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Relato Roseli - Parte I

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1.

INTRODUÇÃO

A educação inclusiva, que visa garantir o direito à educação de todos os


estudantes, independentemente de suas características individuais ou deficiências, é um
tema central no debate sobre a acessibilidade no ensino. A educação de alunos surdos,
em particular, envolve desafios específicos, que vão desde a comunicação até a
adaptação do currículo escolar.
A inclusão de estudantes surdos nas escolas regulares, com um ensino bilíngue
que utilize a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como principal meio de comunicação e
a Língua Portuguesa como segunda língua, é defendida por diversos autores como
essencial para a efetiva integração desses alunos na sociedade e no ambiente escolar.
Quadros (2019) enfatiza a relevância da Libras no contexto educacional,
destacando que o domínio dessa língua por parte de professores e colegas é essencial
para garantir a eficácia de um ensino inclusivo. Indo além, Lippe e Alves (2020)
ressaltam a necessidade de adaptar os currículos para atender às demandas dos alunos
surdos, além de destacar o papel do Atendimento Educacional Especializado (AEE) no
desenvolvimento cognitivo desses estudantes, o que é fundamental para uma educação
inclusiva de qualidade.
Em uma abordagem semelhante, Lima (2024) sublinha que a presença de
intérpretes de Libras não deve ser vista apenas como uma medida paliativa, mas sim
como parte integrante de um processo educacional contínuo e adaptado às necessidades
dos alunos surdos, onde a escola deve ser preparada para promover a participação ativa
desses alunos nas atividades acadêmicas.
Embora as legislações brasileiras, como a Constituição de 1988 e a LDB de
1996, garantam o direito à educação inclusiva, na prática, muitos alunos surdos ainda
enfrentam barreiras significativas para acessar uma educação de qualidade, seja pela
falta de recursos pedagógicos adequados, pela carência de formação específica para os
professores ou pela insuficiência no suporte de intérpretes e mediadores.
O relato a ser desenvolvido a seguir baseia-se na experiência vivida durante o
estágio realizado na Escola de Ensino Fundamental Argemiro José da Cruz, localizada
em Juazeiro - BA, durante o ano de 2022. Neste contexto, observei o caso do aluno
surdo Carlos Eduardo, cujas dificuldades de aprendizagem e de comunicação
evidenciaram uma série de lacunas no processo de inclusão escolar.
O principal desafio identificado foi a falta de domínio da Língua Brasileira de
Sinais (Libras) por parte dos professores e colegas de classe, o que dificultava a
comunicação e o acesso ao conteúdo acadêmico. Em várias ocasiões, a comunicação
com o aluno era realizada por meio de gestos, mímica ou escrita em Língua Portuguesa,
métodos que se mostraram insuficientes para promover um aprendizado eficaz e o
protagonismo do aluno no processo educativo.
Para mais, a experiência revelou a carência de recursos pedagógicos adequados,
a falta de um plano de ensino estruturado para alunos surdos e a escassez de
investimentos na formação continuada dos educadores para atender a essa demanda. O
intérprete de Libras, embora desempenhasse um papel fundamental na mediação da
comunicação, nem sempre estava presente, o que deixava Carlos Eduardo sem suporte
para compreender e participar das atividades propostas.
A ausência de um ambiente educacional verdadeiramente inclusivo impactou
diretamente no seu desenvolvimento e motivação para o aprendizado, refletindo a
necessidade urgente de repensar as práticas pedagógicas e os recursos estruturais
disponibilizados para a educação de alunos surdos. O objetivo deste relato é, portanto,
analisar as práticas pedagógicas observadas durante o estágio e identificar as
dificuldades e lacunas que comprometeram o processo de inclusão de crianças como o
Carlos Eduardo.
A partir dessa análise, pretende-se refletir sobre as medidas necessárias para
promover uma educação inclusiva mais eficaz, que respeite as necessidades linguísticas
e culturais dos alunos surdos, além de propor caminhos para a melhoria do ambiente
escolar, a formação de professores e o desenvolvimento de materiais pedagógicos
adaptados. A reflexão sobre a experiência vivenciada busca contribuir para o
aprimoramento da educação inclusiva no Brasil, com ênfase na importância da
formação de educadores e na efetivação de práticas pedagógicas que favoreçam a
autonomia e o protagonismo dos alunos surdos no contexto escolar.

