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1° edição – março de 2023
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A MARINA TORRES.
Ilustração: Aika Ilustra
Edição: Eyka Saboia
Diagramação: Marina Torres
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer
forma e/ou quaisquer meios, incluindo gravação, fotocópia, meios eletrônicos ou
mecânicos, ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão prévia
escrita da autora.
Este é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares, negócios, eventos ou
incidentes são produtos da imaginação da autora ou usados de formas fictícias, Qualquer
semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, ou eventos reais é mera coincidência.
SINOPSE
PLAYLIST
NOTAS DA AUTORA
GATILHOS
DEDICATÓRIA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1 - NORAH
CAPÍTULO 2 - ANDY
CAPÍTULO 3 - ANDY
CAPÍTULO 4 - NORAH
CAPÍTULO 5 - ANDY
CAPÍTULO 6 - NORAH
CAPÍTULO 7 - NORAH
CAPÍTULO 8 - NORAH
CAPÍTULO 9 - ANDY
CAPÍTULO 10 - NORAH
CAPÍTULO 11 - NORAH
CAPÍTULO 12 - ANDY
CAPÍTULO 13 - ANDY
CAPÍTULO 14 - NORAH
CAPÍTULO 15 - NORAH
CAPÍTULO 16 - ANDY
CAPÍTULO 17 - NORAH
CAPÍTULO 18 -ANDY
CAPÍTULO 19 - NORAH
CAPÍTULO 20 - ANDY
CAPÍTULO 21 - NORAH
CAPÍTULO 22 - NORAH
CAPÍTULO 23 - NORAH
CAPÍTULO 24 - ANDY
CAPÍTULO 25 - NORAH
CAPÍTULO 26 - ANDY
CAPÍTULO 27 - ANDY
CAPÍTULO 28 - ANDY
CAPÍTULO 29 - ANDY
CAPÍTULO 30 - NORAH
CAPÍTULO 31 - ANDY
CAPÍTULO 32 - NORAH
EPÍLOGO I
EPÍLOGO 2
AGRADECIMENTOS
OUTRAS OBRAS
CONTATOS
.
Andrew Crawford nunca imaginou que conseguiria alcançar
tantas coisas, mas ele sempre desejou todas elas. Hoje ele é o
grande Ice: o melhor jogador do time de hóquei pelo time Ice Angels
e o sonho de todas as mulheres. A fama fez dele o queridinho dos
tabloides, galã das capas de revistas e o cafajeste das noites de
Nova York. O esporte se tornou a sua grande paixão na
adolescência e foi como ele conseguiu dar uma nova vida à sua
mãe.
Porém, quanto mais o tempo passa, mais o medo de se
tornar um homem ruim como o seu pai, cresce em Andrew e é por
isso que ele se mantém o mais longe possível de relacionamentos.
Ice só não esperava reencontrar sua melhor amiga da juventude e
ter seu mundo virado de ponta a cabeça pela mulher que sumiu da
sua vida tantos anos atrás.
Talvez o coração de gelo de Crawford não tenha sido
entregue a outro alguém porque ele o prometeu a uma única mulher.
Norah Clark perdeu o pai na adolescência e isso fez com que
ela e sua mãe se mudassem às pressas de sua cidade natal,
fazendo-a deixar tudo para trás. Por muito tempo, pensou que não
existiria um lugar para ela no mundo, até que salvar vidas se tornou
seu grande sonho. Ela queria poder dar às pessoas a chance de
viver um pouco mais ao lado de quem amam, foi esse sentimento
que levou Norah ao último ano da residência em medicina.
O que ela não esperava era reencontrar sua paixão da
adolescência e ver que ele se tornou um homem incrivelmente sexy
e sedutor.
Ela está fugindo de jogadores. Ele está fugindo de romances.
Eles se entregam a uma noite, mas depois que ela parte, ele
entende que não pode a deixar ir.
Para acessar a playlist do livro no Youtube é só apertar aqui.
Se preferir escolher a playlist no spotify basta clicar aqui.
Esse livro fala sobre amizades fortes, amores intensos e
medos que podem te levar ao limite. Andrew e Norah não são nada
perfeitos e tem um passado muito doloroso. Eles foram à rocha um
do outro por muito tempo, até que a vida os separou.
Aqui você vai dar muitas risadas, se emocionar e vai querer
saber mais sobre eles. Esse livro também aborda questões
delicadas que podem ser um gatilho, como violência física e luto. Se
prepare para ficar apaixonada pelos personagens secundários e não
se preocupe, terão livros deles.
Leia Andrew e Norah de coração aberto, eles irão encantar
você.
Boa leitura!
Para todos aqueles que já foram paralisados pelo medo, lembre que
você pode ser maior do que qualquer coisa que te assusta.
10 anos antes…
— Merda. — esbravejo pela milésima vez nessa manhã. —
Ela não pode ter sumido assim! Faz três dias, Ares[1]! O caralho de
setenta e duas horas que ela simplesmente sumiu!
Não é possível que Norah tenha sumido assim, sem dar
nenhuma explicação ou sinal de que estava se afastando do mundo.
Ninguém, exatamente nenhum dos nossos amigos, se encontrou
com ela nos últimos três dias, depois que ela saiu da escola puta da
vida comigo.
Estou tentando não perder completamente o controle, mas
estou absurdamente assustado, com medo, me odiando, com raiva
do mundo e desesperado para vê-la pelo menos de longe.
Desesperado para receber uma ligação ou qualquer notícia.
Eu só preciso saber se o meu pequeno anjo está bem.
— Você acredita que ela sumiu por causa da briga entre
vocês? — Jaxon pergunta.
Montamos uma linha de busca na casa dele, procuramos em
todos os lugares que poderíamos imaginar que ela estivesse, mas
não tivemos sorte. Nossa última esperança é de que Scott volte com
boas notícias.
— No início, sim. — passo as mãos no cabelo. — Mas ontem
não aguentei e fui até a casa dela e ninguém atendeu. É como se
não tivessem pessoas morando ali, porque eu passei quatro horas
sentado lá na frente e ninguém apareceu.
— Você passou quatro horas na frente da casa dela e disse
que não estava apaixonado por ela? — Ares dá uma risadinha sem
humor. — Patético.
— Sim, ele é um tremendo babaca. — Jaxon concorda. — Se
não estivéssemos preocupados com a Hurricane[2], eu já teria
arrancado o pau dele.
Eles falam como se eu não estivesse aqui e reviro os olhos,
fingindo que não estou me matando por ter dito a ela que nunca
funcionaria entre nós, quando, na verdade, sei que daria o mundo
para aquela garota.
Ela sabia que era mentira e por isso me odiou, ela odeia
covardes. E eu fui um deles, mas Norah não merece estar ainda
mais envolvida no inferno que eu chamo de vida. Ela é a garota que
batalha para conquistar o mundo todos os dias e sei que ela irá
fazer isso a qualquer momento, está predestinada a algo grandioso
e eu só estragaria tudo.
Eu sou o cara quebrado que nunca conseguiria cuidar das
feridas dela.
Não, eu jamais seria o homem certo para qualquer mulher. O
filho de um agressor que pode a qualquer momento se tornar como
ele, não é uma boa opção para ser amado por ninguém.
— Precisamos repassar a história para ver se não tem
nenhuma brecha sobre esse sumiço dela. — Ares diz e concordo.
Me sento de frente para eles e busco na memória onde
estávamos naquele exato momento.
Norah estava com seu típico moletom azul da cor do céu, que
fica lindo junto aos fios loiros do seu cabelo. Ela não chegou bem
naquele dia, bastou entrar na sala de aula e fui capaz de perceber
em seus olhos que algo não estava certo. Quando lhe perguntei o
que tinha acontecido, ela apenas disse que estava com uma
sensação ruim.
— No final da aula, eu a encontrei saindo apressada pela
porta principal. Norah não me deixou tocá-la, o que não era comum.
Perguntei o que tinha acontecido e ela disse que estava cansada de
ouvir as merdas que todos estavam falando sobre nós, sobre as
mentiras que inventam com o seu nome. Tentei tranquilizá-la, para
mim é muito fácil ligar o foda-se para essa merda, mas Norah não é
assim, ela se importa. Ela falou que queria sumir, que não queria
mais estar perto das piadas cheias de insinuações dos outros
garotos e das meninas querendo criar uma competição de quem
conseguiria ficar comigo para dizer que estavam me fazendo trair a
Norah.
No fundo eu sabia que não era só isso que estava a
machucando naquele dia.
— Eu odeio aquelas piranhas. — Ares xinga. — E amanhã
quebrarei um nariz durante o treino para que parem de falar merda
sobre ela.
— Já fiz isso várias vezes. — sei que ele lembra disso. —
Mas eles parecem incansáveis.
— Como eles conseguem ser tão babacas com uma garota
tão legal? — Jax se revolta.
— Porque a pureza dela é contagiante. — respiro fundo,
sentindo saudade e medo dentro de mim. — Isso causa inveja
neles. Não existe um coração tão bom quanto o dela.
Eles se olham e tentam esconder o sorrisinho, porque sabem
que não é hora para brincadeiras, mas sei que estão quase
revirando os olhos e dizendo o quanto estou apaixonado pela minha
melhor amiga.
Não é bem assim e talvez eu nunca conseguisse explicar o
que Norah representa para mim.
Talvez seja até mais do que o que eles imaginam.
— Quando ela me perguntou se eles tinham razão, se eu
realmente só queria uma noite com ela ou se eu estava me
apaixonando, se ela estava ficando louca ou se realmente seríamos
só amigos, eu me acovardei. Norah não precisa de mais um homem
covarde na sua vida, ela sempre me falou isso. Ela não precisou
falar mais nada e quando não lhe dei resposta, só virou as costas e
me deixou sozinho ali sozinho com a lembrança do seu olhar
decepcionado.
Se você quer me ter ao seu lado, precisa ter coragem para
permanecer aqui, Crawford.
— É, realmente não temos provas que possam nos ajudar. —
Ares parece pensar um pouco. — Quer dizer, além de que o Andrew
é um idiota do caralho.
— Se ela não tivesse sumido, hoje nós já teríamos te feito
arrancar as orelhas de tanta coisa que você ouviria sobre ser um
tremendo idiota. — Jax aponta para mim.
— Isso não importa mais, eu só preciso dela aqui e resolveria
todo o restante.
Eu preciso encontrá-la. Eu lhe fiz uma promessa e preciso
cumprir.
Norah Clark foi um furacão na minha vida. Ela é tudo que
jamais imaginei que seria merecedor de ter, mas por alguma razão,
o universo a trouxe para mim.
E eu vou cuidar do meu pequeno anjo.
Preciso me desculpar por não ter a protegido mais das piadas
idiotas. Por não ter sido o que um melhor amigo deveria ser. Por não
ter entendido o que estava lhe perturbando naquele dia. Por não ter
falado a verdade e dito que não sei o que seria de mim sem ela e
que aqueles idiotas estavam mais que certos.
Ouço a porta da frente bater e os passos acelerados pelo
corredor se aproximando. Me levanto, desejando que seja ela, mas
algo me diz para não criar esperanças.
Scott aparece na porta, ofegante e descabelado. Por mais
que seu rosto já deixasse claro que a notícia não era boa, eu jamais
imaginei o que sairia da boca dele.
— Ela foi embora. E, pelo que entendi, não vai mais voltar
10 anos depois…
Hoje completa dez anos que meu pai faleceu e a ferida de
perdê-lo ainda é crua em mim. Não é mais tão doloroso quanto foi
nos primeiros meses, ainda que em alguns momentos sinto como se
meu peito estivesse sendo esmagado.
Retiro as luvas e descarto no lixo correto, com minha
respiração descompassada, porque acabei de salvar a vida de um
homem que me lembrava a ele em todos os sentidos. Parecia que o
meu pai estava deitado naquela maca após o acidente que o tirou
de mim.
E, por mais que eu saiba que acabei de conseguir dar a
chance daquele homem voltar para sua garotinha, sinto o mundo
rodando e dói saber que por pouco meu pai também não voltou para
mim.
Eu tinha dezesseis anos quando tudo aconteceu. Lembro que
acordei com uma sensação absurdamente estranha, era como se o
mundo estivesse triste e o aperto do meu peito não parava. Ir para a
escola piorou tudo, mas eu não sabia explicar o que estava
acontecendo dentro de mim.
Quando cheguei em casa, minha mãe estava aos prantos e
com nossas malas arrumadas no porta-malas do carro. Nós
pegamos horas de estrada para reconhecer o corpo dele e, mesmo
rezando por todo o caminho para que tudo não passasse de um
erro, no fundo, eu já sabia que era verdade.
Meu pai sempre trabalhou viajando para vender vários tipos
de coisas, isso o tornava distante em alguns momentos, mas ele
sempre me amou demais. Ele sofreu um acidente em uma dessas
viagens e minha mãe reconheceu seu corpo assim que o viu. Nós
estávamos sozinhas, então ela decidiu não voltar para a nossa
casa, não aguentaria voltar sem ele. No mesmo dia, pegamos a
estrada para a casa da minha avó na Filadélfia e nunca mais
voltamos para Boulder[3].
Tudo tinha acabado. No mesmo dia em que perdi meu melhor
amigo, perdi o meu pai, a minha cidade, todos que eu conhecia e a
mim mesma. Por muito tempo, não sabia quem eu era.
Mas, as palavras que um velho amigo sempre me dizia,
nunca saíram da minha cabeça: “Você é a proprietária do seu
destino, Clark, faça dele o seu caminho para a glória.”
— Norah. — ouço Josy, a enfermeira chefe da noite, me
chamar. — Você precisa de um café.
Essas palavras sempre me fazem respirar fundo e concordar
com a cabeça.
Josy se tornou uma grande amiga desde que vim trabalhar
aqui e, por mais que seja alguns anos mais velha, ela é minha maior
confidente.
— Já falei com o All, ele vai te cobrir por vinte minutos, então
não pense em negar. — segura minha mão e me leva pelo corredor.
— Hoje é um dia daqueles, Jojo. — confesso. — Mas sei que
esse café vai me trazer de volta a realidade.
Sou uma completa viciada em cafeína, mesmo tendo plena
noção do quanto ela faz mal para o corpo humano quando
consumida em excesso.
— O que vai te fazer bem é uma cirurgia de urgência na
madrugada, é disso que você gosta. — fala e rimos.
Ela tem razão, ter a chance de poder salvar vidas é a coisa
que mais amo fazer. É isso que me move todos os dias.
— Não querendo desejar mal a alguém, mas sim, isso
renovaria minha noite.
— Você é minha garota forte. — envolve seu braço no meu.
— O que eu sempre te digo?
Rio e reviro os olhos para ela.
— Toda mulher é uma grande gostosa e grandes gostosas
não devem perder seu tempo sofrendo. — falei, sem ânimo.
— Isso, não pode esquecer do nosso mantra.
Sorrio por todo o nosso trajeto, porque esse é o grande super
poder da Josy, ela faz as pessoas se sentirem felizes.
— Como está a pequena Billie? — Pergunto sobre sua
filhinha de poucos meses.
— Dormindo. Liguei para Coll e ele disse que estava tudo
bem.
— Ela vai se adaptar a sua volta ao trabalho, sei que é uma
fase complicada, afinal, quem quer ficar longe de você? — Ela ri e
me olha com carinho. — Billie já sabe como a mãe dela é ótima.
Caminhamos pelos corredores gelados, brancos e com luzes
fortes, até o refeitório, que é nosso lugar preferido daquele hospital
depois da sala de urgência e emergência. Pedi um pedaço de bolo,
café e uma empada, porque doce sempre é melhor quando está
acompanhado de algo salgado e vice e versa. Josy sempre ria dos
meus lanches da madrugada, mas eu sempre gasto as calorias
deles na academia.
— Acho que Richard ganhou mais um jogo. — aponto para a
televisão que reprisa os melhores momentos do jogo de hoje.
— Como você e o rei dos babacas estão? — pergunta e rio
sem humor.
— Apenas esperando quem terá a coragem de terminar
primeiro. — dou de ombros. — Temos um evento super chique na
sexta e não estou nada empolgada. No início, eu adorava fazer
parte do mundo dele, é muito legal ver todos aqueles jogadores de
hóquei dentro de seus ternos apertados pelos músculos, aquelas
mulheres elegantíssimas bebendo e conversando. Eu me sentia
uma estrela do rock entre eles.
Josy ri, mas sei que é da minha cara e não porque acha isso
legal.
— Bom, eu me sentia assim quando o Richard era um cara
incrível e recém apaixonado por mim. Agora, oito meses depois, nós
já parecemos dois estranhos. — respiro fundo e mexo na comida
com o garfo. — Ele me ajudou muito, foi meu tudo por um tempo,
acho que no fundo eu ainda sou apaixonada por ele, mas a cada dia
parecemos mais diferentes.
Estou cansada de não ver mais futuro em nós dois.
— Sei que você está no seu limite e fico feliz por isso, porque
significa que a qualquer momento vai terminar definitivamente isso.
Josy o odeia, porque como todo astro do esporte, Richard é
um cafajeste despreocupado e no auge dos seus vinte e nove anos,
no seu momento de sucesso. Os tabloides falam sobre suas
noitadas, comentam sobre sua suposta namorada que quase nunca
aparece na mídia, sobre as garotas que já pegaram carona com ele,
as festas cheias de bebidas e isso a esgotou. Bom, a mim também.
Terminamos há algumas semanas, mas acabamos voltando
porque eu fui fraca e esperei ver o homem pelo o qual um dia fui
apaixonada de volta, mas percebi que não era ele que tinha que
mudar, era eu que tinha que me apaixonar por um homem que
realmente merecesse estar ao meu lado.
Richard não é esse homem, acredito que hoje vejo isso com
muita clareza, mas ainda é difícil abrir mão de tudo, mesmo não
existindo mais o mesmo sentimento. Ele foi um grande companheiro
por muito tempo.
— Você ama a ideia do homem que um dia ele foi e não
quem ele realmente é. Isso se chama apego emocional, vai passar.
Escute sua velha e boa amiga, quando um homem cresce e
continua sendo um garoto, ele nunca conseguirá ser um homem. —
faço careta e ela gargalha. — Espero que sexta você dê um pé na
bunda dele com elegância e na frente de todo mundo da equipe. —
deseja e rio.
Fui perdidamente apaixonada por Richard, mas ele fez muita
coisa mudar em mim, inclusive, o que eu sentia por ele.
— Vamos ver as cenas dos próximos capítulos. — dou de
ombros.
Acho que a carência me faz continuar com o Richard. Tenho
uma rotina infernal, mal tenho tempo para qualquer coisa que não
seja estar nesse hospital, então acaba sendo confortável estar com
alguém que é tão ocupado quanto eu. Sempre nos demos muito
bem na cama, a atração entre nós é forte. Acho que isso tem nos
sustentado nos últimos meses. Mas não posso mais ficar presa a
alguém, preciso dar novos rumos para a minha vida.
Nosso pager apita e nem consigo devorar o restante da
minha comida.
— Sua tão esperada cirurgia chegou. — Josy diz, levantando.
Corremos pelo corredor de volta ao nosso posto de trabalho e
logo a maca trazida pelos paramédicos entra em um completo caos
e tudo ao meu redor para, só aquilo importa.
Trabalhar no setor de urgência e emergência é estar cara a
cara com a morte, é olhar para o destino de cada pessoa e pensar
se ela conseguirá cumpri-lo. Minha residência é em traumatologia,
então sempre estou em contato com grandes acidentes e é isso que
quero fazer para o resto da vida, ser uma cirurgiã.
Após realizar todos os procedimentos necessários para
conseguir estabilizar o quadro da paciente, entro no banheiro e vejo
meu rosto corado, ainda com a respiração um pouco acelerada,
meus olhos brilham e mesmo com as rugas de preocupação
marcando minha testa, sei que estou onde deveria estar. Estou no
meu caminho para a glória.
Me remexo e sinto que estou absurdamente apertado, com
dor nas costas, e algo está pesando sobre minhas pernas. Tento
abrir os olhos devagar, mas a claridade parece que vai me cegar a
qualquer momento. Tento mais uma vez e vejo os fios vermelhos
sobre o meu braço.
Eu não lembro quem ela é, mas está cheirosa.
Sempre me pergunto porque merda eu tenho dificuldades de
chegar até a cama? Que porra de tesão infantil é esse?
Sou a porcaria de um jogador e preciso do meu corpo inteiro
para os treinos, mas aí eu bebo e acabo acordando em banheiras,
tapetes, cadeiras, cozinhas e sofás, exatamente como hoje.
Preciso sair daqui, mesmo adorando a sensação dos seios
dela contra minha pele, mas tenho um compromisso e eu nunca me
atraso. Puxo minhas pernas das suas e ela se remexe, tento
levantar batendo um pouco no seu corpo para que finalmente
acorde e me faça sair daqui sem precisar ficar em pé no sofá e pular
por cima dela como um Jedi[4].
— Ainda é cedo, Andrew, volte a dormir. — resmunga.
Eu conheço essa voz…
Ai caralho… ela é irmã do Ben e ele vai querer me matar.
Como você dorme com a irmã de vinte e dois anos do seu
agente, merda?
— Dany, eu preciso ir, tenho compromisso. — tento sair do
aperto no sofá de novo.
Aproveito que ela acordou e passo por cima do corpo sem
precisar pular.
— Pensei que tomaríamos café juntos. — boceja e se ajeita
no novo espaço que tem no sofá.
Eu só preciso fugir daqui, gatinha.
— Como nós já jantamos um ao outro ontem, não precisamos
de café da manhã, então estou indo embora. — rio para descontrair.
— Nós jantamos muito bem. — tenho que concordar.
Procuro minhas roupas espalhadas pelo apartamento e vou
vestindo as peças. Agradeço por já estar de cueca, porque é uma
coisa a menos. Calço meu tênis e vejo Dany quase voltando a
dormir no sofá de novo.
Me aproximo dela e beijo seu rosto.
— Dany, espero muito que seu irmão não me mate quando
ele souber que isso aconteceu, porque aquele filho da mãe sempre
dá um jeito de descobrir onde estou. Você é incrível e adorei nossa
noite. Desculpe sair assim. Aproveite sua vida.
Ela me olha sonolenta e apenas concorda com a cabeça.
Pego todas as minhas coisas e corro até o elevador. Tenho
um treino em quarenta minutos e isso não significa nada quando
você está em Nova York. Eu amo ter saído do interior do Colorado e
ter sido contratado por um dos maiores times de hóquei do país,
mas nunca vou me acostumar com o trânsito dessa cidade.
Porém, como atrasos não são permitidos no meu mundo,
pego todos os atalhos possíveis para sair das zonas turísticas e
chegar até a arena. Ligo o som do carro no volume que me faz
sentir vergonha de parar ao lado de outras pessoas no sinal e canto
aos quatro ventos, acompanhando a música pelas próximas meia
hora.
Dez minutos são tudo que um jogador, que tem um uniforme
enorme e cheio de proteção, não pode ter. Estaciono na minha vaga
padrão, o que acho absurdamente poderoso, porque escreveram o
meu nome no chão para informar que só o meu carro poderia estar
ali.
O jovem Andy explode de felicidade todas as vezes que se
lembra disso.
Nenhum dos meus companheiros de time estão no vestiário,
então me livro das roupas de qualquer jeito e começo a colocar a
calça do uniforme, camisa, proteção nos joelhos, peitoral, partes
íntimas e cotoveleiras. Visto o blusão do Ice Angels por cima e corro
até a arena com os patins nas mãos.
Mesmo treinando intensamente fora do gelo e passando por
toda a preparação necessária de um atleta, eu amo quando estou
sentindo as lâminas riscarem a camada gelada debaixo dos meus
pés. O hóquei entrou na minha vida quando eu ainda era muito
jovem. Minha mãe tentava me manter o mais afastado possível do
meu pai, então fez minha inscrição no time do colégio.
Primeiro eu achei divertido aprender a patinar no gelo e usar
o taco para acertar o disco no gol, era fantástico para uma criança.
Depois se tornou um escape, quanto mais tempo eu passava
fazendo o que amava, menos eu precisava ver meu pai agredindo
minha mãe. Na adolescência, eu entendi que era um destaque no
gelo e que esse era o caminho que iria fazer com que minha mãe
conseguisse uma nova vida.
O esporte fez com que eu salvasse minha mãe a tirando
daquela casa e afastando aquele homem das nossas vidas. Fez
com que eu descobrisse quem eu sou, com que eu entendesse
quais as minhas reais motivações e objetivos. Nada se compara a
você conquistar seus sonhos a partir da batalha com aquilo que
ama.
Crescer com meu pai foi muito difícil. Ele era muito conhecido
na nossa cidade porque tem uma loja de aviamentos. É o amigo da
vizinhança, aquele que ajuda a todos, querido por qualquer pessoa
que o conheça. O problema é que esse homem é um agressor filho
da puta. Nós viviamos como prisioneiros dentro da nossa própria
casa, com regras a serem seguidas e minha mãe era punida
fisicamente quando algo não saia como ele queria, só que quase
nunca as coisas aconteciam como ele desejava.
Ninguém sabia. Ninguém nos ajudou. Sempre fomos apenas
eu e a mulher que me protegeu de todas as formas que pôde.
E, por mais que tenhamos nos livrado dele desde que
consegui meu primeiro salário, isso tudo ainda me persegue. Ouvir a
vida inteira que eu era exatamente como ele, fez com que eu
acreditasse nisso em muitos momentos e é difícil fugir desses
pensamentos quando você vive coisas como as que eu vivi.
— Vai ficar mais trinta minutos ao final do treino, Ice. — Will,
meu treinador, grita do outro lado da arena.
— Mas estou exatamente na hora. — digo, enquanto
amarrava o cadarço com atenção para não ter o risco de machucar
o pé.
— Exatamente na hora não é o combinado. — dá de ombros
e sei que perdi essa.
Não que eu me importe de ficar até mais tarde treinando, eu
adoro. Mas não quando eu preciso recuperar horas de sono
perdidas e de uma massagem com urgência.
Piso no gelo e deixo meu corpo flutuar por toda a extensão.
Cumprimento meus amigos do time e me junto a eles para o treino
individual com o disco, onde precisamos levar o disco junto ao taco
até o final da quadra e voltar sem perdê-lo. O que eu adoro, já que
testa a minha velocidade, que é meu grande trunfo.
— Pensei que tinha voltado para casa depois de ontem. —
Emmett diz quando paro ao seu lado.
— Nunca mais me chame para uma festa como aquela.
— Você adorou, dançou com todas as meninas e deixou elas
te fazerem de pole dance. — ri e lhe olhei feio.
— Eu sou um inconsequente louco para acabar em uma
manchete que diz: “Ice, o amado das arenas do gelo, também
conhecido como Andrew Crawford, é preso porque estava em uma
festa de fraternidade.” — ele gargalha.
— Você é muito dramático, todo mundo ali é maior de idade.
— Mas eu acordei com a irmã do Ben dividindo um sofá
comigo e isso vai me fazer ouvir vários xingamentos assim que ele
descobrir.
Meu amigo me olha como se eu estivesse ferrado, porque
conhece bem meu agente e o quanto ele é absurdamente protetor
com tudo e todos.
— Você é bem burro, Andrew. Custava ter escolhido outra
garota, merda?
— Eu não lembro em que momento encontrei a Dany lá, mas
acordei na casa dela e corri para cá.
— É por isso que os tablóides dizem que o grande Ice é um
cafajeste. — debocha e tento lhe mostrar o dedo do meio com a
luva.
Começaram a me chamar de Ice porque ganhei a camisa
principal do time assim que entrei, atrai a atenção de todos por ser
uma grande aposta e superar as expectativas de todos. Depois, os
canais de esporte começaram a me chamar assim porque eu sou
destruidor no gelo, ninguém consegue me parar. Quando atraí
olhares das revistas de fofoca, começaram a se perguntar porque
eu não me envolvia em relacionamentos, tão bonito e jovem, mas
sempre solteiro, eles deduziram que meu coração é de gelo.
O que nenhum deles sabe, é que o grande e poderoso Ice, o
galã entre as mulheres, o sucesso do esporte, o queridinho das
revistas, o mais simpático dos jogadores e o mais bem pago dos
últimos anos, já foi um garoto abandonado, machucado e perdido.
E mesmo conhecendo e amando tudo que faço, tenho me
sentido um pouco sem rumo nos últimos meses. Como se algumas
coisas não tivessem mais propósito ou como se não tivessem a
importância que deveriam ter. Tem uma constante sensação no meu
peito que está buscando se reconectar com a vida. Tenho me
sentido um pouco perdido.
Quando todos saíram da pista de gelo e eu fiquei sozinho,
ouvindo o barulho do disco atingindo o gol. O silêncio ao redor era
interrompido apenas pelos meus lances.
De repente, alguém passou cantando Sweet Caroline[5] pelo
corredor e o eco trouxe baixinho até mim, isso me fez voltar dez
anos no tempo e lembrar da garota mais doce que já conheci. Só a
mera lembrança dela, já me faz sentir todas as energias indo
embora, então patino para a saída da pista e me livro dos
equipamentos.
Lembrar dela é lembrar que nunca cumprimos a promessa
que fizemos um ao outro. Guardo tudo no armário e tomo um banho,
visto minha roupa e vou para casa.
Eu pensava nela com frequência, em como ela estaria e qual
tinha sido o seu futuro. Em algumas situações, no decorrer da minha
vida, eu até me perguntava o que Norah provavelmente me diria
sobre aquilo, mas eu nunca realmente saberia. Não a vi desde o dia
em que brigamos na saída da escola, mas espero do fundo do
coração que ela tenha se tornado a mulher poderosa que eu sabia
que ela seria.
Norah Clark foi minha melhor amiga e talvez a única menina
que eu deixei se aproximar do meu coração. A única que sempre
me fez entender quem eu realmente era quando eu estava me
perdendo de mim, como agora.
Mulheres nunca ficam mais de dois meses na minha vida,
mas aquela garota sempre esteve rondando meus pensamentos. Eu
nunca soube como ela ficou após a morte do seu pai, como foi a
vida com a sua mãe, se casou, se teve bebês ou se ainda adora
cervejas.
Quando abri a porta do meu apartamento, senti todo o
cansaço da noite mal dormida me atingir. Apaguei na minha cama,
apenas de cueca, mas acordei com uma sensação estranha. Com
um frio na barriga sem explicação.
O universo estava querendo me dizer algo ou isso é só uma
dor de barriga?
Tentei me distrair na reunião com Ben, morrendo de medo
dele já ter descoberto sobre a noite com Dany e me xingar de todas
as formas possíveis, mas tudo correu bem. Organizamos o restante
dos eventos da semana, as fotos que preciso fazer na sexta e a
visita à instituição no sábado.
Quando finalizamos, me surgiu uma súbita vontade de comer
algo agridoce e eu sabia exatamente onde ir. Vesti o pior disfarce da
história da humanidade, um óculos escuro e boné.
Fui até a estação de trem desativada ao lado do hospital
central e pedi o melhor croissant de chocolate de toda a Nova York,
transformaram o prédio em uma mini galeria de lanches e lojinhas.
Peguei o elevador até o último andar e subi as escadas de
emergência até o terraço da estação, o pessoal da segurança me
adora e sempre me dão passe livre.
Sentei no parapeito e absorvi a sensação de estar no coração
da cidade.
É possível ouvir as ambulâncias chegando ao hospital de um
lado e os telões da Times Square a poucas quadras de distância,
pessoas conversando pela rua, celulares tocando, carros em
movimento, a gargalhada de uma criança, tudo isso junto ao lindo
céu de fim de tarde, que banha todo o horizonte.
O vento forte me atingiu e o frio na barriga voltou ainda mais
forte. O que será que o destino tem reservado para mim?
Olho para a parede da sala da minha mãe e não entendo
como ela conseguiu transformar todas as minhas capas de revistas
em quadros. Existem edições que eu não lembro de ter feito, de
todas as cores, com vários tipos de poses e em muitos momentos
distintos da minha vida.
Eu tinha dezoito anos quando os olheiros da faculdade
assistiram a um jogo meu, estava no auge da minha forma e era
final de temporada, dei tudo de mim, porque sabia que naquela noite
Yale estaria lá.
Eles me convidaram para conhecer a faculdade e ver como
funcionava o time deles, meu pai quase não me deixou ir, mas como
era o pai de Scott que iria nos levar, ele fingiu que estava muito feliz
com a notícia.
Quando entrei naquele campus, soube que ali era onde eu
iria construir o meu futuro. Eu queria ser advogado, queria entender
qual caminho seguir para proteger famílias como a minha. Se em
algum momento o hóquei não desse certo, eu iria lutar por essas
pessoas e pela minha mãe.
Foi naquela universidade onde tudo aconteceu, onde minha
vida se transformou, onde consegui começar a chamar a atenção
das pessoas e fui contratado antes mesmo de me formar. Era um
time menor, mas o treinador era um cara incrível e fez com que o
meu nome chegasse a grandes contratantes.
Foi nessa fase, que abri um processo contra o meu pai e fui
com a polícia tirar a minha mãe de dentro daquela casa. Eu já não
era um total desconhecido, ainda mais na cidade pequena em que
cresci, então consegui apoio de todos. Ter um político como pai de
um dos meus melhores amigos também ajudou a afastá-lo das
nossas vidas completamente.
Nós nos mudamos para um pequeno condomínio, ali foi o
nosso primeiro lar. Vivíamos apenas com o meu salário, era pouco,
mas dava para termos uma vida tranquila. Minha mãe ainda estava
com muito medo, então cuidei de nós até que conseguíssemos
cuidar um do outro.
Não demorou muito para que tudo entrasse nos eixos. Minha
vida mudou completamente quando fui contratado para o primeiro
time grande e conseguimos ganhar todos os jogos da temporada, foi
absurdamente fantástico. Meu rosto estava em todos os lugares e
as pessoas me amavam. Foi insano, mas foi o melhor momento da
minha vida.
Comprei uma cobertura para mim e uma casa para minha
mãe, ela tem seguranças e hoje é uma mulher que teve a chance de
recomeçar. Vê-la bem e feliz sempre será a minha maior
recompensa. Hilary fez tudo o que conseguiu para me proteger, para
cuidar de mim. Ela me amava, só não sabia como nos tirar daquela
vida.
Ela também era uma vítima! Agora, nós finalmente cuidamos
um do outro.
— Os meninos deram notícias? — minha mãe perguntou,
colocando uma panela na mesa. — Eles já deveriam estar
chegando.
— Estavam esperando o voo do Jax, atrasou um pouco, mas
eles já estão a caminho. — coloco os pratos que ela me entrega na
mesa.
— Faz muito tempo que não cozinho para todos vocês, estou
com medo de ter errado a mão. — olha para tudo, um pouco
preocupada. — Você poderia ter arrumado alguns amigos com
profissões normais, que envelhecem e ganham uma barriguinha de
cerveja, não atletas profissionais que precisam de uma alimentação
regrada.
Rio e ela me olha feio.
— Mãe, pela sua comida, todos nós saímos da dieta por um
dia. — abraço e beijo sua cabeça.
Ela é pequenininha e perto de mim, parece ainda mais. Minha
mãe é uma mulher incrível, forte e linda. O dinheiro a trouxe
conforto, mas nunca mudou seu coração. Hilary sempre vai ser uma
típica mulher do interior, com seu sotaque puxado e jeito leve de ver
a vida, mantendo sempre a bondade em primeiro lugar. Me orgulho
muito dela.
— Devem ser eles. — aviso, quando a campainha toca.
Antes mesmo que eu chegue até a porta, Ares a abre e vejo
meus três melhores amigos entrarem na casa como se fosse a
deles, porque no fundo, realmente é.
— Cachorros só podem entrar com permissão. — digo e
Scott me mostra o dedo do meio.
— Então por que está aqui dentro, babaca? — Ares fala e
rimos.
Fico feliz por ele ter vindo, pensei que meu amigo não
conseguiria enfrentar um evento público depois do caos que a sua
vida se tornou.
— Pensei que não chegaria mais nessa merda de cidade,
que lugar caótico até quando se pega um avião. — Jax reclama,
mas no fundo sei que ele adora Nova York.
— Você que está com quase trinta e está ficando rabugento,
tudo te incomoda. — afirmo.
— Pensei que trinta era a idade do sucesso, mas para o Jax
é só um sinal de que a velhice está chegando. — Scott fala e ganha
um soco no braço.
Alguém está realmente chateado com algo. Nos abraçamos e
eles já vão largando as malas na sala.
— Não estão na minha casa, caralho. — brigo pela bagunça.
— Deixe os rapazes chegarem, Andy, depois nós os
lembramos que são da família e por isso tem que cuidar da casa
também. — minha mãe se aproxima.
Todos vão até ela e a enchem de beijos e abraços. Se
qualquer coisa acontecesse comigo, sei que todos eles iriam cuidar
dela. Conheço Jax, Scott e Ares desde o colégio, eles
acompanharam tudo da minha vida, sofreram junto comigo a cada
coisa ruim e comemoraram as mesmas vitórias. Trilhamos nossos
caminhos juntos do dia em que nos conhecemos na sala da
orientação escolar, aos quinze anos, até nos tornarmos grandes
estrelas do esporte aos vinte e seis. Quer dizer, menos o Jax, que é
o mais velho de nós, com vinte e oito anos.
— Cada vez que vejo vocês, acho que estão mais bonitos. —
minha mãe aperta as bochechas de Jax e os bíceps de Ares, os
fazendo rir. — Umas muralhas, altos, educados e bonitos.
Eles gargalham e eu reviro os olhos.
— Mãe, não precisa exagerar. — a cortei e ela me ignora.
— Não se envolve, Andy, sua mãe precisa dizer o que sente.
— Scott fala. — Tia Hilary, você é a melhor. — passa o braço ao
redor dos ombros dela e caminham juntos até a mesa.
Todos nós acompanhamos e ocupamos nossos lugares. O
almoço estava incrível e minha mãe quis atualização de tudo da vida
dos meninos, sempre era assim. Ela diz que não acredita nas
notícias que saem sobre famosos, porque vê o quanto mentem
sobre a minha vida, então eles sempre tem que contar suas versões
das manchetes que ela viu.
Moramos todos em cidades diferentes, mas temos um
encontro fixo uma vez por mês em qualquer lugar e sempre
viajamos para ver os jogos um do outro, sem contar os grupos nas
redes sociais onde mandamos mensagem o dia inteiro. Todos
vieram para Nova York no meio da semana porque temos o evento
anual das ligas de esporte, onde grandes nomes de vários tipos
diferentes de modalidades se encontram para doações, premiações
e socialização entre os atletas e empresas.
Ganhei a minha maravilhosa parceria com a Calvin Klein em
um evento desses.
Vai ser uma viagem rápida, mas já estamos acostumados
com a vida um do outro. Amanhã é sexta, eu tenho jogo. Ares tem
uma coletiva de imprensa em Chicago. Jax tem treino e é da
seleção nacional de natação, ele é o mais chique de todos nós.
Scott vai pegar um avião para a Europa, porque tem um jogo no
final de semana. E em algum momento dessa correria, vamos
acabar nos encontrando em alguns dias, novamente.
Saber disso me faz lembrar de onde todos nós viemos e
como vencemos ao nos tornarmos tudo o que somos hoje.
Depois de ficarmos quase toda a tarde na minha mãe,
seguimos para minha casa e discutimos o caminho inteiro sobre
quem dirigia pior. Claro que ganhei essa, sou completamente
apaixonado por carros e esses idiotas sabem que sei dirigir qualquer
coisa.
Separamos as roupas que iremos usar para o jantar e Ares
reclamou mais uma vez sobre nunca se acostumar com a ideia de
se sentir um pinguim quando veste smoking.
Meu motorista nos levou para o evento dentro do horário,
Marcus entendia bem as minhas questões com atrasos e meus
amigos também, então todos respeitavam isso sem nenhum
problema.
Quando o carro parou, atraímos toda a atenção dos
fotógrafos. A mídia amava nos ver juntos, os quatro rostos do
momento, grandes atletas, sempre nos tabloides, as pessoas amam
nossa amizade e vão a loucura quando registram nossos momentos
juntos.
Pousamos para todas as fotos, respondemos algumas breves
perguntas e entramos.
— O Ares veio o tempo inteiro no celular. — Scott fala. —
Alguém sabe o que ele está escondendo?
Ares apenas ergueu uma sobrancelha na direção do nosso
amigo, mas todos nós ficamos esperando uma resposta.
— Foi o tubarão aí que chegou todo aborrecido só porque
perdeu o voo. — Ares aponta para Jax. — encham o saco dele.
Ares é o mais recluso de nós, mas sempre conseguimos o
acessar. Jax é o mais centrado, mas também o que mais provoca.
