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Getleman Jack

Anne lister
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE AUDIOVISUAIS E PUBLICIDADE
Memória de pesquisa

UM DIÁRIO DE ARTE PARA ANNE LISTER E ANN WALKER

Maria Christine Souza dos Santos

Orientador Luciano Mendes de Souza

Brasília - DF
2020
UM DIÁRIO DE ARTE PARA ANNE LISTER E ANN
WALKER

Maria Christine Souza dos Santos

Projeto final para apresentação do curso de


Publicidade e Propaganda da Faculdade de
Comunicação da Universidade de Brasília, como
requisito para obtenção de grau de Bacharel em
Publicidade e Propaganda.

Professor Luciano Mendes de Souza


Orientador

Profª Suelen Brandes Marques Valente


Examinadora

Profª Selma Regina de Oliveira


Examinadora

Profª Carina Flexor


Suplente

2
Agradecimentos:

Queria agradecer primeiramente ao meu professor orientador Luciano Mendes que


sempre foi e sempre será minha figura paterna da FAC. Um professor que sempre me apoiou,
acreditou no meu potencial mesmo quando eu não acreditei, me encorajou e também foi severo
quando eu me distraí. Nunca vou esquecer sua generosidade e seu carinho.
Obrigada às minhas professoras Rafiza Varão, Selma Regina, Dione Oliveira e Suelen
Brandes Marques que me inspiraram a ser a comunicadora que eu sou atualmente.
Todo o meu amor a equipe do SOS Imprensa que me acolheu com tanto amor por todos
esses semestres em que estive lá. Vocês são como uma família pra mim.
Obrigada a minha família que cuidou de mim sempre, mas especialmente no processo
desse trabalho. Jamais poderei retribuir o suficiente.
A todo fandom de Gentleman Jack, o meu amor e carinho. Acho que realmente encontrei
o meu lugar nesse mundo ao lado de todos vocês.
As minhas melhores amigas Sophie Coston, Clare Chai (蔡颖慧), Marlene Oliveira,
Fiona Moorcroft e Steph Gallaway: obrigada infinitamente e imensamente por toda a paciência,
o apoio constante e imprescindível de vocês. Sem vocês eu não teria conseguido correr até
metade desse caminho.
Luigi Tomiaki, Luis Gabriel, Vinícius Vral, Bruna Montes, Lisandra Reis, Leya Silva,
Isabella Vivan e Lucas Guaraldo: obrigada por me abraçarem e por me levantarem em todos os
momentos que eu precisei, cada sorriso e abraço que vocês me deram na FAC. Vocês são os
melhores FACmigos que eu poderia ter.
Júlia Dias: você é a irmã que a UnB me deu, obrigada por me encorajar sempre. E Serena
Santos, sangue do meu sangue, minha irmã mais nova: acho que nascemos na ordem errada,
você é a pessoa mais madura que eu já conheci. Obrigada por me apoiar.
Camila Bezerra e Lorena Herrero: minhas professoras de desenho que a vida me
presenteou como melhores amigas. Obrigada pela inspiração diária. Vocês moram no meu
coração.
A Sally Wainwright e Anne Choma: vocês mudaram a minha vida e de tantas outras
mulheres LGBTQ+. Jamais conheceria Anne Lister e Ann Walker se não fossem vocês duas.
A Anne Lister e Ann Walker, espero que vocês me vejam daí de cima, de mãos dadas.

3
Resumo:

Esse projeto registra o desenvolvimento da produção de um livro de arte intitulado Um diário


para Anne Lister e Ann Walker que busca mostrar a história das personagens históricas Anne
Lister e Ann Walker, com base na produção televisiva da série Gentleman Jack a partir do
conhecimento que foi adquirido nas disciplinas de Comunicação Social no curso de Publicidade
e Propaganda. Pela análise visual cenográfica e audiovisual e a complementação vinda de livros
e documentos dessas mulheres, o livro foi composto usando as narrativas de diários pensando
em traduzir a história de ambas as mulheres em formato de ilustrações.

Palavras-chave: Comunicação; Diários; Ilustração; LGBT; Livro de arte; Século XIX.

Abstract:

This project records the development of the production of an artbook entitled “A diary for Anne
Lister and Ann Walker” that looks forward to show the history of the historical characters Anne
Lister and Ann Walker, based on the television production of Gentleman Jack series with the
knowledge that was acquired in the subjects of Social Communication in the course of Publicity
and Advertising. Through the scenographic and audiovisual analysis and the complementation
coming from books and documents of these women, the book was composed using the
narratives of diaries to translate the story of both women to the format of illustrations.

Keywords: Communication; Diaries; Illustration; LGBT; Artbook; 19th century.

4
Sumário:

6. INTRODUÇÃO
8. PERGUNTA DE PESQUISA
8. ESTADO DA QUESTÃO
9. JUSTIFICATIVA
10. OBJETIVOS
1) Gerais
2) Específicos
11. QUADRO REFERENCIAL TEÓRICO
15. METODOLOGIA
19. DESENVOLVIMENTO
23. 1.) Lista prévia de artes
24. 2.) O imagético de West Yorkshire e Inglaterra no séc. XIX
26. 3.) As cores e os trajes
40. 4.) As cores e os cenários
52. 5) As cores e os diários
55. 6.) Paleta de cores
56. 7.) A tipografia para o produto
64. 8.) A narrativa do artbook e as artes
99. 9.) A montagem gráfica do artbook
106. CONSIDERAÇÕES FINAIS
111. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
113. ANEXOS
115. APÊNDICES

5
Introdução:
Na Inglaterra do século XIX, o casal Anne Lister e Ann Walker resolveu dar um passo
ousado na história: elas se casaram secretamente em uma igreja de Yorkshire. A união
certamente não foi reconhecida ou mesmo vista pelo clero, mas nas preces e nos corações destas
mulheres a promessa de comprometimento de um casamento havia se constituído até que a
morte as separasse.
Toda essa história está escrita em diários que Anne Lister produziu e eles foram
encontrados, viraram livros, filme e até uma série. Porém, ainda assim essa história pouco
difundida no Brasil ainda não é tão conhecida, apesar de ser um grande marco para a história
lésbica. Ao tomar conhecimento da série Gentleman Jack, fui completamente tomada pela
vontade de contar esse marco. Comecei com os desenhos e pequenas fanarts, até que isso se
tornasse uma grande bagagem que precisava tomar forma para que isso pudesse se tornar uma
maneira de levar a história de Anne Lister e Ann Walker para a sociedade.
Na busca de um formato que atendesse a vontade de registrar a história de Anne Lister e
Ann Walker em uma produção gráfica e que pudesse refletir esses aspectos do meu traço com
o do estilo da época em que as mulheres viveram, a série televisiva Gentleman Jack (2019)1
melhor se enquadra na expressão do casal no formato audiovisual e dá vida e rosto a elas.
A série retrata o período de 1832 na Inglaterra em que Anne Lister dá o seu salto mais
alto a frente de seus passos, quando aos quarenta anos de idade ela se encontra no fim de um
ciclo de planos através da Europa e relacionamentos frustrados e decide voltar para casa em
Shibden Hall (West Yorkshire) para repensar como retomar sua história, que é sempre
documentada por ela mesma em diários desde a adolescência. “Estou velha demais para isso.”
diz a personagem ao receber o convite de casamento da mulher que havia se apaixonado na alta
sociedade, a Srta. Vere Hobart, prestes a se tornar Sra. Cameron. E em poucos dias, ela descobre
que um amor pode surgir entre ela e sua vizinha rica, Ann Walker.
O jeito intenso, complexo, confiante e inspirador de Anne Lister e a coragem, braveza e
paixão de Ann Walker é o que move pesquisadoras inglesas a se dedicarem a essas histórias,
assim como eu me senti inspirada a reproduzi-las através deste produto que é um artbook2 e do
processo que me levou até o fim dessa saga.
Apesar do imenso material que existe (e que ainda está em processo de descoberta), ainda
não há um livro ou pesquisa em português que conte essa história, o que me moveu mais para

1
Gentleman Jack (BBC One /HBO Go) <https://www.bbc.co.uk/programmes/m00059m9>,
<https://www.hbo.com/gentleman-jack>
2
Artbook: livro de arte em inglês. Traduzido pela própria autora.
6
trazer essa história nesse projeto, além do fato que a vida destas mulheres pode inspirar e
instigar ainda mais outras mulheres lésbicas assim como eu a se engajarem nesse processo de
pesquisa e documentação e a produção de mais conteúdo voltado para esse público.
Na minha experiência como mulher lésbica, ouvi muito a frase “Isso de gay não existia
no meu tempo” em referência a falsa ideia de que não existia a prática homossexual pré-anos
noventa, apesar de que as pessoas públicas já estavam começando a se assumir como LGBTs a
partir da Rebelião de Stonewall3 no fim dos anos 60, mas apenas nos Estados Unidos. Segundo
Regina Facchini (2010, apud DUQUE, 2011) “estudos sobre sexualidade começaram a se
constituir no país como campo de investigação, em 1980, eles estavam fortemente ligados com
o movimento feminista e com o movimento homossexual”, momento em que os homossexuais
se sentiam mais abertos para expressar-se, apesar de que é recente o tema ser tratado com mais
frequência. A criminalização da homofobia foi aprovada há pouco mais de um ano atrás.4 E por
isso, a necessidade de representatividade trazida pelas histórias de pessoas reais é extremamente
importante e comprovam que esses ditos homofóbicos e populares são falsos.
A visibilidade que Gentleman Jack, os livros e os documentos em si sobre Anne Lister e
Ann Walker trazem para a comunidade lésbica é de uma grandiosidade e necessidade latente.
Anne e Ann estiveram sempre a questionar os padrões de gênero e sofrer cobranças da
sociedade em relação a esses aspectos sobre o relacionamento em meio ao conservadorismo da
época. Ter esses fatos retratados é um grande abraço em pessoas que podem estar em busca de
sua própria identidade, da descoberta de sua sexualidade e até mesmo da própria aceitação.
Por isso, ao escolher o artbook como como produto de trabalho, é meu jeito de transmitir
e reforçar o quão importante é ter esses relatos entre as páginas, com ilustrações que mostram
o quão fortes e inspiradoras essas mulheres foram e também para inspirar outras pessoas
LGBTQ+ a buscarem mais sobre elas e se identificarem com elas e com isso, expandir as noções
de como trazer a narrativa da série para as artes gráficas, desenvolvendo uma pesquisa que
insira os elementos primordiais no livro. E através dele, complementar mais e mais a produção
de conteúdos LGBTQ+ no nosso país.

3
“A Rebelião de Stonewall foi uma série de manifestações violentas e espontâneas de membros da comunidade
LGBT contra uma invasão da polícia de Nova York que aconteceu nas primeiras horas da manhã de 28 de junho
de 1969, no bar Stonewall Inn, localizado no bairro de Greenwich Village, em Manhattan, em Nova York, nos
Estados Unidos.” Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Rebeli%C3%A3o_de_Stonewall#:~:text=A%20Rebeli%C3%A3o%20de%20Ston
ewall%20foi,Manhattan%2C%20em%20Nova%20York%2C%20nos>
4
“STF aprova a criminalização da homofobia” - BBC News Brasil <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-
47206924>
7
E assim como eu fui abraçada por essa série, os fãs e as produtoras dela, eu quero trazer
isso através da arte que é minha maneira de comungar com as pessoas e com a vida.

Pergunta de pesquisa:
Tomando como referência a análise visual da série Gentleman Jack, como construir uma
narrativa gráfica em que as personagens históricas lésbicas Anne Lister e Ann Walker possam
ter sua trajetória traduzida para o formato de livro artístico?

Estado da questão:
Quando eu abro o Twitter sou bombardeada com transcrições de entradas dos diários de
Anne Lister das mais diversas décadas em que ela viveu. Atualmente, o acervo do site Packed
With Potential reúne projetos e arquivos de transcrições dos diários de Anne Lister de
pesquisadoras de todo o mundo têm um número grande de contribuições no ano de 2020.
esquisadores trazem conteúdos não só dos diários de Anne Lister, mas como de outros
documentos que encontram ao através de West Yorkshire na Inglaterra, local onde Anne Lister
nasceu.
A gama de conteúdos que surgiram online vem de um movimento chamado pela
comunidade de fãs de Anne Lister de: Listermania. A Listermania é a consequência que surge
a partir do momento em que uma pessoa acaba por conhecer a história de Anne Lister e não
para de querer obter informações sobre ela nunca mais. (CHOMA, 2020)

À medida que nos aproximamos das filmagens da segunda temporada de


Gentleman Jack, meus pensamentos voltam mais uma vez para a nova geração
de mulheres cujas vidas de alguma forma foram afetadas pela história de
Lister. Agora elas estão contando suas próprias histórias, escrevendo blogs,
transcrevendo os diários de Anne, produzindo arte e animação. Mulheres de
20 a 70 anos têm algo a dizer sobre Gentleman Jack, sobre Anne e sobre elas
mesmas. Conexões com as pessoas foram importantes para Anne Lister, e
quando penso na base de fãs crescente hoje, creio que também se trata de
pessoas que querem fazer conexões umas com as outras.

Refleti essas palavras da historiadora Anne Choma e senti que como uma mulher
LGBTQ+ e que já faz parte desse movimento e têm lido e consumido todas essas informações

8
sobre Anne Lister e Ann Walker de forma orgânica, tinha a obrigação de reproduzir esse
conhecimento para que outras mulheres que se identifiquem com essa narrativa possam obter
informações e para que eu pudesse contribuir com um documento artístico de mulheres lésbicas
que marcaram a história LGBTQ+.
Minha própria história de progressão com a arte veio das fanarts de Gentleman Jack que
estive fazendo desde outubro de 2019. O desejo de criar uma produção muito mais completa se
fez presente ao longo do período em que continuei buscando informações sobre Anne Lister e
principalmente sobre Ann Walker, da qual pouco se sabia (além dos diários de Anne Lister) até
as pesquisas mais recentes de projetos como In Search of Ann Walker, que buscam a história
dela em cima de arquivos das propriedades do clã Walker e de famílias relacionadas a ela.
O desafio de criar um artbook que seja em linguagem de diário é o mote que me norteia,
pois fazer um livro de arte ainda é uma proposta que eu não havia trabalhado antes. Como
traduzir a linguagem diarista para narrar a história de Anne Lister e Ann Walker? Como traduzir
a linguagem audiovisual da série para um artbook? Como as mulheres LGBTQ+ vão se conectar
com a história dessas personagens através deste produto? Esses são os obstáculos que esse
projeto enfrentou.

Justificativa:
Pela carência de produções traduzidas relacionadas a história e os diários de Anne Lister,
principalmente feita por uma mulher que se identifica com a vivência dessa mulher e pela
representatividade e recordação desses personagens históricos LGBTQ+5, essa pesquisa e
produtos são de um grande diferencial e contribuem para que outros autores e artistas possam
ter um material para poder pesquisar e criar a partir deles.
Com o lançamento da série Gentleman Jack, a história de Anne Lister e os diários dela
ficaram tão populares que o número de pessoas interessadas a pesquisar sobre quem ela foi
aumentou massivamente não só pela Inglaterra, mas ao redor do mundo. Entusiasmadas pela
pesquisa, não só historiadores, mas pessoas que simplesmente gostaram da série e se
interessaram pelos diários começaram a pesquisar, ler e transcrever os escritos de Anne Lister.6
Descobrir que Anne era uma mulher a frente de seu tempo, que viajava pela Europa por conta

5
Sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais, Transgêneros, Queers e mais diversas possibilidades de
orientação sexual e identidades de gênero.

