Artigo - O Sentimento de Culpa e A Graça de Deus.
Artigo - O Sentimento de Culpa e A Graça de Deus.
ARTIGO
O SENTIMENTO DE CULPA
CAMPINAS/SP
2020
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SUMÁRIO:
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................3
3. A DIMENSÃO DA CULPA.....................................................................................7
6. CONCLUSÃO.......................................................................................................28
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................30
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1. INTRODUÇÃO:
Sou cristão e membro de uma igreja batista. Quando meu pastor saia de
férias ou avisa que não estaria na igreja, eu percebia a ausência de várias
pessoas, parecia até que tinham viajado com o pastor. Comecei a perguntar a
mim mesmo por que estas pessoas não estavam? Porque o pastor não estava
elas se sentiam mais a vontade para faltar? Parecia, ao meu entender, que as
pessoas vinham à igreja por causa do pastor da igreja, como se ele fosse
cobrar a ausência dessas pessoas e elas se sentiriam “culpadas” por não vir.
Comecei então a observar que vários comportamentos que as pessoas têm,
inclusive eu mesmo, são devidos a um “sentimento de culpa” como se fossem
sempre ser cobradas pelo que fazem ou deixam de fazer. Achei interessante o
assunto e discutindo certa vez em sala de aula foi-me indicado por um
professor à leitura do livro Culpa e Graça. Uma analise do sentimento de culpa
e o ensino do evangelho, autor Paul Tournier.
Nesse livro, Paul Tournier, sendo psiquiatra, procura abordar qual o
papel patogênico que o sentimento de culpa teria na vida dos pacientes, ou
seja, o problema que o sentimento de culpa traz na causa das doenças na vida
dos seus pacientes.
Foi a observação dos pacientes que nos orientou inteiramente nesta
medicina integral, quer dizer, uma medicina que leva em consideração todos os
fatores que entram em jogo em uma doença e na sua cura. O sentimento de
culpa é um desses fatores, e não é dos menores. Basta lembrar um caso muito
simples: a insônia devido ao remorso. (Tournier, 2004, p.7).
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fazem o que fazem por convicções do que devem e querem fazer ou agem por
acreditarem no julgamento das pessoas a sua volta, como se sentindo
culpadas por fazer ou deixar de fazer algo?
Em que áreas o sentimento de culpa influencia no comportamento e
relacionamento das pessoas? É possível reconhecer e identificar quais seriam
os falsos sentimentos de culpa, lidar com os fatores que os causam e ser
capaz de se libertar disso, passando a ter atitudes convictas do que acreditam
para um comportamento mais adequado e correto?
Meu objetivo com este artigo é procurar identificar o sentimento de culpa
como um agente no comportamento e sua influencia em algumas áreas no
relacionamento das pessoas. Pretendo também mostrar o que seriam
verdadeiros e falsos sentimentos de culpa, e que é possível ter um caminho
para se libertar disso e ter atitudes com convicções que levem a um
comportamento mais adequado, correto e a uma consciência tranquila.
Mas afinal o que é o sentimento de culpa? O que seria verdadeira ou
falsa culpa em quais áreas ele atua e como isso influencia no comportamento e
relacionamento das pessoas? Como o evangelho pode ajudar as pessoas para
se libertar disso para um comportamento mais adequado e correto?
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2. DEFINIÇÃO DO SENTIMENTO DE CULPA.
1
https://pt.wikipedia.org/wiki/Culpa_(sentimento)
2
https://www.rashuah.com.br/single-post/2017/01/05/Sentimento-de-culpa
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Neste caso, semelhante ao primeiro conceito, está diretamente relacionado ao
individuo e a sociedade, que por sua vez traz sentimentos como vergonha ou
raiva de si mesmo, e essas emoções em relação à culpa seria uma função
adaptativa, ou seja, ela é própria da natureza humana. Há uma região no nosso
cérebro chamada Sistema Límbico que é responsável por todos os nossos
julgamentos morais e também pela sensação de culpa e vergonha3.
Em Romanos 2.14-15 diz: "Quando, pois, os gentios, que não têm lei,
procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles
de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração,
testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos,
mutuamente acusando-se ou defendendo-se,"
O texto bíblico corrobora com o argumento científico de que o Sistema
Límbico, responsável por nossos julgamentos morais, mostrando que há uma
lei gravada no coração humano, ou seja, em sua mente e em sua consciência
acusando ou defendendo-o, mesmo que não haja lei como era para os
israelitas, está intrínseco no coração e mente humana essa “lei moral”.
Podemos então concluir que o sentimento de culpa é causado quando
alguém viola aquilo que acredita como certo ou errado, pelo que lhe foi
ensinado como principio ou pela sociedade em que vive e isso é próprio do ser
humano, faz parte de sua moralidade, faz parte de sua vida e do seu cotidiano
social, ou seja, faz parte de sua vida diária em sociedade, pois está
diretamente ligado ao relacionamento com o próximo e também com Deus.
3
https://www.psicologiaviva.com.br/blog/sentimento-de-culpa/
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3. A DIMENSÃO DA CULPA
Ninguém vive só. Somos seres desde o nascimento dependentes de
outros. Há na existência humana a necessidade de se sentir amado, cuidado e
protegido por outro. Vivemos e precisamos viver em sociedade e essa vida em
sociedade é fonte de diversos sentimentos de culpa, sendo ele constante
durante nosso viver.
Nossa consciência sempre nos acusará. Os pais, ou responsáveis,
sempre ensinarão seu filhos ou subordinados o que devem ou não fazer,
educando-os sobre o que seria certo ou errado dentro do conceito do que
acreditam e recebem como verdade e também pela influencia da sociedade, e
ou, o meio em que vivem. Normas e regras fazem parte na vida de toda família
e em toda sociedade como forma de “garantir” a boa convivência entre as
pessoas. Essas normas são uma educação de conduta.
Na sociedade essas normas e regras existem em forma de lei que
visam, sob forma de punição, a condenação daqueles que as quebram. As leis
portando também são de certa forma uma educação de conduta. E toda a
educação estabelece o desenvolvimento de sentimento de culpa, pois a
educação consiste, sobretudo, em repreensão, e toda repreensão, traz o
sentimento de culpa. "Você não têm vergonha de agir assim?" (Tournier, 2004
p.9).
Há algum tempo, eu perguntei à minha mulher por que o seu rosto se
tinha iluminado, de repente, com um sorriso estranho. "Veja você, disse-me ela,
tirei um pedaço da manteiga de um lado e você fez o mesmo do outro. Pensei
no que teriam dito se eu fosse pequena: que uma criança bem-educada deve
continuar a cortar a manteiga no lado já iniciado. Seu gesto soou como um grito
de liberdade!" (Tournier, 2004, p.9).
