 05/11/2019 (Info 664)

A interpretação conjunta da regra do art. 52, V, da LFRE – que determina a intimação do Ministério Público

acerca da decisão que defere o processamento da recuperação judicial - e daquela constante no art. 179, II, do

CPC/2015 - que autoriza, expressamente, a interposição de recurso pelo órgão ministerial quando a este

incumbir intervir como fiscal da ordem jurídica - evidencia a legitimidade do Parquet para recorrer contra a

decisão que fixa os honorários do administrador na recuperação judicial. STJ. 3ª Turma. REsp 1.884.860-RJ, Rel.

Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/10/2020 (Info 682).

PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Com o objetivo de fornecer recursos financeiros para o INPI, a Lei exigiu que o depositante do pedido de patente

ou a pessoa que já seja titular da patente deverão pagar, anualmente, a partir do 3º ano, um valor chamado

“retribuição anual” (art. 84 da LPI). A falta do pagamento da retribuição acarreta a extinção da patente (art. 86). O

art. 87 da LPI prevê, como forma de preservar o direito do titular da patente, o instituto da restauração. Assim,

esse artigo estabelece que, notificado do arquivamento do pedido ou da extinção da patente em razão do não

pagamento da retribuição anual, o depositante ou o titular poderá, no prazo de três meses contados dessa

notificação, restaurar o pedido ou a patente, por meio do pagamento de retribuição específica. O art. 13 da

Resolução nº 113/2013, do INPI, afasta a aplicação do art. 87 da Lei nº 9.279/96 nas hipóteses de

inadimplemento em mais de uma retribuição anual. A partir da análise sistemática da LPI, verifica-se que o INPI

extrapolou seu poder disciplinar. O referido ato infralegal vai além da disciplina estabelecida no art. 87 da LPI,

INFORMATIVOS 2020 - 265


restringindo o cabimento da restauração para hipóteses não definidas pela lei. Enquanto o art. 87 da LPI permite

ao titular ou ao depositante de patente requerer a restauração, dentro do período de 3 (três) meses a partir da

notificação, a resolução do INPI limita a aplicação do instituto a um requisito não previsto na LPI - o

inadimplemento não superior a uma retribuição anual. Assim, é evidente que, ao afastar o direito de

restauração de patente em hipóteses não previstas na lei, o INPI restringiu ilegalmente o direito de

restauração. STJ. 3ª Turma. REsp 1.837.439-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 01/09/2020 (Info

679)

MARCA

A empresa que comercializa responde solidariamente com o fabricante de produtos contrafeitos pelos

danos causados pelo uso indevido da marca. Ainda que a solidariedade não seja expressamente prevista na

Lei nº 9.279/96, a responsabilidade civil é solidária para todos os autores e coautores que adotem condutas

danosas ao direito protegido de outrem, conforme sistema geral de responsabilidade estabelecido no art. 942

do Código Civil. STJ. 3ª Turma. REsp 1.719.131-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 11/02/2020 (Info

666).

A renúncia ao registro não enseja a perda do objeto da ação que veicula pretensão de declaração de

nulidade da marca. Caso concreto: a empresa Goiás Refrigerantes S/A registro, no INPI a marca JOCA COLA. Ao

tomar conhecimento disso, a “The Coca Cola Company” ajuizou ação contra a empresa Goiás Refrigerantes S/A e

contra o INPI pedindo a nulidade desse registro. Na contestação apresentada, a Goiás Refrigerantes pediu a

extinção do processo sem resolução do mérito por perda do objeto considerando que, logo após o ajuizamento

da ação, ela (ré) renunciou ao registro da marca JOCA COLA e isso já foi homologado administrativamente pelo

INPI. Mesmo com essa renúncia, o processo deverá prosseguir considerando que a renúncia opera efeitos ex

nunc e não implica reconhecimento de que o registro continha vícios. A declaração de nulidade, por outro lado,

produz efeitos ex tunc e significa o reconhecimento de que o registro foi concedido em desacordo com as

disposições da Lei. Logo, mesmo tendo havido renúncia à marca impugnada, a continuidade da ação é

necessária para proteção dos direitos da autora relativos ao período em que a marca esteve em vigor. STJ. 3ª

Turma. REsp 1.832.148-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2020 (Info 666)

Não compete à Justiça estadual, em sede de reconvenção proposta na ação de abstenção de uso de marca,

afastar o pedido da proprietária da marca, declarando a nulidade do registro ou irregularidade da marca. A

Justiça Estadual não pode, ao julgar uma ação de abstenção de uso de marca, negar o pedido da

proprietária da marca utilizando como argumento que o registro dessa marca conteria uma nulidade ou

INFORMATIVOS 2020 - 266


irregularidade. A competência para examinar eventual nulidade do registro de uma marca é da Justiça Federal.

Isso porque, nessa situação, haverá interesse jurídico do INPI na demanda, considerando que foi essa autarquia

federal que concedeu o registro, incidindo, portanto, na hipótese do art. 109, I, da CF/88. Caso concreto: uma

escola propôs ação pedindo para que outra empresa de educação não utilizasse o termo “Poliedro” como marca;

o TJ julgou o pedido improcedente afirmando que essa palavra não poderia ter sido registrada como marca;

logo, o registro seria nulo. STJ. 4ª Turma. REsp 1.393.123-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em

18/02/2020 (Info 667)

O art. 175 da Lei de Propriedade Industrial exige que a ação de nulidade do registro de marca seja ajuizada no

foro da Justiça Federal, devendo o INPI, quando não for o autor, necessariamente intervir no feito. Não há, na lei,

qualquer exceção a essa regra. O mesmo, porém, não ocorre no que diz respeito à patente e ao desenho

industrial. Os arts. 56, § 1º, e 118, da Lei nº 9.279/96 preveem a possibilidade de arguição da nulidade de

patentes e de desenhos industriais como matéria de defesa em ações de infração, de competência da

Justiça Estadual, dispensando, nesses casos, a participação do INPI. Vale ressaltar, por fim, que o

reconhecimento da nulidade de patentes e de desenhos industriais pelo juízo estadual, por ocorrer apenas

incidenter tantum, não faz coisa julgada e não opera efeitos para fora do processo, tendo apenas o condão de

levar à improcedência do pedido veiculado na ação de infração. STJ. 3ª Turma. REsp 1.843.507-SP, Rel. Min. Paulo

de Tarso Sanseverino, julgado em 06/10/2020 (Info 682).

TEMAS DIVERSOS

CONTRATOS BANCÁRIOS

É admissível a estipulação dos encargos financeiros de contrato de abertura de crédito em percentual

sobre a taxa média aplicável aos Certificados de Depósitos Interbancários (CDIs). Nos depósitos

interbancários, como em qualquer outro tipo de empréstimo, a instituição tomadora paga juros à instituição

emitente. A denominada Taxa CDI, ou simplesmente DI, é calculada com base nas taxas aplicadas em tais

operações, refletindo, portanto, o custo de captação de moeda suportado pelos bancos. STJ. 3ª Turma.REsp

1.781.959-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 11/02/2020 (Info 665)

INFORMATIVOS 2020 - 267


Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é uma entidade privada, sem fins lucrativos, que administra um

mecanismo de proteção às pessoas que possuem depósitos ou investimentos no Sistema Financeiro

Nacional. Assim, por exemplo, se um banco passa por um processo de intervenção, de liquidação extrajudicial

ou mesmo de falência, o FGC assegura que os correntistas irão receber de volta os valores depositados. Vale

ressaltar, no entanto, que existe um limite (um “teto”) que é garantido pelo FGC. Atualmente, o valor máximo

garantido é de R$ 250 mil. Desse modo, se a pessoa tinha R$ 300 mil depositados no banco que “quebrou”, ela

receberá R$ 250 mil do FGC e deverá tentar buscar os R$ 50 mil restantes da instituição financeira (se conseguir).

Situação hipotética: foi instituído um fundo formado por 10 concessionárias de veículos, sendo administrado

pela associação que representa essas concessionárias. Esse fundo foi constituído para aglutinar todo o dinheiro

que as concessionárias utilizariam para fazer marketing na imprensa. Assim, todos contribuíam e o fundo

contratava as peças publicitárias. Os recursos financeiros desse fundo eram depositados numa conta do Banco

BMD. Ocorre que essa instituição financeira entrou em liquidação extrajudicial e as concessionárias não

conseguiram receber do banco o valor depositado. O FGC foi acionado. Suponhamos que havia R$ 2 milhões

depositados. As concessionárias argumentaram que deveriam receber do FGC os R$ milhões considerando que

o fundo é composto por 10 concessionárias. Logo, cada uma delas teria direito ao teto cobertura de R$ 250 mil.

250 mil x 10 = 2 milhões e 500 mil. O pedido não foi acolhido pelo STJ. O teto cobertura do FGC deverá ser

aplicado para o fundo (e não para cada concessionária que dele faz parte). Assim, o fundo todo terá

direito de receber R$ 250 mil e ele fundo que distribua entre as concessionárias. STJ. 3ª Turma. REsp

1.758.951-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 04/08/2020 (Info 678).

LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL

O caput do art. 24-A prevê que os administradores das operadoras de planos de saúde que estejam em regime

de direção fiscal ou de liquidação extrajudicial, ficarão com todos os seus bens indisponíveis. O § 1º afirma que

essa indisponibilidade atinge a todos aqueles que tenham estado no exercício das funções nos doze meses

anteriores ao ato que decretar a direção fiscal ou a liquidação extrajudicial.

Esse prazo legal pode ser ampliado pelo juiz para atingir algum ex-administrador que tenha saído há mais de

doze meses?

Sim. O prazo do § 1º do art. 24-A da Lei nº 9.656/98 pode ser ampliado pelo juízo da insolvência civil de

operadora de plano de saúde para atingir os bens de ex-conselheiro fiscal que deixou o cargo antes dos

doze meses que antecederam o ato de decretação da liquidação extrajudicial. Desde que observados os

requisitos legais, pode o Juízo, com base no poder geral de cautela, ampliar o alcance da norma quando verificar

a existência de fundados indícios de responsabilidade de determinado agente, a fim de assegurar,

concretamente, a eficácia e a utilidade do provimento jurisdicional de caráter satisfativo. STJ. 3ª Turma. REsp

1.845.214-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/10/2020 (Info 682)

INFORMATIVOS 2020 - 268


CONTRATO DE SHOPPING CENTER

Em regra, os honorários contratuais são devidos por aquele que contrata o advogado para atuar em seu favor,

respondendo cada uma das partes pelos honorários contratuais de seu advogado. A parte vencida, além dos

honorários contratuais do seu advogado, também arcará com o pagamento dos honorários sucumbenciais

devidos ao patrono da parte vencedora. No caso concreto, o contrato firmado entre as partes previa que o

locatário deveria pagar os honorários contratuais de seu advogado, assim como os do advogado do locador. Isso

não configura bis in idem, pois não se trata do pagamento da mesma verba, mas do repasse de custo do locador

para o locatário. A atividade empresarial é caracterizada pelo risco e regulada pela lógica da livre

concorrência, devendo prevalecer nesses ajustes, salvo situação excepcional, a autonomia da vontade e

o princípio pacta sunt servanda. Não há como afastar a incidência de cláusula de contrato de locação de

espaço em shopping center com base em alegação genérica de afronta à boa-fé objetiva, devendo ficar

demonstrada a situação excepcional que autoriza a intervenção do Poder Judiciário. STJ. 3ª Turma. REsp

1.644.890-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/08/2020 (Info 678).

CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL

Preenchidos os requisitos dispostos na Lei nº 4.886/65, compete à Justiça Comum o julgamento de processos

envolvendo relação jurídica entre representante e representada comerciais, uma vez que não há relação de

trabalho entre as partes. STF. Plenário. RE 606003, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Roberto

Barroso, julgado em 28/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 550) (Info 995 – clipping)

A representação comercial autônoma é uma espécie de contrato segundo o qual uma determinada pessoa

(física ou jurídica) chamada de “representante” compromete-se a ir em busca de interessados que

queiram adquirir os produtos ou serviços prestados por uma empresa, designada “representada”. O art.

27, “j”, da Lei nº 4.886/65 prevê que o representado deverá pagar uma indenização ao representante em caso de

rescisão imotivada, cujo montante não poderá ser inferior a 1/12 do total da retribuição auferida durante o

tempo em que exerceu a representação.

O valor dessa indenização pode ser pago antecipadamente, diluído no contrato de representação comercial?

NÃO. É nula a cláusula que prevê o pagamento antecipado da indenização devida ao representante comercial

no caso de rescisão injustificada do contrato pela representada. STJ. 3ª Turma. REsp 1.831.947-PR, Rel. Min.

Nancy Andrighi, julgado em 10/12/2019 (Info 662).

