ENSAIOS DE ARQUITETURA E URBANISMO
HISTORICISMO
na Arquitetura.
ALAN COLQUHOUN
ALAN COLQUHOUN
Alan Colquhoun foi um arquiteto e crítico de arquitetura
britânico, nascido em 27 de junho de 1921 e falecido em 13
de dezembro de 2012. Ele estudou arquitetura na
Universidade de Edimburgo e na Architectural Association
School of Architecture, em Londres.
Colquhoun foi um dos principais teóricos da arquitetura
moderna, com uma abordagem crítica e analítica em
relação ao movimento moderno. Ele acreditava que a
arquitetura deveria ser vista como uma disciplina
intelectual, e não apenas como uma prática técnica. Entre
suas obras mais conhecidas estão "Modern Architecture", e
"História da Teoria da Arquitetura". Ele também escreveu
diversos artigos e ensaios sobre arquitetura e urbanismo para
revistas especializadas.
HISTORICISMO
o historicismo é um conceito moderno geralmente associado ao
Zeitgeist, ou espírito da época. Na definição original, o termo
historicismo é o estudo das instituições da sociedade "no contexto de
seu desenvolvimento histórico" com base num modelo orgânico de
crescimento e mudança. Há então um contraste entre a visão clássica
de leis naturais fixas na arquitetura e a crítica empírica de teóricos do
século XVII. O questionamento da epistemologia neoclássica pelo
historicismo, propondo uma nova interpretação do Ideal na arquitetura.
HISTORICISMO NA ARQUITETURA
A arquitetura e outras formas culturais não refletem
diretamente um conjunto absoluto de regras naturais
ou racionais, mas são produtos da evolução histórica e
cultural.
Cada período histórico traz novos conceitos estéticos e
funcionais, e essas mudanças não são erros a serem
corrigidos, mas expressões legítimas de uma época e
lugar específicos.
Assim, não é possível julgar a qualidade de uma obra
arquitetônica com base em critérios fixos e
atemporais. O que é valorizado em uma sociedade
pode ser visto de maneira diferente em outra, pois o
ideal é sempre relativo ao contexto.
A TRADIÇÃO
Colquhoun apresenta sua idéia de que a história não é teleológica,
ou seja não identifica fins predeterminados, e de que aceitar a
tradição é uma condição necessária para a produção de
significado na arquitetura. Portanto, por convicção pessoal do
autor , o conhecimento da história é essencial para a
compreensão do presente.
Isso se assemelha á ideia que Eisenman defende em “O Fim do
Clássico” de que a arquitetura foi influenciada por três principais
pontos: representação, razão e história
Representação: Materializar a ideia de significado;
Razão: Codificar a ideia de verdade;
História: Resgatar a ideia de eternidade a partir da mudança;
OS TRÊS TIPOS DE HISTORICISMO
As definições do dicionário sugerem a existência de três interpretações para a palavra
historicismo: 1° A teoria de que todos os fenômenos socioculturais são
historicamente determinados e todas as verdades relativas; 2° Um interesse pelas
tradições e instituições do passado; 3° A utilização de formas históricas, Portanto, a
palavra historicismo pode ser aplicada a três objetos bem diferentes:
Teoria Histórica Atitude em Relação Prática Artística
ao Passado
LEI NATURAL
A lei natural na arquitetura é uma A ideia de lei natural tem suas
ideia que vem da filosofia clássica raízes na filosofia grega e foi
e afirma que os princípios desenvolvida por pensadores como
fundamentais da natureza (como Aristóteles e Platão. Eles
harmonia, proporção e ordem) acreditavam que a natureza segue
devem orientar a criação uma ordem racional que pode ser
arquitetônica. Segundo essa visão, compreendida e aplicada em várias
a arquitetura não é apenas uma áreas, incluindo a arte e a
atividade técnica ou artística, mas arquitetura. Durante o
uma forma de reproduzir as leis Renascimento e o Neoclassicismo,
universais que regem o mundo essa visão foi recuperada e
natural e a condição humana. adaptada, influenciando a forma
como os arquitetos concebiam seus
projetos.
