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Teorico

O documento aborda a segurança pública como um direito fundamental, destacando a atuação preventiva e repressiva dos órgãos policiais conforme a Constituição Federal. A segurança pública é vista como responsabilidade compartilhada entre o Estado e a sociedade, enfatizando a necessidade de colaboração para sua efetividade. O texto também discute o ciclo de polícia, diferenciando entre polícia administrativa e judiciária, e detalha as atribuições da Polícia Federal.

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Teorico

O documento aborda a segurança pública como um direito fundamental, destacando a atuação preventiva e repressiva dos órgãos policiais conforme a Constituição Federal. A segurança pública é vista como responsabilidade compartilhada entre o Estado e a sociedade, enfatizando a necessidade de colaboração para sua efetividade. O texto também discute o ciclo de polícia, diferenciando entre polícia administrativa e judiciária, e detalha as atribuições da Polícia Federal.

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Segurança Pública: Atuação Preventiva e

Repressiva

Conteudista: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes


Revisão Textual: Esp. Camila Colombo dos Santos

Objetivos da Unidade:

Entender o que é o direito à segurança pública;

Compreender como os órgãos da segurança pública atuam na prevenção e na


repressão de infrações penais.

ʪ Material Teórico

ʪ Material Complementar

ʪ Referências
1 /3

ʪ Material Teórico

Introdução
A prevenção criminal é um tema que envolve muitas visões, teorias e princípios, exigindo uma
visão multidisciplinar para compreensão de seus mecanismos.

O objetivo desta disciplina é estabelecer como os órgãos policiais, em suas atribuições


estabelecidas pela Constituição Federal, atuam na prevenção da ocorrência de infrações penais.
São vários os atores de uma prevenção criminal minimamente eficiente e que leve uma maior
sensação de segurança para as pessoas, sendo que o trabalho policial é apenas um dos elos de
uma corrente de ações públicas, sociais, familiares e individuais. Esse elo é talvez o mais visível
quando os crimes ocorrem, uma vez que a falha na prevenção gera, muitas vezes, uma cobrança
imediata de resultados por parte dos órgãos policiais; contudo, precisamos refletir como agem
os demais atores da prevenção e como eles, efetivamente, contribuem para a sua eficiência.

Antes de tratarmos desses órgãos, vamos falar sobre o direito à segurança pública.

Segurança Pública como um Direito


Quando falamos em direitos e segurança pública, em geral, pensamos nos direitos relacionados
com as pessoas que estão sendo investigadas pela prática de uma infração penal; contudo,
também podemos falar dos direitos das pessoas em geral (físicas ou jurídicas) em relação à
segurança.

Nesse contexto, uma das formas como a “segurança pública” deve ser vista é como um direito,
sendo que, dessa forma, ela se encontra descrita no caput do art. 144 da Constituição Federal.
“Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de

todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das


pessoas e do patrimônio [...]”

- BRASIL, 1988, n. p.

Esse enfoque dado por nossa Carta de Direitos indica que a segurança pública deve ser vista
como um direito individual de cada pessoa, mas também como um bem jurídico coletivo que
demanda proteção do Estado, mas com colaboração de todos.

Decorre, dessa forma, como a segurança pública é estabelecida e como há a necessidade de que
ela seja vista como um direito do cidadão à intervenção policial sempre que a ordem pública e a
incolumidade à pessoa ou ao patrimônio dos integrantes da sociedade estiverem em risco.

“A intervenção policial não é apenas uma prerrogativa do Poder Público, ela é um

direito do cidadão.

Vale dizer, a intervenção policial não deve apenas ser encarada como atuação
limitativa do Estado em relação aos particulares para a garantia da ordem pública.
Ela é também um direito subjetivo dos particulares e a legitimidade da atividade
policial está na preservação e restauração dos direitos fundamentais, concepção
que se encontra mais apropriada ao Estado Constitucional, no qual a
Administração Pública está subordinada à lei e à Constituição e figura em posição
de paridade com o cidadão. [...]

