Max Weber (1856 - 1920)
Professor universitário e ativista político
● Individualista - as suas teorias são alicerçadas no ator
● Nominalista - relação entre conceito e realidade, os factos científicos e as leis são
construções do espírito e não uma representação das coisas
● Microssociologia
Controvérsia sobre o estatuto das ciências sociais
● A Europa no geral (particularmente França) defende o unitarismo metodológico,
enquanto quem se opunha defendia o pluralismo metodológico.
Controvérsia sobre o estatuto das ciências sociais
Unitarismo metodológico Pluralismo metodológico
Um único método para as Métodos e abordagens diferenciados no
ciências sociais e naturais âmbito das ciências naturais e naturais
Rickert e Windelband: As ciências
naturais e as ciências da cultura têm
diferença de método, no modo como
Dilthey: As diferenças entre as ciências
abordam a realidade.
naturais e as ciências da cultura
Método generalizante: aplicado às ciências
assentam na diferença de objeto
naturais.
Método individualizante: aplicado às
ciências da cultura.
● Weber recusa as duas distinções, quer por método, quer por objeto. Acredita que o
melhor método vai depender do problema que ele pretende resolver.
● Ambos são passíveis de utilizar nas ciências sociais, tudo vai depender e dos objetos
que queremos resolver (Lei da Eficácia — pode ser mais ou menos eficaz consoante o
que se procura).
● Weber recusa também a organização hierárquica das ciências propostas por Comte,
visto que elas valem por si mesmas e por isso a pluralidade é desejada porque
corresponde à complexidade da realidade (podem existir tantas ciências quanto
pontos de vista)
● Para Weber, a realidade é infinita e o conhecimento finito — o conhecimento não
pode ser uma cópia da realidade, visto que ele é apenas uma abordagem à realidade.
● As conceções de realidade e de ciência ganham peso com Weber.
Realismo
● Doutrina segundo a qual as nossas ideias gerais, os nossos conceitos, correspondem
fora do espírito a algo real, ou seja, segundo o Realismo, as nossas ideias gerais e
conceitos correspondem a algo real independente de nós
● Nós não fazemos mais do que traduzir o que a realidade nos impõe em conceitos, a
sociedade impõe-nos a realidade, existe independente de nós
● No Realismo, portanto, os conceitos e a ciência fazem a tradução da realidade,
representando-a.
Weber acreditava que a sociedade não existe. O que existe são os indivíduos, visto que
apenas eles são dotados de realidade, e que os conceitos são construções do espírito.
Ele vê a sociedade como um conjunto de indivíduos que olham para a realidade de
formas diferentes.
A sociedade não preexiste ao indivíduo, é construída por ele. A ciência é
construída sobre essa realidade.
Paradigma da ação social
● O ator é um sujeito autónomo, independente, estratégico, e tem interesse nas suas
ações.
● É influenciável, mas tem autonomia relativa a essa sociedade.
● Visto que a realidade é infinita, é impossível ela ser captada pelas nossas capacidades
cognitivas
Referência aos valores
● As ciências sociais e em particular a Sociologia vão exigir dos cientistas sempre uma
referência aos valores — ao escolher um objeto de estudo, interesso-me por ele
porque ele me diz alguma coisa.
● Esta perspetiva, apesar de comprovar que a esta referência aos valores venha inerente
uma trajetória nossa, não implica que a ciência possa comprová-los ou legitimá-los.
● Esta referência faz com que momentos subjetivos se transformem em conhecimento
objetivo. Se ignorar os meus valores, fico ao nível do senso comum. Se expuser o que
está na origem e explicar de forma concreta tudo o que esteve na origem do meu
conhecimento, transformo o conhecimento em objetivo.
● Seleção do tema: triagem entre o fundamental e o acessório (ex. ao fazer uma tese,
necessito sintetizar o que é fundamental na minha explicação).
