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A Menina de Barro

O documento relata experiências de educação infantil que exploram a cultura popular alagoana, focando no artesanato em barro e na figura da Mestra Dona Irinéia. As crianças aprendem sobre a importância da cultura em suas vidas e têm a oportunidade de criar suas próprias esculturas de barro, refletindo sobre suas vivências e a resistência cultural. A proposta visa enriquecer a educação infantil, promovendo a valorização da cultura local e a expressão criativa das crianças.

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A Menina de Barro

O documento relata experiências de educação infantil que exploram a cultura popular alagoana, focando no artesanato em barro e na figura da Mestra Dona Irinéia. As crianças aprendem sobre a importância da cultura em suas vidas e têm a oportunidade de criar suas próprias esculturas de barro, refletindo sobre suas vivências e a resistência cultural. A proposta visa enriquecer a educação infantil, promovendo a valorização da cultura local e a expressão criativa das crianças.

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A MENINA DE BARRO: CONHECENDO E EXPLORANDO A CULTURA

POPULAR ALAGOANA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Elisabete Pereira Fernandes1


Rúbia Danielle Barbosa Santos 2

RESUMO: O presente relato tem o objetivo de compartilhar experiências com a cultura popular
alagoana, mais especificamente com o nosso rico artesanato e seus ilustres mestres. Na ocasião as
crianças tiveram a oportunidade de conhecer, aprender a respeitar e explorar a arte em barro sob o
olhar e experiências vividas pela artesã que é patrimônio vivo de Alagoas, Mestra Dona Irinéia do
povoado quilombola de Muquém, Município de União dos Palmares. A experiência nos possibilitou
refletir sobre a importância de ir além do manuseio da argila na Educação Infantil como recurso para
desenvolver a coordenação motora, entendendo e respeitando esse material como forma de resistência
e luta de muitos artesãos que conseguem retratar sua própria história e de seu povo através da arte em
barro.

PALAVRA-CHAVE: Cultura. Artesanato. Infância

INTRODUÇÃO

O presente relato é frutos de vivências com turmas do segundo período no Centro


Municipal de Educação Infantil (CMEI) Martha Célia de Vasconcellos Bernardes, localizado
no conjunto Santa Maria – Cidade Universitária. A experiência nos possibilitou refletir sobre
nossa prática e sobre a importância da cultura popular no desenvolvimento e aprendizagem
das crianças.
A cultura tem um papel fundamental na vida humana, aquilo que produzimos que
apreciamos, que conta a nossa história são vestígios do capital cultural que tivemos acesso. E
desde muito pequenas, segundo escritos de Cardoso (2007) as crianças produzem cultura
ancoradas nas relações sociais que ela constrói desde os primeiros dias de vida. Nenhuma
criança é um ser vazio, nas brincadeiras, movimento, interesses e produções elas dizem muito
sobre o seu lugar e interações que estabelece ao longo da vida. Nessa perspectiva, Carvalho
(2012) vai destacar a importância do outro no nosso desenvolvimento ao dizer que o