No Estado Constitucional (Democrático de Direito), interpretação dos dispositivos


referentes às questões policiais deve ser feita tendo em vista os direitos
fundamentais do indivíduo, com ênfase, naqueles que se opõem perante a
Administração Pública. Isso porque no Estado Constitucional o cidadão não pode
ser reduzido a objeto da atuação do Estado. Ele é antes de tudo titular de direitos
que podem ser opostos perante o Poder Público, principalmente, quando seus
direitos vitais estão em risco. Nessa perspectiva há direito subjetivo (pretensão)
do particular no sentido de que a polícia intervenha sempre que necessário para
resguardar seus bens jurídicos.

Como exemplo de situações em que se manifesta o direito subjetivo à intervenção


policial, podemos citar a dos moradores que residem perto de estádios e que
necessitam da polícia para retirar, da via pública, automóveis que bloqueiam o
acesso a suas casas, ou ainda, a dos moradores de zonas não policiadas, que
podem invocar direito subjetivo público a uma adequada vigilância das zonas
habitacionais ou o direito a que autoridades policiais intervenham para pôr a
termo atos de violência ou vandalismo.”

- NERY JUNIOR, 2019, n. p.

Esse direito subjetivo à intervenção policial apresenta algumas destacadas características:

Não possuem os órgãos da segurança pública poder de escolher


atuar ou não nas situações em que a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio está em
risco ou direto ataque – há, nesta situação, um verdadeiro
poder-dever de agir;

O cidadão pode exigir, até mesmo por meio de ação judicial, que a atuação dos
órgãos policiais se realize nas situações em que isso não ocorre de forma
espontânea.

Nessa linha, deve ser observada a seguinte decisão do Supremo Tribunal Federal.

“O direito à segurança é prerrogativa constitucional indisponível, garantido

mediante a implementação de políticas públicas, impondo ao Estado a obrigação de


criar condições objetivas que possibilitem o efetivo acesso a tal serviço. É possível
ao Poder Judiciário determinar a implementação pelo Estado, quando
inadimplente, de políticas públicas constitucionalmente previstas, sem que haja
ingerência em questão que envolve o poder discricionário do Poder Executivo.”

- BRASIL, 2011

Outro ponto que deve ser destacado em relação ao direito à segurança pública é que, sendo um
direito coletivo, é necessária a colaboração do Poder Público, da sociedade, da família e do
cidadão para que ele se torne efetivo. Isso faz com que:

Todas as esferas do Poder Público tenham o dever de contribuir


para a efetivação desse direito, não somente por meio dos
órgãos que atuam diretamente nessa área, mas também para a
criação de mecanismos que favoreçam o seu pleno exercício. É
o caso, por exemplo, da zeladoria urbana, com a limpeza de
espaços públicos que possam criar riscos para as pessoas; a
iluminação pública de vias em que há o trânsito de pessoas no
horário noturno, dentre outras medidas;

Cabe à sociedade, por meio de suas instituições, como associações, clubes, etc.,
buscar colaborar para que se estabeleçam condutas coletivas que possam favorecer
o exercício do direito à segurança pública;

Cabe a cada pessoa atuar de forma que esse direito seja efetivado. Pouco adiantariam
as medidas realizadas pelo Poder Público se não houvesse uma preocupação
individual com essas questões.

Também merece destaque na análise do caput do art. 144 da Constituição Federal a diretriz dada
aos órgãos da segurança pública, ou seja, eles devem atuar buscando proteger os bens jurídicos
ligados:

À preservação da ordem pública;

À preservação da incolumidade das pessoas;

À proteção do patrimônio das pessoas (públicas e privadas).

A importância desses bens jurídicos faz com que essa proteção se faça por meio da instituição de
infrações penais (crimes e contravenções penais); contudo, há também uma série de
mecanismos administrativos que são utilizados para a proteção deles.

