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Ciências Jurídicas: Williane Tibúrcio Facundes

O e-book 'Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental' organizado por Williane Tibúrcio Facundes reúne artigos de graduandos do curso de Direito, abordando temas jurídicos relevantes. Os textos discutem questões como poder familiar, alienação parental, e a aplicação da LGPD, contribuindo para a ampliação do conhecimento jurídico e a reflexão sobre situações cotidianas. A obra enfatiza a importância da atuação do Judiciário e profissionais capacitados na proteção dos direitos de crianças e adolescentes.
Direitos autorais
© © All Rights Reserved
Levamos muito a sério os direitos de conteúdo. Se você suspeita que este conteúdo é seu, reivindique-o aqui.
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Ciências Jurídicas: Williane Tibúrcio Facundes

O e-book 'Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental' organizado por Williane Tibúrcio Facundes reúne artigos de graduandos do curso de Direito, abordando temas jurídicos relevantes. Os textos discutem questões como poder familiar, alienação parental, e a aplicação da LGPD, contribuindo para a ampliação do conhecimento jurídico e a reflexão sobre situações cotidianas. A obra enfatiza a importância da atuação do Judiciário e profissionais capacitados na proteção dos direitos de crianças e adolescentes.
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E-book

mostra de artigos
Williane Tibúrcio Facundes
(organizadora)

CIÊNCIAS JURÍDICAS
na Amazônia Sul-Ocidental
Tomo 5 - Vol. I

EAC
Editor
Fev./2025
Copyright © by autores, 2025.
All rigths reserved.

Todos os direitos desta edição pertencem aos autores. Nenhuma parte desse
livro poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a autorização
prévia da organizadora pelo e-mail <[email protected]>.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e pu-
nido pelo art. responsabilidade dos autores, bem como o alinhamento dos tex-
tos às normas da ABNT e da ortografia gramatical da língua portuguesa.

DIAGRAMADOR E CAPISTA
Eduardo de Araújo Carneiro
[email protected]

CONSELHO EDITORIAL DA OBRA


Me. Adriano dos Santos Lurconvite
Esp. Simmel Sheldon de Almeida Lopes
Esp. Arthur Braga de Souza
Esp. Ícaro Maia Chaim

E-BOOK

F143c FACUNDES, Williane Tibúrcio (Orgª.).


Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental: mostra de
artigos./ Williane Tibúrcio Facundes (organizadora). – 1.
ed. – Rio Branco: Edição dos autores, EAC Editor,
2025. 214 p.; il. 14,8x21 cm. Tomo 5; Vol. I. (E-Book)
ISBN: 978-65-01-36460-5
1. Ciências Jurídicas; 2. Direito; 3. Amazônia; I. Título.
CDD 340.07
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 05

1. PODER FAMILIAR: HIPÓTESES DE PERDA E 07


SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR NO
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Alannys Vitoria Melo da Silva
Williane Tibúrcio Facundes
2. ALIENAÇÃO PARENTAL E O ESTATUTO DA 45
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Ester Nogueira de Souza
Williane Tibúrcio Facundes

3. A RESSOCIALIZAÇÃO DE MENORES 82
INFRATORES
Giovanna Cordeiro Silva
Williane Tiburcio Facundes

4. APLICAÇÃO DA LGPD NOS TRIBUNAIS 113


Maria Luiza Albuquerque da Silva
Williane Tibúrcio Facundes

5. ATAQUES NAS ESCOLAS DO BRASIL 146


Mylena Lima da Silva
Williane Tibúrcio Facundes

6. TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À 181


ESCRAVIDÃO DOS SERRADORES DE MADEIRA
Ronária Serafim de Paiva
Williane Tiburcio Facundes
A justiça tem numa das mãos a ba-
lança em que pesa o direito, e na ou-
tra a espada de que se serve para o
defender. A espada sem a balança é
a força brutal, a balança sem a es-
pada é a impotência do direito.

Rudolf von Ihering


Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

APRESENTAÇÃO

A
presente obra compila seis artigos elabora-
dos por graduandos do curso de Direito do
Centro Universitário Uninorte, sob a organiza-
ção da professora especialista Williane Tibúrcio Facundes. Os
textos, desenvolvidos em coautoria, abordam temas jurídicos
de grande relevância.
Os artigos científicos aqui apresentados desempenham
um papel crucial na ampliação do conhecimento jurídico. Eles
oferecem uma plataforma para a análise abrangente de ques-
tões legais, discussão de jurisprudência recente e contribuição
para o desenvolvimento de teorias jurídicas. Ademais, tais ar-
tigos são fundamentais para a disseminação de informações
valiosas à comunidade jurídica, incluindo advogados, estudan-
tes e outros profissionais do Direito. Também exercem influên-
cia significativa na formulação de políticas e na tomada de de-
cisões judiciais informadas.
Os textos científicos contidos nesta coletânea exploram
uma diversidade de tópicos, que vão desde direitos humanos
e questões constitucionais até a análise de casos legais espe-
cíficos. A pesquisa meticulosa e a análise crítica são elemen-
tos centrais na produção dos artigos, os quais contribuem para

5
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

o avanço e a compreensão das complexidades legais presen-


tes em nossa sociedade.
Trata-se de uma obra coletiva e plural, que debate te-
mas de interesse social e, sem esgotar as discussões, pro-
move reflexões sobre situações vivenciadas cotidianamente.
Essa característica confere à obra uma relevância notável.

Prof. Esp. Williane Tibúrcio Facundes.


Docente do Centro Universitário Uninorte.
Graduada em Direito pela U:VERSE. Es-
pecialista em Psicopedagogia pela Uni-
versidade Varzeagrandense e Direito Di-
gital pela Faculdade Metropolitana. Gra-
duada em Letras Vernáculas pela Univer-
sidade Federal do Acre - UFAC.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1
PODER FAMILIAR: HIPÓTESES DE PERDA E
SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR NO ESTATUTO
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

FAMILY POWER: HYPOTHESES OF LOSS AND


SUSPENSION OF FAMILY POWER IN THE CHILD
AND ADOLESCENT STATUTE

Alannys Vitoria Melo da Silva1


Williane Tibúrcio Facundes2

SILVA, Alannys Vitoria Melo da; FACUNDES, Williane Tibúr-


cio. Poder familiar: hipóteses de perda e suspensão do po-
der familiar no Estatuto da Criança e do Adolescente. Tra-
balho de Conclusão de Curso de graduação em Direito – Cen-
tro Universitário UNINORTE, Rio Branco. 2025

1 Discente do 9º período do curso de bacharelado em Direito pelo Centro


Universitário Uninorte.
2 Docente do Centro Universitário Uninorte. Graduada em Direito pela

U:VERSE. Graduada em Letras Vernáculas pela Universidade Federal do


Acre- UFAC. Especialista em Psicopedagogia pela Universidade Varzea-
grandense e Direito Digital pela Faculdade Metropolitana.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

O poder familiar é um conceito central no Estatuto da Criança


e do Adolescente (ECA), que se refere ao conjunto de direitos
e deveres atribuídos aos pais ou responsáveis em relação aos
filhos. No entanto, o ECA prevê hipóteses de perda e suspen-
são do poder familiar, visando proteger os direitos e o bem-
estar da criança e do adolescente. A perda do poder familiar
ocorre em situações graves, como quando os genitores prati-
cam abuso, negligência ou outros atos que comprometam a
integridade física e emocional da criança. Neste caso, a me-
dida é irrevogável e implica na exclusão definitiva dos direitos
parentais. O ECA também estabelece que a falta de recursos
materiais não é, por si só, motivo para a perda ou suspensão
do poder familiar, enfatizando a importância de manter a cri-
ança em seu ambiente familiar sempre que possível. Por outro
lado, a suspensão do poder familiar é uma alternativa que
pode ser temporária, aplicada em situações em que há risco à
criança, mas que não justificam a perda definitiva. Exemplos
incluem casos de dependência química, enfermidades men-
tais ou situações que comprometam a capacidade dos pais de
exercer a guarda de maneira segura. A suspensão pode ser
revista, permitindo que os genitores recuperem seus direitos
uma vez que as condições que levaram à medida sejam supe-
radas. Essas disposições do ECA refletem a prioridade abso-
luta dos direitos das crianças e adolescentes, assegurando
que suas necessidades sejam atendidas de forma adequada.
A atuação do Judiciário e de profissionais capacitados é es-
sencial para a avaliação e aplicação dessas medidas, garan-
tindo um processo que respeite o melhor interesse da criança.

Palavras-chave: ECA; poder familiar; criança; adolescente,


justiça.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRAC

Family power is a central concept in the Statute of the Child


and Adolescent (ECA), referring to the set of rights and duties
assigned to parents or guardians in relation to their children.
However, the ECA provides for hypotheses of loss and sus-
pension of family power, aiming to protect the rights and well-
being of children and adolescents. The loss of family power
occurs in severe situations, such as when parents engage in
abuse, neglect, or other acts that compromise the physical and
emotional integrity of the child. In this case, the measure is ir-
revocable and implies the definitive exclusion of parental
rights. The ECA also establishes that a lack of material re-
sources is not, by itself, a reason for the loss or suspension of
family power, emphasizing the importance of keeping the child
in their family environment whenever possible. On the other
hand, the suspension of family power is an alternative that can
be temporary, applied in situations where there is a risk to the
child but which do not justify definitive loss. Examples include
cases of substance dependence, mental illness, or situations
that compromise the parents' ability to exercise guardianship
safely. The suspension can be reviewed, allowing parents to
regain their rights once the conditions that led to the measure
have been overcome. These provisions of the ECA reflect the
absolute priority of the rights of children and adolescents, en-
suring that their needs are adequately met. The role of the ju-
diciary and qualified professionals is essential for the evalua-
tion and implementation of these measures, guaranteeing a
process that respects the best interest of the child.

Keywords: ECA; family power; child; adolescent; justice.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

Este artigo discute sobre o cenário atual do poder fami-


liar, viabilizando as hipóteses de perda e suspensão desse po-
der familiar, trazendo medidas para a resolução dessa con-
duta, o que certamente tem sido um desafio constante aos ge-
nitores em relação a seus filhos.
Tal poder passou por grandes evoluções no decorrer do
tempo, onde deixou de ser apenas do pai, para ser de ambos
os genitores, onde o pai e a mãe têm direitos e deveres iguais
em administrar os cuidados dessa criança e adolescente,
como, no caso de um, o outro tomará conta, no qual, o intuito
é buscar sempre o melhor caminho e o melhor interesse para
essa criança ou adolescente.
No entanto, é importância destacar, ainda, que o insti-
tuto do poder familiar possui uma grande relevância na atual
sociedade, tendo em vista que se encontra presente na vida
de qualquer cidadão.
Desse modo, o exercício desse poder familiar deve ser
guiado pelos princípios que regem o direito da família, não le-
vando em consideração apenas a dignidade da pessoa hu-
mana, mas também a liberdade, a igualdade, o respeito e so-
bretudo a proteção total dessa criança e adolescente.

10
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Por sua vez, esse poder familiar dado aos genitores,


tem como finalidade o bom desenvolvimento dessa criança e
do adolescente, para que estes possam futuramente ingressar
no convívio social da melhor forma possível, onde, para o Es-
tado que muito interessa, essa será uma grande esfera que
assegurara o bom exercício desses direitos.
Assim, quando não cumpridas tais direitos que são im-
postas a estes pais, o Estado a qualquer tempo em benefício
do incapaz, poderá intervir, para proteger essa criança ou ado-
lescente de situações indesejáveis e perigosas que os pais
possam ter diante de seus filhos. No qual, tal medida aplicada
pelo Estado pode ser de caráter temporário, que está relacio-
nada a suspensão desse poder familiar, ou em relação a perda
desse poder familiar que é dada por lei a esses genitores.
No primeiro capítulo foi detalhado sobre o poder familiar
para a legislação Brasileira, onde busca como objetivo que os
pais exerçam os direitos que são impostos a eles com relação
a seus filhos, seja esse poder sendo exercido pelos genitores
ou de forma separada, dependendo do tipo de núcleo familiar
que essa criança e adolescente se encontra.
Já no segundo capítulo foi detalhado sobre as hipóte-
ses de perda e suspensão desse poder familiar para a legisla-
ção Brasileira, onde a suspensão é uma sanção aplicada aos

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

genitores, que ficarão suspensos do exercício do poder fami-


liar, quando não cumprirem determinados deveres que são lhe
dados por lei. E a perda é a mais grave, pois ela tem um mo-
vimento judicial, o que fará com que o Juiz possa interver.
Finalmente, no terceiro capítulo, foi abordado sobre o
castigo imoderado e suas consequências, no qual os pais
usam sob seus filhos. Onde esse castigo aplicado pelos pais
muitas vezes acaba sendo conduzido de forma prejudicial para
essa criança e adolescente, gerando então fatores que preju-
dicam o desenvolvimento, psicológico, emocional dessa cri-
ança e adolescente.
Quanto a metodologia adotada, prevalece a utilização
de pesquisa bibliográfica, fundamentos de artigos científicos
de civilistas, e de pesquisa documental, com a análise trans-
crição de legislação.
Trata-se de pesquisa qualitativa, pois foi necessário
promover a integração de variáveis para compreender o objeto
de pesquisa.
Justifica-se o tema de pesquisa porque a sociedade
precisa se atentar para a importância do poder familiar e quais
são as hipóteses de perda e suspensão que esse poder im-
põe, e que seja evitado que esses genitores acabem perdendo
o poder sob seus filhos e busquem sempre o melhor interesse
para essa criança e adolescente.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1.1 O PODER FAMILIAR NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

A legislação Brasileira em si não trouxe uma definição


para o poder familiar, mas, vale salientar que o exercício do
pátrio poder ou poder familiar, nada mais é, do que um
comprometimento assumido pelos pais com a sociedade, já
que hoje, não há mais que se falar de diferenciação entre pai
e mãe, pois, dentro da entidade familiar, os dois exercem
juntos este poder, pois tem como objetivo de orientar os filhos
e reger seus bens, desde a concepção até a fase adulta do
mesmo.
Nesse sentido, definiu Venosa (2004, p. 367) como:

O pátrio poder, poder familiar ou pátrio dever,


nesse sentido, tem em vista primordialmente a
proteção dos filhos menores. A convivência de
todos os membros do grupo familiar deve ser
lastreada não em supremacia, mas em diálogo,
compreensão e entendimento.

Contudo, o poder familiar é um conjunto de regras que


englobam direitos e deveres conferidos aos pais, tendo
sempre como finalidade a proteção dessa criança e
adolescente quanto aos perigos que possam vir a existir, bem
como, de preparar elas para a vida. Importante mencionar que,
tais atribuições quando não cumpridas no exercício desse
poder familiar, incorre aos pais sanções de natureza penal,

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

cível, podendo inclusive acarretar na suspensão deste poder


familiar quanto na perda.
Neste sentido, é importante frisar que esse poder
familiar tem como caracteristica de ser um múnus público, ou
seja, um encargo.
De acordo com Rizardo (2004, p. 602)

Ao Estado interessa o seu bom desempenho,


tanto que existem normas sobre o seu exercício,
ou sobre a atuação do poder dos pais na pessoa
dos filhos. No próprio caput do art. 227 da Carta
Federal notam-se a discriminação de inúmeros
direitos em favor da criança e do adolescente, os
quais devem ser a toda evidência, observados no
exercício do poder familiar: direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
cultura, à dignidade, entre outros. A incumbência
é ressaltada ainda, no art. 229 da mesma Carta,
mas genericamente. No Estatuto da Criança e do
Adolescente (Lei 8069/90), há várias normas de
proteção, como a do art. 22, o que também fazia
o Código Civil de 1916, no art. 384, e reedita o
artigo 1634 do vigente código. [...] Se de um lado
a autoridade do Estado não pode substituir a
autoridade dos pais, de outro, em especial num
país com tantas deficiências culturais como o
Brasil, deve impor-se a autoridade do Poder
Público em inúmeros setores, como, aliás, o faz
a Lei 8069/90.

Contudo, o poder familiar é evidenciado por ser uma


parte do próprio Estado, ou seja, ele não poderá ser
renunciado e nem alienado, bem como, não poderá ser
substabelecido ou delegado. Pois, esse poder familiar é

14
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

chamado de “munús público”, que é quando o Estado fica


responsável pela fixação das normas que determinam o
poder familiar, na qual buscam um bom interesse dos atos
destes genitores.
Sendo assim, são estas normas que evidenciam quais
serão as responsabilidades que os genitores terão com seus
filhos, bem como a forma que irão ter que atuar e as
consequências que terão dessa emoção.
Entretanto, o poder familiar, de acordo com o art. 23 do
ECA não pode ser perdido ou suspenso unicamente em
decorrência de situação de vulnerabilidade econômica
familiar, pois, na falta desse recurso material, caberá ao
Estado a função de inserir essa família em programas sociais,
voltados então para a assistência básica, propiciando a elas
assim uma vida digna não só aos filhos como também os pais.
Conforme expõe Romero de Oliveira Andrade (2002,
p.97):

Dos maiores avanços trazidos pelo bem-vindo


Estatuto da Criança e do Adolescente, a regra do
art. 23 enterrou de vez nos escombros da
recente história deste País, o entulho autoritário
representado pela combinação do art. 45, I, com
art. 2º, I, b, do revogado Código de Menores que
permitia- e isso se fez uso e abuso, a título de
proteção dos interesses do menor- a decretação
da perda ou suspensão do poder familiar na
hipótese de os pais ou responsáveis estarem
impossibilitados de prover as condições

15
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

essenciais à subsistência, saúde e instrução


obrigatória dos filhos menores. Era o desumano
e reprovável regime de penalização da pobreza,
de triste memória.

Portanto, esses genitores têm por lei a autonomia de


decidir sobre a vida do seu filho(a), já que eles são
responsáveis pelas escolhas, pela sua criação, pela sua
disciplina, pelos bens, enfim por todos os atos praticados por
esta criança ou adolescente.

1.2 HIPÓTESES DE PERDA E SUSPENSÃO DO PODER


FAMILIAR NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Sabemos que o poder familiar para a legislação


Brasileira é um direito e dever que os pais assumem sob os
filhos, onde o mesmo começa a ser exercida desde o
nascimento até o momento em que atinge a sua maioridade
civil.
Essas hipóteses de perda e suspensão do poder
familiar pode ser vista como medidas menos gravosa,
definitiva e grave, visto que pode ser revista a qualquer
tempo.
Sendo assim, a legislação Brasileira prevê que essas
hipóteses, podem está relacionadas a vários fatores, são eles
no caso de perda e suspensão desse poder, aos bens dos

16
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

menores, ao abandono, a emancipação, dentre outros fatores


que serão detalhados no decorrer deste artigo.
São essas condutas que definem quais as
responsabilidades que os pais terão em assegurar os direitos
de seus filhos, bem como, definem o modo como devem
atuar, e quais serão as consequências dessas omissões
quando não forem cumpridas.
Com isso, o poder familiar tem como característica,
quanto à pessoa do filho, o artigo 1.634 do Código Civil,
elenca várias obrigações, tais como:

Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos


menores: I – dirigir-lhes a criação e educação;
II – tê-los em sua companhia e guarda; III – con-
ceder- lhes, ou negar-lhes consentimento para
casarem; IV – nomear-lhes tutor, portestamento
ou documento autêntico, se o outro dos pais lhe
não sobreviver, ou o sobrevivo não puder exer-
cer o poder familiar; V – representá-los, até aos
16 anos, nos atos da vida civil, e assisti-los,
após essa idade, nos atos em que forem partes,
suprindo-lhes o consentimento; VI – reclamá-
los de quem ilegalmente os detenha; VII – exigir
que lhes prestem obediência, respeito e os ser-
viços próprios de sua idade e condição (2002).

1.2.1 HIPÓTESES DE PERDA DO PODER FAMILIAR

De fato, o que realmente difere a perda da suspensão


do poder familiar é a gravidade da causa que ensejou a

17
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

aplicação de tal medida, portanto, a perda do poder familiar,


ocorre em casos considerados extremos, quando ocorre
descumprimento dos deveres inerentes aos pais e, somente
poder ser exercida nas hipóteses em que coloque risco
permanente e irreversível a vida, segurança, e a dignidade
dessa criança ou adolescente.
Para a legislação brasileira a perda do poder familiar é
uma medida judicialmente grave, ou seja, ela é imposta a
esses pais em decorrência devido os descumprimentos dos
deveres que são atribuídos a eles por lei. Na qual, essa
responsabilidade é exercida igualmente pelo pai e pela mãe,
onde, ambos os genitores devem cumprir com todas as
obrigações da criação desses menores. Essa perda do
poder familiar também pode ocorrer diante de causas
naturais, como a emancipação, a morte dos pais ou dos
filhos e a maioridade.
Sendo assim, dispõe o art. 1638 do Código Civil o
seguinte:

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder


familiar o pai ou a mãe que: I - castigar
imoderadamente o filho; II - deixar o filho em
abandono; III - praticar atos contrários à moral
e aos bons costumes; IV - incidir,
reiteradamente, nas faltas previstas no artigo
antecedente. V - entregar de forma irregular o
filho a terceiros para fins de adoção (2002).

18
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Além dos incisos elencados acima, que serão mais


bem analisados adiante, é importante mencionar que em
2018, foi sancionada a lei 13.715/18, que alterou o artigo
1.638 do Código Civil, incluindo o parágrafo único para
ampliar as possibilidades da perda do poder familiar nos
seguintes casos:

Art. 1.638[...]
Parágrafo único. Perderá também por ato judicial
o poder familiar aquele que:I - praticar contra ou-
trem igualmente titular do mesmo poder familiar:
homicídio, feminicídio ou lesão corporal de na-
tureza grave ou seguida demorte, quando se
tratar de crime doloso envolvendo violência do-
méstica efamiliar ou menosprezo ou discrimina-
ção à condição de mulher; estupro ou outro crime
contra a dignidade sexual sujeito à pena de re-
clusãoII - praticar contra filho, filha ou outro des-
cendente: homicídio, feminicídio ou lesão corpo-
ral de natureza grave ou seguida de morte,
quando se tratar de crime doloso envolvendo vi-
olência doméstica e familiar ou menosprezo ou
discriminação à condição de mulher; estupro, es-
tupro de vulnerável ou outro crime contra a digni-
dade sexual sujeito à pena de reclusa (2002).

Deste modo, esta Lei 13.715/18 se ateve aos inúmeros


casos de violência doméstica familiar no qual acarreta
grandes problemas para essa criança ou adolescente. Está
lei não só modificou o Código Civil, mais também o Estatuto
da Criança e do Adolescente, pois fez com que
implementasse essas outras hipóteses de perda deste poder

19
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

familiar, com relação a certos crimes que são acometidos a


outrem igualmente titular do mesmo poder familiar ou contra
filho, filha ou outro descendente.
Sendo assim, leciona Cunha (2020, p. 339) que:

Na hipótese de crime praticado contra outrem


igualmente titular do mesmo poder familiar se in-
cluem os casos de violência doméstica, não im-
porta se dohomem contra a mulher ou da mulher
contra o homem. Como por exemplo, oindivíduo
que agride a esposa grávida e lhe provoca, esse
pode ser privado do exercício do poder familiar
sobre o filho nascido prematuramente em decor-
rência da agressão. Assim, como a mulher que
tenta matar o marido pode perder o poder familiar
sobre os filhos do casal.

Contudo, o pai ou a mãe condenada (a) por crime


sujeito a pena de reclusão, cometido em favor do outro
detentor, poderá perder o poder familiar em relação aos filhos
menores.
O inciso I era compreendido anteriormente nos casos
de maus-tratos e castigos que excedem o “normal” e que não
mais podem ser considerados necessários à educação dos
filhos. Porém, posteriormente, com a promulgação da lei nº
13.010/14, mais conhecida como lei da palmada, fica proibido
todo tipo de castigo que machuque fisicamente essa criança
ou adolescente ou que a ponha em situação perigo, mesmo

20
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

que tal ato seja justificado pelos pais ou responsáveis como


medidas para a correção e educação dessa criança e
adolescente.
O inciso II trata sobre o abandono do filho, no qual, não
se refere apenas ao abandono físico ou mesmo material dos
pais com essa criança ou adolescente, mas também do
abandono afetivo, ou seja, do sentimento de rejeição
promovido por um dos genitores sobre esse menor. Tal
sentimento que por muitas vezes se prolonga por todo o
desenvolver dessa criança e adolescente, acarretando a
estes traumas futuros.
Outra questão deste inciso que constitui infração ao
dever desses pais, é que o estímulo a miséria, ato que viola
a dignidade da pessoa humana, também é passível de perda
do poder familiar, da mesma forma quando o menor é
submetido a conviver com a delinquência e presencia o
consumo e o tráfico de drogas, bem como a prostituição e os
conflitos físicos dos genitores.
Venosa em sua concepção destaca que:

Os fatos graves relatados na lei devem ser


examinados caso a caso, sevícias, injúrias
graves, entrega do filho à delinquência ou sua
facilitação, entrega da filha à prostituição etc.,
são sérios os motivos que devem ser
corretamente avaliados pelo juiz. Abandono
não é apenas o ato de deixar o filho sem

21
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

assistência material: abrange também a


supressão do apoio intelectual e psicológico. A
perda poderá atingir um dos progenitores ou
ambos (2003, p.368)

Já o inciso III, que diz em relação à moral e aos bons


costumes foi utilizado para evitar que o mau exemplo dos pais
possa acabar influenciando ou prejudique a formação moral
dessa criança e adolescente. Sendo assim, os exemplos que
possa interferir no perfil psicológico do filho, por isso existe
essa necessidade de evitar situações que comprometam o
desenvolvimento desse menor.
Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves (2018, p.
429):

Visa o legislador evitar que o mau exemplo dos


pais prejudique a formação moral dos infantes.
O lar é uma escola onde se forma a
personalidade dos filhos. Sendo eles facilmente
influenciáveis, devem os pais manter uma
postura digna e honrada, para que nela se
amolde o caráter daqueles. A falta de pudor, a
libertinagem, o sexo sem recato podem ter
influência maléfica sobre o posicionamento
futuro dos descendentes na sociedade, no
tocante a tais questões, sendo muitas vezes a
causa que leva as filhas menores a se
entregarem à prostituição.

Adiante, o inciso IV, estabelece o intuito de inibir que


os pais reiterem as causas de suspensão, onde, uma vez

22
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

se encontram presentes as causas que ensejaram tal medida,


decide o juízo pertinente pela consequente destituição deste
poder familiar.
No entanto, o inciso V, que foi recentemente incluído
no Código Civil através da lei 13.509/17, que busca incentivar
a prática da adoção legal e, consequentemente, evitar a
chamada “adoção à brasileira”, consiste na entrega da
guarda desta criança e adolescente a terceiros. Contudo,
onde necessariamente são pessoas que não se encontram
na fila de adoção, ocorrendo então o registro deste menor
como se fosse seu filho de verdade, portanto, essa forma é
um ato de burlar o processo solene de adoção estipulado pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA.
Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves (2018, p.
368):

Há, ainda, a adoção simulada ou à brasileira,


que é uma criação da jurisprudência. A
expressão “adoção simulada” foi empregada
pelo Supremo Tribunal Federal ao se referir a
casais que registram filho alheio, recém-
nascido, como próprio, com a intenção de dar-
lhe um lar, de comum acordo com a mãe e não
com a intenção de tomar-lhe o filho. Embora tal
fato constitua, em tese, uma das modalidades
do crime de falsidade ideológica, na esfera
criminal tais casais eram absolvidos pela
inexistência do dolo específico. Atualmente,
dispõe o Código Penal que, nesse caso, o juiz
deixará de aplicar a pena.