Percebe-se aqui um falso sentimento de culpa por uma situação em que
uma pessoa foi ensinada, por seus pais ou por outro adulto, como sendo uma
forma de manter a ordem cortar a manteiga somente de um lado e que aquilo
seria uma atitude de uma pessoa bem educada. Ora! Qual a razão de cortar a
manteiga somete de um lado e não do outro? O que isso influenciaria ou traria
mudança na vida de outra pessoa? Aquela ação era, para ela, ensinada como
algo correto, sendo recebido como ensino de uma pessoa bem educada, mas
isso não muda e não influência o comportamento de ninguém era tão somente
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um costume de uma casa. Essa pessoa somente após adulta, ao observar que
outra pessoa agia diferente, conseguiu se libertar do sentimento de culpa que
sentia.
Há muitas situações que as pessoas vivem sem perceber este falso
sentimento de culpa, pela vergonha que sentem por coisas em que o padrão de
comportamento é influenciado pelo que outros dizem como certo ou errado,
mas que são somente costumes ou regras que em nada muda a vida das
pessoas. Sua posição social, o tipo de roupas, a educação dos filhos, bens que
possui, local onde mora. Seria como viver em função dos outros e não por seus
próprios “conceitos e convicções”. Há uma preocupação excessiva com a
opinião dos outros.
Os pais, por exemplo, sempre esperam o bom comportamento dos filhos
para que elogiados os filhos, possam se orgulhar do bom trabalho que fizeram,
mas se o comportamento dos filhos for reprovado por alguém logo vem o
sentimento de culpa e a cobrança de si que poderiam ter feito melhor, ou onde
erraram. Então, estão sempre procurando fazer o melhor e o máximo pra que
os filhos tenham um bom comportamento e sejam os “melhores”, mas isso
seria por causa dos filhos ou de si mesmos? Não seria para terem uma “boa
reputação?”. “Como me orgulho do meu filho”, esse orgulho não seria uma
massagem do ego? “Como eu sou capaz!”. Desta forma vivem em função do
que os outros irão falar a respeito de seus filhos cobrando destes um
comportamento exemplar a fim de fugir e evitar o sentimento de culpa de sua
“incapacidade”, não que o fosse, mas porque vive em função do julgamento
dos outros. É claro que não podemos fugir da responsabilidade que temos
como pais, mas muitas vezes na verdade exigimos de nossos filhos um
comportamento não pelo que acreditamos, mas pelo medo do que os outros
irão falar.
Por outro lado os filhos, por causa da reputação social dos pais, sentem
o medo inevitável do que os outros irão dizer. “Seu pai nunca te ensinou isso?”
Então desde pequenas começam a viver em função do que os outros, irão
dizer de seus pais.
A comparação social é inevitável só pelo fato de viverem em sociedade.
Constantemente as pessoas comparam-se umas as outras. O medo do
julgamento dos outros nos impede de ser quem somos, de mostrar como
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somos, de manifestar nossos gostos e desejos, de produzir mais, pois este
medo nos esteriliza. A sugestão social é, então, fonte de inumeráveis
sentimentos de culpa. (Tournier, 2004 p.17).
Uma criança nasceu, a alegria é inevitável e o desejo de dar a notícia
aos amigos e colegas. Ao fazê-la logo vem a pergunta: “qual é o tamanho
dela?” “Qual o peso?” Se a criança tem um tamanho e peso considerado “bom”
pelo que as pessoas pensam ou julgam como o ideal, vem o elogio, “que
grande! Parabéns!” Mas se é a criança é pequena até mesmo antes do elogio
vem o julgamento “que pequeninha!” Assim a mãe ou o pai, sentem-se
culpados por não serem capazes de “produzir” uma criança maior.
Desde o nascimento há essa constante comparação, parece até ser uma
“competição” entre todos. “Já está andando!” “Já fala!” Enquanto outras
crianças, que ainda não se desenvolveram, parecem ser “piores” do que
aquelas, e os pais sentem vergonha como se dependesse deles para que
aquela atitude ou ação ainda não acontecesse, pensando que há a falta de
algum esforço pessoal, sentindo assim culpadas.
Na faze escolar a mesma situação. Boas notas, destaques em algumas
áreas como, por exemplo, em uma matéria ou em algum esporte. “Meu filho
fez, meu filho faz, meu filho é, meu filho recebeu!” Mas se o filho não tem
nenhum destaque então, sentimento de culpa.
A própria criança vive essa comparação em toda a sua infância, desde o
momento em tenha consciência e perceba que em sua volta há outras crianças
que tem coisas que ela não tem, vivem em locais melhores, possuem bens e
gozam de privilégios, não tem certa “deficiência”. O que hoje em dia é chamado
de “bullying” sempre existiu. Não quero justificar praticas desse tipo e jamais
defenderia isso, e que crianças de são maltratadas por alguma deficiência, jeito
de ser, classe social ou qualquer outra situação, não tenham o direito de exigir
que sejam respeitadas, e tratadas igualmente como qualquer pessoa, isso é
necessário e importante, mas a verdade é que gozações, rejeição e desprezos
sempre existiram e a própria criança vivência isso o que por sua vez pode
trazer complexões, frustrações e falsos sentimentos de culpa em toda sua vida.
Um menino que está acima do peso, é considerado “gordinho” pelos
colegas e às vezes até recebe este apelido. Ele nem ousa tirar a camisa diante
dos amigos pela gozação que sofreria e a culpa que sentiria por estar acima do
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peso, mesmo que o motivo para isso seja seu tipo biológico, em sua mente a
culpa é toda sua por estar acima do peso.
Tenho um amigo assim, sempre que praticamos algum esporte se
combinamos que um time tem que tirar a camisa ele nunca tira. Uma vez
perguntei porque e o que ele sentia. Sua resposta eu até sabia, mas perguntei
para confirmar meu pensamento. “Sinto vergonha” disse-me ele, daí o
questionei se ele se sentia culpado por ser gordo e sua resposta foi exata “sim
eu sinto”.
Vi o relato de um jovem rapaz que estava na piscina de um clube e um
menino perguntou à sua mãe na frente dele: “Mãe porque ele tem seios?”
Aquele jovem jamais tirou a camisa novamente em locais públicos, preferindo
deixar de se divertir pela vergonha que sentia, e embora tivesse em sua mente
que não ligaria para aquela situação, vivencia-la mudou sua opinião. A partir
daquele dia ele se empenhou em perder peso para que pudesse ser aceito
pela sociedade e mesmo que emagrecer fosse algo bom para sua saúde a sua
motivação foi a vergonha e o sentimento de culpa que teve.
Quando somos adultos continua a mesma coisa? Essa comparação
pessoal entre uns e outros parece fazer com que se sintam pessoas melhores
umas das outras. Qual o grau de escolaridade? Qual profissão que tem? O que
faz para sustentar a vida? Onde mora? Quais bens possuem? E se a pessoa
não tem “certas qualificações”, sentimento de culpa.
