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Fichamento História e História Cultural

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Universidade Federal do Amazonas

Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais


Departamento de História

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica,
2003.

História e História Cultural

Capítulo I – Clio e a grande virada da História

O capítulo aponta para as transformações da História Cultural. Essas transformações


tiveram, no Brasil, um marco a partir da década de 1990. Fora do país, pode-se considerar que
as alterações avolumaram-se a partir de 1970, ou ainda antes, em 1968, com “a guerra do
Vietnã, a ascensão do feminismo, o surgimento da New Left, ou [...] o mundo pós-guerra” (p.
8). Estes eventos representam o início das rupturas com os, até então, tradicionais,
consolidados e dominantes conceitos históricos, trazendo, em especial, “o esgotamento de
modelos e de um regime de verdade e de explicações globalizantes” (p. 8).
O cenário da dinâmica social se ampliou de forma a integrar diferentes grupos, questões
e interesses. Nesse sentido, os modelos de análise correntes não mais atendiam as
necessidades da nova complexificação política, econômica, social e cultural.
Duas posturas interpretativas foram criticadas como insatisfatórias para explicar os
fenômenos reais: o marxismo e a corrente dos Annales. Não foi feita, porém, uma ruptura
total, já que ainda foi dentro dessas concepções que a historiografia renovou-se e deram
origem a História Cultural ou Nova História Cultural.
A historiografia brasileira era, até o final dos anos 1980, dominada pelo marxismo,
tendo como pioneiros mais expressivos Caio Prado Jr. e Nelson Werneck Sodré. Suas análises
tendiam para a vertente econômica, analisando a formação do capitalismo, os trabalhos livres
e escravos e a industrialização. Ao mesmo tempo, era desenvolvida uma história dos
movimentos sociais, bem como uma história política ligada à natureza do Estado e a formação
dos partidos políticos no território brasileiro. A escola francesa dos Annales aparecia nos
trabalhos nacionais de forma mais difusa, sendo vista como “carente de um referencial teórico
preciso” (p. 11). Do mesmo modo, posturas mais arcaicas, como a positivista, tinham lugar
nos estudos desenvolvidos nas universidades do país, e entendiam-se a si mesmas como
“científicas”.
Em meados da década de 1970, no plano internacional, a História passou por uma
espécie de crise, onde fora colocada de lado em detrimento do destaque das ciências sociais.
No final do século XX, esse cenário mudou pois foram reconhecidas novas formas de se
trabalhar a História. Assim, a História Cultural ganhou novas formas:

“Não se trata de fazer uma História do Pensamento ou de uma História Intelectual,


ou ainda mesmo de pensar uma História da Cultura nos velhos moldes, a estudar as
grandes correntes de ideias e seus nomes mais expressivos. Trata-se, antes de tudo,
de pensar a cultura como um conjunto de significados partilhados e construídos
pelos homens para explicar o mundo. A cultura é ainda uma forma de expressão e
tradução da realidade que se faz de forma simbólica, ou seja, admitir-se que os
sentidos conferidos às palavras, às coisas, às ações e aos atores sociais se apresentam
de forma cifrada, portando já um significado e uma avaliação valorativa. Aquelas
concepções mais antigas foram agora substituídas por esta modalidade vencedora de
entendimento da cultura, que ganhou espaço junto às universidades e à própria
mídia” (p. 15).

Capítulo II – Precursores e redescobertas: a arqueologia da História Cultural

Historiador da primeira metade do século XIX, Jules Michelet se destacou entre os


contemporâneos pelo seu esforço em identificar “o povo, as massas – como personagens da
história e como protagonista dos acontecimentos” (p. 19). Michelet tentou resgatar a alma
nacional, composta por sentimentos e sensibilidades, a partir das fontes primárias.
A vertente do culturalismo alemão representado, principalmente, por Kant e Hegel,
também formou o essencial da “arqueologia” da História Cultural.
Na Itália, Jakob Burckhardt contribuiu com a sua obra A civilização da Renascença na
Itália (1860).
Leopold Von Ranke integrou a postura intelectual conhecida como historismo, “segundo
a qual se afirma a mutualidade da natureza humana, admitindo que tudo se transforma no
tempo” (p. 22).
Johann Gustav Droysen se opôs a Ranke, defendendo que a busca para uma realidade
do passado era inatingível e que o historiador baseava a sua narrativa em uma ficção.
De modo contrário a Droysen, Wilhelm Dilthey instaurou o uso da hermenêutica para o
resgate do passado.
A virada do século XIX para o XX marcou uma mudança significativa na forma de se
conceber a realidade. Sigmund Freud descobriu o inconsciente e introduziu a psicanálise na
tendência intelectual. Ao mesmo tempo, Carl Gustav Jung introduziu “a ideia de estruturas
arcaicas que presidiam a capacidade humana constitutiva de imagens, a que ele deu o nome de
arquétipos” (p. 23).
Ainda no mesmo período, Marcel Mauss e Émilie Durkheim no campo da Etnologia e
Antropologia, destacaram as representações.

