Leitura e Multiculturalidade
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Equipe de elaboração
Márcia Vandineide Cavalcante
Equipe de coordenação
Alison Fagner de Souza e Silva
Chefe da Unidade do Ensino Médio (GEPEM/SEDE)
Revisão
Ana Karine Pereira de Holanda Bastos
Chrystiane Carla S. N. Dias de Araújo
Rosimere Pereira de Albuquerque
SECRETARIA EXECUTIVA DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO
GERÊNCIA GERAL DE ENSINO MÉDIO E ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
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Sumário
1. Apresentação 5
2. Literatura Afro-Brasileira 9
Orientações para realização de atividades 11
Orientações para a Avaliação 14
3. Literatura Africana de Língua Portuguesa 15
Orientações para realização de atividades 18
Orientações para a Avaliação 23
4. Literatura Indígena 24
Orientações para realização de atividades 29
Orientações para a Avaliação 31
5. Referencial Bibliográfico 32
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1. Apresentação
Prezado professor,
Os estudos sobre leitura na escola é um tema recorrente na formação docente do
professor de Língua Portuguesa, no entanto, a sua relação com as questões relacionadas à
multiculturalidade é algo recente nos debates escolares, assim, constitui-se uma discussão que se
faz cada vez mais necessária, pois não se pode conceber um processo educacional e de
letramento literário desarticulado das questões culturais. É preciso também perceber a relação
intrínseca entre cultura e sociedade, e que a escola é constituída por uma multiplicidade de
sujeitos, oriundos de contextos diversos nos mais diferentes aspectos: social, etnico-racial e
cultural. Uma pergunta que podemos fazer é de que modo esse entrelaçamento de culturas
presentes na sala de aula está representado na educação literária dos nossos estudantes.
Nosso primeiro desafio como professor de língua portuguesa é, antes de tudo,
compreender os principais conceitos que circundam o campo da multiculturalidade e,
paralelamente, (re)pensar o processo de educação literária, tendo como base essa perspectiva
que pluraliza e abre espaço para outras vozes e para uma literatura que, por muito tempo, foi
marginalizada. A partir de uma reflexão sobre nossos percursos sócio-históricos do processo
educacional, Candaú (2003, p. 116) ressalta:
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Unidade Curricular (UC) Leitura e Multiculturalidade que será ministrada por professores de
língua portuguesa, no 1º semestre e no 2º semestre, do 3º ano do Ensino Médio, com uma
carga horária de 40 horas.
Processos criativos:
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2. Literatura Afro-Brasileira
O estudo de uma escrita sobre o negro, e/ou do negro, pode nos encaminhar para perceber
melhor as lutas empreendidas pelos sujeitos em busca de afirmações de identidades
historicamente subjugadas. E no caso específico da sociedade brasileira, em que vigoram a ideia e
o discurso celebrativos de uma miscigenação ou mestiçagem como algo constituidor da nação, a
literatura aponta e revela a incongruência da fala oficial e do imaginário que nos rege.
Conceição Evaristo (2017, p.24)1
Essa Lei acabou por desencadear mudanças nesse cenário, em um movimento em prol
de uma presença mais significativa das literaturas afro-brasileiras e africanas, especialmente de
autores africanos dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), ou literaturas
africanas de língua portuguesa. No Currículo de Pernambuco para o Ensino Médio, na área de
1
Disponível em: http://www.linguageral.com.br/site/downloads/titulos/77.pdf. Acesso em 10.03.2022.
2
Consultar também: Parecer CNE/CP nº 3/2004, Resolução CNE/CP nº 1/2004 e Parecer CNE/CEB nº 14/2015).
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Linguagem e Suas Tecnologias, essa temática aparece de forma marcante, no sentido de fomentar o
trabalho em sala de aula com essas literaturas múltiplas, diversas e tão importantes para uma
constituição histórica enquanto povo brasileiro. O professor pesquisador Dr. Eduardo de
Assis Duarte da Universidade Federal de Minas Gerais, coordenador do Grupo
Interinstitucional de Pesquisa “Afrodescendências na Literatura Brasileira” e do importante
“Portal da Literatura Afro-brasileira”3 aponta alguns elementos que distinguem a literatura
afro-brasileira:
O autor afirma que a literatura afro-descendente pode ser pensada a partir da temática,
da autoria, do ponto de vista, da linguagem e que leva em consideração um determinado
público específico. É importante destacar que esse é um conceito que vem sendo discutido e
formulado ainda recentemente e que cada dia vem sendo aprimorado. A literatura
afro-descendente é uma “literatura empenhada” (CANDIDO, 2004), que deve ser articulado
com a literatura brasileira canônica, de modo que traga à tona as temáticas sociais que
circundam a nossa história enquanto povo brasileiro e que não podem mais ser deixadas de
lado na educação literária dos nossos estudantes.
