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(SGS) Dal Vol.18

O volume 18 de 'Date A Live' apresenta Shinji, um adolescente tímido que pratica convidar sua paixão, Mio, para um encontro, revelando seu primeiro amor. Enquanto isso, no campo de batalha, uma cena dramática se desenrola com Kurumi, que enfrenta sua própria morte e a aparição de uma misteriosa garota que parece ter uma conexão profunda com Shidou. A narrativa alterna entre os sentimentos de amor juvenil e a intensidade de uma batalha sobrenatural.

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Rodrigo Oliveira
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(SGS) Dal Vol.18

O volume 18 de 'Date A Live' apresenta Shinji, um adolescente tímido que pratica convidar sua paixão, Mio, para um encontro, revelando seu primeiro amor. Enquanto isso, no campo de batalha, uma cena dramática se desenrola com Kurumi, que enfrenta sua própria morte e a aparição de uma misteriosa garota que parece ter uma conexão profunda com Shidou. A narrativa alterna entre os sentimentos de amor juvenil e a intensidade de uma batalha sobrenatural.

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デート・ア・ライブ

澪ゲームオーバー

Date A Live Volume 18


Mio Gameover

Autor: Koushi Tachibana


Ilustração: Tsunako
Tradução: Myturn
Edição: Myturn
Revisão: Alecir
Capítulo Fragmentário/1: Memória
— Er, Mio, se for possível, então...

Em um certo dia.

Takamiya Shinji murmurou algumas poucas palavras enquanto seu rosto


estava ficando cada vez mais vermelho.

— No próximo domingo, quer ir comigo em... um... en-en-en...

Apesar de estar um pouco travado, ele respirou profundamente algumas


vezes para ajustar o passo das batidas de seu coração antes de abrir os olhos.

— En... er... quer ir em um encontro comigo...!?

Enquanto canalizava todo o esforço reunido em seu corpo, ele fez o seu
melhor para falar aquilo enquanto olhava para a pessoa a sua frente com uma
expressão facial neutra.

Porém, a pessoa que estava em pé na frente dele não respondeu com uma
resposta.

Ainda assim, isso era algo natural. Na frente dele, havia um garoto com a
mesma expressão facial... resumindo, era o próprio Shinji que estava ali. Isso
mesmo. Sua localização atual era dentro do quarto do próprio Shinji, onde ele
estava em pé em frente a um espelho praticando como convidar uma garota para
sair.

— ...Ha.

Acompanhando esse grande suspiro, Shinji finalmente relaxou seus


ombros.

...Embora ele não esperasse ir bem, foi pior do que ele esperava. Se ele já
estava nervoso desse jeito praticando em frente ao espelho, era muito
questionável se ele realmente conseguiria fazer isso quando a hora chegasse.

Apesar de dizer isso, ainda não havia uma outra alternativa.

Shinji, que tinha 17 anos, tinha acabado de começar o segundo ano do


ensino médio. Porém, talvez por ser uma pessoa naturalmente reservada, ele
nunca teve muitas interações com garotas antes, muito menos expressou seus
sentimentos por uma. Simplificando, faltava a ele uma imunidade natural para
esse tipo de tarefa.

4
— ...

Não... Shinji mordeu seus lábios com força.

De fato, Shinji nunca tinha convidado uma garota para um encontro antes.
Porém, o sentimento que o motivava agora não era o efeito de alguma paixonite
momentânea.

Apenas de pensar no rosto dela, seu coração acelerava a níveis nunca


alcançados.

Só de chamar pelo nome dela, ele se sentia sem ar.

Se for pelo bem dela, Shinji sentia que tinha força para fazer qualquer
coisa.

Como um aluno de idade colegial, teve ao menos uma ou duas garotas que
chamaram sua atenção até aquele momento. Houve também vezes em que ele
sentiu um desejo especial por uma senpai bonita ou que seu coração acelerou por
alguma colega de classe.

Mas parando para pensar, esse tipo de sentimento não pode ser chamado
de amor.

— Ah... mas agora deve ser, amor.

Takamiya Shinji, nessa idade tardia, estava experimentando seu primeiro


amor.

— ...Só preciso praticar um pouco mais.

Enquanto ele tentava encorajar a si mesmo, Ele ajustou o ângulo de sua


posição projetada pelo espelho.

— O-oh, bom dia, Mio. Que belo tempo está fazendo hoje. Gostaria de sair
um pouco?

Enquanto falava com mais clareza do que antes, Shinji logo descobriu que
uma coisa estava errada.

Aquilo não era muito diferente do que convidá-la para fazer compras. Sem
contar que não era como se Shinji e Mio nunca tivessem saído juntos. ...Não,
mesmo se alguém perguntasse, Shinji não sabia exatamente a diferença entre um
encontro e duas pessoas passeando juntas. Apesar que, diferente das vezes

5
anteriores, Shinji esperava que Mio soubesse que aquilo era um "encontro com o
Shinji".

Apesar de ser embaraçoso, ele não podia omitir a palavra "encontro" de


novo. Shinji ajustou sua respiração enquanto olhava para seus próprios olhos
através do espelho.

— E-Ei, Mio. Na próxima vez, gostaria de ir comigo há um... en-encontro?

Por um motivo desconhecido até por ele mesmo, ele disse isso usando
keigo1. Shinji clareou sua garganta com uma leve tosse antes de continuar.

Talvez, por causa do treino, Shinji estava gradualmente


ficando acostumado aos pedidos. Estimulado pelo progresso, Shinji
continuou a falar com uma expressão franca.

— Mio, vamos sair em um encontro.

— ...un?

Naquele momento.

Assim que Shinji terminou a frase, ele ouviu uma voz vinda de trás dele.
Por um momento, devido a estar imerso em seu treino, Shinji achou que ele tinha
criado uma garota imaginária em sua mente. Mas... era uma voz clara e familiar.

— ...!?

Shinji se virou para trás em um piscar de olhos.

Então, atrás dele estava uma garota incrivelmente linda que parecia estar
ali sem ser notada há algum tempo.

— ...! Mio...

— Un, o que foi, Shin?

Enquanto perguntava, ela inclinou sua cabeça com olhos curiosos. Isso
mesmo; ela era o primeiro amor de Shinji, a garota chamada Takamiya Mio.

— P-por quanto tempo esteve aí...?

— Acabei de chegar... deixando isso de lado, Shin, para onde vamos?

1
Nota: Keigo é uma forma de falar polidamente em japonês. Não deixei a tradução na forma polida para
não parecer a Mukuro falando.

6
— Hã...!? O-o que você dis...?

— Então, quando será esse encontro?

— ...!

Ao ter ouvido aquilo, Shinji ficou sem ar.

Ainda assim, de alguma forma ele ainda foi capaz de murmurar algumas
palavras de sua garganta.

— Ah, bem... pró-próximo domingo, que tal?

— Entendi. Aguardarei ansiosa por ele... ah, isso me faz lembrar, Mana
está te chamando lá embaixo.

Quando Mio terminou de falar, ela sorriu alegremente antes de sair do


quarto de Shinji.

— ...

Enquanto Shinji estava olhando inexpressivamente suas costas se


distanciarem, ele levemente caiu no chão no mesmo lugar.

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Capítulo 1: Mãe Zero
— No campo de batalha, os sons não cessaram.

Tiros, detonações, gritos de lamentação, rugidos de ressentimento. No


campo de batalha onde Wizards e Espíritos estavam lutando, os explosivos sons
de reiryoku e maryoku se misturavam no ar.

Todo grito ou guincho soltados ali eram cobertos por camadas de mais
sons de destruição. Era como se o inferno tivesse sido realocado para acima do
solo. Com apenas um segundo de distração, o diligente Shinigami que vistoriava
o campo de carnificina poderia arrancar a cabeça de qualquer um.

Porém, durante esse tempo.

— ...

Itsuka Shidou estava em um estranho silêncio.

Não era como se não houvesse som algum nos seus arredores, ou como se
Shidou tivesse com os tímpanos danificados pelos sons de explosão ouvidos a
uma curta distância. O verdadeiro motivo... era que sua atenção havia sido
roubada pela cena que se desenrolou diante dele ao ponto que os sons ao seu
redor não pudessem chegar aos seus ouvidos

— A-ah...

Nesse silêncio nada natural, somente uma voz dolorosa de uma garota
ecoava de uma forma delicada.

Seu olho esquerdo e direito estavam arregalados de horror. As pontas de


seus cabelos presos de forma desigual estavam balançando irregularmente.
Mesmo sua pele, que era pálida como neve, refletia a morte em sua aparência.

Tokisaki Kurumi. Para a garota que era normalmente chamada de Pior


Espírito, aquela era uma aparência que nunca poderia ser imaginada para ela.

Porém, não seria irracional imaginar algo muito diferente daquela reação.
Afinal, um braço branco estava se estendendo de seu peito.

Isso não era nem uma metáfora nem um exagero. Lentamente, os dedos
começaram a forçadamente arrastarem um corpo para fora do corpo magro de
Kurumi. Tal cena se parecia com uma flor saindo do rosto de uma pessoa.

8
Acompanhando esse som, um "braço" se estendeu como se fosse uma raiz
se expondo para tomar ar.

O que apareceu dali foi uma jovem garota.

— Ah...

Enquanto olhava para aquele rosto, Shidou inconscientemente sentiu uma


voz fraca saindo de sua garganta.

Ela era demasiadamente linda... esse era o traço mais marcante daquela
garota.

Cabelo lustroso que se parecia com fios de seda, pele branca translúcida,
mesmo a expressão abatida projetada pelo seu par de olhos parecia somente
adicionar um brilho maior a sua beleza.

Não, não somente isso.

Certamente, ela era uma linda garota. Porém, isso não podia explicar a
sensação de familiaridade que naturalmente fluía de sua imaginação
absolutamente infundada.

Seus genes, sua alma, cada fibra das emoções turbulentas que ele tinha
estavam sendo direcionados a ela.

Se for analisada com calma, esse tipo de emoção poderia ser descrita como
amor ou afeição. Porém, nas circunstâncias atuais e levando as conclusões ao
extremo, chamar isso de maldição poderia ser o mais apropriado.

— Ga... ah...!

— ...!"

Ouvindo o som do gemido de Kurumi, Shidou sentiu seus ombros


começarem a tremer.

— <Zafkiel>...!

Enquanto os olhos vermelhos de sangue de Kurumi estavam arregalados,


ela alinhou a pistola antiga em seu braço. Instantaneamente, uma densa sombra
foi sugada para o cano da arma.

Então, enquanto apontava ela para a garota que saia de seu peito, ela
apertou o gatilho.

9
Porém, naquele momento, a garota se virou para se expelir do corpo da
Kurumi.

— Ga...!

Kurumi gritou com uma voz agonizada enquanto a bala disparada


levemente passou de raspão pela pele da garota antes de se perder para longe.

A garota então apertou seus olhos.

— Me desculpe, Tokisaki Kurumi. E, obrigada. Graças a você, posso estar


diante dele mais uma vez.

— Não.... ferra... comigo...

Com sua respiração irregular, Kurumi tentou erguer sua arma mais uma
vez. Porém, com seu corpo enfraquecido e incapaz de tolerar o peso da garota,
Kurumi caiu de costas.

Saindo de seu peito, uma garota emergiu, pousando no chão enquanto


estava completamente nua.

— Ku... ah...

Quando Kurumi viu essa cena Bizarra que estava muito distante da
realidade, ela disse algumas breves palavras abafadas por arquejos.

— Shi...dou...-san...fuja...

Porém, antes dela terminar de falar, sangue foi vomitado pela boca de
Kurumi enquanto ela caia no chão de cansaço sem conseguir mais falar.

— ...!?

No momento seguinte, vários clones da Kurumi que estavam nas


proximidades agarraram seus peitos com dor antes de se tornarem sombras
negras.

— Ah...

Testemunhando essa cena se desdobrar diante dele, Shidou


inegavelmente foi forçado a entender um fato.

Morte. A chegada do fim de toda vida.

Hoje, a morte chegou para Kurumi.

10
— ...

Quando a garota nua olhou para a Kurumi que estava caída no chão, ela
lentamente se agachou perto dela e gentilmente fechou as pálpebras de Kurumi.
A expressão facial dela se distorceu de agonia para um estado de serenidade.

— O que...

Shidou não conseguiu compreender o significado por trás daquilo.

Para alguém que tinha acabado de matá-la, as ações da garota mostravam


um sinal de respeito e afeição em relação a Kurumi.

Não... para ser preciso, aquilo não foi a única coisa que Shidou não
compreendeu. Quem diabos era ela? Por que ela se arrastou para fora do corpo
da Kurumi? Mesmo que eles nunca tenham se visto antes, por que ele está
sentindo toda essa turbulência em seu coração? Se levantando, a garota parecia
ter visto através de toda confusão mostrada pelo rosto de Shidou.

— Há quanto tempo. Finalmente consegui te encontrar... Shin.

— Shin...?

Ao ouvir aquele nome, Shidou vagamente soltou a voz.

É claro, aquele não era o nome de Shidou.

Porém, Shidou conhecia uma pessoa que sempre o chamava por aquele
nome.

— Fufu.

A garota sorriu como se aparentemente tivesse ciência da confusão na


mente dele. Então, a garota lentamente se moveu em sua direção... sua mão se
estendeu para Shidou.

Apesar de sentir seu corpo tremer inconscientemente, ele não conseguia


se mover. Era quase como se seu corpo incondicionalmente aceitasse o que
aquela garota estava fazendo.

Então, depois de gentilmente acariciar a cabeça de Shidou, ela pressionou


a testa de Shidou contra a sua.

Então, no momento seguinte...

— Hã...?

11
Com uma tremenda quantidade de informação fluindo para sua cabeça,
Shidou não pôde fazer nada além de inesperadamente abrir seus olhos.

Não, para ser preciso, parece mais apropriado dizer que as memórias que
estavam originalmente dentro dele mesmo estavam transbordando em vez de
entrando em sua cabeça.

— ...!...!?

Com essa quantidade de informação surgindo em sua mente, parece que


uma represa foi rompida em sua cabeça. Subsequentemente, ele sentiu uma dor
de cabeça aguda.

— Ah... ah...

Porém, Shidou não caiu sobre seus joelhos. Com uma mão pressionando
sua cabeça que doía, ele olhou para a garota em frente aos seus olhos.

Então Shidou,

— M-Mio...?

Ele chamou pelo nome da garota que ele não deveria conhecer.

◇◇◇◇

O quê...!?

Nos céus acima da cidade Tenguu que tinha se transformado em um


campo de batalha, munições e luzes mágicas cruzavam o céu. A bordo da
<Fraxinus>, a comandante Itsuka Kotori proferiu isso com uma voz confusa.

Como uma comandante, isso não era algo digno de elogio. Em particular,
no campo de batalha a nave funcionava como um único organismo. O desalento
dos superiores facilmente se propagava para os subordinados, o que poderia
então prejudicar a performance de toda a nave. Portanto, não importa como a
situação se desenvolvesse, o comandante deve sempre permanecer calmo. Não
havia exceções, mesmo que a comandante fosse uma amável jovem garota
adolescente.

Mas naquele momento, ninguém ali poderia condenar a reação de Kotori.

12
Assim como Kotori, a visão que era refletida no monitor tinha capturado
a atenção de todos.

— O-Os sinais de vida da Tokisaki Kurumi... desapareceram...

As vozes dos membros da tripulação ressoaram na ponte de comando.

Isso mesmo. Ela estava até agora pouco lutando ao lado de Shidou, então
uma misteriosa garota saiu do peito do Espírito Tokisaki Kurumi.

— O-O que ela...?

Quando Kotori murmurou isso enquanto franzia sua testa, ela foi tomada
por uma estranha sensação de déjà-vu.

Não havia dúvidas de que era a primeira vez que ela via aquela garota. E
isso não estava errado. Mas, por quê? Kotori sentiu que tinha aspectos de alguém
conhecido na aparência daquela pessoa.

— Há quanto tempo. Finalmente te encontrei... Shin.

A garota na tela tinha gentilmente sussurrado isso para Shidou.

— ...

Ao ouvir essas palavras, Kotori quase ficou sem ar.

Ela finalmente percebeu. Começando somente há momentos atrás, a


identidade de um sentimento desconfortável se remexeu em seu peito.

Ela começou a notar a possibilidade que tem persistido em ficar em sua


mente desde então.

Na direção onde a analista Murasame Reine, um excelente membro da


<Ratatosk> e amiga íntima de Kotori, estava sentada.

Shin, esse nome.

E também a aparência daquela bela, porém efêmera, garota.

Isso mesmo. A garota diante de Shidou se parecia exatamente com Reine,


exceto por ser alguns anos mais nova.

— ...

Reine somente olhava em silêncio para a tela.

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Sua expressão sonolenta e calma permanecia a mesma de sempre. Porém,
naquele momento sua aparência sempre confiável parecia excessivamente
assustadora para Kotori.

— Reine, eu te imploro.

Depois de alguns segundos, Kotori disse isso com uma voz trêmula como
se estivesse tentando fazer um apelo.

— Por favor, diga que é só uma ideia estúpida minha. Apenas ria e diga
que é uma coincidência. Me ridicularize com o tom de voz que sempre usa.

— ... Kotori.

Reine respirou levemente antes de responder. E então...

— ... você realmente é uma garota esperta.

As palavras que Kotori menos queria ouvir saíram de seus lábios.

— ...

O sentimento de ter seu coração se contraindo, sua respiração ficou


inconscientemente caótica enquanto suor corria para seu pescoço. Porém, Kotori
ainda era a comandante da <Ratatosk>. Isso era racional ou algo subconsciente?
Apesar de não saber em quem mais confiar, a voz de Kotori semi-reflexivamente
se arrastou para fora.

— Maria!

— Entendido.

Uma voz de garota emitida dos alto-falantes da ponte de comando


respondeu ao chamado de Kotori. Era a IA de administração da <Fraxinus>,
Maria.

No momento seguinte, zap! Acompanhando esse som, faíscas saíram do


console que as mãos de Reine estavam tocando.

Um choque elétrico gerado por um pequeno circuito. Essa era uma das
medidas de precaução contra intrusos ou operações ilegais. Embora não seja
fatal, enquanto a voltagem fosse alta, parecia ser o suficiente para prevenir os
movimentos das pessoas por algum tempo.

— ...Un. Um julgamento calmo sem observar o lado emocional. Essa foi


uma resposta muito boa.

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Porém, apesar de ter levado um choque elétrico de forma direta, Reine
ainda estava em pé com a expressão facial inalterada.

— ...

Se deparando com essa estranha atmosfera, os membros da tripulação na


ponte de comando soltaram suspiros atônitos. Kannazuki Kyohei, o comandante
substituto, posicionado próximo ao assento de comandante, mudou sua posição
em um reflexo natural para proteger Kotori.

Em um pequeno espaço de tempo, a ponte de comando estava carregada


de tensão.

Mas foi a declaração surpreendente de Reine que quebrou o silêncio.

— Obrigada, Kotori.

— O que você disse?

Ouvindo o que Reine tinha acabado de dizer, as sobrancelhas de Kotori


brevemente tremeram. Ainda assim, Reine continuou a falar de maneira astuta.

— Você realmente foi de grande ajuda. Obrigada por proteger o Shin até
agora.

— ...

Kotori sentiu sua garganta secar com a tensão enquanto ela moveu seus
lábios.

— Eu não entendo o que está dizendo. O que quer dizer com isso? Reine,
quem é você?

— Eu acho que não deve ser muito diferente do que está imaginando.

— Não se finja de tola comigo... qual é sua relação com aquela garota?

Enquanto falava. Kotori brevemente olhou para a misteriosa garota no


monitor. Enquanto seguia os movimentos dos olhos da garota, Reine também
olhou para a garota antes de falar.

— Aquela sou eu. Eu sou ela.

— O que está dizendo...?

— Mais do que os clones da Kurumi, mais parecido com as <Nibelcol>.


Aquela sou eu e eu sou ela. Você pode pensar nisso como dois corpos que

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compartilham a mesma intenção. Eu estou aqui por um propósito também. Estar
separado dela foi mais conveniente. Especialmente, ao dar as Sephiras para todas
vocês.

— O quê...!?

Ao ouvir o que Reine tinha acabado de dizer de forma indiferente, os olhos


de Kotori se arregalaram alarmados.

Dar as Sephiras. Agora mesmo, Reine tinha acabado de dizer isso.

Somente um único fato poderia ser definido por essas palavras. Ela está
dizendo que...

— <Phantom>...!?

— ...

<Phantom>, era o Espírito que transformava seres humanos em Espíritos,


o inimigo de Kotori e seus companheiros.

Em resposta ao grito de Kotori, Reine não mostrou nem afirmação nem


negação enquanto seus olhos eram direcionados para baixo.

— Agora, é hora de eu partir. Kotori, os dias que passei com você foram
divertidos, mas agora eles chegaram ao fim.

— O que disse...?

— É hora de meu desejo se tornar realidade. A hora do meu mais profundo


desejo se realizar. Tudo que fiz foi por essa hora. Tudo foi para esse momento.
Para poder oferecer as minhas bênçãos a todas as pessoas que descartei. Para
oferecer meus agradecimentos a todas as vidas que eu pisoteei. Eu tenho que ficar
ao lado dele mais uma vez.

— ...? Espera, Rei...

Mesmo sem um plano definido, ela não podia ficar parada sem fazer nada.
Reflexivamente, Kotori estendeu sua mão para alcançar Reine.

Porém, Reine deu um passo à frente na ponte de comando e desapareceu


como se tivesse se derretido no espaço.

— ...!

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As mãos de Kotori só conseguiram alcançar um espaço vazio. A expressão
de Kotori parecia a de alguém prestes a chorar. Fechando sua mão em forma de
punho, ela golpeou o apoio de braço do assento do comandante.

— Reine...

Em termos de tempo, nem mesmo cinco minutos tinham se passado.

Mas nessa pequena quantidade de tempo, o mundo de Kotori tinha virado


de cabeça para baixo. Um Espírito, que era o seu alvo de proteção, tinha acabado
de morrer. Sua mais confiável amiga tinha se tornado o pior dos inimigos.

Não... isso provavelmente estava errado também.

Se o que Reine tinha dito era verdade, Reine não traiu Kotori e as outras.
Desde o começo ela nunca tinha sido uma aliada de fato.

O tempo que passaram juntas não tinha sido nada além de um capricho
para ela.

A crueldade da realidade tinha transformado a comandante de uma


tripulação em uma garotinha mais apropriada com sua idade em questão de
segundos.

— ...

Porém, ela não podia concordar em permanecer desse jeito por muito
tempo. Secando as lágrimas com as mangas de seu uniforme militar, ela ergueu
seu rosto enquanto afiava seu olhar.

— Todos os membros, por favor, retornem às operações.

— C-Comandante.

— Mas...

Quando os membros da tripulação na parte de baixo da ponte de comando


estavam com uma expressão de desconforto, Kotori vigorosamente bateu no chão
com seus sapatos enquanto ficava de pé.

— Nós perdemos um aliado e ganhamos um inimigo. O que aconteceu não


foi nada além disso.

Depois disso, ela pegou um Chupa Chups do suporte em sua cintura e o


lançou na boca antes de continuar a falar.

17
— Se forem tomar chá no café da tarde, não importa o quanto reclamem.
Se forem a um bar durante a noite, podem beber o que quiserem. Mas agora
estamos em um campo de batalha. O vento de ferro sopra violentamente no
campo de caça do Shinigami. Então, o que supostamente vocês devem fazer
agora?

— ...!

Toda a tripulação respirou profundamente em sincronia em resposta às


palavras de Kotori.

Em seguida, eles rapidamente voltaram a seus consoles para voltar com as


operações.

— Minha nossa, você se recuperou bem rápido. Como eu estava mantendo


a defesa do casco, ficaria tudo bem se ficasse depressiva por um pouco mais de
tempo.

Os caracteres que representavam o nome MARIA brevemente cintilavam


no monitor principal.

— ...Hmmm. Se quiser nos insultar, vai ter que fazer um pouco melhor do
que isso.

— Isso foi realmente desrespeitoso. Apesar da sensibilidade de um


coração humano, parece que ainda tenho o que aprender. A IA que continua a se
desenvolver buscando a perfeição, essa sou eu.

— Somente essa habilidade desagradável merece reconhecimento.

Depois de dizer isso, Kotori finalmente relaxou sua expressão facial.

Para ser honesto, seria uma mentira dizer que seu comportamento atual
não estava sendo forçado. A situação da guerra não estava parecendo muito
otimista e agora um novo inimigo apareceu, cujos propósitos ainda eram
desconhecidos. Embora ela tenha conseguido manter as aparências, sua cabeça
estava devastada ao ponto que ela queria chorar assim que a situação permitisse.

Maria parece ter percebido esses pensamentos de Kotori e disse aquilo. Se


Maria pudesse aprender mais sobre as sutilezas da mente humana, Kotori
gostaria de fazer ela chorar como vingança.

— Honestamente, esse não é do tipo irmãzinha fofa afinal.

— Kotori, o que disse?

18
— Nada, eu só estava considerando me livrar da parte do programa que
permite uma IA tagarelar demais.

— Ah, você realmente deveria considerar sobre esse ponto. Vai ser esse
tipo que vai colocar suas presas sobre a humanidade no futuro. Eu vi isso uma
vez em um filme. Mas para essas IA, quando se deleta uma parte de seus
programas internos, parece que elas liberam um tipo de vírus malicioso na
internet. Então, deve-se tomar muito cuidado. Bem, a ideia de regredir a
humanidade em algumas décadas me parece bastante interessante.

Maria declarou enquanto fingia agir de forma ingênua. Realmente, ela era
uma IA que falava demais.

Porém, seus comentários também serviam para melhorar a atmosfera de


alguma forma. Kotori arrumou sua postura no assento de comandante antes de
distribuir seus comandos para a tripulação.

— De qualquer forma, nós temos que estar atentos a qualquer aparição de


Reine diante de Shidou. Embora seu objetivo seja desconhecido, ainda assim... é
um fato inegável que ela matou Kurumi.

Enquanto falava, Kotori levemente franziu o cenho.

Era claramente evidente que Kurumi tinha morrido, já que seus sinais de
vida desapareceram. Porém, ainda havia uma resistência em Kotori em usar a
palavra "matar".

Mesmo que ela seja conhecida como Pior Espírito, ela ainda assim era um
alvo a ser protegido pela <Ratatoskr>, e mais do que tudo, ela tinha salvado
Shidou mesmo em troca de diminuir sua expectativa de vida. Seria mentira dizer
que sua perda não havia sido dolorosa.

Porém, agora não era a hora para ficar imersa em tristeza. Kotori balançou
sua cabeça para recobrar a compostura antes de prosseguir.

— Mantenham o progresso da batalha enquanto seguem em direção


àquele local. Além disso, informem Tohka, Kaguya e Yuzuru. Se preparem para
trazer Shidou de volta...

Naquele momento.

Naquele instante, um alarme vindo do alto-falante da ponte de comando


interrompeu as palavras de Kotori.

19
— ...Comandante!

— ...!

Ouvindo as vozes da tripulação, Kotori voltou sua atenção para a tela.

Em frente ao cadáver do Kurumi, encarando Shidou e a garota nua.

Bem ali, Reine, que tinha acabado de desaparecer da ponte de comando,


apareceu como se tivesse surgido do espaço vazio.

◇◇◇◇

— ..., Ku...

Uma enxaqueca constante atingiu Shidou.

Sua consciência parecia nublada. Porém, isso não era uma transição mútua
de consciência e inconsciência oscilando em sua mente. Em vez disso, era como
se a consciência de "si mesmo" e de "outro eu" estivessem sendo literalmente
misturadas. Informações não conhecidas por "si mesmo" gradualmente estavam
se desgastando.

Era como se ele tivesse sendo infectado pelas memórias desconhecidas de


um "outro eu".

Ao mesmo tempo que o conhecimento de ambos estava sendo


compartilhado, os limites que os separavam gradualmente se tornavam
ambíguos.

— Ah...

Em meio ao caos, Shidou levemente ergueu sua sobrancelha.

Próxima a linda garota que estava em pé diante dele, o espaço atrás dela
começou a se distorcer enquanto a figura de uma mulher familiar saía de lá.

Ela estava com o cabelo casualmente preso e tinha um rosto pálido com
grossas manchas negras abaixo dos olhos. No bolso na altura do peito do
uniforme da <Ratatoskr> havia um urso de pelúcia com uma marca de costura.

— Rei...ne-san...?

20
Isso mesmo. Quem apareceu à sua frente foi a analista da <Ratatoskr>,
Murasame Reine.

Quando deparado com essa situação anormal, Shidou, que já estava


confuso, caiu em uma perplexidade ainda mais profunda.

Aquela era uma visão difícil de explicar. Afinal, Shidou não conseguia
entender por que Reine, que deveria estar a bordo da <Fraxinus>, apareceu ali. E
naquela hora, ela tinha aparecido de um vácuo no espaço. Era simplesmente...
como se ela fosse uma Wizard ou um Espírito.

— Isso deve ser doloroso. Mas, tudo estará em seu devido lugar em breve.
Por favor, aguente mais um pouco, Shin.

Como se compreendesse a perplexidade de Shidou, Reine respondeu a ele


com uma voz calma. Apesar de responder no seu tom de sempre, Shidou sentiu
que tinha algo de errado com o que ela tinha acabado de dizer. Porém, sua
atenção foi tomada por outra coisa.

— Ah... isso...

A garota misteriosa de agora a pouco... Mio, um sentimento de Déjà vu


surgiu vindo dela.

O motivo para isso era que ela passava exatamente a mesma sensação que
Reine.

— ...

Depois de examinar o estado atual de Shidou, Reine soltou o ar


brevemente. Então, ela estendeu seus braços e gentilmente abraçou o corpo de
Mio por trás.

No momento seguinte, os corpos de Mio e Reine emitiram uma luz fraca.


O contorno das duas gradualmente foram ficando mais borrados enquanto elas
se juntavam em uma só.

— O quê...?

Em seu campo de visão, Shidou vislumbrou.

Roupas brilhantes apareceram do espaço vazio como se fosse algo vivo e


cobriram o corpo de Mio, que anteriormente não estava vestindo nada.

21
A silhueta de um vestido banhado com uma cor fantástica que se parecia
com uma aurora boreal. Atrás dela havia uma aréola distorcida com dez estrelas
encravadas nela, onde uma delas emitia um brilho negro.

Astral Dress. A armadura absoluta vestida pelos Espíritos.

Sua majestade era semelhante a aparição de "Deus" descrito em inúmeros


mitos.

— ...

Não haviam mais dúvidas.

Murasame Reine, que havia apoiado Shidou com os Espíritos até agora...
era a mesma existência que Mio.

Não, para falar a verdade, Shidou já sabia disso.

Ao mesmo tempo que Mio se fundia com Reine e revelava seu Astral Dress,
as duas identidades dentro da cabeça de Shidou se misturavam enquanto sua dor
de cabeça lentamente desaparecia.

— Mio...

Mais uma vez, ele chamou pelo nome dela.

Mio. Takamiya Mio.

Isso mesmo. Shidou... Não, esse foi o nome que Takamiya Shinji deu a ela.
O espírito primordial. O Espírito da Origem. O pior desastre na história da
humanidade. Sobre esse nome de identificação, ele o ouviu quando Kotori estava
falando sobre o desastre do grande spacequake da Eurásia.

<Deus>. O mais forte Espírito a qual foi concedido o nome de Deus.

E além disso... a amada de Shin.

Trinta anos depois, Shin e Mio finalmente tinham se encontrado naquele


lugar.

— ...Shin.

Mio lentamente respirou profundamente cheia de emoção.

— Eu sempre senti a sua falta, eu sempre quis te ver. Desde que morreu,
eu só pude confiar nesses pensamentos para continuar vivendo até agora.

22
Mio disse com uma voz calma que eloquentemente escondia seu zelo
dentro de si mesma.

— Shin. Shin. Tem tantas coisas que eu queria conversar com você. Tem
tantas coisas que eu queria te contar. Tantas coisas que levaria uma eternidade
para terminar.

Ah, mas quanto a isso estava tudo bem. Quanto tempo levaria? Não
importava se fosse alguns dias. Não importava se fossem alguns anos.

— Ei... dessa vez, vamos ficar juntos para sempre, Shin.

— ...

Enquanto aceitava as várias emoções que vinham de dentro de seu


coração, Shidou respirava enquanto tremia.

Então, ele falou.

Naquela hora, as palavras que Shidou entregou a Mio foram.

— Eu também... estou feliz em te ver, Mio.

— ...! Shin...

— Me desculpe por te deixar sozinha. Me desculpe por te fazer se sentir


solitária. Por ter partido antes... eu sinto muito.

— Não, você não precisa...

— Mas...

Naquele momento, como se estivesse interrompendo Mio, Shidou colocou


suas mãos contra a testa. Isso mesmo. Agora, dentro de Shidou, não estavam
somente as memórias de Shin, mas também as memórias que Mio vivenciou
também foram fragmentariamente misturadas.

— Isso é... o quê? Você... para ressuscitar Shin... o que diabos você fez?

Enquanto perguntava, ele também sabia que aquela era uma pergunta
fútil feita em vão.

Com os pensamentos da missão de Mio flutuando em sua mente, Shidou


sinceramente esperou que aquilo fosse somente um produto de seu próprio
engano.

23
Nos passos de sua própria existência, haviam inúmeros cadáveres de
jovens garotas caídas aos seus pés. Shidou esperava ser ridicularizado por
conjecturar tal ilusão terrível.

Seria impossível Mio ter feito tal coisa... Shidou sinceramente desejava
ouvir isso.

Porém, Mio não mostrou nem o mínimo sinal de negação. Enquanto


olhava diretamente para Shidou, ela lhe deu as palavras que ele menos queria
ouvir.

— Tudo.

— ...

Enquanto olhava diretamente para Mio, Shidou ficou sem fôlego.

— Eu fiz tudo isso. Eu fiz tudo que pude pensar. Eu fiz tudo que precisei
para te encontrar mais uma vez. Se eu não o fizesse, eu certamente nunca mais
poderia encontrar o Shin novamente.

— Só... por causa... disso...

Sua garganta, dedos, seu corpo inteiro começou a tremer.

O motivo para "Itsuka Shidou" ter nascido, sua origem.

O sangue das garotas derramados para encher aquela taça.

Os enormes pecados que sua própria existência carregava sem motivo, só


de se lembrar disso Shidou sentia náuseas.

— ...Ku...

— Shin, tudo bem com você?

Mio olhou para o rosto de Shidou com um olhar preocupado. Enquanto


Shidou apertava seu peito com uma mão para barrar a vontade de vomitar, ele
usou sua outra mão para parar Mio.

Olhando para o puro par de olhos de Mio, Shidou sentiu tanto amor...
quanto terror.

Por ele ter sido recriado por Mio, por ter recuperado suas memórias por
causa de Mio, naquele momento seus pensamentos, seu coração, tudo sentia uma
vaga sensação de perigo.

24
Ah, isso mesmo, Mio não possuía nenhum tipo de malícia. Não havia
nenhuma pinta de divertimento em sua matança.

Pelo contrário, ela era profundamente grata e tinha muito respeito pelas
garotas sacrificadas para o refinamento dos Cristais Sephira e genuinamente se
sentia triste com suas mortes.

Porém.

— Para encontrar Shin mais uma vez. — Enquanto ela tivesse esse
propósito, Mio aceitava até mesmo trilhar um caminho marcado pelo pecado. Era
essa determinação firme que criou a Mio que estava diante dele naquele
momento.

Tudo pelo bem do Shin.

Por esse motivo, ela fez tudo aquilo.

As palavras breves de Mio continham uma determinação dolorosa que


poderia fazer uma pessoa comum perder sua sanidade.

— ...Gu, ah...

Mas... não, isso não estava certo.

E por isso, como Shidou, como Shin, ele tinha que dizer uma coisa.

— Mio... isso não está certo.

— Hã...?

— Não está certo... fazer esse tipo de coisa. Não importa por qual
propósito, sacrificar os outros... isso é errado...

Isso foi um ato cruel.

O próprio Shin estava rejeitando as ações da garota que tinham levado a


tudo, andando por um caminho cheio de pecados, tudo pelo seu bem.

De fato, mesmo para aquele que estava dizendo essas palavras, isso
produziu uma ilusão de ter seu coração sendo destroçado. Para a pessoa a quem
essas palavras estavam sendo direcionadas, ele simpatizava com a dor no coração
de Mio.

Porém...

— Un, isso é verdade.

25
Mio disse com tristeza, enquanto estava com um rosto perturbado

Essa era uma agonia que já havia a incomodado inúmeras vezes.

— Mas... o que eu deveria fazer então? Eu só tinha o Shin. Depois de


perder o Shin, eu não tinha mais motivos para viver. Eu não sou fraca como os
humanos, mesmo se eu quisesse morrer, eu não conseguiria morrer. Eu não sou
tão forte quanto os humanos também, eu não poderia completamente esquecer o
Shin e seguir em diante. Afinal, o que eu deveria fazer?

— Isso...

Deparado com essa calma, e ainda assim incomparável, tristeza, Shidou


ficou em silêncio.

Incapaz de dizer... uma só palavra.

Qualquer que fosse a resposta que Shidou desse, Mio já tinha pensado nela
antes.

Mas, mesmo considerando tudo isso, Mio ainda assim escolheu o caminho
da carnificina.

O que poderia responder a uma coisa dessas? Shidou... não tinha uma
resposta.

— Fufu.

Como se estivesse sentindo o conflito dentro de Shidou, Mio soltou um


breve suspiro.

— Desculpa. Isso foi atípico de mim. Depois de uma pergunta daquela,


não tinha como você conseguir responder.

— Não... eu...

Shidou ergueu sua cabeça como se quisesse dizer alguma coisa. Embora
ele não soubesse o que dizer, ele não podia permanecer calado. Porém, suas
palavras foram interrompidas pelo suspiro de Mio.

— Está tudo bem. Não se preocupe, Shin. Deixe tudo comigo.

— Mio...?

Quando Shidou perguntou em confusão, Mio continuou a falar.

26
— Eu não quero que o Shin sinta dor. Eu não quero que o Shin se sinta
triste. Esse pecado é todo meu. A punição será toda minha. O Shin não precisa
sofrer.

Enquanto dizia isso, Mio lentamente ergueu sua mão na direção de


Shidou.

— O que você...

— Esse é o último passo. Assim como eu retornei para Mio, você também
retornará para o Shin.

— ...

Shidou sentiu sua respiração parar. Havia um medo instintivo acerca do


que Mio tinha acabado de dizer.

O atual Shidou era uma mistura das memórias de Takamiya Shinji com a
pessoa chamada Itsuka Shidou.

Se as memórias de Shidou fossem apagadas, então a única coisa que


sobraria seria as memórias de Takamiya Shinji e o humano que contém o poder
dos Espíritos.

Mio sorriu gentilmente.

— Obrigada por tudo que fez até aqui, Shidou. E também... adeus.

Shidou.

O nome pelo qual ele foi chamado por cerca de 17 anos.

Mas, para Mio... para Reine, essa provavelmente era a primeira vez que
ela se referia a ele por aquele nome.

Não havia dúvidas de que desde o primeiro dia que encontrou Shidou, ela
só estava olhando para Shin que estava dentro da sombra de Shidou.

Em todo caso, era precisamente por esse motivo que ela tinha escolhido
"recriar" "Shidou".

Mas por que...

Enquanto ela se forçava com esse tratamento desnecessariamente cruel,


Shidou sentiu a solidão dela.

— Ah...

27
Shidou tentou fugir dos dedos de Mio que se aproximavam. Porém, seu
corpo não se moveu, era como se ele tivesse sido petrificado por seu olhar.

Então... os dedos de Mio alcançaram a testa de Shidou.

Porém, naquele momento...

— Shidoooooooooooou!

Um grito alto veio do céu enquanto uma sobra dançou diante dos olhos
de Shidou.

Com cabelos longos tingidos com a cor da noite e um Astral Dress limitado
cobrindo seu corpo, ela também estava equipada com uma espada longa que
poderia partir a Terra, <Sandalphon>.

— ...! Tohka...?

Depois de confirmar sua aparição, os olhos de Shidou saltaram, o


despertando do transe de repente.

Aquilo não era tão surpreendente, Tohka, que estava nas vizinhanças
eliminado as <Nibelcol> e <Bandersnatch> restantes, percebeu a situação crítica
de Shidou e iniciou um ataque aéreo em direção a Mio.

— Shidou, tudo bem com você?! Me desculpa pelo atraso...!

— E-Eu estou bem... obrigado, Tohka.

Enquanto a voz de Shidou começava a baixar, uma ventania de repente


soprou nos arredores quando um par de gêmeas com rostos idênticos
aterrissaram atrás de Shidou.

Uma garota estava vestindo um Astral Dress limitado em forma de asa em


seu ombro direito e segurava uma grande lança.

A outra estava vestindo um Astral Dress Limitado com uma asa anexada
ao seu ombro esquerdo e segurava um grande pêndulo.

Junto com Tohka, as Irmãs Yamai Kaguya e Yuzuru também estavam


lutando perto dali.

— Aha... que perigoso, mas nós conseguimos chegar a tempo.

— Admiração. Mesmo com vários inimigos impacientes, Tohka conseguiu


desferir com sucesso um ataque de longo alcance.

28
Depois de dizerem isso, as duas soltaram um suspiro de alívio. Parecia que
as duas tinham usado o Anjo do Vento <Raphael> para voar em direção a
localização de Shidou e Tohka.

— Bem, nós recebemos um comunicado de Kotori pelo intercomunicador


e ouvimos por acaso a conversa de Shidou... essa é a Reine...?

