Do 5966171 Cor
Do 5966171 Cor
Pirassununga
2016
PAULO EDUARDO SICHETTI MUNEKATA
Versão corrigida
Pirassununga
2016
Ficha catalográfica elaborada pelo
Serviço de Biblioteca e Informação, FZEA/USP,
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
Permitida a cópia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte - o autor
Dedico este trabalho a meus pais Akio e Sara pelo porto seguro
mesmo com um oceano de distância e a meu irmão Luiz Paulo,
meu inseparável irmão nas grandes aventuras da vida. A Haruo
e Hiroko Munekata, in memorian, pelo amor e carinho.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Marco Antonio Trindade, a quem sou imensamente grato pela
oportunidade e confiança para desenvolver esta pesquisa e por acreditar em meu
potencial, antes mesmo de ingressar no curso de Doutorado. Agradeço pelo esforço
profissional incansável, que em minha humilde opinião é um exemplo de orientador
a ser seguido, por sua atenção e dedicação com cada um de seus orientados e
alunos.
Ao pesquisador Dr. José Manuel Lorenzo Rodriguez que gentilmente abriu as portas
do Centro Tecnolóxico da Carne (CTC, Ourense – Espanha) e concedeu a
oportunidade de executar parte desta pesquisa. Agradeço também por aprender
com meus erros e acertos; agradeço pelos constantes incentivos, conselhos,
supervisão, ―puxões de orelha‖ e pela inesgotável vontade de buscar o melhor de
seus companheiros de trabalho/pesquisa.
Aos especialistas que conheci no CTC: Dr. Daniel Franco, Dra. Laura Purriños, Dr.
Rubén Dominguéz (a quem sou imensamente grato pela paciência, conhecimentos
em cromatografia e ajuda), Dr. Roberto Bermúdez, Dra. Sonia Fonseca, Dra. Maria
Gómez e Constantino (chefe e responsável da Planta Piloto do CTC) pela
inestimável assistência, conversas durante o café, conselhos e principalmente pela
confiança depositada em minhas mãos e decisões para a condução de
experimentos que foram fundamentais para que o período de estágio no CTC fosse
rico tanto em experiências profissionais como em pessoais.
Aos amigos além-mar: Aurora Cittadini (Rori) e Pablo Cruz pela amizade e
excelente estada em Ourense, pelas aventuras, pelos pratos mais saborosos que
provei na Espanha, longas conversas e noitadas sem fim; Ruben Agregán (Barça!)
pela amizade e bons momentos que passei durante o pouco tempo que dividimos
experimentos e risadas no Laboratório de Cromatografia; Profª Emma pelas aulas
de língua e cultura espanhola; Paula e Adriana, por sua sincera e gentil amizade
durante excelentes momentos que não me esquecerei; Ayatollah pelas conversas
sem fim e por compartilhar um pouco de seus costumes e tradições da Tunísia;
Anabela de Bragança, pelas conversas e risadas que encurtaram a distância de
casa; Luis pelas tardes de futebol e cañas acompanhadas de partidas do
campeonato espanhol de futebol. Aos amigos Robert e Lucía, Adrian, Pasquale,
Nello e Pablo.
Aos estagiários com quem tive a oportunidade de dividir os experimentos no CTC:
Angela, Adrián, Tamara, María, Lucía e Rebeca.
(Nelson Mandela)
RESUMO
°C Graus Celsius
1
O2 Oxigênio singlet
3
O2 Oxigênio triplet
•
A Radical antioxidante
AH Antioxidante
bar bar (unidade de pressão)
C14:0 14 Carbonos
C14:1 14 Carbonos com 1 insaturação
C14:1n5 14 Carbonos com 1 insaturação no carbono 5
C15:0 15 Carbonos
C16:0 16 Carbonos
C16:1 16 Carbonos com 1 insaturação
C16:1n7 16 Carbonos com 1 insaturação no carbono 7
C17:0 17 Carbonos
C17:1n7 17 Carbonos com 1 insaturação no carbono 7
C18:0 18 Carbonos
C18:1 18 Carbonos com 1 insaturação
C18:1n11t 18 Carbonos com 1 insaturação trans no carbono 11
C18:1n7c 18 Carbonos com 1 insaturação cis no carbono 7
C18:1n9c 18 Carbonos com 1 insaturação cis no carbono 9
C18:1n9t 18 Carbonos com 1 insaturação trans no carbono 9
C18:2 18 Carbonos com 2 insaturações
C18:2n6c 18 Carbonos com 2 insaturações, 1ª instauração cis no carbono 6
C18:2n6t 18 Carbonos com 2 insaturações, 1ª instauração trans no carbono 6
C18:3 18 Carbonos com 3 insaturações
C18:3n3 18 Carbonos com 3 insaturações, 1ª instauração no carbono 3
C19:0 19 Carbonos
C20:0 20 Carbonos
C20:1n9 20 Carbonos com 1 insaturação no carbono 9
C20:2n6 20 Carbonos com 2 insaturações, 1ª instauração no carbono 6
C20:3n3 20 Carbonos com 3 insaturações, 1ª instauração no carbono 3
C20:3n6 20 Carbonos com 3 insaturações, 1ª instauração no carbono 6
C20:4n6 20 Carbonos com 4 insaturações, 1ª instauração no carbono 6
C20:5n3 20 Carbonos com 5 insaturações, 1ª instauração no carbono 3
C22:5n3 22 Carbonos com 5 insaturações, 1ª instauração no carbono 3
C22:6n3 22 Carbonos com 6 insaturações, 1ª instauração no carbono 3
C23:0 23 Carbonos
cm Centímetro
CO2 Dióxido de carbono
eV Eletron-volts
g Força g
g Gramas
H Átomo de hidrogênio
h Horas
•
HO 2 Radical hidroperoxil
•
HO Radical hidroxil
In Radical iniciador
kg Quilogramas
kPa Quilopascal
L• Radical de ácido graxo
LH Ácido graxo insaturado
LO• Radical alcoxil de ácido graxo
LOH Alcóxido lipídico
LOO• Radical peroxil de ácido graxo
LOOA, LOA e AA Produtos estáveis da oxidação lipídica
LOOH Hidroperóxido lipídico
m/z Massa/carga
Me(n+)+ Metal de transição oxidado
Men+ Metal de transição reduzido
mg Miligramas
min Minutos
mL Mililitros
mm Milímetros
M Mol/litro
N2 Nitrogênio
nm Nanômetros
nmol Nanomol
O2 Oxigênio
P• Radical de proteína
PH Proteína
Pig* Pigmento singlet
Pig Pigmento triplet
POH Derivado do radical peroxil de proteína
POO• Radical peroxil de proteína
POOH Hidroperóxido de proteína
ppm Partes por milhão
psi Libra-força
rpm Rotações por minuto
s Segundos
V Volts
μg Microgramas
μL Microlitros
μm Micrometros
μM Micromolar
Sumário
RESUMO ................................................................................................................... 9
ABSTRACT .............................................................................................................. 11
LISTA DE ILUSTRAÇÕES ....................................................................................... 13
LISTA DE TABELAS ................................................................................................ 14
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................... 15
LISTA DE SÍMBOLOS .............................................................................................. 17
1. INTRODUÇÃO GERAL .................................................................................... 24
2. HIPÓTESE ........................................................................................................ 25
3. OBJETIVOS...................................................................................................... 25
3.1. Objetivo geral ............................................................................................ 25
3.2. Objetivos específicos ............................................................................... 25
Capítulo 1 ................................................................................................................. 26
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................................... 27
1. Produtos cárneos............................................................................................ 27
1.1. Hambúrguer ............................................................................................... 27
1.2. Salchichón ................................................................................................. 28
1.3. Paté de fígado............................................................................................ 29
2. Lipídeos: aspectos nutricionais e tecnológicos .......................................... 30
2.1. Ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 ......................................................... 31
2.2. Degradação lipídica .................................................................................. 32
3. Oxidação de proteínas .................................................................................... 35
4. Antioxidantes .................................................................................................. 37
4.1. Compostos fenólicos ................................................................................ 40
4.2. Determinação do conteúdo fenólico e atividade antioxidante .............. 41
4.3. Pele de amendoim..................................................................................... 42
5. REFERÊNCIAS .......................................................................................... 46
Capítulo 2 ................................................................................................................. 57
Extrato de pele de amendoim reduz a oxidação lipídica em hambúrguer de frango 58
RESUMO ................................................................................................................. 58
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 60
2. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................. 61
2.1. Extração de compostos fenólicos da pele de amendoim ...................... 61
2.2. Análise de fenólicos totais pelo reagente de Folin-Ciocalteu ............... 61
2.3. Atividade de antioxidante pelo sequestro do radical DPPH .................. 62
2.4. Atividade antioxidante pelo reagente FRAP ........................................... 62
2.5. Preparo dos hambúrgueres ..................................................................... 63
2.6. Composição centesimal dos hambúrgueres .......................................... 63
2.7. Determinação da cor instrumental dos hambúrgueres ......................... 64
2.8. Perfil de ácidos graxos dos hambúrgueres ............................................ 64
2.9. Avaliação da oxidação lipídica dos hambúrgueres ............................... 65
2.10. Análise estatística.................................................................................. 66
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 66
3.1. Conteúdo fenólico e atividade antioxidante ........................................... 66
3.2. Composição centesimal ........................................................................... 69
3.3. Cor instrumental ....................................................................................... 70
3.4. Perfil de ácidos graxos ............................................................................. 71
3.5. Estabilidade oxidativa............................................................................... 72
4. CONCLUSÃO ................................................................................................... 73
5. REFERÊNCIAS ................................................................................................ 74
Capítulo 3 ................................................................................................................. 78
Influencia do extrato de pele de amendoim na vida útil de hambúrguer de ovelha .. 79
RESUMO ................................................................................................................. 79
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 80
2. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................. 81
2.1. Extrato de pele de amendoim .................................................................. 81
2.2. Identificação dos compostos fenólicos por cromatografia líquida
acoplada à espectrometria de massas ............................................................. 81
2.3. Preparo do hambúrguer de ovelha .......................................................... 82
2.4. Crescimento microbiológico .................................................................... 82
2.5. Cor instrumental e valor de pH ................................................................ 83
2.6. Oxidação lipídica ....................................................................................... 83
2.7. Oxidação de proteínas .............................................................................. 83
2.8. Ácidos graxos livres ................................................................................. 84
2.9. Compostos voláteis .................................................................................. 86
2.10. Análise sensorial ................................................................................... 87
2.11. Análise estatística.................................................................................. 88
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 88
3.1. Perfil fenólico do extrato de pele de amendoim ..................................... 88
3.2. Crescimento microbiológico .................................................................... 92
3.3. Cor instrumental e pH ............................................................................... 95
3.4. Oxidação lipídica ....................................................................................... 99
3.5. Oxidação de proteínas ............................................................................ 101
3.6. Ácidos graxos livres ............................................................................... 103
3.7. Compostos voláteis ................................................................................ 107
3.8. Análise sensorial ..................................................................................... 109
4. CONCLUSÃO ................................................................................................. 112
5. REFERÊNCIAS .............................................................................................. 112
Capítulo 4 ............................................................................................................... 118
Efeito de antioxidantes naturais no salchichón espanhol elaborado com
ácidos graxos n-3 de cadeia longa em matriz de konjac .................................. 119
RESUMO ............................................................................................................... 119
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 120
2. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................... 122
2.1. Extratos naturais ..................................................................................... 122
2.2. Quantificação de compostos fenólicos por cromatografia líquida com
detector de arranjo de diodos ......................................................................... 123
2.3. Preparo do óleo de peixe microencapsulado ....................................... 123
2.4. Preparo da matriz de konjac .................................................................. 124
2.5. Preparo do salchichón com gel de konjac e antioxidantes naturais .. 124
2.6. Composição centesimal ......................................................................... 125
2.7. Cor instrumental e valor de pH .............................................................. 125
2.8. Avaliação da oxidação lipídica .............................................................. 125
2.9. Avaliação da oxidação de proteínas...................................................... 126
2.10. Perfil de ácidos graxos livres ............................................................. 126
2.11. Compostos voláteis do salchichón .................................................... 126
2.12. Análise estatística................................................................................ 126
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................... 126
3.1. Compostos fenólicos nos extratos naturais ......................................... 128
3.2. Composição centesimal, valor de pH e parâmetros físico-químicos . 130
3.3. Oxidação lipídica e proteica ................................................................... 132
3.4. Compostos voláteis ................................................................................ 135
3.5. Ácidos graxos livres ............................................................................... 137
4. CONCLUSÃO ................................................................................................. 139
5. REFERÊNCIAS .............................................................................................. 139
Capítulo 5 ............................................................................................................... 146
Efeito de antioxidantes naturais na estabilidade oxidativa de patê de fígado suíno
elaborado com óleos saudáveis durante estocagem refrigerada ........................... 147
RESUMO ............................................................................................................... 147
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 148
2. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................... 149
2.1. Extratos naturais ..................................................................................... 149
2.2. Preparo do patê de fígado ...................................................................... 149
2.3. Composição centesimal ......................................................................... 150
2.4. Valor de pH e cor instrumental .............................................................. 151
2.5. Oxidação lipídica ..................................................................................... 151
2.6. Ácidos graxos livres ............................................................................... 151
2.7. Compostos voláteis ................................................................................ 151
2.8. Análise estatística ................................................................................... 151
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................... 151
3.1. Composição centesimal, valor de pH e cor instrumental .................... 152
3.2. Oxidação lipídica ..................................................................................... 157
3.3. Ácidos graxos livres ............................................................................... 159
3.4. Compostos voláteis ................................................................................ 165
4. CONCLUSÃO ................................................................................................. 166
5. REFERÊNCIAS .............................................................................................. 167
CONCLUSÃO GERAL ........................................................................................... 171
1. INTRODUÇÃO GERAL
As reações de oxidação em produtos cárneos estão entre as principais
causas de perda de qualidade nesta classe de alimentos processados. O aumento
do potencial antioxidante destes alimentos é importante para evitar que compostos
de interesse nutricional e/ou tecnológico susceptíveis a reações oxidativas, como
pigmentos, lipídios e proteínas, sejam degradados. A redução na qualidade dos
produtos cárneos, em virtude de reações oxidativas, pode promover alterações de
cor, sabor, odor e textura (FAUSTMAN et al., 2010; BREWER, 2011).
Os aditivos alimentares conhecidos como antioxidantes são adicionados aos
produtos cárneos para inibir as reações oxidativas e assim estender a vida útil. Os
antioxidantes sintéticos, como o hidroxitolueno butilado (BHT), são amplamente
utilizados na elaboração de produtos cárneos, porém devido aos possíveis efeitos
tóxicos da elevada ingestão destes compostos (e.g. desenvolvimento de câncer), o
consumo destes aditivos deve ser feito com atenção. Em virtude desta orientação,
os antioxidantes de fontes naturais, como os compostos fenólicos, tem recebido
cada vez mais atenção. Os compostos fenólicos possuem estrutura química ao
menos um anel benzênico com um grupamento hidroxila, o que confere a atividade
antioxidante a esta classe de compostos. (EFSA, 2011; FALOWO; FAYEMI;
MUCHENJE, 2014).
Dentre as fontes naturais de compostos fenólicos, destaca-se a pele do
amendoim (fina película que recobre o amendoim) proveniente do processamento
do amendoim. Este resíduo não possui aplicação posterior e possui como destino o
a queima para geração de energia ou o tratamento de resíduos. Porém a pele do
amendoim contém diversos compostos fenólicos com potencial antioxidante para
serem aplicados como aditivo alimentar. Na composição da pele de amendoim
destaca-se a presença de flavonoides como a (epi)catequina e seus oligômeros e
polímeros denominados proantocianidinas, além de quercetina, luteolina, resveratrol
e ácidos fenólicos como o ácido coumárico, ferúlico e seus derivaos (BALLARD et
al., 2009; SARNOSKI et al., 2012; MA et al., 2014; OLDONI et al., 2016).
Estudos realizados com o extrato obtido da pele de amendoim em produtos
cárneos sugerem que o uso do extrato pode trazer vantagens tecnológicas ao
proteger lipídeos (principalmente ácidos graxos insaturados) e contribuir na
preservação da cor vermelha durante a estocagem de produtos cárneos. No
entanto, são escassos os trabalhos que exploram os efeitos do extrato obtido da
24
pele de amendoim em produtos cárneos a base de carne de aves, ovinos e produtos
fermentados/maturados (O‘KEEFE; WANG, 2006; YU et al, 2010).
Assim o presente trabalho tem como objetivo avaliar o potencial antioxidante
e caracterizar a composição fenólica do extrato obtido da pele de amendoim e
também avaliar o efeito protetor contras a reações oxidativas e outras alterações
nas características de hambúrguer, salchichón e patê de fígado suíno.
2. HIPÓTESE
O extrato de pele de amendoim pode contribuir para a estabilidade oxidativa
de hambúrguer de frango cozido, hambúrguer de ovelha, salchichón com óleo de
peixe microencapsulado em matriz de konjac e paté de fígado suíno com óleo de
peixe.
3. OBJETIVOS
3.1. Objetivo geral
O objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito antioxidante do extrato de
pele de amendoim em hambúrguer de frango cozido, hambúrguer de ovelha,
salchichón com óleo de peixe microencapsulado em matriz de konjac e paté de
fígado suíno com óleo de peixe e de oliva durante o período de estocagem.
25
Capítulo 1
26
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1. Produtos cárneos
A elaboração de produtos cárneos, feita com carne de qualidade sanitária,
permite modificar características deste alimento. Os processos envolvidos no
processamento da carne abrangem transformações físicas, químicas ou biológicas,
ou ainda as suas combinações como o resfriamento/congelamento, tratamento
térmico, uso de sais de cura, fermentação e defumação. Estes processos têm como
principais objetivos aumentar a vida-útil da carne, desenvolver ou acentuar
características sensoriais e ainda utilizar cortes de baixo consumo quando frescos
(TERRA, 1998).
Esta classe de alimentos é amplamente consumida em todo o mundo na
forma de mortadelas, embutidos fermentados ou curados, presuntos, patês e
hambúrgueres, além de produtos com Indicação Geográfica Protegida como
Salchicón Gallego (Espanha), Morcela de asar de Portalegre (Portugal) e Salami S.
Angelo (Itália) que são elaborados com ingredientes ou processos únicos de uma
região (PURRIÑOS et al., 2012; MARCOS et al., 2016; GIUFFRIDA et al., 2009).
Em relação ao consumo de produtos cárneos no Brasil, o principal grupo de
consumidores são os jovens e adultos que consomem 16,1 e 15,6 g/dia. No entanto
para o grupo de idosos, o consumo cai para 11,8 g/dia. Os principais produtos
consumidos são a carne salgada, linguiça e salsicha para todos nos 3 grupos. O
consumo preferencial destes produtos cárneos está relacionado com o preço
acessível, praticidade no preparo e consumo, elevado valor proteico além de ser
acessível a todas as classes econômicas (IBGE, 2011).
1.1. Hambúrguer
O hambúrguer é amplamente consumido devido a suas características que
favorecem o preparo e consumo como a praticidade durante o cozimento/fritura,
composição nutricional favorável (elevada proporção de proteínas, sais minerais,
vitaminas e gorduras) além de fornecer saciedade (HAUTRIVE ET AL., 2008). O
consumo de hambúrguer feito em refeições fora do lar possui um mercado amplo
com diversos estabelecimentos conhecidos como ―hamburguerias‖. Os segmentos
de mercado variam desde produtos vendidos em tradicionais redes de fast-food a
27
estabelecimentos que apresentam o hambúrguer como um produto ―gourmet‖, que
por sua vez estão em expansão (JAKITAS, 2015; NAGASE, 2016).