6
“Conheça o exército de decodificadoras ao redor do mundo que transcrevem os diários de Anne Lister” (título
traduzido pela autora dessa memória) Disponível em: <https://www.yorkshirepost.co.uk/news/meet-army-code-
breakers-around-world-working-transcribe-anne-listers-diaries-1745675>
9
própria, escalava montanhas, era apaixonada por anatomia, geologia, artes, literatura,
economia, botânica e tantos outros assuntos somados a inegável autoconfiança e facilidade que
ela tinha de se comunicar com homens, mulheres de todas as classes sem se sentir inferior é
como ter uma fonte infinita de inspiração. As mulheres LGBTQ+ se sentem representadas por
uma figura tão inteligente, moderna e complexa.
Ao mesmo tempo, pessoas ficaram interessadas em saber mais sobre quem era a figura
misteriosa e tão corajosa que acabou se casando com Anne Lister, a tímida vizinha Ann Walker,
também dona de terras. Ann Walker tem pouco de história contada por fora dos diários de Anne
Lister e isso levou não só codebreakers (transcritoras), mas pesquisadores a irem visitar as
bibliotecas de West Yorkshire e as propriedades relacionadas a Walker para descobrir mais do
paradeiro dela. Existem cartas, documentos e jornais que contam um pouco sobre sua
existência. Em 1834, Ann Walker começou a escrever um diário de viagens, ele só foi
encontrado no tempo em que este produto estava sendo feito, por isso é uma descoberta muito
recente. O projeto In Search of Ann Walker o encontrou em arquivos do clã Rawson, que eram
parentes de Ann.
Todo esse material ainda não é acessível por não ter traduções. Apenas a série apresentou
o que foi o Universo dessas duas personagens. Cheguei a procurar livros ou portais que
contassem a história dessas duas grandes mulheres e não encontrei um material em Português
que contasse o que aconteceu com elas. Portanto, por via da arte que faz parte do meu processo
criativo junto com a escrita, a ideia que tive foi de trazer a história delas em um formato de
artbook para que as pessoas possam conferir uma narrativa tanto artística quanto da história
desse Anne Lister e Ann Walker por via dos passos que Sally Wainwright nos apresentou
através da produção de Gentleman Jack.

Objetivos:
1) Objetivo geral:
O objetivo da pesquisa é produzir um artbook que traga uma narrativa gráfica da vida de
Anne Lister e Ann Walker a partir da pesquisa visual e análise narrativa da série televisiva
britânica Gentleman Jack (2019) de Sally Wainwright.
2) Objetivos específicos:
- Pesquisar os elementos visuais da série Gentleman Jack desde o figurino, cenário até os
aspectos físicos dos atores e analisar a narrativa e os temas utilizados pela produção da
série para reproduzir a história de Anne Lister e Ann Walker no formato audiovisual
para transcrevê-los para o formato de artbook.
10
- Pesquisar visualmente dentro das referências de livros de arte inglesa do século XIX os
elementos que compunham o cotidiano, paisagens, lugares, costumes, vestuário para
que possa ter uma ambientação mais fiel nas artes.
- Pesquisar e analisar os diários de Anne Lister, diários atuais, bullet journals e outros
livros que trouxeram referências de montagem de um diário mais visual. As análises
foram visuais e gráficas.
- Produzir as artes que comportaram o artbook com ferramentas de desenho digital.
- Construir o texto junto as imagens de maneira em que elas expliquem o processo criativo
e ao mesmo tempo a linha do tempo e a história das personagens e da série.
- Montar o artbook em formato livro digital com todo o conteúdo que foi pensado para
ele.

Quadro referencial teórico:


A roteirista e diretora Sally Wainwright viveu em Halifax em sua infância começou a
pensar em produzir uma série sobre Shibden Hall e Anne Lister assim que se apaixonou pelo
livro Female Fortune (1998) da escritora e pesquisadora Jill Liddington na década de noventa.
(WAINWRIGHT, 2019) Apesar de ter tentado um pitch (apresentação) em meados dos anos
2000, ela só conseguiu uma oportunidade praticamente dezoito anos depois pela BBC One e a
HBO após ter se consagrado com os prêmios BAFTAs7 por duas de suas séries Happy Valley
e Last Tango in Halifax. Enquanto o pitch não era aprovado, Sally trabalhou arduamente nos
diários de Anne Lister junto a sua amiga, a historiadora e escritora Anne Choma.
(WAINWRIGHT, 2019)
Após dois de seus trabalhos que foram em Halifax serem reconhecidos e premiados com
o BAFTA, Sally recebeu uma proposta da BBC One de fazer uma nova série e foi questionada
para dizer qual sua a nova produção e assim ela conseguiu a oportunidade de fazer Gentleman
Jack, que na verdade não teria esse título e sim Shibden Hall. Mas o protagonismo de Anne
Lister dentro de sua própria casa a fez mudar de ideia sobre a centralidade da produção e assim,
os diários receberam o apelido pejorativo que ela veio a receber por sua aparência masculina e
costumes considerados estranhos para a época. (WAINWRIGHT, 2019)
A história de Anne Lister e Ann Walker começa por volta de 1820 quando elas se
encontram para rápidas visitas e chá da tarde. Ann Walker ainda era muito jovem e não chamava
muito a atenção de Anne Lister, apesar de ser claro o interesse de Ann. Seus laços só se

7
Sigla da Academia Britânica de Artes de Cinema e Televisão, também conhecido como “Oscar Britânico”.
11
estreitaram por volta de 1832, quando Anne Lister voltou de Hastings para Shibden Hall, a
eterna casa dela, após longas viagens. Anne Lister e Ann Walker tiveram a oportunidade de se
encontrarem novamente e construírem um relacionamento que perdurou pelo resto da vida de
Anne. (CHOMA, 2019)
O diário de Lister é o documento principal em que esta série se baseou e com esta pesquisa
não foi tão diferente assim. Não houve como desvincular e focar apenas e inteiramente na série,
pois o material gráfico, tipográfico, de imagem e a experiência que ele traz é o que dá voz a
Anne Lister no mundo e dentro da série. Uma das características mais interessantes do programa
é que a atriz Suranne Jones vira para a câmera, num movimento em que o audiovisual nomeia
de quebra da quarta parede8 e transmite alguns dos escritos do diário em forma de fala. Esse é
um dos contatos mais íntimos que o leitor dos diários de Anne Lister pode ter, e a forma de
falar com a câmera foi o artifício que Sally encontrou para transmitir a mesma sensação para o
telespectador. (WAINWRIGHT, 2019)
Pelo fato de Anne Lister registrar sua vida em forma de diários, foi importante para este
projeto entender o que é um diário na verdade, como ele é classificado. Um diário é um
documento ou gênero? A pessoa que escreve um diário pode ser considerada uma escritora?
Foram questões que aparecerem durante o brainstorming que surgiu junto a análise de cenas
que vieram a partir do ato de assistir o filme e ler sobre quem é pessoa Anne Lister. Alguns
livros, como o de Anne Choma (2019, pág 7) dizem que ela era uma diarist, que em português
é uma palavra formada pelos termos diário mais o sufixo -ista. Diarista tem dois significados
que são completamente relacionados a documentação:
di·a·ris·ta 1
(diário + -ista)
substantivo de dois gêneros
1. Redator de um jornal diário. = jornalista, periodista
2. Pessoa que escreve um diário íntimo.9

Os diários de Anne Lister são considerados um documento tão importante para a história
de Calderdale, município onde se encontra Halifax, em West Yorkshire, que eles foram

8
Recurso em que o personagem está se comunicando diretamente com o espectador através do olhar e/ou falas
para a câmera ou plateia. - A quarta parede. Disponível em: <https://www.spescoladeteatro.org.br/noticia/ponto-
a-quarta-parede/>
9
"diarista", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020,
https://dicionario.priberam.org/diarista [consultado em 17-10-2020].
12
tombados como patrimônio pela UNESCO na categoria de registro Memory of the World.10
Para traduzir essa posição de diarista como um termo em que seja mais palpável no português,
já que a palavra diarista não é comumente usada para a pessoa que escreve diários aqui no
Brasil, foi interessante entender a profundidade desses documentos tão pessoais e que podem
se tornar uma contribuição para a história local, mundial.
O diário é uma narrativa da vida, é um relato constante do cotidiano e por ser tão pessoal,
pode ter interpretações das mais diversas quando é lido por outrem, porque aquelas palavras
são cruas situações crônicas e que variam de acordo com a escrita do diarista. Diários podem
ser objetivos, podem ser desabafos, podem ser uma organização, por não ter uma regra própria,
é complexo reduzir a narrativa a um só padrão.

Basicamente, os diários convertem-se em instrumentos de autorreflexão


motivados pelos estudos de Freud sobre o consciente e o inconsciente, quando
também se tornam instrumentos de reflexão sobre si mesmo. É nessa época
que adquirem uma conotação mais feminina, por serem, em sua maioria,
produzidos por mulheres motivadas pelo surgimento do romantismo como
movimento cultural. – (PEREIRA, SILVA, 2015)

A pesquisa de Freud sobre o consciente e inconsciente explica três estados que o ser
humano conduz suas experiências a partir do que se recorda ou que está disponível na memória
(consciente) ou apenas pode ser acessado parcialmente (inconsciente). (VIEIRA, 2016)
Anne Lister costumava usar o seu diário como um refúgio, um amigo pessoal de confiança
que pudesse guardar seus pensamentos. Ela acreditava que no momento em que suas ideias e
relatos eram passados para o papel, os problemas pareciam ser menores e isso trazia certo
conforto a sua mente. “Escrever meu diário sempre me faz bem, agora que eu já escrevi, eu tirei
isso da minha mente - meus problemas parecem ter ido embora - foram enterrados no papel.”
(LISTER, 1824)
No momento em que Anne Lister passou a escrever sua vida em diários, ela deixou de ser
apenas uma mulher misteriosa que viveu em Shibden Hall e tinha um comportamento suspeito
para a sociedade da época, se vestindo de maneira andrógina e trazendo uma mulher jovem para
morar com ela. Ela se tornou uma das entidades históricas mais importantes de Halifax e
também da história LGBTQ+. Pelos diários de Anne Lister, foi possível saber que Anne e Ann
Walker se comprometeram de verdade a viverem como um casal com laços matrimoniais, no

10
Anne Lister's diaries win United Nations recognition. https://www.bbc.com/news/uk-england-leeds-13616303
13
privado. Mesmo que não contassem a ninguém sobre o casamento, as pessoas sabiam que as
duas mulheres viviam juntas e andavam e viajavam sempre juntas. (CHOMA, 2019)
O reconhecimento de uma união entre um casal homossexual no século XIX é uma
validação muito importante para a comunidade LGBTQ+ que ainda luta pelos seus direitos de
terem uniões entre pessoas do mesmo sexo ao redor do mundo. Transmitir o conhecimento de
que esse fato aconteceu em um passado distante explica que mesmo sob o conservadorismo
presente através dos séculos, os homossexuais serem existiram e viveram seus relacionamentos
escondidos dos julgamentos e das penas que lhe eram impostas.

É necessário resgatar e investir no caráter transformador da educação, tal


como defendido por Paulo Freire, essencial para conquistar a dignidade, a
igualdade e a liberdade da população LGBT. Para tanto, é preciso um conjunto
de posturas, ações e políticas educacionais que garantam uma educação de boa
qualidade. Desse modo, a educação é compreendida como um direito em si
mesmo e um meio indispensável para o acesso a outros direitos. (Caderno de
propostas da 3ª conferência nacional LGBT)

O livro é um dos primeiros contatos humanos com a educação ao ler histórias quando
crianças. A arte é um processo que utilizamos para contarmos histórias ao longo dos tempos,
desde os desenhos nas paredes das cavernas. Portanto, o formato artbook traz duas ferramentas
poderosas de conhecimento: a leitura e a imagem. A produção de um livro tem um trabalho
especial, mesmo que sendo um trabalho completamente independente e pessoal, existem
padrões a se seguir para que a produção seja compreendida. (LUPTON, 2008) E pelo livro em
uma narrativa de diário é possível transmitir essa história.
A construção de um livro é um processo artístico, principalmente ao se tratar do design
do livro, pois isso envolve uma série de tradições que vão desde o momento em que o texto é
escrito, as artes ou fotos são selecionadas e elas serão pensadas e distribuídas nas páginas até o
momento em que elas de fato se tornam o produto final, com capa, folha de rosto e contra-capa.
(GALBREATH, Joseph) Este é o processo da diagramação.
A diagramação é o cerne da produção do livro, sem ela não há como transmitir as ideias
de forma que elas sejam compreendidas completamente. Os textos organizados nas páginas em
colunas com os tamanhos adequados juntamente com o estabelecimento de entrelinhas, pontos
de leitura e de visão para leitura são essenciais para que o livro fique agradável de se ler.

14
O livro de arte é um produto muito precioso para artistas que querem deixar um trabalho
registrado e mantê-lo disponível para o público, com ele é possível que possa ser usado tanto
como entretenimento quanto para contar uma narrativa e ser uma ferramenta de inspiração para
outros artistas ou mesmo servir para fins de pesquisa para pessoas com os objetivos mais
diversos, desde colecionadores, pesquisadores até os fãs daquele conteúdo em si. (CORRIGAN,
John, pág. 98)
Por isso, o planejamento é tão imprescindível na hora de pensar o livro. Qual será o
tamanho, o formato, se é físico e digital, ou apenas físico, se será horizontal ou vertical, que
materiais usar, o calendário da publicação, a tiragem e a distribuição desse produto porque isso
poupa o autor imensamente de futuras confusões no momento da elaboração e mesmo na
finalização. (GALBREATH, Joseph, pág. 115.)
Os desafios de diagramar e ao mesmo tempo montar o conteúdo artístico e virtual em um
mesmo exercício são de uma grande responsabilidade. Entender que é um processo de se deve
fazer com paciência, na busca de passar uma enredo que foi baseado em fatos têm seus pesos e
funções históricas, então estimular o interesse do leitor e trazê-lo para dentro de um passado
distante com uma sintonia tão forte possível para que toque o coração e o faça refletir e sentir
das mais diversas maneiras. E o mais importante: que a história seja compreendida.

Metodologia:
A partir do objeto essencial para que esse artbook fosse produzido, que é a série
Gentleman Jack, a primeira etapa da pesquisa se deu por: assistir os episódios da série com um
olhar mais observador em relação aos aspectos artísticos (Figura 1). Depois, com um olhar sobre
a narrativa da história que é apresentada, focando principalmente nas personagens principais.

15
Figura 1: Imagem promocional da série Gentleman Jack (2019). HBO/BBC
One/Lookout Point.

As características que guiam o fio dessa história foram registradas num brainstorming
(Figura 2) para que o título e tema do projeto fosse encontrado. Depois de algumas associações
e ligações feitas dentro dele, as opções apareceram e foi decidido quais deles eram os mais
indicados e apropriados para encabeçar tanto o livro quanto a memória.

