AULA 4
DIREITO CIVIL
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Prezado aluno, antes de iniciarmos nossos estudos de hoje,
precisamos ter uma conversa séria. Trata-se do respeito aos nossos
esforços na produção deste curso, a que temos dedicado todas
nossas energias nos últimos meses.
Saiba que nosso objetivo é sempre oferecer o melhor produto
possível e que realmente faça a diferença na sua caminhada rumo à
aprovação. Mas, para que nós consigamos atingir essa meta, sua
ajuda é imprescindível.
Então, sempre que algum amigo ou conhecido falar “será que
você passa para mim aquele material do Revisão Ensino Jurídico que
você tem?”, lembre desta nossa conversa. Todos os nossos produtos
são tutelados pela legislação civil (como a Lei 9.610/98 e o Código
Civil) e pela legislação penal (especialmente pelo art. 184 do Código
Penal).
Para que não reste dúvida: este curso se destina ao uso
exclusivo do aluno que o adquirir em nosso site, e sua aquisição não
autoriza sua reprodução. Ok?
Sabemos que falar isso parece pouco amigável, mas só estamos
tendo este “papo reto” porque queremos de você justamente um ato
de amizade: não participar, de forma alguma, da pirataria deste curso.
Se isso acontecer, o fornecimento das aulas a você será interrompido
e nenhum valor pago será restituído, sem prejuízo, evidentemente, de
toda a responsabilização cabível nos âmbitos civil e penal.
Bem, o recado era esse. Agora podemos voltar às boas e meter
a cara nos livros! Ops... nos PDFs!
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DOMICÍLIO E BENS _____________________________________________________ 4
DOMICÍLIO _________________________________________________________ 4
Domicílio da Pessoa Física ____________________________________________ 4
Domicílio da Pessoa Jurídica __________________________________________ 5
Espécies de domicílio _______________________________________________ 6
BENS ______________________________________________________________ 7
Bens corpóreos e incorpóreos (tangibilidade) ____________________________ 7
Bens móveis e imóveis (mobilidade)____________________________________ 8
Bens fungíveis e infungíveis (fungibilidade) ______________________________ 9
Bens consumíveis e inconsumíveis (consuntibilidade) _____________________ 10
Bens divisíveis e indivisíveis (divisibilidade) _____________________________ 10
Bens singulares e coletivos (individualidade) ____________________________ 11
Bens reciprocamente considerados (dependência em relação a outro bem) ___ 11
Bens públicos e particulares (titularidade do domínio) ____________________ 13
PATRIMÔNIO JURÍDICO MÍNIMO E BEM DE FAMÍLIA ______________________ 14
Bem de família legal _______________________________________________ 15
Bem de família voluntário ou convencional _____________________________ 17
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Trata-se do local em que o indivíduo pode ser sujeito de direitos e deveres na
ordem privada.
O tema tem assento constitucional. Com efeito, o art. 5º, incisos X e XI, da CF
consagrou o princípio da inviolabilidade do domicílio, como expressão dos
direitos fundamentais à privacidade, à intimidade e à propriedade.
Em âmbito infraconstitucional, o Código Civil dispõe sobre o domicílio das
pessoas físicas e jurídicas no Título III do Livro I (arts. 70 a 78).
DOMICÍLIO DA PESSOA FÍSICA
O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com
ânimo definitivo. (CC, art. 70)
Para a doutrina, moradia é o lugar onde a pessoa natural se estabelece
provisoriamente, confundindo-se com a noção de estadia (situação de fato), não
havendo ânimo de permanência. Por sua vez, a residência pressupõe maior
estabilidade, sendo o lugar onde a pessoa natural se estabelece habitualmente.
O art. 70 do CC atrela o domicílio da pessoa natural ao local de sua residência,
que é o lugar onde ela se estabelece de maneira estável, habitual.
Domicílio é formado: (I) elemento objetivo (ato de fixação em determinado
local); (II) elemento subjetivo (ânimo definitivo de permanência).
Admite-se a pluralidade de domicílios, pois uma única pessoa natural pode
residir em mais de um lugar, ao mesmo tempo e com ânimo definitivo (CC, art.
71). Além disso, o local de trabalho da pessoa natural também pode ser
considerado seu domicílio para efeitos legais (CC, art. 72).