Dentre diversas normas desse tipo, podemos destacar:

As normas administrativas de trânsito, sobretudo, as


instituídas pelo Código de Trânsito Brasileiro – Lei 9.503/97,
as quais estavam afetas à atuação dos órgãos da segurança
pública;

As normas administrativas de proteção ambiental, que, em muitos casos, também


são afetas à competência de órgãos da segurança pública.

Por fim, devemos estender esse direito para as pessoas jurídicas. Elas não possuem a mesma
constelação de direitos de uma pessoa física (não podemos falar, por exemplo, de direito à vida
para elas), porém elas têm direito à segurança pública no que se refere a diversos outros, como,
por exemplo, para a proteção de seu patrimônio.

O Ciclo de Polícia
Para falarmos em ciclo de polícia, antes precisamos conhecer alguns detalhes de cada um dos
órgãos indicados no art. 144 da Constituição Federal, pois o chamado “ciclo de polícia” se
destina a explicar os limites de atuação e interação de cada um deles.

Para compreendermos como funciona o ciclo de polícia, faz-se necessário pontuar os dois
grandes ramos da atividade policial, ou seja, a polícia administrativa e a polícia judiciária.
Inicialmente, devemos destacar que essa classificação se refere à polícia como atividade, e não à
polícia como órgão; dessa forma, posteriormente, veremos como cada um dos órgãos policiais
atua em cada uma dessas áreas.

Polícia Administrativa
A polícia administrativa, também chamada de preventiva ou ostensiva, objetiva realizar um
“conjunto de intervenções da administração, conducentes a impor à livre ação dos particulares e
disciplina exigida pela vida em sociedade” (MORAES, 2019, n. p.).

Ela atua, portanto, antes da ocorrência das infrações penais, buscando evitar que estas ocorram,
bem como tem atuação em outras atividades, voltadas à atuação típica do Direito Administrativo,
mas que, pela relevância social, também está a seu cargo, tal como a fiscalização de trânsito.
Polícia Judiciária
Já a atividade da polícia judiciária (ou polícia repressiva) está voltada às atividades que incumbem
ao Estado após a ocorrência da infração penal, com o objetivo de apurar a sua ocorrência e
autoria.

“O nome “polícia judiciária” tem sentido na medida em que não se cuida de uma

atividade policial ostensiva (típica da Polícia Militar para a garantia da segurança


nas ruas), mas investigatória, cuja função se volta a colher provas para o órgão
acusatório e, na essência, para o Judiciário avaliar no futuro.”

- NUCCI, 2020, n. p.

Para a condução das investigações e dos registros das provas colhidas, tem a polícia judiciária
como principal instrumento o inquérito policial, cujas principais normas disciplinadoras estão
no Código de Processo Penal.

Dinâmica do Ciclo de Polícia


Pois bem, o ciclo de polícia de que trataremos aqui é dividido em dois momentos, antes e depois
da eclosão da infração.
Figura 1 – Esquema do ciclo de polícia

Nessa linha, existem dois momentos básicos: antes e após eclosão da infração. No momento de
normalidade pública, em que a ordem está preservada, existe a estabilidade social, na qual tudo
está funcionando dentro dos parâmetros de regularidade.

Na visão figurada, enxerga-se a presença da polícia ostensiva como órgão que promove a
preservação da ordem pública, considerando que serve como fonte presencial de segurança,
identificada pelo uniforme, pelos equipamentos e pelas viaturas caracterizadas. Essas
características ostensivas atuam como elemento de dissuasão de ações que estejam à margem
da lei, sendo, evidentemente, uma ação preventiva de polícia.