16
Figura 2: Brainstorming para o título do artbook e o tema.

Foi realizada também uma leitura do livro que acompanha a história da série, Gentleman
Jack: The Real Anne Lister (2019) de Anne Choma. Este livro conta a história real por detrás
das cenas através da decodificação dos diários de Anne Lister, feita pela mesma autora e
historiadora. Choma traz as passagens dos diários que guiam a série, desmistificando quais
foram os fatos e suas reais datas descritas nas páginas dos documentos reais da Senhorita Lister.
Pesquisas visuais sobre estéticas inglesas dos anos 1830 trouxeram o material que compôs
o livro tanto tipograficamente quanto na retratação dos cenários, na dinâmica de expressão e
composição das locações e os detalhes das roupas, cabelo, acessórios até em como os
relacionamentos eram mostrados através de pinturas e gravuras da época.
A análise narrativa de cenas foi feita para identificar quais arcos dentro da série são
necessários para compor o artbook de modo que o leitor consiga compreender a storyline e
obter informações necessárias sobre as personagens e qual o contexto em que elas estão
inseridas.
As imagens começaram a ser produzidas a partir dessa análise e aos poucos foram sendo
organizadas em uma lista para que cada imagem fosse fixada no momento correto da linha do

17
tempo da narrativa que percorre em toda a série, desde cenas que foram citadas na série e que
estão nos diários de Anne Lister até o fim do último episódio da temporada dela.
Com o decorrer da composição do livro digital no Adobe InDesign, a ideia de pensar a
estética num caderno foi a alternativa usada para que as páginas fossem rascunhadas e pensadas
de uma maneira que fosse menos complicada. Depois dos rascunhos no caderno, a diagramação
das páginas digitalmente ficou mais fluida e mais simples.
Os textos foram escritos ao mesmo tempo em que as artes eram finalizadas, um processo
de ter ambos paralelos para que conversassem bem dentro do livro. A produção de arte se deu
pelo programa FireAlpaca, desde os rascunhos até a pintura (Figura 3). O FireAlpaca é um
software japonês gratuito de pintura digital simples da PGN Inc. com ferramentas comuns de
desenho, é possível produzir artes com a ajuda de uma mesa digital. (FireAlpaca). Com a
ferramenta de adição de brush11 foi possível usar um estilo que fosse mais parecido com giz,
que é o que eu prefiro usar tanto para os rascunhos quanto para pintura.
O brush escolhido veio do conjunto “Not the brightest crayon in the Box Brushes” de
harmonia, disponível no site de artes Deviantart (Figura 4). A adição do brush foi feita no
próprio FireAlpaca e moldada no estilo que eu achei mais adequado para pintura, assim as artes
puderam ser produzidas com o uso apenas desse brush e as ferramentas básicas disponíveis
(Figura 5).

11
Brush significa pincel. Alguns programas de edição já vem com brushes simples para utilização, eles podem
ser criados e disponibilizados ou comprados de outros artistas. Os brushes servem tanto para pintura e edição
para trazer diferentes estilos e texturas de acordo com a utilização.
18
Figura 3: Interface do programa FireAlcapa, software de pintura digital simples.

Figura 4: Brush do conjunto Not the brightest crayon in the Box Brushes” de harmonia
(artista).

Figura 5: Arte produzida no FireAlpaca com a utilização do brush do conjunto Not the
brightest crayon in the Box Brushes” de harmonia.

Desenvolvimento:
O início do processo se deu através de uma breve análise visuais da série e da própria
narrativa em si. Gentleman Jack é uma obra tão completa que junto ao conteúdo televisivo, o
livro que acompanha a história da série com o adendo que mostra o que aconteceu na vida real

19
através da transcrição dos diários codificados foi lançado no mesmo ano. Gentleman Jack - The
Real Anne Lister (2019) de Anne Choma12 conta o período retratado nos diários de Anne desde
o ano de 1832 até o começo do ano de 1834.
Anne Lister foi dona de terras, montanhista, empreendedora e escritora de diários que
nasceu em 1791 em Halifax, West Yorkshire na Inglaterra. Ela é considerada a primeira lésbica
moderna do ocidente. Aos quinze anos, ela começou a escrever seus diários e com a ajuda de
sua primeira namorada, Eliza Raine, ela conseguiu criar um código secreto da qual ela chamava
crypthand que trazia símbolos diversos de álgebra e até letras do alfabeto grego para escrever
sobre relatos mais pessoais e seus relacionamentos românticos e sexuais com mulheres, já que
o ato sexual homossexual na época era considerado crime se fosse entre homens, então temia-
se que fosse um perigo a se correr. Herdou Shibden Hall em Halifax pelas mãos de seu tio James
Lister, que a confiou manter seus inquilinos, empregados e terrenos. Passou a viver lá com sua
irmã mais nova Marian Lister, seu pai Capitão Jeremy Lister e a tia Anne Lister.
(WHITBREAD, 1988) Ela chegou a escrever diários até o dia de sua morte que aconteceu em
22 de setembro de 1840 enquanto viajava para a Geórgia com a esposa, Ann Walker.
Ann Walker nasceu no dia 20 de 1803 em Lightcliffe, West Riding de Yorkshire na
Inglaterra. Sua família era rica e ela viveu com seus pais e três irmãos, duas mulheres e um
homem. Perdeu seus pais, a irmã e o irmão em ainda em sua juventude e por isso acabou
herdando boa parte da propriedade dos Walkers pouco antes dos trinta anos de idade.
(LIDDIGNTON, 1998) Ela conheceu Anne Lister desde cedo por serem vizinhas, mas um dos
seus grandes encontros foi aos seus dezoito anos onde tiveram a oportunidade de caminhar por
quase duas horas e tomar um chá. Na época, Anne não estava tão interessada pois já estava
envolvida com uma amante de longa data, Mariana Lawton de Lawton Hall a qual se refere por
M- ou Pi (π) nos diários. (WHITBREAD, 1988)
Anne Lister e Ann Walker só foram se encontrar novamente em uma visita a Shibden em
1832, após Anne voltar de uma grande viagem pela Europa e ter passado um tempo vivendo
em Hastings com uma mulher da alta sociedade que a rejeitou. Naquele ano, Anne estava
atingindo a meia idade e Ann Walker tinha cerca de 29 anos de idade. Anne passou a visitar
Ann em sua casa em Lightcliffe (Crow Nest na série) sempre que podia após esse dia e pouco
tempo depois engataram um relacionamento romântico. (CHOMA, 2019)
A medida em que os meses se passavam, o romance passou a ser um relacionamento sério
e logo Anne Lister começou a pensar em propor Ann Walker em uma espécime de casamento,

12
Anne Choma <https://www.penguin.co.uk/authors/1083876/anne-choma.html>
20
uma união que as marcasse em compartilhar alianças e se mudarem para Shibden Hall. Por mais
que Ann Walker amasse sua namorada, ela sofria muito de uma homofobia interna e medo de
que fossem incriminadas pela união das duas além de outros problemas não diagnosticados pois
a psicologia do momento histórico ainda não explicava. Isso fez com que sua saúde mental
perecesse a ponto de que teve que ser mandada a Escócia para viver com a irmã mais velha para
ser cuidada por alguém de confiança pela sua tribo familiar que já desconfiava do namoro. As
duas mulheres só chegaram a realizar a reunião um ano depois, após a volta de ambas para
Halifax. (CHOMA, 2019)
Enquanto Ann Walker voltava da Escócia, Anne Lister voltava de Copenhague, pois
havia decidido que viajaria até a Rússia, mas fora impedida por receber notícias de que sua tia
estava em condições ruins de saúde. Anne e Ann trocaram votos secretos na Holy Trinity
Church em Goodramgate em York, na Páscoa de 1834. Elas trocaram alianças e tomaram a
comunhão juntas e fizeram disso o seu juramento de união como esposa e esposa. Após a sua
união, ambas decidiram viver juntas na propriedade Shibden junto aos empregados e família
Lister: a tia de Anne, chamada Anne Lister do mesmo modo, a irmã mais nova, Marian Lister
e o pai, Jeremy Lister. (CHOMA, 2019)
Pensando que aproveitar esse documento como uma das principais inspirações e
referências, o artbook produto desse projeto é pensado em um formato em que as suas imagens
sejam como um diário do que aconteceu na série em seus oito episódios, mas que transitaram
em um tempo de dois anos praticamente (a série passa-se entre meados de agosto e setembro
de 1832 até o começo do ano de 1834).
O conteúdo gráfico dos diários é extremamente rico, além da escrita cursiva, os códigos
são um grande material tipográfico que caracterizam a escrita de Lister, não só protegendo a
privacidade da vida pessoal dela, mas trazendo um simbolismo imenso que pode gerar interesse
para os estudos tipográficos do mesmo modo. Outro elemento que conseguimos encontrar
nesses diários são pequenos rascunhos de lugares que Anne visitou, coisas que ela viu, objetos
ou estruturas (Figuras 6 e 7).

21
Figura 6: Templo Central, Templo do Fogo de Baku. Rússia. Diário de Anne Lister. 23 de
maio de 1840. West Yorkshire Archives. SH:7/ML/E/24/0112.

Figura 7: Planta do forte em Alexandrov, Rússia. Diário de Anne Lister. 4 de abril de 1840.
SH:7/ML/E/24/0070

Com o design desses cadernos em mente, as ideias de projeto do artbook surgiram junto
com o desejo de continuar o trabalho que eu já havia começado há meses atrás com o formato
digital. Por isso, a decisão de que o livro seria digital e foi diagramado para um produto que
22
possa ser visualizado nos aparelhos digitais, mas que ao mesmo tempo possa ter a propriedade
de ser impresso um dia e ter um formato de livro físico.

1. Lista prévia de artes.

Através da linha do tempo e da história da série Gentleman Jack, os principais


acontecimentos que marcaram a vida de Anne Lister e Ann Walker foram listados para que não
só as artes já possam estar pré-definidas, mas para que elas fossem organizadas de acordo com
o momento em que cada uma aconteceu e como elas contribuíram para a narrativa e o
desenvolvimento da história e das personagens.

1. Arte da capa 2. Arte da primeira página

3. Anne Lister apresentação 4. Ann Walker apresentação

5. Shibden Hall apresentação 6. Ann Walker e Anne Lister tomando chá


em Crow Nest

7. Anne Lister em Royal Palace em 8. Ann Walker em Lidgate


Amsterdã

9. Anne Lister e Ann Walker em Shibden 10. Empregados de Anne Lister


Hall

11. Empregados de Ann Walker 12. Família de Anne Lister

13. Família de Ann Walker 14. Anne Lister e Ann Walker no chaumiere

15. Anne Lister e Ann Walker ‘Fique a noite 16. Anne Lister e Ann Walker carruagem
toda’

17. Anne Lister e Ann Walker ‘Anne, eu 18. Anne Lister e Ann Walker ‘O que
adoro você’ aconteceu com você?’

19. Ann Walker desenhando Anne Lister na 20. Anne Lister volta de embarcação para a
casa de Elizabeth Sutherland Inglaterra

23
21. Ann Walker volta a Shibden 22. Anne Lister e Ann Walker no topo da
montanha

23. Anne Lister e Ann Walker na Holy 24. Anne Lister escrevendo no diário
Trinity Church

2. O imagético de West Yorkshire e Inglaterra no séc. XIX.

O momento em que Gentleman Jack se passa na Inglaterra de 1832 é pouco antes do


começo da era vitoriana. A era georgiana era dominante na época e trouxe grandes movimentos
artísticos e literários como o romantismo, o neoclassicismo, a arquitetura georgiana (MAYOS,
2011). As casas, igrejas, construções, sistemas, cômodos, roupas, acessórios, decorações,
pinturas, artefatos, objetos cenográficos, costumes e modos eram completamente característicos
da época, então, a necessidade de ter um grande material tanto imagético quanto teórico dos
diários, mas como alguns costumes e moda da época eram construídos para que as imagens
produzidas fossem fiéis aquele momento histórico.
Halifax é uma cidade pequena e rural de West Yorkshire que fica no norte da Inglaterra.
Comparada a Londres, ela era pouco moderna em sua construção e até hoje ainda se mantém
tradicional em sua arquitetura e as terras que são em grande parte, propriedades como fazendas
ou casas com grandes quintais. A cidade era extremamente pacata em 1800 e isso era uma das
causas que deixava Anne Lister entediada, pois ela queria viver o mundo.
Para que o cenário da época refletisse mais apropriadamente o momento histórico, o livro
Women's Worlds: The Art and Life of Mary Ellen Best, 1809-1891 (1985) foi essencial para
que o referencial imagético daqueles anos me levassem as ideias que eu queria retratar. Mary
Ellen Best era uma pintora e foi a sobrinha de Isabella (Tib) Norcliffe, uma das melhores amigas
de Anne Lister na década de 1810 e por isso, há várias pinturas que a artista fez em Langton
Hall (casa de Tib) em suas visitas a família (Figura 8). Esta casa fica na cidade de Iorque, em
North Yorkshire. Pela proximidade e também pela época, as pinturas de Best são muito
semelhantes aos cenários da série, inclusive o mesmo livro foi usado pela designer de produção
de Gentleman Jack, Anna Pritchard. (PRITCHARD, 2020)

24
(Figura 8) Col. Norcliffe's study at Langton Hall. Women's Worlds: The Art and Life of Mary
Ellen Best, 1809-1891 (1985)

As pinturas trazem muitas estampas, cores e trazem um conteúdo rico do design interior
georgiano. Como as pinturas são em grande parte, em seu ateliê e em salas de casa ou retratos,
a retratação da mobília, das pessoas e das decorações serviram de muita inspiração para que os
desenhos começassem a tomar forma, baseados nas fotografias da série Gentleman Jack que
mostram casas bem semelhantes (Figuras 9,10 e 11). As cores que mais aparecem são o marrom,
amarelo, branco, bege, rosa e verde.

Figura 9: Dining room at Langton Hall, family at breakfast, c.1832-3.Women's Worlds: The
Art and Life of Mary Ellen Best, 1809-1891

25
Figura 10: Sophie Rundle nas gravações de Gentleman Jack. Farfarawaysite / BBC One /
HBO

Figura 11: Mary Ellen Best em sua sala de pintura em Clifton. Women's Worlds: The Art and
Life of Mary Ellen Best, 1809-1891 (1985)

3. As cores e os trajes:
A paleta de cores começou a ser construída a partir da análise dessas cenas e fotografia
da série junto com as pinturas de Mary Ellen Best. Como Shibden Hall é uma casa mais escura
e com tons mais sombrios, os marrons, pretos e vermelhos são as cores mais predominantes.
Isso também reflete nas roupas de Anne Lister, que além de vestir essa estética que compartilha

26
das cores da sua propriedade e representa essa “estranheza” como ela se referia a si mesma nos
diários.
O preto é uma cor que representa muitas coisas em relação a Anne Lister. Quando
Mariana Lawton se casou, ela passou a usar preto sempre para demonstrar o luto por perder o
laço matrimonial da qual pretendiam ter. (WAINWRIGHT, 2018, pág. 21)
“Passei a manhã inteira remexendo em um par de sapatos velhos de camurça preta e
preparando minhas coisas para ir tomar chá em Cliff-hill. Foi em uma seda preta, a primeira
vez em uma visita à noite. Eu iniciei meu plano de sempre usar preto.” (LISTER, 1817,
SH:7/ML/E/1)
A partir da análise dos quadros e retratos das mulheres do século XVIII e XIX preto não
era uma cor que as mulheres costumavam usar naquele momento histórico. Os vestidos tinham
cores mais infantis nas adolescentes e cores vivas para as mulheres adultas, mas raramente eram
pretos. Quando escuros, eram tons de verde ou marrom que poderiam se assemelhar com o
cinza. Anne Lister gostava de ter uma aparência mais masculina. Preto era uma das cores mais
predominantes nas vestimentas dos homens tanto na série quanto nos quadros (Figuras 12, 13
e 14).

Figura 12: Fotografia da cena em que Christopher Rawson e Anne Lister se encontram no
banco de Halifax em Gentleman Jack. Farfarawaysite / BBC One / HBO.

27
Figura 13: Retrato de Christopher Rawson. Malcolm Bull’s Calderdale Companion.

Figura 14: Por trás das cenas de Gentleman Jack em Huddersfield. GotCeleb.

