0% acharam este documento útil (0 voto)
13 visualizações36 páginas

Vida (In) Comum: As Alegrias e Angústias Da Família Pastoral

A edição da revista Ministério de maio-junho de 2018 aborda as alegrias e angústias da família pastoral, destacando a importância de reconhecer e enfrentar os desafios enfrentados por casais pastorais. O editorial de Wellington Barbosa enfatiza a necessidade de proatividade na cura das enfermidades familiares e a busca por ajuda profissional, além de ressaltar que a presença de Cristo é essencial para a felicidade no lar. A revista também apresenta seções sobre crescimento espiritual, necessidades do ministro e artigos sobre relacionamentos e liderança no ministério.

Enviado por

Davi Boechat
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
0% acharam este documento útil (0 voto)
13 visualizações36 páginas

Vida (In) Comum: As Alegrias e Angústias Da Família Pastoral

A edição da revista Ministério de maio-junho de 2018 aborda as alegrias e angústias da família pastoral, destacando a importância de reconhecer e enfrentar os desafios enfrentados por casais pastorais. O editorial de Wellington Barbosa enfatiza a necessidade de proatividade na cura das enfermidades familiares e a busca por ajuda profissional, além de ressaltar que a presença de Cristo é essencial para a felicidade no lar. A revista também apresenta seções sobre crescimento espiritual, necessidades do ministro e artigos sobre relacionamentos e liderança no ministério.

Enviado por

Davi Boechat
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
Formatos disponíveis
Baixe no formato PDF, TXT ou leia on-line no Scribd
Você está na página 1/ 36

MAI-JUN 2018

Uma revista para pastores e líderes de igreja


Exemplar avulso: R$ 15,50

Vida
(in)comum
As alegrias e angústias
da família pastoral
MKT CPB/William Moraes
OLHA A SURPRESA QUE
A CPB PREPAROU PARA VOCÊ NO
DIA DOS NAMORADOS!

*Promoção válida do dia 21 de maio a 12 de junho de 2018.

Acesse o endereço abaixo e divirta-se

suametade.cpb.com.br

Compartilhe com quem você ama

/casapublicadora

*Na compra de dois livros combinados, ganhe outro de brinde.


EDITORIAL Wellington Barbosa

De carne e osso
“N
ós estávamos em um inferno conjugal.” “não é contra seres humanos, mas contra os poderes e
Esse é o título de um artigo assinado por autoridades, contra os dominadores deste mundo de
Kay Warren publicado nos Estados Unidos trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões
na conceituada revista Christianity Today, em meados celestiais” (Ef 6:12, NVI). Portanto, negligenciar o aspec-
de 2017. Diante das muitas notícias de divórcios ou pro- to espiritual da dinâmica familiar é permitir que Sata-
blemas familiares entre pessoas famosas, talvez esse tí- nás tenha liberdade para instalar em nossa casa suas
tulo não chamasse tanta atenção na mídia, se não fosse minas de rancor, ódio, desentendimento e frustração.


pelo fato de a autora ser esposa de Rick Warren, pastor Além disso, precisamos avaliar continuamente quais
conhecido internacionalmente por seu trabalho à fren- são as principais virtudes e vulnerabilidades de nossa
te da Igreja Saddleback, na Califórnia. família. Para isso, é necessário nos desfazer das más-
Kay narra de modo sincero suas lutas pessoais. Fi- caras que muitas vezes utilizamos a fim de aparentar a
lha de um casal pastoral, ela foi assediada quando tinha família perfeita e, com sinceridade, fazer o diagnóstico
entre quatro e cinco anos pelo filho de um zelador da de nossa convivência familiar. Manter em perspectiva
igreja. Na adolescência, teve contato com a pornogra- quem somos, o que temos feito bem e o que precisa-
fia enquanto trabalhava como babá dos filhos de um vi- Diante das mos mudar fornece informações cruciais para que pos-
zinho. Essas feridas profundas acompanharam a jovem pressões de samos trabalhar intencionalmente na edificação de um
que, aos 19 anos, aceitou se casar com Rick, na época, uma sociedade lar fundamentado nos princípios da Palavra de Deus.
um estudante da Faculdade Batista da Califórnia. cada vez mais Às vezes os resultados dessa avaliação são preocupan-
Logo após a lua-de-mel, o casal se viu envolto em distante do tes, e percebemos que não temos condições de superar
uma série de problemas relacionados à comunicação, ideal divino sozinhos, como família, alguns de nossos desafios. Por
sexualidade, às finanças e aos filhos. Resumindo a si- para a família, muito tempo houve certo receio em se procurar ajuda
tuação, Kay afirma: “A compreensão comum daqueles é necessário externa para resolver os problemas da família pasto-
dias era que se você amasse Jesus o suficiente, seu ca- que sejamos ral. Atualmente, com a maior disponibilidade de psicó-
samento seria feliz. O que nos confundia era que amá- proativos na logos e terapeutas cristãos, esse quadro tem mudado.
vamos Jesus de todo o coração e nos comprometíamos prevenção e E isso é bom, pois a ajuda desses profissionais capa-
com a igreja local. Como as coisas podiam ser tão ruins?” na cura das citados tem sido efetiva em muitos casos complexos
A trajetória de restauração e cura começou quando enfermidades do lar ministerial.
o casal Warren percebeu que Deus poderia usar as lu- que ameaçam Por fim, jamais devemos nos esquecer de que o
tas do casamento para que eles se aproximassem do a integridade Senhor está ao nosso lado e tem grande interesse em
Senhor e um do outro. Assim, apesar dos desafios, Rick de nosso lar.” nossa felicidade familiar. Ellen White afirmou: “Unica-
e Kay permaneceram juntos, e celebrarão neste ano 43 mente a presença de Cristo pode tornar homens e mu-
anos de matrimônio. lheres felizes. Todas as águas comuns da vida Cristo pode
Infelizmente, nem todos os relatos de dificuldades no transformar em vinho do Céu. O lar se torna então um
contexto da família ministerial terminam bem. Casais pas- Éden de bem-aventurança; a família, um belo símbo-
torais divorciados, filhos rebeldes e relacionamentos su- lo da família no Céu” (O Lar Adventista, p. 28). Que nos-
perficiais parecem se tornar mais comuns, e a comunidade sa casa seja um pedaço do paraíso na Terra, refletindo
de fé lamenta e sofre quando acompanha os problemas a atmosfera celestial e dando mostras de que estamos
familiares do pastor e de seus entes queridos. caminhando rumo ao definitivo Lar!
Diante das pressões de uma sociedade cada vez mais
distante do ideal divino para a família, é necessário que Wellington Barbosa,
sejamos proativos na prevenção e na cura das enfer- doutorando em Ministério,
é editor da revista Ministério
William de Moraes

midades que ameaçam a integridade de nosso lar. Isso


demanda, em primeiro lugar, reconhecer que somos
alvos prioritários das iniciativas do inimigo. Nossa luta

MAI-JUN • 2018 | 3
Contribua para a
• Liturgia e temas relacionados, como mú-
A revista Ministério é um periódico internacional editado e publi- sica, liderança do culto e planejamento.
cado bimestralmente pela Casa Publicadora Brasileira, sob supervisão • A ssuntos atuais relevantes para a igreja.
da Associação Ministerial da Divisão Sul-Americana da Igreja Adventis-
ta do Sétimo Dia. A publicação é dirigida a pastores e líderes cristãos. Tamanho
• Seções de uma página: até 4 mil caracteres com
Orientações aos escritores espaço.
Procuramos contribuições que representem a diversidade mi- • Artigos de duas páginas: até 7,5 mil caracteres com espaço.
nisterial da América do Sul. Diante da variedade de nosso público, • Artigos de três páginas: até 11,5 mil caracteres com espaço.
utilize palavras, ilustrações e conceitos que possam ser com- • Artigos solicitados pela revista poderão ter mais páginas, de
preendidos de maneira ampla. acordo com a orientação dos editores.
A Ministério é uma revista peer-review. Isso significa que os
manuscritos, além de serem avaliados pelos editores, poderão ser en- Estilo e apresentação
caminhados a outros especialistas sobre o tema que seu artigo aborda. • Certifique-se de que seu artigo se concentra no assunto. Escreva de
maneira que o texto possa ser facilmente lido e entendido, à medi-
Áreas de interesse da que avança para a conclusão.
• Crescimento espiritual do ministro. • Identifique a versão da Bíblia que você usa e inclua essa informação
• Necessidades pessoais do ministro. no texto. De forma geral, recomendamos a versão Almeida Revista
• Ministério em equipe (pastor-esposa) e relacionamentos. e Atualizada, 2ª edição.
• Necessidades da família pastoral. • Ao fazer citações bibliográficas, insira notas de fim de texto (não notas
• Habilidades e necessidades pastorais, como administração do tem- de rodapé) com referência completa. Use algarismos arábicos (1, 2, 3).
po, pregação, evangelismo, crescimento de igreja, treinamento de • Utilize a fonte Arial, tamanho 12, espaço 1,5, justificado.
voluntários, aconselhamento, resolução de conflitos, educação • Informe no cabeçalho: Área do conhecimento teológico (Teologia,
contínua, administração da igreja, cuidado dos membros e assun- Ética, Exegese, etc.), título do artigo, nome completo, graduação e
tos relacionados. atividade atual.
• Estudos teológicos que exploram temas sob uma perspectiva bí- • Envie seu texto para: [email protected]. Não se esqueça de man-
blica, histórica ou sistemática. dar uma foto de perfil em alta resolução para identificação na matéria.
SUMÁRIO

10 Casais pastorais
 illie e Elaine Oliver
W
Fatores que devem ser considerados na promoção
de um relacionamento conjugal saudável

14 Sob a armadura
 irian Montanari Grüdtner
M
O que o pastor deve saber (e fazer) para ajudar
10
sua esposa a superar os desafios do ministério
3 Editorial

18
6 Entrelinhas
A árvore e os frutos
 ayse Bezerra
D 7 Entrevista
O testemunho de uma filha de pastor sobre
a influência do ministério do pai em sua vida 21 Panorama
31 Pastor com paixão

22 Duplo selamento 32 Dia a dia


Jiří Moskala 34 Recursos
Conheça a diferença e a relação entre o
selo do evangelho e o selo apocalíptico 35 Palavra final
14

25 Do Decálogo à Tradição
 iego Bispo e Lucas Higor
D
Os principais argumentos da encíclica papal
Dies Domini avaliados à luz da revelação bíblica

28 Líderes da nova geração


Wagner Aragão
Dicas para ajudar novos pastores a desenvolver
um ministério bem-sucedido
28

Conselho Editorial Carlos Hein; Lucas Alves; Adolfo Suarez, SERVIÇO DE ATENDIMENTO AO CLIENTE
Marcos Blanco; Walter Steger; Pavel Goia;
Uma publicação da Igreja Adventista do Sétimo Dia Jeffrey Brown Ligue Grátis: 0800 979 06 06
Ano 90 – Número 537 – Mai/Jun 2018 Segunda a quinta, das 8h às 20h
Colaboradores A
 lberto Peña; André Dantas; Arildo Souza; Sexta, das 7h30 às 15h45
Periódico Bimestral – ISSN 2236-7071 Cornelio Chinchay; Edilson Valiante; Efrain Domingo, das 8h30 às 14h
Choque; Geraldo M. Tostes; Henry Mainhard; Site: www.cpb.com.br
Editor Wellington Barbosa Ivan Samojluk; Jadson Rocha; Luis Velásquez; E-mail: [email protected]
Editor Associado Márcio Nastrini Raildes Nascimento; Rubén Montero; Sidnei
Revisoras Josiéli Nóbrega; Rose Santos Mendes; Tito Valenzuela Assinatura: R$ 75,40
Exemplar Avulso: R$ 15,50
Projeto Gráfico Levi Gruber CASA PUBLICADORA BRASILEIRA
Capa Montagem sobre fotos de William de Moraes Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia
Rodovia SP 127 – km 106 Todos os direitos reservados. Proibida
Ministério na Internet Caixa Postal 34 – 18270-970 – Tatuí, SP a reprodução total ou parcial, por
www.revistaministerio.com.br qualquer meio, sem prévia autorização
www.facebook.com/revistaministerio Diretor-Geral José Carlos de Lima escrita do autor e da Editora.
Twitter: @MinisterioBRA Diretor Financeiro Uilson Garcia
Redação: [email protected] Redator-Chefe Marcos De Benedicto Tiragem: 6 mil
Chefe de Arte Marcelo de Souza 5935 / 37849

MAI-JUN • 2018 | 5
ENTRELINHAS Lucas Alves

Renovação

E
m diferentes lugares do mundo, as pessoas fa- o coração [...] e manter então sempre diante de si o Mo-
zem promessas com o desejo de alcançar os mais delo, Jesus Cristo, como exemplo” (Ellen White, Funda-
diversos objetivos. Geralmente, essas promes- mentos da Educação Cristã, p. 107).
sas vão desde conseguir perder peso até dedicar mais
tempo à família ou controlar as finanças, por exemplo. Reavaliar o relacionamento com os outros.
Bibianna Teodori, especialista em comportamento, diz “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fra-
que “para alcançar os objetivos, o primeiro passo é de- ternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (v. 10),


finir poucas resoluções para manter o foco”. Pensando porque “ninguém vive para si mesmo” (Rm 14:7). Segundo
nisso, como líderes espirituais, quais deveriam ser nos- o apóstolo, esse relacionamento se dá com base no
sas principais resoluções a cada dia? amor. No amor fraternal se encontra a expressão mais
Permita-me listar três objetivos que podem fazer a intensa do nosso cristianismo. Cristo afirmou que Ele
diferença em nosso crescimento pessoal e ministerial. Se tornaria conhecido em todo o mundo pelo amor que
Como líderes, nosso foco principal deve ser as pessoas. temos entre nós. O Senhor disse: “Com isso todos sa-
Mas, para servir bem é preciso estar em paz com Deus e berão que vocês são Meus discípulos, se vocês se ama-
ter uma visão equilibrada de nós mesmos. Em Romanos Pregar, liderar, rem uns aos outros” (Jo 13:35, NVI).
12, Paulo falou sobre isso de maneira pontual: planejar e Amar é cuidar, é pastorear, é estar ao lado daque-
executar les que precisam de nós ao longo da caminhada rumo
Renovar o relacionamento com Deus. “E não se são todas ao Céu. Pregar, liderar, planejar e executar são todas
amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem- atribuições atribuições necessárias, mas se há algo que precisa
se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes necessárias, ser a marca de um líder cristão é o amor (1Co 13). Nos-
de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita mas se há algo sos relacionamentos uns com os outros revelam muito
vontade de Deus” (v. 2, NVI). A renovação do relaciona- que precisa ser do nosso cristianismo. “Cumpre-nos amar e respeitar
mento com Deus depende do nosso inconformismo com a marca de um uns aos outros, não obstante as faltas e imperfeições
o mundo e de uma entrega completa a Cristo de tudo o líder cristão que não podemos deixar de notar neles” (Ellen White,
que somos. Para que essa renovação possa acontecer, “é é o amor.” Mente, Caráter e Personalidade, v. 2, p. 635, 636).
necessário que nos rendamos inteiramente a Ele” (Ellen Cristo é a razão e a mais pura motivação do ministé-
White, Caminho a Cristo, p. 43). Entregar tudo, todo dia, rio que recebemos de Suas próprias mãos. É por meio
aos cuidados de Deus, sem temores ou reservas. Dele que servimos melhor o rebanho que nos confiou.
Por isso, contemplemos nosso Ajudador, Jesus Cristo.
Rever a relação consigo mesmo. “Porque, pela gra- Demos-Lhe as boas-vindas e convidemos Sua graciosa
ça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não presença. Nossa mente pode renovar-se dia a dia (Ellen
pense de si mesmo além do que convém; antes, pen- White, Mente, Caráter e Personalidade, v. 1, p. 68).
se com moderação, segundo a medida da fé que Deus
repartiu a cada um” (v. 3). A visão que o líder tem de si Lucas Alves, mestre em Liderança, é
mesmo afeta de forma direta a maneira como ele diri- secretário ministerial associado para a
Igreja Adventista na América do Sul
ge e influencia as pessoas ao seu redor. Por isso, um au-
Divulgação DSA

toexame nos proporciona mais condições de reconhecer


nossas deficiências e necessidades. É preciso “examinar

6 | MAI-JUN • 2018
ENTREVISTA CLAUDIA BRUSCAGIN

Sem
máscaras
“Precisamos encarar a realidade de que
todas as famílias têm problemas. O que
muda é a sua maneira de lidar com eles.
Fugir dessa constatação só potencializa

Gentileza da entrevistada
as consequências negativas.”