Muito embora a polícia administrativa atue buscando a prevenção da ocorrência da infração


penal, múltiplas situações podem surgir, permitindo que crimes ocorram, sendo que esse
desequilíbrio promove a quebra da ordem pública e exige uma pronta resposta, que objetiva
reestabelecer a normalidade. É nesse cenário que são realizadas ações repressivas imediatas que
buscam restaurar a paz social – é o que ocorre quando um policial, ao ser chamado para atender
a uma ocorrência de roubo, realiza, de imediato, a prisão em flagrante do autor da infração penal.
Nessa linha do tempo, podemos, nesse momento, deparar-nos com duas possibilidades:

Não houve qualquer comunicação aos órgãos policiais que


realizam as ações preventivas ou estes não encontram a
possibilidade de agir na repressão imediata – seja em razão de
não encontrar o autor da infração penal, seja por não encontrar
elementos mínimos que justifiquem a sua prisão;

Ocorreu a prisão em flagrante do autor da infração penal.

O passo seguinte é a realização de atos voltados à repressão mediata, os quais se caracterizam:

Pelo registro das provas e dos elementos que buscam


comprovar a ocorrência do crime e da autoria dele;

Pela investigação, que pode ser bem sumária (como no caso de já ter ocorrido a
prisão em flagrante) ou bastante alongada.

Esses atos de polícia judiciária materializados no inquérito policial se caracterizam por serem de
natureza pré-processual e objetivam reunir o conjunto probatório, elementos de convicção que
contribuem para a formação do convencimento do órgão acusador normalmente, o Ministério
Público, para que ele, em juízo, apresente a denúncia, iniciando o processo penal.

Nessa dinâmica, o que se observa é que a repressão imediata caberá tanto à polícia
administrativa como à polícia judiciária, visto que tanto a uma como à outra cabe a atuação para,
por exemplo, prender em flagrante aquele que for encontrado na prática da infração penal;
porém, o registro da prisão em flagrante e as demais medidas para a instauração e a instrução do
inquérito policial devem sempre ficar a cargo da polícia repressiva.
Os Órgãos da Segurança Pública
Os incisos do caput do art. 144 da Constituição Federal apresentam os chamados “órgãos
policiais” do Estado brasileiro; contudo, como veremos, há, também, nesse mesmo artigo,
referência a outros órgãos que também integram o Sistema de Segurança Pública.

Figura 2 – Impressão digital: um elemento de investigação


policial
Fonte: Pixabay

Polícia Federal
No art. 144 da Constituição Federal, encontramos as seguintes disposições sobre a Polícia
Federal:
“Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de

todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das


pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:

I – Polícia federal; [...]

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e


mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:

I – Apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de


bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas
públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão
interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser
em lei;

II – Prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o


contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos
públicos nas respectivas áreas de competência;

III – Exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;

IV – Exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.”

- BRASIL, 1988, n. p.

Ao observarmos as atribuições estabelecidas para a Polícia Federal pela Constituição Federal e


pela legislação, observamos uma série de detalhes que precisamos destacar.

Esse órgão policial possui a estrutura de suas carreiras fixada, em especial, pela Lei 9.266/1996,
sendo que nesta encontramos que os cargos são todos de nível superior, acessíveis por
concurso público de provas e títulos, sendo que, no concurso para delegado federal, há os
seguintes elementos adicionais:

É obrigatória a participação de representante da Ordem dos


Advogados do Brasil na realização do concurso público;

Os candidatos devem ser bacharéis em Direito, com três anos de atividade jurídica
ou policial, comprovados quando da posse;

Esse órgão é subordinado ao Ministério da Justiça;

Os cargos de direção são ocupados por delegados da Polícia Federal;

O diretor-geral é nomeado pelo presidente da República, devendo a escolha recair,


necessariamente, entre um dos delegados de Polícia Federal da Classe Especial.

Sobre a competência, deve ser destacado que a Polícia Federal possui:

Atribuições de polícia administrativa, o que ocorre, por


exemplo, quando são estabelecidas as missões de polícia
marítima, aeroportuária e de fronteiras;

Atribuições de polícia judiciária, sendo que sobre esta encontramos expressas


menções nos incisos I, II e IV, sendo que, neste último, há indicação de que esse
órgão exerce, com exclusividade (em regra), essas atribuições no âmbito da União.