Não só o preto trazia esse destaque entre Anne Lister em relação às outras mulheres, tanto
na série quanto na vida real. As roupas tem detalhes que fazem toda a diferença, assim como os
homens usavam casacos e sobretudo, Anne também usa essas peças em Gentleman Jack. Elas
foram tanto inspiradas em seu retrato quanto nas vestimentas masculinas do século XIX. (Figura
15) A cartola, as botas e o cano (bengala curta) eram outros acessórios masculinos utilizados.
Para mesclar com o estilo feminino, as saias, ainda sendo escuras. Os cachos (feitos com

28
rolinhos de cabelo) são um penteado feminino, mas foram adaptados também para que
parecessem mais andrógina. (DAVIE, JONES e PYE, 2019)

Figura 15: Retrato de Anne Lister. Joshua Horner, 1840. Museu de Calderdale.

Ann Walker se vestia muito diferentemente de Anne Lister, suas roupas se assemelham
completamente aos trajes femininos mais comuns do século XIX. Os vestidos dela tem uma
característica própria de acabamentos mais caros e as cores acompanham o percurso da
narrativa, começando pelo rosa que representava o estado tímido e apaixonado nos primeiros
episódios (Figura 16) e tornando-se vinho no ápice do relacionamento (Figura 17), então
voltando para o rosa claro quando os períodos de enfermidade e drama acontecem (Figura 18),
para que no fim o azul representa a mudança e a coragem (Figura 19).

29
Figura 16: Ann Walker reflete na janela sobre a visita de Anne Lister após Lister revelar a ela
que tinha interesse em beijá-la e ela não precisava ter medo. Farfaraway / BBC One / HBO.

Figura 17: Anne Lister e Ann Walker sentam para tomar chá na casa da tia de Ann Walker
após uma breve viagem para York. Farfaraway site / BBC One/ HBO.

30
Figura 18: Ann Walker recebe a carta de sua irmã Elizabeth Walker enquanto Anne Lister lhe
dá a notícia de que irá viajar sozinha para Copenhague. Farfaraway site / BBC One/ HBO.

Figura 19: Ann Walker volta a Shibden Valley para encontrar Anne Lister após um ano da
viagem para a Escócia. Farfaraway site / BBC One / HBO.

Os design dos vestidos e das camisolas que Ann Walker usou tem essa característica da
moda georgiana que traz babados e estampas com flores e padrões delicados. Os vestidos
especialmente são marcados pelas mangas bufantes que tiveram seu ápice no século XIX. Como
não foram encontrados vestígios de retratos ou qualquer imagem de Ann Walker, o retrato da
irmã mais velha dela foi uma das principais referências para construir o desenho dela (Figura
20).
31
No meio dessa pesquisa, uma descoberta mudou o conteúdo de uma das páginas do livro,
pois até o dia 19 de outubro de 2020 não havia vestígios de qualquer diário de Ann. Nos diários
de Anne Lister, ela citava que Ann Walker tinha começado um diário de bordo, mas os
pesquisadores acreditavam até então que a família Walker destruiu esse documento, porém, o
projeto de pesquisa In Search of Ann Walker achou um diário de Ann Walker quando estavam
a procura de outro diário de Anne Lister. 13 “Ann escreveu em seu diário e pelas últimas horas,
deitou-se, cansada de escrever e do calor.” (LISTER, 1834) (Figuras 21 e 22).

Figura 20: Retrato de Elizabeth (Walker) Sutherland. Artista desconhecido. The Peerage.

Figuras 21 e 22: Passagem do diário de Anne Lister em 1834 que descreve o momento em que
ela viu Ann Walker escrevendo no diário dela: “A-(nn) writing her journal, and for the last
hour or more lying down sick of writing and heat -”

13
In Search of Ann Walker encontra diário de Ann Walker nos arquivos da família Rawson.
<https://insearchofannwalker.com/we-found-it/>
32
Além do retrato de Elizabeth Sutherland, o conteúdo do livro de Mary Ellen Best trouxe
grandes referências da estética das mulheres tradicionais da época. Ao contrário de Anne Lister,
Ann Walker se caracterizava mais com o estilo feminino e de alta classe daquele momento
histórico. A família de Mary Ellen Best fazia parte da alta sociedade, por isso a retratação que
mais se encaixou para a escolha das roupas que Ann Walker usa.
As pinturas serviram como um norte, juntamente com os vestidos da série. As estampas
tem um xadrez com traçados mais complexos, as cores em tons de terra ou rosa e os chapéus
adornados com penas, pequenas coroas de flores ou até mesmo os próprios penteados são
finalizados com flores ao redor do coque por detrás da cabeça. Os cachos são uma característica
muito forte no século XIX. As mechas de cabelo após a linha da testa são transformadas em
cachos que descem para as laterais do rosto até a altura das orelhas (Figura 23).

Figura 23: La Belle Assembleé'. 1832. Gravura colorida à mão e pontilhado. The British
Museum.

Ann Walker tinha uma personalidade marcada pela complexidade de sua imensa
gentileza, empatia, paixão que conflitava com a falta de confiança que tinha em si mesma, a
ansiedade latente frente a crença e sexualidade. A confiança de Ann, em grande parte, era
alimentada pelo desejo de estar perto de Anne Lister. As palavras delas acendiam uma chama
de esperança que estimulava-a para que ela pudesse se aventurar mais e tentar coisas novas ou
até mesmo tomar grandes decisões. Por isso, as cores de seus vestidos são uma combinação

33
doce e apaixonada em momentos mais íntimos entre as personagens e mais sóbrias e neutras
em momentos de angústia (Figura 24).

Figura 24: Ann Walker lê a carta do convite dos Sutherlands para que ela vá morar com eles
para cuidar da saúde mental. Farfaraway site /BBC One /HBO.

As roupas brancas de Ann Walker eram em maior parte as que ela usava para dormir, os
muitos espartilhos têm uma cor bege ou branca que compuseram as peças debaixo. Empregados
mais vistos com tecidos simplórios e brancos, a composição tem novamente o marrom até o
verde. As mulheres que serviam na casa sempre usavam uma espécie de touca para cobrir os
cabelos. (Figura 25, 26, 27 e 28)

Figura 25: Ann Walker tem um ataque de pânico por conta da culpa que sente por estar
pecando contra a igreja em relação a sua relação homossexual com Anne Lister. Farfaraway
site / BBC One / HBO.

34
Figura 26: Elizabeth Cordingley, empregada de Anne Lister e Anne Lister. Episódio 6.
Farfaraway site / BBC One / HBO.

Figura 27: Elizabeth Cordingley e Rachel Hemingway, empregadas de Anne Lister. Episódio
7. Farfaraway site / BBC One / HBO.

35
Figura 28: Cozinha em Langton. Mary Ellen Best. 1830. Women's Worlds: The Art and Life
of Mary Ellen Best, 1809-1891 (1985)

As mulheres mais velhas de ambas as famílias Lister e Walker usavam vestidos com
linhas mais complexas, atados da parte do peito geralmente e uma espécie de tiara da época, de
tecido, poderia ser acompanhada com uma semi coroa de flores ou não. Mulheres mais idosas
tinham elas cada vez maiores e enfeitadas e com fitas, o que fazia o cabelo parecer ainda maior
com os penteados (Figura 29, 30 e 31).

Figura 29: Tia Ann Walker usa adorno de cabeça no episódio 4. Farfaraway site / BBC One /
HBO.

36
Figura 30: Tia Anne Lister em Shibden Hall. Farfaraway site / BBC One / HBO.

Figura 31: Retrato da Tia Anne Lister. Thomas Binns. Calderdale Metropolitan Borough
Council

Para os homens, as cores escuras, do preto até o vinho, passando pelo azul e tons de terra.
Tanto os empregados quanto os homens da família alternavam essas cores e pelo que se observa
na série e no livro, as cores também dependiam do clã da família. Os empregados de Anne
Lister usavam um uniforme azul escuro e dourado em formalidades, os empregados de Ann

37
Walker usavam um tom entre o azul e o lilás, principalmente em viagens de carruagem. As
gravatas, como eram chamadas, eram basicamente lenços de tecido enrolados no pescoço e
amarrados na altura da clavícula. O conjunto consistia comumente em camisa de botões, colete,
jaqueta ou sobretudo, calças com braguilha e gancho frontal mais fundos e botas. Para sair a
cidade, as cartolas eram um acessório famoso entre os homens, apenas eles usavam-nas (Figura
32, 33, 34 e 35).

Figura 32: Thomas Beech, empregado de Anne Lister. Farfarway site / HBO / BBC One.

Figura 33: Cocheiro de Ann Walker. Episódio 4 de Gentleman Jack. 07min. HBO/BBC One.

38
Figura 34: Retrato de James Lister (irmão de Jeremy Lister e tio de Anne Lister). Joshua
Horner. Calderdale Metropolitan Borough Council.

Figura 35: Timothy West como Jeremy Lister em Gentleman Jack. Farfarway site / HBO /
BBC One.

4. As cores e os cenários:

39
Shibden Hall é uma casa centenária. Localizada em Shibden Valley, em Halifax (West
Yorkshire, Inglaterra), a propriedade é do século XV, exatamente em 1420, de William Otes,
um vendedor de tecidos. Com o passar dos anos, a propriedade foi tomando mais forma com os
novos proprietários. O celeiro por exemplo, é do século XVII e atualmente expõe uma coleção
de carruagens de diferentes épocas e que trazem a essência e estilo típico inglês. Os Listers
foram os que mais bem reformaram a casa, especialmente quando Anne Lister recebeu Shibden
do tio James Lister em 1826 (Calderdale Council, 2016).
A propriedade é memorável pelo estilo Tudor14, as linhas de madeira escura que
desenham e dividem as paredes da frente, as chaminés, uma grande torre e uma divisão de três
partes. (Figura 36) Anne Lister fez questão de reformar o local como um parque, com a ajuda
de Ann Walker, ela conseguiu concluir o seu plano e montou uma biblioteca na torre, construiu
mais quartos e acrescentou jardins, estátuas, uma casa de verão. (Calderdale Council, 2016)

Figura 36: Shibden Hall em Halifax. Calderdale Museum.

Além da composição das paredes velhas de pedra com os telhados escuros, os padrões
das placas de madeira quase pretas fazem o estilo da casa ser especial, com o verde dos jardins
contrastando na frente. As cores sóbrias tem seu papel aqui, o que podemos ver com ainda mais

14
O estilo arquitetônico Tudor é marcado pelas casas históricas inglesas feitas com paredes de pedra, madeira,
grandes varandas, várias chaminés e janelas altas com painéis de formas geométricas. Disponível em:
https://www.english-heritage.org.uk/learn/story-of-england/tudors/architecture/
40
clareza dentro da casa. Shibden é uma casa grande casa, mas muito escura por dentro. A madeira
marrom cobre as paredes do interior de Shibden em quase todos os cômodos. O vermelho
aparece em móveis, diversas mobílias trazem desde tons escuros de vermelho até o vinho
(Figura 37). Outra boa referência usada para explorar os ambientes da casa além das fotos, a de
Shibden Hall - Virtual Tour disponibilizada pelo mesmo Calderdale Museum, traz uma imersão
em 3D tanto de fora de Shibden Hall quanto por dentro, o que ajuda ainda mais a visualizar os
ambientes da casa.15 (Figura 38 e 39)

Figura 37: Shibden Hall - Grand Room. Calderdale Museum.

15
Shibden Hall - Virtual Tour em 3D. Disponível em: <https://museums.calderdale.gov.uk/visit/shibden-
hall/virtual-tour>
41
Figura 38: Shibden Hall - 3D - Virtual Tour, Grand Room. Calderdale Museum.

Figura 39: Shibden Hall - 3D - Virtual Tour, Grand Room. Calderdale Museum.

Anne Lister era simplesmente a alma de Shibden Hall. A estética das roupas, a
complexidade da personalidade que era tão rica em conhecimento, auto-estima, tradição e
inovação (afinal, mesmo com sua transgressão em relação às normas de sexualidade e gênero
da época, ela era uma pessoa religiosa, tradicional, que se preocupava em manter a dignidade
da história dos ancestrais dela) e sua frieza para lidar com a sociedade machista do momento
histórico se refletem na aparência da casa.
Dentro de Shibden Valley, Anne Lister foi além e resolveu construir um chaumiere, como
uma cabana (uma pequena casa de apenas um cômodo com uma lareira, chaminé, sofá e outras

42
mobílias como mesas e armários) para que ela pudesse ter privacidade. Essa casinha não têm
registros de fotos, mas ela foi construída para a série Gentleman Jack e baseada no estilo de
Shibden Hall também. (CHOMA, 2019) Ela possui os mesmos espaçamentos escuros com
placas escuras e paredes mais claras e por ser no meio das árvores traz esse aspecto quase de
país das fadas, muito aconchegante e romântico (Figura 40).

Figura 40: Chaumière / Moss House. Gentleman Jack - Episódio 3. 06min23sec. HBO / BBC
One.

Ann Walker praticamente inaugurou a casinha com a primeira visita e se acabou se


tornando um importante ponto de encontro íntimo entre Anne Lister e Ann. O interior bastante
aconchegante e bonito trazia conforto e uma aura fantasiosa ao redor, não era coincidência
afinal, Anne sonhava desde jovem em ter um lugar privado para cortejar mulheres. (CHOMA,
2019) A lareira e o sofá com algumas almofadas de cor amarela compõem o interior. Os móveis
são escuros do mesmo modo e de madeira. Uma cabeça de alce empalhada na parede próxima
a porta e um destaque para as janelas com persianas que se fecham e transmitem feixes de luz
do Sol. As paredes com um tom de marrom claro ou mesmo bege, dependendo da luz incidida
na cena (Figura 41).

43
Figura 41: Anne Lister e Ann Walker no chaumière. Farfaraway site / HBO / BBC One.

A casa de Ann Walker era uma propriedade gigantesca na série. Apesar de Ann Walker
possuir a propriedade Crow Nest e ser rica, sua casa na verdade não era tão grande. Crow Nest
ficava em Lightcliffe, uma vila que fica a cinco quilômetros de Halifax e foi demolida e
substituída por um campo de golfe que funciona atualmente no local. 16 A fachada tinha uma
estrada e várias janelas em ambos os andares da casa. (Figura 42)

Figura 42: Crow Nest em Lightcliffe. BBC.

16
Crow Nest Golf Park Club: Our History. Disponível em: <https://www.crownestgolf.co.uk/welcome/our-
history/>
44
A casa usada para representar Crow Nest em Gentleman Jack é uma propriedade chamada
Sutton Park que fica em West Yorkshire também. (Screen Yorkshire, 2019) A semelhança com
Crow Nest por fora é muito adequada para a representação, com a diferença que é uma casa
muito maior e mais rica. Seus jardins são surpreendentemente grandes e o interior é muito
parecido com o que podemos notar nas pinturas de Mary Ellen Best. Por ser uma propriedade
de Yorkshire do século XVIII, a precisão é tamanha no interior.
Comparando com as pinturas de Best, as paredes e mobílias tem detalhes interessantes
com cores mais vivas como verdes, dourados e amarelos, contando com fato de que é uma casa
mais iluminada do que Shibden Hall com suas paredes sombrias (Figura 43).
As paredes têm padrões de papel de parede verde com desenhos de plantas e folhagens
em seus cômodos como escritório e quartos (Figura 44). A entrada consiste de um amarelo vivo
e quadros. (Figura 45) A casa dos Sutherlands compõem das mesmas cores, adornadas com
tecidos vermelhos e vinho, uma conexão que se estende e compartilha da mesma estética por
Ann Walker e Elizabeth Sutherland serem irmãs (Figura 46).

