0% acharam este documento útil (0 voto)
55 visualizações369 páginas

Práticas Etnobotânica

O e-book 'Práticas investigativas em Etnobotânica: distintos olhares, afins encontros', organizado por Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch, reúne contribuições de diversos pesquisadores sobre a relação entre humanos e plantas, abordando temas como etnobotânica histórica, botânica cultural e práticas etnomédicas. O livro é dividido em cinco partes, cada uma explorando diferentes aspectos e aplicações da etnobotânica, destacando sua importância na medicina, conservação e educação. A obra visa valorizar e preservar conhecimentos tradicionais e promover práticas sustentáveis no uso de recursos vegetais.

Enviado por

pibicjr.silvana
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
55 visualizações369 páginas

Práticas Etnobotânica

O e-book 'Práticas investigativas em Etnobotânica: distintos olhares, afins encontros', organizado por Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch, reúne contribuições de diversos pesquisadores sobre a relação entre humanos e plantas, abordando temas como etnobotânica histórica, botânica cultural e práticas etnomédicas. O livro é dividido em cinco partes, cada uma explorando diferentes aspectos e aplicações da etnobotânica, destacando sua importância na medicina, conservação e educação. A obra visa valorizar e preservar conhecimentos tradicionais e promover práticas sustentáveis no uso de recursos vegetais.

Enviado por

pibicjr.silvana
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 369

Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch

Organizadores

PRÁTICAS INVESTIGATIVAS EM ETNOBOTÂNICA:


Distintos olhares, afins encontros
PRÁTICAS INVESTIGATIVAS EM ETNOBOTÂNICA:
DISTINTOS OLHARES, AFINS ENCONTROS
Eraldo Medeiros Costa Neto
Ligia Silveira Funch
Organizadores

Práticas investigativas em
Etnobotânica:
DISTINTOS OLHARES, AFINS ENCONTROS

Feira de Santana - Bahia


2023
Copyright © 2023 by Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Projeto gráfico: Editora Zarte


Editoração eletrônica: Editora Zarte
Capa: Erica Silva sobre a imagem Plantes médicinales planche 2. Public domain illustration from
Larousse du XXème siècle 1932
Revisão textual: Os Organizadores
Revisão de provas: Os Organizadores

Conselho Editorial
Claudio André Souza
Maria de Lourdes Novaes Schefler
Mariana Fagundes de Oliveira
Maria Victória Espiñeira González
Zenaide de Oliveira Novais Carneiro

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

P925
Práticas investigativas em Etnobotânica [recurso eletrônico] : distintos olhares, afins
encontros / Eraldo Medeiros Costa Neto, Ligia Silveira Funch, (organizadores). –
Feira de Santana : Editora Zarte, 2023.
366 p.: il.

E-book.
Formato: PDF.
ISBN 978-65-88707-47-0

1. Etnobotânica. 2. Botânica cultural. 3. Plantas medicinais. I. Costa Neto, Eraldo


Medeiros, org. II. Funch, Ligia Silveira, org.
CDU 581

Elaboração: Luis Ricardo Andrade da Silva – Bibliotecário – CRB-5/1790

Todos os direitos desta edição reservados à


Editora Zarte
Rua Nacional nº 300 A, Parque Ipê
44054-064 — Feira de Santana, BA
Telefone: (71) 99116-6034 WhatsApp
E-mail: [email protected]
Sumário

Apresentação 9

Prefácio 15

Parte 1 | Etnobotânica histórica e usos locais de


recursos vegetais 17

Evolução histórica e científica dos conhecimentos sobre espécies dos


gêneros Cecropia, Coussapoa e Pourouma (Urticaceae) coletadas
na Amazônia brasileira nos séculos XIX e XX, com base na coleção
depositada no New York Botanical Garden – USA 19
Ari de Freitas Hidaldo
Lin Chau Ming
André Luiz Gaglioti,
Amanda Roberta Corrado
Sérgio Romaniuc-Neto

Conhecimento botânico local e uso de Schinopsis brasiliensis Engl.


(baraúna) no semiárido da Paraíba, Nordeste do Brasil 55
Carlos Antônio Belarmino Alves
Arliston Pereira Leite
João Everthon da Silva Ribeiro
Natan Medeiros Guerra
Ernane Nogueira Nunes
Ramon Santos Souza,
Thamires Kelly Nunes Carvalho
Camilla Marques de Lucena
Jacob Silva Souto
Reinaldo Farias Paiva de Lucena
O uso de Annona crassiflora Mart. e Annona coriacea Mart.
(Annonaceae) pelos indígenas Halíti-Paresi (Terra Indígena
Formoso), Tangará da Serra – MT 83
Márcia Regina Antunes Maciel
Janaina Kuhn
Mônica Josene
Lin Chau Ming

Parte 2 | Botânica cultural 103

Relación e importancia etnobotánica de la alfarería en una comunidad


de la vereda de San Joaquín, municipio de El Pital, Huila (Colombia)
105
Edwin Arriguí-Torres
Jeison Herley Rosero-Toro

Flores com nome de bicho, bichos com nome de flor 121


Elidiomar Ribeiro da-Silva

A linguagem cultural do crisântemo 145


Luci Boa Nova Coelho

Vivenciando o sutil mundo vegetal: descobertas que mudam vidas


173
Maria Lúcia dos Santos

Parte 3 | Etnobotânica e práticas (etno)médicas


179

Benzimentos e simpatias: práticas terapêuticas tradicionais em


comunidades do município de Iporanga (Vale do Ribeira, São Paulo)
181
Maria dos Anjos Gonçalves-Costa
Lin Chau Ming
Izabel de Carvalho
Miguel Angel Pinedo Vásquez
Etnobotânica e fitoterapia no SUS em Santa Inês, Bahia, Brasil:
plantas medicinais, insurgência dos subalternos, saberes do Jiquiriçá
201
Marcelo Felipe Nunes Amaral
Edilaine Andrade Melo
Aurélio José Antunes de Carvalho

Parte 4 | Etnobotânica, quintais e sistemas de


cultivo 213

Traditional forms of exchange among the Yucatec-Maya: the relevance


of homegardens 215
Diana Gabriela Lope-Alzina

El milenario sistema de la milpa maya bajo roza-tumba-quema de


Yucatán, México en los últimos años 261
Ramón Mariaca Méndez

Parte 5 | Etnobotânica e Ensino de Biologia e


Ciências 309

As configurações dos estudos em etnobotânica no contexto do


ensino de biologia: um levantamento a partir de edições do ENEBIO
(Encontro Nacional de Ensino de Biologia) 311
Wesley Alves Silva
Dayvisson Luís Vittorazzi
Alcina Maria Testa Braz da Silva
Carlos Alberto Batista dos Santos
Wbaneide Martins de Andrade

Conhecimentos prévios sobre plantas medicinais apresentados pelos


calouros do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual
de Feira de Santana, Bahia 327
Maria de Lourdes Pinto Neri
Eraldo Medeiros Costa Neto
João Paulo dos Santos Silva
Uso de plantas medicinais no ensino de Ciências em espaço de
educação não formal 351
Jozilene Ferreira de Jesus
Eraldo Medeiros Costa Neto
João Paulo dos Santos Silva
Apresentação

A etnobotânica é o estudo das relações entre as plantas e os seres


humanos. De acordo com Richard Evans Schultes (1915–2001), um
dos principais estudiosos do tema, “a etnobotânica é o estudo científico
das plantas utilizadas pelos seres humanos” (SCHULTES, 1988). As
plantas desempenham um papel fundamental na vida humana, seja
como alimento, medicamento, material de construção ou de natureza
simbólica. A etnobotânica busca entender como as sociedades humanas
usam e percebem as plantas, e mesmo como essas relações evoluem ao
longo do tempo.
Entre os exemplos importantes que podem ser destacados está o
trabalho de Wade Davis (1953–), antropólogo e etnobotânico, que tem
mostrado como os conhecimentos etnobotânicos das comunidades
indígenas podem ser valiosos para a medicina moderna. Ele descreveu
como os conhecimentos tradicionais dos povos indígenas da Amazônia
sobre plantas medicinais foram fundamentais para o desenvolvimento
de medicamentos, como o d-tubocurarina isolado do curare do veneno
da flecha, que revolucionou a cirurgia moderna (DAVIS, 1996). Outro
exemplo é o trabalho de Nancy Turner (1947–), etnobotânica e ecóloga,
que tem estudado as relações entre as sociedades indígenas da costa
oeste da América do Norte e a flora local. Ela mostrou como as práticas
de manejo tradicionais das plantas contribuem para a conservação da
biodiversidade e como esses conhecimentos podem ser aplicados em
programas de manejo de recursos naturais (TURNER, 1995, 2014).
Os trabalhos de Schultes, Davis e Turner são exemplos importantes
da contribuição da etnobotânica para o conhecimento científico e sua
aplicação na medicina, conservação e manejo de recursos naturais.
No Brasil, a etnobotânica tem sido um campo de estudo importante,
pois o país possui uma rica diversidade botânica e uma grande variedade
de culturas indígenas e tradicionais. A pesquisa em etnobotânica no

9
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Brasil tem se concentrado em como as plantas são usadas na medicina


tradicional, na agricultura, na arte e na religião. Além disso, tem-se
investigado como o uso das plantas pode ser integrado em práticas
sustentáveis, como os sistemas agroflorestais e a conservação da
biodiversidade.
Os indígenas e os ribeirinhos do Brasil possuem conhecimentos
tradicionais e sistemas de uso de plantas que vêm sendo estudados há
décadas. Estes conhecimentos são passados de geração em geração e
são baseados em experiência e observação. Os indígenas, por exemplo,
usam cerca de 2.000 espécies de plantas diferentes, muitas das quais são
usadas como medicamentos. A etnobotânica tem sido importante para
documentar e compreender esses conhecimentos tradicionais, bem
como para desenvolver novas tecnologias e práticas baseadas nesses
conhecimentos.
A agricultura tradicional no Brasil também é um campo importante
de estudo em etnobotânica. Por exemplo, os agricultores tradicionais
do semiárido do Nordeste do Brasil usam técnicas de agricultura de
conservação, como o plantio em sulcos, que permitem que as plantas
cresçam em solos áridos. A etnobotânica tem sido importante para
compreender essas técnicas e para desenvolver novas práticas de
agricultura sustentável baseadas nelas.
Além disso, a etnobotânica tem um papel importante na valorização
e na preservação das culturas tradicionais e indígenas do Brasil. Ao
estudar e compreender os conhecimentos e práticas tradicionais
relacionados às plantas, podemos apreciar a riqueza cultural e a sabedoria
dos povos tradicionais do Brasil. E ao incorporar esses conhecimentos
em práticas contemporâneas, podemos contribuir para a conservação
da biodiversidade e para o desenvolvimento sustentável.
No decorrer dos últimos 20 anos, o Programa de Pós-Graduação
em Botânica (PPGBOT) da Universidade Estadual de Feira de Santana
tem se dedicado a diferentes especialidades na área de conhecimento
da Botânica, entre as quais a etnobotânica é componente importante
da linha de pesquisa em Ecologia da Vegetação e Conservação.
No programa, a etnobotânica tem dado valiosa colaboração para
compreender a etnofitodiversidade no domínio da Caatinga, Floresta
Atlântica e Cerrado, especialmente no Nordeste brasileiro.

10
Práticas investigativas em Etnobotânica

O e-book Práticas investigativas em Etnobotânica: distintos olhares,


afins encontros, organizado por Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia
Silveira Funch, que compõem o quadro de professores do PPGBOT,
traz à luz contribuições de pesquisadores nacionais e internacionais
em diferentes perspectivas, mas todas relacionadas com a compreensão
sociocultural das múltiplas interações dos seres humanos com o mundo
vegetal. Este livro traz a contribuição de vários autores sobre o tópico
multifacetado da etnobotânica, pois é difícil um ou poucos autores
cobrirem toda a extensão deste campo de pesquisa.
As catorze contribuições, ora capítulos, estão divididas em cinco
partes segundo a temática principal que as unem. A primeira traz
textos relacionados com etnobotânica histórica e usos locais de
recursos vegetais. Ari de Freitas Hidalgo e colaboradores discorrem
sobre evolução histórica e científica dos conhecimentos acerca de
espécies dos gêneros Cecropia, Coussapoa e Pourouma (Urticaceae)
coletadas na Amazônia brasileira nos séculos XIX e XX, tendo como
base a coleção depositada no Jardim Botânico de Nova York, Estados
Unidos. Em seguida, Carlos Antônio Belarmino Alves e demais autores
nos apresentam o conhecimento etnobotânico e os usos da baraúna
(Schinopsis brasiliensis Engl.) por comunidades do semiárido paraibano.
Por sua vez, Márcia Regina Antunes Maciel e colaboradores trazem
informações concernentes ao uso de Annona crassiflora Mart. e Annona
coriacea Mart. pelos indígenas Halíti-Paresi (Terra Indígena Formoso)
que habitam no município de Tangará da Serra – MT.
A segunda parte do e-book dedica-se à botânica cultural e possui
quatro contribuições: os colombianos Edwin Arriguí-Torres e Jeison
Herley Rosero-Toro comentam a respeito da relação e importância da
etnobotânica com a cerâmica em uma comunidade do município de
El Pital, Huila; Elidiomar Ribeiro Da-Silva, professor do Instituto de
Biociências da UNIRIO, nos brinda com um lindo texto na área da
fitonímia, intitulado “Flores com nome de bicho, bichos com nome
de flor”; Luci Boa Nova Coelho, professora do Instituto de Biologia
da UFRJ, discorre sobre os usos histórico, cultural e simbólico do
crisântemo (Chrysanthemum spp., Asteraceae); Maria Lúcia dos Santos
apresenta um texto breve, cheio de poesia, acerca do mundo sutil das
plantas e os florais.

11
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

A terceira parte do livro Práticas investigativas em Etnobotânica:


distintos olhares, afins encontros traz duas contribuições na área da
medicina tradicional — etnobotânica e práticas (etno)médicas. Maria
dos Anjos Gonçalves-Costa e colaboradores falam sobre práticas
terapêuticas tradicionais por moradores de comunidades do Vale do
Ribeira, São Paulo; Marcelo Felipe Nunes Amaral, Edilaine Andrade
Melo e Aurélio José Antunes de Carvalho discorrem sobre etnobotânica
e fitoterapia no SUS em um município do estado da Bahia.
A quarta parte apresenta dados sobre quintais e sistemas de cultivo,
trazendo exemplos do México: Diana Gabriela Lope-Alzina discute
sobre a relevância dos quintais e as formas tradicionais de intercâmbio
entre os Yucatec-Maya; Ramón Mariaca Méndez, pesquisador no El
Colegio de la Frontera Sur (Ecosur, Chiapas), discute sobre o sistema
milenar dos cultivos maias em Yucatán, México.
A quinta parte do e-book se refere a contribuições dedicadas à
etnobotânica no ensino de Biologia e Ciências. Wesley Alves Silva
e demais autores discutem sobre as configurações dos estudos em
etnobotânica no contexto do ensino de biologia a partir de edições do
Encontro Nacional de Ensino de Biologia; Maria de Lourdes Pinto Neri,
Eraldo Medeiros Costa Neto e João Paulo dos Santos Silva apresentam
os conhecimentos prévios sobre plantas medicinais apresentados por
calouros do curo de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de
Feira de Santana, Bahia; Jozilene Ferreira de Jesus, Eraldo Medeiros
Costa Neto e João Paulo dos Santos Silva comentam sobre o uso de
plantas medicinais no ensino de ciências em espaço de educação não
formal.
Em resumo, Práticas investigativas em Etnobotânica: distintos olhares,
afins encontros é uma coletânea que apresenta exemplos importantes
da contribuição da etnobotânica para o conhecimento científico e sua
aplicação na medicina, conservação e manejo de recursos naturais.

Os Organizadores.

12
Práticas investigativas em Etnobotânica

Referências

DAVIS, W. One river: explorations and discoveries in the Amazon rain


forest. Nova York: Simon & Schuster, 1996.
SCHULTES, R. E. Primitive plant lore and modern conservation.
Orion Nature Quarterly, v. 7, n. 3, p. 8-15, 1988.
TURNER, N. J. Food plants of Coastal First Peoples. Victoria,
Canadá: Royal British Columbia Museum, Handbook series, 1995.
TURNER, N. J. Ancestral pathways, ancestral knowledge:
ethnobotany and ecological knowledge of Indigenous peoples of
Northwestern North America. 2 vols. Kingston e Montreal: McGill-
Queen’s University Press, 2014.

13
Foreword

Up until the mid-twentieth century, ethnobotanical inquiry in Latin


America was carried out mostly by foreign researchers with the express
purpose of identifying useful plants and plant products that could in
time be developed into economically valuable commodities, especially
foods, fibers, and pharmaceuticals. But this situation changed in the
latter twentieth century, as research on plant-people relations became
less commercial and oriented towards the needs of distant markets,
and more focused on the vast array of cultural and material meanings
of plants to local people, regional economies, and environmental
sustainability. Just as importantly, the role of the distant expat researcher
has been in most cases supplanted by a generation of Latin American
ethnobotanists, whose nuanced understanding and appreciation of local
botanical resources — material and cultural — as well as the diversity
of communities who manage and depend on them, has revealed novel
avenues of inquiry regarding the entwined relations of people and plants.
It is in this spirit that the organizers of this volume, Drs. Eraldo
Medeiros Costa Neto and Ligia Silveira Funch, have assembled an eclectic
array of papers exploring myriad facets of ethnobotany in Latin America
by an impressive array of researchers hailing from Brazil, Mexico, and
Colombia. Ethnobotanical inquiry casts a wide net of scholarship,
involving taxonomy, linguistics, economics, history, geography,
conservation, to name a few, and many of these disparate approaches
and objectives are touched on in this interesting compendium. Topics
covered include the paucity of early plant collections in Amazonia,
indigenous knowledge and use of undomesticated fruit trees, the
challenge of ‘botanical blindness’, as well as the lexical relations between
animals and plants. The symbolism and romance of plants in the
present as well as the past is explored, as is the use of plants in blessings
and spiritual healing. The social dynamics of homegarden exchange

15
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

is investigated, as is the challenge of climate change and capitalist


enterprise to the successful coexistence of milpa and forest ecosystems.
Finally, the rescue of popular plant knowledge is considered from the
perspective of Brazilian ethnobotanical curricula.
The publication of this useful and wide-ranging volume underscores
the depth and breadth of twenty-first century ethnobotanical scholarship
in Latin America.

Robert Voeks
Professor, Department of Geography & the Environment
California State University, Fullerton, USA

16
Parte 1
ETNOBOTÂNICA HISTÓRICA
E USOS LOCAIS DE RECURSOS
VEGETAIS
EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CIENTÍFICA DOS
CONHECIMENTOS SOBRE ESPÉCIES DOS
GÊNEROS CECROPIA, COUSSAPOA E POUROUMA
(URTICACEAE) COLETADAS NA AMAZÔNIA
BRASILEIRA NOS SÉCULOS XIX E XX, COM BASE
NA COLEÇÃO DEPOSITADA NO NEW YORK
BOTANICAL GARDEN – USA

Ari de Freitas Hidaldo1, Lin Chau Ming2, André Luiz Gaglioti2,


Amanda Roberta Corrado2, Sérgio Romaniuc-Neto3

Universidade Federal do Amazonas, Manaus – AM.


1

Universidade Estadual Paulista, Botucatu – SP; [email protected]


2

3
Instituto de Botânica de São Paulo, São Paulo – SP.

Introdução

Diversos naturalistas percorreram terras brasileiras ao longo da


história de cinco séculos desde a descoberta desta parte da América
do Sul. Desde a chegada dos primeiros europeus há registros sobre a
natureza brasileira, com ênfase na flora e seus usos, considerando-se o
interesse dos colonizadores em encontrar alternativas alimentares e de
outras finalidades econômicas nas terras recém-descobertas. A partir
da carta de Pero Vaz de Caminha, seguiram-se muitos outros registros
sobre as plantas brasileiras. Com as viagens dos naturalistas europeus,
patrocinadas por reinos ou por instituições de pesquisa e museus, o
registro, catalogação e descrição das plantas desta parte do novo mundo
passaram a ser mais criteriosas, não se restringindo somente às plantas
ditas úteis.
Os séculos XVIII, XIX e XX foram profícuos em informações
sobre a flora brasileira. As viagens contemporâneas de Spix e Martius

19
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

(1817–1820) e Saint-Hilaire (1816–1822), por exemplo, registraram


a variedade e abundância de espécies vegetais de biomas brasileiros.
Da mesma forma, Mariano Vellozo (1783–1790), Von Langsdorff
(1824–1829), Theodore Peckolt (1848–1856), Spruce (1855–1864) e,
mais recentemente, já no século XX, Adolpho Ducke, Bóris Krukoff e
Richard Schultes, muito contribuíram para o conhecimento botânico do
Brasil, estando a maior parte de suas coletas depositadas em herbários
estrangeiros, particularmente na Europa.
A região amazônica, em meados do XIX, passou a ser considerada
como amplo campo de estudos, visando à obtenção de material
biológico e informações que pudessem servir para gerar produtos úteis
ao Reino e à colônia. Os naturalistas escalados ou voluntários para esta
empreitada tinham como objetivos “classificar, ordenar, organizar em
mapas e coleções o que se encontra pelo caminho” a respeito da fauna e
flora (PRESTES, 2000).
Muitos desses empreendimentos foram financiados por nobres
(barões e condes), príncipes e reis. É representativa deste fato a vinda
de diversos naturalistas, no início do século XIX, acompanhando a grã-
duquesa austríaca D. Leopoldina em sua viagem para núpcias com D.
Pedro I. A expedição científica contava com vários naturalistas e artistas
plásticos, dentre estes Johann Baptist von Spix, Carl Freidrich Philip von
Martius e Johannes Natterer.
Portanto, além do material destes naturalistas históricos, há outros
depósitos nas coleções feitas desde o século XIX. A maior parte do material
resulta de atividades de pesquisadores (não necessariamente botânicos)
que estiveram na região em atividades de coletas esporádicas, visando
obter dados para teses e dissertações, mas também, e principalmente,
por pesquisadores que faziam parte de grandes projetos de pesquisa,
em geral financiados por instituições como herbários, universidades,
agências de fomento (National Science Foundation – NSF – nos
Estados Unidos; Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – CNPq – no Brasil; Overseas Development Administration
– na Inglaterra, e outras), ou ainda pelo Exército Americano (U.S. Army)
e fundações particulares (Fundação Rockfeller, Fundação Edward John
Noble, Fundação Exxon) ou organizações não governamentais, como a
Fundo Mundial para a Natureza (WWF).

20
Práticas investigativas em Etnobotânica

1. Importância da guarda de material botânico em coleções

Todo material coletado em viagens científicas, seja ele vegetal ou


animal, deve ser depositado em locais que se responsabilizem por
sua guarda, manutenção da integridade, identificação, padronização
na forma de apresentação e registro das informações anotadas.
Mais recentemente está sendo feita a virtualização dos dados e sua
disponibilização para toda a comunidade científica interessada na
forma de base de dados. Desta forma, estes locais reconhecidos por sua
capacidade de armazenar este material e conhecidos como herbários,
servem como referencial para o estudo das plantas de determinada
região, país ou localidade, por vezes contribuindo enormemente para
o conhecimento de floras específicas. Muitas vezes, o local onde as
plantas foram coletadas teve sua paisagem alterada definitivamente
e os depósitos nos herbários são testemunhas da composição da flora
extinta localmente.
De acordo com The New York Botanical Garden & International
Association for Plant Taxonomy (2009), o herbário de Nova York (New
York Botanical Garden), fundado em 1891, tem coleção com mais de 7,2
milhões de exemplares depositados.
Este herbário, assim como inúmeros outros, principalmente de
instituições europeias, abrigam material coletado no Brasil por mais de
três séculos. Na coleção de Nova York podem ser encontradas exsicatas
com pouquíssimas informações, enquanto outras contêm informações
precisas, indicando local da coleta com detalhes de referenciamento
geográfico, descrição das condições locais, acesso, tipo e porte da
planta, croqui, mapa de localização da coleta e situação a que está
submetido este local, coletor, identificador e instituição. Estas diferenças
demonstram a heterogeneidade de formações, objetivos, percepções dos
coletores e dos recursos empregados nas expedições, assim como uma
evolução deste procedimento. Alguns termos usados nas línguas locais,
os quais necessitam de tradução ou atualização, foram incorporados em
descrições e na nomenclatura de espécies e são explicitados por Cunha
(1999).
Com base nas etiquetas das exsicatas depositadas no herbário
de Nova York, foi possível pesquisar, resgatar e verificar informações

21
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

sobre espécies de três importantes famílias botânicas presentes na


Amazônia, coletadas nos séculos XIX e XX, resultando na ampliação
do conhecimento sobre as plantas amazônicas, o que poderá contribuir,
direta ou indiretamente, na melhora da consciência sobre a conservação
da flora brasileira e seu uso sustentável.

2. Material e Métodos

O trabalho foi realizado inicialmente por meio de pesquisa


bibliográfica junto à base de dados virtuais acerca dos gêneros Cecropia,
Coussapoa e Pourouma. Também foram levantadas informações sobre
história das coletas botânicas e coletores, herbários e outros assuntos
relacionados, além de pesquisa em bibliotecas de alguns dos principais
herbários brasileiros.
As imagens analisadas neste trabalho foram obtidas diretamente nas
coleções do Jardim Botânico de Nova Iorque. As imagens digitalizadas
foram feitas por André Gaglioti, da equipe do Prof. Sérgio Romaniuc
Neto, do Instituto de Botânica de São Paulo, coordenador do projeto
Reflora, e pelo Prof. Lin Chau Ming, da Universidade Estadual Paulista,
Campus de Botucatu, subcoordenador do Reflora. As imagens foram
geradas através de fotografias das exsicatas, em resolução de 300 dpi, em
formato JPEG, o que evita a perda de qualidade por não usar processos
de compressão.
As etiquetas das exsicatas digitalizadas e fotografadas foram
separadas, a partir dos nomes dos gêneros (e posteriormente, das
espécies), das coletas realizadas na Amazônia brasileira a partir do século
XIX; posteriormente, as informações das etiquetas foram tabuladas em
planilha Excell, formando uma base de dados, separados por família/
gênero/espécie, constando as seguintes informações: nomes científicos,
nomes populares, locais de coleta, datas de coleta, nomes dos coletores,
características das plantas coletadas, características dos locais de coleta,
uso das plantas coletadas, instituição de origem dos coletores, instituição
que patrocinou as coletas, nomes dos coletores assistentes, observações
feitas pelos coletores, herbários-destino das exsicatas, identificadores e
classificadores das plantas.

22
Práticas investigativas em Etnobotânica

As imagens das exsicatas foram adicionadas às planilhas através de


links que permitiram sua localização imediata. Para a disponibilização
da grande quantidade de imagens em alta resolução, as imagens foram
de 200 Mbytes, em formato TIFF, resolução de, no mínimo, 300 dpi,
com tamanho de 6.477x10.179 pixels, a qual pode ser recuperada em
formato JPEG, através de uma chamada ao servidor.
Mediante filtragem com o programa Excell, foram geradas planilhas
separando os gêneros de acordo com as informações de interesse:
espécies, nomes vulgares, locais de coleta, coletores, data de coleta,
determinadores e data de determinação, observações morfológicas,
locais de ocorrência, informações ecológicas e instituições financiadoras.
A partir destas planilhas os dados foram extraídos e tabulados.

3. Resultados e Discussão

Foram obtidas fotografias de mais de 3.000 exsicatas de Urticaceae


do acervo do Jardim Botânico de Nova York, das quais foram analisadas
1.099 fotografias de exsicatas de espécies que ocorriam no Brasil, sendo
selecionadas apenas aquelas dos três gêneros estudados – Cecropia (196),
Coussapoa (192) e Pourouma (290) que foram coletadas na Amazônia
brasileira.

3.1 O gênero Cecropia

Com exceção de um material coletado por Richard Spruce no Rio


Negro, estado do Amazonas, entre 1850-51 (C. leucocoma), adquirido
junto à coleção de Kew, todos os demais exemplares de Nova York estão
datados a partir de 1912. Com raras exceções, de material adquirido
junto a coleções mais antigas ou recebido por doação, o acervo de
Cecropia de Nova York não possui exemplares de naturalistas históricos,
como Martius, Wallace, Spruce, Battes e outros.
Foram analisados os rótulos das 196 exsicatas depositadas,
representativas de 16 espécies de Cecropia coletadas na Amazônia

23
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

entre 1912 e 1999 (Figura 1), representando um período de 87 anos.


Se considerada a coleta de Spruce (1850), que é anterior à fundação do
Jardim Botânico de Nova York (1891), o período amplia-se para 144
anos.
As espécies de Cecropia depositadas em Nova York são: Cecropia
concolor Willd., Cecropia distachya Huber, Cecropia engleriana
Snethl., Cecropia ficifolia Snethl., Cecropia kavanayensis Cuatrec.,
Cecropia latiloba Miq., Cecropia membranacea Trécul, Cecropia obtusa
Trécul, Cecropia pachystachia Trécul, Cecropia palmata Willd., Cecropia
peltata L., Cecropia purpurascens C. C. Berg, Cecropia saxatilis Snethl.,
Cecropia sciadophylla Mart., Cecropia silvae C. C. Berg, Cecropia ulei
Snethl. A Figura 7 apresenta as espécies e os respectivos números de
amostras.
As espécies mais coletadas, ou pelo menos as que estão melhor
representadas na coleção nova-iorquina são: Cecropia latiloba (28
amostras), C. sciadophylla (26), C. concolor (21), C. pachystachya e C.
ficifolia (20) e C. obtusa (18). As menos representadas são: C. silvae e
C. kavanaiensis, com apenas uma coleta cada. A abundância de C.
sciadophylla nas vizinhanças de Manaus chamou a atenção de M. Nee,
que em 1992 registrou: “The most abundant tree, most without flowers
or fruits now” (A árvore mais abundante, a maioria sem flores ou frutos
agora).
Há uma exsicata de C. fraucisoi (como está grafada). No entanto,
não foi encontrada nenhuma informação sobre a espécie em nenhuma
base de dados (NYBG, INPA, Kew Garden, MOBOT), não sendo
possível confirmar sua validade. Possivelmente, trata-se de C. francisci
e o equívoco na grafia do nome específico se deva à dificuldade com a
letra usada na nomeação original ou pelo desgaste do rótulo e coloração
amarelada, o que comprometeu a qualidade da foto. Pode ainda ser
um nome atribuído e não reconhecido, caindo em desuso, sendo
determinado sob outra espécie, o que não pode ser confirmado.

24
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figura 1 – Espécies de Cecropia e respectivos números de amostras com base


nos rótulos de fotografias das exsicatas depositadas no Jardim Botânico de
Nova York. Botucatu (SP), 2020.

Há outro material, depositado como Cecropia paraensis Huber, o


qual se verificou tratar-se de sinomímia de C. latiloba Miq. Por este
motivo, a espécie não foi considerada, sendo incluída entre aquelas
de espécies válidas. O mesmo se deu com C. riparia (sinônimo de C.
distachya) e C. leucocoma (C. concolor).
De acordo com as anotações constantes nos rótulos, as Cecropia são
árvores com altura variando entre um metro (C. concolor e C. obtusa)
e 30 metros (C. sciadophylla e C. silvae). Logo, percebe-se que não há
rigor na classificação quanto à forma de vida (árvore) nos registros, nem
precisão quanto à altura dos indivíduos coletados. As mesmas espécies
apresentam grandes variações de porte (C. concolor, anotado de 21
amostras descritas como árvores, mas com variações de 1 a 10 m de
altura, ou C. latiloba, que estão descritas como árvores de cinco a 18 m
de altura). Pode ter havido anotação equivocada, imprecisão na medição
ou ainda podem ter sido observados indivíduos jovens, mas já em idade
reprodutiva, ou mesmo plantas com o crescimento comprometido por
deficiência de nutrientes no solo (principalmente em solos oligotróficos,
como os de campinas) ou por deficiência de aeração. Todas as exsicatas
eram amostras férteis, portanto, indivíduos adultos.

25
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Algumas vezes foram considerados como árvores indivíduos de


baixo porte, que estariam mais adequadas se descritos como arbustos. A
denominação arvoreta foi empregada para C. ulei (3 m) e C. ficifolia (4-
15 m). Mesmo com porte relativamente baixo, algumas Cecropia foram
registradas como emergentes, como no caso de C. membranacea (10 m)
coletada por M. Silveira, em 1996 no Acre, em ambiente de campina,
onde a maioria das espécies apresenta porte baixo, o que justifica a
observação do coletor.
O ambiente de terra firme parece ser o preferencial para a maioria
das espécies de Cecropia (11 das 16 espécies – 68,8%), sendo que nove
espécies (56,3%) foram coletadas em área de floresta em regeneração
(capoeira), ambiente do qual as Cecropia são características, em
diversos níveis de perturbação da floresta (FIGUEIREDO et al., 2011).
Nas anotações dos rótulos, o termo terra firme não está muitas vezes
claramente identificado quando se trata de floresta primária ou em
regeneração, sendo apontado somente como “coletado em terra firme”
ou “collected on terra firme, high land”, ou ainda usado o termo “upland”.
Embora o número de exsicatas depositadas e analisadas seja
relativamente pequeno (196) e para algumas espécies há apenas uma
coleta, pode-se verificar que algumas espécies ocorrem preferencialmente
em certos ambientes, como é o caso de C. distachya (nove indivíduos)
e C. purpurascens (sete indivíduos) que foram observados apenas em
ambiente de terra firme, ou C. saxatilis, cujos dois indivíduos foram
observados em campos cerrados, em duas localidades do Mato Grosso.
Outras espécies, no entanto, foram observadas em ambientes variados,
como C. pachystachya (20 indivíduos) que foi descrita como ocorrendo
em terra firme, capoeira, margem de igarapé, galeria, solo argiloso e
solo arenoso, e C. ficifolia (20 indivíduos) registrados em capoeira, terra
firme, várzea, campina e margem de floresta, em solo argiloso, arenoso
ou úmido. Certamente, falta um número maior de amostras para que
se possa identificar com precisão o ambiente onde cada espécie de
Cecropia melhor se adapta. Falta também um maior rigor na descrição
das informações dos rótulos, principalmente daquelas mais antigas.
O nível de detalhamento nos rótulos, resultado da evolução
dos trabalhos e/ou da necessidade de informar o máximo possível
em pequenos espaços, além da possibilidade de ter equipe maior e,

26
Práticas investigativas em Etnobotânica

portanto, poder detalhar mais, aliado à facilidade de registro (papel e


caneta esferográfica ou lápis, em lugar e bico de pena, tinteiro e mata-
borrão), permitiu aos coletores de épocas mais recentes deixarem mais
informações nos rótulos das exsicatas.
O mutualismo, definido como a interação em que duas espécies se
associam e ambas são beneficiadas (BEGON et al., 2003), é facilmente
observado em algumas espécies de Cecropia e foi anotado por alguns
coletores. As espécies de Cecropia apresentam caule fistuloso, o que
proporciona abrigo para formigas, especialmente do gênero Azteca
(RIBEIRO et al, 1999), além de fornecerem alimento rico em glicogênio,
os corpúsculos de Müller produzidos nas triquílias (FOLGARAIT et al.,
1994). A associação é comum entre espécies de Cecropia e formigas,
como descrito por Mundim e colaboradores (2007) para a interação
entre C. purpurascens e formigas do gênero Azteca.
Esta associação de algumas espécies de Cecropia com insetos,
predominantemente formigas, mesmo sendo comum, não foi registrada
com frequência no material mais antigo. Na coleção de Nova York foram
encontradas anotações que ajudam a entender a interação inseto-planta
no ambiente florestal amazônico.
Para uma amostra de C. concolor (em 21 exsicatas – 4,8%) foi
anotado: “Ants were culturing scale insects on septae of chambered pith”
(Formigas estavam cultivando cochonilhas nos septos da medula com
câmaras). Em uma amostra de C. latiloba (em 28 exsicatas – 3,6%) foi
anotada como “Inhabited by biting ants” (Habitada por formigas que
mordem), e para uma das sete amostras de C. purpurascens (14,3%) foi
anotado “hollow stem inhabited by ferocious ants” (caule oco habitado
por formigas ferozes). Cecropia pachystachya teve cinco amostras com
anotações sobre a presença de formigas em 20 amostras depositadas
(25%).
De maneira geral, quase todas as espécies tiveram observações
sobre a presença de formigas, embora nem sempre as mesmas eram
agressivas, como registrado por C. Davidson em 1992 no Pará, para C.
latiloba: “ants not stinging”. Alguns registros para o mutualismo (alguns
coletores chamam de simbiose) entre formiga e Cecropia obtido das
fichas das exsicatas: “stems with ants”; ant symbiosis in stems; “formigas
em abundancia”; “formigas presentes”; “glaucous hollow stems

27
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

with a small red ant in upper internodes”; “Ants living in the hollow
internodes”; “agressive ants (killed by keeping specimens overnight in
plastic bag containing some alcohol)”; “árvore com muita formiga”;
“the chambered pith with formicaria”; “with ants in meristematic
área”; “with ants in branchelets”; “ants present”; “Caules ocupados por
formigas não muito bravas”; “small light red stinging ants live inside
stems”; “coleta de Formiga associada”; “em mutualismo com formigas
vermelhas”; “domácias com formigas”; “large red ants inhabited the
upper parts of the hollow stems”.
De maneira geral no Brasil as Cecropia são conhecidas como
embaúbas, com algumas corruptelas (imbaúba, imbaúva, imbauba).
Para algumas espécies há acréscimos de adjetivos, como branca,
vermelha, gigante etc. As Cecropia brasileiras têm chamado a atenção
desde a chegada dos primeiros colonizadores, os quais observaram sua
abundância e seu uso entre os nativos. Gabriel Soares de Souza, em 1587,
em seu Tratado Descritivo do Brasil, um dos primeiros relatos sobre
a biodiversidade brasileira, registrou o nome embaíba, descrevendo a
planta e seu uso como medicinal pelos “naturaes da terra” (BRANDÃO,
2003).
Foram registradas, nos rótulos das Cecropia de Nova York, algumas
denominações indígenas, como as registradas por Balée no Maranhão
— tokori para C. latiloba (entre os Uaicá) e Ama’y puku (C. concolor),
Ama’y te e Ama’y ãta para C. sciadophylla, entre os indígenas falantes do
Tupi.
Nem todas as espécies tiveram seus nomes locais anotados. Os
nomes embaúba ou imbaúba são os mais comuns, sendo anotados
para C. distachya, C. engleriana, C. ficifolia, C. latiloba, C. obtusa, C.
pachystachia e C. sciadophylla. Como embaúba branca, uma característica
distintiva em geral associada à coloração da face inferior da folha, foram
registradas Cecropia concolor, C. engleriana, C. ficifolia, C. latiloba e C.
obtusa. Como embaúba gigante está denominada C. sciadophylla. Outro
nome que aparece é Torém, registrado por Daly, no estado do Acre, e
por Murça Pires, no estado do Pará, para C. sciadophylla. Para a mesma
espécie, M. Nee registrou a alcunha Embaúba torém no estado do
Amazonas. Interessantemente, o adjetivo “vermelho” não foi anotado
para Cecropia pachystachya, a qual apresenta as estípulas terminais de

28
Práticas investigativas em Etnobotânica

coloração vermelha, havendo somente quatro registros apenas como


imbaúba.
Com relação ao uso como alimento há poucos registros. Balée
anotou, para C. concolor, entre indígenas do município de Monção (MA),
o consumo dos frutos, considerando como Edible fruit (starvation food).
O registro indica que se trata de alimento pouco considerado, embora
possa ser ingerido, possivelmente consumido em períodos de escassez
de alimentos ou ocasionalmente.
Embora os frutos de Cecropia sejam alimentos comuns para pássaros
e morcegos, há apenas um registro, feito por N.W. V. Pereira, no Acre
em 1999, na Reserva Florestal de Catuaba, que observou os frutos sendo
consumidos por morcegos, classificando equivocadamente os frutos
como vagem. Não há nenhum registro de seu consumo por pássaros,
embora sabiás e pepiras se alimentem de suas espigas. Da mesma forma,
nenhum coletor registrou o consumo de folhas de embaúba por bichos-
preguiça (Bradypus spp. e Choloepus sp.), o que é comum, segundo
Lorenzi (2000).
J. A. Ratter e W. Milliken observaram para C. palmata coletada
em Roraima, em 1987: Inflorescences pale cream yellow with unusual
characteristics smell consisting of ingredients of banana, cigarret smoke,
tomato ketchup and pepper (Inflorescências amarelo creme pálido
com cheiro de características incomuns composto por ingredientes de
banana, fumaça de cigarro, ketchup de tomate e pimenta).
Os estados com maior número de espécies coletadas foram o
Amazonas (14), o Pará (8) e o Acre (7). Considerando que cerca
de um quinto das coletas (41) foi realizado antes da década de 1960,
quando se iniciou o desmembramento de alguns territórios federais
(posteriormente elevados à categoria de estados), assim como o do
estado de Tocantins, por divisão do estado de Goiás, muitas das coletas
indicadas para os dois maiores estados podem ter sido realizadas em
áreas hoje pertencentes a outros estados, o que pode ter contribuído para
o pequeno número de espécies coletadas no Amapá (três) e Roraima
(quatro) e nenhuma em Tocantins.
Cecropia latiloba, C. sciadophylla e C. pachystachya parecem
estar distribuídas em quase toda a região amazônica. No entanto, o
relativamente pequeno número de coletas do gênero na região pode

29
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

induzir a equívocos, se forem interpretados os dados baseados apenas


na coleção norte-americana. Como exemplo, C. latiloba aparece como
ausente em Rondônia, conquanto seja registrada para o Amazonas e
para o Mato Grosso. Da mesma forma, embora Roraima situe-se acima,
entre os estados do Amazonas e do Pará, não está registrada a coleta de
C. pachystachya. Para outras espécies, como C. kavanauesis e C. silvae,
a única coleta não pode representar a distribuição das espécies, não
permitindo fazer inferências ou extrapolações.
Os rótulos da maioria das exsicatas foram escritos em português (17)
ou em inglês (16). Nenhuma amostra tem seu rótulo descrito em latim. A
predominância do português e do inglês pode ser avaliado sob diversos
aspectos. Como o recorte deste trabalho abrange somente material
coletado na Amazônia brasileiro, isto pode explicar em parte o domínio
da língua portuguesa. Outro fato é que parte das coletas, principalmente
as mais recentes, foram para estudos que resultaram em dissertações
e teses em instituições brasileiras ou, se no estrangeiro, realizadas por
brasileiros. Da mesma forma, principalmente para as coletas realizadas
a partir da década de 1960, o financiamento da pesquisa deu-se
por instituições americanas (U.S. Army, NSF, Smithsonian, NYBG),
brasileiras (CNPq), ou ainda pela parceria entre instituições americanas
e brasileiras (CNPq + NSF, CNPq + NYBG, CNPq + NSF, CNPq + IAN
+ NYBG + UNB, CNPq + NYBG + MG + NYBG).
Os principais coletores de Cecropia na Amazônia e que têm
amostras depositadas no Jardim Botânico de Nova York são Ghilean
Tolmie Prance, botânico britânico (1937–), com 31 amostras, e Cornelis
Berg (1934–2012), botânico holandês, com 15 coletas. A maioria dos
coletores incluiu Cecropia em suas coleções como resultado de trabalhos
esporádicos, coletas de cunho amplo (como o Projeto Flora, realizado
na Amazônia brasileira nos anos 1970-1980) ou como parte de seus
trabalhos de tese. Não se encontrou nenhum registro de trabalho
voltado especificamente para coleta de espécies de Cecropia, ainda que
Berg e demais autores (2005) tenham feito ampla revisão em diversos
herbários do mundo para a publicação sobre o gênero.
A coleta mais antiga de Cecropia de Nova York foi feita por R. Spruce
entre 1850-51. No entanto, este material identificado inicialmente
por Spruce como C. scabra, foi em seguida (1951) determinada como

30
Práticas investigativas em Etnobotânica

C. leucocoma, sem estar claro quem foi o determinador, embora as


semelhanças nas letras entre os dois rótulos e o fato de estar indicado
pertencer à coleção de plantas brasileiras de Spruce, levam a crer
que a segunda determinação foi feita pelo próprio coletor e primeiro
determinador. Este material foi incluído por Martius em sua Flora
Brasiliensis. No entanto, o nome atualmente aceito para o material de
Spruce é C. concolor, determinado por C. C. Berg, em 1989, 138 anos
depois. A Figura 2 mostra a exsicata de Spruce e dá uma ideia da
dinâmica de determinação das espécies.

Figura 2 – Exsicata de Cecropia concolor, coletada e determinada inicialmente


como C. scabra e C. leucocoma. Em destaque a evolução na determinação da
espécie. Botucatu (SP), 2020.

O segundo mais antigo material é Cecropia sp., coletada em 1912


por Emilia Snethlage (1868–1929), ornitóloga alemã que trabalhou na
Amazônia de 1905 a 1929 (JUNGHANS, 2008). Possivelmente a coleta,

31
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

realizada no estado do Amazonas, tenha sido resultado do interesse da


autora sobre espécies de interesse para alimentação de aves.
Há vários intervalos nas coletas, principalmente entre a segunda
metade do século XIX e o ano de 1912, um hiato de 62 anos sem coletas
de Cecropia depositadas no Jardim Botânico de Nova York. Após o
único depósito em 1912, há outra lacuna de 19 anos até haver novo
registro (C. latiloba, por B. Krukoff, em 1931). Entre 1933 e 1936 há um
sensível acréscimo de depósitos, resultado principalmente das coletas
realizadas por Krukoff, o qual realizou oito expedições à Amazônia,
a serviço da Merck Company, em busca de novas drogas, incluindo
anestésicos, antimaláricos, anti-helmínticos e cortisona, tendo coletado
cerca de 11.000 amostras (NYBG, 2006), tendo incluído a coleta de
várias espécies de Urticaceae, dentre elas as do gênero Cecropia.
Os anos de 1971, 1973 e 1974 estão entre os que resultaram em
maior número de coletas de Cecropia. Este período coincide com as
atividades de coleta da flora neotrópica por Ghilean Tolmie Prance,
quando realizou diversas excursões de coleta na Amazônia. Nesta época,
atuou como Diretor Executivo do programa intitulado “Organização da
Flora Neotrópica” (NYBG, 2000).
A partir de 1976, inicia-se o programa Flora Amazônica, o qual se
estendeu durante parte da década de 1980. Neste período há um sensível
acréscimo nas coletas de Urticaceae, notadamente de Cecropia. Estavam
ativos como coletores e têm amostras depositadas em Nova York os
botânicos G. T. Prance, William Rodrigues, José Murça Pires, C. C.
Berg, C. Alberto Cid e Bruce Nelson, entre outros. Nos anos seguintes o
número de coletas de Cecropia decai, oscilando entre uma e quatro até
1999, ano que registra o último depósito de espécies do gênero.
Apesar de o projeto Flora Amazônica ter sido financiado em parte
pelo National Science Foundation (NSF), com ativa participação de
seus botânicos, Prance e Douglas Daly, entre outros (PRANCE et al.,
1984), a maior parte do material coletado foi depositada nos herbários
do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e do Museu
Paraense Emílio Goeldi, os quais eram coautores do projeto e acresceram
suas coleções em mais de 140% (TEIXEIRA, 1984). Este fato pode
explicar o relativamente pequeno número de exemplares de Cecropia na
coleção americana.

32
Práticas investigativas em Etnobotânica

Cornelis C. Berg, atuando sozinho ou em parceria com outros


especialistas no gênero, como Ribeiro, J. E. L., é o responsável pela
determinação de 80,1% das exsicatas de Cecropia de Nova York.
Em seguida, C. C. Berg, M. Nee e P. C. Standley têm depositadas
quatro exsicatas cada. Dezoito amostras depositadas não apresentam
determinador. Nestes casos, em geral a determinação foi feita pelo
próprio coletor, ou não está indicado o determinador, mesmo tendo
sido feita a alteração no nome válido para a espécie. Em alguns casos,
como os de Cecropia sp., coletado por Snethlage, em 1912, ou de duas
coletas de C. sciadophylla por P. C. Standley (1933, 1936), não está
identificado o ano em que foi feita a determinação. No caso do material
de Standley, não estão indicados os coletores, possivelmente sendo o
material coletado pelo determinador, com base nos anos de atividade do
autor e da data de determinação.
Há uma amostra de Cecropia não identificada, depositada sob
número 7891 na coleção de Nova York, em que não há detalhe sobre o
coletor, determinador e registra o estado do Amazonas como local de
coleta, a qual foi feita em 1912. No entanto, há um material na coleção
de Paris com o mesmo número, coletado e determinado em alemão, por
Ule em 1909, no Rio Branco (possivelmente o rio entre o Amazonas e
Roraima, não a capital acreana, a qual seria, já com o nome de Rio
Branco – e não mais Penápolis – elevada à condição de município em
1913, sendo posteriormente, em 1920, elevada à capital do Território
Federal). Em 1986, C. C. Berg determinou que a espécie, inicialmente
identificada como C. dielsiana, era C. peltata. Vale destacar que o
nome específico foi acrescentado posteriormente por outra pessoa,
considerando-se o tipo de letra e a cor da letra (Figura 3).

3.2 O gênero Coussapoa

Foram tabuladas e analisadas 197 exsicatas de Coussapoa da


coleção do Jardim Botânico de Nova York, representantes de 24 espécies
coletadas na Amazônia entre 1829 (Coussapoa nitida, coletada no Pará
por K. Martius) e 1999 (C. villosa, coletada no Acre por Douglas Daly).

33
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

As exsicatas mais antigas da coleção foram adquiridas através de


compra, troca ou doação com as coleções de Paris e de Londres, uma vez
que o Jardim Botânico de Nova York foi fundado posteriormente às
coletas dos naturalistas históricos. A coleção tem depositado material
de Coussapoa coletado por Spruce (entre 1851 e 1853). Grande parte
das amostras de Coussapoa desta coleção foi analisada e utilizada na
Flora Neotrópica – Cecropiaceae: Coussapoa and Pourouma (BERG et
al.,1990).

Figura 3 – Exsicata de Cecropia peltata, coletada e determinada inicialmente


como C. dielsiana e corrigida para C. peltata. Botucatu (SP), 2020.

As espécies depositadas e seus respectivos números de amostras estão


listados a seguir: Coussapoa angustifolia Aublet; Coussapoa asperifolia
Trécul; Coussapoa arachnoidea Akkermans & Berg; Coussapoa araneosa
Standley; Coussapoa asperifolia ssp. asperifolia Trécul; Coussapoa
asperifolia ssp. magnifolia Trécul; Coussapoa asperifolia ssp. rhamnoides
Tréc.; Coussapoa cornifolia Standley; Coussapoa crassivenosa Mildbread;
Coussapoa ferruginea Trécul; Coussapoa krukovii Standley; Coussapoa
latifolia Aubl.; Coussapoa magnifolia Trécul; Coussapoa martiana

34
Práticas investigativas em Etnobotânica

Miq.; Coussapoa microcephala Trécul; Coussapoa microcephala Trécul;


Coussapoa minor Benoist; Coussapoa nitida Miq.; Coussapoa orthoneura
Standley; Coussapoa orthoneura Standley; Coussapoa ovalifolia Trécul;
Coussapoa parvifolia Standley; Coussapoa sprucei Mildbr.; Coussapoa
tessmannii Mildbr.; Coussapoa trinervia spruce ex. Mildbr. e Coussapoa
villosa Poeppig & Endl. A Figura 4 apresenta as espécies de Coussapoa
depositadas na coleção de Nova York e os respectivos números de
espécies.

Figura 4 – Espécies de Coussapoa e respectivos números de amostras com


base nos rótulos de fotografias das exsicatas depositadas no Jardim Botânico
de Nova York. Botucatu (SP), 2020.

As Coussapoa são espécies hemiepífitas, podendo ainda ocorrer


como árvores. Quando crescendo como estrangulantes, raramente
matam as espécies que as sustentam (RIBEIRO et al., 1999).
No material depositado na coleção de Nova York, embora também
para este gênero o número de espécies não seja representativo, pode-
se observar uma tendência na evolução dos registros dos coletores.
Nas primeiras amostras depositadas não há detalhamento no registro
do ambiente de coleta, nem da forma de vida das espécies coletadas.
Há redução das informações ao mínimo, por vezes indicando a espécie
(provável) ou o gênero e a indicação abreviada do local de coleta. Martius,

35
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Riedel e Spruce, coletores da primeira metade do século XIX, não dão


nenhuma informação sobre as espécies (Figura 5). Krukoff, que realizou
diversas excursões de coleta na Amazônia, cerca de um século depois,
na década de 1930, na Amazônia, fazia anotações abreviadas acerca
dos hábitos das plantas e dos locais onde as mesmas foram coletadas,
registrando mecanicamente e em fichas já padronizadas (Figura 6). Já
nas coletas mais recentes, há riqueza de detalhamento (Figura 7).
Os registros da forma de vida das espécies de Coussapoa nas centenas
de rótulos das amostras são muito variados. Em geral, os coletores
eram, ou são, naturalistas e/ou botânicos, que coletaram material em
atividades de projetos financiados com a finalidade de enriquecer as
grandes coleções e contribuir para o conhecimento da flora local (em
alguns casos visando descobrir novos fármacos, como no caso de Bóris
Krukoff, na década de 30 do século XX), ou ligados às instituições
locais, como INPA e Museu Goeldi, ou ainda podem ser coletas para
estudos em teses e dissertações. De toda forma, percebe-se que não há
padronização na classificação do hábito das plantas, podendo a mesma
espécie ser descrita com hábitos variados, dependendo do coletor.
Para todas as espécies estudadas (não necessariamente para todas
as amostras) há referência ao hábito da planta, sendo usados diversos
adjetivos, como: “Árvore”, “arvorezinha”, “strangling liana”, “strangling
fig”, “epiphyte on palm”, “hemi-epiphytic tree”, “vine”, “hemiepiphytic
shrub”, “cipó volúvel”, “cipó mata pau”, “parasite with descending root”,
“climbing strangler”, ‘árvore com raízes longas formando tronqueiras”,
“parasita”, “epiphyta in arbore alta”, “arbor mediocris”, “planta agarrada
em árvore”, “unsupported hemi-epiphyte”, ”cipó lenhoso escandente”,
”Fustex epiphyticus altissime scandens”, “árvore com raízes abraçantes
que matam outra árvore” etc.
Para algumas espécies, como C. orthoneura e C. trinervia,
predomina a indicação de hábito arbóreo, embora uns poucos autores
as tenham considerado como hemi-epífitas. No caso de C. trinervia,
das 16 amostras depositadas, apenas duas (12,5%) têm seu hábito
estrangulante destacado. No caso de C. orthoneura, das 21 amostras,
11 (52,4%) são descritas como árvores. Para C. latiloba, das 28 exsicatas
estudadas cinco (17,9%) foram descritas como árvores, sem nenhuma
referência ao hábito hemi-epifítico.

36
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figura 5 – Exsicata de Coussapoa trinervia, coletada e determinada por R.


Spruce e confirmada por C. C. Berg. Detalhe do rótulo original sem informações
sobre a planta. Botucatu (SP), 2020.

O ambiente preferencial parece ser o de terra firme, o que foi apontado


para 19 das 25 espécies (incluindo o grupo das não identificadas), o que
corresponde a 76%. Algumas espécies parecem ocorrer somente em
ambiente de terra firme, como é o caso das 11 amostras de C. sprucei
e das seis amostras de C. microcephala. O relativamente pequeno
número de amostras, ou a incompleta ou equivocada descrição do
ambiente, não permitem afirmar conclusivamente ser este o ambiente
exclusivo para as duas espécies. Para a maioria das espécies há variação
quanto ao ambiente de ocorrência das Coussapoa. As espécies foram
observadas em ambientes variados, como várzea, igapó, restinga,
beira de pasto, beira de rio, beira de igarapé, capoeira, sobre pedras de
cachoeira, caatinga (do rio Negro, uma denominação para as campinas
alto amazônicas), campina e campinarana e, até mesmo, “emergindo da
água”, como descrito para C. araneosa, observada por Anderson, W. R.
& Scott Mori, no alto rio Tapajós, no Pará, em 1974.

37
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Figura 6 – Exsicata de Coussapoa nitida, coletada e determinada B. Krukoff


na década de 1930. Detalhe do rótulo padronizado do coletor, com breves
informações sobre a planta e o local de coleta. Botucatu (SP), 2020.

A associação com formigas, a exemplo do que ocorre com espécies


de Cecropia, não parece ser comum ou não mereceu destaque por parte
dos coletores. Há apenas anotações feitas por Murça Pires, em 1947,
para C. asperifolia ssp. magnifolia, para duas plantas coletadas próximas
a São Gabriel da Cachoeira, no alto Rio Negro — “planta mirmecófila,
hospeda formigas nos ocos dos galhos, principalmente nas extremidades”
e “planta mimercófila”. Da mesma forma, Douglas Daly observou, para
C. villosa coletada no Acre, em 1999: “branchlets hollow and inhabited
by aggressive stinging ants” (raminhos ocos e habitados por formigas
agressivas).
O termo Coussapoa deriva do tupi e significa “fruta de fazer cera”,
devido ao fato de as abelhas indígenas usarem a cera da fruta para
calafetar os ninhos (FRUTAS, 2011). Ribeiro e colaboradores (1999)
relatam que foi observado nos trabalhos de levantamento da Flora da
Reserva Ducke, em Manaus, o transporte por abelhas, que coletam o
mesocarpo resinoso de C. asperifolia ssp. magnifolia.

38
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figura 7 – Exsicata de Pourouma guianensis, coletada e determinada por D.


Daly. Detalhe do rótulo padronizado do projeto, com informações detalhadas
sobre a planta e o local de coleta. Botucatu (SP), 2020.

Em geral, as espécies de Coussapoa recebem diversas adjetivações,


baseadas no seu hábito hemi-epifítico e estrangulante. O mais comum é
“mata pau”, o qual foi registrado para C. parvifolia, C. sprucei, C. villosa,
C. asperifolia, C. latifolia, C. parvifolia e C. sprucei.
Outra denominação comum a várias espécies de Coussapoa é “apuí”,
o qual é empregado normalmente para espécies de Ficus epífitas e
hemiepífitas comuns na Amazônia. O termo “apuí” foi empregado para
C. sprucei, C. tessmannii, C. trinervia, villosa, C. asperifolia, C. latifolia,
C. nítida, C. orthoneura e C. sprucei.
M. Silva e R. Souza registraram, em Santarém (PA), em 1969, o nome
“amapati” para C. tessmanniii. Este termo, com pequena variação, é
empregado para espécies de Pourouma, principalmente P. cecropiifolia,
na região do alto Rio Negro, no estado do Amazonas (AM).
Uma única referência a nome indígena (“kimanaca”) foi anotado
por Prance e colaboradores, em 1971, em área indígena Uaicá, um grupo
da etnia Yanomami na fronteira entre Roraima (BR) e a Venezuela.

39
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

O uso dos frutos para consumo humano não foi reportado por
nenhum coletor. Entre as 197 exsicatas avaliadas, há apenas duas
referências ao consumo dos frutos, em ambos os casos por pássaros: C.
trinervia – “Jacu (Penelope sp.) observed eating fruit” – Scott Mori, em
1988, na região de Ipanoré (Panuré), no rio Uaupés, região do alto rio
Negro; C. sprucei – Frutos vermelhos muito apreciados por pássaros –
Everaldo Costa Pereira, na reserva Ducke, em Manaus (AM), em 1994
e 1995.
Um registro que merece destaque foi o de Alberto Vicentini, durante
levantamento de espécies da Reserva Ducke, em Manaus, em 1994,
financiado pela Overseas Development Administration, onde observou
que “C. asperifolia ssp. rhamnoides emite odor suave (lembra bengué,
muito suave)”. Em geral, o aroma balsaminado (“cheiro de benguê”) é
característico de algumas espécies de Pourouma (RIBEIRO et al., 1999),
como é o caso de P. guianensis.
O maior número de espécies depositadas na coleção de Nova York
foi coletado no estado do Amazonas (17 em 24 espécies – 78,8%),
seguidas das coletadas no estado do Pará (11 espécies – 45,8%). Este
fato pode ser entendido pelo incentivo à coleta nestes estados durante
o projeto Flora Amazônica. No caso do estado do Amazonas, o elevado
número de espécies se deve, possivelmente, à presença do INPA e ao
intenso trabalho de coletas na Reserva Florestal Adolpho Ducke, que
resultou no livro “Flora da Reserva Ducke”, cujo material foi depositado,
em parte, na coleção americana, ainda que como duplicata. Outras
grandes contribuições ao conhecimento das Coussapoa do Amazonas
foram as coletas de Krukoff, na década de 1930 (amostras de 12 espécies
no estado), G. T. Prance, entre as décadas de 1960 e 1980, com amostras
de oito espécies, e de Richard Spruce, em meados do século XIX, com
cinco espécies coletadas. As coletas no Acre, terceiro em número de
espécies, deve-se principalmente aos trabalhos de Douglas Daly,
botânico ligado ao NYBG e que atua na região do rio Negro (AM), mas
principalmente tem estudado a flora do estado do Acre desde a década
de 1990.
Estão registradas amostras de Coussapoa realizadas por 61 coletores,
entre os anos de 1829 (uma coleta de Martius na provinciae paraensis) e
1999 (Douglas Daly, no Acre). O coletor com maior número de depósitos

40
Práticas investigativas em Etnobotânica

no NYBG é G. T. Prance, com 27 depósitos registrados e válidos, seguido


por B. Krukoff, com 21, Carlos A. Cid, botânico ainda em atividade no
INPA, com 18, e José Murça Pires, que trabalhou intensamente no Pará,
com 13 amostras.
O idioma preferencial na descrição da maior parte das espécies é o
inglês (22 das 24 espécies – 91,7%), seguido da língua portuguesa (16
– 66,7%). Esta constatação pode ser compreendida pelo fato de que a
maior parte das coletas foi realizada por pesquisadores americanos e
por brasileiros, em trabalhos financiados por instituições americanas
(National Science Foundation, New York Botanical Garden, U. S. Army,
Rockfeller Foundation, Smithsonian, John D. and Catherine T. Mac Artur
Foundation), ou ainda pelo Overseas Development Administration (da
Inglaterra). As espécies descritas em latim são anteriores a 1946. Foram
descritas amostras de cinco espécies em latim. Em geral, as coletas
são de botânicos de renome, como Martius (coletas de 1829), Spruce
(1851-1854) e Adolpho Ducke (1943-1946). Nenhum coletor após
1946 descreve as anotações dos rótulos em latim. Somente C. trinervia,
coletada por K. Kubtzki, em 1984, no distrito Agropecuário da Suframa,
em Manaus, foi descrita em alemão e nenhuma espécie de Coussapoa foi
descrita em francês.
Com relação aos especialistas no gênero que fizeram a determinação
das espécies de Coussapoa depositadas em Nova York, foram
identificados dez botânicos. O principal determinador do gênero foi
Cornelis Christian Berg, com 175 determinações (88,8%) no período
entre 1970 e 2001. Berg também fez duas determinações em parceria
com J. E. Lleras. Outros determinadores que merecem destaque foram
M. Nee, com quatro, e P. C. Standley, com três determinações.

3.3. O gênero Pourouma

O gênero Pourouma compreende aproximadamente 27 espécies,


distribuídas nas florestas úmidas da América do Sul e Central, sendo
que no Brasil ocorrem 20 espécies, concentradas principalmente na
Amazônia (ROMANIUC NETO; GAGLIOTI, 2010). As espécies do

41
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

gênero possuem hábito arbóreo e são dióicas, frequentemente com raízes


adventícias escoras e com ramos geralmente odoríferos (GAGLIOTI,
2010).
Os frutos de algumas espécies são comestíveis; destaca-se P.
cecropiifolia, cujos frutos são apreciados na região Norte do Brasil e
utilizados na fabricação de um tipo de vinho doce (GAGLIOTI, 2010).
Na região do alto Solimões, de onde a espécie é nativa, recebe o nome de
mapati (ou uvilla, em países amazônicos de língua espanhola), enquanto
na região do alto Rio Negro, onde também ocorre naturalmente, recebe
o nome de cucura.
Foram identificadas 290 exsicatas depositadas no NYBG,
representado 22 espécies, as quais são apresentadas a seguir: P.
acuminata Mart. ex Miq.; P. bicolor Mart.; P. bicolor ssp. bicolor Mart.; P.
bicolor ssp. digitata (Trécul) C.C. Berg & Heusden; P. cecropiifolia Mart.;
P. cucura Standl. & Cuatrec; P. cuspidata Mildbr; P. ferruginea* Standl.;
P. formicarum* Ducke; P. guianensis Aubl.; P. guianensis ssp. guianensis;
P. heterophylla Mart. ex Miq.; P. melinonii Benoist; P. minor Benoist; P.
mollis Trécul; P. myrmecophylla Ducke; P. ovata Trécul; P. phaeotricha
Mildbr.; P. saulensis* C. C. Berg & Kooy; P. tomentosa Mart. ex Miq.; P.
velutina Mart. ex Miq. e P. villosa Trécul.
Para efeito deste trabalho, foram desconsideradas aquelas que,
mesmo estando depositadas como espécies, são confirmadas como
sinonímias botânicas (MOBOT, 2013; KEW GARDEN – THE PLANT
LIST, 2013). Há material depositado como P. populifolia (sinônimo de P.
acuminata), P. isophlebia (sin. de P. minor), P. aspera (sin. de P. bicolor)
e P. fuliginea (sin. de P. cecropiifolia) que foram contabilizados nas
espécies válidas. A Figura 8 apresenta as espécies válidas de Pourouma e
os respectivos números de amostras depositadas.
Para efeito de estatística, as subespécies P. bicolor ssp. bicolor, P. bicolor
ssp. digitata, P. guianensis ssp. guianensis e P. melinonii ssp. melinonii são
contadas como espécies, dada a distinção feita nas determinações e pelo
representativo volume de amostras.
Foram identificados 69 coletores de Pourouma na Amazônia, entre o
material nova-iorquino. Os principais coletores são Prance (47 coletas),
Douglas Daly (25), C. A. Cid (21), Krukoff (19) e W. Balée (17).

42
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figura 8 – Espécies de Pourouma e respectivos números de amostras com


base nos rótulos de fotografias das exsicatas depositadas no Jardim Botânico
de Nova York. Botucatu (SP), 2020.

A coleta mais antiga foi realizada por Karl Friederich von Martius,
da espécie P. heterophylla, em 1829, no estado do Amazonas, “Provinciae
rio Negro”, sem detalhamento sobre a espécie ou seu habitat. Outras
coletas antigas são as realizadas por Spruce na região de Manaus - In
vicinibus Barra, Prov. Rio Negro (P. melinonii), e no alto rio Negro - “Ad
flumina Casiquiari vasiva et Pacinuri” (P. tomentosa) entre 1850 e 1854.
Há ainda uma coleta feita por Ule na região do rio Juruá, em 1900 (P.
cecropiifolia), sem detalhamentos e o rótulo está desgastado, escrito em
alemão e quase ilegível.
Os depósitos mais recentes foram feitos por J. M. Brito em 1997 (P.
tomentosa), J. E. L. Ribeiro em 1996 (P. minor) e A. Vicentini em 1995
(P. myrmecophylla). Os três coletores estavam realizando coletas na área
da Reserva Florestal Adolpho Ducke, em Manaus, para a elaboração do
livro “Flora da Reserva Ducke”, um belíssimo e hercúleo trabalho que
muito contribui para o conhecimento da flora amazônica.
Merecem destaque também os trabalhos de B. Krukoff,
principalmente na região do alto Solimões, na década de 1930 (19
amostras de sete espécies), quando o mesmo realizou busca intensiva
de espécies com potencial econômico, principalmente do ponto de
vista medicinal. Douglas Daly, botânico do Jardim Botânico de Nova

43
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

York, trabalhou na região amazônica, principalmente no estado do Acre


e na região do alto rio Negro (Amazonas), desde 1981 e tem coletas
depositadas até 1997, depositando 24 exsicatas de 10 espécies de
Coussapoa.
O principal determinador das espécies de Pourouma é C. C. Berg,
o qual foi responsável por 263 das 290 exsicatas (90,7%). Os demais 16
determinadores não fizeram mais do que três determinações. A maioria
fez apenas uma determinação, em geral determinando a própria
espécie coletada, não tendo sido feita nenhuma alteração por nenhum
especialista no gênero.
A espécie P. minor é a que possui maior número de amostras (40
– 13,8%), uma possível indicação de sua abundância na Amazônia. A
espécie é frequente nas matas tropicais e sua distribuição vai desde a
Costa Rica, na América Central, até o norte da América do Sul (RIBEIRO
et al., 1999).
As espécies de Pourouma, em geral, apresentam porte arbóreo,
podendo ocorrer a presença de raízes adventícias ou “escoras”
(GAGLIOTI, 2010). No entanto, Fróes, parceiro de Krukoff na década
de 1930, descreve P. formicarum como sendo arbustiva, embora os
demais autores tenham considerado como arbórea, com porte variando
de quatro a sete metros. O termo arvoreta é empregado por Prance, em
1966, para P. myrmecophylla e em 1980 para P. guianensis ssp. guianensis.
Nenhum outro autor utiliza este termo, preferindo descrever as espécies
observadas como sendo de porte arbóreo.
Pourouma minor¸ considerada por Ribeiro e demais autores (1999)
como de dossel, tem altura descrita variando de oito a 25 metros. No
entanto, a espécie descrita como tendo maior altura é P. tomentosa (32 m
X 32 cm de diâmetro). P. cecropiifolia, encontrada em geral sob cultivo,
tem altura que varia entre quatro e 20 m de altura, podendo-se notar
que as espécies de ambiente silvestre de mata fechada apresentam o porte
mais elevado, enquanto as cultivadas e de ambiente aberto (capoeira,
beira de rio, próximo de campina) apresentam menores alturas.
A maioria das espécies parece ter como ambiente preferencial as
florestas primárias de terra firme, sendo este o ambiente mais indicado
nos rótulos (18 das 22 espécies – 81,8%). Embora várias espécies tenham
sido coletadas em ambientes diversificados, como campinarana, campina,
várzea, baixio, igapó, subida de montanha, áreas de desmatamento e

44
Práticas investigativas em Etnobotânica

áreas de cultivo, algumas, como P. ferruginea, P. bicolor, P. guianensis, P.


melinonii e P. minor foram descritas em ambiente de terra firme, sendo
algumas encontradas em áreas de baixio, como P. ferruginea e P. mollis.
As indicações capoeira, áreas de desmatamento, campina, campinarana e
subida de montanha dão indicativo da adaptação destas espécies arbóreas
a ambientes variados, inclusive sendo registradas em áreas perturbadas
e em processo de regeneração (áreas de desmatamento e capoeira),
assim como na ocupação de áreas com solos de baixa fertilidade e maior
penetração de luminosidade (campinas e campinaranas).
As Pourouma, devido à semelhança morfológica de algumas
espécies com Cecropia, recebem também a denominação vulgar de
torém e embaúba e suas derivações.
A análise dos rótulos permitiu verificar que as espécies com maior
intensidade de coleta são as que tiveram registrados seus nomes locais.
Isto possivelmente se deva à sua maior frequência ou ao uso mais intenso
por parte dos nativos das regiões visitadas, além do fato de que quanto
mais coletas tiver a espécie maior a chance de alguém registrar o nome
vulgar. Em geral, espécies com até três coletas não tiveram seus nomes
populares anotados.
A espécie mais cultivada, devido aos seus frutos comestíveis, P.
cecropiifolia, foi citada na literatura por Wallace (2004) como possuidora
de frutos saborosos. Esta espécie é popularmente conhecida nos seus
locais de origem como mapati, o que foi registrado pelos coletores,
com variações como mapaty e mapati mata. No entanto, também foi
registrado para a espécie os nomes torém, embaúba e imbaúba. As
únicas coletas no rio Negro, onde a fruta é muito consumida, foram
realizadas por Prance, em 1971, e por Lúcia Alencar, em 1979 e ambos
não registraram o nome local cucura. O nome mapati não é reconhecido
pelos moradores do rio Negro e o vulgar proposto uva da Amazônia
não foi registrado por ninguém. Interessantemente, o nome local do
rio Negro cucura foi usado como epíteto específico para P. cucura, por
Standley & Cuatrecasas, tendo sido anotado por Tim Plowman que a
espécie possui frutos comestíveis, tendo a coleta sido realizada na cidade
de Manaus, em 1982.
O nome mapati ou suas corruptelas mapaty e amapati, são
empregados também para P. acuminata, P. elliptica, P. guianensis ssp.

45
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

guianensis e P. tomentosa. Já o sufixo rana, indicativo de que uma espécie


é parecida ou lembra outra, é empregado na junção mapatirana para
P. bicolor ssp. bicolor e P. bicolor ssp. digitata, P. ferruginea, P. Mollis, P.
tomentosa e P. velutina. Mapatirana branca é termo vulgar empregado
para P. minor. A nomeação rana também é acrescida ao termo embaúba
e empregado para P. guianensis, P. guianensis ssp. guianensis, P. mollis e P.
ovata. Para P. myrmecophylla e P. ovata foram anotados o nome puruma.
O nome torém, também empregado para algumas espécies
de Cecropia, é usado para P. bicolor ssp. bicolor (torém abacate), P.
cecropiifolia, P. guianensis, P. guianensis spp. guianensis e P. minor. Para
esta última espécie aparece a variação torena e também o termo torém
abacate.
Pourouma villosa, que exala odor de salicilato de metila, ou
benguê, nome de medicamento e aplicado também a outras espécies,
como Parkia multijuga — Leguminosae (CARVALHO, 2008), recebe
o acréscimo benguê ao nome vulgar. Outra espécie que exala odor de
salicilato de metila é P. guianensis, que teve o nome vick acrescido ao
nome torém. Estas duas espécies foram citadas como imbaúba benguê
por Ribeiro e colaboradores (1999).
A característica de algumas espécies possuírem tricomas hirsutos
ou híspidos nas folhas, o que lhes confere a sensação áspera ao tato,
à semelhança de lixa de marceneiro, foi anotado através do nome
popular para P. guinensis (folha-de-lixa, torém-lixeira), P. guianensis ssp.
guianensis (lixa-do-mato, imbaúba-lixa).
Poucas espécies tiveram anotados os nomes indígenas. Balée
registrou entre os Tembés do Pará, em 1985, o nome local ama’yw-ci
para P. guianensis. O mesmo autor registrou o nome A’y-rary-tuwyr
entre os índios Ka’apor, do rio Gurupi, no Maranhão, em 1986. Em
outra aldeia Ka’apor do Maranhão, em 1985, o autor também registrou
o nome ama’yrary para P. mollis.
Das 22 espécies, 18 foram coletadas no estado do Amazonas (81,8%).
Os outros estados que também apresentam volume significativo de
depósitos de amostras são o Pará (13 – 50,1%), Amapá (11 – 50%) e Acre
(8 – 36,4%). Estes resultados, no entanto, não significam que as espécies
não ocorrem em outros estados, mas podem indicar a baixa intensidade
de coleta nestas áreas (como o Tocantins, que registra nenhuma coleta,
ou o Maranhão, com apenas duas espécies registradas) ou estas foram

46
Práticas investigativas em Etnobotânica

coletadas e não tem exemplar depositado na coleção americana, estando


restrita aos herbários locais ou de outras regiões do Brasil, como o
Museu Goeldi no Pará ou o INPA no Amazonas, por exemplo, ou ainda
o Museu Nacional e o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ou o Instituto
Biológico de São Paulo.
Os frutos de algumas espécies de Pourouma podem ser consumidos
por aves, mamíferos ou humanos. No entanto, são poucas as referências
de uso como alimento nos registros dos coletores. Em geral, os coletores
mais antigos, anteriores à primeira metade do século XX, faziam breves
descrições (ou nenhuma) acerca do uso das espécies coletadas, o que
passou a ser mais frequente nos registros mais recentes, possivelmente
como uma forma de ter mais informações para quem quisesse consultar
o material nos herbários, ou como indicativo do interesse por espécies
que pudessem ter alguma utilidade posterior e merecessem ser estudadas
mais profundamente.
Entre os usos de Pourouma, M. B. Silva registrou, em 1942, que os
frutos de P. mollis, cuja polpa é descrita como doce, são consumidos por
papagaios e macacos. Para P. minor, Balée e Ribeiro registraram, entre os
índios Ka’apor e Tembé do Maranhão, que os frutos eram consumidos
por humanos e macacos, o que também foi registrado, em 1986, para
P. guianensis, com o detalhamento de que os frutos eram consumidos
pelos macacos-da-noite (yupará ou jupará). O mesmo autor anotou, em
1987, entre os índios Guajás do Maranhão, que os frutos desta espécie
são consumidos por tartarugas.
Pourouma cecropiifolia, amplamente cultivada e consumida por
indígenas e caboclos nos altos rios Solimões e Negro, e cultivada desde
antes da colonização europeia (MILLER; NAIR, 2006), mereceu pouco
destaque por parte dos coletores. Bóris Krukoff foi o único a registrar,
em 1936, na região do alto Solimões, que os frutos de P. cecropiifolia
eram semelhantes à uva (Vitis sp.) e comestíveis (possivelmente por
humanos — não está detalhado). Para P. cucura há o registro, feito em
Timothy Plowman, de que os frutos são comestíveis.
William Balée também registrou que as madeiras de P. guianensis
e P. cecropiifolia eram usadas como combustível, entre os índios Tembé
(PA) e Guajás (MA).

47
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

4. Considerações finais

A análise do material de estudo dos gêneros Cecropia, Coussapoa


e Pourouma mostrou que os levantamentos feitos por naturalistas que
visitaram a região amazônica, entre os séculos XVIX e XX, registra
relativamente poucos exemplares coletados – 1.993 exsicatas coletadas
nas Américas, das quais 498 foram no Brasil e somente 104 coletas
registradas para a Amazônia brasileira, o que representa 5,22% do total
de coletas. Se considerarmos as coletas de Urticaceae em toda a América
(inclusive no Brasil), as espécies dos três gêneros representam 20,88%,
embora Gaglioti (2010) e Romaniuc Neto e Gaglioti (2010) afirmem que
a maior concentração de espécies dos três gêneros ocorra na Amazônia.
Como o objeto deste trabalho era voltado para as plantas amazônicas,
o volume de Urticaceae reunido nos três gêneros elevou-se em mais
1.099 exsicatas (estas somente dos três gêneros selecionados), das quais
foram utilizadas 683 exsicatas, devido ao fato de haver repetições,
material que era cópia fotográfica de material já existente, exsicatas de
espécies consideradas como sinonímias botânicas e que foram incluídas
entre as espécies válidas, entre outros problemas.
Verificou-se que o material do NYBG era formado basicamente por
amostras obtidas a partir do século XX, sendo que o material coletado
nos séculos precedentes era formado por material doado, trocado ou
adquirido por compra de museus europeus, basicamente de Paris, mas
também de Kew e de coleções particulares, com as de Ule, da Cambridge
University, Munich Herbarium, além de doações ou intercâmbios com
coleções sul-americanas, como as do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (INPA), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG),
Universidade Federal do Acre (UFAC), Instituto de Botânica de São
Paulo e Herbarium Argentinum. No caso do material doado pelo
Museu de História Natural de Paris, já se tinha acesso e os resultados já
tabulados e analisados. Igualmente não era material histórico, da época
das grandes expedições dos naturalistas famosos, mas resultado de
coletas incentivadas ou financiadas por instituições de ensino e pesquisa,
ou por fundações particulares, ou ainda pela Fundação Nacional de
Ciências dos EUA (NSF) e pelo exército americano, exclusivamente ou
em parceria com instituições brasileiras.

