Desenho
Arquitetônico
Thiago Gabriel Weirich Cosenza
Rafaela Rodrigues Oliveira Amaro
Desenho Arquitetônico
Introdução
Nos conteúdos anteriores, foram apresentados os conceitos gerais de desenho
técnico, e, nesta, será apresentada a sua aplicação, especificamente em projetos
arquitetônicos. Tecnicamente, um desenho de construção é chamado de representação
gráfica e trata-se de uma linguagem padronizada, que tem a finalidade de facilitar a
relação entre os consumidores, produtores, engenheiros, arquitetos, empreiteiros e
clientes (SARAPKA et al., 2010).
No Brasil, as normas de desenhos são aprovadas e editadas pela Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT), porém cada país possui um órgão que faz essa regulação.
A ISO (International Organization for Standardization) é um organismo criado para
facilitar o intercâmbio de informações entre diferentes nações.
Segundo Kowaltowski et al. (2006), o uso de desenhos em um processo de criação
é um dos principais fatores que distingue um projeto arquitetônico de uma criação
artesanal. O ato de colocar um projeto no papel cria uma situação onde o olho
interpreta e reinterpreta as formas e linhas, e isso permite que surjam novas ideias.
Em outras palavras, os desenhos de projeto são uma visão parcial de várias soluções
encontradas.
A qualidade de um projeto arquitetônico tem grande contribuição para o resultado de
uma construção, pois, se bem executado, facilitará o entendimento dos profissionais
envolvidos no projeto e terá maiores probabilidades de atenderem os resultados
esperados (SARAPKA et al., 2010).
Objetivos da Aprendizagem
Ao final do conteúdo, esperamos que você seja capaz de:
• Conhecer os tipos de plantas usadas no desenho de arquitetura e engenharia.
• Identificar a simbologia do desenho de arquitetura.
• Verificar quais os desenhos necessários em cada fase de projeto.
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Fases de um projeto
Um projeto de arquitetura é constituído de etapas, em que cada uma delas é composta
por uma quantidade de representações gráficas, e estas devem estar em conformidade
com as normas estabelecidas. De acordo com Sarapka et al. (2010), um projeto de
arquitetura completo é produto da soma de vários outros projetos de diversas áreas
técnicas, ou seja, a linguagem padronizada para representações gráficas utilizada
dentro de um mesmo projeto é essencial para que haja uma correta comunicação entre
estas áreas. Dentro de um projeto arquitetônico, podemos identificar as seguintes
áreas técnicas e suas respectivas iniciais:
• Arquitetura (ARQ);
• Estrutura (EST);
• Hidráulica (HID);
• Elétrica (ELE);
• Paisagismo (PAI);
• Incêndio (INC).
As etapas de um projeto são apresentadas na Figura 1:
FASES DE UM
PROJETO
Estudo preliminar Anteprojeto Projeto executivo
Figura 1 - Fases de um projeto arquitetônico
Fonte: Adaptada de Sarapka et al. (2010).
Conforme já mencionado anteriormente, a execução de desenhos técnicos é
inteiramente normalizada pela ABNT. Sarapka et al. (2010) apresentam as principais
normas da ABNT relacionadas à representação gráfica em sua forma geral:
NBR 10647
Desenho técnico – define os termos empregados em desenho técnico.
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NBR 10068
Folha de desenho – Leiaute e dimensões – padroniza as dimensões das folhas
utilizadas.
NBR 10582
Apresentação da folha para desenho técnico – fixa as condições para a
distribuição do espaço da folha no desenho, espaços para texto, para legenda
e demais conteúdos;
NBR 13142
Desenho técnico – Dobramento de cópia – fixa as condições exigíveis para o
dobramento de cópias de desenhos.
NBR 8403
Aplicação de linhas em desenhos – Tipos de Linhas - Larguras de linhas.
NBR 10067
Princípios gerais de representação em desenho técnico – fixa a forma de
representação aplicada em desenho como os tipos de vistas.
NBR 8196
Desenho técnico – Emprego de escalas.
NBR 12298
Representação de área de corte pode meio de hachuras em desenho técnico.