Se a pessoa natural exercitar sua profissão em lugares diversos, cada um deles
constituirá domicílio para as relações que lhes corresponderem (CC, art. 72, p.u.).
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Considerando a possível pluralidade de domicílios, o CPC dispôs que, tendo mais
de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles (art. 46, §1º).
Da redação do CPC, não se infere prevalência entre o domicílio pessoal e o
profissional. A literalidade do art. 72 do CC, entretanto, atrela o domicílio
profissional apenas às “relações concernentes à profissão”, e não aos atos e
negócios jurídicos em geral da pessoa natural.
Quando a pessoa natural não possuir residência habitual, o seu domicílio será o
lugar onde for encontrada (CC, art. 73). É o domicílio aparente ou ocasional,
criado por meio de uma ficção jurídica a fim de garantir a segurança jurídica.
Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o
mudar (CC, art. 74). A intenção manifesta pode ser demonstrada pela
comunicação à Administração Pública (v. g., mudança do título de eleitor), ou,
na ausência de comunicação, por meio de circunstância fáticas que demonstrem
seu ânimo de mudança definitiva (v.g., posse em cargo público).
DOMICÍLIO DA PESSOA JURÍDICA
O art. 75 do CC disciplina o domicílio da pessoa jurídica, tratando da matéria
mediante a distinção entre as pessoas jurídicas de direito público
(especificamente os entes federados e Territórios) e as demais.
O domicílio da União é o Distrito Federal, enquanto o domicílio dos Estados é a
respectiva capital. No âmbito da competência processual, todavia, há de se
atentar aos critérios diversos previstos no CPC, que buscam facilitar a vida do
jurisdicionado e densificar o princípio do acesso à justiça (CPC, arts. 51 e 52).
O domicílio do Município é o lugar onde funcione a administração municipal. Na
seara processual, aplicar-se-á as regras gerais para determinação do foro
competente – não há disciplina processual específica para o Município, tal como
a prevista nos arts. 51 e 52 do CPC para a União, Estados e DF.
No que se refere às demais pessoas jurídicas de direito público, que não são
mencionadas no art. 75 do CC, diz-se que o seu domicílio corresponde ao local
onde funciona a administração ou diretoria da autarquia ou fundação pública,
ou, se houver, ao local indicado em sua lei criadora.
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O domicílio civil da pessoa jurídica de direito privado é a sua sede indicada em
seu estatuto, contrato social ou ato constitutivo equivalente. Em caso de
omissão, será considerado domicílio o lugar onde funcionarem as respectivas
diretorias e administrações da pessoa jurídica.
Se a pessoa jurídica tiver diversos estabelecimentos em lugares distintos, cada
local será considerado domicílio em relação aos atos nele praticados. Ou seja,
também existe a possibilidade de domicílios plurais para as pessoas jurídicas.
A pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da
agência, ou estabelecimento, em que se praticou o ato (Súmula nº 363, STF).
ESPÉCIES DE DOMICÍLIO
De acordo com a doutrina, existem três espécies de domicílios: (I) voluntário,
cuja definição decorre de livre ato de vontade do sujeito; (II) legal/necessário,
que é fixado peremptoriamente pela lei em razão da condição especial e peculiar
de determinadas pessoas; (III) de eleição ou especial, que decorre do ajuste
entre as partes de um contrato, eleito por ambas as partes pelo instrumento
escrito.
Possuem domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo
e o preso (CC, art. 76).
DOMICÍLIO LEGAL/NECESSÁRIO (ART. 76 DO CC)
INCAPAZ É o de seu representante ou assistente
Lugar em que exerce permanentemente suas
SERVIDOR PÚBLICO
funções
O lugar em que serve, e, sendo da Marinha ou da
MILITAR Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar
imediatamente subordinado
MARÍTIMO Lugar onde o navio estiver matriculado
PRESO Lugar em que cumprir a sentença
Regra específica é a do agente diplomático brasileiro: se este for citado no
estrangeiro (v. g., na embaixada onde trabalha) e alegar extraterritorialidade, ele
deverá indicar onde é seu domicílio no Brasil; caso não faça essa indicação, ele
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poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território
brasileiro onde teve domicílio.
Há controvérsia acerca da possibilidade de inserção de cláusulas de eleição de
foro em contratos de consumo, os quais, em sua imensa maioria, são contratos
de adesão. À luz do art. 51, IV, do CDC (que veda as cláusulas abusivas e ilustra a
índole eminentemente protetiva da legislação consumerista), a doutrina
majoritária considera inválida a cláusula inserida em contrato de consumo que
fixa domicílio em favor do próprio fornecedor.