por Márcio Nastrini

As peculiaridades da vida do pastor, sua esposa e seus filhos demandam a existên- coisas não vão bem, e o não saber do que
cia de profissionais da área da psicologia que se especializem em atender essa classe se trata as angustia e aumenta a sensação
diferenciada de pessoas. No Brasil, a doutora Claudia Bruscagin tem se destacado por de solidão e impotência.
sua sólida produção acadêmica aliada à experiência clínica no atendimento de famí-
lias pastorais. A família pastoral tem pouca liberda-
Doutora pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Claudia de para viver livre das expectativas e
Bruscagin é vice-coordenadora da especialização em Terapia de Casal e Família na exigências dos membros. Como admi-
PUC-SP; organizadora do livro Religiosidade e Psicoterapia (2008), ganhador do nistrar essa intromissão velada?
segundo lugar do Prêmio Jabuti (2009) na categoria de melhor livro de Educação, Não penso que essa intromissão seja
Psicologia e Psicanálise; e autora de diversos capítulos em livros na área de psico- velada. Em geral ela é explícita: “Sua espo-
terapia familiar. Além das atividades acadêmicas, ela atua como psicóloga clínica e sa vai cuidar de qual área do departamen-
palestrante em empresas, escolas e igrejas. to infantil?”, “Ela vai pregar aqui quando
você estiver em outra igreja?”, “Seu filho é
Quais são os principais impactos negativos das exigências do trabalho do pas- desbravador?” Creio que o pastor, ao che-
tor sobre sua família? gar em uma nova igreja, deve impor limi-
Separar a vida particular da vida “pública/pastoral” e encontrar o equilíbrio é uma tare- tes. Ele é quem recebe para pastorear a
fa muito difícil. Os membros contatam o pastor pelo celular o tempo todo e cobram uma igreja. A esposa, como qualquer membro,
resposta imediata. Os filhos pequenos reclamam que o pai não desgruda do celular, e ou- pode ajudar voluntariamente nas tarefas
vem do pai que é por causa do trabalho. Muitas esposas reclamam da solidão e da falta de da igreja. Assim, na apresentação da fa-
uma vida normal. Os esposos têm muitas visitas ou reuniões à noite, chegam tarde, can- mília pastoral, a maneira com que o espo-
sados, querem ficar no “seu canto”, tendo algum entretenimento, e acabam indo para o so apresenta a esposa é fundamental: ele
quarto tarde da noite. A maior parte das esposas trabalha e levanta cedo com os filhos. deve destacar o nome, a profissão e, nes-
Nessa rotina, falta tempo para conversar. Muitos pastores querem poupar a esposa dos se contexto, pode indicar para quais ati-
problemas da igreja e não dividem as preocupações. Por sua vez, elas sentem quando as vidades ela estará disponível. Em relação

MAI-JUN • 2018 | 7
aos filhos, deve apresentá-los e informar Quando a família conta suas próprias his- mais ao pastorado do que o próprio mari-
à igreja, por exemplo, que são pequenos tórias de vida, esses fatos – difíceis ou do. Alguns pastores gostam disso; outros,
e, às vezes, vão falar alto, correr pelos cor- engraçados – vão fortalecendo a cum- não, e aí surgem conflitos. Entretanto, a
redores e podem não gostar de ser beija- plicidade e a confiança uns nos outros. A maior parte das mulheres se casa com o
dos e abraçados por todos. É importante elaboração de costumes familiares perso- homem amado que, nesse caso, é pastor,
que a igreja os veja como crianças normais. nalizados (como comemoram aniversários, como poderia ter qualquer outra profis-
Essa imposição de limites mostra o cuida- modo de realizar o culto familiar, etc.) tam- são. Depois que entendem o que significa
do e o respeito que o pastor tem para com bém contribui para consolidar os laços que ser esposa de pastor, deixam claro que “o
seus queridos. Posteriormente, se chega- os mantêm unidos. Além disso, uma famí- trabalho é dele, não meu”.
rem reclamações quanto a eles, o pastor lia fortalece sua resiliência quando conse- Outras se casam e, depois de um tempo,
deve ouvir os dois lados e sempre proteger gue enfrentar seus problemas de maneira ouvem o marido dizer que sempre quis ser
sua família, independentemente da posi- proativa, encarando a realidade e buscan- pastor, e que então precisam largar tudo
ção que ocupa. Com isso não estou dizendo do meios efetivos e não paliativos para en- e ingressar no Seminário. Em virtude das
que a família pastoral seja “santa”, mas que frentar as dificuldades. dificuldades financeiras, algumas esposas
deve ser protegida. Por exemplo, os filhos Em resumo, uma família resiliente res- precisam trabalhar de qualquer maneira,
precisam saber que o pai cuida deles em ponde positivamente às condições de es- longe do apoio da família ou dos amigos,
primeiro lugar e que, como pai, também tresse de modo único, dependendo do tendo que dar conta de tudo e apoiar “o
chamado do marido”. Inevitavel-
mente, algumas se sentem traídas
e, quando assumem um distrito, fi-
Quando uma família pastoral se esfacela cam deslocadas, muitas vezes sem
profissão ou não podendo exercer
por problemas com os filhos ou entre o sua profissão. Nesse contexto de-
safiador, os filhos acabam sendo os

casal, onde pode buscar ajuda? O pastor mais afetados. Portanto, a esposa
do pastor não pode mais ser aquela

e sua família precisam ser cuidados, “mulher sem nome”. Ela tem nome,
identidade, competências, profis-
são, assim como qualquer mulher
protegidos e pastoreados. casada. Ela vai participar dos traba-
lhos na igreja como qualquer outro
membro, não porque seja a “mu-
vai corrigi-los quando necessário. Quando contexto, nível de desenvolvimento, da lher do pastor”.
os filhos e a esposa sentem que são prio- combinação de fatores de risco e de sua
ritários na vida do pastor, as coisas fluem visão compartilhada. Na prática, como a esposa de pastor
com mais tranquilidade. pode administrar as diversas deman-
Como a senhora avalia os desafios das das referentes aos aspectos familia-
Conselheiros e psicólogos têm enfa- esposas de pastor? res, profissionais e eclesiásticos?
tizado a necessidade de as famílias Geralmente a esposa do pastor carrega Ela vai conseguir administrar tudo isso
pastorais desenvolverem seu lado um fardo muito pesado. Cuida da casa, tra- se atuar em conjunto com o marido. Assim,
emocional. Como isso pode ser feito? balha fora, educa os filhos sozinha na maior a responsabilidade de cuidar da família deve
Acredito que a família pastoral deve de- parte do tempo, é cobrada pelo compor- ser compartilhada na medida das compe-
senvolver sua resiliência, ou seja, a capaci- tamento deles e ainda sofre pressão para tências de cada um. Isso não quer dizer que
dade de se adaptar bem quando vivemos assumir uma série de atividades na igreja. essa divisão deva ser exatamente de 50%,
situações de crise, trauma, tragédia, amea- É preciso entender que ser mulher de mas que o casal precisa desenvolver uma
ça ou outra fonte significativa de estresse. pastor hoje é muito diferente do que ocor- atitude colaborativa.
A resiliência familiar é desenvolvida ria há 50 anos. Vejo que algumas mulheres Contudo, chama minha atenção o fato
quando juntos passamos tempo de qua- se casam com um pastor por que gostam de que algumas esposas não entendem
lidade e nutrimos interesses comuns. do ministério, e há aquelas que se dedicam que parte do trabalho do esposo é feita

8 | MAI-JUN • 2018
em seu escritório, em casa. É como se ele o tempo e o trabalho. Gerenciar não é fa- Nesse contexto, muitos membros da igreja
tivesse saído para trabalhar. Não é porque zer tudo nem acompanhar o que se faz o vão ver, questionar e comentar o que acon-
ele faz home office que tem que cuidar das tempo todo. É necessário saber delegar, tece com o filho do pastor...
crianças todos os dias, o dia todo ou por um aceitar maneiras diferentes de realizar as
período fixo continuamente. Se ele saís- tarefas e confiar na capacidade dos outros. Que conselhos a senhora daria aos
se para trabalhar fora, como o casal lidaria Evidentemente, também não é entregar pastores para que exerçam melhor
com essa situação? tudo e só receber notícias. É preciso en- sua paternidade?
Além disso, toda mulher precisa desen- contrar o equilíbrio. Tenho visto grande número de pastores
volver sua autonomia. Por isso oriento toda delegarem às mães o cuidado e a educação
esposa, independentemente da profissão Como os filhos de pastor podem ser dos filhos. Os filhos precisam de ambos!
do marido, a aprender a dirigir. Ainda que ajudados por seus pais a conviver com O mandamento diz “honra teu pai e tua
não tenha dois carros, o casal pode se orga- as expectativas que recaem sobre eles mãe”. A quem foi dado o Shemá no antigo
nizar para dividir o uso do veículo. por parte dos membros da igreja? Israel? O que Paulo disse sobre o pastor e
Também recomendo que faça algum De fato, eles sofrem muita pressão por sua família? Não acredito que o chamado
tipo de atividade física para evitar o esgo- serem filhos de pastor. Muitos membros do Senhor para servir a igreja seja justifica-
tamento. O exercício físico é fundamental esperam que eles saibam todas as doutri- tiva para que o pastor não cuide de seus fi-
para diminuir a ansiedade e a depressão, nas, tirem suas dúvidas quando não con- lhos. Quem será o modelo de homem para
manter o peso ou dormir melhor. Com dis- seguem falar com o pastor e que tenham o filho e a filha? Por isso, para que o pas-
ciplina, 20 minutos de caminhada ao ar livre, uma vida perfeita. Certa ocasião, um mem- tor exerça bem sua paternidade, ele preci-
quatro vezes por semana ajudam muito! bro de igreja questionou o filho do pas- sa de tempo de qualidade com seus filhos.
tor, de 10 anos, acerca do motivo pelo qual
O excesso de trabalho por parte do o pastor o havia retirado de determina- Alguns pastores procuram manter
pastor tem sido uma das principais do cargo. Isso não se faz! Os membros uma postura de pessoas “inabaláveis”,
causas de problemas do casal ministe- da igreja precisam ser informados de que mesmo quando passam por proble-
rial. Como isso pode ser solucionado? não podem descontar suas frustrações so- mas. Como o ministro deve lidar com
Creio que seria muito útil que os pasto- bre os filhos do pastor, e que o pastor to- as dificuldades familiares?
res aprendessem mais sobre administração mará todas as medidas necessárias para De fato, em muitos contextos há uma
do tempo. Quem faz home office precisa de protegê-los. Por isso é importante, logo negação de que o pastor e sua família têm
foco e direção para o trabalho. Por outro na apresentação da família à nova igreja, problemas. Entretanto, precisamos enca-
lado, vejo que entre os pastores existe um que o pastor estabeleça os limites de pro- rar a realidade de que todas as famílias têm
cronograma de atividades que, às vezes, teção aos seus queridos. problemas. O que muda é a sua maneira de
me parece um pouco rígido: estudo pela Uma outra situação que tem chamado lidar com eles. Fugir dessa constatação só
manhã, visitação durante a tarde e à noi- minha atenção é a volta dos filhos de pastor potencializa as consequências negativas.
te e folga na segunda-feira. No entanto, a para a casa dos pais depois do término da Além disso, não podemos nos esquecer de
visitação só pode ser feita no período ves- faculdade. Geralmente eles vão para o inter- que Satanás ataca intencionalmente as fa-
pertino e noturno? Não há possibilidade nato na adolescência e seguem seus estu- mílias pastorais. Quando uma família pasto-
de flexibilização no horário de estudo? Se a dos do Ensino Médio ao término do Ensino ral se esfacela por problemas com os filhos
esposa e os filhos trabalham e estudam du- Superior. Já graduados, alguns voltam para ou entre o casal, onde pode buscar ajuda?
rante a semana, como a folga na segunda- casa após viverem por um longo período O pastor e sua família precisam ser cuida-
feira será utilizada pela família? Por que distantes da convivência familiar. Como es- dos, protegidos e pastoreados. Acredito que
não se planejar para que o dia de folga con- tiveram longe dos filhos no período em que os ministros devam ter mais chances de es-
temple a família como um todo? eles experimentaram as maiores mudan- tudo e crescimento pessoal, estar em luga-
Outro problema é que alguns pasto- ças, os pais já não sabem mais como convi- res em que possam manter em perspectiva
res são centralizadores e entendem que ver com eles. Além de sustentá-los em casa, que são seres humanos como quaisquer ou-
devem estar o tempo todo trabalhando os pais se deparam com o modo de vida dos tros e poder contar com a ajuda de psicólo-
com os membros da igreja. Para mim isso filhos que, em alguns casos, já não se ali- gos cristãos e pastores que os auxiliem em
demonstra sua dificuldade em gerenciar nha mais com o estilo de vida adventista. suas lutas particulares.

Diga-nos o que achou desta entrevista: Escreva para [email protected] ou visite www.facebook.com/revistaministerio

MAI-JUN • 2018 | 9
CAPA

© Jacob Lund | Fotolia

10 | MAI-JUN • 2018
Casais
pastorais buscar conselho divino a fim de saber se
estão seguindo uma direção em harmo-
nia com a vontade de Deus.”1
Embora o casamento tenha sido de-
signado por Deus para abençoar a família,
Desafios contemporâneos Satanás tem feito de tudo para denegrir,
depreciar e difamar essa instituição im-
portante. Sendo assim, pode ser que seu
Willie e Elaine Oliver casamento esteja indo naturalmente para
um estado de alienação. A Bíblia diz em
Romanos 3:23 que “todos pecaram e des-
tituídos estão da glória de Deus”.2 Isso nos

E
stamos casados e atuando no minis- que sejam tudo para todos. Especialmente lembra que não existem casamentos per-
tério há 32 anos. O fato de ainda es- no modo de discipular seus filhos para ser feitos, porque não existem pessoas per-
tar casados e no ministério depois de verdadeiros seguidores de Jesus.Além do feitas. Entretanto, visto que Deus é mais
todo esse tempo tem tudo a ver com a pro- desafio de não ter tempo suficiente para poderoso do que Satanás, todo casamen-
vidência e a graça de Deus. Em realidade, a cumprir todas as suas responsabilidades, to pode prosperar quando os cônjuges
graça divina faz seu melhor trabalho quan- o casal pastoral tem que lidar com perío- fazem um esforço intencional para se co-
do aceitamos o dom que Deus nos oferece dos curtos de permanência nos distritos nectar um ao outro todos os dias por meio
e permitimos que esse dom brote e cresça e mudanças frequentes. Isso o afasta de da graça e do poder divinos.
em nosso coração pelo poder do Espírito relacionamentos próximos com seus fa- Uma frase de um autor desconhecido
Santo, cujas exortações escolhemos seguir. miliares e amigos, perturbando seu equi- que frequentemente gostamos de citar
Vamos ser realistas: vida de casado não é líbrio emocional. diz o seguinte: “Casar é fácil. Permane-
fácil! Sim, o casamento é algo fantástico, e Somado a isso, é preciso enfrentar as cer casado é mais difícil.” Continuar feliz
a vida a dois tem todas aquelas coisas ma- restrições financeiras, já que vivemos em no casamento ao longo da vida poderia
ravilhosas das quais sempre falamos. No um mundo onde se tornou cada vez mais ser considerado uma das artes mais belas.
entanto, apesar das nossas melhores in- difícil viver somente com o salário de um Isso é verdade em relação a todos os ca-
tenções, a realidade das diferenças, que in- dos cônjuges. Com frequência, a esposa do samentos, especialmente os casamentos
questionavelmente assombram a maioria pastor se vê na situação de ter que procurar pastorais, que experimentam tantas ex-
dos casamentos, nos mantém de joelhos. um novo emprego, o que pode signifi- pectativas internas e externas.
De fato, isso só pode ocorrer quando de- car muitos meses sem receber seu salá- De fato, as expectativas surgem de
cidimos honrar e glorificar Deus em nos- rio. Isso tudo pode acrescentar ansiedade, dentro por causa da necessidade de re-
so casamento. tensão e trauma a uma situação natural- presentar bem Jesus. O conceito muitas
mente estressante. Em tempos como es- vezes pode ser visto como a necessidade
O casal pastoral ses, os casais pastorais, assim como todos de fingir que se tem um casamento perfei-
Os casais pastorais enfrentam os mes- os casais cristãos, precisam reconhecer que to quando não se tem. Claro, quanto mais
mos desafios que os outros casais, e a o matrimônio é ideia divina e que foi cria- os casais pastorais se sentirem obrigados
maioria dos casais vivencia conflitos simi- do para nosso bem. “Instituído por Deus, a apresentar ao público uma imagem ir-
lares aos dos casais pastorais. A diferença o casamento é uma ordenança sagrada, real, menos chances terão de atingir esse
surge quando o casal pastoral tem a pres- e nunca se deve entrar nele com espíri- objetivo devido ao estresse gerado inte-
são adicional de viver em um aquário, com to de egoísmo. Aqueles que pensam em riormente, dada a realidade das nossas fra-
altas expectativas dos membros de suas dar esse passo, devem considerar-lhe so- quezas humanas. A pressão exterior vem
igrejas e dos seus líderes, no sentido de lenemente e com oração a importância, e dos outros, muitas vezes dos membros da

