ESPETÁCULO DE
DANÇA E TEATRO
DISCO CELEBRATE
Esquetes teatrais para apresentação no Teatro Municipal
SEQUÊNCIA DE APRESENTAÇÃO
NADA A ESCONDER – Fúlvia
BRINCANDO DE CASINHA – Thiago e Helen
TIA SOLTEIRONA – Kateline, Helen e Stefania
ARQUITETA – Mírian, Sônia e Thiago
SÓ DE SACANAGEM – Luck
MÃE E FILHA – Helen e Mírian
DIREÇÃO
Rodrigo Prestes
NADA A ESCONDER
Música Brasil
MARIA ADELAIDE
“Maria Adelaide Sampaio do Amaral, eu sei de TODOS os teus segredos e
todos irão saber quem tu és de verdade”.
Segredos? Ridículo! Sou uma mulher de conduta ilibada, moral irretocável,
mãe e esposa, membro da alta sociedade, acima de qualquer suspeita! O
que eu poderia ter pra esconder?!
Bem, talvez o anônimo esteja se referindo àquela questãozinha do
DETRAN, da renovação da carteira. Precisei dar um “agrado” para passar
no exame de visão, mas qual é o problema? Era só renovação da CNH,
não estava comprando a carteira. E o pessoal foi bem legal. Custa ajudar
quem te ajuda? Ai, vai falar disso? Vai falar que é corrupção? DETRAN nem
é mais público. Ah, vai dizer, então, que é suborno? Me poupe! Agora não
se pode mais ajudar ninguém?!
Bom, se não é a questão do DETRAN, seria o relacionamento com o Pablo?
Vocês entendem, né? Sou uma esposa fiel, dedicada, casei na igreja, véu,
grinalda, tudo certinho. Só não digo que casei virgem porque aí seria
exagero. Jorge Miguel estava em Londres, eu, sozinha na Espanha. Fui pra
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Ibiza, apareceu Pablo, espanhol, morenaço, lindo; não pude evitar. Agora,
isso apaga minha fidelidade como esposa? Logo eu, que sempre me
dediquei ao meu marido, a minha família, que cumpro todas as minhas
obrigações conjugais. Um deslize qualquer e já querem atirar na tua cara,
como seu fosse uma devassa! Por favor!
Bem, se não é a renovação da CNH, se não foi o casinho com o Pablo,
seria a campanha de solidariedade para as enchentes de 83? Vejam bem,
eu organizei uma mega campanha de arrecadação, cheguei a ceder a sala
daminha casa para reuniões entre as senhoras de bem que queriam
ajudar, servi até canapés. Não acham justo que eu “separasse” uma parte
do valor arrecadado para mim? Tipo uma remuneração por ter organizado
tudo. E foi muito pouquinho, R$ 30 mil reais, uma ninharia! Vocês não
acham justo que a pessoa que organiza tenha direito a pagamento? Isso
é crime, por acaso?! Também separei um suéter de cashmere, porque
pobre que mora na beira da Lagoa dos Patos não vai usar cashmere.
Luizinha Guimarães, “sem noção”, doou o suéter. Fiquei com ele, por uma
questão de consciência social, não iria humilhar ninguém com esta
doação. Usei em Bariloche. Agora vão querer me “denunciar” só porque
tenho consciência social?!
Bom, não sendo a questão da CNH, o Pablo, as doações da enchente, esse
engraçadinho deve estar me ameaçando por causa da Jaqueline. Jaqueline
é minha filha! Fui até a Bahia e paguei por Jaqueline. Então, Jaqueline é
milha filha sim! Registrei, inclusive! Disse que nasceu em casa e registrei.
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Agora vão dizer o quê? Que roubei Jaqueline?! Que falsifiquei o registro
de nascimento?! Que não é minha filha?! Francamente! Imagina se eu iria
entrar numa fila de adoção. Sei lá que tramoia este Juizado da Infância faz,
porque Brasil é Brasil, vocês sabem como é... Eu não! Fui lá e “busquei”
Jaqueline, minha filha, legalmente falando, tá registrada.