O STJ possui precedente no sentido de que é possível a inserção de cláusula de
eleição de foro em contratos de adesão de consumo, devendo a abusividade ser
verificada no caso em concreto. (STJ, REsp 1675012-SP. J. em 08/08/2017)
O art. 63, §3º, do CPC deixa implícita a necessidade de exame da abusividade da
cláusula de eleição de foro pelo juiz, diretriz que, à luz do julgado supratranscrito,
parece aplicável inclusive na seara consumerista.
De modo geral, bem é tudo que é útil ao homem ou que lhe dá algum proveito.
Na doutrina, discute-se a diferença entre bem e coisa. As duas principais
correntes são: (I) O conceito de coisa está atrelado ao aspecto da materialidade,
devendo o vocábulo ser reservado aos objetos corpóreos. Os bens seriam os
objetos corpóreos e os imateriais, de modo que existem bens jurídicos que não
são coisas; (II) Coisa é tudo que existe objetivamente, com exclusão do homem.
Já os bens são coisas que, por serem úteis ou raras, são suscetíveis de
apropriação e contêm valor econômico. Dessa forma, coisa constitui gênero, e
bem a espécie.
À luz do Código Civil e da doutrina pátria, os animais são considerados coisas (ou
bens, conforme a corrente conceitual adotada e a possibilidade ou não de
apropriação pelo homem). A doutrina mais contemporânea, contudo, passou a
sustentar que os animais são sujeitos de direito, embora não sejam coisas nem
pessoas, merecendo um tratamento jurídico sui generis.
BENS CORPÓREOS E INCORPÓREOS (TANGIBILIDADE)
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Os bens corpóreos são aqueles que possuem existência corpórea, material,
perceptível pelos nossos sentidos (v. g, podem ser vistos e tocados). Exemplos:
casas, carros, livros, joias etc.
Os bens incorpóreos, imateriais ou intangíveis são aqueles com existência
abstrata e que não podem ser fisicamente tocados pela pessoa humana. Sua
visualização é ideal (não tangível) e sua existência é apenas jurídica,
fundamentada numa criação do Direito. Exemplo: direitos de autor.
Somente os bens corpóreos podem ser objeto de contrato de compra e venda,
enquanto os bens imateriais somente se transferem pelo contrato de cessão,
bem como não podem, em teoria tradicional, ser adquiridos por usucapião, nem
ser objeto de tradição (uma vez que esta implica a entrega da coisa).
BENS MÓVEIS E IMÓVEIS (MOBILIDADE)
Os bens podem ser classificados em móveis ou imóveis, conforme a
possibilidade de serem ou não removidos ou deslocados pelo homem ou por
força própria.
Os bens imóveis são subclassificados em: (I) Bens imóveis por natureza (ou por
essência): são aqueles formados pelo solo e tudo que a este se incorporar de
forma natural; (II) Bens imóveis por acessão física, industrial ou artificial: é tudo
que o homem incorporar permanentemente ao solo, como a semente lançada à
terra, os edifícios e construções, que não possam ser retirados sem destruição
ou dano; (III) Bens imóveis por acessão física intelectual: são os bens que o
proprietário intencionalmente destina e mantém no imóvel para exploração
industrial, aformoseamento ou comodidade; (IV) Bens imóveis por
determinação legal: são considerados imóveis por vontade do legislador, para
que possam receber melhor proteção jurídica.
Não perdem a natureza de imóveis: (I) os materiais provisoriamente separados
de um prédio para nele mesmo se reempregarem (exemplo: retirada de telhas
durante uma reforma das vigas de sustentação de uma casa, para nesta voltarem
a ser empregadas ao final da obra); (II) as edificações que, separadas do solo,
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mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local (exemplo:
fenômeno conhecido na engenharia como translocação – building translocation
–, em que se desloca a estrutura de um edifício).
A doutrina observa que os bens imóveis por acessão física intelectual se
confundem com as pertenças.
