3 ANO – GRAM
Considere o seguinte poema, de Carlos Drummond de Andrade.
Eu, etiqueta
[...]
Não sou – vê lá – anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
Para anunciar, para vender
Em bares festas praias pérgulas piscinas,
E bem à vista exibo esta etiqueta
Global no corpo que desiste
De ser veste e sandália de uma essência
Tão viva, independente,
Que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
Minhas idiossincrasias tão pessoais,
Tão minhas que no rosto se espelhavam
E cada gesto, cada olhar,
Cada vinco da roupa
Sou gravado de forma universal,
Saio da estamparia, não de casa,
Da vitrine me tiram, recolocam,
Objeto pulsante mas objeto
Que se oferece como signo de outros
Objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
De ser não eu, mas artigo industrial,
Peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
Disponível em: <https://www.pensador.com/eu
_etiqueta_carlos_drumond_de_andrade/>.
Acesso em: 27 out.2017
Questão-01)
O conceito de Regência, nos estudos da linguagem, é utilizado para fazer referência
à relação de subordinação existente entre certas palavras e termos que as
complementam, visto que, em determinados contextos linguísticos, essas palavras
podem não ser autossuficientes, ou seja, podem necessitar de complementos para
fazerem sentido. Considerando o exposto, analise as assertivas e assinale a
alternativa que aponta as corretas.
I. No trecho “E bem à vista exibo esta etiqueta”, a crase ocorre para atender a
regência do verbo “exibir”.
II. Os verbos “desistir” e “retificar” (destacados no poema) classificam-se como
intransitivos, visto que não necessitam de complemento no texto em questão
para terem sentido completo.
III. Em “Da vitrine me tiram” e “Por me ostentar assim”, os pronomes destacados
apresentam a mesma função sintática, completando o sentido de verbos
transitivos.
IV. Em “meu gosto e capacidade de escolher”, os substantivos “gosto” e
“capacidade” são regidos pela preposição “de”, a qual articula complementos
necessários ao entendimento desses substantivos no texto.
a) Apenas I e II.
b) Apenas I e III.
c) Apenas II e IV.
d) Apenas I e IV.
e) Apenas III e IV.
Quem ri por último ri Millôr
Eu tinha 15 anos, havia tomado bomba, era virgem e não via, diante da minha
incompetência para com o sexo oposto, a mais remota possibilidade de reverter a
situação.
Em algum momento entre a oitava série e o primeiro colegial, todos os meus
colegas haviam adotado roupas diferentes, gírias, trejeitos ao falar e ao gesticular,
mas eu continuava igual – era como se houvesse faltado na aula em que os estilos
foram distribuídos e estivesse condenado a viver para sempre numa espécie de
limbo social, feito de incertezas, celibato e moletom.
O mundo, antes um lugar com regras claras e uma razoável meritocracia, havia
perdido o sentido: os bons meninos não ganhavam uma coroa de louros – nem ao
menos, vá lá, uma loura coroa –, era preciso acordar às 6h15 para estudar química
orgânica e os adultos ainda queriam me convencer de que aquela era a melhor fase
da vida.
Claro, observando-os, era óbvia a razão da nostalgia: seres de calças bege e
pager no cinto, que gastavam seus dias em papinhos de elevador, sem ambições
maiores do que um carro novo, um requeijão com menos colesterol, o nome na
moldura de funcionário do mês e ingressos para o Holiday on Ice no fim de semana.
Em busca de algum consolo, me esforçava para bater o recorde jamaicano de
consumo de maconha, mas, em vez de ter abertas as portas da percepção – ou o que
quer que fizesse com que meus amigos se divertissem e passassem meia hora
rachando o bico, sei lá, de um amendoim –, só via ainda mais escancaradas as
portas da minha inadequação. Foi então, meus caros, que eu vi a luz - e a luz veio
na forma de um livro; "Trinta anos de mim mesmo", do Millôr Fernandes.
A primeira página que eu abri trazia um quadrado em branco, com a seguinte
legenda: "Uma gaivota branca, trepada sobre um iglu branco, em cima de um monte
branco. No céu, nuvens brancas esvoaçam e à direita aparecem duas árvores
brancas com as flores brancas da primavera". Logo adiante estava "O abridor de
latas", "Pela primeira vez no Brasil um conto inteiramente em câmera lenta" –
narrando um piquenique de tartarugas que durava uns 1.500 anos. Mais pra frente,
esta quadra: "Essa pressa leviana/ Demonstra o incompetente/ Por que fazer o
mundo em sete dias/ Se tinha a eternidade pela frente?".