MAI-JUN • 2018 | 11
igreja, e às vezes das famílias, dos amigos, Assédio digital valha a pena ser vivida? Para que isso acon-
colegas e entidades empregadoras que Na questão do tempo, como um bem a teça, e para que possamos sobreviver e
tendem a cobrar um padrão mais alto dos ser administrado, a notória tirania do reló- prosperar, precisamos estabelecer limites
pastores e de suas famílias do que dos se- gio nunca foi mais real do que estamos vi- razoáveis. Eles podem ser encontrados no
res humanos “normais”. Para superar esse venciando hoje. O e-mail, o Facebook e as contexto de pessoas emocionalmente in-
fardo insuportável, os casais pastorais de- mensagens de texto, com inúmeros apli- teligentes, que têm um alto nível de au-
vem passar muito tempo em oração, bus- cativos que surgem todos os dias, tornam toconsciência e que sabem o que querem
cando relacionamento genuíno com Deus qualquer um acessível, em qualquer lugar alcançar durante esse processo. Daniel
e entre os cônjuges. e a qualquer hora, criando a expectativa de Goleman sugere: “A autoconsciência é o
Falando da necessidade de permane- receber respostas instantâneas. Cada dia primeiro componente da inteligência emo-
cer em oração, Romanos 12:12 diz: “Ale- tem apenas 24 horas nas quais os pasto- cional [...] Autoconsciência significa ter uma
grai-vos na esperança, sede pacientes na res devem passar tempo a sós com Deus, profunda compreensão das próprias emo-
tribulação, perseverai na oração.” Por sua visitar os membros da igreja, estudar, es- ções, dos pontos fortes, das fraquezas, das
vez, Isaías 65:24 declara: “Antes de clama- crever sermões, participar de reuniões, dar necessidades e dos impulsos [...].
rem eles, Eu responderei; e estando eles estudos bíblicos, responder e-mails, dor- “A autoconsciência se estende ao en-
ainda falando, Eu os ouvirei.” Ellen Whi- mir, comer, fazer exercícios físicos, realizar tendimento dos valores e objetivos de uma
te escreveu: “Não há um só capítulo da o culto familiar e se relacionar com paren- pessoa. Alguém altamente autoconscien-
nossa existência que seja escuro demais tes e amigos. te sabe para onde está indo e por que [...].
para que Ele não possa ler nem dificulda- Depois de cuidar de todas essas coisas, As decisões das pessoas autoconscientes
de alguma tão complicada que não pos- além de não sobrar muita energia para correspondem aos seus valores”. 4
sa resolver. Nenhuma calamidade poderá qualquer outra atividade, não há tempo A autoconsciência e a inteligência
emocional não vêm simplesmen-
te porque temos mais instrução
ou porque somos mais espertos
do que os outros. Vêm como re-

Todo casamento pode prosperar quando sultado de um relacionamento ínti-


mo com Deus e do nosso desejo de
honrá-Lo em nosso relacionamen-
os cônjuges fazem um esforço intencional to mais íntimo com nosso cônjuge.
Esse vem a ser o tipo de inteligên-
para se conectar um ao outro todos os dias cia emocional que traz paz.
No que se refere à priorização
por meio da graça e do poder divinos. e ao aproveitamento máximo do
tempo, Stephen Covey sugere que
“um dos piores sentimentos do
mundo é quando você se dá con-
ta de que ‘as primeiras coisas’ na
sobrevir ao mais humilde dos Seus filhos, significativo para compartilhar com a es- sua vida, inclusive sua família, estão sen-
ansiedade alguma que lhe perturbe o co- posa. E sendo realmente sinceros, na ver- do empurradas para o segundo ou terceiro
ração, nenhuma alegria que possa ter, dade, temos pouco tempo para passar com lugar, ou ainda mais abaixo na lista. E fica
nenhuma oração sincera que lhe saia dos Deus em oração. Assim acabamos tendo ainda pior quando você se apercebe do que
lábios, sem que seja observada pelo Pai pouco combustível para obter os recursos está acontecendo como resultado disso.”5
celestial, ou sem que Lhe desperte imedia- necessários a fim de ter um ministério efi- Permanece a verdade de que não po-
to interesse. Ele ‘sara os quebrantados de caz e uma satisfação real na vida. demos adicionar horas ao nosso dia, mas
coração, e cura-lhes as feridas’ (Sl 147:3). As podemos adicionar ordem e prioridade a
relações entre Deus e cada pessoa são tão Limites essas horas, para que possamos maximi-
particulares e íntimas, como se não exis- Então, como um casal pastoral conse- zar o tempo que temos com nosso côn-
tisse nenhuma outra por quem Ele hou- gue separar tempo para ter a qualidade juge a cada dia, a cada semana, a cada
vesse dado Seu bem-amado Filho.”3 de relacionamento que faz com que a vida mês e a cada ano, a fim de ter o tipo de

12 | MAI-JUN • 2018
relacionamento que resistirá à prova do especialmente se o cônjuge tem um bom matrimônios bem-sucedidos os casais te-
tempo e dará honra e glória a Deus. Para emprego, em outros lugares, pastores so- nham de encontrar o equilíbrio entre si, é
que as coisas mudem, se essa não tem sido frem com recursos e salários escassos, e a preciso que haja uma contínua conscien-
a prioridade da nossa vida, precisaremos esposa não consegue trabalho remune- tização dos interesses do cônjuge como
desenvolver uma estrutura nova e melho- rado. No entanto, precisamos aprender a parte da realidade diária. Não há outra ma-
rada pela qual possamos viver. confiar no Deus que adoramos, se quiser- neira de sobreviver e prosperar num rela-
Com certeza, será necessário mudar mos que nossa vida no ministério seja uma cionamento íntimo como o casamento sem
o paradigma da nossa vida. Isso signifi- bênção para os outros. Precisamos seguir adotar uma perspectiva que inclua os sen-
ca ver e fazer as coisas de modo diferen- o exemplo de abnegação do nosso Mestre. timentos e opiniões dos outros, pelo me-
te para conseguir um resultado diferente. Sem dúvida, a estabilidade financei- nos, os sentimentos e opiniões da pessoa
Em contraste com outros relacionamen- ra depende tanto da nossa filosofia de que escolhemos como nosso cônjuge.”6
tos, que estão constantemente mudan- fidelidade cristã quanto dos nossos há- Nós o encorajamos a se lembrar da
do, o casamento deve ser permanente, bitos de consumo. Como seres mortais, a exortação de Paulo: “Portanto, quer co-
e entender que as responsabilidades no quem foi dado o privilégio de levar peca- mais, quer bebais, ou façais outra coisa
matrimônio não são adiáveis nos ajuda dores Àquele que é a vida eterna, nós tam- qualquer, fazei tudo para glória de Deus”
a aproveitar o dia de hoje para que pos- bém devemos crer que o Senhor cumpre (1Co 10:31). Que em seu relacionamento
samos fazer do nosso casamento a prio- Suas promessas. Como casais pastorais, com Cristo você desenvolva a paciência e a
ridade máxima. Isso significa programar temos que reivindicar as promessas que bondade necessárias para honrar e glorifi-
um tempo significativo para passar com Deus fez no passado e que ainda são válidas car ao Senhor por meio do seu casamento.
o cônjuge todos os dias. para Seus discípulos hoje. A mensagem de Nós não apenas esperamos, mas também
Mudar-se de um lugar para o outro ao Malaquias 3:10 ainda está em vigor e de- oramos para que isso aconteça.
longo do ministério se torna uma realida- clara: “Trazei todos os dízimos à casa do te-
Referências
de que não pode ser facilmente alterada e souro, para que haja mantimento na Minha
1
Ellen G. White, O Lar Adventista (Tatuí, SP: Casa
que é vista como a natureza do proverbial casa; e provai-Me nisto, diz o Senhor dos
Publicadora Brasileira, 2013), p. 70.
“monstro” do ministério. Eu (Willie), como Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do 2
A s referências bíblicas são da versão Almeida Revista
filho de pastor, mudei-me várias vezes ao céu e não derramar sobre vós bênção sem e Atualizada.
longo da minha infância, e como filho de medida.” Deus promete que não faltarão 3
Ellen G. White, Caminho a Cristo (Tatuí, SP: Casa
missionário vivi em pelo menos três paí- bênçãos se formos fiéis a Ele. Jesus afirmou: Publicadora Brasileira, 2016), p. 100.

ses antes de chegar à adolescência. Como “E eis que Eu estou convosco todos os dias, 4
Daniel Goleman, What Makes a Leader: Why
Emotional Intelligence Matters (Florence, MA: More
casal, já moramos em quatro estados dife- até a consumação dos séculos” (Mt 28:20); Than Sound, 2013), p. 10, 11.
rentes dos Estados Unidos, em oito casas “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; Eu 5
Stephen R. Covey, The 7 Habits of Highly Effective
distintas e tivemos de oito a dez funções não vo-la dou como o mundo a dá. Não se Families (Nova York, NY: Golden Books, 1997), p. 113.
ministeriais em três décadas. turbe o vosso coração, nem se atemorize” 6
Willie e Elaine Oliver, “A Beleza do Casamento”,
Cada mudança foi um desafio, e algu- (Jo 14:27); e o apóstolo Paulo disse: “E o meu em Ekkehardt Mueller e Elias Brasil de Sousa,
Casamento: Princípios Bíblicos e Teológicos (Tatuí,
mas foram mais traumatizantes do que ou- Deus, segundo a Sua riqueza em glória, há SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015) p. 18, 19.
tras. Mas, em cada uma delas, sentimos a de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vos-
mão de Deus e recebemos bênçãos que sas necessidades” (Fp 4:19).
não trocaríamos por nada. Como o apósto- Willie Oliver, doutor
em Sociologia, é diretor
lo Paulo declarou em Filipenses 4:11: “Digo Conclusão mundial do Ministério da
Gentileza do autor

isto, não por causa da pobreza, porque Ao examinar a realidade dos casamen- Família da Igreja Adventista
do Sétimo Dia
aprendi a viver contente em toda e qual- tos pastorais, precisamos prestar atenção
quer situação.” ao fato de que, às vezes, é mais difícil do
que pensamos.
Elaine Oliver, doutoranda
O fator dinheiro “Muitas pessoas hoje entram no casa- em Psicologia da Educação,
Enquanto pastores em certas par- mento com uma noção individualista de é diretora associada mundial
Gentileza da autora

do Ministério da Família
tes do mundo desfrutam de um estilo de realização pessoal, em vez de se concen- da Igreja Adventista
vida de classe média ou até média-alta, trar na realização relacional. Embora nos do Sétimo Dia

Diga-nos o que achou deste artigo: Escreva para [email protected] ou visite www.facebook.com/revistaministerio

MAI-JUN • 2018 | 13
CAPA

Sob a armadura
Um olhar mais atento aos desafios da esposa de pastor

Mirian Montanari Grüdtner

É
comum se ouvir no meio ministerial passava menos de duas horas por dia com eclesiástica; além de finanças, educação de
a respeito dos desafios da esposa de a família, incluindo as refeições, e que ra- filhos, doenças e dificuldades relacionais.3
pastor. Mas será que o pastor tem ramente ou nunca tirava um dia de folga. Assim, é preciso compreender as princi-
uma real percepção das lutas que sua mu- Além desses desafios, elas também ci- pais lutas das esposas de pastor para, en-
lher enfrenta? taram o peso da expectativa dos mem- tão, desenvolver atitudes efetivas a fim de
Em 1977, John Gleason identificou 43 bros, da Associação, da comunidade e do ajudá-las a vivenciar sua vida conjugal e
problemas relacionados à igreja e à famí- marido a respeito delas, a falta de reco- ministerial de maneira mais gratificante.
lia pastoral, num levantamento feito com nhecimento no ministério, a incompetên-
21 pastores e 11 esposas pertencentes a cia para exercer esse papel e as pressões Encarando os problemas
diferentes denominações cristãs.1 As es- financeiras. A partir de minha pesquisa, pude ex-
posas apontaram problemas como lidar Mais recentemente, nos anos de 2010 plorar melhor cada ponto mencionado
com situações inesperadas, raiva, falta e 2011, fiz uma pesquisa com 232 mulhe- por minhas colegas de ministério. A seguir,
de autonomia e resultados no trabalho, res, das quais 110 eram esposas de pas- gostaria de compartilhar algumas ideias
perfeccionismo, excesso de atividades, tor em atividade, representantes das sobre eles.
autoimagem negativa, salário inadequa- Uniões brasileiras, futuras esposas de pas- Solidão. Foi o principal desafio apon-
do, sentimento de inferioridade, conflito tor – cujo namorado ou noivo cursava os tado pelas esposas entre 20 e 30 anos de
de papéis, problemas familiares, estar na últimos dois anos da Faculdade de Teo- idade e pelas esposas de pastores jubila-
“vitrine”, solidão e patologia dos membros. logia – e esposas de pastores jubilados. dos. As causas mencionadas foram: mu-
Na década seguinte, um estudo condu- Elas responderam sobre seus três maio- danças frequentes, ausência dos familiares,
zido por pesquisadores da Universidade res desafios no ministério, acerca de quais do marido e dos amigos.
Andrews com 167 esposas de pastores ad- desafios viam que as colegas enfrenta- A solidão é uma experiência comple-
ventistas da América do Norte indicou que vam e, por fim, indicaram os três motivos xa. Cada mulher reage a ela de modo di-
mais de 30% delas estavam engajadas em pelos quais eram esposas de pastor. Os ferente. Diversos estudos sugerem que
Pequenos Grupos evangelísticos, estuda- demais participantes eram 79 mulheres e a modernidade – responsável pelo tra-
vam a Bíblia e os livros de Ellen White.2 43 homens, membros da Igreja Adventista, balho em excesso –, a diminuição do nú-
Entretanto, apesar da vida devocional e que responderam sobre a maior qualida- mero de filhos, os problemas conjugais, a
ministerial ativa dessas esposas, mais de de, o maior defeito e os maiores desafios independência feminina, as doenças e o
dois terços delas não conseguiam manter da esposa de pastor. envelhecimento desencadeiam a solidão
vínculos permanentes de amizade e sen- Curiosamente, a lista de desafios men- nas mulheres em geral. Alguns estudos re-
tiam nostalgia e solidão causadas por mu- cionados de maneira mais significativa não lacionam a solidão à genética e, outros, à
danças frequentes de domicílio, falta de difere do que se respondeu nas décadas de baixa autoestima.
companheirismo na igreja ou fora dela e 70 ou 80. Os principais itens apontados fo- A solidão mencionada nas pesquisas
ausência do esposo. Elas apontaram que as ram solidão; mudanças de domicílio; o peso difere da solitude, em que o indivíduo se
prioridades do marido eram: igreja, Deus, das expectativas; invasão de privacidade; sente à vontade para se autoconhecer, se
saúde, esposa e, por último, filhos. Cer- críticas, cobranças e comparações; conci- adequar, adaptar e superar a si mesmo.
ca de dois terços relataram que o esposo liar a vida pessoal, familiar, profissional e Em geral, a solidão da esposa de pastor

14 | MAI-JUN • 2018
se refere ao sentimento de desamparo diante
de algumas situações. Não se trata necessa-
riamente de estar sozinha, mas pode ser uma
dor emocional profunda causada pela carên-
cia de intimidade e ausência de relacionamen-
to satisfatório com o marido ou outras pessoas.
É um sentimento de isolamento e separa-
ção por causa das mudanças, da insegurança
para falar de seus problemas ou pelas próprias
dificuldades em lidar com suas angústias.
Mudanças. Na pesquisa, esse desafio ficou
em terceiro lugar para as esposas entre 20 e 30
anos, e em primeiro lugar para a faixa entre 31 e
56 anos.4 Cerca de 40% das esposas na ativa res-
ponderam que as mudanças muito frequentes
comprometem os estudos acadêmicos, a carrei-
ra profissional e dificultam a adaptação delas e
dos filhos. As demais mencionaram também o
distanciamento dos amigos e familiares, a inse-
gurança e o comprometimento das finanças.
Algumas esposas objetaram quanto às mu-
danças sem prévia consulta à família pasto-
ral. É inegável o esforço dos administradores
para ajustar cada obreiro às necessidades do
Campo, respeitando as condições da família.
No entanto, nem sempre é possível que as ex-
pectativas de ambos os lados sejam supridas
ao mesmo tempo.
Lidar com expectativas, invasão de privaci-
dade, críticas, cobranças e comparações. Esse
desafio foi apontado por 29% das esposas en-
tre 20 e 30 anos, e conforme a idade aumen-
tou, a porcentagem diminuiu.
Como esse desafio tem relação com a au-
toestima, a forma de abordar cada situação
pode evidenciar fragilidades da esposa do pas-
tor, assim como suas crenças pessoais de certo
e errado podem influenciar os relacionamen-
tos e determinar a satisfação pessoal e com o
ministério. A esposa pode se ver de uma for-
ma e sentir pressão da parte dos membros,
do marido e da Associação para ser dife-
rente. Quanto maior é a distância entre o
que esperam dela e o que ela deseja ser
ou assumir, maior é a tensão que pode
© Contrastwerkstatt | Fotolia

levá-la a uma crise.