Ah, quer saber? Não podem falar nada contra mim, porque não cometi
crime nenhum, nunca fiz nada de errado, sou suuuuuper transparente,
uma pessoa idônea. Em vez de me ameaçar, esta criatura deveria se
preocupar com o governo, que tá aí roubando de todo mundo, com a
corrupção, com este cadastro de adoção, que ninguém sabe como
funciona. Ah, POR FAVOR!
Brasil Refrão
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BRINCANDO DE CASINHA
Música Infantil
MENINA
(Entra e grita para a coxia)
Manhê. Vou ficá aqui bincando de casinha.
(Senta-se, arruma a bonequinha e inicia um diálogo onde ela é a mãe e a
boneca é a filha)
BONECA
Mamãe, eu vou bincar! (cantarola e brinca)
MENINA
Você não me chugi echa loupa, Mariana Jaqueline. Não me chugi echa
loupa que eu não sou sua empegada.
BONECA
Mamãe! Fala pro papai compá uma bonequinha nova pra mim.
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MENINA
Tenha dó de mim, Mariana Jaqueline. Tudo o que vê que compá, que
compá, que compá. Parece que não conhece teu pai. Ai ele vai dizer: "Só
casei por que você disse ofieteu, ofieteu. Nem gosto de você... achu qui
você ta minrolandu". Tem dó, né, Mariana Jaqueline. Si eu pedí isso pra
ele eu to lascala, to lascala, viu Mariana Jaqueline?
BONECA
(Começa a cantarolar e a pular toda feliz)
MENINA
Não me pisa na lhama, Mariana Jaqueline! O "inguisso" que é essa menina.
(Chacoalha a boneca e ela cai). Aí. Eu falei, eu falei! Mas não: tem que
teimar. Sua poica! Menina poica! (bate na boneca). Parece que não é minha
filha... você foi achada no lixo, Mariana Jaqueline, no Lixo!! Bem qui teu
pai disse qui era melhó tiá... Deixa teu pai te ve assim. Vai dize que eu nun
cuido de você; que eu só fico em casa bebendo cereja e vendo tevelisão.
Aí eu to lascala, Mariana Jaquile, lascala.
BONECA
(Canta) "Brilha, brilha estrelinha, pena que tu não és minha"
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MENINA
(Acerta um tapão na boneca). Cala essa boca, Mariana Jaqueline. Se o teu
pai acordá eu te maceto inteirinha. Te bato até não ficar um osso inteio,
minina. Ai, meu deus, viu? Onde é que eu tava cá cabeça quando fui tê
essa minina.... eu pedi pra ele usar caziminha, mas não: não tinha
caziminha.
BONECA
Mamãe. Posso brincar com fósfo?
MENINA
Qualquer coisa, paga do inféno. Mas sossega o facho, um pouco.
BONECA
E com isso aqui?
MENINA
Isso! Isso é alcu, moleca. Solta isso, que se o teu pai te pegá com isso na
mão.... eu que to lascala, daí eu te esfóio. (boneca “joga álcool" nela)
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Mariana Jaqueline! Olha o que você fez na minha loupa. Esse alcu mancha!
O que isso? Apaga esse fósfo! Mariana Jaqueline. (Grita "pegando fogo")
MÃE DE VERDADE (da coxia)
Mariana Jaqueline. O que é que você ta fazendo, menina do cão?
MENINA
Bincando de mamãe e filhinha.
MÃE
Você pegou o álcool daqui? Traz já pra cá, antes que o teu pai te veja com
isso, se não eu te arrebento, menina.
MENINA
(Olha para a plateia. Mostra o álcool, mostra o fósforo e sorri)
Já tô levando mamãezinha.
(Sai saltitando)
Manhê.. cê tá com frio?