INFORMATIVOS 2020 - 269


TRIBUTÁRIO

PRINCÍPIOS

PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE

Aplica-se o princípio da anterioridade tributária, geral e nonagesimal, nas hipóteses de redução ou de supressão

de benefícios ou de incentivos fiscais, haja vista que tais situações configuram majoração indireta de tributos

(STF. Plenário. RE 564225 AgR-EDv-AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2019). Reintegra é um

programa econômico instituído pelo governo federal com o objetivo de incentivar as exportações.

A redução ou supressão das vantagens decorrentes do REINTEGRA precisam respeitar o princípio da

anterioridade?

SIM. A redução ou supressão de benefícios ou incentivos fiscais decorrentes do Regime Especial de Reintegração

de Valores Tributários para Empresas Exportadoras (REINTEGRA) se sujeita à incidência dos princípios da

anterioridade tributária geral e da anterioridade nonagesimal, previstos no art. 150, III, “b” e “c”, da Constituição

Federal. A alteração no programa fiscal REINTEGRA, por acarretar indiretamente a majoração de tributos, deve

respeitar o princípio da anterioridade. STF. 1ª Turma. RE 1253706 AgR/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em

19/5/2020 (Info 978). STF. 2ª Turma. RE 1091378 AgR, Rel. Edson Fachin, julgado em 31/08/2018.

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA

A lei complementar é forma exigível para a definição do modo beneficente de atuação das entidades de

assistência social contempladas pelo art. 195, § 7º, da CF/88.

Tese fixada no RE 566622 – Tema 32:

Redação original: Os requisitos para o gozo de imunidade hão de estar previstos em lei complementar.

Redação modificada após embargos de declaração:

A lei complementar é forma exigível para a definição do modo beneficente de atuação das entidades de

assistência social contempladas pelo art. 195, § 7º, da CF, especialmente no que se refere à instituição de

contrapartidas a serem por elas observadas.

STF. Plenário. RE 566622/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/2/2017 (repercussão geral – Tema 32) (Info

855). STF. Plenário. RE 566622 ED/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em

18/12/2019 (Info 964).

INFORMATIVOS 2020 - 270


De acordo com o art. 149, § 2º, I, da CF/88, as contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico

não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação. Trata-se de imunidade tributária criada com o

objetivo de incentivar as exportações.

Se o fabricante ou produtor brasileiro faz a exportação por intermédio de uma empresa exportadora intermediária

(ex: trading company), incide igualmente a imunidade tributária? Incide a imunidade tributária no caso de operações

indiretas de exportação?

SIM. A norma imunizante contida no inciso I do § 2º do art. 149 da Constituição Federal alcança as receitas

decorrentes de operações indiretas de exportação caracterizadas por haver participação negocial de

sociedade exportadora intermediária. STF. Plenário. ADI 4735/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em

12/2/2020 (Info 966). STF. Plenário. RE 759244/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 12/2/2020 (repercussão

geral – Tema 674)

Súmula vinculante 57: A imunidade tributária constante do art. 150, VI, d, da CF/88 aplica-se à importação e

comercialização, no mercado interno, do livro eletrônico (e-book) e dos suportes exclusivamente utilizados para

fixá-los, como leitores de livros eletrônicos (e-readers), ainda que possuam funcionalidades acessórias. STF.

Plenário. Aprovada em 15/04/2020.

A imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da Constituição) impede que os entes públicos criem uns para

os outros obrigações relacionadas à cobrança de impostos, mas não veda a imposição de obrigações

acessórias. As obrigações acessórias sejam instituídas por meio de atos infralegais. STF. Plenário. ACO 1098, Rel.

Roberto Barroso, julgado em 11/05/2020 (Info 980).

Sociedade de economia mista, cuja participação acionária é negociada em Bolsas de Valores, e que,

inequivocamente, está voltada à remuneração do capital de seus controladores ou acionistas, não está

abrangida pela regra de imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição, unicamente em razão

das atividades desempenhadas. STF. Plenário. RE 600867, Rel. Joaquim Barbosa, Relator p/ Acórdão Luiz Fux,

julgado em 29/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 508) (Info 993 – clipping)

Súmula vinculante 58: Inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à entrada de insumos isentos,

sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não cumulatividade. STF. Plenário.

Aprovada em 24/04/2020.

Não incide IPVA sobre veículo automotor adquirido, mediante alienação fiduciária, por pessoa jurídica de

direito público. STF. Plenário. RE 727851, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Repercussão Geral – Tema

685) (Info 985).

INFORMATIVOS 2020 - 271


IMPOSTOS FEDERAIS

IR

Não tendo participado do fato gerador do tributo, a declaração conjunta de imposto de renda não torna

o cônjuge corresponsável pela dívida tributária dos rendimentos percebidos pelo outro.

Exemplo hipotético: João e Carla são casados. Eles fizeram uma declaração conjunta do imposto de renda.

Ocorre que não se declarou que Carla recebeu R$ 10 mil por serviços prestados para uma determinada

empresa. Houve, portanto, omissão de rendimentos recebidos. Ao detectar a omissão, a Receita Federal fez

lançamento de auto de infração contra Carla e João. Não poderia ter feito contra João. O fato gerador (renda

auferida com os serviços prestados) foi praticado apenas pela mulher. Logo, o marido não pode ser considerado

como solidariamente obrigado. STJ. 1ª Turma. REsp 1.273.396-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado

em 05/12/2019 (Info 662).

O imposto de renda tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou de

proventos de qualquer natureza. Renda, para fins de incidência tributária, pressupõe acréscimo patrimonial ao

longo de determinado período, ou seja, riqueza nova agregada ao patrimônio do contribuinte. A quota

condominial é a obrigação mensal imposta a todos os condôminos para cobrir gastos necessários à manutenção

de um condomínio. Trata-se, portanto, de uma despesa, um encargo que é suportado pelos condôminos. Assim,

a dispensa do pagamento das taxas condominiais concedida ao síndico pelo trabalho por ele exercido

não pode ser considerada como pró-labore, rendimento nem tampouco como acréscimo patrimonial.

Logo, não está sujeita à incidência do imposto de renda, sob pena, inclusive, de violar o princípio da

capacidade contributiva. Quando o síndico deixa de pagar a quota condominial não há uma alteração entre o

patrimônio preexistente e o novo. Não há o ingresso de riqueza nova em seu patrimônio que justifique a

inclusão do valor correspondente à sua quota condominial como ganho patrimonial na apuração anual de

rendimentos tributáveis. STJ. 1ª Turma. REsp 1.606.234-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em

05/12/2019 (Info 662)

É ilegal o art. 4º, I, da IN SRF nº 139/1989, que, ao suprimir a comunicação entre exercícios diferentes, traz

inovação limitadora não prevista no Decreto-lei nº 1.790/1980. O Decreto-lei nº 1.790/1980, que foi recepcionado

com força de lei ordinária, não estabeleceu restrição à compensação entre períodos diversos, isto é, não impôs

nenhuma limitação temporal ao exercício de tál direito. Assim, era perfeitamente possível a compensação do

imposto de renda retido na fonte mesmo que em calendários (exercícios) diferentes. STJ. 1ª Turma. REsp

1.628.374-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa, julgado em 04/02/2020 (Info 665)

INFORMATIVOS 2020 - 272


O art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/88 prevê que as pessoas portadoras de neoplasia maligna ou outras doenças

graves e que estejam na inatividade não pagarão imposto de renda sobre os rendimentos recebidos a título de

aposentadoria, pensão ou reforma. Essa isenção é devida apenas às pessoas que recebem aposentadoria,

pensão ou reforma e não é possível que o Poder Judiciário estenda o benefício aos trabalhadores que estão em

atividade. Os juízes e Tribunais não podem, mesmo a pretexto de estabelecer tratamento isonômico, conceder

isenção tributária em favor daqueles não contemplados pelo favor legal, porque isso equivaleria, em última

análise, a converter o Poder Judiciário em inadmissível legislador positivo. A legislação optou por critérios

cumulativos absolutamente razoáveis à concessão do benefício tributário, quais sejam, inatividade e

enfermidade grave, ainda que contraída após a aposentadoria ou reforma. STF. Plenário. ADI 6025, Rel.

Alexandre de Moraes, julgado em 20/04/2020 (Info 983 – clipping)

Encontra-se superado o entendimento exposto na Súmula 584 do STF:

Súmula 584-STF: Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente no

exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração. Esse enunciado é incompatível com os princípios

da irretroatividade e da anterioridade. Por essa razão, o STF decidiu pelo cancelamento do verbete. STF.

Plenário. RE 159180, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Info 987 – clipping).

O art. 476-A da CLT prevê que o contrato de trabalho pode ser suspenso, após celebração de acordo ou de

convenção coletiva com o sindicato da categoria, e anuência formal do empregado, pelo período de duração do

curso de requalificação de no mínimo 2 (dois) e no máximo, 5 (cinco) meses. Com a suspensão do contrato de

trabalho, nessa modalidade, o empregado recebe bolsa de qualificação profissional, custeada pelo FAT - Fundo

de Amparo ao Trabalhador, nos termos do art. 2º-A da Lei 7.998/90, durante o curso de aprimoramento

profissional, desde que a suspensão tenha duração máxima de cinco meses, após o que o encargo passa a ser

de responsabilidade do empregador, conforme o art. 476-A, § 7º, da CLT. Como há suspensão do contrato de

trabalho, tal ajuda compensatória evidentemente não se enquadra no inciso I do art. 43 do CTN. Além disso, ela

não configura proventos, entendidos como acréscimos patrimoniais descritos no inciso II do mesmo dispositivo.

O montante pago a título de ajuda compensatória, portanto, tem natureza jurídica de indenização,

destinando-se a reconstituir a perda patrimonial do trabalhador e os próprios prejuízos advindos da suspensão

do contrato de trabalho, como não influir no 13º salário proporcional, no depósito na conta vinculada do FGTS. O

valor recebido pelos trabalhadores a título de ajuda compensatória representa uma indenização do

patrimônio desfalcado do trabalhador, e não um acréscimo patrimonial tido como fato gerador do

imposto, motivo pelo qual não se sujeita à tributação pelo imposto de renda. STJ. 2ª Turma. REsp

1.854.404-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 02/06/2020 (Info 678).

O momento do fato gerador do Imposto de Renda Retido na Fonte - IRRF a ser recolhido pela sociedade

empresária brasileira, em razão de pagamento feito a pessoa jurídica domiciliada no exterior, se dá no

INFORMATIVOS 2020 - 273


vencimento ou pagamento da dívida, o que ocorrer primeiro. STJ. 1ª Turma. REsp 1.864.227-SP, Rel. Min.

Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 18/08/2020 (Info 678).

II

Os serviços de capatazia estão incluídos na composição do valor aduaneiro e integram a base de cálculo do

imposto de importação. Os serviços de capatazia integram o conceito de valor aduaneiro, tendo em vista

que tais atividades são realizadas dentro do porto ou ponto de fronteira alfandegado na entrada do

território aduaneiro. STJ. 1ª Seção. REsp 1.799.306-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, Rel. Acd. Min. Francisco Falcão,

julgado em 11/03/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1014) (Info 671).

IPI

O direito ao crédito presumido de IPI só surge na data de exportação e não na data de aquisição dos

insumos.

A Lei nº 9.363/96 pretendeu desonerar as exportações e elegeu como critério material para a fruição de referido

benefício fiscal exportar mercadorias nacionais.

Assim, o critério temporal para a incidência da norma só pode ser a data da exportação, que se verifica no

momento do registro junto ao SISCOMEX (Sistema Integrado de Comércio Exterior) e embarque da mercadoria.

STJ. 1ª Turma. REsp 1168001-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 17/11/2020 (Info 684).

O art. 46, II, do CTN prevê o seguinte:

Art. 46. O imposto, de competência da União, sobre produtos industrializados tem como fato gerador:

II - a sua saída dos estabelecimentos a que se refere o parágrafo único do artigo 51;

A saída do estabelecimento a que refere o art. 46, II, do CTN, que caracteriza o aspecto temporal da hipótese de

incidência, pressupõe, logicamente, a mudança de titularidade do produto industrializado.

Havendo mero deslocamento para outro estabelecimento ou para outra localidade, permanecendo o produto

sob o domínio do contribuinte, não haverá incidência do IPI.

STJ. 1ª Turma. REsp 1402138-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

INFORMATIVOS 2020 - 274


IMPOSTOS ESTADUAIS

ICMS

Não viola o princípio da não cumulatividade lei complementar que prorroga a compensação de créditos

de ICMS.

Não viola o princípio da não cumulatividade (art. 155, §2º, incisos I e XII, alínea c, da CF/88) lei complementar que

prorroga a compensação de créditos de ICMS relativos a bens adquiridos para uso e consumo no próprio

estabelecimento do contribuinte.

