AULA 4
METODOLOGIAS ATIVAS
Profª Mary Natsue Ogawa
INTRODUÇÃO
Novos contextos, novas práticas educativas
Os novos cenários sociais são permeados pela tecnologia, cujo avanço
empreendeu novos contornos aos processos produtivos, ao mundo do trabalho,
às relações pessoais, comerciais e, também, à forma como se ensina e se
aprende nas escolas.
Esses avanços trouxeram à escola a necessidade de aprimorar seus
processos, revendo metodologias de ensino e buscando novos caminhos do
aprender para um estudante que agora aprende de formas diferentes daquelas
que se abasteciam das metodologias tradicionais.
A tecnologia veio transformar e aprimorar muitos processos na sociedade
e um deles é o de ensino-aprendizagem, o que, no entanto, requer nova
compreensão do processo educativo e também novas estratégias formativas para
os profissionais da educação.
TEMA 1 – CONTEXTOS SOCIAIS E O IMPACTO NA APRENDIZAGEM
A educação, desde os primórdios da história das civilizações, tem sido
ponto central no processo de evolução das diversas sociedades, pois é o que
possibilita que as descobertas, inovações e invenções que promovem
transformação e avanço sejam estendidas aos diferentes mundos e tribos.
Assim, a educação transforma o mundo, leva conhecimento, ciência,
saberes a diversos contextos, mudando a forma de compreender elementos como
medicina, desenvolvimento humano, geração de renda e, principalmente, o
mundo do trabalho. Contudo, a educação é também moldada pelo mundo e sua
dinâmica de transformações.
Essas transformações têm se dado particularmente em relação ao avanço
das tecnologias, que reverbera em diferentes áreas, como economia, saúde,
política e cultura, e tem reflexo no modo de vida de toda a população, trazendo
mudanças desde o estilo de vida e o consumo até os relacionamentos e o
trabalho.
Embora esse processo de transformação já venha ocorrendo há tempos,
nas últimas décadas ele ganhou celeridade, adentrando os diferentes espaços
sociais e trazendo questionamento quanto ao papel da escola e sua forma de
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ensinar bem como reflexões sobre a necessidade de inovar as metodologias de
ensino.
O início dessas mudanças no mundo educacional tem suas raízes na
transformação econômica resultante da Revolução Industrial, que mudou o
mundo, as relações de trabalho, os processos produtivos, a forma como se
trabalhava até então e mesmo o modo de consumo, pois começou a gerar
produção em grande escala.
A escalada da produção e da economia continuou a crescer, potencializada
pelos avanços tecnológicos e científicos, que geraram mudanças no mundo do
trabalho e ganharam força a partir da terceira revolução industrial caracterizada
pela popularização de computadores, surgimento da internet, dos softwares, da
robótica e da eletrônica.
A partir dessa realidade, de robôs em linha de produção, o mundo não será
mais o mesmo e nem o trabalhador poderá ser o mesmo. Já não basta cumprir
ordens e apertar botões. É preciso um profissional qualificado para acompanhar
os avanços tecnológicos, compreender as nuances da sociedade do
conhecimento e estar apto a aprender continuamente.
Esse movimento traz a realidade para o processo educativo e o papel da
escola, chamando a responsabilidade dessa instituição para a formação de
cidadãos atuantes nesta nova sociedade, sobre os conhecimentos que lhe são
necessários, a postura, os saberes e o olhar para o novo mundo que se desvela.
Para esse novo mundo já não são suficientes as metodologias de ensino
pautadas no modelo de organização social em que imperava o modo de trabalho
taylorista e fordista, representado pela divisão do pensar e do executar, em que o
conhecimento era fragmentado, dividido nas diversas esteiras das linhas de
montagem, cabendo a cada operário aprender somente o necessário para a sua
ação e ignorar o processo total e seu produto final.
