EXMO(A). SR(A).
JUIZ(ÍZA) PRESIDENTE DA TURMA DE
ADMISSIBILIDADE DE RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS DO ESTADO DA
BAHIA
Proc. nº ...
RECORRENTE..., qualificado(a) nos autos em que litiga com [...], vem,
por seus advogados, vem, perante V. Exa., por seu advogado, com fundamento no art.
102, I, “a”, CF, interpor
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
contra o r. acórdão (Evento nº ....), o que faz pelos motivos constantes nas Razões anexas.
Requer a adoção do procedimento previsto no art. 83 do RI/TR e, após,
que esta D. Presidência, na forma do art. 83-A, II, CI/TR e art. 1.030, II, CPC/15,
encaminhe “o processo ao órgão julgador para realização do juízo de retratação, se o
acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal Federal (...)0 nos
regimes de repercussão geral (...)”ou admita o recurso e determine a remessa dos autos
ao E. STF.
Termos em que, pede deferimento.
Salvador (BA), 12 de junho de 2023.
E. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Recorrente:
Recorrido:
Processo nº:
Origem:
Objeto do recurso:
RAZÕES RECURSAIS
Eméritos Ministros,
Faz-se necessária a interposição do presente Recurso Extraordinário, por ter
o r. acórdão recorrido contrariado dispositivos da Constituição Federal, a seguir expostos.
1. SÍNTESE DA QUESTÃO JURÍDICA
O E. Tribunal de Justiça do Estado da Bahia editou a Resolução n° 02, de
10 de fevereiro de 2021, que instituiu “o Regimento Interno das Turmas Recursais dos
Juizados Especiais Cíveis, Criminais e da Fazenda Pública do Estado da Bahia e da
Turma de Uniformização da Jurisprudência”.
A referida Resolução se dispõe a “melhorar a eficiência das rotinas
procedimentais das Turmas Recursais e da Turma Estadual de Uniformização e atualizar
o fluxo das atividades desenvolvidas pelos respectivos juízes membros, esclarecendo
sobre composição, presidência, atribuições, sessões e outros tópicos de relevantes a
produtividade e eficiência no julgamento dos processos da competência das Turmas
Recursais e da Turma de Uniformização”.
Posteriormente, foi editada a Resolução 02/2023, que alterou o Regimento
Interno em alguns aspectos, em franca violação aos limites constitucionais.
Com base em tais normas regimentais, as Turmas Recursais do Estado da
Bahia estão a julgar todos os recursos inominados monocraticamente, tal qual no caso
concreto. Não bastasse, também com base no Regimento Interno as Turmas Recursais
estão a julgar os Agravos Interno sem inclusão em pauta de julgamento, como também
aconteceu no caso concreto.
A questão jurídica que se põe é a se o Tribunal de Justiça da Bahia, sob a
justificativa de melhorar a eficiência e a celeridade dos procedimentos, pode, através de
normas internas, suprimir ou restringir de modo desarrazoado garantias processuais legais
e constitucionais dos jurisdicionados e advogados, como no caso concreto.
A resposta, adianta-se, é negativa, pois por mais que os regimentos e
normas internas possam ser também fontes de direito processual, não são fontes em
patamar apto a suprimir ou restringir direitos e garantias, processuais e constitucionais,
dispostos por Lei em sentido estrito, dados os limites constitucionais impostos pelo art.
96, I, alínea “a”, da Constituição Federal.
O Regimento Interno das Turmas Recursais do Estado da Bahia (RI/TR),
apesar da importante finalidade a que se destina, em alguns de seus dispositivos:
(i) usurpou competência privativa da União Federal para legislar
acerca do direito processual civil, malferindo o art. 22, I, da CF/88.
(ii) contrariou o art. 96, I, “a”, da CF/88, porque extrapola a
autonomia regulamentar dos Tribunais, criando hipóteses
ampliadas de julgamento monocrático, restringindo o direito à
sustentação oral, estabelecendo, para o juízo inferior, competência
para realizar juízo de admissibilidade, fora da moldura da
legislação federal.
(iii) não observou normas de processo e as garantias processuais
das partes, a exemplo do direito a um processo devido, ao
contraditório, à ampla defesa, à segurança jurídica e ao juiz natural,
malferindo o art. 5°, XXXVI, XXXVII, LIII, LIV e LV, da CF/88.
A gravidade das violações impõe a interposição deste recurso
extraordinário.
2. DO CABIMENTO
De acordo com o art. 102, I. Alinea “a”, CF, é cabível a interposição de
Recurso Extraordinário contra decisão que, em única ou última instância, contrariar
dispositivo da Constituição. Este recurso está escorado neste permissivo constitucional
(Súm. 284, STF).
