Linguística Aplicada à
Língua Inglesa: fundamentos
TUTORA EXTERNA: JOSÉLIA BALDEZ
Linguística Aplicada à
Língua Inglesa: fundamentos
• UNIDADE 1: A LINGUÍSTICA E A LINGUÍSTICA APLICADA: ORIGEM E STATUS
• UNIDADE 2: UM OLHAR SOBRE QUESTÕES QUE IMPACTAM O ENSINO E A
APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA
• UNIDADE 3: O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NO BRASIL NO CONTEXTO ATUAL
INTRODUÇÃO
De acordo com Davies (2007, p. 2), a Linguística Aplicada é a
ciência de tudo, já que a linguagem está em todo lugar. Nós nos
comunicamos a todo momento, utilizamos a linguagem para diversas
situações nas nossas vidas. Mas quais são os requisitos necessários
para que façamos uso dessa linguagem? Em outras palavras, o que é
saber uma língua? Vamos adotar a definição de que saber uma língua
significa ser capaz de utilizar esta língua para se comunicar com
outras pessoas que também a conhecem, conseguir compreender e ser
compreendido (FROMKIN; RODMAN; HYAMS, 2014).
2 CONHECIMENTO DO SISTEMA DE SONS DA LÍNGUA
Parte do conhecimento linguístico sobre uma língua envolve o
reconhecimento do sistema de sons ou sinais (no caso da língua de
sinais) dessa língua (FROMKIN; RODMAN; HYAMS, 2014).
Explicam que esse conhecimento implícito (conhecimento natural, a
partir do qual você sabe realizar uma atividade, mas não sabe explicar os
procedimentos, pode ser percebido pela maneira como as pessoas
pronunciam as palavras. Por exemplo, falantes nativos de português
brasileiro não possuem na língua materna o fonema relativo ao th de this
/ðɪs/ e that /ðæt/. Dessa maneira, é possível que ao pronunciar essas palavras,
o falante nativo de português brasileiro utilize sons que já conhece, tais como
o /f/ e o /t/, que fazem parte do seu repertório de sons da língua materna.
Fromkin, Rodman e Hyams (2014, p. 189) definem da seguinte
forma o conhecimento linguístico relativo ao sistema de sons da
língua:
When you know a language you know the sounds of that
language, and you know how to combine those sounds into
words. When you know English, you know the sounds
represented by the letters b, s, and u, and you are able to
combine them to form the words bus and sub.
Certamente, o conhecimento das palavras que formam uma
língua é importante para que conheçamos de fato essa língua,
porém, não é suficiente. Ainda que um aprendiz de LE estudasse
todo o conteúdo de um dicionário, não seria capaz de se comunicar
de maneira eficiente (FROMKIN; RODMAN; HYAMS, 2014).
O conhecimento linguístico envolve, além do conhecimento
sobre palavras em si e os sons que as formam, o conhecimento sobre
como usar essas palavras de forma que ganhem sentido. O ser
humano tem uma capacidade criativa de juntar palavras em frases
ou sentenças para que ganhem sentido. Fromkin, Rodman e Hyams
(2014, p. 5) postulam que “Not every speaker can create great
literature, but everybody who knows a language can create and
understand new sentences.”
CONHECIMENTO SOBRE AS SENTENÇAS
O objetivo de conhecer os sons da língua e a partir desses sons
formar sequências que tenham sentido (palavras) certamente não é
suficiente para a finalidade da comunicação. Nós ainda precisamos
juntar as palavras em um contexto de frases ou sentenças para que
tenham sentido. E você já parou para analisar o que forma uma boa
sentença? E o que diferencia sentenças aceitáveis de não aceitáveis na
língua?
Quantos anos você tem?
How many years do you have?
How old are you?
CONHECIMENTO SOBRE A GRAMÁTICA DA LÍNGUA
[…] the knowledge speakers have about the units and rules of their language—
rules for combining sounds into words (called phonology), rules of word
formation (called morphology), rules for combining words into phrases and
phrases into sentences (called syntax), as well as the rules for assigning meaning
(called semantics). The grammar, together with a mental dictionary (called a
lexicon) that lists the words of the language, represents our linguistic
competence.