23
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1.2.2 HIPÓTESES DE SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR

As causas de suspensão do poder familiar estão elen-


cadas no art. 1637, do Código Civil de 2002 e representa, as
medidas extremas que devem ser tomadas com a devida cau-
tela, uma vez que esse “distanciamento”, seja ele momentâ-
neo ou definitivo da criança e adolescente com a sua família
natural, poderá prejudicar o desenvolvimento do infante, de-
vendo, portanto, sempre ser preservado o superior interesse
dessa criança e adolescente.
Conforme alude Bianca (2008) que:

A suspensão é um remédio aplicável quando se


caracteriza a inidoneidade do genitor a gerir
apropriadamente os interesses econômicos do
filho. Em vez de suspendê-lo, dependendo das
circunstâncias, o juiz pode limitar-se a
estabelecer condições particulares, às quais os
genitores devem atender (2008, online).

Sobre o artigo 1637, que diz:

Art. 1.637 Se o pai ou mãe, abusar de sua auto-


ridade, faltando os deveres a eles inerentes ou
arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, re-
querendo algum parente, ou ao Ministério Pú-
blico, adotar à medida que lhe pareça reclamada
pela segurança do menor e seus haveres, até
suspendendo o poder familiar, quando convenha
(2002).

24
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Com isso, a legislação prevê a possibilidade de os pais


serem suspensos do exercício desse poder familiar, quando
os mesmos não cumprirem os direitos que são dados a eles,
ou seja, os direitos atinentes ao poder familiar previstos em
lei. Sendo assim, leciona Rodrigues (2002, p. 411) que diz:

A suspensão representa medida menos grave,


de modo que, extinta a causaque a gerou, pode
o juiz cancelá-la, se não encontrar inconveni-
ente na volta do menor para a companhia dos
pais. Ademais, a suspensão pode referir-seape-
nas ao filho vitimado e não a toda a prole; bem
como abranger somente alguma das prerrogati-
vas do pátrio poder; assim, se o pai cuida mal
do patrimônio de um filho que recebeu deixa
testamentária, mas por outro lado educa bem
este e os outros com muita proficiência, pode o
juiz suspendê-lo do pátrio poder no que diz res-
peito à administração dos bens desse filho, per-
mitindo que conserve intocável o pátrio poder no
que concerne aos outros poderes e aos outros
filhos.

A suspensão por si possui um caráter temporário,


tendo sua duração mantida somente até o prazo em que está
se fizer necessária. Portanto, quando se é encerrado o
estado de necessidade que motivou a suspensão desse
poder familiar, se retorna ao exercício do poder aquele que
havia sido afastado, ou seja, o pai ou mãe, ou qualquer outro
maior que esteja responsável deste poder.

25
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Referindo-se a tal dispositivo explica Gonçalves (2009,


p. 392), que:

A suspensão, deixada ao arbitrium boni viri do


juiz, poderá assim ser revogada, também a cri-
tério dele. As causas de suspensão vêm menci-
onadasum tanto genericamente no mencionado
art. 1.637 do Código Civil justamentepara que se
veja o juiz munido de certa dose de arbítrio, que
não pode ser usado a seu capricho, porém sob
a inspiração do melhor interesse da criança.
Desse modo, em vez de suspender o exercício,
pode o magistrado, dependendo das circuns-
tâncias, limitar-se a estabelecer condições par-
ticulares às quais o pai ou a mãe devem aten-
der.

Por conseguinte, quando a mãe seja suspensa do


poder familiar, caberá ao pai exercê-lo, assim como se o pai
for suspenso desse poder familiar caberá a mãe exercê-lo,
de modo que se forem incapazes ou já tiverem falecido,
deverá sernomeado tutor para esse menor.
Para Comel (2003, p. 264) evidencia que:

Na suspensão, o exercício do poder familiar é


privado, por tempo determinado, de todos ou de
parte de seus atributos, referindo-se a um dos
filhos ou a alguns. E a cessação temporária do
exercício do poder, por determinação judicial,
em processo próprio e sob motivo definido em
lei. Consiste numa restrição imposta judicial-
mente aquele que exerce o poder familiar e que
vier ou a abusar de sua função em prejuízo do
filho, ou a estar impedido temporariamente de

26
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

exercê-la, pela qual se retira parcela de sua au-


toridade. E disso, também, conclui-se que a
suspensão não tem o caráterde definitividade,
pois consiste em medida provisória, com dura-
ção determinada, destinada a ter vigência en-
quanto perdurar a situação que a ensejou, ou
seja, enquanto necessária e útil aos interesses
do filho.

Ainda em relação à suspensão do poder familiar, ela


pode ser parcial ou total. Onde, a suspensão do poder
familiar parcial é quando o pai ou a mãe é privado de alguns
direitos sob a criança ou o adolescente.
Já na suspensão do poder familiar total, é quando o
pai ou a mãe é privado de todos os direitos sob essa criança
ou adolescente, ou seja, ela tem a intenção de garantir a
segurança total desse menor, protegendo seus bens e
buscando o melhor interesse para esse menor.
Portanto, essa suspensão do poder familiar tem caráter
temporário, e como são apresentadas de forma genérica,
dependem da decisão judicial, ou seja, o juiz terá grandes
parâmetros para decidir de acordo com o caso em concreto.
Sendo assim, esse caráter temporário significa que os
genitores vão ficar afastados desse poder familiar sob essa
criança ou adolescente, de acordo com a lei.
De acordo com o artigo 1637 do Código Civil
determina que se suspende o poder familiar quando: verifica
o abuso de autoridade, a falta dos deveres a essa criança

27
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ou adolescente, arruinação dos bens desses menores, por


negligência, incapacidade, impossibilidade de seu exercício,
dentre outros.
Leciona o artigo 227 da Constituição Federal .

É dever da família, da sociedade e do Estado


assegurar à criança, ao adolescente e ao jo-
vem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, àalimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, explora-
ção, violência, crueldade e opressão (1988).

O que fica claro a partir do exposto do Artigo 227 da


CF/1988 é que se impõe à família, ao Estado e à sociedade
a função ou papel de garantir os direitos dessas crianças e
adolescentes, ou seja, os direitos esses que devem ser
tratados com “prioridade absoluta”.
Portanto, de modo geral, os casos de suspensão são
aqueles em que há abuso da autoridade parental ou a falta
da prática dos deveres inerentes a esse poder, como em
situações de violências físicas ou psicológicas, abandono e
negligências em geral, que serão devidamente analisadas
pelo magistrado, dentro de sua proporção.

28
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1.3 CASTIGO IMODERADO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Ainda que, em busca do melhor interesse desse menor,


poderá ocorrer a perda do poder familiar, o pai e a mãe que
possa vir a ofender a integridade física ou mental do filho
atráves do castigo imoderado.
No qual, essa medida esse passará a ser decidida de
acordo com o grau de perigo permanente a segurança dessa
criança ou adolescente em relação a dignidade do filho. O
Código Civil dispõe em seu artigo 1.638 acerca da perda do
poder familiar:

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder


familiar o pai ou a mãe que:

I - castigar imoderadamente o filho; II - deixar o


filho em abandono; III - praticar atos contrários
à moral e aos bons costumes; IV - incidir,
reiteradamente, nas faltas previstas no artigo
antecedente [...] (2002).

Portanto, para melhor verificação de como o castigo


pode ser empregado, pelos pais na educação de seus filhos
menores, é necessário estabelecer uma diferenciação entre
as formas de castigo.

29
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

1.3.1 DO CASTIGO

O castigo é uma punição, uma sanção a algo que é


considerado como errado. Esse castigo pode ser como
punição corporal, também chamado de castigo físico, ou de
outras formas, como privação de algo. O castigo no geral tem
um caráter educativo para os pais, e é utilizado para auxiliar
na educação dessa criança e adolescente.
Entretanto, Destacam Veronese, Gouvêa e Silva
(2005, p. 440) que:

O conceito de castigo, como sinônimo de


violência, ou seja, aquele que se impõe,
valendo-se do poder familiar, contra o físico,
contra a psique da criança ou do adolescente,
deve a todo custo ser expurgado, combatido
pela sociedade e pelo Poder Público. Os pais
têm obrigação de corrigir os filhos, alertá-los e
admoestá-los, tudo isso faz parte do processo
de educar. Entretanto, qualquer aflição física ou
psicológica imposta à criança ou ao
adolescente deve repugnar a todos nós e ser
taxativamente repudiada.

1.3.2 DO CASTIGO MODERADO

Segundo o Código Civil, o castigo moderado é


conceituado como o castigo controlado, utilizando de uma
forma restrita, prudente e controlável.

30
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Sendo assim, Comel (2003) define o castigo


imoderado como:

O castigo moderado implica a reprimenda


comedida, prudente, razoável, sem exageros
ou excessos, e sempre com caráter educativo.
É o castigo que não põe perigo a saúde física
ou mental do filho e que não o priva do
necessário à subsistência, podendo consistir
em advertências, privações de regalias e, até,
de correção física, conforme alguns, embora ela
seja bastante questionável, tanto no aspecto de
violação da integridade física e psíquica do filho
(porque o castigo físico também pode consistir
em violação psíquica), assim também quanto à
sua eficiência pedagógica.

Nesse sentido, define Daniel (2012), p. 44) como:

Nesse contexto, entende-se por castigo


moderado todo ato violento 11 praticado contra
criança e adolescente inferior à lesão corporal
de natureza grave. Assim, a ponderação da
moderação encontra limite na prática de lesão
corporal grave. Portanto, o agressor somente
será punido caso haja praticado violência desta
natureza, uma vez que a lei específica somente
o excesso, autorizando, de certa forma, a
violência física por aqueles que a lei assegura
dever de proteger e educar. (Daniel, 2012, p.
44)

Assim, entende-se que esse castigo assume uma


função correcional, no qual, afirma que a lei só proíbe o

31
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

castigo imoderado, tendo como resultado a perda do poder


familiar. Dessa forma, fica entendido que o castigo
moderado, desde que seja praticado dentro dos limites é
permitido.
Portanto, se não há uma definição do que é esse
castigo, essa violência começa com uma “tapinha” e vai se
agravando até chegar em lesões mais graves, podendo até
provocar a morte.
Sendo assim, o Código Civil de 2002, em seu artigo
1638 passa a ideia da possibilidade do uso da violência
desde que moderada: Art. 1.638. Perderá por ato judicial o
poder familiar o pai ou a mãe que: I - castigar
imoderadamente o filho; (...). Contudo, o Código Penal
também fala sobre a questão do abuso no educar, dando a
entender que se não houver excesso na disciplina o uso da
violência seria legítimo, como exibe:

Art. 136 Expor a perigo a vida ou a saúde de


pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino,
tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer
sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de
correção ou disciplina. (Brasil, 1940)
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou
multa. 44 § 1º - Se do fato resulta lesão corporal
de natureza grave: Pena - reclusão, de um a
quatro anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena -
reclusão, de quatro a doze anos. § 3º -

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é


praticado contra pessoa menor de 14 (catorze)
anos. (Brasil, 2012-C)

Nesse contexto, entende-se por castigo moderado


todo ato violento praticado contra criança e adolescente
inferior à lesão corporal de natureza grave. Sendo assim, a
ponderação desta moderação se encontra limite na prática
de lesão corporal grave. Portanto, o agressor somente será
punido caso haja praticado violência desse tipo de natureza,
uma vez que a lei específica somente o excesso,
autorizando, de certa forma então, a violência física por
aqueles que a lei assegura o dever de proteger e educar.
Sendo assim, Capez (2006, p. 213) dispõe que:

Tal excesso tanto pode consistir em violência


física (castigo corporal) como moral (ameaçar,
aterrorizar a vítima). Ressalta-se que a lei não
veda a utilização dos meios de correção ou
disciplina, mas tão-somente o seu uso
imoderado. O uso de cintas, vara de marmelo,
pedaços de pau contra o filho, por exemplo,
caracteriza o uso abusivo daqueles meios. Tal
não ocorre se o pai moderadamente, com a
finalidade educativa, aplica-lhe algumas
palmadas nas nádegas. Veja-se, portanto, que
o jus corrigendi ou disciplinandi há de ser
exercido sempre de maneira moderada para
que seja considerado legítimo.

Contudo, entende-se que qualquer prática de castigo

33
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

físico, seja ele moderado ou imoderado, contra criança e


adolescente deve ser considerado como violação dos direitos
garantidos constitucionalmente e, violação ao Estatuto da
Criança e do Adolescente.

1.3.3 DO CASTIGO IMODERADO

Segundo o Código Civil, atualmente as crianças


gozam de direitos e proteção, que visam, sobretudo, o melhor
interesse da criança.
No direito romano, os filhos eram subordinados do pai,
no qual, eles tinham seus filhos como objeto e não como
sujeitos de direitos. Ou seja, cabia ao pai decidir sobre a vida
dos filhos já que detinham um poder de propriedade sobre
eles.
Logo, nos séculos XII e XIII, esse poder era imposto
sem limitações, tendo assim o pai todo o poder sob esse filho
menor. Assim, o castigo imoderado era exercido sem
restrições alguma, já que o pai estabelecia a forma e como
iria castigar seu filho, no qual, ela poderia ser ou não
moderada ou imoderada.
Observa-se que a legislação deixou uma grande
lacuna, considerando que o advérbio “imoderadamente”
possui uma alta carga de subjetividade, e que a lei não

34
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

esclarece que parâmetro deve ser utilizado para analisar se


em determinado caso, o detentor do poder familiar agiu
moderadamente ao aplicar determinado castigo sobre seu(a)
filho(a), sobretudo notando-se que a sociedade brasileira, de
modo geral, possui concepções diversas sobre o modo de
correção dos filhos.
Sendo assim, estabelece o artigo 1638, I, do Código
Civil: “Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o
pai ou a mãe que: I - castigar imoderadamente o filho” (2002).
Por conseguinte, esse castigo imoderado é
classificado por De Plácido e Silva (2002) como:

Castigo físico ou corporal, que é infligido à


pessoa, de maneira cruel ou incontida, to-
mando, assim, não o caráter de um corretivo,
que é da índole dapunição, mas, de uma tor-
tura (...) do excesso ou do desmedido da ação
punitiva.

Assim, esse castigo imoderado que os pais tinham


sobre seus filhos, hoje em dia não é mais permitidio no nosso
ordenamento jurídico.
Comenta, Comel (2003, p. 288) sobre:

O castigo imoderado pode ocorrer de diferen-


tes modos. Podem caracterizá-lo castigos físi-
cos, como surras, espaçamentos, submissão
à dor física, privação de alimentos, exigência

35
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de serviços pesados e extremamente dificulto-


sos, impróprios às condições dos filhos, dentre
outros. Mas nem sempre a violência física é
imprescindível para a configuração do castigo
imoderado, pois a tortura psicológica também
poderá, máxime, em se tratando de crianças,
configurar a hipótese. Assim, ameaças cons-
tantes, sujeição a temores infundados e humi-
lhações, graves ofensas verbais também po-
derão consistir-se em castigo imoderado, con-
forme o caso, a ensejar a perda do poder fami-
liar.

Assim, o castigo imoderado não está incluído no jus cor-


rigendi, devido que esse castigo não pode ser empregado
como uma função educativa, pois, o castigo imoderado tem o
animus de maltratar. Sendo assim, é importante destacar, que
esse castigo imoderado pode ser praticado por várias pes-
soas, como por exemplo, pelo próprio pai, pela própria mãe,
pela madrasta, pelo padrasto e outros responsáveis por essa
criança ou adolescente.
Logo, o Estado é responsável por assegurar os direitos
das crianças e adolescentes, como obrigação da família, da
sociedade, preservando a integridade física, com autonomia
para adentrar, nesse caso, no poder familiar para estabelecer
limites ao direito de poder que os pais detêm sobre os filhos
menores.
Dentro desse mesmo contexto o Estatuto da Criança e
do Adolescente aborda as garantias de direitos da população
infanto–juvenil nos seus artigos 3°, 4° e 5°.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O artigo 3°, da Lei 8.069/90 – ECA, assegura à todas


as crianças e adolescentes os direitos fundamentais inerentes
a pessoa humana, sendo resguardado a proteção integral que
lhes é garantida. Dispõe com intuito de proporcionar o desen-
volvimento físico, mental, moral, espiritual e social, sem que
isso gere prejuízo a liberdade e dignidade infanto–juvenil.
O referido artigo reproduz declarações contidas nos
textos constitucionais e convenções internacionais, em espe-
cial a Declaração Universal dos Direitos da Criança, com seus
princípios 1 e 2, que são assim redigidos:

Princípio I. A criança desfrutará de todos os


direitos enunciados nesta Declaração. Estes
direitos serão reconhecidos a todas as crianças
sem exceção alguma, nem distinção ou
discriminação por motivo de raça, cor, sexo,
idioma, crença, opinião política ou de outra
natureza, origem nacional, étnica ou social,
posição econômica, deficiências físicas,
nascimento ou qualquer outra condição, seja da
própria criança ou de sua família.
Princípio II. A criança gozará de uma proteção
especial e disporá de oportunidades e serviços,
assegurando–se-lhe por lei ou por outros
meios, para que possa desenvolver- se física,
mental, moral, espiritual e socialmente de forma
saudável e normal, em condições de liberdade
e dignidade.

O artigo 4° e 5°, assim dispõem:

Artigo 4°: É dever da família, da comunidade,

37
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

da sociedade em geral e do Poder Público,


assegurar, com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária.
Artigo 5°: Nenhuma criança ou adolescente
será objeto de qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade
ou opressão, punido na forma da lei qualquer
atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais

Desse modo, todos os direitos fundamentais


assegurados dessa criança e adolescente devem ser
preservados, visando sempre proteção. Sendo assim, várias
são as divergências sobre o assunto, mas, algumas pessoas
entendem que a palmada, dita educativa, é necessária para
a educação do filho, para outros, essa palmada seria uma
ofensa a dignidade e integridade física da criança.
Contudo, o Estatuto da Criança e do Adolescente e o
Código Penal, permite concluir que, embora seja direito
dessa criança e adolescente, serem educados sem a
utilização de castigos físicos e outros meios vexatórios,
cruéis ou degradantes, a mera aplicação de castigo físico,
não configura, por si, causa de destituição do poder familiar,
exceto se causar à criança e adolescente, alguma lesão de
natureza média ou grave, ou abalo psicológico.
Contudo, é concebível que a aplicação de castigos de

38
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ordem física notoriamente não é o meio adequado a ser


empregado pelos pais com relação a esses filhos, para que
eles lhes prestem a obediência, visto que a lei veda
expressamente os métodos degradantes, recomendando
então aplicação de meios que não afetem a integridade da
criança ou adolescente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo por base o poder familiar para a legislação


Brasileira, pode observar que esse poder familiar evoluiu
conforme a sociedade, onde o homem deixou de ser
considerado o centro da família e passou a dividir o seu papel
com a mulher. Por isso, os direitos e deveres familiares
passaram a ser compartilhados, o que influenciou
diretamente na figura do poder familiar. Assim, cabe a ambos
os pais exercerem as prerrogativas deste poder familiar, mas
também é ônus dos mesmos cumprir com os deveres a ele
inerentes.
Contudo, existem possibilidades para a perda desse
poder familiar, onde se destaca as hipóteses de perda e
suspensão do poder familiar. A importância deste tema
justifica-se devido à falta de deveres e obrigações que esses
pais têm sob essa criança ou adolescente, já que, esses

39
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

genitores podem colocar em risco esse menor, tendo a


necessidade de ter seus direitos garantidos e amparados
pela sociedade, Estado e pela família.
Outrossim, esses genitores devem respeitar, educar,
proteger esses filhos, tendo em vista que, em caso de haver
omissão e falha, eles perderam o exercício do poder familiar,
pelas razões expostas no artigo 1.638 do Código Civil de
2002.
Logo, outro relevante fator jurídico que promove a
perda do poder familiar no ordenamento brasileiro é no caso
de suspensão deste poder familiar, onde esses genitores
acabam suspensos devido uma determinada conduta, onde
acabaram não exercerem as determinações e obrigações
que estão expostas no Estatuto da Criança do Adolescente -
ECA. Neste caso, o Juiz determinará a suspensão por tempo
indeterminado ou parcialmente.
Assim, em relação ao castigo imoderado, é concebível
que a aplicação de castigos de ordem física notoriamente não
é o meio mais adequado a ser empregado por esses pais em
relação a essa criança ou adolescente, em decorrência de
que os mesmos lhes prestem obediência, visto que a lei veda
expressamente os métodos degradantes, recomendando a
aplicação de meios que não afetem a integridade física,
psicológica desta criança ou adolescente.

40
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Contudo, essa mera aplicação de sanções físicas não


pode ser considerada como castigo imoderado para fins de
perda do poder familiar, uma vez que esta é uma medida de
expressiva gravidade.
Destaca-se que o presente estudo não se trata de um
incentivo à aplicação de castigos físicos pelos pais, o que
afrontaria a disposição legal e constitucional, trata-se,
somente, da elucidação acerca do que pode ser considerado
como castigo imoderado para fins dessa perda do poder
familiar, chegando à compreensão de que, embora
plenamente vedada por lei, a sanção de ordem física
somente pode ser considerada como castigo imoderado
quando provocar lesão de natureza média ou grave nesta
criança ou adolescente, bem como lesão de ordem
psicológica, o que poderia comprometer a sua integridade.
Desta maneira, os genitores devem educar, amparar e
proteger os filhos, conforme o princípio do melhor interesse
da criança e do adolescente. Diante do que se foi pesquisado
observa-se que os genitores precisam ter conhecimento e
convicção de se responsabilizarem e se encarregarem de
cuidar dessa criança e adolescentes com respeito e
dignidade para que os mesmos não sejam destituídos e
sobrepostos em famílias substitutas.
Assim, compreende-se que devem ser considerados

41
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

com muita seriedade os princípios da dignidade da pessoa


humana e do melhor interesse da criança e do adolescente.

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VERONESE, Josiane Rose Petry; GOUVÊA, Lúcia Ferreira


de Bem; SILVA, MarceloFrancisco da. Poder Familiar e
Tutela: À Luz do Novo Código Civil e do Estatuto da Criança
e do Adolescente. Florianópolis: OAB/SC, 2005.

44
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

2
ALIENAÇÃO PARENTAL E O ESTATUTO
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

PARENTAL ALIENATION AND CHILD


AND ADOLESCENT STATUTE

Ester Nogueira de Souza3


Williane Tibúrcio Facundes4

SOUZA, Ester Nogueira de. A alienação parental e o Esta-


tuto da Criança e do Adolescente. Trabalho de Conclusão
de Curso de graduação em Direito – Centro Universitário UNI-
NORTE, Rio Branco, 2025.

3 Discente do 9° Período do Curso de Bacharel em Direito pelo Centro


Universitário Uninorte
4 Docente do Centro Universitário Uninorte. Graduada em Direito pela

U:VERSE. Graduada em Letras Vernáculas pela Universidade Federal do


Acre- UFAC. Especialista em Psicopedagogia pela Universidade Varzea-
grandense e Direito Digital pela Faculdade Metropolitana.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

A alienação parental é um fenômeno que ocorre quando um dos


genitores manipula a criança para que esta rejeite o outro genitor,
afetando negativamente o vínculo familiar e o bem-estar da cri-
ança. Essa situação, frequentemente observada em contextos de
separação ou divórcio, pode levar a sérias consequências emo-
cionais, psicológicas e sociais para os envolvidos. No Brasil, o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é a principal legis-
lação que protege os direitos das crianças e adolescentes, ga-
rantindo que seu desenvolvimento saudável e a convivência fa-
miliar sejam priorizados. O ECA, ao considerar a criança como
sujeito de direitos, estabelece princípios que devem ser respeita-
dos nas questões de guarda e convivência familiar. A alienação
parental contraria esses princípios, pois prejudica o direito da cri-
ança de ter relações saudáveis com ambos os genitores. Em
2010, a Lei 12.318 foi sancionada, especificamente para lidar
com a alienação parental, permitindo que o juiz intervenha em
casos de manipulação e estabelecendo medidas para proteger o
vínculo da criança com o genitor alienado. A implementação e
aplicação efetiva do ECA e da Lei de Alienação Parental são fun-
damentais para evitar que a manipulação parental comprometa
o desenvolvimento integral da criança. Recentemente, o tema
ganhou destaque com a necessidade de políticas públicas de
conscientização e prevenção, além de ações judiciais que bus-
quem reverter o quadro de alienação. O desafio consiste em
equilibrar a proteção dos direitos da criança com a necessidade
de garantir o vínculo familiar. Assim, a atuação do Judiciário e a
intervenção de profissionais capacitados são essenciais para re-
solver casos de alienação parental, promovendo um ambiente
saudável e seguro para o desenvolvimento infantil. A discussão
sobre alienação parental no contexto do ECA é, portanto, funda-
mental para a proteção dos direitos da criança e a promoção de
sua saúde emocional.

Palavras – chave: família; ECA; alienação; criança; adolescente.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRAC

Parental alienation is a phenomenon that occurs when one


parent manipulates the child to reject the other parent, nega-
tively affecting the family bond and the child's well-being. This
situation, often observed in contexts of separation or divorce,
can lead to serious emotional, psychological, and social con-
sequences for those involved. In Brazil, the Child and Adoles-
cent Statute (ECA) is the primary legislation that protects the
rights of children and adolescents, ensuring that their healthy
development and family coexistence are prioritized. The ECA,
by considering the child as a subject of rights, establishes prin-
ciples that must be respected in custody and family coexist-
ence matters. Parental alienation contradicts these principles,
as it undermines the child's right to have healthy relationships
with both parents. In 2010, Law 12.318 was enacted specifi-
cally to address parental alienation, allowing the judge to inter-
vene in cases of manipulation and establishing measures to
protect the child's bond with the alienated parent. The effective
implementation and enforcement of the ECA and the Parental
Alienation Law are essential to prevent parental manipulation
from compromising the child's overall development. Recently,
the topic has gained prominence with the need for public poli-
cies for awareness and prevention, in addition to legal actions
aimed at reversing the situation of alienation. The challenge
lies in balancing the protection of children's rights with the need
to ensure family bonds. Thus, the judiciary's action and the in-
tervention of qualified professionals are essential to resolve
cases of parental alienation, promoting a healthy and safe en-
vironment for child development. The discussion of parental al-
ienation in the context of the ECA is, therefore, fundamental for
the protection of children's rights and the promotion of their
emotional health.