O processo do hambúrguer envolve a moagem da carne a qual pode ser
adicionada de tecido adiposo e ingredientes, seguido pela homogeneização,
moldagem e aplicação de processo adequado (cozimento, resfriamento ou
congelamento) de forma que possa ser comercializado cru, semi-frito, frito, cozido,
congelado ou resfriado. No entanto para que o produto cárneo seja denominado
―hambúrguer‖ alguns limites determinados pela legislação vigente precisam ser
respeitados como conter no máximo 23% de gordura e no mínimo 15% de proteína.
Ainda podem ser adicionados até 30% de carne mecanicamente separada para o
hambúrguer cozido e até 4% de proteína não cárnea na forma agregada (BRASIL,
2000a).
1.2. Salchichón
A cultura espanhola possui renomada tradição no preparo e consumo de
produtos cárneos com destaque para o jámon e embutidos maturados (chorizo,
salchichón, lomo embuchado e fuet) que fazem parte de seu acervo cultural e
gastronômico. Segundo dados da Associación Nacional de Industrias de la Carne de
España, estima-se a produção de 1,3 milhões de toneladas de produtos cárneos (4°
maior produto europeu) e 191 mil toneladas de embutidos, em que estão incluídos
os dados sobre a produção de salchichón. O salchichón é um produto consumido
por ampla maioria da população espanhola e classes econômicas (ANICE, 2015;
CERDEÑO, 2012).
O salchichón é um embutido cru-curado maturado muito apreciado na cultura
espanhola. As normas espanholas de identidade e qualidade para produtos cárneos
caracteriza este embutido por sua composição que contém geralmente carne e
gordura suínas moído em pedações pequenos e submetidas ao processo de salga,
embora possam ser utilizadas carne e gordura de outros animais. A pimenta é o
principal ingrediente que caracteriza o salsichón, porém especiarias, condimentos,
ingredientes e aditivos também possam ser adicionados durante o preparo do
salchichón. Uma vez que a carne, gordura e demais ingredientes são misturados, a
massa é embutida em tripas naturais ou artificiais e submetida ao processo de
maturação, acompanhado ou não de fermentação. Posteriormente, o salchichón
28
pode ser defumado para agregar aroma e sabor típicos. Neste grupo também estão
incluídos, o fuet, o salchichón de Málaga e o salami (ESPANHA, 2014).
O salchichón se destaca por sua cor vermelha escura, textura firme e
reduzido teor de umidade. Na cultura espanhola, o salchichón é incluído em
diversos pratos como saladas, canapés, molho para pastas e as tradicionais tapas.
O costume popular de elaborar este embutido está relacionado com a ―matanza nos
pueblos‖ que utilizava o pernil suíno, toucinho e especiarias para elaborar a massa
do salchichón. É interessante notar que, o salchichón produzido nos pueblos é seco
em temperatura ambiente por em média 45 dias, não havendo controle de
temperatura e umidade (GONZÁLEZ, 2013).
30
2.1. Ácidos graxos ômega-3 e ômega-6
Os ácidos graxos n-3 e n-6 são ácidos graxos insaturados (duplas ligações
na cadeia principal) nas posições 3 e 6 a partir do último grupo metílico da cadeia
principal, respectivamente. A designação destes ácidos graxos é feita pela
abreviação n-3 e n-6 como em C18:3n−3 e C18:2n−6. O consumo de ácidos graxos
essenciais n-6 e n-3 tem importância nutricional e são integrantes desta
classificação o ácido graxo linoleico (C18:2n−6), alfa-linolênico (C18:3n−3),
araquidônico (C20:4n−6), eicosapentaenoico (eicosapentaenoic acid, C20:5n−3) e
docosaexaenoico (docosahexaenoic acid, C22:6n−3). Estes ácidos graxos recebem
a denominação ―essencial‖ por não serem sintetizados no organismo de mamíferos
e precisam ser exclusivamente adquiridos pela dieta. Diversas fontes animais e
vegetais são conhecidas por fornecerem quantidades elevadas destes ácidos
graxos como os óleos vegetais (ricos em n-6) e peixes marinhos como salmão,
cavala, anchovas e sardinha (ricos em n-3) (LORENTE-CEBRIÁN et al., 2013).
A ingestão de gordura e ácidos graxos possui recomendações específicas
definidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que são baseadas em estudos
clínicos experimentais controlados e epidemiológicos. As evidências disponíveis são
convincentes para recomendar que a ingestão de AGS não ultrapasse 30-35% da
energia total e ainda que a substituição de AGS por AGMI e AGPI reduz a
quantidade de lipoproteínas de baixa densidade (low density lipoprotein – LDL) no
sangue e também diminuindo o risco de doenças cardiovasculares. Segundo a
OMS, a ingestão total de ácidos graxos n-3 recomendada deve estar na faixa de 0,5
a 2,0% da energia total enquanto que para os ácidos graxos n-6 é recomendado o
consumo de ácido linoleico entre 2 e 3% da energia total (WHO, 2008).
Embora o consumo de ácidos graxos insaturados seja recomendado devido
aos benefícios a saúde, deve-se ter atenção quanto ao balanço dos ácidos graxos
essenciais n-6 e n-3. Esta relação possui importância na dieta ocidental, em que o
consumo de ácidos graxos n-6 é muito superior à ingestão de ácidos graxos n-3.
Alguns estudos relataram que a relação n-6/n-3 na dieta ocidental pode chegar a
valores entre 15 e 20. A preocupação em torno destes resultados é devida ao efeito
do metabolismo destes ácidos graxos no organismo (SIMOPOULOS, 2002;
LORENTE-CEBRIÁN et al., 2013).
Os ácidos graxos n-6 e n-3 são metabolizados pelas enzimas fosfolipase A2,
cicloxigenase e lipoxigenase em leucotrienos, prostaglandinas, tromboxanos e
31
ácidos graxos hidroxílicos. No entanto, o metabolismo oxidativo de ácidos graxos n-
6, como o C20:4n−6, leva a formação de metabólitos ativos em baixas
concentrações que estão envolvidos em trombos, ateromas e desordens, alérgicas
e inflamatórias. Por outro lado, quando a razão n-6/n-3 está em valores menores do
que os relatados para a dieta ocidental, a formação dos metabólitos de ácidos
graxos n-6 é reduzida. Tal associação se deve ao fato de que os ácidos graxos n-6
e n-3 são metabolizados pela mesma via e competem pelas enzimas cicloxigenase
e lipoxigenase. Assim o aumento na proporção de n-3 (redução na razão n-6/n-3) é
importante para a população ocidental (LORENTE-CEBRIÁN et al., 2013).
Fonte: Adaptado de PORTER, N. A.; CALDWELL, S. E.; MILLS, K. A. Mechanisms of Free Radical
Oxidation of Unsaturated Lipids. Lipids, Heidelberg, v. 30, n. 4, p. 277-290, 1995; RIBEIRO, E. P.;
SERAVALLI, E. A. G. Química de Alimentos. 2.ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2007. Cap.4, p.128-
135.
Uma vez gerados os radicais (L•) da etapa de iniciação, estes reagem com o
oxigênio e formam o radical peroxil (LOO•) na etapa denominada propagação. Este
radical por sua vez remove um átomo de H de outro ácido graxo (LH) e forma um
radical (L•) e um hidroperóxido lipídico (LOOH). Esta sequência de reações aumenta
a quantidade peróxidos na fração lipídica do alimento e o consumo de oxigênio.
Desta forma, a formação de radicais livres é propagada (reação em cadeia) por toda
a fração lipídica (PORTER et al., 1995; RIBEIRO e SERAVALLI, 2007).
Na última etapa da oxidação lipídica (etapa de término) os radicais formados
na etapa de propagação reagem entre si e formam produtos estáveis (LOOL e LL).
Nesta etapa também são gerados compostos de diversas classes como aldeídos,
acetonas, hidrocarbonetos e álcoois a partir da degradação da molécula de LOOH.
A oxidação lipídica e os compostos voláteis formados conferem sabor e odor
33
desagradáveis aos alimentos. Os aldeídos de baixo peso molecular são
considerados como os principais compostos envolvidos na percepção sensorial de
produtos oxidados (RAMALHO e JORGE, 2006; RIBEIRO e SERAVALLI, 2007).
A presença de moléculas fotossensíveis como a clorofila pode levar a
formação do oxigênio singlet e assim catalisar a oxidação lipídica (Fig. 2). Um
pigmento triplet (Pig) é convertido em pigmento singlet (Pig*) pela exposição à
radiação ultravioleta. Tal estado excitado do pigmento em contato com o oxigênio
triplet (3O2) faz com que o pigmento singlet volte ao estado triplet e o oxigênio seja
excitado para o estado singlet ( 1O2). Este estado excitado do oxigênio reage pode
reagir com um ácido graxo insaturado e induzir a formação do hidroperóxido lipídico
(LOOH). A velocidade da reação entre lipídeos e oxigênio singlet ( 1O2) é muito
superior à mesma reação envolvendo o oxigênio triplet ( 3O2), o que acelera a
formação de LOOH. Os pigmentos fotossensíveis que podem favorecer a oxidação
lipídica em alimentos são a clorofila, mioglobina e hemoglobina (CHOE; MIN, 2009;
WĄSOWICZ et al., 2004).
Fonte: Adaptado de CHOE, E.; MIN, D. B. Mechanisms of antioxidants in the oxidation of foods.
Comprehensive Reviews in Food Science and Food Safety, Chicago, v. 8, n. 4, p. 345-358, 2009;
WĄSOWICZ, E.; GRAMZA, A.; HĘŚ, M.; JELÉN, H. H.; KORCZAK, J.; MAŁECKA, M.; MILDNER-
SZKUDLARZ, S.; RUDZIŃSKA, M.; SAMOTYJA, U.; ZAWIRSKA-WOJTASIAK, R. Oxidation of lipids
in food. Polish Journal of Food Nutrition Sciencies, Olsztyn, v. 13, n. 54, p. 87-100, 2004.
34
(LO•) e hidroxil (HO•) o que leva a ocorrência da oxidação lipídica. Da mesma forma,
o contato entre metais de transição e lipídeos também pode favorecer o
desenvolvimento da oxidação lipídica. As reações envolvidas consistem na
decomposição do hidroperóxido lipídico em radical alcoxil (LO•) ou peroxil (LOO•),
dependendo do estado oxidativo do metal. No caso do ferro, a desnaturação da
molécula de mioglobina pode causar a liberação de íons de ferro que por sua vez
irão catalisar a oxidação lipídica (WĄSOWICZ et al., 2004; JOMOVA; BAROS;
VALKO, 2012; CHAIJAN, 2008).
Um dos principais efeitos relacionados com a oxidação lipídica é a formação
de compostos que conferem sabor e odor de ranço e reduzem a qualidade de
produtos cárneos. A formação de compostos de baixo peso molecular como
aldeídos, cetonas e epóxidos ocorre principalmente pela ruptura de ligações em
moléculas de peróxidos (FAUSTMAN et al., 2010).
3. Oxidação de proteínas
A oxidação das proteínas e formação de carbonilas consiste em um conjunto
de eventos complexos que podem reduzir a qualidade da carne e produtos cárneos
(Fig. 3). Espécies reativas do oxigênio, lipídeos, mioglobina/hemoglobina, metais de
transição e enzimas oxidativas são considerados com principais agentes envolvidos
na indução e catálise da oxidação de proteínas (ESTÉVEZ, 2011).
Os grupos funcionais laterais e aminoácidos da cadeia principal (PH) são
alvos preferenciais das espécies reativas do oxigênio (HO•) e outras espécies não
reativas que removem um átomo de H. Forma-se então um radical no carbono que
cedeu o átomo de H (P•). Em seguida, este radical é convertido em radical peroxil
(POO•) ao reagir com o oxigênio atmosférico (O2). O radical peroxil (POO•) remove
um átomo de H de um grupo funcional lateral ou de um aminoácido da cadeia
principal (PH) e forma um hidroperóxido de proteína (POOH) e um radical P•.
Posteriormente, tanto metais de transição (Men+) como radical hidroperoxil (HO•2)
podem degradar o peróxido de proteína (POOH) em um derivado do radical peroxil
(POH). Devido à especificidade de cada grupo funcional lateral ou de um
aminoácido da cadeia principal (PH), das condições das reações de oxidação e do
sistema envolvido, um tipo de derivado do radical peroxil (POH) é gerado
(ESTÉVEZ, 2011; DAVIES 2005).
35
Figura 3 – Reações envolvidas na oxidação de proteínas
Fonte: Adaptado de ESTÉVEZ, M. Protein carbonyls in meat systems: A review. Meat Science,
Amsterdam, v. 89, n. 3, p. 259-279, 2011.
36
vitro, com animais e clínicos foi pouco explorada e estudos adicionais precisam ser
realizados (SOLADOYE et al., 2015; LEYGONIE; BRITZ; HOFFMAN, 2012).
4. Antioxidantes
Devido ao desenvolvimento de reações oxidativas sobre moléculas de
interesse tecnológico e/ou nutricional durante o processamento e estocagem dos
alimentos, medidas preventivas para inibir tais reações (como a inclusão de
antioxidantes na formulação destes alimentos) são do interesse de pesquisadores e
indústrias de alimentos. A definição do termo antioxidante passou por modificações
em função das descobertas sobre esse assunto. As primeiras definições
consideraram que compostos com este potencial poderiam proteger moléculas de
susceptíveis de reações oxidativas. Posteriormente novos conceitos foram inseridos
nesta definição que passou a ser: compostos que podem prevenir, reduzir a taxa
das reações e até mesmo inibir a oxidação de moléculas alvo a baixas
concentrações. A capacidade de sequestrar radicais também foi incluída devido a
capacidade de inativar espécies reativas do oxigênio. Desta forma, os compostos
com atividade antioxidante são agentes que previnem, retardam ou inibem a
oxidação de moléculas de importância tecnológica e/ou nutricional ao cederem um
átomo de H ou sequestrarem radicais livres a baixas concentrações. Além disso, os
compostos antioxidantes devem possuir outras características que contribuam para
sua utilização como fácil utilização, estabilidade durante processamento e
estocagem, não gerar compostos tóxicos após sofrer a oxidação e formar radicais
com baixa reatividade (HALLIWELL, 2007; NAVEENA et al., 2010; SÁYAGO-
AYERDI, 2009).
Os compostos antioxidantes podem ser classificados em primários e
secundários, de acordo com o mecanismo exercido para inativar ou retardar/inibir a
ação de espécies reativas e fatores pró-oxidantes. Os antioxidantes primários (Fig.
4) são compostos que doam elétrons ou átomos de H para estabilizar radicais livres.
Os antioxidantes primários podem prevenir a oxidação lipídica uma vez que os
radicais livres (L•), peroxil (LOO•) e alcoxil (LO•) são estabilizados e assim a etapa
de iniciação e propagação é inibida. Os radicais antioxidantes (A•) possuem menor
reatividade do que os radicais provenientes da oxidação lipídica. Além disso, os
radicais antioxidantes podem interagir novamente com radicais livres e outros
37
radicais antioxidantes formando adutos de menor reatividade (LOOA e LOA)
(NANDITHA; PRABHASANKAR, 2008; MCCLEMENTS; DECKER, 2000).
38
baixa reatividade e assim adiar o desenvolvimento da oxidação lipídica (NANDITHA;
PRABHASANKAR, 2008).
Embora os antioxidantes sintéticos sejam amplamente utilizados na indústria
de alimentos, alguns estudos sugerem que o consumo de antioxidantes sintéticos,
principalmente em relação ao BHT, possa trazer riscos à saúde. Estudos realizados
com ratos indicaram que o consumo de BHT pode induzir danos nos pulmões,
indução de desenvolvimento de tumores e prejuízo à adipogênese em ratos
(SHEARN et al., 2011; CHEVILLARD et al., 2010).
Especificamente para produtos cárneos, a legislação brasileira define que
ácido ascórbico, ascorbato de sódio/cálcio/potássio, ácido isoascórbico ou eritórbico
e isoascorbato ou eritobrato de sódio podem ser utilizados em quantidade
necessária para prevenir a oxidação lipídica sem que a identidade e a genuinidade
sejam modificadas. No entanto, os antioxidantes BHA, BHT e galato de propila
devem ser utilizados até o limite máximo de 0,1 g/100 g de gordura no produto
(BRASIL,1998).
Em virtude dos riscos potenciais à saúde, a European Food Safety Authority
(EFSA) estabeleceu o limite de ingestão diária aceitável para alguns antioxidantes
sintéticos: 3-terc-butil-4-hidroxianisol (BHA) em 1,0 mg/kg corporal/dia, BHT em 0,25
mg/kg corporal/dia, propil galato em 0,5 mg/kg corporal/dia e terc-butil-hidroquinona
(TBHQ) em 0-0,7 mg/kg corporal/dia. A indicação de tais valores é valida tanto para
adultos como crianças e é baseada em estudos toxicológicos (EFSA 2011; EFSA
2012; EFSA, 2014; EFSA, 2004).
Por outro lado, os antioxidantes de ocorrência natural estão amplamente
distribuídos na natureza e também estão presentes em diversos alimentos de
origem vegetal como os carotenoides, compostos fenólicos, peptídeos e vitaminas e
seus derivados. Além da atividade antioxidante, estes antioxidantes naturais
também são associados a efeitos benefícios à saúde como atividade vitamínica,
potencial anticarcinogênico, antimutagênico, anti-inflamatório, redução dos níveis de
LDL-colesterol, proteção contra doenças cardiovasculares e postergam o
envelhecimento da pele. Embora os limites de consumo para os antioxidantes
naturais não sejam conhecidos, estes compostos podem ser considerados mais
seguros do que os antioxidantes sintéticos (CAROCHO; FERREIRA, 2013;
SARMADI; ISMAIL 2010; POKORNÝ, 2007).
39
4.1. Compostos fenólicos
A atividade antioxidante e os benefícios à saúde dos compostos fenólicos tem
sido um tópico de interesse nas últimas décadas. Esta classe de antioxidantes
naturais possui papel secundário no metabolismo de tecidos vegetais e compreende
diversas estruturas que possuem o anel fenólico como grupo funcional envolvido na
atividade antioxidante. A classificação dos compostos fenólicos permite distinguir
estruturas comuns como os flavonoides, ácidos fenólicos (hidroxibenzóico e
hidroxicinâmico), galotaninas, proantocianidina, estilbenos, ligninas, coumarinas,
naftoquinonas, xantonas e floroglucinol (CROZIER; JAGANATH; CLIFFORD, 2009;
IGNAT; VOLF; POPA, 2011; GUPTA; ABU-GHANNAM, 2011).
Os flavonoides são o principal grupo dentre os fenólicos devido à variedade
de compostos e ampla distribuição nos vegetais, com mais de 5.000 compostos
identificados. As subclasses dos flavonoides são antocianidinas (cianidina),
flavanonas (esperetina-7-rutinosideo), flavanols (catequina), flavonas (luteolina),
flavonols (quercetina) e isoflavonas (genisteina). Este compostos possuem uma
estrutura comum que consiste em 15 carbonos distribuídos em dois anéis
aromáticos conectados por uma ponte de 3 carbonos (Fig. 5). Os flavonoides são
encontrados principalmente em folhas e cascas de frutas. A atividade antioxidante
dos flavonoides é exercida por meio de múltiplos mecanismos: reação de redução,
doação de átomos de H, sequestro do radical superóxido, estabilização do oxigênio
singlet e quelação de metais (CROZIER; JAGANATH; CLIFFORD, 2009;
CORCORAN; MCKAY; BLUMBERG, 2012; CAROCHO; FERREIRA, 2013).
Fonte: Adaptado de CROZIER, A.; JAGANATH, I. B.; CLIFFORD, M. N. Dietary phenolics: chemistry,
bioavailability and effects on health. Natural Product Reports, Londres, v. 26, n. 8, p.1001-1043,
2009.