48
Práticas investigativas em Etnobotânica

A análise dos rótulos das exsicatas dos gêneros Cecropia, Coussapoa


e Pourouma, da coleção do Jardim Botânico de Nova York, permitiu
também constatar que esta coleção está incompleta, faltando algumas
espécies amazônicas, com base no acervo digital disponibilizado pelo
Kew Garden, o qual relaciona todas as espécies válidas. Como a análise
centrou-se apenas no material coletado na Amazônia brasileira, por
vezes o material está depositado, mas a indicação de sua coleta foi em
países limítrofes, como é o caso de Cecropia coletadas na fronteira
amazônica da Guiana Francesa, possessão ultramarina francesa na
América do Sul, a qual pode ocorrer também no estado do Amapá, com
o qual faz fronteira, ou no estado do Pará.
Apesar de ser comum na paisagem e serem facilmente encontrados
indivíduos nos ambientes de floresta intacta e floresta alterada, espécies
dos três gêneros em apreciação são relativamente pouco representadas
na coleção estudada e poucos espécimes foram coletados por naturalistas
consagrados. Isso pode ser devido aos seguintes fatos:
1. Distância e custos de coletar na Amazônia – A Amazônia
brasileira cobre área de 4.192.943 Km2, o que representa 49,29% da
superfície do território brasileiro (IBGE, 2004). Explorar e conhecer
com profundidade esta região requer, além de recursos e conhecimento,
tempo, paciência, perspicácia, treinamento, bom senso e medicamentos
para prevenção e tratamento de doenças tropicais. O pesquisador que se
disponha a estudar a Amazônia deve saber da possibilidade de deparar
com animais selvagens ou peçonhentos, rios caudalosos e largos, cujos
perigos acentuam-se com as chuvas. Deve saber também que irá adentrar
uma região única, de belezas e riquezas materiais e imateriais sem par.
Apesar de sua importância ecológica, a região ainda é pouco
estudada, sendo que para algumas regiões há sérios vazios nos registros
de coletas botânicas, como é o caso das regiões dos rios Purus e Juruá.
Como exemplo, para a região do rio Negro, de acordo com Daly (2001),
apesar das facilidades de que dispomos, atualmente a maior parte da
bacia do Rio Negro é menos visitada pelos pesquisadores modernos do
que há 150 anos.
As distâncias e a logística incipiente podem ter dificultado o alcance
maior nas coletas, pois, por vezes, o naturalista era solitário ou a equipe

49
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

era pequena, sendo completada por anônimos auxiliares contratados nas


localidades visitadas. Além disso, o foco nos trabalhos dos naturalistas
mais antigos era amplo e objetivava coletar não somente plantas, mas
também peixes, pássaros, mamíferos e insetos, além de minerais ou
qualquer outro recurso que servisse aos objetivos da corte, do país de
origem ou da instituição financiadora. As espécies de Urticaceae não
são exatamente atraentes do ponto de vista de suas potencialidades
econômicas.
2. Maior intensidade de coleta em outras regiões – Enquanto na
Amazônia as grandes distâncias a percorrer e depois para enviar o
material coletado, processado e embalado até um porto e, de lá, para os
países de origem, dificultavam maior alcance no rendimento das coletas,
em outras regiões, embora também com dificuldades, havia maior
proximidade de portos, grandes vilas e cidades e melhores condições de
deslocamento e acesso às áreas de interesse.
Nas regiões Sul e, principalmente, Sudeste, os caminhos podiam
ser percorridos a pé, embarcações ou a cavalo e o material podia ser
transportado em carroças, embarcações ou animais de carga, com
maior abrangência e menor tempo, podendo o material encontrado ser
estudado e descrito detidamente no campo, antes de se coletar e remeter
para embarque.
Na coleção americana de Nova York há um significativo acervo de
coletas mais recentes, sendo aquelas feitas por naturalistas e adquiridas
por troca, compra, empréstimos ou doação.
3. Coletas direcionadas para espécies de potencial econômico – As
plantas estudadas podem não ter despertado o interesse do ponto de
vista econômico. Com poucas exceções, Pourouma cecropiifolia e P.
guianensis, p. ex., as Urticaceae não apresentam frutos comestíveis por
humanos. Da mesma forma, sob o ponto de vista ornamental também
os representantes desta família, em sua maioria, não são valorizados, em
que pese o belo porte e arquitetura diferenciada de espécies de Cecropia
e Pourouma, as quais poderiam ser utilizadas em paisagismo urbano,
ornamentando parques, praças e jardins públicos. No caso das Cecropia,
haveria ainda o efeito atrativo de suas infrutescências que servem de
alimento para diversas espécies de pássaros, além de outros animais,

50
Práticas investigativas em Etnobotânica

contribuindo para o embelezamento destes espaços com um efeito


sonoro natural.
Apesar disso, estas espécies, já desde as explorações dos séculos
XIX, não são assim consideradas como potencialmente econômicas.
Mesmo as espécies lenhosas não têm sua madeira valorizada. No
caso das Coussapoa, a estrutura de seu caule não permite a obtenção
de madeira comercial, o mesmo se dando com Cecropia e Pourouma,
cujas madeiras, de baixa densidade e com caule e ramos fistulosos, não
podem ser aproveitadas para confecção de tábuas, esteios, vigas e outros
produtos madeiráveis.
4. Espécies não ocorriam nos locais de coleta – Embora seja
uma família relativamente grande, com cerca de 49 gêneros e
aproximadamente 2.000 espécies, com distribuição tropical e
subtropical, de rara ocorrência em regiões temperadas (GAGLIOTI,
2010), a família é pouco representada no Brasil, sendo indicados por
Romaniuc Neto e Gaglioti (2010) 13 gêneros e 95 espécies ocorrentes
no Brasil, não ficando claro se são espécies nativas ou cultivadas, mas
possivelmente se trata de espécies nativas. Possivelmente a pouca coleta
nos séculos XIX em diante se deva à baixa ocorrência de representantes
da família nas áreas florestadas da Amazônia. Mesmo nas coletas mais
recentes (século XX em diante) depositadas em Nova York, a família é
pouco representada, sendo destacados, principalmente, os gêneros de
porte maior – Cecropia, Coussapoa e Pourouma.
Apesar de poucas representativas, para ter uma ligeira ideia das áreas
de ocorrência, mas não se pode, a partir dos resultados encontrados na
pesquisa, afirmar ou precisar como sua área de distribuição definitiva.
Houve dificuldade de interpretar alguns rótulos, seja pela dificuldade
de interpretar a letra, ou por esta estar quase apagada, ou ainda, por estar
parcialmente oculta pelo material vegetal. Houve casos de a fotografia
ser de material já fotografado em herbário doador, ficando difícil a
interpretação.
Observou-se também a evolução na forma de registro e no nível de
detalhamento, assim com a tendência de os registros serem feitos em
inglês a partir do século XX, quando antes era registrado em latim. A
única exceção são os registros feitos por Adolpho Ducke na década de
1940.

51
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Referências

ABREU, C. de. Capítulos de história colonial. Belo Horizonte: Itatiaia,


2000.

BALÉE, W. Ka’apor ritual hunting. Human Ecology, v. 13, p. 485-510,


1985.

BALÉE, W. Análise preliminar de inventário florestal e a etnobotânica


Ka’apor (Maranhão). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Botânica, v. 2, n. 4, p. 141-167, 1986.

BEGON, M.; HARPER, J. L.; TOWNSEND, C. R. Ecology: individuals,


populations and communities. London: Blackwell Scientific
Publications, 2003.

CARVALHO, P. E. R. Espécies arbóreas brasileiras. Brasília (DF):


Embrapa Informação Tecnológica, v. 3, 2008.

COLECIONANDO FRUTAS. Coussapoa asperifolia – Família das


Urticáceas. 2011. Disponível em: <www.colecionandofrutas.org/
coussapoaasperif.htm>. Acessado em: 27 jan 2020.
CUNHA, A. G. Dicionário histórico das palavras portuguesas de
origem tupi. 5. ed. São Paulo: Companhia Melhoramentos; Brasília:
Universidade de Brasília, 1999.
DALY, D. Trilhas botânicas no Rio Negro. In: Florestas do Rio Negro.
São Paulo: Companhia das Letras/UNIP, 2001. p. 25-60.
FIGUEIREDO, P. H. A. et al. Avaliação do potencial seminal de
Cecropia pachystachya Trécul no banco de sementes do solo de um
fragment florestal em restauração espontânea na Mata Atlântica,
Pinheiral – RJ. Revista de Biociências, v. 17, n. 2, 2011.
FOLGARAIT, P. J.; JOHNSON, H. L.; DAVIDSON, D. W. Responses
of Cecropia to experimental removal of müllerian bodies. Functional
Ecology, v. 8, p. 22-28, 1994.

52
Práticas investigativas em Etnobotânica

GAGLIOTI, A. L. Urticaceae Juss. no Estado de São Paulo. 2010. 209


f. Dissertação (Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente). Instituto de
Botânica da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, São Paulo, 2010.
HOYOS, J. Guía de árboles de Venezuela. Caracas: Sociedad de
Ciencias Naturales La Salle, 1994
IBGE. Mapa de biomas do Brasil. Brasília, 2004. Disponível em:
<www.ibge.gov.br>. Acessado em: 14 out 2012.
JUNGHANS, M. Emília Snethlage (1868-1929): uma naturalista
alemã na Amazônia. Hist. Cienc. Saúde., v. 15, Suppl. 0, p. 243-255,
2008.
KEW GARDEN. The plant list: a working list of all plant species.
Disponível em: <www.theplantlist.org/tpl/record/kew-2408649>.
Acesso em: 12 fev. 2020.
LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo
de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa (SP): Plantarum, v.
1, 2000.
MELLO, T. J. Infestação por lianas e comportamento de poda por
formigas em cecropia (Urticaceae). In: Práticas da pesquisa em
ecologia da Mata Atlântica. São Paulo: USP, 2013. p. 12-18.
MILLER, R. P.; NAIR, P. K. R. Indigenous agroforestry systems in
Amazonia: from prehistory to today. Agroforestry systems, v. 66, p.
151-164, 2006.
MOBOT. Missouri Botanical Garden. Mund 2013. Disponível em:
<www.missouribotanicalgarden.org/>. Acesso em: 12 fev 2020.
MUNDIM, F. M. et al. Eficiência na defesa de embaúba Cecropia
purpurascens (Urticaceae) por formigas associadas. In: Ecologia da
floresta amazônica: livro do curso. Manaus: INPA, 2007.
PRANCE, G. T. et al. Projeto Flora Amazônica: eight years of
binational botanical expeditions. Acta Amazonica, v. 14, n. 1/2, p.
5-29, 1984.

53
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

PRESTES, M. E. B. A investigação da natureza no Brasil colonial. São


Paulo: Annablume: FAPESP, 2000.
REZENDE, T. V. F. A Conquista e a ocupação da Amazônia
brasileira no período colonial: a definição de fronteiras. 2006. Tese.
FFLCH/USP, São Paulo, 2006.
RIBEIRO, J. E. L. S. et al. Flora da Reserva Ducke: guia de
identificação das plantas vasculares de uma floresta de terra firme na
Amazônia Central. Manaus: INPA, 1999.
ROMANIUC NETO, S.; GAGLIOTI, A. L. 2010. Urticaceae. In: Lista
de espécies da flora do Brasil. Disponível em: <http://floradobrasil.
jbrj.gov.br/2010/FB015071>. Acessado em: 23 ago 2020.
TEIXEIRA, A. R. O Programa Flora do Brasil: história e situação atual.
Acta Amazonica, v. 14, n. 1/2, suplemento, p. 31-49, 1984.
WALLACE, A. R. Viagens pelo Amazonas e Rio Negro. Brasília:
Senado Federal, Conselho Editorial, 2004.

54
CONHECIMENTO BOTÂNICO LOCAL E USO DE
SCHINOPSIS BRASILIENSIS ENGL. (BARAÚNA) NO
SEMIÁRIDO DA PARAÍBA, NORDESTE DO BRASIL

Carlos Antônio Belarmino Alves1, Arliston Pereira Leite,


João Everthon da Silva Ribeiro, Natan Medeiros Guerra,
Ernane Nogueira Nunes, Ramon Santos Souza,
Thamires Kelly Nunes Carvalho, Camilla Marques de Lucena,
Jacob Silva Souto, Reinaldo Farias Paiva de Lucena

Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias,


Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais, Laboratório de
Etnoecologia.
Areia, Paraíba, Brasil.
[email protected]

Introdução

O termo Caatinga, no Brasil, é utilizado para designar áreas


geográficas que apresentam variados tipos de vegetação, além de
ser utilizada para designar a região semiárida que ocupa a maior
parte do Nordeste, apresentando uma temperatura e precipitação
que a caracterizam como um clima de floresta tropical estacional
(ALBUQUERQUE et al., 2012). Corresponde a uma formação savânica
exclusivamente brasileira, cujo patrimônio biológico não pode ser

1 Em memória de nosso amigo, o Prof. Dr. Carlos Antônio Belarmino Alves, que
faleceu em junho de 2020 vítima da pandemia da COVID-19. Esse material
é um dos frutos de sua pesquisa de doutorado no semiárido da Paraíba, e que
infelizmente o mesmo não teve oportunidade de ver publicado. Quando o trabalho
foi realizado, todos os autores tinham o vínculo com o CCA/UFPB. A tese do Prof.
Carlos Belarmino foi orientada pelo Prof. Jacob Souto e Prof. Reinaldo Lucena.
Dedicamos essa publicação ao nosso eterno amigo e irmão, com a certeza de que
seus ensinamentos e presença serão eternas entre aqueles que conviveram com ele.

55
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

encontrado em nenhum outro lugar do planeta. Rica em biodiversidade


e espécies endêmicas, abriga animais e plantas adaptados às condições
de semiaridez típicas da região (CAVALCANTE, 2009).
A maioria da população humana que habita as áreas rurais da
Caatinga depende de sua flora como fonte de sustento e ajuda econômica
por meio de atividades extrativistas madeireiras e não madeireiras. Nesse
contexto, as espécies da Caatinga são utilizadas pelas comunidades
locais para diversos fins em seu cotidiano, especialmente no uso direto
de espécies madeireiras em atividades relacionadas às construções,
tecnologias e combustível. Nas últimas décadas, diversos estudos vêm
sendo realizados na Caatinga buscando registrar o conhecimento
tradicional e uso das espécies vegetais (ALBUQUERQUE; ANDRADE,
2002a, 2002b; MONTEIRO et al., 2006). Dentre estas espécies, encontra-
se a baraúna (Schinopsis brasiliensis Engl., Anacardiaceae), largamente
reconhecida com potencial de utilização em construções rurais e como
fonte de energia.
Schinopsis brasiliensis é encontrada em serras dominadas por solos
de tabuleiro, e raramente no sopé das serras ou serrotes mais altos.
Sua distribuição abrange áreas de caatinga da Bahia, Ceará, Minas
Gerais, Paraíba, Pernambuco e Sergipe (CNIP, 2014). Apresenta porte
arbóreo, podendo atingir até 12 metros de altura, e seu tronco entre 20
a 60 centímetros de diâmetro, com ramos armados, folhas compostas,
imparipinadas, de cor verde escuras na parte superior e pálidas na
inferior (MAIA, 2004). Sua madeira é de grande valor econômico com
cerne duro e resistente a fungos xilófagos e a cupins (Termitidae), sendo
considerada madeira de lei (MAIA, 2004; PAES; MORAIS; LIMA, 2004).
Schinopsis brasiliensis tem lugar de destaque na flora nativa do
semiárido, tanto pela sua exuberância, quanto pelas variadas utilizações.
É considerada uma das espécies mais versáteis da Caatinga, sendo citada
para usos em construções domésticas (porta, janela, linha, caibros,
ripas), construções rurais (cancela/porteira; mourão e estaca de cercas),
combustível (lenha e carvão), tecnologia (móveis, cabo de ferramentas),
entre outros usos madeireiros e não madeireiros (ALBUQUERQUE
et al., 2009; FERRAZ; ALBUQUERQUE; MEUNIER, 2006; FERRAZ;
MEUNIER; ALBUQUERQUE, 2005; LUCENA et al., 2008, 2012a,
2012b; PEREIRA, 2003; TROVÃO et al., 2004).

56
Práticas investigativas em Etnobotânica

A disponibilidade de S. brasiliensis se agrava na região do semiárido


do Brasil em virtude do processo de degradação, desertificação e
outras alterações ambientais e antrópicas que essa região vem passando
(CASTELLETI et al., 2003; COSTA et al., 2009; FERNANDES, 2002;
GARDA, 1996; MAIA, 2004; OYAMA; NOBRE, 2004). Diante desta
realidade, o presente estudo buscou registrar e avaliar o uso de S.
brasiliensis dentro e entre as microrregiões do semiárido da Paraíba, no
Nordeste do Brasil.

1. Material e Métodos

1.1 Local de trabalho e o contexto regional

O presente estudo foi desenvolvido em diferentes regiões da


Caatinga no estado da Paraíba, Nordeste do Brasil, com áreas localizadas
na Depressão Sertaneja e outras no Planalto da Borborema. Foram
selecionadas seis comunidades rurais nos municípios de Cabaceiras
(comunidade São Francisco), Congo (comunidade Santa Rita),
Itaporanga (comunidade Pau D’Arco), Remígio (comunidade Coelho),
São Mamede (comunidade Várzea Alegre) e Solânea (comunidade
Capivara).

Comunidade São Francisco - Cabaceiras

O município de Cabaceiras (7°29’20”S e 36°17’14”O) localiza-


se na mesorregião da Borborema e microrregião do Cariri Oriental
(Figura 1). Está a cerca de 400 m de altitude, distando-se a 199 km de
João Pessoa (capital do estado). De acordo com o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, no ano de 2010, sua população era estimada
em 5.035 habitantes, em uma área territorial de 452,920 km², o que
representa uma densidade demográfica de 11,12 hab/km². O clima é

57
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

BSh (semiárido quente), com temperatura média anual superior a 20°C,


possuindo o menor índice pluviométrico do Brasil, menos de 300 mm
de chuva durante todo o ano (IBGE, 2010). A vegetação da região é do
tipo caatinga hiperxerófila. Na comunidade São Francisco (Figura 2) a
economia local se baseia na agropecuária, destacando-se a criação de
caprinos e o cultivo de milho e feijão (LUCENA, 2011).

Figura 1 – Localização geográfica dos municípios de Cabaceiras, Congo,


Itaporanga, Remígio, São Mamede e Solânea, estado da Paraíba, Nordeste do
Brasil.

58
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figura 2 – Pesquisa de campo na comunidade São Francisco em 2013.


Cabaceiras, Paraíba, Nordeste do Brasil.

Santa Rita – Congo

O município do Congo (07°47’49”S e 36°39’36”O) localiza-se na


mesorregião da Borborema e microrregião do Cariri Ocidental (Figura
1), a cerca de 212 km de João Pessoa capital do Estao. O clima é tropical
semiárido com chuvas de verão, estando a 480 metros de altitude.
Apresenta área territórial de 274 km², com densidade demográfica
de 17,12 hab/km² (IBGE, 2010). A comunidade Santa Rita (Figura 3)
fica a oito quilômetros do centro urbano. A agricultura de subsistência
predomina na região com destaque para cultura do milho e feijão; na
pecuária, tem destaque para criação de caprinos, ovinos e bovinos.

59
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Figura 3 – Pesquisa de campo na comunidade Santa Rita em 2012. Congo,


Paraíba, Nordeste do Brasil.

Comunidade Pau D’Arco – Itaporanga

O município de Itaporanga (7º18’14’’S e 38º09’00’’O) localiza-se na


mesorregião do Sertão e microrregião do Vale do Piancó, semiárido do
(Figura 1), distando 430 km da capital. Abrange uma área territorial 468
km2 e sua população é estimada em 23.192 habitantes, o que resulta em
uma densidade de 49,55 hab/km2. Apresenta clima semiárido quente
com uma curta estação chuvosa e altitude de 191 m (IBGE, 2010).
A economia é basicamente composta da agropecuária de pequenos
produtores que realizam criações de pequenos e grandes ruminantes
e cultivo de feijão e milho (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA,
2005). A comunidade Pau D’Arco localiza-se, aproximadamente, a 8,0
km do centro urbano do município (SOUSA et al., 2012).

60
Práticas investigativas em Etnobotânica

Comunidade Coelho – Remígio

O município de Remígio (06º54’10’’S e 35º50’02’’O) situa-se


na mesorregião do Agreste e microrregião do Curimataú Ocidental
(Figura 1). Apresenta uma área territorial de 178 km², com densidade
demográfica de 98,77 hab/km² (IBGE, 2010). Dista cerca de 157 km da
capital. O clima é do tipo Tropical Chuvoso com verão seco. A estação
chuvosa se inicia em janeiro/fevereiro com término em setembro,
podendo se adiantar até outubro. A vegetação desta unidade é formada
por florestas subcaducifólica e caducifólica. A comunidade Coelho dista
8,0 km do centro urbano. A economia dominante é a da subsistência com
destaque para a cultura do milho e feijão. Na pecuária, tem destaque a
criação de caprinos, ovinos e bovinos.

Figura 4 – Pesquisa de campo na comunidade Várzea Alegre em 2011. São


Mamede, Paraíba, Nordeste do Brasil.

61
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Comunidade Várzea Alegre – São Mamede

O município de São Mamede (6º55’37’’S e 37º05’45’’O) localiza-


se na mesorregião do Sertão Paraibano e microrregião do Seridó
Ocidental, e as coletas foram realizadas na comunidade rural de Várzea
Alegre (Figura 4). Possui 7.748 habitantes, sendo 3.837 homens e 3.911
mulheres, em uma área de 531 km² (IBGE, 2010). O acesso pode ser
feito a partir de João Pessoa pela Rodovia Federal, BR-230 no sentido
leste-oeste com um percurso de aproximadamente 278 km. O clima,
segundo a classificação de Köppen é do tipo BSh (semiárido quente)
com chuvas de verão, temperatura média anual de 28ºC e os solos são
pedregosos. A vegetação é representada principalmente por famílias
como Fabaceae e Cactaceae. A economia é baseada na agropecuária
com o cultivo de milho, feijão, algodão e mandioca, além da criação de
bovinos, caprinos e ovinos.

Comunidade Capivara – Solânea

O município de Solânea (06º46’40”S e 35º41’49” O) localiza-se na


mesorregião do Agreste e microrregião do Curimataú Oriental (Figura
1). Dista aproximadamente 138 km da capital, João Pessoa. Abrange uma
área territorial de 232,094 km² com densidade demográfica de 115,01
hab/km² (IBGE, 2010). O clima é do tipo Tropical Chuvoso com verão
seco. A temperatura média anual atua em torno de 25°C. A vegetação é
formada por florestas subcaducifólica e caducifólica, próprias das áreas
agrestes. A economia predominante é a de subsistência com destaque
para a agricultura de sequeiro, como a cultura do milho e feijão. Já na
pecuária, destaca-se a criação de bovinos, caprinos e ovinos.

1.2 Inventário etnobotânico

Os dados etnobotânicos foram coletados por meio de entrevistas


semiestruturadas (ALBUQUERQUE et al., 2014). Foram visitadas todas

62
Práticas investigativas em Etnobotânica

as residências habitadas nas comunidades, sendo explicado o objetivo


do estudo às pessoas e, em seguida, foi solicitado às que consentiram
em participar da pesquisa que assinassem o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido, que é exigido pelo Conselho Nacional de Saúde por
meio do Comitê de Ética em Pesquisa (Resolução 196/96) no Brasil. O
presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos (CEP) do Hospital Lauro Wanderley da Universidade
Federal da Paraíba, registrado com o protocolo CEP/HULW nº 297/11.
Os informantes da pesquisa foram os mantenedores domiciliares
selecionados de forma intencional, considerando-se tanto o homem
como a mulher, totalizando 426 participantes, sendo 15 em Pau D’Arco (8
homens e 7 mulheres), 123 em São Francisco (53 homens e 70 mulheres),
42 em Coelho (18 homens e 24 mulheres), 112 em Capivara (53 homens
e 59 mulheres), 36 em Várzea Alegre (17 homens e 19 mulheres) e 98 em
Santa Rita (41 homens e 57 mulheres). A diferença entre o número de
homens e mulheres se deu porque ora foi entrevistado só o homem, ora
apenas a mulher, em virtude de as comunidades apresentarem pessoas
com estado civil de viúvo(a) ou solteiro(a).
Os dados analisados no presente estudo se referem apenas às
informações fornecidas pelos informantes que conhecem e atribuíram
usos a S. brasiliensis, pois alguns não reconheceram essa espécie, e
outros conheciam, porém não mencionaram usos para a mesma. Nesse
caso, foram utilizadas informações efetivas de 78 informantes em São
Francisco, 58 em Santa Rita, 5 em Pau D’Arco, 33 em Coelho e 98 em
Capivara. Na comunidade de Várzea Alegre não se registrou usos para
S. brasiliensis. A segunda parte do estudo, que consistiu de entrevistas
sobre os usos conhecidos e utilizados da baraúna, foi realizada com 314
informantes dos 426 consultados.
O formulário utilizado nas entrevistas abordou perguntas específicas
sobre S. brasiliensis visando registrar seus usos locais e enquadrar nas
categorias utilitárias. As categorias foram determinadas de acordo com
a literatura etnobotânica especializada (ALBUQUERQUE; ANDRADE,
2002a, 2002b; FERRAZ; ALBUQUERQUE; MEUNIER, 2006; LUCENA
et al., 2008, 2012a, 2012b), sendo elas: combustível, construção,
medicinal, tecnologia, veterinária e outros usos. Na categoria outros

63
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

usos estão incluídos as citações para bioindicadores (sinal de chuva) e


sombra.
Em cada categoria utilitária, as citações de uso foram divididas em
subcategorias e classificadas em citações de uso atual (citações de uso que
as pessoas informaram efetivamente utilizar) e citações de uso potencial
(baseado nos usos que os entrevistados afirmaram conhecer, porém não
estarem utilizando) (LUCENA et al., 2012a). Essa distinção foi realizada
no momento das entrevistas quando era solicitado ao participante que
evidenciasse quais os tipos de usos faziam parte do seu dia-a-dia. No
município do Congo (PB) não foi possível fazer essa distinção porque
os entrevistados não aceitaram participar desta segunda etapa. As
citações de uso também foram organizadas em citações madeireiras e
não madeireiras.
Procurou-se minimizar ao máximo a interferência de outras
pessoas durante as entrevistas, sendo realizadas entrevistas individuais
e em horários distintos com cada participante. Foi utilizada a técnica
da turnê guiada (ALBUQUERQUE; LUCENA; ALENCAR, 2010), que
consiste em uma caminhada pelas residências e áreas de vegetação da
comunidade acompanhado pelos participantes que se dispuseram nessa
parte do estudo, objetivando coletar material vegetal para identificação
científica. O material coletado foi processado em campo e conduzido
para o Laboratório de Etnoecologia para tratamento, em seguida
sendo identificado e incorporado ao acervo do Herbário Jayme Coelho
de Morais (EAN) da Universidade Federal da Paraíba do Centro de
Ciências Agrárias, Campus II.

2. Resultados

Registrou-se, nas seis comunidades, um total de 1.283 citações de


usos para S. brasiliensis. Os usos madeireiros predominaram em todas
as comunidades estudadas (Figura 5), com destaque para as categorias
construção e combustível. Houve 326 citações de uso atual e 627 citações
de uso potencial para as categorias madeireiras; já nas não madeireiras,
houve 46 citações atuais e 28 citações potenciais.

64
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figura 5 – Porcentagem de uso madeireiro e não madeireiro de Schinopsis


brasiliensis Engl. (baraúna) nas comunidades de São Francisco (Cabaceiras),
Santa Rita (Congo), Pau D’Arco (Itaporanga), Coelho (Remígio), Várzea
Alegre (São Mamede), Capivara (Solânea).

Com relação à distinção entre usos atual e potencial, verificou-se


que o potencial predominou, o que pode sinalizar como importante
aspecto para a conservação dessa espécie, já que o uso potencial significa
que a espécie não está sendo utilizada no presente momento, estando
apenas seus possíveis usos registrados na memória das pessoas das
comunidades (Figura 6).
Na categoria combustível, na comunidade São Francisco foram
registradas 93 citações, sendo 48 para lenha e 45 para carvão. Em Santa
Rita, 42 citações, 21 para lenha e 21 para carvão. Em Pau D’Arco foram
registradas três citações de uso, sendo duas para lenha e uma para
carvão. Na comunidade Coelho, foram 49 citações, sendo 30 para lenha
e 19 para carvão. Em Capivara, obteve-se 163 citações, sendo 75 para
lenha e 88 para carvão.
Ainda relacionado aos usos atual e potencial para categoria
combustível, as comunidades de São Francisco, Coelho e Capivara
obtiveram citações semelhantes quanto ao uso atual e potencial da lenha
e do carvão, destacando-se esta última pelo fato de ter apresentado um
número maior de citações (Tabelas 1, 4 e 5). Pau D’Arco obteve todas as
citações voltadas para o uso atual (Tabela 3).

65
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Figura 6 – Número de citações de uso geral, atual e potencial de Schinopsis


brasiliensis Engl. (baraúna) nas comunidades de São Francisco (Cabaceiras),
Santa Rita (Congo), Pau D’Arco (Itaporanga), Coelho (Remígio), Várzea
Alegre (São Mamede) e Capivara (Solânea).

Na categoria construção, que foi dividida em construções rurais


(estaca, mourão, entre outros) e construções domésticas (linha,
caibro, entre outros) (Tabelas 1 a 5). A subcategoria linha foi a que
teve um número maior de citações, apresentando-se em destaque nas
comunidades de São Francisco (43 citações) e Capivara (51 citações)
(Tabelas 1 e 5). Já em relação à construção de cercas, foram registrados
usos atuais, nas duas comunidades, tanto para a fabricação de estacas
como para mourão (Tabelas 1 e 5).
A categoria tecnologia se subdividiu em nove subcategorias: móvel
(mesa, cadeira), torno de parede, canga I (uso em carroça de boi), canga
II (uso em cultivador), cabos para ferramentas, entre outros (Tabelas 1 a
5). A subcategoria móvel foi a mais expressiva nas comunidades de São
Francisco (34% das citações), Santa Rita (23% das citações) e Capivara
(37% das citações) (Tabelas 1, 2 e 5).
Em São Francisco, o uso de S. brasiliensis foi mais direcionado
à produção de cabo de ferramentas (43% e 14% das citações,
respectivamente), por exemplo, cabo para enxada, cabo para foice, cabo
para machado e outros usos (Tabela 1). Em Pau D’Arco, a subcategoria
canga II (uso em cultivador) se destacou com 40% das citações de uso
(Tabela 3).

66
Práticas investigativas em Etnobotânica

Em São Francisco foram registradas três citações para fins medicinais


(todas de uso potencial) de S. brasiliensis, 11 em Santa Rita (todas de
uso potencial), duas em Coelho (todas de uso atual) e 21 em Capivara
(quatro de uso potencial e 17 de uso atual) (Tabelas 1, 2, 4 e 5).

Tabela 1– Distribuição de citações de uso de Schinopsis brasiliensis Engl.


(baraúna) em categorias e subcategorias de uso por moradores da comunidade
rural de São Francisco, município de Cabaceiras, Estado da Paraíba, Brasil.

Categoria Número Uso Uso Subcategoria Número Uso Uso


de Real Potencial de Atual Potencial
citações citações
Combustível 93 31 62 Lenha 48 30 18
Carvão 45 15 30
Construção 112 32 80 Caibro 03 01 02
Linha 43 13 30
Janela 03 - 03
Porta 04 - 04
Vara 02 01 01
Forquilha 04 - 04
Estaca 26 09 17
Mourão 25 07 18
Forragem 22 15 07 - - 15 07
Medicinal 03 - 03 - - - 03
Outros usos 09 05 04 Sombra 09 05 04
Tecnologia 33 01 32 Ferramenta 08 - 08
Torno de
09 - 09
parede
Canga I 01 - 01
Colher de
pau 01 - 01
Móvel 11 - 11
Enfeite
de cabelo 01 - 01
Carroça de
boi 01 01 -
Veterinário 01 - 01 - - - 01

67
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Em São Francisco, registrou-se o uso etnomedicinal para tratar


sinusite e ferimentos externos, preparando-se os remédios com a folha
(67%) e a casca (33%), em forma de inalação (67%) e em forma de molho
(33 %) (a casca é mergulhada em água). Em Santa Rita, registrou-se
o uso para o tratamento de cinco categorias, como pancada em geral,
inflamações gerais, cicatrizante, gripe e tosse; para o preparo do remédio,
utiliza-se a casca (100%), em forma de lambedor (54%), uso utópico
(28%) e molho (18%). Em Coelho, os informantes mencionaram utilizar
essa espécie para o tratamento de inflamações gerais e dores de dente,
preparando os remédios com a folha (67%) e a casca (33%), em forma
de decocção (100%) (a casca é cozinhada em água).
Já em Capivara, o elenco de doenças tratadas com S. brasiliensis
obteve sete indicações terapêuticas, sendo evidenciadas: diarreia, dor
de dente, dor em geral, dor na coluna, inflamações gerais, problemas
renais e tosse, utilizando para o preparo dos remédios a casca (41%),
fruto (23%), semente (23%), raiz (9%), com apenas com uma citação
de uso da entrecasca (5%), em forma de molho (50%), decocção (17%),
uso utópico (14%), garrafada (9%), infusão (a casca é cozinhada e
abafada em água) (5%) e lambedor (5%) – cozinhar junto com as cascas
da aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão), bom-nome (Maytenus
rigida Mart.) e cumarú (Amburana cearensis [Allemão] A.C.Sm.),
fazendo o xarope. Na comunidade de Pau D’Arco não foi registrado uso
medicinal para esta espécie.
Na categoria forragem, na comunidade de São Francisco foram
registradas 22 citações (15 citações atuais e sete potenciais), utilizando-
se a folha (64%), fruto (23%), flor (9%) e semente (5%). Em Santa Rita,
16 citações (potenciais) foram registradas, usando-se fruto (56%), folha
(32%), flor (6%) e semente (6%).

68
Práticas investigativas em Etnobotânica

Tabela 2 – Distribuição de citações de uso de Schinopsis brasiliensis Engl.


(baraúna) em categorias e subcategorias de uso por moradores da comunidade
rural de Santa Rita, município do Congo, Estado da Paraíba, Brasil.

Categoria Número de Subcategoria Número de citações


citações
Combustível 42 Lenha 21
Carvão 21
Construção 72 Caibro 01
Linha 26
Porta 02
Vara 01
Porteira 05
Forquilha 01
Estaca 11
Mourão 13
Cachi de porta 05
Suleira 02

Forragem 16 - 16
Medicinal 11 - 11

Ornamental 01 - 01

Outros usos 06 Sombra 04


Bioindicador 02
Tecnologia 74 Ferramenta 07
Torno de parede 11
Canga I 09
Móvel 17
Eixo de carro de boi 10
Mão de pilão 02
Pilão 07
Carroça de boi 11

Veneno/Abortivo 01 Abortivo animal 01

Veterinário 01 - 01

69
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Tabela 3 – Distribuição de citações de uso de Schinopsis brasiliensis Engl.


(baraúna) em categorias e subcategorias de uso por moradores da comunidade
rural de Pau D’Arco, município de Itaporanga, Estado da Paraíba, Brasil.

Categoria Número Uso Uso Subcategoria Número Uso Uso


de Real Potencial de Atual Potencial
citações citações

Combustível 03 03 - Lenha 02 02 -

Carvão 01 01 -

Construção 05 04 01 Caibro 01 - 01

Tecnologia 04 04 - Canga I 01 - 01

Canga II 02 - 02

Eixo de carro
01 - 01
de boi

Em Coelho e Capivara, registraram-se três citações em cada


comunidade, sendo três citações potenciais em Coelho e duas citações
atuais e uma potencial em Capivara, sendo utilizadas as folhas e os
frutos, com 67% e 33% respectivamente. Em todas as comunidades a
utilização de S. brasiliensis para alimentação dos rebanhos é voltada
principalmente para bovinos e caprinos.
Na categoria veterinária foi registrada apenas uma citação (potencial)
na comunidade de São Francisco. Esse uso é destinado ao tratamento
de inflamações gerais, usando-se a casca em forma de uso utópico. Em
Santa Rita se registrou uma citação de uso potencial para o tratamento
de “mal triste”, usando-se a casca em forma de garrafada (mistura com a
casca do jucá - Libidibia ferrea [Mart. ex Tul.] L.P.Queiroz).

70
Práticas investigativas em Etnobotânica

Tabela 4 – Distribuição de citações de uso de Schinopsis brasiliensis Engl.


(baraúna) em categorias e subcategorias de uso por moradores da comunidade
rural de Coelho, município de Remígio, Estado da Paraíba, Brasil.

Categoria Número Uso Uso Subcategoria Número Uso Uso


de Real Potencial de Atual Potencial
citações citações

Combustível 49 24 25 Lenha 30 16 14

Carvão 19 08 11

Construção 52 23 29 Caibro 13 08 05

Porta 03 - 03

Porteira 01 01 -

Forquilha 05 03 02

Estaca 12 05 07

Mourão 19 07 12

Forragem 03 - 03 - 03 - 03

Medicinal 02 02 - - 02 02 -

Outros
04 02 02 Sombra 02 01 01
usos
Bioindica-
01 01 -
dor
Tecnologia 32 12 20 Ferramenta 14 06 08
Torno de
03 - 03
parede

Canga I 01 - 01

Colher de
01 - 01
pau

Móvel 02 02 -

71
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Tabela 5 – Distribuição de citações de uso de Schinopsis brasiliensis Engl.


(baraúna) em categorias e subcategorias de uso por moradores da comunidade
rural de Capivara, município de Solânea, Estado da Paraíba, Brasil.

Categoria Número Uso Uso Subcategoria Número Uso Uso


de Real Potencial de Atual Potencial
citações citações
Combustível 163 76 87 Lenha 75 41 34
Carvão 88 35 53
Construção 167 83 84 Caibro 02 - 02
Linha 51 23 28
Janela 10 03 07
Porta 14 04 10
Esteio 02 01 01
Vara 03 02 01
Tábua 03 01 02
Porteira 09 06 03
Forquilha 07 02 05
Chomel 01 01 -
Curral de boi 02 01 01
Estaca 22 15 07
Mourão 41 24 17
Forragem 03 01 02 - - 01 02
Medicinal 21 17 04 - - 17 04
Ornamental 02 01 01 - - 01 01
Outros usos 22 12 10 Sombra 21 11 10
Bioindicador 01 01 -
Tecnologia 73 13 60 Ferramenta 06 01 05
Torno de
12 01 11
parede
Colher de pau 02 - 02
Móvel 27 05 22
Mão de pilão 09 02 07

Pilão 14 03 11

Trave de porta 01 - 01

Carroça de boi 02 01 01

72
Práticas investigativas em Etnobotânica

3. Discussão

3.1 Conhecimentos e usos de Schinopsis brasiliensis Engl.

Schinopsis brasiliensis é amplamente conhecida e utilizada no


semiárido brasileiro, principalmente para utilização em produtos
madeireiros (ALBUQUERQUE, 2006; ALBUQUERQUE; ANDRADE;
CABALLERO, 2005; ALBUQUERQUE; ANDRADE; SILVA, 2005;
ALBUQUERQUE; OLIVEIRA, 2007; ALMEIDA; BANDEIRA, 2010;
FERRAZ; ALBUQUERQUE; MEUNIER, 2006; LUCENA et al., 2012a,
2012b; LUCENA; ARAÚJO; ALBUQUERQUE, 2007; NASCIMENTO
et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2007; PEREIRA et al., 2002; RAMOS et
al., 2008a, 2008b; RAMOS; ALBUQUERQUE, 2012; SILVA et al., 2009).
Essa espécie apresenta fins diversos, destacando-se como medicinal,
em construções rurais e domésticas, como planta ornamental, na
restauração florestal, em sistemas agroflorestais, na apicultura,
forragicultura e em aplicações industriais, como o uso do elevado teor
de tanino na indústria de curtume (MAIA, 2004).
Baseando-se na grande versatilidade local dessa espécie,
registraram-se nove categorias de uso, resultado semelhante a Ferraz
e colaboradores (2005) e Albuquerque e colaboradores (2009). Já em
estudos de Albuquerque e demais autores (2005a, 2005b, 2006), Lucena
e colaboradores (2007, 2008, 2012a, 2012b), Oliveira e colaboradores
(2007) e Almeida e Bandeira (2010), os resultados obtidos diferiram
um pouco, variando de duas a sete categorias. Apesar dessa espécie
estar ameaçada de extinção, sua grande procura para usos madeireiros
ocorre, principalmente, por sua capacidade e característica simbólica
de ter sua madeira altamente resistente à decomposição quando em
ambiente externo (MAIA, 2004). Essa espécie é preservada quando a
vegetação é cortada para plantio, justamente por seu potencial utilitário,
mesmo sendo tal uso proibido por lei (SAMPAIO, 2002).
No presente estudo os atributos madeireiros se sobressaíram,
principalmente em construções rurais e domésticas (ALMEIDA;
BANDEIRA, 2010; FERRAZ; ALBUQUERQUE; MEUNIER, 2006;

73
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

LUCENA et al., 2012a; LUCENA; ARAÚJO; ALBUQUERQUE,


2007), seguido de combustível (RAMOS et al., 2008a, 2008b; RAMOS;
ALBUQUERQUE, 2012) e utilizado como tecnologia (móveis)
(LUCENA et al., 2012b).
Considerando-se os usos madeireiros de S. brasiliensis, outro uso
vem sendo registrado na literatura é seu uso como combustível, tanto
na fabricação de carvão como na utilização de lenha para fornecer
aos fogões domésticos nas residências na zona rural. Porém, como no
presente estudo houve uma distinção entre uso atual e uso potencial,
observou-se que, no caso do uso para lenha, em todas as comunidades
estudadas foram registrados usos efetivos; já o uso do carvão mostrou-
se bem menos expressivo. Alguns pesquisadores encontraram que
as populações locais ainda usam a espécie com frequência para o
fornecimento de energia – “lenha e carvão” (LUCENA et al., 2012a,
2012b; RAMOS et al., 2008a, 2008b; RAMOS; ALBUQUERQUE, 2012;
SILVA et al., 2009), o que concorda com os resultados do presente
estudo. Já no trabalho de Lucena e colaboradores (2008), S. brasiliensis
obteve grande número de citações de usos, mas dificilmente é usada
para a maioria deles. Mediante tal fato, é necessária uma avaliação do
impacto real da utilização da espécie, exigindo estudos aprofundados
em questão, bem como um exame dos métodos de coleta e padrões de
usos utilizados pela população local.
O uso de S. brasiliensis para fins tecnológicos foi registrado no presente
estudo, o que vem sendo afirmado em outros trabalhos realizados no
semiárido (ALBUQUERQUE et al., 2009; FERRAZ; ALBUQUERQUE;
MEUNIER, 2006; FERRAZ; MEUNIER; ALBUQUERQUE, 2005;
LUCENA et al., 2012a, 2012b; LUCENA; ARAÚJO; ALBUQUERQUE,
2007).
O uso de S. brasiliensis com fins medicinais foi registrado em outros
estudos no semiárido do Nordeste brasileiro (ALBUQUERQUE et al.,
2011; ALMEIDA et al., 2010; ARAÚJO; CASTRO; ALBUQUERQUE,
2007; DANTAS; GUIMARÃES, 2007; LUCENA et al., 2012b; LUCENA;
ARAÚJO; ALBUQUERQUE, 2007; SANTOS et al., 2009). No presente
estudo, esse uso também foi identificado, como nas comunidades de
Coelho e São Francisco. Houve duas indicações de uso terapêutico,
sendo estas (inflamações gerais e dor de dente; sinusite e ferimentos
externos), respectivamente, semelhante a Albuquerque e colaboradores

74
Práticas investigativas em Etnobotânica

(ALBUQUERQUE; ANDRADE, 2002b; ALBUQUERQUE; ANDRADE;


SILVA, 2005), os quais também registraram duas indicações de uso
terapêutico, mas sendo estas diferentes do registrado neste estudo. Em
Santa Rita, registrou-se uso terapêutico para cinco doenças, resultado
encontrado em Araújo e colaboradores (2008), apesar de não ter sido
para as mesmas indicações terapêuticas. Já em Capivara, registrou-se
o uso para sete indicações terapêuticas. Em Coelho e São Francisco, a
parte utilizada na preparação de remédios foi a folha; já em Capivara e
Santa Rita foi a casca. A utilização da folha e casca como partes usadas
para a fabricação dos remédios caseiros também é evidenciada em
outros estudos em região de Caatinga (ALBUQUERQUE et al., 2007,
2009; ALMEIDA; ALBUQUERQUE, 2002; LUCENA et al., 2012b;
OLIVEIRA et al., 2007). Apesar de ser utilizada a folha, ocorre uma
maior preferência pela utilização da casca, devido a estar disponível o
ano todo, não sofrendo com a sazonalidade do ecossistema.
Outro uso não madeireiro bastante citado para S. brasiliensis neste
estudo é o de forragem, corroborando com estudos realizados em região
de Caatinga (ALBUQUERQUE et al., 2009; LUCENA et al., 2008, 2012a,
2012b; SANTOS et al., 2009). Este uso se torna cada vez mais frequente
pelas populações locais devido ao longo período de estiagem.

3.2 Depressão Sertaneja versus Planalto da Borborema

Na Depressão Sertaneja foram registradas apenas 13 citações de


uso, todas na comunidade Pau D’Arco, uma das três comunidades
situada nessa região. No Planalto da Borborema foram registradas 1.270
citações de uso, sendo distribuídas em seis comunidades; deste total de
citações de uso, 273 foi em São Francisco, 226 em Santa Rita, 141 em
Coelho, 451 em Capivara.
Como visto acima, o Planalto da Borborema teve mais citações
de uso que a Depressão Sertaneja; isto pode estar relacionado
com a disponibilidade local da S. brasiliensis, que nesta região não
obteve nenhum individuo registrado na amostragem de vegetação,
corroborando com a hipótese da aparência ecológica (PHILLIPS;

75
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

GENTRY, 1993a, 1993b), a qual prediz que as espécies mais utilizadas


pelas populações locais são aquelas mais disponíveis na vegetação local.

4. Conclusões

As comunidades estudadas demonstram um conhecimento


significativo sobre o uso de S. brasiliensis, uma vez que reconhecem
sua utilidade para múltiplas finalidades, sendo esta espécie mais usada
para fins madeireiros, se tornando importante para as comunidades
estudadas. Os dados no presente estudo indicam que a baraúna
deve receber uma atenção especial para o desenvolvimento de ações
conservacionistas que levem em consideração os conhecimentos de uso
das populações locais. Sugere-se estudos específicos com S. brasiliensis
que conectem inventários etnobotânicos à amostragem de vegetação,
para o desenvolvimento de estratégias para a gestão e sustentabilidade
desta espécie. Deve-se incentivar o plantio de mudas de S. brasiliensis no
semiárido da Paraíba tendo em vista o seu expressivo uso nas categorias
combustível e construção, o que mostra necessidade do incentivo.

Referências

ALBUQUERQUE, U. P. Re-examining hypotheses concerning the use


and knowledge of medicinal plants: A study in the Caatinga vegetation
of NE Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 2, 2006.
ALBUQUERQUE, U. P. et al. Evaluating two quantitative
ethnobotanical techniques. Ethnobotany Reserach & Applications, p.
51-60, 2006.
ALBUQUERQUE, U. P. et al. Medicinal plants of the caatinga (semi-
arid) vegetation of NE Brazil: a quantitative approach. Journal of
Ethnopharmacology, v. 114, n. 3, p. 325-354, 2007.

76
Práticas investigativas em Etnobotânica

ALBUQUERQUE, U. P. et al. How ethnobotany can aid biodiversity


conservation: reflections on investigations in the semi-arid region
of NE Brazil. Biodiversity and Conservation, v. 18, n. 1, p. 127-150,
2009.
ALBUQUERQUE, U. P. et al. Rapid ethnobotanical diagnosis of
the Fulni-ô Indigenous lands (NE Brazil): floristic survey and
local conservation priorities for medicinal plants. Environment,
Development and Sustainability, v. 13, n. 2, p. 277-292, 2011.
ALBUQUERQUE, U. P. et al. Caatinga revisited: ecology and
conservation of an important seasonal dry forest. The Scientific World
Journal, v. 2012, 2012.
ALBUQUERQUE, U. P.; ANDRADE, L. H. C. Conhecimento botânico
tradicional e conservação em uma área de caatinga no estado de
Pernambuco, Nordeste do Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 16, n. 3,
p. 273-285, 2002a.
ALBUQUERQUE, U. P.; ANDRADE, L. H. C. Uso dos recursos
vegetais da caatinga: o caso do agreste do Estado de Pernambuco
(Nordeste do Brasil). Interciencia, v. 27, n. 7, p. 336-346, 2002b.
ALBUQUERQUE, U. P.; ANDRADE, L. H. C.; CABALLERO, J.
Structure and floristics of homegardens in Northeastern Brazil.
Journal of Arid Environments, v. 62, n. 3, p. 491-506, 2005.
ALBUQUERQUE, U. P.; ANDRADE, L. H. C.; SILVA, A. C. O. Use
of plant resources in a seasonal dry forest (northeastern Brazil). Acta
Botanica Brasilica, v. 19, n. 1, p. 27-38, 2005.
ALBUQUERQUE, U. P.; LUCENA, R. F. P.; ALENCAR, N. L. Métodos
e técnicas para coleta de dados etnobiológicos. In: ALBUQUERQUE,
U. P. et al. (eds.). Métodos e técnicas na pesquisa etnobiológica e
etnoecológica. Recife: NUPEEA, 2010. p. 39-64.
ALBUQUERQUE, U. P.; OLIVEIRA, R. F. Is the use-impact on native
caatinga species in Brazil reduced by the high species richness of
medicinal plants? Journal of Ethnopharmacology, v. 113, n. 1, p. 156-
170, 2007.

77
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

ALMEIDA, C. F. C. B. R. et al. A comparison of knowledge about


medicinal plants for three rural communities in the semi-arid region
of northeast of Brazil. Journal of Ethnopharmacology, v. 127, n. 3, p.
674-684, 2010.
ALMEIDA, C. F. C. B. R.; ALBUQUERQUE, U. P. Uso e conservação
de plantas e animais medicinais no estado de Pernambuco (Nordeste
do Brasil): um estudo de caso. Interciencia, v. 27, n. 6, p. 276-285,
2002.
ALMEIDA, V. S.; BANDEIRA, F. P. S. F. O significado cultural do
uso de plantas da caatinga pelos quilombolas do Raso da Catarina,
município de Jeremoabo, Bahia, Brasil. Rodriguésia, v. 61, n. 2, p. 195-
209, 2010.
ARAÚJO, E. L.; CASTRO, C. C.; ALBUQUERQUE, U. P. Dynamics of
Brazilian Caatinga: a review concerning the plants, environment and
people. Functional Ecosystems and Communities, v. 1, n. 1, p. 15-28,
2007.
ARAÚJO, E. L.; FERRAZ, E. M. N. Amostragem da vegetação nos
estudos etnobotânicos. In: ALBUQUERQUE, U. P. et al. (eds.).
métodos e técnicas na pesquisa etnobiológica e etnoecológica.
Recife: Núcleo Publicações em Ecologia e Etnobotânica Aplicada
(NUPEEA), 2010. p. 223-253.
ARAÚJO, T. A. S. et al. A new approach to study medicinal plants with
tannins and flavonoids contents from the local knowledge. Journal of
Ethnopharmacology, v. 120, n. 1, p. 72-80, 2008.
CASTELLETI, C. H. M. et al. Quanto ainda resta da Caatinga? Uma
estimativa preliminar. In: LEAL, I. R.; TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C.
(eds.). Ecologia e Conservação da Caatinga. Recife: Ed.Universitária,
UFPE, 2003.
CAVALCANTE, M. B. Ecoturismo no Bioma Caatinga: o caso do
Parque Estadual da Pedra da Boca, Paraíba. Revista Nordestina de
Ecoturismo, v. 2, n. 1, p. 25-38, 2009.
CNIP. Baraúna. Disponível em: <http://www.cnip.org.br/bdpn/
fotosdb/Barauna 2.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2014.

78
Práticas investigativas em Etnobotânica

COSTA, T. C. C. et al. Análise da degradação da caatinga no núcleo de


desertificação do Seridó (RN/PB). Revista Brasileira de Engenharia
Agrícola e Ambiental v, v. 13, n. Suplemento, p. 961-974, 2009.
DANTAS, I. C.; GUIMARÃES, F. R. Plantas medicinais
comercializadas no município de Campina Grande, PB. Biofar, v. 1, n.
1, 2007.
FERNANDES, A. Biodiversidade da Caatinga. In: ARAÚJO, E. L. et
al. (ds.). Biodiversidade, conservação e uso sustentável da flora do
Brasil. Recife: Imprensa Universitária, UFRPE, 2002. p. 42-44.
FERRAZ, J. S. F.; ALBUQUERQUE, U. P.; MEUNIER, I. M. J. Valor de
uso e estrutura da vegetação lenhosa às margens do riacho do Navio,
Floresta, PE, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 20, n. 1, p. 125-134,
2006.
FERRAZ, J. S. F.; MEUNIER, I. M. J.; ALBUQUERQUE, U. P.
Conhecimento sobre espécies lenhosas úteis da mata ciliar do Riacho
do Navio, Floresta, Pernambuco. Zonas Áridas, v. 9, n. 1, p. 25-34,
2005.
GARDA, E. C. Atlas do meio ambiente do Brasil. 2. ed. Brasília: Terra
Viva, 1996.
IBGE. IBGE | Portal do IBGE. Disponível em: <https://www.ibge.gov.
br/>. Acesso em: 7 ago. 2011.
LUCENA, C. M. Uso e diversidade de cactáceas em uma comunidade
rural no Cariri Oriental da Paraíba (Nordeste do Brasil). [s.l.]
Universidade Federal da Paraíba, Areia, 2011.
LUCENA, R. F. P. et al. Local uses of native plants in an area of caatinga
vegetation (Pernambuco, NE Brazil). Ethnobotany Research and
Applications, v. 6, p. 3-13, 2008.
LUCENA, R. F. P. et al. The ecological apparency hypothesis and the
importance of useful plants in rural communities from Northeastern
Brazil: an assessment based on use value. Journal of Environmental
Management, v. 96, p. 106-115, 2012a.

79
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

LUCENA, R. F. P. et al. Uso de recursos vegetais da Caatinga em uma


comunidade rural no Curimataú paraibano (Nordeste do Brasil).
Polibotánica, n. 34, p. 217-238, 2012b.
LUCENA, R. F. P.; ARAÚJO, E. L.; ALBUQUERQUE, U. P. Does the
local availability of woody Caatinga plants (Northeastern Brazil)
explain their use value. Economic Botany, v. 61, n. 4, p. 347-361, 2007.
MAIA, G. N. Caatinga: árvores e arbustos e suas utilidades. 1. ed. São
Paulo: D & Z Computação Gráfica e Editora, 2004.
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Projeto Cadastro de Fontes
de Abastecimento por Água Subterrânea. Paraíba, 2005.

MONTEIRO, J. M. et al. Use and traditional management of


Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan in the semi-arid region of
northeastern Brazil. Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v.
2, n. 6, 2006.
NASCIMENTO, V. T. et al. Rural fences in agricultural landscapes and
their conservation role in an area of caatinga (dryland vegetation) in
northeast Brazil. Environment, Development and Sustainability, v.
11, n. 5, p. 1005-1029, 2009.
OLIVEIRA, R. L. C. et al. Conservation priorities and population
structure of woody medicinal plants in an area of Caatinga vegetation
(Pernambuco State, NE Brazil). Environmental Monitoring and
Assessment, v. 132, n. 1-3, p. 189-206, 2007.
OYAMA, M. D.; NOBRE, C. A. Climatic consequences of a large-scale
desertification in Northeast Brazil: a GCM simulation study. Journal
of climate, v. 17, p. 3203-3213, 2004.
PAES, J. B.; MORAIS, V. M.; LIMA, C. R. Resistencia natural de nove
madeiras do semiárido brasileiro a fungos xilófagos em condições de
laboratório. Revista Árvore, v. 28, n. 2, p. 275-282, 2004.
PEREIRA, I. M. et al. Composição florística e análise fitossociológica
do componente arbustivo-arbóreo de um remanescente florestal no
agreste paraibano. Acta botânica brasileira, v. 16, n. 3, p. 357-369,
2002.

80
Práticas investigativas em Etnobotânica

PEREIRA, S. C. Plantas úteis do Nordeste do Brasil. Recife: Centro


Nordestido de Informações sobre Plantas, 2003.
PHILLIPS, O.; GENTRY, A. H. The useful plants of Tambopata,
Peru: I. Statistical hypotheses tests with a new quantitative technique.
Economic Botany, v. 47, n. 1, p. 15-32, 1993a.
PHILLIPS, O.; GENTRY, A. H. The useful plants of Tambopata,
Peru: II. Additional hypothesis testing in quantitative ethnobotany.
Economic Botany, v. 47, n. 1, p. 33-43, 1993b.
RAMOS, M. A. et al. Use and knowledge of fuelwood in an area of
Caatinga vegetation in NE Brazil. Biomass and Bioenergy, v. 32, n. 6,
p. 510-517, 2008a.
RAMOS, M. A. et al. Can wood quality justify local preferences for
firewood in an area of caatinga (dryland) vegetation? Biomass and
Bioenergy, v. 32, n. 6, p. 503-509, 2008b.
RAMOS, M. A.; ALBUQUERQUE, U. P. The domestic use of firewood
in rural communities of the Caatinga: how seasonality interferes with
patterns of firewood collection. Biomass and Bioenergy, v. 39, p. 147-
158, 2012.
SAMPAIO, E. V. S. B. Uso das plantas da caatinga. In: SAMPAIO, E. V.
S. B. et al. (eds.). Vegetação & Flora da Caatinga. Petrolina: APNE e
CNIP, 2002. p. 49-90.
SANTOS, L. L. et al. Caatinga Ethnobotany: Anthropogenic Landscape
Modification and Useful Species in Brazil’s Semi-Arid Northeast.
Economic Botany, v. 63, n. 4, p. 363-374, 2009.
SILVA, I. M. M. S. et al. Use and knowledge of fuelwood in three
rural caatinga (dryland) communities in NE Brazil. Environment,
Development and Sustainability, v. 11, n. 4, p. 833-851, 2009.
SOUSA, R. F. et al. Estudo etnobotânico de Myracrodruon urundeuva
Allemão no Vale do Piancó (Paraíba, Nordeste, Brasil). Biofar, v. 7, n.
1, p. 72-83, 2012.

81
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

TROVÃO, D. M. B. M. et al. Estudo comparativo entre três fisionomias


de Caatinga no estado da Paraíba e análise do uso das espécies vegetais
pelo homem nas áreas de estudo. Revista de Biologia e Ciências da
Terra, v. 4, n. 2, 2004.

82
O USO DE ANNONA CRASSIFLORA MART. E
ANNONA CORIACEA MART. (ANNONACEAE) PELOS
ÍNDIGENAS HALÍTI-PARESI (TERRA INDÍGENA
FORMOSO), TANGARÁ DA SERRA – MT

Márcia Regina Antunes Maciel1, Janaina Kuhn2,


Mônica Josene3, Lin Chau Ming4

1
Doutoranda PPG-Horticultura, FCA/UNESP, Botucatu – SP;
[email protected]
2
Acadêmica 4º ano Ciências Biológicas da UNEMAT, Campus Tangará da
Serra – MT; [email protected]
3
Docente, UNEMAT, Departamento de Agronomia, Campus Tangará da
Serra – MT; [email protected]
4
Docente, UNESP, FCA/Departamento de Produção Vegetal, Botucatu – SP;
[email protected]

Introdução

Para os seres humanos, as frutas apresentam valor nutricional,


econômico, medicinal, entre outros; nas regiões tropicais onde são
abundantes, seu uso também é diversificado, como, por exemplo, o social
e o estético. Por exemplo, para a elaboração de produtos cosméticos,
citam-se o açaí e o cupuaçu, frutíferas nativas da flora brasileira. Além
disso, em muitas sociedades, tradicionais ou não, as frutas, além de
servirem como alimento, possuem função mágico-religiosa, como
nos rituais indígenas, de Umbanda e dos Candomblé brasileiros. No
entanto, é a importância nutricional das frutas o fator marcante para
sua procura; isto devido ao fato da presença de vitaminas, sais minerais,
celulose e água que perfazem sua composição. Mesmo assim, no Brasil,
o consumo de frutas pela população ainda é incipiente, levando-se em
conta a diversidade de plantas frutíferas e terras agriculturáveis, além da
diversidade climática existente neste país.

83
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Os organismos vivos necessitam de substâncias, chamadas de


recursos naturais, obtidos do meio ambiente para sua sobrevivência.
Esses recursos incluem principalmente alimentos e água, sendo que
estes recursos funcionam como fatores limitantes. O uso alimentício
das plantas pelo ser humano vem desde a sua existência no planeta.
Uma das atividades humanas de subsistência é o forrageio, onde os
recursos não são cultivados e formam a parte principal do suprimento
alimentar, usualmente implicando na combinação da coleta de plantas
não cultivadas com atividades de pesca e caça a animais selvagens. Até
cerca de 10 mil anos, todos os humanos eram caçadores-coletores; agora,
apenas uma pequena parte da humanidade pode ser classificada nesse
tipo de subsistência (KORMONDY; BROWN, 2002). Incluem-se neste
grupo algumas sociedades tradicionais, como os indígenas brasileiros.
Dentro dessa dependência natural do ser humano pelos recursos
naturais, foi e é preciso conhecer o ambiente que o cerca, além de
manter uma relação equilibrada de exploração sustentável dos recursos
naturais essenciais. Dessa forma, garante-se a coexistência harmônica
com a natureza. Assim, os estudos etnoecológicos buscam definir as
percepções que os seres humanos têm das divisões “naturais” no mundo
biológico. O propósito da investigação etnoecológica é descrever o meio
ambiente como a própria comunidade o interpreta, de acordo com as
categorias de sua etnociência (FRAKE, 1962 apud SALICK, 1995).
O uso das plantas brasileiras tem sido objeto de estudos desde antes
da chegada dos europeus no país, pois os povos indígenas já utilizavam
o jenipapo e o urucum para pintar e proteger seus corpos das picadas
de insetos; várias plantas eram e são utilizadas nos processos de cura
de doenças, para pesca e alimentação desses povos. No processo de
descoberta, o ser humano avalia diferentes espécies e suas relações que
potencializam o uso para os mais diversos fins, como: medicamento,
alimento, artesanato, entre outros (DI STASI, 1996).
Pesquisas apontam a existência de aproximadamente 3.000 tipos de
frutas comestíveis na zona tropical e, destas, cerca de 920 são nativas
da América. O Brasil abriga um impressionante pomar natural em suas
florestas, cerrados, matas e caatingas. O consumo de frutas nativas é
prática milenar entre os povos indígenas e foi fundamental para a
sobrevivência dos primeiros colonizadores que chegaram ao Brasil. Hoje

84
Práticas investigativas em Etnobotânica

estão presentes em nossa culinária regional na forma de licores, sucos,


sorvetes, geleias, bolos, mingaus e tortas (NETO; JUNQUEIRA, 1996).
Estas espécies frutíferas são componentes importantes dos biomas
nacionais funcionando como fonte de alimento para o ser humano e
para a fauna.
O país optou por uma política desenvolvimentalista de ocupação
do território nacional, sem se importar com as questões ambientais
que poderiam advir dessa acidentada decisão, quer do ponto de vista
político ou do ponto de vista social, tendo como medida apenas critérios
econômicos e não poderiam ser outras as consequências ambientais.
No ambiente físico a degradação ambiental está mais que visível. Não
podemos esquecer que essa política de “progresso” ligada somente ao
fator econômico muito corroborou para o modelo de monocultura,
hoje largamente difundida na região do Chapadão dos Parecis, estado
do Mato Grosso (BARROS, 2002).
A respeito dessa ocupação humana no estado do Mato Grosso, nos
últimos quarenta anos os processos impactantes sobre o cerrado foram
acelerados, e muito se deve ao aumento da densidade demográfica,
expansão agrícola e extrativista do Centro-Oeste. O bioma cerrado
ocupa uma área nuclear de cerca de 204 milhões de hectares e abrange os
estados da Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas
Gerais, Pará, Rondônia, Tocantins e Mato Grosso, além do Distrito
Federal (EMBRAPA, 1996; ALMEIDA, 1998).
Estima-se que existam cerca de 6.200 espécies de plantas vasculares
nativas, ocorrentes nessas regiões de cerrado. Este bioma está seriamente
ameaçado, pois cerca de 60% da cobertura vegetal já se perdeu. Verifica-
se que neste ambiente há disponibilidade de material alimentar durante
as duas estações do ano, com maior oferta de frutas na estação chuvosa,
de outubro a março, e mencionam-se ainda os diversos palmitos
disponíveis, sendo predominantes na seca espécies como macaúba,
marmeladas, muricis e baru. Essas frutas são fontes alternativas de
proteína, fibras, energia, vitaminas, cálcio, ferro, fósforo e ácidos graxos,
tanto para animais quanto para diversos povos tradicionais e indígenas
que habitam as áreas do Brasil Central e por onde se estende o cerrado
(EMBRAPA, 1996; ALMEIDA, 1998).

85
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)


no país, em 2010, era de 896.917 indígenas, dos quais 572.083 viviam
na zona rural e 324.834 habitavam as zonas urbanas brasileiras. Os
dados estatísticos revelaram que em todos os Estados da Federação,
inclusive no Distrito Federal, há populações indígenas. O povo indígena
Halíti-Paresi reside em aldeias localizadas no Chapadão dos Parecis, no
médio norte do estado de Mato Grosso (FUNAI, 2006). Os Paresi são
considerados os habitantes tradicionais do planalto de Mato Grosso e
se autodenominam Halíti, que significa “povo humano”. Será, portanto,
adotado o nome Halíti-Paresi como nos últimos anos, alguns grupos
desse povo indígena têm se denominado, para assim estar em anuência
com este povo que assim o quer.
Há diversos grupos de Halíti-Paresi, para os quais o termo referente
empregado é subgrupo, que se distinguem em Kaziniti, Wáimare e
Kozárine. Segundo Silveira (2000), nos dias de hoje grande parte da
população se identifica como Kozárine, onde as regras do casamento
sofreram alterações, admitindo uniões com grupos distintos, com
filiação determinada ainda pela linha paternal.
Os Halíti-Paresi vivem em aldeia com baixa densidade populacional
(mais ou menos 60 pessoas) com tendência à segmentação, constituem
famílias extensas (no mínimo três gerações) com autonomia política e
econômica, contrabalançada pela interdependência social. Em algumas
aldeias desenvolvem agricultura com roças de toco onde plantam seus
cultivares de subsistência. Tradicionalmente, a base da alimentação é a
mandioca, batata doce, milho e feijão (SILVEIRA, 2000; FUNAI, 2006).
O uso de frutíferas, como mangaba, cajuzinho, fruta-do-lobo e
pequi, é comum como complemento alimentar, sendo as frutas muito
apreciadas principalmente por mulheres e crianças. É costume entre os
Halíti-Paresi que as mulheres saibam identificar quais os locais de coleta
de frutas, assim serão consideradas aptas para casar (informação oral).
Entre os Halíti-Paresi ocorre extrativismo coletivo das frutas: como
em uma “revoada”, saem juntos num determinado momento para
coletar frutas, conforme época de frutificação das espécies. Enchem os
cestos e retornam para suas casas, e o consumo se dá diariamente até
quase o término do que foi coletado em no máximo um ou dois dias.
Esse consumo rápido pode ser por se tratar de um recurso facilmente

86
Práticas investigativas em Etnobotânica

perecível, embora haja relato de uma forma de conservação do pequi


pelos Halíti-Paresi (onde os frutos são enterrados em determinados
locais próximos à água, no barro, e depois em épocas de escassez eles
eram consumidos normalmente. Este processo de conservação mantém
os frutos de pequi bons para consumo por um ano ou mais). No entanto,
este hábito já foi abandonado por muitos Halíti-Paresi. Outros frutos do
cerrado, como mangaba, cajuzinho e abacaxizinho, são consumidos in
natura, sob a forma de doce ou sucos.
O consumo de frutas foi e continua sendo prática constante e
fundamental na alimentação dos indígenas brasileiros e, em muitas
etnias, chegam às vezes a cultivarem fruteiras nas proximidades
de suas casas. Em muitos casos, esses pequenos pomares tinham
acentuada conotação religiosa e grande sentido conservacionista, pois,
na concepção dos primeiros habitantes da floresta, uma fruta bonita e
saborosa era dádiva divina e, como tal, deveria ser compartilhada por
todos. Nota-se que a maioria das frutas brasileiras tem nomenclatura
indígena, com importante significado que a linguagem dos índios
conseguiu condensar em uma só palavra, como, por exemplo, abacaxi
(iuakati) – fruta cheirosa; bacaba (iuákauá) – fruta gordurosa; e guaraná
(uaranã) – olho de gente (NETO; JUNQUEIRA, 1996).
Sobre as anonáceas, Sauer (1987), em seu estudo sobre as plantas
cultivadas na América do Sul Tropical, já comentava que a guanábana
ou anona ou araticum (Annona muricata) foi amplamente documentada
como cultivo antigo na Nicarágua até os vales costeiros do sul do Peru,
penetrando pelas “yungas”. O autor ainda explana que as anonáceas
foram reproduzidas inúmeras vezes nas cerâmicas Mochica.
As anonáceas englobam uma grande variedade de espécies
frutíferas. As plantas desta família caracterizam-se por apresentarem
folhas simples, dispostas alternadamente em um mesmo plano, ao
longo dos ramos e pela semelhança entre seus frutos. Araticum-do-
cerrado, marolo, cabeça-de-nego são nomes dados a diferentes espécies
de anonáceas encontradas nos cerrados da região Central do Brasil. Sua
distribuição é bastante ampla, ocorrendo nos cerrados de Minas Gerais,
Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Mato Grosso, Maranhão, Goiás,
Tocantins, Pará, Bahia e Piauí. No sul de Minas Gerais, são nativas e
espontâneas nos enclaves de campos cerrados existentes na região,

87
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

sendo a fruta amplamente consumida e apreciada pela população.


Nesta região, o araticum tem suas folhas e sementes empiricamente
empregadas no tratamento de doenças, como processos inflamatórios
(FAGUNDES, 2005).
Atualmente, as anonáceas são empregadas na etnofarmacologia
devido às suas diferentes propriedades farmacológicas atribuídas
principalmente as acetogeninas, um dos principais constituintes
bioativos de grande potencial citotóxico, antitumorigênica e
antiparasitária, encontradas em gêneros específicos dessas plantas
(RIBEIRO et al., 2000; VILAR et al., 2008). Annona crassiflora Mart. e
Annona coriacea Mart. são plantas tipicamente brasileiras, largamente
utilizadas como remédio para o tratamento de diversas doenças, como
diarreia, reumatismo e sífilis. Vilar e colaboradores (2008) avaliaram
os possíveis efeitos mutagênico, antimutagênico e citotóxico do extrato
etanólico das folhas de araticum (A. crassiflora) em camundongos.
Os estudos indicaram uma atividade antimutagênica do extrato e a
citotoxicidade foi significativa. Além da importância medicinal, as
anonáceas apresentam potencial alimentar e econômico a ser explorado.
Dos frutos de A. crassiflora retira-se que é usada na produção de
geleias, doces e licores. Essa frutífera apresenta características exclusivas
do cerrado brasileiro. É uma planta decídua; heliófita, cresce a pleno sol;
e seletiva xerófita. Os troncos geralmente tortuosos, variando entre 20
cm e 30 cm de diâmetro, revestidos por uma casca áspera e corticosa
resistente à ação do fogo. A planta floresce, geralmente, entre os meses
de outubro a novembro (LORENZI, 2002).
As flores das anonáceas apresentam dicogamia protogínica e também
heterostilia, o fruto é sincarpo procedente de uma única flor, formado
pela fusão de muitos carpelos simples em torno de um receptáculo
central, constituindo uma massa sólida. A polinização de A. crassiflora
é do tipo entomófila, com flores apresentando termogênese, isto é, a flor
totalmente formada sofre um leve aquecimento no início da noite, mais
ou menos 10°C no seu interior, comparado com a temperatura interna
da flor. Devido a esse aquecimento interno, a flor exala um forte cheiro
que atrai seus polinizadores. Este odor é considerado o principal modo
de atração dos polinizadores às flores, que apresentam um variado
espectro de odores (WEBBER 1996; RIBEIRO et al., 2000).

88
Práticas investigativas em Etnobotânica

A ordem Coleoptera é a mais rica e variada da classe Insecta,


constituindo um grupo de grande importância florestal, tanto sob
o ponto de vista ecológico como econômico, pois muitos interagem
nos ecossistemas através de associação com os frutos e/ou flores.
Os escarabeídeos participam deste complexo contexto que envolve
as alterações antrópicas ambientais. A maioria dos Scarabaeidae é
herbívora na fase larval e necrófaga quando adultos, ou alimentam-
se apenas de pólen e néctar sendo ativas durante o dia ou no período
noturno, ou podem exercer atividades tanto durante a noite quanto no
período diurno.
Entre as frutas nativas brasileiras, que ainda não foram domesticadas,
A. crassiflora e A. coriacea apresentam o maior índice de aproveitamento.
Com todas as alternativas de uso da espécie, o cultivo é uma alternativa
viável, principalmente considerando o uso sustentável dos recursos.
Outro ponto a ser considerado é o fato que as frutas nativas correm
o risco de extinção, devido ao desmatamento, queimadas e manejo
inadequado, ações impactantes facilmente observadas na região Centro-
Oeste.
A permanência das reservas contínuas, principalmente onde há
ocorrência das espécies de anonáceas, possui valor de caráter ambiental,
pois a fragmentação dessas áreas florestal reduz a diversidade de espécies
afetando os processos de dispersão, polinização e reprodução de animais
e plantas. E no caso dos Halíti-Paresi, outros valores podem ser listados,
como, por exemplo, o alimentício.
Os estudos relacionados ao uso, conservação e manejo das espécies
de anonáceas devem ser incentivados. A intensificação desse tipo de
pesquisa corrobora o aumento do conhecimento e podem servir como
instrumento para delinear estratégias de utilização das espécies nativas
e seus potenciais de uso. Portanto, os objetivos desta pesquisa foram:
registrar a importância das espécies de A. crassiflora e A. coriacea,
observando principais usos e partes usadas pelos índios Halíti-Paresi;
averiguar a existência da percepção dos Halíti-Paresi a respeito do agente
polinizador (Cyclocephala ssp.) dessas duas espécies de Annonaceae.

89
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

1. Material e Métodos

O estudo foi realizado na Terra Indígena (T.I.) Formoso do povo


Halíti-Paresi. Essa T. I. naquela época era formada pela aldeia Formoso,
Comunidade JM, Cachoeirinha, Jatobá e Queimada localizadas a 83 km
do município de Tangará da Serra, MT. A população indígena quando foi
feita a pesquisa era representada por 161 habitantes entre adultos e crianças
(Figura 1). Foram realizadas dez visitas, que inicialmente ocorreram
com o intuito de se estabelecer uma relação de amizade e confiança com
os participantes. Na época, a pesquisa sobre o etnoconhecimento dos
indígenas a respeito das espécies de Annona crassiflora Mart. e Annona
coriacea Mart., e o agente polinizador (Cyclocephala ssp.); foi analisado
por um comitê de ética local da instituição de Pesquisa do Campus da
Universidade Estadual do Mato Grosso (UNEMAT) de Tangará da Serra,
MT. A pesquisa sobre o etnoconhecimento indígena estava inserida no
Projeto intitulado “Polinizadores de araticum (Annonaceae) no cerrado
mato-grossense”, e uma das áreas da amostragem desse projeto, foi a T.I
Formoso. E, em contrapartida para as aldeias, foi construído na aldeia
Formoso um viveiro rustico para produção de mudas (Figura 2).
Foram entrevistados 20 indígenas e durante as conversas, o
idioma utilizado foi a Língua Portuguesa vigente no País, uma vez que
a pesquisadora não dominava o idioma materno dos indígenas. As
entrevistas iniciais se basearam em um questionário fechado, registrando
os usos e importância da A. crassiflora e A. coriacea e o agente polinizador
(Cyclocephala ssp.) dentro das aldeias. As entrevistas foram registradas
por escrito ou eletromagneticamente, sendo posteriormente transcritas.
Os dados obtidos e as espécies coletadas estão sob a responsabilidade
do laboratório de Entomologia da UNEMAT, Campus Tangará da Serra.

90
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figura 1 – Mapa de localização da T.I Formoso, Mato Grosso.


Fonte: Funai/Tangará da Serra/MT/agosto 2006.

Figura 2 – Momento da entrevista com ancião Halíti-Paresi, Aldeia Formoso,


Tangará da Serra, MT.

91
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Utilizou-se também de entrevistas livres (conversação), coletivas


e individuais para averiguar o pensamento coletivo dos participantes
a respeito do tema. Foram realizadas caminhadas aos locais de coleta
das frutas de anonáceas e aplicados testes projetivos, quando foram
apresentadas fotografias dos espécimes de besouro e de A. crassiflora
e A. coriacea aos participantes da pesquisa para que assim falassem
sobre os mesmos. A partir das entrevistas foram obtidas informações
a respeito do uso e sobre a percepção que os participantes possuem do
inseto polinizador e das espécies botânicas citadas.

2. Resultados e Discussão

A faixa etária dos entrevistados variou de 16 a 78 anos. A T.I. do


Formoso encontra-se em crescimento populacional, sendo constituída,
à época da pesquisa, de 69 adultos, 41 jovens e 51 crianças. Esta T.I.
situa-se próxima a área urbana do município de Tangará da Serra –
MT, o que facilita uma miscigenação de culturas evidenciada na aldeia,
como, por exemplo, casas construídas com alvenaria e a ocorrência de
festividades não indígenas, como as “Festas Juninas”.
Os Halíti-Paresi mantêm estreita relação com a natureza, mostrando
uma grande preocupação com o futuro da aldeia e perpetuação da
sua cultura, onde a língua mãe é falada por todos; algumas das festas
tradicionais mantidas são a “menina moça”, o oferecimento da colheita
e o batizado indígena. Nestas festas, frutíferas como jenipapo e urucum
entram na composição da pintura corporal.
Durante a pesquisa, os entrevistados apontaram o desmatamento
praticado por fazendeiros do entorno como fator principal para o desa-
parecimento dos recursos naturais e diminuição de atividades, como a
caça, pesca e coleta de frutas, entre as quais figuram as anonáceas. Em
depoimentos, observa-se esta preocupação:

“Havia muita caça naquela época. Naquela época saia para


a pesca e voltava com 30/40 peixes e hoje não tem mais,
essa nossa área tá muito pequena e não tem caça como
antigamente” (Homem, 72 anos).

92
Práticas investigativas em Etnobotânica

“Os fazendeiros foram desmatando tudo por isso desapareceu


tudo, agora só tem lavoura” (Homem, 53 anos).

Uma questão importante para a área em estudo é a percepção das


pessoas que vivem na aldeia a respeito dos recursos naturais, sendo
imprescindível para o planejamento de um possível manejo dos recursos
vegetais e animais por eles utilizados. E através dos depoimentos dado
pelos participantes e pela distância que tivemos que percorrer para
encontrar os frutos das anonáceas, pode-se observar a diminuição dos
frutos do araticum, ou alohe, como é determinado pelos indígenas
Halíti-Paresi. Durante o período de pesquisa para coleta de frutos de
A. coriacea e/ou A. crassiflora (Figura 3A-D), foi necessário percorrer
uma distância de pelo menos 30 km para encontrar algumas plantas.
Os entrevistados apontam também a expansão das monoculturas e
queimadas como culpados pela diminuição dos frutos em suas terras,
mesmo havendo uma separação entre terras demarcadas, pois disseram
ser comum em épocas de queimadas a invasão do fogo vindo de fazendas
vizinhas das terras Pareci. Além disso, muitas áreas hoje T.I Pareci eram,
antes da demarcação, fazendas agropecuárias da região.
Segundo Neto e colaboradores (2003), em pesquisa sobre dieta ali-
mentar com os índios Kaiowa e Guarani de Caarapó – MS, a pequena
área e a degradação ambiental instalada na Reserva ocasionaram gran-
des mudanças na dieta indígena, que é escassa de proteína e muito re-
duzida em vitaminas. Isto poderia ser minimizado pela caça e coleta
de frutas silvestres, atividades totalmente prejudicadas no ambiente de-
gradado em que vivem. No entanto, no caso dos Halíti-Paresi, outros
fatores podem ocasionar a diminuição dos frutos, como, por exemplo, a
possível falta de seus agentes polinizadores e dispersores, exigindo para
confirmação dessa hipótese estudos específicos de ecologia:

“Para que essas plantas ou animais não desapareçam para


sempre, tem que fazer reposição das áreas degradadas.
Porque dificilmente nascem novamente. Já os animais,
através dessas plantas eles acabam retornando” (Homem,
23 anos).