Keywords: family; ECA; alienation; child; adolescent.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto de estudo e aná-


lise de uma situação que é cada vez mais frequente que ocorre
no seio da sociedade brasileira, resultado de conflitos familia-
res, conhecidos hoje em dia como alienação parental, que
acontecem, especificamente, nos casos de separação da en-
tidade familiar.
A presente análise considera todo o contexto de surgi-
mento da alienação parental, os movimentos sociais criados e
as mudanças que ocorreram no direito da família, que influen-
ciaram na difusão desse fenômeno. Procurou-se demonstrar
os fundamentos básicos criados na teria da Síndrome da Alie-
nação Parental (SAP), que foi desenvolvida por Richard Gar-
dner após vários estudos em que a criança era programada
para odiar o outro genitor e, ainda tecer uma análise da cha-
mada síndrome das falsas memórias, onde o genitor da cri-
ança ou adolescente querendo denegrir a imagem do outro
começa a destorcer fatos e tentar criar situações na mente do
menor que nunca existiram para afastar o outro.
Com a promulgação do Estatuto da Criança e do Ado-
lescente (ECA) em 1990, podemos falar que houve uma mu-
dança enorme na forma como a sociedade brasileira ver a in-
fância eu papel que ela desempenha na nossa sociedade.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Essa pesquisa teve como objetivo analisar essas concepções


de infância no Brasil, comparando com a visão que podemos
chamar de pré-ECA com a pós-ECA, foram abordados vários
aspectos social e culturais que influenciaram diretamente na
mudança, bem como as implicações que trouxe para a vida
das crianças e adolescentes brasileiros. A análise comparou e
permitiu compreender como essas conquistas e os desafios
que ainda são enfrentados na promoção e proteção dos direi-
tos das crianças e adolescente no Brasil.
A lei 12.318/10 tem como o proposito desde que foi cri-
ada proteger a integridade psicológica e assegurar o direito
fundamental, para assim poder obter uma convivência familiar
saudável das crianças e adolescentes, essa lei dispões sobre
a alienação parental, conceituando e determinando providen-
cias que devem ser tomadas para não acabar de vez com essa
prática. As consequências desse reconhecimento no judiciário
podem varias de um simples declaração de sua existência e
advertência ao alienador, como até uma suspensão do poder
familiar, medida excecional onde transfere a guarda ao ascen-
dente que viabilize a efetiva convivência da criança ou adoles-
cente com o outro genitor, para tentar amenizar esses danos
a guarda compartilhada existe para só assim tentar manter a
convivência harmoniosa entre ambas as partes para não pre-
judicar o desenvolvimento do menor.

49
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Em suma, o presente trabalho está divido em três tópi-


cos onde que terão como objetivo aprofundar os aspectos psi-
cológicos que envolvem a alienação parental na vida da cri-
ança ou adolescente, e como o Direito tem enfrentado essa
questão, explicar como a criação do ECA ajudou diretamente
para o menor ter sempre seus direitos garantidos, e discutir
como a lei12.318/10 foi fundamental para o judiciário tomar
suas decisões sempre que essa alienação parental existir para
sempre ter uma convivência familiar saudável na vida dos en-
volvidos. A partir de toda essa análise, espera-se que assim
exista uma compreensão das potencialidades existentes
nesse assunto e os desafios enfrentados sejam compreendi-
dos para assim haver sempre o melhor na vida da criança e
do adolescente.

2.1 ANÁLISE DA DESCONSTRUÇÃO DA IMAGEM DO OU-


TRO

Segundo o psiquiatra americano, Richard Gardner


(2002), a desconstrução da imagem paterna/materna pode
ocorrer de várias formas, ela conta com três estágios, o leve
que é aquele onde começa a desmoralização da imagem do
outro e elas são discretas e raras, o que é chamado de médio
começa quando os filhos sabem o que o aquele alienador quer
escutar deles e começam a colaborar com a narrativa dele de

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ter uma distorção do outro, o grave é onde os filho já entram


em pânico e possuem medo de conviver com o outro pai/mãe
e querem evitar qualquer contato existente com o mesmo (Pe-
reira, 2023. pág. 74).
O Brasil é um dos poucos países do mundo onde há
uma legislação específica para esse tipo de assunto. Em
27/08/2010 comemoramos os 07 anos da lei 12.318, que veio
definitivamente solidificar esse importante conceito, que é ter
uma punição para aqueles que querem destorcer a imagem do
outro.
A alienação parental sempre existiu, desde que o
mundo começou, ela só não era nomeada, a partir do mo-
mento em que foi colocado o nome dessa maldade sem tama-
nho, ficou mais fácil de proteger as crianças e os adolescentes
vítimas dessa violência praticada pelos próprios tutores do me-
nor. A alienação é tão grave que pode até ser transforma em
uma síndrome, que é chamada inicialmente de: SAP – Sín-
drome da Alienação Parental, ele deu esse nome pois é uma
situação onde o pai ou mãe faz o filho querer romper laços
afetivos com o outro genitor através de uma lavagem cerebral,
Segundo Gardner (1998, p, 85):

A alienação parental é um processo que consiste


em programar uma criança para que odeie um
dos seus genitores sem justificativa, por influên-
cia do outro genitor com quem a criança mantém

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

um vínculo de dependência afetiva e estabelece


um pacto de lealdade inconsciente no caso de a
síndrome de Alienação parental SAP se instalar,
a convivência com o genitor alienado ficará ame-
açada a ser destruída ou em casos mais graves
será destruída a convivência da criança com o
alienado.

Essa síndrome é uma consequência dessa alienação


onde a criança ou o adolescente são usados como objetos
para atingir o outro e não podem ser confundidas. A síndrome
está relacionada à conduta da criança que se recusa, a qual-
quer custo, a ter contato com o genitor alienado, ou seja, está
ligada à criança, que não aceita se relacionar com um de seus
genitores.
As consequências psíquicas da alienação parental são
imensuráveis, vão desde sintomas mais evidentes, como difi-
culdades para estabelecer vínculos afetivos, depressão, trans-
tornos de identidade, consumo de álcool e drogas e até
mesmo suicídio.
A raiz de toda essa violência contra as crianças e ado-
lescentes, está associada a uma relação de amor e ódio mal
resolvidas entre ambos os pais. Onde esse sentimento cria
uma grande decepção do outro, que faz com cresça esse dis-
curso ligado ao falar mal da pessoa que já foi seu conjugue
fazendo com que assim ele pratique nos filhos a alienação pa-
rental.

52
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Essa alienação parental é um mais terríveis sentimen-


tos criado pois ela está ligada a rejeição, onde no outro cria-
se esse sentimento de vingança que não poupa nem mesmo
o filho. É onde o genitor usa o menor com o objetivo, de trans-
formá-lo em veículo de ódio. Por isso a Lei 12.318/10 tentar
barrar esses excessos gozosos e colocar limites em quem não
o tem internamente.
A LAP foi aprovada em 2010, um ano depois, em 2011,
o IBGE apurou que em 87% dos divórcios feitos no Brasil a
guarda das crianças e adolescentes na sua maior parte era
delegada as mães. Ou seja, a lei foi aprovada num contexto
em que quem predomina é as mães guardiãs e, portanto, po-
tenciais alienadoras.
A própria justificativa do projeto de lei consignou em um
trecho de seus artigos onde se reforça o estereótipo da ex-
mulher ressentida, que utilizará os filhos para atingir o pobre
ex-marido, pai das crianças. É onde o machismo estrutural que
entorna os olhares femininos. Ocorre que quando essa figura
que é a mãe entra no ordenamento judicial, ela passa a ser
retratada como uma mulher dispostas a se vingar, onde pode
fazer de tudo pelos filhos, que quer extorquir o marido e atra-
palhar sua nova vida e para isso é capaz de usar seus filhos
da maneira mais vil.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A Constituição Federal (1988), criou um parâmetro de


família e de posição da mulher nesta relação jurídica, igua-
lando homens e mulheres, o código civil de 2002, assegurou
o exercício de poder familiar a ambos os gêneros, além da
igualdade e direitos e deveres em relação aos filhos. Segundo
entendimento de Elucida Silva:

Com a Lei do Divórcio os casais passaram a rom-


per o vínculo matrimonial e, por costume da so-
ciedade, a mãe era a figura que geralmente fi-
cava com a guarda dos filhos. Assim, restava ao
pai o direito de visitas, reivindicando ter convi-
vência com a prole, pois com a transformação no
modelo de família, os homens começaram a ficar
mais participativos quanto ao interesse do lar e
na separação não lhe servia mais o contato com
o único intuito de sustento (2014, p. 20).

O princípio da proteção à criança e ao adolescente foi


consolidado no artigo 227 da Constituição Federal de 1988:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do


Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao res-
peito, à liberdade e à convivência familiar e co-
munitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, explora-
ção, violência, crueldade e opressão.

Com isso podemos falar que toda criança e adoles-


cente deve ser protegido e amado por ambos os genitores e

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

não serem usados como um objeto para atingir o outro. De


acordo com o entendimento de Brito (2017, p. 18), “o apego
exacerbado ao outro pode mexer com aspectos psicológicos
e mentais de quem está inserido na separação, é nessa con-
juntura que aparece a alienação parental”
Silva (2014, p. 20) “A principal característica desse
comportamento patológico e ilícito é a lavagem cerebral na cri-
ança ou adolescente para que atinja uma hostilidade em rela-
ção ao genitor não guardião e/ou seus familiares”. Com isso o
filho já desestabilizado com todo o feito, começa a carregar
uma culpa que não é sua e começa a encarar o outro genitor
como alguém que é seu inimigo e não quer nada para o seu
bem.
As crianças e adolescentes precisam de um ambiente
familiar onde tenha harmonia para assim propor a ele um de-
senvolvimento sadio tanto no físico como no emocional e psi-
cológico para a formação de sua personalidade. A constituição
pôs a igualdade entre homens e mulheres e isso deve ser es-
tendido aos genitores quanto ao poder familiar.
Neste contexto, devemos salientar que a alienação
parental não foi um objeto, pois o Direito não pode ignorar
essa realidade social, as crianças e os adolescentes também
são sujeitos de direito e precisam de um amparo maior por

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

parte do Estado e o mesmo deve respeitar e promover os di-


reitos estabelecidos na Constituição federal e no Estatuto da
Criança e Adolescente, tendo sempre o parâmetro da digni-
dade humana e a conivência familiar que são de grande valor
para o desenvolvimento da personalidade deles.

2.1.1 A SÍNDROME CRIADA PELO GENITOR DAS FALSAS


MEMÓRIAS IMPLANTADAS

Como falamos anteriormente, a alienação parental con-


siste na campanha de um dos genitores para atingir o outro,
onde o que possui a guarda age de má fé com o objetivo de
desvincular o elo afetivo entre a criança ou adolescente com o
genitor que não possui a guarda. Silva (2017, p. 30) diz, ainda,
que “a Alienação Parental, por sua vez, segundo os estudos
de Richard Gardner (2020), é aquela situação que advém de
fatores reais de abuso parental da criança, como maus-tratos,
negligência ou puramente de conflito familiares”.
Devemos nos atentar que não são apenas os genitores
quem comete essa alienação parental, mas também os avos
e os tios ou qualquer outro familiar que obtenha a guarda do
menor, podem ser os seres que pratiquem essa crueldade.
Rêgo (2017, p. 33) “o discurso verbal do alienador é sempre
no sentido de que está pensando no melhor para seu filho, em

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

seus interesses e em tudo que possa fazer para sentir-se me-


lhor”. Há sempre uma comparação no que possui a guarda e
no outro que não tem no sentindo de enaltecer e desmerecer
esse. Com isso o menor começa a criar afastamento e o que
possui a guarda comece a controlar a situação a seu favor.

A síndrome das falsas memórias conforme Silva (2017)


“como o próprio nome já diz, trata-se de uma memória falsa,
forjada. Traz em seu bojo a noção de memória pré-fabricada,
ou pronta total, ou parcialmente”. Já para Rêgo (2017, p. 36),
“o termo ‘falsas memórias’ se refere às aparentes confabula-
ções de eventos que nunca ocorreram, mas que em algum
momento foram sugeridas ou ainda situações que de fato
ocorreram, mas não da forma que é contada”.

Deste modo, o alienador inicia uma lavagem cerebral


na cabeça da criança ou adolescente de forma a implantar si-
tuações que não ocorreram na forma como é contada ou ainda
começa a inventar um fato novo que nunca existiu. Essa sín-
drome tem como principal objetivo a incoerência entre a reali-
dade e a fantasia sugerida pelo alienador, não há uma distin-
ção com riqueza de detalhes é sempre algo vago sem muita
lembrança.

Essas implantações de falsas memorias afetam profun-


damente a criança e o adolescente enquanto ainda estão em

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

desenvolvimento, vítimas dessa prática que merece repudio,


despreza os princípios do melhor interesse da criança e prin-
cipalmente a proteção integral que elas têm ou deveriam obter.

O poder judiciário deve combater essa prática que hoje


em dia se torna tão comum, e deve ser tratado como um pro-
blema sério que merece uma devida atenção especial para
não deixar a criança e o adolescentes à mercê de um impuni-
dade tão grande como essa.

Para que assim aconteça um compressão maior do


conflito em que a criança e o adolescentes estão envolvidos é
necessário que tenha uma análise rígida, sobre os diferentes
ramos do conhecimento para que exista uma ação familiar. A
percepção jurídica muita das vezes não é suficiente para des-
cobrir as raízes desses conflitos e as formas para que se ob-
tenha uma solução.

Sendo assim, se faz necessário que tenha profissionais


capacitados para atingir os objetivos desejado e assim achar
uma solução para o conflito. Os pais deveriam amar seus fi-
lhos, mas existe genitores onde não enxergam essa obrigação
e transformam o filho num objeto de vingança em que as con-
sequências são enormes e desastrosas na vida daquele me-
nor que está sendo alienado.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

2.2 O ECA E O DESENVOLVIMENTO DOS DIREITOS DAS


CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A lei nº 8.069, conhecida como Estatuto da Criança e


do Adolescente (ECA), foi criada em 13 de julho de 1990, onde
dispõe sobre como é a proteção integral das crianças e ado-
lescentes, ela é bastante famosa no mundo inteiro, pois tem
uma amplitude vasta de todos os seus preceitos e como ela
protege as crianças.
Na década de 70, surgiu o chamado Código de Meno-
res, que era uma lei onde tinha uma proteção as crianças e
adolescentes dessa época. De acordo com seu primeiro artigo
ela tratava sobre assistência, proteção e vigilância a menores
de até 18 anos em que estivessem em uma situação irregular.
Esse código foi fruto de uma época autoritária, visto que
estávamos na época da ditadura militar, onde era um período
em que não demonstrava preocupação em compreender me-
lhor e atender crianças e adolescentes. De acordo com o en-
tendimento que existia naquela época esse menor seria
aquele que vivia em situação irregular ou então aquele que se
encontrava abandonado materialmente, vítima de maus-tra-
tos, em que estivesse em perigo moral, desassistido juridica-
mente ou que estivesse com desvio de conduta ou autor de
uma infração penal.

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Podemos ver que não havia uma diferenciação do que


era o menor infrator e o menor em que vivia em situação de
abusou, o que uniformiza o afastamento deles da sociedade.
Em outras palavras podemos falar que esse Código de Meno-
res era apenas uma punição dos menores infratores daquela
época.
Apesar da existência de meios legais para proteger a
criança, ela muitas vezes ficava a mercê do adulto, seja agindo
como ele ou sendo cuidada por ele. Isso ocorria pois mesmo
com a existência de códigos de proteção aos menores, que,
na prática tratava esses indivíduos como miniadultos. As cri-
anças no período da ditadura militar precisaram se adaptar a
esse contexto, mas com o processo de redemocratização sur-
giu um cuidado especial para elas.
Com o advento da constituição de 1988, surgiu as
ideias de liberdade, igualdade e fraternidade, além do fomento
a participação popular. Como frutos de vários movimentos so-
ciais que realmente defendiam seus direitos, assim nasceu o
Estatuto da Criança e do Adolescente, que reúne normas para
garantir a tão sonhada proteção.
O ECA representou uma grande evolução em relação
aos códigos de menores infratores na década de 70, que fo-
ram considerados insuficientes na proteção dos direitos das
crianças e adolescentes. Assim o Eca surgiu na transição do

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

fim da ditadura para a redemocratização, entrelaçando a força


e a luta dos movimentos sociais que souberam organizar e in-
fluenciar a Convenção Constitucional e chegaram a redigir
com as próprias mãos o texto da Constituição Federal de
1988.
A Constituição Federal estabeleceu a família, socie-
dade e o Estado como responsáveis pela formação e estrutu-
ração dos indivíduos. Em relação a constituição federal, é im-
portante destacar que ela foi a fonte da lei da criança e do
adolescente, mas seu conceito de criança e sua prioridade ab-
soluta não foram criados nela.
Esses conceitos veem de legislações internacionais
como a Declaração dos Direitos da Criança (1959) e a Con-
venção sobre os Direitos da Criança (1989), que já reconhe-
ciam a criança sob a perspectiva dos direitos da criança. Antes
da Constituição de 1988, a proteção da infância no Brasil se
baseava em disposições de amparo e assistência, sem consi-
deração dos direitos e deveres das crianças e adolescentes.
Com a constituição de 1988, as crianças e adolescen-
tes passaram a ser consideradas cidadãos com direitos. Se-
gundo Andrade (2018), a Constituição trouxe avanços signifi-
cativos na proteção dos direitos sociais da infância.
Nesse sentido Cury, Garrido & Marçura (2002, p.

61
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

21) dando destaque na proteção integral segundo a lei que su-


plementa o ECA convém focalizar na:

A proteção integral tem como fundamento a con-


cepção de que crianças e adolescentes são su-
jeitos de direitos, frente à família, à sociedade e
ao Estado. Rompe com a ideia de que sejam sim-
ples objetos de intervenção no mundo adulto, co-
locando-os como titulares de direitos comuns a
toda e qualquer pessoa, bem como de direitos
especiais decorrentes da condição peculiar de
pessoas em processo de desenvolvimento.
(2002, p. 21).

A importância dos direitos da criança e adolescentes,


com o advento da constituição federal de 1988 obtiveram
maior efetividade e seguridade é o princípio da proteção inte-
gral da criança, sendo reconhecidos como merecedores de di-
reitos comuns como toda sociedade, além de lhe serem asse-
gurados direitos especial em razão de sua condição peculiar.
O Eca é o reconhecimento das crianças e dos adoles-
centes como sujeitos que devem ter seus direitos e deveres
protegidos por uma lei. A importância do ECA vai além, ela
deriva exatamente sobre como reafirmar a proteção de pes-
soas que vivem em períodos de intenso desenvolvimento psi-
cológico, físico, moral e social.
Portanto a lei veio para colocar em prática tudo que está
descrito na Constituição, essa prática, dá-se pelo Estado, por
meio de alguns programas de assistência integral à saúde da

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

criança, do adolescente e do jovem, sendo assim também ad-


mitida a participação de entidades não governamentais, medi-
ante políticas específicas.
O ECA é o documento que traz a doutrina da proteção
integral dos direitos da criança e adolescente, ela é dividida
em dois princípios fundamentais: 1-Princípio do Interesse do
Menor: todas as decisões que dizem respeito ao menor devem
levar em conta seu interesse superior. Ao Estado, cabe dentro
do seu âmbito garantir que a criança ou o adolescente tenham
os cuidados adequados quando pais ou responsáveis não são
capazes de realizá-los; 2-Princípio da Prioridade Absoluta:
contido na norma constitucional artigo 227 da Constituição Fe-
deral, ele estabelece que os direitos das crianças e dos ado-
lescentes devem ser tutelados com absoluta prioridade.
Considerando esses princípios o ECA tenta sempre
garantir aos menores os direitos fundamentais que cada um
deve ter, como vida, saúde, liberdade, respeito, dignidade,
convivência familiar e comunitária, educação, cultura, esporte,
lazer, profissionalização e proteção no trabalho. Enfim, tudo
para que possam exercer a cidadania plena conforme descrito
na nossa Constituição.
Conforme já falado anteriormente, o Estatuto da Cri-
ança do Adolescente (ECA) tornou-se um referencial no que
diz respeito à garantia de direitos da criança e do adolescente

63
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

no país. Com isso desde então, uma parcela da população que


até então era denominada jurídica e socialmente apenas como
“menores” passou a ser uma lei legalmente reconhecida como
crianças- até os 12 anos de idade incompletos, e adolescentes
entre 12-18 anos. Tal classificação sempre visou atenuar as
discriminações que existiam com aqueles que eram conside-
rados como uma ameaça a sociedade, que seriam os de ori-
gem pobre, de cor negra ou de famílias que eram considera-
das “desestruturadas”, buscando reduzir a diferença entre os
segmentos sociais (Gonçalves; Garcia, 2007), abandonando
até então em vigor, uma doutrina chamada de situação irregu-
lar.
A lei nº 8.069, de 1990, que dispõe sobre a proteção
integral à criança e ao adolescente, se aplica, conforme o ar-
tigo 3º, parágrafo único:

[...] a todas as crianças e adolescentes sem dis-


criminação de nascimento, situação familiar,
idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou
crença, deficiência, condição pessoal de desen-
volvimento e aprendizagem, condição econô-
mica, ambiente social, região e local de moradia
ou outra condição que diferencie as pessoas, as
famílias ou a comunidade em que vivem (Brasil,
1990).

Assim, devemos sempre ressaltar que esse art. 3 do


Eca enfatiza que a criança e o adolescente devem gozam de

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

todos os direitos fundamentais inerentes a pessoa humana, a


fim de sempre lhes facultar sobre os seus desenvolvimentos
que são físico, moral, mental, espiritual e social em condições
de liberdade e dignidade.
A partir da formalização do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), tem-se buscado um equilíbrio entre os di-
reitos que devem ser garantidos a todas as crianças e adoles-
centes por suas famílias, pela sociedade e pelo Estado, e os
deveres que estes devem respeitar. O ECA estabelece um ar-
cabouço legal que visa assegurar a proteção integral e a prio-
ridade absoluta dos direitos infantojuvenis, promovendo um
ambiente que favoreça o desenvolvimento saudável e a con-
vivência familiar. Essa busca por equilíbrio é fundamental para
a efetivação de políticas públicas que respeitem tanto os direi-
tos quanto os deveres, garantindo, assim, um espaço ade-
quado para o crescimento e a formação de crianças e adoles-
centes em um contexto de respeito e responsabilidade.
O ECA destaca também a importância de considerar
sempre as necessidades desses indivíduos em desenvolvi-
mento, incluindo sempre seus direitos e deveres individuais e
coletivos, bem como o bem comuns e o fins sociais em que a
lei se destina. Um exemplo da importância dessas medidas foi
a criação dos conselhos tutelares, que são formados por vo-

65
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

luntários eleitos pela comunidade e tem como o objetivo sem-


pre proteger crianças e adolescentes de qualquer forma de vi-
olência, negligência crueldade e discriminação em cada muni-
cípio.
Embora o estatuto tenha sido criado para proteger sem-
pre os direitos das crianças e adolescentes, sua eficácia tem
sido limitada por diversos desafios. Um deles é a falta de re-
curso e capacitação, o que dificulta a implementação ade-
quada dessa legislação. Além disso a falta de fiscalização e
monitoramento adequados também tem permitido que ocor-
ram várias violações desses direitos.
A concretização dessas políticas sociais é um processo
que ainda está em andamentos e possui alguns avanços sig-
nificativos no que diz respeito sempre ao que está descrito na
lei, porém tem algumas dificuldades para resolver principal-
mente a questão de desigualdade social que ainda é bastante
presente em diversas famílias brasileiras. Esse assunto ainda
é muito enraizado em nossa cultura, e é sempre uma barreira
a ser enfrentada, na luta pela cidadania e igualdade de todos,
especificamente na vida de jovens no Brasil.
Com isso devemos sempre compreender melhor as
propostas do Eca, e repensar nossos métodos perante a soci-
edade e a população sempre como profissionais, para sempre
refletir em relação aos meios para aproximar as problemáticas

66
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

existentes da comunidade ao contexto das instituições e não


o contrário e impor soluções como se fossem aderir a um ma-
nual com instruções a serem seguidas.
Diante do cenário em 2012, o Eca foi reformado com o
objetivo de fortalecer as medidas de proteção as crianças e
adolescentes. As alterações incluíram a criação de vários me-
canismos para preveni e combater a violência, bem como a
criação de medidas que crianças e adolescentes tenham
acesso a serviços de saúde mental. Essa implementação de
mudanças geralmente encontra forte resistência e pode levar
um tempo para se efetivar e enraizar, o que evidencia que a
implementação efetivas dessas mudanças são um grande de-
safio constante que demanda sempre esforços contínuos.
Foi somente com essa criação do ECA em 1990 que a
infância passou a ser vista como um período de desenvolvi-
mento que requer sempre um cuidado e uma proteção maior
e especial. O ECA foi significativo, levando mudanças na
forma como as intuições devem tratar os menores, ele influen-
ciou diretamente como um todo a importância dessa proteção
e do cuidado dos direitos da criança e adolescente. Como o
resultado, as políticas públicas que são voltadas para esses
menores passaram a reconhecer que cada um tem seus pró-
prios direitos e merece proteção.

67
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Em conclusão, podemos falar como cada fato histórico


relacionado à infância, foi fundamental para ter a criação do
ECA, para só assim a poder sempre entender as mudanças
que tiveram aos longos dos tempos, foi fundamental para ga-
rantir a proteção dos menores na infância. O efeito do ECA foi
significativo, influenciando o conceito de infância como um
todo e levando as políticas públicas hoje existentes, que são
mais rigorosas para as crianças e os adolescentes ter seus
direitos e deveres garantidos sempre perante a lei.

2.3 A LEI 12.318/10 E A CONVIVÊNCIA HARMONIOSA


ENTRE OS PAIS

A lei 12.318/10 foi criada através de um projeto na Câ-


mara dos deputados pelo então, deputado na época Regis de
Oliveira e foi aprovado em decisão terminativa da comissão
em 07/07/2010. Essa legislação veio atender a uma demanda
social que já era bastante comentada na época e uma tendên-
cia por maior equilíbrio na participação dos pais e mães na
formação de seus filhos. A lei 12.318/2010, no seu art. 2.º de-
fine a Alienação Parental como:

A interferência na formação psicológica da cri-


ança ou do adolescente promovida ou induzida
por um dos genitores, pelos avos ou pelos que

68
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

tenham a criança ou adolescente sob a sua au-


toridade, guarda ou vigilância para que repudie
genitor ou que cause prejuízo ao estabeleci-
mento ou a manutenção de vínculos com este.

Ela trata de um conceito amplo tanto pertinente a au-


toria. Como também está exposto no teor do seu dispositivo
falado acima, como nas condutas dos alienantes. Ela abrange
não somente um dos genitores, mas sim qualquer outra pes-
soa que se encontre com a posse da criança ou adolescente
que esteja sendo vítima desse crime, e como um ato daquele
alienante, qualquer ocorrência que venha a prejudicar o rela-
cionamento de filiação.
Essa lei define de uma forma ampla como a alienação
parental é vista, considerando assim qualquer interferência na
formação psicológica da criança ou adolescente que passa a
ser induzida pela pessoa que é responsável por ela, para que
ela crie temor e repudio a presença do outro genitor que cause
qualquer tipo de prejuízo e maldade nas relações familiares
entre ambos. A finalidade da lei 12.318/2010 é sempre prote-
ger os direitos fundamentais da criança ou adolescente. Como
dispõe o artigo 30:

A prática de ato de alienação parental fere direito


fundamental da criança ou do adolescente de
convivência familiar saudável, prejudica a reali-
zação de afeto nas relações com genitor e com o

69
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

grupo familiar, constitui abuso moral contra a cri-


ança ou o adolescente e descumprimento dos
deveres inerentes à autoridade parental ou de-
correntes de tutela ou guarda.

