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Trabalho GT23 3605

O documento analisa a formação em Economia Doméstica no Brasil, destacando como essa educação foi moldada por influências da Igreja, Estado e oligarquias, visando preparar as mulheres para papéis tradicionais no lar. A pesquisa, baseada em fontes históricas e testemunhos, revela que o ensino buscava perpetuar uma visão conservadora da mulher como guardiã do lar e educadora dos filhos. A formação em Economia Doméstica reflete um contexto social e cultural que limitava as oportunidades femininas, enfatizando a importância do trabalho doméstico como função social.

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Trabalho GT23 3605

O documento analisa a formação em Economia Doméstica no Brasil, destacando como essa educação foi moldada por influências da Igreja, Estado e oligarquias, visando preparar as mulheres para papéis tradicionais no lar. A pesquisa, baseada em fontes históricas e testemunhos, revela que o ensino buscava perpetuar uma visão conservadora da mulher como guardiã do lar e educadora dos filhos. A formação em Economia Doméstica reflete um contexto social e cultural que limitava as oportunidades femininas, enfatizando a importância do trabalho doméstico como função social.

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GÊNERO E EDUCAÇÃO: A FORMAÇÃO EM ECONOMIA DOMÉSTICA

Nilce Vieira Campos Ferreira – UFMT

Resumo

As moças brasileiras foram alvo e submetidas constantemente a um formativo e sólido


discurso religioso impregnado de veemência moral e construções sociais. As mulheres
deveriam tornar-se imagem de pureza, da virtude feminina, um “modelo” a ser seguido.
Procuro responder: Quais os pressupostos para o ensino de Economia Doméstica?
Objetivo analisar qual a formação geral oferecida nesse curso. Ajuízo que o ensino de
Economia Doméstica representava uma expressão da aliança tácita entre Estado, Igreja
e oligarquia. Buscava-se uma educação conservadora consoante o programa brasileiro
de civilização da sociedade pela escolarização. A aprendiza precisava ser “preparada”
para tornar-se um instrumento a favor da civilização, um “inventário social e moral”
intentando levá-las a desempenhar ofícios domésticos e sociais, ou seja, “coisa de
mulher”. Avalio que às mulheres reservava-se um lugar demarcado, um espaço a ser
cuidado, vigiado, uma vez que ela deveria ser guardiã do lar, bastião moral e social das
famílias, uma moça de família destinada ao exercício de “atividades naturais” como
cuidar da casa, marido e filhos.
Palavras-chave: Educação das mulheres. Instituições escolares. Ensino
profissionalizante.

GÊNERO E EDUCAÇÃO: A FORMAÇÃO EM ECONOMIA DOMÉSTICA

INTRODUÇÃO

Esse texto emergiu a partir de minha investigação para o doutoramento


defendido em 2012 que versa sobre a Escola de Economia Rural Doméstica, uma
instituição pública federal. Nela, analisei, a partir de uma visão histórica, as estruturas
da formação para Economia Doméstica, nível secundário profissionalizante, no Brasil,
compondo sua trajetória nos anos de 1953 a 1997. Examinei os percursos que uma
instituição ao oferecer essa formação foi seguindo, no intuito de delinear a formação
para o trabalho com atividades pedagógicas direcionadas à educação das moças

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brasileiras. Procurei compreender como algumas práticas cotidianas e comuns à
escolarização feminina se desenvolveram como expressão da historicidade e dos
processos de continuidade de seu processo evolutivo.
Para isso, fontes escritas/ documentais, como relatórios, livros de atas, matrizes
curriculares, programas de curso, imprensa local e oficial, fotografias e outros
documentos compuseram a pesquisa. Testemunhos orais de ex-diretoras da escola e de
algumas alunas egressas do curso que atuaram/atuam na instituição em estudo
complementaram as lacunas.
Avalio que a criação e consolidação das Escolas de Economia Doméstica no país
representou uma expressão prática da aliança tácita entre o Estado, Igreja e oligarquia
brasileira. O que se buscava era uma educação conservadora para as mulheres, uma
educação que as mantivesse recatadas, no espaço do lar. Na prática pedagógica diária, o
trabalho era encarado como método comum. As alunas executavam trabalhos manuais,
tantos quantos possíveis em horas apropriadas de modo a levá-las a “ocupar o tempo”:
trabalhos de agulha, o corte e confeção de peças de vestuário, cuidados de higiene, com
a casa, com as refeições familiares entre outros.
Nessa linha de investigação, emerge esse texto que ora apresento, ponderando
que essa formação oferecida às moças, ao mesmo tempo em que as influenciou nos seus
percursos, também foi referendada por normas, modelos, experiências múltiplas, como
averíguo ao se analisar de onde surgiu e como se constituiu a formação em Economia
Doméstica no Brasil.