40
A presença de flavonoides foi relatada em folhas de chá (verde e preto),
vinho, nozes, amêndoas, noz-pecã, avelã, casca de maçã, mirtilo, uva, laranja,
clementina, melão, ameixa, pera, pêssego, soja e seus derivados, chocolate,
espinafre, cenoura, cebola e feijão. O conteúdo e tipo de flavonoide variam em
função do tipo de alimento, cultivar, tempo de estocagem e modo de preparo do
alimento (CORCORAN; MCKAY; BLUMBERG, 2012; LI et al., 2013; ZAMORA-ROS
et al., 2010).
Fonte: Adaptado de CROZIER, A.; JAGANATH, I. B.; CLIFFORD, M. N. Dietary phenolics: chemistry,
bioavailability and effects on health. Natural Product Reports, Londres, v. 26, n. 8, p.1001-1043,
2009.
44
Goktepe (2005) avaliaram o efeito de três métodos de remoção de pele de
amendoim (peeling, branqueamento e torra) e relataram que o método que preserva
os compostos fenólicos e sua atividade antioxidante é o de torra (175 °C por 5 min)
embora o processo de peeling também tenha apresentado elevado conteúdo
fenólico (125 vs 90 mg EAG/g pele seca). O uso dos compostos fenólicos da pele de
amendoim possui potencial de aplicação na indústria de alimentos. Na literatura são
encontrados estudos sobre a obtenção de extratos antioxidantes desidratados, ricos
em procianidinas, obtidos por spray-dryer e também aplicados em pasta e manteiga
de amendoim, em que o principal efeito foi aumento do potencial antioxidante do
ingrediente/alimento (CONSTANZA et al., 2012; CALOMENI, 2015; HATHORN;
SANDERS, 2012; MA et al., 2014).
Em relação a produtos cárneos, no estudo realizado por O‘Keefe e Wang
(2006), o extrato de pele de amendoim (concentrações acima de 200 ppm) permitiu
estender a vida útil e aumentar a estabilidade oxidativa de carne moída bovina
refrigerada. A adição do extrato de pele de amendoim também aumentou o valor de
cor vermelha, embora não tenham sido relatados efeitos sobre o aroma, perdas
durante a cocção e desenvolvimento microbiano. Este autores indicaram que
concentrações de extrato de pele de amendoim superiores a 200 ppm permitiram
reduzir o oxidação lipídica.
De forma similar, Yu, Ahmedna e Goktepe (2010) avaliaram o efeito do
extrato concentrado de pele de amendoim em hambúrguer bovino cru e cozido. Os
ensaios de índice de peróxidos e compostos reativos ao ácido tiobarbitúrico
(TBARS) indicaram que concentrações de EPA superiores a 0,06% inibiram a
oxidação lipídica no hambúrguer cru. O mesmo efeito foi observado para o
hambúrguer cozido em que esta concentração de extrato apresentou efeito similar
ao observado no tratamento com BHA + BHT (0,02%). Estes autores também
relataram potencial antimicrobiano do extrato de pele de amendoim em microplacas
com cepas de Bacillus subtilis, Salmonella typhimurium, Staphylococcus aureus,
Streptococcus faecalis e Escherichia coli, porém nos hambúrgueres crus não foi
observado a mesmo efeito antimicrobiano.
Explorar a pele de amendoim pode ser vantajoso para a indústria de
alimentos, uma vez que os potentes antioxidantes naturais podem ser reutilizados
em outros processos, e reduzir o impacto ambiental do processamento de
amendoim (ZHAO; CHEN; DU, 2012).
45
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56
Capítulo 2
57
Extrato de pele de amendoim reduz a oxidação lipídica em
hambúrguer de frango
RESUMO
58
pode ser aplicado como antioxidante natural em hambúrguer de frango cozido
devido à eficiente inibição da oxidação lipídica durante a estocagem refrigerada.
59
1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento da oxidação lipídica é uma das principais vias para a
redução da qualidade de produtos cárneos. Alterações nas características no sabor,
cor e vida útil do produto estão entre os efeitos associados a esta série de reações
durante a produção e estocagem. O controle das reações oxidativas pode ser
realizado pela inclusão de compostos com atividade antioxidante, sendo que as
indústrias processadoras de carne normalmente utilizam aditivos sintéticos.
Entretanto o consumo destes compostos tem causado preocupação dentre os
consumidores quanto à segurança e toxicidade. Os compostos fenólicos são
naturalmente encontrados em plantas e tem se apresentado como uma alternativa
para substituir parcial ou completamente os antioxidantes sintéticos em alimentos
(NAVEENA et al., 2008; LIU et al., 2010).
A pele de amendoim (Arachis hypogaea L.), resíduo do processamento do
amendoim, é descartada ou utilizada na alimentação animal devido ao seu baixo
valor comercial. No entanto, estudos apontam o potencial para promover a saúde
como a atividade anti-inflamatória e anti-melanogenica. Na composição da pele de
amendoim podem estar presentes diversos compostos fenólicos com potencial
antioxidante como ácidos fenólicos, flavan-3-ols (principalmente oligômeros e
polímeros) e estilbenos (HILL, 2002; TATSUNO et al., 2012; MA et al., 2014).
O potencial antioxidante de extratos obtidos da pele de amendoim foi
avaliado em carne bovina moída e foram observados resultados promissores na
inibição das reações oxidativas em pigmentos e lipídeos. Tal efeito é comparável ao
obtido para antioxidante sintéticos como hidroxianisola butilado (BHA) e hidroxitoluol
butilado (BHT) para concentrações a partir de 200 ppm (YU; AHMEDNA;
GOKTEPE, 2010). Além disso, não foram relatadas interações entre ingredientes
comumente utilizados no processamento de produtos cárneos e este extrato, o que
facilitaria sua aplicação em outras classes de produtos como os curados e
emulsionados (O‘KEEFE; WANG, 2006).
Devido ao crescente interesse em extratos antioxidantes, particularmente os
obtidos de resíduos da agroindústria, e a escassa informação relativa à aplicação do
extrato de pele de amendoim em alimentos à base de carne de frango, este estudo
teve como objetivo avaliar os efeitos antioxidantes do extrato etanólico de pele de
amendoim em hambúrguer de frango cozido em estocagem refrigerada.
60
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Extração de compostos fenólicos da pele de amendoim
A pele de amendoim (variedade Runner IAC886) utilizada foi doada pela
Cooperativa Agroindustrial (COPLANA), safra 2013. A remoção da pele foi realizada
na COPLANA pelo processo denominado blancheamento em que os amendoins
com pele são aquecimentos em forno e em seguida são resfriados com ar à baixa
temperatura. Tal processo permite a expansão da pele que é removida em etapa
posterior por abrasão (COPLANA, 2006).
Primeiramente foi realizada uma seleção da pele e remoção de pedaços de
amendoim e outros materiais indesejáveis, seguida de armazenamento a -18 °C. A
extração dos compostos fenólicos foi realizada segundo o protocolo descrito por
Infante et al. (2013) com algumas modificações. A pele de amendoim foi
acondicionada em frasco com tampa e adicionada de solução etanólica 80% na
proporção 1:10 (g/mL). Após a adição do solvente, o frasco foi cuidadosamente
fechado e imerso em banho aquecido a 60 °C por 50 min (MA184, Marconi,
Piracicaba, SP). Em seguida o frasco, ainda fechado, foi colocado em banho de
ultrassom (UltraCleaner 1400, Unique, Indaiatuba, SP) por 15 min a temperatura
ambiente. Posteriormente o conteúdo do frasco foi centrifugado a 6000 rpm por 15
min (5430R, Eppendorf, Hamburgo, Alemanha) e filtrado em papel Whatman n° 3. O
filtrado foi então concentrado em rotaevaporador (TE211, Tecnal, Piracicaba, SP)
até 20% do volume inicial do solvente a 55 °C e -600 kPa (TE058, Tecnal,
Piracicaba, SP). O extrato de pele de amendoim (EPA) foi mantido congelado (-18
°C) até posterior análise ou utilização nos experimentos.
62
diluído apropriadamente. A reação foi deixada em banho-maria a 37 ºC por 30
minutos, resfriada em água corrente e a absorbância lida em 593 nm. Solução de
Trolox 1000 μM (Sigma-Aldrich) foi utilizada para calcular a capacidade redutora em
Equivalente Trolox (ETrolox)/g pele seca.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Conteúdo fenólico e atividade antioxidante
A pele de amendoim e o extrato de pele de amendoim utilizados no presente
estudo são apresentados na Fig. 7. A pele de amendoim possui coloração entre o
castanho claro e vermelho claro que também caracteriza a cor do extrato obtido.
66
Figura 7 – Pele de amendoim e extrato concentrado
67
Figura 8 – Desaparecimento da banda de absorção do radical DPPH em função do
tempo e % de inibição do radical em função do volume de EPA
68
O resultado obtido pela análise do poder redutor por meio do reagente FRAP
foi de 26,56 ± 0,8 μmol ETrolox/g pele de amendoim. Embora a análise da atividade
antioxidante pelo reagente FRAP seja pouco relatada na literatura, sua utilização
fornece informação adicional sobre o potencial antioxidante do EPA e permite
avaliar esta propriedade em meio com pH baixo, uma vez que a caracterização do
potencial antioxidante de extratos naturais requer mais de uma metodologia. Além
disso, esta análise requer equipamentos e materiais simples, possui baixo custo,
reduzido tempo de execução, elevada acurácia e repetibilidade. No entanto esta
técnica não permite a avalição de compostos lipofílicos (PÉREZ-JIMÉNEZ et al.,
2008).
Apesar do conteúdo fenólico relativamente baixo encontrado no presente
estudo em comparação com aqueles relatados por outros autores (FRANCISCO e
RESSURRECCION, 2009), o conteúdo fenólico observado foi indicativo da
presença de compostos antioxidantes na pele descartada do processamento de
amendoim. De acordo com Ma et al. (2014), diversos compostos fenólicos podem
ser encontrados em pele de amendoim, incluindo ácidos fenólicos (hidroxibenzóico,
ácidos hidroxicinâmicos, ácidos e os seus ésteres), flavonóides (epicatequina,
catequina, e seus polímeros), outros flavonóides (isoflavonas, flavonóides e
flavonas) e estilbeno (resveratrol e trans-piceatannol). Diversos compostos fenólicos
com capacidade para sequestrar radicais e capacidade de quelar metais estão
presentes a pele de amendoim o que sugere a aplicação em produtos cárneos
(MILANI et al., 2010; WANG et al., 2007; YU; AHMEDNA; GOKTEPE, 2010).
70
produtos cárneos também foi observada por Yu, Ahmedna e Goktepe (2010)
durante a estocagem de carne moída para concentrações de EPA superiores a
0,04%. Ainda de acordo com estes autores, a preservação ou a desaceleração na
redução da intensidade da cor vermelha está relacionada com a percepção visual
da qualidade em produtos cárneos. Os valores de b* não apresentaram variação ao
longo do tempo nos dois tratamentos. Entretanto, diferenças significativas (P<0,05)
foram observadas entre bateladas em que os hambúrgueres produzidos com EPA
apresentaram valores de b* inferiores aos obtidos no tratamento controle.
71
Os ácidos graxos monoinsaturados foram a principal fração no hambúrguer
de frango, seguida da fração de poli-insaturados e saturados (39,03; 34,59 e 26,39
%, respectivamente). O principal ácido graxo foi o ácido oleico (33,19%), seguido
dos ácidos linoleico (31,59%) e palmítico (20,96%) independente do tratamento. Os
ácidos graxos saturados compuseram 26% dos lipídios do hambúrguer de frango.
Os resultados para o perfil de ácidos graxos, em termos das frações de ácidos
graxos, estão em acordo com os resultados apresentados por Feddren et al. (2010)
e Hautrive, Marques e Kubota (2012).
72
Figura 9 – Evolução da estabilidade lipídica dos hambúrgueres de frango (média ±
desvio padrão, n=2)
4. CONCLUSÃO
Em conclusão, o extrato de pele de amendoim apresenta elevada quantidade
de compostos fenólicos com atividade antioxidante in vitro. Embora tenha ocorrido
escurecimento, a aplicação do extrato de pele de amendoim em hambúrguer de
frango cozido com 70 mg EAG/kg, inibiu a oxidação lipídica (sem diferenças entre
tratamentos na composição dos ácidos graxos) e reduziu a perda de cor vermelha
nas amostras durante a estocagem. Tal condição sugere o uso do EPA como
73
antioxidante natural pela indústria processadora de carne para inibir a oxidação
lipídica e perda de cor vermelha.
5. REFERÊNCIAS
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of analysis of AOAC International. Gaithersburg: AOAC, 2007.
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WANG, J. et al. Free radical and reactive oxygen species scavenging activities of
peanut skins extract. Food Chemistry, Washington, v. 104, n. 1, p. 242-250, 2007.
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YU, J.; AHMEDNA, M.; GOKTEPE, I.; DAI, J. Peanut skin procyanidins: Composition
and antioxidant activities as affected by processing. Journal of Food Composition
and Analysis, San Diego, v. 19, n. 4, p. 364-371, 2006.
77
Capítulo 3
78
Influencia do extrato de pele de amendoim na vida útil de
hambúrguer de ovelha
RESUMO
Neste estudo, foi avaliado o efeito do extrato de pele de amendoim (EPA) sobre o
crescimento microbiano, propriedades físico-químicas, estabilidade de lipídeos e
proteínas e características sensoriais de hambúrgueres de ovinos embalados em
atmosfera modificada e armazenados a 2 °C durante 20 dias. O perfil fenólico do
EPA foi avaliado por HPLC-DAD-ESI-MS. O principal grupo de compostos fenólicos
presentes no EPA foram as proantocianidinas, seguidas por outros flavonoides e
ácidos fenólicos. A adição de EPA reduziu as contagens microbianas durante o
tempo de armazenamento. Em relação aos parâmetros de cor, o EPA causou uma
redução significativa (P<0,05) na diminuição da intensidade da cor vermelha. O uso
de EPA reduziu a oxidação de lipídeos e proteínas e ainda melhorou as
propriedades sensoriais dos hambúrgueres de ovelhas ao longo do tempo. Os
presentes resultados mostram o potencial de aplicação de EPA como uma
alternativa para substituir antioxidantes sintéticos para aumentar a qualidade e
aumentar o prazo de validade de hambúrgueres ovinos.
79
1. INTRODUÇÃO
Mudanças nos hábitos alimentares decorrentes do desenvolvimento da
sociedade nas últimas décadas têm levado as pessoas a procurar alimentos
acessíveis e saudáveis, com sabor satisfatório e aparência agradável. Assim, a
indústria de alimentos procura continuamente se adaptar e desenvolver novas
formulações destinadas a aumentar a vida útil e melhorar a qualidade e segurança
dos alimentos. Neste sentido, a utilização de extratos obtidos de subprodutos da
agroindústria, como alternativa aos antimicrobianos e antioxidantes químicos ou
sintéticos, para combater os agentes patogênicos de origem alimentar e inibir a
oxidação lipídica, é uma tendência crescente na indústria de alimentos (LORENZO
et al., 2014a; PATEIRO et al.; 2014).
A oxidação lipídica é uma das principais alterações químicas deteriorantes
que diminuem a vida útil dos alimentos e assim diminui sua aceitabilidade geral
(CORTINAS et al.; 2005). A oxidação de ligações duplas instáveis em ácidos graxos
poliinsaturados (AGPI) produz compostos voláteis como hexanal, pentanal, heptanal
e octanal que são relacionados com a redução da qualidade, sabor de requentado
(warmed over flavor – WOF) e que podem trazer riscos para a saúde (GRUN et al.,
2006).
A inibição ou amenização deste processo nas indústrias de alimentos é feita
pelo uso de aditivos sintéticos com propriedades antioxidantes. No entanto, devido
aos possíveis efeitos tóxicos de antioxidantes sintéticos e da demanda cada vez
maior por alimentos sem aditivos e com benefícios a saúde por parte dos
consumidores, o interesse por formulações alternativas para retardar a oxidação
lipídica em alimentos, tais como a utilização de antioxidantes naturais, tem
aumentado, principalmente em relação aos compostos fenólicos (JENNINGS;
AKOH, 2009). Os antioxidantes previnem ou minimizam a oxidação lipídica pela
eliminação de radicais livres, ao quelar íons metálicos e decompor peróxidos
(RODRÍGUEZ-CARPENA et al., 2011).
O processamento de semente de amendoim gera uma expressiva quantidade
de pele que tem baixo valor comercial (FRANCISCO; RESURRECCION, 2009).
Este resíduo apresenta uma rica diversidade de compostos bioativos, como os
ácidos fenólicos, estilbenos, flavan-3-ols, biflavonóides, isoflavonas, flavanols, e
flavonas (MA et al., 2014). O uso de extrato de pele de amendoim (EPA), em carnes
e produtos derivados tem apresentado um efeito positivo sobre a inibição da
80
oxidação lipídica (LARRAURI et al., 2013; MUNEKATA et al. 2015; YU; AHMEDNA;
GOKTEPE, 2010). Além disso, a atividade antimicrobiana do EPA em diversos
microrganismos patogênicos foi também testada em microplacas e a inibição
completa foi observada, porém o efeito em produtos cárneos tem se apresentado
relativamente menor (O‘KEEFE; WANG, 2006; YU; AHMEDNA; GOKTEPE, 2010).
Assim, o objetivo deste estudo foi investigar o efeito do EPA em hambúrguer
ovino embalado em atmosfera modificada. Para este proposito, avaliou-se a
capacidade do EPA para inibir o desenvolvimento microbiano, a oxidação de
lipídeos e proteínas e alterações na cor e nas características sensoriais do produto.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Extrato de pele de amendoim
O extrato de pele de amendoim foi obtido segundo o item 2.1 do Cap. 2.
83
Os tubos foram agitados em vórtex a cada 20 min por 1 h, mantidos no
escuro entre as agitações. Em seguida foram adicionados mais 0,8 mL de solução
TCA 10% (Synth) aos tubos que foram agitados em vórtex e deixados em repouso
por 15 min em refrigeração. Posteriormente os tubos foram agitados e centrifugados
por 5 min a 5000 g (5418 R, Eppendorf, Alemanha). O sobrenadante foi
cuidadosamente removido e o material centrifugado foi lavado com solução
etanol:acetato de etila (1:1, Synth), centrifugado a 10.000 g por 5 min e o
sobrenadante removido. Esta etapa de lavagem com solução etanol:acetato de etila
foi repetida 3 vezes e em seguida os tubos foram secos sobre fluxo de gás N 2.
Finalmente, a amostra foi dissolvida em solução de hidrocloreto de guanidina
6 M (Merck) em tampão fostato de sódio 20 mM (Synth), agitada em vórtex e
centrifugada a 5000 g por 5 min. As absorbâncias dos tubos C e P foram lidas em
espectrofotômetro (Agilent 8453, Agilent technologies, EUA) a 280 e 370 nm,
respectivamente, usando a solução hidrocloreto de guanidina 6 M em tampão
fostato de sódio 20 mM como branco. A concentração de proteínas nas amostras
foi determinada por curva de calibração com solução de albumina de soro bovino
10 mg/mL. O teor de carbonilas foi expresso em nmol de carbonilas por mg de
proteínas por meio do coeficiente de adsorção de 21 mM -1 cm-1 a 370 nm
hidrazinas de proteína.
