Rastreio Câncer de Colo
Rastreio Câncer de Colo
M O N A L I S A C A R V A L H O E
P R O F . A L E X A N D R E M E L I T T O
R AS T R E A M E N TO
D O CÂ N C E R D E
C O LO U T E R I N O
GINECOLOGIA Prof. Monalisa Carvalho e Prof. Alexandre Melitto | Rastreamento do Câncer de Colo Uterino 2
APRESENTAÇÃO:
PROF. MONALISA
CARVALHO E
PROF. ALEXANDRE
MELITTO
@prof.alexandremelitto
/estrategiamed t.me/estrategiamed
Estratégia
MED
GINECOLOGIA Rastreamento do Câncer de Colo Uterino Estratégia
MED
SUMÁRIO
2.1.1 CLÍNICA 7
2.1.2 SUBCLÍNICA 7
3.4 COLPOSCOPIA 11
3.4.1 REAGENTES 11
4.0 TRATAMENTO 22
5.0 LISTA DE QUESTÕES 24
6.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 25
CAPÍTULO
O local de união entre o epitélio escamoso e glandular é chamado de junção escamocolunar (JEC). Aqui,
um detalhe é importante: a JEC tem localização dinâmica ao longo da vida mulher. Em situações hiperestrogênicas
(ex.: gravidez, menacme, uso de anticoncepcionais), localiza-se na ectocérvice, processo denominado de
ectopia. Já em situações de baixo nível estrogênico, como na menopausa, ela se localiza no interior do canal
endocervical.
O epitélio colunar que sofreu ectopia, sob ação do pH vaginal transformação (ZT). Guarde esse conceito, pois como é uma região
ácido, transforma-se em epitélio escamoso, processo chamado onde está havendo bastante multiplicação celular, quase todas as
de metaplasia escamosa (figura 2). A região do colo uterino em alterações causadas pelo HPV (papilomavírus humano) ocorrem
que ocorre a metaplasia escamosa é denominada de zona de nessa área.
ATENÇÃO!
JUNÇÃO ESCAMOCOLUNAR (JEC): é uma linha em que ocorre a junção entre os epitélios escamoso e glandular.
ZONA DE TRANSFORMAÇÃO (ZT): é a região entre a JEC nova e a JEC antiga, em que ocorre a metaplasia escamosa.
CAPÍTULO
2.0 HPV
O HPV é o principal fator de risco para o desenvolvimento de câncer de colo uterino.
Os tipos de HPV podem ser divididos em baixo risco oncogênico (responsáveis pelos condilomas) e alto risco oncogênico (responsáveis
pela neoplasia intraepitelial de alto grau e câncer).
A maioria das pessoas vai ter contato com o vírus HPV em alto risco oncogênico, há maior chance de desenvolvimento de
algum momento da vida, mas a maior parte das infecções desaparece lesões precursoras e câncer de colo uterino.
em 6 a 24 meses. Quando ocorre infecção persistente por HPV de
2.1.1 CLÍNICA
Aqui, ficam as lesões percebidas pelo paciente ou pelo médico, os condilomas ou verrugas genitais. Lembre-se de que são causados
pelo HPV de baixo risco oncogênico, em geral, os tipos 6 e 11.
2.1.2 SUBCLÍNICA
Ocorre quando o HPV causa alterações microscópicas do membrana basal, dá-se o nome de neoplasia intraepitelial cervical
epitélio. Logo, só pode ser diagnosticado através de exames como (NIC). Na NIC I, as atipias ocorrem no 1/3 basal do epitélio; na NIC
citologia, colposcopia e biópsia. É aqui que o programa de rastreio II, até 2/3 inferiores do epitélio são acometidos; na NIC 3, as atipias
brasileiro irá atuar, buscando essas alterações celulares na citologia. ocorrem em mais de 2/3 do epitélio. Caso as atipias celulares
Histologicamente, as lesões HPV induzidas são classificadas ultrapassem a membrana basal, temos o carcinoma invasor (figura
segundo a espessura do epitélio acometida pelas células atípicas. 3).