Uma pessoa vai ao médico. Tem que preencher uma ficha de consulta,
um pré-cadastro, e falar seus dados pessoais. Quando chega na parte
profissional, se tem uma “boa profissão”, diz com toda firmeza em um tom alto
e firme para que outros possam ouvir, mas se não tem uma “boa profissão”,
aos olhos da sociedade, quase nem ousa falar e se alguém está do lado sente
vergonha por não ter conseguido fazer uma faculdade, ou talvez até por não ter
se esforçado um pouco mais em seus estudos quando deveria tê-lo feito.
Muitos pais se orgulham da profissão de seu filho ou de sua carreira
profissional e falam meu filho é advogado, meu filho é médico, meu trabalha
em tal empresa, exerce tal cargo, é chefe de tal setor, talvez até para diminuir o
sentimento de culpa daquilo que não conseguiram fazer ou ter, como uma “boa
carreira profissional”. “Estude, se não quiser ficar como eu”, diz o pai, como se
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sua atividade profissional fosse indigna, e que ter certo cargo ou exercer certa
função profissional fosse fazer de seu filho uma pessoa melhor.
Nesse sistema capitalista em que vivemos, as pessoas que estudam
mais tem mais possibilidades de alavancar uma carreira e ganhar dinheiro, mas
isso não faz dessa pessoa uma pessoa melhor do que outras que não
estudaram ou não tiveram oportunidades de fazer um curso que o capacitasse
para ter um emprego que lhe pudesse proporcionar um salário melhor. Quantas
pessoas há que estão deixando suas carreiras profissionais para viverem uma
vida mais simples, com menos dinheiro, mas com mais qualidade, e com mais
alegria desfrutando mais tempo com seus familiares, mas ainda, raras
exceções. A realidade é sempre a mesma, quem tem mais dinheiro é mais
valorizado do que outros. As pessoas se olham, comparam-se e julgam-se pela
aparência.
Alguém chega em um local, se tem um carro bonito, boa aparência,
vestida com roupas bonitas, as pessoas olham com admiração e logo querem
saber quem é, e lhe dão atenção, mas se está simples e não há nada que
chame a atenção, esta a pé por não ter carro, em muitas vezes, nem é notado.
Há pessoas que lutam e trabalham para conseguir construir sua casa e
sair do aluguel, e assim que a casa é erguida e coberta muda com sua família,
mesmo que não esteja terminada, com paredes sem rebocar, no chão há só
um cimentado, mudam-se e se alegram por ter essa vitória, mas a dona da
casa não ousa receber visitas, pois acha que por não ter acabamento
adequado não poderia receber pessoas, pois em seus pensamentos acha que
elas irão julgar, por não ter uma casa terminada e ficarão comentando que
situação que ela vive, e por sentir vergonha perde a oportunidade de ter a
convivência com outros.
Imagina em uma festa em que todos estão com roupa de gala, mas você
não sabia e vai de traje esporte, se é rico dirão que você está descontraído e
quis ficar a vontade, mas se é pobre te tratarão grosseiramente, julgando que
não tem condições de comprar uma roupa e serão indiferentes com você, mas
se for ao contrário, você como o único com traje de gala ficará sem jeito. O
problema então não está na riqueza ou pobreza, mas na inevitável comparação
mutua que todos fazem.
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Todos nós somos bem reservados em relação as nossas finanças. Não
nos abrimos facilmente com as pessoas em relação a isso, procurando sempre
manter a boa aparência, mesmo que tenhamos problemas financeiros,
principalmente se gastamos além do que devíamos, sem o controle de nossos
gastos, o medo do julgamento dos outros nos faz ficar reservados vivendo com
o sentimento de culpa.
Às vezes o cônjuge esconde do outro seus gastos por se sentir culpado
por gastar e pensar somente em si. Não há dinheiro para necessidades do lar,
mas gasta dinheiro com algo pessoal que lhe de prazer e satisfação.
Conheço um casal em que o marido jamais falou à esposa quanto
ganha, mas sempre dá todo o dinheiro necessário para o sustento do lar.
Talvez por pensar que a esposa passaria e pedir mais dinheiro esconde dela o
seu salário. Ela sendo a cuidadora do lar e filhos, por serem pequenos, não
trabalha fora dependendo totalmente do dinheiro que o marido lhe dê, assim
para ter dinheiro sempre compra coisas para outras pessoas no seu cartão,
como comida e roupas, para que o marido não perceba e possa lhe dar
dinheiro para suas coisas pessoais vivendo com medo de que o marido
descubra isso, embora até acredite que ele saiba, mas não ousa falar nada
preferindo ficar com o sentimento de culpa e o medo de ser descoberta. Ele por
sua vez deve saber que ela faz isso, mas também não ousa falar nada com
medo do julgamento e condenação da esposa preferindo dar-se de inocente e
viver com esse peso na consciência. Que falta de liberdade há na vida desse
casal.
Viver é escolher. Mas, será que nós escolhemos sempre livre e
conscientemente? Será que a nossa escolha não nos é sempre imposta pelas
circunstancias, por nossa falta de coragem, por nosso hábitos ou mesmo por
nossas culpas? (Tournier, 2004, p.29).
Na questão do tempo, por exemplo, como é difícil administrá-lo sem que
haja sentimento de culpa. Nossas escolhas diárias muitas vezes é um grande
desafio.
As tarefas diárias consomem bastante de nosso tempo. Há coisas que
são nossos deveres e coisas que precisamos fazer. É preciso ter sabedoria
para atender a demanda do trabalho, família e coisas pessoais. Se tem um
trabalho que tem hora marcada, como por exemplo, um profissional de
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educação física que dá aula individualmente. O aluno está atrasado e o
professor está com o tempo exato para atendê-lo e depois ir pra sua casa ter
um tempo com a esposa e filhos. Quando o aluno chega o professor diz que
não terá condições de dar aula, mas o aluno insiste, pois havia muito trânsito e
por isso atrasou, o professor tem dificuldades em falar não, e sentindo-se
culpado se não o fizer decide atendê-lo, mas ao chegar em casa encontra sua
esposa que logo lhe pergunta porque atrasou e mesmo que tenha justificativas
também sente-se culpado por não haver cumprido o combinado e não haver
falado não ao seu aluno. Há muitas pessoas que por ter dificuldades em falar
não cultivam o sentimento de culpa tanto por não saber falar não como também
por falar o não.
Há vários profissionais que se acumulam de muito trabalho, sejam
profissionais liberais que fazem seu próprio tempo, ou de empresas. Trabalham
até tarde da noite e quase não tem contato com a família, mas vivem
justificando sua falta dizendo que estão fazendo de tudo para dar o melhor para
a família. Vivem prometendo, para sua família e para si mesmos, que será
diferente, mas o tempo passa e nada muda. Não poderia ser esse
envolvimento com tanto trabalho uma forma de justificar sua falta e abafar ou
justificar o sentimento de culpa?