Partindo desses pressupostos teóricos, a seguir, serão apresentadas algumas
possibilidades metodológicas que podem contribuir para a abordagem das literaturas
afro-brasileiras em sala de aula.
3
Fonte: Disponível em: Inicial - Literatura Afro-Brasileira. Acesso em: 24.03.2022.
4
Para saber mais sobre cada um desses tópicos, leia o artigo completo: Por um conceito de literatura afro-brasileira1. Acesso em:
28/02/2022.
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analógicas e digitais como forma de assegurar o alcance aos interlocutores pretendidos. Neste
sentido, o trabalho com a literatura afro-brasileira na escola, além de contribuir para a
ampliação do repertório literário e estético do aluno, se mostra uma importante ferramenta na
promoção e valorização da cultura negra, de modo a propagar o respeito e a convivência
fraterna com toda a diversidade de etnias presentes em nosso Brasil e no mundo.
Por tudo que abordamos neste capítulo, percebemos a necessidade e a importância que
retomemos a autores canônicos como Machado de Assis, Lima Barreto, Cruz e Souza, bem
como a relevância de conhecermos e divulgarmos autores e autoras como como Maria Firmina
dos Reis (que é uma precursora do romance abolicionista no Brasil e a primeira mulher negra a
escrever literatura afro-brasileira); Solano Trindade (pernambucano necessário de ser estudado
na escola); Carolina de Jesus (que tem uma obra vasta, diversa e que trata de temas muito atuais)
e de autores contemporâneos como: Miriam Alves, Jeferson Tenório, Conceição Evaristo,
Djamila Ribeiro e tantos outros e outras, que podem ser trabalhados no desenvolvimento desta
Unidade, envolvendo tanto a prosa e poesia, sendo ampla e diversa. A seguir, apresentaremos
um mosaico de imagens referenciando algumas dessas obras citadas:
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Professor, para saber mais sobre estes autores e suas obras, clique nos links a seguir:
Djamila Ribeiro lança 'Cartas Para Minha Avó', onde revisita diferentes momentos de sua…
Bondelê #59 apresenta Maréia, mais entrevista com a autora (com legendas - só ativar)
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Palestra Maria Firmina Dos Reis Precursora da Negritude, com Eduardo de Assis …
https://blogdoims.com.br/quarto-de-despejo-a-peca-por-elvia-bezerra-julia-menezes-e-laura-klemz/
Acesso em: 16/03/2022.
Autoria Negra na Literatura Contemporânea: Bel Santos Mayer, Inaldete Pinheiro e Cidi…
Há também o “Coletivo Literatura também tem pele preta”, que é um grupo criado em
2018, que tem como objetivo a difusão da literatura afro-brasileira, a partir de eventos como
palestras, minicursos, oficinas, círculos de diálogo e lives. Siga a página do instagram e
acompanhe os interessantes eventos promovidos por essa equipe:
linktr.ee/ColetivoA.L.T.T.P.P
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de tais obras, a perspectiva é de que haja também uma expansão do cânone literário, o que
pode ser bastante produtivo e enriquecedor do ponto de vista do letramento literário e até
mesmo cultural. Compreendemos que um trabalho pedagógico dessa complexidade acaba
por retroalimentar a perspectiva de Freire (2011, p. 29 ) quando o autor afirma que:
É importante ressaltar, ainda, que o avanço das legislações em prol da inclusão das
literaturas africanas no ensino tem contribuído para que vários escritores africanos de
língua portuguesa conquistem, cada vez mais, leitores brasileiros e se destaquem no
cenário nacional, como é o caso dos angolanos Luandino Vieira, Ondjaki, das
moçambicanas Paulina Chiziane e Noémia de Souza e do moçambicano Mia Couto, dentre
outros, que têm se tornado cada vez mais conhecidos no Brasil.
