Teoria Geral e
Economia dos Contratos
Prof. Associado Gustavo Saad Diniz
[email protected] Do empresário às
concentrações por contratos
Empresário
Concentrações
individual e Grupos
por contratos
sociedades
ESTRUTURAS CONTRATUAIS E
FUNÇÕES
Contratos Contratos de
Sinalagmáticos Hierarquias
Contratos
Relacionais
Instrumentos de Presença do
enforcement Correção da controle
contratual dependência
econômica
SINALAGMÁTICO SIMPLES
COMPRA E VENDA
• 191 CCom: revendo no grosso ou em retalho
• Função do contrato (481 CC): “transferir o domínio de
certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro”
• Tutela legal da economia contratual: Preço (489 CC):
nulidade de cláusula cujo preço seja fixado por arbítrio de
uma das partes. Se o preço ficar por fixar e não houver
critério, será aquela praticado pelo vendedor (488 CC)
OBRIGAÇÕES DO VENDEDOR
• Entrega da coisa (ex: tradição e registro no livro de ações – 31
LSA)
• Responsabilidade por vícios redibitórios (441 a 444 CC) e
evicção
• Obrigações costumeiras (ex. INCOTERMS)
FOB – free on board – custos do vendedor
CIF – cost, insurance & freight – vendedor paga
Costume contra legem: STJ – REsp 877.074
VENDAS A TERMO
• Venda a termo de mercadorias: função de garantia do preço
• Contratos futuros: ajuste de preço é diário e firmado pela bolsa para
pagamento futuro de determinado bem (ex: moeda)
• Opções: direito de compra (call option) ou venda (put option) uma vez
implementada condição futura
• Swap: troca de índices de ativos (ex: correção de contratos diversos para
diminuição de riscos)
• Derivativos: duas partes acordam pagamentos futuros baseados em
expectativas sobre o comportamento atual dos preços de determinado ativo
DERIVATIVOS
VENDA COM RESERVA DE DOMÍNIO
• Arts. 521 a 528 do CC
• Sob regime de prestação de pagamento, assegura-se ao
alienante a preservação do domínio da coisa até a quitação
do preço (condição suspensiva e propriedade resolúvel)
• Transmissão da propriedade é condicionada, ficando o
comprador com a posse e os riscos
• No CPC-73, havia rito especial nos arts. 1070 e 1071. No
atual CPC, o rito é comum (318 CPC) e tutela provisória
(294 CPC).
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
• Transferência – pelo devedor ao credor – do domínio
resolúvel e posse indireta da coisa móvel alienada
(1368-B CC)
• FRAN MARTINS: domínio transferido em garantia
• Propriedade fiduciária tem eficácia pendente, com
domínio transmitido ao credor para fins de garantia de
dívida
LEGISLAÇÃO
• Art. 66 da Lei 4.728/65
• Decreto 911/69 e art. 101 da Lei 13.043/2014
• Lei 9.514/97 – imóveis
• Lei 10.931/2004 – alienação no mercado de capitais
• Arts. 1.361 a 1368-B do CC
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA
$$$$
Propriedade
Credor
Fiduciário é dada em Devedor
Fiduciante
garantia
Proprieda
de
fiduciária
Provimento CNJ nº 88, de
01/10/2019
• Art. 5º Os notários e registradores devem avaliar a existência
de suspeição nas operações ou propostas de operações de
seus clientes, dispensando especial atenção àquelas incomuns
ou que, por suas características, no que se refere a partes
envolvidas, valores, forma de realização, finalidade,
complexidade, instrumentos utilizados ou pela falta de
fundamento econômico ou legal, possam configurar indícios
dos crimes de lavagem de dinheiro ou de financiamento do
terrorismo, ou com eles relacionar-se.