84
A separação dos ácidos graxos livres foi realizada seguindo o protocolo
descrito por Kaluzny, Duncan, Merritt, & Epps (1985): 0,0200 g de lipídeos foram
homogeneizados com 30 μL de padrão interno ácido nonadecanoico (C19:0) 0,3
mg/mL, 100 μL de clorofórmio e 400 μL de hexano. A separação das frações dos
ácidos graxos foi realizada em mini colunas de NH 2-aminopropil (Sep-Pak Vac 3cc,
Waters, Milford, MA, EUA). As colunas foram posicionadas na tampa da câmara de
vidro e condicionadas com 4 mL de hexano, antes de carregar as colunas com as
amostras. As colunas com as amostras foram deixadas filtrando e posteriormente
foram lavadas com 3 mL de Clorofórmio-Isopropanol (2:1) sob vácuo para remover
lipídeos neutros. Os ácidos graxos polares foram extraídos das colunas com 3 mL
de solução ácido acético 2% em éter dietílico sob vácuo moderado. Esta fração foi
devidamente recolhida em tubos Falcon de 15 mL e transesterificada para obtenção
dos ésteres metílicos de ácidos graxos.
A transesterificação dos ácidos graxos livres foi realizada de acordo com o
protocolo descrito a seguir: aos ácidos graxos livres em solução de ácido acético 2%
em éter dietílico foram adicionados 4 mL de solução metóxido sódico 2%. A mistura
foi agitada em vórtex e deixada em repouso por 5 min. Esta etapa de agitação e
descanso foi realizada mais duas vezes (tempo total de 15 min). Posteriormente, 4
mL de solução ácido sulfúrico-metanol (1:2) foram adicionados ao tubo que foi
novamente agitado em vórtex e deixado repousar por 5 minutos, para então se
adicionar 2 mL de água destilada. Em seguida, o tubo foi novamente agitado em
vórtex, adicionou-se 1 mL de hexano para extrair os ácidos graxos
transesterificados, que foram transferidos para tubos eppendorf de 2 mL e secos em
fluxo de N2 gasoso. Uma nova extração com mais 1 mL de hexano foi realizada no
tubo da reação de transesterificação em que o volume de hexano foi transferido
para o mesmo eppendorf da primeira extração e procedeu-se nova secagem em
fluxo de N2 gasoso. Uma vez terminada a etapa de remoção de solvente e secagem
do eppendorf, os ésteres de ácidos graxos livres foram resuspensos com 500 μL de
hexano seguido de agitação em vórtex e transferência para vial de 500 μL. Os
ésteres de ácidos graxos livres foram injetados em cromatógrafo gasoso para
separação e quantificação dos ácidos graxos.
A análise cromatográfica foi realizada em cromatógrafo gasoso (GC-Agilent
6890N, Agilent Technologies, Espanha) equipado com detector de ionização em
chama e injetor automático de amostra (HP 7683, Agilent Technologies, Espanha) e
85
coluna capilar de sílica fundida (100 m, 0.25 mm d.i., 0.2 μm espessura de filme,
Supelco SPTM-2560, Supelco Inc, EUA). As condições cromatográficas foram:
temperatura inicial de 120 °C (mantida por 5 min), primeira rampa a 2 °C/min até
170 °C (mantida por 15 minutos), segunda rampa a 5 °C/min até 200 °C (mantida
por 5 min) e terceira rampa a 2 °C/min até a temperatura final de 235 °C (mantida
por 10 min). O injetor e o detector foram mantidos a 260 e 280 °C, respectivamente.
O gás hélio foi utilizado como gás carreador com taxa constante de 1,1 mL/min,
com pressão no início da coluna a 35.56 psi. Utilizou-se 1 μL de solução contendo
os ácidos graxos das amostras em hexano foi injetado em modo split (1:50). A
solução de ácido nonadecanóico (C19:0) 0,3 mg/mL foi utilizada como padrão
interno e adicionada as amostras previamente a etapa de transesterificação. Os
ácidos graxos foram identificados por comparação com o tempo de retenção de
padrão com 37 ácidos graxos (Supelco 37 component FAME Mix, Supelco Inc,
EUA). Os resultados foram expressos em g de ácidos graxos/100 g de lipídeos.
87
2.11. Análise estatística
O experimento repetido em dias distinto e os resultados foram avaliados pela
Análise de variância (ANOVA) utilizando o procedimento de Modelo Linear Geral do
pacote SPSS versão 19.0 (IBM Corp., EUA). Quando o efeito do EPA e tempo de
armazenamento na análise microbiana, características físico-químicas, oxidação de
lipídeos e proteínas e propriedades sensoriais foram estudados, os seus efeitos
fixos foram incluídos no modelo. O modelo utilizado é representado na Eq (1):
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Perfil fenólico do extrato de pele de amendoim
Os ácidos fenólicos e flavonoides possuem padrões característicos de
absorção no UV de 190 a 380 nm (MA et al., 2014). Quatro grupos de compostos
fenólicos podem ser identificados por meio do detector de diodos no UV/visível
(DAD): ácidos hidroxibenzóico (255 nm), flavan-3-ols e seus polímeros (280 nm), os
ácidos trans-cinâmico (320 nm) e outros flavonóides (360 nm). Estes compostos
foram subsequentemente introduzidos no espectrómetro de massa de ESI e
analisados com base na relação massa/carga (m/z). A identificação foi sugerida por
dados espectrais dos correspondentes compostos publicados na literatura ou por
tentativa de identificação com base em espectros de massa e/ou dados de UV.
O principal grupo de compostos fenólicos na pele de amendoim foi composto
por proantocianidinas (PACs), seguido por outros flavonoides e ácidos fenólicos
(Tabela 3). Os picos 1-26 do Cromatograma de Íons Totais (Fig. 10) correspondem
em sua maioria a pentâmeros (m/z 1439 e 1437), tetrâmeros (m/z 1151 e 1149) ou
trimeros (m/z 865, 863 e 861) de proantocianidinas. A diferença de m/z 2 no mesmo
oligômero está relacionada com a ligação interflavanica tipo-A, que diminui a massa
88
molecular da PAC (MA et al., 2014; SARNOSKI et al., 2012). Os picos de 15 e 16
apresentaram íon pseudomolecular de m/z 1151 e 1149, respectivamente que
correspondem a um tetrâmero de PAC. A diferença na massa do íon
pseudomolecular é devida a presença da ligação tipo-A diminui a massa do íon (MA
et al., 2014).
89
Tabela 3 – Identificação por tentativa dos compostos fenólicos presentes
no extrato de pele de amendoim (continuação)
TR [M-H]- UV Íons produto
ID # Identificação % Ref
(min) (m/z) (λ, nm) (m/z)
8 PAC tetrâmero 25,24 1151 280 863, 575 8,6 a
9 PAC trímero 25,70 865 280 577 41,9 b
10 PAC tetrâmero 26,43 1151 280 573 17,3 a
11 PAC tetrâmero 26,96 1151 280 575, 423 74,6 a
12 PAC tetrâmero 27,64 1151 280 575 30,8 a
13 PAC tetrâmero 28,66 1149 280 861 6,1 a, c
14 PAC tetrâmero 30,19 1151 863, 861 2,8 a
15 PAC tetrâmero 32,06 1151 861, 573 1,9 a, b
16 PAC tetrâmero 32,79 1149 861, 575, 573 2,9 b, c
17 PAC pentâmero 33,47 1437 861, 575, 573 2,1 a, b, c
18 PAC tetrâmero 34,37 1151 280 575 17,7 a, b
19 PAC tetrâmero 34,98 1151 280 575, 423 41,4 a
20 PAC tetrâmero 35,78 1151 863, 861, 573 4,4 a
21 PAC tetrâmero 37,14 1151 575, 285 2,4 a
22 PAC tetrâmero 37,62 1151 575 6,4 a
23 PAC pentâmero 38,45 1439 1151, 1149, 861 3,6 a
24 PAC pentâmero 39,25 1437 1149, 861, 575, 573 1,2 a
25 PAC trímero 40,30 863 575 1,3 a
26 PAC trímero 42,10 861 575 2,2 a
27 Flavonol desconhecido 42,70 611 367 610, 609, 589 6,2 a
28 Flavonol desconhecido 46,03 624 352 623, 593, 477 13,8 a
3‘5,7-trihidroxi-isoflavona
29 -4‘-metoxi-3‘- 46,64 461 299 2,8 a
O-β-glucopiranosideo
30 Luteolina metil éter 50,52 299 284 2,6 a
31 Desconhecido 54,26 681 351, 329 7,1 a
32 Desconhecido 54,97 1121 609, 391, 193 4,0
33 Desconhecido 56,18 1024 316 941, 431, 217 6,7
34 Desconhecido 56,98 623 541, 250, 140 18,3
Eriodictiol →
35 57,57 587 551, 419 4,2 a
C-metil Robinetinidol
36 Desconhecido 58,29 883 663, 280, 279 42,8
37 Desconhecido 58,88 889 363, 281, 255 100
38 Desconhecido 59,82 835 447, 365, 283 17,9
Homoeriodictiol →
39 61,31 587 551, 419, 311 8,1 a
Eriodictiol
90
Tabela 3 – Identificação por tentativa dos compostos fenólicos presentes
no extrato de pele de amendoim (conclusão)
TR [M-H]- UV Íons produto
ID # Identificação % Ref
(min) (m/z) (λ, nm) (m/z)
40 Desconhecido 63,49 831 701, 421, 340 21,1
41 Desconhecido 64,73 633 474, 201, 141 3,5
42 Desconhecido 66,75 859 613, 532, 367 3,2
-
Abreviações: tempo de retenção (TR), íon pseudomolecular ([M–H] ), proantocianidina (PAC).
O íon mais abundante no espectro de massa está apresentado em negrito.
a
Identificação por tentativa com base no espetro de massas apresentado por Ma et al. (2014).
b
Identificação por tentativa com base no espetro de massas apresentado por Sarnoski et al. (2012)
c
Identificação por tentativa com base no espetro de massas apresentado por Appledoorn e al. (2009)
Fonte: Adaptado de MUNEKATA, P. E. S.; FERNANDES, R. D. P. P.; DE MELO, M. P.; TRINDADE,
M. A.; LORENZO, J. M. Influence of peanut skin extract on shelf-life of sheep patties. Asian Pacific
Journal of Tropical Biomedicine, Haikou, v.6, n.7, p. 586-596, 2016..
91
Alguns compostos não foram identificados a partir dos dados de
fragmentação e de absorção (picos 27, 28, 32, 33, 34, 36, 37, 38, 40, 41 e 42). No
entanto, os picos de 27 e 28 exibiram absorbância máxima a 365 e 352 nm,
respectivamente, o que pode indicar a presença de flavonóides (MA et al., 2014).
Estes resultados estão de acordo com os relatados por Sarnoski et al. (2012) que
perceberam o elevado conteúdo de PACs dentre todos os compostos fenólicos e em
diferentes graus de polimerização, de dímeros a octâmeros, na composição fenólica
na pele de amendoim. Finalmente, outros autores (MA et al., 2014; SARNOSKI et
al., 2012) observaram a presença de estilbenos, flavanols, flavonas e derivados do
ácido hidroxibenzóico que não foram identificados no presente estudo.
A presença de proantocianidinas pode explicar o conteúdo fenólico e a
atividade antioxidante do extrato de pele de amendoim. Tal consideração está em
concordância com o estudo realizado por Lou e colaboradores (2004) que
relacionaram oligômeros de diversos graus de polimerização extraídos da pele de
amendoim com atividade sequestradora do radical DPPH, em que os valores de
EC50 obtidos foram em torno de 1 μM.
Lotes: CON, controle; BHT hidroxitolueno butilado e EPA, extrato de pele de amendoim.
Fonte: Adaptado de MUNEKATA, P. E. S.; FERNANDES, R. D. P. P.; DE MELO, M. P.; TRINDADE,
M. A.; LORENZO, J. M. Influence of peanut skin extract on shelf-life of sheep patties. Asian Pacific
Journal of Tropical Biomedicine, Haikou, v.6, n.7, p. 586-596, 2016.
93
Não foram observadas diferenças significativas na contagem de
enterobactérias entre os tempos de estocagem para os lotes CON e BHT (Fig. 11b),
porém foi observado que a contagem deste grupo de bactérias na batelada EPA em
15 dias de estocagem foi de 4,30 log UFC/g, menor do que os demais dias de
estocagem. No entanto, entre tratamentos foi observado que a contagem no
tratamento EPA foi superior aos demais tratamentos entre os dias 0 e 10 dias,
sugerindo que o EPA tenha sido o veículo para aumentar a contagem de
enterobactérias no hambúrguer de ovelha. Diferentemente, Sagdic et al. (2011)
relataram que o extrato etanólico obtido do bagaço de uva de diferentes variedades
(Emir, Gamay, Kalecik, Karasi, Narince e Okuzgozu) nas concentrações de 1 e 2%
reduziram o crescimento de enterobactérias em hambúrgueres bovinos crus
armazenados a 4 °C em comparação com o lote controle. Estes autores ainda
relataram que para as concentrações de 5 e 10% de extrato de bagaço de uva de
qualquer variedade, o crescimento das enterobactérias foi completamente inibido.
Em relação às contagens de pseudomonas (Fig. 11c), a análise estatística
não indicou diferenças significativas entre as bateladas de hambúrguer de ovelha.
Por outro lado, a contagem de pseudomonas aumentou durante a estocagem na
batelada BHT (a partir do dia 10) e EPA (após 15 dias de armazenamento), porém a
contagem do lote CON não apresentou diferenças durante a estocagem. Diferenças
na evolução das contagens de pseudomonas foram relatadas por Lorenzo et al.
(2014a) que observaram a inibição no crescimento destas bactérias nos lotes de
hambúrgueres suínos elaborado com extratos naturais com elevada concentração
de fenólicos totais (extrato de chá verde e de semente de uva com 391 e 373 mg
EAG/g, respectivamente) enquanto que extratos naturais com menor conteúdo
fenólico não apresentaram atividade antimicrobiana marcante (extrato de castanha e
de alga marinha com 89 e 13 mg EAG/g, respectivamente).
Por fim, as contagens de BAL aumentaram (P<0,001) durante todo o tempo
de armazenamento para os três tratamentos, em que os valores máximos de
contagem foram observados em 15 ou 20 dias de estocagem, dependendo do
tratamento (Fig. 11d). Além disso, nestes dias de estocagem foram observadas
diferenças significativas entre os lotes de hambúrgueres. Os resultados para a
contagem de BAL no presente estudo estão em concordância com os dados
relatados por Lorenzo et al. (2014a) que observaram crescimento de BAL em
94
hambúrgueres suínos produzidos com extratos antioxidantes naturais (chá verde e
semente de uva) embalados em atmosfera modificada.
Embora o potencial antimicrobiano tenha causado um efeito relativamente
pequeno nos microrganismos quantificados no presente estudo, o extrato obtido a
partir da pele de amendoim também pode inibir o crescimento de Bacillus subtilis,
Salmonella typhimurium, Staphylococcus aureus, e Escherichia coli com ensaio de
microplaca em que a concentração mínima inibitória foi de 0,4% de extrato (YU;
AHMEDNA; GOKTEPE, 2010). Segundo estes autores, o potencial antimicrobiano
foi observado com menor efeito em hambúrgueres bovinos crus devido a fatores
relacionados à matriz alimentar.
95
Figura 12 – Evolução do valor de pH dos hambúrgueres de ovelha embalados em
atmosfera modificada (média ± desvio padrão, n=4)
Lotes: CON, controle; BHT hidroxitolueno butilado e EPA, extrato de pele de amendoim.
Fonte: Adapatado de MUNEKATA, P. E. S.; FERNANDES, R. D. P. P.; DE MELO, M. P.; TRINDADE,
M. A.; LORENZO, J. M. Influence of peanut skin extract on shelf-life of sheep patties. Asian Pacific
Journal of Tropical Biomedicine, Haikou, v.6, n.7, p. 586-596, 2016.
96
BHT (10,87), mas ainda com média superior ao apresentado pela batelada CON
(7,50).
A evolução dos valores de b* para os hambúrgueres de ovelha é apresentada
na Figura 13c. A análise estatística não indicou diferenças significativas entre
tratamentos. A redução na intensidade de amarelo nas amostras foi significativa
(P<0,001) para os lotes BHT e EPA em que os valores de b* observados no primeiro
dia (19,23 e 18,04; respectivamente) diminuíram até o final do período de
estocagem (15,44 e 14,40; respectivamente) enquanto que o valor b* para a
batelada CON os valores se mantiveram estáveis durante todo o armazenamento.
O efeito sobre a redução da perda de cor vermelha pode ser atribuído à
atividade antioxidante dos compostos fenólicos em retardar a formação de
metamioglobina durante o armazenamento refrigerado (RODRÍGUEZ-CARPENA et
al., 2011). Estes resultados estão de acordo com os relatados por Munekata et al.
(2015) e Yu et al. (2010) que observaram que a adição de PSE causou diminuição
significativa (P <0,05) na perda de valores a* em habúrguer de frango e bovino,
respectivamente. Segundo esses autores, a preservação do vermelho ou pelo
menos retardar a perda de vermelhidão está positivamente relacionada com a
percepção visual de qualidade.
97
Figura 13 – Cor instrumental dos hambúrgueres de ovelha embalados em
atmosfera modificada (média ± desvio padrão, n=4)
Lotes: CON, controle; BHT hidroxitolueno butilado e EPA, extrato de pele de amendoim.
Fonte: Adapatado de MUNEKATA, P. E. S.; FERNANDES, R. D. P. P.; DE MELO, M. P.; TRINDADE,
M. A.; LORENZO, J. M. Influence of peanut skin extract on shelf-life of sheep patties. Asian Pacific
Journal of Tropical Biomedicine, Haikou, v.6, n.7, p. 586-596, 2016.
98
3.4. Oxidação lipídica
A evolução da oxidação lipídica dos hambúrgueres de ovelha é apresentada
na Figura 14. A oxidação lipídica nos hambúrgueres de ovelha foi observada nos
lotes BHT e EPA (P<0,01) a partir do dia 5 da estocagem em comparação com a
batelada CON. Além disto, os valores de TBARS obtidos para a batelada EPA foram
similares aos observados para o lote BHT, sugerindo que o EPA apresentou
capacidade semelhante ao antioxidante sintético para inibir a oxidação lipídica. No
entanto em todos os lotes foi observado aumento (P<0,001) da oxidação lipídica
durante o armazenamento em que os valores de TBARS iniciais na faixa de 1,9 a
2,6 mg MDA/kg (estatisticamente iguais) aumentaram para 6,4; 4,0 e 3,8 mg
MDA/kg após 20 dias nos lotes CON, BHT e EPA, respectivamente.
O elevado índice de oxidação no primeiro dia de estocagem pode ser
explicado pelas características da carne utilizada neste experimento. Na literatura
são reportados estudos que relacionam a idade do animal no momento do abate
com a estabilidade oxidativa dos cortes obtidos (CHO et al., 2015), indicando que a
carne de animais mais velhos é mais propensa à oxidação do que a carne de
animais mais jovens. Alguns fatores como a elevada concentração de mioglobina
(CHAN et al., 1997) podem explicar os maiores valores de TBARS no dia 0 para
todos os tratamentos.
99
Figura 14 – Evolução da oxidação lipídica dos hambúrgueres de ovelha embalados
em atmosfera modificada (média ± desvio padrão, n=4)
TBARS
7,00
6,00
5,00
mg MDA/kg
4,00
CON
3,00 BHT
2,00 EPA
1,00
0,00
0 5 10 15 20
Dias de estocagem
Lotes: CON, controle; BHT hidroxitolueno butilado e EPA, extrato de pele de amendoim.
Fonte: Adapatado de MUNEKATA, P. E. S.; FERNANDES, R. D. P. P.; DE MELO, M. P.;
TRINDADE, M. A.; LORENZO, J. M. Influence of peanut skin extract on shelf-life of sheep patties.
Asian Pacific Journal of Tropical Biomedicine, Haikou, v.6, n.7, p. 586-596, 2016.
100
superóxido e peróxido de hidrogênio, que também são agentes envolvidos na
oxidação lipídica (WANG et al., 2007).