“Nesse sentido, se formos falar de uma arqueologia da História Cultural, podemos


dizer que a Antropologia Cultural, como um todo, já desde o início do século XX,
também lidava com a incorporação da dimensão simbólica para a análise das formas
de organização social, como uma forma de entendimento segundo a qual os homens
elaboravam formas cifradas de representar o mundo, produzindo palavras e imagens
que diziam e mostravam mais além do que aquilo que era expresso e mostrado nos
registros materiais” (p. 24).

Mais adiante, nos anos 1930, destacaram-se Walter Benjamin, na Alemanha, e Antonio
Gramsci, na Itália, que mudaram os modos de análise dentro do pensamento marxista.
Em 1940, no campo do imaginário, contribuiu Gaston Bachelard. Nas artes, Ernst H.
Gombrich e Erwin Panofsky, “ensinaram, na primeira metade do século XX, a olhar as
imagens pictóricas de uma outra forma, vendo nelas a vida, os valores, os sentimentos, as
razões de um outro tempo” (p. 26).
Na década seguinte, Paul Ricoeur introduziu uma nova hermenêutica para se pensar a
história, discutindo “não apenas a possibilidade de obtenção da verdade, mas a própria
existência de uma especificamente na história” (p. 27).
Essa trajetória exposta pela autora representa a gênese, a arqueologia da História
Cultural, marcada pelo nascimento de ideias que aos poucos foram incorporadas pelos novos
historiadores no Brasil.
Nos anos 1960 e 1970 no plano internacional, Edward Thompson explorou novas
formas de se pensar o marxismo. Ao seu lado, Georges Rudé contribui para além das
discussões classistas, estudando as multidões. Ambos interpretaram a realidade focando em
outro ponto de vista.
Ao mesmo tempo, a escola dos Annales se reorientou para o âmbito cultural, com foco
na chamada história das mentalidades. Lucien Febvre já havia se ocupado deste tema, mas
Fernand Braudel na segunda geração, seguido por Pierre Goubert e Emanuel Le Roy Ladurie,
na terceira geração, definiram as atitudes mentais como objeto histórico. A posição da escola
dos Annales foi chamada, em 1978 por Le Goff, como Nova História, abrangendo não só os
franceses mas outros historiadores de outras nacionalidades como Natalie Davis e Robert
Darton.
Assim,
“Em síntese, historiadores franceses dos Annales e historiadores ingleses
neomarxistas trabalharam, do final dos anos 1960 aos anos 80, com uma história
social que avançou para os domínios do cultural, buscando ver como as práticas e
experiências, sobretudo dos homens comuns, traduziam-se em valores, ideias e
conceitos sobre o mundo” (p. 32).

A partir de então surgiram diversas posturas críticas que repensaram a disciplina, como
é o caso de Michel Foucault, Paul Veyne, Hayden White, Michel de Certeau.
E então,

O debate modernidade X pós-modernidade parecia mesmo atingir em cheio o campo


da História, pois, com a crítica ao racionalismo e às pretensões da História à
totalidade, se indicava estar atacando as conquistas de uma História moderna, dotada
de um método e de um sólido caminho de investigação nos arquivos. Do outro lado,
se identificava uma História pós-moderna, sem nenhum referencial teórico de
análise, campo de um vale-tudo absoluto de escolhas temáticas, sem pretensão
alguma de racionalidade” (p. 37).

Capítulo III – Mudanças epistemológicas: a entrada em cena de um novo olhar

Este capítulo trata do seguinte: “Da arqueologia da História Cultural à consolidação de


um campo de trabalho, passamos agora a analisar a construção deste novo olhar da história, a
partir dos seus principais pressupostos teóricos de análise” (p. 37).