No caso, houve o devido esgotamento da instância ordinária, por terem
sido interpostos os recursos necessários e aptos a viabilizar a exaustão das questões de
fato, em atendimento à Súmula 281/STF. Não há, no caso, necessidade de revolvimento
do contexto fático-probatório, visto que a questão em discussão é unicamente de direito,
afastando os óbices da Súmual 279/STF.
Foram apontados como violados pelo acórdão recorrido os seguintes
dispositivos constitucionais: art. 5º, inciso, XXXVII, LIII, LIV e LV, art. 22, I, e art. 96,
I, “a”.
Todos estes dispositivos foram devidamente pré-questionados na instância
ordinária, oportunamente no recurso interposto perante o Tribunal de origem, e ainda
foram opostos Embargos de Declaração com vistas a suprimir a omissão na análise, em
atenção às Súmulas 282 e 356/STF.
Operou-se a hipótese de pré-questionamento ficto, nos termos do art.
1.025, CPC, por não ter havido a expressa apreciação dos dispositivos constitucionais
apontados como violados na instância de origem.
3. DA REPERCUSSÃO GERAL JÁ RECONHECIDA: TEMA 294
Este E. STF, em caráter vinculante, quando do julgamento, em sede de
Repercussão Geral, do RE nº 612359, fixou a seguinte tese objeto do Tema 294:
Tema 294-RG. Cabe o julgamento monocrático no âmbito dos Juizados
Especiais, desde que possível sua revisão pelo Órgão Colegiado.
Como será a seguir mais bem explicado, o acórdão recorrido, ao aplicar o
procedimento previsto no art. 80, §3º, RI/TR, que permite a não inclusão do agravo
interno em pauta, gera como consequência a monocratização do julgamento também deste
recurso, violando a tese fixada pelo STF no Tema 294-RG.
Assim, impõe-se a remessa do processo ao órgão julgador para realização
do juízo de retratação, por ter o acórdão recorrido divergido do entendimento do
Supremo Tribunal Federal no regime de repercussão geral (...)”.
Caso, todavia, entenda-se fundamentadamente pela não aderência do caso
concreto ao Tema 294-RG, urge seja reconhecida a repercussão geral ao caso, visto a
relevância jurídica e os graves impactos que as violações constitucionais estão a gerar na
generalidade dos recursos em trâmite perante as Turmas Recursais. Logo, vê-se que não
se trata de mera violação de direito subjetivo do(a) Recorrente, e sim graves violações ao
direito constitucional objetivo, com repercussões em todos os processos em curso perante
os Juizados Especiais no Estado da Bahia.
4. DAS RAZÕES PARA ANULAÇÃO DA DECISÃO RECORRIDA
a) Da violação constitucional pela previsão e aplicação de norma regimental de
hipótese de julgamento monocrático sem previsão legal. Manifesto
desrespeito aos limites do art. 96, I, “a”, CF. Contrariedade ao art. 5º,
XXXVII, LIV e LV, e art. 22, I, da CF/88
A decisão recorrida foi julgada monocraticamente, sem a existência de lei
que autorize o afastamento da competência do órgão colegiado para a sua apreciação,
induzindo a nulidade processual.
O art. 5°, LIV e LV, da CF/88, assegura o devido processo legal, o
contraditório e a ampla defesa. Além disso, conforme art. 22, I, da CF/88, a Constituição
Federal confere competência privativa à União para legislar sobre direito processual.
No exercício de sua competência privativa, o CPC/15 foi editado que, nos
termos de seus arts. 8°, 932 e 937, estabelece que processo devido é aquele em que (i)
assegurado o julgamento colegiado, em casos de atuação de Tribunal, no exercício de
sua competência originária ou derivada, cabendo ao relator a prolação de decisões
monocráticas em hipóteses específicas, previstas em lei (incisos II a VI do art. 932 do
CPC/2015); e (ii) oportunizada a sustentação oral, no âmbito dos julgamentos
colegiados.
Na contramão da legislação federal, o art. 15, XI e XII do Regimento
Interno das Turmas Recursais (RI/TR), em virtude das Resoluções 02/21 e 02/23,
estabelece a possibilidade de julgamento monocrático em situações mais amplas do que
as autorizadas pelo diploma processual civil, em desrespeito aos limites constitucionais.
Comparando as hipóteses de julgamento monocrático previstas no Art. 15,
XI e XII, com as hipóteses de julgamento monocrático dispostas no art. 932, II a VI, do
CPC/2015, Diploma Normativo que se aplica, de forma supletiva, ao rito dos Juizados
Especiais, nos termos do Art. 1.046, §2°, o CPC/2015, verifica-se que os dispositivos do
Regimento Interno das Turmas Recursais extrapolam os limites legais, violando, a
um só tempo, os arts. 22, I, e 96, I, da CF/88, e o art. 5°, LIV e LV, da CF/88 1.