Além da diminuição da oxidação lipídica, a degradação da cor vermelha
mencionada acima pode ter sido indiretamente reduzida pelos compostos
antioxidantes do EPA. Muitos autores têm indicado que a redução na perda de
intensidade da cor vermelha está associada com a atividade antioxidante de
extratos naturais. Tal efeito está na relação entre a redução da formação de
produtos primários e secundários da oxidação lipídica que podem induzir a
oxidação do ferro presente na mioglobina e assim permitir que produtos cárneos
possam apresentar menores perdas de cor vermelha durante a estocagem
(GARRIDO et al., 2011; LORENZO et al., 2014a; RODRÍGUEZ-CARPENA et al.,
2011).
101
Figura 15 – Teor de carbonilas dos hambúrgueres de ovelha embalados em
atmosfera modificada (média ± desvio padrão, n=4)
Lotes: CON, controle; BHT hidroxitolueno butilado e EPA, extrato de pele de amendoim.
Fonte: Adapatado de MUNEKATA, P. E. S.; FERNANDES, R. D. P. P.; DE MELO, M. P.;
TRINDADE, M. A.; LORENZO, J. M. Influence of peanut skin extract on shelf-life of sheep patties.
Asian Pacific Journal of Tropical Biomedicine, Haikou, v.6, n.7, p. 586-596, 2016.
102
3.6. Ácidos graxos livres
O conteúdo total de AGL dos hambúrgueres não diferiu durante a estocagem
dentro de cada lote e também não foram observadas diferenças entre tratamentos
(Tabela 4). A fração predominante de AGL foi a de monoinsaturados, seguida pela
fração de saturados e de poli-insaurados. Os principais ácidos graxos foram o oleico
(40%), palmítico (25%) e esteárico (17%). A lipólise pode ocorrer como resultados
da ação de enzimas lipolíticas (lipases e fosfolipases) ou devido à combinação de
altas temperaturas e elevado conteúdo de água, o que leva à liberação de ácidos
graxos de triglicerídeos e fosfolipídeos. O desenvolvimento da lipólise, assim como
da oxidação lipídica, está relacionado com a degradação progressiva da gordura da
carne e produtos cárneos (GANDEMER, 2002). De acordo com os dados
observados, o conteúdo de AGL não foi influenciado pela adição ou tipo de
antioxidante adicionado durante a estocagem refrigerada dos hambúrgueres de
ovelha. Além disso, pode-se inferir que o desenvolvimento da oxidação lipídica foi
independente da lipólise, uma vez que não foram observadas diferenças no
conteúdo de ácidos graxos durante a estocagem.
103
Tabela 4 – Ácidos graxos livres dos hambúrgueres de ovelha embalados em
atmosfera modificada (média ± desvio padrão, n=4) (continuação)
(mg/100 g Lotes
Dias Sig.
gordura) CON BHT EPA
C16:0 0 151.00±5.13 137.76±14.88 158.23±27.21 n.s.
20 151.66±18.33 183.11±9.69 164.39±18.99 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
α
C16:1n7 0 18.45±1.88 14.66±0.92 16.63±1.85 n.s.
β
20 18.44±1.38 22.55±2.04 19.33±2.59 n.s.
Sig. n.s. * n.s.
C17:0 0 6.86±0.60 6.17±1.18 5.11±0.79 n.s.
20 6.23±0.35 10.73±0.68 8.32±1.26 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
C17:1n7 0 4.23±0.64 4.79±1.21 3.01±0.91 n.s.
20 6.36±2.41 7.07±0.57 6.20±1.47 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
C18:0 0 108.68±7.45 88.94±11.05 102.18±14.84 n.s.
20 114.15±23.48 107.06±17.20 115.17±13.82 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
C18:1n9t 0 4.45±0.78 3.43±0.71 2.92±0.45 n.s.
20 3.82±0.36 2.57±0.46 3.00±0.40 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
C18:1n11t 0 15.03±2.34 16.94±4.20 10.43±1.94 n.s.
20 14.66±1.49 21.58±7.30 17.04±2.67 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
C18:1n9c 0 253.89±25.41 219.36±31.75 170.67±33.98 n.s.
20 226.96±26.63 318.04±38.69 301.01±44.88 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
C18:1n7c 0 12.55±1.09b 8.47±1.12a 7.68±1.20a *
20 12.04±1.69 12.13±0.94 9.17±0.95 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
C18:2n6t 0 3.19±0.24 3.12±0.61 2.14±0.33α n.s.
20 3.46±0.83 5.31±0.37 4.28±0.71β n.s.
Sig. n.s. n.s. *
104
Tabela 4 – Ácidos graxos livres dos hambúrgueres de ovelha embalados em
atmosfera modificada (média ± desvio padrão, n=4) (continuação)
(mg/100 g Lotes
Dias Sig.
gordura) CON BHT EPA
C18:2n6c 0 38.74±7.16 25.79±4.37 34.90±9.84 n.s.
20 44.34±8.22 31.37±1.60 40.91±1.93 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
C20:0 0 1.70±0.31 0.63±0.07 1.54±0.28 n.s.
20 1.86±0.37 1.42±0.46 1.51±0.35 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
C20:1n9 0 5.54±1.49 5.35±1.93 5.01±0.65 n.s.
20 9.62±2.92 10.89±0.86 10.65±3.61 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
C18:3n3 0 5.58±0.33 5.78±0.57α 4.36±1.07 n.s.
β
20 4.56±0.21 9.67±0.93 8.11±1.26 n.s.
Sig. n.s. * n.s.
C20:2n6 0 1.46±0.08 1.12±0.26 2.21±0.78 n.s.
20 1.46±0.43 1.22±0.22 1.09±0.07 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
C20:3n6 0 1.26±0.08 1.22±0.29 1.30±0.05 n.s.
20 1.45±0.13 0.91±0.37 1.79±0.28 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
b a
C20:3n3 0 4.02±0.00 2.92±0.23 2.17±0.69a *
20 3.76±0.44 5.40±0.69 5.40±1.71 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
C20:4n6 0 2.58±1.60 2.98±2.11 1.93±1.12 n.s.
20 1.59±1.48 2.78±1.97 2.83±1.39 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
C23:0 0 0.65±0.01α 0.60±0.03 0.66±0.02α n.s.
20 11.40±0.82bβ 0.46±0.06a 0.90±0.04aβ ***
Sig. ** n.s. ***
C20:5n3 0 1.55±0.16 1.55±0.28 1.36±0.24 n.s.
20 1.63±0.08 1.95±0.50 2.46±0.61 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
105
Tabela 4 – Ácidos graxos livres dos hambúrgueres de ovelha embalados em
atmosfera modificada (média ± desvio padrão, n=4) (conclusão)
(mg/100 g Lotes
Dias Sig.
gordura) CON BHT EPA
C22:5n3 0 2.25±0.06 2.32±0.21 2.04±0.10 n.s.
20 1.92±0.62 3.07±0.60 3.67±0.89 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
C22:6n3 0 1.73±0.96 1.88±0.75 1.65±0.59 n.s.
20 2.49±0.75 2.24±0.43 1.77±0.30 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
AGS 0 246.67±30.31 243.18±23.19 282.61±43.95 n.s.
20 251.89±33.84 330.00±33.32 309.16±36.50 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
AGMI 0 309.14±31.99 263.30±36.65 208.03±41.93 n.s.
20 279.13±26.09 396.54±55.75 362.40±46.20 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
AGPI 0 50.53±4.47c 37.76±6.66b 13.49±0.73aα **
20 60.01±6.58 54.15±8.72 66.28±6.14β n.s.
Sig. n.s. n.s. **
Total AGL 0 614.67±29.66 482.45±25.53 501.44±41.31 n.s.
20 613.21±67.70 773.92±104.03 744.09±106.19 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
AGS: ácidos graxos saturados; AGMI: ácidos graxos monoinsaturados; AGPI: ácidos graxos poli-
insaturados.
a-b
Médias na mesma linha (correspondente ao mesmo tempo de estocagem) não acompanhadas de
letra comum são estatisticamente diferentes (P<0,05).
α-β
Médias na mesma coluna (correspondente ao mesmo tratamento) não acompanhadas de letra
comum são estatisticamente diferentes (P<0,05).
Lotes: CON, controle; BHT hidroxitolueno butilado e EPA, extrato de pele de amendoim.
Sig: significância: *** (P<0.001), ** (P<0,01), * (P<0,05), n.s. (não significativo).
Fonte: Adapatado de MUNEKATA, P. E. S.; FERNANDES, R. D. P. P.; DE MELO, M. P.;
TRINDADE, M. A.; LORENZO, J. M. Influence of peanut skin extract on shelf-life of sheep patties.
Asian Pacific Journal of Tropical Biomedicine, Haikou, v.6, n.7, p. 586-596, 2016.
106
observaram que os lotes produzidos com o extrato natural apresentaram menor
teor de ácidos graxos livres.
107
Tabela 5 – Compostos voláteis dos hambúrgueres de ovelha embalados em
atmosfera modificada (média ± desvio padrão, n=4)
(UA × 106/g Lotes
matéria Dias Sig.
seca) CON BHT EPA
Octano 0 48,10±5,77bα 40,77±7,86b 24,07±2,10a *
20 113,86±2,48bβ 26,78±3,91a 41,34±7,83a ***
Sig. ** n.s. n.s.
Decano 0 12,74±2,71 5,35±0,05α 8,95±1,26 n.s.
20 8,33±1,16 11,58±1,05β 11,40±1,93 n.s.
Sig. n.s. * n.s.
Dodecano 0 10,68±0,22b 12,93±1,64bα 6,48±0,15a *
20 9,39±2,53 7,82±0,68β 7,48±1,53 n.s.
Sig. n.s. * n.s.
3-etil-
0 10,70±1,58α 15,06±0,48α 7,16±1,56 n.s.
Heptano
20 4,43±0,62β 4,72±0,31β 6,30±0,96 n.s.
Sig. * ** n.s.
3-metil-
0 9,49±1,71 9,25±0,57α 6,34±1,39 n.s.
Nonano
20 7,47±1,00 6,45±0,79β 6,14±0,36 n.s.
Sig. n.s. * n.s.
3-hidroxi-2-
0 0,00±0,00α 0,00±0,00α 0,00±0,00α n.s.
Butanona
20 1073,45±100,27bβ 763,63±22,45aβ 1281,67±85,58bβ **
Sig. *** *** ***
1-Pentanol 0 55,80±7,97 39,19±8,46 41,69±3,25 n.s.
20 51,61±13,20 43,97±9,74 47,27±8,90 n.s.
Sig. n.s. n.s. n.s.
Heptanal 0 17,84±1,71b 8,10±0,77a 8,07±0,49aα **
20 13,58±1,76a 14,27±2,91a 35,48±4,55bβ **
Sig. n.s. n.s. *
Total 0 167,70±28,01bα 115,60±22,26abα 77,46±12,00aα *
compostos 20 1393,59±119,42bβ 862,30±33,90aβ 1325,14±101,66bβ **
voláteis Sig. ** *** ***
a-b
Médias na mesma linha (correspondente ao mesmo tempo de estocagem) não acompanhadas de
letra comum são estatisticamente diferentes (P<0,05).
α-β
Médias na mesma coluna (correspondente ao mesmo tratamento) não acompanhadas de letra
comum são estatisticamente diferentes (P<0,05).
Lotes: CON, controle; BHT hidroxitolueno butilado e EPA, extrato de pele de amendoim.
Sig: significância: *** (P<0.001), ** (P<0,01), * (P<0,05), n.s. (não significativo).
UA: unidade de área.
Fonte: Adapatado de MUNEKATA, P. E. S.; FERNANDES, R. D. P. P.; DE MELO, M. P.; TRINDADE,
M. A.; LORENZO, J. M. Influence of peanut skin extract on shelf-life of sheep patties. Asian Pacific
Journal of Tropical Biomedicine, Haikou, v.6, n.7, p. 586-596, 2016.
108
O conteúdo de heptanal dos hambúrgueres também foi influenciado pela
presença de antioxidantes e pelo tempo de estocagem. No dia 0, o teor de heptanal
no lote CON foi superior (P<0,01) ao observado nos lotes BHT e EPA (17,84 vs 8,10
e 8,07 UA × 106 /g matéria seca). No entanto a evolução do conteúdo de heptanal
foi diferente entre tratamentos durante a estocagem. A análise estatística não
indicou aumento significativo no nível de heptanal para os lotes CON e BHT,
embora para o lote EPA o aumento tenha sido significativo (Tabela 5). Diversos
autores relataram menor conteúdo de heptanal durante a estocagem de produtos
cárneos adicionados de extratos antioxidantes (JO et al., 2006; PATEIRO et al.,
2015).
109
Figura 16 – Atributos sensoriais dos hambúrgueres de ovelha embalados em
atmosfera modificada (média ± desvio padrão, n=4)
Lotes: CON, controle; BHT hidroxitolueno butilado e EPA, extrato de pele de amendoim.
Fonte: Adapatado de MUNEKATA, P. E. S.; FERNANDES, R. D. P. P.; DE MELO, M. P.;
TRINDADE, M. A.; LORENZO, J. M. Influence of peanut skin extract on shelf-life of sheep patties.
Asian Pacific Journal of Tropical Biomedicine, Haikou, v.6, n.7, p. 586-596, 2016.
110
De forma semelhante, a descoloração superficial (Fig. 16b) também
apresentou diferenças significativas entre tratamentos em 15 dias de estocagem. Os
lotes BHT e EPA receberam notas inferiores a 2, o que denota produtos sem
descoloração, mas para a batelada CON, foram atribuídas notas superiores a 2 o
que indicou descoloração superficial de até 10%. Em 20 dias de estocagem, os
tratamentos com antioxidantes (notas em torno de 3) também receberam notas
inferiores (P<0,001) ao tratamento CON (nota superior a 4). Porém, durante o
período de estocagem, a descoloração superficial aumentou (P<0,001) para todos
os lotes.
Finalmente, as notas para o atributo off-odor nos lotes BHT e EPA foram
inferiores as notas do lote CON após 15 dias de estocagem (Fig. 16c). Neste ponto
de análise, as amostras com antioxidante possuíam off-odor sutil (notas em torno de
2) enquanto que o off-odor da batelada CON foi percebido como ―pouco‖ (nota
próximo a 3). Em 20 dias, o resultado para o off-odor foi semelhante porém com
notas mais altas: nota próxima a 5 para o tratamento CON e notas próxima a 4 para
os lotes BHT e EPA. A percepção do off-odor aumentou durante o período de
estocagem em todos os lotes a partir de notas entre 1 e 2, indicando que os
hambúrgueres possuíam sútil ou nenhum off-odor, no primeiro dia de estocagem,
porém após 20 dias todas as amostras receberam notas em torno de 4, indicando
que a presença de off-odor estava moderado e não adequado para consumo.
A partir dos resultados de análise sensorial, os hambúrgueres de ovelha
estariam em níveis aceitáveis de consumo por até 15 dias. Tais resultados estão em
concordância com os valores de cor instrumental, sugerindo que o BHT e EPA
atuam na inibição da perda de cor vermelha nos hambúrgueres de ovelha. Além
disso, o desenvolvimento da oxidação lipídica e proteica são fatores importantes
envolvidos na perda de qualidade sensorial deste produto cárneo. Particularmente
em relação aos compostos voláteis, a percepção do off-odor parece ter relação
tanto com o conteúdo total de compostos voláteis selecionados como com alguns
compostos em específico. Neste caso, pode se destacar o aumento na quantidade
de heptanal e 3-hidroxi-2-butanona.
111
4. CONCLUSÃO
A pele de amendoim é uma fonte de compostos fenólicos de interesse em
que são presentes PAC, isoflavonas e outros flavonoides. O uso do EPA em
hambúrguer de ovelha inibiu reações oxidativas em proteínas e nos lipídeos e
contribuiu na manutenção da cor vermelha e redução de mudanças nos atributos
sensoriais. A contagem microbiológica, ácidos graxos livres e compostos voláteis
relacionados à oxidação lipídica não foram afetados pelo EPA no hambúrguer de
ovelha. Devido a influencia na preservação dos hambúrgueres de ovelha, o EPA
apresenta potencial para ser utilizado com antioxidante, podendo substituir o BHT e
ainda estender a vida-útil.
5. REFERÊNCIAS
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2010.
117
Capítulo 4
118
Efeito de antioxidantes naturais no salchichón espanhol elaborado
com ácidos graxos n-3 de cadeia longa em matriz de konjac
RESUMO
Este estudo teve como objetivo avaliar o efeito de extratos naturais ricos em
antioxidantes na composição centesimal, valor de pH, cor instrumental, oxidação
lipídica e protéica, compostos voláteis e ácidos graxos livres (AGL) do salchichón
espanhol enriquecido com ácidos graxos n-3 de cadeia longa encapsulados e
estabilizados em matriz de konjac. Os principais compostos fenólicos do extrato de
resíduo de cerveja (ERC), extrato das folhas da castanheira (EFC) e extrato de pele
de amendoim (APE) foram identificados e quantificados. Foram preparados cinco
lotes de Salchichón: controle (CON, sem antioxidantes), hidroxitolueno butilado
(BHT), ERC, EFC e EPA. Os principais compostos fenólicos foram catequina e
ácido benzóico (1,51 e 0,79 mg/L, respectivamente) para ERC, ácido gálico e
catequina (10,26 e 2,70 mg/100 g massa fresca, respectivamente) para EFC, e
catequina e ácido protocatecóico (20,66 e 3,79 mg/100 g de matéria seca,
respectivamente) para APE. A análise estatística não mostrou diferenças
significativas na composição química dos produtos cárneos. Redução significativa
foi observada para o lote EFC nos valores de luminosidade (L*) (P <0,05) e pH (P
<0,001) em comparação com a amostra CON, enquanto os outros parâmetros de
cor não foram afetados pela adição de antioxidantes naturais. Finalmente, a
inclusão de antioxidantes reduziu de forma significativa (P <0,001) o teor de
hexanal, enquanto que o teor de ácidos graxos livres (AGL) aumentou pela inclusão
de extratos naturais. Os extratos naturais testados são sugeridos como aditivos
antioxidantes para elaboração do salchichón enriquecido com ácidos graxos n-3 de
cadeia longa encapsulados e estabilizados em matriz de konjac.
119
1. INTRODUÇÃO
A ingestão de ácidos graxos n-3 de cadeia longa é importante para o
desenvolvimento infantil, amenizar os sintomas de doença mentais e reduzir o risco
de desenvolvimento de doenças cardiovasculares (RIEDIGER et al., 2009). Este
efeito favorável dos ácidos graxos n-3 de cadeia longa, pode também ser
incorporado em alimentos que devem ser consumidos com cautela como produtos à
base de carne com elevado teor de gordura. No entanto, o enriquecimento com
ácidos graxos n-3 de cadeia longa em produtos à base de carne é um desafio
tecnológico, devido à elevada reatividade e menor estabilidade destes compostos
bioativos. A formação de radicais livres e outros produtos de oxidação com potencial
efeito prejudicial à saúde pode ser rápido nos produtos à base de carne fabricados
com ácidos graxos n-3 de cadeia longa. Adicionalmente à oxidação lipídica, muitas
mudanças indesejáveis como a redução no valor de vermelho, oxidação de
proteínas e desenvolvimento de compostos voláteis percebidos como ―off-flavor ‖
e/ou ranço também tem sido relatados para produtos cárneos enriquecidos com
ácidos graxos n-3 de cadeia longa (BERNARDI et al., 2016).
A prevenção da oxidação dos ácidos graxos n-3 de cadeia longa envolve
duas estratégias principais: microencapsulação com material de cobertura e o uso
de antioxidantes (RUBIO-RODRÍGUEZ et al., 2010). A produção de óleos ricos em
ácidos graxos n-3 de cadeia longa microencapsulados é comumente realizada pela
técnica de spray-dryer, embora o uso de elevadas temperaturas seja o principal
fator de atenção neste processo. Além da redução na oxidação lipídica, este
processo pode também melhorar as características sensoriais dos produtos cárneos
elaborados com ácidos graxos n-3 de cadeia longa (MOGHADASIAN, 2008). No
entanto, alguns autores relatam aumentos nos índices de oxidação em produtos
cárneos elaborados com ácidos graxos n-3 de cadeia longa (KEENAN et al., 2015;
PAVILIK et al., 2014).
