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7 Biosfera e Biodiversidade Cenes

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Disciplina |

Biosfera

DISCIPLINA
BIOSFERA E BIODIVERSIDADE

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Biosfera e Biodiversidade |

Sumário

Sumário
Sumário ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 2
1 Biosfera------------------------------------------------------------------------------------------------- 3
1.1 Ecossistemas ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 4
1.2 Os Biomas Brasileiros ------------------------------------------------------------------------------------------ 11
1.3 Vulcões ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 19
1.4 Rochas, Minerais e Solo --------------------------------------------------------------------------------------- 22
1.5 Relevo Brasileiro ------------------------------------------------------------------------------------------------ 31
1.6 A Ação do Ser Humano ---------------------------------------------------------------------------------------- 34
2 Biodiversidade --------------------------------------------------------------------------------------- 35
2.1 Biodiversidade Terrestre-------------------------------------------------------------------------------------- 40
2.2 Biodiversidade Marinha -------------------------------------------------------------------------------------- 44
2.3 Repartição dos Encargos e dos Benefícios --------------------------------------------------------------- 48

3 Referências ------------------------------------------------------------------------------------------- 52

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Biosfera

1 Biosfera
A vida na Terra é possível porque a luz do Sol chega até aqui. Graças a sua posição
em relação ao Sol, o nosso planeta recebe uma quantidade de energia solar que
permite a existência da água em estado líquido, e não apenas em estado sólido (gelo)
ou gasoso (vapor). A água é essencial aos organismos vivos. A presença de água
possibilita a vida das plantas e de outros seres capazes de produzir alimento a partir
da energia solar e permite também, indiretamente, a sobrevivência de todos os outros
seres vivos que se alimentam de plantas ou animais. Pela fotossíntese que há a
absorção de água e gás carbônico e liberação de oxigênio, a energia do Sol é
transformada em um tipo de energia presente nos açucares, que pode então ser
aproveitada por seres que realizam esse processo e por outros seres a eles
relacionados na busca por alimento.

A Terra pode ser dividida assim:

• Litosfera - a parte sólida formada a partir das rochas;


• Hidrosfera - conjunto total de água do planeta (seus rios, lagos,
oceanos);
• Atmosfera - a camada de ar que envolve o planeta;
• Biosfera - as regiões habitadas do planeta.

Biosfera é o conjunto de todos os ecossistemas da Terra. É um conceito da


Ecologia, relacionado com os conceitos de litosfera, hidrosfera e atmosfera. Incluem-
se na biosfera todos os organismos vivos que vivem no planeta, embora o conceito
seja geralmente alargado para incluir também os seus habitats.

A biosfera inclui todos os ecossistemas que estão presentes desde as altas


montanhas (até 10.000 m de altura) até o fundo do mar (até cerca de 10.000 m de
profundidade). Nesses diferentes locais, as condições ambientais também variam.
Assim, a seleção natural atua de modo diversificado sobre os seres vivos em cada
região. Sob grandes profundidades no mar, por exemplo, só sobrevivem seres
adaptados à grande pressão que a água exerce sobre eles e a baixa (ou ausente)
luminosidade. Já nas grandes altitudes montanhosas, sobrevivem seres adaptados a
baixas temperaturas e ao ar rarefeito. Na biosfera, portanto, o ar, a água, o solo, a luz
são fatores diretamente relacionados à vida.

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Biosfera

1.1 Ecossistemas
Existem uma grande diversidade de ecossistemas. Podemos dividi-los em:

• Ecossistemas naturais - bosques, florestas, desertos, prados, rios,


oceanos etc.;
• Ecossistemas artificiais - construídos pelo Homem: açudes,
aquários, plantações etc.;
• Ecossistemas terrestres
• Ecossistemas aquáticos

Quando, de qualquer ponto, observamos uma paisagem, percebemos a


existência de descontinuidades - margens do rio, limites do bosque, bordos dos
campos etc. que utilizamos frequentemente para delimitar vários ecossistemas mais
ou menos definidos pelos aspectos particulares da flora que aí se desenvolve. No
entanto, na passagem, por exemplo, de uma floresta para uma pradaria, as árvores
não desaparecem bruscamente; há quase sempre uma zona de transição, onde as
árvores vão sendo cada vez menos abundantes. Sendo assim, é possível, por falta de
limites bem definidos e fronteiras intransponíveis, considerar todos os ecossistemas
do nosso planeta fazendo parte de um enorme ecossistema chamado ecosfera. Deste
gigantesco ecossistema fazem parte todos os seres vivos que, no seu conjunto,
constituem a biosfera e a zona superficial da Terra que eles habitam e que representa
o seu biótopo. Ou seja:

Biosfera + zona superficial da terra = ecosfera

Mas assim como é possível associar todos os ecossistemas num só de enormes


dimensões - a ecosfera - também é possível delimitar, nas várias zonas climáticas,
ecossistemas característicos conhecidos por biomas, caracterizados por meio do fator
Latitude. Por sua vez, em cada bioma, é possível delimitar outros ecossistemas
menores.

Bioma é conceituado no mapa como um conjunto de vida (vegetal e animal)


constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em
escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de
mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria. Os principais biomas
do ambiente terrestre são:

• Tundra;

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Biosfera

• Taiga;
• Floresta;
• Caducifólia ou Floresta Decídua Temperada;
• Floresta Tropical ou Floresta Pluvial ou Floresta Latifoliada;
• Campos;
• Deserto;
• Savanas;

Tundra

Localiza-se no Círculo Polar Ártico. Compreende Norte do Alasca e do Canadá,


Groelândia, Noruega, Suécia, Finlândia, Sibéria.

Recebe pouca energia solar e pouca precipitação, esta ocorre geralmente sob
forma de neve e o solo permanece a maior parte do ano gelado. Durante a curta
estação quente (2 meses) ocorre o degelo da parte superior, rica em matéria orgânica,
permitindo o crescimento dos vegetais. O subsolo fica permanentemente congelado
(permafrost).

Figura - Tundra.

A Tundra caracteriza-se por apresentar poucas espécies capazes de suportar as


condições desfavoráveis. Os produtores são responsáveis por capim rasteiro e com
extensas áreas cobertas por camadas baixas de liquens e musgos. Existem raras
plantas lenhosas como os salgueiros, mas são excessivamente baixas (rasteiras).

As plantas completam o ciclo de vida num espaço de tempo muito curto:


germinam as sementes, crescem, produzem grandes flores (comparadas com o
tamanho das plantas), são fecundadas e frutificam, dispersando rapidamente as suas

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Biosfera

sementes. No verão a Tundra fica mais cheia de animais: aves marinhas, roedores,
lobos, raposas, doninhas, renas, caribus, além de enxames de moscas e mosquitos.
Bioma-brasileiro

Taiga

Também chamada de floresta de coníferas ou floresta boreal. Localiza-se no


norte do Alasca, Canadá, sul da Groelândia, parte da Noruega, Suécia, Finlândia e
Sibéria. Partindo-se da Tundra, à medida que se desloca para o sul a estação favorável
orna-se mais longa e o clima mais ameno. Em consequência disso a vegetação é mais
rica, surgindo a Taiga.

Figura - Taiga.

Na Taiga os abetos e os pinheiros formam uma densa cobertura, impedindo o


solo de receber luz intensa. A vegetação rasteira é pouco representada. O período de
crescimento dura 3 meses e as chuvas são poucas. Os animais são representados por
aves, alces, lobos, martas, linces, roedores etc.

Floresta Caducifólia ou Decídua Temperada

Predomina no hemisfério norte, leste dos Estados Unidos, oeste da Europa, leste
da Ásia, Coréia, Japão e partes da China. A quantidade de energia radiante é maior e
a pluviosidade atinge de 750 a 1.000 mm, distribuída durante todo o ano. Nítidas
estações do ano. Neste Bioma, a maioria dos arbustos e árvores perde as suas folhas

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no outono e os animais migram, hibernam ou apresentam adaptações especiais para


suportar o frio intenso.

As plantas são representadas por árvores dicotiledôneas como nogueiras,


carvalhos, faias. Os animais são representados por esquilos, veados, muitos insetos,
aves insetívoras, ursos, lobos etc.

Figura - Floresta Caducifólia.

Floresta Tropical, Pluvial ou Latifoliada

A floresta tropical situa-se na região intertropical. A maior área é a Amazônia, a


segunda nas Índias Orientais e a menor na Bacia do Congo (África). O suprimento de
energia é abundante e as chuvas são regulares e abundantes, podendo ultrapassar
3.000 mm anuais. A principal característica da floresta tropical é a sua estratificação. A
parte superior é formada por árvores que atingem 40 m de altura, formando um dossel
espesso de ramos e folhas. No topo a temperatura é alta e seca.

Figura -Floresta Tropical.

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Biosfera

Debaixo desta cobertura ocorre outra camada de árvores, que chegam a 20 m de


altura, outras a 10 m e 5 m de altura. Este estrato médio é quente, mais escuro e mais
úmido, apresentando pequena vegetação. O estrato médio caracteriza-se pela
presença de cipós e epífitas. A diversificação de espécies vegetais e animais é muito
grande.

Campos

É um Bioma que se caracteriza por apresentar um único estrato de vegetação. O


número de espécies é muito grande, mas representado por pequeno número de
indivíduos de cada espécie. A localização dos campos é muito variada: centro-oeste
dos Estados Unidos, centro-leste da Eurásia, parte da América do Sul (Brasil, Argentina)
e Austrália.

Figura - Campos.

Durante o dia a temperatura é alta, porém a noite a temperatura é muito baixa.


Muita luz e vento, pouca umidade. Predominam as gramíneas. Os animais,
dependendo da região, podem ser: antílopes americanos e bisões, roedores, muitos
insetos, gaviões, corujas etc.

Deserto

Os desertos apresentam localização muito variada e se caracterizam por


apresentar vegetação muito esparsa. O solo é muito árido e a pluviosidade baixa e
irregular, abaixo de 250 mm de água anuais. Durante o dia a temperatura é alta, mas
à noite ocorre perda rápida de calor, que se irradia para a atmosfera e a temperatura

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Biosfera

torna-se excessivamente baixa. As plantas que se adaptam ao deserto geralmente


apresentam um ciclo de vida curto. Durante o período favorável (chuvoso) germinam
as sementes, crescem, florescem, frutificam, dispersam as sementes e morrem.

As plantas perenes como os cactos apresentam sistemas radiculares superficiais


que cobrem grandes áreas. Estas raízes estão adaptadas para absorver as águas das
chuvas passageiras. O armazenamento de água é muito grande (parênquimas
aquíferos). As folhas são transformadas em espinhos e o caule passa a realizar
fotossíntese. Os consumidores são predominantemente roedores, obtendo água do
próprio alimento que ingerem ou do orvalho.

Figura - Deserto.

No hemisfério norte é muito comum encontrar-se, nos desertos, arbustos


distribuídos uniformemente, como se tivessem sido plantados em espaços regulares.
Este fato explica-se como um caso de amensalíssimo, isto é, os vegetais produzem
substâncias que eliminam outros indivíduos que crescem ao seu redor.

Savanas

Savana é nome dado a um tipo de cobertura vegetal constituída, em geral, por


gramíneas e árvores esparsas. A topografia geralmente é plana com clima tropical,
apresentando duas estações bem definidas, sendo uma chuvosa e uma seca. As
Savanas ocorrem, principalmente, na zona intertropical do planeta, por esse motivo
recebe uma enorme quantidade de luz solar.

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Biosfera

A espécie de savana mais conhecida é a africana, no entanto, há outras: savanas


tropicais (africana), savanas subtropicais, savanas temperadas, savanas mediterrâneas,
savanas pantanosas e savanas montanhosas.

As savanas do tipo tropical e subtropical são encontras em todos os continentes,


apresentando duas estações bem definidas (uma quente e outra chuvosa). Os solos
dessas áreas são relativamente férteis, neles se fixam gramíneas, geralmente
desprovidas de árvores. A África possui savanas com esses aspectos, com destaque
para as do Serengueti. Savanas temperadas são identificadas em médias latitudes e
em todos os continentes, são influenciadas pelo clima temperado, cujo verão é
relativamente úmido e o inverno seco.