A extração de produtos do araticum pelos entrevistados Halíti-


Paresi varia de intensidade de acordo com a utilidade e a disponibilidade

93
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

das plantas. Entre as partes vegetais retiradas, incluem-se a fruta,


da qual comem a polpa, e usam as sementes para confeccionarem
artesanatos. Foi detectado que o uso comestível de A. crassiflora e A.
coriacea é notável, apesar da dificuldade de encontrar tais frutas. Todos
os entrevistados se referiram ao fruto com apreciação, relatando ser
muito “gostoso”. Vários autores (TORRES, 1997; CHAMORRO, 1995
apud BRAGA NETO et al., 2006) descrevem a atividade de coleta de
frutas silvestres e outros alimentos vegetais entre os Kaiowá e Guarani
que, possivelmente, contribuíam com o fornecimento de alguns
micronutrientes, como vitaminas e sais minerais. A respeito do uso de
alimentos silvestre nos trópicos, Lévi-Strauss (1987), salienta que isto se
processa em dois níveis diferentes: num nível básico, em que coexiste
com a horticultura centralizada dentro ou em torno da floresta; e um
nível subsidiário produzido pela adaptação compulsória à savana, que
permanece muitas vezes parcial e secundário. Entre os diversos usos,
o autor cita ainda espécies como o ingá, maracujá, fruta-do-lobo, caju,
mangaba e diversas espécies de anonáceas, como plantas alimentícias
dos povos indígenas dos trópicos.
Durante o desenvolvimento deste estudo, as aldeias que formam
a T.I. Formoso foram visitadas e se observou a presença de frutíferas
cultivadas/ou mantidas próximas às casas, como abacaxi, mangaba,
mamão, limão, entre outras. Nos quintais dos índios Nambikwara,
Busatto (2003) registrou a foram de manejo e as espécies presentes,
citando algodão, fumo, urucum e cabaça. Além disso, informou ainda
que por ser também um lugar onde os restos de produtos orgânicos
decorrentes das atividades do dia a dia de uma família Nambikwara
são jogados, o quintal transformava-se em um terreno fértil. Salienta
que neste espaço ocorrem frutíferas silvestres, como mangaba, jatobá,
bacava, tucum e outras não nativas como manga (Mangifera indica L.),
goiaba (Psidium guayava L.) e caju (Anacardium occidentale L.); cujas
sementes e cascas eram também ali jogadas, crescem e se tornam fonte
de alimento, a exemplo do que foi observado na T.I. do Formoso. Foi
citado, pelos entrevistados, o uso da casca da madeira de A. crassiflora e
A. coriacea para retirada da embira, usada para amarrar animais abatidos
durante a caça. Lorenzi (2002) salienta que a casca que reveste o tronco
de A. crassiflora pode ser empregada como sucedâneo da cortiça.

94
Práticas investigativas em Etnobotânica

“Não é corda pra toda vida. Quando a gente caça retira a


embira pra amarrar a caça no mato” (Homem, 72 anos).

“É muito bom de comer, quando acha, um, faz até festa...


eu cato e já como na hora, é muito gostoso” (Mulher, 38
anos).

Figura 3 – Anonáceas utilizadas pelo povo Halíti-Paresi na Terra Indígena do


Formoso, Tangará da Serra, Mato Grosso. A–B: Annona crassiflora Mart.; C–D:
Annona coriacea Mart.

Na medicina tradicional local, os entrevistados relataram a utilização


das anonáceas principalmente pelas mulheres grávidas na tentativa
de “endireitar a criança”, facilitando o parto. As folhas foram citadas
para o preparo de chás, como analgésico, e também para lavar feridas
e espinhas. Aquino e colaboradores (2007), em pesquisa nas áreas de
reserva legal do município de Balsas, MG, observaram também o uso
medicinal, destacando que A. crassiflora é usada contra diarreia (infusão

95
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

das folhas), permanecendo entre as três plantas medicinais mais citadas.


Entre os Halíti-Paresi as formas de interesse e uso com as plantas
variaram conforme a idade dos entrevistados, evidenciando que os mais
velhos são os que possuem maior conhecimento a respeito das frutas
e só transmitem o conhecimento para os mais novos apenas se houver
procura pelas informações. Em sociedades que possuem outras formas
de transmissão do conhecimento, que não somente a escrita, sabe-se
que o conhecimento é transmitido em situações do dia-a-dia, quando
há coleta ou consumo, fazendo com que a transmissão entre as gerações
requeira contato intenso e prolongado dos membros mais velhos com
os mais novos. Observou-se que a saída dos jovens para estudar ou
trabalhar na área urbana dificulta este contato, o que pode interferir na
transmissão do conhecimento de um modo geral.
Ainda a respeito da transmissão do conhecimento, o modo de
transmissão do conhecimento é oral e gestual, através do “ouvir-
falar e ver-fazer”, que se dá através do núcleo familiar ou vizinhança
(PORTUGUAL, 1987; AMOROZO, 1996 apud GUARIM NETO;
MACIEL, 2008). Sobre a transmissão do conhecimento em sociedades
tradicionais, os autores mencionados, corroboram que ele ocorre por
via oral e é o principal modo pelo qual o conhecimento é perpetuado,
através do contato dos mais novos com os mais velhos, pois crianças e
jovens acompanham seus parentes na execução de tarefas cotidianas,
em ambientes físicos diversificados, como lavouras, coletas etc. E nas
populações indígenas a transmissão do conhecimento através da
oralidade é marcante e a este respeito Ikuta e Barros (2006) descrevem
o processo de aprendizagem na transcrição do conhecimento através
do mito por Cardogan (1992 apud GARLET; ASSIS, 2002), que se
repete em relatos atualmente, onde Kuaray é um deus mítico nascido da
Primeira Mãe. Após sua morte, ele passa a andar pelo mundo, mas antes
disso, cria seu irmão, Jachyrã, que vai acompanhá-lo nesta caminhada.
Durante este périplo pelo mundo, Kuaray (o Sol) ensina a Jachyrã (a
Lua) o nome de todas as várias espécies de plantas frutíferas e como se
deve proceder para consumi-las.
Detectou-se na T.I. do Formoso que os conhecimentos
especificamente a respeito das espécies de anonáceas, e os usos, entre
outras informações, nem sempre estão sendo transmitidos para as

96
Práticas investigativas em Etnobotânica

gerações futuras. Isto pode ser devido às mudanças que vêm ocorrendo
na alimentação, pelo amplo contato com sociedades não indígenas ou
pela falta de indivíduos de A. crassiflora e A. coriacea na região. Segundo
os entrevistados, é necessário ter que andar muito longe para encontrar
a fruta:

“Em caçadas ou coletas nós passamos esse conhecimento a


nosso filhos e netos. Mas não tem mais tanta fruta perto da
aldeia [..]. tem que ir longe” (Homem, 49 anos).

Foram reconhecidos pelos indígenas dois tipos de araticuns, os


quais recebem o nome de Alohe para ambas as etnoespécies, tratando-
se de A. crassiflora e A. coriacea. Acredita-se que pelas informações
dadas há presença de outras etnoespécies de araticum, sendo algumas
de uso alimentar e medicinal. Sendo necessário maior período de tempo
investigação para averiguar qual (is) planta (s), onde ocorrem e qual
época de coleta etc., o que demandaria além de mais tempo, também
coleta e identificação destas plantas, e acompanhamento do ciclo de
vida e sua forma de uso.
Durante as visitas, observou-se que a comunidade faz uso do fogo
em algumas áreas por vários motivos; e às vezes até acidentalmente a
área sofre queimada. Sabe-se que o aumento da temperatura do solo
é prejudicial à larva do Cyclocephala spp., que essa fase do seu ciclo de
vida no solo. Este fato pode, portanto, levar a uma diminuição deste
inseto e consequentemente uma diminuição na produção dos frutos,
devido a uma baixa taxa de polinização. Esta hipótese deve ser estudada
antes de se tomar qualquer medida conservacionista ou de manejo, uma
vez que o uso do fogo é um dos fatores que faz parte do cotidiano, não
apenas dos Halíti-Paresi, mas das etnias que habitam o bioma cerrado.
Em muitos casos, tais queimadas são efetuadas para facilitar a caça ou
para limpar a área para as roças de toco, havendo um manejo do fogo,
sendo, portanto, necessária.
Com relação aos agentes polinizadores destas duas espécies de
anonáceas, mostrou-se exemplares taxidermizados de Cyclocephala
spp. e se observou que os entrevistados possuem certa aversão com
relação ao besouro. Acreditam que o besouro causa um prejuízo à

97
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

fruta, principalmente à flor, pois na ótica dos entrevistados os besouros


“comem” tanto a flor quanto as sementes do alohe. Não houve nenhum
relato indicando que os entrevistados exterminem o besouro. É
importante analisar esta visão indígena a respeito do besouro, devido
ao valor que este inseto tem para a polinização de A. crassiflora e A.
coriacea.
Apenas um entrevistado evidenciou a importância ecológica dos
besouros do gênero Cyclocephala no processo de polinização. Segundo
os entrevistados, há muitos animais que se alimentam do fruto de
araticunzeiros, como aves, lobo-guará e os besouros de uma forma geral.
Os entrevistados demonstraram ter uma preocupação com o futuro, não
apenas com a dificuldade de se encontrar os frutos das anonáceas, mas
também com os animais que se alimentam da A. crassiflora e A. coriacea,
entre outras frutíferas. Percebem ainda que com o desaparecimento do
araticum também desaparecem os animais.
Sobre o aproveitamento dos frutos do cerrado, Carvalho (2007)
constatou que o uso e venda, como parte das atividades da Cooperativa
Grande Sertão, do estado de Minas Gerais, contribuíram para a melhoria
da qualidade de vida das comunidades envolvidas e, ao mesmo tempo,
para a conservação de seus recursos naturais, onde a valorização da
biodiversidade nativa levou à proteção e à recuperação dos ecossistemas.
Como neste exemplo, os recursos vegetais, principalmente as frutas do
cerrado, que compõem a dieta alimentar dos índios Halíti-Paresi, podem
vir a ser uma opção para além do complemento alimentar, ser também
comercializada in natura, sob a forma de compotas, doces secos, entre
outras formas de produtos, bastando para isso a elaboração de projetos
específicos, apoio e estrutura.
Entre as frutas nativas brasileiras que ainda não foram “domesticadas”,
A. crassiflora e A. coriacea oferecem bons índices de aproveitamento,
sobretudo na região Centro-Oeste. Pesquisas voltadas ao extrativismo e/
ou cultivo seriam uma alternativa viável, principalmente considerando
o uso sustentável dos recursos naturais. Outro ponto a ser considerado
é o fato de que as frutas nativas correm risco de extinção devido ao
desmatamento, queimadas e manejo inadequado do cerrado; dessa
forma, a produção de “mudas” para reposição associada ao extrativismo
sustentável é outra proposta a ser considerada.

98
Práticas investigativas em Etnobotânica

3. Conclusão

O estudo demonstrou que as espécies de A. crassiflora e A. coriacea


possuem importância medicinal, no artesanato e como complemento
alimentar para os Halíti-Paresi entrevistados, sendo também detectado
o consumo de outras frutas do cerrado, como mangaba, ananás e
cajuzinho. Assim, a preservação das áreas de cerrado se torna importante
e necessária, pois, além de manter a diversidade genética, contribui
no enriquecimento da dieta alimentar dessas pessoas que habitam o
Centro-Oeste do estado de Mato Grosso.
Pesquisas ecológicas e etnobotânicas mais aprofundadas são
necessárias para que se possam averiguar demais espécies de plantas da
família Annonaceae talvez ainda não descritas pela ciência ocidental,
bem como seus agentes polinizadores e dispersores, como foi percebido
durante a realização desta pesquisa.
Com relação ao besouro polinizador (Cyclocephala spp.), os
entrevistados não possuem boa aceitação, acreditam que ele come
as flores de A. crassiflora e A. coriacea e não deixa o fruto “vir”, além
de se alimentar das sementes. É possível redirecionar atitudes que
indiretamente possam afetar o ciclo do besouro polinizador, e/ou
outro ciclo, por meio do manejo adequado e preservação das matas. É
possível também esclarecer sobre a real ação deste inseto sobre as duas
espécies, carecendo, assim, de um período maior para investigação,
apoio estrutural e financeiro para a realização desses estudos mais
aprofundados.
Além disto, é certo que a preservação das áreas de cerrado contribui
na sobrevivência física e cultural das etnias e demais culturas habitantes
deste bioma tão frágil, que enfrenta a devastação ocasionada pelo
atual sistema agroeconômico do estado de Mato Grosso. Para que
as populações tradicionais e os povos indígenas sejam tidos como
verdadeiros protetores da diversidade de germoplasma presente nos
amplos ecossistemas brasileiros, ainda é preciso pesquisa de base e
discussões políticas para direcionamento de propostas que não excluam
tais atores.
Vários fatores contribuem para a perda da diversidade biológica,
como a expansão das fronteiras agrícolas, falta de apoio para pesquisas,

99
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

destruição massiva dos ecossistemas e principalmente o desaparecimento


dos povos tradicionais e indígenas. É preciso pensar que a erosão
ambiental ocasiona a erosão cultural dos recursos genéticos e vice-versa.
Nesse sentido, as informações aqui geradas, através das falas
dos Halíti-Paresi da região do Formoso, são de grande importância,
possibilitando levantar indicadores e a construção de propostas que
realmente combatam a degradação ambiental e cultural que permeia o
estado de Mato Grosso.

Agradecimentos

A todos Halíti-Paresi da TI Formoso envolvidos na pesquisa, que


se dispuseram a participar, e, in memoriam a seu João Titi e Sr. Araújo
(servidor da FUNAI). Aos financiadores deste projeto: Ministério do
Meio Ambiente, Universidade Estadual de Mato Grosso e FUNAI/
Tangará da Serra, MT.

Referências

ALMEIDA, S. P. de. Cerrado: aproveitamento alimentar. Planaltina:


EMBRAPA-CPAC, 1998.

AQUINO, G. F.; WALTER, B. M. T.; RIBEIRO, J. F. Espécies vegetais


de uso múltiplo em reservas legais de Cerrado - Balsas, MA. Revista
Brasileira de Biociências, v. 5, supl. 1, p. 147-149, 2007.

BARROS, M. C. V. A questão ambiental e os professores Paresi


do município de Tangará da Serra, Mato Grosso: uma análise
contextualizada. 2002. 195 f. Dissertação (Mestrado em Educação),
Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2002.

100
Práticas investigativas em Etnobotânica

BRAGA NETO, J. A. et al. Reflexões nutricionais sobre a alimentação


dos índios Kaiowa e Guarani de Caarapó-MS: algumas preparações
características. Tellus, n. 5, p. 107-120, 2003.
BUSATTO, I. L. V. Os Nambikwara da Terra Indígena Tirecatinga
– Mato Grosso: agricultura, espécies e variedades tradicionais. 2003.
107 f. Dissertação (mestrado), Universidade Federal de Mato Grosso,
Cuiabá, 2003.
CARVALHO, I. S. H. Potenciais e limitações do uso sustentável da
biodiversidade do Cerrado: um estudo de caso sobre a Cooperativa
Grande Sertão no Norte de Minas Brasil. Revista Brasileira de
Agroecologia, v. 2, n. 2, p. 1449-1452, 2007.
DI STASI. L. C. Plantas medicinais: arte e ciência. Um guia de estudo
interdisciplinar. São Paulo: Editora UNESP, 1996.
EMBRAPA. Cerrados: sua biodiversidade, uma rica variedade de
espécies animais e vegetais, é uma benção da natureza. 2. ed. Brasília:
Terra Viva, 1996. p. 98-101.
FAGUNDES, F. A. et al. Annona coriacea induz efeito genotóxico em
camundongos. Revista Eletrônica de Farmácia, v. 2, n. 1, p. 24-29,
2005.
FUNAI. Índios da Brasil. Disponível em: <http//www.funai.gov.br>.
Acesso em: 26 jun 2006.
IKUTA, A. R.Y.; BARROS, I. B. I. de. “Se acabar o mato como o
guarani vai fazer”? In: ALBUQUERQUE, U. P.; ALMEIDA, C. F.
C (orgs.). Tópicos em conservação e etnobotânica de plantas
alimentares. Recife: NUPPEA, 2006. p. 25-49.
JORGE, S. S. A. O saber medicinal ribeirinho: comunidades de poço
e praia do poço, Santo Antônio de Leverger - Mato Grosso. 2001. 136 f.
Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de Mato Grosso, 2001.
KORMONDY, E. J.; BROWN, D. E. Ecologia humana. São Paulo:
Ateneu, 2002.
LEVI-STRAUSS, C. O uso das plantas silvestres da América do Sul
Tropical. In: RIBEIRO, D. (ed.). Suma etnológica brasileira, v. 1
Etnobiologia. Petrópolis: Vozes, 1987. p. 29-46.

101
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo


de plantas arbóreas nativas do Brasil. 2. ed. Nova Odessa: Plantarum,
2002.
GUARIM NETO, G.; MACIEL, M. R. A. O saber local e os recursos
vegetais em Juruena, Mato Grosso. Cuiabá: EdUFMT, 2008.
MING, L. C. et al. Espécies brasileiras com potencial alimentar:
uso atual e desafios. In: CAVALCANTI, T. B. (Org.). Tópicos atuais
em botânica: palestras convidadas do 51º Congresso Nacional de
Botânica. Brasília: Embrapa, 2000. p. 268-273.
NETO, W. C.; JUNQUEIRA, C. B. A vegetação natural do
Brasil e suas frutas comestíveis. Disponível em: <http://www.
aultimaarcadenoe.com.br/bioque.htm>. Acesso em: 15 set 2006.
RIBEIRO, J. F. et al. Araticum (Annona crassiflora Mart.). 1. ed.
Jaboticabal: Embrapa Cerrados, 2000.
SAUER, C. O. As plantas cultivadas na América do Sul Tropical.
RIBEIRO, D. (ed.). Suma etnológica brasileira, v. 1 Etnobiologia.
Petrópolis: Vozes, 1987. p. 59-90.
SALICK, J. Toward an integration of evolutionary ecology and
economic botany: personal perspectives on plant/people interactions.
Annals of the Missouri Botanical Garden, v. 82, p. 25-33, 1995.
SILVEIRA, E. M. dos S. Turismo nas comunidades indígenas:
Umutina e Formoso. Cuiabá: EdUFMT, 2000.
WEBBER, A. C. Biologia floral, polinização e fenologia de algumas
Annonaceae na região de Manaus AM. 1996. Tese (doutorado),
INPA/FUA, Manaus, 1996.
VILAR, J. B. et al. Assessment of the mutagenic, antimutagenic and
cytotoxic activities of ethanolic extract of araticum (Annona crassiflora
Mart.) by micronucleus test in mice. Brazilian Journal of Biology, v.
68, n. 1, p. 141-147, 2008.

102
Parte 2
BOTÂNICA CULTURAL
RELACIÓN E IMPORTANCIA ETNOBOTÁNICA
DE LA ALFARERÍA EN UNA COMUNIDAD DE LA
VEREDA DE SAN JOAQUÍN, MUNICIPIO DE EL
PITAL, HUILA (COLOMBIA)

Edwin Arriguí-Torres, Jeison Herley Rosero-Toro


Grupo de Investigación y Pedagogía en Biodiversidad (GIPB),
Universidad Surcolombiana; [email protected]

Introducción

En las últimas décadas se ha acentuado las problemáticas por la


pérdida de la diversidad biótica y cultural, influenciada por la poca
valoración que se generan a los recursos naturales, la homogenización
de los ecosistemas, el desconocimiento de los pueblos y de los procesos
de transmisión, así como de las revoluciones científicas (RODRÍGUEZ,
2010; SEMOTIUK et al., 2022). Sumado a ello, la urbanización puede
conducir a una pérdida de conocimiento sobre el uso y manejo de
las especies silvestres locales con implicaciones para la conservación
del patrimonio biocultural (ARJONA-GARCÍA et al., 2021). De esta
manera, comprender las relaciones entre el ser humano, la naturaleza y
su cultura permiten el reconocimiento de los sistemas sociales y brinda
herramientas útiles para el desarrollo de políticas de conservación
(TOLEDO et al., 2009).
Para América Latina, se ha evidenciado un aumento en el número de
artículos publicados sobre Etnobiología; Brasil y México son los países
con mayor número de publicaciones científicas (ALBUQUERQUE et al.,
2013). Aunque Colombia no se encuentra entre los principales países,
si se ubica entre los de autonomía en las publicaciones. Lo anterior se
explica por los esfuerzos en la investigación etnobiológica liderada por
diversas entidades e Instituciones. En la actualidad para Colombia se

105
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

cuenta con el primer Doctorado en Etnobiología y Estudios Bioculturales


para Latinoamérica y, además, se tiene la Sociedad Colombiana de
Etnobiologia (SCE), en los cuales se generan diversos espacios para la
investigación y la divulgación de los estudios etnobiológicos para el país.
Pese a los esfuerzos generados, la brecha entre los conocimientos
occidentales y los saberes tradicionales se cierra cada vez más por las
dinámicas de una sociedad globalizada (JARAMILLO-DELGADO
et al., 2021). Por lo tanto, la etnobotánica se convierte en el puente
de comunicación entre el legado cultural y las comunidades; este
acercamiento se logra con el apropiamiento del conocimiento de los
saberes tradicionales y como los grupos humanos han experimentado
los beneficios de las plantas, planteándose una relación planta–ser
humano (CARREÑO, 2016). Adicional, el enfoque biocultural permite
tener una perspectiva comprehensiva para reconocer e investigar las
complejas interrelaciones entre procesos ecológicos y las dinámicas
culturales (NEMOGÁ, 2016).
De esta forma, las plantas siempre han sido componentes de las
culturas en todo el mundo desde la antigüedad. La técnica, el valor
artístico y la connotación cultural contenida en los productos artesanales
son aspectos importantes del patrimonio cultural inmaterial (DING et
al., 2022). A pesar de ello, los estudios etnobotánicos y/o etnográficos
centrados específicamente en los productos artesanales son aún escasos,
y más raros aún aquellos estudios que intentan investigar las variaciones
culturales de los conocimientos tradicionales vinculados a las artesanías
(KHAN et al., 2020).
La alfarería (en árabe: alfaharería) es el arte de elaborar objetos de
barro de arcilla, permitiendo al ser humano crear toda clase de enseres
y artilugios domésticos a lo largo de la historia (ROJAS, 2020). En
Colombia ha sido desarrollado desde los diferentes grupos humanos que
han logrado transmitir el valor cultural de generación en generación.
De esta forma, desde tiempos remotos se han utilizado las plantas como
inspiración botánica para desarrollar obras de arte (GUERRERO-
ARÉVALO, 2021) dado a sus vistosos colores, simetrías geométricas
(DE MORI; DE BRABEX, 2009), y con la incorporación de una gran
diversidad de especies. Además, han desarrollado prácticas como
aromaterapia (TISSERAND; BORGES, 1994) y bioarte (SANTACRUZ,
2015).

106
Práticas investigativas em Etnobotânica

Pese a la importancia cultural que tiene la artesanía para el legado


de los grupos humanos, aún los estudios son incipientes, y más para
el departamento del Huila. Los estudios se han enfocado por ejemplo
en inventarios florísticos para alguna zona particular del departamento
del Huila (e.g. DUEÑAS; ROSERO-TORO, 2019; ROMERO-DUQUE
et al., 2019), estudios etnobotánicos (ROSERO-TORO et al., 2018a) y la
estimación de la importancia cultural de las plantas (ROSERO-TORO
et al., 2018b; ROSERO-TORO et al., 2021), pero con lo relacionado a la
alfarería este sería el primer estudio, el cual buscó reconocer la relación e
importancia etnobotánica de la alfarería en una comunidad de la vereda
de San Joaquín, municipio de El Pital, Huila (Colombia).

1. Método

La presente investigación se llevó a cabo en el municipio de El


Pital, que geográficamente se encuentra ubicado en el centro oriente
del departamento del Huila, en la parte baja del ramal de la cordillera
central, entre las coordenadas 02º16’14” de latitud Norte y 75º49’33” de
longitud Oeste, con una altitud mínima de 921 msnm y temperatura
media de 23°C. Con relación a los participantes, se contó con el apoyo de
las últimas diez alfareras que viven en el municipio de El Pital, así como
del alcalde municipal y 50 habitantes del municipio. Los participantes
aceptaron participar del proceso de investigación y su selección se
generó por el conocimiento que tienen frente a las artesanías que se
elaboran en el municipio, por la venta de éstas y por el rol que tienen en
la toma de decisiones.
Teniendo en cuenta lo anterior, se realizó una entrevista
semiestructurada (GEILFUS, 2002), cuya finalidad fue reconocer los
aportes, contribuciones e importancia etnobotánica y sociocultural que
se tiene de las artesanías generadas en el municipio, además de cómo
las plantas hacen parte de los procesos de inspiración para las artesanías
propias de la zona. Además, se realizaron recorridos etnobotánicos
por los lugares donde las artesanas elaboran las artesanías con el fin de
identificar las plantas que son utilizadas en los procesos de elaboración
de las artesanías.

107
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Así mismo, para conocer las contribuciones generadas por los


actores participantes se generó un análisis de fortalezas, oportunidades,
dificultades y amenazas (FODA) y diagrama de Veen. Finalizando, se
presentó la microempresa de alfarería a las demás empresas pitaleñas
y se buscaron soluciones prontas para mitigar las dificultades que se
presentan en la comunidad. Por último, se organizaron estrategias de
divulgación como fue un video documental, señalización, folleto y
divulgación de las artesanías y del proceso cultural que se desarrolla en
el municipio liderado por las últimas artesanas.

2. Resultados y Discusión

A partir de las entrevistas se pudo reconocer los procesos de alfarería


que se han desarrollado en el municipio de El Pital por más de 357
años; de este proceso se evidenció la herencia cultural de las artesanas
que corresponde a una tradición de la comunidad Indígena Páez, del
cual son descendientes. Las artesanas han mantenido la técnica y los
tallados, y en ellos se puede encontrar ollas de barro como “arroceras
o timbos para el agua” con la misma estructura que lo realizaban las
comunidades indígenas de la zona muchos años atrás (Figura 1). Por
lo tanto, es importante salvaguardar esta tradición que, según Medrano
(2015), es una tradición a punto de morir, señalando poéticamente en
su apartado, “nadie se dedicó a hacer un escrito sobre una cultura que
tiende a desaparecer, ojalá haya alguien interesado en revivirla, que haga
algo para que vuelvan las canoas a transportar el negocio de la olla de
barro”.
Aunque es claro que la alfarería con el paso del tiempo ha tenido
una industrialización en el modo de creación, las alfareras del municipio
afirman que son las únicas artesanas que aún hoy en día siguen haciendo
sus diseños 100% a mano e incluso están prestas a demostrar y enseñar
a través de la observación como realizan este tipo de artesanías (Figura
2), a todos los visitantes que lleguen hasta la vereda San Joaquín del
municipio de El Pital. Esto lo realizan porque ven de manera preocupante

108
Práticas investigativas em Etnobotânica

que este arte está quedando en el olvido, recalcando incluso que a las
nuevas generaciones no les interesa aprender este arte.

Figura 1– A. Mapa de distribución por departamentos del Grupo Indígena


Páez - Nasa en Colombia (DNP, 2010). B. Exposición de artesanías en barro de
la tribu Páez, ubicada en el Parque Arqueológico de Tierradentro, Cauca. C.
Artesanía en barro elaborada ocho días previo a la fotografía, encontrada en
la vivienda de las alfareras en la vereda San Joaquín del Municipio de El Pital,
Huila.

Figura 2 – Demostración paso a paso del proceso de creación de una olla


de barro por parte de la artesana de mayor edad (65 años) de la vereda San
Joaquín.

109
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Es de recalcar que la comercialización del arte de la alfarería es el


principal ingreso económico para la comunidad de la vereda San Joaquín,
lo que ha ocasionado que incluso con la pandemia del COVID-19
tuvieran que desplazarse hasta las plazas de mercado de los municipios
cercanos para vender las piezas talladas. Igualmente, recalcan que se
han generado algunos reconocimientos por la calidad de sus productos,
llevando consigo que muchos compradores mayoristas se desplacen
hasta la vereda para realizar la compra, aunque resaltan que muchas veces
encuentran dificultad para llegar al sitio, dado a la poca señalización
que tiene la vía terciaria lo que ocasiona que “Pueblo Nuevo”, como es
conocida la vereda, se esté convirtiendo en un “pueblo en el olvido”. Por
ello, se decidió hacer un aporte significativo de señalización (Figura 3)
desde la carretera principal hasta el asentamiento de alfareras. Se resalta
que esta acción fue generada desde la solicitud de las alfareras, y que el
trabajo de divulgación implica unas alianzas gubernamentales que poco
a poco se estarán construyendo.

Figura 3 – Apoyó en la señalización, como una estrategia junto con las demás
(los espacios en la alcaldía, la visualización en los escenarios), contribuyan al
problema.

110
Práticas investigativas em Etnobotânica

En el ámbito de la industrialización, señalan las alfareras que el


desconocimiento del arte por la población en general ocasiona que
puedan preferir productos de rápida producción por los costos que
generan. Sin embargo, las artesanas han resistido en conservar la
tradición de crear las artesanías a mano (Figura 4), y que ese esfuerzo
ha permitido que actores externos reconozcan el valor de su trabajo.
Pero, a pesar del esfuerzo de las alfareras para poder continuar su
trabajo aún existen grandes retos frente a las condiciones en las cuales
están generando la producción, sin que el “mejorar” implique cambiar
la forma de producción, si se pueda construir de la mano herramientas
que fortalezcan la labor artesanal.
Por otro lado, de las entrevistas generadas a los 50 habitantes del
municipio de El Pital, el 87% desconocían la existencia de las artesanas, y
solo el 5% conocían la historia y producción artesanal del municipio. Es
de recalcar que el alcalde municipal desde el conocimiento del esfuerzo
de las mujeres artesanas se propuso y realizó un espacio en la casa de la
cultura del municipio donde las artesanas tuvieran la “Casa de la Mujer”
y pudieran comercializar las artesanías sin costo arrendatario alguno.

Figura 4 – Condiciones ergonómicas de las alfareras en el proceso de creación


de batea de barro. Duración de creación de batea tres horas.

Así mismo, se desarrolló mediante la alcaldía del municipio una


estrategia para que dos artesanas de avanzada edad obtuvieran una

111
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

pensión de dos salarios mínimos mensuales vigentes (SMMV), dado al


valor artesanal y cultural que representa esta práctica para el municipio
y el departamento. En conjunto, y como muestra de agradecimiento,
las artesanas realizaron en barro diseños de la iglesia y capilla de El
Pital (Figura 5), el cual obtuvo gran impacto en la zona, haciendo
que siguieran realizando este producto para su comercialización y
divulgación en diferentes espacios.
Por otro lado, se realizaron recorridos etnobotánicos, determinando
así el uso que las alfareras daban en sus hogares a las creaciones
realizadas por ellas y su relación con las especies de plantas existentes
(Figura 6), donde el mayor uso era de carácter decorativo con especies
de uso ornamental, exceptuando la Cattleya trianae Linden & Rchb. F.,
flor nacional de Colombia, especie en peligro crítico de extinción.
Asi mismo, se evidenció en las praderas circunstantes a las viviendas
grandes poblaciones de guayaba (Psidium guajava) (Figura 7), dado que
esta especie es indispensable para la creación de las artesanías, uan vez
que se utiliza la hoja como “lija” para pulir las piezas. Se evidenció como
los tricomas y la presencia de un aceite esencial rico en cariofileno,
nerolidiol, beta bisaboleno, aromandreno y p-selineno (PÉREZ et al.,
2014) permiten que se desarrolle adecuadamente la función dada. Se
resalta que la presencia de la guayaba permite además la diversificación
de variedades silvestres en la zona. Así mismo, las alfareras recalcan que
“al utilizar estas hojas no les duele tanto las manos”.
Al igual que la hoja de P. guajava, otra especie que se identificó
el uso por parte de las alfareras en la creación de las artesanías es la
Crescentia cujete L., comúnmente llamada “totumo” (Figura 8). Donde
utilizan su fruto seco para poder bordear y dar horma a las creaciones
realizadas de barro dado a su consistencia.

112
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figura 5 – A y C. Representaciones de la iglesia central y capilla elaborada en


barro por las alfareras. B y D. Fotografías de las iglesias, las cuales son modelo
de inspiración para las alfareras.

113
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Figura 6 – Especies vegetales de mayor uso ornamental sembradas en las


creaciones en barro de las alfareras, avistadas en sus hogares. A. Euphorbia
milii Des Moul. B. Senecio radicans (L.f.) Sch. Bip. C. Spathiphyllum wallisii
Regel. D. Cattleya trianae Linden & Rchb.f. E. Pelargonium zonale (L.) Aiton F.
Microsorum punctatum (L.) Copel.

Figura 7 – Relación planta – arraigo cultural. A. Recorrido etnobotánico e


identificación de grandes poblaciones de Psidium guajava L. en el entorno. B.
Representación de importancia de la hoja de la especie para el trabajo de las
alfareras. C. Resultado final del uso de la hoja en la creación de platos de barro.

114
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figura 8 – Determinación de la especie utilizada por las alfareras para pulir y


dar horma a las artesanías.

Otro de los puntos desarrollados fue el análisis FODA (SARLI et


al., 2015), el cual presentó las fortalezas, oportunidades, debilidades
y amenazas que podían presentar las mujeres alfareras (Figura 9).
Se evidencia que pese a la labor cultural que desarrollan las mujeres
alfareras, el abandono y desconocimiento de la labor generada conllevan
a que cada vez sean menos las mujeres que quieran continuar con la
tradición. También, se evidencia como las condiciones donde elaboran
las artesanías al no estar en las condiciones óptimas han conllevado a
unas condiciones de salud graves en las mujeres artesanas. Esta situación
les ha permitido empezar a generar discusiones frente a cómo pueden
continuar con su tradición cultural y garantizar que el legado perdure en
las nuevas generaciones. Con ello, se plantean estrategias que permitan
el emprendimiento, la divulgación y el acceso a nuevas oportunidades
donde puedan comercializar y proyectar su trabajo artesanal. También
en como desde las prácticas culturales de la comunidad local se genera
un apropiamiento de las artesanías insignias de la zona.
Con base en lo anterior, se realizó un diagrama de Veen (Figura
10) con el fin de analizar y contrastar la información obtenida en las
múltiples experiencias y así poder determinar la relación e importancia
etnobotánica de la alfarería en la comunidad de la vereda de San Joaquín,
municipio de El Pital, Huila.
Por último, desde el marco del proyecto se organizaron estrategias de
divulgación como fue un video documental llevado a distintos escearios
y espacios que permitieran reconocer el proceso llevado a cabo por las
artesanas y la comunidad local; la señalización hacía el sitio de venta de
las artesanías; folletos para que las mujeres artesanas pudieran entregar
durante los eventos que participaron; y la divulgación en redes sociales,
con el fin de que la comunidad municipal y departamental conociera
sobre la labor realizada y en conjunto aumentaran el consumo de las
artesanías llevadas a cabo por las artesanas de El Pital.

115
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Figura 9 – Tabulación de los resultados obtenidos en el análisis FODA.

Figura 10 – Relación de las alfareras, la alcaldía y la comunidad en la


determinación de la alfarería como valor cultural.

116
Práticas investigativas em Etnobotânica

3. Conclusiones

Se reconoce la alfarería como bien intangible generador de


memoria histórica, practicado desde hace 357 años, haciendo parte de
la idiosincrasia e identidad cultural del municipio de El Pital, Huila. Por
lo cual, poder garantizar este valor cultural implica acciones estatales,
ambientales y educativas, en donde cada actor pueda contribuir desde
su ejercicio de tomador de decisión en la protección del legado artesanal
llevado a cabo por las mujeres artesanas de El Pital.
Si bien, las estrategias generadas en el presente estudio han permitido
generar cambios en la forma de llevar los productos y reconocer el
legado histórico y cultural, es necesario continuar el trabajo frente a
los procesos etnobiológicos, las narrativas y los diálogos que se han
construido a lo largo de las generaciones en las mujeres artesanas. La
visibilidad y la protección del valor cultural deben ser tenido en cuenta
en estos procesos de apoyo.
Por otro lado, se evidencia la importancia de dos especies vegetales
en la incorporación de las labores artesanas, y como esto ha permitido
la conservación de la especie en la zona. Sumado a ello, es relevante
continuar los estudios etnobotánicos asociados a las especies utilizadas
en las distintas prácticas culturales que permitan reconstruir la historia
de la artesanía desde el vínculo sociedad – naturaleza.
Finalmente, se espera que estos aportes sean insumos para seguir
tejiendo los saberes culturales del departamento del Huila, y que las
estrategias de conservación impliquen reconocer la riqueza biológica
y cultural; siendo primordial que cada vez más, nuestros artesanos,
campesinos, indígenas y la comunidad en general puedan seguir
reconociendo el territorio y su biodiversidad, desde su propia voz.

117
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Referencias

ALBUQUERQUE, U. P. et al. The current status of ethnobiological


research in Latin America: gaps and perspectives. Journal of
Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 9, n. 1, p. 1-9, 2013.

ARJONA-GARCÍA, C. et al. How does urbanization affect


perceptions and traditional knowledge of medicinal plants? Journal of
Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 17, n. 1, p. 1-26, 2021.

CHÁVEZ, M.; ARANGO, N. Informe nacional sobre el estado de


la biodiversidad en 1997-Colombia. Tomo III. Bogotá: Instituto de
Investigación de Recursos Biológicos Alexander von Humboldt, 1998.

DE MORI, B. B.; DE BRABEC, L. M. S. La corona de la inspiración:


los diseños geométricos de los Shipibo-Konibo y sus relaciones con
cosmovisión y música. Indiana, v. 26, p. 105-134, 2009.

DING, X. Y. et al. Plants for making wooden bowls and related


traditional knowledge in the Gyirong Valley, Tibet, China. Journal of
Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 18, n. 1, p. 1-11, 2022.

DUEÑAS, H. C.; ROSERO-TORO, J. H. Flora de la ecoreserva La


Tribuna: relicto de bosque seco tropical Huila, Colombia. Bogotá:
Editorial Universidad Surcolombiana, 2019.

GUERRERO ARÉVALO, Y. T. Inspiración botánica. Bogotá:


Corporación Unificada Nacional de Educación Superior CUN, 2021.

JARAMILLO-DELGADO, G. H. et al. Reconocimiento de saberes


tradicionales en salud. Andes, Antioquia 2019: aproximación
cualitativa. Revista Cuidarte, v. 12, n. 3, p. 1-18, 2021.

KHAN, S. M.; PIERONI, A.; AHMAD, Z. Mazri (Nannorrhops


ritchiana (Griff) Aitch.): a remarkable source of manufacturing
traditional handicrafts, goods and utensils in Pakistan. Journal of
Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 16, n. 1, p. 1-13, 2020.

118
Práticas investigativas em Etnobotânica

MEDRANO, M. La olla de barro, una tradición a punto de


morir. La guía de Montería. 2015. Disponible en: <https://www.
laguiademonteria.co/la-olla-de-barro-una-tradicion-a-punto-de-
morir/>.
NEMOGÁ, G. R. Diversidad biocultural: Innovando en investigación
para la conservación. Acta Biológica Colombiana, v. 21, n. 1, p. 311-
319, 2016.
PÉREZ, E. et al. Determinación de fenoles y flavonoides totales en
hojas de guayabo (Psidium guajava L.). Revista de la Facultad de
Agronomía, v. 31, p. 60-77, 2014
RODRÍGUEZ E., J. J. Uso y manejo tradicional de plantas medicinales
y mágicas en el Valle de Sibundoy, alto Putumayo, y su relación con
procesos locales de construcción ambiental. Revista Academia
Colombiana de Ciencias, v. 34, n. 132, p. 309- 326, 2010.
ROMERO-DUQUE, L. P. et al. Trees and shrubs of the tropical
dry forest of the Magdalena river upper watershed (Colombia).
Biodiversity Data Journal, 7, e36191, 2019.
ROSERO-TORO, J. H. et al. Can cultural significance in plants be
explained by domestication and usage spaces? A study case from a
coffee producing community in Huila, Colombia. Ethnobiology and
Conservation, v. 10, n. 28, p. 1-24, 2021.
ROSERO-TORO, J. H.; DUEÑAS, H. C.; SANTOS-FITA, D. Plantas
utilizadas en una comunidad cafetera de Acevedo, Huila: catálogo
etnobotánico. Bogotá: Editorial Universidad Surcolombiana, 2018a.
ROSERO-TORO, J. H. et al. Cultural significance of the flora of a
tropical dry forest in the Doche vereda (Villavieja, Huila, Colombia).
Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 14, n. 1, p. 1-16,
2018b.
SANTACRUZ, G. La planta viva en la obra de arte contemporánea:
bioarte botánico en la ciudad. 2015. 391 f. Tesis (Doctorado).
Universidad Complutense de Madrid, Madrid, 2015.

119
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

SEMOTIUK, A. J. et al. Ancestral traditions of the future: where


is traditional knowledge and practice preservation directed?
Ethnobotany Research and Applications, v. 23, n. 25, p. 1-23, 2022.
TISSERAND, R.; BORGES, M. El arte de la aromaterapia. Barcelona:
Ediciones Paidós Ibérica, 1994.
TOLEDO, B. A.; GALETTO, L.; COLANTONIO, S. Ethnobotanical
knowledge in rural communities of Cordoba (Argentina): the
importance of cultural and biogeographical factors. Journal of
Ethnobiology and Ethnomedicine, v. 5, n. 1, p. 1-8, 2009.

120
FLORES COM NOME DE BICHO, BICHOS COM
NOME DE FLOR

Elidiomar Ribeiro da-Silva


Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, UNIRIO;
[email protected]

1. A incrível biodiversidade planetária e o conhecimento popular


desigual entre reinos

A biota do planeta Terra contabiliza a impressionante diversidade


de cerca de 2 a 3 milhões de espécies conhecidas e, talvez, acima de dez
vezes mais formas ainda por descrever (GOULD, 2001; CHAPMAN,
2009). A maior parcela dessa diversidade é relativa aos animais, com
cerca de 1.650.000 espécies descritas (ZHANG, 2013), seguidos pelos
vegetais, com pelo menos 374.000, das quais quase 300.000 são plantas
com flores (CHRISTENHUSZ; BYNG, 2016). Todos os demais seres
vivos (fungos, algas, bactérias etc.) perfazem o total aproximado de
250.000 espécies (GOLD, 2001; CHAPMAN, 2009).
Considerando então os grandes grupos mais numerosos de seres
vivos, aqueles cujas respectivas ciências de estudo costumam ser
consideradas primárias dentro do campo das Ciências Biológicas,
Zoologia (animais) e Botânica (vegetais), é flagrante a diferença de
interesse popular. Em que pese as plantas serem fundamentais para a
manutenção da vida e do equilíbrio do planeta (BITENCOURT et al.,
2011), é natural, segundo Rodríguez-Miranda e colaboradores (2015),
que se preste mais atenção aos animais, ao menos inicialmente. Isso,
possivelmente, por sermos integrantes do reino animal, além, é claro, do
maior dinamismo comportamental aparente dos bichos. Essa percepção
tende a ser reproduzida nas escolas, com os temas ligados a animais
sendo predominantes nos livros didáticos (RODRÍGUEZ-MIRANDA
et al., 2015).

121
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Exatamente nesse contexto está o conceito de cegueira botânica,


referente à inabilidade das pessoas quanto à percepção das plantas
no seu próprio ambiente, resultando na incapacidade de reconhecer
a importância vegetal para a biosfera e até mesmo para as atividades
humanas. Como consequências disso estão a incapacidade de apreciação
da beleza e das características interessantes das plantas, bem como a
visão equivocada de que elas seriam “inferiores” aos animais (URSI,
2018).
Além das necessárias demonstrações acadêmicas, escolares e em
atividades de divulgação científica acerca da importância das plantas
para virtualmente todos os processos planetários, uma boa possibilidade
na tentativa de se mitigar o problema é a associação com a cultura.
Botânica Cultural é a disciplina que estuda a presença das plantas em
diferentes manifestações da cultura, incluindo utilização nas esferas
religiosa, midiática, artística e econômica, dentre outras (GOULART,
2020), construindo abordagens plurais (FRANÇA, 2019). A partir daí,
pode-se realçar a presença de plantas no cotidiano do ser humano, seja
na cultura ou mesmo na composição de itens concretos, como lápis
e papel, peças de vestuário, produtos médicos e alimentares etc. Essa
contextualização cultural, que já é bem estabelecida quanto aos animais,
com a Zoologia Cultural (DA-SILVA; COELHO, 2022; DA-SILVA,
2022a, 2022b), e fungos, com a Funga Cultural (FORTUNA, 2021),
precisa ser incrementada no que se refere à Botânica.

2. O encanto da flor

Presentes no ciclo biológico da esmagadora maioria das espécies de


plantas, poucos elementos vegetais encarnam de modo mais adequado
as possibilidades de associação cultural quanto as flores, que apresentam
importantes simbolismos para diferentes sociedades, muitas vezes
associados a propriedades terapêuticas, místicas, folclóricas, históricas
e etimológicas (SOUZA et al., 2018; MARINHO et al., 2018). Cores,
fragrâncias e texturas das flores encantam, seduzem, acalentam e
inspiram. Exatamente por isso, a flor foi tema do evento científico II

122
Práticas investigativas em Etnobotânica

Mostra de Biologia Cultural - O Canto em Flor, realizado em 2018 e


que contou com a apresentação de 23 trabalhos associando Ciência e
Cultura (COELHO; DA-SILVA, 2018), incluindo uma versão resumida
do presente texto (DA-SILVA, 2018).
As flores acompanham a existência humana nos principais momentos
de nossas vidas. Recebemos nascimentos com flores, damos buquês
para comemorar aniversários, testamos a sorte com o bem-me-quer e
malmequer de pétalas arrancadas, presenteamos com flores a pessoa
amada, celebramos as bodas com buquês e arranjos florais, promovemos
despedidas fúnebres com coroas floridas. Há uma mensagem floral
para cada momento da vida e mesmo na morte (GUTIERREZ, 2020).
Descobertas arqueológicas de restos de flores em túmulos pré-históricos
mostram que essa tradição vem de longe (SODRÉ, 2018).
Ainda segundo Gutierrez (2020), como todos os seres vivos, as
flores mudam constantemente, nunca sendo iguais ao que eram no dia
anterior. Porém, mesmo mudando, continuam a representar a essência
do que eram. A flor, seja através de sua forma ou seu perfume, pode
nos lembrar de um momento, um lugar ou até mesmo uma pessoa. E só
as flores têm o poder de nos levar de volta no tempo e, talvez por isso,
nos emocionem tanto. Nada mais natural do que usar essa emoção para
mostrar aquilo que está diante de nossos olhos: as plantas estão por toda
parte.

3. Os nomes comuns e a intenção deste texto

O nome comum de uma entidade biológica indica qualquer ser


pertencente a uma unidade taxonômica ou prática. Opõe-se ao nome
científico ou taxonômico, que designa, dentro de regras previamente
estabelecidas, um determinado ser (DA-SILVA, 2018). Se, por um lado, as
Ciências Biológicas têm seus princípios consolidados a partir dos nomes
– ou epítetos – científicos, por outro são os nomes comuns que podem
estabelecer uma ponte ligando os saberes científico e popular. Enquanto
a nomenclatura científica é fixa, os nomes comuns variam entre os
idiomas e regiões. Isso parece ser óbvio, posto que o nome científico, de

123
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

caráter universal, é em latim ou latinizado, muitas vezes com pronúncia


e composição difíceis, não tendo a pretensão de ser de domínio público.
Já o nome comum ou popular é um produto da chamada linguagem do
povo, que varia de lugar para lugar, gerando muito mais familiaridade
para com o nomeado. Por exemplo, todos conhecem a bananeira e sua
pseudobaga, a banana; mas poucos identificam quem é, só pelo nome, a
Musa paradisiaca L.
Nomes comuns, vulgares, populares ou vernaculares não são, assim,
passíveis de regras acadêmicas, oscilando ao sabor da vontade cultural
da população. Podem, então, não apresentar uma lógica ou coerência
acadêmica. E tudo bem quanto a isso. Um exemplo é a rosa-do-deserto,
Adenium obesum (Forssk.) Roem. & Schult. (Figura 1), que pertence à
família Apocynaceae (Gentianales), mas tem nome comum que alude
à rosa, clássica denominação de outro grupo de plantas, as Rosaceae
(Rosales). Ou a maçã-de-elefante, Dillenia indica L. (Figura 2), que
pertence à família Dilleniaceae (Dilleniales), mas tem nome comum
que alude à maçã, pseudofruto de outra Rosaceae. Ou ainda outra
Apocynaceae, o algodão-de-seda, Calotropis procera (Aiton) W.T. Aiton
(Figura 3), que nada tem a ver com o algodoeiro, gênero Gossypium L.,
da família Malvaceae (Malvales). Por sinal, esse último exemplo é ótimo
para ilustrar a problemática dos nomes comuns, pois a planta também
é conhecida como maçã-de-sodoma e rosa-seda, mesmo sem ser maçã
nem rosa.
Ainda assim, contrariando esse tipo de rebeldia popular dos
nomes comuns, alguns pesquisadores consideram ser importante se
tentar impor certas regras à forma como as unidades taxonômicas
são conhecidas fora dos espaços acadêmicos. Embora existam os que
consideram o nome científico dos seres vivos como suficiente para
identificar as espécies na comunicação escrita e oral, a verdade é que só
os especialistas conhecem essa nomenclatura, o que serve de justificativa
para que se defenda a normatização dos nomes comuns (PAIXÃO,
2021).
Nessa linha, Buzzi (2009) publicou um livro em que compila os
nomes populares de insetos e ácaros do Brasil, alguns deles propostos
observando-se critérios como importância econômica e nome das
plantas hospedeiras. O próprio autor menciona que muitos desses

124
Práticas investigativas em Etnobotânica

nomes não são espontâneos, o que, naturalmente, não os torna


verdadeiramente populares. Em que pese a boa intenção e, talvez, a
necessidade de se tentar padronizar os nomes comuns, para Paixão
(2021) é sempre bom não esquecer que esses fazem parte do património
cultural, estão presentes em crenças e são tema de canções e outras
manifestações culturais. E considera que, entre os nomes comuns,
deve-se saber distinguir os que são de caráter popular (usados pela
população) e os mais técnicos, os nomes vernáculos técnicos, usados
em contextos mais especializados, mas não necessariamente científicos.
Straube (2020) enfatiza essa diferença, considerando o nome vernáculo
técnico como a denominação indicada por especialistas, muitas vezes
em associações coletivas oficiais, para cada espécie e o nome popular/
comum/vulgar/trivial como sendo aquele descompromissadamente
usado pelas pessoas nas várias regiões. E que a justificativa para os
nomes vernáculos técnicos seria a demanda por nomes na língua nativa
das pessoas, ante à popularização do conhecimento da biodiversidade.

Figuras 1-3 – 1. Rosa-do-deserto (Rio de Janeiro, RJ). 2. Maçã-de-elefante


(Itatiaia, RJ). 3. Algodão-de-seda (Cajueiro da Praia, PI). Fotos do autor.

125
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

O fato é que, enquanto a nomenclatura científica é fixa, os nomes


comuns variam entre os idiomas e regiões – ou mesmo dentro de uma
determinada localidade. Brincando com as possibilidades que essa
associação oferece, foram inventariados 25 nomes comuns referenciados
a plantas com flores marcantes e que sejam, de alguma forma, ao menos
parcialmente alusivos a animais, bem como o inverso. As fontes para
a presente pesquisa foram a memória prévia, bibliografia e buscas no
Google. Arbitrariamente, se estabeleceu o limite de 25 nomes de plantas
e outros tantos animais. No caso das plantas, os nomes têm um aspecto
muito mais popular, no sentido de uso corriqueiro pela população
em geral. Por outro lado, os animais, especialmente os insetos, são
mencionados por termos que se enquadram muito mais como nomes
vernáculos técnicos.

4. Flores com nome de bicho

Os 25 nomes comuns de flores com alusão a animais estão listados


a seguir.

1) Rabo-de-galo – Worsleya rayneri (J. D. Hooker) (Asparagales:


Amaryllidaceae)
Espécie endêmica do Brasil, de ocorrência exclusiva no Estado do
Rio de Janeiro, é planta com potencial de utilização como ornamental
(MESSINA, 2012). No nome comum a menção é ao galo, Gallus gallus
(Linnaeus, 1758) (Galliformes: Phasianidae).

2) Flor-de-corvo – Nothoscordum bivalve (L.) Britton (Asparagales:


Amaryllidaceae)
Também conhecida como sinos-de-mel, alho-falso, veneno-de-
corvo, lágrima-de-virgem e alho-silvestre, é erva terrícola de ocorrência
na Mata Atlântica e nos Pampas (CAMPOS-ROCHA et al., 2022).
Alguns de seus nomes comuns são alusivos aos corvos (Passeriformes:
Corvidae).

126
Práticas investigativas em Etnobotânica

3) Flor-leopardo – Belamcanda chinensis L. (Asparagales: Iridaceae)


(Figura 4)
Também conhecida como flor-de-leopardo ou lírio-leopardo, é
uma planta rústica e florífera de origem asiática (PATRO, 2014a). No
nome comum a menção é ao leopardo, Panthera pardus (Linnaeus,
1758) (Carnivora: Felidae).

4) Erva-abelha – Ophrys apifera Huds. (Asparagales: Orchidaceae)


(Figura 5)
Segundo Szatmari (2016), trata-se de uma orquídea rara, de
distribuição na Europa, cujas flores se assemelham a uma abelha
(Hymenoptera: Apidae). Também conhecida como erva-aranha.

5) Orquídea-garça – Pecteilis radiata (Thunb.) Raf. (Asparagales:


Orchidaceae) (Figura 6)
Também conhecida como flor-da-garça-branca, é uma orquídea
asiática e que se encontra muito ameaçada de extinção (PATRO, 2017a).
No nome comum a menção é à garça, denominação popular de muitas
espécies integrantes da família Ardeidae (Pelecaniformes).

6) Orquídea-pato-voador – Caleana major R. Br. (Asparagales:


Orchidaceae) (Figura 7)
Também conhecida como orquídea-de-pato, essa planta australiana
(GUEDES, 2015) é caracterizada por possuir uma flor que se assemelha
muito a um pato (Anseriformes: Anatidae) em voo.

7) Orquídea-polvo – Prosthechea cochleata (L.) W. E. Higgins


(Asparagales: Orchidaceae) (Figura 8)
Originária do continente americano (SANTOS, 2019), essa orquídea
apresenta flores que lembram a configuração corporal de um polvo
(Cephalopoda: Octopoda).

8) Orquídea-pomba – Peristeria elata Hook. (Asparagales:


Orchidaceae) (Figura 9)
Nativa da Região Neotropical, a orquídea-pomba é a flor do símbolo
do Panamá (GUEDES, 2020). Sua flor é muito parecida com a clássica

127
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

pomba branca da paz, Columba livia Gmelin, 1789 (Columbiformes:


Columbidae).

9) Orquídea-tigre – Grammatophyllum speciosum Blume.


(Asparagales: Orchidaceae) (Figura 10)
Orquídea de origem asiática (SINIS, 2022), cujo nome comum faz
menção ao tigre, Panthera tigris (Linnaeus, 1758) (Carnivora: Felidae),
embora sua maior semelhança, pensando exclusivamente em felídeos
de ocorrência na Ásia, com o leopardo.

10) Orquídea-borboleta – Phalaenopsis aphrodite Rchb. f.


(Asparagales: Orchidaceae) (Figura 11)
São orquídeas de origem asiática, epífitas, de folhas largas e
grossas, e flores brotando nas hastes que partem do caule. O nome de
gênero vem do grego e significa “parecido com mariposa” (CEZARIO;
ALCANTARA, 2021b). Essa semelhança com borboletas (Insecta:
Lepidoptera) é refletida no nome comum.

11) Orquídea-macaco – Dracula spp. (Asparagales: Orchidaceae)


(Figura 12)
De ocorrência no Novo Mundo, os integrantes do gênero Dracula
Luer também são conhecidos como orquídea-cara-de-macaco,
macaquinho e cara-de-macaco, pois chamam a atenção por suas
flores se assemelharem com o rosto de um macaco (PATRO, 2017b).
A semelhança é grande com relação aos Platyrrhini (famílias Cebidae,
Pitheciidae e Atelidae). O nome de gênero tem a mesma grafia do icônico
personagem associado ao vampirismo e aos morcegos (Chiroptera).

12) Dente-de-leão – Taraxacum spp. (Asterales: Asteraceae) (Figura


13)
Com provável origem no Hemisfério Norte, o dente-de-leão é
também conhecido como coroa-de-monge, quartilho e taráxaco (REIS,
2022). O nome popular mais comum faz menção ao leão, Panthera leo
(Linnaeus, 1758) (Carnivora: Felidae).

128
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figuras 4-12 – Algumas orquídeas com nome de animais. 4. Flor-leopardo


(foto de Tom Murphy VII - commons.wikimedia.org/wiki/File:Belamcan-
da_chinensis_ 2007.jpg). 5. Erva-abelha [foto de Hans Hillewaert - commons.
wikimedia.org /wiki/File:Ophrys_ apifera_(flower).jpg]. 6. Orquídea-garça
(foto de Alpsdake - commons.wikimedia.org/wiki/File:Habenaria_radiata_
flower_s2.JPG). 7. Orquídea-pato-voador (foto de Theo Gonzalez - identify.
plantnet.org/es/the-plant-list/species/Caleana% 20major%20R.Br./data). 8.
Orquídea-polvo (foto de Orchi - commons.wikimedia.org/wiki/File: Pros-
thechea_cochleata_Orchi_17.jpg). 9. Orquídea-pomba (foto de Kiran Gop
- commons.wikimedia. org/wiki/File:Peristeria_Elata.jpg). 10. Orquídea-ti-
gre (foto de Brutusaurus - commons.wikimedia. org/wiki/File:Flower_of_
Grammatophyllum_speciosum_130mm.jpg). 11. Orquídea-borboleta [foto
de Sunoochi - commons.wikimedia.org/wiki/File:Phalaenopsis_aphrodite_
subsp._formosana_ Christenson,_Phalaenopsis_a_monograph_197_(2001)_
(46250868672).jpg]. 12. Orquídea-macaco da espécie Dracula simia (Luer)
Luer [Foto de Dick Culbert - pt.wikipedia.org/wiki/ Dracula_simia#/media/
Ficheiro:15.Dracula_simia,_the_Monkey_Face_Orchid_(10957423336).jpg].

129
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

13) Crista-de-galo – Celosia cristata L. (Caryophyllales;


Amaranthaceae) (Figura 14)
De origem asiática, a crista-de-galo também pode ser encontrada
na África e na América do Sul. Apresenta flores que lembram um
cérebro (CEZARIO; ALCANTARA, 2021a) ou, muito mais pela bela cor
vermelha, a crista de um galo.

14) Flor-de-lagarto – Orbea variegata (L.) Haw. (Gentianales:


Apocynaceae) (Figura 15)
Também conhecida como flor-de-carniça, é planta suculenta não
cactácea nativa da África (SANCHEZ, 2020). O nome comum é alusivo
aos lagartos, integrantes da ordem Squamata (Reptilia).

15) Flor-de-mico – Posoqueria latifolia Roem & Schult. (Gentianales:


Rubiaceae) (Figura 16)
Segundo Carvalho (2014), é uma árvore de distribuição pan-
americana, com predomínio na Região Neotropical, também chamada
de fruta-de-macaco e baga-de-macaco. O nome comum é alusivo aos
micos (Primates).

16) Flor-de-cobra – Spathicarpa gardneri Schott in Bonplandia


(Alismatales: Araceae)
Segundo Andrade e colaboradores (2013), é planta nativa brasileira.
O nome comum é alusivo às serpentes, integrantes da subordem
Serpentes (Reptilia: Squamata)

17) Flor-camarão-amarela – Pachystachys lutea Nees. (Lamiales:


Acanthaceae) (Figura 17)
Também chamado camarão-amarelo, é um denso arbusto
neotropical (CÂNOVAS, 2020) cujas inflorescências têm aspectos que
lembram um camarão (Crustacea: Decapoda).

18) Camarão-vermelho – Justicia brandegeeana Wassh. & L. B. Sm.


(Lamiales: Acanthaceae) (Figura 18)
Também chamado flor-camarão, camarão, camarão-vegetal e
planta-camarão, é um arbusto de origem mexicana que pode ser

130
Práticas investigativas em Etnobotânica

usado em paisagismo (KOSCHNITZKE, 2016). As inflorescências têm


aspectos que lembram um camarão.

19) Flor-borboleta – Rotheca myricoides (Hochst.) Steane & Mabb.


(Lamiales: Lamiaceae) (Figura 19)
Também chamada borboleta-azul, é uma planta arbustiva de
origem africana, caracterizada pelas delicadas flores azuis, semelhantes
a borboletas (PATRO, 2017c).

20) Flor-de-mariposa – Heteropterys umbellata Juss. (Malpighiales:


Malpigiaceae) (Figura 20)
Planta arbustiva terrícola, endêmica do Brasil (PESSOA et al., 2022),
cujos frutos e flores são semelhantes a mariposas.

21) - Violeta-cão-comum – Viola riviniana Rchb. (Malpighiales:


Violaceae) (Figura 21)
Também chamada violeta-de-madeira e violeta-de-cachorro, é
nativa da Eurásia e da África (PARTRIDGE, 2007). O nome comum
é alusivo aos cães domésticos, Canis lupus familiaris Linnaeus, 1758
(Carnivora: Canidae).

22) Rosa-canina – Rosa canina L. (Rosales: Rosaceae) (Figura 22)


Também chamada rosa-mosqueta, rosa-selvagem, rosa-silvestre,
rosa-de-cão, rosa-primitiva, rainha-das-flores, rosa-bandalha e roseira-
brava, é uma roseira originária da Eurásia e da África (LEITE, 2020).
Alguns de seus nomes comuns são alusivos aos cães.

23) Flor-de-sapo – Aristolochia holostylis F. González (Piperales:


Aristolochiaceae)
Planta herbácea, de ocorrência natural no Brasil (REBOUÇAS,
2020), sendo o nome comum alusivo ​aos anuros (Amphibia: Anura).

24) Ave-do-paraíso – Strelitzia reginae Banks (Zingiberales:


Strelitziaceae) (Figura 23)
Também conhecida como estrelitza e flor-da-rainha, é planta
herbácea de origem africana (PATRO, 2014b). Um de seus nomes
comuns é alusivo às aves-do-paraíso (Passeriformes: Paradisaeidae).

131
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Figuras 13-18 – Algumas flores com nome de animais. 13. Dente-de-leão


da espécie Taraxacum officinale F.H. Wigg. (foto de David Hocken - https://
identify.plantnet.org/pt/weeds/species/Taraxacum %20officinale%20F.H.%20
Wigg./data). 14. Crista-de-galo (foto de Mearchan - https://commons.
wikimedia.org/wiki/File:Celosia_cristata_Linn.jpg). 15. Flor-de-lagarto [foto
de Skolnik Collection - https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Orbea_
variegata_(L.)_Haw._06.jpg]. 16. Flor-de-mico (foto de Forest & Kim Starr -
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Starr_030807-0114_Posoqueria_
latifolia.jpg). 17. Flor-camarão-amarela (Foto de Dryas - https://commons.
wikimedia.org/wiki/File: Pachystachys_lutea_2_RBGK.JPG). 18. Camarão-
vermelho (foto de Rror - https://commons. wikimedia.org/wiki/File:Justicia_
brandegeeana_bokeh.jpg).

25) Flor-morcego – Tacca chantrieri André, 1901 (Dioscoreales:


Dioscoreaceae) (Figura 24)
Originária da Ásia e também conhecida como planta-morcego
(CEZARIO; ALCANTARA, 2021c), a flor dessa planta se parece com
um morcego.

132
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figuras 19-24 – Algumas flores com nome de animais. 19. Flor-borboleta (foto
de Krzysztof Ziarnek - https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rotheca_
myricoides_kz01.jpg). 20. Flor-de-mariposa (foto de Sensurado - https://
commons.wikimedia.org/wiki/File:Heteropterys_umbellata.JPG). 21. Violeta-
cão-comum [foto de Svdmolen - https://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Viola_riviniana-01_(xndr).jpg]. 22. Rosa-canina (foto de Aiwok - https://
commons.wikimedia.org/wiki/File: Rosa_canina_1.jpg). 23. Ave-do-paraíso
[foto de Diego Delso - https://pt.m.wikipedia.org/wiki/ Ficheiro:Ave_del_
para%C3%ADso_(Strelitzia_reginae),_Conservatorio_bot%C3%A1nico,_
Fort_Wayne,_Indiana,_Estados_Unidos,_2012-11-12,_DD_01.jpg]. 24. Flor-
morcego (foto de Pismire~commonswiki - https://commons. wikimedia.org /
wiki/File:Tacca_chantrieri1.JPG).

5. Bichos com nome de flor

Os animais com nome alusivo a flores inventariados foram os que


se seguem.

133
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

1) Anêmona-do-mar (Cnidaria: Actiniaria)


Os cnidários sésseis e predadores conhecidos como anêmonas-do-
mar, distribuídos por muitas famílias, gêneros e espécies, têm seu nome
comum derivado da flor anêmona, Anemone coronaria L. (Ranunculales:
Ranunculaceae) (DA-SILVA, 2018).

2) Ácaro-do-cravo – Demodex folliculorum (Simon, 1842) (Acari:


Demodecidae)
Nome vernáculo técnico indicado por Buzzi (2009). Também
conhecido como ácaro-do-folículo, vive nos poros da pele humana,
junto aos chamados “cravos”. No caso, o nome do ácaro é relativo a tais
cravos e não à flor do craveiro, Dianthus caryophyllus L. (Caryophyllales:
Caryophyllaceae), mas o animal foi incluído aqui pela questão da
homonímia.

3) Ácaro-das-flores-do-abacateiro – Tegolophus perseaflorae (Keifer,


1991) (Acari: Eriophyidae)
Nome vernáculo técnico indicado por Buzzi (2009). Associado ao
abacateiro, Persea americana Mill. (Laurales: Lauraceae).

4) Ácaro-das-flores-do-cajueiro – Eriophyes diospyri (Keifer, 1944)


(Acari: Eriophyidae)
Nome vernáculo técnico indicado por Buzzi (2009). Associado ao
cajueiro, Anacardium occidentale L. (Sapindales: Anacardiaceae).

5) Aranha-flor – família Thomisidae (Araneae)


Aranhas pequenas, pertencentes a vários gêneros e espécies, de
cores impressionantes e que imitam flores para enganar suas presas e se
camuflar de seus predadores (CORREARD, 2009).

6) Louva-a-deus-orquídea – Hymenopus coronatus Olivier, 1792


(Mantodea: Hymenopodidae)
Habita as florestas do sudeste asiático, sendo conhecido por sua
semelhança visual com flores (O’HANLON et al., 2013).

7) Cigarrinha-da-inflorescência – Gypona sp. (Hemiptera:


Cicadellidae)

134
Práticas investigativas em Etnobotânica

Nome vernáculo técnico indicado por Buzzi (2009). Provavelmente


pode ser aplicado a várias espécies de Gyponini (Iassinae), não apenas
ao gênero Gypona Germar, 1821, além de outras cigarrinhas.

8) Cochonilha-cor-de-rosa – Ceroplastes grandis Hempel, 1900


(Hemiptera: Coccidae)
Nome vernáculo técnico indicado por Buzzi (2009), relativo à cor,
não à flor da roseira. Mas esse inseto foi incluído aqui pela questão da
homonímia.

9) Besourinho-negro-das-orquídeas – Montella lepagei (Monte,


1942) (Coleoptera: Curculionidae)
Nome vernáculo técnico indicado por Buzzi (2009). Esse besouro
ataca orquídeas dos gêneros Cattleya Lindl. e Laelia Lindl. (Orchidaceae).

10) Besourinho-vermelho-das-orquídeas – Dyorimerellus minensis


Monte, 1942 (Coleoptera: Curculionidae)
Nome vernáculo técnico indicado por Buzzi (2009). Esse besouro
ataca orquídeas dos gêneros Cattleya e Laelia Lindl.

11) Gorgulho-das-flores-das-palmeiras – Elaeidobius subvittatus


(Faust, 1899) (Coleoptera: Curculionidae)
Nome vernáculo técnico indicado por Buzzi (2009). Originário
da África e introduzido no Brasil, esse besouro, é polinizador do
dendezeiro, Elaeis guineenses Jacq. (Arecales: Arecaceae), também de
origem africana.

12) Besouro-acrobata-das-flores (Coleoptera: Mordellidae)


Nome vernáculo técnico indicado por Buzzi (2009). Vários gêneros
e espécies dessa família de besouros vivem em flores, especialmente de
compostas (Asterales: Asteraceae).

13) Besouro-da-flor-do-maracujazeiro-amarelo – Brachypelus sp.


(Coleoptera: Nitidulidae)
Considerado uma praga do maracujazeiro, Passiflora edulis Curtis
(Violales: Passifloraceae), em algumas regiões do Brasil (AZEVEDO et
al., 2005).

135
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

14) Besouro-brilhante-das-flores (Coleoptera: Phalacridae)


Nome vernáculo técnico indicado por Buzzi (2009). Larvas de
besouros dessa família, representantes de diferentes gêneros e espécies,
colonizam botões florais.

15) Besouro-do-girassol – Cyclocephala melanocephala (Fabricius,


1775) (Coleoptera: Scarabaeidae)
Nome vernáculo técnico indicado por Buzzi (2009). Besouros dessa
espécie atacam várias plantas, inclusive o girassol, Helianthus annuus L.
(Asterales: Asteraceae).

16) Borboleta-amarela-das-orquídeas – Athis therapon (Kollar,


1839) (Lepidoptera: Castniidae)
Nome vernáculo técnico indicado por Buzzi (2009). A lagarta,
denominada broca-do-bulbo-das-orquídeas, ataca diferentes espécies
da família Orchidaceae.

17) Borboleta-das-violetas – Euptoieta claudia (Cramer, 1775)


(Lepidoptera: Nymphalidae)
Também chamada violeteira (Buzzi, 2009), a lagarta dessa borboleta
se alimenta em violeteiras, gênero Viola L. (Malpighiales: Violaceae)
(SWENGEL, 1997).

18) Borboleta-do-girassol – Chlosyne lacinia (Geyer, 1837)


(Lepidoptera: Nymphalidae)
Lagartas dessa borboleta são pragas do girassol, atacando as folhas.

19) Mariposa-beija-flor (Lepidoptera: Sphingidae)


As mariposas da família Sphingidae recebem os nomes comuns
de mariposa-falcão e mariposa-beija-flor, sendo que algumas espécies
podem ser confundidas, quando se alimentam em voo, com beija-
flores (Apodiformes: Trochilidae), existindo até interessantes lendas
de transmutações desses insetos com as pequenas aves, conforme
compilado por Crozariol (2018). A menção à flor no nome comum,
ainda que de modo indireto, justifica a inclusão dessas mariposas no
presente escrito.

136
Práticas investigativas em Etnobotânica

20) Mosca-das-flores (Diptera: Syrphidae)


Diversas espécies de moscas dessa família, geralmente de colorido
vistoso, são comumente observadas sobre flores, daí o nome popular.

21) Vespinha-da-orquídea – Eurytoma orchidearum (Westwood,


1869) (Hymenoptera: Eurytomidae)
Nome vernáculo técnico indicado por Buzzi (2009). Essas vespas
atacam bulbos florais novos de orquídeas.

22) Lírio-do-mar (Echinodermata: Crinoidea)


Exclusivamente marinhos, os equinodermos da classe dos crinóides
recebem o nome comum por conta da semelhança com as flores de lírio,
planta do gênero Lilium L. (Liliales: Liliaceae) (DA-SILVA, 2018).

23) Peixe-flor - Bathygobius soporator (Valenciennes, 1837)


(Gobiiformes: Gobiidae)
Aqui no Brasil o peixe-flor, também conhecido como maria-da-
toca, ocorre em áreas litorâneas.

24) Beija-flor (Apodiformes: Trochilidae)


A família Trochilidae, exclusiva do Novo Mundo, é formada por
pequenas aves conhecidas popularmente como beija-flor ou colibri.
Importantes polinizadores de diversas famílias botânicas, os beija-flores
usam seu bico longo para alcançar o néctar das flores. Daí vem o nome,
pois é como se eles beijassem as flores.

25) Boto-cor-de-rosa – Inia geoffrensis (de Blainville, 1817)


(Cetacea: Iniidae)
Também conhecido como boto-vermelho e boto-rosa, ocorre
na Bacia Amazônica. O “rosa” do nome comum é relativo à cor, não
especificamente à flor, mas esse golfinho dulçaquícola foi aqui incluído
pela questão da homonímia.

6. Considerações finais

Todas as flores inventariadas estão identificadas, ao menos, no


nível de gênero e, na maioria, recebem nomes alusivos a animais por

137
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

conta de alguma característica morfológica. Por outro lado, os animais


têm, em grande parte, nomes associados às suas plantas hospedeiras,
além de terem denominação comum ampla, o que é o caso de grandes
grupos, como lírios-do-mar, beija-flores, algumas famílias de besouros
e anêmonas-do-mar. Curiosamente, as anêmonas “cópias” são bem
mais populares que as “originais” (DA-SILVA, 2018): uma busca no
Google pelo termo “anêmona”, realizada em 2018, revelou que, dentre as
respostas obtidas, mais de 90% se referem ao animal. Isso é congruente
com o conceito de “cegueira botânica”, segundo o qual parece ser
característica da espécie humana perceber e reconhecer animais na
natureza, mas ignorar a presença de plantas.
Além de possibilitar esse tipo de análise, a associação entre
nomenclatura taxonômica e nomes populares pode trazer benefícios
para a popularização da Ciência como um todo. Ao se associar
culturalmente elementos botânicos e zoológicos, pode-se contribuir
para a construção de um conhecimento de não existe ecossistema sem
a intervenção de todos os elementos nele ocorrentes, aí incluindo os
animais e as plantas. Essa percepção pode ser uma ferramenta útil
para se introduzir questões de cunho conservacionista, enfatizando
o preocupante declínio populacional e a perda de biodiversidade,
especialmente entre as plantas. Por sinal, as plantas se encontram em
situação muito mais dramática, em termos de preservação, do que os
animais (RODRÍGUEZ-MIRANDA et al., 2015).
Ainda com relação às plantas, para Menezes e demais autores (2008)
o ensino de Botânica está atualmente marcado por diversos problemas,
com destaque para a falta de interesse não só por parte dos alunos,
mas também dos professores. Assim, muitos professores de Biologia
protelam as aulas de Botânica, alegando ser difícil o desenvolvimento
de atividades práticas que despertem a curiosidade do aluno e mostrem
a utilidade cotidiana daquele conhecimento (BITENCOURT et al.,
2011). Por outro lado, os animais costumam atrair mais a atenção, o
interesse e a curiosidade por parte dos estudantes. Ao se abordar em
sala de aula as plantas com nomes alusivos a animais, como instrumento
lúdico ou mera curiosidade, um pouco desse interesse inicial pode
ser compartilhado. Dentre as plantas mencionadas aqui estão alguns
grupos de importância ornamental e grande interesse popular, como

138
Práticas investigativas em Etnobotânica

orquídeas e suculentas. Muitas delas apresentam flores com formas e


cores bonitas, pitorescas e chamativas, o que, se bem ministrado, pode
ser potencializado para tornar mais interessante e, por conseguinte,
eficiente o ensino de Botânica e a divulgação das maravilhas do reino
vegetal.

Referências

ANDRADE, I. M. et al. The Araceae in Ceará, Brazil: humid forest


plants in a semi-arid region. Rodriguésia, v. 64, n. 3, p. 445-477, 2013.
AZEVEDO, F. R. et al. Ocorrência e danos do besouro-da-flor-do-
maracujazeiro-amarelo. Comunicado Técnico On-Line, v. 105, p. 1-3,
2005.
BITENCOURT, I. M. et al. As plantas na percepção de estudantes do
ensino fundamental no município de Jequié – BA. In: ENCONTRO
NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 7.
Anais.... Campinas: Unicamp, 2011, 13 p.
BUZZI, Z. J. Nomes populares de insetos e ácaros do Brasil. Curitiba:
Editora UFPR, 2009.
CAMPOS-ROCHA, A. et al. Nothoscordum in Flora e Funga do
Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <https://
floradobrasil.jbrj.gov.br/FB135357>. 2022. Acesso em 29 set. 2022
CÂNOVAS, R. Pachystachys lutea. Jardim Cor – Paisagismo e
Jardinagem. Disponível em: <http://www.jardimcor.com/catalogo-de-
especies/pachystachys-lutea/>. 2020. Acesso em 10 set. 2022.
CARVALHO, P. E. R. C. Espécies arbóreas brasileiras, v. 5. Colombo:
Embrapa Florestas, 2014.
CEZARIO, B.; ALCANTARA, A. Plantas - Celosia cristata: a curiosa
espécie que se assemelha a um cérebro. Casa e Jardim. Disponível em:

139
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

<https://revistacasaejardim. globo.com/Casa-e-Jardim/Paisagismo/
Plantas/noticia/2021/10/ celosia-cristata-curiosa-especie-que-se-
assemelha-um-cerebro.html>. 2021a. Acesso em 10 set. 2022.
CEZARIO, B.; ALCANTARA, A. Flores - Phalaenopsis aphrodite:
saiba como cultivar a orquídea borboleta. Casa e Jardim. Disponível
em: <https://revistacasaejardim.globo.com/ Casa-e-Jardim/
Paisagismo/Plantas/Flores/noticia/ 2021/10/phalaenopsis-aphrodite-
saiba-como-cultivar-orquidea-borboleta.html>. 2021b. Acesso em 27
set. 2022.
CEZARIO, B.; ALCANTARA, A. Plantas - Flor-morcego: a planta
mais desejada por colecionadores de todo o mundo. Disponível em:
<https://revistacasaejardim.globo.com/Casa-e-Jardim/Paisagismo/
Plantas/noticia/2021/12/flor-morcego-planta-mais-desejada-por-
colecionadores-de-todo-o-mundo.html>. 2021c. Acesso em 28 set.
2022.
CHRISTENHUSZ, M. J. M.; BYNG, J. W. The number of known plants
species in the World and its annual increase. Phytotaxa, v. 261, n. 3, p.
201-217, 2016.
CHAPMAN, A. D. Numbers of living species in Australia and the
World. 2. ed. Camberra: Australian Government, 2009.
COELHO, L. B. N.; DA-SILVA, E. R. (eds.). II Mostra de Biologia
Cultural: o canto em flor. A Bruxa, v. 2, n. especial 2, 2018.
CORREARD, L. C. Aranhas! Disponível em: <https://edisciplinas.
usp.br/pluginfile.php/ 3321294/ mod_resource/content/1/Aranhas_
CORREARD.pdf. 2009>. Acesso em 27 set. 2022.
CROZARIOL, M. A. Que bruxaria é essa? A transformação de
mariposas em beija-flores nos relatos antigos sobre a fauna brasileira.
A Bruxa, v. 2, n. 4, p. 1-10, 2018.
DA-SILVA, E. R. Flores com nome de bicho, bichos com nome de flor.
In: COELHO, L. B. N.; DA-SILVA, E. R. (eds.). II Mostra de Biologia
Cultural: o canto em flor. A Bruxa, v. 2, n. especial 2, p. 50-51, 2018.

140
Práticas investigativas em Etnobotânica

DA-SILVA, E. R. As atividades de Zoologia Cultural no Laboratório de


Entomologia Urbana e Cultural. Informativo Notas do CCBS, v. 2, n.
2, p. 1-44, 2022a.
DA-SILVA, E. R. Há bichos em toda parte e essa é a essência da
Zoologia Cultural. Revista Conexão Literatura, n. 87, p. 24-27, 2022b.
DA-SILVA, E. R.; COELHO, L. B. N. Zoologia Cultural e sua aplicação
no ensino, na divulgação científica e na preservação da biodiversidade.
In: OLIVEIRA-JUNIOR, J. M. B.; CALVÃO, L. B. (eds.). Zoologia:
panorama atual e desafios futuros. Ponta Grossa: Editora Atena, 2022.
p. 15-26.
FORTUNA, J. L. Funga Cultural: micologia filatélica do Brasil e
utilização de selos no ensino. A Bruxa, v. 5, n. 3, p. 32-55, 2021.
FRANÇA, F. Sertões à flora: as espécies vegetais no massacre de
Belomonte. 2019. 125 f. Dissertação (Mestrado em Estudos Literários).
Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2019.
GOULART, F. O. As plantas carnívoras e cactos (Caryophyllales) em
Pokémon: um olhar a partir da Botânica Cultural. A Bruxa, v. 4, n. 6,
p. 13-22, 2020.
GOULD, S. J. Introdução. In: MARGULIS, L.; SCHWARTZ, K. V.
(eds.). Cinco reinos: um guia ilustrado dos filos da vida na Terra. 3. ed.
Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2001. p. 3-23.
GUEDES, O. Orquídea pato voador – Caleana major. Flores Blog.
Disponível em: <https://www.blog-flores.pt/flores-de-exterior/caleana-
major-orquidea-pato-voador/>. 2015. Acesso em 10 set. 2022.
GUEDES, O. Orquídea pomba (Peristeria elata) – Família
Orchidaceae. Flores Blog. Disponível em: <https://www.blog-flores.pt/
flores-de-interior/orquidea-pomba/>. 2020. Acesso em 20 set. 2022.
GUTIERREZ, E. La importancia cultural de las flores. Disponível
em: <https://www.linkedin.com/pulse/la-importancia-cultural-de-las-
flores-esmeralda-gutierrez-climent/?originalSubdomain=es>. 2020.
Acesso em 20 set. 2022.