Figura 43: Nossa sala de desenho em York. Mary Ellen Best. 1838-1840. Women's Worlds:
The Art and Life of Mary Ellen Best, 1809-1891 (1985)

45
Figura 44: Quarto da Ann Walker em Crow Nest de Gentleman Jack. Farfaraway site.
HBO/BBC One.

Figura 45: Entrada de Crow Nest em Gentleman Jack. Episódio 3, 10min30sec. HBO / BBC
One / Lookout Point.

46
Figura 46: Elizabeth (Walker) Sutherland e Ann Walker na propriedade dos Sutherlands na
Escócia. Gentleman Jack, episódio 7. 43min38sec.

Por fim, em relação aos cenários de internos de casas e outras construções, a referência
de um dos grandes momentos da vida de Anne Lister e Ann Walker e também da série
Gentleman Jack, que marca a união matrimonial entre Anne Lister e Ann Walker. A igreja Holy
Trinity Church de York foi o local em que elas se reuniram para fazer seus secretos votos e
preces para que seu casamento fosse próspero e duradouro (Figura 47). A igreja traz um cenário
tão Tudor quanto Shibden, as paredes de pedra e as janelas com padrões geométricos, bancos
estilo caixa de madeira escura castiçais de bronze. O marrom, cinza e dourado têm seu destaque
aqui (Figura 48).

Figura 47: Foto do interior da Holy Trinity Church, Goodramgate em York anexada no site
TripAdvisor.

47
Figura 48: Anne Lister e Ann Walker na Holy Trinity Church em York. Gentleman Jack,
episódio 8. 57min23sec. HBO / BBC One / Lookout Point.

Atualmente, a Holy Trinity Church reconhece a importância do ato histórico que Anne
Lister e Ann Walker selaram ali no ano de 1834 e uma placa da York Civic Trust em arco-íris
foi fixada lá para lembrar aos visitantes que Anne Lister e Ann Walker tomaram a eucaristia
nesta igreja em sinal de união. (Figura 49)

Figura 49: Placa de arco-íris na Holy Trinity Church em York, Inglaterra. Foto de YorkMix.

Outros tons de verde e azuis mais escuros aparecem também por conta da paisagem de
Yorkshire que tem um aspecto mais rural, não se vê prédios altos, mas muitos vales com

48
terrenos e casas de vilarejos. Acrescento que esses tons de verde variam com o clima, pois a
Inglaterra é muito fria e chuvosa no inverno, as colinas são cobertas pela neblina e escurecem
mais a paisagem. Duas das referências mais úteis foram a visão de Yorkshire Dales (Figura 50)
e de Shibden Valley (Figura 51 e 52).

Figura 50: Yorkshire Dales, Yorkshire, Inglaterra. Sights of England.

Figura 51: Shibden Valley, Yorkshire, Inglaterra. Gentleman Jack, episódio 8. 51min51sec.
HBO / BBC One / Lookout Point.

49
Figura 52: Shibden Valley, Yorkshire, Inglaterra. Gentleman Jack, episódio 8. 51min45sec.
HBO / BBC One / Lookout Point.

Para os azuis, a presença mais forte na pintura do céu e tem um papel importante na
imagem da viagem de barco de Anne Lister, voltando da Dinamarca para a Inglaterra. A água
do mar varia com a luz e as espumas do mar, sendo assim uma variedade de tons para trabalhar.
(Figura 53) As referências dos veleiros ingleses vieram de uma breve pesquisa através dos
barcos do momento histórico, onde existia uma gama de viagens importantes que eles faziam,
tanto para transporte quanto para viagens e explorações. (Figura 54).

Figura 53: Porto em Copenhague, Dinamarca. Gentleman Jack, episódio 8. 05min31sec.


HBO/BBC One/Lookout Point.

50
Figura 54: The Bridgewater em Madras Roads em 10 de abril de 1830 por William John
Hughes.

5. As cores e os diários:

Os diários de Anne Lister compõem de uma estética fascinante de cores vermelhas e as


vezes até tons de verde nas capas. Em maioria, são vermelhos até um tom de marrom.
Geralmente as capas de livros daquele momento histórico variam por essas cores ou mesmo
preto e verdes. (Figura 55) As folhas brancas eram sujas de tinta e impressões também. Outro
ponto que foi interessante ressaltar eram alguns aspectos de marcas que revelavam os momentos
que Anne vivia como borrões de lágrimas e o desgaste das capas (Figuras 55 e 56).
Como os diários são antigos, as folhas não são completamente brancas e a estética das
folhas envelhecidas com um tom de café é uma das características que podemos notar até nos
diários (bullet journals) e agendas que são montados no momento em que vivemos atualmente
(Figuras 57, 58 e 59).

51
Figura 55: Diários de Anne Lister. West Yorkshire Archive Service.

Figura 56: Diário de Anne Lister e suas marcas. BBC News.

52
Figura 57: Diário de Anne Lister, trecho de um dos aniversários dela. Calderdale Museum.

Figura 58: Páginas de Moleskine de Rebecca Blair Art. 2013.

53
Figura 59: Páginas de caderno de Malabella Jewels.

As folhas do livro de arte em si foram pensadas para trazer um design que trouxesse essa
mesma estética envelhecida, ainda assim combinando com as cores que compõem todas as artes
que o livro traz. A ideia principal é que tivesse uma cor que não fosse totalmente branca e que
não ofuscasse ou apagasse todas as outras cores que as artes trouxeram ao longo da lista. E
ainda assim, fazer um contraste com a fonte utilizada para os textos.
As etiquetas compõem o diário para explicações breves sobre o andamento do rascunho,
de onde vieram as referências das artes e como elas foram projetadas a partir de retratos, fotos
da série e curiosidades sobre as personagens. As cores delas são pretos, marrons, rosas e beges.

6. Paleta de cores:

Juntando todo esse material de pesquisa através das cores que ela abarca, a paleta de cores
foi pensada e montada para que pudesse servir de base tanto para as páginas do livro quanto
para as próprias artes, buscando não se concentrar completamente nos tons mais saturados e
utilizando os tons mais claros ou mais escuros a partir delas (Figura 60).

54
Figura 61: Paleta de cores do artbook “Um diário para Anne Lister e Ann Walker”.

Os tons da parte inferior foram inspirados nas pinturas de Mary Ellen Best, contendo
dourados, marrons claros, verdes e laranjas juntamente com os tons de verde e cinza que
compõem os cenários e alguns vestidos que acabaram servindo para muitas das artes que
produzi para o livro. Os tons mais escuros de marrom, azul e preto para os mais vivos de roxo
e rosa são inspirados pela série Gentleman Jack e a composição gráfica das cenas dela. E por
fim, os tons claros de bege vindos dos diários de Anne Lister e suas páginas cheias de detalhes
e as cartas dela.

7. A tipografia para o produto:


Pensando na tipografia do momento histórico de 1830 e olhando através de alguns livros
da época como Frankenstein de Mary Shelley (figura 62 e 63) (que devo lembrar, Anne Lister
leu este livro e gostou) e Obras completas de Lord Byron: com notas e comentários, incluindo
suas memórias publicadas por Thomas Moore (figura 64), a pesquisa dos tipos da época se deu
pelos mais famosos da época na Inglaterra como os da família Caslon que é tão famosa na
Inglaterra (Figura 65).

55
Figura 62: Página de título da edição de 1831 de Frankenstein ou Moderno Prometeu de Mary
Shelley. Catálogo da University St. Andrews.

Figura 63: Página da edição de 1831 de Frankenstein ou Moderno Prometeu de Mary Shelley.
Wikipedia.

56
Figura 64: Obras completas de Lord Byron: com notas e comentários, incluindo suas
memórias publicadas por Thomas Moore. Tradução do Mr. Paulin Paris para francês, George
Gordon Byron. (1788-1824). 1830.

Figura 65: The First Six Books of The Elements of Euclid. Oliver Byrne. 1847.

57
William Caslon VI estava tentando trabalhar um tipo sem serifa em meados do século
XIX, as fontes da família Caslon faziam sucesso e William se inspirou nesse estilo egípcio de
fonte para produzir uma que não houvesse serifas e isso gerava uma crítica por parte da
sociedade da época porque as clássicas serifas eram uma preferência da época. Sem serifa,
significava ser uma coisa estranha e desajeitada. A família continuou as tradições da serifa de
Caslon e os tipos que não tivessem elas só foram ganhar o auge no século XX. (MEGGS,
PURVIS, 2009.)
Optando pelo clássico, resolvi ir atrás de uma fonte que fosse a mais aproximada dos tipos
de Caslon, para poder trabalhar no texto em formato narrativa de diário. O texto das páginas
principais são trabalhadas com a fonte escolhida nesse processo.

Figura 66: Fonte Caslon CP de ClaudeP. DaFont. 2012, atualizada em 2018.

A fonte Caslon CP (figura 66) é baseada nos tipos da família Caslon que possuem a serifa.
O estilo é bem parecido com os tipos dos livros e jornais que eram distribuídos em West
Yorkshire (Figura 67). O desafio é trabalhar com esta pequena fonte em meio às páginas do
artbook, trazendo os textos informativos e também a narrativa do diário.

58
Figura 67: Jornal Halifax Guardian de 1843, artigo que fala quando Ann Walker teve sua casa
ocupada por oficiais de justiça e ela acusou o magistrado pelos insultos. In Search of Ann
Walker. Halifax Guardian, British Library Board.

Para os títulos e apresentações dentro do diário, o tipo usado foi inspirado diretamente na
fonte usada na série Gentleman Jack. É um tipo sem serifa próprio e todas as letras são em caixa
alta, com uma aparência de terem sido desenhadas com giz de lousa (Figura 68). Os tipos
encontrados que mais se aproximavam desse estilo não são completamente iguais, mas tem uma
base semelhante e portanto a Bold Testament foi a mais precisa para o artbook. (Figura 69).

Figura 68: Título da série Gentleman Jack. HBO / BBC One / Lookout Point. 2019.

59
Figura 69: Fonte Bold Testament de Chequered Ink (Andrew McCluskey). DaFont.

De acordo com as apresentações e títulos que são dados no artbook, a fonte traz um
aspecto moderno que a série traz em si, o apelo de trazer o espectador para o mundo tão distante
do século XIX de Anne Lister acontece pela modernidade que a estética da tipografia, da quebra
da quarta parede durante as cenas, a atitude ousada de Anne Lister frente a sociedade tão
tradicional e preconceituosa da época. Esses aspectos juntos aproximam o espectador da
história que está sendo transmitida.
A escrita de Anne Lister é um dos elementos mais importantes da tipografia deste livro,
pois é o cerne da história. A história de Anne Lister e Ann Walker só pode conhecida através
da sua escrita nos diários. O conteúdo descrito por criptografia é uma riqueza de detalhes que
transmite o quão Anne era muito estudiosa e astuta, misturando todos aqueles símbolos gregos
com álgebra e outros sinais utilizado no século XIX (Figura 70).

60
Figura 70: Tradução do código criado por Anne Lister. West Yorkshire Archives.

Essa simbologia dos códigos traz os detalhes mais característicos para o livro de artes,
com referências que transformam os nomes dos personagens para o código e enfeitando as
páginas para que o estilo de Anne Lister permaneça ali, sem que se precise traduzir as páginas
tão complexas do diário e que a história ainda assim seja transmitida da mesma maneira e seja
compreendida pelos leitores.
A letra de Anne Lister é complexa de se entender também. As páginas são lotadas de
registros de temperaturas ao longo do dia, horários, pequenos rascunhos de coisas que viu no
dia misturados aos símbolos que escondiam a vida privada e romântica. A caligrafia apressada
mostra quanta paixão ela tinha para registrar cada pedaço de viagem, de livros, cartas e amores
sem perder um segundo da vida ao redor (Figura 71).

Figura 71: Diário de Anne Lister. West Yorkshire Archives Service.

Baseado nisso, a utilização das páginas como estética de algumas páginas do artbook foi
considerada para que a marca desse documento permanecesse ainda mais fielmente nele. A capa
e a página de rosto receberam essas caligrafias desenhadas para que ficassem como as do diário
original ao fundo, estampando Anne Lister e Ann Walker por cima. O contraste dá uma
característica única e reforça a ideia de além de ser um livro de arte, é um diário dedicado a
essas duas mulheres. As páginas utilizadas foram as do dia em que Anne Lister e Ann Walker
trocaram as alianças (Figura 72).

61
Figura 72: Diário de Anne Lister de Fevereiro de 1834, West Yorkshire Archives.

Figura 73: Capa produzida a partir das páginas dos diários

62
Outra versão foi feita para que fosse colocada na contracapa e isso trouxe um estilo ainda
mais especial, com um fundo escuro um tom mais claro nas letras para que contraste com o
vermelho escuro e forme a silhueta de Anne Lister e Ann Walker se encontrando (Figura 73).

8. A narrativa do artbook e as artes:

Para o texto do artbook, a linguagem utilizada foi a dos diários pessoais baseado na minha
experiência pessoal e procurando contar a história íntima entre Anne Lister e Ann Walker. É
uma narrativa romântica, assim como a série aborda com delicadeza os momentos que
aconteceram na vida das duas mulheres, desde 1820 e focando mais no período em que o
relacionamento começou em 1832. Primeiramente, é essencial que as personagens fossem
mostradas e suas respectivas primeiras impressões. Quando o sketches de Anne Lister foram
produzidos, a ideia era mostrar sua pose de mulher imponente, confiante e forte. As primeiras
linhas trazendo uma base que trouxesse a coluna mais reta e a cabeça levantada (Figuras 74 e
75).

Figuras 74 e 75: Sketches de Anne Lister posando com a mão da cintura e cabeça levantada.

63
Figura 76 e 77: Anne Lister posando com a mão na cintura e cabeça levantada. Sketch e
depois traço finalizado.

No último sketch adicionei a cartola e a bengala para as características principais de Anne


Lister. Na jaqueta tem detalhes clássicos paralelos que lembram um pouco estilo militar dos
anos 1800 e trazem um ar mais masculino. As botas precisavam ser longas, mas sem saltos.
Detalhes do rosto que se aproximavam dos traços faciais da atriz Suranne Jones que interpreta
Anne na série. Os olhos como se estivessem analisando, mas também saudando ao mesmo
tempo (Figura 76).
Depois a lineart final tem os traços mais trabalhados e evidentes como o sorriso, as dobras
nas saias, no lenço, nas luvas, na jaqueta e os botões tanto dela quanto das botas (Figura 77).
Para Ann Walker, o sketch começa com traços mais simples de uma pessoa tímida, com
os braços do lado do corpo e demonstrando um leve nível de insegurança. A cabeça não está
levantada, apenas olhando num sentido como se quisesse abaixar lentamente. (Figura 78 e 79)

64
Figuras 78 e 79: Sketches de Ann Walker para apresentação.

No terceiro sketch e no traço final vim com os traços de rosto que se aproximam da atriz
Sophie Rundle que interpreta Ann Walker na série (Figura 80 e 81). A expressão é séria, um
pouco retraída, mas assim confiante. Na série ela é tímida, depressiva, ansiosa e possui uma
auto-estima muito baixa apesar de muito rica. Aos poucos ela vai ganhando confiança. As
sapatilhas eram de bailarina e o pingente que Anne Lister ofereceu como um presente,
referência que peguei do episódio 3 da série (Figura 82 e 83).

Figuras 80 e 81: Sketches de Ann Walker para apresentação.