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Escrito entre 1970 e 1971 e publicado em 1980, Mayombe é um romance que fala da luta
e resistência dos guerrilheiros angolanos contra as forças portuguesas. No ano de sua
publicação, Mayombe rendeu ao autor o Prêmio Nacional de Literatura de Angola, e, em 2016, o
livro entrou para a lista das leituras obrigatórias da Fundação Universitária para o Vestibular, da
Universidade de São Paulo, o que contribuiu para a divulgação desta obra, despertando o
interesse do público de leitores brasileiros e que eles se sintam estimulados a buscar e conhecer
outras obras do autor, que vem sendo publicadas pela Editora Kapulana5.
5
Para verificar as obras do autor que estão sendo publicadas no Brasil, acesse : http://www.kapulana.com.br/autor/pepetela/ . Acesso
em 17.03.2022.
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vastos, que podem gerar inúmeras relações com as produções literárias africanas e
afro-brasileiras. Ao se propor o estudo da literatura modernista brasileira, é possível privilegiar a
sua importância para a consolidação das literaturas africanas de língua portuguesa. No campo
da poesia, por exemplo, as propostas dos escritores modernistas brasileiros repercutem nos
textos elaborados pelos escritores dos países africanos, em especial em Angola, Cabo Verde e
Moçambique. Como se sabe, a afirmação de nossa independência literária foi uma
preocupação que determinou temas e formas da poesia concebida por poetas como Mário de
Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira. Para eles, a questão da identidade nacional foi
prioritária e se traduziu em poemas que falavam sobre a história e o cotidiano brasileiros
através de uma linguagem irreverente que flexibilizava as variantes normativas ao
aproximar a língua falada e a escrita poética.
No panorama dos autores brasileiros que se consagraram na segunda metade do século
XX, Guimarães Rosa emerge com destaque. No âmbito dos estudos comparados de
literaturas de língua portuguesa, seu papel dinamizador é de grande importância. O angolano
Luandino Vieira e o moçambicano Mia Couto, por exemplo, são escritores que declararam sua
admiração pelo autor brasileiro, afirmando ainda que a obra roseana foi fundamental em seus
próprios processos de criação ficcional. Aliás, é interessante notar que os três escritores
nomeiam seus contos como “estórias”, numa referência às narrativas de cunho tradicional e
popular, contadas oralmente (MARTIN, 2017).
Parece-nos fundamental que os alunos, durante o Ensino Médio, entrem em contato
com autores contemporâneos, cujas obras foram publicadas mais recentemente no sentido de
reconhecer e analisar diferentes manifestações criativas, artísticas e culturais, por meio de
vivências presenciais e virtuais que ampliem a visão de mundo, sensibilidade, criticidade e
criatividade. Neste sentido, como forma de divulgar alguns nomes e obras mencionadas neste
material, apresentamos, a seguir, um mosaico com algumas imagens de obras e autores da
literatura africana de língua portuguesa, que vêm ganhando espaço no cenário nacional: os
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Para saber mais sobre sobre estes autores e suas obras acesse os links abaixo:
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Acesse também um material didático interativo com contos e audiocontos dos países de
língua portuguesa, que você poderá utilizar com seus alunos. O material é fruto de um trabalho
coletivo de muitas vozes e mãos! Stalkeando cada página você aprenderá e se divertirá muito!
Acesse o link: Língua & Literatura em ação com quantas nações se constrói uma interdis…
6
Ministrante: Jacqueline Kaczorowski (Doutoranda em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa -
DLCV).Coordenadora: Profa. Dra. Rita de Cássia Natal Chaves (DLCV - FFLCH).
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4. Literatura Indígena
Quando os índios falam: “A Terra é nossa mãe”, os outros dizem: “Eles são
tão poéticos, que imagem mais bonita!”. Isso não é poesia, é a nossa vida.
