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Aula05 Laquesdilogoplatnico

O diálogo 'Laques' explora a coragem e a educação, criticando a irresponsabilidade das elites na formação de seus filhos e a superficialidade da democracia na resolução de questões complexas. Através da discussão entre Laques e Nícias, Platão destaca a importância da formação filosófica para sustentar a virtude da coragem, que deve ser cultivada por meio de desafios reais e sacrifícios. A obra enfatiza que a verdadeira educação deve promover uma transformação integral em direção ao bem e à verdade.
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O diálogo 'Laques' explora a coragem e a educação, criticando a irresponsabilidade das elites na formação de seus filhos e a superficialidade da democracia na resolução de questões complexas. Através da discussão entre Laques e Nícias, Platão destaca a importância da formação filosófica para sustentar a virtude da coragem, que deve ser cultivada por meio de desafios reais e sacrifícios. A obra enfatiza que a verdadeira educação deve promover uma transformação integral em direção ao bem e à verdade.
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Laques

Este diálogo versa sobre a coragem e introduz, na verdade, as ideias de Platão sobre a
virtude em sua totalidade. No início do diálogo, encontramos duas figuras, Lísimaco e Mélesias,
que discutem a educação de seus filhos. É evidente que ambos são indivíduos abastados, imersos
na consideração sobre as melhores práticas para a criação de seus herdeiros.

A discussão entre Lísimaco e Mélesias revela uma falta de critérios objetivos e uma
tendência a delegar a responsabilidade de educação de seus filhos sem uma consideração
cuidadosa. A crítica de Platão se torna evidente nesse ponto. A conversa entre eles se desloca para
a "hoplomaquia", uma forma de demonstração atlética que envolve o uso de lanças e escudos.
Essencialmente, trata-se de um espetáculo que hostiliza as habilidades do hoplita, incluindo
movimentos impressionantes e complexos.

O debate se concentra na decisão de incluir ou não os filhos na hoplomaquia,


questionando se é uma habilidade adequada para ser ensinada. Nesse contexto, surgem duas
figuras associadas à vida militar: Laques e Nícias. As diferenças marcantes entre eles começam a
se evidenciar. Laques, um general pragmático e bem-sucedido, está profundamente vinculado ao
cotidiano da vida militar. Por outro lado, Nícias, educado pelos sofistas, tende a adornar suas
palavras com um discurso mais elaborado.

O diálogo avança com um toque de humor quando eles consideram votar para determinar
a posição mais vantajosa. Este momento marca a próxima crítica do diálogo, apontando para a
irresponsabilidade das elites ao submeterem decisões importantes, como a educação de seus
herdeiros, a uma escolha leviana e humorística.

Em uma segunda instância, destaca-se a proposta de solução por meio da democracia para
resolver conflitos de natureza intelectual. Esse método envolve a votação em questões objetivas e
que demandam esforço intelectual. O diálogo, então, conduz os interlocutores até Sócrates,
propondo sua participação no debate devido à sua experiência como guerreiro, ressaltando a
relevância das habilidades marciais no contexto em questão.

Entretanto, Sócrates, ao entrar no debate, inicia uma ironia em relação à votação proposta,
destacando a inadequação desse método para resolver problemas complexos. Os protagonistas
originais, os milionários, decidem se retirar da discussão, evidenciando a típica falta de
responsabilidade das elites em momentos cruciais. Esta atitude reflete a tendência de delegar
problemas, característica de pessoas abastadas que buscam evitar o fortalecimento de virtudes
pessoais e não sabem lidar com as responsabilidades parentais.