Conforme o art. 150, III, "c", da CF/88, o princípio da anterioridade nonagesimal aplica-se somente para leis que

instituem ou majoram tributos, não incidindo relativamente às normas que prorrogam a data de início da

compensação de crédito tributário.

STF. Plenário. RE 601967, Rel. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 18/08/2020

(Repercussão Geral - Tema 346).

A cobrança do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) somente pode ser realizada

pelo Estado em que o contribuinte mantém sua sede ou domicílio tributário.

STF. Plenário. RE 1016605, Redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 16/09/2020 (Repercussão

Geral – Tema 708).

A exceção prevista no art. 20, § 6º, I, da LC 87/96, que permite a manutenção de créditos nas operações que

envolvem produtos agropecuários, não é destinada àquele que realiza a venda contemplada pela isenção, mas

ao contribuinte da etapa posterior, que adquire a mercadoria isenta do imposto e que tem a sua operação de

saída normalmente tributada. STJ. 1ª Turma. REsp 1.643.875-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 19/11/2019

(Info 663).

Obs: existem julgados da 2ª Turma do STJ concedendo o direito à compensação, mas sem enfrentar com

profundidade esse argumento acima exposto. Nesse sentido: STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1606333/RS, Rel. Min.

Herman Benjamin, julgado em 02/02/2017. Para fins de prova, por enquanto, recomendo a adoção do

entendimento manifestado pela 1ª Turma e divulgado no Info 663 do STJ.

Os insumos que geram direito ao creditamento são aqueles que, extrapolando a condição de mera facilidade, se

incorporam ao produto final, de forma a modificar a maneira como esse se apresenta e configurar parte

essencial do processo produtivo. Sacos e filmes plásticos utilizados exclusivamente para o fornecimento de

produtos de natureza perecível são insumos indispensáveis à atividade desenvolvida pelos supermercados, de

modo que a sua aquisição gera direito ao creditamento do ICMS. Sacolas plásticas fornecidas aos clientes para o

transporte ou acondicionamento de produtos, bem como bandejas, não são insumos essenciais à atividade dos

INFORMATIVOS 2020 - 275


supermercados, de modo que não geram creditamento de ICMS. STJ. 1ª Turma. REsp 1.830.894-RS, Rel. Min.

Benedito Gonçalves, julgado em 03/03/2020 (Info 666).

O sujeito ativo da obrigação tributária de ICMS incidente sobre mercadoria importada é o Estado-membro no

qual está domiciliado ou estabelecido o destinatário legal da operação que deu causa à circulação da

mercadoria, com a transferência de domínio. STF. Plenário. ARE 665134, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em

27/04/2020 (Repercussão Geral –Tema 520) (Info 978)

Em 30/11/2016, o STF julgou procedente a ADO 25 e declarou haver mora, por parte do Congresso Nacional, em

editar a aludida lei complementar de que trata o art. 91 do ADCT. Diante disso, o STF fixou um prazo de 12

meses para que o Legislativo fizesse a lei. Depois de a decisão transitar em julgado, a União requereu o

desarquivamento da ADO e a prorrogação do prazo por mais 24 meses. O Ministro Relator, monocraticamente,

deferiu, em parte, o pleito da União e prorrogou o prazo. Posteriormente, alguns Estados-membros

manifestaram interesse em buscarem a composição amigável do litígio. A União concordou com o pleito e

iniciaram-se audiências, até que foi conseguido um acordo.

Em 20/05/2020, o Plenário do STF se reuniu e referendou as decisões monocráticas do Ministro que

prorrogaram o prazo fixado no julgamento do mérito da ADO. Os Ministros entenderam que fatos

supervenientes justificaram o abrandamento do termo fixado no julgamento de mérito. Além disso, o STF

homologou o acordo firmado entre a União e os Estados/DF, com o seu encaminhamento ao Congresso

Nacional para as providências cabíveis. STF. Plenário. ADO 25 QO/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em

20/5/2020 (Info 978).

É indevida a incidência do ICMS sobre o valor correspondente à demanda de potência elétrica contratada, mas

não utilizada. STJ. 1ª Seção. REsp 960.476/SC, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 11/03/2009 (recurso

repetitivo). Súmula 391-STJ: O ICMS incide sobre o valor da tarifa de energia elétrica correspondente à demanda

de potência efetivamente utilizada. A demanda de potência elétrica não é passível, por si só, de tributação via

ICMS, porquanto somente integram a base de cálculo desse imposto os valores referentes àquelas operações

em que haja efetivo consumo de energia elétrica pelo consumidor. STF. Plenário. RE 593824, Rel. Min. Edson

Fachin, julgado em 27/04/2020 (Repercussão Geral – Tema 176) (Info 978).

Segundo o artigo 155, § 2º, X, b, da CF/1988, cabe ao Estado de destino, em sua totalidade, o ICMS sobre a

operação interestadual de fornecimento de energia elétrica a consumidor final, para emprego em

processo de industrialização, não podendo o Estado de origem cobrar o referido imposto. STF. Plenário. RE

748543, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral

– Tema 689) (Info 990 – clipping).

INFORMATIVOS 2020 - 276


É constitucional a incidência do ICMS sobre a operação de venda, realizada por locadora de veículos, de

automóvel com menos de 12 (doze) meses de aquisição da montadora. STF. Plenário. RE 1025986, Rel.

Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral – Tema

1012) (Info 990 – clipping).

O estorno proporcional de crédito de ICMS efetuado pelo Estado de destino, em razão de crédito fiscal

presumido concedido pelo Estado de origem sem autorização do Conselho Nacional de Política Fazendária

(CONFAZ), não viola o princípio constitucional da não cumulatividade. STF. Plenário. RE 628075, Rel. Min. Edson

Fachin, Relator p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 490) (Info

993 – clipping)

Incide ISS sobre as operações de venda de medicamentos preparados por farmácias de manipulação sob

encomenda.

Incide ICMS sobre as operações de venda de medicamentos por elas ofertados aos consumidores em

prateleira.

STF. Plenário. RE 605552, Rel. Dias Toffoli, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 379) (Info 994 –

clipping).

A imunidade a que se refere o art. 155, § 2º, X, a, da CF não alcança operações ou prestações anteriores à

operação de exportação. STF. Plenário. RE 754917, Rel. Dias Toffoli, julgado em 05/08/2020 (Repercussão Geral

– Tema 475) (Info 994).

O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) incidente nas operações de

importação de mercadorias tem como sujeito ativo o estado em que localizado o domicílio ou o

estabelecimento do destinatário jurídico da mercadoria importada. A conclusão acerca de quem será o

destinatário jurídico do bem depende da análise do negócio jurídico entabulado entre as partes e das

circunstâncias fáticas do caso concreto. Na importação própria, sob encomenda, o destinatário jurídico da

mercadoria é o estabelecimento importador. O fato de o gás natural não poder ser estocado no

estabelecimento do importador não altera a sujeição exacional ativa e passiva do ICMS-importação. STF.

Plenário. ACO 854/MS, ACO 1076/MS e ACO 1093/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 22/10/2020 (Info

996).

A entrada a maior do combustível, em razão da variação da temperatura ambiente de carregamento e

descarregamento se constitui em um fenômeno físico de dilatação volumétrica. A fenomenologia física de

dilatação volumétrica do combustível não se amolda à descrição normativa hipotética que constitui o fato

gerador do ICMS. Se o volume de combustível se dilatou ou se retraiu, não há se falar em estorno ou

cobrança a maior do ICMS, uma vez que, na hipótese, não há que se qualificar juridicamente um

INFORMATIVOS 2020 - 277


fenômeno da física, por escapar da hipótese de incidência tributária do imposto. Não há novo fato gerador

ocorrido com a variação volumétrica de combustíveis líquidos, uma vez que não se está diante de uma nova

entrada ou saída intermediária não considerada para o cálculo do imposto antecipado, mas de mera expansão

física de uma mercadoria volátil por natureza. STJ. 1ª Turma. REsp 1.884.431-PB, Rel. Min. Benedito Gonçalves,

julgado em 08/09/2020 (Info 679)

Não incide a imunidade tributária prevista no art. 155, § 2º, X, “b”, da CF/88 se houve apenas a aquisição interna

de óleo, não tendo havido, portanto, operação interestadual de venda de lubrificantes. Não incidirá ICMS “sobre

operações que destinem a outros Estados petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele

derivados, e energia elétrica” (art. 155, § 2º, X, “b”, da CF/88). STF. 1ª Turma. RE 642564 AgR/RJ, rel. Min. Roberto

Barroso, julgado em 30/6/2020 (Info 984)

I - Após a Emenda Constitucional 33/2001, é constitucional a incidência de ICMS sobre operações de

importação efetuadas por pessoa, física ou jurídica, que não se dedica habitualmente ao comércio ou à

prestação de serviços, devendo tal tributação estar prevista em lei complementar federal.

II - As leis estaduais editadas após a EC 33/2001 e antes da entrada em vigor da Lei Complementar 114/2002,

com o propósito de impor o ICMS sobre a referida operação, são válidas, mas produzem efeitos somente a partir

da vigência da LC 114/2002. STF. Plenário. RE 1221330, Rel. Luiz Fux, Relator p/ Acórdão: Alexandre de Moraes,

julgado em 16/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 1094) (Info 987 – clipping).

IMPOSTOS MUNICIPAIS

IPTU

São constitucionais as leis municipais anteriores à Emenda Constitucional n° 29/2000, que instituíram alíquotas

diferenciadas de IPTU para imóveis edificados e não edificados, residenciais e não residenciais. STF. Plenário. RE

666156, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 523) (Info 982 – clipping).

ITBI

ITBI significa imposto sobre transmissão inter vivos, sendo tributo de competência dos Municípios. Segundo o

art. 156, II da CF/88, o ITBI será cobrado quando houver “transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato

oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de

garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição”. Exemplo: João vendeu uma casa a Pedro. Sobre essa

transmissão, há incidência do ITBI, que foi pago pelo comprador. Suponha, no entanto, que, posteriormente,

esse negócio jurídico (compra e venda) tenha sido anulada por sentença judicial transitada em julgado. Neste

INFORMATIVOS 2020 - 278


caso, conclui-se que não houve a transmissão da propriedade, estando ausente o fato gerador do imposto. Logo,

é devida a restituição do ITBI que foi pago. STJ. 1ª Seção. EREsp 1.493.162-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia

Filho, julgado em 14/10/2020 (Info 682).

ISS

É constitucional a incidência de ISS sobre serviços de distribuição e venda de bilhetes e demais produtos

de loteria, bingos, cartões, pules ou cupons de apostas, sorteios e prêmios (item 19 da Lista de Serviços

Anexa à Lei Complementar 116/2003). Nesta situação, a base de cálculo do ISS é o valor a ser remunerado pela

prestação do serviço, independentemente da cobrança de ingresso, não podendo corresponder ao valor total da

aposta. STF. Plenário. RE 634764, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 08/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 700)

(Info 984)

É taxativa a lista de serviços sujeitos ao ISS a que se refere o art. 156, III, da Constituição Federal,

admitindo-se, contudo, a incidência do tributo sobre as atividades inerentes aos serviços elencados em

lei em razão da interpretação extensiva. STF. Plenário. RE 784439, Rel. Rosa Weber, julgado em 29/06/2020

(Repercussão Geral – Tema 296) (Info 991 – clipping).

PIS E COFINS

É cabível o creditamento de PIS e Cofins decorrentes da aquisição de bens e serviços provenientes de empresas

localizadas fora da Zona Franca de Manaus (ZFM), quando tais bens e serviços não são revendidos ou utilizados

como insumo em produtos ou serviços sujeitos a alíquota 0 (zero), isentos ou não alcançados pela contribuição.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.259.343-AM, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa, julgado em

03/03/2020 (Info 670)

É constitucional a previsão em lei ordinária que introduz a sistemática da não-cumulatividade a COFINS

dado que observa os princípios da legalidade, isonomia, capacidade contributiva global e não-confisco.

STF. Plenário. RE 570122/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 2/9/2020

(Repercussão Geral – Tema 34) (Info 989).

É constitucional o § 9º do art. 8º da Lei nº 10.865/2004, a estabelecer alíquotas maiores, quanto à Contribuição

ao PIS e à Cofins, consideradas empresas importadoras de autopeças não fabricantes de máquinas e veículos.

STF. Plenário. RE 633345, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 04/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 744) (Info

997).