1
Educadora da rede municipal de Maceió (SEMED), Mestra em Educação (PPGE – UFAL)
2
Educadora da rede municipal de Maceió (SEMED), Psicopedagoga (CESMAC)
desenvolvimento humano é um processo de construção social que se dá por meio das múltiplas
interações que se estabelecem entre um indivíduo, desde o seu nascimento, com outras pessoas e
particularmente com aquelas com as quais ele mantém vínculos efetivos (CARVALHO, 2012 apud
RCM, 2020, P.27).
Estudos de Bidinotto e Fagundes (2024) vão destacar a importância da valorização pela
escola da cultura popular, daquilo que é acessível à criança, que conta a história do seu lugar.
Desconstruindo a ideia de que existe cultura erudita ou mais importante em detrimento da
cultura de massa. Cultura é cultura e direito da humanidade, portanto não deve ser negada a
criança. De acordo com os autores, a incorporação da cultura popular nas práticas educativas,
especialmente na Educação Infantil, propicia uma educação mais significativa e inclusiva, que
reconhece e valoriza as diferentes formas de saberes culturais existentes na sociedade
(BIDINOTTO E FAGUNDES, 2024, p. 06). Indo além de ter acesso à cultura, é necessário
perceber também a criança como sujeito capaz de produzi-la e isso só será possível se o
ambiente viabilizar tal ação para isso, segundo a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) é
essencial que a criança possa explorar ambientes, observando e manipulando objetos,
experimentando e fazendo descobertas. O contato com os elementos da natureza oferece aos
pequenos um leque enorme de possibilidades de experiências ricas e diversificadas.
O desejo de manusear o barro partiu da vivência de uma contação de história “A
menina de Barro” de Gianinna Bernardes, que relata um dia triste de cheia, que aconteceu às
margens do rio Mundaú, no interior de Alagoas e levou os pertences de uma família que tirava
o seu sustento com esculturas feitas a partir do barro recolhido na beira do rio e que graças a
um pé de jaqueira essa família conseguiu se salvar de ser levada pela grande correnteza
daquele dia. Através da curiosidade dos pequenos sobre como eram feitas as esculturas de
barro, foi apresentada algumas imagens de obras feitas pela Dona Irinéia Rosa Nunes da
Silva, que hoje é uma das mais reconhecidas artistas da cerâmica popular brasileira. A história
de dona Irinéia, Mestre artesã Patrimônio Vivo de Alagoas desde 2005, está entrelaçada com a
história do povoado quilombola Muquém, onde nasceu em 1949. O povoado pertence ao
município de União dos Palmares, na zona da mata alagoana e se encontra próximo à Serra da
Barriga que carrega forte simbolismo, pois é a terra do Quilombo dos Palmares.
Após conhecerem um pouco sobre a artesã e suas obras, as crianças tiveram a
oportunidade de manipular e construir suas próprias esculturas de barro, partindo do
repertório cultural das mesmas, demonstrando muita criatividade e capacidade de expressão.

RELATO DE EXPERIÊNCIA: UMA HISTÓRIA PARA INÍCIO DE CONVERSA


Com objetivo de introduzir a discussão sobre o artesanato alagoano, no mês de julho, foi
contada, no Pátio pela professora Bete, a história “A menina de Barro” de Gianinna
Bernardes.
A história fala sobre uma família que morava às margens do rio Mundaú, no interior de
Alagoas, e vivia a partir da criação de objetos feitos de barro colhido na beira do rio e num dia
chuvoso de inverno, as águas fizeram o rio transbordar, carregando o que havia pela frente.
Uma família subiu em uma grande jaqueira que a água não derrubou, sobrevivendo a esse dia
tão triste.

Figura 1: Contação da história “A menina de barro”

Fonte: autoras
Para a contação, construímos um cenário, usando casinhas e uma igreja que tinha sido
usada em outra ocasião, bem como um TNT azul para simular o rio e um porta-livros para
simular uma árvore grande. Usamos ainda bonecos disponíveis nos brinquedos das crianças.
O texto de Giannina traz um tema que é tão caro para muitas famílias e que causa muito
sofrimentos também para as crianças que com seus pais vivenciam uma inundação ou
enchente, porém a autora o faz numa linguagem acessível às crianças do ponto de vista de
uma personagem que também vive a infância, ainda assim, usamos objetos para tornar a
contação da história ainda mais lúdica e explorar a imaginação dos pequenos e nos aproximar
ao máximo da cultura infantil, reproduzindo uma linguagem muito comum das crianças que é
o jogo simbólico, a fantasia do real, como bem coloca Barbosa (2007).