Finda a era do conhecimento em partes, do saber estanque e tendo a
tecnologia como norteadora das relações sociais em todas as esferas da vida
humana, emerge nas escolas a necessidade de rever o caminho até o estudante,
pois este agora se utiliza de diferentes fontes para buscar conhecimento, portanto
é preciso reavaliar as práticas educativas e as abordagens metodológicas.
O ensino escolar passa então a incorporar as tecnologias e trazê-las à luz
das necessidades formativas dos estudantes, compreendendo-as não somente
como ferramenta, mas como um novo valor (Mészáros, 1981) que se estabelece
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na sociedade, que faz parte do mundo em que se pretende formar o aluno,
devendo, portanto, também fazer parte do ensinar e do aprender.
Ainda que esse valor se insira como parte de uma ideologia, do trabalho e
para o trabalho, a escola, ao preparar o indivíduo para atuar em sociedade, não
pode simplesmente abrir mão desse elemento, pois é preciso considerar o
contexto de vida do estudante. De nada adianta formar um jovem cidadão para
atuar em um mundo que não existe mais, tendo como exemplo os postos de
trabalho da Primeira Revolução Industrial.
O mundo atual, da informação contínua, da internet, das tecnologias,
requer a vivência e a preparação de cidadãos para lidar com esses elementos, e
é na escola que seu processo se consolida. Dessa forma, torna-se necessário que
essa instituição se aproprie das tecnologias como caminho para o ensinar e
aprender e inovar em suas metodologias, não como modismo, mas como
preparação para a vida em sociedade.
Essa preparação começa por entender o novo mundo e a nova sociedade
que se forma, compreendendo as relações com base em uma nova lógica, uma
nova cultura: a cultura digital.
TEMA 2 – CULTURA DIGITAL
Durante a história da humanidade, a cultura foi sendo formada em cada
civilização, caracterizando diferentes povos e costumes, mas também foi sendo
transformada pelos contextos sociais, pelas mudanças e inserção de novos
elementos na sociedade.
A cultura caracteriza o modo de vida de um povo, mas à medida que esse
modo de vida muda, também a cultura vai adquirindo novos contornos, que
expressam essas mudanças, pois “a cultura se constitui de ação do homem, na
sociedade; criando formas, objetos, dando vida e significação a tudo o que o
cerca” (Barrato; Crespo, 2013, p. 16). Assim, essas ações, ao serem alteradas,
mudam a história cultural da população.
A cultura expressa como vive uma sociedade, dessa forma a cultura digital
não é uma diferente forma cultural ou conceito, mas um reflexo de elementos que
imperam nessa sociedade, ou seja, refere-se ao aparato digital que se constitui
em um definidor do cotidiano das pessoas que fazem uso de ferramentas digitais
em diferentes momentos e esferas da vida.
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O termo cultura digital, amplamente difundido, está relacionado, portanto,
ao uso de ferramentas digitais, seja para o trabalho ou para as diferentes formas
de interação social e que abarcam a internet e as tecnologias de comunicação e
informação, inferindo novos modos culturais.
Esses novos modos culturais, embora atualmente sejam tidos como
naturais ou inerentes às nossas vivências, nem sempre foram compreendidos
dessa forma, podendo ser considerados uma ruptura histórica e social, que tem
destaque na década de 1980, quando o filósofo Pierre Lévy, em seus estudos,
cunhou o termo cibercultura.
Os anos de 1980, marcados pela popularização da internet e pelo aumento
no número de computadores, agregaram à dinâmica social uma série de
mudanças, que caracterizam a era da informação. É nesse contexto que Lévy
apontou a cibercultura como “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de
práticas, de atividades, de modos de pensamento e de valores que se
desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço" (Lévy, 1999, p. 17).
Essa ideia de ações interligadas, ferramentas digitais de diferentes tipos e
a conexão entre esses elementos, possibilitadas pela internet, caracteriza um
modo de vida voltado para o crescente tecnológico, uma nova cultura: a
cibercultura.