A textura dos produtos cárneos também pode ser alterada pela adição de
ácidos graxos n-3 de cadeia longa o que demanda um pré-tratamento para obter um
produto com maior estabilidade. Dentre as possibilidades promissoras está a
aplicação de uma matriz a base de konjac, um substituto viável de gordura animal
em embutidos cárneos (TRIKI et al 2013). No estudo realizado por Lorenzo et al.
(2016a) a incorporação do óleo de peixe microencapsulado e adicionado na matriz
de konjac aumentou a concentração dos ácidos eicosapentanóico
120
(eicosapentaenoic acid) e doco-hexaenoico (docosahexaenoic acid) e também
reduziu a relação n-6/n-3 em comparação com o salchichón elaborado com gordura
animal.
O uso de antioxidantes naturais ganhou considerável atenção nos últimos
anos, devido a ambas as vantagens de saúde e segurança em comparação com
antioxidantes sintéticos frequentemente utilizados pela indústria de alimentos. Além
disso, o consumo de antioxidantes naturais é preferido em comparação com
compostos sintéticos entre os consumidores (POKORNÝ, 2007). Antioxidantes
naturais são amplamente distribuídos na natureza e também estão presentes em
resíduos gerados durante o processamento de alimentos que são opções
interessantes a serem exploradas proporcionando redução do impacto ambiental de
processamento de alimentos e produção de resíduos (SCHIEBER; STINTZING;
CARLE, 2001).
As folhas de castanheiro (Castanea sativa) são tradicionalmente consumidas
como remédio popular na forma de chá para tratar a tosse e outras doenças (DÍAZ-
REINOSO et al., 2011). A composição fenólica de folhas de castanheiro inclui
diversos compostos como o ácido gálico e elágico, rutina, quercetina, luteolina, epi-
galhocatequina e kaempferol (MUNEKATA et al., 2016b). Além disso, a avaliação do
potencial antioxidante por vários métodos como a atividade sequestradora do radical
DPPH, poder redutor e a inibição da peroxidação lipídica revelou que o extrato de
castanha tem o elevado potencial para prevenir reações oxidativas (BARREIRA et
al., 2008). No processamento da cerveja, os compostos fenólicos são removidos
para processar uma bebida clara e impedir a formação de névoa, que gera resíduos
com elevado potencial antioxidante. Neste âmbito, muitos compostos fenólicos
foram identificados em resíduos de cerveja como flavonóides (catequina, epi-
catequina e proantocianidinas), alguns ácidos fenólicos (cafeico e ácido siríngico) e
substâncias amargas (cohumulone, humulona e lupulona) (MUNEKATA et al.,
2016b). O potencial antioxidante de resíduos de cerveja ricos em polifenóis foi
associado com a capacidade sequestradora de radicais livres e atividade de
interrupção de reações em cadeia da etapa de propagação da oxidação lipídica
(BARBOSA-PEREIRA et al., 2013).
Outra importante fonte de antioxidantes naturais são as cascas removidas
durante o processamento do amendoim. Este resíduo é geralmente descartado ou
utilizado na alimentação animal devido ao baixo valor econômico. A composição
121
fenólica da pele de amendoim é majoritariamente composta por proantocianidinas,
que são polímeros formados a partir de unidades monoméricas de (epi)catequina,
um importante composto fenólico. O efeito protetor do extrato de pele de amendoim
envolve a eliminação de radicais livres e espécies reativas de oxigênio (MUNEKATA
et al., 2015). Estes extratos naturais já foram utilizados na elaboração de chouriço
curado a seco (LORENZO et al., 2013; PATEIRO et al., 2015), hambúrguer suíno,
de frango e ovino (LORENZO et al., 2014; MUNEKATA et al., 2015, 2016a) e patê
de fígado (PATEIRO et al., 2014). A avaliação de indicadores importantes como a
oxidação lipídica, cor instrumental e atributos sensoriais, especialmente off-flavor,
indicou que estes extratos naturais são alternativas interessantes para antioxidantes
sintéticos na indústria de alimentos.
Devido à escassez de estudos com foco no efeito de antioxidantes naturais
em produtos cárneos enriquecidos com ácidos graxos n-3 de cadeia longa, o
presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito de extratos naturais obtidos de
resíduos da agroindústria (ERC, EFC e EPA) nas características do salchichón
espanhol com substituição parcial de gordura suína por óleo de peixe
microencapsulado em matriz de konjac ao fim do período de maturação.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Extratos naturais
O extrato de resíduo de cerveja (ERC) foi preparado de acordo com Pateiro
et al. (2015). Resumidamente: uma coluna de vidro recheada com XAD-16
Amberlite foi equilibrada com água destilada para a separação dos compostos de
polifenóis. O resíduo de cerveja foi eluído pela coluna para que em seguida fossem
utilizados quatro litros de água destilada para remover impurezas. Os compostos
fenólicos foram eluídos com três litros de etanol. O extrato obtido foi reduzido para
5% do volume inicial (ou até que o etanol fosse completamente removido) e
liofilizado.
O extrato das folhas de castanha (EFC) foi obtido de acordo com Lorenzo et
al. (2013): folhas de castanheiro foram secas ao ar durante 3-4 dias, moídas,
embaladas em sacos plásticos e mantidas no escuro antes do uso. O extrato
aquoso foi preparado a partir das folhas de castanha moídas com água destilada
acidificada (HCl 0,1 M) em uma proporção de 1:25 (m/v). Para este efeito, as
condições de extração foram as seguintes: 25 °C durante 90 min em tanque de
122
agitação constante para proporcionar a máxima atividade sequestradora de radicais.
O extrato foi filtrado sob vácuo e a fase líquida foi ultrafiltrada por membranas de 5 e
10 kDa operando sob pressão de 4 bar e com superfície eficaz de 0,07 m2 (0,12 mm
x 0,10 milímetros) (Minisette, Pall Filtron, EUA).
O extrato de pele de amendoim (EPA) foi obtido de acordo com o item 2.1 do
Cap 2.
123
Posteriormente, esta mistura foi homogeneizada a 80 °C por 2 h (NS3006H,
Niro Soavi S.p.A, Itália) para que fosse a realizada a secagem em spray-dryer
(Galaxy 2520, Galaxy Secado Spray, Argentina). As condições de operação do
secador foram: taxa de alimentação de 75 L/h, temperatura de injeção 180 °C e de
saída 80 °C. O pó seco foi coletado em recipientes a temperatura ambiente. A
concentração de óleo no pó obtido após a secagem foi realizada segundo a
metodologia AOCS Official Procedure Am 5-04 (AOCS, 2005) e continha 35% de
óleo de peixe.
125
2.9. Avaliação da oxidação de proteínas
A oxidação das proteínas foi avaliada de acordo com o procedimento descrito
no item 2.7 do Cap. 3.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Previamente ao presente estudo, foi realizado um estudo para avaliar o efeito
da substituição parcial da gordura animal pelo óleo de peixe microencapsulado em
matriz de konjac no salchichón. Em relação ao estudo prévio, foram produzidos 4
lotes de salchichón com substituição de 25, 50 e 75% da gordura animal nos quais
126
foram avaliadas a composição centesimal, cor instrumental, valor de pH, perfil de
textura, perfil de ácidos graxos e compostos voláteis (LORENZO et al., 2016).
O teor de gordura reduziu proporcionalmente ao aumento da substituição de
gordura animal pelo óleo de peixe microencapsulado em matriz de konjac nos
tratamentos estudados além de diminuir a luminosidade e o valor de vermelho. A
dureza, gomosidade e mastigabilidade aumentaram em função da porcentagem de
substituição de gordura, porém não foram observadas diferenças para a elasticidade
e coesividade. O conteúdo de ácidos graxos n-3 aumentou em função da adição do
óleo de peixe embora a estabilidade oxidativa tenha sido comprometida, uma vez
que as análises de TBARS e compostos voláteis indicaram aumento da oxidação
lipídica. Pelos resultados obtidos, conclui-se que a substituição parcial da gordura
animal por óleo de peixe microencapsulado em matriz de konjac pode ser uma
alternativa para aumentar o consumo de ácidos graxos n-3. Para o presente estudo
foram elaborados os salchichones com 50% de substituição de gordura animal por
matriz de konjac (Figura 17).
127
3.1. Compostos fenólicos nos extratos naturais
A identificação e quantificação de compostos fenólicos em ERC, EFC e EPA
(Tabela 6) indicou a presença de vários compostos com potencial antioxidante
devido à confirmação com padrões. Entre os 9 compostos fenólicos identificados no
ERC, a catequina foi o composto principal (1,51 mg/L) seguido por (-)-epicatequina
(0,94 mg/L) e ácido benzóico (0,79 mg/L). O conteúdo de catequina presente no
ERC está dentro da faixa de valores relatados por Zhao, Chen, Lu, e Zhao (2010)
que avaliou a concentração de compostos fenólicos selecionados em 34 cervejas
tipo lager (concentração de catequina entre 0,03 e 4,00 mg/L de cerveja). No
entanto, estes autores indicaram que o ácido gálico (entre 1,81 e 10,83 mg/L) e o
ácido ferúlico (entre 0,51 e 3,13 mg/L) foram os compostos fenólicos predominantes
na cerveja comercial.
128
No EFC, o ácido gálico foi o composto fenólico principal com 10,26 mg/100 g
em base úmida (BU), seguido da catequina (2,70 mg/100 g BU) e ácido
protocatecuico (1,49 mg/100 g BU). Este resultado está de acordo com os relatados
por Dinis et al. (2012), que relataram o ácido gálico e elágico como os compostos
fenólicos mais abundantes nas folhas de castanha. Esses autores observaram que
os valores de ácido gálico variaram entre 4,1 e 29,0 mg/g de matéria seca e os
níveis de ácido elágico variaram de 6,2 a 10,6 mg/g de matéria seca. Estas
diferenças podem estar relacionadas com as condições climáticas, a variedade, ano
e local (DINIS et al., 2012). Outros compostos fenólicos, tais como catequinas, ácido
ferúlico e rutina também foram observados em castanhas (C. sativa Mill.)
(NAZZARO et al., 2011).
Finalmente, para o EPA foram identificados 3 compostos em que a catequina
foi o principal composto fenólico (20,66 mg/100 g de matéria seca), seguido de
ácido protocatecuico (3,79 mg/100 g de matéria seca). Estes resultados estão de
acordo com os dados relatados por Francisco, e Resurrecion (2009) que
observaram que a catequina foi o composto fenólico mais abundante do EPA em
que foram observados valores de 74,35 a 535,03 μg/g de pele seca para os extratos
etanólicos de amendoins das variedades Runner e Virginia, respectivamente. Além
disto, estes autores também relataram quantidades elevadas de ácido
protocatecuico em EPA: 34,03; 15,45 e 7,62 μg/g pele seca, para extratos etanólicos
de amendoim das variedades Virgínia, Espanhola e Runner, respectivamente.
No estudo realizado por Yu, Ahmedna e Goktepe (2005) foram identificadas 3
classes de compostos fenólicos em pele de amendoim cru (variedade não
apresentada): (1) ácidos fenólicos, incluindo ácido clorogênico, ácido caféico e ácido
ferúlico; (2) flavonoides como epigalocatequina, epicatequinas, catechina galato,
epicatechin galato; e (3) estilbenos (resveratrol). Tais diferenças entre os compostos
fenólicos podem ser atribuídas ao tipo de amendoim, características de extração e o
método utilizado na identificação. Além dos compostos citados, a análise do extrato
de pele de amendoim também revelou a presença majoritária de proantocianidinas,
que também possuem potencial antioxidante e explica a elevada proporção de
catequinas no EPA (MUNEKATA et al., 2016a).
129
3.2. Composição centesimal, valor de pH e parâmetros físico-químicos
Os parâmetros físico-químicos do salchichón elaborado com antioxidantes
naturais e ácidos graxos n-3 de cadeia longa em matriz de konjac são apresentados
na Tabela 7. A composição química não apresentou diferenças significativas para
umidade, lipídios, proteínas e cinzas (valores em torno de 29,42 g/100 g de umidade
e 27,16; 44,48 e 9,16 g/100 g de matéria seca, para os teores de lipídios, proteína e
cinzas, respectivamente).
Lotes
SEM Sig.
CON BHT ERC EFC EPA
Composição Centesimal (g/100g)
Umidade 29,69 30,05 29,45 28,86 29,07 0,19 n.s.
Gordura (massa seca) 23,41 27,48 26,01 26,66 32,22 0,96 n.s.
Proteina (massa seca) 42,78 43,39 43,90 44,98 47,37 0,71 n.s.
Cinzas (massa seca) 9,09 8,53 9,26 9,29 9,63 0,13 n.s.
Parâmetro fisico-quimico
pH 5,19b 5,21b 5,19b 5,02a 5,22b 0,01 ***
Cor instrumental
L* 37,44b 38,31b 37,57b 34,29a 35,49ab 0,47 *
a* 11,31 12,19 11,87 9,90 11,82 0,27 n.s.
b* 8,46 8,35 8,57 8,71 8,80 0.24 n.s.
a-b
Médias na mesma linha não acompanhadas de letra comum são estatisticamente diferentes
(P<0,05).
Lotes: CON, controle; BHT hidroxitolueno butilado; ERC, extrato de resíduo de cerveja; EFC, extrato
de folha de castanha e EPA, extrato de pele de amendoim.
SEM: erro padrão, Sig: significância: *** (P<0.001), * (P<0.05), n.s. (não significante).
Fonte: Adaptado de MUNEKATA, P. E. S.; DOMÍNGUEZ, R.; FRANCO, D.; BERMÚDEZ, R.;
TRINDADE, M. A.; LORENZO, J. M. Effect of natural antioxidants in Spanish salchichón elaborated
with encapsulated n-3 long chain fatty acids in konjac glucomannan matrix. Meat Science,
Amsterdam, v. 124, p. 54-60, 2017.
Estes resultados eram esperados por que todos os lotes foram produzidos
com a mesma formulação. Resultado semelhante foi relatado por outros autores
(ALVES et al., 2016; RUIZ-CAPILLAS et al., 2012) que não encontraram diferenças
significativas na composição química em embutidos com a adição de diferentes
antioxidantes em relação ao grupo controle. Além disso, o produto elaborado está
de acordo com legislação espanhola (ESPANHA, 2014) para as características
físico-químicas que determina um conteúdo de proteína igual ou superior a 30 g/100
130
g de matéria seca e conteúdo de gordura igual ou inferior a 57 g/100 g de matéria
seca.
O pH final para bateladas CON, BHT e EPA estava na faixe de valores entre
5,19 e 5,22 enquanto que a batelada EFC (pH 5,02) apresentou valor mais baixo (P
<0,001) do que os demais lotes. Estes resultados podem ser explicados pelas
propriedades de compostos ativos nestes extratos. Na verdade, EFC contém
diversos ácidos fenólicos como gálico, protocatecuico, cafeico, elágico, ferúlico,
siringico e ácido vanílico, enquanto que para os salchichones da batelada EPA o
valor de pH foi mais elevado o que pode ser atribuído à natureza dos seus
compostos fenólicos (84% de catequina). Uma tendência semelhante foi relatado
por Pateiro et al. (2014) que observaram valores inferiores na batelada de patê de
fígado suíno com extrato de resíduo do processamento da castanha após 24
semanas de estocagem. No entanto, Lorenzo et al. (2013) observaram que os
valores de pH em chorizo não foram afetados pela adição de antioxidantes, embora
valores de pH mais altos tenham sido encontradas no grupo controle seguido pelos
lotes BHT e extrato de resíduo de castanha. Além disso, Jung, Shim e Shin (2015)
também não encontraram diferenças nos valores de pH final entre as bateladas
controle e pó de extrato de alecrim em salchichón (valor médio de pH = 6,5).
A avaliação estatística dos valores a* não indicou diferenças significativas
entre os tratamentos, sugerindo nível semelhante de cor vermelha em todos os lotes
(Tabela 7). Foi encontrada uma correlação positiva entre os valores de a* e níveis
de pH (r = 0,451, P<0,01, n = 40). Contrariamente, Lorenzo et al. (2013) observaram
que a adição de antioxidantes naturais contribuiu para manutenção do valor de
vermelho em comparação com o tratamento controle. Por outro lado, os valores de
b* também apresentaram resultados semelhantes entre lotes. Finalmente, a análise
estatística indicou que os valores L* foram influenciados pela adição de
antioxidantes naturais, uma vez que os valores de L* mais baixos foram
encontrados no lote EFC (P<0,05). O decréscimo nos valores L* pode ser devido à
perda de água e de fato, uma correlação positiva de valores L* com teor de umidade
foi encontrado (r = 0,560, P <0,01, n = 40). Contrariamente, Lorenzo et al. (2013)
notou que embutidos fabricados com extratos naturais apresentaram valores de L*
mais elevados do que os observados no grupo controle. Nossos resultados,
indicando que a adição de antioxidantes naturais afetou os parâmetros de cor no
espaço CIELAB, estão em desacordo com os relatados por Bozkurt (2006) que
131
observaram que estes parâmetros não foram influenciados pela adição de
antioxidantes em embutidos turcos.
Uma explicação possível para este efeito pode estar relacionado com a
estrutura do salchichón em que o material encapsulando e posterior inclusão numa
132
matriz de konjac, provavelmente, pode ter reduzido a interação entre lipídeos do
óleo de peixe e os antioxidantes testados. Contrariamente, um recente estudo
avaliou o efeito de substituições parciais de gordura com óleos de peixe
encapsulado e não encapsulado sobre a qualidade tecnológica e sensorial de
hambúrgueres de carne bovina durante o armazenamento e relatou aumento um
maior índice de oxidação lipídica no lote com óleo de peixe encapsulado do que o
tratamento não encapsulado. Segundo os autores, tal efeito estaria relacionado com
a exposição ao oxigênio durante o processo de encapsulação, a temperatura
durante o processo de secagem, a susceptibilidade dos AGPI do óleo de peixe ao
calor e à ampla superfície de contato com o oxigênio (KEENAN et al., 2015).
De modo semelhante, Pavlík et al. (2014) estudaram o efeito do extrato de
alecrim em 0,3 g/kg em Poličan e Vysočina (tradicionais embutidos checos), com
ácidos graxos n-3 microencapsulados. Neste estudo, a combinação de extrato de
alecrim e ácidos graxos encapsulados apresentaram diferentes comportamentos
nos embutidos produzidos: o índice TBARS do lote controle e lote com extrato de
alecrim no embutido Poličan foram semelhantes (2,26 e 2,78 mg MDA/kg,
respectivamente), enquanto que para o embutido Vysočina, as amostras do lote
controle exibiram índice de TBA três vezes menor do que as amostras preparadas
com extrato de alecrim e ácidos graxos encapsulados (0,6 e 1,74 mg de MDA/kg,
respectivamente). Por outro lado, o limiar sensorial relatado por Campo et al. (2006)
para a percepção do ranço sugere que as amostras com valores de TBARS inferior
a 2 mg de amostra MDA/kg não seria percebido pelos provadores treinados. Assim,
os valores de TBARS encontrados em todas as amostras do presente estudo
poderiam ser considerados abaixo deste limite.
A oxidação das proteínas, avaliada pelo conteúdo de carbonilas, foi reduzida
(P<0,05) pela adição dos extratos naturais (Tabela 8), uma vez que nos lotes BHT e
ERC foram observados valores inferiores aos determinados para os demais lotes.