Desse modo podemos falar que a alienação é algo que


deve ser combatido porque fere princípios e direitos funda-
mentais da convivência familiar, é uma forma de abuso moral
contra a criança ou adolescente, prejudica o afeto que poderia
existir dentro do seio familiar e na vida social do menor, além
de ser responsabilidade daquele genitor o cuidado afetivo, mo-
ral e material que os filhos devem ter, e essa prática faz com
que isso seja descumprido trazendo vários prejuízos na vida
de ambos.
A referida lei traz quais medidas que devem ser toma-
das inicialmente para tentar coibir o mais rápido possível os
abusos que estejam acontecendo na vida da criança, o legis-
lador no Art. 4° da Lei n° 12.318/2010 dispõe:

Declarado o indício de ato de alienação parental,


a requerimento ou de ofício, em qualquer mo-
mento processual, em ação autônoma ou inci-
dentalmente, o processo terá tramitação prioritá-
ria, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o
Ministério Público, as medidas provisórias ne-
cessárias para preservação da integridade psico-
lógica da criança ou adolescente, inclusive para
assegurar sua convivência com o genitor ou via-
bilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se
for o caso. Parágrafo Único - Assegurar-se-á à

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

criança ou adolescente e ao genitor garantia mí-


nima de visitação assistida, ressalvados os ca-
sos em que há eminente risco de % prejuízo a
integridade física ou psicológica da criança ou
adolescente, atestado por profissional eventual-
mente designado pelo juiz para acompanha-
mento das visitas.

Acima de qual quer outras prioridades que existem,


a Lei nº 12.318/2010 visa sempre proteger a criança e, diante
desta premissa, sanções ao alienador foram estabelecidas e
poderão ser impostas de pronto pelo juiz sem prejuízo da pos-
terior responsabilização civil e criminal.
Essas medidas são essenciais para serem tomadas
pois caso seja identificado essa prática de alienação parental,
visando sempre o bem-estar e saúde emocional da criança,
que fica totalmente debilitada, após sofrer frequentemente es-
ses tipos de situações causadas pelo seu genitor.
A lei 12.318/2010 veio para preencher lacunas onde
se refere a proteção psicológica do menor, pois só depois que
a lei passou a existir que coibiu comportamentos que são ex-
tremamente prejudiciais na formação da criança ou adoles-
cente, e foi onde trouxe também uma ampliação na proteção
do Estatuto da Criança e do adolescente. Podemos citar que
a Constituição Federal de 1988 que dispõe sempre como de-
ver de cada família, da sociedade e do Estado assegurar aos

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

menores seus devidos direitos que são, o direito à vida, à sa-


úde à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de sempre colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violên-
cia, crueldade e opressão.
Assim assegurado ao magistrado ele visa assegurar
que em qualquer indício de que esteja acontecendo essa alie-
nação parental, ele possa entrar com as devidas medidas para
tentar reverter essa situação, assegurar ao genitor alienante o
convívio do filho e para isso ele colocar visitas frequentes de
forma para que assim aumente a relação familiar entre o filho
e os pais alienados. A Lei nº 12.318/2010, em seu artigo 5º
dispõe quais são essas medidas:

Art. 5º havendo indício da prática de ato de alie-


nação parental, em ação autônoma ou incidental,
o juiz, se necessário, determinará perícia psico-
lógica ou biopsicossocial. I - declarar a ocorrên-
cia de alienação parental e advertir o alienador;
II - ampliar o regime de convivência familiar em
favor do genitor alienado; III - estipular multa ao
alienador; IV - determinar acompanhamento psi-
cológico e/ou biopsicossocial; V - determinar a al-
teração da guarda para guarda compartilhada ou
sua inversão; VI - determinar a fixação cautelar
do domicílio da criança ou adolescente; VII - de-
clarar a suspensão da autoridade parental.

72
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Desse modo, se for comprovada a síndrome, da aliena-


ção parental, por meio de laudos técnicos ou de psicólogos, o
juiz, após oitiva do Ministério Público, deve adotar medidas
para assegurar a integridade física e psíquica da criança ou
do adolescente, previstas no já referido art. 6º da Lei nº
12.318/2010. Vale ressaltar que caso essa decisão judicial não
seja cumprida, poderá acarretar ao alienante a destituição do
poder familiar que é exercido pelo agente ativo.
A Lei 12.318/10 vem ainda com todos os seus preceitos
para fornecer ferramentas que visem aos pais para a prática
da guarda compartilhada e dar sopro de esperança a genitores
que anseiam pela regulamentação do abandono afetivo, pois
só assim poderá ambos tentar ter entre si uma convivência
harmoniosa.
A guarda compartilhada é uma modalidade que atribui
a ambos os pais a responsabilidade conjunta pela criação dos
filhos, mesmo após a dissolução da união conjugal. Essa
forma de guarda é amplamente reconhecida por estudiosos e
profissionais do direito como a mais benéfica para os interes-
ses da criança, uma vez que minimiza a sensação de rejeição
ou abandono.
Ao possibilitar o contato regular entre os filhos e ambos
os genitores, a guarda compartilhada contribui para a manu-

73
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

tenção do vínculo emocional, promovendo um ambiente fami-


liar saudável e estável para o desenvolvimento da criança.
Essa lei tem por sua finalidade fazer com que permita
que os pais exerçam conjuntamente o poder familiar, para as-
sim proporcionar melhores condições para o desenvolvimento
da criança e do adolescente. Deste modo, a guarda comparti-
lhada tem como o principal intuito garantir que seja exercido o
direito fundamental a convivência familiar, onde está incluído
o direito de ser amado, educado, assistido e orientado tanto
pelo quanto por sua mãe (Silva; Suzigan, 2021).
Para o desenvolvimento do menor, a guarda comparti-
lhada é a melhor das escolhas, uma vez que tanto o pai quanto
a mãe devem conviver e dividir as alegrias e tristezas dos fi-
lhos. A guarda compartilhada pode ser alinhada pelos seus
genitores e homologada por um juiz ou sentenciada direta-
mente por ele, caso não tenha entre ambas as partes um
acordo e somente assim ser benéfica ao infante.
No prognóstico de Paulo Lobô (2012, p. 201), são evi-
dentes as vantagens da guarda compartilhada:

Prioriza o melhor interesse dos filhos e da famí-


lia, prioriza o poder familiar em sua extensão e a
igualdade dos gêneros no exercício da parental
idade, bem como a diferenciação de suas fun-
ções, não ficando um dos pais como mero coad-
juvante, e privilegia a continuidade das relações

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Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

da criança com seus pais. Respeita a família en-


quanto sistema, maior do que a soma das partes,
que não se dissolve, mas se transforma, de-
vendo continuar sua finalidade de cuidado, pro-
teção e amparo dos menores. Diminui, previa-
mente, as disputas passionais pelos filhos, reme-
tendo, no caso de litígio, o conflito conjugal para
seu âmbito original, que é o das relações entre
adultos. As relações de solidariedade e do exer-
cício complementar das funções, por meio da co-
operação, são fortalecidas a despeito da crise
conjugal que o casal atravessar no processo de
separação.

No contexto geral, não é somente os filhos que se be-


neficiam desse modelo de guarda conforme observa Grisard
Filho (2009, p. 222), pois:

Em relação aos pais a guarda compartilhada ofe-


rece múltiplas vantagens. Além de mantê-los
guardadores e lhes proporcionar a tomada de de-
cisões conjuntas relativas ao destino dos filhos,
compartilhando o trabalho e as responsabilida-
des, privilegiando a continuidade das relações
entre cada um deles e seus filhos, minimizando
o conflito parental, diminui os sentimentos de
culpa e frustração por não cuidar dos filhos,
ajuda-os a atingir os objetivos de trabalharem em
prol dos melhores interesses morais e materiais
da prole. Compartilhar o cuidado aos filhos signi-
fica conceder aos pais mais espaço para suas
outras atividades.

Diante de todo exposto que foi citado, podemos falar


que a guarda compartilhada pode sim reduzir os impactos ne-

75
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

gativos que foram gerados na criança após o rompimento con-


jugal de seus pais. Entretanto, para que essa guarda compar-
tilhada seja sempre aplicada de forma eficaz é muito impor-
tante que haja a compreensão adequada de ambas as partes
no ordenamento jurídico, de modo que possa garantir ao me-
nor a estrutura familiar, evitando que haja outros litígios.
Pois, mudar os padrões que já existiam na vida da cri-
ança e do adolescente e algo que exige a disponibilidade da
família e a boa convivência entre os genitores que já não es-
tejam mais juntos, para assim haver compromisso e conheci-
mento por todos, inclusive pela sociedade e o poder público.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o que foi falado e demonstrado no pre-


sente trabalho, podemos entender que a alienação parental é
um dos problemas mais graves já enfrentados pelo direito de
família. As campanhas do genitor onde pretendem destruir a
imagem do outro podem ser silenciosas e causar danos irre-
versíveis para as crianças e adolescentes.
Diante do exposto falado ao longo deste trabalho, que
a promulgação da lei da criança e adolescente (ECA) em
1990, foi a alavanca para se ter importantes avanços na pro-

76
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

teção dos direitos do menor. Com o ECA podemos ver a mu-


dança do entendimento da sociedade relacionada a concep-
ção de infância no Brasil, que passou a ser vista como uma
fase singular e de grande importância para o desenvolvimento
humano.
O ECA foi uma importante conquista da sociedade bra-
sileira no âmbito que se diz a respeito da proteção das crian-
ças e adolescentes, tendo assim influenciado especificamente
no desenvolvimento e na vida social e psicológica do menor,
e as políticas públicas que são voltadas para essa população.
A lei 12.318/10 que se originou devido as demandas so-
ciais que são existentes, veio para estabelecer a prevenção e
repressão da pratica de alienação parental, pela qual os ma-
gistrados sempre fundamentam suas decisões e analisam
qual medida é adequada ao caso concreto, entre elas estão a
guarda compartilhada pois quando não há um consenso das
responsabilidades de cada genitor, poderá ser aplicada ses-
sões de mediação que ajudam os pais, em conjunto, para che-
garem uma decisão saudável sem o interferi mento de preju-
dicar a criança ou adolescente.
A lei de alienação parental continua sendo um objeto de
debate e controvérsia, e é sempre importante continuar discu-
tindo e aprimorando a legislação para melhor proteger as cri-

77
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

anças e sempre garantir os direitos dos genitores que são en-


volvidos. Dessa forma, é notória a importância da participação
de toda a sociedade para assim haver o combate a esse mal
que tanto afeta o menor, sempre buscando os meios adequa-
dos de lidar com cada caso.

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81
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

3
A RESSOCIALIZAÇÃO DE MENORES INFRATORES

THE REHABILITATION OF JUVENILE OFFENDERS

Giovanna Cordeiro Silva5


Williane Tibúrcio Facundes6

SILVA, Giovanna Cordeiro; FACUNDES, Williane Tibúrcio. A resso-


cialização de menores infratores.Trabalho de Conclusão de
Curso de Graduação em Direito – Centro Universitário UNINORTE,
Rio Branco. 2025.

5
Discente do 9º período do curso de bacharelado em Direito pelo Centro
Universitário Uninorte.
6
Docente do Centro Universitário Uninorte. Graduada em Direito pela U:
VERSE. Especialista em Psicopedagogia pela Universidade Varzeagran-
dense e Direito Digital pela Faculdade Metropolitana. Graduada em Le-
tras Vernáculas pela Universidade Federal do Acre- UFAC.

82
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

Introdução. O presente estudo aborda sobre A Ressocialização de


Menores Infratores, com ênfase no efeito gerado com a aplicabili-
dade e abrangência das medidas socioeducativas e na proteção dos
direitos fundamentais dos adolescentes, conforme o estabelecido
na legislação, entendendo a realidade enfrentada pelos jovens du-
rante e após o cumprimento dessas medidas, destacando tanto as
práticas eficazes quanto os desafios existentes. Objetivo. Diante
desse contexto, foi realizado o estudo levando em consideração as
disposições do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e da
Constituição Federal de 1988, buscando compreender as condições
dos centros socioeducativos e os impactos das políticas públicas de
reinserção e reeducação direcionadas aos jovens infratores. Mé-
todo. A partir do embasamento teórico, foi realizada uma análise
das práticas socioeducativas e da infraestrutura dos centros de in-
ternação brasileiros e dos contextos estruturais, sociais e pessoais
dos menores, levando em consideração a revisão da legislação bra-
sileira e do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) nas formas
de aplicação das medidas socioeducativas. Resultados. A criação
do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) trouxe consigo ma-
neiras de ressocializar os jovens que cometem atos infracionais, po-
rém os resultados demonstram que apesar da existência de medi-
das de ressocialização, as condições dos centros socioeducativos
são frequentemente precárias, com destaque para a superlotação e
falta de estrutura e a realidade enfrentada pelo jovem, antes, du-
rante e depois do período de internação são fatores que contribuem
para as consequências negativas do desenvolvimento do adoles-
cente e a sua reintegração à sociedade. Conclusão. Dessa forma,
conclui-se que, embora as medidas socioeducativas possuam um
grande potencial de resultados significativos para promover a rein-
tegração do jovem, existe uma grande carência de fatores essenci-
ais para um resultado mais positivo. É essencial a melhora na infra-
estrutura dos centros e a implementação de melhores práticas de
acompanhamento pós internação que garanta uma abordagem
mais humanizada e integrada no processo de readaptação.

Palavras-chave: medidas socioeducativas; adolescentes; menor


infrator; jovens; Estatuto da Criança e do Adolescente.

83
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRACT

Introduction. The present study addresses the Resocialization of


Juvenile Offenders, with emphasis on the effect generated with the
applicability and scope of socio-educational measures and the pro-
tection of the fundamental rights of adolescents, as established in
the legislation, understanding the reality faced by young people dur-
ing and after the fulfillment of these measures, highlighting both the
effective practices and the existing challenges. Goal. In this context,
the study was carried out taking into account the provisions of the
ECA (Statute of the Child and Adolescent) and the Federal Consti-
tution of 1988, seeking to understand the conditions of socio-educa-
tional centers and the impacts of public policies of rehabilitation
aimed at young offenders. Method. Based on the theoretical basis,
an analysis of the socio-educational practices and infrastructure of
Brazilian detention centers and the structural, social and personal
contexts of the minors was carried out, taking into account the the
revision of Brazilian legislation and the ECA (Statute of the Child and
Adolescent) in the forms of application of socio-educational
measures. Results. The creation of the ECA (Statute of the Child
and Adolescent) brought with it ways to resocialize young people
who commit infractions, but the results show that despite the exist-
ence of resocialization measures, the conditions of socio-educa-
tional centers are often precarious, with emphasis on overcrowding
and lack of structure and the reality faced by young people, before,
during and after the period of hospitalization are factors that contrib-
ute to the negative consequences of the adolescent's development
and reintegration into society. Conclusion. Thus, it is concluded
that, although socio-educational measures have a great potential for
significant results to promote resocialization, there is a great lack of
essential factors for a more positive result. It is essential to improve
the infrastructure of the centers and the implementation of best prac-
tices for post-hospitalization follow-up that ensures a more human-
ized and integrated approach to the rehabilitation process.

Keywords: socio-educational measures; adolescents; minor of-


fender; young; Statute of the Child and Adolescent.

84
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

Este artigo discute sobre a ressocialização de menores infra-


tores e sua eficácia, analisando as reincidências e não reincidências
bem como seu alcance no meio de infrações juvenis. Nesse con-
texto, as medidas socioeducativas são medidas punitivas aplicadas
a menores que cometem infrações, com a finalidade de promover a
reabilitação e a reintegração social. Essas medidas estão previstas
Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, e podem variar entre advertên-
cia, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semi-
liberdade e internação em estabelecimento educacional, a depender
da gravidade da infração cometida pelo adolescente.
O objetivo por trás de tais medidas é proporcionar uma abor-
dagem mais educacional e menos punitiva, visando à recuperação
do jovem e sua reintegração social, pretendendo evitar que esses
jovens voltem a cometer infrações.
Este trabalho tem como finalidade analisar a (in) eficácia das
medidas de ressocialização de menores infratores, bem como as
formas de aplicações de tais medidas durante a internação, os re-
sultados positivos e negativos e os fatores que prejudicam essas
execuções.
A pergunta de pesquisa que norteia este estudo é: as medi-
das socioeducativas aplicadas aos menores infratores durante a in-
ternação são realmente eficazes? Com o intento de responder a re-
ferida indagação, foi efetuada tal pesquisa, baseando-se em pesqui-

85
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

sas bibliográficas a respeito do tema tratado, embasando-se nos nú-


meros constantemente atualizados pelo CNJ (Conselho Nacional de
Justiça), SINASE (Sistema Nacional de Atendimento Socioeduca-
tivo), já que a reincidência entre os jovens se tornou uma adversi-
dade preocupante e desafiadora para a justiça mundial, e principal-
mente para o judiciário brasileiro, afetando a sociedade diretamente
e comprometendo, assim, a convivência pacífica entre os indivíduos.
Em síntese, o presente trabalho, busca estudar sobre as me-
didas socioeducativas, sua aplicabilidade, eficiência e seu impacto
no âmbito das internações. O projeto tem como público-alvo profis-
sionais do Direito, visando capacitá-los a compartilhar, com a socie-
dade, as diversas opções de resolução de conflitos, de forma eficaz.
A proposta busca promover o entendimento sobre essas aborda-
gens, ressaltando sua eficácia e vantagens e as deficiências do sis-
tema.

3.1 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS E SUA REINCIDÊNCIA

A Carta Magna leciona que os menores de dezoito anos es-


tão sujeitos à lei especial quando cometerem infrações penais, con-
forme definido em seu artigo 228
“São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeito
às normas da legislação especial" (1988).
Destarte, foi promulgado o Estatuto da Criança e do Adoles-
cente, editado por meio da Lei n. 8.069/1990, que visa proteger os
direitos das crianças e adolescentes, corroborando a essência da

86
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

proteção integral, reconhecendo a criança e o adolescente como su-


jeitos de direitos em processo de desenvolvimento e cidadãos com
prioridade na garantia de suas necessidades. O ECA responsabiliza
o Estado, a família e a sociedade, estabelecendo um sistema prote-
tivo e socioeducativo.
Com isso, o adolescente infrator é submetido ao cumpri-
mento das medidas que estão previstas no Estatuto da Criança e do
Adolescente, que visam à ressocialização dos menores para que
não regressem à vida criminosa
Por outro lado, observa-se o déficit existente nas formas de
aplicação dessa Lei, visto que é crescente a quantidade de jovens
cometendo de infrações penais. A maioria desses encontra-se em
situação de vulnerabilidade social, evidenciando a falta de amparo
e políticas públicas para este público.
Por conseguinte, a deficiência na efetividade da aplicação
dessa Lei e o contexto social no qual esses adolescentes estão in-
seridos refletem no aumento da prática de atos infracionais, mesmo
após a internação e demais diligências.
Para compreender a gravidade e complexidade da reincidên-
cia, é possível embasar-se nos números constantemente reajusta-
dos dessas medidas, que em sua maioria, não se mostram tão efi-
ciente. No entanto, também há indicadores positivos em cima da não
reincidência. Esses números evidenciam a complexidade desse pro-
blema e a necessidade

87
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de estratégias mais eficazes para garantir a verdadeira reabilitação


e reduzir a reincidência, por meio de um suporte contínuo e de in-
tervenções adequadas que considerem as múltiplas dimensões da
vida dos jovens em conflito com a lei.
A proteção de crianças e adolescentes é uma questão crucial
que vem sendo comprometida pelo descaso generalizado. A falta de
apoio do Estado, da sociedade e da família expõe os jovens a riscos
elevados de violência e criminalidade. O impacto do abandono na
vida desses indivíduos é significativo, afetando não apenas sua
honra e dignidade, mas também aumentando suas chances de en-
volvimento em práticas infracionais, o que leva um grande número
de adolescentes a ingressar na vida criminosa.
A reincidência está associada a vários fatores que fazem
parte da vida dos adolescentes, como o uso das drogas e o álcool,
a dificuldade em mudar de vida, a exclusão no mercado de trabalho
atual, entre outros. Esses fatores se combinam para criar um ambi-
ente propenso à prática de ato infracional.
Uma pesquisa realizada pelo Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) delineou o perfil do jovem infrator no Brasil. O estudo, intitu-
lado de “Panorama Nacional: A Execução das Medidas Socioedu-
cativas de Internação”, foi realizado em 2012, utilizando dados do
programa Justiça ao Jovem, com o objetivando de traçar o perfil de
17,5 mil jovens infratores que cumprem medidas socioeducativas e
analisar o atendimento oferecido pelas unidades de internação es-
palhadas pelo país.

88
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Os resultados mostram que a maioria dos jovens têm entre


15 (quinze) e 17 (dezessete) anos, mais de 50% dos entrevistados
não estavam frequentando a escola, e muitos interromperam os es-
tudos aos 14 anos, geralmente entre a quinta e a sexta série. Ade-
mais, 8% dos participantes não sabiam ler nem escrever.
Em relação à reincidência, entre os adolescentes entrevista-
dos que cumprem a medida de internação, 43,3% já haviam pas-
sado pela internação ao menos uma vez. Assim, observa-se que é
um índice significativo e preocupante.
Nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, 54% e 45,7% dos jo-
vens já tinham sido internados antes. Em outras regiões do país, a
taxa da reincidência varia entre 38,45% e 44,9%. Como é possível
analisar no gráfico abaixo:

Gráfico 01: Percentual de reincidência dos adolescentes por região.

Fonte: CNJ, Panorama Nacional: a execução das medidas socioeducati-


vas de internação, 2012.

89
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

3.1.1 DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

O Estatuto da Criança e do Adolescente, prevê seis medidas


de ressocialização, que podem ser aplicadas ao jovem infrator
sendo elas: a advertência, obrigação de reparar danos, a prestação
de serviços à comunidade, liberdade assistida, a inserção em re-
gime de semiliberdade e internação
Na advertência, o jovem é repreendido verbalmente pelo juiz,
que o alerta a respeito do ato infracional cometido para que não volte
a praticá-lo.
A obrigação de reparar danos ocorre quando o adolescente
causa algum prejuízo, a uma pessoa, instituição ou patrimônio,
sendo responsabilizado a arcar com os danos causados.
Na prestação de serviços à comunidade, o juiz determinará
que o jovem preste serviços em hospitais, escolas, programas co-
munitários e outros locais, por determinado período.
A liberdade assistida é aplicada quando o juiz considera ne-
cessária uma maior atenção ao infrator devido à da gravidade da
infração cometida, Nessa medida, agentes do estado são designa-
dos para orientá-los e acompanhá-lo.
A Inserção em regime de semiliberdade pode ser aplicada
inicialmente ou como forma de prevenção. Nesse regime o adoles-
cente permanece recolhido na unidade durante a semana e é libe-
rado apenas para a realização de atividades externas,

90
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Na internação o jovem é privado de liberdade em estabele-


cimento educacional devido a alta gravidade do ato infracional co-
metido. Todas as medidas citadas acimas estão previstas no Art.
112 do ECA (1990):

Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a


autoridade competente poderá aplicar ao adoles-
cente as seguintes medidas:
I - Advertência;
II - Obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - Liberdade assistida;
V - Inserção em regime de semiliberdade;
VI - Internação em estabelecimento educacio-
nal;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a

Essas medidas são aplicadas aos jovens de 12 a 18 anos


que cometeram ato infracional e devem ser determinadas pelo juiz
após de uma análise crítica e profunda sobre a capacidade do ado-
lescente de cumpri-las, considerando a gravidade do ato e aspectos
relevantes.
A definição de ato infracional é destacada no ECA (1990),
em seu art. 103 que afirma: “Considera-se ato infracional a conduta
descrita como crime ou contravenção penal”. Os menores infratores
que apresentarem doenças ou deficiência mental usufruíram do di-
reito a um acompanhamento individual e especializado, de acordo
com suas necessidades, conforme previsto no art. 112 do ECA
(1990).

91
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O ato infracional consiste em ações condenáveis, previstas


no Código Penal, que violam a ordem pública, as leis, patrimônios e
aos direitos dos cidadãos. São condutas que estabelecem sanções
para o autor e têm por objetivo proporcionar momento e meios de
reflexão ao adolescente transgressor.
O adolescente infrator, diferentemente da criança, tem o di-
reito ao contraditório e à ampla defesa em razão da prática de um
ato ilícito antes de atingir a maioridade. Dessa forma Marcos Ban-
deira ressalta que:

Na maioria dos casos, principalmente nos atos


infracionais considerados de pequeno e médio
potencial ofensivo, a regra é que imediatamente
liberado e entregue aos pais ou responsável, ou
encaminhado ao Ministério Público, respon-
dendo, de qualquer forma, ao processo em liber-
dade. No procedimento judicial serão observa-
dos os princípios do contraditório e da ampla de-
fesa, e o adolescente, caso seja condenado, po-
derá sofrer a imposição de uma medida sócio
educativa que varia de uma mera Advertência,
passando por Reparação de Danos, Liberdade
assistida, Prestação de Serviços à Comunidade,
semiliberdade, até o internamento, que é uma
medida excepcional, aplicável nos atos infracio-
nais praticados mediante violência o grave ame-
aça à pessoa, e que pode privar o adolescente
por até três anos de convívio social. As medidas
socioeducativas embora importem em restrição
de direitos e até privação de liberdade do adoles-
cente, tem um conteúdo preponderantemente
educativo, voltado para conscientização e mu-
dança de comportamento do jovem ainda em
processo de desenvolvimento no sentido de que
o faça refletir sobre o ato que praticou, proporci-

92
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

onando as condições para a introjeção de valo-


res, principalmente, de respeito ao próximo, soli-
dariedade, afeto, trabalho, alteridade e tolerân-
cia, que sejam capazes de reorientar os cami-
nhos dos jovens. A medida sócio educativa não
pode ter caráter exclusivamente punitiva. Ela
deve ser capaz de transformar a vida do adoles-
cente, fazendo-o refletir e caminhar seguro em
direção a cidadania (2006).

No entanto, as medidas previstas na lei muitas vezes, não


produzem os efeitos desejados, resultando em uma eficácia limi-
tada. Essa falta de efetividade ocorre porque as medidas não con-
seguem impactar de forma significativa a realidade dos jovens infra-
tores, levando a uma situação em que a intenção da lei não se con-
cretiza. Assim, o desafio reside em implementar ações que real-
mente promovam a reintegração e a proteção dos adolescentes, su-
perando as limitações das medidas atuais.
Tais medidas parecem eficazes na teoria, mas em prática,
não geram tantos resultados, pois não se alinham à realidade dos
casos.
A implementação dessas medidas deve respeitar os princí-
pios aplicáveis aos adolescentes em geral, certificando que o tempo
de privação de liberdade não infrinja seus direitos fundamentais e
sociais assegurados pela legislação. A desaprovação da conduta de
jovens entre 12 e 18 anos não visa somente à punição, mas busca
responsabilizá-los pelas consequências dos seus atos, com o obje-
tivo principal de promover a ressocialização e a reparação do dano
causado. Assim, para aplicar a medida de internação, restritiva de

93
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

liberdade, o Estado deve proporcionar oportunidades de educação,


apoio psicossocial e formação profissional.
É fundamental que essas medidas sejam tratadas como
oportunidades de transformação e reintegração social. Ao garantir
esses direitos e oportunidades, o Estado não só cumpre sua função,
mas também contribui para a construção de uma sociedade mais
justa e igualitária.

