SOARES, Magda. Alfabetização e letramento. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
Magda Soares, graduada em Letras e doutora e livre-docente em Educação pela
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é professora titular emérita da
Faculdade de Educação dessa Universidade, pesquisadora do Centro de Alfabetização,
Leitura e Escrita – CEALE – dessa Faculdade, autora de diversos livros e artigos sobre
ensino de Português (alfabetização, letramento, leitura e produção textual), e de
coleções didáticas para o ensino Português no nível fundamental.
Este livro reuniu nove artigos escritos ao longo de 13 anos – de 1985 a 1998, que trata
sobre os problemas, dificuldades e paradigmas que a sociedade brasileira tem
enfrentado no processo de alfabetização e letramento, sem, contudo, ter se chegado a
soluções satisfatórias o que se evidencia a pertinências das análises fomentadas por esta
coletânea; cujo tema central, alfabetização e letramento, são abordados sob vários
aspectos no decorrer dos artigos de acordo com o contexto na época de sua produção.
O livro é dividido em três subtemas, a saber: concepções de alfabetização e letramento;
práticas escolares de alfabetização e letramento; e a terceira parte articula e integra as
duas anteriores levando em consideração a pedagogia de Paulo Freire que integra
e comprova a indissociabilidade entre as concepções e práticas escolares da
alfabetização e letramento.
A primeira parte discute as dificuldades que as crianças brasileiras têm de romper a
primeira série, não conseguem ultrapassar a alfabetização. Segundo os textos, em
relação à leitura e à escrita, e com as pesquisas divulgadas, tentam descobrir as causas
desse fracasso em várias áreas do conhecimento. Pois as pesquisas indicam dados que
buscam explicações com perspectivas de desvendar os problemas em torno da
alfabetização. Também atribuem dois conceitos no processo de alfabetização, pois, se
por um lado alfabetização é levar aquisição do alfabeto, o outro tem um significado de
sentido mais ordinário, que é de levar ao conhecimento.
Este último explicaria na total compreensão no que se referem à língua oral e escrita,
ambas as partes estariam interligadas para melhor compreensão. Mas, não é só isso,
existe um outro fator importantíssimo que é o social do aluno, que é fundamental no
processo ensino aprendizagem.
Segundo Vygotski na ausência do outro, o homem não se constrói homem. Então, qual
o tipo de alfabetização que se pretende com cada grupo social, isto diz respeito a vários
tipos de educação e que cada uma exige um método a ser aplicado devido à
complexidade que é o processo de alfabetização.
O conceito de alfabetização transcende o fato de ler e escrever sobre um curto texto
cotidiano, e devemos relacioná-lo com o conceito de letramento e com aspectos político
e social; esses processos se completam, pois a alfabetização desenvolve-se por meio de
práticas sociais de leitura e de escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este
por sua vez, só se pode desenvolver por meio da aprendizagem da alfabetização. A
alfabetização possui aspectos de natureza ideológica, emancipatórias, civis, política e
também considerada como instrumento na luta da conquista da cidadania.
Para o educador Paulo Freire, ser alfabetizado deveria significar ser capaz de usar a
leitura e escrita como um meio de tornar-se consciente da realidade e transformá-la.
Na segunda parte desta coletânea, os autores fazem uma reflexão sobre práticas
escolares de alfabetização e letramento, analisam os vários problemas e suas causas
prováveis do fracasso escolar; dentro os quais, citam: fracasso dos programas de acesso
à leitura e à escrita como uma função política distorcida, o processo de alfabetização e
letramento escolar têm falhado em tornar os indivíduos das classes populares
emancipados politicamente e a conquistarem a cidadania, e evidencia o abismo entre o
discurso oficial da escola e o das crianças pertencentes às camadas populares.