COMUNICAÇÃO À UNIDADE DE INTELIGÊNCIA
FINANCEIRA (SISCOAF)
Indicação do Oficial de
Cumprimento (8º)
• I - informar à Unidade de Inteligência Financeira – UIF qualquer
operação ou tentativa de operação que, pelos seus aspectos
objetivos e subjetivos, possam estar relacionadas às operações de
lavagem de dinheiro ou financiamento do terrorismo;
• II - prestar, gratuitamente, no prazo estabelecido, as informações e
documentos requisitados pelos órgãos de segurança pública,
órgãos do Ministério Público e órgãos do Poder Judiciário para o
adequado exercício das suas funções institucionais, vedada a recusa
na sua prestação sob a alegação de justificativa insuficiente ou
inadequada;
• III - promover treinamentos para os colaboradores da serventia;
• IV - elaborar manuais e rotinas internas sobre regras de condutas e
sinais de alertas.
Registro das Operações (13)
• I - a identificação do cliente;
• II - a descrição pormenorizada da operação realizada;
• III - o valor da operação;
• IV - o valor da avaliação para fins de incidência tributária;
• V - a data da operação;
• VI - a forma de pagamento;
• VII - o meio de pagamento;
• VIII - o registro das comunicações de que trata o art. 6°;
• IX - outros dados nos termos de regulamentos especiais e instruções
complementares.
• Art. 16 Será dedicada especial atenção à operação ou propostas de operação
envolvendo pessoa exposta politicamente, bem como com seus familiares,
estreitos colaboradores ou pessoas jurídicas de que participem.
Presunções...
• I - qualquer operação que envolva o pagamento ou recebimento de
valor em espécie, igual ou superior a R$ 30.000,00 (trinta mil reais)
ou equivalente em outra moeda, desde que perante o tabelião;
• II - qualquer operação que envolva o pagamento ou recebimento
de valor, por meio de título de crédito emitido ao portador, igual
ou superior a R$ 30.000,00 (trinta mil reais), desde que perante o
tabelião.
• Art. 24 Podem configurar indícios da ocorrência dos crimes de
lavagem de dinheiro ou de financiamento ao terrorismo, ou com
eles relacionar-se, pagamentos ou cancelamentos de títulos
protestados em valor igual ou superior a R$ 1.000.000,00 (um
milhão de reais), não relacionados ao mercado financeiro, mercado
de capitais ou entes públicos.
Presunções...
• I - registro de transmissões sucessivas do mesmo bem, em período não superior a 6 (seis) meses,
se a diferença entre os valores declarados for superior a 50%;
• II - registro de título no qual constem diferenças entre o valor da avaliação fiscal do bem e o valor
declarado, ou entre o valor patrimonial e o valor declarado (superior ou inferior), superiores a
100%; III - registro de documento ou título em que conste declaração das partes de que foi
realizado pagamento em espécie ou título de crédito ao portador de valores igual ou superior a R$
30.000,00 (trinta mil reais).
• Art. 26 Podem configurar indícios da ocorrência dos crimes de lavagem de dinheiro ou de
financiamento do terrorismo, ou com eles relacionar-se, além das hipóteses previstas no art. 20:
• I - doações de bens imóveis ou direitos reais sobre bens imóveis para terceiros sem vínculo
familiar aparente com o doador, referente a bem imóvel que tenha valor venal atribuído pelo
município igual ou superior a R$100.000,00 (cem mil reais);
• II - concessão de empréstimos hipotecários ou com alienação fiduciária entre particulares;
• III - registro de negócios celebrados por sociedades que tenham sido dissolvidas e tenham
regressado à atividade;
• IV - registro de aquisição de imóveis por fundações e associações, quando as características do
negócio não se coadunem com as finalidades prosseguidas por aquelas pessoas j
Presunções...
• Art. 29 Nas matérias tratadas neste capítulo, o Conselho Nacional de Justiça e as Corregedorias
locais contarão, como órgão de supervisão auxiliar, na organização e operações que envolvam o
pagamento ou recebimento de valor igual ou superior a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) ou
equivalente em outra moeda, inclusive quando se relacionar à compra ou venda de bens móveis e
imóveis.