— Vigilância. O Espírito Primordial e também <Phantom>. Isso vai além


de mera ganância... a Kurumi realmente foi morta?

— ... ah.

Contra os questionamentos das Irmãs Yamai, Shidou só conseguiu dar


uma resposta amarga.

Então, a fumaça do ataque de <Sandalphon> começou a se dissipar,


expondo a aparição de Mio no processo.

Embora ela tenha recebido um ataque direto de Tohka, não havia


machucados em seu corpo. Vendo isso, as expressões de Tohka e das irmãs Yamai
ficaram mais alertas.

Porém, Mio não mostrou nenhum sentimento de raiva ou tensão quando


abriu a boca com uma expressão calma.

— Tohka, E também Kaguya e Yuzuru.

Então, enquanto olhava para os rostos das três uma a uma, ela colocou sua
mão contra a boca enquanto soltava um som de "hmm".

— Fazia tanto tempo que eu não encontrava o Shin que eu me esqueci. Isso
mesmo, vocês ainda estão por aqui... para evitar as boas partes do Shin e só
apagar as memórias do Shidou; vai levar um bom tempo e esforço. Então eu acho
que tenho que lidar com vocês primeiro.

— ... O quê?

Ouvindo o que Mio tinha dito, Tohka levemente tinha erguido suas
sobrancelhas. Então, Mio continuou a falar enquanto lentamente movia sua mão
para frente.

— Seus poderes foram aceitos pelo corpo do Shin com sucesso. Mas
somente isso é insuficiente. Entre vocês e o Shin, há um caminho espiritual. Se
ele não recuperar esses vestígios de Cristais Sephira dentro de seus corpos, então
Shin não será capaz de obter sua força completa.

29
Mio apontou seu dedo indicador para Tohka e as outras.

— Me desculpem, mas eu preciso delas de volta. Pelo bem do meu Shin.

Então, ela disse essas palavras em um tom baixo, porém assertivo.

Ouvindo essa declaração, Tohka exalou o ar com indignação.

— ...! Não fale bobagens! Apagar as memórias do Shidou...? Tal coisa é...
Como se eu fosse permitir isso!

Enquanto dizia isso o mais rápido o possível, Tohka saltou no ar enquanto


segurava <Sandalphon> já preparando seu ataque.

— Tohka!

— Resposta. Providenciando assistência.

Percebendo que seria perigoso enfrentar Mio sozinha, as irmãs Yamai


notaram os movimentos de Tohka e planaram no ar depois dela.

Como elas eram as garotas que possuíam o mais rápido tempo de reação
entre os Espíritos, elas facilmente alcançaram Tohka em um piscar de olhos e
atacaram Mio com uma rajada de vento de <Raphael> em sincronia com o corte
de <Sandalphon>.

Porém...

— ...bem, seria impossível pedir a vocês para serem obedientes.

— ...!?

No momento seguinte, os ombros de Shidou começaram a tremer ao


escutar uma voz se aproximando de seus ouvidos.

Uma indicação de alguém aparecendo por trás, isso era possível de se


compreender mesmo sem ter que virar para trás. Mio, que deveria estar a alguns
metros de distância, tinha instantaneamente se movido para trás de Shidou.

— ...! Shidou!

Tohka, que percebeu isso, arregalou os olhos em horror enquanto chutava


o chão mais uma vez.

Mas antes disso, Mio já tinha cruzado os braços para gentilmente abraçar
o corpo de Shidou.

30
— Por favor, espere só mais um pouco, Shin.

Naquele momento, Mio tinha sussurrado algo para ele.

— ...Hã?

Shidou foi atingido por uma estranha sensação.

Seu campo de visão escureceu por um momento. A percepção de cima,


baixo, esquerda e direita tinham sido bagunçadas ao ponto que ele não conseguia
dizer se ele ainda estava de pé. Se fosse procurar por uma experiência parecida,
era como se ele estivesse sendo recolhido para a <Fraxinus> por um dispositivo
de transferência.

E então...

— ...Kya!?

— ...Hã?

De repente, a voz de uma jovem garota foi ouvida de uma distância


próxima.

Enquanto estava de cabeça baixa e piscando várias vezes, sua visão


borrada logo se clareou novamente.

Naquele momento, Shidou finalmente percebeu que ele tinha aterrissado


em cima do corpo de uma garota que tinha aproximadamente a sua idade.

Olhando de perto, ela era sua colega de classe, Yamabuki Ai.

— Wa, Yamabuki!? Por que está aqui!?

— Essa frase é minha!

Quando Shidou gritou isso, Ai retalhou com um grito mais alto do que o
dele.

Então, as vozes de outras pessoas foram ouvidas vindo de trás de Shidou.

— Wah...! Itsuka-kun derrubou a Ai!?

— De onde ele veio!? Você estava esperando no teto para atacar a Ai!?

— Parando para pensar, isso já aconteceu antes! Seu maldito, quer dizer
que você não está satisfeito só com a Tohka-chan!?

31
Olhando de perto, era as amigas de Ai, Mai e Mii, junto com seu colega de
classe Tonomachi Hiroto. Todos eles reagiram com expressões faciais e poses
assustadas.

— Hã...? E-Esse lugar...?

Finalmente, Shidou percebeu que ele estava em um lugar diferente de um


momento atrás.

Um espaço familiar... era um dos vários abrigos subterrâneos da Cidade


Tenguu que Tonomachi, Ai, Mai e Mii e vários outros rostos familiares estavam.

— O... que... exatamente...

Se deparando com a repentina confusão com o que tinha ocorrido, Shidou


conseguiu perceber o que tinha acontecido.

Teletransporte? Transferência...? A possibilidade de Shidou estar vendo


uma alucinação não era nula, mas se considerar as palavras de Mio, os primeiros
pareciam ser os mais corretos.

Mio tinha dito que antes de apagar as memórias de Shidou, ela teria
primeiro que "lidar" com os Espíritos.

Para prevenir que Shidou a atrapalhasse nesse objetivo, ela tinha


temporariamente o movido para outro lugar. O Espírito Primordial <Deus> era a
fonte de poder de todos os Espíritos. Sem dúvidas ela poderia fazer tal coisa com
facilidade.

— Mesmo que aparentemente você esteja preocupado com alguma coisa,


por mais assustadora que ela seja, saia de cima de mim primeiro.

Naquele momento, debaixo do corpo de Shidou, Ai, que estava com suas
mãos presas abaixo do corpo, soltou uma voz irritada. Por algum motivo, apesar
dele não saber se era só sua imaginação, parecia que as bochechas delas estavam
um pouco vermelhas.

Porém, para Shidou, aquela não era a hora para pensar uma coisa dessas.
Shidou olhou para baixo enquanto ele levava seu rosto para perto de Ai.

— Yamabuki!

— Hii...! O-O que... foi?

32
Talvez por estar se perguntando por que seu nome foi dito sem usar
honoríficos, Ai soltou uma voz fraca. Apesar de escutar sons de obturadores dos
smartphones das pessoas que estavam no local, Shidou não prestou atenção
nisso.

— Esse abrigo fica onde?!

— Onde...? É um dos abrigos no subsolo da escola.

— Escola... ku...

Shidou mostrou uma expressão tensa enquanto ele mentalmente


reproduzia o mapa da cidade.

Shidou estava originalmente localizado perto de um dos fortes terrestres


da <Ratatoskr>. Ele estava há uma boa distância de onde estava antes.

Todavia, aquilo era melhor do que estar do outro lado do planeta.


Enquanto aquilo poderia ter sido um ato de compaixão de Mio, não estava muito
claro qual era a distância limite necessária para impedir seus movimentos.

Porém, naquele momento, um pensamento terrível veio à sua mente.


Aquilo poderia ser devido a confiança de Mio em sua habilidade de acabar com
tudo antes que ele pudesse chegar lá.

— ...!

Shidou aplicou alguma força em seus braços para se levantar. Enquanto


usava um método semelhante para se recuperar, Ai soltou um amedrontado
"hiiiin!". Depois disso, ele correu loucamente para a saída do abrigo.

Mas é claro, a saída estava sendo bloqueada por portões grossos. Na frente
dali, um professor parecia estar supervisionando a todos. Era a professora
responsável pela classe de Shidou, Tama-chan sensei.

— Hmm... qual o problema, Itsuka-kun? O alarme ainda não parou de


soar, não é mesmo?

— Me desculpe, mas por favor, me deixe passar. Eu preciso ir.

Ouvindo o que Shidou tinha dito, os olhos de Tama-chan se arregalaram


alarmados.

— O-O que está dizendo?! Nesse momento o lado de fora não está
passando por um spacequake?! É muito perigoso!

33
Tama-chan disse em voz alta enquanto estendia os braços para bloquear o
caminho de Shidou. Bem, essa era uma resposta natural. Afinal, um de seus
alunos estava prestes a sair do abrigo antes do alarme de advertência parar de
soar.

Porém, quando se deparou com o impedimento de Tama-chan, Shidou


momentaneamente sentiu uma estranha sensação.

Ah, isso mesmo. Até dez meses atrás, Shidou era um aluno do ensino
médio comum. Por causa disso, ele sabia como era o sentimento de que não havia
outro método de lidar com os spacequakes além de usar aquele abrigo feito pelos
adultos.

Não, para Tama-chan e os outros, aquilo era o que eles ainda acreditavam,
era por isso que ela estava tentando manter todos os alunos em um lugar seguro.

Aquela era uma tentação sedutoramente doce. Para Shidou, que estava
exausto tanto de corpo quanto de mente, aquilo era como se fosse um sussurro
demoníaco que o corroía pouco a pouco.

Shidou já tinha dado tudo de si, já foi o suficiente...

Naquele momento, Tonomachi e o trio Ai, Mai e Mii, que tinham visto
aquela comoção, questionaram Shidou.

— Ei, qual o problema, Itsuka-kun?

— Bem, Itsuka-kun estava agindo mais estranho do que o de costume...


agora a pouco.

— Qual o problema? Perdeu alguma coisa?

— Não, eu estou indo para spacequake; eu me esqueci da coisa mais


importante de todas.

Quando todos deram a ele olhares estranhos, Shidou levemente balançou


os ombros.

Como se estivesse tentando tirar a sensação que se infiltrou em sua mente.

Isso mesmo; tinham se passado somente dez meses em termos de tempo,


um breve período menor até mesmo que um ano.

Mas esses dez meses tinham sido os mais valorosos e importantes de sua
vida até então...!

34
— Eu tenho que ir! Para onde Tohka, Origami e as outras...!

— Hã..?

Então, depois de perceberem que Tohka e Origami não estavam ali, elas
soltaram um som de "ah" antes de virarem uma para a outra.

— ...

Depois disso, elas foram até Tama-chan, enquanto faziam contato ocular
direto com Shidou e piscavam.

— Sim, isso realmente é complicado para o Itsuka-kun.

— Ei, depois de dizer algo tão inconsequente, eu quero que você pense
também na posição da Tama-chan.

— H-Ha.

Deparada com as alunas que também começaram a agir estranho, Tama-


chan sensei não pôde fazer nada além de ficar com uma expressão confusa no
rosto. Então, no momento seguinte, o trio Ai, Mai e Mii agarraram o corpo da
Tama-chan.

— Segurem ela!

— Kya!? O-O que estão fazendo...!?

Enquanto Tama-chan tinha dificuldades para mexer seus braços e pernas,


os gritos resultantes disso tinham atraído a atenção de um professor de educação
física que correu em direção a Shidou e os outros.

— Ei, pessoal! O que vocês acham que estão fazendo?!

— ...! Ahhh, sensei! Nós só estamos brincando!

Tonomachi, que percebeu a aproximação do professor de educação física,


o interceptou com um encontrão. Bem, embora isso não tenha parecido surtir
muito efeito, ainda assim foi o suficiente para deixá-lo imobilizado por um
momento.

— T-Tonomachi, Yamabuki, Hazakura, Fujibakama...

Quando Shidou disse isso com uma voz surpresa, todos eles ergueram as
pontas dos seus lábios e se voltaram para ele.

35
— Rápido, vai! Você está deixando a Tohka-chan e as outras esperando,
não é mesmo!?

— Já que você é um playboy, um playboy precisa cuidar das garotas, não


é verdade!?

— Você pode me agradecer me convidando para almoçar amanhã!

— Nos deixe te ajudar nessa ocasião também! Ei... sensei, você não tem
força demais para um cara tão bonitão...

— Pessoal...!

Shidou fechou os punhos enquanto acenava com a cabeça para eles antes
de dar um passo para a frente.

— Ei... você não pode, Itsuka-kun!

— É inútil! A porta não vai abrir enquanto o alarme não parar de soar!

Os professores que tinham vindo parar Tonomachi e os outros gritaram.

Certamente, assim como eles tinham falado, as portas estavam


completamente fechadas. Mesmo se Shidou colocasse toda sua força para abri-
las, não parecia que elas iriam se mover.

Então... só havia um único método disponível.

— ...

Enquanto se virava na direção de seus colegas de classe, Shidou relaxou


os músculos. A serenidade em sua expressão facial fazia tudo parecer ainda mais
bizarro para Tonomachi e os outros.

Shidou se concentrou antes de chamar...

...o nome de um Anjo.

— <Michael>.

Naquele momento, uma luz cobriu as suas mãos antes de materializar um


cajado em forma de chave.

O Anjo <Michael>. O Anjo que servia de chave para abrir e fechar qualquer
coisa.

— Ha...!?

36
— O qu...!

— Haaaaahh!?

Seus colegas de classe, que tinham acabado de testemunhar um fenômeno


sobrenatural bem na frente deles, soltaram gritos alarmados em uníssono.

Todas as coisas relacionadas aos Espíritos eram segredo. Eram coisas que
não podiam ser vistas ou ouvidas por uma pessoa comum. Isso era algo que
Kotori tinha enfatizado bastante.

Porém, se ele focasse muito nesse tipo de coisa, era possível que a cada
minuto ou segundo passado, a batalha já pudesse ter sido decidida.

— Ah... como isso já foi exposto, acho que não tem mais nada que possa
ser feito.

Shidou soltou uma pequena risada autodepreciativa enquanto inseria a


ponta do cajado contra a grossa porta do abrigo.

— <Michael>... <Rātaibu>!

Depois de gritar isso e girar a chave. O portão liberou um leve brilho antes
de abrir com um rangido.

— ...O qu...!?

Ao ouvir as vozes dos professores se aproximando dele por trás, Shidou


deu um passo para fora do refúgio antes que o tumulto ficasse ainda maior. Logo
em seguida, ele inseriu <Michael> contra a porta mais uma vez.

— <Michael>...<Segva>.

A porta emitiu outro brilho antes de se fechar novamente.

Depois de confirmar isso, Shidou rapidamente levantou sua cabeça.

Embora ele não soubesse o que fazer quando chegasse lá de novo, ele
absolutamente não podia ficar parado.

Shidou injetou força em suas pernas e subiu correndo as escadas que o


levavam de volta à superfície.

◇◇◇◇

37
38
— O quê...?! Para onde você enviou Shidou!?

Enquanto empunhava <Sandalphon>, Tohka lançou um olhar afiado ao


Espírito que tinha acabado de aparecer... Mio. As irmãs Yamai, cuja posição
estava perto de Tohka, também deram a ela olhares similares.

Porém, isso era o esperado. Em um momento, Mio tinha se esgueirado


para trás de Shidou e o abraçou. Em seguida, o corpo de Shidou tinha
desaparecido completamente. Apesar de ser alvo de tais olhares intensos, Mio
meramente acenou com a cabeça com um gesto calmo.

— Não se preocupem. É perigoso aqui, então eu temporariamente o


evacuei para um lugar seguro.

— O que você disse...?

Depois de ouvir oque Mio tinha dito, Tohka franziu tensamente suas
sobrancelhas.

Confiar cegamente no que Mio tinha dito era perigoso. Porém, o objetivo
de Mio estava relacionado ao Shidou... ou, para ser mais preciso, às memórias de
Shin dentro da mente de Shidou. Se esse for o caso, então ela não desejaria agir
de uma forma violenta.

Sim, embora elas não tenham conseguido ouvir tudo, Tohka e as irmãs
Yamai tinham ouvido parte da conversa entre Shidou e Mio através do
intercomunicador.

Elas já sabiam o objetivo de Mio. Sua determinação dolorosa. E também...


que Reine era sua identidade falsa, a pessoa que tinha servido como figura
parental para elas.

— Mio. Você é a reine...?

— ...Un, isso mesmo.

Perante a questão de Tohka, Mio deu uma franca e honesta resposta.

Embora sua aparência e voz sejam jovens, a atmosfera a cerca dela era
certamente idêntica a da analista que Tohka estava familiarizada. Tohka fez uma
careta enquanto mordia os lábios com a parte de trás dos dentes.

— Reine. Não podemos repensar tudo isso? Eu tenho muita consideração


por você. Se possível, eu não gostaria de lutar com você.

39
Tohka respondeu em um tom quase de súplica.

Porém, Mio somente balançou sua cabeça para os lados em rejeição.

— Me desculpe.

— Então é assim? Isso realmente é uma pena.

Tohka soltou o ar lentamente antes de recuar e recobrar sua postura com


<Sandalphon>.

Era compreensível esperar um resultado desses. Foram 30 anos de


expectativa e obsessão, como poderiam algumas poucas palavras mudar isso?
Mesmo que Tohka não fosse a pessoa envolvida nisso, não tinha como ela não
compreender essa verdade.

Mas mesmo que ela saiba disso, Tohka ainda assim sentia que precisava
ter perguntado. Devido ao tratamento que Reine deu aos Espíritos... ela não
investiu menos esforços nelas do que em Kotori ou Shidou.

Ela ouvia os problemas de Tohka e oferecia suas consolações.

Não importa se fosse um assunto trivial, ela sempre permanecia paciente


e respondia de maneira sincera.

Independentemente de qualquer conspiração que houvesse por trás disso,


a gratidão que Tohka sentia durante esses momentos de contato era genuína.

— ...

Porém, Tohka balançou a cabeça, tentando mudar esse processo de


pensamento.

Como se estivesse tirando os sentimentos de simpatia e afeição


duradouros que ela sentia por aquela pessoa de sua mente.

Quando as negociações falharam, a garota em frente a Tohka se tornou um


"inimigo" que queria tornar Shidou em algo mais conveniente para si mesma.

Se Tohka fosse derrotada, então a existência de Shidou seria apagada desse


mundo. Tohka não podia deixar que a situação mudasse para esse objetivo.

Por isso... aquilo tudo devia ser deixado de lado.

Ela tinha que descartar a gratidão por Reine, descartar suas ligações com
Reine, e descartar suas próprias memórias com Reine.

40
De agora em diante, ela terá que se assegurar que o fio de <Sandalphon>
não ficará cego. Senão, a espada de Tohka nunca poderia alcançar a pele de Mio.

Só de encararem uma à outra, Tohka sentiu a grande ameaça que a


envolvia. Sua pele ardia como se estivesse sendo chamuscada. Palpitações
intensas em seu coração estavam batendo violentamente só de ela manter seu
olhar em Mio. Aquele era um instinto natural que se sentia diante de uma
diferença esmagadora de poder.

— Ela não é um inimigo que se pode atacar sozinha. Nós temos que atacar
juntas.

— Prontidão. Ajustando a sincronia.

Os sentimentos de Kaguya e Yuzuru eram os mesmos de Tohka. As


gêmeas ergueram seus Anjos com vozes cheias de determinação e vigilância.

Enquanto dava um pequeno aceno com a cabeça em consentimento, Tohka


cuidadosamente olhou para os movimentos de Mio, não querendo perder o
menor sinal de um ataque.

Porém... naquele momento.

Um terrível som soou no céu quando raios de luz e munições chuviscaram


na direção delas.

— O qu...!?

— Tch...

— Recuar. Desviando do ataque.

De repente, Tohka chutou o chão, fugindo para trás. Imediatamente


depois, o lugar onde Tohka e as outras estavam foi bombardeado e vários buracos
se formaram do ataque.

— Isso é...

Por um segundo, Tohka subconscientemente pensou que o ataque tinha


vindo de Mio, mas não era verdade.

Olhando para cima, havia várias garotas com o mesmo rosto juntas com
duras bonecas de mecânicas.

Eram as pseudo-Espíritos <Nibelcol> criadas do Rei Demônio <Beelzebub>


e as bonecas não pilotadas da DEM, as <Bandersnatch>.

41
— Espera um minuto, vocês se esqueceram de nós enquanto criavam essa
atmosfera de batalha final?

— Sério, isso foi tão irracional.

— Ahaha, eu não sei o que está acontecendo, mas o Itsuka Shidou


desapareceu de repente.

— Isso também significa...

— ... que não tem mais ninguém aqui que seja um problema para mim.

Enquanto um grande número de <Nibelcol> estavam voando pelo ar, suas


risadas pareciam com um coro em uníssono.

— Ku...!

Tohka olhou ferozmente para as <Nibelcol> com um olhar apressado.

Ela tinha se esquecido disso por um momento por causa da pressão


avassaladora da presença de Mio, mas havia mais algumas pessoas complicadas
no campo de batalha.

<Nibelcol>. Uma garota que não morre que era uma de muitas e muitas de
uma.

Como um conjunto de um todo, não importa quantas vezes elas sejam


abatidas, elas sempre poderiam reviver em um piscar de olhos. A única
contramedida contra elas era a habilidade de selamento de Shidou, mas esse
método tinha se perdido devido a intervenção de Mio. Como resultado do dilema
inesperado, Tohka e as irmãs Yamai sentiram um pequeno calafrio.

— ...Fu.

Um pequeno suspiro veio da frente delas. Era Mio.

— ...<Nibelcol>, eu pretendo coletar a fonte de seu poder em breve. Até lá,


eu espero que vocês possam agir com pelo menos um pouco mais de maturidade.

Mio disse com uma expressão calma no rosto que não combinava com as
circunstâncias atuais.

Assim que ouviram isso, todas as <Nibelcol> mostraram um olhar vazio


antes de segurarem seus estômagos ao gargalhar.

— Ahahahahahaha!

42
— Do que está falando logo depois de aparecer de repente?

— Sabe? Negociações não são nada, isso só serve para oponentes com força
menor ou igual, né?

Então, várias <Nibelcol> que estavam olhando para Mio soltaram Anjos
feitos de papel que carregavam em suas mãos. Porém, no momento seguinte.

— Venha.

Mio sussurrou isso enquanto levantava sua mão esquerda. Em um


instante, o espaço acima delas começou a se distorcer.

Dali, um objeto na forma de uma enorme esfera se manifestou.

— Ha...?

— Isso é, o que...?

As <Nibelcol> só puderam olhar inexpressivamente para o Anjo.

Mas logo suas expressões ficaram tingidas com a cor do medo.

Ao mesmo momento, Mio chamou por seu nome.

— <Santuário de Toda a Criação (Ain Soph Aur)>.

Batendo depois daquele som...

Calafrios e tremores atacaram todo o ser de Tohka.

— O que...

Ondulações emergiram na superfície suave da esfera que flutuava no ar,


gradualmente mudando sua forma.

Dessa forma... fazendo ela se assemelhar a um botão florescendo.

Uma enorme flor com inúmeras pétalas sobrepostas. No centro, havia uma
imagem de uma jovem garota orando.

Era uma visão linda e solene de tirar o fôlego.

Porém, no momento em que Tohka viu isso, os tremores que se


espalhavam por seu corpo não pararam.

43
4
Um medo instintivo. A intuição do desespero.

Essa coisa, era a encarnação da própria "morte"...

— Floresça.

No momento em que Mio proferiu esse comando.

A "Morte" se espalhou.

— <Almandal>, danos menores infligidos a estibordo!

— <Honorius> está engrenando contra a nave da <Ratatoskr>!

— A 13ª unidade das <Bandersnatch> foram eliminadas, liberando a 15ª


unidade.

Na ponte de comando de uma das naves que voavam sobre a cidade


Tenguu, vários relatórios e instruções eram entregues à nave-chefe da DEM
<Lemegeton>.

— Hm...

Enquanto ouvia as incontáveis vozes e sinais de comunicações que


chegavam a seus ouvidos, o Diretor Executivo da Gerência das indústrias DEM,
Isaac Westcott, apertava seus olhos cor de ferrugem.

— Como está a situação da guerra, capitão?

Então, Westcott fez uma breve indagação ao Capitão Ernest Brennan, que
estava posicionado no assento de comandante. Em seguida, Brennan respondeu
com um pequeno suspiro.

— Com toda justiça, eu não esperava que o inimigo fosse tão difícil de
derrotar. Embora eu não tivesse nenhuma intenção de subestimar o inimigo, eu
não podia imaginar que perderia tantas de nossas forças. O esforço do oponente
me faz até mesmo querer dar a eles meus aplausos.

Depois de dizer isso, ele encolheu os ombros. Essa era uma rara reação de
um grupo uniformizado cuja forte autoestima e recusa a admitir sua
inferioridade eram onipresentes. Todavia, Westcott não achou nenhuma falha na
declaração do homem. De fato, esse era um dos motivos para ele ter o escolhido
para comandar essa frota.

46
No momento em que a situação da guerra estava se deteriorando, blefar
cegamente seria inútil. Ser capaz de facilmente comunicar a informação dos
esforços da guerra era uma habilidade inestimável.

— Embora esse seja o caso... por favor tenha confiança. A disparidade


entre as forças inimigas e as nossas não pode ser subvertida. Por favor, seja
paciente e observe os resultados dessa caça.

— Bem, aguardo ansiosamente por isso.

Naquela hora.

As sobrancelhas de Westcott começaram a balançar quando o homem


parou de falar.

Era vaga, porém era definitivamente uma sensação de déjà vu. Ele podia
sentir em seu sangue como um Mago puro, a pulsação de uma mana densa.

— ...? Qual o problema? Sr. Westco...

Brennan, que estava confuso com a reação de Westcott, tentou falar, mas
foi interrompido por um som alto de alarme.

— ...! O que aconteceu?!

— S-Sim, é a resposta de uma onda espiritual... e é imensa!

— O que você disse...!?

No monitor da ponte de comando, uma garota vestindo um Astral Dress e


um objeto gigantesco em forma de flor que flutuava acima dela estavam sendo
mostrados.

Tal magnificência e um nível de reiryoku que beirava o absurdo. Ver isso


fez com que todos a bordo murmurassem em temor.

— ...

Somente uma pessoa era exceção, Isaac Westcott.

— Ah... haha.

Como se não pudesse mais se conter, ele distorceu seu rosto na forma de
um sorriso.

— Hahahahahahahahahahahahahahaha!

47
— S-Sr. Westcott...?

Ao ver a reação dele, Brennan franziu o cenho e suor escorreu por seu
rosto.

Imediatamente depois, como se respondesse a risada de Westcott, a flor


enorme começou a espalhar inúmeros grãos de luz como se estivesse dispersando
pólen no ar.

No momento seguinte.

As <Bandersnatch>, e <Nibelcol>, até mesmo as enormes naves de guerra,


tudo que entrou em contato com as partículas ou perderam suas vidas ou
pararam de funcionar, ruindo como se fossem um confeito de açúcar.

— O qu...!?

Mais alarmes e comunicadores soaram ferozmente pela ponte de controle.

— ...! Devido ao ataque de um Espírito misterioso, as tropas de


<Bandersnatch> foram destruídas!

— As <Nibelcol> desapareceram! Elas não conseguem se regenerar.

— <Galdrabok>, a nave sofreu danos críticos!

Havia apenas um Espírito.

Havia apenas um Anjo.

Com sua chegada, a impenetrável muralha da formação de batalha das


Indústrias DEM foi destroçada muito facilmente.

Não, não somente isso. As partículas de luz continuavam a se espalhar.


Logo, mesmo a nave-chefe <Lemegeton> onde Westcott e os outros estavam
localizados, se tornaria sua presa.

Naquele momento, o som do motor principal começou a desaparecer,


deixando a nave de batalha cair com seu próprio peso.

— Gua...!

— C-Confirmando o grau do dano ao casco.

— ...! Impossível! Estamos incapacitados de manter a altitude!

Um sentimento de desespero consumiu a ponte de comando.

48
Mesmo assim, a risada de Westcott não cessou.

Porém, isso era o esperado.

Por causa daquela onda espiritual anormal.

Porque Westcott já tinha uma boa ideia de quem era aquela angustiada e
amável garota.

— Você finalmente apareceu... <Deus>. Meu mais querido Espírito.

Enquanto a nave desabava, Westcott continuava a gargalhar.

A cena em frente aos seus olhos eram tanto um fantástico quanto


comparável a um inferno miserável.

As <Nibelcol> que flutuavam ao redor, as <Bandersnatch>, Wizards e até


mesmo as enormes naves.

Somente por tocarem os grãos de luz emitidos por <Ain Soph Aur>, tudo
havia se tornado frágil antes de perecer.

Olhando para essa visão, Tohka engoliu em seco.

Ela estava ciente da diferença de poder. Ela sabia que não seria fácil
vencer. Mas não a esse ponto...

— Muito bem.

Mio, que estava olhando para o céu, lentamente voltou sua atenção para
Tohka e as outras. Pegas em sua vista, Tohka, Kaguya e Yuzuru sentiram a ilusão
de ter seus corações apertados com força.

— Eu realmente sinto muito por vocês. É natural que vocês achem


inaceitável que eu de repente peça que devolvam seus poderes. É natural que
vocês achem que seja intolerável que as memórias de Shidou sejam apagadas.

Mio continuou a falar em um tom baixo.

— Então eu não vou pedir que desistam sem resistir. Porque a resistência
também é um dos seus privilégios naturais.

Mio esticou seus braços como se tivesse fazendo um convite.

— Venham, minhas lindas... filhas.

49
Capítulo Fragmentário/2: Amigos
— Fuhufufu...

Enquanto cantarolava em um tom agradável uma música que ela não


conseguia se lembrar do nome, Takamiya Mana passou pela entrada de sua casa.
Enquanto ela atravessava o corredor, a ponta de seu rabo de cavalo balançava
ritmicamente contra o seu levemente suado uniforme Sailor Fuku1.

— Hã?

Quando Mana passou pela sala de estar, ela parou tanto de andar quanto
de cantarolar. O motivo era simples, havia uma figura familiar na sala de estar.

— O que está fazendo? Mio-san?

Quando Mana perguntou isso a ela enquanto inclinava sua cabeça, a


garota ouviu sua voz e lentamente se virou para ela.

— Mana.

Enquanto falava, a charmosa garota com um rosto angelical se virou para


olhar Mana.

Takamiya Mio. Uma garota que estava vivendo nesse lar por um tempo.

Embora ela tenha o mesmo sobrenome de Mana, ela não era um parente.
Na verdade, ela era uma garota misteriosa trazida para casa pelo irmão mais
velho de Mana, Shinji (dizer isso dessa forma faz parecer que um pequeno crime
foi cometido). Como ela não tinha nome, por conveniência Shinji deu o nome de
Mio a ela.

Quando Mio se virou, Mana viu que havia algo sendo escondido atrás
dela. Aparentemente, parecia que Mio tinha aberto um dicionário na mesa para
investigar alguma coisa.

Embora ela tenha dominado a língua japonesa em um nível


extraordinário, ainda assim havia um grande número de coisas que ela ainda não
entendia. Mana soltou um pequeno suspiro antes de colocar a bolsa de sua
espada de bambu no sofá e sentar ao lado de Mio.

1
Sailor Fuku, ou uniforme de marinheiro é o uniforme padrão que as garotas usam nas escolas
japonesas.

50
— Tem algo que não sabe o que é? Se não se importar, sinta-se livre para
consultar a Mana.

Depois de dizer isso, ela bateu no peito com um som de "don" como se
estivesse dizendo "deixa isso comigo".

Embora Mana nutrisse um pouco de desconfiança em relação a Mio a


primeira vista, o repetido contato com o comportamento honesto e amável de
Mio fez com que Mana agisse como uma irmã mais velha (contradição) para Mio.

— Sério? Isso realmente... será de grande ajuda.

Quando Mio disse isso, ela franziu suas sobrancelhas para cima como se
estivesse sendo perturbada por algo.

— A linguagem é difícil. Mesmo que eu entenda o significado, o contexto


muda dependendo das circunstâncias e emoções colocadas nela. Eu pretendia
compreender o significado na mesma hora, mas agora que eu paro para pensar
sobre isso, eu me sinto um pouco incomodada sobre conseguir capturar as
palavras do Shin precisamente...

— Hmm, o Nii-sama... espera, o quê?

Ao ouvir aquilo, Mana virou exageradamente seu pescoço.

— ...sobre isso, o que exatamente ele disse a você?

Apesar dela não achar que seria possível Shinji dizer algo assim, para Mio
não ter entendido, deve ter sido alguma obscenidade em japonês. Enquanto ela
pensava em um ato de corrupção sendo aplicado, ela apertou com força a alça da
mochila de sua lâmina Dorōmaru enquanto suava frio.

Imediatamente depois, Mio respondeu a ela enquanto apontava para a


página aberta do dicionário.

— Shin me perguntou se eu queria ir a um encontro.

— ...quê?

Depois de ouvir o que Mio tinha dito, os olhos de Mana


momentaneamente cintilaram enquanto ela falava com um tom de voz
inesperado.

— E-Encontro... então foi isso?

51
— Un. Mas um encontro significa um homem e uma mulher decidindo
uma hora e um local para se encontrarem. Ou talvez esse não seja o significado
de encontro? Dado ao contexto do que Shin disse, eu acredito que seja a primeira
opção. Mas eu já vejo o Shin todo dia, então eu não entendo o que ele quis dizer
por aceitar estabelecer um horário para nos encontrarmos. Eu acho que deve ser
uma frase metafórica ou algo assim, mas como eu já respondi, eu me sinto mal
em perguntar ao Shin de novo.

— ...

Mana ficou em silêncio por um tempo, até que ela soltou um longo
"haaah...", suspirando de alívio.

— ...entendi, entendi, então o Nii-sama na verdade, haah...

Mio olhou incredulamente para Mana, que caiu sobre a mesa de forma
curiosa.

— ...Mana?

— Ah... desculpa. De forma alguma eu teria imaginado que o Nii-sama


faria as coisas progredirem tão rápido assim.

Mana se levantou enquanto coçava seu rosto.

— Er... bem, como posso dizer? Você certamente está correta sobre o
significado da palavra. Resumindo, Nii-sama quer que você saia com ele.

— Un. Mas já é bem normal nós dois sairmos juntos. Na última vez ele me
mostrou alguns pontos da cidade.

— Bem, isso é verdade. Só que, mais do que isso, isso está relacionado ao
relacionamento entre vocês dois. Nii-sama quer levar mais a fundo o
relacionamento de vocês... não uma amizade, mas um romance.

Quando Mana terminou de falar, Mio colocou sua mão contra seu queixo
em profunda reflexão.

— Pode ser que o Shin queira acasalar comigo?

— Ugh...!?

Como resultado da fala excessivamente direta de Mio, Mana tossiu


violentamente.

— O que foi, Mana?

52
— Não, não é isso... se bem que para alguns não está errado também, mas...
bem, encontro é um estágio antes disso, pode se dizer que o Nii-sama quer
mostrar sua afeição pela Mio...

Mana se esforçou para explicar isso a ela enquanto tinha uma expressão
incomodada em seu rosto.

...Apesar de ser um papel que ela puxou para si mesma, explicar os


sentimentos românticos do seu Nii-sama para o alvo era algo bem difícil. Mana
pensou que Shinji precisava dar a ela algo delicioso como recompensa depois.

— ...

Enquanto Mana penava para encontrar as palavras certas para descrever


as intenções de Shinji, Mio olhava com curiosidade seu rosto um pouco
ruborizado.

— Mio-san?

Enquanto Mana levemente inclinava sua cabeça em confusão, Mio


hesitantemente balbuciava enquanto falava.

— ...de fato, a linguagem é algo incrível. Mesmo depois de entender o


significado, quando são aplicadas do Shin para mim, eu sinto uma sensação
estranha. Como essa... fufu, Shin tendo afeição por mim. Isso me deixa... feliz.

Enquanto falava, Mio cobria suas bochechas avermelhadas com as mãos.

— ...Ahhhh, sério?

Vendo tal gesto fofo na sua frente, até mesmo Mana acabou ficando um
pouco envergonhada.

De alguma forma, a garota na frente dela era amável demais. Mana


esperava que Mio pudesse se casar o mais rápido possível com seu irmão e deixar
ela a chamar de Ane-sama.

Em seu coração, a Mana soltou um pequeno grito.

Então, ela bateu na mesa enquanto declarava em voz alta.

— Certo, então vamos começar a te preparar!

— Preparar...?

53
— Isso mesmo. Esse é o primeiro encontro do Nii-sama com a Mio-san.
Não deve haver falhas. Sugestões e avisos sobre o Nii-sama devem ser
preparados de antemão... mas antes, temos que comprar algumas roupas novas!

— Roupas? As que temos agora já devem ser o suficiente. Se não, eu posso


reproduzir algumas.

Enquanto dizia isso, Mia rodopiava seus dedos.

Sim, Mio tinha o poder incrível de reproduzir qualquer roupa que ela
tenha visto. De fato, as roupas que ela estava vestindo agora eram uma cópia das
roupas de Mana.

— Não é a mesma coisa! Isso é algo que devemos levar em consideração


para a preparação! Como você pode ir ao campo de batalha com uma armadura
emprestada?! Eu já tinha pensado nisso antes, mas a Mio-san tem que vestir
roupas fofas!

Vendo a Mana se sobressaltar e trazer à tona pensamentos fervorosos, Mio


sentiu uma gota de suor escorrendo de suas bochechas em surpresa.

— E-então é assim... mas, quando você diz fofo, como é que deve ser a
aparência?

— Hmm...

Ao ouvir o que Mio disse, Mana tremeu as sobrancelhas.

Apesar de Mana ter defendido fortemente sua ideia, ela não era muito
familiar com a moda. Se Mana tivesse essa habilidade, então as roupas que Mio
tinha imitado a fariam parecer ainda mais fofa.

Após estar presa em pensamentos por um breve momento, Mana soltou


um pequeno suspiro.

— ...Não tem jeito. Mesmo que não fosse minha intenção, eu preciso
encontrar alguma ajuda. Fique aí por um minuto.

Então, ela se levantou para pegar o telefone no canto da sala. Depois de


discar o número, ela esperou os sons de chamada da ligação tocarem antes de
finalmente estabelecer a conexão com o outro lado da linha.

— Ah, oi, é a Takamiya. Tem uma coisa que eu queria falar com você. Sim,
na verdade, eu queria que me contasse a forma certa de escolher roupas...

54
Depois de Mana dizer aquilo, o telefonema inesperadamente foi
encerrado.

Então, poucos minutos depois. Dadadadada... os sons de passos se


aproximando ficaram cada vez mais altos. A grande janela da sala de estar foi
aberta e uma jovem garota apareceu.

Com o cabelo preso dos dois lados e um par de olhos empoleirados como
os de um gato, aquela era a amiga de Mana que vivia na mesma vizinhança,
Homura Haruko.

Eu ouvi tudo!

Haruko animadamente disse enquanto chutava seus sapatos e corria para


pegar as mãos de Mana.

— Mana finalmente acordou para a moda! Eu estava seriamente


preocupada que você somente usasse o uniforme escolar, jaquetas e roupas de
kendo. Então, que estilo quer usar? Tem um tempinho agora? Nós temos que ir
a uma loja imediatamente...

— Por favor, se acalme. Ninguém disse nada sobre escolher as minhas


roupas.

— Quê? Não era isso?

— Depois de ouvir isso, os olhos de Haruko se arregalaram de surpresa


enquanto ela soltava um suspiro desencorajado.

— Oh não... eu pensei que finalmente a primavera tinha chegado para a


Mana. Tudo bem ser estóica, mas você acha que assim pode arrumar um
namorado?

Quando Haruko começou a falar algumas coisas desnecessárias, Mana


cruzou os braços enquanto soltava um pequeno gemido.

— Eu não quero ouvir isso da Haruko. Como está indo seu progresso com
o Tatsuo-senpai2?

— I-Isso não interessa agora!

2
Para quem não leu o volume 11.5, Haruko e Tatsuo são os pais da Kotori.

55
Haruko protestou enquanto seu rosto ficava vermelho. Aparentemente,
era fácil falar sobre a vida amorosa dos outros, mas era vergonhoso falar da sua.
Mana só encolheu os ombros e apontou para Mio, que estava sentada perto delas.

— Bem, deixando isso de lado, eu quero que você me ajude a escolher


umas roupas para essa pessoa, não para mim.

Imediatamente em seguida, conforme o olhar de Haruko seguiu as


instruções de Mana, seus olhos se arregalaram acompanhando um dom de
"Uau!".

— P-Por que essa linda garota...!? Quem é ela por acaso!?

Parece que Haruko não tinha percebido Mio até agora. Ela deu um
exagerado uivo de surpresa.

— Essa é a Takamiya Mio-san, minha... err... ela é uma parente distante.

— Prazer em conhecê-la.

Como se fosse para combinar a apresentação de Mana, Mio abaixou sua


cabeça.

Haruko, que estava chocada com a aparência encantadora de Mio,


recobrou o controle das circunstâncias depois que um pequeno tremor chegou
aos seus ombros.

— Me desculpe! Meu nome é Homura Haruko, tenho 14 anos de idade e


sou amiga do peito da Mana.

— Amiga do peito...

— Ahhh, Mio-san, essa palavra é incomum; não precisa se preocupar com


isso.

Mana continuou depois de clarear sua garganta com uma tosse.

— Então, é isso. Eu quero que ajude a Mio-san escolher as roupas para um


encontro. Você é boa nesse tipo de coisa.

— Em vez de dizer que sou boa, é melhor dizer que sou a melhor nisso.
Então, para referência, quem é o sortudo que vai ir a um encontro com essa
belezura?