“Todas essas questões epistemológicas representam mudanças significativas,


marcando a entrada em cena de um novo patamar para a reflexão da História. Essa
espécie de giro teórico opera como uma espécie de novos óculos para enxergar a
realidade, a partir de um corpo articulado de conceitos que passam a explicar o
mundo de uma outra forma” (p. 56).

REPRESENTAÇÃO

-​ Principais formulações a partir de Marcel Mauss e Émile Durkheim, no início do


século XX.

“Em termos gerais, pode-se dizer que a proposta da História Cultural seria, pois, decifrar a
realidade do passado por meio das suas representações, tentando chegar àquelas formas,
discursivas e imagéticas, pelas quais os homens expressaram a si próprios e o mundo” (p. 42).

IMAGINÁRIO

-​ Bronislaw Baczko, Cornelius Castoriadis e Le Goff.

“Entende-se por imaginário um sistema de ideias e imagens de representação coletiva que os


homens, em todas as épocas, construíram para si, dando sentido ao mundo” (p. 43).
“É, verdadeiramente, com o advento da História Cultural que o imaginário se torna um
conceito central para a análise da realidade, a traduzir a experiência do vivido e do
não-vivido, ou seja, do suposto, do desconhecido, do desejado, do temido, do intuído” (p. 47).

ARQUÉTIPOS

-​ Yves Durand, Gilbert Durand, Jung, Lucian Boia e Satre.

“Paralelamente a essas reflexões da História e da Filosofia, uma outra vertente de


estudo do imaginário se impôs, a partir da Antropologia. Deste campo nos chegam
as noções de estruturas mentais, de tendências permanentes de organização do
espírito humano. Eles são os arquétipos, elementos constitutivos do imaginário que
atravessam os tempos, assinalando formas de pensar e construir representações sobre
o mundo” (p. 45).

NARRATIVA

-​ Lawrence Stone, Paul Ricoeur e Paul Veyne.

“Ora, uma narrativa é o relato de uma sequência de ações encadeadas e, na clássica


definição de Aristóteles, a História seria a narrativa do que aconteceu, distinta da
literatura, que seria a narrativa do que poderia ter acontecido. Nesta medida, a
definição aristotélica estabelece para a História um pacto com a verdade, verdade
esta que o mesmo Aristóteles define ainda como sendo a correspondência da
realidade com o discurso” (p. 49).

“A figura do narrador - no caso, o historiador, que narra o aconteceu - é a de alguém


que mediatiza, que realiza uma seleção dos dados disponíveis, que tece relações
entre eles, que os apresenta em uma sequência dada e dá inteligibilidade ao texto.
Tais atividades envolvem a montagem de uma intriga, a urdidura de um enredo, a
decifração de um enigma. O narrador é aquele que se vale da retórica, que escolhe as
palavras e constrói os argumentos, que escolhe a linguagem e o tratamento dado ao
texto, que fornece uma explicação e busca convincente” (p. 50).

FICÇÃO

-​ Reinhart Koselleck, Hans Robert Jauss, Natalie Zemon Davis, Krzysztof Poiman,
Ricoeur, François Hartog e Philippe Carrard

“[...] a História construiu um discurso imaginário e aproximativo sobre aquilo que teria
ocorrido um dia, o que implica dizer que faz uso da ficção” (p. 53).

SENSIBILIDADES

“As sensibilidades corresponderiam a este núcleo primário de percepção e tradução


da experiência humana no mundo. O conhecimento sensível opera como uma forma
de apreensão do mundo que brota não do racional ou das elucubrações mentais
elaboradas, mas dos sentidos, que vêm do íntimo de cada indivíduo. Às
sensibilidades compete essa espécie de assalto ao mundo cognitivo, pois lidam com
as sensações, com o emocional, com a subjetividade” (p. 56).
“Representação e imaginário, o retorno da narrativa, a entrada em cena da ficção e a
ideia das sensibilidades levam os historiadores a repensar não só as possibilidades de
acesso ao passado, na reconfiguração de uma temporalidade, como colocam em
evidência a escrita da história e a leitura dos textos” (p. 59).

“Escrever a História, ou construir um discurso sobre o passado, é sempre um ir ao


encontro das questões de uma época. A história se faz como resposta a perguntas e
questões formuladas pelos homens em todos os tempos. Ela é sempre uma
explicação sobre o mundo, reescrita ao longo das gerações que elaboram novas
indagações e elaboram novos projetos para o presente e para o futuro, pelo que
reinventam continuamente o passado” (p. 59).