LEI NATURAL
Segundo o pensamento clássico, David Hume, por exemplo, afirmava que "a natureza humana foi sempre
os valores culturais eram vistos e em toda parte a mesma". Com base nisso, concluía-se que os valores
como derivados de uma lei dos produtos culturais criados pela humanidade — como a arte e a
natural. Para historiadores como arquitetura — também eram imutáveis. Assim, a arquitetura, tal como a
Hume e Montesquieu, a pintura, era entendida como uma imitação da Natureza, baseada na
importância da história estava no intuição das leis naturais que a regiam. A história, ao lidar com eventos
fato de que ela fornecia contingentes e particulares, acabava sendo vista como algo que
evidências dessa lei universal. obscurecia essas leis fundamentais.
No estudo da história, o objetivo
era eliminar os aspectos
acidentais e irrelevantes,
destacando apenas o que era
essencial e universal.
A maioria dos arquitetos e teóricos dos séculos XVII e XVIII ainda
IDEALISMO
acreditava que uma boa arquitetura seguia leis naturais imutáveis.
Mesmo Laugier, que escrevia em um período em que as certezas
clássicas já estavam sendo questionadas pela noção de gosto,
criticava Perrault por adotar uma postura contestadora. Para
Laugier, as regras da arquitetura poderiam ser deduzidas de
alguns poucos axiomas fundamentais, baseados na observação da Segundo essa visão, a melhor arquitetura era
natureza. aquela que mais se aproximava da natureza, e
os exemplos mais próximos desse ideal
estavam nas construções da antiguidade
clássica.
O ideal neoclássico na arquitetura era, assim,
absolutista, combinando autoridade, lei
natural e razão. Embora as doutrinas do
neoclassicismo tivessem diferenças em
relação às do Renascimento, ambas
partilhavam a ideia de que os valores
arquitetônicos eram fundamentados em leis
fixas, exemplificadas pelas obras da
arquitetura greco-romana.
CRÍTICA
Alan Colquhoun critica a ideia de que as ações humanas e suas instituições
possam ser explicadas pelas mesmas leis eternas que governam a
natureza. Ele argumenta que o Homem e suas instituições não seguem
princípios fixos e universais, mas estão ligados ao seu desenvolvimento
histórico. Diferente dos fenômenos naturais, as sociedades e suas estruturas
evoluem ao longo do tempo, e sua lógica é marcada por um princípio vital e
dinâmico, não por leis imutáveis.
razão humana, segundo Colquhoun, não é uma reprodução perfeita de
verdades abstratas, mas uma racionalização dos costumes e instituições
sociais que mudam de acordo com o contexto histórico e cultural. Ou seja, o
que é considerado racional em uma sociedade é fruto de uma evolução lenta
e varia de época para época e de lugar para lugar. O Ideal, nesse sentido,
não é um princípio eterno dado de antemão, mas emerge da experiência
histórica e da contingência. Mesmo que se tente imaginar um ideal universal
válido para todas as culturas, ele só pode ser expresso através dos valores
locais de cada sociedade em um momento específico de seu
desenvolvimento.
HISTORIOGRAFIA
Para von Humboldt, há uma ideia ou
espírito oculto que dá forma e propósito
aos acontecimentos históricos, assim
Na obra de Leopold von Ranke, como uma ideia essencial está por trás
considerado o primeiro grande das variações aparentes do mundo
historiador dessa escola, o estudo da visível. O trabalho do historiador, então,
história se baseia em duas é revelar a ideia subjacente por trás da
abordagens igualmente importantes: superfície dos fatos históricos, assim
uma análise objetiva e detalhada dos como o artista busca expressar o ideal
fatos e a busca por compreender a por meio da aparência dos corpos. No
essência do espírito de um país ou entanto, essa essência só pode ser
período específico. Essa tensão entre identificada a partir de um estudo
duas perspectivas — que podemos minucioso dos eventos. Qualquer
chamar de positivista e idealista — tentativa de impor um propósito pré-
já havia sido discutida por Wilhelm estabelecido à história distorce a
von Humboldt em seu ensaio "Da realidade, e é justamente essa
tarefa do historiador" (1821). realidade empírica que constitui o
verdadeiro objeto do estudo histórico.
