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UNIVERSIDADE ROVUMA – EXTENSÃO DO NIASSA
CURSO DE LICENCIATURA EM AGROPECUARIA
TEXTO 1 DE APOIO DE EXTENSÃO RURAL E SOCIOLOGIA
AGRÁRIA (ERSA)
Docente:
Eng.º BAYSSE
LICHINGA
2022
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ORIGENS E HISTÓRICO DA EXTENSÃO RURAL
A difusão de informações sobre técnicas agrícolas, datam desde a Antiguidade. O termo
extensão deriva do desenvolvimento educacional da Inglaterra na segunda metade do
século XIX, quando surgiram preocupações nas universidades de Oxford e Cambridge
sobre as necessidades da população urbana crescente.
Em 1867 ocorreram as primeiras actividades de extensão universitária, inicialmente
voltadas para alfabetização e temas sociais.
Na década de 1890, temas agrícolas passaram a ser abordados nas áreas rurais e o
sucesso desta experiência influenciou a criação da primeira organização oficial de um
serviço Extensionista, adoptado nas Land Grant Colleges dos Estados Unidos, no início
do século XX, numa época em que havia abundância de terras agricultáveis, a preços
baixos (OLINGER, 1996).
O termo extensão rural não é autoexplicativo, segundo CALLOU (2006). A Extensão
Rural apresenta caráter polissêmico, com uma multiplicidade de sentidos sendo
alimentados tanto pelo Estado quanto pela produção científica das universidades e dos
centros de pesquisa.
A palavra "extensão" tem origem nos Estados Unidos, em 1914. Os Extensionistas, que
são os profissionais que atuaram nestas entidades de extensão rural nos Estados
Unidos, trabalharam também como professores, auxiliando o homem do campo nas
suas necessidades culturais e não só nas técnicas de plantios e condução das lavouras,
estando, ao mesmo tempo, a serviço do Departamento Federal de Agricultura dos
Estados Unidos.
A denominação "Extensão Agrícola" surgiu também nos Estados Unidos, no final do
século XIX, onde os programas de extensão agrícola eram lançados em diversas partes
do país, em resposta às demandas locais (ALMEIDA, 1989).
1. CONCEITOS BÁSICOS SOBRE EXTENSÃO RURAL
1.1. Extensão Rural é um processo de educação não-formal através do qual os
Extensionistas ensinam ou educam e iter-relacionam-se com os produtores com vista a
melhorar a produtividade e produção agrárias.
1.2. Extensão Rural é um processo contínuo de transmissão de informações úteis à
população e sucessivamente de assistência a esta mesma população na aquisição de
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conhecimentos, capacidades e atitudes necessárias para utilizar eficazmente esta
informação ou tecnologia (a dimensão educativa).
1.3. Extensão Agrária: Serviço de apoio técnico aos produtores que através de
processos educativos os ajuda a melhorar os métodos e técnicas de produção agrária
visando a melhoria do seu nível de vida.
1.4. Extensionista: termo geral utilizado para designar um técnico de nível de campo,
distrito, província ou central que exerce as suas actividades profissionais nos serviços
de extensão agrária.
1.5. Extensionista de Campo (EC): técnico generalista de contacto directo com os
camponeses, com formação académica mínima de nível médio ou superior, que
frequentou com aproveitamento o curso de Pré-Admissão reconhecido pelos Serviços
de Extensão do Ministério da Agricultura.
1.6. Técnico Ramal (TR): agente de extensão formado numa determinada área
(agrícola, pecuária, florestal, ou outra de interesse) que presta apoio técnico aos
extensionistas nessa área específica.
1.7. Extensionista Temático (TT): técnico formado numa área específica como
Regadio, Horticultura, Fruticultura, Mecanização Agrícola, Melhoramento Genético,
avicultura, cunicultura, ovinos e caprinos, suinicultura, bovinocultura, gestão de recursos
naturais, Sanidade (Animal ou Vegetal), pós-colheita, agro-processamento entre outras
que dá apoio técnico aos extensionistas e técnicos ramais no tema da sua
especialidade.