• Art. 28 Podem configurar indícios da ocorrência dos crimes de lavagem de dinheiro ou de
financiamento do terrorismo, ou com eles relacionar-se, além das hipóteses previstas no art. 20:
• I - registro de quaisquer documentos que se refiram a transferências de bens imóveis de qualquer
valor, de transferências de cotas ou participações societárias, de transferências de bens móveis de
valor superior a R$ 30.000,00;
• II - registro de quaisquer documentos que se refiram a mútuos concedidos ou contraídos ou
doações concedidas ou recebidas, de valor superior ao equivalente a R$ 30.000,00;
• III - registro de quaisquer documentos que se refiram, ainda que indiretamente, a participações,
investimentos ou representações de pessoas naturais ou jurídicas brasileiras em entidades
estrangeiras, especialmente “trusts” ou fundações;
• IV - registro de instrumentos que prevejam a cessão de direito de títulos de créditos ou de títulos
públicos de valor igual ou superior a R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais);
Presunções...
• Art. 36 As operações e propostas de operações nas situações listadas a seguir devem ser
comunicadas pelos notários à Unidade de Inteligência Financeira – UIF, independentemente de
análise ou de qualquer outra consideração:
• I - qualquer operação que envolva o pagamento ou recebimento de valor em espécie igual ou
superior a R$ 30.000,00 (trinta mil reais) ou equivalente em outra moeda, em espécie, inclusive a
compra ou venda de bens móveis ou imóveis;
• II - qualquer operação que envolva o pagamento ou recebimento de valor igual ou superior a R$
30.000,00 (trinta mil reais), por meio de título de crédito emitido ao portador, inclusive a compra
ou venda de bens móveis ou imóveis;
• III - qualquer das hipóteses previstas em resolução da Unidade de Inteligência Financeira – UIF
que disponha sobre procedimentos a serem observados pelas pessoas físicas e jurídicas por ela
reguladas relativamente a operações ou propostas de operações ligadas ao terrorismo ou seu
financiamento;
• IV - qualquer operação ou conjunto de operações relativas a bens móveis de luxo ou alto valor,
assim considerados os de valor igual ou superior a R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), ou
equivalente em outra moeda;
• V - todas as situações listadas no art. 25 do presente Provimento, quando realizadas por escritura
pública; e
• VI - outras situações designadas em instruções complementares a este Provimento.
CONTRATOS DE HIERARQUIAS
Diferentes Organizações
• Regulação do fenômeno associativo (art. 44, §2º, CC)
• ASCARELLI: contrato plurilateral
• WIEDEMANN: direito das organizações privadas
• SCHMIDT: Zweckverband (organização finalística)
• FERRO-LUZZI: não se cria direito subjetivo específico, mas
organização
• CARNELUTTI: criação de regras instrumentais, que
produzem efeitos jurídicos vinculantes (art. 1.072, §5º, CC)
CONCEITO DE SOCIEDADE (981 CC)
Contrato de organização(a) de atividade entre pessoa
ou pessoas(b), por meio do qual os sócios pactuam
contribuir, com bens e serviços(c), para o exercício de
atividade econômica(d) e a partilha dos lucros e
prejuízos(e).
PACTOS PARASSOCIAIS
contratos típicos(a),
plurilaterais(b),
parassociais(c)
função de regular pactos obrigacionais e patrimoniais entre os
sócios(d)
que extrapolem a essência do contrato social, mas que estejam
limitados às características do tipo(e).