● Como inovo?: Ao infirmar hipóteses. Se confirmar a hipótese de partida, posso
acrescentar alguns detalhes mas estou a confirmar as teorias anteriores. Se não as
validar, estou a colocar novas questões à realidade.
● A teoria epistemológica é feita com referência aos valores.
● A teoria do método diz que não existem métodos únicos (existem vários).
Neutralidade axiológica — É defendida em dois domínios
● Pedagógico: o professor não pode ou não deve veicular apenas aquilo que lhe
agrada, que estaria a trabalhar no dom dos juízos de valor. Deve veicular todas as
teorias (é o seu dever), tem de se colocar numa posição de neutralidade axiológica —
não deve valorizar uma teoria em detrimento da outra.
● Científico: não pode validar juízos de valor, vai trabalhar apenas no universo dos
juízos de facto e por isso questiona então o que é que a ciência pode dar às pessoas
que estão na ação, nomeadamente não ação política; se não pode validar juízos de
valor, qual a relação entre a ciência e os homens da ação? O que é que a ciência pode
dar à sociedade? O que a análise científica pode dar? Pode avaliar quais os meios
mais adequados para atingir os fins, mas não pode dizer que certos meios são
melhores do que outros, quem define os fins? O homem da ação política.
Sociologia compreensiva
● Recusa completamente a nossa aproximação às ciências naturais exatas, crítica do
positivismo.
● A sociologia é uma ciência da cultura que estuda acontecimentos da vida humana a
partir do seu significado para a cultura — base da análise Weberiana.
A Sociologia compreensiva que, decorrente das suas propostas epistemológicas e
metodológicas, é uma sociologia que está preparada para compreender o significado
da ação social.
Agente da ação social: ator.
Tipo ideal
● Conceito baseado em elementos que existem na realidade, mas cuja combinação de
elementos de tipo ideal não existem na realidade. São uma construção do espírito, são
uma seleção de determinados elementos com determinado ponto de vista.
● Resulta da proposta nominalista e de que toda a postura conceitual de Weber exige
uma referência de suposições diversas nomeadamente pressuposições relacionadas
com os valores.
● É uma prática inconsciente, remete a uma construção teórica.
● O tipo ideal obtém-se acentuando unilateralmente um ou vários pontos de vista e
encadeando uma multiplicidade de fenómenos isolados difusos e discretos e que se
nos deram a observar, interpretar segundo pontos de vista.
Por exemplo, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904) não analisa toda
a ética protestante. Procura encontrar o tipo ideal de Calvinismo, verifica que nele
existem características associadas ou exigidas ao crente calvinista que resultam em
comportamentos, práticas que fomentam o desenvolvimento do fenómeno. Weber
olhou para o Calvinismo não no todo, mas nas características isoladas, específicas,
que acentuam unilateralmente que está interessado em estudar o desenvolvimento
dos fenómenos.
● O tipo ideal não é uma descrição, é uma explicação, uma abordagem compreensiva do
real porque acentua já um determinado ponto de vista.
● Não é uma hipótese teórica nem um ideal normativo, é um tipo puro no sentido em
que é construído sobre um sentido lógico.
● Há características que são importantes para estudar a relação deste fenómeno com o
outro, é um meio de conhecimento, não um fim em si mesmo.
● Os conceitos existem e são construídos para resolver problemas.
● O que revelo com o tipo ideal pode estar a esconder dimensões daquela realidade,
mas não vou construir sobre o que não me interesso.
● O tipo ideal permite formular hipóteses e perceber como estas práticas e
comportamentos permitem o crescimento económico — hipótese teórica.
● Ciência cujo objetivo é compreender, por interpretação, a atividade social, portanto,
explicar, de modo causal, o desenvolvimento e os efeitos dessa ação social — método
compreensivo.
Há uma abordagem compreensiva do que é individual, mas também associa ao que é
a forma como os atores se comportam em sociedade. Compreendemos o individual
para percebermos o social.
