ALBERTO CAEIRO
Analisa a atitude do sujeito poético face ao pensamento.
O sujeito poético recusa o pensamento enquanto forma de compreensão
completa do mundo (vv. 11- -12)
1.1. Explicita a alternativa de que dispõe para conhecer a
realidade.
Ao pensamento o «eu» lírico contrapõe o conhecimento propiciado pelos
sentidos (vv. 6 e 9-12).
1.2. Mostra como o recurso às formas do verbo «compreender»
(vv. 10-12) sugere uma atitude diferente da anunciada nas
suas afirmações.
Ao repetir a forma verbal «Compreendi», mesmo que para negar a atividade
mental que implica, o sujeito poético denuncia a sua preocupação com o
raciocínio, sobre o qual reflete em diversos momentos na sua obra.
Comenta a aproximação do «eu» a uma «criança» (v. 13).
Ao aproximar-se de uma «criança», o eu lírico procura reforçar a sua
imagem de ser ingénuo, inocente e mais dedicado às vivências sensoriais
do que à reflexão.
Interpreta o verso «Entre uma e outra cousa todos os dias são
meus.» (v. 4) enquanto síntese da «biografia» do sujeito poético.
Marcada apenas pelas datas do seu nascimento e da sua morte, a biografia
do «eu» lírico é «simples» porque preenchida apenas pelas experiências
concretas que vive. «Entre uma e outra cousa todos os dias […]» lhe
pertencem, pois são dedicados ao aproveitamento sensorial de todos os
momentos, sem que se gastem em pensamentos.
Estabelece uma comparação entre as características formais da
poesia de Alberto Caeiro e a de Pessoa ortónimo.
Em termos formais, a poesia de Alberto Caeiro difere bastante da de Pessoa
ortónimo. O que no ortónimo existia de regularidade estrófica, métrica e
rimática, em Caeiro perde-se, dando lugar a uma estrutura externa marcada
pela liberdade. As estrofes são irregulares, assim como a métrica,
coexistindo versos longos e brancos, num registo linguístico muito próximo
da prosa, uma vez que não há rima.
Descreve o estado de espírito do sujeito poético descrito nos versos
5 e 6 e relaciona-o com as interrogações que constituem a segunda
estrofe.
O sujeito poético manifesta-se «confuso, pertur-bado», por dar por si a
tentar «perceber», quando efe-tivamente rejeita o pensamento e quer
apenas conhe-cer pelos «sentidos» (v. 4). As interrogações da segunda
estrofe constituem a sua estratégia de rea-ção ao seu estado de
desorientação, recriminando-se pelo seu impulso de «querer perceber».
Identifica e explicita o valor do recurso expressivo utilizado nos
versos 9 e 10.
A personificação do «verão» contribui para tornar mais intensa a relação do
sujeito poético com a natu-reza, uma vez que sugere a existência de um
con-tacto real entre o ambiente e o «eu». Por outro lado, sugere igualmente
que o sujeito poético se relaciona com os elementos naturais como um par,
ou seja, como parte genuína da natureza, só nela colhendo inspiração e
exemplo para a sua forma de estar na vida
Analisa a importância dos dois últimos versos, no contexto global
do poema.
Os dois últimos versos do poema sintetizam o sen-sacionismo de Caeiro.
Depois de recusar o pensa-mento, pelo que tem de artificial, o sujeito
poético ex-pressa a sua plena integração na natureza e, no final, declara
que só pelos sentidos é possível obter conhe-cimento, sem perturbações de
ordem racional.
Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando da
tabela a opção adequada a cada es-paço.
(a) 2.; (b) 1.; (c) 4.
Considerando a primeira estrofe do poema, procede à
caracterização do sujeito poético.
O sujeito poético caracteriza-se como alguém que considera o ato de não
pensar como seu traço constitutivo e que, por isso, se sente distanciado e
se ri de haver «gente que pensa» (v. 4). Vive das sensações, nega a
utilidade do pensamento e defende uma atitude objetivista perante a
realidade (vv. 11 e 16-19).
Clarifica o sentido dos versos 8 e 9, tendo em conta o contexto em
que ocorrem.
. Os versos exprimem o descontentamento do «eu» consigo mesmo por se
ter surpreendido a perguntar-se «cousas», isto é, a pensar, o que significa
ter-se traído, por momentos, a si próprio, caindo no erro que critica nos
outros. Mesmo que momentânea, esta contradição provoca-lhe um
desagrado e um desconforto quase físicos (v. 9).1
Explicita o valor das interrogações retóricas utilizadas na última
estrofe, relacionando-as com o sentido do último verso, enquanto
conclusão do poema EXAME
As interrogações retóricas dos versos 10 e 15 salientam a indiferença do
sujeito poético face ao ato de pensar e marcam o seu afastamento
relativamente a essa problemática. Por seu lado, o verso final surge
formulado como a conclusão do poema e, em particular, da argumentação
iniciada no verso 15, relativa ao que o sujeito poético perderia se
«pensasse» e ao que ganha não pensando. Assim, pensar significaria deixar
de ver a realidade para «ver só» as construções abstratas dos
«pensamentos», que se interporiam, como uma cortina, entre o «eu» e «as
árvores», «as plantas», e a «Terra», deixando-as «às escuras». Pelo
contrário, não pensando, nada se interpõe entre o seu olhar e a realidade
das coisas do mundo; em suma, não pensar é libertar de subjetividade a
visão do real, é restituir ao olhar a capacidade de ver o mundo na sua
plenitude, é sentir-se dono da «Terra» e do «Céu»..