INFORMATIVOS 2020 - 279


É constitucional a flexibilização da legalidade tributária constante do § 2º do art. 27 da Lei nº 10.865/2004, no que

permitiu ao Poder Executivo, prevendo as condições e fixando os tetos, reduzir e restabelecer as alíquotas da

contribuição ao Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade

Social (Cofins) incidentes sobre as receitas financeiras auferidas por pessoas jurídicas sujeitas ao regime não

cumulativo, estando presente o desenvolvimento de função extrafiscal. STF. Plenário. RE 1043313/RS, Rel. Min.

Dias Toffoli, julgado em 10/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 939) (Info 1002).

A apreciação do RE 1043313 (Tema 939) ocorreu em conjunto com o julgamento da ADI 5277. A ADI foi ajuizada

pela Procuradoria-Geral da República contra dispositivos da Lei nº 9.718/98, acrescentados pela Lei nº

11.727/2008, que autorizam o Poder Executivo a fixar e alterar coeficientes para redução das alíquotas

incidentes sobre a receita bruta auferida na venda de álcool. Explicando melhor. A Lei nº 9.718/98 também trata

sobre PIS/PASEP e COFINS. Em seu art. 5º, essa lei prevê que incide PIS/PASEP e COFINS sobre a receita bruta

auferida na venda de álcool. A Lei nº 11.727/2008 acrescentou os §§ 8º e 9º ao art. 5º dizendo que o Poder

Executivo fica autorizado a fixar e alterar coeficientes para redução dessas alíquotas. O STF julgou parcialmente

procedente o pedido formulado na ADI para dar interpretação conforme à Constituição aos §§ 8º e 9º do art. 5º

da Lei nº 9.718/98, incluídos pela Lei nº 11.727/2008, estabelecendo que as normas editadas pelo Poder

Executivo com base nesses parágrafos devem observar a anterioridade nonagesimal prevista no art. 150, III, “c”,

do texto constitucional. STF. Plenário. ADI 5277/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/12/2020 (Info 1002).

IRPJ e a CIDE

O Regulamento das Telecomunicações Internacionais - RTI só alcança os tributos incidentes sobre serviços

importados, não determinando a exclusão de outros tributos sobre a remessa do pagamento, como o IRPJ e a

CIDE. STJ. 1ª Turma. REsp 1.772.678-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 05/03/2020 (Info 667).

Os valores auferidos a título de “reembolso de materiais” adquiridos para a atividade de construção civil

não devem ser deduzidos da base de cálculo do IRPJ e da CSLL pelo lucro presumido. Caso concreto: a

empresa é optante da tributação do IRPJ e da CSLL pelo lucro presumido e pretendia deduzir da receita bruta,

base de cálculo dos tributos nesse regime, os valores que aufere a título de “reembolso de materiais” adquiridos

para a atividade de construção civil. Não é possível. O acolhimento de pedido tendente a excluir da receita bruta

INFORMATIVOS 2020 - 280


determinada despesa ou custo, no regime de apuração pelo lucro presumido, conduziria a uma indevida dupla

dedução da base de cálculo do IRPJ e da CSLL. Isso porque ao definir os percentuais aplicáveis ao regime do

lucro presumido, a lei já considera, em tese, todas as reduções possíveis, de acordo com cada ramo de atividade.

Se o contribuinte pretende que sejam considerados determinados custos ou despesas, deve optar pelo regime

de apuração pelo lucro real, que contempla essa possibilidade, não se podendo permitir que promova uma

combinação dos dois regimes, a fim de reduzir indevidamente a base de cálculo dos tributos. STJ. 1ª Turma. REsp

1.421.590-RN, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 17/11/2020 (Info 683).

TAXAS

A atividade desenvolvida pelo Estado no âmbito da segurança pública é mantida ante impostos, sendo

imprópria a substituição, para tal fim, de taxa. STF. Plenário. ADI 4411, Rel. Marco Aurélio, julgado em

18/08/2020 (Info 992 – clipping).

CONTRIBUIÇÕES

É constitucional a aplicação dos recursos arrecadados por meio de contribuição para o custeio da iluminação

pública na expansão e aprimoramento da rede.

STF. Plenário. RE 666404, Rel. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moras, julgado em 18/08/2020

(Repercussão Geral - Tema 696).

É constitucional a contribuição social referente ao FGTS.

É constitucional a contribuição social prevista no artigo 1º da Lei Complementar nº 110, de 29 de junho de 2001,

tendo em vista a persistência do objeto para a qual foi instituída.

STF. Plenário. RE 878313, Rel. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 18/08/2020

(Repercussão Geral - Tema 696).

As contribuições devidas ao Sebrae, à Apex e à ABDI com fundamento na Lei nº 8.029/90 foram recepcionadas

pela Emenda Constitucional 33/2001. STF. Plenário. RE 603624/SC, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min.

Alexandre de Moraes, julgado em 23/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 325) (Info 992).

A Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta (CPRB) é uma contribuição social, de competência da União,

destinada a custear a Previdência Social. Foi instituída pela MP 540/2011, convertida na Lei nº 12.546/2011.

Inicialmente, esta Contribuição foi prevista para perdurar até 31/12/2014, mas acabou sendo prorrogada até

INFORMATIVOS 2020 - 281


que, a partir do advento da MP 651/2014, ela se tornou definitiva. O art. 9º, II, “a”, da Lei nº 12.546/2011 afirma

que a receita bruta decorrente de exportações está excluída da base de cálculo da CPRB. O art. 4º do Decreto-Lei

nº 288/1967 diz que, se uma mercadoria é vendida para a Zona Franca de Manaus, isso é como se fosse uma

exportação, ou seja, uma venda para o exterior. Em razão disso, entende-se que as vendas de mercadorias para

a Zona Franca de Manaus são alcançadas pela regra do art. 9º, II, da Lei nº 12.546/2011. Logo, as receitas

decorrentes das operações de vendas de mercadorias destinadas à Zona Franca de Manaus devem ser excluídas

da base de cálculo da contribuição previdenciária sobre a receita bruta (CPRB). STJ. 1ª Turma. REsp 1.579.967-RS,

Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 08/09/2020 (Info 681)

CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA

É constitucional, formal e materialmente, a contribuição social do segurado especial prevista no art. 25 da Lei nº

8.212/91. STF. Plenário. RE 761263, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Repercussão Geral – Tema

723) (Info 983 – clipping)

CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS

Têm direito ao crédito presumido de PIS/PASEP e Cofins as pessoas jurídicas, inclusive cooperativas, que

produzam mercadorias por meio de processo de industrialização de grãos de soja, milho e trigo adquiridos de

pessoa física, cerealista ou cooperado pessoa física. Os meros cerealistas não têm direito ao crédito presumido

de PIS/PASEP e Cofins. Para fazer jus ao benefício fiscal, a sociedade interessada deve produzir mercadorias, ou

seja, deve realizar processo de industrialização a partir de grãos de soja, milho e trigo adquiridos de pessoa

física, cooperado pessoa física ou cerealista, transformando-os em outros (v.g. óleo de soja, farelo de soja, leite

de soja, óleo de trigo, farinha de trigo, pães, massas, biscoitos, fubá, polenta etc). Se a pessoa faz apenas

limpeza, secagem, classificação e armazenagem, isso não ocasiona transformação do produto, razão pela qual

essa sociedade será considerada como mera cerealista, não podendo aproveitar o crédito. STJ. 2ª Turma. REsp

1.670.777-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 15/10/2019 (Info 669).

RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA

É inconstitucional lei estadual que disciplina a responsabilidade de terceiros por infrações de forma diversa da

matriz geral estabelecida pelo Código Tributário Nacional (CTN). Há, neste caso, uma inconstitucionalidade

formal. Ao ampliar as hipóteses de responsabilidade de terceiros por infrações, prevista pelos arts. 134 e 135 do

INFORMATIVOS 2020 - 282


CTN, ou tratar sobre o tema de maneira diferente, a lei estadual invade competência do legislador

complementar federal para estabelecer as normas gerais na matéria (art. 146, III, “b”, da CF/88).

Caso concreto: é inconstitucional lei estadual que atribui responsabilidade tributária solidária por

infrações a toda pessoa que concorra ou intervenha, ativa ou passivamente, no cumprimento da

obrigação tributária, especialmente a advogado, economista e correspondente fiscal. STF. Plenário. ADI

4845/MT, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 13/2/2020 (Info 966).

É constitucional a imposição de multa por atraso em declaração de tributos.

Revela-se constitucional a sanção prevista no artigo 7º, inciso II, da Lei nº 10.426/2002, ante a ausência de ofensa

aos princípios da proporcionalidade e da vedação de tributo com efeito confiscatório.

STF. Plenário. RE 606010, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 872).

PROCESSO TRIBUTÁRIO

A autoridade coatora desempenha duas funções no mandado de segurança:

a) uma, internamente, de natureza processual, consistente em defender o ato impugnado pela impetração;

trata-se de hipótese excepcional de legitimidade ad processum, em que o órgão da pessoa jurídica, não o

representante judicial desta, responde ao pedido inicial;

b) outra, externamente, de natureza executiva, vinculada à sua competência administrativa; ela é quem cumpre

a ordem judicial.

A legitimação da autoridade coatora deve ser aferida à base das duas funções acima descritas; só o órgão capaz

de as cumprir pode ser a autoridade coatora. Por essa razão, o Secretário de Estado da Fazenda não possui

legitimidade para figurar, como autoridade coatora, em mandado de segurança que visa afastar exigência fiscal

supostamente ilegítima considerando que ele não competência para a prática de lançamento fiscal. STJ. 2ª

Turma. RMS 54.823-PB, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

PARCELAMENTO TRIBUTÁRIO

É inconstitucional o art. 1º da Resolução 20/2001 do Comitê Gestor do Programa de Recuperação Fiscal

(CG/Refis), no que suprimiu a notificação da pessoa jurídica optante do Refis, prévia ao ato de exclusão. STF.

Plenário. RE 669196/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 668) (Info 996).

INFORMATIVOS 2020 - 283


É incabível a exclusão do pagamento de honorários de sucumbência, quando o pedido de parcelamento

tributário tiver sido após o trânsito em julgado da condenação, por respeito à coisa julgada.

STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1819693/PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 06/02/2020.

Isto é, se a adesão ao parcelamento ocorreu apenas posteriormente ao trânsito em julgado da decisão que

reconheceu a improcedência dos embargos à execução e fixou a verba sucumbencial, são devidos os honorários

advocatícios fixados na sentença, porquanto acobertados pelo manto da coisa julgada.

CRÉDITO TRIBUTÁRIO

A Lei nº 13.606/2018 acrescentou o art. 20-B à Lei nº 10.522/2002 prevendo um procedimento para o caso de

inscrição de créditos em dívida ativa da União. A alteração que gerou controvérsia foi o § 3º do art. 20-B. Esse

dispositivo previu que, se depois de 5 dias contados da notificação, o devedor não pagar a dívida, a Fazenda

Pública poderá:

1) comunicar essa dívida para que seja anotada nos cadastros restritivos de crédito, como por exemplo, SERASA

e SPC. Com isso, o devedor do Fisco fica “negativado” e terá dificuldades de obter créditos e financiamentos;

2) averbar a certidão de dívida ativa (CDA) nos registros públicos e, com isso, os bens e direitos do devedor

ficariam indisponíveis. Veja a redação do dispositivo legal:

Art. 20-B (...) § 3º Não pago o débito no prazo fixado no caput deste artigo, a Fazenda Pública poderá:

I - comunicar a inscrição em dívida ativa aos órgãos que operam bancos de dados e cadastros relativos a

consumidores e aos serviços de proteção ao crédito e congêneres; e

II - averbar, inclusive por meio eletrônico, a certidão de dívida ativa nos órgãos de registro de bens e direitos

sujeitos a arresto ou penhora, tornando-os indisponíveis.

Os incisos I e II do § 3º do art. 20-B da Lei nº 10.522/2002, acrescentados pela Lei nº 13.606/2018, são

constitucionais ou não?

O STF declarou:

• constitucional o inciso I do § 3º do art. 20-B da Lei 10.522/2002; e

• inconstitucional a parte final do inciso II do § 3º do mesmo art. 20-B, onde se lê “tornando-os indisponíveis”,

ambos na redação dada pela Lei nº 13.306/2018.

É constitucional lei que autoriza que o Fisco informe ao SERASA/SPC a relação dos devedores de tributos (inciso

I do § 3º do art. 20-B)

INFORMATIVOS 2020 - 284


É constitucional a comunicação da inscrição em dívida ativa aos órgãos que operam bancos de dados e

cadastros relativos a consumidores e aos serviços de proteção ao crédito e congêneres

É constitucional lei que autoriza que o Fisco faça a averbação (“uma espécie de observação”) nos registros

públicos sobre a existência de CDA contra o titular daquele bem ou direito registrado (primeira parte do inciso

II)

É constitucional a averbação, inclusive por meio eletrônico, da certidão de dívida ativa (CDA) nos órgãos de

registro de bens e direitos sujeitos a arresto ou penhora, relativamente aos créditos inscritos em dívida ativa da

União.

