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PRESENÇA E QUALIDADE DE ESTRUTURAS PARA A PRÁTICA DE
ATIVIDADE FÍSICA EM ESPAÇOS PÚBLICOS DE LAZER
Amarildo Custodio Maciel1
Giovane Pereira Balbé2
Resumo: O objetivo deste estudo foi avaliar a presença e qualidade de estruturas para a prática de
Atividade Física (AF) em espaços públicos de lazer. Trata-se de um estudo observacional e transversal,
conduzido nas cidades de Pouso Redondo e Mirim Doce, Santa Catarina. Os espaços públicos foram
avaliados mediante o Physical Activity Resource Assessment (PARA). Foram identificadas cinco praças, com
a presença de 11 estruturas destinadas a AF, com predomínio de parquinhos infantis (27,3%) e campo/quadra
de futebol (18,2%). Em geral, 90,9% das estruturas apresentaram qualidade boa, a qual se manteve nas
estruturas com maior frequência, tanto os campos de futebol (100%) como os parquinhos (66,7%). Conclui-se
que são poucos os espaços públicos de lazer e que há oferta de baixa diversidade de estruturas para AF.
Palavras-chave: Atividade motora. Áreas verdes. Estudo observacional.
PRESENCE AND QUALITY OF STRUCTURES FOR A PRACTICE OF
PHYSICAL ACTIVITY IN PUBLIC OPEN SPACES
Abstract: The objective of this study was to evaluate the presence and quality of structures for the practice
of Physical Activity (PA) in public open spaces. This is an observational and cross-sectional study conducted
in the cities of Pouso Redondo and Mirim Doce, Santa Catarina. Public spaces were evaluated using the
Physical Activity Resource Assessment (PARA). Five squares were identified, with the presence of 11
structures for PA, with predominance of children's playgrounds (27,3%) and field / soccer field (18,2%). In
1
Graduado em Educação Física Bacharelado. Especialização em Desenvolvimento Regional pelo Centro
Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI). E-mail:
[email protected]
2
Mestre em Ciências do Movimento Humano. Docente no Centro Universitário para o Desenvolvimento do
Alto Vale do Itajaí (UNIDAVI). E-mail: [email protected]
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general, 90,9% of the structures presented good quality, which was maintained in the structures with more
frequency, both football fields (100%) and playgrounds (66,7%). It is concluded that there are few public
open spaces and that there is a low diversity of structures for PA.
Keywords: Activity. Green areas. Observational studies.
INTRODUÇÃO
Desde o século XIX e início do século XX, as cidades de diversos países da
Europa e também das Américas, como por exemplo, no Brasil, vem estudando e criando
espaços de lazer. A preocupação com o lazer insere-se não só pela própria maneira de
conceber todos os espaços, especificamente pela promoção do contato com a vegetação
em parques públicos e jardins privados, mas também pelo sentido comunitário de vida,
propiciadores da identificação da população (BRUHNS, 2001).
Além disso, essas áreas tem o papel de oportunizar a prática de atividade física, já
que se observa valores elevados de sedentarismo no lazer (PITANGA, 2005).
A exemplo, no Brasil, estudo conduzido na zona urbana de Pelotas – RS, quanto aos
espaços públicos de lazer, identificou-se 110 praças e oito parques, sendo que 57,6%
apresentaram algum atributo para prática de atividade física e 45,7% das estruturas
proporcionavam boa qualidade, entretanto, com uma pequena diversidade (SILVA et al.,
2015).
Assim, fica evidente que o acesso e a qualidade dos espaços públicos podem ser
facilitadores para a prática de atividade física. Conforme constataram Franco et al. (2015)
ao revisarem sistematicamente estudos nessa temática, em que a dificuldade de acesso
(barreiras ambientais, acessibilidade) a espaços para a prática de atividade física
apresentou-se como um fator negativo. Assim, a adoção de estratégias para aumentar a
prática de atividade física, deve incluir a melhora no acesso ambiental e estrutural (BALBÉ;
WATHIER; RECH, 2017; FRANCO et al., 2015).
Com a migração das pessoas das áreas agrícolas para os centros urbanos aumentou
muito a ocupação dos espaços destinados aos serviços, habitação, trabalho e com isso
proporcionalmente houve uma demanda em busca de espaços de lazer recreação e
convivência. Espaços livres também considerados parques, ruas, corredores externos,
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campos, área para recreação e lazer, além de favorecer muito para a melhoria da qualidade
de vida e a convivência com as pessoas também melhora as condições estéticas do lugar.