O contraste entre os dispositivos bem ilustra a ampliação inconstitucional
das hipóteses de julgamento monocrático:
REGIMENTO DAS TURMAS CPC/15
RECURSAIS DO TJBA
Art. 15. São atribuições do Juiz Relator, Art. 932. Incumbe ao relator:
em cada Turma Recursal:
XI. negar seguimento, nas Turmas III – não conhecer de recurso inadmissível,
Recursais Cíveis, em decisão prejudicado ou que não tenha impugnado
monocrática,a recurso inadmissível, especificamente os fundamentos da decisão
improcedente, prejudicado ou em recorrida;
manifesto confronto com súmula ou
jurisprudência dominante da própria IV – negar provimento a recurso que for
Turma Recursal, da Turma de contrário a:
Uniformização de Jurisprudência ou dos a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do
Tribunais Superiores, cabendo Agravo Superior Tribunal de Justiça ou do próprio
Interno, previsto no artigo 80 deste tribunal;
Regimento Interno; b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal
Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
XII. dar provimento, nas Turmas Recursais julgamento de recursos repetitivos;
Cíveis, em decisão monocrática, a recurso c) entendimento firmado em incidente de
se a decisão estiver em manifesto resolução de demandas repetitivas ou de assunção
confronto com súmula ou jurisprudência de competência;
dominante da própria Turma Recursal, da
Turma de Uniformização de V – depois de facultada a apresentação de
Jurisprudência ou dos Tribunais contrarrazões, dar provimento ao recurso se a
Superiores, cabendo Agravo Interno, decisão recorrida for contrária a:
previsto no artigo 80 deste Regimento a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do
Interno; Superior Tribunal de Justiça ou do próprio
tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal
Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de
resolução de demandas repetitivas ou de assunção
de competência;
No que se refere à violação ao art. 22, I, da CF/88, o Regimento Interno
usurpou competência da União para legislar sobre matéria processual e extrapolou
os limites de sua competência regulamentar, eis que os incisos XI e XII do art. 15 d do
RI/TR não observaram as normas de processo e as garantias processuais das partes. Por
consequência, restou violado os limites constitucionais fixados na parte final do art. 96,
1
E nem se pode admitir a prevalência do quanto fixado no Enunciado 161 do FONAJE, segundo o qual “Considerado
o princípio da especialidade, o CPC/2015 somente terá aplicação ao Sistema dos Juizados Especiais nos casos de
expressa e específica remissão ou na hipótese de compatibilidade com os critérios previstos no art. 2º da Lei 9.099/95
(XXXVIII Encontro – Belo Horizonte-MG)”. Tal enunciado revela um entendimento manifestamente contra legem e
contraintuitivo, já que na contramão de toda e qualquer técnica de interpretação normativa, presume, no caso do silêncio
da lei especial e de “incompatibilidade” da lei geral, a possibilidade de se criarem normas processuais ex nihilo.
I, “a”, CF.
Os incisos XI e XII do art. 15 do RI, ademais de violarem o contraditório
e a ampla defesa, estão a desrespeitar regra de competência fixada por lei e a legislar
sobre matéria reservada à lei federal (art. 22, I, da CF/88).
Em relação à violação ao art. 5°, LIV e LV, da CF/1988, ao permitir o
julgamento monocrático fora das hipóteses legais e vedar a oportunização da sustentação
oral, os dispositivos impugnados deixam de realizar o devido processo legal, o
contraditório e a ampla defesa, assegurados constitucionalmente.
Além de violar os arts. 22, I, e 5°, LIV e LV, da CF/88, o art. 15 e seus
incisos, na forma exposta acima, ao promoverem uma mescla de conceitos e criarem
hipóteses não previstas na Lei Processual geral ou na Lei n° 9.099/95, mostram-se
contrários à estabilidade, integridade e coerência, decorrentes do devido processo
legal.
Isso porque, enquanto o art. 932, do CPC/2015, admite seja proferida
decisão monocrática fundada em precedentes obrigatórios, observando o rol de
precedentes vinculantes do art. 927, do CPC/2015, o RI/TR, nos mencionados incisos do
art. 15, “pinça” apenas uma das hipóteses legais que admite o julgamento monocrático
(“súmula de Tribunal Superior”), omitindo-se quanto aos demais, como se não fossem
obrigatórios para os processos do microssistema dos Juizados, e ainda passa a admitir o
julgamento com base em “jurisprudência dominante”, gerando insegurança jurídica e
desrespeito ao art. 5°, XXXV, da CF/88.
“Jurisprudência dominante”, neste contexto do RI/TR, não exprime
nenhuma entidade concreta: é um artifício retórico, de sentido equívoco, que permite ao
magistrado fulminar (ou dar provimento, como se vê no inciso XII), sumariamente, a um
recurso sem se desincumbir do ônus de demonstrar de modo concreto, nem a identidade
fática e jurídica entre a “jurisprudência” e o caso concreto.