É inconstitucional a previsão da indisponibilidade de bens e direitos do devedor tributário pelo simples fato de

a CDA ter sido averbada no registro (segunda parte do inciso II)

É inconstitucional a previsão legal que permite à Fazenda Nacional tornar indisponíveis, administrativamente,

bens dos contribuintes devedores para garantir o pagamento dos débitos fiscais a serem executados. STF.

Plenário. ADI 5881/DF, ADI 5886/DF, ADI 5890/DF, ADI 5925/DF, ADI 5931/DF e ADI 5932/DF, rel. orig. Min. Marco

Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgados em 9/12/2020 (Info 1002).

É inconstitucional, por afronta ao art. 146, III, b, da CF, a expressão ’ou parcelados sem garantia’ constante do

parágrafo único do art. 73, da Lei nº 9.430/96, incluído pela Lei nº 12.844/13, na medida em que retira os efeitos

da suspensão da exigibilidade do crédito tributário prevista no CTN.

Em síntese, não é possível que uma lei ordinária condicione a suspensão do crédito tributário à apresentação de

garantia do valor objeto de parcelamento, por não haver previsão na lei complementar, como ensina o art. 146,

III, b da CF.

STF. Plenário. RE 917285, Rel. Min Dias Toffoli, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 874).

RESTITUIÇÃO DE VALORES DEVIDOS AO CONTRIBUINTE

O termo inicial da correção monetária de ressarcimento de crédito escritural excedente de tributo sujeito ao

regime não cumulativo ocorre somente após escoado o prazo de 360 dias para a análise do pedido

administrativo pelo Fisco (art. 24 da Lei nº 11.457/2007). STJ. 1ª Seção. REsp 1.767.945-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina,

julgado em 12/02/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1.003) (Info 670).

INFORMATIVOS 2020 - 285


DIREITO ADUANEIRO

Súmula 640-STJ: O benefício fiscal que trata do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as

Empresas Exportadoras (REINTEGRA) alcança as operações de venda de mercadorias de origem nacional para a

Zona Franca de Manaus, para consumo, industrialização ou reexportação para o estrangeiro. STJ. 1ª Seção.

Aprovada em 18/02/2020, DJe 19/02/2020

O art. 5º da Lei nº 8.032/90 concede o regime de drawback do art. 78, II, do DL 37/66 para as empresas que

forem participar de “licitação internacional”. A definição de licitação internacional para fins de concessão do

regime aduaneiro do drawback é aquela prevista no art. 3º da Lei nº 11.732/2008 (não se utilizando a Lei nº

8.666/93). Veja o que diz o art. 3º da Lei nº 11.732/2008: Art. 3º Para efeito de interpretação do art. 5º da Lei nº

8.032, de 12 de abril de 1990, licitação internacional é aquela promovida tanto por pessoas jurídicas de direito

público como por pessoas jurídicas de direito privado do setor público e do setor privado. Esse conceito

abrangente de licitação internacional previsto no art. 3º da Lei nº 11.732/2008 possui indiscutível caráter

interpretativo e, por isso, retroage para alcançar situações ocorridas antes de sua entrada em vigor.

Aplica-se o raciocínio contido no art. 106, I, do CTN: a lei aplica-se a ato ou fato pretérito em qualquer caso,

quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos

interpretados. STJ. 1ª Turma. REsp 1.715.820-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 10/03/2020 (Info 667)

É constitucional vincular o despacho aduaneiro ao recolhimento de diferença tributária apurada mediante

arbitramento da autoridade fiscal. STF. Plenário. RE 1090591, Rel. Marco Aurélio, julgado em 16/09/2020

(Repercussão Geral – Tema 1042) (Info 994 – clipping).

FINANCEIRO

O art. 82, § 1º do ADCT permite que os Estados aumentem em até 2% a alíquota do ICMS que é cobrado sobre

produtos e serviços considerados supérfluos. O valor arrecadado com esses 2% a mais deverão ser destinados

exclusivamente ao Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza: Art. 82. Os Estados, o Distrito Federal

e os Municípios devem instituir Fundos de Combate à Pobreza, com os recursos de que trata este artigo e outros

que vierem a destinar, devendo os referidos Fundos ser geridos por entidades que contem com a participação

da sociedade civil. § 1º Para o financiamento dos Fundos Estaduais e Distrital, poderá ser criado adicional de até

dois pontos percentuais na alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS, sobre os

INFORMATIVOS 2020 - 286


produtos e serviços supérfluos e nas condições definidas na lei complementar de que trata o art. 155, § 2º, XII,

da Constituição, não se aplicando, sobre este percentual, o disposto no art. 158, IV, da Constituição. (...) As

receitas provenientes do adicional previsto pelo § 1º do art. 82 do ADCT não podem ser consideradas para efeito

de cálculo da amortização da dívida do Estado (não podem ser incluídas no cálculo da dívida pública do Estado

com a União). Por outro lado, tais recursos devem sim ser considerados para efeito de cálculo do montante

mínimo destinado à saúde e à educação. STF. Plenário. ACO 727/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em

13/2/2020 (Info 966)

A Lei estadual, ao permitir a utilização dos recursos de depósitos judiciais em percentual superior ao previsto na

legislação nacional, e ainda para finalidades discricionárias, bem como ao estabelecer o repasse de rendimentos

dos depósitos judiciais ao Fundo de Reaparelhamento do Poder Judiciário, contraria o art. 101, §§ 2º, I e II, e 3º,

do ADCT e a Lei Complementar federal 151/2015, além de invadir a competência da União para legislar sobre

direito processual (art. 22, I, da CF/88) e sobre normas gerais de direito financeiro (art. 24, I, da CF/88). STF.

Plenário. ADI 5353 MC-Ref/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/09/2016 (Info 841). STF. Plenário. ADI

5080, Rel. Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

São inconstitucionais as fontes de receitas de fundo especial do Poder Judiciário provenientes de rendimentos

dos depósitos judiciais à disposição do Poder Judiciário do Estado, através de conta única. A administração da

conta dos depósitos judiciais e extrajudiciais, apesar de não configurar atividade jurisdicional, é tema de direito

processual, de competência legislativa privativa da União (art. 22, I, da CF/88). É igualmente inconstitucional a

incorporação de receitas extraordinárias decorrentes de fianças e cauções, exigidas nos processos cíveis e

criminais na justiça estadual, quando reverterem ao patrimônio do Estado; e percentual sobre os valores

decorrentes de sanções pecuniárias judicialmente aplicadas ou do perdimento, total ou parcial, dos

recolhimentos procedidos em virtude de medidas assecuratórias cíveis e criminais. Isso porque tais matérias

envolvem direito penal e processual, que são de competência privativa da União (art. 22, I, da CF/88). São

inconstitucionais as fontes de receitas de fundo especial do Poder Judiciário provenientes de bens de herança

jacente e o saldo das coisas vagas pertencentes ao Estado. Há ofensa à competência legislativa privativa da

União para legislar sobre direito civil, também prevista no art. 22, I, da CF/88. Ademais, tais bens são

pertencentes aos municípios (ou ao Distrito Federal) ou à União, não cabendo aos estados federados sobre eles

disporem. Por outro lado, é constitucional a previsão, em lei estadual, da destinação ao fundo especial do Poder

Judiciário de valores decorrentes de multas aplicadas pelos juízes nos processos cíveis, salvo se destinadas às

partes ou a terceiros. Isso porque a norma vai ao encontro do que atualmente dispõem os arts. 96 e 97 do

CPC/2015, que autorizam destinar esses recursos aos fundos do poder judiciário estadual. Por fim, é

inconstitucional a norma estadual que atribui personalidade jurídica ao Fundo Especial do Poder Judiciário e

prevê que o presidente do Conselho da Magistratura será o ordenador de despesas e seu representante legal.

STF. Plenário. ADI 4981/RR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 14/11/2020 (Info 999).

INFORMATIVOS 2020 - 287


Os limites da despesa total com pessoal e as vedações à concessão de vantagens, reajustes e aumentos

remuneratórios previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal somente podem ser afastados quando a

despesa for de caráter temporário, com vigência e efeitos restritos à duração da calamidade pública, e

com propósito exclusivo de enfrentar tal calamidade e suas consequências sociais e econômicas. STF.

Plenário. ADI 6394/AC, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000)

LRF

A Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF (Lei Complementar nº 101/2000) é formalmente constitucional, não houve

qualquer vício na tramitação do projeto, tendo sido respeitado o devido processo legislativo.

No que tange ao aspecto material, o STF declarou a constitucionalidade dos arts. 4º, § 2º, II, e § 4º; 7º, caput e §

1º; 11, parágrafo único; 14, II; 17, §§ 1º a 7º; 18, § 1º; 20; 24; 26, § 1º; 28, § 2º; 29, I, e § 2º; 39; 59, § 1º, IV; 60; e 68,

caput, da LRF.

Por outro lado, o STF julgou inconstitucionais o art. 9º, § 3º, o caput dos arts. 56 e 57 e o § 2º do art. 23.

Quanto ao § 1º do art. 23, da LRF, o STF declarou a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, de

modo a obstar interpretação segundo a qual é possível reduzir valores de função ou cargo que estiver

provido

Art. 9º, § 3º

Art. 9º Se verificado, ao final de um bimestre, que a realização da receita poderá não comportar o cumprimento

das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os Poderes e o Ministério

Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias subsequentes, limitação de

empenho e movimentação financeira, segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias. (...)

§ 3º No caso de os Poderes Legislativo e Judiciário e o Ministério Público não promoverem a limitação no prazo

estabelecido no caput, é o Poder Executivo autorizado a limitar os valores financeiros segundo os critérios

fixados pela lei de diretrizes orçamentárias.

Com relação ao § 3º do art. 9º, o STF entendeu que a norma prevista não guarda pertinência com o modelo de

freios e contrapesos estabelecido constitucionalmente para assegurar o exercício responsável da autonomia

financeira por parte dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Ministério Público. Isso porque o dispositivo

estabelece inconstitucional hierarquização subserviente em relação ao Executivo, permitindo que,

unilateralmente, limite os valores financeiros segundo os critérios fixados pela Lei de Diretrizes Orçamentárias

no caso daqueles outros dois Poderes e instituição não promoverem a limitação no prazo fixado no caput. A

defesa de um Estado Democrático de Direito exige o afastamento de normas legais que repudiam o sistema de

INFORMATIVOS 2020 - 288


organização liberal, em especial, na presente hipótese, o desrespeito à separação das funções do Poder e suas

autonomias constitucionais.

Caput dos arts. 56 e 57

Art. 56. As contas prestadas pelos Chefes do Poder Executivo incluirão, além das suas próprias, as dos

Presidentes dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Chefe do Ministério Público, referidos no art. 20,

as quais receberão parecer prévio, separadamente, do respectivo Tribunal de Contas.

Art. 57. Os Tribunais de Contas emitirão parecer prévio conclusivo sobre as contas no prazo de sessenta dias do

recebimento, se outro não estiver estabelecido nas constituições estaduais ou nas leis orgânicas municipais.

O STF considerou que houve um desvirtuamento do modelo previsto nos arts. 71 e seguintes da CF/88.

A Constituição determina que as contas do Poder Executivo englobarão todas as contas, receberão um parecer

conjunto do Tribunal de Contas, e serão julgadas pelo Congresso. No caso do Judiciário, do Ministério Público e

do Legislativo, o Tribunal de Contas julga as contas, e não apenas dá um parecer prévio.

Art. 23, § 1º e art. 23, § 2º

Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultrapassar os limites definidos no

mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos

dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as

providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.

§ 1º No caso do inciso I do § 3º do art. 169 da Constituição, o objetivo poderá ser alcançado tanto pela extinção

de cargos e funções quanto pela redução dos valores a eles atribuídos.

§ 2º É facultada a redução temporária da jornada de trabalho com adequação dos vencimentos à nova carga

horária.

Quanto ao § 1º do art. 23, da LRF, o STF declarou a inconstitucionalidade ial, sem redução de texto, de modo a

obstar interpretação segundo a qual é possível reduzir valores de função ou cargo que estiver provido.

Quanto ao § 2º do art. 23, declarou a sua inconstitucionalidade. É inconstitucional qualquer interpretação de

dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal que permita a redução de vencimentos de servidores públicos

para a adequação de despesas com pessoal.