Economia Doméstica: princípios e destinatárias

O ensino de Economia Doméstica data dos anos de 1865 e surgiu com o intuito
de formar donas de casa. Outro princípio, elemento norteador dessa modalidade de
ensino, foi a orientação para o trabalho na administração familiar ou para a
administração dos recursos disponíveis para a consecução dos objetivos da família
(BRASIL, 1980).
O ensino de Economia Doméstica1 foi, entretanto, uma das mais recentes
disciplinas introduzidas no currículo escolar. Esse ensino na forma de disciplinas que

1
Ellen Richards, Isabel Bevier e outras acadêmicas, no início do século XX, reuniram-se nessa
conferência, a fim de estabelecer um currículo para a Economia Doméstica em bus ca de cursos que

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integravam o currículo de escolas destinadas às moças surgiu na Europa em meados do
século XIX. A primeira iniciativa, de forma organizada, ocorreu na Noruega em 1865,
por meio do Ministério da Agricultura daquele Estado. Em outros países como os
Estados Unidos e França, o ensino de Economia Doméstica data do final do século XIX
ou início do século XX, como parte do currículo escolar em diferentes níveis
(STIEHLER, 1939).
O modelo francês institucionalizou programas escolares com práticas que
progressivamente iriam transformar o lar em espaço propício para a aprendizagem de
certos conteúdos e que mais tarde se tornaria o ensino de Economia Doméstica. Esse
modelo influenciou o primeiro curso instalado no Rio de Janeiro em 1937, no Instituto
Familiar e Social. Essa influência perdeu espaço após 1950 quando o modelo americano
se instalou em função dos acordos técnicos assinados entre Brasil e Estados Unidos
(RATTO, 1992).
Para Juan Diaz Bordenave (1974), essa profissão se vinculou às características
culturais dos colonos europeus ingleses que se estabeleceram no continente norte-
americano. Pioneiros e suas famílias mantiveram seus padrões culturais de origem e
consideravam importante o ensino das atividades relacionadas com o lar e a sua
manutenção2 .
O trabalho da mulher era concebido apenas como atenção e cuidado com as
tarefas do lar, sendo confiado às mães o ensino das crianças e o controle das despesas
econômicas da casa. Dessa forma, os conhecimentos necessários eram transmitidos de
geração a geração. O impulso econômico registrado em 1860, na Europa, transformou
essa concepção. A indústria tomou a seu cargo certos trabalhos como produção de fios,
tecidos, preparação de sabão entre outros. Isso fez com que a demanda por trabalho
artesanal diminuísse. As fábricas passaram a empregar moças e mulheres, uma vez que
necessitavam de maior mão de obra, além do que o trabalho feminino era menor
remunerado. Com as mulheres no trabalho, foi necessário que a escola educasse a nova
geração de mulheres para o trabalho doméstico (STIEHLER, 1939).

oferecessem oportunidades profissionais para as mulheres na época. Essas Conferências deram origem à
criação das Associações Americanas de Economia Doméstica, atualmente Associação Americana da
Família e Ciências de Consumo. A Brief History of how Home Economics Came to Be. Disponível em:
<http://sitemaker.umich.edu/356.swidler/._history>. Acesso em: 3 set. 2012.
2
Outra razão para o aparecimento de cursos de economia doméstica conecta-se ao processo de
industrialização acelerada nos Estados Unidos, o que levou as donas de casa a valorizar tudo o que
pudesse contribuir para administração eficiente do lar (BORDENA VE, 1974).

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Nos Estados Unidos, Economia doméstica começou como um curso
universitário para mulheres, quando a Lei Morrill em 1862 estabeleceu a doação de
terras para instrução em universidades com subsídios estabelecidos para o propósito de
ensinar agricultura, ciência e engenharia. Estudos de Economia Doméstica também
foram criados para destinados a ensinar às mulheres habilidades consideradas essenciais
para a vida. Essas habilidades de vida incluíam a administração da casa, da família e a
gestão financeira. Em 1899, estes estudos foram nomeados como Economia Doméstica
em uma conferência Lake Placid, na qual mulheres como Ellen Richards e Isabel Bevier
decidiram que era importante, no ensino fundamental e médio, os/as alunos/as
aprenderem essas habilidades3 (BROWN; PAOLUCCI, 1993).
O curso de Economia Doméstica também recebeu outras denominações como
Curso de Família e do Consumidor, Curso de Ciências Domésticas. Esses cursos sempre
estabeleceram estreito paralelo com a educação para as mulheres, com amplo avanço
propiciado pelas condições políticas, econômicas e técnicas na última metade do século
XIX. Antes disso, esse ensino formal para as mulheres era praticamente inexistente.
Essa disciplina ao ser instituída objetivou desenvolver uma profissão que
compreendesse as obrigações e oferecesse oportunidades de trabalho para as mulheres,
com princípios científicos e processos para melhorar a gestão das famílias,
considerando-as como “célula mater da sociedade”.