A democracia é então satirizada como uma solução intelectual, onde a evasão do debate e
a ausência de consenso são aceitas como práticas corriqueiras. O retorno à votação é visto como
uma maneira de evitar o ônus do consenso, permitindo que as decisões sejam tomadas sem a
necessidade de debate e reflexão. O exemplo de Sócrates, que foi executado apesar de sua
inocência objetiva e contribuição positiva para Atenas, ressalta os perigos dessa abordagem
superficial.
O terceiro ponto do diálogo explora a relação entre hoplomaquia e a realidade. O
argumento se inicia com a observação de que os espartanos, conhecidos por sua superioridade
militar em relação aos atenienses, acabarão vencendo a Guerra do Peloponeso. Isso é uma
informação histórica subjacente à narrativa. A análise se aprofunda ao destacar a postura
espartana em relação à hoplomaquia, sugerindo que sua ausência de interesse nessa prática indica
sua inadequação para a guerra, mesmo sendo os espartanos notoriamente focados nesse aspecto.

Prosseguindo, observa-se que Platão busca transmitir a ideia de uma desconexão entre a
exibição estilizada de habilidades com lanças e escudos em Esparta e a realidade da formação
espartana. A ênfase é dada ao exemplo em que um jovem espartano, aos sete anos, deve enfrentar
um lobo, matá-lo e apresentá-lo ao pai como prova de sobrevivência. O desfecho bem-sucedido
desse desafio confirma a vitória do espartano. Essa discrepância entre a exibição e a prática real é
central na narrativa, questionando até que ponto as preferências pelo espetáculo se alinham com a
verdadeira formação.

O personagem Nícias é destacado como apreciador do floreio, influenciado pelos


ensinamentos sofistas. A análise avança para uma reflexão filosófica sobre o belo e o bom, mas,
ao mesmo tempo, aponta para a falta de um conceito objetivo, levando a uma abstração
excessiva e desvio do propósito original. O diálogo destaca o desafio de manter a clareza
conceitual e evitar a diluição de significado.

Neste contexto, Laques se mostra preocupado com a realidade particular, oferecendo uma
definição inicial de coragem como a capacidade de segurar a barra na guerra, o indivíduo que
permanece e luta. Contudo, Sócrates, de maneira característica, questiona a validade dessa
definição, introduzindo a perspectiva de que a hoplomaquia é apenas um meio para atingir um
fim mais elevado: a proeza em combate e, mais fundamentalmente, a virtude, neste caso,
representada pela coragem.

O debate transita da hoplomaquia para a coragem, ressaltando que esta última é anterior e
superior à primeira. A habilidade de realizar acrobacias com uma lança é ineficaz se desprovida
de verdadeira coragem. Essa transição ecoa discussões contemporâneas sobre artes marciais
ineficazes, em que a ênfase no floreio muitas vezes contrasta com a capacidade real de enfrentar
desafios reais. O diálogo, assim, continua a explorar a interseção entre a exibição estilizada e a
verdadeira substância das habilidades em questão.

Continuando a análise, percebe-se que a coragem é fundamental, transcende a mera


habilidade técnica na luta e está intrinsecamente ligada à virtude. Quem busca envolver seu
filho na hoplomaquia almeja, essencialmente, que ele desenvolva coragem, aspirando à grandeza
do filho. Nesse contexto, a discussão sobre virtude precede e supera a consideração das
habilidades individuais, as quais podem servir como meio para fomentar a virtude.

Essa reflexão sobre a virtude está intrinsecamente conectada à temática da batalha e da


guerra. No entanto, é necessário notar que segurar a ponta na batalha é uma virtude típica da
infantaria, enquanto um arqueiro, por exemplo, não experimenta a virtude da mesma maneira. O
recuo estratégico do arqueiro não representa falta de coragem, mas sim uma escolha estratégica
que pode envolver inteligência e planejamento. Portanto, a coragem não é uma qualidade
simplista e requer um conceito mais universal, uma dimensão que Laques parece não estar
plenamente reconhecendo.