A vegetação é constituída por gramíneas.

Savanas mediterrâneas são vegetações que ocorrem em regiões de clima


mediterrâneo. Nessas áreas o solo é pobre, germinando sobre a superfície arbustos e
árvores de pequeno porte, essa composição corre sério risco de extinguir diante da
constante intervenção humana, principalmente pela extração de lenha, criação de
animais, agricultura, urbanização etc.

Savanas pantanosas são composições vegetativas que ocorrem tanto em regiões


de clima tropical como subtropical dos cinco continentes. Esse tipo de savana sofre
inundações periódicas.

Savanas montanhosas é um tipo de vegetação que ocorre fundamentalmente em


zonas alpinas e subalpinas em distintos lugares do globo, em razão do isolamento
geográfico, abriga espécies endêmicas.

Figura – Savanas

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Biosfera

1.2 Os Biomas Brasileiros


Um bioma é formado por todos os seres vivos de uma determinada região, cuja
vegetação tem bastante similaridade e continuidade, com um clima mais ou menos
uniforme, tendo uma história comum em sua formação. Por isso tudo sua diversidade
biológica também é muito parecida.

O Brasil possui enorme extensão territorial e apresenta climas e solos muito


variados. Em função dessas características, há uma evidente diversidade de biomas,
definidos sobretudo pelo tipo de cobertura vegetal.

Figura - Bioma Brasileiro

Amazônia

"Pulmão do Mundo", "Planeta Água", "Inferno Verde", são alguns dos chavões
mundialmente conhecidos a respeito da Amazônia. Está sempre em evidência em
qualquer ponto da aldeia globalizada. Interessa a todos. Uma das últimas regiões do
planeta que ainda seduzem pela exuberância de uma natureza primitiva, hoje
absolutamente ameaçada por sua devastação. A Amazônia guarda a maior
diversidade biológica do planeta – região mega diversa - e escoa 20% de toda água
doce da face da Terra. Seu início se deu há 12 milhões de anos atrás, quando os Andes
se elevaram e fecharam a saída das águas para o Pacífico. Formou-se um fantástico
Pantanal, quase um mar de água doce, coberto só por águas. Depois, com tantos
sedimentos, a crosta terrestre tornou a emergir e, aos poucos, formou-se o que é hoje
a Amazônia.

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Biosfera

Figura - Amazônia.

A Amazônia ocupa 4.196.943 km2, cerca de 49,29% do território brasileiro. Ocupa


a totalidade de cinco unidades da federação (Acre, Amapá, Amazonas, Pará e
Roraima), grande parte de Rondônia (98,8%), mais da metade de Mato Grosso (54%),
além de parte de Maranhão (34%) e Tocantins (9%). A área desmatada da Amazônia
já atinge 16,3% de sua totalidade. Hoje cerca de 17 milhões de brasileiros vivem no
bioma Amazônia, sendo que cerca de 70% no meio urbano.

Dos seis milhões de quilômetros quadrados de Floresta Amazônica, 60% estão


localizados em território brasileiro. No Brasil, a Amazônia se estende por nove estados,
ocupando 50% do território nacional. Reconhecida por ser a maior floresta tropical do
mundo e por sua exuberante riqueza em flora e fauna, esse bioma abriga 20% das
espécies de pássaros, 20% das espécies de plantas e 10% das espécies de mamíferos
de todo o mundo. A Amazônia mantém a maior população contínua de onça-pintada
na natureza, sendo por essa razão considerada como área prioritária para a
conservação da espécie.

Cerrado

O Cerrado é o mais antigo bioma brasileiro. Fala-se que sua idade é de


aproximadamente 65 milhões de anos. É tão velho que 70% de sua biomassa está
dentro da terra. Por isso, se diz que é uma “floresta de cabeça para baixo”. Por isso,
para alguns especialistas, o Cerrado não permite qualquer revitalização. Uma vez
devastado, devastado para sempre.

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Biosfera

Figura- Cerrado

O Cerrado é ainda a grande caixa d’água brasileira. É do Planalto Central que se


alimentam bacias hidrográficas que correm para o sul, para o norte, para o oeste e
para o leste.

O Cerrado guarda ainda uma fantástica biodiversidade, porém, 57% do Cerrado


já foram totalmente devastados e a metade do que resta já está muito danificada. Sua
devastação é muito veloz, chegando a três milhões de hectares por ano. Nesse ritmo,
estima-se que em 30 anos já não existirá. A partir da década de 70, sob o embalo do
regime militar, essa foi a grande fronteira agrícola para criação de gado e depois para
o plantio de soja. A devastação de sua cobertura vegetal está comprometendo suas
nascentes, rios e riachos. Ao se eliminar a vegetação, também se está eliminando os
mananciais. Um rio como o São Francisco tem 80% de suas águas com origem no
Cerrado. Hoje se fala que é necessária uma moratória para se preservar o que resta
do Cerrado.

O Bioma Cerrado ocupa 2.036.448 Km2, ou seja, 23,92% do território brasileiro.


Ocupa a totalidade do Distrito Federal, mais da metade dos estados de Goiás (97%),
Maranhão (65%), Mato Grosso do Sul (61%), Minas Gerais (57%) e Tocantins (91%),
além de porções de outros seis estados. Sua população em 1991 era estimada em 12,1
milhão de habitantes.

A extensa região central do Brasil compõe-se de um mosaico de tipos de


vegetação, solo, clima e topografia bastante heterogêneos. O Cerrado é a segunda
maior formação vegetal brasileira, superado apenas pela Floresta Amazônica. São 2
milhões de km2 espalhados por 10 estados, ou 23,1% do território brasileiro. O
Cerrado é uma savana tropical na qual a vegetação herbácea coexiste com mais de

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420 espécies de árvores e arbustos esparsos. O solo, antigo e profundo, ácido e de


baixa fertilidade, tem altos níveis de ferro e alumínio.

Este bioma também se caracteriza por suas diferentes paisagens, que vão desde
o cerradão (com árvores altas, densidade maior e composição distinta), passando pelo
cerrado mais comum no Brasil central (com árvores baixas e esparsas), até o campo
cerrado, campo sujo e campo limpo (com progressiva redução da densidade arbórea).
Ao longo dos rios há fisionomias florestais, conhecidas como florestas de galeria ou
matas ciliares. Essa heterogeneidade abrange muitas comunidades de mamíferos e de
invertebrados, além de uma importante diversidade de microrganismos, tais como
fungos associados às plantas da região.

O Cerrado tem a seu favor o fato de ser cortado por três das maiores bacias
hidrográficas da América do Sul (Tocantins, São Francisco e Prata), favorecendo a
manutenção de uma biodiversidade surpreendente. Estima-se que a flora da região
possua 10 mil espécies de plantas diferentes (muitas usadas na produção de cortiça,
fibras, óleos, artesanato, além do uso medicinal e alimentício). Isso sem contar as 759
espécies de aves que se reproduzem na região, 180 espécies de répteis, 195 de
mamíferos, sendo 30 tipos de morcegos catalogados na área. O número de insetos é
surpreendente: apenas na área do Distrito Federal há 90 espécies de cupins, mil
espécies de borboletas e 500 tipos diferentes de abelhas e vespas.

O Cerrado tem um clima tropical com uma estação seca pronunciada. A


topografia da região varia entre plana e suavemente ondulada, favorecendo a
agricultura mecanizada e a irrigação. Estudos recentes indicam que apenas cerca de
20% do Cerrado ainda possui a vegetação nativa em estado relativamente intacto.

O Cerrado cobre 25% do território nacional e é o segundo maior bioma brasileiro,


atrás apenas da Amazônia. Conhecido como a savana brasileira, é composto por
hábitats variando desde campos limpos até matas fechadas. A intensa exploração
agropecuária no Cerrado, que iniciou na década de 60, ocasionou a perda e
fragmentação de habitats naturais. Atualmente estima-se que 80% da área deste
bioma já se encontra sob alteração humana.

O Cerrado é uma das regiões de maior diversidade do planeta. Por estas


particularidades e devido à grande pressão antrópica, o Cerrado é considerado como
uma área crítica e de prioridade para a conservação no mundo.

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Mata Atlântica

Já foi a grande floresta costeira brasileira. Ia do Rio Grande do Norte ao Rio


Grande do Sul. Em alguns lugares adentrava o continente, como no Paraná, onde
ocupava 98% do território Paranaense. Era também o mais rico bioma brasileiro em
biodiversidade. Ainda é em termos de Km2. Hoje é o mais devastado de nossos
biomas. Restam aproximadamente 7% de sua cobertura vegetal. São manchas
isoladas, muitas vezes sem comunicação entre si. Há quem fale em apenas 5%.

Figura- Mata Atlântica

A Mata Atlântica é o exemplo mais contundente do modelo desenvolvimento


predatório desse país. Foi ao longo dele que se saqueou o pau Brasil e depois se
instalaram os canaviais, tantas outras monoculturas, além do complexo industrial.
Quem vive onde já foi esse bioma muitas vezes nem conhece seus vestígios, tamanha
sua devastação. O Bioma Mata Atlântica ocupa 1.110.182 km 2, ou seja, 13,04% do
território nacional. Cobre inteiramente três estados - Espírito Santo, Rio de Janeiro e
Santa Catarina - e 98% do Paraná, além de porções de outras 11 unidades da
federação. Aproximadamente 70% da população brasileira vivem na área desse bioma,
perto de 120 milhões de pessoas. Por mais precarizado que esteja, é desse bioma que
essa população depende para beber água e ter um clima ainda ameno.

Historicamente, a Mata Atlântica acompanhava todo o litoral brasileiro, do Rio


Grande do Sul ao Rio Grande do Norte. Porém, em função da ocupação humana e o
desmatamento, a partir do século XX, este bioma foi drasticamente reduzido, sendo
hoje considerado uma das florestas tropicais mais ameaçadas do mundo. A Mata
Atlântica engloba as regiões mais desenvolvidas do país, como o estado de São Paulo
e do Rio de Janeiro e, consequentemente, encontra-se sob alta pressão antrópica,
restando apenas 7% de sua cobertura florestal na forma original. Ao mesmo tempo, a

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Biosfera

Mata Atlântica apresenta alto grau de endemismo, ou seja, várias espécies ocorrem
somente neste bioma, como, por exemplo, o mico-leão dourado. Ainda, a Mata
Atlântica abriga hoje, 383 dos 633 animais ameaçados de extinção no Brasil, de acordo
com o IBAMA. Em função do alto nível de fragmentação e a alta densidade humana,
a situação de conservação da onça-pintada neste bioma é o mais crítico no país.

Caatinga

Há aproximadamente 260 milhões de anos, toda região onde hoje está o Semi-
árido foi fundo de mar, mas o bioma caatinga é muito recente. Há apenas dez mil anos
atrás era uma imensa floresta tropical, como a Amazônia. Para conhecer bem esse
bioma do Semi-árido brasileiro, basta fazer uma visita ao Sítio Arqueológico da Serra
da Capivara, no sul do Piauí. Ali estão os painéis rupestres, com desenhos de preguiças
enormes, aves gigantescas, tigres-dente-de-sabre, cavalos selvagens e tantos outros.
No Museu do Homem Americano estão muitos de seus fósseis. Com o fim da era
glacial, há dez mil anos atrás, também acabou a floresta tropical. Ficou o que é hoje a
nossa Caatinga.

Figura –Caatinga

A Caatinga ocupa oficialmente 844.453 Km2 do território brasileiro. Hoje fala-se


em mais de um milhão de Km2. Estende-se pela totalidade do estado do Ceará (100%)
e mais de metade da Bahia (54%), da Paraíba (92%), de Pernambuco (83%), do Piauí
(63%) e do Rio Grande do Norte (95%), quase metade de Alagoas (48%) e Sergipe
(49%), além de pequenas porções de Minas Gerais (2%) e do Maranhão (1%). A
Caatinga é muito rica em biodiversidade, tanto vegetal quanto animal, sobretudo de
insetos. É por isso que o sul do Piauí, por exemplo, é muito favorável à criação de

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Biosfera

abelhas. Nos períodos sem chuva, cerca de 8 meses por ano, ela “adormece” e suas
folhas caem. Depois, com a primeira chuva, ela como que ressuscita. É a essa lógica
que seus habitantes têm que se adaptar. Portanto, aqueles que ainda acham essa
região inviável, ou a têm como um deserto, demonstram um profundo
desconhecimento da realidade brasileira. Cerca de 28 milhões de brasileiros habitam
esse bioma, sendo que aproximadamente 38% vivem no meio rural. Essa população
tem um dos piores IDHs de todo o planeta.