Os conteúdos de carbonilas nos lotes EFC e EPA foram estatisticamente
considerados como intermediários enquanto que a batelada CON foi a que
apresentou a maior média. Estes resultados sugeriram que ERC apresentou efeito
similar ao antioxidante sintético BHT na inibição da oxidação proteica.
Antioxidantes naturais, ricos em compostos fenólicos têm sido associados a
menores níveis de carbonilas como relatado por Botsoglou et al. (2014) que
observaram reduzidos teores de carbonilas em hambúrgueres de carne bovina
133
enriquecidos com ácidos graxos n-3, devido a adição de folha de oliveira (Olea
europea L.). Segundo os autores, este efeito foi dependente da concentração de
antioxidante utilizada para concentrações 100, 200 e 300 mg EAG por kg de carne.
O presente resultado para oxidação de proteínas parece controverso à
oxidação lipídica, uma vez que ambos os fenômenos envolvem espécies de
oxigênio altamente reativas (KUMAR et al., 2015) e que antioxidantes naturais tem
sido associados a redução de reações oxidativas através de diversos mecanismos.
No entanto, como já indicado, a adição de antioxidantes naturais aparentemente
não preveniu o desenvolvimento da oxidação dos lipídeos, mas para a oxidação de
proteínas foram observados menores níveis de carbonilas para os lotes com
antioxidantes, uma vez que os antioxidantes (sintéticos ou naturais) foram
adicionados a massa cárnea e não ao óleo de peixe antes de ser encapsulado. No
entanto o mecanismo envolvido na redução da oxidação de proteínas não está
ainda completamente elucidado.
Considerando-se o efeito dos compostos fenólicos na oxidação de proteínas,
Jongberg et al. (2013) avaliou a inclusão de extratos de chá verde e alecrim (rico em
flavonoides e ácidos fenólicos) em embutido tipo Bolonha com carne de porco
previamente oxidada. Neste estudo, os autores notaram um aumento de radicais
formados que foi atribuído à interação proteínas/radical fenoxil nos lotes com
antioxidantes naturais. Estes radicais foram associados ao efeito preventivo da
oxidação de proteínas, uma vez que a formação de carbonilas foi reduzida e poderia
explicar, pelo menos em parte, a redução na oxidação de proteínas do presente
estudo. De acordo com estas observações, o efeito de extratos ricos em
antioxidantes naturais não foi muito marcante entre tratamentos dado que a
determinação do conteúdo fenólico total indicou que o EFC possuía a maior
quantidade de compostos fenólicos dentre os extratos naturais (89 mg GAE/g de
extrato) e elevada proporção de ácido e catequina neste extrato (Tabela 6).
A atividade antioxidante destes compostos foi previamente demonstrada por
outros pesquisadores (DINIS et al., 2012; YU et al., 2005). No que diz respeito ao
polifenóis de ERC e EPA, a sua concentração era mais baixa do que o indicado na
EFC, com valores de 28,9 e 32,6 mg GAE/g de extrato, respectivamente. Por outro
lado, a atividade antioxidante encontrado na EPA pode estar relacionada com o
conteúdo de catequina (20,66 mg/100 g), enquanto ERC poderia estar associada
134
com uma combinação de catequina, (-)-epicatequina, ácidos benzóico, ácido p-
cumárico e ferúlico (Tabela 6).
Por outro lado, as análises de capacidade antioxidante equivalente total (total
equivalente antioxidante capacity – TEAC) e radical DPPH foram previamente
utilizadas para avaliar a atividade antioxidante dos extratos naturais (MUNEKATA et
al., 2015; PATEIRO et al., 2014, 2015). Estes métodos são comumente relatados
como diretamente relacionados com o conteúdo fenólico e ainda revelaram que o
valor TEAC para EFC foi superior ao obtido para o ERC (0,27 vs. 0,09 g equivalente
Trolox/g extrato). Em relação à capacidade sequestradora do radical DPPH, o EPA
foi relatado com valor de EC50 de 46,5 µg/mL, provavelmente devido ao elevado
conteúdo de catequina e seus oligômeros. Já para os extratos ERC e EFC foram
obtidos os valores 0,24 e 1,04 g equivalente BHT/g extrato, respectivamente.
a-b
Médias para um mesmo composto volátil (barras de mesma cor nos diferentes lotes produzidos)
não acompanhadas de letra comum são estatisticamente diferentes (P<0,05).
Lotes: CON, controle; BHT hidroxitolueno butilado; ERC, extrato de resíduo de cerveja; EFC, extrato
de folha de castanha e EPA, extrato de pele de amendoim. Valores expressos como média ± SEM.
Fonte: Adaptado de MUNEKATA, P. E. S.; DOMÍNGUEZ, R.; FRANCO, D.; BERMÚDEZ, R.;
TRINDADE, M. A.; LORENZO, J. M. Effect of natural antioxidants in Spanish salchichón elaborated
with encapsulated n-3 long chain fatty acids in konjac glucomannan matrix. Meat Science,
Amsterdam, v. 124, p. 54-60, 2017.
136
controle. Além disso, de Ciriano et al. (2009) também observaram uma diminuição
significativa no conteúdo de hexanal de chorizo de Pamplona enriquecido com AGPI
n-3 (1332 e 842 ng dodecano/g de matéria seca, para o lote controle e extrato de
folhas de Borago officinalis L. respectivamente). Finalmente, o embutido produzido
com EFC apresentou o menor teor de benzeno-acetaldeído em comparação com
outros tratamentos (5,9 vs. 13,5, 16,0, 15,1 e 15,3 pg/g de amostra, para os lotes
EFC, CON, BHT, ERC e EPA, respectivamente).
137
Tabela 9 – Perfil de ácidos graxos livres salchichón produzido com antioxidantes
naturais e AGPI n-3 de cadeia longa em matriz de konjac (média de oito replicatas)
Ácido graxo Lotes
138
No presente estudo, os AGMI estavam presentes em maior proporção do que
os AGPI indicando que a liberação dos ácidos graxos também ocorreu dos
triglicerídeos (ricos em ácidos graxos insaturados) abundantes no tecido adiposo
utilizado na produção dos embutidos. A relação observada no presente estudo
também foi relatada para salchichón de formulação tradicional e outros embutidos
fermentados no final do processo de maturação (FONSECA et al., 2015;. GÓMEZ;
LORENZO, 2013; LORENZO et al., 2014).
Além disso, esta relação indica a liberação preferencial de AGMI. A liberação
de ácido graxos a partir de estruturas como fosfolipídeos e triglicerídeos é um
fenômeno influenciado por lipases endógenas, matérias primas, aditivos, condições
de processamento e ingredientes. Entre os principais fatores, as lipases endógenas
parecem desempenhar um papel central nos acontecimentos da lipólise (LORENZO;
FRANCO, 2012; LORENZO et al., 2014). No entanto, Olivares et al. (2011)
observaram uma relação diferente entre as frações de ácidos graxos: MUFA>
PUFA> SFA.
4. CONCLUSÃO
Conclui-se que os extratos naturais estudos são excelentes fontes de
compostos fenólicos contendo principalmente catequina, ácido gálico e ácido
protocatecuico. A adição dos antioxidantes naturais alterou parcialmente as
características físico-químicas do salchichón uma vez que menores vlores de pH de
luminosidade foram observados na batelada EFC. Além disso, as bateladas com
antioxidantes apresentaram menores concentrações de carbonilas e aldeídos
voláteis, indicando um efeito protetor. Portanto, sugere-se o uso ERC, EFC e EPA
como aditivos antioxidantes acrescentando assim um apelo de ―produtos mais
saudáveis‖ ao salchichón, embora mais estudos sejam necessários para avaliar os
efeitos destes extratos naturais na textura, propriedades sensoriais e estabilidade
oxidativa.
5. REFERÊNCIAS
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Skin and Green Banana Flour as a Fat Replacers. Meat Science, Amsterdam, v.
121, p. 73–78, 2016.
139
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04 - Rapid determination of oil/fat utilizing high temperature solvent extraction.
Urbana: AOCS, 2005.
BERNARDI, D. M. et al. ω‐3 in meat products: benefits and effects on lipid oxidative
stability. Journal of the Science of Food and Agriculture, Chichester, v.96, n.8, p.
2620–2634, 2016.
BOTSOGLOU, E. et al. Effect of olive leaf (Olea europea L.) extracts on protein and
lipid oxidation in cooked pork meat patties enriched with n‐3 fatty acids. Journal of
the Science of Food and Agriculture, Chichester, v. 94, n. 2, p. 227-234, 2014.
140
DINIS, L. T. et al. Antioxidant activities of chestnut nut of Castanea sativa
Mill.(cultivar ‗Judia‘) as function of origin ecosystem. Food Chemistry, Washington,
v. 132, n. 1, p. 1-8, 2012.
141
JUNG, J.-H.; SHIM, K.-S.; SHIN, D. Effects of Ripening Duration and Rosemary
Powder Addition on Salchichon Modified Sausage Quality. Asian-Australasian
Journal of Animal Sciences, Seoul, v. 28, n. 5, p. 671, 2015.
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products. Comprehensive Reviews in Food Science and Food Safety, Chicago,
v. 14, n. 6, p. 796-812, 2015.
LORENZO, J. M. et al. Effects of natural (grape seed and chestnut extract) and
synthetic antioxidants (buthylatedhydroxytoluene, BHT) on the physical, chemical,
microbiological and sensory characteristics of dry cured sausage ―chorizo‖. Food
Research International, Kidlington, v. 54, n. 1, p. 611-620, 2013.
142
MUNEKATA, P. E. S. et al. Peanut skin extract reduces lipid oxidation in cooked
chicken patties. Poultry Science, Cury, v.94, n.3, p.442-446, 2015.
PATEIRO, M. et al. Effect of addition of green tea, chestnut and grape extract on the
shelf-life of pig liver pâté. Food Chemistry, Washington, v. 147, p. 386-394, 2014.
143
PAVLÍK, Z. et al. Effect of micro-encapsulated n-3 fatty acids on quality properties of
two types of dry sausages. Acta Veterinaria Brno, Brno, v. 83, n. 2, p. 163-169,
2014.
RIEDIGER, N. D. et al. A systemic review of the roles of n-3 fatty acids in health and
disease. Journal of the American Dietetic Association, Nova Iorque, v. 109, n. 4,
p. 668-679, 2009.
144
YU, J.; AHMEDNA, M.; GOKTEPE, I. Effects of processing methods and extraction
solvents on concentration and antioxidant activity of peanut skin phenolics. Food
Chemistry, Washington, v. 90, n. 1, p. 199-206, 2005.
145
Capítulo 5
146
Efeito de antioxidantes naturais na estabilidade oxidativa de patê
de fígado suíno elaborado com óleos saudáveis durante estocagem
refrigerada
RESUMO
Este estudo teve como objetivo avaliar o efeito de antioxidantes naturais em patê de
fígado suíno fabricado com a combinação de toucinho, óleo de peixe e azeite de
oliva. Quatro lotes de patê foram produzidos: controle (CON), extrato de resíduo de
cerveja (ERC), castanha extrato das folhas (EFC) e extrato de pele de amendoim
(EPA). Avaliou-se a composição centesimal, pH, cor instrumental, teor de ácidos
graxos livres, compostos voláteis derivados de lipídios e a oxidação lipídica do patê.
A composição centesimal foi semelhante para todos os lotes. Os valores de pH não
foram influenciados por qualquer antioxidante natural e os parâmetros de cor foram
afetados pelo tempo de armazenamento, embora tenham sido observadas
pequenas diferenças entre os lotes. A estabilidade lipídica (TBARS e compostos
voláteis derivados da oxidação lipídica) não foi notavelmente afetada pela adição de
extratos naturais durante a estocagem. Conclui-se que os extratos naturais não são
recomendados para serem aplicados no patê como aditivos antioxidantes.
147
1. INTRODUÇÃO
A ingestão de ácidos graxos n-3 é importante para a manutenção da saúde e
prevenção de doenças. A incorporação destes ácidos graxos em produtos cárneos é
uma estratégia interessante para aumentar seu consumo e também melhorar a
qualidade nutricional destes alimentos. Porém a incorporação destes ácidos graxos
em produtos cárneos pode comprometer a estabilidade oxidativa devido à
sensibilidade dos ácidos graxos n-3 a agentes pró-oxidantes. Neste tipo de produto
a geração de radicais livres e outros produtos de oxidação também é acelerada o
que pode reduzir a vida útil. Além de oxidação lipídica, outras alterações
indesejáveis como a redução na intensidade da cor vermelha e desenvolvimento de
off-flavor são comumente relatados (DE CIRIANO et al., 2010; BERNARDI et al.,
2016). As alterações comuns de produtos cárneos durante o armazenamento como
a oxidação lipídica, mudanças de cor, oxidação de proteínas e desenvolvimento de
off-flavor foram observadas em chorizo (LORENZO et al., 2013; PATEIRO et al.,
2015), hambúrguer suíno, ovino e de frango (LORENZO et al., 2014b;. MUNEKATA
et al., 2015, 2016a) e patê de fígado (PATEIRO et al., 2014).
Os compostos fenólicos obtidos a partir de fontes naturais têm recebido
atenção devido à associação entre o seu consumo e redução do risco de
desenvolvimento de doenças graves como o câncer e o aumento da capacidade
antioxidante na saúde humana (RANGEL-HUERTA et al., 2015). Estes compostos
antioxidantes são amplamente distribuídos em fontes alimentares, embora um
conteúdo relevante seja perdido na elevada quantidade de resíduos gerados
durante o processamento de alimentos. A exploração desses resíduos como fontes
de compostos fenólicos também pode reduzir a perda de materiais valiosos e
reduzir os impactos econômicos e ambientais (MIRABELLA; CASTELLANI; SALA,
2014).
As folhas de castanheiro (Castanea sativa) são tradicionalmente usadas para
preparar bebidas quentes, como chá e devido aos efeitos de saúde também são
usados na medicina popular em pessoas que sofrem de dor muscular (DÍAZ-
REINOSO et al., 2011). Um estudo anterior indicou a presença de ácido gálico e
elágico, rutina, quercetina, luteolina, epi-galhocatequina e kaempferol na
composição fenólica de folhas de castanheiro. Extratos obtidos de folhas de
castanheiro foram avaliados pelas análises de atividade sequestradora do radical
148
DPPH, poder redutor e inibição da peroxidação lipídica e foi revelado um alto
potencial antioxidante (BARREIRA et al., 2008).
O processamento de cerveja, também gera resíduos ricos em compostos
fenólicos, que são removidos da cerveja para processar uma bebida clara e impedir
que o produto fique turvo. Este resíduo pode conter catequina, epi-catequina,
proantocianidinas, ácido cafeico, ácido siringico e outros compostos com potencial
antioxidante como cohumulone, humulona e lupulona (MUNEKATA et al., 2016b).
Os extratos preparados a partir de resíduos do processamento da cerveja também
foram relacionados com potencial para sequestrar radicais e parar reações em
cadeia (BARBOSA et al., 2013).
Os resíduos de processamento de amendoim, que normalmente são
descartadas ou utilizadas como ração animal, também podem ser explorados,
principalmente a pele devido ao elevado teor de compostos fenólicos. A composição
fenólica de pele de amendoim é amplamente constituída por proantocianidinas
(estruturas poliméricas formadas por catequina e epicatequina) embora outros
compostos fenólicos como o resveratrol e os ácidos ferúlico e cumárico também
foram relatados na literatura (MA et al., 2014). A atividade antioxidante da pele de
amendoim também está associada com a eliminação de radicais livres e espécies
reativas de oxigênio (WANG et al., 2007).
Assim, o presente estudo teve como objetivo avaliar os efeitos de extratos
naturais de resíduos agroindustriais (resíduo de cerveja, folhas de castanheiro e de
pele de amendoim) na cor instrumental, valor de pH, oxidação lipídica, ácidos
graxos livres e compostos voláteis de patê de fígado suíno fabricado com óleos
saudáveis (óleo de peixe e de oliva) durante o armazenamento refrigerado.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Extratos naturais
Os extratos naturais foram obtidos segundo o item 2.1 do Cap. 4 e do item
2.1 do Cap 2.
150
2.4. Valor de pH e cor instrumental
As medidas de cor foram realizadas de acordo com o procedimento descrito
no item 2.7 Cap. 2 e o valor de pH de acordo com item 2.5 Cap. 3.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A avaliação dos efeitos da substituição da gordura animal por óleo de peixe
em patê de fígado suíno foi realizada em experimento anterior a este com os
antioxidantes naturais. No experimento de substituição de gordura, foram avaliados
151
os efeitos de 50 e 75% de substituição sobre a composição centesimal, valor de pH,
cor instrumental, perfil de textura, perfil de ácidos graxos e compostos voláteis.
O aumento na porcentagem de substituição foi acompanhado pela redução
no teor de umidade e proteína enquanto que os teores de gordura e colesterol
aumentaram em função da porcentagem de substituição. Da mesma forma, os
valores de vermelho e amarelo aumentaram em função da porcentagem de
substituição. A análise do perfil de textura indicou que a dureza e a gomosidade
reduziram em função da porcentagem de substituição, mas a elasticidade e
coesividade não foram influenciadas. O conteúdo de ácidos graxos n-3 aumentou e
em função da porcentagem de substituição, assim como o teor de hexanal, heptanal
e o total de aldeídos voláteis.
O patê elaborado com óleo de peixe e antioxidantes naturais está
apresentado na Figura 19.
152
conteúdo g/100 g matéria seca). Uma vez que todos os lotes foram fabricados com
a mesma formulação, esse resultado era esperado. Da mesma forma, outros
autores não relataram diferenças significativas na composição centesimal de patê
de fígado fabricado com antioxidantes naturais em comparação a tratamentos de
controle (ESTÉVEZ; VENTANAS; CAVA, 2006; D‘ARRIGO, et al., 2004).
153
Figura 20 – Valor de pH do patê de fígado suíno elaborado com óleos saudáveis e
antioxidantes naturais (médias de dez replicatas)
Lotes: CON, controle; ERC, extrato de resíduo de cerveja; EFC, extrato de folha de castanha e EPA,
extrato de pele de amendoim. Valores expressos como média ± SEM.
SEM: erro padrão, Sig: significância: n.s. (não significativo).
Fonte: Própria autoria.
154
Em relação à evolução da cor vermelha, este parâmetro de cor exibiu uma
tendência comum de aumento e da mesma forma que os parâmetros L* e b*, em
que foram observados valores máximos no dia 90. No entanto, os lotes CON e ERC
exibiram uma diminuição significativa entre os dias 90 e 160, mas os valor de
vermelho dos lotes EFC e EPA não apresentaram tal comportamento no mesmo
período.
As tendências observadas para os parâmetros de cor durante o
armazenamento foram relatadas por outros autores. Estévez, Ventanas e Cava
(2006) relataram aumento na luminosidade e decréscimo na intensidade de amarelo
e vermelho do patê de fígado suíno fabricado com óleos essenciais de alecrim e
sálvia durante 90 dias de armazenamento refrigerado. Estes autores também
apontam que a estabilidade da cor vermelha era dependente do lote de patê, uma
vez que não foram observadas diferenças significativas no grupo de controle
enquanto lotes antioxidantes exibiram redução significativa durante o
armazenamento para este parâmetro. Pateiro et al. (2014) relataram
comportamentos diferentes em cada parâmetro de cor de patê de fígado suíno
fabricado com extratos naturais. Esses autores notaram que o aumento da
luminosidade e a redução da intensidade da cor vermelha durante a estocagem
para os lotes de patê fabricados com extratos de chá verde e castanha, enquanto
que não foram observadas tais diferenças para os lotes controle e extrato de
semente de uva durante o armazenamento refrigerado.
155
Figura 21 – Cor instrumental do patê de fígado suíno elaborado com óleos
saudáveis e antioxidantes naturais (médias de dez replicatas)
Lotes: CON, controle; ERC, extrato de resíduo de cerveja; EFC, extrato de folha de castanha e EPA,
extrato de pele de amendoim. Valores expressos como média ± SEM.