NBR 10126
Cotagem em desenho técnico.
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Já as normas ABNT mais relacionadas à projetos arquitetônicos são:
NBR 5671
Participação profissional nos serviços e obras de engenharia e arquitetura.
NBR 5679
Elaboração de projeto de obras de engenharia e arquitetura.
NBR 6492
Representação de projetos de arquitetura.
NBR 9077
Saídas de emergência em edifícios.
NBR 9050
Acessibilidade para portadores de deficiência.
Saiba mais
Segundo Sarapka et al. (2010), a correta aplicação das normas
ABNT pelos profissionais de arquitetura e urbanismo faz parte
dos requisitos mínimos esperados pelo mercado, dessa forma,
é altamente recomendável que o profissional aprofunde seus
conhecimentos neste assunto.
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Estudos preliminares e anteprojeto
A fase do Estudo Preliminar (EP) tem como principal função apresentar o partido
adotado, ou seja, ao iniciar essa fase, a ideia principal do que será o projeto já foi
definida e agora será necessário transformá-la em uma proposta que permitirá que o
cliente avalie e aprove o projeto (SARAPKA et al., 2010).
Figura 2 – Estudo preliminar
Fonte: Plataforma Deduca (2019).
O EP também terá um papel importante para verificar se a proposta apresentada está
de acordo com os requisitos estabelecidos por órgãos governamentais.
Nessa fase, os produtos gráficos esperados, ainda que de forma esquemática, são
apresentados na Tabela 1.
Produto gráfico Escala recomendada
Implantação 1:100 ou 1:200
Planta dos pavimentos e da cobertura 1:50 ou 1:100
Cortes transversais e longitudinais 1:50 ou 1:100
Elevações 1:50 ou 1:100
Estudos de movimentação de terra 1:100 ou 1:200
Tabela 1 – Produtos gráficos mínimos esperados no EP
Fonte: Adaptada de Sarapka et al. (2010).
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Atenção
Em algumas situações, quando aplicável, o uso de maquetes é
recomendável, pois o cliente não possui os conhecimentos técnicos
para intepretação de um desenho. Para Kowaltowski et al. (2006),
seu uso, somado a técnicas de prototipagem rápida, também cria
novas possibilidades de projeto em arquitetura, o que tem auxiliado
processos criativos e a própria atividade profissional.
O Anteprojeto (AP) é a evolução da EP, e, nele, será obtida a aprovação final do cliente,
assim como as aprovações dos órgãos oficiais, que possibilitarão a contratação da
obra. Nessa fase, alguns produtos gráficos são requisitos mínimos (SARAPKA et al.,
2010).
Figura 3 – Anteprojeto
Fonte: Plataforma Deduca (2019).
A Tabela 2 apresenta os produtos gráficos identificados como mínimo na fase AP.
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Produto gráfico Escala recomendada
Implantação 1:100 ou 1:200
Planta e cortes de terraplanagem 1:100 ou 1:200
Planta dos pavimentos 1:50
Planta de cobertura 1:50
Cortes transversais e longitudinais 1:50
Elevações 1:50 ou 1:100
Tabela 2 - Produtos gráficos mínimos fase AP
Fonte: Adaptada de Sarapka et al. (2010).
Projeto básico
Segundo a Controladoria Geral do Acre (2014), existem diversas definições para
Projeto Básico (PB) que são dadas por diferentes órgãos, sendo a mais comumente
aceita a definida em acordo com a Lei n. 8.666/1993, inciso IX. Em resumo, entende-
se que um PB é aquele que possui informações precisas para definir as características
básicas do empreendimento, juntamente com o desempenho esperado na obra, e que
isso permita estimar os custos e prazos da execução do projeto.
O PB é classificado como sendo mais preciso em relação ao AP, e menos preciso
quando comparado ao Projeto Executivo (PE). Essas classificações podem ser melhor
visualizadas na Tabela 3, em que são apresentados os níveis de precisão esperados,
de acordo com o tipo de projeto destinado a obras públicas.
Precisão Margem de Erro Projeto Elementos necessários
• Área a ser contraída.
Baixa 30% Anteprojeto • Padrão de acabamento.