O bioma Semiárido da Caatinga, localizado no nordeste do Brasil, se caracteriza


por uma vegetação adaptada ao clima seco e regimes irregulares de chuvas, com uma
cálida e marcante estação seca. Com os seus 800.000 km2 de extensão, e cobrindo
aproximadamente 10% do território nacional, a Caatinga é o terceiro maior bioma
brasileiro e o único endêmico do país. Isto quer dizer que o seu patrimônio biológico
não é encontrado em nenhum outro lugar do planeta. Os 36 parques e outras áreas
protegidas da Caatinga correspondem a 7,1% da sua área total, mas somente 1,21%
correspondem a áreas de proteção integral.

Os fatores climáticos, unidos a uma baixa produtividade do solo, restringem


atividades pecuárias ou agrícolas extensivas, sendo a agricultura de subsistência em
pequena escala a mais frequente. Com alto índice de pobreza e com o habitat nativo
extremamente fragmentado (Castelletti et al., 2004), a caça de subsistência da fauna
selvagem exercida pelos moradores locais parece ser a maior ameaça a muitas
espécies presas e aos predadores que habitam este bioma.

Pampa

O Pampa gaúcho é bastante diferente dos demais biomas brasileiros. Dominado


por gramíneas, com poucas árvores, sempre foi considerado mais apropriado para a
criação do gado. Entretanto, em 2004 foi reconhecido pelo Ministério do Meio
Ambiente como um bioma. Na verdade, sua biodiversidade havia sido ignorada por
quase trezentos anos. Foi a porta de entrada para o gado através da região sul. A outra
foi pelo vale do São Francisco, através dos currais de gado.

O único estado brasileiro com esse bioma é o Rio Grande do Sul. Ocupa 63% do
território do Rio Grande. Ele também se estende pelo Uruguai e Argentina. Agora o
Pampa sofre uma ameaça muito mais grave: a introdução do monocultivo e Pinus e
Eucaliptos. Mais uma vez, portanto, se propõe um tipo de desenvolvimento
econômico inadequado às características de um bioma.

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Biosfera

Figura - Pampa

Pantanal

O Pantanal sugere animais, rios, peixes, matas e qualquer coisa ainda parecida
com o Paraíso. É um bioma geologicamente novo. O leito do rio Paraguai ainda está
em formação. “O Pantanal é a maior planície inundável do mundo e apresenta uma
das maiores concentrações de vida silvestre da Terra. Situado no coração da América
do Sul, o Pantanal se estende pelo Brasil, Bolívia e Paraguai com uma área total de
210,000 km2. Aproximadamente 70% de sua extensão encontra-se em território
brasileiro, nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul”.

No Brasil o Pantanal ocupa 150.355 Km2, ou seja, 1,76% do nosso território. Há


opinião que 80% do Pantanal encontra-se bem conservado. Entretanto, as queimadas,
a derrubada das árvores, o assoreamento dos rios ameaça sua existência. As últimas
reportagens de TVs falam da intensa evaporação de suas águas e o risco de tornar-se
um deserto. O que mais ameaça e agride esse bioma são as pastagens, queimadas e
as entradas do agronegócio. Foi para impedir projeto de cana no Pantanal que
Anselmo deu sua vida. A forma como a criação de gado teria se adaptado ao ambiente
seria uma das responsáveis. Entretanto, para outros, os problemas ambientais do
Pantanal passam também pela criação de gado.

O desafio é manter suas características e também manter sua população em


condições dignas de vida. O caminho do turismo é uma possibilidade real e também
um perigo. A pesca esportiva predatória é um exemplo. “Pelo seu estado de
conservação, sua rica biodiversidade e as particularidades de seu ecossistema, o
Pantanal é considerado uma das 37 últimas Grandes Regiões Naturais da Terra”.
(Idem)

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Biosfera

O Baixo Pantanal tem uma população de 130 mil pessoas.

O Pantanal, com seus 210.000 km2, é a maior planície inundável do mundo. Este
bioma é reconhecido como Reserva da Biosfera e Patrimônio Natural da Humanidade
pela Unesco. O Pantanal engloba três países: a Bolívia, o Paraguai e o Brasil, sendo
que 140.000 km2 encontram-se em território brasileiro, no estado de Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul.

Figura - Pantanal.

Sua característica marcante compreende às inundações periódicas que


influenciam diretamente os processos ecológicos e sócio-econômicos da região e,
historicamente, tem limitado a total ocupação de sua área pela agricultura e pecuária.
O Pantanal representa hoje um dos ambientes maios ricos em biodiversidade do
Brasil, além de ser um importante polo eco-turístico. Pelo menos 2.000 espécies de
plantas, 650 espécies de aves, 260 espécies de peixes, 40 espécies de anfíbios, 177
espécies de répteis e 124 de mamíferos podem ser encontrados no Pantanal.

No Brasil, depois da Amazônia, o Pantanal representa o maior refúgio contínuo


para a onça-pintada e suas presas. No entanto, o abate ilegal de onças-pintadas em
retaliação aos prejuízos que causam nos rebanhos domésticos representa uma
ameaça a esta população.

1.3 Vulcões
O que acontece se você sacudir bem uma garrafa de refrigerante e depois abrir?
A pressão do gás fará o líquido transbordar da garrafa. Quanto maior a pressão dentro

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da garrafa, maior a força com que o líquido vai transbordar. Algo parecido ocorre nos
vulcões. As rochas derretidas no interior da Terra (magma) são expelidas, juntamente
com gases e vapor de água, através de falhas na crosta.

Os vulcões podem surgir de várias maneiras. Muitos aparecem nas bordas das
placas tectônicas. Pode acontecer, por exemplo, que, depois de um choque, parte de
uma placa fique embaixo da outra e derreta. Forma-se, assim, grandes reservatórios
subterrâneos de gases e magma incandescente. O magma pode subir até perto da
superfície, entrar em contato com lençóis de água e formar vapor. Se a sua pressão
aumentar muito, o vapor acaba rompendo a superfície e libera o magma, que, do lado
de fora do vulcão, passa a se chamar de lava. Portanto, além de lava e cinzas, o vulcão
expele vapor de água e vários gases, como o gás carbônico e gases de enxofre.

Figura - Esquema da erupção de um vulcão.

Alguns vulcões entram em erupção só por alguns dias ou semanas. Outros


maiores podem entrar em erupção milhares de vezes ao longo de centena de milhares
de anos ou até por muito mais tempo. Apesar da sua incrível capacidade de
destruição, os vulcões tornam o solo ao seu redor extremamente fértil, já que as cinzas
e a lava, depois que esfriam funcionam como adubo. Esse é um motivo dos quais
populações inteiras se instalam à volta dos vulcões, apesar do perigo. Além disso,
muitos vulcões derramam lava aos poucos, sem explosões. A lava forma também um
tipo de rocha, conhecida como rocha ígnea.

O grande desafio para quem estuda os vulcões (os vulcanólogos) é prever


quando ocorrerão as erupções. Geralmente antes da erupção, há tremores de terra e
emissão de gases de enxofre, que têm um cheiro típico (parecido ao de ovo podre).
No mundo há cerca de 1 300 vulcões que podem entrar em erupção a qualquer
momento, mas apenas cerca de 20 ou 30 entram em atividade por ano. Alguns

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vulcões, como o monte Kilimajaro, na África, têm pouca probabilidade de entrar em


erupção de novo: são os vulcões extintos.

Vulcões em Ação

Ao longo da história da humanidade, alguns vulcões ficaram famosos pelo seu


poder de destruição. No ano de 79, as cidades de Pompéia e Herculano, na Itália,
foram soterradas por uma camada de vários metros de lava e cinzas lançadas pelo
vulcão Vesúvio. Milhares de pessoas morreram soterradas ou mesmo intoxicadas
pelos gases do vulcão. As ruínas de Pompéia foram desenterradas em 1738 e se
constatou que muitos objetos da cidade estavam conservados em boas condições.
Esse vulcão tornou-se célebre porque suas cinzas acabaram moldando o corpo de
muitas vítimas. Aplicando-se gesso nesses moldes, foi possível criar reproduções
dessas pessoas, da forma como elas estavam no momento do acidente.

Em 1883, um vulcão da ilha de Krakatoa na Indonésia, provocou tamanha


explosão, que ondas de até 40 metros de altura espalharam-se e devastaram cidades
e aldeias, matando mais de 36 mil pessoas. As cinzas, cobriram uma área de mais de
800 mil quilômetros quadrados. A poeira lançada na atmosfera se espalhou por toda
a Terra e bloqueou parte dos raios do Sol, provocando uma queda de temperatura de
cerca de meio grau em 1884. Só depois de cinco anos, quando toda a poeira tinha se
depositado, o clima do planeta retornou ao normal. Mais recentemente, em 1991, o
Pinatubo, nas Filipinas, também lançou uma nuvem de pó e cinzas tão grande que de
novo afetou o clima do planeta naquele ano.

Vulcões no Brasil

O Brasil está no centro de uma grande placa tectônica, a Placa Sul-Americana,


portanto, afastado dos limites dessa placa. O limite leste da Placa Sul-Americana está
posicionado no fundo do oceano Atlântico, próximo da metade da distância entre o
Brasil e a África, enquanto o limite oeste fica junto ao litoral oeste da América Latina.
O distanciamento dos limites da Placa Sul-Americana é o motivo pelo qual não há
vulcões atualmente no Brasil. Porém, em épocas geológicas passadas, houve intensa
atividade vulcânica, hoje não existem mais vulcões ativos no Brasil. Nosso país foi
palco de diversas atividades vulcânicas, a mais recente ocorreu na Era Cenozóica
(Terciário), levando à formação das nossas ilhas oceânicas, tais como Trindade,
Fernando de Noronha, Penedo de São Pedro e São Paulo.

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Na Era Mesozóica (entre 251 milhões e 65 milhões de anos atrás) a atividade


vulcânica no Brasil foi muito mais intensa, destacando-se as seguintes ocorrências:
Poços de Caldas e Araxá (MG), São Sebastião (SP), Itatiaia e Cabo Frio (RJ) E Lajes (SC);
Na região Sul houve um dos maiores derrames basálticos do mundo, abrangendo uma
área de 1 milhão de km2, que vai desde o Estado de São Paulo até o do Rio Grande
do Sul, onde houve diversas manifestações que podem ser observados na região de
Torres, como as belíssimas falésias basálticas; Os derrames basálticos que ocorreram
no Planalto Meridional deram origem ao fértil solo terra roxa; A Bacia Amazônica
também foi afetada por atividades vulcânicas em algumas áreas.

1.4 Rochas, Minerais e Solo


A crosta terrestre possui várias camadas compostas por três tipos de rochas que
são formadas pela mistura de diferentes materiais. Essas rochas podem ser
magmáticas, também chamadas de ígneas, sedimentares ou metamórficas.

Rochas Magmáticas ou Ígneas

As rochas magmáticas ou ígneas (ígneo vem do latim e significa "fogo") são


originadas do interior da Terra, onde são fundidas em altíssima temperatura. Nas
erupções de vulcões, essas rochas são lançadas do interior da Terra, para a superfície.
Sofrem, então, resfriamento rápido e se solidificam. Outras vezes, ficam nas
proximidades da superfície, onde se resfriam lentamente e, também, se solidificam.

O basalto é uma rocha escura muito utilizada na pavimentação de calçadas, ruas


e estradas e são advindas do resfriamento rápido do magma.

A pedra-pomes, gerada após rápido resfriamento em contato com a água


formando uma rocha cheia de poros ou buracos devido à saída de gases. Parece uma
"espuma endurecida".

O granito (vem do latim granum, que significa "grão’) se forma no interior da


crosta terrestre por resfriamento lento e solidificação do magma. É muito utilizado em
revestimento de pisos, paredes e pias. O granito é formado por grãos de várias cores
e brilhos: são os minerais.

