O bandolim da desgraça Quando de amor a Americana douda A
moda tange na febril viola, E a mão febrenta sobre a corda fina
Nervosa, ardente, sacudida rola. A gusla geme, s'estorcendo em
ânsias, Rompem gemidos do instrumento em pranto... Choro
indizível... comprimir de peitos... Queixas, soluços... desvairado
canto! E mais dorida a melodia arqueja! E mais nervosa corre a mão
nas cordas!... Ai! tem piedade das crianças louras Que soluçando no
instrumento acordas!... "Ai! tem piedade dos meus seios trêmulos..."
Diz estalando o bandolim queixoso. ... E a mão palpita-lhe apertando
as fibras... E fere, e fere em dedilhar nervoso!... Sobre o regaço da
mulher trigueira, Doida, cruel, a execução delira!... Então — co'as
unhas cor-de-rosa, a moça, Quebrando as cordas, o instrumento
atira!... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Assim,
Desgraça, quando tu, maldita! As cordas d'alma delirante vibras...
Como os teus dedos espedaçam rijos Uma por uma do infeliz as
fibras! — Basta —, murmura esse instrumento vivo. — Basta —,
murmura o coração rangendo, E tu, no entanto, num rasgar de
artérias, Feres lasciva em dedilhar tremendo. Crença, esperança,
mocidade e glória, Aos teus arpejos, — gemebundas morrem!...
Resta uma corda... — a dos amores puros — ... E mais ardentes os
teus dedos correm!... E quando farta a cortesã cansada A pobre
gusla no tapete atira, Que resta?... — Uma alma — que não tem mais
vida! Olhos — sem pranto! Desmontada — lira!!!