Seu emprego, portanto, pode viabilizar o julgamento monocrático,
indistintamente, ampliando-se as hipóteses de exceção ao julgamento colegiado e
restringindo-se o direito à sustentação oral. E ainda causa perplexidade que a dita
jurisprudência dominante seria “do Juizado” (art. 15, inciso XII), contrastando com o
conceito de “Turmas Recursais” utilizado no inciso anterior (art. 15, XI). Nisso dá a
entender que haveria possibilidade de julgamento monocrático pela existência até mesmo
de sentenças na mesma direção.
Vale rememorar que a locução “jurisprudência dominante”, trazida pelo
arcaico e revogado CPC/73, como pressuposto ao provimento ou improvimento de
recurso, sempre foi muito combatida, justamente por se revelar como um conceito
excessivamente aberto, impreciso, a causar extrema insegurança jurídica, face a
inexistência de critérios objetivos para aferição sistemática do que efetivamente fosse
“dominante”, dentre todos os acórdãos proferidos por um Tribunal.
Toda essa imprecisão conceitual levou o legislador a abolir tal locução do
ordenamento, de modo que o art. 932 do CPC/15 veio a excluir a expressão
“jurisprudência dominante” como um dos requisitos autorizadores do relator proferir
decisão de provimento e/ou improvimento de recursos.
A opção legislativa quanto ao julgamento monocrático foi a sua limitação
às hipóteses do art. 932, IV e V, CPC/15. É dizer, dentro dos poderes constitucionais em
matéria processual, o CPC/2015 delimita bem as hipóteses de julgamento monocrático
indicando que tipo de precedente obrigatório viabiliza a excepcionalidade do julgamento
monocrático e, por consequência, a restrição do direito à sustentação oral e à
colegialidade.
Desta forma, onde se lê “jurisprudência dominante” no RI/TR, art. 15,
XII, deste TJBA, apenas pode ser compreendido como “precedente obrigatório”, sob pena
de manifesta violação aos limites constitucionais à reserva legal em matéria processual.
A prova de que tal premissa é a única admissível na ordem jurídica foi ter
o E. STJ, em recente decisão de sua 1ª Seção, em 24/05/23, posto fim aos efeitos
imprecisos da citada expressão “jurisprudência dominante” ao decidir, em sede de PUIL
nº 825 / RS (2018/0131584-1), que:
4. À falta de baliza normativo-conceitual específica, tem-se que a locução
"jurisprudência dominante", para fins do manejo de pedido de uniformização de
interpretação de lei federal (PUIL), deve abranger não apenas as hipóteses
previstas no art. 927, III, do CPC, mas também os acórdãos do STJ proferidos
em embargos de divergência e nos próprios pedidos de uniformização de lei
federal por ele decididos, como proposto no alentado voto-vista da Ministra
Regina Helena Costa, unanimemente acatado por este Colegiado.
Na ocasião de tal julgamento, para encerrar em definitivo qualquer
controvérsia, o Ministro PAULO SÉRGIO DOMINGUES destacou o alcance da
definição a ser feita pelo STJ: “... isso vai valer para os Juizados, mas também para nós
e para as instâncias ordinárias da Justiça comum. A mensagem que passaremos será a
mesma.".
Em sua obra intitulada Regimentos Internos como Fontes de Normas
Processuais2, PAULO MENDES discorre sobre a (im)possibilidade de regimentos
internos criarem hipóteses de julgamento monocrático para além daquelas previstas no
art. 932, IV e V, CPC, analisando justamente o regimento interno do STJ. Veja-se: “O
Superior Tribunal de Justiça, por exemplo, amplia tal rol por meio do seu regimento
interno ao estabelecer no art. 255, §4º, II, que o relator pode julgar monocraticamente
sempre que houver “jurisprudência consolidada” do STF ou STJ sobre o tema”.
Diante deste cenário, o doutrinador conclui de maneira contundente pela
impossibilidade de tal ampliação ao arrepio do quanto delimitado pelo CPC/15, pois:
A cláusula de abertura do art. 932, VIII, contudo, não pode ser interpretada
desta forma. Quando estipulou especificamente os casos em que estaria
autorizada a decisão monocrática, sendo minucioso quanto às hipóteses em que
o relator poderia julgar as postulações sem levá-las ao colegiado, o legislador
parece ter tentado limitar este poder, privilegiando as decisões colegiadas.
E prosseguiu, destacando justamente o prejuízo à sustentação oral causado
pela ampliação das hipóteses de cabimento do julgamento unipessoal:
É de se recordar, inclusive, que a decisão monocrática em um caso pode
conduzir à supressão da possibilidade de as partes sustentarem oralmente suas
razões perante o colegiado, pois o instrumento de impugnação da decisão
monocrática é o agravo interno, recurso que, em regra, não permite a
sustentação oral.