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Rochas Sedimentares

A rocha é formada por camadas (ou estratos). Esse tipo de rocha é chamado de
rocha sedimentar e se forma a partir de mudanças ocorridas em outras rochas. Chuva
vento, água dos rios, ondas do mar: tudo isso vai, aos poucos, fragmentando as rochas
em grãos de minerais. Pouco a pouco, ao longo de milhares de anos, até o granito
mais sólido se transforma em pequenos fragmentos. Esse processo é chamado de
intemperismo.

Os fragmentos de rochas são transportados pelos ventos ou pela água da chuva


até os rios, que, por sua vez, os levam para o fundo de lagos e oceanos. Lá os
fragmentos vão se depositando em camadas. É assim que se formam, por exemplo,
terrenos cobertos de areia, como as praias.

Esses fragmentos ou sedimentos vão se acumulando ao longo do tempo. As


camadas de cima exercem pressão sobre as camadas de baixo, compactando-as. Essa
pressão acaba por agrupar e cimentar os fragmentos e endurece a massa formada. É
assim que surgem as rochas sedimentares. Tudo isso, não se esqueça, leva milhares
de anos.

Desse modo, a areia da praia transforma-se, lentamente, em uma rocha


sedimentar chamada arenito. Sedimentos de argila transforma-se em argilito. As
camadas vão cobrindo também restos de plantas e animais. Por isso é muito comum
encontrar restos ou marcas de animais e plantas em rochas sedimentares: o animal ou
planta morre e é coberto por milhares de grãos de minerais. Os restos ou marcas de
organismos antigos são chamados de fósseis. Analisando os fósseis, os cientistas
podem estudar como era a vida no passado em nosso planeta.

O arenito se forma quando rochas como o granito se desintegram aos poucos


pela ação dos ventos e das chuvas. Os grãos de quartzo dessas rochas formam a areia.
Areias e dunas de areia, porém não são rochas: são fragmentos de rochas. A areia
pode se depositar no fundo do mar ou em depressões e ficar submetida a um
aumento de pressão ou temperatura. Assim cimentada e endurecida, forma o arenito
- um tipo de rocha sedimentar. O arenito é usado em pisos.

Ademais, o acúmulo de esqueletos, conchas e carapaças de animais aquáticos


ricos em carbonato de cálcio, que é um tipo de sal, pode formar outra variedade de
rocha sedimentar, o calcário. O calcário também se forma a partir de depósitos de sais
de cálcio na água. O calcário é utilizado na fabricação de cimento e de cal. A cal serve

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para pintura de paredes ou para a fabricação de tintas. A cal ou o próprio calcário


podem ser utilizados para neutralizar a acidez de solos.

Rochas Metamórficas

Você já viu pias, pisos ou esculturas de mármore? O mármore é uma rocha


formada a partir de outra rocha, o calcário. É um exemplo de rocha metamórfica.

As rochas metamórficas são assim chamadas porque se originam da


transformação de rochas magmáticas ou sedimentares por processos que alteram a
organização dos átomos de seus minerais. Surge, então, uma nova rocha, com outras
propriedades e, às vezes, com outros minerais.

Muitas rochas metamórficas se formam quando rochas de outro tipo são


submetidas a intensas pressões ou elevadas temperaturas. Quando, por exemplo, por
mudanças ocorridas na crosta, uma rocha magmática é empurrada para regiões mais
profundas e de maior pressão e temperatura, alterando a organização dos minerais.

Outra rocha metamórfica é a ardósia, originada da argila e usada em pisos. Pias


e pisos também podem ser feitos de gnaisse, uma rocha metamórfica originada
geralmente do granito. O Corcovado e o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, e a maioria
das rochas da serra do Mar também são de gnaisses.

Gemas ou Pedras Preciosas

As gemas são rochas muito duras. São riquezas existentes no subsolo,


comumente conhecidas como pedras preciosas. As jazidas de esmeralda, rubi,
diamante e outras são raras por isso essas pedras têm grande valor comercial. No
subsolo, também são encontradas jazidas de metais, por exemplo, ouro, ferro,
manganês, alumínio, zinco, cobre, chumbo. Há ainda as jazidas de material de origem
orgânica, conhecidas como combustíveis fósseis - formadas a partir da transformação
de restos de plantas e animais. O carvão-de-pedra (hulha) e o petróleo são exemplos
desses combustíveis, recursos energéticos, ou seja, substâncias utilizadas na produção
de energia.

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O ciclo das rochas

Você viu que as rochas magmáticas são formadas tanto pela cristalização do
magma no interior da terra como pela lava liberada dos vulcões. Mas as rochas
magmáticas - e as metamórficas - podem ser quebradas em pequenos pedaços ou
fragmentos que se acumulam em camadas de sedimentos e acabam se
transformando, por compressão, em rochas sedimentares. Finalmente, você viu
também que as rochas sedimentares e as magmáticas, sob a ação de altas
temperaturas e pressão, podem se transformar em rochas metamórficas.

Mas, se uma rocha metamórfica for derretida, ela pode novamente se tornar uma
rocha magmática! Essas mudanças formam, portanto, um ciclo em que uma rocha, ao
longo de muito tempo, pode se transformar em outra. É o ciclo das rochas.

Figura - Ciclo das rochas

Como o Solo se Formou

A camada de rochas na superfície da Terra está, há milhões de anos, exposta a


mudanças de temperatura e à ação da chuva, do vento, da água dos rios e das ondas
do mar. Tudo isso vai, aos poucos, fragmentando as rochas e provocando
transformações químicas. Foi assim, pela ação do intemperismo, que, lentamente, o
solo se formou. E é dessa mesma maneira que está continuamente se remodelando.

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Os seres vivos também contribuem para esse processo de transformação das


rochas em solo. Acompanhe o esquema abaixo:

Figura - Ciclo das rochas

A chuva e o vento desintegram as rochas e pedaços de liquens ou sementes são


levados pelo vento para uma região sem vida. A instalação e a reprodução desses
organismos vão aos poucos modificando o local. Os liquens, por exemplo, produzem
ácidos que ajudam a desagregar as rochas. As raízes de plantas que crescem nas
fendas das rochas irão contribuir para isso.

À medida que morrem, esses organismos enriquecem o solo em formação com


matéria orgânica e, quando ela se decompõe, o solo se torna mais rico em sais
minerais. Outras plantas, que necessitam de mais nutrientes para crescer, podem
então se instalar no local. Começa a ocorrer o que se chama de sucessão ecológica:
uma série de organismos se instala até que a vegetação típica do solo e do clima da
região esteja formada.

O que Existe no Solo

Há muitos tipos de solo. A maioria deles é composta de areia e argila, vindas da


fragmentação das rochas, e de restos de plantas e animais mortos (folhas, galhos,
raízes etc.). Esses restos estão sempre sendo decompostos por bactérias e fungos, que
produzem uma matéria orgânica escura, chamadas húmus. À medida que a
decomposição continua, o húmus vai sendo transformado em sais minerais e gás
carbônico. Ao mesmo tempo, porém, mais animais e vegetais se depositam no solo e
mais húmus é formado.

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A decomposição transforma as substâncias orgânicas do húmus em substâncias


minerais, que serão aproveitadas pelas plantas. Desse modo, a matéria é reciclada: a
matéria que formava o corpo dos seres vivos acabará fazendo novamente parte deles
depois de decomposta.

Vemos, então, que o solo é formado por uma parte mineral, que se originou da
desagregação das rochas, e por uma parte orgânica, formada pelos restos dos
organismos mortos e pela matéria orgânica do corpo dos seres vivos que está
sofrendo decomposição. Vivem ainda no solo diversos organismos, inclusive as
bactérias e os fungos, responsáveis pela decomposição da matéria orgânica dos seres
vivos.

Nos espaços entre os fragmentos de rochas, há ainda água e ar - ambos


importantes para o desenvolvimento das plantas. Por baixo da camada superficial do
solo encontramos fragmentos de rochas. Quanto maior a profundidade em relação ao
solo, maiores são também os fragmentos de rocha.

O ser humano retira recursos minerais das camadas abaixo do solo. Parte da água
da chuva, por exemplo, se infiltra no solo, passando entre os espaços dos grãos de
argila e de areia. Outra parte vai se infiltrando também nas rochas sedimentares e em
fraturas de rochas, até encontrar camadas de rochas impermeáveis. Formam-se assim
os chamados lençóis de água ou lençóis freáticos, que abastecem os poços de água.

Finalmente, na camada mais profunda da crosta terrestre, encontramos a rocha


que deu origem ao solo - a rocha matriz.

Tipos de Solo

O tipo de solo encontrado em um lugar vai depender de vários fatores: o tipo de


rocha matriz que o originou, o clima, a quantidade de matéria orgânica, a vegetação
que o recobre e o tempo que se levou para se formar.

Em climas secos e áridos, a intensa evaporação faz a água e os sais minerais


subirem. Com a evaporação da água, uma camada de sais pode depositar-se na
superfície do solo, impedindo que uma vegetação mais rica se desenvolva.

Já em climas úmidos, com muitas chuvas, á água pode se infiltrar no solo e


arrastar os sais para regiões mais profundas. Alguns tipos de solo secam logo depois
da chuva, outros demoram para secar. Por que isso acontece? E será que isso
influencia na fertilidade do solo?

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Solos arenosos são aquele que têm uma quantidade maior de areia do que a
média (contêm cerca de 70% de areia). Eles secam logo porque são muito porosos e
permeáveis: apresentam grandes espaços (poros) entre os grãos de areia. A água
passa, então, com facilidade entre os grãos de areia e chega logo às camadas mais
profundas. Os sais minerais, que servem de nutrientes para as plantas, seguem junto
com a água. Por isso, os solos arenosos são geralmente pobres em nutrientes
utilizados pelas plantas.

Os chamados solos argilosos contêm mais de 30% de argila. Esta é formada por
grãos menores que os da areia. Além disso, eles estão bem ligados entre si, retendo
água e sais minerais em quantidade necessária para a fertilidade do solo e o
crescimento das plantas. Mas se o solo tiver muita argila, pode ficar encharcado, cheio
de poças após a chuva. A água em excesso nos poros do solo compromete a circulação
de ar, e o desenvolvimento das plantas fica prejudicado. Quando está seco e
compacto, sua porosidade diminui ainda mais, tornando-o duro e ainda menos
arejado.

A terra preta, também chamada de terra vegetal, é rica em húmus. Esse solo,
chamado solo humífero, contém cerca de 10% de húmus e é bastante fértil. O húmus
ajuda a reter água no solo, torna-se poroso e com boa aeração e, através do processo
de decomposição dos organismos, produz os sais minerais necessários às plantas.

Figura - Solo humífero

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Os solos mais adequados para a agricultura possuem uma certa proporção de


areia, argila e sais minerais utilizados pelas plantas, além do húmus. Essa composição
facilita a penetração da água e do oxigênio utilizado pelos microrganismos. São solos
que retêm água sem ficar muito encharcados e que não são muito ácidos.

Terra roxa é um tipo de solo bastante fértil, caracterizado por ser o resultado de
milhões de anos de decomposição de rochas de arenito-basáltico originadas do maior
derrame vulcânico que este planeta já presenciou, causado pela separação da
Gondwana - América do Sul e África - datada do período Mesozoico. É caracterizado
pela sua aparência vermelho-roxeada inconfundível, devida a presença de minerais,
especialmente Ferro.

Figura - Terra roxa

No Brasil, esse tipo de solo aparece nas porções ocidentais dos estados do Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e sudeste do Mato Grosso do Sul,
destacando-se sobretudo nestes três últimos estados por sua qualidade.

Historicamente falando, esse solo teve muita importância, já que, no Brasil,


durante o fim do século XIX e o início do século XX, foram plantadas nestes domínios,
várias grandes lavouras de café, fazendo com que surgisse várias ferrovias e
propiciasse o crescimento de cidades, como São Paulo, Itu, Ribeirão Preto e Campinas.
Atualmente, além do café, são plantadas outras culturas.