3.2 O ALCANCE (NA PRÁTICA) DAS MEDIDAS SOCIOEDUCA-


TIVAS NO BRASIL

Atribuir um ato infracional a um jovem que está em conflito


com a lei resulta na aplicação das medidas socioeducativas. Como
leciona o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), tal aplicação
deve levar em consideração as características pessoais de cada
adolescente, que estão em desenvolvimento, assim como os objeti-
vos de proteção e promoção social que a medida visa alcançar.
O ECA estabelece que, para a aplicação das medidas soci-
oeducativas, devem ser levadas em conta e avaliadas não somente
a gravidade da infração e suas circunstâncias, mas também a ne-
cessidade do adolescente, destacando que as medidas privativas
de liberdade, ao serem aplicadas, devem obedecer ao princípio de
brevidade e excepcionalidade.
Na prática, constata-se que a identificação e a avaliação das
necessidades dos adolescentes infratores se fundamentam em di-

94
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

versos critérios, ocasionando significativa discrepância na severi-


dade da aplicação das medidas socioeducativas impostas a esses
jovens.
Ao analisar o Levantamento Nacional de Atendimento Soci-
oeducativo ao Adolescente em Conflito com a Lei (2011), é possível
constatar as taxas da evolução da aplicação de medidas de restrição
e privação de liberdade entre 2010 e 2011. Observam-se os núme-
ros na tabela a seguir:

Tabela 01: Taxas da restrição e privação de liberdade – 2010/2011

Fonte: Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, SINASE, 2011.

95
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Como demonstrado na tabela, ocorreu um aumento de


10,69% no número de adolescente em privação de liberdade de
(17.703 para 19.595), sendo que, na internação o aumento foi de
10,97% (de 12.041 para 19.362); na internação provisória de 9,68%
de (3.934 para 4.315); na semiliberdade de 11,00% (de 1.728 para
19.918); esses dados evidenciam um crescimento de medidas so-
cioeducativas de restrição de liberdade, entre as 27 unidades fede-
radas.
Vale destacar que, as medidas socioeducativas possuem
naturezas distintas, confere a cada uma particularidades próprias na
forma de execução. As medidas em meio aberto, em particular, são
de competência municipal, o que demanda a articulação de políticas
e intersetoriais em nível local e a formação de redes de apoio nas
comunidades e territórios dos adolescentes.
Já as medidas em meio fechado são implementadas pelos
Estados, e em alguns contextos sendo regionalizadas para assegu-
rar o direito dos adolescentes à convivência comunitária e familiar,
considerando as especificidades culturais. No entanto essas medi-
das enfrentam o desafio de garantir a tutela e a proteção da integri-
dade mental e física dos jovens atendidos.
Nesse contexto, a integração dentro da política de atendi-
mento socioeducativo e a articulação revelam-se constantemente
complexas e, em certos casos, até inexistentes. Essa lacuna tem
um impacto significativo na efetividade e qualidade dos atendimen-
tos e serviços oferecidos aos adolescentes e suas famílias, compro-

96
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

metendo o alcance dos objetivos propostos para a reintegração so-


cial e o apoio necessário a esse público. É imprescindível que sejam
promovidas ações eficientes, assegurando assim, que os direitos
dos adolescentes sejam respeitados e que eles recebam o suporte
necessário.
De acordo com o Levantamento Nacional SINASE 2023, ao
indagar os estados e o Distrito Federal de forma objetiva, se pos-
suem ou não integração com o Meio Aberto, apurou-se que 51,9%
(14 estados) possuem tal integração, enquanto os demais não pos-
suem, o que demanda um aprofundamento maior na qualidade do
funcionamento integrado ou desintegrado entre os programas de
atendimento de natureza e competências distintas.
Ao analisar a tabela abaixo, é possível constatar, que há 507
(quinhentas e sete) unidades de atendimento socioeducativo no
Brasil, destacando-se o aumento no atendimento nas modalidades
de privação e restrição de liberdade em comparação com os anos
de 2015 (484 unidades), 2016 (477 unidades) e 2017 (487 unida-
des).

Tabela 02: Unidades de atendimento socioeducativo por modalidade e gê-


nero*, em 2023.

Fonte: SINASE, 2023.

97
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O número total de jovens em atendimento sob restrição e


privação de liberdade no sistema socioeducativo do Brasil tem uma
tendência variável. Isso ocorre devido a diversos fatores, como o
tempo indeterminado necessário para o cumprimento das medidas
de restrição e privação, a movimentação dos adolescentes entre di-
ferentes modalidades de atendimento, e as constantes entradas e
saídas de jovens em internação provisória. Esses elementos contri-
buem para a variação no número total de adolescentes atendidos.

Em contrapartida, existe uma grande disparidade em relação


à quantidade de estabelecimentos de aplicação das medidas socio-
educativas. Tais dados evidenciam a grande necessidade de expan-
são e reavaliação dos critérios do sistema de criação dessas estru-
turas, uma vez que a quantidade de instituições não se alinha a
quantidade de demanda existente.
Nota-se, então, que a implementação das medidas socioe-
ducativas enfrenta ainda grandes desafios, principalmente devido à
inconsistência em sua aplicação. Ademais, a ampla margem de li-
berdade concedida aos aplicadores nas decisões resulta na não uni-
formidade dos casos semelhantes, o que gera uma sensação de in-
certeza quanto à real eficácia das medidas, além de provocar inse-
gurança jurídica na aplicação das normas, em razão da ausência de
procedimentos adequados para sua efetivação.
Mesmo com todos os avançados conquistados pelo ECA, é
perceptível que, na prática algumas diretrizes não são observadas.
As normas brasileiras são eficazes na teoria, porém falham
em alguns pontos na prática, uma vez que a estrutura das políticas

98
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

públicas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente não re-


flete a grande fragilidade social e política do Brasil, evidenciando um
desalinhamento entre a aplicação efetiva das políticas e a legisla-
ção.
Percebe-se, assim, um impasse normativo que se estende
desde o surgimento até a aplicação, abrangendo até mesmo os ope-
radores do direito. Essa situação gera uma sensação de insegu-
rança jurídica na sociedade, evidenciando as dificuldades existentes
na aplicação das medidas socioeducativas. Essa falha revela uma
discrepância no que as normas estabelecem e como elas realmente
funcionam.
Portanto, é evidente a fragilidade das normas em relação à
sua aplicação, gerando uma falta de garantias concretas de eficácia.
A aplicação das medidas socioeducativas estabelecidas no Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA) exige melhorias em muitos as-
pectos, principalmente na adequação dessas medidas aos objetivos
a serem alcançados. Aplicar as medidas sem cumprir os procedi-
mentos necessários não gera os efeitos esperados.
A realidade dos jovens no Brasil exige uma adaptação da
sociedade, promovendo colaboração, apoio e incentivo a essa faixa
etária. É imprescindível que o Estado implemente políticas públicas
voltadas para a educação juvenil, enquanto a família deve desem-
penhar mais ativamente seu papel, garantindo uma educação mais
atenta que respeite as novas realidades.
O número de jovens que cometem atos infracionais e pas-
sam pelos centros socioeducativos na maioria dos casos deve-se

99
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

por conta da desestruturação das famílias, omissão do Estado em


muitas situações, a falta de políticas públicas adequadas às diver-
sas realidades que existem no país e o desdém da sociedade em
relação aos menores em situação de risco. Por si só, a lei não é
suficiente para solucionar os problemas gerados. Essas deficiên-
cias, colaboram para a inadequada aplicação das medidas socioe-
ducativas, arriscando sua eficácia no alcance dos objetivos espera-
dos. Essa situação resulta na falta de efetividade dessas medidas,
que não se efetivam de forma ampla por conta dos inúmeros fatores
que mostram a necessidade de uma revisão no tratamento dispen-
sado a essas iniciativas.
A sociedade, de modo geral, apresenta variados fatores so-
ciais, culturais e educacionais que influenciam de forma negativa os
jovens inseridos no meio infracional, contribuindo com a exclusão e
marginalização daqueles que se encontram em situações mais vul-
neráveis.
As medidas socioeducativas, no momento de sua aplicação,
requerem uma fiscalização adequada, já que muitas precisam de
procedimentos de fato eficientes para que proporcionem resultados
benéficos e efetivos.
É imprescindível que os fatores que levam os jovens a co-
meterem atos infracionais sejam identificados e combatidos com
providências adequadas para uma solução rápida, tais uma vez
atos influenciam significativamente os índices de infrações e violên-
cia no país.
Além disso, é essencial revisar normas e práticas que ainda

100
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

não atendem às necessidades dos jovens, possibilitando um ambi-


ente melhor para desenvolvimento e inclusão.

3.3 A EFICÁCIA DA NÃO REINCIDÊNCIA DAS MEDIDAS


SOCIOEDUCATIVAS NO BRASIL

O principal objetivo do ECA é que as medidas socioeducati-


vas sejam aplicadas com caráter menos punitivo e mais pedagógico-
protetivo, buscando reeducar os jovens que cometem atos infracio-
nais. No entanto observa-se que, na maioria dos casos, tais medidas
não são seguem essa finalidade.
Conforme citado no tópico anterior, essas medidas não se
tornam tão eficientes devido a diversos fatores que influenciam dire-
tamente na sua aplicação, prejudicando o resultado real esperado e
previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente. Apesar dos es-
forços existentes na legislação para a implementação de reabilita-
ção, a reincidência juvenil no meio socioeducativo ainda é um ponto
preocupante na realidade brasileira.
Um dos desafios é a adequada aplicação das medidas soci-
oeducativas, que carecem são carentes de recursos humanos qua-
lificados e infraestrutura, com a além da escassez de apoio comuni-
tário e principalmente da participação familiar, o que dificulta ainda
mais a influência e o impacto positivo dessas medidas.
De acordo com o Conselho Nacional de Justiça, muitas ins-
tituições funcionam de maneira a reproduzir a lógica de encarcera-
mento, semelhante às prisões para adultos em vez de atuarem

101
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

como espaços de ressocialização. Além disso, a violência e a su-


perlotação nas unidades comprometem o desenvolvimento ade-
quado dos programas profissionais e educacionais, os quais são es-
senciais no processo de recuperação juvenil.
Quando aplicada como esperadas, essas medidas trazem
resultados significativos e eficazes. No entanto, ainda é notável que
os resultados são deficitários, pois mesmo que o Estado empenhe
toda sua excelência de atenção voltada para o jovem infrator não
conseguirá alcançar os resultados desejados sem a participação da
sociedade e da família em todas as etapas do processo.
É mistér esses indivíduos se comprometam em cada etapa,
de maneira conjunta com o poder público, pois o resultado não será
alcançado sem o esforço coletivo. No entanto, nota-se que a socie-
dade civil está envolta em preconceitos se esquivando-se cada vez
mais e depositando toda responsabilidade apenas para o poder pú-
blico.
Vale destacar também que as desigualdades entre as regi-
ões do país no acesso a políticas públicas para a reabilitação criam
um cenário mais propenso à reincidência nas regiões mais pobres.
Algumas regiões possuem fortes programas de atendimento e ca-
pacitação, enquanto outras são carentes do básico para oferecer
um atendimento adequado. Dessa forma, os adolescentes em locais
mais vulneráveis não recebem o suporte necessário para sair do ci-
clo de violência.
Entre os esforços para implementar medidas eficazes, des-
taca-se a formação profissional como um aspecto importante para

102
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

reduzir os índices de reincidência juvenil, pois a educação é um dos


pilares centrais para reverter as situações infracionais. No entanto a
qualidade do ensino disponibilizado nos centros socioeducativos é
precária.
Nesse contexto, outro fator que influencia os resultados é a
insuficiência de profissionais qualificados e especializados para tra-
balhar diretamente com adolescentes em conflitos com a lei, o que
limita sua formação e a profissionalização integral.
O investimento na profissionalização dos infratores também
é uma medida indispensável para alcançar resultados positivos e a
eficácia das medidas socioeducativas, evitando a reincidência. Ao
desenvolverem habilidades técnicas durante o período de cumpri-
mento das medidas, aumentam as chances de ingresso no mercado
de trabalho, após a liberação reduzindo, as possibilidades de volta-
rem a cometer atos infracionais. Por isso, é fundamental que pro-
gramas de cursos técnicos e profissionalizantes estejam disponíveis
para que demonstrem interesse.
Porém, os cursos ofertados, além de insuficientes não en-
tendem as demandas atuais do mercado de trabalho, dificultando a
inserção dos jovens em oportunidades profissionais compatíveis
com suas formações.
Merece destaque, ainda, o acompanhamento psicossocial,
que é crucial para ressocialização dos menores, pois a grande mai-
oria dos adolescentes provém de de contextos sociais e familiares
desestruturados, marcados por abusos, violência, pobreza, con-
sumo de substâncias ilícitas e outros fatores prejudiciais.

103
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Corroborando essa ideia, destaca-se, a importância dos pro-


fissionais da área de saúde mental como figuras permanentes na
vida dos infratores e de seus familiares, de modo que a abordagem
contemple todo o núcleo familiar e não apenas o infrator. Sem um
acompanhamento eficaz e o suporte necessário o rompimento des-
ses padrões de comportamento torna-se mais difícil de ser alcan-
çado.
Por fim, as medidas socioeducativas serão eficazes e aplicá-
veis à medida em que sua implementação esteja em conformidade
com o que está disposto no ECA, Assim como a atuação efetiva dos
órgãos públicos no fornecimento de recursos materiais necessários
para sua execução.
No Brasil, as medidas socioeducativas, especificamente a
medida de internação, frequentemente se distanciam da finalidade
prevista, contrastando com o que está disposto na legislação.
A falha na execução das medidas socioeducativas ocorre,
muita das vezes apenas or questões relacionadas à normatização
do sistema. O ECA não busca impor sanções aos atos infracionais,
mas sim oferecer mecanismos de reeducação destinados ao infra-
tor. Para que essa proposta seja eficaz, é fundamental que o Esta-
tuto seja aplicado adequadamente, levando em consideração a re-
alidade de cada jovem.
Grande parte dos atos infracionais está relacionada ao con-
texto social em que o adolescente está inserido, sendo influenciado
pelo meio ilegal devido a falta de suporte familiar, à precariedade
na educação, ausência de capacitação profissional, às dificuldades

104
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

financeiras, à normatização da violência no cotidiano e à falta de


investimento do Estado em políticas sociais fundamentais.
Nesse cenário, os adolescentes se deixam levar por atos ilí-
citos, como uma forma mais “fácil” de sobrevivência, por conta da
falta de oportunidade, a ligação com o mundo do crime não se dá
somente de forma individual, mas advém também de um sistema
guiado pela exclusão social.
Ao analisar o gráfico abaixo, referente apenas a 15 (quinze)
estados da federação, é possível analisar uma diversidade nos atos
infracionais, que trazem uma particularidade dentro das vulnerabili-
dades, território, políticas públicas, e demais elementos, indicando
que as infrações mais graves se baseiam com ações de violência
e/ou grave ameaça contra a vida.

Gráfico 2: Atos infracionais atribuídos aos/as adolescentes em restrição de


liberdade, no ano de 2023 (Brasil).

Fonte: SINASE, 2023.

105
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

É constatado uma predominância nos atos infracionais que


tem um retorno de renda na maioria dos Estados. É indispensável a
necessidade de uma compreensão maior em relação a motivação
desses atos, com levantamentos e aprofundamento de discussões
em relação aos dados apresentados, auxiliando na melhoria do pro-
cesso de cumprimento das medidas socioeducativas responsabili-
zação dos jovens infratores.
Assim, ao inserir o jovem em um contexto social positivo,
como por exemplo em um ambiente de trabalho, mesmo que volun-
tariamente, surge o sentimento de pertencimento e validação, con-
tribuindo para a ampliação do pensamento e da visão do adoles-
cente, mostrando que o mundo do crime não é o melhor caminho, e
existem opções viáveis e legais. Esse meio é previsto na prestação
serviços à comunidade.
Prado (2013), entende que:

As tarefas desenvolvidas pelo condenado não


são remuneradas, posto que não existe qualquer
vínculo empregatício entre aquele e o Estado e o
escopo primeiro das penas de serviços à comu-
nidade ou entidades públicas e a reinserção so-
cial do condenado, sem que este sofra os dissa-
bores que o cumprimento de eventual pena pri-
vativa de liberdade poderia lhe trazer. (p.681).

A eficácia das medidas socioeducativas está ligada ao aten-


dimento completo que promove a educação, profissionalização,
atendimento especializado, auxílio da sociedade e do Estado no

106
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

acesso de direitos básicos desses jovens, no amparo dos adoles-


centes antes, durante e depois do cumprimento das medidas, prio-
rizando os meios que visam melhorias ao perfil do adolescente in-
frator, que proporcionam melhores oportunidades de ressocializa-
ção e faça com que haja a reflexão em relação aos atos praticados,
trazendo oportunidades de inserção no ambiente profissional, ao
mesmo tempo em que auxilia psicologicamente, colaborando para o
desenvolvimento geral.
Segundo Honorato (2022): “A eficácia de uma medida não
depende somente do agir do estado através de uma instituição, a
ressocialização e a reeducação é algo que depende, acima de tudo,
da vontade do adolescente e também de um amparo familiar.”
As medidas socioeducativas surgiram com o objetivo de fa-
zer com que o jovem responda judicialmente pela infração cometida,
assim as medidas trazem a ressocialização e reintegração, que para
serem efetivadas necessitam que o infrator se integre de forma ín-
tegra à sociedade.
Existem inúmeras críticas em relação as medidas socioedu-
cativas, porém é importante ressaltar que tais medidas são impres-
cindíveis, pois visam a melhoria pessoal e social do jovem, são me-
didas essenciais previstas no ordenamento jurídico, que buscam
não apenas punir, mas também contribuir positivamente na vida do
infrator, sendo embasadas em princípios pedagógicos e educativos.
Dessa maneira, é crucial o aprimoramento constante da apli-
cação das medidas socioeducativas, focando principalmente nos

107
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

pontos mais desfalcados. É necessário uma abordagem e compro-


misso que vá além da punição, visando a formação de bons cida-
dãos com futuros promissores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ressocialização de menores infratores é uma questão que


demanda uma abordagem multidimensional, integrada e humani-
zada, não sendo limitado apenas a punição, mas que promova a
reintegração e desenvolvimento integral do jovem, como previsto da
legislação. Considerando o envolvimento social, familiar e educaci-
onal, não se restringindo apenas ao sistema de justiça.
Vale lembrar que são jovens em desenvolvimento físico e
emocional, que engloba o seu redor. Destaca-se o aprimoramento
do pensamento formal e abstrato, a formação de sua identidade so-
cial e sexual e diversas mudanças. Nessa fase é importante um
acompanhamento estruturado e saudável no âmbito familiar, já que
durante o desenvolvimento o adolescente adquire novas perspecti-
vas sobre variados assuntos. Assim, as políticas de inclusão na apli-
cação das medidas socioeducativas são essenciais para a obtenção
de resultados positivos em relação ao adolescente em desenvolvi-
mento.
A eficácia da ressocialização depende de diversos fatores,
que vão desde a qualidade da educação ofertada até a inserção dos
adolescentes no meio do mercado de trabalho. Existem diversos de-
safios significativos enfrentados pelo sistema atual, como a falta de

108
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

recursos para um acompanhamento adequado e a superlotação das


unidades. No entanto é possível fortalecer as medidas com a inte-
gração de políticas públicas que priorizem o fortalecimento dos vín-
culos positivos na vida do adolescente, sendo questão de respon-
sabilidade de toda a sociedade.
É fundamental o envolvimento ativo da família e da comuni-
dade para a criação de um ambiente adequado para a recuperação
e desenvolvimento do jovem. A criação de programas que objetivam
esses pontos é fundamental, garantindo o investimento e oportuni-
dades que tratem as causas subjacentes da delinquência.
A conscientização da sociedade sobre novas oportunidades
em relação a esses jovens tem um papel importante durante o pro-
cesso de ressocialização.
Portanto, a implementação da ressocialização de menores
infratores não é responsabilidade apenas do judiciário, mas de toda
a comunidade. Quando os jovens são vistos e aceitos, mostrando
sua evolução e mudança, as chances de uma reintegração positiva
aumentam, contribuindo para uma sociedade segura e justa, que-
brando o ciclo de violência e construindo oportunidades de uma vida
de qualidade.

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so em outubro de 2024.

112
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

4
APLICAÇÃO DA LGPD NOS TRIBUNAIS

APPLICATION OF THE LGPD IN THE COURTS

Maria Luiza Albuquerque da Silva7


Williane Tibúrcio Facundes8

SILVA, Maria Luiza Albuquerque da; FACUNDES, Williane Ti-


búrcio. Aplicação da LGD nos Tribunais. Trabalho de Con-
clusão de Curso de graduação em Direito – Centro Universitá-
rio UNINORTE, Rio Branco. 2025

7 Discente do 9º período do curso de bacharelado em Direito pelo Centro


Universitário Uninorte
8 Docente do Centro Universitário Uninorte. Graduada em Direito

pela U:VERSE. Graduada em Letras Vernáculas pela Universi-


dade Federal do Acre- UFAC.Especialista em Psicopedagogia
pela Universidade Varzeagrandense e Direito Digital pela Facul-
dade Metropolitana.

113
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

Introdução. O presente trabalho aborda, de modo interdisci-


plinar, a aplicação da LGPD nos tribunais, tendo em vista o
desenvolvimento e aplicação dos subsídios tecnológicos nos
segmentos sociais, dentre eles, o poder judiciário. Objetivo.
Diante da temática apresentada, foi realizado um estudo, cujo
objetivo precípuo se finca em compreender a proteção de da-
dos pessoais e sensíveis dos indivíduos pelo poder judiciário,
uma vez que atualmente os procedimentos e processos digi-
tais adotam um formato majoritariamente digital, logo, o cerne
da problemática se constitui na análise interdisciplinar de tec-
nologias e campo jurídico. Método. Por meio de uma metodo-
logia qualitativa, foram levantados e analisados materiais bibli-
ográficos, os quais abordassem a temática de forma especia-
lizada, dentre eles, julgados, leis e doutrinas Resultados. A
inserção e aplicação das tecnologias pelo poder judiciário re-
presenta uma forma de mitigar o acúmulo de processos judici-
ais, tendo em vista a alta demanda pela sociedade em litigar
por seus direitos, nesse sentido, ao ser manuseada com trans-
parência e proteção aos dados sensíveis do ente, a tecnologia
pode promover a celeridade na resolução de litígios, garan-
tindo, desse modo, que os direitos vindicados sejam aprecia-
dos com eficácia. Conclusão. Portanto, por meio da evolução
dos recursos tecnológicos e sua consequente aplicação nos se-
tores da sociedade, dentre eles, o poder judiciário, foi possível
concluir que as tecnologias são ferramentas indispensáveis
para o funcionamento da sociedade moderna e, ao serem ma-
nuseadas de forma idônea, podem garantir um avanço signifi-
cativo nas decisões e sentenças judiciais proferidas.

Palavras-chave: poder judiciário; LGPD; tecnologias; dados


sensíveis.

114
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRACT

Introduction. This study takes an interdisciplinary approach to


examining the application of the General Data Protection Law
(LGPD) in the courts, considering the development and imple-
mentation of technological resources in various social sectors,
including the judiciary. Objective. Given the proposed theme,
this study aims to understand the protection of individuals’ per-
sonal and sensitive data by the judiciary. Since judicial proce-
dures and processes have largely transitioned to a digital for-
mat, the core issue lies in the interdisciplinary analysis of tech-
nology and the legal field. Method. Using a qualitative meth-
odology, bibliographic materials relevant to the topic were col-
lected and analyzed. These included case law, legislation, and
legal doctrines that specialize in the subject. Results.The
adoption and application of technology by the judiciary serve
as a measure to mitigate the backlog of judicial cases, given
the high demand for litigation to assert rights. When handled
transparently and with due protection of sensitive data, tech-
nology can promote efficiency in resolving disputes, ensuring
that the rights claimed are effectively addressed. Conclusion.
Therefore, with the advancement of technological resources
and their subsequent application in various sectors of society,
including the judiciary, it is evident that technology is an essen-
tial tool for the functioning of modern society. When used ap-
propriately, it can significantly enhance the effectiveness of ju-
dicial decisions and rulings.

Keywords: judicial power; General Data Protection Law


(LGPD); technologies; sensitive data.

115
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

A criação de recursos tecnológicos na sociedade inau-


gura uma nova realidade moderna, consubstanciada principal-
mente pela presença desses subsídios em diversas esferas da
sociedade, dentre eles, a esfera pública, esta que no presente
trabalho terá como crivo o poder judiciário.
Nesse contexto, se destaca que a evolução tecnoló-
gica, influenciada por revoluções, como a terceira revolução
industrial, disseminam novos modelos de interação, o que con-
sequentemente influencia em áreas como economia, política,
cultura e direito.
O direito, enquanto produto também coletivo, se coa-
duna com o avanço tecnológico, visto que o âmago jurídico,
em sua matéria e forma, inaugura novos procedimentos
quanto à execução da norma e dos direitos previstos nos or-
denamentos. A relação entre direito e tecnologia é devida-
mente regulamentada pela criação da Lei Geral de Proteção
de Dados, a qual, de modo eficaz, estabelece os principais di-
tames acerca do tratamento e da previsão legal concernente
aos dados pessoais e aos dados sensíveis dos indivíduos.
Nessa seara, tendo em vista a interdisciplinaridade do
direito e tecnologia, o presente trabalho visa discorrer e
promover a reflexão perante à seguinte problemática: Como

116
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Garantir o controle necessário entre a transparência e


proteção dos dados pessoais dos envolvidos em causas?
Para a finalidade de promover uma discussão
interdisciplinar entre as temáticas referentes à evolução
tecnológica, juízo digital, inteligência artificial no poder
judiciário e aplicação da LGPD nos tribunais, será utilizada a
metodologia qualitativa, por meio de uma pesquisa
bibliográfica, na qual serão colhidos os principais materiais
bibliográficos que abordem a temática, dentre eles, julgados,
leis e doutrinas.
Devido a relação direta entre os dados pessoais e
sensíveis com o campo jurídico, mais precisamente, os bens
jurídicos relacionados a intimidade, a privacidade e a
segurança, a relevância da presente temática se finca em
examinar e compreender a execução e manuseio dos dados
dos interessados, visto que o direito, enquanto ciência ora
positivista, ora naturalista, se ocupa em analisar a aplicação
das normas no contexto fático, mormente a aplicação destas
no direito dos entes.
Em suma, além de evidenciar o caráter interdisciplinar
das tecnologias com o campo jurídico, a relevância aplicada
se cinge em compreender se fato o tratamento dos dados
pessoais é realizado mediante clareza e manifestação livre
pelo ente acerca do manuseio, havendo, para esse fim, uma

117
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

breve reflexão sobre letramento digital.