Encontro um amigo no mercado. Já a um bom tempo não nos falamos,
fico meio sem graça ao cumprimentá-lo achando que ele me julgará por não ter
dado a ele a atenção devida, não ter mandado uma mensagem e me sinto
culpado por isso, mas ele por sua vez pode sentir o mesmo, combinamos de
nos falar mais vezes e não deixar que as circunstâncias e os afazeres nos
afastem, e até mesmo fomos sinceros um com o outro. Após um tempo o vejo
novamente, agora ao longe, na rua e nada fizemos daquilo que havíamos
combinado, e para não me sentir culpado desvio o caminho afim de não ter o
contato com ele, mas também me sinto culpado por também ter esse tipo de
atitude.
O tempo pertence a Deus, e nós somos seus mordomos; somos
responsáveis diante dele por cada minuto que ele nos dá. Todos nós sentimos
que se escutássemos melhor a Deus a nossa vida seria mais harmoniosa. Nós
ficamos sobrecarregados, fatigados e com a consciência pesada tanto com o
que deixamos de fazer como com o que fazemos. (Tournier, 2004 p.28).
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Se sentimos uma dor de consciência por gastar tempo à toa, conforme
conversamos há pouco, nós a sentimos também por não saber relaxar ou
repousar como Deus ordenou (Êx 20:10), ou ainda por meditar, ou orar, ou
empregar tempo em quieta contemplação. É precisamente nessa
contemplação que reencontramos a paz interior de que o mundo atual tem
tanta necessidade. Como dá-la aos nossos doentes se não a possuímos?
Como ensiná-los a organizar melhor a vida se a nossa está tão confusa? É na
contemplação que encontramos a hierarquia dos valores, uma distinção clara
entre o que é primordial e o que é secundário ou até perigoso. (Tournier, 2004
p.32).
Esse tempo de contato com Deus é essencial para quem quer ter uma
vida direcionada por Ele. Precisamos ouvir mais a sua voz, meditar mais em
sua palavra e falar mais com Ele. Quando passamos por situações difíceis,
sejam pessoais, com nossa família, no trabalho, principalmente se diz a
respeito de nosso jeito de ser e lidar com as pessoas, logo vem o sentimento
de culpa e nossa consciência nos acusa dizendo se tivesse mais tempo com
Deus as coisas poderiam ser diferentes.
Jesus sabia também se descartar da multidão entusiasmada que queria
enredá-lo em uma brilhante carreira pública (Jo 6:15). Ele sabia mesmo
recusar, com uma calma extraordinária, o pedido de uma mãe desolada, a
mulher cananéia e não se desviar, por causa dela, do caminho que Deus lhe
havia traçado (Mt 15:22-28). Entretanto, quando ele descobriu a fé que a
motivava, ele não hesitou em mudar de opinião e mostrar assim a sua
verdadeira liberdade interior. (Tournier, 2004 p.33).
Essa liberdade que todos nós desejamos, liberdade de agir ou não agir,
conforme nossa própria convicção, e não determinada pelo meio em que
vivemos e essa liberdade tem muito haver com nosso mundo interior, com a
mudança que ele precisa. Esse nosso mundo interior, nosso jeito de ser
também é fonte de sentimentos de culpa. A luta entre o que desejamos e o que
realizamos é constante.
“Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não
faço o que prefiro, e sim o que detesto.” Romanos 7.15.
Essa é a realidade na vida de todas as pessoas, o desejo que querer
fazer o bem, mas o realizar nem sempre é condizente com esse desejo, e o
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reconhecimento do que deveria fazer. Ao contrário a mesma coisa, não querer
fazer o mal, mas nem sempre ter o domínio necessário para evitá-lo, essa
condição humana é o eterno drama de nossa natureza.
Como seria se alguém pudesse ler nossa mente, saber o que
imaginamos, ver nossos pensamentos e nossos desejos? Será que teríamos
coragem de dizer às pessoas que estão a nossa volta tudo que se passa em
nossa mente? Como nos sentiríamos se houvesse um filme em que revelasse
tudo o que pensamos?
Complexos, fantasias secretas, tentações, sonhos vaidosos e
inconfessáveis, todo um mundo de impulsos mais ou menos conscientes,
muitas vezes sem forma definida, se desenvolvem em nós. Estes desafiam a
censura de nossa vontade e nós nos sentimos em confusão. É um outro eu,
que vive em nós, que não podemos apagar e que tememos que seja
descoberto. Porque nós temos mesmo pensamentos horríveis, e parece que
não suportaríamos a vergonha se eles fossem revelados. Precisamente porque
os antemos secretos, cada um de nós acredita ser o único a tê-los. (Tournier,
2004 p.52).
Parece que há um outro eu dentro de nós e as vezes nos sentimos
envergonhados de nós mesmos, daquilo que se mostra tão latente e real nesse
ser interior. Como somos capazes de realizar certas coisas? Nosso pior inimigo
de nós somos nós mesmos. E o fato é que não estamos sozinhos, somos todos
iguais e conscientes dessa constante luta em nosso ser e incapazes de vencê-
lo e de apagar esta dualidade entre o nosso ser escondido e o nosso ser
aparente. Nisto não existe uma culpa no sentido moralista do termo, mas no
seu sentido existencialista: uma culpa em relação a si mesmo, que todo
homem sente confusamente porque existem nele forças obscuras, impulsos e
inibições que nem a sua vontade, nem a sua inteligência, nem a sua ciência
podem dirigir. (Tournier, 2004 p.53, 54).
Esta parece ser bem clara a realidade em nosso dia a dia. Os
sentimentos de culpa envolvem nosso ser, ocupam nossas mentes e
influenciam nosso comportamento. Esse sentimento de culpa, ou essa
culpabilidade, não interessa somente ao médico e psicólogo, mas também ao
teólogo, ao pastor, ao presbítero, ao líder espiritual, pessoas que lidam com
problemas de relacionamentos e precisam dar conselhos práticos que ajudem
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as pessoas a solucionar seus problemas causados por esse sentimento de
culpa, ou por essa culpabilidade cotidiana.
Nós temos uma missão para com o nosso próximo, e não podemos
negligenciá-la sem um vivo sentimento de culpa. Mas todos sentimos que a
nossa tarefa é mais ampla com definições maiores, e nós experimentamos
também uma culpa por nos esquivar disso. (Tournier, 2004 p.66).
Abram os olhos! Percebam esta multidão imensa de pessoas feridas,
angustiadas, esmagadas, carregadas de culpas secretas, verdadeiras ou
falsas, precisas ou difusas; há até uma espécie de culpa em existir, bem mais
frequente do que se pensa. (Tournier, 2004 p.67).
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4. VERDADEIRA OU FALSA CULPA.
Após algumas abordagens para entender um pouco sobre as influencias
que o sentimento de culpa causa em algumas áreas no comportamento e na
vida das pessoas, sendo que ainda haveria muitas outras áreas a serem
abordadas para exemplificar sentimentos de culpa, como por exemplo: críticas,
medo, rejeição, acusações, ressentimentos, raiva, falta de perdão, abusos,
frustrações, entre outros, agora precisamos entender quais são os verdadeiros
e os falsos sentimentos de culpa, pois a questão não é não ter sentimentos de
culpa, mas saber quais são e como lidar com eles. Quem pode ser culpado
sem se sentir, ou sentir-se sem o ser?