O nome terra roxo é dado a esse tipo de solo, devido aos imigrantes italianos
que trabalhavam nas fazendas de café, referindo-se ao solo com a denominação Terra
rossa, já que rosso em italiano significa vermelho. E, devido à similaridade entre essa
palavra, e a palavra "roxa", o nome "Terra roxa" acabou se consolidando. O solo de
terra roxa também existe na Argentina, onde é conhecida como "tierra colorada",
bastante presente nas províncias de Misiones e Corrientes.

O solo é um grande filtro. Para que se obtenha plantas saudáveis e uma horta
produtiva é necessário que o solo contenha água. A capacidade de retenção de água

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depende do tipo de solo. A água, por ser um líquido solvente, dissolve os sais
existentes no solo, e assim as plantas podem absorvê-los

Nem toda a água da chuva flui diretamente para os córregos, riachos e rios.
Quando chove, parte da água infiltra-se e vai penetrando na terra até encontrar uma
camada impermeável, encharcando o solo. Por exemplo, 1 metro cúbico (1m3) de areia
encharcada pode conter até 400 litros de água.

O ar também ocupa os poros existentes entre os grãos de terra. As raízes das


plantas e os animais que vivem no solo precisam de ar para respirar.

Quando o solo se encharca a água ocupa o lugar antes ocupado pelo ar,
dificultando o desempenho das raízes e a vida dos animais no solo.

Se o solo estiver muito compactado, não filtrará a água com facilidade.


Acontecerão, por exemplo, as grandes enxurradas após uma forte chuva. A
urbanização, com a pavimentação de ruas e estradas, a canalização de rios e o
desmatamento de grandes áreas dificultam o escoamento da água das chuvas.

A Erosão do Solo

Como sabemos as chuvas, o vento e as variações de temperatura provocadas


pelo calor e pelo frio alteram e desagregam as rochas. O solo também sofre a ação
desses fatores: o impacto das chuvas e do vento, por exemplo, desagrega as suas
partículas. Essas partículas vão então sendo removidas e transportadas para os rios,
lagos, vales e oceanos.

Nas fotos abaixo, podemos observar como a ação da própria natureza pode
provocar mudanças profundas na paisagem. O mar, chuva e o vento esculpiram os
paredões na praia de Torres, RS e as falésias na Bahia.

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No clima úmido e nos solos cobertos por uma vegetação natural, a erosão é, em
geral, muito lenta, o que permite que seja compensada pelos processos que formam
o solo a partir das rochas.

Os cientistas afirmam que as montanhas mais altas e que tem seus picos em
forma de agulhas apontadas para cima são novas, do aspecto geológico. As mais
antigas não são tão altas e tem o cume arredondado, com as suas rochas duras à vista.
Elas vêm sofrendo a mais tempo a ação erosiva, que as desgastou bastante. Esse tipo
de erosão é muito comum no território brasileiro, mas, por ter uma ação lenta, é quase
sempre imperceptível aos nossos olhos.

1.5 Relevo Brasileiro


Uma das primeiras classificações feitas no Brasil sobre o relevo do país começou
a ser produzida nos anos 1940 pelo geógrafo e geomorfólogo brasileiro Aroldo de
Azevedo. Professor da USP, Aroldo publicou seu trabalho em 1949. A classificação
baseava-se no critério da altimetria que dividia o Brasil em planícies, áreas de até 200
metros de altitude, e planaltos, áreas superiores a 200 metros de altitude.

Aroldo baseou seu trabalho nas informações produzidas sobre o território até
então e em trabalhos de campo onde partiu para a observação direta do relevo. Ele
dividiu o Brasil em quatro planaltos e quatro planícies. Os planaltos são: Planalto das
Guianas, Planalto Atlântico, Planalto Central e Planalto Meridional. As planícies são:
Planície Amazônica, Planície do Pantanal, Planície Costeira e Planície do Pampa ou
Gaúcha

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No final dos anos 1950 surgiu uma nova classificação de relevo para o Brasil,
elaborada pelo geógrafo e geomorfólogo Aziz Nacib Ab’Sáber. Também professor da
USP, Ab’Sáber elaborou uma classificação mais complexa do que a de seu antecessor.
Introduziu a abordagem morfoclimática, que considera os efeitos do clima sobre o
relevo. Identificam-se sete planaltos e três planícies na classificação de Aziz. Os
planaltos são: Planalto das Guianas, Planalto Central, Planalto Meridional, Planalto
Nordestino, Planalto do Maranhão-Piauí, Planalto Uruguaio Sul-Riograndense, e as
Serras e Planaltos do Leste e Sudeste. As planícies são: Planície Amazônica, Planície do
Pantanal e Planície Costeira.

Em 1989 foi divulgada a nova classificação de relevos do Brasil elaborada pelo


professor Jurandyr Ross, do Laboratório de Geomorfologia do Departamento de
Geografia da USP. Ele usou no seu trabalho os dados produzidos pelo Projeto Radam
Brasil. Esse projeto, que se restringia ao mapeamento por radar da Amazônia, foi
ampliado para todo o Brasil em 1975. No levantamento dos dados foi utilizado o avião
Caravelle que sobrevoou o país a uma altitude média de 12 km e a uma velocidade
média de 690 Km/h. O professor Jurandyr Ross fez parte da equipe do Radam Brasil.

A nova classificação, com 28 unidades de relevo, considerou, além das


características morfoestruturais (estruturas geológicas) e morfoclimáticas, as
características morfoes culturais do relevo, ou seja, a ação dos agentes externos. E
introduz o conceito de depressão, inexistente nas classificações anteriores.

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As depressões são formas de relevo que apresentam altitudes mais baixas do que
as existentes ao redor, já que elas circundam planaltos. Nas áreas de contato entre os
planaltos e as depressões, costumam surgir escarpas quase verticais, demonstrando o
efeito da erosão diferencial. Os sedimentos erodidos constituem a estrutura aplanada
das depressões enquanto as rochas resistentes à erosão constituem os planaltos. No
Brasil, existem 11 depressões e elas são divididas nos três grupos a seguir:

1. Depressão Periférica: estabelecidas nas regiões de contato entre


estruturas sedimentares e cristalinas.
2. Depressão Interplanáltica: estabelecidas em áreas mais baixas em
relação aos planaltos que as circundam.
3. Depressão Marginal: margeiam as bordas de bacias sedimentares,
esculpidas em estruturas cristalinas.

Os planaltos, segundo a classificação de Jurandyr Ross, correspondem às


estruturas que cobrem a maior parte do território e são consideradas formas residuais,
ou seja, constituídas por rochas que resistiram ao trabalho de erosão. No Brasil
existem 11 planaltos divididos nos quatro grupos a seguir:

1. Planaltos em Bacias Sedimentares: constituídos por rochas


sedimentares e circundados por depressões periféricas ou marginais.
2. Planaltos dos Cinturões Orogênicos: originados pela erosão
sobre os antigos dobramentos sofridos na Era Pré-Cambriana pelo
território brasileiro.
3. Planaltos em Núcleos Cristalinos Arqueados: estruturas que,
embora isoladas e distantes umas das outras, possuem a mesma forma,
ligeiramente arredondada.
4. Planaltos em intrusões e coberturas residuais da plataforma
(escudos): formações antigas da era Pré-Cambriana que possuem grande
parte de sua extensão recoberta por terrenos sedimentares.

Nas planícies, onde predomina o trabalho de acumulação de sedimentos, as


constituições das rochas se diferenciam dos planaltos e das depressões por serem
formadas por sedimentação recente, com origem no Quaternário. No Brasil existem 6
planícies divididas em dois grupos:

1. Planícies Costeiras: encontradas no litoral como as Planícies e


Tabuleiros Litorâneos.
2. Planícies Continentais: situadas no interior do país, são
consideradas planícies as terras situadas junto aos rios.

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Esses três conjuntos (depressões, planaltos e planícies) compõem a classificação


mais recente adotada no Brasil. Conclui-se, então, que as classificações de relevo do
Brasil evoluíram nos últimos 60 anos, não só pelo uso de novas tecnologias bem como
pela incorporação de novos conceitos e metodologias de trabalho.

1.6 A Ação do Ser Humano


O desmatamento provocado pelas atividades humanas acelera muito a erosão
natural. Vamos ver por quê. Em vez de cair direto no solo, boa parte da água da chuva
bate antes na copa das árvores ou nas folhas da vegetação, que funcionam como um
manto protetor. Isso diminui muito o impacto da água sobre a superfície. Além disso,
uma rede de raízes ajuda a segurar as partículas do solo enquanto a água escorre pela
terra. E não podemos esquecer também que a copa das árvores protege o solo contra
o calor do Sol e contra o vento.

Ao destruirmos a vegetação natural para construir casa ou para a lavoura,


estamos diminuindo muito a proteção contra a erosão. A maioria das plantas que nos
serve de alimento tem pouca folhagem e, por isso, não protege tão bem o solo contra
a água da chuva. Suas raízes são curtas e ficam espaçadas nas plantações, sendo
pouco eficientes para reter as partículas do solo. Finalmente, muitas plantas - como o
milho, a cana-de-açúcar, o feijão e o algodão - não cobrem o solo o ano inteiro,
deixando-o exposto por um bom tempo. O resultado é que a erosão se acelera, e a
parte fértil fica prejudicada.

Com a erosão, o acúmulo de terra transportada pela água pode se depositar no


fundo dos rios, obstruindo seu fluxo. Esse fenômeno é chamado de assoreamento e
contribui para o transbordamento de rios e o alagamento das áreas vizinhas em
períodos de chuva.

Há ainda outro problema resultante do desmatamento. Sem a cobertura da


vegetação, as encostas dos morros correm maior risco de desmoronar, provocando
desabamentos de terra e rochas, com graves consequências.

Quando o desmatamento é feito por meio de queimadas, ocorre outro problema:


o fogo acaba destruindo também os microrganismos que realizam a decomposição
da matéria orgânica e promovem a reciclagem dos nutrientes necessários às plantas.
A perda de matéria orgânica deixa o solo mais exposto à erosão e à ação das chuvas,
acentuando o seu empobrecimento.

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Biodiversidade

A queimada também libera na atmosfera gases que, quando em concentração


muito elevada, prejudicam a saúde humana. Além disso, nos casos em que a queimada
é realizada de forma não controlada, ela pode se alastrar por áreas de proteção
ambiental, parques etc. Por todos esses motivos, as queimadas devem ser evitadas.

2 Biodiversidade
A diversidade biológica ou, abreviando, biodiversidade, descreve a variedade da
vida na Terra. Ela abrange todos os tipos de plantas, animais e micro-organismos da
terra, do mar e de água doce. A diversidade biológica ocorre em três níveis: espécies,
ecossistemas e informação genética.

Existem, provavelmente, de 10 a 30 milhões de tipos de plantas, animais e micro-


organismos diferentes vivendo no nosso planeta, na terra, no solo, na água doce e no
mar. Cerca de 2 milhões de plantas e animais são conhecidos e foram descritos
cientificamente até hoje. Os cientistas descobrem cerca de 15.000 novas espécies a
cada ano. Algumas espécies são encontradas no mundo inteiro, enquanto outras são
muito raras. Algumas espécies são encontradas em um único lugar. Por exemplo, a
Austrália abriga diferentes espécies de cangurus que não são encontradas em nenhum
outro lugar do planeta. Muitas plantas ameaçadas foram registradas em um único
local.

A biodiversidade refere-se a todas as formas de vida, os ecossistemas em que


habitam e as relações de que fazem parte. Por exemplo, no oceano, ela começa por
organismos vegetais minúsculos (chamados de fitoplâncton), capazes de utilizar a
energia do sol. O plâncton é comido por pequenos animais que, por sua vez, são
comidos por animais maiores, como diferentes tipos de peixes, répteis ou mamíferos.
Algas, peixes e crustáceos servem de alimento para bilhões de pessoas em todos os
lugares e muitos habitantes de países desenvolvidos e em desenvolvimento
dependem dos frutos do mar. Sendo assim, a biodiversidade serve de base para a
subsistência das pessoas.