Essa é a classificação de Richart. Quando não há invasão da
A evolução temporal da infecção pelo HPV é lenta, conforme está representado na figura 4:
Além das alterações citológicas e histológicas, hoje o HPV pode ser identificado por diversas técnicas moleculares. A pesquisa de DNA
HPV já é utilizada como método de rastreio para câncer de colo uterino em outros países e, no Brasil, também está prevista a sua realização
como forma de rastreamento, mas ainda não foi definido o protocolo a ser seguido. São exemplos de técnicas moleculares para a pesquisa do
HPV a captura híbrida, a reação em cadeia da polimerase (PCR), a hibridização in situ e a detecção de oncoproteínas E6 e E7.
As vacinas contra o HPV são uma forma de prevenção 1. Bivalente: protege contra os tipos 16 e 18. (não é mais
primária contra o câncer de colo uterino. Sobre esse tema, as comercializada)
provas de Residência costumam cobrar a constituição das vacinas e 2. Quadrivalente: protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18
o programa de imunização nacional contra o HPV. (disponibilizada pelo SUS).
Em sua constituição, as vacinas contêm partículas que 3. Nonavalente: protege contra os subtipos 6, 11, 16, 18, 31,
se assemelham às proteínas do capsídeo viral (VLPs: virus-like 33, 45, 52 e 58.
particles). Dessa maneira, as VLPs utilizadas são partículas não A vacinação para o HPV está disponível no calendário
infecciosas e apenas imitam a infecção natural pelo HPV, produzindo vacinal brasileiro desde 2014, e a partir de 2017 foi incluído o sexo
anticorpos específicos contra os tipos de HPV contidos na vacina. masculino na população-alvo. A vacina oferecida é a quadrivalente.
Existem três vacinas contra HPV aprovadas pela Anvisa A tabela a seguir resume as indicações da vacina contra o
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária): HPV pelo Ministério da Saúde:
CAPÍTULO
REGRA GERAL
Devem ser rastreadas as mulheres sexualmente ativas com idade igual ou superior a 25 anos. Os dois primeiros
exames devem ser feitos com intervalo anual e, se negativos, o rastreamento pode ser feito a cada três anos.
• Nas imunossuprimidas, o rastreamento muda: deve ser negativos, estão excluídas do rastreio.
iniciado logo após o início da vida sexual. Os dois primeiros • Lembre-se de que o HPV é transmitido sexualmente, logo
exames devem ser feitos com intervalo semestral e, se ambos mulheres que nunca tiveram relação sexual não necessitam ser
negativos, o rastreio passa a ser anual. rastreadas.
- Em pacientes HIV positivas, enquanto os níveis de CD4+ forem • O rastreio da gestante é realizado da mesma forma que as
< 200 cel/mm³, o rastreio persiste semestral. demais mulheres.
• O rastreamento deve seguir até os 64 anos de idade e • As histerectomizadas estão excluídas do rastreio se
deve ser interrompido caso a paciente já tenha pelo menos dois realizaram histerectomia total (corpo e colo uterino) por doença
exames negativos consecutivos nos últimos cinco anos. benigna, sem história prévia de tratamento por doença pré-
• Mulheres > 64 anos que nunca fizeram citologia devem maligna no colo.
fazer dois exames com intervalo de um a três anos. Se ambos
Na Diretriz do Ministério da Saúde, as atipias citológicas seguem a Nomenclatura Citológica Brasileira. É importante que você saiba a
correlação entre essa nomenclatura e a classificação de Richart, que vimos anteriormente, pois as provas costumam utilizar as duas:
Observe que a LSIL (lesão de baixo grau) corresponde a NIC I, e a HSIL (lesão de alto grau) corresponde a NIC II e NIC III.
