Filosofia Todos Os Modulos-1
Filosofia Todos Os Modulos-1
Material Teórico
Introdução à Reflexão Filosófica
Revisão Técnica:
Prof. Ms. Edson Alencar Silva
Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Introdução à Reflexão Filosófica
• O que é Filosofia?
• Para que Filosofia?
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Discutir a definição de Filosofia, de conhecimento, Ciência e senso
comum. Além disso, discutiremos também os principais períodos
da Filosofia.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica
Contextualização
Vamos iniciar nosso trabalho contextualizando a importância da Filosofia por
meio de um texto de Karl Jaspers.
Karl Jasper
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O que é Filosofia?
Essa pergunta permite muitas respostas...
Trata-se da junção de dois termos: philos que significa amizade, e sophia que
significa sabedoria; portanto, Filosofia é o amor pela sabedoria.
Philo = Sophia =
filosofia sabedoria
amizade
Figura 1
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9
UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica
• Atitude Filosófica
• Atitude crítica e pensamento crítico.
O filósofo grego Sócrates dizia que a atitude filosófica fundamental era aceitar
que: “Sei que nada sei”.
O quê?
Siginificação de algo.
Como?
Atitude Filosófica Estruturas e Relações que
Por quê?
Origem ou Causa das coisas
Figura 3
Como?
Atitude
A reflexão Filosófica
filosófica é considerada radical, pois coloca
Estruturas em
e Relações quediscussão como é
possível a existência do próprio pensar e como isso realmente acontece.
Observe a imagem:
O que pensamos?
Reflexão Filosófica Conteúdo
Figura 4
Essas questões, contudo, não podem ser respondidas ao acaso ou com base em
opiniões pessoais. A Filosofia é uma Ciência que trabalha com raciocínios lógicos
e enunciados precisos.
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UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica
São eles:
Filosofia Antiga
Nome Período Característica
Séc. VI a.C. - • Mapear a origem do mundo.
Pré-Socrático ou Cosmológico
Séc. V a.C. • Mapear as causas das transformações da natureza.
Séc. V a.C. -
Período Socrático ou Antropológico • Mapear questões voltadas à questão humana como: ética, política.
Séc. IV a.C.
Séc. IV a.C. - • Sistematizar os conhecimentos sobre Cosmologia e Antropologia.
Período Sistemático
Séc. III a.C. • Tudo pode ser objeto da Filosofia
Séc. III a.C. - • Ocupa-se de questões sobre ética, do conhecimento humano e das
Período Helenístico ou Greco-romano
Séc. VI d.C. relações homem/natureza e natureza/Deus.
Os filósofos pré-socráticos são aqueles que vieram antes de Sócrates e tinham como
Explor
preocupação buscar entender a origem das coisas. O foco de reflexão era, portanto, o
mundo exterior, ou cosmológico. Entre os nomes de maior relevo estão Tales de Mileto
e Heráclito de Éfeso.
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Filosofia Patrística – Século I ao século VII
Trata-se de um esforço sistemático de conciliação da Filosofia Greco-romana,
com o pensamento cristão e pode ser dividida em duas: a Patrística grega (ligada à
Igreja de Bizâncio) e a Patrística Romana (ligada à Igreja de Roma).
O termo remete à Filosofia cristã desenvolvida por padres ou pais da Igreja, nos primeiros
Explor
Com isso, surge uma distinção desconhecida aos pensadores antigos, entre as
verdades reveladas por Deus (os dogmas) e as verdades da razão humana.
As verdades divinas são tidas, para esses autores, como mais importantes e
superiores ao pensamento racional humano.
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UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica
O termo Filosofia Medieval tem início no período conhecido por Idade Média. Esteve
concentrada e desenvolvida em centros universitários e escolares. Daí também ser
conhecida por Filosofia Escolástica.
Filosofia da Renascença
• A Natureza é um grande ser vivo.
• Homem como artífice de seu destino.
• O homem é parte da natureza e pode • Valorização da “vida ativa”, ou seja, a
participação política. • Destino determinado pelo
agir sobre ela.
conhecimento da política, das
• O homem pode conhecer os vínculos • Renascimento da liberdade política.
técnicas e da arte.
estabelecidos pelos elementos da
natureza e criar outros.
Filosofia Moderna
• A Filosofia deve começar pela reflexão. • Tudo que pode ser conhecido é • A realidade é um sistema de
passível de ser transformado em causalidades racionais, rigorosas
• Indagar a capacidade humana de
conceito claro, distinto, demonstrável que podem ser conhecidas e
conhecer e demonstrar a verdade dos
e necessário. transformadas pelo homem.
conhecimentos.
• Natureza, Sociedade e Política
podem ser conhecidas totalmente,
pois são inteligíveis.
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Filosofia da Ilustração ou Iluminismo – Século XVIII ao Século XIX
Esse período também crê no poder absoluto da razão e seus pensadores
consideram que ela “ilumina” o caminho humano.
Coerência
Razão – Deve alertar para o perigo do pensamento instrumental. Trazer liberdade ao ser humano.
Crítica às Utopias Revolucionárias – Somos capazes de criar uma sociedade mais justa?
Figura 6
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UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica
Ontologia
Fundamento
últimos de todos
História da os seres Lógica
Filosofia Estudo Formas e regras
dos períodos do pensamento
Filosóficos verdadeiro
Filosofia da
Linguagem Epistemologia
A linguagem Análise crítica
como manifestação das ciências
da humanidade
FILOSOFIA
Estética Teoria do
Estudo das Conhecimento
Estudo das
formas a arte
modalidades de
e do trabalho conhecimento
artístico humano
Filosofia da
História - Estudo Ética
da dimensão Estudos dos
temporal da
experiência Filosofia Política valores morais
humana Estudo da
natureza do
poder
Figura 7
São eles:
O Conhecimento
As noções, que discutimos até agora, apontam que a questão central da Filosofia,
que envolve a crítica ao ato de pensar e, conectado a ele, ao ato de conhecer.
O conhecimento permeia todo o nosso cotidiano; por meio dele, sabemos como
nos portar, o que evitar, o que é adequado. Enfim, o conhecimento do mundo nos
garante um grande repertório de ações e pode ser percebido de duas maneiras:
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Existem muitas formas de conhecer e, entre elas, destacam-se o Senso Comum
e a Ciência.
O Senso Comum
O senso comum é uma forma de conhecimento espontâneo que resulta das
experiências cotidianas dos indivíduos para resolver problemas. Nesse processo,
ele troca informações com seus contemporâneos e recebe informações de
gerações anteriores. Trata-se de um conhecimento empírico e fragmentário que
não estabelece relações com outros fenômenos.
Senso Comum
Observação Observação
Acúmulo não Não analisa
Confunde a Centrado nas sistemático de criticamente o
aparência com opiniões do informações conhecimento
o real indivíduo
Figura 8
É importante perceber que o Senso Comum pode ser considerado uma etapa
na construção do saber. Ele precisa ser substituído por uma abordagem crítica e
coerente, ou seja, o senso comum deve ser transformado em BOM SENSO. O
Bom Senso, segundo Gramsci é “o núcleo sadio do senso comum”.
Explor
ARANHA, Maria Lucia. Filosofando, Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1993, p 37.
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UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica
A Ciência
Ao longo do tempo, podemos observar a existência de três formas de conceber
as Ciências ou noções do que é cientificidade. A primeira, chamada concepção
racionalista, tem sua origem no pensamento dos gregos e pode ser percebida até
o final do século XVII.
Conhecimento racional,
dedutivo e
demonstrativo – tido
como real
Ciência – unidade
sistemática de Objeto científico é
postulados – natureza matemático = realidade
do objeto natureza e possui uma estrutura
as propriedades de matemática
seu objeto
CONCEPÇÃO
RACIONALISTA
Ciência – unidade
As experiências
sistemática de
científicas = verificar e
postulados – relações
confirmar as
de causalidade sobre o
demonstrações teóricas
objeto Objeto científico =
representação intelectual,
necessária, verdadeira e real
verdadeira das coisas –
corresponde à própria
realidade
Figura 9
Deve-se observar que, para essa perspectiva, a Ciência faz uma radiografia da
realidade. Ela definia um objeto e dele procurava deduzir os efeitos e propriedades
do fenômeno estudado, trata-se de uma abordagem hipotético-dedutiva.
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Suas características centrais são:
A ciência é uma
interpretação dos
fatos, baseada
em observações
experimentos
A ciência é uma
Métodos
interpretação dos A CONCEPÇÃO
experimenta
fatos, baseada em EMPIRISTA
is rigorosos
experimentos
A experiência tem a
função de produzir
conhecimento
Figura 10
O objeto uma
construção
lógico-intelectual
Modelos
Coerência entre os explicativos
CONCEPÇÃO construidos –
princípios que
CONSTRUTIVISTA observação e
orientam a teoria
experimentação
Os resultados
obtidos possam ser
alterados e alterem a
proópria teoria
Figura 10
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19
UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica
No mundo grego, que era escravista, a técnica era considerada um saber inferior.
Ela estava ligada a práticas necessárias à vida e nada tinha a oferecer à Ciência nem
a receber dela.