Conciliar vida pessoal, familiar, pro-
fissional e eclesiástica. Esse desafio
foi relatado por 16% das mulheres

MAI-JUN • 2018 | 15
entre 31 e 40 anos de idade. Atualmen- amor ao trabalho de Deus, prazer em ser- Conclusão
te, a maioria das esposas de pastor estu- vir à Causa e resposta ao chamado di- No Éden, Deus encarregou o homem
da e trabalha, tem autonomia financeira e vino. O restante das respostas incluiu do papel da liderança fundamentada no
mais ações de apoio do que no passado. amor pelo marido, crescimento espi- amor. Quanto mais o pastor se aproximar
Entretanto, o número crescente das que ritual e emocional, privilégio de ter um desse ideal, maior satisfação ele, sua espo-
se sentem dominadas pela incerteza, in- esposo como ministro do evangelho, en- sa e seus filhos experimentarão. Contudo,
segurança, depressão, solidão e frustra- volvimento no trabalho do esposo, es- muitos pastores se tornam tão empolga-
ção não parece mostrar que estejam mais tabilidade financeira, oportunidade de dos e envolvidos com o trabalho que mais
realizadas como pessoas e com o ministé- atualização constante, novos amigos, parecem estar casados com a igreja. As-
rio. Além das alterações hormonais pelas oportunidade de estudo para os filhos e sim, a esposa fica desprotegida, o pastor
quais passamos, o modo de vida da so- o carinho dos irmãos. fica descoberto e os filhos também. Se o
ciedade contemporânea nos pressiona a A maioria das respostas indicou “o cha- casamento e a família não recebem priori-
trabalhar, cuidar da família, ter vida social, mado divino” como principal motivação dade na vida ministerial, então se abre uma
cumprir prazos e nos manter dentro das para ser esposa de pastor. Entretanto, al- brecha nos muros de sua casa, por onde o
finanças. Essa condição que define a mu- gumas participantes não estão seguras inimigo pode entrar para atingir tanto ele
lher pelo que ela faz, pelo que dizem dela disso, pois não se sentem chamadas. São quanto a esposa.
e pelo que ela tem está distante do ideal esposas de pastor apenas porque se casa- Que cada pastor seja um líder que orde-
divino e impacta negativamente a vida da ram com um pastor. Segundo Albert Frie- ne bem o lar e ame a esposa como Cristo
esposa de pastor. sen, “quando a esposa não se entende amou a igreja. Seja um companheiro com-
A pesquisa também constatou que en- chamada para o ministério, as vantagens preensivo e confidente de suas angústias,
tre os motivos para ser esposa de pastor, podem não ser suficientes para que os con- fragilidades e medos. Um esposo que in-
65% das esposas na ativa responderam flitos e as crises sejam compensados”.5 centive a vida devocional da esposa e dos
filhos e os proteja e pastoreie. Dessa ma-
O pastor apoia sua esposa quando: neira, ela encontrará felicidade e realização
como esposa de pastor dentro da perspec-
Destina tempo Respeita sua individualidade sem
tiva divina, alcançará o equilíbrio em suas
intencional para a cobranças. Não compromete a esposa
múltiplas funções e vivenciará o ministé-
interação familiar, com a liderança da igreja para funções sem
rio e seus desafios com disposição e con-
separado de compromissos consultá-la. Dá liberdade para que ela ofereça o
tentamento.
ou distrações virtuais. que pode, dentro de seus limites.
Referências
1
John Gleason, “Perception of stress among clergy
Desenvolve o hábito da Ouve a esposa com and their spouses”, Journal of Pastoral Care, v. 31,
(1977), p. 248-251.
comunicação sincera, a fim atenção, sem julgamentos
2
 arole Luke Kilcher et al, “Estado de ânimo no
C
de que o casal abra o coração. e resoluções imediatistas.
ministério: Um estudo da esposa de pastor como
Expor vulnerabilidades gera intimidade e Esse é um dos maiores diferenciais pessoa”, O Ministério Adventista, jan/fev 1983, p. 7-12.
cumplicidade. das esposas que superam seus 3
 irian Montanari Grüdtner, “Esposa de pastor:
M
desafios. Um estudo sobre as mudanças de domicílio e suas
implicações”, monografia, Curitiba, 2011, p. 17.
4
Idem, p. 24.
5
 lbert Friesen, Cuidando do Casamento (Curitiba,
A
Prioriza a vontade de Deus por ocasião de Demonstra PR: Esperança, 2004), p. 79.
um chamado ou transferência. Às vezes, é interesse,
comum considerar outros fatores, tais como o valorização e
momento, as necessidades da família, as dificuldades participação nas Mirian Montanari
Grüdtner, especialista em
do trabalho ou o emprego da esposa, mas devemos tarefas domésticas da aconselhamento familiar, é
Gentileza da autora

cuidar para não levar em conta apenas as conveniências esposa. esposa de pastor e escritora
próprias, em detrimento da vontade de Deus.

Diga-nos o que achou deste artigo: Escreva para [email protected] ou visite www.facebook.com/revistaministerio

16 | MAI-JUN • 2018
CONCURSO
DE ARTIGOS
A revista está promovendo o
2º Concurso de Artigos para estudantes de Teologia.
PRÊMIOS
1º lugar: Coleção Minicentro
Todos os alunos matriculados em programas Ellen G. White
de graduação ou pós-graduação TEMA E 2º lugar: Coleção Comentário
podem participar.
REQUISITOS Bíblico Adventista
PARA INSCRIÇÃO: 3º lugar: Bíblia de Estudo
Andrews

1. Um dos maiores desafios do cristianismo A comissão avaliadora será


contemporâneo está relacionado ao discipulado. formada pela equipe editorial da
Desse modo, o tema dos artigos deverá relacionar-se Ministério, por representantes
com esse assunto. Os textos podem explorar aspectos do Seminário Adventista Latino-
Americano de Teologia e da
bíblicos, históricos, teológicos e aplicados que aprofundem a
Associação Ministerial da Igreja
compreensão acerca do discipulado cristão.
Adventista do Sétimo Dia.

2. Os textos deverão ser enviados em MS Word para o e-mail [email protected]. Publicação


Por favor, inclua as seguintes informações no cabeçalho do artigo: nome, endereço, 1. Não haverá devolução dos
e-mail, telefone, afiliação religiosa, nome da instituição educacional em que está artigos enviados.
cursando Teologia e o título do manuscrito. 2. Os ganhadores do concurso
darão à revista Ministério os
3. Ao fazer citações bibliográficas, identifique as fontes. Insira notas de fim de texto direitos de publicação do artigo.
Embora os editores pretendam
(não notas de rodapé) com referência completa. Use números arábicos nas notas.
publicar esses textos, a
Utilize a fonte Arial, tamanho 12, espaço 1,5, justificado. Os textos deverão conter
publicação não é garantida.
no mínimo 8 mil e no máximo 15 mil caracteres com espaço.
Data limite de inscrição:
4. Será aceito somente um artigo por autor. Os textos deverão ser enviados até
30 de maio de 2018

Apoio: Seminário Adventista


Latino-americano de Teologia
Associação Ministerial
CAPA

A árvore e
os frutos
A influência do ministério do pastor na vida de seus filhos

Dayse Bezerra verdade, estão apenas em busca de uma Utilizando-se de uma famosa metáfo-
identidade pessoal independente da que ra usada por Jesus, podemos dizer que a

S
er filho de pastor não é algo fácil de naturalmente assumem. relação entre pai e filho pode ser conheci-
ser absorvido pelos que herdam o Diante dessa singularidade, o pastor da por seus frutos (Mt 7:20). Desse modo,
título. Em cada fase da vida, não se precisa considerar que faz parte de sua o pastor que deseja ter uma boa e dura-
pode ignorar o fato de que ele faz parte missão estar envolvido diretamente na sal- doura colheita espiritual relacionada com
do ministério do pai, mesmo que esse não vação daqueles que serão o exemplo vivo os filhos deve investir no melhor solo antes
seja seu maior sonho. Desde muito cedo, de seus sermões. Ellen White defende essa mesmo de plantar a semente e demons-
os filhos de pastor são observados e cobra- ideia ao dizer: “Se devidamente conduzida, trar os devidos cuidados em cada fase
dos pela comunidade cristã. Algumas ve- a educação dos filhos do pastor ilustra as da lavoura. É preciso adubar para forta-
zes, são tachados de rebeldes, quando, na lições que ele dá no púlpito.”1 lecer, podar quando necessário e nutrir

18 | MAI-JUN • 2018
adequadamente para que a planta se man- sempre foi florido aos meus olhos. Entre es- aquele pastor do púlpito, que tanto prega
tenha viva e produtiva. pinhos, o perfume das flores sempre exalou sobre a dependência divina, a necessida-
A Bíblia ressalta que o ancião/pastor deve mais forte do que os momentos difíceis de de de buscar primeiro Deus e de se alimen-
ser um pai exemplar e sábio ao conduzir sua mudança, decisão ou desânimo.Contudo, tar diariamente da Fonte, realmente vive
própria casa (1Tm 3:4; Tt 1:6). Isso significa quando os filhos escutam reclamações suas palavras.
que o ministro precisa estar atento ao se constantes ou comentários que prejudi- Norm Wakefield e Josh McDowell es-
dedicar tanto a grandes projetos, evange- cam a reputação de pessoas ou do serviço creveram em seu livro, A Diferença que o
lismos, resultados, treinamentos e sermões ministerial, abre-se margem para a desva- Pai Faz, que “os atos são comunicados, em
em detrimento ao cuidado de sua família. lorização do chamado pastoral. Muitos fi- primeiro lugar, pelo exemplo”. Além dis-
Sob o ponto de vista humano, Noé po- lhos podem pensar: “Que chamado é esse so, ressaltam: “Se os filhos devem apren-
deria ser considerado um dos evangelistas que parece mais um fardo para meus pais?”, der pela experiência como amar a Deus, é
mais fracassados da história. Entretanto, “Que Deus é esse que nos manda para lu- preciso que vejam isso praticado pelos pais
quando Deus lhe deu a ordem para entrar gares ruins?”, “Que pessoas são essas que em sua vida diária.”2
na arca, toda a sua família estava presen- só trazem problemas para nós?” Meu pai nem poderia imaginar, mas ao
te (Gn 7:1). Apesar de seus esforços, o pa- Muitas vezes os filhos ficam calados longo do tempo estava criando duas de-
triarca não celebrou nenhum batismo nem enquanto escutam conversas depreciati- fensoras que sabiam quem ele era de ver-
converteu grandes multidões, porém, con- vas, mas absorvem facilmente esse con- dade: primeiro, um pastor em casa. Um dia
seguiu salvar o que havia de mais impor- teúdo e passam a ter uma visão distorcida ele me perguntou: “Você não se cansa de
tante: seu lar. dos planos divinos. E os reflexos desse tipo ouvir meus sermões?” Respondi que não,
Como nos dias de Noé, estamos aguar- de conduta podem influir diretamente na porque sempre havia algo diferente a me
dando a manifestação do juízo divino e a relação que eles desenvolvem com o Pai ensinar sobre eles fora dos púlpitos. Em
bem-aventurada esperança da vinda de Celestial. Isso leva alguns a se manter dis- realidade, isso era mais uma confirmação
Jesus (Tt 2:13). Contudo, será que nossa fa- tantes do ministério, ser mais críticos em do que meu pai representava para nós.
mília está salva? Não seria este um bom relação à igreja ou ter dificuldades com
momento para avaliar os frutos colhidos adaptações. Por outro lado, quando eles Tempo especial
ou que estão sendo produzidos na rela- recebem um bom relatório do ministério, O tempo do pastor pode ser adminis-
ção entre pastores e seus filhos? podem servir como pontes de acesso en- trado por ele. A rotina é feita de acordo
Alguns momentos marcaram minha tre outras pessoas e Jesus. com as necessidades do ministério. Mes-
vida como filha de pastor. Por vezes fui mo assim, dedicar tempo de qualidade para
questionada se era feliz por ter nascido O poder do exemplo os filhos pode ser um grande desafio, nes-
em um lar pastoral. Recordo-me de como Um pastor que vive as mensagens que ses dias em que parece que 24 horas não
foi construído o conceito de vida ministe- prega para seus auditórios não precisa são suficientes.
rial durante toda a vivência que tive com pregar sermões a seus filhos. O exemplo O pastor precisa tirar tempo para ser pai,
meus pais. Percebo que muito do que foi é concreto, não é teórico nem virtual. O amigo, conselheiro – sem dar sermões –,
feito em meu favor e de minha irmã mais pastor que transforma a religião que de- sonhador, brincalhão, contador de histó-
nova, Karla, ocorreu por decisão conjunta fende em estilo de vida não precisa ter rias, imitador, cantor e o que mais for pre-
deles e por atitudes simples, mas muito im- medo de que seus filhos não compreen- ciso para ver seus filhos felizes. Pode ser
pactantes. Neste artigo, quero comparti- dam a essência do cristianismo. É notório por um período curto durante o dia ou nas
lhar o que me ajudou a aprender a amar o que encontrarão os princípios na prática e férias em família.
Deus do pastor de minha casa. no cotidiano da família. Aliás, algo que valorizamos até hoje são
Mas, que exemplos são esses? Neste as férias em família. É um tempo sagrado
© WavebreakmediaMicro, Monkey Business | Fotolia

Cuidado com as palavras momento vem à minha memória as vezes para estar juntos, programar algo diferen-
Se existe algo que os filhos fazem por em que acordei de madrugada e vi meu pai te e nos conectar uns com os outros. La-
natureza é imitar os pais: o que falam, o que ajoelhado à beira da minha cama orando mentavelmente, porém, o que se tem visto
fazem e o que pensam a respeito de tudo, por mim; as manhãs em que fui desperta- são itinerários de viagem até interessantes,
inclusive da igreja. Em todos os momen- da ouvindo hinos que ele cantava enquan- mas com poucas atividades conjuntas. Cada
tos do ministério em que estive inserida – to fazia seu devocional pessoal; o fato de um se fecha no seu mundo virtual e, ainda
e sei que não é um mar de rosas –, o jardim que ao folhear sua Bíblia posso encontrá-la que estejam no mesmo ambiente, pouco se
em que estivemos juntos “pastoreando” quase toda anotada. Isso me mostra que olham e raramente conversam. Isso é tempo