Assim, em um caso em que as partes teriam direito de sustentar oralmente suas
razões perante o colegiado (apelação, recurso especial, recurso extraordinário
etc.), pela circunstância de o relator ter julgado monocraticamente, tal direito
teria sido ceifado. A melhor interpretação dos incisos do art. 932 do CPC
parece ser aquela que veda a possibilidade de criação de novas hipóteses de
decisão monocrática pelos regimentos internos dos tribunais. As hipóteses do
art. 932, IV e V, do CPC são exaustivas, não podendo ser ampliadas por meio
dos regimentos internos, sem prejudicar as normas do processo e as garantias
processuais das partes.
Em realidade, o direito ao julgamento colegiado e de sustentar suas razões
(ou contrarrazões) oralmente é elemento central na praxe forense, prerrogativa fundada
no Art. 7º, X, XI e XII, da Lei n° 8.906/94, e concentra o esforço de persuadir pela palavra
naquilo que a aridez do texto escrito talvez não suceda, como poeticamente resumido por
2
Salvador: Ed. JusPodivm, 2020, p.88.
CALAMANDREI3 ao suplicar:
“Senhor juiz, estou aqui embaixo, esgoelando-me para falar de assuntos
importantíssimos, como são os da liberdade e da honra de um homem. Seja
gentil, senhor juiz: de vez em quando, para que eu perceba que o senhor está em
casa, apareça à janela”.
Em histórico julgamento neste E. STF4, decidiu-se pela
inconstitucionalidade do art. 7º, IX, do Estatuto da Advocacia, que previa a sustentação
oral pelo advogado após o voto do relator, por prejuízo ao devido processo legal,
contraditório e ampla defesa. Neste julgamento, o MINISTRO CARLOS BRITTO bem
ressaltou que o prejuízo à sustentação oral resultava em violação ao contraditório e a
ampla defesa:
O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Senhora Presidente,
estamos cuidando de sustentação oral, e, de fato, ela é a expressão do
contraditório na sua oralidade. Não há como negar isso. É até o
clímax do contraditório oral no âmbito do devido processo legal.
Mesmo atingindo esse ponto mais alto, não deixa de ser contraditório, e
é claro que o contraditório antecede o julgamento.
No microssistema processual dos Juizados Especiais, por sua vez, vige,
como se sabe, o princípio da oralidade como um dos seus eixos procedimentais (art. 2º,
da Lei n° 9.099/95). No caso do Estado da Bahia, ainda mais relevante assegurar o
exercício da sustentação oral, visto ser esta a primeira oportunidade que os advogados
têm de apresentar suas razões aos magistrados, pois as audiências de conciliação são
realizadas por conciliadores e as audiências de instrução por juízes leigos.
Não levar o recurso à Turma significa obstar a sustentação oral, o que
restringe o contraditório e aprisiona a ampla defesa, pois “está claro que a sustentação
oral é manifestação do contraditório, devendo ser assegurado às partes sua produção na
sessão de julgamento dos órgãos colegiados”, como definem Fredie Didier e Leonardo
Cunha.
Em virtude dos princípios do contraditório e da ampla defesa, é evidente
3
CALAMANDREI, Piero. Eles, os juízes, vistos por um advogado. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 43.
4
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 7º, IX, DA LEI 8.906, DE 4 DE JULHO DE 1994.
ESTATUTO DA ADVOCACIA E A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. SUSTENTAÇÃO ORAL PELO
ADVOGADO APÓS O VOTO DO RELATOR. IMPOSSIBILIDADE. AÇÃO DIRETA JULGADA PROCEDENTE.
I - A sustentação oral pelo advogado, após o voto do Relator, afronta o devido processo legal, além de poder causar
tumulto processual, uma vez que o contraditório se estabelece entre as partes. II - Ação direta de inconstitucionalidade
julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 7º, IX, da Lei 8.906, de 4 de julho de 1994. (STF - ADI:
1105 DF, Relator: MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 17/05/2006, Tribunal Pleno, Data de Publicação:
04/06/2010).
que a parte tem o direito e o advogado tem a prerrogativa de, na sessão de julgamento,
sustentar oralmente as razões do recurso, sendo, inclusive, uma prerrogativa da
advocacia, nos termos do art. 7°, IX, do Estatuto da Advocacia e da OAB – EOAB.
De tudo isso se conclui que a resolução não poderia ter feito, mas fez, a
ampliação de hipótese de julgamento monocrático para situação não prevista
(jurisprudência dominante), e claramente rejeitada, pelo único instrumento que pode
dispor sobre a matéria: a lei! A r. decisão recorrida, portanto, ao optar pela aplicação do
RI/TR, e não pela CF e CPC/15, incorreu em graves vícios.