Explor
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Bons e Maus Ensaios Filosóficos
HEPBURN, Ronald W. Bons e maus ensaios filosóficos.
https://goo.gl/Dz4qZr
Leitura
Como se lê um Ensaio de Filosofia
PRYOR, James. Como se lê um ensaio de filosofia.
https://goo.gl/Glt8tW
O que é Filosofia e por que Vale a Pena Estudá-la
EWING. A. C. O que é Filosofia e por que vale a pena estudá-la
https://goo.gl/ELgz7t
21
21
UNIDADE Introdução à Reflexão Filosófica
Referências
ARANHA, Maria Lucia. Filosofando, Introdução à Filosofia. São Paulo:
Moderna, 1993.
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Filosofia
Material Teórico
Aspectos da Filosofia Antiga e Medieval
Revisão Técnica:
Prof. Ms. Edson Alencar Silva
Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Aspectos da Filosofia Antiga e Medieval
• Introdução
• A Filosofia Grega
• A Filosofia de Sócrates
• A Filosofia de Platão
• A Filosofia de Aristóteles
• A Filosofia Medieval
• A Patrística
• A Escolástica
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Discutir alguns aspectos da Filosofia no mundo Antigo, especialmente
entre os gregos;
· Conhecer alguns aspectos da Filosofia Medieval.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Aspectos da Filosofia Antiga e Medieval
Introdução
Olá!
Observe o quadro e você vai reconhecer dois dos pensadores que vamos estudar!
Platão Aristóteles
Figura 1
Fonte: Adaptado de iStock/Getty images
A Imagem
A Escola de Atenas é um afresco de Rafael Sanzio, pintado entre 1509-1510.
Ele faz parte da decoração de um conjunto de quatro quartos que o Papa Julio II
encomendou ao artista.
O afresco está localizado no Museu do Vaticano, no quarto conhecido como Room of the
Explor
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A Filosofia Grega
Figura 2
Fonte: Istock/Getty images
A Civilização grega foi uma das civilizações mais marcantes da tradição ocidental.
Seu legado pode ser rastreado em muitos aspectos da nossa cultura já que
utilizamos prefixos e sufixos gregos para formar palavras; o conceito de democracia
para definir a participação política de um povo no governo; os conceitos
desenvolvidos por Tales de Mileto e por Pitágoras na Matemática e, finalmente,
estudamos Filosofia.
Afinal, que preocupações eram centrais para os Filósofos gregos? Quem são os
maiores representantes da Filosofia desse povo brilhante?
Antes de iniciarmos a discussão da Filosofia grega, é necessário observarmos
alguns elementos importantes do processo histórico grego. O nascimento da
Filosofia que representa a transição do pensamento mítico para o pensamento
racional, típico dessa Disciplina, está ligado ao surgimento da pólis, ou seja, da
cidade-estado.
O historiador Jean Pierre Vernant1 considera que a pólis é o marco inicial da
invenção da cultura grega. A cidade–estado grega era marcada pela existência de
uma praça central, a Ágora, onde se debatiam os assuntos de interesse comum, ou
seja, os assuntos públicos, e onde a figura central era o cidadão.
O cidadão é um participante dos destinos da cidade e goza de isonomia, ou seja,
ele tem os mesmos direitos que qualquer outro cidadão e sua riqueza ou posição
social não trazem nenhum privilégio perante a Lei. Deve-se observar, contudo,
que a cidadania era privilégio de poucos indivíduos, já que camadas importantes
da sociedade, como os estrangeiros, as mulheres e os escravos não gozavam de
nenhum direito.
1 VERNANT, Jean Pierre. As origens do pensamento grego. São Paulo: Diefel, 2002.
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Antiga e Medieval
Figura 3
Fonte: iStock/ Getty images
A cidade de Atenas no seu apogeu, século V a.C., tinha cerca de meio milhão
de habitantes; contudo, somente 10% deles eram considerados capazes de exercer
a cidadania e decidiam os rumos da cidade em nome de todos.
E a Filosofia?
O nascimento da Filosofia grega é marcado pela transição da cosmogonia para
a noção de cosmologia.
A cosmogonia está ligada à explicação mítica e identificada com deuses e forças
da natureza.
Importante! Importante!
Cosmologia
Figura 4
Fonte: Adaptado de iStock/Getty images
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Heráclito (544-484 a.C.) nasceu em Éfeso, na Jônia, onde hoje fica a Turquia. Sua
maior questão era entender a multiplicidade do mundo real e, ao contrário de seus
contemporâneos, não via contradição nas mudanças constantes que atingem todos.
Parmênides (530-460 a.C.) viveu em Eléia, na Magna Grécia, onde hoje é a Itália.
Ele ocupou-se longamente em criticar as teorias de Heráclito, pois considerava
inaceitável a noção da contradição e propunha a ideia de que um “ser é” ou um
“ser não é”. Considerando essa noção, ele conclui que o ser é único, imutável,
infinito e imóvel; portanto, a noção percepção de mudança e movimento é uma
ilusão que só existe no mundo sensível.
Explor
Protágoras
Figura 5
Fonte: Adaptado de iStock/Getty images
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Antiga e Medieval
A Filosofia de Sócrates
“Só sei que nada sei!” (Sócrates)
Método Socrático
Ironia = pergunta
Desmontar o conhecimento anterior
Reconhecer a ignorância
Maiêutica = parto
Construção do novo conhecimento
Figura 7
Fonte: Adaptado de Istock/Getty images
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Sócrates viveu um momento em que a Filosofia estava criando seus métodos e
vocabulário próprios e, em seus ensinamentos, utilizava palavras comuns, atribuindo
a elas um novo sentido. Um exemplo dessa ressignificação é o que acontece com
a palavra logos. Em grego, logos significa “conversa”, contudo, ele a utiliza no
sentido de conceito.
Quando Sócrates perguntava qual era o logos de algo, ele desejava conhecer o
conceito, ou seja, a definição de algo.
A Filosofia de Platão
Trocando ideias...Importante!
O Filósofo se livrou das correntes da doxa (opinião) e passou a se orientar pela episteme
(Ciência). Pensamento de Platão.
Platão (428-347 a.C.) viveu em Atenas e, além de ser o discípulo mais famoso
de Sócrates, foi o fundador de uma importante escola, a Academia.
Seu pensamento pode ser ilustrado pelo famoso “Mito da Caverna”, que se
encontra no Livro VII de A República, que é uma de suas mais importantes obras.
Platão imagina uma caverna onde todos os seres humanos estão acorrentados e
voltados para o fundo; nessa posição, eles só enxergam um reflexo das coisas que
existem no mundo fora dela. Aquele homem que conseguisse fugir de suas amarras
poderia ver os objetos reais que estão fora da caverna.
Para Platão, essa noção pode ser utilizada para explicar dois pontos de vista
importantes de seu pensamento: o epistemológico e o político. No que diz respeito
à epistemologia, o mito da caverna aponta para a característica do conhecimento,
ou seja, a sua teoria das ideias.
Figura 8
Fonte: Adaptado de Istock/Getty images
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Antiga e Medieval
Como é possível observar, Platão privilegia o mundo das ideias e confere a ele
uma existência real, pois para cada “sombra” que existe no mundo sensível, há
uma essência imutável no mundo das ideias.
A Filosofia de Aristóteles
Aristóteles (384-322 a.C.) nasceu em Calcídica,
uma região dependente da Macedônia. Seu pai era
Aristóteles traz as ideias
médico na corte de Felipe II e gozava de grande do céu para a terra.
influência, o que garantiu que Aristóteles fosse
mandado a Atenas para estudar.
Na Academia de Platão, ele se destacou como um dos alunos mais brilhantes do
mestre e, depois de sua morte, Aristóteles retornou a Macedônia e passou a educar
o futuro rei: Alexandre Magno.
Em 340 a.C., Aristóteles retornou a Atenas onde fundou o Liceu, sua própria
escola, que tinha esse nome por ser próxima ao templo de Apolo Lício.
Substância:
aquilo que é
em si mesmo
Essência Acidente
Os atributos essências Os atributos que a
da substância. “Sem substância pode ou não
eles a substância não ter sem deixar de ser o
seria o que é” que é
Figura 9
Fonte: Adaptado de Istock/Getty images
14
Contudo, esses conceitos não explicam as transformações que os seres/coisas
podem sofrer e, por isso, Aristóteles recorre às noções de forma e matéria.
Todo o ser tende a tornar atual a forma que tem em si como potência e, nesse
momento, Aristóteles faz uso dos conceitos de ato e potência.
A Filosofia Medieval
A Idade Média é marcada por dois processos históricos relacionados ao império
Romano. Foi convencionado que seu início seria o ano de 476, quando Roma foi
tomada pelos germanos: trata-se da derrubada do Império Romano do Ocidente.
Já o fim da era medieval foi marcado pela queda da capital do Império Romano
do Oriente, a cidade de Constantinopla, tomada pelos turcos em 1453.
Por questões didáticas, costuma usar-se uma subdivisão temporal entre Alta e
Baixa Idade Média. A Alta Idade Média é o primeiro momento, entre os séculos V
e X e se trata do período em que se formaram os feudos, criaram-se as relações de
suserania e vassalagem, e o poder da Igreja floresceu. Já o período da Baixa Idade
Média, entende-se do século X ao século XV. A partir dessa época, novas ideias e
novas práticas levaram à decadência das instituições feudais.
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Antiga e Medieval
Durante muito tempo, a ideia de Idade Média foi associada a atraso, a uma
época de “trevas” em que circulação de ideias era restrita e o pensamento artístico
e filosófico era inexistente.