MAI-JUN • 2018 | 19
valioso sendo desperdiçado. Ellen White, es- Ele sempre dizia que nossa família era a de conhecer mais a Bíblia seria me tornan-
crevendo há cerca de 100 anos, afirmou: “Os extensão de sua mensagem. Assim nos do um pastor.”
filhos dos pastores são, em certos casos, os sentíamos blindadas e também envolvi- Com muito esforço, Shaw conseguiu
mais negligenciados do mundo, pela razão das na missão. estudar, e hoje é pastor em Manaus, AM.
de que os pais não estão com eles senão por Foi nessas pequenas atuações que me Recentemente, em um concílio de que par-
pouco tempo, e ficam na liberdade de esco- descobri em muitos ministérios da igre- ticipou, no momento em que eram apre-
lher suas ocupações e entretenimentos.”3 ja. Foi elaborando cultos criativos de pôr sentados os pastores da Associação, ele foi
Essa negligência tem seu preço. O pes- do sol que organizei meus primeiros even- surpreendido ao ouvir o nome do pastor
quisador norte-americano Armand Nicholi tos. Foi contando histórias para crianças José Carlos de Aguiar Bezerra. Imediata-
Jr. descobriu que um pai física ou emocio- que aprendi a enfrentar o público. Foi in- mente ele o reconheceu. Era aquele pas-
nalmente ausente pode causar baixa mo- serida no Clube de Desbravadores que fui tor, o pai da garotinha!
tivação para o desempenho da criança; estimulada a aceitar desafios ousados em “Na primeira conversa que tivemos dis-
autoestima debilitada; incapacidade de favor da igreja. Foi ajudando a montar os se que o conhecia, e logo lhe contei minha
adiar a gratificação imediata para obter re- equipamentos de mídia do meu pai que história. Não tenho dúvidas de que a con-
compensas posteriores; e suscetibilidade à desenvolvi o interesse pela minha profis- duta daquele casal pastoral influenciou sua
influência do grupo e à delinquência juvenil.4 são, o jornalismo. Assim, fui descobrindo pequena criança desde cedo”, disse o pas-
Por isso, o pai precisa desenvolver pro- meus dons, me sentindo útil e relevante tor Shaw. A esperança compartilhada por
ximidade com seus filhos. Norm Wakefield para Deus. Aprendi o sentido de perten- aquela menininha também alcançou os ir-
e Josh McDowell descrevem as atitudes do cer a uma família que se une para pregar o mãos de Shaw e, finalmente, sua mãe, que
pai bem-sucedido nesse processo: Sorri e evangelho de muitas maneiras, mas com também aceitou a mensagem adventista.
é otimista, encoraja e elogia, mostra inte- um só propósito. Jamais imaginei que as histórias contadas
resse pelos assuntos, talentos e ideias dos com auxílio de um flanelógrafo pudessem
outros e está disponível. Conclusão ajudar um menino a tomar a decisão de se
Desse modo, as aventuras de pais e fi- Enquanto preparava este artigo fui sur- tornar um pastor. Quando falei com o pas-
lhos ficam registradas para sempre na preendida por uma história que ilustra a tor Shaw, bastante emocionada, disse-lhe:
mente e no coração. Até hoje me lembro importância de uma família pastoral uni- “Amigo, ainda tenho guardadas aquelas
de muitos momentos especiais que desejo da no cumprimento da missão. Shaw Vidal histórias em feltro.” Hoje continuo contan-
reviver com meu esposo e meu filho. Pedroso teve uma infância muito sofrida. do as mesmas histórias, agora para meu
Abandonado pelo pai e negligenciado pela filho, Arthur, de três anos. Quem sabe um
Coração na missão mãe, o garoto tinha poucos momentos de dia ele se torne um pastor? O importante,
O que mais me impactou como filha de lazer. Um deles era participar de um encon- porém, é que o discipulado vai continuar,
pastor foi que desde muito pequena está- tro realizado aos sábados à tarde na casa e no Céu colheremos muitos frutos. Que-
vamos envolvidas na missão. Sim, a famí- de um vizinho. Enquanto o pastor adven- ro continuar investindo nessa lavoura!
lia toda! Em cada evangelismo, semana de tista pregava para os adultos, em um quar-
Referências
oração ou estudo bíblico, a família ia jun- to ao lado, um grupo de crianças se reunia
1
Ellen G. White, O Lar Adventista (Tatuí, SP: Casa
to. Não acompanhávamos para ficar ape- para ouvir a filha do pastor contar histórias
Publicadora Brasileira, 2013), p. 353.
nas sentadas, mas cantávamos, dirigíamos bíblicas utilizando um flanelógrafo. 2
Josh McDowell e Norm Wakefield, A Diferença que o
a programação das crianças e contribuía- “Eu buscava uma alegria que não tinha Pai Faz (São Paulo, SP: Candeia, 1997), p. 82, 129.
mos com aquilo que era necessário. em casa. Aquelas tardes de sábado me 3
 llen G. White, Obreiros Evangélicos (Tatuí, SP: Casa
E
É claro que havia muitos incentivos. trouxeram esperança. Consegui ver uma Publicadora Brasileira, 2014), p. 206.

Quando não estávamos muito dispostas, luz no fim do túnel. Os anos se passaram, 4
Armand Nicholi, Jr., “Changes in the American
Family”, White House Paper, 25/10/1984, p. 7, 8.
meu pai nos propunha comprar nosso lan- e eu nunca me esqueci daqueles momen-
che favorito no caminho de volta para casa tos, pois aquela menina, que tinha quase a
Dayse Bezerra é jornalista e
ou nos presentear com algo interessante. mesma idade que eu, sabia muito da Bíblia. mora em Manaus, AM
E o estímulo funcionava! Eu queria conhecer a Bíblia como aquela
Gentileza da autora

O que chama atenção é o fato de que menina. Após alguns anos, me tornei ad-
nosso pai não gostava de andar sozinho. ventista. Descobri que a melhor maneira

Diga-nos o que achou deste artigo: Escreva para [email protected] ou visite www.facebook.com/revistaministerio

20 | MAI-JUN • 2018
PANORAMA

O ateísmo e a Geração Z
S
e no passado acreditava-se que uma nova geração surgia shaping the next generation, a geração nascida entre 1999 e 2015
a cada 25 anos, atualmente a crença é de que isso ocorra demonstra uma atitude fluida em relação à identidade religiosa.
num espaço médio de uma década. Além desse compasso Alguns são inclinados à espiritualidade e avessos à religiosidade,
acelerado, observa-se que as novas gerações emergem com ca- e outros são declaradamente ateus. Aliás, o percentual de ateus
racterísticas cada vez mais distintas de suas antecessoras. Essas entre a Geração Z é o dobro do encontrado entre a população em
distinções influenciam todas as áreas da vida e, de modo especial, geral. Um dos dados levantados nessa pesquisa foi a percepção
as práticas religiosas. dos jovens na faixa dos 13 aos 18 anos quanto ao papel da igreja
Conforme o estudo do Instituto Barna, realizado nos Estados em sua vida. Os resultados revelam a tensão entre a relevância
Unidos, intitulado Gen Z: The culture, beliefs and motivations da comunidade de fé e a possível inconsistência de suas práticas.

PERCEPÇÕES SOBRE A IGREJA ENTRE JOVENS CRISTÃOS

82% 49% 24%


A igreja é um lugar para encontrar A igreja parece rejeitar A fé e os ensinamentos
respostas que promovem uma muito do que a ciência que eu encontro na igreja
vida significativa diz sobre o mundo parecem superficiais

82% 38% 17%


A igreja é relevante A igreja superprotege A igreja se parece muito
para minha vida os jovens com um clube exclusivo

77% 36%
Sinto que posso ser As pessoas na igreja
“eu mesmo” na igreja são hipócritas

63% 27%
As pessoas na igreja são A igreja não é um lugar
tolerantes quanto àqueles seguro para expressar
que têm crenças diferentes dúvidas

Fonte: Instituto Barna, “Atheism doubles among generation Z”. Disponível em <https://goo.gl/4G3T2t>.

MAI-JUN • 2018 | 21
EXEGESE

Duplo selamento
As distinções entre o selo do evangelho e o selo escatológico

Jiří Moskala

A
Bíblia fala de dois selos de Deus. sela essa pessoa em Cristo para o dia onde a atividade inteira aponta para Deus,
A carta aos Efésios menciona o pri- da redenção. Eu chamo isso de “selo do que “nos preparou para esse propósito,
meiro, e o livro do Apocalipse fala evangelho.” dando-nos o Espírito como garantia do
do segundo. Enquanto o segundo nos A sequência do pensamento na passa- que está por vir”.
é mais familiar, por fazer parte da com- gem de Efésios precisa ser notada: (1) ou- Isso nos leva à segunda passagem sobre
preensão adventista sobre os eventos do vimos a palavra da verdade, o evangelho o primeiro selo de Deus. Aqui Paulo adver-
tempo do fim, o primeiro pode não ser tão da salvação; (2) cremos em Jesus Cristo; tiu os crentes quanto ao relacionamento
conhecido. (3) fomos selados pelo Espírito Santo; e deles com o Espírito Santo: “E não entris-
Esses dois selos são diferentes, mas se (4) o Espírito Santo é dado a nós como pe- teçais o Espírito de Deus, no qual fostes
complementam. Somente aqueles que re- nhor (arrabōn, Ef 1:14; 2Co 1:22) ou como selados [esphragisthēte ] para o dia da re-
ceberem o primeiro selo poderão receber primícia (aparchē, Rm 8:23, 24). O “selo” denção” (Ef 4:30).4 A expressão grega ocor-
o segundo. O primeiro selo nos dá a segu- aqui se refere àquele ato divino pelo qual re apenas duas vezes no Novo Testamento,
rança da redenção. Ele é concedido no co- o Espírito Santo se torna penhor e fiador aqui e em Efésios 1:13, e sempre em relação
meço da jornada espiritual a todo aquele da nossa salvação e redenção. Dessa for- à crença em Jesus. Note que na vida de um
que aceita Jesus como Senhor e Salvador. ma, o Espírito Santo garante nossa he- crente, a afirmação de Paulo sobre o sela-
O segundo é nossa garantia escatológica, rança. Ele assegura nossa redenção desde mento efetuado pelo Espírito Santo, em
pois sua função é cumprida exatamente no que permaneçamos fiéis ao nosso chama- ambos os textos, é um evento passado:
tempo do fim, pouco antes do fechamento do até o fim do tempo, quando seremos a “fostes selados”. Os crentes em Cristo são
da porta da graça. Um estudo desses dois propriedade de Deus por completo e te- selados pelo Espírito Santo para o evento
selos pode nos dar uma nova dimensão, remos um perfeito relacionamento com escatológico da redenção total.
uma nova percepção, um compromisso re- Deus face a face.3 A vida de obediência é o resultado na-
novado e uma profunda alegria. O dom do Espírito é como um paga- tural de uma fé viva. O selamento é dom
mento antecipado da herança que temos de Deus. É Sua resposta à nossa respos-
O selo do evangelho em Deus. Essa primeira recompensa ga- ta ao Seu amor. Uma vez que o Espírito
A carta aos Efésios menciona o primei- rante o pagamento completo no futuro. Santo habita em nós, não devemos
ro selo duas vezes. A primeira menção está O Espírito é a parcela inicial da nossa sal- desapontá-Lo nem entristecê-Lo por meio
em Efésios 1:13, 14: “Em quem também vós, vação. Ele também é nossa garantia de de ações e condutas erradas: “Longe de
depois que ouvistes a palavra da verdade, que a plena herança futura e a salvação vós, toda amargura, e cólera, e ira, e grita-
o evangelho da vossa salvação, tendo nele serão entregues. A salvação não depende ria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia”
também crido, fostes selados [esphragis- dos nossos atos, realizações ou desempe- (Ef 4:31). O conselho de Paulo no sentido
thēte]1 com o Santo Espírito da promessa; nho, pois ela é unicamente obra de Deus. de não entristecer “o Espírito de Deus”
o qual é o penhor da nossa herança, até ao A palavra grega arrabōn significa “depósi- (Ef 4:30) é um apelo direto: não façam
resgate da Sua propriedade, em louvor da to, penhor, garantia daquilo que está por como o povo de Israel no passado (ver
Sua glória.”2 Paulo declarou que, no mo- vir”. A palavra é usada também em 2 Co- Is 63:10). Por que viver em oposição Àquele
mento em que alguém se entrega a Cristo ríntios 1:22, onde o selamento e a garantia que nos concedeu o selo? Por que colocar
e O aceita como Salvador, o Espírito Santo são colocados juntos, e em 2 Coríntios 5:5, em risco nosso destino eterno?

22 | MAI-JUN • 2018
O selamento tem vários significados, O selo apocalíptico nosso selamento, porque Ele recebeu um
entre eles, três devem ser notados: (1) si- O segundo selo de Deus é descrito no selo de aprovação em Sua obra em nos-
nal ou prova de autenticidade; (2) sinal de livro do Apocalipse. Esse selo não con- so favor quando viveu na Terra. “Porque
propriedade; e (3) sinal de aprovação. Por tradiz o primeiro, mas é concedido aos Deus, o Pai” “confirmou [Jesus] com o Seu
meio do selamento, Deus declara que per- redimidos como sinal de que pertencem selo” (Jo 6:27).
tencemos a Ele, somos Dele, e Ele aprova e ao Senhor. Eles vivem no tempo do fim,
aceita nossa fé para que possamos crescer um pouco antes do fechamento da por- Os dois selos comparados
Nele e ter uma vida autêntica de amor, fé ta da graça. O propósito desse segundo Tanto no selo do evangelho quan-
e esperança (2Co 13:13, 14; 2Pe 3:18). Todas selo não focaliza a salvação ou reden- to no selo apocalíptico, a obra é realiza-
essas nuances são relevantes para o sela- ção, mas expressa a derradeira proteção da pelo Espírito Santo. O primeiro, o selo
mento divino daqueles que creem. Como e vindicação redentiva. Se o primeiro é do evangelho, é colocado sobre todos os
sinal de propriedade, o selamento indica o selo do evangelho, o segundo pode que aceitam Jesus como seu Salvador e
pertencimento, bem como aprovação de ser chamado de selo escatológico ou no momento em que O aceitam (2Co 1:22;
um produto. Isso traz um sentimento apocalíptico. Ef 1:13; 4:30; 2Tm 2:19). O segundo, o selo
de validade e autenticidade: “Ora, é Deus Esse selo apocalíptico (sphragis) é apocalíptico, é colocado naqueles que
que faz que nós e vocês permaneçamos mencionado no livro do Apocalipse, receberam o primeiro selo e que estarão
firmes em Cristo. Ele nos ungiu, nos se- onde os fiéis seguidores de Deus o re- vivos e fiéis ao seu chamado durante os
lou como Sua propriedade e pôs Seu cebem perto do fim dos tempos para que dias apocalípticos que ocorrerão pouco
Espírito em nossos corações como garantia sejam capazes de passar pelos eventos tempo antes da segunda vinda de Jesus
do que está por vir” (2Co 1:21, 22, NVI). “Foi finais e ser protegidos das sete últimas (Ap 7:3, 4, 14-17).
Deus que nos preparou para esse propósi- pragas (Ap 7:2, 3; 9:4; 14:9). Esse selo é O primeiro é um selo de salvação, de-
to, dando-nos o Espírito como garantia do o oposto da marca (charagma) da bes- clarando que a pessoa é salva por Cristo
que está por vir” (2Co 5:5, NVI). ta. O mundo é advertido a não receber e faz parte da família de Deus, manten-
Mediante nossa união com Cristo, pas- a marca da besta (Ap 13:16, 17; 14:9, 11; do esse status enquanto permanecer fiel
samos novamente a pertencer ao Senhor, 16:2; 19:20; 20:4), porque ela será colo- a Ele. O segundo é um selo de proteção
e o Espírito Santo coloca Seu selo em nós cada sobre aqueles que rejeitarem a gra- que guarda os fiéis durante o tempo de
para ratificar esse novo relacionamento ça salvífica de Cristo e se colocarem do perseguição que ocorre no período apo-
(Ef 1:13; 2:11). Não há dúvida quanto à salva- lado de Satanás. calíptico. O primeiro é um selo de aceita-
ção, porque o Espírito Santo é o fiador des- No livro do Apocalipse, aqueles que ti- ção, o outro, um selo de confirmação final.
sa experiência (cf. Jo 5:24; Ef 2:4-10). Tendo verem o selo de Deus na sua fronte serão O primeiro selo é uma declaração inicial
crido, somos selados pelo Espírito para o protegidos do derramamento da ira divi- de que a pessoa pertence a Cristo e é co-
dia da redenção. É significativo que o sela- na e poderão ficar em pé naquele grande locado no momento em que ela aceita
mento pelo Espírito é mencionado nas duas dia (Ap 6:17; 7:3). Portanto, não é por aca- Jesus. O segundo confirma a fidelidade
partes de Efésios. Na primeira parte (capítu- so que a trípice mensagem angélica é con- em seguir ao Cordeiro e à liderança de
los 1-3), que é mais doutrinária, Paulo apre- cluída com a declaração do Espírito Santo Deus na sua vida, fazendo Sua vontade,
sentou o indicativo do evangelho, ou a raiz aos filhos de Deus: “que descansem das guardando Seus mandamentos e viven-
da nossa salvação, e nos lembrou do nosso suas fadigas, pois as suas obras os acom- do de acordo com Sua Palavra durante
chamado e das riquezas da graça de Deus. panham” (Ap 14:13). Esses fiéis são a heran- as horas finais da Terra (Ap 7:14-17; 12:17;
Na segunda parte (capítulos 4-6), Paulo ça de Deus, descansando no Senhor até o 13:10; 14:4, 5, 12; 17:14; 19:10). O primeiro
descreveu as consequências e demandas dia da redenção. selo é colocado no momento da aceitação
de uma vida salva, isto é, o imperativo do A salvação nunca foi um empreendi- de Jesus como Salvador, e os redimidos
evangelho e do comportamento ético, mento antropocêntrico, mas uma realiza- permanecem com ele enquanto se man-
exortando os seguidores de Cristo a viver ção teocêntrica. Nós não podemos tomá-la têm fiéis ao seu chamado. O segundo selo
de maneira apropriada ao seu chamado. em nossas mãos. Não possuímos a salva- é colocado naqueles que receberam o pri-
Nenhum de nós pode selar a si mesmo. ção. Ela vem a nós como um dom prepara- meiro selo e vivem durante os dias apo-
O selamento é um ato de Deus por nós no do por Deus que podemos somente aceitar calípticos, fiéis ao seu chamado. Embora
qual não há “mas” nem “talvez”. Perma- ou rejeitar. Deus nos possui, e pertencemos o selo do evangelho possa ser quebrado
necendo em Cristo, temos segurança da a Ele. Precisamos permanecer “em Cristo”, pelo abandono da fé, o selo apocalíptico
salvação. assim como Paulo diria.5 Jesus é o fiador do é permanente.