Áreas que abrigam elevadíssimos números de espécies são chamadas de “zonas


quentes” de biodiversidade. Mas não é somente a natureza intocada que pode abrigar
uma grande diversidade de espécies. Por muito tempo os seres humanos vêm
influenciando – e cuidando – de ambientes junto a vilarejos, como terras cultivadas,
florestas ou campos. Usadas com cuidado, essas áreas verdes costumam ser habitadas
por uma variedade de espécies que delas dependem. Entretanto, em muitas partes do

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Biodiversidade

mundo, cidades e indústrias em crescimento, assim como rápidas mudanças


populacionais, ameaçam essas paisagens e os conhecimentos e práticas que as
pessoas usaram para ajudar a preservá-las.

Figura - Algumas áreas do mundo têm maior biodiversidade que outras. Este mapa
da diversidade de plantas é um exemplo. As cores indicam o número de espécies de
plantas por 10.000 km2.

Benefícios da Biodiversidade

A biodiversidade tem um valor próprio. Quase todas as culturas do mundo


prezam a natureza, a terra e a vida que ela abriga em sua tradição, na religião ou
espiritualidade, na educação, saúde ou lazer. Mas a humanidade também depende da
biodiversidade e dos bens e serviços que ela oferece.

Muitos diferentes animais, plantas e outras formas de vida constroem juntos


ecossistemas funcionais, como florestas, água doce, solos ou oceanos. Ecossistemas
saudáveis, com alto grau de biodiversidade, fornecem bens como alimentos, fibras,
madeira e biocombustíveis, além de medicamentos e água doce para os seres
humanos. A diversidade biológica também é o ponto de partida de novas culturas e
criações de animais, já que a maioria das plantas de culturas agrícolas e animais de
fazenda originam-se de parentes selvagens. Compostos naturais a partir de animais,
plantas e microrganismos são a base de novos medicamentos para o tratamento de
doenças humanas.

Os serviços prestados pela diversidade biológica (os chamados serviços dos


ecossistemas) muitas vezes são considerados, ao mesmo tempo, gratuitos e
indispensáveis. Por exemplo, microrganismos fornecem nutrientes para o crescimento
das plantas e as plantas verdes produzem oxigênio. A chuva e o vento criam solo a

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Biodiversidade

partir de rochas e plantas e outros organismos os tornam mais ricos e espessos com
o passar do tempo. Os oceanos cobrem quase três quartos do planeta. Eles não só
contêm enormes quantidades de água, mas também sistemas vivos que moldam o
planeta. Os oceanos transportam tudo que está contido neles por grandes distâncias;
eles controlam o clima global e fornecem alimento. Pequenas algas marinhas
produzem enormes quantidades de oxigênio que os animais terrestres também
respiram. Ao mesmo tempo, o carbono da queima de combustíveis é retirado do ar e
armazenado.

O litoral atrai os seres humanos há milhares de anos. Plantas e animais ao redor


das regiões costeiras armazenam e disponibilizam nutrientes, filtram a sujeira dos rios
e córregos e ajudam a proteger o litoral, evitando que seja destruído por tempestades.
Peixes, crustáceos e algas do litoral alimentam os seres humanos e os animais; eles
fornecem combustíveis, medicamentos, cosméticos, produtos domésticos e materiais
de construção. Os recifes de corais são as “florestas tropicais dos oceanos”: fornecem
peixes, protegem contra os perigos naturais e regulam o clima. Até meio bilhão de
pessoas dependem economicamente dos recifes de corais. Muitos países
desenvolvidos e em desenvolvimento e nações insulares dependem profundamente
dos recifes para sua alimentação e subsistência.

A Biodiversidade Sob Pressão

Um relatório das Nações Unidas publicado em 2012 destaca a taxa de destruição


de florestas, ameaças ao suprimento de água e poluição nas regiões costeiras. A
tendência geral mostra um declínio global da biodiversidade de quase um terço nos
últimos 30 anos, e a queda continua. Até dois terços de todas as espécies poderão
desaparecer. As cinco maiores ameaças à biodiversidade, segundo o Relatório Planeta
Vivo 2010, são causadas pelas atividades humanas.

1. Anos de perdas dos ecossistemas: mudanças permanentes nas


florestas, pântanos ou montanhas os tornam inadequados para animais e
plantas selvagens.

2. Superexploração de espécies selvagens: se os seres humanos


retiram animais ou plantas em excesso para alimentação ou outros fins,
essas populações desaparecerão. A pesca, caça e derrubada de árvores
em excesso levam à superexploração.

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Biodiversidade

3. Poluição da água: O excesso de nutrientes derivado das grandes


quantidades de fertilizantes polui a água doce e os ecossistemas
marinhos. Outras fontes de poluição são os resíduos das cidades,
indústrias e minas.

4. Mudanças climáticas: A agricultura, queima de carvão e petróleo,


desmatamento e as indústrias liberam os chamados gases de efeito estufa
na atmosfera, o que leva ao aumento das temperaturas globais na terra e
no mar. Recifes de corais, o gelo do Ártico ou plantas e animais alpinos,
por exemplo, não têm como lidar com essas mudanças de condições tão
rápidas.

5. Espécies invasoras: Espécies de uma parte do mundo introduzidas


em outra às vezes se espalham mamíferos, corais e anfíbios de 1980 a
rapidamente e deslocam espécies nativas. 2010 (Fonte: IUCN 2012)

A Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD)

O acordo internacional que trata da biodiversidade, conhecido como Convenção


sobre Diversidade Biológica, foi definido na Conferência das Nações Unidas de 1992
no Rio de Janeiro, a Rio 92, quando os problemas ambientais do planeta ficaram
aparentes. A Convenção, assinada por 192 países e a União Europeia, visa à
preservação da diversidade biológica, o uso sustentável de seus componentes e a
repartição justa e equitativa dos benefícios advindos da utilização dos recursos
genéticos. Os Estados Unidos da América não assinaram a Convenção sobre
Diversidade Biológica.

Em outubro de 2012, representantes de todos os estados membros da


Convenção sobre Diversidade Biológica irão se encontrar novamente na Índia, na 11ª
Conferência das Partes (COP11), para discutir como deter a perda da biodiversidade.
Vinte objetivos – conhecidos como Metas de Aichi – já foram acordados em 2010 na
COP10 em Nagoya (Japão). Segundo o acordo firmado na COP10, essas metas devem
ser cumpridas até 2020, e os estados membros estão agora discutindo como cumpri-
las. Diferentes medidas políticas para deter a perda de biodiversidade estão sendo
discutidas, como leis, tributação, proibições, multas, normas, subsídios, incentivos ou
compensações.

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Biodiversidade

A Necessidade das Visões dos Cidadãos sobre a Biodiversidade

A perda da biodiversidade pode ter efeitos graves em diversos níveis: para o


indivíduo, família, vilarejo ou cidade natal, país ou região. Entre os possíveis efeitos
estão o aumento dos preços dos alimentos, menores volumes de colheita e pescaria,
menos água potável, maior frequência de enchentes e outros desastres naturais, solos
incapazes de reter água e nutrientes e uma paisagem que não é mais atraente para os
turistas. Todos esses efeitos são de longo prazo e afetam quase todos os aspectos das
nossas vidas. Entretanto, medidas drásticas para proteger ou restaurar a
biodiversidade podem, em alguns casos, levar à perda de empregos e a mudanças
forçadas no ambiente de trabalho, estilo de vida ou alimentação. Algumas pessoas
podem até perder seus meios de subsistência, como, por exemplo, os pescadores, se
forem proibidos de pescar. Se mais dinheiro proveniente de impostos for destinado à
proteção da biodiversidade, talvez haja menos fundos disponíveis para outras tarefas
importantes, como previdência social, geração de empregos, serviços de saúde,
educação ou pesquisa e desenvolvimento. Principalmente em épocas de retração
econômica, gastar os escassos recursos na proteção da biodiversidade pode não ser
uma medida popular.

Os acordos internacionais são necessários porque a perda da biodiversidade é


um problema que exige soluções internacionais. Muitos ecossistemas ultrapassam
fronteiras, a pesca em alto-mar, em grande medida, não é regulada e o comércio é
internacional. A poluição produzida em um lado do planeta afeta regiões do outro
lado. Ao mesmo tempo, interesses nacionais e profissionais, assim como valores,
visões de mundo e mentalidades diferentes entre as partes interessadas, dificultam o
alcance de um acordo global, transparente e democrático. Especialistas, formuladores
de políticas e grupos de pressão poderão expressar suas opiniões quando as medidas
para a preservação da diversidade biológica forem debatidas na COP11, na Índia, em
outubro de 2012. Algumas das questões ainda sem resposta são: Quem assumirá a
responsabilidade pela perda da biodiversidade? Como as metas de biodiversidade
serão alcançadas? O que precisa ser feito? Como os interesses da humanidade e do
mundo natural serão equilibrados? Precisamos de regulamentações? É possível fazer
com que as pessoas tenham hábitos de preservação da biodiversidade por conta
própria ou devemos estabelecer novas leis e regulamentações econômicas?

Os cidadãos comuns são os primeiros e mais afetados pelos resultados das


decisões internacionais. Com o envolvimento dos cidadãos no processo de discussão,
mais vozes são ouvidas e os tomadores de decisão ganham informações valiosas

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Biodiversidade

sobre quais medidas políticas têm o apoio da população e, portanto, mais chances de
êxito.

2.1 Biodiversidade Terrestre


Na terra, encontramos diferentes tipos de áreas naturais, como florestas, campos,
pântanos ou desertos, que abrigam plantas, animais e micro-organismos. Neste
capítulo, examinamos três questões relacionadas à biodiversidade: a proteção das
áreas naturais, a perda de áreas naturais e a conversão de áreas naturais em terra
cultivada.

Proteção das Áreas Naturais

Uma das medidas para proteger a biodiversidade que já funcionou no passado é


a proteção de áreas com natureza até certo ponto intacta, como certas florestas
tropicais ou savanas. Essas áreas costumam abrigar muitas espécies de plantas e
animais num equilíbrio delicado, e a influência humana tem sido pequena até agora.
Elas proporcionam abrigo, permitem que as espécies se movimentem e garantem que
a paisagem possa ser moldada pelos processos naturais. As áreas protegidas são
muito importantes e alguns tipos delas existem há quase 140 anos, como, por
exemplo, na forma de parques nacionais ou reservas naturais. Nessas áreas, a
influência humana e as atividades econômicas são restritas e rigorosamente reguladas.
Exploração de madeira, caça, agricultura, mineração ou assentamentos humanos são,
na maior parte, proibidos. Essas áreas precisam ser bem conectadas, administradas e
financiadas. Áreas protegidas também são importantes para os seres humanos.
Relatórios da ONU mostram que elas garantem a subsistência de cerca de 1,1 bilhão
de pessoas. A água potável de quase um terço das maiores cidades do mundo vem
dessas áreas, assim como muitas plantas selvagens importantes para aperfeiçoar as
variedades das culturas atuais.

Em 2010, mais de 150.000 áreas protegidas correspondiam a um oitavo (12,7 %)


da área terrestre do mundo. Elas cresceram em número e extensão, mas não o
suficiente para proteger a biodiversidade com eficácia, porque muitas são pequenas
ou isoladas demais. Mais da metade dos locais importantes para a biodiversidade –
por ex., áreas com os últimos indivíduos remanescentes de uma espécie rara ou
colônias de aves importantes – continua completamente desprotegida. Além disso,
algumas áreas são mal administradas. Portanto, uma das metas de biodiversidade

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Biodiversidade

acordadas em 2010 exige o aumento do número e extensão das áreas protegidas


globalmente para pelo menos 17% do total da área terrestre. Isso significa que os
governos precisarão criar muitas áreas protegidas ou expandir as que já existem.

Não será fácil. Determinar uma nova área de proteção muitas vezes gera conflitos
entre interesses opostos. O terreno deve ser usado para preservação da natureza,
assentamento humano ou exploração de recursos? Objetivos de proteção da natureza
muitas vezes entram em conflito com os objetivos que as pessoas têm de tirarem sua
subsistência dessas áreas. Agricultores podem ser proibidos de cultivar seus campos,
empresas podem ser impedidas de derrubar árvores ou criar minas ou plantações e a
construção de estradas pode ser obstruída, mesmo havendo muita necessidade de
uma estrada. Muitas vezes é difícil definir que objetivo deve vir primeiro. Sem acordos
com as populações locais, as necessidades delas podem não ser levadas em conta e
equilibradas com a necessidade de proteger a natureza. Além disso, às vezes muitos
recursos financeiros são necessários para controlar e manter a área protegida ou
compensar agricultores ou outras pessoas por suas perdas.