Embora a cultura medieval fosse impregnada pela mentalidade religiosa, ela
floresceu, como se pode observar na arquitetura das grandes catedrais.
Da mesma maneira, diversos pensadores, ligados à Igreja, se esforçaram para
conciliar a religião cristã com a filosofia grega, em especial a de Aristóteles.
A Patrística
A Filosofia Patrística foi marcada pelos esforços de defesa da fé, por meio da
elaboração de textos que destacassem as relações entre a Fé e a Razão, que passa
a ser vista como uma auxiliar da Fé.
O principal filósofo dessa corrente era Santo Agostinho, que foi Bispo de Hipona.
“Aquilo que a verdade descobrir não pode contrariar aos livros sagrados,
quer do Antigo quer do Novo Testamento.” (Agostinho, Bispo de Hipona)
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A Escolástica
A Escolástica foi a filosofia cristã que dominou o mundo medieval desde o final
do século IX, teve seu apogeu no século XVIII e entrou em decadência dois séculos
depois. Os pensadores dessa corrente continuam a considerar central a aliança
entre a fé e a razão; contudo, a razão mantém sua condição de “serva” da fé.
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Antiga e Medieval
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Filosofia Grega
Procure o link a seguir, no qual você encontrará as seguintes obras: Platão: A apologia
de Sócrates, O Banquete, Criton (o dever), Filebo, Fedon, Gorgias e o Sofista;
Aristóteles: Tópicos.
https://goo.gl/iGVllZ
Filosofia Medieval
Procure no link a seguir a seguinte dissertação e tese: Renata Vanessa Silva. A relação
entre verdade e conhecimento nas confissões de Santo Agostinho.
https://goo.gl/KNK1eA
Dia a Dia Educação
No site Dia a Dia Educação, do governo do Estado do Paraná, você encontrará sobre
São Tomás de Aquino.
https://goo.gl/8Vpkkp
Acropolis Virtual Tour
Você pode conhecer a Acrópole de Atenas, acompanhando o material disponibilizado
pelo Museu da Acrópole (em inglês).
http://acropolis-virtualtour.gr
Pathernon
Você pode, também, conhecer as obras do Pathernon, na apresentação produzida
pelo governo grego (em inglês).
https://goo.gl/yByF6R
Cultura e Civilização Medieval
Para conhecer um pouco mais sobre o mundo medieval, você pode acessar o acervo
online do Museu Britânico e do Metropolitan Museum de New York.
https://goo.gl/28YgB1
Leitura
Política de Aristóteles
https://goo.gl/sv6TiR
A Felicidade pelo Conhecimento em Agostinho
RUSSO, Alexandre Toler.
https://goo.gl/YuIOZL
Cultura e Civilização Grega
Para conhecer um pouco mais sobre a Mitologia Grega, você poderá ver uma
apresentação da Exposição Os Deuses Gregos – MAB/FAAP.
https://goo.gl/lT6KU8
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Referências
ARANHA, Maria Lucia. Filosofando, Introdução à Filosofia. São Paulo:
Moderna, 1993.
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Filosofia
Material Teórico
Aspectos da Filosofia Moderna e do Iluminismo
Revisão Técnica:
Prof. Ms. Edson Alencar
Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Aspectos da Filosofia
Moderna e do Iluminismo
• Introdução
• Contexto Histórico
• As Características do Pensamento Moderno
• A Revolução Científica
• O Racionalismo Cartesiano
• O Empirismo Inglês
• O Iluminismo
• O Criticismo Kantiano
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Nesta Unidade, vamos tratar do tema “Filosofia Moderna e
Iluminismo”.
· O estudo da Filosofia Moderna e do Iluminismo vai propiciar
melhor compreensão do nascimento de um novo modo de pensar
e de ver o mundo, que ainda é em grande parte o nosso modo,
mas que é muito diferente do modo de pensar da Antiguidade e da
Idade Média.
· Temos muitos pontos em comum com os pensadores modernos: o
uso da razão, a valorização da Ciência e da Técnica, a defesa da
liberdade, a luta contra as injustiças sociais e privilégios etc.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Aspectos da Filosofia Moderna e do Iluminismo
Introdução
Quando ligamos a TV ou sintonizamos em uma rádio para ouvir as notícias,
não raro o locutor nos apresenta um panorama sobre questões de várias notícias.
Entre elas é fácil nos depararmos com questões sobre política, saúde, economia e,
cultura, entre outras.
Contexto Histórico
Com a desintegração do Feudalismo na Europa, a partir do século XII, começa
a surgir um novo sistema econômico e social: o Capitalismo, e, também, uma
nova classe social começa a se desenvolver e a ganhar importância: a burguesia.
Esse período histórico chama-se História Moderna e vai do século XV ao
século XVIII.
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As principais características desse período são:
• Predomínio do Capitalismo comercial, que vai comercializar especiarias do Orien-
te e também ser responsável pela era das grandes “descobertas” marítimas;
• Centralização do poder do Estado nas mãos de um rei;
• Criação de um sistema colonial, principalmente na América;
• Desenvolvimento progressivo do trabalho assalariado;
• Diminuição da importância e poder da Igreja Católica e das ideias religiosas;
• Grande produção artística e intelectual não religiosa (MOTA, 1986).
• É nesse contexto histórico que vai surgir e se desenvolver a Filosofia Moderna
e o Iluminismo.
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Moderna e do Iluminismo
Explor
A chamada Reforma Protestante foi liderada pelo padre e teólogo Martinho Lutero, em
1517. Lutero se rebelou contra as práticas vigentes na Igreja Católica e julgava que ela
precisaria ser reformada. O seu ato foi visto como uma blasfêmia, sua Reforma Religiosa
foi rejeitada internamente e só se concretizou com a fundação de uma nova religião cristã.
O seu ato obteve êxito em parte devido às suas ideias terem grande aceitação pública,
mas também por ter sido vista pela burguesia como oportunidade de seguir com as suas
práticas comerciais sem ser taxada de pecado por lucrar com elas e, por fim, pelos monarcas
estabelecidos no sacro Império Romano (região da Alemanha). Seguindo o exemplo de
Lutero, outros líderes trataram de dar maior ênfase a esse processo de ruptura e, entre eles,
podemos destacar João Calvino e o rei Henrique VIII.
religiosa ou técnica. Essa maneira de proceder com o conhecimento está refletida nos
trabalhos de grandes filósofos como o alemão Immanuel Kant. A sua maior característica
é, portanto, o estabelecimento de uma busca por uma postura racional e a ruptura com
questões guiadas apenas pela convicção da fé.
10
Observa-se, também, que há uma valorização do saber ativo em oposição ao
saber contemplativo dos pensadores antigos e medievais. O conhecimento não
deve partir apenas das teorias ou filosofias, mas da própria realidade observada
e submetida a experimentações (ARANHA & MARTINS, 2007). Esse conheci-
mento deve ser utilizado para transformar o mundo. Dá-se a aliança da Ciência
com a Técnica.
A Revolução Científica
Um dos elementos que vai causar grande impacto e transformações na maneira
de pensar e no modo de ver o mundo foi a Revolução Científica do século XVII.
A Revolução Científica foi um movimento de ideias que compreende, mais
ou menos, o intervalo entre a publicação do livro Das revoluções dos corpos
celestes (1543), de Nicolau Copérnico, até a obra de Isaac Newton, Princípios
matemáticos de filosofia natural, publicada pela primeira vez em 1687 (REALE
& ANTISERI, 2003). As características principais desse movimento estão na
obra de Galileu, no século XVII, e encontram os seus pressupostos filosóficos nas
ideias de Descartes e Bacon.
A Revolução Científica deve ser compreendida como a expressão do nascimento
da nova ordem burguesa. As invenções e as descobertas são inseparáveis da nova
Ciência, pois para o desenvolvimento do Capitalismo, a burguesia necessita de um
conhecimento que investigue as forças da natureza a fim de usá-las em seu próprio
interesse e benefício. A ciência deixa de ser uma serva da Teologia, deixa de ser
um saber contemplativo para, em união com a Técnica, poder servir à nova classe
social (ARANHA & MARTINS, 2007).
O que mudou com a Revolução Científica?
11
11
UNIDADE Aspectos da Filosofia Moderna e do Iluminismo
A nova teoria não apenas retirou a Terra do centro do Universo, mas também
acabou com uma teoria que hierarquizava os espaços dividindo-os em “mundo
superior dos Céus” e “mundo inferior da Terra”. Galileu geometrizou o universo
igualando todos os espaços. Ao descobrir a Via Láctea, contrapôs à ideia de um
mundo fechado e finito, da antiga cosmologia, a ideia de um universo infinito
(ARANHA & MARTINS, 2007).
A questão, no entanto, não era apenas científica, era também política. Era uma
luta entre duas concepções de mundo: a da Igreja Católica e a da Ciência. Galileu
foi obrigado a se retratar publicamente, a renunciar a sua teoria e foi recolhido à
prisão domiciliar.
Essa imagem de Ciência não surgiu de uma vez, mas apareceu progressivamente.
O seu modelo é o método científico de Galileu, que traz como consequência a
autonomia da Ciência em relação às afirmações da fé e das concepções filosóficas.
O discurso científico legitima-se porque surge com base nas experiências e nas
demonstrações. A Ciência torna-se Ciência Experimental. É por meio das
experiências que os cientistas conseguem obter proposições verdadeiras sobre a
realidade (REALE & ANTISERI, 2003). É essa nova imagem da Ciência, feita de
teorias controladas pela experimentação, que mostra o nascimento de um novo
tipo de saber.