Ainda sobre as atribuições da Polícia Federal, é necessário salientar a aplicação das seguintes
normas:

Lei 10.446/2002, que dispõe sobre as infrações penais com


repercussão interestadual e/ou internacional, que exigem
repressão uniforme (mencionada no inciso I do § 1);

Lei 12.830/2013, que trata da investigação policial conduzida pelo delegado de


polícia, aplicável, igualmente aos delegados de Polícia Civil.

Polícia Rodoviária Federal


As disposições constitucionais sobre a Polícia Rodoviária Federal são as seguintes.

“Art. 144.

§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela


União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento
ostensivo das rodovias federais.”

- BRASIL, 1988, n. p.

A Polícia Rodoviária Federal possui atribuições de polícia administrativa delimitadas no texto


constitucional e na legislação de trânsito.

A carreira é regida pela Lei 9.654/1998, sendo que desta precisam ser destacados os seguintes
elementos:

A carreira é composta do cargo de policial rodoviário federal,


estruturado em classes – terceira, segunda, primeira e
especial;
O acesso se faz por meio de concurso público, sendo que os candidatos devem
possuir nível superior de ensino.

Esse órgão policial é subordinado ao Ministério da Justiça.

Polícia Ferroviária Federal


Sobre esse órgão policial, encontramos as seguintes disposições constitucionais.

“Art. 144.

[...] § 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela


União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento
ostensivo das ferrovias federais.”

- BRASIL, 1988, n. p.

Em relação a essa instituição, observamos um grande paradoxo, visto que, apesar da previsão
constitucional, esse órgão, na verdade, não existe atualmente.

Não há qualquer estruturação dessa organização policial e sequer qualquer tipo de concurso para
provimento de vagas nas últimas décadas.

Polícias Civis
Sobre as Polícias Civis dos estados e do Distrito Federal, precisamos destacar as seguintes
disposições constitucionais.

“Art. 144.

[...] § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem,


ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares.”

- BRASIL, 1988, n. p.

As Polícias Civis são órgãos policiais estaduais cuja atuação está voltada à prática de atos de
polícia judiciária; contudo, estes não podem ser realizados para apurar:

Crimes cuja atribuição está destinada à Polícia Federal,


conforme o contido no § 1 tratado anteriormente;

Crimes militares, os quais estão previstos no Código Penal Militar (Decreto-Lei


1.001/1969), cuja apuração cabe aos órgãos militares da União (Forças Armadas) ou
dos estados (Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares).

As normas de regência de cada uma dessas instituições policiais são elaboradas pelo respectivo
estado, mas é obrigatório que a direção delas se realize por delegados de polícia de carreira.

Além dessas normas, também merece destaque a aplicação no exercício da atividade:

Do Código de Processo Penal;


Lei 12.830/2013, que trata da investigação policial conduzida pelo delegado de polícia.

Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares


Sobre as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, encontramos as normas
constitucionais a seguir.

“Art. 144.

[...] § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem


pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei,
incumbe a execução de atividades de defesa civil.”

- BRASIL, 1988, n. p.

Como fica claramente apontado pelo texto constitucional, as Polícias Militares atuam nas
atividades de polícia administrativa, buscando a prevenção da ocorrência de infrações penais,
bem como a preservação da ordem pública.

No Decreto 88.777, de 30 de setembro de 1983 (R-200), encontramos a seguinte definição.

“Art. 2º Para efeito do Decreto-lei nº 667, de 02 de julho de 1969 modificado pelo

Decreto-lei nº 1.406, de 24 de junho de 1975, e pelo Decreto-lei nº 2.010, de 12 de


janeiro de 1983, e deste Regulamento, são estabelecidos os seguintes conceitos:
[...]

21) Ordem Pública – Conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento


jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis,
do interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e
pacífica, fiscalizado pelo poder de polícia, e constituindo uma situação ou
condição que conduza ao bem comum.”

- BRASIL, 1983, n. p.

A normatização aplicável às Polícias Militares e aos Corpos de Bombeiros Militares deve ser
elaborada pelo respetivo Estado-membro; contudo, devem ser observadas as competências da
União.

“Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:

[...] XXI – Normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias,


convocação, mobilização, inatividades e pensões das polícias militares e dos
corpos de bombeiros militares.”

- BRASIL, 1988, n. p.

Em parte, essa competência é tratada por meio do Decreto-lei 667/1969, que foi inicialmente
criado para reorganizar as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares, sendo que essa
norma é regulamentada pelo anteriormente mencionado R-200, sendo que, em relação a esse
último, é necessário destacar o seguinte dispositivo:

“Art. 2º Para efeito do Decreto-lei nº 667, de 02 de julho de 1969 modificado pelo

Decreto-lei nº 1.406, de 24 de junho de 1975, e pelo Decreto-lei nº 2.010, de 12 de


janeiro de 1983, e deste Regulamento, são estabelecidos os seguintes conceitos:

[...] 27) Policiamento Ostensivo – Ação policial, exclusiva das Polícias Militares
em cujo emprego o homem ou a fração de tropa engajados sejam identificados de
relance, quer pela farda quer pelo equipamento, ou viatura, objetivando a
manutenção da ordem pública.

São tipos desse policiamento, a cargo das Polícias Militares ressalvadas as


missões peculiares das Forças Armadas, os seguintes:

– Ostensivo geral, urbano e rural;


– De trânsito;
– Florestal e de mananciais;
– Rodoviária e ferroviário, nas estradas estaduais;
– Portuário;
– Fluvial e lacustre;
– De radiopatrulha terrestre e aérea;
– De segurança externa dos estabelecimentos penais do Estado;
– Outros, fixados em legislação da Unidade Federativa, ouvido o Estado-Maior do
Exército através da Inspetoria-Geral das Polícias Militares.”

- BRASIL, 1983, n. p.
É certo que, nessa última disposição, encontramos atribuições que não foram recepcionadas
pelo texto constitucional – tal como o exercício de atividades de polícia portuária, que foram
destinadas à Polícia Federal (inciso III do § 1 do art. 144 da Constituição Federal); porém, em
grande parte, essas disposições continuam vigentes e mostram as diversas atribuições desses
órgãos.

Polícias Penais
Criadas em razão das alterações promovidas pela Emenda Constitucional 104/2019, as
disposições constitucionais sobre as Polícias Penais são as seguintes.

“Art. 144.

[...] § 5º-A Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador do sistema penal


da unidade federativa a que pertencem, cabe a segurança dos estabelecimentos
penais.”

- BRASIL, 2019, n. p.

A criação das polícias penais representa, em geral, a transformação de carreiras e cargos que
anteriormente já existiam e atuavam na segurança de estabelecimentos penais para um novo
modelo institucional, baseado na doutrina e na organização policial. Nesse particular, devemos
observar o contido no art. 4º da Emenda Constitucional 104/2019.
“Art. 4º O preenchimento do quadro de servidores das polícias penais será feito,

exclusivamente, por meio de concurso público e por meio da transformação dos


cargos isolados, dos cargos de carreira dos atuais agentes penitenciários e dos
cargos públicos equivalentes.”

- BRASIL, 2019, n. p.

Esses órgãos existem no âmbito:

Da União: sendo que ela se subordina ao Departamento


Penitenciário Nacional (DEPEN);

Estadual e distrital: com subordinação às Secretarias de Assuntos Penitenciários, de


Justiça, de Segurança Pública, ou nomenclatura semelhante, conforme a
organização local.

Disposições Complementares Sobre os Órgãos Policiais Estaduais


Depois de estabelecer as premissas de atuação dos órgãos policiais, o § 6 do art. 144 da
Constituição Federal apresenta uma disposição complementar cuja redação é a seguinte:

“Art. 144.

[...] § 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares


e reserva do Exército subordinam-se, juntamente com as polícias civis e as
polícias penais estaduais e distrital, aos Governadores dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios.”
- BRASIL, 1988, n. p.