Scott é um dos mais fodidos psicologicamente, mas é o nosso
equilíbrio, não perde a paciência com tanta facilidade. E eu sou uma
junção de todos eles, mesmo sendo muito calmo, também sou o
mais brincalhão e debochado, ao mesmo tempo, brigo com eles
quando fazem merda. Nós protegemos uns aos outros.
Seguimos cumprimentando as pessoas até o bar, pedimos
nossas bebidas e escolhemos uma mesa alta para apoiar os copos.
Olho em volta e tantas mulheres bonitas juntas fazem meus olhos
brilharem.
— Eu preciso sair daqui direto para a cama de uma jogadora
de vôlei hoje. — Jax diz, erguendo a taça para uma mulher do outro
lado do salão.
— Você é tão chato, deve ser entediante na cama. —
debocho e ele me dá um olhar mortal.
— Pergunte a opinião da Suzy Morgan, ela vai adorar
responder como eu sou entediante. — mantém o tom calmo.
Filho da mãe.
— Não me lembre dessa história, ainda não nos resolvemos
bem quanto a isso. — aviso e ele sorri, sabendo que venceu.
— Supera Andy, ela preferiu o Jax. — Ares fala, sem tirar os
olhos do celular.
— O que merda você tanto faz nesse celular, Ares? —
perguntamos todos de uma vez.
Ele nos olha como se fôssemos insuportáveis, mas sabemos
que ele está escondendo algo.
— Aquele caralho de mulher impossível não para de arrancar
os meus neurônios. Não sei onde estava com a cabeça quando
aceitei essa merda de namoro falso. — Ares responde, bravo.
Meu amigo realmente está precisando limpar a imagem.
Quem conhecia Ares antes do desastre que aconteceu na sua vida,
o via de outra forma. Aquela noite o transformou, lhe pôs limites e
ele passou a sentir um peso muito maior sobre suas costas. Agora
está com um contrato de namoro falso por um bom prazo e parece
que a Victoria[6] o coloca no lugar rapidinho.
— É claro que você deveria estar mostrando para nós o
quanto a Vic te esculacha. — Scott puxa o celular da mão dele. —
Nossa, ela é boa nas respostas. E linda! Você poderia me
apresentar a ela. Enquanto vocês fingem um contrato, me
contentaria em mostrar a ela como é ter um homem de verdade.
— Devolve essa merda. — Ares pega o aparelho de volta.
— Parem de brigar como duas crianças e olhem quem
chegou. — Jax aponta discretamente para a entrada com a cabeça.
Richard St. Cloud está na porta, falando com o capitão do
seu time. Se existe alguém no mundo que eu odeio, esse alguém é
esse cara. Nós não gostamos um do outro e isso é claro pela
quantidade de vezes que já brigamos durante as partidas. Eu quase
quebrei o nariz dele em uma discussão, ele quase fraturou o meu pé
em uma jogada muito bem pensada e maléfica. É um tremendo
babaca, arrogante e cheio de prepotência. Um riquinho que não
sabe nada sobre a vida e quer ser alguém importante.
Vai passar a vida comendo o resto do gelo dos meus patins.
A multidão ao seu redor vai se dissipando e posso ver que
ele está acompanhado. Uma mulher deslumbrante sorri para
algumas pessoas e sei que eles namoram há algum tempo, mas
nunca tinha a visto tão de perto. Seus traços são familiares, tenho
certeza que conheço essa mulher de algum lugar.
Aqueles olhos azuis, sei que os conheço.
Os cabelos loiros da mulher parecem brilhar a cada
movimento seu. Seus olhos parecem sorrir, seu rosto é delicado e
seu sorriso é capaz de matar qualquer pessoa desse lugar. Seu
corpo foi desenhado a mão e cada curva está delineada pelo vestido
preto que ela está vestindo.
— Aquela é a namorada dele? — Jax pergunta surpreso.
— O rosto dela parece tão familiar. — Scott deita a cabeça
para observar melhor.
— Nunca tinha realmente a visto, apenas de relance nas
arquibancadas durante os jogos. — cerro os olhos, captando cada
um dos seus detalhes. — Não é possível que seja quem estou
pensando, isso seria loucura. — quase sussurro.
Seria absurdo demais até para o universo se aquela mulher
fosse quem ela parece ser.
De repente, Ares quase cospe sua bebida, nos fazendo olhar
surpresos para ele.
— Caralho. — ele diz, de queixo caído. — Vocês não estão
mesmo a reconhecendo? — olhamos em direção a ela novamente.
— É a Norah Clark. A Clark, que estudou com a gente.
Ouvir isso sendo pronunciado fez meu coração despencar.
Não pode ser real.
Minha Norah está aqui!
Já se passou tanto tempo, não era possível!
Eu tentei me convencer de que estava errado, até Richard
beijar seu rosto e a fazer gargalhar. Aquela risada, aquela chama de
vida que só ela conseguia acender dentro de mim com apenas um
sorriso.
Ele se afastou, a deixando sozinha no bar, então eu tive mais
uma certeza de que não estava sonhando. Ela brincou com os
dedos em nervosismo, sem cruzar os olhos com ninguém, respirou
fundo, ergueu a cabeça e vestiu a máscara, sentando no bar e
pedindo uma bebida.
Algumas coisas nem o tempo é capaz de mudar.
Ela está aqui!
Eu a encontrei!
Josy tinha razão, esse vestido me deixou linda. O tecido
escuro se destacou na minha pele e ressaltou a cor dos meus olhos.
Richard me deu um lindo colar hoje quando foi me buscar e
combinou perfeitamente com as minhas outras jóias.
Ele estava lindo, como um bom jogador em seu traje de gala.
Nós conversamos durante todo o caminho porque mal nos
falamos por todo o dia. Contei-lhe sobre o que fiz na minha folga de
hoje e ele falou sobre os treinos. O evento de hoje é muito
importante para ele, pois finalmente conhecerá o dono de uma
grande empresa que talvez se torne um patrocínio.
Na entrada, tiramos várias fotos. Essa é uma das poucas
vezes que aparecemos na mídia e a euforia das pessoas ainda me
assusta. Quando entramos, falamos rapidamente com alguns rostos
já conhecidos, mas logo Richard vai para uma pequena reunião e eu
escolho ficar no bar.
Não nasci para ser enfeite de um homem enquanto ele
resolve sua vida em uma mesa de vendas. Não gosto dessas
situações e, muito menos, de precisar estar trancada em uma sala
apenas ouvindo homens velhos achando que são donos do mundo.
Prefiro mil vezes a companhia de um bom líquido alcoólico.
Aceito a taça de champagne que o garçom me oferece com
um sorriso de agradecimento.
— Norah Emanuelly Clark. — a voz forte me atinge,
paralisando todo o meu corpo. — Nunca pensei que colocaria meus
olhos em você de novo.
Andrew Crawford. Meu melhor amigo da adolescência. Meu
primeiro amor. O primeiro homem que mentiu para mim. Eu o
conhecia como Andy, mas o mundo o conhece como Ice.
— O que um garoto do Colorado faz em um evento como
esse? — Brinco, fingindo não está surtando por dentro.
É claro que eu sabia o que ele estava fazendo ali, eu sempre
soube tudo sobre ele. Até quando eu quis fugir, o mundo não me
permitiu esquecer o grande sucesso do hóquei.
Viro em sua direção e posso jurar que, por um segundo, parei
de respirar.
— Te pergunto o mesmo, o que uma mulher desaparecida há
dez anos faz em um evento como esse? — me observa com toda a
intensidade que só aqueles olhos tem.
Andrew está de pé, quase ao meu lado. Vestido em um
smoking que parece feito sob medida. Parece que tentou domar seu
cabelo, mas as ondas rebeldes que ele tem, não ficam quietas. Sua
barba está grande e bem delineada, seus lábios finos, seu nariz
perfeito e os olhos verdes mais perigosos que podem cruzar o
caminho de uma mulher.
Eu o vi três vezes desde que comecei a namorar com
Richard, todas as vezes em jogos e sempre de longe, mas meu
coração sempre pareceu pronto para pular do peito. Mas como ele e
meu atual namorado se odeiam, Andy sempre fica o mais longe
possível, o que foi ótimo para mim.
Andrew tinha se tornado tudo que eu imaginei que ele seria,
tudo que ele merecia ser.
— Já faz muito tempo, Norah. — ele parece falar muito mais
para ele do que para mim.
Ele parece lamentar por isso e por muito tempo, eu também
lamentei que as coisas tivessem acontecido daquela forma.
Eu precisei muito de você, Andy, mas você não esteve lá.
— Como você está, Andy? — pergunto e o apelido escapa
sem querer.
Os olhos dele vacilam e um leve sorrisinho surge
discretamente no canto de seus lábios.
Maldito fraco coração, se comporte, ele é apenas um homem
que um dia eu conheci.
— Com certeza, bem melhor agora. — se aproxima e senta
ao meu lado.
Não seja um filho da mãe galante comigo, Crawford, eu
conheço você.
Bom, eu acho que ainda conheço.
Ele apoia os braços no balcão e pede uma bebida que nem
entendo o nome porque o cheiro dele me faz perder os sentidos por
um momento.
— O que você fez da vida, Norah? — seus olhos estão
atentos aos meus.
— Eu me tornei uma médica. — dou de ombros e o sorriso
mais bonito que já vi surge no rosto daquele homem.
Ele está genuinamente feliz em saber disso.
— É claro que você se tornou uma salvadora de vidas, Clark.
Você sempre foi incrível demais para ser algo menos que uma semi-
deusa. — o sorriso se mantém em seu rosto.
E não consigo evitar sorrir também.
— Estou terminando a residência em cirurgia, trabalho no
hospital central. Estou morando aqui desde que entrei na faculdade
e agora tenho uma irmã de seis anos. — o queixo dele cai. — Mas e
você, Andrew, como está sua vida?
— Melhor do que eu mereço. — rimos. — Tudo aconteceu,
absolutamente tudo aquilo que eu sonhava e que te disse aos
dezesseis anos.
Nossos olhos se cruzam e sinto uma bomba explodir dentro
de mim. Andrew Crawford sempre teve a facilidade de conseguir
acessar minha alma e, mesmo depois de dez anos, parece que ele
ainda me lê.
Todas as gerações de borboletas estão batendo no meu
estômago. Minhas mãos estão levemente geladas, meu coração
perdeu completamente o ritmo, porque nada se compara aos brilhos
nos olhos dele.
— Fico feliz que tudo tenha se realizado, Andrew. — falo com
sinceridade. — Não posso dizer que não sei nada sobre você agora,
afinal, o mundo inteiro conhece seu rosto.
Ele sorri, mas sei que está um pouco sem graça.
— Por que você nunca me procurou, Norah? — ele
questiona, sem me olhar.
— Isso não importa mais, Andrew. — termino a minha taça e
levanto. — Parabéns pela sua nova vida. — toco seu ombro e sorrio
levemente. — Foi bom finalmente falar com você depois de tanto
tempo. Seja feliz, Andy. Agora preciso encontrar meu namorado.
Não lhe dou tempo para resposta porque já estou me
afastando salão adentro. Vejo os meninos do outro lado com os
olhos vidrados em nós e mudo meu caminho até eles. Um sorriso
envergonhado toma meu rosto, mas vejo que todos eles estão
felizes e surpresos de me verem.
Esses quatro homens foram meus fiéis escudeiros durante
muito tempo. Ares era o mais forte. Scott pegava os carros de luxo
do pai para que pudéssemos andar escondido. Jax era o mais
quieto, mas estava sempre cuidando de nós. Andy era o nosso elo.
— Acho que é impossível esquecer um furacão quando ele
passa na sua vida. — Scott fala quando cheguei até eles e rimos.
Eu amava ser a Hurricane.
— É bom finalmente encontrar vocês pessoalmente e juntos.
— confesso.
— Você está ainda mais deslumbrante do que pensei que
seria, Norah. — Jax fala, beijando minha mão. — É bom vê-la
novamente.
— Obrigada! — sorrio. — Vocês estão absurdamente bonitos,
não era assim da última vez que os vi.
— Nós sempre fomos os mais bonitos e legais daquele lugar
de merda, Hurricane. — Ares fala com o seu jeito emburrado.
Não resisto e o abraço. Era bom reencontrar meus antigos
amigos, vivi muitos momentos importantes com eles e depois que
tudo aconteceu, todos viraram famosos e pensei que jamais falaria
com eles de novo.
— Foi ótimo ver vocês. — confesso sorrindo. — Mas agora
preciso encontrar meu namorado.
— Bom, ninguém pode ser perfeito. — Jax da de ombros e
faz cara de decepção. — Se até a Norah Clark toma decisões ruins,
eu tenho que me perdoar pelas minhas.
Scott bate no braço dele e sorrio. Sei que Richard e eles tem
uma péssima relação, até porque Andrew é seu maior rival, então
entendo o porquê dele pensar isso sobre meu namoro.
— Acho que no fundo, vocês não mudaram quase nada. Boa
noite, meninos. Tenham um ótimo evento.
Me afasto sem olhar para trás, porque meu coração não
aguentaria enfrentar os olhos de Andrew em mim e estou sentido
ele em minhas costas desde que o deixei no bar.
Procuro Richard entre as pessoas, mas não o encontro. Me
junto aos jogadores do seu time na mesa reservada para eles e
converso com algumas pessoas enquanto espero que ele volte.
Porém, o tempo passa, o evento começa e ele não aparece.
Todos já estão em seus respectivos lugares, não é possível que ele
esteja em uma conversa com alguém.
Peço licença e vou até o banheiro, ainda no corredor, procuro
o meu celular e ligo para o seu número. Mas no momento exato que
empurro a porta, ouço o som vindo de dentro do banheiro.
Meu cérebro não consegue ligar as informações com a
rapidez necessária, porque a cena à minha frente deixa tudo muito
claro. Meu namorado está aos beijos com a fisioterapeuta do time.
As mãos dele estão dentro do vestido dela. Dou um passo
para frente e deixo a porta bater com toda atrás de mim, atraindo a
atenção deles. Agradeço aos anos trabalhando no hospital por ter
me ensinado a controlar bem minhas emoções, porque se não eu
estaria arrancando o pau dele agora.
— Norah. — ele fala com os olhos arregalados e
completamente surpreso.
— É isso que você faz quando inventa aquelas milhares de
mentiras para mim? — aponto para a cena e mantenho meu tom
calmo.
Porque o que ele espera é que eu grite e perca o controle,
mas nenhuma vingança é tão bonita quanto aquela que ganhamos
com a indiferença.
— Linda... — ele vem em minha direção e me afasto.
— Não se atreva a me tocar com essas mãos que estavam
na boceta daquela mulher há segundos atrás. — aviso séria e ele
para.
O rosto de Richard não tem mais cor, ele não consegue
formular nada, nem para tentar mentir um pouco mais e se defender.
Seus olhos estão perdidos, ele abre e fecha a boca sem conseguir
completar uma palavra.
O que não adiantaria de nada, pois ele nunca mais vai me ter.
— Por favor, vamos conversar em casa. — ele diz e nego
com a cabeça.
— Eu não preciso conversar com você. E vou te falar uma
coisa, porque não sou covarde e sem caráter como você: quando
nos comprometemos a estar com alguém, não estamos colocando
nosso nome em um relacionamento aberto. Se você abriu a nossa
relação, acho que esqueceu apenas de me perguntar se eu também
queria entrar nessa. Eu ia adorar pegar alguns dos seus colegas de
time. — debocho. — Mas, como você não tem decência, vou deixar
algumas coisas claras aqui: nunca mais pise na porta da minha
casa, você está proibido de me ligar ou tentar qualquer contato
comigo, não me procure e, se me ver na rua, finja que nunca me
conheceu na vida. E eu só espero, que um dia, volte para você tudo
de ruim que você faz para as pessoas.
Meu tom é firme e ele sabe que não estou brincando. Olho
mais uma vez a cena completa para não esquecer nunca mais da
sensação ridícula que é ser enganada por quem você confia.
Não lhe dou tempo nem de questionar, ele não tem esse
direito. Eu vi, ele não pode mentir e é isso que está o sufocando, ele
não pode tentar me enganar porque eu presenciei tudo.
Saio apressada porque sei que ele tentará vir até a mim
enquanto eu estiver aqui. Richard não tem escrúpulos, ele ainda
tentará pedir desculpas.
Peço um carro de aplicativo, mas antes de sair, olhei ao redor
deste lugar, e só consigo ver um monte de jogadores fúteis, que não
passam de dublês de homens de verdade.
Todos querendo saber quem é o mais forte, mijando nas
pilastras para tentar encolher quem é o melhor entre todos eles, se
vendendo por publicidades e buscando, através do dinheiro,
preencher uma falta que sempre vai existir, a de uma vida sem
farsas.
Estar no meio de tantos egos frágeis, me cansa.
E eu nunca mais cederei a nenhum tipinho de homem como
esse.
— Eu não acredito que procuramos tanto aquela garota e a
encontramos assim. — Scott fala, se livrando da gravata.
Acabamos de entrar no meu apartamento e o assunto da
noite veio à tona.
— Não consigo parar de me perguntar porque ela saiu
daquele jeito do evento. — Ares comentou, pensativo.
— Com certeza o babaca do namorado dela fez algo. — Jax
diz como se fosse óbvio. — E ele ainda apareceu no evento e agiu
como se nada tivesse acontecido.
— Ela pode ter tido uma emergência no hospital — falo
pensativo, me livrando do blazer.
— Hospital? — eles perguntam juntos.
— Norah é uma médica agora — conto o que ela me disse.
— Eu pensei que ela seria uma astronauta ou algo do tipo,
mas uma médica combina bem com a Hurricane. — Scott se joga no
sofá.
Jax pega uma cerveja na geladeira e peço uma também. Me
encosto no balcão ao lado de Ares e Jax senta em uma das
cadeiras da mesa.
— Como você se sentiu quando a viu? — Ares quebra o
silêncio.
E todos eles estão olhando para mim.
— Não sei. — respiro fundo. — Eu só conseguia pensar que
ela estava ali e linda para um cacete.
— Deu para perceber, você simplesmente saiu andando e
nos deixou lá plantados, porque foi hipnotizado pela Norah Clark
pela segunda vez na vida. — Scott provoca e lhe mostro o dedo do
meio.
Jax gargalha e Ares sorri porque já sabe do que ele vai falar.
— Vocês lembram como foi a primeira vez que ele a viu no
colégio? — Jax pergunta e gargalham. — Ele derrubou a bandeja de
comida no diretor.
E fui para a detenção porque eu era um jovem movido pela
cabeça de baixo e nunca tinha visto uma garota tão bonita quanto
ela.
Em minha defesa, isso faz muito tempo.
— Isso faz uns quinze anos, idiotas. Eu só fiquei surpreso
demais quando a vi. Nós não sabíamos do paradeiro dela há anos,
fui pego de surpresa.
Eles se olham e dão uma risadinha.
Conviver com os meninos é um constante desequilíbrio de
emoção, afinal, eu os odeio e os amo na mesma proporção,
dependendo da merda que eles estejam falando.
Por mais que eu ainda sinta falta de estarmos sempre juntos,
conseguimos lidar com a distância assim, em momentos como
esses. Quando nos encontramos estamos no auge da nossa
amizade, mas depois de algumas horas, eu quero os expulsar
daqui.
— Ninguém quer comentar sobre como o Scott quase levou
um soco daquele jogador no último jogo? Porque eu acho esse
assunto bem mais interessante. — toco no assunto que sei que eles
vão adorar comentar.
— Scott, merda, o que deu em você? — Jax vira para ele
imediatamente. — Já combinamos de só nos meter em briga se nos
provocarem primeiro.
Todos entramos no assunto da quase briga de Scott em um
dos jogos mais importantes da última temporada. Nós já falamos
sobre isso no nosso grupo, mas nada como comentar
pessoalmente. E eu precisava tirar o assunto de Norah.
Quando vimos que já estava tarde demais e amanhã todos
eles tinham voo cedo, fomos para os quartos, mas não consegui
pregar os olhos. Apoio meu corpo na enorme janela de vidro do meu
quarto e observo a noite iluminada de Nova York. As luzes da ponte
que liga Manhattan e o Brooklyn mais ao longe e os carros
passando por elas.
É incrível como o destino é perspicaz. Espero encontrá-la
durante todos esses anos, mas ela sempre esteve ao meu lado,
sentada do outro lado da arquibancada.
Como ela conheceu Richard St. Cloud?
Como um idiota daqueles conseguiu conquistá-la?
Não faz sentido algum.
Não consigo esquecer aqueles olhos hipnotizantes. Norah
está absurdamente linda. Quando me aproximei dela, meus
pensamentos sumiram, ela era a única coisa que ocupava minha
mente. Decorei cada detalhe que consegui reparar, porque se eu
nunca mais a encontrar, não esquecerei essa cena jamais.
Os fios loiros e longos dos seus cabelos que chegam quase
até a cintura, as unhas curtas e pintadas em tons claros, os brincos
delicados, as pernas torneadas, os lábios cheios e o rosto bem
delineado. Ela não tem mais as expressões delicadas de uma
menina, seu rosto carrega a força da mulher que ela se tornou.
Balanço a cabeça tentando afastar esses pensamentos de
mim. Sei que estou assim pela surpresa, mas ela é só alguém que
eu conheci há muito tempo. Não sei mais no que ela acredita, quais
os seus princípios ou valores, não sei nada além do fato que ela tem
um péssimo namorado e isso pode dizer muito sobre a pessoa que
ela se tornou.
Sempre tive medo de que algo ruim tivesse acontecido com
ela nesses anos, agora sei que ela está bem e isso me conforta de
alguma forma.
Fico feliz que ela esteja bem e feliz, que tenha construído sua
vida e conquistado seus sonhos. Mas eu não sou mais o Andy e ela
não é mais o meu anjo.
Me remexi na cama e ouvi as vozes vindas do outro lado da
porta, o que indica que alguém acordou e está assistindo tv. Penso
que é o Jax, já que ele é o nosso cozinheiro oficial, mas nunca quer
lavar a louça. Levanto de cueca mesmo para ir atrás deles.
Caminho até a cozinha e vejo o caos propagado. Scott está
tomando um café com chantilly e o cheiro no ambiente é muito bom.
— Onde estão os outros visitantes deste apartamento?
— Foram embora, Ares teve um imprevisto e deixou
mensagens no grupo. Jax odeia Nova York, você sabe. — ele
pausa, mas então me dá um sorriso e aponta para o seu celular. —
Você já viu as notícias?
— Não sei nem onde está o meu celular. — me aproximo e
roubo a xícara da sua mão, bebendo um pouco do seu café.
Ele me xinga e larga o celular na minha frente para que eu
veja.
Richard St. Cloud chamou atenção ao chegar ao evento anual da
liga esportiva acompanhado por sua, até então, namorada, mas
deixou o evento completamente sozinho. A garota foi vista indo
embora ainda durante a realização do evento desacompanhada. Só
que o que mais chamou atenção, foi a ida do astro de hóquei a uma
balada, após a saída do evento, e ser clicado com várias mulheres,
muitas bebidas e curtindo a noite agitada. Acho que alguém ficou
oficialmente solteiro durante um dos eventos esportivos mais
importantes do ano.
Merda, ela está solteira e a poucos quarteirões de mim.
Trinta dias se passaram desde que colocaram na televisão
fotos minhas saindo do evento da gala na noite em que descobri
estar sendo traída. A mídia repercutiu o assunto por uma semana e
logo se acalmou, porque a temporada de jogos de hóquei começou
e as manchetes agora são sobre as jogadas perfeitas ou
desclassificações.
Nos primeiros dias, eu sofri igual uma idiota, porque foi
exatamente isso que eu fui. Por mais que sentisse que nossa
relação já não fosse mais a mesma, não acreditava que ele pudesse
ser tão desrespeitoso comigo. Richard mandou uma simples
mensagem se desculpando no dia seguinte e disse que entendia
que eu não o quisesse mais.
Ele não tentou nem me convencer, não que eu fosse aceitar,
porque eu não iria. Mas ele não tentou ao menos ligar e dar uma
explicação. Eu não significava nada para ele.
Agora estou na fase de odiá-lo, porque ele não teve a
decência de terminar comigo enquanto queria estar com outras
pessoas e me faz passar vergonha em rede nacional com várias
fotos na balada, assim que tínhamos terminado.
Ele não se importa.
Quando um homem tem o mundo aos seus pés, ele faz o que
quer com ele. E é isso que Richard e todos esses jogadores fazem,
se aproveitam da sua popularidade, seu dinheiro e do seu poder
para fazerem o que bem entenderem, tratando pessoas como
objetos.
Depois de conversar um pouco com Josy, consegui lhe contar
sobre como tudo aconteceu e como estou me sentindo. Mas ela
está tão atarefada com sua bebê que não consegue conversar
direito, e eu a entendo perfeitamente. Tentei ligar para Tom e ele
não atendeu, mas como é um ótimo amigo, sei que ele retorna a
ligação assim que possível. Eu não fiz tantos amigos em Nova York,
algumas relações se perderam com os anos de faculdade, mas
meus confidentes reais são Josy e Tom, que são incríveis, mas que
tem uma vida corrida demais para se preocupar com as minhas.
Sempre fui sozinha, agora estou me sentindo um pouco mais e, por
mais que eu não goste, sei que preciso..
Finalizei meu plantão mais cedo e tomei um banho no
hospital mesmo. Vesti uma roupa confortável e desci no elevador
para o andar do estacionamento. Existe um bar rústico e mais
reservado a duas quadras daqui e só pensei nele quando decidi que
faria algo por mim hoje.
Sempre que queremos tomar alguma coisa após o trabalho
nos reunimos aqui, conhecemos os garçons e o gerente. Escolhi
uma das banquetas no bar e sorri para a barwoman.
— O que vai querer hoje, doutora? — Kaly pergunta.
— Uma dose de bourbon.
— Uma bebida forte — ela comenta enquanto pega a garrafa.
— Muitos problemas no trabalho?
— Problemas amorosos.
Ela me olha e acrescenta mais bebida à minha dose, me
fazendo sorrir.
— Trabalhando aqui eu já ouvi histórias que vão de amores
épicos a casais que acabaram sentindo ódio mortal um pelo outro.
Mas aprendi que o melhor conselho que posso te dar é, conheça
outra pessoa, porque quando sofremos por alguém, esquecemos
que existe um mundo além dela. Se permita desejar outro alguém,
veja que você ainda é capaz disso, beije na boca, acabe na cama
de um cara qualquer e depois volte para casa entendendo que você
ainda está viva.
Tomo um pouco da minha bebida, tentando absorver tudo
que Kaly me falou. Não estive com mais ninguém desde Richard,
não sai de casa todos esses dias e não me dei a chance de ter uma
vida normal de volta.
Está na hora de tentar.
Josy tem razão quando diz que eu estou sofrendo pela perda
do homem que eu imaginei que ele era, mas que há muito tempo eu
já sabia que ele não era o certo para mim.
— Toda mulher é uma grande gostosa e grandes gostosas
não devem perder seu tempo sofrendo. — ergo o copo e Kaly brinda
com a garrafa.
Ouço as risadas no fundo do bar e vejo um grupo de
mulheres e homens cantando e tocando na sua mesa. Eles parecem
felizes e bêbados. Gritam e erguem seus copos quando terminam a
música. O homem que tocava o violão levanta e começa a caminhar
até o bar, não consigo ver seu rosto por conta da luz e do boné que
usa. Desvio o olhar quando ele se aproxima para que não seja pega
no flagra.
Ele senta no banco ao meu lado e acaba batendo sua perna
na minha.
— Desculpa, linda. — fala rápido e sua voz chama minha
atenção. — Kalyzinha, preciso da sua melhor vodka.
A forma como meu corpo fica tenso já deixa claro quem é
aquele homem.
O universo só pode estar brincando comigo.
Viro o rosto em sua direção e Deus, como esse homem
consegue ficar ainda mais bonito quando está casual. Ele tem o
perfil de um deus grego. O maxilar quadrado, os lábios bem
desenhados, nariz reto e afilado, cílios enormes, as ondas do seu
cabelo escapando por alguns lugares do boné. Suas bochechas
estão rosadas, pela euforia da música que cantava com as pessoas
segundos atrás e o sorriso largo em seu rosto me fazem querer
fotografar a cena.
Ele sente que estou o observando e vira o rosto em minha
direção. Diferente do que eu pensei, seu sorriso não morre, mas
seus olhos ganham vida quando me reconhecem.
— O que a linda Dra. Clark está fazendo sozinha na noite
movimentada de Nova York? — Kaly entrega a bebida que ele pediu
e volta a encher meu copo. — E tomando um bourbon.
Sorrio pela surpresa em seu rosto. Nós começamos a beber
juntos e eu adorava tudo que fosse doce demais. Adolescentes com
carteiras de identidade falsas e uma altura acima da média
conseguiam fazer tudo. Ele sempre dizia que aquilo que eu bebia
não era álcool de verdade, até quando tinha que cuidar de mim
depois que eu passava do ponto.
— Acho que finalmente conheci bebidas de verdade. — dou
de ombros e ele joga a cabeça para trás gargalhando.
Ele sabe o que eu quis dizer, sabe que me referi a nossa
adolescência.
A sua gargalhada forte e rouca faz o meu corpo arrepiar.
— Bom, eu continuo adorando tudo que me faça ver estrelas
a partir da sexta dose. — é a minha vez de sorrir.
— Você não deveria estar treinando para a temporada?
— Ganhamos o primeiro jogo ontem, adorei fazer o seu ex-
namorado beijar o gelo. — fala com ar de superioridade.
No fundo, fico feliz que Richard tenha perdido o jogo. Posso
estar errada, mas agora que ele quero ele sofra pelo menos um
pouco, do que me fez sentir naquela noite.
— O assunto ex-namorado está proibido para a nossa garota
hoje a noite, Andrew. — Kaly diz e rimos.
— Obrigada, Kaly, mas estou bem. — garanto. — Por que
vocês se odeiam tanto?
— Começamos jogando no mesmo time, mas quando os Ice
começaram a me sondar, Richard não aceitou bem e começou a
querer me prejudicar. Ele tentou inventar mentiras sobre mim no
time, fazendo com que eu errasse nos treinos, quase nos envolveu
em um acidente na pista e a gota d'água, eu quebrei o nariz dele
com um soco. Pessoas ruins pensam que não estão sendo
observadas, mas todos ao nosso redor já tinham percebido que ele
não tinha uma boa índole. O treinador não me tirou do jogo principal,
mas ele não pôde jogar por conta da recuperação. Eu fui contratado
e ele seguiu para seu time atual. — conta com indiferença. — Mas
estou realmente curioso para saber como vocês se conheceram.
Conta com naturalidade e sem um pingo de remorso por ter
quebrado o nariz de Richard. Se fosse alguns anos atrás, ele
estaria odiando ter sido agressivo com alguém. Andy sempre odiou
violência, mas nada o segura quando ele perde o controle, por isso
ele tem tanto medo.
— Consegui um estágio extracurricular com um médico
esportista muito importante que atende na base de treino dele,
foram poucos meses e logo entrei na residência. Mas nos
conhecemos lá, ele sempre era muito educado e respeitoso, mas eu
sentia seus olhares e sorrisos. Um dia ele me chamou para sair,
porém eu não misturo trabalho e vida pessoal, então ele esperou o
meu estágio terminar e me convidou para jantar na minha primeira
noite de atendimento no hospital. Desde então, não nos largamos
mais, até quando terminamos a um mês atrás.
Ele escuta com atenção e me observa proferir cada palavra,
como se tudo que eu falasse fosse algo que ele quisesse guardar.
— Não me entenda mal, mas que bom que finalmente se
livrou daquele idiota. Você não merece alguém que não tenha um
pingo de caráter.
Andrew sempre teve muitas questões quanto a se envolver
em relacionamentos, afinal, teve o exemplo vivo do pior que um
casal pode viver. E por mais que seja um pensamento trazido por
lembranças ruins, esse assunto me faz lembrar de alguém muito
especial.
— Como está a sua mãe? — pergunto e ele sorri, tomando
sua bebida.
— Feliz. — vejo o peso dos seus ombros cederem e o leve
sorriso de vitória que surge em seu rosto. — Ela combina blusas de
liquidação, com sapatos de dez mil dólares. Contratou uma
cozinheira, mas não a deixou cozinhar. Tem sua própria sauna e
adora as bebidas mais baratas do supermercado. Ainda liga para
mim todo final de tarde para saber onde estou, mas está tendo a
vida que sempre mereceu.
Meu coração se aperta, de tristeza pelo passado e de
felicidade pelo presente. Hillary sempre foi uma mulher incrível, mas
a última lembrança que tenho dela, ainda é de uma mulher
absurdamente machucada, magra demais, com olhos assustados e
sempre em alerta. Saber que ela está bem me deixa em paz.
— Ela merece. — ele concorda com a cabeça.
— Você me disse que tinha uma irmã, me fale sobre ela. —
pede, me olhando com intensidade.
É a minha vez de sorrir.
— Ver minha mãe casar de novo não foi fácil, mas quando
Sophie chegou, algo mudou em mim. Ela tem seis anos e é a
garotinha mais inteligente que já vi. Nos falamos quase todos os
dias e ela adora dormir ouvindo as histórias das minhas cirurgias. —
rimos. — Morar longe dela foi complicado, mas acabamos
acostumando, ela vem me visitar ou eu vou até ela, mas sempre
estamos juntas. Inclusive, ela diz que vai ser patinadora e ama
esportes no gelo.
— Essa daí é das minhas. Garota esperta. — rimos. — Ela
parece com você? — Ele pergunta ainda com um sorriso no rosto.
Peguei o meu celular do bolso e mostrei para ele a minha tela
de bloqueio.
— Ah meu Deus, olha essas bochechas. — Ele pega o
aparelho da minha mão e sorrio. — Ela é muito mais loira do que
você era, mas vocês têm os mesmos olhos. E ela com certeza
parece mais com a sua mãe do que você.
— Sim, ela é a cópia fiel da minha mãe e o Todd, meu
padrasto, finge que o nariz dela é igual ao dele. — ele me olha e sei
que, assim como nós, ele também não concorda com isso.
Essa é a segunda vez que nos encontramos, mas em alguns
momentos parece que nem nos separamos. Eu contaria toda a
minha vida ao Andrew e sinto que ele faria o mesmo. Mas mesmo
depois de tantos anos, ainda somos os jovens que se conheciam
como ninguém?
Secamos nossos copos e Andrew pediu uma garrafa de
bourbon. Quando Kaly o entregou, ele piscou para ela em
agradecimento e rodou em seu banco, ficando de frente para mim.
— Você está tentando esquecer ele hoje a noite? —
pergunta, com o tom calmo.
— Acho que já passei dessa fase, estou tentando me livrar do
que sobrou.
— Posso te fazer uma proposta? — eu vejo a chama
surgindo no fundo dos seus olhos verdes e concordo. — Você me
deixa te fazer ter uma noite capaz de tirá-lo dos seus pensamentos?
Como nos velhos tempos… Andrew tentando afastar todos os
fantasmas.
Andrew me estende a mão e não sei o que me espera caso
aceite, mas como ele sempre me disse, eu sou proprietária do meu
destino e hoje quero trilhar o meu caminho para a glória ao lado
dele.
Então enlaço meus dedos nos seus.
Eu não sei que horas são, mas é possível perceber que as
ruas estão mais silenciosas e o som do bar está cada vez mais alto
porque ele não precisa competir com o som que vem de fora do bar.
Meu cabelo está amarrado em um rabo de cavalo, porque não
aguentei deixá-lo solto de tanto que dancei.
Descobri que as pessoas que estavam na mesa com Andrew
quando cheguei ao bar não eram seus amigos. Eles estavam
apenas curtindo e ele encantou a todos com o seu jeito galante,
enturmando-se rapidamente e ficando com eles. Agora parecemos
todos grandes amigos.
Nunca imaginei encontrar Andrew aqui.
Não sei quantas doses já bebi, mas secamos duas garrafas
muito rápido. Estou feliz, mas nem um pouco tonta. Andrew tinha
razão, ele me fez esquecer tudo a partir do momento em que tocou
minha mão, porque nada era mais instigador do que descobrir o que
ele faria para transformar a minha noite.
Descobri que o Andy simpático que conheci se tornou um
grande conquistador, todos sempre adoraram estar perto dele e
agora sei o porquê. Ele transmite toda a paz que alguém é capaz de
querer sentir. Independente de conhecer você ou não, ele faz com
que você se sinta especial e importante.
Nós conversamos sobre a vida e os caminhos que trilhamos,
brincamos e rimos muito com nossos companheiros de mesa, mas
Andrew se manteve ao meu lado o tempo todo, até que eu comecei
a dançar.
Agora ele está sentado na mesa, com os pés apoiados no
banco, erguendo sua cerveja para os rapazes a sua volta e
gargalhando como um jovem que nunca teve problemas.
Se eles soubessem a verdade…
As pessoas do grupo parecem não o reconhecer e, se
fizeram, não se importaram dele ser um famoso. Nenhum celular foi
apontado em sua direção e isso o deixou ainda mais confortável,
mesmo se mantendo quase sempre de costas para o restante do
bar. Mas seu corpo está em alerta, ainda que esteja se divertindo.
Ellis, a outra garota solteira do grupo, me acompanhou em
todas as danças e agora, enquanto observo Andrew, continuo
mexendo meu corpo no ritmo certo.
A batida da música se torna mais lenta, porém não menos
forte. Passo minhas mãos pelo corpo enquanto danço e meus olhos
encontram o de Andy, entre as pessoas que nos separam. Ele se
mantém sério, tomando sua bebida e me vendo dançar.
Ele me observa com atenção, decorando cada um dos meus
movimentos e volto a ver a chama acendendo em seus olhos. Eu
gosto da forma como ele me olha, existe desejo ali.
Solto meu cabelo e deixo os fios loiros se espalharem, então
eu danço para ele. Meu quadril se movimenta de forma sensual,
minha blusa justa já está deixando um pouco de pele à mostra e não
quebrou a conexão dos nossos olhos.
Sempre amei a forma como ele fazia com que eu sentisse
que era a mulher mais bonita do mundo só com o brilho que surgia
em seus olhos, quando me alcançava. É assim que estou me
sentindo agora.
Andrew foi meu primeiro amor, mesmo nossa relação nunca
tendo seguido por esse caminho. Naquele tempo, sexo não era a
primeira coisa que surgia nas nossas mentes quando estavamos
juntos, mas hoje, vendo a forma como ele me devora a distancia, sei
que esse é o único pensamento que ocupa sua mente.
— Ele não parou de olhar para você a noite inteira. — Ellis
grita para que eu possa ouvi-la.
— O quê? — presto atenção nela.
— O bonitão, ele não tirou os olhos de você a noite toda. Até
pensei que vocês poderiam ter algo.
— Não, não temos nada. E também não reparei que ele
estava me olhando até alguns minutos atrás. — confesso.
— Então você está perdendo tempo, porque ele facilmente
faria o que você quisesse. — ri. — Se você não estiver pensando
em levá-lo para casa, comece a cogitar a ideia.
Eu facilmente o deixaria me levar para casa…
— E se prepare, porque ele está chegando e esse homem
quer muito você.
Antes que eu possa responder, Ellis se afasta e sinto uma
mão grande segurar meu quadril, movimentando meu corpo no ritmo
relativamente lento do início da música. Umbrella está ocupando
todo o lugar, então Andrew cola o seu corpo no meu e sinto o
quanto ele é grande em todos os sentidos. Ele tem mais de um e
oitenta de altura, eu só chego até o seu ombro, então apoio minha
cabeça no seu peito forte, enquanto rebolamos juntos.
Rapidamente ele me faz ficar de frente pra ele, minhas mãos
contra seu abdômen, sua mão agora está no final da minha coluna e
sinto seus dedos alcançarem o topo da minha bunda. Os olhos dele
não desgrudam dos meus e sua outra mão afasta o cabelo do meu
rosto, quase como se estivesse fascinado. Nós não estamos
bêbados, não para esquecer de algo ou não saber o que estamos
fazendo.
Percebo que ele quer me tocar e eu quero que ele me toque.
— Você estava tentando me seduzir, Hurricane? — ele fala
no meu ouvido. — Sabe que não precisa fazer nada para que eu
caia aos seus pés.
Sinto minha nuca arrepiar e não consigo evitar o sorriso que
se forma no meu rosto.
— Quando o jovem Andrew começou a ser tão sexy
dançando? — passeio minhas mãos por sua camisa.
— Bom, ele aprendeu algumas coisas que tenho certeza que
você vai adorar conhecer. — ele fita minha boca.