Laques, ao persistir na busca pela verdade, enfrenta um desafio. A defesa da verdade, em


determinado nível do debate, pode levar a uma dinâmica onde alguém está certo e outro errado.
No entanto, Laques não consegue prevalecer no argumento contra Nícias, que, educado na
retórica, demonstra uma habilidade superior na argumentação. Laques, representando a pessoa
virtuosa desprovida de formação filosófica, destaca uma questão pertinente sobre a importância
de estudar filosofia, uma vez que, sem essa base, torna-se difícil justificar as convicções.
Assim, Laques, mesmo defendendo a coragem real, não possui as ferramentas filosóficas
necessárias para fundamentar sua posição. Ele personifica a boa pessoa que, sem a formação
adequada, enfrenta dificuldades em articular e justificar suas convicções. Isso é evidenciado
quando o argumento sofista prevalece sobre o dele, resultando na perda da coragem na cultura em
questão. Essa dinâmica ressalta a importância da formação filosófica para embasar e sustentar
argumentos morais e éticos em um contexto mais amplo.

A formação filosófica emerge como um elemento crucial, pois não é suficiente possuir
coragem; é imperativo saber defendê-la, explicá-la e protegê-la, inclusive contra aqueles que
buscam relativizar o conceito. Esta é uma das principais razões pelas quais a filosofia é
considerada essencial para a defesa eficaz da coragem. A vivência da coragem é fundamental,
pois defender sem viver é considerado palhaçada e hipocrisia, refletindo fraqueza. No entanto,
viver sem a capacidade de argumentar e defender resulta em superficialidade e na incapacidade
de proteger aquilo que é correto.

O diálogo Laques, ganha relevância por abordar um arquétipo comum na filosofia


incipiente, o do rico ocioso que deseja educar seus filhos, mas carece de orientação, acabando por
financiar ideias inadequadas. Esta problemática, evidenciada na Grécia antiga, persiste na
sociedade contemporânea, com ricos irresponsáveis financiando indiscriminadamente. A figura de
Laques, uma pessoa virtuosa sem habilidades argumentativas e de proteção, representa um dilema
recorrente.

Nícias, apesar de não ser mal-intencionado, ilustra como uma formação filosófica
deficiente pode resultar em confusão. Sócrates, ao questionar a definição abrangente de coragem
proposta por Nícias, enfatiza a necessidade de uma compreensão específica e exata da virtude da
coragem.

Laques, na dinâmica do debate, demonstra uma busca constante pela precisão conceitual,
destacando a conexão intrínseca da coragem com outras virtudes. Sócrates, ao tentar restaurar a
noção exata, enfatiza a importância de compreender a conexão específica entre a coragem e outras
virtudes.

A sobreposição da aparência em detrimento da realidade é apontada como um fator que


contribuiu para a ruína de Atenas, muitas vezes erroneamente apresentada como uma cidade de
sucesso nos currículos escolares. Contrariamente, Atenas enfrentou fracassos militares, declínio e
eventual dissolução política. A desintegração completa de Atenas foi testemunhada pelos maiores
filósofos gregos, incluindo Aristóteles, quando a cidade entrou em colapso e foi destruída pelos
romanos.

Atualmente, vivemos em uma época de decadência marcada por características históricas,


sendo a irresponsabilidade um traço proeminente. A tomada de decisões por meio do voto, ao
invés de fundamentar-se na virtude, reflete a ausência de responsabilidade individual. A falta de
habilidade para defender a verdade e o afastamento da realidade são sintomas da decadência
contemporânea. A virtude essencial da coragem, necessária para superar desafios, não está
sendo devidamente cultivada.

A coragem, enquanto virtude, requer a prática constante de atos corajosos e uma


formação intelectual que sustente e priorize o sacrifício. A conexão intrínseca entre coragem e
sacrifício é evidente, pois suportar sofrimentos e sacrificar-se pelo bem maior são elementos
fundamentais da coragem. Outros filósofos, como Tomás de Aquino, exploram a relação entre
paciência e coragem, destacando que aguentar sofrimentos em prol de um bem maior é parte
integrante dessa virtude.