141
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

KOSCHNITZKE, C. (ed.). Justicia brandegeeana. Museu Nacional -


Horto Botânico. Disponível em: <https://www.museunacional.ufrj.br/
hortobotanico/herbaceas/justicia.html>. 2016. Acesso em 10 set. 2022.
LEITE, P. Rosa-canina: o que é, benefícios e para que serve. Mundo
Boa Forma. Disponível em: <https://www.mundoboaforma.com.br/
rosa-canina-o-que-e-beneficios-e-para-que-serve/>. 2020. Acesso em
28 set. 2022.
MARINHO, L.; CAVALCANTE, A. V.; SPOLIDORO, M. Para não
dizer que não falei da luta: flores como símbolo de resistência, 38-39.
In: COELHO, L. B. N.; DA-SILVA, E. R. (eds.). II Mostra de Biologia
Cultural: o canto em flor. A Bruxa, v. 2, n. especial 2, p. 1-52, 2018.
MESSINA, T. Worsleya rayneri (Hook. F.) Traub & Moldenke.
CNCFLORA. Disponível em: <http://www.cncflora.jbrj.gov.br/portal/
pt-br/profile/Worsleya%20rayneri>. 2012. Acesso em 20 set. 2022.
O’HANLON, J. C.; LI, D.; NORMA-RASHID, Y. Coloration and
morphology of the orchid mantis Hymenopus coronatus (Mantodea:
Hymenopodidae). Journal of Orthoptera Research, v. 22, n. 1, p. 35-
44, 2013.
PAIXÃO, P. Os nomes portugueses das aves de todo o mundo:
projeto de nomenclatura. 2. ed. separata, n. 1, suplemento d’«A Folha»
n.º 66. Disponível em: <https://ec.europa.eu /translation/portuguese/
magazine/documents/folha66_separata1_pt.pdf>. 2021. Acesso em 20
set. 2022.
PARTRIDGE, J. Viola × bavarica: the pontual Dog-violet. BSBI News,
v. 106, p. 8-9, 2007.
PATRO, R. Flor-leopardo – Belamcanda chinensis. Jardineiro.net.
Disponível em: <https://www.jardineiro.net/plantas/flor-leopardo-
belamcanda-chinensis.html>. 2014a. Acesso em 10 set. 2022.
PATRO, R. Estrelítzia – Strelitzia reginae. Jardineiro.net. Disponível
em: <https://www.jardineiro.net/plantas/estrelitzia-strelitzia-reginae.
html>. 2014b. Acesso em 28 set. 2022.

142
Práticas investigativas em Etnobotânica

PATRO, R. Orquídea-garça – Pecteilis radiata. Jardineiro.net.


Disponível em: <https://www.jardineiro.net/plantas/orquidea-garca-
pecteilis-radiata.htm>. 2017a. Acesso em 28 set. 2022.
PATRO, R. Orquídea-macaco – Dracula sp. Jardineiro.net. Disponível
em: <https://www.jardineiro.net/plantas/orquidea-macaco-dracula-sp.
html>. 2017b. Acesso em 28 set. 2022.
PATRO, R. Flor-borboleta – Rotheca myricoides. Jardineiro.net.
Disponível em: <https://www.jardineiro.net/plantas/flor-borboleta-
rotheca-myricoides.html>. 2017c. Acesso em 10 set. 2022.
PESSOA, C.; ALMEIDA, R. F.; AMORIM, A. M. A. Heteropterys
in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Disponível em: <https://floradobrasil.jbrj. gov.br/FB30479>. Acesso em
28 set. 2022.
REBOUÇAS, N. C. et al. Flora do Ceará, Brasil: Aristolochiaceae s.s.
Rodriguésia, v. 71, e04012017, 2020.
REIS, M. Dente-de-leão: para que serve, como usar e efeitos colaterais.
Tua Saúde. Disponível em: <https://www.tuasaude.com/dente-de-
leao/>. 2022. Acesso em 20 set. 2022.
RODRÍGUEZ-MIRANDA, F. P.; LUÍS, M. A.; MONTEIRO, R.
Animais versus plantas e estudo do meio - Estudo comparativo de oito
manuais escolares de duas editoras portuguesas. Omnia, v. 2, p. 79-89,
2015.
SANCHEZ, M. Flor de lagarto (Orbea variegata). Jardinagem On.
Disponível em: <https://www.jardineriaon.com/pt/Orbea-Variegata.
html>. 2020. Acesso em 20 set. 2022.
SANTOS, J. Ornamentais: as orquídeas Prosthechea. Um jardim para
cuidar. Revista Jardins. Disponível em: <https://revistajardins.pt/
orquideas-prosthecheas/>. 2019. Acesso em 20 set. 2022.
SINIS, L. Orquídea tigre: como cultivar, curiosidades e fotos. Manual
de orquídea. Disponível em: <https://manualdeorquidea.com/
orquidea-tigre/>. 2022. Acesso em 20 set. 2022.

143
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

SODRÉ, R. F. Funerogâmicas: o uso de flores em rituais funerários,


In: COELHO, L.B.N.; DA-SILVA, E.R. (eds.). II Mostra de Biologia
Cultural: o canto em flor. A Bruxa, v. 2, n. especial 2, p. 34-35, 2018.
SOUZA, D. R. et al. Buquês que salvam vidas: as flores como base de
tratamentos médicos e culturais, In: COELHO, L.B.N.; DA-SILVA, E.R.
(eds.). II Mostra de Biologia Cultural: o canto em flor. A Bruxa, v. 2, n.
especial 2, p. 36-37, 2018.
STRAUBE, F. C. Uma reflexão sobre Nomes Vernáculos Técnicos
(NVTs): o que a Ornitologia pode ensinar? Sociedade Brasileira de
Zoologia – Blog. Disponível em: <http://sbzoologia.org.br/blog/71-
uma-reflexao-sobre-nomes-vernaculos-tecnicos-nvts-o-que-a-
ornitologia-pode-ensinar.php>. 2020. Acesso em 20 set. 2022.
SWENGEL, A. Habitat associations of sympatric violet-feeding
fritillaries (Euptoieta, Speyeria, Boloria) (Lepidoptera: Nymphalidae) in
Tallgrass Prairie. Great Lakes Entomologist, v. 30, n. 1, p. 1-18, 1997.
SZATMARI, P. M. Ophrys apifera (Orchidaceae) in Transylvanian
flora, Romania. Acta Horti Botanici Bucurestiensis, v. 43, p. 31-40,
2016.
URSI, S. Cegueira botânica: você sabe o que é? Site Botânica Online.
Disponível em: <http://botanicaonline.com.br/site/14/pg13.asp. 2018>.
Acesso em 15 set. 2022.
ZHANG, Z. Q. Animal biodiversity: an update of classification and
diversity in 2013. Zootaxa, v. 3703, n. 1, p. 5-11, 2013.

144
A LINGUAGEM CULTURAL DO CRISÂNTEMO

Luci Boa Nova Coelho

Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro;


[email protected]

Introdução

“Se você deseja ser feliz por toda a vida,


cultive crisântemos”.
Ditado popular chinês.

Nossa vida é sempre rodeada por símbolos que nos guiam em


determinados momentos. Desde a primeira infância desenvolvemos
nosso aprendizado através de símbolos. Mesmo que não tenhamos
consciência de sua presença, eles estão lá nos trazendo lembranças,
gerando emoções, influenciando em decisões.
Os símbolos podem ser pessoais e individuais ou ter
representatividade para um pequeno grupo, uma comunidade, um
povo, uma região geográfica. Podem, também, ser reais, imaginários ou
mesmo uma associação sequencial dos dois tipos. Dentre a infinidade
de referências que não sou capaz de listar, existem aquelas que possuem
simbologia própria e que, dependendo da sociedade em que esteja
inserida, podem sofrer variações na interpretação.
Talvez o símbolo mais democrático seja a flor, encantando a
todos com variedade de formas e cores. Qualquer ser humano,
independentemente de idade, gênero, origem, fé, classe ou condição
social, conhece pelo menos um tipo de flor e alguma simbologia ligada a
ela. Esse conhecimento nos acompanha como herança cultural, já que as
flores eram utilizadas, com grande importância, em eventos religiosos,
festivos, culturais e no convívio social desde as civilizações antigas.

145
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Como um exemplo, na Grécia Antiga, Gaia, a deusa da terra e da


fertilidade, presenteou Hera, em seu casamento com Zeus, com flores de
laranjeira como símbolo de amor eterno. Seguindo a mesma simbologia,
na Inglaterra, no século XIX, a rainha Vitória inovou, utilizando em seu
casamento uma grinalda com flores de laranjeira, ao invés de sua coroa,
influenciando noivas até os dias de hoje (KISNER, 2019; MOSQUERA,
2021).

1. Floriografia

Prática comum no Oriente Médio, a utilização de flores para


expressar sentimentos chegou à Europa, no século VIII, por diferentes
mãos. A inglesa Mary Wortley Montagu, após sua estadia na Turquia,
escreveu um manual sobre a codificação das flores em 1718. Já o Rei
Carlos II, da Espanha, levou a simbologia para seu país após uma
viagem à Pérsia (atual Irã). O escritor francês Aubry de La Mottraye,
dedicado ao estudo da codificação das flores na tradição persa, em 1727,
introduziu o costume na corte sueca, onde morou por algum tempo
(MOSQUERA, 2021).
Com a consolidação dessa introdução cultural na Europa, a França
foi pioneira, com o lançamento do livro “Le Langage des fleurs” (1819),
escrito por Charlotte de La Tour (pseudônimo usado pela aristocrata
francesa Mme. Louise Cortambert), para passar mensagens secretas,
já que, à época, conversas sobre temas amorosos eram consideradas
vulgares e, consequentemente, proibidas (EL FAR, 2022). Entretanto, a
simbologia das flores foi impulsionada durante a Era Vitoriana (1837-
1901) com “Language of flowers” (1884), de Kate Greenaway, surgindo
assim uma nova área do conhecimento, a Floriografia, e o crescente
interesse pela Botânica (KISNER, 2019; MOSQUERA, 2021; EL FAR,
2022). Esses dicionários de códigos passaram a ser utilizados como
estratégia de cortejo, formando mensagens amorosas correlacionando
a flor e sua cor específica com o sentimento ou recado a ser entendido,
sem ser falado. Arranjos de mesa, buquês, coroas, pequenos adornos
de vestuário, etc., eram cuidadosamente elaborados com a combinação

146
Práticas investigativas em Etnobotânica

perfeita de flores e cores para a comunicação em segredo de mensagens


amorosas, de rompimentos, de advertências e até mesmo de situações
ligadas à política (CASTILLO, 2018). O comportamento no ato da
entrega e do recebimento de flores agregava mais um código àquele das
flores. Se a flor ou buquê estivesse de cabeça para baixo, a mensagem
devia ser entendida com significado inverso, se a flor recebida fosse
colocada ao peito, significaria amor e, se colocada nos cabelos, seria um
sinal de cautela (PICKLES, 1995).
Através de publicações de pequenos dicionários, manuais,
almanaques e artigos em revistas, a Floriografia, ou a linguagem das
flores, tornou-se popular, se propagando pelos continentes. Com a
chegada dessa nova linguagem ao Brasil, no início do século XIX,
possivelmente com a Missão Artística Francesa, os códigos precisaram
passar por mudanças. A grande variedade de espécies nativas presentes
em nosso clima tropical não encontrava correspondência com aquelas
europeias codificadas (MOSQUERA, 2021), surgindo assim versões
nacionais adaptadas à cultura e aos nossos costumes populares.
Pickles (1995) faz uma associação simbólica tão poética quanto
realista sobre as flores silvestres, citando-as como “Cinderelas da
natureza”.

“[...] os viveiristas poderiam argumentar que elas são


menores, têm menos perfume e florescem por um período
mais curto do que as flores de jardim. No entanto, as flores
silvestres são essenciais para a homeopatia e a ciência
dos herboristas, combinações centenárias de botânica e
medicina, praticadas até hoje.” (PICKLES, 1995).

O mais antigo e diversificado dicionário brasileiro que tenho


em mãos é o “Diccionário das flores, folhas e fructas ou Manual dos
Namorados” (ANONYMOUS, 1889). Nele, como diz o título, flores,
folhas, frutas e também raízes, ervas, objetos e até gestos são utilizados
para envio de mensagens, principalmente amorosas. Como exemplo,
podemos imaginar uma troca de mensagens com envio de jaboticabas (=
Vem me ver), o qual é respondido com o recebimento de uma rosa azul
(= Hoje ou amanhã?) e o acerto do encontro é fechado com a chegada
de um ramo de erva-de-são-joão (= Hoje não, amanhã sim) às mãos

147
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

do solicitante. Ainda seria possível marcar o horário desse encontro


adicionando flores específicas para cada hora do dia, variando de 1 a
12 (Figura 1). A flor específica do horário teria que ser acompanhada
de um ramo de alecrim caso o encontro fosse diurno (p.ex., violetas e
alecrim = 10:00h), se o encontro fosse noturno, o ramo deveria ser de
manicão (p.ex., violetas e manjericão = 22:00h).

Figura 1 – Código de horários. Lista de horas do dia e sua flor correspondente.


Fonte: trecho extraído de Anonymous (1889).

Há também um curioso oráculo, onde, ao escolher uma dentre as


flores oferecidas em uma pequena lista, essa corresponderia à profissão
do futuro cônjuge (Figura 2).
Muitas flores em nosso Brasil possuem simbolismos comuns
e corriqueiros, mas há um exemplo de significado nobre, forte e que
provavelmente nunca será alterado ou substituído: a camélia.

148
Práticas investigativas em Etnobotânica

Camellia japonica (Linnaeus) (Ericales: Theaceae) tem origem


asiática, com cultivo tradicional e popular no Japão, Coreia e China.
Tornou-se protagonista do movimento abolicionista, sendo cultivada
no Quilombo do Leblon, conhecido como Floricultura do Seixas, na
cidade do Rio de Janeiro. Seixas, um imigrante português, ajudava os
escravizados fugitivos e os escondia em sua chácara do Leblon com a
cumplicidade dos principais abolicionistas da capital do Império e a
proteção da Princesa Isabel e do Imperador. Como escreve Silva (2003),
“um quilombo simbólico, feito para produzir objetos simbólicos”. As
camélias, tão raras no Brasil, como a sonhada liberdade, eram cultivadas
no Quilombo do Leblon e utilizadas adornando o lado esquerdo do
peito como código abolicionista. As camélias da abolição participaram
ativamente como símbolo do movimento político abolicionista (SILVA,
2003; EL FAR, 2022).

Figura 2 – Oráculo das flores e profissões. Fonte: Trecho extraído de


Anonymous (1889).

149
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

2. O crisântemo

O texto aqui apresentado se desenvolve abordando características,


história e simbologias atribuídas à inflorescência do crisântemo, também
conhecida como monsenhor. Todas as margaridas, margaridinhas,
gérberas, calêndulas, dálias, girassóis e crisântemos, entre outras,
pertencem à família das asteráceas (Asteraceae) ou compostas
(Compositae), da ordem Asterales.
Diferentemente do que estamos acostumados a ler ou falar, a
estrutura mais vistosa e colorida que normalmente é chamada de flor no
crisântemo, e em todas as asteráceas, é na verdade uma inflorescência
e não uma flor solitária, ou seja, uma reunião de pequenas flores
distribuídas em círculos (ou capítulos). No círculo mais externo, cada
uma das formas alongadas e coloridas, que popularmente chamamos de
pétalas, é na verdade uma flor feminina. A região mais interna, conhecida
como miolo da flor, é composta também por flores com estruturas muito
pequenininhas de exemplares masculinos e femininos, as flores do disco
(Figura 3). A quantidade de flores que compõem cada inflorescência
varia conforme a espécie. Tomando como exemplo a inflorescência do
girassol, podem existir mais de 8 mil flores (TEIXEIRA, 2004; ROQUE;
BAUTISTA, 2008; ZANDONADI, 2013).
O crisântemo amarelo, Chrysanthemum morifolium Ramat, é uma
planta com tradição milenar de cultivo nos países asiáticos. O nome
do gênero, Chrysanthemum L., deriva das palavras gregas chrysous, que
significa dourado ou amarelo (a cor da flor original), e anthemon, que
significa flor, e foi dado pelo médico, botânico, zoólogo e taxonomista
sueco Carlos Lineu, no século XVII.
A planta despertou interesse popular com aumento de seu plantio
e exemplares foram levados para o Japão no século V. Há registro de
seu cultivo na Europa em 1688, por um mercador holandês, mas
somente em 1789 efetivamente foi introduzida na França e, em 1790, na
Inglaterra. Os crisântemos foram levados aos Estados Unidos em 1764,
sendo introduzidos em outras regiões. Seu cultivo relativamente fácil e
avanços em pesquisas na área da Botânica, principalmente nos Estados
Unidos e na Alemanha, permitiram a produção de novas variedades por
meio de hibridização (ZONDONADI, 2013; GROSSI et al., 2019).

150
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figura 3 – Inflorescência de Asteraceae. Exemplo das flores que compõem a


inflorescência de um girassol. Baseado em: https://midia.atp.usp.br/impressos/
redefor/EnsinoBiologia/Botanica_2011_2012/Botanica_v2_08.pdf

Crisântemo é a designação comum de cerca de 100 espécies e 800


variedades com tamanho, folhas, flores e cores diferentes, fazendo com
que a distinção entre elas cause grande confusão. Atualmente, pela
complexidade do gênero, após passar por renomeação e reclassificação,
os cultivares de importância comercial encontrados pertencem ao novo
gênero Dendranthema (DC.) Des Moul, sendo a espécie D. grandiflora
Tzvelev. a mais consumida na forma de dúzias, maços, inflorescência
única ou envasadas (ADAMES, 1998; TEIXEIRA, 2004; TORMENA,
2016). Grossi e colaboradores (2019) apresentam imagens elucidativas
das variedades comerciais, o que torna o artigo, na minha opinião, um
excelente manual de consulta.

3. Representatividade, lendas e símbolos

Na China, onde tem sua origem e é cultivada desde há mais de 2.500


anos, o crisântemo é a “flor” do mês de outubro. Considerada sagrada,
por muito tempo apenas os nobres podiam cultivá-la, como também
acontecia com o bambu, a ameixeira e a orquídea (as quatro plantas da
nobreza) (BARBOSA et al., 2019).

151
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

De acordo com o taoismo, o crisântemo é um símbolo de


simplicidade e perfeição e, como a floração é típica do outono, também
significa tranquilidade e é visto como um mediador entre o céu e a terra,
a vida e a morte (FLORAWEB, 2018).
Na China antiga toda a planta era considerada de uso medicinal,
onde raízes eram cozidas e usadas como remédio para dores, as “pétalas”
usadas como alimento, especialmente em saladas, e as folhas eram
usadas no preparo de bebidas e algo como um chá cerimonial (Figura 4)
(TORMENTA, 2016; SHIMADA, 2020).
Como flor oficial no Japão, o crisântemo branco é considerado a
flor da juventude eterna e longevidade, com poderes místicos de afastar
os maus espíritos (SHIMADA, 2020). O tatuador Toshio Shimada
exemplifica a devoção e crença, relatando a fala de antigo ditado japonês,
expressa por uma pessoa tatuada com crisântemos: “Mesmo se eu morrer
sozinho, este corpo estará junto com crisântemo deixando este mundo de
uma forma bonita mantendo o meu espírito sempre vivo.”

Figura 4 – Chá de crisântemo. Fonte: Chrysanthemun tea by Taman Renyah


under License Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 Unported, 2011.

No Japão, é a “flor” de setembro, sendo que os primeiros crisântemos


chegaram vindos da China. Há uma lenda sobre como aconteceu sua
introdução no país e confirmando a crença mística.

152
Práticas investigativas em Etnobotânica

“Doze donzelas e doze rapazes partiram da China à procura


da planta da juventude, pois só ela poderia conferir a
virtude de se viver jovem para sempre. Com o propósito de
realizarem troca por essa planta, levaram com eles alguns
cestos cheios de crisântemos. Para mal dos seus pecados, o
barco naufragou ao largo de uma ilha deserta onde tiveram
de chegar a nado. Plantaram aí os crisântemos, e a flor foi
assim introduzida no Japão.” (KITE, 2017).

Três séculos depois, passou a ser o símbolo da família imperial


japonesa, sendo o crisântemo de 16 pétalas (chamado de Kiku) um dos
mais importantes símbolos do Japão.
A lenda japonesa “Dama Branca e Dama Amarela” talvez explique
como o crisântemo passou a símbolo imperial (Figura 5).

“A lenda conta que, em tempos idos, cresciam lado a lado


em uma campina um crisântemo branco e outro amarelo.
Eram, na verdade, “duas” crisântemos praticamente irmãs
de tão amigas. Passavam o dia conversando e apreciando a
bela paisagem da planície onde nasceram.
Certo dia, um velho jardineiro as viu e se apaixonou
pela Dama Amarela. O velho disse que se a flor quisesse
acompanhá-lo, ele a faria mais bela do que já era. O
jardineiro ainda argumentou que lhe daria comida delicada
e lindas roupas. A Dama Amarela sentiu-se tão atraída pelo
que o velho jardineiro lhe prometia que se esqueceu de sua
irmã branca, consentindo em ser desenterrada e carregada
nos braços para ser plantada no jardim de seu dono.
Depois que a Dama Amarela partiu, a Dama Branca chorou
amargamente. Sua beleza singela havia sido desprezada
e, pior que isso, viu-se forçada a permanecer sozinha
no campo, sem ter mais a irmã, a quem era devotada a
conversar.
Dia após dia mais bela ficava a Dama Amarela no jardim
de seu senhor. Ninguém reconheceria agora a simples flor
amarela do campo. Porém, embora suas pétalas fossem
longas e curvas, e suas folhas limpas e tão bem cuidadas,
ela às vezes se lembrava de sua irmã branca que ficou
sozinha na campina e imaginava o que estaria fazendo para
que suas longas e solitárias horas passassem.
Certo dia, um capitão do vilarejo foi ao jardim do velho

153
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

jardineiro à procura de um crisântemo perfeito para ser


desenhado no elmo de seu senhor. Informou que não
desejava um belo crisântemo com muitas e longas pétalas.
Queria um simples crisântemo branco de dezesseis pétalas.
O velho jardineiro mostrou ao capitão a Dama Amarela,
mas ele não gostou da flor e agradeceu, partindo em
seguida.
No caminho de casa, atravessou um campo onde viu a
Dama Branca chorando. Ela contou a triste história de
sua solidão ao capitão. Então ele contou que havia visto
a Dama Amarela e disse-lhe que ela não era nem metade
tão bela quanto à branca flor que tinha diante dos olhos.
Ante essas palavras animadoras, a Dama Branca parou de
chorar e quase arrancou seus pezinhos ao pular de alegria
quando esse bom homem afirmou que a queria para o
elmo de seu senhor.
No instante seguinte a Dama Branca, felicíssima, estava
sendo transportada em um palanquim. Ao chegar
no palácio do Daimyo, todos elogiaram, sinceramente,
sua admirável perfeição de forma. Por conta de sua beleza
singela, a Dama Branca foi modelo para os grandes artistas
contratados pelo Daimyo. Eles vieram de longe e de perto,
sentaram-se junto dela e a esboçaram com admirável
perícia.
Depois de ser retratada por todos os ângulos, ela não
precisou mais de espelho para se mirar, pois havia sua bela
face branca presente em todos os mais preciosos bens do
Daimyo. A Dama Branca, além de figurar na armadura
do Daimyo, bem como em todo equipamento de guerra
de seus guerreiros, também foi retratada em seus estojos de
laca e de prata, em seus travesseiros, colchas e mantos, até
mesmo em vasos de porcelana, tapetes e em todas a mobília
do castelo. Olhando para cima, podia ver o rosto da Dama
Branca entalhado em grandes painéis. Foi pintada de todas
as maneiras possíveis, até boiando sobre a correnteza.
Enquanto a face feliz da Dama Branca era perpetuada nos
bens do Daimyo, a face da Dama Amarela só transpirava
tristeza. Havia florescido por si, sozinha, e sorvido os
elogios dos visitantes com a mesma avidez com que bebia
o orvalho sobre suas pétalas primorosamente curvas. No
entanto, em certo dia, ela sentiu uma rigidez nos membros
e percebeu o fim da exuberância de sua existência. A antiga

154
Práticas investigativas em Etnobotânica

cabeça amarela, outrora orgulhosa, pendeu para o lado e,


quando o velho jardineiro a viu, arrancou-a do canteiro e a
jogou em um amontoado de lixo.” (ROSA, 2017).

Outra lenda atribui ao crisântemo o simbolismo do valor moral da


honestidade:

“Durante o século III (Período Yamato) foi necessária


a escolha da noiva do filho do Imperador, e tal moça
deveria ter sua idoneidade e lealdade à família imperial
comprovadas. O Imperador, cercado por seus conselheiros,
anunciou um decreto convocando as pretendentes de todo
o reino. Um teste seria feito.
A filha de uma cozinheira do palácio ficou sabendo da
audiência e, com felicidade, disse à mãe que queria se
apresentar. A pobre cozinheira ficou desesperada, pois o
decreto era destinado as jovens de nobre linhagem.
— Sei o quanto gosta do jovem príncipe, mas sabe que é
inconcebível casar-se com ele, pois você é filha de simples
serviçais da corte.
— Sei disso minha mãe. Estou ciente de meu destino. Sei
que jamais poderei ser uma princesa, porém, sempre sonhei
em trocar esses trapos por um rico traje e me apresentar ao
lado do meu amado no salão principal. Essa é minha única
chance, por favor, mãe, ajude-me a realizar essa fantasia e
prometo que deixarei de alimentar esse amor inatingível.
Depois que for escolhida a esposa do príncipe, juro que
vou trabalhar junto com a senhora na cozinha e nunca
mais tocaremos nesse assunto.
A cozinheira, tocada pelo sincero e impossível amor de sua
filha, resolveu ajudá-la. Nessa época, havia um importante
funcionário da corte, chamado por todos de Debu-san
(Senhor Obeso), que era o encarregado pelos cerimoniais
do palácio e que diariamente visitava a cozinha para beliscar
as iguarias. Durante uma visita rotineira, a cozinheira
conseguiu que Debu-san emprestasse um traje apropriado
para sua filha e a promessa de que a ajudaria a se misturar
entre as jovens nobres no dia da audiência. Em troca desse
favor, prepararia todos os dias, um delicioso prato especial
para o guloso Debu-san. E assim, foi selado o acordo.

155
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Chegado o dia da audiência, trajada com rica vestimenta,


a jovem serva dirigiu-se para o grande salão, onde já se
encontravam as mais lindas e nobres filhas vindas das mais
distantes províncias de todo Japão. Cada uma ansiosa para
ser escolhida como a futura esposa imperial.
Quando o belo e jovem herdeiro adentrou ao salão
seguindo o Imperador, o coração da filha da cozinheira
disparou de emoção. Havia muitas princesas na audiência,
mas, após avistar a encantadora menina, sem saber de sua
real condição de serva, o príncipe sentou-se bem próximo
dela, o que a deixou imensamente feliz. Até que, o porta-
voz do imperador anunciou:
— Sua Majestade, o Imperador de Yamato, mandou
distribuir para cada uma das jovens pretendentes uma
semente de crisântemo e um vaso. A partir desta data,
exatamente em um ano, deverão retornar aqui com os
vasos plantados. Aquela que trouxer a mais bela e vigorosa
flor será escolhida esposa do príncipe herdeiro.
Logo na manhã seguinte, a jovem encheu o vaso de terra e
tratou de plantar a sua semente com muito carinho. E, dia
após dia, passou a regar e cuidar do vaso, aguardando que a
planta retribuísse florindo na mesma extensão do seu amor.
No entanto, o tempo foi passando e a semente teimando
em não brotar. Desesperada, a pobre menina procurou
entre os camponeses por jardineiros experientes, pedindo-
lhes conselhos. Mesmo com ensinamentos recebidos, não
obteve resultado. Por fim, os meses se passaram e nada
cresceu. Até que o tempo se esgotou.
No dia marcado, apesar do seu insucesso, seguiu com
seu desnutrido vaso, acreditando que seria sua última
oportunidade de estar ao lado de seu amado. Todas as
nobres pretendentes se apresentaram com seus floridos
vasos de crisântemos à espera do resultado.
A noiva escolhida, para surpresa de todos os presentes, foi a
filha da criada. Um burburinho em protesto explodiu pelos
salões do castelo. Todos inconformados com a escolha:
como assim, magníficos e floridos vasos preteridos ao
desnudo vaso rival?
E, assim, foi explicado o raciocínio por trás do desafio:
Todas as sementes entregues eram estéreis, portanto,
nada ali poderia ser fecundado. A eleita, entre todas as

156
Práticas investigativas em Etnobotânica

jovens, era a única mulher capaz de tornar-se sua futura


Imperatriz, pois cultivou a mais rara de todas as flores: a
flor da honestidade.” (CAÇADORES DE LENDAS, 2020).

Kiku passou a ser a Flor Nacional do Japão acompanhando sua


história até os dias de hoje. Trazidas da China por monges budistas em
400 d.C., encantaram o Imperador pela delicada beleza. Em 910 d.C. o
Imperador adotou o crisântemo como seu selo oficial e brasão da família
imperial. Como uma flor dourada com 16 pétalas que irradiam do
centro semelhante às chamas do sol, passou a adornar o trono imperial,
o Trono do Crisântemo (Figura 6). A maior homenagem que se pode
prestar a um japonês é condecorá-lo com a Ordem do Crisântemo
(Figura 7).
A representação do crisântemo nas bandeiras também acompanha a
história do Japão. Existe uma lenda específica que conta sobre um monge
budista que, no século XIII, teria oferecido ao imperador o Estandarte do
Sol (Hinomaru), de fundo branco com um círculo carmesim ao centro
(Figura 8), por acreditar que o líder era descendente de Amaterasu, a
deusa do sol. Embora associada ao sol, sua esfera está relacionada ao
crisântemo sem as “pétalas”, restando apenas o coração (o disco central)
do crisântemo.
Em meados do século XVII, o imperador decidiu usar um crisântemo
dourado central em fundo carmesim como bandeira imperial (Figura 9)
e também o usou para decorar sua katana. A partir desse ato, variados
padrões com desenhos de crisântemos foram criados e utilizados por
parte da nobreza, mas os crisântemos de 16 pétalas só eram usados pela
família imperial. O símbolo imperial também é usado no Congresso, no
Departamento de Polícia e em santuários, além de estampar passaportes
e a moeda de 50 ienes.
Em 1889 surgiu a necessidade da adoção de uma bandeira
nacional e, como a Hinomaru foi julgada não adequada, o desenho
do “Crisântemo de 16 pétalas” foi adaptado e representado na nova
bandeira. Essa, chamada a bandeira do sol nascente, Kyokujitsuki, que
muitos acreditam ilustrar os raios solares, faz alusão ao crisântemo de
16 pétalas (Figura 10).
A Kyokujitsuki foi usada pelo exército imperial até o final da
Segunda Guerra Mundial, em 1945, e a Hinomaru era usada apenas

157
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

como amuleto de sorte. Com o Tratado de São Francisco (1951) a


Kyokujitsuki foi banida e, em 1954, passou a ser usada pela Força de
Autodefesa Naval e considerada, por alguns, como a suástica nazista
é para os judeus, representando as batalhas sangrentas e símbolo da
tirania japonesa imperial. Assim, Hinomaru retomou seu lugar de
símbolo nacional.

Figura 5 – Ilustração da lenda “Dama branca e dama amarela”. Criação da


autora (COELHO, 2018).

158
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figura 6 – Trono do Crisântemo. Fonte: Imperial Throne Emperor of Japan


by Artanisen under License Creative Commons Attribution-Share Alike 4.0
International, 2019.

Figura 7 – Ordem do Crisântemo. Fonte: Order of the Chrysanthemum Japan by


Musée de la Légion d’Honneur under License Creative Commons Attribution-
Share Alike 3.0 Unported, 2008

159
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Figura 8 – Bandeira Imperial do Japão. Fonte: by Zscout370 [domínio público].

Figura 9 – Hinomaru, o Estandarte do Sol. Fonte: Wikimedia Commons


[domínio público].

160
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figura 10 – Kyokujitsuki, a Bandeira do Sol Nascente. Fonte: by Denelson83


[CC BY-SA 3.0].

Existem eventos tradicionais, específicos em comemoração aos


crisântemos. O Dia Nacional do Crisântemo é comemorado desde 910
a.C., sendo conhecido como Festival da Felicidade, acontecendo todo
ano no nono dia do nono mês. Nesse dia, a gastronomia se dedica a essas
flores que são consumidas na forma de chá, sopa, em sashimi e outras
iguarias finas. Há uma tradição em se colocar o crisântemo em um copo
de vinho para trazer felicidade, prosperidade, otimismo, longevidade e
saúde.
Outro evento que ocorre em várias cidades do Japão são os
Festivais de Crisântemos (Figura 11). As datas dos festivais variam para
cada local, mas acontecem sempre durante o outono. Um dos mais
famosos apresenta como atração bonecos completamente “vestidos”
por crisântemos em um imenso jardim decorado exclusivamente pelas
flores (KAWANAMI, 2013).

161
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Figura 11 – Atração do Festival do Crisântemo no Japão. Bonecos vestidos de


crisântemos. Fonte: Kawanami (2013).

No Brasil do século XIX, na capital Imperial, El Far (2022) relata ter


encontrado, em sua pesquisa sobre a linguagem das flores, a existência
de publicações francesas, portuguesas e brasileiras. A autora destacou
a presença, nas livrarias, do “Dicionário do bom gosto ou a linguagem
das flores” (livraria Laemmert & C.), de 1840, e o “Dicionário das flores,
folhas, frutas e objetos mais usuais” (livraria Garnier), possivelmente
de 1864, o qual é provável ter alcançado maior sucesso tendo passado
por pelo menos mais cinco edições. Diferentemente das publicações
francesas, que, de forma geral, trataram do tema como linguagem das
flores onde, além dos nomes das flores e seus significados, traziam
explicações de forma romanceada, as brasileiras eram mais objetivas,
sem relatos adicionais, exatamente como os dicionários que conhecemos
atualmente. Assim, por suas listagens alfabéticas e rápidas respostas, os
dicionários sobre flores proliferaram no Rio de Janeiro.

162
Práticas investigativas em Etnobotânica

El Far (2022) disponibiliza parte do “Dicionário do bom gosto”, o


que nos possibilita fazer a comparação com o “Diccionário de flores,
folhas e fructos ou Manual dos Namorados” (ANONYMOUS, 1889).
Nos dois dicionários existe apenas referência à planta como monsenhor,
não havendo diferenças quanto a sua simbologia.
Na Figura 12 é possível verificar o que nos dizem Greenaway (1884) e
a publicação de Anonymous (1889) sobre a simbologia para os diferentes
tipos de crisântemo e seu sinônimo, monsenhor. Greenaway utiliza
o nome genérico Chrysanthemum associado a uma tipologia popular
para separar as variedades da flor e, assim, relacionar o significado de
cada uma: Chrysanthemum chinês, alegria na diversidade; C. vermelho,
amor; C. branco, verdade ou sinceridade; C. amarelo, amor desprezado.
Para Anonymous (op. cit.), a flor é tratada como monsenhor, seu
nome popular, e com suas variedades separadas por cor e estado de
desenvolvimento: monsenhor em botão, desejo de gozar; monsenhor
branco, não quero mais amar; monsenhor cor-de-rosa, não é para ti;
monsenhor roxo, perigo.
Os códigos florais não são encontrados apenas em dicionários,
manuais ou artigos que tratam exclusivamente do assunto. A Bíblia
está repleta de simbolismos ligados às flores, como em “Olhai os lírios
do campo [...]”. A linguagem das flores ou floriografia foi utilizada por
Springer (2006) de forma muito apropriada na literatura de ficção/
mistério, explorando os códigos no desenrolar da trama. Em seu livro
“Os mistérios de Enola Holmes: o caso do marquês desaparecido”
(Figura 13), o qual deu origem ao longa-metragem, de mesmo nome,
da Netflix em 2020 (Figura 14), a mãe de Enola, irmã mais nova de
Sherlock Holmes, desaparece em plena Era Vitoriana. Enola, tentando
desvendar o caso, passa a decifrar estranhas mensagens codificadas
deixadas pela mãe. Ao resolver parcialmente uma das mensagens, a
menina percebe uma relação com os crisântemos que a mãe cultivava
no jardim. Tentando entender o uso das flores na mensagem, passou a
consultar o livro “O significado das flores”, que havia ganhado da mãe.
Nele, encontrou mais uma parte do enigma que procurava: “Ganhar um
crisântemo indica ligação familiar e, portanto, afeição”.

163
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Figura 12 – Imagens de páginas das obras de (A) Greenaway (1884) e de (B)


Anonymous (1889) que tratam da simbologia do crisântemo: Chrysanthemum
ou monsenhor. Fonte: acervo pessoal da autora.

Tanto no livro como no filme, a simbologia de várias plantas é


explorada em pistas, para a solução do caso. A presença de crisântemos
na imagem de capa do livro da edição de 2020, que é idêntica ao pôster de
divulgação do filme, já anuncia a importância das flores para solucionar
os mistérios (Figura 14).
Para nós, o crisântemo é a flor do mês de novembro, quando se
reverencia os mortos. No Dia de Finados, e mesmo em velórios, é
costume fazer homenagem aos entes queridos com buquês e, em especial,
com coroa de flores como sinônimo de respeito e admiração. Assim, o
crisântemo, popularmente conhecido como monsenhor, é associado à
essa data significando a simplicidade, vida eterna, sinceridade, perfeição
ou vida completa (PLANICIE, 2019). Porém, o contexto simbólico se

164
Práticas investigativas em Etnobotânica

estende ao otimismo e à felicidade, quando utilizado na composição


de buquês para presente, para enfeitar residências e eventos festivos
(Figura 15).

Continuação Figura 12.

165
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Figura 13 – Capa do livro “Os mistérios de Enola Holmes: o caso do marquês


desaparecido” (SPRINGER, 2006). Fonte: acervo da autora.

Figura 14 – Pôster de divulgação do filme (2021) e da capa do livro (2020)


“Os mistérios de Enola Holmes: o caso do marquês desaparecido”. Imagem

166
Práticas investigativas em Etnobotânica

modificada, evidenciando a presença dos crisântemos. Fonte: Imagens Google.

Figura 15 – Buque com variações de formas e cores do crisântemo. Fonte: https://


www.pexels.com/es-es/foto/hombre-mano-romantico-amarillo-4466545/

Escrevendo sobre o tema, lembro-me de ocorrências curiosas e, por


vezes, preocupantes. Desde sempre vi pessoas falarem sobre crisântemos
em floriculturas, feiras, armazéns de abastecimento, geralmente para
aquisição das flores de corte em amarrados, buquês ou outras formas
ornamentais. O intrigante do fato é que, quando a finalidade era a
de compor uma coroa ou ornamentar uma sala de velório, a flor era
referenciada como monsenhor ou “aquela flor de defunto”. Mas a
mesma flor, quando para utilização em eventos matrimoniais, festas de
aniversário ou compondo buquês para presentes em datas festivas, era
tratada como crisântemo. Penso que seria curioso se, em uma festa de
aniversário de 15 anos com arranjos de mesa compostos por astromélias,
margaridinhas e crisântemos, alguém observasse a presença da “flor de
defunto” no lugar de suntuoso “Chrysanthemum”.

4. Importância econômica e social

A produção de flores e plantas ornamentais como forma de


comercialização foi implementada no Brasil por volta da década de

167
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

1930, através de imigrantes japoneses que se estabeleceram na região


da capital paulista conhecida como cinturão verde (SMORIGO, 1997).
No início da década de 1990 passou por uma grande expansão, devido
à abertura de mercado e aumento do interesse das pessoas por esses
produtos, valorizando o comportamento ecologicamente correto
(ADAMES, 1998; BRITO et al., 2005).
O cultivo dos crisântemos está em constante crescimento, inclusive
no mercado brasileiro. A boa aceitação do crisântemo de corte deve-
se à grande diversidade de formas, tamanhos e cores existentes (Figura
16), bem como à facilidade de produção o ano inteiro e à sua excelente
durabilidade após o corte. Por seu cultivo ter um ciclo de produção curto
(em torno de três meses), e necessitando de pequena extensão de terra
para plantio, tornou-se uma atividade agrícola rentável, tendo rápido
retorno do capital investido. Além disso, a floricultura tem se destacado
como grande geradora de empregos e fortalecendo a agricultura familiar
em pequenas propriedades com aumento da renda da população do
campo, podendo, assim, diminuir o êxodo rural. Para um resultado
mais efetivo nesse sentido, faz-se necessária uma maior divulgação
da atividade, bem como políticas públicas eficientes que impulsionem
a comercialização nos mercados interno e externo (TEIXEIRA, 2004;
ZANDONADI, 2013; SPADETO 2016).

Figura 16 – Algumas das variedades de cores em crisântemos. Fonte: https://

168
Práticas investigativas em Etnobotânica

www.sementerara.com.br/
Este texto foi elaborado a partir da pesquisa realizada para
apresentação na II Mostra de Biologia Cultural, cujo tema “O canto em
flor” foi proposto aos autores. O resumo intitulado “Dama Branca e
Dama Amarela” ... E a Dama Carmesim (COELHO, 2018), assim como
todos os resumos e imagens dos respectivos pôsteres apresentados,
encontram-se no livro do evento, publicado como edição especial da
revista “A Bruxa”. Cabe explicar que o tema da Mostra faz alusão ao
local, Canto das Flores, situado na Fundição Progresso, Rio de Janeiro,
RJ, onde ocorreu o evento.

Agradecimentos

Agradeço ao Prof. Eraldo Medeiros Costa Neto pelo convite para


participar deste coletivo sobre Botânica Cultural que, pra mim, foi
muito estimulante e gratificante.
Agradeço ao meu marido, Prof. Elidiomar Ribeiro Da-Silva, por,
mesmo às vésperas da Libertadores (= jogo do Flamengo), revisar o
texto, colocando e tirando vírgulas loucas. A ele também agradeço pelo
esforço de mergulhar em nossa biblioteca caótica, para encontrar um
livro (que ele mesmo me presenteou no século passado), o qual eu já
tinha dado como desaparecido.

Referências

ADAMES, A. H. Metodologia in vivo e in vitro na mutagênese de


crisântemo (Dendranthema grandiflora Tzvelev) com o uso de raios-
gama e metanossulfonato de etila (SEM) visando o melhoramento.
1998. 129 f. Dissertação. Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1998.

169
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

ANONYMOUS. Diccionario das flores, folhas e fructas ou manual


dos namorados. Nova edição. São Paulo: Teixeira & Irmão Editores,
1889.
BARBOSA, J. G.; GROSSI, J. A. S.; BORÉM, A. (eds.). Crisântemo: do
plantio à colheita. Viçosa: UFV, CEAD, 2019. (Conhecimento, n. 39).
BRITO, A. R. B. et al. A comercialização do crisântemo de corte e em
vaso: um estudo de caso para a região metropolitana de Fortaleza e
Maciço de Baturité. Economia e Desenvolvimento, v. 4, n. 2, p. 177-
220, 2005.
CAÇADORES DE LENDAS. A lenda japonesa da flor da
honestidade. Disponível em: <https://cacadoresdelendas.com.br/
japao/a-lenda-japonesa-da-flor-da-honestidade/>. 2020. Acesso em: 15
set. 2022.
CASTILLO, V. Floriografia, a linguagem das flores. Disponível em:
<https://pt.babbel.com /pt/magazine/floriografia-a-linguagem-das-
flores/>. 2018. Acesso em: 15 set. 2022.
COELHO, L. B. N. “Dama Branca e Dama Amarela” ... E a Dama
Carmesim. In: COELHO, L. B. N.; DA-SILVA, E. R. (eds.). II Mostra de
Biologia Cultural: o canto em flor. A Bruxa, v. 2, n. especial 2, p. 10-11,
2018.
EL FAR, A. A linguagem sentimental das flores e o namoro às
escondidas no Rio de Janeiro do século XIX. Rio Claro: Unesp, 2022.
FLORAWEB. Crisântemo: flor da alegria e da saúde! Disponível
em: <https://blog.floraweb. com.br/crisantemo-flor-da-alegria-e-da-
saude>. 2018. Acesso em: 27 set. 2022.
GREENAWAY, K. Language of flowers. Londres: George Routledge
and Sons, 1884.
GROSSI, J. A. S.; PAULA, C. C.; BARBOSA, J. G. Botânica, variedade
e mercado. In: BARBOSA, J. G.; GROSSI, J. A. S.; BORÉM, A. (eds.).
Crisântemo: do plantio à colheita. Viçosa: UFV, CEAD, 2019. p. 7-20.

170
Práticas investigativas em Etnobotânica

KAWANAMI, S. Significado do crisântemo para o povo japonês.


Japão em Foco. Disponível em: <https://www.japaoemfoco.com/
significado-do-crisantemo-para-o-povo-japones/#:~:text=O%20
cris%C3%A2ntemo%2C%20chamada%20de%20
Kiku,cris%C3%A2ntemo%20tem%20um%20significado%20especial>.
2013. Acesso em: 27 set. 2022.
KISNER, P. A linguagem das flores na Era Vitoriana. Disponível em:
<https://amodistadodesterro.com/linguagem-da-flores/>. 2019. Acesso
em: 23 set. 2022.
KITE, P. Chrysanthemun stories. What’s happening’s Tri-City Voice,
v. 15, n. 37, p. 18, 2017.
LA TOUR, C. Le Langage des fleurs. Paris: Audot, 1819
MOSQUERA, A. O que dizem as flores. Gama Revista. Disponível em:
<https://gamarevista.uol.com.br/semana/e-tempo-de-renovar/flores-
simbologia-linguagem/>. 2021. Acesso em: 23 set. 2022.
PICKLES, S. A linguagem das flores silvestres. São Paulo: Cia
Melhoramentos, 1995.
PLANÍCIE - Plano de Assistência Social. Qual o significado de cada
flor na coroa de flores? Planície. Disponível em: <https://planicie.com.
br/blog/significado-de-cada-flor-na-coroa-de-flores/>. 2019. Acesso
em: 30 set. 2022.
ROQUE, N.; BAUTISTA, H. Asteraceae: caracterização e morfologia
floral. Salvador: EDUFBA, 2008.
ROSA, M. Lenda japonesa: dama branca e dama amarela. Mitos e
Lendas. Disponível em: <https://mundo-nipo.com/cultura-japonesa/
mitos-e-lendas/09/04/2017/lenda-japonesa-dama-branca-e-dama-
amarela/>. 2017. Acesso em: 04 set. 2022.
SHIMADA, T. Crisântemo: as flores que simbolizam a eternidade e
imortalidade (longevidade). Disponível em: <https://toshioshimada.
com/2020/08/05/crisantemo-as-flores-que-simboliza-a-eternidade-
imortalidade-longevidade/>. 2020. Acesso em: 05 out. 2022.

171
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

SILVA, E. As camélias do Leblon e a abolição da escravatura: uma


investigação de história cultural. São Paulo: Companhia das Letras,
2003.
SMORIGO, J. N. Análise da eficiência dos sistemas de distribuição
de flores e plantas ornamentais no estado de São Paulo. 2000. 132 f.
Dissertação (Mestrado em Ciências). Escola Superior de Agricultura
“Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2000.
SPADETO, M. F. Desenvolvimento e produção de crisântemo
submetido a diferentes níveis de déficit hídrico no solo. 2016. 60
f. Dissertação (Produção Vegetal). Universidade Federal do Espírito
Santo, Vitória, 2016.
TEIXEIRA, A. J. A agricultura do crisântemo de corte. Nova
Friburgo: EMATER-RIO, 2004.
TORMENA, C. Algumas curiosidades sobre as flores. Disponível
em: <https://orixaessenciadivina.wordpress.com/2016/01/20/algumas-
curiosidades-sobre-as-flores/>. 2016. Acesso em: 29 out. 2022.
ZANDONADI, A. S. Cultivo de variedades de crisântemo de corte
sob diferentes períodos de dias longos. 2013. 42 f. Dissertação
(Fitotecnia). Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2013.

172
VIVENCIANDO O SUTIL MUNDO VEGETAL:
DESCOBERTAS QUE MUDAM VIDAS1

Lúcia Helena dos Santos

Pousada Orgânica Jardim do Éden, Chapada dos Veadeiros.


Rua Buritis, 244, Centro, 73.770-000, Alto Paraíso – GO;
[email protected]

1. Pensamentos e sentimentos: Arco e Flecha

Vivemos imersos no mar de pensamentos de toda a humanidade


– o chamado “pensamento massa”. A maior parte do tempo, você capta
estes pensamentos, aceita-os, dá-lhes força (nutrindo-os com seus
sentimentos) e os envia adiante. A partir daí, torna-se responsável
por eles, pois contribuiu para melhorar ou piorar a qualidade do
“pensamento massa”.
É um erro acreditar que os pensamentos sejam invisíveis e que se
desfazem no infinito. O que você pensa fica registrado em seu corpo
físico, nos móveis, nas paredes da casa, na atmosfera do seu mundo, nos
relacionamentos e nos trabalhos que produz.
Você é, agora, o resultado do que pensou até hoje.
Diz um provérbio milenar: “Junte Amor no pão que amassar;
embrulhe Força e Coragem no pacote que amarrar para a mulher de
rosto cansado; entregue Confiança no dinheiro que vai pagar ao homem
de olhos desconfiados”.
Os maus pensamentos e sentimentos causam danos, tanto para o
pensador como para os outros, sendo fonte de muitas doenças.

1 Textos extraídos do blog Eco Pousada Jardim do Éden, disponível em: http://www.
pousadajardimdoeden.com.br

173
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Anteriormente, só as doenças psíquicas eram ligadas a pensamentos


e sentimentos imperfeitos, mas já é tempo de discernir que variadas
doenças físicas nasceram de pensamentos e sentimentos descontrolados.
Não só as do coração! Muitas de estômago e pele são consequências de
pensamentos e sentimentos destrutivos.
Cada mau pensamento e sentimento nos distancia do nosso Sol
Espiritual, o Cristo, a fonte da nossa vida e imunidade. Quando nos
afastamos de Deus, nos tornamos campos férteis para todo tipo de
doença.
O que torna um ser humano mais desenvolvido que outro é que
um deles controla melhor seus pensamentos e sentimentos e os usa
conscientemente.
Para você adquirir esse controle, o primeiro passo é estabelecer
o observador de si mesmo. Esse vigilante silencioso logo ajudará a
discernir entre seus bons e maus pensamentos.
Você descobrirá que a saúde, a convivência e tudo que nos cerca
resulta da qualidade dos nossos pensamentos e sentimentos. Só então
pode deixar o papel de vítima e assumir a consciência de ser o Criador
Responsável.
Esse observador pode ser visualizado, a princípio, como um olho
dentro da cabeça (o terceiro olho), sentindo-o como o Olho Onividente,
a Vista de Deus em si, o Pensador Perfeito.
A mente é semelhante a um aparelho de rádio e podemos selecionar
as emissoras, ou seja, os tipos de pensamentos que desejamos captar.
Escolhamos então a melhor emissora! A Mente de Deus!
Os grandes mestres da música, da pintura, da literatura, os maiores
pensadores foram apenas pessoas que ousaram aspirar por uma perfeita
sintonia com a Mente de Deus. Realizaram então obras que contribuíram
e contribuem para a evolução da humanidade.
O pensamento é a flecha. O sentimento, o arco que a impulsiona.
Sejamos arqueiros conscientes e, com toda concentração, miremos o
único alvo de valor: a Mente de Deus.
Todas as formas velam um atributo, uma mensagem, um ensinamento.
O jasmim-do-cabo ou Gardenia jasminoides Ellis (Rubiaceae) é um ser
nativo da antiga Pérsia, que traz um simbolismo, uma mensagem muito
importante para cada um de nós neste momento.
Olhe para o jasmim e transforme-se nele, pois ele é pureza transmitida
pela alvura de suas pétalas, que também emanam inofensividade,

174
Práticas investigativas em Etnobotânica

regeneração, paz, dignidade e elegância. Do seu centro, o jasmim


exala maravilhoso perfume, que são seus pensamentos e sentimentos,
abençoando toda criação, todo o exterior.
A essência floral do jasmim é obtida da seguinte forma: ao nascer
do sol, colhe-se uma flor bem aberta e perfeita. Mergulha-se a flor em
um litro de água pura, em vasilha de vidro transparente. Deixa-se ao
sol durante todo o dia. Ao entardecer, estará pronta para ser tomada. A
dosagem fica a critério da observação pessoal de cada um.
Esta essência facilita a sintonia de nossa mente com a Mente do
nosso Deus interior, fonte de toda beleza, harmonia, pureza, perfeição,
criatividade e iluminação. Proporciona um novo nascimento,
regeneração e melhoria na autoestima.
O nome jasmim significa “exalar a beleza e a perfeição que jaz em
mim”. Sejamos jasmins e vivamos no interior do seguinte pensamento:
Eu Sou o pensamento e sentimento criadores perfeitos, presentes nas
mentes e corações de todos, em todos os lugares.

2. Mensagens das flores

As flores são o elo de ligação do Céu com a Terra. Através da


contemplação das flores, da inalação consciente do seu perfume, da
relação estreita com o ser de cada planta e através do cultivo de belos
jardins, o ser humano pode curar-se e regenerar toda a sua natureza
física, emocional e mental.
O brilhante médico Edward Bach brindou a humanidade ao criar
a terapia dos florais. Ele percebeu que antes de uma doença surgir
no corpo físico, aparecem distúrbios nos corpos do pensamento e do
sentimento. E criou os florais, essência obtida das flores, como agentes
de cura. No entanto, ao oferecer gratuitamente sua descoberta a quem
quisesse, Edward Bach certamente não imaginava que o seu presente
viria a se transformar em objeto comercial.
Hoje, além dos florais de Bach, existem os do deserto da Califórnia,
do Pacífico, do Alasca e vários outros mais. As pessoas agora compram
os florais e eles podem provir dos mais longínquos lugares do planeta.
Essas essências são valiosas, mas as pessoas já não têm a menor ideia
de como é a flor do floral que está tomando. Toma-se o floral como se

175
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

fosse um remédio alopático. Busca-se a cura para sintomas, deixando-se


de lado a causa: a falta de integração com a natureza.
Já ouvi pessoas dizerem que pagaram bem caro por um vidrinho de
floral, sem contar a consulta.
Muitos dos consumidores dessas essências florais passam com
indiferença por cima das flores que nascem no quintal, caminhos e
jardins. E as flores estão ali, oferecendo-se, amorosa e gratuitamente,
ansiosas por estabelecerem uma relação de descobertas mútuas e um
estreito laço de amizade.
Através da Mãe Natureza, Deus coloca ao nosso alcance tudo que
possamos precisar. Prestemos mais atenção às flores que nos cercam!
Nelas pode estar contido o nosso remédio.
Vários pesquisadores brasileiros também lançam seus próprios
florais, mas há um mundo a experimentar. A oportunidade de exercitar
nossa intuição está em aberto e isso é compensador!
Quer fazer seus florais? Ao nascer do sol, escolha as flores a serem
colhidas. Peça licença e, com reverência e gratidão, colha o que julgar
suficiente. Arranje uma vasilha de vidro transparente com a melhor
água que tiver e mergulhe as flores nessa água, deixando ao sol durante
todo o dia. Ao entardecer, o floral estará pronto e deve ser consumido
no mesmo dia, pois não contém álcool — como os que estão à venda no
comércio.
Você poderá enriquecer seus florais se, ao fazê-los, meditar que todas
as formas vivas contêm vida e qualidades latentes. Com os olhos de sua
alma, procure ver o ser que existe naquela planta. Perceba-o como uma
manifestação da Divindade e agradeça sua existência, a oportunidade
de se conhecerem e se tornarem amigos.
Depois, pergunte-se sobre a qualidade daquele ser, seus atributos e
propósitos neste mundo. Ao beber os florais, medite nas flores escolhidas,
em seu formato, perfume, nome, lugar onde nasceu, na época do ano de
sua germinação ou floração. Tudo isto são pistas para a percepção dos
propósitos ou propriedades florais da essência.
Ao beber os florais, procure sentir internamente a radiação do ser
da planta, o que ele transmite a seus sentidos e ao seu coração.
Isso pode parecer difícil no princípio, mas você estará dando os
primeiros passos para uma relação intima e amistosa com os reinos
elemental e dévico do lugar onde você mora e também estará expandindo
sua percepção interior.

176
Práticas investigativas em Etnobotânica

Quanto mais íntima for sua relação com o ser da planta, maior
será sua capacidade de receber as mensagens das flores e os benefícios
curativos dos florais e da Mãe Natureza.

3. Sobre ervas e plantas: mensagem ao Sol-Coração

Assim como o Sol é o coração do sistema solar, o coração do ser


humano é o sol do seu organismo. Há muitos sóis-corações, portanto, o
culto da Luz é o culto do coração.
Existe o Sol físico e existe o Sol espiritual. O Sol espiritual – o Cristo
– é a fonte de nossa vida. Cristo é vida. É isto uma grande verdade.
O Sol de fogo branco que paira sobre nossa cabeça é o Cristo pessoal.
Ele envolve todo o ser, transpassa-o e se ancora no coração, como um
mini sol — o Cristo interior. O coração desse sol do nosso organismo é
o foco da energia magnética.
Quando focalizamos a atenção nesse sol sobre a cabeça e inalamos
conscientemente seus raios de luz e vida até o coração, quando
convidamos essa Presença Divina para habitar o templo (nosso corpo
físico) e assumir o total controle de nossos pensamentos e sentimentos,
então este pequeno sol em nosso coração se expande; seu poder
magnético nos impregna e somos selados num manto de Luz Crística
que nos torna imunes a todas as doenças, ou seja, nos dá uma invencível
proteção. Somos imantados por uma força que atrai todo bem e repele
todo mal.
Todos buscam a felicidade (também chamada bem-aventurança) e
esse sol espiritual no coração é a fonte inesgotável desse precioso dom.

3.1 Helianthus annus

No reino vegetal existe uma planta conhecida de todos – o girassol –


cujo nome científico é Helianthus annus Linnaeus (Asteraceae). Trata-se
de uma herbácea da família das compostas, originária do Peru, que além

177
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

de cultivada pelo valor nutritivo de suas sementes, é uma preciosidade


ornamental.
A essência floral do girassol ajuda a romper as muralhas que nos
separam de nosso Sol espiritual, fortalecendo nossa vontade de buscar
a Luz e facilitando a conexão com o Cristo no coração; convidando-o a
assumir as rédeas e comandar nossa personalidade.
A perfeita verticalização do caule do girassol sugere a busca de
retidão e alinhamento entre Terra e Céu, do corpo com a alma, do
coração com o amor divino, da matéria com o espírito.
O nome girassol.se deve ao peculiar fenômeno e ao próprio aspecto
da flor, que procura o Sol quando este está sobre a linha do horizonte e
o acompanha à medida que se move no céu. Helianthus significa “flor
do sol”.
O miolo-coração da flor do girassol, com mais de mil flores, é
uma verdadeira comunidade floral, sugerindo integração, unidade,
cooperação e boa vontade.
Sua essência floral trabalha expandindo energia solar em nossos
centros e o resultado de tudo isto é força, alegria jovial, bem-aventurança,
entusiasmo, criatividade e iluminação.

3.2. Floral

Para preparar a essência, colha ao amanhecer um girassol que esteja


com o miolo em plena floração. Coloque a flor numa vasilha de vidro
transparente em um litro de água pura. Leve a vasilha com a flor e a água
para o sol e deixe-a exposta durante todo dia. Ao entardecer, a essência
estará pronta para ser tomada. A dosagem fica a critério da observação
pessoal de cada um.
Concentremos nossa atenção no Sol Espiritual. A atenção é o canal
pelo qual flui a poderosa energia divina, imantando o pensamento e o
sentimento. Assim, grande felicidade impregna nosso coração e a mente.

178
Parte 3
ETNOBOTÂNICA E PRÁTICAS
(ETNO)MÉDICAS
BENZIMENTOS E SIMPATIAS: PRÁTICAS
TERAPÊUTICAS TRADICIONAIS EM
COMUNIDADES DO MUNICÍPIO DE IPORANGA
(VALE DO RIBEIRA, SÃO PAULO)

Maria dos Anjos Gonçalves-Costa1, Lin Chau Ming1,


Izabel de Carvalho2, Miguel Angel Pinedo Vásquez3

Departamento de Produção Vegetal, Setor Horticultura,


1

Faculdade de Ciências Agronômicas,


UNESP, Botucatu – SP; [email protected]
2
Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial, FCA, UNESP,
Botucatu – SP
3
Center for Environmental Research and Conservation,
Columbia University, New York – NY

Introdução

A utilização de plantas como medicamento pelo homem é tão antiga


quanto sua própria história. Conhecer as práticas de tratamento de saúde
que algumas comunidades utilizam é importante para compreender e
planejar com eficiência o sistema de saúde a ser adotado pelo município,
e assim propor alternativas de integração entre as práticas de cura
oficiais e populares que visam ao bem-estar físico e mental das pessoas.
A pesquisa etnobotânica é um importante instrumento para
levantar, compreender e registrar os dados sobre o conhecimento
popular do uso das plantas em uma determinada comunidade. Esse
conhecimento envolve relações de troca de informações entre as
pessoas e seu entendimento sobre o meio ambiente em que vivem, e são
permeadas por fatores culturais e sociais (ALBUQUERQUE, 2002).
Para o etnobotânico, o conhecimento botânico tradicional,
apreendido das relações e observações dos fenômenos naturais, é

181
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

produto do intelecto humano como resposta direta as suas necessidades


reais frente a estímulos de natureza diversa (ALBUQUERQUE, op. cit.).
As florestas tropicais representam e desempenham um papel muito
importante como armazenadoras e repositoras da biodiversidade do
mundo. A Mata Atlântica é apontada como uma das florestas tropicais
mais ameaçadas de extinção, uma vez que à época do descobrimento
representava 12% do território nacional e hoje restam menos que 5%
da cobertura original (CONSÓRCIO MATA ATLÂNTICA, 1992 apud
MAGALHÃES, 1997).
A região do Vale do Ribeira, sul do estado de São Paulo, agrega a
maior área contínua de Mata Atlântica existente no Brasil. Apesar de
agregar essa diversidade biológica, é uma região que mostra grandes
contrastes sociais se comparada com outras do estado. Assim,
vários projetos acadêmicos, extensionistas, governamentais e não
governamentais têm sido propostos e desenvolvidos na região buscando
um melhor entendimento da relação homem-ambiente.
Galante e Ferreira (1997) fizeram um levantamento das plantas
medicinais entrevistando oito moradores do Bairro da Serra, município
de Iporanga, tendo sido coletadas 102 plantas e identificadas 77. Os
autores observaram que o conhecimento sobre o tema se encontra
disperso na comunidade. O número da amostragem e o período reduzido
para a coleta e identificação de todo material citado pelos participantes
da pesquisa, segundo os autores, foram fatores que tornaram necessário
o prosseguimento de sua pesquisa.
Na opinião de Gottlieb e Kaplan (1993), o Brasil deveria adotar o
exemplo da China, que apesar de ser um país bem mais pobre em espécies
vegetais, mantém vários institutos de matéria médica. Estes institutos
têm como objetivos: investigar a medicina tradicional e popular; isolar
e caracterizar princípios ativos; promover a transformação química de
tais princípios; realizar o desenvolvimento de novos métodos e novas
drogas; estudar a relação estrutura/atividade e os mecanismos de ação
de drogas; e operar fábricas pilotos para a produção de fármacos.
Segundo as definições de Diegues (2000), as culturas e sociedades
tradicionais se caracterizam pelos seguintes aspectos: dependência
e até simbiose com a natureza e os ciclos naturais renováveis a partir
dos quais se constrói um modo de vida; conhecimento aprofundado da

182
Práticas investigativas em Etnobotânica

natureza e de seus ciclos e esse conhecimento é transferido de geração


em geração por via oral; noção de território ou espaço onde o grupo
social se reproduz econômica e socialmente; moradia e ocupação desse
território por várias gerações; importância das atividades de subsistência;
reduzida acumulação de capital; importância dada à unidade familiar,
doméstica ou comunal e às relações de parentesco; importância das
simbologias, rituais e mitos; utilização de tecnologia simplificada; fraco
poder político e autoidentificação ou identificação pelos outros de se
pertencer a uma cultura distinta das outras.
O mesmo autor ressalta ainda que um dos critérios mais importantes
para a definição de culturas ou populações tradicionais, além do modo
de vida, é o reconhecer-se como pertencente àquele grupo social em
particular.
A escolha do município de Iporanga como palco para o
desenvolvimento da pesquisa foi em função da grande diversidade
biológica e, principalmente, cultural, com uma população que tem um
histórico de ocupação da região há várias gerações e desempenha um
papel importante na utilização e preservação do meio ambiente.
O(A) agente de cura popular, o(a) curandeiro(a), tem uma
importância muito grande na comunidade. Helman (1994) comentou
que curandeiros e curandeiras podem influenciar a sociedade como
um todo, em particular as relações sociais do paciente, e são capazes
de influenciar o comportamento futuro do paciente, ressaltando a
importância de seus atos passados na doença atual. Esses agentes de
saúde são mais aptos a definir e tratar uma doença, isto é, as dimensões
sociais, psicológicas e morais associadas com a mesma ou com outras
formas de infortúnio. Eles também fornecem explicações culturalmente
familiares das causas da doença, e sua relação com os mundos social e
sobrenatural.
Apesar do envolvimento desse importante agente na terapêutica
popular, as mudanças sociais e culturais têm ocorrido com mais
intensidade nos últimos anos, tornando-se uma realidade para toda a
região. Segundo Queiroz (1980), a presença mais intensiva de médicos, as
maiores facilidades proporcionadas pela previdência social, a facilidade
de acesso à cidade e, principalmente, uma mudança de mentalidade
que acompanha essas transformações, têm tornado a função do(a)
curandeiro(a) menos indispensável.

183
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

O objetivo deste trabalho foi fazer um levantamento dos


conhecimentos tradicionais de benzedores/benzedeiras nas terapias
utilizadas com plantas medicinais em três comunidades do município
de Iporanga, São Paulo.

1. Material e Métodos

1.1. Caracterização da área de estudo: aspectos históricos, sociais e


culturais

Historicamente, o povoamento da região do Vale do Ribeira


confunde-se com o do Brasil. Quando o colonizador português Martim
Afonso de Souza desembarcou em Cananeia, em 1531, surpreendeu-se
ao encontrar, convivendo pacificamente com os nativos, seis europeus.
Ainda no século XVI, mais precisamente em 1537, era fundado o núcleo
de Iguape, tornando-se, juntamente com Cananeia, os mais prósperos
povoados da região (ITESP, 1998).
A articulação com o interior, através do Rio Ribeira e seus afluentes,
levou à formação de outros pequenos núcleos, como Registro, Eldorado,
Juquiá, Jacupiranga e Sete Barras. O objetivo dessa interiorização era
a procura de metais preciosos, principalmente ouro e prata. Começa
então a se desenvolver, no século XVI, o ciclo do ouro, com destaques
para as áreas de Registro, Eldorado, Apiaí, Iporanga e, em menor escala,
Iguape (ITESP, 1998).
Posteriormente, essa região passou por um período de decadência,
quando vários garimpeiros migraram para o estado de Minas Gerais,
após enchentes do Rio Ribeira de Iguape, que eram frequentes na região
e causaram prejuízos para as vilas criadas nas margens desse rio (BORN,
2000).
Seguido a esse período que marcou a exploração e a comercialização
de ouro, veio o plantio de arroz, a partir do século XIX, na sub-região
do Baixo Ribeira. Com condições propícias, Iguape passou a ser o
principal produtor de arroz do Brasil. O sucesso comercial dessa cultura

184
Práticas investigativas em Etnobotânica

impulsionou a construção naval e a construção de pequenos portos em


vários outros municípios da região, que começaram a produzir arroz e
outras culturas, como feijão, mandioca e cana-de-açúcar (MIRABELLI;
VIEIRA, 1992 apud BORN, 2000).
Com a decadência do ciclo do arroz, deu-se a construção do Valo
Grande, a primeira grande obra hidráulica do país, e consequente
assoreamento do canal do Mar Pequeno, inviabilizando a navegação e
aportamento de embarcações junto ao Porto de Iguape (ITESP, 1998).
A população do Vale do Ribeira é composta basicamente por
caboclos, resultado da grande miscigenação brasileira entre descendentes
de europeus, africanos e dos povos originários da região, encontrando-
se ainda asiáticos (p. ex., japoneses) (BORN, 2000).
As comunidades negras descendentes dos escravos vindos da África,
durante a mineração do ouro, conhecidas como quilombolas (por serem
provavelmente remanescentes de antigos quilombos), mantêm muitos
de seus costumes tradicionais (QUEIROZ, 1983 apud BORN, 2000).
Os indicadores socioeconômicos mostram que os núcleos e
bairros rurais dessa região são quase sempre excluídos de programas
de assistência e desenvolvimento do governo do estado de São Paulo.
Apresentam sérios problemas, como a falta de documentação de terras,
falta de saneamento básico, precariedade das vias de transporte e
deficiência no abastecimento e nos serviços públicos (ENGECORPS;
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1992 apud BORN,
2000). Segundo a mesma autora, a região apresenta altos índices de
mortalidade infantil e de analfabetismo. A economia baseia-se em
atividades agrícolas (banana, chá, arroz, frutas, legumes, verduras
e mandiocas), pesqueiras, extrativistas (madeiras, fibras, palmito,
plantas medicinais e ornamentais), além da agropecuária, dos trabalhos
assalariados, dos biscates e da mineração. Outra forma de obtenção
de renda é com o artesanato e o turismo, muito intenso em algumas
regiões, principalmente no município de Iporanga, que foi escolhido
para o desenvolvimento desta pesquisa.
Os primeiros indícios de ocupação colonial do município de
Iporanga datam de meados do século XVI, em 1576, com a formação
do primeiro núcleo habitacional, o “Garimpo de Santo Antônio”, por
faiscadores de ouro, a 8 km da foz do Ribeirão Iporanga, afluente do Rio

185
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Ribeira de Iguape, onde hoje se encontra o Bairro Rural do Ribeirão,


e trouxeram os primeiros cultivos econômicos da época, a cana-de-
açúcar e de subsistência, os cereais (SODRZEIESKI, 1998).
Durante o século XVIII, além do ouro, várias famílias foram se
estabelecendo ao longo do Rio Ribeira, explorando as terras férteis com
a produção de arroz, milho, mandioca e principalmente da cana-de-
açúcar, proporcionando com isto o surgimento de futuras e pequenas
agroindústrias de rapadura, aguardente e farinhas, itens que seriam
vendidos nos povoados vizinhos (SODRZEIESKI, 1998).
Segundo o censo de 2010, o município conta com 22 comunidades
e uma população de 4.562 habitantes, sendo 2.076 na zona rural e
2.486 na zona urbana (IBGE, 2010). Estimativa de 2021 revelou uma
diminuição da população para 4.180 (IBGE, 2022). Uma das causas
dessa diminuição foi a migração de famílias inteiras para o trabalho na
cultura de tomate nos municípios de Guapiara, Apiaí e região, e para
o município de Jundiaí para trabalhar em pequenas construções civis,
segundo informações de alguns moradores de Iporanga.
O Instituto de Terras do Estado de São Paulo atua no reconhecimento
étnico e territorial das comunidades remanescentes de quilombos do
estado de São Paulo em parceria com a Fundação Cultural Palmares,
Ministério da Cultura e outras instituições (ITESP, 2002). De acordo
com os dados deste Instituto, até o ano de 2002 haviam sido identificadas
31 comunidades, das quais 14 tinham sido reconhecidas. O município
de Iporanga abriga cinco comunidades já reconhecidas, uma com
trabalhos em andamento e três com indicações de estudos.
A zona rural do município é composta basicamente por 14
comunidades tradicionais e de quilombos, com ocupações que remontam
entre 200 a 400 anos. Estas possuem um alto grau de integração com o
meio ambiente, pois sempre viveram do extrativismo e da agricultura
de subsistência. Este equilíbrio foi quebrado a partir da década de 1950,
com a exploração intensiva e comercialização da madeira, produção
de carvão, pecuária extensiva e fábricas de palmito, que empregavam
mão-de-obra, mas promoviam o uso irracional dos recursos naturais
(SODRZEIESKI, 1998).

186
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figura 1 – Localização da área de estudo (adaptado de SILVA ALMEIDA;


AMOROZO, 2002).

1.2. Metodologia

Inicialmente, o projeto passou pela aprovação do Comitê de Ética


da UNESP, Campus de Botucatu, para a realização do trabalho. Para

187
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

escolher as pessoas de cada comunidade a serem entrevistadas, foi


utilizado um método conhecido por “bola de neve” (BERNARD, 1988),
que consistiu em conversar com algumas pessoas da comunidade e
perguntar se havia alguém que fazia remédio na comunidade ou quem
era a pessoa que mais tinha conhecimento sobre ervas medicinais. Nas
três comunidades pesquisadas as informações convergiram para cinco
pessoas com um ponto em comum: todas as indicadas eram mais idosas.
Segundo os critérios estabelecidos, foi identificado e entrevistado
um total de cinco pessoas nas três comunidades. As comunidades
escolhidas foram Betari, que se localiza a 8 Km da cidade, com dois
participantes; a cidade de Iporanga, com dois participantes; e a
comunidade do bairro de Pilões, que fica a uma distância de 28 km
da cidade, com uma participante. As pessoas selecionadas foram
contatadas e a elas foram apresentados os objetivos do projeto, obtido
seu consentimento e aprovação, e assinado o Termo de Consentimento
Prévio Esclarecido, conforme a legislação.
A coleta de dados foi feita através de observação participante e
de entrevistas estruturadas e semiestruturadas, sendo utilizada uma
caderneta de campo para as anotações, gravador e registro fotográfico,
com autorização dos participantes. As plantas foram coletadas durante
o trabalho de campo, separadamente com cada pessoa entrevistada.
Exsicatas foram preparadas e registradas no Herbário do Instituto de
Biociências (BOTU), da UNESP, campus de Botucatu, SP. A identificação
das espécies coletadas foi realizada pelo prof. Lin Chau Ming, da UNESP
– Botucatu, SP, por meio de comparação com exsicatas do acervo do
referido herbário e literatura especializada, contando ainda com o envio
de exsicatas para especialistas botânicos.

2. Resultados e Discussão

2.1. Considerações sobre os participantes da pesquisa

O trabalho com pessoas idosas é gratificante e necessita de formas


diferenciadas de abordagem. As falhas de memória causadas pelo tempo,

188
Práticas investigativas em Etnobotânica

pelo desgaste físico e mental, pelas preocupações e pelo trabalho ao


longo da vida estiveram presentes algumas vezes, porém com sinceras
promessas de retornar à lembrança as informações, que mesmo com os
incentivos fornecidos durante as entrevistas, às vezes não aconteceram,
como demonstra o seguinte trecho: “Esse aqui também é remédio, mas
não tô lembrado pra quê. Depois eu lembro” (SI).
Quando se perguntou a uma participante sobre exemplos de
remédio fresco, a mesma responder: “Num sei, fia. Num tá chegando na
minha ideia nenhum mais” (DO). Assim, a aferição dos dados foi feita
à medida que o trabalho transcorria, sempre com o máximo de cautela
possível.
As informações preliminares para obtenção dos participantes
principais foram dadas por algumas pessoas em cada uma das três
comunidades. Essas informações revelaram o reconhecimento da
comunidade em relação às pessoas com maior conhecimento de ervas
e remédios caseiros. O reconhecimento e aceitação desses especialistas
nas suas comunidades são, muitas vezes, reforçados com a presença do
pesquisador que, sendo uma pessoa externa à comunidade, desperta a
curiosidade e a atenção nos vários encontros realizados.
Para o município de Iporanga foram entrevistadas cinco pessoas,
sendo dois homens (JC, 67 anos, morador da zona urbana; SI, 79
anos, morador do bairro rural Betari) e três mulheres (MA, 58 anos,
moradora da zona urbana; DE, 74 anos, moradora do bairro rural
Betari; DO, 74 anos, moradora do bairro rural Pilões). A concentração
dos conhecimentos acerca das plantas medicinais com pessoas mais
idosas se deve à experiência de vida, à própria necessidade de uso e sua
frequência ao longo dos anos.
Gessler e colaboradores (1995), pesquisando curandeiros
tradicionais na Tanzânia, obtiveram semelhante resultado quanto à
faixa etária dos 25 curandeiros entrevistados, mostrando que estes eram
predominantemente membros mais velhos da comunidade.
Dos cinco participantes da pesquisa, apenas um não é nativo de
Iporanga, pois é natural do estado do Paraná; no entanto, há mais de 60
anos reside no município. O histórico de origem dos outros participantes
mostra o estreito contato deles e de seus familiares antepassados com a
cidade de Iporanga e cidades próximas na região do Vale do Ribeira.

189
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Esses resultados podem ter sido frutos de alguns projetos


governamentais tendo em vista o desenvolvimento do Vale do Ribeira
foram implantados, principalmente na década de 1980. Dentre esses,
o Projeto DEVALE (Desenvolvimento do Vale do Ribeira) – Projeto
de Expansão dos Serviços Básicos de Saúde e Saneamento em Área
Rural, que integrou o Programa de Interiorização de Ações de Saúde
e Saneamento no estado de São Paulo em 1981. O Projeto teve como
objetivos: instalar postos de saúde em 17 localidades rurais pertencentes
a sete municípios da região, incluindo Iporanga; selecionar agentes de
saúde; e realizar o treinamento desses agentes dentro de uma proposta
participativa, de modo a fornecer subsídios para que realizassem um
trabalho comunitário mais eficiente em suas comunidades (SILVA et al.,
1986), e que contaram com a participação de alguns dos entrevistados.
Outro exemplo foi o estudo realizado por Born (2000), com a
Associação de Extratores e Produtores de Plantas Medicinais (Aepam),
que atuam em áreas remanescentes de Mata Atlântica do Vale do Ribeira,
São Paulo, juntamente com a Vitae Civilis, uma Organização não
Governamental sem fins lucrativos que também atua na região, a fim de
associar o conhecimento tradicional ao da ciência moderna para obter
indicadores ecológicos que seriam usados na elaboração de planos de
manejo sustentável de espécies medicinais da Mata Atlântica, visando,
com isso, contribuir para a mobilização e fortalecimento da associação
e os conhecimentos tradicionais das comunidades envolvidas na região.
Percebendo a importância que as plantas medicinais assumem para
as populações tradicionais, estudos da interação homem–natureza
podem contribuir para a prática de métodos de coleta autossustentáveis
de plantas e uma melhor relação entre os sistemas tradicionais e
convencionais de tratamento de doenças.
A renda média familiar mensal dos entrevistados foi de
aproximadamente R$ 1.480,00, onde três deles são aposentados por idade
(salário mínimo), e um por tempo de trabalho (pouco mais do valor
do salário mínimo), tendo trabalhado por 35 anos no Departamento
de Estradas e Rodagem e ajudou na construção da estrada de Apiaí–
Iporanga, há mais de 50 anos atrás. Quanto aos outros dois, um tem
renda fixa salarial, mesmo não sendo atuante atualmente, trabalhou
pelo Estado e Prefeitura realizando medição de terras delimitando as

190
Práticas investigativas em Etnobotânica

comunidades e os parques florestais, que têm parte de suas terras no


município; a outra entrevistada não tem renda.
Isso confirma os dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de
Domicílios (IBGE, 2021), que aponta que a contribuição dessas pessoas
para o orçamento familiar é muito importante para sua manutenção,
chegando alguns a ser arrimo de família.
Geralmente as casas têm de 1 a 4 moradores; uma das entrevistas
é aposentada e mora sozinha no porto da comunidade de Pilões. E
apenas um participante mora com a mulher, filhos e netos, somando-se
aproximadamente 12 pessoas nesta casa.
O trabalho na agricultura sempre fez parte da vida deles; além desse
trabalho, outras atividades eram desenvolvidas também como forma
de complementar o orçamento, dentre elas a transformação de pedra
calcária em cal através da queima, atividade desenvolvida por uma
entrevistada e seu marido, quando jovens. Atualmente ocorre a venda
de determinados remédios caseiros, como as garrafadas, mas a preço
de custo. Hoje, o trabalho agrícola ocorre com menor intensidade e os
produtos agrícolas plantados são o milho, feijão, mandioca e banana;
diferente da época de seus pais que, segundo os entrevistados, plantavam
todos os tipos de mantimentos e só compravam querosene, sal e tecidos.