Contorno seu lábio com o polegar e sua respiração se torna
mais pesada.
— Tenho que confessar, sempre pensava em como seria
beijar você.
Ele prende meu dedo entre os lábios e o chupa, fazendo um
leve gemido escapar dos meus lábios.
— Estou aqui, Hurricane, venha e descubra.
O seguro pela nuca e fico na ponta dos pés para tentar lhe
alcançar melhor. Andrew vem ao meu encontro, ele me segura forte,
completamente colado em mim. Sempre me mantendo segura. E,
de repente, eu estou despencando do céu para o inferno,
cometendo meu maior pecado, porque beijá-lo facilmente se tornaria
um vício.
Os lábios dele são macios e seu beijo não é tão forte quanto
seu toque, o que torna tudo um equilíbrio perfeito para o nosso
primeiro contato. Quando lhe dou espaço para aprofundar o beijo,
ele segue com cautela, como se quisesse memorizar essa
sensação. Seguro seu lábio entre os dentes e isso o faz despertar.
Andrew segura minha bunda com uma das mãos e a outra
vai para minha nuca, enroscando meus cabelos em uma pegada
firme. Ele me domina e apenas o permito me devorar. Me beija forte,
sem receios, explora minha boca com vontade e isso faz todo o meu
corpo ficar em alerta. É isso que eu quero dele, desejo.
Nós não conseguimos cessar o beijo. E eu só queria ficar
aqui, sentindo tudo que aquele homem foi capaz de despertar no
meu corpo no primeiro toque. Não sabia que um beijo poderia ser
tão intenso, não até estar nos braços dele.
— Eu preciso de você na minha cama. — falo. — Agora.
A casa dele era mais perto, então dirigimos até lá e
estacionei ao lado do seu carro. Sem dizer nenhuma palavra, ele
segurou minha mão e caminhamos até o elevador. Andrew digitou o
código no painel e imagino que deva morar na cobertura.
— Se esse beijo tivesse sido dez anos atrás, o que acha que
teria acontecido? — ele pergunta, se encostando no espelho do
elevador e cruzando os braços na frente do corpo.
— Você teria tirado minha virgindade no lugar do Colton
Heings. — rimos ao lembrar de como aquele dia foi hilário.
— Será que teria sido assim, como foi hoje? — questiona, se
aproximando de mim. — Intenso dessa forma?
Prende o dedo no decote da minha blusa e o baixa alguns
centímetros para ver o contorno dos meus seios.
Andrew sabia muito bem o que estávamos dispostos a fazer
essa noite, então ele não tem receios de se aproximar.
— Eu acho que naquela época você não beijava tão bem
como hoje. — faço o mesmo que ele fez comigo, mas engancho
meu dedo na sua calça.
— Podemos tirar a prova hoje e você escolhe a minha melhor
versão. — ele apoia o braço acima da minha cabeça e se aproxima
ainda mais de mim. — Primeiro, eu vou chupar você como o Ice faz
e depois vou te foder como o Andy sempre teve vontade de fazer.
Eu poderia revirar os olhos de prazer só em ouvi-lo falando
isso, porque meu corpo está pronto para recebê-lo, desde que ele
me beijou.
— Então me surpreenda, porque eu quero conhecer o que
você tem de melhor.
Andrew toma meus lábios e é melhor do que a primeira vez.
O toque dele parecia certo demais, seu corpo grande me
pressionava contra a parede do elevador, mas sua altura não nos
ajudava.
Como se eu pesasse uma pena, Andy me ergue pelas coxas
e envolvo sua cintura com as minhas pernas. Os braços dele são
fortes, mas deixo para senti-los mais tarde. Seguro seu cabelo com
força e sigo o ritmo acelerado do beijo.
Foi a minha vez de devorar a boca dele.
O elevador avisou que tínhamos chegado ao andar, mas
Andy não me tirou dos seus braços até que estivéssemos na sua
sala. Fiquei descalça rapidamente, porque sempre odiei ficar de
sapato em casa, mas Andrew me paralisou completamente quando
puxou a camisa sobre sua cabeça.
Andrew tem um corpo incrível, com tudo na medida certa.
Todos os músculos muito bem definidos do seu peitoral, a barriga
definida, os braços em todo o seu destaque, ombros largos e um
caminho da perdição absurdamente demarcado. Por mais que ele
seja forte, tudo parece natural, desenhado a mão.
— Você joga baixo, Crawford. — olho sem modéstia para o
seu corpo.
— E eu espero que você seja uma jogadora à altura. — ele
me desafia.
Rio com deboche.
— Lindo, eu sempre terei cartas melhores que as suas. —
seguro a barra da minha blusa e a tiro.
Para a sorte dele, eu odeio sutiã, então ele tem a visão
privilegiada dos meus seios fartos. Andy xinga e se aproxima de
mim como um raio. Dispensamos a apresentação da casa, isso
pouco importa, o único lugar que preciso saber onde fica é o seu
quarto.
— Com toda certeza. — ele começa a falar, passando sua
mão pela minha pele e subindo pelo meu corpo, sem desgrudar os
olhos dos meus. — Você é a vencedora desse jogo.
Andrew envolve meus mamilos entre os dedos e arfo com a
sensação despertada no meu corpo. Ele faz de novo e mordo meu
lábio inferior. Nosso olhar só é quebrado porque ele se abaixa e leva
meu mamilo até a boca, lambendo-o.
Seguro seus ombros para me apoiar melhor enquanto
Andrew continua a sugar, mordiscar e brincar com meus seios. Me
solto do seu aperto só para tomar sua boca mais uma vez. Abro sua
calça e ele a retira, ficando apenas de cueca.
Seus olhos são pura chama e os meus estão cada vez mais
escuros de desejo. Andrew parece conhecer o meu corpo e isso me
pega completamente de surpresa, porque suas mãos parecem
saber exatamente onde ir.
— É isso mesmo que você quer? — ele me pergunta.
— Sem nenhuma dúvida. — garanto.
Ele me pega nos braços como uma noiva e gargalho pela
surpresa. Envolvo meu braços em seu pescoço, aproveito para
beijar seus pescoço e mordiscar sua orelha.
Andrew caminhou comigo até o que acredito ser seu quarto e
é impossível não reparar no cômodo porque é claro que esse lugar
é o seu refúgio.
Nunca vi uma cama tão grande na vida, vários travesseiros e
roupas de cama branca, um tapete que cobre quase todo o chão do
quarto e acaricia meus pés quando estou sobre ele, uma poltrona
virada para as grandes portas de vidro que mostram uma linda visão
da cidade. Algumas portas que, provavelmente, devem levar para o
closet, o banheiro e algum outro lugar que descobrirei depois que
incendiarmos esse lugar.
Mas o que prende minha atenção e me faz paralisar é o
painel em uma das paredes, preenchido com réplicas perfeitas de
todos os super heróis que ele sempre amou e com todas as HQs
que ele lia. Andy sempre foi apaixonado por essas histórias, ele
buscava esperança em uma fantasia jovem de que um dia mudaria
de vida.
Olhar para isso aquece meu coração, porque me faz ter a
certeza que eu ainda conheço algo do homem por trás de toda a
fama.
— Eu não imaginava isso. — falo, um tanto surpresa e um
tanto feliz.
— Algumas coisas nunca mudam, Little Angel. — dá de
ombros e me puxa pela cintura para os seus braços. — Por
exemplo, eu sempre desejei descobrir qual é o seu gosto.
O rosto dele está a centímetros do meu, sua voz está rouca e
baixa, seus olhos parecem estar prontos para roubarem minha alma
e a mão descendo pelas minhas costas, me fazem querer ele dentro
de mim naquele segundo.
— Você fala muito, Ice, está na hora de me provar se isso
tudo realmente é verdade. — provoco.
O sorrisinho que surge em seu rosto é o sinal de que ele
aceitou o desafio. Sem ele me soltar, caminhamos até que eu sinta
a cama nos meus joelhos. Andrew deita meu corpo no colchão e
amo a forma como seus músculos se movem para que ele me
toque.
Ele desabotoa minha calça e a tira de mim sem pressa, o que
quase me mata, porque quero ele agora mesmo dentro de mim.
Andrew beija minhas pernas, desde a panturrilha até a minha
calcinha branca. Com os olhos presos nos meus, ele tira a peça de
mim e vejo o exato momento em que ele me olha por inteira,
completamente nua e pronta para ele.
As chamas em seus olhos são um completo incêndio.
Ele me beija com intensidade e volta a adorar meu corpo.
Andrew apoia minhas pernas em seus ombros largos, me dá um
sorriso matador antes de me fazer delirar apenas com um toque,
quando a sua língua me desenha por completo.
Ele é delicado da maneira certa, mas explora cada parte de
mim. Seguro forte seu cabelo quando sua língua entra em mim.
Rebolo no seu rosto e quando ele me penetra com os dedos, chamo
seu nome em êxtase.
Andrew aumenta os movimentos e a intensidade de cada
toque e me deixa a ponto de gozar quando ele mordisca meu clitoris
e então eu me entrego completamente a sensação.
E ele não para de me chupar até ter tirado cada gota de mim.
Sua mão faz carinho na minha coxa enquanto ele quase cola
seus lábios nos meus mais uma vez. Seus olhos verdes me
hipnotizam enquanto ele afasta os fios rebeldes do meu cabelo da
frente do rosto e sorri para mim.
— Deus, linda, eu poderia ouvir você gozar o dia inteiro. —
sussurra e sorrio.
Ele me dá um beijo rápido e se afasta. Abre a gaveta da
mesa de cabeceira e pega uma cartela de camisinha.
— Espero que você esteja disposto a usar todas essas. —
seguro o pacote com quatro e ele sorri para mim.
— Eu tenho a resistência física de um jogador profissional e
você a de uma médica que passa doze horas de pé em uma
cirurgia. Acho que damos conta dessas. — fala, com um sorriso
cafajeste de quem não me daria descanso o restante da noite.
Sento na cama e olho para o corpo escultural desse homem.
A marcação na sua cueca é evidente e adoro o que vejo. Mordo o
lábio inferior e decoro cada partezinha daquele corpo tonificado em
todos os sentidos.
— Vem cá, coloca a camisinha em mim. — me chama, se
livrando da cueca.
Seguro seu membro forte e Andrew geme baixinho com o
contato. É da espessura e do tamanho ideal. Ele arfa quando
movimento minha mão para cima e para baixo, o masturbando antes
de colocar a camisinha. Abro a embalagem sem tirar os olhos dele,
coloco sem pressa, mas assim que termino, Andrew me deita com
carinho na cama.
Se posiciona entre minhas pernas e me penetra com cuidado.
Gememos alto sentindo o encaixe perfeito dos nossos corpos. Meus
braços envolvem seus ombros, ele segura meu quadril, olhando nos
meus olhos e investindo duro contra mim.
Andrew afunda a cabeça no meu pescoço e beija todo o meu
colo. Tentamos começar com calma, mas foi impossível. O desejo
só me faz querer sentir ainda mais o corpo dele contra mim. Nossos
corpos indo de encontro um ao outro, o som perfeito dele entrando
em mim, nossas respirações descontroladas, os sussurros e
gemidos de prazer.
Nós estávamos completamente perdidos um no outro.
Andrew me beija, belisca meus mamilos e me fode sem parar, me
fazendo perder os sentidos. Quando meu orgasmo começa a se
formar, eu o aperto ainda mais forte.
— Ainda não, linda, vamos prolongar isso o máximo que
conseguirmos. Não quero sair de dentro de você agora.
Então ele começou a me fazer querer implorar, porque agora
seus movimentos estão mais lentos, mais compassados e me
preenchendo por completo com paciência.
— Andy, nós temos a noite inteira para estar dentro um do
outro, pare de me torturar. — rebolo contra ele e Andrew arfa.
Seguro seu rosto para que ele se mantenha focado em mim,
o mantendo a centímetros de mim, beijo-o com força e sussurro
contra seus lábios.
— Me fode de quatro agora.
Sou pega de surpresa com o tapa que ele acerta na minha
coxa e arfo, fechando os olhos de prazer. Andrew sai de mim
apenas o tempo suficiente para me virar e minha bunda está
completamente à sua mercê. Suas mãos grandes me seguram e ele
entra de mim, sem piedade. Ele segura meu cabelo e estou
completamente em êxtase. É selvagem e delicioso ao mesmo
tempo.
Ele explora cada parte de mim e eu deliro em cada toque.
Quando seu corpo cobre o meu e os movimentos são
menores, mas intensos, de um jeito que atinge exatamente no ponto
que preciso, eu gozo quase gritando o seu nome. E ele não para de
me foder, atingindo seu limite logo depois de mim.
Ele consegue ser um depravado na medida em que é
cuidadoso.
Nunca pensei que seria tão bom estar nos braços de Andrew
Crawford, nada pode ser comparado a intensidade da nossa
conexão. Definitivamente, estou completamente viciada em tê-lo
dentro de mim.
Me remexi na cama e sinto algumas partes do meu corpo
reclamarem. Eu amo essa sensação de corpo cansado pós-sexo,
mas nada se compara ao que sinto depois de transar a noite toda
com Norah Clark.
Não é possível que tudo se encaixe tão bem, desde os
olhares até a forma como ela envolvia as pernas ao meu redor. Nós
não queríamos parar ou soltar um ao outro. E eu passaria o resto da
vida transando apenas com ela.
Quando estávamos cansados demais para fazer qualquer
coisa, tomamos um banho relaxante juntos, cheio de intimidade e
carinho. Ela estava linda quando a encontrei no bar, mas nada se
compara a Norah depois de um banho quente, com as bochechas
rosadas, o cabelo loiro amarrado em um coque alto e bagunçado,
vestida em um roupão.
É a visão de uma deusa.
Nós não conversamos muito, estávamos cansados demais,
mas não soltamos um ao outro.
Estendo o braço para tentar alcançá-la, mas não sinto
ninguém ao meu lado. Abro apenas um olho para ver se ela não
está no restante da cama, mas a única coisa que vejo são os lençóis
amarrotados.
Ergo a cabeça e olho para o banheiro, mas não tem ninguém
lá.
Será se ela está em outra parte da casa?
Levanto e caminho pelo corredor apenas vestindo a cueca,
só que nenhum som chega até mim. Entro na sala e olho ao redor, a
única coisa que vejo é a minha camisa que ela dormiu na noite
passada dobrada sobre o braço do sofá.
Ela foi embora!
Procuro meu celular para ver que horas são e ainda não
passa das nove, ela não trabalha hoje, me disse isso ontem. Ela
simplesmente foi antes que eu acordasse.
Merda…
Caminho até o sofá novamente, em direção a minha camisa e
vejo um guardanapo rabiscado sobre ela.
Tenha uma ótima vida? O quê?
Eu nunca fui um cara inseguro, mas todas as inseguranças
do mundo estão nas minhas costas agora.
Será que fiz algo errado? Será que não foi bom o suficiente?
Será que fui desrespeitoso com ela? Foi insignificante ao ponto dela
nem querer falar comigo?
Na minha cabeça, nós iríamos acordar, conversar, talvez
transar de novo, eu faria o café e nós riríamos da vida. Existe tanta
coisa que quero saber sobre ela. Queria ter perguntado tantas
outras coisas além da nossa conversa no bar.
Esperei que pelo menos teríamos a chance de nos despedir
como duas pessoas que viveram coisas tão legais juntos.
Por que ela simplesmente fugiu?
Sou trazido de volta pelo toque do meu celular que rompe
todo o silêncio do apartamento. Ando em direção ao seu som e vejo
que o deixei ontem na mesa da cozinha.
O nome de Jax aparece na tela.
— Onde merda você estava? — ele pergunta chateado.
— Você não vai querer saber. — me jogo no sofá.
— Vou precisar me preocupar com as notícias que vão
envolver seu nome nas próximas vinte quatro horas?
Pelos barulhos que são possíveis de ouvir ao seu redor, sei
que ele está no centro de treinamento. Jax passa mais da metade
do seu dia treinando, essa é a vida dele. Um competidor olímpico
tem uma rotina absurda e ele é completamente apaixonado por isso,
então dá tudo de si, até mais do que deveria.
— Não, dessa vez foram coisas internas.
Tento formular todos os últimos acontecimentos na minha
cabeça.
— Ice Cream, você é péssimo com enigmas e eu não tenho
paciência, fala logo.
— Transei com a Norah Clark.
Ouço ele tossindo, como se tivesse se engasgado com algo e
não sei se rio ou se me preocupo.
— Como isso foi acontecer? — pergunta entre a tosse.
Conto tudo a ele, desde a chateação que me fez sair de casa,
quanto sobre as pessoas que esbarrei no bar, até o momento que
sentei ao lado dela e quando fomos dançar. Conto como chegamos
em casa e como acabamos completamente rendidos.
Enquanto eu falo, relembro cada momento da noite e o
quanto ela estava deslumbrante sorrindo e dançando naquela pista.
Norah era uma adolescente linda, ela tinha uma luz apenas dela,
quando ela sorria de verdade, parecia brilhar. E foi isso que senti
quando olhei para ela na noite passada, que ela estava reluzindo.
Era como se eu não estivesse mais perdido.
Já me perguntei várias vezes como nunca esbarrei em Norah
naquele lugar. Sempre tento ir nos horários que tem menos
pessoas, para que seja menor a chance de alguém me reconhecer,
ontem a noite foi uma exceção. Eu queria sair e descansar minha
mente de algumas coisas que tem me perturbado, então acabei me
deparando com Norah e a melhor noite que já tive em anos.
Eu não quero só transar com ela e dar tchau como se
fossemos dois estranhos. Não conheci Norah ontem, por muito
tempo ela foi a pessoa que mais sabia sobre minha vida.
Eu quero descobrir quem ela é agora.
— Isso se chama carma. — ele gargalha do outro lado. — O
destino é um filho da puta que acerta. Você já fez isso tantas vezes
e agora voltou para você.
— Eu sei que já fui um babaca, não precisa o destino jogar
isso na minha cara. Eu só não entendo o porquê dela ter ido
embora.
— Quando você fugia das mulheres com que dormiu, por quê
fazia isso? — percebo o riso em sua voz.
— Porque eu queria dormir com ela, mas não ter que
conversar sobre isso depois. Ou porque eu não deveria ter transado
com ela. Porque eu não queria mais contato. — passo a mão no
rosto, odiando as respostas. — Não quero que ela tenha pensado
nessas merdas.
Jax gargalha mais uma vez e minha vontade é desligar na
cara dele.
— Andy, você está sendo patético, mas caso esteja sofrendo
de “passado mal resolvido” e queira ir atrás dela, vá. Eu acho que
ela já foi bem clara quando foi embora, mas se você quer buscar a
humilhação porque a vergonha não foi suficiente, fique a vontade,
eu vou adorar assistir.
— Te contei para ver se você me ajudava, mas estou ainda
mais na merda. — xingo. — Obrigado por nada.
— Estou sendo sincero e estou louco para contar isso para
Ares e Scott que você quer ser o namoradinho da Norak Clark. —
gargalha.
— Não esqueça de um pequeno detalhe, Tubarão, eu não
namoro. Nunca. O que quero com Norah é saber o que aconteceu
na sua vida, é reencontrar uma grande amiga, sei lá, é entender
quem ela se tornou e quem eu ainda sou quando estou com ela. Eu
não me sentia leve e feliz como ontem naquele bar com ela há muito
tempo.
Ares vai me achar um idiota e Scott vai falar que estou
apenas com um desejo adolescente mal resolvido. Preciso de novos
amigos urgentemente.
— Você é um homem, aja como tal. Se quer ir atrás dela,
busque na memória algo que possa te levar até ela, mas se
perceber que Norah realmente não quer contato com você, vá
embora e esqueça essa merda. Já se passaram anos, não volte a
ser obcecado por ela, essa merda adolescente acabou.
O tom dele não é mais de brincadeira e sei que Jax está se
referindo a forma como fiquei quando Norah sumiu. Quando
descobrimos que ela tinha ido embora por conta da morte do seu pai
e não voltaria, fiquei absurdamente perdido. Norah era minha rocha,
ela me fez sobreviver aos piores anos da minha vida, ela era o meu
pequeno anjo.
Eu era jovem demais e tínhamos uma dependência
emocional muito forte, não sei como foi para ela, mas eu me sentia
no inferno. Terminar o colégio foi um desafio e eu tive que
reconstruir meus planos sem ela.
Além da merda de vida que eu tinha, os meninos tiveram que
me tirar do fundo do poço quando percebi que amava Norah, só
depois que a perdi. Depois que ela foi embora e eu assumi para
mim mesmo, da pior forma, o que sentia por ela.
Definitivamente, eu era um adolescente complicado de lidar.
Tê-la agora, assim, tão perto me faz querer entender tantas
coisas. Me faz desejar nunca mais depender de alguém da forma
como já fui dependente dela, como também, me faz querer
descobrir cada detalhe de quem a minha Norah se tornou.
Transar com ela foi burrice, afinal, ela não teria fugido se
tivéssemos terminado a noite conversando naquele bar e agora eu
saberia todas as respostas que preciso para seguir em paz.
— Eu preciso ir atrás dela, Jax. Pode parecer insignificante
depois de tanto tempo, mas aquela mulher já foi a pessoa mais
importante da minha vida. Eu preciso que ela me responda algumas
perguntas, depois disso, seguiremos caminhos opostos.
Ele respira fundo e me xinga.
— Faça o que achar melhor, mas não se esqueça, você não
é mais criança, Andrew.
Me despedi de Jax e desliguei, antes que ele me desse mais
um soco no estômago. Mas ele não entenderia, talvez nem eu
entendesse completamente.
Eu só preciso vê-la de novo.
Assim que levantei do sofá, Ben ligou para me lembrar da
nossa reunião antes do meu treino de hoje e fui tomar banho para
encontrá-lo.
Amanhã temos um jogo importante e é nossa última
preparação, então preciso focar nisso e dar o meu melhor.
O Andy pensará uma forma de reencontrar a Norah, mas
agora, o Ice tem que colocar a cabeça no lugar e fazer o que nasceu
para fazer.
Eu pensei que terminar com Richard seria mais fácil. Não falo
sobre dizer para ele que não teríamos mais nada, pelo caminhar da
nossa relação, isso iria acontecer muito em breve, mas me enganei
em acreditar que superaria bem.
E continuei sentindo isso até me ver realmente sozinha.
Hoje estou de folga e desde que meu corpo entendeu que eu
saí do automático, ele tem me dado sinais de que depositei meses
da minha vida em uma pessoa e ela quebrou minha confiança.
Eu sempre tive problemas em acreditar nas pessoas, porque
elas sempre acabam me provando que eu realmente não deveria
ter as aceitado em minha vida. E Richard fez isso. Ele me fez
confiar em cada palavra que me dizia, em cada atitude e depois
mostrou que era tudo mentira.
Nunca fui de namorar, acho que pela minha dificuldade de
permitir estar vulnerável diante outra pessoa e cada vez mais isso
parece um ciclo vicioso.
Será que um dia, em algum lugar, existirá uma pessoa que
vai ser o total oposto de todas as pessoas que já me relacionei?
Por mais conturbada que estivesse a nossa relação, nada
justifica o fato de Richard me tratar tão mal a ponto de transar com
alguém no mesmo ambiente em que eu estou, em meio a tantas
pessoas e a um corredor de distância. No fundo, acredito que ele
queria ser pego.
O pior é que, por mais que eu saiba que não tenho culpa
nenhuma dele ser um filho da puta, isso ainda me machuca, me faz
pensar o que há de errado em mim já que mais uma pessoa não me
viu como suficiente.
Onde eu estou errando? Será mesmo que não tem algo
errado comigo?
Acho que todas essas coisas contribuíram para que eu fosse
embora da casa do Andrew, há duas noite atrás. Ele e Richard são
idênticos, um é a cópia do outro. Dois cafajestes que seguem o
mesmo padrão de vida, princípios e ações. Por mais que eu tenha
tido a melhor noite da minha vida, entender quem ele é, me faz dar
todos os passos para trás.
Se isso tivesse acontecido anos atrás, eu saberia exatamente
o que ele faria. Sabia que ele não me trataria como uma estranha,
tenho certeza de que por mais que fosse apenas uma noite e nada
mais, ele me trataria como todas as mulheres merecem ser tratadas.
Mas eu não o conheço mais e hoje eu só consigo vê-lo como
mais um famoso, prepotente e rico, que quer apenas me levar para
a cama e me despachar assim que acordar.
Quando juntei tudo isso ao fato de que dormi com um cara
que já dilacerou meu coração, eu entendi que era apenas uma noite
e nada mais para mim também. Tinha que ser apenas isso, porque
tudo que aconteceu foi incrível demais para que eu fosse apenas
usada mais uma vez.
— O que você está fazendo? — Tom pergunta do outro lado
da linha.
— Arrumei a casa e agora estou bebendo uma taça de vinho
branco enquanto me esparramo pelo sofá. — olho à minha volta
procurando Diana.
— São dez da manhã e você já está bebendo. Se fossem em
outras circunstâncias, eu estaria achando incrível, mas sei que é
porque você está mais na fossa do que me disse e isso me
preocupa.
— Não precisa se preocupar, eu estou bem. Apenas sentindo
a minha dor de corna premiada. Eu estava pensando sobre isso, se
eu for chifrada por um cara muito famoso, eu sou uma corna menos
humilhada que as mulheres traídas por homens comuns?
— É humilhada na mesma instância, amiga. Chifre é chifre
em qualquer lugar. — Ele pensa um pouco. — se olhar direitinho,
acho que você ainda está pior.
Tom é um dos meus melhores amigos e é o melhor cirurgião
plástico de Los Angeles, então fica indo e vindo algumas vezes por
mês para me visitar. Isso faz com que a distância e a rotina de
trabalho o sobrecarregue. E eu não quero ser mais um peso na sua
vida, por isso ainda não falei abertamente com ele sobre Richard e
Andrew. Contei para eles sobre o término, mas não sobre estar me
sentindo mal comigo mesma.
— Quando você chega? Eu preciso parar um pouco e chorar
nos ombros largos do meu amigo.
Com ele aqui, sei que não estarei atrapalhando, porque
estará no seu tempo livre de todo o restante das coisas que o
consomem. Assim como Josy, que tem uma bebê pequena e está
vivendo sua primeira maternidade, cheia de dúvidas e surpresas,
não vou perturbá-la porque deixei uma cara bonitão enfeitando a
minha testa.
— Próxima semana eu estou ai e poderemos comer besteira,
assistir filme e xingar aquele idiota.
— Por favor, vamos xingar aquele idiota. — peço e ele ri.
— Nós podemos imprimir a foto dele e colocar no alvo dos
dardos e brincar de acertar no olho dele. — gargalhamos.
É por isso que somos melhores amigos, ele me faz rir até
quando eu quero chorar.
— Resolveremos isso quando você chegar, agora eu só
estou querendo um pote de sorvete enorme e mais uma garrafa de
vinho.
— Lembre que beber pode te fazer mandar uma mensagem
para ele, então cuidado com a quantidade de álcool.
— Eu sou uma mulher e não uma barata. Eu não vou mandar
mensagem para ele nunca mais na minha vida. Eu poderia estar em
um lapso de consciência e ainda saberia que Richard foi
completamente banido da minha vida. Vi o pau dele dentro de outra,
nunca mais falarei com ele.
— Isso mesmo garota. Sofra, mas sofra com dignidade. — rio
mais uma vez, mas sei que ele está certo.
Eu quero dizer para ele que estou sofrendo, mas que
facilmente fui para a cama com Andrew Gostoso Crawford há
poucos dias e isso é um ótimo sinal, afinal, quando terminamos
alguns relacionamentos, não nos sentimos prontas para ficar com
outra pessoa, mas eu nem cogitei a possibilidade de dizer não ao
Andrew.
E talvez eu esteja sofrendo por isso também, por deixar
alguém que já quebrou minha confiança ter acesso tão fácil a mim
de novo. E ainda mais um homem que é a personificação do meu
ex.
Depois de passar o dia bebendo e fazendo carinho em Diana,
minha gata, enquanto continuo deitada no sofá, percebi que estou
muito mais triste por todos os gatilhos de autoestima e insegurança
que isso tudo me causou, do que realmente pela traição.
É por isso que odeio me envolver com as pessoas, porque
em momentos como esse, é a velha e assustada Norah que vem à
tona dentro de mim. A jovem que aprendeu a ser sozinha, por não
ser o suficiente para estar ao lado de ninguém, ocupa todo o lugar
da minha mente medrosa. E eu odeio essa sensação, porque
quando ela chega, sinto que nada é capaz de fazê-la ir embora.
Não sei bem o que pensar. Só sei que estou machucada e
decreto oficialmente o meu ódio por jogadores de hóquei, homens
que saem em capas de revista e que são adorados pelas pessoas
em um combo só e separadamente também, eles estão proibidos na
minha vida.
Definitivamente, hoje não é meu dia de sorte. Aliás, sigo em
uma maré infinita de azar. Meu carro quebrou antes mesmo que eu
pudesse tirá-lo da garagem. Os táxis quase não paravam por conta
do temporal que estava em Nova York. Cheguei atrasada para o
meu plantão, tive uma péssima cirurgia pela manhã e estou com os
pés inchados de tanto ficar em pé.
Para completar, Josy não está no hospital hoje, sua bebê
está com crises fortes de cólica e ela tirou o dia de folga. Isso
significa que vou ter que aguentar algumas pessoas chatas sem ela.
O rodízio de residentes e médicos às vezes me deixa em
equipes que não me dou muito bem, mas sou muito profissional,
então apenas trato todos com educação. Tirando o dia em que gritei
com o outro residente porque ele queria se envolver no meu
diagnóstico, sem ser sua especialidade, e foi um caos.
Tenho que confessar, tem dias que é muito fácil me tirar do
sério, principalmente quando isso envolve trabalhar com pessoas
que fingem saber fazer algo, quando na verdade, não sabem de
nada.
Meu celular vibra no bolso e sei que é mais uma mensagem
de Sophie. Todd está vindo deixá-la para passar o final de semana
comigo porque é seu aniversário e estou muito feliz. Mas minha irmã
está me enlouquecendo sobre sua lista de “lugares que vamos
conhecer”.
Sempre que vem a Nova York, ela cria uma lista de cinco
lugares que precisamos conhecer juntas. Às vezes, ela me deixa
escolher um deles, mas todo o restante é seu e tenho que admitir,
ela tem um ótimo gosto para cafeterias.
— Doutora Clark. — ouço a voz forte me chamando e a
reconheço.
Dom é o chefe de todo o setor de cirurgias de trauma, é um
homem charmoso e muito inteligente, um grande nome em
excelência e competência. Ele me acompanhou durante alguns
cursos da faculdade e quando comecei a trabalhar aqui, ele
começou a acompanhar de perto o meu trabalho. Aprendo muito
com tudo que ele compartilha, mas Josy diz que ele só está
esperando a chance de me chamar para sair.
Bom, se eu estivesse buscando um sugar daddy, grisalho e
cinquentão, eu com certeza apostaria nele. Entretanto ele
continuará sendo apenas o meu chefe.
— Boa noite, Dom. — sorrio para ele. — Noite tranquila?
— Sim, espero que continue assim. — ele pega a prancheta
com as fichas dos seus pacientes e dá uma olhada rápida. — Você
acompanhou alguns dos meus pacientes durante o dia, quer fazer a
ronda comigo?
Por mais que eu não precise acompanhá-lo nesses casos,
sempre aprendo muito com a forma que ele trabalha.
— Só finalizo meu plantão em quarenta minutos, acredito que
consigo ver alguns deles com você.
Aceito o convite e começamos a caminhar pelos corredores,
lhe atualizo sobre um dos casos que precisei dar mais atenção hoje
e sobre aqueles que acredito estarem precisando de algo a mais no
tratamento. Atendemos questões complicadas demais, casos
delicados que podem piorar a qualquer momento, então precisam
sempre de prioridade. Como ele não estava pela manhã, eu fiz
algumas modificações e é isso que preciso alinhar com ele. Então
fomos de quarto em quarto, conversando com os pacientes e
ajustando o que foi preciso.
Quando o pager dele toca, sei que deve ser alguma
emergência, mas se apenas o dele foi acionado, eu não preciso me
envolver. Ele se despede rápido de mim e pede apenas para que eu
vá ao último paciente e veja seu quadro agora a noite, assim eu
faço.
Alguns minutos depois, termino de atualizar o prontuário, me
despeço do pessoal do andar de internamento e entro no elevador,
pronta para começar a me arrumar e ir para casa.
Antes mesmo que meu pensamento se concluísse, meu
pager sinaliza uma urgência e por mais que eu queira negar, não
posso. Aperto o andar de destino e espero, quando as portas se
abrem vejo Dom na entrada de um quarto.
Porém o que mais chamou minha atenção foi a quantidade
de pessoas ao seu redor. Pelas roupas, parecem trabalhar todos
juntos, mas o nome escrito na blusa preta é pequeno demais para
que eu consiga enxergar de onde estou.
Eles estão levemente alterados e pela movimentação dos
seguranças, estão fechando a entrada no setor.
O que está acontecendo aqui?
Os caras de farda estão levemente alterados, dois conversam
com o médico e os outros estão divididos entre esperar e falar nos
seus celulares. Dom foge deles quando percebe que estou me
aproximando.
— O que explica dez homens na porta de um paciente? —
questiono e ele olha por cima do meu ombro.
— Um jogador sofreu um acidente durante um jogo. Não é
nada muito sério, ele apenas machucou o braço e a pancada na
cabeça é mais delicada, mas como é alguém importante, a equipe
dele está em pânico. Já solicitei os exames, mas eles exigiram que
você o atendesse.
— O quê? Por quê? — olho confusa em direção aos homens
e não reconheço ninguém. — Não sei quem são essas pessoas,
porque precisam que eu o atenda?
Pessoa importante. Equipe enorme. Acidente durante um
jogo. Pancada na cabeça. Se for aquele filho da mãe...
O primeiro nome que vem na minha cabeça é o de Richard e
se realmente for ele, vou sufocá-lo com o travesseiro.
Passo pelos homens na porta como um furacão e entro no
quarto, com Dom logo atrás de mim. Ouço uma risadinha e estanco
com a cena.
Andrew Crawford está deitado na cama, ainda vestido em
seu uniforme enorme e conversando com a enfermeira. Ele parece
estar meio tonto, acho que por conta de algum medicamento para
dor ou devido a pancada na cabeça.
Idiota do caralho.
Não sei se fico aliviada por não ser Richard ou com mais
raiva por ser a outra irmã Wilson [7]que está aqui.
Quando a porta bate atrás de mim, cruzo os braços na frente
do corpo e o rosto dele se vira em minha direção. Aviso ao Dom que
assumirei o caso, mas ele percebe que minha postura mudou e
pergunta se vou ficar bem, afirmo que sim e ele sai da sala.
— Como você fica pequenininha com essa roupinha de
médica sexy, Hurricane. — ele cerra os olhos para tentar me ver
melhor.
— Estou no trabalho, Andrew, me respeite, sou sua médica e
não sua amiga.
— Tudo bem, Doutora Hurricane. — ele sorri e tenho vontade
de quebrar esses dentes lindos.
O ignoro e pego o prontuário que já começou a ser
preenchido.
— Doutora Clark, ele sofreu uma forte pancada durante o
jogo. — Betty, a enfermeira, me atualiza. — O jogador do time
adversário se jogou contra ele, seu corpo colidiu com a parede do
ringue, ele machucou o antebraço e bateu a cabeça quando caiu no
chão.
Andrew sussurra as palavras “Doutora Clark” como se
estivesse testando meu nome na sua boca, mas não faz nada além
de dar um sorrisinho ainda de olhos fechados.
Deus, eu não pedi para tirar homens sem rumo da minha
vida?
Em que momento a minha dicção falhou e o senhor entendeu
que eu queria cruzar mais uma vez com esse idiota?
— Como ele ficou nesse estado de sonolência?
— Um dos caras da equipe é bem burro, automedicou-o sem
a autorização do médico do time para que ele voltasse ao jogo,
mesmo depois de machucado. Só que a dosagem e a mistura de
compostos o fez apagar, então ficaram desesperados e o trouxeram
para cá. Mas ele já está ficando bem, está voltando ao normal aos
poucos.
Homens sendo patéticos.
— Pelo o que tem aqui a questão do braço foi mais muscular,
estão fazendo os exames apenas para confirmar? — pergunto e ela
concorda com a cabeça.
— Já solicitaram uma ressonância para a pancada na cabeça
e ele está com um corte na testa.
Não tinha visto quando entrei, então me aproximo de Andrew
para analisar. Afasto seu cabelo, que ainda está colado no sangue
ao redor do corte, e ele me olha com intensidade.
— Ele disse que só deixaria você suturar o corte, não
confiava em mais ninguém para costurar o lindo rosto dele. — Betty
fala e reviro os olhos. — Foi algo leve, acredito que no máximo três
pontos, o capacete o machucou.
Minha vontade é cutucar a ferida dele para que doa mais,
mas serei profissional. Puxo o carrinho de equipamentos para perto
dele e Andrew me acompanha com os olhos. Paro ao seu lado e
suas esferas verdes estão concentradas em mim. Ele parece mais
jovem e frágil, completamente diferente da última vez que o vi.
Afasto imediatamente a imagem dele pelado da minha
cabeça porque agora ele é meu paciente e não o gostoso com quem
dormi essa semana.
Decida-se Norah. Ou você odeia ele ou sente tesão.
— Andrew, isso vai doer um pouquinho, mas vai ser rápido e
seu rosto vai ficar perfeito como sempre foi. — ele me dá um
sorrisinho. — Vamos conversar enquanto isso e assim você não vai
nem sentir.
— Você é muito conhecida por aqui, Hurricane. — ele fala
meu antigo apelido mais baixo. — Quando Ben disse que
estávamos vindo para cá, eu avisei que ninguém além de você
tocaria em mim. Bastou ele falar seu nome para aquele médico que
parece o papai noel e ele já foi atrás de você.
— Andrew, não o chame assim, ele é o meu chefe e isso é
desrespeitoso. Vai arder um pouco agora.
— Eu vi a forma como ele olhou para você. — ele continua
como um sussurro. — Não gostei nadinha.
Finjo que não ouvi seu comentário e começo a limpar o corte,
sei que está ardendo, mas ele já deve estar acostumado a um nível
elevado de dor e então não se move. Passo a gaze em seu rosto
com cuidado e ele apenas me observa.
— Por que você foi embora? — olho para ele incrédula que
está falando sobre isso agora.
Claro que ele ia perguntar isso, a nossa noite foi incrível, mas
não passará disso. E eu não queria que ele pensasse que iríamos
ter algo a mais. Não queria que ele visse a dúvida do que fazer
quando acordasse e olhasse nos meus olhos, então preferi levantar
e simplesmente ir.
Acabei de terminar um namoro com alguém exatamente
como Andrew, não vou me meter em outra roubada dessas. Um par
de chifre já é o suficiente para a minha cabeça, não vou arriscar
dois. Sem contar que Andrew acessa lugares em mim muito
intensos e nostálgicos, então preciso de um sinal de alerta para
mantê-lo o mais distante possível.
— Isso não é assunto para agora. — falo brava.
— Você disse que iríamos conversar, mas não está
respondendo minhas perguntas. — faz um bico e fico ainda mais
sem paciência.
— Porque você está me aborrecendo e eu sou sua médica.
Ele me olha sério, mas logo dá uma risadinha e ele fica tão
bonito sorrindo assim. Peço para Betty pegar tudo que preciso para
a suturar e ela nos deixa a sós.
— Você está linda com essa roupinha rosa. — repete, me
olhando dos pés a cabeça. — Ser médica combina com você,
Doutora Hurricane.
Meu celular começa a tocar e sei que é Sophie. Eu lhe disse
que sairia do plantão há vinte minutos atrás, agora vou demorar pelo
menos uma hora para chegar em casa e não vou conseguir ajeitar
sua surpresa de aniversário.
Andrew me olha como se esperasse que eu atendesse, mas
não vou.
— Alguém está querendo muito falar com você, pode ser algo
grave.
Aí está o lado preocupado e cauteloso do homem que
sempre coloca quem ama a frente de tudo.
— Acabei de colocar uma luva limpa para cuidar de você, não
vou pegar no celular se estou a ponto de tocar em uma ferida
aberta.
Andrew se estica para alcançar o bolso do meu jaleco e fico
surpresa com sua agilidade. Tento ignorar o quanto seu rosto ficou
próximo do meu e como ele fica bonito com esse uniforme.
Seu tom de azul contrasta com o rosa do pijama que estou
usando hoje, parece a combinação perfeita de uma paleta de cores.