Assim, se o homem deve ser preparado com têmpera de teor militar


para os negócios e as lutas, a educação feminina terá outra finalidade
que é o preparo para a vida do lar. A família constituída pelo
casamento indissolúvel é a base de nossa organização social e por isto
colocada sob a proteção especial do Estado. Ora, é a mulher que funda
e conserva a família, como é também por suas mãos que a família se
destrói. Ao Estado, pois, compete, na educação que lhe ministra
prepará-la conscientemente para esta grave missão (CAPANEMA,
1937, p.1).

Chiquieri (2008) descreveu que, no Brasil, os primeiros cursos foram criados em


1937, no Instituto Familiar e Social: Educação Familiar e Serviço Social. Inicialmente
esses cursos eram complementares, com disciplinas comuns que compunham os
currículos. A criação desses cursos refletia transformações e problemas vividos pela
sociedade brasileira nos anos de 1930, voltados para a questão social e mantinham

3
BROWN, MARJORIE; Paolucci, Beatrice. Home Economics: A Definition. Washington, D.C.:
American Home Economics Association, 1993.

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estreita vinculação às iniciativas da Igreja Católica e com intelectuais católicos. A ação
da Igreja era dirigida à população feminina, principalmente dos setores mais abastados,
para qualificar os católicos leigos, numa espécie de missão de apostolado junto à família
proletária4 . Recorro também a Guacira Louro (2011) que posteriormente apontou que a
educação da mulher seria feita, portanto, para além dela, já que sua justificativa não se
encontrava em seus próprios anseios ou necessidades, mas em sua função social de
educadora dos filhos e formadora de futuros cidadãos.

Foi também dentro desse quadro que se construiu para a mulher, uma
concepção de trabalho fora de casa como ocupação transitória, a qual
deveria ser abandonada sempre que se impusesse a verdadeira missão
feminina de esposa e mãe. O trabalho fora seria aceitável até o
momento do casamento, ou para mulheres que ficassem sós –
solteironas e viúvas (LOURO, 2011, p. 453).

Com a visão dessa função social da mulher, esposa e mãe, alastrando-se, tornou-
se necessário angariar novos aliados para uma contrarreforma. Isso levou a igreja a
procurar a burguesia ascendente para que fornecesse à igreja católica clientela segura.
Ao mesmo tempo, a burguesia anuiu a esse conluio porque suas filhas receberiam
instrução a investir no futuro seguro. Essa necessidade da igreja coincidiu com a
preocupação dos governantes com o atraso generalizado das regiões brasileiras em
relação às nações desenvolvidas e com a tardia inclusão nos processos industrializados e
na modernidade. Com isso, nossos governantes entenderam ser forçoso educar também
as mulheres.
O curso de Educação Familiar do Instituto Social perdurou 30 anos. O vestibular
foi suspenso, em 1967, por falta de regulamentação da profissão, além da baixa procura
e das limitações da licenciatura para o mercado de trabalho. Contudo, fundamentou a
criação de outros cursos, inclusive o curso de Economia Doméstica da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (RATTO, 1992).
Esses cursos serviram como ponto de partida para a criação e instalação de
outros cursos destinados à formação da mulher no país, muito embora perpetuassem o
modelo católico no que se refere à educação feminina. Os Cursos de Educação Familiar
visavam preparar técnicas em assuntos familiares, na perspectiva do serviço social.

4
A criação do primeiro Curso de Educação Familiar do Instituto Social correspondeu a uma tentativa de
normatização das famílias tomando como parâmetro a educação da mulher, despreparada para atuar em
conformidade com o seu destino “natural”. No Brasil, o curso na época denominado Educação Familiar,
constituiu a primeira fase, a de implantação de um modelo calcado na experiência francesa (RATTO,
1992, p. 59).

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Formar entre mulheres, não de uma classe, mas de todas as classes
sociais, uma consciência de comunidade cristã que venha substituir o
individualismo liberal egoísta sem cair na socialização inumana e
estatal. Para isso formar assistentes sociais, educadores familiares e
donas de casa que venham ser no meio em que vivam e trabalham, nos
institutos em que ensinam ou nos ambientes sociais em que atuam,
como elementos de correção das anomalias sociais, verdadeiros
elementos de renovação pessoal e católica (LIMA, 1982, p. 66).