65
Figura 82: Sapatilhas de Ann Walker para referência. Episódio 3. Gentleman Jack. HBO/BBC
One.

Figura 83: Pingente de gôndola que Anne Lister deu para Ann em sinal de confiança e
segurança. Farfarwaysite / HBO / BBC One / Lookout Point.

A arte finalizada pediu o rosa que Ann Walker costuma usar e que representa seu estado
inicial nos primeiros episódios, vestimentas mais joviais e puras. O mesmo rosa apareceu todos
os acessórios com tons mais claros. Coloquei detalhes no vestido que linhas paralelas de
estampa de duas pétalas brancas que também lembram pequenos corações.
O cabelo tem esse estilo georgiano e vitoriano com muitos cachos dourados, um coque
no alto da cabeça. Acessórios básicos femininos da época como gargantilha, aliança e brincos.
Sobre o vestido tem um fichu que é colocado sobre os ombros. Os olhos azuis pela imagem da
atriz e os cabelos dourados. Anéis de ouro. As sombras vieram por último para dar os realces
nas dobras do vestido (Figura 84).

66
Figura 84: Desenho de Ann Walker finalizado para apresentação.

A próxima apresentação é de Shibden Hall, casa em que Anne Lister viveu e que Ann
Walker passou a viver depois de se casar com Anne. Os esboços com os sólidos deram o formato
da casa (Figura 85). Referências de fotos do local eu busquei no site oficial do Museu de
Calderdale na Inglaterra (Figura 86).

Figura 85: Sketch de Shibden Hall para apresentação.

67
Figura 86: Fotos de Shibden Hall do site de Calderdale Museum.

O segundo sketch tinha mais elementos que evidenciam o formato das portas, janelas,
estacas de madeira do estilo que caracteriza a casa (Figura 87). As chaminés e os telhados.

Figura 87: Segundo sketch de Shibden Hall para apresentação.

A arte em traço final tem toda a caracterização típica dos detalhes com pequenos tijolos
mais escuros para mostrar a ação do tempo ao longo das décadas. (Figura 88)

68
Figura 88: Arte em traço final de Shibden Hall para apresentação.

A pintura foi feita desde as paredes até o telhado no início. A paleta de tons mais neutros
e escuros é a escolhida. Apenas preto, cinza e um nude. Depois os detalhes das paredes mais
sujas e o fundo com tons de marrom e a grama verde para a finalização definitiva (Figura 89 e
90).

Figura 89: Desenho de Shibden Hall em processo de pintura.

69
Figura 90: Desenho de Shibden Hall finalizado.

Para o início da história do casal Lister e Walker após as apresentações, se trata do


momento de mostrar o início de tudo: Anne Lister e Ann Walker tiveram dois encontros
definitivos que marcaram como uma via a outra em um passado da juventude e depois como
elas se viam como mulheres adultas (Figuras 91 e 92). A cena do reencontro tem como
referência a cena do fim do episódio 1 de Gentleman Jack (Figura 98) e baseadas nos trechos
do diário de Anne Lister da época em que explicavam como foram essas visitas a família Walker
e Ann Walker em especial.

70
Figura 91: Desenho finalizado de Anne Lister e Ann Walker em Crow Nest em meados de
1820.

Figura 92: Desenho finalizado de Ann Walker e Anne Lister se reencontram em Shibden Hall
em 1832.

71
Na década de 1820, muitas coisas aconteceram e Anne Lister estava viajando através da
Europa. O que me moveu a desenhar Anne Lister em sua viagem para a Holanda e ela visitou
o enorme Palácio Real de Amsterdã. As referências vieram de fotos do próprio palácio que tem
uma arquitetura impressionante. (Figuras 93, 94 e 95)

Figura 93: Palácio Real de Amsterdã na Holanda. Foto de Jim Werbaneth.

Figura 94: Sketch de Anne Lister no Palácio Real de Amsderdã.

72
Figura 95: Desenho finalizado de Anne Lister no Palácio Real em Amsterdã.

Enquanto Anne Lister conhecia seus lugares favoritos da Europa, a tímida senhorita
Walker estava em Lightcliffe em sua vida tranquila e solitária. Após a perda de uma grande
parte da sua família próxima, ela se contentou com sua propriedade e as constantes visitas de
seus familiares como sua tia Ann Walker, os primos Atkinsons, Priestleys e Rawsons. O cenário
foi baseado na própria casa Sutton Park, que representa a casa de Ann Walker (Figura 96 e 97).

73
Figura 96: Anne Lister e Ann Walker conversam em Crow Nest. Gentleman Jack, Episódio 2.
29min18sec. HBO / BBC One / Lookout Point.

Figura 97: Desenho finalizado de Ann Walker em Lightcliffe.

74
Figura 98: Ann Walker e Anne Lister se encontram em Shibden Hall em 1832. Gentleman Jack,
episódio 1. 52min48sec. HBO / BBC One / Lookout Point.

Assim que Ann Walker e Anne Lister passam a se ver constantemente, Anne Lister tem
seu chaumière pronto na série. Nessa visita ao lugar exclusivamente novo, é onde acontece o
primeiro beijo delas na série. Com o tempo, vira um ponto de encontros íntimos entre as duas.
É nos dois primeiros encontros que são mostrados em Gentleman Jack que se baseiam a próxima
arte. As cores citadas em relação ao interior se mantém aqui e outro ângulo foi utilizado para
que possamos ver elas como se estivéssemos no chão junto com Anne Lister. As roupas são as
mesmas da segunda cena usada como referência. O branco das mangas tem uma opacidade mais
fraca para dar esse efeito de que é transparente (Figuras 99 e 100 e 101).

75
Figura 99: Ann Walker e Anne Lister em seu primeiro encontro no chaumière. Gentleman
Jack, episódio 3. 09min16sec. HBO/BBC One/Lookout Point.

Figura 100: Ann Walker e Anne Lister em seu segundo encontro no chaumière. Gentleman
Jack, episódio 3. 25min24sec. HBO/BBC One/Lookout Point.

Figura 101: Desenho finalizado de Ann Walker e Anne Lister no chaumière.

76
Depois do primeiro encontro de Ann Walker e Anne Lister, outra cena era marcante em
seu relacionamento pois a tímida Srta. Walker despe sua falta de confiança para convidar Anne
Lister para passar a noite em sua casa em um passo muito rápido em que Anne não esperava
receber tão cedo, mas que foi um gesto bem vindo (Figura 102). A cena foi referência para esta
arte específica, o diferencial é que o ângulo muda e vemos Ann Walker e Anne Lister de outro
ponto de vista, as cores são as mesmas do cenário e carregam esse aspecto quente que a cena
exala. (Figura 103).

Figura 102: Ann Walker é respondida com o beijo após convidar Anne Lister para dormir em
sua casa na noite seguinte. Gentleman Jack, episódio 3. 11min12sec. HBO/BBC One/
Lookout Point.

77
Figura 103: Desenho finalizado em que Ann Walker é respondida com o beijo após convidar
Anne Lister para dormir em sua casa na noite seguinte.

Nem tudo eram flores ou um mar de rosas. Ann Walker sofria com suas dores na coluna
apesar dos 29 anos de idade e suas crises de pânico eram uma dificuldade na vida. Por isso,
Anne Lister achou que seria melhor Ann ignorar os médicos indicados pelo clã e levá-la ao
amigo de confiança Dr. Belcombe em York. Belcombe tinha um interesse em pesquisar
exatamente sobre a mente humana e se disponibilizou a ajudar Ann Walker. Elas partiram para
a cidade de York em uma carruagem para que eles pudessem vê-lo (Figura 104). Escolhi a
referência de Yorkshire Dales para construir o pano de fundo dessa viagem, as cores de uma
Yorkshire fria e nebulosa compõem a imagem junto com os tons de verde escuro. O traço foi
duplicado e movido levemente para o lado para que desse a ideia de movimento (Figura 105).

78
Figura 104: Anne Lister e Ann Walker em uma carruagem em York. Episódio 4 de
Gentleman Jack. 08min02sec. HBO/BBC One/ Lookout Point.

Figura 105: Desenho finalizado de Anne e Ann viajando para York em 1832.

Existem outros arcos que são complexos de registrar como o do carvão, em que Anne
Lister e o clã Rawson se enfrenta em negócios de minas de carvão, pelo fato do aumento de
venda de carvão começar a aumentar por causa da Revolução Industrial Inglesa. Anne
desconfiava que os Rawsons estavam roubando o carvão de Shibden enquanto ela estava fora e
não queria permitir que isso continuasse acontecendo.
Pelos Rawsons serem parentes de Ann Walker e por serem uma família influente na
cidade por gerenciarem bancos, negócios de carvão, interferiu de certa forma no relacionamento
das duas, pois Ann Walker temia que fosse ainda mais julgada pelos olhos da família, somando
com os primos Priestleys que eram muito religiosos.
Anne Lister teve uma série de decisões para fazer ao longo desse tempo em que precisava
cuidar da saúde de Ann Walker por sofrer tanto mentalmente e ao mesmo passo que precisava
79
de paz de espírito para continuar a trabalhar em seus planos e viajar. Ela propôs a Ann Walker
diversas vezes que fosse morar em Shibden Hall com ela e que tomassem a comunhão em
símbolo de matrimônio. (CHOMA, 2019.) A próxima arte é baseada na cena em que Anne se
ajoelha para fazer isso pela segunda vez, mas Ann ainda está com medo e confusa após se sentir
pressionada a casar por aparências com Sr. Ainsworth. O cenário é visto de cima e traz uma
leve inclinação. As cores são as mesmas do cenário as flores não têm contorno e foram pintadas
diretamente. (Figura 106 e 107)

Figura 106: Anne Lister pede para que Ann Walker seja sua esposa. Gentleman Jack,
Episódio 4. 40min57sec. HBO/BBC One/Lookout Point.

80
Figura 107: Desenho finalizado de Anne e Ann chorando. “Anne, eu adoro você”

Embora Ann Walker sofresse com todo o julgamento por conta do clã, a culpa por romper
com fiel comprimento das leis bíblicas da igreja e a constante cobrança que parentes faziam
sobre ela para se casar com pessoas de mesma classe social, ela não nunca parou de pensar que
Anne Lister era seu único interesse amoroso. (CHOMA, 2019) Além do mais, quando Anne
Lister sofreu agressões a mando de parte do clã, Ann Walker ficou desesperada quando lhe viu
em tal estado e implorou para que ficasse, mas os planos precisavam mudar (Figura 108).
No entanto, sua batalha mental contra a consciência e as crenças religiosas a fadaram a
uma saúde mental completamente difícil de controlar. e Anne Lister cedeu a vontade da família
de Ann Walker que sugeriu que morasse com a irmã Elizabeth Sutherland para que fosse
cuidada todo o tempo. Ann se recusava a ir, mas não teve como evitar, pois Anne Lister marcou
as viagens através da Europa e não voltaria atrás se não aceitasse se casar com ela. (Figura 109).

81
Figura 108: Ann Walker percebe os hematomas de Anne Lister. Gentleman Jack, episódio 6.
23min57sec. HBO/BBC One/Lookout Point.

Figura 109: Desenho “Anne, o que aconteceu com você?” finalizado

Outra referência que foi utilizada para essa parte em específico é do quarto de Ann Walker
na série (Figura 44). Os papéis de parede tem esses detalhes de flores que foram desenhados
sem repetições, todos feitos livremente e com as mesmas ferramentas propostas, assim como o
tapete. O ambiente é levemente escuro por conta das janelas cobertas por cortinas e a cama é

82
composta de cortinas esverdeadas que fazem um certo contraste com o vermelho e marrom das
mobílias.
A próxima arte levou ao momento em que Ann Walker se muda para a casa de Elizabeth,
com a saúde mental desabilitada, tudo o que lhe resta é descansar e manter-se ocupada nos
cadernos de desenho. Mesmo que estivesse junto a irmã, Ann não estava segura pois o marido
de Elizabeth, Capitão Sutherland não era uma boa pessoa e tentou convencê-la a casar-se com
Alexander Mackenzie, um dos primos dele.
É um período muito delicado da vida de Ann Walker, portanto suas expressões faciais
nessa arte são mais cansadas, tristes e sem vida. A intenção era usar a escuridão do quarto para
reforçar o estado de saúde dela. Mesmo os vermelhos aqui tem um peso maior para o sentimento
de angústia e imensa frustração que Ann sentia nessa cena (Figura 110 e 111). Durante a estadia
de Ann, Elizabeth precisou enviar cartas pedindo conselhos a Lister, pois a irmã não parecia
melhorar.

Figura 110: Ann Walker no quarto dela na casa dos Sutherlands. Gentleman Jack, episódio 7.
45min:30sec. HBO/BBC One/Lookout Point.

83
Figura 111: Desenho de Ann Walker desenhando no quarto da propriedade dos Sutherlands.

Em todo esse tempo, Anne Lister viajou como planejado, passando pela França até a
Dinamarca. Foi um grande marco na vida dela, pois através das conexões que tinha com as
pessoas da alta sociedade, ela acabou conhecendo a Rainha Marie de Hasse-Kassel da
Dinamarca. Como esse período foi muito longo e o arco focava mais nas aventuras e pouco no
relacionamento com Ann, apesar do drama em relação a falta das respostas das cartas para
Elizabeth, ele não entrou no artbook.
Eventualmente, ela precisou voltar para Halifax em meados de novembro de 1833 ao
receber notícias de que sua amada tia estava enferma e a ponto de perder a vida. A viagem de
volta foi intensa pelo agitado Mar do Norte na época.
Inspirado nessa volta, a arte de Anne voltando de barco foi produzida com o desafio de
mostrar as ondas agitadas. As linhas curvas foram a escolha para que dessem o efeito de
movimento, destacado por tons mais claros de azul durante o processo de pintura (Figuras 112,
113 e 114). Fotos de proas de barcos também foram boas referências para a precisão dos
detalhes conforme o Anexo B.

84
Figuras 112 e 113: Sketch e desenho em traço finalizado de Anne Lister no barco pelo Mar do
Norte.

Figura 114: Desenho de Anne Lister volta da Dinamarca para a Inglaterra em uma
embarcação pelo Mar do Norte em 1833.

85
Usei a expressão do famoso destino, que traz um ar ainda mais romântico para uma
história com tantos altos e baixos, retorno com Ann Walker que se torna a heroína da sua própria
história, me fazendo recordar dos passos do Herói de Mil Faces (1949) de Campbell. Ao saber
que Anne Lister tinha correspondido uma das cartas de Elizabeth, mas teve as correspondências
destruídas pelo Capitão Sutherland, ela decide voltar para Yorkshire e conseguir o endereço de
Anne Lister para retornar as cartas. É nessa cena que nasceu a próxima arte. Quando Ann
Walker aparece em Shibden, com a carruagem dela e o fiel empregado James (Figura 115).

Figura 115: Ann Walker e James no portão dos fundos de Shibden Hall. Gentleman Jack,
episódio 8. 43min34sec. HBO/BBC One/Lookout Point.

A parte detrás de Shibden era o local onde as carruagens podiam estacionar, pois era mais
perto do celeiro. O cenário escolhido portanto foi desse local diferente e ainda assim
interessante, pois a estética ainda se mantém e os tijolos escurecidos fazem o contraste que
caracteriza a casa juntamente com as placas de madeira escura e as cores da carruagem de Ann
Walker (Figura 116 e 117). Fotos de Shibden Hall também ajudaram a criar a cena com mais
fidelidade conforme Anexo A.

