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Adaptacao Portuguesa Do Differentiation of Self Inventory Revised

Este estudo explora a adaptação e validação do Differentiation of Self Inventory-Revised (DSI-R) para a população portuguesa, com uma amostra de 470 adultos. Os resultados indicaram que a estrutura fatorial original não foi totalmente replicada e que a consistência interna do inventário foi adequada. A pesquisa sugere que níveis mais elevados de diferenciação do self estão associados a participantes mais jovens e com maior escolaridade, e estudos adicionais são necessários para reforçar as propriedades psicométricas da versão portuguesa do DSI-R.

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Margarida Vieira
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Adaptacao Portuguesa Do Differentiation of Self Inventory Revised

Este estudo explora a adaptação e validação do Differentiation of Self Inventory-Revised (DSI-R) para a população portuguesa, com uma amostra de 470 adultos. Os resultados indicaram que a estrutura fatorial original não foi totalmente replicada e que a consistência interna do inventário foi adequada. A pesquisa sugere que níveis mais elevados de diferenciação do self estão associados a participantes mais jovens e com maior escolaridade, e estudos adicionais são necessários para reforçar as propriedades psicométricas da versão portuguesa do DSI-R.

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99

Adaptação portuguesa do Differentiation of Self


Inventory-Revised (DSI-R): Um estudo exploratório

Portuguese adaptation of the Differentiation of Self


Inventory-Revised (DSI-R): An exploratory study

S M ,C
1
M 2
,
M R -G 3
A P R 4

RESUMO

A presente investigação foca-se nos estudos de adaptação e validação para a


população portuguesa de um inventário de avaliação da diferenciação do self, o
Differentiation of Self Inventory-Revised (DSI-R; Skowron & Schmitt, 2003). A
amostra recolhida envolveu 470 adultos, sendo 249 do sexo feminino e 221 do
sexo masculino, com idades compreendidas entre os 18 e os 80 anos. Nos estudos
de análise fatorial exploratória da versão portuguesa não se obteve uma total re-
plicação da composição fatorial original para os quatro fatores considerados. Os
resultados obtidos para a consistência interna revelaram um valor ajustado para
efeitos de investigação. A análise do impacto das variáveis sociodemográficas, no
resultado total do inventário, apontou para níveis de diferenciação do self mais ele-
vados em sujeitos mais jovens, bem como com níveis de escolaridade mais eleva-
dos. Dada a natureza exploratória desta investigação, estudos adicionais poderão
reforçar as propriedades psicométricas da versão portuguesa do DSI-R.

1 Doutorada pela Universidade de Coimbra. Professora Auxiliar Convidada da Faculdade de Psicologia e de Ciências
da Educação da Universidade de Coimbra. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Rua do Colégio
Novo, Apartado 6153, 3001-802 Coimbra. Telefone: (+351) 239851450. E-mail: [email protected]
2 Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade
de Coimbra.
3 Doutorando em Psicología pela Universidade de Santiago de Compostela.
4 Doutorada pela Universidade de Coimbra. Professora Catedrática da Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação da Universidade de Coimbra.

ARTÍCULO PP: 99-123 RIDEP · Nº 37 · VOL. 1 · 2014


100

Palavras chave: População portuguesa, validação, diferenciação do self, DSI-R.

ABSTRACT

The present research focuses on the studies of adaptation and validation for
the Portuguese population of an inventory which assesses the differentiation of
self, the Differentiation of Self Inventory-Revised (DSI-R; Skowron & Schmitt,
2003). The sample of this research included 470 adults, 249 women and 221 men,
aged between 18 and 80 years. Regarding the exploratory factor analyses for the
Portuguese version, a total replication of the original factor structure for the four
considered factors wasn’t obtained. The results for the internal consistency studies
presented an adequate value for investigation purposes. The analysis of the impact
of socio-demographic variables, on the total score of this inventory, indicated hig-
her levels of differentiation of self in younger participants, as well as with a supe-
rior academic level. Once this is an exploratory research, additional studies could
reinforce the psychometric properties of the Portuguese version of the DSI-R.

Keywords: Portuguese population, validation, differentiation of self, DSI-R.

INTRODUÇÃO

A diferenciação do self constitui ligação entre o funcionamento indivi-


o conceito nuclear da teoria familiar dual e a dinâmica relacional familiar
sistémica de Murray Bowen, consi- (Nichols & Schwartz, 2004). Todavia,
derada, por muitos autores, como a a compreensão do conceito de diferen-
mais compreensiva do funcionamento ciação do self, à luz da teoria de Bowen,
humano sob uma perspetiva sistémi- requer a distinção entre dois níveis de
ca (Charles, 2001; Jenkins, Buboltz, diferenciação: o nível básico (self bási-
Schwartz, & Johnson, 2005; Miller, co) e o nível funcional (pseudo-self). O
Anderson, & Keala, 2004; Nichols & self básico é estável (apesar de ser sus-
Schwartz, 2004; Rodríguez-González cetível a um ligeiro aumento através,
& Kerr, 2011; Skowron & Friedlander, por exemplo, de terapia), sendo esta-
1998; Skowron, Van Epps, & Cipriano, belecido sensivelmente no momento
in press), ao procurar compreender a em que o jovem adulto se separa da sua
101