Um aspecto extremamente importante é o de observar que as culturas infantis não


são independentes das culturas adultas, dos meios de comunicação de massa, dos
artefatos que elas utilizam cotidianamente, mas se estruturam de outra maneira.
Sarmento (2002), em um belíssimo texto, apresenta alguns princípios geradores das
culturas da infância. São eles: a interatividade, a ludicidade, a fantasia do real e a
reiteração. As crianças, em seus grupos, produzem culturas de crianças, e a reflexão
sobre estas práticas empíricas nos possibilita perceber as diferentes culturas infantis.
(BARBOSA, 2007, p. 09)
Durante a história as crianças ficaram muito atentas e envolvidas com a narração e, à
medida que os fatos iam passando, o rio ia tomando conta do lugar e os bonequinhos sendo
colocados na jaqueira, elas iam interagindo com a narração, expressando palavras de apoio
para que conseguissem se salvar. Depois de concluir esse momento, que a chuva baixou,
começamos a colocar os objetos de volta e construímos um bonequinho de barro, mostrando
que apesar de terem perdido tudo, teriam como recomeçar. As crianças muito atentas se
comoveram com o relato da enchente de 2010, presente no texto de Giannina e faziam
perguntas do tipo: - Como pode tia, um pé de jaca ser tão forte? A água não levou, mas a
casa e a igreja caíram!

A CULTURA POPULAR

Depois desse momento, apresentamos uma foto da obra “A jaqueira” da Dona Irinéia e
perguntamos o que elas podiam observar naquela imagem e alguns disseram que era uma
jaqueira de barro com pessoas presas nela.

Figuras 2 e 3: Mestre Dona Irinéia Rosa Nunes da Silva.


Fonte: Imagem retirada da internet

Então perguntamos a relação que podia ser feita daquela imagem com a história. Alguns
disseram que era a árvore da história, o Wagner disse: - É a jaqueira que salvou as pessoas
durante a enchente.
Começamos a falar então da artesã Dona Irinéia, explicando que durante a enchente de
2010 ela Morava em União do Palmares, também às margens do Rio Mundaú, como os
personagens da história e que de fato, ela perdeu tudo, incluindo esculturas que ela já havia
construído e pessoas da família dela só conseguiram se salvar por conta de uma jaqueira que
ficava próxima da casa, pois subiram quando a água começou a subir e ficaram lá até a água
baixar e serem resgatadas. Contudo, ela conseguiu transformar essa experiência difícil em
cultura popular.
Falar em cultura popular pode implicar uma ênfase no modo de ser e sentir que seja
típico de uma população, uma característica. A maneira como se pensa a cultura de
uma sociedade sempre está ligado a outras preocupações e maneiras, como se julga
poder agir sobre ela. A cultura é produto da sociedade, mas também ajuda a produzi-
la, estando atrelada as transformações, a manutenção das concepções e formas de
organização e de vida. Não é um mero reflexo dos outros aspectos da sociedade, é
possível antever e propor alterações nas condições de existência da sociedade
(CORDASSO, 2017, p. 30).

O encaminhamento da proposta tinha o objetivo de, juntamente com as crianças, refletir


sobre situações reais nas quais a temática trazida no livro foram vivenciadas, ajudá-las a
perceber que muitas meninas de barros e suas famílias tiveram que recomeçar suas vidas
depois da tragédia num ato de resistência e superação e usaram a arte popular para retratar o
cotidiano do seu povo. Segundo Bidinotto e Fagundes (2024) a cultura é uma
representação das experiências vividas e devem fazer parte da vida escolar da criança.

A cultura popular, quando legitimada no ambiente escolar, não apenas


enriquece o currículo, mas também tem o potencial de promover a emancipação
humana. Isso ocorre porque ela permite que as crianças e os professores se
vejam representados e reconhecidos em sua diversidade cultural, fortalecendo o
sentido de pertença e identidade no espaço escolar (BIDINOTTO E
FAGUNDES, 2024, p. 03).