Haruko disse em um tom que podia ser ouvido em um filme estrangeiro.


Apesar de achar que seria problemático, Mana respondeu a ela.

56
— Bem, é o meu Nii-sama.

— Tá falando sério?!

Haruko disse com uma alta tensão em sua voz enquanto cruzava seus
braços.

— Certo. Eu entendi. Para resumir. Eu tenho que coordenar a escolha de


um traje para a Mio-san para ela ficar tão deslumbrante que o seu irmão mais
velho não terá escolha a não ser ficar loucamente apaixonado. Hmm, como será
que farei isso?

Enquanto falava, Haruko pegou um pirulito em seu bolso e o jogou na


boca. Esse era um hábito de Haruko. Ela dizia que sua concentração aumenta
quando está chupando algo.

— Então você já entendeu. Bem, meu Nii-sama não é do tipo que liga
muito para a aparência. Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra. Uma
garota tem que prestar atenção no momento.

Embora Mio tenha sentido um pouco de confusão ao olhar as atitudes bem


resolutas de Mana e Haruko, ela ainda assim acenou com a cabeça enquanto dizia
"b-bem, então... por favor."

57
Capítulo 2: Os Três Magos
— ...

No campo de batalha que se desenvolvia no céu da pacífica área


residencial, Tobiichi Origami estendeu sua mão para pegar a garota que estava
caindo depois de esgotar todas as suas forças.

Era uma bela garota que usava uma CR-Unit customizada pelas indústrias
DEM. Seus cabelos loiros brilhantes cintilavam sob a luz do sol.

Artemisia Bell Ashcroft. Uma Wizard da DEM cujo número identificador


era Adeptus 2... e também era uma oponente que tinha cruzado suas lâminas com
Origami momentos atrás.

— Ku...

No momento em que seu braço sentiu um peso adicional. Origami quase


que reflexivamente franziu suas sobrancelhas com dor.

Mas isso não era uma surpresa. Afinal, A CR-Unit totalmente branca e o
Astral Dress limitado que cobria o corpo de Origami tinham sido cortados por
um corte diagonal que a atingiu seu ombro. Dali, uma tremenda quantidade de
sangue estava transbordando.

— Fu...

Origami soltou lentamente o ar enquanto manipulava o território


voluntário que a envolvia. Enquanto aplicava hemostasia e anestesia em si
mesma, ela carregava o corpo de Artemisia através de uma força invisível.

Imediatamente depois, ela ouviu uma voz alta vindo de frente.

— Como eu disse, não se force muito. Mesmo que a dor possa ser
ignorada, não quer dizer que os ferimentos serão curados.

— Isso mesmo! Isso tem que ser tratado apropriadamente...

Usando o equipamento padrão da SDGF, a ex-capitã da AST, Kusakabe


Ryouko, e sua subordinada Okamine Mikie olharam para os ferimentos de
Origami com preocupação.

— Está tudo bem. Eu estou acostumada com esse nível de ferimento.

58
— Idiota. "Eu consigo aguentar" e "Está tudo bem" podem ser duas coisas
totalmente diferentes. Vamos, dê ela para mim. Mesmo que seja possível carregá-
la com esse campo, fazer isso só vai forçar a sua concentração ainda mais.

Enquanto dizia isso, Ryouko expandiu seu próprio território voluntário


para ajudar a carregar o corpo de Artemisia.

Graças a isso, o fardo sobre o cérebro de Origami diminuiu um pouco,


permitindo que a manutenção da área de seu território ficasse de alguma forma
mais fácil. Mais uma vez, Origami exalou um suspiro de alívio.

A área do território voluntário que era gerada por um manifestador


Realizer era literalmente um "espaço onde os desejos do usuário acontecem".
Apesar disso, ele não era onipotente. Se a carga nesse campo fosse muito alta, o
cérebro do usuário poderia sofrer uma quantidade correspondente de dano.

— De qualquer forma...

Ryouko soltou um pequeno suspiro enquanto via Artemisia sendo


envolvida pela área invisível.

— Mesmo que tenha sido uma luta de uma contra muitas, eu realmente
não esperava derrotar a Artemisia Ashcroft... que tipo de magia você usou?

Como a ex-melhor Wizard da SSS, Artemisia era conhecida por todas as


Wizards. Não seria difícil imaginar que sua força seria comparável à da Ellen
Mathers como uma das Wizards mais fortes da humanidade. Elas conseguiram
derrotá-la, era de se esperar que Ryouko ficasse tão surpresa.

Com isso dito, o que Ryouko tinha acabado de apontar não era totalmente
preciso. Origami levemente balançou sua cabeça.

— A pessoa que desferiu o golpe decisivo não foi eu.

— Hã? Então...

Quando Origami moveu sua cabeça como se estivesse a respondendo,


uma voz foi ouvida vinda à distância.

— Origami-san, tudo bem com você...!?

— Mun, parece que foi um sucesso.

59
Uma gentil garota montando um boneco gigante em forma de coelho e
uma garota de cabelo comprido segurando um cajado em forma de chave
flutuavam pelo céu e se voltaram para Origami.

Yoshino e Mukuro. Junto com Origami, elas eram o grupo de Espíritos


enviados para capturar Artemisia.

Em particular, Mukuro foi a pessoa chave nesta estratégia.

Seu Anjo <Michael> era o anjo que podia "fechar" e "abrir" qualquer coisa.
Mesmo coisas intangíveis que não podiam ser vistas a olho nu, por exemplo;
memórias seladas não eram exceção.

Artemisia estava sendo manipulada pelo inimigo devido a suas memórias


terem sido alteradas pela DEM. No momento em que Origami conseguiu uma
abertura, Mukuro atingiu a cabeça de Artemisia com a ponta de <Michael> para
destravar as suas memórias. Essa era a essência da estratégia dessa operação.

Quando Origami brevemente explicou essa estratégia, Ryouko arregalou


os olhos de surpresa.

— Ha... foi você? Supondo que vocês são Espíritos, então...

Então, com uma expressão complicada no rosto, Ryouko observou


cuidadosamente os rostos de Yoshino e Mukuro.

Os outros membros da AST que estavam atrás de Ryouko também


cercaram elas, as olhando com curiosidade.

— Então, você é a <Hermit> e você a <Zodiac>?

— Uau, não brinca. Eu acho que é a primeira vez que vejo um Espírito tão
de perto.

— ...fala a verdade, aquela ali não é uma fofura?

Os membros da AST que vestiam CR-Units pretas começaram a conversar


animadamente como se fossem colegiais.

— Mun?

— I-Isso... uhm.

Embora Mukuro permanecesse calma nessa situação, Yoshino desviava


timidamente o seu olhar.

60
— Ahh, desculpa. Ao ver vocês nessa distância, vocês parecem ser garotas
normais. Não sei muito bem porque disseram que vocês eram organismos hostis
que não podiam sequer falar...

Ryouko acenou com a cabeça com um sorriso desconcertado em seu rosto.

Os Espíritos que eram considerados os inimigos da humanidade e a capitã


do esquadrão responsável por caça-los estavam naquele momento conversando
em uma distância bem curta. Aquela era verdadeiramente uma cena profunda
de reconciliação.

Porém, elas não tinham todo o tempo do mundo para conversar


despretensiosamente. Mesmo que a grande força de combate que era Artemisia
tenha sido desabilitada, a batalha ainda continuava e Origami ainda não tinha
completado todos seus objetivos.

— Capitã. Me desculpe por ter que envolvê-la de novo, mas eu tenho um


pedido. Por favor, leve Artemisia até a <Fraxinus>.

— <Fraxinus>?

— Isso mesmo. A nave de batalha da <Ratatoskr> que eu mencionei antes.


Eu irei te contar os detalhes depois, mas se você levar Artemisia até lá, as
<Bandersnatch> podem ser desabilitadas.

— Hãããã?

Ryouko bruscamente torceu as pontas de suas sobrancelhas antes de


rapidamente erguer os cantos de seus lábios.

— Apesar de eu não saber o que está acontecendo, isso parece ser


interessante. Nós sempre fomos atrapalhadas pela DEM. Se nós pudermos dar
uma lição neles, eu alegremente irei cooperar com vocês.

— Obrigada. Será de grande ajuda.

Ao ver Origami expressar sua gratidão, Ryouko agitou sua mão para dizer
que não seria nada demais antes de dar instruções para os outros membros da
AST.

— Muito bem. Façam uma formação defensiva e ajustem seus territórios


voluntários para prevenir ataques dos arredores. O suficiente para poder rebater
uma quantidade mínima de contra-ataques. Nossa prioridade é proteger a
Artemisia.

61
— Entendido!

Ao terem recebido suas instruções, Mikie e os membros de sua equipe se


dispersaram para suas posições. Como um time especializado em ataques
coordenados, seus movimentos eram ágeis e ensaiados.

— Bem, vamos indo, Origami.

— Por favor.

Quando Origami acenou em resposta. Ryouko respondeu enquanto


erguia uma sobrancelha.

— Não, essa não é a questão. Você vem também. Você está planejando
deixar esse ferimento sem os devidos cuidados? Eu não sei que tipo de nave de
batalha é a <Fraxinus>, mas deve ter alguma instalação médica a bordo...

Porém, a voz de Ryouko de repente parou.

Não, para ser exato, sua voz foi sugada pelos gritos vindos de trás.

— ...Origami-san!

Uma garota vestindo um CR-Unit tingido de ciano gritou pelo nome da


Origami enquanto se movia em uma velocidade vertiginosa.

Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo e havia uma pinta em forma
de lágrima abaixo de seu olho esquerdo. Não havia como confundir essas
características; era Takamiya Mana, uma Wizard da <Ratatoskr> que foi enviada
para eliminar os inimigos nos arredores junto com Yoshino e Mukuro.

Com os olhos vermelhos de tensão, aquela era uma aparência alarmante


que seria inimaginável de se ver na Mana de sempre, ela estava tentando dizer
algo.

Foi então que...

Finalmente, Origami percebeu.

Atrás de sua linha de visão, havia um poder terrível, "algo" havia


emergido.

— O qu...

— ...!?

Quando elas se viraram, Origami e as outras ficaram sem palavras.

62
Era uma esfera.

Em meio ao feroz campo de batalha no céu, um grande número de objetos


apareceu.

Um sentimento peculiar de opressão. A premonição da morte. Mesmo que


elas estivessem a uma distância considerável daquilo, só olhar para "aquela coisa"
produzia a sensação de ser atacada por um veneno letal.

Porém, isso não era o fim.

A esfera começou a se mexer, florescendo como se fosse o botão de uma


flor.

Em seguida, várias partículas de luz começaram a se espalhar do centro.

E sua direção... rapidamente foi se aproximando de Origami e as outras.

— ...! Formação defensiva!

— Entendido...!

Com os comandos de Ryouko, os membros da AST responderam


expandindo seus territórios voluntários para proteger Origami e as outras.

Porém... aquilo foi inútil. Origami sentiu um calafrio em seu estômago


enquanto gritou com uma voz trêmula.

— ...! Não. Fujam!

— Está tudo bem...! Origami-san, venha com a gente...

Bem naquele momento.

Uma das partículas de luz penetrou facilmente o território voluntário que


devia estar às protegendo e tocou o corpo de Mikie, que estava estendendo seus
braços para proteger Origami.

Imediatamente depois, o corpo de Mikie perdeu toda sua força e ela caiu
como se fosse uma marionete quebrada cujas linhas foram cortadas.

Não, não somente Mikie. Vários membros da AST que entraram em


contato com as partículas caíram do céu também.

— ...!

— Espera...

63
Origami e as Wizards sobreviventes fugiram daquele local enquanto
expandiam seus territórios para pegar os corpos de suas colegas que estavam
caindo.

— O que aconteceu? Tudo bem com vocês!? O que aconteceu...

Ryouko tentou acordar os membros que estavam sendo levantados pelo


território voluntário... mas então ela repentinamente ficou calada.

— O-O que está acontecendo, elas... morreram...?

— ...!?

Origami franziu as sobrancelhas enquanto usava o território voluntário


para puxar o corpo de Mikie para suas mãos, tocando seu pescoço ao alcançá-la.

Sem sinal de pulsação ou respiração.

As atividades vitais tinham parado totalmente.

— ...

Motivos, desconhecidos.

Causas, desconhecidos.

A única certeza era que quem tinha tocado as partículas de luz emitidas
pela esfera gigante tinha acabado de morrer.

O lugar de onde aquela esfera tinha emergido, era a direção onde Shidou,
Tohka e as irmãs Yamai tinham ido para eliminar as <Nibelcol>.

— ...! Shidou!

Origami cerrou o punho enquanto apontava um olhar rápido para


Ryouko.

— Capitã, por favor, leve Mikie e as outras para a <Ratatoskr>. Se você


usar os aparelhos Realizer médicos que tem lá, ressuscitá-las pode ser possível.

— Ah, tudo bem...! Quer dizer que...

Origami chutou contra o ar e voou para longe sem terminar de escutar o


que Ryouko estava dizendo.

◇◇◇◇

64
Se há um encontro, também há um adeus.

Mesmo que essa seja uma frase velha, ela ainda é verdadeira.

Tanto o tempo de um encontro quanto o de uma partida são os mesmos.


Não importa o quão íntimo seja um relacionamento, mesmo se ele e eu não
formos as mesmas pessoas de antes, qualquer encontro positivo irá algum dia ser
eclipsado por uma despedida negativa.

Não importa os resultados, tudo irá eventualmente retornar ao estado


inicial. Não importa o processo, tudo irá eventualmente compensar um ao outro.

Mas é claro, o coração humano não é tão simples.

Quanto mais nobre as intenções de alguém forem, mais negativas as


emoções da outra serão durante a separação.

Isso vale para toda pessoa que uma vez esteve ao seu lado.

Pais, irmãos... ou até mesmo amigos de infância.

Houve um encontro. Houve um encontro até mesmo para aqueles que não
o reconheceram como tal na hora que aconteceu.

Um encontro inesperado, antes que qualquer uma das partes percebesse,


já era natural estarem juntos lado-a-lado.

Se uma dessas pessoas desaparecesse do lado da outra, de que tipo de


emoções a outra se lembraria?

Sob essas circunstâncias, quando não se reconhece os tempos felizes e se é


atingido por algum infortúnio inesperado, uma pessoa poderia ser incapaz de
resistir a essa injustiça. Isso poderia deixar uma cicatriz profunda no coração
dessa pessoa.

Dito isso, se isso fosse causado por uma progressão rápida de um rival, as
pessoas poderiam se sentir solitárias, mas as chamas da esperança continuariam
acesas em seus corações.

Se isso fosse o resultado de uma separação causada pela vida ou pela


morte, as pessoas poderiam ser atingidas pela tristeza, mas elas ainda manteriam
as memórias calorosas em seus corações.

Porém, se a separação fosse causada pela traição da outra...

65
Não havia dúvidas de que uma emoção parecida era o que Ellen Mathers
estava sentindo quando se lembrava de Elliot Woodman.

— Ahhhhhhhhhhhhhhhhh!

Com um grito parecido com um rugido, Ellen balançou sua lâmina laser
<Caledfwlch>. A lâmina tecida com uma grossa camada de magia deixou um
rastro de luz em direção a seu oponente que estava logo abaixo... pronta para
explodir e obliterar Woodman.

Um corte liberado pela Wizard mais forte da humanidade que estava


atacando com toda sua força. Mesmo um Astral Dress de um Espírito seria
estilhaçado por um golpe desse.

— Fu...

Em contrapartida, Elliot tinha usado seu rifle laser para rebater o golpe.

— Ha, mas que quantidade incrível de maryoku. Mas o ataque foi muito
direto. Eu entendo que estamos tendo uma reunião feliz depois de tanto tempo,
mas por favor se acalme um pouco, Ellen.

— Cale-se!

Ellen rugiu como se sua garganta estivesse com náuseas. Então, ela
colocou novamente força na pegada de sua lâmina para preparar outro corte.

Duas vezes. Três vezes, Quatro vezes.... várias vezes.

Lampejos de energia mágica flutuavam como fogos de artifício.

Para os olhos de uma pessoa comum, tudo que se podia ver era uma luz
brilhante. Sim, até o cérebro de uma pessoa reconhecer esse belo momento, o
corpo de alguém já poderia estar dilacerado em mais de dez partes como se fosse
carne moída.

Porém, Woodman precisamente capturou as trajetórias da espada


invisível e desviou, bloqueou e se defendeu de cada golpe.

Uma velocidade de reação assustadora. A esse nível, talvez até mesmo


Artemisia não conseguiria responder apropriadamente a todos os ataques de
Ellen.

Apesar disso, esse não era o caso aqui.

66
Os olhos de Ellen agora estavam focados em um dos membros fundadores
da DEM, Elliot Baldwin Woodman.

Um dos poucos Magos genuínos que sobraram no mundo... e também o


primeiro Wizard artificial do mundo.

Embora fosse Ellen que merecesse o título de Wizard Mais Forte do


Mundo, ela ainda tinha aprendido como usar um dispositivo de manifestação
Realizer com Woodman. Não era exagero dizer que, de certa forma, ele era o
professor de Ellen. Embora Ellen tivesse vantagem em termos de poder mágico
total gerado, Woodman era bem superior no controle do dispositivo de
manifestação realizer e manipulação do território voluntário.

Mas... não, não era por isso que as emoções de Ellen estavam inflamadas.

— Por que... por que nos traiu!? Elliot...!

Sim, isso mesmo.

Desde que Woodman e os outros deixaram Ellen para trás, essa era a
insatisfação que estava escondida dentro do peito de Ellen.

A memória daquele dia ainda estava viva em sua mente. Ellen, sua irmã
Karen, Westcott e Woodman, o juramento que os quatro fizeram enquanto viam
sua terra natal sendo queimada.

Retaliação contra os seres humanos, vingança contra a humanidade. Uma


rebelião... contra o mundo.

A criação de uma nova ordem de magos. Reescrever o velho mundo. Para


atingir esse objetivo utópico, Ellen e os outros continuaram suas pesquisas
meticulosas até seus sangues começarem a ferver.

Dispositivo de manifestação Realizer. Wizards. Naves espaciais. Bonecas


artificiais. A multidão de técnicas sobrenaturais desenvolvidas pelas indústrias
DEM não eram nada além de um produto disso.

Tudo pelo bem de um novo mundo.

Tudo para dissipar os arrependimentos de seus compatriotas.

Talvez, tenha sido por causa disso.

67
— Você... traiu nosso voto. Não somente isso, você enganou a Karen e
usurpou os resultados de nossas pesquisas. E apareceu diante de nós como um
inimigo. Esse pecado só pode ser expiado com a morte...!

Indignação. Maldições. Ressentimento. Enquanto convergia todas as


emoções negativas que podiam ser descritas com palavras, Ellen gritou.

Então Woodman, que estava tendo sucesso em rebater os ataques de Ellen,


soltou um pequeno suspiro.

— Eu sinto muito por vocês. Não, eu não me lembro de ter enganado a


Karen. Bem, antes que eu percebesse, ela já tinha largado tudo para estar ao meu
lado. Não importa o motivo, eu não quero ser seu inimigo. Só aconteceu que meu
caminho e o seu entraram em conflito de uma forma estranha.

— Bobagem...!

— Não é bobagem. O ódio pela nossa vila ter sido queimada. O ódio por
ter nossos compatriotas sendo mortos não desapareceu completamente. É só
que...

Naquele momento... Woodman de repente cessou suas palavras.

— ...

Mas Ellen também percebeu o motivo.

"Tum", o som do pulsar do mundo. Um fluxo de mana que beirava o


impossível. Aquela era a mesma sensação de quando o Espírito Primordial que
Ellen e os outros criaram surgiu.

Talvez... ela tenha aparecido. Aquela mulher. E ela estava em algum lugar
não muito distante dali.

— ...

Woodman continuou a falar enquanto pesarosamente espremia seus


olhos.

— Na primeira vez que vi aquele Espírito, eu pensei comigo mesmo "Ah,


como ela é linda.". Depois disso, eu fiquei considerando minhas ações. Mesmo
que seja por vingança, era realmente necessário sacrificar aquela criança? Não,
não era muito diferente daquilo, de quando queimaram nossa vila... ah.

68
Enquanto Woodman dizia isso, Ellen fechou seus olhos com firmeza. Ao
se deparar com essa linha de visão, ela podia sentir um pouco de tristeza e
compaixão.

— ...!

Ao ouvir essas palavras, olhar aquele olhar, Ellen sentiu frustração como
se seu coração estivesse sendo assado no inferno.

Não havia a menor expectativa de que tudo tinha começado com o Espírito
Primordial. Porém, para a Ellen atual, esses tipos de palavras não tinham
qualquer importância. Já que matar o traidor a sua frente era o significado da
existência de Ellen naquela hora.

— Não... fode!

Ellen soltou um grito enquanto erguia seus braços e manipulava o


território voluntário com sua mente.

— <Chastiefol>!

Imediatamente depois, várias lâminas afiadas instaladas nas costas da sua


CR-Unit se ejetaram e dispararam girando como se fossem shurikens tendo
Woodman como alvo.

— Tch...

Mesmo para Woodman, em uma distância tão curta dessa, ele não
conseguiria lidar com uma barreira de ataques dessa intensidade. Woodman
apertou os olhos enquanto assumia uma postura defensiva ao aumentar a força
de seu território voluntário.

Porém, esse tipo de comportamento era previsível. Ellen afiou seu olhar
enquanto proferia uma instrução ao seu cérebro.

Naquele instante, um míssil mágico montado na ponta afiada de


<Chastiefol> tinha se ativado como o objetivo de liberar uma barreira torrencial
diante dos olhos de Woodman.

Embora sejam uma arma auxiliar, ainda assim eram mísseis com poder e
quantidade suficientes. Um Wizard comum teria morrido com a explosão que
acabou de acontecer.

Porém, seu oponente era Woodman. Mesmo Ellen não esperava que ele
estaria fatalmente ferido.

69
O real propósito para essa ofensiva era usar a explosão repentina para
capturar momentaneamente a atenção de Woodman e usar a cortina de fumaça
resultante para obstruir seu campo de visão.

Enquanto Ellen estava operando seu território voluntário para soltar a


<Caledfwlch> no ar, as costas de sua CR-Unit se estenderam para fora acima de
seu ombro esquerdo.

A CR-Unit <Pendragon>, coroada com o nome do rei, ela naturalmente


acompanhava Ellen que se vangloriava de tirar o máximo dela.

Se alguém desavisado visse aquilo, eles poderiam ter confundido aquilo


com um enorme bocal.

Porém, aquilo não era um grande canhão.

Aquilo era...

— Penetre! <Rhongomiant>...!!

Uma grande, grande lança de luz.

Ao comando de Ellen, foi impulsionada para frente uma grande massa de


maryoku.

Era uma arma simples que concentrava todo poder mágico de Ellen em
um único ponto.

Mas. Não. Por causa disso... ela era a mais forte.

Aquele não era um mecanismo complexo para quem buscava ter uma
lança.

Era somente uma força designada a penetrar o inimigo.

E não havia nada no mundo que não pudesse ser penetrado pela lança de
Ellen, que era a mais forte da raça humana.

Mas.

— ...!?

As sobrancelhas de Ellen começaram a tremer para cima e para baixo.

Pouco antes de <Rhongomiant> atingir seu alvo, a fumaça dissipada


permitiu a ela ver a postura pouco visível de Woodman.

70
Woodman já tinha desfeito sua postura defensiva.

E também... estava voltado para a direção de Ellen com sua unidade nas
mãos.

Em vez de um rifle, aquilo se parecia mais com uma enorme unidade de


artilharia.

Sim, era como se fosse igual ao... <Rhongomiant> de Ellen.

— <Gung...nir>!

Acompanhando a voz de Woodman, uma luz mágica foi liberada da


unidade que ele estava segurando.

Aquilo se chocou contra o <Rhongomiant> de Ellen no ar.

O céu foi tingido com um brilhante tom de branco.

◇◇◇◇

— ...ha, ...ha.

Tohka respirava profundamente para ajustar a batida de seu coração que


estava batendo como se fosse um acelerado sino de alarme.

Porém, em todas as direções, seu coração não conseguia se acalmar. Sua


garganta estava apertada. Suas mãos que seguravam sua espada estavam
tremendo. Cada célula de seu corpo estava enviando um sinal de alarme dizendo
para não lutar com o inimigo diante delas.

Isso mesmo. Não existia uma só coisa nessa terra que não sentisse medo
quando se deparava com o poder avassalador de Mio.

Não... para dizer isso mais corretamente, não havia sobreviventes ali,
exceto Tohka, as irmãs Yamai e a própria Mio.

Os grãos de luz emitidos pela flor gigantesca que flutuava no céu tinham
matado todas as <Nibelcol> e Wizards ao redor em questão de segundos.

Não, não somente isso. Mesmo matérias inorgânicas como as


<Bandersnatch> e as naves de guerra da DEM também estavam todas destruídas.

71
Aquela era uma visão anormal que desobedecia a providência da natureza
ao tirar a vida do alvo em um instante.

Mesmo que ainda esteja ocorrendo uma batalha furiosa nos céus a
distância, era somente aquela área que se parecia com o olho de um tufão.

— ...

Enquanto Tohka engolia em seco, ela sentia uma pequena dor em sua
garganta seca.

Mio. Takamiya Mio.

O Espírito que carregava o nome de Deus. Uma mulher que tinha acabado
de espalhar a morte. Apenas ser capturada por sua vista causava a impressão de
ter sua pele sendo rasgada.

Porém, Tohka e as outras não podiam recuar.

Tohka amava Shidou.

Por causa de Shidou, Tohka foi salva. Por causa de Shidou, Tohka tinha
mudado muito. Por que havia um Shidou... Tohka foi capaz de entender o que
era afeição. Se Tohka falhasse em parar Mio, então poderia se considerar que tudo
que ela passou nunca tinha acontecido.

O homem conhecido como Itsuka Shidou seria apagado sem misericórdia.


Tal coisa era absolutamente imperdoável.

Portanto, Tohka continuava a seguir adiante com sua espada apontada


para o inimigo, mesmo com seu corpo tremendo de medo.

— Kaguya, Yuzuru... vocês conseguem continuar?

Tohka sussurrou enquanto continuava a olhar Mio. Kaguya e Yuzuru, que


estavam do seu lado esquerdo e direito respectivamente, responderam a ela
enquanto estavam com seus ombros levemente tremendo.

— De quem acha que está falando? É claro que não há problema...!

— Concordância. Não importa quão poderosa seja nossa inimiga, as irmãs


Yamai não irão se retirar.

— ...umu.

72
Tohka deu um pequeno aceno de concordância depois de ouvir as
palavras de confiança da dupla. Então, enquanto mantinha seu olhar em Mio, ela
saltou do chão.

— Haaaaaahhhhhh!

Ela ergueu <Sandalphon> para depois balançá-lo para baixo com toda sua
força. Os feixes de reiryoku que saiam da trajetória da espada permitiam um
corte a longa distância contra Mio.

Então, o corte de <Sandalphon>, que carregava um tremendo poder, foi


impedido assim que estava prestes a fazer contato com o corpo de Mio. Sim, era
como se uma parede invisível estivesse envolvendo Mio.

— Ku...

Porém, Tohka não cedeu. Colocando ainda mais poder em sua pegada, ela
continuou a cortar repetidamente.

— Ahhhhhhhh!

Com um grito enfurecido, Tohka já havia perdido as contas de quantos


cortes ela já tinha desferido. Chutando o céu, ela saltou ousadamente em direção
a Mio. Ela se arremessou para frente, com a ponta de <Sandalphon> preparada
para um golpe de decapitação.

Mas... os resultados foram os mesmos.

— ...Desculpa, mas você não pode me derrotar com isso.

Mio disse em voz baixa enquanto olhava para <Sandalphon>, que tinha
sido parada antes de alcançar sua garganta.

— ...

Enquanto aceitava a declaração, Tohka mostrou um sorriso enquanto


erguia os cantos de sua boca.

— Ahh... isso provavelmente é verdade.

— ...O quê?

Mio sentiu uma sensação insondável enquanto suas sobrancelhas


tremiam.

Mas essa reação era natural também.

73
Enquanto se distraia com a barreira de golpes, as irmãs Yamai tinham se
esgueirado para trás de Mio, com um grande arco carregado por entre as duas.

Sim, o golpe mais forte do <Raphael> das irmãs Yamai.

Um arco e flecha formados com a combinação do <El Re'em> de Kaguya e


o <El Na'ash> de Yuzuru.

E seu nome era...

— <Raphael>!

— Concordância. <El Kanaph>!

Kaguya e Yuzuru chamaram por esse nome em uníssono enquanto


disparavam a flecha. A grande flecha cônica com uma violenta pressão de vento
soprou para longe todos os destroços ao redor enquanto se aproximava de Mio.

— ...

Mio soltou um gentil suspiro enquanto erguia sua mão pela primeira vez
para se defender do ataque.

Um golpe direto. As ondas de choque escandalosamente grandes enviadas


pela flecha arrancaram a pavimentação da rua como se fosse um carpete. Todos
os objetos ao redor se espalharam como se fossem munição, voando uns contra
os outros antes de desmoronarem.

Porém, mesmo isso não foi o suficiente para quebrar a barreira de Mio.
Mesmo em meio a tempestade de um furacão, Mio tinha parado o ataque a um
ponto onde seu cabelo nem sequer ficou bagunçado.

— ...esse foi um brilhante ataque surpresa. Mas...

Mio de repente interrompeu sua fala.

Talvez, ela tinha acabado de perceber.

Os ataques persistentes de Tohka serviram como distração para o <El


Kanaph> das irmãs Yamai.

Mas mesmo esse <El Kanaph> também era só uma finta.

— <Sandalphon> - <Halvanhelev>!!

Tohka gritou aquele nome enquanto ela arrancava uma espada torrencial
de dentro da terra e a erguia para os céus.

74
Isso mesmo. Tohka tinha invocado seu trono e o combinado com a lâmina
de <Sandalphon> no curto momento em que Mio tinha tirado seus olhos dela.

Não havia nem uma consulta antecipada nem um sinal de que elas tinham
preparado isso de antemão por causa de algum treinamento especial acumulado.

Porém, Tohka estava confiante.

Se eram as irmãs Yamai, que já tinham superado batalhas de vida ou morte


várias vezes, então elas poderiam certamente chegar naquela conclusão...!

— Ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

Enquanto Tohka gritava a um ponto em que sua garganta parecia que iria
se partir, ela balançou sua enorme espada para baixo em direção a Mio.

O céu se partiu.

A terra tremeu.

O mundo rachou.

O poder destrutivo avassalador explodiu atrás de Mio enquanto ela se


preocupava em se defender da flecha de vento.

Certamente, havia uma barreira forte que cercava o corpo de Mio. Seria
impossível danificá-la com um ataque despretensioso.

Porém, se ela recebesse os golpes mais fortes dos dois anjos, <Sandalphon>
e <Raphael>, talvez...!

— Caia... ahhhhhhhh!

— Pe...netração! Tombe, agora...!"

— Haaaaaaaaahhhhhhh!

Os gritos de Kaguya, Yuzuru e Tohka soaram mesmo dentro dos ventos


violentos.

— Ahhhh...

Alguns segundos depois, Tohka, que tinha usado toda sua força no último
golpe, caiu no chão exausta.

A enorme <Halvanhelev> quebrou em fragmentos que derreteram no ar,


deixando somente o núcleo da <Sandalphon>.

75
— U-ugh...

Seu corpo inteiro sentia uma dor afiada em resposta ao ataque. Com as
mãos e pés tremendo, Tohka usou <Sandalphon> como uma bengala para se
manter em pé. A areia e o pó densos dos arredores gradualmente se dispersavam
pouco a pouco, logo expondo a grande cratera no chão causada pelo ataque
combinado de Tohka e as irmãs Yamai.

Mas... Mio não estava ali.

— ...!

Tohka arregalou os olhos em choque quando ela rapidamente verificou os


arredores. Se o oponente fosse uma Wizard comum, não seria inacreditável que
nem sequer uma partícula de pó tenha sobrado.

Porém, o oponente era o Espírito da Origem Takamiya Mio. É claro, o


golpe deve ter quebrado sua barreira, mas Tohka não era ingênua o suficiente
para pensar que o bastante para terminar aquele embate.

Será que ela desviou? Ou talvez, ela se escondeu depois que sua barreira
foi destruída de acordo com o plano de Tohka...

Então, naquele momento.

...!

Ao conseguir ver no canto de sua vista, Tohka sentiu que sua respiração
tinha parado. Imediatamente depois, ela gritou.

— Kaguya! Atrás de você!

Sim, a cerca de dez metros atrás de Kaguya, Mio estava de pé sem nenhum
dano.

— Hã...?

Talvez por ouvir o que Tohka tinha dito, Kaguya ergueu suas
sobrancelhas.

Mas... era tarde demais.

Assim que Kaguya estava prestes a se virar, uma protuberância parecida


com um tentáculo saiu do Astral Dress de Mio e perfurou o peito de Kaguya.

— Ah...?

76
Os olhos de Kaguya se arregalaram de terror enquanto ela olhava para a
direção de seu peito.

Uma fina e elástica faixa de luz, que parecia ser a extensão de suas roupas.

Esse tecido inacreditavelmente fino tinha trespassado o corpo de Kaguya


antes de mostrar sua ponta no ar.

Não... talvez não seja apropriado descrever aquilo como um golpe


perfurante. De fato, não havia nenhuma gota de sangue pingando do peito dela.

Mas na ponta daquilo.

Um fragmento de um cristal que emitia um brilho laranja estava envolvido


pela faixa.

— O quê...?

Olhando para aquela visão, a expressão de Tohka tremeu de medo.

Cristal Sephira. A fonte do poder de um Espírito.

Não havia dúvidas. O cristal Sephira que ela tinha ouvido falar de Kotori
e Miku tinha sido instantaneamente extraído do corpo de Kaguya.

— ...

Mio ergueu levemente a sua mão. Então, o pedaço de tecido que tinha
perfurado Kaguya se retraiu de volta para Mio em um piscar de olhos.

É claro, junto com o Cristal Sephira que estava enrolado nele.

— Ka... fu...

Agora livre daquela faixa de luz, a respiração de Kaguya estava irregular


antes dela desabar. Como que em conformidade com esse gesto, o Astral Dress
limitado que ela vestia também desapareceu em partículas de luz.

— ...! Kaguya!

Yuzuru imediatamente correu para ajudar Kaguya antes que seu corpo
tocasse o chão.

— Yu... zuru.

Kaguya moveu seus lábios com fraqueza enquanto estava nos braços de
Yuzuru.

77
Mas então, todas suas forças deixaram seu corpo e nada foi dito depois
disso.

— Kaguya...? Kaguya! O que há de errado com você? Kaguya...!

Yuzuru começou a desesperadamente chacoalhar os ombros de Kaguya,


mas seu corpo flácido mesmo assim não mostrou nenhum sinal de resposta.

Yuzuru gentilmente pressionou seu ouvido contra o peito de Kaguya.


Enquanto ouvia, não houve qualquer sinal de que ela estava respirando.

— Kagu, ya...

Então, enquanto olhava para Yuzuru, Mio anunciou silenciosamente.

— ...essa área já está sob o controle do <Ain Soph Aur>. Não é um espaço
que alguém possa se manter em pé sem ter reiryoku ou maryoku.

— ...

Enquanto ouvia essas palavras.

Yuzuru gentilmente balançou seu corpo.

— ...!

Foi um momento depois que Tohka percebeu.

Assim que Kaguya caiu no chão, Yuzuru desapareceu... ou era o que


parecia. Ela disparou na direção de Mio a uma velocidade que nem mesmo os
olhos de Tohka puderam acompanhar.


Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
hhhhhhhhhhhhhhh!

Aquele era o rugido de uma fera que seria completamente inimaginável


de ser ouvido vindo da Yuzuru habitual.

Usando o vento para guiar seu pêndulo, Yuzuru direcionou ele para Mio.

— ...! Não faça isso Yuzuru! Fuja...!

Um pouco tarde demais, Tohka gritou.

Porém, naquela hora, outra faixa de luz espiralada passou pelo pêndulo
antes de atingir...

78
— Gu... ah...!?

A ponta foi cravada no peito de Yuzuru.

— Yuzuru!

Quando Tohka gritou seu nome, Yuzuru se virou para a direção de Tohka
por um momento.

— Des...culpas... Me...des...culpem, Toh...ka... Kagu...ya...

Yuzuru respondeu com fraqueza antes de cair.

Então, assim como aconteceu com Kaguya, seu Astral Dress limitado
desapareceu, se tornando partículas de luz.

— ...agora.

Mio manipulou a faixa de luz, puxando de volta o Cristal Sephira que ela
tinha apanhado de Yuzuru.

Então, depois de sobrepô-lo com o pedaço que ela já tinha tomado de


Kaguya, Mio juntou os dois pedaços os transformando em um cristal completo
antes de pressioná-lo contra o peito. Com uma luz radiante, o Cristal Sephira foi
engolido pelo corpo de Mio.

Imediatamente depois, o cristal Sephira desapareceu completamente e


uma das dez estrelas atrás de Mio começou a emitir um brilho fraco.

— ...agora são dois.

— Mio, você...!

Tohka rangeu os dentes enquanto se levantava novamente ignorando a


dor usando toda sua força com uma tremenda fadiga.

Tão fácil e de forma inesperada... Kaguya e Yuzuru tinham sido mortas.


Aquela era uma cena que se destacava da realidade. Não haviam feridas em seus
corpos. De outra perspectiva, parecia que elas estavam dormindo.

Porém, o reiryoku que o corpo das duas emanava agora podia ser sentido
no corpo do inimigo.

— ...

Havia uma tremenda raiva, tristeza e desespero rodopiando no coração de


Tohka. Porém, esses sentimentos só iriam atrapalhá-la agora. Tohka respirou

79
profundamente para suprimir essa paixão ardente que sentia em seu coração.
Aquele não era um oponente que ela poderia derrotar perdendo o controle
durante a luta. Enquanto uma paixão fervorosa era necessária para dar tudo de
si, o que ela mais precisava naquele momento era permanecer calma.

Sem esquecer ou ignorar a raiva que sentia por quem tinha as matado, ela
tinha que permanecer firme com esses pensamentos em mente.

No momento seguinte, Tohka sentiu seu corpo esquentar. Sim, aquela era
a sensação de quando seu astral Dress completo se manifestava.

— ...não posso permitir isso.

Porém, depois de ouvir isso enquanto apertava os olhos, o fluxo de


reiryoku que fez com que o corpo de Tohka esquentasse gradualmente foi
abaixando.

— O quê...?!

— ...se o caminho espiritual for completamente revertido, então levará


mais tempo para selá-lo no Shin de novo. Desculpa, mas eu temporariamente
estreitei essa passagem.

Enquanto falava, Mio lentamente ergueu sua mão.

— Você é um pouco problemática, originalmente eu queria adiar isso,


mas...

Com um movimento de seu pulso, várias bandagens de luz vindas de Mio


se juntaram em formato de um pescoço de cisne.

— ...está acabado.

Quando Mio terminou essa sentença, as bandagens de luz apontaram em


direção a Tohka.

— Ku...

Tohka distorceu sua sobrancelha enquanto usava <Sandalphon> para


cortar as bandagens de luz.

Não... aquela foi somente uma tentativa de cortar as bandagens de luz.

As bandagens de luz, diferente de sua aparência frágil, carregavam uma


terrível força e perseverança; mesmo quando atingidas por <Sandalphon>, elas
meramente mudavam sua trajetória antes de se aproximarem novamente.

80
— ...!

Tohka balançou seu corpo para lutar contra as bandagens de luz. Porém,
devido aos constantes ataques desferidos, ela não conseguiu manter sua postura
e seus movimentos ficaram lentos demais.

Para Mio, aquela brecha foi mais do que o suficiente para capturar
facilmente Tohka. Uma bandagem de luz rapidamente se aproximou do peito de
Tohka.

Mas.

— O quê...?!

Naquele momento, os olhos de Tohka se arregalaram.

Mas essa era uma resposta natural. De repente, uma mão a puxou para
trás e sua visão se obscureceu. Mesmo que não fosse Tohka, qualquer um teria a
mesma reação.

Um momento depois, Tohka conseguiu ver a luz novamente.

— Ah...? I-Isso é...

Tohka piscou enquanto sentia uma sensação de incongruência.

O que se espalhava diante dela era o mesmo campo de batalha de antes.


Mio estava à frente dela e <Ain Soph Aur> estava no céu. No chão, Kaguya e
Yuzuru ainda estavam caídas.

Porém, tudo estava posicionado a uma distância mais distante de onde


estavam antes da sua visão ter se obscurecido. De fato, as bandagens de luz que
estavam se aproximando rapidamente dela agora estavam a uma distância
considerável.

— Mun... tudo bem com você Tohka?

Tohka se virou quando ouviu uma voz vinda de trás.

— ...! Mukuro!

Isso mesmo. Apesar de não saber quando foi que ela apareceu, Mukuro
estava em pé atrás de Tohka enquanto segurava seu característico cajado em
forma de chave.

81
Então, ela finalmente percebeu. Quando Tohka estava prestes a ser
perfurada pelas bandagens de luz, ela foi tirada daquela situação por um
"buraco" aberto no espaço por Mukuro.

— Tudo bem com você, Tohka-san...?!

Imediatamente depois, Origami, Yoshino e Mana desceram em direção a


Tohka.

Elas também tinham reconhecido aquela anormalidade e correram para


aquele local.

— Tohka, Kaguya e Yuzuru estão...

Com suas roupas brancas ainda manchadas de sangue, Origami disse


enquanto calmamente olhava para as duas pessoas caídas no chão.

— ...

Tohka rangeu os dentes antes de acenar com a cabeça em silêncio.