A cibercultura como idealizada por Lévy não segrega mundo físico e
espaço digital, mas interliga ambos de modo que o mundo digital impacta a
existência física em todas as suas dimensões. Assim, são criados sistemas
virtuais, como para identificação e registro pessoal, por exemplo: se a pessoa não
está no sistema, é quase sinônimo de não existir.
Além dessa estreita conexão em todos os setores da vida, outra forte
característica da cibercultura é o intenso e constante fluxo de informações, que
invadem o mundo por diversos canais, com variedade, volume e, por vezes,
qualidade duvidosa. O próprio Lévy alerta para a necessidade de aprender a
navegar nas ondas de informações, sem se deixar levar e sabendo selecionar o
que é viável e necessário.
Essa inundação de informações e conteúdos se intensifica ainda mais por
meio dos aparelhos móveis, smartphones e outros, que possibilitam acesso
constante o tempo todo, impactando na construção de saberes e conhecimentos,
pois podem ser acrescidos de tais informações, contudo ainda lidamos com a
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problemática quanto ao preparo para compreender e selecionar os conteúdos
disponíveis na internet.
É nesse contexto que emerge a necessidade de reavaliar os processos
educativos, o papel da escola e as metodologias de ensino. É preciso uma
reflexão sobre o que e como ensinar, revisitando o currículo, mas acima de tudo
compreendendo a necessidade de uma formação crítica que possibilite o pensar
sobre a informação que se consome.
Será que as escolas estão preparadas para essa nova visão de educação,
que usa a tecnologia como aporte para inovar sua metodologia e também para
formar uma visão de mundo mais realista e mais voltada para a participação
social?
A inserção das tecnologias nas escolas ganha força, particularmente, no
fim dos anos de 1990, entretanto de forma insípida, pois requer estrutura,
equipamentos, mas principalmente preparo das equipes docentes, de forma que
o aparato tecnológico seja parte integrante do currículo.
Essa mudança no processo de ensino das escolas implica pensar a
formação de professores para compreender o ensino integrado à atuação social,
em que as tecnologias estão presentes em todos os momentos: trabalho,
diversão, lazer, relacionamentos, consumo, enfim tudo.
Para isso, é preciso existir uma nova concepção de educação, em que as
tecnologias cumpram o papel de potencializar as metodologias de ensino, não
como pretexto para tornar mais divertidos alguns conteúdos (Lucena; Oliveira,
2014), mas para de fato serem integradas às metodologias, permitindo ao
estudante pensar, compartilhar, se sentir parte da sociedade e do mundo e
compreender o seu papel ativo na construção de seus conhecimentos e saberes.
Ensinar e aprender na cultura digital requer, portanto, a adoção de
metodologias que permitam a integração das tecnologias, mas que não imobilizem
o aluno, que não retirem a sua percepção do movimento em direção ao aprender
e que não ofusquem o foco quanto ao conteúdo e quanto ao aprendizado a ser
construído.
É importante, dessa forma, que o professor tenha clareza do objetivo
didático e que a tecnologia esteja a serviço desse objetivo, sendo um recurso e
não um pretexto para usar tecnologias, pois estas devem ser utilizadas com um
propósito, não porque estão na moda ou porque são divertidas e atraentes, mas
para realmente trazer contribuição à proposta pedagógica.
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Uma aplicação adequada das tecnologias como forma de enriquecer as
estratégias de ensino são os simuladores que permitem explorar, por exemplo, o
sistema respiratório, algo que tempos atrás era feito por imagens estáticas e
pouco verossímeis. Também o estudo do universo e dos planetas dependia muito
mais da imaginação do aluno do que da qualidade dos recursos. São exemplos
que indicam o recurso como aporte para o uso de metodologias e construção de
saberes que não apenas ilustram e “decoram” a aula, mas são funcionais.
Nessa mesma perspectiva, cabe também ao aluno saber que, ao usar
tecnologias, o objetivo é o aprendizado do conteúdo, não apenas da ferramenta,
que, é claro, traz saberes a serem agregados, mas o conteúdo definido para
aquela aula não pode ficar em segundo plano. É preciso, portanto, que aluno e
professor mantenham a intencionalidade pedagógica.