É inconstitucional o § 2º do art. 23 da LRF, que faculta a redução temporária da jornada de trabalho com

adequação dos vencimentos à nova carga horária, caso sejam ultrapassados os limites definidos na lei para

despesas com pessoal nas diversas esferas do poder público. Essa possibilidade de redução fere o princípio

constitucional da irredutibilidade de vencimentos (art. 37, XV, da CF/88). STF. Plenário. ADI 2238/DF, Rel. Min.

Alexandre de Moraes, julgado em 24/6/2020 (Info 983).

INFORMATIVOS 2020 - 289


Os arts. 14, 16, 17 e 24 da LRF exigem, para o aumento de gastos tributários indiretos e despesas

obrigatórias de caráter continuado, as estimativas de impacto orçamentário-financeiro e a

compatibilidade com a LDO, além da demonstração da origem dos recursos e a compensação de seus

efeitos financeiros nos exercícios seguintes. O art. 114 da LDO/2020 também traz restrições nesse sentido.

Durante a pandemia do coronavírus, o Governo precisava tomar uma série de medidas que implicariam

renúncia de receita ou então criação ou aumento de despesas e isso ofenderia as regras acima listadas. Diante

disso, o Presidente da República ajuizou ADI pedindo que o STF afastasse essas exigências da Lei de

Responsabilidade Fiscal (LRF 101/2000) e da LDO/2020 em relação à criação e à expansão de programas de

prevenção ao novo coronavírus e de proteção da população vulnerável à pandemia. O Min. Alexandre de

Moraes, monocraticamente, deferiu medida cautelar concordando com o pedido. Depois da liminar foi editada a

Lei nº Lei nº 13.983/2020 e a EC 106/2020, que excepcionaram a aplicação dessas regras durante o período de

calamidade pública decorrente do coronavírus.

Diante disso, o STF decidiu:

• referendar a medida cautelar deferida, ou seja, dizer que foi uma decisão juridicamente correta e que seus

efeitos deveriam ser confirmados, por questões de segurança jurídica;

• mas, ao mesmo tempo, o STF decidiu extinguir a ADI por perda superveniente de objeto. Vale ressaltar que o

art. 3º da EC 106/2020 é aplicável não apenas à União, mas também Estados, DF e Municípios. STF. Plenário. ADI

6357 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/5/2020 (Info 977).

ELEITORAL

DIREITOS POLÍTICOS

A ausência do título de eleitor no momento da votação não constitui, por si só, óbice ao exercício do

sufrágio. STF. Plenário. ADI 4467/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 19/10/2020 (Info 995).

PARTIDOS POLÍTICOS

São constitucionais as modificações realizadas pela Lei nº 13.107/2015 nos arts. 7º e 29 da Lei nº 9.096/95 (Lei

dos Partidos Políticos). A Constituição Federal garante a liberdade para a criação, fusão, incorporação e extinção

de partidos políticos, a eles assegurando a autonomia (art. 17). Ocorre que não há liberdade absoluta. Também

não se tem autonomia sem limitação. Logo, é possível que sejam estabelecidos requisitos e condições para a

INFORMATIVOS 2020 - 290


criação, fusão e incorporação de partidos políticos. As normas legais impugnadas não afetam, reduzem ou

condicionam a autonomia partidária, porque o espaço de atuação livre dos partidos políticos deve estar de

acordo com as a normas jurídicas que estabelecem condições pelas quais se pode dar a criação, ou recriação

por fusão ou incorporação de partido sem intervir no seu funcionamento interno. STF. Plenário. ADI 5311/DF,

Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 4/3/2020 (Info 968)

SISTEMAS ELEITORAIS

É constitucional o art. 4º da Lei nº 13.165/2015, que deu nova redação ao art. 108 do Código Eleitoral, para dizer

que só será eleito o candidato que obtiver votos em número igual ou superior a 10% do quociente

eleitoral. Essa alteração não viola o princípio democrático ou o sistema proporcional, consistindo, antes, em

valorização da representatividade e do voto nominal, em consonância com o sistema de listas abertas e com o

comportamento cultural do eleitor brasileiro. A pessoa que está sendo eleita pelo partido tem que ter o

mínimo de representatividade popular e, por isso, se estabeleceu esses 10%. O objetivo do legislador foi o

de acabar com a figura do “puxador de votos”, excluindo da participação, no parlamento, candidatos que

pessoalmente tenham obtido votação inexpressiva e, por isso, tenham representatividade popular ínfima. STF.

Plenário. ADI 5920/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 4/3/2020 (Info 968)

É inconstitucional a expressão “número de lugares definido para o partido pelo cálculo do quociente

partidário do art. 107”, prevista no inciso I do art. 109 do Código Eleitoral, com redação dada pela Lei nº

13.165/2015. Com a declaração de inconstitucionalidade dessa expressão, deve-se adotar o critério de cálculo

anterior, ou seja, o que vigorava antes da Lei nº 13.165/2015. STF. Plenário. ADI 5420/DF, Rel. Min. Dias Toffoli,

julgado em 4/3/2020 (Info 968).

É constitucional o art. 3º da Lei nº 13.488/2017 que deu nova redação do art. 109, § 2º, do Código Eleitoral e

estabeleceu que todos os partidos e coligações que participaram do pleito podem concorrer às denominadas

“sobras eleitorais”.

• Antes da Lei nº 13.488/2017: somente poderia concorrer à distribuição das sobras eleitorais os partidos ou as

coligações que tivessem obtido quociente eleitoral.

• Depois da Lei nº 13.488/2017: podem concorrer à distribuição dos lugares todos os partidos e coligações

que participaram do pleito. Trata-se de uma opção legislativa legítima, que não viola diretamente

qualquer dispositivo da Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 5947/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em

4/3/2020 (Info 968).

INFORMATIVOS 2020 - 291


A Lei nº 13.165/2015 (minirreforma eleitoral de 2015) inseriu o § 3º ao art. 224 do Código Eleitoral. O § 3º prevê

que “a decisão da Justiça Eleitoral que importe o indeferimento do registro, a cassação do diploma ou a perda do

mandato de candidato eleito em pleito majoritário acarreta, após o trânsito em julgado, a realização de novas

eleições, independentemente do número de votos anulados.” O STF declarou a inconstitucionalidade da

expressão “após o trânsito em julgado” e decidiu que basta a exigência de decisão final da Justiça

Eleitoral. Assim, concluído o processo na Justiça Eleitoral (ex: está pendente apenas recurso

extraordinário), a nova eleição já pode ser realizada mesmo sem trânsito em julgado. STF. Plenário. ADI

5525/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 7 e 8/3/2018 (Info 893)

Tirando esse trecho, o restante do § 3º do art. 224 do CE é constitucional. Veja a tese fixada pelo STF: É

constitucional, à luz dos arts. 1º, I e parágrafo único, 5º, LIV, e 14, caput e § 9º, da Constituição da República, o §

3º do art. 224 do Código Eleitoral, com a redação dada pela Lei nº 13.165/2015, no que determina a realização

automática de novas eleições, independentemente do número de votos anulados, sempre que o candidato

eleito, em pleito majoritário, for desclassificado, por indeferimento do registro de sua candidatura, ou em

virtude de cassação do diploma ou mandato. STF. Plenário. RE 1096029/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em

4/3/2020 (repercussão geral – Tema 986) (Info 968).

INELEGIBILIDADE

O art. 1º, I, “g”, da LC 64/90 prevê que são inelegíveis para qualquer cargo os que tiverem suas contas rejeitadas

pelo Tribunal de Contas “por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa”.

Assim, A REJEIÇÃO DE CONTAS SÓ GERA A INELEGIBILIDADE SE A IRREGULARIDADE INSANÁVEL QUE FOR

DETECTADA CONFIGURAR ATO DOLOSO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. Não é possível fazer uma

interpretação extensiva desse dispositivo para dizer que a simples violação da Lei de Licitações configura ato

doloso de improbidade administrativa e que, portanto, caracteriza essa hipótese de inelegibilidade. É necessário

fazer uma distinção entre “ato meramente ilegal” e “ato ímprobo”, exigindo para este último uma qualificação

especial: lesar o erário ou, ainda, promover enriquecimento ilícito ou favorecimento contra legem de terceiro.

STF. 2ª Turma. ARE 1197808 AgR-segundo e terceiro/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/3/2020 (Info 968)

PRAZOS ELEITORAIS

INFORMATIVOS 2020 - 292


Mesmo com a situação de calamidade pública decorrente da covid-19, são constitucionais e devem ser mantidos

os prazos para filiação partidária e desincompatibilização previstos na legislação para a as eleições municipais de

2020. STF. Plenário. ADI 6359 Ref-MC/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 14/5/2020 (Info 977).

DIREITO DO TRABALHO

LIBERDADE SINDICAL

A liberdade sindical tem previsão constitucional, mas não possui caráter absoluto. A previsão legal de

número máximo de dirigentes sindicais dotados de estabilidade de emprego não esvazia a liberdade

sindical. Essa garantia constitucional existe para que possa assegurar a autonomia da entidade sindical, mas

não serve para criar situações de estabilidade genérica e ilimitada que violem a razoabilidade e a finalidade da

norma constitucional garantidora do direito. STF. Plenário. ADPF 276, Rel. Cármen Lúcia, julgado em 15/05/2020

(Info 980).

CONTRATO DE TRABALHO

A MP 936/2020 instituiu o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda para enfrentamento

do estado de calamidade pública decorrente do covid-19. Com o objetivo de ajudar os empresários e evitar que

muitos trabalhadores percam seus empregados durante a pandemia, a MP permitiu:

• a redução proporcional de jornada de trabalho e de salários; e

• a suspensão temporária do contrato de trabalho. A MP prevê que existe a possibilidade de essas medidas

serem implementadas por meio de acordo individual ou de negociação coletiva aos empregados. O § 4º do art.

11 da MP afirma que “Os acordos individuais de redução de jornada de trabalho e de salário ou de suspensão

temporária do contrato de trabalho, pactuados nos termos desta Medida Provisória, deverão ser comunicados

pelos empregadores ao respectivo sindicato laboral, no prazo de até dez dias corridos, contado da data de sua

celebração.” Esse acordo escrito individual firmado entre o empregado e o empregador é um ato jurídico

perfeito e acabado e não está sujeito ao referendo (aprovação) do sindicato. O STF, ao analisar o pedido de

medida cautelar na ADI proposta contra a Medida Provisória, decidiu manter a eficácia da MP 936/2020, que

INFORMATIVOS 2020 - 293


autoriza a redução da jornada de trabalho e do salário ou a suspensão temporária do contrato de trabalho por

meio de acordos individuais em razão da pandemia do novo coronavírus, independentemente de anuência

sindical. STF. Plenário. ADI 6363 MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Alexandre de

Moraes, julgado em 16 e 17/4/2020 (Info 973).

A MP 927/2020 dispõe sobre a possibilidade de celebração de acordo individual escrito, a fim de garantir a

permanência do vínculo empregatício, durante o período da pandemia do novo coronavírus (covid-19), bem

como sobre diversas providências a serem tomadas nesse período de calamidade pública relativas aos contratos

de trabalho. No julgamento de medida cautelar, o STF decidiu suspender a eficácia apenas dos arts. 29 e 31 da

MP 927/2020, mantendo os demais dispositivos. Art. 29. Os casos de contaminação pelo coronavírus (covid-19)

não serão considerados ocupacionais, exceto mediante comprovação do nexo causal. Esse dispositivo não se

mostra razoável ao afirmar, de forma tão ampla, que a contaminação pelo coronavírus não seria doença

ocupacional, excluindo da proteção inclusive de trabalhadores de atividades essenciais que continuam expostos

aos riscos. Art. 31. Durante o período de cento e oitenta dias, contado da data de entrada em vigor desta Medida

Provisória, os Auditores Fiscais do Trabalho do Ministério da Economia atuarão de maneira orientadora, exceto

quanto às seguintes irregularidades: (...) Não existe razão para suspender, durante o período de 180 dias,

contados da data de entrada em vigor da MP, a atuação completa dos Auditores Fiscais do Trabalho. O

estabelecimento de uma fiscalização menor atenta contra a própria saúde do empregado e em nada auxilia na

pandemia. STF. Plenário. ADI 6342 Ref-MC/DF, ADI 6344 Ref-MC/DF, ADI 6346 Ref-MC/DF, ADI 6348 RefMC/DF,

ADI 6349 Ref-MC/DF, ADI 6352 Ref-MC/DF e ADI 6354 Ref-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.

Alexandre de Moraes, julgados em 29/4/2020 (Info 975)

Deve ser julgada prejudicada, por perda superveniente de objeto, a ação direta de inconstitucionalidade ajuizada

em face do art. 19 da MP 1.950-62/2000, convertida no art. 18 da Lei nº 10.192/2001, na parte em que revogou

os §§ 1º e 2º do art. 1º da Lei nº 8.542/92. Os §§ 1º e 2º do art. 1º da Lei nº 8.542/92 previam a ultratividade das

convenções e acordos coletivos. A Lei nº 10.192/2001 revogou esses parágrafos e acabou com a ultratividade.