TIPICIDADE (118 LSA)
compra e venda de suas ações,
preferência para adquiri-las,
exercício do direito a voto
poder de controle
ATIPICIDADE
• Fundamento na autonomia privada e atipicidade
contratual sistêmica (art. 425 do CC)
• Restrição de oponibilidade à companhia
CLÁUSULAS UTILIZADAS
• Preferência da compra, como o direito de primeira oferta (right of first offer)
• Condição suspensiva para call option (direito de comprar ações da outra parte)
• Condição suspensiva para put option (dever de comprar ações da outra parte)
• Condição suspensiva para lock up provision (restrições de vendas de ações por determinado
prazo)
• Condição suspensiva para look back provisions (ressarcimento a minoritários se o
controlador logo em seguida à compra, vende o controle da companhia)
• Condição suspensiva para indenização full ratchet clause (obriga o controlador a ressarcir
minoritário em caso de diluição de participação motivada por determinadas decisões)
• Obrigação de fazer em cláusula de não competição por determinado prazo após a saída de
sócio
• Tag along (direito de acompanhar a venda do controlador por preço semelhante)
• Drag along (direito de arraste de minoritários em caso de venda do controle).
DESCUMPRIMENTO
• Regime da execução de obrigações
específicas (art. 118, §3º, LSA)
• Regime de autotutela (art. 118, §§8º e 9º, da
LSA)
“Autotutela”
• 118 §8º. O presidente da assembleia ou do
órgão colegiado de deliberação da
companhia não computará o voto proferido
com infração de acordo de acionistas
devidamente arquivado.
“Autotutela”
• 118 §9º. O não comparecimento à assembleia ou às
reuniões dos órgãos de administração da companhia, bem
como as abstenções de voto de qualquer parte de acordo
de acionistas ou de membros do conselho de
administração eleitos nos termos de acordo de acionistas,
assegura à parte prejudicada o direito de votar com as
ações pertencentes ao acionista ausente ou omisso e, no
caso de membro do conselho de administração, pelo
conselheiro eleito com os votos da parte prejudicada.
STJ (acordo de bloqueio)
“(...) 2. O acordo de bloqueio, ainda que entabulado apenas pelos
acionistas majoritários, deve ser respeitado por quem se obrigou a não
efetuar a compra das ações sem antes conceder o direito de preferência,
nada importando se o vendedor tinha ciência da avença em questão. 3.
Há simulação, causa de nulidade do negócio jurídico, quando, com o
intuito de ludibriar terceiros, o negócio jurídico é celebrado para
garantir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se
conferem ou transmitem. 4. Hipótese em que, diante da impossibilidade de
aquisição das ações diretamente pelo acionista principal, que se
comprometera a observar o direito de preferência, o negócio jurídico operou-
se por intermédio de seu filho, com dinheiro aportado pelo pai” (STJ – 3ª T.
– REsp nº 1.620.702 – Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva – j.
22/11/2016).
STJ (vedação de acordo sobre
declaração de verdade)
• “(...) 3. A votação de matéria não publicada na ordem do dia
implica nulidade apenas da deliberação, e não de toda a
assembleia. 4. Quando da convocação para a assembleia geral
ordinária, não há necessidade de publicação da aquisição
temporária do direito de voto pelas ações preferenciais (art. 111, §
1º, da LSA - voto contingente). (...) 6. O acordo de acionistas não
pode predeterminar o voto sobre as declarações de verdade,
aquele que é meramente declaratório da legitimidade dos
atos dos administradores, restringindo-se ao voto no qual se
emita declaração de vontade” (STJ – 3ª T. – REsp nº
1.152.849/MG – Rel. Min. João Otávio de Noronha – j.
07/11/2013).
Do empresário às
concentrações por contratos
Empresário
Concentrações
individual e Grupos
por contratos
sociedades
Grupos
• (a) grupos econômicos: art. 2º, §2º, da CLT, art. 30,
inciso IX, da Lei nº 8.212/91, do art. 33 da Lei nº
12.529/2011 e do art. art. 3°, §2°, da Lei n°12.846/2013
• (b) concentrações por relações contratuais: contratos
relacionais e em rede (não têm causa societas)
• (c) grupos de sociedades:
• (c.1.) grupos de direito (265 a 277 LSA)
• (c.2.) grupos de fato (243 a 250 LSA e 1.097 a 1.101 CC)
Ordenamento heterônomo da
estrutura grupada
• Regulação externa da sociedade de controle, com
influência nas demais unidades do grupo.