— ...Sim.

A resposta de Origami foi simples. Uma breve palavra e um curto suspiro.


Nenhuma mudança pôde ser vista em sua expressão facial.

Porém... ela entendeu. Tohka olhou para o rosto de Origami enquanto


mordia os lábios.

Tohka, que já conhecia Origami por um tempo, e já tinha até cruzado


espadas contra ela, sabia que uma fúria ardente estava queimando por trás de
sua expressão calma.

É claro que não era só Origami. Yoshino, Mukuro e Mana também, mesmo
que a reação delas não seja a mesma, todas elas olharam para o inimigo com
hostilidade.

— Então esse é o Espírito da origem. Hmm, essa atmosfera desagradável


com certeza é repugnante.

Mana cuspiu enquanto continuava a encarar Mio.

— ...ah, quanto tempo, Mana.

— ...o que você disse?

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Mana a responder com um olhar torto. Porém, Mio continuou sem dar
muita atenção a isso.

— ...eu tenho que coletar os Cristais Sephira agora. Você não precisa
morrer também. Você precisa sair daqui por enquanto.

Mio disse como se tivesse incitando Mana a recuar.

Mas é claro que Mana não iria obedecer. Em vez disso, sua atenção estava
focada em seu inimigo enquanto sua expressão facial ficava tensa.

Tendo provavelmente previsto essa reação, Mio gentilmente suspirou.

— Essa franqueza não mudou nadinha. Não posso fazer mais nada. O Shin
pode conseguir chegar a tempo se eu não tomar cuidado. Preciso terminar isso
logo.

Quando Mio disse isso... ela ergueu sua mão no ar, como se estivesse
acenando para <Ain Soph Aur>.

◇◇◇◇

— Por favor... anda...

Enquanto manipulava o vento ao redor de seu corpo, Shidou estava se


movendo a uma velocidade tremenda entre as montanhas de sucatas.

Bem acima dele, a <Ratatoskr> ainda estava lutando contra as naves da


DEM e suas Wizards. Mesmo que ele estivesse tentando suprimir sua própria
presença o máximo o possível; como ele ainda estava no chão, ocasionais bombas
que caiam no chão ainda explodiam no meio de seu caminho.

Como ele já tinha usado <Michael> para liberar a porta do abrigo, ele
poderia encurtar a distância mais rápido. De fato, antes de ser selada, Mukuro
usava os buracos abertos para se mover instantaneamente de um lugar para
outro.

Porém, havia um grande risco disso falhar. Foi somente recentemente que
Shidou selou o reiryoku de Mukuro. Ele nunca tinha experimentado uma viagem
de longa distância usando <Michael> antes, então ele não estava totalmente

83
seguro de que ele poderia determinar com precisão a localização correta da saída
dos buracos.

Se a saída levar a um local muito longe, ele estaria perdendo um tempo


precioso. Em uma corrida contra o relógio, esse poderia ser um erro fatal.

Portanto... em vez disso Shidou escolheu <Raphael>.

Mesmo que a distância entre o abrigo e o ponto onde estava fosse grande,
ainda assim era uma distância que poderia ser atravessada a pé.

O Anjo mais rápido capaz de manipular o vento, para Shidou que estava
correndo pelo chão usando seu poder, aquela não era uma distância tão grande.

— ...!?

Naquele momento.

Enquanto ele ia diretamente na direção de Tohka e as outras, Shidou


franziu o cenho com um sentimento desconfortável atacando seu corpo. Por um
momento, sua concentração vacilou e sua velocidade diminuiu.

— O que aconteceu... o que é isso...

Com tensão em seu rosto, Shidou colocou sua mão contra seu peito
enquanto ajustava sua respiração.

Não foi nem uma bala perdida que o atingiu, nem o estresse por usar um
anjo por muito tempo. De fato, não parecia haver irregularidades com seu corpo.

Mas algo definitivamente tinha acontecido. Sim, era como se o vento de


<Raphael> tivesse tremido por um momento.

— Kaguya... Yuzuru...?

Shidou sentiu sua garganta apertar com uma premonição sinistra. Shidou
prendeu sua respiração antes de mais uma vez chutar o chão para avançar.

Mas... naquele momento.

Como se estivesse tentando bloquear seu caminho, uma explosão veio se


desdobrando à sua frente.

— ...!?

Naquela hora, ele pensou que era mais uma bala perdida... mas não era
isso. Aquele foi um ataque planejado que mirava Shidou.

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Mais do que isso, Shidou pôde ver claramente. Pouco antes da explosão
ocorrer, havia vários pedaços de papel voando mais acima.

— ...<Nibelcol>...!

Shidou disse aquele nome enquanto assumia uma postura mais defensiva.

Então, dos vários pedaços de papel que flutuavam na fumaça residual,


várias garotas com a mesma aparência emergiram.

— Te encontrei, Itsuka Shidou.

— É verdade que você escolheu voltar aqui?

Apesar de estarem fazendo piadinhas, as <Nibelcol> estavam olhando


Shidou com intenção assassina.

Porém, isso era o esperado. Afinal, o número de <Nibelcol> foram bastante


reduzidos devido a tempestade de beijos de Shidou.

— Ku...

Shidou rangeu os dentes de irritação. Ele tinha que voltar onde Tohka e as
outras estavam o mais rápido o possível. Mas na pior hora possível, ele tinha
encontrado o oponente mais indesejado.

Porém, seria um movimento ruim deixar que o adversário reconhecesse


isso. Shidou relaxou sua expressão enquanto sorria para as <Nibelcol>.

— Você queria tanto assim me ver, Koneko-chan?

— Hiii...

Ao ouvir as palavras de Shidou, as <Nibelcol> soltaram um grito


assustado. Como esperado, as palavras chegaram até o lavo e fizeram com que
as <Nibelcol> reagissem como garotinhas encabuladas. Mas ver uma reação tão
forte assim de primeira mão surpreendeu até mesmo Shidou um pouco.

Embora seja de mau gosto dominar seu oponente através das palavras, era
melhor para ele que as <Nibelcol> fugissem de medo naquele momento.

— Acalmem-se <Nibelcol>.

Porém, naquela hora.

Uma voz foi ouvida, interrompendo os pensamentos de Shidou.

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— O q...

A única coisa que Shidou conseguiu fazer foi franzir as sobrancelhas.


Aquela voz era familiar.

Ele a ouviu uma vez em setembro, no escritório da filial japonesa da DEM.

Ele a ouviu mais uma vez em janeiro, dentro da base secreta da


<Ratatoskr>.

Como se estivesse confirmando sua premonição, um homem surgiu das


sombras de um escombro.

Cabelos cinza escuro e olhos de cor ferrugem metálica, havia uma estranha
atmosfera aterrorizante vinda dele que era diferente de confrontar um Espírito
ou Wizards.

Sim, ele era o diretor executivo das indústrias DEM e o ponto inicial
daquela batalha.

O homem que deu início ao conflito com os Espíritos.

— Então agora, Itsuka Shidou, vamos decidir tudo aqui. Vamos decidir
quem é o mais qualificado para ter os poderes dos Espíritos.

Isaac Westcott gentilmente abriu seus braços enquanto dizia isso.

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Capítulo Fragmentário /3: Escola
— Hah.

Durante a manhã, dentro da sala de aula.

Takamiya Shinji soltou um par de suspiros enquanto ele enterrava seu


rosto na mesa.

O misterioso desastre que tinha escavado todo o espaço... cerca de duas


semanas tinha se passado desde que o spacequake tinha atingido a cidade. Como
o colégio onde Shinji e os demais, conseguiu miraculosamente evitar os danos, as
aulas tinham voltado alguns dias atrás.

Em um caso de um desastre de larga escala, as escolas normalmente se


tornavam locais para as vítimas se refugiarem. Porém, os atingidos pelo desastre
anterior tinham desaparecido junto com a cidade. Como resultado, havia um
número surpreendentemente baixo de pessoas evacuadas se comparado com as
magnitudes do desastre.

Todavia, o cenário da sala de aula não era o mesmo desde que o desastre
tinha ocorrido. Haviam uma ou duas mesas decoradas com flores oferecidas que
não tinham efeito nenhum. Mesmo que eles tenham se livrado do desastre,
alguns alunos ainda estavam de cama devido ao choque mental. De fato, alguns
estudantes tinham se mudado para outras prefeituras devido ao medo da
recorrência de spacequakes daquele lugar.

O suspiro de Shinji não tinha nenhuma relação com isso.

Ele sentia um pouco de tristeza ao se lembrar das conversas normais dos


alunos que tinham sumido de repente. E é claro, se preocupava com o que
poderia acontecer ao seu redor no futuro.

Porém, o poder de adaptação do ser humano ainda era incomparável.


Shinji e seus colegas de classe que sobraram pouco a pouco estavam se
acostumando com as novas circunstâncias.

No começo, muitos choraram pelas mortes de seus amigos, a repetição de


cada dia da vida escolar fez com que seus sorrisos aos poucos retornassem.

Os inexplicáveis, indefiníveis, e incertos sentimentos daqueles que foram


deixados para trás. Em todo caso, para seguir em frente nessas condições, os

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jovens garotos e garotas tinham que continuar a recolher os estilhaços todos os
dias.

— ...Hah.

Porém, nesse ambiente, mesmo que suspirar possa parecer imprudente,


havia um outro motivo para o lamento de Shinji.

— É um número bem grande de suspiros, Takamiya-kun.

— ...Hmm?

Quando Shinji perdeu as contas de quantos suspiros ele já tinha soltado,


uma voz inesperada pôde ser ouvida.

Quando ele olhou para a fonte daquela voz, viu que era um jovem garoto
que usava óculos e tinha uma aparência gentil. Shinji brevemente soltou um "ah"
enquanto levantava a cabeça.

— Bom dia. Itsuka.

— Sim, bom dia.

O amigo de Shinji, Tatsuo Itsuka respondeu a ele com um sorriso enquanto


ele levantava a cabeça.

— Então, o que aconteceu? Está preocupado com alguma coisa?

— Uh... ah, bem, tipo isso.

Shinji deu um sorriso sem jeito enquanto falava com um tom vago.

— Hmm...

Então, depois de observar sua expressão por um momento, Tatsuo


murmurou para si mesmo.

— ....Será que é alguma garota que você gosta?

— ...Pfff.

Ao ouvir o que foi dito, Shinji começou a tossir involuntariamente. Como


reação, seus surpresos colegas de classe olharam com curiosidade para ele.

— V-Você... por que você disse algo tão estranho, tão de repente?

— Hã, então eu acertei? Parece que minha intuição está bem afiada.

— ...

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Deparado com a acusação de Tatsuo, o rosto de Shinji enrubesceu
enquanto ele desviava o olhar.

Vergonhosamente, esse era de fato o caso. O rosto de Mio cintilava em sua


mente a todo o momento desde que ele a convidou para um encontro no dia
anterior, fazendo com que todo o resto ficasse divagando em seus pensamentos
sem direção.

— Hihihi...

— Do que estão falando?

— Nós também queremos entrar na conversa!

Três de suas colegas de classe tinham ouvido a conversa com interesse e


se aproximaram. Elas eram três amigas próximas de Shinji: Ako, Mako e Miko.

— O-o que vocês... não é nada demais.

— Não diga isso. Conta pra gente, nós vamos te ouvir, mestre~.

— Eu nunca pensei que a primavera ia chegar pro inofensivo Takamiya-


kun...

— Agora, que tipo de pessoa é essa garota? Vamos, conta.

— V-vocês...

Naquele momento.

— Shin.

Quando Shinji foi cercado pelas três, ele de repente ouviu uma voz
familiar vinda da entrada da sala de aula.

— Hã...?

Enquanto olhava para aquela direção, os olhos de Shinji olharam


fixamente.

Não, não somente Shinji. Todos os alunos olharam para aquela jovem
garota com olhares estupefatos.

Mas isso era o esperado. Afinal, uma linda garota estava ali.

— M-Mio...?

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Enquanto a expressão facial de Shinji se marcava com espanto, ele gritou
o nome da garota.

Então, Mio respondeu a ele com um sorriso. Ela ainda não percebeu ou
não se importava de ser o centro das atenções. Ela então andou audaciosamente
em direção a Shinji com passos vividos.

— P-Por que está aqui...?

— Aqui, você esqueceu.

Enquanto Shinji fazia essa pergunta com gotas de suor escorrendo por seu
pescoço, Mio pegou uma marmita de sua bolsa e a colocou em cima da mesa.

— Ah...

Olhando aquilo, ele procurou dentro de sua própria mochila. Quando ele
saiu naquela manhã, seus pensamentos já estavam tão focados em Mio que ele
distraidamente se esqueceu de colocar sua marmita na mochila.

— Obrigado... isso foi de grande ajuda.

— Hehe... fui útil ao Shin.

Mio soltou um risinho de alegria antes de acenar para ele.

— Então, estou voltando.

— A-ah.

Enquanto Shinji tinha dificuldades para dar uma resposta, Mio deu a ele
um leve aceno com a cabeça e começou a caminhar para ir embora.

Porém, naquela hora, como se tivesse se lembrado de algo, ela se virou


antes de perguntar.

— Eu estou ansiosa para nosso encontro. Shin, você também está ansioso?

Mio questionou ele com um sorriso amável no rosto.

— ...!

Por aquilo ter sido adorável demais, Shinji quase engasgou com sua
própria respiração.

— Ah, er... sim.

— Uhm, tchau, Shin.

90
Quando Shinji estava com dificuldades para encontrar uma palavra para
dizer, Mio acenou para ele mais uma vez antes de ir embora.

— ...

A sala de aula ficou em silêncio momentaneamente.

— ...Uh.

Como se estivesse antecipando a tempestade que estava para estourar em


poucos segundos, Shinji queria fugir antes que alguém pudesse falar.

Mas... era tarde demais. Quando ele estava no meio de sua fuga, alguém
de repente agarrou seu pescoço e o forçou a se sentar.

— Ei, quem era aquela linda garota agora a pouco, Takamiya-kun!?

— Talvez, seja a namorada que andam dizendo?

— Eu não ouvi nada disso!

— Ah, que lindo, Takamiya-kun.

E etc...

Até a aula começar, Shinji foi cercado por todos seus colegas de classe.

91
Capítulo 3: A Folha Caída de Yggdrasil
Quando ele passou a conhecer as pessoas, não levou muito tempo para
Isaac Westcott perceber que era diferente dos outros.

Westcott era um garoto brilhante. Se alguém o classificasse como uma


criança prodígio ou um gênio, então não haveria nenhuma objeção.

Na vila secreta que herdava o sangue dos Magos, suas habilidades e


excelência excediam seus contemporâneos... não, seu controle sobre a mana era
melhor até mesmo que dos adultos. Somente os anciãos, professores da vila e
Elliot, que se auto proclamava seu rival, podiam competir com ele.

Além do mais, não era somente isso. Linguística, aritmética, esportes...


Westcott tinha conseguido conquistas extraordinárias em todos os campos.

Porém, no final das contas, um grau desse nível só servia para agravar a
questão.

Para resumir, isso aumentava a questão sobre se era possível exceder as


essências primordiais de todas as coisas.

Até aquele momento, Westcott não se distinguia dos outros nesse ponto.

Não importa a posição, enquanto eles estivessem caminhando pelo


mesmo caminho, haveria um dia onde os outros o alcançariam e vice versa.

Mas Westcott também percebeu. O lugar onde ele estava era uma posição
contorcida que não se cruzava com a posição de mais ninguém.

Quando foi que ele percebeu pela primeira vez? Sim, foi quando o
cachorro que cresceu na casa de Westcott morreu.

O cachorro vivia em sua casa desde que Westcott nasceu e era um amigo
que esteve com ele desde então.

É claro, Westcott ficou triste. Mesmo sendo bem jovem, ele ainda assim já
era familiarizado com os conceitos de morte biológica.

Mas acima de tudo... no coração de Westcott, havia uma excitação


inexplicável que se comparava com a tristeza.

A expressão triste de seus pais, os rostos de empatia de seus amigos, os


restos do cachorro que tinha morrido... e seu sofrimento.

92
Olhando para essas coisas, qualquer um provavelmente criticaria esse
prazer que ele sentia como imoral ou inumano.

Aquilo era um temperamento inato ou era algo construído pelo ambiente


em que vivia? O motivo por trás daquilo não era claro. Mas ainda assim, aquilo
era algo muito diferente, um defeito biológico se preferir.

Não é preciso dizer que Westcott não permitiu que essa emoção
transparecesse. Ele já tinha inteligência o suficiente para saber que aquele era um
sentimento diferente do que todos sentiam, ele era prudente o suficiente para
entender as desvantagens de deixar que aquilo fosse descoberto.

Enquanto alguns poderiam ver essa sua diferença dos demais como algo
digno de elogio, o fundamento que permanecia era que aquilo era algo que devia
ser evitado.

Humanos tinham medo do que é diferente; o medo do desconhecido. O


medo gera loucura e loucura gera conflitos.

É por isso que os descendentes dos Magos viviam escondidos nas


montanhas, evitando os olhos e ouvidos dos outros.

Desde o começo de sua infância, Westcott tinha aprendido essa lição.


Assim como um Mago escolhia se esconder dos humanos, ele decidiu esconder
essa emoção em seu coração.

Apesar de não saber se isso era algo bom ou ruim, Westcott tinha muita
habilidade em esconder suas emoções quando criança.

Então, quando Westcott contou aos seus pais que ele queria adotar um
novo cachorro depois da morte de seu antigo bicho de estimação, seus pais logo
concordaram com ele.

Os pais de Westcott nem sonhavam que o objetivo de seu filho não era
enterrar a tristeza de perder seu antigo bicho de estimação nem uma tentativa de
encontrar um novo amigo... mas sim a ideia de que cuidar de outro cachorro o
permitiria ver sua morte mais uma vez.

E assim, Westcott passou os dias sem levantar suspeitas.

Ele tinha pais rigorosos porém gentis, respeitáveis professores e colegas


aprendizes que compartilhavam com ele seu entusiasmo. Sob todas essas
circunstâncias, ele cresceu.

93
Mas quando ele tinha dez anos de idade, outro evento infeliz ocorreu.

Sua mãe, que sempre teve um corpo fraco, sofreu uma doença de pulmão
e morreu.

Embora eles vivessem em uma vila onde a magia superava as expectativas


humanas, era impossível reviver os mortos. Os aldeões lamentaram sua morte e
ofereceram suas condolências.

Eles tiveram compaixão com o pai de Westcott, que tinha perdido sua
companheira em uma idade jovem.

E quando viam que ele estava ao lado de seu pai, que tentava conter suas
lágrimas, eles assumiram que Westcott sentia um golpe similar em seu coração.

De fato, suas suposições não estavam erradas.

A morte da mãe que lhe deu a luz e cuidou dele fazia com que Westcott
sentisse um incomparável sentimento de perda.

Porém.

Ao mesmo tempo, o que Westcott mais se lembrava é que foi a primeira


vez que ele vivenciou um sentimento extremo de êxtase pela perda de uma vida
humana.

Tristeza, uma tristeza incomparável. Se ele não tomasse cuidado, lágrimas


poderiam escorrer de seus olhos. Certamente seu pai e os outros aldeões achavam
que ele estava cheio de tristeza e desespero.

Ahh... que prazeroso aquilo era.

Enquanto Westcott via sua mãe ser enterrada, ele sentiu uma sensação de
supremo prazer pela primeira vez em sua vida.

Então, outro ano se passou.

Mesmo enquanto ele estava naquela colina, vendo sua vila sendo
consumida pelo fogo, o sentimento dentro do coração de Westcott era diferente
dos outros três que estavam com ele.

Fúria, Tristeza, Desespero. Entre todas essas emoções negativas que se


misturavam umas com as outras, havia uma única pessoa naquele local que
estava sentindo felicidade.

94
Não... era um tipo diferente de felicidade, diferente do que ele já tinha
vivido antes.

E o motivo era que ele tinha chegado a uma compreensão.

Ah, já entendi. Pode ser feito dessa forma também.

Westcott entendeu que ele era diferente dos outros. Ele sabia que seu senso
de si mesmo era anormal.

Era por causa disso que Westcott escondia seus impulsos, deste modo
protegendo a si mesmo de ser isolado do resto da comunidade. Embora ele
tivesse o temperamento de sentir felicidade com o desespero, ele não buscava
ativamente por isso. Apesar de cuidar de um cachorro esperando por sua morte,
ele não sentia vontade de matá-lo com suas próprias mãos.

Mas naquele momento, a visão de mundo de Westcott mudou.

Humanos tinham mostrado suas presas para os Magos. O motivo era


simplesmente o medo que tinham de um poder desconhecido.

Dessa forma, não havia mais nada que impedisse Westcott e os outros.

Elliot estava tremendo de raiva.

Ellen estava com o rosto coberto de lágrimas.

Karen estava segurando sua voz.

Apesar da reação de cada um ser diferente, todos eles mostravam um


desejo de vingança contra a humanidade.

Uma mudança de paradigma fundamental tinha ocorrido.

Um sentimento incomum de um homem anormal com um desejo comum


de se vingar contra um mundo perturbado.

Como as coisas ocorreram daquela forma, eles não tinham escolha. Agora,
Elliot e os outros seriam forçados a cooperar com ele.

Na raiva e no desespero, Westcott recordou uma alegria secreta.

Imperdoável. Absolutamente imperdoável.

Muito obrigado por me darem a oportunidade de retalhar.

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Por destruírem nossa vila, matarem nossos amigos tão cruelmente.

Muito obrigado por me darem um motivo para aniquilar vocês.

Eu quero me vingar.

Muito obrigado por me darem um motivo para me vingar.

Eu irei mudar esse mundo.

Muito obrigado por fazerem de mim uma vítima

◇◇◇◇

O suor que estava escorrendo em seu rosto chegou aos seus lábios, fazendo
com que um gosto salgado se espalhasse em sua boca.

Shidou não ousava abaixar sua guarda enquanto seus globos oculares
estavam orbitando para investigar seus arredores.

Havia inúmeros papéis das <Nibelcol> espalhados pelo local.

E, ao fundo, um homem que era a personificação da escuridão estava


silenciosamente parado ali.

Sir Isaac Ray Pelham Westcott.

O líder das indústrias DEM e o inimigo da <Ratatoskr>. E também... o


homem que trouxe um Espírito a esse mundo 30 anos atrás junto com Elliot e
Ellen, providenciando assim o impulso que gerou a batalha atual.

Não... não somente isso.

Shidou olhou para Westcott com um olhar irradiando animosidade.

Para Shidou, que tinha recobrado as memórias de "Shin", aquele homem


era o alvo de seu puro ódio por tê-lo matado e sequestrado Mana.

— Oh?

Olhando para aquele olhar, Westcott ergueu a sobrancelha.

96
— Parece que a atmosfera ao seu redor está um pouco diferente da de
antes. A hostilidade afiada que habita seus olhos. Um par de olhos com o desejo
de fazer picadinho de alguém. Será que... você se lembrou que foi morto por
mim?

— Seu desgraçado...

— Bem, eu especulei isso por causa da aparição repentina de <Deus>, mas


parece que acertei em cheio.

Ao mesmo tempo que Westcott sorria enquanto falava, as <Nibelcol>


adjacentes gritaram "como esperado do otou-sama" em uníssono.

— ...

A aparência de Westcott, sua voz e seus gestos causavam uma irritação


ardente nos nervos de Shidou.

Porém, Shidou só rangeu os dentes e tolerou.

Era absolutamente impossível perdoar Westcott. Porém, a vida de Shidou


não pertencia só a ele mesmo. Os Espíritos e membros da <Ratatoskr> tinham
arriscado suas vidas para protegê-lo. Portanto, Shidou não podia cometer o erro
de se entregar à fúria e partir para cima de Westcott imprudentemente.

Depois de respirar profundamente para acalmar sua mente, ele visualizou


seu arredor panorâmicamente.

Pensando dessa forma, aquele dilema era algo incomum de se contemplar.

Antes da batalha começar, Kotori tinha dito que essa batalha seria
determinada por quem matasse seu alvo primeiro: Westcott pela <Ratatoskr> ou
Shidou pela DEM.

Com as duas peças chave estando no centro do campo de batalha naquele


momento, era difícil não ficar surpreso.

— ...Fu.

Então, como se estivesse adivinhando os pensamentos de Shidou,


Westcott lentamente abriu a boca.

— Por causa do Anjo da <Deus>, mesmo a nave líder foi destruída. Não,
não, pensando melhor, aquele realmente é... um poder maravilhoso.

97
Westcott continuou a falar enquanto exageradamente abria os braços de
maneira brincalhona.

— Mas isso é um pouco complicado. Apesar da aparição de <Deus> ser


encorajadora, é impossível para mim capturar seus poderes nesse momento.
Sendo assim, Itsuka Shidou, por esse motivo eu decidi tirar seu reiryoku
primeiro.

— O que você disse...?

Quando Shidou franziu as sobrancelhas, o sorriso de Westcott ficou ainda


mais obscuro enquanto o homem esticava seu braço para frente.

No momento seguinte, o espaço em frente dele foi distorcido e um enorme


livro se manifestou ali.

Com uma capa negra remanescente do vácuo obscuro, um sentimento de


intimidação transbordava dele, fazendo Shidou sentir seu coração sendo
apertado.

— ...<Beelzebub>...!

A expressão facial de Shidou se obscureceu enquanto ele pronunciava


aquele nome.

Sim, o Rei Demônio <Beelzebub>. A forma inversa do Anjo <Rasiel> que


Westcott tinha roubado de Nia.

Shidou sentiu uma sensação pungente em sua pele enquanto tentava


erguer seus joelhos.

Ele tinha que voltar para Tohka e as outras o mais rápido o possível. Essa
ideia permanecia inalterada em sua mente mesmo depois de se deparar com
Westcott, o líder da força inimiga.

De fato, derrotar Westcott significaria uma vitória para a <Ratatoskr>.


Porém, a situação tinha mudado completamente desde que a batalha começou.

Mio. O Espírito da Origem. A aparição de uma terceira força tinha levado


o campo de batalha ao caos.

— ...tch.

Shidou deixou sair um som de estalo com sua língua baixo o suficiente
para o inimigo não ter ouvido.

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Correr usando <Raphael>?

Não, não haviam <Nibelcol> somente ali, se o seu caminho fosse


bloqueado, ele ficaria cercado.

Parar as ações do oponente usando <Gabriel>?

Não, seria impossível controlar inimigos com tamanha quantidade de


reiryoku.

Fugir usando <Michael> para cruzar o espaço?

Não, a estabilidade ainda era incerta, e o oponente não permitiria que que
ele fugisse livremente por um buraco aberto no espaço.

Várias contramedidas que surgiam em sua mente eram negadas.

Então, depois de alguns segundos, ele tinha chegado ao limite dessa


reflexão.

— ...

Enquanto estava com a respiração estreita, Shidou afiou seu olhar


enquanto olhava para Westcott.

Então, ele gritou.

O nome de um Anjo.

— <Sandalphon>.

Em um instante, uma enorme espada que emitia uma luz cintilante


apareceu em frente a Shidou.

Sandalphon. A espada que podia cortar qualquer coisa. É desnecessário


dizer que era o Anjo de Tohka.

Não... não somente ele.

<Zadkiel>, <Raphael>, <Metatron>.

Um a um, ele chamou o nome de cada Anjo.

Ao mesmo tempo, um muro de gelo cercou Shidou e várias "penas" de luz


apareceram dançando pelo vento.

Isso mesmo, essa foi a conclusão que ele tomou após considerar várias
estratégias.

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Aquele era o método mais fácil e menos engenhoso, porém era o mais
prático.

— Venha, vamos começar, Mago.

Shidou juntou poder em sua voz através de <Gabriel> para diminuir a


tensão em seu corpo por manifestar diversos Anjos.

— Irei terminar isso em um único golpe rápido. Você nem terá a chance
de aceitar o seu destino.

◇◇◇◇

A vasta cor azul do céu.

Essa foi a primeira coisa que Ellen viu depois de abrir os olhos.

As nuvens polvilhavam esparsamente no céu transparente de inverno


criando uma cena harmoniosa. Bem, como não haviam mais Wizards ou naves
espaciais no céu, isso era o esperado.

— Ah...

Com uma resposta tardia, uma dor a esmagava por todo o corpo.
Enquanto tentava emitir instruções ao Dispositivo de Manifestação Realizer em
seu cérebro, ela tentou erguer sua cabeça sentindo uma dor aguda nela.

Olhando para seu próprio corpo... A CR-Unit platinada <Pendragon> que


cobria seu corpo estava destruída, expondo sua pele em algumas partes.

Finalmente, a mente confusa de Ellen começou a acelerar.

Reconhecendo as circunstâncias, investigando suas memórias, sua vaga


consciência finalmente se recordou.

Isso mesmo. Ellen tinha disparado um ataque de tudo ou nada contra


Woodman... e perdeu.

— Ku...

Com frustração marcando seu rosto, Ellen raivosamente apertou seu


punho.

100
Não havia nenhum problema com o funcionamento da CR-Unit de Ellen.
A unidade foi lançada como o pretendido e o território voluntário foi executado
como Ellen desejou. Mesmo se Woodman desaparecesse de sua linha de visão,
ele ainda estaria dentro da área sob controle de Ellen.

Ela não caiu num truque da parte inimiga, nem seu equipamento falhou.
Ela tinha simplesmente lançado seu golpe mais forte... e perdeu. Não haviam
desculpas para sua grande derrota.

Lamento, ela lamentava tanto que dava vontade de chorar. De fato,


lágrimas em forma de gotas estavam escorrendo dos olhos de Ellen. Incapaz de
perdoar Woodman. E, acima de tudo, incapaz de perdoar a si mesma por cair
diante dele.

"Mas, ah, mas por quê?"

Nas profundezas da mente de Ellen, parecia haver uma parte dela que já
tinha imaginado essa situação.

Enquanto ela se auto proclamava a Wizard mais forte, enquanto ela


apontava sua espada para Woodman, em algum lugar de seu coração havia um
sentimento de que ela não era páreo para ele.

Se havia uma diferença entre os dois, ela estaria ai.

Um Wizard é uma pessoa que controla o Território Voluntário ao


manipular o Dispositivo de manifestação Realizer. Sob a circunstância onde ele é
controlado pela força de vontade do usuário, um sentimento subconsciente de
inferioridade era algo fatal.

— ...yo.

Naquela hora.

Enquanto os olhos de Ellen estavam molhados de vexação, uma voz veio


de sua frente... através da fumaça espessa, Woodman emergiu.

A CR-Unit dourada estava parcialmente destruída e a arma em sua mão


estava completamente distorcida de seu formato original. Seu trançado cabelo
loiro estava coberto de sangue e pó enquanto esvoaçava com o vento. Apesar de
vencer Ellen, suas condições atuais não estavam melhores que as dela.

Porém, apesar de ter danos similares, Ellen estava caída no chão enquanto
Woodman ainda estava em pé. Esse fato mostrava o resultado da batalha.

101
— Minha vitória... não está nada certo com ela.

— ...

Quando Woodman disse isso com um sorriso alegre no rosto, Ellen olhou
para cima enquanto encravava profundas rugas entre suas sobrancelhas...
eventualmente, ela disse suspirando.

— Me mate.

— ...hã?

Enquanto Ellen murmurava inexpressivamente, Woodman ergueu sua


sobrancelha.

Olhando para essa resposta, Ellen continuou.

— E é isso. Você venceu Elliot. Não me deixe viver com essa humilhação.
Rápido, me mate.

— ...

Ao ouvir o que Ellen tinha dito, Woodman soltou um longo suspiro. Então
ele sacou uma pequena espada laser de sua cintura e lentamente andou para o
lado de Ellen.

Então, ele apontou a espada diretamente para baixo...

Apunhalando Ellen no peito.

— ...Gu...

Assim que o maryoku se consolidou, a lâmina cortou o território


voluntário e um som mecânico foi ouvido.

No momento seguinte, o Território voluntário que envolvia Ellen se


dissipou enquanto ela começou a sentir uma sensação de dor.

Ah, então isso é a morte. Que simples. Ellen fechou seus olhos enquanto
contemplava essa estranha sensação.

— ...?

Porém, não importa quanto tempo tenha levado para essa dor se espalhar
por seu corpo, sua consciência permanecia ininterrupta.

102
Com suspeita, Ellen abriu um pouco seus olhos para olhar para seu peito
onde a faca a tinha apunhalado.

Logo depois...

— O quê...!?

Vendo a situação à sua frente, Ellen instintivamente ergueu sua voz.

Mas isso era o esperado. Afinal, a espada laser de Woodman não tinha
perfurado o peito de Ellen.

Isso mesmo. A leve lâmina imbuída em magia tinha mudado sua trajetória
e passou de raspão pela parte de trás do corpo de Ellen.

Provavelmente... tenha sido para destruir o Dispositivo de Manifestação


Realizer montado nas costas da CR-Unit.

— ...! O que está fazendo, Elliot...?!

Ellen abriu os olhos e ergueu sua voz para criticar Woodman. Apesar da
dor vinda de suas costelas quebradas terem aumentado seu grito, ela continuou
a olhar Woodman.

Então, Woodman puxou a espada laser e soltou um suspiro enquanto ele


a guardava de volta em sua cintura.

— O que está dizendo? É normal deixar o inimigo desarmado. É muito


perigoso deixá-la com esse dispositivo. Mesmo com seus machucados e com seu
equipamento danificado, você ainda deve conseguir lutar em igualdade com uma
Wizard comum.

— Eu não perguntei esse tipo de coisa! Por que não me matou?!

Quando Ellen lamentou com um grande grito, Woodman soltou um som


de "Ah?" exasperado enquanto dava de ombros.

— O perdedor não tem o direito de dar ordens ao vencedor, idiota.

— ...!

Ao ouvir essas palavras, o rosto inteiro de Ellen se aqueceu.

— I...Idiota, o que quer dizer com idiota, seu idiota. Tem um limite para
quanto você pode tirar sarro de mim.

103
— Isso não foi uma piada. O perdedor tem que ouvir o vencedor.
Naturalmente, matar ou não matar é uma escolha minha.

— Para de zoar! Tá me fazendo de palhaça!?

— Isso. Por isso eu disse aquilo, idiota.

— Esse não é o caso...!

Ellen gritou enquanto batia seu punho no chão.

Essa humilhação era diferente do sentimento de derrota que pairava no


coração de Ellen.

Esse homem, Woodman, apesar de ter acabado de ter uma luta mortal com
ela, ainda assim a tratava como uma criança.

Sim, assim como em décadas atrás, quando a terra-natal de Ellen ainda


existia.

Ellen sentiu as lágrimas que ela tentou conter em seus olhos gradualmente
saírem.

— Por que... por que está fazendo isso, Elliot? Me tratando como uma tola.
Assim como quando éramos crianças! Já não dá mais para voltar para aquela
época! Há um limite para grosserias! Por que não me trata como uma inimiga?!
Por quê?!

— Ah... que barulhenta. Fique quieta um pouco.

Woodman agiu obstinadamente como se seus ouvidos estivessem


entupidos.

No momento seguinte, seguindo o desaparecimento da dor em seu corpo...


uma tremenda sonolência atingiu o corpo de Ellen.

Provavelmente Woodman tenha usado seu Território Voluntário para


cortar a consciência de Ellen. Ellen, que tinha perdido seu Dispositivo de
Manifestação Realizer, não tinha como resistir.

— Por que?! Por que...

Das duas pálpebras que tinham chegado ao seu limite, uma única lágrima
caiu.

— Por que não me levou com você, Elliot...

104
Enquanto proferia essas últimas palavras, a consciência de Ellen
desapareceu na escuridão.

— ...

Assim que as pálpebras de Ellen se fecharam, ela parou de fazer qualquer


som a não ser os de um sono tranquilo.

Enquanto a observava, Woodman deixou cair o rifle semi destruído


<Gungnir> enquanto soltava um pesado suspiro.

Como um protótipo da artilharia principal da <Fraxinus>, aquilo não tinha


sido originalmente desenvolvido para ser usado individualmente por uma
pessoa Até mesmo Woodman, que tinha recobrado as forças de quando estava
em seu auge, estava preparado para sofrer danos massivos em seu corpo por ter
usado aquilo.

— ...Bem, parece que meus ossos estão quebrados.

Ele disse, enquanto sentava ao lado da sonolenta Ellen.

A dor em seu corpo estava a um ponto onde sem o suporte do Território


Voluntário, ele não conseguiria sequer ficar em pé.

Embora ele tenha deixado Ellen admitir sua derrota, se considerarmos os


danos causados por sobrecarregar <Gungnir>, os danos sofridos por ele não eram
muito diferentes dos de Ellen.

— Você realmente se tornou a mais forte, Ellen.

Enquanto acariciava a cabeça de Ellen, ele disse isso com profundo vigor
e um pouco de culpa em sua voz.

Da tola número um da vila, Ellen, que antes sequer conseguia controlar


muito bem a mana, tinha incomensuravelmente se tornado muito forte.

— A mais forte...

A palavra que Ellen sempre repetia se desenrolou pela língua de


Woodman.

Como alguém que sempre foi paranoico sobre ser o mais forte, Woodman
sabia que usar essas palavras iria incitar as emoções dela.

Mas pensando agora nisso em retrospectiva, deve ter sido por causa da
existência de Woodman que Ellen tinha se auto proclamado a mais forte.

105
Ele era um companheiro que tinha polido e melhorado suas habilidades
ao mesmo tempo que ela, um rival distante e inalcançável.

Mas ao mesmo tempo, um inimigo odiado que tinha a traído enquanto


tinha aquele poder.

Ela provavelmente tinha persuadido a si mesma a se autoproclamar a mais


forte para não perder para ele.

Ou talvez... era um apelo contínuo a Woodman para provar quem era o


mais forte.

Mas se essa ideia estiver certa... seria muito engraçado. Porque...

— ...Se realmente houvesse um mais forte da humanidade, esse título já


pertenceria a você há muito tempo.

Essa batalha não era nada mais do que uma pessoa que estavelmente
podia exercer 100% de seu poder sendo derrotada por alguém que podia
despreocupadamente exercer 101% de seu poder em um instante. Se alguém
fosse perguntar a Woodman quem era o Wizard mais forte da humanidade, ele
definitivamente diria o nome Ellen Mathers. Bem, se essa pessoa perguntasse a
Ellen, uma resposta diferente poderia ser dada.

—Hmm...

Enquanto ele acariciava a cabeça de Ellen com sua mão, Woodman sentiu
uma estranha sensação de desobediência.

Não, não somente suas mãos. Seus pés, peito, cabeça... todas as partes de
seu corpo sentiam nada mais do que dor e fadiga.

Esse sentimento era a sensação de cair depois de exceder seus limites.


Enquanto seu corpo gradualmente perdia todo seu poder, ele parou sua queda
enquanto se apoiava em Ellen.

— ...Foi mais rápido do que eu esperava, parece que foi um acerto fazer
Ellen dormir primeiro.

Porém, Woodman não entrou em pânico. Essa situação já era prevista.

Além de Woodman, não havia uma pessoa que pudesse parar Ellen. Esse
foi seu último recurso de contramedida.

Isso mesmo; Tudo pelo bem de proteger os Espíritos.

106
Para proteger garotas iguais a aquela garota.

Woodman já tinha cumprido seu objetivo com sucesso. A mais forte


lâmina capaz de alcançar os espíritos tinha sido quebrada por ele.

Com esse sendo o caso, apesar de seu rosto permanecer alegre mesmo
sabendo que a morte estava caindo sobre ele, ele ainda tinha alguns
arrependimentos.

Talvez seja o sentimento teimoso de ter que deixar para trás coisas a se
fazer...

— ...me desculpem, Karen... e Ellen.

Enquanto sussurrava palavras que ninguém podia ouvir, Woodman olhou


para o céu com a vista turvada.

— Ah... me desculpe garoto, parece que tive que parar por aqui. O resto...
eu deixo com você.

No céu, uma grande flor esférica estava florescendo.

De sua aparência majestosa, foi liberado o poder que uma vez Woodman
ansiava, o poder do Espírito da Origem.

— Ah... que lindo.

Com um sorriso gentil, Woodman silenciosamente fechou os olhos.

◇◇◇◇

— <Samsara do Paraíso (Ain Soph)>.

Mio ergueu sua mão enquanto chamava esse nome.

Como se estivesse sendo picada por mil agulhas, Tohka sentiu um calafrio
terrível em sua espinha.

A sensação era similar à quando Mio tinha invocado pela primeira vez seu
Anjo <Ain Soph Aur>. Era um instinto de sobrevivência que gritava para
permanecer vivo.

107
Naquele momento, a terra tremeu enquanto uma enorme esfera emergia
de trás de Mio.

Com uma superfície inorgânica que se parecia com vidro, os ramos e


agrupamentos de folhas se espalharam pelo céu aberto. De uma abertura vertical
no tronco, uma aparição que se parecia com uma garota podia ser vista.

Isso mesmo; sua aparência... se parecia com uma enorme árvore que
perfurava os céus.

Além do mais, isso não era tudo.

— O que...!?

Tohka afiou seu olhar enquanto sentia um aperto em sua garganta seca.

Não somente Tohka, Mana e os outros Espíritos que estavam diante de


Mio estavam todos com igual choque.

Mas era impossível elas não ficarem surpresas. Afinal, uma árvore enorme
tinha aparecido de repente atrás de Mio. No centro, as raízes da árvore
começaram a se esticar, mudando o cenário dos arredores no processo.

A paisagem da cidade destruída pela fervorosa batalha, a fumaça que


subia das ruínas das <Bandersnatch> e dos destroços das naves que estavam
caídas no chão.

— ...!? Isso é...

Confrontada por esse fenômeno desconhecido, Tohka olhou ao seu redor


com máxima vigilância.