família de origem (Bowen, 1978). Por calmo e capaz de lidar, de uma forma
sua vez, o pseudo-self é um self fluido ponderada e pensada, com determina-
e instável, visto que sofre variações ao da situação stressante. Contrariamente,
longo do tempo, como resposta a uma uma pessoa com baixa diferenciação
série de pressões sociais e estímulos do self possui um nível elevado de Re-
(Bowen, 1978; Kerr & Bowen, 1988). atividade Emocional, pois tem dificul-
Relativamente à definição do dade em manter a calma perante a emo-
conceito de diferenciação do self pro- cionalidade dos outros (Bowen, 1978;
priamente dito, importa salientar o seu Kerr & Bowen, 1988). No que concer-
cariz multidimensional, caracterizado ne à Fusão com os Outros, e atendendo
pela capacidade de equilibrar as duas ao papel da família no estabelecimento
dimensões do self: intrapessoal e inter- de padrões de interação (García-Mén-
pessoal. A dimensão intrapsíquica da dez, Rivera-Aragón, Reyes-Lagunes,
diferenciação relaciona-se com a capa- & Díaz-Loving, 2006), pode dizer-
cidade para distinguir as emoções dos se que as pessoas fusionadas tendem
pensamentos e a dimensão interpessoal a manter-se emocionalmente presas
prende-se com a capacidade para equi- à posição que ocupavam nas suas fa-
librar a intimidade e a autonomia nas mílias de origem, possuem poucas
relações (Bowen, 1978). Estes dois as- convicções próprias e procuram acei-
petos do self podem operacionalizar-se tação e aprovação acima de qualquer
através de quatro dimensões: Posição outro objetivo (Bowen, 1978; Kerr &
do Eu, Reatividade Emocional, Fusão Bowen, 1988). Por sua vez, o Cut-off
com os Outros e Cut-off Emocional. Emocional descreve a forma como é
Em termos concretos, no que respeita gerida a indiferenciação e a intensida-
à Posição do Eu, um elevado nível de de emocional que lhe está associada,
diferenciação do self estará associado entre gerações. Este Cut-off Emocional
à capacidade de um indivíduo assumir traduz-se, na maioria dos casos, num
a sua própria posição; as suas ideias e distanciamento não só emocional mas
os seus objetivos são verdadeiramente também físico (Bowen, 1978; Nichols
tidos como seus. Ao invés, numa pes- & Schwartz, 2004).
soa com baixa diferenciação do self, as Neste contexto, com o objetivo de
ideias não são verdadeiramente suas, estimar o self básico de uma pessoa,
resultando de uma reação à posição do Bowen (1978) apresentou a Escala
outro. Quanto à Reatividade Emocio- de Diferenciação do Self, cotada de 0
nal, uma elevada diferenciação do self (Nada diferenciado) a 100 (Totalmen-
leva o indivíduo a ser capaz de refletir te diferenciado). No entanto, esta es-
sobre as suas emoções, mantendo-se cala representaria um referencial me-
102

ramente teórico, pois o autor nunca a pais do conceito de diferenciação do


operacionalizou através de um instru- self apresentados por Bowen. Efetiva-
mento de avaliação. Não obstante, ao mente, o DSI-R (Skowron & Schmitt,
longo das últimas décadas, têm sido 2003) e o PAFS1 (Bray et al., 1984)
desenvolvidos vários instrumentos de são os únicos que vão de encontro aos
avaliação com o intuito de operacio- postulados de Bowen relativamente à
nalizar o conceito de diferenciação do diferenciação do self, visto que ambos
self, podendo ser agrupados em duas têm em consideração as dimensões in-
categorias: aqueles que medem o nível tra e interpessoais da diferenciação do
de diferenciação enquanto variável do self, procurando medir a diferenciação
sistema familiar, e aqueles que avaliam do indivíduo (Licht & Chabot, 2006;
o nível de diferenciação como variável Rodríguez-González, 2009; Skowron,
individual. No que respeita à avaliação Holmes, & Sabatelli, 2003). De igual
da diferenciação enquanto variável do modo, ambos os instrumentos apre-
sistema familiar, na literatura eviden- sentam provas evidentes de precisão e
cia-se o seguinte instrumento: Personal validade, possuem uma natureza multi-
Authority in the Family System Ques- dimensional e não se limitaram a uma
tionnaire (PAFS; Bray, Williamson, faixa etária restrita (Bray et al., 1984;
& Malone, 1984). Quanto à medição Lawson, Gaushell, & Karst, 1993;
da diferenciação enquanto variável Rodríguez-González, 2009; Skowron
individual, destacam-se os seguintes & Friedlander, 1998; Skowron & Sch-
instrumentos: Chabot Emotional Di- mitt, 2003).
fferentiation Scale (CED; Licht & Cha- Porém, o DSI-R, ao medir a diferen-
bot, 2006); Differentiation of Self In- ciação como um construto individual e
ventory (DSI; Skowron & Friedlander, não como o nível de diferenciação do
1998), com uma versão revista (DSI-R; sistema familiar, parece aproximar-se
Skowron & Schmitt, 2003); Differen- mais fielmente da definição de dife-
tiation of Self Scale (Kear, 1978, cita- renciação do self de Bowen (Licht &
do por Rodríguez-González, 2009); e Chabot, 2006; Rodríguez-González,
Level of Differentiation of Self Scale 2009, Rodríguez-González, M., Rel-
(LDSS; Haber, 1993, citado por Rodrí- vas, A. P., Major, S., Miranda, C., &
guez-González, 2009). De acordo com Rousselot, M., 2011). Além disso, o
vários autores (Licht & Chabot, 2006; PAFS não contempla a dimensão do
Miller et al., 2004; Rodríguez-Gonzá- Cut-off Emocional, fundamental para o
lez, 2009; Skowron & Schmitt, 2003), construto de diferenciação (Skowron et
a maioria dos questionários mencio- al., 2003). Rodríguez-González (2009;
nados não abordam os aspetos princi- Rodríguez-González & Kerr, 2011)
103

