Engenharia Mecânica
DEMEC
Módulo 4
Materiais com memória de forma – Transformação martensítica e
equações constitutivas
Disciplina: Introdução aos Materiais Inteligentes
Prof. Dr. Vinícius Carvalho Teles
Como os materiais com memória de
forma conseguem reverter grandes
deformações plásticas???
De duas formas
Memória de forma e pseudoelasticidade
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Efeito Memória de Forma
O efeito de memória de forma é uma propriedade pela qual grandes deformações mecânicas podem ser recuperadas
pelo aquecimento do material acima de uma temperatura crítica.
Tensão-deformação comum Recuperação devido ao calor
histerese
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Efeito Pseudoelásticidade
A segunda propriedade, o efeito pseudoelástico, é uma propriedade pela qual o material exibe uma deformação muito
grande durante o carregamento, que é totalmente recuperada quando o material é descarregado.
Normalmente só ocorre em Recuperação devido ao efeito
altas temperaturas Tensão-deformação comum
pseudoelásticidade
histerese
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Por que uma liga com memória de forma exibe o efeito de
memória de forma e pseudoelasticidade?
A resposta também está na estrutura
cristalina dos materiais.
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Austenita
Liga Ni-Ti
CCC
Austenita Martensita
CCC Monoclinica
Ni
Ti
Martensita
Monoclinica
Obs: não confundir com a nomenclatura das ligas de aço.
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Transformação de fase
• A transformação de fase em materiais cristalinos pode ser classificada em duas
categorias; uma é a transformação difusional e a outra, sem difusão ou transformação
cooperativa.
• No caso da transformação difusional, os átomos
deixam uma estrutura cristalina para formar outra
estrutura por difusão.
• Por esta razão, uma alta temperatura é geralmente
necessária para garantir que a mobilidade de átomos
seja viável, caso contrário, a transformação é muito
lenta ou até mesmo improvável.
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• Enquanto isso, é possível que os átomos alterem a estrutura do cristal sem sair do cristal original por seus
movimentos de deslocamento coordenados.
• Isso não requer difusão de longo alcance de átomos e ocorre em um relativamente tempo curto.
• A transformação martensítica pertence a esta segunda categoria de transformação sem difusão e é
caracterizada por deslocamento atômico por cisalhamento bem coordenado.
• Algumsa características:
• O deslocamento do átome é pequeno (menor que um
espaçamento interatômico), mas cria-se grande distorção
cisalhante.
• Outra implicação importante da transformação de
cisalhamento dominante é que a mudança de volume durante
a transformação pode ser muito pequena.
• Normalmente a transformação ocorre de uma fase bastante
simétrica (CCC ou CFC) para outra pouco simétrica
(monoclínica).
• A fase de alta temperatura é chamada de fase parental ou
austenita, e o produto da transformação martensítica é
chamado de fase martensita ou martensita.
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• Essa transformação de fase pode ser detectada por várias medições, como medições de
resistividade elétrica ou medições calorimétricas.
Ti-50,2Ni
reação exotérmica (libera energia)
Martensita estável Austenita estável
Entre Ms e Mf as duas
Resfriamento fases coexistem
Observe a diferença na temperatura de
aquecimento transformação de austenita em martensita e
martensita em austenita.
reação endotérmica (absorve energia)
Isso é histerese.
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Transformação martensítica
• Deve-se notar que em um estado totalmente martensítico a amostra é composta por cristais de
martensita com duas orientações diferentes:
• Direções de cisalhamento opostas que são relacionadas entre si.
• Essa morfologia permite que os cristais de martensita cancelem mutuamente a deformação de cisalhamento e,
assim, minimizem a deformação da amostra, um processo conhecido como autoacomodação.
austenita transição martensita
Pode existir várias orientações
diferentes, chamadas de
variantes.
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Ti-50,6Ni
Em algumas ligas existe uma fase
martensítica diferente, chamada R,
antes da fase estável em baixas
temperaturas.
Observe que no aquecimento não
ocorre a fase R.
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Em um estado livre de tensões, a transformação entre as fases
martensítica e austenítica é caracterizada por quatro
temperaturas de transição.
A transformação de martensita em austenita é caracterizada
por As e Af, que são as temperaturas nas quais a transformação
de fase começa e termina, respectivamente.
Da mesma forma, a transição de austenita para martensita é
caracterizada pelas temperaturas inicial e final Ms e Mf.
Mf < Ms < As < Af
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Efeito memória de forma
• A capacidade das ligas com memória de forma de recuperar totalmente grandes deformações é resultado de uma
transformação de fase que ocorre devido à aplicação de estresse e calor.
A temperatura está abaixo da Mf.