Redução da Perda de Áreas Naturais

Embora a comunidade internacional concorde quanto à necessidade de proteção


da biodiversidade em escala global, cada país pode ter motivos sociais ou econômicos
para desmatar florestas e abrir espaço para agricultura, gado ou exploração de
madeira. Criar terra arável e gerar renda para uma população em crescimento são
objetivos de desenvolvimento importantes.

Chegar a um acordo internacional indica uma visão comum entre os países, mas
ele também precisa ser colocado em prática. Ou seja, deve ser transformado em leis
e ações nacionais. Como isso deve ser realizado costuma ser motivo de conflitos.

Por exemplo, com relação à proteção de áreas naturais, algumas pessoas temem
que, sem novas leis rigorosamente sancionadas – ou ao menos sem melhor aplicação
das leis existentes –, nada aconteceria. Outros acreditam que se deve manter um
mínimo de leis e que seria melhor haver soluções econômicas (ou de “mercado”): a
redução da rentabilidade das atividades em áreas naturais com impacto negativo
sobre a biodiversidade (por ex.: caça, exploração de madeira, mineração) seria capaz
de proteger animais e plantas selvagens com maior eficácia do que a lei. Fora leis e
soluções econômicas, outras medidas políticas também são possíveis. Por exemplo, a
proteção da biodiversidade poderia ser integrada em todas as atividades de

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Biodiversidade

planejamento dessas áreas ou a população local poderia ser incentivada a administrar


melhor os recursos naturais. Conscientizar a população acerca dos problemas
relacionados com a perda da biodiversidade também pode ser importante, porque
qualquer medida deve buscar o apoio da população.

Não obstante, algumas pessoas podem achar que, no fim das contas, a
biodiversidade não é tão importante assim a ponto de a proteção de áreas naturais
ser uma questão de leis, decisões políticas ou medidas econômicas e que existem
problemas mais urgentes com que se preocupar. Entretanto, se os compromissos dos
acordos internacionais devem ser colocados em prática, a questão é: quais as medidas
preferenciais para garantir a proteção de áreas naturais no seu país?

Conversão de Áreas Naturais em Terra Cultivada

A agricultura é a atividade humana que mais impacta a biodiversidade. Portanto,


muitos especialistas dizem que qualquer plano para proteger a biodiversidade deve
levar a agricultura em consideração. Existem diversos motivos para o efeito tão
negativo da agricultura. Um deles é a sucessiva conversão de áreas naturais em terras
agrícolas.

Hoje, 40% da área terrestre total do planeta é usada para cultivo e pasto. O
Instituto de Recursos Mundiais afirma que, em muitos países em desenvolvimento, as
áreas naturais estão sendo cada vez mais convertidas em terras para lavoura. O
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) prevê que na África e
Ásia Ocidental, a área de terras agrícolas poderá quase que dobrar até 2050 e
aumentar em 25% na região da Ásia-Pacífico. Isso, em grande parte, afetará as
florestas. Um quinto das grandes florestas remanescentes do mundo poderá virar
terras agrícolas e pastos. A erosão muitas vezes leva à perda de solo fértil,
principalmente em regiões tropicais, o que força os agricultores locais a
transformarem mais florestas tropicais em terra cultivada. Tudo isso tem
consequências terríveis para a biodiversidade, porque as plantas e animais que
ocorrem naturalmente nas florestas não terão mais onde viver.

Outro motivo pelo qual a agricultura reduz a biodiversidade é que os agricultores


se esforçam para obter a maior produção possível. Isso significa que plantas e animais
que possam reduzir a produção são considerados pragas e combatidos. Para obter
produções maiores, não só pesticidas, mas também fertilizantes e equipamentos
pesados são empregados em muitos lugares hoje. O lado negativo desse tipo de

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agricultura intensiva com grande uso de insumos é que ela erradica muitas espécies
que ocorrem naturalmente, além de causar erosão do solo e grande poluição. Isso
afeta ainda mais espécies e, portanto, reduz as chances de sobrevivência de muitas
plantas e animais selvagens.

Esse fato deve ser considerado em relação ao contexto do rápido crescimento da


demanda global por alimentos. A ONU estima que, até 2020, nosso planeta terá 7,7
bilhões de habitantes, e todos precisam ser alimentados. Hoje mesmo, muitas pessoas
já passam fome. Alguns argumentam que, em termos gerais, uma quantidade
suficiente de alimentos é produzida no mundo e que o problema é a distribuição.
Outros dizem que esperar por uma distribuição globalmente mais justa seria inútil.

Outro desafio é o crescimento do consumo de carne em muitos países. A criação


de animais para produção de carne requer muita forragem – comer diretamente os
vegetais cultivados na terra necessária forneceria, aproximadamente, dez vezes mais
energia. Portanto, comer carne em vez de vegetais aumenta ainda mais a demanda
por colheitas, que têm de ser cultivadas em algum lugar.

O problema, portanto, é como produzir alimentos suficientes e, ao mesmo


tempo, proteger a biodiversidade da melhor maneira possível. Diversas estratégias já
foram propostas. Por exemplo, uma agricultura menos intensiva, com menor uso de
insumos, poderia oferecer a chance de se evitar muitos dos aspectos negativos da
agricultura intensiva; entretanto, a produção mais baixa exigiria mais terra, ou seja,
seria necessário converter áreas naturais em terra cultivada. Outra possibilidade seria
melhorar a agricultura nas terras existentes seguindo duas estratégias diferentes. Uma
delas seria empregar novas tecnologias para aumentar a produtividade com menos
insumos, como, por exemplo, novas e melhores variedades de culturas. Note-se,
porém, que, para serem empregadas, as novas tecnologias exigem conhecimentos
especiais, o que costuma ser dispendioso. Os agricultores teriam de fazer um alto
investimento, o que seria impossível para muitos. E a segunda estratégia seria
empregar práticas mais convencionais, que exigem menos uso de pesticidas e
nutrientes, como, por exemplo, a rotação de culturas. Essas práticas também exigem
muito conhecimento e geralmente envolvem mais mão de obra, o que também é um
problema, principalmente para agricultores de subsistência.

Por outro lado, algumas pessoas questionam se realmente precisamos aumentar


a produção de alimentos para um nível tão alto que chegue a prejudicar a
biodiversidade. Em vez disso, deveríamos empreender esforços para diminuir a
demanda por alimentos reduzindo o consumo de carne ou usando os recursos com

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Biodiversidade

mais eficácia, desperdiçando menos alimentos e distribuindo-os melhor. O problema,


neste caso, é que isso demandaria grandes esforços socioeconômicos, mudanças de
hábito alimentar etc., o que pode ser difícil de conseguir ou, na melhor das hipóteses,
levar muito tempo para se tornar realidade.

Todas as estratégias delineadas acima têm seus lados positivos e negativos. Fora
os aspectos técnicos, elas também implicam muitas questões de valor. Por exemplo,
devemos fazer concessões com relação à conversão de áreas naturais em campos para
possibilitar uma forma de agricultura mais favorável à biodiversidade? Devemos deixar
o dilema somente para os agricultores ou os consumidores também têm a
responsabilidade de proteger a biodiversidade quando se trata de produção de
alimentos? Tudo isso é importante quando se considera qual estratégia geral é a mais
promissora para corresponder à futura demanda por alimentos visando proteger a
biodiversidade.

2.2 Biodiversidade Marinha


O oceano cobre mais de dois terços da superfície do mundo e abriga uma grande
biodiversidade. Neste capítulo, examinamos três questões relacionadas à
biodiversidade dos oceanos: suspensão da pesca predatória, proteção dos recifes de
corais e criação de áreas protegidas em alto-mar.

Pesca Predatória

Os seres humanos pescam no mar desde os tempos mais remotos. Hoje, 49


milhões de pessoas em todo o mundo são pescadores e outras 212 milhões trabalham
em áreas correlatas (por ex.: consertando barcos, vendendo peixe nas feiras etc.). Ao
todo, 261 milhões de pessoas no mundo dependem diretamente da pesca para sua
subsistência.

Em 1970, a produção global de peixes foi de 65 milhões de toneladas. Até o ano


2000, ela havia mais que dobrado, passando para 125 milhões de toneladas. Oitenta
e cinco milhões de toneladas foram produzidas pela pesca e o restante veio da
aquicultura – criação de peixes (cerca de 40 milhões de toneladas; ver na figura um
exemplo de aquicultura). A pesca por si só, sem a aquicultura, é insuficiente para
satisfazer a demanda de peixe, porque a pesca marinha global já atingiu seu limite
máximo. Embora exista um número maior de barcos pesqueiros mais bem equipados

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Biodiversidade

tentando pescar mais peixes, a pesca em todo o mundo não aumenta desde a década
de 1990, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO, na sigla em inglês).

Exploração dos Oceanos

As práticas pesqueiras não sustentáveis causam graves danos. Entre eles estão a
pesca de arrastão (arrastar uma gaiola aberta pelo fundo do mar, destruindo a vida
selvagem do assoalho oceânico), uso de venenos e explosivos próximo a recifes de
corais, além de equipamentos de pesca que involuntariamente matam aves marinhas
ou capturam mamíferos marinhos. A pressão gerada pela pesca também alterou a
distribuição e tamanho de muitas populações de peixes. Muitas áreas de pesca e
populações de peixes são exploradas além de seu limite sustentável. A pesca
predatória é a maior ameaça à fauna selvagem e biodiversidade marinha, segundo a
FAO. Até o ano 2000, três quartos das populações de peixe dos oceanos haviam
sofrido sobre pesca, esgotamento ou exploração. Em 12 das 16 regiões de pesca do
mundo, os níveis de produção estavam abaixo de seu máximo histórico.

Rumo à Pesca Sustentável

A pesca sustentável visa capturar peixes em níveis que deixem as populações de


peixes estáveis ao longo do tempo. Em muitos países, as quotas de pesca são
determinadas em um processo político, com a contribuição de muitos grupos
interessados, como indústrias, pescadores e cientistas. A indústria pesqueira e os
cientistas geralmente têm opiniões diferentes quanto à quantidade de peixes que
pode ser pescada por ano, mas evitar a pesca predatória é uma das metas de
biodiversidade. A Comissão Europeia, por exemplo, afirmou que o total permitido para
a pesca na Europa nos últimos anos ficou 40% acima do nível aconselhado pelos
cientistas. Ao contrário dos cientistas, que não dependem da pesca, os pescadores
preferem níveis mais altos.

Excesso de Capacidade e Subsídios

Hoje, barcos demais perseguem peixes de menos. Já em 1992, a Organização das


Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) descobriu que a capacidade total
de pesca do mundo era duas vezes o necessário para a pesca sustentável. À medida

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Biodiversidade

que se torna cada vez mais difícil basear a subsistência na pesca, alguns governos
pagam subsídios aos pescadores ou reduzem impostos. Isso, em alguns casos, leva ao
aumento do número de barcos pesqueiros e a empresas que mal podem sobreviver.
O excesso de capacidade não é um problema somente para as populações de peixes,
mas também para os pescadores. Eles precisam às vezes competir a tal ponto, que se
torna quase impossível ganhar a vida.

A Comissão Europeia, China, Vietnã e Japão, por exemplo, visam reduzir suas
frotas de pesca exageradas, enquanto em outros países, como a Indonésia, Camboja
e Malásia, a frota ainda está crescendo. Entretanto, os pescadores precisam ganhar a
vida de alguma forma.

Recifes de Corais

Os recifes são estruturas de calcário subaquáticas, formadas a partir dos


esqueletos de milhões de minúsculos animais e plantas marinhos. Os recifes de corais
muitas vezes são chamados de “florestas tropicais do mar” e estão entre os
ecossistemas de maior diversidade da Terra. Eles ocupam menos de 0,1% da superfície
dos oceanos do mundo, cerca de metade da área da França, porém abrigam um
quarto de todas as espécies marinhas, entre peixes, aves, esponjas e todos os outros
tipos de vida marinha. Os recifes são mais comuns em águas tropicais rasas e trazem
benefícios para o turismo, pesca e proteção do litoral. Os economistas afirmam que o
valor global anual dos recifes de corais pode chegar a US$ 375 bilhões.