86
Figuras 116 e 117: Sketch e desenho finalizado de Ann Walker chegando em Shibden Hall.

Segui essa mesma licença poética da autora da série, Sally Wainwright, e o próximo
desenho foi o auge emocional deste produto e do programa pois mostra o momento em que Ann
Walker finalmente se encontra com Anne Lister que estava em Shibden Hall no momento e elas
decidem que irão se casar. É um momento colorido, no topo de Shibden Valley a promessa é
selada com um beijo, enquanto a luz do Sol ilumina o vale e os rostos, dissipando toda a tensão
que as cenas anteriores carregavam (Figura 118). Sob a cena do beijo, a arte foi produzida sem
linhas para a paisagem, apenas para a composição de Anne Lister e Ann Walker. Os tons de
verde se intercalam para mostrar como a luz incide sobre a diversa vegetação ao redor (Figura
119 e 120). A grama foi feita com linhas no sentido da esquerda da imagem.

87
Figura 118: Ann Walker e Anne Lister se beijam no topo do Shibden Valley. Gentleman Jack,
51min48sec. HBO/BBC One/Lookout Point.

Figuras 119 e 120: Desenho de Ann Walker e Anne Lister no topo da montanha finalizado.

Retratar essa cena foi um muito especial para o livro porque essa confirmação de que duas
mulheres se propuseram a casar em pleno século XIX quebra uma série de noções do senso
comum de uma sociedade que ainda nos dias atuais acredita que ser homossexual é recente e
que é apenas uma fase que o planeta está vivendo e que irá passar. Ou que é uma doença que
pode ser curada.17 O relato de uma história LGBTQ+ de época baseada em fatos não só encanta,
como educa seus telespectadores e abre portas para que outras pessoas LGBTQ+s possam se
sentir mais abertas e criar conexões com as pessoas ao redor partilham da preferência pela série.
A cena de Anne Lister e Ann Walker tomando sua comunhão juntas e concordando
secretamente com os votos feitos une muitos elementos que refletem a confiança delas e
apresentou um semblante único nos rostos das personagens. A ideia da arte do casamento era
mostrar o quão a escura Holy Trinity Church (Figura 121) em York foi um lugar de luz para
Anne Lister e Ann Walker. Os sorrisos tímidos e as roupas novas elas usaram para celebrar a
ocasião. Os sketches recriaram o interior da igreja e na finalização da arte, utilizei as técnicas
de pintura de Shibden, o efeito envelhecido e acinzentado intercalando com as cores originais
das paredes de pedra (Figuras 122, 123 e 124).

17
Clínica de hipnose no DF promete 'cura gay' em até seis meses; prática é proibida. Disponível em
<https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/11/08/clinica-de-hipnose-no-df-garante-cura-gay-em-ate-
seis-meses-pratica-e-proibida.ghtml>
88
Figura 121: Anne Lister e Ann Walker tocam as mãos secretamente após tomarem a
comunhão na Holy Trinity Church em York. Gentleman Jack, episódio 8. 57min17sec.
HBO/BBC One/Lookout Point.

Figuras 122 e 123: Sketch da Holy Trinity Church e o processo de pintura da arte.

89
Figura 124: Desenho finalizado de Anne e Ann na Holy Trinity Church em York no dia do
casamento delas.

Por últimos ficaram as artes que complementam o artbook e que apresentam outros
personagens da série que são conectadas a Anne Lister e Ann Walker, como os familiares delas
e os empregados. O estilo utilizado para essas apresentações em específico foi o busto que
mostra através das expressões as personalidades de cada um. Os espaços são propositais para
que o texto caiba sem alterações grandes. As cores utilizadas são as da paleta do produto
juntamente com as das roupas dos personagens na série (Figura 125, 126, 127 e 128).

90
Figura 125: Desenho finalizado dos bustos de Tia Anne Lister, Marian Lister (irmã de Anne
Lister) e Capitão Jeremy Lister (pai de Anne Lister).

Figura 126: Desenho dos bustos finalizados de Tia Ann Walker, William Priestley (primo de
Ann Walker) e Catherine Rawson (prima de Ann Walker).

91
Figura 127: Desenho finalizado dos bustos dos empregados de Anne Lister. Na sequência:
Elizabeth Cordingley, Rachel Hemingway, Eugénie Pièrre, John Booth e Joseph Booth.

Figura 128: Desenho finalizado dos bustos dos empregados de Ann Walker: James Mackenzie
e Samuel Washington.

A arte de Anne Lister escrevendo no diário foi projetada para que estampasse a página
logo no capítulo Apresentações, as referências da sala de estudos vieram da Shibden Hall

92
Virtual Tour. O ambiente de Shibden Hall é bastante escuro, mas a luz da janela batia sobre as
costas dela trazendo um pouco mais de iluminação (Figura 129).

Figura 129: Desenho finalizado de Anne Lister na sala de estudos escrevendo no diário.

Alguns desenhos foram produzidos ao longo do projeto sem a obrigação de entrar no


artbook, mas que podem ser considerados de acordo com o seguimento da montagem das
páginas com o início da diagramação. São artes de busto também e trazem momentos íntimos
de Anne Lister e Ann Walker. Mais livres e sem um fundo trabalhado especialmente para elas,
assim podem entrar em qualquer página. (Figura 130 e 131)

93
Figuras 130 e 131: Desenhos finalizados dos bustos de Anne Lister e Ann Walker trocando
beijos.

A linha que guiou a narrativa dos textos do artbook foi organizada com a linha do tempo
a seguir:

1. Apresentações: quem é Anne Lister, 2. Ann Walker e Anne Lister se


Ann Walker e o que é Shibden Hall; encontram em 1820

3. Anne Lister viajando em 1830 4. Ann Walker vivendo em Lidgate em


1830

5. Ann Walker e Anne Lister se 6. Apresentações dos empregados e


reencontram em Shibden Hall em 1832 familiares de Anne Lister e Ann Walker

7. Início do relacionamento de Anne 8. Anne Lister pede Ann Walker para se


Lister e Ann Walker comprometer com ela e viverem juntas

9. Crises no relacionamento de Anne e 10. Agravo na saúde mental de Anne e


Ann Ann

11. Separação entre Anne e Ann, ambas 12. Reunião de Anne e Ann
viajam separadamente

13. Casamento de Anne Lister e Ann


Walker

94
As apresentações de outros personagens como familiares e empregados colocam os
leitores dentro do contexto do Universo das personagens, os textos feitos em anotações sobre
as características deles na série e da família de ambas que estão registradas em seus documentos.
Quando todo o material da história foi apurado, os textos tomaram forma aos poucos e
sendo reorganizados a partir da linha do tempo. A narrativa de diário é muito pessoal, por
conseguinte os inícios de cada capítulo se iniciam com saudações de diários comuns:

“APRESENTAÇÕES:

Querido diário,

Estou escrevendo e desenhando para lhe contar a história de duas mulheres


especiais que fizeram história. Anne Lister e Ann Walker, nomes parecidos,
famílias diferentes.” (Um diário para Anne Lister e Ann Walker)

Assim como a série traz o romance para que a narrativa audiovisual seja mais agradável
para os telespectadores, o livro traz uma linguagem romântica do mesmo modo. É claro que a
era georgiana não tinha suas facilidades e muitos costumes não se encaixam mais com o que
vivemos na atualidade, por isso alguns aspectos são modificados.
A era georgiana não era gloriosa e havia muitas limitações nos mais diversos aspectos do
cotidiano, como por exemplo, as pias com sistema de esgoto ainda não existiam e portanto as
cozinheiras limpavam as mãos sujas de sangue dos cortes de carne em panos (Figura 132).

95
Figura 132: Cordingley limpa as mãos sujas dos cortes de carne em um pano. Gentleman
Jack, episódio 8. 43min31sec. HBO / BBC One / Lookout Point.

Ao ter os diários de Anne Lister como inspiração, a maneira de se conectar com o leitor
é tão latente quanto as cenas da quebra de quarta parede em que Anne Lister se comunica com
o telespectador nas cenas de Gentleman Jack. Portanto o texto trata de maneira íntima as
passagens da história e imprimindo as emoções que os momentos que cada arte exprime com
um humor bem leve.

“Em julho de 1832, Ann Walker passou para uma visita em Shibden Hall com
dois de seus familiares. Eles ficaram por lá por uns quinze minutos para
conversar. Anne Lister os recebeu e foi bem educada como sempre, sem
perder o humor. É claro que vendo a Senhorita Walker ali, ela resolveu puxar
conversa e falar sobre viagens e talvez algo mais…” (Um diário para Anne
Lister e Ann Walker)

Os textos mais informativos servem para explicar resumidamente alguns dos processos
utilizados ao longo da arte e quais foram as referências visuais para elas, principalmente nas
páginas de apresentações em que o Universo das personagens é introduzido.

“Sobre o traço: Escolhi um pincel que tem um efeito de giz branco porque
além de ser o que eu prefiro, tem um efeito mais suave, macio e faz jus ao
estilo da época.

A personalidade de Anne Lister é marcada por sua confiança e sua vontade


imensa de aprender tudo sobre todas as coisas e isso exala certo poder. Por
isso os rascunhos trazem poses mais confiantes e eretas.”

Detalhes mais precisos e históricos de Anne Lister, Ann Walker e de Shibden Hall que
possuem histórias mais complexas também vão nessas páginas.

“OCUPAÇÃO:
MONTANHISTA, DONA DE TERRAS, ESCRITORA E
EMPREENDEDORA.

96
Aos 36 anos, ela herdou Shibden Hall, a propriedade de sua família. Lister
viajava muito e administrava as terras de longe.”

Certos momentos foram difíceis de entender quais são os personagens por terem nomes
tão parecidos. Isso causa confusão por parte não só dos leitores, mas também quando não se
está habituado a ler sobre Anne Lister ou Ann Walker. Essa observação ao longo do tempo me
fez pensar que era uma situação boa para explicar de maneira divertida sobre isso:

“TIA ANN WALKER, WILLIAM PRIESTLEY, CATHERINE RAWSON

Eu sei diário, parece estranho que a tia da Ann Walker também tenha o
mesmo nome que ela assim como a tia da Anne Lister tem o mesmo nome
que a Anne Lister… Ai! Já está confuso? É que antigamente era bem comum
que os nomes se repetissem nos filhos e parentes.”

Os momentos mais tristes da história tinham um peso muito grande e o foco era não se
concentrar completamente neles, o motivo disso é que reconhecendo que a maioria das
narrativas para LGBTQ+s não tem romances “não trágicos”, reforçar o drama traz um certo
desconforto para o leitor que está aproveitando uma narrativa tão leve no começo para logo
depois entrar em partes muito complexas que envolvem muitos mais arcos do que este livro
abarca. (Anexos C e D)
O final se concentra em explicar o retorno de Anne Lister e Ann Walker com uma
mensagem de esperança e ao mesmo tempo celebrando o acontecimento desse fato. Essa parte
da história que deve ser sempre lembrada e marcada para que os leitores não esqueçam e
guardem um pouco de cada uma delas em si mesmos.

“Coincidência é uma palavra muito fraca para descrever este momento. Sinto
que posso chamar de destino… Ao mesmo passo que Anne Lister voltava de
Copenhague, Ann Walker também voltava da Escócia para Yorkshire!”

Ao terminar os textos, a revisão foi realizada pela codebreaker Marlene Oliveira que fez
a correção das informações e prestou uma curadoria muito gentil e sugeriu outras coisas que
poderiam ser colocadas no livro e que acrescentariam ainda mais no conteúdo. (APÊNDICE L)
A escritora, transcritora dos diários de Anne Lister e consultora da série Gentleman Jack (2019),
Anne Choma, escreveu a dedicatória do artbook. (APÊNDICE M, N)

97
9. A montagem gráfica do artbook:

As primeiras tentativas de organização do artbook começaram pelo programa FireAlpaca


numa tentativa de visualizar como seria o design das páginas abertas e com a composição dos
sketches até a arte final considerando que o formato do livro é de paisagem (horizontal) com
capa de 23 x 31 e páginas de 22 x 30.
O fundo foi feito com pintura simples bege e aplicando tons levemente mais escuros por
cima e esfumando, na intenção de criar o efeito de envelhecido. Linhas em um tom mais escuro
para as dobras e falhas e alguns símbolos espalhados. As primeiras páginas foram feitas de
forma bem simples e com os rascunhos de Anne Lister divididos da direita para a esquerda.
(APÊNDICE A) A ideia logo foi descartada porque o caminho de leitura é sempre ao contrário,
da esquerda para a direita aqui no ocidente.
Após corrigir essa sequência, os elementos começaram a aparecer para que trouxerem
mais divisões e colorir as páginas com textos interativos, que lembrassem as notas e lembretes
que se colam em diários atualmente. As etiquetas e caixas de texto escuras complementam com
as cores da paleta, com tons marrons escuros e o preto. Fotos de referências para os desenhos
também foram fixadas, incluindo as da série e os retratos pintados dos personagens no século
XIX. (APÊNDICE B, C)
O mesmo estilo foi aplicado nas páginas de apresentação de Ann Walker e os textos foram
sendo fixados no próprio FireAlpaca como experiência para que não se perdesse no momento
de passar para o InDesign. (APÊNDICE E) Assim que essas páginas foram transferidas para o
InDesign, a dificuldade de diagramação foi visível (pois as imagens estavam em formato .pgn
e as ferramentas de edição de imagem do programa não permitem grandes alterações) e a
necessidade de reformular as páginas me fez voltar ao FireAlpaca para repensar o estilo das
folhas. Os textos foram removidos, mantendo o fundo, as etiquetas e as fotos. Os textos foram
diagramados no InDesign (Figura 133).

98
Figura 133: Páginas de apresentação de Ann Walker no InDesign.

Isso funcionou bem para essas apresentações, exceto para as páginas de Shibden Hall que
são imagens com uma largura maior e o encaixe junto com os outros sketches ficou bastante
dificultoso de se fazer no FireAlpaca como base. As dificuldades de se visualizar a diagramação
no momento da montagem surgiram pela pressa da finalização.
A solução foi pensar na montagem do livro em um caderno normal, rascunhando em
busca de um modelo de organização surgisse ao visualizar as páginas todas uma ao lado da
outra e até mesmo com as artes sangrando nelas. (APÊNDICES J, K)
Com os rascunhos prontos, a organização do livro ficou mais fluida, títulos surgiram
naturalmente, baseados em períodos de tempo e citações famosas da série, como por exemplo
“Ora, ora, ora”, que Anne Lister fala ao receber a notícia que Ann Walker e seus primos foram
visitá-la. A base utilizada foi aplicada para a maioria das páginas e então as artes foram
colocadas por cima (Figura 134).

99
Figura 134: Desenho da base de fundo para as páginas do livro.

As etiquetas, caixas e figuras foram desenhadas a parte para que elas pudessem ser
colocadas no momento da diagramação e isso evitasse que tudo fosse refeito no FireAlpaca.
Elas foram baseadas em cartas antigas, etiquetas de roupas e assim nos selos de carta do século
XIX que eram prensados com uma espécie de cera (Figuras 135, 136 e 137).

Figuras 135, 136 e 137: Desenhos finalizados de notas, etiqueta e selo de carta.

Os nomes dos personagens foram codificados para o modelo dos diários de Anne Lister,
de acordo com a lista de tradução do código (Figura 138 e 139). Tive a ajuda das codebreakers
Marlene Oliveira e Sophie Coston para que os nomes fossem codificados corretamente sob duas
perspectivas diferentes.

100
Figura 138: Desenho finalizado do nome de Marian Lister codificado pelo sistema de códigos
inventados por Anne Lister.

Figura 139: Desenho finalizado do nome Aunt18 Ann Walker codificado pelo sistema de
códigos inventados por Anne Lister.