acrescenta que, entre os instrumentos Atendendo aos valores mais fracos ob-
criados até à atualidade, o DSI-R, além tidos no coeficiente alfa de Cronbach
de ser o instrumento mais fiel à teoria para a subescala Fusão com os Outros,
original de Bowen, é também aquele a oscilarem entre .57 e .74 (Skowron,
que conseguiu alcançar uma maior mo- 2000; Skowron & Friedlander, 1998),
deração na quantidade de itens apre- Skowron e Schmitt (2003) levaram a
sentados (46 itens no DSI-R vs. 132 cabo uma revisão do DSI, com o objeti-
itens no PAFS), sendo o único questio- vo de incrementar as suas propriedades
nário reconhecido como coerente com psicométricas. Por conseguinte, surgiu
a teoria de Bowen pelos membros do a versão revista do DSI, o Differentia-
Georgetown Family Center (Washing- tion of Self Inventory-Revised (DSI-R;
ton, D.C.). Skowron & Schmitt, 2003), que con-
Esta escala foi publicada pela pri- siste num inventário de auto-resposta,
meira vez em 1998, por Skowron e constituído por 46 itens. Este inventá-
Friedlander, nesse artigo as autoras rio avalia a diferenciação do self em
apresentam três estudos levados a adultos, sendo os itens repartidos por
cabo aquando do processo de desen- quatro subescalas (Reatividade Emo-
volvimento e validação inicial do DSI cional, Posição do Eu, Cut-off Emocio-
(Skowron & Friedlander, 1998). Do nal, e Fusão com os Outros), todas elas
primeiro estudo resultou uma versão com índices de consistência interna
do DSI com 78 itens, repartidos por (alfa de Cronbach) elevados (entre .81
quatro fatores (Skowron & Friedlan- e .89), sendo o valor relativo ao resulta-
der, 1998). O segundo estudo envol- do total do DSI-R igualmente elevado
veu uma revisão dos itens e do alcance (.92) (Skowron & Schmitt, 2003). Se-
teórico da primeira versão do DSI, em gundo os autores do DSI-R (Skowron
que permaneceram apenas 43 itens, & Schmitt, 2003; Skowron et. al, in
distribuídos por quatro subescalas press), a subescala Reatividade Emo-
denominadas: Reatividade Emocio- cional mede a tendência das pessoas
nal, Posição do Eu, Cut-off Emocio- para responder aos estímulos ambien-
nal e Fusão com os Outros (Skowron tais com base em respostas emocionais
& Friedlander, 1998). Finalmente, o automáticas. A Posição do Eu avalia a
terceiro estudo pretendeu confirmar medida em que os indivíduos têm cla-
a estrutura fatorial do DSI e testar as ramente definido o sentido do self. O
relações teoricamente existentes entre Cut-off Emocional mede o distancia-
diferenciação do self, sintomas psico- mento emocional e comportamental,
lógicos e satisfação conjugal (Charles, assim como os medos de intimidade ou
2001; Skowron & Friedlander, 1998). sufoco nas relações. Por fim, a Fusão
104

com os Outros refere-se à indiferen- globais de diferenciação do self relati-


ciação relativamente aos outros. É im- vamente à versão norte-americana. Por
portante salientar que, considerando sua vez, Peleg (2008) tem desenvolvi-
que a subescala de Cut-off Emocional do estudos com o DSI na população
do DSI-R avalia o receio de intimidade Israelita, associados a boas qualidades
e a possibilidade de sensação de sufo- psicométricas, com um índice de con-
co nas relações próximas, esta situação sistência interna total de .88 (Peleg,
parece remeter para a necessidade dos 2002, citado por Peleg, 2008). Também
sujeitos avaliados com este inventário em Espanha foram realizados estudos
estarem envolvidos numa relação amo- de adaptação do DSI-R, com índices de
rosa, situação esta confirmada não só fiabilidade que corroboram a utilidade
nas instruções de preenchimento, mas do DSI-R para a população espanhola
também no próprio conteúdo de vários (alfa de Cronbach da escala total de .86)
itens do DSI-R (e.g., “When I’m with (Rodríguez-González, 2009). Final-
my spouse/partner, I often feel smothe- mente, Lam e Chan-So (2010) procura-
red” – Item 36). Relativamente ao im- ram validar o DSI-R para a população
pacto das variáveis sociodemográficas Chinesa. Apesar do resultado elevado
no resultado total da versão norte-ame- ao nível da consistência interna para a
ricana, os estudos de adaptação e vali- escala total (alfa de Cronbach = .87), a
dação do DSI-R (Skowron & Friedlan- estrutura fatorial mais adequada englo-
der, 1998; Skowron & Schmitt, 2003) bava cinco fatores, contrariamente aos
demonstraram que, quando se toma a quatro apresentados na versão original
diferenciação do self como um todo, do DSI-R (Skowron & Schmitt, 2003).
não existem diferenças significativas Lam e Chan-So (2010) justificam os re-
em termos de idade, sexo e estado civil sultados obtidos atendendo ao facto de
dos sujeitos. A única diferença signifi- o DSI-R ser um instrumento ocidental,
cativa encontrada remete para o nível pelo que alguns itens da escala poderão
de escolaridade, visto que níveis de es- não ser apropriados para a população
colaridade mais elevados se associam chinesa, com base nas divergências em
a níveis igualmente superiores de dife- termos de contexto cultural.
renciação do self. Dada a relevância da avaliação da
Desde o desenvolvimento do DSI, diferenciação do self na abordagem
diversos estudos têm sido levados a sistémica e familiar, a presente inves-
cabo noutros países. Assim, Tuason e tigação tem como objetivo apresentar
Friedlander (2000) aferiram o DSI para os resultados de um estudo explorató-
a população Filipina e não encontraram rio para a adaptação e validação do Di-
diferenças significativas nos valores fferentiation of Self Inventory-Revised
105

(DSI-R; Skowron & Schmitt, 2003) ou viúvos. A maioria dos sujeitos da


para a população portuguesa. nossa amostra apresenta um nível ele-
vado de escolaridade, dado que 42.3%
completou o Ensino Superior e 34.7%
MÉTODO concluiu o Ensino Secundário.