Ailton Krenak (2020, p.60)
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Além dessa percepção e desse teor de engajamento, é importante lembrar que, antes de
pensarmos na literatura em “pele de imagens” - termo usado por Davi Kopenawa para definir
o livro -, é preciso considerar que cada um dos povos indígenas possui uma rica oralidade nas
mais diferentes línguas, portanto, a literatura indígena em língua portuguesa é, também, uma
possibilidade de que haja uma maior divulgação dessa rica memória, que constitui a nossa
história como povo, seja também atualizada, articulando as tecnologias da memória com as
novas tecnologias. O autor Daniel Munduruku9 afirma que a escrita tem sido “um exercício de
memória para eu me colocar no coração do meu povo novamente”10. O autor destaca ainda o
quanto a escrita é uma tecnologia recente para a maioria dos povos indígenas e ressalta a
importância da oralidade:
A escrita é uma conquista recente para a maioria dos 305 povos indígenas que
habitam nosso país desde tempos imemoriais. Detentores de um conhecimento
ancestral apreendido pelos sons das palavras dos avós, estes povos sempre
9
Escritor pertencente à etnia Munduruku, autor de mais de cinquenta livros, dentre os quais: Histórias de índio (Editora Moderna, 1997),
Kaba Darebu (Editora Brinque-Book, 2002) Coisas de índio (Editora Callis, 2003), Todas as coisas são pequenas (Editora ARX, 2018),
Das coisas que aprendi (UK’A Editorial, 2014), Foi vovô que disse (EDELBRA, 2014), Catando piolhos, contando histórias (Editora
Escarlate, 2014), Memórias de índio: uma quase autobiografia (EDELBRA, 2016), Vozes ancestrais: dez contos indígenas (FTD, 2016) etc.
É vencedor de dois prêmios Jabuti: o primeiro, com a obra Coisas de índio (verão infantil), em 2004, na categoria livro didático, ensino
fundamental e médio; o segundo, com a obra Vozes ancestrais: dez contos indígenas, em 2017, na categoria literatura juvenil.
10
Disponível em:
https://portal.apexbrasil.com.br/noticia/Serie-Autores-Brasileiros-Daniel-Munduruku-apresenta-cultura-indigena-em-suas-obras/.
Acesso em: 15.03.2022.
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É muito comum, ao pensar em literatura, que façamos, imediatamente, uma relação com
a escrita, como se a literatura fosse originária apenas da escrita e produzida por uma elite
intelectual capaz de reunir todos os segredos da arte literária. Contudo, quando pesquisamos
grandes estudiosos da área, constatamos que a literatura, mesmo as canônicas, não apenas são
tributárias das culturas orais (oralidade), como mantém com elas, segundo Ginzburg (2002), um
movimento de circularidade, ou seja, a oralidade sempre realimenta a literatura escrita e
vice-versa.
Falar em literatura indígena no Brasil, segundo essa visão canônica e deturpada, seria um
contrassenso, pois mesmo nas comunidades indígenas tradicionais, em que prevalece a
oralidade, há uma certa escrita, traduzida nas suas práticas diárias, em seus artesanatos, em seus
rituais, danças e em outras práticas diárias, e não necessariamente utilizando a escrita alfabética.
Quem visita uma comunidade indígena com essas práticas preservadas, percebe que há cantos,
rituais e momentos em que a ancestralidade e os presentes se encontram por meio da contação
de histórias ou dos poderes de evocação da dança e dos cantos. Se as danças e outros rituais
podem ser aproximados do teatro e das artes visuais (por exemplo, assistir o ritual da Aruanã
entre os Javaés na Ilha do Bananal é participar de um espetáculo catártico, capaz de nos
envolver numa atmosfera mágica e até transcendental). O mesmo acontece ao presenciarmos
uma noite em volta do fogo com um ancião contando suas histórias e, por meio delas, procura
explicar os segredos das origens da vida e dos elementos principais da Terra, além de
demonstrar a virtude de guerreiros ancestrais ou até mesmo as trapalhadas de um Pajé ou das
sagacidades de animais pequenos enfrentando os grandes (por exemplo, as espertezas do Jabuti,
que sempre vence a temível Onça).
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prazerosos, a literatura produzida oralmente pelos indígenas tem o seu grande valor: Ela
encanta e reencanta o mundo, tornando-o mais compreensível e mais suscetível à nossa
sensibilidade. É um grande prazer, por exemplo, ler as histórias do povo xavante no livro
“Wanrêmè Za’ra - Nossa palavra: Mito e Histórias do Povo Xavante” – Editora do Senac –
histórias narradas por anciãos da tribo e ricamente ilustrado pelas crianças da mesmo tribo.
Nele podemos encontrar histórias, como a Lenda do Fogo, que estabelecem uma bela
intertextualidade com mitologias de vários povos do mundo, entre eles, o mito de Prometeu
(Gregos) – em outras palavras, essas histórias, apesar de regionais, facilmente estabelecem
intertextualidade com histórias de origens de várias partes do mundo.