Os bens móveis são subclassificados em: (I) Bens móveis por natureza (ou por
essência): são aqueles que se enquadram no conceito genérico de bem móvel,
podendo ser transportados por força própria ou alheia, sem qualquer dano ou
prejuízo à sua essência. Atente para a ressalva da primeira parte do art. 84 do
CC, no sentido de que os materiais destinados a uma construção, enquanto não
empregados, conservam sua mobilidade; (II) Bens móveis por antecipação: são
os bens que eram imóveis, mas foram mobilizados por uma atividade humana.
A segunda parte do art. 84 do CC adverte que a antecipação também pode
ocorrer no caso da demolição de prédios, ou seja, os materiais aproveitáveis da
edificação demolida readquirem a natureza de bens móveis; (III) Bens móveis
por antecipação legal: são os bens que o legislador expressamente qualifica
como móveis, previstos no art. 83 do CC: energias com valor econômico (v. g.,
energia elétrica), direitos reais sobre bens móveis e direitos pessoais de caráter
patrimonial (v. g., direitos autorais).
No Direito Brasileiro, a transmissão de imóveis apenas pode se dar por meio do
registro. Para os bens móveis, dispensa-se o registro, exigindo-se, apenas, a
tradição da coisa.
Os navios e aeronaves são bens móveis especiais ou sui generis, pois, apesar de
serem móveis pela natureza ou essência, a lei atribui-lhes algumas características
e qualidades típicas dos bens imóveis, tal como a necessidade de registro
especial e a possibilidade de serem objeto de hipoteca.
BENS FUNGÍVEIS E INFUNGÍVEIS (FUNGIBILIDADE)
Bens infungíveis: são aqueles de natureza insubstituível, isto é, não podem ser
substituídos por outros da mesma espécie, quantidade e qualidade, a exemplo
de uma obra de arte única ou de um animal de raça identificável.
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Bens fungíveis: são aqueles que podem ser perfeitamente substituídos por
outros da mesma espécie, qualidade e quantidade, a exemplo das cédulas de
dinheiro, grãos de café ou minério de carvão.
A vontade das partes pode alterar a natureza de um bem essencialmente
fungível para infungível. Da mesma forma, a fungibilização também pode
decorrer do valor histórico de um determinado bem.
A presente classificação tem importância prática na medida em que distingue as
espécies contratuais do mútuo e do comodato, pois a primeira modalidade de
empréstimo é aplicável aos bens fungíveis, diferentemente da segunda.
BENS CONSUMÍVEIS E INCONSUMÍVEIS (CONSUNTIBILIDADE)
Essa classificação é feita por meio de dois critérios: (I) a destruição imediata do
bem ou não (consuntibilidade física); (II) e o fato de ele ser ou não destinado à
alienação (consuntibilidade jurídica).
Bens consumíveis: são aqueles cujo uso importa destruição imediata da própria
substância (consuntibilidade física), bem como aqueles destinados à alienação
(consuntibilidade jurídica).
Bens inconsumíveis: aqueles que suportam uso continuado, sem haver
destruição imediata do bem, ainda que ocorra um perecimento progressivo e
natural do mesmo (inconsuntibilidade física); bem como aqueles que são
inalienáveis (inconsuntibilidade jurídica).
Um bem pode ser considerado consumível e inconsumível ao mesmo tempo (à
luz de cada aspecto – físico ou jurídico).
O CDC alude aos bens duráveis e não duráveis, cuja distinção é de grande
importância para determinar o prazo decadencial que rege o direito do
consumidor de reclamar por vícios aparentes ou de fácil constatação. De acordo
com a doutrina, essa classificação muito se assemelha àquela entre os bens
consumíveis e não consumíveis, sob a perspectiva da consuntibilidade fática.
BENS DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS (DIVISIBILIDADE)
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Bens divisíveis são os que podem partir em porções reais e distintas, formando
cada uma delas um todo perfeito, sem que isso altere sua substância ou sua
destinação, ou diminuição considerável de seu valor.
Os bens divisíveis podem tornar-se indivisíveis pela vontade das partes ou por
imposição legal.
Bens indivisíveis são os que não podem ser fracionados, pois deixariam de
formar um todo perfeito. A divisão acarretaria uma desvalorização ou perda das
qualidades essenciais do bem.
A indivisibilidade dos bens pode ter três origens distintas: (I) indivisibilidade
natural, que decorre das próprias características essenciais do bem; (II)
indivisibilidade legal, que decorre de uma imposição legal, como é o caso da
herança, que é indivisível até a partilha; (III) indivisibilidade convencional:
decorre da vontade das partes, geralmente manifestada em cláusula contratual.