Instrumentos
Participantes
Questionário de Dados Sociodemo-
A amostra foi recolhida através de gráficos: Elaborado de forma a permitir
um procedimento de amostragem por a recolha de dados que possibilitassem
conveniência procurando-se, contudo, a caracterização da amostra recolhi-
recolher uma amostra que fosse repre- da. Encontra-se subdividido em cinco
sentativa da população portuguesa para áreas: (a) dados pessoais (e.g., idade,
a variável sexo. Assim, a amostra utili- estado civil), (b) qualificações acadé-
zada neste estudo compreende um total micas, (c) profissão, (d) composição do
de 470 sujeitos, residentes nas regiões agregado familiar, e (e) relações inter-
geográficas Norte, Centro e Lisboa de pessoais.
Portugal, dos quais 53.0% são mulhe- Inventário de Diferenciação do
res (n = 249) e 47.0% são homens (n Self-Revisto (IDS-R): Corresponde à
= 221), valores estes muito próximos tradução e adaptação portuguesa do
dos valores de referência em Portugal Differentiation of Self Inventory-Revi-
de 51.8% e 48.2% para mulheres e ho- sed (DSI-R; Skowron & Schmitt, 2003,
mens, respetivamente (INE, 2002). Os tradução portuguesa de A. P. Relvas,
sujeitos apresentam idades entre os 18 S. Major, M. Rodríguez-González, C.
e os 80 anos (M = 34.83; DP = 13.52). Miranda, & M. Rousselot, 2010) des-
Dado o vasto leque de idades conside- envolvido com o objetivo de avaliar
radas na amostra e no sentido de faci- a diferenciação do self em adultos.
litar as análises estatísticas, foram cria- A versão original norte-americana é
das quatro faixas etárias (18-24, 25-34, composta por quatro subescalas: Rea-
35-49 e 50-80), sendo que a maioria da tividade Emocional (11 itens), Posição
amostra se enquadra entre os 18 e os 34 do Eu (11 itens), Cut-off Emocional
anos (56.6%). Relativamente ao estado (12 itens), e Fusão com os Outros (12
civil, estes sujeitos são maioritaria- itens) (Skowron & Schmitt, 2003). À
mente solteiros (48.5%) ou casados/em semelhança da versão norte-americana,
união de facto (48.7%), sendo que ape- o IDS-R possui um total de 46 itens,
nas 2.8% são divorciados/separados avaliados numa escala do tipo Likert
106

de 1 (Nada verdadeiro para mim) a 6 tes e/ou necessitaria de alguns ajusta-


(Muito verdadeiro para mim). O cálcu- mentos, recorreu-se à colaboração de
lo do resultado total e respetivas sub- 30 sujeitos, de diferentes faixas etárias
escalas requer a inversão da cotação e níveis socioeconómicos, para preen-
de alguns itens. Neste sentido, quanto cherem e comentarem qualquer aspe-
maiores forem os resultados da escala to positivo/negativo relativamente ao
total e das subescalas maior será a di- inventário. Os comentários, sugestões
ferenciação do self, ou seja, maior será e dúvidas apresentados por estes 30
a capacidade de assumir a Posição do sujeitos levaram a um afinamento de
Eu nas relações, sendo menores a Re- alguns itens. Seguidamente realizaram-
atividade e o Cut-off Emocional, bem se duas retroversões, de forma a averi-
como a Fusão com os Outros (Skowron guar se a tradução para português não
& Schmitt, 2003; Skowron et al., in teria alterado de forma significativa o
press). sentido/significado das instruções e
itens da versão original. Os dois tradu-
Procedimento tores eram bilingues (ambos professo-
res de inglês) e nunca tiveram contacto
Antes de dar início ao processo prévio com o DSI-R ou IDS-R. Estas
de tradução portuguesa do DSI-R, foi retroversões foram enviadas a uma
apresentado um pedido formal de au- das autoras do DSI-R (Elizabeth A.
torização junto de uma das autoras da Skowron) para avaliação da tradução,
versão original do inventário (Eliza- tendo-se procedido apenas a alguns
beth A. Skowron). Uma vez obtida essa ajustes finais. Comparativamente com
autorização, o DSI-R foi inicialmente a versão original, uma das diferenças
traduzido, de forma independente, por que marcam esta adaptação passa pela
duas alunas do mestrado integrado em reorganização do conteúdo do item 31,
psicologia da Faculdade de Psicologia cuja formulação em português se torna
e de Ciências da Educação da Univer- mais clara ao alterar a ordem de apre-
sidade de Coimbra. Posteriormente, as sentação das duas ideias chave da frase
traduções individuais foram discutidas (fazer o que está correto vs. obter apro-
em conjunto com os restantes cola- vação). Uma outra diferença prende-se
boradores da equipa e com o autor da com a idade a partir da qual é possível
versão espanhola (Martiño Rodríguez- proceder ao preenchimento do questio-
González), no sentido de alcançar uma nário. De acordo com Bowen (1978),
versão única da tradução. Com o obje- o nível de diferenciação do self tende
tivo de perceber se a tradução obtida a estabelecer-se na altura em que o jo-
era compreensível para os responden- vem adulto se separa da sua família de
107

origem. Foi neste sentido que Skowron buição dos resultados do IDS-R foi
e Friedlander (1998) definiram, na ver- realizado o teste Kolmogorov-Smir-
são original do DSI, os 25 anos como nov. Confirmada a normalidade da dis-
a idade mínima requerida para o pre- tribuição de resultados e cumprimento
enchimento do inventário. Porém, de pressupostos, procederam-se aos
após consulta da autora e atendendo às estudos de análise fatorial explorató-
conclusões do estudo do DSI-R com ria através da análise de componentes
adolescentes (dos 14 aos 19 anos), que principais, seguida de rotação Varimax.
suportam a utilização do DSI-R nes- Uma vez definida a estrutura fatorial da
ta faixa etária (Knauth & Skowron, versão portuguesa, realizaram-se estu-
2004), selecionámos como idade míni- dos de intercorrelações entre fatores e
ma os 18 anos, altura em que os jovens o resultado total do IDS-R (através do
portugueses partem para a universida- coeficiente de correlação de Pearson),
de ou para a procura de um primeiro bem como de consistência interna, atra-
emprego. Importa ainda salientar que a vés do cálculo do coeficiente alfa de
entrada para a universidade e a saída de Cronbach. Posteriormente, calcularam-
casa são apontados como pontos-chave se igualmente as estatísticas descritivas
na transição para a vida adulta (Ray- (média e desvio-padrão) para o resul-
more, Barber, Eccles, & Godbey, 1999, tado total e respetivos fatores do IDS-
citados por Gonçalves & Barros, 2008; R. Finalmente, procedeu-se ao estudo
Relvas, 2000). do impacto das variáveis sociodemo-
A recolha da amostra decorreu entre gráficas no resultado total do IDS-R,
Novembro de 2010 e Março de 2011. através de teste t de student (e.g., sexo)
Após a apresentação de um documento e ANOVA (e.g., faixa etária), comple-
de consentimento informado, os ques- mentados com o cálculo da magnitude
tionários foram entregues em mãos aos do efeito. No caso da ANOVA, sempre
sujeitos para estes procederem ao seu que a diferença alcançada se revelasse
preenchimento. Foram igualmente es- estatisticamente significativa, recorre-
tabelecidos alguns critérios de inclusão mos também a um procedimento de
na amostra (e.g., idade mínima de 18 comparação múltipla de médias (Teste
anos, nacionalidade portuguesa). de Bonferroni).