Agora vamos refletir sobre o aprender com novas tecnologias, suas
possibilidades e desafios!
TEMA 3 – APRENDER COM TECNOLOGIAS: NOVOS CAMINHOS
A tecnologia faz parte da sua vida desde o momento em que se levanta,
olha a hora no celular, prepara o café na cafeteira, ou coa, e põe na garrafa
térmica, projetada para manter o líquido aquecido. Quando precisa comprar algo,
em geral usa o cartão ou mesmo celular para pagar. Aliás, é pelo celular que paga
as contas, muitas vezes confere o e-mail, usa aplicativos para aprender outras
línguas, conhecer pessoas, controlar suas atividades físicas e muito mais.
Logo, é natural que a tecnologia também componha o processo educativo
e formativo nas escolas, consolidando-se como uma grande aliada, que possibilita
mais dinamicidade, mais movimento e aprofundamento de conteúdos, que podem
ter mais profundidade e se tornar mais concretos ao estudante.
É claro que somente a tecnologia não garantirá aprendizado e não
dispensa o papel de mediação do professor, o uso de boas metodologias e
preparo pedagógico, mas certamente a integração de tecnologias no currículo
escolar pode contribuir para tornar o conteúdo mais palpável e mais significativo.
A aprendizagem significativa implica associar os conhecimentos a serem
trabalhados a saberes anteriores do aluno, elementos que ele já domina, já tem
alguma vivência, e por meio dessa conexão construir novos saberes e
conhecimentos. Pois bem, a tecnologia, seja por meio de tablets, celulares,
computadores ou outros componentes, em geral já está presente na vida do aluno,
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tornando assim mais real a experiência com os novos aprendizados, trazendo os
conteúdos escolares para contextos possíveis de serem traduzidos e visualizados
de forma concreta pelo estudante.
Essa forma de aprendizagem, intermediada pelo uso de tecnologias,
estimulada e potencializada na sala de aula, pode ser ampliada e estendida para
outros locais, pode ocorrer em laboratórios, museus, observatórios e outros
ambientes, de forma que a escola pode transformar-se em um “conjunto de
espaços ricos de aprendizagens significativas, presenciais e digitais, que motivem
os alunos a aprender ativamente, a pesquisar o tempo todo, a serem proativos, a
saberem tomar iniciativas, a saber inter-agir” (Moran, 2013, p. 1).
Figura 1 – Tecnologia em sala de aula
Crédito: Gorodenkoff/Shutterstock.
O uso de tecnologia pode tornar possível ao aluno, por exemplo, visualizar
o funcionamento do sistema sanguíneo no corpo humano, compreender como
ocorrem terremotos, conhecer as camadas do núcleo da Terra e muito mais. Pode
contribuir para o aluno sistematizar em um vídeo ou uma apresentação de
imagens ou construir um site com as suas percepções sobre determinado
conteúdo, enfim, são várias as possibilidades, mas, é claro, também existem
alguns desafios.
Não basta introduzir na sala de aula bons equipamentos, simuladores,
tablets, computadores modernos, adquirir softwares, ter acesso à internet. Tudo
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isso é importante, mas é preciso acima de tudo que esses equipamentos façam
sentido no cotidiano escolar, sejam integrados ao processo ensino-aprendizagem.
É preciso que os equipamentos possam compor as metodologias de
ensino, possibilitando ao estudante pensar criticamente e agir de forma autônoma,
buscando estabelecer relações com os conteúdos, do contrário, o melhor
computador torna-se tão significativo quanto uma calculadora.
Portanto, não bastam ferramentas tecnológicas, é preciso saber usá-las
adequadamente, é preciso pensar a educação por outros vieses, que ultrapassam
as antigas práticas pedagógicas e buscam um novo olhar sobre o conhecimento,
sobre o aluno e sobre o fazer pedagógico.