2. MÉTODO

O estágio realizado na Escola de Ensino Fundamental Argemiro José da Cruz,


localizada em Juazeiro, Bahia, entre os meses de março e junho de 2022, teve como
foco a observação e análise das práticas pedagógicas voltadas para a inclusão de um
aluno surdo, Carlos Eduardo. Este estágio, desenvolvido com o objetivo de investigar as
lacunas no atendimento educacional de alunos surdos em um contexto escolar regular,
foi marcado pela observação direta e pela interação com os diversos elementos que
compõem a dinâmica escolar.
Durante esse período, a estagiária teve a oportunidade de vivenciar de perto as
dificuldades e desafios que envolvem a educação inclusiva, com especial atenção à falta
de comunicação adequada entre o aluno surdo e seus colegas, assim como a preparação
e os recursos disponibilizados para os professores. O método de pesquisa adotado foi a
observação participante, em que a estagiária se inseriu de forma ativa no ambiente
escolar, sem interferir nas práticas cotidianas, mas registrando detalhadamente o
comportamento e as interações dos envolvidos.
A observação participante permitiu uma análise mais próxima das realidades
enfrentadas tanto pelos alunos quanto pelos professores, oferecendo um olhar mais
atento às dificuldades de comunicação, à adaptação curricular e às estratégias utilizadas
para tentar superar as barreiras da inclusão. A estagiária, ao acompanhar as aulas e as
atividades escolares, pôde perceber de forma direta as limitações do contexto escolar em
relação ao atendimento ao aluno surdo, as lacunas no treinamento dos educadores e a
ausência de recursos adequados para garantir a inclusão efetiva de Carlos Eduardo nas
dinâmicas pedagógicas.
O local de observação foi uma sala de aula regular do ensino fundamental,
composta por alunos de aproximadamente 10 a 12 anos, em que Carlos Eduardo era o
único aluno surdo. O ambiente escolar, apesar de sua boa estrutura física e de um
número razoável de alunos, não possuía uma preparação pedagógica adequada para
atender às necessidades específicas de um aluno surdo. A turma de Carlos Eduardo,
composta por crianças que, em sua maioria, não conheciam a Língua Brasileira de
Sinais (Libras), não possuía qualquer formação mínima em Libras, o que resultava em
dificuldades de comunicação entre o aluno surdo e seus colegas, bem como entre o
aluno e os professores.
A metodologia da observação foi complementada por um instrumento de
observação sistemática, que consistiu na anotação diária das observações realizadas
durante o estágio. Cada dia foi analisado em termos das interações de Carlos Eduardo
com os colegas, o uso de estratégias pedagógicas pelos professores, a presença e a
atuação do intérprete de Libras, bem como as dificuldades enfrentadas pelo aluno em
relação ao conteúdo ministrado. A análise de campo foi pautada na verificação do
impacto dessas dificuldades para o aprendizado do aluno, levando em consideração as
características da sua deficiência auditiva, a falta de recursos didáticos adequados e a
ausência de uma metodologia inclusiva no ensino regular
A estagiária não apenas observou a dinâmica da sala de aula, mas também teve a
oportunidade de interagir diretamente com os alunos e com os professores, o que foi
fundamental para compreender os limites da comunicação entre as partes e a falta de
métodos pedagógicos que atendem às especificidades do aluno surdo. Durante o estágio,
foi possível perceber a dependência constante de Carlos Eduardo em relação ao
intérprete de Libras, que atuava como mediador da comunicação entre o aluno e o
restante da turma. No entanto, a presença do intérprete era irregular, o que deixava
Carlos Eduardo em situações de total desamparo quando este profissional não estava
presente. Essa situação evidenciou ainda mais a fragilidade do modelo de inclusão
adotado pela escola, que não possuía uma estrutura pedagógica sólida para garantir a