Essas disposições possuem um duplo direcionamento:

Estabelecem que as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros


Militares são forças auxiliares e reservas do Exército;

Estabelecem que esses órgãos policiais bem como as polícias civis e as polícias
penais estaduais e distritais são subordinados aos governadores dos respectivos
estados e do Distrito Federal. Essa disposição, de importância mais histórica do que
prática, destina-se a afastar qualquer dúvida sobre a subordinação dos órgãos
policiais estaduais do chefe do Poder Executivo desses entes federativos.

Articulação dos Órgãos Policiais da Segurança Pública


O § 7 do art. 144 da Constituição Federal reconhece que as disposições contidas nesse artigo não
são suficientes para estabelecer uma boa articulação entre os trabalhos dos diversos órgãos
policiais, de forma a garantir uma essencial cooperação e uma maior eficiência no desempenho
de suas tarefas, e estabeleceu a necessidade de ser criada uma lei com esse objetivo.

Apesar de esse assunto ser de inegável importância, somente em 2018, foi promulgada a Lei
13.675, que criou a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS), bem como
instituiu o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP).

Guardas Municipais
No âmbito dos municípios, a Constituição Federal estipulou a possibilidade de criação das
Guardas Municipais, cuja previsão é a seguinte:
“Art. 144.

[...] § 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à


proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei.”

- BRASIL, 1988, n. p.

O texto constitucional indicou a necessidade de criação de lei para regular esses órgãos, sendo
essa tarefa realizada pela Lei 13.022/2014, que instituiu o Estatuto Geral das Guardas Municipais,
sendo que nessa precisamos destacar o seguinte dispositivo.

“Art. 2º Incumbe às guardas municipais, instituições de caráter civil,

uniformizadas e armadas conforme previsto em lei, a função de proteção


municipal preventiva, ressalvadas as competências da União, dos Estados e do
Distrito Federal.”

- BRASIL, 2014, n. p.

Com clara atuação preventiva, esse órgão possui importante missão de atuar na realização de
uma série de tarefas ligadas ao exercício do poder de polícia no âmbito municipal.

Órgãos de Trânsito
Entendendo a importância social que a segurança viária representa, a Emenda Constitucional
82/2014 firmou, especificamente, que os órgãos que nela atuam integram as atividades de
segurança pública.

“Art. 144.

[...] § 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da


incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas:

I – Compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras


atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade
urbana eficiente; e

II – Compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos


respectivos órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito,
estruturados em Carreira, na forma da lei.”

- BRASIL, 2014, n. p.

Estão inseridas nas atividades ligadas à segurança viária ações de educação, engenharia e
fiscalização de trânsito, sendo necessário que, no âmbito dos estados e do Distrito Federal, haja
organização dos órgãos e das entidades estipulada em lei, que deve prever, igualmente, a
estruturação das carreiras que atuam nessa área.
2/3

ʪ Material Complementar

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Leitura

Decreto-Lei Nº 667, de 2 de Julho de 1969


Reorganiza as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares.

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Lei Nº 10.446, de 8 de Maio de 2002


Dispõe das infrações penais com repercussão interestadual e ou internacional que exigem
repressão uniforme.

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE
Lei Nº 12.830, de 20 de Junho de 2013
Trata da investigação policial conduzida pelo delegado de polícia.

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Lei Nº 13.022, de 8 de Agosto de 2014


Instituiu o Estatuto Geral das Guardas Municipais.

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Lei Nº 13.675, de 11 de Junho de 2018


Cria a Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (PNSPDS) e institui o Sistema Único
de Segurança Pública (Susp).

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE
3/3

ʪ Referências

BRASIL. Supremo Tribunal Federal (2ª Turma). Recurso Extraordinário 559.646/PR. Relatora
Ministra Ellen Gracie, DJe 24/6/11. Disponível em:
<https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/20051286/agreg-no-recurso-extraordinario-re-
559646-pr>. Acesso em 23/03/2022.

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