Para tanto, faz-se necessário preparo do professor para incorporar
tecnologia à sala de aula, sem, contudo, perder a intencionalidade pedagógica e
a clareza dos objetivos didáticos que se pretende estabelecer, articulando
conteúdo, tecnologias e metodologias que não extraiam a participação do aluno,
pelo contrário, o posicionem como protagonista do seu aprender.
Embora as tecnologias possam ser atrativas, é preciso ter a clareza de que
a metodologia de ensino deve prevalecer, dando norte ao processo ensino-
aprendizagem e ao desenvolvimento e integração dos elementos didáticos, que,
então, darão às tecnologias, de fato, o teor educativo.
Costa (2011), em sua obra Novas tecnologias: desafios e perspectivas na
educação, afirma que não existe uma maneira correta de usar tecnologias na
educação, mas sim finalidade correta, logo, para o professor, tão importante
quando dominar novas tecnologias é o domínio pedagógico de sua aula, é ter em
mente o seu objetivo didático, de forma que a ferramenta tecnologia seja uma
ponte para este objetivo, mas não o objetivo em si.
Assim, ao desenhar uma proposta de aula com o uso de tecnologias, o
professor precisa considerar qual papel as ferramentas tecnológicas vão
desempenhar e considerá-las como um dos recursos, mas não o único. Vamos
pensar no exemplo de um professor que usa jogos de RPG para trabalhar
conteúdos em História, de forma que o aluno precise construir uma cidade, ou
vilarejo, representando determinado período da história, retratando vestimentas,
modos culturais, formas de comércio e relações sociais. O professor precisará
trabalhar o conteúdo, incentivar a pesquisa em diferentes tipos de fontes históricas
e o jogo será apenas um recurso para ilustrar os aprendizados que foram sendo
desenvolvidos.
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Da mesma forma, ao considerar esse exemplo, o professor precisa ter
muita clareza do que pretende avaliar, qual o critério de avaliação: o estudante
não ilustrou adequadamente no jogo o modo de vida que deveria retratar, mas é
possível identificar se o conteúdo foi assimilado? O aluno não o fez por falta de
habilidade no software utilizado ou por falta de conhecimento sobre o conteúdo?
Nesse caso, o que conta mais? Qual é de fato o objetivo da aula: que o aluno
saiba o conteúdo ou saiba utilizar as ferramentas do jogo?
Assim, ao professor que desenvolverá o trabalho docente com o uso de
tecnologias cabe buscar capacitação para aprender a ensinar com tecnologias,
mas acima de tudo cabe ajustar o seu olhar pedagógico, compreendendo que a
tecnologia é parte do processo, mas não seu objetivo e que deve estar a serviço
da metodologia de ensino escolhida, sem perder de vista a intencionalidade do
processo educativo e o foco no aprendizado do aluno.
TEMA 4 – A SALA DE AULA HOJE: ESPAÇOS DIVERSOS
Diante do cenário que se desvela, permeado por tecnologias em diferentes
instâncias da vida social, a sala de aula ganha novos contornos, novo layout, novo
sentido e principalmente mudam os formatos das relações, que antes tinham no
centro desse espaço de sala de aula o professor.
Esse formato, em que os alunos enfileirados se voltavam para o centro do
saber, representado pelo professor, agora passa por variações e o centro do saber
está em diferentes lugares dessa sala de aula, que passa por um intenso processo
de expansão.
A sala de aula é ampliada para além dos muros da escola, suas paredes
se tornam fluidas no sentido de permitir o fluxo de conhecimento nos diversos
sentidos. Essa ampliação da sala de aula, que passa a ocupar todo um universo
de saberes, não está relacionada necessariamente ao tamanho da sala, mas à
quebra de paradigmas, de concepções quanto aos elementos que compõem a
dinâmica escolar.