• Custo unitário básico.
• Plantas principais.
Média 10 a 15% Projeto Básico • Especificações básicas.
• Preço de referência.
• Plantas detalhadas.
Alta 5% Projeto Executivo • Especificações completas.
• Preços negociados.
Tabela 3 - Nível de precisão de projetos
Fonte: Adaptada de Controladoria Geral do Estado do Acre (2014).
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Projeto executivo e detalhamento
O PE é o mais completo em termos de informações, quando comparado ao AP e o PB.
É a última etapa de elaboração do projeto e, nela, as informações necessárias para
obra e todos os serviços inerentes são apresentados de forma clara e organizada
(SARAPKA et al., 2010).
A Tabela 4 apresenta os produtos gráficos mínimos que devem ser apresentados
nesta fase.
Produto gráfico Escala recomendada
Implantação 1:100 ou 1:200
Planta e cortes de terraplanagem 1:100 ou 1:200
Planta dos pavimentos 1:50
Planta de cobertura 1:50
Cortes transversais e longitudinais 1:50
Elevações 1:50 ou 1:100
Pormenores (Detalhes construtivos) Escala 1:10 ou outras adequadas
Tabela 4 - Produtos gráficos mínimos PE
Fonte: Adaptada de Sarapka et al. (2010).
Nessa fase do projeto, é necessário incluir as informações complementares que, às
vezes, não são tão visíveis somente aplicando corte horizontal (SARAPKA et al., 2010).
A Figura 4 ilustra um projeto arquitetônico com detalhamentos, aplicando elevações,
seções, perspectivas e ampliações.
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PROJETO ARQUITETÔNICO RESIDENCIAL
PLANTA TÉRREA PLANTA DO MEZANINO PERSPECTIVA
ELEVAÇÃO SUL ELEVAÇÃO NORTE CORTE A CORTE B
ELEVAÇÃO OESTE ELEVAÇÃO LESTE
CORTE C CORTE D
Figura 4 - Exemplo de vistas em um projeto arquitetônico
Fonte: Arquidicas (2015).
Representaçâo de planta baixa
Segundo Sarapka et al. (2010), o termo ‘planta baixa’ é utilizado erroneamente, sendo
o nome correto ‘planta de edificação’. De acordo com a NBR6492:1994, define-se uma
planta de edificação como
vista superior do plano secante horizontal, localizado a, aproximadamente,
1,50 m do piso em referência. A altura desse plano pode ser variável para
cada projeto de maneira a representar todos os elementos considerados
necessários. (ABNT, 1994)
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Uma planta de edificação ainda pode ser classificada como térreo, subsolo, jirau,
andar-tipo, sótão, cobertura, entre outros.
Em geral, uma planta de edificação deve conter paredes, aberturas de portas,
acabamentos dos pisos frios, desníveis, cotas de comprimento e largura dos ambientes
e paredes, cotas totais de construção, indicação do norte verdadeiro e magnético etc.
Além disso, ela será base para os projetos complementares, como projeto elétrico,
hidráulico, estrutural, gesso, interiores, paisagístico (SARAPKA et al., 2010).
PLANTA BAIXA
Figura 5 - Planta simplificada e Vista da parte inferior após o corte horizontal
Fonte: Latorre (2016).
Representação de outros tipos de plantas e
detalhes construtivos
Além da planta de edificações, existem outras representações planas que auxiliam a
representação gráfica de um projeto de arquitetura:
• Planta de cobertura: vista superior do telhado e o tipo de fechamento que será
aplicado. NesSe modelo, apresentam-se os elementos do telhado, que são
beiral, águas, cumeeira, espigões, rincões.
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Deck Piso
Madeira
Grama Grama
Laje
Piscina Impermeabilizada
Grama
Telha Metálica
Calçada
Calha
Telha Metálica
Telha Metálica Laje
Impermeabilizada
Calha
Grama
Telha Metálica
Rampa Acesso
Estacionamentos e Pedrisco
Garagem
Grama
Figura 6 - Exemplo de planta de cobertura
Fonte: Dcore Você (2018).
