O baú secreto da vovó O baú secreto da vovó
Quando eu era menina e sentia Quando eu era menina e sentia
medo, no lugar de chorar, ficava com medo, no lugar de chorar, ficava com
raiva. raiva.
Na noite em que descobri o baú Na noite em que descobri o baú
de minha avó, eu estava em Santos. de minha avó, eu estava em Santos.
Trovejava muito. Apavorada, Trovejava muito. Apavorada,
comecei a gritar que odiava o mar. Foi comecei a gritar que odiava o mar. Foi
quando minha avó me chamou. quando minha avó me chamou.
— Minha neta, você sabia que eu — Minha neta, você sabia que eu
tenho um baú cheio de segredos? tenho um baú cheio de segredos?
— Como assim? Onde? — Como assim? Onde?
— Lá no fundo da garagem. — Lá no fundo da garagem.
Pronto. Nada como a curiosidade Pronto. Nada como a curiosidade
para espantar o medo. Na garagem, para espantar o medo. Na garagem,
vovó o abriu e retirou dele uma espécie vovó o abriu e retirou dele uma espécie
de régua: de régua:
— Você sabe o que é isso? — Você sabe o que é isso?
— Uma régua esquisita – — Uma régua esquisita –
respondi. respondi.
— Não, isso é uma palmatória. — Não, isso é uma palmatória.
Quem errasse na escola levava uma Quem errasse na escola levava uma
batida na palma da mão. batida na palma da mão.
— Não acredito! E por que a — Não acredito! E por que a
senhora guardou esse treco? senhora guardou esse treco?
— Pra lembrar que a gente — Pra lembrar que a gente
precisa ser mais forte que as injustiças. precisa ser mais forte que as injustiças.
PRIETO, Heloise. In: Nova Escola, São Paulo: Abril, ano XIX, PRIETO, Heloise. In: Nova Escola, São Paulo: Abril, ano XIX,
n. 171, p. 60, abr. 2004. n. 171, p. 60, abr. 2004.