As expressões "verdadeira culpa" e "falsa culpa" surgiram
espontaneamente desde o início deste nosso estudo. Que significam estes
termos, exatamente? Quem pode se sentir culpado sem o ser? Ou sê-lo sem
sentir, sem mesmo saber? Mas, então, que relação há entre a realidade da
falta e o sentimento de culpa? Como definir a realidade da falta? Que critério
podemos adotar para dizer se é realmente culpado, ou não, aquele que é
acusado de culpa? (Tournier, 2004 p.71).
Os critérios para entender os verdadeiros e os falsos sentimentos de
culpa estão na palavra de Deus a Bíblia.
"E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim
comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não
comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás." Gênesis
2:16-17.
A ordem de Deus dada ao homem mostra a sua graça, pois Ele estava
dando ao ser humano a capacidade de escolhas e de agir livremente. Tudo já
havia sido providenciado à vida humana, nada lhe faltava, mas cabia ao
mesmo mostrar sua capacidade de decisão e nisso é que vejo a bondade de
Deus, pois o homem tendo sido criado conforme sua imagem e semelhança,
não o seria, se não pudesse ter suas próprias decisões e escolhas.
“Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos
olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e
deu também ao marido, e ele comeu. Abriram-se, então, os olhos de ambos; e,
percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para
si. Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela
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viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e
sua mulher, por entre as árvores do jardim. E chamou o SENHOR Deus ao
homem e lhe perguntou: Onde estás? Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim,
e, porque stava nu, tive medo, e me escondi." Gênesis 3:6-10.
Após a queda do homem surgem a vergonha e o medo. O homem
começa agora a lidar com o sentimento de culpa. A partir deste momento o ser
humano passa a ter a acusação em sua mente por haver quebrado a ordem
que Deus havia lhe dado, sendo-lhe desobediente.
"Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da
árvore de que te ordenei que não comesses? Então, disse o homem: A mulher
que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi." Gênesis 3:11-12.
Acusação foi outra manifestação do sentimento de culpa, mas isso como
uma forma de livrar-se dele: “A mulher que me deste por esposa, ela me deu
da árvore, e eu comi”. A culpa foi dada a mulher, que por sua vez culpou a
serpente quando Deus também lhe questiona sobre o que fizeste: “A serpente
me enganou, e eu comi”. Ambos fugiram da responsabilidade do ato cometido,
alias acredito que ainda nem saberiam como lidar com aquela situação, pois
era algo novo em suas vidas, um sentimento que iriam ter aprender a lidar, e a
primeira coisa que fizeram diante de Deus por causa disso foi fugir e fazer
acusações. Note a incapacidade do ser humano em reconhecer a sua própria
culpa, mas sempre querer livrar-se dela.
Voltemos ao texto bíblico de Romanos 2.14-15: "Quando, pois, os
gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei,
não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da
lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os
seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se,"
Como vimos no início sobre a definição do sentimento de culpa que o
texto bíblico corrobora com o argumento científico de que o Sistema Límbico,
responsável por nossos julgamentos morais, mostrando que há uma lei
gravada no coração humano, ou seja, em sua mente e em sua consciência
acusando ou defendendo-o, mesmo que não houvesse a lei como era para os
israelitas, está intrínseco no coração e mente humana essa “lei moral”, pois em
todas as culturas sempre haverá o ensino e a repreensão, a quebra da norma o
acusará devido a sua consciência.
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A questão então é entender e descobrir a origem do sentimento de culpa
para poder determinar se é falso ou verdadeiro. Se o mesmo feriu diretamente
a palavra de Deus e seu princípios e saber como lidar com eles.
Vamos usar como exemplo o texto bíblico de Efésios 6.1-2: “Filhos,
obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo. Honra a teu pai e a tua
mãe que é o primeiro mandamento com promessa.” A ordem direta de Deus é
que os filhos devem obediência aos seus pais. Portanto se há desobediência
deste mandamento em relação aos pais, o sentimento de culpa por esse ato
seria legitimo.
Vamos fazer duas suposições. Primeira: se a ordem de um pai ou mãe,
ou o ensinamento que uma criança recebeu não fira nenhuma ordem ou
princípio bíblico, como no caso da esposa do Paul Tournier que cortava a
manteiga de um lado diferente de seu marido e se libertou disso ao identificar
que não haveria problema em fazer ao contrário, o ensinamento que ela
recebeu como uma criança bem educada, não feria nenhuma ordem ou
princípio bíblico, era somente um costume de quem a ensinou assim, seu
sentimento de culpa até aquele momento, era um falso sentimento de culpa.
Segunda: se uma criança foi ensinada que jamais deveria mentir e mente para
outra pessoa, o sentimento de culpa seria verdadeiro, pois fere diretamente a
ordem bíblica sobre não mentir.
Mas uma pessoa também pode mentir e não ter sentimento de culpa,
por nunca ter sido ensinada que mentira fosse algo errado, ou que mentir não
tem nenhum problema, nesse caso não sua mente não o acusa. Mas vamos
supor que essa mesma pessoa descobrisse que por causa da sua mentira
alguém foi muito prejudicado, como se sentiria? Nesse caso, mesmo que não
tenha o sentimento de culpa em relação à mentira, poderia a partir daquela
situação tê-lo por haver prejudicado alguém. Então embora não seja ensinada
que mentira fosse algo errado, essa por sua vez por estar diretamente ligada
ao relacionamento com o próximo e por ser uma ordem de Deus, lhe atinge
diretamente o coração e mexe com seu interior.
“Assim a verdadeira culpa dos homens surge em relação às coisas que
Deus lhes reprova no secreto do seu coração. Só eles mesmos podem saber
quais são estas coisas. Geralmente são coisas totalmente diferentes daquelas
que os homens reprovam. A referência a Deus que a Bíblia nos traz aclara
19
acentuadamente o nosso problema: a "falsa culpa", em primeiro lugar, é a que
resulta dos julgamentos dos homens e de suas sugestões. A "verdadeira culpa"
é a que resulta do julgamento divino”. (Tournier, 2004 p.75).
O julgamento social pode ser diferente conforme determinado local ou
cultura, pode ser alterado com o tempo, mas a palavra de Deus não muda, ela
é a mesma hoje e sempre será. Então podemos entender que o julgamento
humano é falso se não é atestado por julgamento divino, se não é atestado por
sua palavra. O medo do julgamento social faz com que sejamos mais
dependentes das pessoas e menos dependentes de Deus e a medida que nos
aproximamos de Deus e conhecemos mais sobre a sua vontade descrita em
sua palavra mais nos libertaremos do falso sentimento de culpa.
“A luz da Bíblia, a verdadeira culpa nos aparece como uma culpa em
relação a Deus, uma ruptura da ordem de dependência do homem em relação
a Deus”. (Tournier, 2004 p.75).