Em regra, prestações que envolvam bens divisíveis consubstanciam obrigações
igualmente divisíveis, ao passo que prestações relacionadas a bens indivisíveis
correspondem a obrigações indivisíveis.
BENS SINGULARES E COLETIVOS (INDIVIDUALIDADE)
Bens singulares ou individuais são aqueles que são considerados em sua
individualidade, constituindo unidades autônomas. Ainda que reunidos, são
independentemente dos demais, podendo ser considerados de per si;
Bens coletivos ou universais são um conjunto de vários bens singulares que
formam um todo individualizado (universalidade). Eles podem decorrer de uma
união fática ou jurídica: (I) universalidade de fato, na qual os bens são agrupados
pela vontade de seu titular, que lhes atribui destinação unitária; (II)
universalidade de direito, sendo um conjunto de bens singulares a que uma
ficção legal confere unidade individualizada, para produzir determinados efeitos
jurídicos.
BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS (DEPENDÊNCIA EM RELAÇÃO
A OUTRO BEM)
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Bens principais (ou independentes) são aqueles que existem de maneira
autônoma e independente, sejam tangíveis (concretos) ou intangíveis
(abstratos), de modo que sua função não depende de nenhum outro.
Bens acessórios (ou dependentes), por sua vez, são aqueles cuja existência e
finalidade dependem de um outro bem.
Um dos princípios gerais do direito é aquele segundo o qual “o acessório segue
o principal” (acessorium sequeatur principale), salvo expressa disposição em
contrário. Trata-se do princípio da gravitação jurídica.
Um exemplo recente da aplicação do princípio da gravitação jurídica é a decisão
do REsp 1967725-SP, julgado em 15/02/2022, onde o STJ decidiu que “em
observância ao princípio da gravitação jurídica, o acessório deve seguir a sorte
do principal, isto é, a aplicação do prazo trienal à pretensão de restituição da
caução decorre da incidência do 206, § 3º, I, do CC ao contrato de locação”. STJ.
3ª Turma. REsp 1967725-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
15/02/2022 (Info 725).
Há diversos tipos de acessórios no ordenamento jurídico brasileiro, a seguir
expostos: (I) frutos (são utilidades que o bem principal periodicamente produz,
cuja percepção não lhe diminui a integridade ou substância, sendo divididos em
frutos naturais, industriais e civis); (II) produtos (são bens acessórios que saem
da coisa principal e diminuem-lhe a sua quantidade e substância); (III) pertenças
(são os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo
duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro); (IV) partes
integrantes (bens que, unidos a um principal, formam com ele um todo, sendo
desprovidos de existência material - ou utilidade - própria, embora mantenham
sua identidade); (V) benfeitorias (são bens acessórios decorrentes de uma obra
realizada pelo homem, na estrutura do bem principal, com o propósito de
conservá-lo, melhorá-lo ou embelezá-lo).
As pertenças configuram uma exceção ao princípio da gravitação jurídica. Com
efeito, os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem
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as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, ou da vontade, ou das
circunstâncias do caso (CC, art. 94).
Os instrumentos de adaptação para condução veicular por deficiente físico, em
relação ao carro principal, onde estão acoplados, enquanto bens, classificam-se
como pertenças (não sendo parte integrante do bem principal) e, por isso, não
devem ser alcançados pelo negócio jurídico que o envolver, a não ser que haja
imposição legal, ou manifestação das partes nesse sentido. (STJ. REsp 1305183)
As benfeitorias podem ser: (I) necessárias: são as que têm por fim conservar ou
evitar que o bem se deteriore; (II) úteis: são as que aumentam ou facilitam o uso
da coisa, tornando-a mais útil; (III) voluptuárias: são as de mero deleite ou de
luxo, que não facilitam a utilidade da coisa, mas apenas a embelezam ou tornam
seu uso mais agradável.
BENS PÚBLICOS E PARTICULARES (TITULARIDADE DO DOMÍNIO)
Para diferenciar os bens públicos dos bens particulares, o CC adotou o critério
subjetivo, de modo que são públicos os bens titularizados por pessoas jurídicas
de direito público; enquanto são particulares os bens titularizados por pessoas
jurídicas de direito privado.
O código Civil, no art. 99, dispõe sobre as espécies de bens públicos: (I) de uso
comum do povo; (II) de uso especial; (III) dominicais.