É excluído desse novo modo de ver as coisas todo raciocínio a respeito do valor,
da perfeição, do sentido e do fim dos objetos que até então dominavam a Filosofia
e a Religião.
12
A Revolução Científica abriu caminho para os conceitos, os métodos, as
instituições e os modos de pensar relacionados com o fenômeno que chamamos
de Ciência Moderna e sua principal característica é precisamente o método,
que exige imaginação e criatividade das hipóteses por um lado e controle público
dessas imaginações por outro (REALE & ANTISERI, 2003). Em sua essência, a
Ciência é pública.
O Racionalismo Cartesiano
René Descartes (1596-1650) foi também
conhecido pelo nome latino de Cartesius ou
Cartésio, daí seu pensamento ser conheci-
do como cartesiano. É considerado o pai da
Filosofia Moderna e do racionalismo mo-
derno. Nas obras Discurso do método e
Meditações metafísicas trata do problema
do conhecimento.
O Método Cartesiano
No livro Discurso do método, Descartes
propõe quatro regras simples para separar o Figura 2
conhecimento verdadeiro do falso: Fonte: Wikimedia/commons
13
13
UNIDADE Aspectos da Filosofia Moderna e do Iluminismo
A Dúvida Metódica
Podemos observar que boa parte do saber tradicional pretende ter como base a
experiência sensível. Como podemos considerar certo e inquestionável um saber
que tem sua base nos sentidos se eles, muitas vezes, revelam-se enganadores?
Não há nenhuma área do saber que se mantenha em pé, pois o alicerce em que
está baseado revela-se frágil demais. Nada resiste ao poder corrosivo da dúvida. A
dúvida é transformada em método. Descartes diz nas Meditações metafísicas:
“Suponho que todas as coisas que vejo são falsas (...), creio que o corpo,
a figura, a extensão, o movimento e o lugar não são nada mais do que
invenções do meu espírito. Então, o que poderá ser reputado verdadeiro?”
(Apud REALE & ANTISERI, 2003, p. 363).
A dúvida, nesse caso, quer levar à verdade, por isso é chamada de dúvida metódica.
A Certeza Fundamental
O filósofo tem como ponto de partida a busca de uma verdade primeira que não
possa ser colocada em dúvida e, por isso, converte a dúvida em método (ARANHA
& MARTINS, 2007).
14
O Racionalismo
Com Descartes, temos uma valorização da razão e da racionalidade. Com ele,
estabelece-se o princípio do sujeito pensante (racional) como fundamento de todas
as evidências. Acentua-se o caráter absoluto e universal da razão que, partindo
do cogito, e só com suas próprias forças, descobre todas as verdades possíveis
(ARANHA & MARTINS, 2007). Daí a importância de um método de pensamento
como garantia de que as representações e imagens da razão correspondam de fato
aos objetos a que se referem e que são exteriores a ela.
O Empirismo Inglês
A palavra empirismo vem do grego empeiria, que significa “experiência”. O empirismo, ao
Explor
Francis Bacon
Francis Bacon (1561-1626) foi o filóso-
fo da época industrial e pai do empirismo
moderno, pois pôs em evidência o signifi-
cado do papel das descobertas científicas
para a vida humana. Seu lema “saber é
poder” valoriza o conhecimento instrumen-
tal, aquele que possibilita a dominação da
natureza pelo homem.
Para Bacon, em Novum Organum, a
observação e a experimentação são ele-
mentos fundamentais no processo de conhe-
cimento. “Ministro e intérprete da natureza,
o homem faz e entende o que observa da
ordem da natureza, com a observação das
coisas ou com a obra da mente; ele não sabe
nem pode nada mais do que isso” (Apud
REALE; ANTISERIREALE & ANTISERI, Figura 3
2003, p. 333). Fonte: Wikimedia/commons
15
15
UNIDADE Aspectos da Filosofia Moderna e do Iluminismo
Os ídolos da tribo
“Alicerçam-se na própria natureza humana, na própria família humana
ou tribo. (...) O intelecto humano é como um espelho desigual em relação
ao raio das coisas: ele mistura a sua própria natureza com a das coisas,
que deforma e desfigura” (Apud REALE & ANTISERI, 2003, p. 335).
Com isso, o intelecto humano é levado a supor nas coisas uma ordem bem maior
do que aquela que realmente se encontra nelas. O intelecto finge correspondências
e relações que na realidade não existem. Quando encontra alguma ideia que o
satisfaz, o intelecto humano procura validá-la. Isso ocorre porque o homem crê
que é verdadeiro o que ele prefere. Isso significa que muitos dos nossos enganos
derivam da nossa tendência ao antropomorfismo.
Os ídolos da caverna
“Derivam de cada indivíduo. Além das aberrações comuns ao gênero
humano, cada um de nós tem uma caverna ou uma gruta particular na
qual a luz da natureza se perde e se corrompe, por causa da natureza
própria e singular de cada um, por causa da sua educação ou conversação
com os outros, por causa dos livros que lê e da autoridade dos que admira
e honra ou por causa da diversidade de impressões” (Apud REALE &
ANTISERI, 2003, p. 336).
Isso significa que muitas das nossas ilusões têm sua origem no indivíduo, na sua
educação e nos seus hábitos.
Os ídolos do foro.
Escreve Bacon:
“Há também ídolos que, por assim dizer, dependem de contato ou dos
contatos recíprocos do gênero humano; nós os chamamos ídolos do foro”
(Apud REALE & ANTISERI, 2003, p. 336).
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A relação entre os homens ocorre por meio da linguagem e das palavras, mas os
nomes são colocados nas coisas segundo a compreensão popular e basta isso para
perturbar o intelecto. Por causa das palavras, os homens são assim, muitas vezes,
arrastados a inúmeras e inúteis controvérsias e fantasias.
Os ídolos do teatro
“Penetraram no espírito humano por meio das diversas doutrinas
filosóficas (...). Pois todos os sistemas filosóficos foram acatados ou
cogitados como fábulas preparadas para serem representadas no palco,
boas para construir mundos de ficção e de teatro” (Apud REALE &
ANTISERI, 2003, p. 337).
Encontramos muitas fábulas teatrais, não somente nas filosofias, mas também
em muitos princípios ditos científicos que se afirmaram pela tradição, fé cega ou
desleixo das pessoas.
O Iluminismo
Figura 4
Fonte: Wikimedia/commons
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Moderna e do Iluminismo
A razão dos iluministas é a razão que encontra o seu modelo na Física de Newton
e que não procura a essência dos fenômenos. Ela não se pergunta, por exemplo,
qual é a causa ou a essência da gravidade, mas partindo da experiência procura
as leis do funcionamento do fenômeno e as submete à prova e por isso a razão
iluminista é de uso público (REALE & ANTISERI, 2003).
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Tornando-se livre de qualquer sujeição e capaz de procurar soluções para seus
problemas com base em princípios racionais, o ser humano estende o uso da razão
a todos os domínios humanos, o político, o econômico, o moral e o religioso.
Como diria Voltaire, “para mim é evidente que existe um Ser necessário,
eterno, supremo e inteligente – e isso (...) não é verdade de fé, mas sim de razão”
(Apud REALE & ANTISERI, 2003, p. 671). E, é claro, que se são somente essas
as verdades religiosas que a razão pode aceitar, então, as doutrinas, os ritos, as
histórias sagradas e as instituições das religiões são frutos das superstições, do
medo e da ignorância dos homens.
A Enciclopédia
O empreendimento mais representativo do iluminismo francês é a obra coletiva cha-
mada Enciclopédia. Os colaboradores mais destacados foram Diderot e D’Alembert e
também Voltaire, Condillac, D’Holbach, Montesquieu, Rousseau e outros.
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19
UNIDADE Aspectos da Filosofia Moderna e do Iluminismo
O Criticismo Kantiano
Immanuel Kant (1724-1804) nasceu na
Alemanha. Foi o pensador mais significativo
da época moderna. Realizou na Filosofia
uma revolução que ele equiparou, em virtude
de sua radicalidade, à revolução realizada
por Copérnico na Astronomia (REALE &
ANTISERI, 2003). O período entre 1770
e 1781 constituiu momento decisivo na
formação do sistema kantiano. De sua
reflexão, surgiu a primeira crítica (Crítica da
razão pura, 1781), à qual se seguiram as
outras obras da maturidade, particularmente
a Crítica da razão prática (1788) e a Crítica
Figura 5
do juízo (1790). Fonte: Wikimedia/commons
Na obra Crítica da razão pura, Kant questiona se é possível uma “razão pura”
independente da experiência, por isso seu método é conhecido como criticismo
(ARANHA & MARTINS, 2007). Kant, diferentemente dos filósofos anteriores,
questiona a existência da realidade e duvida que as ideias da razão correspondam
a essa realidade.
Kant coloca a razão em um tribunal para julgar o que pode ser conhecido
legitimamente por ela e que tipo de conhecimento não tem fundamento. Com isso,
pretende superar a dualidade racionalismo/empirismo. Condena os empiristas
(tudo que conhecemos vem da experiência dos sentidos) e, da mesma forma, não
concorda com os racionalistas (tudo quanto pensamos vem do nosso intelecto)
(ARANHA & MARTINS, 2007). O conhecimento deve ser composto de juízos
universais racionais, da mesma maneira que derivar da experiência sensível.
