Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
Departamento de História
Prof. Dr. Pedro Telles da Silveira
[email protected]———————————————————————————————————————————
FLH0111 — METODOLOGIA DA HISTÓRIA
Programa da disciplina
Horário:
Noturno — Quartas-feiras, 19h-23h
Vespertino — Quintas-feiras, 14h-18h
Local: A definir
Ementa: A disciplina tem como objetivo apresentar a todas as pessoas alunas do curso de
História as principais temáticas e questões relativas à construção do conhecimento histórico; à
história da historiografia, sua constituição disciplinar e os critérios que estabelecem sua
cientificidade; e aos lugares e características da atuação profissional de pessoas historiadoras. As
quatro unidades do curso, expostas abaixo, buscam orientar os discentes para a aquisição
gradual de maior familiaridade com os debates do passado, do presente e do futuro da disciplina
histórica, ao mesmo tempo que buscam valorizar experiências e concepções alternativas àquelas
que constituem a historiografia acadêmica estabelecida. Junto disso, o percurso formativo das
pessoas alunas ao longo do curso prevê a realização de diferentes atividades avaliativas que
buscam introduzi-las às ferramentas que constituem o trabalho acadêmico, sobretudo àquelas
que dizem respeito à leitura crítica de textos acadêmicos, à análise documental, à elaboração de
projetos de pesquisa e à exposição das ideias que serão fundamentais ao longo da graduação. O
objetivo da disciplina, portanto, é oferecer um panorama o mais completo e atualizado possível
do que significa tornar-se uma pessoa historiadora.
Metodologia: A disciplina será realizado por meio de aulas expositivo-dialogadas, debates em
sala de aula e discussões de exercício de leitura, escrita e pesquisa realizados pelas pessoas
alunas. A disciplina também envolverá saídas de campo, planejadas de acordo com as unidades
do cronograma previsto.
Atividades discentes: Leituras semanais de artigos acadêmicos e capítulos de livro;
questionários de leitura, fichamentos e outros exercícios didáticos tanto individuais quanto em
grupo; escrita em grupo de projeto de pesquisa e de um plano de aula, que serão os trabalhos
finais da disciplina.
Critérios de avaliação: A avaliação considerará, primeiro, a realização dos exercícios de leitura e
interpretação de textos da bibliografia das duas primeiras unidades do curso; segundo, a
elaboração — em grupo — do projeto de pesquisa, o qual comporá a principal atividade
avaliativa do curso; e, terceiro, a entrega de um plano de aula, também elaborado em grupo, a
partir do projeto de pesquisa mencionado acima.
O trabalho final da disciplina consistirá na elaboração de um projeto de pesquisa, a ser realizado
em grupo, que será elaborado a partir do início da terceira unidade do curso. O projeto terá
como base a visita ao Arquivo Público do Estado de São Paulo (APESP) e deverá conter capa,
resumo, apresentação do problema de pesquisa, objetivos, justificativa, revisão
bibliográfica, referenciais teórico-metodológicos, descrição das fontes e referências
bibliográficas. O projeto deverá ser entregue em formato .pdf e será escrito em fonte Times New
Roman, 12, espaçamento 1,5 e extensão máxima de 15 páginas, descontadas a capa, o resumo
e as referências bibliográficas. O projeto será desenvolvido de maneira autônoma pelas
pessoas alunas a partir da experiência de visita ao APESP e das aulas da terceira unidade
do curso, contando com a orientação do professor e dos tutores da disciplina.
Junto disso, será entregue, junto do projeto de pesquisa, um plano de aula que apresente a
proposta de uma atividade didática a ser desenvolvida com pessoas alunas da educação básica
e/ou tenha caráter extensionista. O plano de aula deverá conter público-alvo e/ou ano ao qual
se destina, duração prevista, objetivos, conceitos, bibliografia de referência para o
planejamento da aula e conteúdo previsto.
Estrutura das notas:
Questionários, fichamentos e exercícios ao longo do semestre — 2,00
Projeto de pesquisa — 5,00
Plano de aula — 3,00
Recuperação: A combinar com o professor.
Conteúdos previstos
• Unidade I — O que é a história na universidade?
1. A história da universidade no Brasil e dos cursos universitários de
história; 2. A consolidação da história enquanto disciplina científica;
3. O lugar social de produção do conhecimento histórico.
• Unidade II — Uma arqueologia da historicidade
4. A criação da história e do historiador;
5. A sincronização moderna do tempo histórico;
6. Trauma, memória e reparação;
7. Tempo, história e ancestralidade.
• Unidade III — A operação historiográfica
8. O gesto historiográfico: fontes e problemas da história;
9. A leitura e a revisão bibliográfica;
10. A escrita da história e a representação historiadora.
• Unidade IV — Lugares da história
11. O ensino da história enquanto profissão;
12. Dilemas da profissionalização e a atuação de pessoas privadas em instituições
privadas; 13. Formas de atuação profissional em acervos e iniciativas patrimoniais.
Bibliografia inicial de referência
ALVES, Clarissa de Lourdes Sommer. “Historiadoras no ‘lado de dentro do balcão’ dos Arquivos:
entre mobilizar a história e operar historiograficamente”, in Operação historiográfica em
Arquivos? Uma análise sobre o ofício de historiadoras e historiadores em arquivos públicos
estaduais brasileiros na atualidade. Porto Alegre: Programa de Pós-Graduação em História/
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2019, pp. 237-284, dissertação de mestrado.