Capítulo IV – Em busca de um método: as estratégias do fazer História

Neste capítulo, são tratados o método e as estratégias que auxiliam a História. Nesse
sentido, é destacado o papel do historiador nesse processo.

“Falar de método é falar de um como, de uma estratégia de abordagem, de um saber-fazer.


[...] Como trabalhar os indícios ou traços que chegam desde o passado?” (p. 63).

“Walter Benjamin imagina para o historiador um caminho semelhante à montagem


cinematográfica. [...] É preciso recolher os traços e registros do passado, mas realizar com
eles um trabalho de construção” (p. 64).

“A descrição densa da Antropologia ensinou como explorar as fontes nas suas possibilidades
mais profundas, fazendo-as falar e revelar significados” (p. 66).

Capítulo V – Correntes, campos temáticos e fontes: uma nova aventura da História

Aqui é tratada a renovação da temática da História Cultural e a expansão do cuidado


com as fontes.

“Contemporaneamente, mais dão visibilidade à História Cultural: a renovação das correntes


da história e dos campos de pesquisa, multiplicando o universo temático e os objetos, bem
como a utilização de uma multiplicidade de novas fontes” (p. 69).

“A História Cultural tem exercido uma verdadeira sedução para o público leitor, o que
permite aventurar que Clio saiu revitalizada da tão renomada e discutida crise dos
paradigmas” (p. 69).

“Escrita e leitura são indivisíveis e estão contidas no texto, este plano intermediário entre
produção e recepção que articula, permite a comunicação e veicula representações” (p. 70).
“Sistemas globais explicativos passaram a ser denunciados, pois a realidade parecia mesmo
escapar a enquadramentos redutores, tal a complexidade instaurada no mundo pós-Segunda
Guerra Mundial” (p. 74).

“Se a História Cultural visa atingir as representações, individuais e coletivas, que os homens
constroem sobre o mundo [...] mobiliza o imaginário, ritos e imagens simbólicas” (p. 75).

“A História Cultural do Político difundiu-se, tendo como uma de suas preocupações centrais a
definição de uma cultura política [...] visão de mundo partilhada, uma leitura comum do
passado” (p. 76).

“Fontes tradicionais ou antigas [...] podem agora sofrer novas leituras, assim como
documentação não oficial, como crônicas de jornal, romances, poesias, música, entre outras”
(p. 96).

Capítulo VI – Uma difusão mundial: a História sem fronteiras

A História Cultural foi reconhecida como um fenômeno global, trazendo influências da


tradição francesa e italiana, por exemplo, ressoando na historiografia brasileira sobre Cultura.

“Embora levando em conta o papel de prova dos historiadores franceses, a História Cultural
pode ser considerada, hoje, uma História sem fronteiras, com difusão mundial” (p. 99).

“Sem dúvida, a França teve um papel primordial, o que pode ser demonstrado pela
recorrência a autores franceses no que chamamos de a arqueologia da História Cultural [...]
desde Lucien Febvre, Marc Bloch ou Braudel” (p. 99).

“A França foi um polo agregador dessa discussão, ou uma espécie de ponto obrigatório de
passagem para todos aqueles que discutiam os novos rumos da História” (p. 99).

“Jacques Revel fala de um vento que soprava da Itália [...] com nomes como Carlo Ginzburg
e Giovanni Levi, que renovaram os quadros de uma História Social” (p. 100).

“A dinâmica da História Cultural mostra que sua difusão mundial reflete a insatisfação com
os modelos explicativos dominantes e um esforço por novos caminhos epistemológicos” (p.
100).
“Na América do Sul, há que referir a produção argentina [...] assim como a historiográfica
brasileira, a mostrar uma História sem fronteiras” (p. 101).

“Os estudos culturais da política, memória e identidade religiosa mostram que a História
Cultural não se restringe à Europa, mas tem ressonância mundial” (p. 101).“Pensadores como
Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, já nos anos 30 do século XX, apresentaram
uma postura avant la lettre para o seu tempo” (p. 102).

“Foi preciso que a História Cultural desabrochasse no país, ao longo dos anos 90, para que a
obra de Gilberto Freyre fosse retomada e submetida a uma nova leitura” (p. 102).

“O cotidiano da vida e as sociabilidades privadas resgatados por Freyre marcaram uma


perspectiva culturalista que só mais tarde foi reconhecida no Brasil” (p. 102).

