A Casa dos Espíritos - Isabel Allende
O romance A Casa dos Espíritos é uma saga familiar que abrange quatro
gerações da família Trueba, misturando realismo mágico e eventos históricos de
um país fictício (que pode muito bem ser interpretado como o Chile). A
narrativa alterna entre a visão de Esteban Trueba, um patriarca autoritário, de
terceiros, e a narração de um narrador 3ª pessoa onisciente.
A história começa com Clara del Valle, uma menina sensível com poderes
sobrenaturais, que prevê o futuro. Sua irmã Rosa morre tragicamente, e Esteban,
noivo de Rosa, decide construir sua fortuna no campo, tornando-se um rico e
implacável proprietário de terras. Anos depois, Esteban se casa com Clara, que
permanece conectada ao mundo dos espíritos. Juntos, eles têm três filhos:
Blanca, Jaime e Nicolás.
Blanca se apaixona por Pedro Tercero, um ativista de esquerda e filho de
camponeses, mas seu relacionamento é proibido por Esteban, que odeia Pedro.
Após vários conflitos, Blanca engravida e tem uma filha chamada Alba, que
cresce cercada pelos mistérios da família, especialmente os de sua avó Clara.
Com o tempo, o cenário político do Chile se deteriora, e Esteban, que sempre
apoiou a direita, enfrenta a ascensão da esquerda revolucionária. Isso culmina
no golpe militar no país, que destrói o governo de esquerda. Durante a
repressão, Alba, agora adulta e envolvida politicamente, é presa, torturada e
abusada pelos militares, incluindo Esteban García, um neto ilegítimo de Esteban
Trueba, que busca vingança contra a família.
No final, após passar por intensa violência, Alba sobrevive e é libertada, em
parte pela intervenção de seu avô Esteban Trueba, que se arrepende de muitas
de suas ações ao longo da vida. Ele percebe o impacto de seu comportamento
autoritário na destruição de sua própria família. Alba decide escrever a história
da família, como forma de cura e memória, utilizando as anotações e os
cadernos de sua avó Clara. A saga termina com um tom de esperança, sugerindo
que, apesar da dor e da violência, o amor e a memória são os pilares que
sustentam a vida.
Esteban Trueba: Ele é o patriarca da família, um símbolo do conservadorismo,
da violência e do autoritarismo. Representa o poder e a exploração social típicos
da classe dominante. Seu comportamento tirânico e possessivo reflete o retrato
realista de um homem movido pela ambição e pela necessidade de controle.
Clara del Valle: Embora ela tenha características do realismo mágico, Clara
também reflete, em parte, o Realismo ao representar o papel das mulheres na
sociedade patriarcal. Seu silêncio e distanciamento emocional em relação ao
marido retratam as dinâmicas de opressão conjugal.
A Casa dos Espíritos - Isabel Allende
Blanca Trueba: Blanca desafia as expectativas sociais e tenta viver um amor
proibido com Pedro Tercero, representando a luta entre classes sociais. Seu
caráter teimoso e romântico é realista no sentido de retratar as tensões sociais e
políticas da época.
Pedro Tercero: Um revolucionário e ativista político, Pedro reflete a luta de
classes, um tema importante no Realismo. Seu envolvimento com a política e o
desejo de mudar a sociedade são típicos dos personagens realistas que retratam
as mudanças sociais.
Alba Trueba: Alba herda as características espirituais de sua avó Clara, mas
também reflete o impacto da repressão política realista. Ela é torturada durante a
ditadura militar, representando as consequências do poder autoritário e a
opressão.
Tempo da narrativa:
O romance se passa em um período histórico específico, abrangendo desde o
início do século XX até a ditadura militar chilena na década de 1970. O espaço
se alterna entre a cidade e a fazenda dos Trueba, chamada "Las Tres Marías",
refletindo as desigualdades sociais típicas do Realismo. A narrativa explora o
desenvolvimento do país ao longo de diferentes períodos políticos e sociais,
retratando a ascensão e queda de regimes e as mudanças na sociedade.
O tempo é linear em grande parte da narrativa, com flashbacks ocasionais, e
reflete as transformações econômicas, políticas e sociais do Chile,
características típicas de obras realistas que se preocupam em mostrar a
realidade histórica. O espaço também é crucial, com a fazenda simbolizando a
exploração e a cidade representando o espaço da revolução e mudança.
Realismo e autores brasileiros e portugueses:
O Realismo é uma escola literária que surgiu como uma reação ao
Romantismo, no final do século XIX, com o objetivo de retratar a realidade de
forma objetiva e detalhada, sem idealizações. O foco do Realismo está na
representação fiel da vida cotidiana, especialmente questões sociais, políticas e
econômicas. Os personagens são geralmente complexos, e as obras abordam
temas como injustiça social, hipocrisia e desigualdade.
Principais Autores Brasileiros:
● Machado de Assis:
Um dos maiores expoentes do Realismo brasileiro, suas
obras, como Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas,
exploram a psicologia dos personagens e as contradições da sociedade
carioca do século XIX.
A Casa dos Espíritos - Isabel Allende
● Aluísio Azevedo: Autor de O Cortiço, que aborda as condições de vida
dos mais pobres e a dinâmica da exploração social.
Principais Autores Portugueses:
● Eça de Queirós:Um dos maiores autores do Realismo em Portugal, com
obras como Os Maias e O Crime do Padre Amaro, que criticam a
hipocrisia da sociedade e o clero, além de abordar temas como o adultério
e a corrupção.
Escola literária correspondente na literatura inglesa:
Na literatura americana e inglesa, o Realismo também surgiu no século XIX,
mas as escolas literárias que se destacaram possuem características diferentes
das portuguesas e brasileiras:
Literatura Americana:
● Naturalismo:
A escola naturalista americana, derivada do Realismo, tem
autores como Theodore Dreiser (Sister Carrie) e Stephen Crane (The
Red Badge of Courage), que abordam a vida urbana e rural nos Estados
Unidos de maneira objetiva, mostrando as forças sociais e biológicas que
influenciam o comportamento humano.
● Realismo Social: Autores como Mark Twain (As Aventuras de
Huckleberry Finn) exploram temas sociais e regionais, criticando a
escravidão e o racismo no sul dos Estados Unidos.
Literatura Inglesa:
● Realismo Vitoriano:
Na Inglaterra, o Realismo se destacou com autores
como Charles Dickens, cujas obras, como Oliver Twist e Grandes
Esperanças, retratam as injustiças sociais da era vitoriana, com foco nas
classes mais pobres. George Eliot (pseudônimo de Mary Ann Evans),
autora de Middlemarch, também é uma importante representante,
explorando a vida provinciana e as questões morais e sociais da época.