Após a deformação aquece-se acima da
temperatura Af.
• A deformação pode ser vista como uma mudança na fração das variantes.
• Se a amostra for aquecida ela recupera a fase austenítica e com isso a geometria inicial.
• Após resfriar volta a transformar em martensita com a geometria inicial.
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Austenita em alta temperatura
• Martensita acomodada por maclação • Ao empregar uma tensão a direção das maclas se
aleatórias; alinham;
• Distância movimentada pequena; • grande movimento atômico
• Comprimento final pouco alterado. • ocorre uma alteração do comprimento do material;
Em momento algum houve
quebra de ligações atômicas.
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Co-Ni-Ga
Indeformado Deformado
A deformação pode ser vista como uma mudança na fração das variantes.
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Tensões muito altas
• Para tensões muito altas, ocorre o deslizamento de
discordância no planos preferenciais.
• Deformação permanente;
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Curva tensão x deformação
recuperável não recuperável
As ligas Ni-Ti conseguem recuperar até
8% de deformação.
800x mais que um metal comum.
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Gráfico tridimensional
Tensão x deforma x temperatura
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SME Bidirecional
• O SME descrito também é conhecido como SME unidirecional, pois apenas a forma de alta temperatura é
memorizada pelo material.
• Por outro lado, as ligas metálicas com propriedades de memória de forma podem mostrar um SME bidirecional após
um certo treinamento térmico.
O treinamento das
ligas bidirecionais
• Nesse caso, o material não apenas lembra a forma externa na fase austenítica original, mas também também a é
forma externa na fase martensítica. mais complexo
• Esta propriedade permite que ele se mova entre as duas formas simplesmente mudando a temperatura, sem
necessidade de carga aplicada.
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Pseudoelásticidade
• A pseudoelasticidade ocorre apenas em altas temperaturas -> fase austenita
T > Af
• Quando a austenita fase é submetida a uma
tensão, ela se transforma em martensita.
• Neste caso, a variante que se forma com a
aplicação do estresse é aquela que dá a
deformação máxima na direção de tensão dada.
• Uma vez que a tensão imposta é liberada, a
amostra se transforma novamente na austenita e
a cepa também desaparece.
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T > Af
Fim da deformação elástica
da fase martensítica e início
da deformação plástica.
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Tensão-deformação para Indicação de aquecimento
uma liga Ti-50,6Ni
Ms – 190 K
At – 221 K Lembrar: Temp [ºC] = Temp [K] - 273
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Energia para fase martensita
Energia para fase austenita
Para haver uma transição de fase, a força motriz da transformação precisa superar a mudança de energia não
química. Por esta razão, a transformação direta começa a uma temperatura Ms, abaixo de T0. Enquanto a
transformação reversa começa a uma temperatura As, acima de T0.
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Treinamento
1ª
Em altas temperaturas,
fase austenita,
colocamos a forma a ser
memorizada.
2ª
Resfria (têmpera),
fase martensita
3ª
Deformação plástica,
fase martensita
4ª
Aquece acima da
temperatura crítica para A resposta do SMA aos estados termodinâmicos é não linear,
retornar a forma histerética e dependente do caminho.
original
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O modelamento é bastante complexo, pois
depende de uma ampla gama de
parâmetros, incluindo:
• temperatura,
• taxa de carregamento,
• deformação,
• geometria da amostra,
• histórico termomecânico e
• ambiente.
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Equação constitutiva
• Vários modelos constitutivos foram desenvolvidos para descrever o comportamento termomecânico das
ligas com memória de forma.
• O modelo constitutivo desenvolvido por TANAKA (1986) foi o primeiro modelo e o mais popular.
• Neste modelo a deformação, a temperatura e a Fração Volumétrica de Martensita (FVM) são as únicas
variáveis de estado.
𝜎 − 𝜎0 = 𝐸 𝜉 𝜀 − 𝜀0 + Θ 𝑇 − 𝑇0 + Ω(𝜉)(𝜉 − 𝜉0 )
• Onde:
• A tensão total do sistema é constituída por três
• sobescrito 0 representa as condições iniciais do sistema,
parcelas,
• σ é a tensão, • a tensão mecânica,
• ε é a deformação, • a tensão termoplástica (dilatação e contração) e
• Θ é o tensor termoplástico, • a tensão induzida pela transformação de fase.
• T é a temperatura e • O módulo de elasticidade, E, e o coeficiente de
• ξ é a fração volumétrica de martensita (FVM). transformação, Ω, são descritos em função da FVM.