Foi comentado pelas crianças que ”a bichinha da dona Irinéia tinha perdido todos os
bonequinhos de barro, quando a cheia passou, mas depois que chorou, enxugou as lágrimas e
fez um monte de bonecos de novo! Lembramos então que a Dona Irineia é hoje uma mestra
artesã e Patrimônio Vivo de Alagoas e uma das referências culturais do estado quando o
assunto é artesanato com peças de barro. As crianças ficaram encantadas com a vida da Dona
Irinéia e suas obras. E mais ainda por saberem que a história que tínhamos contado, aconteceu
de fato com alguém que está viva e que mora pertinho de nós.
Dando continuidade a roda de conversa, convidamos a Educadora Raquel para relatar
um pouco da sua experiência com a enchente de 2010, visto que ela era moradora de um dos
municípios, na época, devastado pela enchente. A educadora contou que quando aconteceu a
enchente ela era diretora de uma escola no município de Rio Largo. Segundo ela, em pouco
tempo a água inundou tudo não dando tempo de salvar muita coisa, sendo até uma parte da
escola destruída. Ela foi contando também a experiência de alguns parentes, vizinhos e
pessoas que ela conhecia inclusive sobre uma delas que não sobreviveu a enchente, as
crianças ficaram assustadas e algumas relataram situações vivenciadas por pessoas da família
envolvendo esse dilema, outros relacionaram ao que estava acontecendo no Rio Grande do
Sul, partindo do que haviam acompanhado na televisão. Abraão relatou que sua avó morava
numa cidade que enche. A casa dela encheu tudo e eles tiveram que sair de casa.
Provavelmente ele estava se referindo à enchente de 2022 que atingiu novamente as cidades
ribeirinhas do Rio Mundaú.
Após essa roda de conversa, levamos as crianças para a sala multiuso para conhecermos
por meio de vídeo um pouco da história da artesã Dona Irinéia e suas obras. As crianças
ficaram atentas e bem interessadas pela vivência entendendo como a artesã começou o
trabalho com o barro e conheceram outras obras como o beijo que a gente durante o momento
de conversa na história, falamos que existe uma réplica dessa escultura na Lagoa da Anta, que
foi construída em homenagem a mestra e que ela teve a oportunidade de visitar a escultura
com o esposo quando ainda era vivo.

HORA DE EXPLORAR E CONSTRUIR AS PRÓPRIAS ESCULTURAS

Depois desse momento, levamos as crianças para o solário da sala multiuso. Explicando
que a gente não tinha argila, mas tínhamos barro e misturaríamos com água para deixar uma
textura um pouco parecida com a argila para que eles pudessem modelar e construir suas
esculturas também. E assim fizemos, colocamos numa banheira o barro e fomos adicionando
água aos poucos e misturando. Durante esse momento, perguntamos às crianças se elas já
tinham feito alguma vez isso: colocar água para misturar com o barro e brincar, e eles
disseram que não. O que nos surpreendeu bastante, tendo em vista que é uma atividade muito
comum na infância. Uma das crianças disse que não tem barro perto de casa, o que nos fez
refletir sobre a falta de contato das crianças com a natureza, o asfalto e o emparedamento dos
pequenos na atual condição social das famílias.

Figura 4: Crianças preparando o barro


Fonte: as autoras

Depois do preparo, distribuímos os bolinhos de barro para que eles começassem a


construção das suas esculturas. Algumas figuras mais planas, outras ligadas à alimentação,
corpo humano, objetos da casa, livros…
Figura 5: Crianças modelando o barro

Fonte: montagem das autoras

É importante frisar que apesar de terem aprendido sobre a artesã e terem tido acesso às
suas obras, as crianças usaram seu próprio repertório cultural para construir suas esculturas,
em momento algum tentaram reproduzir o que estavam vendo, mas acessaram suas memórias,
seus interesses e vivências para transformar em arte durante a vivência. Muitas crianças
fizeram bolos decorados, reproduzindo, possivelmente algo que já viram mas que também tem
um valor simbólico importante na vida deles.
As crianças explicam o mundo por meio das brincadeiras; à medida que crescem,
observam e recriam culturas adultas no seu brincar. Da mesma forma, os homens e
mulheres, ao realizarem uma reflexão crítica sobre o mundo, expressam suas
análises por meio da oralidade, do repente, do cordel, das brincadeiras de
roda e de mão, do fandango, das danças folclóricas e tradicionais, assim como
em diversas outras formas de cultura que representam a construção do saber popular
(BIDINOTTO E FAGUNDES, 2024, p.15).

Para auxiliar no processo, nós trouxemos novamente a exposição que tínhamos usado na
história com vasos de barro e alguns objetos também construídos de barro e com algumas
fotos da Dona Irinéia para que ficasse ali como um espaço para as crianças contemplar,
apreciar aos poucos... Foi interessante observar que a medida que eles concluíam as suas
esculturas eles levavam para fazer parte da exposição, o que foi muito legal.