• Gera questionamento sobre o interesse (115 LSA) da
sociedade e o interesse do grupo (276 LSA)
• Relações fundadas no controle e geradora de direção
unitária.
Interesse
Controle
• d.u.
Problemas de Imputação
• Ligação decisiva ao controle
• As sociedades singulares ampliam a limitação de responsabilidade,
mas com gestão centralizada que aumenta riscos de credores e
minoritários
• Itália e Espanha: vantagens compensatórias
• Portugal: arts. 501º e 502º - resp. ilimitada
• França: Doutrina Rozemblum: identificação de política administrativa
para o grupo; assistência financeira; ajuda financeira que não exceda a
capacidade da credora
• Alemanha: controle e compensações (§302 AktG)
• EUA: controle e medidas de business judment rule (159, §6º da nossa
LSA) e entire fairness
CONTRATOS RELACIONAIS
Contratos de longa duração (long term contracts):
relacionais, baseados na confiança e incompletos.
Revisão e execução diferida nos casos de soja
(REsp 860.277)
TRAÇOS COMUNS DOS
CONTRATOS INTEREMPRESARIAIS
1. Escopo de lucro
2. Cumprimento de uma função econômica (causa)
3. Minimização dos custos de transação e racionalidade
limitada
4. Influência da prática empresarial
5. Pacta sunt servanda
6. Confiança e boa-fé objetiva
7. Usos e costumes
8. Aumento de dependência econômica
Racionalidade do Contrato
Ilimitada X Limitada
• Assimetria informacional: extensão do
conhecimento imputável (objeto, preço, alocação de
riscos)
• Incompletude contratual: uso de técnicas de
integração para fatos futuros
CONTRATO RELACIONAL:
FORNECIMENTO
• Fornecimento (trato sucessivo): frequência e
estabilidade no abastecimento da cadeia produtiva.
Equacionam-se riscos de quantidade, qualidade e
especificidades do ativo, variações de preço,
exclusividade
• Contratos product service system (sistema produto-
serviço)
CONTRATO RELACIONAL:
JOINT VENTURE
• Joint venture societária e Joint venture obrigacional.
• Limites das informações e responsabilidade
(...) Do exame dos autos, tornou-se claro que o autor tinha ciência de que o
negócio poderia não se concretizar. (...) Não se vê, portanto, atos de
deslealdade do réu em virtude de ter promovido operações conjuntas com o
autor, no interregno da due diligence, pois tinha conhecimento o autor de que a
controladora do réu impunha condições para celebração definitiva da sociedade.
No entanto, a situação deficitária do autor, somada à inviabilidade da sociedade,
apontada pelo réu, conforme orientação de sua controladora – RBS, impediu a
constituição da sociedade. Do exame das provas, é possível concluir que as
partes, ambas, contribuíram para o insucesso do empreendimento e, por
isso, a sentença, que considerou exclusivamente o réu como responsável
pelo rompimento do contrato preliminar deve ser modificada. (...) (TJSP,
Ap. 0174973-42.2011.8.26.0100, Des. Rel. Carlos Alberto Garbi, 2ª Câmara
Reservada de Direito Empresarial, DJ 28/11/2016)
CONTRATOS COLIGADOS
• Nexo de finalidades entre os contratos coligados para
chegar ao resultado econômico pretendido na operação
• Ex: locação de posto de gasolina e distribuição de
combustíveis em concomitância e com ligação
determinante de uma análise conjunto de validade e
eficácia de cláusulas contratuais (STJ – REsp nº 440.398,
475.220 e 687.336). Também: REsp nº 1.519.041
• Project finance
FRUSTRAÇÃO DA
COLIGAÇÃO CONTRATUAL
1. Para a caracterização de contratos coligados,
deve-se ter presente que o vínculo entre eles
possuí índole funcional e finalística, porquanto
Locação
representam uma síntese e não mera soma de
contratos. Doutrina e jurisprudência.