2.2 Benzimento e simpatia

As concepções sobre doenças são baseadas no entendimento


particular de cada pessoa e grupo social, obedecendo aos critérios
estabelecidos e vividos dentro de cada cultura.
O benzimento e a simpatia são processos de tratamento das doenças
consideradas espirituais ou de origem não-natural. Esse processo pode
ou não envolver o uso de plantas.
Os resultados mostram que dos cinco entrevistados, um faz
benzimento e simpatia, outro faz apenas um tipo de simpatia (para
cobreiro) e os outros três não fazem nem benzimento nem simpatia.
O aprendizado e a transmissão desses conhecimentos são realizados de
maneira não escrita, no dia a dia e nem todas as pessoas têm acesso.

191
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

O aprendizado se deu diretamente com os pais ou outro parente


(p.ex., padrasto). É necessário mostrar interesse e muito respeito para
aprender, além de ter o dom, que é uma espécie de escolha involuntária
para exercer a prática.
Os conceitos sobre benzimento e simpatia mostram que,
independentemente da religião, a eficácia do tratamento está fortemente
relacionada com a fé das pessoas envolvidas nesse processo. Lévi-Strauss
(1991) comenta que a eficácia da magia implica na crença da magia,
e que esta se apresenta sob três aspectos complementares: a crença do
feiticeiro na eficácia de suas técnicas; em seguida, a crença do doente que
ele cura, no poder do feiticeiro; e finalmente, a confiança e as exigências
da opinião coletiva em relação ao feiticeiro.
Quando o curandeiro benze e administra o remédio para o seu
paciente, ele espera um resultado positivo desse tratamento. Por ou-
tro lado, quando o paciente procura ajuda de um curandeiro acredita
em sua experiência de trabalho adquirida através de suas assistências e
curas a outras pessoas.

“As pessoas vêm aqui porque acredita que eu, com ajuda de
Deus, posso curá seus males.” (JC).

“O benzimento, eu acho que é uma, cultura, né. Esse


negócio de uma coisa que já veio dos antepassado, da
turma dos escravo, dessas coisa assim, de um tipo de cura
que eles faziam pela cura, né, eles benziam [...]. Pra quem
acredita, acho que depende muito da fé também.” (MA).

“Benzimento pra mim é uma fé muito grande que eu tenho.


Eu peço ao Pai do céu a cura divina pra aquela pessoa, eu
ofereço minhas orações pra ela. Eu trabalho, como diz,
com a padroeira aí, nossa mãe Aparecida, as três pessoa
da Santíssima Trindade, né, e, que são meus protetor. Se
a gente pede com fé, tem que ter fé, porque se não tiver
fé, não altera nada. [...]. Eu tenho muita fé, porque aí tem
pessoa que chega aí chorando e, graças a Deus, sai alegre,
né. E o povo tem tanta fé em mim que qualquer coisinha,
eles baixam aqui, deixam de ir no médico pra vim aqui.”
(JC).

192
Práticas investigativas em Etnobotânica

Loyola (1987) comenta que a filiação religiosa influi igualmente


nas práticas terapêuticas, sobretudo no caso das pessoas “mais firmes
na fé”, sobre quais especialistas religiosos exercem maior controle. A
crença religiosa do entrevistado determina se ele pode ou não usar o
benzimento ou a simpatia para o tratamento de doenças.
Dois participantes são socializados no catolicismo popular, ou
seja, não são pessoas frequentadoras assíduas da Igreja Católica, porém
mantêm vivas as tradições de orações e costumes religiosos de seus
antepassados, que em muitos casos foram perdidos com a modernização
da Igreja. Os outros três entrevistados são protestantes, sendo dois
pertencentes à Igreja Batista e outro à Congregação Cristã do Brasil.
O entrevistado que mais tem conhecimentos e usa recursos em suas
práticas terapêuticas professa o catolicismo popular, visando tratar uma
série de “incômodos”, tais como “izipra”, “cobrero”, micose, “rasgadura”,
bebê virado no útero, dor de cabeça, dor de barriga, dor de dente,
íngua, “ar no corpo” e “encosto” (faz o benzimento e a defumação). A
defumação é feita com palha de milho-roxo, folhas de arruda, guiné e
pedaços de pano de cozinha, que é usado para pegar panela no fogão à
lenha. Essa prática tem a função de desinfetar e tirar do corpo aquele
mal que está prejudicando a pessoa.
As simpatias e os benzimentos são realizados nas quartas e sextas-
feiras; esses dias, segundo o entrevistado JC, são os mais carregados
da semana. Para o tratamento da doença ser eficaz é necessário fazer o
benzimento ou a simpatia três vezes, porém há doenças mais graves que
são necessários mais dias de trabalho, como foi o caso de um homem
com cobreiro num estágio muito avançado, para o qual foram nove dias
de simpatias e benzimentos para a sua cura.

“Meu costume é fazer três vezes, porque faz a primeira, a


segunda e a terceira é pra fechamento, pra livrar de não
acontecer mais aquilo com a pessoa.” (JC).

A religião protestante não aceita esse tipo de intervenção no processo


de tratamento de doenças, mas apesar da proibição um entrevistado diz
fazer simpatia para cobreiro: “Simpatia tem também. Inclusive eu sou
crente e ainda faço isto aí. A pessoa tá sofrendo cobrero, eu faço uma
simpatia e curo.” (SI).

193
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

As diferenças entre simpatia e benzimento não estiveram de forma


clara nas respostas dos entrevistados, mas vale a pena ressaltar alguns
pontos observados: o benzimento tem um grau de importância maior
do que a simpatia para os participantes da pesquisa; nota-se que, na
prática do benzimento, a oração necessariamente está sempre presente,
enquanto que na simpatia nem sempre ela é feita; na prática da simpatia,
sempre são utilizados os mais diversos recursos materiais, como, por
exemplo, plantas (guiné, arruda, alho), cinzas, prego, carvão aceso,
dentre outros. Já no benzimento, nem sempre se faz uso de tais recursos,
pois ele por si só é considerado eficaz.

“O benzimento em primeiro lugar. Agora a simpatia acaba


de melhorar, né. A simpatia pra cortar íngua, então pega
três folha de laranja grande, aquelas brasa do fogão bem
viva, e põe num copo d’água, apaga ela, vem e põe a folha
de laranja em cima da íngua e põe aquela brasa em cima da
folha. Faz três brasa apagada e três folha de laranja grande.
Mas o calor transpassa na carne, então aquilo ali é pragador
de íngua, não tem igual.” (JC).

“No benzimento faz oração, na simpatia, depende da


simpatia que faz. Tem muitos tipo de simpatia que certa
hora eles falam alguma palavra.” (MA).

2.3 Aprendizado e transmissão do conhecimento terapêutico


tradicional

O aprendizado do conhecimento das práticas terapêuticas


tradicionais dos cinco entrevistados se deu de forma prática no dia
a dia. Aprenderam com os pais, avós, padrinhos e com suas próprias
experiências, através de trocas de informações com outras pessoas,
leituras e programas de televisão, apesar de não serem muito sólidos
ainda esses conhecimentos obtidos pelos meios de comunicação. Houve
referência ao aprendizado espontâneo, através da intuição e sonho.
Uma entrevistada contou a história de uma criança que ficou muito
doente na sala de aula e ela ficou desesperada:

194
Práticas investigativas em Etnobotânica

“Ele rolava no chão, ficou verde, parece que ia morrer. Aí,


eu pedi pra Deus me dar um entendimento pra mim fazer
alguma coisa pra esse menino não morrer dentro da classe.
Daí preparei um chá, dei pra ele e foi bom. [...]. Minha mãe
falava que eu tinha o dom da minha avó, eu aprendi fazer
remédio com minha mãe e minha avó.” (MA).

O comprometimento da transmissão do conhecimento se deve


a vários fatores, dentre os quais as mudanças socioculturais que vêm
sofrendo as comunidades tradicionais. Florey e Wolf (1998) analisaram
as práticas curativas entre os Alune da Ilha de Seram, Indonésia
oriental, e perceberam que a conversão ao Cristianismo conduziu para
a supressão de sua linguagem e das práticas de cuidados de saúde pré-
cristã, interrompendo abruptamente a transmissão desse conhecimento.
Desmarchelier e colaboradores (1996) também observaram entre os
Ese’eja da Amazônia peruana que, embora a tradição de transmissão
do conhecimento sobre plantas seja realizada entre eles, está sendo
rapidamente perdida devido à influência da cultura ocidental.
O aprendizado e a transmissão do conhecimento são dinâmicos,
porém existem certos critérios, às vezes não explicitados, a serem
obedecidos: o interesse entre ambas as partes, mestre e aprendiz,
principalmente do aprendiz; a confiança nas práticas terapêuticas
tradicionais; e o respeito às tradições e rituais de cura.

“Minha mãe era parteira, eu aprendi com ela, porque


quando ela ia atender uma pessoa, uma paciente, então
ela me levava como companheirinho dela, né. Que às vez
tinha uma casa que não tinha ninguém pra mandar, aí
ela mandava, ‘Juca vá lá e traga pra mim um copo d’água,
traga tal mato pra mim, traga tal coisa, uma bacia’. Assim,
e até depois fui crescendo, né, até pra ajudar no parto eu
ajudava. Eu tinha uns quatorze ou quinze anos.” (JC).

“Aprendi a fazer remédio sozinho, meus pais sabiam


remédio, mais era outros. A gente tirava informação, tirava
experiência e dava certo.” (SI).

“Eu pretendo ensinar pra meus filho, mas não interessam


[...]. Se mostrar interesse, aí fica mais fácil, né, fica mais
fácil de aprender.” (JC).

195
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

A segurança é um fator que às vezes impede a transmissão do


conhecimento em certos momentos. O medo que os entrevistados
tinham em ensinar o remédio para outras pessoas era justificado pelo
fato de as ervas medicinais apresentarem o mesmo nome popular para
plantas diferentes.

“Às vezes a pessoa confunde uma erva com outra, entendeu?


Às vezes tem uma erva que é consoante outra, né, e pode
ser até veneno. Então, por causo disso que eu não gosto de
ensiná. Eu gosto de eu mesmo pegá a erva [...] mas dizer
vai lá pegue tal coisa, corte isso aqui, corte aquele lá; muitas
vezes a pessoa corta outra, né, que é consoante ou às vez
conhece por outro nome.” (JC).

Isto reforça a ideia da necessidade de participação e envolvimento


no processo de aprendizagem e transmissão das práticas tradicionais
de cura. Mas o crescente processo migratório para as zonas urbanas em
busca de novas alternativas de vida, a diminuição do uso de remédios
caseiros frente aos potentes meios de comunicação de massa, rádio
e televisão, e um sistema oficial de saúde que ainda desconsidera as
diferentes possibilidades terapêuticas, tornam menos intensa, nos dias
de hoje, a transmissão dessa rica diversidade de conhecimento.

3. Conclusões

O registro de informações desse rico conhecimento tradicional é


importante para a valorização dos processos utilizados na terapêutica
popular. A transmissão e o aprendizado acontecem no dia a dia e são
processos dinâmicos e estão cada vez mais comprometidos ou devido
aos meios de comunicação, que muitas vezes desestimulam o uso dos
remédios caseiros, com as propagandas dos fármacos e seu poderoso
e rápido modo de ação ou à migração das pessoas da família, na sua
maioria, os jovens, que buscam alternativas melhores de vida em outros
lugares longe de seu local de origem e família.

196
Práticas investigativas em Etnobotânica

As doenças ou sintomas são apresentados como tendo várias causas


espirituais ou naturais, sendo a mais comentada o desequilíbrio entre
“quente e frio”, esses sistemas de classificações de alimentos, substâncias
e dos remédios que agem diretamente nos opostos, ou seja, o remédio
quente é administrado ao paciente com sintomas de friagem, buscando
o equilíbrio do organismo, tanto natural quanto espiritual.
Vale ressaltar a importância da compreensão do conhecimento
tradicional no sentido de propor e executar projetos na área de saúde
pública adaptados à realidade sociocultural e econômica, sobretudo em
regiões onde a prática desse conhecimento está presente no dia a dia das
pessoas. Construir pontes entre o saber popular e saber científico é que
possibilitará a produção do conhecimento e sua prática adequada em
cada localidade.

Referências

ALBUQUERQUE, U. P. Introdução à etnobotânica. Recife: Bagaço,


2002.

BERNARD, H. R. Research methods in cultural anthropology.


Newbury Park: Sage Publications, 1988.

BORN, G. C. C. Plantas medicinais da Mata Atlântica (Vale do


Ribeira - SP): extrativismo e sustentabilidade. 2000. 289 f. Tese
(Doutorado em Saúde Pública Ambiental), Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2000.

DESMARCHELIER, C. et al. Ritual and medicinal plants of the


Ese’ejas of the Amazonian rainforest (Madre de Dios, Perú). Journal of
Ethnopharmacology, v. 52, p. 45-51, 1996.

DIEGUES, A. C. S. O mito moderno da natureza intocada. 3. ed. São


Paulo: Hucitec/ NUPAUB-USP, 2000.

197
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

FLOREY, M. J.; WOLF, X. Y. Incantation and herbal medicines:


Alune ethnomedical knowledge in a context of change. Journal of
Ethnobiology, v. 18, n. 1, p. 39-67, 1998.

GALANTE, L.; FERREIRA, M. F. B. Investigação etnofarmacológica


na comunidade do Bairro da Serra, Iporanga, Vale do Ribeira/
SP. 1997. 50 f. Monografia (Graduação em Ciências Biológicas),
Universidade Mackenzie, São Paulo, 1997.

GOTTLIEB, O. R.; KAPLAN. M. A. Das plantas medicinais aos


fármacos naturais. Ciência Hoje, v. 15, n. 59, p. 51-4, 1993.

HELMAN, C.G. Cultura, saúde e doença. 2. ed. Porto Alegre: Artes


médicas, 1994.
IBGE. Cidades e estados: Iporanga. Disponível em: <https://www.ibge.
gov.br/cidades-e-estados/sp/iporanga>. Acesso em: 17 nov. 2022.

IBGE. PNAD 2021. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/


sp/iporanga/ panorama>. Acesso em: 21 nov. 2022

ITESP. Terra e cidadãos: aspectos da ação da regularização fundiária


no Estado de São Paulo. São Paulo: ITESP, 1998. (Série Cadernos
ITESP/Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania, n. 4).

ITESP. Números. Disponível em: <www.institutodeterras.sp.gov.br/


numeros22.html>. Acesso em: 20 out. 2002.

LÉVI-STRAUSS, C. O feiticeiro e sua magia. In: Antropologia


estrutural. 4. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1991. p. 193-214.

LOYOLA, M. A. Rezas e cura de corpo e alma. Ciência hoje, v. 6, n. 35,


p. 39-43, 1987.

MAGALHÃES, R. G. de. Plantas medicinais na região do Alto


Uruguai - RS: conhecimentos de João Martins Fiúza, “Sarampião”.
1997. 192 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas / Botânica)
- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1997.

QUEIROZ, M. S. Curandeiros do mato, curandeiros da cidade e

198
Práticas investigativas em Etnobotânica

médicos: um estudo antropológico dos especialistas em tratamentos de


doenças na região de Iguape. Ciência e Cultura, v. 32, n. 1, p. 31-47,
1980.

SILVA ALMEIDA, M. F.; AMOROZO, M. C. M. Medicina tradicional


no município de Iporanga, Vale do Ribeira - SP. In: SIMPÓSIO
BRASILEIRO DE ETNOBIOLOGIA E ETNOECOLOGIA, 4., Recife.
Livro de Resumos... Recife: Sociedade Brasileira de Etnobiologia e
Etnoecologia, 2002. p. 186-187.

SODRZEIESKI, A. E. Relatório CATI. Iporanga: CATI, 1998.

199
ETNOBOTÂNICA E FITOTERAPIA NO SUS EM
SANTA INÊS, BAHIA, BRASIL: INSURGÊNCIA DOS
SUBALTERNOS, SAÚDE E SABERES DO JIQUIRIÇÁ

Marcelo Felipe Nunes Amaral1, Edilaine Andrade Melo2,


Aurélio José Antunes de Carvalho2

1
Licenciatura em Ciências Biológicas; [email protected]
2
Docente, IF Baiano;
[email protected]; [email protected]

Introdução

Trabalhar com plantas medicinais nos remete a saberes ancestrais e


ao caldo cultural que o Brasil exibe em sua constituição histórica. Jun-
to a este amálgama, somam-se resistências de diversas formas, sendo a
memória da intergeracionalidade uma ligação do passado que se opera
e se materializa, perpassando o tempo e espaços presentes, dentro de
uma territorialidade (LITTLE, 2002; TOLEDO; BARRERA-BASSOLS,
2015). De fato, o saber e o conhecimento popular acerca do uso medi-
cinal das plantas ainda persistem em muitas localidades do Brasil, em
especial nas mais distantes dos grandes centros urbanos, nas periferias
e junto às camadas subalternizadas do povo. Assim sendo, o conheci-
mento e o uso de plantas com propriedades terapêuticas são resultados
de vivências milenares, passadas de geração a geração, muitas delas des-
critas e atestadas em tratados fitoterápicos e pesquisas científicas (PE-
TROVSKA, 2012). Atrela-se à identidade sociocultural de um território,
sendo que em algumas comunidades constitui o meio mais viável de
tratamento de enfermidades.
De modo verticalizado, os territórios são sujeitados a interesses
hegemônicos; é imposta, por meio de diversos instrumentos da classe
dominante, a uniformização nas formas de pensar, portar-se, agir, ali-

201
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

mentar-se e curar doenças; segue a linha homogeneizadora da contem-


poraneidade, retratada no uso de medicamentos alopáticos, mesmo em
tratamentos de baixa complexidade (BADKE et al., 2011). Fenômeno
também reconhecido por Santos (2007):

O silêncio é o resultado do silenciamento: a cultura ocidental


e a modernidade têm uma ampla experiência histórica de
contato com outras culturas, mas foi um contato colonial,
um contato de desprezo, e por isso silenciaram muitas
dessas culturas, algumas das quais destruíram. (SANTOS,
2007, p. 55).

Por seu turno, embora existam no Sistema Único de Saúde (SUS)


normas estabelecidas desde 2006, expressas na Política Nacional de
Plantas Medicinais e Fitoterápicos e o Programa Nacional de Plantas
Medicinais que, textualmente, visa “garantir à população brasileira o
acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos e
promover o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da
cadeia produtiva e da indústria nacional e o Programa Nacional de
Plantas Medicinais” (BRASIL, 2006a, 2006b). Na prática, porém, não
foi capaz de ampliar a fitoterapia nas unidades de saúde públicas; estão
pouco inseridas no dia a dia das Unidades de Saúde da Família (USF) ou
Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Por sua vez, embora seja evidente o potencial de plantas medicinais
(ALMEIDA, 2011; MAGALHÃES et al., 2020) na cidade de Santa Inês –
Bahia, lócus do trabalho, o conhecimento e a divulgação científica desse
saber/conhecimento são pouco relatados, sobretudo quando conside-
ramos o uso de plantas nativas associadas à vegetação da Caatinga e da
Zona de Tensão Ecológica (ecótono), em contato com a Mata Atlântica,
onde se localiza o município. Nesse contexto, cabe destacar a relevância
e carências de estudos etnobotânicos como forma de valorização cultu-
ral e ambiental, com perspectivas de geração de emprego e renda.
Nesse campo de estudo, há inerente dialogicidade entre saber popu-
lar e conhecimento científico, agregando profissionais de diversas áreas
e instituições, trabalhadores e trabalhadoras usuários(as) do SUS, vin-
culados às unidades de baixa complexidade (USF, por exemplo). Bus-
ca-se a saúde sob a lógica de otimização de recursos existentes, com

202
Práticas investigativas em Etnobotânica

possibilidades de valorização da flora local, redução de efeitos colate-


rais de medicamentos alopáticos e fortalecimento de vínculos afetivos
e culturais presentes na comunidade, especialmente, representativas
nas camadas mais empobrecidas. Como dito, as classes populares são
verdadeiros repositórios de saberes ancestrais acerca das propriedades
medicinais de vegetais existentes nos quintais de suas casas e no bioma
local (FIRMO et al., 2011; PETROVSKA, 2012).
Corroborando com tal linha de pensamento, percebe-se que os es-
tudos etnobotânicos são desenvolvidos com o intuito de registrar o sa-
ber tradicional de uma determinada comunidade sobre a flora do seu
entorno (ALBUQUERQUE, 2005). É uma área de estudo que vem cres-
cendo e se solidificando em razão da necessidade de reconhecer e va-
lorizar o conhecimento tradicional, compreender a relação das pessoas
com a flora e promover a conservação da natureza. Contrapondo-se,
assim, ao que os estudiosos vêm chamando de “Cegueira Botânica”, ou
seja, a incapacidade humana de notar e reconhecer as plantas em seu
próprio ambiente (WANDERSEE; SCHUSSLER, 2002).
O conhecimento sobre as propriedades terapêuticas das plantas é
resultado de muitos anos de experiência adquirida ao longo de gerações.
Esse saber dos povos tradicionais e camponeses, cuja economia se baseia
na subsistência, é um mecanismo determinante no uso de estratégias de
sobrevivência. Assim, a utilização de recursos naturais determina, para
essas pessoas, uma visão de importância da natureza. Esses (re)conhe-
cimentos permitem ao indivíduo a formação de um saber intelectual
e a transmissão desses valores pode, muitas vezes, ser compartilhada
oralmente com integrantes do seu meio social (TOLEDO; BARRERA-
-BASSOLS, 2015). Trata-se de um nexo entre cultura e sociedade, que
desperta reflexões significativas acerca da teia estabelecida entre cultu-
ra, experiência, família, comunidade e vivências.
Almeida e colaboradores (2011) descrevem em seu trabalho que o
conhecimento etnofarmacológico é considerado um ponto base para o
desenvolvimento de estudos referentes à potencialidade para o uso da
farmacologia, todavia, o uso dessas plantas como “remédios” realizado
pela população deve ser algo muito atencioso, pois é necessário asse-
gurar seu poder curativo. Nesse sentido, cabe a integração dos saberes
popular e científico, apoiados por políticas públicas de saúde, tais como

203
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

ocorre com a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do


SUS.
Assim, o objetivo deste trabalho tem sido de identificar plantas me-
dicinais, utilizadas localmente, a partir de depoimentos de usuários do
SUS, funcionários do IF Baiano e profissionais da saúde, através do diá-
logo entre conhecimento científico acadêmico e saber popular, visando
contribuir com as práticas integrativas do SUS em Santa Inês, município
localizado no Vale do Jiquiriçá, Bahia.

1. Desenvolvimento

A proposta de trabalho emerge na confluência, muito propalada e


pouco realizada na academia, que é a integralidade e interpenetração
intrínseca entre ensino-pesquisa-extensão, provocada pelo componente
optativo Etnobotânica e Botânica Econômica, que integra o curso de
Licenciatura em Ciências Biológicas do IF Baiano Campus Santa Inês,
ofertado durante os dois semestres de 2022. Eram dois professores, um
agrônomo e uma bióloga, que contaram com um efetivo de 14 alunos
no total do percurso formativo. Optou-se por um trabalho em áreas pe-
riurbanas do município de Santa Inês, junto aos usuários e profissionais
do SUS, inseridos no contexto municipal.
A abordagem teórico-prático escolhida no componente curricular
mencionado tem como pressupostos o respeito ao outro, a participação
e avaliação durante o percurso para recondução dos trabalhos. Assim,
estabeleceu-se aproximações junto a usuários, pessoas mais idosas e
profissionais do SUS em conformidade com a divisão das Unidades de
Saúde da Família, majoritariamente, em áreas periféricas do município
de Santa Inês, que se localiza no território do Vale do Jiquiriçá, ao sul da
capital do estado. O território expõe uma heterogeneidade de paisagens,
resultantes da diversidade ambiental, variações climáticas e geomorfo-
lógicas regionais. Além das diferenças culturais, climáticas, sociais e
econômicas que enriquecem a região (CODETER, 2017). Percebe-se
uma composição de paisagem de perturbações constantes na vegetação
no município que resultou em áreas degradadas com predominância de

204
Práticas investigativas em Etnobotânica

jurema (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.) e licurizeiros (Syagrus corona-


ta (Mart.) Becc.). Ademais, Santa Inês se diferencia de muitos outros pe-
quenos municípios da Bahia por concentrar a população na área urbana
de modo significativo, cerca de 10 mil pessoas vivem na sede e cerca de
1.000 habitantes no meio rural (IBGE, 2010).
Para o desenvolvimento das atividades propostas, utilizamos ele-
mentos da Educação Popular apresentados por Freire e Nogueira
(1993), bases do Diagnóstico Rural Participativo (DRP) e outras meto-
dologias participativas da extensão (VERDEJO, 2006), além da pesqui-
sa-ação (THIOLLENT, 1992) e entrevistas semiestruturadas. A forma
de aproximação foi estabelecida através de diálogos com a responsável
geral das Unidades Básicas de Saúde (UBS). Foram agendadas oficinas
(instalações pedagógicas) sobre a esteira de palha de licuri com plan-
tas medicinais nas Unidades de Saúde da Família (USF) do município.
Inicialmente, com os profissionais da saúde e da Secretaria de Agricul-
tura do município e, posteriormente, com a comunidade (usuários/as
do SUS). Com os profissionais de saúde do município foram discutidas
questões sobre políticas públicas do SUS em relação às práticas integra-
tivas na saúde com foco nas plantas medicinais. Construímos, durante
essas oficinas, algumas diretrizes e ações de trabalho para fortalecer e
disseminar o uso e valorização de plantas medicinais.
Foram cinco oficinas realizadas, sendo: 1. USF Maria Rondon (Fi-
gura 1d); 2. USF Abigail Feitosa; 3. USF Carlos Cajazeiras; 4. Na Secre-
taria de Saúde com profissionais de saúde do município; e 5. Distrito de
Lagoa Queimada. Ao iniciar os trabalhos nas USF, os agentes comunitá-
rios mobilizaram os usuários e pediram para que eles levassem plantas
que usavam como medicamento natural. Durante as oficinas, os partici-
pantes apareciam aos poucos até formar um grupo de 15 a 20 pessoas. A
equipe do IF Baiano, professores e estudantes, se apresentava e expunha
o objetivo; em seguida, os demais diziam o nome popular da planta e a
forma de uso, colocando-a sobre a esteira de palha posta no centro do
local do encontro (Figura 1e). Cinco participantes se destacaram: um
homem e quatro mulheres. É notória, em todos os momentos, a partici-
pação das mulheres. Elas são as responsáveis pelo acompanhamento de
filhos e parentes em relação à saúde e se fazem mais presentes enquanto
usuárias mais frequentes dos remédios das plantas. Por sua vez, demons-

205
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

tram, pelos depoimentos, um conhecimento do uso de valor das plantas


no tratamento de enfermidades. Esses dados são observados em outras
pesquisas etnobotânicas que destacam o efetivo domínio das mulheres
em relação às plantas cultivadas nos quintais e o papel das mesmas na
construção e propagação desse saber (XAVIER; LIMA, 2020).
Importante ressaltar que, em geral, os(as) participantes tinham ida-
de média acima de 60 anos e apresentavam contato com o meio rural.
Não havia jovens entre os usuários. Com isso, há indicação da vertente
em curso que é a não transmissibilidade geracional de saberes, concei-
tuado como “erosão cultural” ou “erosão do conhecimento”. De fato, a
literatura científica assevera que esse saber está ficando cada vez mais
restrito a pequenos grupos, sobretudo idosos. “Este impacto pode dar-
-se de modo direto, pela perda de saberes, como também indiretamente,
pela não preservação de recursos naturais com este potencial medica-
mentoso, por motivos de desconhecimento” (RIEDER, 2010, p. 1).
A maioria dos relatos apresentava as plantas de quintal, boa parte
delas introduzidas e exóticas. Um participante nos disse: “Uso as plan-
tas porque elas ajudam a curar e tratar doenças, tanto o chá como os
banhos. A água do levante ou lopordina, que é uma planta que se usa
pra pressão alta, o banho e o chá é calmante.” Lopordina, Alpinia zerum-
bet (Pers.) B.L. Burtt & R.M. Sm. (Figura 1a), possivelmente advém do
nome da princesa Leopoldina, austríaca, que veio a se tornar imperatriz
do Brasil, entusiasta de estudos científicos e apoiadora da Expedição
de Spix e Martius, que cruzou o território brasileiro entre 1817 a 1820
(SPIX; MARTIUS, 1976). Trata-se de uma espécie exótica que consta na
Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS)
e é cultivada nos quintais. Outra participante falou da melissa (Melissa
officinalis L.), usada como calmante, assim como o capim-santo (Cym-
bopogon citratus (D.C.) Stapf.) e o alumã (Vernonia condensata Baker),
planta utilizada para o estômago para tratar azia (Figura 1d).
Sobre o uso de plantas nas práticas integrativas de saúde, no âmbito
do SUS, a comunidade apontou apenas uma médica, de origem cubana,
que atuou em uma das unidades que indicava as plantas para enfrenta-
mento de enfermidades. Destaca-se também que quase todas as unida-
des dispõem de área de cultivo de plantas medicinais de quintais, umas
com mais zelo e outras menos tratadas. Embora o Ministério da Saúde,

206
Práticas investigativas em Etnobotânica

por meio da Portaria nº 886, de 20 de abril de 2010, tenha estatuído


a Farmácia Viva no SUS (BRASIL, 2010) e tenha disposto, através da
Resolução nº 18, de 3 de abril de 2013 (BRASIL, 2013), sobre as boas
práticas de processamento e armazenamento de plantas medicinais, não
há qualquer indicação, prática de uso ou sistematização de ações que
viabilizem o uso das plantas nas unidades de saúde visitadas.

Figura 1 – Painel de momentos dos trabalhos do projeto em campo: (a) Água-


-do-levante (Alpinia zerumbet); (b) Mucunã (Dioclea grandiflora); (c) Maria-
-milagrosa (Cordia verbenacea); (d) Alumã (Vernonia condensata); (e) Instala-
ção Pedagógica no USF Maria Rondon.

Durante as oficinas foram citadas também algumas espécies nati-


vas, sendo três as mais recorrentes: catinga-de-porco (Cenostigma pyra-
midale (Tul.) Gagnon & G. P. Lewis), muito utilizada como digestivo;
sete-sangrias (Cuphea carthagenensis (Jacq.) J. F. Macbr.) para proble-
mas renais; alecrim-do-campo (Lippia thymoides Mart. & Schauer) para
banho e problemas pulmonares. Importante destacar o conhecimento
das pessoas em relação às plantas na paisagem e condições de solos em

207
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

que elas medram, ou seja, além de identificar as plantas e seu uso, tam-
bém reportavam os locais de ocorrência, apresentando informações et-
nopedológicas, conforme observado na Tabela 1.

Tabela 1 – Plantas nativas de uso medicinal citadas por moradores da comu-


nidade de Santa Inês – Bahia.

Nome popular Nome científico Ocorrência Uso medicinal

Sete-sangrias Cuphea No mato (caatinga), Para os rins


carthagenensis solos arenosos

Alecrim-do-campo Lippia thymoides Áreas descampadas Para os


e com solos com pulmões,
pedregulhos respiração
Catinga-de-porco Cenostigma Solos mais arenosos Sistema
pyramidale digestório

Maria-milagrosa Cordia verbenacea Capoeira e pastagem Inflamação

Monzê Albizia polycephala Capoeira e pastagem Tirar manchas


de queimadura

Mucunã Dioclea grandiflora Na capoeira e no Funcionamento


mato perto de do Sistema
córregos Nervoso

Mulungu Erythrina mulungu Capoeira e na beira Calmante


de rios e pastagem

Durante as oficinas, os estudantes da Licenciatura em Biologia aten-


tamente anotaram os nomes das plantas citadas e as suas indicações de
uso. Também levantaram informações com pessoas que apresentaram
maior propriedade de fala em relação ao tema. A identificação desses
especialistas é fundamental para realização das entrevistas semiestru-
turadas e de um contato mais próximo com os detentores dos saberes
tradicionais.
É perceptível a cultura do uso das plantas medicinais entre os
envolvidos, os profissionais de saúde demonstraram interesse no tema,

208
Práticas investigativas em Etnobotânica

especialmente o segmento ACS (agentes comunitários de saúde), e


a comunidade participou ativamente das ações. Nenhum médico do
sistema prescreve receita com o uso de plantas medicinais; apenas um
profissional dessa área se fez presente em uma das oficinas. Isso pode
indicar que o tema ainda é muito pouco trabalhado pelos médicos no
âmbito da atenção básica. Por sua vez, os usuários apresentam muito
interesse, tem voz própria acerca do tema como em outras regiões do
Nordeste brasileiro.
O projeto, por sua vez, não se esgota com as atividades feitas. Pelo
contrário, abrem-se perspectivas relevantes conforme propostas feitas
durante as oficinas como: 1. Ter farmácia das plantas desidratadas nas
prateleiras da farmácia básica; 2. Fazer o mapeamento de pessoas de
referência na comunidade para o tema, de modo a indicar e reconhecer
os saberes existentes; 3. Realizar mais encontros; 5. Fazer exposição das
plantas medicinais dos quintais e da Caatinga; 6. Levar as pessoas de
mais saberes acerca das plantas para exposições/mostras nas áreas de
saúde, educação e outras.
Assim, os dados etnobotânicos atuais indicam que as pessoas que
habitam a região Nordeste do Brasil possuem muito conhecimento so-
bre plantas medicinais utilizadas no tratamento de doenças que mais
afetam as comunidades (PASA; SOARES; GUARIM-NETO, 2005; RI-
BEIRO et al., 2017). Elas empregam essas plantas medicinais para aten-
der a seus problemas comuns de saúde, representando uma parte maior
dos cuidados primários de saúde.

2. Considerações Finais

O projeto continua em atividade e tem provocado aproximações


interinstitucionais interessantes e, mais que isso, relações de confiabili-
dade junto às pessoas de camadas populares detentores de conhecimen-
tos, que brilham os olhos ao falar sobre as plantas em vários espaços:
reuniões, eventos no Campus do IF Baiano e do município. Por se tratar
de um trabalho interdisciplinar que prevê a integração de setores como

209
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

agricultura, economia solidária, geração de renda, saúde e educação, fa-


z-se necessária a busca de um maior apoio e fomento a fim de conferir
maior robustez à iniciativa.
Ademais, de imediato é prevista a impressão e exposição nas USF
de Santa Inês das Fichas de Plantas Medicinais de uso mais recorrentes,
obtidas por meio de informações da presente pesquisa, com especial
atenção às plantas do bioma Caatinga e da área de ecótono existente,
ainda pouco referenciada na listagem oficial do SUS.

Referências

ALBUQUERQUE, U. P. Introdução à etnobotânica. 2. ed. Rio de


Janeiro: Editora Interciência, 2005.
ALBUQUERQUE, U. P. et al. Ethnobotany, science and society. In: AL-
BUQUERQUE, U. P. et al. (eds.). Ethnobotany for beginners. Cham:
Springer, 2005. p. 57-66.
ALMEIDA, M. Z. et al. Plantas medicinais. 3. ed. Salvador: EDUFBA,
2011.
BADKE, M. R. et al. Plantas medicinais: o saber sustentado na práti-
ca do cotidiano popular. Esc. Anna Nery, v. 15. 2011. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/ean/a/vYCdk9RncDCsynFSSdnZXBP/?for-
mat=pdf&lang=pt>. Acesso: 17 abr. 2022.
BRASIL. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementa-
res no SUS – PNPIC-SUS. Brasília: Ministério da Saúde. Secretaria de
Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica, 2006a.
BRASIL. Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.
Brasília: Ministério da Saúde, 2006b.
BRASIL. Portaria nº 886, de 20 de abril de 2010: Institui a Farmácia
Viva no SUS. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2010.

210
Práticas investigativas em Etnobotânica

BRASIL. Resolução nº 18, de 3 de abril de 2013: Dispõe sobre as boas


práticas de processamento e armazenamento de plantas medicinais,
preparação e dispensação de produtos magistrais e oficinais de plantas
medicinais e fitoterápicos em farmácias vivas no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS). Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013.
CODETER. Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável
e Solidário do Vale do Jiquiriçá, Amargosa – BA. CODETER: Vale
do Jiquiriçá, UFRB, CNPq, MDA, 2017.
FREIRE, P.; NOGUEIRA, A. Que fazer: teoria e prática em educação
popular. Petrópolis: Editora Vozes, 1993.
FIRMO, W. C. A. et al. Contexto histórico, uso popular e concepção
científica sobre plantas medicinais. Cadernos de Pesquisa, v. 18 (espe-
cial), p. 90-95, 2011.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
[IBGE]. 2010. Disponível em: <https:https://www.ibge.gov.br/cidades-
-e-estados/ba/santa-ines.html>. Acesso em: 16 set. 2021.
LITTLE, P. Territórios sociais e povos tradicionais no Brasil: por
uma antropologia da territorialidade. Brasília: UnB, 2002.
MAGALHÃES, K. N.; BANDEIRA, M. A. M.; MONTEIRO, M. P.
Plantas medicinais da caatinga do nordeste brasileiro: etnofarma-
copeia do professor Francisco José de Abreu Matos [livro eletrônico].
Fortaleza: Imprensa Universitária, 2020.
PASA, M. C.; SOARES, J. J.; GUARIM NETO, G. Estudo etnobotânico
na comunidade de Conceição-Açu (alto da bacia do rio Aricá Açu,
MT, Brasil). Acta Botanica Brasílica, v. 19, n. 2, p. 195-207, 2005.
PETROVSKA, B. B. Historical review of medicinal plants’ usage. Phar-
macognosy reviews, v. 6, n. 11, p. 1, 2012.
RIBEIRO, R. V. et al. Ethnobotanical study of medicinal plants used by
Ribeirinhos in the North Araguaia microregion, Mato Grosso, Brazil.
Journal of ethnopharmacology, v. 205, p. 69-102, 2017.

211
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

RIEDER, A. Erosão de conhecimentos sobre plantas medici-


nais: uma ameaça para o futuro da humanidade!?!?. 2010. Artigo
em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Arti-
gos/2010_3/PlantasMedicinais/index.htm>. Acesso em: 25 dez. 2022.
SANTOS, B. S. Renovar a teoria crítica e reinventar a emancipação
social. São Paulo: Boitempo, 2007.
SPIX, J. B.; MARTIUS, C. F. P. Viagem ao Brasil. 3 ed. v. 1. São Paulo:
Melhoramentos, 1976.
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo, Cortez,
1992.
TOLEDO, M. V.; BARRERA-BASSOLS, N. A memória biocultural: a
importância ecológica das sabedorias tradicionais. São Paulo: Expres-
são Popular, 2015.
VERDEJO, M. E. Diagnóstico rural participativo: um guia prático.
Brasília: MDA, 2006.
WANDERSEE, J. H.; SCHUSSLER, E. Toward a theory of plant blind-
ness. Plant Science Bulletin, v. 47, n. 1, p. 2-9, 2002.
XAVIER, R. A. T.; LIMA, R. A. O papel das mulheres na construção do
conhecimento em Etnobotânica na região norte: uma revisão integrati-
va. Conhecimento & Diversidade, v. 12, n. 27, p. 51-63, 2020.

212
Parte 4
ETNOBOTÂNICA, QUINTAIS E
SISTEMAS DE CULTIVO
TRADITIONAL FORMS OF EXCHANGE AMONG
THE YUCATEC-MAYA: THE RELEVANCE OF
HOMEGARDENS

Diana Gabriela Lope-Alzina

Tecnológico Nacional de México, Campus Tlalpan,


San Miguel Topilejo, Ciudad de México.
[email protected]

Introduction

Renowned as a multi-functional space containing high levels of


diversity that is conserved by means of continuous use and management,
homegardens have been acknowledged as a source of many essential
goods such as planting material, food, medicines, spices and condiments,
fodder, and fuel. All of these goods are circulated among people within
communities as gifts (e.g., RUONAVAARA, 1996; LERCH, 1999;
CORZO-MÁRQUEZ; SCHWARTZ, 2008; NEULINGER, 2009;
PEREA-MERCADO et al., 2012). Nevertheless, little is known about how
this circulation or exchange relates to the maintenance or strengthening
of social relations, and how such exchange influences the design and
functioning of the agroecosystem (but see interesting findings in Ellen
and Platten, 2011). To our knowledge, with the exception of a first
approximation made by Calvet-Mir and others (2012) in the Catalan
Pyrenees, such networks of relationship and their implications have
not been analyzed for homegardens, and literature on such exchange
networks for other agroecological systems is scarce.
This paper analyzes traditional forms of exchange of goods in a
Yucatec-Maya community with the aim of contributing to furthering our
understanding of the inextricable link between local social dynamics and
the homegarden agroecosystem. Although closely related to exchanges

215
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

of knowledge, giving and receiving of both goods and knowledge do not


necessarily coincide (cf. CALVET-MIR et al., 2012).
Traditional forms of exchange include gift-giving, swapping, barter,
and monetary exchange that is significant in social-symbolic terms
rather than in monetary value. The definition of gift-giving that is used
here is ‘the passing of inalienable objects of the same kind by people
who are already bound together by social ties’ (GREGORY, 1982,
cited in HUMPHREY; HUGH-JONES, 1992). Gift-giving may create
obligations to return something of equal or even greater value, which
may be rendered as a service rather than a good (ibid.). ‘Swapping’ refers
to the exchange of goods that are ascribed with a quite similar value
(e.g., one species of bird is exchanged for another, similar species), while
‘barter’ refers to cases where each of the parties assigns an equivalent
value to objects that are different in kind (e.g., where a bird is exchanged
for a certain quantity of vegetables) (ibid., HUMPHREY; HUGH-
JONES, 1992). Reciprocal gift-giving (in the form of a gift provided in
response to a gift) can be distinguished from swapping by the time lag
of response (BOURDIEU, 1977). Symbolic monetary exchange refers to
money payment for a good not between anonymous buyers and sellers
but between ‘intimates’, where the amount given is not based on a pre-
established market value, but by the relationship between the people
involved, social conventions, and the social meaning of the transaction
(e.g., expressing gratitude or respect) (cf. PARRY; BLOCH, 1989;
ZELIZER, 1996, 2000). From a utilitarian point of view, traditional
forms of exchange are essential to subsistence (PORTES, 1998) but,
much more than this, “the way the totality of transactions form a general
pattern […] is part of the reproduction of social and ideological systems
concerned with a time-scale far longer than the individual human
life” (PARRY; BLOCH, 1989, p. 1). The conscious and unconscious
motivations underlying such exchange are complex, dictated by social
norms and local customs, and given contextual values depending on
the type of transaction (gift, barter, sale), the relationship between giver
and recipient, the specific situation or event, and the use value granted
to a good or service (cf. ZELIZER, 1996; RUPP, 2003; KOCKELMAN,
2007).
More often than not, traditional forms of exchange imply
reciprocity, a key component of social relations that creates a sense of

216
Práticas investigativas em Etnobotânica

mutual obligation between those involved (HUMPHREY; HUGH-


JONES, 1992; WILK, 1996; ZELIZER, 1996; KEESING; STRATHERN,
2001). It entails both long-term obligations (e.g., in inheritance where,
for example, children take responsibility for their parents’ subsistence
from a relatively young age, and are later rewarded with ownership of
their parents’ assets (KRAMER, 2005), and short-term obligations, for
example the obligation to respond to a gift by offering various other
gifts (RUPP, 2003). Reciprocity dynamics are intertwined with social
networks, as the former provide the latter with the maintenance required
for such networks “to be useful for fulfilling immediate needs and as
future insurance, which comes in the form of sharing and gift giving”
(HOWARD et al., 200, p. 10). That is, more than simply being a means
to assure certain resources in the short-term, reciprocity dynamics are
also a main means of reinforcing social networks, ensuring that specific
individuals (together with their social roles or positions) are bonded to
each other.
Exchange of goods is part of daily life for contemporary Mayas, and
the homegarden plays an essential role in the provision of exchanged
material, just as research has shown for the North of Guatemala
(RUONAVAARA, 1996; CORZO-MÁRQUEZ; SCHWARTZ, 2008) and
in the Yucatan Peninsula (HERRERA-CASTRO, 1994; GREENBERG,
2003; PEREA-MERCADO et al., 2012; WOJCZEWSKI et al., 2012).
These exchanges represent one subsistence strategy but, beyond this,
they are a principal means to strengthen local social ties and are also
necessarily reflected in the structure, composition, and functions of
homegardens.

1. Scope of research and methods of data collection

The research examined the exchange of goods produced in


homegardens, agricultural fields and horticultural plots, as well as of
food processed in the kitchen, and the social networks through which
those exchanges flow. To examine the relationships of such exchanges
on homegarden structure, the research focused on horizontal use and

217
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

management zones since this is where household members’ decision-


making, labor and knowledge are most readily visible; the two most
conspicuous components, plant species and animals, were considered.
In relation to functions, the research focused on those that are salient
within the exchanges, such as the provision of food, medicines, income
generation, strengthening of social relations and social status.
Data was collected through fieldwork carried out from March
2007 to November 2009 in the village of Nenelá in the municipality of
Cantamayec, Yucatán (center of the Yucatan Peninsula). The population
can be characterized as traditional horticulturalists that largely rely on
the Mayan homegarden-milpa agroecosystem for subsistence. Although
Yucatec-Maya homegardens are among the most studied in the world
and are the best documented in Latin America, much work still remains
to understand the social relations rooted within the system.
Fieldwork consisted of the following components executed in
chronological order, each with a different population sample and
timeframe:
- Homegarden survey. Transects walks and structured
questionnaires were carried out in homegardens pertaining to 10
households over a series of up to three visits spanning the period May
to August 2007, most interviewees were women. The sampling criteria
included household adherence to a network (actually clans, as it will
be approached through this text). Plant diversity in homegardens was
recorded; local names were searched in the book-database named
Etnoflora yucatanense (ARELLANO et al., 2003) as means to find
scientific names, then matched with those in the The Plant List (2010).
- Life histories. This component was aimed at providing a general
picture of the village with a focus on social (especially kin) networks.
Interviews occurred from November 2007 to January 2008, and
consisted of chats dealing with a list of topics that was developed on the
basis of discussions with four key informants1 about the history of the

1 In anthropology, the term ‘informant’ is highly criticized as it denotes a passive


and silent character of the interviewed. In fact, it is a term adopted at the time
when anthropologists were studying distant, isolated, tribal people (NIELSEN,
1996 in http://www.anthrobase.com/Dic/eng/def/informant.htm). Alternative
terms are ‘well informed person’, ‘specialist’ or ‘consultant’ (SMEDAL, 1994 in
http://www.anthrobase.com/Dic/eng/quot/inf_01.htm).

218
Práticas investigativas em Etnobotânica

village, two of whom were the oldest men in the village. Responses from
this component were recorded and coded using NVivo for qualitative
analysis (QSR, 2008).
- Diaries for the record of incoming and outgoing agricultural goods.
A literate person from each household was given a diary in which to
record agricultural, livestock, and derived goods (including processed
food) that either entered or left the household. Exchange transactions
were recorded for 100% of the households in the village (n= 31) for
approximately one month per household within a three-month period
(February-May 2008). Data from this component was used to run the
social network analysis (below described) which should cover 100%
of the population in order to yield reliable data about a network (DE
NOOY et al., 2008). Since not all households recorded transactions
simultaneously, the researcher was able to review the diaries entry-by-
entry on a weekly basis together with the person who had completed it,
thus increasing the validity of the results and gaining greater insights
about the meaning and trends within the exchange transactions.
- Social Network Analysis. Based on the data generated with the
diaries, this component identified the nature and direction of gift and
sell-purchase of goods originated in homegardens, since these were
the most frequent forms of exchange and the most relevant categories
to understand the interrelations between homegardens and social
dynamics. Data were quantitatively analyzed using NodeXL (SMITH
et al., 2009). A total of three measures from graph theory were used to
determine the relative importance of an individual (a node):
o Degree. Defined as “the number of nodes that a focal node is
connected to [measuring] the involvement of the node in the network”
(OPSAHL et al., 2010, p. 245), further divided into ‘in-degree’ and ‘out-
degree’, respectively indicating the connections with other nodes that
are either incoming or outgoing.
o Betweenness centrality. The place of a node within the entire
network. It measures the control of a node over the flow within the
network, and is defined as ‘the degree to which a node lies on the
shortest path within two other nodes, and is able to funnel the flow in
the network’ (OPSAHL et al., 2010, p. 246).

219
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

o Clustering coefficient. A measure that indicates how close


are individuals within a network. It ranges from 0 to 1 where a high
coefficient indicates that the individual is ‘clustered’ with a few other
people, giving place to ‘small-worlds’ or ‘cliques’ (WATTS; STROGATZ,
1998, SMITH et al., 2009).
- Reputation system. This type of analysis is associated with
internet marketing as a means of assessing the trustworthiness of
buyers and sellers: it ‘collects, distributes, and aggregates feedback about
participants’ past behavior’ (RESNICK et al., 2000). From February
to March, 2009, nine female and six male informants were selected
to provide assessments about all other heads of household or spouses
(each was asked only about people of their same sex). Rankings of
these individuals on assessment criteria provided by the informants,
were made according to the feedback system such as the one used by
Ebay (RESNICK; ZECKHAUSER, 2002), where testimonies are rated
as positive, negative, or neutral. Ratings were then summed, resulting
in a score for each head of household and spouse in the village. These
scores were then linked to the number of transactions in which the rated
person was involved.

2. The study site: building a community and its social networks

The 1950s and 1960s were years of rebellion and political conflict
in Yucatan State. Local narratives say that armed soldiers roamed rural
areas, harassing people who were not their followers, and often killed
them. Under such conditions, a compound family with the surname Cat
that lived on a small ranch in South central Yucatan state was forced to
hide in the forest for some eight years. By the late 1960’s, when political
harassment ceased, the Cat household left its hiding place and settled in
the neighboring village of Nenelá, which had also been abandoned for
the same reasons.
The oldest man in town reported that Nenelá was an attractive
place to settle due to its relatively thick red soils, which were considered
to be excellent for maize cultivation, and because of the available

220
Práticas investigativas em Etnobotânica

infrastructure. Years later, the immigrants began procedures to become


an ejido2, which gave them an opportunity to own a collective piece
of land. As time passed, the number of households increased, public
buildings were refurbished and others were built, and electricity, piped
water, and good roads were provided.
Shortly after the Cat household settled in Nenelá, an agnatic
or patrilineal divisionism gave rise to two networks: the Cat and the
Cahuich. The latter was the surname of an older man who was married
to a woman from the Cat who had adult sons and grandchildren at the
time.
As a key informant reported, “divisions developed from labor
arrangements […] all of the people in town used to cooperate as a family,
but Mr. Cahuich and his sons then began to work as an independent
team.” As the same informant testified and as was later corroborated
during fieldwork, the Cat and the Cahuich no longer consider
themselves as kin-related. The division is so evident today that even the
few families that immigrated into the village in the 1990s are considered
as either closer to the Cat or the Cahuich, but not to both. Since each of
these family groups are internally kin-related and linked by a common
ancestor, both the Cat and the Cahuich are here considered as ‘clans’.
Figure 1 provides a genealogy diagram for the whole town,
illustrating how distantly or closely people in these clans are related,
and that the community is constituted of different networks based on
agnatic (patrilineal) descent.
The main networks found today in Nenelá are rooted in the
division between the Kat and Cahuich clans, and are readily visible in
religious and political affiliations, in cooperative group membership, in
participation in development projects, and in the layout of the village
where people from a same clan tend to be neighbors, in relations of
compadrazgo (godparenthood) and, significantly for this research, in
exchange – the giving and receiving of both goods and knowledge.

2 Ejido refers to the communal agrarian land system in Mexico where the State
assigns a piece of land to every solicitor farmer (a small rural village in Mexico is
most of the time also an ejido).

221
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Figure 1 – kinship diagram.

2.1. Exchange of goods

From the diaries that literate household members used to record


agricultural, livestock, and derived goods (including processed food)
that either entered or left the household, a total of 861 transactions were
recorded among the households (n=31). Of those, 627 (72.8%) were
between people living within the village and took the following forms:
gift-giving (f = 507, 80.8%), sales (f = 114, 18.2%), and swapping (f =
6 (1%). The remaining 234 transactions (27.2%) involved people from
outside of the village either as givers (f =77, 32.9%) or as recipients (f =
157, 67.1%).

2.2 Outsiders as givers, locals as receivers

Outsiders include people such as merchants, siblings and other


relatives residing in other villages or regions. Transactions took place
either when outsiders came to the village or when villagers traveled.

222
Práticas investigativas em Etnobotânica

The 77 exchanges where outsiders were givers and village members


were receivers took the following forms: purchases (f = 57, 74%), gift-
giving (f = 18, 23.4%), and barter (f = 2, 2.6%) Table 1 disaggregates
these results by sex of the receiver.

Table 1 – Goods received from outsiders by sex of local recipient.

Form of exchange
Gift Purchase Barter
(f) % (f) % (f) %
Female local receiver 15 83.3 46 80.7 2 100.0
Male local receiver 3 16.7 11 19.3 0 0.0
Total transactions = 77 18 100.0 57 100.0 2 100.0

Regarding gift from outsiders, a compound household from the Kat


clan (id ‘27’), composed of three married couples (an elderly couple,
their sons and daughters-in-law, and one grandchild) was found to be the
most frequent receiver (f = 6). This is owed to the daughters-in-law, who
joined the community when they got married and often receive goods
from their kin in their villages of origin. The items they most frequently
received as gifts were traditional cooked meals, ornamental plants, and
crop staples. In the case of purchases from outsiders, most were mainly
made by women and consisted of onions, bananas, and tomatoes (f = 7
each). The sellers are merchants who either came to town on a regular
basis or who operated in other villages; most purchases were made from
a merchant with a grocery store on a truck who visited the village twice
a week. The highest number of purchases were made by an immigrant
household that pertains to neither of the clans in the village (id ‘12’)
and which is also the largest household (15 members), both of which
probably influence the high frequency of purchases. The woman and the
man at the head of this household reported having made purchases nine
and three times, respectively.
Although scarcely reported, barter was found to take place in the
village between locals and outsiders. As Humphrey and Hugh-Jones
(1992) explained, barter is likely to take place among people who are not
kin related and who are not from the same community, since this form

223
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

of exchange does not imply a further reciprocal obligation as in the case


of gift-giving. This was the case of two women (households ‘16’ and ‘21’)
who exchanged goods from their homegardens with the merchant who
came twice a week. In the first case, the woman exchanged six grapefruits
for a kilo of grapes, the other woman exchanged two papayas for a kilo
of carrots.
Findings in this section evidence that, even when the village is
small and kin relations predominate, contact is established in a regular
basis with outsiders, especially with merchants who have established
a well-defined market point in this village. While local people benefit
from having access to goods that otherwise would be hard to find in
the village (i.e., white onions, carrots, apples) and may be even able to
negotiate with the merchant as in the barter examples above, it is evident
that villagers do consume other agricultural goods than those produced
in the whereabouts, related to a need for certain cash to acquire those
goods.

2.3 Locals as providers, outsiders as recipients

Locals acted as providers and outsiders as recipients in a total of


157 transactions distributed as follows: sales (f = 99, 63%), gifts (f = 56,
36%), and barter (f = 2, 1%). Table 2 disaggregates these results by sex
of the provider.

Table 2 – Forms of exchange with outsiders by sex of local provider.

Form of exchange
Barter Gifts Sales
(f) % (f) % (f) %
Female local provider 2 100.0 47 83.9 13 13.1
Male local provider 0 0.0 9 16.1 86 86.9
Total transactions= 157 2 100.0 56 100.0 99 100.0

Barter transactions between locals and outsiders were described in


the previous section. With regard to gift-giving, women from the Kat
network (households ‘2’, ‘25’, and ‘27’) were responsible for the highest

224
Práticas investigativas em Etnobotânica

frequencies. Household ‘27’ was also among the most frequent givers,
suggesting the reciprocity implicit in gift-giving and receiving. Most
of the sales reported were of habanero pepper (Capsicum annuum L.)
and two men from two different Kat households (‘2’ and ‘25’) sold most
door-to-door in other villages. These men are also predominant figures
within the Kat clan and the village.
Linking these findings, while the sample is small, results suggest
that leading people in the village – as in the case of household ‘2’ and
‘25’ – are quite active in exchanging goods both in the forms of gifts and
sales and that sales is the main form of exchange with outsiders for men,
gift-giving is the predominant form for women.
When addressing the spaces where goods sold or given away
are produced, some interesting trends can be observed. Tables 3 and
4 below show the origin of goods exchanged with outsiders, and it is
evident that homegardens are the main source of goods given as gifts
while horticulture plots are the source of most goods that are sold.

Table 3 – Gifts given away to outsiders (f = 56) by origin of goods and sex of
the giver.

Gifts to outsiders

Origin of goods Women (f) % Men (f) % Total (f) %


Homegarden 34 60.7 7 12.5 41 73.2
Horticulture plot 0 0.0 0 0.0 0 0.0
Kitchen 2 3.6 0 0.0 2 3.6
Milpa 9 16.1 1 1.8 10 17.9
Forest 2 3.6 1 1.8 3 5.4
TOTAL 47 83.9 9 16.1 56 100.0

In the table above, women were responsible for 84% of the gifts
given to outsiders, and homegardens were the source of 73% of all gifts.
The milpa is the second source of gifted goods, with 18% of the total,
and women predominated here as well. No gifts to people from other
villagers originated in horticultural plots. Such data highlights both
the predominant role of women and of homegardens in gift-giving to
outsiders.

225
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Table 4 – Sales to outsiders (f = 56) by origin of goods and sex of the seller.

Sales to outsiders
Origin of
% Men (f) % Total (f) %
goods Women (f)
6.1 11 11.1 17 17.2
Homegarden 6
Horticulture
plot 0 0.0 69 69.7 69 69.7
Kitchen 0 0.0 0 0.0 0 0.0
Milpa 7 7.1 6 6.1 13 13.1
Forest 0 0.0 0 0.0 0 0.0
TOTAL 13 13.1 86 86.9 99 100.0

In Table 4, men account for 87% of the total sales to outsiders, and
homegardens were the source of 17.2% of all sales, followed by milpas
at 13%, whereas horticultural plots were the source of nearly 70%. Men
sold all of those goods from horticultural plots, but slightly less than
half of the total sales from milpas. Men however overpassed women in
homegarden sales to outsiders
Integrating results from both tables above, it can be seen that, in
milpas, slightly more products were sold than given away. It was women
who performed the large majority of these transactions but, for them,
milpa products were more often given away as gift than sold, whereas
when men originated the exchange, they mainly sold products. Overall,
women were responsible for only 13% of all sales to outsiders. Nearly 61%
of all gifts given to outsiders originated with women and homegardens.
Horticulture plots are clearly oriented towards the production of
goods for the market. The interesting trend in homegardens and milpas
is that, while the former is traditionally considered as predominately
female domains (cf. LOPE-ALZINA, 2007), it is men who reported a
higher frequency of sales from this space. The same applies to milpas,
which traditionally are a male arena (ibid.) yet the frequency with which
women sold goods from milpas slightly surpassed that of men in this
production space.
These trends can be explained by further analyzing the kind of
products (e.g., species with a market value, forms of end-use, amounts
exchanged, and end uses of the income obtained from the items sold to

226
Práticas investigativas em Etnobotânica

outsiders by both men and women).

3. Marketed goods to outsiders

Contrary to local, small-scale sale that develop among village


members who are tied by personal relationships, sale transactions of
produced agricultural commodities are established with people from
out of town where relationships can be considered as anonymous and
that usually involve regional and more distant markets. As seen in
Table 4 above, goods that were sold for cash were produced, in order of
frequency, in horticultural plots, homegardens, and milpas.

3.1 Goods sold from horticulture plots

At the time of this research, horticultural plots were used for


agricultural commodity production, specifically of peppers (Capsicum
spp.) with small amounts of peppers occasionally given as gift to kin.
Local informants reported that these plots were developed in 2003 by
means of a government aid initiative that promoted economic activities
to recover from Hurricane Isidore, which hit the area in 2002. A few
years later, the State of Yucatan obtained an ‘Origin of Denomination’ for
habanero peppers, which further guaranteed the economic importance
of this cash crop in the region.
All sales of peppers recorded by respondents were done exclusively
by men. These sales represented 70% of all sales to outsiders.
From the estimated amounts sold shown in Table 5 above, it is
clear that pepper cultivation is an important economic activity in the
region for small producers. All of the pepper varieties were sold at five
pesos (0.25 US$) in retail form (a bag containing about 500 grams; in
the case of habanero peppers, some 30 fruit), or in wholesale form for
80-170 pesos (US$ 4-$9) per bag containing an estimated 18-20 kilos,

227
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

where weight depends on the size, quality and state of ripeness of the
peppers. Two men from the Kat clan reported retail sales; they travelled
to other villages and spent an entire day selling small bags door to door
and to small grocery stores. Wholesale transactions are conducted with
intermediaries who come to town; the price paid depends on the supply
at the moment. That is, the more producers who are selling peppers
at the same time – as during the harvest season – the lower the price.
Therefore, it is attractive for producers to sell retail since they can they
earn double the amount compared with wholesale. Villages that are
commonly visited are between 30-70 kilometers away. The retail price
is still considerably cheaper compared with the urban center of Merida,
where peppers would retail at two or three times the price.

Table 5 – Agricultural goods cultivated in horticultural plots and sold to


outsiders.
Scientific Local name Common name f % Estimated
name (maya) amount sold

Capsicum ´Xkat ik´ - 15 21.7 .5 ton


annuum L.

Capsicum - Bell pepper; chile 14 20.3 .5 tons


annuum L. dulce

Capsicum - Habanero pepper 20 29.0 1 ton


exótica Jacq.
Capsicum ´Yaax ik´ Green pepper; chile 20 29.0 .5 ton
annuum L. verde

Total 69 100.0 2.5 tons

Pepper cultivation for the market entails an important economic


investment. As the 26-year-old daughter of a man devoted to this
activity said,

“My father ‘keeps the money rolling in’ […] when he has
to sow, he borrows money from his relative in another
village to purchase seedlings, fertilizer, hoses and any

228
Práticas investigativas em Etnobotânica

other material needed. Then, he repays the money during


the harvest season […] and he does the same for the next
production cycle.”
Habanero, the most frequently cultivated variety, is usually sown
in the rainy season (summer) and yields up to eight ‘cuts’ (periodic
fruit harvests). A single plant may yield some 20-30 fruits per cut and is
removed once harvesting ends (about eight cuts for agricultural cycle).
Pepper cultivation represents the main source of cash income.

3.2 Goods sold from homegardens

Marketed goods produced in homegardens were by far more species


diversified and less frequent. Sales usually occur when foreigners and
other buyers pass by the village or when villagers travel to one of the
largest regional markets, located in a relatively large village, Tekax, some
30 kilometers away. These sales are shown in Table 6.
The ornamental plants and turkey were sold by women, while
fuelwood and timber, and sweet and sour oranges were sold only by
men. Pigs were sold by both women (f = 2) and men (f = 4).
Cedrela odorata is a precious wood considered as a protected species;
log selling is restricted by law; only sold twice.
Sale of orange depends on the external market. Yucatan has
traditionally exported its best oranges to Florida. The year prior to
the beginning of field research (2006), Florida orange production was
severely affected by a pest attack and Yucatecan oranges helped to cover
the shortage. An orange producer from a large village known for its
specialist citrus production (Oxkutzcab) travels throughout the region
in search of oranges and normally pays about 10 pesos (US$ 0.50) for a
box containing about 50 oranges, either sweet or sour.
Women sold flower bouquets in the regional market to earn cash,
while fuelwood was sold by a man to a bakery in a neighboring village
also as means to earn petty cash. Regarding animals, the turkey was sold
by a woman from an immigrant household (‘6’) to someone who asked

229
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

for it; pigs were sold as an economic activity promoted by a government


program. A man from a neighboring village often comes to purchase
pigs from specific households in the village (‘9’, ‘24’, and ‘27’).
Table 6 – Agricultural goods cultivated in homegardens and sold to outsiders.

Scientific Local Com- Total % Part sold Use Unit Price in Estimated
name name mon f sold pesos per amount
names unit sold

Cedrela odo- Kuiche Cedar; 2 11.7 Logs Timber Log >400 USD 1 log of
rata L. cedro 100 kg or
more

Gymnopodium Dzizilche 1 5.9 Branch Fuelwood ‘Tercio’ 2 10 loads


floribundum - about (each spe-
Rolfe 8-12 cies)
rolled
medi-
Mimosa baha- Katzim Mes- 1 5.9
um size
mensis Benth quite
branch-
es,
weigh-
Senna atomaria Tuhache Flor 1 5.9 ing less
(L.) Irwin & de San than
Barneby Jose five kg
each

Citrus auran- Tsuuts Sour 2 11.7 Fruit Condiment ox con- 25 15 boxes


tium L pakal orange; and con- taining
naranja server about
agria 10 kg

Citrus sinensis Chujuk Orange; 1 5.9 Fruit Food Box 25 10 boxes


(L.) Osbeck pakal; naranja con-
china dulce taining
about
10 kg

Asparagus plu- - Velo de 1 5.9 Flowers Ornamental Bou- 5 5 bouquets


mosus Baker novia quet

Rosa sp. Roses; 1 5.9 Flowers Ornamental Bou- 5 5 bouquets


rosas quet

Meleagris Tso’ Turkeys; 1 5.9 Whole Food Whole 250 1 bird


gallopavo pavos animal animal
L., 1758

Sus scrofa K’eek’en Pigs; 6 35.3 Whole Food Whole 700 or Around
domesticus cerdos animal animal more ½ ton (6
Erxleben, 1777 pigs)

3.3 Goods sold from milpas

230
Práticas investigativas em Etnobotânica

Of the sales originating in milpas; watermelon and green peppers


were only sold by men whereas common beans and bell peppers were
exclusively sold by women. Both men and women reported to have sold
lima beans. Only watermelon is sold in large amounts. In fact, it used to
be a main economic activity for several farmers in the village but, due to
bad experiences with losses due to hurricanes and drought as well as low
prices offered by intermediaries – and with the increase of pepper sales
in the area – many people abandoned watermelon sales.
Watermelons are sold wholesale. An intermediary with a trailer
travels through the region, stopping for a brief time at this and other
villages. Farmers quickly pass the word and bring the watermelons
stored in the household to the man who pays a maximum of two pesos
per kilo. If the truck doesn’t arrive, farmers join, sharing travel costs,
in order to sell their watermelons in the Tekax market, where they are
paid by fruit, some 10-15 pesos (around 60 cents. dls.) for a watermelon
weighing between 4 and 7 kilos.
Women sold common beans, lima beans, and two types of pepper
at the regional market in Tekax in relatively small amounts (Table 7).
This form of sales yielded small amounts of pocket money that allows
women to purchase other goods at the same market.

4. Exchanges between locals

A total of 627 transactions were recorded between the 31 households


in Nenelá. The recorded forms of exchange were: gifts (f = 507, 80.8%),
sales/purchases (f = 114, 18.2%), and swaps (f = 6, 1%). Table 8
disaggregates these results by sex of both giver and receiver.
As shown in the table 8, female-female exchanges account for 91.2%
of all exchanges within the village. Of this, gift giving and receiving
represent an 81.6% and sale-purchase 15.8%. Exchanges between men
and women both as either givers or recipients were next in frequencies
yet quite lower than female-female exchanges. Male-male exchanges
were even more scarce, consisting of gifts and sales, together representing
2.4% of all local exchanges. These data evidences the importance of

231
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

gift and petty sales between women as the main exchange forms in the
village. Swapping was scarcely observed yet some interesting trends
were observed in this form of transaction, which are here explained.
Table 7 – Goods produced in milpas and sold to outsiders.

Scientif- Local Com- Total f % Part sold Use Unit Pesos/ Estimat-
ic name name mon unit ed total
names amount
sold
Citrullus Chac Water- 4 30.8 Fruit Food Piece 20 2 tons
lanatus bolonha melon;
(Thunb.) sandía
Matsum.
& Nakai.
Pha- Ibes Lime 2 15.3 Grain Food Kg 20 40 kg
seolus beans;
lunatus habas
L.
Pha- Buul Com- 3 23.1 Grain Food Kg 15 50 kg
seolus mon
vulgaris beans;
L. frijoles
Cap- Yaax ik Green 1 7.7 Fruit Condi- 18- 100 20 kg
sicum pepper; ment 20 kg
annuum chile bag
L. verde
Cap- - Bell 3 23.1 Fruit Condi- 18- 100 60 kg
sicum pepper; ment 20 kg
annuum chile bag
L. dulce

Table 8 – Forms of exchange between local people in Nenelá, Yucatán.

Giver-Receiver Form of exchange Total


Swap Gift Sales-purchases

(f) % (f) % (f) % (f) %


Female-female
6 100.0 467 92.1 99 86.9 572 91.2
Female-male 0 0 9 1.8 3 2.6 12 1.9
Female-church/
temple 0 0 7 1.4 0 0 7 1.1
Male-male
0 0 8 1.6 7 6.1 15 2.4

232
Práticas investigativas em Etnobotânica

Male-female
0 0 15 2.9 5 4.4 20 3.2
Male-children
0 0 1 0.2 0 0 1 0.2
Total
6 100.0 507 100.0 114 100.0 627 100.0
4.1. Swapping

Swapping was recorded only three times (six transactions),


representing slightly more than one per cent of the total of recorded
exchanges between locals. Yet, as shown in Table 9, it is interesting to
note that these occurred only between women, that items originated
within their domains (homegardens and the kitchen), and that this type
of exchange took place between people of similar backgrounds (clans:
Kat-Kat and none-none).
In all cases, the swapped items were traded within short time
spans under the criteria of similar values. As indicated in the literature,
swapping differs from reciprocal gift-giving in the time lag between the
two transactions (BOURDIEU, 1977): the former takes place within
a short time span between giving and receiving something (may even
occur at the same time) while the latter has not defined timing between
reciprocal exchange. Also, in swaps, the exchanged goods hold a similar
value in the eyes of those involved in the transaction (HUMPHREY;
HUGH-JONES, 1992) while in gift-giving that is usually not the case.

Table 9 – Swapping exchanges between people in Nenelá, Yucatán.

Exchanger 1 Exchanger 2 Items swapped Space of origin (item


HH Clan Sex Hh id Clan Sex 1/item 2)
id
12 None F 28 None F One hen (live) x Pork HG/HG
meat (2 kg)
12 None F 28 None F One hen (live) x Tamal- HG/Kitchen
itos (1 large bowl)
8 Kat F 7 Kat F Lime beans (1 kg) x Milpa/Kitchen
Dish made of pork and
lima beans (1 small pot)

Households ‘7’ and ‘8’ are two relatively small families from the Kat

233
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

network (four and eight members, respectively) bonded by a two-fold kin


connection. The woman at household ‘8’ is married to a second-degree
cousin who is the younger brother of the female head at household ‘7’. In
the transaction, the woman in household ‘8’gave lime beans to her sister
in-law and cousin in household ‘7’ which she prepared in a traditional
pork dish, later sharing back a good portion to her kin at household ‘8’.
Similar exchanges occurred between households ‘12’ and ‘28’. The
female spouse at household ‘28’ was selling pork by the kilo, and her
lady neighbor at household ‘12’ paid for the meat with one of the many
hens she grows at her homegarden. On another occasion, the lady at
household ‘8’ made ‘tamalitos’ (stuffed maize pancakes rolled in banana
leaves) and her same friend at household ‘12’ paid for this, again with a
hen.
Households ‘12’ and ‘28’ are both immigrants with a large number
of members (15 and 13, respectively) and live across from each
other. Although just two swaps (here recorded as four transactions)
were reported, from fieldwork it was observed that both households
cooperate considerably, for example, when a child is sick at ‘28’, the lady
at household ‘12’ is the first person they ask for help.

4.2 Gift-giving and receiving

A total of 507 gift exchanges occurred within the town, with a few
gifts going to the church or temple. Table 10 disaggregates this data by
sex of giver and recipient and the space of origin of the goods gifted.

Table 10 – Origin of goods exchanged as gift within the town.

Giver- Origin of goods exchanged as gifts between people in the town


receiver
HG Milpa Hort plot Kitchen Forest Out of town
(f) % (f) % (f) % (f) % (f) % (f) %
Female-fe- 283 90,7 18 85,7 10 90,9 126 97,6 21 87,5 9 90,0
male (f =
467)

234
Práticas investigativas em Etnobotânica

Female-male 6 1.9 2 9.5 0 0 1 .8 0 0 0 0


(f = 9)
Female-oth- 7 2.3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
er* (f = 7)
Male-male (f 4 1.3 0 0 0 0 1 .8 3 12.5 0 0
= 8)
Male-female 11 3.5 1 4.8 1 9.1 1 .8 0 0 1 10.0
(f = 15)
Male-other* 1 .3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
(f =1)
Total (f 312 100.0 21 100.0 11 100.0 129 100.0 24 100.0 10 100.0
=507)
* The church or temple, and children who just stop by and ask for fruit such as
oranges and tangerines that they see when they pass by

As shown in Table 10, most of the gift exchanges were between


women and originated in homegardens, followed by the kitchen – both
spaces a female domain. Homegardens were the source of 61.5% of all
gifts; kitchens were the source of an additional 25.4% – the two total
together 87%, followed by forests (about 5%) and milpas (about 4%).
The homegarden items that most frequently gifted were vegetables such
as small onions and chaya, fruits such as papayas, sour oranges, lemons;
spices/medicinals such as epazote and mint; ornamentals such as roses.
Items from the kitchen consisted of portions (bowls, pots) of cooked
dishes.
The forest surrounding the village was also the source of gift
exchanges, usually bushmeat. Hunting is a common activity for men,
if the man who made the successful shot was accompanied by fellows,
then the animal (usually raindeer or pecari) is shared with fellows’
households.
Regarding horticultural plots, although these are destined to market
production, a few items (peppers) were reported as gift between locals.
Lastly, goods purchased at other villages or from the merchant who
regularly arrives in town (e.g., onions, carrots, and meat) were also
occasionally given as gift.

4.3 Commodity sales-purchases

235
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

A total of 114 transactions were recorded where an item was sold and
purchased, disaggregated in Table 11 by sex of the seller and purchaser
and the space of origin of the goods.

Table 11 – Origin of goods exchanged as sell-purchase within the town.

Giver- Origin of goods exchanged in sell purchase Total


recipient HG Milpa Kitchen Forest Out of town
(f) % (f) % (f) % (f) % (f) % (f) %

F-F 67 88.2 5 71.4 12 85.8 1 50 14 93.3 99 86.8


F-M 2 2.6 1 14.3 0 0 0 0 0 0 3 2.6
M-M 3 3.9 0 0 1 7.1 1 50 0 0 5 4.4
M-F 4 5.3 1 14.3 1 7.1 0 0 1 6.7 7 6.2
Total 76 100.0 7 100.0 14 100.0 2 100.0 15 100.0 114 100

Just as in the case of gif exchanges, sale-purchase transactions


developed between women and originated in homegardens. The
item most frequently sold is raw pork, which comes from household
slaughter and which must be quickly sold as most households do not
have a refrigerator. The price per kilo is determined by the market
and is around 40 pesos (US$ 2). Other frequently sold items include
tomatoes, pork bone marrow, hens (whole and by kilo), and papayas.
Sales reported from the kitchen consisted of ‘panuchos’, a traditional
food snack consisting of a maize pancake topped with turkey meat and
vegetables, prepared and sold by three women (households ‘15’, ‘17’, and
‘23’) who are known in town for occasionally offer this food; 13 other
people reported to have made these purchases.
Sales from the milpa and forest were scarcely reported. In the first
case, amounts ranging from 1 to 10 kilos and consisting of lime beans
(Phaseolus lunatus L.), maize (Zea mays L.), and ‘thick’ squash seed
(Cucurbita argyrosperma Hort. ex L.H.Bailey). The reported goods from
the forest were 250 grams of raindeer meat and a bees’ hive.
Goods acquired out of town were the most reported to be sold after
those from homegardens, yet still relatively low (Table 11). Most of
those sales consisted of alive, young chicken to be grown and packed

236
Práticas investigativas em Etnobotânica

raw beans. In both cases, a household sold the item to several others.
Integrating this and the previous section, both gift-giving and small-scale
sell-purchase are found to be the traditional forms of exchange regularly
practiced by the population under study, mainly between women who
exchange items that are mainly originated in their homegardens. Due to
the relevance for the interrelation between this agroecosystem and local
social dynamics, these two forms of exchange are treated in detail in the
next section.

5. The relevance of homegardens in local exchanges: maintaining


social relations

NodeXL was used to examine the relevance that gift giving and petty
sales of goods generated in homegardens have for strengthening social
networks. The social network analysis run with this program is shown
in the next figures and tables. The centrality measures, in-degree, out-
degree, betweenness, and clustering coefficient, defined in the methods
section, were used to sustain the social network analysis.

5.1 Gift exchanges from homegardens

Just as in the prehispanic tradition that is still present across


Mesoamerica, offering of goods such as seeds, fruits, and cooked meals
to authorities, deities, and ancestors, are a means to show respect and
affection and even to gain protection. This tradition is still present
among the population under study. As reported by locals during field
interviews, giving and receiving is an indicator of the maak utsil (‘good
person’); that is, being ‘nice’, ‘respectful’ and ‘honorable’. In this regard,
giving and receiving goods is a way to fulfill socially expected roles.
Figure 2 presents the graph generated with NodeXL for gift-giving
originating in homegardens. The legends consist of the household id
numbers followed by the sex of the person(s) involved in the transaction,
only women givers have been included as they make up this exchange

237
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

network, almost entirely; blue figures correspond to the Kat clan while
orange represent the Cahuich clan and gray represent those that cannot
be considered as members of either of the two clans. Gifts given to the
church or temple and to children who pass by and ask for things have
been omitted from this analysis since the focus is on exchange between
households and individuals in those households. Also, gift given by
children and other female members have been acquainted to female the
head of household or spouse’s head, since she is still the main decision-
maker.
In Figure 2, it is quite clear that some households are literally ‘at the
center’ of exchanges (e.g., ‘15’, ‘9’). The clustering of most Kat households
to the left of the graph (blue), of the Cahuich households in the upper
right (yellow-orange), and of some ‘neither clan’ households (gray) to
the lower right, suggests that people tend to give and receive goods with
people from their own clan or with the same immigrant background.
These findings are further probed with the measures generated by
NodeXL, which are shown for those homegardens that were surveyey
(n = 10) in Table 12.
In the context of this research, in-degree indicates to how many
other individuals ego is connected by receiving a homegarden’s good;
out-degree to how many others by giving away the same; betweenness
centrality shows if the people to whom ego is connected by giving and
receiving goods from gardens are connected among themselves for the
same reason (the higher the betweenness, the less connected the other
individuals are among themselves); clustering coefficient indicates how
close is the ‘small-world’ or ‘clique’ made by ego’s connections, where
the less people involved the tighter it is (a high coefficient).
To illustrate the above, let’s start by describing the case of Ms. ‘9F’
who shows both, the highest betweenness and the lowest clustering
coefficient. She was born within the Cahuich clan and keeps good
relations with parents and siblings, even though she is married to a Kat
man. Therefore, her household is connected to both the Cahuich and
the Kat clans; where Ms. ‘9F’ is connected to several others who are
not linked between themselves (betweenness); she thus makes up an
extended network (Figure 2) while a low clustering, even when she was

238
Práticas investigativas em Etnobotânica

involved in just 18 giving transactions, far from the highest which was
70 (Table 12).