Segundo as Orientações Curriculares para a Educação Infantil da Rede Municipal de


Maceió, Conhecer e manusear diferentes elementos da natureza, podendo
acompanhar seus processos de transformação conforme seus interesses, permite à
criança construir “alicerces” importantes para uma posterior compreensão dos
conhecimentos já sistematizados sobre o tema. (RCM, 2020, p.158)

Eles iam apreciar as produções dos colegas e faziam observações. As crianças ficaram
preocupadas se seria possível pintar suas esculturas depois que secasse. Explicamos que como
se tratava de um barro com menos liga que a argila, provavelmente não teria estrutura para ser
pintado depois e que o objetivo era brincar com o barro e que ficaríamos na torcida para
poderem levar para casa quando secasse.
Quando terminavam de construir suas esculturas, voltavam para a bacia para pegar mais
terra e construir outros elementos. A experiência levou cerca de quarenta minutos com as
crianças muito envolvidas, o tempo todo sentadinhas, conversando com seus pares sobre o
que estavam construindo ou mostrando para as educadoras suas produções.
Após esse momento, mostramos algumas fotos de feiras de artesanato que a nossa
cidade tem, a feira de artesanato da Pajuçara, do mercado da produção, do pontal da barra,
entre outros lugares que poderíamos visitar. Já idealizamos então, que um dia poderíamos
conhecer alguns desses lugares incríveis de Maceió, inclusive a escultura “O beijo” da Dona
Irineia que os pequenos queriam tanto ver de perto ela.

CONSTRUINDO MEMÓRIAS AFETIVAS NUM PASSEIO POR MACEIÓ


As crianças tiveram a oportunidade de fazer um tour pela orla da nossa cidade, aonde
tiveram contato com uma rica amostra do artesanato Alagoano passeando pela feirinha de
artesanato da praia da Pajuçara. Assim que chegamos Wallacy gritou; “Tia, olha os negócios
que a gente viu na tv, tem tudo, mais tudo mesmo aqui”. As crianças iam passando pelos
corredores observando as lojinhas e tocando nos artesanatos, encantadas por estarem vendo de
perto os itens que tinham vistos apenas em fotos e vídeos no CMEI. Luccas comentou um
pouco triste, observando algumas bolsas feitas de palha: “queria tanto comprar essa bolsa
para minha mãe, outra pra tia Rubia e também pra você tia Jordana! falando com a tia que o
acompanhava.
Figura 6: Visita à feira do artesanato

Fonte: as autoras
O encantamento foi grande e as crianças não paravam de comentar sobre tudo que iam
vendo ao passarem pelos corredores da ferinha. Acharam pião e outros brinquedos de
madeira, bonecas de pano, bolsas, cestos, coisas de enfeitar a casa, tudo de palha, roupas e
umas cortinas bem coloridas bordadas em filé e no finalzinho acharam um chapéu de couro
que foi o maior sucesso, pois acharam que era do vaqueiro misterioso, da lenda do folclore
alagoano que escutaram lá no CMEI.
Dando continuidade ao nosso tour, paramos para contemplar a bela vista no marco dos
corais e depois em baixo de uma árvore fizemos uma parada para um piquenique delicioso
com vista para praia.
Saímos rumo a Lagoa da Anta que fica em frente à praia da Jatiúca, momento muito
aguardado pelas crianças que sabiam que veriam a réplica da obra “O BEIJO,” feita em
homenagem à artesã Mestra Irinéia.
Figuras 7 e 8: Conhecendo a réplica da obra “O Beijo”

Fonte: as autoras

Ao chegarmos próximo da escultura as crianças correram e abraçaram todos quase que


ao mesmo tempo a grande escultura gritando: ”olha é igualzinha! o beijo, o beijo! É de
verdade mesmo! É gigante!”. Momento emocionante vendo a felicidade das crianças em
poderem tocar, observando cada detalhe da réplica gigante dessa escultura tão comentada por
elas no espaço do CMEI.
Um momento muito especial foi quando os pequenos reconheceram a foto da Dona
Irinéa, e ficaram muito impressionados, pareciam pesquisadores lendo as imagens para
compreender o que estava exposto e perguntavam se o mapa que estava no mural era da casa
dela. Explicamos que se tratava de outras peças que também estavam expostas ao ar livre. O
que provocou um grande interesse em querer saber mais, aprender mais, ter outras vivências.