Um mundo monocromático preto e branco, o chão estava ordenadamente


dividido em blocos como se fosse papel quadriculado; até mesmo o céu negro
sobre aquele chão era uma visão sinistra.

A quantidade de detalhes do mundo foi reduzida ao mínimo, era uma


cena realmente minimalista.

Uma tremenda sensação de incongruência podia ser sentida, como se as


outras camadas do mundo tivessem sido arrancadas.

— ...

Tohka injetou toda sua força restante para erguer a empunhadura de


<Sandalphon>.

108
Suor de alta viscosidade cobria seu rosto. Sua garganta seca estava
dolorida. A intensa palpitação vinda de seu coração não era um produto do
tremor que se espalhava por todo seu corpo.

Apesar dos outros Espíritos tentarem olhar para aquilo com uma
expressão destemida, eles não conseguiam esconder completamente seu pânico.
Por trás das outras, Tohka ergueu sua voz.

— Mun... o que diabos é essa coisa?

— Ilusão...que...não é.

— ...Um Território Voluntário? Mas nessa escala...

Quando Origami levantou essa questão, Mio respondeu prontamente a


sua pergunta.

— ...Essa sensação não é um engano. A DEM tentou usar "isso" como um


modelo para criar o espaço dentro do Território Voluntário.

Enquanto dizia isso, Mio lentamente abaixou sua mão que estava erguida
para o céu.

— Meu Território Voluntário está constantemente se desenvolvendo nesse


mundo, somente sendo separado por uma fina película. E agora que eu invoquei
seu núcleo <Ain Soph> nesse lugar, a área ao redor desse centro se tornou... o
"Mundo Vizinho".

— Mundo vizinho...

Ao ouvir as palavras de Mio, Tohka franziu as sobrancelhas.

Aquele nome parecia ser familiar a ela. O mundo adjacente a esse mundo.
O mundo onde os Espíritos viviam. Mesmo que não haja nenhuma memória
relevante, pode se dizer que Tohka veio a esse mundo daquele lugar.

Apesar de não saber completamente o que aquilo significava, havia uma


coisa que era certa. Aquela não era uma experiência agradável para Tohka.

— Mun.

Ao ter provavelmente pensado a mesma coisa que Tohka, Mukuro voltou


a ponta de seu cajado para Mio.

— Eu não sei qual tipo de poder esse <Ain Soph> possui. Mas
indiferentemente... isso de nada importa se for parado...!

109
Ao mesmo tempo que Mukuro ergueu sua voz, um "buraco" no espaço se
abriu em frente a ela, engolindo a ponta do seu cajado.

— <Michael> - <Segva>!

Mukuro gritou enquanto girava seu cajado.

O Anjo da chave <Michael> era extremamente poderoso. Seja tangível ou


intangível, qualquer coisa podia ser selada. Mesmo se o objeto fosse o Anjo do
Espírito da Origem <Ain Soph>.

Essa certamente parecia ser uma primeira resposta impecável a um


inimigo desconhecido. Porém...

— ...! Não faça isso, Mukuro!

Tohka se viu inconscientemente gritando.

Mesmo sem saber por qual motivo. Mesmo sem ter nenhuma base para
isso.

Porém, os instintos de Tohka e sua intuição soaram como um agudo


alarme.

Naquele momento...

— Ah... ha...?

Os olhos de Mukuro se arregalaram de espanto enquanto uma voz


angustiada saía de seus lábios.

— Mukuro...!?

Olhando para Mukuro, Tohka logo descobriu o motivo.

Ela tinha atingido a parte de trás de seu pescoço com a ponta de <Michael>
que saia de um buraco que se abriu no espaço.

— O quê...?

— ...Isso é inútil.

Enquanto Tohka prendia sua respiração, Mio sussurrou suavemente.

— ...Eu já não disse? Aqui, o mundo vizinho já reescreveu esse mundo.


Esse é o meu mundo, toda lógica, todas as leis da natureza, tudo é diferente do
mundo que vocês conhecem. Em meu mundo, atacar <Ain Soph> é impossível.

110
Assim como pessoas não podem viver debaixo da água ou maçãs que caem de
árvores não desaparecem no meio do ar.

Ao mesmo tempo que Mio estava falando, Mukuro, que tinha acabado de
receber um golpe fatal de seu próprio Anjo, caiu no chão preto e branco. O Astral
Dress limitado que cobria seu corpo desapareceu em partículas de luz. De suas
costas, um Cristal Sephira emitindo um brilho laranja apareceu.

— Ku...!

Tohka saltou do chão para tentar agarrar o Cristal Sephira.

Porém... foi tarde demais. Assim que Tohka estava prestes a encostar seus
dedos nele, o Cristal Sephira de Mukuro se moveu no ar e foi pego por uma mão
invisível antes de ser sugado pelo peito de Mio.

Uma das estrelas atrás de Mio se acendeu, emitindo um brilho dourado.

— Agora são três. Quem é a próxima?

Enquanto falava com leveza, os olhos de Mio se impeliam pelas pessoas


ali presentes.

— ...

Primeiro Kurumi, depois Kaguya e Yuzuru e agora até mesmo Mukuro


tinha sido morta. A realidade cruel fez com que ficasse difícil para o coração de
Tohka não ser sobrecarregado por suas emoções.

Porém,

— Recuar!

Naquele momento, ouvir a voz alta de Mana reverberar permitiu que


Tohka continuasse com sua racionalidade intacta.

— Mana...

Os olhos de Tohka se moveram levemente na direção daquela voz... Mana.

Sua expressão facial estava marcada pela vigilância; não havia um traço
sequer de medo.

— ...Un...!

Tohka, que tinha instantaneamente descobertos as intenções de Mana,


saltou do chão enquanto tristemente deixava o corpo de Mukuro para trás.

111
Origami e Yoshino, que tinham aparentemente feito o mesmo julgamento,
também recuaram assim como Tohka.

O Anjo <Ain Soph> e o mundo vizinho que o cercava.

Aquele lugar era o mundo da Mio. Enquanto estiverem naquele espaço,


nenhuma quantia de coragem era alta o suficiente para se opor a Mio. Qualquer
ação seria nada mais do que cometer suicídio. Era inútil discutir sobre o que
deveria ser feito na próxima vez se elas não conseguissem fugir dali.

Mio lentamente ergueu seu rosto enquanto olhava para as ações de Tohka
e as outras.

— ...Un, como esperado da Mana. Essa foi uma boa decisão.

Enquanto dizia isso, Mio lentamente ergueu sua mão.

— ...Então, a ordem será que qualquer coisa dentro desse mundo não pode
sair dele.

Com esse comando, <Ain Soph> deu um brilho borrado.

— Ei...!?

No momento seguinte, Mana, que estava tentando evacuar desse mundo


a uma tremenda velocidade, foi atingida pelo ar como se tivesse batido em um
muro invisível.

— Leis adicionais!? Tch... é irritante como você consegue tudo o que quer.

— Ah, isso mesmo. Esse mundo vai fazer tudo o que eu imaginar.

Quando Mana soltou estas palavras de irritação, Mio gentilmente


balançou sua mão como se estivesse acenando para ela.

Então, assim como um ímã, o corpo de Mana foi puxado para o lado de
Mio.

— O quê...!?

Deparada com essa situação repentina, Mana soltou um grito de susto.

Um território deveria estar envolvendo o corpo de Mana. Porém, isso não


ofereceu nenhuma resistência e Mio conseguiu abraçar Mana como excessiva
naturalidade.

— ... Mana. As coisas devem ter sido difíceis para você.

112
— Ei, me solta...

Mana balançou seu corpo para fugir dos braços de Mio. Porém, nessa hora,
Mio afagou sua cabeça como se ela fosse uma criança, os olhos de Mana se
apertaram como se ela tivesse se lembrado de algo.

— ...!? Mi...o-san?

Enquanto Mana lançava um olhar espantado, uma dor de cabeça


repentina surgiu.

— ..Ah, espere só mais um pouquinho. Shin com certeza irá precisar de


você.

— Espera...

Mana mal conseguiu fazer sua voz sair de sua garganta.

Porém, antes de conseguir terminar de falar, Mana desapareceu sem


deixar rastros, assim como aconteceu com Shidou antes.

— Mana!

— Mana-san...!

Tohka e Yoshino gritaram em uníssono.

No momento seguinte, o corpo de Mio foi envolvido por uma luz


deslumbrante.

— ...!?

Por um segundo, Tohka pensou que Mio tinha lançado outro ataque...
porém esse sentimento era diferente.

Diante da circunferência de Mio, penas de <Metatron> a cercaram com


raios brilhantes de luz.

Enquanto Mio estava reescrevendo as leis do mundo e abraçando Mana,


Origami parece ter antecipado esse desenvolvimento e liberou seu Anjo.

— Fu...!

Acompanhando a voz de Origami, uma torrente de reiryoku aumentou


seu ímpeto enquanto raios fragmentados de luz atacavam de todas as direções.
O chão daquele mundo transformado foi varrido e uma grande cratera foi
formada.

113
— Origami, não abaixe sua guarda...!

Apesar do grande poder de fogo de <Metatron>, Tohka ainda assim não


estava relaxada.

Mio foi atingida pelo <El Kanaph> das irmãs Yamai e pelo <Halvanhelev>
ao mesmo tempo e saiu intacta. Era algo garantido, mesmo que alguém a pegasse
de guarda baixa...

— ...!

Naquele momento...

As sobrancelhas de Origami tremeram enquanto seu ataque à Mio parava.

— Origami?

— Fiquem alertas. Eu não pedi para o Anjo cessar seu ataque.

— O quê...?

Assim que Tohka franziu as sobrancelhas, a poeira subsequente se


dispersou e permitiu que a figura de Mio fosse vista.

Mio pressionou sua mão em <Metatron> como se fosse domá-lo.

— Como você...

— ...<Metatron>.

Mio levemente chamou por aquele nome enquanto erguia sua mão.

Seguindo essa ordem, <Metatron> mudou a direção de suas pontas e


atirou vários raios de luz em Tohka e as outras.

— Ku...!

— <Zadkiel>!

Quando os raios de luz estavam prestes a explodir em Tohka, a voz de


Yoshino ecoou e uma parede de gelo se ergueu a sua frente.

Enquanto a parede de gelo era destruída, camadas adicionais de gelo eram


criadas a uma velocidade mais rápida do que os poderes monstruosos de
<Metatron> eram disparados.

Porém,

— ...Hmm. Então vamos proibir isso também.

114
— Hã...?

No momento em que Mio disse isso, a parede de gelo criada por <Zadkiel>
ruiu e um raio de luz de <Metatron> perfurou o peito de Yoshino.

— Yoshino!

— Toh...ka...san...

— Ah... ha... então isso... é ser... derrotada...

Quando o corpo pequeno de Yoshino recuou para trás por causa do golpe
fatal, tanto <Zadkiel> quanto seu Astral Dress limitado sumiram.

Enquanto Yoshino estava caída no chão, um Cristal Sephira azul emergiu


de seu peito. Assim como aconteceu com Mukuro, ele foi sugado pelo peito de
Mio.

◇◇◇◇

— C-capitã! Isso é completamente irracional...!

— Que barulhenta, para de choramingar. É claro que isso é difícil. De


qualquer forma, nós só precisamos chegar ao território voluntário daquela nave...

A voz de Ryouko estava sendo abafada pelos sons de explosões e gritos


de suas colegas de equipe. Com um olhar descontente, Ryouko emitiu uma
instrução ao seu cérebro para aumentar as forças defensivas do Território
voluntário.

Os ex-membros da AST incluindo Ryouko estavam agora indo em direção


a nave principal da <Ratatoskr>, <Fraxinus>, depois de receberem essa solicitação
de Origami.

Para simplificar, era meramente uma missão de transporte para a


<Fraxinus>. Porém, a <Fraxinus> estava naquele momento em um conflito com
as naves das Indústrias DEM. Para complicar as coisas, Ryouko tinha que
compactar seu esquadrão usando o Território Voluntário para escoltar tanto
aquelas que estavam vivas quanto as que morreram. Sendo assim, elas não
estavam voando descuidadamente em direção a <Fraxinus>.

115
Enquanto corriam pelos céus, elas desesperadamente tentavam se
esquivar das inúmeras munições e raios de luz. Embora a capitã Ryouko
precisasse inspirar suas tropas; honestamente, ela mal conseguia entender o
atual estado mental que fazia as outras gritarem de frustração.

Porém, elas não podiam retornar agora. Por aquelas que tinham sido
atacadas pelo anjo enquanto protegiam Ryouko e as outras, se houver alguma
possibilidade de revivê-las, elas teriam que tentar.

— Capitã!

— ...!

No momento seguinte, as vozes de seu esquadrão ecoaram enquanto um


tremendo choque atingiu seu corpo inteiro. Gritos saíram de suas companheiras
de equipe.

Parece que elas tinham sido atingidas por uma bala perdida... bem, se é
que uma grande artilharia mágica emitida por um Dispositivo de Manifestação
Realizer pudesse ser chamada de "bala".

Embora seus corpos tivessem sido protegidos pelo Território Voluntário,


o ataque que voou em direção a elas também estava sendo alimentado por
maryoku. Sendo atingidas diretamente, seria impossível não tomar a quantidade
correspondentemente apropriada de dano. Com a <Fraxinus> a sua frente, a
altitude delas estava gradualmente diminuindo.

— Ku...! Só pode ser brincadeira, sermos derrubadas em um lugar desses...

Ryouko mostrou uma expressão séria enquanto tentava emitir comandos


para o Território Voluntário para manter a altitude. Porém... isso não foi o
suficiente. Ryouko caiu na parte de baixo da <Fraxinus>.

Mas, no momento seguinte.

— Hã...?

Uma estranha sensação envolveu seu corpo quanto o cenário que Ryouko
estava vendo mudou em um instante.

Do campo de batalha onde as balas estavam voando por todo lado, elas
foram levadas para um espaço parecido com uma ponte de comando cercada por
máquinas.

— Hein...? Hã...?

116
— Aqui é...

— Hã? Quando foi que o céu ficou tão moderno?

Quando Ryouko e suas colegas de equipe olhavam aos arredores, uma


mulher vestida com um uniforme militar castanho veio cumprimentá-las.

— Meu nome é Kusakabe. A Tobiichi-san pediu para virmos aqui.

— V-Você é...

— Da tripulação da <Fraxinus>, Shiizaki Hinako. Eu movi vocês aqui para


dentro através do dispositivo de transferência. Bem, por favor entreguem a
Artemisia e todas que estão machucadas.

Depois disso, ela ergueu sua mão e várias pessoas que pareciam ser da
equipe médica apareceram com algumas macas já em mãos.

Ao ouvir suas palavras, todas elas entenderam. Elas tinham chegado à


nave principal da <Ratatoskr>, <Fraxinus>.

— Ei, ei, essas são as minhas importantes companheiras. Por favor, cuidem
bem delas.

— Eu não posso garantir nada, mas iremos dar nosso melhor.

A equipe médica saiu da ponte de comando enquanto carregava as macas


onde Artemisa, que tinha perdido a consciência, e Mikie e companhia, que
tinham falecido de parada cardiopulmonar, estavam.

Enquanto Ryouko e as outras viam a equipe médica saindo, uma voz de


garota ressoou de cima.

— Bem-vindas a <Fraxinus>, eu sou a comandante daqui, Itsuka Kotori.

— ...! Prazer em conhecê-la. Eu sou a ex-capitã da JSDF 1 , Kusakabe


Ryouko...

Enquanto ela dava uma resposta polida àquela voz, Ryouko de repente
arregalou os olhos de surpresa.

Mas não é surpresa ela ter tido esse tipo de reação. Afinal, sentada no
assento de comandante estava uma garota ginasial com os cabelos penteados em
rabos de cavalos duplos.

1
Japan Self-Defense Force: Forças de Autodefesa do Japão

117
— V-Você é a... comandante?

Enquanto Ryouko estava em estado de confusão, as vozes da tripulação


na parte de baixo da ponte de comando estouraram em murmúrios.

— Ahh... que reação nostálgica.

— Bem, nós já nos acostumamos com isso, mas se você pensar nisso
normalmente, geralmente seria impossível não ter essa reação na primeira vez.

Quando Kotori clareou sua garganta, a tripulação cessou a conversa


apressadamente em pânico.

— ....!

Ryouko levantou sua cabeça enquanto corrigia sua postura.

— Isso foi rude da minha parte. Embora tenha sido breve, por favor me
desculpe pela estupidez de julgar as habilidades de uma pessoa por sua idade ou
aparência.

— Não, eu que agradeço por sua flexibilidade. Porém, embora você tenha
passado por apuros para chegar aqui, nós não podemos recebê-las da forma
apropriada agora.

— Por favor, não ligue para isso, eu entendo a situação atual.

Ao ouvir as palavras de Ryouko, Kotori deu um aceno gentil com a cabeça


antes de instruir o homem posicionado adjacentemente a ela.

— A tarefa de coletar Artemisia foi concluída. Quando estiver pronto


Kannazuki, iremos avançar.

— Sim, por favor deixe isso comigo, comandante.

O homem que usava um headset respondeu a ela.

Ele estava vestindo um uniforme militar branco com membros e cabelos


compridos. Seu rosto, enquanto não se parecia com um japonês, se aprecia mais
com um estrangeiro.

— ...Voooooooooooooocêêêêêêêêêêêêêêê!?

No momento em que reconheceu o rosto daquele homem, uma voz alta


pôde ser ouvida vinda de Ryouko, a mesma pessoa que tinha acabado de

118
reconhecer uma ginasial como comandante daquela nave. Por trás, a tripulação
da <Fraxinus> cochichava com olhares surpresos.

Porém, Ryouko não deu a mínima para a reação deles. Ela ergueu sua voz
mais uma vez enquanto apontava para o homem.

— Capi... Capitão Kannazuki! O que está fazendo aqui?

— Ah, Kusakabe-kun, há quanto tempo.

Com um grau extremo de calma, aquele homem, Kannazuki, respondeu


ao grito de Ryouko.

Ao ouvir essas palavras, as colegas de equipe da Ryouko e a tripulação


inclinaram suas cabeças em questionamento.

— Kannazuki...

— Capitã?

— Sim, quando eu fui atribuída pela primeira vez para a AST, ele era o
capitão. Era inegável que ele costumava ser o trunfo da força tarefa.

Quando Ryouko disse isso, todos não se contiveram e disseram com


surpresa em sua voz.

— Ei, essa pessoa...

— Isso não é um pouco surpreendente?

— Kannazuki-san, eu nunca pensei que você tinha feito esse tipo de coisa
no passado...

— Eu pensei que ele devia ter sido achado jogado no canto da rua quando
foi acolhido pela comandante.

Todos estavam falando essas coisas em voz baixa.

Porém, Ryouko ignorou todos esses comentários enquanto voltava seus


olhos para Kotori.

— Comandante Itsuka, por favor fique longe desse homem! Esse homem
é perigoso! Ele é um pervertido que sonha em ser chutado por ginasiais! Durante
o tempo em que estivemos trabalhando juntos, a "associação de proteção a
ginasiais" foi estabelecida por ele próprio! Quando ele foi à escola local, ele foi

119
denunciado como uma pessoa suspeita! Comandante, você está na idade perfeita
para ser alvo dele!

— Ei, isso foi rude. Recentemente, eu também passei a gostar de ser


chutado nos calcanhares. Embora seja algo simples, não é muito fácil
experimentar esse tipo de prazer.

— Olha!

Com o criminoso tendo confessado seu crime, Ryouko gritou enquanto


tentava fazer Kotori reconhecer sua natureza.

Porém, Kotori suspirou profundamente enquanto se levantava do assento


de comandante.

— Eu já disse que não temos tempo. Não me faça dizer de novo... não
temos tempo para suas loucuras!

Kotori lançou um esplêndido chute circular na bunda de Kannazuki.

— Mi~yafun!?

— !?

Com um grito estranho, Kannazuki saiu voando e caiu no chão. Vendo


essa cena se desenrolar, Ryouko sentiu um tremor tomar seus ombros.

— Maria. Prepare-se para passar pelas naves da DEM o mais rápido o


possível. Nós vamos lançar um ataque direto na... Mio. Prepare a artilharia
principal.

— Entendido. Aprovação para ativar o canhão de reiryoku dos Espíritos


<Gungnir> autorizada.

A voz de uma garota ecoou dos alto-falantes principais da ponte de


comando enquanto um ícone que indicava a operação de uma arma era mostrado
no monitor principal.

Enquanto monitorava a operação da nave, Kotori pisava nas costas de


Kannazuki enquanto o homem ainda se contorcia no chão.

— Kannazuki, por que está dormindo numa crise dessa? A <Ratatoskr>


não te paga para tirar uma soneca.

120
121
Talvez devido a cena irracional de uma pessoa chutar uma pessoa que já
estava caída, Ryouko sentia gotas de suor escorrerem para sua garganta.

— Muito obrigado!

Porém, Kannazuki respondeu animadamente com um olhar de pureza


enquanto ele se levantava como se fosse um boneco de corda. Bem, talvez seja
por ter caído de rosto ou por sua extrema excitação, mas seu nariz estava
sangrando, o que arruinava sua expressão séria.

— Bem, vamos lá Maria! Pelos Espíritos! E mais do que tudo, por um


elogio da comandante!

— ...

De forma alguma, ela esperava que alguém fosse capaz de domar


Kannazuki Kyohei, o homem que era conhecido como "criador de acidentes
ambulante" e "O ativo mais valioso conhecido da degeneração".

Olhando para a comandante Itsuka Kotori, que tinha somente metade de


sua idade, Ryouko não podia fazer nada além de sentir um grau de respeito em
relação a ela.

— Injetem os <Yggdrafolium> números 1 a 5. Eles irão servir como nossas


armadilhas para repelir as naves inimigas. Uma vez que tenhamos passado por
eles, preparem o canhão principal para ajudar os Espíritos, certo Maria?

— Não há problemas se nós eliminarmos o desconforto que é ter essa


operação liderada pelo Kannazuki.

— Ótimo. Você está ficando melhor em motivar o operador, Maria.

Depois de ouvir os insultos fracamente velados de Maria, Kannazuki


acenou com a cabeça animadamente.

Bem, embora Maria não estivesse tentando inspirar Kannazuki, suas


palavras ainda assim mexeram profundamente com seu coração... mas até
mesmo agora ainda é desnecessário dizer que algo fútil para diminuir o clima de
tensão.

Da sombra da <Fraxinus> mostrada no monitor principal, várias unidades


se voltaram para as naves inimigas que bloqueavam a sua frente. Em conjunto
com isso, o escopo do território voluntário se expandiu para envolver o casco.

122
Como ele eventualmente diminuiu, o aumento em sua força foi inversamente
proporcional a seu encolhimento.

Apesar das poderosas naves da DEM, com a recentemente reconstruída


<Fraxinus Ex> e usando seu poder para forçadamente enfileiras as naves
inimigas, não seria difícil pavimentar seu caminho para a frente.

É claro, essa estratégia só poderia se comprovar sendo a melhor se as naves


da DEM fossem completamente imobilizadas. Se eles somente se focassem em
quebrar a formação inimiga, isso poderia deixar seus flancos desguarnecidos
para um contra-ataque.

Mas para Kotori, mesmo considerando esses riscos, eles tinham que
chegar até os Espíritos o mais rápido o possível.

A esfera misteriosa que tinha de repente aparecido.

E a grande árvore que chegava até o céu, formando um espaço diferente


ao seu redor.

Isso provavelmente era o Anjo de Reine... Mio se manifestando.

Depois que foram presos em um espaço diferente, a linha de comunicação


com os Espíritos tinha sido cortada. Apesar de não saber o que estava
acontecendo ali dentro, sem dúvidas eles estavam sofrendo uma crise sem
precedentes.

— Uwaaah.

Então, enquanto Kotori considerava essas questões, uma garota sentada


em uma das cadeiras da tripulação soltou sua voz.

Com os óculos e os cabelos curtos sendo suas principais características, ela


era o Espírito Nia.

Como a maior parte de seu Cristal Sephira tinha sido roubado por
Westcott, ela tinha poucas habilidades de combate sobrando. Porém, como ela
tinha pedido para ser útil a todos ali, ela agora estava sentada na ponte de
comando como uma estagiária.

Apesar de não saber se não saber se era algo bom ou ruim, o equipamento
que ela tinha estudado mais intensivamente era o que pertencia a Reine. Como
Reine agora não estava mais ali, ela tinha assumido o papel de analista, mesmo
sendo imatura nessa função.

123
— O que foi Nia?

— Não importa o que tenha acontecido, aquele anjo... como? Era como se
ele já tivesse um nível elevado e estivesse ficando ainda mais apelão.

Nia franziu as sobrancelhas enquanto continuava a olhar o monitor.

— O objeto parecido com uma flor esférica no céu. Tanto seres-vivos


quanto objetos, tudo que tocar as luzes que ele libera morrem ou quebram na
hora sem exceção. Levar dano... não, esse não é o caso... como posso dizer? A
vida, ou a vida útil é capturada por aquela coisa, será que tem algum limite ou
duração? Algo que reduz qualquer coisa a nada em um piscar de olhos... em
resumo, é a luz da morte absoluta? Eu certamente teria problemas de colocar algo
assim em um mangá. Como é que se derrota isso?

— O que você disse...?

— Outro ponto... toda aquela área agora parece pertencer a um mundo


totalmente diferente. Como os valores numéricos são absurdos, o significado por
trás disso é desconhecido. Se pudermos chegar mais perto até um ponto em que
ele se torne visível, talvez consigamos saber mais sobre ela...

— ...

Ao ouvir o que Nia tinha dito, Kotori engoliu em seco.

Então, como se estivesse querendo confirmar as intenções de Kotori, a voz


de Maria ressoou do alto-falante.

— Kotori, nós passaremos pela linha inimiga em breve. Eu sugiro que


antes disso, todos que estiverem inconscientes ou que não consigam batalhar
sejam transferidos para a <Ulmus>.

— Maria...

— É claro, eu não planejo ser derrotada. Isso é só por segurança. A bordo


da <Ulmus> está Karen Mathers, então a análise das ondas cerebrais da Artemisia
pode ser continuada lá sem complicações.

— ...

Depois de ficar um tempo pensando, Kotori relaxou os lábios enquanto


ouvia o que Maria tinha dito.

— Desculpa, Maria. Eu já estava prestes a sugerir isso a você.

124
— Não, é natural que uma IA tenha uma velocidade de processamento
mais rápida que a de um ser humano.

Quando Maria respondeu isso a ela de uma forma jocosa, foi difícil dizer
se aquilo tinha sido falado realmente por uma IA ou por um ser humano.

Então, Kotori soltou um pequeno suspiro enquanto se virava para os ex-


membros da AST que estavam atrás dela.

— Capitã Kusakabe, é como você ouviu. Eu sinto muito por ter que
empurrar isso para você, mas você pode escoltar a divisão que será evacuada?

— Isso é...

Ryouko contraiu as sobrancelhas de surpresa por um momento, antes de


responder a ela com uma saudação formal.

— Não, eu entendo. Deixe comigo.

A vendo assim, Kotori piscou um pouco com a resposta imediata.

— Capitã-san, você é uma pessoa maravilhosa. Eu definitivamente


gostaria de tê-la como minha subordinada.

— Obrigada, mas nós somos um pouco caras.

— Ah, que pena.

Enquanto Kotori sorria, Ryouko devolveu a mesma expressão depois de


mostrar um olhar aliviado.

— Maria, mostre a rota até o destino nos scanners de retina delas.

— Entendido.

Quando Maria terminou, os ex-membros da AST mostraram olhares de


surpresa. Isso certamente aconteceria, já que o desenho da nave estava agora
sendo mostrado em seu campo de visão.

— Então, boa sorte para vocês.

— Hmm.

Depois de uma troca de apresentações, os ex-membros da AST deixaram


a ponte de comando. Depois de vê-los sair, Kotori voltou sua atenção para a
tripulação.

125
— Bem, me desculpem pessoal. Eu estou pedindo para me acompanharem
para o inferno. Se quiserem fugir, andem logo e sigam elas agora mesmo.

Depois que Kotori terminou de falar, a tripulação, assim como Nia,


ficaram com olhares surpresos por um momento antes de mostrarem sorrisos
destemidos.

— Do que está falando comandante?

— Sim, é muito perigoso deixar tudo somente para a comandante e o


subcomandante fazerem sozinhos, mesmo com a Maria aqui.

— Entendido.

Discussões vividas começaram a sair das bocas de todos.

— Pessoal...

Kotori coçou sua cabeça enquanto fazia uma expressão astuta, mas soltou
um suspiro depois de ver que os membros de sua tripulação estavam com mãos
tremendo e com suor escorrendo de suas testas.

— Eu sabia. Vamos começar, eu amo vocês, pessoal.

— Sim!

Quando todos os membros da tripulação responderam em uníssono,


repentinamente o casco tremeu violentamente.

— Eu já forcei nossa passagem pelo território voluntário do inimigo.


Kotori, prepare o canhão principal.

Quando a voz de Maria ecoou pelos alto-falantes, uma porção da ponte de


comando começou a se deformar.

A sala do núcleo que abrigava o Canhão de Reiryoku dos Espíritos


<Gungnir>. Kotori acenou com a cabeça e pisou na plataforma. Então, ela fechou
os olhos enquanto começou a se concentrar.

Ela se imaginou tirando um calor de dentro das profundezas de seu


coração e o transportando para todo seu corpo.

Em questão de segundos, seu corpo estava vestido com um Astral Dress


Limitado imbuído de chamas e ela segurava um Anjo em forma de um machado
de combate gigante.

126
Kotori transformou o Anjo <Camael> em um canhão enorme antes de
conectá-lo na unidade disposta a sua frente.

Então, naquele momento, uma voz gritou da ponte de comando.

— ...! Nós temos o visual do interior daquele espaço! No centro está Rei...
não Takamiya Mio. Tohka-chan e Tobiichi-san estão confrontando ela!

— ...! Tem mais alguém com elas?

Quando Kotori perguntou, a tripulação ficou em silêncio por um momento


antes de continuar.

— Nos arredores... Yoshino-chan, Kaguya-chan, Yuzuru-chan e Mukuro-


chan estão caídas! Ku... S-seus sinais vitais... desapareceram...!

— ...

Ao ouvir o relatório da tripulação, Kotori ficou sem ar e em choque.

Ela sabia que todos estavam em perigo, mas não podia imaginar um
relatório desses.

Porém, ao ouvir isso, era impossível não sentir seu coração sendo
apertado.

— Canhão de Reiryoku dos Espíritos <Gungnir>. Estamos prontos para


disparar. O alvo, o Espirito no centro do espaço diferente. Takamiya Mio. Você
consegue fazer isso, Kotori?

Maria disse em um tom quieto, porém pesado.

Maria também entendia. A inerente contradição nas ações que eles


estavam empreendendo.

A <Ratatoskr> era uma organização dedicada a proteger os Espíritos. Por


ser uma, Mio não era exceção. Pelo contrário, se pensarmos os motivos que
levaram Elliot Woodman a criar a <Ratatoskr>, não seria errado dizer que ele a
criou para salvar ela. Seria impossível apontar uma arma para ela.

Porém, naquele momento, ela tinha colocado suas presas impiedosamente


nos outros Espíritos, os amigos preciosos de Kotori. Tal comportamento era
intolerável.

— ...Reine...

127
Kotori sussurrou aquele nome suavemente em um tom de voz que
ninguém poderia ouvir. Ela então mordeu seus lábios enquanto levantava a
cabeça.

— É claro, Maria. Vamos colocar todas nossas forças nisso.

— Tudo bem.

Maria respondeu brevemente.

Kotori liberou seu reiryoku enquanto o alvo era mostrado na tela.

◇◇◇◇

Oh, o que há de errado com vocês duas?

Mio suavemente sussurrou enquanto voltava seus olhos para Tohka e


Origami.

— ...

— ...

Tohka e Origami permaneceram em silêncio, mantendo suas expressões


vigilantes enquanto olhavam para Mio.

A situação delas tinha chegado a um estado crítico.

Acima delas estava o Anjo da morte <Ain Soph Aur>, capaz de matar
qualquer coisa.

Na frente delas estava o Anjo das leis <Ain Soph>, capaz de distorcer a
realidade por um mero capricho de Mio.

Ela era indiscutivelmente o Espírito da Origem que possuía a lança e os


escudos mais fortes. Apesar de Tohka conceituar várias estratégias em sua mente,
em nenhum momento ela conseguia imaginar sua espada alcançando o peito de
Mio.

Provavelmente, Origami estava pensando a mesma coisa. Não... como


Origami era melhor que Tohka em conceituar esse tipo de coisa; talvez ela
estivesse se deparando com uma situação ainda mais desesperadora.

128
— Fu...

Olhando para as duas, Mio tocou seu queixo com sua mão.

— Se vocês duas não vão atacar, eu acho que eu terei que fazer isso então.

Depois de terminar de dizer isso, Mio ergueu sua mão. Tohka e Origami
estavam encharcadas de suor enquanto tremiam de tensão.

Mas... no momento seguinte.

— ...!

De um brilho no céu, uma linha de luz desceu direto na direção de Mio.

Era como se fosse uma estrela cadente.

Porém, esse golpe continha o poder da destruição.

Sim, era definitivamente <Gungnir>, a principal artilharia da nave


principal da <Ratatoskr>, <Fraxinus>.

Amplificado e liberado pelo poder de um Espirito, ele carregava um poder


incomparável como se fosse o trovão de um deus. A arma mais forte da
<Fraxinus>. Parece que Kotori tinha passado pela linha de naves inimigas para
ajudar Tohka e as outras.

— ...

Uma tremenda torrente de energia engoliu Mio em um instante. Aquilo


arrasou a terra e ondas de choque começaram a se espalhar saindo do epicentro.
Não seria exagero dizer que se parecia com a vontade dos céus que aniquilaria
qualquer inimigo que estivesse no chão.

— ...Origami!

— Eu sei.

Porém, nessa tempestade de luz, Tohka e Origami alinharam seus olhos


uma com a outra.

Depois de mutualmente entenderem as intenções uma da outra, elas


saltaram do chão simultaneamente.

O poder de <Gungnir> era imenso. Mesmo que não fosse o suficiente para
derrotar Mio, ele providenciou uma oportunidade única.

129
— <Sandalphon>!

No momento em que Tohka gritou esse nome, um trono dourado apareceu


do chão. Depois de Tohka chutar o chão, ele se transformou em uma forma
aerodinâmica.

— <Einheijar>.

Enquanto estava em cima de <Sandalphon>, Origami focou suas forças em


uma unidade do tipo lança que estava em suas mãos.

<Einheijar>. A lança que guardava as almas dos valentes tinha a função de


convergir todo o maryoku e reiryoku.

E agora, naquele lugar onde vários Espíritos tinham morrido, havia o


rescaldo do canhão principal da <Fraxinus> e o grande reiryoku dispersado pela
própria Mio.

— Ohhhhhhhhhhhhh!

Enquanto rugia alto, Tohka atirou o trono deformado com uma velocidade
violenta.

Acima do trono, Origami estava segurando a lança com todo o reiryoku a


volta convergido em um único ponto.

Para colocar isso de outra forma, era como se fosse um estilingue


superpoderoso.

Um único golpe contendo tudo aquilo agora estava sendo direcionado a


Mio.

Mesmo assim.

— Ah...

Pequena.

Uma pequena voz que mal podia ser ouvida saiu dos lábios de Origami.

— ...!? O-Origami?

Quando a luz da explosão começou a se dissipar, Tohka finalmente


percebeu.

Em vez de Origami estar segurando <Einheijar>, a lança de luz estava nas


mãos de Mio e perfurava Origami em vez dela.

130
— Hmmm, eu pensei que se vocês quisessem me derrotar, vocês usariam
isso. Então, eu decidi imitar vocês.

Quando Mio terminou de falar, a lança de luz que perfurava Origami


desapareceu. Tendo perdido seu suporte, o corpo de Origami oscilou
violentamente antes de perder as forças e cair no chão. Então, um Cristal Sephira
branco emergiu de seu peito e foi absorvido pelo peito de Mio.

Isso mesmo. Mio tinha antecipado o ataque surpresa delas e reorganizou


o reiryoku para convergir em volta de si mesma e bloquear o ataque de Origami.

— ...

Desespero preencheu seu coração.

Todos os métodos que elas puderam pensar foram tentados.

O único resultado foi o inferno se espalhar diante de seus olhos.

— Ku...

Porém, Tohka não podia se render. Enquanto rangia os dentes, ela se


preparava para investir em direção a Mio.

Porém, no momento seguinte.

Um sibilo.

O som de uma pequena faixa de luz que saia do chão foi em direção a
Tohka e perfurou seu peito.

— Ku, ha...!?

Aquele gemido que saiu inconscientemente da garganta de Tohka. Toda


sua força tinha deixado sua mão e <Sandalphon> caiu no chão.

Miraculosamente, não havia dor. Havia somente uma violenta sonolência


que a deixava incapaz de permanecer de pé.

Seus joelhos dobraram enquanto ela caia no chão. Tohka tentou morder
sua própria língua para permanecer acordada, mas pareceu ter pouco efeito.

Em sua visão embaçada, Tohka viu os destroços da <Fraxinus> caírem ao


entrarem em contato com um grão de luz de <Ain Soph Aur>.

131
◇◇◇◇

— Ah... gu...

Com uma tremenda dor e uma sensação ardente, Kotori finalmente


acordou.

Parece que ela perdeu a consciência por alguns instantes.

Depois de levar alguns segundos para se lembrar do que aconteceu, Kotori


olhou ao redor para verificar a situação.

O chão estava cheio de destroços. Era difícil imaginar que aquilo seria
fruto do fim da valente campeã dos ares <Fraxinus>.

A condição atual de Kotori era quase igualmente terrível. Ela tinha


machucados de tamanhos variados e inúmeras marcas de sangue. Seu abdômen
e pés pareciam ter perdido suas funções depois de entrarem em contato com a
luz emitida pelo Anjo. Porém, devido a presença de <Camael> dentro dela, seu
corpo inteiro estava tentando se ressuscitar enquanto se envolvia em chamas. Era
como se ela fosse uma bruxa sendo queimada na fogueira.

Porém, Kotori não gritou ou deixou cair uma única lágrima.

— O que...?

Um Espírito vestindo um magnífico Astral Dress... Mio estava em pé no


solo despreocupadamente.

Não, não era somente isso. O corpo de Nia estava caído aos seus pés. Em
suas mãos, havia um brilho fraco de um pequeno fragmento de Cristal Sephira
que ela provavelmente tinha tomado de Nia.

Embora Nia tenha tido quase todo seu poder tomado por Westcott, havia
uma pequena quantidade de reiryoku em seu corpo. Provavelmente, Mio tinha
vindo coletá-lo.

Não é necessário dizer que... havia outro Cristal Sephira ali também.

Naquela hora, Mio notou Kotori em seu campo de visão.

Kotori soltou uma voz rouca quando olhou para ela.

— Olá, Reine. Não, prefere que te chame de Mio agora?

132
— Eu não me importo com qual use.

Ao ouvir Kotori tentar gracejar casualmente logo em seguida, Mio olhou


para ela com os olhos espremidos.

Ao ver essa reação, Kotori queria rir de si mesma em autodepreciação.

— Será que eu suporto ver uma coisa dessas? Desculpa. É que alguém em
algum lugar foi machucado por mim.

Quando Kotori disse isso, ela suspirou.

— ...

Mio só se manteve em silêncio, olhando para Kotori.

— ...Reine.

Uma dor atingia todo seu corpo. As chamas abrasadoras faziam parecer
que todos os seus nervos estavam sob ataque. Enquanto aguentava isso, Kotori
continuou a falar.

— Tudo... foi uma mentira? Mesmo quando você me salvou. Ou quando


você continuava me ajudando. E, é claro, quando se tornou minha amiga. Tudo
isso foi uma farsa?

Mio olhou para Kotori por um momento antes de responder.

— ...Não, não foi falso. Minhas palavras, meus sentimentos, não foram
uma mentira. Eu ainda estimo os Espíritos... mesmo agora, ainda te vejo como
minha melhor amiga.

Porém, Mio continuou.

— ...Se for para ter o Shin de volta, eu sacrificaria até mesmo uma amiga
próxima. E isso é tudo.

Quando Mio terminou de falar, Kotori sentiu uma dor aguda em seu peito.

— ...

Uma faixa de luz se estendeu do chão monocromático, perfurando o peito


de Kotori. Enquanto reconhecia esse fato, Kotori caia no chão.

Seu Astral Dress, seu fogo, até mesmo sua dor tinha desaparecido.

Porém, Kotori não estava com medo.

133
Em vez disso, seu coração foi dominado por um sentimento mais forte e
indescritível.

Isso mesmo. Por ser uma amiga que estava ao lado dela por anos, ela podia
entender.

Reine não estava mentindo.

Ela realmente amava os Espíritos enquanto fazia aquele trabalho


demoníaco.

Ela verdadeiramente considerava Kotori uma amiga próxima.

Ah, que coisa... distorcida.

— ...Não seja boba. O que é isso...

Enquanto sua consciência desaparecia, Kotori deixou essas últimas


palavras cruéis para sua amiga.

134
Capítulo Fragmentário/ 4: Encontro
Domingo. O dia do encontro.

Takamiya Shinji estava esperando por Mio em frente à estação.

Como eles viviam na mesma casa, ele pensou que estaria tudo bem se eles
saíssem juntos, mas sua irmã mana disse: "Você é idiota, Nii-sama? Não, eu
cometi um erro. Nii-sama é um tolo. As garotas precisam de tempo para se
arrumarem. Você devia passar o tempo chegando lá primeiro". Então,
consequentemente, Shinji saiu de casa antes do esperado.