4.1 EVOLUÇÃO DOS RECURSOS TECNOLÓGICOS

Impende mencionar que, ao longo da história, houve di-


versas modificações estruturais na sociedade, seja na econo-
mia, política e cultural. É sabido que o sistema político e eco-
nômico que prepondera no corpo social, é o sistema capita-
lista, este que sofreu diversas alterações, quais sejam o capi-
talismo comercial, período marcado pelas grandes navega-
ções e a demasiada exploração econômica de nações menos
desenvolvidas, e o capitalismo industrial, este oriundo da re-
volução industrial, ocorrida no século XVIII e que, em todo o
seu apogeu, se desenvolveu principalmente em face dos seus
meios de produção (Rodrigues, 2012).
Em meio a necessidade de consumo, há uma alta de-
manda para produção, logo, consequentemente, são criados
meios para que haja uma maior celeridade nessa criação e
desenvolvimento de produtos, além disso, cumpre ressaltar
ainda que para aquém da melhoria dos meios de produção, as
tecnologias são criadas e perduram como meios de se mitigar
a distância entre as nações e flexibilizar a transição de infor-
mações, fator este que acentua o acesso ao conhecimento e

118
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

aos diversos modos de se acessar determinada informação,


em virtude disso, Flusser (2008, p.108) determina que as in-
formações: “disponíveis adquiriu dimensões astronômicas:
não cabe mais em memórias individuais, [...] de modo que o
consumidor médio detém atualmente mais informações do
que o ‘gênio’ renascentista”.
Nessa vereda, a “quebra” dos limites territoriais é uma
consequência das tecnologias de informação e de comunica-
ção, as quais promovem uma maior conexão entre os indiví-
duos e uma troca de informações em massa e de forma ins-
tantânea. Os efeitos, portanto, dessa desterritorialização é o
maior contato dos indivíduos com díspares culturas, permi-
tindo um maior acesso à arte e aos demais fenômenos que
solidificam e determinam algumas nações em um espaço e
tempo (Simanowsky, 2014).
Sob um viés histórico, é no ano de 1940, período ati-
nente à segunda guerra mundial, que o movimento surrealista
ganha forma e é robustecido em todo o continente Europeu,
de igual modo, é iniciada a criação dos computadores, com
isso, a área da computação ganha forma, com profissionais
especializados e uma facilidade ainda maior para adquirir os
subsídios necessários, haja vista a necessidade acentuada de
criação de tecnologias, as quais permitissem a comunicação
à longa distância (Flusser, 2008).

119
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Por sua vez, é em 1969 que a sociedade europeia pôde


verificar o aumento vertiginoso das tecnologias e subsídios
tecnológicos, dentre os quais, transistores, circuitos integra-
dos e a computação gráfica (Flusser, 2008).
Hodiernamente, o alcance das tecnologias não pode
ser aferido, uma vez que sua aplicabilidade se faz presente
em todas as estruturas da sociedade, qual seja política, eco-
nômica, social e cultural, ou seja, as dimensões estão cotidia-
namente sendo ampliadas em face de uma nova estratégia de
visualizar e disseminar a informação, sendo essa realidade até
mesmo refletida pelas técnicas de consumo atuais, onde o
protagonista da demanda far-se-á pela figura do consumidor,
anteriormente, seja no cenário clássico, surrealista, roman-
cista ou arcadista, havia um enfoque à obra e ao pintor, con-
tudo, partindo para realidade atual, essa reflexão parte de uma
análise imiscuída com a realidade tecnológica, na qual a “su-
bordinação” se consolida pelos bens sendo produzidos de
acordo com os interesses da sociedade, sejam eles supérfluos
ou não (Gobira, 2018).
Nesse sentido, a transmutação do mundo real para o
mundo digital é refletida pela presença demasiada das tecno-
logias no cotidiano, seja no mundo laboral ou cultural. No que
tange à realidade no mundo da arte, mais precisamente, os

120
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

intitulados patrimônios culturais imateriais, quais sejam mu-


seus, ressalte-se as palavras de Pablo Gobira:

Os museus existentes passam a ter portais pró-


prios na internet e os que não eram considerados
museus igualmente se apresentam como tais em
websites com características similares aos das
instituições museológicas seculares. A tecnolo-
gia permitiu a exposição per manente de acervos
digitalizados dos museus e, com o tempo, vemos
que muitos dos itens que compõem os atuais e
futuros acervos agora são nativos digitais, facili-
tando não apenas o aparecimento de mais espa-
ços museológicos em meio virtual, mas também
sustentando acervos já existentes (2018, p.85).

Diante da realidade fática narrada pelo autor, observar-


se-á que a expansão do conhecimento cresce de modo verti-
ginoso, sendo altamente disseminada e consumida pelos cha-
mados “nativos digitais”, os quais formam a nova relação entre
homem e meio, este sendo albergado por novas figuras e no-
vas formas de representação, sendo a arte, portanto, a princi-
pal forma de visualizar a nova dinamicidade posta na socie-
dade (Levý, 1999).
Gobira (2018, p.85) aduz acerca dessa nova realidade
vinculada pela tecnologia de computação:

Conforme o tempo passa e as pessoas em todo


o mundo lidam cada vez com mais naturalidade
com as tecnologias digitais, temos uma reconfi-
guração também dos museus. Essa configura-
ção técnica do museu – com a presença do digi-

121
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

tal – contribui para uma reconfiguração das pai-


sagens culturais. ... A existência de uma paisa-
gem que interage com o digital, seus ambientes
e equipamentos, conforma uma realidade que
vem sendo constituída historicamente.

Nesse bojo, se observa que, por meio da presença das


chamadas tecnologias de informação, o espaço social e as re-
lações humanas são significativamente modificadas, visto que
a realidade contemporânea influencia no modo como as infor-
mações são repassadas entre os indivíduos (Bioni, 2021).
Sob uma égide histórica, a chamada terceira revolução
industrial fomentou o crescimento e desenvolvimento das tec-
nologias de comunicação e informação, isto é, fora por meio
desse acontecimento histórico que a estrutura social iniciou
um processo de transmutação em suas relações, sejam elas
relações políticas, econômicas ou sociais.
No que concerne à criação dos subsídios tecnológicos
e sua presença direta na sociedade, conforme os dizeres de
Ney Jr (2002, p. 45):

A atual revolução da informação baseia-se nos


rápidos avanços tecnológicos do computador,
das comunicações e dos softwares que, por sua
vez, conduziram a extraordinárias reduções no
custo do processamento e da transmissão das
informações.

Nesse sentido, a chamada revolução tecnológica se


pauta em processamentos de informações de modo célere e

122
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

otimizado, posto isso, devido a sua natureza, a revolução tec-


nológica inaugura uma nova realidade, provocando mudanças
em importantes setores da sociedade, como empresas e a tri-
partite de poderes do Estado democrático de direito.
É com a evolução dos sistemas e dos subsídios tecno-
lógicos que as instituições públicas e privadas são atingidas
diretamente, pois, a partir da aplicação destes, outrora estru-
turas políticas, comerciais e até mesmo culturais são repensa-
das e reformadas, com o principal desiderato de atender às
necessidades céleres criados pelo novo cotidiano moderno
(Fernandes; Carvalho, 2018).
No mais, ressalte-se que com o avanço vertiginoso dos
subsídios tecnológicos, é possível observar, em concomitân-
cia, que as áreas da sociedade, de modo integral, são afeta-
das, ou seja, a tecnologia inaugura novos modos de vivência
entre os entes sociais, estes que são atuantes em vários seto-
res da sociedade, havendo, desse modo, uma simbiose entre
a inteligência humana e a nova realidade tecnológica (Fernan-
des; Carvalho, 2018).
Diante o avanço sobredito, se observa no campo social,
o surgimento da chamada quarta revolução industrial, a qual
se finca como:

uma época marcada por uma grande revolução


tecnológica que entrelaça os campos físico (im-
pressão em 3D, veículos autônomos, robótica

123
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

avançada e novos materiais, com destaque para


os nanomateriais como grafeno, que é duzentas
vezes mais forte que o aço e mais fino que um fio
de cabelo humano, sendo um condutor de eletri-
cidade e calor muito eficiente), biológico (tecno-
logia digital aplicada à genética) e digital (Internet
das coisas, plataformas digitais, aplicativos e
possibilidades diversas de rastreamento e moni-
toramento (Schwab, 2018, p.5)

Nesse ínterim, conforme comentado, se observa que o


digital se imiscui com áreas como a genética e indústria, dei-
xando evidente que o uso das tecnologias perpassa o viés de
entretimento, as tecnologias são sobretudo produtos desen-
volvidos para atender às vindicações humanas.

4.2 O AVANÇO DA SOCIEDADE DE INFORMAÇÃO E A


PROTEÇÃO DOS DADOS PESSOAIS PELO LGPD

A posteriori, cumpre mencionar que diante o avanço da


sociedade de informada, subsidiada pela presença de diver-
sos recursos tecnológicos, nasce, pelo Estado, uma preocu-
pação em assegurar os direitos dos indivíduos perante à trans-
missão dos dados pessoais e sensíveis destes, para o deside-
rato de guarir o direito daqueles, é desenvolvida, portanto, a
Lei 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de dados), a qual co-
adunada com as garantias fundamentais, visa dispor e regula-

124
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mentar os dados pessoais dos entes, albergando em sua na-


tureza principiológica, direitos relacionados a liberdade, a pri-
vacidade e a personalidade, estes que, comumente, se apre-
sentam como os mais afetados quando há uma violação de
dados sensíveis.
Importa mencionar que os dados, em seu sentido eti-
mológico, se constituem para Bioni (2021, p. 31-32), como “fa-
tos brutos que, quando processados e organizados, se con-
vertem em algo inteligível, podendo ser deles extraída uma in-
formação”, ou seja, por si só, os dados não possuem sentido
autônomo, devendo para tanto ser interligados com outros fa-
tores, como o objetivo de informar.
Os dados quando devidamente associados as informa-
ções produzem no ciberespaço um valor mercadológico, pois
é através de dados pessoais e sensíveis que perfis são traça-
dos, estes que ao serem disseminados no espaço digital, fo-
mentam à criação e à produção de determinados bens de con-
sumo, logo, se verifica que os dados pessoais assumem na
estrutura econômica um valor mercadológico, o que pode
acarretar, no entanto, violações no que diz respeito a sua pro-
teção e garantia (Machado, 2018).
Nessa seara, se verifica que diante o valor mercadoló-
gico dos dados pessoais na sociedade, segundo o entendi-

125
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mento de Fernandes e Carvalho (2018, p. 365), os “dados pes-


soais, nesse contexto, são a moeda da economia digital, um
dos mais relevantes 13 ativos para o exercício de qualquer ati-
vidade empresarial, pessoal ou social, assim como para con-
cretização de políticas públicas”, ou seja, perante à natureza
de moeda, os dados pessoais ensejam um robustecimento da
proteção estatal, uma vez que o avanço tecnológico cria diari-
amente recursos que violam ferramentas de proteção.
Na égide do direito brasileiro, se observa que a criação
da Lei Geral de proteção de dados ocorreu de forma paulatina,
isto é, mesmo com os direitos guaridos pela constituição
magna acerca do direito à intimidade e à privacidade, não ha-
via, antes da Lei supracita, mecanismos que de fato assegu-
rassem e regulassem os dados pessoais dos indivíduos pe-
rante à sociedade digital (Machado, 2018).
Cumpre mencionar ainda que, antes da LGPD, houve
mesmo que, de forma mínima, pelo Código de Defesa do con-
sumidor, a criação de ditames legais que regulassem a relação
consumerista no que diz respeito aos dados dos consumido-
res, isto é, conforme o dispositivo legal presente na seção VI,
artigo 43, §1, as informações pessoais e sensíveis dos consu-
midores necessitam ser objetivos e claros, onde, havendo erro
perante ao tratamento dos dados daqueles, possibilita ao “O
consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados

126
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

e cadastros, poderá exigir sua imediata correção, devendo o


arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar a alteração
aos eventuais destinatários das informações incorretas”, des-
tarte, se verifica que o direito do indivíduo perante ao manu-
seio e utilização de seus dados já se encontrava devidamente
assentado na relação de consumo.
Noutro giro, é somente com a criação de Lei Geral de
proteção de dados, que de fato os dados pessoais e sensíveis
são devidamente lecionados na sociedade, a saber:

I- dado pessoal: informação relacionada a pes-


soa natural identificada ou identificável; II - dado
pessoal sensível: dado pessoal sobre origem ra-
cial ou étnica, convicção religiosa, opinião polí-
tica, filiação a sindicato ou a organização de ca-
ráter religioso, filosófico ou político, dado refe-
rente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou
biométrico, quando vinculado a uma pessoa na-
tural (Brasil, 2018).

Conforme o texto legal supracitado, se observa que os


dados pessoais se confluem diretamente com a subjetividade
de cada sujeito, uma vez que as características singulares de
cada ente ao serem reunidas formam perante à sociedade de
informação, dito isso, partindo do pressuposto que se imis-
cuem diretamente com os fatores subjetivos de cada sujeito,
ensejam a proteção integral do Estado e de seus representan-
tes (Monteiro, 2021).

127
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Nessa vereda, o tratamento de dados se relaciona dire-


tamente com todas as operações utilizadas no espaço social,
como os meios digitais, sendo atribuída a responsabilidade de
proteção a todos os agentes sociais, dentre eles, pessoas na-
turais, jurídicas e instituições públicas (Monteiro, 2021).
No que concerne ao tratamento dos dados pessoais e
sensíveis, a Lei supra elenca dez bases legais, as quais visam
guiar a forma de utilização daqueles, principalmente pelos
agentes de tratamento, intitulados como Controlador e Opera-
dor. Acerca da base legal citada, se destaca o consentimento,
pois é a partir deste ato que de fato se iniciará a autorização
sobre o manuseio e utilização das informações sensíveis do
agente.
Nas relações de consumo, como adesão a algum pro-
duto ou prestação de serviço, é de suma importância que as
informações acerca do tratamento de dados ocorram de forma
proba e transparente, devendo o usuário ou consumidor estar
ciente quanto ao tratamento de seus dados pessoais, neces-
sitando ainda manifestar a autorização livre acerca do manu-
seio daqueles (Monteiro, 2021).
Por oportuno, cumpre destacar que o tratamento de da-
dos deve obedecer estritamente à Lei implementada, haja
vista a natureza destes no âmbito das relações privadas e pú-
blicas, posto isso, é indubitável que figuras como o controlador

128
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

e operados, agentes de tratamento de dados, garantam ao ti-


tular a inviolabilidade dos dados concedidos a terceiros ou
pessoas não autorizadas (Monteiro, 2021).

4.3 CRIAÇÃO DO JUÍZO DIGITAL, INTELIGÊNCIA


ARTIFICIAL NO PODER JUDICIÁRIO E APLICAÇÃO DA
LGPD NOS TRIBUNAIS

4.3.1 CRIAÇÃO DO JUÍZO 100% DIGITAL NO BRASIL

A posteriori, perante à evolução dos meios de comuni-


cação e dos subsídios tecnológicos, fora possível observar a
alteração na infraestrutura e nos procedimentos adotados por
diversos setores da sociedade, dentre estes, se encontra o se-
tor judiciário, o qual, juntamente ao avanço de outros segmen-
tos sociais, evolui quanto à forma e ao procedimento de seus
sistemas (Teixeira, 2022).
Diante o exposto, se desenvolve no poder judiciário em
diversas regiões do mundo a tendência mundial “online
courts”, expressão que traduzida no sentido literal significa
cortes online, representando, dessa maneira, a presença la-
tente das tecnologias nas decisões e sentenças proferidas
pelo judiciário, sobre o assunto, Cabral (2020, p. 97):

129
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

(...) as atuais “online courts” focam na resolução


de litígios de menor valor, como direitos de vizi-
nhança, matérias de consumidor, contratos de lo-
cação e infrações e litígios de trânsito. Dessa
forma, as “online courts” buscam a efetividade da
celeridade processual e a satisfação do jurisdici-
onado com a prestação jurisdicional ofertada

Ante ao exposto, fica claro que a efetividade e celeri-


dade se constituem como o crivo da adesão dos subsídios tec-
nológicos nas cortes e tribunais, visto que, por meio da aplica-
ção de tais recursos, as normas legais vigentes, que versam
sobre direitos e garantias, serão devidamente aplicadas por
procedimentos otimizados (Cabral, 2000).
No Brasil, a presença dos subsídios tecnológicos no po-
der judiciário ocorrerá por meio da resolução nº 345, realizada
pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio daquela,
fora incorporado ao sistema processual o instituto atinente ao
juízo 100% digital, este que de fato inaugurou a realidade do
direito, o qual, comumente, se alinhava a procedimentos mais
formas e burocráticos em detrimento de outros segmentos na
sociedade moderna.
No que tange à implementação desse instituto no sis-
tema judiciário, se denota uma tentativa pelo Estado em asse-
gurar a análise otimizada dos pedidos pleiteados pelos cida-
dãos, combatendo ainda a morosidade processual nos atos e
petitórios (Filho, 2021).

130
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Ademais, é por meio da otimização dos sistemas pre-


sentes nos segmentos do poder estatal que ocorrerá um
avanço diante à análise das vindicações realizadas pelos indi-
víduos acerca do reconhecimento e garantia de seus direitos.
Posto a isso, a prestação jurisdicional ao se coadunar com o
avanço tecnológico demonstra relevância significativa das tec-
nologias na sociedade, bem como os benefícios oriundos des-
tas (Teixeira, 2022).
Acerca da evolução dos sistemas na análise e conclu-
são de processos, nasce o Processo Judicial Eletrônico (PJE),
este que, em seu escopo, configura um novo modelo de ge-
renciamento e organização processual, minimizando inclusive
o afogamento processual presente no poder judiciário (Tei-
xeira, 2022).
Mais adiante, por meio da resolução que instaurou o ju-
ízo 100% digital, é possível notar a existência de algumas vi-
cissitudes a serem superadas, dentre elas, o fator geográfico,
pois, em uma única demanda, podem existir diversos atores
processuais residindo em diversos espaços geográficos, por
sua vez, há o fator temporal, no qual possibilita a participação
em atos processuais com datas prévias e marcadas, por fim,
existe o fator informativo, o qual revela uma maior proximidade
pelo judiciário das partes, estas que se comportam de modo

131
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mais ativo nos atos processuais, em que pese ao acesso à


informação e à participação (Cavalcanti, Rivero, 2021).
Oportuno ressaltar que apesar da aplicação desse ins-
tituto, existem algumas nuances como a falta de acesso por
uma parcela significativa da população no que se refere às
plataformas digitais, existindo, dessa maneira, um considerá-
vel analfabetismo digital, conforme o exposto a seguir:

Se faz necessária a reflexão em relação aos re-


ais ganhos do Juízo 100% digital, considerando
as vulnerabilidades da população brasileira, com
especial atenção às pessoas que não possuem
acesso à conexão a equipamentos, às que so-
frem de analfabetismo digital, bem como, à aces-
sibilidade das pessoas com deficiência (Caval-
canti; Rivero, p.78, 2021)

Desta feita, é de suma importância que a evolução digi-


tal ocorre, ao mesmo tempo, perante uma reflexão estrutural
em que pese ao acesso à informação pelos entes, pois, por
mais que as tecnologias se apresentem otimizadas e práticas,
estas deverão ser analisadas sob a realidade social, na qual
se aplica o sistema digital pelo poder judiciário.

4.3.1.1 Inteligência Artificial no poder Judiciário

O avanço da sociedade rompeu significativamente com


barreiras burocráticas, acentuando, dessa maneira, a celeri-

132
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

dade no envio de informações e na comunicação entre os in-


divíduos, contudo, para além do envio de informações e cria-
ção de recursos tecnológicos, nascem ferramentas digitais
que inauguram uma realidade tecnológica nunca pensada pe-
los entes sociais, a principal representação dessa nova reali-
dade moderna, se finca pela criação da Inteligência Artificial,
a qual é definida como:

O ramo da ciência da computação destinado ao


desenvolvimento de sistemas e dispositivos in-
formáticos capazes de simular a aptidão humana
de raciocinar visando à tomada de decisões com
o objetivo de resolver problemas de um modo si-
milar à solução que um ser humano apresentaria
para a mesma hipótese concreta. Pode ser re-
presentada pelo conjunto de atividades infor-
máticas que, se realizadas pelo homem, se-
riam consideradas produto de sua inteligên-
cia (Vainzof, 2021, n.p, grifo nosso)

Ressalte-se que a natureza da inteligência artificial é in-


terdisciplinar, pois, no processo de simulação da aprendiza-
gem humana, reúne em suas operações diversas áreas co-
muns similares aos segmentos da sociedade, como saúde,
cultura, política, direito e economia. O funcionamento dessa
ferramenta ocorre mediante ao processamento de algoritmos,
os quais se constituem, para López (2021, p.185) como ““um
conjunto de instruções matemáticas ou regras, especialmente
se dadas a um computador, ajudará a calcular uma resposta

133
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

a um problema”, sendo assim, para produzir resultados inteli-


gentes, normalmente relacionados com a aprendizagem hu-
mana desenvolve até o contexto hodierno, o sistema de IA usa
dados inteligentes e singulares.
No poder judiciário, mais precisamente nos tribunais su-
periores, a introdução da IA é uma realidade cada vez mais
presente, a exemplo disso, surge o intitulado “Projeto Vitor”, o
qual, por meio de uma união teórica entre STF e a Universi-
dade de Brasília, revela um sistema arraigado pelos algoritmos
da inteligência artificial, no qual para Azevedo (2019, p. 20).

Além de separar e classificar as peças processu-


ais mais usadas nas atividades do STF e identi-
ficar os temas de repercussão geral de maior in-
cidência, VICTOR é capaz de converter imagens
em textos no processo digital e localizar decisões
e peças processuais no acervo do Tribunal.

Sob esse viés, a ferramenta criada pela ferramenta ori-


unda da IA reflete uma modernização eficaz do judiciário
acerca do quantitativo das peças processuais, tal projeto de-
marca ainda nas decisões proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) os enquadramentos e características dos recur-
sos, como aqueles de repercussão geral, a fim de evitar o jul-
gamento repetitivo dos mesmos temas.
Sob esse prisma, a aplicação de projetos e mecanis-
mos como os supracitados evidenciam a imperiosa tentativa

134
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

pelo judiciário em otimizar as decisões proferidas, trazendo à


baila, contudo, reflexões concernentes ao exercício do magis-
trado perante aos atos processuais, uma vez que as críticas
que regem a aplicação das tecnologias, como IA e softwares
especializados, se fincam principalmente na necessidade de o
judiciário aplicar medidas céleres e flexíveis, mas que, para
isso, não haja a substituição absoluta da produção humana,
esta que, ao se debater sobre bens jurídicos, se torna impres-
cindível, visto que não há humanização possível em inteligên-
cias artificias ou outros recursos tecnológicos (López, 2021).

4.3.2 APLICAÇÃO DA LGPD PELOS TRIBUNAIS

É consabido que a criação da Lei Geral de Proteção de


Dados visa precipuamente assegurar a proteção dos dados
pessoais e sensíveis dos indivíduos. Além disso, é por meio
dessa preocupação estatal que é publicado o decreto nº
10.474/2020, o qual estabelece, no âmago das relações públi-
cas e privadas, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados
(ANPD), a qual, vinculada ao Ministério de Justiça e Segu-
rança Pública, é criada principalmente para guarir as informa-
ções pessoais e sensíveis devidamente respaldados pela Lei
Geral de Proteção de Dados (Tasso, 2021).
Diante o avanço das tecnologias nos tribunais, é impe-
riosa a reflexão acerca de como os dados dos indivíduos estão

135
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

sendo manuseados, isto é, se os dados fornecidos pelos inte-


ressados estão sendo aplicadas em conformidade com o di-
reito à privacidade, à intimidade e à segurança.
Conforme discutido anteriormente, ficara devidamente
assentado que o tratamento de dados, mediante análise da
LGPD, devem possuir em sua natureza a clareza perante ao
manuseio e utilização realizado pelo controlador e operador,
nesse viés, importa dizer que a clareza e explicação assídua
sobre os dados fornecidos se tornam de suma importância nas
relações entre os interessados e o judiciário, pois, na relação
fincada entre Estado e indivíduo, se observa uma determinada
vulnerabilidade do agente perante aos interesses e vindica-
ções pleiteadas (Tasso, 2021).
Nesse intento, é importante que o tratamento de dados
ocorre mediante ao fomento ao letramento digital dos entes,
visto que, mesmo que as tecnologias assumam uma natureza
expansiva e ubíqua na sociedade, isso não afasta necessari-
amente a dificuldade por alguns em acessar às plataformas
digitas ou às informações sobre o manuseio e utilização de
seus dados, sendo comum que grande parcela da sociedade
não conheça seus direitos e garantias fundamentais.
Tendo em vista essa realidade, Nunes e Paolinelli,
(2021, p. 11) explicam que a obrigatoriedade do uso de plata-
formas digitais deve levar em consideração o analfabetismo

136
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

digital de boa parcela dos cidadãos brasileiros, bem como as


diferenças geracionais e disparidades regionais, sob pena de
gerar mais exclusão”, sob esse viés, haja vista que o poder
judiciário julga, pondera e analisa direitos, imperiosa é a ne-
cessidade de promover o devido letramento digital entre as
partes, a fim de tornar o avanço equitativo e benefício para os
diversos segmentos da sociedade.
Infere-se que no sistema judiciário digital contemporâ-
neo, existem fatores de risco relacionados principalmente com
a utilização das ferramentas e sua consequente aplicação nos
casos práticos, como a utilização de jurisprudências defasa-
das e leis revogadas colhidos pelos sistemas automáticos,
mas que, sem a metodologia correta, podem causar mais pre-
juízos do que resultados positivos (Sabbatine, 2020).
Importa mencionar que devido à natureza essencial-
mente digital de inteligências como IA, a aplicação da LGPD
no sistema judiciário pode encontrar alguns obstáculos princi-
palmente referentes aos procedimentos utilizados pelas plata-
formas e ferramentas digitais, sendo necessária, dessa forma,
soluções para possíveis quebras relacionadas a ética e aos
bens jurídicos, sob esse prisma, conforme devidamente eluci-
dado por Sperandio (2021, p.50):

Um dos principais dilemas éticos envolve a im-


parcialidade dos algoritmos, uma vez que estes

137
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

podem ser influenciados por vieses presentes


nos dados de treinamento, resultando em deci-
sões injustas. Além disso, a transparência dos
sistemas e a possibilidade de compreender como
uma decisão foi alcançada levantam questões
sobre o direito à explicação.