Análises Estatísticas
RESULTADOS
Num primeiro momento, com o
intuito de analisar o ajustamento ou Análise Fatorial Exploratória
aderência à normalidade da distri- Com o objetivo de determinar a
108

estrutura fatorial do IDS-R procedeu- análise em componentes principais.


se a uma análise exploratória dos seus Por outro lado, o teste de esfericidade
componentes principais. Num primeiro de Bartlett também se afigurou como
momento, procedeu-se à verificação significativo (X2(1035) = 6015.271, p ≤
do cumprimento dos pressupostos .001), assegurando que as variáveis são
para a realização da análise referida. correlacionáveis.
Assim, para averiguar a normalidade Num segundo momento procedeu-
da distribuição foi realizado o teste se a uma extração de componentes
Kolmogorov-Smirnov, com a obtenção principais, dos quais se identificaram
de valores que se aproximam de uma 13 fatores que explicavam 57.93% da
distribuição normal (K-S = .031; p = variância total (para eigenvalues su-
.200). Relativamente à dimensão da periores a 1). Após a análise do ponto
amostra, Nunnally (1978) recomenda de inflexão do scree-plot, optou-se por
um rácio de pelo menos 10 sujeitos proceder à extração de quatro fatores
para cada item da escala. Este pressu- (o que vai de encontro à estrutura fa-
posto é cumprido, na medida em que torial obtida por Skowron & Schmitt,
o IDS-R possui 46 itens e a amostra 2003). Procedeu-se ainda ao método
é composta por 470 sujeitos. Para ve- de rotação ortogonal Varimax, optan-
rificar a fatoriabilidade da amostra do por considerar apenas os itens com
recorreu-se ao teste de Kaiser-Meyer- saturações superiores a .30 (Pallant,
Olkin, que revelou uma boa adequação 2003). Os quatro fatores identificados
da amostra (KMO = .826) para uma explicam 33.50% da variância total.
109
110

No Quadro 1, pode observar-se que (Skowron & Schmitt, 2003). Ao ana-


o Fator 1 é composto por 19 itens, com lisar estes resultados, verificamos que
valores de saturação que oscilam en- não foi obtida uma replicação exata da
tre .337 e .669. A análise dos itens que estrutura fatorial do DSI-R (Skowron
compõem este fator indica que a maio- & Schmitt, 2003).
ria pertence às subescalas Reatividade
Emocional (10 itens) e Fusão com os Intercorrelações, Fatores e Resulta-
Outros (7 itens) obtidas na versão ori- do Total
ginal do DSI-R. Por sua vez, o Fator 2 Da consulta do Quadro 2 denota-se
é constituído por 13 itens, cujos valores que as correlações obtidas oscilam en-
de saturação variam entre .427 e .619. tre níveis baixos (r = .018, ns; Fator
Destes 13 itens, 12 pertencem à subes- 2 com Fator 3) a elevados (r = .899, p
cala Cut-off Emocional de Skowron e <.01; Fator 1 com o Resultado Total do
Schmitt (2003). Seguidamente, no Fa- IDS-R). Ao nível das intercorrelações
tor 3, encontram-se 10 itens (valores de entre fatores destaca-se a correlação
saturação situam-se entre .306 e .635) obtida entre os Fatores 1 e 4, compostos
dos quais nove pertencem à subescala por itens relativos a reatividade emo-
Posição do Eu da versão original do cional e fusão com os outros (r = . 317,
DSI-R (Skowron & Schmitt, 2003). Por p <.01), bem como o expectável reduzi-
fim, no Fator 4 saturam apenas quatro do grau de associação entre os Fatores
itens, com valores de saturação entre 2 e 3 (r = .018, ns) referentes a itens
.326 e .810, mas três destes perten- relacionados com Cut-Off Emocional e
cem à subescala Fusão com os Outros Posição do Eu, respetivamente.
111

Estatística Descritiva e Consistên- lo do resultado total e subescalas deri-


cia Interna va do quociente entre o somatório da
No Quadro 3 encontramos as esta- pontuação dos itens dividido por 46 ou
tísticas descritivas para o resultado da pelo número de itens que compõem a
escala total do IDS-R (M = 3.88, DP = subescala, respetivamente).
0.52) e respetivas subescalas (o cálcu-