Podemos entender então que a verdadeira liberdade em relação ao
sentimento de culpa, seja falso ou verdadeiro, seria depender mais de Deus e
menos das pessoas. Devemos olhar mais para sua palavra e o que Ele deseja
e espera de nós em relação ao nosso relacionamento tanto para com Ele,
como para com nosso próximo. Deus não olha para nossa aparência, e nem
está preocupado com o que podemos fazer, ser ou lhe dar, mas sim olha para
a atitude de nosso coração, nosso ser interior, esperando sempre de nós a
humildade para reconhecer nossos erros e viver na dependência Dele. Viver
em função do que as pessoas pensam e do que a sociedade diz é viver na
dependência das pessoas e preso a todas as circunstâncias determinadas por
essa sociedade que sempre julgará pela aparência. Falsos sentimentos de
culpa nos impedem de ser quem nós somos e deveríamos, por outro lado o
verdadeiro sentimento de deve nos levar para próximos de Deus.
"Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nele: Se vós
permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." João 8.31-32.
Essa é a liberdade que todos nós precisamos a liberdade que vem de
Deus e de sua palavra e se seus ensinos. Esse é o desafio para todos nós
conhecer e viver as verdades de sua palavra e não as mentiras de nossa
sociedade.
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5. A INSUFICIÊNCIA HUMANA E SUFICIÊNCIA DA GRAÇA DE DEUS.
"De madrugada, voltou novamente para o templo, e todo o povo ia ter
com ele; e, assentado, os ensinava. Os escribas e fariseus trouxeram à sua
presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no
meio de todos, disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em
flagrante adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam
apedrejadas; tu, pois, que dizes? Isto diziam eles tentando-o, para terem de
que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo. Como
insistissem na pergunta, Jesus se levantou e lhes disse: Aquele que dentre vós
estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra. E, tornando a inclinar-
se, continuou a escrever no chão. Mas, ouvindo eles esta resposta e acusados
pela própria consciência, foram-se retirando um por um, a começar pelos mais
velhos até aos últimos, ficando só Jesus e a mulher no meio onde estava.
Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-
lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
Respondeu ela: Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco
te condeno; vai e não peques mais." João 8.2-8.
Deus sempre age em favor dos desvalidos, dos desprezados, dos
fracos, dos indefesos, dos desamparados, daqueles que são considerados
incapazes, dos “marginalizados”, marginalizados não porque não podem viver
em sociedade, mas por estar fora do padrão da sociedade. A mulher pega em
adultério, pronta para sofrer a punição, julgada por aqueles que eram os
“doutores” da lei, conhecedores das “coisas” e das “causas”, escribas e
fariseus, teólogos da época, consideravam-se os “experts”, e por suas ações
achavam-se justos diante de Deus. Estes que também queriam pegar Jesus,
achavam que em algum momento provariam que ele era um “charlatão”. Não
seria este o momento ideal? Eles acusam a mulher e querem ver Jesus
condená-la, prontos para lhe acusar também, de fugir do papel de juiz, ou de
alguma forma cair em algum erro pelo que julgavam-se conhecedores em
relação este caso.
Jesus inverte aquela situação. “Aquele que dentre vós estiver sem
pecado seja o primeiro que lhe atire pedra” (Jo.8.6). Com autoridade divina ele
tira a acusação feita à mulher e coloca sobre seus acusadores. Acusados por
suas mentes pelos pecados que cometem, interiormente reconhecendo seus
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erros, embora não os demostrassem em suas ações, no mais secreto do
coração não havia como fugir e um a um vão se retirando. A mulher estava
livre de seus acusadores e diante da vergonha e convencida de seu erro, não
podia contestar e também nada disse. Jesus lhe da a absolvição de seu erro
não negando sua culpa, mas lhe concedendo o perdão e por sua graça lhe dá
uma nova oportunidade de vida. “Ninguém te condenou? Respondeu ela:
Ninguém, Senhor! Então, lhe disse Jesus: Nem eu tampouco te condeno; vai e
não peques mais.(Jo.8.11)"
Não há diante de Jesus culpados e justos, somente há culpados, mas
Ele sempre há oportunidade de mudança. Jesus suscita a culpa não para
condenar, mas para salvar, porque a graça é dada a quem se humilha, a quem
toma consciência de sua culpa. (Tournier, 2004 p.86).
Assim em toda a Bíblia vemos esta inversão. Deus chama um assassino
e tímido Moisés, pela reprovação dos seus irmãos, e acusado por sua mente
achando que seria morto pelo Faraó teve que fugir. A prostituta Raabe torna-se
predecessora do messias ela sua fé no Deus de Israel. Deus escolhe um
desprezado Gideão com um sentimento de inferioridade, para ser um juiz e
chefe militar. Como juiz também foi Sansão, homem que Deus deu nova
oportunidade para vencer os Filisteus dando fim a sua própria vida. Por meio
de uma criança chamada Samuel, Deus repreende o sacerdote Eli. Um
pequeno pastor de ovelhas, esquecido por seu pai, se torna o maior rei de
Israel, Davi, e este, conhecido como homem segundo coração de Deus,
adulterou, foi homicida, mas recebeu perdão. Escolhido para ser rei em seu
lugar é o segundo filho desse relacionamento “desastroso”, Salomão. O que
dizer dos profetas, como Isaias, homem de impuros lábios, ou do tímido
Jeremias, ou o insignificante pastor de ovelhas Amós.
Mas é em Jesus Cristo a maior demonstração da ação de Deus em favor
de toda a humanidade, aliás, tudo o que realizou no Antigo Testamento era
plano para o que aconteceria no Novo Testamento, para trazer por meio de sua
graça a redenção humana. Cerca de 700 anos antes Isaias profetizou: "Porque
um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus
ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da
Eternidade, Príncipe da Paz;" Is.9.6.
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O Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da
Paz, nasceu em uma família pobre, na pequena cidade de Belém, foi colocado
num cocho para alimentar animais. Em João 1.14, é declarado, que o verbo se
fez carne e habitou entre nós cheio de graça e de verdade. O escritor de
Hebreus diz no capítulo 1.3. "Ele, que é o resplendor da glória e a expressão
exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder,
depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da
Majestade, nas alturas,". Sendo o próprio Deus viveu como ser humano para
trazer a todos a redenção de seus pecados e o verdadeiro sentido para a vida.
Caminhou e comeu e se alegrou com aqueles que eram desprezados
pela sociedade, prostitutas, cobradores de impostos, curou leprosos, coxos,
cegos. Trouxe sentido à vida de muitas pessoas que reconheceram-se
pecadoras e indignas de receber seu amor, sua bondade e sua graça. Jesus
revelou a glória de Deus e por meio dele as pessoas encontraram e podem
encontrar a maior de todas as dádivas de Deus, a sua graça. Graça que se faz
presente na vida que quem verdadeiramente crê em seu plano redentor, a
morte de Jesus na cruz, escândalo para judeus e loucura para gentios, mas
para os que foram salvos sabedoria de Deus.