Nesse tocante, se observa que incide na temática da


aplicação das tecnologias no poder judiciário, discussões a
respeito da eficácia das ferramentas digitais, uma vez que esta
não se caracteriza de forma absoluta, podendo, como todos
os demais aparatos tecnológicos, apresentar limitações, sur-
gindo, desse modo, uma necessidade de aprimoramento de
tais recursos, pois, quando estes são aplicados em atos pro-
cessuais que versem sobre bens jurídicos, enseja na respon-
sabilidade pelos operadores acerca dos dados utilizados.
Ademais, importa mencionar que algoritmos, os quais
formam ferramentas como digitais como IA, softwares e pro-
gramas, são suscetíveis a erros como discriminação, tema
este que pouco é falado quando suscitadas questões sobre a
aplicação dos recursos tecnológicos no cotidiano (Sabbatine,
2020).
Desta feita, em que pese à natureza dos dados pesso-
ais sensíveis, estes se confluem diretamente com fatores re-
lacionados a etnia, a religião e a orientação religiosa dos indi-
víduos, por esta razão, se ligam, ao mesmo tempo, com a sub-
jetividade e singularidade de cada sujeito. Destarte, tendo em

138
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

vista que os algoritmos são produções humanas, as quais são


albergadas por fatores culturais, éticas e morais de cada cole-
tivo, podem apresentar fatores discriminatórios em sua com-
posição, no que atine à natureza discriminatória que poderá
ser apresentada pelos algoritmos, Pasquale (2015, p.38) ex-
plica que:

[..] os algorítmos não estão isentos de problemas


envolvendo discriminação, pois, muitas das ve-
zes, as percepções humanas repletas de precon-
ceitos, se refletem no desenvolvimento e treina-
mento dos sistemas impulsionados por IA, refle-
tindo no processo de “machine learning.

Desse modo, tendo em vista que as tecnologias digitais


são criados por humanos, podem apresentar óbices relaciona-
dos a discriminação, conquanto se relacionam diretamente
com a percepção humana sobre determinados assuntos ou
sobre determinados sujeitos, dito isso, é imprescindível que a
sistematização das ferramentas digitais no poder judiciário
seja realizada com base em técnicas que dirimam quaisquer
percepções que firam a natureza dos dados pessoais sensí-
veis das partes interessadas.
Logo, ao se falar sobre a aplicação dos algoritmos em
processos decisórios, é importa que haja uma triagem e aná-
lise acerca das ferramentas utilizadas, pois tendo os algorit-

139
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mos reproduções e pensamentos deturpados e que violem di-


reitos básicos e inerentes aos indivíduos, será o direito omisso
e negligente (Ramos, 2022).
Nesse ínterim, a utilização de conceitos de dados his-
tóricos arraigados de pensamentos discriminatórios, os quais
violem direitos assentados pelo estado democrático de direito,
pode também impedir a eficácia de decisões e sentenças pro-
feridas, em razão disso, se faz imperiosa a presença da LGPD
no combate e na mitigação de tais situações no judiciário, este
que, ao aplicar os subsídios tecnológicos, devem se atentar
para aplicação da transparência algorítmica, perante à divul-
gação plena das operações e sistematizações e da interpreta-
ção concernente aos dados fornecidos pelo sistema de inteli-
gência, cabendo aos profissionais de direito, como magistra-
dos e advogados, realizarem a devida análise em seus petitó-
rios inicias e sentenças proferidas (Ramos, 2022).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ante ao exposto, a temática discorrida demonstrou a re-


lação direta entre direito e subsídios tecnológicos, principal-
mente após a publicação da Lei Geral de Proteção de Dados.
Nesse entendimento, ficara claro que a evolução das tecnolo-
gias atinge diretamente a organização do socioespaço, este

140
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

que é abalizado principalmente pela evolução humana.


Além do mais, fora possível notar que no que diz res-
peito à presença das tecnologias no poder judiciário, esta pos-
sui o objetivo precípuo de mitigar o afogamento processual,
trazendo à baila conceito como efetividade e celeridade nas
decisões. Em que pese à efetividade supracitada, se destaca
a criação do Juízo 100 % digital e do Processo Judicial Eletrô-
nico (PJE).
Tendo a vista a evolução vertiginosa dos subsídios tec-
nológicos, fora incorporada ao sistema judiciário, como os Tri-
bunais Superiores, as intituladas inteligências artificiais, as
quais, por meio de algoritmos inteligentes evidenciam a apro-
ximação do mundo digital com a aprendizagem humana.
Por fim, no que concerne à aplicação da LGPD nos tri-
bunais, fora devidamente verificado que as tecnologias, ape-
sar dos benefícios evidentes, podem, caso não sejam manu-
seadas com transparência e efetividade, causar riscos aos da-
dos pessoais e sensíveis dos entes, incumbindo ao judiciário
procedimentos interdisciplinares, os quais garantem o acesso
pelo interessado dos atos processuais em que seus dados se-
rão utilizados.

141
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

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145
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

5
ATAQUES NAS ESCOLAS DO BRASIL

SCHOOL ATTACKS IN BRAZIL

Mylena Lima da Silva9


Williane Tiburcio Facundes10

SILVA, Mylena Lima da; FACUNDES, Williane Tibúrcio. Ata-


ques nas Escolas do Brasil. Trabalho de Conclusão de
Curso de graduação em Direito – Centro Universitário UNI-
NORTE, Rio Branco. 2025.

9 Discente do 9º período do curso de bacharelado em Direito pelo Centro


Universitário Uninorte.
10 Docente do Centro Universitário Uninorte. Graduada em Direito pela

U:VERSE. Graduada em Letras Vernáculas pela Universidade Federal do


Acre- UFAC. Especialista em Psicopedagogia pela Universidade Varzea-
grandense e Direito Digital pela Falculdade Metropolitana.

146
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

Esse estudo aborda o crescente número de ataques em esco-


las no Brasil, uma questão que tem gerado preocupação social
e exigido maior atenção de autoridades e especialistas. O
texto identifica os fatores que contribuem para esses eventos,
como bullying, exclusão social, influência de grupos extremis-
tas na Internet e lacunas no sistema de saúde mental. Além
disso, a busca por visibilidade, vingança e a inspiração em
massacres anteriores são aspectos recorrentes no perfil des-
ses agressores e evidenciam a fragilidade da segurança em
instituições de ensino. Também discute as influências cultu-
rais, sociais e psicológicas que motivam esses atos, incluindo
o papel da Internet, onde comunidades extremistas incentivam
a violência escolar. A disseminação de ideologias neonazistas
e discursos de ódio nas redes sociais é apontada como um
agravante significativo, especialmente devido à facilidade de
acesso a esses conteúdos. Enfatiza também que a violência
escolar reflete problemas sociais mais amplos, como desigual-
dades, falta de investimento na educação e desvalorização
dos educadores. Conclui-se que é essencial investir em edu-
cação de qualidade, fortalecimento da saúde mental e regula-
mentação do discurso de ódio na Internet, além de implemen-
tar planos de segurança efetivos nas escolas. Também alerta
para o aumento de transtornos mentais entre jovens, agrava-
dos pela exposição às redes sociais e à intolerância.

Palavras-chave: bullying; violência; exclusão social; agressão

147
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRACT

This study addresses the increasing number of school attacks


in Brazil, an issue that has raised social concerns and de-
manded greater attention from authorities and specialists. The
text identifies the factors contributing to these events, such as
bullying, social exclusion, the influence of extremist groups on
the Internet, and gaps in the mental health system. Further-
more, the pursuit of visibility, revenge, and inspiration from pre-
vious massacres are recurring aspects of the attackers’ profiles
and highlight the fragility of security in educational institutions.
It also discusses the cultural, social, and psychological influ-
ences that motivate these acts, including the role of the Inter-
net, where extremist communities encourage school violence.
The spread of neo-Nazi ideologies and hate speech on social
media is identified as a significant aggravating factor, espe-
cially due to the ease of access to such content. It also empha-
sizes that school violence reflects broader social issues, such
as inequalities, lack of investment in education, and the deval-
uation of educators. It is concluded that it is essential to invest
in quality education, strengthen mental health support, and
regulate hate speech on the Internet, in addition to implement-
ing effective security plans in schools. Additionally, it warns of
the increase in mental health disorders among young people,
exacerbated by exposure to social media and intolerance.

Keywords: bullying; violence; social exclusion; aggression

148
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

Esse estudo mostra que os ataques em ambiente esco-


lar têm se tornado um grande desafio e está aumentando pre-
ocupando a sociedade contemporânea. Esses acontecimen-
tos criam grande impactos não só nas vítimas diretas, mas
também no âmbito escolar, na sociedade e nas famílias ao
todo. O entendimento desses motivos por trás dos ataques e
a identificação de grandes fatores de risco são importantes
para avançar nas estratégias de prevenção eficientes.
Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado um aumento
preocupante de ataques em escolas, eventos que têm gerado
intensa comoção social e debates sobre segurança nas insti-
tuições de ensino. Esses ataques, muitas vezes envolvendo
violência extrema, são frequentemente associados a fatores
como bullying, exclusão social, influências de grupos extremis-
tas nas redes sociais e fragilidades no sistema de saúde men-
tal. O problema trouxe à tona a necessidade de políticas públi-
cas mais eficazes, tanto na prevenção quanto na intervenção,
visando proteger alunos e profissionais da educação.
Além disso, a discussão sobre o papel da internet e da
regulamentação do conteúdo online também ganhou força, já
que muitos dos agressores foram influenciados por comunida-
des que promovem a violência. Esses eventos têm desafiado
as autoridades a implementarem medidas de segurança mais

149
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

rígidas nas escolas, ao mesmo tempo em que se busca refor-


çar o acolhimento emocional e a inclusão social dentro do am-
biente escolar.
Embora a cobertura de mídia e da atenção da socie-
dade aficionada aos ataques em escolas, ainda existe buracos
significativos em nosso desenvolvimento sobre as causas su-
bentendida e os exemplos desses eventos. Temos que inves-
tigar as características dessas pessoas que fazem esses ata-
ques, olha seus perfis psicológicos, como ele está na socie-
dade e culturais, esses ataques que acontecem pode ajudar
os insights cruciais para que nos futuros não aconteçam esses
incidentes.
Este tema reflete interesses e preocupações com ques-
tões sociais relevantes para contribuir com soluções construti-
vas para os desafios enfrentados no ambiente escolar no Bra-
sil. Tem a oportunidade de aplicar os conhecimentos para a
segurança e o bem-estar das futuras gerações nas escolas
brasileiras.

5.1 PERFIS DAS PESSOAS QUE FIZERAM ESSES


ATAQUES NAS ESCOLAS

Os perpetradores de ataques em escolas no Brasil são

150
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

do gênero masculino. Um número significativo deles encon-


tram-se em situação de isolamento social, normalmente eles,
apresentam grande engajamento e alto grau interação em pla-
taformas da Internet, participando de comunidades extremis-
tas, geralmente tem uns fascínio e propensão à violência e de-
monstram um interesse desmedido por armas e armas de fogo
em particular.
Incorporando perspectivas e valores de opressão, com
manifestações de racismo, misoginia e preconceitos, associa-
das a ideologias de cunho fascista e nazista alguns deles con-
somem e promovem conteúdos e símbolos neonazistas.
Mostram tem um ressentimento direcionados tanto à
comunidade e instituição escolar quanto à sociedade em ge-
ral, e veem o ambiente escolar como um lugar de sofrimento
e injustiça, e criam movimentos incentivando alunos a denun-
ciarem professores, que foram então ameaçados e persegui-
dos, criando um clima de medo e insegurança nas escolas. e
buscar ter visibilidade através da realização de atos violentos,
geralmente motivados por vingança, tem um grande número
de vítimas, visando obter publicidade e reconhecimento em
círculos e comunidades que propagam e incitam o ódio e ma-
nifestam um desejo desproporcional de obtenção e reconheci-

151
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mento de “poder”, eles demonstram ter inspiração e reverên-


cia por autores de atos violentos anteriores, em especial con-
tra escolas.
A Escola, é um local imprescindível na vida social, indi-
cada ao ensino aprendizado e ao desenvolvimento da vida dos
alunos. Sugestionado por fatores econômicos, tecnológicos,
sociais e políticos, a Escola é um espaço onde se implemen-
tam relações sociais relevantes e únicas, mas essas relações
entre os alunos raramente são equilibradas. Os ataques atuais
às escolas exibem várias informações que se enquadra-se na
sua constituição.
Entre essas, o motivo de vez quando se respalda na
vontade de vingança e aborrecimento em relação ao ambiente
escolar e à sociedade. A busca por importância e fama tam-
bém está presente, expressando uma vontade desgovernada
por reconhecimento do público por parte dos agressores, que
olham os ataques escolares como um jeito de conseguir aten-
ção social. Professor da Universidade Federal do ABC, Fer-
nando Cassio (UFABC), (2023) é enfático ao afirmar:

É muito comum que casos passados, como a tra-


gédia de Suzano, seja referência para outros ata-
ques. E uma parte de quem está envolvido nesse
tipo de crime busca visibilidade, justamente por-
que essas comunidades de ódio incentivam e va-
lorizam. (Cassio,2023).

152
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A vontade de invadir escolas não é aleatória eles sabem


que o espaço é o principal local de socialização e aprendiza-
gem. Os dados mostram que o ápice de casos ocorreu entre
o segundo semestre de 2022 e o ano de 2023, quando ocor-
reram nove casos, quatro em apenas 15 dias. Em 20 meses,
registraram-se 58,33% do total de casos. Segundo a psicóloga
Talita Lahr, pesquisadora do Gepem (Grupo de Estudos e
Pesquisas em Educação Moral) da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas), uma das explicações para o grande
aumento dos casos de violência em 2022 e 2023 foi o cresci-
mento de comunidades que antes eram obscuras na Internet
como a deep web passaram a ser muito mais fácies de usar
as plataformas como o Discord e o X.

São comunidades que acabam incentivando a vi-


olência escolar e os massacres, que são chama-
das de TCC, as True Crime Communities, onde
jovens e adolescentes se reúnem e acabam dia-
logando sobre essas situações e incentivando o
cometimento desses crimes (Lahr, 2023).

Entre os perfis desses assassinos virtuais, um dos ele-


mentos frequentemente vistos em imagens é uma máscara,
frequentemente uma bandana. Esta é a mesma ferramenta uti-
lizada pelo autor do massacre em Suzano e pelo adolescente
de 13 anos que atirou contra uma escola no começo da se-

153
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

mana passada. De acordo com estudiosos, representa a su-


premacia dos Estados Unidos. Muitas pessoas repudiam de-
talhes exibidos pela imprensa sobre os crimes do passado, se-
gundo professor Fernando Cássio

Nós estamos falando de pessoas que estão ali


vendo o quarto do assassino, as mensagens que
ele escrevia, seu quarto, seus pôsteres, sua me-
morabilia nazista... Esse tipo de informação, que
choca e que atrai, também alimenta esses dese-
jos recônditos de possíveis agressores que ainda
não transformaram suas vontades em realiza-
ções. É possível prestar um serviço de interesse
público informacional, sem levar a água para o
moinho do ódio, do discurso fascista (Cas-
sio,2023).

Muitas vezes, uma criança que não tem atenção pro-


cura se tornar um jovem visível por conta desse tipo de violên-
cia, então, mostrar detalhes do crime em reportagens ou em
redes sociais e qualquer outro meio pode servir como uma
forma de incentivo.

Não acho que os ataques acontecem por causa


disso, mas assim como há um gatilho para casos
de suicídio, que também exigem cuidado na di-
vulgação, se tem algo criminoso sendo planejado
por uma pessoa, ver outro massacre aconte-
cendo pode ser um tipo de incentivo. Por isso é
necessário responsabilidade na forma como se
cobre e se divulga esse tipo de crime. (Ricardo,
2023).

154
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Um dos casos que dominou as mídias e assustou a po-


pulação foi o ataque na creche Cantinho Bom Pastor na Rua
dos Caçadores, que aconteceu no dia 5 de abril de 2023 em
Blumenau, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, deixou quatro
crianças mortas. As vítimas uma menina e três meninos, de 4
a 7 anos.
Com 25 anos de idade, o agressor usou uma machadi-
nha para atacar as vítimas, após fugir do local do crime, mas
apresentou ao 10° Batalhão de Polícia Militar, onde foi preso
e encaminhado à Polícia Civil.
Segundo as informações, havia 40 crianças na creche
naquele dia e o agressor teria pulado o muro e atingido as cri-
anças de forma aleatória. As crianças brincavam em um par-
que, que fica próximo ao muro da creche, no momento do ata-
que.

5.1.1 HISTÓRICO DOS ATAQUES NAS ESCOLAS BRASI-


LEIRAS COMETIDOS POR EX-ALUNOS

Os ataques a escolas no Brasil, especialmente cometi-


dos por ex-alunos, têm se tornado cada vez mais frequentes
nos últimos anos, gerando grande preocupação na sociedade
e entre as autoridades. Embora o Brasil tenha registrado inci-
dentes violentos esporádicos nas escolas no passado, uma

155
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

série de ataques mais recentes intensificou o debate sobre se-


gurança escolar e os fatores que contribuem para essas tra-
gédias.

Massacre de Realengo (2011)


Os dos primeiros grandes ataques a escola no Brasil
ocorreu em 7 de abril de 2011, em Realengo, Rio de Janeiro.
Jovem chamado Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos,
ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, entrou no co-
légio e atirou contra alunos, matando 12 crianças e ferindo ou-
tras 12, e depois tirou sua vida. Esse evento deixou toda po-
pulação chocada e trouxe à tona questões sobre bullying e
problemas psicológico em jovens, já que o autor havia sido ví-
tima de humilhações durante anos na escola.

Massacre de Suzano (2019)


Uns dos ataques que mais repercussão aconteceu em
13 de março de 2019, na Escola Estadual Professor Raul Bra-
sil, em Suzano, São Paulo. Luiz Henrique de Castro, de 25
anos, ex-alunos da escola e Guilherme Taucci Monteiro, de 17
anos, invadiram o local com armas, matando cinco estudantes
e dois funcionários, além de deixarem várias pessoas feridas.
Depois do ataque, ambos se suicidaram. Esse caso surgiu vá-

156
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

rias questões sobre o acesso a armas, a radicalização de jo-


vens na internet, e a influência de massacres anteriores, como
o de Columbine, nos Estados Unidos.

Ataque em Saudades (2021)


O agressor de Saudades não era ex-aluno, o ataque foi
relevante por sua brutalidade. Em 4 de maio de 2021, Santa
Catarina, Fabiano Kipper Mai, de 18 anos, invadiu uma creche
com uma faca e matou duas professoras e crianças matou três
crianças. Ele não tinha nenhuma ligação direta com a escola,
mas o ataque mostrou que as escolas ainda têm fragilidade de
segurança em instituições de ensino, mesmo em locais tran-
quilos.
Nos dos últimos anos, os ataques a escolas no Brasil
tiveram um aumentou bastante significativo, com mais de 4
ataques fatais registrados desde setembro de 2022 até o co-
meço de 2023.

Ataque em Araucária, Paraná (2022)


Em 19 de setembro de 2022, um ex-aluno de 21 anos
invadiu o Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em
Araucária, na região metropolitana de Curitiba, e esfaqueou
três estudantes. O agressor, era ex-aluno da instituição, entrou
na escola com uma faca e atacou as vítimas na sala de aula.

157
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O caso gerou grande repercussão, e a polícia investigou rela-


tos de que o jovem tinha problemas psicológicos e teria sido
alvo de bullying durante enquanto estudava na escola.

Ataque em Barreiras, Bahia (2022)


Em 26 de setembro de 2022, um ex-aluno armado in-
vadiu o Colégio Municipal Eurides Sant’Anna, em Barreiras,
com uma arma e fez disparos que resultaram na morte de uma
estudante de 19 anos. O agressor, que tinha apenas 20 anos
através de investigações tinha frequentado a escola e plane-
jou o ataque com o objetivo de se vingar de alunos e profes-
sores. O ataque foi interrompido pela ação rápida de seguran-
ças da instituição.

Ataque em Aracruz, Espírito Santo (2022)


Em 25 de novembro de 2022, um ex-aluno de 16 anos
invadiu não apenas uma mais duas escola no município de
Aracruz, no Espírito Santo, matando quatro pessoas e ferindo
várias outras. O jovem primeiro entrou na Escola Estadual
Primo Bitti, onde era ex-aluno, atirando contra funcionários e
alunos, e depois se dirigiu a uma escola particular nas proxi-
midades, onde continuou o ataque. O agressor foi detido pela
polícia depois de horas. O caso levantou questões sobre

158
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

acesso a armas de fogo e a radicalização online, já que o jo-


vem tinha ligações com grupos extremistas nas redes sociais.

Ataque em São Paulo (2023)


Em 27 de março de 2023, um ex-aluno de 13 anos inva-
diu a Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, com
uma faca e esfaqueou uma professora de 71 anos, que morreu
no local, além de ter ferido outros professores e alunos. O caso
chamou a atenção pelo perfil jovem do agressor, e as investi-
gações indicaram que ele poderia ter sido influenciado por
conteúdo violento encontrado na internet. O ataque foi rápido,
mas trouxe à tona toda essa discussão sobre acesso a armas
brancas, o bullying e exclusão social sobre jovens, já que o
agressor havia relatado sofrer com isolamento e problemas
psicológicos.

Tentativa de Ataque em Sobral, Ceará (2023)


Em maio de 2023, a polícia evitou um possível ataque
em uma escola de Sobral, no Ceará, quando um ex-aluno de
15 anos foi encontrado com armas e planos de realizar um
ataque contra colegas. Os policiais descobriram mensagens
trocadas pelo jovem em redes sociais onde ele falava sua in-
tenção de imitar ataques anteriores, o que destacou o papel

159
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

das redes sociais na radicalização de jovens e no planeja-


mento desses acontecimentos.

5.2 MEDIDAS DE PROTEÇÃO QUE AS ESCOLAS PODEM


TOMAR PARA EVITAR ESSE TIPO DE ATAQUE

O objetivo principal do Grupo de Trabalho de Especialis-


tas em Violências nas Escolas é apresentar políticas públicas.
Após as colaborações coletivas foi possível fazer tanto as pro-
postas de políticas públicas quanto as perspectivas de ação
para o defrontamento dos ataques às escolas brasileiras. Se-
gundo isso, é possível reconhecer e mencionar o caso no tra-
balho que vem sendo apresentado pelas autoridades públicas
para as soluções desses problemas.
O Estado Brasileiro tem alguns esforços para a solução
desses problemas como: Ter monitoramentos das plataformas
e redes sociais da internet e tentar combater os comportamen-
tos de ódio e discurso de ódio, enfrentar, vários grupos extre-
mistas, segundo a lei. Fazer um detalhado e rigoroso controle
de armas de fogo e ter ações para analisar clubes de tiros e
parecidos, e também proibindo as crianças a ter acesso a ar-
mas de fogo, proibir que adolescentes e crianças frequentem
clubes de tiros e tenham acesso a armas de fogo, assegurar
que as escolas brasileiras tenham que funcionar segundo os

160
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

dos princípios constitucionais, com profissionais da educação


adequados, infraestrutura estejam em condições adequadas
para os alunos aprenderem e os professores ensinarem
quando a escola tem condições para trabalhar , é possível di-
minuir o ódio e a intolerância, e tem que enriquecer a gestão
democrática da políticas sistemáticas e melhora a convivência
dos alunos no âmbito escolar.
Infelizmente, nos últimos anos, as escolas e sua falta
de segurança acabaram virado pauta de toda a sociedade,
tendo em visto que ocorreu várias notícias no brasil todo sobre
violência nas instituições. Fora atos de vandalismo e roubo,
que levam à destruição do âmbito escolar, brigas entre alunos
e agressões a funcionários tem ocorrido bastante. Porém as
ameaças vão além, podendo causar até mesmo morte. Inclu-
sive, boatos espalhados pelas redes sociais que faz crescer
ainda mais o problema, mudando toda a rotina educacional de
alunos e dos profissionais das escolas, prejudicando o mo-
mento de ensino e aprendizagem.
Garantir a formação de professores em o enfrenta-
mento da violência e a convivência que possam ser debatida
e proporcionar políticas de saúde mental com ajuda dos psi-
cólogos nas escolas, ajudando todo âmbito escolar. Carolina
Ricardo avalia que:

161
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Parte importante do problema é a facilitação do


acesso às armas no Brasil. Embora não seja
nada comparável ao quão fácil é comprar uma
arma nos Estados Unidos, por exemplo, nos últi-
mos anos, se facilitou e incentivou muito o uso
de armas. Para alguns, as armas passaram a ser
vistas como fator de prestígio. (2023).

Fora essas questões estruturais, tem que aumentar o lu-


gar de inteligência e fixar ações federativas sobre este tema.
Portanto, para superar as emergências as urgências, é funda-
mental aprofunda-se nas ações para a melhorar a vivência na
escola e ter a resolução sem conflitos no ambiente escolar,
falar bastante sobre a saúde mental dos alunos e profissionais
da educação, e tentar passar a educação crítica nas mídias.
A educação é o ponto principal para o processo de de-
senvolvimento do ser humano e, então, é um fator de constru-
ção de saúde mental. Segundo a Organização Mundial de Sa-
úde, saúde mental tem sido vista como:

Estado de bem-estar no qual os indivíduos pos-


suem as condições necessárias para alcançar
todo seu potencial de desenvolvimento, sendo
capazes de lidar com o estresse normal da vida,
trabalhar[estudar] de forma produtiva e frutífera e
ser capaz de contribuir para suas comunidades.
(WHO, 2022).

A escola ter um plano de segurança bem estruturado é


superimportante, e que todos os alunos, professores e funcio-
nários estejam em segurança e ciente desse plano.

162
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

O plano de segurança deve ter medidas para lidar e pre-


venir com várias situações como, incêndios, ataques e desa-
bamentos, desabamento. Fora isso, o plano de segurança
deve ser renovado sempre, vendo as considerações das ne-
cessidades e particularidades do âmbito escolar. É alentado
que seja testado o plano em situações simuladas, para que
todos os envolvidos saibam como fazer e agir em caso de
emergência.
Em um pensamento psicossocial, saúde mental pode
ser vista não como um estado, que mostra subsistência, po-
rem como um processo, que se conecta com as experiências
concretas da vida do sujeito, no meio na dinâmica social e na
cultura. Não se trata de um estado contínuo de bem-estar, mas
sim da consciência das próprias limitações e desafios, além da
procura por soluções, apoio e mudanças nas circunstâncias
que geram dor. Envolve uma série de interações e iniciativas
tanto pessoais quanto em grupo.
Num contexto repleto de sofrimento, indignação e inqui-
etações, estudantes e educadores se deparam com um desa-
fio, sendo que as iniciativas e políticas implementadas pelo
governo ainda estão distantes de fomentar uma percepção co-
letiva sobre a importância da prevenção da saúde mental no
ambiente escolar, especialmente entre os alunos.
Segundo a psicopedagoga e psicanalista em saúde e

163
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

sociedade Cristiane Guedes, as escolas estão longe de esta-


rem preparadas para atender a qualquer tipo de necessidade
em se tratando de saúde mental.

Temos ótimas equipes pedagógicas, ótimos pro-


fessores que tentam de toda maneira fazer seu
trabalho a contento, mas uma máquina adminis-
trativa completamente ‘desconectada’ da reali-
dade do funcionamento saudável de uma escola
(Guedes, 2023).