2. Na coligação contratual, ressalta-se a existência Cessão de
de três requisitos: (I) o propósito comum; (II) a propriedad
unidade da operação econômica; e (III) a e industrial
pluralidade de relações contratuais interligadas
sob uma perspectiva funcional. Como, no caso Fornecimento
concreto, não se vislumbra a cristalização de tais de
caracteres, não é possível reconhecer a existência combustíveis
de contratos coligados.
STJ – REsp nº AgInt nos EDcl no REsp 1773569
STJ
“O Tribunal de origem concluiu pela inexigibilidade do
título exequendo, porque evidenciado nos autos que o
contrato de confissão de dívida, consistente na obrigação
de indenização de benfeitorias realizadas pelo antigo
locatário, era coligado e subordinado ao contrato de
locação do imóvel, de modo que a resolução deste levou
à ineficácia do contrato de assunção de dívida(...)” (STJ -
AgInt no AREsp 689.270/DF – 4ª T. – Min. Lázaro
Guimarães – j. 15/05/2018).
STJ
• “(...) 2. A indiscutível coligação e conexão entre os contratos celebrados, para o
fornecimento, intermediação e aquisição de gás natural, a evidenciar, portanto, o
nexo de funcionalidade dos ajustes, não subtrai a autonomia e a individualidade da
relação jurídica inserta em cada contrato, com partes e objetos próprios. Por
contratos coligados compreende-se a celebração de dois ou mais contratos
autônomos, mas que guardam entre si um nexo de funcionalidade econômica, a
propiciar a consecução de uma finalidade negocial comum. (...) 2.2 Não se olvida que
a consecução do negócio econômico em comum, perseguido pelas partes e
viabilizado pela coligação dos contratos, depende, naturalmente, do cumprimento
das obrigações contratuais de todos os envolvidos, no bojo dos respectivos ajustes.
Indiscutível, nessa medida, que as partes de cada relação contratual tenham
reciprocamente interesses jurídico e econômico quanto à perfectibilização dos ajustes
como um todo. Essa circunstância, todavia, não torna um dos contratantes titular
dos direitos e obrigações discutidos no bojo do outro contrato coligado” (STJ – 3ª T.
– REsp nº 1.519.041 – Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze – j. 01/09/2015).
STJ
• “(...)5. A interdependência, a conexidade ou a coligação dos contratos
firmados pelas partes (cisão de empresa, acordo de acionistas e
contrato de locação) resultam claras e evidentes, haja vista a
unidade dos interesses representados, principalmente os de natureza
econômica, constituindo esse plexo de avenças o que a doutrina
denomina de contratos coligados; em caso assim, embora possível
visualizar de forma autônoma cada uma das figuras contratuais
entabuladas, exsurge cristalina a intervinculação dos acordos de
vontade assentados, revelando a inviabilidade da revisão estanque e
individualizada de apenas um dos pactos, quando unidos todos eles
pela mesma função econômica comum” (STJ – 5ª T. – AgRg no
REsp nº 1.206.723 – Rel. Min. Jorge Mussi – j. 17/05/2012).
Contratos em rede
• Contratos entre pessoas distintas, com causas
individuais (funções econômicas) distintas, mas que se
intercambiam para a formação de uma causa da rede
ou função da rede, como acontece com as franquias,
concessões mercantis e contratos de integração
agroindustrial.
A QUALIFICAÇÃO DA
DEPENDÊNCIA ECONÔMICA
• A dependência econômica deriva de uma posição superior de barganha.