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e a forma somos nós mesmos, os sujeitos. Para conhecer as coisas, precisamos da
experiência sensível, mas essa experiência não terá validade se não for organizada
pelas formas da nossa sensibilidade, que são a priori (anteriores a qualquer
experiência) e condição da própria experiência. Para conhecer as coisas, temos de
organizá-las a partir da forma a priori do tempo e do espaço. Para Kant, o tempo
e o espaço não existem como realidades externas, não estão no objeto, são antes
formas que o sujeito põe nas coisas (ARANHA & MARTINS, 2007).
Kant também conclui não ser possível conhecer as coisas tais como são em si
mesmas, ou seja, o noumenon (a coisa-em-si) é inacessível ao conhecimento.
Somente podemos conhecer os fenômenos, palavra que, etimologicamente, signifi-
ca “o que aparece”. Kant inova a filosofia ao afirmar que a realidade não é um
dado exterior ao qual o intelecto deve se conformar, mas, ao contrário, o mundo
dos fenômenos só existe na medida em que “aparece” para nós sujeitos (ARANHA
& MARTINS, 2007). Portanto, de certa for ma, o sujeito é parte integrante do
processo de construção do conhecimento.
Tal como Copérnico, que disse que não é o Sol que gira em torno da Terra,
mas é o contrário, a Terra que gira em torno do Sol, também Kant afirmou que o
conhecimento não reflete o objeto exterior, mas é o próprio intelecto que constrói
o objeto do seu saber. Nesse sentido, Kant realizou uma revolução copernicana no
campo da teoria do conhecimento (ARANHA & MARTINS, 2007).
21
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Moderna e do Iluminismo
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
O que é Ciência?
https://youtu.be/ZYz0O8gFbyQ
Filosofia da Educação – Descartes
Para conhecer um pouco mais sobre o filósofo.
https://youtu.be/M3oLEGlzs6k
O Iluminismo e as Revoluções Burguesas
https://youtu.be/QQUYI-QlSEk
Leitura
Isaac Newton
Para conhecer a biografia de Newton.
https://goo.gl/zvBxAA
Galileu Galilei
Para conhecer a biografia de Galileu.
https://goo.gl/1W5gOH
Descartes
Para conhecer um pouco mais sobre o filósofo.
https://goo.gl/yPX4mF
Bacon
Para conhecer um pouco mais sobre o filósofo.
https://goo.gl/iyTePW
Iluminismo do Século XVIII
Para conhecer um pouco mais sobre o filósofo Voltaire.
https://goo.gl/t8xlwk
Kant
Para conhecer um pouco mais sobre o filósofo.
https://goo.gl/7h6FQc
https://goo.gl/T5HIYC
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Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
introdução à Filosofia, 3.ed.rev. São Paulo: Moderna, 2007.
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Filosofia
Material Teórico
Aspectos da Filosofia Contemporânea do Século XIX
Revisão Técnica:
Prof. Ms. Edson Alencar Silva
Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Aspectos da Filosofia
Contemporânea do Século XIX
• Introdução
• Quadro Histórico
• Características do Pensamento do Século XIX
• O Nascimento das Ciências Humanas
• O Positivismo de Comte
• O Idealismo de Hegel
• O Materialismo de Marx
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Tratar do tema “Filosofia Contemporânea do século XIX”.
· Perceber que a Filosofia se entrelaça com a Ciência, passando de sua
aliada à sua crítica.
· Analisar o lugar habitado pela Filosofia Contemporânea e perceber
que ela ainda é a nossa Filosofia.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Aspectos da Filosofia Contemporânea do Século XIX
Introdução
A Filosofia Contemporânea do século XIX é uma Filosofia que se entrelaça
com as teorias científicas e com o desenvolvimento das Ciências em geral. Então,
podemos dizer que a Ciência adquiriu um significado filosófico.
Quadro Histórico
O Capitalismo já era uma realidade no século XIX. Na segunda metade do
século XVIII, ocorreu a “Era das revoluções” burguesas. A partir de 1760, ocor-
reu na Inglaterra a 1ª. Revolução Industrial, que transformou radicalmente o
modo de produzir as mercadorias, criou as fábricas e também o proletariado
moderno (operário).
Com a Revolução Francesa de 1789, a burguesia tomou o poder e criou um
mundo à sua imagem e semelhança, proclamando aos quatro cantos do mundo o
seu lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” e a “Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão”. A Revolução Francesa inaugura um novo período histórico
chamado História Contemporânea, que se estende até os dias atuais.
As principais características desse período, segundo Arruda (1974) são:
• Industrialização da Europa;
• Crescimento das cidades (urbanização);
• Importância crescente da Ciência para a sociedade e para o pensamento;
• Expansão do trabalho assalariado;
• Lutas econômicas e políticas entre a burguesia e o proletariado;
• Nascimento da ideologia socialista, que se opõe à sociedade capitalista;
• Grande imigração de europeus para a América.
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Características do Pensamento
do Século XIX
O elemento mais importante e que condicionou o pensamento e a Filosofia do
século XIX foi o desenvolvimento das Ciências. Para demonstrar a sua eficácia,
a Ciência e a Técnica tornam-se aliadas e provocaram grandes transformações
na sociedade.
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Contemporânea do Século XIX
Uma solução começou a ser adotada, que era libertar a Matemática de qualquer
ligação com o mundo real e transformá-la na elaboração de postulados, que
deveriam ser definidos de modo preciso e obrigados a não ser contraditórios entre
si (HOBSBAWM, 1988). Essa separação entre Ciência e intuição vai se agravar
com a Física relativista de Einstein, no século XX.
1 Principalmente se considerarmos que o comportamento humano depende de múltiplas variáveis, tais como:
hereditariedade, meio, impulsos, desejos, memória, bem como da ação da consciência e da vontade.
2 Há de se considerar que na experimentação pode ocorrer o falseamento dos resultados.
3 Há de se considerar que quando é possível aplicar a Matemática, são utilizadas técnicas estatísticas, com resultados
sempre aproximativos e sujeitos a interpretação.
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ainda, a dificuldade decorrente da subjetividade. As Ciências da Natureza aspiram
à objetividade, que consiste na separação radical entre o sujeito e o objeto no
processo de conhecimento; na capacidade de lançar hipóteses testáveis por todos e
no não envolvimento emocional e intelectual do cientista com o seu objeto. Mas, se
o sujeito que conhece é da mesma natureza do objeto conhecido, parece ser muito
difícil evitar a subjetividade; 5) Finalmente, se as leis das Ciências da Natureza
supõem o determinismo (as mesmas causas produzem os mesmos efeitos), como
fica a questão da liberdade humana? Por haver regularidades na natureza é possível
estabelecer leis e por meio delas prever a incidência de um acontecimento. Como
isso seria possível nas Ciências Humanas se admitirmos a existência da liberdade
humana? (ARANHA & MARTINS, 2007).
O Positivismo de Comte
No ambiente cientificista da Europa do século XIX, desenvolve-se o Positivismo,
cujo principal representante foi o pensador francês Auguste Comte (1798-1857).
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Contemporânea do Século XIX
Em comunidades tribais, por exemplo, a queda dos corpos é atribuída à ação dos
deuses. O metafísico Aristóteles explica a queda pela essência dos corpos pesados,
cuja natureza os faz tender para baixo. Galileu, espírito positivo, não indaga o
porquê, não procura as causas, mas se contenta em descrever como o fenômeno
ocorre. Segundo Comte, “todos os bons espíritos repetem, desde Bacon, que
somente são reais os conhecimentos que repousam sobre fatos observados” (Apud
ARANHA & MARTINS, 2007, p. 140).
12
A Sociologia
Comte achava que a Europa do século XIX já estava no estágio positivo. Os
métodos teológicos e metafísicos não eram mais empregados por ninguém na
área da Ciência, exceto no campo dos fenômenos sociais. Por isso, ele dizia que
a Filosofia positiva deveria submeter a sociedade à rigorosa pesquisa científica
(REALE & ANTISERI, 2003). Comte inventou a palavra Sociologia.
Para Comte, não se podem resolver crises sociais e políticas sem o devido
conhecimento dos fatos sociais e políticos. E é por essa razão que ele vê como
tarefa urgente o desenvolvimento do que ele chamou de Física Social Para o autor,
a Sociologia é pensada de maneira semelhante às outras Ciências, como uma
Ciência de observação, e recebe a denominação de Física Social, justamente por
lidar com fatos que têm origem no mundo social.
A Ciência para Comte tem como objetivo a pesquisa das leis invariáveis
dos fenômenos. O conhecimento dessas leis é necessário para prever e a
previsão é necessária para orientar a ação do homem sobre a realidade (REALE
& ANTISERI, 2003).
4 Nas palavras de um de seus admiradores ilustres, John Stuart Mill, “Enquanto as leis derivadas da Estática Social são
estabelecidas pela análise e comparação dos diferentes estados de sociedade sem levar em conta a ordem de sua
sucessão, a consideração dessa ordem é, ao contrário, predominante no estudo da dinâmica social, cujo propósito é
observar e explicar as seqüências dos estados sociais.” MILL, John Stuart. A Lógica das Ciências morais. Tradução
de Alexandre Braga Massella. São Paulo: Iluminuras, 1999.