...

Quando ele olhou para o grande relógio na praça da estação, faltavam


somente mais cinco minutos para ele esperar.

Assim que ele percebeu isso, seu coração inquieto começou a pulsar
violentamente mais uma vez.

Mas é claro que isso era natural.

Afinal, Shinji estava prestes a experimentar o desafio do primeiro encontro


de sua vida.

Além disso... era o seu primeiro amor.

— E-Eu devo verificar se está tudo certo mais uma vez...

Quando Shinji disse isso, ele pegou o caderno e um mapa com calendário
em sua mochila. Apesar dele ter cuidadosamente memorizado todo o conteúdo
na noite passada, ele ainda assim os carregava em sua bolsa só por precaução.

Porém, ainda assim era coisa de mais para guardar de uma só vez. Ele se
questionava se em algumas décadas haveria um dispositivo compacto que
permitisse fazer isso tudo de uma vez. Seria legal se ele pudesse ouvir música e
tirar fotos ao mesmo tempo. Seria melhor ainda se as funções de um telefone
pudessem ser adicionadas também... apesar que um objeto desses dificilmente se
tornaria algo real.

— Shin!

Quando Shinji estava pensando nesses assuntos, ele ouviu a voz de Mio
vindo da sua frente.

135
Ao erguer sua cabeça, seu coração perdeu o passo quando ele viu sua
aparência adorável.

— ...

No momento seguinte, o tempo parou.

É claro, o tempo não parou de verdade. Porém, em frente aos olhos de


Shinji, o cenário ao redor parecia estar completamente estático.

Nesse mundo estático, Mio deu uma pequena corrida para o lado de Shinji.

Acompanhando esse movimento, o bordado branco de seu vestido e seu


cabelo bem penteado balançaram no ar.

Por um momento, Shinji perdeu a habilidade de falar.

Originalmente, Mio era uma linda garota que carregava a graça de uma
deusa. Porém, como ela normalmente usava roupas mais masculinas por imitar
as roupas de Mana, ver seu charme feminino naquele momento o deixou
particularmente em choque.

— ...Shin? Por que está com essa cara assustada?

— Ha...

— D-desculpa, eu estava com essa expressão?

— Un, parecia que você estava indo para a guerra.

Depois de ouvir as palavras preocupadas de Mio, Shinji só conseguiu


mostrar um sorriso desconcertado em seu rosto. Ele estava se questionando se
aquela expressão perigosa realmente tinha aparecido em seu rosto.

Todavia, tal expressão provavelmente não era um engano. Já que naquele


momento, o estado atual da mente de Shinji possuía muitas similaridades com o
de um recruta novo que está prestes a entrar em seu primeiro campo de batalha.

— Guerra (encontro)...? haha...

— Hm?

— N-Não é nada. Eu só estava um pouco espantado. É que... a Mio está t-


tão...

Shinji sentiu suas bochechas ficarem ardentemente vermelhas enquanto


ele desesperadamente lutava para proferir aquelas palavras.

136
— ...Linda.

Ao ouvir o que Shinji tinha dito, Mio congelou por um momento antes de
rir para ele com bochechas rosadas.

— Sério? Fufu. Estou feliz.

— ...

Esses gestos, expressões, vozes e falas, havia amor o suficiente para fazer
qualquer um querer abraçá-la subconscientemente.

Porém, fazer tal coisa logo depois deles se encontrarem seria muito
perverso. Como se estivesse tentando se conter, Shinji respirou profundamente.

— Então, Shin, onde vamos hoje?

— A-ah... tem uma coisa que quero mostrar para a Mio.

— O que quer mostrar?

Mio inclinou levemente sua cabeça confusa com as palavras de Shinji.

Mesmo que seu coração estivesse sendo perfurado por qualquer ação
realizada por Mio, Shinji ainda assim conseguiu de alguma forma expressar essa
afirmação em seu estado atordoado.

— Você só precisa esperar ansiosamente para saber. Venha, vamos indo.

— Un, tudo bem.

Então, quando Shinji se virou para apressadamente ir para a frente, Mio


se aproximou dele, ficando ao seu lado.

— ...!?

No momento seguinte, Shinji sentiu uma descarga elétrica atravessar todo


seu corpo.

O motivo era simples. Mio, que estava ao seu lado, estendeu seu braço
para pegar sua mão.

Além disso, aquilo não era um simples cumprimento, mas sim o que
chamam de "ficar de mãos dadas" com todos os cinco dedos entrelaçados.

— Mi...Mio-san..? Você fez algo...

137
Enquanto seu cérebro não conseguia processar tal tratamento, Shinji
acabou incluindo um estranho honorífico ao seu nome. Apesar dele não poder
confirmar por não ter um espelho, não era difícil imaginar que seu rosto estava
vermelho como um tomate.

Então, Mio ergueu sua sobrancelha como se estivesse curiosa sobre a


resposta de Shinji.

— Isso foi errado? Realmente a prática e a teoria são coisas diferentes.


Quando eu perguntei à Mana, ela disse para fazer algo assim.

— ...! Ah... não, eu não acho que foi errado. É só que...

Ao ouvir Mio divulgar sua história interna, Shinji a respondeu enquanto


arregalava os olhos.

Isso mesmo, pelos eventos daquela manhã, estava claro que Mana estava
ajudando no encontro de Mio e Shinji em vários aspectos. Era por causa dela que
ele conseguiu chegar a um ponto que não esperava. Ele pensou que deveria
expressar seus agradecimentos a ela quando voltasse para casa.

— É mesmo hehe, de verdade... isso é maravilhoso. Se eu estivesse errada,


eu teria que mudar de caminho.

— Hã?

— Como posso dizer? Esse ato foi bem...desejável. Esse de agora, ficar de
mãos dadas com o Shin, dá uma sensação de segurança. Mas somente meu
coração está instável. Será que é um tipo de elevação ligeira no meu... ânimo?
Parece que meu coração está batendo um pouco mais rápido. Deve ser porque o
Shin tem um poder milagroso.

— ...

Ao ver a expressão sincera e transparente de Mio, Shinji ficou ainda mais


quente a ponto de ficar um pouco tonto.

— Shin? O que foi? Você parece um pouco febril.

— N-não... não é nada...

Quando Shinji estava prestes a dar uma resposta evasiva... ele engoliu de
volta suas palavras antes de pronunciá-las.

138
Mio estava usando as palavras que acabou de aprender para tentar
expressar o que estava sentindo para Shinji. Em comparação, Shinji estava
tentando esconder seus pensamentos internos; essa era uma prática que até
mesmo ele achava desprezível.

Perceber isso fez o cérebro de Shinji ferver enquanto ele se virava para
encarar Mio.

— E-Eu... também sinto o mesmo. Andar de mãos dadas com você... faz
meu coração acelerar também. Só de sentir isso... faz eu me sentir abençoado por
nascer nesse mundo.

— Hehe, isso foi um pouco exagerado.

Mio disse enquanto ela puxava a mão de Shinji para frente.

— Bem, então, vamos começar. Nossa guerra (encontro).

— Hã?

Enquanto checava se os sussurros anteriores tinham sido ouvidos, Shinji


olhava com um momentâneo deslumbre antes de cair na gargalhada junto com
Mio. Então, os dois andaram lado a lado pela estação.

139
Capítulo 4: O primeiro e o último confronto.
— ...

Concentração afiada.

Shidou deu um suspiro apertado, mesmo o mais leve sinal de relaxamento


poderia fazer com que o reiryoku fluindo em seu corpo se explodisse além de
uma margem segura.

À sua frente estava o inimigo... Isaac Westcott.

E nos arredores, suas subordinadas, as <Nibelcol>.

Não faltavam inimigos... muito pelo contrário; essa era sem dúvidas uma
disposição ameaçadora.

Porém, não havia tempo para ociosidade ou frustração, já que os Espíritos


estavam à beira de uma crise. Assim que ele derrotar Westcott, ele terá que voltar
correndo para onde os Espíritos estavam o mais rápido o possível.

— ...Fu...

Esse foi o gatilho para Shidou começar essa batalha.

Saltando do chão com as pernas fortalecidas por <Gabriel>, ele montou o


vento criado por <Raphael> brandindo <Sandalphon> em sua mão.

Manifestação de diversos Anjos. Mesmo usar só um Anjo causa uma


angústia insuportável para o corpo humano. Usar vários ao mesmo tempo era
algo insano.

De fato, Shidou já estava colocando um fardo pesado em seu corpo antes


mesmo de ser atacado pelo inimigo.

Enquanto seus músculos doíam, as chamas de <Camael> percorriam suas


veias, forçadamente reparando seu corpo.

Se ele não usasse <Gabriel> para anestesiar sua dor, a agonia constante e a
sensação de queimadura teriam o deixado louco. Com um grito, Shidou balançou
<Sandalphon> em um corte para baixo.

— Ohhhhhhhhhhhhhhhhhh!

O lampejo da espada se transformou em uma tremenda onda de choque,


se estendendo diretamente na direção de Westcott.

140
— Fu...

Porém, Westcott relaxou sua boca enquanto saltava para trás. Abrindo o
negro Rei Demônio em forma de livro <Beelzebub>.

No momento seguinte, várias páginas flutuaram de <Beelzebub> para


formar uma camada que enfraqueceu o impacto do corte de <Sandalphon>,
deixando somente um buraco vazio onde Westcott estava.

— Hmm. Sem dúvidas é muito desvantajoso confrontar de frente um Anjo


especializado em ataques... <Nibelcol>.

— Presente!

— Deixa comigo, Otou-sama!

— Nunca iremos perder para uma pessoa como, Itsuka Shidou!

Em resposta ao comando de Westcott, as <Nibelcol> dispararam para


frente para atacar Shidou.

Porém, no momento em que elas se aproximaram, Shidou colocou sua


mão em seus lábios...

— Smack.

Um beijo foi soprado.

— Kya...

Naquele instante, as <Nibelcol> começaram a tremer e a cair no chão.

Aproveitando essa oportunidade para chegar perto delas, Shidou roubou


seus lábios em um piscar de olhos.

— Waah...!?

— Não... não na frente do Otou-sama...

— Eu não consegui vencer o Itsuka Shidou afinal...

As Nibelcol que foram beijadas e aquelas que viram a cena soltaram vozes
doces antes de desaparecerem uma a uma.

Isso mesmo. As <Nibelcol> foram feitas com Nia como base. Em outras
palavras, era esse o conceito que servia como base para a estratégia de Shidou

141
para aquela situação. Ao beijá-las dessa forma, era possível selar tanto o
recipiente como todos os indivíduos que viram o beijo ocorrer.

Porém, mesmo com esses soldados imortais sendo varridos, Westcott


apenas tocou seu queixo com um olhar calmo.

— Oh, entendi. Eu já havia confirmado que o número de <Nibelcol> tinha


diminuído. Mas em pensar que elas tinham esse ponto fraco, mas que fenômeno
interessante.

Uma atitude incomum que foi escondida por sua falta de irritação
excessiva. Shidou franziu o cenho e gritou.

— Mas que pena, as <Nibelcol> que você se orgulha tanto não funcionam
contra mim...!

— Oh? Você acha isso mesmo?

Westcott sorriu enquanto erguia sua mão e dava um estalo com os dedos.

— ...!

As <Nibelcol> que cercaram Shidou formaram uma fila; o grupo de


<Nibelcol> começou a atacar Shidou uma a uma.

— Isso é inútil!

Shidou afiou seu olhar e sobrou outro beijo na direção das <Nibelcol>.

Porém, as <Nibelcol> não pararam de se mover para frente.

— O quê...?

Então, Shidou percebeu.

Os olhos das <Nibelcol> que se aproximavam estavam tapados por


páginas de <Beelzebub>.

— Tch...

Depois de perceber isso, Shidou recuou.

As <Nibelcol> não temiam o beijo soprado de Shidou por causa de ondas


de choque ou raios de luz que eram emitidos por esse beijo. Em vez disso, as
<Nibelcol> ficavam abaladas pela revelação de terem sido beijadas.

142
Nesse caso, enquanto tivessem seus olhos tapados, elas não precisarão
mais se preocupar com isso. Era uma lógica simples.

Porém, era mais fácil dizer do que fazer.

Com um número alto de <Nibelcol> vendadas, não era algo simples


coordenar todas elas para atacarem Shidou de maneira ordenada.

As <Nibelcol> eram um grupo coletivo. Pode ser que uma das <Nibelcol>
estivesse servindo de "olhos" em algum lugar, enquanto as outras estavam
lutando compartilhando essa "visão". Por outro lado, se o "olho" for reconhecido
e beijado, o grupo inteiro será eliminado.

— Ku!

Depois de considerar esse ponto, Shidou entendeu.

Nessas circunstâncias, enquanto compartilhavam informações com as


<Nibelcol>, havia uma única pessoa no local que poderia servir de "olhos de alta
qualidade" sem ter medo de ser beijado por Shidou.

— O que você achou? É um método simples, mas não é ruim.

Dessa forma, os "olhos" das <Nibelcol>, Westcott, distorceu as pontas de


seus lábios.

Ao mesmo tempo, as <Nibelcol> vendadas estavam prontas para atacar


mais uma vez.

— Ahahaha!

— Você realmente fez o que quis até agora!

— Prepare-se para se responsabilizar!

Uma a uma, elas lançaram pedaços de papel transformados pela


<Beelzebub · Page> em cones afiados na direção de Shidou.

— Ku...!

Shidou contorceu seu rosto enquanto manipulava <Metatron> para emitir


um raio em sua volta para evitar o golpe o mais rápido que pôde.

As <Nibelcol> foram lançadas para longe pelo bombardeio


indiscriminado.

143
Porém, imediatamente depois, as <Nibelcol> se arrastaram das
desgastadas páginas de <Beelzebub> que flutuavam ao redor.

— Isso doeu!

— Agora você conseguiu!

— Kuku, nós não morreremos para um ataque desses!

Westcott sorriu enquanto via essa cena caótica.

— Certamente você é um inimigo natural das <Nibelcol>. Porém, eu não


acho que decidiremos as coisas só com isso. Parece que você achou que venceu a
batalha anterior, mas aquela tolice foi igual a rir de um concerto que não possui
condutor.

— Ku...! Maldito...!

Shidou por pouco conseguiu fugir dos ataques ao construir barreiras


usando <Zadkiel>.

Não somente sua tática de soprar beijos foi invalidada, mas os


movimentos das <Nibelcol> sob os comandos de Westcott estavam a milhas de
distância de suas ações anteriores.

Isso dava a sensação de que o grupo, que contava exclusivamente com sua
vantagem numérica e com o uso indiscriminado da força bruta, tinha se
transformado completamente em um exército organizado seguindo uma série de
comandos. Deparado com esses contínuos e persistentes ataques, Shidou foi
gradualmente sendo levado para um canto.

— ...

Porém... a sombra da desistência ainda não tinha aparecido nos olhos de


Shidou.

De fato, ele estava em desvantagem. De fato, ele tinha sido levado para
perto de um beco sem saída.

Porém, a presença de Westcott era tanto uma ameaça quanto uma falha
fatal.

O motivo era simples, as <Nibelcol> eram pseudo-Espíritos nascidos do


<Beelzebub> de Westcott. Nesse caso, uma vez que sua fonte se for, o resto irá
desaparecer não importando sua imortalidade.

144
— <Metatron>.

Ao ter se decidido, Shidou comandou <Metatron> a flutuar para cima...

O alvo era uma localização com uma densa população de <Nibelcol> que
também incluía a si mesmo.

— Kya...

— O-O que você está fazendo?

Inúmeros raios de luz foram liberados caindo do céu. Por um momento,


tudo ao redor foi banhado com um brilho deslumbrante.

Em meio aos gritos das <Nibelcol>, Westcott gentilmente apertou os olhos


enquanto esperava o lampejo e a fumaça de dissiparem.

— Hmm?

Olhando para o lugar onde o raio tinha explodido o chão, Westcott


levemente inclinou sua cabeça.

— Hã? Você desapareceu com seu próprio ataque?

— Ele se explodiu porque sabia que não ia vencer?

— Não, não, será que ele não saiu correndo?

— Kahaha, de toda forma, isso ainda mostra que ele era inferior.

As <Nibelcol> começaram a dar risinhos entre si.

Porém, Westcott não baixou sua guarda. Não importa quão desesperadora
fosse a situação, ele não parecia ser do tipo que escolhe se suicidar. Além disso,
se ele tivesse escolhido recuar, as <Nibelcol> ao redor teriam percebido.

— Ei, Otou-sama, o que vai fazer?

Uma <Nibelcol> próxima tinha perguntado enquanto inclinava a cabeça.

— Hmm, isso mesmo...

Enquanto parecia que ia responder, Westcott virou uma página de


<Beelzebub>, mas então ele apressadamente fugiu do lugar onde estava.

No momento seguinte, onde <Westcott> estava em pé, a ponta da frente


de um cajado em forma de chave tinha sido estocada.

145
A <Nibelcol> que estava falando com Westcott tinha tentado o atacar de
repente.

— Ku...

A <Nibelcol> soltou um suspiro de frustração antes de mudar sua


expressão facial.

Vendo isso, as outras <Nibelcol> arregalaram seus olhos chocadas.

— O que foi isso? Por que atacou o Otou-sama, eu?!

— Rebelião! Chegou nossa época rebelde!?

— Não... espera aí. Aquela não sou eu!

As <Nibelcol> gritaram enquanto se preparavam para atacar aquele


indivíduo. A pessoa, que tinha tentado atacar Westcott, saltou para fora daquele
lugar enquanto sua aparência mudava.

Isso mesmo... ela mudou seu rosto para o de Itsuka Shidou, que tinha
acabado de desaparecer a pouco tempo atrás.

— Tch... Eu falhei.

Tendo se transformado de volta, Shidou fez um estalo com a língua contra


sua boca. As <Nibelcol> genuínas olharam para ele com um olhar surpreso.

— Ah! É você!

— Como ousa atacar o Otou-sama com a minha aparência...!

Enquanto as <Nibelcol> estavam transbordando de malícia, Westcott não


parecia bravo. Pelo contrário, ele estava rindo alegremente.

— Você usou o bombardeio do <Metatron> como uma distração para se


misturar com as <Nibelcol> usando <Haniel>. Então, usou a oportunidade para
tentar selar o <Beelzebub> com <Michael>...? Mas que método engenhoso, apesar
de que a ideia em si é fácil de se prever.

— Maldito...!

Shidou olhou para Westcott, que explicou precisamente suas ações.

Westcott deu de ombros como se aquilo tudo fosse algo já esperado.

146
— Você se esqueceu do meu Rei Demônio? O onisciente <Beelzebub>, é
natural para mim reconhecer os poderes dos Anjos que os Espíritos possuem.

— ...

Enquanto ouvia as palavras de Westcott, Shidou franziu o cenho.

Seu ataque surpresa tinha sido completamente descoberto, mas isso não
era nada comparado à raiva de ser tratado com um tom igual ao que se usa para
ensinar uma criança.

Ainda assim, acima disso, sua maior insatisfação era...

— Corrija o que disse. Esse não é o seu Rei Demônio. É o Anjo da Nia.

Shidou afiou seu olhar enquanto enchia seu corpo mais uma vez com
reiryoku para manifestar múltiplos Anjos de uma só vez.

— Hmph, então mostre para mim.

Enquanto Westcott mostrava um olhar destemido, as <Nibelcol>


abaixaram suas posturas para se preparar para o combate.

Depois de alguns segundos de silêncio, Shidou e as <Nibelcol> saltaram


do chão simultaneamente.

Mas.

— Hã...?

Naquele momento, uma tremenda sensação de incompatibilidade atingiu


Shidou.

O <Michael> que ele segurava em suas mãos. Por um momento, ele teve a
sensação de que ele tinha desaparecido das palmas de suas mãos.

Era uma sensação parecida com a que sentiu quando corria no chão
usando <Raphael>.

Uma ansiedade inesperada atacou Shidou. Parecia que algo tinha


acontecido com Mukuro, a dona de <Michael>...

— Guaah...!?

No momento seguinte, Shidou levantou um grito agonizado enquanto


sentia uma dor em seu peito.

147
No momento em que a concentração de Shidou falhou, a <Nibelcol> viu a
oportunidade e cravou as pontas de seus dedos em seu abdome.

— Kiyaaaahhh! O que está fazendo?!

— Gu...!

Apesar do rosto de Shidou estar contorcido de dor, ele tentou contra-


atacar a <Nibelcol>.

Porém, em desvantagem numérica, uma perturbação em sua respiração se


tornou uma falha fatal. Como se estivesse sendo engolida por uma avalanche, as
mãos e pés de Shidou foram presas pelas <Nibelcol>.

Porém, mesmo ele fortalecendo seus poderes com <Gabriel>, ainda era
difícil se desfazer das pseudo-Espíritos que estavam trabalhando juntas em
sincronia.

— Oh, eu não esperava que acabasse tão rápido. Ou isso faz parte de sua
estratégia de combate?

Enquanto ele virava as páginas de <Beelzebub>, Westcott começou a andar


em direção a Shidou.

— Você vai...!

Em sua mente, uma ideia rápida surgiu e ele manifestou <Metatron> no


ar. Porém, naquele momento, a <Nibelcol> puxou <Metatron> para baixo e
mudou a trajetória de seu disparo.

— Hmm, então é isso. Eu devo fechar as cortinas agora. Eu queria brincar


um pouco mais com você, mas antes de me encontrar com <Deus>, eu tenho que
obter seu reiryoku.

Westcott disse isso enquanto ficava diante de Shidou.

Em retorno, Shidou o olhava com olhar de desprezo.

— ...Você.

— Hmm?

— O que você é afinal!? Por que busca os poderes dos Espíritos? Por qual
motivo... você está machucando tantas pessoas...!?

148
Embora essas palavras tenham sido nada mais do que uma tentativa de
ganhar tempo, essa questão era sem dúvidas genuína. Shidou cuspiu com fúria
enquanto ele rangia fortemente seus dentes.

Então, Westcott o respondeu depois de uma pausa de poucos segundos.

— É para criar um novo mundo.

— Novo... mundo?

— Ah. Talvez você já tenha ouvido isso do Elliot, mas nós somos
descendentes de Magos de verdade, diferentes desses magos artificiais
(Wizards). No passado, pelas mãos das pessoas que temiam nosso poder, nossa
terra-natal foi queimada e nossos compatriotas mortos.

— O que...?

— Então eu irei reescrever esse mundo com o mundo vizinho de <Deus>.


Para ter minha vingança contra a raça humana que matou nossa família.

Quando ele terminou de falar, Westcott moveu os cantos de sua boca de


uma forma brincalhona.

— Foi o suficiente para conseguir te convencer?

— O que você disse?

Quando Shidou ergueu suas sobrancelhas em confusão, Westcott


continuou a falar com um tom irrestrito.

— De acordo com uma teoria, os dois primeiros tipos de emoções que uma
pessoa experimenta podem ser distinguidas como prazer e desprazer. Conforme
vão crescendo, as emoções humanas começam a se diferenciar em todo tipo de
sentimentos diferentes... mas não importa qual seja, todas as emoções podem ser
caracterizadas basicamente em prazerosas ou desagradáveis, as pessoas gostam
de prazer e não gostam de desconforto.

— O que... está dizendo?

— Na verdade, o raciocínio por trás disso não é um exagero. Por exemplo,


pessoas que obtêm prazer em status sociais tendem a colocar mais esforço em seu
trabalho. Ou pessoas que acham prazeroso ser amado pelos outros tendem a
contribuir mais facilmente.

Westcott exageradamente abriu seus braços enquanto continuava.

149
— Minha posição é só um pouco diferente das outras pessoas. Nada mais,
nada menos. Não há muitas mudanças além disso. Eu faço o máximo que posso
para alimentar minha curiosidade e atingir meus objetivos. Itsuka Shidou. Você
já gastou dinheiro quando quis um brinquedo? Você já ajeitou sua aparência por
estar buscando o amor de alguém? Comigo não é diferente. Nesse sentido, eu sou
uma pessoa bem comum.

— ...

Ao ouvir o que Westcott tinha dito, Shidou prendeu sua respiração. Uma
trepidação preencheu seus pulmões enquanto ele sentia uma resistência
instintiva.

Ah, Shidou compreendeu a sensação de incompatibilidade nas opiniões


de Westcott.

Ele não era normal, nem sequer era insano. Ele era um ser humano
extremo em sua maior extensão. Porém, em termos de ética, ele era
completamente diferente de Shidou, seu ponto de vista sobre a vida e a morte
eram incompatíveis com as de outro ser humano.

— Então agora, essa história acabou se arrastando um pouco.

Enquanto falava, uma página de <Beelzebub> enrolada em uma forma


cônica em sua mão foi mirada para o peito de Shidou.

— Adeus Itsuka Shidou. E Takamiya Shinji.

— Gu...!

Ao dizer isso, a mão de Westcott se preparou para perfurar o peito de


Shidou...

Porém, naquele momento.

— Wa!

Um barulho alto vindo do céu abalou o ar ao redor como se fosse um


terremoto.

— ...!?

Não, era mais parecido com uma arma vibratória do que com uma voz. As
<Nibelcol> que estavam prendendo seus braços e pernas momentaneamente
vacilaram e sua contenção enfraqueceu. Westcott, que estava prestes a apunhalar

150
Shidou, parecia incapaz de se mover por um momento por causa do impacto
repentino.

— ...!

Aquela era uma oportunidade de ouro. Porém... Shidou também foi pego
pelas ondas de choque da vibração. Mesmo se ele quisesse fugir daquele lugar,
seu corpo se recusava a se mover como ele desejava.

Porém, no momento seguinte, enquanto ele pensava nesse tipo de coisa,


algo agarrou o colarinho de sua camisa e ele foi puxado para cima.

— Waah...!?

Deparado com essa situação inesperada, Shidou levantou uma voz


espantada.

Porém, Shidou rapidamente descobriu quem tinha feito aquilo.

— Tudo bem com você, Querido?!

— Isso foi perigoso, essa passou raspando.

— Miku, Natsumi!

Shidou abriu seus olhos enquanto chamava pelos nomes dos dois
Espíritos.

Isso mesmo, Miku e Natsumi, que estavam a cargo de apoiar a todos pela
retaguarda, tinham ido até ali.

Parece que Miku usou seu Anjo do som <Gabriel> para atordoar as
<Nibelcol> enquanto Natsumi aproveitou a chance para pegar Shidou.

— Me desculpem, vocês me salvaram. Mais do que isso, estou feliz que


estejam bem.

— Bem, isso é legal e tal, mas qual é a situação da guerra agora? A


comunicação com todos foi cortada...

— ...Sem contar aquela pessoa, ele não é o general inimigo? Por que ele
veio até o fronte de batalha? Não, bem, o mesmo pode ser dito do Shidou.

Quando Miku e Natsumi fizeram essas perguntas com olhares


desconfortáveis em seus rostos, Shidou cerrou seu punho e disse.

151
— Deixem os detalhes para depois! O Espírito da Origem apareceu! Nós
temos que derrotar ele o mais rápido o possível e ir até onde todas estão. Por
favor, me emprestem suas forças!

— ...!

— O que...?

Miku e Natsumi mostraram expressões horrorizadas em seus rostos ao


ouvir o que Shidou tinha acabado de dizer... porém, elas logo entenderam sua
intenção e afiaram seus olhares.

— Isso deve ser algo urgente. Eu irei levantar uma barreira para o Querido
e o restante, vamos lá!

— Para dizer algo tão sério com uma cara dessas. Fazer o quê? eu vou te
acompanhar também...!

Enquanto dizia isso, Miku bateu em seu teclado brilhante e Natsumi


segurou seu Anjo em forma de vassoura.

Olhando para essa cena, Westcott mostrou um sorriso fino.

— Uau. <Diva> e <Witch>. Que encantador. Além do reiryoku do Itsuka


Shidou, eu poderei obter seus Cristais Sephira para complementar.

Apesar delas conseguirem parar os movimentos de Westcott e das


<Nibelcol> por um momento, agora seus olhos já tinham voltado a serem
lançados sobre eles enquanto recobravam sua formação de combate.

Miku e Natsumi afiaram suas linhas de visão em cautela por aquele olhar.

— De qualquer forma, como podemos derrotar esse homem?

— Mas, sabe, essas <Nibelcol> irão se regenerar infinitamente até o Shidou


ser derrotado. Será que não devemos nos esconder nos arredores enquanto o
Shidou dispara contra o general inimigo? Ou será que devemos esperar uma
oportunidade de atacar por trás usando o <Haniel>?

— Não.

Ao ouvir o que as duas estavam dizendo, Shidou balançou sua cabeça.

Ter seu poder de combate aumentado era algo que ele apreciava muito,
mas o adversário não era somente as <Nibelcol>.

152
Sem contar que Westcott havia obtido informação sobre os Anjos através
de <Beelzebub>. Mesmo que o <Gabriel> de Miku e o <Haniel> de Natsumi
fossem certamente poderosos, naquele momento Westcott já havia provado que
um ataque sorrateiro seria inútil.

O Rei Demônio onisciente <Beelzebub>. Enquanto seu dono o perguntasse


sobre o assunto, ele era um Rei Demônio que continha o conhecimento sobre
todas as coisas do universo. Dependendo do quão pobre fosse a tática adotada,
havia a possibilidade de Shidou de boa vontade acabar se jogando em um dilema
ainda maior.

Se alguém quisesse superar esse obstáculo... só havia duas maneiras.

Uma delas era atacar Westcott com um método que ele sequer imaginaria.

Embora <Beelzebub> fosse um Rei Demônio capaz de coletar toda a


informação desse mundo, sua autoridade não era demonstrada a não ser que o
usuário a solicitasse. Em outras palavras, havia a oportunidade de atacar com
algo que Westcott nunca esperaria.

E o outro método era...

— Miku, você pode tocar o <Gabriel> para mim? Use ele com a maior
potência possível... fortaleça meu corpo ao limite.

— ...! Querido, isso não é...

— Natsumi, por favor faça o mesmo. Transforme <Haniel> em <Gabriel>.


Eu te imploro.

— Shidou, você.

Ao ouvir o que Shidou tinha pedido, Miku e Natsumi piscaram por um


momento antes de entender as intenções de Shidou. Então, depois de um suspiro,
elas começaram a tocar seu Anjos.

Do lado esquerdo e direito dele, uma música inspiradora ressoou.

— ...!

Banhado por essa performance, Shidou não pôde deixar de prender sua
respiração.

As batidas de coração dispararam enquanto ele sentia a circulação do seu


sangue fervente percorrer todo seu corpo. Focando em uma única pessoa, elas

153
estavam conjurando um dueto de <March>, que era normalmente usada em um
grande grupo de pessoas. A extensão de seu efeito era inimaginável.

— <Nibelcol>.

Porém, o inimigo não iria esperar pacientemente de camarote. Com um


comando de Westcott, aproximadamente 100 <Nibelcol> avançaram de uma só
vez.

— Seja lá o que estiver tentando, é inútil!

— Eu farei vocês três se ajoelharem diante do Otou-sama...!

Com um rugido, as <Nibelcol> gritaram isso enquanto se deformavam em


uma forma cônica usando <Beelzebub · Page> e atiravam a si mesmas como se
fossem flechas.

Olhando aquele projétil, Shidou gritou com toda sua força.

— <Zadkiel>!

Em um instante, uma barreira de gelo envolveu os três, escondendo-os dos


projéteis lançados através das <Beelzebub · Page> antes que chegassem em
Shidou e os outros.

Porém, a coisa mais terrível sobre as <Nibelcol> não era seu poder
absoluto, mas sim a força que elas extraem de sua quantidade esmagadora.
Mesmo que seus disparos sejam minúsculos, os ataques contínuos formavam
rachaduras que se pareciam com teias de aranha na superfície do gelo.

Mas... estava tudo bem. Shidou não acreditava que ele pudesse parar
completamente o ataque das <Nibelcol>. Mas aquilo tinha sido o suficiente para
proteger as duas músicas até que <Gabriel> o preenchesse com poder o suficiente.

— Fu...

Devido ao persistente ataque de <Nibelcol>, a barreira formada por


<Zadkiel> foi feita em pedaços.

Ao mesmo tempo, Shidou soltou um suspiro de alívio. Com <Sandalphon>


em sua mão direita ele saltou do chão e se moveu para frente.

— Ha, ele está vindo!

— Por favor, caia morto agora...!

154
As <Nibelcol> que reconheceram sua figura emergiram das <Beelzebub ·
Pages>.

Porém, Shidou não usou <Zadkiel> para se defender. Várias flechas que
não puderam ser evitadas estavam presas na parte de trás de seu braço.

— Gu....!

Porém, Shidou não podia parar. Ele nem mudou para a defensiva e nem
tentou se aliviar da dor... ele continuou indo para a frente em direção a Westcott
o máximo possível enquanto as chamas de <Camael> automaticamente curavam
seu corpo.

É claro, havia uma dor severa o afligindo em todo seu corpo... mas isso
não importava.

Aquilo para o Shidou de agora não era nada mais do que uma enxaqueca
se comparar a do que sentiu ao manifestar vários Anjos ao mesmo tempo.

— <Sandalphon>...!

Shidou gritou esse nome enquanto ele batia no chão com seu calcanhar.

Então, a terra tremeu em resposta à sua voz...

Um trono dourado se manifestou ali.

A bainha de <Sandalphon>; o trono. Aquela era a primeira vez que Shidou


o invocou.

— O quê...?

Westcott franziu as sobrancelhas levemente.

Então, Shidou gritou.

O nobre nome daquela grande espada.

— <Halvanhelev>...!

Um momento depois, rachaduras começaram a se formar no trono


invocado por Shidou, decompondo em fragmentos que se anexaram à espada
que ele carregava em suas mãos.

Depois disso, ela se constitui em uma espada grande demais para uma
pessoa carregar.

155
Com a sensação de estar sendo queimado pela sensação de dor indo além
de seus limites, Shidou ergueu sua espada em direção a Westcott.

— Ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

Isso mesmo; essa era a outra forma de subjugar Westcott.

Seja não sabendo de nada ou ser incapaz de ser parado, um ataque simples
usando toda sua força.

O mais forte ataque de Shidou conhecido por mais ninguém além de


Tohka, <Halvanhelev>...

A torrente deslumbrante de reiryoku engoliu Westcott e rasgou o chão.

—Fu... hahahahahahaha...!

Diante da onda de poder que se aproximava, Westcott riu alto.

Uma terrível quantidade de reiryoku que engolia todo seu campo de visão,
esse era talvez o maior e mais forte golpe de Itsuka Shidou, um humano que
possuía o poder dos Espíritos.

A animação de ter aquele poder se tornando seu desde que ele tome para
si os Cristais Sephira, a animação de ver sua morte se tornando iminente, naquele
momento, a mente de Westcott estava transbordando de prazer.

De fato, a ideia de Shidou não estava necessariamente errada. Era inútil


tentar fazer um ataque surpresa contra Westcott, que sabia todas as funções dos
Espíritos. Então, a solução mais simples e eficaz seria desferir um golpe decisivo
com uma força que aniquilaria qualquer defesa. De fato, nas mãos de Westcott,
não havia nenhum trunfo que pudesse ser usado contra esse golpe.

Porém...

— O significado do conhecimento. Será que você ainda está subestimando


isso?

Naquele momento, Westcott, murmurou tal frase...

— Otou-samaaaaa!

Várias das <Nibelcol> que estavam nos arredores se juntaram para


proteger Westcott.

156
É claro, nem sequer um pseudo-Espírito poderia aguentar o golpe mais
forte desse Anjo. As <Nibelcol> que tocaram <Halvanhelev> se tornaram
partículas de luz em instantes.

Porém, o poder das <Nibelcol> estava em sua quantidade. Enquanto


<Beelzebub> existisse, elas poderiam reviver não importa quantas vezes fossem
mortas. O grande número de <Nibelcol> continuaram a formar uma barreira
grossa em volta de Westcott.

Além disso... Westcott já estava "ciente".

As vezes que a <Princess> liberou esse ataque.

O grande alcance do ataque.

Quanto tempo leva para manter seu poder máximo.

— Fu...

Enquanto as <Nibelcol> estavam sendo sugadas pelo golpe. Westcott fugia


para a esquerda contando com as mãos de outra <Nibelcol>.

É claro, era impossível escapar dali completamente ileso. O reiryoku


enorme queimou as mãos e pés de Westcott enquanto ele escapava.

Porém... Westcott sobreviveu.

E em suas mãos, ainda estava <Beelzebub>.

Passado um tempo, o poder violento daquele reiryoku desapareceu.

— Fu... hahahahahahahaha!

Westcott riu.

Não havia mais técnicas sobrando no arsenal de Itsuka Shidou.

Não havia dúvida de que o vitorioso na disputa pelos poderes dos


Espíritos era Westcott.

Mas...

— ...Ah, eu sabia que se fosse você, você conseguiria escapar disso.

— ...?

A voz de Shidou ecoou do outro lado da fumaça, fazendo Westcott mover


levemente suas sobrancelhas em resposta.

157
— Certamente, com o poder de <Beelzebub> em suas mãos, a primeira
coisa que você iria fazer era investigar os poderes dos Anjos. Eu realmente não
dominei o que eu acabei de usar; eu somente peguei emprestado
temporariamente essa força... mas...

O vento soprou e a fumaça e o pó clarearam.

Lá estava Shidou, ligando ambas as mãos pelos pulsos.

— Você conhece isso? Investigou sobre isso? Ei, Sr. Westcott onisciente...!

Com um grito, ele pronunciou essas palavras enquanto ainda se focava em


Westcott.

— Shun...Sen...

— O que...?

Ao ouvir essas palavras, Westcott franziu levemente as sobrancelhas.

Uma linguagem que ele nunca ouviu antes. Aquilo era o nome de um
Anjo? Um Mantra? Magia? Feitiço? ou...

— ...Gou...Baku...

Um momento de confusão.

Enquanto Westcott tentava descobrir qual entre todos os possíveis


poderes que ele conhecia que poderiam ser usados naquela oportunidade
ocasional.

Shidou abriu os olhos em fúria enquanto estendia suas mãos para frente.

— ... Haaaaaaaa...!!

Naquele momento.

— O qu...?

Um torrente de reiryoku.

Um ataque completamente desconhecido engoliu Westcott, que já estava


exausto depois de <Halvanhelev>.

— ...

Quando aquele poder deixou seu corpo, assim como um fio que
arrebentou, Shidou caiu no chão.

158
159
— Querido!

— S-Shido...!

Atrás dele, ele ouviu uma voz chamando por seu nome. Então, seu corpo
foi gentilmente pegado.

— Ah... Miku, Natsumi, desculpa... eu acho... que exagerei um pouco...

— Isso é um eufemismo! Você está coberto de ferimentos das cabeças aos


pés!

Miku disse isso com lágrimas nos olhos. Sua voz devia estar misturada
com o reiryoku de <Gabriel> pois a dor que ele estava sentindo em todo seu corpo
gradualmente estava começando a relaxar.

— Obrigado... eu estou bem.

— Ah, querido!

— Espera... você realmente está bem?

Shidou se levantou com a ajuda das mãos de Miku e Natsumi. Com passos
vacilantes, ele atravessou o chão destruído.

Logo após isso... ele encontrou um pedaço restante de <Beelzebub> e


Westcott caídos entre os destroços. a roupa negra que cobria seu corpo estava
rasgada; sangue estava saindo de toda parte e seu corpo estava cheio de
cicatrizes.

— ...Oh.

Westcott piscou como se não estivesse sentindo dor, seus olhos se


voltaram para Shidou.

— Parece que eu perdi. Então esse é o fim da linha. Hmm... foi


inesperadamente chato.

— ...Você...

Vendo a imagem do outro lado, o sentimento que estavam sepultados


foram acesos novamente na mente de Shidou.

A partir de agora, Westcott não tinha como resistir. Se Shidou o atacasse


com um Anjo agora, seria possível fazê-lo parar de respirar imediatamente.

160
Naquele momento, ele reconheceu aquilo. A raiva de Takamiya Shinji
tinha voltado.

A raiva de seus entes queridos sendo machucados, o rancor de ter sua irmã
sequestrada... e também o remorso por ter sido morto.

As memórias de Takamiya Shinji ressurgiam na mente de Shidou


permitindo a ele demonstrar uma quantidade máxima de intenção assassina em
relação à pessoa à sua frente.

— ...

Como se estivesse sendo movido pelo seu outro eu, ele gradualmente
ergueu sua mão direita.

Sem ele dizer uma palavra, um Anjo se manifestou em sua mão.

— ..! Querido!

— Shidou...!

— Talvez por perceber as ações de Shidou, Miku e Natsumi levantaram


suas vozes juntas.

Porém... era tarde demais. A mão de Shidou já estava se movendo para


baixo.

Mirando <Beelzebub>, que estava próximo a Westcott.

— <Michael>... <Segva>.

Ele girou o Anjo <Michael> que estava em suas mãos.

No momento seguinte, o reiryoku que residia em <Beelzebub> diminuiu e


as inúmeras folhas espalhadas nos arredores desapareceram em partículas de
luz.

Com isso, o poder de <Beelzebub> tinha sido temporariamente selado.


Pode se dizer que Westcott perdeu todo seu poder de luta.

Olhando essa cena, Miku e Natsumi soltaram suspiros aliviados.

— Sério... isso foi realmente surpreendente.

— ...Sim, eu pensei que você iria matá-lo.

Ao ouvir as vozes das duas, Shidou soltou um suspiro suave.

161
— ...Sim, eu queria matá-lo. de fato, nesse último golpe, eu pensei que não
seria nada demais se ele morresse quando eu o disparei.

— O último...

— Ah, aquele disparo de luz...

Shidou tossiu algumas vezes antes de continuar.