Além do professor, também o estudante detém conhecimento, também é
responsável pelo aprendizado, também é condutor do processo ensino-
aprendizagem e faz uso de ferramentas físicas e virtuais para isso. Assim o
aprender não está somente na sala de aula, mas nas plataformas on-line, nas
redes sociais, no mundo disponível nas tecnologias da comunicação.
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Dessa forma, o ensino em sala de aula passa a acontecer dentro e fora
dela. As estratégias metodológicas são traçadas na sala de aula, mas o
aprendizado pode ocorrer em diferentes ambientes, que também se tornam parte
da sala de aula, pois há uma intensa integração entre tempo e espaço para o
aprender.
Assim, a sala de aula tradicional ganha diferentes composições, elementos
como o computador passam a fazer parte do cenário, assim como uma diferente
distribuição das mesas dos estudantes, que não necessariamente precisam estar
enfileiradas, nem mesmo precisam ser mesas. O aluno não precisa estar atrás do
colega, mas ao lado, de frente, possibilitando maior integração e aprendizado
entre os pares.
Figura 2 – Sala de aula diversificada
Crédito: Dariusz Jarzabek/Shutterstock
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Há uma nova configuração e uma nova sala de aula, que pode ser física,
mas também virtual.
Os espaços se multiplicam, mesmo sem sair do lugar [...]. As salas de
aula podem tornar-se espaços de pesquisa, de desenvolvimento de
projetos, de intercomunicação on-line, de publicação, com a vantagem
de combinar os melhores do presencial e do virtual no mesmo espaço e
ao mesmo tempo. (Moran, 2013)
No entanto, é necessária a percepção de que essa sala de aula não é
apenas um espaço decorado de forma diferente e com acesso a tecnologias.
Trata-se de uma mudança de concepção, uma nova forma de conceber a sala de
aula, o ensino e a aprendizagem.
Essa nova concepção de educação, mais alargada, ampliada e integrada à
sociedade é a chave para a criação da future classroom lab, em 2012 pela
European Schoolnet (EUN), uma organização para a inovação do ensino e da
aprendizagem, com sede em Bruxelas e que reúne 34 ministérios de educação
na Europa.
Embora nacionalmente ainda em construção, o conceito de future
classroom traz imbuídas as concepções de educação emancipadora, crítica e
reflexiva, que colocam o aluno no centro do próprio aprendizado, partindo de
diversos recursos para envolver os participantes do processo – professor e
estudante – articulados com a construção do conhecimento.
Não existe ainda uma definição única, ou um padrão para a organização
da sala de aula do futuro, que ultrapassa paredes e vai além do quadro-negro,
tendo tecnologias, mas também sólidas metodologias para motivar e envolver o
aluno na condição de protagonista do seu saber.
Segundo (Pedro e Baeta (2017), que defendem a implantação e ampliação
de salas de aula centradas no aluno e nas suas necessidades de aprendizagem,
a sala de aula do futuro, para além das tecnologias e materiais didáticos
especializados, é o local “onde se privilegia a ação do aluno, favorecendo a sua
motivação, criatividade e envolvimento na coconstrução do conhecimento
individual e coletivo” (Pedro; Baeta, 2017).
Logo, na realidade brasileira, em que muitas vezes a escola não dispõe dos
recursos necessários, trata-se de uma construção gradual, em que o primeiro
passo é consolidar a concepção da sala de aula como um amplo e diverso espaço
para o aprender, em que os saberes são construídos coletivamente em um
processo guiado pelo professor.
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Não basta aparelhar salas de aula para que sejam a sala do futuro, é
preciso construir uma educação do futuro, trabalhar conceitos e concepções,
capacitar e qualificar e, com base no entendimento da sala de aula como espaço
múltiplo de possibilidades, eleger materiais, equipamentos e, principalmente,
metodologias adequadas ao contexto, ao aluno e ao melhor formato para o ensino
e a aprendizagem dos estudantes.