O começo da cada capítulo ficou em um padrão que todos ficaram no lado esquerdo. Os
títulos escritos com a fonte Bold Testament. Os textos corridos com a fonte escolhida durante
a pesquisa, Caslon CP (Figura 140).

Figura 140: Páginas do capítulo 1820 1830 diagramadas no InDesign.

O sumário e folha de rosto do livro estampam artes feitas especialmente para elas. As
bases escuras e com ilustrações vazadas dos objetos que mais lembram e representam Anne
Lister e Ann Walker na série Gentleman Jack: chapéus, pote de tinta e caneta, bengala e alianças
(Figura 141 e 142).

18
Aunt: Tia em inglês. Traduzido pela própria autora.
101
Figura 141: Desenho finalizado da página de rosto do artbook.

Figura 142: Desenho finalizado do sumário do artbook.

A capa do artbook foi completamente baseada nas páginas do diário de Anne Lister de
1834 que traz o trecho em que ela explica como foi o dia em que ela e Ann Walker trocaram
alianças e concordaram seguir com a união e dividir seus bens. As silhuetas de Anne Lister e
Ann Walker têm como referência as fotos promocionais da série Gentleman Jack (Figura 143,
144 e 145).

102
Figura 143: Foto de Anne Lister promocional para Gentleman Jack. Farfarway/HBO/BBC
One.

Figura 144: Foto de Ann Walker promocional para Gentleman Jack. Farfarway/HBO/BBC
One.

A arte da guarda segue o mesmo modelo do diário só que com outras cores e um padrão
que faz silhueta de Anne Lister e Ann Walker ser formada pelas letras e símbolos que ficaram
nas linhas entre elas (Figura 146).

103
Figura 145: Desenho finalizado da capa do artbook com silhuetas de Anne Lister e Ann
Walker, tais como seus nomes escritos na lateral direita para que o resto do título fosse
adicionado na diagramação.

Figura 146: Desenho da guarda do artbook com silhuetas de Anne Lister e Ann Walker.

A contra capa foi a continuação com as mesmas entradas nesse diário de fevereiro de
1834, com uma espécie de faixa vermelha desenhada para compôr a característica dos diários
de Anne Lister que tinham uma faixa parecida com esta (Figura 147).

104
Figura 147: Desenho da contra-capa do artbook.

Considerações finais:

Sintetizar uma parte essencial da vida de Anne Lister e Ann Walker foi um grande desafio,
contando com o fato de que foi a minha primeira experiência com a diagramação de um livro e
sendo um artbook é um desafio ainda maior. E a pesquisa em relação a duas personagens
históricas com um conteúdo informativo tão rico necessitou de uma série de recortes ao longo
do tempo.
Comecei a pesquisa com toda a dedicação e admiração que eu tenho por Anne Lister e
Ann Walker, as intenções eram as melhores e maiores possíveis: trazer com os maiores detalhes
as histórias delas que foram entrelaçadas a partir do ano de 1832. Então me deparei com o
dilema de que eu teria que escolher entre contar a história da série Gentleman Jack ou a história
dos diários reais de Anne Lister, o que a princípio parecia uma dificuldade muito grande pois a
licença poética que a autora da série teve ao longo de algumas partes da história foi uma
adaptação para que o contexto da nossa sociedade pudesse compreender melhor e se conectar
com a história.
Portanto, na decisão de utilizar a série como base do livro para que tivesse uma
comunicação mais efetiva com o público, compreendi que seria útil conferir os diários para
preencher as lacunas das partes da história que não foram explicadas com tantos detalhes na

105
série, como as visitas que Anne fez a casa de Ann Walker quando ela era mais jovem e até
mesmo detalhes sobre a Shibden Hall e familiares das personagens.
O material dos diários de Anne é extremamente extenso, são praticamente 5 milhões de
palavras19 e começando em 1806 até 1840, ano da morte dela. É um conteúdo muito maior do
que eu poderia abordar neste trabalho. E então a notícia da descoberta do diário de Ann Walker
recentemente me fez alterar algumas coisas no texto ao longo do tempo, foi um presente de
certa forma, porque mesmo sendo um diário que aborda um momento depois desse livro,
preencheu alguns espaços no meio do texto que faltavam informações sobre ela.
A base referencial oferecida pelo livro Women's Worlds: The Art and Life of Mary Ellen
Best, 1809-1891 (1985) é extremamente precisa e reconheço foi o objeto de pesquisa que mais
me ajudou em termos artísticos, tanto pela cor, quanto pelo estilo, a moda, os cenários porque
retratava exatamente o mesmo período da época, na mesma região da Inglaterra onde Anne e
Ann viviam. E as correlações entre a família de Anne Lister e a de Best eram outro ponto
importante que reforço para essa parte da pesquisa.
Tendo essas referências juntamente com o design da série, o desempenho das artes se
tornou bem satisfatório. Os cenários mais complexos de se trabalhar foram os que possuíam o
fundo com muitos detalhes, como Shibden Hall e Crow Nest. A gama de tons de madeira e os
papéis de parede, tapetes e mobílias do século XIX tem muitos detalhes característicos da época
que demandam mais tempo de finalizar tanto na lineart quanto na pintura. Mas isso me fez
descobrir novas técnicas também, como o efeito de reflexo em espelhos, janelas e outros objetos
de vidro.
A lista de arte foi uma maneira de formar um desenho da linha do tempo, eu fiz ela
pensando já no momento em que eu organizar os textos para que eles seguissem esse fio da
maneira mais correta dentro do que eu poderia executar. Se tornou uma obsessão ter a lista
completa até um período do tempo em que eu marquei que seria a diagramação do artbook e
isso me trouxe alguns problemas, me fez aprender a ter consciência de focar mais na qualidade
do que na quantidade e ao mesmo tempo adquirir novos formatos de continuar contando a
história sem ter que sentir a falta de uma arte para representá-la.
No entanto, assim que percebi isso, foquei no processo de pintura, principalmente, em
busca das técnicas de Mary Ellen Best e as traduzi para o meu estilo e meu setup, pois a pintura

19
Anne Lister - The Journals. Disponível em: <https://wyascatablogue.wordpress.com/exhibitions/anne-
lister/anne-lister-the-
journals/#:~:text=Her%20diaries%20comprise%20some%207%2C720,to%20just%201.25%20million%20words
.>
106
de telas é bem diferente do que consigo fazer atualmente com a minha bagagem em desenho
digital, é um constante aprendizado. Os detalhes do cenário, a moda e a estética arquitetônica
foram fundamentais para a ambientação e elas ajudaram a contar a história.
A interação entre as duas personagens nas artes foi uma preocupação enquanto a
expressão e toques, a aproximação. A intimidade crescente ao longo de cada arte serviu de
artifício para demonstrar quais eram os níveis de relacionamento e comprometimento Anne e
Ann tinham. Criar uma atmosfera de romance, de união, afeto e olhos nos olhos, abraços, lábios
bem encaixados, pálpebras semi cerradas e lágrimas são especificidades que fazem a diferença
tanto no visual quanto na compreensão do contexto.
Atenção no processo por conta da romantização foi necessária porque o século XIX foi
um período em que muitos hábitos não cabíam no que vivemos hoje em dia, a questão sanitária,
de saúde, os valores morais do momento histórico e entre outras limitações da época que são
incômodas para uma narrativa que trata do amor romântico.
Trabalhar a diagramação juntamente com um texto me fez observar que é uma escolha
dificultosa a medida que se forçar a ter os dois sem um roteiro breve. A urgência de ter todo o
conteúdo encaixado atrapalhava a criatividade enquanto um jeito de transparecer uma forma
fluída dos acontecimentos em si ao longo da história.
O exercício de aprendizagem intenso das ferramentas de diagramação como o InDesign,
que proporcionou tudo o que eu precisava para a produção do produto.
Foi uma aprendizagem de testagem, a medida que as demandas de arte eram sendo
cumpridas, o desenvolvimento acontecia no ritmo esperado, o começo foi lento e levava dias
para que uma página ficasse pronta porque o programa FireAlpaca não me oferecia todas as
condições para uma organização mais detalhada e maleável do projeto e isso foi consertado a
medida em que eu descobria as opções que o InDesign me oferecia.
Todavia, o digital trouxe a sensação do que se refere mais a finalização do processo do
que de rascunho e tentativas-erro. O recurso do rascunho no caderno comum veio no momento
em que eu já não sabia mais como recomeçar. O rascunho é muito importante, não só no
desenho, o que se tornou uma grande lição que merece ser trabalhada mais e mais em futuros
projetos. A visualização e montagem do livro ficou muito mais fácil a partir do momento em
que consegui ter uma base do projeto fisicamente na minha frente.
Assim, os textos começaram a ser escritos a parte e em cima das anotações feitas assim
como das leituras dos livros escolhidos. Obter o auxílio de codebreakers virou uma rotina ao
longo da escrita e ao trabalhar com o conteúdo tipográfico, porque isso trazia informações mais
precisas e enchia o texto com curiosidades e mais referências urgentes.
107
No decorrer do texto foi completamente visível que houve uma necessidade sempre de
equilíbro entre o protagonismo de Anne Lister e Ann Walker. A série propriamente se trata da
personagem Anne Lister como protagonista e o objetivo do artbook é contar a história das duas
com os pesos equilibrados em termos de protagonismo. Pelos relatos dos diários serem
exclusivamente da perspectiva de Anne Lister, tive que ter o cuidado de não deixá-la em
primeiro posto a todo o momento, pois Ann Walker foi uma mulher tão importante quanto na
história, ela também foi uma mulher que se casou com outra mulher e fez coisas incríveis, ela
não era uma sombra de Anne Lister.
Equilibrar a atuação de ambas foi uma grande provocação em todo o momento, mas creio
que consegui dar a voz para Ann Walker da mesma forma. Me identifico mais com a
personalidade dela e com a falta de confiança, portanto foi uma forma de expressar um pouco
do que eu me identifiquei nela durante a análise da série e dos livros.
Transmitir a narrativa com a linguagem mais pessoal foi outro modo de imprimir essa
identificação com a história. Após descobrir que o diário é uma forma de trabalhar o
inconsciente, me fez pensar que de fato, enquanto eu escrevia o texto, eu estava colocando
minha própria experiência em relação ao que senti quando assisti essa narrativa audiovisual e li
o material, mesmo que não fosse minha intenção de enviesar o modo de contar a história para
que parecesse ainda mais interessante pra mim mesma. O livro foi feito para outros leitores,
mas o diário é pessoal, impossível se desvencilhar dos próprios pontos de vista (a não ser que
o diário seja contado por um personagem específico que não tenha nenhum atributo do escritor,
creio eu). Então notei que tem uma marca muito pessoal de como eu interpretei os
acontecimentos desta produção.
Assim que o texto ficou pronto, tais como as artes, o momento da diagramação foi muito
mais simples do que as primeiras tentativas que levavam dias. Em uma semana as páginas
principais do artbook estavam pontas e os textos foram sendo realocados para suas respectivas
partes. As noções de design ainda pecaram nessas tentativas, foram corrigidas aos poucos e
sempre consultando A produção de um livro independente (2008). A edição das colunas e
entrelinhas tiveram uma série de alterações por conta do formato escolhido assim como
mudanças nas posições das artes em relação a sangria para que as partes principais das imagens
não fossem perdidas.
Foi imprescindível ter a supervisão da codebreaker Marlene Oliveira que se
disponibilizou a corrigir quaisquer informações que fossem colocadas de forma errada, tanto
em relação à história quanto em relação aos tipos de Anne Lister, que eu ainda não sou
completamente familiarizada, mas que aprendi o básico fazendo esse trabalho.
108
Por tanto, pude dizer que o objetivo de contar a história foi concretizado e que o produto
artbook pode servir tanto como pesquisa quanto como entretenimento. As histórias de Anne
Lister e Ann Walker que se juntaram em uma só em meio a diários, livros e série estão aqui
nesse artbook de maneira bastante resumida, mas visual e com um conteúdo teórico bem leve
e acessível para que os leitores possam se comunicar com ele.

109
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Sally Wainwright. BFI. Suranne Jones and Sally Wainwright talk about Gentleman Jack - BFI
+ Radio Times TV Festival 2019. Youtube. 07:45. 9 de maio de 2019. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=iiJOtZF6OFc&t=101s> Acesso em:

Sally Wainwright. Série Series. Sally Wainwright (screenwriter, director, producer) -


Interview by SERIZ. Youtube. 02:39. 27 de outubro de 2019. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=iiJOtZF6OFc&t=101s> Acesso em: 30/10/2020

WHITBREAD, Helena. The Secret Diaries of Miss Anne Lister. London. Hachette Digital.
Little, Brown Group. London, 1988. ISBN: 978-0-748-12571-5

112
ANEXO A - Foto de Shibden Hall, parte dos fundos. baffledspirit.blogspot.com. 2019.

ANEXO B - Barco espanhol. ABC4News. 2015.

ANEXO C - Tensão entre Ann Walker, Harriet Parkhill (da família de Ann Walker) e Anne
Lister ao Harriet saber que Anne e Ann mantêm um relacionamento romântico privado.
Gentleman Jack, episódio 5. HBO/BBC One/Lookout Point.

113
ANEXO D - Capitão Sutherland pressiona Ann Walker para que interaja mais com Sr.
Alexander Mackenzie e sua mãe a fim de que Ann aceite se casar com Alexander. Ann Walker
está exausta e depressiva. Gentleman Jack, episódio 7. HBO/BBC One/Lookout Point.

114
APÊNDICE A - O primeiro design de página de apresentação foi feito com a arte sendo
“desmontada”.

APÊNDICE B - Página alterada para que os sketches fossem vistos primeiros, da esquerda para
a direita. Christine Santos. 2020.

115
APÊNDICE C - Página alterada para que os sketches fossem vistos primeiros, da esquerda para
a direita. Christine Santos. 2020.

APÊNDICE D - Primeira ideia de como a página do livro seria organizada em seu estilo de
apresentação para Ann Walker. Christine Santos. 2020.

116
APÊNDICE E - Primeira ideia de como a página do livro seria organizada em seu estilo de
apresentação para Ann Walker. Christine Santos. 2020.

APÊNDICE F - Segunda ideia de como organizar as páginas de apresentação do livro para Ann
Walker. Christine Santos, 2020.

117
APÊNDICE G - Segunda ideia de como organizar as páginas de apresentação do livro para Ann
Walker. Christine Santos, 2020.

APÊNDICE H - Primeira ideia de como organizar a página de apresentação de Shibden Hall.

118
APÊNDICE I - Segunda ideia para organizar as páginas para a apresentação de Shibden Hall.

APÊNDICE J - Rascunhos feitos no caderno para pensar a diagramação do artbook. Os


materiais usados foram caneta, caderno e lápis grafite.

APÊNDICE K - Rascunhos feitos no caderno para pensar a diagramação do artbook. Os


materiais usados foram caneta, caderno e lápis grafite.

119
APÊNDICE L - Print das correções e sugestões da codebreaker Marlene Oliveira
<https://www.packedwithpotential.org/contributors>

APÊNDICE M - Anne Choma, autora do livro Gentleman Jack - The Real Anne Lister (2019),
transcritora dos diários de Anne Lister e consultora da série Gentleman Jack (2019) foi
contactada para escrever a dedicatória do artbook.

120
APÊNDICE N - Anne Choma, autora do livro Gentleman Jack - The Real Anne Lister (2019),
transcritora dos diários de Anne Lister e consultora da série Gentleman Jack (2019) foi
contactada para escrever a dedicatória do artbook.

121
Um diário para Anne Lister e Ann Walker (2020) – Christine Santos

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