1.8. Supervisor de serviços de extensão: técnico que supervisiona (coordena,
acompanha e orienta) de forma sistemática as actividades dos extensionistas de campo.
O supervisor pode ser equipe, rede, provincial e central.
2. OBJECTIVOS DA EXTENSÃO AGRÁRIA
O principal objectivo da extensão agrária é o desenvolvimento Comunitário ou seja, da
população. Mais especificamente falando são Objectivos gerais ou funções da
extensão:
Assistir a população a descobrir e analisar os seus problemas, suas
necessidades sentidas e não sentidas.
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Desenvolver liderança entre a população e ajudá-la na organização de grupos
para resolver seus problemas.
Disseminar informação baseada na investigação e ou experiência prática, de tal
maneira que a população a aceitaria e a poderia pôr em prática.
Manter, de tempo a tempo, os investigadores informados dos problemas dos
produtores para que eles possam oferecer soluções baseadas na investigação
necessária.
Contribuir para a segurança alimentar e aumento da renda familiar.
Promover uma agricultura sustentável.
Influenciar a mudança de atitude.
Induzir o desenvolvimento.
Incrementar a qualidade de vida no meio rural.
Os maiores Objectivos da extensão podem também ser caracterizados como se segue:
a) Material - Aumento da produção. Aumento da renda
b) Educacional - Mudança das pessoas na maneira de pensar ou desenvolver
indivíduos.
c) Social e cultural -Desenvolvimento da comunidade
3. REQUISITOS PARA O ESTABELECIMENTO DE UM SERVIÇO DE EXTENSÃO
Existência de tecnologia adequada (para as condições edafo-climáticas)
Existência de informação útil pra o Extensionista.
Existência de uma estrutura organizacional e administrativa especializada.
Existência de uma legislação e ou mandato oficial que autorize o exercício de
actividade de extensão.
Existência de problema crítico na comunidade (fome, erosão, pobreza).
4. PRINCÍPIOS BÁSICOS DA EXTENSÃO
Extensão trabalha com as pessoas e não para as pessoas - apresenta factos,
fornece informação, possíveis soluções e encoraja na tomada de decisão.
Extensão satisfaz as necessidades dos produtores e da organização - segue as
políticas da organização e satisfaz as necessidades do público-alvo.
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Extensão é o elo de ligação - apta tanto a receber como a dar, faz a ponte entre a
investigação e o produtor.
Extensão coopera com outros parceiros - fornece informação sobre outros
serviços ajudando o produtor a tomar decisões acertadas. Deve trabalhar em
estreita ligação com outras organizações que prestam serviços essenciais aos
agricultores e às suas famílias.
Extensão é um sistema integrado de desenvolvimento - trabalha com todos os
problemas existentes na comunidade, sem destacar a saúde, a educação, a
agro-pecuária ou a juventude, dentro de um gradualismo correcto e realista.
Extensão trabalha sempre com problemas existentes no meio rural.
Extensão trabalha junto de diferentes grupos de beneficiários - a extensão
reconhece que nem todos os agricultores da zona terão os mesmos problemas.
O que um Extensionista faz pelas pessoas é mais importante que o que faz para
as pessoas.
5. AGENTES DE MUDANÇA COMO AGENTES DE EXTENSÃO
Extensionista, supervisores, técnicos ramais, oficiais de tecnologias, formadores,
pessoal de comunicação, organização de produtores, planificação, monitoria e
avaliação e chefia.
Dirigentes políticos, religiosos, tradicionais.
Professor.
Enfermeiro.
Técnico e outros.
Todos se qualificam como agentes de extensão quando contribuem para o sucesso dos
serviços de extensão.