Completa as afirmações seguintes, selecionando a opção adequada
a cada espaço.
. a) 3; b) 1; c) 3
RICARDO REIS
Nesta ode, como em muitas outras de Ricardo Reis, há um tom
moralista, próprio de discursos didáticos.
1.1. Identifica os elementos linguísticos que contribuem para esse
tom.
A presença de um interlocutor subentendido, o uso do imperativo («Segue»,
«Rega», «Ama», «Vê», «Imita») e o recurso a frases declarativas breves.
Para fazer corresponder ao tom solene dos poemas uma linguagem
adequada, Ricardo Reis serve-se, com frequência, da anástrofe,
alterando a ordem sintática habitual das frases.
2.1. Aponta duas marcas formais e/ou estilísticas que contribuem
para o tom elevado do poema.
A regularidade das estruturas estróficas e métricas, e o léxico erudito.
ALVARO DE CAMPOS
Indica as relações de sentido que se estabelecem entre os
primeiros quatro versos.
A satisfação de «não cumprir um dever», expressa no primeiro verso, é
reiterada em cada um dos três versos seguintes. Esse sentimento de
satisfação é traduzido, no primeiro verso, pelo evocar de uma sensação
física agradável, «a frescura na face», que é amplificada na imagem do
segundo verso – «estar no campo» –, e em cada um dos dois versos
seguintes: «refúgio», «Respiro melhor». O não cumprimento de «um dever»,
referido no primeiro verso como causa de agrado, é sucessivamente,
concretizado no ato de «Faltar» (v. 2), realçado na sua consequência – «não
se poder ter confiança em nós» (v. 3) – e identificado, por fim, com o facto
de o «eu» ter falhado encontros (v. 4).
Explicita o valor expressivo das antíteses «vestida»/«nu» (vv. 7 e 8)
e «lá»/«aqui» (vv. 6 e 11).
As antíteses marcam a oposição entre a «sociedade» (v. 7) e o «eu», no que
diz respeito à aceitação de regras sociais. Ao contrário dos «outros» (v. 14)
que vivem «lá», no espaço dos «encontros» (v. 4), da organização e das
convenções, o sujeito poético opta por se manter no espaço em que dá
largas à sua «imaginação» e ao sonho (v. 11) – «aqui» (v. 11) –, dessa forma
assumindo-se «livre» (v. 7).
Comenta a importância dos dois últimos versos no contexto global
do poema.
. Os dois últimos versos desenvolvem até ao absurdo a recusa do «eu» em
sair do lugar de «assistente da vida», em se comprometer com a ação
exterior, prescindindo até do gesto de «acender o cigarro seguinte», por
este, como gesto que é, particular da exterioridade e da ação, pertencer ao
mundo da «sociedade organizada e vestida». O comentário irónico «Se é um
gesto,/Fique com os outros» sugere a opção (aparentemente definitiva) do
sujeito poético pela vida de devaneio e de solidão.
Identifica neste poema marcas de linguagem e de estilo
características de Álvaro de Campos.
. O poema apresenta várias características da poesia de Álvaro de Campos,
nomeadamente a irregularidade métrica, a pontuação emotiva e o estilo
intenso e repetitivo.
EXAME
Relaciona o estado de espírito do sujeito poético com as condições
meteorológicas referidas na pri-meira estrofe.
Na primeira estrofe do poema, a relação entre o estado de espírito do
sujeito poético e as condições meteorológicas evolui de uma relação de
contraste para uma relação de semelhança: no início do dia, o estado de
espírito do sujeito poético é de alguma tris-teza (v. 4), mas o céu azul indicia
alegria (v. 2); no decurso do dia, há uma evolução das condições me-
teorológicas («O dia deu em chuvoso» – vv. 1, 3 e 7), tornando-se mais
parecidas com o estado de tristeza do sujeito poético.
Interpreta o sentido dos versos 8 a 13.
Nos versos 8 a 13, o sujeito poético assume uma opinião que diverge da
opinião dos outros relativa-mente ao conceito de elegância associado ao
estado do tempo: os outros consideram que o tempo chuvoso é elegante e o
sol vulgar e desagradável; o sujeito poé-tico é indiferente a essa ideia de
elegância, preferindo inequivocamente o sol e o céu azul, já que para tempo
chuvoso basta o do seu mundo interior.
Explica a importância da referência às memórias da infância nos
versos 20 a 27.
. A referência às memórias da infância permite real-çar o contraste entre um
passado feliz e um presente infeliz. A impossibilidade de recuperar o bem
perdido da infância, metaforizada em «madrugada perdida» e «céu azul
verdadeiro» (v. 22), acentua a infelicidade sentida no momento presente.
De facto, os afetos, que fazem parte das memórias da infância do sujeito
poético, contrastam dolorosamente com um presente opaco e triste, que se
associa metaforicamente ao dia chuvoso.