Inclusive, é de todo paradoxal a edição da Resolução justamente em
virtude da necessidade de adequação ao novo regramento legal e, ao mesmo tempo, com
repdoução de texto que constava apenas no CPC/73. Veja-se: “CONSIDERANDO a
entrada em vigor do novo Código de Processo Civil no ano de 2016 e a necessidade de
adequar as normas vigentes aplicáveis às Turmas Recursais e à Turma Estadual de
Uniformização às novas disposições legais”.
Observa-se, então, que, apesar de a Resolução n° 02/2021 ter, por objetivo
precípuo, dar efetividade aos primados do rito sumaríssimo dos juizados especiais, quais
sejam a oralidade, a simplicidade, a informalidade, a economia processual e a celeridade,
a ampliação inconstitucional das hipóteses de julgamento monocrático e a supressão
inconstitucional das sustentações orais em referidas hipóteses, perante Turmas Recursais
do Tribunal de Justiça da Bahia, em violação de regra de competência legislativa,
princípios do devido processo legal, contraditório, ampla defesa e segurança jurídica,
torna impositivo o reconhecimento da nulidade do julgamento monocrático.
b) Da violação ao tema 294-RG e as violações ao art. 5º, incisos XXXVII, LII e
LV, CF, em virtude da não inclusão em pauta do agravo interno
Embora suficientes os argumentos expostos no tópico anterior, o
procedimento empreendido de julgamento monocrático, com fundamento no art. 15, XII,
da Resolução nº 02/2021, também viola o quanto decidido pelo E. STF, em caráter
vinculante, quando do julgamento, em sede de Repercussão Geral, do RE nº 612359.
Neste julgamento restou fixada a tese vinculante objeto do Tema 294.
Há nítida violação constitucional pelo fato de estarem sendo
reiteradamente julgados monocraticamente também os agravos internos, embora
esteja sendo forjado um suposto julgamento por órgão colegiado.
Antes de enfrentar o tema propriamente dito, é válido ressaltar que todo
aquele que, de qualquer forma, participa do processo é obrigado a guardar a boa-fé, como
bem preconiza o art. 5º, CPC/15. Assim, como a doutrina e jurisprudência reconhecem,
também o órgão julgador se submete ao princípio da boa-fé processual. Como ressalta
FREDIE DIDIER JR, em prefácio à obra de MARCIO FARIA, “O STF e o STJ possuem
decisões, ainda sob a vigência do CPC/1973, que consagram essa submissão”. Nesta
obra, o autor apresenta necessários predicados para o que classifica como a postura de um
juiz leal no ambiente processual:
A postura leal do magistrado exige, portanto, três indispensáveis atitudes:
inicialmente, deve apresentar as cartas na mesa, em uma postura franca e aberta
sobre seus pensamentos e teses acerca de determinada questão; depois, deve
conceder às partes a oportunidade de apresentação de argumentos e razões que
possam demovê-lo das concepções e convicções eventualmente preexistentes;
por fim, deve se mostrar humilde e sóbrio o suficiente para se permitir se
convencer.
Mais adiante, perquirindo a possibilidade de o magistrado ser sujeito ativo da
prática de abuso processual, concluiu MARCIO FARIA:
Vale dizer, outrossim, que o novel art. 5º, CPC/15, ao se referir à obrigação de
comportamento conforme a boa-fé, também não faz qualquer distinção entre os
sujeitos processuais, aduzindo expressamente que tal obrigação deve ser
observada por todo “aquele que de qualquer forma participa do processo” (...).
Esta introdução é relevante para expor uma situação que, claramente, esbarra
nos limites da boa-fé processual. Tornou-se praxe no âmbito das Turmas Recursais o
julgamento do Agravo Interno SEM INCLUSÃO EM PAUTA. Ademais da absoluta
contrariedade a literal disposição de lei, tal procedimento camufla uma falsa impressão
de julgamento colegiado, por constar ter sido o julgamento realizado à unanimidade.
Entretanto, à medida em que o recurso não foi pautado para julgamento em plenário,
virtual ou presencial, torna-se uma clara burla à regra processual do julgamento colegiado
a mera informação de ter sido submetido à aprovação de todo o órgão colegiado.
O que acontece, e todos sabem, é apenas o julgamento monocrático, com
mero registro de não oposição de divergência, sem que verdadeiramente tivesse sido a
matéria submetida a debate e colheita de votos, mesmo que virtual.