Jesus escolheu para exercer seu ministério, pessoas de pouco
conhecimento, desconsiderados pela sociedade da época, julgadas incapazes,
iletrados, mas com um coração fervoroso pela justiça e humildes para
reconhecer sua pequenez diante da grandeza de Deus. "Por aquele tempo,
exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque
ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos."
Mt.11.25.
Pessoas que deram suas vidas em favor da causa de Deus. Homens e
mulheres de fé dos quais o mundo não era digno. (Hb.11.38). Como escreveu o
apóstolo Paulo, homem de grande conhecimento, com vários títulos, mas que
considerou tudo o que tinha como perda, para fazer conhecido pelo ministério
que recebeu do evangelho da graça de Deus, "pelo contrário, Deus escolheu
as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas
fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas
humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a
nada as que são;" 1.Co.1.27-28.
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Essa inversão mostra que, aos olhos humanos os que são considerados
bons e merecedores pelo que fazem ou são, nada são diante de Deus. As
pessoas vivem pela aparência e procuram sempre a aprovação dos outros, há
uma espécie de culpa do “fazer” para merecer ou por merecer.
Porque é na culpa do fazer que se agarram todas as culpas sugeridas,
todas as que se confundem com o sentimento de inferioridade: a dependência
infantil, dos outros, da sociedade, dos preconceitos, da vergonha, dos
julgamentos sociais. Todos estes sentimentos de culpa têm suas raízes na
culpa do "fazer". É a culpa moralista, a culpa patogênica. É no plano do "fazer"
que se desenrolam todos os julgamentos mútuos que dividem os homens e os
esmagam. O que pode uni-los é a consciência de sua miséria comum que se
situa no plano do "ser". (Tournier, 2004 p.91).
Deus quer que as pessoas o conheçam e vivam na dependência Dele e
não uns dos outros, não vivam em busca aprovações pessoais, em busca de
agradar aos outros para agradarem a si mesmos, mas desfrutem do verdadeiro
sentido da vida, encontrem paz e satisfação.
Há grande uma responsabilidade é claro em relação ao próximo, Jesus
disse para amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como ao ti mesmo
(Mt.22.38-39), também nos é ensinado que tudo quanto quereis que os homens
vos façam fazei-o vós também, pois esta é a lei e os profetas (Mt.7.12), mas a
questão é que isso deva ser pelo que Ele espera de nós e pela sua ação
através de nós e em nós. De forma que quando fazemos o que agrada a Deus
em relação a Ele e ao próximo, há alegria, mas não por nós mesmos e sim
porque através Dele é que podemos realizar coisas, e o prazer que há nisso é
o que Ele deseja que tenhamos, é algo que flui de nosso interior para glória
Dele. Nada disso será possível sem sua própria ação e sem a sua graça em
nosso viver. É a graça de Deus, ou seja, sua presença e sua ação em nossa
vida através do Espírito Santo que promove isso.
"Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade
vieram por meio de Jesus Cristo. (Jo.1.17)"
Não há como ter acesso a graça de Deus sem Jesus Cristo. Ele veio até
nós, manifestou a graça de Deus, revelou quem Deus é e concede a sua graça
ao que crê. Ele não deu nenhuma definição da palavra graça, em nenhum
momento falou que devemos conceder graça, mas mostrou por suas ações o
24
que é a graça de Deus e ensinou que devemos ter ações de amor e essas
ações mostrarão sua graça em nós.
Há uma parábola que Jesus contou que ilustra bem o que é graça:
"Porque o reino dos céus é semelhante a um dono de casa que saiu de
madrugada para assalariar trabalhadores para a sua vinha. E, tendo ajustado
com os trabalhadores a um denário por dia, mandou-os para a vinha. Saindo
pela terceira hora, viu, na praça, outros que estavam desocupados e disse-
lhes: Ide vós também para a vinha, e vos darei o que for justo. Eles foram.
Tendo saído outra vez, perto da hora sexta e da nona, procedeu da mesma
forma, e, saindo por volta da hora undécima, encontrou outros que estavam
desocupados e perguntou-lhes: Por que estivestes aqui desocupados o dia
todo? Responderam-lhe: Porque ninguém nos contratou. Então, lhes disse ele:
Ide também vós para a vinha. Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha ao seu
administrador: Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando
pelos últimos, indo até aos primeiros. Vindo os da hora undécima, recebeu
cada um deles um denário. Ao chegarem os primeiros, pensaram que
receberiam mais; porém também estes receberam um denário cada um. Mas,
tendo-o recebido, murmuravam contra o dono da casa, dizendo: Estes últimos
trabalharam apenas uma hora; contudo, os igualaste a nós, que suportamos a
fadiga e o calor do dia. Mas o proprietário, respondendo, disse a um deles:
Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário? Toma o que
é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti. Porventura, não
me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque
eu sou bom? (Mt.20.10-15).
A parábola mostra que o reino dos céus é comparado a bondade do
dono da vinha ao dar o mesmo salário para o quem havia trabalhado apenas
uma hora do dia em relação ao que trabalhou doze horas. Os que trabalharam
às doze horas ficaram indignados, pois achavam injusto receber o mesmo de
quem trabalhou apenas uma.
Assim são os seres humanos sempre agem por merecer, pelo que
fazem, sempre julgam-se dignos de receber por aquilo que fizeram
comparando-se uns aos outros. Os merecedores dos não merecedores, os
capazes dos incapazes, os que conquistaram “alguma” coisa e tem uma
posição pelo esforço que fizeram dos que nada fizeram, os justos dos injustos.
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Por isso agem sempre para se sentirem melhores do que outros, e vivem
nessa constante comparação e competição, vivem em busca das aprovações
uns dos outros e procurando a aprovação de sua auto-imagem. Mas a graça de
Deus não é assim, não há nada que possamos fazer para merecê-la.
De maneira significativa, muitos cristãos que estudam esta parábola se
identificam com os empregados que trabalharam o dia todo, em vez dos
adicionais no final do dia. Gostamos de nos considerar trabalhadores
responsáveis, e o comportamento estranho do empregador nos desconcerta
como desconcertou os ouvintes originais. Nós nos arriscamos a perder o ponto
principal da história: Deus concede dons, e não salários. Nenhum de nós
recebe pagamento de acordo com o mérito, pois não somos capazes de
satisfazer as exigências de Deus para uma vida perfeita. Se fôssemos pagos
com base na justiça, todos iríamos parar no inferno. (YANCEY, 1999 p.25 –
ebook).
A graça de Deus não depende de nossas ações, ela é dada não por
méritos, mas tão somente por seu amor a nós através de Jesus Cristo. Não há
nada o que possamos fazer para Deus nos amar mais e nada para nos amar
menos, Ele simplesmente ama.