Como dito anteriormente, desde o início da década de 1990, a literatura indígena vem se
apresentando de forma mais concreta e exigente. Novos autores indígenas surgiram, alguns
compilando histórias de suas etnias, outros criando novas histórias de forma mais intercultural.
O resultado já vem sendo notado tanto pelas editoras como por educadores preocupados em
estabelecer laços interculturais para compreender melhor as origens de nossa cultura brasileira.
No mosaico abaixo apresentaremos algumas imagens de algumas das obras literárias indígenas:
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Abrir um bom espaço para literatura indígena nos currículos escolares não só marca um
forte compromisso com a brasilidade, como também permite, sobretudo às crianças, jovens e
adultos, abrir novas perspectivas criativas. Neste sentido, é importante que o trabalho com a
literatura indígena seja desenvolvido a partir das obras dos autores indígenas contemporâneos,
na intenção de que os estudantes possam reconhecer e analisar diferentes manifestações
artísticas e culturais por meio de vivências presenciais e virtuais que ampliem a visão de mundo,
sensibilidade, criticidade e criatividade.
Além da leitura e análise das obras literárias dos autores indígenas contemporâneos,
outra possibilidade metodológica pode ser também a realização de um trabalho comparativo e
contrastivo, a respeito das representações indígenas presentes nas obras de Gonçalves Dias,
José de Alencar, Mário de Andrade, por exemplo. É importante lembrar que há várias críticas
sobre a perspectiva de obras desses autores, no que diz respeito à maneira como elas
representam os povos indígenas, no entanto, uma leitura crítica e articulada com a literatura
produzida pelos próprios indígenas, que vêm corajosamente assumindo essa missão de criar
seus livros a partir da cultura que vivenciaram e vivenciam, pode promover: reflexões, diálogos,
combate a preconceitos e, sobretudo, uma valorização da diversidade e da multiculturalidade.
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Neste sentido, além do trabalho da literatura impressa nos livros, o trabalho com a
literatura indígena na sala de aula pode envolver também diversos outros recursos como
podcasts, sites, vídeos, que vêm sendo também canais de divulgação dessas importantes
produções. A seguir, relacionamos alguns dos materiais que podem ser utilizados para o seu
aprofundamento sobre a temática e alguns outros que podem ser utilizados com os alunos em
sala de aula.
Para acessar, clique aqui: #21 - Daniel Munduruku: Literatura, Educação e Resistência do
Movimento Indígena - Narrativas do Antropoceno | Podcast on Spotify
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FLECHA 3 - METAMORFOSE
Escute o clipe do cantor e compositor Emicida linkado a seguir e observem que há uma linda
narrativa Krenak narrada por Gilberto Gil.
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5. Referencial Bibliográfico
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CARELLI, Rita. Das crianças Ikpeng para o mundo (Marangmotxíngmo Mïrang). Coleção Um
Dia na Aldeia. Editora Cosac Naify, 2014.
CLASTRES, P. De que riem os índios?. In. A Sociedade Contra o Estado. Editora Ubu, 2017
DORRICO, Julie. Vozes da literatura indígena brasileira contemporânea: do registro etnográfico à criação
literária. In:
DORRICO, Julie; DANNER, Leno Francisco; CORREIA, Heloisa Helena; DANNER,
Fernando. (Org.). Literatura Indígena Brasileira Contemporânea: Criação, Crítica e
Recepção. 1 ed. Porto Alegre: Editora FI, 2018, v. 1, p. 227-256.
FREIRE, Paulo. A Importância sobre o ato de ler: em três artigos que se completam. 51.ed.
São Paulo: Cortez, 2011a.
HERNANDES, Roberta; MARTIN, Vima Lia. Veredas da Palavra. Manual do Professor. v.1,
v. 2 e v. 3. Língua Portuguesa - Ensino Médio. São Paulo: Ateliê, 2016.
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GERÊNCIA DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS DO ENSINO MÉDIO
KRENAK, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
MARTIN, Vima Lia de Rossi. Algumas propostas para o ensino das literaturas africanas e
afro-brasileira no Ensino Médio. ABRIL (NITERÓI), v. 8, p. 125, 2017.
ROJO, Roxane; MOURA, Eduardo. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola, 2012.
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