O fracasso escolar consiste na falha da inclusão das crianças das camadas populares ao
mundo letrado, ou seja, na inclusão dos processos de aquisição da língua escrita como
meio de emancipação política na luta da conquista da cidadania. Apesar dos programas
do governo como citamos a pouco, as crianças das camadas populares, fora do
ambiente escolar, vivem uma realidade oposta, ou mesmo contraditória não oferecendo
nenhum
estímulo de leitura ou de escrita, naturalmente entram em conflito ao se defrontarem
com o padrão lingüístico da escola, que assume a função representativa da linguagem.
A linguagem da escola é a linguagem das classes favorecidas, onde predomina a função
representativa; em contra partida, o uso e o contexto da linguagem das camadas
populares são diferentes na forma e também na função, predominando a função
reguladora, portanto classes sociais diferentes atribuem funções diferentes ao uso da
língua.
A nosso ver, a função social da escrita nas diferentes classes sociais tem interferido no
processo da alfabetização, é necessário considerar o valor e a função que a língua escrita
representa para as camadas menos favorecida, para que se possa entender o significado
que tem, para as crianças pertencentes a essas camadas; certamente esse significado
interfere em sua alfabetização; desta forma os problemas sociolingüísticos são evidente
o que justifica a contribuição significativa deste ramo do conhecimento no processo da
aquisição da língua escrita. Os estudos mostram que a escola dificulta por razões
descritas a cima, a aquisição da língua escrita pela criança pertencente às camadas
populares, evidencia que a escola impõe processo de desaprendizagem das verdadeiras
funções da língua escrita.
Continuando nossa discursão, vamos discorrer sobre o método adotado pela escola,
considerando método como a soma de ações baseadas em um conjunto coerente de
princípios ou hipóteses psicológicas, lingüísticas, pedagógicas que respondem a
objetivos determinados, portanto não estamos nos referindo aos manuais ou técnicas de
alfabetização, mas em uma proposta que abrange as áreas de conhecimentos citadas a
cima, que conceba a complexidade do processo da alfabetização e letramento.
O fracasso escolar tem mostrado que a escola não possui um método que atenda os
novos desafios e há uma necessidade urgente de um método que seja o resultado claro
de objetivos definidores dos conceitos, habilidades, atitudes que qualificam a
pessoa alfabetizada, numa perspectiva psicológica, lingüística, pedagógica e também
social e política em uma nova concepção dos processos de aquisição da língua escrita
em que à criança seja o sujeito que constrói o conhecimento e emancipado e não um ser
passivo que responde a estímulos externa sendo facilmente manipulado. O método
adotado pela escola evidencia-se que se alfabetiza para que as pessoas sejam mais
produtivas ao sistema e isto tem desvelado a função politicamente distorcida que os
programas de acesso à leitura e à escrita quase sempre vêm exercendo no ceio da
sociedade.
Ressaltar a importância da concepção de Paulo Freire é perceber que a sua obra tem
contribuído significativamente para a formação de educadores e desenvolvimento de
teorias sobre alfabetização e letramento e dos diferentes modo de educar.
Como Paulo Freire contribuiu com seus métodos, foram de suma importância, não só
para os educadores, mais também para quem está sendo alfabetizado. Sendo um dos
maiores, especificamente com seus métodos e meios de orientação na aprendizagem,
com suas idéias, da um novo sentido para a alfabetização, e também para a sociedade.
Sua concepção transformadora criou novos rumos para a educação, na cultura, política,
etc., Seus objetivos como educador tem direcionado muitos professores e alunos em
relação à educação ou alfabetização, tem formado na realidade uma conscientização na
sociedade, permitindo assim novas esperanças de tornar a educação uma prática,
realização, ou liberdade, e muito além de um método, uma concepção e novas práticas
pedagógicas.
Paulo Freire contribuiu para a alfabetização com uma nova concepção pedagógica,
novos conceitos e também a esperança na educação de professores como profissionais
conscientes do seu verdadeiro papel na sociedade que é de mediador do processo ensino
aprendizagem.
Esta obra é indicada para as pessoas que estão envolvidas e as que desejam se envolver
com a área de educação, pois é uma obra que esclarece sobre a alfabetização e
letramento.