Figure 2 – Social Network Analysis of gift exchanges of goods from


homegardens (women givers to both men and women).

The case of Ms. ‘9F’ contrast with Ms. ‘25F’, who has the lowest
betweenness and in- and out-degrees yet the highest clustering coefficient,
indicating that even though she is a regular giver (31 transactions), her
connections are tight within her network, usually exchanging with the
same people who also exchange between themselves.

239
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Table 12 – Graph metrics of women in homegarden related gift-giving and


whose homegardens were surveyed.

Ego Clan of Age No. of In- Out- Betweenness Clustering Homegardens (n = 10)
ID household gift-giving degree degree coefficient
transactions Plant Extension Age in
species (m2) years*
(n)

Cahuich 36 18 29 940 14
9F Kat 10 11 530.464 0.076
15F Cahuich 77 70 4 11 156.641 0.155 20 1000 15
2F Kat 63 24 3 11 132.964 0.100 38 3000 30
12F None 52 15 4 9 134.269 0.156 43 3000 12
4F Cahuich 43 8 6 6 121.499 0.179 35 2400 16
Cahuich 58 11 48 3000 20
21F Kat 2 6 86.978 0.167
28F None 42 8 4 5 68.077 0.200 36 3600 18
16F None 40 3 4 3 33.814 0.167 51 1400 16
22F None 39 2 5 2 22.531 0.100 44 2400 30
25F Kat 50 31 2 3 7.340 0.250 55 2500 30
Range for the whole 1-70 0-10 0-11 0.0 – 0.0 – N/a N/a N/a
population 530.464 0.833
Average for the sample 39.9 2324 20.1
* Estimated according to the age of the oldest cultivated tree by the visited
household by the time of data collection.

Further illustrating the data presented in Table 12, herewith a brief


description of the role of homegardens in gift-giving for each one of the
women whose homegardens were visited; regarding what is exchanged,
species are listed in Table 13.
- Ms. ‘9F’, attached to both clans, manages the second lowest
homegarden in number of plant species. Although this garden is the
smallest one in the sample and in the village, the species given away as
gift were quite diverse (Table 13).
- Ms. ‘15F’, mother of Ms. ‘9F’, is the oldest woman in the Cahuich
clan. Even when Ms. ‘15F’s homegardens showed the lowest number of
plant species and smaller than most homegardens in the village, she was
involved in 70 gift giving transactions, most of these shared to her eight

240
Práticas investigativas em Etnobotânica

sons and daughters in town, as shown in Figure 2.


- Ms. ‘12F’ is the spouse’s head at an immigrant household. She
is renowned in the community as a ‘good person’ due to her generosity
in offering goods and support to others in town as testified by some
of her friends and neighbors. Indeed, the in and out-degree measures
show that she connects to more people for giving than for receiving. As
indicated by the data in Figure 2 and Table 12, her gift exchange network
is well defined; during fieldwork, it was observed that she is close to her
neighbors of similar immigrant background.
- Ms. ‘2F’ is a never-married lady who shares a household with
her younger brother and sister; she is a leading figure within the Kat
network, respected by her siblings as she is the oldest one and to whom
they owe most respect since their parents passed away. As gathered
during fieldwork, Ms. ‘2F’ is appreciated for her generosity in gift giving
and knowledge sharing, especially to younger people who appreciate
what she knows due to her age. Data in Table 12 indeed shows that she
is connected to more people for giving than for receiving.
- Ms. ‘4F’ exchanged with just a few people within her Cahuich
network, not an outstanding gift-giver (f = 8) even when her homegarden
is considered as large, with plenty of plant species (35, near the average
in town).
- Although born a Cahuich, Ms. ‘21F’ keeps close tights with some
fellows from the Kat clan. This woman is married to a man from out
of town that is the head of the Presbiterian temple. Since her Cahuich
relatives are all attached to the Pentecostal religion, the relationship
with them is a bit distant; this may explain that exchanges with Cahuich
households are not outstanding for this woman (Figure 2). According
to local testimonials, she is respected for her knowledge and virtuosity
as a gardener, perceptible in the beautiful ornamentals visible when one
passes by her house.
- Ms. ‘28F’ is the spouse at an immigrant household. Although
not involved in many gift-giving transactions, these were with people
across different households: her close immigrant neighbors, another
immigrant household from the same town and with the Kat and Kat-
Cahuich households with whom they have established a link by means
of marriage of their sons with local ladies.
- Just as in the previous case, although only a few gift-giving

241
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

transactions were recorded for Ms. ‘16F’, these involve several other
households. This suggests that she is not very attached to a specific ‘clan’
nor to households of her same immigrant background.
- Ms. ‘22F’ is the spouse of a man far related to the Kat who do not
seem attached to them, neither to Cahuich, and thus is here included
within the ‘none’ households. The exclusion in town is presumably
related to reputation of her husband as a conflictive person, which may
affect Ms ‘22F’ the low involvement in gift-giving transactions and
consequent relations established by this means.
- Ms. ‘25F’ is a very respected woman and a leading figure in the
Catholic religion, spouse of a highly respected man from the Kat clan.
Ms. ‘25F’ keeps close tights with her Kat network: a high number of
giving giving transactions, although they take place usually with the
same people.

Regarding species exchanged, Table 13 shows those most frequently


given as gift by each woman in the sample of surveyed homegardens.

Table 13 – Species given as gift by women whose homegardens were surveyed


(all transactions).

Plant’s scientific name 2F 4F 9F 12F 15F 16F 21F 22F 25F 28F
Allium fistulosum L. 1 1 4 15
Annona squamosa L. 1
Asparagus plumosus Baker 2

Bougainvillea spectabilis Willd. 1


Caladium bicolor (Aiton) Vent. 1
Canna indica L 1 1
Capsicum annuum L. 1
Carica papaya L. 11
Catharanthus roseus (L.) G.Don 1 1

Chenopodium ambrosioides L. 4 12

Citrus aurantium L. 1 13
Citrus x limonia Osbeck 1 12
Citrus maxima (Burm.) Merr. 1 1 3

242
Práticas investigativas em Etnobotânica

Citrus paradisi Macfad. 1


Citrus reticulata Blanco 1 2 1
Citrus sinensis (L.) Osbeck 1 1

Cnidoscolus chayamansa McVaugh 3 2 9 1


Cocos nucifera L. 1 1
Coriandrum sativum L. 13 1
Cordyline fruticosa (L.) A.Chev 4
Hibiscus rosa-sinensis L. 2 2
Impatiens balsamina L 2
Ixora xótica L. 1
Jasminum officinale L. 2
Chrysanthemum leucanthemum L. 1
Lilium candidum L 1
Lippia graveolens Kunth 1 1
Mentha x piperita L. 2 1 1 7
Murraya xótica L. 1
Pilea microphylla (L.) Liebm. 1
Portulaca grandiflora Hook. 1 2
Psidium guajava L. 1 1

Rosa spp. 1 1 2 1

Ruta chalepensis L. 1 1

Solanum lycopersicum L 1

Spondias purpurea L. 3 1

Tagetes erecta L. 2 1
3
Tamarindus indica L.

Animals
Duck (Cairina moschata domestica) 1
1 1
Pig (Sus scrofa domestica) (meat)
Chicken and hens (Gallus gallus 1 1 1 1 1 1
domesticus)
24 8 18 15 70 3 11 2 31 8
Total gift-giving transactions

The findings above prove that women tend to share gifts mainly -yet
not exclusively- with people within their same background. In the case
of a woman linked to both clans, her network is quite extended.

243
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

6. Sales-purchase exchanges from homegardens between locals:


Symbolic sales and petty cash generation

Sale-purchase exchanges between locals were found to occur on


a small-scale and between people who have certain pre-established
relationships but not close kin tight. Sales under this category can be
often considered as symbolic. As discussed earlier, symbolic monetary
exchange refers to the payment for a good between ‘intimates’, where
the price of a good is based on the relationship between giver-recipient
rather than on a pre-established market value.
Just as in the previous section, a graph generated by NodeXL
illustrates the sale-purchase of goods from homegardens between local
people. More than 90% of the givers were women and thus, for visual
clarity, the graph has excluded the six transactions were four different
men acted as givers, selling papaya (f = 3), major livestock (f = 2), and
Brosimun aliscastrum Sw. (ramon) leaves. The graph suggests that
symbolic sale-purchase exchanges are less ‘clan bonded’ than in gift
exchanges. In fact, the main difference with gift- exchanges in that sales-
purchases usually take place between people who are not kin related, or
if they are, is not a close relationship. This is illustrated in Figure 3 and
then shortly explained for the women who were found as most relevant
sellers and purchases of goods from homegardens as well as for those
women whose homegardens were surveyed. The latter data are useful to
understand the relationship between local sell-purchase of goods from
homegardens and the structure, composition, and function of these.
Seven out of ten women reported to have sold goods from their
‘solares’. As shown in Table 14, four women were found to be relevant
exchangers in sales-purchases from homegardens, two of whom have
established most contacts established by means of purchases (Ms. ‘7F’
and Ms. ‘12F’ with in-degrees of 5 in both cases) and two of them by
means of sales (Ms. ‘30F’ and Ms. ‘3F’, with out-degrees of 8 in both
cases). Of them, only household ‘12’ fell within the homegarden survey.
However, due to the relevant role of the other three women in purchase-
sale they are herewith mentioned.

244
Práticas investigativas em Etnobotânica

Table 14 – Graph metrics of women in homegarden related sell-purchase and


whose homegardens were surveyed.

Ego Clan of house- Age No. of In-de- Out-de- Between- Clustering


ID hold selling gree gree ness coefficient
transac-
tions
2F Kat 63 9 1 6 55.367 0.119
22F None 39 6 0 6 43.433 0.067
9F Cahuich Kat 36 6 1 5 39.600 0.233

21F Cahuich Kat 58 4 2 4 153.124 0.033


15F Cahuich 77 4 1 4 118.395 0.100
12F None 52 4 5 3 118.467 0.089
4F Cahuich 43 4 2 3 53.267 0.150
16F None 40 0 3 0 11.762 0.000
28F None 42 0 2 0 6.333 0.000
25F Kat 50 0 1 0 0.000 0.000
0 – 15 0-5 0-8 0.0 0.011 – 0-018
-235.300
Range for the whole population

Regarding outstanding sellers of goods from homegarden, both


of these women were found to be specialized in a good and to sell
to people with whom they are not close kin related. Ms. ‘30F’ is an
immigrant woman who was found to have the highest betweenness
centrality (235.300) meaning that she is the selling point of several
other households. She is specialized in Solanum lycopersicum L. and
her customers are neighbors mainly from the Cahuich clan (to whom
she is not kin related). Sales from compound household ‘3’ were made
altogether by three adult women, a mature lady and their two daughters
in-law; specialized in pork meat and bone marrow. Just as in the case of
Ms. ‘30F’, such goods were sold to households to whom there is no kin
relation. This household seems to have established contacts with several
other households regardless of their network or clan background due to
the specialization in pork meat and bone, and probably also due to the
high number of female leading figures (three women).

245
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Figure 3 –Social Network Analysis of sell-purchase exchanges of goods from


homegardens (women givers to both men and women).

Regarding purchasers, both Ms. ‘7F’ a woman from the Kat clan
and Ms. ‘12F’, an immigrant, were found to be the women who most
relationships have established by means of purchased goods from
other’s homegardens. Ms. ‘7F’ is a single mother of three whose husband
immigrated about 10 years ago and never returned. She became a
successful honeybee producer, generating an outstanding income every
harvest season (spring-summer). As a female head of household, Ms.
‘7F’ has no direct access to basic goods produced at bulk at milpas yet
because she has certain purchasing capacity, her supply of goods largely
depends on what she purchases from others (e.g., maize, beans, fruits,

246
Práticas investigativas em Etnobotânica

and whole porks). This woman mainly purchases from people of both
the Cahuich and the Kat ‘clans’ within her own ‘Kat network’ yet in three
cases, she purchased goods from women in the ‘Cahuich’ network. In
the case of whole pork purchased to her sibling, she paid the same price
as any other customer, presumably, because pork meat is a commodity,
regularly sold to intermediaries who come to town to purchase the
entire, alive, animal. In the case of Ms. ‘12F’ who was also reported as a
frequent purchases of goods from people out of town, mainly coriander
and citrics. These two items are among the most frequent consumed
goods (e.g., daily) and thus the household’s own production may not
be enough to cover the demand of household ‘12’, the largest in town
(fifteen members).
Regarding the women whose homegardens were visited, herewith
a brief description of the most outstanding findings about homegarden
related sales-purchases for each one of them.
- Ms. ‘2F’, an elderly woman from the Kat network, reported to
have sold homegarden goods to six people at other households, five of
them from the ‘none network’; the items she sold were herbs used as
spices such as coriander and mint, small onions, and pork meat. Ms.
‘2F’ reported just one purchase to transaction, habaneros pepper sold
by her neighbor Ms. ‘9F’, known as someone who produces this good at
both milpas and gardens.
- Ms. ‘22F’ did not report to have purchased a good from anyone
else’s homegarden, yet in six transactions she sold hens meat, eggs and
even a whole hen to six different people at other households, most of these
from a similar immigrant background. While Ms. ‘2F’s homegarden is
mainly ornamental, she purchases recently born chicken out of town
and grows them in the homegarden
- Ms. ‘9F’, born as a Cahuich and married to a man from the Kat
clan, sold goods to women from the Kat and the ‘none’ networks yet no
sells were reported between she and her Cahuich sibling and parents,
evidencing that petty sales are not usual between close kin (especially, in
first degree blood relation). The sold goods by this woman were peppers
(Capsicum spp.) (f = 3) and Citrus spp. (f = 2); a whole pork was sold

247
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

to her sister in-law, Ms. ‘7F’. In this case, pork is a commodity and thus
produced to be marketed; the person who purchases is thus expected
to pay a fair market price, regardless of the kin relation. She reported
just one purchase transaction, grapefruit purchased to her aunt and
neighbor, Ms. ‘21F’. In this case the price was quite low, just 0.50 peso
cent per fruit (about 6 cents, US dollar) and thus can be considered as a
symbolic price.
- Ms. ‘21F’ reported four selling transactions to four different
people, all of them from the ‘none’ network. The sold goods were
papaya, coriander, sweet orange, and grapefruit; although not reported
in the figure and table above, her husband also sold papayas from the
homegarden a couple of times. This woman reported three purchase
transaction, pork meat and bone from household who are known for
selling this (‘3’) and tomatoes from the woman specialized in this good,
Ms. ‘30F’.
- Ms. ‘15F’, the woman who reported 70 gift-giving transactions,
scarcely sold goods from her garden: four reported transactions to four
different people, none of them from her own ‘Cahuich’ clan. The goods
she sold were coriander (f = 3) and chaya (f = 1). Ms. ‘15F’ reported just
one purchase transaction, tomatoes purchased to the woman known to
sell this item, Ms. ‘30F’, with whom her daughters and daughters in-law
also purchase the same good.
- Ms. ‘12F’ as previously mentioned in this section, this woman
was found to have established more links by means of purchasing rather
than for selling. Ms. ‘12F’ however also sold goods from her garden,
mainly chicken and hens (f = 3) which were purchased by people from
the Kat, ‘none’, and the ‘Cahuich-Kat’ networks.
- Ms. ‘4F’ reported just four selling transactions yet she was
found to be the one (in Table 14) who sold an item to people from all
three networks, being the only household reporting a sale to another
household within the same network. In the latter situation, she and
the receiver have no other kin relationship that being married to two
brothers from the Cahuich network; the items sold by Ms. ‘4F’ were
papaya, zapote (naseberry), and sour oranges. Ms. ‘4F’ reported to have

248
Práticas investigativas em Etnobotânica

purchased pork meat and bone at neighboring household ‘3’, who were
constantly selling these items by the time of data collection.
- Ms. ‘16F’, Ms. ‘28F’, and Ms. ‘25’ reported no sales of good
from homegardens. While neither their purchase transactions show
a relevant number of links established with other households by this
means. Regarding purchases, Ms. ‘16F’ acquired pork and chicken
meat from three different women of her same immigrant background
(‘none’ network); Ms ‘28F’ purchased small onions to Ms. ‘2F’, someone
respected very much by household ‘28’, and pork meat and bone at
household ‘3’; Ms. ‘25F’ also reported pork meat and bone from the
same household.

Table 15 shows those most frequent species sold by each woman at


the visited homegardens.

Table 15 – Most frequent species sold by each woman at the visited


homegardens.

Plant’s scientific name 2F 4F 9F 12F 15F 21F 22F


Allium fistulosum L. 1
Bixa orellana L. 1
Capsicum annuum L. 1
Capsicum chinense Jacq. 2
Carica papaya L. 1 1
Citrus aurantium L. 2
Citrus maxima (Burm.) Merr. 1
Citrus sinensis (L.) Osbeck 1 1
Citrus x limonia Osbeck
Cnidoscolus 1
chayamansa McVaugh
Coriandrum sativum L. 4 3 1

Mentha x piperita L. 1
Manilkara zapota (L.) P. Royen 1
Citrus limetta Risso 1

249
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Capsicum chinenese
Bixa orellana
Animals
Pig (Sus scrofa domestica) (meat) 2
Pig (S. s. domestica) (whole 1
animal)
Chicken and hens (Gallus gallus 3 1
domesticus) (whole)
Hens (G. g. domesticus) (meat) 4
Hens (G. g. domesticus) (eggs) 1 1
Total selling transactions 9 4 6 4 4 4 6

7. Do homegardens ‘mirror’ exchanges and exchangers?

7.1 The structure, composition, and functions of homegardens

As described by Lope-Alzina and Howard (2012), the homegarden


agroecosystem can be conceived as composed by three main axes.
The first one is structure, which, while subjected to chronological
dynamism, can be perceived as two-fold: vertical as composed by
vegetation strata, and horizontal as composed by zones of use and
management. The second axis is composition, which consist of both
biotic (plants, animals, fungi, micro-organisms) and abiotic elements
(water, soil, human designed structures for species adaptation). Last but
not list, the functions of homegardens make up the third mentioned
axis, while a homegarden can provide dozens of functions, the most
frequently reported utilitarian function is food production while the
non-utilitarian one is that of social interaction among people within the
household and between households.
Transects walks and structured questionnaires were carried out
in homegardens pertaining to the women presented in the previous
sections (see Tables 13 and 14). Regarding structure, it was identified
that homegardens in the site under study match the vertical criteria of

250
Práticas investigativas em Etnobotânica

low, medium and high strata made up of up to five layers previously


identified for the Yucatan Peninsula (see LOPE-ALZINA; HOWARD,
2012, p. 21, citing BARRERA, 1980; CABALLERO, 1992; DE CLERCK;
NEGREROS-CASTILLO, 2000); in the horizontal structure, it was
identified that homegardens also match the previously identified criteria
for the region (see LOPE-ALZINA; HOWARD, 2012, p. 22 citing RICO-
GRAY et al., 1990; CABALLERO, 1992; HERRERA-CASTRO, 1994)
consisting of both an intensive and an extensive where the intensive
use area is made up by 1) herbs used as condiments and spices, usually
cultivated in pots, cans and raised wood beds; 2) perennial trees and
shrubs, most of these yielding edible fruits; 3) annual crops, such as
vegetables and crop staples; 4) ornamentals, usually at the front area
of the household where they are readily visible to those who pass by.
Regarding composition, the range number of plant species was 20 to 55
(Table 12) making an average of 40. These numbers fall within the range
previously identified for the Peninsula, which is from 5 to 141 plant
species in a single homegarden and from 18 to 70 average by study site
or case study (LOPE-ALZINA; HOWARD, 2012). Similarly, just like
the literature reports for the region (ibid.), chicken, pork, and turkeys
were the main livestock species found in homegardens while cattle are
less frequent. Regarding functions, the main functions identified for
the sampled homegardens were food production (including spices),
ornament, shadow and wind-breaks, and medicinal production.
About exchanges, from previous section is clear that gift-giving
is by far more relevant than sales in daily life and thus in local social
dynamics. However, both, gift-giving and sales are found to be reflected
in the structure, composition and functions of homegardens:
- Household 2 is composed by three, single, adult siblings. Ms.
‘2F’ acknowledged as ‘generous person’ by other people for all of the
shared goods and knowledge. She and her sister cultivate shrubs used
as ornamentals and spices by the front areas of the house lot, including
those that came to the homegarden in the form of gift (in times previous
to this research), some then given to friends and relatives. Fruits such as
citrics which are daily used and shared with others when available and
are consumed as drink, dessert, beverage, condiment, food preserver,

251
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

and medicine; these species are found mainly by the center of the house
lot. Pepper plants for own consumptions and oldest fruit trees, such as
four trees of Spondias spp. that were planted by the deceased mother
and which are respected and cared on her memory, and a Manilkara
zapota, acknowledged as the oldest tree in town can also be found in this
area. At the back of the household, species with market price are grown
up and cared by Ms. ‘2F’s brother, perceived as the ‘bread winner’; the
plants at this area are seedlings and some plants of Capsicum spp. and
dozens of Cedrela odorata which is perceived as a form of ‘savings’ or
‘investment’ since after seven years, a single trunk of this timber species
may reach a price of at least 300 US dollars.
- While household ‘4’ has 35 different species, near the average
of or the sample (39.9), Ms. ‘4F’ was found as an outstanding local
exchanger, thus homegarden structure, composition, and functions of
this garden is guided by the household needs and tastes. The homegarden
shows the ‘typical’ pattern of ornamentals spread through the front,
fruits trees around the front and middle, and less frequently at the back,
and wild and/or old trees, used as limit markers are found at the back.
Ornamentals were however a predominating feature, which seems to be
related with the heading role that the head of this household has in the
Pentecostal church, where flowers are often brought.
- Ms. ‘9F’ is acknowledged in the village as an entrepreneur
who equals her husband in both pepper cultivation at milpas and
pork production. This is reflected in her garden, where in spite of the
relatively small area this woman has a pepper seedling and plants; pigs
are also grown there, which are usually sold to outsiders.
- Ms. ‘12F’ homegarden was the youngest among the visited
ones, established in a relatively large terrain (3.000 sq. m2) when the
household moved into the village. This garden shows above average
number species, many of those are tolerated, wild plants that were
already in the lot. Being the largest household in town, this garden is
rich in comestibles, especially fruit trees, which are spread all across the
terrain. The tolerated are used as natural fence and some of them as fuel
wood; the latter sold to rustic plant bakers who know this household as
a selling (small scale) point of this good. Ornamentals are quite scarce

252
Práticas investigativas em Etnobotânica

at this household, perceived among the ‘poorest’ in town. As reported in


homegarden literature for other world regions, the presence or absence
of ornamentals relates to economic status.
- As mentioned before Ms. ‘15F’ shows the lowest number of
species and is the second smallest in size. Yet, is it the most ‘active’
garden in gift giving and one with the most defined horizontal structure.
This garden even has a ‘milpa’ component at the back of the terrain,
which is related to the age of household head (80) and wife (77) since it
is difficult to them to travel to the milpa fields. Fruit trees are found by
the center of this garden; vegetables grown in pots which Ms. ‘15F’ often
sells; ornamentals are quite abundant at the front area of this household,
which are often brought to the temple lead by his husband and his son
(see Figure 3).
- Ms ‘16F’ homegarden was far below the average size yet it was
the second highest in plant species even when this woman is apparently
not very active in exchanging homegarden goods as by the data recorded
in the social network analysis. This typical homegarden is the richest
in Citrus spp. with eight different species consumed on a daily basis,
especially given to children as a way to prevent respiratory diseases. Ms.
‘16F’ proudly reported herself as the first person in the village knowing
how to cultivate Cocos nucifera, whose seedlings she has given as gift to
a few other households in town; she also acknowledges herself as one of
the few growers of a couple of Citrus spp. (C. maxima (Burm. f.) Merr.
and C. limetta Risso) that she has also shared to a few other households.
The general perception of other people about this woman is that
although friendly and always willing to help, she likes gossip, so some
other women prefer to keep a distance from her, which as previously
said, may relate to her low involvement in locale exchanges.
- Ms. ‘21F’’s homegarden could be described as the most
‘ornamental garden’, with a display of such plants by the front and readily
visible to those that pass by. This lady is acknowledged as having one of
the ‘more beautiful homegarden’ as expressed by other women during
fieldwork. Fruit trees are abundant by both the front and the middle of
the gardens, which are often sold by Ms. ‘21F’’s husband. At the back,
plants of commercial value such as peppers and young cedar trees are

253
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

found mixed with the native vegetation. This homegarden both reflects
and evidences the reputation of Ms. ‘21F’ as a good gardener while also
provides goods for own-consumption and small-scale market.
- The homegarden at household ‘22’ is here reported as belonging
to Ms. ‘22F’ since her mother in-law inherited it to her a couple of
years ago, yet the elderly woman still makes use of the land area and
continuously uses what she grows there, which explains the high
diversity reported for this garden. In the area surrounding the house
building of Ms. ‘22F’ many ‘young’ ornamentals and shrubs are found.
Fruit trees predominate the middle area of the entire house compound
while cedar trees (timber) predominate those areas far the house
building, for this household, the back and one of the sides. The houselot
is also shared with Ms. ‘22F’ brother in-law and his family (household
‘23’), with several young children who consume to a great extent the
fruits produced in the whole house compound, Ms. ‘23F’ however has
no involvement in the homegarden, reducing her plant ‘nursery’ to just
a few pots with herbs used as spices around her house building (one
traditional Mayan room).
- Ms. ‘25F’ holds the garden with the highest plant diversity, rich
in ornamentals, fruit trees, fuel wood trees, and a space for seedling of
habanero peppers, a commodity. While located right by the main square
and over a monticule area, next to the Catholic church, this household
lot reflects the socioeconomic status and social standing of this Kat
household, headed by a man who has been a local authority in several
periods and in different roles; who is very respected by other people in
the village for his integrity and the improvements he has pursued for
the village.
- Immigrant household ‘28’ is among the largest in town, with 12
members who relate to afew other households (a close network), and
who show low exchange activity. This is reflected in their homegarden,
the largest one in the sample where comestible species (mainly trees)
are found all through the terrain, consumed by household members;
some the ornamentals found in this house were also reported to have
medicinal uses with they apply in the young children at this house. Ms.
‘28F’ reports herself as being the main homegarden manager, even for

254
Práticas investigativas em Etnobotânica

transplanting of timber trees which in other houses are reported as a


male activity. The latter seems to the presence of four adult men in an
age range 20-45 and no elderly man nor women in the household; such
male labor is invested in milpa fields.

8. Conclusions

While the sample is small, and general patterns cannot be defined in


the structure, composition, and functions of homegardens, it is indeed
the ‘uniqueness’ of each homegarden that fits each household needs and
preference while reflecting: 1) relationships ‘within the household’, such
as labor and knowledge distributed according to the age, sex, and role,
and the size of the household; 2) relationships ‘between’ households, as
in the exchange of goods between locals, either on a daily basis (as in
the data recorded in the social network analysis) or in the genetic flow
of agrobiodiversity; 3) the engagement of each household within the
regional production of commodities, as in the case of those homegardens
that serve as part of the productive process of habanero peppers
Although the population under study shows a clear interest in
market involvement as both seller and consumer (e.g. selling peppers,
watermelons, pork to outsiders and purchasing goods that are not
produced in the village or even the region such as grapefruits, and
carrots), the primary functions of these traditional homegardens
that have been documented since the 1980’s (see LOPE-ALZINA;
HOWARD, 2012) still prevail; with the main utilitarian function being
food production, and the non-utilitarian one, being a space for women
can yield social status as they build their own social, cultural, economic,
natural, and symbolic forms of capitals (LOPE-ALZINA; HOWARD,
article under preparation).
In the case of social capital, networks and connections are built
and strengthened; regarding cultural capital, women exert, expand, and
share their agroecological, culinary, medicinal, botanical, veterinary,
and even market knowledge thus also increasing their ‘natural’ capital;
all of these fitting within the local codes of behavior, gaining respect

255
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

and recognition among other women fellow, and in the case of women
at immigrant households, building means to become part of the
community, therefore women gain also yield symbolic capital through
homegardens. As untangled by Bourdieu (1986), such capitals are
convertible. In the context of the research here presented, for example,
plants (natural capital) were found to be a means to build and strengthen
social relations (social capital) through exchanges of goods (economic
capital) and/or knowledge (cultural capital); all of these can yield social
standing and respect from others (symbolic capital) which in turn may
influence the extend of one’s network (social capital), influence the
access to goods (economic capital), opportunities to learn (cultural
capital), and so on.

Acknowledgements

To the Mexican Council of Science and Technology (CONACYT)


for the grant received by the author to pursue doctoral studies at
Wageningen University; to Prof. Patricia Howard for her encouragement
to develop this chapter; to the women and men at Yaxcabá, Mexico for
their kindness and willingness to provide the core information that
makes up this chapter. Finally, to the reviewers and editors of this book.

Literature cited

ARELLANO, J. A. et al. Nomenclatura, forma de vida, uso, manejo y


distribución de las especies vegetales de la Península de Yucatán. In:
FLORES-GUIDO, J. S. (ed.). Etnoflora Yucatanense, v. 20. Mérida:
UADY-CONACYT, 2003.
BOURDIEU, P. Outline of a theory of practice. Cambridge:
Cambridge University Press, 1977.

256
Práticas investigativas em Etnobotânica

BOURDIEU, P. The forms of capital. In: RICHARDSON, J. G. (ed.).


Handbook of theory and research for the sociology of education.
New York: Greenwood Press, 1986.
CALVET-MIR, L. et al. Seed exchange as an agrobiodiversity
conservation mechanism. A case study in Vall Fosca, Catalan Pyrenees,
Iberian Peninsula. Ecology and Society, v. 17, n. 1, p. 29, 2012.
CORZO-MÁRQUEZ, A. R.; SCHWARTZ, N. B. Traditional home
gardens of Petén, Guatemala: resource management, food security, and
conservation. Journal of Ethnobiology, v. 28, n. 2, p. 305-317, 2008.
ELLEN, R. F.; PLATTEN, S. The social life of seeds: the role of
networks of relationships in the dispersal and cultural selection of
plant germplasm. Journal of the Royal Anthropological Institute, v.
17, n. 3, p. 563-584, 2011.
GREENBERG, L. S. Z. Women in the garden and kitchen: the role
of cuisine in the conservation of traditional house lot crops among
Yucatec Maya immigrants. In: HOWARD, P. L. (ed.). Women and
plants: gender relations in biodiversity management and conservation.
New York: Zed Books, 2003.
FREEMAN, L. C. Centrality in social networks conceptual
clarification. Social Networks, v. 1, n. 3, p. 215-239, 1978.
HERRERA-CASTRO, N. D. Los huertos familiares mayas en el
oriente de Yucatán. In: Etnoflora Yucatanense. v. 9. Mérida-Xalapa:
Universidad Autónoma de Yucatán, 1994.
HOWARD, P. L.; PURI, R. K.; LAURAJANE, S. A scientific
conceptual framework and strategic principles for the globally
important agricultural heritage systems programme from a social-
ecological systems perspective. Rome: FAO, 2006.
HUMPHREY, C.; HUGH-JONES, S. Introduction: barter, exchange,
and value. In: HUMPHREY, C.; HUGH-JONES, S. (eds.). Barter,
exchange and value: an anthropological approach. New York:
Cambridge University Press, 1992.

257
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

KEESING, R. M.; STRATHERN, A. J. Cultural anthropology: a


contemporary perspective. 3. ed. London: Harcourt Brace College
Publishers, 2001.
KOCKELMAN, P. Number, unit, and utility in a Mayan community:
the relation between use-value, labour-power, and personhood.
Journal of the Royal Anthropological Institute, v. 13, n. 2, p. 401-417,
2007.
KRAMER, K. Maya children: helpers at the farm. Harvard University
Press, 2005.
LERCH, N. C. Home gardens, cultivated plant diversity, and
exchange of planting material in the Pacaya-Samiria National
Reserve area, northeastern Peruvian Amazon. Ann Arbor, Michigan:
University Microfilms International, 1999.
NEULINGER, K. Ethnobotanische Betrachtung von Hausgärten
in Calakmul, Campeche, Mexiko. Vienna: University of Natural
Resources and Applied Life Sciences (BOKU), 2009.
OPSAHL, T.; AGNEESSENS, F.; SKVORETZ, J. Node centrality in
weighted networks: generalizing degree and shortest paths. Social
Networks, v. 32, n. 3, p. 245-251, 2010.
PARRY, J.; BLOCH, M. Money & the morality of exchange.
Cambridge: Cambridge University Press, 1989.
PEREA-MERCADO, S. L.; ALAYÓN, J. A.; LOPE-ALZINA, D. G.
La diversidad vegetal en solares y el empoderamiento de mujeres
en comunidades aledañas a la Reserva de la Biosfera Calakmul. In:
VÁSQUEZ-DÁVILA, M. A.; LOPE-ALZINA, D. G. (eds.). Aves y
huertos de México. Oaxaca: Carteles Editores, 2012. p. 90-91.
PORTES, A. Social capital: its origins and applications in modern
sociology. Annual Review of Sociology, v. 24, n. 1, p. 1-24, 1998.
QSR. NVivo qualitative data analysis software, version 8. QSR
International Pty Ltd., 2008.

258
Práticas investigativas em Etnobotânica

RESNICK, P. et al. Reputation systems. Commun. ACM, v. 43, n. 12,


p. 45-48, 2000.
RESNICK, P.; ZECKHAUSER, R. Trust among strangers in internet
transactions: empirical analysis of eBay’s reputation system. Advances
in Applied Microeconomics, v. 11, p. 127-157, 2002.
RUPP, K. Gift-giving in Japan: cash, connections, cosmologies.
Stanford (CA): Stanford University Press, 2003.
SMITH, M. et al. Analyzing (social media) networks with NodeXL.
In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON COMMUNITIES AND
TECHNOLOGIES, 4., 2009. Proceedings… Springer, 2009.
THE PLANT LIST. 2010. Version 1. Published on the Internet.
RUONAVAARA, D. L. Traditional household gardens of the Petén,
Guatemala. Easton: College of Agriculture and Natural Sciences,
Michigan State University, 1996.
WATTS, D. J.; STROGATZ, S. Collective dynamics of ‘small-world’
networks. Nature, v. 393, p. 440-442, 1998.
WILK, R. R. Economies and cultures: foundations of economic
anthropology. Oxford: Westview, 1996.
WOJCZEWSKI, S.; VOGL, C.; ALAYÓN, J. A. El rol de la mujer en
hogares campesinos mayas de Calakmul. In: VÁSQUEZ-DÁVILA, M.
A.; LOPE-ALZINA, D. G. (eds.). Aves y huertos de México. Oaxaca:
Carteles Editores, 2012. p. 102-103.
ZELIZER, V. Payments and social ties. Sociological Forum, v. 11, n. 3,
p. 481-495, 1996.
ZELIZER, V. Fine tuning the Zelizer view. Economy and Society, v.
29, n. 3, p. 383-389, 2000.

259
EL MILENARIO SISTEMA DE LA MILPA MAYA BAJO
ROZA-TUMBA-QUEMA DE YUCATÁN, MÉXICO EN
LOS ÚLTIMOS AÑOS1

Ramón Mariaca Méndez

El Colegio de la Frontera Sur, Chiapas, México.


[email protected]

Introducción

En la actualidad el pueblo maya es un conjunto de 29 grupos dispersos


en la Sierra Madre Oriental, del sureste de México, Belice, Guatemala
y las porciones occidentales de Honduras. Todos hermanados por su
lengua y cultura, aunque cada uno con especificidades propias. Abarca
un total de casi 400,000 km2 (DE LA GARZA, 1998). Su conformación
se inicia, de acuerdo con las evidencias arqueológicas, alrededor del
siglo XVIII a.C. (COE, 1995; PÉREZ SUÁREZ, 1998), y no obstante
haber desarrollado características propias, la influencia de otros
pueblos siempre ha estado presente (PÉREZ SUÁREZ, 1998). Incluso
en el siglo XVI era parte del área cultural denominada Mesoamérica
(KIRCHHOFF, 1960).
El territorio maya es sumamente heterogéneo, de tal manera que
Morley (1975) lo dividió en cuatro regiones: las tierras bajas del norte,
las tierras altas del norte, las tierras bajas del sur y las tierras altas del
sur. El grupo mayense con mayor población en la actualidad es el maya

1 Los resultados aquí vertidos se obtuvieron en el marco del proyecto “Conservación,


uso sostenible, incremento de la capacidad productiva y revalorización de la milpa
maya en Yucatán” del Programa Presupuestario F003 Programas Nacionales
Estratégicos de Ciencia, Tecnología y Vinculación con los Sectores Social, Público
y Privado, con número de referencia YUC-2018-03-01-119959.

261
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

yucateco (773,287 en 2022 según INEGI) que habita en la Península de


Yucatán, misma que corresponde a las tierras bajas del norte.
Se trata de una gran plataforma de piedra caliza que sobresale de las
aguas del Golfo de México, que la limita por el oeste y el norte; las costas
orientales, circundadas por arrecifes, dan al mar Caribe (COE, 1995).
Su origen geológico es diferencial y comienza a emerger en el paleoceno
(hace unos 65 millones de años) en su porción sur, la Sierra Maya, y
continúa aun en la parte noreste (LÓPEZ RAMOS, 1973). El único
accidente orográfico de importancia en la porción norte es la Sierra Puuc
con forma de “V” invertida y cuya altitud es menor de 170m. Carece de
ríos salvo el Champotón y los limítrofes Hondo y Candelaria al sur, en
cambio dada la permeabilidad de la caliza, cuenta con una amplia red
subterránea de agua, misma que aflora en puntos de desgaste del karst,
denominados cenotes.
Su clima es cálido subhúmedo con lluvias en verano en la parte
sur y conforme se acerca uno a la costa norte es cada vez más seco, al
grado de haber pequeñas áreas de condiciones xerófilas ahí. También
son frecuentes fuertes ciclones que barren la Península en ciertos años
(CONTRERAS ARIAS, 1958).
Los suelos son someros y pedregosos (litosoles rendzicos), y aunque
algunos como el hol lumm (hol= agujero; lumm=suelo) poseen altos
niveles de materia orgánica no es ésta aprovechable, razón por la que
son poco fértiles, excepto en algunas zonas aledañas a la Sierra Puuc
(AGUILERA HERRERA, 1958).
Como consecuencia de las condiciones anteriores, la vegetación de
la península es selva mediana en su parte sur, selva baja hacia el norte y
matorrales xerófilos en la costa (MIRANDA, 1958).
Estas condiciones harían difícil la supervivencia de una importante
cultura como la maya del clásico y posclásico con altos niveles
poblacionales, equivalentes a alrededor de 5,000 personas por km2 en
las zonas urbanas y de 100 a 200 en zonas rurales, si no fuera por un
inteligente sistema de aprovisionamiento de alimentos para la población.
Tan difícil es que el cronista Diego de Landa, en el siglo XVI, describiría
así las condiciones de producción de Yucatán:

Yucatán es una tierra la de menos tierra que yo he visto,


porque toda ella es una viva laja, y tiene a maravilla poca

262
Práticas investigativas em Etnobotânica

tierra, tanto que habrá pocas partes donde se pueda cavar


un estado sin dar en grandes bancos de lajas muy grandes
[...] y es cosa maravillosa que sea tanta la fertilidad de esta
tierra sobre las piedras y entre ellas [...]. Todo lo que en ella
hay y se da, se da mejor y más abundantemente entre las
piedras que en la tierra, porque sobre la tierra que acierta a
haber en algunas partes ni se dan árboles ni los hay, ni los
indios en ella siembran sus simientes, ni hay sino yerbas; y
entre las piedras y sobre ellas siembran y se dan todas sus
semillas y se crían todos los árboles, y algunos tan grandes
y hermosos que maravilla son de ver [...]. (LANDA, 1983
[1566], p. 130).

Alonso de Ponce años después, en 1587 (CIBEIRA; TABOADA,


1977), las definiría de la siguiente manera:

Siembran los indios entre piedras, parece que no hay


humedad ni jugo ninguno, y con todo esto es la tierra tan
buena y fértil […] sino con solo pegar fuego a su tiempo
a un monte […] así produce cañas de maíz muy altas y
recias […] y hasta tres mazorcas […].

1. La cosmovisión del pueblo maya

Terán y demás autores (1998) mencionan que dada la gran


inseguridad a que se ve sujeto el campesino maya yucateco para producir
cosechas, debido a las condiciones ecológicas de la Península, tales como
una alta aleatoriedad pluvial, los huracanes y las plagas, ha tenido que
desarrollar a lo largo del tiempo plantas y prácticas de corte tecnológico
y ritual. Por ello, bajo la perspectiva cultural maya, las creencias y
prácticas religiosas deben ser consideradas como parte inseparable de la
estrategia agrícola, puesto que sin la ayuda de los dioses la producción
sería imposible.
Visto así, la vida maya no puede explicarse sin tener en el centro de
todo a seres inmateriales con los que la gente interactúa permanentemente
en todas sus actividades (MARIACA 2015).

263
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Terán y Rassmusen (1994) al hablar de la gente de Xocen, Yucatán,


lo hacen ver así:

El sistema religioso está formado […] por el inmenso


número de dioses y seres divinos que nosotros los
investigadores dividimos en prehispánicos y católicos, pero
que los pobladores de Xocen viven como como una sola
realidad divina y sobrenatural. El segundo componente de
dicho sistema son las ceremonias y los rituales […] el tercero
son los seres humanos que dirigen el culto y ceremonia
[…] Los Xocenenses viven un mundo de dioses, diosas,
santos, santas, ángeles y un sinfín de entes sobrenaturales
[…]. Estos actúan en ceremonias individualmente o en
pequeños grupos durante el año, excepto en la ceremonia
de petición de lluvias o Ch’a Chaac, donde se reúnen todos.

Las diversas fuentes prehispánicas dan cuenta de su profundidad


histórica, misma que ha recibido aportes culturales diversos como fue
el pensamiento judeo-cristiano a partir del siglo XVI (THOMPSON,
1988; BARTOLOMÉ, 1988, 2006; TERÁN; RASMUSSEN, 1994; TUZ
CHI, 2013).

Había ídolos de las labranzas, ídolos de la mar y otros


muchos géneros de cada cosa, diferentes en las figuras unos
ídolos de otros […] (Relaciones de la Villa de Valladolid
TII: 39).
Estos indios han tenido desde su gentilidad sus ídolos que
han adorado, y aún ahora se tiene por cierto que hacen lo
mismo y que adoran unos ídolos de barro, los cuales dicen
tienen en sus casas escondidos y en los montes y milpas
donde los van adorar y sacrificar, ofreciéndoles una resina
a manera de incienso que llaman copal […]. (Relación de
Sacalaca y Tahmuy TII:277).

Gabriel (2004), mencionando fuentes de los siglos XVI al XVIII,


deja claro como la mayoría de las ceremonias y actos rituales más
importantes de la actualidad, estaban presentes entre la población maya,
quienes eran acosados fuertemente por los clérigos. Menciona como
espacios ceremoniales a: la casa, el solar, la iglesia y el solar de ésta, la
milpa, el monte y el colmenar.

264
Práticas investigativas em Etnobotânica

Las razones para estas ceremonias, tal como ahora eran de petición
de agua para las sementeras, la salud, la hacienda, la buena caza y pesca.
El actor principal era el sacerdote maya. Se hacían altares similares a los
canchés de hoy, se ofrecían balche’, saka’, cacao en pozol, elotes, panes
grandes de maíz ceremoniales cocidos bajo tierra, animales, incienso
(copal, pom o kik), velas, entrega de las ofrendas a los cuatro rumbos,
limpias, profecías y adivinanzas. Se bendecían aves, se hacían ceremonias
de protección a la nueva casa, de los pueblos y a las colmenas, así como
rituales de cazadores y de petición de lluvias (GABRIEL, 2004).
La cantidad de entidades mayas sobrevivientes en la mente de la
gente de la actualidad es muy alta (TERÁN; RASMUSSEN, 2008). Para
ellos, están presentes tanto algunos de los altos y principales dioses
mayas, fuertemente identificados con las clases dominantes, Yuum
kaab “el dios del mundo” (probablemente Itzamná) y su compañera la
virgen Kolebil Muxuun Kaab’ “la diosa del mundo” (probablemente la
diosa O o Ix Kab’), así como chaques y chacas de mayor y menor rango.
Ellos se entremezclan y sincretizan, por ejemplo: el dios padre católico
sustituye a Itzamná o Hunab Ku; Jesús es mencionado en el Chaa Chac
de Xocen con cuatro acepciones probablemente dirigidas a los cuatro
puntos cardinales más otro “de Tulum”, probablemente asociado a un
dios precortesiano. Veintiocho santos católicos, los 12 apóstoles como
unidad, los tres reyes magos, ocho santas más la santa iglesia católica,
36 vírgenes asociadas a María y siete arcángeles son mencionados
como guardianes sobrenaturales de las lluvias, los vientos, los montes,
las milpas, de las venas de agua, de los pueblos, de los ranchos, de las
personas (TERÁN; RASMUSSEN, 2008).
También está presente la Cruz, misma que los autores anteriores
concuerdan con Redfield y Villa Rojas es la Cruz Maya más que la
católica.
Finalmente, y como resultado de la observación meticulosa que el
milpero maya tiene, se ha generado un conjunto importante de prácticas
donde la magia simpatética y el animismo juegan un importante papel. La
gente les llama “secretos” de la agricultura (MARIACA, 1994). Algunos
ejemplos son: las fases lunares como rectoras de actividades humanas
y agrícolas; convencimiento, avergonzamiento, castigo y cuereo con
cinturón o machete a árboles improductivos para obligarlos a dar fruto;
uso de un trapo rojo, que se usa como un eficaz protector contra el mal de
ojo, enfermedad de filiación cultural generada por personas que tienen

265
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

la vista muy fuerte y que dañan a un niño, un cachorro o una planta;


hacer una colección de partes de animales (plumas, patas, colas, por
ejemplo) que servirán para propiciar una mejor cacería de esas especies;
pegarle a un árbol nueve veces (número asociado a los niveles del cielo
maya) para que carguen bien esa temporada; pedirle permiso a la chaya
(Cnidosculus chayamansa McVaugh) para cosechar sus hojas.

2. El manejo de la selva maya a través del sistema de roza-tumba-


quema en los siglos XX y XXI

Schmidt (1980) menciona que el pueblo maya desarrolló un


conjunto de estrategias productivas muy importantes, tales como: el
cultivo de terrazas modificando laderas, lomas y planicies ligeramente
inclinadas; el cultivo de humedad en la profundidad de valles, barrancas
y ríos; campos drenados o camellones en zonas inundadas; cultivo de
tablones en forma de terrazas irrigadas; el riego por canal; cultivo de
riego llevando agua a los campos basados en la explotación intensiva del
trabajo humano; horticultura.
Al ser parte de Mesoamérica y contar con la comunicación suficiente
con otros pueblos, sería de esperarse que los mayas yucatecos supieran
de las formas de optimización de la agricultura, pero está claro que las
condiciones de sus tierras poco lo permitirían.
A la fecha han sido planteadas, con base en trabajos arqueológicos
principalmente algunas propuestas de agricultura intensiva de manera
puntual para algunas ciudades del clásico y del posclásico, tales como
riego llevando agua desde aguadas (Edzná), cultivo en camas de tierra
acumulada de manera artificial (Tdzibilchaltún), uso de camas aéreas de
cultivo hortícola llamadas “canchés” en la actualidad e incluso cultivo
permanente y escalonado en suelos fértiles en la Sierra Puuc (TERÁN,
1989; GÓMEZ POMPA, 1998).
Lo cierto es que las referencias etnográficas (VILLA ROJAS,
1987 por ejemplo) o tecnológicas de la primera mitad del siglo XX
(STTEGERDA, 1941; PÉREZ TORO, 1945) cuando la península aún
vivía un relativo aislamiento geográfico, dan cuenta de que la población

266
Práticas investigativas em Etnobotânica

maya cultivaba sus campos de maíz y especies asociadas, conocidos


como milpas, complementando su alimentación con el cultivo del
traspatio y algunas otras actividades como la cacería.
Y precisamente parte de la respuesta de cómo vivía la población
maya del período prehispánico, apareció a partir del estudio de cómo
las comunidades mayas contemporáneas estaban subsistiendo hacia la
década de los 1970-80.
El Estado de Yucatán comenzó a tener una caída en el volumen de
su producción maicera a principios de los 70 del siglo XX, y la respuesta
de las autoridades fue la de ampliar la frontera agrícola estimulando
a los campesinos para que sembraran una mayor superficie a costa de
la selva existente. El repunte fue momentáneo, pero en pocos años la
producción volvió a descender.
En busca de soluciones se invitó al Investigador Efraim Hernández
Xolocotzi, quien había trabajado dos décadas antes en la milpa yucateca,
describiéndola desde una perspectiva agronómica (HERNÁNDEZ
XOLOCOTZI, 1959). Él pidió tiempo para dar una respuesta, y el
contar con un equipo interdisciplinario de asistentes que vivieran en
una comunidad maya durante algunos años, haciendo investigación.
Los resultados más interesantes (HERNÁNDEZ XOLOCOTZI;
PADILLA Y ORTEGA, 1980; HERNÁNDEZ XOLOCOTZI et al., 1995)
fueron las descripciones de una cantidad importante de actividades
productivas que las familias mayas desarrollan a lo largo del año, y
que les permite entre todas, suplementar su economía y permitir su
reproducción. Asimismo, se encontró que el principal capital con que
esta sociedad agrícola contaba no era el suelo, sino la vegetación, misma
que al ser manejada de una manera consciente e inteligente permitía no
solo la reproducción familiar sino de la selva y la cultura misma.
Con respecto a la milpa, se encontró que existe una estrecha
correlación entre los años de regeneración del monte que se fuera a
tumbar para el cultivo y los rendimientos obtenidos, de tal manera que
el crecimiento poblacional al interior de las comunidades que exige
más superficie de cultivo, estaba propiciando el corte de la vegetación
secundaria cada vez a menor edad, y por ello el que no se reflejara
la ampliación de la superficie cultivada en mayores volúmenes de
producción.

267
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Al margen de lo anterior, el Maestro Hernández Xolocotzi pudo


vislumbrar todo un sistema de aprovechamiento y manejo de recursos
naturales que denominó Sistema de Roza-Tumba-Quema, donde la
milpa productora de maíz es solo uno de los varios subsistemas de
manejo. En ese sentido, tiene dos acepciones: a) la parcela, donde se
cultivan especies anuales, donde el maíz es la principal especie cultivada;
y b) el sistema de manejo y aprovechamiento de la selva (MARIACA,
2015).
Con respecto a la milpa como sistema de manejo, se han identificado
los siguientes subsistemas para Yaxcabá, Yucatán, que en la década de
los 1970-80 era los siguientes (MARIACA, 1988; ARIAS REYES, 1991):
(1) milpa o koól;
(2) pach pakal o huerto hortícola aledaño o dentro de la milpa;
(3) solar, traspatio o huerto familiar;
(4) cacería y captura de fauna;
(5) aprovechamientos forestales;
(6) apicultura;
(7) meliponicultura;
(8) cultivo de rejolladas o hundimientos circulares de la tierra de
carios metros de profundidad;
(9) pesca en cenotes y aguadas;
(9) producción de cal a partir de hornos tradicionales;
(10) producción del carbón a partir de hornos tradicionales;
(11) otras actividades agrícolas y pecuarias, por ejemplo, cultivo de
cítricos o cría de cerdos;
(12) la práctica de algún oficio o trabajo remunerativo;
(13) comercio

A la par de estos hallazgos, Terán y Rasmussen (1992), trabajando en


la comunidad de Xocen, encuentran resultados similares y profundizan
en la descripción del sistema y en la base cosmológica que lo sustenta.
Sanabria (1986) también contribuyó al describir los aprovechamientos
forestales de la población de Xuul.
Como resultado de diferentes factores que han aparecido o se han
incrementado en los últimos 25 años, el sistema de roza-tumba-quema
y su entorno están sufriendo cambios importantes que amenazan su

268
Práticas investigativas em Etnobotânica

estabilidad en el mediano plazo, aunque la resistencia cultural sigue


siendo fuerte ya que, para gran parte de la población local, ser maya
significa seguir siendo milpero (PÉREZ RUIZ, 2014).
Como resultado del trabajo de campo del autor de este trabajo,
realizado en 2016 y 2022, cotejándolo con su propia experiencia entre
1987 y 1990, es factible apreciar algunos de estos cambios acontecidos
en las últimas tres décadas:
Nivel 1 el entorno de la agricultura: (1) crecimiento y urbanización
de los pueblos milperos; (2) desaparición de caminos blancos de
caliza por pavimentación del estado de Yucatán; (2) incremento de los
servicios públicos en el campo; (3) agresiva penetración de productos de
consumo familiar industrializados; (4) incremento de fuentes familiares
de dinero, tanto comunitarias como foráneas; (5) creciente presencia
de automotores, triciclos y plásticos en las comunidades; (6) fuerte
penetración de iglesias neo evangélicas en detrimento de la cultura y
organización maya; (7) polarización económica y social en la población
local; (8) cambios en la dieta dirigida a productos chatarra; (9) cambios
en la morbilidad poblacional con una mejor atención médica oficial
pero con un incremento de enfermedades emergentes no transmisibles;
(10) incremento del nivel educativo; (11) alteraciones en el patrón de
lluvias como producto del proceso global de cambio climático.
Nivel 2 en la agricultura: (1) un fuerte patrocinio de agroquímicos
inorgánicos; (2) tecnificación de cultivos comerciales (hortalizas,
frutales); (3) fuerte incremento de los sistemas de riego parcelarios;
(4) la investigación oficial orientada a la producción comercial; (5) la
formación profesional agrícola orientada a la producción comercial; (6)
incremento en la edad de los agricultores llegando a superar en promedio,
los 60 años; (7) alquiler y compra de tierras ejidales; (8) intensificación
del cultivo de los kancabales; (9) creciente contaminación de aguas y
suelos; (10) baja en las poblaciones de entomofauna; (11) casi ausencia
de servicios de extensión agrícola oficiales; (12) una incipiente clase
milpera con tendencia agrocapitalista.
Nivel 3 el sistema de roza-tumba-quema: (1) decremento de la
meliponicultura, los hornos tradicionales y cultivo de rejolladas; (2)
incremento de la apicultura y otras actividades agropecuarias, artesanales
y laborales que proporcionan dinero; (3) el mercado regional en mucho

269
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

es abastecido por productos proporcionados por el anterior sistema


neoliberal; (4) bajos precios a la mayoría de los productos del sistema;
(5) subsidio de otros subsistemas y de dinero al subsistema milpa; (6) la
familia campesina extensa sigue siendo una estrategia de manejo y uso
de los recursos naturales; (7) el sistema, los milperos y su cultura son
responsables de la conservación de la selva y sus recursos incluyendo
la evolución del agro germoplasma, aunque la ausencia actual de gente
joven es un llamado de atención; (8) incremento de la edad de montes
en algunas comunidades, producto de la emigración de la fuerza de
trabajo joven, mientras que en otras la presión sobre la tierra es tal que
los montes previos a la milpa que antes alcanzaban entre 12 y 20 años,
ahora están entre los cinco y seis años; (9) algunas prácticas innovadoras
en el manejo de los recursos; (10) incipiente penetración reciente de
agricultura ecológica; (11) decremento de la base cosmológica del
sistema (muy grave problema); (12) decremento de la cultura milpera
entre las nuevas generaciones.
Debido a lo anterior, en el presente trabajo, se hace una descripción
del sistema de Roza-Tumba-Quema practicado por la familia maya
yucateca, en el entendido que este sistema ha demostrado ser altamente
sostenible y resiliente, no solo en el presente, sino en el pasado,
asegurando la persistencia de la selva con su flora y su fauna y el ser
humano en los últimos 3,000 años.

3. Descripción de los sistemas de producción y actividades que


permiten la supervivencia de la familia campesina maya en el presente

Por su importancia, a continuación se hace una breve descripción


de diez de ellos, unos por su importancia central en el sistema (milpa
o koól; pach pakal o huerto hortícola aledaño o dentro de la milpa;
solar, traspatio o huerto familiar; cacería; aprovechamientos forestales;
apicultura) y otros por estar en riesgo de desaparecer (meliponicultura;
cultivo de rejolladas o hundimientos de la tierra; pesca en cenotes y
aguadas; producción de cal a partir de hornos tradicionales y; producción
del carbón a partir de hornos tradicionales.

270
Práticas investigativas em Etnobotânica

3.1 La milpa ko’ol y el pach pakal o pet pach

La milpa es el subsistema que produce maíz, frijol calabaza y algunas


otras especies para el consumo familiar, en tanto que el pach pakal,
que se encuentra en su interior, es un área productora de hortalizas.
Ambos son resultado de la roza, tumba y quema de montes de edades
que permiten que la fertilidad del suelo se recupere del anterior ciclo de
cultivo.
Mariaca y colaboradores (2014) definen a la milpa tropical como un
sistema agroforestal y faunístico en el que la familia campesina obtiene
maíz, múltiples especies cultivadas asociadas e intercaladas, arvenses,
fauna alimenticia (aves, mamíferos e insectos principalmente), plantas
medicinales, hongos, leña y algunos otros productos que permitan la
reproducción de la unidad de producción. Su manejo y conservación
dependen del conocimiento tradicional del grupo, de su cosmovisión, y
del sentimiento, el cariño y la dedicación puestos en su cultivo.
Un aspecto importante es que, en la milpa yucateca, la cosmovisión
campesina tiene la misma importancia que la tecnología (TERÁN;
RASMUSSEN, 1992), ya que el mundo visible es una combinación
indisoluble entre el hombre, la naturaleza y los seres sobrenaturales que
pueblan el mundo y el inframundo (PÉREZ RUIZ, 2014), de tal forma
que hacer milpa y ser milpero es un complejo cultural.
En otras palabras, la milpa maya no puede ser entendida solo a partir
de su tecnología, su adaptación al ambiente, su profundidad histórica y
su función económica, si no se considera al ser humano que la cultiva,
no solo basado en sus conocimientos y habilidades, sino también en su
forma de ver al mundo, espacio poblado por una importante cantidad
de seres inmateriales, propietarios de la selva, el agua, los vientos, las
plantas y los animales, a los cuales hay que pedir permiso y agradecer a
través de rituales diversos y oraciones personales, el usufructo temporal
de estos bienes.
La comunidad maya se encuentra dividida bajo acuerdo interno en
“rumbos” que son espacios reconocidos para el usufructo de una familia
extensa o de un grupo de familias emparentadas, constituyendo estos el
sistema tradicional de distribución y acceso a la tierra (PÉREZ RUIZ,
2014).

271
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

El campesino recorre su rumbo al ir a su milpa o de cacería,


seleccionando un monte situado al poniente de su cultivo actual que
tenga la mayor edad posible, siempre que los suelos sean convenientes.
Lo selecciona, marca y mide dejando una brecha como referente para
otros milperos de que el terreno ha sido apartado.
Arias Reyes (2005) caracterizó las prácticas más importantes de la
milpa, donde el autor del presente trabajo ha agregado las cuatro últimas:
(1) pasear el monte (Shimba cash)
(2) solicitud ejidal
(3) brechar (Holchak)
(4) medición (Pis)
(5) tumba (Kool)
(6) guardarraya (Miis halkool)
(7) chapear cañada (Koo lsacá) en milpas de segundo año
(8) quema (Took)
(9) siembra (Pakal)
(10) resiembra (Hulben)
(11) ceremonia de petición de lluvia (Ch’achaak)
(12) aplicación de herbicida
(13) deshierbe o chapeo (Haran chak)
(14) corte de retoños (Chak kuché)
(15) dobla (Uats)
(16) cosecha (Hooch)
(17) otras ceremonias agrícolas (peticiones y primicias).
(18) transporte de la cosecha
(19) almacenamiento
(20) desgrane

Un aspecto interesante de esto es que al no ser estática la milpa, en


los últimos 50 años han aparecido y desaparecido elementos. Morley
(1975) menciona que hasta la década de los 1950 las únicas variantes
que había tenido la milpa desde tiempos prehispánicos a esa fecha, era
la introducción del hierro; también aparecieron los cerillos. Hacia los
1980 fueron introducidos los fertilizantes inorgánicos, los herbicidas
y los insecticidas (DUCH GARY, 1992); también fueron apareciendo
los plásticos, además comenzó a cambiar paulatinamente la forma de

272
Práticas investigativas em Etnobotânica

vestir de los milperos abandonándose el calzón de manta. También


es esa década desaparecieron los cercos, mencionados por Pérez Toro
en 1945. Estos eran una estructura obligada por la introducción de la
ganadería bovina en épocas virreinales (GARCÍA BERNAL, 1994), ya
que el ganado terminó por ser una plaga tan dañina como la langosta
(PÉREZ TORO, 1945). Sin embargo, la Ley Ganadera de 1972, terminó
por expulsar a la ganadería de los ejidos en 2005, en beneficio de los
ganaderos del estado, lo que hizo innecesaria esta práctica que requería
mucho trabajo.
Actualmente, hemos observado una sustitución de las fibras y
materiales vegetales por plásticos, un predominio de la dieta chatarra
urbana en forma de refrescos y botanas harinosas así como alimentos
industrializados, una disminución en el cultivo de la diversidad de
plantas y también una acelerada desaparición y transformación de la
cosmovisión maya-cristiana por influencia de la modernidad urbana y
la penetración de nuevas religiones de corte neo evangélico que invitan
a los fieles a dejar atrás toda forma previa de pensamiento animista.
También están apareciendo, impulsadas por el exterior académico
y por la teología por la tierra, opciones agroecológicas diversas como el
uso de abonos y pesticidas orgánicos, la lombricultura y la introducción
de abonos verdes.
Como resultado de lo anterior se están observando milperos
que abusan de agroquímicos industriales y que tienden al cultivo
monoespecífico de maíz, incluso compran semillas híbridas y variedades
fitomejoradas comerciales; milperos innovadores que aceptan opciones
sanas para el ambiente y que conserven su agrobiodiversidad; y
finalmente, menos milperos mayeros, esto es, que hablan maya y
conservan sus creencias maya-cristianas.
En la mayor parte de los casos, la milpa está recibiendo un subsidio
a partir del ingreso económico, producto de los otros subsistemas
mencionados o de la migración. La razón de esta inyección de recursos
externos a un subsistema que produce maíz y plantas asociadas se
debe a que una familia maya rural sin milpa es impensable, por la
relación que esta tiene con su cultura. Sin embargo, hay un sector de
los pueblos donde el jefe de familia comienza a pagar para que se la
hagan y después terminan por dejar de hacerla. Estas son familias de

273
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

comerciantes, con control político en los municipios y últimamente en


los ejidos, casi siempre con apellidos hispanos, y cuyo fin ya no es la
economía campesina sino la de mercado (PÉREZ RUIZ, 2014). Hace
años observábamos comerciantes que pagaban muchas más hectáreas
de lo acostumbrado con la finalidad de vender el maíz excedente.
Regresando a la milpa, el conocimiento ecológico que los
campesinos mayas han desarrollado a lo largo de milenios para adaptar
sus plantas cultivadas a un ambiente tan difícil es bastante profundo
(COLUNGA; ZIZUMBO, 2005; ZIZUMBO et al., 2012). Trabajos como
los de Pérez Toro (1945), Hernández X. (1959), Terán y Rasmussen
(1994), Terán y colaboradores (1998) y Domínguez Aké (1996) entre
otros, dan cuenta de primera mano sobre la complejidad de las prácticas
agrícolas, el germoplasma cultivado en la milpa y el pach pakal y sobre
todo el razonamiento material e inmaterial que soporta cada una de las
estrategias seguidas.
Para Rodríguez y Arias Reyes (2014), entre los factores biofísicos
considerados por el milpero, se incluyen:
i) suelo, características edafológicas y de paisaje (e.g., altillos
y cerros pedregosos con suelos de Tzekel y planadas arcillosas de
Kankab), series de suelos inundables derivados de una diversidad de
suelos relacionados con tipos de vegetación y su consecuente utilización
agrícola y forestal plasmado en una rica terminología de clasificación
maya (DUCH, 1995);
ii) clima (precipitación, sequía, temperatura, vientos y fases
lunares);
iii) condiciones de humedad del suelo y vegetación; y
iv) fenología y desarrollo de especies arvenses con respecto al
cultivo y presencia de plagas.
Entre los factores socioeconómicos considerados por el milpero
está la disponibilidad de fuerza de trabajo familiar, recursos económicos
para comprar fertilizantes y herbicidas o contratar familiares o amigos
como asalariados eventuales. Por último, los factores culturales son
aquellos conocimientos empíricos, mágico-religiosos que el milpero
considera ayudan a lograr la producción, así como una relación de
correspondencia entre la naturaleza y su vida personal, familiar y de su
comunidad (RODRÍGUEZ; ARIAS REYES, 2014).

274
Práticas investigativas em Etnobotânica

En la milpa ko’ol, el campesino maya cultiva normalmente en


policultivo: maíz (Zea mays), frijol (Phaseolus vulgaris) e ibes (P. lunatus),
calabaza (Cucurbita pepo, C. mixta, C. moschata). Ocasionalmente
sembrará dispersas dentro de la milpa: Lagenaria ciseraria, makal
(Xanthosoma yucatanense), makal de bejuco (Dioscorea alata), yuca
(Manihot esculenta), camote (Ipomoea batatas), jícama (Pachyrrizus
erosus).
Finalmente, tolerará y hasta dará alguna protección a plantas que
germinan por sí solas, tales como: chile (Capsicum annum), jitomate
(Lycopersicum esculentum), guano (Sabal japa, S. mauritiformis y S.
mexicana), chaya (Cnidosculus chayamansa) y papaya (Carica papaya).
Dentro de estas especies, existe también variación intraespecífica,
de tal manera que en Yaxcabá, Yucatán, Arias Reyes y demás autores
(2002) encontraron en 1995 ocho variedades de maíz de las razas
Tuxpeño, Nal-Tel y Dzit Bacal, y en 2002 quince variedades, incluyendo
la cruza interracial Xmejen Nal. En un estudio más amplio, Terán y
colaboradores (1998) identificaron en Xocen, Yucatán 32 especies de
plantas cultivadas y 95 variedades. De las 32 especies, 16 son nativas y
16 introducidas.
Respecto al pach pakal, que es una siembra dentro del terreno de
la milpa, de poca superficie, que puede ser de alrededor de un mecate
(20 x 20m) o varios, donde se siembran hortalizas. El terreno elegido
dependerá con las plantas a cultivar. Dominguez Aké (1996) menciona
por ejemplo que en Muxpuppip, Yucatán, la tierra negra es buena para
el chile xchawa’ y el camote; el altillo pedregoso es preferible para el
chile x-kures y la tierra roja para el cacahuate; algunas especies como
la jícama se siembran en tierra negra o roja, aunque crece mejor en la
negra.
Este mismo autor menciona que además de las ya mencionadas,
también se cultivan sandía, melón, lenteja, yuca, makal y ajonjolí (usado
para el pipián). Cada especie tiene su época de siembra y cuidados
específicos, incluso para evitar el robo de alguna de ellas.
Sanabria (1986), en Xuul, Yucatán, lo ubica como un área pequeña
de dos a siete mecates. Menciona que se siembran ahí: calabazas,
pepino país [cultivar con características probablemente similares a
los introducidos en el siglo XVI, con sabor distinto y aspecto menos

275
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

estilizado que los fitomejorados en campos experimentales], melón,


xpelón, jícama, camote, yuca, makal (Xanthosoma violaceum), chiles
habanero (Capsicum chinensis) y otros (C. annum), jitomate, papaya
(Carica papaya), plátano (Musa paradisiaca), saramuyo (Annona
squamosa), limón y naranja china, agria y dulce, (Citrus sp.), mango
(Mangifera indica), nance (Byrsonima crassifolia), achiote (Bixa orellana),
ciruelas (Spondias purpura y S. mombin) y chaya (C. chayamansa).
Mediante un cálculo grueso, basado en la superficie cosechada de
maíz en grano en el ciclo primavera-verano de 2010, dividida entre 4
ha/milpa y; en la producción de maíz en grano en el mismo ciclo para
los tres estados de la Península (SAGARPA, 2011a,b,c), se obtuvo lo
siguiente: 88,076 milpas cultivadas (145,632 para Yucatán, para 143,811
Campeche y para 3,981 Quintana Roo) en 352,305 ha (145,632 ha en
Yucatán, 62,862 en Campeche y 143,861 ha en Quinta Roo) con un
rendimiento de 1.5 ton/ha (539,880 ton de grano: 116,891 en Yucatán;
50,903 en Campeche y; 372,880 en Quintana Roo).
La milpa también permite la obtención de leña, fauna alimenticia,
insectos comestibles e incluso alguna planta medicinal. También aportan
plantas melíferas que producen polen útil a las abejas.
Como corolario, es de concluirse que los productos de la milpa y el
pach pak’al son parte importante de la dieta familiar y ocasionalmente
aportan dinero por su venta de excedentes.

3.2 El solar maya, traspatio o pach nah

Hemos definido al solar, huerto familiar o traspatio como

un agroecosistema con raíces tradicionales, en el que


habita la unidad familiar y donde los procesos de selección,
domesticación, diversificación y conservación están
orientados a la producción y reproducción de flora y fauna
y, eventualmente de hongos. Está en estrecha relación con
la preservación, las condiciones sociales, económicas y
culturales de la familia y el enriquecimiento, generación
y apropiación de tecnología […] (MARIACA et al., 2007).

276
Práticas investigativas em Etnobotânica

El objeto de considerar a la familia que lo habita es porque ella


delimita la forma, estructura, diversidad y riqueza de especies, así
como la historia y futuro de esta forma de producción de satisfactores
(MARIACA et al., 2007).
Específicamente para la Península de Yucatán, Flores (2012) lo
define como

espacios de terreno en los cuales se cultivan generalmente


árboles, arbustos y plantas herbáceas de tipo frutales,
maderables, ornamentales, medicinales forrajeras,
productoras de fibra, colorantes, leña, resinas y especias,
distribuidas en función de ellas hacen los moradores
de la vivienda. Implica también el manejo de animales
domésticos como mamíferos y aves, que junto con los
productos vegetales enriquecen la dieta; además el huerto
es un espacio cultural para las familias.

Al igual que la milpa, el solar parece haber cambiado relativamente


poco desde mediados del siglo XVI que tomó su forma actual hasta la
primera mitad del siglo XX, momento en que el estilo de vida urbano
occidentalizado mexicano comenzó a tener influencia en el.
En 1940, Villa Rojas (1945) describió brevemente los solares de
Chan Kom, Yucatán, afirmando que el pueblo en su estructura física
era prácticamente igual al pueblo que encontraron los españoles a su
llegada, aunque actualmente no haya seguridad de tal cosa.

[...] chozas de palma diseminadas irregularmente en torno


de cenotes o pozos; junto a ellas los pequeños huertos en
alto (caanché), las jaulas para sus aves domésticas y, como
estructura importante, el apiario de troncos huecos; pavos
y otras gallináceas; árboles frutales plantados en terrenos
comunales [...] asimismo, mencionaba que “dentro del
pueblo, la propiedad es comunal. Los lotes domésticos no
son de propiedad privada y cualquiera puede hacer su casa
donde mejor le acomode. Los árboles frutales pertenecen
al individuo que los sembró [...] los árboles frutales pueden
venderse o rentarse [...]. (VILLA ROJAS, 1945, p. 202).

277
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Seguramente las innovaciones tecnológicas y materiales que entraron


en los primeros 400 años del solar, después de que fueron delimitados
por los españoles en 1550 en un terreno dentro del pueblo, han sido,
entre otras las siguientes, aclarando que siempre han sido paulatinas y
también han dependido de que la precaria condición económica de las
familias campesinas les permita adquirirlas:
• El pozo de pretil redondo con noria de madera o piedra (durante
el virreinato se estilaba un solo pozo comunal en el pueblo y poco a
poco fueron penetrando a los solares los pozos individuales).
• El uso de instrumentos metálicos (seguramente inician su
entrada y popularización hacia finales del siglo XIX y mediados del XX)
y
• Los plásticos (sobre todo a partir de la segunda mitad de los
1980),
• La electricidad. Si bien en los pueblos mayores su entrada es
anterior a 1950 entre la gente de mayores recursos económicos, a las
casas campesinas comienza a penetrar en la década de 1980, aunque
para 2018 quedaban comunidades menores a 100 habitantes que no
contaban con ella,
• Agua potable. Inicia en los primeros pueblos grandes de Yucatán
en 1965, pero su popularización se da hasta los 1970-1990, habiendo a la
fecha comunidades que no cuentan con este servicio.
• Uso de clavos de acero. Comienzan a popularizarse hasta finales
del siglo XX, aunque hasta la fecha siguen siendo empleados diversos
bejucos para amarres en las construcciones del solar.
• Láminas de cartón y cinc. Las fotografías del Yucatán rural hasta
la década de 1980 prácticamente muestran todas las casas campesinas
con techos de guano (Sabal sp.). El apoyo gubernamental, sobre todo
después de ciclones como el Gilberto de 1988 que arrasó gran parte de
la Península, ayudaron a popularizar estos nuevos materiales.
• Paredes y techos de concreto. Los apoyos del gobierno federal
y estatal a familias campesinas, también por los fuertes ciclones,
propiciaron que a partir de 1990 comenzaran a construirse pequeños
cuartos de material en los solares mayas. Actualmente un porcentaje
muy elevado de las casas mayas tienen al menos una habitación con
estas características. Otras familias, sobre todos las que han capitalizado

278
Práticas investigativas em Etnobotânica

o donde hay un albañil habitando, agregaron más habitaciones,


apreciándose un patrón dominante: habitaciones hacia atrás y la cocina
al final.
• Uso de electrodomésticos. Inicia su popularización entre 1980-
1990, incrementándose a partir del 2000.
Es importante mencionar que, a raíz del inicio de la construcción
de Cancún en 1974, la economía de las familias mayas de la Península
comenzó a verse impactada positivamente porque se convirtió en
polo de atracción de gran parte de la mano de obra excedente en las
comunidades, iniciando un cambio acelerado en todos los sentidos,
sobre todo a finales de la década de 1980.
Probablemente la primera descripción más o menos exhaustiva del
solar yucateco contemporáneo fue realizada por Vara Morán (1980)
en Yaxcabá, quien, al describir su desarrollo histórico, menciona
la importancia de los conventos franciscanos del siglo XVI en la
introducción de plantas, a partir de sus huertas y huertos dirigidos por
los frailes y cultivados por campesinos mayas.
Hacia 1925, agricultores de la zona frutícola del estado, en especial
de Oxkutzcab y Ticul, introdujeron vía Sotuta y Libre Unión algunas
frutas de creciente importancia económica como nuevas variedades de
cítricos y aguacate. Después las Misiones Culturales de la Secretaría de
Educación Pública (1938, 1946 y 1977) enseñaron a la gente, entre otras
cosas horticultura y fruticultura.
Algunos programas de gobierno y de fundaciones diversas, han
introducido en muchas cocinas, las estufas ahorradoras de leña sobre
todo a partir de 1990. Entre los años 1980-1990, los baños de concreto
y sumidero fresco o seco han comenzado a convencer a la gente de
abandonar la defecación al aire libre.
Como producto de la penetración del consumismo al campo,
la basura inorgánica, principalmente plásticos y latas, comenzaron
a invadir los huertos familiares, llegando a convertir a algunos en
auténticos basureros.
Hay otros tres elementos señal del cambio de los últimos años:
la casi desaparición de los hobomes o estructuras de cría de las abejas
meliponas; la presencia, primero de bicicletas y triciclos sustituyendo
al caballo, y en la última década, de vehículos automotores y; en los

279
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

solares han comenzado a introducirse algunas prácticas agroecológicas


llevadas por instituciones y asociaciones civiles, con la idea de mejorar
el estado nutricional y de salud de la familia rural.
Por último, hacia la década de 1990, comienzan a penetrar en los
pueblos razas y líneas mejoradas de cerdos y pollos que han tendido a
desplazar en muchos solares a las razas mestizas de menor rendimiento,
pero adaptadas a las condiciones de pobreza de manejo rústico y a la
alimentación tradicional sustentada mucho en el libre pastoreo y algo
de maíz.
En 2012, el autor de este trabajo publicó un amplio capítulo sobre
los huertos familiares del sureste de México (MARIACA, 2012). De ese
trabajo se extraen los siguientes elementos para describir al solar maya-
yucateco actual.
Rodeados los solares casi siempre de una cerca de piedras llamada
albarrada, las estructuras más comunes son: casa, cocina, cerco, jardín
o zona de plantas de ornato, área de plantas cultivadas, corrales, fuente
de agua, área de fecalismo, área de lavado, área de aseo personal
(baño), almacén de leña, almacén de granos, bodega, área social, área
de esparcimiento, área de trabajo, área de quemado y/o enterrado de
basura, estructuras especiales (temascales, cruces o capillas, hornos).
El solar tiene diferentes funciones, comenzando por las estrictamente
utilitaristas, tales como:
(a) proteger de insolación directa a la casa-habitación, atemperando
el espacio y evitando cambios bruscos y excesivos de temperatura y
humedad ambiental;
(b) proteger a la casa-habitación de los vientos fuertes, secos,
húmedos o cálidos;
(c) es un medio donde se producen múltiples satisfactores a la
familia, principalmente productos con valor de uso;
(d) es un medio donde la familia puede asegurar un autoabasto
mínimo a lo largo del año;
(e) es un espacio social;
(f) es un espacio ritual;
(g) en casos específicos puede llegar a ser el sitio de entierro de los
miembros de la familia.
Desde la perspectiva ecológica también es importante al menos por
estas razones:

280
Práticas investigativas em Etnobotânica

(h) es un conector de un corredor biológico mayor, formado por


todos los huertos de una comunidad;
(i) es un laboratorio de domesticación vegetal y animal;
(j) es un lugar de convergencia de los productos de los otros
subsistemas de producción, tales como leña, fauna y flora silvestres.
(k) es el agroecosistema más estable en el tiempo y el espacio que
existe.
Como resultado de ser el área que aloja a la familia campesina:
(l) es un espacio donde se transmite la cultura y se reproduce la
unidad familiar; es un espacio de habitación, trabajo, recreación,
prestigio.
Desde la perspectiva agrícola:
(m) es el agroecosistema más diverso del país;
(n) es un banco dinámico de germoplasma animal, vegetal, fúngico
y microbiológico;
(ñ) es el agroecosistema más numeroso del país, ya que corresponde
casi uno a cada casa rural.
Por último, tiene también una importante función económica tanto
para la familia como para la región:
(o) Actualmente junto con la milpa y los aprovechamientos forestales,
es el sistema que está permitiendo la supervivencia alimentaria de la
familia campesina y;
(p) Abastece en volumen y cantidad de productos a todos los
mercados locales y regionales
Hemos estimado para 2010, un aproximado de 122,965 solares para
la Península de Yucatán (50,080 para Yucatán, para 41,100 Campeche
y 31,785 para Quintana Roo) lo que daría una superficie cultivada
estimada en 30,741 ha. El cálculo es resultado de estimar el número
de familias rurales de cada estado (población rural/5 habitantes; y la
superficie se obtuvo al estimarse una superficie media de 2,500m2 por
solar).
Se han contabilizado 527 especies vegetales cultivadas en los
solares de la Península de Yucatán (FLORES, 2012), cuyas formas de
vida fueron: 189 árboles; 74 arbustos; 252 hierbas y 12 palmas, siendo
las hierbas las más diversas. Por estado, se han contabilizado: 524 en
Yucatán, 500 en Campeche y 449 en Quintana Roo.