Na perspectiva de se formar entre as mulheres a visão de serem elementos de


renovação pessoal e “católica”, a Economia Doméstica foi encarada na família, no
ambiente ou na comunidade como fator de organização, administração e bem estar geral
na vida do lar ou no desenvolvimento pessoal do grupo, da comunidade. Constituía
verdadeira forma de socialização humana, coexistindo uma percepção entre as mulheres
de que as obrigações da casa prorrogavam-se para além de seus muros. Afinal, “o
sustento das famílias cabia ao homem; o trabalho externo para ele era visto não apenas
como sinal de sua capacidade provedora, mas também como sinal de sua
masculinidade” (LOURO, 2011, p. 453).
A peculiaridade do Curso de Educação Familiar foi a transferência dessa
mentalidade e de seus ideais para o curso de Economia Doméstica, iniciado a partir de
1951 na Universidade Rural do Brasil5 . Desde 1947, o Instituto Social tentava
“participar do movimento a favor do progresso do meio rural”. Para colocar em prática
esses objetivos realizou uma série de estudos, cujas conclusões foram apresentadas ao
Ministério da Agricultura, em 26 de abril de 1951. Entre muitas considerações foram
destacados efeitos danosos do êxodo rural, o crescente desenvolvimento das cidades, a
“ignorância” da mulher do interior que de modo geral não se encontrava à altura das
suas obrigações caseiras para suprir as deficiências do meio (CHIQUIERI, 2008, p. 11-
12).
Depreende-se, desse modo, que cabia à Economia Doméstica estimular a ação
educativa e preparar as gerações femininas para os futuros deveres maternais,
domésticos e sociais. Os objetivos da formação profissionalizante seriam atingidos nas
formas de atuação das mulheres na sociedade, principalmente na industrialização na

5 As origens do Curso de Economia Doméstica encontram-se ligadas aos convênios feitos entre o Brasil e
os Estados Unidos. Mais especificamente, em 1951 a Universidade Rural do Estado de Minas Gerais
(UREMG) efetivou um convênio com a Universidade de Purdue (Ind iana, E.U.A.) que enviou a Viçosa
dois especialistas, um deles responsável pelo programa de extensão e o outro pelo de Economia
Doméstica (RATTO, 1992).

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qual nasciam as enormes fábricas. As cidades se tornavam formigueiros humanos e a
urbanização provocava o êxodo rural contra o qual era preciso lutar.
Considerando a importância da fixação do homem ao campo, além de visar o
“progresso” das comunidades rurais, foi necessário estimular a presença, no meio rural,
de pessoas esclarecidas, para orientar essas atividades. Contudo, como não havia
pessoas com formação adequada para esse tipo de trabalho, os governantes sugeriram a
criação de escolas especializadas, “femininas, autenticamente agrícolas, para preparar
moças do interior, capazes de atuar como assistentes sociais rurais, educadoras
familiares agrícolas ou auxiliares rurais”. A cooperação para este fim veio da Ação
Católica Brasileira, por meio da elaboração de um anteprojeto (RATTO, 1992, p. 42-
60).

A recuperação das ideias dominantes sobre a educação feminina


mostra a importância que o ensino de economia doméstica assumia no
contexto de tentativa de modernização do Brasil. Isto é, a
modernidade almejada a partir das décadas de 20 e 30 incluía também
uma família moderna. Daí a necessidade de uma educação feminina
diferenciada de forma a que as mulheres pudessem cumprir com suas
obrigações “naturais”. A difusão das ideias para a modernização das
famílias exigia a criação de um curso que “ensinasse” os
comportamentos morais e materiais condizentes com a ordem
burguesa. Por isso a Escola de Educação Familiar do Instituto Social
se instala no rastro destas ideias (RATTO, 1992, p. 40).

O acesso das mulheres à educação e instrução visando sua profissionalização se


tornou relevante, afinal faltavam pessoas com boa formação.

A Concepção do Curso de Economia Doméstica

O Curso de Economia Doméstica foi concebido para que as moças tivessem


formação adequada para dirigir sua casa, cuidar de seus filhos e atender as questões de
higiene básicas necessárias para que a mulher obtivesse uma formação condizente com
a ordem urbana industrial que se instalava no Brasil.
A partir de 1950, outros cursos de Economia Doméstica começaram a surgir no
Brasil seguindo o modelo americano, devido aos programas de cooperação técnica