No já citado julgamento neste E. STF5, em que se decidiu pela
inconstitucionalidade do art. 7º, IX, do Estatuto da Advocacia, que previa a sustentação
oral pelo advogado após o voto do relator, por prejuízo ao devido processo legal,
contraditório e ampla defesa, o Ministro MARCO AURÉLIO MELLO muito bem
retratou, durante os debates, a realidade dos votos colegiados:
Atuo em colegiado há dezesseis anos e já conheci quatro Colegiados mediante
participação direta. Iniciei o ofício judicante no Tribunal Regional do Trabalho
da Primeira Região. Cheguei em 1981 ao Tribunal Superior do Trabalho e em
1990 - já conto quatro anos nesta Casa ao Supremo Tribunal Federal, atuando
hoje concomitantemente no Tribunal Superior Eleitoral. Esses anos revelaram-
me um certo mistério no julgamento em colegiado. Ensinaram-me, como
ressaltou o Ministro Francisco Rezek, que dificilmente o voto do Relator deixa
de frutificar. Se fizermos um levantamento, e excluída a participação daqueles
que têm espírito irrequieto, vamos constatar que assim o é. Por vezes, prolatado
o voto do Relator, os demais integrantes do órgão o acompanham até mesmo sem
discorrerem sobre a espécie. É a dinâmica dos julgamentos. Por isso, a fala do
advogado exsurge com a maior importância, servindo ao esclarecimento de
aspectos que possam ter passado despercebido ao Relator.
(...)
Lembro que o direito processual é uno e que a norma referente à sustentação da
tribuna objetiva algo que não diz respeito, em si, e propriamente, à atuação do
advogado, à atividade por ele desenvolvida, ao engrandecimento dessa atividade,
mas a certa disposição da Carta, consubstanciadora do direito de defesa. Os
advogados assumem a tribuna almejando tornar prevalente o interesse do
respectivo cliente.
No caso concreto, a disposição da Resolução nem isso garante, porquanto
impede qualquer forma de sustentação oral, daí emanando uma gravíssima nulidade por
error in procedendo.
Portanto, a prática de não incluir o recurso em pauta de julgamento cerceia o
debate e a sustentação oral pelas partes, infringindo garantias processuais seculares, e
corresponde ao julgamento monocrático também do agravo interno, em desobediência ao
Tema 294-RG-STF, que admite o julgamento monocrático no âmbito dos Juizados
Especiais, desde que possível sua revisão pelo Órgão Colegiado.
5
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 7º, IX, DA LEI 8.906, DE 4 DE JULHO DE 1994.
ESTATUTO DA ADVOCACIA E A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. SUSTENTAÇÃO ORAL PELO
ADVOGADO APÓS O VOTO DO RELATOR. IMPOSSIBILIDADE. AÇÃO DIRETA JULGADA PROCEDENTE.
I - A sustentação oral pelo advogado, após o voto do Relator, afronta o devido processo legal, além de poder causar
tumulto processual, uma vez que o contraditório se estabelece entre as partes. II - Ação direta de inconstitucionalidade
julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 7º, IX, da Lei 8.906, de 4 de julho de 1994. (STF - ADI:
1105 DF, Relator: MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 17/05/2006, Tribunal Pleno, Data de Publicação:
04/06/2010).
Isso porque é sabido e ressabido que o sistema recursal tem como premissa
básica a colegialidade, e o procedimento nos juizados especiais é fortemente marcado
pela oralidade.
Quanto à colegialidade, o julgamento unipessoal é uma exceção, prevista em
lei em hipóteses taxativas. O ordenamento jurídico, ao excepcionar a regra da
colegialidade, em contrapartida confere aos litigantes a garantia processual de manejar o
agravo interno para atacar o julgamento monocrático.
Quanto à oralidade, como explanado por FLÁVIO LUIZ YARSHELL 6,
“pode e deve ser um eficaz instrumento do contraditório - para que ele se torne uma
realidade palpável e não apenas um postulado idealizado, que se ensina nos bancos da
Faculdade, mas que lá permanece, esquecido porque aniquilado ou desmentido pela
realidade”.
No julgamento da já mencionada ADI 1.105/DF, a Corte Suprema concluiu
pela inconstitucionalidade de dispositivo que, por causar prejuízo à sustentação oral,
violava o contraditório e a ampla defesa, como bem referiu o MINISTRO CARLOS
BRITTO durante o julgamento:
O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Senhora Presidente, estamos
cuidando de sustentação oral, e, de fato, ela é a expressão do contraditório na
sua oralidade. Não há como negar isso. É até o clímax do contraditório oral no
âmbito do devido processo legal. Mesmo atingindo esse ponto mais alto, não
deixa de ser contraditório, e é claro que o contraditório antecede o julgamento.
O mérito do agravo interno pode versar sobre violação à regra da
colegialidade, quando decidida a questão fora das hipóteses do art. 932, CPC, assim como
pode versar sobre error in judicando. Em qualquer destas hipóteses, o procedimento legal
é apenas um: oportunizar o contraditório e exercer o juízo de retratação. Não havendo
retratação, é obrigatório que o recurso seja levado ao órgão colegiado para apreciação e
julgamento, com inclusão em pauta, sob pena de usurpação de competência. Eis a regra
mais do que cristalina prevista em lei:
Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o
respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do
regimento interno do tribunal.