MAI-JUN • 2018 | 23
O tempo de receber o selo anjo advertir os homens contra a adora- que servem a Deus e os que não O servem.
apocalíptico ção da besta e de sua imagem, será tra- Ao passo que a observância do sábado es-
À medida que a história do mundo che- çada com clareza a linha divisória entre o púrio em conformidade com a lei do Esta-
ga ao fim, haverá circunstâncias tão angus- falso e o verdadeiro. Então os que ainda do, contrária ao quarto mandamento, será
tiantes que as pessoas terão que decidir de persistirem na transgressão receberão o uma declaração de fidelidade ao poder que
que lado estarão: com Deus ou com as for- sinal da besta.” se acha em oposição a Deus, a guarda do
ças do mal representadas no Apocalipse “A passos rápidos aproximamo-nos verdadeiro sábado, em obediência à lei di-
pelo dragão, pelas bestas do mar e da ter- desse período. Quando as igrejas pro- vina, é uma prova de lealdade para com o
ra, pelo falso profeta e pela imagem da testantes se unirem com o poder secular Criador. Ao passo que uma classe, aceitan-
besta (ver Ap 13-18). O livro do Apocalip- para amparar uma religião falsa, à qual se do a sinal de submissão aos poderes ter-
se menciona que durante o tempo do fim, opuseram os seus antepassados, sofren- restres, recebe o sinal da besta, a outra,
Deus colocará Seu selo apocalíptico sobre do com isso a mais terrível perseguição, preferindo o sinal da obediência à autori-
Seu povo (Ap 7:1-4). então o dia de repouso papal será torna- dade divina, recebe o selo de Deus.”9
Com base no ensinamento bíblico, do obrigatório pela autoridade combinada
Referências
apoiado pelos escritos de Ellen White, da Igreja e do Estado. Haverá uma apos-
1
E
 sphragisthēte é um verbo no aoristo do indicativo
pode-se afirmar que o selo apocalíptico tasia nacional que só terminará em ruína
passivo, na segunda pessoa do plural, que significa
será dado somente aos fiéis seguidores de nacional.”7 “vocês foram selados” ou “marcados” (do verbo
Deus após a derradeira crise global, imedia- Ellen White afirma ainda: “A obser- sphragizō, “selar, lacrar com um selo”).

tamente antes do fechamento da porta da vância do domingo não é ainda o sinal da 2


Salvo indicação contrária, todas as passagens
bíblicas são da versão Almeida Revista e Atualizada.
graça. Nesse tempo, a imagem da besta besta, e não o será até que saia o decre-
3
 presença do Espírito Santo na vida dos crentes
A
surgirá com suas demandas vigorosas. Ellen to compelindo as pessoas a venerarem não é apenas evidência de sua presente salvação
White diz: “A imagem da besta será for- esse falso sábado. Chegará o tempo em em Cristo, mas também um penhor e garantia de
sua herança futura, e pagamento antecipado dessa
mada antes que termine a graça. Isso será que esse dia será a prova, mas esse tem-
herança. Paulo também falou sobre ter as primícias
a grande prova para o povo de Deus, pela po ainda não veio.”8 do Espírito (Rm 8:23, 24).
qual será decidido seu destino eterno [...]. Mais uma vez, quando ocorrerá o se- 4
A referência ao “dia da redenção” é a ênfase especial
“Esta é a prova pela qual o povo de Deus lamento escatológico? Com base nos es- paulina em Efésios, e seu contexto aponta para a
segunda vinda de Cristo (ver Ef 1:14).
tem que passar antes de ser selado. Todos critos de Ellen White, podemos afirmar
5
A expressão “‘em Cristo’, com suas 164 ocorrências,
os que demonstrarem sua lealdade a Deus, o seguinte: (1) esse selamento ocorre- 36 das quais estão em Efésios, muito provavelmente
observando Sua lei e recusando aceitar o rá somente depois que o protestantismo seja o tema central ou, pelo menos, um tema central”
em Paulo. Klyne Snodgrass, The NIV Application
falso dia de repouso, se colocarão sob o es- apostatado se unir com o catolicismo para
Commentary: Ephesians (Grand Rapids, MI:
tandarte do Senhor e receberão o selo do impor a guarda do domingo; (2) a lei do- Zondervan, 1996), p. 57.
Deus vivo. Os que renunciarem à verdade minical entrará em vigor e servirá de ca- 6
Ellen G. White, Comentário Bíblico Adventista do
de origem celestial e aceitarem o domin- talisador para levar as pessoas a escolher Sétimo Dia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
2014), v. 7, p. 1090, 1091, ênfase acrescentada.
go como o sábado de repouso receberão entre a lei de Deus e as exigências huma- 7
Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa
a marca da besta.”6 nas; (3) somente então começará o tem- Publicadora Brasileira, 2016), p. 234, 235.
Além disso, ela explica quando a mar- po de identificação com o selo de Deus e a 8
Ellen G. White, Comentário Bíblico Adventista do
ca da besta será recebida: “Ninguém rece- marca da besta. Sétimo Dia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,
2014), v. 7, p. 1092.
beu até agora o sinal da besta. Ainda não O selamento apocalíptico começará
9
 llen G. White, O Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa
E
chegou o tempo de prova. Há cristãos ver- somente depois que a lei dominical for pro-
Publicadora Brasileira, 2014), p. 605.
dadeiros em todas as igrejas, inclusive na mulgada. A controvérsia final entre o sá-
comunidade católico-romana. Ninguém é bado e o domingo distinguirá aqueles que
condenado sem que haja recebido ilumi- são leais daqueles que optarem por se aliar Jiří Moskala, doutor em
nação nem se compenetrado da obriga- a Satanás. Ellen White declara: “O sába- Teologia, é reitor do Seminário
Teológico Adventista do Sétimo
toriedade do quarto mandamento. Mas do será a pedra de toque da lealdade [...]
Gentileza do autor

Dia da Universidade Andrews


quando for expedido o decreto que impõe Quando sobrevier aos homens a prova fi-
o falso sábado, e o alto clamor do terceiro nal, será traçada a linha divisória entre os

Diga-nos o que achou deste artigo: Escreva para [email protected] ou visite www.facebook.com/revistaministerio

24 | MAI-JUN • 2018
TEOLOGIA

Do Decálogo
à Tradição
Os 20 anos de publicação da encíclica Dies Domini

Diego Bispo e Lucas Higor

P
ublicada em 31 de maio de 1998, a encíclica Dies Domini, de autoria do então papa
©Neurobite | Fotolia

João Paulo II, veio realçar a importância do descanso dominical para os círculos
católico-romanos.1 Ao que parece, a principal preocupação em pauta era a perda de
significado do domingo diante das condições socioeconômicas e culturais da época, que
ameaçavam reduzir a solenidade religiosa do dia a um mero descanso físico.2
Frente àquela realidade, o papa esclareceu que seu objetivo era “recuperar as profun-
das motivações doutrinais que estão na base do preceito eclesial, para que apareça
bem claro a todos os fiéis o valor imprescindível do domingo na vida cristã”.3
Para tanto, sua abordagem vai desde a observância do sétimo dia pelo
próprio Deus, conforme destacada na narrativa de Gênesis, até a
suposta transferência dessa solenidade para o primeiro dia da
semana, em comemoração à ressurreição de Cristo.
Ao discorrer sobre o assunto, Alberto Timm comen-
ta que a encíclica Dies Domini surgiu da tentativa ca-
tólica de construir uma teologia bíblica a respeito
do domingo.4 Biblicamente, porém, é possível
constatar que as Escrituras não fazem men-
ção a outro dia como sendo o dia de repouso
religioso, senão ao sétimo dia da sema-
na, o sábado.
Nesse contexto, haveria respal-
do bíblico para defender o chamado
“argumento da transferência” apre-
sentado por essa encíclica papal? O
mandamento da observância do
sábado contido no Decálogo foi,
de fato, substituído pelo des-
canso dominical?

MAI-JUN • 2018 | 25
Dies Domini e suas Interessante é notar que a encíclica, bem de descanso religioso, indicam ainda que
pressuposições como o Catecismo da Igreja Católica,10 não não houve outro dia sendo honrado como
A teologia católica, assim como qual- descartam o sábado como tendo perdido dia de adoração senão o sétimo dia.15
quer outra, é fundamentada em pressu- sua validade, tampouco defendem a revoga- É inquestionável que a ressurreição
postos que norteiam sua interpretação das ção do dia de adoração apontado pelo Decá- de Cristo, evento de importância ímpar
Escrituras e de sua fé. Assim, é válido pon- logo. Antes, João Paulo II afirma que “mais do para a fé cristã, ocorreu em um domingo
tuar, mesmo que brevemente, dois pressu- que uma substituição do sábado, o domingo (Mt 28:1; Mc 16:2, 9; Lc 24:1; Jo 20:1, 19).
postos básicos que, presentes também nas constitui a sua perfeita realização [...], seu de- Mas isso justificaria a substituição do sá-
entrelinhas da encíclica, proveem uma base senvolvimento e plena expressão”.11 Para ele, bado pelo domingo como dia de adoração?
argumentativa para a crença na transfe- o descanso de Deus na criação e a salvação Alberto Timm destaca que há uma imposi-
rência do sábado para o domingo: a dou- de Seu povo prefigurada pelo êxodo que, ção retroativa da tradição pós-apostólica
trina da sucessão apostólica e o papel da sob a antiga aliança, constituíam o significa- – a qual veremos a seguir – ao texto bíbli-
Tradição na interpretação bíblica. do do sábado, encontram seu cumprimen- co, distorcendo assim o significado natural
A Igreja Católica defende a ideia da su- to na morte e ressurreição de Jesus. Tendo das passagens em questão.16 Em realida-
cessão apostólica,5 crendo, desse modo, esse grandioso evento ocorrido em um do- de, nenhum texto neotestamentário re-
possuir uma relativa pureza doutrinária mingo, conclui-se que “o sentido do precei- laciona a ressurreição a um novo dia de
ininterrupta desde sua fundação. Por isso, to veterotestamentário do dia do Senhor adoração.
as referências históricas de cristãos primiti- é recuperado, integrado e plenamen-
vos observando o domingo são considera- te revelado” em Cristo. Assim, “do sábado Dies Domini e a Tradição
das como normativas para a prática cristã passa-se ao primeiro dia depois do sábado, Longe de ser uma prescrição do Novo
contemporânea.6 do sétimo dia passa-se ao primeiro dia: o Testamento, a observância do domingo
Quanto ao papel da Tradição para sua dies Domini torna-se o dies Christi! ”12 À luz como dia de culto encontra sua origem na
hermenêutica, a Igreja de Roma deixa cla- da Bíblia, porém, não há base para susten- história do cristianismo, cujo desenvolvi-
ro que as Escrituras têm a “Sagrada Tradi- tar tal argumento. mento não é simples de ser detalhado. É
ção” – a maneira com que o evangelho é importante salientar, como apresentado
transmitido dentro do contexto eclesiás- Dies Domini à luz da Bíblia por Samuele Bacchiocchi, que a origem da
tico ao longo da história7 – como “a regra Ao se considerar qualquer controvérsia observância dominical é resultado de uma
suprema de sua fé”.8 Em outras palavras, a respeito do dia de repouso e adoração, interação entre fatores do judaísmo, do pa-
a Bíblia não é a única regra de fé e práti- tal discussão sempre girará em torno das ganismo e do cristianismo,17 além de um
ca para o catolicismo, como geralmente se páginas do Novo Testamento. Afinal, as re- longo processo histórico.
admite no meio protestante (sola Scriptu- petidas referências ao sétimo dia no Antigo Inicialmente, como assegura Kenneth
ra). Assim, toda interpretação bíblica católi- Testamento o colocam acima de qualquer Strand, o domingo não era um substitu-
ca – inclusive a encíclica –, estará norteada questionamento (Gn 2:1-3; Êx 16, 20:8-11; to para o sábado, de tal modo que ambos
por sua própria Tradição. Dt 5:12-15; Ne 13:15, 16; Is 58:13, 14; Jr 17:19- foram igualmente observados no período
27; Ez 20:12, 20). do cristianismo apostólico.18 Provavelmen-
Dies Domini e seu conteúdo A própria encíclica admite que Cristo, te sua origem como comemoração cristã
bíblico quando realizava curas no dia de sábado, esteja ligada à Festa das Primícias que, no
Uma leitura superficial da encíclica Dies longe de indicar sua perda de validade, Novo Testamento, é relacionada à ressur-
Domini é suficiente para notar que o pon- aprofundou o significado libertador desse reição de Cristo. Nesse contexto, seria na-
to fundamental a partir do qual se cons- dia (Mt 12:9-13; Lc 13:10-17, 14:1-6; Jo 5:2-9).13 tural que os primeiros cristãos – em sua
trói todo o “argumento da transferência” Na sequência dos evangelhos, o livro de maioria cristãos judeus – comemorassem
é o evento da ressurreição de Cristo. Con- Atos “revela que o único dia em que os as primícias em honra à ressurreição. Essa
siderando-a como o “dado primordial so- apóstolos estiveram envolvidos em ser- festividade, entretanto, ocorria anualmen-
bre o qual se apoia a fé cristã”, toma-se o viços de culto [...] foi o sábado” (At 13:14, te. Posteriormente, porém, deve ter-se
fato de tal evento haver ocorrido no pri- 42, 44; 16:13; 17:2, 18:4).14 Kenneth Strand convertido em uma celebração semanal.19
meiro dia da semana como o indicativo de também sugere que essas evidências, além De fato, a substituição efetiva do sá-
que este se torna, por excelência, o dia do de apontar para o fato de que Cristo e os bado para o domingo deve ser creditada
descanso cristão.9 apóstolos mantiveram o sábado como dia à história da Igreja de Roma. Desde muito

26 | MAI-JUN • 2018
cedo, teólogos cristãos de Roma, ao lado como festivo o primeiro dia depois do sá- 8
C
 onstituição Dogmática Dei Verbum § 21. Disponível
em <https://goo.gl/tzyKwD>.
dos de Alexandria, eram os que não apenas bado, porque nele se deu a ressurreição do
9
Dies Domini § 3.
mantinham o domingo como dia de cele- Senhor”.26 Relembrando o papel da Tra-
10
C
 atecismo da Igreja Católica § 2168 a 2176.
brações religiosas, mas também manifes- dição para a interpretação da fé católi- Disponível em <https://goo.gl/dhMZPa>.
tavam atitudes negativas em relação ao ca e da doutrina da sucessão apostólica, 11
Dies Domini § 59.
sábado, como demonstraram Justino Már- assume-se que “era justo que os cristãos 12
Dies Domini § 18.
tir e Barnabé de Alexandria, por exemplo.20 [...] se sentissem autorizados a transpor o 13
Ibid.
Samuele Bacchiocchi assinala que, sendo significado do sábado para o dia da ressur- 14
Kenneth Strand, “Como o domingo tornou-se o
formada em sua maioria por cristãos con- reição”.27 Em última instância, recorre-se à popular dia de culto – parte 1”, em Parousia, n. 1, v. 3
versos do paganismo, a igreja romana to- Tradição e à suposta autoridade apostólica (p. 67-72), jul-dez 2004, p. 70.

mou medidas com o intuito de salientar da Sé Romana para justificar a transferên-


15
Kenneth Strand, “O sábado”, em Raoul Dederen
(ed.), Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia
suas distinções quanto aos judeus, que vi- cia do sábado para o domingo. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011), p. 565.
viam em constante tensão com o Império Essa realidade parece deslocar a contro- 16
Alberto R. Timm, O Sábado na Bíblia, p. 77.
Romano.21 Sem dúvida, o contexto antiju- vérsia sábado versus domingo para além 17
Samuele Bacchiocchi, From Sabbath to Sunday:
daico do período foi um dos mais impor- da discussão bíblica, chegando aos pon- A Historical Investigation of the Rise of Sunday
Observance in Early Christianity (Roma: The
tantes fatores para a substituição do dia tos mais fundamentais da Teologia Cristã:
Pontifical Gregorian University Press, 1977), p. 308.
cristão de adoração.22 a noção de Revelação e a interpretação das 18
Kenneth Strand, “Como o domingo tornou-se o
Bacchiocchi esclarece que a escolha do Escrituras. Como alerta Bacchiocchi, “para popular dia de culto – parte 1”, p. 67.
domingo em si relaciona-se também com aqueles cristãos que defendem suas cren- 19
Kenneth Strand, “Como o domingo tornou-se o
a difusão dos cultos ao Sol comumente co- ças e práticas exclusivamente pelo princí- popular dia de culto – parte 2”, em Parousia, n. 1, v. 4
(p. 63-72), jan-jun 2005, p. 64, 65.
memorados no Império Romano no pri- pio reformador do sola Scriptura, observar
20
Ibid, p. 64.
meiro dia da semana. Os cristãos teriam o domingo como o dia do Senhor sobre a
21
Samuele Bacchiocchi, From Sabbath to Sunday, p. 307.
assumido esse dia, não porque estivessem autoridade da tradição da igreja e não so-
22
Kenneth Strand, “Como o domingo tornou-se o
desejosos de adorar ao deus-Sol, mas por- bre a autoridade das Escrituras é um dile- popular dia de culto – parte 2”, p. 65.
que o dia estaria relacionado à nova criação ma paradoxal”.28 23
 amuele Bacchiocchi, From Sabbath to Sunday,
S
e ao simbolismo do “Sol da Justiça”,23 algo Atualmente, os recorrentes debates nos p. 307-309.
que ainda permanece presente na própria círculos cristãos sobre o tema, bem como os 24
Dies Domini § 27, 64.
encíclica Dies Domini.24 movimentos de apoio ao descanso domi- 25
 enneth Strand, “Como o domingo tornou-se o
K
popular dia de culto – parte 2”, p. 68-70.
Posteriormente, as leis dominicais do nical ao redor do mundo,29 aparentemente
Império e o íntimo relacionamento existen- enraizados no “argumento da transferên-
26
Ibid., grifo nosso.

te entre este e a Igreja, que se desenvol- cia”, realçam a necessidade da teologia ad-
27
D
 ies Domini § 63, grifo nosso.

veu de Constantino a Justiniano, acabaram ventista reafirmar sua crença no sábado


28
Samuele Bacchiocchi, From Sabbath to Sunday, p. 311.

assinalando a substituição do sábado para bíblico à luz de sua perspectiva profética


29
Ver, por exemplo, a Aliança Dominical Europeia.
Disponível em <https://goo.gl/q1rNpA>.
o domingo, por volta do oitavo século.25 (Ap 13).