O blusão é muito bonito, tem a logo do time desenhado em lugares
estratégicos e o número treze da sua camisa indica a sua posição
no jogo. Só assim me dou conta que preciso tirar os equipamentos
dele.
— É a Sophie. — ele diz. — Ela está tentando fazer você
responder as mensagens dela. Desbloqueia aqui. — aponta o
celular para o meu rosto e o reconhecimento facial o destrava.
Por que eu não estou o impedindo?
Ele digita algumas coisas e depois parece estar lendo algo.
— Lista de aniversário da Sophie:
1. Conhecer um restaurante antigo e legal no brooklyn
2. Ir até a loja da M&M's
3. Show no Central Park
4. Assistir um jogo da liga de gelo no estádio
5. Conhecer o restaurante favorito da Norah
Ele lê em voz alta com um pouco de dificuldade por conta do
efeito da medicação e sorri.
— Você nunca a levou na loja do M&M’s? Que tipo de irmã
você é? — pergunta com indignação e eu rio.
— Odeio esperar em filas e as de lá estão sempre
quilométricas, mas não conseguirei escapar esse ano. — falo
derrotada.
Ele aperta para gravar um áudio e tento pegar o celular da
mão dele, mas é impossível, porque ele me mantém longe apenas
com a força de uma mão.
— Oi, Sophie. Eu sou o Andy, um grande amigo da sua irmã.
Você gosta dos jogos da liga de gelo, então deve me conhecer
como Ice. Tenho um jogo no domingo e se você quiser, tenho dois
ingressos vips de presente de aniversário.
Ele me olha com um sorriso vencedor e eu quero afundar o
dedo bem fundo no seu corte.
— Só para você saber, ela ainda acha que eu namoro com o
Richard, então provavelmente ela estava falando sobre assistir um
jogo dele.
— Se ela assiste aos jogos, ela sabe que eu sou muito mais
legal que o palmito do seu ex. — se gaba. — Hurricane, o sonho
dele é ser como eu, porque eu sou o melhor no que faço.
Reviro os olhos, mas na verdade quero sorrir da sua auto
estima.
Betty entra com os materiais e começo a suturar o corte de
Andy, eu só não esperava Sophie fazer uma chamada de vídeo com
ele enquanto isso e ficar gritando o quanto ele é legal e bonito. Ele
mantém o celular bem próximo ao rosto para que ela não veja
enquanto dou seus pontos.
Era só o que me faltava.
Andrew conquista minha irmã de seis anos com a facilidade
de respirar, mas logo eu acabo com a conversa deles. Tomo o
celular das mãos de Andy, que já está mais lúcido mas com muito
sono, explico para ela que estou trabalhando e que nos falamos
mais tarde, para que ela pare de me ligar.
Chamo dois enfermeiros para me ajudarem a tirar os
equipamentos de Andrew porque ele precisa estar com a roupa
apropriada para realizar os exames. E um homem que Andrew
chama de Ben entra atrás deles e fica observando o desmonte das
proteções.
Esse cara é realmente um babaca e está preocupado com o
equipamento e não com Andrew?
O jogador diz para ele avisar aos meninos que ele está bem
porque estavam assistindo o jogo dele e devem estar preocupados.
Ben explica que já falou com eles e que Ares disse que ligaria em
meia hora para falar com a médica responsável pelo caso.
Homens controladores do inferno. Não vou falar com eles.
— Foi você quem deu os medicamentos ao senhor Crawford
para que ele conseguisse voltar a jogar? — questiono.
— Sim, já fizemos isso outras vezes e ele aguentou até o
final da partida. Sou o agente dele, já trabalhamos há muito tempo
juntos. — fala como se não fosse um problema.
— Então, senhor agente, vou lhe dizer duas coisas. Deixar
um homem entrar no ringue machucado e automedicado poderia
levá-lo a um acidente que acabaria com sua carreira. Se o placar de
um jogo importa muito mais para você do que a saúde do seu
jogador, acho que você deveria trabalhar com a manutenção da
quadra e não com pessoas. Andrew é o maior nome do time hoje e
você está cuidando dele de uma péssima forma. Da próxima vez
que arriscar a vida do seu jogador, pense como será bem pior se
ficar sem ele.
Quero chamá-lo de idiota, mas já passei do meu limite de
profissional.
Acompanho Andrew nos exames e confirmo que está tudo
bem, tento conversar com ele em grande parte do tempo para que
não durma e que se mantenha firme ouvindo sobre meu dia.
A questão do braço foi realmente muscular, o impacto
machucou, ele sentirá algumas dores e terá hematomas até
melhorar. Nada de errado na ressonância do crânio e finalmente
posso o deixar dormir.
Ele parece muito mais jovem e tranquilo em seu sono
profundo. Sento na poltrona ao lado da sua cama e pego meu
celular, meu plantão acabou há horas e eu sigo aqui cuidando desse
homem.
Sei que ele está bem, mas só quero deixá-lo quando tiver
certeza que tem condições de ir para casa.
— Ares, ele está ótimo. — ouço a voz de Norah. — Foi um
acidente comum de Hóquei, Andrew já está acostumado com isso.
O problema todo foi o agente idiota dele que quase o dopou com
comprimidos. Vocês deveriam estar se preocupando com isso e não
com o fato de Andrew se machucar por conta de um check.[8]
Ela está caminhando de um lado para o outro do quarto,
tentando falar baixo, mas está chateada, pois seu tom é duro.
— Meu carro quebrou e eu odeio ter que pedir carro de
aplicativo de madrugada. Meu plantão acabou há duas horas, assim
que ele acordar vou para casa.
Ela se cala e a ouço xingar Ares baixinho, o que me faz sorrir.
— Eu não quero que o motorista dele vá me deixar em casa.
Quero distância desses trogloditas que trabalham com vocês, que
só pensam em dinheiro e fama. — ela com certeza está puta com a
história do Ben.
Ela respira fundo e passa um tempo apenas ouvindo o que
Ares está dizendo do outro lado da linha.
— Sim, eu tenho certeza, ele está bem. Só vai ficar algum
tempo dolorido. — ela fica em silêncio mais uma vez. — Quando
acordar vai receber alta e a receita com os remédios para que tome
por alguns dias. Não precisa agradecer, Ares, só fiz o meu trabalho.
Fique tranquilo, ele ficará bem.
Olho para ela, ainda de pé e mexendo no celular. Não existe
alguém que fique mais bonita com essas roupas do que ela.
Diferente da hora em que cheguei, ela não está mais com um rabo
de cavalo, seu cabelo loiro está solto. Ela está com um pijama
hospitalar rosa claro, tênis branco, jaleco e vejo seu estetoscópio
dentro do bolso.
Norah é linda de todas as formas, mas ela estava
deslumbrante enquanto analisava meu prontuário. Nada é mais sexy
do que uma mulher inteligente, mas Norah Clark no seu mood
médica fez todos os meus neurônios explodirem.
— Escutando a conversa dos outros, senhor Crawford? —
sua voz me traz de volta.
Ela está com os braços cruzados na frente do corpo e me
olhando séria.
— Você me acordou com a sua conversa, não tenho culpa. —
tento me defender.
Ela se aproxima e toca minha testa. Liga uma lanterninha e
aponta para os meus olhos, confere minha pressão no monitor que
está ligado a mim e escreve algo no prontuário.
— Você vai ser liberado, mas precisa se cuidar. Se sentir
qualquer sintoma de tontura, dor de cabeça, febre ou enjoo, volte
para o hospital. Não pode jogar nas próximas doze horas, fique de
repouso.
— Uma médica durona. — provoco. — Não imaginei que
você seria uma médica autoritária.
— Quando atendo crianças preciso ser um pouco mais direta
para que elas entendam. — me provoca e gargalho.
— Ares importunou muito você?
— Não, ele só queria notícias. Pelo visto a personalidade
dele não mudou em nada, controlador e protetor.
— Crescemos e nos tornamos uma versão intensa de quem
éramos na adolescência.
— Eu percebi que não houve muita mudança pelo altar que
construiu no seu quarto. — diz e a olho com atenção.
Está se referindo a minha parede com itens de colecionador.
— Pensei que assuntos que remetessem a noite em que
você visitou meus aposentos estavam proibidos, doutora Clark.
— Com toda certeza, por isso não me referi a ela, me referi a
algo que sei que existe na sua casa. — dá um sorrisinho.
Seus olhos azuis estão cansados, ela está aqui há mais
tempo do que deveria e não parece tão bem. É a minha hora de
cuidar um pouco dela.
— Já posso receber minha alta, doutora? Preciso levar uma
velha amiga para casa, ela está cansada, sem carro e quero ter
certeza que ela chegará em segurança.
Norah me olha sem dizer uma palavra e travamos uma
guerra silenciosa. Ela quer negar, mas sabe que não vou abrir mão
de fazer o que acabei de dizer. Então ela pega o prontuário e
escreve algo nele.
— Pode se trocar senhor, Crawford. Suas roupas estão no
banheiro. Vou informar a equipe sobre sua alta, se precisar de algo,
é só apertar esse botão ao lado da sua cama.
Ela sai do quarto sem dizer mais nenhuma palavra e faço o
que ela disse, só quero levar Norah para casa. Tomo um banho
rápido e vejo pelo espelho o roxo que está se formando no meu
braço. Visto as roupas que trouxeram para mim e quando saio do
banheiro, Ben está no quarto.
— Sua médica passou aqui e disse que estava de saída, mas
que você já podia ir. Me entregou a receita com os remédios que
precisamos comprar.
Ele tenta alongar as costas e boceja, isso indica que dormiu
nas cadeiras do lado de fora do quarto. Esse é o tipo de coisa que
Ben faz, ele cuida de mim e Norah está errada do que pensa sobre
ele. Eu o obrigo a me dar aqueles remédios, é um dos meus
protocolos, só saio do ringue depois que desmaiar. Ele sempre
odiou isso, mas sabe que não adianta tentar me impedir.
— Certo. Preciso do meu celular. — peço e ele me entrega.
Abro as mensagens e uma das primeiras é a que enviei para
mim mesmo pelo celular de Norah, salvo o contato e envio dois
olhinhos e um taco de hóquei para ela.
Rio quando leio sua mensagem.
Ela fica online, mas demora a responder. Pergunto a Ben em
que vaga estamos estacionados e ele me diz o número.
Ela digita várias vezes e apaga. Sei que está colocando em
prática todo o seu dicionário de palavrões. Demora um pouco para
que a mensagem chegue, mas sorrio ao ler.
Sei que Norah está me xingando, mas foda-se, o importante
é que estarei a levando para casa depois dela trabalhar mais que o
necessário porque estava cuidando de mim.
Agradeço aos enfermeiros quando passo pelo posto de
trabalho e descemos pelo elevador direto para o estacionamento.
Não demora muito para Norah bater na janela do carro. Meu
motorista está no banco da frente, Ben foi no outro carro junto com o
restante da equipe e agora tenho alguns minutos para aproveitar um
pouco da companhia dela, enquanto estou consciente.
Quando Norah entra no banco ao meu lado, seu cheiro toma
todo o espaço e eu adoro isso. Ela está com o cabelo molhado, uma
calça de moletom, uma regata justa e uma bolsa de lado enorme.
— Norah, esse é o Billy, ele é meu motorista e grande amigo,
então você pode dizer o seu endereço que ele vai te deixar em
casa.
— Oi, Billy. Eu sou a Norah e não vou te tirar muito do seu
caminho, moro na quinta com a nona, em um prédio antigo.
— Senhorita, sei exatamente onde é, logo chegaremos lá.
Obrigado por ajudar o Ice hoje, ele gosta de ser imprudente na pista.
— Billy, não me difame para a garota. — o repreendo e ele ri.
Ele dá partida e seguimos para o apartamento de Norah. É
madrugada, então o trânsito está tranquilo.
Tenho pouco tempo com ela.
— A Sophie já chegou? — pergunto.
— Sim, ela e Todd estão no meu apartamento. Ele dirigiu
algumas horas e está cansado, amanhã de manhã vai embora.
— Falei sério quando disse que enviaria os ingressos para
vocês. — olho para ela.
— Eu não tenho dúvidas disso, afinal, você pode mentir para
mim, mas não vai enganar a Sophie ou eu te mato. E sabe que sei
fazer isso sem deixar nenhuma prova.
Sorrio, mas entendo a alfinetada que ela quis dar. Eu menti
quando ela mais precisava que eu fosse sincero, agora ela não
acredita mais em mim.
Não posso culpá-la.
— Qual é o dia do aniversário dela? — mudo o rumo do
assunto.
— É no domingo, no dia do seu jogo.
— Estou ansioso para conhecê-la. — sou sincero e ela sorri.
— Ela vai pirar completamente quando te ver. — ela passa a
mão no rosto e rimos.
Ela segura a bolsa no colo, mas percebo que está mais
relaxada do que quando entrou no carro. Falar sobre Sophie a deixa
feliz e isso faz meu coração errar algumas batidas.
— Obrigado por hoje, Norah. — coloco sua mão na minha. —
Você não precisava ter ficado, outros médicos poderiam ter
acompanhado o meu caso, não foi nada demais.
Os olhos dela alcançam minha testa e sei que está checando
se o curativo ainda está no lugar.
— Fiz apenas o meu trabalho, Andrew, não precisa
agradecer. — ela dá um tapinha de leve na minha mão e se afasta
do meu toque. Fugindo mais uma vez. — Você pediu para que eu
atendesse você, então foi isso que eu fiz. Nunca abandono um
paciente.
Por conhecer quem ela era, sei que está falando a verdade.
Norah Clark nunca deixa ninguém que precisa dela sozinho.
Billy estaciona e só assim me dou conta de que já chegamos.
— Bom, graças a isso, agora foi a pessoa que fez a
manutenção nessa belezura de rosto que Deus me deu. — brinco e
ela revira os olhos sorrindo.
— Ele só não te deu inteligência, porque eu no seu lugar,
teria pedido o melhor cirurgião plástico do estado para mexer no
meu rosto.
— Ninguém cuidaria de mim melhor que você, Hurricane.
Ela me olha e vejo uma pequena chama acendendo dentro
dela. Norah se despede de Billy e antes de fechar a porta, me diz
que o número do seu apartamento é treze, para que eu não envie os
convites para a pessoa errada. Sorrio para ela e Norah some pelo
portão do prédio.
Pera… O número do apartamento dela é o meu número no
time…
Isso é muita consciência ou um sinal do destino?
O time principal que tenho jogado é composto por Mark, que
é nosso central, Brian e Kevin que ocupam o mesmo lugar no time.
Joe é o nosso goleiro e Nick, assim como eu, é um winger. Alguns
estão há mais tempo no Ice Angels, mas me receberam de braços
abertos desde o início. Isso fez com que nos tornassemos uma
grande e louca família.
Acabamos de ganhar um jogo definitivo para a temporada,
estamos prontos para começar a NHL[9] e viemos comemorar.
Fomos para casa, nos trocamos e estamos no nosso lugar preferido
de noitadas. No início, eu não entendia qual a graça que as pessoas
viam em boates, mas quando entendi que esse é o melhor lugar
para encontrar alguém que não queira algo sério, passei a
frequentar com mais frequência.
Sentamos no camarote mais reservado, onde tínhamos uma
vista ótima de toda a pista. De todos nós, o único que tem namorada
é Kevin e Milly é ótima, inclusive, gostamos mais dela quando
saímos do que dele. Eles sabem aproveitar bem a vida juntos e se
eu tivesse nascido para relacionamentos, gostaria de ter algo
parecido com o que eles têm.
— O que vai querer hoje, Ice? — o garçom pergunta.
— Gabriel, hoje eu vou querer algo mais básico. Uma cerveja
gelada.
— Pode trazer uma cerveja e uma garrafa de whisky. — Nick
diz, ficando ao meu lado. — Hoje é dia de comemoração.
— Quero começar a noite mais leve hoje. — pego a cerveja
que Gabriel me entrega.
— Não seja fraco, Crawford, quero que você saia daqui sem
saber nem o seu nome.
Nós rimos e brindamos, todos na euforia do jogo.
Desde que entrei no time, temos vários rituais, mas o meu é
sempre fazer um sexo a três quando ganhamos jogos importantes.
Esse é o objetivo da noite, sair daqui com duas mulheres belíssimas
e amanhã acordar renovado.
Sou uma homem solteiro, no inicio da vida, completamente
independente e alucinado por sexo. Eu amo a sensação de dar
prazer a uma mulher, de tocar seu corpo, de descobrir seus pontos
de excitação e de ter prazer junto com ela. Inclusive, acho que nasci
apenas para isso, para transar e transar cada vez mais, depois ir
para casa e deixar a outra pessoa seguir a vida.
Eu nunca vou viver o que meu pai e minha mãe viveram, não
vou estragar a vida de uma boa pessoa pelos meus caprichos. Não
quero correr o risco de descobrir que todos estavam certos e eu
realmente sou como ele.
Nunca me permitirei testar essa possibilidade.
Quando você escuta algo durante a vida inteira, acaba
acreditando nisso. Foi assim que eu percebi desde muito cedo que
meu picos de raiva me faziam ser ainda mais parecido com a
pessoa que mais odeio na vida. Eu não quero ser igual a ele, mas
eu posso ser, só não estou disposto a descobrir.
Em alguns momentos, sinto que estou sendo consumido por
esse pensamento. Mesmo sendo o grande e poderoso Ice, alguém
que poderia ter o mundo nas mãos, tenho me visto como um garoto
que está lutando constantemente para encontrar um equilíbrio na
vida. A chave do meu destino virou muito rápido, sinto que não sei
mais quem sou, além do cara que joga hóquei.
A chegada repentina de Norah me fez pensar ainda mais
sobre isso, sobre as tantas coisas que eu gostava e queria ter. Me
fez lembrar do garoto cheio de ideias, que sabia o que queria. Em
dias como hoje, sinto que cheguei no topo, mas ainda não sou um
campeão.
Norah me faz lembrar como era me sentir um vitorioso, me
sentir realmente importante para alguém só por ser eu e não por ser
famoso. A presença dela desperta em mim a vontade de descobrir o
que é isso que está faltando aqui dentro.
Talvez reencontrar alguém que verdadeiramente me
conheceu, faça com que eu encontre a mim mesmo de novo.
— Ice, olha aquela lá. — Brian aponta para uma morena
muito bonita na pista, me tirando dos devaneios.
Ela joga as mãos para o alto e dança com uma amiga. Ele
tem razão, ela fazia o meu tipo de garota, mas não sei, acho que
não tentaria nada com ela hoje.
— É linda, você deveria ir até ela e mostrar como é bom de
taco. — faço a piada mais idiota de todas e ele gargalha.
Esse é o tipo de humor que homens quando ficam muito
tempo juntos acabam tendo… Patético.
— Achei ela perfeita para você, mas se não se interessou,
não vou perder tempo. — dá dois tapas no meu ombro e sai.
Vejo Brian descer as escadas e os seguranças ficarem em
alerta. Ele se afunda na multidão e é por isso que adoramos lugares
escuros, é mais difícil de sermos reconhecidos. Ele não demora a
chegar até ela e logo puxa conversa.
Eu preciso de alguém diferente da mulher que está lutando
para ocupar meus pensamentos.
Estou começando a me perguntar se conseguirei tirar essa
sensação de frio na barriga, sempre que penso na noite que tive
com uma certa médica gostosa há alguns dias. Eu passaria
semanas naquela cama com ela.
Olho mais um pouco ao redor e vejo uma ruiva, sentada no
bar, com vários amigos. Ela é deslumbrante, parece uma atriz e olha
na minha direção no momento exato. Levanto minha cerveja e sei
que, mesmo com poucos feixes de luz, ela viu, porque sorriu e
ergueu o copo na minha direção também.
Ela seria a primeira pessoa que eu apostaria, mas primeiro
preciso entender se ela toparia algo com mais alguém.
Normalmente, surge uma resistência inicial, elas dizem que querem
ficar apenas comigo, que não gostam de outras mulheres, mas
quando lhe mostro o quanto é bom ser tocado por mais de duas
mãos, elas acabam aceitando.
Eu não tenho pudor algum com sexo e amo descobrir vários
outros lugares de prazer no meu corpo além do meu pau, nada
melhor do que quatro mãos tocando você para achar esses pontos
tão importantes.
Dou sinal para que meu segurança entenda que irei sair e
vou até ela. Já perdi Brian de vista e os outros meninos estão
bebendo no camarote. Sigo até o bar e percebo o reconhecimento
em seus olhos, ela sabe quem eu sou. Tenho que confessar, isso
me broxa um pouco, porque às vezes as pessoas não querem
conversar sobre nada além de coisas que envolvem o Ice.
— Posso saber seu nome? — pergunto em seu ouvido.
— Só se for para colocar juntinho do seu na certidão de
casamento. — responde sorridente.
— Desculpe, sou um homem de família, só aceito pedidos
oficiais. — Olho para ela com atenção.
A mulher é bonita, tem um corpo cheio de curvas, cabelo
vermelho intenso, olhos castanhos, me olha com todas as intenções
possíveis e me parece bem resolvida.
Dou um tchauzinho para os amigos dela que estão se
dividindo em tentar ouvir nossa conversa por cima do som alto e
beber.
— Eu adoro corromper homens certinhos.
— E eu estou esperando a pessoa certa para me corromper.
Se você quiser ser a primeira.
Ela joga a cabeça para trás rindo e gosto do seu jeito ousado
e decidido, a deixa ainda mais atraente.
— Sei quem você é, bonitão. — por favor não peça uma foto,
não agora.
— Que bom, então agora eu preciso saber quem você é.
— Meu nome é Lola. — ela estende a mão e beijo seus
dedos.
— Que tal nós irmos com os seus amigos lá para cima? Já
que você sabe quem eu sou, entende que não posso ficar muito
tempo por aqui.
Ela concorda e se aproxima dos amigos para avisar, logo
todos concordam e subimos juntos. Brian e a morena já estão lá. Os
amigos de Lola se espalham, mas nós vamos direto para o sofá.
Sento relaxado e ela já apoia a mão na minha coxa, enquanto
bebe seu drink. Apresento-a para alguns dos rapazes, mas percebo
que nosso camarote já está bem mais lotado. Acho que todo mundo
está começando a noite cedo.
Entre bebidas, conversas, risadas e mãos bobas descobri
que Lola é uma garota legal. Eu falei para ela sobre encontrarmos
mais alguém para se juntar a nós e, diferente do que pensei que
aconteceria, ela aceitou rapidamente.
Essa garota sabe se divertir.
Lola viu uma garota no bar e me mostrou, concordei
imediatamente com ela, faríamos um ótimo trio. Nós nos demos
bem, então quando Lola basicamente subiu no meu colo e me
beijou, eu apenas retribui, era isso que estava procurando.
Segurei sua cintura com força e ela devorou minha boca, seu
cabelo vermelho ainda manteve um pouco da nossa privacidade até
que eu os segurei como um rabo de cavalo e puxei, para que ela me
desse acesso ao seu pescoço, e Lola não protestou. Seu decote me
permitia entender o tamanho dos seus seios e eu adorei, desci
minha boca até o topo deles e chupei, deixando uma leve marca.
Ela adorou e rebolou em meu colo, no exato momento em
que meu celular vibra. Tiro o aparelho do bolso apenas para ver se
é alguma urgência e Lola distribui uma trilha de beijos pelo meu
pescoço.
Mas eu me paraliso assim que leio o nome Norah escrito na
notificação de mensagem.
Inferno, Hurricane. Isso não é hora de mandar mensagem.
Não quando estou tentando esquecer da melhor noite de sexo que
já tive na vida, da forma como você foi embora e me ignorou no
outro dia.
Sei que sua mente é ruim… Será que ainda sou o cara que
ela conhecia como a palma da mão?
Meu corpo esquentou, mas não de tesão por Lola estar
arranhando meu peito com suas unhas bonitas, pelo simples fato de
que eu estou ferrado depois de ter dormido uma única vez com uma
mulher. Por eu saber que ela era um perigo e nem pestanejei em lhe
tocar. Por eu não conseguir mais levar uma mulher para a cama
sem ver o rosto daquele furacão chamado Norah Clark.
As mensagens me fizeram lembrar de algo, não tenho Norah
nas redes sociais. Pesquiso rapidamente seu nome de várias
formas diferentes e logo o encontro. O perfil é privado e sem
problemas mando uma solicitação de amizade, ela aceita
rapidamente. Começo a olhar as fotos dela e, Deus, como alguém
pode ser tão bonita?
Até que depois de olhar vários momentos da sua vida em
segundos, sei que minha foto preferida é a que ela está sorrindo no
campus da faculdade, segurando livros e um café, o cabelo
bagunçado pelo vento e ela sendo apenas ela.
A sensação de querer fazer parte disso surgiu em meu peito
e me senti obcecado por essa mulher.
E esse foi o início de uma noite em que eu terminei sozinho
em casa, porque não parava mais de pensar na diaba loira que
tomou meus pensamentos e não só de uma forma sensual.
Eu amo a Sophie, mas eu definitivamente não sou boa com
crianças. É domingo, Todd foi embora ontem mesmo e nós fizemos
três coisas da lista de desejos da minha irmã. Hoje temos o show
no Central Park e o jogo de Andy. Fomos acordadas hoje com a
campainha tocando porque um entregador veio deixar um buquê
com os dois convites do jogo.
Como o cartão que acompanhou as flores dizia, aquele não
era um presente para mim e sim para Sophie. Minha irmã só falava
da ligação deles no hospital desde que chegou e quando recebeu
seu presente, ela correu por toda a casa com seu mini buquê nos
braços.
Eu odiei enviar mensagem para ele sobre esses ingressos e
por mais que eu odeie a intenção de Andrew, de tentar se aproximar
de mim a partir da minha irmã, ao final do dia ela estará feliz e ele
indo para bem longe de mim.
Agora estamos nos arrumando para passear. Tomamos um
banho juntas e eu a ajudei com a roupa, afinal, estamos na época
do ano em que o tempo muda rápido demais. Até que minha doce
irmãzinha me pediu para fazer uma trança no seu cabelo enorme e
eu simplesmente sou um desastre.
Quem inventou milhares de tipos de se fazer uma trança?
Quando eu era da idade dela, uma trança simples já bastava,
mas as crianças de hoje em dia querem penteados de casamento. E
eu não sei fazer esse tipo de coisa, eu costuro pessoas e não
cabelos. Se um dia eu for mãe, não poderá ser uma menina.
Sophie já vai me arrancar os cabelos o suficiente.
Ela adora brincar com Diana, minha gata, e eu tive que fazê-
la entender que ela não conseguia passear com a gente. Sophie já
sabe disso, mas ela sempre me testa para ver se um dia eu vou
ceder.
Minha irmã é o grande amor da minha vida. Foi muito
complicado quando Todd entrou nas nossas vidas, mas minha mãe
merecia tentar ser feliz. Sophie não demorou para vir e quando olhei
para ela pela primeira vez, eu entendi que ela seria o meu coração.
Amo o quanto ela me ensina sobre a vida, sobre ter coragem e
como sua pureza às vezes me faz ver o mundo de uma outra forma.
Ela é tão pequena e decidida, sabe o que quer e fala a
verdade. Sophie sempre adorou a neve, então quando entendeu
que poderia andar sobre o gelo ela se sentiu uma super heroína. Ela
começou a entender tudo sobre coisas que envolviam patinação e
começou a fazer aulas há um ano, a garota é fantástica. Sinto como
se ela fosse um passarinho voando sobre o gelo sempre que a
assisto competir.
Ela é cautelosa com seus treinos e disciplinada com horários,
gosta de estudar sobre costura e colocar brilho em todas as suas
roupas. Faço questão de pagar tudo que envolva o sonho dela,
porque é isso que qualquer pessoa precisa na vida, alguém que
acredite em você.
Minha mãe é muito responsável quanto a criação de Sophie
— um pouco diferente do que foi com a minha — então encontra
formas de que ela ainda consiga ser uma criança feliz, que brinca,
se diverte, tem amiguinhos no colégio e faz coisas que uma menina
da sua idade costuma fazer. Se quando ela crescer, ainda quiser ser
uma grande patinadora olímpica, ela será, mas também terá tido
uma vida.
Quero que Sophie nunca precise se sentir sozinha, como eu
me sentia. Quero que ela continue sendo a garota mais feliz de
todas e sempre farei o possível para isso acontecer. Por esse
motivo, foi tão fácil aceitar os convites de Andrew para o jogo dos
Ice Angels, ela ama hóquei e nunca foi assistir ao vivo.
— Pronta para tomar um café da manhã especial de
aniversário? — pergunto, enquanto pego minha bolsa no sofá e
confiro se está tudo certo.
— Eu quero uma bola de sorvete no meu café. — ela grita
empolgada.
— Não são nem dez da manhã, não vamos tomar sorvete.
Meu carro está no conserto, liguei para o pessoal da oficina
olhar o que poderia ser e eles o rebocaram. Nossos passeios serão
de metrô e carros de aplicativo.
— Não é uma viagem para Nova York se você não tomar café
com sorvete, Norah. — ela me diz, segurando a minha mão.
Fecho a porta atrás de nós e pegamos o elevador.
Imediatamente minha mente é tomada pelo flash de Andrew
me beijando em um desses há uma semana. Tenho tentado afastar
esses pensamentos da minha mente, para que eu não tenha que
lidar com o fato de ter tido o melhor sexo da minha vida, então
apenas finjo que não estou pensando nisso.
— Que tal atravessarmos a cidade de metrô, tomar um café
na estação e visitar nosso penúltimo lugar. — ela me indica, tirando
o caderninho em que anotou sua lista do bolso.
— Fantástico. — ergo a mão para que ela bata e ela dá um
pulinho para alcançar.
— Por que você nunca me disse que conhecia o Ice? — ela
pergunta enquanto andamos pela calçada. — Isso é tão legal, você
está sempre com jogadores.
Se Sophie soubesse que esse fato estava me matando, ela
não comentaria. Não consigo ver qualquer homem sendo diferente
de Richard nesse momento. Para mim, eles são todos iguais. Mas o
que piora toda a situação, é que ele e Andrew têm o mesmo estilo
de vida, são famosos, ricos, adorados pelo mundo, tem tudo o que
querem, se acham os homens mais bonitos do mundo, pensam
única e exclusivamente com o pau.
Ainda não tive a chance de encontrar Josy nas últimas
semanas, nem os nossos turnos estão batendo e também não
troquei mais de cinco mensagens com Tom, o que tem sustentado é
o fato de que logo ele está chegando na cidade.
Enquanto isso, estou fingindo que meu coração não está em
pedaços e que nada está perturbando minha mente.
Eu nunca me senti digna de amor, porque fui ensinada desde
cedo que o amor é sozinho, foi isso que meus pais me ensinaram.
Até que conheci Andrew e ele me mostrou que amar alguém é
nunca se sentir só.
Mesmo longe, eu acreditei que não estava mais sozinha
porque em algum lugar existia alguém que me tinha em seu
coração. E aí veio o Richard, ele me fez acreditar que era
absurdamente especial e agora, eu só sinto que o amor significa
estar sozinha mais uma vez.
Sophie puxa minha mão e sei que esqueci de respondê-la.
— Conheci o Ice quando tinha uns quatorze anos, na escola
ainda. Nos tornamos melhores amigos, mas eu mudei de cidade três
anos depois e nunca mais nos falamos.
— Então ele se machucou e apareceu no seu trabalho
naquele dia? — questiona tentando juntar os fatos.
— Quase isso. — sorrio.
Entramos no metrô e sentamos, estava vazio porque o
horário de pico já tinha passado.
— Vocês poderiam voltar a ser muito, muito amigos. — ela
me olha encantada. — Nós poderíamos assistir vários jogos com
ele, já que eu quase nunca conseguia assistir os do Richard. E ter
um melhor amigo é muito legal, assim como eu tenho a Tanya.
Sorri da sua ingenuidade e beijei seu rosto, mudando de
assunto. Não quero falar de Andrew, porque isso me lembra uma
noite intensa demais.
Não demorou para que chegássemos ao nosso destino,
compramos o café na estação e aproveitamos ao máximo o show
sentadas no gramado do Central Park. Compramos comida, rimos,
brincamos e tiramos várias fotos na câmera polaroid que lhe dei de
presente. Foi uma manhã incrível e passeamos um pouco mais,
quando chegamos em casa assistimos filme e depois começamos a
nos arrumar para o grande jogo.
Quando entregamos os ingressos, nos informaram que
nossos nomes estavam em uma lista que tinha acesso a todo o
lugar. Estamos no Madson Square Garden[10]… Quem tem livre
acesso a esse lugar?
Bom, hoje à noite, nós temos.
Colocaram uma credencial nos nossos pescoços e um cara
com um ponto no ouvido e vestido todo de preto, nos conduziu até a
arquibancada. Ele disse que poderíamos escolher onde ficar, nos
camarotes ou nas cadeiras, mas isso era óbvio. Odeio aqueles
camarotes, me sinto uma lata de sardinha ali dentro. E qual graça
tem você assistir um jogo em outro lugar que não seja nas primeira
fileiras?
Foi isso que fizemos, nos sentamos o mais próximo do ringue
que conseguimos. O anjo branco que é mascote dos Ice estava na
pista patinando e dando tchau para a plateia. Compramos pipoca,
sanduíche, suco para Sophie e o maior copo de refrigerante
possível para mim.
Quando a música foi substituída pelo anúncio de início de
jogo, tudo pareceu passar muito rápido. O outro time foi anunciado e
os jogadores começaram a entrar no ringue e então os Ice Angels
foram anunciados, se destacando de todo o contraste branco com
seus blusões azuis.
Eu já tinha visto eles jogarem e era por isso que eu sabia
quem era o número treze e o porquê dele está olhando ao redor na
plateia. Sophie também entende isso, ela levanta a mão e dá tchau
para ele, que retribui.
Se ele não estivesse de capacete, aquele sorriso estaria
matando a todos nesse lugar.
O jogo começou e perdi as contas de quantas vezes eles
foram arremessados contra as proteções da pista. Andy realmente é
rápido como todos dizem, ele parece um raio atravessando a pista.
Foram rodadas difíceis, mas ele fez dois gols e por isso ganharam
com maestria.
Quando me joguei de volta na cadeira e ri alto com a
empolgação de Sophie, me dei conta de que estava tão eufórica
quanto ela porque gritei, pulei, comemorei, xinguei e torci durante o
jogo todo.
Desde quando eu gosto tanto assim desses jogos?
O ringue ficou desocupado depois de toda a comemoração e
o cara de preto que encontramos assim que chegamos veio até nós
de novo e avisou que Andrew estava nos esperando no vestiário.
Quando entramos no largo corredor, o homem, que descobri
que se chama Damon, estava nos guiando para alguma das portas
vermelhas e logo descobri qual era porque Mark, um dos caras do
time, saiu apenas de short por uma delas e Sophie deu um grito
ensurdecedor quando o reconheceu.
— Oi, lindinha! — ele deu um sorriso estonteante para ela. —
Gostou do jogo?
Ele estendeu a mão para ela bater e Sophie respondeu
animada.
— Você é tão mais alto pessoalmente. — ela disse. — Adorei
o seu passe e quando espremeu o Joe contra a parede.
Ri da sua empolgação ao falar e então ele notou minha
presença. Ele não disfarçou quando olhou fixamente para as minhas
coxas, mas logo disfarçou para que Sophie não reparasse.
— Qual o seu nome? — ele perguntou e minha irmã
respondeu. — Sophie, quem é a moça bonita atrás de você?
Revirei os olhos e o olho com desdém.
Mais um jogador idiota.
— É a minha irmã, ela se chama Norah e nós somos as irmãs
Clark. — ele sorriu pela forma fofa que ela falou e deu para perceber
que gostava de crianças.
— Ela tem namorado ou eu posso livremente tentar
transformá-la na mãe dos meus filhos?
Uma gargalhada soou atrás dele e não tinha me dado conta
de que mais alguém estava no local. Andrew estava com a cabeça
jogada para trás enquanto gargalhava do que Mark falou, mas o que
me atraiu foi a forma como o jeans que ele estava marcava suas
pernas torneadas.
— Sophie, de zero a dez, quais as chances que você acha
que o Mark tem com a sua irmã? — ele pergunta, se aproximando.
Sophie analisa bem Mark e sorri.
— Eu acho que se ele for inteligente, ele tem 7 por cento de
chances com ela.
Andrew desdenhou e eu tentei não babar enquanto
observava como ele estava um gato um all star branco. Por que os
babacas tem que ser tão bonitos?
— E eu, quantas chances acha que eu tenho? — ele se
abaixa para ficar quase na altura dela.
Meu corpo fica na defensiva e minha língua afiada está
pronta para lhe mandar a merda.
— Nenhuma. — Sophie responde rápido e é a minha vez e
de Mark de gargalharmos. — Mas daqui vinte anos, se você quiser
que eu seja a senhora Crawford, eu aceitarei.
Pronto, minha irmã está caidinha por aquele homem. São
aqueles olhos verdes e o mal que eles fazem a uma Clark.
Sophie aponta a câmera para Andrew e tira uma foto sua. Ele
é pego de surpresa, mas Mark diz que também quer uma, então a
pega no braço e eles três se juntam para mais um registro.
— Daqui a vinte anos o Andrew vai parecer o vovô Bill,
Sophie. — aviso. — Que tal você procurar um par romântico quando
estiver mais velha?
— Mas vocês são mais velhos e estão sem ninguém, não
quero ser assim.
— Meu Deus, eu adoro essa garota. — Mark fala rindo e
Andrew o olha sério.
— Sophie, infelizmente, nunca poderemos ficar juntos e você
merece um cara bem mais legal que eu. Mas, se você aceitar ser
minha amiga assim como a sua irmã, eu vou adorar. O que você
acha?
É agora que eu mando ele acordar desse sonho? Não somos
mais amigos, no máximo, conhecidos.
— Se formos muito amigos você vai assistir a minha
competição de patinação mês que vem?
— É claro que sim. — ele promete empolgado.
Isso não pode ir a diante.
Porque Andrew pode enganar a quem ele quiser no mundo,
inclusive ele faz isso desde muito jovem, mas ele não vai magoar os
sentimentos da Sophie, a patinação é a vida dela.
— Andrew, não faça eu te xingar, porque não posso fazer
isso na frente de Sophie, mas não lhe prometa coisas que não vai
cumprir. — falo séria.
Vejo o leve brilho triste que surgiu em seus olhos, ele sabe
que odeio quando promessas são quebradas porque elas significam
muito para mim.
— Não se preocupe, Norah. Honro com a minha palavra. —
garantiu e eu não acreditei.
A palavra dele já valeu muito para mim, mas há muito tempo
isso mudou.
Ele segurou a mão de Sophie e passamos pelas portas
vermelhas. Andrew mostrou todos os equipamentos para ela, o
vestiário e lhe apresentou mais alguns membros do time. Ela estava
absurdamente encantada e falante, parecendo uma expert em tudo
aquilo. Os meninos ficaram surpresos com as perguntas que ela fez
e responderam tudo.
Andrew sempre fala com Sophie com muita calma, escuta
tudo que ela fala e a faz rir. Ele leva jeito com crianças e esse
pensamento faz com que eu me pergunte se ele já mudou de ideia
sobre virar pai. Ele odiava essa hipótese.
Ele deu uma das suas camisas autografadas por todos os
meninos do time para Sophie e ela ficou emocionada. Foi bonitinho
de ver.
— Que tal a gente dar uma passeada no gelo? — ele propôs
— Sim, sim, sim. Vai ser o melhor presente da vida.
Ele pega patins para nós três mesmo eu avisando que não
quero.
— Norah não sabe patinar. — Sophie me entrega e Andrew
me olha surpreso.
Ele tentava me ensinar quando éramos jovens, mas eu nunca
fui boa e só piorei com a falta de prática. Patinar não é como andar
de bicicleta. Sei que a surpresa em seu rosto é porque mesmo
depois de todos esses anos, continuei sem aprender.
— Também não é assim. — tento me defender. — Eu só não
tenho muita coordenação motora nas pernas.
— Então hoje nós vamos ensinar a Norah. — ele fala para
Sophie eles batem um a mão na do outro, selando a parceria.
Seguimos para a pista e enquanto eu calçava os meus
patins, Andrew e Sophie já começaram a deslizar pelo gelo. Eles
estavam lindos ali, ela com o patins emprestado da escolinha de
hóquei e Andrew com seus lindos patins brancos.
Ele começou a ensiná-la alguns movimentos do jogo e me
derreti quando ela tentou o fazer rodopiar no ar com ela e ele
conseguiu. Ela estava radiante porque tinha acabado de ensinar um
passo muito importante para patinação no gelo quando se é uma
criança. Provavelmente Andrew sabia fazer aquilo, mas ele fez com
que Sophie sentisse que era algo especial.