6
ORALIDADE E CONTRADITÓRIO EFETIVO: DILEMAS E PERSPECTIVAS DA TÉCNICA DE
SUSTENTAÇÃO ORAL PERANTE OS TRIBUNAIS. In: Direito Processual Civil Contemporâneo. Ed. Foco, 2020,
p. 220.
§ 1º Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os
fundamentos da decisão agravada.
§ 2º O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para manifestar-
se sobre o recurso no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual, não havendo
retratação, o relator levá-lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com
inclusão em pauta.
(...)
Segundo a jurisprudência do E. STJ, “não há que se falar em usurpação de
competência dos órgãos colegiados diante do julgamento monocrático do recurso,
estando o princípio da colegialidade preservado ante a possibilidade de submissão da
decisão singular ao controle recursal por meio da interposição de agravo interno”. (STJ
- AgInt no REsp: 1887023 DF 2020/0192311-2, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI,
Data de Julgamento: 01/03/2021, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe
03/03/2021).
Entretanto, na prática, o julgamento monocrático de um recurso de
competência privativa de órgão colegiado, ademais de violar todo a lógica do sistema
recursal, vulnera os limites constitucionais ao criar norma de processo e em sentido
oposto ao previsto em lei, no caso o art. 1.021, §2º, CPC/15, que impõe ao relator levar o
recurso a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta.
E a doutrina converge no sentido de que o agravo interno é justamente o
instrumento indispensável para, nas palavras de PEDRO MIRANDA DE OLIVEIRA,
manter “intactas garantias previstas constitucionalmente”7. E assim discorreu o
doutrinador sobre os poderes-deveres do Relator e a importância do agravo interno:
(...)
Se a manutenção dos poderes do relator é um ponto marcante no novíssimo
sistema recursal instituído pelo CPC/2015, pode-se dizer que o agravo interno
continua sendo seu contraponto, pois a busca por efetividade não significa dizer
que princípios constitucionais devam ser sacrificados. Afinal, em nenhuma
circunstância devemos estar dispostos a vender a alma.1
Não foi por outra razão que o legislador teve o cuidado de preservar, por meio do
agravo interno, alguns princípios constitucionais do processo civil no âmbito
recursal, tais como a ampla defesa, o juiz natural e o duplo grau de jurisdição.
Não são poucos os autores a assinalar que a constitucionalidade do julgamento
monocrático do relator é assegurada exatamente pela possibilidade de a parte
7
Aspectos Polêmicos dos Recursos Cíveis e Assuntos Afins - Vol. 14 - Ed. 2018 Autor: Nelson Nery Jr., Teresa Arruda
Alvim, Pedro Miranda de Oliveira Editor: Revista dos Tribunais 18. PODERES DO RELATOR E AGRAVO
INTERNO: CAUSA E CONSEQUÊNCIA
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/153916595/v1/document/156010076/anchor/a-
156010076
vencida interpor agravo interno, que funciona como forma de controle da
atividade do relator.
Violar a garantia da parte ao manejo ou ao julgamento de um recurso pela
autoridade competente afronta de maneira direta o texto constitucional, pois o art. 5º,
LV, CF prevê expressamente, como garantia da ampla defesa, o direito aos meios e
recursos a ela inerentes. A usurpação de competência pelo julgamento unipessoal do
agravo interno, ainda, caracteriza hipótese de juízo de exceção, vedado no art. 5º,
XXXVII, CF, por alterar competência prevista em lei para julgamento de recurso. Por
fim, a usurpação da competência para julgamento do agravo interno viola a literalidade
do art. 5º, LII, CF, que garante que “ninguém será processado nem sentenciado senão
pela autoridade competente”.
Além de tudo isso, o julgamento sem inclusão do feito em pauta, virtual ou
presencial, burla o postulado da boa-fé processual, a regra da colegialidade, o regramento
legal do agravo interno, o princípio da oralidade e o direito à sustentação oral pelas partes,
a prerrogativa profissional do advogado à sustentação oral, e culmina em inobservância
ao Tema 294-RG.
5. CONCLUSÃO
Ante o exposto, requer seja conhecido o presente recurso, e que seja o mesmo
PROVIDO para reconhecer as nulidades processuais e determinar o retorno dos autos às
Turmas Recursais para que seja o recurso inominado julgado pelo órgão colegiado, e não
monocraticamente, salvo nas hipóteses autorizadas pela legislação de regência, assim
como para reconhecer a necessidade de inclusão de recurso de agravo interno em pauta
de julgamento, por expressa imposição legal, nos limites conferidos pelo art. 96, I, “a”,
CF.
Termos em que, pede deferimento.
Salvador (BA), 12 de junho de 2023.