É esta atividade social nos indivíduos, atividade significativa (tem sentido para os indivíduos,
não é feito de forma mecânica), que permite explicar o que se passa na sociedade, no todo
social, nas relações mais estáveis, estruturais e como é que esta interpretação individual da
atividade social permite formar e transformar as relações sociais.
O foco de toda a sociologia compreensiva vai ser a ação social.
● Como é que os atores produzem, criam, transformam, destroem, as estruturas sociais
a partir das suas ações ou interações.
● Vê-se em Weber o que são os aspetos exteriores, independentes do indivíduo, o
interesse pelo que são os motivos, intenções, interesses que cada um tem subjacentes
às suas interações sociais.
● Ninguém age por acaso, não é por determinação das estruturas, é constitutiva das
estruturas porque temos certos interesses, aspirações, e agimos intencionalmente
atribuindo um sentido à nossa ação.
A sua análise é, portanto, muito focalizada no significado que os atores dão à
interação social.
Ação social
● Ação que tem um significado subjetivo que se refere ao outro indivíduo.
● Implica um significado para a sua conduta.
● Ainda que estejamos na mesma interação, ela resulta de diversos fatores — apesar do
nosso papel ser o mesmo, há motivos diferentes.
Tipologia da ação social e humana
Agir socialmente para Weber é:
● Participar num contexto de regras, leis, valores e costumes;
● Atribuir um objetivo, uma meta que justifique essa atividade
● Referenciar motivos que justificam essa atividade (valores, ideias, expectativas)
Estes elementos permitem esclarecer o significado que resulta destas componentes.
● O sentido que dou irá depender do contexto e de quem interajo, não somos
determinados por estímulos mecânicos, e é sempre uma abordagem bilateral ou
multilateral.
Só depois de se compreenderem os significados é que passamos para a análise.
Existem dois tipos de compreensão dos motivos, da compreensão interpretativa dos
significados.
Compreensão direta
● Fazemos imediatamente através dos sentidos, como a observação. Isto torna a vida
simples, visto que atuamos por costume, por hábito.
Compreensão indireta/compreensão explanatória ou explicativa
● Os motivos subjacentes à ação intervêm.
Ação racional: roubo de comida face à fome — calculo os meios que tenho
disponíveis para atingir o fim. Tenho uma razão.
Ação irracional: por exemplo, cleptomania. Posso deduzir os motivos pelos quais a
pessoa tem as ações, mas não sei concretamente as motivações. Não existe um fim,
mas ainda existe a utilização dos meios.
Tipo ideal de ação social
● Ação racional nos propósitos: justificar pelas finalidades, avaliando os meios.
Calculo racionalmente os meios para atingir objetivos, a eficiência dos meios
relativamente ao fim, escolhendo o mais conveniente. Somos racionais nos nossos
propósitos. Ação paradigmática, pressuposto básico da ação social humana.
● Ação racional nos valores: justifica a minha ação por códigos de honra, de dever.
● Ação afetiva: controlada pelas emoções, nem sempre é justificável. É justificada por
um afeto; ação executada sobre o hábito e o costume (maioria das nossas ações).
● Ação tradicional: fronteira entre ações racionais e afetivas, atende sobretudo aos
sentimentos e afetos, esquecendo meios e fins. É aprendida por socialização, não a
questiono — a minha vida é mais tranquila, deriva de ideais e símbolos que não têm
forma coerente e definida, mas são funcionais para o quotidiano.
Política para Weber
● É a atividade geral do ser humano;
● Preenche a nossa história, está presente em toda a história da humanidade;
● Foi tomando diversas formas, diversas configurações;
● Foi regida por diversos princípios e deu lugar a diversos tipos de instituições;
● É uma forma de formar, desenvolver e modificar relações.
Não confundir política (parte da história da humanidade), com estado (uma das
manifestações da política).