acessibilidade do aluno surdo a todas as atividades escolares.
Em termos metodológicos, as atividades de observação foram baseadas em três
aspectos principais: A comunicação entre o aluno surdo e seus colegas de turma:
Durante o estágio, observou-se que, devido à falta de formação básica em Libras por
parte dos colegas, a comunicação com Carlos Eduardo se dava majoritariamente através
de gestos, desenhos ou mímicas. Esse tipo de comunicação, embora criativo, não era
eficiente e gerava dificuldades tanto para o aluno surdo quanto para seus colegas, que
acabavam sem saber como ajudá-lo ou se comunicar de forma efetiva. Observou-se que
a falta de um sistema comum de comunicação limitava as interações sociais do aluno, o
que poderia, a longo prazo, afetar seu desenvolvimento social e acadêmico.
A interação entre o aluno surdo e os professores: A estagiária percebeu que a
maioria dos professores não possuía nenhum conhecimento de Libras, o que dificultava
ainda mais a comunicação e a participação ativa de Carlos Eduardo nas aulas. Os
professores, em sua maioria, não utilizavam recursos como a escrita adaptada, os
recursos visuais ou a linguagem de sinais, o que comprometia o aprendizado do aluno
surdo. Durante o estágio, a estagiária teve que recorrer a alternativas como a mímica e a
escrita simplificada para tentar ajudar Carlos Eduardo a compreender os conteúdos e a
se engajar nas atividades. A metodologia adotada pelos professores não estava adaptada
às necessidades do aluno surdo, resultando em um ensino praticamente sem
diferenciação para esse estudante.
A presença e o papel do intérprete de Libras: Quando o intérprete estava
presente, as atividades de Carlos Eduardo fluíam de maneira mais eficiente, mas essa
presença não era constante, o que gerava períodos de desmotivação e desorientação no
aluno. A irregularidade da presença do intérprete destacou a importância desse
profissional para garantir a inclusão do aluno surdo, revelando que a ausência de
acompanhamento especializado era um fator crítico para o sucesso do processo
educativo.
Ainda, a estagiária também observou que a escola não possuía um plano de
ensino adaptado ou um projeto pedagógico específico para alunos surdos, o que
dificultava a implementação de um processo de inclusão que atendesse adequadamente
às necessidades do aluno. A inexistência de um plano de aula adaptado e a falta de um
acompanhamento sistemático nas atividades escolares resultaram em um ambiente
educacional em que Carlos Eduardo estava frequentemente em desvantagem, não
conseguindo acompanhar o conteúdo de forma eficaz.
Em relação à metodologia de ensino, a principal lacuna foi a ausência de uma
abordagem que integrasse o aluno surdo de forma contínua nas dinâmicas pedagógicas
da sala de aula. A maioria das atividades era adaptada para o formato tradicional de
ensino, sem considerar as necessidades linguísticas do aluno surdo. A educação
oferecida a Carlos Eduardo era predominantemente visual e escrita, e não havia uma
preparação suficiente para os outros alunos e professores em termos de comunicação e
interação com ele. A metodologia adotada não incluía uma perspectiva inclusiva que
considerasse a diversidade linguística e cognitiva do aluno surdo.
A metodologia do estágio foi, portanto, centrada na observação atenta do
cotidiano escolar, com o objetivo de compreender as barreiras que Carlos Eduardo
enfrentava e identificar as práticas pedagógicas que poderiam ser aprimoradas para uma
maior inclusão e participação do aluno surdo no ambiente escolar regular.

3. REFERÊNCIAS

LIMA, Camila Machado de. Educação de Surdos: Desafios para a prática e formação
de professores. 2. ed. 2024.

LIPPE, Eliza Marcia Oliveira; ALVES, Fábio de Souza. Educação para os surdos no
Brasil: desafios e perspectivas para o novo milênio. Curitiba: CRV, 2020.

QUADROS, Ronice Müller de. Libras. São Paulo: Parábola Editorial, 2019.

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