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brasileira com os Estados Unidos, MEC/USAID6 . Os dois governos, nesse período,
tentaram conciliar o modelo político nacional-desenvolvimentista com o modelo
econômico de substituição das importações com a participação do capital estrangeiro.
Com o avanço do capitalismo para os países periféricos, no Brasil, a entrada de capitais
externos era discutida como opção para acelerar o desenvolvimento, compondo um
consenso entre os grupos sociais na defesa da industrialização. A formação das
mulheres, nesse contexto, assumiu importância crucial.
Constato que os grupos hegemônicos que detinham o poder do Estado se
7
arvoraram detentores do monopólio da violência simbólica legítima . Como tal,
atuaram impondo a sua ordem e classificando os indivíduos entre os que podiam e os
que não podiam ter acesso ao saber escolarizado, na mesma lógica da dominação do
capital. Enquanto poucos obtinham a propriedade dos meios de produção e tinham
acesso aos meios de produção e seus saberes, a imensa maioria se encontrava separada
das condições objetivas dessa produção, detendo apenas o indispensável para sua
própria subsistência, submetendo-se às leis do mercado, ou seja, aos interesses dos
primeiros, da elite que comandava o país (SILVA, 2009). Com a sociedade brasileira
dividida entre os que defendiam a industrialização sob o controle total do capital
nacional e os partidários da participação e comando do processo de industrialização
brasileira pelos capitais estrangeiros, nos cursos de Economia Doméstica as atividades
de extensão rural foram amplamente divulgadas e se tornaram prioritárias.
A presença dos EUA, na educação rural no Brasil, foi consideravelmente
ampliada, por meio dos acordos com o Ministério da Agricultura e acabaram por
resultar em inúmeras ações como a Campanha Nacional de Alfabetização Rural (1953)
e a fundação do Escritório Técnico de Agricultura Brasil-EUA (1954). Nessa nova
conjuntura, vários tratados foram assinados com o Ministério da Educação. Esses
acordos inauguraram uma nova modalidade de “cooperação” com base na implantação

6
Os acordos MEC-USAID, estabelecidos entre o Ministério da Educação (MEC) e United States Agency
for International Development (USAID) tinham como objetivo promover a reforma do ensino brasileiro.
Isso perpassava, contudo, as iniciativas do governo em administrar reformas educacionais e sociais,
especialmente no campo. O desenvolvimento econômico deveria ocorrer, segundo premissas capitalistas
básicas, incluindo uma política “favorável” às classes rurais para integrá-las à produção, provendo mais
recursos financeiros à nação.
7
Ver: Bourdieu, 2012, p. 18, para quem a ordem social funciona como uma imensa máquina simbólica
que tende a ratificar a dominação masculina sobre a qual se alicerça: é a divisão social do trabalho,
distribuição bastante estrita das atividades atribuídas a cada u m dos dois sexos, de seu local, seu
momento, seus instrumentos; é a estrutura do espaço, opondo o lugar de assembléia ou de mercado,
reservados aos homens, e a casa, reservada às mulheres.

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de instituições de assistência técnica para os trabalhadores rurais, materializados no
recém-criado Serviço Social Rural do Ministério da Agricultura (1955), o qual assinou
58 acordos com 80 entidades públicas e privadas, tais como o Crédito Rural e
Associações de Assistência visando fortalecer as operações de crédito ao produtor rural
no país. No campo da educação em si, foi dada prioridade à concessão de bolsas de
estudo nos Estados Unidos, por especialistas do Ministério (MENDONÇA, 2006).
Para a institucionalização efetiva desses cursos em busca de assistência técnica e
extensão rural no país ao longo dos anos de 1950 e 1960, o Governo criou nos estados
brasileiros, as Associações de Crédito e Assistência Rural (ACAR), que depois seriam
coordenadas pela Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR),
21/06/1956. As ACAR eram entidades civis, sem fins lucrativos, que prestavam
serviços de extensão rural e assessoria na elaboração de projetos técnicos para obtenção
de crédito junto aos agentes financeiros. No contexto da polarização política, econômica
e militar, a criação dessas associações se deveu, sobretudo, aos incentivos da
Associação Internacional Americana para o Desenvolvimento Social e Econômico 8
(AIA) entidade filantrópica9 .
Os incentivos trazidos pela AIA, para Fernando de Azevedo (1962)
representaram um avanço em direção ao progresso, diferenciando-se do ruralismo10 ao
propor que os direitos conquistados pelos/as trabalhadores/as também fossem
estendidos aos/às trabalhadores/as rurais. A racionalização da agricultura cumpriria um
papel importante ao assegurar a manutenção do processo de industrialização coerente
com os princípios da modernização que se instalava em solo brasileiro. O ideal buscado
era a constituição de um país interagindo em um mundo capitalista e de livre-comércio,