ABORDAGENS
01 Historicismo
Acadêmico
Valoriza o retorno aos estilos, como os da Grécia e
Roma, e segue regras rígidas que eram ensinadas em
escolas e academias.
O foco está em copiar estilos históricos porque
eles são vistos como exemplos perfeitos de beleza
e ordem;
A arquitetura neoclássica, que foi muito popular
nos séculos XVIII e XIX, é um exemplo claro dessa
tendência;
Arquitetos desse tipo acreditavam que a história
tinha respostas universais para os problemas
estéticos e formais da arquitetura.
ARQUITETURA
CLASSICA
Casa Branca
O Coliseu
Proporção e simetria
Fachadas monumentais
Uso de materiais nobres
Arcos e abóbadas
Colunas Panteão
ABORDAGENS
02 Historicismo
Crítico
Esse tipo se aproxima mais do pensamento
modernista. Em vez de copiar estilos antigos,
busca entender os princípios por trás deles e
aplicá-los de maneira moderna;
O foco é adaptar as ideias do passado às
necessidades do presente, criando uma
continuidade com a tradição sem perder a
relevância contemporânea;
Um exemplo disso é a arquitetura racionalista, que
busca equilíbrio entre o antigo e o novo.
ARQUITETURA
MODERNA
Palácio do Planalto - Oscar Niemeyer
Linhas retas e formas geométricas
simples
Planta livre
Valorização do espaço interno
Uso de pilotis
Uso de novos materiais e
tecnologias
Integração com o ambiente
Rejeição do ornamento
Capela de Ronchamp - Le Corbusier Casa da Cascata - Frank Lloyd Right
ARQUITETURA
PÓS MODERNA
Villa Savoye - Le Corbusier
Ecletismo e pluralidade de estilos
Ironia e humor
Uso de formas não convencionais
Cores e materiais variados
Revalorização dos ornamentos
Sydney Opera House Dancing House - Frank Ghery
EXEMPLOS
OUTROS
The Team Disney Les Arenes de Picasso
Casa Vanna Venturi - Robert Venturi Les Orgues de Flandre
ABORDAGENS
03 Historicismo
Estilístico
Aqui, os arquitetos misturam livremente vários
estilos do passado sem seguir nenhuma regra
específica;
Essa abordagem aparece no ecletismo, onde
diferentes estilos (como o gótico e o renascentista)
são combinados em um único edifício;
O objetivo não é recriar o passado fielmente, mas
usar elementos históricos de forma criativa.
ARQUITETURA
ECLÉTICA
Teatro Municipal de São Paulo (Ópera de Paris - Neobarroco)
Mistura de estilos
Ornamentação rica e detalhada
Versatilidade de materiais
Fachadas imponentes e simétricas / assimétricas em
alguns casos
Influências históricas
Ópera Palais Garnier - Paris (Neobarroco)
ARQUITETURA
ECLÉTICA
Estação da Luz - São Paulo (Inspirada no Big Bang)
Maria Laach Abbey - Austria
Big Bang - Reino Unido (Neogótico)
Igreja de Santa Clara - Ucrânia (Estilo Medieval)
COMO A ARQUITETURA ATUAL PODE
EXPRESSAR A MEMÓRIA CULTURAL SEM
DEPENDER DE UM ECLETISMO SUPERFICIAL ?
BIBLIOGRAFIA
https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/05.017/3332
https://pankeka.com.br/autores/alan-colquhoun
Livro O Fim Do Clássico - Peter Eisenman
Livro Modernidade e Tradição Clássica de Alan Colquhoun,
Capitulo “Três tipos de Historicismo”