Mesmo que a Lei nº 10.192/2001 fosse julgada inconstitucional, isso seria inócuo porque agora a ultratividade é

proibida expressamente por outra norma, qual seja, o § 3º do art. 614 da CLT, com redação dada pela Lei nº

13.467/2017. STF. Plenário. ADI 2200/DF e ADI 2288/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgados em 4/6/2020 (Info 980)

TRABALHADORES PORTUÁRIOS AVULSOS

INFORMATIVOS 2020 - 294


Sempre que for pago ao trabalhador com vínculo permanente, o adicional de riscos é devido, nos mesmos

termos, ao trabalhador portuário avulso. O art. 7º, XXXIV, da CF/88 tem nítido caráter protetivo da igualdade

material. Se há o pagamento do adicional de riscos como direito do trabalhador portuário com vínculo

permanente que labora em condições adversas, essa previsão também deve ser reconhecida aos trabalhadores

portuários avulsos submetidos às mesmas condições. STF. Plenário. RE 597124/PR, Rel. Min. Edson Fachin,

julgado em 3/6/2020 (Repercussão Geral – Tema 222) (Info 980).

COMPETÊNCIA

A Justiça do Trabalho é competente para executar, de ofício, as contribuições previstas no art. 195, incisos

I, alínea “a”, e II, da Carta da República, relativamente a títulos executivos judiciais por si formalizados

em data anterior à promulgação da Emenda Constitucional nº 20/1998. STF. Plenário. RE 595326, Rel. Marco

Aurélio, julgado em 24/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 505) (Info 991 – clipping).

A Justiça do Trabalho não tem competência para processar e julgar ações penais. STF. Plenário. ADI 3684, Rel.

Gilmar Mendes, julgado em 11/05/2020 (Info 980).

Compete à Justiça comum processar e julgar causa de servidor público municipal admitido mediante

aprovação em concurso público sob o regime da CLT e que, posteriormente, passou a ser regido pelo

estatuto dos servidores públicos municipais (estatutário). Caso concreto: o servidor ingressou no serviço

público do Município em 1997 no cargo de auxiliar de serviços gerais sob o regime celetista e, em julho de 2010,

passou a ser regido pelo regime estatutário. Em 2013, ele ajuizou ação na Justiça do Trabalho para pleitear o

recolhimento de parcelas do FGTS no período em que esteve regido pelas regras da CLT. Como o vínculo do

servidor com a administração pública é atualmente estatutário, a competência para julgar a causa é da Justiça

comum, ainda que as verbas requeridas sejam de natureza trabalhista e relativas ao período anterior à alteração

do regime de trabalho. STF. Plenário. CC 8018/PI, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de

Moraes, julgado em 19/12/2019 (Info 964).

Compete à Justiça comum processar e julgar controvérsias relacionadas à fase pré-contratual de seleção

e de admissão de pessoal e eventual nulidade do certame em face da Administração Pública, direta e

indireta, nas hipóteses em que adotado o regime celetista de contratação de pessoal. STF. Plenário. RE

960429/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4 e 5/3/2020 (repercussão geral – Tema 992) (Info 968).

Modulação dos efeitos

Em 15/02/2020, o STF decidiu modular os efeitos da decisão acima e estabeleceu um marco temporal para a

competência da Justiça Comum (federal ou estadual) para processar e julgar ações ajuizadas por candidatos e

INFORMATIVOS 2020 - 295


empregados públicos na fase pré-contratual. De acordo com a modulação, os processos que tiveram decisão de

mérito (sentença) até 6/6/2018, data em que foi determinada a suspensão geral dos casos com o mesmo tema,

permanecem na competência da Justiça do Trabalho até o trânsito em julgado e a sua execução.

Foi fixada, portanto, uma nova tese:

Compete à Justiça Comum processar e julgar controvérsias relacionadas à fase pré-contratual de seleção e de

admissão de pessoal e eventual nulidade do certame em face da Administração Pública, direta e indireta, nas

hipóteses em que adotado o regime celetista de contratação de pessoas, salvo quando a sentença de mérito

tiver sido proferida antes de 6 de junho de 2018, situação em que, até o trânsito em julgado e a sua execução, a

competência continuará a ser da Justiça do Trabalho.

STF. Plenário. RE 960429 ED-segundos, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2020 (Repercussão Geral –

Tema 992).

Compete à Justiça comum julgar conflitos entre Município e servidor contratado depois da CF/88, ainda que sem

concurso público, pois, uma vez vigente regime jurídico-administrativo, este disciplinará a absorção de pessoal

pelo poder público. Logo, eventual nulidade do vínculo e as consequências daí oriundas devem ser apreciadas

pela Justiça comum, e não pela Justiça do Trabalho. STF. Plenário. ARE 1179455 AgR/PI, rel. orig. Min. Rosa

Weber, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 5/5/2020 (Info 976).

A interpretação adequadamente constitucional da expressão “relação do trabalho” deve excluir os vínculos de

natureza jurídico-estatutária, em razão de que a competência da Justiça do Trabalho não alcança as ações

judiciais entre o Poder Público e seus servidores. Vale ressaltar também que o processo legislativo para edição

da Emenda Constitucional 45/2004, que deu nova redação ao inciso I do art. 114 da Constituição Federal, é, do

ponto de vista formal, constitucionalmente hígido (não houve qualquer inconstitucionalidade formal). STF.

Plenário. ADI 3395, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/04/2020 (Info 984 – clipping).

Compete à Justiça comum processar e julgar demandas em que se discute o recolhimento e o repasse de

contribuição sindical de servidores públicos regidos pelo regime estatutário. STF. Plenário. RE 1089282/AM,

Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 994) (Info 1001).

RECURSOS

A Fazenda Pública é condenada a pagar encargos trabalhistas de um empregado terceirizado que prestava

serviços ao Poder Público. Em outras palavras, o magistrado transferiu ao Poder Público contratante a

responsabilidade pelos encargos trabalhistas dos empregados da empresa contratada pelo Estado. Essa decisão

foi baseada no art. 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93. Após sucessivos recursos, o Ministro do TST negou seguimento ao

INFORMATIVOS 2020 - 296


agravo de instrumento em recurso de revista (AIRR) alegando ausência de transcendência da controvérsia e

determinou a baixa imediata dos autos. A União ingressou com reclamação dirigida ao STF alegando que houve

afronta às decisões da Suprema Corte proferidas na ADC nº 16 e no RE nº 760.931-RG (Tema 246). O STF acolheu

o pedido formulado na reclamação? SIM. A 1ª Turma do STF, por maioria, cassou a decisão reclamada e afastou a

responsabilidade subsidiária da União. A matéria tratada nos autos teve sua repercussão geral reconhecida e

decidida pelo STF. De forma contrária a isso, o TST tem afirmado que essa questão não tem “transcendência”

(art. 896-A da CLT) e, como consequência, tem determinado o imediato trânsito em julgado. Isso impede que a

controvérsia chegue ao STF e possa ser analisado pela Corte. A análise da transcendência deve ser feita no

campo jurídico e o TST, ao barrar a transcendência, está a impedir que o STF aprecie a mesma questão jurídica,

já analisada anteriormente, sobre a qual foi editada uma tese da necessidade de exame detalhado de haver ou

não culpa. A Justiça do Trabalho resiste em aceitar a interpretação dada pelo STF e tem considerado, de forma

automática, que houve culpa in vigilando. Além disso, ao negar a transcendência e a subida do feito, no fundo, o

que se faz é impedir que a posição pacificada do STF prevaleça nos casos. STF. 1ª Turma. Rcl 36958 AgR/SP e Rcl

40652 AgR/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 8/9/2020 (Info

990).

RESPONSABILIDADE CIVIL

O art. 927, parágrafo único, do Código Civil é compatível com o art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal,

sendo constitucional a responsabilização objetiva do empregador por danos decorrentes de acidentes de

trabalho nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente desenvolvida, por sua

natureza, apresentar exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva, e implicar ao

trabalhador ônus maior do que aos demais membros da coletividade. STF. Plenário. RE 828040/DF, Rel. Min.

Alexandre de Moraes, julgado em 12/3/2020 (repercussão geral – Tema 932) (Info 969).

SALÁRIO-FAMÍLIA

A alteração de regência constitucional do salário-família não repercute nas relações jurídicas existentes na data

em que promulgada a Emenda Constitucional nº 20/1998. STF. Plenário. RE 657989, Rel. Marco Aurélio, julgado

em 16/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 543) (Info 987 – clipping).

TEMAS DIVERSOS

INFORMATIVOS 2020 - 297


É inadequada a aplicação da Taxa Referencial (TR) para a correção monetária de débitos trabalhistas e de

depósitos recursais no âmbito da Justiça do Trabalho.

Devem ser utilizados na Justiça Trabalhista os mesmos índices de correção monetária vigentes para as

condenações cíveis em geral: o Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E), na fase

pré-judicial, e, a partir da citação, a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC).

STF. Plenário. ADC 58/DF, ADC 59/DF, ADI 5867/DF e ADI 6021/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em

18/12/2020 (Info 1003).

INTERNACIONAL

EXPULSÃO

Para a configuração das hipóteses legais de inexpulsabilidade não é exigível a contemporaneidade dessas

mesmas causas em relação aos fatos que deram ensejo ao ato expulsório.

Caso concreto: portaria de expulsão do estrangeiro foi publicada em 2017; enquanto aguardava a efetivação da

expulsão, esse estrangeiro teve um filho brasileiro, nascido em 2019; a Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017), em

seu art. 55, II, “a”, proíbe a expulsão caso o estrangeiro tenha filho brasileiro e ele esteja sob a sua guarda ou

dependência econômica ou socioafetiva; muito embora a portaria de expulsão tenha sido editada antes do

nascimento do filho brasileiro, o certo é que não se pode exigir para a configuração das hipóteses legais de

inexpulsabilidade a contemporaneidade dessas mesmas causas em relação aos fatos que deram ensejo ao ato

expulsório. STJ. 1ª Seção. HC 452.975-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 667)

O § 1º do art. 75 da Lei nº 6.815/80 não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, sendo vedada a

expulsão de estrangeiro cujo filho brasileiro foi reconhecido ou adotado posteriormente ao fato

ensejador do ato expulsório, uma vez comprovado estar a criança sob a guarda do estrangeiro e deste

depender economicamente. STF. Plenário. RE 608898/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/6/2020

(Repercussão Geral – Tema 373) (Info 983).

DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

INFORMATIVOS 2020 - 298


COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS

Os Estados-membros não possuem competência legislativa para determinar a microfilmagem de documentos

arquivados nos cartórios extrajudiciais do Estado. Esse tema envolve registros públicos e responsabilidade civil

dos notários e registros, matéria que é de competência privativa da União, nos termos do art. 22, XXV, da CF/88.

STF. Plenário. ADI 3723, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020

REGIME JURÍDICO

O exercício da advocacia é critério adequado para a atribuição de título em concursos para carreiras jurídicas.

Assim, é constitucional lei estadual que preveja que o exercício da advocacia deve ser considerado como título

em concursos para cartório (serventias notariais e de registro). STF. Plenário. ADI 3760, Rel. Gilmar Mendes,

julgado em 15/04/2020.

Compete ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios a apresentação ao Congresso Nacional de

projeto de lei sobre organização, funcionamento e provimento de serventias extrajudiciais no Distrito Federal

por se cuidar de matéria afeta à organização judiciária. STF. Plenário. ADI 3498, Rel. Cármen Lúcia, julgado em

11/05/2020 (Info 980 – clipping).