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Contemporânea do Século XIX
A Religião da Humanidade
Em sua última grande obra, o Sistema de política posi tiva (1851-1854),
o objetivo de Comte de regenerar a sociedade com base no conhecimento das
leis sociais assume a forma de religião, na qual Deus é substituído pelo amor à
Humanidade. A Humanidade é o ser que transcende os indivíduos. Ela é composta
por todos os indivíduos vivos, pelos mortos e pelos que ainda não nasceram (REALE
& ANTISERI, 2003).
Comte sustenta que a religião da Humanidade deve ser uma cópia da estrutura
religiosa católica. São dois os dogmas da nova religião: a Filosofia positiva e as leis
científicas. Os ritos, os sacramentos, o calendário e o sacerdócio são necessários
para a divulgação da nova religião. Há um batismo secular, uma crisma secular
e uma extrema-unção secular. O anjo da guarda da religião da Humanidade é a
mulher (isso se deve à idealização de Comte de sua amada Clotilde de Vaux). Os
meses terão nomes significativos na religião positiva (por exemplo, Prometeu) e os
dias da semana serão consagrados a cada uma das sete Ciências. Serão construídas
templos laicos (institutos científicos). Um papa positivo exercerá a sua autoridade
sobre os membros da religião que irão se ocupar do desenvolvimento das indústrias
e da utilização prática das descobertas científicas. Na sociedade positiva, os jovens
serão submetidos aos anciãos e o divórcio será proibido. A mulher torna-se a
protetora e fonte da vida sentimental da Humanidade. A Humanidade é o “Grande
Ser”; o espaço o Grande Ambiente e a terra o Grande Fetiche. Essa é a trindade
da religião positiva (REALE & ANTISERI, 2003). Foram criadas várias igrejas
positivistas no mundo todo.
Figura 1
Fonte: Wikimedia/Commons
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O Idealismo de Hegel
O alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) foi o principal represen-
tante do idealismo moderno.
A Dialética Idealista
Dialética, substantivo feminino. Em sentido bastante genérico, oposição, conflito
originado pela contradição entre princípios teóricos ou fenômenos empíricos. A
ideia central da dialética é que a realidade é movimento. Tudo o que existe contém
em si mesmo o princípio da sua destruição e posterior transformação em algo
diferente. Para Hegel, a dialética é uma lei que caracteriza a realidade como um
movimento incessante e contraditório, que pode ser expresso por três momentos
sucessivos (tese, antítese e síntese) que se manifestam simultaneamente em todos
os pensamentos humanos e em todos os fenômenos do mundo material.
Como ponto de partida da dialética, Hegel encontra a Ideia pura (tese). Esta,
para se desenvolver, cria um objeto oposto a si, a Natureza (antítese), que é a
Ideia alienada, o mundo desprovido de consciência. Da luta desses dois princípios
opostos nasce a síntese, o Espírito, ao mesmo tempo pensamento e matéria,
isto é, a Ideia que toma consciência de si por meio da Natureza. (ARANHA &
MARTINS, 2007).
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Contemporânea do Século XIX
O Materialismo de Marx
Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) foram os criadores
de uma teoria da História, o materialismo histórico, e de uma Filosofia, o mate-
rialismo dialético. Marx foi um dos pensadores que mais influenciou o século XX
com a sua doutrina comunista e que foi adotada por vários países como Rússia,
China, Cuba etc.
O Materialismo Dialético
Para o materialismo dialético, o mundo material é anterior à consciência, ao
pensamento. A matéria é a origem da consciência e a consciência é um produto
da matéria. O movimento é a propriedade fundamental da matéria e exis te
independentemente da consciência humana. É uma visão oposta ao idealismo
(ARANHA & MARTINS, 2007). Marx defende que seu método não se assemelha
ao de Hegel, argumenta o seguinte:
“Meu método dialético não só é fundamentalmente diverso do método de
Hegel, mas é, em tudo e por tudo, o seu reverso. Para Hegel o processo
do pensamento que ele converte inclusive em sujeito com vida própria,
sob o nome de ideia, é o demiurgo (criador) do real e esse, a simples
forma externa em que toma corpo. Para mim, o ideal, ao contrário, não é
mais do que o material, traduzido e transposto para a cabeça do homem”
(Karl Marx, palavras finais da 2. ed. t. I de O Capital).
Online: <https://goo.gl/HTT1Yv>.
O Materialismo Histórico
Marx escreveu no Prefácio de Para uma crítica da economia política, que o
materialismo histórico parte da tese segundo a qual “não é a consciência dos homens
que determina o seu ser, mas, ao contrário, o seu ser social que determina a sua
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consciência” (Apud REALE & ANTISERI, 2003, p. 104). Isso o leva a estabelecer
a relação entre estrutura material da sociedade (economia) e o que ele chama de
superestrutura (as ideias morais, filosóficas, religiosas, o Estado e a política).
Marx diz que as diversas formas de consciência são condicionadas ou justificativas
da estrutura econômica da sociedade, de modo que, se muda a estrutura econômica,
haverá transformação correspondente na superestrutura ideológica. A história
humana pode ser dividida em períodos relativamente longos de acordo com a
estrutura do modo de produção: Comunismo Primitivo; Modo de produção asiático;
Escravidão Clássica; Feudalismo; Capitalismo e cada uma delas corresponde a uma
superestrutura diferente (REALE & ANTISERI, 2003).
Em A ideologia alemã, pode-se ler: “a produção das ideias, das representações,
da consciência (...) está diretamente entrelaçada à atividade material e às relações
materiais dos homens” (Apud REALE & ANTISERI, 2003, p. 194). Os homens
podem se diferenciar dos animais pela religião, pela consciência ou pelo que se
quiser, mas eles começaram a se distinguir dos animais quando começaram a
produzir os seus meios de subsistência. E aquilo que os indivíduos são depende
das condições materiais da produção econômica. A essência do homem, portanto,
está em sua atividade produtiva.
O materialismo histórico é a aplicação do materialismo dialético ao campo
da história, é a explicação da história por fatores materiais (econômicos
e técnicos). O senso comum procura explicar a história pela ação dos grandes
personagens (heróis), das grandes ideias e até pela intervenção divina. Marx inverte
esse processo: no lugar das ideias, estão os fatos materiais; no lugar dos heróis, a
luta de classes. Não nega, com isso, que o ser humano tenha ideias, mas as explica
pela estrutura material da sociedade (REALE & ANTISERI, 2003).
A Luta de Classes
No Manifesto do partido comunista, Marx e Engels escrevem: “A história
de toda a sociedade até aqui é a história de lutas de classes. [Homem] livre e
escravo, patrício e plebeu, barão e servo [Leibeigener], burgueses de corporação
[Zunftbürger] e oficial, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em constante
oposição uns aos outros, travaram uma luta ininterrupta, ora oculta ora aberta,
uma luta que de cada vez acabou por uma reconfiguração revolucionária de toda a
sociedade ou pelo declínio comum das classes em luta.”. O motor da história para
Marx é, portanto, a luta de classes. Opressores e oprimidos é o que Marx vê no
desenvolvimento da História humana. E a nossa época, a época do Capitalismo,
não eliminou a luta de classes, pelo contrário, simplificou, visto que toda a sociedade
vai se dividindo cada vez mais em dois grandes campos adversários: a burguesia e
o proletariado.
Por burguesia, Marx entende a classe dos capitalistas modernos, proprietários
dos meios de produção e empregadores de assalariados. Por proletariado, ele
entende a classe dos assalariados modernos que, não tendo meios de produção
próprios, são obrigados a vender sua força de trabalho para viver (REALE &
ANTISERI, 2003).
17
17
UNIDADE Aspectos da Filosofia Contemporânea do Século XIX
Para Marx, “a burguesia não apenas fabricou as armas que a levarão à morte,
mas também gerou os homens que empunharão aquelas armas: os operários
modernos, os proletários” (Apud REALE & ANTISERI, 2003, p. 199). Em lugar
de operários isolados e em concorrência, o desenvolvimento da grande indústria
cria organizações de operários conscientes de sua própria força. A burguesia,
portanto, produz os seus coveiros, a sua decadência e a vitória do proletariado são
processos inevitáveis.
O Comunismo
O Feudalismo produziu a burguesia. E a burguesia, em seu desenvolvimento,
produz o agente histórico que a levará à morte, isto é, o proletariado. Marx diz que,
fatalmente, a produção capitalista vai gerar a sua própria negação e, assim, teremos
a passagem da sociedade capitalista para o Comunismo, uma sociedade sem
propriedade privada e, portanto, sem classes, sem divisão do trabalho, sem
alienação e, sobretudo, sem Estado (REALE & ANTISERI, 2003).
Explor
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Vídeos
Karl Marx (1/3) - Clássicos da Sociologia
https://youtu.be/89LD2a1n8vA
Karl Marx (2/3) - Clássicos da Sociologia
https://youtu.be/JryegAZEi70
Karl Marx (3/3) - Clássicos da Sociologia do professor Cássio Diniz
https://youtu.be/yw08F6QVKMg
Leitura
A Ideologia Alemã
https://goo.gl/cuQFiP
Manifesto do Partido Comunista
https://goo.gl/2P4dJ3
Prefácio da Fenonemologia do Espírito
https://goo.gl/uBRw9z
Discurso Preliminar sobre o Espírito Positivo
https://goo.gl/q5jxjd
19
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UNIDADE Aspectos da Filosofia Contemporânea do Século XIX
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
introdução à Filosofia, 3.ed. rev. São Paulo: Moderna, 2007.