Estado
● É uma das manifestações da política na contemporaneidade, é uma estrutura que
reivindica para si um monopólio do constrangimento físico legítimo; quem tem
legitimidade de aplicar a força legítima.
● O exército é subordinado ao estado.
● O estado tem a racionalização do direito com a especialização dos diferentes poderes
legislativo, judiciário e policial.
● Administra-se numa administração racional.
A existência e a ordem do território são continuamente salvaguardadas numa área territorial
pela ameaça da força política.
● O Estado é uma operacionalização do que é a política, é a manifestação
contemporânea do que é a política;
● Corresponde a um Estado-Nação de um território;
● A ordem é garantida pela ameaça e aplicação de força física por pessoal
administrativo — explica as relações de dominação.
● Se o Estado é quem detém o monopólio da força física legítima e pode usar para
manter a ordem, este estado é um estado que forma, desenvolve e modifica relações
de dominação. Está no centro da atividade política.
● Para Weber, a dominação encontra-se no centro do agrupamento ou sociedade
política. A dominação segundo ele é aquilo que é a manifestação empírica e concreta
de poder.
Poder
Definido em termos probabilísticos, relações sociais (construção da sociedade e a
complexidade da mesma).
● Há alguém que consegue impôr a sua vontade a outrem, mesmo que para isso sinta
ou tenha que enfrentar a resistência dos outros.
● Dominação: refere-se aos casos de exercício de poder em que um agente obedece a
outro ou à ordem específica dada por outrem.
O que me faz aceitar poder e dominação?
Nem um nem outro são específicos da esfera política. Por exemplo, Marx coloca-o na esfera
económica.
Dominação: implica uma relação de comando e obediência, a base é a aceitação de que
alguém dirige e comanda, e há alguém disponível para obedecer.
A obediência implica que eu aja considerando que a minha ação, apesar de imposta, é minha.
Agimos então porque reconhecemos autoridade a quem nos impõe a ordem. Não obedeço a
toda a gente.
● Weber analisa fontes de autoridade legítima. O que é que legitima a autoridade de
alguém? O que é que legitima que uma minoria possa exercer o poder sobre a
maioria, e que essa maioria se subordine a ordens particulares dadas por uma
minoria? Esta autoridade legítima é fonte de dominação.
Tipos ideais de autoridade/dominação legítima
Aceite, legitimado aos meus olhos
Autoridade: a pessoa só tem poder legítimo se tiver autoridade legítima.
● Autoridade tradicional:
Crença na santidade das regras e de poderes já muito estabelecidos.
● Gerontocracia — forma mais elementar de dominação tradicional. O poder
radica nos mais velhos, tribos, famílias.
● Patriarcalismo — dá-se sobretudo nas instituições familiares e está associada
a autoridade do homem, chefe de família.
● Patrimonialismo — existência de um corpo administrativo ligado a um chefe
por relações de afinidade pessoal. Administração por um governante através
de administradores da casa real.
● Autoridade racional:
Quem detém a autoridade fala em nome de regras impessoais. Foram
conscientemente criadas para atender a um contexto de racionalidade dos propósitos
ou racionalidade de valores. As relações são impessoais e iguais para todos,
obedecemos porque aplica-se a todos os que vivem em determinado território.
● Autoridade carismática:
Provém do carisma — qualidade de determinada pessoa em virtude da qual se torna
única, genial, extraordinária. A pessoa é tratada com qualidades sobrehumanas.
O líder carismático é aquele a quem lhe são reconhecidos dotes, qualidades
excepcionais, particulares. Um chefe carismático tem um certo número de pessoas
íntimas, um corpo de funcionários que partilham o seu carisma, e que assumem as
pessoas secundárias da autoridade carismática.
Durkheim Weber
Realista Nominalista
Macrossociologia Microssociologia
Monocausalidade Pluricausalidade
Factos sociais Ações sociais