… a gramática é o conhecimento que os falantes têm sobre as unidades e regras da sua
língua – regras para combinar sons em palavras (chamado fonologia), regras de
formação de palavras (chamado morfologia), regras para combinar palavras em
frases e frases em sentenças (chamado sintaxe), assim como regras para dar
significado (chamado semântica). A gramática, juntamente com o dicionário mental
(chamado léxico) que lista as palavras da língua, representa nossa competência
linguística (FROMKIN; RODMAN; HYAMS, 2014, p. 9, tradução da autora).
A gramática descritiva é uma abordagem que busca descrever
como a língua é realmente usada pelos falantes, sem fazer julgamentos
sobre o que é "certo" ou "errado". Seu objetivo é observar e registrar as
formas linguísticas, como as pessoas falam e escrevem em contextos
naturais, sejam elas consideradas formais ou informais.
Objetivo: Descrever o uso real da língua, incluindo variações regionais,
sociais e contextuais.
Flexibilidade: Reconhece que a língua está em constante mudança e se
adapta ao tempo e ao contexto social.
Variação Linguística: Considera as variações de pronúncia, vocabulário
e até estrutura gramatical que ocorrem entre diferentes grupos de
falantes, como variações regionais (dialetos) e sociais (classes, idades,
etc.).
Exemplo de estudo: Como as pessoas realmente utilizam a linguagem
em seu cotidiano, sem se preocupar com regras fixas. A gramática
descritiva pode estudar, por exemplo, como uma palavra ou uma
construção gramatical é usada de forma diferente em diferentes regiões
ou grupos sociais.
Exemplo:
Em muitas regiões do Brasil, é comum o uso da forma "a gente vai" em
vez de "nós vamos". A gramática descritiva não julga se "a gente vai"
está certo ou errado, mas sim observa que essa forma é usada por
muitos falantes, especialmente em contextos informais.
A gramática prescritiva, por outro lado, busca prescrever ou
estabelecer regras normativas para o uso da língua, indicando o que é
considerado "correto" ou "incorreto". Ela se baseia em padrões de linguagem
estabelecidos, frequentemente associados ao padrão culto ou formal, e tem
como objetivo promover uma forma de comunicação mais "padrão", muitas
vezes utilizada em contextos mais formais, como na redação acadêmica, no
jornalismo e no discurso oficial.
Objetivo: Prescrever normas e regras que os falantes devem seguir para que
sua linguagem esteja dentro do que é considerado "correto" ou "adequado"
segundo a norma culta da língua.
Estabilidade: A gramática prescritiva tende a ser mais conservadora,
preservando regras que são vistas como fundamentais para o "bom uso" da
língua, e resistindo a inovações ou variações que possam ser consideradas
"erradas".
Norma Culta: A gramática prescritiva é associada ao uso da língua em sua
forma padrão ou formal, como ensinada em escolas, utilizada em
documentos oficiais e reconhecida por gramáticos e linguistas normativos.
Exemplo de estudo: A gramática prescritiva define regras claras de como a
língua deve ser usada, como a conjugação verbal correta ("nós vamos" em
vez de "a gente vai“, I am 15 years old).
COMO ENSINAR A GRAMÁTICA DA LÍNGUA ESTRANGEIRA
Xavier (2001) sugere alguns tipos de tarefas, as tarefas comunicativas,
as tarefas de conscientização e tarefas de interpretação, dentro da abordagem
comunicativa, que têm como propósito desenvolver o conhecimento
gramatical do aluno. Vamos conhecer as particularidades de cada uma:
1. Tarefas comunicativas: requerem que o aprendiz pratique a estrutura
gramatical em um contexto comunicativo.
Exemplo: entrevista com os colegas de sala.
2. Tarefas de conscientização: é um tipo de tarefa que fornece ao aluno
um problema gramatical para que ele solucione. Através da interação
com outros alunos, chega-se à conclusão sobre a estrutura-alvo.