De forma a analisar a consistência res do coeficiente de alfa caso o item


interna dos resultados obtidos com a fosse eliminado foram examinados.
versão portuguesa do IDS-R, proce- Todavia, verificou-se que a exclusão
deu-se ao cálculo do coeficiente alfa de qualquer um dos itens do IDS-R não
de Cronbach para o resultado total e altera de forma considerável o valor do
respetivas subescalas. Do Quadro 3 alfa total da escala. No entanto, é pos-
constata-se que o resultado obtido para sível verificar a existência de 12 itens
o IDS-R total é de .86, o que se traduz que prejudicam a consistência interna
num valor bom para efeitos de inves- da escala, uma vez que os seus valores
tigação (Pestana & Gageiro, 2003), se encontram abaixo do valor mínimo
idêntico ao valor obtido para o Fator desejável de .20 (Kline, 1993) (sete itens
1. Por sua vez, os restantes três fato- pertencentes à subescala de Posição do
res apresentam valores ligeiramente “Eu”, quatro à Fusão com os Outros, e
mais fracos (de .51 a .79). Com o ob- um ao Cut-off Emocional).
jetivo de perceber se a eliminação de Impacto das Variáveis Sociodemo-
qualquer um dos itens do IDS-R viria gráficas no Resultado Total do IDS-R
a traduzir-se num aumento da consis- No que concerne às variáveis so-
tência interna do inventário, as corre- ciodemográficas analisamos o impacto
lações item-total corrigidas e os valo- das variáveis sexo, faixa etária, estado
112

civil e nível de escolaridade no resul- significativas entre as médias do grupo


tado total do IDS-R. Na variável faixa etário dos 50-84 anos e todos os outros
etária podemos verificar que os resul- grupos etários mais jovens, sendo que
tados obtidos indicam que a idade se estes três últimos são os que apresen-
revela estatisticamente significativa no tam médias mais elevadas (M 50-84 =
resultado total do IDS-R, F(3,466) = 3.70 < M = 3.94; M = 3.93; M = 3.93,
4.761, p = .003 (cf. Quadro 4). Reco- para as faixas etárias 18-24, 25-34 e
rremos ao teste de comparações múl- 35-49, respetivamente). A magnitu-
tiplas de Bonferroni, e verificamos que de do efeito, calculada através do eta
existem diferenças estatisticamente squared, foi de apenas .03.

Por sua vez, os resultados para a va- um resultado total significativamente


riável nível de escolaridade (cf. Quadro mais baixo, quando comparados com
4) indicam que esta variável tem um os sujeitos que concluíram o Ensino
impacto estatisticamente significativo Secundário e o Ensino Superior (M En-
no resultado total do IDS-R, F(2,467) sino Básico
= 3.71 < M = 3.89; M = 3.98,
= 9.046, p ≤ .001. Através do teste de para o Ensino Secundário e Superior,
comparações múltiplas de Bonferroni respetivamente). A magnitude do efeito
concluímos que os sujeitos que com- de .04 revelou-se, igualmente, reduzi-
pletaram apenas o Ensino Básico têm da. Por fim, as variáveis sexo e estado
113

civil não revelaram um impacto esta- sob stress…”, embora pertença origi-
tisticamente significativo no resultado nalmente à subescala Posição do Eu,
total do IDS-R. também apresenta características que
nos remetem para a Reatividade Emo-
cional, na medida em que se refere à
DISCUSSÃO capacidade para não se deixar dominar
pelas emoções dos outros (Rodríguez-
O presente artigo baseia-se num es- González, 2009; Skowron & Friedlan-
tudo de natureza exploratória, no âmbi- der, 1998; Skowron et. al, in press).
to dos estudos de adaptação e validação O Fator 1 inclui igualmente um ele-
do DSI-R (Skowron & Schmitt, 2003) vado número de itens pertencentes à
para a população portuguesa. subescala Fusão com os Outros (sete
Comparativamente com os re- itens). Destes, os itens 13 “Esposo(a)/
sultados da versão original (DSI-R; companheiro(a) critica…”, 29 “Discus-
Skowron & Schmitt, 2003), os resul- sões com os meus pais ou irmão(s)…”
tados obtidos ao nível dos estudos de e 44 “Mal disposto(a) depois de discu-
análise fatorial do IDS-R apresentam tir…” apresentam características não
uma variância explicada ligeiramente só da subescala Fusão com os Outros,
superior (33.5%) face aos 26.2% da como também indiciam Reatividade
versão norte-americana. A estrutura de Emocional, manifestada na atitude rea-
quatro fatores proposta por Skowron e tiva perante o que os outros dizem (e.g.,
Friedlander (1998) e aperfeiçoada ao ficar maldisposto). No Fator 2, existem
nível da subescala Fusão com os Ou- 13 itens, com replicação total dos 12
tros por Skowron e Schmitt (2003), itens que correspondem à subescala
também é possível de se obter para a original do Cut-off Emocional. Sendo
população portuguesa quando se efetua assim, há apenas um item adicional,
uma rotação Varimax dos itens. Ainda que pertence à subescala de Fusão
assim, não se obtém uma replicação com os Outros: o item 25 “Concordo
exata da estrutura fatorial do DSI-R apenas para não criar conflitos…”.
(Skowron & Schmitt, 2003), desta- Esta alteração poderá fazer sentido na
cando-se o elevado número de itens medida em que, no Cut-off Emocional
que saturam no Fator 1 e o reduzido também pode suceder apenas um dis-
número de itens no Fator 4 (19 vs. 4; tanciamento emocional (e não físico),
cf. Quadro 1). No que diz respeito ao por exemplo, através da ausência de
Fator 1, dos 19 itens, 10 pertencem à diálogo (Nichols & Schwartz, 2004). À
subescala Reatividade Emocional do semelhança do Fator 2, também o Fa-
DSI-R. O item 43: “Bastante estável tor 3 apresenta um elevado paralelismo
114