3.4 COLPOSCOPIA
A colposcopia é uma técnica que possibilita a ampliação dos tecidos do trato genital inferior. Lembre-se de que ela faz parte do tripé
diagnóstico das alterações do colo uterino (citologia-colposcopia-anatomopatológico) e que não deve ser solicitada para todas as pacientes,
apenas com a indicação baseada na alteração citológica.
Em provas, costumam ser cobrados o mecanismo de ação dos seus reagentes e os achados colposcópicos.
3.4.1 REAGENTES
O ácido acético (figura 5) atua causando desidratação celular e coagulação das proteínas intranucleares, diminuindo a transparência do
epitélio. Células em atividade mitótica irão apresentar acetobranqueamento, com intensidade proporcional à gravidade da lesão.
A solução de lugol (figura 6) é captada pelas células ricas era denominado teste de Schiller e, ainda hoje, é utilizado em
em glicogênio, ficando marrom-escuro (iodo positivo). Células provas de Residência Médica. Deve ser interpretado da seguinte
alteradas consomem o glicogênio, ficando com coloração mostarda. maneira:
Chamamos essa área de “iodo negativa”. Anteriormente, esse teste
Figura 6: Colo uterino após a aplicação de iodo. Colo normal (à esquerda) e colo com área iodonegativa (à direita).
Estrategista, a conduta diante de alterações da citologia é, com toda a certeza, questão de sua prova!
A tabela a seguir resume a conduta:
Possivelmente não
Células glandulares
neoplásicas, ou não se
atípicas, de significado Encaminhar para a colposcopia
podendo afastar lesão
indeterminado
de alto grau
Possivelmente não
Células atípicas de neoplásicas, ou não se
Encaminhar para a colposcopia
origem indefinida (AOI) podendo afastar lesão
de alto grau
Lesão intraepitelial de
alto grau, não podendo Encaminhar para a colposcopia
excluir microinvasão
Carcinoma escamoso
Encaminhar para a colposcopia
invasor
Adenocarcinoma in situ
Encaminhar para a colposcopia
(AIS) ou invasor
Fique atento, em especial, para os detalhes da investigação das seguintes atipias: ASCUS, LIEBG, LIEAG e AGC!
Essa é a atipia mais frequente de todas! O “significado indeterminado” indica que não há diagnóstico firmado, seja de alteração do HPV,
seja de inflamação. Logo, a conduta deve ser conservadora!
**A avaliação do canal endocervical é feita através de citologia endocervical ou curetagem de canal endocervical.
Situações especiais:
• Mulheres até 24 anos: repetir citologia em três anos.
• Gestante: seguir as mesmas recomendações da paciente não gestante. Caso seja encaminhada para a colposcopia, realizar biópsia
apenas na suspeita de invasão.
• Mulheres na pós-menopausa: antes de repetir a citologia, é fundamental realizar estrogenioterapia tópica.
• Imunossuprimidas: encaminhar para colposcopia logo no primeiro exame alterado.
Nessa atipia, como há uma maior chance de lesão de alto grau, você deve prosseguir à investigação.
**Detalhes sobre excisão de zona de transformação serão abordados no tópico sobre tratamento.
Situações especiais:
• Mulheres até 24 anos: realizar colposcopia, mas biopsiar apenas achados MAIORES.
• Gestantes: todas serão encaminhadas para colposcopia. A biópsia só deve ser feita em caso de suspeita de invasão.
• Imunossuprimidas: a conduta não deve ser diferente das demais.
• Mulheres na pós-menopausa: realizar estrogenização antes da colposcopia.
Atenção para essa atipia! Como a alteração ocorre em células glandulares, elas podem representar diversas patologias, intra ou
extrauterinas. As bancas adoram cobrar as situações em que há necessidade de investigação endometrial.
Conduta: encaminhar para colposcopia. Veja a seguir os critérios para avaliação endometrial (através de ultrassonografia
transvaginal).