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TIA SOLTEIRONA
Tudo passará
O que? A sua mãe mandou vocês virem perguntar isso pra mim?
(pensativa e indignada) Que absurdo! (Se recompõe, mas mantém a
indignação).
Pois fiquem sabendo, meninas, que quando eu tinha a idade de vocês eu
ainda brincava com bonecas... (didática) com bo... ne... cas. Mas não essas
bonecas de hoje em dia: essas bonecas obscenas, maquiadas, que vão
galinhar em shopping center, com namorado, carro esporte, mini saia e
tinder, não; (vai perdendo o controle) que saem de casa segurando a bolsa
e terminam a noite sem calcinha, segurando os calcanhares. Não! (se
recompõe) Eu me refiro à "boa e velha boneca de porcelana"... Que ficava
lá; linda, intocável, sentadinha na estante, perfeita e impenetrável.
Pois bem, mas vamos lá. (Pensa) Como eu posso explicar isso pra vocês?
(Vai ficando mais tensa) Tá, muito bem. Vamos lá. (Como que arregaça as
mangas, se preparando para uma luta).
Tá bom. Vamos lá. Sabem o bebezinho da dona Joana, não sabem? Já o
viram peladinho, não viram? Pois bem (agressiva e alarmante) Não
pensem vocês que "AQUILO" vai ficar bonitinho e pequenininho daquele
jeito… NÃOOOOO. (bem pausada e articuladamente, batendo com algum
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objeto na mesa) Vai ficar grande, longo, grosso, horrível, nojento e
perigoso.
(Ágil) Não pensem vocês que "AQUILO" vai servir só pra fazer xixi,
NÃOOOOOOO. (bem pausada e articulada, batendo com um objeto na
mesa) Vai arruinar as vidas das pessoas, vai desgraçar a humanidade,
desrespeitar o sagrado e profanar o santíssimo (termina em êxtase), ui!
Pois bem. (com pensamentos maliciosos) Pra que vai servir e como vão
usar? (Tensa caminhando para um orgasmo, mas crescendo para um
ataque histérico e alucinado) Não falo, não nego, não pego, não largo, não
deixo, não solto, não quero, NÃO QUERO... EU QUERO... NÃO QUERO...
ME DEIXA. ME APERTA... ME SOLTA. (rapidamente) Me solta, me aperta,
me solta, me aperta, me solta, me aperta, ME AGARRA. NÃO ME DEIXA...
ME DEIXA DIABO, VOLTA PRA TUA ESPOSA!!!!! (se recompõe lentamente;
agora delicada como uma fada) Pois bem... Imaginem uma liiiinda e
delicada flor… Como essa aqui. (pega a flor de um vaso) Agora... Vejam
isso aqui. (pega uma berinjela e começa a bater na flor, louca e
alucinadamente)
Blackout
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ARQUITETA
Abertura Entrevista
Apresentadora anuncia a entrevistada
Acho que as igrejas deveriam ser construídas em forma de conchas (faz a
concha com as mãos), pois são a vagina, a sedução, a capa, a farsa, a boca,
nunca o estômago, certíssimo? Acho que o obelisco deveria ser o modelo
arquitetônico para os órgãos estatais, pois é força, é a invasão, é a ereção
do falo vibrante, que jorra o seu vigor sobre a nação, queira ela ou não
queira, certíssimo?
A cidade é a "polis", cheia de vias, por onde circula o sangue que, por
essas vias, bomba a energia, a dialética cosmopolita compreendida pela
hermenêutica e pelas prostitutas que cresce, cresce, cresce e "shan" (ri
muito) explode de prazer, certíssimo?
É místico, é transcendental, é simbólico, é anti-higiênico, é a força do
desejo psíquico, é a favela que desce dos morros pra nos pulverizar de
samba e sêmen. Pra gozar das nossas caras plastificadas de figurativismos
televisionários. É contraditório e contraventor e, ao mesmo tempo, é a lata
da massa de tomate amassada, mas com sabor, não reorganizado no
saber de uma margarina que, no campo da lubrificação, nada mais é do
que um sebo, certíssimo?