Como ele consegue ser um bom homem quando quer e um
cafajeste na maioria do tempo?
Quando coloquei o patins no gelo, me arrependi
amargamente. Nunca tive jeito para isso e, como médica, sei que
vou cair de bunda e provavelmente quebrar o cox. Cheguei até eles,
confiando que poderia segurar nas laterais caso fosse cair, mas
Sophie atravessou a quadra e minha sorte foi Andrew não ter ido
com ela.
— Algo que a incrível Norah não sabe fazer. — provoca
sorridente. — Tinha que existir algo, ninguém é tão perfeito.
— Você que colocou na sua cabeça que eu era perfeita, mas
sempre avisei que não era. — dou de ombros.
— Venha aqui. — estendeu a sua mão e eu neguei. — Não
vou morder você, Doutora. — sua boca diz uma coisa, mas seus
olhos dizem outra.
Não quero ele tocando em mim, sei o que esse toque
desperta em mim. Andrew continua com as mãos entendidas e para
sair do lugar, precisarei ir com ele, então eu aceito.
É sempre um erro enorme segurar nas mãos desse homem,
porque ele te leva para lugares onde você não quer sair.
Andrew me fez ir um pouco mais para o centro da quadra, se
posicionou na minha frente e ainda segurando minhas mãos me
mostrou a melhor maneira de empurrar os patins para sair do lugar.
Ele foi patinando de costas, seguindo e corrigindo meus
movimentos até que eu consegui me movimentar pelo gelo.
Andy aplaudiu, me dando parabéns e sorri para ele. Um
sorriso verdadeiro, como há muito tempo não dava. Eu me senti
orgulhosa de mim.
— Muito bem, Hurricane. — ele patinou em volta de mim e
segurou Sophie pela mão.
— Você está muito melhor, Norah. — minha irmã gritou.
Eles estavam brincando. Andrew patinava com ela em sua
frente, pegavam velocidade na pista e Sophie passava por debaixo
das pernas dele, ficando de pé logo depois. Eu jamais faria algo
assim, mas ele queria me testar.
Andrew estava do outro lado do ringue de gelo quando olhou
para mim. Vi o exato momento em que o sorrisinho surgiu em seus
lábios, então ele começou a patinar até mim. Foi a primeira vez que
percebi que ele parecia um anjo em meio a toda aquela claridade.
Ele se move com tanta leveza e agilidade, parece estar flutuando.
Seus olhos ficaram ainda mais verdes comparados a quantidade de
coisas brancas ao nosso redor.
Ele está lindo!
Suas bochechas estão rosadas pelo frio do espaço, sua boca
segue no mesmo tom. E só assim eu entendi porque foi tão fácil
beijá-lo naquela noite, não é possível resistir a ele.
A mão dele tocou minha cintura, me fazendo acordar dos
devaneios e ele rodou meu corpo. Quase como uma dança, onde
ele estava me conduzindo. Die For You[11] tocava no estádio e ele
continuava deslizando pelo gelo enquanto me levava com ele. Tentei
me livrar das suas mãos, mas ele não se importou.
Nós quase não saímos do lugar, mas acompanhamos o ritmo
da música. Ele ficou do meu lado, nossos corpos em direções
contrárias, Andrew segurando minha cintura com uma mão e
precisei esticar o braço para segurar a sua também.
O que foi um grande erro. Grande erro.
Consegui sentir todos os gominhos dele na minha pele.
Mantive meus pés firmes e ele nos fez rodar juntos, nossas
almas conversavam pelos olhos, que não se desgrudaram um
segundo, como duas pessoas no olho de um furacão.
— Como assim não teve um bolo de aniversário? —
pergunto, chocado.
Aniversário não é aniversário se não tiver um bolo.
— Eu e Norah compramos apenas cupcakes. — Sophie diz
enquanto guardamos os patins.
— Cupcakes são lembrancinhas de aniversários, você
precisa de um bolo, não se faz sete anos de novo na vida.
— Andrew, pare com isso. — Norah me repreende. — Já
comemoramos muito. Agora vamos pegar um táxi e voltar para
casa. Sophie precisa dormir, está tarde.
— Seu carro ainda está quebrado?
Que mecânica de quinta ela contratou para ainda não ter
consertado o carro?
— Sim, nós andamos de metrô hoje e eu adorei. — Sophie
responde.
— Então vamos no meu carro. Passamos em uma
confeitaria, compramos um bolo, cantamos parabéns para Sophie e
depois deixo vocês em casa.
— Não. — Norah nega com raiva.
— Sim. — digo na mesma entonação.
Sophie diz que sim e Norah fica conversando com ela sobre
não precisarem de mim para comprar um bolo. Deixo as duas
discutindo e vou pegar minha bolsa no vestiário. Quando volto,
Sophie está com um sorriso enorme e Norah com a cara emburrada.
Já sei quem ganhou a discussão, então apenas as levo para o
estacionamento.
— É claro que você teria um dos carros mais caros do
mundo. — Norah diz quando destravo a porta.
Ela me olha com desdém, mas isso me faz querer sorrir.
Norah irá entender que eu não sou só um prepotente rico, eu sou o
melhor prepotente rico.
— E como você sabe que o meu lindo Maserati está nessa
[12]
categoria? — olho-a com curiosidade.
Faço carinho no capô do carro e ela revira os olhos.
— Já namorei um babaca como você que joga dinheiro aos
ventos.
Ela abre a porta e coloca Sophie no banco de trás, dá um
beijinho na sua testa e ocupa o lugar ao meu lado. Coloco o cinto e
olho para trás, conferindo se Sophie está bem segura.
— Prontas para a melhor noite de aniversário de todas? —
pergunto empolgado e Sophie grita.
Estou tentando manter o foco desde que as vi na
arquibancada. Durante o jogo não foi difícil, porque quando estou
ali, é quase impossível algo me desconcentrar — mas em cada
intervalo meus olhos voaram até elas. — Porém, quando cheguei no
corredor e a vi com aquela calça que marca perfeitamente sua
cintura e o cropped azul que fecha com um nó na frente dos seios,
fazendo seus peitos quase pularem de dentro do tecido, eu fiquei
louco.
Quando as levei para a pista e seu cabelo loiro escapou do
coque que ela tinha feito, Norah estava radiante. Os patins brancos
em seus pés a deixaram tão bonita e eu adorei tê-la no meu mundo.
— Andrew. — Norah bateu no meu braço com força e baixou
o som. — Isso não é música para escutar com uma criança.
— Aí, você tem a mão pesada. — faço drama. — É só deixar
a Sophie escolher o que vamos escutar.
— Katy Perry. — ela diz do banco de trás e sorrio.
Norah começa a mexer no painel do carro, xingando baixinho
quando fazia algo errado e eu apenas assisti à falta de paciência
dela de estar perto de mim. Eu acho que isso é paixão reprimida,
mas, segundo ela, é ranço.
Ela finalmente encontra as músicas e quando aperta o botão
de iniciar, alguém me liga e aparece no painel, estragando todo o
seu esforço. O nome de Scott é o primeiro que aparece, só que a
chamada é compartilhada com Ares e Jax também, sempre ligamos
um para os outros depois de um jogo.
— Scott, eu vou arrancar todos os seus dentes da próxima
vez que te encontrar. — Norah rosna quando atende a ligação no
painel do carro.
— Norah? — ele questiona confuso. — Eu liguei para o
número errado?
— Ela está com o Andrew. — Jax fala.
— Onde especificamente a Norah e o Andrew estão juntos?
— Ares pergunta e sinto a risada em sua voz.
— Eu torço para que seja em um mo…
— Temos uma criança de seis anos no carro. — quase grito
para abafar o que ele ia dizer. — Não falem palavrões ou qualquer
coisa de baixo calão. Sei que é difícil para os neurônios mal
desenvolvidos de vocês, mas tentem.
— Norah acabou de me ameaçar na frente da criança, vocês
acham mesmo que o palavrão vai fazer diferença? — Scott provoca
e ela revira os olhos.
Eu adoraria que ela revisasse esses olhos azuis enquanto eu
a fodo de novo.
— Eu tenho dois irmãos mais novos, eu sei me comportar na
frente de crianças. — Ares fala se defendendo.
— Seus irmãos são a prova viva de que você deveria ficar a
dois metros de distância de uma criança. — Jax fala e rimos.
— Vocês não crescem? — Norah fala. — Hoje é aniversário
da minha irmã, Sophie, deem parabéns para ela.
Ela sempre mandou em nós, então não me surpreendo
quando todos falam em um único som e felicitam Sophie.
— Obrigada, meninos. Vocês são engraçados. — ela diz
dando uma risadinha, nos fazendo morrer de amores.
— Eu quero apertar ela. — Scott fala. — A Norah nunca foi
fofa assim.
— Eu vou desligar em dois minutos porque estou
estacionando na melhor confeitaria de todas para comprar um bolo
de aniversário para Sophie. — aviso.
— Só ligamos para parabenizar pelo jogo. Você foi muito
bem, Sorvetinho, é isso que queremos do nosso campeão. — Jax
fala e os meninos concordam.
Norah gargalha ao meu lado e o melhor som do mundo
ocupa todo o carro.
— Não ria dele, Norah. — Ares fala. — Se ele é o Ice do
mundo, ele é o nosso Sorvetinho. Mas, se vocês estiverem indo
para Carlos Bakery[13], compre o red velvet para ela.
— Sim. Não é aniversário planejado pelo Andy se ele não
levar a divindade do bolo favorito dele. — Scott fala.
Paro o carro e deixo eles falando com Norah e Sophie
enquanto desço para comprar o bolo. Eles tem razão, esse é o
melhor bolo do mundo e eu sempre o levo em comemorações
especiais.
O pessoal da confeitaria já me conhece, por ser perto do
estádio, acabo sempre vindo comer algo doce quando estou
burlando a dieta. Pego o bolo e peço velas bonitinhas, eles separam
tudo e quando volto para o carro, os meninos estão prometendo
entradas para os jogos deles para Sophie.
Norah nega tudo e os meninos dizem que ela continua uma
mandona. Coloco o bolo em seu colo e quando nossos olhos se
encontram, vejo um brilho ali, disfarçado de irritação.
Propositalmente, lhe dou o meu sorriso mais cafajeste e dirijo até
sua casa.
Nos despedimos dos meninos e ela indica a vaga para eu
estacionar. Norah segura a mão de Sophie e eu seguro o bolo.
Quando ela destrava a porta do apartamento, uma coisa pula na
minha calça e grito de susto.
— O que é isso? — pergunto, ainda sentindo a coisa na
minha perna.
— Diana, não. Ele é feio, mas não é um monstro. — Norah,
ergue uma gata do chão.
O pequeno serzinho caramelo me olha por um um tempo,
desconfiada e cautelosa. Eu adoro animais, mas a forma como a
bola de pelos me examina, me faz achar que ela vai pular em mim a
qualquer momento.
— Está tudo bem, filha. Sei que o aroma de cafajeste te
incomoda, mas ele é do bem.
— Acho que ela não resistiu ao meu charme e teve que pular
em mim. — digo, passando por elas e me sentindo em casa.
Tiro o tênis e deixo do lado da porta. Vou até a cozinha e
coloco o bolo no centro da mesa, abro as gavetas em busca de
fósforo e Sophie me entrega a caixinha. Pego-a no braço e a coloco
de pé sobre a cadeira da mesa. Olho para Norah, esperando ela se
juntar a nós, mas ela está me olhando de uma forma estranha.
Não sei o que se passa naquela cabecinha, mas na minha eu
sei tudo que queria fazer para tirar aquela expressão dali. Inclusive,
são ótimas ideias.
— Vem, Anjo. — chamo, olhando para ela. Quase lhe
dizendo que não precisava surtar, apenas aproveitar o momento.
Ela ajeita a gata no braço e se aproxima de nós. Antes que
eu acenda a vela, Norah vai até o armário e volta com três
chapeuzinhos de aniversário, deixo ela colocar na minha cabeça,
sem desviar um segundo os olhos do seu rosto lindo. Depois ela
coloca o de Sophie e o seu.
Nós cantamos parabéns empolgados, Sophie faz um pedido
e assopra as velinhas. Partimos o bolo e ela dá o primeiro pedaço a
mim e a Norah, então nós dividimos. Tiramos muitas fotos com a
sua polaroid e ela fez questão de me dar uma de nós três juntos,
segurando o pratinho com bolo e usando o chapéu colorido.
Foi uma noite divertida e inesperada, quando tudo estava
ficando mais tranquilo, deitei no sofá e Norah colocou o episódio de
uma série que nunca vi na vida para assistirmos, mas meus olhos
começaram a pesar, senti patinhas no meu peito e apaguei.
Cruzei os braços na frente do corpo e assisti a cena de
Andrew no meu sofá. Os pés dele passando do espaço porque ele é
alto demais. O braço embaixo da cabeça, o rosto virado para as
almofadas que já estão debaixo dele, a blusa acabou levantando
pelos movimentos que fez durante a noite e posso ver a barra da
sua cueca aparecendo e seu caminho da perdição roubando toda a
minha atenção. Mas o que acabou comigo foi levantar e vê-lo com
Diana sobre o peito.
Eu sou realmente muito fraca ou ele é bonito demais?
Jogo o pano de prato nele, mas Andrew nem se mexe. São
oito da manhã de uma segunda, se ele já não acorda cedo na casa
dele, na minha ele vai acordar direto indo para o olho da rua.
O meu lado devasso está pensando como seria sentar nessa
cara bonita e deixá-lo me chupar inteira na primeira hora do dia…
Preciso tirar esse homem daqui.
Não o expulsei antes porque estava ajeitando Sophie para
que Todd a pegasse cedo. Fiz o café da manhã e esperei que
Andrew acordasse com o som que vinha da cozinha, porque eu só
sei cozinhar ouvindo música, mas ele não deu sinal de vida. Sophie
deixou um bilhete de agradecimento para ele e a deixei no carro
com o pai.
Todd me fez prometer que irei ao aniversário da minha mãe
no próximo mês e isso estragou o meu humor. Minha relação com
Lucy era praticamente nula quando meu pai estava vivo, ela quase
nunca ficava em casa, estava sempre trabalhando, priorizando sua
vida, já que tinha gastado muito dela me criando.
Meu pai viajava, então eu cresci sozinha. Mas quando estava
em casa ou quando os amigos deles estavam com a gente, ela tinha
um discurso de que eu super entendia o tipo de vida que tínhamos.
Acho que ela acreditou nisso a vida inteira porque era difícil demais
aceitar que eles basicamente me abandonaram e nós só éramos
uma família quando meu pai voltava das viagens e aí saíamos
várias vezes.
Eu me sentia a Matilda e assisti a esse filme milhares de
vezes por conta disso, esperando em algum momento alguém surgir
e me fazer sentir importante.
Depois que fomos morar na nova cidade, eu estudei como
uma descontrolada para conseguir passar na faculdade e assim
acompanhei o ensino da escola de lá. Mandei minhas cartas, fiz
todas as entrevistas e quando consegui sair de lá, me senti capaz.
Depois que Sophie veio, ela mudou completamente, mas a sua
busca insistente de tentar recuperar todo o tempo perdido das
nossas vidas, me tira do sério. Não tem como fingir que ela sempre
foi a mãe que é hoje.
Fico feliz por Sophie conhecer uma versão dela diferente da
que eu cresci. Eu também não permitiria que ela fosse tão grosseira,
autoritária e obsoleta com Sophie, duas crianças não merecem o
mesmo destino. Acho que Todd ensinou a ela um novo tipo de
família, um que realmente as pessoas cuidam um do outro.
O celular dele toca e ele desperta rápido, quase assustado.
Ele vai sentar, mas sente algo em seu peito e segura Diana, olhando
para ela e ao seu redor, tentando entender onde está.
— Esse é o seu alarme para fugir da casa das mulheres? —
questiono e ele me olha, deitando de novo no sofá.
— É avisando que uma maníaca gostosona pode estar me
vigiando dormir enquanto tem pensamentos eróticos comigo. — fala
rouco, tentando me irritar.
— Na verdade, eu estava planejando de quais formas eu iria
te arrancar do meu sofá. — lhe olho séria. — E só nos seus sonhos
que eu vou está gastando meu tempo pensando em você.
Ele abre um dos olhos na minha direção e posso jurar que
aquelas esferas estão mais verdes hoje.
— Norah, você finge que não, mas eu sei que me quer tanto
quanto elas. Inclusive, um conselho, Dra. Clarck, seja mais sincera
com seus sentimentos, não faz bem à saúde reprimir desejos.
Ele olha para Diana deitadinha nele e sorri, sabe que ganhou
a confiança dela.
— Meu desejo não foi nada reprimido na noite em que
transamos, então acho que está dando conselhos para a pessoa
errada.
— Mas reprimiu todos os outros dias que nos vimos, porque
por mim nós teríamos tomado um banho juntos naquele hospital,
afinal, se os dois iriam fazer a mesma coisa, porque gastar a água
do mundo duas vezes? — ele fala sério. — Depois transaríamos no
carro vindo para cá, hoje nós teríamos escapado pelo vestiário e eu
teria feito você gozar pelo menos na minha mão, porque seus peitos
naquela blusinha me deixaram louco. E, nesse exato momento,
você estaria calando a minha boca sentando na minha cara e
deixando eu te dar um orgasmo de bom dia.
Assim que fala tudo o que quer, me olha espantado e tampa
a boca.
— Você acha que eu teria deixado você continuar com essa
merda se a Sophie estivesse aqui? — rio com desdém e ele relaxa.
— Ela já foi e você trate de levantar daí, começar a arrumar suas
coisas e ir embora.
O deixo sozinho na sala e sento no banco para tomar café no
balcão. Segundos depois ele está sentado na banqueta ao meu
lado. Andrew olha o que tem, pega maionese, pão e queijo, monta
tudo e me entrega. Depois faz o mesmo para ele.
— Por que você insiste em ficar aqui?
— Porque você me quer tão longe? — ele morde o pão e
continua a comer. Eu o olho incrédula com sua tranquilidade. —
Qual é o seu medo, Norah?
— Andrew, nós não somos amigos, não mais. Eu estou
cansada de dias com uma criança em casa, preciso arrumar tudo e
descansar porque amanhã tenho plantão. Acabei de terminar com
meu namorado, minha melhor amiga tem uma família que precisa
da sua atenção e não vou enchê-la com os meus problemas. Meu
outro amigo mora a horas de distância e eu só quero paz. Não
preciso da dor de cabeça de reviver uma dor adolescente de mais
um homem que mentiu sobre mim.
Ele larga o pão com força na bancada e vira para mim.
— Eu não menti sobre você. Eu fui um babaca egoísta de
não desmentir porque estava magoado demais por você acreditar
que eu seria capaz de fazer algo daquele tipo. Sei que magoei você
e por mais que hoje pareça algo bem menor do que foi na época,
aquela briga sempre será um dos principais motivos que fizeram
você se afastar de mim. Odeio aquele dia, odeio o que fiz e me odiei
por muito tempo por ter sido fraco com você, porque eu poderia ser
com qualquer pessoa, menos com você.
— Isso não importa mais. — solto uma respiração cansada.
Sei que ele tem razão, nossa dor foi alimentada porque hoje
somos a versão adulta daqueles dois adolescentes caóticos, mas eu
não o perdoo por ter deixado com que as pessoas acreditassem
naquilo, por mais idiota que se seja. E hoje, além de Andrew ser
alguém que já me magoou muito, ele ainda é a cópia fiel de um
homem que eu não quero ter na minha vida de novo.
— Claro que importa, Norah. Você está se sentindo sozinha e
sinto isso desde o dia em que nos reencontramos, então me deixa
ficar. — ele pede. — Eu só quero te fazer companhia, quero te ouvir
falar besteira ou te levar para uma viagem de última hora. Não
quero que você sinta que não tem ninguém, quando eu estou aqui.
Nós podemos ser o que o outro precisa.
Ele tem razão sobre mim, tenho me sentido sozinha e odeio
essa sensação. Odeio me sentir perdida, saber que o mundo está
rodando ao meu redor e eu estou estagnada.
— E o que você precisa, Andrew? — pergunto, brava.
— Preciso me sentir capaz de me ver no centro da minha
vida de novo. — sei que ele está sendo sincero. — Acho que você
seria a pessoa que faria eu me sentir menos perdido.
O homem que sempre se preocupa e cuida de todos,
colocando mais uma vez as pessoas a frente de si mesmo a ponto
de entender que está no limite e precisa olhar para dentro dele.
Andrew sempre faz isso, ele coloca as pessoas à frente do
bem estar dele. Pensei que isso tinha mudado, mas pelo visto,
piorou a ponto dele estar confuso.
— E você acha que eu posso te ajudar com isso? — cruzo os
braços na frente do corpo.
— Desde o dia que nos encontramos naquele bar, eu soube
que sim.
— E como você acha que vai me ajudar? — realmente quero
saber.
— Sempre existiu algo em você que me encantava. — sei
exatamente o que ele vai dizer. — A chama que existia nos seus
olhos está sumindo, isso acontecia quando você não estava feliz.
— Mas isso é apenas sobre mim e só eu conseguirei
resolver. — o olho com intensidade e ele parece incrédulo.
— É isso que você faz. Porra, Norah. Não é só porque te
ensinaram a ser sozinha que você precisa acreditar que essa é a
única maneira de viver. Você não precisa mais sofrer sozinha, não
precisa tentar enfiar seus demônios goela abaixo. Terminou um
namoro há semanas e ainda nem falou direito com os seus amigos
sobre isso, está guardando tudo até virar uma bomba e explodir.
Vão existir muitas batalhas que você lutará sozinha, mas existirão
muitas outras que você não precisará.
— Você não sabe do que está falando. — tento negar tudo
que está remoendo na minha cabeça quando tudo que quero é dizer
a ele que odeio essa sensação.
Levanto e me afasto dele. Andrew não é a pessoa certa para
ouvir os meus problemas, até porque ele é bonito demais enquanto
está falando sério e isso mexe com meu desejo, como também
porque sei que essa é uma péssima ideia.
— E você é uma teimosa do caralho. — ouço seus passos
atrás de mim.
Viro de vez no corredor para encará-lo e seu corpo esbarra
no meu. Andrew me segura pelos braços e estou colada no seu
corpo. Nossos olhos estão duelando, cheios de raiva e de dúvida.
Ele por tudo que falou, eu por tudo que estou tentando evitar.
— Eu não tenho obrigação de aceitar você se metendo na
minha vida. — quase grito com ele. — E da próxima vez que me
xingar, eu vou arrancar a sua língua.
Ele me olha sério, mas um leve sorrisinho surge no canto dos
seus lábios.
— Então eu acho que vou usá-la antes que a perca.
Então a boca dele colide com a minha.
Norah não se afastou do meu toque e esse era o sinal que eu
precisava para saber se continuava. Segurei seu rosto e aprofundei
o beijo, ela me deu espaço e devorei sua boca. Norah segurou
minha camisa com força e trilhei beijos por todo o seu pescoço.
Abaixo a primeira alça do seu top e brinco com sua orelha.
Norah deita a cabeça, me dando espaço. Puxo o tecido e deixo seus
seios escaparem, desenho seu mamilo com a língua e marco sua
pele. Tiro o restante da peça do seu corpo e largo no chão.
Volto a beijá-la e minhas mãos passeiam por todo o seu
corpo, desenhando as curvas bonitas e delicadas de Norah. Seu
corpo é pequeno, ela é baixinha, mas seu quadril é grande, assim
como a bunda durinha que está na minha mão agora.
Norah alcança a frente da minha calça e começa a
massagear meu membro duro por cima do tecido. Ela abre meu
zíper e sua mão envolve meu pau enquanto arfo na sua boca pelo
primeiro contato.
Foda-se, eu preciso estar dentro dela logo.
— Vamos estrear sua cama, Hurricane. — sussurro contra
seu pescoço.
Norah quebra nosso contato e sinto falta do seu toque
imediatamente. Sento na cama de dossel já imaginando como será
amarrá-la ali. Ela passa as pernas pelo meu colo e senta sobre
minhas coxas. Minhas mãos trilham suas costas e ela rebola sobre
mim. Norah empurra meu peito e eu apoio as mãos na cama para
continuar a observando. Ela tira o short e fica de costas para mim,
me dando a visão perfeita da calcinha minúscula que ela está
usando.
— Você estava o tempo todo usando isso. — Não resisto e
dou uma tapa de cada lado da sua bunda, a fazendo arfar. — Agora,
sempre que nos encontrarmos, vou pensar sobre qual calcinha você
estará escondendo de mim e talvez eu tenha que descobrir qual é.
— Norah tira a peça sem pressa e a joga em cima de mim.
Diaba provocadora.
— Tente, quem sabe a próxima será da sua cor preferida. —
sorri, travessa.
Ela desliza para o chão enquanto me livro da camisa e
segura o cós da minha calça, ajudo-a a tirá-la de mim e logo depois
fazemos o mesmo com a cueca.
Quando Norah leva meu pau à boca, chupando com avidez,
enquanto brinca com meus testículos, eu sinto o choque por todo o
meu corpo. Ela me leva até o fundo da garganta, lambe toda a
minha extensão e sei que não aguentarei muito se ela continuar
assim.
O gemido que sai da minha garganta é gutural, então a puxo
para mim. Beijo sua boca bonita, que está vermelha e inchada, e
deito com ela por cima de mim, rebolando sobre o meu pau sem
colocá-lo dentro dela.
— Eu odeio o fato de você ser tão gostoso. — beija meu peito
e me arranha com raiva.
— E eu adoro como você fica molhada para mim. — viro
nossos corpos e a deito na cama. — Quero que leve essa mãozinha
delicada até sua boceta e me mostre como dar prazer para você.
Seguro seu rosto pelo queixo e beijo sua boca com força.
— Você pode odiar sentir isso, Norah, mas o seu corpo ama
ser adorado por mim. — seus olhos me fitam com desejo.
Norah não nega, porque sabe que estou certo.
Ela puxa os mamilos e massageia os seios sem pressa,
enquanto me afasto para apenas observá-la, aproveito para pegar a
camisinha na carteira e colocá-la. Norah se apoia nos travesseiros e
abre bem as pernas para mim, me dando a visão da sua boceta
lisinha e pronta para mim.
Seus dedos descem por todo o corpo, enquanto uma mão
continua brincando com o seio, a outra vai até onde ela mais precisa
ser tocada. Norah faz movimentos circulares sem pressa sobre o
clitóris com dois dedos, sem desgrudar os olhos dos meus.
Ela morde o lábio inferior enquanto desce os dedos até sua
entrada e sinto meu pau pulsar quando ela penetra a si mesma. Sua
boceta ficando cada vez mais rosada e inchada, seus dedos saindo
e entrando, enquanto a outra mão dá atenção ao clitóris. Seus
movimentos ganham força e rapidez, ela está sentindo seu corpo
responder ao toque.
É a melhor visão que eu poderia ter: Norah com os olhos
azuis pesados, o cabelo bagunçado, as bochechas coradas, a
boceta pingando de tesão e ela se dando prazer.
— Andy. — ela geme meu nome, como se estivesse
imaginando que eu estivesse fazendo aquilo.
— Eu estou aqui, linda. — digo quando sua respiração
começa a acelerar e aperto meu pau em busca de alívio ou ele vai
explodir. — Agora deixe eu me juntar a você.
Norah é como uma deusa, ela me hipnotiza só pela forma
que me olha. Ela não tem pudor ou tabus, se entrega ao sexo sem
problemas, conhece bem seu corpo e não deixa de fazer o que quer
na cama. Nossa conexão é quase palpável e eu adoro isso.
Ela tira os dedos de dentro da sua boceta quando me
aproximo, mas continua masturbando seu clítoris. Passo a língua
por toda a sua extensão, me demorando um pouco mais na sua
entrada e chupo seus lábios, mas não me demoro, o que a faz
protestar.
Pego o fio dental que ela chama de calcinha e amarro suas
mãos nas barras na cabeceira da cama. Os dedos de Norah
seguram na barra como um sinal de que mesmo que o tecido fino
não aguente o nó, ela permanecerá com as mãos ali.
Completamente entregue ao seu desejo, ela não tem
vergonha de mim. Norah pode dizer que não confia em mim, mas só
o fato de estar com as mãos amarradas e me deixando no controle
do seu corpo, já mostra o quanto ela fica à vontade nos meus
braços.
Norah não protesta, mas eu sei que ela precisa gozar rápido.
Passo as mãos por sua coxa, sentindo sua pele macia e observando
suas pernas torneadas completamente abertas para mim. Isso me
deixa louco.
— Eu vou foder você com força, Norah. — toco sua boceta
com os meus dedos, a torturando. Do clitóris ao ânus, espalhando
sua excitação por todo lugar. — Quero que me sinta no seu limite,
batendo lá no fundo. Quero ver seus olhos azuis revirando a cada
estocada.
Seguro meu pênis e coloco apenas a ponta dentro dela.
Norah geme, sentindo sua entrada me receber. Afundo um pouco
mais e ela está tão quente e molhada, que estou morrendo para não
entrar de uma vez e completamente dentro dela.
— Eu quero que você seja minha, Norah.
A sensação dos seus músculos me apertando, em busca de
prazer, me fazem arfar. Meus olhos encontram os dela e não quebro
o nosso contato quando tiro meu pau de dentro e entro novamente,
mas dessa vez por completo, em uma estocada bruta. Norah revira
os olhos e geme alto, segurando a cabeceira da cama com força.
Seus seios fartos se movem pelo impacto dos nossos corpos,
mas mantendo as estocadas firmes, ouvindo o som dos nossos
corpos se unindo. Quando dou a terceira estocada, Norah rebola e
me leva ainda mais fundo, moendo meu pau dentro dela e arfo
maravilhado.
— Se machucar, me avise, Norah, eu não vou ser nada
delicado. — seguro seu quadril e penetro.
Forte, quente, delirante, sentindo cada gota dela engolindo
tudo de mim. A cama faz barulho debaixo de nós, nossos corpos se
encontrando também, nossas respirações descontroladas e a visão
perfeita do meu pau se perdendo dentro da boceta dela.
— Assim, isso mesmo, Andy. — apoio minhas mãos na cama
e tiro meu pau quase todo de dentro dela e a penetro novamente,
sem parar. Ela joga a cabeça para trás e seu corpo se remexe de
prazer.
Aproximo mais seu tronco do meu e seguro seus seios,
apertando e chupando cada um deles.
— Eu quero que você ouça isso, Norah. — ela me aperta
forte e perco o raciocínio por um segundo, gemendo em seu ouvido.
— O quanto nós somos bons na cama. Como é gostoso nos ouvir
gemendo e nossos corpos batendo um contra o outro. Estou a ponto
de gritar seu nome para esse prédio inteiro ouvir o quanto só você
me fode assim, só você faz com que eu queria perder todo o
controle, Hurricane.
— Preciso gozar, Andrew. — implora. — Preciso de mais.
Solto suas mãos apenas com um puxão no tecido, sem sair
de dentro dela. Nos desconecto apenas o suficiente para virá-la na
cama. A bunda bonita dela virada para mim, mas não muito alta, o
tronco baixo na cama. E eu brinco com seu ânus com o dedo,
enquanto penetro sua boceta.
— Goze chamando meu nome, linda. — falo no seu ouvido.
Alcanço o seu clitóris e ela segura forte o lençol enquanto
abafa o gemido de prazer no colchão. Estoco com força e o corpo
de Norah treme quando ela começa a gozar forte, gemendo meu
nome. Seus músculos me apertam tão forte que gozo junto com ela.
Se um dia acreditei que conseguiria resistir ao toque de
Andrew, hoje sei que estou completamente errada.
Bastou um beijo e eu queria passar horas transando com ele.
Foi o melhor sexo matinal de todos. É a maior conexão sexual que
já tive com alguém.
E agora, com ele ao meu lado, deitado na minha cama,
completamente nu e olhando para mim com essa cara de satisfeito,
sorriso leve, bochechas rosadas e algumas perguntas no olhar, me
faz ter mais certeza ainda que quero repetir essa cena mais vezes.
E acho que o odeio ainda mais por ser irresistível. E me odeio
por ceder tão fácil ao tipo de homem que eu deveria estar correndo
léguas de distância.
— Hoje você não vai poder fugir, Hurricane. — ele fala,
afastando o cabelo do meu rosto.
Estou completamente exausta e ainda sinto seu corpo por
toda a extensão do meu, mas ele tem razão, hoje eu não posso ir
embora e não quero que ele vá, porque quando ele está aqui, sua
presença faz com que toda a solidão que senti nas últimas
semanas, se afaste.
— Mas posso expulsar você. — falo e ele apenas me olha.
— Eu posso até sair, mas vou ter que ficar um tempo sentado
na sua porta tentando recuperar a força das minhas pernas. — pego
uma almofada e jogo no rosto dele, rindo e o fazendo rir também.
— Idiota. — digo, me aconchegando ao lençol.
— Independente do que aconteceu, tudo que eu disse ainda
está de pé.
— Claro, porque assim você consegue transar comigo
quando quiser até cansar e nunca mais aparecer. Não sou uma
boneca inflável, Andrew.
— É assim que está se sentindo agora, usada? — questiona,
me olhando com dúvida.
— Não, mas sei que isso não vai demorar muito para
acontecer. Porque é isso que homens como você fazem, eles ficam
até quando é conveniente para eles.
Ele apoia a cabeça na mão, para que possa ficar mais alto e
conseguir me ver melhor.
— Olha, eu sei que sim, homens são todos iguais e não vou
fingir que não. Mas eu sou verdadeiro com o que sinto e é isso que
você terá de mim, sinceridade. Norah, eu não namoro, nunca e nem
com ninguém. — ele passa a mão nos cabelos e se mantém calmo.
— E você não quer um relacionamento agora e muito menos com
alguém com o tipo de vida como a minha, tudo bem. Mas, em
contrapartida a isso, tem o fato de que somos fantásticos na cama.
Eu sempre vou estar pronto para transar com você, mas essa não é
a questão.
Rio, porque é engraçada a forma como ele tenta falar sério
sobre sexo quando na verdade está tentando me convencer a ser
sua amiga. Acho que a conta não bate.
— Norah, eu estou falando sério. — me repreende e tento
conter o riso. — Vamos esquecer o fato de que não conseguimos
tocar um no outro sem arrancar nossas roupas. Quero ser seu
amigo e acho que nós dois estamos precisando disso agora, de
alguém que nos faça companhia. Os meninos estão longe, seus
amigos também, podemos ter um ao outro.
Já tivemos uma vez.
A nossa noite no bar me mostrou que Andrew continua
divertido, não seria nada mal ter aquele cara por perto algumas
vezes. E sobre transar com ele, eu que tenho que me controlar, se
não quero outro Richard na minha vida, não posso deixar as coisas
seguirem para esse rumo.
— Se isso for adiante, não podemos mais transar. — aviso e
ele me olha como se eu tivesse falado um absurdo.
— Você realmente acha que conseguiríamos ficar sem
transar depois do que aconteceu agora a pouco? É melhor
tentarmos uma amizade colorida, quando acontecer, aconteceu e tá
tudo bem.
— Ainda não somos amigos e nem sabemos se
conseguiremos ser, não tem como ser amizade colorida. Que tal
chamarmos de "colegas sem compromisso”? — pergunto.
— É um péssimo nome. Eu prefiro “Disk delícia para o que
precisar”. — olho para ele incrédula.
— Os seus neurônios foram esmagados depois das
pancadas no gelo? — pergunto e ele sorri.
E é nesse momento que tenho certeza que Andrew está certo
que não vamos aguentar ficar sem transar. Não existe cena mais
bonita do que a desse homem sorrindo genuinamente para mim,
com os fios ondulados do seu cabelo castanho claro quase loiro
bagunçados e o corpo bonito enroscado no lençol.
— Então pode ser amigo de aluguel. Como marido de
aluguel, onde você chama quando precisa de alguém para te ajudar
com algo. Nós vamos sempre procurar um ao outro para qualquer
coisa que precisarmos.
Não desgrudo meus olhos dos dele, que espera
ansiosamente por uma resposta. Eu sei que estou tomando a pior
decisão da minha vida, mas quando lembro da sensação de solidão
que venho sentindo nos últimos dias e de como meu coração está
tranquilo agora com ele aqui, sei o que devo escolher.
— Amigo de aluguel. — repito em voz alta para ver se não
soa tão absurdo. — Isso é patético, mas tudo bem. Não faça eu me
arrepender disso, Andrew.
O sorriso dele é imenso e sou pega de surpresa quando ele
se aproxima com agilidade. Andrew fica em cima de mim, com os
braços fortes o mantendo suspenso.
— Você voltou depois de dez anos, Hurricane. Eu sou capaz
de fazer qualquer acordo para fazer você ficar. — sua voz é doce.
— Que bom, porque eu vou estabelecer várias regras a meu
favor nesse acordo — nos olhamos.
— Lembre-se que temos direitos iguais nessa relação, posso
surpreender você com a minha criatividade. Não conte vantagem,
Hurricane.
— Vamos ver quem faz as melhores ligações, Ice. — o
desafio e o seu rosto ganha uma nova expressão, bem mais sexy.
— Prepare-se para se surpreender, Angel.
Ele se aproxima do meu rosto, mas antes que eu fale algo
sobre ele não me beijar, os lábios de Andrew deixam um beijinho na
ponta do meu nariz. Isso derruba toda a minha pose de desafio,
porque é fofo demais aquele homem imenso sendo carinhoso.
Foi algo natural, ele sorriu para mim e saiu da cama.
Caminhou com aquela bunda dura e enorme pelo meu quarto e
descobriu que para chegar ao meu banheiro precisa atravessar o
closet.
Por que ele parece tão familiarizado com a minha casa? É
como se ele estivesse sempre aqui.
— Own, as suas roupinhas de médica. — ele fala de dentro
do closet, sem que eu possa vê-lo. — Você fica tão pequenininha e
bonitinha dentro delas.
— Não mexa nas minhas coisas, Andrew. — grito de volta
para que ele escute.
— Uau, que tipo de calcinha é essa? São fluorescentes?
Norah você tem uma calcinha que acende no escuro? — ele parece
ter descoberto a melhor coisa do mundo.
Estou arrependida de não ter feito ele ir embora.
Caminho até onde ele está, ainda segurando o lençol na
frente do corpo e cruzo os braços na frente do peito. Andrew está de
queixo caído olhando para a calcinha que acende no escuro. Ganhei
de Tom há muitos anos, mas tenho certeza que isso deve ser
proibido de chegar perto de uma vagina de tantos produtos tóxicos
que deve conter.
— Sempre que eu passar por aqui à noite, vou ver algo aceso
dentro da sua gaveta?
— Você é um idiota. — caminho até ele e tomo a calcinha da
sua mão, a guardando e fechando a gaveta. — Não quero você
fuçando em nada aqui.
Empurro seu peito em direção ao banheiro com uma mão e
ele continua rindo da calcinha. Ele fica de costas para mim e
caminha até o banheiro enquanto eu lhe empurro até lá.
— Você vai tomar um banho e ir embora, porque a minha
paciência já acabou. É meu último dia de folga e tenho milhares de
coisas para fazer. Então você tem vinte minutos para fazer tudo e
sair. — falo séria.
Andrew para no meio do banheiro e me olha dos pés à
cabeça.
— Você vai vestir a calcinha que acende no escuro para
mim?
Puxo a toalha do armário e jogo nele.
— Vai se ferrar, Andrew. Banho, agora.
Bato a porta e saio pisando duro, me jogo na cama e rio do
quão ridículo ele é.
Onde eu fui me meter?
— Concentração, Ice. — Will gritou do outro lado da pista.
Estamos treinando para a temporada da NHL e temos oitenta
e dois jogos nos esperando em algumas semanas.
As pessoas pensam que dedicamos nossa vida a treinos, boa
alimentação, academia e outros esportes porque queremos ter uma
boa forma, mas na verdade, ou fazemos isso ou nossos corpos não
aguentam a rotina dos jogos.
— Se você fizer um offside[14] como um armador, vou arrancar
suas bolas, Ice. — continua gritando.
Nosso time foi dividido e jogamos uns contra os outros para
que possamos treinar bem as defesas e os ataques. Brian deixa o
disco chegar até o gol sem ser tocado e recebemos uma
penalidade, fazendo Will berrar de onde está.
— Vocês são as minhas estrelas e acho estou vendo essas
estrelas pararem de brilhar, morrerem e caírem do céu porque não
brilharam o suficiente. Joe, goleiro é para estar no gelo, se jogue e
pegue essa merda de disco.