com a versão original, visto que nove pa ocidental e EUA), tais como o pa-
dos 10 itens pertencem à subescala Po- pel e o valor da família. À semelhança
sição do Eu. Comparativamente com do que sucedeu com a versão chinesa
a versão original, apenas os itens 35 e (Lam & Chan-So, 2010), também em
43 não saturam neste fator. Todavia, o Portugal poderia ser relevante definir
item 43 “Bastante estável sob stress…” um fator de Fusão com a Família. Po-
ainda que na versão norte-americana rém, há também que atender às faixas
esteja no Fator Posição do Eu, na ver- etárias da amostra, em que se verifica
são portuguesa encontra-se no Fator 1, que uma elevada percentagem de su-
que inclui muitos itens de Reatividade jeitos possui idades compreendidas
Emocional. Porém, este item além de entre os 18 e os 24 anos (31.1%). Ora,
remeter para a Posição do Eu, também nestas idades jovens e na situação de
pode encarar-se como uma forma de estudante, os indivíduos encontram-se
reagir ao exterior. Esta relação entre ainda bastante dependentes da família
Reatividade Emocional e Posição do de origem, daí que algumas das suas
Eu é igualmente notória em termos teó- opções estejam sujeitas à aprovação
ricos, já que ambos os conceitos cons- ou expectativas dos pais. Acresce que
tituem a dimensão intrapessoal da dife- o facto dos itens relativos à fusão com
renciação do self (Bowen, 1978; Kerr os outros se encontrarem repartidos
& Bowen, 1988). O Fator 4 é composto pelos Fatores 1 e 4 acabou por contri-
por apenas quatro itens, porém, os três buir para a correlação entre estes dois
itens que saturam de forma mais eleva- fatores ser uma das mais elevadas rela-
da encontram-se incluídos na subesca- tivamente às restantes intercorrelações
la original Fusão com os Outros (itens entre fatores.
9, 22 e 45). Uma análise mais exaus- No que diz respeito à análise da
tiva ao conteúdo destes itens leva-nos consistência interna do IDS-R, tendo
a concluir que todos dizem respeito à em consideração a classificação pro-
fusão com as figuras parentais. Peran- posta por Pestana e Gageiro (2003), o
te isto, levantamos a possibilidade da valor de alfa de Cronbach obtido para
existência de um fator relativo à de- a escala total em Portugal (.86) é bom
pendência dos pais. De acordo com para efeitos de investigação e idênti-
Rodríguez-González (2009), embora co ao obtido para a versão espanhola
Portugal e Espanha sejam considerados (Rodríguez-González, 2009). Na ver-
países individualistas (Hofstede, 2001, são original o valor obtido para a es-
citado por Rodríguez-González, 2009), cala total DSI-R foi ligeiramente mais
há certas diferenças relativamente aos elevado (.92) (Skowron & Schmitt,
restantes países individualistas (Euro- 2003). Porém, esta é uma situação ex-
115

pectável, na medida em que o DSI-R também alcançou conclusões semel-


foi construído para a população norte- hantes; porém, nos EUA (Skowron &
americana. Além disso, é um inventá- Friedlander, 1998; Skowron & Sch-
rio que já sofreu revisões, precisamente mitt, 2003) a idade não demonstrou ter
no sentido de melhorar a sua estrutura um impacto significativo no nível de
fatorial, bem como a sua consistência diferenciação do self. De acordo com
interna. Recorde-se que a versão de Bowen (1978), o nível de diferenciação
1998 (Skowron & Friedlander) possuía do self é bastante estável ao longo da
um valor de alfa de Cronbach de .88, vida e esse nível estável seria alcança-
muito próximo do valor obtido na ver- do no final da adolescência e início da
são portuguesa. No que diz respeito às idade adulta. Perante a existência de
subescalas (entre .51 e .86), os valores dados empíricos contraditórios, a me-
obtidos são mais fracos do que os da lhor forma de testar empiricamente se
versão americana (entre .81 e .89). existem ou não alterações no nível de
Finalmente, quanto às variáveis diferenciação do self, ao longo da vida
sociodemográficas, Bowen (1978) re- adulta, implicaria a realização de estu-
fere que a variável sexo não influencia dos longitudinais. Os estudos transver-
o nível de diferenciação do self. Este sais, como é o caso do presente estu-
postulado teórico vai de encontro aos do, avaliam apenas as diferenças entre
resultados obtidos com a versão por- idades num dado momento cronológi-
tuguesa e aos estudos realizados nos co. Além disso, as diferenças entre as
EUA (Skowron & Friedlander, 1998; idades são também mediadas por uma
Skowron & Schmitt, 2003). Os resulta- variável difícil de controlar através
dos obtidos por outros autores (Patrick, dos estudos transversais: o efeito gera-
Sells, Giordano, & Tollerud, 2007; cional. No nosso estudo, as diferentes
Rodríguez-González, 2009) também faixas etárias correspondem a diferen-
têm confirmado o postulado de Bowen, tes gerações e não podemos esquecer
com obtenção de níveis de diferen- que cada geração vive e desenvolve-se
ciação similares entre homens e mul- num determinado contexto, com carac-
heres. Contrariamente ao sexo, a idade terísticas históricas e culturais que lhe
revelou-se como uma variável com im- são próprias e, por isso, diferentes das
pacto significativo no resultado total do de outra geração. Importa salientar um
IDS-R, sendo que a faixa etária dos 50- aspeto mencionado por Bowen (1978)
84 anos apresenta valores significativa- que poderá justificar esta diferença
mente mais baixos quando comparada entre faixas etárias. Segundo o autor,
com as faixas etárias mais jovens. Em embora o self básico seja estabelecido
Espanha, Rodríguez-González (2009) no final da adolescência, há aconteci-
116