8
A American International Association for Economic and Social Dev elopment (AIA), cuja iniciativa é
geralmente atribuída a Nelson Aldrich Rockefeller (1908-1979), foi uma agência filantrópica que
desenvolveu projetos de cooperação técnica, principalmente em agricultura e conservação do solo, além
de programas destinados ao saneamento e alfabetização. Fundada em julho de 1946 e extinta em 1968, no
Brasil, a atuação da AIA em programas de assistência técnica em agricultura ocorreu entre 1946 e 1961.
Entre 1961 e 1968 esta agência passou a enfatizar o desenvolvimento de ativ idades relacionadas à
pesquisa no cerrado, criando uma agência de desenvolvimento e colonização, atuando nos principais
problemas do meio rural brasileiro: a não racionalização dos recursos naturais, técnicas consideradas
atrasadas, falta de inovações tecnológicas, entre outras características (SILVA, 2009).
9
“Faz ver (ACAR) como os planos de cooperação internacional empenhados na solução dos problemas
rurais podem se desembaraçar dos documentos de estudo e das mesas de conferência, para serem postos
em prática nos campos, nos lares e nos vilarejos onde vivem os que necessitam de auxílio” (MINAS
GERAIS, ACAR, Relatório 1950/51. Belo Horizonte, 1952).
10
Sobre o ruralismo há diversos conceitos, aqui é usada a ideia da existência de uma política de defesa da
vocação agrícola para o país, e consequentemente, da existência de uma formação específica na
perspectiva da profissionalização voltada para o próprio meio rural. Esse viés pode ser verificado em
(MENDONÇA, 1987).

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mas a tarefa de empreender a passagem do “tradicional” para o “moderno” seria
empreendida pelas elites11 “caminhando a passos lentos para a urbanização dos campos,
mas inelutavelmente”.

[...] todas essas alterações da infraestrutura, intervindo no processo de


urbanização tem de forçosamente concorrer, de sua parte, para
melhorar as condições, ainda tão precárias, do trabalhador rural. Para
que as populações do campo não emigrem para as grandes cidades e
se reduz a uma taxa normal o êxodo rural (pois máquinas, adubos e
técnicas modernas nada valem se não há braços suficientes para a
lavoura e homens experimentados em utilizá-las), foi preciso que elas
tenham uma vida saudável e ao mesmo conforto e as comodidades
práticas que tem os habitantes da cidade. Aumento de salários,
habitações dotadas de eletricidade e água corrente, assistência
sanitária e social, oportunidades de educação, cultura e recreação, são
os meios e os únicos meios que existem, para a fixação do homem no
campo (AZEVEDO, 1962, p. 228).

A primeira ACAR foi criada em Minas Gerais, em 06 de dezembro de 1948, na


gestão de Nelson Rockfeller junto ao governo mineiro 12 . Juscelino Kubitschek,
inspirado nos cursos de extensão rural de Viçosa e nos bons resultados obtidos pela
ACAR-MG, assinou em 1954 um acordo com o governo norte-americano e criou o
Escritório Técnico de Agricultura (ETA). Kubitschek procurava cooperação técnico-
financeira, para execução de projetos de desenvolvimento rural, entre os quais se
destacava a coordenação nacional das ações de extensão rural. Diversos escritórios,
ETAs, foram criados em cada estado, nos anos seguintes, sendo em muitos casos
embriões de cada ACAR13 no respectivo estado, cujos métodos de ação foram
inspirados no modelo norte-americano de extensão rural.

A ACAR foi viabilizada pela Participação ativa das Escolas de


Agricultura de Viçosa, instituição orientada desde sua origem para a
meta da modernização rural, tal como concebia o governo de Minas e
a AIA ao fundarem a ACAR – ou seja, aumento da produtividade por

11
Em outras palavras, as elites se apropriaram de assistência técnica ou administrativa, entre outros e ao
oferecê-las aos ruralistas mantê-los-iam cativos de suas propostas.
12
O Governo Mineiro acolheu o programa elaborado pelo Grupo Rockefeller e fundou em 1948, no
Estado de Minas Gerais, a Ass ociação de Crédito e Assistência Rural, destinada a atuar em prol da
melhoria das condições
econômicas e sociais da vida rural, que imitaria a American International Association for Economic and
Social Development – AIA de natureza norte–americana (PINTO, 2009).
13
Outras ACAR foram surgindo em cada estado brasileiro, nas duas décadas seguintes. Vinte e três
ACAR foram criadas até 1974 e, juntamente com a Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural
– ABCAR, substituta do ETA e criada em 21/06/1956, formavam o Sistema Brasileiro de Extensão Rural
ou SIBER (FONSECA, 1985).

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meio da disseminação e de novas técnicas e insumos, conjugado a
promoção de mudanças socioculturais no campo, como alternativa a
políticas mais radicais de reforma agrária. Desde 1930 praticava-se em
Viçosa extensão rural sistemática, em moldes norte americano. Mais
tarde foi ali instituído o serviço de extensão, que passou a funcionar
com estreita ligação com a ACAR (DULCI, 1999, p. 88).