Will é carrasco, mas é um grande líder. Está no Ice Angels há
mais de vinte anos e é responsável pelas maiores equipes que o
time já teve. Ele cuida de todos nós, mas também não tem papas na
língua para nos cobrar excelência em tudo que fazemos no gelo.
— Nick, você e o Ice estão iguais duas portas. Eu quero
movimento, são meus defensores, os adversários estarão jogando
vocês nas paredes, quero força nesses movimentos. Kevin e Mark
estão muito bem, façam esses patifes comerem gelo.
Seguimos as próximas horas intensificando ainda mais o
treino. Não sei como consigo transpirar tanto no frio do ringue,
porque quando tiro o capacete, meu cabelo está ensopado. Não sei
há quanto tempo que chegamos ali, mas saímos derrotados para o
vestiário.
Tudo que eu preciso depois de sentir meu corpo esgotado, é
um banho. Aproveito a água gelada e deixo meus músculos
relaxarem. Sei exatamente todas as partes do meu corpo que irão
ficar doloridas amanhã.
Assim que me visto, organizo meus equipamentos no espaço
certo e arrumo minha bolsa. Pego o celular para marcar uma
massagem para a manhã seguinte e vejo uma mensagem que
Norah enviou a duas horas atrás.
Não consegui.
Há duas semanas estamos fazendo nosso “amigo de aluguel”
dar certo e isso mudou completamente nossa relação. Norah ainda
tem seus receios e cautelas, mas está tão forte nisso quanto eu.
Com os meus treinos e a rotina dela no hospital, não
conseguimos nos ver muitas vezes, mas trocamos mensagens
durante todo o dia ou ligamos a qualquer hora. Tem sido algo novo e
bom, e o que mais me deixa feliz com tudo isso é que estamos
cumprindo nosso propósito de cuidar um do outro.
Em alguns dias parece até que ela nunca saiu da minha vida
e é por isso que sei exatamente o que essa mensagem significa.
Norah quis ser médica para salvar a vida das pessoas, mas
desejar isso a faz ficar cara a cara com o oposto disso. Acho que
depois que perdeu o pai, ela quis lutar contra a morte e mostrar que
podia ser mais forte que ela, só que nós não podemos mudar o
destino das pessoas. Sei que ela entende isso, mas o fato de perder
os pacientes mexe absurdamente com ela.
Disco o seu número, que já decorei de tantas vezes que
liguei para ela nas últimas semanas. Da primeira vez, chamou até
cair e ela não atendeu. Então pego o carro e dirijo para o hospital.
Continuo tentando falar com ela durante todo o caminho, mas
não tenho resposta. Eu sabia que ela ainda deveria estar lá, são
quase uma da manhã e lembro dela ter falado que só sairia próximo
a esse horário. Entro no estacionamento e procuro seu carro, não
demoro a encontrar e estaciono na vaga ao lado. Eu não vou
atrapalhá-la no trabalho, mas ficarei aqui até ela sair.
Disco seu número pela última vez e sua voz acalma meu
coração.
— Oi, estou saindo do hospital. — percebo o tom de cansaço
na sua voz.
Abro a porta do carro e saio para vê-la vindo até o seu, paro
no meio da via, olhando em direção a porta de saída.
— Estava no treino até vinte minutos atrás, não consegui ver
sua mensagem antes, desculpe. Sinto muito, Hurricane.
Ela fica em silêncio do outro lado da linha e vejo o exato
momento em que ela sai pela porta do hospital e começa a
caminhar pelo estacionamento, mas sem ainda me ver.
— Como foi o treino hoje? — muda de assunto.
— Will nos xingou com toda a sua lista interminável de
palavrões, depois disse que nós somos a porra dos melhores
jogadores que ele já trabalhou. — rimos.
— Onde você está, Ice? — sorrio, porque adoro a forma
como ela torna três letras tão sexys.
— Eu não conseguiria ir para casa sem ver como você
estava, Linda.
Ela está a uns dez carros de distância e vejo o sorrisinho que
surge nos seus lábios.
— Espero chegar em casa e encontrar você no sofá, fazendo
carinho em Diana e segurando um pote de sorvete, talvez com uma
garrafa de bourbon na geladeira.
— Pensei em sairmos daqui e ir para algum lugar. — sugiro.
Norah está tão perdida em seus pensamentos que ainda não
me viu e isso mostra o quanto ela está triste, porque nada passa
despercebido por ela.
— Para onde você me levaria?
— Para qualquer lugar do mundo que você quisesse — sou
sincero.
Então, ela finalmente olha para frente e me vê.
Abro os braços como uma forma de dizer: não importa o que
você diga, eu não deixaria de estar aqui.
Norah está a poucos metros de distância, ela tira o celular da
orelha e vejo em seus olhos o exato momento em que ela
desmorona. Ela quase corre em minha direção e quando ela está
perto o suficiente, trago-a para os meus braços.
Ela afunda a cabeça no meu peito e abraça minha cintura.
Seguro-a forte e apenas ficamos assim, no meio do estacionamento,
com o som de Nova York atrás de nós.
Seguro seu rosto e a olho de pertinho. Seus olhos
demonstram todo o seu cansaço e tudo que quero é conseguir tirar
essa tristeza dela. Beijo a ponta do seu nariz e ela o enruga, dando
um sorrisinho.
— O que a minha garota quer? — pergunto. — Álcool,
chocolate, uma gata e um gato? — ergo as sobrancelhas e ela
revira os olhos sabendo que me referi a mim com a última sugestão.
— Eu pensei em algo enquanto estávamos na ligação. — ela
me observa e sei que está maquinando algo naquela cabecinha. —
Você confia em mim?
— Claro. — respondo imediatamente e ela sorri.
Ela se afasta e estende a mão para mim.
— Você vai me deixar dirigir seu carro ou quer ir no meu? —
pergunta e cerro os olhos em sua direção.
— Sabe como é dirigir um carro que em um segundo atinge
uma velocidade absurda? — pergunto e ela cruza os braços em
resposta. — Sei que você dirige perfeitamente bem, Hurricane,
estou preocupado com esse seu pézinho pesado em um carro muito
rápido no trânsito caótico dessa cidade.
— Andrew, vamos ou não? — pergunta sem paciência.
Entramos em uma guerra silenciosa e me dou por vencido
depois dela me prometer que não vai dirigir a mais de cem por hora.
Abro a porta do motorista para Norah e ela entra, ajustamos o
banco para que fique bom para ela dirigir e me sento no lado do
passageiro. Quando o motor ruge, não tenho mais volta.
Norah tira o carro do estacionamento com cautela e aproveita
todas as ruas vagas para sentir até onde o carro pode ir. Ela para
em uma cafeteria e me faz descer para comprar donuts e café para
nós.
Seguimos comendo e falando sobre o fato de Ares estar
apaixonado pela namorada de mentira dele. Norah apostou que eles
estariam se declarando um para o outro em dois meses e eu apostei
que em três. Falei-lhe sobre a viagem que irei fazer para vê-lo logo
mais e que eu sei que ela irá adorar conhecer Victória.
Cantamos, brincamos e conversamos sobre várias coisas,
até que entendi para onde Norah estava nos levando, Coney Island.
Ela quer ir ver o mar.
Norah estacionou do outro lado da rua em frente a um
mercado vinte e quatro horas para disfarçar, porque as pessoas são
solicitadas a sair da areia por volta das oito da noite, não
deveríamos estar aqui nesse horário. Deixamos nossos calçados
dentro do carro e atravessamos a avenida. Caminhamos até perto
da água e sentamos.
— Então, qual a história desse lugar? — pergunto.
— Quando vim morar em Nova York, me trouxeram para
conhecer essa praia, o parque no pier e os restaurantes. Eu fiquei
tão encantada que sempre dirigia para cá depois das aulas. Tom e
eu fomos muito felizes aqui, tenho muitas lembranças de fim de
tarde tomando sorvete na orla. É um lugar especial para mim e que
há muito tempo não visitava. — ela abaixa a cabeça e respira fundo.
— O homem que não consegui salvar hoje morava aqui. — meu
coração afunda.
— Ele te fez lembrar de todas essas coisas? — procuro
entender.
— Aquele homem nunca mais vai ter a chance de sentir os
pés sendo molhados pelo mar de novo, Andrew. Nós estamos
fazendo isso por ele pela última vez. — me olha. — Sinto que é meu
dever viver a vida plenamente quando vejo pessoas perdendo essa
chance todo tempo.
— Não é culpa sua essas pessoas morrerem, Norah. — vejo
seus olhos encherem de lágrimas. — Você fez tudo que era capaz,
mas não se pode lutar contra o destino das pessoas, Hurricane.
— Mas sempre vou me perguntar se existia algo a mais que
eu poderia ter feito para salvá-los. Eu poderia ter sido mais ágil, ter
seguido outra técnica, iniciar a cirurgia por outro percurso ou
compreendido melhor o caso. A morte sempre faz com que eu me
sinta incapaz e impotente.
— Foi isso que sentiu quando seu pai morreu? — ela nega
com a cabeça.
— Eu nunca estive tão perdida como quando meu pai
morreu. Tudo mudou em questão de horas. Não tinha mais a minha
casa e aquela cidade, não tinha você, não tinha ele, nem a escola,
nem nada que eu conhecia na vida. Acho que preferi fingir que nada
antes da morte dele tinha acontecido, que aqueles anos da minha
vida tinham sido apagados, para que eu não sofresse mais. — ri
sem humor. — Se é que é possível sofrer mais do que aquilo. Acho
que naquele dia, eu morri.
Sei muito bem o que é essa sensação, linda…
— E quando você conseguiu viver de novo? — o vento
bagunça seu cabelo e ela o prende no topo da cabeça.
— Mesmo em meio a tudo, eu queria encontrar meu caminho
para a glória, então, aos poucos, voltei a acreditar que era
proprietária do meu destino.
É impossível conter o sorriso que se forma no meu rosto. Não
acredito que ela lembra disso. Tenho certeza, que se estivéssemos
mais próximo às luzes, ela teria visto minhas bochechas ganharem
um tom rosado, porque estou às sentindo quentes agora.
— Não acredito que lembra disso. — digo e ela sorri.
— A ideia de esquecer tudo que tinha acontecido na minha
vida antes da morte do meu pai não deu muito certo. — ela me olha.
— Eu lembro de tudo relacionado a você, Andy.
Que bom, porque eu nunca esqueci você.
— Esperei você voltar por meses. Praticamente montei um
acampamento na varanda da sua casa. — ela me observa com
atenção. — A única coisa que me fazia levantar daqueles degraus
era saber que se eu me atrasasse, ele bateria na minha mãe. E eu
atrasei algumas vezes.
— Sinto muito, Andy. — percebo a dor em sua voz.
— Os meninos pensaram que eu perderia a vaga no time nas
primeiras semanas, então disseram que se você voltasse e eu não
estivesse mais jogando, você arrancaria minhas bolas e colocaria de
disco para o time jogar. — rimos.
— Eles tinham razão, eu teria batido em você com aquele
taco. — eu sei que sim.
— Então a minha vida era ir para a escola, porque você
poderia aparecer lá pelo menos para pegar as coisas que ficaram no
seu armário. Depois ir para o treino com o volume do celular no
máximo, porque você poderia entrar em contato. Ir até a sua casa
porque você poderia voltar.
— Minha mãe entrou em um transe parecido com o meu,
acho que ela teria queimado aquela casa se pudesse. Ela não
conseguiu voltar nunca mais para Boulder.
— Scott arrombou o cadeado do seu armário para vermos o
que tinha lá dentro e talvez a janela da sala para entrarmos na sua
casa. — rimos. — Adolescentes têm formas bem peculiares de
expressarem suas emoções. Mas acho que tenho as fotos que
peguei de lá em algum lugar na casa da minha mãe até hoje.
— Eu tinha muitas coisas nossas. — confessa. — Camisas
suas, cds que gostávamos de ouvir, o disco que me deu quando
ganhou a temporada, mas não lembro o que fiz com elas.
Sei exatamente qual é cada uma dessas coisas que ela fala e
sei que existiram muito mais coisas que acabaram se perdendo pelo
tempo.
— Então acho que vou começar a deixar novas camisas para
você — estou falando sério, mas ela ri. — Agora eu tenho uma linha
de roupas exclusiva com o meu nome nelas. — brinco.
— Às vezes eu esqueço que você é famoso a ponto de ter
um blusão que vale trezentos dólares só por ter seu nome nele. —
rimos.
— Eu também esqueço, até olhar para trás e ter um
paparazzi tentando pular o muro da casa da minha mãe. — ela me
olha incrédula e dou de ombros.
— Se existia alguém que merecia conquistar o mundo, esse
alguém era você, Andy, fico feliz de ver que isso aconteceu.
Ela apoia os braços nos joelhos e deita a cabeça sobre eles,
olhando em minha direção, e isso atinge meu coração em cheio.
Não conseguiria viver novamente sem Norah na minha vida, porque
nada é capaz de me mostrar quem eu sou, como o reflexo nos olhos
dela.
Viro meu corpo em sua direção e seu corpo fica entre as
minhas pernas, me aproximo o máximo que consigo dela e beijo seu
ombro.
— No dia que você foi embora — quebro o silêncio. — Eu
nunca deveria ter te deixado sozinha naquele estacionamento,
Norah. Me odiei a vida inteira por ter deixado os meus problemas
me cegarem daquela forma. Meu pai tinha fodido minha cabeça
naquele dia e quando você me acusou, senti que ele tinha razão
quando dizia que eu era tão insignificante que as pessoas nunca
iriam me querer por muito tempo na vida delas. Quero te pedir
desculpa, Hurricane, por não ter cuidado e protegido você como
prometi.
Os olhos dela lacrimejam. Sei o quanto todo o bullying que
Norah sofreu a machucou. Ela estava perdendo o brilho e por mais
que nós tentássemos fazer algo com isso, as pessoas pareciam
incansáveis. Eles acabaram com ela de várias formas, mas fui eu
quem joguei a última pá de terra.
Jax me deu um soco pelo o que fiz naquele dia. Ares e Scott
brigaram comigo e se Norah não tivesse sumido, acho que teríamos
demorado um tempo para voltar a ser uma equipe.
— Eu não precisava de mais um covarde na minha vida, era
só isso que pensava enquanto ia embora do colégio. Independente
dos nossos problemas, Andrew. Você deixou com que eles falassem
ainda mais mentiras sobre mim quando sabia que eu estava no
limite. Se eu não tivesse ido embora, imagina como seria o restante
do ano? Eu estava acabada. Nem todos os socos que vocês
dessem nas pessoas resolveriam, nada que falássemos seria o
suficiente. Você era a pessoa que eu confiava no mundo que nunca
me deixaria vulnerável e sozinha, você fez os dois.
Sinto meu peito apertar, porque sei que ela tem razão.
— Eu espero que um dia eu possa realmente mostrar para
você que eu sou capaz de cumprir a nossa promessa imperfeita,
Hurricane. — faço carinho em seu rosto.
— Se hoje nós estamos aqui é porque você terá essa
chance.
Não sei por quanto tempo ficamos ali, mas a nossa deixa foi
o céu começar a clarear.
Segurei a mão de Norah e fomos até o carro. Dessa vez ela
foi para o banco do passageiro, colocou a mão na minha perna e eu
dirigi até sua casa, o som baixinho a fez dormir, mas sua mão não
se moveu, era como se ela quisesse ter certeza que eu estava ali.
Ela estava exausta mentalmente e já era tarde, então a ajudei
a chegar até a cama. Tirei sua calça e a deixei apenas de blusa e
calcinha. Fiquei apenas de cueca e cobri nossos corpos com o
lençol, passei o braço na sua cintura e a trouxe para mim.
Norah se aconchegou a mim e seu corpo relaxou, assim
como o meu, porque agora eu tenho certeza de que estamos
seguros, finalmente temos um a outro de novo.
— Meu Deus do céu. — Tom fala. — Onde você encontrou
quatro homens bonitos desse jeito? — seu queixo cai.
— Eles eram meus amigos de infância, você acha que se
fossem de agora, eles já não estariam andando com a gente
também? — Josy toma o celular da mão dele. — Esse altão aqui
com certeza seria o padrinho da Zoe.
Gargalho.
— Não pode trair o marido com o padrinho da criança, Josy.
— Tom brinca e ela bate no braço dele. — Esse ai é o único que
conheço. — Tom aponta para Jaxon. — Ele participa de muitas
entrevistas na televisão, é campeão mundial.
— Então debaixo desse terno deve ter um corpo gostoso. —
minha amiga fala.
— Com toda certeza. — Tom e eu falamos. — Todos eles são
lindos.
— Mas você tem o seu preferido, sua safada. — Tom brinca
comigo e rimos.
— Tá, mas como que faz para ser só amiga de um rapaz que
tem esse rosto? — Josy dá zoom no rosto de Andrew. — Eu não
saberia dividir esse tipo de coisa, ele sorriria e minhas pernas
automaticamente abririam.
A gargalhada de Tom ocupa todo o ambiente e rimos com
ele.
— Quando vamos conhecê-los? — ela pergunta. — Minha
filha precisa desse tipo de companhia perto dela, para ver se o
espírito da riqueza que abençoa eles, também abençoa ela.
— Os meninos só estarão aqui próximo mês, é um jogo
importante para Andy e eles vem juntos. E essa foto foi de hoje, eles
estão na premiére de um filme lá em Los Angeles.
Mal sabem eles que recusei viajar com Andy para o evento.
Eu não nasci para estar nesses lugares e não gosto muito
das câmeras.
— O meu caminho não cruza o de um homem desses. —
Tom lamenta. — Eu trocaria Evellyn tranquilamente por qualquer um
deles.
Nós adoramos Evellyn, ela e Tom nunca assumiram algo
sério, sempre dizem que não sentem que esse é o momento deles
ficarem juntos. Tom é bissexual, então também já conhecemos
alguns homens por quem ele se apaixonou, mas ele ainda não
encontrou a pessoa certa.
— Andrew não namora e eu não quero um namorado. Vocês
tem a vida de vocês e eu posso ter novos amigos também. — tomo
mais do meu vinho.
Tom nos trouxe para um restaurante de um amigo seu,
conseguimos uma área mais reservada e assim nos sentimos mais
à vontade para falar tudo que queremos. Nós três estamos em fases
de vida completamente diferentes, mas a forma que nos
completamos quando estamos juntos é uma conexão de almas.
— Aí, ele é do tipo cafajeste, não gosta de se comprometer,
não tem palavra, quer curtição, suruba, gastar dinheiro, capa de
revista, droga, sexo e rock in roll, como um integrante de banda dos
anos setenta? — Tom faz uma careta de reprovação.
— Não e sim. — sou sincera. — Ele é um cafajeste que
adora tudo isso, mas ele tem palavra e é de muita confiança. O
problema dele com namoros é desde muito novo. O pai dele era
violento, batia na mãe dele e isso fez com que Andrew crescesse
explosivo também. Quando ele perde o controle a raiva toma conta
dele, então ele tem medo de ser igual ao pai.
— Tadinho. — Josy faz bico. — Indica a minha psicóloga para
ele, ela é ótima, estou falando sério. Alguém que pensa coisas
assim de si mesmo, precisa de ajuda.
— Acho que todos nós precisamos marcar uma sessão com
ela. — Tom diz e rimos, mas é verdade.
— Mas como você está se sentindo em meio a tudo isso,
Norah? — Josy pergunta.
— Por incrível que pareça, estou bem. Fui bem resistente no
início, não queria tê-lo perto de mim até mesmo pela forma que
acabamos brigando quando éramos jovens. Mas Andrew consegue
acessar lugares em mim que ninguém é capaz, isso faz com que eu
não consiga tirá-lo da minha vida. Vamos continuar sendo bons e
velhos amigos.
— Por que vocês brigaram quando eram adolescentes? —
Tom pergunta.
— Foi bobagem de adolescente. Andrew começou a ficar
popular e vocês sabem que jovens podem ser cruéis quando
querem, então eles não o zoavam, mas direcionaram tudo para
mim, já que estávamos sempre juntos. Andy e os meninos sempre
me defendiam, mas as coisas saíram do controle e começaram a
entrar na minha mente.
— Gosto mais ainda desses bonitões agora. — Josy fala.
— O namorado de uma das meninas que mais me enchiam
começou a tentar dar em cima de mim, poucas pessoas sabiam, eu
sempre cortei qualquer contato. Um dia ele conseguiu meu número
e começou a mandar mensagens, tentava me ligar e quando
perguntei quem tinha dado meu número, ele disse que tinha sido o
Andrew. Eu estava no auge do meu estresse com as coisas que
vinham fazendo comigo e acreditei.
“Nós tínhamos uma festa à noite, na casa de algum jogador,
eu estava pronta para confrontar o Andy, mas não aguentei esperar
porque passei pelo corredor no final da aula e alguém soltou uma
piada sobre eu ser uma vadia que gostava de homens
comprometidos. Encontrei Andrew indo para o seu carro, eu estava
cega, então o acusei. Momento errado e lugar errado.
Nós começamos a brigar porque ele se sentiu ofendido por
eu acreditar que ele me colocaria em uma situação dessas e todo
mundo parou para ouvir. Então começaram a falar que eu estava
ficando com o namorado da menina e se formou uma roda enorme
em torno de nós, as acusações começaram e quanto mais eu dizia
que não, que eles não se metessem, menos as pessoas
acreditavam.
Eu pedi para Andrew dizer a eles, todos esperaram que ele
falasse a versão dele, como sempre, mas ele apenas olhou para
mim e disse que eu aprendesse a resolver minhas merdas sozinha.
Isso fez com que todos falassem o quanto a Norah Clark era uma
puta. Ares quem me tirou do meio daqueles babacas, fui para casa
e nunca mais os vi.”
— Ele era um adolescentezinho bem escroto. — Tom fala. —
Ele que se resolvesse com você depois, mas não deveria ter
deixado as pessoas acreditando que era aquilo que tinha
acontecido.
— Andrew ficou magoado porque você duvidou dele e você
ficou magoada porque ele não parou as pessoas quando pôde. É,
mas eu teria guardado um ranço dele até hoje, quem garante que
não foi esse bunda mole que deu o seu número mesmo? — Josy
fala.
— Hoje, vendo tudo como aconteceu, sei que Andrew nunca
daria meu número para aquele cara e ele sabe que nunca deveria
ter me deixado ali. Ele me pediu desculpas há alguns dias e acho
que estamos virando a chave dessa mágoa.
— Se você estiver feliz, nós também estaremos. Mas cuide
do seu coração, ele não é algo que deve ser confiado duas vezes a
mesma pessoa, se ela já mostrou que não é capaz de cuidar. —
Josy fala e segura minha mão.
— Enquanto eu te ver bem, vou ficar tranquilo. Mas no
primeiro sinal de tristeza, venho aqui acabar essa cara de anjo
desse cara. — Tom garante.
Abraço eles e sei que estão cuidando de mim, como sempre
fazem e principalmente depois de Richard. Mas agora, eu só quero
beber e comemorar, já que finalmente eles sabem de tudo que
aconteceu e que estou feliz.
Quase dois meses se passaram desde que Andrew e eu
conversamos na praia e algumas coisas aconteceram nesse meio
tempo. Vivemos uma reviravolta na vida de Ares, fomos visitá-lo e
eu conheci sua namorada por contrato, Victória, que hoje tem se
tornado uma amiga.
Nessas visitas vi o quanto Andrew e ele são muito mais
conectados do que pensei, eles dariam a vida um pelo outro. Jax e
Scott estão muito mais próximos de nós também e temos nos
tornado uma grande família.
Vivemos semanas de tensão enquanto Ares não fazia algo
para conquistar logo Victória já que estava completamente
apaixonado e não queria assumir. Esse é um mal que todos eles
sofrem, eles tem medo do amor. Outra característica forte do
quarteto é a proteção, eles rodariam o mundo para proteger um ao
outro.
E é por esse motivo também que estão aqui hoje, os Ice
Angels estão arrebentando na temporada da NFL e os meninos
vieram todos de surpresa assistir ao jogo de Andy. Acordei com uma
ligação deles dizendo que eu estava sendo intimada a comparecer
ao apartamento de Andrew para almoçar com eles e eu fui.
O empresário de Andrew, que conheci no hospital e agora
sei que se chama Ben, foi deixar camisas para nós e Andy me
presenteou com um kit enorme. Ele disse que me daria blusas com
o seu nome e realmente deu, todas tem Crawford escrito nas costas
e o número treze. Ganhei dois blusões do Ice Angels, um branco e
um azul, que é meu preferido. Uma blusa oficial do time, copo, boné
e garrafa.
Me olho no espelho e gosto da roupa que escolhi. A blusa
combinou com a saia branca estilo colegial que coloquei, junto ao all
star de cano médio branco que combinou perfeitamente. A logo do
Ice Angles em azul se destaca sobre o tom claro.
Deixei meu cabelo solto, com ondas bonitas e fiz uma
maquiagem leve. Peguei minha bolsa no quarto e saí para encontrar
todos na sala. Andy já estava lá e eu estou começando a ficar
ansiosa pelo resultado desse jogo.
— Alguém avisa a Norah que se ela for assim o Andrew vai
errar todas as jogadas. — Scott fala assim que entro na sala.
— O Sorvetinho não aguenta, Hurricane. — Jax fala. — Ele
vai derreter.
Rimos e reviro os olhos para eles.
— Se essa é a forma de vocês dizerem o quanto eu estou
linda e deslumbrante, aprendam a elogiar uma mulher ou vão morrer
solteiros, bonitões. — bato com minha bolsa no peito de Scott, que
está mais próximo a mim.
— Eles são dois babacas. — Victória fala e me entrega um
copo de bourbon, ela sabe muito bem que estou ficando nervosa. —
Você está linda, Norah.
Ela sorri docemente e retribuo. É bom finalmente ter outra
menina entre esses brutamontes. Victória é deslumbrante, mesmo
sendo mais nova que todos nós, é muito madura e decidida. Ares
aparece logo atrás dela e me seguro para não dizer pela milésima
vez no dia que eles ficam incríveis juntos.
— Senhorita Clark, você é uma das mulheres mais lindas que
meus olhos já puderam ver. — Jax fala e sorrio.
— La plus belle de toutes les femmes[15]. — Scott fala e o olho
surpresa. — A Vic que me ensinou. — comemora por ter falado
certo.
— Não ensine esse tipo de coisa a ele. — falo para minha
amiga. — Um homem com o cérebro do tamanho do dele falando
francês por aí é um perigo à taxa de natalidade do país. — rimos. —
Você está linda, Vic.
Rimos e terminamos nossas bebidas.
Billy já estava a postos para nos levar, dessa vez em um
carro para oito pessoas. Entramos e conversei um pouco com ele,
fazia algumas semanas que Andy sempre dirigia quando nos
encontrávamos.
Chegamos no estádio com um pouco de dificuldade, o
trânsito estava um caos pelo jogo decisivo da temporada, mas Billy
mesmo nos deu as credenciais e já fomos direto para os bastidores.
Fomos todos comer e beber, assim que entramos no
camarote. Preferimos ficar aqui pela segurança dos meninos, mas a
verdadeira vontade era ficar nas arquibancadas. Rimos muito
enquanto organizamos o nosso espaço dentro do lugar que
dividiremos com pessoas importantes.
Sento no sofá com meu sanduíche e com um refrigerante,
Victoria está ao meu lado e os meninos não aguentam ficar
sentados de tanta ansiedade. Andy ficará arrasado se não ganhar.
— Por que você e o Andrew ainda não estão namorando? —
Victória é direta e sou pega de surpresa.
Os meninos ouvem e se aproximam de nós.
— Eu ainda estou chateado com a história do cara que te
chamou para sair. — Ares fala e toma um pouco da sua bebida.
— Precisamos conversar sobre o fato de você ter aceitado,
Hurricane. — Scott me repreende. — Que coisa feia.
— Andrew passou exatos doze dias falando sobre essa
merda. — Jax o entrega.
Eu não sabia disso, mas percebi que ele não gostou nada
quando o novo médico do hospital me chamou para um café e para
piorar, eu fui. Mas não aconteceu nada demais, apenas saímos para
conversar e lhe apresentei um bom lugar na cidade. O homem é
muito bonito, mas não estou interessada agora. Não tenho sentido
nenhum tipo de atração por outro homem que não seja Andrew.
— Nós somos apenas amigos. — digo. — Sempre estivemos
em momentos diferentes da vida, acho que essa é a primeira vez
que estamos na mesma página, e nela diz: nada de
relacionamentos sérios. — explico. — Ele foi o primeiro cara por
quem me apaixonei na vida, mas hoje as coisas são diferentes.
Estou correndo de relacionamentos e ele é anti-namoro.
— Um casal desperdiçado. — Scott reclama. — A Hurricane
deveria jogar o Sorvetinho na parede e dizer que ele tem sim que
assumir as merdas que ele faz, isso inclui o fato de fingir ter uma
amizade quando na verdade está apaixonado.
Andrew está apaixonado por mim?
— Andrew sempre foi alucinado por você. — Ares diz. — Sei
que muita coisa mudou, mas tenho certeza que a presença de
vocês na vida um do outro é tão natural, que ainda não pararam
para pensar que não conseguem mais ficar um dia longe um do
outro.
Ele tem razão. Eu ainda não tinha parado para pensar, mas
não existe nada na minha vida que Andrew não saiba ou não esteja
envolvido.
Mas isso não faz com que estejamos apaixonados, faz?
— O Sorvetinho só não conseguia lidar com os sentimentos
dele por você naquela época, mas ele era completamente
apaixonado. — Scott conta. — E não tenho dúvidas de que já está
de novo, você só precisa saber se você está também.
Será que eu estou?
— Eu não vou namorar com o amigo de vocês. Nós
conversamos, já transamos, já cozinhamos, comemos, assistimos e
estamos vivendo nesse mesmo nível de relação. Não temos nada
além de uma amizade com benefícios. — explico e todos me olham
com descrença.
— E você acredita que isso não é um namoro? — Jax me
olha com deboche. — Você é mais inteligente do que isso, Norah.
— Vocês estão a quase quatro meses nessa relação, Norah.
Pare um pouco e observe como se sente quando sabe que ele está
chegando ou quando marcam de fazer algo, quando ele te
surpreende e se já existiu um sexo como o que fazem juntos. —
Victoria fala.
Ela olha para Ares e sei que está se referindo a muito do que
ela sentiu quando descobriu que estava apaixonada por ele.
— Vocês estão tentando entrar na minha cabeça. — acuso e
levanto, querendo fugir daquela conversa.
Eu os odeio por fazer com que eu pense nisso. Tudo que
estou vivendo com Andrew é confortável, vivemos coisas incríveis
juntos, mas não precisamos falar sobre sentimentos e tudo fica mais
difícil quando isso acontece.
Fui para o bar pegar algo forte para beber, porque se eu for
começar a reviver todos esses meses na minha cabeça, precisarei
encarar algumas verdades e não estou pronta para isso ainda.
Não quero pensar sobre o fato de que sinto falta dele na
minha cama quando não dormimos juntos, que não gosto mais de
assistir séries sem ele deitado no sofá com Diana no peito, que
odeio as suas piadas de nerd sobre super heróis, mas elas me
fazem rir. Não quero admitir que adoro quando ele dança pelo
apartamento, amo a maneira como ele toca meu corpo, o fato de
não esquecer nada que eu falo para ele, de mandar mensagens
sobre qualquer coisa o tempo inteiro, mesmo sabendo que vou
responder apenas duas horas depois ou aceitar qualquer coisa que
eu o proponha.
Odeio pensar no fato do quanto ele cuida de mim e se
preocupa com as minhas coisas. Quando viaja sempre me convida
mesmo sabendo que eu não posso ir por conta do trabalho, que
canta super mal, mas sempre faz um show quando está dirigindo.
Encontra formas de me encaixar em meio a sua rotina louca, ele
ama os meus amigos, liga para conversar com a minha irmã, briga
porque eu não como frutas o suficiente e ainda lhe faço sair da
dieta.
Realmente, eu preciso beber algo forte.
Não demorou muito para o jogo começar e meu coração
estava a mil. Passei toda a partida levantando, olhando pelo vidro e
pela televisão que transmite no camarote. Os Ice Angels
começaram perdendo, o time adversário não estava para
brincadeira. Jogaram Andy contra as paredes várias vezes e foi um
jogo agressivo, eu olharia cada lugarzinho do seu corpo depois, só
para conferir se as coisas estavam certas.
Foram as horas mais tensas de qualquer jogo que assisti. Os
meninos estavam xingando todo mundo dos dois times, tiveram
várias penalidades para os dois lados, mas na última jogada,
quando Andy conseguiu passar pelos atacantes do outro times e
acertar o disco no gol, todos nós gritamos como loucos.
Me senti preocupada, eufórica, com ódio, feliz e um misto de
sensações. Se eu estivesse na arquibancada, tinha invadido aquele
ringue e abraçado Andrew. Sei o quanto esse jogo estava mexendo
com ele e essa vitória significa muito.
As imagens da televisão dão um zoom em Andrew no exato
momento em que ele tira o capacete e passa as mãos no cabelo,
as bochechas rosadas, o sorriso incrível no rosto, os olhos
brilhando… A beleza desse homem mexe com a minha sanidade.
A adrenalina no meu corpo está a mil por hora e a única coisa
que sinto no meu coração e em outros lugares ao ver aquela
imagem, é que preciso encontrá-lo, agora.
— Preciso ver o Andrew antes de chegarmos em casa. —
falo para Ares.
Ele apenas concorda e envia alguma mensagem no celular.
— Ficaremos esperando vocês aqui para todos irmos juntos
pra casa. — ele diz. — Não demorem muito.
O tom divertido na sua voz deixava claro que ele sabia que,
pelo menos, quente o clima ia ficar e estava certo.
Em uma das nossas conversas, há algumas semanas, ele
disse que nunca transou nos vestiários e essa informação me deu
muitas ideias. E agora, depois de uma vitória dessas, eu estou
absurdamente excitada.
Andrew sempre é um dos que mais demora a sair depois do
treino por causa do seu perfeccionismo de organizar todo o material
que levará de volta para o centro de treinamento. Em um dia como
esse não vai ser diferente.
Bom, hoje isso vai estar ao meu favor.
— O segurança de Ben vai te acompanhar até lá. Qualquer
coisa, me avise. — ele diz e aponta para o homem que se aproxima
de nós.
— Obrigada, Ares — beijo seu rosto em despedida.
Eu sigo o rapaz por todos os corredores até chegar ao
vestiário. Alguns rapazes estão saindo e fazendo barulho por todo o
caminho. Abro a porta e vejo se tem alguém pelado já de cara, mas
ouço apenas a voz de Mark. Ele está amarrando o tênis quando vê
que estou me aproximando, peço para que faça silêncio e sorri.
Mark pega suas coisas e se despede de Andy sem comentar que
estou aqui, ele faz um sinal para que eu tranque a porta quando ele
sair e agradeço apenas movendo a boca, sem emitir nenhum som.
Ouço Andrew cantarolar e entro pelo corredor de armários,
quando dobro no final dele, encontro meu alvo. Andy está apenas
com uma toalha enrolada na cintura, de costas para mim. Ele mexe
alguma coisa em cima da pia que não consigo ver pelo reflexo no
espelho a sua frente.
Apoio meu ombro no metal da lateral de um dos armários e é
quando Andrew percebe que não está sozinho. Seus olhos voam
para o espelho e ele me vê refletida lá.
— Sabe, eu nunca me considerei fã de um esporte, mas
depois de hoje posso me considerar uma grande admiradora. —
falo, tranquilamente. — As pessoas gritaram tanto pelo número 13
que fiquei curiosa para conhecê-lo. Acho que se chama Ice, você
conhece?
Ele tenta esconder o sorrisinho, ainda me olhando pelo
espelho.
— Fico feliz que tenha sido contagiada pela energia do jogo.
— ele pronuncia o final da frase cheio de intenções. — No que o Ice
poderia te ajudar? — ele entra na brincadeira.
Me aproximo dele e paro quase ao seu lado. Minha unha toca
a ponta do seu ombro e vai descendo pelas suas costas largas. A
respiração dele muda imediatamente.
— Eu sou médica, fiquei preocupada com os acidentes
durante o jogo. Queria saber se ele precisava ser examinado.
Nossos olhos estavam em chamas apenas pelo espelho, mas
eu queria tocá-lo um pouco mais. Viro de costas para o espelho e
apoio minha bunda na pia, com a lateral do meu corpo colada a
lateral do dele.
O cheiro pós banho de Andrew me enfeitiça na mesma hora,
algumas gotas ainda escorrem pelo seu abdomen bonito e eu
aproveito e toco o seu peito.
— Doutora, na verdade, acho que você veio na hora certa.
Porque eu estou com um lugar bem roxo agora, desde que a vi
vestida nessa saia. — não consigo evitar a gargalhada.
A mão dele alcança minha coxa e vai subindo pela lateral da
minha perna.
— Me ajude a ficar mais próxima, você é alto, não consigo
conferir alguns sinais vitais. — no outro segundo estou sentada na
bancada.
Seguro em seu ombro, sinto a mão forte dele me segurando
e adoro a sensação da pele dele na minha.
— Nossa consulta precisa ser rápida e eficaz. — aviso.
— Estou pronto para ser examinado. — ele fala afundando o
nariz no meu pescoço.
Antes mesmo que eu pudesse pensar, seguro o nó na toalha
de Andrew e a boca dele chega até a minha, me devorando com um
beijo intenso. Ele dá uma tapa na lateral da minha perna, sobe um
pouco a saia enquanto continua me beijando e logo seus dedos
encontram meu clítoris.
Envolvo meu braços nos ombros e pescoço de Andrew,
completamente inebriada. Mordo sua orelha enquanto ele brinca
com meu ponto de prazer e rebolo em sua mão. Sua toalha cai, ele
está duro e pronto para mim. Ajeito minhas pernas sobre a bancada
e conseguimos ter uma visão privilegiada dos nossos corpos se
unindo.
Quando Andy entra completamente em mim, esperamos um
pouco para que nossos corpos se acostumem com a sensação nova
de tanto contato pele a pele. Ele apoia a testa na minha, enquanto
segura minha cintura e eu o abraço mais forte.
Andrew se move e nós dois gememos. Seus movimentos são
duros, me atingindo exatamente onde preciso. Enquanto o beijo, ele
rebola dentro de mim, fazendo com que eu o sinta ainda mais fundo
e quase perco o ar com a sensação de prazer que isso me causa.
— Eu amo ouvir você gemendo assim, bem gostoso, só para
mim, Norah.
Meus dedos o seguram pela nuca, ele enfia a mão debaixo
da minha blusa e aperta meu seios enquanto continua entrando
fundo em mim. Inclino meu corpo mais para trás quando ele belisca
meus mamilos, disparando o misto de dor e prazer no meu corpo.
Andrew ergue minha blusa o máximo que consegue, para
deixar meus seios livres. Ele é absurdamente fascinado pelo
tamanho deles e ama vê-los se movimentando a cada estocada que
me dá. Minha saia está enrolada na cintura e minha calcinha foi
apenas colocada de lado.
— Quero mais, Andrew. Preciso de mais. — imploro.
— Chupe, agora. — ele coloca dois dedos na minha boca e
faço isso.
Andrew me olha de uma forma tão carnal, com tanto desejo,
quase um viciado. E me penetra com os dedos juntos ao seu pau. O
tamanho dele já era o suficiente, meu corpo reage imediatamente e
arfo.
— Caralho. — afundo as minhas unhas na sua pele.
Sinto meus músculos se abrindo para receber mais dele, mas
era isso que eu precisava. Andrew beija minha boca para abafar o
gemido que sai de mim quando meu corpo convulsiona. Gozo forte
e sinto o exato momento em que Andrew goza dentro de mim.
Ele sai de dentro de mim sem pressa, enquanto tentamos
recuperar nosso fôlego. Andrew beija entre meus seios e se afasta,
pegando uma toalha para me limpar.
— Nós vamos precisar conversar sobre o fato de que eu amei
gozar dentro de você e só em ver isso aqui. — ele me penetra de
novo com o dedo, colocando seu sêmen dentro de mim. — Já me
faz querer te foder de novo.
— Acho que transar em casa, correndo o risco de que os
visitantes nos peguem é mais emocionante. — sugiro e ele me dá
um sorrisinho diabólico.
— Então vamos para casa, linda.
Ben me avisou que tínhamos um jantar de última hora com a
federação nacional de hóquei e nem tive a chance de dizer que não.
Esses momentos sempre acontecem durante as temporadas, mas
são muito exclusivos.
Deixei Victória, Ares, Scott e Jax no apartamento de Norah,
a tarefa deles é preparar algo para ela comer depois que chegar do
trabalho e cuidar de Diana por apenas algumas horas.
