UNIDADE II
Semântica e Pragmática
Profa. Ma. Ana Lúcia Machado
Estilística
Objetivo: estudar os recursos expressivos que marcam o estilo.
Estilo:
uso popular da língua: estilística linguística;
uso da língua erudita: estilística literária.
Metodologia: recorta o objeto de estudo da estilística:
estilística do som; estilística da palavra; estilística da frase; estilística da língua.
Estilística da língua
Objeto:
Descrição do sistema expressivo da língua coletiva, desconsiderando o discurso individual
da língua.
Estudo: falantes alteram o sistema linguístico com a finalidade de exprimir emoções e
influenciar pessoas.
Sociolinguística: vê a estilística como o estudo das variedades, sejam elas na língua
falada ou na língua escrita, adequadas às diferentes situações e próprias de diferentes
classes sociais.
Estilística literária
Estudo dos desvios da linguagem em relação ao uso comum.
Estudo da diferença entre fala usual e fala literária.
Apreender os modos como as experiências social, histórica, moral, religiosa são
representadas em forma literária.
Estilística funcional e estrutural
Objetivo:
Analisar o efeito poético a partir das estruturas do código linguístico.
Roman Jakobson é a figura em destaque, pois preconizou as funções da linguagem com
base nos elementos da comunicação. Por exemplo, se em um texto a mensagem é o foco,
teremos a função poética que organiza as palavras de maneira que a mensagem mexa com
a sensibilidade do leitor. Alguns recursos fonéticos enriquecem o poder sugestivo
das palavras.
Estrutura
canal
emissor mensagem receptor
referente
código
fática
emotiva poética apelativa
referencial
metalinguística
Estilística estrutural
A repetição de fonemas em palavras diversas (rima, aliteração, assonância etc.)
De um mesmo padrão vocabular (palavras com número de sílabas e posição de
acento equivalentes).
A série sinonímica, os antônimos.
Repetição de um mesmo segmento melódico (pé métrico, verso), a simetria, o paralelismo.
Estilística retórica
Objetivo: analisar a construção da persuasão, encontrada principalmente nos textos das
propagandas que utilizam dos recursos expressivos para persuadir as pessoas.
A função retórica serve para esse propósito e é entendida como as múltiplas alterações da
linguagem (metábole) para produzir um efeito estético.
No plano da expressão, as mudanças são classificadas em metaplasmos; nas frases,
metataxes, e no conteúdo, metassemas.
Interatividade
Determine a alternativa incorreta:
a) A semântica analisa os fenômenos da linguagem, tendo por objetivo o estilo.
b) Alguns teóricos consideram o estilo apenas quando se trata de língua literária.
c) Outros teóricos consideram o estilo de acordo com a diversidade de uso da língua.
d) Não cabe à semântica analisar como certa comunidade linguística reflete sua mentalidade
no idioma correspondente.
e) Segundo Bally, um dos três graus de estudo da estilística é a estilística individual.
Resposta
Determine a alternativa incorreta:
a) A semântica analisa os fenômenos da linguagem, tendo por objetivo o estilo.
b) Alguns teóricos consideram o estilo apenas quando se trata de língua literária.
c) Outros teóricos consideram o estilo de acordo com a diversidade de uso da língua.
d) Não cabe à semântica analisar como certa comunidade linguística reflete sua mentalidade
no idioma correspondente.
e) Segundo Bally, um dos três graus de estudo da estilística é a estilística individual.
A alternativa incorreta é a “D”, pois a estilística particular
ou da língua verifica como certa comunidade linguística
reflete sua mentalidade no idioma correspondente.
Estilística e objeto de investigação
Definição homogênea de estilística:
1. Referência: linha descritiva de investigação que pressupõe os estudos de Bally e
Jakobson sobre os níveis de descrição da língua: o fonético, o léxico e o sintático.
2. Para analisar o fonético, temos a estilística do som.
3. O léxico: estilística da palavra.
4. O sintático: estilística da frase.
5. Aspectos relacionados ao discurso: estilística da enunciação.
Estilística do som
A estilística do som também é chamada de fonoestilística por analisar os recursos
expressivos de natureza sonora, observáveis nas palavras e nos enunciados.
Seu objeto de investigação são os fonemas e prosodemas: acento, entoação, altura e ritmo.
Analisa os recursos expressivos nos diferentes níveis da língua.
A sonoridade pode provocar sensações de agrado ou desagrado (motivação sonora).
Exemplos: palavras – escuro/diurno.