mentos incomuns que podem originar Schmitt, 2003), visto que os sujeitos da
modificações no nível básico do self, amostra com mais habilitações acadé-
nomeadamente experiências de vida micas (Ensino Secundário e Superior)
traumáticas, tais como doenças cróni- apresentam níveis de diferenciação do
cas graves, morte de pessoas muito sig- self superiores aos indivíduos que pos-
nificativas, entre outros (Bowen, 1978; suem menos habilitações (Ensino Bá-
Rodríguez-González, 2009). Com isto, sico). Além da versão norte-americana,
é possível que as diferenças encon- o nível de escolaridade foi igualmente
tradas não tenham a ver com a idade estudado na aferição do DSI para a po-
mas sim com as vivências específicas pulação filipina (Tuason & Friedlander,
de cada geração, sendo que a geração 2000), não se tendo verificado qual-
que hoje tem 50 ou mais anos tenha quer relação entre o nível académico
vivido ou esteja a viver em condições e o nível de diferenciação do self (de
de stress mais elevadas que as gerações encontro à teoria de Bowen, 1978). Po-
mais jovens. Podemos hipotetizar que rém, coloca-se de novo a hipótese da
as pessoas mais velhas vivenciam mais existência de um efeito da idade ou da
doenças crónicas e, como referem vá- geração. Ao longo das últimas déca-
rios autores (Skowron & Friedlander, das, os anos de escolaridade obrigató-
1998; Skowron, Homes, & Sabatelli, ria têm aumentado (García-Méndez et
2003), o mal-estar físico encontra-se al., 2006), pelo que os jovens adultos
associado a níveis mais baixos de di- de hoje têm mais anos de formação que
ferenciação do self. À semelhança do os seus pais e avós. À semelhança do
que foi verificado no DSI-R (Skowron que foi avançado previamente, só atra-
& Friedlander, 1998; Skowron & Sch- vés do recurso a estudos longitudinais
mitt, 2003), na versão portuguesa o poderíamos observar se os resultados
estado civil não revelou um impacto encontrados se relacionam com a idade
estatisticamente significativo no nível ou com o efeito geracional dentro do
de diferenciação do self, tratando-se de qual se inclui o facto de, hoje em dia,
uma variável sociodemográfica cujas as pessoas estudarem cada vez mais e
categorias ainda não foram analisadas até mais tarde.
em mais estudos (de que tenhamos
conhecimento), condicionando a pos-
sibilidade de estabelecer comparações. CONCLUSÃO
Por fim, quanto ao nível de escolari-
dade, os resultados do nosso estudo Em 2001, Charles fez uma revisão
apresentaram um paralelismo com a das investigações que tentaram vali-
versão norte-americana (Skowron & dar os construtos centrais da teoria de
117

Bowen (em que a diferenciação do o IDS-R e a dimensão da nossa amos-


self assume um lugar de destaque) e tra recolhida para um estudo desta
concluiu que embora existam evidên- natureza. Uma clara limitação deste
cias importantes que apoiam a teoria, estudo prende-se com as instruções
também seria necessário continuar a de preenchimento do IDS-R (tradução
investigar. Passados 11 anos, novas literal do DSI-R), que remetem para:
investigações têm sido realizadas, no- “Se acha que uma afirmação não se
meadamente em Portugal, dando ori- aplica a si (…) responda à questão de
gem a novos desafios para a investi- acordo com o que lhe parece que se-
gação. riam os seus pensamentos e sentimen-
A estrutura fatorial original, com- tos nessa situação”. Como tal, poderia
posta por quatro fatores, não foi re- fazer sentido estruturar duas versões
plicada de forma exata na versão por- diferentes do IDS-R, uma para quem
tuguesa. Por outro lado, embora os tem relação amorosa (versão utilizada
níveis de consistência interna sejam neste estudo) e outra para quem não
bons, poderão ser melhorados. Bowen tem uma relação amorosa, uma vez que
(1978) argumentou que a sua teoria é avaliar algo que não existe (a não ser
universal, ao ponto de poder aplicar-se na imaginação) pode gerar resultados
“a todas as famílias e em todas as cul- dissonantes da realidade e colocar em
turas” (Kerr & Bowen, 1988, p. 202). causa os resultados alcançados. Em
Os estudos de adaptação e validação do termos de estudos futuros, e uma vez
DSI-R original (Skowron & Friedlan- que se encontram ainda curso estudos
der, 1998; Skowron & Schmitt, 2003) com o IDS-R nomeadamente noutras
demonstram que, quando se toma a di- instituições, tal como na Faculdade de
ferenciação do self como um todo, não Psicologia da Universidade de Lisboa,
existem diferenças significativas em destacam-se uma revisão dos itens do
termos de idade, sexo e estado civil. No IDS-R, a obtenção de uma amostra de
IDS-R tal foi verificado para o sexo e maiores dimensões estratificada e re-
estado civil, mas não para a idade. Re- presentativa da população portuguesa,
lativamente ao nível de escolaridade, e a realização de novos estudos de aná-
os resultados obtidos são congruentes lise fatorial (nomeadamente estudos de
com os da versão original. análise fatorial confirmatória) e de con-
Destacam-se como potencialidades sistência interna, complementados com
deste estudo de caráter exploratório de outros estudos de evidência de precisão
adaptação e validação do DSI-R para e validade a fim de fortalecer as pro-
a população portuguesa, o processo priedades psicométricas do inventário
de tradução rigoroso a que foi sujeito (e.g., estabilidade temporal e validade
118

convergente e discriminante). Por fim, se uma ferramenta útil na avaliação


no que diz respeito à prática clínica, complementar (pois a entrevista clínica
importa relembrar o facto da teoria de continua a deter um papel primordial)
Bowen ser um dos pilares da Terapia dos indivíduos, das suas famílias e da
Familiar, graças à sua abordagem am- dinâmica relacional pela qual pautam
plamente compreensiva. Por conse- as suas interações.
guinte, o IDS-R poderá vir a revelar-

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0167.47.1.27
121

NOTA DE RODAPÉ (P. 100)

1.
O Personal Authority in the Family System Questionnaire (PAFS; Bray, Wi-
lliamson, & Malone, 1984) foi desenvolvido para medir processos familiares
baseados em aspetos da atual teoria familiar intergeracional (Williamson, 1981,
1982b, citado por Bray et al., 1984). É um questionário de 132 itens do tipo Likert
(1-5), distribuídos por oito escalas (e.g., Intimidação Intergeracional, Intimidade
Conjugal, Fusão/Individuação Conjugal, Triangulação da Família Nuclear), fre-
quentemente utilizado para avaliar a capacidade de um indivíduo para funcionar
de forma autónoma no sistema familiar, ao mesmo tempo que mantém uma li-
gação adequada com os pais e os outros significativos, tendo em conta a sua idade.

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