______. A era dos impérios (1875-1914). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
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Filosofia
Material Teórico
A Crise da Razão
Revisão Técnica:
Prof. Ms. Edson Alencar Silva
Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
A Crise da Razão
• Crise da Racionalidade
• A Constatação da Irracionalidade
• A Fenomenologia
• A Escola de Frankfurt
• Mannheim: entre o Caos e o Autoritarismo
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· A crença na razão iluminista, herdeira da tradição filosófica grega,
como instrumento de compreensão da realidade e de construção
de uma sociedade justa, capaz de livrar a Humanidade de todas as
mazelas, sofre severas críticas, já ao final do século XIX.
· O que fazer quando a razão não cumpre suas promessas, quando, ao
menor vacilo, “seu sono produz monstros”.
· Assim, veremos quais os fundamentos da crise, bem como as
críticas à razão; os caminhos propostos por diversos pensadores
para a busca do conhecimento, para o progresso da ciência e da
Humanidade, num momento em que a própria razão parece elevar
a irracionalidade humana.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE A Crise da Razão
Introdução
“A razão pode lutar corpo a corpo com os terrores, e derrubá-los.”
(EURÍPEDES)
1. Cabe lembrar da importância durante este espaço temporal do pensamento cartesiano e o desenvolvimento do cogito
como afirmação do poder da razão para o estabelecimento de verdades, assim como o método cartesiano que acaba
por definir e empoderar o desenvolvimento e a especialização das Ciências.
8
Devemos atribuir à Revolução Francesa, que tem origem na efervescência
promovida pela burguesia contra o regime absolutista da nobreza francesa,
alimentada pelo movimento de ideias da Ilustração, o triunfo da confiança na
razão e na capacidade de o conhecimento levar a Humanidade a um patamar
mais alto de progresso, regenerando o mundo por meio da conquista da natureza e
promovendo um ideal de felicidade aqui na Terra. Esse ideal tornou-se bandeira e
símbolo do movimento de crítica social, cultural e política que marca o Século das
Luzes, o século XVIII. Tal movimento de ideias, que alcança seu ponto culminante
com a Revolução Francesa, e o novo quadro sociopolítico por ela configurado,
terá um impacto decisivo na configuração do conflito que se estabelece entre o
legado da tradição e as forças da Modernidade, entre os valores tradicionais e os
valores concebidos sob a égide da razão2.
Valores e instituições que antes eram considerados parte da natureza humana,
de um ponto de vista supra-histórico, passam a ser entendidos como frutos da
convivência humana. Com o tempo, nenhum tema seria considerado menos
nobre ou escaparia à ânsia de entendimento: o Estado, as religiões, a família e
a sexualidade, a moral, a divisão do trabalho, os modos de agir, as estruturas das
sociedades e seus modos de transformação, a justiça e a violência, entre outros.
A razão passa a ser vista como a luz que, promovendo a liberdade do indivíduo,
orienta sábios e ignorantes em direção à verdade.
Crise da Racionalidade
As primeiras críticas à razão ou à visão iluminista da razão ocorrem ao final do
século XIX e se voltam contra seu caráter universalista e abstrato. A Modernidade,
capitaneada pela razão, propunha valores, modos de pensar e de agir, concepções
de mundo etc., como valores universais, ou seja, válidos e aplicáveis a todas as
sociedades humanas em qualquer situação.
2. É importante lembrar que que uma das consequências da Revolução Francesa foi o inicio de uma grande e drástica
mudança na sociedade europeia, pois é o mesmo período que marca os primeiros passos para a Revolução Industrial,
o início do mundo das fábricas, indústrias e das divisões de classes na prática.
9
9
UNIDADE A Crise da Razão
“A subjetividade é a verdade”. Com essa frase, Kierkegaard afirma que o que existe
realmente não é o conceito de indivíduo, e sim, o Indivíduo concreto, vivendo aqui e
agora, decidindo sua própria existência.
https://goo.gl/0nKF9C
10
Sören Kierkeggard (1813-1885)
é considerado precursor do Existen-
cialismo, foi crítico severo da filoso-
fia racionalista. Na filosofia iluminista,
universalista, o individual e particular
explicam-se pelo geral. Desse modo,
para Kierkegaard, na filosofia moder-
na, “desde Descartes até Hegel, o ser
humano não é visto como ser existen-
te, mas como abstração, reduzido ao
conhecimento objetivo. Na verdade,
porém, a existência subjetiva é irre-
dutível ao pensamento racional, e por
isso mesmo possui valor filosófico fun-
Figura 3 – Kierkeggard damental.” (ARANHA & MARTINS,
Fonte: Wikimedia Commons 2013, p. 154).
11
11
UNIDADE A Crise da Razão
A Constatação da Irracionalidade
Já no século XX, o pensamento dito “pós-moderno” sofreu a influência
da filosofia nietzschiana, com seu perspectivismo, e também dos filósofos citados
anteriormente, que procuraram desvendar as ilusões do conhecimento daquela
razão toda poderosa da modernidade.
Com a Primeira Guerra Mundial, vem à tona, para grande parcela dos
intelectuais formados na tradição iluminista, o outro lado da moeda: os resultados
“não desejados do progresso da Ciência e da Razão”. O mundo mostra-se, na
verdade, um caos. Nunca antes tamanha brutalidade do homem contra o homem
havia sido vista. A questão que a Filosofia e diversos filósofos se colocavam era:
como poderia haver tamanha violência no reino da Razão?
Figura 5 – Guernica foi produzida por Pablo Picasso, em 1937, representa a violência em virtude de um
bombardeio aéreo feito pelos alemães durante a Guerra Civil Espanhola à localidade de Guernica, no país Basco,
no dia 26 de abril de 1937. Reproduz a atrocidade das vidas estilhaçadas e dos corpos revirados do avesso
Fonte: Wikimedia Commons
12
O mundo não tem mais sentido e mostra-se completamente diferente do que era,
nada mais tem o seu lugar definido. Se no passado não havia por que questionar
o mundo, pois ele era “sensato”, naquele instante não há o que ser questionado
porque nada é certo.
13
13
UNIDADE A Crise da Razão
A Fenomenologia
A corrente filosófica que chamamos Fenomenologia surge ao final do século
XIX e seu principal representante é Edmund Husserl (1859-1958).
Para Husserl, os fatos existem, mas não são importantes em si; o ser humano
não se interessa por eles, mas pelos sentidos que são dosatribuídos a eles. Como
relação, por exemplo, a pergunta que várias Ciências se fazem: o que é a verdade?
Husserl diz que a verdade, do ponto de vista humano, reside no sentido e não
no fato. Cada pesquisador, ao se debruçar sobre a verdade, estará preocupado
e, desse modo, atento somente àquilo que lhe faz sentido, tudo mais é deixado
14
de lado. Cada um descreverá alguns aspectos da verdade, não a Verdade em si.
Não é possível, assim, o conhecimento absoluto e universal proposto pela razão
iluminista, apenas conhecimentos referidos a um determinado sujeito:
“A fenomenologia critica a filosofia tradicional por desenvolver uma
metafísica vazia e abstrata, voltada para a explicação. Ao contrário, a
fenomenologia tem o próprio ser humano como ponto de partida de
reflexão. Ao buscar o que é dado na experiência, descreve ‘o que se
passa’ efetivamente do ponto de vista daquele que vive uma determinada
situação concreta” (ARANHA & MARTINS, 2013, p. 157).
A Escola de Frankfurt
O Instituto de Pesquisa Social foi fundado em 1924, em Frankfurt, na Alemanha.
Entre seus mais renomados componentes estão pensadores como Marx Horkheimer,
Theodor Adorno, Herbert Marcuse, Walter Benjamin, Erich Fromm e Junger
Habermas, esste último pertencendo à segunda geração da Escola. Em Frankfurt,
tais autores desenvolveram a chamada Teoria Crítica, que unia conhecimento e
transformação histórica; em oposição à chamada Teoria Tradicional, que opunha
teoria e prática. Estavam, portanto, interessados na integração entre Filosofia e
análise social, em explorar as possibilidades de transformar a ordem social por
meio da práxis (prática, ação concreta).
15
15
UNIDADE A Crise da Razão
16
Com os acontecimentos que marcavam a história da Alemanha, na década de
1930, Mannheim vê-se obrigado a abdicar de seu sonho inicial de uma República
na qual o debate político racional entre os diversos grupos prevaleceria. O mundo
mostra-se cada vez mais irracional, o obscurantismo toma conta da sociedade alemã,
na qual Mannheim vivia. Para o autor, a ideologia, nesse momento, é extremamente
irracional, não há a possibilidade de diálogo entre as forças contrárias.
[...] podemos, às vezes, duvidar do que está certo ou errado, e isto pode
ser aceito como coisa natural. Mas quando prevalece uma ansiedade
de massas, porque a comoção ideológica geral elimina toda base sadia
para a ação comum, e quando a gente não sabe onde está, nem o que
deve pensar a respeito dos problemas mais elementares da vida, então
se pode falar, com razão, de uma desintegração espiritual da sociedade
(MANNHEIM, 1972, p. 23).
Isso se mostra como um mercado livre, em que cada grupo coloca sua opinião
e, assim, o indivíduo confunde-se pelas pressões das unidades rivais sem conseguir
discernir sobre qual caminho é mais positivo. Sendo assim, um dos grandes
problemas da Democracia, para o autor, está em repartir o poder comum, e
também no fato de que o voto, da massa “irracional”, pode ser manipulado por
partidos ou grupos de pressão.