Ao examinar a virtude da fortaleza, outro termo para coragem, nota-se a conexão entre
paciência e a disposição para enfrentar desafios na guerra. A paciência é considerada como a
capacidade de suportar sofrimentos e dificuldades em busca de um bem maior. A coragem,
portanto, engloba diversas formas de sacrifício e resistência.
É fundamental compreender que coragem não deve ser confundida com temeridade,
caracterizada pela imprudência e falta de equilíbrio. A verdadeira virtude da coragem reside no
equilíbrio e na justa medida, contrapondo-se à mediocridade. Sócrates, notadamente, participou
ativamente na defesa militar de Atenas contra a tirania espartana e a oligarquia, mas também
criticou tanto a democracia ateniense quanto a espartana, percebendo ambas como formas de
governo decadentes. Sócrates, ao priorizar a vida intelectual e o debate, exemplifica a busca pelo
equilíbrio entre a coragem e a reflexão crítica, mesmo em tempos de guerra.

A corrupção moral da pessoa é um problema porque ela afasta também o espírito de sacrifício.
Então quando não se possui uma outra virtude, se puxa outros vícios. Por isso que a vida na
virtude atrai coragem, embora não seja a mesma coisa que desenvolver especificamente a
coragem.

Assim, Platão propõe uma solução que transcende a abordagem genérica de Nícias e a
excessivamente particular de Laques: a coragem universal. Embora essa perspectiva não seja
explicitamente delineada no diálogo introdutório, a busca pela virtude do guerreiro e o espírito de
sacrifício evidenciam a ênfase na coragem universal, presente na tradição grega. Platão, ao
abordar o heroísmo, ressalta a importância do sacrifício e da coragem para o destino da alma e a
grandeza individual.

Este diálogo introdutório, ao não elucidar completamente essa concepção, deixa implícita
a necessidade de cultivar uma coragem que vá além do genérico e do excessivamente particular.
O heroísmo, visto como medida de sacrifício pelos gregos, é crucial na perspectiva de Platão, que
está profundamente preocupado com o destino e a grandeza da alma humana.

A essência do argumento é que o heroísmo e o sacrifício autênticos são inerentes à


coragem, mas para atingi-los, é necessário forjar as crianças, desafiando-as a ultrapassar suas
zonas de conforto. Platão destaca a importância de afastar-se da imitação da coragem, um tema
que ecoa no diálogo platônico "Íon", ressaltando que a imitação não equivale à coragem real.

Dessa forma, a proposta de Platão é clara: transcender a mera imitação e buscar a


coragem real. O caminho para a grandeza da alma e o destino virtuoso envolve a coragem
autêntica, que exige enfrentar desafios genuínos e ir além das aparências superficiais.

Portanto, Platão propõe que a educação genuína deva sempre retornar à realidade. Este
diálogo, em essência, transcende a mera discussão sobre hoplomaquia, abordando, na verdade, o
tema da coragem e, em última instância, da educação. Surpreendentemente, por trás da aparente
ênfase em demonstrações de hoplomaquia, revela-se a intenção de fomentar a coragem, e, por sua
vez, a responsabilidade. A loucura inerente a esse contexto reside na compreensão de que, de fato,
o diálogo não se limita à exibição de habilidades marciais, mas adentra o cerne da educação.

A ideia subjacente à promoção da hoplomaquia é, na verdade, a intenção de cultivar a


coragem, e, por conseguinte, implica um pressuposto educacional. A questão central passa a ser:
Como educar uma pessoa de maneira responsável e por meio do sacrifício, a fim de torná-la um
guerreiro mais competente? Platão sustenta que a educação verdadeira só é possível quando há
uma busca integral da alma, englobando hábitos e intelecto, em direção à verdade.

A concepção platônica de educação, que se desdobrará mais detalhadamente na


"República", é caracterizada como uma conversão em direção ao bem eterno ou à ideia do bem. A
educação, para Platão, pressupõe uma transformação completa em direção ao bem, sendo essa
virada total para o bem considerada como a verdadeira essência da educação.

Assim, este diálogo rejeita as concepções educacionais equivocadas da época e destaca


que a verdadeira educação deve conduzir a pessoa em uma conversão para o bem e para a
verdade.

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