Exemplo
Vogal /u/ pode estar relacionada à ideia de escuridão, na palavra escuro, a zona de
articulação da vogal /u/ implica os lábios fechados, com pouco escape de ar, bastante
sugestivo para a ideia de escuridão.
Na palavra diurno não temos a mesma sensação. Uma das hipóteses que pode explicar
essa diferença é a zona de articulação dos sons anteriores à vogal. Em noturno, a vogal /u/
se contamina pela zona de articulação, também fechada, do fonema /t/. Em diurno, a vogal
/u/ se contamina pela zona de articulação mais aberta da vogal /i/.
Estilística do som: figuras de som
Aliteração é um recurso expressivo em que ocorre a repetição insistente dos mesmos sons
consonantais. Exemplo: Poema de H. Ziskind.
“tudo tupi/ tupi guarani” (Hélio Ziskind).
A assonância é a repetição dos mesmos sons vocálicos. Exemplo: no mesmo poema
“Jundiaí Morumbi Curitiba Parati”.
Estilística do som: figuras de som
Homeoteleuto é a repetição de sons no final das palavras sem obedecer a uma regra. Ocorre
ocasionalmente numa frase ou verso. Exemplo: “Cassiano pensou, imaginou, trotou, cismou
[...] (Sagarana, de Guimarães Rosa).
Eco: homeoteleuto não intencional (vício de linguagem).
Rima: coincidência de sons no final das palavras.
Exemplo:
“O índio andou pelo Brasil
deu nome pra tudo que viu”. (disponível em: https://it.bananacifras.com/teclado/h/helio-
ziskind/tu-tu-tu-tupi)
Figuras de som
Anominação: consiste no emprego de palavras do mesmo radical. Exemplo: “eu tive um
sonho sonhado”.
Paronomásia: ocorre quando as palavras se aproximam pela sonoridade, mas com sentidos
diferentes. Exemplo: descrição/discrição.
Onomatopeia: é a repetição ou imitação de ruídos.
Harmonia imitativa: resulta de um aglomerado de recursos expressivos. Exemplo: “Sino de
Belém, pelos que inda vêm! Sino de Belém bate bem-bem”.
Ocorre aliteração do /b/ e a onomatopeia (bem – bem).
Estilística fônica
A estilística fônica trata de alterações fonéticas que têm valor expressivo, mas não são
necessariamente figuras; caracterizam estilos:
1. Metaplasmos são alterações fonéticas que ocorrem por supressão, acréscimo, troca ou
permuta de fonemas. Exemplo: arvre (árvore); pobrema (problema) etc.
2. Alterações fonéticas em autores regionalistas são formas populares de marcar o nível
cultural das personagens rurais ou dos sertões.
Podem ocorrer acréscimos de fonemas (murucego); acréscimo de /s/ (nuncas); supressão de
sons (manhecer); supressão de vogal átona (escrafuncar – escrafunchar); forma diminutiva
em “im” (riachim) etc.
Estilística fônica – Alterações fonéticas na poesia
1. Crase: fusão de duas vogais iguais. Ex.: “Eu não espero o bem...”.
2. Elisão: desaparecimento da vogal final de uma palavra ante a vogal inicial da palavra
seguinte. Ex.: “Alma serena e casta”.
3. Sinalefa: fusão da vogal final de uma palavra, reduzida a uma semivogal, com a vogal
inicial da palavra seguinte, formando um ditongo. Ex.: “Tudo quanto afirmais...”.
4. Eclipse: encontro da preposição “com” e artigo. Ex.: co’ouvido (com o ouvido).
5. Hiato: realçar o verso em um tom pausado. Ex.: “Gue/rrei/ros, ou/vi” (Gonçalves Dias).
Recursos fonéticos suprassegmentais (prosodemas)
Acento de duração é a repetição de grafemas. Ex.: Ela é Maaaravilhosa”.
Entonação é a curva melódica que a voz descreve ao pronunciar palavras. Caracteriza, por
exemplo, a ironia.
Sinais de pontuação (ponto final, vírgula, ponto e vírgula etc.) indicam pausa, suspensão ou
elevação da voz, e permitem múltiplas leituras.
Ortografia pode marcar um recurso expressivo. Ex.: o uso de letra maiúscula quando a
norma prega o uso de minúscula, ou o contrário – “O Mestre me conduz”.
Interatividade
Indique a alternativa correta quanto à predominância de estilo no trecho:
“Chia a lebre, grasna o pato,
Ouvem-se os porcos grunhir,
Libando o suco das flores,
Costuma a abelha zumbir.” (Pedro Dinis)
a) Aliteração.
b) Assonância.
c) Paronomásia.
d) Anominação.
e) Onomatopeia.