Pode fazer parte do sinalagma do contrato (sem consequências jurídicas),
pode induzir abuso de direito ou até mesmo gerar extinção oportunística do
contrato, com consequências internas (no relacionamento contratual) e
externas (na projeção de mercado do contrato).
• “a condição de alguém que para poder subsistir, estão dependendo
exclusivamente ou predominantemente da remuneração que lhe dá a pessoa
para quem trabalha” (GOMES; GOTTSCHALK, 1968).
A CORREÇÃO DA
DEPENDÊNCIA ECONÔMICA
• I – Correção por cláusulas gerais: (a) a qualificação jurídica
da relação entre as partes; (b) a função econômica do
contrato, para mensuração de riscos e expectativas das
partes; (c) o comportamento da parte dominante, de modo a
identificar o abuso.
• II – Correção pela legislação (art. 27, alínea “j”, d Lei nº
4.886/64 para o contrato de agência, com as compensações
dos arts. 22 a 27 da Lei nº 6.729/79 na concessão
mercantil).
• III – Art. 421-A do CC (Lei de Liberdade Econômica)
TIPOLOGIA DA
EXTINÇÃO DOS CONTRATOS
Adimplemento
Normal
Termo
Extinção
Cláusula
Resolutiva
Resolução
Rescisão
Anormal
Distrato
Resilição
Denúncia
Resilição
• Simples declaração de vontade de uma (unilateral) ou
ambas as partes (bilateral):
Unilateral Denúncia
Resilição
Bilateral Distrato
• Eficácia “ex nunc” (a partir de agora)
MOTIVAÇÃO DA DENÚNCIA
Negócio
Cheia Motivada Jurídico
Vinculado
Denúncia
Negócio
Vazia Sem Motivo Jurídico
Discricionário
FUNÇÃO INTERPRETATIVA
EFICÁCIA DA RESILIÇÃO
Art. 473. Código Civil. A resilição unilateral, nos casos
em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera
mediante denúncia notificada à outra parte.
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do
contrato, uma das partes houver feito investimentos
consideráveis para a sua execução, a denúncia
unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido
prazo compatível com a natureza e o vulto dos
investimentos.
RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CLÁUSULA CONTRATUAL. RESILIÇÃO
UNILATERAL. DENÚNCIA IMOTIVADA. VULTOSOS INVESTIMENTOS PARA
REALIZAÇÃO A DA ATIVIDADE. DANO INJUSTO. BOA-FÉ OBJETIVA. FINS SOCIAL E
ECONÔMICO. OFENSA AOS BONS COSTUMES. ART. 473, PARÁGRAFO ÚNICO DO
CC/2002. PERDAS E DANOS DEVIDOS. LUCROS CESSANTES AFASTADOS.
(...)
6. O mandamento constante no parágrafo único do art. 473 do diploma material civil brasileiro se legitima e
se justifica no princípio do equilíbrio econômico. Com efeito, deve-se considerar que, muito embora a
celebração de um contrato seja, em regra, livre, o distrato é um ônus, que pode, por vezes,
configurar abuso de direito.
7. Estando claro, nos autos, que o comportamento das recorridas, consistente na exigência de investimentos
certos e determinados como condição para a realização da avença, somado ao excelente desempenho das
obrigações pelas recorrentes, gerou legítima expectativa de que a cláusula contratual que permitia a qualquer
dos contratantes a resilição imotivada do contrato, mediante denúncia, não seria acionada naquele momento,
configurado está o abuso do direito e a necessidade de recomposição de perdas e danos, calculadas por
perito habilitado para tanto. Lucros cessantes não devidos.
(STJ, REsp 1.555.202/SP, Min. Rel. Luís Felipe Salomão, DJ 13/12/2016)
1. Em ação anulatória cumulada com obrigação de fazer, o aresto
recorrido concedeu antecipação da tutela para manter o vínculo
contratual entre as partes, apesar da notificação de rescisão unilateral.