TEMA 5 – METODOLOGIAS ATIVAS, ENSINO A DISTÂNCIA E ENSINO
HÍBRIDO
As mudanças no mundo da educação realocaram o aluno no processo
ensino-aprendizagem, pois ele passa de receptor e elemento passivo a sujeito de
seu próprio aprender, não apenas esperando conteúdo, mas se pondo em direção
a esses saberes e construindo conhecimento.
Também a sala de aula foi realocada, passou a ocupar diferentes espaços,
a se multiplicar para diferentes momentos, para diferentes saberes. Atingiu o
ciberespaço, incorporando a cultura digital ao currículo e à dinâmica escolar.
Mas não foi só a sala de aula e o professor que mudaram, também as
metodologias de ensino foram inovadas para acompanhar esse movimento, pois
de nada adianta uma sala de aula supermoderna e inovadora, se as metodologias
não acompanham essa concepção.
Nesse contexto, as metodologias ativas ganham ainda mais relevância,
imbuídas de um sentido de aprendizagem permeado pela autonomia, motivação
e mobilização de conhecimentos, competências e habilidades para o aprender.
Essa dinâmica da metodologia ativa permite envolver o aluno em diversas
situações, para inúmeras formas de aprendizagens e em diferentes tempos e
espaços, acompanhando a dinâmica da sala de aula do futuro, que ultrapassou
os espaços da escola e ganhou o mundo virtual.
O mundo virtual já há muito faz parte da vida dos jovens, sendo, contudo,
bastante recente a sua incorporação ao processo educativo. Há algumas décadas
vem se apontando para a eclosão do ensino híbrido, “[...] um programa de
educação formal no qual um aluno aprende por meio do ensino on-line, com algum
elemento de controle do estudante sobre o tempo, o lugar, o modo e/ou o ritmo
do estudo, e por meio do ensino presencial, na escola” (Horn, Staker, 2015 p. 34).
Logo, o ensino híbrido combina as práticas educativas presenciais, ou seja,
em sala física, com a utilização de recursos tecnológicos que “estendem” a sala
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de aula para o mundo virtual, aliando as possibilidades de aprender em diferentes
momentos e locais a uma metodologia que contemple objetivos didáticos e
caminhos desenhados para o aprender de forma diversificada, mais significativa,
dinâmica e condizente com os contextos atuais.
Nessa perspectiva, as metodologias ativas, por suas particularidades e
natureza de atividades, conseguem envolver o ensino presencial e on-line, por
exemplo, ao empregar técnicas como sala de aula invertida, em que as discussões
se dão em sala de aula presencialmente, contudo a preparação do conteúdo para
o aluno pode estar disponível em plataformas on-line, permitindo seu acesso em
diferentes tempos e espaços.
Esse recurso de trabalhar metodologias ativas fora da sala de aula, além
do ensino híbrido, também conquistou o ensino a distância, dinamizando e
trazendo ricas possibilidades de aprendizagem, por meio da inserção de
diferentes tipos de metodologias ativas.
Essa realidade das metodologias ativas no ensino híbrido e particularmente
no ensino a distância tem mais intensidade a partir dos anos da pandemia de
covid-19 em todo o mundo, do fim de 2019 até 2021, o que trouxe inúmeros
desafios à sociedade e mais ainda às instituições de ensino que precisavam se
adaptar para ensinar fora da sala de aula.
Foi preciso à escola reinventar-se, buscar com urgência ferramentas e
instrumentos tecnológicos para aproximar professores e estudantes, manter o
processo ensino-aprendizagem (Arruda; Siqueira, 2020) e ainda aprender a
ensinar com esses elementos que deixavam de ser apenas tecnológicos para se
tornarem efetivamente também pedagógicos.
Assim, de uma hora para outra foi preciso ajustar método, recursos e
formas de interação. Foi preciso aprender a utilizar metodologias ativas no ensino
a distância, buscando formas de realizar atividades que são comuns nas
metodologias ativas, como discussão em grupo e construção de conceitos, por
exemplo, o design thinking.