Capítulo VII – Os novos parceiros da História: nas fronteiras do conhecimento

Neste capítulo, são apresentadas outras formas de se fazer História, nesse caso,
buscando auxílio da interdisciplinaridade.

“A História Cultural já opera nas fronteiras do conhecimento quando se situa no limiar entre
verdade e ficção, entre real e não-real, enfocando o imaginário como uma instância para além
dessas distinções” (p. 107).

“Quando a História se defronta com seus novos parceiros, que vêm da Literatura, da
Antropologia, da Arte, da Arquitetura e do Urbanismo, da Psicologia e da Psicanálise, o
diálogo a ser mantido não estabelece hierarquias ou territórios de propriedade de um campo
específico” (p. 109).

“O historiador permanece historiador neste diálogo, pois a História é o lugar de onde se faz a
pergunta. Ele vai realizar, sem dúvida, uma incursão ou voo por outros territórios, armado
talvez de novos conceitos [...] mas não terá de ser psicanalista, crítico de Arte ou da
Literatura, pois seu trabalho é no campo da História” (p. 109).

“Essa espécie de bagagem de erudição é particular ao historiador e lhe permite estabelecer


uma ampla gama de relações entre os elementos de análise em questão” (p. 109).

“Os novos parceiros, como foi dito, se relacionam com as opções teóricas e metodológicas da
História Cultural, bem como das escolhas de tema e objeto” (p. 109).
“Se trabalha a loucura e a subjetividade, deverá habilitar-se a entender da Psicanálise? E
quando abordar o texto literário, exige-se ou não desse historiador a postura e o conhecimento
de um crítico da Literatura?” (p. 109).

“Admitir que um mesmo acontecimento possa suportar julgamentos contrários [...] possibilita
que se entenda que a História comporte múltiplas versões e que se admitam regimes de
verdade” (p. 110).

“A História avança da Antropologia para os domínios de um outro campo, que é o da


Literatura. Nessa medida, quando o historiador penetra no terreno da linguagem [...] ele entra
em um domínio do simbólico” (p. 110).

“A História trabalha com um acúmulo de possíveis, com a pluralidade de pontos de vista, o


que a situa no campo da ambivalência: ser isso e aquilo ao mesmo tempo, podendo um fato
ter mais de uma versão” (p. 110).

“A ambiguidade faz a História penetrar no campo do simbólico, do cifrado, de um dizer além


daquilo que é dito, de significados ocultos que é preciso revelar” (p. 110).

Capítulo VIII – Os riscos da empreitada: alerta geral

O livro é concluído com uma reflexão sobre a História e o trabalho do historiador. A


História cultural passa por considerações que estabelecem seus alcances e limites.

“Em primeiro lugar o historiador, enquanto produtor de um texto, e também o público leitor,
consumidor de História, devem assumir a dúvida como um princípio de conhecimento do
mundo” (p. 115).

“Há mais dúvidas do que certezas, o que compromete o pacto da História com a obtenção da
verdade. Esse pacto resta como um valor a atingir [...] o resultado é sempre uma versão
possível, plausível” (p. 115).

“A História Cultural seria igual à Literatura, ou seja, visaria a agradar, divertir, oportunizar
fruição estética [...] não teria maiores preocupações com problemas sociais ou questões
políticas maiores” (p. 115).
“Existem hierarquias de verdade, verdades parciais, transitórias, pessoais ou sociais, como
uma espécie de verdades provisórias, aceitas e reconhecidas como tal em uma época dada” (p.
115).

“Toda narrativa histórica é uma construção interpretativa que depende de pressupostos


teóricos e métodos, mas sempre estará sujeita à revisão” (p. 115).

“A hipertrofia das potencialidades metonímicas do traço pode levar àquilo que Andréa Dei
Col chamou de excesso interpretativo” (p. 116).

“Há que ter em conta a distinção entre o corriqueiro e o excepcional, não tomando o acidente
como usual, nem o fato de cada dia como extraordinário, apenas por ser diferente” (p. 116).

“O historiador é chamado a resgatar práticas cotidianas e trajetórias de vida [...] para


compreender formas de agir, pensar e representar o mundo em uma determinada época” (p.
116).

“A ênfase no fragmento e no indivíduo aproxima a análise dos significados e do simbólico


[...] as representações sociais seriam surpreendidas no seu nascedouro” (p. 116).

“A ausência de distanciamento histórico pode tomar o historiador míope para avaliar aquilo
que vive. [...] Conclusões sobre um processo em curso são temerárias” (p. 117).

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