Exemplo: análise de sentenças com o pronome that para inferir sobre
situações onde ele deve ou não ser usado.
3. Tarefas de interpretação: essas tarefas têm como objetivo fazer com
que os alunos percebam e interpretem a estrutura-alvo num
determinado insumo oral ou escrito.
Exemplo: alunos respondem uma pesquisa sobre sua personalidade
com verdadeiro, falso ou parcialmente verdadeiro.
O conhecimento implícito é aquele que é inconsciente,
automático. Normalmente, é difícil explicar algo que você aprendeu
de uma forma implícita. Já o conhecimento explícito é o contrário, é
aquele que não é automatizado, mas que você sabe explicar o passo a
passo do processo, você tem consciência a respeito.
Você já pensou no que o cérebro humano é capaz de fazer a
respeito da linguagem? Além de adquirir todo o conhecimento
linguístico, ainda é capaz de compreender (processar o insumo
escrito ou auditivo da fala) e produzir (selecionar as informações
corretas para fala ou escrita da língua) a linguagem em tempo real
(FROMKIN; RODMAN; HYAMS, 2014).
Fromkin, Rodman e Hyams (2014, p. 444) definem os processos de
produção e compreensão da linguagem da seguinte forma:
When we speak, we access our lexicon to find the words, and we use the
rules of grammar to construct novel sentences and to produce the sounds
that express them. When we listen to speech, we also access the lexicon
and grammar to assign a structure and meaning to the sequence of words
we hear.
Quando falamos, acessamos o nosso léxico para encontrarmos as palavras, e
usamos as regras da gramática para construir novas sentenças e para
produzir os sons que as expressam. Quando ouvimos a fala, também
acessamos o léxico e a gramática para atribuir uma estrutura e significado à
sequência de palavras que escutamos. (Tradução da autora)
PROCESSAMENTO DA LINGUAGEM: COMPREENSÃO AUDITIVA
Muito se fala sobre a importância de escutar uma língua para
aprendê-la. Teorias de aquisição da linguagem com base nos preceitos
behavioristas preconizam que a aquisição da linguagem, tanto
materna quanto estrangeira, se dá através da imitação dos sons que
ouvimos.
Dahan e Magnuson (2006) argumentam que para que haja a
percepção da mensagem pretendida por um falante, é necessário que
se vençam vários desafios relacionados ao processamento da
informação. Os autores explicam também que se observarmos como
ocorre a compreensão auditiva, poderemos pensar que de uma forma
automática, sem esforço, conseguimos compreender a fala com toda a
sua variedade
Por exemplo, dentro de uma mesma língua, temos diferentes
dialetos, ou variações linguísticas. No Brasil podemos pensar no português
falado no Rio Grande do Sul, e compararmos com o português falado no
Rio Grande do Norte, por exemplo. Ao analisarmos a fala das pessoas
originárias destes estados, encontraremos algumas diferenças na forma de
expressão, na pronúncia das palavras, na entonação e até no vocabulário.
Isso é variação linguística e cada língua possui diversas variantes. No
inglês, podemos pensar nas variações existentes na língua falada dentro
dos EUA, onde há diferença no inglês falado em Nova York em relação ao
inglês do Estado do Texas, por exemplo. O inglês falado na Inglaterra e na
Austrália, por exemplo, também apresenta variação em relação ao inglês
dos EUA.
Outros fatores que podemos analisar em relação à
compreensão da fala são o ambiente acústico e a velocidade da
fala (DAHAN; MAGNUSON, 2006). Em relação ao ambiente
acústico, você pode imaginar que, quanto mais silêncio, mais fácil
a compreensão auditiva. E quanto à velocidade da fala, quanto
maior, mais difícil a compreensão. Todas essas questões se
aplicam também à compreensão auditiva da língua estrangeira,
porém, por ser uma língua sobre a qual o falante não tem tanto
conhecimento quanto na sua língua materna, todos esses fatores
se tornam ainda mais complexos de serem analisados.
PROCESSAMENTO DA LINGUAGEM: COMPREENSÃO LEITORA
Diferentemente dos processos de compreensão e de produção da
fala que são naturalmente adquiridos quando da aquisição da língua
materna, a compreensão do texto escrito é uma habilidade que requer
aprendizagem.