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É como o fenômeno aquático do caramujo da esquistossomose, que sai
das entranhas do esgoto masculinizado e mal-cuidado, navega, navega,
navega até a mocinha descuidada e PAU! (ri muito) Causa a barriga
d'água... deu pra entender?
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SÓ DE SACANAGEM
Que Pais É Este – Abertura
Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar... Plim
Plim Malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso
dinheiro que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres
que nós, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse
dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à
prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não
é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples
de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não
roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu,
minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que
escutar. Urna eletrônica
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Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre
a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só
ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel
fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: Descarga Mais
honesto ainda vou ficar. Só de sacanagem!
Dirão: "Deixa de ser bobo, desde Cabral que aqui todo mundo rouba" e
vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra
vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem
a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente
consegue ser livre, ético e o escambau."
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem
que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? Imortal! Que Pais É Este - Abertura novamente
Sei que não dá para mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar para
mudar o final!
Que Pais É Este - Final
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MÃE E FILHA
Música Estrelas
MÃE
(Está em casa arrumando flores num vaso. Fala para a plateia)
Gina, é o nome da minha filha. Eu a chamo de Gigi.... Quer dizer... Chamava.
Agora ela mora longe e quando a gente se fala, a gente briga... Daí ...
FILHA
(Está lendo. Para de ler e fala para a plateia)
Ela não entende que eu amo o Roberto. Ela é a minha “mãezona”.... Eu ia
ficar tão contente se ela aceitasse o meu casamento.
MÃE
Ela não me liga de birra, eu sei... Mas apesar de eu também não ligar pra
ela, eu sei que eu é que sou mais madura e que deveria ligar pra ela.
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FILHA
Ela é tão gente fina... Sabe aquele tipo de mãe, que se você nunca tivesse
visto e conhecesse na rua, você diria: queria uma mãe que nem essa aí?
MÃE
Ela é o meu orgulho.
FILHA
Ela é o meu orgulho.
(pegam o telefone ao mesmo tempo)
FILHA
Mãe, eu morro de vergonha de você!
MÃE
Lembra da educação que eu te dei? Cadê ela? Você é que me envergonha.
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FILHA
Eu não preciso da sua aprovação pra nada. Então para de se meter na
minha vida!
MÃE
Você é uma filha muito ingrata, Gina! Nunca me liga e quando liga...
(pensa. Fala para si) Você é minha filha ...
FILHA
(para a plateia) Ela sempre me chamou de Gigi.
(ao telefone) E antes não fosse sua filha!
MÃE
(para a plateia) Ela costumava dizer que se eu não fosse mãe dela, ela
desejaria ter uma mãe como eu. (controla pra não chorar) Como isso dói.
(ao telefone) É verdade! Antes não fosse, mesmo!
(batem o telefone)
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MÃE
Ela costumava se deitar no meu colo, depois de grande, já. Só cabia a
cabeça dela aqui... Ela dizia:
FILHA
"Mamãe, eu sou um passarinho e você é o meu ninho…
MÃE
...cuida de mim"
FILHA
Cadê meu ninho, mamãe?
MÃE
Cadê meu passarinho, Gigi?
Final estrelas
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Pela marca que nos deixa a ausência de som
Que emana das estrelas
Pela falta que nos faz
A nossa própria luz a nos orientar
Doido corpo que se move
É a solidão nos bares que a gente frequenta
Pela mágica de um dia
Que independeria da gente pensar
Não me fale do seu medo
Eu conheço inteira a sua fantasia
E é como se fosse pouca
E a tua alegria não fosse bastar
Quando eu não estiver por perto
Canta aquela música que a gente ria
É tudo o que eu cantaria
Quando eu for embora, você cantará
Correm e se abraçam no centro do palco.
Blackout
Brasil Refrão
AGRADECIMENTOS
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