Essa atipia citológica é muito incomum na prática clínica e nas provas de Residência Médica. Pense em sua investigação como sendo
semelhante ao AGC:
Conduta: repetir citologia em seis meses. Se na repetição se mantiver a atipia citológica, a paciente deve realizar colposcopia.
Situações especiais:
• Mulheres até 24 anos: repetir citologia em três anos.
• Gestantes: qualquer abordagem diagnóstica da gestante com citologia LSIL deve ser feita apenas após três meses do parto.
• Mulheres na pós-menopausa: antes de repetir a citologia, é fundamental realizar estrogenioterapia tópica.
• Imunossuprimidas: encaminhar para colposcopia logo no primeiro exame alterado.
Como existem grandes chances de confirmação da lesão de alto grau na biópsia, você sempre deve encaminhar essa paciente para a
colposcopia!
VER E TRATAR
O “Ver e tratar” nada mais é que a realização de tratamento (retirar a lesão) sem ter o resultado do
anatomopatológico, devido à grande suspeita de lesão de alto grau, para agilizar o tratamento das pacientes.
Para isso, precisa haver concordância citocolposcópica, ou seja, a paciente deve ter citologia de lesão
intraepitelial de alto grau e colposcopia com achados maiores (achados sugestivos de lesão de alto grau). Outros
critérios também devem ser preenchidos:
• Colposcopia adequada.
• Junção escamocolunar (JEC) visível: zona de transformação (ZT) tipos 1 ou 2 (veja detalhes sobre os
tipos de zona de transformação no tópico sobre tratamento).
• Lesão restrita ao colo.
• Ausência de suspeita de invasão ou doença glandular.
Situações especiais:
• Mulheres até 24 anos: todas vão para a colposcopia. Entretanto, nessas pacientes, a NIC II comporta-se como uma NIC I, por isso
podemos adotar uma conduta mais conservadora. O que não pode ser feito nessa faixa etária é o “ver e tratar”.
Segue um fluxograma com as recomendações:
• Gestantes: encaminhar para colposcopia. Lembre-se de que a biópsia só deve ser realizada em casos de suspeita de invasão.
• Mulheres na pós-menopausa: estrogenizar antes da realização da colposcopia.
Apesar de essa atipia ser incomum em prova, quando cobrada, fique atento ao detalhe: a biópsia só é realizada em casos de suspeita
de invasão. Nos demais casos (achados maiores, achados menores ou colposcopia normal), a paciente deve ser submetida a procedimento
excisional, pois a lesão pode estar “escondida” no interior do canal endocervical.
O fluxograma abaixo resume as recomendações:
CAPÍTULO
4.0 TRATAMENTO
O objetivo do tratamento das lesões pré-neoplásicas é impedir a progressão para o câncer de colo uterino.
A maioria das lesões de BAIXO GRAU irão regredir e as lesões de ALTO GRAU têm real chance de progressão para o câncer.
Figura 7: EZT realizada por meio de cirurgia de alta frequência com eletrodo alça.
A exérese de zona de transformação é classificada em 1, 2 ou 3, baseada no tipo de zona de transformação da paciente (figura 8). A
conização nada mais é do que uma EZT do tipo 3.
SEGUIMENTO PÓS-TRATAMENTO - Após o primeiro ano: citologia anual, até completar cinco
O principal fator de risco para a doença residual ou recorrente anos do tratamento.
é o relato de margens cirúrgicas comprometidas, mas a presença • Se qualquer uma das margens for comprometida por NIC
delas NÃO indica retratamento! Veja como a Diretriz recomenda o 2/3:
seguimento das pacientes que realizaram procedimento excisional: - Citologia + colposcopia semestralmente por dois anos.
• Se margens cirúrgicas livres ou comprometidas por NIC 1: - Após os dois primeiros anos: citologia anual, até completar
- Citologia dentro de 6 e 12 meses após o procedimento. A cinco anos do tratamento.
colposcopia fica a critério do serviço. - Após 5 anos: citologia trienal.
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CAPÍTULO