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TANAKA (1986)
𝜎 − 𝜎0 = 𝐸 𝜉 𝜀 − 𝜀0 + Θ 𝑇 − 𝑇0 + Ω(𝜉)(𝜉 − 𝜉0 )
𝐸 𝜉 = 𝐸𝐴 + 𝜉(𝐸𝑚 − 𝐸𝐴 ) onde EA e EM são os módulos de elasticidade da fase austenita e da fase
Ω 𝜉 = −𝜀𝐿 𝐸 𝜉 martensita, respectivamente, e εL é a máxima deformação recuperável.
• Tanaka descreve a variação da fração volumétrica de martensita na forma exponencial como uma função que
depende:
• do estado de tensão da liga e
• de sua temperatura
Transformação da fase austenita para a martensita (TM) Transformação de fase martensita para a austenita (TA)
𝜉 = 1 − exp[𝑎𝑚 𝑀𝑠 − 𝑇 + 𝑏𝑀 𝜎] 𝜉 = exp[𝑎𝐴 𝐴𝑠 − 𝑇 + 𝑏𝐴 𝜎]
2ln(10) −2ln(10) 𝑎𝐴 𝑎𝑀 CA e CM são coeficientes de influência
𝑎𝐴 = 𝑎𝑀 = 𝑏𝐴 = 𝑏𝑀 =
𝐴𝑓 − 𝐴𝑠 𝑀𝑠 − 𝑀𝑓 𝐶𝐴 𝐶𝑀 da tensão nas fases austenita e
martensita.
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TANAKA (1986)
• Esses coeficientes (CA e CM) representam o efeito da tensão nas temperaturas de transformação e são as
inclinações das linhas de austenita e martensita, respectivamente, no diagrama tensão-temperatura crítica.
• No eixo x, as interseções das linhas marcam as temperaturas de transformação na tensão zero.
• Os pontos nessas curvas são normalmente obtidos experimentalmente, e são convenientemente ajustados com
uma linha reta, embora o variação real pode não ser linear.
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TANAKA (1986)
A desvantagem é que descreve a transformação entre as fases austenita e martensita e a transformação de fase
induzida pela tensão (superelasticidade), não considerando as transformações microestruturais que ocorrem na fase
martensita, que caracteriza o EMF.
Sendo assim, estes modelos são mais usados para descrever a pseudoelásticidade das SMA.
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Brinson (1993)
• Considerando que a FVM é composta de duas partes:
• induzida puramente pela temperatura, ξT -> com múltiplos variantes de martensita e
• induzida pela tensão, ξS -> levando a formação de um único variante de martensita.
• A FVM induzida pela tensão representa a quantidade de martensita demaclada presente na liga e a induzida pela
temperatura representa a quantidade de martensita maclada, onde a soma das duas parcelas varia entre 0 e 1.
𝜉 = 𝜉𝑆 + 𝜉𝑇
𝜎 − 𝜎0 = 𝐸 𝜉 𝜀 − 𝐸 𝜉0 𝜀0 + Θ 𝑇 − 𝑇0 − 𝜀𝐿 𝐸 𝜉 𝜉𝑆 + 𝜀𝐿 𝐸 𝜉0 𝜉𝑆0
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Brinson (1993)
Transformação da fase austenita para a martensita (TM)
• Nas equações,
• σcrS é a tensão crítica para o início da
transformação e
• σcrf é a tensão crítica no final da transformação.
• Esses valores são aproximados a partir de uma curva
tensão-deformação onde a fase inicial era 100%
martensita.
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Brinson (1993)
Transformação de fase martensita para a austenita (TA)
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Brinson (1993)
• Região 0: região de martensita induzida por tensão (sem
transformação).
• Região 1: Transformação de austenita em martensita, induzida
por estresse ou induzida por temperatura.
• Região 2: Mistura de martensita induzida por temperatura ou
induzida por estresse e fase austenítica (sem transformação).
• Região 3: Transformação de martensita em austenita.
• Região 4: Região austenítica pura (sem transformação).
• Região 5: Transformação de austenita em martensita induzida por
tensão, ou martensita induzida por temperatura em martensita
induzida por estresse e transformação de austenita a martensita
induzida por temperatura.
• Região 6: Transformação de austenita em martensita induzida por
temperatura.
• Região 7: Transformação de martensita induzida por temperatura
em martensita induzida por tensão.
• Região 8: Mistura de martensita induzida por tensão e induzida
por temperatura martensita (sem transformação).
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Comparação dos modelos com
experimentos
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Bibliografia
•Chopra, I.; Sirohi, J. Smart Structures Theory. 1st Edition. Cambridge. 2013. ISBN 978-0-521-86657-6
•Donald J. Leo. Engineering Analysis of Smart Material Systems. JOHN WILEY & SONS. 2007. ISBN 978-0-
471-68477-0
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