Resposta
Indique a alternativa correta quanto à predominância de estilo no trecho:
“Chia a lebre, grasna o pato,
Ouvem-se os porcos grunhir,
Libando o suco das flores,
Costuma a abelha zumbir.” (Pedro Dinis)
a) Aliteração.
b) Assonância.
c) Paronomásia.
d) Anominação.
e) Onomatopeia.
Palavras também são onomatopaicas: chiar, grasnar, grunhir,
zumbir (e não apenas expressões: toc toc, vruum, chuáá...).
Pragmática
Palavra pragmática (grega pragma) = ação.
Desenvolvida no século XX por Morris (1938) com o estudo da semiótica.
Seguem-se: estudos linguísticos com Austin (1962), Grice (1978, 1979) e Searle (1979).
Todos os parâmetros pragmáticos referem-se aos usuários da língua apenas no caso de
que tais parâmetros devam ser conhecidos ou tidos como verdadeiros pelos participantes.
Pragmática
Objeto:
A ação verbalizada através da linguagem: o que fazemos quando falamos ou escutamos?
A pragmática é o estudo:
da língua em uso;
da interação entre o código linguístico, a linguagem e o mundo (sociedade);
dos princípios que explicam porque certas sentenças correspondem a elocuções anômalas
ou não possíveis;
da linguagem de uma perspectiva funcional.
Principais correntes pragmáticas
Pragmatismo Americano desenvolvido por W. James & Morris sob influência dos estudos
semiológicos de Charles Peirce, enfatiza a inclusão do sujeito na construção do sentido e
desconstrói (relativiza) a noção clássica de verdade.
Atos de Fala estudos influenciados pela Filosofia da Linguagem (Wittgenstein) e
alavancados por Austin, enfatiza a performatividade da linguagem, cuja definição estaria
diretamente relacionada à ação e interação.
Comunicação estudos integram as teorias anteriores, mas acrescentam ainda o interesse
pelas questões sociais e históricas em que priorizam as relações sociais (de classe, gênero,
raça e cultura).
Pragmatismo americano
O primeiro autor a usar o termo pragmática (pragmatics) foi o filósofo americano Charles
Peirce (muito conhecido pelas suas contribuições na área de semiótica).
Contribuição mais representativa de Peirce: a tríade pragmática, representada na relação
entre signo, objeto e interpretante.
signo
objeto interpretante
Pragmatismo americano
Relação entre signo, objeto e interpretante: considera o conceito de sinal, não deixar de lado
aquilo a que esse sinal se refere e, principalmente, a quem ele significa.
Signo: sinal.
Objeto: aquilo a que esse sinal se refere.
Interpretante: a quem o sinal significa.
Pragmática – relação entre a expressões e seus locutores.
Pragmatismo americano
Questiona a noção de verdade da pessoa que fala, como detentora da verdade, do próprio
significado, uma vez que a verdade nada mais é do que aquilo que (todos nós usuários da
língua) queremos que seja!
Se há coerência, pouco importa o valor de verdade; qualquer uma das atitudes
proposicionais do falante é verdadeira se ela é coerente como o conjunto de atitudes
proposicionais desse mesmo falante.
Atos de fala
Austin foi quem melhor se destacou na exposição dos problemas, discutindo a materialidade
e historicidade das palavras.
Teoria para explicar questões, exclamações e sentenças que expressam:
comandos, desejos e concessões;
linguagem é ação.
Atos de fala
Distinção entre os enunciados.
1. PERFORMATIVOS – que realizam ações porque são ditos:
Exemplos: “Eu vos declaro marido e mulher, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”,
“Declaro encerrada a sessão”.
Verbos performativos: prometer, declarar, batizar, casar, ordenar, pedir etc.
Atos de fala
2. CONSTATIVOS – que realizam apenas uma afirmação, constatação de um estado
de coisas.
Exemplos:
“Está fazendo um sol lindo”.
“A mosca caiu na sopa”.
Interatividade
Uma das teorias que mais influenciou a constituição do Pragmatismo Americano foi a teoria
semiótica de Charles S. Peirce, que destacava a tríade pragmática. Quais são os elementos
dessa tríade?
a) Signo, objeto, interpretante.
b) Sentido, referência, significação.
c) Sintaxe, semântica, interpretante.
d) Signo, objeto, pragmática.
e) Sentido, objeto, referência.
Resposta
Uma das teorias que mais influenciou a constituição do Pragmatismo americano foi a teoria
semiótica de Charles S. Peirce, que destacava a tríade pragmática. Quais são os elementos
dessa tríade?
a) Signo, objeto, interpretante.
b) Sentido, referência, significação.
c) Sintaxe, semântica, interpretante.
d) Signo, objeto, pragmática.
e) Sentido, objeto, referência.