Eu espero que eles não coloquem fogo no lugar ou Norah
me matará.
Ainda não sei como consegui levantar hoje pela manhã,
todo o meu corpo está dolorido e não só pelo jogo e o sexo, mas
pela ressaca imensa que acordei. Ninguém quis ir para casa depois
do jogo, Scott fechou um lugar inteiro e todo o time foi comemorar.
Nós dançamos, bebemos e rimos muito. Mas a conta
chegou no outro dia e a minha foi com uma dor de cabeça e a
sensação de ter sido atropelado por um caminhão.
Norah estava apenas com uma leve dor de cabeça quando
acordamos, a casa inteira ainda estava silenciosa, claramente todo
mundo iria acordar próximo do meio dia, mas Norah tinha que
trabalhar, então eu levantei junto com ela. Preparei um café forte,
enquanto ela tomava banho, ela tomou um remédio para a dor de
cabeça, mas não parecia estar no mesmo estado que eu.
Mandei-lhe fotos da minha roupa para hoje a noite e ela me
ajudou a escolher. Me mandou fotos com Josy e mandei um abraço
para ela. Eu adoro os amigos de Norah, nesses meses nós nos
encontramos algumas vezes e na primeira vez, senti um leve
ciúmes de Tom, ele é bonitão e um cara legal. Mas depois percebi
que Norah é como uma irmã para ele.
Nós só precisamos juntar nossas gangues e fazer todo
mundo ser amigo, tenho certeza que eles se darão muito bem.
Billy passou para buscar o Ben e fomos juntos para o jantar.
Escolheram um hotel chique no centro para fazer o evento, então
disfarçaram bem nossas chegadas.
— Vazaram milhares de fotos de vocês ontem naquela boate.
— Ben fala.
— Não se pode juntar vinte jogadores bêbados, e os amigos
deles ainda mais bêbados, e esperar que ninguém poste nada. As
pessoas adoram acompanhar. — justifico.
— Elas viram a Norah com você e a reconheceram, isso pode
ser um problema.
— Por que seria? — questiono, irritado com a situação.
— Bom, até agora estão a chamando de Maria Patins e
criando shipps de com quem ela combina mais, com você ou com o
Richard.
Merda do caralho.
Eu não vi que tinha tomado todas essas proporções e
acredito que ela também não.
— Não quero ninguém falando merda sobre ela. Chame
alguém da minha equipe de mídia e peça para excluir qualquer
comentário que surgir, fotos que nos marcarem, que façam uma
varredura no que conseguirem apagar. Se alguém a ofender, um
processo deve ser aberto imediatamente.
Ben concorda e entra em contato com as nossas equipes
para que tudo seja providenciado. Assim que sair desse jantar vou
vê-la. Eu preciso vê-la.
— Boa noite. Como vão? — cumprimeito o diretor geral da
Federação assim que entramos.
— É bom ter alguém tão talentoso entre nós essa noite,
Andrew. Seja bem vindo a mais um ano. — responde e sorrio em
agradecimento.
Eles fazem esses jantares para arrecadar fundos e conhecer
os nomes mais falados do esporte. Ben e eu somos conduzidos
para uma mesa grande e ocupamos o lugar reservado para nós.
Engatamos em uma conversa tranquila com os outros jogadores na
mesa, mas minha raiva já ganhou espaço quando ouvi a voz de
Richard entrando.
Odeio esse idiota.
E como sou absurdamente sortudo, sua cadeira é ao lado da
minha. Como não li o papel que indica o lugar antes? Eu teria
rasgado a sua plaquinha imediatamente.
— Crawford. — Richard finge simpatia. — Estava ansioso
para te encontrar.
— Infelizmente, não posso dizer o mesmo. — sorrio de volta.
Ben enfia o dedo na minha perna para que eu disfarce o ódio
na frente dos outros convidados.
O jantar começou com os anfitriões falando sobre a
temporada e tudo que vem acontecendo até agora, que esse
momento é para parabenizar os rostos mais bem vistos e os nomes
de destaques durante os jogos. Que somos apostas e que esse
também é espaço para confraternização entre as equipes, pois não
querem que nos vejamos apenas como inimigos.
Eu não vejo ninguém como inimigo, apenas o St. Cloud.
O jantar é servido e a comida está maravilhosa. Meu celular
vibra no bolso e é uma imagem de todos os meus amigos na casa
de Norah, eles estão na cozinha e espero que não explodam nada
antes que eu chegue para me juntar a eles.
Terminamos de comer e passamos para as bebidas. É
bacana conversar com pessoas que entendem o meu mundo. Por
mais que eu tenha meus colegas de time, sempre gostei de ouvir
pessoas que têm experiências diferentes das minhas porque isso
faz com que eu veja novas possibilidades de jogadas, todos os dias.
— Vi fotos suas ontem, ótima forma de comemorar uma
vitória como aquela. — Richard fala.
Se um olhar pudesse matar, eu estaria o esfaqueando agora
e ele sabe. Disfarço minha expressão de nojo tomando mais um
pouco da minha bebida.
Não fale da Norah. Não fale da Norah. Não fale da…
— Não sabia que você e a Norah se conheciam.
— Será que é porque nós não somos amigos e aí você não
sabe nada sobre a minha vida?
— Ou talvez porque vocês tinham algo a esconder de mim e
disfarçaram bem.
Gargalhei para não socar aquela cara de filho da puta dele na
frente de todo mundo.
— Se você não a respeitou quando estavam juntos, seu
babaca, não tente inverter as coisas. Se tem uma coisa que Norah
é, é honesta e você sabe muito bem disso, então não gaste minha
paciência falando merda.
Ele dá um sorrisinho, sempre debochando de tudo.
— Então quando vocês se conheceram? — pergunta, na
esperança de que eu responda.
— Muito antes de você deixá-la sozinha para ir transar com
outras mulheres. — ele me olha confuso, tentando pensar quando
pode ter sido. — Mas não me surpreende esse tipo de atitude vinda
de você, afinal, você nunca soube pensar muito sobre as coisas.
— Você já está rendido por ela, não está? — apenas o olho e
ele ri. — É, eu sei, ela é apaixonante. Bonita, inteligente, não liga
para dinheiro ou fama. Compreensiva, ótima de cama…
Seguro ele pelo colarinho da camisa com força antes que
termine a merda que irá dizer, seja qual for. Mas coloco meu corpo
na frente do seu para disfarçar, se é que isso é possível.
— Se você abrir a boca para desrespeitá-la, eu não me
importo com quem estiver nesse caralho de lugar, vou quebrar todos
os ossos dessa sua cara de imbecil. — falo sério, olhando dentro
dos seus olhos para que ele não tenha dúvidas de que estou
falando sério.
Sinto uma mão me afastando de Richard e sei que é Ben.
Sem dizer uma palavra, ele me leva para o outro lado da sala, mas
minha vontade é socar aquele idiota e arrancar aquele sorrisinho do
seu rosto.
Eu odeio estar próximo de Richard, porque o mau caratismo
dele me leva ao limite e detesto me sentir assim. Me conheço o
suficiente para saber que se eu der o primeiro soco, não vou parar.
— Aguente mais alguns minutos e vamos embora. — Ben
fala e apenas concordo.
Quanto mais eu olhar para esse idiota, mais o meu sangue
vai ferver e eu só quero mandá-lo para o inferno.
A porta é aberta e sabemos que é Andrew, só ele tem a
chave além de mim. Largo as coisas que estou fazendo e sorrio
para ele, mas assim que o vejo, sei que alguma coisa está errada.
— Ei, o que fizeram com você? — Ares pergunta,
preocupado.
Andrew ignora sua pergunta porque Diana pula em suas
pernas e ele a pega.
— Vou tomar um banho, já volto. — ele some pelo corredor
até o meu quarto.
— Ben, o que aconteceu? — Scott pergunta.
— Richard St. Cloud aconteceu. — Ben respira fundo,
chateado. — Ele falou merda para Andrew e isso fez ele chegar até
o limite. Só subi com ele porque fiquei com medo de sei lá, ele
quebrar alguma coisa no caminho.
— Vamos conversar com ele, Ben. Obrigada! — digo e ele
concorda.
Ben se despede e nos deixa sozinhos, olhamos uns para os
outros e sei que os meninos estão tensos demais, qualquer coisa
que aconteça com Andrew os deixam muito preocupados.
Desço da banqueta que estou sentada, pego um pacote de
Reese’s[16] e vou até o quarto. Quando abro a porta, Andrew está
sentado no banco que tem acoplado a minha janela, não é grande o
suficiente para lhe caber, então suas pernas estão encolhidas e ele
cochicha algo para Diana que está em seu colo.
Sorrio com a cena e percebo que ele já se livrou das roupas
chiques que estava, vestiu uma das calças de moletom que guarda
no meu closet e está sem camisa.
— Como eu não sou a primeira pessoa para quem você
conta seus segredos. — aponto para Diana e ele sorri. — Um
chocolate em troca dos seus pensamentos.
— Você sabe como me comprar, mulher. — ele diz,
estendendo a mão para que eu lhe entregue o chocolate.
Ele ajeita suas pernas para que eu possa me sentar também,
mas tiro Diana dos seus braços e sento no seu colo.
— Não sabia que você era tão ciumenta assim, linda. —
brinca, circulando minha cintura com os braços.
Faço carinho em seu cabelo e ele fecha os olhos ao sentir
meu toque, então continuo.
— O que aconteceu, Andy? — pergunto.
— Odeio perder o controle. — ele parece cansado. — Odeio
sentir que é tão fácil para mim partir para cima de alguém.
Ele sempre odiou sentir que a qualquer momento poderia
machucar alguém.
— Me fale o que fez você perder o controle. — peço.
— Richard viu nossas fotos ontem e estava disposto a tirar o
pior de mim, mas não deixei. — ele me olha com intensidade. —
Ninguém, ninguém nesse mundo, vai desrespeitar você de novo na
minha frente, Norah e muito menos ele. Eu sei que ele estava
esperando o momento para soltar alguma merda, eu só o parei
antes que fosse tarde demais.
Não vejo arrependimento em seus olhos, porque não é esse
sentimento que está o maltratando. Mas sim por saber que se
Richard falasse mais qualquer coisa, ele teria agredido-o.
— Você bateu nele na frente dos figurões? — mostro que
estou tranquila com qualquer que tenha sido sua reação.
— Não, mas eu iria e seria um escândalo. Eu o segurei pela
blusa e talvez tenha ameaçado ele.
— Eu adoraria ter visto o quão sexy você deve ficar me
defendendo. — brinco e ele sorri. Passo a mão no seu rosto,
fazendo um carinho na sua pele e no seu cabelo. — Isso não faz
você ser como ele, Andy. Você estava defendendo alguém
importante, isso é honrado. Sei que o seu medo era que isso tivesse
te levado a um lugar sombrio, mas não aconteceu, você parou.
— Odeio sentir que posso machucar as pessoas por causa
de uma palavra.
— Andrew, olhe para os meninos, todos vocês são
absurdamente protetores. O que você fez não foi nada diferente do
que qualquer um deles faria. Você não é alguém ruim por isso, são
os instintos naturais do seu corpo. Você policia demais todas as
suas ações e eu entendo, mas comece a ver também quando
realmente esse limite foi ultrapassado ou você está sendo humano.
Ele respira fundo e apoia a cabeça no meu colo.
— Você não é o seu pai, Andrew. — afirmo mais uma vez. —
Sei o quanto é difícil acreditar nisso depois de crescer ouvindo de
todos que você era como ele. Mas eles não sabiam quem era seu
pai de verdade, eles te comparavam ao homem bom que
acreditavam que ele era.
— Mas e se eu for uma farsa como ele? — sua voz está
quebrada.
— Em algumas das nossas brigas você já pensou em me
agredir? — pergunto séria.
— Pelo amor de Deus, Norah, não pergunte isso nem de
brincadeira. Eu prefiro morrer se algum dia isso acontecer. — sinto a
agonia em sua voz.
— Tenho certeza que você também nunca pensou em quase
matar algum dos meninos depois de uma briga. — afirmo.
— Não, me causa náuseas só em pensar algo desse tipo. —
ele apoia a cabeça na parede atrás dele. — Mas com as outras
pessoas, eu posso machucá-las, minha mente fica escura e eu só
quero tirar toda aquela raiva de mim. Me sinto fraco, porque cedo
muito fácil a certas provocações.
— Andrew, você não é uma pessoa violenta. Sinto muito que
se sinta fraco, volátil e capaz de fazer coisas tão ruins. Você
consegue controlar sua raiva muito bem e reconhece ela, então
sabe que precisa ter atenção às situações. Richard é uma pessoa
que sempre fez coisas horríveis com você, que não tem caráter
nenhum, é a sua maneira de se defender.
Ele concorda, apenas olhando para mim.
— E se um dia, se alguma coisa acontecer e sentir que está
chegando ao lugar obscuro que tem medo de chegar, pare tudo.
Largue tudo e vá me encontrar, onde quer que eu esteja. — ele me
olha por um tempo, apenas observando meu rosto.
Sua mão faz carinho nas minhas costas e sorrio olhando para
os cachinhos que se formam em algumas partes do seu cabelo.
— Eu sempre vou encontrar você, Norah Clark, onde quer
que você esteja.
Meu coração erra algumas batidas e tento ignorar os dois
sentidos que essa frase tem. Ele está prometendo o que acabei de
lhe pedir ou dizendo que sempre vai acabar me encontrando se nos
distanciarmos de novo?
Não pense muito, Norah, não pense…
Sorrio para ele e seguro seu rosto, beijando a ponta do seu
nariz, como ele sempre faz comigo e Andrew sorri.
Me aconchego em seu peito e deito a cabeça em seu ombro,
Andrew se ajeita debaixo de mim para que possamos ficar em uma
posição mais confortável. E ficamos apenas ali, cuidando um do
outro em silêncio, no nosso mundinho.
— Me conte um segredo, Clark. — ele pede baixinho e sorrio.
Nós fazíamos isso quando éramos adolescentes e fugíamos
no meio da noite para olhar as estrelas na caixa d'água desativada
da cidade.
— Um segredo em troca de outro, Crawford. — rimos.
— Eu nunca soube viver sem você, Doutora Hurricane. — ele
quase sussurra.
Sinto meu coração flutuar.
— Eu nunca quis saber viver sem você, Ice, eu apenas fingi
que sim.
— A partir de hoje, nós não fingiremos nunca mais. —
concordo e ele toca seus lábios sutilmente contra os meus.
Não é um beijo de desejo, é muito além. Não precisamos
aprofundá-lo, apenas sentir um ao outro.
Ouvimos a porta ranger levemente e sorrimos entre o beijo.
— Graças a Deus, eles não estão pelados. — Victória diz. —
Podem vir.
Então todos eles entram no quarto e em segundos a minha
cama e o chão estão sendo ocupados por homens muito bonitos e
uma mulher incrível segurando Diana no colo.
Essa é a nossa pequena família.
Meu celular vibra mais uma vez e abro as mensagens, porque tão cedo da manhã
eles devem estar conversando alguma fofoca.
Largo o celular e finjo que nenhum deles existe, mesmo
sabendo que daqui para o final da viagem daria para escrever um
livro com todas as mensagens que eles vão mandar neste grupo.
Coloco a mão na perna de Norah para acalmá-la. Não sei se
ela está nervosa por estar indo ver sua mãe ou por estar me
levando para casa. As coisas estão ficando cada vez mais sérias
entre nós, mas nenhum dos dois quis conversar sobre isso ainda.
Colocar as cartas na mesa significa avançar alguns passos
no que temos e acho que ainda não estou pronto para tentar
enfrentar alguns traumas.
Traumas esses que me lembram todos os dias que sou um
perigo para ela.
A casa da mãe de Norah fica a pouco mais ou menos duas
horas de distância de Nova York, mas elas quase nunca se veem.
Paramos para abastecer e desci para comprar chocolate para
comermos no caminho, a fiz cantar um pouco e conversei sobre
vários assuntos, mas nada ajudou.
Quando nos aproximamos do endereço, ela me indicou o
caminho e logo estacionei em frente a casa. Seguro sua mão antes
de sair e ela me olha.
— Não existe nada que você não possa fazer, Norah. —
lembro a ela. — Vamos entrar, conversar um pouco, assistir a
competição da Sophie, sair para comer com ela e depois voltamos
para casa. Se qualquer coisa te incomodar, me avise e vamos
embora na mesma hora.
— Tudo bem. Qualquer coisa, nós vamos embora. — ela
repete e sorri. — Estar aqui, às vezes, parece uma farsa e você vai
ver. É completamente diferente da vida que eu tinha. E por mais que
eu fique feliz por Sophie ter tido uma família diferente, me pergunto
porque minha mãe não foi assim comigo também.
— Só sua mãe pode te responder isso, Linda. Você precisou
construir o seu coração sozinha, Norah, e fez isso da forma mais
bonita possível. É isso que verdadeiramente importa.
Ela concorda com a cabeça e descemos do carro.
Eu sei como é ter medo do passado, sei que Norah vai
carregar inseguranças com ela a vida inteira e eu também, mas
enquanto estivermos juntos, vamos conseguir lembrar um ao outro,
quem somos.
Antes de alcançarmos a porta, ela é aberta. Sophie sai
correndo e se joga nos braços de Norah.
— Eu estava tão ansiosa pra vocês chegarem. — ela fala e
sorri para mim. — Você veio!
— Prometi que estaria aqui. — beijo seu rosto. — Preparada
para arrasar hoje?
— Sim, eu treinei a semana inteira e estou excelente. — diz e
rimos.
— Você é uma estrela, vai conseguir. — Norah fala.
Entramos na casa e Norah tem razão como eu perceberia
que as coisas estavam diferentes. Eu jamais diria que um lugar com
tantas rosas, papéis de parede bonitos e fotos por todo lugar era o
lugar onde Lucy morava. A casa delas era cinza, completamente
sem vida, sem decorações e apenas os móveis necessários.
— Ah, que bom que chegaram. — um homem se aproxima
de nós. — Como está, querida? — ele pergunta a Norah.
— Estou bem, a viagem foi tranquila. — Norah sorri de
verdade, então entendo que esse é o padrasto. — Todd, esse é o
Andrew, um grande amigo meu e da Sophie.
Sophie sorri toda feliz e rio também.
— Bom, se você é da turma das minhas garotas, então deve
ser uma cara legal. — ele entende a mão e o cumprimento. — Seja
bem vindo a nossa casa, Andrew.
— Eu sou sortudo delas me aceitarem no grupo delas. —
brinco e rimos. — Obrigado por me receber.
— Ah meu Deus, a Norah cresceu, mas você. — a mãe de
Norah fala entrando na sala e quase me assusto com as diferenças
gritantes que vejo nela.
Tenho certeza que ela não fuma mais como antes, seu
sorriso está branco demais e ela está fazendo questão de mostrá-
los. Acho que é a primeira vez que vi essa mulher sorrir na vida.
— Olá, Lucy. Já faz muitos anos. — sorrio e recebo seu breve
abraço com beijinho.
— Sim, você era apenas um garoto naquele tempo. Vivia na
minha sala e cuidando da Norah. Inclusive, preciso agradecer a
você por isso, você estava sempre com ela. — dá um tapinha no
meu ombro e percebo que Scott realmente tinha razão, ela apenas
não se importava com a nossa presença, mas sabia que estávamos
lá.
— Não precisa agradecer, nós cuidamos um do outro.
Principalmente agora, quando ainda somos assombrados pela vida
complicada que tínhamos naquele tempo. — finjo uma risadinha
para quebrar o clima, mas todos percebem.
Sophie chama nossa atenção dizendo que precisa nos
mostrar sua roupa da apresentação, então segura minha mão e
sobe as escadas comigo e Norah. A roupinha está sobre a cama,
cheia de pedras roxas e com uma saia bonita no mesmo tom.
Sophie me diz seus passos e engatamos em uma conversa
pré competição sobre ela fazer os exercícios de respiração e tentar
ficar o menos tensa possível.
Nós descemos, porque estava na hora do almoço e tenho
que admitir que a mãe de Norah cozinha muito bem. Eles quiseram
saber sobre eu ser um jogador profissional, Lucy ainda perguntou
sobre minha mãe e conheci um pouco sobre a vida deles também.
Sophie é realmente o centro do mundo deles e a mãe de
Norah se tornou alguém completamente diferente ou a pessoa que
ela sempre foi, mas que estava escondida pela vida triste que tinha.
Todd lavou os pratos e eu fui o encarregado de guardar.
Quando terminamos, Lucy precisava levar Sophie para o salão de
beleza para fazer o penteado e nós ficamos com Todd em casa.
Norah me levou para conhecer seu quarto e me surpreendi
por ainda ser tudo como quando ela era adolescente. Reconheci
imediatamente algumas coisas, os posters na parede, alguns ursos,
o porta joia dela e a cômoda branca, que ela sempre deixava
bagunçada.
— Acho que voltei no tempo. — rio. — E olhe que esse nem
é o quarto que conheci.
— Eu tentei mudar algumas coisas. — ela se joga na cama,
apoia a cabeça nos travesseiros e olha em volta.
— E que tal nós fingirmos que ainda somos adolescentes e
dar uns amassos? — ela ri alto, me fazendo sorrir também.
— Você não perde uma oportunidade. — deito por cima dela
e beijo sua boca gostosa.
— Eu era meio mole naquela época, nunca ia conseguir
chegar para você e dizer: Hurricane, eu tenho dois pensamentos
durante todo o dia, o primeiro é o quanto você é linda e o segundo,
o quanto eu queria transar com você.
— Que pena que não disse, eu iria aceitar fácil. — sorri e a
beijo de novo.
Ela está mais relaxada e fico feliz por isso.
— Mas aí, você não teria conhecido outros caras e eu outras
mulheres para saber o quanto ninguém chega aos nossos pés. —
falo baixinho roçando seus lábios nos meus e ela me beija de novo.
Estamos apertados na sua cama de solteiro, com Norah me
falando sobre como transformou aquele lugar no seu refúgio e de
repente ela pareceu lembrar de algo. Levantou depressa e abriu
uma das gavetas, procurando alguma coisa.
Ela abre uma caixinha e vejo a pulseirinha de linha que lhe
dei, foi o primeiro presente que comprei para ela.
— Meu Deus, isso foi logo quando nos conhecemos. Tem
muito mais de dez anos. — falo, surpreso por ela ainda ter.
— Acho que foi umas das poucas coisas que me lembram
você que sobrou. — ela senta ao meu lado na cama. — Abra a
carteira. — pede e faço. — Vou guardar aqui, para que lembre da
promessa que me fez.
Ela coloca em uma das abas para cartão que tem uma parte
transparente e assim que eu abrir a carteira, verei a pulseira.
— Olhe para mim, Little Angel. — seguro suas mãos e ela me
olha. — Não existe garota mais especial que você! Não esqueça
disso.
Beijo a ponta do seu nariz e ela sorri. Envolve os braços ao
redor do meu pescoço e deitamos de novo.
Não sei quanto tempo se passou, mas quando Sophie abriu a
porta, já estava completamente pronta para a competição. Fomos
todos juntos e eufóricos. Todd e Lucy estavam absurdamente
orgulhosos da garotinha e Norah também.
Abraçamos-a e desejamos sorte, Sophie foi a competidora
número seis e sua apresentação foi delicada e deslumbrante. Ela
escolheu uma música dançante, então quando patinava parecia
estar levitando. Eu conheço e adoro essa sensação.
Ela ganhou ótimas notas e ficou em primeiro lugar. Fomos
todos levá-la para escolher um presente no shopping e ela acabou
escolhendo novos patins brancos, como os meus. Eu entendia bem
essa paixão, tudo girava em torno do hóquei para mim também.
Foi diferente estar com a família de Norah, mas parecia que
eu já pertencia aquele lugar. Pertencia a Norah.
Último jogo, final de temporada. Esperei isso por um ano e
esse vai ser o dia que vamos ganhar o título.
Ganhamos todos os jogos até agora e não quero perder
esse. Will quase nos fez morar na arena nesta última semana,
estudamos jogadas, fizemos testes, aprendemos lances novos e
assistimos diversos jogos do nosso adversário, para entender qual
caminho eles vão seguir. Treinamos por horas e horas, mas ontem
descansamos.
E foi um dos melhores dias da minha vida. Por mais que eu
estivesse nervoso com a tensão da semana, compartilhar minha
vida com Norah tem sido inexplicável. Peguei-a no trabalho e ela
dormiu a manhã inteira para recuperar a noite acordada. Vê-la
deitada com Diana em seu travesseiro é a coisa mais fofa do
mundo. Fomos almoçar na casa da minha mãe, que parece gostar
mais de Norah do que de mim, depois paramos na sorveteria
preferida de Norah e ela me fez provar todos os sabores para
adivinhar o seu preferido.
Nós fomos ver o pôr do sol na praia, preparamos um jantar
dividindo a cozinha, deitamos para assistir um filme e ela dormiu nos
meus braços. Era tudo o que eu precisava para conseguir vencer
hoje, ter alguém com quem compartilhar a conquista.
Norah me faz pensar sobre uma possibilidade de futuro que
nunca pensei que queria viver.
Quando sai de casa hoje, ela me ligou e desejou boa sorte,
me prometeu um presente surpresa bem obsceno se ganharmos,
mas sei que receberei independente do resultado.
Agora, olhando para o meu time conversando e se
preparando para o jogo no vestiário, lembrando do bom dia que
meus amigos me deram, de saber que minha mãe está na plateia
com Norah, tudo parece alinhado e no seu lugar.
Acho que talvez as coisas tenham começado a voltar a fazer
sentido.
Vestimos o uniforme branco, eu me sinto camuflado no gelo
quando estou com ele. Essa foi a primeira camisa 13 do Ice Angels
que vesti e adoro jogar com esse blusão. Estou quase pronto
quando Will entra no vestiário batendo palmas e cantando nosso
grito de guerra.
— Quero que prestem atenção no que eu vou dizer. — ele
começa a falar. — Nós sempre acreditamos que temos um limite,
até que um dia precisamos rompê-lo. Então, a partir disso,
estabelecemos um novo limite e seguimos assim até chegar um
momento em que acreditamos não conseguir mais. Quando se
sentirem assim essa noite, olhem para trás e vejam quantos outros
limites já ultrapassaram, o quanto já venceram e o quanto ainda
podem. Essa é uma noite decisiva na vida de todos, façam dela a
mais honrada da vida de vocês.
Todos batemos palmas e o pegamos nos braços, o jogando
para cima. Depois de toda a euforia, terminamos de colocar todos
os equipamentos de proteção e seguimos para a pista de gelo.
A blusa roxa do time adversário se destacou do outro lado do
estádio e já vi Richard de longe dando uma entrevista. O time dele
deu uma reviravolta nos últimos jogos, eles conquistaram o público
nessas semanas e sei que eles estão prontos para nos derrotar a
qualquer custo.
Procurei Norah e minha mãe nas arquibancadas, olhei para
elas e acenei. Quando olho em volta de novo, Richard estava
olhando para mim e sorrindo.
Babaca.
Ignorei sua presença e formamos a fila dos times para entrar
no espaço. Patino até o meu lugar no círculo central para iniciar o
face-off. Richard para na minha frente e olhamos um para o outro.
— Quando perder e voltar pra casa, avisa a Norah que
mandei um beijo, pode ser que assim ela lembre o quanto é bom
ficar com um vencedor.
Toda a minha paciência se esvai no mesmo segundo.
— Você poderia se tornar o homem mais poderoso do mundo
e Norah ainda não voltaria para você. — garanto.
Odeio o sorriso presunçoso em seu rosto.
— Norah é uma garota de ambições, Andrew. Ela sabe que
você não tem nada além de uma mente fodida para dar a ela.
— Esqueça a minha namorada e foque no seu jogo, idiota.
Você perdeu a garota e agora vai perder a temporada também.
Namorada? Ai caralho…
Os meninos tem razão, eu estou completamente rendido por
ela.
Olho para ela na arquibancada com a expressão preocupada
e o sorriso no rosto, torcendo por mim. Tudo isso é muito mais
especial com ela aqui. O Hóquei sempre foi a minha vida, mas ele
tem outro brilho quando uma determinada torcedora está me
assistindo fazer o que eu amo.
Será que em algum momento da minha vida eu não fui
apaixonado por Norah Clark?
O juiz apita e duelo com Richard pelo puck, ele consegue
tomar de mim e parte para o gol. Os jogadores se espalham e Brian
consegue recuperar o disco, patinando para o outro lado da pista de
gelo[17], afasto o primeiro wingers deles.
No hóquei tudo é muito rápido, então nossos tacos estão
sempre tentando afastar o do adversário ou abrindo espaço para
quem está conduzindo o puck, chegue até o gol.
Acertamos os dois primeiros pontos e isso deixou a equipe de
Richard mais atenta, mas quando os primeiros quinze minutos de
jogo acabaram, todos nos reunimos no local de cada equipe e Will
passou algumas novas jogadas que poderíamos tentar.
Quando os quinze minutos de intervalo chegaram ao fim e
voltamos para o pista de gelo, percebi que eles estavam mais
concentrados e empataram o nosso placar.
O que achei estranho é que no momento em que o apito
soou, vi Mark discutindo com um dos jogadores do outro time. Não
ouvi o que ele estava falando, estavam longe, mas vi quando ele
apontou o dedo no rosto do homem e me aproximei.
— Ei, vai com calma. — segurei seu ombro. — Vamos para o
banco. — chamo Mark e ele reluta em ir.. — Não entre na pilha dele,
Mark, vamos.
— Não se preocupe, Andrew, eu só não sabia que a ex do
Richard estava dando um passeio entre os caras do seu time, ela
não fez isso com a gente, o que é uma pena. — ele dá um
sorrisinho e vejo tudo vermelho.
— O que caralho você está falando? — empurro seu peito.
— Richard falou que vocês estão todos dormindo com a
Norah, inclusive ao mesmo tempo. Eu não sabia que ela era assim e
só comentei com o Mark. — ele explica.
Respiro fundo e tento me concentrar, eu não ouvi essa
merda, não ouvi. Ele não está inventando mentiras sobre a Norah,
não está. Isso é só para me provocar, apenas para me tirar do eixo.
Respiro fundo e tento procurar Norah na plateia, mas não a
encontro.
“Largue tudo e vá me encontrar, onde quer que eu esteja.”
Seguro o taco forte entre os dedos e giro sobre os patins em
direção a saída da pista, as palavras ficam se repetindo na minha
mente e isso está fazendo meu sangue ferver nas veias.
O apito é soado de novo e o jogo vai começar, mas o
universo parece está me testando, porque Richard é a primeira
pessoa que entra no gelo. Os jogadores começam a se posicionar,
mas quando estamos no centro do pista de gelo, antes de tomar o
meu lugar, me aproximo dele.
— Quando esse jogo acabar, nós vamos ter uma conversa
que vai fazer você esquecer o nome da Norah. — garanto e ele
sorri.
— Você está muito nervosinho, Ice. Calma, é só mais um
rabo de saia que passa pela sua cama. Foque no jogo. — provoca e
começo a me afastar para me posicionar. — Mas eu entendo, Ice, a
boceta dela é gostosa demais para não ficar enfeitiçado.
Eu não escutei mais nada. Todos os sons pareciam longe
demais. Virei já acertando seu rosto com um soco e ele cambaleou,
mas não dei tempo dele entender o que aconteceu, porque agora eu
o farei engolir toda a merda que falou. Segurei no seu capacete e o
arranquei da cabeça de Richard, jogando longe pelo gelo, e soquei
seu rosto mais duas vezes seguidas.
Ele me acertou, mas a adrenalina me cegou e quase não
senti a dor. Fechei o punho mais uma vez e acertei seu nariz, vi o
momento que o sangue jorrou e ele urrou de dor, caindo no chão.
As palavras dele se repetindo na minha mente, não paravam,
as mentiras que ele contou, as provocações que ele fez desde o
início. Era isso que ele queria, que eu me descontrolasse, agora ele
conseguiu.
Eu não vou deixar que ele minta sobre ela, não vou deixar
que ele ou ninguém a desrespeite assim. Se ele é homem suficiente
para tentar prejudicar uma mulher apenas porque seu ego foi ferido,
capaz de inventar mentiras sobre ela, então é homem para aguentar
as consequências disso.
Senti alguém tentando me puxar, mas me joguei sobre o
corpo de Richard estendido no gelo e não sei quantos socos ainda
desferi em seu rosto até que me arrastaram de cima dele.
Foi aí que voltei a mim, quando me afastei e vi o rastro de
sangue que estava no gelo. Olhei para minhas mãos e elas estavam
completamente vermelhas, os paramédicos entraram correndo para
socorrer Richard, afastando todo mundo que estava tentando
conferir se ele estava bem e meu coração parou.
Meu Deus, o que eu fiz?
Ben me empurrou para dentro do vestiário e sentei no banco
ainda extasiado. Sentei no banco e coloquei a cabeça entre as
mãos.
— Andrew. — Ben se abaixa para ficar da minha altura. —
Andy, olhe para mim.
Faço o que ele pede e ele segura meu ombro.
— O que aconteceu? — ele me pergunta calmo.
— Eu perdi o controle. — sinto minha garganta travar.
— Como aquilo aconteceu, Andy? Nunca te vi daquele jeito.
— Ele me provocou o jogo inteiro, mas falou um absurdo
sobre Norah. Quando vi, já estava sendo tirado de cima dele.
A preocupação no rosto de Ben é clara, isso pode ferrar a
minha carreira. Pode prejudicar a nossa final e por mais que eu
esteja pouco me fodendo para o Richard, ele pode estar gravemente
ferido.
Eu queria isso, que ele tivesse o que merecia e não me
arrependo de ter feito o que fiz, mas estou anestesiado pelo fato de
agora ter a certeza de que sou exatamente como meu pai era.
Instável, descontrolado e imparável.
Sinto meu rosto começar a doer e lembro do soco que recebi.
— Venha, você precisa tirar essas roupas e lavar essas
mãos. Tomar um banho e esfriar a cabeça. — ele fica de pé e dá
uma batidinha nas minhas costas.
— Ligue para o Billy, peça para ele levar minha mãe e a
Norah para casa. — peço.
— Ele já está com elas. — garante.
— Não quero vê-las agora, peça para irem para casa. — ele
concorda e liga para Billy.
Não consigo levantar, não consigo sair desse lugar. Estou
ficando louco com todos os pensamentos divergentes que estão
rondando a minha mente. Ao mesmo tempo que me odeio por ter
feito algo tão grave, sei que ele mereceu e isso tira o peso da minha
culpa.
Me odeio por não me sentir mal por ter agredido alguém
daquela forma, mas ao mesmo tempo, fico preocupado se não fiz
algo grave demais. Prejudiquei meus amigos, manchei a imagem do
time. Provavelmente terei que ir a polícia depor sobre o caso e sei
que não posso ficar perto de Norah.
E o que restou no meu coração se desfaz ao pensar no meu
pequeno furacão assistindo tudo aquilo, o quanto ela deve ter ficado
desesperada e assustada, mas mesmo assim deve ter se
preocupado e cuidado da minha mãe. Porque essa é a Norah, ela é
bondosa e eu não posso estragar tudo isso, não posso arriscar fazê-
la ter uma vida de merda.
Assumi para mim mesmo que a amo no mesmo dia em que
descobri que jamais poderei ficar ao lado dela.
Acho que no fundo eu sempre soube. Eu era mais um
desastre com hora marcada para acontecer na vida de Norah Clark
e não vou arriscar destruí-la.
O celular de Ben toca e ele me mostra a tela com o nome de
Ares, balanço a cabeça negando, mas ele atende. Eu não consigo
falar com eles agora, não consigo falar com ninguém.
— Eu sei, Ares. Nada vai acontecer com o Andrew até vocês
chegarem. Estou cuidando dele, não se preocupe. — Ben olha para
mim e ouve o que meu amigo está lhe dizendo. — Richard o levou
ao limite, mas todas essas questões resolvemos depois. O que
importa agora é o Andy ficar bem. Tudo bem, venha o mais rápido
possível.
Ares já me viu no inferno e sabe que essa situação pode me
levar até ele de novo. Posso ser expulso do time, ficar fora dos
próximos jogos, perder patrocinadores e ser penalizado por isso.
Sei que pelo menos uma idenização terei que pagar a
Richard, mas foda-se, eu lhe dou todo o caralho do dinheiro que
essa justiça de merda mandar, mas o que me dói é saber que
perderei Norah e o hóquei.
O sangue seco em minhas mãos está ficando com um cheiro
forte e isso angustia meu coração. Levanto e faço o que Ben
mandou, vou para o chuveiro, mas tento evitar olhar para o meu
reflexo no espelho quando passo por ele. Não quero ver quem
realmente sou. Jogo as peças no chão e deixo a água gelada levar
todo o sangue.
Ben me entrega uma roupa quando termino e me visto. Ele
está tenso e sei que deve está resolvendo milhares de coisas,
recebendo mensagens e incontáveis ligações sobre isso.
— Você tem notícias dele? — pergunto sobre Richard.
— Está no hospital, ainda fazendo vários exames, mas
qualquer coisa aviso você. — garante e concordo. — Andy, você
precisa cuidar da sua mente.
— Eu sei. — respiro fundo, cansado.
— Vamos cuidar de você, Andy. — promete e concordo.
Ouço burburinhos do lado de fora do vestiário e de repente a
porta é empurrada, Billy entra logo após minha mãe e Norah.
Eu olho para elas, Norah parada mais atrás, sem saber o que
fazer, minha mãe vem caminhando na minha direção, olhando todo
o meu corpo para ver se estou bem, então o pingo de controle que
restou em mim, acaba.
— Me desculpe, mãe. — sinto meus olhos marejaram. — Eu
não queria ser igual a ele. — o soluço escapa e me permito cair.
— Oh, Andy, não. Não pense assim. — ela me abraça. —
Você nunca será como ele, Andrew. Você sempre foi o oposto
daquele homem, meu amor.
— Eu poderia ter matado aquele homem hoje. — choro em
seus braços.
— Mas não matou e nós vamos olhar para essa situação
como ela realmente foi, mas quero que me ouça. — ela segura meu
rosto para que eu a olhe. — Você sempre me protegeu, Andy. Era
apenas uma criança e tentou cuidar de mim. Você limpava os meus
machucados, você me defendia, fazia comida quando eu não
conseguia levantar, me dava remédios, me protegia. Até que você
precisou aprender que violência é a forma de tornar as coisas
justas, porque se o seu pai me agredia, ele merecia o mesmo tipo
de tratamento de volta. Não acho certo o que você fez, mas eu sei
que você nunca machucaria alguém sem motivos plausíveis para
isso.
Meus olhos voam automaticamente para Norah e ela entende
tudo. Tenho certeza que já vinha pensando qual era o motivo de
tudo ter acontecido, mas agora ela tem certeza. Ela abaixa a cabeça
antes que eu possa ver o que tem em seus olhos, mas sei que ela
está arrasada com tudo isso.
— Nunca mais quero vê-lo fazendo algo daquele tipo de
novo, nunca mais quero precisar presenciar o meu filho em uma
situação como aquela. E por mais difícil que seja aceitar, você
nunca será como o seu pai, porque ele não tinha uma coisa que
sobra em você, amor.
— Me desculpe, mãe. — peço. — Você deve ter ficado tão
nervosa. Eu estou envergonhado, assustado e sem saber o que
fazer agora.
— Vamos para casa, Andy. — ela segura minha mão.
Não consigo olhar para ela por muito tempo. Sei que Norah
entende tudo que está se passando na minha cabeça, sei que está
assustada com tudo, mas também está preocupada comigo.
Se existe alguém que entende o que está se passando no
meu coração, é ela. Não consigo olhar para aquele rosto lindo, para
a mulher que amo e saber que posso ser um perigo para ela. E é
por isso, que quando entramos no carro, peço para que Billy a deixe
em casa, mas antes de descer do carro ela me olha.
— Você tem certeza disso? — Norah pergunta triste.
Ela sabe o que significa esse adeus.
— Sim. — engulo em seco.
— Lembre que dessa vez não sou eu que estou partindo, é
você quem está escolhendo me mandar embora.
Meu coração grita por ela, mas sei que preciso deixá-la ir e é
isso que faço.
— Essa é a última vez que vou falar sobre isso. — garanto a
Ben.
Cansei desses abutres de merda querendo me fazer contar
mil vezes a mesma história para ver se as informações batem ou se
me pegam mentindo.
Eu não preciso mentir para ninguém sobre aquela noite.
Faz três semanas desde o acidente com Richard. Quebrei o
nariz dele e os socos causaram luxações em algumas partes dos
ossos do seu rosto. Ele ainda está muito machucado, mas vai
conseguir se recuperar bem, só precisará de tempo.