Nesse sentido, destaca-se a importância deste estudo na tentativa de diagnosticar a
realidade quanto aos espaços públicos de lazer em dois municípios de pequeno porte no
Alto Vale do Itajaí. Com isso os dados configurados por essa observação poderão servir
para que gestores possam melhor atender os frequentadores desses espaços e qualificar as
referidas áreas, melhorando ainda mais todos os aspectos que promovam a prática de
atividade física, na tentativa de oferecer segurança, conforto e adequação dessas áreas.
Desse modo, o objetivo deste estudo foi avaliar a presença e a qualidade de estruturas
direcionadas a atividade física em espaços públicos de lazer nas cidades de Pouso
Redondo e Mirim Doce, Santa Catarina.
MÉTODOS DE PESQUISA
Estudo de natureza observacional descritiva e transversal, realizado nos espaços
públicos para prática de atividade física de lazer na área urbana dos municípios de Mirim
Doce e Pouso Redondo.
A observação envolveu praças e outros tipos de estruturas voltados a prática de
atividade física, como centro de esporte e lazer e campo de futebol. Esses locais foram
avaliados pelo questionário Physical Activity Resource Assessment (PARA) elaborado por
Lee et al. (2005), que avalia a disponibilidade e a qualidade de equipamentos para a prática
de atividade física em espaços públicos. O instrumento é recomendado para avaliação de
uma grande quantidade de locais, sendo de fácil e rápida aplicação, além de exigir poucos
recursos, uma vez que é necessário apenas papel e caneta (HINO; REIS, 2011).
A coleta de dados foi realizada entre os meses de maio e junho de 2017, conduzida
por um profissional formado na área de educação física, que se deslocou as áreas dos
municípios.
Para a avaliação das estruturas presentes para atividade física foram observados os
seguintes atributos que se referem a pistas e trilhas de caminhada e corrida, parquinho,
estações de exercícios, academias ao ar livre, campo de futebol, quadras de futebol,
voleibol, basquete, handebol e tênis. Para cada um dos atributos, o local era classificado de
acordo com a qualidade: 0- ausência do atributo; 1- presença do atributo com qualidade
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ruim; 2- presença do atributo com qualidade regular; 3- presença do atributo com qualidade
boa. Os critérios gerais para avaliação da qualidade nos atributos existentes foram
relacionados às condições de uso e falta de equipamentos, classificando os atributos entre
aqueles (1) sem condições de uso (qualidade ruim), (2) com condições de uso, mas com
falta de alguma estrutura/equipamento (qualidade regular) e (3) com condições de uso e
com todas as estruturas/equipamentos presentes de forma adequada (qualidade boa).
Para a realização e execução da avaliação nos locais, foi realizado primeiramente
um treinamento com o pesquisador, para familiarização com o instrumento e calibração das
observações.
O processo de avaliação dos espaços públicos seguiu minuciosamente o protocolo
de observação proposto por Hino e Reis (2011). Após realizada a avaliação nos ambientes
e registro das informações observadas, os dados foram tabulados e analisados no Excel,
mediante a estatística descritiva conforme intervalo de confiança de 95%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram identificados sete espaços públicos de lazer entre os municípios de Mirim
Doce e Pouso Redondo, sendo cinco praças e dois espaços que envolvem um Centro de
esporte e lazer e um campo de futebol. Encontrou-se nesses locais a presença de 11
estruturas destinadas a prática de atividade física, com maior número de parquinhos infantis
(27,3%) e campo/quadra de futebol (18,2%). Constatou-se que os parquinhos (60%) são as
estruturas mais comuns presentes nas praças, seguido dos campos de futebol (50%)
inseridos nos outros tipos de espaços públicos investigados. Não se encontrou quadras para
a prática de futsal, voleibol, basquetebol e handebol em praças observadas. De forma geral,
foram observadas poucas estruturas voltadas a atividade física entre os espaços avaliados
(tabela 1).
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Tabela 1. Descrição dos tipos de espaços públicos conforme os atributos para a prática de
atividade física.
Espaços Públicos
Estruturas Praças Outros*
Total
para Atividade Física n= 05 n= 02
n= 11 (100%) n (%) n (%)
Parquinho 3 (27,3) 3 (60) -
Campo/cancha/quadra futebol 2 (18,2) 1 (20) 1 (50)
Academia ao ar livre 1 (9,1) 1 (20) -
Pista/trilha caminhada 1 (9,1) 1 (20) -
Quadra futsal 1 (9,1) - 1 (50)
Campo/cancha/quadra voleibol 1 (9,1) - 1 (50)
Quadra basquetebol 1 (9,1) - 1 (50)
Quadra handebol 1 (9,1) - 1 (50)
* Centro de esporte e lazer e campo de futebol.
Foi observado que a maioria são praças e campos que apresentam um índice alto de
qualidade em todos seus seguimentos. Justifica-se esses resultados principalmente porque
com poucas estruturas de lazer fica fácil para as prefeituras realizarem a manutenção, bem
como, obter o auxílio e zelo da população que usufrui desses espaços.