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6. O PAPEL DO EXTENSIONISTA
6.1. PAPEL NA TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIAS
Desenvolver ou programar as necessidades para a mudança
Estabelecer uma relação de troca de informações
Diagnosticar os problemas dos produtores
Criar desejo ou intenções ou vontade para uma mudança no seio dos produtores
Traduzir intenções em acções reais
Estabelecer adopção e prevenir desistências
6.2. TAREFAS E FUNÇÕES DO EXTENSIONISTA
6.2.1. Essenciais
Motivar ou animar o produtor
Educar adulto ou jovem
Disseminar informações úteis (tecnologias, mercados)
Formular métodos e conteúdos de extensão
Apoiar produtores na solução dos seus problemas
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Planificar programas ou actividades de extensão
Avaliar programas de extensão
6.2.2. Completares ou Suplementares
Fornecer insumos
Apoiar na comercialização e conservação de excedentes agrícolas
Em coordenação com a investigação, implementar experimentações agrárias
Expandir infra-estruturas de interesse para os produtores
6.2.3. Incompatíveis
Exercer papel de fiscalizador dos produtores (sanidade, florestal)
Conceder e o cobrar créditos
Entre outras
PRINCÍPIOS ORIENTADORES PARA SUCESSO DO TRABALHO DA EXTENSÃO
Para o sucesso do serviço de extensão e do Extensionista, aqui se apresentam alguns
princípios de orientação para o Extensionista ou o que ele deve e não deve fazer no seu
ambiente de trabalho.
Pretende-se, com estes princípios contribuir para a melhoria da acção do Extensionista
no seu trabalho COM o camponês.
O QUE UM EXTENSIONISTA DEVE FAZER:
1. Conhecer ou dominar a sua profissão (teoria e prática): requer concentração.
Evitar espalhar-se, evitar saber tudo. Saber não significa necessariamente saber
tudo, mas saber quem sabe.
2. Estudar as condições e práticas locais incluindo a cultura da população:
exercícios contínuos e permanente, mas fundamental no começo. Conhecendo a
situação é fácil desenhar um programa que responda à realidade (numa extensão
de resposta).
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3. Manter os compromissos marcados ou assumidos com os camponeses: salvo
por motivos de força maior, e, nessa altura, providências terão de ser tomadas
para cobrir a lacuna.
4. Apresentar-se e explicar os Objectivos da visita: ao visitar a comunidade,
especialmente nos primeiros contactos.
5. Fixar caras e nomes: procurar conhecer cada membro da comunidade que
assiste entanto que pessoa. O seu nome, é uma cancão que qualquer um gosta
de ouvir.
6. Cumprimentar todas as pessoas que conhecem (esteja onde estiver), faz
parte das boas maneiras.
7. Amar e estar sinceramente interessado pelo bem-estar da comunidade: amar
é obrigação não é opção e o amor é a língua que não precisa de tradução.
8. Identifica-se com as pessoas tanto quanto possível.
9. Ser informal e delicado, não ser demasiado efusivo, e demasiado reservado. O
Extensionista tem que ser uma pessoa que procura ser equilibrada.
10. Desenvolver a arte de saber ouvir (rápido a ouvir mas lento a opinar). Não é um
exercício fácil, mas uma vez tornado hábito, é um investimento que só dà lucros.
11. Usar a língua local e linguagem simples. Isto facilita a comunicação. O
importante não é falar língua estranha ou falar difícil mas é o resultado que se
obtém.
12. Começar com necessidades simples e comuns que podem ser facilmente
satisfeitas (para ganhar confiança). Pensar grande é bom e necessário, mas é
prudente começar pequeno, quando as condições não permitem o contrário.
13. Se descobrir que errou, admita o erro, se for ignorância aceite a sua
ignorância.
14. Insistir que os representantes das comunidades ou grupos, tomem parte do
processo de elaboração, execução e avaliação dos planos a nível das
comunidades.
15. Usar líderes locais e cooperar com todas pessoas e organizações que
trabalham para o desenvolvimento da comunidade.
16. Procurar estender os benefícios da extensão a todos os grupos e indivíduos
(não só a amigos, mas também aos Desfavorecidos, Mulher, Jovens, Escolas,
Antigos Combatentes, Militares. O que importa é para cada caso definir muito
bem o seu grupo alvo.
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17. Saber acomodar novas ideias ou introduzir correcções ao programa
(diálogo): sentar e conversar, conversar não para vencer mas para convencer.