O método de ação ACAR era inspirado no modelo norte-americano de extensão


rural, os serviços, contudo, não eram prestados diretamente por universidades, mas por
associações. O crédito supervisionado, um serviço de assistência técnica comum nos
EUA, foi uma inovação no modelo brasileiro. Além disso, integrados às ações da
ACAR, surgiram os “dias de campo” em busca da difusão de melhorias necessárias às
condições de vida no campo. Esses programas incluíam a participação de lideranças
locais, programas de rádio, técnicas de ensino ligadas ao lema do “aprender a fazer
fazendo”. Campanhas comunitárias que incluíam noções de higiene, saúde e produção
se tornaram palavras-chave do vocabulário histórico do Curso de Economia Doméstica
que a esses programas se integraram, preconizados pelas atividades educativas de
Extensão Rural no Brasil.

A atividade educativa da extensão rural era realizada através de


campanhas comunitárias junto às famílias, objetivando a transmissão
de conhecimentos técnicos sobre higiene, saúde e produção. O estado
de carência do homem tal como era pensado pela prática
extensionista, era determinado pelo baixo nível econômico, associado
a um atraso cultural. Portanto, os programas educacionais
justificavam-se como instrumento para eliminar essas carências – de
alimentos, de informações, de saúde, de laços sociais sólidos do meio
rural e integrá-lo ao mundo da produção. Em nenhum momento era
questionada a estrutura da sociedade; o desenvolvimento econômico
permanecia considerado uma questão de modernização (RATTO,
1992, p. 64).

Realizada por meio de campanhas comunitárias junto às famílias, essas


atividades educativas de extensão rural objetivavam a transmissão de conhecimentos
técnicos para divulgar o planejamento do emprego de recursos naturais de forma a
suprir necessidades da família ou do próprio meio. Era indispensável que o curso de
Economia Doméstica atuasse na área extensionista difundindo noções de higiene rural,
nutrologia, contabilidade, puericultura, enfermagem. Isso por que considerando os
princípios sanitários da Carta das Nações Unidas “os governos têm uma
responsabilidade pela saúde de seus povos que pode ser atendida apenas pela previsão
de adequadas medidas sociais e sanitárias.” (PORTUGAL, 1963, p. 8).

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Desse modo, programas educacionais serviam como instrumento para tentar
eliminar a escassez de alimentos, de informações, de saúde, de laços sociais do homem
brasileiro rural e carente. Traziam imbuídos em si, contudo, o propósito de integrar, os
brasileiros e as brasileiras, ao mundo da produção 14 e do consumo, propósitos do
capitalismo em expansão no país. O desenvolvimento econômico e industrial, as novas
condições de vida criadas, aos poucos e rapidamente aumentavam as exigências de
qualificação técnica e intelectual, exigindo modernização de métodos e técnicas
produtivas. Mulheres foram chamadas à formação e profissionalização com a tarefa de
modificar hábitos, mudar o comportamento das famílias frente aos problemas de
práticas agrícolas e domésticas rudimentares e inadequadas, resultantes da falta de
planejamento no trabalho e como forma de incentivar uma produção extensiva de bens e
serviços.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Em 1950, 64% da população brasileira vivia15 na área rural em condições


precárias de saúde, higiene e ausência quase total de conforto no lar. Essa situação de
vida no país resultava da baixa rentabilidade da atividade agropecuária devido,
principalmente, à deficiência de assistência técnica, educativa, social e financeira. As
habitações rurais eram feitas de material rústico, em consonância aos hábitos locais de
cada região e à facilidade de se obter material de baixo custo. As casas de alvenaria e as
escolas eram quase inexistentes. O meio rural encontrava-se abandonado.
Nesse cenário, as propostas para a educação agrícola adotaram um novo
significado a partir de 1950. Excluiram práticas escolares destinadas a crianças e
adolescentes e passaram a enfatizar a assistência técnica e financeira aos agricultores,
com base na noção de “comunidades” ou “cooperativas”, que deveriam ser organizadas
por meio de parcerias. Os governos e organizações envolvidas nas propostas atribuíam a

14
A ideologia da modernização ocupava-se em promover o mundo industrializado como sinônimos do
mundo moderno, não se pode excluir a questão de que o processo de industrialização iniciado nos Estados
Unidos na segunda metade do século XIX necessitou organizar a agricultura e o mundo rural à sua
imagem e semelhança. Ou ao menos, organizar o mundo rural tendo em vista suas premissas ma is
importantes como racionalidade, eficiência, respeito pelo empirismo. Tendo em vista a experiência
histórica dos Estados Unidos também na agricultura, em sua forma “moderna”, este foi o principal
instrumento utilizado pela AIA para alcançar os objetivos propostos pelos modernizadores no Brasil
(SILVA, 2009, p. 40).
15
Brasil – População Rural e Urbana – 1950-2000. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/>.
Acesso em: 9 set. 2012.