Nesse contexto, ganharam destaque diferentes tipos de aplicativos,
softwares, plataformas virtuais que dão suporte às atividades on-line e
possibilitam o desenvolvimento das metodologias ativas a distância, como é o
caso do Zoom, Meet, Teams, entre outras, que permitem interação em tempo real
em diferentes pontos do planeta, por meio das já popularizadas reuniões virtuais,
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e que aproximam e proporcionam vivências, trocas de experiências e de ideias,
enriquecendo as possibilidades de ensino e de aprendizagem.
No caso da plataforma Miro, por exemplo, estudantes em diferentes partes
do mundo e também em momentos diferentes podem construir uma atividade de
design thinking, pois a plataforma é projetada com esse propósito, permitindo a
criação de espaços para o desenvolvimento das etapas propostas no design
thinking, explorar ideias a qualquer momento e com interação entre os
participantes.
Figura 3 – Plataforma Miro
Fonte: Alura.
O uso dessas plataformas abriu um leque de possibilidades pedagógicas,
que trouxeram inovação ao ensino e mesmo no pós-pandemia tendem a
permanecer, marcando um novo jeito de fazer educação, que compreende a
articulação entre o virtual e o físico, ao mesmo tempo que traz ao aluno a
significação daquilo que ele domina nos diversos contextos, com a
responsabilidade de que isso faça parte do seu movimento em direção ao
aprender.
Além do design thinking, que pode ser realizado virtualmente por meio do
Miro, há uma variedade de metodologias ativas que podem ser aplicadas a
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distância, como a aprendizagem baseada em projetos, que pode ser realizada
utilizando-se o Trello, um aplicativo de gerenciamento de projetos que possibilita
pontuar cada fase deles, recursos necessários, responsáveis por cada uma
dessas etapas, o que está sendo feito, o que falta fazer, os produtos que devem
resultar desse projeto.
Figura 4 – Trello: gerenciamento de projetos
Fonte: Trello, 2023.
Outra opção metodológica para o ensino híbrido, que costuma envolver os
estudantes tanto dentro quanto fora do espaço de sala de aula, é a técnica de
metodologia ativa conhecida como sala de aula invertida, em que os alunos têm
contato prévio com o conteúdo que será abordado, explorando-o por meio de
diferentes fontes de pesquisa e materiais, lendo, estudando individualmente ou
em grupo para posteriormente trazer suas conclusões, dúvidas e
questionamentos ao momento presencial em sala de aula.
Essa diversidade de opções requer do professor conhecer bem as
metodologias, o público-alvo, ter clareza do que pretende atingir e acompanhar o
desenvolvimento, orientando para que haja interação e sobretudo envolvimento
dos estudantes, integrando conteúdos trabalhados e explorando as ferramentas
tecnológicas.
É justamente essa integração de espaços e tempos que faz da tecnologia
uma grande aliada da educação, pois “o ensinar e aprender acontece numa
interligação simbiótica, profunda, constante, entre o que chamamos mundo físico
e mundo digital” (Moran, 2015, p. 16).
Essa integração, permeada pela orientação e condução do professor e pelo
uso de metodologia ativas, tem como objetivo a educação do futuro. Uma
educação que visa preparar o cidadão para uma participação ativa na sociedade,
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consciente de que seu papel não é só receber ou assistir, mas tomar parte nas
decisões, produzir conhecimento e construir também uma sociedade melhor.
Para que essa educação seja possível, é preciso conhecer os elementos
didáticos, ter clareza quanto ao que se pretende enquanto projeto formativo para
os estudantes, manter a intencionalidade pedagógica e dominar as metodologias
ativas como forma de promover conhecimento, mas também de promover novas
formas de pensar a educação, o ensino e a aprendizagem.
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REFERÊNCIAS
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focalizada nas metodologias de ensino-aprendizagem. X CONFERÊNCIA
INTERNACIONAL DE TIC NA EDUCAÇÃO - CHALLENGES 2017. Anais, v. 8,
maio, 2017.
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