Figuras 9 e 10: Leitura do circuito Alagoas feito à mão


Fonte: as autoras

A criança é um ser em constante desenvolvimento e precisa de vivências significativas e


que sejam comuns na prática social. Ela interage com o mundo a todo o momento,
organizando seus pensamentos e ações, devendo ser envolvida em atividades e situações que
possibilitem desafios, exploração e descobertas, facilitando seu desenvolvimento e tornando a
escola interessante, onde a prática pedagógica torna-se interdisciplinar e compartilhada,
aprendendo de forma lúdica e coletiva, através do respeito a suas particularidades
(CORDASSO, 2017). Nessa perspectiva, romper com os muros da escola e estar onde a
comunidade e a arte estão é demonstrar respeito pela capacidade da criança hoje, entendendo-
a como sujeito de direitos, se apropriando das diversas possibilidades de manifestações
culturais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho com argila é comum na Educação Infantil, contudo geralmente se priva a


modelagem e ao contato com elementos da natureza, no entanto, é importante que as crianças
saibam que esse material tão simples, se torna o principal recurso de trabalho nas mãos de um
artesão, bem como, sua fonte de renda e sustento, principalmente por ser acessível e de baixo
custo, sendo arma nas mãos de pessoas simples que conseguem retratar seu cotidiano através
da arte. Nessa perspectiva, a vivência nos possibilitou caminhar em torno da cultura popular,
desde a leitura até a apreciação da exposição ao ar livre.
Enquanto educadoras, nos levou a considerar a necessidade da contextualização e do
enriquecimento de propostas pedagógica em torno da cultura popular desde a Educação
Infantil. Visto que o contato com o barro proporcionou aos pequenos uma experiência
riquíssima, não só porque desenvolveu a habilidades motoras, mas por permitir que através
dele, elas expressassem suas vivências, sua cultura e sentimentos, assim como a artesão que
haviam conhecido. É importante destacar que os pequenos apreciaram as obras, mas em
momento algum quiseram copiar, o interesse deles era construir algo que tivesse a ver com
seus próprios conhecimentos pessoais, seus gostos e interesses.

REFERÊNCIAS
BARBOSA, Maria Carmen Silveira. CULTURAS ESCOLARES, CULTURAS DE INFÂNCIA E
CULTURAS FAMILIARES: AS SOCIALIZAÇÕES E A ESCOLARIZAÇÃO NO ENTRETECER
DESTAS CULTURAS Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 100 - Especial, p. 1059-1083, out. 2007.

BERNARDES, Gianinna. A menina de barro. Maceió: Imprensa Oficial Graciliano Ramos, 2013.

BIDINOTTO, Tatiana da Silva; FAGUNDES, Maurício. A CULTURA POPULAR E A PRÁTICA


PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL. REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies
Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.21, n.12, p. 01-21. 2024.

Cordasso, Rafaela. Cultura popular: seus feitos e efeitos na educação infantil / Rafaela Cordasso. - Rio
Claro, 2017.

MORAIS, Anne Carolina de Carvalho; MAGALHÃES Renata Raiol. IMPORTÂNCIA DA


CULTURA NA INFÂNCIA: UMA PERSPECTIVA TERAPÊUTICO OCUPACIONAL.
Complexitas - Rev. Fil. Tem., Belém, v. 4, n. 1 , p. 18-23, jan./jun. 2019.

Referencial curricular de Maceió para educação infantil: Secretaria Municipal de


Educação. Maceió: Editora Viva, 2020. 336 p. : il. : color – (Referencial Curricular de Maceió;
1). ISBN: 978-65-990803-6-4.

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