Conclusão Referências
1
João Paulo II, Dies Domini. Disponível em Diego Bispo é aluno
Apesar dos argumentos usados por de Teologia do Unasp,
<https://goo.gl/2ZsED9>.
João Paulo II serem bem elaborados, ne- Engenheiro Coelho
Gentileza do autor

2
D
 ies Domini § 4.
nhum dos textos bíblicos utilizados por 3
Dies Domini § 6.
ele no desenvolvimento de sua tese diz de 4
Alberto R. Timm, O Sábado na Bíblia: Porque Deus
maneira objetiva que o sábado foi substi- Faz Questão de um Dia (Tatuí, SP: Casa Publicadora
tuído pelo domingo como dia de repouso. Brasileira, 2010), p. 97.
Lucas Higor é aluno
Contudo, à luz de sua própria perspectiva, 5
Dies Domini § 3. de Teologia do Unasp,
esse fato não consiste em um problema 6
Por exemplo, nos § 19, 23, 46 e 47. Engenheiro Coelho
Gentileza do autor

teológico para o catolicismo. Admite-se, 7


 . Ribeiro. “A Revelação nos Concílios de Trento e
A
Vaticano II”, em Teocomunicação, v. 36, nº 151
porém, que “os cristãos [...] assumiram
(p. 55-74), p. 64.

Diga-nos o que achou deste artigo: Escreva para [email protected] ou visite www.facebook.com/revistaministerio

MAI-JUN • 2018 | 27
MINISTÉRIO

Líderes
da nova
geração
O que os pastores millenials
precisam saber para ser
bem-sucedidos no ministério

Wagner Aragão

M
eu filho adolescente me disse que seu desejo é ser
pastor. Senti alegria, mas confesso que fiquei apreen-
sivo só em imaginar como estará o mundo quando
ele, possivelmente, estiver atuando no ministério. Lembrei-me das
palavras do apóstolo Paulo ao jovem pastor Timóteo: “Nos últimos
dias sobrevirão tempos terríveis” (1Tm 3:1, NVI). Os desafios que a nova
geração de pastores tem enfrentado são diferentes do passado.
O pós-modernismo se caracteriza não apenas por mudanças na
ciência, nas artes, na política, na economia, nas relações humanas,
mas também na religião. À medida que o tempo avança, o mun-
do passa por transformações complexas que afetam o ministé-
rio pastoral trazendo grandes desafios. Nesse sentido, há cinco
aspectos fundamentais que podem ameaçar o êxito da jorna-
da ministerial: (1) a falência de princípios bíblicos e valores cris-
tãos; (2) a profissionalização do ministério em detrimento à sua
natureza vocacional; (3) a supervalorização do secularismo,
materialismo e antropocentrismo; (4) as tentativas de frag-
mentação da família e de seus valores; e (5) o sentimento
de desamparo, oriundo de um exacerbado individualis-
mo latente na sociedade pós-moderna.
Os pastores que nasceram nas décadas de 80 e
90 e que atuam no ministério atualmente fazem
parte da geração Y. Conforme aponta Sidnei Oli-
veira, essa geração tem algumas vulnerabilida-
des, como indisposição para ouvir e vontade de
questionar, dificuldade para lidar com a hierar-
quia e indecisão e ansiedade na hora de to-
mar decisões. Contudo, esses jovens não
podem ser definidos apenas por al-
© Opolja | Fotolia

gumas características negativas,


porque também apresentam

28 | MAI-JUN • 2018
qualidades que eram inexistentes ou fo- exercício do pastorado segundo o mo- principais causas de danos à saúde. Pasto-
ram pouco desenvolvidas nas gerações delo de Cristo. Atualmente, a maior ne- res estão sujeitos a um alto nível de can-
anteriores.1 cessidade da liderança pastoral não está saço mental devido às diversas exigências
Os pastores da geração Y, ou millenials, relacionada com questões de metodologia, de sua atividade. O estresse compromete
têm melhor preparo acadêmico, menta- dinheiro, gestão ou de números, mas de in- a saúde física. Doenças cardiovasculares,
lidade voltada para inovações, energia e tegridade. Mais do que nunca, a “obra de diabetes, hipertensão, câncer e obesidade
disposição para demonstrar maior pro- Deus requer homens de alto poder moral têm vitimado muitos ministros do evange-
dutividade quando colocados diante de para se empenhar em sua divulgação, [...] lho. Um estudo realizado em 2008 verifi-
desafios que demandem criatividade. 2 homens cujo coração seja fortalecido com cou que os pastores correspondiam a 26%
Eles também conseguem executar vá- santo fervor, homens de firme propósito da amostra de pacientes cristãos vítimas
rias tarefas ao mesmo tempo com mui- que não sejam facilmente abalados, que de depressão.10
ta espontaneidade e facilidade. Todos possam renunciar a todo interesse egoís- Escrevendo aos pastores, Ellen Whi-
esses aspectos agregam valor, mas não ta e dar tudo pela cruz e a coroa. A causa te mencionou que alimentação saudável,
são suficientes para garantir o êxito na da verdade presente está precisando de temperança, exercício físico e repouso aju-
trajetória ministerial. Formação acadê- homens que sejam leais à retidão e ao de- dam o servo do Senhor no desempenho
mica e habilidades técnicas são impor- ver, cuja integridade moral seja firme, e cuja de suas atribuições, concedendo-lhe vi-
tantes, mas caráter e consagração são energia seja comparável à generosidade da gor mental para tomar as decisões cor-
indispensáveis. providência de Deus.”4 retas. Os pastores “devem obedecer às
Disposição para servir. O apóstolo leis da vida em sua maneira de viver e em
Ministério de êxito Paulo frequentemente se referiu a ele sua casa, praticando os sãos princípios e
Além do conhecimento acadêmico ob- mesmo como “servo” (diakonos) ou “es- vivendo saudavelmente”.11 O sucesso da
tido no seminário, os pastores necessitam cravo” (doulos).5 Doulos enfatiza a sujeição obra do Senhor depende em grande me-
desenvolver um estilo de vida regido por completa do ministro ao Senhor, e diako- dida do bom estado de saúde dos obrei-
princípios e valores divinos, especialmente nos aponta para seu serviço em favor da ros, principalmente no mundo estressante
no contexto pós-moderno. Alguns fato- igreja e do rebanho de Deus.6 Em 1 Corín- como o nosso.
res são de fundamental importância nes- tios 4:1, Paulo usou o termo grego hypere- Valorizar a família. Uma família pasto-
se sentido. tes para especificar o serviço pastoral. Essa ral bem estruturada fará toda a diferença
Vida devocional. Paulo escreveu ao jo- palavra, muito rara no Novo Testamento, no ministério. Não é da vontade do Senhor
vem pastor Timóteo: “Exercite-se na pie- geralmente era usada para descrever o es- que o pastor sacrifique a família por cau-
dade” (1Tm 4:7, NVI) e “fortifique-se na cravo das galés greco-romanas que rema- sa do trabalho, permitindo que o excesso
graça que há em Cristo Jesus” (2Tm 2:1, va sob o comando do seu senhor.7 Segundo de atividades afete o relacionamento com
NIV). Para nutrir a natureza espiritual é ne- o apóstolo, o pastor é um servo de Cristo, a esposa e os filhos. Um dos maiores de-
cessário dedicar tempo para ouvir a voz de totalmente submisso a Ele. Por isso não safios para o ministro é se dedicar ao pas-
Deus por meio das Escrituras e da oração. deve se valer do ministério para satisfazer torado sem perder de vista sua família. Por
Em Lancashire, Reino Unido, uma senhora seus interesses pessoais. O ministério não outro lado, a família não deve ser empeci-
idosa ouviu de seus vizinhos que o suces- deve ser exercido na estrada do carreiris- lho para que ele realize seu ministério. Fa-
so do pastor deles era devido a seus dons, mo nem sob os holofotes da fama. João mília e ministério devem andar juntos.
estilo de linguagem e maneira de proce- Batista afirmou acerca de Cristo: “Impor- Para manter o equilíbrio entre esses dois
der. A idosa discordou deles com a seguin- ta que Ele cresça e eu diminua.”8 O pastor polos é importante que o pastor estabeleça
te declaração: “Não é isso! Eu lhes direi o não deve almejar o pódio, mas procurar se três prioridades relacionadas à família: (1) o
que é. Seu pastor está muito unido com realizar no lugar em que Deus o colocar; bem-estar espiritual da família;12 (2) dedicar
o Todo-Poderoso.”3 A oração põe o pastor não deve desejar conforto, mas o precio- tempo à esposa e aos filhos, pois “o tempo
em contato imediato com a Fonte da Vida e so auxílio do Espírito Santo. O pastor ser- que investimos na família mostra a impor-
serve-lhe de escudo para cumprir seu de- viçal terá clara compreensão do dever e das tância que damos a ela. Não basta ter qua-
ver e vencer as tentações. aspirações altruístas. Sua vida será influen- lidade, é preciso quantidade que também
Integridade. A integridade é essencial ciada por um nobre desígnio que o coloca- seja suficiente para suprir as necessidades
no ministério como em nenhuma outra rá acima dos motivos sórdidos.9 de cada membro envolvido”;13 e (3) viver
atividade. Ela se fundamenta no relacio- Cultivar hábitos saudáveis. Atual- um cristianismo autêntico no lar, porque a
namento autêntico com o Senhor e no mente, o estresse ocupacional é uma das convivência familiar não tolera máscaras.

MAI-JUN • 2018 | 29
O pastor tem a sagrada responsabilidade da mesma forma na es- Diagrama de prioridades17
de ser em sua casa “um exemplo das ver- colha de prioridades. Atividades importantes
dades que ensina”.14 Contudo, determina- e urgentes devem ser
Urgentes resolvidas imediatamente
Relacionamentos saudáveis. Muito das atividades devem (situações críticas).
Importante
embora o conceito de comunidade tenha ser priorizadas de acor-
Atividades importantes, mas
influenciado a sociedade moderna, a maio- do com diferentes cri- Não não urgentes, devem ser
urgentes planejadas e colocadas dentro
ria das pessoas continua vivendo de modo térios. O diagrama ao
de prazos compatíveis.
individualista, sentindo-se sozinhas no lado ajuda a entender
Atividades urgentes, mas
mundo real, mesmo quando estão conec- como classificar as ati- Urgentes não importantes, devem ser
tadas pelas redes sociais. Isso exige que vidades, conforme seu reduzidas, eliminadas
Não
ou delegadas.
o pastor seja versátil em habilidades grau de relevância. importante
que são necessárias em uma comunidade • Execute as tare- Não
Supérfluo
urgentes
relacional, como comunicação clara, con- fas diárias. (a) Anote
fiança, perdão, aceitação do outro e hu- todos os compromissos para o dia, ava- 3
Ellen G. White, Obreiros Evangélicos (Tatuí, SP: Casa
mildade. Também é necessário estabelecer liando o tempo necessário e estabele- Publicadora Brasileira, 2014), p. 255.
uma estratégia que viabilize suas igrejas a cendo limites; (b) organize as tarefas em 4
Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, (Tatuí, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 2015), v. 3, p. 23.
desenvolver um estilo de ministério rela- blocos de trabalho, mas com flexibilidade;
5
Cf. Rm 1:1; 1Co 3:5; 2Co 4:4; Gl 1:10; Fp 1:1 e Tt 1:1.
cional semelhante ao que havia na igre- (c) concentre-se nas atividades essenciais e
ja apostólica, em vez de um ministério de possíveis de resolver; e (d) realize as tarefas
6
Lothar Coenen e Colin Brown, Dicionário
Internacional de Teologia do Novo Testamento, (São
técnicas e programas desenhados para fa- com determinação. Existem alguns aplica- Paulo: Vida Nova, 2000), v. 2, p. 2035.
zer a igreja crescer. É necessário criar em tivos que podem auxiliar no cumprimento 7
Gerhard Kittel, Theological Dictionary of the New
nossas congregações um ambiente que dessas tarefas. Testament , (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1964-
1976), v. 8, p. 533, 534.
seja acolhedor e reflita o amor de Cristo.
João 3:30 na versão dos Monges de Maredsous
Conclusão
8
Aproveitamento do tempo. Ociosi- (Bélgica), 38ª ed. (São Paulo: Editora Ave Maria, 1982).
dade é um defeito altamente prejudicial O serviço pastoral é a mais elevada obra 9
Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, p. 114.
aos pastores. Nestes dias de “tempos lí- que o cristão pode almejar. Essa solene ta- 10
Pérsio R. Gomes de Deus, As Influências do
quidos”,15 onde tudo se modifica de forma refa exige esforço diligente para levar pe- Sentimento Religioso sobre os Cristãos Portadores
quase que instantânea, o mau gerencia- cadores a Jesus. Ellen White escreveu que de Depressão, dissertação de mestrado em Ciências
da Religião (São Paulo: Universidade Presbiteriana
mento do tempo é fator de risco para o o “ministro de Cristo precisa ter aquele per- Mackenzie, 2008), p. 106.
ministério pastoral. Por outro lado, o bom durável amor pelas pessoas, um espírito de 11
 llen G. White, Obreiros Evangélicos, p. 231.
E
gerenciamento pode potencializar seu abnegação e sacrifício próprio. Deve es- 12
Ibid., p. 204.
tempo de forma inteligente. Veja algumas tar disposto a dar a vida, se necessário, à 13
Josué Gonçalves, 104 Erros que um Casal não Pode
sugestões: obra de salvar seus semelhantes por quem Cometer (São Paulo: Editora Mensagens Para Todos,
1999), p. 29.
• Trace seus objetivos e obtenha uma vi- Cristo morreu”.18
14
Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, p. 204.
são clara deles. Traçar objetivos é retirar os Este é o tempo em que os pastores de-
15
Sidnei Oliveira, “Você é Imediatista?”, Exame (São
excessos que atrapalham a visão de todo vem se manter concentrados no serviço do
Paulo: Editora Abril), 14/10/2013.
o planejamento. Mestre. Devem ter determinação e zelo 16
Lothar J. Seiwert, Se Tiver Pressa Ande Devagar (São
• Defina tarefas estratégicas. Concentre pela Causa, a fim de perseguir o grande Paulo: Editora Fundamento, 2004), p. 123.
forças naquilo que você domina melhor e propósito de seu ministério, até que final- 17
Ibid.
pode ser empregado para obter melhores mente possam dizer como Paulo: “Combati 18
 llen G. White, Testemunhos para a Igreja, (Tatuí,
E
resultados dentro de seus objetivos. o bom combate, acabei a carreira, guardei SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), v. 2, p. 151.