Nesse sentido é necessário que haja uma gestão urbana que priorize a participação
da população na concepção e dinamização de espaços de lazer na cidade, buscando a
melhoria da qualidade de vida (SILVA et al., 2015). Isso deve ocorrer, já que o número de
pessoas que começaram a praticar atividades físicas sistematizadas aumentou nos últimos
anos (ALBINO et al., 2010), bem como, os espaços públicos são considerados locais
privilegiados a essa prática.
A figura 1 apresenta a qualidade de parquinhos e campos de futebol os quais foram
os atributos para prática de atividade física mais frequentes nos espaços públicos estudados.
Além disso, os demais atributos existentes foram agrupados possibilitando uma análise
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geral da qualidade das estruturas. Do total de 11 estruturas para a prática de atividade física,
em geral, 90,9% das mesmas apresentaram qualidade boa. Esta qualidade se manteve nas
estruturas com maior frequência, tanto aos campos de futebol (100%) como aos parquinhos
(66,7%).
A partir desses resultados é possível constatar que há poucas estruturas para
atividade física, embora apresentem boa qualidade.
Figura 1. Avaliação de qualidade dos atributos para a prática de atividade física.
Cabe destacar que os espaços públicos de lazer não são e não devem ser destinados
única e exclusivamente para proporcionar estruturas para prática de atividades físicas.
Atividades de lazer se manifestam de formas muito particulares e podem não necessitar de
esforço físico para que gerem um benefício individual. Locais para o lazer, algumas vezes
chamado de ‘passivo’, também devem ser garantidos, principalmente com melhorias nas
estruturas de limpeza, estética e conforto dos usuários. Na realidade, acredita-se que os
investimentos não devem ser baseados entre diferentes manifestações de lazer, mas sim que
se complementem, possibilitando diferentes práticas, envolvendo ou não atividades físicas.
Desta forma, os espaços públicos que contemplem diferentes oportunidades de utilização
poderão potencializar sua maior apropriação por parte da população (SILVEIRA, 2010;
SILVA; SILVA; AMORIM, 2012)
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CONCLUSÃO
Conclui-se que há poucas estruturas para atividade física, embora apresentem boa
qualidade. Entre os espaços predominantes destacam-se as praças, sendo que, os parquinhos
e campos de futebol se destacam como as estruturas para atividade física mais presentes
nessas áreas.
Cabe destacar a necessidade de novos estudos para aprofundar o entendimento
quanto ao tipo de estrutura mais adequado e que favoreça a prática de atividade física no
cotidiano da população. Com isso, os espaços públicos como praças, não podem ser criados
como meros locais para decoração ou localização de pontos específicos de uma cidade, mas
sim, que sejam constituídos como uma das possibilidades de prática esportiva ou recreativa
para as diferentes faixas etárias.
REFERÊNCIAS
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aptidão física para frequentadores de parques públicos. Revista Brasileira de Medicina do
Esporte, São Paulo, v. 16, n. 5, p. 373-377, 2010.
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Física e Saúde, Pelotas, v. 22, n. 2, p. 197-207, 2017.
BRUHNS, H. T.; GUTIERREZ, G. L. (Org.). Representações do Lúdico: II ciclo de
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FRANCO, M. R.; TONG, A.; HOWARD, K.; SHERRINGTON, C.; FERREIRA, P. H.;
PINTO, R. Z.; FERREIRA, M. L. Older people’s perspectives on participation in physical
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Med, 2015, jan. Doi: 10.1136/bjsports-2014-094015.
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HINO, A. A. F.; REIS, R. S. Avaliação de estruturas para atividade física versão 1.2:
Protocolo de utilização e definições operacionais. Grupo de pesquisa em atividade física e
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LEE, R. E.; BOOTH, K. M.; REESE-SMITH, J. Y.; REGAN, G.; HOWARD, H. H. The
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Phys Act, v. 2, n. 13, 2005.
PITANGA, Francisco José Gondim. Prevalência e fatores associados ao sedentarismo no
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SILVA, I. C. M. et al. Espaços públicos de lazer: distribuição, qualidade e adequação à
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SILVA, M. C.; SILVA, A. B.; AMORIM, T. E. C. Condições de espaços públicos
destinados a prática de atividades físicas na cidade de Pelotas/RS/Brasil. Revista
Brasileira de Atividade Física & Saúde, v. 17, n. 1, p. 28-32, 2012.
SILVEIRA, A. C. C. Um olhar sobre a política urbana de Belo Horizonte: Há espaço para o
lazer dentro do planejamento urbano?. Licere, Belo Horizonte, v. 13, n. 1, 2010.
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