281
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Hemos encontrado 17 especies de animales domésticos y alrededor


de 30 especies silvestres entre aves, mamíferos y reptiles principalmente,
agrupados en unos 23 nombres comunes genéricos. Las especies
domésticas son: perro (Cannis familiaris), gallina (Gallus gallus),
cerdo (Sus scrofa), pavo (Melleagris gallopavo), pato (Anas sp.), paloma
(Columba sp.), borrego (Ovis aries), gato (Felis silvestris catus), caballo
(Equus caballus), vaca (Bos indicus, B. taurus), burro (Equus asinus),
conejo (Sylvilagus sp.), mula (E. caballus x asinus), ganso (Anser anser),
gallina de Guinea (Numida meleagris), abejas sin aguijón (Melipona sp.)
y pato peruviano (Cairina moschata).
Las especies silvestres observadas son: loros y pericos (Ara sp.,
Amazona sp., Aratinga sp.), tortugas (Kinosternon sp., Staurotypus
sp., Pseudemys sp.), chachalaca (Ortalis vetula), venado cola blanca
(Odocoyleus virginianus), venado mazate (Mazama sp.), puerco de
monte (Dicotyles tajacu y Tayassu pecari), tepezcuintle (Cuniculus paca),
armadillo (Dasypus novemcinctus), iguanas (Iguana iguana, Ctenosaura
sp.), tejón (Nasua nasua), ardilla (Sciurus sp.), codorniz (Colinus sp.),
pavo silvestre (Melleagris ocellata), mono araña (Ateles geoffroyi),
aves canoras o vistosas (Carduelis psaltria, Passerina sp., Thraupis sp.,
Cardinalis cardinalis, Euphonia sp., Dendrocygna autumnales), Avispillas
(Trigona sp.) y mico de noche (Aotus sp.).
Acompañando a la fauna criada, están la fauna dañina y la fauna sin
uso directo para el ser humano. En el primer caso se trata casi siempre
de animales depredadores del espacio antrópico, tales como el tlacuache
o zorro (Didelphis marsupialis), algunos felinos como el tigrillo y felinos
menores (Felis spp.), ratas caseras (Ratus sp.) e incluso serpientes como
la nauyaca (Botrops sp.) o el cascabel (Crotalus sp.).

3.3 La cacería

Otro aprovechamiento importante es la cacería y captura de fauna


silvestre, de la cual se suelen obtener al menos 15 especies de mamíferos,
reptiles y aves a través de al menos siete variantes tanto colectivas como
individuales (ARIAS REYES, 1995; SANABRIA, 1986):

282
Práticas investigativas em Etnobotânica

(1) P’uh (batida) para cazar venados, jabalíes y tepezcuintles;


(2) Ximbal ts’on (pasear el monte) para cazar venados y pavos de
monte;
(3) Ts’on t’u’ul (tirar conejos, lamparear);
(4) Ts’on ch’iich’ (tirar pájaros) específicamente palomas y hurracas;
(5) Ch’in ch’iich’ (tirar pájaros con tira hule) para cazar palomas,
perdices, codornices, chachalacas e iguanos;
(6) Ch’uk (espiar de noche) para cazar pájaros, loros, pizotes,
mapaches, jabalíes, tepezcuintles y pavos de monte;
(7) Ts’a trampa (trampear) para capturar tuzas, pájaros, ardillas,
pavos de monte e iguanos.
Flores (1983) a partir de información obtenida en los poblados de
Pixoy, Xacmay e Xconha, Yucatán, menciona como formas de caza las
siguientes:
(1) Las lazadas, que consisten en atrapar la presa con un asa corrediza
hecha en el extremo de mecate o hilo.
a. En ocasiones se usa una vara para dar mayor facilidad a la tarea.
Con esto se capturan iguanas y garrobos.
b. También se usa la lazada poniéndola en la salida, boca puerta de
la cueva, atrapando así a iguanas, garrobos, armadillos y pizotes entre
otros.
c. La lazada puesta en el suelo como trampa, unida a un árbol
tensado, de tal manera que, al pisar el mecate, el árbol se tense y atrape a
la presa; con ella se atrapaban venados desde la antigüedad.
d. La lazada subterránea con un mecanismo similar al anterior,
poniendo en el paso de la tuza un atrayente que puede ser plátano, de
tal manera que al comerlo el animal queda atrapado y oprimido contra
el techo. Actualmente se sustituye el mecate con alambre delgado para
evitar que la tuza lo roa y escape.
(2) Trampas:
e. Tipo petz para tuza: similar a la anterior, excepto que en este
caso se coloca encima del túnel un par de pequeños horcones con un
travesaño al que va sujetos en un extremo con una cuerda dos varas
semi enterradas por el otro extremo, tienen una piedra amarrada
encima para hacer peso, y una estaca perpendicular que será la que al
jalar la raíz de subín (Acacia collinsi) puesta como sebo, se clavará en el
cuerpo de la presa.

283
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

f. Tipo petz para haleb o tepezcuintle (Cuniculus paca) y liebres


(Sylvilagus brasiliensis): similar a la anterior pero mucho mayor, excepto
que en lugar de sebo se usa un palo delgado como falsa pared que es el
que accionará el mecanismo.
g. Tipo petz para ardillas o púun lech kuúk: la trampa se pone sobre
la rama que inicia en la parte inferior de la boca del hoyo del árbol
donde anida la ardilla, de tal manera que al destensarse la rama delgada
y flexible superior a la que está amarrada la lazada, la presa quedará
suspendida en el aire.
h. El cacaxtle o xnup’: que es una caja armada con puras varas
y amarradas con bejucos o mecate, similares a las utilizadas para
transportar la fruta (rejas o huacal) de 50 cm de largo por 25 de alto. Se
coloca en el suelo semi levantado unos 25 cm por una vara delgada a la
que se le amarra un hilo largo que será jalado a lo lejos por el trampeador.
Se usa para atrapar aves que llegarán a comer los granos puestos como
sebo. Una variante de esta es amarrar a la vara que sostiene al xnup
varios hilos delgados desde la base apoyada al piso de tal manera que
sea el ave, al moverlas que tire la trampa. Se suelen atrapar tortolitas o
kuy, torcazas o palomas de alas blancas o sakpakal y kukutki o palomas.
i. Xnup piramidal: funciona de manera similar. La pirámide tendrá
una piedra encima y la vara soporte unas pequeñas patitas que son las
que el ave, al pisarla y moverlas, activará la trampa.
j. Trampas jaula para pájaros cantores: una jaula convencional de
palitos y alambre es flanqueada por otras dos más pequeñas, que tienen
un mecanismo de fuelle en el piso, de tal manera que el macho atrayente
o “maestro” que se coloca en el centro, haga llegar a los machos a pelear
con él y queden atrapados.
k. Trampa de suelo falso que consiste en cavar en kankabales o
akalchés trampas profundas para que los animales al circular por ahí
caigan al fondo y no puedan salir.
(3) Caza con armas contundentes: el yantún es una honda con la
que algunos cazadores expertos cazan pavos y faisanes. Es un sostén de
cuero donde irá la piedra que se lanzará, atado a dos cuerdas o hules
que serán los que tomará el cazador por sus extremos, soltando una de
ellas a la hora de lanzar la piedra después de haberle dado varias vueltas
al aire.
Más recientemente, Santos Fita y colaboradores (2014) han descrito
una versión más de cacería, denominada milpa-comedero, en el cual se

284
Práticas investigativas em Etnobotânica

siembran plantas, hortalizas principalmente, para atraer fauna herbívora


en medio de la selva.
En un estudio de caso, realizado en Tzucacab, Yucatán, Segovia
Castillo (2001) encontró que la cacería de subsistencia está dirigida
hacia ciertas especies con base en las preferencias alimenticias de los
cazadores y a la biomasa que aportan. Se realiza principalmente en la
vegetación secundaria, en el potrero y en la milpa. Encontró cacería
sobre 11 especies. En orden decreciente: temazate o yuc (Mazama
americana), venado cola blanco o ceh (Odocoileus virginianus), pecari
de collar o kitan (Pecari tajacu), tejón, pisote o chi’ik (Nasua narica),
tepezcuintle o haleb (Agouti paca), pavo de monte o kutz (Agriocharis
ocellata), sereque o tzub (Dasyprocta punctata), armadillo o wech
(Dacypus novemcinctus), mapache o kulu’ (Procion lotor), conejo o tu’ul
(Sylvilagus sp.) y jaguar o chac-mol (Phantera onca).
Encontró que, en el caso de venado y el tepezcuintle, se cazan
machos de manera estadísticamente significativa, mientras que con el
tejón sucede lo mismo, pero con las hembras. Describe cuatro técnicas
de cacería: batida, el acecho (ch’uk), el lampareo y cazar al caminar el
monte (shimba ts’on). En la batida y en el acecho usan perros en número
promedio de 3.6 y 8 respectivamente. También, en la batida es donde
más animales se cazan para consumo.
Concluye mencionando la manera como se reparten los animales
cazados cuando se hace en grupo: (1) al tirador que caza el animal le
toca una pierna, la cabeza y las vísceras (estómago, hígado, riñones,
pulmones y corazón); (2) al propietario de los perros le toca el cuello;
(3) a los perros el intestino y la piel; (4) si se transportaron en vehículo
a los terrenos de caza, al dueño de caza le toca la extremidad delantera;
(5) el resto del animal se divide de nuevo en partes iguales entre todos
los participantes de la caza.

3.4 La apicultura

Respecto al aprovechamiento de abejas, se trabajan en el presente


dos actividades diferenciadas, una comercial y otra preferentemente para

285
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

autoconsumo: la apicultura y la meliponicultura. La primera implica el


manejo de una abeja introducida a finales del siglo XIX que es la abeja
italiana (Apis mellifera), mientras que la segunda abarca varias especies
de abejas y avispas silvestres donde se destaca la koole cab, Xunan cab,
Pool cab y Jobon-cab o melipona (Melipona beecheii).
La apicultura es una de las actividades que proporciona recursos
económicos a la familia campesina maya actual (TERÁN; RASMUSSEN,
1984) representando para la Península de Yucatán el principal ingreso
agropecuario (INEGI, 2012) y para México.
Se estima que para principios del siglo XX habían más de 16,000
apicultores en la Península de Yucatán (GÜEMEZ RICALDE et al., 2003),
produciendo alrededor de 20,000 toneladas al año (ECHAZARRETA,
2011). Hacia 2017, se estimó en Yucatán que la cifra sería de alrededor
de 11,000 productores (SAGARPA, 2018), en Campeche habían 6
mil 226 en 2018 (SAGARPA, 2018) y 3,300 en Quintana Roo en 2021
(Cahuich, 2021), lo que daría una cantidad aproximada de 21,000
apicultores al iniciar la segunda década del siglo XXI.
Para los pequeños productores, que complementan sus ingresos
con otras actividades campesinas, la apicultura representaba ingresos
de entre $5,000 y $ 7,000 mensuales de 2001 (unos 500 a 700 U.D. en ese
entonces) (GÜEMEZ RICALDE et al., 2004).
Lo anterior ha situado al país como uno de los principales
productores de este producto en el mundo, variando según los años. En
2015 apareció como quinto (REPORTEROS HOY, 2015). Los países,
en orden decreciente con los que compite la miel de la Península son:
Estados Unidos, China, Turquía, Argentina, Ucrania, India, Rusia,
Etiopía y Brasil (INEGI, 2012).
Los principales países a donde se exportaba la miel peninsular en
2003, eran a: Alemania (70%), Suiza (12%) e Inglaterra (9%), y el resto
(9%) a Italia, Filipinas, Bélgica, Holanda, Arabia Saudita y Filipinas
(GÜEMEZ RICALDE et al., 2003).
Estos niveles de producción entre los apicultores mayas yucatecos
se deben sin duda a la tradición prehispánica de la cría de abejas sin
aguijón (M. beechii) que hizo a esta región exportadora a otras regiones
de Mesoamérica (QUEZADA-EUÁN, 2011). Entonces como hoy, esta
fina miel era utilizada en los rituales propiciatorios al incorporarla en

286
Práticas investigativas em Etnobotânica

la bebida sagrada conocida como balché que se obtiene al fermentar la


corteza del árbol del mismo nombre (Lonchocarpus longistylus Pittier)
en agua y esta miel (INEGI, 2012).
La apicultura basada en la cría de la abeja italiana (A. mellifera)
tiene un antecedente en 1898 cuando algunos hacendados importaron
de los Estados Unidos, pero es hasta 1911 cuando vuelven a adquirir un
lote importante de ellas (AYALA ARCIPRESTE, 2001). No obstante la
resistencia de la población maya para adoptarla, pronto se convencieron
de sus ventajas en cuanto a su capacidad de producir mayores
cantidades de miel y cera, lo que ha resultado en que paulatinamente
la meliponicultura vaya en descenso (VILLANUEVA; COLLI, 1996) al
grado de que en la última década apenas y sobrevive gracias a algunas
personas mayores, y a que han surgido en la academia y en la sociedad
civil intentos serios por impulsarla entre la gente más joven, y buscando
mercados alternativos que le den valor agregado a la miel, ya que los
costos de producción y los cuidados requeridos por estas abejas son más
elevados.
Las condiciones ecológicas que favorecen los niveles de producción
de miel estriban en la gran cantidad de especies vegetales melíferas,
que son alrededor de 849 (FLORES, 2010), destacándose el taj
(Viguiera dentata) que es una asterácea que aparece cuando la milpa se
abandona tras su segundo año de cultivo, el ts’its’ilche’ (Gimnospodium
floribundum), el ja’abin (Piscidia piscipula), el box katsim (Acacia
gaumeni), entre otras.
Un aspecto importante es que no obstante los altos volúmenes
de producción alcanzada, la apicultura maya responde a una lógica
diferente al de la economía de mercado (VILLANUEVA; COLLI, 1996),
además ha debido enfrentar graves problemas causados por el ácaro de
la varroa (Jacobsoni oudemans), a la competencia, los bajos precios de
la miel durante años en el mercado internacional y el intermediarismo,
así como también a los efectos climáticos (huracanes y sequías), la
deforestación, la llegada de la abeja africanizada a finales de la década
de los 1980, y finalmente la falta de organización de los productores
para elevar sus niveles de productividad, y mejorar las condiciones para
obtener una mayor calidad, así como la certificación y diversificación
de productos requeridos por el mercado (GÜEMEZ-RICALDE et al.,
2003; INEGI, 2012).

287
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

En el estado de Campeche en 2014 se detectó una nueva amenaza,


la cual consiste en la contaminación de la miel con polen de soya
transgénica (VILLANUEVA et al., 2014), situación que ha producido un
enfrentamiento legal entre las asociaciones de productores y el Estado
mexicano, el cual aprobó a la transnacional Monsanto el cultivo de esta
planta; por lo que se corre el riesgo de que Alemania y los países de la
Unión Europea rechacen el producto, lo que implicaría buscar nuevos
clientes con precios menos favorables.
Por su parte la Secretaría de Desarrollo Rural de Campeche
respondió que la contaminación se había debido a que las abejas habían
sido alimentadas con pasta de soya transgénica importada de los Estados
Unidos y no del polen de la soya transgénica cultivada en esa entidad.

3.5 La meliponicultura

Con relación a la cría de meliponas o abejas sin aguijón en la


Península de Yucatán sus antecedentes son prehispánicos y abundantes
en cuanto a su importancia (QUEZADA-EUÁN, 2011). La técnica para
cultivar la abeja Melipona beecheii, conocida en maya como colel cab
(señora abeja), Xunam cab (abeja mujer) y colmena cab (cab es miel),
sigue siendo como en el pasado. Se emplean troncos ahuecados llamados
jobomes, que proceden de diversos árboles. Antiguamente se sembraba
el guano (Sabal mexicana), para proveer de néctar a las abejas, además
de que sus hojas se usaban para techar las Nahil-cab o casas de las abejas
y los troncos para los jobomes (INEGI, 2012).
Actualmente las principales características de los meliponarios
son: (a) la colocación de un techo de palma de guano (Sabal mexicana
o S. japa) que permite proteger a las colonias de la lluvia y del calor
del sol, (b) su orientación, que debe cuidar que los rayos solares no
incidan directamente sobre las colonias, (c) la fijación de las colonias
a estructuras de madera que permiten alojar a un gran número de
colonias, y a su vez, mantenerlas aisladas de algunos de sus enemigos
naturales (VILLANUEVA et al., 2013).

288
Práticas investigativas em Etnobotânica

El número de productores en la península de Yucatán es bastante


reducido, llegando apenas a unos 500 con unas 8,000 colmenas hace dos
décadas (CARRILLO MAGAÑA, 1998). Con el tiempo el número de
colonias por meliponicultor o meliponiculturora ha ido disminuyendo,
considerando que en el posclásico maya eran de cien a doscientos
(LABOUGLE; RENTERÍA; ZOZAYA-RUBIO, 1986) llegando incluso
hasta 500 (QUEZADA-EUÁN; GONZÁLEZ, 2010); en 1936 eran de
entre 10 y 20 (VILLA ROJAS, 1987), y hoy tan solo se registran de
cuatro a diez colonias por productor (INEGI, 2012; VILLANUEVA et
al., 2013).
El decaimiento de la meliponicultura comenzó prácticamente
desde el arribo de la abeja europea A. mellifera, cuya producción masiva
de miel desplazó en gran parte el sistema tradicional de xunancab.
Paralelamente, la introducción de la caña de azúcar y su consumo
generalizado contribuyeron aún más al abandono de esta actividad. Otro
factor reciente que ha influido es que comparte los recursos florales con
una población creciente de abejas africanizadas y europeas con las que
compite de manera desigual. En la actualidad, es muy difícil de hallar la
abejita maya en estado silvestre debido a la reducción cada vez mayor
de su hábitat: la selva caducifolia y la subcaducifolia, que están siendo
severamente deterioradas (VILLANUEVA-GUTIÉRREZ et al., 2005).
Villanueva y colaboradores (2013) complementan la problemática:
(a) la deforestación debido al rápido avance de la frontera agrícola y
pecuaria, (b) el acelerado y desordenado desarrollo urbano y turístico,
(c) la falta de capacitación en el manejo de esta abeja, así como (d) la
explotación no sustentable de los recursos que produce la colonia (miel
de potes y cerumen).
Asimismo, la falta de control de los enemigos naturales de las
abejas xunan kab ha afectado el número de colonias que poseen los
meliponicultores. Entre estos enemigos podemos mencionar a la mosca
nenem (Pseudohypocera kertezi), la hormiga xulab (Eciton burchelli),
el perro de monte o sanjol (Eira barbara), los sapos muuch (Chaunus
marinus y Cranopsis valliceps) y las lagartijas (VILLANUEVA et al.,
2013).
Inegi (2012) menciona el problema de la baja producción y ganancias
de la meliponicultura en boca de un productor de Chocholá, Yucatán:

289
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

“Para trabajar con estas abejas no se necesita mucho


dinero, pero hay que esperar mucho tiempo para sacar
miel porque ellas son muy lentas para producir. Cuando
cosecho (una vez al año) sólo saco tres o cuatro botellitas
(de 1 kg) que vendo a 20 pesos [dos dólares] cada una, eso
sí, siempre hay alguien que me la compre”.

Afortunadamente, en años recientes ha habido un fuerte impulso


tanto de los tres niveles de gobierno como de organizaciones civiles
y sobre todo de mujeres mayas, lo que está haciendo que la cría de
abejitas recupere su vigor. No obstante, el principal problema estriba
en la actualidad en un mercado pequeño para la miel de esta especie,
así como las periódicas aplicaciones de insecticida en las campañas
organizadas por el sector salud.
Finalmente, cabe mencionar que, si bien Mellipona beecheii es la
abeja cultivada más importante manejada tradicionalmente por el
pueblo maya, también hacen uso de otras especies, siendo un total de 16
las especies de abejas sin aguijón, existentes en la Península de Yucatán
(QUEZADA-EUÁN; MÉNDEZ GONZÁLEZ, 2010).

3.6 La cosecha del monte

Un aspecto interesante de la milpa es que ha llegado el segundo


año de cultivo, el milpero optará por abrir otro terreno. En el terreno
abandonado la sucesión secundaria comienza a actuar libremente,
denominándose “terreno en descanso”, sin embargo, el milpero y su
familia identifican por su porte y edad un potencial diferencial de
aprovechamiento forestal: al área de primer año de cultivo la llaman
chacben; al área de segundo año de cultivo la denominan saka’ y el
monte de 3 a 20 años es conocido como hubche’; no obstante lo anterior,
al monte de 3 a 4 años o monte muy bajo lo conocen como pokche’
kaax; al de 4 a 10 años como k’abal hubche’ y es un considerado como
un monte bajo); al de 10 a 20 años, que ya es un monte joven, bajo el
criterio local, se le llama xmehen k’aax o tankelem hubche’ y; finalmente
al monte alto o mayor de 40 años se le considerará como un nukuch
k’aax o nohoch k’aax (ILSLEY; HERNÁNDEZ X., 1980).

290
Práticas investigativas em Etnobotânica

Para cada grupo de edad hay un aprovechamiento. Por ejemplo,


un hubche’ aportará polen y algunas plantas cultivadas como raíces y
tubérculos, chaya o plátano. En los siguientes años, algunas aves como
las chachalacas vivirán en su interior, así mismo se comenzarán a
aprovechar varas o bajareque para construcciones menores.
Al crecer el monte más, aparecen animales de caza mayores, ciertas
cortezas para curtientes o fermentos, algunas plantas medicinales,
algunas plantas para ramoneo de los animales del solar, leña y materiales
para construcciones mayores.
Tres ejemplos de lo que significa el aprovechamiento forestal:
Una familia promedio consume 80 kg de leña a la semana, esto
significará 4.16 ton/año, por lo que si se estima que hacia 2020 había
148,563 familias rurales en la península de Yucatán, el volumen
cosechado será de 618,023 ton/año.
Sanabria (1986) encontró que en el monte de Xul, Yucatán existen
250 especies de plantas, de las cuales 180 son utilizadas por la población:
14 forrajeras, 11 para leña, ocho para espalderas de cultivos, cinco para
leña, más de cuatro para hornos de cal, cinco para palos sembradores,
cuatro para cabos de coas, hachas, corvas y limas, cuatro para cestos y
canastos, tres para pixcadores, tres para aros de leña, dos para trampas
para pájaros, dos para hacer mecates, una para trampas para tuzas, una
para medidor de milpas, una para recipientes, una para carbón, una para
teas para la quema, más varias especies alimenticias, mágico religiosas
y medicinales.
En esa misma comunidad, encontró que, para construir una casa
tradicional, se usan 34 especies en 12 estructuras (horcones, travesaños,
tijeras, vigas, puntales, pared, techo, amarres, uniones, puertas y marcos)
que provienen de montes de 5-6 años, 15-20, 20-30, 25-40, 30-40, más
de 50 y más de 60 años (SANABRIA, 1986).
Sánchez González (1993) en X-uilub, Yucatán, menciona algo muy
importante:

el uso de la leña no es aleatorio ni se limita a la simple


extracción del recurso. Conlleva un aprendizaje, planeación
y dirección, es decir, un manejo del recurso forestal. Existe
un conocimiento muy preciso y complejo de las especies,
de las propiedades y características durante el proceso de

291
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

la combustión, lo que lleva implícito un concepto de la


calidad de la leña.

Él encontró 151 especies de árboles y arbustos de las que 68 (45%)


resultaron combustibles, 33 (22%) melíferas, 33 (21.5%) medicinales, 31
(20%) para la construcción.
El tema de la leña es importante ya que representa de los principales
bienes que extrae la familia campesina maya de su selva. Tan importante
es que en el estado de Yucatán para el año 2000 había 20 municipios con
un total de 105 880 habitantes donde entre el 90 y el 98% de las familias
consumían leña, representando esto a más de 95,000 habitantes. Junto
a esto, las tres principales ciudades de la entidad (Mérida, Valladolid
y Tizimín) conjuntaban 827,935 habitantes, de los cuales el 13.8%
consumía leña (DE LOS RÍOS IBARRA, 2012).

3.7 Los hornos de carbón

La construcción de hornos de carbón ha venido a menos dada la


prohibición de la Procuraduría Federal del Medio Ambiente (PROFEPA),
no obstante, la gran demanda existente en las ciudades y polos turísticos
de la Península, en los últimos años la necesidad ha crecido junto con el
incremento de negocios que venden pollos a la leña y carne al carbón.
Si bien no se conocen casos de deforestación por causa del carbón en
el interior de la Península de Yucatán, ya que la madera utilizada es un
subproducto de la roza-tumba quema, así que la mayor parte del carbón
comercial expendido en supermercados proviene de otros estados del
país. Esto ha generado un mercado negro que ocasionalmente resulta
en decomisos del producto, más las penas estipuladas por la ley para
quienes lo han adquirido y comercian sin los permisos debidos.
Según el delegado de la PROFEPA en Yucatán (Sepúlveda, 2013),
durante los meses de enero a mayo de 2013, se decomisaron 50 toneladas
de carbón vegetal, proveniente de los municipios de Kantunil, Yaxcabá,
Chocholá, Kopomá, Halachó y Valladolid, mientras que en otra nota
periodística (REPORTEROS HOY, 2015) del 8 de febrero de 2015,

292
Práticas investigativas em Etnobotânica

afirma el mismo funcionario que en los dos últimos años el total había
sido de 130 toneladas.
Chac Bacab (2015) narra cómo se fabrica el carbón en la Comisaría
de Ek Balam, municipio de Tzucacab, Yucatán, mencionando que solo
quedan cuatro personas dedicadas a esta actividad, sobre todo por la
falta de mercados:

Los campesinos tratan de aprovechar la madera que se


corta en la preparación de las milpas, y por eso evitan que
se consuma durante la quema.
El proceso es delicado; para obtener de 25 a 30 bolsas de
carbón hay que cortar maderas que tengan 50 centímetros
y se utilizarán para una primera capa.
En la segunda capa las maderas deben tener hasta 70
centímetros y así sucesivamente hasta llegar a la última
capa de 1.60 metros.
Se forma una especie de pirámide de leña y luego de escorar
las maderas se cubren con ramas y hojas verdes. Alrededor
de la pirámide se colocan estacas para formar una barrera
de madera que retendrá la tierra.
Una vez cubiertas con las hojas y la tierra, se enciende y
hay que esperar cuatro días para que se consuma.
Durante este tiempo se tiene que vigilar día y noche para
que las maderas no queden al descubierto y se consuman
por el fuego. Cuando eso pasa hay que volverlas a cubrir
con tierra y lo recomendable es que se vigile cada 10 horas.
Al momento de desenterrar el carbón se deben utilizar
rastrillos, palas y bolsas. También se debe usar bombas
de agua para apagar el carbón que siga encendido. Si no
se apagan correctamente luego de ponerlos en las bolsas
pueden agarrar fuego y causar un accidente.

Ah took chuk es el carbonero, y al acto de hacer carbón se le


llama took chuk (BARRERA et al., 1980). Levy y Hernández X. (1992)
mencionan que para la hacer carbón se utilizan en Yaxcabá maderos
mal quemados de la quema de la milpa, requiriéndose de unos 1,600m2
de superficie de recolección de material. Al finalizar el proceso de
combustión rápida en las carboneras, las dimensiones de loa hornos que
describen disminuyeron de 2.75 a 2.64 m; la altura de 2.05 a 1.43 m; a

293
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

partir de 8,043 kg se obtuvieron 1,494 kg de carbón y 326 kg de madera


mal quemada.

3.8 Los hornos de cal

Se trata de estructuras que aprovechan troncos de grosor específico


tumbados y secados que se extraen de la parcela de la quema. En el
horno de cal, la combustión lenta de la madera, que termina en buena
parte transformada en ceniza, permite que la roca caliza depositada
encima de la pira de maderos termine convertida en cal viva. A pesar de
haber estado presentes por doquiera hace décadas, prácticamente han
desaparecido.
El diccionario Maya Cordemex (BARRERA et al., 1980), citando
al Diccionario de Motul escrito en el siglo XVI, menciona el término
Xec Ta’an al hecho de hacer cal, desliéndola. Según la descripción de
Sanabria (1986), su finalidad es producir cal para el cocimiento del maíz,
el encalado de las paredes y las albarradas, que son bardas perimetrales
de piedra sobrepuesta.
A partir de los años 1970, su fabricación comenzó a disminuir por
dos razones: (1) es más práctico comprar la cal industrial en mercados
cercanos y; (2) los hornos requieren de troncos gruesos provenientes de
montes viejos cada vez más ausentes.
La recolección de la madera a utilizarse se hace al mismo tiempo
que la roza, tumba y quema previas a la milpa, momento en que se
seleccionan los arbustos y árboles más apreciados como combustibles.
La especie preferida es el jabín (Piscidia piscipula).
Para reducir a polvo la piedra caliza utilizada o sak-l’em-bak debe
calentarse entre dos y cinco días.
Por su parte, Levy y Hernández X. (1992) abundan sobre el tema
para el caso de Yaxcabá:
para construir un horno de cal se deben tener: cuatro a cinco
mecates (1,600 a 2,000 m2) de vegetación secundaria de 25 años o más;
suelos en altillo o litosoles y un banco de piedra específica, conocida
como sac elbach que es blanca y poroza; suficiente humedad relativa, por

294
Práticas investigativas em Etnobotânica

lo que se hacen en época de lluvias y nortes o frentes fríos; la madera


utilizada debe estar verde, de tal manera que arda en dos a tres días para
lograr el proceso de deshidratación de la piedra.
Los materiales que se requieren para construir el horno de cal
son: leña verde y seca (mecha), piedra caliza, gasolina, cerillos, trapo o
estopa, mecapal para el arrastre de la madera, latas quintaleras, sacos de
nylon o sosquil y mecate.
Las herramientas utilizadas son: coa (machete curvo), hacha, lima,
zapapico, barreta, mazo y martillo. Los últimos son utilizados para la
extracción y moldeado de la piedra caliza.
El horno típico mide 3.3 m de diámetro basal, 1.4 m de altura de la
madera estibada y 10.25 m de perímetro.
A partir de 7,257 kg de madera y 3,491 kg de piedra caliza, se
obtuvieron 1,806 kg de cal y 1,018 kg de piedra mal quemada.
En el centro de Yucatán la mejor piedra para cal es sak eel b’aach
(huevo blanco del pájaro chachalaca). La cal puede ser llamada k’uta’an
(cal de nido de pájaro) (véase BARRERA VÁSQUEZ et al., 1980, p. 770).
La pequeña área de madera seca y yesca necesaria para iniciar un fuego
en el extremo central del horno se llama “nido” (o xku’u ka’ak). En todas
partes de las Tierras Bajas es prohibida la presencia de la mujer cerca de
un horno de cal maya.

3.9 Cultivo de rejolladas

Barrera Marín y demás autores (1976) definen al K’om, rejolla,


rejollada u hondonada como depresiones o hundimientos del terreno
donde se cultivan árboles frutales o plantas que requieren de cierta
humedad y abrigo del viento, como plátanos (Musa spp.). En tanto que
Gómez Pompa y colaboradores (2012) mencionan que las dolinas o
rejoyadas, conocidas como Aktul nil gab, son hundimientos cársticos
naturales sin agua en el fondo. En ellos se siembran plantas que requieren
de suelos profundos y mayor humedad ambiental. También el suelo del
fondo, más fértil por recibir mayores cantidades de materia orgánica, es
utilizado para enriquecer los suelos de algunos huertos familiares, tal
como sucede con las sartenejas y los haltunes (FLORES, 1983).

295
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Recientemente su cultivo se ha visto reducido en muchos sitios


debido a que es preciso cuidar la producción de ocasionales ladrones.
Por ello es preciso vivir cerca de ellas, prefiriendo la gente hacerlo en los
pueblos y no alejados de ellos.

4. Comentario final

La agricultura maya de la Península de Yucatán es un sistema de


producción cuya base es el manejo de la vegetación para proveer de
suficiente materia orgánica al suelo productor de alimentos y otros
satisfactores para la supervivencia humana, en tanto que el proceso
de regeneración de la selva es también inteligentemente aprovechado
para obtener otros bienes de origen animal y vegetal importantes en la
economía de la familia campesina.
Las condiciones limitantes que el medio peninsular impone al ser
humano para sobrevivir son altas si se comparan con otros territorios,
sin embargo aquí, no obstante contar con suelos rocosos en su mayoría,
con pocos nutrimentos disponibles, con precipitación pluvial aleatoria
y con sequías y huracanes periódicos, el proceso de aprendizaje del
agricultor maya ha sido lento pero continuo, ya que en los 4,000 años
de habitar la zona han ocurrido importantes eventos que han alterado
las condiciones de supervivencia de la población y sin embargo, tanto la
gente como la selva han coexistido exitosamente.
Esta capacidad adaptativa de los agricultores ha permitido ir
conformando un robusto sistema de manejo mismo que en los últimos
50 años ha comenzado a sufrir uno de los mayores impactos de su historia
debido a dos elementos emergentes: la penetración a las comunidades
de un capitalismo agresivo y empobrecedor, que genera nuevas y más
costosas necesidades, mismas que la milpa, por sí misma no puede
satisfacer, debido a que no fue desarrollada para ello y; las presiones
ejercidas por el cambio climático que ha alterado las fechas de siembra y
aumentado las pérdidas de cosechas en las tres últimos lustros.
En ambos casos, las familias mayas han generado y continúan
generando, diversas estrategias, tanto sociales como económicas

296
Práticas investigativas em Etnobotânica

y tecnológicas para continuar sobreviviendo, siendo importante


mencionar que toda esta resistencia no sería posible si no existiera el
elemento más importante que amalgama a toda la población: su cultura.
Mientras esta siga vigente y la gente siga viviéndola en su cotidianidad
y reproduciéndola, existirá ese motor que mueve todo: ser maya es ser
milpero, ser milpero es ser maya, tal como la Dra. Maya Lorena Pérez,
en su libro “Ser joven y ser maya en un mundo globalizado” (PEREZ
RUIZ, 2014) ha encontrado.
Por último, hay dos nuevos retos que seguramente ayudarán a la
población a fortalecer su sistema milpa maya bajo roza-tumba-quema:
el reconocimiento de ésta por la FAO como Sistema Importante del
Patrimonio Agrícola Mundial en noviembre de 2022 y el Proyecto Tren
Maya que desde el inicio de su construcción en 2018 ha comenzado
a contratar mano de obra local y que en 2024 deberá estar operando,
trayendo una fuerte inyección de recursos monetarios debido al turismo
nacional e internacional que se espera llegará.
El primero acercará recursos económicos y estratégicos para
su fortalecimiento, tanto provenientes del Gobierno Federal como
de los Estatales, así como de fundaciones privadas nacionales e
internacionales, además del apoyo de la academia universitaria y los
centros de investigación. El segundo traerá la necesidad de productos
agropecuarios generados en la zona y también ofrecerá oportunidades
de agroecoturismo y turismo cultural, además de permitir que algunos
de los integrantes de las familias milperas se integren a laborar en las
diferentes ofertas del proyecto, llevando un importante flujo de recursos
a las comunidades.

Referencias

AGUILERA HERRERA, N. Suelos. En: BELTRÁN, E. (ed.). Los


recursos naturales del sureste. v. 2. México, D.F.: Instituto Mexicano
de Recursos Naturales Renovables, 1958.

297
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

ARIAS REYES, L. El proyecto dinámica de la milpa en Yaxcabá,


Yucatán. En: ZIZUMBO VILLARREAL, D.; ARIAS REYES, L. M.;
RASSMUSEN, C. (eds.). La modernización de la milpa en Yucatán:
utopía o realidad. Mérida: Centro de Investigaciones Científicas
de Yucatán, Colegio de Postgraduados y Ministerio de Cultura de
Dinamarca, 1991. p. 195-201.
ARIAS REYES, L. La cacería en Yaxcabá, Yucatán. En: HERNÁNDEZ
X, E.; BELLO BALTAZAR, E.; LEVY TACHER, S. (comps.). La milpa
en Yucatán. Texcoco: Colegio de Posgraduados, 1995. p. 271-285.
ARIAS-REYES, L. Diversidad genética y conservación in situ de los
maíces locales de Yucatán, México. 2005. Tesis (Doctorado), Instituto
Tecnológico de Mérida, Mérida, 2005.
ARIAS REYES, L. et al. Conservación in situ de la biodiversidad de
las variedades locales en la milpa de Yucatán, México. En: CHÁVEZ-
SERVIA, J. L.; TUXILL, J; JARVIS, D. I (eds.). Manejo de la
diversidad de los cultivos en los agroecosistemas tradicionales. Cali,
Colombia: Instituto Internacional de Recursos Fitogenéticos, 2002. p.
36-45.
AYALA ARCIPRESTE, M. E. La apicultura de la Península de
Yucatán: un acercamiento desde la ecología humana. 2001. 195 f.
Tesis (Maestría en Ciencias). Centro de Investigación y de Estudios
Avanzados del I.P.N., Departamento de Ecología Humana, Mérida,
2001.
BARRERA MARÍN, A.; BARRERA VÁZQUEZ, A.; LÓPEZ
FRANCO, R. M. Nomenclatura etnobotánica maya: una
interpretación taxonómica. Mérida: Centro Regional del Sureste/
Instituto Nacional de Antropología e Historia, 1976. (Colección
Científica 36 Etnología).
BARRERA VÁSQUEZ, A. et al. Diccionario Maya Cordemex maya-
español y español-maya. México: Ediciones Cordemex, 1980.
BARTOLOMÉ, M. A. La dinámica social de los mayas de Yucatán:
pasado y presente de la situación colonial. México: Comisión Nacional

298
Práticas investigativas em Etnobotânica

para la Cultura y las Artes-Instituto Nacional Indigenista, 1988.


(Colección Presencias 61).

BARTOLOMÉ, M. A. El mundo maya del maíz. Artes de México, n.


78, p. 27-35, 2006.

CARRILLO MAGAÑA, F. A. Meliponicultura: el mundo de las abejas


nativas de Yucatán. Mérida: Edición particular, 1998.

CAUICH, L. E. Apicultura en Quintana Roo, panorama de


oportunidades para la zona maya. Mérida, Yucatán, México. Diario
PorEsto. 15 de junio de 2021.

CHAC BACAB, M. Vigila Profepa: hornos clandestinos de carbón de


Yaxcabá y Holcá. Nota del Diario de Yucatán del 15 de febrero de 2015.
Disponible en: <http://yucatan.com.mx/yucatan/se-dedican-a-hacer-
carbon#sthash.1iinMyEM.dpuf >.

CIBEIRA TABOADA, M. Yucatán visto por fray Alonso Ponce


(1588-1589). Mérida: Ediciones de la Universidad de Yucatán, 1977.

COE, M. D. Los mayas: incógnitas y realidades. 2. ed. México: Diana,


1995.

COLUNGA GARCÍA-MARÍN, P.; ZIZUMBO VILLARREAL, D.


Domestication of plants in Maya Lowland. Economic Botany, v. 58, p.
101-110, 2005.

CONTRERAS ARIAS, A. Bosquejo climatológico. En: BELTRÁN,


E. (ed.). Los recursos naturales del sureste. v. 2. México: Instituto
Mexicano de Recursos Naturales Renovables., 1958.
LA GARZA, M. Introducción. En: SCHMIDT, P.; DE LA GARZA, M.;
NALDA, E. (Coords.). Los mayas. Roma: Landuci Editores, 1998. p.
17-28.

DE LA GARZA, M. et al. Relaciones histórico geográficas de la


Gobernación de Yucatán (Mérida, Valladolid y Tabasco). México:
UNAM, 1983.

299
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

DE LOS RÍOS IBARRA, E. El uso y aprovechamiento de la leña


¿amenaza a la biodiversidad? En: DURÁN GARCÍA, R.; MÉNDEZ
GONZÁLEZ, M. E. (eds.). Biodiversidad y desarrollo humano en
Yucatán. Mérida: Centro de Investigaciones Científicas de Yucatán,
Programa de Pequeñas Donaciones del Fondo Para el Medio Ambiente
Mundial, Comisión Nacional para el Conocimiento y Uso de la
Biodiversidad y Secretaría de Desarrollo Urbano y Medio Ambiente de
Yucatán, 2010. p. 362-363
DOMÍNGUEZ AKÉ, S. La milpa de Muxupip. México: Dirección
General de Culturas Populares, 1996.
DUCH GARY, J. Condicionamiento ambiental y modernización de
la milpa en el estado de Yucatán. En: ZIZUMBO VILLARREAL, D.;
ARIAS REYES, L. M.; RASSMUSEN, C. (eds.). La modernización
de la milpa en Yucatán: utopía o realidad. Mérida: Centro de
Investigaciones Científicas de Yucatán, Colegio de Postgraduados y
Ministerio de Cultura de Dinamarca, 1992. p. 81-96.
ECHAZARRETA, C. Las mieles de Yucatán. En: ECHAZARRETA,
C. (comp.). 2011. La miel y las abejas: el dulce convenio del mayab.
Mérida: Biblioteca básica de Yucatán 13, Gobierno del Estado de
Yucatán, 2011. p. 97-116.
FLORES, J. S. Significado de los haltunes (sartenejas) en la cultura
maya. Biótica, v. 8, n. 3, p. 259-279, 1983.
FLORES, J. S. Algunas formas de caza y pesca usadas en
Mesoamérica. Xalapa: Instituto Nacional de Investigaciones sobre
Recursos Bióticos, 1983. (Folleto 16).
FLORES, J.S. Flora melífera. En: DURÁN GARCÍA, R.; MÉNDEZ
GONZÁLEZ, M. E. (eds.). Biodiversidad y desarrollo humano en
Yucatán. Mérida: Centro de Investigaciones Científicas de Yucatán,
Programa de Pequeñas Donaciones del Fondo Para el Medio Ambiente
Mundial, Comisión Nacional para el Conocimiento y Uso de la
Biodiversidad y Secretaría de Desarrollo Urbano y Medio Ambiente de
Yucatán, 2010.

300
Práticas investigativas em Etnobotânica

FLORES G., S. El huerto tradicional. Disponible en: <http://lectura.


ilce.edu.mx:3000 /biblioteca/sites/educa/libros/huerto/html/sec_3.
htmFlores>. 2012.
GABRIEL, M. Rituales y ceremonias. Estructuras paralelas en la
representación de la identidad étnica y cohesión social. En: PACHECO
CASTRO, J. A.; LUGO PÉREZ, J. A. (eds.). Investigación y sociedad
en la región sureste de México. Mérida: Universidad Autónoma de
Yucatán, 2004. p. 62-82.
GARCÍA BERNAL, M. C. Desarrollos indígenas y ganaderos en
Yucatán. H. Méx., v. 43, n. 3, p. 373-400, 1994.
GÓMEZ POMPA, A. La vegetación de la zona maya. En: SCHMIDT,
P.; DE LA GARZA, M.; NALDA, E. (Coords). Los mayas. Roma:
Landuci Editores, 1998. p. 39-52.
GÓMEZ POMPA, A.; FLORES, J. S.; SOSA, V. El Pet Kot: una selva
tropical creada por los mayas. En: FLORES, J. S. (ed.). Los huertos
familiares en Mesoamérica. Mérida: Universidad Autónoma de
Yucatán, 2012. p. 135-153.
GONZÁLEZ ACERETO, J. A.; QUEZADA EUAN, J. J. Producción
tradicional de miel: abejas nativas sin aguijón (trigonas y meliponas).
En: DURÁN GARCÍA, R.; MÉNDEZ GONZÁLEZ, M. E. (eds.).
Biodiversidad y desarrollo humano en Yucatán. Mérida: Centro
de Investigaciones Científicas de Yucatán, Programa de Pequeñas
Donaciones del Fondo Para el Medio Ambiente Mundial, Comisión
Nacional para el Conocimiento y Uso de la Biodiversidad y Secretaría
de Desarrollo Urbano y Medio Ambiente de Yucatán, 2010.
GÜEMES RICALDE, F. J. et al. La apicultura en la Península de
Yucatán. Actividad de subsistencia en un entorno globalizado. Revista
Mexicana del Caribe, v. 8, n. 116, p. 117-132, 2003.
GÜEMES RICALDE, F. J.; ECHAZARRETA-GONZÁLEZ, C.;
VILLANUEVA-G, R. Condiciones de la apicultura en Yucatán y
del mercado de sus productos. Mérida: Ediciones de la Universidad
Autónoma de Yucatán, 2004.

301
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

HERNÁNDEZ XOLOCOTZI, E. La agricultura. En: AGUIRRE


BELTRAN, G. Los recursos naturales del sureste. México: Instituto
Mexicano de Recursos Renovables, 1959.
HERNÁNDEZ XOLOCOTZI, E.; PADILLA Y ORTEGA, R.
Seminario producción agrícola en Yucatán. Mérida: Gobierno del
Estado, Secretaría de Programación y Presupuesto, Secretaría de
Agricultura y Recursos Hidráulicos y Colegio de Postgraduados, 1980.
HERNÁNDEZ XOLOCOTZI, E.; BELLO BALTASAR, E.;
LEVY TACHER, S. (comps.). La milpa en Yucatán: un sistema
de producción agrícola tradicional. Montecillo: Colegio de
Postgraduados, 1995.
HERNÁNDEZ XOLOCOTZI, E.; LEVY TACHER, S.; BELLO
BALTASAR, E. La roza-tumba-quema en Yucatán. En: HERNÁNDEZ
XOLOCOTZI, E.; BELLO BALTASAR, E.; LEVY TACHER (comps.).
La milpa en Yucatán: un sistema de producción agrícola tradicional. v.
1. Montecillo: Colegio de Postgraduados, 1995. p. 35-95.
INEGI. Cuéntame: información por entidad. Yucatán, 2010.
Disponible en: <http://www.cuentame.inegi.org.mx/monografias/
informacion/yuc/poblacion/default.aspx?tema=me&e=31>.
INEGI. La apicultura en la Península de Yucatán. Censo
Agropecuario 2007. México: Instituto Nacional de Estadística y
Geografía, 2012.
INEGI. Atlas Nacional de las Abejas y Derivados Apícolas.
Disponible en: <https://atlas-abejas.agricultura.gob.mx>. México:
Instituto Nacional de Estadística y Geografía, 2018.
INEGI. Estadísticas a propósito del día internacional de los pueblos
indígenas. Comunicado de prensa núm. 430/22 8 de agosto de 2022,
página 1/7. México: Instituto Nacional de Estadística y Geografía,
2022. Disponible en: <https://www.inegi.org.mx/ contenidos/
saladeprensa/aproposito/2022/EAP_PueblosInd22.pdf>.
ILSLEY GRANICH, C.; HERNÁNDEZ X., E. La vegetación
en relación a la producción en el Ejido Yaxacá, Yucatán. En:

302
Práticas investigativas em Etnobotânica

HERNÁNDEZ X., E.; PADILLA Y ORTEGA, R. (eds.). Seminario


producción agrícola en Yucatán. Mérida: Gobierno del Estado,
Secretaría de Programación y Presupuesto, Secretaría de Agricultura y
Recursos Hidráulicos y Colegio de Postgraduados, 1980. p. 343-372.
KIRCHHOFF, P. Mesoamérica. Sus límites geográficos, composición
étnica y caracteres culturales. Revista Tlatoani, n. 3. Supl., 1960.
LABOUGLE-RENTERÍA, J. M.; ZOZAYA-RUBIO, J. A. La apicultura
en México. Ciencia y Desarrollo, v. 69, p. 17-36, 1986.
LANDA, D. Relación de las cosas de Yucatán. Mérida: Dante, 1983
[original 1566].
LEVY TACHER, S.; HERNÁNDEZ X, E. La sucesión secundaria
y su manejo en el sistema roza-tumba-quema. En: ZIZUMBO
VILLARREAL, D.; ARIAS REYES, L. M.; RASSMUSEN, C. (eds.).
La modernización de la milpa en Yucatán: utopía o realidad.
México: Centro de Investigaciones Científicas de Yucatán, Colegio de
Postgraduados y Ministerio de Cultura de Dinamarca, 1992. p. 203-
214.
LÓPEZ, R. E. Estudio geológico de la Península de Yucatán.
Asociación Mexicana de Geólogos Petroleros, v. 25, n. 1-3, p. 25-72,
1973.
MARIACA MÉNDEZ, R. Análisis estadístico de seis años de cultivo
continuo experimental de una milpa bajo roza-tumba-quema
en Yucatán, México (1980-1986). 1988. 193 f. Tesis (Maestría en
Ciencias), Centro de Botánica, Colegio de Postgraduados, Montecillo,
1988.
MARIACA MÉNDEZ, R. Prácticas, decisiones y creencias agrícolas
mágico-religiosas presentes en el sureste de México. Etnobiología, v. 3,
p. 66-78, 2003.
MARIACA MÉNDEZ, R. 2012. La complejidad del huerto familiar
maya del sureste de México. En: MARIACA MÉNDEZ, R. (ed.). El
huerto familiar del sureste de México. Villahermosa: Secretaría de

303
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Recursos Naturales y Protección Ambiental del Estado de Tabasco y El


Colegio de la Frontera Sur, 2012. p. 7-97.
MARIACA MÉNDEZ, R.; GONZÁLEZ, A.; LERNER, T. El huerto
familiar en México: avances y propuestas. En: LÓPEZ OLGUÍN, J.
F.; ARAGÓN GARCÍA, A.; TAPIA ROJAS, A. M. (eds.). Avances
en agroecología y ambiente. v. 1. Puebla: Benemérita Universidad
Autónoma de Puebla, 2007. p. 119-138.
MARIACA MÉNDEZ, R. et al. La milpa en la región serrana Chiapas-
Tabasco de Huitiupán-Tacotalpa. En: GONZÁLEZ ESPINOSA, M.;
BRUNEL MANSEL, M. C. (Coords). Montañas, pueblos y agua:
dimensiones y realidades de la Cuenca Grijalva. México: Juan Pablo
Editor y El Colegio de La Frontera Sur, 2014. p. 323-359.
MÉNDEZ GONZÁLEZ, M. et al. Flora medicinal de los mayas
peninsulares. Mérida: CICY, Fordecyt-Conacyt, Fomix, Pronatura,
2012.
MÉNDEZ, R. La milpa maya yucateca en el siglo XVI: evidencias
etnohistóricas y conjeturas. Etnobiología, v. 13, n. 1, p. 1-25, 2015
MIRANDA, F. Vegetación. En: BELTRÁN, E. (ed.). Los recursos
naturales del Sureste. Tomo II. México, DF: Instituto Mexicano de
Recursos Naturales Renovables, 1958.
MORLEY, S. La civilización Maya. México: Fondo de Cultura
Económica, 1975.
PÉREZ SUÁREZ, T. Los mayas y sus vecinos los Olmecas. En:
SCHMIDT, P.; DE LA GARZA, M.; NALDA, E. (Coords). Los mayas.
Roma: Landuci Editores, 1998. p. 73-81.
PÉREZ RUIZ, M. L. Ser joven y ser maya en un mundo globalizado.
México: Instituto Nacional de Antropología e Historia, 2014.
PÉREZ TORO, A. La agricultura milpera de los mayas. En: VARGAS
P. (ed.). La milpa entre los mayas de Yucatán. Mérida: Universidad de
Yucatán, 1945. p. 1-28.

304
Práticas investigativas em Etnobotânica

QUEZADA, S. Breve historia de Yucatán. México: EFE, Colegio de


México, 2011 (Serie Breves Historias de los Estados de la República
Mexicana).
QUEZADA-EUAN, J. J. G. Xunancab, la señora abeja de Yucatán. En:
ECHAZARRETA, C. (comp.). La miel y las abejas: el dulce convenio
del mayab. Mérida: Biblioteca básica de Yucatán 13, Gobierno del
Estado de Yucatán, 2011. p. 15-29.
QUEZADA-EUÁN, J. J. G.; MÉNDEZ GONZÁLEZ, M. E. Producción
tradicional de miel: abejas nativas sin aguijón (trigonas y meliponas).
En: DURÁN GARCÍA, R.; MÉNDEZ GONZÁLEZ, M. E. (edts).
Biodiversidad y desarrollo humano en Yucatán. Mérida: Centro
de Investigaciones Científicas de Yucatán, Programa de Pequeñas
Donaciones del Fondo Para el Medio Ambiente Mundial, Comisión
Nacional para el Conocimiento y Uso de la Biodiversidad y Secretaría
de Desarrollo Urbano y Medio Ambiente de Yucatán, 2010.
REPORTEROS HOY. Vigila Profepa: hornos clandestinos de carbón
de Yaxcabá y Holcá. Nota diario Reporteros hoy del 8 de febrero de
2015. Disponible en: <http://reporteroshoy.mx /wp/vigila-profepa-
hornos-clandestinos-de-carbon-de-yaxcaba-y-holca.html>.
RODRÍGUEZ, A.; ARIAS REYES, L. M. La milpa y el maizal: retos al
desarrollo rural en México y Perú. Etnobiología, v. 12, n. 3, p. 76-89,
2014.
SAGARPA Deliciosa miel, manjar de Campeche. Campeche,
Campeche. Delegación Campeche Secretaría de Agricultura Ganadería
y Desarrollo Rural. México. 2018. https://www.gob.mx/agricultura/
articulos/deliciosa-miel-manjar-de-campeche
SAGARPA Apicultura, actividad de gran importancia económica
y social en Yucatán. Mérida: Delegación Yucatán Secretaría de
Agricultura Ganadería y Desarrollo Rural, 2018.
SANABRIA, O. L. El uso y manejo forestal en la comunidad de
Xul, en el sur de Yucatán: etnoflora yucatanense, fascículo 2. Xalapa:
Instituto Nacional de Investigaciones sobre Recursos Bióticos, 1986.

305
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

SÁNCHEZ GONZÁLEZ, M. C. Uso y manejo de la leña en X-uilub,


Yucatán: etnoflora yucatanense, fascículo 8. Mérida: Universidad
Autónoma de Yucatán, 1993.
SANTOS FITA, D. et al. La milpa-comedero-trampa como una
estrategia de cacería tradicional maya. Estudios de la Cultura Maya, v.
42, p. 89-118, 2013.
SEPÚLVEDA, P. Tráfico de carbón en Yucatán: negocio por
toneladas. Nota del diario El Universal Uno (Un1ón Yucatán) del
22 de junio de 2013. Disponible en: <http://www.unionyucatan.mx/
articulo/2013/06/22/medio-ambiente/merida/trafico-de-carbon-en-
yucatan-negocio-por-toneladas>.
SCHMIDT, P. La producción agrícola prehistórica de los Mayas. En:
HERNÁNDEZ XOLOCOTZI, E.; PADILLA Y ORTEGA, R. (eds).
Seminario producción agrícola en Yucatán. Mérida: Gobierno del
Estado, Secretaría de Programación y Presupuesto, Secretaría de
Agricultura y Recursos Hidráulicos y Colegio de Postgraduados, 1980.
p. 39-82.
SEGOVIA, C. A. La cacería de subsistencia en Tzucacab, Yucatán,
México. 2001. 55 f. Tesis (Maestría en Ciencias). Universidad
Autónoma de Yucatán, Mérida, Yucatán, 2001.
STEGGERDA, M. Maise production and animal husbandry Maya
indians of Yucatan. Wahington, DC: Carnegie Institution, 1941.
TERÁN, S. Los conucos y el desarrollo prehispánico del Puuc. Revista
de la Universidad Autónoma de Yucatán, v. 169, p. 41-55, 1989.
TERÁN, S.; RASSMUSSEN, C. Estrategia agrícola y religión. En:
ZIZUMBO VILLARREAL, D.; ARIAS REYES, L. M.; RASSMUSEN,
C. (eds.). La modernización de la milpa en Yucatán: utopía o
realidad. Mérida: Centro de Investigaciones Científicas de Yucatán,
Colegio de Postgraduados y Ministerio de Cultura de Dinamarca,
1992. p. 257-266.
TERÁN, S.; RASSMUSSEN, C. La milpa de los mayas: la agricultura
de los mayas prehispánicos y actuales en el noroeste de Yucatán.
Mérida: Gobierno del Estado de Yucatán y Danida, 1994.

306
Práticas investigativas em Etnobotânica

TERÁN, S.; RASMUSSEN, C. Jinetes del cielo: dioses y diosas de la


lluvia. Mérida: Ediciones de la Universidad Autónoma de Yucatán,
2008.
TERÁN, S.; RASMUSSEN, C.; MAY CAUICH, O. Las plantas de la
milpa entre los mayas. México: Fundación Tun Ben Kin, AC, 1998.
THOMPSON, J. E. Historia y religión de los mayas. 8. ed. México:
Siglo XXI, 1988.
TUZ CHI, L. H. Aj balam Yúumtsilo’ob: cosmovisión e identidad en
los rituales agrícolas mayas peninsulares. Mérida: Casa de la Historia
de la Educación de Yucatán, Secretaría de Educación y Gobierno del
Estado de Yucatán, 2013. (Colección Sáastal).
VARA MORÁN, A. La dinámica de la milpa en Yucatán: el solar. En:
HERNÁNDEZ XOLOCOTZI, E.; PADILLA Y ORTEGA, R. (eds).
Seminario sobre producción agrícola en Yucatán. México: Gobierno
del Estado de Yucatán, Secretaría de Programación y Presupuesto,
Secretaría de Agricultura y Recursos Hidráulicos y Colegio de
Postgraduados de Chapingo, 1980. p. 305-341.
VILLANUEVA-GUTIÉRREZ, R.; COLLÍ-UCÁN, W. La apicultura
en la península de Yucatán, México y sus perspectivas. Folia
Entomológica Mexicana, n. 97, p. 55-70, 1996.
VILLANUEVA-GUTIÉRREZ, R.; ROUBIK, D. W.; COLLI-UCÁN,
W. Extinction of Melipona beecheii and traditional beekeeping in the
Yucatán peninsula. Bee World, v. 86, p. 35-41, 2005.
VILLANUEVA-GUTIÉRREZ, R. et al. Recuperación de saberes y
formación para el manejo y conservación de la abeja Melipona beecheii
en la Zona Maya de Quintana Roo, México. En: VIT, P.; ROUBIK, D.
W. (eds). Stingless bees process honey and pollen in cerumen pots.
2013.
VILLANUEVA-GUTIÉRREZ, R. et al. Transgenic soybean pollen
(Glycine max L.) in honey from the Yucatán Peninsula, Mexico.
Scientific Reports, v. 4, 2014. DOI: 10.1038/srep04022

307
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

VILLANUEVA MUCUL, E. La zona milpera de Yucatán. En: PARÉ,


L.; MARTÍNEZ VÁZQUEZ, M. Semillas para el cambio en el campo.
México: Universidad Nacional Autónoma de México/ Instituto de
Investigaciones Sociales, 1997. p. 168-179.
VILLA ROJAS, A. Los elegidos de Dios: etnografía de los mayas de
Quintana Roo. 1. reimp. México: INI, 1987 [original 1945]. (Serie
Antropología Social, n. 56).
ZIZUMBO-VILLARREAL, D.; FLORES-SILVA, A.; COLUNGA-
GARCÍA, P. The archaic diet in Mesoamerica: incentive for milpa
development and species domestication. Economic Botany, v. 66, n. 4,
p. 328-343, 2012.

308
Parte 5
ETNOBOTÂNICA E ENSINO DE
BIOLOGIA E CIÊNCIAS
AS CONFIGURAÇÕES DOS ESTUDOS EM
ETNOBOTÂNICA NO CONTEXTO DO ENSINO DE
BIOLOGIA: UM LEVANTAMENTO A PARTIR DE
EDIÇÕES DO ENEBIO (ENCONTRO NACIONAL DE
ENSINO DE BIOLOGIA)

Wesley Alves Silva1, Dayvisson Luís Vittorazzi2,


Alcina Maria Testa Braz da Silva3,
Carlos Alberto Batista dos Santos4,
Wbaneide Martins de Andrade5
1
Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Ecologia Humana e
Gestão Socioambiental da
UNEB/DTCS III. Universidade do Estado da Bahia, Depto. de Tecnologia e
Ciências Sociais. [email protected]
2
Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e
Educação do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da
Fonseca (CEFET-RJ). [email protected]
3
Doutora em Educação. Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciência,
Tecnologia e Educação do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso
Suckow da Fonseca (CEFET-RJ). [email protected]
4
Doutor em Etnobiologia e Conservação da Natureza (PPGEtno/UFRPE).
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Humana e Gestão
Socioambiental, UNEB/DTCS III. Universidade do Estado da Bahia, Depto.
de Tecnologia e Ciências Sociais. [email protected]
5
Doutora em Etnobiologia e Conservação da Natureza (PPGEtno/UFRPE).
Docente do Programa de Pós-Graduação em Ecologia Humana e Gestão
Socioambiental, UNEB/DEDC VIII. Universidade do Estado da Bahia,
Depto. de Educação.
[email protected]

Introdução

O conhecimento tradicional é dinâmico, e está constantemente sendo


mudado e transformado, além de ser perdido com o passar do tempo,

311
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

diversos motivos participam desses processos, como: a morte dos mais


antigos, por mudanças econômicas, sociais e a maneira como os recursos
disponíveis no meio ambiente são utilizados (PRADO; MURRIETA,
2015). Para avaliar essas interações e transformações ocorridas ao longo
do tempo, a Etnobotânica é aponta como um campo do conhecimento
da Etnobiologia, que vincula a Botânica e Antropologia, tornando-se
um instrumento que permite analisar os modos através dos quais os
habitantes produzem e reúnem os conhecimentos trazidos de seus
locais de origem e como estes são transmitidos para as novas gerações
(CAVALCANTE; SILVA, 2014). No ambiente escolar, a etnobotânica
tornou-se uma promissora ferramenta no ensino de biologia, pois
permite o resgate da cultura popular, expressão dos alunos sobre o
conhecimento das plantas, a valorização do conhecimento local no
ambiente escolar, além da conexão dos saberes científicos aos populares
(COSTA; PEREIRA, 2016).
A etnobotânica é a ciência que estuda as inter-relações diretas entre
pessoas de culturas viventes e as plantas do seu meio, aliando fatores
culturais ambientais e as concepções desenvolvidas por essas culturas
sobre as plantas e o aproveitamento que se faz delas (ALBUQUERQUE,
2005). De acordo com Hamilton e colaboradores (2003), a etnobotânica,
é uma disciplina fundamental porque propõe o conhecimento científico
e os vínculos entre os saberes populares, além disso, resgata e valoriza
os conhecimentos tradicionais e conservação dos recursos naturais.
Dessa forma, a etnobotânica tem sido reconhecida pelos cientistas, por
estarem cientes de seu papel fundamental no desenvolvimento humano.
O ensino de biologia tem como objetivo fazer com que os alunos
entendam o grande significado da vida para cada um de nós. Além
disso, é importante no sentido de direcionar o olhar dos estudantes no
intuito de mostrar que as ciências naturais não são estanques, mas se
preocupam em observar e comprovar os porquês de cada fase e de cada
mudança ocorrida na natureza de forma orgânica e informada. Espera-
se que ao pesquisar, o aluno formule hipóteses, observe, experimente,
aprenda a deixar a natureza falar, permitindo-lhe responder com
simplicidade às suas perguntas, em um movimento que considere suas
próprias perspectivas e descobertas para construir o entendimento
sobre como se dão as relações entre o meio e o ser vivo (FERREIRA et
al., 2017).

312
Práticas investigativas em Etnobotânica

Os debates em sala de aula sobre etnobotânica contribuem para


a discussão e divulgação de temas da educação básica, na prática
pedagógica, a partir do momento em que a ciência que está sendo
ensinada se harmoniza com a cultura dos estudantes, respeitando-se as
visões de mundo desses indivíduos. Quando a cultura dos estudantes
é incompatível com a cultura da ciência, o ensino tende a não aceitar
as visões de mundo dos estudantes, forçando-os a rejeitarem os seus
pensamentos. Como consequência disto, os estudantes terminam por
não compreenderem a natureza do conhecimento científico, sendo
levados a crer que a ciência é propriedade de alguns sábios, ao invés de
um produto passível de revisão social (OGAWA, 1995). Dessa forma,
as informações que os alunos obtêm e os conhecimentos que trazem
para a escola permitem que eles aprendam de maneira mais significativa
sobre os conceitos nas aulas de ciências e os tornem relevantes no seu
cotidiano (SIQUEIRA; PEREIRA, 2014).
Nessa perspectiva, a presente pesquisa traz como objetivo apresentar
uma análise das produções que tratam de aspectos da etnobotânica
veiculadas em edições do Encontro Nacional de Ensino de Biologia.

1. Metodologia da pesquisa

Pretendendo um tratamento qualitativo, com enfoque descritivo, a


presente pesquisa foi coletada a partir de dados do levantamento das
produções das duas últimas edições do ENEBIO (2018-2021). Por meio
de acesso ao site da SBEnBio, consultamos os links de cada edição dos
eventos e empregamos as ferramentas de busca disponíveis em cada
caso. A sondagem foi norteada pelos termos descritores “etnobotânica”,
“botânica”, “conhecimento popular” “educação”, presentes nos
títulos, resumos ou palavras-chave dos artigos publicados nos Anais.
Alcançamos 12 produções, as quais integraram o corpus da análise desta
investigação.
Por meio de uma leitura exploratória (GIL, 2016), analisamos a
adequação dos trabalhos selecionados aos objetivos desta pesquisa.
As informações coletadas, como título, autores, instituições, objetivos,

313
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

sujeitos, instrumentos de coleta de dados e palavras-chave, foram


organizadas em planilhas eletrônicas. Recorrendo a uma leitura analítica
do corpus (GIL, 2016), identificamos informações para a exploração das
relações entre os temas, objetivos e sujeitos das pesquisas. Determinados
dados foram utilizados na construção de tabelas e grafos, com o auxílio
dos softwares Calc1 e Iramuteq2, que seguem dispostos neste estudo.
As análises estatísticas de similitude entre palavras/expressões,
sustentadas pelo Iramuteq privilegiadas neste estudo, possibilitaram
representações gráficas das relações (co-ocorrências e conexidade)
entre os elementos descritores destacados nos trabalhos analisados
(CAMARGO; JUSTO, 2013). Essas relações orientaram análises das
principais configurações das pesquisas desenvolvidas no campo da
etnobotânica nos domínios do ensino de biologia, veiculadas em duas
últimas edições do ENEBIO.
Nossa opção pelo conjunto de produções do ENEBIO efetivou-
se pelo escopo destes eventos, que são promovidos pela Associação
Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBio), apresentarem ênfase
nacional e reunirem um conjunto de pesquisadores que compartilham de
interesses da área. Os encontros são bianuais, organizados em parcerias
com diversas Universidades do país e trazem por objetivos principais
manter o “diálogo entre a universidade e a escola; entre a formação
inicial e a continuada; entre a pesquisa e as experiências efetuadas no
cotidiano das escolas e de diversos espaços e artefatos educativos em
que se ensina e aprende biologia” (SBENBIO, 2014, p. 2).

1 Calc é um aplicativo de planilhas eletrônicas de código aberto (open-source) que


integra o pacote LibreOffice. Nossa prescrição deu-se pelas possibilidades de
organização e arquivamento de dados, com geração de bancos de informações que
permitem cálculos automatizados e a construção de gráficos, além da exportação de
matrizes (extensão .ods) suportadas em análises textuais pelo software Iramuteq.
2 Iramuteq (Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et
de Questionnaires) é um software de código aberto, distribuído gratuitamente,
desenvolvido por Pierre Ratinaud, que possibilita análises estatísticas, ancoradas
no aplicativo R, em conjuntos textuais e tabelas de dados (CAMARGO; JUSTO,
2013). Nesta pesquisa, aplicamos os recursos de análise de similitude no interesse
de verificarmos as co-ocorrências (relações) entre elementos coletados dos artigos
das edições do ENEBIO.

314
Práticas investigativas em Etnobotânica

A relevância das pesquisas que se propõem à análise da


representatividade de produções acadêmicas relaciona-se à
indispensabilidade de se “estabelecer processo reflexivo sobre a pesquisa
educacional realizada no país, já que à medida que o número de estudos
aumenta e cresce o volume de informações, o campo de investigação
vai adquirindo densidade” (TEIXEIRA; MEGID NETO, 2012, p. 274).
Novas possibilidades de integração de conhecimentos produzidos por
esses estudos são viabilizadas nesse sentido, o que pode encaminhar a
configuração de proposições orientadas à formação de professores, à
constituição de propostas curriculares e o próprio aperfeiçoamento das
ações pedagógicas que ancoram os processos de ensino e aprendizagens
das ciências da natureza em nosso território.

3. Resultados e Discussão

Atendendo aos objetivos e critérios adotados nesta pesquisa, foram


inventariados 12 trabalhos apresentados nas edições VII e VIII do
ENEBIO que trataram de aspectos relacionados à etnobotânica. Quanto
ao número de publicações nos períodos analisados, observamos que em
2018 o volume de trabalhos que atenderam aos nossos parâmetros foi
maior (Figura 1). Diante dos resultados sugere-se uma valorização na
formação inicial de professores, principalmente em programas como
PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) e
Residência Pedagógica e sua interface com o ensino de etnobotânica. O
desenvolvimento de pesquisas científicas juntamente com os professores
de ensino básico, pode centrar esforços para mapear a cultura e o
conhecimento popular destes alunos em relação ao à utilização dos
recursos vegetais, para a criação de estratégias de um plano de ação
efetivo para a conservação da cultural local.
Embora considerado no currículo escolar dentro do conteúdo
de botânica, a etnobotânica tem encontrado muitos desafios que
dificultam sua prática e afastam alunos e professores. De acordo com
Junges e colaboradores (2018) o professor é um profissional reflexivo
e sua aprendizagem constante, e através da formação continuada
ele tem a oportunidade de reinventar suas práticas diante dos novos

315
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

desafios, adaptando suas metodologias as transformações da sociedade


e da educação. No processo de formação de professores, os educadores
tradicionais devem ir ultrapassar as fronteiras escolares para impulsionar
a mudança em torno da comunidade local, procurando encontrar
um diálogo que possa ensinar, aprender e respeitar o conhecimento
tradicional (RIOS-RAMIARINA, 2017).

Figura 1 – Quantidade de produções das edições VII e VIII do ENEBIO


(2018-2021).

Percebe-se a preocupação de em estudar os conhecimentos


etnobotânicos. Uma vez que a etnobotânica inclui o estudo da
sociedade humana, passada e presente, e as inter-relações ecológicas,
evolutivas e simbólicas, auxiliando a entender a dinâmica natural das
relações homem-planta (ALEXIADES, 1996). Pesquisas etnobotânicas
em ambientes escolares podem acessar diferentes características do
comportamento humano, incluindo formas de conservar recursos
naturais e por trocas de conhecimentos. Diversos trabalhos, como o
de Brandão (2003), Chassot (2006), Perrelli (2008) corroboram que
os saberes populares devem fazer parte do currículo escolar, uma vez
que fazem parte da vida dos estudantes e precisam ser reconhecidos e
explorados pela escola.
Atualmente o grande desafio dos professores está em articular
os conhecimentos populares com os novos parâmetros curriculares
pautada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), pois qualquer
conhecimento local alternativo ou cultural, são marginalizados pela

316
Práticas investigativas em Etnobotânica

força que a ciência exerce sobre a escola. Por meio dos recursos de
análise de similitude foi possível elaborar grafos do tipo árvore máxima3
para os elementos destacados nos trabalhos analisados. Esses atributos,
compõem gráficos conexos simples com a exclusão dos conjuntos de
semelhanças mais frágeis, tornando evidente as relações mais robustas
(PEREIRA, 1997). Esses grafos proporcionam o “mapeamento” das
conexões entre as unidades coletadas nas pesquisas que abordam
aspectos da etnobotânica no contexto do ensino de biologia.
Os dados levantados a partir do corpus da pesquisa permitiram a
identificação das instituições que desenvolveram pesquisas que tratam
da etnobotânica. Nesse caso, podemos observar, na Figura 2, que a
instituição Universidade Federal do Amazonas (UFAM) apresenta
maior notoriedade na rede. Destacamos a existência de parcerias entre
instituições nacionais, porém em número reduzido. Sublinhamos,
também, uma maior participação de instituições das regiões Norte
(UFT, UFAM, IFPA, UEPA, IFAM, UFRA, INPA-AM, MPEG) e Sudeste
(UFRJ, UFABC, UFOP, Celso Lisboa) brasileiras nas produções. Há, no
entanto, menor representatividade de outras regiões: Nordeste (UECE),
Centro-Oeste (UNB/NECBio) e Sul (UFSC).
Percebemos a existência de um cluster4 mais central no grafo,
estruturado a partir dos termos “etnobotânica” (com maior valor de
frequência), “‘ensino de botânica” e “plantas medicinais”. Há, ainda,
quatro clusters que não estabelecem relações entre si nem com o
inicialmente citado. No entanto, destacamos que todas as comunidades
da Figura 3 apresentam palavras-chave que representam questões
tratadas pela etnobotânica.
No conjunto, é possível verificar que o tema “plantas medicinais” e as
relações com o “ensino de botânica” apresentam destaque nas produções
que tratam da etnobotânica. De acordo com Silva e Bundchen (2011), o
uso medicinal tem despertado a curiosidade na comunidade científica

3 Na elaboração do grafo, utilizamos os valores de co-ocorrência dos termos para a


configuração do layout Fruchterman-Reingold.
4 Os clusters, nesse caso, representam os agrupamentos de nós de acordo com os
critérios de co-ocorrências aplicados pelo software Iramuteq.

317
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

sobre a relação humanos-plantas, por isso, grande parte da pesquisa


etnobotânica concentra-se em plantas medicinais. Ainda, pelos modos
socioculturais de produção de saberes nas relações entre os indivíduos
e o meio em que vivem, perspectiva relacional da etnobotânica, essas
questões são frequentemente tratadas nas propostas de ensino de
botânica.
Partindo das estruturas de co-ocorrências, destacadas no grafo da
Figura 3, é possível explorar as principais configurações das pesquisas
analisadas. No cluster estruturado a partir dos eixos etnobotânica,
ensino de botânica e plantas medicinais quatro pesquisas estabeleceram
objetivos concentrados na análise de materiais bibliográficos, como
revistas, trabalhos publicados em anais de congressos e documentos
curriculares do ensino fundamental e médio, no interesse de investigar
a presença/ausência de temas relacionados à etnobotânica e seus
subsídios às práticas educacionais, bem como à formação de professores
de ciências/biologia (MORENO, 2018; SOARES; SILVA, 2018;
ARAÚJO; LIPORINI, 2021; CORRÊA; SILVA, 2021). Dois trabalhos
se concentraram na aplicação de práticas relacionadas à etnobotânica:
um envolvendo a produção de cartilha a partir dos conhecimentos
sobre plantas medicinais de uma comunidade (LUCAS et al., 2018) e o
outro relatando as atividades desenvolvidas em uma aula sobre plantas
medicinais para alunos de um curso técnico em meio ambiente (SILVA
et al., 2018). Um trabalho se propôs a investigar as relações cotidianas
de alunos do ensino médio, e seus familiares, com plantas presentes em
seus quintais (SILVA; LIMA; ODA, 2018).
No cluster estruturado a partir do eixo “biodiversidade”, assinalamos
duas pesquisas que se concentram nos saberes de alunos do ensino médio
sobre botânica. Em um dos trabalhos, ocorreu a produção de um jardim
digital a partir de conhecimentos coletados em pesquisas de campo
(BRITO; OLIVEIRA, 2021). Em outro, os interesses se concentraram na
análise das percepções de estudantes acerca das plantas alimentícias não
convencionais (PANCs) da Amazônia, possibilitando discussões sobre
sua importância gastronômica e medicinal (SOUZA et al., 2018).

318
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figura 2 – Árvore máxima das instituições das pesquisas apresentadas nas


edições VII e VIII do ENEBIO. (2018-2021).

No cluster que apresenta o mapeamento das co-ocorrências entre


os termos “Atividade Econômica do Capim Dourado”, “Etnobiologia”,
“Botânica Econômica”, “Pesquisa Bibliográfica e Conhecimento
Popular”, encontramos um trabalho que discute as implicações de
produções bibliográficas na área de etnobotânica utilizadas por
professores em práticas de ensino de biologia (MAIA; VIANA, 2018).
No cluster de relações entre professores, investigação e educação,
sinalizamos uma pesquisa que, por meio da aplicação de questionários
e produção discursiva, analisa as estratégias investigativas de estudantes
de licenciatura em biologia na interface das relações entre a etnobiologia
e o ensino de biologia (SOUZA; PINTO, 2021).

319
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Figura 3 – Árvore máxima das palavras-chave das pesquisas apresentadas nas


edições VII e VIII do ENEBIO (2018-2021).

No cluster formado pelos termos “Horta Escolar”, “Parasitologia e


Educação em Saúde”, identificamos uma pesquisa que objetiva relatar
uma experiência de construção de uma horta em uma escola pública
de ensino fundamental no Estado do Rio de Janeiro, com interesse de
fomentar discussões sobre as enteroparasitoses (ARAÚJO, 2018).
De modo convergente, podemos assinalar que o conjunto de
pesquisas analisadas neste trabalho fornecem elementos relevantes às
discussões acerca das atribuições dos conhecimentos sobre a flora de
uma região produzidos nas relações socioculturais dos indivíduos nas
práticas de ensino em contextos formais e informais, instrumentalizando,

320
Práticas investigativas em Etnobotânica

desse modo, reflexões sobre os documentos curriculares e produções


bibliográficas que abarcam aspectos da etnobotânica.

4. Considerações finais

Os resultados apresentados neste estudo sugerem que o


conhecimento etnobotânico dos estudantes pode ser mais explorado,
isso mostra que ainda existem uma lacuna no registro dos saberes
populares sobre os recursos vegetais, evidenciando a necessidade da
realização de novas pesquisas voltadas ao Ensino de Biologia.
A presença da etnobotânica nos conteúdos escolares promove a
valorização e resgate de saberes, sistematizando os saberes populares,
e auxiliando estudantes a acessar o universo científico, estimulando
o interesse pelo Ensino de Biologia e contribuindo para formação de
cidadãos mais conscientes do meio em que vivem.
Sinalizamos da importância do currículo de formação inicial de
professores de Ciências e Biologia no Brasil, bem como a BNCC e os
PCNs de Biologia, que em sua formação não vivenciam relações diretas
das teorias científicas aos saberes populares, e por vezes, a matriz
curricular dissocia esses saberes das teorias estudadas.

Referências

ALBUQUERQUE, U. P. Introdução à etnobotânica. 2. ed. Rio de


Janeiro: Interciência. 2005.
ALEXIADES, N. N. Select guidelines for ethnobotanical research: a
field manual. New York: The New York Botanical Garden Press, 1996.
ARAÚJO, E. A.; LIPORINI, T. Q. O ensino de Botânica no currículo
de Ciências da Natureza do Distrito Federal. In: ENCONTRO

321
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

NACIONAL DE ENSINO DE BIOLOGIA, 8., 2021, Online. Anais


eletrônicos... Disponível em: <https://www.sbenbio.org.br/geral/
publicacos-nos-anais-do-enebionline-viii-enebio/>. Acesso em: 10 out.
2022.
BRANDÃO, C. R. A pergunta a várias mãos: a experiência da
pesquisa no trabalho do educador. São Paulo: Cortez, 2003.
BRITO, W. R. O.; OLIVEIRA, D. N. Jardim Digital: uma proposta de
Ensino de Educação Ambiental para o ensino médio. In: ENCONTRO
NACIONAL DE ENSINO DE BIOLOGIA, 8., 2021, Online. Anais
eletrônicos... Disponível em: <https://www.sbenbio.org.br/geral/
publicacos-nos-anais-do-enebionline-viii-enebio/>. Acesso em: 10 out.
2022.
CORRÊA, G. C. A. C.; SILVA, F. A. R. Revista sobre plantas
alimentícias não convencionais como recurso de Ensino da
Biodiversidade. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE
BIOLOGIA, 8., 2021, Online. Anais eletrônicos... Disponível em:
<https://www.sbenbio. org.br/geral/publicacos-nos-anais-do-
enebionline-viii-enebio/>. Acesso em: 10 out. 2022.
CHASSOT, A. Alfabetização científica: questões e desafios para a
educação. 4. ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2006.
CAMARGO, B. V.; JUSTO, A. M. Tutorial para uso do software de
análise textual IRAMUTEQ. Florianópolis: LACCOS/UFSC, 2013.
Disponível em: <http://www.iramuteq.org/documentation/fichiers/
tutoriel-en-portugais>. Acesso em: 5 out. 2022.
CAVALCANTE, A. C. P.; SILVA, A. G. Levantamento etnobotânica e
utilização de plantas medicinais na comunidade Moura, Bananeiras
- PB. Revista Monografias Ambientais-REMOA, v. 14, n. 2, p. 3225-
3230, 2014.
COSTA, S.; PEREIRA, C. Etnobotânica como subsídio para educação
ambiental nas aulas de ciências. Revista Brasileira de Educação
Ambiental, v. 11, n. 2, p. 279-298. 2016.
FERREIRA, G. et al. A etnobotânica e o ensino de botânica do

322
Práticas investigativas em Etnobotânica

ensino fundamental: possibilidades metodológicas para uma prática


contextualizada. FLOVET, v. 1, n. 9, p. 86-101, 2017.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo:
Atlas, 2016.
HAMILTON, A. C. et al. The purposes and teaching of applied
ethnobotany. Godalming: WWF, 2003.
JUNGES, F. C; KETZER, C. M; OLIVEIRA, V. M. A. Formação
continuada de professores: saberes ressignificados e práticas docentes
transformadas. Educação e Formação, v. 3, n. 9, p. 88-101, 2018.
LUCAS, F. C. A. et al. Bioculturalidade no ensino de biologia:
confecção de cartilha em comunidade ribeirinha amazônica. In:
ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE BIOLOGIA, 7., 2018.
Anais eletrônicos... Belém: IEMCI, UFPA, 2018. Disponível em:
<https://www.sbenbio.org.br/anais/anais-vii-encontro-nacional-de-
ensino-de-biologia-enebio/>. Acesso em: 10 out. 2022.
MAIA, M. F. G.; VIANA, R. H. O. Etnobotânica tocantinense: algumas
implicações para o ensino de biologia. In: ENCONTRO NACIONAL
DE ENSINO DE BIOLOGIA, 7., 2018. Anais eletrônicos... Belém:
IEMCI, UFPA, 2018. Disponível em: <https://www.sbenbio.org. br/
anais/anais-vii-encontro-nacional-de-ensino-de-biologia-enebio/>.
Acesso em: 10 out. 2022.
MORENO, G. S. Currículo do ensino de ciência/ biologia e
conhecimentos tradicionais em torno das plantas medicinais. In:
ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE BIOLOGIA, 7., 2018.
Anais eletrônicos... Belém: IEMCI, UFPA, 2018. Disponível em:
<https://www.sbenbio.org.br/anais/anais-vii-encontro-nacional-de-
ensino-de-biologia-enebio/>. Acesso em: 10 out. 2022.
OGAWA, M. Ensino de ciências em um multiscience perspectiva.
Ciência da Educação, v. 79, n. 5, p. 583-593, 1995.
PEREIRA, C. A análise de dados nas representações sociais. Análise
Psicológica, v. 1, n. 15, p. 49-62, 1997.