Neste mundo todos carecem da graça, todos são pecadores e iguais
diante de Deus. Ninguém, absolutamente ninguém é melhor do que o outro,
todos nós somos pecadores. "Pois todos pecaram e carecem da glória de
Deus," (Rm.3.23). A palavra traduzida como carecem no grego é hustereo
(υστερεω), que tem vários significados: atrás; vir mais tarde ou com bastante
atraso; ser deixado para trás na corrida e falhar em alcançar o objetivo não
chegar ate o fim; falhar em tornar-se um participante voltar atrás de; ser inferior
em poder, influencia e posição; ser inferior; falhar estar ausente; estar em falta;
sofrer necessidade estar destituído; ser inferior em excelência e valor. (App.
MyBilbe - Strong) Estamos muito distantes de fazer algo que Deus possa
aprovar, estamos muito a quem de atingir o alvo desejado por Deus, por isso
Ele vem até nós com sua graça.
O mundo é governado pela ausência de graça. Tudo depende do que eu
faço. Tenho de fazer os pontos. O reino de Jesus nos chama para trilhar outro
caminho, um caminho que não depende de nossas realizações, mas, sim, da
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realização dele. Nós não temos de realizar, mas apenas seguir. Ele já ganhou
para nós a preciosa vitória da aceitação de Deus. (YANCEY, 1999 p.30 – ebook).
A graça nos ensina que Deus nos ama pelo que Ele é, e não pelo que
nós somos. (YANCEY, 1999 p.113 – e-book).
"Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é
dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie." (Ef.2.8-9).
A salvação é pela graça e a realização do que Deus espera de nós
também. "Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os
homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões
mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente,
aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande
Deus e Salvador Cristo Jesus," (Tt 2.11-13). Não somos capazes de realizar a
vontade de Deus a não ser pela sua graça em nossa vida através da ação do
Espírito Santo. É somente pela presença de Deus em nossa vida, por meio de
sua graça. Quando encontramos a graça salvadora através de Jesus
encontramos vida e passamos a ter um relacionamento com Deus e Ele passa
a residir em nós pelo Espírito Santo. Há sentido para vida, razão para viver,
desejo de viver e possibilidade de realizar sua vontade. A vida passa a ser
completa, não há mais falta de nada para aqueles que estão debaixo da graça
de Deus. Nós somos insuficientes, mas a graça de Deus é suficiente.
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6. CONCLUSÃO.
Não há como não viver sem o sentimento de culpa. Todas as pessoas,
independente de quem sejam e onde estejam em todas as suas culturas
sofrem o sentimento de culpa e todas tem a necessidade de pagar por isso.
Elas tentam de diversas formas por suas ações, por justificações próprias, mas
nunca conseguirão e por mais que façam sempre terão que fazer novamente,
nunca estarão satisfeitas ou livres por não poder suprir a falta que há sem a
presença de Deus e sem a sua graça.
Todos experimentamos os sentimentos de culpa, mas todos, também,
procuramos, constantemente, escapar disso, não pelo perdão de Deus, mas
por mecanismos de justificação própria, pelo recalque de nossa consciência.
Todos temos, então, necessidade dos dois aspectos da inversão bíblica: a
necessidade de esperança da graça em resposta às nossas convicções de
culpa e a necessidade da severidade de Deus para fazer-nos penetrar em nós
mesmos, reconhecer a nossa culpa, a nossa miséria e confiar mais
ardentemente ainda na graça. (Tournier, 2004, p.124).
Todos nós somos condenados e culpados por causa do pecado. É o
pecado que nos aprisiona, que traz sofrimentos, que nos afasta de Deus, que
prejudica o relacionamento com as pessoas, e só poderemos ser livres do
pecado pela fé e pela graça de Deus por meio de Jesus Cristo, pois onde
abundou o pecado superabundou a graça de Deus (Rm.5.20). Somente através
de Jesus Cristo podemos ter um encontro pessoal com Deus e estabelecer o
relacionamento com Ele.
Este então é o segredo: um encontro pessoal com Deus. Ele traz uma
severidade muito maior sobre nós e ao mesmo tempo traz uma libertação de
escrúpulos mórbidos. A vida torna-se uma aventura cheia de gozo que é
continuamente renovado. Há uma ampliação do campo da consciência. Neste
contato íntimo com Deus a maneira pela qual nós nos julgamos é
fundamentalmente transformada. (Tournier, 2004, p.131).
A transformação de nosso ser, a mudança em nosso interior é o que
Deus quer realizar em nós e fazer-nos parecidos com Jesus para que
tenhamos alegria, paz, satisfação e sejamos pessoas realizadas. Realizadas
não por ter ou ser como a sociedade impõe, ou por ter ou não bens materiais,
“status”, mas por ser como Ele deseja e preparou para que fossemos. Pessoas
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que vivam os ideais de Deus, vivam conforme sua palavra, orientadas e
conduzidas por Ele. É no relacionamento íntimo, vivo e pessoal que
entendemos sua vontade, recebemos sua graça e podemos viver livres de
todos os tipos de sentimentos de culpa.
O que nos resta? Somente depender e buscar diariamente viver na
presença Deus, somente Ele preenche todo o vazio em nosso ser. É no
relacionamento com Deus que encontramos a verdadeira liberdade, liberdade
do pecado, da condenação, das amarras da sociedade, dos tabus, das manias,
dos complexos, das comparações humanas, das frustrações, das desilusões
que sofremos e causamos, pois através de sua graça há suficiência para nossa
auto-imagem. Nele nada falta, Nele somos completos.
"Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai, de quem toma o
nome toda família, tanto no céu como sobre a terra, para que, segundo a
riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante
o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração,
pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de poderdes
compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a
altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo
entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus." Ef 3.14-
19. A oração de Paulo pelos Efésios era para que fossem fortalecidos no
homem interior e estando firmes pudessem compreender e conhecer o amor de
Cristo e tomados de toda plenitude de Deus, cheio de sua presença, de seu
poder, da sua ação, das suas riquezas e de Cristo, pessoas completas.
Nada, mas nada seria possível sem a graça de Deus, sem que ele
viesse até nós e manifestasse por meio de sua graça o seu imenso amor e a
revelação de quem Ele é. A verdadeira razão de viver, o verdadeiro sentido
para uma vida feliz e livre está em Jesus Cristo, está na graça de Deus. Nada é
por nós, tudo é por Ele e para Ele.
“Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele,
pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm.11.36).
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Culpa e Graça. Uma analise do sentimento de culpa e o ensino do
evangelho/ Paul Tornier; (tradução de Rute Silveira Eismann). Editora ABU,
1985 (6ª reimpressão 2004). 218p.
Nas garras da Graça. Você não pode escapar do seu amor/ Max
Lucado; Editora CPAD. 224p.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Culpa_(sentimento)
https://www.rashuah.com.br/single-post/2017/01/05/Sentimento-de-culpa
https://www.psicologiaviva.com.br/blog/sentimento-de-culpa/
http://www.itcrcampinas.com.br/pdf/helio/analise_comportamental_sentimento_
culpa.PDF
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