REGISTRO DE IMÓVEIS

O cancelamento do registro do loteamento pode ser requerido pelo loteador, ou quem por ele se

sub-rogou, vedada a pretensão se comprovado inconveniente para o desenvolvimento urbano ou quando

já realizado melhoramento. Caso concreto: no ano de 1982 foi pedido o registro de um loteamento de imóvel

junto ao 11º Cartório de Registro de Imóveis. O imóvel objeto do loteamento foi desmembrado em 16 unidades

independentes, com matrículas próprias. Por escritura de venda e compra, a empresa CAMPER (especializada

em negócios imobiliários) adquiriu todos os lotes que seriam objeto do loteamento. Diante do seu desinteresse

em manter o empreendimento, a CAMPER solicitou perante o 11º Cartório de Registro de Imóveis o

cancelamento do procedimento de registro do loteamento, o que não foi acolhido sob o argumento de que ela

não teria legitimidade. O STJ reconheceu a existência de legitimidade da requerente. A empresa incorporadora e

administradora de negócios imobiliários que adquire todos os lotes do loteamento e se sub-roga nos direitos do

loteador possui legitimidade para requerer o cancelamento do procedimento do registro do loteamento, vedada

INFORMATIVOS 2020 - 299


a pretensão nos casos de comprovado inconveniente para o desenvolvimento urbano ou quando realizado

algum melhoramento na área loteada e adjacências. No caso, não tinha havido ainda o registro do loteamento,

que se encontrava na fase de aprovação dos projetos perante a municipalidade. Ademais, não houve nenhum

tipo de obra ou melhoramento no imóvel objeto do loteamento ou nos seus arredores, tampouco ação do Poder

do Público, ou seja, o terreno encontrava-se da mesma forma tal como na época do início do procedimento,

razão pela qual a municipalidade não teria motivo para obstar o pedido de cancelamento. Destaca-se que

cancelar o procedimento do pedido de registro de loteamento é diferente de pedir o cancelamento do registro

do loteamento, hipótese em que a tradição para a Municipalidade já se operou; naquela outra não. STJ. 3ª

Turma. RMS 60.343-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 18/08/2020 (Info 678)

Não é cabível a requisição da averbação de inquérito civil no registro imobiliário pelo Ministério Público,

com fixação de prazo para o seu cumprimento. Caso concreto: o Promotor de Justiça instaurou inquérito civil

para apurar suposto loteamento irregular. O membro do Parquet requisitou ao Oficial Registrador que fizesse a

averbação do inquérito civil na matrícula do imóvel relacionado, assinalando prazo para cumprimento. O

Registrador recusou-se a fazer. O STJ afirmou que o procedimento adotado pelo MP estadual não foi o

adequado. Caberia ao Ministério Público estadual requerer a averbação do inquérito civil no Registro Imobiliário

e o Oficial Registrador, conforme seu entendimento, poderia suscitar dúvida ao Juízo competente, em

consonância com o procedimento disciplinado nos arts. 198 a 207 da Lei nº 6.015/73. Todavia, o parquet

estadual, ao invés de requerer a aludida averbação, requisitou a sua realização, fixando prazo para o seu

cumprimento, o que não encontra amparo na legislação de regência. Em que pese a importância de se dar

publicidade à população acerca de eventuais irregularidades em parcelamentos, a fim de proteger terceiros de

boa-fé, adquirentes de suas frações, e contribuir para a ordenada ocupação do solo, há que se observar o

devido processo legal, assegurado no art. 5º, LIV, da CF/88, tal como previsto na Lei nº 6.015/73. Vale ressaltar

que o STJ afirmou que a decisão proferida não impede que o MP requeira, nos termos exigidos pelo art. 13, III,

da Lei nº 6.015/73, a pretendida averbação no Registro Imobiliário, podendo o Oficial Registrador, se for o caso,

suscitar dúvida ao Juízo competente, observando-se, então, o procedimento legal, previsto nos arts. 198 a 207 da

Lei nº 6.015/73, procedimento que, no caso, restou inviabilizado, pelo Órgão ministerial, ao formular requisição

da averbação, com fixação de prazo para o seu cumprimento. STJ. 2ª Turma. RMS 58.769-RJ, Rel. Min. Assusete

Magalhães, julgado em 15/09/2020 (Info 680).

DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

O Ministério Público Federal possui legitimidade para propor ação civil pública a fim de debater a

cobrança de encargos bancários supostamente abusivos praticados por instituições financeiras privadas.

INFORMATIVOS 2020 - 300


Ex: ação civil pública ajuizada pelo MPF contra diversos bancos privados pedindo para que seja declarada

abusiva a cobrança da tarifa bancária pela emissão de cheque de baixo valor. As atividades desenvolvidas pelas

instituições financeiras, sejam elas públicas ou privadas, estão subordinadas ao conteúdo de normas

regulamentares editadas por órgãos federais e de abrangência nacional. Logo, o cumprimento dessas normas

por parte dos bancos é um tema de interesse nitidamente federal, suficiente para conferir legitimidade ao

Ministério Público Federal para o ajuizamento da ação civil pública. STJ. 3ª Turma. REsp 1.573.723-RS, Rel. Min.

Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/12/2019 (Info 662)

Em 2019, houve o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério, localizada em Brumadinho (MG). O

rompimento resultou em um terrível desastre ambiental e humanitário. Felipe, na condição de cidadão, ajuizou

ação popular contra a União, o Estado de Minas Gerais e a Vale S.A., pedindo para que os réus fossem

condenados a recuperar o meio ambiente degradado, pagar indenização pelos danos causados e pagar multa

por dano ambiental. Como Felipe mora em Campinas (SP), ele ajuizou a ação no foro de seu domicílio e a

demanda foi distribuída para a 2ª Vara Federal de Campinas (SP). Ocorre que na 17ª Vara Federal de Minas

Gerais existem ações individuais, ações populares e ações civis públicas tramitando contra os mesmos réus e

envolvendo pedidos semelhantes a essa ação popular ajuizada em Campinas.Quem é competente para julgar

esta ação popular: o juízo do domicílio do autor ou o juízo do local em que se consumou o ato danoso?O juízo do

local onde se consumou o dano (17ª Vara Federal de Minas Gerais).

Regra geral: em regra, o autor pode ajuizar a ação popular no foro de seu domicílio, mesmo que o dano

tenha ocorrido em outro local. Isso porque como a ação popular representa um direito político fundamental,

deve-se facilitar o seu exercício.

Exceção: o STJ entendeu que o caso concreto envolvendo Brumadinho era excepcional com inegáveis

peculiaridades que impõem a adoção de uma solução diferente para evitar tumulto processual em uma situação

de enorme magnitude social, econômica e ambiental.

Assim, para o STJ é necessário superar, excepcionalmente, a regra geral. Entendeu-se que seria necessário

adotar uma saída pragmática para permitir uma resposta do Poder Judiciário aos que sofrem os efeitos desta

grande tragédia. A regra geral do STJ deve ser usada quando a ação popular for isolada. Contudo, no caso de

Brumadinho havia uma ação popular em Campinas (SP) competindo e concorrendo com várias outras ações

populares e ações civis públicas, bem como com centenas, talvez milhares, de ações individuais tramitando em

MG, razão pela qual, em se tratando de competência concorrente, deve ser eleito o foro do local do fato. EM

FACE DA MAGNITUDE ECONÔMICA, SOCIAL E AMBIENTAL DO CASO CONCRETO, É POSSÍVEL A FIXAÇÃO DO

JUÍZO DO LOCAL DO FATO PARA O JULGAMENTO DE AÇÃO POPULAR QUE CONCORRE COM DIVERSAS

OUTRAS AÇÕES INDIVIDUAIS, POPULARES E CIVIS PÚBLICAS DECORRENTES DO MESMO DANO AMBIENTAL.

STJ. 1ª Seção. CC 164.362-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/06/2019 (Info 662).

INFORMATIVOS 2020 - 301


Caso ocorra dissolução da associação que ajuizou ação civil pública, é possível sua substituição no polo

ativo por outra associação que possua a mesma finalidade temática. O microssistema de defesa dos

interesses coletivos privilegia o aproveitamento do processo coletivo, possibilitando a sucessão da parte autora

pelo Ministério Público ou por algum outro colegitimado (ex: associação), mormente em decorrência da

importância dos interesses envolvidos em demandas coletivas. STJ. 3ª Turma. EDcl no REsp 1.405.697-MG, Rel.

Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/09/2019 (Info 665).

Ao julgar o Tema 499, o STF fixou a seguinte tese: A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de

ação coletiva, de rito ordinário, ajuizada por associação civil na defesa de interesses dos associados,

somente alcança os filiados, residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador, que o fossem em

momento anterior ou até a data da propositura da demanda, constantes da relação jurídica juntada à

inicial do processo de conhecimento (STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em

10/5/2017).

Essa tese do STF se aplica exclusivamente para ações coletivas ajuizadas sob o rito ordinário por associação

quando atua como representante processual dos associados. Isso significa que tal entendimento não se aplica

para mandado de segurança coletivo impetrado por associação. O mandado de segurança coletivo configura

hipótese de substituição processual, por meio da qual o impetrante, no caso a associação, atua em nome

próprio defendendo direito alheio, pertencente aos associados ou parte deles, sendo desnecessária, para a

impetração do mandamus, apresentação de autorização dos substituídos ou mesmo lista nominal. Por tal razão,

os efeitos da decisão proferida em mandado de segurança coletivo beneficiam todos os associados, ou

parte deles cuja situação jurídica seja idêntica àquela tratada no decisum, sendo irrelevante se a filiação

ocorreu após a impetração do writ. STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.841.604-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell

Marques, julgado em 22/04/2020 (Info 670).

Não é possível ajuizar cumprimento de sentença no Juizado Especial da Fazenda Pública para executar

individualmente título judicial oriundo de ação coletiva, ainda que o valor individual cobrado seja

inferior a 60 SM. Caso concreto: uma ação coletiva que envolveu milhares de servidores públicos de Santa

Catarina tramitou na vara da Fazenda Pública e foi julgada procedente. Um dos servidores formulou pedido de

cumprimento individual da sentença. Ocorre que esse pedido de execução foi feito no juizado especial da

Fazenda Pública (e não na vara da Fazenda Pública). O argumento do autor foi o de que o valor da execução

individual era inferior a 60 salários mínimos. O STJ afirmou que essa execução individual da sentença coletiva

não poderia tramitar no Juizado. Não é possível propor nos Juizados Especiais da Fazenda Pública a

execução de título executivo formado em ação coletiva que tramitou sob o rito ordinário, assim como

impor o rito sumaríssimo da Lei nº 12.153/2009 ao juízo comum da execução. O art. 2º, § 1º, I, da Lei nº

12.153/2009 afirma que não se incluem na competência do Juizado Especial da Fazenda Pública as demandas

sobre direitos ou interesses difusos e coletivos, o que é argumento suficiente para excluir a competência

INFORMATIVOS 2020 - 302


executória de sentenças exaradas em ações coletivas. A Lei nº 12.153/2009 e as respectivas normas de aplicação

subsidiária determinam que os Juizados Especiais da Fazenda Pública têm competência para apreciar apenas as

execuções de seus próprios julgados ou de títulos extrajudiciais. STJ. 1ª Seção. REsp 1.804.186-SC, Rel. Min.

Herman Benjamin, julgado em 12/08/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1029) (Info 679).

Não é cabível a requisição da averbação de inquérito civil no registro imobiliário pelo Ministério Público,

com fixação de prazo para o seu cumprimento. Caso concreto: o Promotor de Justiça instaurou inquérito civil

para apurar suposto loteamento irregular. O membro do Parquet requisitou ao Oficial Registrador que fizesse a

averbação do inquérito civil na matrícula do imóvel relacionado, assinalando prazo para cumprimento. O

Registrador recusou-se a fazer. O STJ afirmou que o procedimento adotado pelo MP estadual não foi o

adequado. Caberia ao Ministério Público estadual requerer a averbação do inquérito civil no Registro Imobiliário

e o Oficial Registrador, conforme seu entendimento, poderia suscitar dúvida ao Juízo competente, em

consonância com o procedimento disciplinado nos arts. 198 a 207 da Lei nº 6.015/73. Todavia, o parquet

estadual, ao invés de requerer a aludida averbação, requisitou a sua realização, fixando prazo para o seu

cumprimento, o que não encontra amparo na legislação de regência. Em que pese a importância de se dar

publicidade à população acerca de eventuais irregularidades em parcelamentos, a fim de proteger terceiros de

boa-fé, adquirentes de suas frações, e contribuir para a ordenada ocupação do solo, há que se observar o

devido processo legal, assegurado no art. 5º, LIV, da CF/88, tal como previsto na Lei nº 6.015/73. Vale ressaltar

que o STJ afirmou que a decisão proferida não impede que o MP requeira, nos termos exigidos pelo art. 13, III,

da Lei nº 6.015/73, a pretendida averbação no Registro Imobiliário, podendo o Oficial Registrador, se for o caso,

suscitar dúvida ao Juízo competente, observando-se, então, o procedimento legal, previsto nos arts. 198 a 207 da

Lei nº 6.015/73, procedimento que, no caso, restou inviabilizado, pelo Órgão ministerial, ao formular requisição

da averbação, com fixação de prazo para o seu cumprimento. STJ. 2ª Turma. RMS 58.769-RJ, Rel. Min. Assusete

Magalhães, julgado em 15/09/2020 (Info 680).

Material extraído dos informativos (versão resumida), disponibilizados pelo prof. Márcio Cavalcante no site

https://www.dizerodireito.com.br, e destacados nas partes mais importantes pela equipe da Legislação Destacada.

INFORMATIVOS 2020 - 303

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