Fomos chamados para depor na delegacia, mas, por algum
motivo, Richard não quis abrir um boletim de ocorrência contra mim
— não que precisasse porque todos viram o que aconteceu. —
Segundo Ben, o advogado dele disse que essa era a forma dele se
desculpar com Norah por tudo que disse, que não estava fazendo
isso por mim.
É claro que não seria por mim, ele teria me colocado na
cadeia se a situação fosse outra. Mas moveu um processo imenso
contra mim e além de uma indenização, estou pagando todo o seu
tratamento. Não me importo, a sensação de ter feito ele engolir cada
palavra que falou ainda me conforta.
O meu problema agora é me sentir no inferno de tanta
saudade de Norah. Não nos vimos e nem nos falamos mais. Não
tenho dormido direito, não tenho treinado bem e ficar nesse
apartamento tem me feito beber como um descontrolado. A única
coisa que me conforta é que os meninos estejam cuidando dela.
Ares, Jax e Scott estão se revezando entre competir e voltar
para ficar comigo. Não consegui sair de casa nos primeiros dias, até
que Ben me obrigou a levantar e começar as sessões de terapia.
Comecei a entender que os meus traumas me condicionaram a
acreditar que todos os homens são um perigo, inclusive eu. Estou
começando a entender isso mais a fundo e por mais que não seja
fácil, tem me ajudado muito.
Fui afastado do final da temporada e não posso jogar até a
próxima. E como o hóquei é um jogo onde é comum acontecer
alguns atos de violência entre os jogadores, não expulsaram o time
inteiro da liga, mas também não puderam colocar um jogador no
meu lugar, logo eles estarão em desvantagem.
O jogo da final é no final do mês e estarei lá para assistir os
meninos e torcer por eles. Mesmo todos reconhecendo meu erro,
continuaram ao meu lado e isso faz toda a diferença. Will me deixou
voltar a treinar com eles, mas não no mesmo ritmo, afinal, não estou
mais me preparando para competir.
— Calma, Andy.— Ares segura meu ombro. — Sei que está
cansado, Ben quer que você encerre esse ciclo hoje. Por mais que
seja uma merda ter que fazer isso, tem que pensar na importância
que esse pronunciamento vai ter na sua carreira.
— Nós estaremos com você. — Jax garante. — Se quiser ir
embora, a qualquer momento, é só avisar e tiramos você de lá.
— Victória está estacionando, vai apenas trocar de roupa e
podemos ir. — Scott fala.
— Ela estava com a Norah? — pergunto.
Eles não falam sobre ela comigo, sei que é o melhor e que foi
isso que pedi quando disse para ela se afastar, mas o meu sangue
ferve para ir até a casa dela.
— Quando você vai parar com essa merda? — Ares
responde com uma pergunta. — Quer viver mais dez anos
pensando como poderia ser a vida ao lado dela, quando poderia
estar com ela?
— Não sou uma boa pessoa para ela. — todos me xingam e
sorrio.
— Você acabou de colocar toda a sua vida em jogo porque
alguém a ofendeu. Poderia ter sido preso, Andrew. Poderia ter sido
expulso do Ice, o mundo poderia estar te odiando, os contratos
cancelados, mas todo mundo entende seus motivos, não que eles
justifiquem tudo, mas as pessoas quiseram te dar uma segunda
chance, menos você mesmo. — Scott fala.
— Vocês sempre tiveram razão quando falaram sobre eu ter
amado a Norah desde o primeiro dia. — respiro fundo, sentando no
sofá. — Acho que a amei antes mesmo de saber o que era o amor,
por isso sofri tanto quando ela foi embora há dez anos. Percebi que,
em dez anos, eu continuei a amando e agora, depois de ter
descoberto o que é a vida ao lado dela, nunca mais vou querer outra
pessoa. E é por isso que não posso colocá-la em perigo.
— É por isso que você deveria deixar de ser um cabeça dura
do caralho e ir atrás da sua mulher, seu babaca. — Jax me xinga e
rio.
— Andrew, você perdeu o controle duas vezes na vida. Duas.
Uma quando ainda era um adolescente e agora. Você só faz isso
quando alguém te agride de alguma forma antes e é como um
mecanismo de defesa. Quando Victória foi embora eu senti a dor
dilacerar meu peito, mesmo pensando milhares de merdas, eu sabia
que não conseguiria viver sem ela. Se você consegue deixar o
medo do seu passado ser mais forte do que o seu amor por ela,
acho que ele não é forte o suficiente.
— Eu tenho medo. — respiro fundo e passo a mão no rosto.
— Não quero que ela me olhe daqui a alguns anos, pense no
passado e lembre que está com um homem capaz de fazer algo
desse tipo. Não quero que ela tenha medo de mim ou que ela pense
que irei passar dos limites com ela também.
— Andrew, você reconhece que fez algo muito sério. pediu
desculpas para o Richard e está arcando com as consequências
sem pestanejar. Não vamos passar a mão na sua cabeça, não
existe justificativa para o que você fez, mas nós, que conhecemos
você, sabemos que a causa que o levou àquilo foi absurdamente
justa. — Jax senta ao meu lado. — Sei que está envergonhado com
tudo, que está triste consigo mesmo por tudo que aconteceu, mas
tenho certeza que Norah estaria ao seu lado em todo o momento, se
estivesse aqui.
— Você não a deu chances nem de falar, Andy. — Scott fala.
— Não tem como saber como ela está se sentindo com tudo que
aconteceu. Inclusive com o fato de você ter afastado ela da sua
vida.
Victória entra sorridente e vem até nós. Ela beija Ares e vejo
o quanto valeu a pena ele ir buscá-la, eles merecem viver o amor
que sentem. Nos abraça e me olha com carinho, mas logo vai até o
quarto se trocar para sairmos para a entrevista.
— Se eu fosse ela, pisaria no seu saco na próxima vez que te
visse. — Ares diz e rimos.
— Com toda certeza é isso que ela vai fazer. — Scott
gargalha.
— Pense sobre isso, Andy. — Ares me olha com todo o amor
que sei que sente por mim. — Volte atrás, corra por essa mulher ou
nunca mais será completo.
E sei que ele tem razão, por é isso que sinto no meu peito
agora, vazio, porque ela não está aqui.
Termino o banho, pego um chá na cozinha e me sento no
sofá para procurar algo para assistir. O primeiro canal que aparece é
o de uma entrevista e o rosto de Andrew está estampado na tela.
Meu coração aperta.
— Então, depois de falarmos sobre seus planos de vida e o
que vem no futuro da sua carreira, você teria algo a acrescentar? —
a repórter pergunta a ele.
Tomo um pouco mais do meu chá e me aconchego a Diana
no sofá. Ela também tem sentido falta dele, assim como eu. Tem
sido semanas difíceis, principalmente depois que me acostumei com
a ideia de agora viver com ele ao meu lado. Afinal, foi isso que eu
pensei, que nunca mais sairíamos um da vida do outro.
— Quero deixar um recado para as pessoas que estão nos
assistindo agora. — ele sorri. — Desde muito cedo me ensinaram
que o amor machuca e acreditei nisso, até que comecei a me
perguntar: se o amor era algo bom como todos dizem, por que ele
tem que machucar? Foi nesse momento que as coisas mudaram na
minha cabeça. Nunca acreditem quando falarem que o amor é algo
menos do que inexplicável.
“Cresci em um lar de muita violência, onde qualquer mísera coisa
era motivo para que minha mãe fosse espancada. Nós não
tínhamos a quem pedir socorro, sempre fomos sozinhos e o
exemplo de homem que eu tinha era aquele, então
consequentemente eu seria igual a ele. Sempre foi isso que pensei,
sempre tive medo de em algum momento me dar conta que era
igual àquele homem.
Na noite do jogo, eu tomei algumas decisões imperdoáveis,
mas também me fez pensar que meu maior medo estava se
concretizando. Isso me assombra até hoje. O ponto é que, esse
medo sempre foi tão grande que me fez desistir do amor da minha
vida — sinto meus olhos marejarem.
Não sei se um dia conseguirei o perdão da minha garota por
ter feito-a passar por uma situação tão complicada naquela noite e a
deixar no final de tudo. Pensei que estava fazendo o melhor para
ela, porque o melhor para mim jamais seria ficar longe dela. Quero
pedir perdão publicamente, deixar registrado em rede nacional, por
não ter estado ao seu lado enquanto poderíamos, ter cuidado um do
outro.
Hoje, nossos amigos abriram meus olhos e me lembraram
que o amor não precisa ser dolorido. Eu vou lutar por nós, só peço
um pouquinho de paciência, estou tentando melhorar para ser tudo
que você merece. E espero que ainda tenha espaço para mim na
sua vida quando isso acontecer. Amo você, Hurricane,
incondicionalmente.”
Ele sorri para a repórter que comenta algo sobre sua fala, se
despede e acaba a entrevista.
Andrew Crawford acabou de se declarar para mim em rede
nacional?
Não sei se fico com raiva ou se me encanto com tudo que ele
acabou de dizer, com toda a sinceridade do mundo. Nunca vou
esquecer a forma como aquela noite terminou, o desespero que
senti, o medo, a tristeza pela forma como ele me olhou quando
entrei no vestiário.
Ali eu soube, ele não aguentaria.
Nunca vi Andrew tão frágil, nem na época em que éramos
jovens, era como se ele estivesse se olhando e vendo o reflexo do
seu pai. Eu só queria lhe dizer que estava tudo bem, que nós
conseguiríamos, mas ele me mandou embora com a agilidade de
um raio.
Eu queria correr para os seus braços, mas quando Andrew
disse que eu estava indo para casa, eu soube que aquele era o
nosso fim. Quanto mais tempo ele precisar, mais ele vai me obrigar
a aprender a viver sem ele.
— Se você está achando que isso aí vai derreter meu
coração, tá muito enganado. — falo para a televisão.
Eu entendo todos os motivos de Andrew para sentir que
precisava se afastar de mim, mas não concordo com o fato dele ter
feito isso, de pensar que em um momento daqueles era melhor nos
deixar longe um do outro e sofrer ainda mais com isso.
Porque as minhas semanas têm sido um inferno, só quero
dormir, comer e não ter que fazer nada além disso. Eu chorei no
início, mas hoje quero só ter a chance de brigar com ele. Victória e
os meninos têm vindo me ver, foi isso que me amparou por todos
esses dias, saber que realmente constituí uma família com eles,
além de Andrew. Eles não deixaram com que me sentisse ainda
mais sozinha.
Vivi a fase de amar tanto Andrew que não conseguia fazer
nada além de sofrer, até que fui para a fase de estar conformada
que ele tinha ido embora, voltei a me sentir no fundo do poço e hoje
estou odiando as suas escolhas.
Meu celular toca e meu coração dispara. Será que é ele?
Procuro o aparelho entre as almofadas, mas é o nome de
Evan que aparece. O médico novo no hospital tem se mostrado um
ótimo amigo e tem me ajudado muito, no trabalho e na vida pessoal.
Ele é casado e está comprando móveis para quando ela se mudar
oficialmente para a cidade, tudo está perfeito. Então tenho o
ajudado com isso, enquanto ele escuta toda a minha lamentação de
uma mulher apaixonada que foi deixada.
Hoje vamos em uma grande loja de móveis. Ele avisa que já
está me esperando lá embaixo, dou um beijo de despedida em
Diana, pego minha bolsa e desço. Quando chego à saída do prédio,
vejo Evan encostado no carro me esperando.
— Oi, vamos viver um pouco? — ele pergunta e sorrio.
— Você me obrigar a passar horas dentro de uma loja
olhando almofadas não é viver. — brinco.
— Você me obriga a passar horas ouvindo o quanto um cara
é perfeito e idiota ao mesmo tempo, isso também não é viver, mas
eu continuo aqui. — gargalho.
— Não seja idiota, vamos logo. E você vai me pagar um
sorvete.
Evan se afasta para abrir a porta para mim e me dou conta
do carro que está parado do outro lado da rua. Eu reconheceria
aquele Maserati em qualquer lugar, mas finjo que não.
Andrew escolheu ir embora, ele precisa aprender que suas
ações têm consequências, principalmente quando se trata do
coração de alguém. Que no caso, está saindo pela boca agora
mesmo só por saber que ele está parado na minha porta.
Esse é o primeiro sinal que tenho dele desde o jogo, mas ele
me fez esperar demais, então agora, se ele tentar se reaproximar,
quem ditará as regras será eu.
Entro no carro e Evan dá a partida.
Eu não tinha direito de sentir ciúmes dela, não depois de
deixar claro que o que tínhamos acabou e sumir por semanas. Mas
ver Norah entrando naquele carro e sorrindo para outro homem,
acabou comigo.
Depois que conversei com os meninos e fomos para a
entrevista, quanto mais eu respondia as perguntas, mais lembrava
de todos os nossos momentos.
Pareciam flashes surgindo na minha mente. Lembrei de
como senti meu corpo paralisar quando a vi naquele evento pela
primeira vez depois de dez anos, de como foi dançar com ela no
bar, da forma como sua alma sempre está brilhando, de como ela é
uma médica muito competente e dedicada, como é bom ouvi-la falar
sobre seu dia e ver como cuida de Diana, o quanto ela adora ler e
criticar os personagens quando no próximo segundo estará os
amando.
É impossível esquecer o quanto é lindo ser amado por ela.
Eu sempre soube que não saberia viver sem ela, porém eu
estava disposto a tentar, mas não vou deixar meus medos me
afastarem da única pessoa que tem meu coração nesse mundo.
Vou mostrar a ela, e a mim, que não sou a pessoa que
minha mente tenta me convencer que sou. Eu sempre pertenci a
ela, desde o momento que sentei ao seu lado na sala de aula e ela
sorriu pra mim.
Preciso tê-la de volta antes que seja tarde demais.
Dirigi até seu apartamento depois da entrevista para ver se
criava coragem de subir e falar com ela, mas quando cheguei,
reconheci o cara que estava no carro de frente ao portão, então
esperei e logo ela apareceu. Meu coração quase saiu do peito de
tão rápido que bateu.
Estou dilacerado de saudades dela.
Eles saíram e eu ainda não consegui tirar o carro do lugar.
Espero que ela possa me perdoar, porque eu não me perdoarei
nunca por ter agido por impulso e a afastado de mim.
Depois de alguns minutos, finalmente dei partida no carro e
voltei para casa. Ares, Jax, Victoria e Scott estão todos sentados no
sofá esperando por mim.
— E aí, como foi? — Ares pergunta.
— Ela estava saindo com um dos médicos do hospital
quando cheguei. — jogo a chave do carro na mesa de centro. —
Nem cheguei a descer do carro.
— É o Evan, eles são grandes amigos. — Victória explica.
— Você acha que eles estão saindo? — pergunto,
preocupado.
— Pergunte a ela, Andrew. Não vou ficar fofocando sobre as
coisas que conversamos em segredo. — seu tom é sereno, mas sei
que ela sabe de algo.
— O primeiro passo você já deu, Sorvetinho. — Scott passa
o braço pelos meus ombros. — Que tal fazermos uma maratona de
How I Met Your Mother[18], com uma pizza deliciosa e um bom vinho
doze anos da sua adega?
— Eu não gosto muito dessa série. — Victória fala e a
olhamos horrorizados.
— Se você ainda estivesse na fase da inspeção da amizade
e nós soubéssemos disso, você estaria proibida de namorar o nosso
amigo. — digo e Ares ri, beijando o rosto dela.
— Eles tem razão, Francesinha, eles iriam julgar horrores
você.
— No fundo você também está julgando. — Jax o acusa. —
Precisamos convertê-la para o nosso lado.
— Então vamos começar pedindo a pizza. — Scott pega o
celular para fazer o pedido.
— Vou tomar um banho, estou com essa roupa desde a
entrevista. — aviso e vou para o meu quarto.
Meu quarto era um refúgio, meu lugar de paz, mas agora é
um lugar de lembranças como de Norah olhando todas as
miniaturas da parede e amando a da mulher maravilha porque o
nome da sua gata é em homenagem a ela. Tudo nesse lugar lembra
ela, lembra seu cheiro, seu sorriso, sua língua afiada e o jeito que
ela me olha.
Eu amo os olhos de Norah, amo a forma que os olhos dela
parecem ler a minha alma. E estou com saudade de dormir com
Diana sobre meu peito.
Eu sou o resto do que sobrou de um homem. Confuso,
perdido, com medo. Mas agora, eu quero tentar com Norah, então
preciso fazer as coisas acontecerem.
Tomo um banho rápido e entro no closet para vestir uma
roupa confortável, afinal, sei que vamos ficar a madrugada inteira
assistindo tv. O que eu não esperava era encontrar um dos vestidos
dela entre as minhas coisas. Seguro a peça contra meu rosto e
cheiro, ainda consigo sentir seu cheiro na peça.
Eu estou completamente fodido.
Guardo no mesmo lugar, me visto, procuro meu celular e
disco o número dela. Chama algumas vezes e isso faz minhas mãos
suarem, mas quando penso que ela não vai atender, sinto meu
coração errar algumas batidas ao ouvir sua voz.
— O que você quer? — pergunta e sei que está brava.
— Te convidar para um café, pode ser algo rápido, você
escolhe todos os detalhes, só preciso conversar com você.
Foda-se se eu pareço desesperado, eu realmente estou.
Preciso do meu pequeno anjo de volta.
— Eu não tenho nada para conversar com você.
— Norah, por favor, uma última vez, me deixe ver você e
falar olhando nos seus olhos tudo que tenho para dizer.
— Assisti à sua entrevista, já ouvi o que você tem a dizer e
não tenho nada para te dizer de volta. — responde rápido e sinto a
pontada no peito.
Sei que mereço isso.
— Norah, só quero alguns minutos com você, mesmo que
depois disso você nunca mais queira falar comigo, eu irei respeitar.
Mas, por favor, me escute uma última vez. Diga o dia, o local e o
horário e eu estarei lá.
Ela fica em silêncio por um tempo e respira fundo.
— No bar de sempre, próximo ao hospital, na sexta, às nove
da noite. — fala e desliga.
Ela está chateada, eu sei e não tiro sua razão, mas jogarei
todas as minhas cartas para fazê-la confiar que nunca mais a
deixarei sozinha.
Estou ansiosa e completamente louca para vê-lo.
Quanto mais o tempo passa, mais sinto meu coração se
partindo em pedacinhos ainda menores e mesmo que eu esteja
magoada com Andrew, eu voltaria hoje para ele. Mas claro que só
depois de fazê-lo implorar um pouquinho, afinal, ele merece.
Cheguei um pouco mais cedo, sai dos atendimentos no
hospital e não demorei muito para chegar. Pelo horário, o local está
calmo, com uma música ambiente e o cheiro de café exalando por
todo o lugar. Então peço uma xícara para mim, enquanto espero.
Ouço quando a porta abre e vejo quem está chegando.
Quando meus olhos focam naquele homem, sinto que não existe
nada mais ao redor.
Andrew se aproxima e vejo o quanto está nervoso, porque
passa as mãos na calça e tenta sorrir para mim.
— É tão bom te ver. — ele confessa.
— Como está, Andrew? — pergunto.
— Morrendo de saudade de você. — o olho séria.
— O que você quer conversar comigo?
— Você pediu um café em um bar? — ele olha para a minha
xícara sorrindo.
— Quando se vai tomar decisões importantes, a melhor
escolha é beber um café. Acalma a alma e não existe o perigo de
ninguém acabar na cama de ninguém. — dou de ombros.
— Como medo de acabar na minha cama, Hurricane? — o
sorrisinho no canto dos seus lábios aparece.
Ao mesmo tempo que quero socá-lo, me derreto inteira por
esse sorriso e com esses olhos devassos.
— Não preciso ter medo de ir para a sua cama, Andrew. Eu
provavelmente ainda iria, mas não por muito tempo. Você sabe
como é, quando vamos desgastando o sentimento, uma hora ele
acaba.
— Você acredita que conseguiria acabar com o que sente
por mim? — me olha com atenção. — Porque eu tenho certeza que
nunca esqueceria o que sinto por você.
— Eu também não esquecerei, mas isso não me impediria
de viver. — ele me olha triste. — Construímos muitas coisas durante
os dez anos separados, acho que não seria diferente agora.
— Mas que graça teria construir mais um império sem você?
— ele fala sério. — Porque eu sei que não teria a menor graça.
Olho para Andrew e vejo o meu futuro nele. Vejo uma vida
incrível juntos, cheio de possibilidades, sonhos sendo realizados e
coisas novas sendo construídas. Eu concordo com cada palavrinha
que ele disse, eu só preciso confiar que esse homem não irá
embora mais uma vez.
— O que você quer de mim, Andrew? — olho para ele
chateada.
— Quero que case comigo. — ele fala e meu queixo cai. —
Quero que seja a mulher da minha vida, a pessoa que estará ao
meu lado todos os dias, quem dividirá o dia a dia comigo, que
mandará mensagem me xingando por ter deixado alguma coisa
errada em casa, quero dividir a cama com você e Diana todos os
dias. Quero viver, sabendo que estou amando você e vivendo esse
sentimento. Quero que possamos ter um ao outro. Que olhe para
trás e ria de ter aceitado casar com um homem que é fascinado por
você na mesa de um bar em meio a uma conversa de pedido de
desculpas. Não precisamos casar agora, afinal, eu não tenho um
anel digno para colocar no seu dedo, mas se você me disser sim
agora, prometo que construiremos uma vida linda juntos.
— Você só pode estar delirando. — falo confusa.
Acabei de ser pedida em casamento? Eu nunca nem pensei
em casar e agora parece tão simples dizer sim para ele.
— Norah, eu perdi muito tempo com você. Perdi quando
éramos jovens e eu não conseguia assumir que te amava. Perdi dez
anos sem saber se você estava pelo menos viva. Agora me vi
perdendo mais uma vez por puro medo. Hurricane, quando te vi
naquele evento, eu sabia que nunca mais perderia você de vista.
Depois dessas semanas distantes, eu só tenho mais certeza ainda,
nenhuma vida será boa suficiente se eu não tiver você.
Ele alcança minha mão que está sobre a mesa e a segura.
As borboletas no meu estômago voam e olho para aquelas
esmeraldas que são capazes de decifrar a minha alma.
— Antes de qualquer coisa, precisamos conversar sobre
alguns pontos. — falo. — Fui visitar o Richard, não para tratá-lo
como inocente da história, mas porque as coisas passaram
completamente do limite. Isso nunca mais pode acontecer, Andrew.
Nunca mais isso vai acontecer ou sou eu que lhe garanto que nunca
mais vamos nos ver. Segundo, não vou aceitar que você fique indo
e vindo da minha vida, essa é a última vez que deixo você ter
acesso a mim. — garanto. — Terceiro, não gosto de compromissos
que não são cumpridos, se você me ama, faça com que eu sinta
isso todos os dias nos mínimos detalhes porque é isso que faz a
diferença. Eu não quero uma vida simples, Andrew. Não quero um
amor raso. Não quero e não vou esquecer meus sonhos. Se você
disser que entende isso e que estará ao meu lado, nós podemos
tentar e eu prometo que serei o mesmo para você, mas no primeiro
sinal de que essa promessa não está sendo cumprida, eu vou
embora.
— Eu só preciso saber de uma coisa. — me olha com
intensidade. — Você me ama?
— Talvez até mais do que eu deveria. — confesso e ele
sorri.
— Isso é o que preciso saber para lutar todos os dias por
nós. — sorri. — Eu amo você, Hurricane, meu coração é
completamente seu e eu prometo que não a perderei de novo.
Talvez seja isso que precisamos para viver, coragem.
Coragem de arriscar e tentar fazer o melhor por nós todos os dias,
de lutar pelas coisas que queremos, de viver a vida intensamente
com toda a sua magnitude.
Eu nasci para amar Andrew Crawford e ser amada por ele.
E essa é a nova promessa que faremos a partir de agora, nós não
nos perderemos um do outro.
E aqui, sentada nesse bar, olhando para o homem que faz
meu coração acelerar, entendo que o destino teria feito com que
nossos caminhos se esbarrassem quantas vezes fosse preciso,
porque é isso que acontece quando corações imperfeitos pertencem
um ao outro.
Meses depois...
— Vou pedir a Norah em casamento e você não estará aqui.
— digo mostrando minha roupa da noite para Jax na chamada de
vídeo.
— Você pede a Norah em casamento todo mês e ela não
aceita, não vai aceitar em um dia que eu e o bebê não estamos aí.
— ele fala.
— Eu acho que dessa vez ela vai aceitar. — falo confiante.
— Mas queria que vocês dois estivessem aqui para ver isso
acontecer.
— É a finalização da residência dela, vai com calma, talvez
no jantar realmente não seja o momento. Ela já avisou que quando
disser sim, vai ser para um casamento fantástico e em pouco tempo.
Se ela te escolheu como namorado, acho que não vai conseguir ser
tão fantástico assim, mas cada um com suas escolhas. — me
provoca e o mando a merda.
— Como ele está? — pergunto ao reparar os seus olhos
cansados.
— Dormindo, finalmente. — parece aliviado. — Tenho tido
uma rotina infernal, mas quando ele sorri banguelo para mim, é
como se dissesse: Oi, eu sou o amor da sua vida.
— Não vamos falar muito sobre isso, eu sou um tio muito
apegado e estou com saudades. — confesso e ele ri. — Você está
se saindo bem, Jax, acredite. Ele não poderia ter uma pessoa mais
especial na vida dele. Se existe alguém capaz de enfrentar tudo isso
com ele, é você.
— Estou tentando, Andy, com tudo de mim. — sinto o receio
em sua voz. — Nunca amei tanto algo na vida como aquele
serzinho.
Se existe alguém capaz de amar infinitamente, é o Jax. Ele
daria a vida por esse bebê.
Quando nos despedimos, termino de me ajeitar e guardo o
anel na carteira. Tenho andado com ele o tempo inteiro comigo
porque sempre pode surgir uma oportunidade de pedir a mulher da
minha vida em casamento. Sei que com a caixinha é mais bonito,
mas não consigo andar com ela o tempo inteiro no bolso sem que a
Norah perceba.
Confiro pela última vez minha imagem no reflexo e vou atrás
de Norah pelo apartamento. Ela está abaixada, conversando com
Diana e me escuta chegar. Vira a cabeça em minha direção e sorri,
mas quando ela levanta, estanco antes de chegar até ela.
— Puta que me pariu, você está divina. — olho para ela dos
pés à cabeça.
Ela está com um vestido rosê, de alças finas e com um
tecido elegante, com uma fenda até a sua coxa. Sandália alta,
cabelo em ondas e uma maquiagem que realça perfeitamente sua
beleza.
Norah é deslumbrante e hoje a noite está ainda mais
radiante.
— Você que está lindo, amor. — beijo rapidamente seus
lábios.
— Nada se compara a sua beleza, Hurricane. — sorrio e a
admiro mais um pouco.
Não sei o que fiz para merecer ela, mas que sortudo eu sou
por ter nascido destinado a alguém tão bonito por dentro e por fora.
— Pronta para a sua noite? — questiono, fazendo carinho
em seu rosto.
— Sim. — sorri animada.
Seguimos até o carro e logo Bily nos leva para o restaurante
do evento. Os outros residentes, os médicos do hospital e alguns
amigos irão comemorar conosco. Reservaram o andar de um
restaurante muito bonito, mas a noite de hoje é ainda mais especial
para Norah porque ela foi contratada como médica cirurgiã do
hospital e nós ficamos absurdamente felizes.
Ela abraça o almofadinha do Evan e o cumprimento
também. Norah me contou a história dele e que nunca teriam nada,
mas ainda assim não consigo simpatizar muito com ele. Muito
menos com aquele chefe de Norah, todos apenas esperando uma
oportunidade para tentar chamá-la para sair.
— Eu nunca tinha vindo a esse restaurante, é muito bonito.
— falo, sentando ao lado de Tom.
Victória e Ares fizeram uma viagem, por isso não estão aqui.
Assim como Scott, que tem escondido algo de nós, mas logo vou
descobrir.
Josy está entregando Zoe nos braços de Norah e as
borboletas no meu estômago despencam de um precipício, porque
isso me faz pensar sobre a possibilidade de termos bebês.
Pequenos, cheios de dobrinhas, com meus olhos e o rosto de
Norah.
Como vou convencê-la a ter um bebê se ela não está
aceitando nem o meu pedido de casamento?
— Norah que me apresentou, nós amávamos vir aqui na
época da faculdade. Vínhamos uma vez a cada três meses porque
não tínhamos dinheiro o suficiente. Ela com certeza vai te levar até
o terraço, ela adora e lá é lindo, aberto a todos os visitantes, mas
poucos sabem.
— Com certeza irei querer conhecer.
Começam a servir as bebidas e todos os convidados
chegam.
Josy me ajudou a comprar um presente para Norah.
Escolhemos um pijama hospitalar com o cargo novo bordado junto
ao seu nome, assim como um jaleco e um novo tênis. Entregarei-lhe
quando chegar em casa, para finalizarmos a noite com chave de
ouro.
Sempre escutei as pessoas falarem que você tem que
admirar quem escolheu para amar e hoje sinto exatamente isso.
Sou completamente orgulhoso de Norah. Amo ouvir suas histórias
depois do trabalho, poderia passar horas apenas conversando com
ela sobre as coisas que acontecem por lá. Tem dias que ela fica
exausta e faço massagem nos seus pés, outros que ela chora,
alguns que fica com raiva e, os meus favoritos, quando ela conta
sobre os casos mais inusitados que eu poderia imaginar.
Quando éramos jovens eu não a imaginava sendo médica,
mas agora eu sei que isso foi o que Norah nasceu para fazer e é
exatamente assim que ela se sente também, realizada.
Comemos, rimos, dançamos um pouco ao som da música
ambiente, recebemos uma ligação da minha mãe a parabenizando e
tenho certeza que meus olhos brilharam por vê-las tão próximas. A
amizade que elas construíram aquece meu coração.
A noite passou mais rápido do que pude perceber e vê-la
tão feliz, me deixa feliz também. Assim como Norah ficou quando
voltei a treinar oficialmente no time, como quando o Ice Angels
ganhou a temporada e nós estávamos na arquibancada gritando
com toda a nossa força de felicidade, como quando eu estou em
alguma capa nova e ela chega em casa comentando o quanto estou
gostoso nas fotos.
Dividir a vida com ela é fácil, nós nos completamos.
— Antes de irmos, quero te mostrar um lugar. — ela diz,
pegando minha mão e me levando pelo restaurante.
— Tom já me entregou que você me levaria para o terraço.
— confesso e ela ri.
— Vocês são tão chatos. — rimos. — Estragaram meu
momento romântico.
— Nós podemos ser mais românticos ainda na nossa cama
mais tarde, Angel. Sei que você está com uma calcinha minúscula
debaixo desse vestido. — ela me bate e a seguro pela cintura.
Depois de um beijo caloroso, subimos uma escadaria até
uma porta pequena. Norah a empurra e eu vejo as luzes piscando,
penduradas por todo o espaço, que tem o peso com um gramado
sintético, poltronas bonitas e espaço para as pessoas verem toda a
cidade. A vista é linda e é possível ouvir a música vindo do andar de
baixo.
Talvez Jax tivesse razão, o jantar não era o momento certo,
mas esse é o momento!
Pego a carteira do bolso enquanto Norah caminha mais a
frente falando sobre o lugar e seguro o anel que comprei para ela.
— Você tem razão, esse lugar é especial. — concordo com
ela e Norah sorri olhando para mim. — Posso te falar uma coisa?
— Me conte todos os seus segredos, Crawford. — me olha
com intensidade.
— Talvez não seja o dia certo para que eu diga às milhares
de coisas que estão se passando na minha cabeça, mas serei
breve, prometo. — sorrimos, porque eu sempre falo demais. —
Quero passar o resto da minha vida com você. Quero que sejamos
uma família. Que você sempre durma e acorde ao meu lado, sem ir
embora dessa vez. — brinco com o fato dela ter me deixado sozinho
da primeira vez que dormimos juntos e ela ri. — Que você sinta que
tem um lar nos meus braços. Quero continuar sendo o seu melhor
amigo, seu confidente e seu eterno amor. Desejo olhar em seus
olhos daqui a dez anos e ainda ver as chamas que estão neles
agora. Espero te provar que nunca mais precisará ser forte sozinha
porque eu estarei sempre aqui para segurar você.
Seguro sua mão e ela sorri para mim da forma mais bonita
de todas, com amor e carinho. Ajoelho diante dela e seguro o anel
em sua direção.
— Norah Emanuelly Clark, você aceita casar comigo? —
finalmente pergunto.
— Sim! — a paixão em seus olhos faz meu coração errar
algumas batidas. — Você sempre será o meu sim, Andy.
Levanto com a velocidade da luz e a abraço, rodando com
ela em meus braços. Norah gargalha e coloco seus pés no chão,
seguro seu rosto bonito e beijo seus lábios, selando assim o início o
nosso para sempre.
Anos depois...
Muita coisa aconteceu nesses anos, mas posso garantir que
o nosso amor não mudou. Andrew e eu crescemos juntos a cada
dia, meses e anos vividos com vitórias, derrotas, momentos
inesperados e a realização de todos os nossos planos.
Compramos uma casa e claro que Andrew não queria algo
pequeno, então temos quartos para todos os nossos amigos e
familiares ficarem quando nos visitam. Nova York ainda é o nosso
lar, então continuamos as rotinas de viagens, apenas nos tornamos
um número maior de pessoas.
Inclusive, hoje somos uma família de seis integrantes. Dois
cachorros, que chamamos de Pink e Cérebro. Diana, que é a mais
velha, manda em todos. Nós dois e Aurora, nossa filha.
Ela é a criança mais especial que já vi. Colocar meus olhos
nela foi como realizar um sonho que eu não sabia que tinha. Nós
não a planejamos e o início da gravidez foi complicada
emocionalmente e fisicamente, mas quando ela chutou pela primeira
vez, foi como se a minha ficha tivesse caído, aí tudo mudou.
Aurora é o grande amor da vida de Andrew, vê-la crescer
encanta o coração dele. Ela completou três anos recentemente e
eles passam horas conversando e brincando no quintal.
Choramos quando ela andou pela primeira vez, quando
falou sua primeira palavra, quando começou a comer e a cada
conquista nova que ela descobre no mundo.
Depois de termos crescido em famílias tão complicadas,
Andy e eu entendemos exatamente o que queremos que nossa filha
tenha e buscamos todos os dias ser o melhor para ela. Mesmo com
todo o nosso trabalho, com os meus plantões e as viagens de Andy,
Aurora tem a melhor vovó do mundo. Assim como tios e tias
babonas, quase irmãos maravilhosos e essas pessoas nunca
deixarão faltar amor. Ela nunca está sozinha.
Não quero mais filhos, Aurora é o centro da minha vida e
nasci para ser sua mãe. A minha coisa preferida é vê-la conhecendo
o mundo e isso já vale tudo. Agora, ainda vestida na roupa de
dormir, tomo meu café enquanto assisto ela correr com Pink pelo
gramado.
Sinto uma mão tocar minha cintura e me assusto, mas sei a
quem ela pertence.
— Pensei que dormiria até tarde, chegou de viagem na
madrugada. — falo, enquanto Andrew me abraça por trás.
— A gargalhada dela me acordou. — sinto o sorriso em sua
voz.
— Como nós fizemos um serzinho tão bonito? — comento e
ele beija meu pescoço.
— De uma forma muito gostosa. — rimos.
— Nós somos ótimos em fazer coisas gostosas. — brinco e
ele aperta minha bunda disfarçadamente.
Rio alto e isso chama a atenção de Aurora. Ela olha para
nós e solta um beijinho no ar, que retribuímos.
Minha doce, linda e transformadora Aurora.
Viro para conseguir olhá-lo e adoro como o tempo tem sido
generoso com ele. Quanto mais velho ele fica, mais irresistível se
torna. O sorriso bonito, o corpo dos deuses, a sedução, o jeito
engraçado, o coração ainda maior e as chamas, aquelas chamas
que mostram o quanto ele está feliz.
Nós não precisamos falar nada para entendermos o que
queremos dizer um ao outro, nosso corpo fala por si só.
Ele me olha com a mesma intensidade que o observo e
sorri.
— Amo você, Hurricane, para sempre. — seus olhos estão
com aquele brilho bonito.
— Amo você, Andy, com toda a força que há em mim!
Ele beija a ponta do meu nariz e depois meus lábios,
selando mais uma vez a nossa promessa imperfeita de nos
amarmos até o último dia do nosso felizes para sempre.
Não tem como escrever Andrew e Norah e não ficar feliz por
concluir o primeiro livro que escrevo completo em quase dois anos.
Depois de meses lançando apenas reescritas, eu não sabia o
quanto precisava me reconectar com a nova eu dentro da escrita.
Mesmo terminando esse livro um dia antes de lança-lo em
decorrência da rotina, não me sinto esgotada, porque mesmo em
meio a tudo que aconteceu, eu amei dar vida a essa história, mas
ela não estaria aqui se eu estivesse sozinha.
Quero agradecer a minha amiga e assessora, Krol Viana
(@cantinhodakrol) por ser minha parceira de todos os dias, por lutar
pelo meu sonho comigo, por não dormir para conseguir acompanhar
o ritmo louco da minha vida, por não pensar suas vezes antes de
perguntar se eu preciso de algo. Que a nossa parceria possa se
tornar ainda mais, que o nosso carinho e respeito uma pela outra
sempre prevaleça. Sem você, tudo isso não daria tão certo. Amo
você!
Agradeço a minha dupla nesse projeto, a autora Catiele
Oliveira (@autoracatiele), a pessoas que cuidou de muitos
bastidores para que eu conseguisse finalizar o livro. Por aceitar
entrar nessa comigo, por dar vida aos Imperfeitos e por todo o apoio
e compreensão.
Para Eryka Saboia, minha companheira de todas as horas,
agradeço por estar comigo em todos os momentos. Por ser meu
suporte, minha clareza, meu apoio e uma das pessoas mais
importantes da minha vida. Seu nome sempre estará aqui, porque
você sempre será a pessoa que cuidou do meu sonho comigo. Te
amo imensamente!
Para finalizar, agradeço de todo o coração a Juliana Lelis,
minha leitora, amiga e parceira na psicologia. Ju, você é o
significado de carinho e amor. Obrigada por sempre me abraçar, por
estar ao meu lado, pela sua sinceridade e companheirismo.
Obrigada por clarear minha mente e fazer parte da construção de
Andrew e Norah. Deste modo, agradeço imensamente a todas as
minhas leitoras, que fazem todos os meus sonhos se realizarem,
vocês são o grande amor da minha vida!
OUTRAS OBRAS
Acesse todas as minhas obras clicando aqui e conheça mais muitas
histórias de amor com muita risada, drama e casais inesquecíveis.
CONTATOS
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[1]
Personagem do livro Atração Imperfeita da autora Catiele Oliveira, livro 1 da série
Imperfeitos.
[2]
Significa furacão.
[3]
Cidade no Colorado onde a personagem nasceu.
[4]
Jedi são cavaleiros que possuem um poder especial para controlar a Força no universo
de Star Wars.
[5]
Música do cantor Neil Diamond;
[6]
Personagem do livro Atração Imperfeita da autora Catiele Oliveira, livro 1 da série
Imperfeitos.
[7]
Referência as Irmãs Wilson do filme As Branquelas.
[8]
Esbarrão que no hóquei, pode tirar o jogador que o comete a infração do jogo.
[9]
A National Hockey League (NHL) é uma organização de hockey no gelo da América do
Norte.
[10]
É uma arena coberta multiuso na cidade de Nova York
[11]
Musica da banda The Weekend feat Ariana Grande.
[12]
A Maserati é uma tradicional fabricante de automóveis italiana fundada em Bolonha.
[13]
A Carlo's Bakery é uma rede de confeitaria americana da família Valastro, de origem
italiana, com mais de 100 anos de existência.
[14]
No hóquei no gelo, uma jogada está impedida se um jogador do time atacante entrar na
zona ofensiva antes do próprio disco e, em seguida, receber a posse do disco da zona
neutra. Simplificando, o disco não deve entrar na zona de ataque depois de atacar os
jogadores.
[15]
A mais linda de todas as mulheres.
[16]
Reese's Peanut Butter Cups são um doce americano que consiste em um copo de
chocolate cheio de manteiga de amendoim, comercializado pela The Hershey Company.
Eles foram criados em 15 de novembro de 1928, por H. B. Reese.
[17]
Como é chamada a pista de patinação onde acontecem os jogos.
[18]
Série de comédia lançada em 2005.