17
17
UNIDADE A Crise da Razão
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Kierkegaard
Para conhecer um pouco mais sobre o pensamento do filósofo, acesse o site:
https://goo.gl/3REhY
Nietzsche
Para conhecer um pouco mais sobre o pensamento do filósofo, acesse o site:
https://goo.gl/mnmZK5
Fenomenologia
Para conhecer um pouco mais sobre esse pensamento filosófico, acesse o site:
https://goo.gl/h1e0sE
Fenomenologia e existencialismo: articulando nexos, costurando sentidos
https://goo.gl/kNT6ld
Escola de Frankfurt
Para conhecer um pouco mais sobre essa escola filosófica, acesse o site:
https://goo.gl/chdVGs
Mannheim
Para conhecer um pouco mais sobre o pensamento desse autor, acesse o site:
https://goo.gl/DTkni5
Vídeos
Especial Nietzsche - Viviane Mosé - Café Filosófico
https://youtu.be/wszgKT2zS-c
FRIEDRICH NIETZSCHE I “Além do Bem e do Mal” (Human, All Too Human) I Documentário
https://youtu.be/vLcvjBys5hk
Aula 31 - Filosofia e Sociologia - Escola de Frankfurt - A Dialética do Esclarecimento - Parte I
https://youtu.be/yJIF3QldGKk
19
19
UNIDADE A Crise da Razão
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
introdução à filosofia. 5ª Ed. São Paulo: Moderna, 2013.
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Filosofia
Material Teórico
Ética e Cidadania
Revisão Técnica:
Prof. Ms. Edson Alencar Silva
Revisão Textual:
Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin
Ética e Cidadania
• Introdução
• Os Valores
• A Moral e o Ato Moral
• Ética: Algumas Considerações Filosóficas
• A Questão da Liberdade: Algumas Considerações
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Vamos finalizar nosso estudo de Filosofia, discutindo um tema muito
importante no mundo atual: a questão da Ética e da Cidadania.
· Nesta Unidade, discutiremos alguns aspectos iniciais desse problema
que sempre aparece nos noticiários.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Ética e Cidadania
Introdução
Você é ético?
Leia o texto a seguir e se lembre de que essa é uma situação fictícia, criada com
o objetivo de promover reflexão.
Contudo, se você não fizer nada, vai tirar uma sequência de fotos que lhe
garantirão riqueza e fama. Afinal, todos vão querer ver celebridades morrendo.
8
Os Valores
Ao entrar em contato com algo, uma árvore, por exemplo, fazemos uma série
de observações em nossa relação com o objeto: sua cor, seu cheiro ou sua beleza.
Essas observações são os juízos.
Observe:
Figura 1
Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images
Atribuímos valor às coisas todo o tempo e isso marca a nossa relação com o
mundo. Eles podem ser de utilidade, beleza, morais (bem e mal), econômicos.
Trocando ideias...Importante!
“Desse modo, os valores podem ser lógicos, utilitários, estéticos, afetivos, econômicos,
religiosos, éticos” (ARANHA & MARTINS, 2013, p. 171).
Figura 2
9
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UNIDADE Ética e Cidadania
Moral Ética
Origem Latina Origem Grega
mos, moris ethos
“maneira de comportar regulada pelo costume.” “costume”
É normativo
Ato Moral
As normas que determinam o “dever ser”.
É fatual
São os atos humanos que se realizam.
É voluntário e livre
É um ato de vontade que busca um objetivo.
É responsável É solidário
É um momento de ação livre e consciente. Reciprocidade entre os envolvidos.
Figura 3
10
Estabelecidas as características do Ato Moral e determinado que a Moral é fruto
da ação coletiva humana, podemos iniciar as considerações sobre a questão da
Ética, ou seja, as reflexões que a Filosofia propõe sobre a vida moral.
Os homens de bem querem o bem de uns e outros, do mesmo modo. E por serem homens de
Explor
bem são amigos dos outros, pelo que os outros são. Esses são assim amigos de uma forma
suprema. Querem para os seus amigos o bem que querem para si próprios.»
Ética a Nicômaco – Aristóteles.
Para o estoicismo, Deus é a “razão final” do Cosmo. Nada acontece que não
esteja determinado por ele. E é para ele que todo indivíduo é destinado. Portanto,
o bem supremo é viver de acordo com a natureza. O homem é protagonista de sua
vida, pois não há determinações divinas em suas ações. Por isso, o “bem viver” se
resume na procura do prazer espiritual.
11
11
UNIDADE Ética e Cidadania
Trocando ideias...Importante!
Ainda que a Filosofia estivesse a “serviço” da Teologia, como se acreditava, Agostinho e
Tomás de Aquino resgatam a Filosofia Grega em suas vertentes platônica e aristotélica e
submetem-na a um processo de cristianização.
12
Considerando que o Ato Moral deve ser autônomo, como ele pode ser um
dever? Dois grandes filósofos tentaram responder esse dilema: Rousseau e Kant.
13
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UNIDADE Ética e Cidadania
Figura 6
Fonte: Wikimedia Commons
Para Hegel, “o Espírito é o indivíduo que constitui um mundo tal como ele se
realiza na vida de um povo livre”. O ambiente social está constituído por uma
Consciência que determina seus valores normativos. Esses valores, compreendidos
na autoconsciência, compõem os elementos “ditos” para um indivíduo, ou seja, o
Espírito inserido numa dimensão social.
14
Segundo Nietzsche:
15
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UNIDADE Ética e Cidadania
Vamos buscar alguns sentidos desse termo. Liberdade é uma palavra originária
do latim “liberare”, que significa a pessoa que pode dispor de si mesma, que não
está sujeita a ninguém. A questão da liberdade relaciona-se a várias dimensões do
ser humano: a sua racionalidade, do seu todo psicológico, social, cultural e político.
16
· A liberdade se opõe ao que é con-
dicionado externamente e ao que
acontece sem escolha voluntária.
· É considerado livre aquele que tem
em si mesmo o princípio para agir
ou não.
· A liberdade é o poder absoluto da
vontade para se determinar.
Figura10
· A liberdade é a ausência de cons-
Fonte: Wikimedia Commons trangimentos externos ou internos.
“Nas coisas de fato, nas quais o agir depende de nós; e quando estamos
em condições de dizer não, podemos também dizer sim. De forma que se
cumprir uma boa ação depende de nós, dependerá também de nós não
cumprir uma ação má” (Ética a Nicômaco, III).
17
17
UNIDADE Ética e Cidadania
O possível, portanto, é aquilo que nós criamos por nossa própria ação. A liberdade
é, simultaneamente, a consciência das circunstâncias que nos cercam e as ações que
realizamos no intuito de superar essas circunstâncias e chegar à felicidade.
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Cidadania: Uma Possibilidade de Felicidade e Liberdade?
A liberdade sempre é associada à cidadania. Contudo, do que trata a cidadania?
Na obra Política, Aristóteles discute o que se pode entender por cidadania e a
define assim:
“Um cidadão integral pode ser definido por nada mais nem nada menos
que pelo direito de administrar justiça e exercer funções públicas, algumas
destas, todavia, são limitadas quanto ao tempo de exercício, de tal modo
que não podem de forma alguma ser exercidas duas vezes pela mesma
pessoa, ou somente podem sê-lo depois de certos intervalos de tempo
prefixados; para outros encargos não há limitações de tempo no exercício
de funções públicas (por exemplo, os jurados e os membros da assembleia
popular).” (ARISTÓTELES. Política. 3.ª ed. Brasília: UnB, 1997. p. 78).
1. DALLARI, Dalmo. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998, p.14.
19
19
UNIDADE Ética e Cidadania
Cidadania significa:
Figura 15
Fonte: Wikimedia Commons
20
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Portal Direitos Humanos
Esse site reúne um conjunto de serviços e informações sobre o tema no Brasil e no mundo.
http://www.dhnet.org.br
Núcleo de estudos da cidadania, conflito e violência urbana – UFRJ
Site acadêmico que tem textos, mapas e estatísticas sobre o tema, com destaque para a
questão da violência urbana.
http://necvu.tempsite.ws
Cartilha de Educação para cidadania -– Assembleia Legislativa de MG
Este site tem um conjunto de textos simples e bem escritos sobre o tema.
https://goo.gl/BCe7d1
Programa Ética e cidadania – MEC
Esse site apresenta um programa de educação para a cidadania. Existe um conjunto de
textos sobre ética, inclusão e outros temas que podem ser salvos em pdf.
https://goo.gl/Ir1ehn
Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento -– PNUD Brasil
Site institucional do programa da ONU para o desenvolvimento humano. Destacam-
se os dados sobre a cidadania no nosso país.
https://goo.gl/MPKGUc
Biblioteca Virtual de direitos humanos da USP
Trata-se de um site institucional que reúne documentos importantes sobre o tema e
apresenta links para diversos sites oficiais sobre o tema.
https://goo.gl/4JJ3y
Leitura
A ética dos antigos e a ética dos modernos
BERTI, Enrico. A ética dos antigos e a ética dos modernos
https://goo.gl/6rgowv
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UNIDADE Ética e Cidadania
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:
introdução à filosofia. 5.ed.ª Ed. São Paulo: Moderna, 2013.
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