323
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

PERRELLI, M. A. S. “Conhecimento tradicional” e currículo


multicultural: notas com base em uma experiência com estudantes
indígenas Kaiowá/Guarani. Ciência & Educação, v. 14, n. 3, p. 381-
396, 2008.
PRADO, H. M.; MURRIETA, R. S. S. A etnoecologia em perspectiva:
origens, interfaces e correntes atuais de campo em ascensão. Ambiente
& Sociedade, v. 18, n. 4, p. 139-160, 2015.
RIOS-RAMIARINA, N. T. R. Educação ambiental e direitos humanos
na formação inicial de professores de ciências biológicas. In:
ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM
CIÊNCIAS, 11., 2017. Anais.... Florianópolis: UFSC, 2017. p. 9.
SILVA, J. A.; BUNDCHEN, M. Conhecimento etnobotânico sobre as
plantas medicinais utilizadas pela comunidade do Bairro Cidade Alta,
município de Videira, Santa Catarina, Brasil. Unoesc & Ciência, v. 2,
n. 2, p. 129-140, 2011.
SIQUEIRA, A. B.; PEREIRA, S. M. Abordagem etnobotânica no
ensino de Biologia. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação
Ambiental, v. 31, n. 2, p. 247-260, 2014.
TEIXEIRA, P. M. M; MEGID NETO, J. O estado da arte da pesquisa
em ensino de Biologia no Brasil: um panorama baseado na análise
de dissertações e teses. Revista Electrónica de Enseñanza de las
Ciencias, v. 11, n. 2, p. 273-297, 2012.
SBENBIO. Apresentação. Revista da SBEnBio, v. 7, p. 2-3, 2014.
Disponível em: <https://sbenbio.org.br/publicacoes/anais/V_
Enebio/V_Enebio_completo.pdf >. Acesso em: 10 out. 2022.
SOUZA, F. L. S.; PINTO, M. F. A Etnobiologia na formação docente
dos estudantes de Biologia. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO
DE BIOLOGIA, 8., 2021. Anais eletrônicos... Disponível em: <https://
www.sbenbio.org.br/geral/publicacos-nos-anais-do-enebionline-viii-
enebio/>. Acesso em: 10 out. 2022.
SILVA, K. S. et al. Prática com plantas medicinais: relato de experiência

324
Práticas investigativas em Etnobotânica

em turma do ensino médio no IFPA-campus Abaetetuba, Pará. In:


ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE BIOLOGIA, 7., 2018.
Anais eletrônicos... Belém: IEMCI, UFPA, 2018. Disponível em:
<https://www.sbenbio.org.br/anais/anais-vii-encontro-nacional-de-
ensino-de-biologia-enebio/>. Acesso em: 10 out. 2022.
SILVA, M. A.; LIMA, K. T.; ODA, W. Y. Levantamento etnobotânico
dos quintais de alunos e vizinhos de uma escola pública do bairro
Coroado, Manaus-AM. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO
DE BIOLOGIA, 7., 2018. Anais eletrônicos... Belém: IEMCI, UFPA,
2018. Disponível em: <https://www.sbenbio.org.br/anais/anais-vii-
encontro-nacional-de-ensino-de-biologia-enebio/>. Acesso em: 10 out.
2022.
SOARES, J. P. R. Contribuições do PIBID para o ensino de botânica:
análise dos trabalhos apresentados em congressos de 2013 a 2017. In:
ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE BIOLOGIA, 7., 2018.
Anais eletrônicos... Belém: IEMCI, UFPA, 2018. Disponível em:
<https://www.sbenbio.org.br/anais/anais-vii-encontro-nacional-de-
ensino-de-biologia-enebio/>. Acesso em: 10 out. 2022.
SOUZA, N. M. et al. Percepções de alunos sobre a importância
gastrônomica e medicinal de PANC da Amazônia. In: ENCONTRO
NACIONAL DE ENSINO DE BIOLOGIA, 7., 2018. Anais
eletrônicos... Belém: IEMCI, UFPA, 2018. Disponível em: <https://
www.sbenbio.org. br/anais/anais-vii-encontro-nacional-de-ensino-de-
biologia-enebio/>. Acesso em: 10 out. 2022.

325
CONHECIMENTOS PRÉVIOS SOBRE PLANTAS
MEDICINAIS APRESENTADOS PELOS CALOUROS
DO CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA,
BAHIA

Maria de Lourdes Santos Pinto Neri1, Eraldo Medeiros Costa Neto2,


João Paulo dos Santos Silva3

Licenciada em Ciências Biológicas, UEFS.


1

2
Universidade Estadual de Feira de Santana,
Departamento de Ciências Biológicas.
Coordenador dos Grupos de Pesquisa “Etnobiologia e Patrimônio
Biocultural” e “Ecologia Espiritual”, certificados pelo CNPq;
[email protected]
3
Professor da Rede Estadual de Ensino de Alagoas. Doutorando em
Educação, UFBA.

Introdução

A área das Ciências Biológicas é responsável por estudar todas as


formas de vida, dos microrganismos aos seres vivos mais complexos,
como os animais e as plantas. Raven, Evert e Eichhorn (2014) relatam
que a parte da Biologia que lida com as plantas, e que abrange também
o estudo dos procariontes e das algas, é chamada Botânica ou Biologia
Vegetal. Sendo assim, a Botânica é um dos ramos mais abrangentes da
Biologia, cujos objetos de estudo servem para outras áreas biológicas,
constituindo-se em uma área interdisciplinar (SANTOS, 2006).
A palavra “botânica” vem do grego botánē, que significa “planta”,
que deriva do verbo boskein, “alimentar”. Porém, além de serem fonte
de alimento, as plantas participam de nossas vidas de muitas outras
maneiras. Elas fornecem matéria-prima para as indústrias têxtil,

327
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

farmacêutica, de papel, mobiliária, entre outras, e são responsáveis


por fornecer parte do oxigênio que respiramos (RAVEN; EVERT;
EICHHORN, 2014).
No contexto escolar, as disciplinas de Ciências, no Ensino
Fundamental, e Biologia, no Ensino Médio, devem possibilitar ao
estudante conhecer a si próprio, entender suas relações com os demais
seres vivos, bem como os fenômenos que ocorrem no meio ambiente, de
forma a melhorar sua qualidade de vida (BAPTISTA, 2002). O conteúdo
de botânica está presente na Educação Básica em duas disciplinas:
Ciências e Biologia. Novas metodologias para abordar o conteúdo
de botânica na Educação Básica têm sido discutidas (DAVID;
OLIVEIRA; PINHEIRO, 2016; DUTRA; GÜLLICH, 2014; SIQUEIRA;
PEREIRA, 2014), pois tal subárea das Ciências Biológicas é uma das
mais prejudicadas no que se refere ao ensino, seja pela complexidade
de termos técnicos, que, na maioria das vezes, criam abordagens mais
difíceis, ou mesmo pela falta de formação dos docentes (DUTRA;
GÜLLICH, 2014). Consequentemente, muitas vezes o conteúdo de
botânica torna-se apenas mais um conteúdo decorativo (SANTOS,
2006).
Quando trabalhado na Educação Básica, geralmente o conteúdo de
botânica é visto pelos discentes do Ensino Fundamental e Médio como
um conteúdo escolar chato, entediante e fora do contexto moderno
(SALATINO; BUCKERIDGE, 2016). Esses autores afirmam que não só
nas escolas, como também nos meios de comunicação e no nosso dia a
dia, as plantas não são consideradas atrativas.
As plantas geralmente são despercebidas pelos humanos e muitas
passam a ser vistas como desinteressantes, que servem apenas para
compor um cenário, diante do qual os animais vivem e realizam suas
atividades; esta apatia para com as plantas pode ser justificada pelo fato de
serem elementos estáticos (SALATINO; BUCKERIDGE, 2016). Neves,
Bündchen e Lisboa (2019) afirmam que, com o avanço da urbanização
e da tecnologia, a interação entre humanos e plantas parece estar
sendo reduzida gradativamente. A falta de atenção dada às plantas pela
sociedade moderna constitui o fenômeno da cegueira botânica, termo
criado por Wandersee e Schussler (2002) que a definiram como: (a)
incapacidade de reconhecer a importância das plantas na biosfera e no

328
Práticas investigativas em Etnobotânica

cotidiano; (b) dificuldade em perceber os aspectos estéticos e biológicos


exclusivos das plantas; e (c) ideia de que as plantas são seres inferiores
aos animais, portanto, não merecedoras de atenção equivalente.
Muitas vezes, os conhecimentos populares relacionados às plantas
não fazem parte das aulas de botânica, pois o conhecimento científico
não costuma ser associado ao conhecimento popular dos estudantes.
Na maioria das vezes, os estudantes das escolas não têm condições de
expressá-los porque a oralidade não é contemplada em sala de aula.
Segundo Baptista (2010), a diversidade de culturas presente nas salas
de aula constitui importante instrumento para o ensino de ciências, na
medida em que pode favorecer a compreensão dos conteúdos científicos
quando estes são relacionados aos conhecimentos tradicionais dos
estudantes (ANDRADE et al., 2014).
No entanto, o conteúdo de botânica, quando abordado nas disciplinas
de Ciências e Biologia, frequentemente não considera os conhecimentos
tradicionais dos estudantes, tornando-se assim algo desinteressante para
eles. A partir da Etnobotânica, é possível desenvolver uma metodologia
que equilibra a teoria e a prática, pois trabalhos nesta vertente buscam
mais que romper com as velhas aulas expositivas, unilaterais e pobres
de estímulos: propõem um envolvimento da comunidade escolar e
de familiares com o conhecimento científico (DAVID; OLIVEIRA;
PINHEIRO, 2016).
No âmbito educacional, a cegueira botânica é um fenômeno que não
se limita ao cotidiano do estudante/professor, passando a ter reflexos no
processo de ensino e aprendizagem do conteúdo, quando abordado na
disciplina de Biologia. Salatino e Buckeridge(2016) acreditam que, como
consequência da cegueira botânica, o ensino de Biologia, no Brasil e em
outros países, encontra-se num círculo vicioso. Esses autores acreditam
que muitos professores que atuam na Educação Básica tiveram formação
insuficiente em Botânica; portanto, não têm como nutrir entusiasmo
pelo conteúdo e obviamente não conseguem motivar seus alunos no
aprendizado.
Por consequência, crianças e jovens entediam-se e se desinteressam
por botânica; dentre eles, os que vierem a ser professores muito
provavelmente poderão ter problemas de engajar os futuros alunos o
necessário entusiasmo pelo aprendizado de biologia vegetal. Salatino

329
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

e Buckeridge (2016) reconhecem que o ensino de botânica, em todos


os níveis acadêmicos, tem sido motivo de preocupação. Wandersee e
Schussler (2001) defendem que uma educação precoce, interativa, bem
planejada, significativa e consciente científica e socialmente, sobre as
plantas, aliada às experiências pessoais, pode ser a melhor maneira de
superar o fenômeno da cegueira botânica.

1. Os saberes populares e as plantas medicinais

O Brasil é um dos países que apresenta a maior diversidade biológica


e alguns dos biomas mais ricos do mundo. Somada à diversidade
biológica, devido à sua própria história, o país expõe uma diversidade
de crenças, culturas e formas de expressão, o que consequentemente
torna cada comunidade única, com características próprias (XAVIER;
FLÔR, 2015). A cultura popular de um determinado grupo é formada
por um conjunto de saberes. Xavier e Flôr (op. cit.) consideram os
saberes populares como um conjunto de conhecimentos elaborados
por pequenos grupos, fundamentados em experiências ou em crenças
e superstições. Os saberes populares são passados de geração a
geração, sobretudo por meio da linguagem oral e dos gestos e, assim
como o conhecimento científico, não podem ser considerados como
um conhecimento estático, visto que sofrem alterações à medida que
integrantes desses grupos podem sofrer influências internas e externas
(GONDIM, 2007).
Os saberes populares relacionados às plantas no que se refere aos
chás medicinais, banhos terapêuticos, ao artesanato, às mandingas,
à gastronomia, entre outros temas, constituem parte das tradições
populares de determinado grupo (GONDIM, op. cit.). Olguin e
colaboradores (2007) afirmam que, por milhares de anos, as pessoas
recorrem às plantas para tratar doenças e amenizar dores e incômodos.
Tal procura pode ser explicada pelo fácil acesso às plantas, que geralmente
são cultivadas nos quintais, e por constituírem um tratamento de baixo
custo. Esses autores afirmam que as ervas, árvores e arbustos empregados
pelos povos antigos continuam a ser valorizados ao longo dos tempos.

330
Práticas investigativas em Etnobotânica

O uso das espécies vegetais para tratamento e cura de doenças e


seus sintomas se perpetuou na história da civilização humana e chegou
até os dias atuais, sendo as plantas amplamente utilizadas por grande
parte da população mundial como eficaz fonte terapêutica (JORGE;
MORAIS, 2003). Esses autores afirmam que os seres humanos listaram
plantas com uso medicinal e descreveram seus valores terapêuticos em
documentos manuscritos.
As propriedades medicinais presentes em determinadas plantas
são explicadas pela presença de compostos responsáveis pelo efeito
terapêutico. Segundo Martins e colaboradores (1998 apud OLGUIN et
al., 2007), embora antigamente as pessoas soubessem que certas plantas
tinham de fato um poder curativo, elas não conseguiam explicar como
tais plantas atuavam e, por tal motivo, frequentemente atribuíam-lhes
forças sobrenaturais. Com o avanço da ciência, foi possível entender por
que muitas plantas possuempropriedades medicinais.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002), planta
medicinal pode ser definida como toda espécie vegetal que possui, em
um ou mais órgãos, substâncias que podem ser utilizadas com propósitos
terapêuticos ou que sejam precursores de fármacos semissintéticos
(OLGUIN et al., 2007). No Brasil, o Ministério da Saúde lançou a
Política e o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos,
que têm como principal objetivo garantir à população brasileira o
acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos,
promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da
cadeia produtiva e da indústria nacional (BRASIL, 2016). Com esse
programa, já existem opções de tratamentos para doenças e sintomas,
com plantas medicinais e fitoterápicos, para usuários do Serviço Único
deSaúde (SUS).

2. Etnobiologia e Etnobotânica como instrumento metodológico

Diante da necessidade de investigar os conhecimentos que


comunidades tradicionais apresentam a respeito da natureza, bem
como os elementos que fazem parte dela, a Etnobiologia surge como

331
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

um ramo da ciência que é definida por Posey (1987, p. 15) como


o “estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por
qualquer sociedade a respeito da biologia”. Para Baptista (2007), a
Etnobiologia tem desempenhado um importante papel ao estudar como
as diferentes sociedades percebem e constroem os sistemas naturais
nos quais estão inseridas. A Etnobiologia é um campo vasto e nele
podem atuar etnozoólogos, etnoecólogos, etnobotânicos, entre outros
(ALBUQUERQUE, 1997).
A Etnobotânica, termo utilizado pela primeira vez em meio
acadêmico pelo americano John W. Hashberger (ALBUQUERQUE,
1997) em 1895, pode ser definida como o estudo transdisciplinar do
conhecimento local/tradicional e as relações socioculturais que os seres
humanos possuem com o universo das plantas. Diante das possíveis
relações que podem existir entre o homem e as plantas, Jorge e Morais
(2003) entendem a Etnobotânica como sendo o estudo das inter-relações,
materiais ou simbólicas, entre o ser humano e as plantas, devendo-se
somar a estas os fatores ambientais e culturais, bem como os conceitos
locais que são desenvolvidos com relação às plantas e ao seu manejo.
Albuquerque (2005) afirma que o verdadeiro objeto da investigação
etnobotânica não é a planta (estrutura e função) ou o próprio ser
humano, mas sim a relação existente entre esses dois elementos, que
juntos constituem um todo significante, dentro de um contexto cultural.
Ao referir-se à Etnobotânica, Albuquerque (2005) afirma que tal
abordagem está situada na fronteira entre a Botânica e a Antropologia
Cultural, por analisar a interação do natural botânico com o simbólico,
como os costumes, ritos e crenças. Seu caráter interdisciplinar e
integrador é evidenciado na diversidade de tópicos que podem ser
pesquisados, agrupando os fatores culturais e ambientais, bem como as
concepções desenvolvidas por quaisquer culturas sobre as plantas e seus
usos.
O etnoconhecimento pode vir a ser um instrumento metodológico
que implica na abordagem do conhecimento cultural e regional e que
conduz à informação, resgatando o vínculo entre o saber popular e o
saber científico (DAVID; OLIVEIRA; PINHEIRO, 2016). Siqueira e
Pereira (2014) afirmam que a etnobotânica lida com os sujeitos e com
os seus saberes. Por meio da Etnobotânica, é possível desenvolver uma

332
Práticas investigativas em Etnobotânica

metodologia de ensino de botânica que permita aos alunos estabelecer


uma inter-relação entre os conhecimentos tradicionais e os científicos.
Um estudo que possa relacionar plantas e povos com diferentes culturas
é de grande importância, pois, além de resgatar a preservação da cultura
popular, favorece a conservação da diversidade biológica (JORGE;
MORAIS, 2003).

3. Diálogo intercultural no ensino de Ciências e Biologia

Ao abordar o contexto histórico da educação escolar, Candau (2011)


discorre que a construção dos estados nacionais latino-americanos
implantou um processo de homogeneização cultural em que as escolas
tinham por função difundir e consolidar uma cultura comum de base
eurocêntrica. Consequentemente, tal processo era responsável por
silenciar e invisibilizar vozes, saberes, cores, crenças e sensibilidades
presentes nos povos que pertenciam às demais culturas. Xavier e Flôr
(2015) acreditam que as especificidades culturais presentes em cada
comunidade precisam ser consideradas na prática educacional, que deve
valorizar e resgatar os saberes vindos da sociedade e que os estudantes
trazem com eles. Porém, para Baptista (2002), no que se refere ao ensino
de ciências biológicas, poucos são os educadores que buscam conhecer
e valorizar os conhecimentos prévios dos alunos de modo que, a partir
deles, possam construir seus métodos de ensino.

Embora existam diferenças no processo do ensino e


aprendizagem em ciências biológicas, não se pode dizer
que entre o conhecimento tradicional eo científico, um seja
correto e o outro errado. Estudos apontam que existe uma
inter-relação entre ambos, pois o conhecimento científico
se utiliza do tradicional para a formação de seus conceitos
e pesquisas, uma vez que as sociedades humanas possuem
um conhecimento amplo proveniente de suas necessidades
e relações com a natureza e seus componentes (BAPTISTA,
2002, p. 182).

333
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

O ensino de Ciências e Biologia, segundo Paiva, Martins e Almeida


(2015), tem sido praticado com pouco ou nenhum reconhecimento de
saberes prévios dos estudantes e suas implicações socioculturais, sendo
que, na prática, muitas vezes, não ocorre um diálogo intercultural.
Baptista (2014) afirma que, no diálogo intercultural, o qual pode
acontecerno ambiente escolar entre a cultura da ciência e a cultura dos
estudantes, o cientificismo cederá lugar para a exposição de diferentes
argumentos, que serão ditos, escutados e respeitados. Baptista (2014)
reforça que o diálogo intercultural permite a livre expressão das
ideias que integram as diferentes visões de natureza pertencentes aos
estudantes, que poderão ser compatíveis ou não com a ciência ocidental
moderna.

O diálogo no ensino de ciências é uma relação de


comunicação harmônica sobre os conteúdos de ensino
que estão sendo trabalhados nas salas de aula, no sentido
de que ocorrem oportunidades para a exposição dos
argumentos e suas razões, sejam elas da cultura da ciência
representada pelos professores ou das outras culturas que
se fazem presentes por meio dos estudantes (BAPTISTA,
2014, p. 34).

As diferenças culturais estão presentes na escola, afirmam Silva


e Rebolo (2017). Esses autores defendem que elas devem ser parte
integrante das relações interpessoais e das práticas pedagógicas no
ambiente escolar, e é nesse caminho que se deve pensar as ações
educativas. Assim, a partir da diversidade cultural presente na sociedade
e, consequentemente, na escola, é possível promover um diálogo entre
os diferentes grupos.
Diante do exposto, surgiram então algumas questões que norteiam
este trabalho: quais são os conhecimentos prévios dos estudantes
ingressantes no curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual
de Feira de Santana (UEFS) no que diz respeito a práticas curativas
com plantas? A partir dos relatos desses estudantes, é possível perceber
indícios de uma educação intercultural dentro do campo da botânica?
Eles conseguem estabelecer uma relação entre os conhecimentos
tradicionais e os conhecimentos científicos?

334
Práticas investigativas em Etnobotânica

Tal abordagem tem a relevância de investigar os conhecimentos


prévios relacionados às plantas, do ponto de vista de compreender as
possíveis abordagens do conteúdo de botânica feitas no Ensino Médio,
bem como despertar nos futuros professores a importância de contemplar
a diversidade cultural existente nas salas de aula nas abordagens do
conteúdo de botânica na Educação Básica. Nesse contexto, foi feito o
levantamento dos conhecimentos prévios dos estudantes ingressantes
no curso de Ciências Biológicas da UEFS sobre práticas curativas com
plantas, identificando, a partir das concepções dos estudantes, se existe o
estabelecimento de uma inter-relação entre seus conhecimentos prévios
e o conhecimento científico, bem como investigando indícios de uma
educação intercultural no campo da botânica.

4. Aspectos metodológicos

O presente trabalho foi realizado com base em uma metodologia


qualitativa, a qual se preocupa com aspectos da realidade que não
podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da
dinâmica das relações sociais (GODOY, 1995). De acordo com Minayo
(2001), a pesquisa qualitativa lida com o universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um
espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que
não podem ser restringidos à operacionalização de variáveis.
A pesquisa foi realizada com estudantes ingressantes no curso de
Ciências Biológicas da UEFS, do processo seletivo 2018.1. A coleta
de dados ocorreu durante as aulas da disciplina Biologia de Campo
Aplicada ao Ensino de Ciências e Biologia (código BIO 723), nos dias
referentes às aulas das modalidades de bacharelado e licenciatura, com
32 estudantes que estavam presentes, de faixas etárias diferentes e de
ambos os sexos. Foi apresentado a todos os envolvidos o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Esta pesquisa foi aprovada
pelo CONSEPE-UEFS com número MCTIC/CNPq Nº 28/2018.
As informações foram coletadas por meio de um questionário no
qual os sujeitos da pesquisa responderam questões pessoais (nome

335
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

[opcional], sexo e idade), bem como questões relacionadas à trajetória


de formação escolar (Educação Básica – Nível Superior), com o
intuito de conhecer os aspectos socioculturais dos entrevistados; aos
conhecimentos etnobotânicos; à experiência com o conteúdo de
botânica enquanto estudante da Escola Básica; e ao diálogo de saberes.
As perguntas estavam dispostas de modo que o questionário não se
tornasse tendencioso.
A análise ocorreu de forma qualitativa, considerando as respostas
dos participantes em relação às práticas curativas com plantas e suas
possíveis relações com o ensino de botânica, verificando se havia
indícios de uma educação intercultural, ou se eles tiveram uma educação
voltada apenas para a transmissão do conhecimento científico por meio
de conceitos. As respostas foram interpretadas de forma global ou
individual, dependendo da particularidade da pergunta. Os resultados
após análise foram elencados nas seguintes categorias: Escolha do curso;
Conhecimentos prévios acerca das práticas curativas com plantas;
Memórias do Ensino Médio às expectativas acerca do conteúdo de
botânica; e Diálogo de saberes.

5. Resultados e Discussão

5.1 Escolha do curso

Do total de 32 respondentes, seis foram excluídos da análise de


dados por se tratarem de menores de 18 anos, uma vez que os pais não
assinaram o TCLE. Assim, do conjunto final de questionários analisados,
13 foram provenientes da turma de bacharelado e 13 da turma de
licenciatura. Dos 26 entrevistados, 26,92% (7) eram homens e 73,08%
(19) eram mulheres, cuja idade média foi de 19 anos. Visando preservar
a identidade dos participantes, todos os nomes aqui atribuídos são
fictícios. Quando perguntados sobre o lugar no qual moram/moravam,

336
Práticas investigativas em Etnobotânica

80,76% (21) declararam que moravam na zona urbana, 3,84% (1)


afirmaram que são provenientes da zona rural, 7,69% (2) afirmaram que
moravam na zona rural e hoje vivem na zona urbana e 7,69% (2) não
souberam responder.
Com relação à cidade natal ou onde esses estudantes viveram a
maior parte de sua vida, tem-se a seguinte distribuição: 65,38% (17) são
de Feira de Santana, sendo as demais cidades citadas cada uma por um
participante: Santa Bárbara, Aracaju (SE), Ipirá, Serra Preta, Cachoeira,
Santo Estevão, Anguera, Bravo e Santo Antônio de Jesus. Considerando
o local onde os participantes cursaram o Ensino Médio, 61,53% (16)
declararam que estudaram em escolas da rede pública, enquanto 19,23%
(5) afirmaram ter estudado em escolas da rede particular e 19,23% (5)
estudaram em instituições públicas e particulares.
De acordo com esses dados, foi possível notar que os sujeitos da
pesquisa estão inseridos em diferentes contextos culturais e sociais.
Dentro dessa perspectiva, entender quais os motivos que levaram esses
estudantes ingressantes no curso de Ciências Biológicas à escolha do
curso podem nos dizer muito sobre como o curso é visto pelos estudantes
da Educação Básica e quais áreas de conhecimento são mais atrativas.
Em relação aos motivos que os levaram à escolha do curso de
Ciências Biológicas na UEFS, após análise das 26 falas, foram elencados
12 motivos principais (Quadro 1). A afinidade com a matéria escolar e
a identificação com a área das Ciências da Natureza foram os motivos
mais citados pelos estudantes, o que demonstra que a experiência,
enquanto estudante da Escola Básica, é um motivador para a escolha
do curso.
Dos motivos citados, apenas dois podem ser associados, de forma
indireta, à área da botânica, quando levamos em consideração que as
plantas são seres vivos que fazem parte da natureza, sendo eles a biofilia
(amor às diversas formas de vida) e a identificação com a área das
Ciências da Natureza. O excesso de exemplos com animais na mídia e no
ensino pode ser associado como causa para o desinteresse pelas plantas;
a esse viés, tem-se dado os nomes zoocentrismo e zoochauvinismo
(SALATINO; BUCKERIDGE, 2016).

337
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Motivos Numero de citações


Afinidade com a matéria escolar 6
Amor aos animais 3
Biofilia 4
Área de atuação profissional 3
Influência da família 1
Influência do professor 2
Sonho de infância 2
Identificação com a área das ciên- 6
cias da natureza
Genética 2
Aptidão pessoal 1
Por ser uma área ligada à biome- 1
dicina
Boa fama agregada ao curso 3
Não responderam 1

Quadro 1 – Motivos que levaram os entrevistados a optar pelo curso de


Ciências Biológicas daUniversidade Estadual de Feira de Santana.

Em umas das respostas, a estudante Flor declarou que o amor à


natureza foi o principal motivador à escolha do curso, mas, antes que
pensemos que todos os elementos que compõem a natureza estão sendo
levados em consideração, ela enfatiza que tem um sentimento especial
pelos animais. Associado a este dado, temos o fato de que nenhum dos
entrevistados citou como motivo à escolha do curso a afinidade com a
área da Botânica ou o amor às plantas, enquanto três deles escolheram o
curso por amor aos animais. Tal dado corrobora o fenômeno da cegueira
botânica defendido por Wandersee e Schussler (2002).

5.2 Conhecimentos prévios acerca das práticas curativas com plantas

Em relação aos conhecimentos prévios relacionados a práticas


curativas com plantas, foi possível identificar que a maioria dos
estudantes apresenta esse conhecimento, pois, do total de questionários

338
Práticas investigativas em Etnobotânica

analisados, apenas 3,84% (1) dos estudantes não responderam a


pergunta, enquanto todos os demais 96,15% (25) afirmaram conhecer
uma planta que se usa como remédio. Tal dado rompe com a ideia
de que apenas os estudantes oriundos da zona rural carregam consigo
saberes tradicionais relacionados às plantas medicinais, uma vez que a
maioria dos respondentes declarou estar residindo em área urbana, e
corrobora Siqueira e Pereira (2014) quando esses autores afirmam que
nos tempo atuais o estudo dos saberes etnobotânicos abrange vários
ambientes não se limitando apenas as comunidades isoladas como as
indígenas, quilombolas, entre outras; também corrobora com Jorge e
Morais (2003), quando os mesmos afirmam que o uso das plantas para
fins terapêuticos perpetuou-se na história da civilização humana e
chegou até os dias atuais.
Doze plantas medicinais foram reconhecidas por seus nomes
populares, das quais sete tiveram suas indicações terapêuticas e modos
de uso informados pelos entrevistados (Tabela 1). Boldo, capim-
santo, maconha e erva-cidreira foram os nomes populares de plantas
mais citados, sendo as principais indicações de uso para: distúrbios
gastrointestinais, cicatrização de feridas, tranquilizante, gripe e
resfriado. Essas informações podem ser fruto da vivência e experiência
dos entrevistados com tais espécimes vegetais.
No tocante às formas de uso, o chá aparece como item predominante.
Esse dado relaciona-se com o obtido por Siqueira e Pereira (2014) em
sua pesquisa com estudantes do Ensino Médio. Estes autores relatam
que muitos alunos são consumidores habituais de chás; entretanto, os
chás são mais utilizados como bebida do que por conta do seu aspecto
medicinal, pois alguns alunos desconhecem os seus efeitos no organismo.
Em relação às formas com que os estudantes adquiriram
conhecimentos sobre plantas medicinais, 65,38% (17) declarou que o
conhecimento foi passado por algum membro da família, sendo as mães
e as avós as mais citadas nesse processo, resultado também encontrado
por David, Oliveira e Pinheiro (2016) e por Siqueira e Pereira (2014)
em suas respectivas pesquisas. Acreditamos que esse dado pode
ser justificado pelo fato de que as mães e avós, em sua maioria, são
responsáveis pelos cuidados com a família. Siqueira e Pereira (2014),
em seu trabalho, afirmam que uma das avós relatou o uso de algumas

339
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

plantas e a importância que elas tinham na sua infância, quando as


pessoas não tinham o hábito de tomar medicamento “de farmácia”, isto
é, fármacos ou alopáticos industrializados.
Seguindo nos resultados, quanto à fonte de conhecimentos sobre
plantas, 15,3% (4) dos entrevistados se referiram ao conhecimento
popular como fonte de seu saber; 11,5% (3) declararam ter sido por
meio de leitura; 11,5% (3) afirmaram que foi por meio da internet –
a qual aparece como um novo elemento característico do avanço da
tecnologia cada dia mais presente em nossas vidas; 7,6% (2) afirmaram
ter adquirido o conhecimento na escola, o que sugere indícios de uma
possível abordagem etnobotânica de plantas medicinais em sala de aula;
3,8% (1) dos entrevistados declararam que adquiriram o conhecimento
sobre plantas medicinais após o uso de uma planta em particular. Outros
7,6% (2) dos entrevistados não responderam à pergunta.
Os saberes tradicionais relacionados às plantas medicinais são
fortalecidos quando, na prática, são comprovados. Segundo David,
Oliveira e Pinheiro (2016), a utilização de plantas como recursos
medicinais é praticada no cotidiano e se compõe de conhecimentos e
habilidades que se inscrevem no âmbito do empirismo médico, ou seja,
o conhecimento sobre as propriedades medicinais das plantas se dá
também a partir da experiência sensorial, como observado nos seguintes
depoimentos: “Minha mãe e avó usam muito chá para curar doenças;
a minha avó não gosta de remédio de farmácia”, Bruno; “Através de
ensinamentos adquiridos aos meus pais e avós”, Alana; “Sempre morei
próximo da minha avó, ela tinha o conhecimento e passava para mim.
Porém, alguns professores já chegaram a comentar”, Lúcia; “Através de
leitura, pesquisa na internet e conhecimento popular”, Eduarda.

5.3 Memórias do Ensino Médio às expectativas acerca do conteúdo de


Botânica

Sobre a abordagem do conteúdo de Botânica no Ensino Médio,


53,84% (14) dos entrevistados declarou não se recordar de ter visto o
conteúdo, 38,46% (2) afirmaram que recordam de ter visto o conteúdo
de Botânica, enquanto 7,6% (2) afirmaram que viram o conteúdo de
Botânica de forma superficial.

340
Práticas investigativas em Etnobotânica

Tabela 1 – Plantas medicinais citadas pelos entrevistados.

Nome Nome Família3 Indicações Modos de


popular científico2 terapêuticas uso
Água-de- Alpinia zerumbet Zingiberaceae ... Chá
alevante (1)¹ (Pers.) B. L.Burtt
& R. M. Sm
Barbatimão Stryphnodendron Fabaceae Cicatrização de Entrecasca
(1) adstringens feridas
(Mart.) Coville
Boldo (8) Plectranthus Lamiaceae Distúrbios Chá
barbatus gastrointestinais
Andrew
Brilhantina Pilea microphylla Urticaceea ... Chá.
(1) (L.) Liebm.
Camomila (1) Matricaria Compositae ... Chá
chamomilla L.
Canela (1) Cinnamomum Lauraceae ... Chá
verum J.Presl
Capim-santo Cymbopogon ... Chá
Poaceae
(3) citratus (DC.)
Stapf
Erva-cidreira Lippia alba Verbenaceae Dor de barriga Chá
(3) (Mill.) N.E.Br.
ex Britton &
P.Wilson
Erva-doce (2) Pimpinella ani- Apiaceae Para aliviar Chá
sum L. gases
Hortelã (1) Mentha spicata Gripe e resfriado Xarope
Lamiaceae
L.
Maconha (3) Cannabis sativa Cannabiaceae Tranquilizante Fumar,
L. ingerir
Dysphania Amaranthaceae Ferimentos Uso tópico
Mastruz (1) ambrosioides das folhas
(L.) Mosyakin & com sal
Clemants
1
Número de vezes em que a planta foi citada, sendo que dos 26 entrevistados,
apenas 20 citaram uma ou maisplantas que conheciam.
2e 3
Com base na pista taxonômica, uma vez que não houve coleta de espécimes
vegetais.

341
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

A morfologia externa das plantas é um dos pilares para o estudo


de Botânica, sendo tal conteúdo trabalhado no 2º ano do Ensino
Médio. Em etnobotânica, a morfologia das plantas também é um dos
elementos principais, uma vez que as formas de uso são relacionadas
a uma determinada parte da planta. Com relação à identificação das
partes que compõem uma planta, 23,07% (6) dos respondentes não
souberam responder e 76,93% (20) citaram características relacionadas
à morfologia externa: raiz (16 citações), caule (16), folha (16), flor (7),
fruto (5), outros (7).
Quando foi solicitado que o entrevistado citasse uma atividade
desenvolvida na disciplina de Biologia com o conteúdo de Botânica
durante o Ensino Médio, 15,38% (4) afirmaram não lembrar se alguma
atividade fora desenvolvida, 7,9% (2) afirmaram que não abordaram
Botânica no Ensino Médio, 30,76% (8) não souberam responder – e
estes dados não foram incluídos na tabela, pois responderam sobre
uma atividade desenvolvida na disciplina BIO 723. Apenas 46,15% (12)
citaram uma atividade relacionada ao tema de botânica (Tabela 2).
Ao analisar a Tabela 2 é possível constatar que das atividades
desenvolvidas na disciplina de Biologia com o tema botânica que foram
citadas pelos estudantes, temos: Plantiode feijão no algodão; Plantio de
mudas de ervas; Desenhos; Cuidado, Plantio, Identificação das partes,
hábito e utilização; entre outras, se caracterizam como atividades
práticas, que exigem uma dinâmica e participação ativa dos discentes.
Tal dado corrobora com Wandersee e Schussler (2001), que defendem,
entre outras coisas, que uma educação interativa se apresenta como
a melhor maneira de superar o fenômeno da cegueira botânica e nos
leva a acreditar que o caráter pratico das experiências relatadas pelos
estudantes marcam e se fazem presentes ao longo da vida na memória
escolar desses sujeitos.

342
Práticas investigativas em Etnobotânica

Tabela 2 – Atividades vivenciadas na disciplina Biologia com o tema Botânica.

Atividades Número de citações


Plantas medicinais 1
Aula de Angiospermas/ Gimnospermas 1
Técnicas de amostragem de árvores, arbustos e 1
gramíneas
Desenhos 1
Desenhos 1
Cuidado, plantio, identificação das partes, há- 1
bito e utilização
Plantio de feijão no algodão 5
Classificação das plantas 1

Em relação ao que esses futuros bacharéis e licenciados em Ciências


Biológicas esperam do curso em termos de ensino de Botânica, 3,84%
(1) não responderam à pergunta, 3,84% (1) esperam que a grade do
curso apresente mais aulas de Zoologia e menos aulas relacionadas à
Botânica e 7,69% (2) afirmaram que a temática não lhes chama atenção.
Acreditamos que esse dado está diretamente relacionado ao fato de
que a maioria dos estudantes entrevistados não teve uma experiência
significativa em termos de ensino de Botânica, visto que a maioria
declarou não se recordar de ter visto o conteúdo.
Em contrapartida, os demais respondentes citaram que esperam
preparação profissional (6 citações); Pesquisas com plantas que sejam
importantes para população e sejam rentáveis (2), aqui notamos
que as plantas muitas vezes se tornam atrativas apenas quando são
reconhecidas como recursos que forneçam um retorno lucrativo; aulas
atrativas (4); aprofundar o conhecimento sobre plantas medicinais (2);
aprendizagem do conteúdo, não se limitando à decoração de conceitos
(5), com este dado evidenciamos que uma boa parte dos estudantes não
querem decorar nomes o que vem sendo abordado em vários trabalhos
(DAVID; OLIVEIRA; PINHEIRO, 2016; DUTRA; GÜLLICH, 2014;
SANTOS, 2006; SIQUEIRA; PEREIRA, 2014) como um desafio no
ensino de botânica; associação do tema à etnobotânica e etnoecologia
(1). Esse dado também nos chama a atenção, pois se trata de uma

343
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

estudante do primeiro semestre, Francisca, mostrando conhecer estas


subáreas da etnociência e nos faz refletir se o conteúdo já fora abordado
no ensino médio; aulas em campo (1); e abordagem taxonômica (1).
Tais comentários demonstram que, embora na maioria dos casos
a experiência com o conteúdo de botânica na educação básica não
tenha sido positiva e, por esse motivo, o campo da botânica não seja
de início um motivador à escolha do curso, esses estudantes entendem
a importância da Botânica para a sociedade e esperam ter novas
abordagens durante a graduação.

5.4 Diálogo de saberes

Quando perguntado sobre o que eles entendiam por conhecimento


tradicional e conhecimento científico, 96,15% (25) conseguiu
listar algumas características relacionadas a essas duas formas de
conhecimento; os demais 3,84% (1) não souberam responder (Tabela
3). Ao analisarmos a tabela, nota-se que ambos os conhecimentos são
descritos como empíricos, o que nos leva a acreditar que existe um
equívoco em relação ao significado da palavra. Ao se referirem ao
conhecimento tradicional, os estudantes citaram que estes são passados
de geração a geração, sem muitas explicações, tendo como base a
observação, a vivência e a convivência, advindo do povo e formando o
senso comum. Essa perspectiva dialoga com Baptista (2002), que afirma
que o conhecimento tradicional é construído ao longo da história do
sujeito, enquanto membro de uma dada sociedade e cultura, que pode
sercotidiano e transmitido de uma geração a outra.
Em relação ao conhecimento científico, a maioria dos estudantes
citou que tal conhecimento tem como base os estudos, experimentos
e tentativas de comprovação científica, podendo ser considerado um
conhecimento aprofundado. Segundo Baptista (2002), o conhecimento
científico é sistemático e racional, exato, explicativo da realidade e
verificável, cujos significados são vistos de forma unânime por aqueles
que fazem uso dele. Também notamos que para os estudantes, o que
vem do povo deve ser experimentado cientificamente para então ser
comprovado, o que é definido por Baptista (2010) como a hierarquização
de saberes.

344
Práticas investigativas em Etnobotânica

Tabela 3 – Entendimentos acerca de conhecimento tradicional e conhecimento


científico segundo os estudantes do primeiro semestre dos cursos de
Bacharelado e Licenciatura em Ciências Biológicas da UEFS.

Conhecimento Quantidade Conhecimento Quantidade


tradicional de respostas científico de
respostas
Baseado em observação, 3 Baseado em estudos, 10
vivência econvivência1 experimentos e
tentativasde comprovar
a veracidade
Conhecimento geral 1 Comprovado 4
cientificamente
Dá início ao científico 1 Comprova o tradicional 1
São passados de geração 10 Os cientistas buscam 1
a geração semmuitas entender como as coisas
explicações funcionam
Advém do povo 2 Advém do povo, porém 1
possui experimentação
Conhecimento racional 1 Conhecimento 3
empírico
Parte do senso comum 2 Trata-se de uma 1
hipótese que pode e
deve ser testada
Relacionado à cultura de 2 Conhecimento 3
determinado povo aprofundado
Conhecimento 2 Método científico 1
aprofundado
Conhecimento empírico 1 Trabalhado em 1
Universidades, baseado
em pesquisas

Sobre as possíveis relações que podem ser estabelecidas entre


conhecimento tradicional e conhecimento científico, 96,15% (25)
concordam que tais possibilidades existem; 3,84% (1) não souberam
responder.

“Sim, pois diversas vezes o conhecimento científico tem


por base o conhecimento tradicional”. Eduarda

345
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

“Sim, pois a todo momento temos que conciliar os 2”.


Maria
“Sim, o científico vem do conhecimento tradicional e a
ciência pega esses conhecimentos e testam eles”. Bruno

As falas de Bruno, Maria e Eduarda dialogam com Olguin e


colaboradores (2007), quando estes autores afirmam que o que torna
o conhecimento tradicional de interesse para a ciência é o relato verbal
da observação sistemática de fenômenos biológicos feita por pessoas
muitas vezes iletradas, mas certamente algumas tão perspicazes
quanto um cientista. Em relação a vivenciar na escola uma atividade
que relacionasse os conhecimentos tradicionais e científicos, 53,84%
(14) afirmaram que não vivenciaram esse tipo de experiência; 26,92%
(7) afirmaram que vivenciaram; destes, apenas Francisca relatou a sua
experiência (“Com certeza. Plantio de ervas para chá”); 15,38% não
responderam, enquanto 3,84% declararam que não se recordam.
A partir destes dados é possível perceber que alguns desses
estudantes tiveram uma abordagem intercultural na escola uma vez que
Baptista (2014, p. 34) afirma que o diálogo intercultural, pode acontecer
no ambiente escolar entre a cultura da ciência e a cultura dos estudantes.

6. Considerações finais

A partir das inquietações que nos levaram a esta pesquisa,


observamos nos resultados obtidos que, em meio aos diferentes
contextos culturais e sociais no qual os sujeitos da pesquisa estão
inseridos, e mesmo que a maioria resida em uma área urbana, estes
sujeitos apresentam conhecimentos prévios relacionados às práticas
curativas com plantas. Esses estudantes apresentaram conhecimentos
relacionados às plantas medicinais, principalmente no que se refere à
utilização de chás para tratamento de enfermidades. Na maioria dos
casos, esses conhecimentos foram passados por um membro da família.
Nesse sentido, é possível afirmar que, em meio à valorização dos
saberes científicos em detrimento dos saberes culturais na sociedade
contemporânea, os saberes etnobotânicos resistem e continuam sendo
passados de geração a geração.

346
Práticas investigativas em Etnobotânica

Em relação ao ensino de Botânica, a maioria dos estudantes declarou


não recordar ter visto o conteúdo de Botânica e consequentemente
não conseguiram mencionar uma atividade desenvolvida na disciplina
Biologia com tal conteúdo. Nas atividades citadas por alguns estudantes
notamos o caráter pratico de tais experiências, concluímos que quando
abordado deforma criativa na educação básica a experiência com o tema
botânica se faz presente ao longo da vida na memória escolar desses
sujeitos.
Diante do exposto, podemos afirmar que na maioria das vezes a
forma como vem sendo praticado o ensino de Botânica na Educação
Básica, contribui para que tal experiência não seja significativa para os
estudantes. Esse fato pode justificar a falta de interesse pelo campo de
estudo da Botânica, demostrada pela maioria dos participantes. Em
contrapartida, os estudantes demonstraram entender a importância
da Botânica para a sociedade e esperam ter novas abordagens,
principalmente que não se limitem a decorar conceitos durante a
graduação.
Os sujeitos da pesquisa, em sua maioria afirmaram não ter
vivenciado na Educação Básica uma experiência que relacionasse
os conhecimentos tradicionais com os conhecimentos acadêmicos
científicos e alguns deles afirmaram ter vivenciado tal experiência na
escola. Foi possível perceber indícios de uma educação intercultural no
campo da Botânica, uma vez que quando perguntado sobre as possíveis
relações entre os conhecimentos tradicionais e científicos, uma das
entrevistadas relatou sua experiência na escola com plantas. A maioria
deles demonstrou entender que há possibilidade de estabelecer relações
entre esses conhecimentos.
Os resultados obtidos na presente monografia corroboram com os
referenciais teóricos aqui utilizados, principalmente quando abordamos
a falta de atenção comumente dada às plantas e a importância da
abordagem etnobotânica para estabelecer o diálogo intercultural
nas aulas de Biologia. Este trabalho nos permite refletir acerca da
importância de ressignificaras aulas de Botânica com novas abordagens,
de forma que o conteúdo se torne um objeto de estudo prazeroso para
estudantes e professores. Acreditamos que uma metodologia apoiada na
etnobotânica, que considera os conhecimentos prévios dos estudantes,
pode contribuir para uma aprendizagem significativa do conteúdo
de Botânica. No decorrer da construção do presente trabalho, pude

347
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

estudar mais a respeito do campo da Etnobiologia principalmente da


Etnobotânica, e refletir sobre a importância de considerar a diversidade
de saberes presentes nas salas de aula e o papel destes campos das
Ciências Biológicas para a prática docente, pois ambos nos trazem
diversas possibilidades de abordagem do conteúdo de biologia.

Referências

ALBUQUERQUE, U. P. Etnobiologia e biodiversidade. Recife:


NEPEEA/SociedadeBrasileira de Etnobiologia e Etnoecologia, 2005.
ALBUQUERQUE, U. P. Etnobotânica: uma aproximação teórica e
epistemológica. Revista Brasileira de Farmácia, v. 78, n. 3, p. 60-64,
1997.
ANDRADE, R. C. et al. Classificação biológica: uma experiência
pedagógica junto a estudantes de um curso de formação intercultural
de educadores indígenas. Revista SBEnBIO, n. 7, p. 6392-6402, 2014.
BAPTISTA, G. C. S. A etnobiologia como subsídio metodológico para
o ensino e a aprendizagem significativa em ciências biológicas. Revista
FAEEBA, v. 11, n. 17, p. 179-185, 2002.
BAPTISTA, G. C. S. A contribuição da etnobiologia para o ensino e
a aprendizagem deciências: estudo de caso em uma Escola Pública
do estado da Bahia. 2007. 220 f. Dissertação (Mestrado em Ensino,
Filosofia e História das Ciências), Universidade Estadual de Feira de
Santana, Feira de Santana, 2007.
BAPTISTA, G. C. S. Importância da demarcação de saberes no ensino
de Ciências para sociedades tradicionais. Ciência & Educação, v. 16, n.
3, p. 679-694, 2010.
BAPTISTA, G. C. S. Do cientificismo ao diálogo intercultural na
formação do professor eensino de ciências. Interações, v. 8, n. 31, p.
28-53, 2014.

348
Práticas investigativas em Etnobotânica

BRASIL. Política e Programa Nacional de Plantas Medicinais e


Fitoterápicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
CANDAU, V. M. Diferenças culturais, cotidiano escolar e práticas
pedagógicas. Currículo sem Fronteiras, v. 11, n. 2, p. 240-255, 2011.
DAVID, M.; OLIVEIRA, M. S.; PINHEIRO, M. P. V. O saber popular
e as plantaspresentes nos quintais de uma comunidade escolar em
Rondonópolis, Mato Grosso. Biodiversidade, v. 15, n. 2, p. 75-84,
2016.
DUTRA, A. P; GULLICH, R. I. C. A botânica e suas metodologias de
ensino. Revista da SBENBIO, v. 1, n. 7, p. 493-503, 2014.
GODOY, A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades.
RAE – Revista deAdministração de Empresas, v. 35, n. 2, p. 57-63,
1995.
GONDIM, M. S. C. A inter-relação entre saberes científicos e
saberes populares na escola: uma proposta interdisciplinar baseada
em saberes das artesãs do Triângulo Mineiro. 174 f. 2007. Dissertação
(Mestrado Profissionalizante em Ensino de Ciências) – Universidade
de Brasília, Brasília, 2007.
JORGE, S. S. A.; MORAIS, R. G. Etnobotânica de plantas
medicinais. In: COELHO, M. F. B. et al. (Orgs.). Diversos olhares em
etnobiologia, etnoecologia e plantas medicinais:anais do Seminário
de Etnobiologia, Etnoecologia. Cuiabá: Unicem, 2003. p. 89-98.
MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 18.
ed. Petrópolis:Vozes, 2001.
NEVES, A; BÜNDCHEN, M; LISBOA, C. P. Cegueira botânica: é
possível superá-la a partirda Educação? Ciência & Educação, v. 25, n.
3, p. 745-762, 2019.
OLGUIN, C. F. A. et al. Plantas medicinais: estudo etnobotânico dos
distritos de Toledo e produção de material didático para o ensino de
ciências. Acta Scientiarum. Human and Social Sciences, v. 29, n. 2, p.
205-209, 2007.

349
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. Estrategia de la


OMS sobre medicina tradicional 2002-2005. Genebra, 2002.
Disponível em: <https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_
docman&view=download&alias=796- estrategia-oms-sobre-medicina-
tradicional-2002-2005-6&category_slug=vigilancia-sanitaria-
959&Itemid=965>. Acesso em: 26 fev 2020.
PAIVA, A. S.; MARTINS, K. V.; ALMEIDA, R. O. Ciência e outras
culturas: proposiçõespara o ensino de ciências e biologia. Investigação
Qualitativa em Educação, v. 2, p. 390-393, 2015.
POSEY, D. Introdução – Etnobiologia: teoria e prática. In: RIBEIRO, B.
(ed.). Suma etnológica brasileira, v. 1: etnobiologia. Petrópolis: Vozes,
1987. p. 15-25.
RAVEN, P. H; EVERT, R. F; EICHHORN, S. E. Biologia vegetal. Rio
de Janeiro: EditoraGuanabara Koogan S.A., 2014.
SALATINO, A; BUCKERIDGE, M. Mas de que te serve saber
botânica? Estudos Avançados, v. 30, n. 87, p. 177-196, 2016.
SANTOS, F. S. A Botânica no Ensino Médio: Será que é preciso apenas
memorizar nomes deplantas? In: SILVA, C. C. (org.). Estudos de
história e filosofia das ciências: subsídios para aplicação no ensino.
São Paulo: Editora Livraria da Física, 2006. p. 223-243.
SILVA, V. A.; REBOLO, F. A educação intercultural e os desafios para a
escola e para o professor. Interações, v. 18, n. 1, p. 179-190, 2017.
SIQUEIRA, A. B; PEREIRA, S. M. Abordagem etnobotânica no
ensino de Biologia. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação
Ambiental, v. 31, n. 2, p. 247-260, 2014.
XAVIER, P. M. A.; FLÔR, C. C. C. Saberes populares e educação
científica: um olhar a partir da literatura na área de ensino de ciências.
Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, v. 17, n. 2, p. 308-328,
2015.
WANDERSEE, J. H.; SCHUSSLER, E. E. Toward a theory of plant
blindness. Plant ScienceBulletin, v. 47, p. 2-9, 2002.

350
USO DE PLANTAS MEDICINAIS NO ENSINO
DE CIÊNCIAS EM ESPAÇO DE EDUCAÇÃO NÃO
FORMAL

Jozilene Ferreira de Jesus1, Eraldo Medeiros Costa Neto2


João Paulo dos Santos Silva3

Licenciada em Ciências Biológicas, UEFS.


1

2
Universidade Estadual de Feira de Santana,
Departamento de Ciências Biológicas.
Coordenador dos Grupos de Pesquisa “Etnobiologia e Patrimônio
Biocultural” e “Ecologia Espiritual”, certificados pelo CNPq;
[email protected]
3
Professor da Rede Estadual de Ensino de Alagoas. Doutorando em
Educação, UFBA.

Introdução

O método científico não é a única forma de estruturar a produção


de conhecimento. Outras possibilidades podem ser exploradas e, dentre
elas, destacamos o saber popular como importante fonte de produção
de conhecimento (NOGUEIRA, 2019). Cabe também explorar outros
ambientes de ensino e aprendizagem para além da escola, como, por
exemplo, os espaços de educação não formal. Para Gohn (2014, p. 40),
“a educação não formal é aquela que se aprende ‘no mundo da vida’, via
os processos de compartilhamento de experiências, principalmente em
espaços e ações coletivas cotidianas”. Isso perpassa uma educação que
busca formar cidadãos informados cientificamente e com habilidades
e competências para a tomada de decisões conscientes. O ensino de
ciências, então, emerge como uma possibilidade de relação entre
conhecimento científico e popular, para a quebra de paradigmas de
hierarquização de saberes ou recursos antagônicos.
Em função do modelo de desenvolvimento socioeconômico
instalado em grande parte do mundo, observa-se uma tendência

351
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

à redução e ao desaparecimento dos conhecimentos tradicionais,


motivados pelos constantes processos de modernização (LOBLER
et al., 2014) e homogeneização da produção cultural. Estes autores
discutem que devido à aceleração no processo de aculturação e à erosão
genética provocada pela pressão antrópica e uso insustentável dos
recursos naturais, a busca pelo conhecimento tradicional tem merecido
uma atenção especial nos últimos anos, a fim de registrar e valorizar a
sociobiodiversidade existente.
No que diz respeito aos desafios do ensino de Botânica em espaços
não formais de educação, torna-se necessário pensar sobre as seguintes
questões: modo de utilização de plantas medicinais; transmissão dos
conhecimentos; acesso da comunidade a informações científicas;
benefícios e precauções relacionados às práticas médicas locais. Desse
modo, o presente trabalho aborda o conhecimento etnobotânico sobre
plantas medicinais usadas pelos moradores do povoado de Tanquinho,
zona rural do município de Feira de Santana – BA, evidenciando a
forma de transmissão e manutenção deste conhecimento popular
dentro da comunidade e como esses saberes estão relacionados com os
conhecimentos científicos que os moradores têm acesso.

1. Material e Métodos

O trabalho foi realizado na Associação dos Moradores do Povoado


de Tanquinho e Adjacências (AMPOTA), localizada na zona rural do
município de Feira de Santana, Bahia. A comunidade caracteriza-se
pela forte presença de atividades de agricultura de subsistência com
cultivos de feijão, milho, mandioca, entre outras (SANTOS et al., 2019).
Parte da produção excedente é comercializada na própria comunidade
e no Centro de Abastecimento de Feira de Santana. Importante dizer
que os cultivos dependem principalmente da periodicidade das chuvas
na região, pois quase não se tem registro de irrigações. As plantações
permanecem quase sempre ao redor das casas, assim como o cultivo de
plantas medicinais.

352
Práticas investigativas em Etnobotânica

A localidade conhecida como Fazenda Tanquinho fora escolhida


por ser uma comunidade rural com a prática frequente do uso de
plantas medicinais e com relatos explícitos de transmissão desses
conhecimentos por várias gerações. Cunha e Bortolotto (2011, p. 686)
argumentam que o reconhecimento e o registro do saber local sobre
as plantas medicinais são fundamentais em comunidades rurais, pois
os remédios caseiros surgem como alternativa de cura, muitas vezes a
única devido à falta de outros recursos para cuidar da saúde; além de
que, nesses lugares, os sujeitos geralmente estabelecem ligações mais
próximas com os recursos naturais.
A Fazenda Tanquinho está inserida em um contexto de remanescente
quilombola em busca de reconhecimento formal de sua identidade
perante as autoridades municipais. A associação de moradores já possui
o estatuto como quilombola, porém está em busca da certificação
para a garantia de todos os seus direitos e o acesso a políticas públicas
específicas. A população, maioritariamente negra, mantém vivas as
tradições por meio de manifestações culturais (Figuras 1 e 2), festas
beneficentes, arrecadação de alimentos e brinquedos para doação às
famílias carentes, oficinas de literatura infantil, ações sociais, como
cortes de cabelo e maquiagem.
Essas e outras atividades realizadas no povoado de Tanquinho
atraem tanto moradores da própria comunidade quanto de comunidades
vizinhas, sendo que a realização dos eventos dispõe principalmente do
espaço da Associação de Moradores, que já tem cerca de 22 anos de
fundada.
A pesquisa possui abordagem qualitativa de cunho descritivo,
considerando que a interpretação dos fenômenos e a atribuição de
significados são básicas no processo de pesquisa. Os estudos qualitativos
têm como preocupação fundamental a investigação e a análise do mundo
empírico em seu ambiente natural. Nessa abordagem, valoriza-se o
contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação
que está sendo estudada (LAURINDO; SILVA, 2018). O projeto fora
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de
Feira de Santana (Parecer № 4.860.764). Dessa maneira, os participantes
tiveram acesso ao Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE.

353
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Figura 1 – Roda de capoeira na Associação de Moradores do Povoado de


Tanquinho e Adjacências.
Fonte: Diretoria da AMPOTA.

Figura 2 – Caminhada do Folclore promovida pela Associação de Moradores


do Povoado de Tanquinho e Adjacências. Fonte: Diretoria da AMPOTA.

354
Práticas investigativas em Etnobotânica

Os dados foram obtidos por meio de entrevista semiestruturada,


sendo que o roteiro de perguntas foi composto por duas partes. A
primeira contou com perguntas objetivas, tendo o intuito de identificação
dos participantes com dados sobre sexo, idade e tempo de moradia na
comunidade. A segunda parte do roteiro contém questões norteadoras
sobre como os participantes da pesquisa adquiriram os conhecimentos
de plantas medicinais, como as plantas podem ser coletadas e utilizadas.
A realização das entrevistas seguiu o protocolo da Organização Mundial
de Saúde e as recomendações do Conselho Nacional de Saúde quanto
aos cuidados na prevenção da COVID-19, mantendo o distanciamento
de no mínimo 1,5 metro, utilização de máscara de proteção facial e,
sempre que possível, fazendo a lavagem das mãos ou utilizando o álcool
em gel 70% para higienizá-las.
Em um primeiro momento, no espaço da AMPOTA e conforme as
recomendações citadas acima, o projeto de pesquisa foi apresentado e
feito o levantamento sobre o interesse dos moradores em participar da
proposta no sentido de preservar a autonomia dos envolvidos durante
toda a realização da pesquisa. No segundo momento, foram realizadas as
entrevistas com cada um dos associados que se dispuseram a participar e
feitas visitas às propriedades e outros locais para registro fotográfico das
espécies de plantas medicinais. É necessário ressaltar que os espécimes
não foram coletados, por isso a identificação se deu por meio da pista
taxonômica do nome científico de cada planta citada, consultando-se
virtualmente o site Reflora - Plantas do Brasil.
Em um terceiro momento, foram apresentados os resultados da
pesquisa e a socialização dos registros sobre as plantas mais utilizadas
na comunidade. Além disso, os participantes também deram sugestões
quanto aos conteúdos, formato e sugestões para a criação de um blog.
Esse tipo de ferramenta, além de ser um retorno para a comunidade,
é importante para disseminação e divulgação científica, promovendo
a popularização da ciência e garantindo acesso público a conteúdos
produzidos a partir de seus conhecimentos (SILVEIRA; SANDRINI,
2014).
A produção do blog para a Associação de Moradores, como registro e
devolutiva para a comunidade, fica disponível para acesso pela internet,
com a proposta de que o endereço eletrônico seja mantido e atualizado

355
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

pelos membros da comissão responsável pela entidade. Dessa maneira,


os resultados do presente estudo podem servir de base para pesquisas
sobre o tema “plantas medicinais” para trabalhos escolares, sugerindo
o diálogo entre os conhecimentos populares e os conhecimentos
científicos.

2. Resultados e Discussão

Foram realizadas treze entrevistas com moradores associados da


AMPOTA, divididos em dez mulheres e três homens, refletindo uma
diferença entre os sexos quanto ao conhecimento sobre as propriedades
curativas das plantas medicinais. As mulheres geralmente ficam
responsáveis por cuidar da casa, dos filhos e dos companheiros até
quando estes estão doentes, sendo elas também responsáveis pelas
atividades domésticas e, por isso, o cultivo das plantas medicinais ao
redor de suas casas facilitaria o acesso em momento de necessidade,
aspecto que foi discutido por Viu, Viu e Campos (2010) salientando o
papel da mulher como responsável pela saúde da família e segurança
alimentar, e por Xavier e Lima (2020), ao afirmarem que as mulheres
exercem com zelo a função de transmitir às novas gerações o poder das
plantas medicinais na cura de doenças.
No total, foram citadas 41 espécies de plantas, sendo as folhas a parte
mais utilizada para fazer os remédios caseiros. Dentre todas as formas
de uso referidas, o chá é a mais empregada, sendo citado por todos os
participantes da pesquisa. Já no que diz respeito à indicação terapêutica,
a maior parte das plantas medicinais é utilizada no tratamento de gripes
e resfriados, focando-se principalmente na desobstrução das vias aéreas
e diminuição da febre.

“Moro na comunidade desde que nasci, e continuo a usar


plantas medicinais e dou aos meus filhos e meus netos,
porque quando a gente sente qualquer coisa vou logo ali
fazer um chá ou algo assim, né? E se acreditar fica curado
realmente. [...]. O lambedor a gente pega o açúcar, queima
ele primeiro e depois vem com os ingredientes para fazer
aquela beberage [...] deixava cozinhar e depois esperava

356
Práticas investigativas em Etnobotânica

esfriar e depois coava e botava num frasco e dava para os


meninos tomarem. E ficava bom da gripe.” (Dona Ana, 63
anos).

Isso demonstra as diferentes formas de uso das plantas medicinais


(Quadro 1) que os moradores utilizam, sendo o lambedor uma das
maneiras de utilização para fins terapêuticos, podendo englobar uma
ou mais plantas medicinais em seu preparo (SILVA et al., 2020).

Nome Pista taxonômica Parte Modo de Indicação


comum usada uso
Abóbora Cucurbita spp. L. Semente In natura Verminose
Açafrão Curcuma longa L. Raiz Tempero e Dor de
(rizoma) chá estômago,
inflamação
Acerola Malpighia emargina- Folha Chá Gripe
da DC.
Água-de- Alpinia zerumbet Folha Chá Pressão alta,
alevante (Pers.) B.L.Burtt & inflamação
R.M.S
Alecrim-de- Salvia rosmarinus Folha Tempero Gripe
caco Schleid.

Alfavaca Ocimum basilicum L. Folha Banho, chá Sinusite,


e tempero enxaqueca
Alho Allium sativum L. Bulbo Chá Gripe

Amescla Trattinnickia Folha Chá Dor de


burseraefolia (Mart.) estômago
Willd.
Amora Morus nigra L. Folha Chá Regular hormô-
nios femininos
Araçá-mirim Psidium guineense Folha Chá Dor de barriga,
Sw. diarreia
Aroeira Schinus rhoifolia Entrecasca Banho de Cicatrizante
Mart. assento
Arruda Ruta graveolens L. Folhas Sumo Dor de ouvido

357
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Barbatimão Stryphnodendron Entrecasca Banho de Cicatrizante e


adstringens (Mart.) assento para inflamação
Coville
Boldo Plectranthus Folha Chá Má digestão,
barbatus inflamação do
Andrews fígado
Cabeça-de- Melocactus sp. Link Caule Lambedor Pneumonia
frade & Otto
Cajoeiro- Anacardium Entrecasca Banho de Cicatrizante,
branco occidentale L. assento para inflamação
Capim-santo Cymbopogon Folha Chá Dor de cabeça,
schoenanthus pressão alta
(L.) Spreng.
Cebola Allium cepa L. Bulbo Chá Gripe
Camellia sinensis (L.) Folha Chá Problemas
Chá-preto Kuntze cardíacos
Chuchu Sechium edule (Jacq.) Folha, Cozido e Pressão alta
Sw. fruto chá
Coentro-da- Eryngium L. Folha Tempero Diabetes
índia
Erva- cidreira Melissa officinalis L. Folha Chá Pressão alta,
dor de cabeça,
calmante
Espinho- Maytenus ilicifolia Folha seca Chá Inflamação
cheiroso Mart. ex Reiss.

Folha-da- Kalanchoe Folha Banho, Frieira, gripe


costa brasiliensis lambedor
Larrañaga
Gengibre Zingiber officinale Raiz Tempero, Gripe,
Roscoe chá inflamação
Stachytarpheta Folha, Chá Dor de
Gerebom cayennensis inflores- estômago
(Rich.) Vahl cência
Graviola Annona muricata L. Folha Chá Pressão alta

Hortelã- Mentha spicata L. Folha Lambedor, Gripe, evitar


miúdo tempero derrame
Jurubeba Solanum Raiz, fruto Lambedor, Gripe, diabetes
paniculatum L. suco

358
Práticas investigativas em Etnobotânica

Laranja Citrus sinensis (L.) Fruto Suco Gripe


Osbeck
Limão Citrus ×limon (L.) Fruto Suco Gripe
Osbeck
Mamão Carica papaya L. Semente, Torrada Verminose,
caule (semente), cicatrizante
moído
com leite
(caule)
Maria-preta Cestrum axillare Vell Folha Chá Ar do vento

Mastuz Dysphania ambrosi- Folha Suco Verminose


oides
(L.) Mosyakin &
Clemants
Moringa Moringa oleifera Folha Chá Ajuda a
Lam. emagrecer
e controla o
colesterol
Novalgina Achillea millefolium Folha Chá Febre
L.
Pinhão- Jatropha curcas L. Caule Leite (do Cicatrização
branco caule)
Pitanga Eugenia uniflora L. Folha, Chá, suco Gripe
fruto
Quebra-pedra Phyllanthus niruri L. Folha Chá Dor no ato de
urinar,
inflamação nos
rins
Quioiô Ocimum Folha Chá, Gripe
gratissimum L. banho
Transagem Plantago major L. Folha Chá, Inflamação no
banho útero
de assento
Quadro 1 – Levantamento das plantas utilizadas para fins terapêuticos na
comunidade de Tanquinho, Feira de Santana, Bahia.

*O termo “Pista taxonômica” foi empregado, pois não houve coleta das plantas
para identificação das espécies.

359
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

Sobre a perspectiva dos membros mais jovens da comunidade não


demonstrarem interesse em perpetuar esses saberes para as próximas
gerações, Maria, de 29 anos, moradora da comunidade há mais de dez
anos, afirma que:

“Não usamos mais as plantas medicinais com a mesma


frequência que usavam no tempo da minha avó. Acho que
a gente se acostuma com os remédios da farmácia e acha
que é mais fácil.”

Alguns dos entrevistados informaram que não cultivam plantas


medicinais em casa, mas quando necessário, recorrem aos membros
mais antigos da família, como mães e avós. Isso reforça a ideia de que
o conhecimento tradicional se concentra nos membros mais antigos
das comunidades e que não está sendo difundido aos membros mais
jovens. Esses resultados estão de acordo com Lima, Magalhães e Santos
(2011), que afirmam que são as pessoas de mais idade as detentoras dos
conhecimentos e práticas com plantas medicinais. Isso é corroborado
por Machado (2020), que obteve, dentre os resultados do estudo
sobre uso de plantas medicinais no nordeste paraense, que 63% dos
interlocutores possuíam idade superior a 40 anos. Por isso, buscam-se
cada vez mais trabalhos que registrem e valorizem esses conhecimentos
(KORCZOVEI, 2013; CARNEIRO et al., 2016).
Dona Joana, de 63 anos, moradora da comunidade desde seu
nascimento, quando questionada sobre a utilização de plantas
medicinais, respondeu:

“Até mesmo agora durante a pandemia com esses sintomas


de gripe usei muito o mastruz batido com leite, o limão
na água morna, a cebola, o chá com alho e gengibre. Ai a
pessoa soa bastante e depois se sentia bem”.

No trecho acima, a entrevistada se refere às reações corporais


esperadas, como a sudorese, após o uso do remédio caseiro e a posterior
melhora dos sintomas. E segue, falando sobre acreditar nos poderes
curativos das plantas medicinais:

360
Práticas investigativas em Etnobotânica

“São várias plantas que fazem o efeito e a gente não sabe,


as vezes deixa de usar, os médicos hoje em dia dizem que a
gente não pode mais usar remédio de mato, mas eu sei que
naquele tempo a gente usava e ficava bom. Não sei se era
a fé que a gente tinha que ia dar certo. Mas tem que ver a
quantidade, porque se bota demais diz que faz mal. Mas eu
sempre acredito, Deus primeiramente, depois as folhas que
é onde está o remédio certo que a gente necessita e é puro,
não tem tanto produto.”

Neste trecho de conversa fica evidente que os conhecimentos


populares também levam em consideração uma posologia indicada para
não ultrapassar o limiar entre a quantidade que promove a saúde e a que
pode provocar efeitos colaterais. As práticas fitoterápicas podem e devem
ser consideradas como um campo de interação de conhecimentos que
inclui os recursos culturais, saberes locais, a preservação das riquezas
naturais e da biodiversidade, a interação dos indivíduos com a natureza
e com os profissionais de saúde, além de promover a socialização da
pesquisa científica e desenvolver a visão crítica na população sobre o
uso seguro de plantas medicinais (ANTONIO; TESSER; MORETTI-
PIRES, 2013; KORCZOVEI, 2013).
Ao entrevistar o seu José, 36 anos, este relatou que durante a
pandemia foi acometido pela Covid-19, e que mesmo após o tratamento
médico formal, ele atrelou seus cuidados com a medicina popular para
se recuperar:

“Eu tive covid e mesmo depois que voltei do médico tomei


muito chá que me indicaram aqui, matruz com leite, e
chá de quioiô e laranja, capim santo. O pessoal que estava
cuidando de mim foi me dando os chás e dizendo para que
era, e eu ia tomando.”

Este fato é interessante no sentido de que mesmo com acesso à


medicina moderna, há pessoas que ainda buscam na medicina alternativa
a cura para seus males. Segundo Oliveira, Mezzomo e Moraes (2018),
mais de 70% dos usuários das Unidades Básicas de Saúde de Colombo,
Paraná, também faziam uso de plantas medicinais.
Já Dona Rosa, 54 anos, afirmou que aprendeu muita coisa a respeito
de plantas medicinais pelos meios de comunicação.

361
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

“Vi na televisão que a aroeira é alimento e faz cosmético,


mas aqui sabemos que serve como anti-inflamatório o
seu entrecasco [...], o mastruz é para verme e o mamão
também”.

A relação fitoterápica da folha do mastruz (Dysphania ambrosioides


[L.] Mosyakin & Clemants) e da semente do mamão (Carica papaya
L.) para o tratamento de verminose, citada pelos moradores da
comunidade, está presente também na literatura, pois com relação ao
mastruz, Lorenzi e Matos (2002) afirmam que o princípio ativo é um
óleo essencial que contém ascárido, com ação anti-helmíntica. Teixeira
e Melo (2006) indicam que a semente do mamão possui propriedades
vermífugas. Oliveira (2015) observou que a semente do mamão-papaia
também tem atividade antibacteriana.
Machado (2020) afirma que todo esse conhecimento etnobotânico
medicinal é resultante do acúmulo de conhecimentos construídos
a partir da observação e da interação com as mais variadas espécies
de plantas e suas ações terapêuticas por diferentes grupos étnicos ao
longo do tempo, culminando em uma medicina popular que hoje é
reconhecida também pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No
Brasil, segundo o autor, esse reconhecimento aconteceu principalmente
a partir da implantação da Política Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos, aprovada em 2006 através do Decreto Nº 5.812. Não cabe
nenhum tipo de impedimento ou tensão nas relações estabelecidas entre
o saber popular e o saber científico, sendo que os dois tipos de saberes
exprimem ajuda mútua e são complementares, devendo reconhecerem
em si mesmos seus limites e suas contribuições (SILVA; MELO NETO,
2015).
Assim, os principais resultados desta pesquisa foram agrupados
no blog criado para a associação de moradores e ficará disponível para
acesso pela internet, tendo a possibilidade de ser fonte de pesquisas
escolares e acompanhamento das atividades desenvolvidas no espaço da
associação e informações pertinentes à comunidade. A estética presente
no blog na seção destinada às plantas medicinais está representada nas
Figuras 3 e 4.

362
Práticas investigativas em Etnobotânica

Figura 3 – Página inicial da seção “Plantas medicinais” do blog da AMPOTA.


Fonte: https://ampotablog.wixsite.com/ampotablog. Acesso em 15 nov. 2022.

Figura 4 – Postagem sobre o Mamoeiro e parte final da seção “Plantas


medicinais” do blog da AMPOTA. Fonte: https://ampotablog.wixsite.com/
ampotablog. Acesso em 15 nov. 2022

363
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

4. Considerações finais

O conhecimento é produzido no âmbito das relações sociais e na


interação dos seres humanos com o ambiente. A partir da observação
dos fenômenos naturais e de como o corpo reagia ao uso de diferentes
plantas que foram desenvolvidos muitos dos fármacos que auxiliam
nossas vidas nos tratamentos médicos. Por outro lado, é necessário
reconhecer o protagonismo do saber popular na construção histórica de
conhecimento, e que os sujeitos que são sujeitos que tiveram interações
com as plantas e que carregam consigo a bagagem de um saber ancestral
e eficiente para suas necessidades.
O conhecimento popular sobre o uso de plantas medicinais
na comunidade de Tanquinho coexiste com os sistemas médicos
institucionalizados, uma vez que os moradores recorrem a ambos para
o tratamento e cura de problemas de saúde. Além disso, essa sabedoria
faz parte da dinâmica cultural do povoado de Tanquinho, de sua
construção histórica e constitui uma alternativa nos tratamentos de
diversas enfermidades.
O processo de ensino e aprendizagem realizado nos espaços formais
e não formais constitui importante forma de reconhecer, valorizar
e relacionar os conhecimentos populares e científicos a fim de que
os cidadãos tenham acesso a informações confiáveis e possam tomar
decisões conscientes sobre os cuidados com a saúde e com a utilização
das plantas medicinais em seu contexto. É importante ressaltar que
preservar os conhecimentos populares acerca das plantas medicinais
utilizadas há diversas gerações permite a valorização da cultura popular,
dos sujeitos que a compõem e também pode contribuir com estudos e
pesquisas importantes na interface farmacêutica e educacional.

Referências

ANTONIO, G. D.; TESSER, C. D.; MORETTI-PIRES, R. O.


Contributions of medicinal plants to care and health promotion in
primary healthcare. Interface, v. 17, n. 46, p. 615-33, 2013.

364
Práticas investigativas em Etnobotânica

CARNEIRO, M. S.; SILVEIRA, A. P.; GOMES, V. S. Comunidade rural


e escolar na valorização do conhecimento sobre plantas medicinais.
Revista Biotemas, v. 29, n. 2, p. 89-99, 2016.
CUNHA, S. A.; BORTOLOTTO, I. M. Etnobotânica de plantas
medicinais no Assentamento Monjolinho, município de Anastácio,
Mato Grosso do Sul, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 25, p. 685-698,
2011.
GOHN, M. G. Educação não formal, aprendizagens e saberes em
processos participativos. Investigar em Educação, série 2, n. 1, 2014.
KORCZOVEI, S. R. M. Plantas medicinais: valorização e preservação
do conhecimento popular associado ao conhecimento científico. v. 2,
2013.
LAURINDO, A. P.; SILVA, J. Á. P. Introdução à pesquisa:
características e diferenças teórico-conceituais entre o estudo
qualitativo e quantitativo. Revista Uniabeu, v. 10, n. 26, p. 45-55, 2018.
LIMA, R. A.; MAGALHÃES, S. A.; SANTOS, M. R. A. Levantamento
etnobotânico de plantas medicinais utilizadas na cidade de Vilhena,
Rondônia. Revista Pesquisa & Criação, v. 10, n. 2, p. 165-179, 2011.
LOBLER, L. et al. Levantamento etnobotânico de plantas medicinais
no bairro Três de Outubro da cidade de São Gabriel. Revista Brasileira
de Biociências, n. 2, p. 81-89, 2014.
LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil nativas e
exóticas. São Paulo: Instituto Plantarum, 2002.
MACHADO, E. F. Análise do uso de plantas medicinais a
partir dos fatores renda, escolaridade e faixa etária em uma
comunidade do nordeste paraense. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE
ANTROPOLOGIA, 32., Belém. Anais... Belém: Museu Paraense
Emílio Goeldi, 2020.
NOGUEIRA, A. P. Etnobotânica de plantas medicinais numa
escola pública do município de Capistrano, Ceará, Brasil. Revista
Internacional de Ciências, v. 9, n. 3, p. 63-73, 2019.

365
Eraldo Medeiros Costa Neto e Ligia Silveira Funch (Organizadores)

OLIVEIRA, L. R. Atividade antibacteriana da semente do mamão


papaia (Carica papaya L.). 2015. 51 f. Trabalho de Conclusão de
Curso – Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis, Assis, 2015.
OLIVEIRA, V. B.; MEZZOMO, T. R.; MORAES, E. F. Conhecimento
e uso de plantas medicinais por usuários de unidades básicas de saúde
na região de Colombo, PR. Revista Brasileira Ciências da Saúde, v.
22, n. 1, p. 57-64, 2018.
SANTOS, D. R. et al. Levantamento de espécies vegetais cultivadas
em roças da região metropolitana e área de expansão metropolitana
de Feira de Santana, Bahia. In: Reflexões acerca da Etnobiologia e
Etnoecologia no Brasil. Curitiba: Atena Editora, 2019. p. 30- 36.
SILVA, S. F.; MELO NETO, J. F. Saber popular e saber científico.
Revista Temas em Educação, v. 24, n. 2, p. 137- 154, 2015.
TEIXEIRA, S. A. T.; MELO, J. I. M. Plantas medicinais utilizadas no
município de Jupi, Pernambuco, Brasil. IHERINGIA, Série Botânica,
v. 61, n. 1-2, p. 5-11, 2006.
VIU, A. F. M.; VIU, M. A. O.; CAMPOS, L. Z. O. Etnobotânica: uma
questão de gênero? Revista Brasileira de Agroecologia, v. 5, n. 1, p.
138-147, 2010.
XAVIER, R.; LIMA, R. O papel das mulheres na construção do
conhecimento em etnobotânica na região norte: uma revisão
integrativa. Conhecimento & Diversidade, v. 12, n. 27, p. 51-63, 2020.

366
E-book

PRÁTICAS INVESTIGATIVAS EM ETNOBOTÂNICA:


DISTINTOS OLHARES, AFINS ENCONTROS

Este livro foi composto no formato 17,0 x 24,0 cm, fonte


Minion pro (texto principal e títulos), em março de 2023.
ISBN: 978-65-88707-47-0

9 786588 707470

Você também pode gostar