Fonte: Própria autoria.
156
3.2. Oxidação lipídica
A estabilidade lipídica do patê durante o armazenamento refrigerado é
mostrada na Figura 22. De um modo geral, a análise estatística não indicou
diferenças significativas entre CON e os lotes antioxidantes (ERC, EFC e EPA) para
qualquer dia do armazenamento refrigerado. Tal resultado contradiz os resultados
relatados anteriormente para o ERC, EFC e EPA com relação ao potencial
antioxidante e capacidade de inibir a oxidação lipídica em produtos cárneos
(MUNEKATA et al., 2015; PATEIRO et al., 2014, 2015). A inibição da oxidação de
lipídeos pode ser explicada pelo efeito antioxidante do nitrito e ascorbato de sódio
(BERARDO et al., 2016), o sistema de embalagem que preveniu a exposição ao
oxigênio e radiação UV e as condições de armazenagem em temperatura de
refrigeração (LORENZO et al., 2014a).
Por outro lado, os valores de TBARS estatisticamente similares entre os
tratamentos podem ser explicados pelo impacto do tratamento térmico sobre os
extratos naturais. A condição aplicada durante o tratamento térmico poderia induzir
alterações na estrutura de compostos antioxidantes e assim reduzir o potencial dos
extratos. Tal efeito foi observado para extratos naturais e padrões comerciais de
catequinas e teaflavinas (SU et al., 2003; VOLF et al., 2014). Desta forma, os
fatores citados acima (e.g. ascorbato de sódio e sistema de embalagem) e a
estabilidade os compostos fenólicos ao tratamento térmico pode ter ―mascarado‖ o
potencial antioxidante que foi observado em estudos anteriores com estes extratos
(LORENZO et al., 2013; PATEIRO et al., 2015a; MUNEKATA et al., 2017).
157
Figura 22 – Análise de TBARS do patê de fígado suíno elaborado com óleos
saudáveis e antioxidantes naturais (médias de dez replicatas)
Lotes: CON, controle; ERC, extrato de resíduo de cerveja; EFC, extrato de folha de castanha e EPA,
extrato de pele de amendoim. Valores expressos como média ± SEM.
Fonte: Própria autoria.
158
tipo de produto cárneo (LORENZO et al., 2014a) e pode ser relacionado com a
estabilidade da molécula de MDA.
Tabela 11 – Ácidos graxos livres do patê de fígado suíno elaborado com mais óleos
saudáveis e antioxidantes naturais (médias de dez replicatas) (continua)
Lotes
(mg/100 g gordura) Dias SEM Sig.
CON ERC EFC PSE
0 0,01α 0,01α 0,01 0,01 0,01 n.s.
160 0,06β 0,06β 0,47 0,18 0,08 n.s.
C12:0
SEM 0,01 0,01 0,18 0,07
Sig. *** *** n.s. n.s.
0 0,23abα 0,22abα 0,18aα 0,26bα 0,01 *
160 0,74β 0,85β 0,62β 0,72β 0,04 n.s.
C14:0
SEM 0,07 0,08 0,06 0,07
Sig. *** *** *** ***
0 0,03α 0,04 0,03α 0,04 0,01 n.s.
160 0,10β 0,06 0,07β 0,06 0,01 n.s.
C15:0
SEM 0,01 0,01 0,01 0,01
Sig. ** n.s. * n.s.
0 3,69α 3,72α 2,83α 3,75α 0,14 n.s.
β β β β
160 12,25 12,96 11,39 11,86 0,51 n.s.
C16:0
SEM 1,04 1,16 1,19 1,20
Sig. *** *** *** ***
0 0,40bα 0,40abα 0,35aα 0,43bα 0,01 *
160 1,45β 1,70β 1,21β 1,49β 0,08 n.s.
C16:1n7
SEM 0,13 0,17 0,13 0,14
Sig. *** *** *** ***
159
Tabela 11 – Ácidos graxos livres do patê de fígado suíno elaborado com óleos
saudáveis e antioxidantes naturais
(médias de dez replicatas) (continuação)
Lotes
(mg/100 g gordura) Dias SEM Sig.
CON ERC EFC PSE
0 0,08abα 0,06aα 0,07aα 0,09bα 0,01 *
160 0,23β 0,22β 0,18β 0,26β 0,01 n.s.
C17:0
SEM 0,02 0,026 0,02 0,02
Sig. *** *** *** ***
0 0,05α 0,05 0,04α 0,04α 0,01 n.s.
160 0,12β 0,13 0,10β 0,17β 0,01 n.s.
C17:1n7
SEM 0,02 0,02 0,01 0,02
Sig. * n.s. 0.002 ***
0 1,87α 1,94α 1,56α 1,85α 0,06 n.s.
160 6,46β 6,48β 6,16β 6,56β 0,19 n.s.
C18:0
SEM 0,57 0,55 0,62 0,59
Sig. *** *** *** ***
0 5,37α 5,27α 4,64α 5,23α 0,16 n.s.
160 19,90β 20,66β 14,51β 19,48β 1,05 n.s.
C18:1n9c
SEM 1,85 2,16 1,50 1,95
Sig. *** *** *** ***
0 1,72α 1,87α 1,81α 1,82α 0,06 n.s.
β β β β
160 7,37 7,73 5,91 7,93 0,35 n.s.
C18:2n6c
SEM 0,71 0,77 0,62 0,79
Sig. *** *** *** ***
0 0,03α 0,03α 0,03α 0,04α 0,01 n.s.
160 0,17β 0,24β 0,14β 0,40β 0,04 n.s.
C20:0
SEM 0,02 0,03 0,02 0,07
Sig. *** *** *** **
160
Tabela 11 – Ácidos graxos livres do patê de fígado suíno elaborado com óleos
saudáveis e antioxidantes naturais
(médias de dez replicatas) (continuação)
Lotes
(mg/100 g gordura) Dias SEM Sig.
CON ERC EFC PSE
0 0,02α 0,02α 0,01α 0,01 0,01 n.s.
160 0,17β 0,12β 0,14β 0,65 0,12 n.s.
C18:3n6
SEM 0,03 0,02 0,02 0,24
Sig. ** *** *** n.s.
0 0,14aα 0,14aα 0,13aα 0,23bα 0,01 **
160 0,86bβ 0,87bβ 0,45aβ 0,75bβ 0,05 *
C20:1n9
SEM 0,09 0,10 0,05 0,08
Sig. *** *** *** ***
0 0,14α 0,17α 0,16α 0,18α 0,01 n.s.
160 0,69bβ 0,67bβ 0,44aβ 0,69bβ 0,03 **
C18:3n3
SEM 0,07 0,06 0,04 0,07
Sig. *** *** *** ***
0 0,05α 0,04α 0,04α 0,05α 0,01 n.s.
160 0,17β 0,15β 0,18β 0,16β 0,01 n.s.
9c,11t-CLΑ
SEM 0,02 0,01 0,02 0,01
Sig. *** *** *** ***
0 0,05α 0,06α 0,06α 0,07α 0,01 n.s.
β β β β
160 0,24 0,28 0,18 0,24 0,02 n.s.
C20:2n6
SEM 0,03 0,03 0,02 0,03
Sig. *** *** *** ***
0 0,01α 0,01α 0,01α 0,01α 0,01 n.s.
160 0,09β 0,09β 0,09β 0,10β 0,01 n.s.
C22:0
SEM 0,01 0,01 0,01 0,01
Sig. *** *** *** ***
161
Tabela 11 – Ácidos graxos livres do patê de fígado suíno elaborado com óleos
saudáveis e antioxidantes naturais
(médias de dez replicatas) (continuação)
Lotes
(mg/100 g gordura) Dias SEM Sig.
CON ERC EFC PSE
0 0,03α 0,04α 0,03α 0,03α 0,01 n.s.
160 0,12β 0,17β 0,17β 0,24β 0,02 n.s.
C20:3n6
SEM 0,01 0,01 0,02 0,04
Sig. *** *** *** *
0 0,28α 0,31α 0,31α 0,31α 0,01 n.s.
160 1,25β 1,35β 1,01β 1,20β 0,06 n.s.
C20:4n6
SEM 0,12 0,13 0,12 0,12
Sig. *** *** *** ***
0 0,11α 0,14α 0,17α 0,16α 0,01 n.s.
160 0,68bβ 0,76bβ 0,33aβ 0,65bβ 0,05 **
C20:5n3
SEM 0,07 0,09 0,04 0,07
Sig. *** *** * ***
0 0,07α 0,08α 0,08α 0,10α 0,01 n.s.
160 0,40bβ 0,47bβ 0,24aβ 0,39bβ 0,03 *
C22:5n3
SEM 0,04 0,05 0,03 0,04
Sig. *** *** *** ***
0 0,25aα 0,29aα 0,39ab 0,50abα 0,03 **
bβ bβ bβ
160 1,89 1,96 0,59ª 1,58 0,16 **
C22:6n3
SEM 0,22 0,25 0,07 0,20
Sig. *** *** n.s. **
0 5,99bα 6,07bα 4,76aα 6,10abα 0,19 *
160 21,20β 21,08β 19,49β 20,41β 0,78 n.s.
AGS
SEM 1,96 1,86 2,00 1,91
Sig. *** *** *** ***
162
Tabela 11 – Ácidos graxos livres do patê de fígado suíno elaborado com óleos
saudáveis e antioxidantes naturais
(médias de dez replicatas) (conclusão)
Lotes
(mg/100 g gordura) Dias SEM Sig.
CON ERC EFC PSE
0 6,51α 6,38α 5,61α 6,55ª 0,18 n.s.
160 24,44β 25,57β 18,34β 24,16β 1,25 n.s.
AGMI
SEM 2,27 2,66 1,88 2,38
Sig. *** *** *** ***
0 2,74α 3,05α 3,07α 3,25ª 0,08 n.s.
160 12,13β 13,95β 9,39β 13,99β 0,70 n.s.
AGPI
SEM 1,29 1,44 0,95 1,38
Sig. *** *** *** ***
0 0,59aα 0,70aα 0,81abα 0,95bα 0,04 *
160 3,55bβ 4,08bβ 1,71aβ 3,52bβ 0,27 *
n-3
SEM 0,40 0,47 0,18 0,40
Sig. *** *** ** ***
0 2,11α 2,31α 2,22α 2,25α 0,07 n.s.
160 8,35β 9,71β 7,50β 10,33β 0,49 n.s.
n-6
SEM 0,91 0,97 0,78 1,01
Sig. *** *** *** ***
0 15,25α 15,50α 13,44α 15,90α 0,40 n.s.
160 57,80β 60,62β 47,49β 58,68β 2,35 n.s.
Total
SEM 5,20 5,91 4,71 5,54
Sig. *** *** *** ***
AGS: ácidos graxos saturados; AGMI: ácidos graxos monoinsaturados; AGPI: ácidos graxos poli-
insaturados.
a-b
Médias na mesma linha (correspondente ao mesmo tempo de estocagem) não acompanhadas de
letra comum são estatisticamente diferentes (P<0,05).
α-β
Médias na mesma coluna (correspondente ao mesmo tratamento) não acompanhadas de letra
comum são estatisticamente diferentes (P<0,05).
Lotes: CON, controle; ERC, extrato de resíduo de cerveja; EFC, extrato de folha de castanha e EPA,
extrato de pele de amendoim.
SEM: erro padrão, Sig: significância: *** (P<0.001), ** (P<0,01), * (P<0,05), n.s. (não significativo).
Fonte: Própria autoria.
163
Por outro lado, o teor total de AGL aumentou (P <0,001) de 15 mg/100 g de
gordura para 47-60 mg/100 g de gordura em todos os tratamentos entre os dias 0 e
160. Estes resultados estão de acordo com outros autores que observaram aumento
significativo no teor de AGL total em produtos à base de carne durante o
armazenamento refrigerado (LORENZO, 2014; ZHAO et al., 2011).
A principal fracção dos AGL em todos os tratamentos em ambos os dias 0 e
160 foi composta por ácidos graxos mono-insaturados (AGMI) com valores na faixa
de 5,61-6,55 e 18,34-25,57 mg/100 g de gordura, respectivamente. Outra fração
importante na composição dos AGL foram os ácidos graxos saturados (AGS) que
apresentaram aumento significativo (P<0,001) entre o primeiro e o último dia de
estocagem. No dia 0, a fracção AGS para os lotes CON, ERC e EPA foi 5,99; 6,07 e
6,10 mg/100 g de gordura, respectivamente, sendo mais elevada (P<0,05) do que a
observada para o patê do lote EFC (4,76 mg/100 g de gordura). O ácido oleico
(C18:1n9c) foi o principal AGL para todos os lotes no dia 0 com valores entre 4,64 e
5,37 mg / 100 g de gordura. Após 160 dias, C18:1n9c permaneceu como o principal
ácido graxo (14,51-20,66 mg/100 g de gordura), embora não se observaram
diferenças significativas entre os tratamentos. Barros et al. (2011) relataram
C18:1n9c como ácido graxo importante na composição de AGL de hambúrgueres
de carne fabricados com extrato de Boletus edulis, mas esses autores observaram
pequenas mudanças ao longo de 20 dias de armazenamento refrigerado.
Curiosamente, o conteúdo dos ácidos graxos n-3 ácido α-linolenico
(C18:3n3), cis-5,8,11,14,17-ácido eicosapentanóico (C20:5n3), o ácido
docosapentaenóico (C22:5n3) e cis-4, 7, 10, 13, 16, ácido 19-docosahexaenóico
(C22:6n3), presente nos AGL do lote CLE, foi inferior (P <0,05) em relação aos
outros lotes (CON, BRE e PSE) após 160 dias de armazenamento. O teor de ácidos
graxos n-3 livres total do tratamento CLE também foi menor (P<0,05) do que o
observado para os demais lotes (1,71 vs 3,55, 4,08 e 3,52 mg/100 g de gordura
para as bateladas CON, ERC e EPA, respectivamente). Tal resultado para lote EFC
pode ser explicado pelo desenvolvimento de oxidação de lipídeos e formação de
compostos voláteis derivados, em particular para o teor de 3-metil-butanal (Tabela
12).
164
3.4. Compostos voláteis
A avaliação dos compostos voláteis é um indicador importante do
desenvolvimento de processos metabólicos e reações químicas nos alimentos. A
identificação e quantificação destes compostos fornecem informações valiosas para
a caracterização da composição e avaliação da oxidação lipídica no aroma devido à
relação entre o progresso de oxidação lipídica e formação de aldeídos (ESTÉVEZ et
al., 2005). Os quatro compostos voláteis derivados de lipídeos entre o primeiro e
último dia de armazenagem estão apresentados na Tabela 12.
165
Em relação ao conteúdo de hexanal, a análise estatística dos dados no
primeiro dia de armazenagem indicou que o lote EFC tinha a menor concentração
(51,97 pg/g amostra), seguido por concentrações intermediarias das bateladas ERC
e EPA (71,16 e 72,18 pg/g amostra, respectivamente) e maior concentração foi
observada no lote CON (82,85 pg/g amostra).
Tal resultado pode ser associado com o conteúdo fenólico total e potencial
antioxidante avaliado em estudos anteriores em que EFC apresentou maior teor de
compostos fenólicos do que ERC e EPA discutidos acima (PATEIRO et al., 2015;
MUNEKATA et al., 2015). No entanto, o teor de hexanal foi semelhante entre todos
os lotes do dia 160. Após 160 dias de armazenamento, o conteúdo do hexanal foi
menor do que o observado no primeiro dia de armazenamento (P<0,001) para CON,
ERC e EPA, no entanto não foram observadas diferenças significativas no lote EFC.
Esta redução está em acordo com os resultados obtidos no ensaio TBARS que
indicava uma ligeira redução na oxidação lipídica entre o primeiro e o último dia de
armazenagem (Tabela 12).
Ansorena & Astiasarán (2004) não relataram diferenças significativas na
concentração de hexanal de salames fabricados com azeite de oliva entre 2 e 5
meses de armazenamento (embalagem a vácuo). Diferentemente do que foi
observado no presente estudo, Estévez et al. (2007) relataram que o teor de
hexanal foi menor em patê de fígado produzido com extratos de salvia e alecrim em
comparação ao lote controle após 90 dias de armazenamento refrigerado.
4. CONCLUSÃO
As características avaliadas durante a estocagem refrigerada do patê (cor
instrumental, valor de pH, TBARS, AGL e compostos voláteis derivados de lipídeos)
não indicaram que os estratos naturais contribuíram para a estabilidade oxidativa
deste produto cárneo, com a formulação testada neste experimento contendo outros
antioxidantes na formulação do patê em todos os tratamentos. Portanto, os extratos
naturais aplicados não promoveram proteção adicional contra a oxidação lipídica
para óleos saudáveis no patê de fígado suíno durante o armazenamento
refrigerado.
166
5. REFERÊNCIAS
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composition and oxidation in dry fermented sausages made with added olive oil and
antioxidants. Meat Science, Amsterdam, v. 67, n. 2, p. 237-244, 2004.
BARROS, L. et al. Beef burger patties incorporated with Boletus edulis extracts:
Lipid peroxidation inhibition effects. European Journal of Lipid Science and
Technology, Weinheim, v. 113, n. 6, p. 737-743, 2011.
BERARDO, A. et al. Effect of sodium ascorbate and sodium nitrite on protein and
lipid oxidation in dry fermented sausages. Meat Science, Amsterdam, v. 121, p.
359-364, 2016.
BERNARDI, D. M. et al. ω‐3 in meat products: benefits and effects on lipid oxidative
stability. Journal of the Science of Food and Agriculture, Chichester, v. 96, n. 8,
p. 2620-2634, 2016.
D‘ARRIGO, M. et al. Production of n-3 fatty acid enriched pork liver pâté. LWT-Food
Science and Technology, Londres, v. 37, n. 6, p. 585-591, 2004.
167
DELGADO-PANDO, G. et al. Enriched n− 3 PUFA/konjac gel low-fat pork liver pâté:
Lipid oxidation, microbiological properties and biogenic amine formation during
chilling storage. Meat Science, Amsterdam, v. 92, n. 4, p. 762-767, 2012.
ESTÉVEZ, M. et al. Sage and rosemary essential oils versus BHT for the inhibition
of lipid oxidative reactions in liver pâté. LWT-Food Science and Technology,
Londres, v. 40, n. 1, p. 58-65, 2007.
LORENZO, J. M. et al. Effects of natural (grape seed and chestnut extract) and
synthetic antioxidants (buthylatedhydroxytoluene, BHT) on the physical, chemical,
168
microbiological and sensory characteristics of dry cured sausage ―chorizo‖. Food
Research International, Kidlington, v. 54, n. 1, p. 611-620, 2013.
LORENZO, J. M. et al. Effect of fat content on physical, microbial, lipid and protein
changes during chill storage of foal liver pâté. Food Chemistry, Washington, v. 155,
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MIRABELLA, N.; CASTELLANI, V.; SALA, S. Current options for the valorization of
food manufacturing waste: a review. Journal of Cleaner Production, Oxford, v. 65,
p. 28-41, 2014.
169
PATEIRO, M. et al. Effect of addition of natural antioxidants on the shelf-life of
―Chorizo‖, a Spanish dry-cured sausage. Antioxidants, Basel, v. 4, n. 1, p. 42-67,
2015.
PATEIRO, M. et al. Effect of addition of green tea, chestnut and grape extract on the
shelf-life of pig liver pâté. Food Chemistry, Washington, v. 147, p. 386-394, 2014.
WANG, J. et al. Free radical and reactive oxygen species scavenging activities of
peanut skins extract. Food Chemistry, Washington, v. 104, n. 1, p. 242-250, 2007.
170
CONCLUSÃO GERAL
171