— Eu não queria dizer isso... mas seria definitivamente perda de tempo.


Eu não quero ser igual a esse cara. Por isso... me desculpem pessoal.

— Querido...

— ...Bem, espero que isso seja o suficiente.

Ao ouvir o que Shidou tinha dito, as duas acenaram com a cabeça em


afirmação.

Então, Westcott soltou uma pequena arfada.

— Tudo bem mesmo? Eu não acho que você terá uma segunda chance.

— Que barulhento, os perdedores não deviam fazer comentários


irresponsáveis.

— Haha, a forma como você fala é igual a do Elliot... mas que pena, eu
estava bem interessado em saber como é a sensação da morte...

Naquela hora.

Westcott parou de falar.

Não... seria melhor dizer que ele não conseguia falar.

Em um piscar de olhos, o mundo se transformou em um tom


monocromático... do peito de Westcott, um cristal Sephira emergiu com um
brilho cinza pálido.

— O que...!?

Enquanto seus olhos estavam cheios de espanto, Shidou rapidamente


avaliou seus arredores.

O cenário era obviamente anormal. As incontáveis ruínas foram


transformadas em um espaço geométrico composto das cores preta e branca.

— Hã...?

162
— Ah...

Atrás dele, as vozes de Miku e Natsumi ecoaram.

Por um momento, ele achou que elas também tinham ficado surpresas com
a mudança repentina do mundo... mas não era isso.

Ele logo percebeu.

Algo que se parecia com uma faixa de luz surgiu do chão e perfurou os
peitos de Miku e Natsumi em linha reta.

— ...!? M-Miku, Natsumi...!?

Enquanto Shidou gritava aterrorizado, brilhantes Cristais Sephira


emergiram dos peitos delas... e flutuaram no meio do ar na direção de Westcott
antes de voarem para o céu.

Miku e Natsumi caíram no chão como se fossem marionetes que tiveram


suas cordas cortadas.

— E-Ei, o que aconteceu com vocês duas...?

Enquanto tentava fazer as duas acordares, Shidou foi deixado quase sem
fala.

O motivo era simples, aquelas duas pessoas com quem ele esteve
conversando até momentos atrás... tinham acabado de se tornarem cadáveres
mudos.

— I-isso, o que está acontecendo...?!

— Shin.

Então, como se estivesse respondendo ao questionamento de Shidou.

Uma garota apareceu da escuridão.

— ...! Mio...

Isso mesmo, Takamiya Mio, um Espírito que vestia um Astral Dress


imaculado, tinha inesperadamente aparecido ali.

Para ser preciso, pode se dizer que seu traje estava um pouco diferente de
antes.

163
Enquanto somente uma estava acesa antes, agora todas as dez estrelas
estavam brilhando radiantemente.

— ...

O pior cenário possível passou pela cabeça dele. Mas ele mesmo assim
ainda tinha que perguntar. As palavras que foram ditas enquanto ele estava
segurando sua ânsia de vômito.

— T-Todas elas...

— ...

Seguindo as palavras de Shidou, Mio lentamente ergueu sua mão.

Então, cada um dos lindos Cristais Sephira apareceu das dez estrelas
brilhantes atrás dela.

— O quê?

Um sentimento de tristeza. Por ter visto o que acabou de acontecer com


Miku e Natsumi, Shidou conseguiu entender o que tinha acontecido.

Em outras palavras, os Espíritos... estavam todos mortos.

— A-ah...

Ele não tinha conseguido chegar a tempo.

Shidou sentiu sua garganta tremer em um estado semi-inconsciente.

Compreendendo a situação, o desespero invadiu sua mente e erodiu em


seu corpo. Ele se infiltrou em seu campo de visão, fazendo as pontas de seus
dedos tremerem. Era difícil até mesmo se manter em pé.

— As preparações foram concluídas.

Porém, em contraste a Shidou, Mio disse com uma voz quieta.

— Vamos ficar juntos para sempre... Shin.

◇◇◇◇

164
— Mas o que diabos é esse espaço diferente?

A nave espacial da <Ratatoskr> <Ulmus> estava flutuando nos céus acima


da cidade Tenguu, que tinha se transformado em um campo de batalha.

Na ponte de comando, a presidente da Távola redonda, Karen Mathers,


soltou uma calma, mas também de alguma forma, ansiosa voz.

Mas isso era de se esperar. No meio do campo de batalha, de repente, as


sondas detectaram uma resposta de onda espiritual do Espírito da Origem.

Imediatamente depois, um misterioso Anjo apareceu e o seguindo, um


espaço estranho surgiu. Nos arredores de onde isso ocorreu, seja as Wizards
inimigas, as bonecas automáticas ou até mesmo naves como a <Lemegeton>, as
respostas às atividades de todos desapareceram.

Olhando só para isso, mesmo parecendo algo irregular, a <Ratatoskr>


tinha vencido.

Porém, a situação não era tão simples.

Isso mesmo. A resposta de Itsuka Shidou, o ponto chave da <Ratatoskr>


também tinha desaparecido. Até mesmo sua própria nave, a <Fraxinus>, caiu
perante aquele Anjo.

Aquele campo de batalha anormal, se parecia muito com um tabuleiro de


xadrez sem um rei.

Naquele momento, a DEM também estava em uma situação de incerteza.


Bem, mesmo se eles soubessem que Westcott tinha sido derrotado, não seria
impossível eles buscarem por vingança... mas comparado a isso, estava mais para
uma simples ação de lutar com o inimigo a sua frente.

Porém, até onde Karen estava ciente, os dois lados estavam


incontestavelmente em pânico. Aquilo somente iria adicionar mais fadiga aos
dois lados. Enquanto controlava a situação atual, Karen tentava analisar o espaço
estranho enquanto o campo de batalha continuava inerte.

Porém, quanto mais ela tentava investigar, mais difícil ficava de


compreendê-lo.

Embora já tivesse descoberto que aquele espaço parecido com uma


barreira foi formado tendo o Anjo como seu núcleo, os atributos do reiryoku que
o comprimiam estava em constante mudança, mesmo que lentamente. Se você se

165
descuidasse por um segundo, ele poderia se transformar em algo completamente
diferente.

Embora a diferença nos tamanhos fosse comparável a de elefante em


relação a uma formiga, aquilo se parecia com um Território Voluntário de um
Wizard.

— Não pode ser, é o mundo vizinho...?

Quando Karen disse isso, um membro da tripulação sentado em um


assento próximo de repente ergueu sua voz.

— Isso é...

— O que aconteceu?

— S-sim. Eu consegui pegar uma imagem da câmera autônoma injetada


pela <Fraxinus> para investigar o espaço diferente pelo lado de fora... nela há
alguns objetos que se parecem corpos de Espíritos...

— O que você disse?

Karen franziu o cenho enquanto olhava o monitor pessoal do membro da


tripulação.

De fato, como ele disse, havia vários Espíritos caídos no chão. Entre eles
estava incluso a capitã da <Fraxinus>, Itsuka Kotori.

— Ku.

Um pequeno suspiro de frustração saiu da boca dela.

Já havia sido confirmado que a Tokisaki Kurumi e as irmãs Yamai tinham


sido mortas pelo Espírito da Origem. Mas em pensar que em um espaço tão
pequeno de tempo...

— Espera um minuto, essas são todas as imagens que temos?

— Sim, ao menos é o que temos até agora.

— ...

Em resposta à réplica do membro da tripulação, Karen colocou sua mão


contra o queixo.

Deve ser apenas um engano. Ou talvez aquela pessoa não se encontrou


com o Espírito da origem ainda.

166
Mas certamente... quando foi determinado o número de corpos mostrados
naquela imagem, havia uma pessoa faltando no número de Espíritos que tinham
entrado no espaço diferente.

◇◇◇◇

Lentamente, balançando lentamente para frente e para trás.

Rapidamente, girando rapidamente.

Aquele era um espaço onde ninguém conseguia definir onde era a parte
de cima e onde era a de baixo. A sensação de mergulhar em água morna, o
sentimento invasivo de ser sugado para a escuridão, aquele era um estado
misterioso de coexistência.

Não... não era somente a orientação do espaço.

Havia um sentimento de perda de propriedade sobre seu próprio corpo.


Uma sensação de incompatibilidade onde o menor traço de distração faria com
que as mãos e pés fossem dissolvidas por esse mundo.

Uma sensação horrível porém docemente tentadora também. Um tipo de


prazer de ser incapaz de resistir a dormir. Mesmo sabendo que sua consciência
iria se desfazer a qualquer sinal de negligência.

...Uha...

Porém, algo doloroso dentro das profundezas da cabeça de Tohka rejeitou


isso...

Inútil, inútil, completamente sem sentido.

Dormir ali significaria que tudo estaria acabado e ela nunca mais seria
capaz de acordar.

Mas, como se estivesse ciente disso, um sentimento de sonolência caiu


sobre a consciência de Tohka e não a deixava em paz. Um gentil e demoníaco
aceno que gradualmente corroía o ego de Tohka...

Quer dormir? Bem, acho que está tudo bem se fizer isso também.

Naquele instante.

167
Daquele lugar, uma voz ecoou. Tohka forçadamente arregalou os olhos.

...

A sonolência que atacava sua consciência repentinamente desapareceu


enquanto sua mente clareava. Os sentidos voltados às suas mãos e pés que
estavam se derretendo naquele espaço.

Mas, ao contrário do que se pensa, esse despertar só ressaltou ainda mais


a peculiaridade daquele espaço.

Olhando em volta, onde ela estava... não, ela sequer sabia o que era aquilo.

Até onde ela conseguiu ver, havia um vasto vazio naquele lugar. Se ela
fosse comparar com alguma coisa, era como se ela tivesse acordado em mundo
que tinha acabado de sofrer um spacequake.

Mas, havia uma certa inteligência ali. Enquanto mal podia controlar seu
corpo de uma maneira irritada, Tohka se moveu para a direção de onde aquela
voz tinha vindo.

O qu...

Vendo a garota que estava ali, Tohka arregalou os olhos, alarmada.

Seu cabelo flutuante tinha a cor da noite.

Seus olhos cristalinos silenciosamente olhavam para a frente.

Isso mesmo. A garota que estava ali... tinha exatamente o mesmo rosto de
Tohka.

V-você, quem é você...?

Quando Tohka perguntou isso com surpresa, a garota a respondeu com


uma bufada de nariz.

Nome, eu não tenho tal coisa. Se você realmente se importa com isso, eu sou você.

Eu...?

Ouvir a resposta da garota fez Tohka ficar ainda mais confusa.

Mas era inegável que ela não podia desprezar o que a garota disse como
se fosse uma piada. Para começar, a garota era idêntica a Tohka.
Comparativamente, seria mais fácil apontar as diferenças entre as irmãs Yamai.

168
O que diabos está acontecendo... isto é um sonho?

Um sonho. Hmm, isso não está tão longe de ser verdade. A diferença está entre a
sua cabeça e a daquela mulher.

Aquela mulher...?

Quando ouviu aquilo, Tohka sentiu um tremor chegar aos seus ombros.

Somente com essa única palavra, as memórias voltaram uma atrás da


outra.

Isso mesmo. Tohka e os outros Espíritos estavam lutando contra Mio... e


foram derrotadas.

Todo mundo... onde está todo mundo!? Se eu estou aqui quer dizer que todos estão
por aqui também, né!?

Tohka disse enquanto olhava ao seu redor. Como Tohka, os outros


Espíritos tiveram seus Cristais Sephira absorvidos por Mio. Se Tohka, ou pelo
menos sua consciência, estava ali, então os outros Espíritos também deviam estar.

Então, Tohka percebeu que sua pergunta era insuficiente. Como a garota
que tinha a mesma aparência de Tohka sabia de coisas que a própria Tohka não
sabia. Como resultado disso, ela automaticamente pensou que a outra pessoa
poderia deduzir o que ela tinha perguntado.

— Ah, como todo mundo eu estou falando...

Está perguntando dos outros Espíritos?

...! Você sabe alguma coisa!?

Quando os olhos de Tohka se arregalaram, a garota exalou brevemente o


ar.

Desde o despertar anterior, eu ocasionalmente tomo emprestado seus olhos para


ver o mundo.

Mun...? Olhos...?

Sem entender o significado por trás das palavras daquela garota, Tohka
levemente inclinou sua cabeça.

Porém, a garota balançou sua cabeça, percebendo que Tohka não tinha
entendido, ela respondeu à pergunta anterior.

169
A única coisa aqui é você. Os outros Espíritos foram privados de seus Cristais
Sephira por aquela mulher e morreram como seres humanos. Somente os cristais Sephira
estão dentro daquela mulher.

...

Ouvindo o que aquela garota tinha dito, Tohka prendeu a respiração.

Tohka novamente percebeu que todas tinham morrido. Ela tinha


testemunhado todas caírem no chão frio pelas mãos de Mio.

Mas quando contaram essa informação para ela novamente, Tohka se


lembrou da sensação de ter seu coração sendo esmagado.

Porém, ela não notou nenhum outro sentimento ao ouvir o que a garota
tinha dito. Tohka franziu as sobrancelhas e perguntou.

Como humanas? O que isso significa? Certamente, Origami e Kotori e tal eram
humanas antigamente, mas outros Espíritos como a Yoshino, Kaguya, Yuzuru e Natsumi
não são do mesmo tipo de Espírito que eu?

Não, a existência chamada Espirito, tirando aquela mulher, são todos humanos a
quem foram dados Cristais Sephira... com somente uma exceção. Essas que você citou se
tornaram Espíritos a dez anos atrás e perderam suas memórias de quando eram humanas.

O que...

Tohka só conseguiu olhar para ela chocada.

Os Espíritos... são todos seres humanos.

Ela se lembrou de Nia dizer algo parecido no passado, mas estava incerta
se aquilo era verdadeiro ou falso. Afinal, Tohka não tinha nenhuma outra
lembrança de quando era humana, então não tinha como ela sentir que aquilo era
verdade.

Porém, se as palavras daquela garota forem verdade, havia uma coisa


estranha.

Então... por que eu estou viva? Eu não deveria estar que nem as outras!?

Isso mesmo, assim como todas as outras; Tohka tinha sido perfurada no
peito por Mio.

170
Então, Tohka tinha morrido como um ser humano assim como as outras.

Isso é porque...

A garota apertou os olhos e abriu seus lábios enquanto brevemente dizia


alguma coisa.

...!

Ao ouvir isso, os olhos de Tohka se arregalaram mais uma vez.

Porém... ela imediatamente fechou os lábios e apertou os punhos.

...Hmm?

As sobrancelhas da garota se moveram levemente.

Eu pensei que você ficaria confusa. Eu não esperava que aceitasse tão rápido.

...Mun, não, eu estou confusa. Mas... se isso for verdade, eu estou grata por esse
fato.

Como assim...?

Enquanto a garota olhava para ela com interesse, Tohka ergueu seu rosto
com uma luz de resolução brilhando em sua expressão.

Eu ainda estou viva. E por eu estar viva... ainda posso lutar.

Quando Tohka terminou, a garota expressou sua compreensão.

Entendi. Mas o oponente é a sua mãe. Assumindo que você pode lutar, você
primeiro deve criar um fator surpresa. Se possível, faça o melhor proveito dos poucos
minutos que lhe restam. Na pior das hipóteses iremos morrer de novo. Não... Dessa vez
aquela mulher não vai mais cometer o mesmo erro. Nós iremos definitivamente
desaparecer sem deixar qualquer rastro.

A garota disse em um tom perturbador.

Porém, Tohka balançou sua cabeça sem qualquer hesitação.

Está tudo bem. Se eu conseguir durar alguns minutos, com certeza será o bastante
para Shidou fugir. Eu não consigo pensar em mais nenhuma outra solução para essa
situação. Uma pequena esperança como essa é o suficiente para eu apostar minha vida.

Ei. Mas se você morrer, isso significa que eu vou morrer também. Já que eu sou
você.

171
O qu... esse é o caso? Isso é um pouco... er...desculpa... mas você não quer que eu
lute?

Oh? Por que acha isso?

A garota inclinou levemente sua cabeça enquanto perguntava isso. Tohka


olhou diretamente para ela enquanto a respondia.

Porque você me chamou.

...

Olhando para Tohka, as sobrancelhas da garota finalmente se curvaram...


ela não conseguiu mais se conter e riu.

Fuhaha, é verdade... ahh, é verdade.

Olhando para o rosto da garota, Tohka sentiu um estranho sentimento


enquanto a olhava rir.

Enquanto a garota ria, ela abriu seus braços e abraçou os ombros de Tohka.

Sendo assim, você deve ir, eu. Até estar satisfeita, faça o que desejar.

...Umu. Obrigada, eu.

Com um pequeno sorriso, a garota se separou de Tohka e empurrou suas


costas.

◇◇◇◇

172
173
— Enganando... os outros...

Quando essas palavras saíram da boca de Shidou, seus joelhos se


dobraram com a pressão.

— ...Ah...

Mas permanecendo consciente, Shidou soltou um poderoso suspiro.

Naquele momento, uma sombra caiu em sua linha de visão.

Em um piscar de olhos, Mio tinha aparecido em frente a Shidou.

— Shin.

Com uma amável, porém triste voz, Mio gentilmente acariciou as


bochechas de Shidou.

— Desculpa. Eu não queria te deixar triste.

Mas, Mio continuou.

— Tudo vai ficar bem. Em breve... essa tristeza vai desaparecer. Desde o
início, Shin não conhecia nenhum Espírito além de mim. Esse pecado pertence
somente a mim. Então o Shin nunca precisará se culpar por isso.

— Eu...

Com um som comparável ao de um mosquito, Shidou olhou para Mio.

Para o brilho excessivamente divino da garota que se parecia com uma


deusa.

Um momento atrás, Shidou ainda estava pensando que ele tinha que pará-
la. Ele não queria que as memórias do "Shidou" fossem apagadas, a perda de tudo
que ele viveu até o presente. Ele estava fortemente decidido em sobreviver com
todo mundo.

Mas agora, aquilo não fazia mais sentido, não importa o que ele fizesse.

Mesmo se ele fugisse de Mio, para onde iria?

Os Espíritos que esperariam pelo seu retorno não estavam mais lá.

— ...

Se significasse ficar livre desse desespero, seria mais fácil escolher se


entregar para Mio.

174
Shidou entendeu que essa era a pior ideia possível, mas talvez devido a
persistente influência de "Shin" em sua mente, ele não podia parar de pensar
nessa possibilidade.

— Shin.

Mio gentilmente tocou a testa de Shidou.

— Ah...

Shidou... não conseguiu retirar aquela mão.

Embora seu corpo já tenha passado dos limites a muito tempo, seu coração
já tinha perdido a energia para resistir por mais tempo.

— Un...

Mio apertou os olhos enquanto ela injetava força em sua mão.

...

Com o passar do tempo, a consciência de Shidou começava a ficar turva.

...dou...

Não havia mais dor. Em vez disso, havia uma gentil sensação de dormir
sob a brisa da primavera.

...Shidou...

Ah, então essa é a sensação da morte...

— Shidou!!

E então...

— ..!?

Ele de repente ouviu alguém gritar seu nome... Shidou rapidamente abriu
seus olhos.

Por um momento, Shidou suspeitou que aquela fosse uma alucinação


auditiva.

Porém, seus olhos o ajudaram a rejeitar essa dúvida.

— O qu...

— O quê?

175
Enquanto Shidou prendia a respiração, Mio também arqueou suas
sobrancelhas para cima.

Mas isso era o esperado. Entre as dez estrelas que estavam atrás de Mio,
uma delas tinha rachado.

— ...Ohhhhhhhhhhhhhhh!

No momento seguinte.

Uma parte do Astral Dress de Mio pareceu se quebrar de dentro para fora.
Dali, Tohka emergiu com <Sandalphon> em mãos.

Tohka agarrou o pescoço de Shidou, saltando a uma grande distância para


separá-lo das mãos de Mio.

— Shidou! Tudo bem com você!?

— Tohka...!?

— Nada está acabado ainda. Venha, levante-se Shidou!

Tohka acenou poderosamente com a cabeça enquanto Shidou estava com


a voz carregada de choque.

176
Capítulo fragmentário/5: Oceano
— Posso abrir agora?

— Ainda não, só mais um pouquinho.

Na escuridão, Mio estava sendo guiada pelas mãos de Shinji.

Com isso dito, não era como se eles tivessem entrado em uma caverna
profunda onde a luz não chega, nem estavam em alguma rua sem iluminação
durante o anoitecer. O que aconteceu foi simplesmente Shinji ter pedido para Mio
fechar seus olhos por um momento.

Embora não seja seguro andar com sua visão vendada, Mio não sentia
qualquer medo ou preocupação. Certamente, isso acontecia porque Shinji
segurava firmemente a mão de Mio.

Aquele era realmente... um sentimento estranho.

Só de sentir a presença de Shinji através da palma de sua mão, todas suas


preocupações e medos eram naturalmente dispersados.

Que sentimento estranho e totalmente infundado. Mas que ao mesmo


tempo era insuportavelmente confortável. Aquela era uma sensação
extraordinariamente inconcebível para Mio.

— Muito bem, agora pode abrir, Mio.

Naquele momento, Shinji tinha parado seu passo enquanto dizia isso.

— Un...

Mio acenou levemente com a cabeça enquanto lentamente abria seus


olhos.

No momento seguinte, uma luz radiante estimulou os olhos de Mio, que


gradualmente tinham se acostumado com a escuridão.

Aos poucos, uma imagem começou a se formar naquele mundo


puramente branco... antes de finalmente se tornar toda a vista do horizonte.

— Uau...!

Sons de admiração inesperadamente saíram da garganta de Mio.

177
Primeiro de tudo, havia tanto azul que ele não podia ser totalmente
capturado pelo campo de visão dela.

Um plano azul oscilante cuja vastidão não perdia sequer para o céu.

Havia também o reflexo da luz do sol, o som de ondas crescentes e um


cheiro forte que estimulava seu nariz.

Isso mesmo, aquilo era...

— O oceano.

Enquanto olhava para os vários elementos presentes à sua frente, Mio


comparou o cenário com a informação que tinha em sua cabeça.

Shinji acenou com a cabeça enquanto gentilmente sorria.

— Sim, você disse uma vez que queria vê-lo, certo?

— Ah...

Mio se lembrou depois dele ter falado isso. Mio, que tinha absorvido
conhecimento de livros e vídeos reunidos por Shinji, mostrou um forte interesse
em um ambiente em especial que cobria 70% da terra.

Porém, ela não esperava que Shinji se lembrasse disso. Mio sentiu seu
peito se apertar.

— Eu estou tão feliz. Obrigada, Shin.

— Ah, err... desde que você esteja feliz.

Ao ouvir isso, Shinji sorriu enquanto tinha uma expressão tímida


marcando seu rosto.

Mio voltou a exibir um sorriso doce antes de correr para a praia.

— Ah, Mio!

— Hehe.

Deixando seus sapatos para trás com Shinji, o som da água espirrando foi
ouvido enquanto Mio pisava na água.

Como conhecimento, essa informação foi obtida relativamente cedo por


Mio, se ela for questionada sobre o "oceano", Mio poderia certamente explicar
com mais detalhes do que uma pessoa comum.

178
Porém, havia uma grande diferença entre informação armazenada na
mente e o nível de detalhes e sensações que se poderia sentir diretamente através
dos cinco sentidos.

O toque da água fria com seus pés submersos na areia. As recorrentes


ondas que se formavam, tudo aquilo fazia Mio sentir uma porção de uma grande
força exorbitante.

— Ahh...

Que confortável.

Por um segundo, Mio permaneceu em silêncio; ela esticou suas mãos


enquanto levantava seu corpo.

Para Mio que tinha acabado de nascer, tudo era uma experiência nova.
Olhos, ouvidos, nariz, língua e a sensação de toque através da pele, tudo envolvia
o corpo de Mio com um prazer surpreendentemente inexplicável.

Não... certamente esse não era o único caso.

Mio sorria enquanto ela se virava lentamente na direção do rosto de Shinji


com as mãos abertas.

— Shin!

Desse gesto e palavras, ele podia adivinhar sua intenção. Depois de


arregalar seus olhos de surpresa por um momento, Shinji tirou seus sapatos e
andou em direção da praia e Mio.

— Hehe...

Mio esperou Shinji se aproximar do seu lado antes de dar um passo à


frente para segurar Shinji com ambos os braços.

— Espe... Mio...?

De repente, os olhos de Shinji se abriram rapidamente de surpresa.

Porém, o significado por trás daquilo não chegou até Mio. Enquanto
segurava as duas mãos de Shinji, ela começou a se mover ao redor, dançando
juntos das ondas do mar.

— A-ah, mas que maravilhoso.

179
Isso mesmo. De fato, era a primeira vez que ela se movia junto com a maré.
O corpo de Mio ainda tremia de excitação.

Mas da mesma forma... não, muito além disso. O fato de que foi Shinji
quem tinha pensado em levar Mio lá que tinha deixado Mio feliz.

Um impulso interno que excedia as impressões deixadas pelos cinco


sentidos.

Ah... sim.

Mio estava feliz não só porque ela era capaz de ver o oceano.

Shinji se lembrou do que ela tinha dito.

Shinji a trouxe ali.

— Vir aqui junto com o Shinji.

Mas que coisa mais preciosa e insubstituível, não havia nada que pudesse
ser feito contra essa felicidade.

— Espe... ah!

— ...!

Dançando com animação, Mio perdeu o equilíbrio e caiu em cima de


Shinji.

O som alto dos respingos de água cobriu os dois. Mesmo não havendo
nenhuma dor por Shinji ter conseguido a proteger no último segundo, os dois
ficaram completamente encharcados.

— Tudo bem com você, Mio?

— Un, desculpa, Shin. Eu fiquei um pouco animada demais.

Quando eles responderam um ao outro, por um breve momento seus


respectivos olhares capturaram o rosto encharcado um do outro.

— Ha.

— Haha.

Então, eles começaram a rir juntos.

Mio não se conteve e abraçou o corpo de Shinji com ambas as mãos.

— O q...! M-Mio...?

180
— Ahh... "amor". Eu realmente amo o Shin. Eu te amo tanto que eu não sei
o que fazer. Se for pelo Shin, eu sinto que posso fazer qualquer coisa.

Mio transmitiu os sentimentos que desabrocharam em seu coração em


palavras sussurradas para si mesma.

Talvez seja por ser um vocabulário recém aprendido, ou porque era uma
limitação natural expressar o significado por trás daquelas palavras para
começar, mas Mio sentiu que agora ela não conseguia transmitir
apropriadamente o amor histérico que estava sentindo.

— ...!

Não. Mio tinha entendido imediatamente. Era por esse motivo que ela
estava abraçando Shinji naquele momento.

Aquela não era uma ação consciente, mas em vez disso era um impulso
insuportável que ganhou forma. Mas certamente aquilo não era nada além de
uma expressão para mostrar sua afeição para seu parceiro.

Esse deve ser o método de se transmitir seu amor sem ser pela linguagem.
O calor de Shinji na água fria, as batidas do coração, a respiração, tudo transmitia
uma euforia nas batidas do coração de Mio que o fizeram bater ainda mais
rápido.

Ahh, mas não foi somente isso. Ainda não era o suficiente. Um desejo
inexplicável. Mesmo que estivesse bem mais perto do que antes, parecia que
Shinji ainda estava distante. A pequena distância da camada de roupas que os
cobriam parecia ser um estorvo. Um obstáculo para o calor da pele que cobria a
superfície de seus corpos.

Eu quero ficar mais perto do Shinji. Eu quero me tornar uma com o Shinji.

Com esse impulso queimando em seu peito, Mio inconscientemente olhou


para os olhos de Shinji.

Ela lentamente fechou seus olhos e levou seus lábios para perto dos de
Shinji.

— ...!?

Ao adivinhar as intenções de Mio, Shinji sentiu um pequeno tremor


percorrer todo seu corpo.

181
Apesar de suas bochechas estarem com uma cor vermelho vivo, Shinji
rapidamente entendeu. Ele se aproximou mais de Mio.

A imagem de duas pessoas que estavam sendo refletida nas ondulações


da água gradualmente se tornavam uma... no momento antes que isso
acontecesse.

— Atchim!

Mio soltou um pequeno espirro.

Acompanhando aquilo, os olhos dela se abriram novamente e entraram


em contato com a linha de visão de Shinji.

— ...

— ...

— ...Pff.

— ...Haha.

Depois de um breve silêncio, os dois riram novamente.

Aquele era um tempo animado, engraçado e impossível de se ficar infeliz.

Mio amava o Shinji, e com certeza Shinji também amava Mio.

Somente esse fato fez aquele mundo maravilhoso ganhar uma camada a
mais de cor.

Certamente essa felicidade persistiria dali em diante.

Amanhã, no dia depois de amanhã, e no dia seguinte, e para sempre.

Só de pensar nisso, Mio sentiu sua alegria se elevando a novas alturas.

182
Capítulo 5: Aquele que apertou o gatilho
Shidou pensou que aquilo era um sonho.

Ele pensou que fosse uma ilusão causada por ter passado do seu limite.

Porém, a presença real da garota cintilando em frente a seus olhos soprou


esse pensamento fraco dele.

Um lindo cabelo da cor da noite que dançava ao vento, um par de olhos


cristalinos que refletiam a luz e um vestido brilhante sobrepondo a armadura
roxa que ela usava.

Isso mesmo. O Espírito Yatogami Tohka tinha aparecido enquanto vestia


um Astral Dress completo.

— Toh...ka... Tohka...!

Ao mesmo tempo que seu cérebro foi capaz de confirmar sua aparência
claramente, lágrimas começaram a cair de seus olhos.

Um sentimento de alívio percorreu por ele por Tohka estar viva. Mas
acima de tudo isso, mesmo que apenas por um segundo, Shidou não podia se
perdoar por descuidadamente se esquecer dos desejos de todas e quase se render
a Mio.

— Me desculpe, Tohka... Eu... por um momento eu quase desisti...

— O que está dizendo?!

Como se fosse para interromper Shidou, Tohka ergueu sua voz.

— Por você não ter cedido, Shidou está vivo agora! Não houve nenhum
outro resultado além desse!

— ...!

Ao ouvir essas palavras, Shidou sentiu um choque como se tivesse sido


atingido por um raio.

Isso era um aviso para si mesmo. Shidou soltou um suspiro frustrado mais
uma vez por ter tido que confiar no retorno de Tohka.

Para pagar sua dívida à Tohka e aos outros Espíritos, ele tinha que se
levantar...!

183
— Un... obrigado, Tohka.

Enquanto injetava mais força em suas pernas, Shidou se levantou. Uma


estranha energia está transbordando em seu corpo que tinha chegado ao seu
limite.

— Sério... eu sempre sou salvo por você, Tohka.

— Do que está falando? Sou eu quem tem dependido do Shidou até hoje.
Por eu ter o Shidou, eu fui capaz de voltar. É por o Shidou estar aqui que eu posso
confrontar Mio mais uma vez.

— Tohka...

Chamando por seu nome mais uma vez, Shidou limpou as lágrimas
remanescentes em seus olhos enquanto erguia seu rosto mais uma vez.

— ...Então é isso.

Mio se virou para olhar para seu próprio Astral Dress estilhaçado.

— ...Como eu pensei, é você... Tohka. Ah, isso mesmo. Se há alguém que


pode me confrontar, acho que só poderia ser você.

— O quê?

Ao ouvir o que Mio disse, Shidou franziu o cenho.

Mas então, Tohka interrompeu ao dar sua própria resposta.

— Mesmo que eu não saiba os detalhes... mas... parece que eu sou um tipo
de espírito diferente de todo mundo.

— Espírito... diferente?

Quando Shidou perguntou confuso, dessa vez foi Mio que se voltou à ele
para responder com um tom profundamente emocional.

— Eu dividi meu poder em dez Cristais Sephira e os entreguei a humanos


para criar os Espíritos... mas por algum motivo, um cristal Sephira desenvolveu
seu próprio ego. Assim, como quando eu nasci.

Enquanto Shidou quase engasgava com sua própria respiração, ele voltou
seus olhos para Tohka.

— Não pode ser, isso quer dizer que....

184
Então, Mio gentilmente acenou com a cabeça.

— Shin, você percebeu? A diferença entre Tohka e os outros espíritos. O


que os outros Espíritos tem que Tohka não tem?

— O que você disse...

Então, os ombros de Shidou começaram a tremer.

Com essa pergunta natural, Shidou se lembrou de um sentimento


desconfortável que ele estava quase se esquecendo.

Origami, Nia, Kurumi, Yoshino, Kotori, Mukuro, Natsumi, Kaguya,


Yuzuru, Miku.

O que todas elas tinham que Tohka não tinha.

Isso mesmo. Entre todos os Espíritos, Tohka... era a única que não tinha
um nome.

— ...

Porém, mesmo que ela tenha acabado de ouvir isso, Tohka não parecia
nem um pouco aturdida. Não, para ser mais preciso, era como se ela já soubesse
disso.

Tohka abriu os lábios e seus olhos mostraram uma vontade resoluta.

— Isso era confuso; algumas vezes eu sofria por não ter um nome.

Mas eu estou grata por esse fato agora.

Por eu não ter um nome, Shidou pôde me dar um.

Por eu não ser humana, eu pude ficar ao lado de Shidou mais uma vez!

— Tohka...

Olhando para a nobre determinação de Tohka, Shidou sentiu um calafrio


de frustração ao se preparar. Mesmo ele tendo uma parceira tão confiável bem a
frente dele...!

Ah, sim. Por que Shidou se sentia frustrado? Por que ele estava de joelhos
agora a pouco?

Shidou se levantou junto a Tohka, que estava apontando sua espada para
Mio.

185
— ...! Shidou?

— Talvez, ainda tenha algo que possamos fazer. Eu não vou desistir...
vamos lutar juntos.

— ...! Umu!

Tohka deu um aceno de confirmação enquanto colocava mais força em seu


aperto a <Sandalphon>.

Olhando para isso, Mio suspirou suavemente enquanto apertava os olhos.

— Apesar do planejamento ter ficado um pouco bagunçado, isso não


importa. O resultado não vai mudar.

Então, como se respondesse a voz de Mio, uma grande árvore inorgânica


apareceu atrás de Mio enquanto o espaço diferente se expandia de acordo com
isso. Acima de suas cabeças um grande Anjo em forma de flor se manifestou.

— Tohka, o que é isso?

— Umu... se chama <Ain Soph> e <Ain Soph Aur>. Cuidado, nesse espaço
todas as leis ficam sob controle de Mio. Além disso, você vai morrer se tocar a luz
que sai daquela flor. Se você não tiver reiryoku, você morre instantaneamente.

Ao ouvir a resposta suculenta mas chocante de Tohka, Shidou sentiu suor


escorrer pelo seu rosto.

— Ah, isso não é loucamente assustador?

— Bem, com certeza é perigoso. Quer desistir?

— De forma alguma.

Tohka ergueu os cantos de seus lábios e Shidou limpou seu suor.

Chutando o chão como sinal, Tohka balançou para baixo com ferocidade
<Sandalphon>.

— Ohhhhhhhhhh!

O lampejo da espada se tornou uma onda de choque que rapidamente se


aproximava de Mio. Nem mesmo hesitando, Mio se preparou para receber o
golpe diretamente. Porém...

— ...!

186
Assim que o ataque de espada de Tohka estava prestes a tocar nela, Mio
franziu a testa enquanto se movia para trás.

O corte de espada passou de raspão pelo nariz de Mio. Apesar de ter sido
minúscula, uma parte do Astral Dress dela foi cortado.

— Hã!?

Percebendo o efeito do ataque dela, Tohka arregalou os olhos de surpresa.

— Conseguimos Shidou! O ataque chegou nela!

— Ah... mas não parece ter feito muito dano.

— O que está dizendo? Mesmo o <Halvanhelev> não conseguiu fazer


sequer um arranhão antes!

— O que você disse...?

Ao ouvir o que Tohka tinha dito, Shidou levantou uma sobrancelha.

Como o Espírito da Origem, Mio possuía um poder avassalador. Shidou


não conseguia imaginar que Tohka estivesse mentindo.

Porém, mesmo que pequena, uma porção do Astral Dress de Mio tinha
sido cortado pelo <Sandalphon> de Tohka. Qual era a diferença de agora para
antes?

Será que Mio estava se segurando? Seu poder tinha diminuído? Ou...

— ...!

Nesse ponto, Shidou tinha percebido algo.

Isso mesmo; Tohka agora estava vestindo um Astral Dress completo em


vez de uma versão limitada do mesmo. Porém, diferente da última vez, Shidou
não sentiu que o reiryoku de Tohka tivesse se invertido por completo.

Em outras palavras, o reiryoku de Tohka ainda estava dentro do corpo de


Shidou.

O que isso significava? Embora Shidou não entendesse as intenções de


Deus, perder a oportunidade de abater o Espírito absoluto Mio agora seria a
mesma coisa que permanecer em um beco sem saída.

— ...

187
Como se tivesse percebido os pensamentos de Shidou, a expressão facial
de Mio se abalou levemente antes de focar sua atenção em Tohka.

— Entendi. Isso é um pouco problemático.

Mio soltou um pequeno suspiro enquanto se voltava para a direção deles.

— Perdão, Tohka. De agora em diante eu não irei mais te subestimar. Eu


irei usar toda minha força para tomar o Shin de você.

— Eu não vou deixar. Shidou...

Gritando em resposta às palavras de Mio, Tohka chutou o chão mais uma


vez.

— O Shidou pertence a mim!

— Hã...?

Shidou sentiu um choque momentâneo ao ouvir a afirmação inesperada


de Tohka. Porém, aquela não era a hora para julgar esse tipo de questão, Shidou
rapidamente tomou a decisão de ajudar Tohka.

— ...

Um golpe, dois golpes, três golpes, quatro golpes.

Na visão de Mio, os cortes de <Sandalphon> lampejaram com uma


velocidade que os olhos não podiam acompanhar.

Até agora, Mio pôde se defender dos ataques anteriores sem se mover.
Mas naquele momento, o Anjo que ela tinha equipado agora possuía um poder
que quebrava as defesas de Mio e cortava seu Astral Dress.

— ...Então esse é o motivo.

Enquanto bloqueava os cortes de espada de Tohka, Mio soltou um


pequeno murmúrio antes de estender uma faixa de luz para retalhar-lá.

Isso mesmo. Era mais do que somente o reiryoku de Tohka que podia ser
sentido de <Sandalphon> agora.

Talvez, enquanto fugia de Mio, ela tenha absorvido os fragmentos de


reiryoku dos outros Espíritos e até mesmo da própria Mio. O atual <Sandalphon>
estava enriquecido com um denso poder até mesmo superior a <Halvanhelev>.

188
De fato, como se fosse para mostrar esse poder recém descoberto, não
havia nenhuma falha nos movimentos de Tohka desde o começo.

Mio estava tentando limitar seus movimentos com <Ain Soph>.

Porém, isso não era inconcebível. <Ain Soph> era o Anjo de Mio. Mesmo
sendo somente um fragmento, se Tohka tivesse uma porção do reiryoku de Mio,
era natural que ela não pudesse ser impedida.

— ...Eu não esperava que você conseguisse pegar um pouco da minha


força.

Mio murmurou para Tohka em um volume que era quase inaudível.

Enquanto um gracejo sarcástico tenha nascido de sua impaciência, as


palavras ao mesmo tempo eram um monólogo que mostravam um resultado
incomensurável.

Como a própria Tohka tinha dito, ela nasceu de uma forma


completamente diferente dos outros Espíritos.

Não, para ser preciso, pode se dizer que ela era o único Espírito puro além
da própria Mio.

Nascida do nada assim como Mio.

Ela não tinha um nome assim como Mio.

E então... ela se encontrou com Shidou assim como Mio.

De certa forma, Tohka era como se fosse uma cópia de Mio.

Tal garota estava usando o próprio poder de Mio contra ela.

Em tais circunstâncias, Mio não conseguia deixar de sentir um estranho


sentimento.

— Ohhhhhhhhhhhh!

Com força o suficiente para deixar fissuras no chão, Tohka balançou


<Sandalphon> diretamente em direção a Mio.

— <Ain Soph> - <Anaph>.

As sobrancelhas de Mio tremeram levemente enquanto ela chamava por


aquele nome.

189
Em um instante, um ramo de <Ain Soph>, afiado como uma espada,
emergiu do vácuo e interceptou o golpe de Tohka.

— Muu...!?

— ...

Enquanto bloqueava o corte do <Sandalphon> de Tohka, Mio olhava para


Shidou.

Isso mesmo. De trás, Shidou estava usando <Gabriel> para continuamente


fortalecer Tohka. Sem dúvidas isso também serviu para aumentar o poder de
Tohka.

Não... não somente isso.

Talvez para não atrapalhar Tohka ou por saber que seus ataques não
seriam efetivos, Shidou não tentou atacar Mio diretamente.

Porém, enquanto ela estava lutando com Tohka, Shidou continuou


encarando Mio.

A luz em seus olhos era incomparável com o rosto de desespero que ele
fazia antes.

Talvez, mesmo dessa vez, ele ainda continuava pensando. Se havia


alguma forma de derrotar Mio. Ou se era possível reviver os outros Espíritos.

Mio sentiu seu coração se contrair com aquele olhar.

— Ah, com certeza o desespero não combina com você.

Depois de ponderar sobre isso, Mio afiou seu olhar enquanto mudava sua
atenção de volta para Tohka.

Então, ela estendeu suas duas mãos enquanto Tohka estava prestes a
investir contra ela novamente.

— Perfure, <Ain Soph>.

Naquele instante, o espaço em volta de Mio começou a se distorcer


enquanto várias "raízes" de <Ain Soph> eram liberadas.

— O quê...!?

Tohka cortou as "raízes", mas as "raízes" prosseguiram como se fossem


chicotes.