AZOULAY, Ariella. História potencial: desaprender o imperialismo. São Paulo: Ubu Editora, 2024,
a definir.
BLOCH, Marc. “A observação histórica”, in Apologia da história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2006, pp. 69-88.
CERTEAU, Michel de. “A operação historiográfica”, in A escrita da história. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2006, pp. 65-119.
COSTA, Aryana Lima. “Há ainda algo de novo a dizer sobre o curso de História da USP?”, in
FERREIRA, Marieta de Moraes (org.). Universidade e ensino de história. Rio de Janeiro: FGV
Editora, 2021, edição Kindle.
DASTON, Lorraine. “Objetividade e imparcialidade: virtudes epistêmicas nas humanidades”, in
Historicidade e objetividade. São Paulo: LiberArs, 2017, pp. 127-143.
ECO, Umberto. “O plano de trabalho e o fichamento”, in Como se faz uma tese. São Paulo:
Perspectiva, 1996, pp. 81-111.
FARGE, Arlette. O saber do arquivo. São Paulo: EdUSP, 2009; trechos selecionados.
GIL, Carmen Zeli de Vargas; MEINERZ, Carla Beatriz. “Educação, patrimônio cultural e relações
étnico-raciais: possibilidades para a descolonização dos saberes”, in Horizontes, vol. 35, nº 1,
jan.-abril de 2017, pp. 19-34.
HARTMAN, Saidiya. “O tempo da escravidão”, in Revista Periódicus, 1(14), 2021, pp. 242-261.
KOSELLECK, Reinhart. “A configuração do moderno conceito de História”, in KOSELLECK,
Reinhart et al. O conceito de história. Belo Horizonte: Autêntica, 2013, pp. 119-184.
KOSELLECK, Reinhart. “Historia Magistra Vitae – Sobre a dissolução do topos na história
moderna em movimento”, in Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos históricos.
Rio de Janeiro: Contraponto, 2006, pp. 41-60.
MACEDO, André Luan Nunes. “A História do Brasil entre ‘mundos’ e a excepcionalidade da Base
Nacional Curricular Comum (2014-2018)”, in Revista História Hoje, vol. 11, nº 22, 2022, pp.
151-170.
MARTINS, Leda Maria. Performances do tempo espiralar: poéticas do corpo-tela. Rio de
Janeiro: Cobogó, 2021.
MONTEIRO, Ana Maria; PENNA, Fernando. “Ensino de história: saberes em lugares de fronteira”,
in Educação & Realidade, Porto Alegre, vol. 36, nº 1, jan./abr. 2011, pp. 191-211.
NICOLAZZI, Fernando. “Como se deve ler a história? Leitura e legitimação na historiografia
moderna”, in Varia Historia, Belo Horizonte, vol. 26, n– 44, jul./dez. 2010 pp. 523-545.
PAUL, Herman. “Performing History: How Storical Scholarship Is Shaped By Epistemic Virtues”, in
History & Theory, 50, February 2011b, pp. 1-19.
_____. “What is a scholarly persona? Ten theses on virtues, skills, and desires”, in History &
Theory, 53, October 2014, pp. 348-371.
PROST, Antoine. “Os fatos e a crítica histórica”; “As questões do historiador”, in Doze lições
sobre a história. Belo Horizonte: Autêntica, 2008, pp. 53-94.
SANTHIAGO, Ricardo. “Duas palavras, muitos significados: alguns comentários sobre a história
pública no Brasil”, in MAUAD, Ana Maria; ALMEIDA, Juniele Rabêlo de. História pública no
Brasil: sentidos e itinerários. São Paulo: Letra e Voz, 2016, pp. 23-35.
SANTOS, Wagner Geminiano dos. “Regime de espacialização na educação pública: projetos de
universidade, políticas de educação e saber histórico no Brasil (1964-2020)”, in Revista
Maracanan, Rio de Janeiro, nº 32, jan./abr. 2023, pp. 103-127.
SETH, Sanjay. “Razão ou raciocínio? Clio ou Shiva?”, in História da Historiografia, Ouro Preto, vol.
6, nº 11, abril de 2013, pp. 173-189.
SODRÉ, Muniz. Pensar nagô. Petrópolis: Vozes, 2017.
SMITH, Bonnie G. “As práticas da história científica”, in Gênero e história: homens, mulheres e a
prática histórica. Bauru: EDUSC, 2003, pp. 217-276.
SMITH, Linda. “Imperialismo, história, escrita e teoria”. In: SMITH, Linda. Descolonizando
metodologias: pesquisa e povos indígenas; tradução Roberto G. Barbosa. Curitiba: Ed. UFPR,
2018. p. 31-55.
STENGERS, Isabelle. “Por uma inteligência pública das ciências”, in Uma outra ciência é
possível: manifesto por uma desaceleração das ciências. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2023.
TOLENTINO, Átila. “Educação patrimonial e construção de identidades: diálogos, dilemas e
interfaces”, in Revista CPC, 14, edição especial, 2019, pp. 133-148.