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suas práticas uma inclinação iminentemente educativa e não política, uma vez que elas
se dirigiam às comunidades rurais e não mais aos/às trabalhadores/as.
A formação da mulher, da dona de casa, tornou-se imprescindível para que ela
pudesse promover o atendimento às necessidades de sua família, com conhecimento de
técnicas e de diversas práticas, entre elas as agrícolas que garantissem a obtenção de
maior produtividade nas culturas e criações caseiras. Por um lado, s formação
incentivava a proteção à família; por outro, daria à mulher uma educação profissional
que fosse considerada adequada ao seu papel familiar. Os diversos projetos e propostas
elaborados com esse objetivo na Economia Doméstica mostraram que era necessária
uma profissionalização que se apresentasse como um trabalho digno e adequado. O
“culto da domesticidade16 ” era incitado e representava uma valorização da função
feminina no lar.
No Brasil, a entrada de capitais externos era discutida como opção para acelerar
o desenvolvimento do país. A implantação do Curso de Economia Doméstica coincidiu
com a preocupação dos governantes com o atraso generalizado das regiões brasileiras
em relação às nações desenvolvidas e com a tardia inclusão nos processos
industrializados e na modernidade. Nos anos de 1950, a busca pela modernização se
acentuou e atingiu a agricultura. Essa modernização se tornaria importante alavancando
a produção de matérias-primas destinadas ao mercado, ao mesmo tempo em que
ampliava a população consumidora de produtos industrializados. Com o Estado cada
vez mais assumindo o papel de organizador do conjunto de economia no país,
prevalecia o consenso entre os diversos grupos sociais na defesa da industrialização.
Havia, contudo, divisões entre a burguesia brasileira. Alguns grupos defendiam a
industrialização sob o controle total do capital nacional e outros pregavam a
participação e comando no processo de industrialização brasileira integrando capitais
estrangeiros.
Com o desenvolvimento das cidades e a industrialização crescente da economia
nacional, praticamente desapareceu a família nuclear como instituída anteriormente,
principalmente nas maiores cidades. Em consequência da revolução industrial do século
XIX, e de diversos fatores morais e econômicos, a família precisou se reestruturar. A
vida, pelas novas condições econômicas, tornou-se mais agressiva e com novas
dificuldades para a sobrevivência. As mulheres adentraram o mercado de trabalho e

16
LOURO, MEYER, 1993, p. 48.

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ocuparam serviços nas fábricas e nos escritórios. A mulher viu-se obrigada a lutar pela
existência e a contribuir com seu salário para a manutenção do lar.
A ênfase da ação educativa recaiu sobre a escola. Com a mulher, pelo imperativo
econômico, obrigada a passar o dia fora de casa, no trabalho, os/as filhos/as foram
entregues às creches ou à escola. Era necessário que a mulher ocupasse outros espaços,
pois seria impossível conceber-se a ideia da pátria sem se admitir a família, o primeiro
grupo social, – o mais essencial de todos os elementos que compõem as aglomerações
de homens chamadas nações e “à mulher, à mãe de família, à boa dona de casa, na
modéstia de suas tarefas, cabia a formação de uma criatura útil à sua pátria e à
humanidade” (SERRANO, 1954, p. 16-17). Era preciso educar as moças brasileiras.

REFERÊNCIAS

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2012.
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proposta curricular. Brasília, Departamento de Documentação e Divulgação, 1980.
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Economia Doméstica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 230 f.
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Janeiro, Niterói, 2008.
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Horizonte: UFMG, 1999.
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para o capital. São Paulo: Edições Loyola, 1985. (Coleção Educação Popular, 3).
LIMA, Arlete Alves. Serviço Social no Brasil: a ideologia de uma década. São Paulo:
Cortez, 1982.
LOURO, Guacira Lopes. Mulheres na sala de aula. In. História das Mulheres no Brasil.
Mary Del Priore (org), 10 ed. São Paulo: Contexto, 2011.
LOURO, Guacira Lopes, MEYER, Dagmar. A escolarização do doméstico. A
construção de uma escola técnica feminina. Cadernos de pesquisa, n. 87, nov. 1993, p.
48.
MENDONCA, Sonia Regina de. The two dichotomies of agricultural education in
Brazil (1930-1960). Estudos sociais agrícolas, Rio de Janeiro, v. 2, Selected
Edition 2006. Disponível em

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<http://socialsciences.scielo.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
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