Atos de fala
O estudo dos contrastes entre esses tipos de enunciados, performativos e constativos,
orientou Austin a seguir no raciocínio e instaurar a separação de diferentes níveis de ação
linguística através de enunciados.
Esses níveis de ação agem simultaneamente no enunciado e Austin os denomina:
a) Atos locucionários.
b) Atos ilocucionários.
c) Atos perlocucionários.
Atos de fala
Atos locucionários:
Os que dizem alguma coisa:
“Eu vou estar em casa hoje”.
Eles têm a ver com o conjunto de sons que se organizam para efetivar um significado
referencial e predicativo, pois efetiva uma sentença sobre o eu.
É a simples enunciação de uma sentença.
Atos de fala
Atos ilocucionários:
Os que refletem a posição do locutor em relação ao que ele diz:
“Eu vou estar em casa hoje”.
Dizem respeito à força que o enunciado produz que se tipifica em pergunta, afirmação,
promessa, ameaça, ordem, pedido etc.
Atos de fala
Atos perlocucionários:
Os que produzem certos efeitos e consequências sobre o interlocutor, sobre o próprio locutor
ou sobre outras pessoas:
“Eu vou estar em casa hoje”.
O efeito produzido na pessoa que ouve o enunciado, por exemplo, pode ser um efeito de
agrado, de medo, de ameaça, transformando-se em ação.
Atos de fala
Níveis de ação relação com
O código que efetiva
Locuciomário
significado referencial.
Ilocucionário A força que o enunciado produz.
Perlocucionário O efeito produzido no interlocutor.
Atos de fala
Podem trazer ambiguidades em suas interpretações, pois um enunciado pode tanto ser
entendido como uma ordem, como uma ameaça ou como um pedido.
É importante considerar sempre o contexto, a situação de fala entre os falantes em questão.
Verbos performativos: prometer, declarar, batizar, casar, ordenar, pedir etc. (é impossível a
distinção entre os valores de verdade/falsidade para esses enunciados).
Atos de fala
Em Speech acts (1981), John Searle interpreta e acaba a obra de Austin, defendendo o
princípio da intencionalidade nos Atos de Fala.
Derrida e Ducrot também se dedicaram a ler e problematizar a obra de Austin, apontando
para outras faces de análise da linguagem que não estivessem presas à experiência e seus
níveis de ação; eles valorizam aspectos mais históricos, filosóficos, ideológicos, estruturais
e argumentativos.
Interatividade
Qual contexto apresenta enunciado que pode ser apontado como performativo na Teoria dos
Atos de Fala?
I. “Eu te batizo Asdrúbal Alberto da Silva, em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo”.
II. “Diante de Deus e da Igreja, eu vos declaro Marido e Mulher”.
III. “Declaro encerrada a sessão”.
IV. “Eu te ordeno que saias deste corpo, pois ele não te pertence”.
Está correto:
a) I e II.
b) II e III.
c) IV.
d) II, III e IV.
e) I, II, III e IV.
Resposta
Qual contexto apresenta enunciado que pode ser apontado como performativo na Teoria dos
Atos de Fala?
I. “Eu te batizo Asdrúbal Alberto da Silva, em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo”.
II. “Diante de Deus e da Igreja, eu vos declaro Marido e Mulher”.
III. “Declaro encerrada a sessão”.
IV. “Eu te ordeno que saias deste corpo, pois ele não te pertence”.
Está correto:
a) I e II.
b) II e III.
c) IV.
d) II, III e IV.
e) I, II, III e IV.
Referência
Obras essenciais:
FIORIN, J. L. (org.). Introdução à linguística. São Paulo: Contexto, 2007. 1 e 2 v.
MARTELOTTA, Mario Eduardo (org.); et. al. Manual de linguística. São Paulo: Contexto,
2008.
MARTINS, N. S. Introdução à estilística: a expressividade na língua portuguesa. São Paulo:
EDUSP, 2000.
PINTO, J. P. Pragmática. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. Introdução à linguística – domínios
e fronteiras. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2007. 2 v.
SEARLE, John. Speech acts. São Paulo: Cambridge University
Press, 1981.
ZISKIND, Hélio. Tu tu tu tupi. Disponível em:
https://it.bananacifras.com/teclado/h/helio-ziskind/tu-tu-tu-tupi.
Acesso em: 02 ago. 2024.
ATÉ A PRÓXIMA!