Lendo aquelas páginas, que reuniam o trabalho jornalístico do Millôr entre 1943
e 1973, compreendi que não estava sozinho em meu estranhamento: a vida era
mesmo absurda, mas a resposta mais lógica para a falta de sentido não era o
desespero, e sim o riso. Percebi, como se não bastasse, que se agregasse alguma
graça aos meus resmungos poderia fazer daquele incômodo uma profissão. Dos 19
anos até hoje, jamais paguei uma conta de luz de outra forma.
Uma pena nunca ter conhecido o Millôr pessoalmente, não ter podido apertar
sua mão e agradecer-lhe por haver me sussurrado ao ouvido, quando eu mais
precisava escutar, a única verdade que há debaixo do céu: se Deus não existe, então
tudo é divertido.
(Antonio Prata, Folha de S. Paulo, 04/04/2012)
Questão-02)
Releia este excerto:
“Foi então, meus caros, que eu vi a luz - e a luz veio na forma de um livro”
Nas duas ocorrências, o “a” não recebe acento grave, indicador de crase. Isso ocorre
porque
a) há uma falha gramatical: sempre há crase em locuções adverbiais femininas
como “à luz”.
b) se trata de um caso de crase facultativa: a junção de preposição com artigo é
uma opção estilística.
c) nunca se emprega acento indicador de crase no “a” diante de palavras
masculinas.
d) o novo acordo ortográfico em vigor aboliu acentos como trema e acento grave.
e) os termos regentes associados ao substantivo “luz” rejeitam a presença de
preposição.
Questão-03)
Avalie as assertivas abaixo e assinale a alternativa INCORRETA:
a) Em ‘A audiência terminou em confusão‘ e ‘Você precisa perseverar nos seus propósitos‘, os verbos
terminar e perseverar são regidos pela preposição em.
b) Em ‘Isto é para mim‘ e ‘Isto é para mim fazer‘, a preposição para rege o pronome mim, estando,
portanto, de acordo com a norma padrão da língua.
c) O verbo formar-se, quando se refere a graduar-se, é reflexivo, resultando em orações como: ‘Paulo
formou-se em Medicina muito cedo‘.
d) Em ‘Pedi para ele um favor‘, a regência do verbo pedir, seguido da preposição para, pede objeto direto
(um favor) e indireto (ele).
e) Em ‘Prejudicial à saúde‘, temos que a preposição a rege o adjetivo prejudicial, gerando a crase com o
artigo a, que precede saúde.
Questão-04)
Os mais antigos homens modernos
Agora, parece que foi ¤mesmo na África que a espécie humana assim como a
conhecemos surgiu - e dali se espalhou para o restante do mundo. Foi no leste do
continente africano, precisamente no deserto de Awash, na porção central da
Etiópia, que uma equipe de pesquisadores norte-americanos e ¢¤etíopes .......... os
fósseis mais antigos do homem moderno ('Homo sapiens'). São três crânios - dois
de adultos e um de uma criança de aproximadamente 7 anos - e mais alguns dentes
de outros sete indivíduos, encontrados entre ossos de hipopótamos e antílopes e
ferramentas de pedra. Com cerca de 160 mil anos, segundo a datação com argônio,
os crânios guardam semelhanças com o do homem moderno: face mais achatada e
caixa craniana em forma de globo. No entanto, traços mais primitivos, como os
olhos mais .......... um do outro, levaram os pesquisadores a classificar os crânios
como sendo de 'Homo sapiens idaltu', uma subespécie do H. sapiens', .......... em
conjunto, essas características colocam esses hominídeos nas raízes da árvore
evolutiva humana e são um reforço às evidências genéticas de que o homem
moderno surgiu na África - ainda não se sabe se em apenas uma ou em mais regiões
- e depois migrou para os outros continentes, o oposto do que .......... as teorias que
sugerem que as primeiras características do 'H. sapiens' apareceram quase ao
mesmo tempo em diferentes pontos do planeta.
Adaptado de: "Pesquisa FAPESP", n. 89, p. 28, Jul. 2003.
Considere as seguintes afirmações sobre regência.
I. A substituição de LEVARAM por PERMITIRAM não implicaria
necessariamente alteração adicional na estrutura da frase.
II. A substituição de COLOCAM por SITUAM não implicaria alteração adicional
na estrutura da frase.
III. Em caso de substituição de SÃO UM REFORÇO por REFORÇAM, não se
manteriam as condições para a crase.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) Apenas II e III.
Questão-05)
Assinale a alternativa em que a crase é obrigatória:
a) Referiu-se a V. Exa.
b) O trem partia as nove da noite.
c) Este ano muitos brasileiros irão a Roma.
d) Não tenho tempo de ir a casa para almoçar.
e) Foi a ela que deste a notícia.