Enunciado 287 do CJF: “O critério da classificação de bens indicado no art. 98
do Código Civil não exaure a enumeração dos bens públicos, podendo ainda ser
classificado como tal o bem pertencente a pessoa jurídica de direito privado
que esteja afetado à prestação de serviços públicos.”
Súmula 619 do STJ: A ocupação indevida de bem público configura mera
detenção, de natureza precária, insuscetível de retenção ou indenização por
acessões e benfeitorias. STJ. Corte Especial. Aprovada em 24/10/2018, DJe
30/10/2018.
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ATENÇÃO: o STJ entende que “É possível o manejo de interditos possessórios
em litígio entre particulares sobre bem público dominical”. STJ. 4ª Turma. REsp
1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).
Corrente doutrinária majoritária entende que as terras devolutas, por serem
bens públicos dominicais, não podem ser usucapidas.
Para RUBENS LIMONGI, patrimônio é o conjunto de bens de valor econômico de
determinada pessoa.
A tese do Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo nasce na esteira dos
fenômenos da despatrimonialização e da personalização do Direito Civil, a partir
dos quais a proteção da pessoa humana passa a ser o centro do Direito Privado,
em detrimento do patrimônio.
A tese do Estatuto Jurídico do Patrimônio mínimo pode ser resumida no seguinte
enunciado: deve-se assegurar à pessoa um mínimo de direitos patrimoniais, para
que viva com dignidade.
Alguns exemplos de aplicação prática da tese são: (I) nulidade de doação de
todos os bens do doador, sem reserva do mínimo para sua subsistência (doação
universal); (II) a indenização arbitrada contra o incapaz deve ser fixada
equitativamente pelo juiz, de forma a não privar aquele, nem seus dependentes,
do mínimo para que com dignidade vivam.
O bem de família é considerado a principal expressão prática da teoria do
patrimônio mínimo. Trata-se de uma proteção patrimonial erigida em favor de
uma pessoa, ou de núcleo familiar, frente ao pagamento de dívidas por estes
contraídas. Consagra verdadeiro limite à responsabilidade patrimonial do
devedor, alçando determinado(s) bem(ns) à condição de impenhorável(is).
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O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel
pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas. (Súmula 364 do STJ)
BEM DE FAMÍLIA LEGAL
O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e
não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária
ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam
seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas em lei.
A impenhorabilidade do imóvel compreende benfeitorias de qualquer natureza
e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que
guarnecem a casa, desde que quitadas. No entanto, os veículos de transporte,
obras de arte e adornos suntuosos são excluídos da impenhorabilidade.
A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não
constitui bem de família para efeito de penhora (Súmula 449 do STJ). FLÁVIO
TARTUCE critica esse entendimento, sob o fundamento de que é contrário à
súmula 449 do STJ. Para ele, se o acessório segue o principal, a
impenhorabilidade atinge o imóvel do mesmo modo que deve atingir a vaga da
garagem.
A impenhorabilidade do bem de família legal é norma de ordem pública. Por
isso: (I) o juiz pode reconhecer de ofício a impenhorabilidade do bem de família
e (II) a Lei nº 8.009/90 tem eficácia retroativa, atingindo penhoras constituídas
antes da sua entrada em vigor, com base no que parte da doutrina denomina de
retroatividade motivada ou justificada (Súmula 205 do STJ).
Em regra, a impenhorabilidade somente pode ser reconhecida se o imóvel em
questão for utilizado para residência permanente do respectivo dono e de sua
família. Entretanto, o STJ vem fazendo interpretações ampliativas do tema.
Nesse sentido, a súmula 486 do STJ dispõe que é impenhorável o único imóvel
residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida
com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família.
A interpretação ampliativa do STJ também se aplica para garantir a
impenhorabilidade nos casos seguintes: (I) imóvel utilizado por um familiar do
dono do bem (EREsp 1.216.187-SC); (II) único imóvel do devedor que esteja em
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usufruto, para destino de moradia de sua mãe, pessoa idosa (REsp 950663-SC);
(III) bem que se encontre desocupado ou não edificado, desde que se encontre
neste estado por razões alheias à vontade do dono, tais como a falta de serviço
estatal (REsp 825.66-SP).