• Cortes: são resultantes de um plano secante vertical e que divide a edificação
em duas partes. O plano pode ser longitudinal ou transversal. Sua principal
função é apresentar o maior nível de detalhes construtivos possíveis, e devem
estar indicados na planta para determinar o seu início e final (SARAPKA et al.,
2010). Um cuidado adicional se refere às espessuras dos traços aplicados,
pois são estas espessuras apresentarão os elementos que estão em corte e
os elementos que estão em vista.
CORTE
Figura 7 - Exemplo de corte transversal
Fonte: Latorre (2016).
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• Planta de situação: mostra a localização do lote, isto é, onde o projeto está
situado em relação ao seu entorno. Traz informações, como o nome das ruas,
volumetria dos lotes vizinhos.
N
QUADRA A QUADRA F
RUA NATAL
01 QUADRA E 04
AVENIDA ALAGOAS
02 03
AVENIDA CEARÁ
10 05
20,00
QUADRA B
A = 700,00m
3,00 8,00 3,00 35,00
09 08 07 06
RUA RECIFE
QUADRA C QUADRA D
PLANTA DE SITUAÇÃO
ESCALA 1/1000
Figura 8 - Exemplo de planta de situação
Fonte: Lobo (2019).
• Implantação: é um desenho mais completo em relação à planta de situação,
e tem a função de demarcar a localização exata de cada parte da construção.
Seu detalhamento é melhorado de acordo com a fase do projeto em que se
encontra (estudo preliminar, anteprojeto ou projeto executivo).
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N
A C D
1 - Acesso Garagem
2 - Acesso Pedestres
3 - Patio de Serviço
4 - Terraço
5 Laje Impermeabilizada
6 - Deck
3 7 - Piscina
1
G G
2 5
B B
F 4
F
6
7
IMPLANTAÇÃO A C D
0 1 5
Figura 9 - Exemplo de implantação
Fonte: Lobo (2019).
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Conclusão
Neste conteúdo, foram apresentados os conhecimentos necessários para
compreendermos as diferentes fases de um projeto e as representações gráficas
mínimas esperadas em cada uma delas.
A aplicação correta das normas que regem as regras do desenho técnico, inclusive em
plantas, é um fator de extrema importância para o profissional de arquitetura, dessa
forma, é esperado que estas sejam consultadas, tanto na execução do projeto quanto
para sua aprovação mediante órgãos governamentais.
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Referências
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arquidicas.com.br/wp-content/uploads/2015/10/08220840/projetos-de-casa-
1024x1005.jpg. Acesso em: 11 nov. 2019.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR6492: Representação de
projetos de arquitetura. Rio de Janeiro: ABNT, 1994.
CONTROLADORIA GERAL DO ESTADO DO ACRE. Cartilha Formação de Projeto
Básico/Executivo. 1. ed. Rio Branco, 2014. Disponível em: http://cge.ac.gov.br/cont/
index.php/cartilhas?download=61:cartilha-projeto-basico-e-executivo. Acesso em:
11 nov. 2019.
DCORE VOCÊ. Dcore você. 2018. Disponível em: https://www.dcorevoce.com.br/
planta-de-cobertura-platibanda/. Acesso em: 11 nov. 2019.
KOWALTOWSKI, D. C. C. K. et al. Reflexão sobre metodologias de projeto arquitetônico.
Ambiente construído, Porto Alegre, v. 6, n. 2, p. 7-19, abr./ jun. 2006. Disponível em:
http://seer.ufrgs.br/index.php/ambienteconstruido/article/view/3683/2049. Acesso
em: 11 nov. 2019.
LATORRE, I. T. O que é um Projeto Arquitetônico? 2016. Disponível em: https://
www.isistlarquitetura.com.br/single-post/2016/03/22/O-que-C3A9-um-Projeto-
ArquitetC3B4nico. Acesso em: 11 nov. 2019.
LOBO, D. Você sabe a diferença entre planta de situação e planta de localização?
Habitamos, 14 mar. 2019. Disponível em: http://www.habitamos.com.br/voce-sabe-
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SARAPKA, E. M. et al. Desenho Arquitetônico Básico. São Paulo: Pini, 2010.
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