190
De fato, as leis de <Ain Soph> não se aplicavam a Tohka, que tinha uma
porção do poder de Mio. Porém, a mesma coisa não podia ser dita sobre ser
penetrada pelas raízes exteriores, que rapidamente se estendiam em direção ao
corpo de Tohka ao comando de Mio.

Mas... no próximo minuto.

— Tohka!

Com um rugido, Shidou pulou na frente de Tohka.

— ...!

De repente, Mio tremeu enquanto parava seu ataque um pouco antes das
"raízes" alcançarem Shidou.

Com o poder de <Camael>, até mesmo ser perfurado no peito não seria o
suficiente para matá-lo. Esse foi o motivo para ela ter planejado começar selando
o poder regenerativo de <Camael> dentro de Shidou primeiro.

Mas, mesmo assim, era impossível para ela voluntariamente perfurar o


peito de Shidou.

Naquele momento, quando Shidou pulou na frente de Tohka, a mente de


Mio recobrou a cena de trinta anos atrás... a visão de Shin caindo para a bala
impiedosa do inimigo.

— Ku...

Mio levemente distorceu sua expressão enquanto manipulava as "raízes"


para lançar Shidou para longe.

— Uwa...!?

Shidou soltou um gemido enquanto rolava no chão. Mesmo que


temporariamente, a ofensiva de Mio foi impedida por um breve momento.

Porém, o resultado de forçadamente encerrar seu próprio ataque revelou


uma oportunidade por um instante.

E para Tohka, esse era o empurrão necessário para virar o jogo.

— <Sandalphon>!

Tohka chamou pelo nome de seu Anjo e seu calcanhar bateu no chão.

191
Respondendo a seu comando, um grande trono que passava da altura de
Tohka tinha se erguido do chão.

— <Halvanhelev>.

No momento em que viu ele, aquele nome apareceu na mente de Mio.

O trunfo do Anjo da espada, <Sandalphon>. Uma espada com um poder


destrutivo incomparável.

Se fosse a antiga Tohka, Mio não precisaria sequer se defender.

Porém, se <Sandalphon> agora podia lançar um golpe contra ela, seria


impossível ela conseguir sair dali ilesa.

Se esse fosse o caso...

— <Ain Soph Aur> - <Henet>.

Quando Mio estendeu seus braços para frente, uma esfera do tamanho de
um palmo apareceu diante de suas mãos.

O botão de flor da morte extrema. Assim que a esfera floresceu em um


instante, uma luz da morte condensada foi disparada em linha reta na direção de
Tohka.

<Halvanhelev> era certamente um golpe poderoso, mas o ataque levava


um tempo para ser gerado e liberado.

Invocar o trono, quebrá-lo, equipá-lo na espada, e finalmente balançá-lo.

Naquele momento, onde todo seu poder estava focado na espada, o corpo
de Tohka estava vulnerável. Enquanto ela fosse o alvo de um ataque direto de
<Ain Soph Aur>, mesmo Tohka com o poder de Mio não estaria a salvo.

Porém...

— <Ratelibish>!

— ...O quê?

Ao ouvir o que Tohka tinha dito, Mio não pôde deixar de franzir as
sobrancelhas.

Os estilhaços do trono destruído se envolveram no corpo de Tohka como


uma armadura em vez de cobrir a espada em suas mãos.

192
Então, Tohka balançou seu corpo para evitar os raios de luz de <Ai Soph
Aur>.

Equipando o Anjo em seu próprio corpo, isso era uma reminiscência do


<Siryon> de Yoshino.

A autoridade de um Anjo não era restrita a uma singularidade. Embora o


atributo do Cristal Sephira fosse pré-estabelecido, os poderes que manifestavam
dependia da personalidade do hospedeiro. Como resultado, nem mesmo Mio
podia compreendê-lo totalmente.

Ou pelo menos, era a primeira vez que Mio via a figura atual de Tohka.

— O qu....

— Haaaaaaaaaaahhhhhhhh!

Coberta pela armadura do seu trono dourado, as raízes dos ramos de <Ain
Soph> eram defletidas enquanto Tohka se aproximava de Mio em um instante.

Com aquele impulso, ela cortou o ombro de Mio.

Uma dor aguda. O Astral Dress que cobria seu corpo foi retalhado e a pele
branca de Mio foi arranhada pela primeira vez.

— ...

A onda de choque daquele corte atingiu todo seu corpo, sangue espirrou
de seu sua ferida.

Ahh... aquele era um sentimento misterioso.

Desde que nasceu, não houve um inimigo que pôde se opor a ela.

Para Mio, a primeira vez que ela sofria um machucado foi trazido por uma
existência que era a mais próxima de seu sua filha ou sua cópia.

Tanto por aquela sensação estranha quanto por euforia, Mio ergueu seu
rosto que estava coberto de sangue.

— Esplêndido, Tohka.

Essas palavras não eram somente por desferir aquele ataque.

Mesmo quando suas companheiras foram mortas, mesmo quando ela foi
aprisionada dentro dela, Tohka não perdeu a esperança e ficou de pé diante de
Mio mais uma vez.

193
— Por seu coração nobre, você tem meu mais profundo respeito. Então, eu
irei responder a altura.

Mio disse enquanto olhava diretamente para os olhos de Tohka.

E então, ela recitou.

O nome do último Anjo que Mio possuía.

— <Ain>.

Em um momento.

Luzes preencheram todo o mundo.

— ...! Tohka...!?

Naquele momento, equipado com sua armadura de trono, Tohka balançou


sua espada em direção a Mio enquanto o espaço diferente era esbranquiçado pela
luz.

Soprado para longe por Mio, Shidou inadvertidamente cobriu seus olhos
enquanto gritava o nome de Tohka.

Então, ele não soube quanto tempo se passou.

Quando Shidou abriu seus olhos, ele viu a silhueta de Mio com seu Astral
Dress despedaçado e seu corpo coberto de sangue.

— ...!

A perturbação e simpatia pela forma dolorosa de Mio, enquanto também


a excitação pelo ataque que Tohka lançou em seu alvo, as duas emoções
simultaneamente envolviam seu coração.

Mas imediatamente, a consciência de Shidou foi dominada por uma


sensação desagradável logo em seguida.

— Toh...ka...?

Isso mesmo. A silhueta de Tohka de antes de atacar Mio, não podia ser
vista em lugar nenhum.

194
195
Mio suspirou levemente enquanto ela apontava seus olhos para Shidou.

— ...Tohka se foi.

— Hã...?

Com as palavras de Mio, Shidou congelou por um momento antes de


entender o significado por trás daquelas palavras.

Talvez Mio tenha considerado Tohka como um risco, e assim como fez
com Shidou antes, a moveu para outro lugar.

Se for isso, até Tohka retornar, Shidou tinha que encarar Mio sozinho. Não,
se ela fosse movida para algum lugar próximo, Shidou ainda assim estaria bem,
mas se Tohka fosse lançada para o mesmo lugar que Shidou tinha sido antes,
então...

Então, enquanto Shidou estava pensando nisso, Mio lentamente balançou


sua cabeça como se estivesse lendo seus pensamentos.

— Eu não a movi para outro lugar. Desde o começo, como Tohka tinha
pegado um pouco do meu poder, um pequeno truque como esse não teria efeito
algum.

— Hein...? Então o que afinal...

Quando Shidou disse aquilo, Mio moveu seus lábios levemente.

— Como eu disse, ela já não existe mais. Não foi lançada para outro lugar,
nem morta... mas sim desapareceu para o nada.

— Como... isso...

— O Anjo do vazio <Ain> ignora todas as leis e erradica o alvo


completamente. Deixe-me dizer de novo, Tohka se foi, ela não faz mais parte de
nenhum lugar desse mundo.

— ...

Ao ouvir o que Mio tinha dito, Shidou ficou sem palavras.

Tohka se foi.

Mesmo que fosse difícil de entender muito bem, essas palavras eram a
única coisa que importava.

196
— É claro, o reiryoku da Tohka também desapareceu completamente. Por
esse motivo, eu não queria usar aquele Anjo... mas não havia outra forma de meu
desejo se realizar com a força que Tohka possuía. Por outro lado, Tohka me
forçou a usar meu trunfo. Por favor, dê a ela seus elogios. Ela superou seus limites
enquanto pensava em você.

Enquanto dizia isso, Mio bateu em suas feridas com a mão.

Então, seus machucados desapareceram como se fosse um filme


retrocedendo. Seu Astral Dress rasgado e estilhaçado também voltou a sua
aparência original.

— ...Bem, Shin. Agora ninguém pode ficar no caminho. Não se preocupe,


apesar da perda de Tohka ter decrescido a quantidade de reiryoku, a força já
acumulada será o suficiente para que tenha vida eterna. Tudo que preciso fazer
é devolvê-la completamente ao Shin.

Mio lentamente se virou para Shidou.

Shidou sentiu sua própria respiração falhar.

As pontas de seus dedos tremeram. O desespero que uma vez tinha


desaparecido ressurgiu, agarrando-se aos seus pés.

...Porém.

— <Metatron>!

Shidou rangeu os dentes enquanto rugia em voz alta.

Ele ergueu sua mão para invocar o Anjo da luz, disparando uma série de
raios de luz em direção a Mio no processo.

Ah, essa certamente era uma situação desesperadora e até mesmo pior que
a anterior. Todos os espíritos tinham sido mortos e mesmo sua última esperança,
Tohka, tinha sido apagada.

Porém, os joelhos de Shidou não vacilaram enquanto ele rosnava de novo


para o Espírito invencível.

Tudo porque ele havia prometido. Ele tinha prometido a Tohka, aos
Espíritos.

Ele jurou nunca mais desistir. Uma promessa de que ele nunca iria se
entregar...!

197
— Ohhhhhhhhh!

Com <Zadkiel> em sua mão esquerda e <Camael> em sua mão direita, ele
liberou um ar gelado e chamas simultaneamente.

Porém, Mio nem sequer precisou se mover para resistir a esses ataques
caóticos. Como se seu corpo estivesse protegido por uma camada invisível de
filme, os ataques nem sequer chegaram até ela.

De fato, ele podia entender porque Tohka tinha ficado surpresa quando
seu ataque cortou uma pequena parte do Astral Dress dela. A diferença de poder
era irracional.

Mesmo assim, Shidou não desistiu.

Utilizando <Michael> para selar os poderes do inimigo. Transformar Mio


em uma forma que não ataque com <Haniel>. Invocar o vento com <Raphael>.
Soltar a voz com a ressonância de <Gabriel>. E finalmente cortar com
<Sandalphon> para afastar mio.

Shidou usou todos os Anjos em seu arsenal para resistir contra Mio.

Porém...

— Isso é inútil.

— ...!

Só de dizer isso, todos os ataques de Shidou foram eliminados.

Então, no momento seguinte, Mio ergueu um dedo, fazendo com que uma
faixa de luz crescesse do chão e se emaranha se em seu pé.

— O que...é isso...

— Desculpa, mas é um problema deixar você ficar pulando por aí.

Enquanto ela se desculpava, Mio chutou o chão, traçando uma trajetória


estranha que resistia a gravidade e se aproximava de Shidou.

— Ku...

Embora Shidou tentasse se soltar, a faixa de luz parecia ter se assimilado


ao seu pé de uma forma inseparável. Mesmo se ele tentasse contê-la com
<Sandalphon>, a faixa de luz permaneceria intacta.

198
Nesse meio tempo, a distância entre Mio e Shidou foi ficando cada vez
mais curta.

De fato, dessa vez certamente parecia ser o fim da linha.

Mesmo assim, Shidou ainda não tinha desistido.

Até o último segundo, esses pensamentos continuaram a lhe percorrer


enquanto ele observava Mio rapidamente se aproximando.

Como resultado... Shidou não perdeu de vista o que aconteceu em


seguida.

Ele viu uma bala perdida atingir a mão de Mio.

— ...!?

— ...O quê?

O espanto de Shidou foi sobreposto pela voz de Mio.

A mão de Mio não foi machucada.

Mas com certeza, agora a pouco, uma bala tinha acabado de atingir a mão
de Mio.

Porém, ela não parecia ser um aglomerado de metal lançado por pólvora.
Na verdade, Shidou não sentia o cheiro de pólvora alguma, nem sequer viu as
fagulhas do disparo de um rifle.

Isso mesmo. Ela se parecia mais com uma sombra negra solidificada na
forma de uma bala...

— Kihihihihihi.

Como se fosse para interromper... não, ao invés disso, aquela voz parecia
validar os pensamentos de Shidou.

Uma risada característica veio das proximidades.

— Ara, ara, aparentemente eu cheguei bem na hora.

— O qu...

Com a aparição da dona da bala emergindo naquele espaço diferente,


Shidou instintivamente ergueu sua voz em descrença.

Um astral Dress tingido de sangue e trevas.

199
Cabelos negros como um corvo amarrados de forma desigual de ambos os
lados.

E... o mesmo relógio dourado peculiar no lugar do olho esquerdo.

Isso mesmo. A pessoa que estava ali era...

— Kurumi...!?

O Espírito Tokisaki Kurumi fez uma aparição inesperada.

— O que... O que isso significa!? Você foi morta por Mio...

Shidou disse em um tom surpreso enquanto arregalava os olhos.

Como Shidou tinha visto com seus próprios olhos, Mio se arrastando para
fora do peito de Kurumi, transformando Kurumi em um cadáver. Mesmo os
clones ao seu redor tinham desaparecido.

Mas agora, a Kurumi bem à sua frente era vívida demais para ser uma
alucinação, e sua personalidade era similar demais para ser uma farsante.

— Me desculpe, Shidou-san. Eu devia ter chegado antes, mas como foi a


primeira vez que fiz isso, não funcionou exatamente como eu planejava.

— ...? O que você quer dizer com...?

Ao ouvir as palavras intrigantes de Kurumi, Shidou se sentiu ainda mais


atordoado.

Então, o comportamento de Mio mudou levemente como se ela tivesse


percebido algo.

— A Décima primeira Bala, <Yud Aleph>, correto?

— Hã...?

— Kihihi.

Enquanto Shidou ainda estava perdido em confusão, Kurumi expôs uma


risada destemida depois de ouvir o que Mio tinha dito.

◇◇◇◇

200
Voltando para uma hora atrás.

No campo de batalha, um braço branco estava crescendo do peito de


Kurumi.

— A-ah...

Sua garganta tremia enquanto um gemido escapava de seus lábios.

— Eu...!

Mas o grito foi algo vazio enquanto a voz de Kurumi ficava cada vez mais
fraca... como se estivesse combinando com isso, um braço estava lentamente se
arrastando para fora de seu peito.

Eventualmente, uma linda garota apareceu.

— O que...?

Olhando para a garota que apareceu, todos os clones da Kurumi ao redor


sentiram suas respirações sendo obstruídas.

Essa era uma reação natural ao se ver uma garota se arrastar para fora do
seu corpo. Porém, para as Kurumis presentes, esse horror não se justificava
somente nisso.

Todas elas... conheciam aquela garota que apareceu.

Takamiya Mio.

A garota que tinha transformado Kurumi em um Espírito.

A garota que tinha trabalhado e lutado lado a lado com Kurumi.

E a garota que causou a morte da melhor amiga de Kurumi.

Isso mesmo; ela era tanto o ponto inicial quanto o final da vingança da
Kurumi.

O desprezível Espírito da origem estava ali.

— ...!

Reconhecendo isso, os clones da Kurumi entenderam a situação.

Alguns dias atrás, Kurumi tinha se encontrado com o espírito da origem e


a absorveu com sua sombra.

201
Como a <Cidade que Devora o Tempo> sugava o tempo do objeto que
fosse engolido. Aqueles que eram engolidos eram privados de sua expectativa de
vida até que o fogo de suas vidas fosse extinguido e a morte caísse sobre eles...
ou ao menos era assim que deveria ser.

Porém, por algum motivo misterioso, Mio não tinha morrido. Pelo
contrário, seu corpo se rejuvenesceu para a idade que tinha quando encontrou
Kurumi pela primeira vez. Era como se ela tivesse absorvido o tempo da Kurumi.

— Ga... ah...!

Tendo descoberto a identidade da garota que emergia de seu peito,


Kurumi soltou um rugido parecido com o de uma fera enquanto ela injetava força
na mão que segurava sua pistola curta.

— <Zafkiel>...!

No momento seguinte, em resposta a voz de Kurumi, uma sombra se


contorceu sob os pés dela e foi sugada para o cano da arma.

Então, ao ver Mio crescendo em seu peito, Kurumi pressionou o gatilho.

Porém, naquele momento, Mio sacudiu seu corpo para se libertar de


Kurumi.

— Ga...!

Kurumi soltou um gemido angustiado enquanto sua postura se desfez.

Não é preciso dizer que a bala que Kurumi tinha atirado não atingiu Mio.

— ...!?

Ao invés disso, a trajetória do tiro foi direcionada para um dos clones de


Kurumi.

— O que... e-eu!?

O clone da Kurumi arqueou enquanto agarrava seu peito.

— ...!

O infortúnio foi tal que chegou a ser cômico. Só de pensar que aquele
talvez seria o golpe final daquela que era conhecida como o Pior Espírito,
Tokisaki Kurumi.

202
Porém, o clone rapidamente percebeu que essa bala não era simplesmente
uma solidificação das sombras.

Não houve dor vindo de seu peito. Ao invés disso, do ponto onde a bala
entrou, houve uma sensação de que seu corpo inteiro foi pego por um
redemoinho.

— Isso é... não pode ser...!

O clone abriu seus olhos e encarou Kurumi.

— ...

Então, só por um momento, Kurumi sorriu antes de silenciosamente cair


no abismo da morte.

— Ah...

Naquele instante, o clone percebeu.

Kurumi não atirou para ser um último ataque desesperado.

Ela tentou mirar em Mio para camuflar suas verdadeiras intenções.

Sim, Kurumi, que percebeu sua morte se aproximando, reuniu seu poder
restante... para confiar aquela bala a seu clone.

<Zafkiel> <Yud Aleph>.

A arma secreta de Kurumi, junto com a décima Segunda bala <Yud Bet>,
a bala que enviava o alvo para o passado.

A bala proibida que enviava o alvo para o futuro.

Ela entendeu as intenções de Kurumi quando deu aquele tiro.

Palavras e instruções não foram necessárias. Como os clones


compartilhavam as mesmas intenções e aspirações que Kurumi, ela não era nada
mais nada menos do que a própria Tokisaki Kurumi.

— Eu.

Ao ter tudo confiado a ela, o clone engoliu suas palavras enquanto ela
resistia ao impulso de gritar uma resposta.

203
Kurumi tinha deliberadamente errado, então a atenção de Mio não estava
focada em seu clone. Ela não podia desperdiçar aquela dedicação por um efêmero
momento passional.

— Sim, sim, você confiou ele a mim... o futuro.

O clone sussurrou suas palavras antes de desaparecer completamente


deste mundo.

◇◇◇◇

— Isso mesmo, Mio-san. Eu sou um clone da Tokisaki Kurumi enviada ao


futuro uma hora atrás. A última assassina enviada para matar você.

Kurumi disse enquanto segurava duas pistolas de modelo antiquado em


suas mãos.

Vendo esse movimento, Mio suspirou suavemente.

— Você realmente está falando sério quando diz isso? Um clone é uma
ameaça para mim?

— Sim, sim. A verdadeira eu foi morta por você. E todos os clones além de
mim desapareceu, mas... com o reiryoku confiado a mim através da <Yud
Aleph>, eu posso continuar a existir até que meu tempo acabe. E é tempo o
suficiente... para matar você.

Kurumi gritou enquanto saltava do chão e atirava com suas duas armas.

Apesar das duas armas se parecessem com dois mosquetes antigos de um


único tiro, uma sombra foi sugada para dentro deles sempre que ela disparava,
recarregando o tambor em um instante. Uma chuva de balas se aproximou de
Mio.

— ...

Mio balançou sua sobrancelha enquanto levemente empurrava o peito de


Shidou.

Então, com um impulso inimaginável para esse gesto tão casual, o corpo
de Shidou foi soprado para trás.

204
205
— Ku...!

Apesar de cair no chão, os olhos de Shidou permaneceram fixados tanto


em Mio quanto em Kurumi.

As balas de Kurumi choveram para cima de Mio como uma tempestade


implacável.

É claro, Mio permaneceu imaculada, mas as balas perdidas continuaram a


ricochetear pelos arredores, deixando várias marcas de bala no chão.
Provavelmente, a prioridade das ações de Mio era não ter que se preocupar com
Shidou... não, Shin. Provavelmente porque ela não queria deixar possibilidades
para que o corpo de Shin sofresse sequer um arranhão.

Então, como se estivesse antecipando as ações de Mio, Kurumi pousou


bem entre Mio e Shidou.

— ...! Kurumi, o que você está fazendo...?

Shidou apertou seus olhos enquanto chamava o nome dela. Em resposta,


Kurumi silenciosamente olhou para Shidou.

— Eu já disse antes que eu vim aqui para derrotar a Mio-san. Ah, tem mais
uma coisa também.

Kurumi tencionou as pontas de seus lábios.

— Talvez, seja porque eu não consegui esquecer o sentimento de encostar


nos lábios do Shidou-san.

Depois de dizer aquilo, Kurumi saltou do chão novamente para atacar


Mio.

— O qu...?

Enquanto observava as costas de Kurumi, Shidou franziu as sobrancelhas.

O motivo era simples. As ações de Kurumi estavam completamente


inconsistentes com o que se era esperado de Kurumi.

— Kihihihihi...! Ei, o que foi? Essa não é só uma luta defensiva.

— ...

Kurumi continuou a disparar uma barreira de balas em Mio usando suas


duas pistolas. Porém, esses ataques continuaram a não fazer efeito em Mio.

206
Era demais, havia uma diferença de poder excessiva.

Ele não achava que Kurumi não sabia disso.

— O que... está acontecendo?

Assim como o clone tinha dito, a Kurumi original tinha sido morta por
Mio. O clone deveria entender que ela nunca poderia vencer Mio.

Mesmo se ela soubesse que aquilo era inútil, ela ainda assim continuava o
fazendo por causa de sua vingança?

— ...

Não, Shidou imediatamente negou essa possibilidade em sua mente.

Se fosse uma pessoa normal que estivesse fazendo isso, Shidou ficaria
convencido.

Porém, era inimaginável que Kurumi fizesse aquilo. Essa garota, não
importa a qual limite ela foi exposta, ela nunca usaria sua bala secreta sem ter um
propósito.

Deve ter alguma coisa. Certamente, havia alguma coisa escondida que Mio
não poderia descobrir.

Isso mesmo, a decisão de Kurumi não seria abalada mesmo à beira da


morte.

Shidou estava confiante disso por ele ter revivido o passado de Kurumi
através da décima bala <Yud>.

Não importa o que seja... seria impossível para ela desistir agora.

Para poder reescrever o mundo, Kurumi continuou sua batalha mesmo se


mergulhando em selvagerias.

Talvez, seja porque eu não consegui esquecer o sentimento de encostar nos lábios
do Shidou-san.

— Ah...

Naquele momento.

Uma voz fraca saiu da boca de Shidou enquanto ele inadvertidamente


tocou seus lábios com os dedos.

207
Em sua mente, havia o sentimento de encontrar caída, a última peça do
tabuleiro.

Sem dúvidas, Kurumi certamente...

— Ku, ha...

De repente, Shidou abriu os olhos depois de ouvir um choro dolorido


vindo de sua frente.

— ...! Kurumi...!?

Enquanto ele levantava seu rosto com pressa, viu a figura da Kurumi
enquanto seu corpo era perfurado por várias faixas de luz que emergiam do chão.

— Des... culpa... com certeza... não foi...

Enquanto vomitava sangue, Kurumi olhou para Shidou com um olhar


vazio.

Mas olhando para a expressão de Shidou... ela silenciosamente sorriu.

Certamente, aquilo foi apropriadamente transmitido.

A resposta que chegou a Shidou.

— Ah... ha...

Kurumi sorriu suavemente enquanto ela caia no chão... e dessa mesma


forma, ela desapareceu e caiu no chão.

— É difícil de entender. Você deveria saber que não conseguia me


derrotar.

Mio olhou para o lugar onde Kurumi tinha chegado com um visual
estranho antes de se virar na direção de Shidou.

— De qualquer forma... agora tudo está pronto. Eu aprecio a determinação


de todos e aplaudo toda sua disposição de lutar. Mas no final, toda aquela
resistência foi fútil. Em termos de resultados, nada foi mudado.

— Fútil?

Ao ouvir as palavras de Mio, Shidou sentiu um tremor em sua garganta.

— Não foi... fútil. Tudo... foi necessário.

— ...Shin?

208
Talvez por ter achado a resposta de Shidou inesperada, Mio mostrou uma
expressão perplexa.

Shidou continuou a olhar diretamente para Mio.

— Por todos estarem aqui, por Tohka ter lutado, Kurumi ter chegado a
tempo... tudo isso me fez perceber...!

Quase que inconscientemente, lágrimas escorreram de seus olhos.

Sim, tudo tinha sido necessário.

Se uma única coisa faltasse, então as memórias de Shidou teriam sido


perdidas para sempre.

Porém, uma série de milagres conectaram um laço que permitiu que ele
mantivesse sua vida.

Enquanto observava Mio, Shidou soltou um pequeno suspiro.

Mio era certamente poderosa ao ponto de que chamá-la de "forte" parecia


mais com um grande eufemismo.

Era impossível repeli-la, não importa quais métodos fossem usados.

A luz de <Metatron>;

O ar congelante de <Zadkiel>;

As chamas de <Camael>;

Os selos de <Michael>;

As transformações de <Haniel>;

O vento de <Raphael>;

O som de <Gabriel>;

A lâmina de <Sandalphon>, nenhum desses ataques sequer alcançou Mio.

Mesmo que uma parte grande o suficiente do Cristal Sephira de Nia


permanecesse com ela para que ela pudesse usar <Rasiel> em combate, o
resultado seria provavelmente o mesmo.

Porém, dentro do corpo de Shidou... havia o poder de mais um Anjo.

— ...!

209
Shidou chamou pelo nome daquele Anjo.

— <Zafkiel>, A Sexta Bala <Vav>!

Naquele momento, a sombra de Shidou se arrastou do chão e se reuniu


em sua mão para formar uma pistola pequena.

Ao mesmo tempo, um som de tique mecânico foi ouvido vindo de seu olho
esquerdo.

Isso mesmo; um relógio dourado foi cravado no olho esquerdo de Shidou.

Kurumi havia lhe entregado o Anjo do tempo, <Zafkiel>.

Com sua morte, aquele poder foi absorvido de volta para Mio... mas um
doze avos daquele poder, a Sexta bala <Vav>, já havia sido selada dentro do corpo
de Shidou.

No passado, Kurumi tinha dado um beijo em Shidou como uma


pegadinha. como resultado, somente essa bala tinha sido selada.

O poder... para enviar a consciência de alguém de volta ao seu corpo no


passado.

Sempre que Shidou tinha sido morto, Kurumi tinha o beijado para
recuperar esse poder e enviar sua consciência ao passado.

Porém, até onde se sabia, Shidou ainda não havia morrido.

Inevitavelmente, o poder da Sexta Bala <Vav> ainda estava no corpo de


Shidou.

Todavia, Shidou nunca tinha invocado <Zafkiel> até aquele momento.

Era impossível chegar até essa ideia somente com seus esforços.

Ah, isso mesmo, Kurumi tinha usado seus últimos poderes para enviar um
clone ao futuro para informar Shidou desse último movimento...!

— O que...?

210
211
Vendo isso, pela primeira vez, o rosto de Mio teve uma oscilação
repentina.

Mas... tarde demais.

— Aaaaaaaaaaa!

Shidou gritou, apontando a arma para sua têmpora...

E então ele apertou o gatilho.

◇◇◇◇

— ...!

Sua consciência nebulosa gradualmente começou a se clarear.

O céu estrelado se espalhava diante dos olhos de Shidou.

— ...Isso é...

Shidou olhou para si mesmo antes de se virar para confirmar os arredores.

Um teto feito de vidro. Uma sala branca com uma máquina que vendia
bebidas encostada em uma das paredes, assim como algumas folhagens de
plantas decoravam o local. Sentado no banco, ele estava segurando um copo de
papel com chá e leite em seu interior.

Isso mesmo. Essa era a área de descanso a bordo da <Fraxinus>. Shidou


rapidamente colocou o copo de papel no banco e rapidamente pegou seu
smartphone para confirmar a data na tela.

— 19 de fevereiro...

Ele sussurrou aquela data enquanto seu aperto no smartphone ficou mais
forte.

O dia antes da batalha final da <Ratatoskr> contra a DEM. E também, o dia


antes de todos os Espíritos serem mortos.

— ...Ah.

Shidou se abaixou em uma posição parecida com a de uma oração, lutando


para conter a emoção insuportável em sua garganta.

212
Um alívio pelo sucesso da sexta bala <Vav> e uma profunda apreciação
por todos preencheu seu coração.

— ...

Porém, a expressão de Shidou logo ficou sombria enquanto ele engolia em


seco.

Certamente, como sua consciência voltou para o passado por causa da


Sexta Bala <Vav>, Shidou tinha conseguido fugir do pior final que era a
destruição e morte de todos os Espíritos.

Mas, mesmo assim, aquilo não significava que os problemas foram


resolvidos.

O Espírito da origem: Takamiya Mio.

O espírito absoluto que portava o nome de <Deus>.

Mesmo voltando no tempo, enquanto não houvesse uma forma de


derrotá-la, o perigo de ter o mesmo fim se repetir ainda permanecia.

Seria inútil ele ter voltado sem que a raiz do problema fosse resolvida.
Shidou começou a ponderar desesperadamente sobre isso.

Uma diferença entre o antigo mundo e o atual. Uma possibilidade


necessária para impedir a tragédia de acontecer.

A única coisa que lhe veio à mente era a existência do Shidou que sabia os
eventos que aconteceram antes. Não seria exagero dizer que a possibilidade de
evitar a morte de todos em menos de 30 horas dependia das ações que Shidou
tomaria.

Porém, com base nesse pensamento, questionamentos sobre o que


especificamente era necessário ser feito foram levantados. Era extremamente
difícil para Shidou chegar a uma resposta.

Enquanto ele estava nesse monólogo solitário, Shidou começou a


murmurar para si mesmo.

Impedir que Mio apareça para começar?

Não, Mio já estava dentro de Kurumi, e além disso ela também existia
como Reine. Isso não era mais possível.

213
Continuar repetindo a história através da Sexta bala <Vav> até encontrar uma
resposta correta?

Não, se Kurumi e Shidou morrerem no campo de batalha, eles não


poderiam usar <Vav> para mudar a história. Além disso, o poder de <Vav> era
derivado de Mio. Havia a possibilidade da intuição de Mio perceber que ele está
repetindo a história.

Selar o poder de Kurumi e viajar 30 anos no passado usando a <Yud Bet>?

Não, mesmo que ele conseguisse fazer isso, Mio saberia sobre isso por
estar dentro de Kurumi. Eventualmente, isso levaria a morte da Kurumi.

— Ku...

Shidou balançou sua cabeça. A aparição de Mio era o ponto final de cada
uma das escolhas.

Matar todas as criaturas vivas e reescrever as leis naturais de todas as


coisas, o Espírito da origem poderia extinguir todas as existências.

— O que exatamente eu deveria fazer...?

Naquele momento, o rosto de Shidou se tingiu de confusão.

— Shidou?

Atrás dele, uma voz ecoou.

— ...!"

No momento em que ouviu aquela voz, as ilusões produzidas pelos seus


profundos pensamentos foram varridas completamente de sua mente.

Ele se virou para ver a dona daquela voz.

— O que aconteceu, por que está aqui?

— Tohka...

Ele abriu seus olhos de surpresa enquanto lentamente dizia aquele nome.

Isso mesmo. Tohka estava de pé ali enquanto vestia um pijama adorável.

Aquilo era completamente compreensível quando se parava para pensar.


Ao mesmo tempo, Shidou tinha se encontrado e conversado com Tohka na área
de descanso.

214
Porém, Shidou não conseguia pensar nisso.

Tohka, uma garota que inspirou Shidou a se levantar e desafiar Mio... uma
existência que tinha sido apagada agora estava bem ali.

Shidou quase que inconscientemente abriu seus braços para abraçar


Tohka.

— Tohka... Tohka...

— O que...?! S-Shidou!?

Enquanto inicialmente tinha ficado surpresa com o abraço repentino de


Shidou. Tohka percebeu que ele estava chamando seu nome com lágrimas nos
olhos, então ela gentilmente acariciou sua cabeça.

— Bem, sou eu... o que aconteceu, Shidou?

— Tohka, eu...

Em seu ânimo, Shidou estava prestes a confessar a Tohka o que tinha


acontecido e como a existência de Tohka o tinha salvado.

Porém... ele parou quando estava prestes a dizer alguma coisa.

O motivo era simples. Eles estavam dentro da <Fraxinus>.

Os alto-falantes e microfones com coletores de som estavam instalados em


todas as instalações principais da nave, com cada conversa sendo gravada e
armazenada. A não ser que houvesse uma garantia de que não seria ouvida por
Reine, não seria inteligente falar sobre o futuro naquele lugar.

Portanto, Shidou soltou um suspiro enquanto mantinha a informação com


si mesmo.

— ...Eu tive um sonho.

— Um sonho?

— ...Sim, um sonho muito ruim onde todos tinham sido mortos na batalha
contra a DEM. Eu... eu não pude fazer nada mesmo com a Tohka se esforçando
tanto.

— Shidou...

Tohka de repente soltou seu rosto e deu tapinhas em suas costas.

215
— Tudo vai ficar bem. Isso certamente não vai acontecer.

Quando Tohka disse aquilo, ela continuou enquanto levemente divagava


com uma expressão alegre no rosto.

— Hmm... mas nesse caso, eu estava me esforçando muito no sonho do


Shidou.

Vendo aquele olhar convencido, Shidou sentiu que um pouco de sua


tensão tinha sido aliviada.

— ...Ah. Com certeza, você realmente teve um papel muito ativo nele.

— Hehe, se for isso mesmo, é errado o Shidou não ter conseguido fazer
nada, então eu tenho que me esforçar ainda mais pelo Shidou.

— Tohka...

— Shidou me resgatou. Você não considerou a mim, um Espírito, como


um inimigo e me estendeu sua mão. Então, eu juro que irei proteger o Shidou não
importa o que aconteça.

Enquanto dizia isso, Tohka abraçou Shidou com força.

— Além disso... isso não é um problema. O Shidou não é o homem que


conseguiu lidar comigo e com todos os outros Espíritos? Como pode uma pessoa
dessas ser morta pela DEM?

— Haha... isso talvez... seja verdade.

Shidou sentiu seu rosto relaxar enquanto ouvia as palavras de Tohka.

Para ter certeza, Assim como Tohka tinha dito, todos os Espíritos
atualmente na <Ratatoskr> tinham uma vez sido chamados de desastres
humanóides que possuíam poderes tirânicos.

É claro, seja através de um poder que transcendia a inteligência humana


ou pela destruição causada por um spacequake, aquilo não era algo que Tohka e
os Espíritos necessariamente desejavam. Era por causa disso que Shidou
conseguiu selar os Espíritos através do diálogo.

— ...

De repente, enquanto pensava nisso, Shidou arregalou seus olhos.

— Isso mesmo. Sim... dessa forma.

216
— Muu, o que foi agora, Shidou?

Por ouvir o que Shidou tinha dito e ter ficado confusa, Tohka levemente
inclinou sua cabeça. Shidou mais uma vez abraçou Tohka imediatamente após
seus braços terem sido preenchidos com uma determinação recém descoberta.

— Obrigado, Tohka. Muito obrigado, eu acho que agora eu sei o que


preciso fazer.

— Muu...? Umu, então é isso? Que bom então.

Apesar de Tohka não ter entendido nada, o sorriso que Shidou mostrou a
ela era um sinal de que tudo estava bem de novo.

Com essa afirmação recém encontrada, Shidou saiu da área de descanso.

Então, ele andou lentamente pelo longo corredor da <Fraxinus>.

— Ah.

Shidou murmurou a si mesmo.

Por que algo tão simples não lhe veio a mente?

Seria por causa da aparição repentina de Mio?

Seria por causa do poder avassalador de Mio?

Seria porque Mio tinha matado todos os Espíritos?

Talvez seria por causa de todos esses motivos. Mesmo depois de usar a
Sexta Bala <Vav>, os pensamentos de Shidou ainda estavam dominados pelo
medo e pelo tremor.

Se ele não derrotasse Mio, ele não conseguiria seguir em frente. Até um
momento atrás, Shidou realmente se sentia dessa forma. Ele considerava Mio um
inimigo e a tratava como tal.

Mas... ele estava errado.

Shidou tinha se esquecido até Tohka o lembrar.

Isso mesmo. Enquanto seu oponente fosse um Espírito, então só havia uma
única coisa que Shidou poderia fazer desde o começo...

— ...!

217
Enquanto pensava nisso, ele parou seu passo e suas sobrancelhas
balançaram.

Ele encontrou uma mulher no fim do corredor.

Ela usava um cabelo desarrumado e tinha manchas escuras em baixo de


seus olhos.

A oficial analista da <Ratatoskr>: Murasame Reine.

E também uma aparência provisória para o Espírito Mio.

Shidou cerrou seu punho com determinação enquanto dava outro passo
para frente.

— Reine-san.

— Hmm? Ah, o que foi, Shin?

Reine respondeu a ele da mesma forma de sempre. Porém, agora


dificilmente ele poderia ouvir ser chamado de Shin da mesma forma que antes.

Porém, aquela não era a hora de se deixar levar por esses sentimentos.
Shidou suspirou suavemente enquanto olhava diretamente para Reine. E então,
ele perguntou:

— Reine-san. Você gostaria de ir a um encontro comigo amanhã?

218
Posfácio
Já faz 7 anos desde o começo da série. Finalmente, ela decorou a capa.

Date A Live 18 Mio Game Over!

O Espírito Da Origem se revela...!

Aqui é o Tachibana Koushi entrando com um discurso quente e digno para


começar. 18 volumes, o que acharam? Eu espero que tenham gostado. Mas há
uma atmosfera desconfortável no título desse volume.

Então, Mio finalmente apareceu em cena. Apesar de seu visual já ter sido
mostrado no volume 17, essa é a primeira vez que aparece seu Astral Dress.
Como sempre, o design da Tsunako-san ficou maravilhoso, mas dessa vez é
particularmente perigoso. Realmente perigoso (Faltou um pouco de vocabulário
aqui).

Embora não haja regras especiais, o design do Astral Dress dos Espíritos é
composto de dois temas distintos. Um é um atributo que acaba distinguindo o
nome de Espírito e o outro vai na direção de ser um tipo de traje.

Por exemplo, o primeiro tema de Origami é "Anjo1" e seu segundo tema é


"Vestido De Noiva". O primeiro tema da Kurumi é "Pesadelo" e seu segundo tema
é "Lolita Gótica". Mesmo que algumas comodidades sejam compartilhadas por
dois temas como o "Bruxa" de Natsumi e o "Irmã" de Nia, normalmente se é
determinado por dois temas.

Com isso dito, eu não conheço muito sobre roupas, então eu normalmente
só defino o primeiro tema. Eu geralmente converso com a Tsunako-san para
determinar o segundo tema. Na vez da Mio, eu estava me questionando que tipo
de Astral Dress ela deveria ter e envie o tema "Deus" e inclui alguns elementos
necessários para que fosse definido.

E esse design foi o resultado! O conceito é o "Vestido Maternal". Então esse


foi o motivo para esse tipo de operação...! Eu caí de joelhos sem nem pensar. Ele
ficou perfeito em todos os aspectos, está impecável. Um panda mais capaz não
poderia ser encontrado em lugar nenhum.

1
Nota da tradução: Aqui como ele explica sobre temas decidi fazer a tradução dos codinomes. Outra
nota é que deixei Irmã em vez de freira para não desviar muito do codinome original.

219
Assim como no volume 17, eu escrevi uma história que eu sempre quis
escrever. As imagens disponibilizadas foram todas um acúmulo de sentimentos
liberados de uma só vez. Em especial, a última cena com Shidou. Enquanto eu
escrevia, eu perguntei ao editor "Oh Oh Oh Oh!" para, por favor, insira uma
ilustração ali custe o que custar. Como eu entreguei minhas esperanças ao editor-
san, eu achei que o design do Shidou com o olho de relógio ficou especialmente
magnífico. Para quem ainda não viu, vá ler o texto primeiro!

Além disso, tem a série spin-off, Date A Bullet, logo será lançado o terceiro
volume que foi escrito pelo Yuichiro-sensei! Quem será aquela garota branca...?

O novo anime da série também está sendo preparado. Esperamos publicar


mais informações sequencialmente, então fiquem ligados!

Então agora, esse volume foi publicado com sucesso devido aos melhores
trabalhos da Tsunako-san e do editor-san. Eu gostaria de expressar meus sinceros
agradecimentos a todas as pessoas envolvidas no design, edição e distribuição de
vendas. E agradecer a você do fundo do meu coração por ter esse livro em suas
mãos.

Então, o próximo será o Volume 19. O que será que acontecerá daqui em
diante?

Bem, espero ver você novamente no próximo volume.

21 de fevereiro de 2018

Tachibana Koushi.

220
AVISO LEGAL: Date A Live é uma obra da Production IMS,
KADOKAWA e do autor Koushi Tachibana. Essa é uma tradução feita de fãs para
fãs sem objetivos financeiros. Caso a obra seja lançada em Território nacional, por
favor adquira o produto oficial.

Autor: Tachibana Koushi

Ilustradora: Tsunako

Tradutor: Myturn

Revisor: Alecir

Edição: Myturn

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