18. Ter um sistema de valores muito forte (o Extensionista, deve assinar um
memorando de entendimento CONSIGO PRIMEIRO.
19. Manter o registo das visitas e, logo depois, enquanto a memória estiver fresca.
20. Ser proactivo.
O QUE UM EXTENSIONISTA NÃO DEVE FAZER
1. Não começar com promessas de falsos benefícios, ou sem segurança de as
satisfazer.
2. Não criticar, queixar-se, LAMENTAR ou condenar. Um Profissional não critica,
trabalha. Antes de se queixar ele deve cumprir com as obrigações.
3. Evitar argumentos. Argumento é típico de quem pouco ou não trabalha.
4. Não tentar mostrar que as ideias são suas (valorizar as boas sugestões
oriundas da comunidade).
5. Não corrigir o colega ou criticar um subordinado na presença dos
camponeses.
6. Não manipular o grupo, ou aproveitar-se da fragilidade de um outro para tirar
benefício próprio em detrimento do que foi conjuntamente estabelecido. Notar
que a manipulação é uma das grandes causas dos problemas no Mundo.
7. Não procurar levar protagonismo, esteja por trás assessorando.
8. Nunca deixar coisas ao meio ou despachadas (o que quer que faça, faça-o com
dedicação, da melhor forma possível, isto inspira confiança do grupo-alvo).
9. Não usar métodos compulsivos ou autoritários – autoritarismo puro não resolve
os problemas. Usar métodos educativos, fazer combinação de métodos para
produzir melhores resultados. é preciso saber induzir, demostrando!
10. Não dar nada de graça, excepto os serviços – reduz o hábito de estender a mão
pedindo, pois gera dependência.
11. Nunca mostrar insegurança diante do camponês – insegurança não é o mesmo
que ignorância. Se não tem certeza dum assunto não Invente.
12. Nunca estar à margem da lei ou pretender pôr a lei nas costas, mas deixar que
a lei o conduza. Não deve ter pena da lei ou tentar ajudar a lei (lei também pode
ser aquele acordo verbal ou escrito - de preferência, que assinamos, as regras de
jogo que estabelecemos com os camponeses).
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13. Não tentar resolver os problemas dos camponeses mas somente ajuda-los a
resolver (não dar peixe mas ensinar a pescar). Extensão é um trabalho COM e
nunca PARA (o que pressupõe que só há quem recebe e só há quem sabe e por
isso só dá aos que não sabem).
Muitas vezes o sucesso do Extensionista depende de:
Esforço ou frequência em contactar os produtores.
Orientação das suas actividades para as necessidades dos produtores
Compatibilidades dos seus programas com as dos produtores (sistema
centralizado ou descentralizado).
Homogeneidade (identificação) com os produtores.
Sua credibilidade no olho dos produtores.
Coordenação existente entre o Extensionista e produtores de contacto ou líderes
comunitários (Opinião).
Capacidade ou habilidade crescente que os produtores vão ganhando na
avaliação das inovações entre outros factores.
SISTEMAS DE EXTENSÃO
1. Sistemas Para Produtores Em Geral
Extensão baseada no ministério
Treinamento e Visita
Projecto integrados
Extensão baseada na Universidade
Animação rural
2. Sistema Para Produtores Específicos
Empresas de fomento de culturas específicas
Extensão como negócio
Extensão baseada e controlada pelo cliente
SISTEMAS DE TREINAMENTO E VISITA (T&V)
Este sistema respeita duas exigências fundamentais:
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Treinamento permanente de Extensionistas e
Visitas periódicas e regulares destes aos agricultores num esquema fixo.
O sistema é ríspido, tem sete (7) regras:
1. Supervisão apertada dos agentes de intervenção
2. Serviço unificado e linha única de autoridade.
3. Apoio preferencial aos camponeses de contacto.
4. Obtenção de êxitos imediatos.
5. Optimização dos recursos disponíveis.
6. Ligação permanente a investigação.
7. Concertação de esforços.
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