Wagner, Piasta e Torgesen (2006) nos ensinam que ler é
compreender uma mensagem do escritor, que requer a decodificação do
texto. Porém, a decodificação é apenas o estágio inicial da leitura. Para
que possamos compreender o significado do texto, precisamos alcançar
níveis mais complexos de compreensão escrita. A leitura requer que as
representações ortográficas, morfológicas e fonológicas contidas no texto
sejam relacionadas aos seus respectivos significados e pronúncia das
palavras, informações essas já armazenadas no léxico mental do leitor em
questão (WAGNER, PIASTA; TORGESEN, 2006).
FATORES QUE PODEM INFLUENCIAR A COMPREENSÃO LEITORA
A frequência das palavras se refere a quanto a palavra aparece na
língua.
A previsibilidade diz respeito ao quão provável é uma palavra
aparecer em determinada sentença.
Por exemplo, se você vir a palavra umbrela (guarda-chuva) em uma
sentença é provável que crie expectativa de ver também rain (chuva).
Vizinhos ortográficos são palavras com a escrita semelhante, que
diferem por apenas uma letra.
por exemplo wind e kind.
FATORES QUE PODEM INFLUENCIAR A COMPREENSÃO LEITORA
Cognatos são palavras que têm a mesma representação
ortográfica e também o mesmo significado.
Exemplo: actor (IN) e ator (PT).
Falsos amigos são palavras que têm a mesma ortografia, mas
um significado diferente.
Exemplo: pretend, em inglês, significa fingir e não pretender. Todos
esses fatores podem interferir no reconhecimento das palavras.
• Sãofatores importantes relacionados ao contexto social: o
aprendiz, o insumo e o cenário físico onde acontece a
aprendizagem.
• Input é todo tipo de informação relacionada à linguagem
que o aprendiz recebe de forma auditiva ou através da
leitura.
• Output é o que o aprendiz produz a respeito da
linguagem, seja em forma oral ou escrita.
CULTURA
Os primeiros linguistas a investigarem a relação entre língua e
cultura foram Sapir, Boas e Whorf (KRAMSCH, 2008). Porém, entre os
anos 50 a 60, a Linguística Aplicada estava mais voltada para questões
relacionadas aos processos mentais de aquisição da linguagem, tendo o
ápice desta visão nas teorias gerativistas de Chomsky. Por esse motivo,
não houve muita difusão dos estudos nessa área naquela época. A partir
da disseminação das ideias funcionalistas sobre a concepção de
linguagem, a cultura passou a exercer um papel importante nos estudos
sobre aprendizagem de língua estrangeira.
A cultura é um fator social importante na aprendizagem de LE,
tendo em vista que o distanciamento cultural entre o aprendiz e a língua-
alvo pode dificultar a aprendizagem. Quanto mais confortável o
aprendiz se sentir em relação à cultura da LE, mais fácil será seu
processo de aprendizagem.
O MODELO DE KRASHEN: O FILTRO AFETIVO
Outra hipótese de Krashen é a do filtro afetivo, que sugere
que fatores emocionais, como ansiedade, estresse e motivação,
podem afetar a aquisição de linguagem. De acordo com ele, um
ambiente de aprendizagem livre de estresse e com motivação
intrínseca é mais propício para a aquisição efetiva de uma nova
língua.
MOTIVAÇÃO
Vamos conceituar motivação? De acordo com Dörnyei e Skehan
(2005), a motivação direciona o comportamento humano, através dela
escolhemos uma ação particular, decidimos se vamos ou não persistir
com esta ação e quanto esforço iremos depositar nesta ação.
Dessa maneira, para aprender uma língua estrangeira, é
necessário ter motivação suficiente para começar o aprendizado,
continuar estudando e também colocar esforço no processo. Canning
(2004) argumenta que a motivação pode ser o fator mais importante
para o sucesso na aprendizagem da língua estrangeira, determinando
os níveis de atenção e de alcance na LE.