O art. 3º da Lei 8.009/90 apresenta hipóteses em que o devedor pode ser
chamado a responder por uma dívida inclusive com um bem de família. Destaca-
se a penhorabilidade do bem de família em face da cobrança de impostos
prediais ou territoriais, de taxas ou de contribuições devidas em função do
imóvel, entendendo-se que esta última expressão não abarca apenas dívidas de
natureza tributária (abrange, inclusive, as dívidas condominiais, que são propter
rem ou ambulatórias).
Também é possível destacar a penhorabilidade do bem de família “para
execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou
pela entidade familiar”, sendo que esta exceção se aplica ainda que a hipoteca
não tenha sido registrada no cartório de registro de imóveis (STJ, REsp
1.455.554).
Quanto à exceção das dívidas de hipoteca, advirta-se que essa hipótese não
alcança a pequena propriedade rural dada em garantia. Isto porque as pequenas
propriedades rurais gozam de proteção e regime de impenhorabilidade
derivados diretamente do texto constitucional (art. 5.º, XXVI, da CF). Para o STJ,
a impenhorabilidade da pequena propriedade rural depende de: (I) a dimensão
da área ser qualificada como pequena, nos termos da lei de regência; e (II) a
propriedade ser trabalhada pelo agricultor e sua família (REsp 1.591.298).
Também se destaca a possibilidade de penhora do bem de família para saldar
obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação (súmula 549
do STJ).
ATENÇÃO MUDANÇA DE ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL: Em 2018 no
julgamento do RE 605709, o STF entendeu que “a exceção à impenhorabilidade
legal prevista no art. 3º, VII, da Lei n.º 8.009/90 não se aplica ao fiador de
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contrato de locação COMERCIAL”. Entretanto, em 2022, no RE 1307334/SP,
julgado sob a sistemática da Repercussão Geral, o STF fixou a tese do Tema 1127
da seguinte forma “É CONSTITUCIONAL a penhora de bem de família
pertencente a fiador de contrato de locação, seja residencial, seja
COMERCIAL.”
Além das hipóteses previstas no art. 3º da Lei 8.009/90, a impenhorabilidade do
bem de família não se aplica quando o devedor atua de má-fé para lesar seus
credores.
A proteção legal conferida ao bem de família pela Lei n. 8.009/90 não pode ser
afastada por renúncia do devedor ao privilégio, pois é princípio de ordem pública
(STJ. REsp 1595832-SC).
Não é possível a penhora do bem de família do DEVEDOR SOLIDÁRIO do
contrato de locação; isso porque devedor solidário não é o mesmo que fiador,
não se admitindo interpretação extensiva. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp
2118730-PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 14/11/2022 (Info 763).
BEM DE FAMÍLIA VOLUNTÁRIO OU CONVENCIONAL
Disciplinado pelo Código Civil (arts. 1.711 a 1.722), o bem de família voluntário
ou convencional decorre da autonomia da vontade, e não de imposição.
A instituição de bem de família convencional não afasta a proteção do bem de
família legal.
Pode ser instituído pelos cônjuges, pela entidade familiar ou por terceiro,
mediante escritura pública ou testamento, não podendo ultrapassar a reserva
um terço do patrimônio líquido das pessoas que fazem a instituição.
Devidamente instruído, o bem de família voluntário tem por objetivo determinar
a: (I) impenhorabilidade limitada do imóvel residencial; (II) inalienabilidade
relativa do imóvel residencial.
Existem apenas três exceções à impenhorabilidade decorrente do bem de família
convencional: (I) dívidas anteriores à sua constituição, de qualquer natureza; (II)
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DIREITO CIVIL
dívidas referentes a tributos relativos ao prédio (posteriores); (III) despesas de
condomínio (posteriores).
A impenhorabilidade conferida pelo bem de família convencional perdura até
que ambos os cônjuges faleçam, sendo que, se restarem filhos menores de 18
anos, ela permanece até que todos os filhos atinjam a maioridade. Se houver
filho maior de idade sujeito a curatela o bem de família não será extinto.
A dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem de família. Entretanto,
se a dissolução decorrer da morte de um dos cônjuges, o sobrevivente poderá
pedir a extinção do bem de família, caso constitua o único bem do casal.
O bem de família voluntário também pode ser extinto judicialmente, a
requerimento dos interessados, caso fique comprovada a impossibilidade de sua
manutenção nas condições em que foi instituído.