• Planeje prioridades efetivas. “A chave a fé” (2Tm 4:7, ARC).


do sucesso para um gerenciamento eficaz Wagner Aragão é pastor
Referências em Brasília, DF
do tempo está em concentrar-se nas prio-
1
Sidnei Oliveira, Geração Y: O Nascimento de uma
ridades que realmente são importantes e
Gentileza do autor

Nova Versão de Líderes, (São Paulo: Integrare


em uma ação coerente com elas.” 16 O que Editora, 2010), p. 76.
é importante e o que é urgente influem 2
Ibid.

Diga-nos o que achou deste artigo: Escreva para [email protected] ou visite www.facebook.com/revistaministerio

30 | MAI-JUN • 2018
PASTOR COM PAIXÃO José Calixto

Missão em meio ao perigo

O
projeto de evangelizar as dos ímpios que vivem nelas? Refle-
grandes cidades se consti- tindo sobre isso, passamos a encarar
tui algo fascinante e desafia- a missão de maneira mais feliz e se-
dor; pois, geralmente, os lugares de guros de que, quando Deus nos cha-
maior concentração populacional têm ma, Ele protege, guia e capacita, não
se tornado cada dia mais ameaçado- importa onde ou em quais circuns-
res. Desse modo, os pastores tendem tâncias nos encontremos. Assim, com
a enfrentar grandes dificuldades no o coração alegre e, ao mesmo tempo,
cumprimento da missão. com as devidas cautelas, fazíamos vi-
Em 1998 fui designado a trabalhar sitas e conferências em comunidades
numa cidade que passava por uma perigosas, sempre confiando na pro-
forte onda de criminalidade. Diante teção dos anjos do Senhor.
do desafio, minha esposa, Daisy, se Enquanto observava os perigos
perguntava, com lágrimas nos olhos: daquela cidade, considerei que Jesus
“Será que Deus não tem outro lugar parecia não ter feito uma boa escolha
melhor para que possamos cumprir ao deixar o Céu para vir à Terra e fi-
a missão?” car exposto ao inimigo. Contudo, em
Após um curto período no novo minhas reflexões, me veio à mente a
distrito, a saúde emocional de minha seguinte indagação: “Quem não iria
esposa começou a piorar. Entretanto, ao pior lugar do mundo para buscar e
sempre tivemos a convicção de que o salvar um filho que estivesse nas gar-
melhor campo para o pastor realizar ras de malfeitores?” Esse pensamen-
seu ministério é o indicado pela igre- mensagem que deu ao apóstolo Paulo na to trouxe a compreensão de que não
ja. Assim, procuramos nos manter fortes e ímpia Corinto: ‘Não temas, mas fala, e não importa quão difícil seja o lugar, o amor de
motivados, mesmo que as inconveniências te cales; porque Eu sou contigo, e ninguém Cristo por Seus filhos chega lá, sem conhe-
ameaçassem nos abater. lançará mão de ti para te fazer mal, pois te- cer contratempos nem limites.
Diante das dificuldades crescentes, pas- nho muito povo nesta cidade’ (At 18:9, 10) Após alguns anos nos sentimos ma-
samos a clamar ao Senhor para que nos [...] Em cada cidade, cheia como possa es- ravilhados ao recordar daqueles que, não
tirasse de lá ou fizesse com que nos adap- tar de violência e crime, há muitos que, tendo nem como se alimentar direito, se
tássemos melhor ao local, porque desejá- devidamente ensinados, aprendem a se entregavam inteiramente ao trabalho do
vamos realizar o trabalho sem que nossa tornar seguidores de Jesus” (Ellen White, Senhor. Por meio de suas mensagens e de
saúde fosse afetada. Certa manhã, ao ler Profetas e Reis, p. 272). um estilo de vida inspirador, eles cuidavam
um texto de Ellen White, senti que a luz do Que mensagem inspiradora! Ela nos da igreja como sendo algo precioso, sem
Céu naquele momento brilhava sobre nos- ajudou a compreender melhor o propósi- temer participar do combate da fé, para
sa vida. Ela escreveu: to de Deus para nós. Além disso, também exaltar o poder da cruz de Cristo. Os exem-
“Os mensageiros de Deus nas grandes trouxe alívio aos parentes mais distantes, plos que vimos naquela cidade nos deixa-
cidades não devem sentir-se desanimar que nos propunham até a compra de co- ram preciosas lições, que nos inspiram a
com a impiedade, a injustiça, a depravação letes de proteção. cumprir melhor a missão designada por
a que são chamados a enfrentar enquan- Sendo assim, começamos a confiar mais Cristo, onde quer que for.
to procuram proclamar as alegres novas e a desistir do pensamento de sair daquele
da salvação. O Senhor aspira confortar lugar. Imagine se Deus tirasse todos os José Calixto é pastor em Venda Nova do
Imigrante, ES
cada um desses obreiros com a mesma cristãos das grandes cidades: o que seria

MAI-JUN • 2018 | 31
DIA A DIA Erico Tadeu Xavier

Reuniões de comissão
pode levar a reunião a fracassar. “Caso não
houvesse disciplina e governo eclesiásti-
cos, a igreja se esfacelaria; não poderia
manter-se unida como um corpo” (Ellen
White, Testemunhos Seletos, v. 1, p. 390).

Conclusão e votação. O dirigente deve


conduzir a discussão de cada item e seus des-
dobramentos procurando ressaltar os as-

© Opolja | Fotolia
pectos positivos em primeiro lugar e, depois,
corrigir os elementos negativos que, porven-
tura, se fizerem presentes. Cumpre-lhe tam-

A
comissão da igreja é constituí- Pontualidade e duração. O dirigente bém levar os integrantes da comissão a uma
da por um grupo de líderes locais deve zelar pela pontualidade, ou seja, es- decisão sobre cada assunto. Finalmente, ele
eleitos por voto da congregação tabelecer o horário de início e de término deve pedir apoio e voto para que as propos-
segundo o critério estabelecido pelo Ma- da reunião. Isso significa ter uma estimati- tas da comissão sejam apresentadas à igreja
nual da Igreja Adventista do Sétimo Dia va quanto ao tempo que deverá ser gasto e votadas por seus membros.
(2015). Sob sua responsabilidade estão (1) em cada item. Caso um assunto esteja se “Nem sempre as reuniões de comissões
a alimentação espiritual dos membros; (2) demorando mais do que o previsto, é reco- agradam a Deus. Alguns têm comparecido
o evangelismo; (3) a preservação da pureza mendável suspendê-lo para ser analisado [...] com espírito indiferente, endurecido, crí-
doutrinária; (4) a defesa das normas cris- separadamente, e então apresentá-lo no- tico, não amoroso. Esses podem produzir
tãs; (5) a recomendação de transferência vamente em outra reunião da comissão. A grande dano, pois com eles está o malig-
de membros; (6) as finanças da igreja; (7) duração de uma comissão não deveria ex- no, que os conserva no lado errado. Não
a proteção e manutenção do patrimônio ceder a duas horas. raro sua atitude insensível para com me-
da igreja; e (8) a coordenação dos depar- didas que estão sendo estudadas produz
tamentos da igreja. Participação e respeito. O dirigente da perplexidade, retardando decisões que de-
Quando essa comissão se reúne, o di- comissão deve estimular o respeito mútuo veriam ser tomadas. [...] Com a esperança
rigente (pastor ou ancião) deve estar de- e a participação de todos nos assuntos a de chegar a uma decisão, prolongam suas
vidamente preparado para conduzir os ser tratados. O líder eficiente conta com reuniões até altas horas da noite. [...] Dei-
trabalhos com eficiência e espiritualidade. a participação, cooperação espontânea e xem que o Senhor leve a carga. Deem tem-
Para que isso ocorra, alguns detalhes são boa vontade das pessoas sob sua direção. po para que Ele ajuste as dificuldades. [...]
muito importantes: Ele consegue cooperação e respeito pela Se forem concedidos ao cérebro períodos
sua competência, paciência, ética e espi- apropriados de repouso, os pensamentos
Preparação da agenda. Analise e ritualidade. Não dá ordens: dá o exemplo. serão claros e incisivos, e os trabalhos serão
agende previamente os pontos a ser discu- feitos com rapidez” (Ellen White, Testemu-
tidos e estabeleça as prioridades. Faça isso Orientação e foco. Cabe ao dirigente nhos para a Igreja, v. 7, p. 256).
em parceria com a pessoa responsável pela orientar e conduzir a discussão de acordo
secretaria da igreja. Caso a agenda tenha com a linha central de cada item, confor- Erico Tadeu Xavier, doutor
algum tema polêmico, duvidoso ou com- me os princípios bíblicos de administração em Teologia, é professor
no Seminário de Teologia
plexo, o dirigente pode buscar orientação eclesiástica. Ele deve ficar atento para não
Gentileza do autor

do Instituto Adventista
com seus líderes na Associação/Missão, permitir divagação ou perda do foco. A fal- Paranaense, em Maringá, PR
antes de levar o assunto para a comissão. ta de experiência ou descuido do dirigente

32 | MAI-JUN • 2018
MKT CPB | Fotolia
“Seja seu primeiro objetivo
tornar o lar aprazível.”
Ellen G. White
(O Lar Adventista, p. 24)

WhatsApp

cpb.com.br | 0800-9790606 | CPB livraria | 15 98100-5073


Pessoa jurídica/distribuidor 15 3205-8910 | [email protected] /casapublicadora
RECURSOS

Amar Outra Vez: Para Começar de Novo no Casamento


Rinaldo Berbert, Ultimato, 2011, 88 p.
Numa relação conjugal há erros e acertos. Nessa caminhada, hoje é o tempo em que tudo
pode ser melhor. O amor é mais poderoso do que a força da mágoa. O perdão é a cura das me-
mórias amargas.
Amar Outra Vez fala dos encontros e desencontros conjugais que acontecem nas melhores fa-
mílias. E, todos sabemos que a maquiagem não tem o mesmo resultado de uma cirurgia correti-
va. Não podemos, e Deus não quer, que nos contentemos com retoques. Quando parece não mais
haver possibilidade, a luz das Escrituras nos mostra clareiras onde só havia escuridão.
O livro apresenta o caminho para promover a cura matrimonial. Trata-se de leitura obrigató-
ria para pastores e membros da igreja.

El Pastor y su Familia
Brian e Cara Croft, Portavoz, 2016, 176 p.
Muitas vezes os pastores, ocupados em servir suas igrejas, estão se esquecendo de suas res-
ponsabilidades como esposos e pais. Como consequência, suas relações familiares acabam sen-
do impactadas. Esses pastores lutam pela sobrevivência de seu casamento, e seus filhos crescem
nutrindo ressentimentos contra a igreja. Contudo, isso não precisa ser assim.
Com perspicácia, Brian e Cara Croft apresentam em El Pastor y su Familia um retrato das car-
gas e expectativas que o ministério cristão impõe sobre a família pastoral e destacam que há es-
perança de suporte e restaruração em Jesus Cristo. Os autores oferecem conselhos práticos e
ressaltam a emoção de servir ao Senhor como família ministerial. O livro inclui um guia de per-
guntas para casais e grupos de estudo.

Kerygma
A revista Kerygma publica materiais de caráter científico em Teologia e é mantida pelo Cen-
tro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho. Ela oferece aces-
so livre e imediato ao seu conteúdo, seguindo o princípio de que disponibilizar gratuitamente sua
produção acadêmica ao público proporciona maior democratização do conhecimento. Trata-se,
portanto, de uma excelente ferramenta para que pastores e líderes cristãos estejam a par dos es-
tudos realizados no contexto acadêmico e possam se beneficiar das mais recentes reflexões teo-
lógicas produzidas na Faculdade de Teologia do Unasp.
Site: https://revistas.unasp.edu.br/kerygma

34 | MAI-JUN • 2018
PALAVRA FINAL Marcos Blanco

Pastores e malabaristas

“I
magine a vida como um jogo, em que você faz Assim, se o pastor prejudica sua família ao descuidar
malabarismo com cinco bolas que são lançadas ao dela em seu afã de pastorear a igreja e evangelizar os in-
ar. Essas bolas são trabalho, família, saúde, ami- crédulos, cedo ou tarde isso acabará afetando o minis-
gos e o espírito. E você tem de mantê-las todas no ar. tério que ele “priorizou”. As histórias de Nadabe e Abiú
Logo você entenderá que o trabalho é como uma bola e Hofni e Fineias são tristes exemplos de líderes religio-
de borracha. Se deixá-la cair, ela baterá no chão e vol- sos que não atenderam seu primeiro campo missionário,
tará para você. Contudo, as outras quatro são de vidro. talvez por cumprir com as demandas de seu segundo
Se caírem ao chão, elas se quebrarão e ficarão perma- campo missionário, a ponto de perder a quem mais de-
nentemente danificadas. Nunca mais serão as mes- veriam ter pastoreado.
mas. Você deve entender isso e lutar pelo equilíbrio Alguns se perguntam: “Que decisão eu deveria to-
em sua vida.” mar se perceber que minha responsabilidade como es-
Muitos conhecem essa ilustração contada por Brian poso e pai está em conflito com minha função como


Dyson num discurso de graduação no Instituto de pastor?” Acredito que deveríamos responder a essa per-
Tecnologia da Geórgia, em setembro de 1991; e to- gunta com outra pergunta: “Essas atribuições são ver-
dos nos sentimos identificados com um malabarista dadeiramente incompatíveis?” Obviamente, a resposta
em meio a todos os compromissos, responsabilida- para esta última pergunta é não! Se assim fosse, tería-
des e expectativas próprias ou de outros que temos mos que adotar o celibato como condição imprescindí-
que satisfazer. vel para ingressar no ministério.
A verdade é que todos os pais e mães que trabalham Cada família é única, singular. Por isso não se pode
lutam para manter o equilíbrio entre a profissão e a fa- É possível ter esperar que ela se adapte a generalidades ou receitas
mília. Longe de estar alheios a essas demandas, pela na- uma família prontas. Nesse sentido, ninguém melhor do que você
tureza própria de seu trabalho, o pastor pode perceber feliz, amorosa sabe o que se requer para manter o equilíbrio entre sua
que se encontra na encruzilhada de ter que servir a dois e, sobretudo, família e seu trabalho, excetuando Deus, é claro! Contu-
senhores, ou seja, escolher entre a família e o trabalho. cristã, ao do, o objetivo sempre deveria ser o mesmo: salvar nos-
Jesus afirmou que a família poderia ser um obstáculo mesmo sa família e cumprir a missão perante a igreja e o mundo
para alguém se tornar um verdadeiro discípulo. Em Seus tempo que se (nessa ordem). Da mesma forma que Jesus estabeleceu
ensinos, disse que poderíamos ser chamados a deixar desfruta de prioridades entre a salvação individual e os relaciona-
nossa família (Mc 10:28-30) ou que ela poderia se tor- um ministério mentos familiares, existe uma hierarquização com res-
nar o nosso pior inimigo (Mt 10:34-39). Com essas afir- produtivo, peito ao nosso dever quanto à nossa família e nosso
mações, Cristo não estava dizendo que a vida cristã e bem-sucedido ministério. Assim, de nada adiantará haver “ganhado o
a família sejam incompatíveis, mas simplesmente esta- e pleno.” mundo inteiro”, batizando milhares de pessoas, se per-
belecendo prioridades. dermos nossa família pelo caminho.
Por outro lado, isso não significa que o pastor deva Se completarmos nosso quadro de prioridades colo-
colocar seu trabalho acima de sua família, sacrificando cando Deus em primeiro lugar, Ele fará com que os de-
seus entes queridos em favor de uma missão mal enten- mais aspectos da vida se mantenham em equilíbrio.
dida. Às vezes ele pode se deixar levar tanto pelas pres-
sões externas que sua atenção se volta apenas para os
de fora. Entretanto, a missão do pastor, que antes de ser Marcos Blanco, doutorando em Teologia,
pastor é esposo e pai, começa no lar. Ellen White disse é editor da revista Ministério, edição em
espanhol
que “nossa obra para Cristo deve começar com a famí-
Gentileza do autor

lia, no lar. [...] Não existe campo missionário mais impor-


tante do que esse” (Serviço Cristão, p. 198).

MAI-JUN • 2018 | 35
Sua Igreja
um lugar para a
Sua missão
MKT CPB | William de Moraes

Igreja em Como Reavivar a Comunidade


Missão Igreja do Século 21 de Amor

WhatsApp

cpb.com.br | 0800-9790606 | CPB livraria | 15 98100-5073


/casapublicadora
Pessoa jurídica/distribuidor 15 3205-8910 | [email protected]

Você também pode gostar