2. Se o órgão jurisdicional antecipa os efeitos da tutela e, apesar da
exigência de prova inequívoca, assegura o direito da parte autora de
provar as alegações ventiladas na inicial, incorre em ofensa ao art. 273
do Código de Processo Civil.
3. Nas relações jurídicas paritárias, havendo manifestação de
uma das partes no sentido de rescindir o contrato, não pode o
Poder Judiciário, em regra, impor a sua continuidade, sob pena
de ofensa ao art. 473, caput, do Código Civil de 2002.
4. Recurso especial provido.
(STJ, REsp 1517201/RJ, Min. Rel. Ricardo Villas Bôas Cueva, DJ
12/05/2015)
RESOLUÇÃO (474 E 475 CC)
Cláusula
Inadimplemento
Resolutiva
Resolução
Desequilíbrio
Rescisão
Contratual
RECURSO ESPECIAL. LEI RENATO FERRARI.
CONTRATO. RESCISÃO UNILATERAL.
INDENIZAÇÃO.
(....)
3. Nos termos da Lei nº 6.729/79 (Lei Renato Ferrari), para a
resolução unilateral, a parte inocente que alegar
descumprimento da lei, do contrato ou de convenção
deverá cercar-se de um AMPLO E CONTUNDENTE
CONTEXTO PROBATÓRIO para justificar a culpa da
parte adversa, haja vista que as relações reguladas pelo
mencionado diploma envolvem valores expressivos, múltiplas
contratações, além de penalidades gradativas que devem ser
obedecidas e devidamente demonstradas.
(...)
(STJ, REsp 1.400.779/SP, Min. Rel. RICARDO VILLAS
BÔAS CUEVA, DJ 05/06/2014)
DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. CONTRATO VERBAL
DE DISTRIBUIÇÃO/CONCESSÃO. PRAZO INDETERMINADO. PRODUTO
ALIMENTÍCIO. RESILIÇÃO UNILATERAL NA VIGÊNCIA DO CÓDIGO CIVIL DE 1916.
AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA POR PARTE DA FORNECEDORA DO
PRODUTO.
1. Na vigência do Código Civil de 1916, é permitida ao fornecedor a resilição unilateral do contrato de
distribuição de produto alimentício celebrado por prazo indeterminado, exigindo-se, entretanto, aviso
prévio com antecedência razoável para que a parte contrária - o distribuidor - possa se preparar, sob
todos os aspectos, para a extinção do contrato.
2. A ausência da referida notificação com prazo razoável confere ao distribuidor, em tese, o
direito de postular indenização.
3. Reformado o acórdão recorrido e afastado o único fundamento adotado acerca da improcedência da
ação, devem os autos retornar ao segundo grau para que o Tribunal de Justiça prossiga com o exame das
demais alegações apresentadas nos recursos de apelação das autoras e da ré.
4. Recurso especial parcialmente provido.
(STJ, REsp 1.169.789/SP, Min. Rel. Antonio Carlos Ferreira, DJ 16/08/2016)
Fornecimento de Cana
RESPONSABILIDADE CIVIL. Contrato de
fornecimento de cana de açúcar. Abordagem
resolutória, com perdas e danos. Juízo de parcial
procedência. Apelo dos réus. Composição amigável.
Recurso prejudicado.
(TJSP, Ap. 9073551-45.2009.8.26.0000, Des. Rel.
Carlos Russo, DJ 20/03/2013)
COMPRA E VENDA CANA DE AÇÚCAR INADIMPLEMENTO
INCONTESTE DO VENDEDOR NECESSIDADE DE
INDENIZAR RECURSO IMPROVIDO. Inconteste o inadimplemento
do réu, o qual não logrou impugnar especificamente em sede de
contestação e reconvenção alegada abusividade do valor cobrado, mantém-
se a sentença recorrida por seus próprios fundamentos.
(TJSP, Ap. 9210127-45.2009.8.26.0000, Des. Rel. Clóvis Castelo, DJ
28/01/2013)