Ameaças aos Recifes de Corais

Os recifes de corais são frágeis. Eles estão sob ameaça, por exemplo, da pesca
ilegal, do uso excessivo e da poluição da água pela atividade urbana e agrícola. Os
cientistas dizem que mais de um terço dos recifes de corais do mundo já foram
destruídos ou estão gravemente danificados. A maioria dos recifes de corais está
localizada em águas tropicais, onde os países em desenvolvimento nem sempre têm
recursos suficientes para protegê-los. Proteger significa, por exemplo, implementar e
monitorar proibições à pesca, reduzir a poluição, criar e colocar em prática planos de
ecoturismo, planejamento ecologicamente correto do desenvolvimento do litoral ou
combate às pragas que destroem os corais. Todas essas medidas são dispendiosas.

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Biodiversidade

Figura - Os recifes de corais estão sob pressão devido às atividades humanas.

Áreas Marinhas Protegidas no Alto-Mar

Áreas Marinhas Protegidas (AMP) são reservas naturais no oceano que protegem
a biodiversidade marinha e oferecem um refúgio para espécies ameaçadas e
populações de peixes comerciais. Atualmente, cerca de 2% dos oceanos do mundo
estão protegidos. Em comparação, mais de 12% da área terrestre do planeta está
protegida. Uma das metas de biodiversidade é aumentar as AMP para 10% dos
oceanos. Hoje, a maioria das AMP fica próxima ao litoral, em águas que pertencem a
um país. No chamado “alto-mar”, o oceano além de 200 milhas da costa, a proteção
marinha é muito limitada. Um dos desafios ao se aumentar o número e extensão das
Áreas Marinhas Protegidas é que, no alto-mar, nenhum país pode criar sozinho uma
Área Marinha Protegida como poderia fazer dentro dos limites da sua costa.

O alto-mar é muito importante. Ele abrange dois terços da superfície oceânica e,


segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica, abriga uma grande quantidade de
biodiversidade. Embora exista um arcabouço legal internacional que inclui o alto-mar
(a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, UNCLOS), ele concentra-se
somente em aspectos específicos, como pesca, navegação, poluição ou mineração
subaquática, mas não no estabelecimento de áreas de proteção.

Atualmente, existem pouquíssimas Áreas Marinhas Protegidas no alto-mar. Em


2002, por exemplo, os países vizinhos Itália, França e Mônaco assinaram um acordo
criando o Santuário de Pélagos, no Mar Mediterrâneo. Eles concordaram em controlar
barcos registrados em seus países, mas barcos de outras nações não podem ser

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Biodiversidade

controlados. Outro exemplo é a Área Marinha Protegida de South Orkneys, nas águas
geladas da Antártica. Criada em 2010, ela não permite qualquer tipo de pesca. A AMP
foi determinada por 35 países, todos membros da Comissão para a Conservação dos
Recursos Vivos Marinhos Antárticos (CCAMLR). Qualquer acordo sobre uma área em
alto-mar diz respeito somente aos países que o assinaram; os direitos dos outros
países permanecem inalterados. Isso significa que os países que assinaram o acordo
não podem criar regras vinculando outros países. Por isso, a proteção de áreas
marinhas em alto-mar será muito difícil sem um novo acordo internacional (como
acordo complementar da UNCLOS, por exemplo). Um acordo desse tipo, porém, seria
difícil de estabelecer legalmente. Ele poderia limitar o acesso de barcos pesqueiros a
importantes áreas de pesca e pode ser difícil e dispendioso fazer com que seja
cumprido.

2.3 Repartição dos Encargos e dos Benefícios


Negociações e acordos internacionais sobre desafios globais como a proteção
da biodiversidade sempre levantam questões como: Quem é responsável pela
proteção? Quem a financiará? Quem receberá os benefícios da biodiversidade? Quem
ganhará e quem perderá?

A biodiversidade é uma questão complexa, relacionada a muitos outros objetivos


importantes. Uma estratégia global para levantar capital para a biodiversidade foi
acordada em 2010, mas a grande pergunta ainda é: De onde deve vir o dinheiro e
outros meios, como conhecimento, para preservar, recuperar e proteger a
biodiversidade ao redor do mundo?

Recursos Financeiros para a Proteção da Biodiversidade

Até agora, a maioria dos recursos financeiros tem sido suprida por meio do
Fundo Global para o Meio Ambiente, o GEF. Esse fundo financia diversas atividades
ambientais, como, por exemplo, a preservação da natureza segundo a Convenção
sobre Diversidade Biológica nos países em desenvolvimento. Os recursos do GEF vêm
de contribuições voluntárias dos países desenvolvidos. A Conferência das Partes (COP)
da Convenção sobre Biodiversidade decide os princípios e critérios segundo os quais
os recursos financeiros serão utilizados. Desde 2003, o GEF investe a maioria de seus
recursos financeiros para a biodiversidade (US$ 2,9 bilhões) em mais de 2.000 áreas

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Biodiversidade

de proteção em todo o mundo, abrangendo mais de 6,34 milhões de Km2 (quase duas
vezes o tamanho da Índia).

Existe um consenso entre todos os países que o atual financiamento para a


biodiversidade do GEF, dos governos nacionais e todas as outras fontes está longe do
necessário para deter a perda global da biodiversidade.

Algumas pessoas argumentam que é melhor gastar na solução de problemas


mais urgentes do que na biodiversidade. Outros acreditam que investir em
biodiversidade será uma vantagem econômica no longo prazo.

De onde devem vir os recursos financeiros para a proteção da biodiversidade de


países em desenvolvimento?

Os países em desenvolvimento muitas vezes não são capazes de arcar com as


dispendiosas medidas necessárias para proteger a biodiversidade e os países
desenvolvidos talvez não queiram gastar mais do que já contribuem para o GEF.

A pergunta a respeito de onde devem vir os recursos levanta uma série de


questões complicadas. Algumas pessoas acham que os países ricos reduziram sua
própria biodiversidade e agora querem que os países pobres protejam a sua, logo,
cabe aos países ricos fornecer o capital para a proteção da biodiversidade do mundo.
Outros acreditam que, embora os países em desenvolvimento sejam pobres, eles
também devem assumir a responsabilidade e contribuir – talvez não tanto como os
países ricos, mas pelo menos de alguma maneira.

Até agora, os países ricos contribuíram voluntariamente com capital para o GEF.
Algumas pessoas acham que isso vem funcionando bem, portanto não há necessidade
de recolher mais fundos compulsoriamente. Outras argumentam que, já que não
existem recursos suficientes para a proteção da biodiversidade do mundo, as
contribuições voluntárias podem ser insuficientes e os pagamentos devem passar a
ser obrigatórios.

Finalmente, uma dúvida é se o capital deve vir somente dos Estados (e,
consequentemente, dos contribuintes). Não haveria maneiras de fazer, por exemplo,
com que as empresas privadas ou os consumidores contribuam? Uma possível
abordagem seria cobrar taxas dos que poluem ou daqueles que usam um recurso
específico, o que elevaria os preços para o consumidor. O argumento contrário é que
isso poderia ser ineficaz, difícil de introduzir e um empecilho para o crescimento
econômico.

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Biodiversidade

Acesso e Repartição dos Benefícios: o Protocolo de Nagoya

A repartição justa e equitativa dos benefícios advindos do uso de recursos


genéticos é um dos três principais objetivos da Convenção da Biodiversidade. É
considerado um elemento importante para a concretização dos outros dois objetivos:
conservação da diversidade biológica e seu uso sustentável.

O termo “recursos genéticos” refere-se a unidades de hereditariedade contidas


em todos os organismos vivos. Elas determinam as propriedades do organismo e são
transmitidas para todos os descendentes. Os recursos genéticos – bem como o
conhecimento tradicional sobre os organismos, suas características e uso adequado –
podem ter muitos usos benéficos para a pesquisa e quando desenvolvidos
comercialmente. Podem, por exemplo, gerar um novo medicamento, melhores
alimentos, enzimas industriais, cosméticos etc.

Como outros tipos de recursos, os recursos genéticos – e o conhecimento


tradicional das comunidades indígenas e locais associado a eles – não são distribuídos
uniformemente ao redor do mundo. Eles são abundantes onde a biodiversidade é
grande, ou seja, principalmente em países tropicais e/ou em desenvolvimento.
Entretanto, as empresas que podem explorar os recursos genéticos porque possuem
a tecnologia necessária são, em sua maioria, dos países desenvolvidos. Sob a
perspectiva dos países em desenvolvimento, isso levou à “biopirataria”, termo
empregado para os casos em que essas empresas adquiriram recursos genéticos em
outros países sem pedir permissão e sem repartir os benefícios da utilização comercial
com o país fornecedor.

O Protocolo de Nagoya

Após anos de negociações, um acordo sobre o “Acesso a recursos genéticos e a


repartição justa e equitativa dos benefícios advindos da sua utilização” (o Protocolo
de Nagoya, que recebeu o nome da cidade do Japão onde o acordo foi firmado) foi
estabelecido na COP10, em outubro de 2010. Nesse acordo, “fornecedores” são os
países que podem dar acesso a seus recursos genéticos em troca de acordos sobre a
repartição dos possíveis benefícios resultantes de seu uso. O protocolo também afirma
que quando povos indígenas ou comunidades locais fornecem conhecimento
tradicional que leva à identificação de um recurso genético útil, estes também devem
ser beneficiados. “Usuários” são aqueles que desejam aproveitar os recursos genéticos
ou o conhecimento tradicional associado. Eles têm de pedir permissão ao país de onde

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Biodiversidade

desejam adquirir os recursos genéticos. Também têm de acordar com os fornecedores


as condições sobre repartição dos benefícios.

A repartição de benefícios pode ser na forma de dinheiro e/ou cooperação na


obtenção de conhecimento em pesquisa e transferência de novas tecnologias, por
exemplo. Os benefícios deveriam ajudar a melhorar os esforços de preservação e uso
sustentável da biodiversidade. O Protocolo de Nagoya ajudará a criar regras
comparáveis em todo o mundo.

Escopo e Limites do Protocolo de Nagoya

O Protocolo de Nagoya entrará em vigor depois que 50 países o ratificarem


(passarem a integrá-lo), o que deve acontecer no futuro próximo. Os governos
nacionais precisam agora decidir e planejar como, na prática, poderão melhor
corresponder às obrigações nos termos do protocolo.

Embora o Protocolo de Nagoya estabeleça as regras para o Acesso e Repartição


dos Benefícios, ainda é preciso chegar-se a um acordo quanto ao que fazer com
milhões de amostras de espécies (e os recursos genéticos derivados delas) que foram
coletadas nos países em desenvolvimento por pesquisadores ou empresas de países
desenvolvidos antes do Protocolo de Nagoya. Alguns dizem que essas amostras foram
coletadas corretamente no passado. Aplicar o Protocolo de Nagoya a elas é como
mudar o limite de velocidade nas rodovias e depois multar todos os motoristas por
excesso de velocidade no passado, antes da criação do novo limite. Outros dizem que
os países onde as amostras foram coletadas ainda podem ser vistos como os donos
do material e deveriam, portanto, receber alguns benefícios advindos de seu uso.

Outra questão diz respeito ao fato de que o Protocolo de Nagoya não


regulamenta os recursos genéticos de organismos marinhos do alto-mar (peixes,
algas, fungos etc.). Esses recursos não têm dono (“fornecedores”) e atualmente são
liberados para todos. Hoje, os recursos genéticos marinhos são utilizados somente
por um pequeno número de pesquisadores e empresas de poucos países, em sua
maioria, desenvolvidos.

A “liberdade do alto-mar” é uma tradição de longa data e alguns acreditam que


ela tem um valor que deve ser mantido. Outros acham que os recursos genéticos do
alto-mar pertencem a toda a humanidade e que uma parcela de todos os benefícios
econômicos oriundos de sua utilização deveria subsidiar a preservação da
biodiversidade nos países em desenvolvimento.

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Referências

3 Referências
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