As iniciativas conjuntas entre as secretarias de Educa-


ção e a direção das escolas em relação à saúde emocional
dos estudantes ficam à margem de intervenções de saúde
comportamental positiva, uma vez que, na maioria dos casos,
as situações de indisciplina ou comportamento inadequado
são abordadas com políticas punitivas que, na maioria das ve-
zes, têm pouco ou nenhum impacto na aprendizagem social e
emocional.
O processo de desenvolvimento completo dos alunos é
intrincado e influenciado por várias facetas da vida real em que
estão inseridos. Assim, assumir imediatamente a responsabi-
lidade pela violência escolar contra alunos com problemas,
transtornos ou condições de doenças mentais é abordar o
tema de forma simplista, sem uma perspectiva abrangente.
Em alguns lugares (em especial, a mídia) têm tido um

164
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

grande foco particular de maior problema ao associar o acon-


tecimento de ataques às escolas com a existência de algum
transtorno mental no agressor.
Esta associação não é boa e pode ser bem perigosa,
pois, não se baseia em informações confiáveis, mas frequen-
temente apenas em relatos ou boatos, simplifica um problema
complexo e multideterminado a questões pessoais. Isso re-
sulta em uma abordagem simplificada para um fenômeno
complexo. Parte-se do equívoco de que indivíduos diagnosti-
cados com transtornos mentais seriam mais propensos a co-
meter atos de violência extrema, ignorando que a vasta maio-
ria dos indivíduos diagnosticados não são particularmente vi-
olentos.
Desconsidera o fato de que saúde e doença são um
contínuo, frequentemente permeado de sofrimento psíquico,
reforçando o preconceito contra indivíduos diagnosticados, di-
ficultando que indivíduos em aflição procurem a assistência
adequada. Inicia com a ideia errônea de que as agressões
ocorridas na e contra a escola são apenas questões pessoais,
sem conexão com a dinâmica escolar.
Combater o estigma é crucial para evitar a formação de
uma classificação rígida ou equivocada dos autores de ata-
ques violentos contra escolas. Estudos internacionais e a aná-

165
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

lise de casos brasileiros mostram que as motivações são di-


versas, embora este relatório organize o que é comum no fe-
nômeno.
No entanto, é indiscutível que a elevação do sofrimento
mental atingiu níveis alarmantes e uma parte dessa questão
está ligada ao aumento do uso de tecnologias e redes sociais.
Uma vivência intermediada por plataformas privadas, que
através de algoritmos formam grupos de interesse próximos,
visando segmentar potenciais consumidores. Isso resulta em
pouca convivência com a diversidade e facilita o avanço da
intolerância ao diferente e dos discursos de ódio.
Este é um caldo cultural que molda a nossa época e
pode ser uma fonte de motivações, considerando que a maio-
ria dos autores de ataques às escolas tinha vínculos com a
instituição (aluno, ex-aluno) e, frequentemente, expressava
rancor por alguma experiência passada.
Ao discutirmos o papel da saúde mental nos ataques
violentos às escolas, é necessário entendê-lo dentro de um
contexto mais amplo de prevenção. Em 2019, o Congresso
Nacional sancionou a Lei no 13.935/2019, que estabelece que
as redes de educação básica devem dispor de serviços de psi-
cologia e serviço social para atender às necessidades e prio-
ridades estabelecidas pelas políticas educacionais, através de
equipes multidisciplinares, de maneira contínua e integrada às

166
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

políticas educacionais dos estados e municípios. Lamentavel-


mente, a regulamentação e a implementação da Lei no
13.935/2019 ainda representam grandes obstáculos.

5.3 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA VIGENTE PARA COIBIR


QUEM COMETE ESSES ATAQUES

O artigo 6 da Constituição Federal de 1988 estabelece


a educação como um direito social, essencial à condição hu-
mana e vital para o desenvolvimento integral da vida e da dig-
nidade. Já o artigo 205 reafirma que a educação é um direito
de todos e uma responsabilidade tanto do Estado quanto da
família, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento
completo do indivíduo, sua preparação para a cidadania e sua
capacitação para o trabalho.
O artigo 227 da Constituição Federal de 1988 estabe-
lece que a proteção total à infância e à adolescência é uma
responsabilidade da família, da sociedade e do Estado. Ele
determina que os direitos dessas pessoas devem ser garanti-
dos com prioridade máxima, incluindo, além da vida, saúde,
alimentação e educação, aspectos como dignidade, respeito,
liberdade, lazer, cultura e a convivência com a família e a co-
munidade.

167
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A proteção dos direitos das crianças e dos adolescen-


tes é assegurada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), criado pela Lei nº 8.069/1990. O ECA reconhece esses
jovens como portadores de direitos e define a obrigação do
Estado, da família e da sociedade em proteger e promover tais
direitos. Nesse contexto, o artigo 53 do ECA estabelece que
crianças e adolescentes têm o direito à proteção da vida e da
saúde, por meio da implementação de políticas públicas que
garantam o acesso a serviços públicos de qualidade, como
instituições de ensino seguras e protegidas.
No Brasil, existem várias leis para prevenir ataques em
escolas, tanto no âmbito penal quanto preventivo, voltadas
para a responsabilização dos responsáveis e a prevenção de
novos incidentes. Algumas das leis e medidas mais relevantes
incluem:

Lei 13.260/2016 - Lei Antiterrorismo: Apesar de o Brasil


não possuir uma definição precisa de ataques a escolas como
atos terroristas, essa legislação estabelece punições mais se-
veras para ações que causem pânico em larga escala na so-
ciedade, o que pode ser aplicado para classificar ataques com
essa característica.

Lei de Execução Penal: Após serem condenados, os

168
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

responsáveis por ataques podem ser punidos com reclusão,


progressão de regime e outras ações de reintegração social.

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): Se o


infrator for menor, o ECA estabelece as penalidades e ações
socioeducativas a serem implementadas. Adolescentes (com
idade entre 12 e 18 anos) podem ser responsabilizados por
delitos, porém são submetidos a ações socioeducativas, como
internação em instituições adequadas, ao invés de cumprir pe-
nas em prisões.

Lei de Execução Penal: Após serem condenados, os


responsáveis por ataques podem ser punidos com reclusão,
progressão de regime e outras ações de reintegração social.

Código Penal do Brasil: Ataques a instituições de en-


sino podem ser enquadrados em várias infrações penalmente
previstas, incluindo homicídio (artigo 121), lesão corporal (ar-
tigo 129) e delitos contra a segurança pública. Os castigos po-
dem diferir conforme a severidade do ato, a idade do infrator e
as circunstâncias.

Portaria 876/2019 do Ministério da Justiça: Esta por-


taria estabelece a formação de uma rede nacional de combate

169
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

à violência escolar, possibilitando a união de forças de segu-


rança, com o objetivo de prevenir e reprimir ataques violentos
em estabelecimentos educacionais.
Programas de prevenção e campanhas educativas:
Além de ações penais, existem esforços para prevenir a vio-
lência escolar através de campanhas e programas educativos,
como o Programa Nacional de Segurança nas Escolas, que
tem como objetivo unir forças de segurança, escolas e comu-
nidades para reconhecer riscos e evitar ataques. A discussão
sobre a elaboração de leis mais severas e a execução de me-
didas preventivas é constante, com sugestões direcionadas ao
rastreamento de redes sociais e ao aumento da segurança nas
instituições de ensino.
Tadeu Martins Leite (MDB), governador interino e presi-
dente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG),
sancionou a Lei 24.315, de 2023, que estabelece a implemen-
tação de ações voltadas para a defesa civil e a prevenção e
atenuação dos impactos de acidentes e atos violentos nas ins-
tituições de ensino público do Estado. A decisão foi divulgada
no Diário Oficial de Minas Gerais (9/5/23).
O Projeto de Lei (PL) 993/19, proposto pelo deputado
Sargento Rodrigues (PL), foi aprovado definitivamente em se-
gundo turno na Reunião Ordinária do Plenário ocorrida no dia
12 de abril. No seu texto, a nova lei estabelece, já no segundo

170
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

artigo, os seguintes objetivos:

✓ Incentivar a formação e o treinamento de estu-


dantes e educadores em procedimentos de pre-
venção e emergência para situações de desas-
tres, acidentes e comportamentos violentos;
✓ Promover a elaboração de campanhas informa-
tivas sobre as medidas de defesa civil e a pre-
venção e atenuação dos impactos de acidentes
e atos violentos nas instituições de ensino da
rede pública estadual;
✓ Sensibilizar os integrantes da comunidade esco-
lar sobre a relevância dos tópicos ligados à per-
cepção de riscos e métodos de prevenção de de-
sastres, acidentes e atos violentos no contexto
escolar e familiar, bem como em outros locais
vistos como vulneráveis. Aumentar as medidas
preventivas de segurança contra desastres em
escolas localizadas em regiões de risco;
✓ Promover a criação de grupos de emergência e
equipes de monitores para assistência especiali-
zada em situações de risco de desastres, aci-
dentes e comportamentos violentos no contexto
escolar;
✓ A Lei 24.315/23 também define as orientações
para as ações em seu terceiro artigo:
✓ A criação de métodos de treinamento que esti-
mulem a participação dos estudantes em proce-
dimentos de prevenção e emergência em situa-
ções de desastres, acidentes e atos violentos no
contexto escolar, a disseminação de informa-
ções sobre as medidas de defesa civil e a pre-
venção e atenuação dos impactos de acidentes

171
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

e atos violentos nas instituições de ensino;


✓ A execução regular de exercícios simulados para
praticar os procedimentos aprendidos, o estabe-
lecimento de parcerias intersetoriais com entida-
des públicas, organizações privadas sem fins lu-
crativos ou voluntários, com o objetivo de maxi-
mizar o uso de recursos humanos qualificados e
reduzir os gastos das atividades.

A manutenção e regularidade das atividades ligadas à


defesa civil e à prevenção de acidentes e atos violentos nas
escolas, a cooperação entre os sistemas municipais e estadu-
ais de ensino, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar
na execução das medidas de prevenção e atenuação dos im-
pactos de acidentes e atos violentos no contexto escolar.
A coordenação entre os sistemas municipais e estadu-
ais de ensino, a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar
na execução de medidas de prevenção e atenuação dos im-
pactos de acidentes e atos violentos no contexto escolar.
A lei que obriga o Poder Executivo a estabelecer um
serviço de monitoramento de casos de violência escolar foi
sancionada sem vetos pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
A Lei 14.643/23, publicada no Diário Oficial da União,
estabelece que o serviço, conhecido como Sistema Nacional
de Acompanhamento e Combate à Violência nas Escolas

172
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

(Snave), seja estabelecido pelo governo federal, em colabora-


ção com os estados, municípios e o Distrito Federal.
O Projeto de Lei 1372/22, de autoria do ex-parlamentar
Paulo Bengtson (PA), foi aprovado tanto na Câmara dos De-
putados quanto no Senado em julho do ano passado. O Con-
gresso aprovou a norma como uma reação a episódios recen-
tes de violência escolar, como o ataque a uma creche em Blu-
menau (SC), que resultou na morte de quatro crianças de 4 a
7 anos.

Intimidação sistemática (bullying)


Art.146-A. Intimidar sistematicamente, individual-
mente ou em grupo, mediante violência física ou
psicológica, uma ou mais pessoas, de modo in-
tencional e repetitivo, sem motivação evidente,
por meio de atos de intimidação, de humilhação
ou de discriminação ou de ações verbais, morais,
sexuais, sociais, psicológicas, físicas, materiais
ou virtuais:
Pena – multa, se a conduta não constituir crime
mais grave.
Intimidação sistemática virtual (cyberbullying)
Parágrafo único. Se a conduta é realizada por
meio da rede de computadores, de rede social,
de aplicativos, de jogos on-line ou por qualquer
outro meio ou ambiente digital, ou transmitida em
tempo real:
Pena – reclusão, de 2 (dois) anos a 4 (quatro)
anos, e multa, se a conduta não constituir crime
mais grave (Brasil, 2022).

A iniciativa da Lei 14.811/2024, que estabeleceu medi-

173
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

das de proteção para crianças e adolescentes contra a violên-


cia em instituições de ensino ou similares, é digna de aplau-
sos.
Finalmente, adota uma luta específica contra o bullying
e o cyberbullying, trazendo progressos significativos na prote-
ção das vítimas e na sensibilização da sociedade sobre essa
prática danosa amplamente disseminada, especialmente em
contextos escolares. Adota-se uma estratégia específica que
traz progressos significativos na defesa das vítimas e na sen-
sibilização da sociedade sobre essas práticas prejudiciais, es-
pecialmente disseminadas em contextos escolares, além de
criminalizá-las.
Lamentavelmente, as taxas dessa atividade criminosa
são alarmantes, tanto no Brasil quanto no exterior. De acordo
com informações da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar
(PeNSE) e do IBGE, mais de 40% dos alunos adolescentes do
Brasil sofrem bullying na escola. Aliás, a mídia convencional
tem se dedicado intensamente a essa questão, divulgando os
casos recorrentes e indesejados de bullying no ambiente es-
colar, gerando grandes desafios para as famílias desses jo-
vens em particular e gerando grande preocupação para a so-
ciedade em geral.

174
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A agressão nas instituições de ensino no Brasil é uma


questão intricada e diversificada, resultante de vários fatores,
incluindo desigualdades sociais, políticas educacionais inefi-
cazes, deterioração das infraestruturas escolares e a desvalo-
rização dos educadores. Esse fenômeno é frequentemente
manifesto por estudantes e ex-estudantes, que o externalizam
como uma resposta a fracassos e a violências do dia a dia.
É fundamental destacar que tais atos violentos resultam
de uma sociedade enferma, que ignora a educação e o bem-
estar mental de sua juventude. De acordo com a Organização
Mundial da Saúde (OMS), entre 10% e 20% dos jovens global-
mente enfrentam questões de saúde mental. Esses distúrbios
incluem ansiedade, depressão e problemas alimentares. Além
disso, o bullying, uma questão frequente entre os adolescen-
tes, muitas vezes se relaciona a comportamentos violentos.
Um estudo realizado nos Estados Unidos indicou que aproxi-
madamente 20% dos alunos do ensino médio relataram ter
sido alvos de bullying.
Para lidar com essa questão, é crucial adotar uma pers-
pectiva integral que inclua a melhoria das condições educaci-
onais, a administração democrática das escolas e sistemas

175
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

educacionais, o respeito aos direitos humanos e a dissemina-


ção de uma cultura de paz e tolerância na sociedade e nas
instituições de ensino. As políticas governamentais devem se
concentrar na salvaguarda da comunidade escolar e no con-
trole e luta contra a utilização de armas pela população em
geral. Ademais, é crucial regulamentar e controlar discursos
de ódio na internet para combater a propagação de ações ex-
tremistas.
É crucial investir em políticas públicas que fomentem a
educação de alto padrão e, sobretudo, fortaleçam o apoio à
saúde mental dos jovens. Sim, devemos ter a convicção de
que as escolas devem ser ambientes seguros e receptivos,
onde os estudantes possam aprimorar suas competências e
talentos, sem o receio de serem vítimas de violência. Assim,
torna-se essencial fomentar o diálogo e a cultura de paz como
vias para a formação de uma sociedade mais equitativa e
unida.

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181
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

6
TRABALHO EM CONDIÇÕES ANÁLOGAS À
ESCRAVIDÃO DOS SERRADORES DE MADEIRA

WORK IN CONDITIONS SIMILAR TO


SLAVERY AMONG WOOD SAWERS

Ronária Serafim de Paiva11


Williane Tiburcio Facundes12

PAIVA, Ronária Serafim de; FACUNDES, Williane Tiburcio.


Trabalho em condições análogas à escravidão dos serra-
dores de madeira. Trabalho de Conclusão de Curso de gra-
duação em Direito – Centro Universitário UNINORTE, Rio
Branco. 2025.

11
Discente do 9º período do curso de bacharelado em Direito pelo Centro
Universitário Uninorte.
12
Docente do Centro Universitário Uninorte. Graduada em Direito pela
U:VERSE. Graduada em Letras Vernáculas pela Universidade Federal do
Acre- UFAC. Especialista em Psicopedagogia pela Universidade Varzea-
grandense e Direito Digital pela Faculdade Metropolitana.

182
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

RESUMO

Introdução. O presente estudo aborda o Trabalho em condições


análogas à escravidão dos serradores de madeira, com foco no
histórico trabalhista desses profissionais, nas garantias jurídicas
existentes que os protegem e na eficácia dessas garantias como
forma de prevenção a essa prática. Objetivo. Diante desse con-
texto, o estudo busca compreender a aplicabilidade das leis tra-
balhistas e das medidas de combate ao trabalho análogo à es-
cravidão, avaliando a efetividade da legislação vigente e pro-
pondo soluções para fortalecer os mecanismos de proteção des-
ses trabalhadores. Método. Por meio do Embasamento teórico e
análise das normativas existentes, investigando os impactos da
legislação e das fiscalizações no combate a essa prática. Tam-
bém são considerados os estudos de casos e relatórios sobre a
exploração dos serradores de madeira, evidenciando os desafios
enfrentados na sua erradicação. Resultados. Apesar das garan-
tias legais previstas, muitos trabalhadores ainda são submetidos
a jornadas exaustivas, condições degradantes e até restrição de
liberdade, o que revela lacunas na aplicação das leis e comprova
que a prática do trabalho em condições análogas à escravidão
ainda persiste. Conclusão. Dessa forma, torna-se fundamental
fortalecer a fiscalização, garantir a aplicação rigorosa das leis e
intensificar os mecanismos de proteção, propiciando condições
de trabalho dignas para esses profissionais. Além disso, é essen-
cial investir em políticas públicas que promovam alternativas so-
cioeconômicas para os trabalhadores em situação de vulnerabi-
lidade, como capacitação profissional, incentivo à formalização
do trabalho e desenvolvimento sustentável da atividade madei-
reira. Assim, com uma combinação de fiscalização eficiente, a
aplicação efetiva da legislação e medidas preventivas torna-se
possível erradicar o trabalho análogo à escravidão.

Palavras-chaves: histórico trabalhista; direitos; garantias; legis-


lação; fiscalização.

183
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

ABSTRACT

Introduction. This study addresses the issue of slave-like


work among sawyers, focusing on the work history of these
professionals, the existing legal guarantees that protect them,
and the effectiveness of these guarantees as a way to prevent
this practice. Objective. Given this context, the study seeks to
understand the applicability of labor laws and measures to
combat slave-like work, assessing the effectiveness of current
legislation and proposing solutions to strengthen the protection
mechanisms for these workers. Method. Through theoretical
basis and analysis of existing regulations, investigating the im-
pacts of legislation and inspections in combating this practice.
Case studies and reports on the exploitation of sawyers are
also considered, highlighting the challenges faced in its eradi-
cation. Results. Despite the legal guarantees provided, many
workers are still subjected to exhausting workdays, degrading
conditions, and even restriction of freedom, which reveals gaps
in the application of laws and proves that the practice of work
in slave-like conditions still persists. Conclusion. Therefore, it
is essential to strengthen oversight, ensure strict enforcement
of laws and intensify protection mechanisms, providing decent
working conditions for these professionals. Furthermore, it is
essential to invest in public policies that promote socioeco-
nomic alternatives for workers in vulnerable situations, such as
professional training, incentives for formal employment and
sustainable development of the timber industry. Thus, with a
combination of efficient oversight, effective enforcement of leg-
islation and preventive measures, it becomes possible to erad-
icate slave-like labor.

Keywords: labor history; rights; guarantees; legislation; in-


spection.

184
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

INTRODUÇÃO

O presente artigo discutirá sobre a crescente necessi-


dade de promover soluções eficazes para a extinção do traba-
lho análogo a escravidão, que ainda subsiste como uma reali-
dade terrível e desumana em diversos setores, inclusive na
indústria madeireira no Brasil. Essa adversidade retrata um
desafio contínuo tanto para os operadores do Direito, como
para o Estado e a Sociedade em geral. Nesse cenário, a cria-
ção de políticas públicas e o estímulo da fiscalização pelo po-
der público são medidas determinantes para combater essas
práticas ilegais, propiciar a cidadania e garantir os direitos hu-
manos fundamentais e trabalhistas. Tem como finalidade es-
tudar o fenômeno do trabalho em condições análogo à escra-
vidão entre os serradores de madeira e as respostas do orde-
namento jurídico para erradicá-lo.
O item de pesquisa que norteia este estudo é: o histó-
rico trabalhista dos serradores de madeira, as garantias jurídi-
cas existentes que os protegem e a eficácia dessas garantias
jurídicas na legislação na prevenção ao trabalho análogo à es-
cravidão. Para responder a essas indagações, foi elaborada
uma vasta pesquisa bibliográfica sobre o tema, versando so-

185
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

bre os aspectos históricos, legais e práticos relativos ao traba-


lho na indústria madeireira e seus reflexos, sejam eles positi-
vos ou negativos.
O crescimento das denúncias e flagrantes de condições
análogas à escravidão na extração de madeira, associado à
insuficiente estrutura de fiscalização e à precariedade das con-
dições de trabalho, comprovou a necessidade de uma mu-
dança extrema na abordagem quanto a esse problema.
Em suma, o presente trabalho pretende contribuir para
o debate acerca do tema trabalho análogo à escravidão entre
os serradores de madeira no Brasil, tendo como público-alvo
não só os operadores do Direito, ou os agentes públicos, mas,
a sociedade como um todo. Além disso, visa fornecer meios
para uma melhor compreensão das potencialidades e desafios
associados à erradicação do trabalho em condições análogo
à escravidão, particularmente no setor madeireiro.

6.1 HISTÓRICO TRABALHISTA DOS SERRADORES DE


MADEIRA

Os serradores de madeira, também conhecidos como


lenhadores ou madeireiros, desempenharam um papel crucial
na exploração e desenvolvimento de recursos florestais ao

186
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

longo da história. No Brasil o histórico trabalhista dos serrado-


res de madeira é marcado por um ciclo de exploração, desen-
volvimento, sindicalização e modernização, influenciados pe-
las características socioeconômicas e ambientais do país. A
seguir, um panorama desse histórico:

6.1.1 PERÍODO COLONIAL E IMPÉRIO (1500-1889)

Exploração Inicial: Durante o período colonial, a ex-


ploração das florestas brasileiras era realizada principalmente
para atender às demandas da metrópole portuguesa.
A madeira, especialmente o pau-brasil, era um dos re-
cursos mais valiosos. Os trabalhadores que atuavam como
serradores eram geralmente indígenas e escravos africanos,
submetidos a condições de trabalho extremamente precárias,
sem qualquer direito trabalhista.

Atividades Florestais: Com o desenvolvimento das ci-


dades e a expansão da agricultura, a demanda por madeira
aumentou para construção e como combustível. O trabalho
dos serradores de madeira era duro e realizado manualmente,
sem proteção ou equipamentos adequados.

187
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

6.1.2 PRIMEIRA REPÚBLICA E ERA VARGAS (1889-1945)

Expansão da Fronteira Agrícola: Durante a Primeira


República, a expansão da fronteira agrícola e a urbanização
intensificaram a exploração florestal. Serradores de madeira,
muitos deles imigrantes europeus, atuavam em serrarias e no
corte de madeira nas florestas, geralmente na Mata Atlântica
e na Amazônia.

Surgimento dos Direitos Trabalhistas: A Era Vargas


trouxe mudanças significativas para os trabalhadores no Bra-
sil. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), promulgada
em 1943, começou a regulamentar as condições de trabalho,
estabelecendo direitos como salário mínimo, jornada de traba-
lho de 8 horas e férias remuneradas. No entanto, a aplicação
dessas leis nas áreas florestais remotas era limitada.

6.1.3 DÉCADAS DE 1950 E 1960

Crescimento Industrial e Migração: A industrialização


e o crescimento das cidades levaram à maior demanda por
madeira, usada na construção civil e em indústrias. Durante
esse período, muitos trabalhadores migraram para áreas de

188
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

exploração florestal na Amazônia, como parte de programas


de colonização incentivados pelo governo.
As condições de trabalho para os serradores eram difí-
ceis, com pouca infraestrutura e altos índices de acidentes.

Sindicalização: Surgiram os primeiros sindicatos de


trabalhadores florestais, que começaram a lutar por melhores
condições de trabalho, salários justos e segurança. No en-
tanto, a repressão política durante a ditadura militar (1964-
1985) dificultou as atividades sindicais.

6.1.3 DÉCADAS DE 1970 E 1980

Desenvolvimento da Amazônia: Durante o regime mi-


litar, houve uma forte pressão para o desenvolvimento da
Amazônia, com a construção de estradas como a Transama-
zônica e incentivos à exploração madeireira.
A migração de trabalhadores para essas áreas cresceu,
mas as condições de trabalho permaneciam precárias, com
baixos salários, falta de segurança e ausência de direitos tra-
balhistas em muitas regiões.

189
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Abertura e Movimentos Sociais: Com a abertura po-


lítica nos anos 1980, os movimentos sociais e sindicais ganha-
ram força. Trabalhadores florestais, incluindo serradores de
madeira, começaram a se organizar mais efetivamente, exi-
gindo o cumprimento dos direitos previstos na CLT e melhorias
nas condições de trabalho.

6.1.5 DÉCADAS DE 1990 EM DIANTE

Sustentabilidade e Mudanças na Indústria: Com o


aumento da conscientização ambiental e a pressão internaci-
onal, a exploração madeireira começou a ser mais regulada,
com o manejo florestal sustentável ganhando destaque. No
entanto, a exploração ilegal de madeira e as más condições
de trabalho continuaram a serem problemas graves, especial-
mente na Amazônia.

Modernização e Desafios Atuais: Nos anos 2000, a


introdução de tecnologias mais avançadas, como serras elé-
tricas e sistemas de monitoramento digital, mudou a natureza
do trabalho dos serradores. As condições de trabalho melho-
raram em algumas regiões, mas a informalidade e o trabalho
precarizado ainda são comuns, principalmente em áreas de
exploração ilegal.

190
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Condições de Trabalho: Hoje, os serradores de ma-


deira no Brasil enfrentam um cenário misto: enquanto em al-
gumas áreas há avanços significativos na regulamentação e
nas condições de trabalho, em outras, especialmente na Ama-
zônia, ainda existem desafios como exploração ilegal, falta de
direitos e condições de trabalho insalubres e perigosas.

É muito triste, mas os dados oficiais revelam que


o Nordeste disponibiliza 90% da mão-de-obra es-
crava do país. Homens que saem do interior de
Estados como Maranhão, Piauí, Rio Grande do
Norte e Paraíba e vão trabalhar na agricultura e
na pecuária principalmente na região Norte, pri-
vados da liberdade e em condições sanitárias tão
precárias que acabam causando doenças e até
a morte. (Sivers, 2006).

O histórico trabalhista dos serradores de madeira no


Brasil reflete a complexidade das relações de trabalho no país,
influenciada por fatores econômicos, sociais e ambientais.
Embora tenha havido progressos significativos na formaliza-
ção do trabalho e na implementação de normas de segurança,
os desafios persistem, visto que muitos serradores de madeira
ainda atuam em condições precárias.
A informalidade é um dos principais desafios, agravada
pela dificuldade de fiscalização em áreas remotas e de difícil
acesso, bem como pela ausência de contratos formais de tra-
balho, o que leva a situações de exploração, onde os direitos

191
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

trabalhistas são frequentemente ignorados, resultando em lon-


gas jornadas de trabalho, baixos salários, e a falta de acesso
a benefícios como seguro social e assistência médica.
Além disso, a atividade de serragem de madeira está
intrinsecamente ligada às questões ambientais, uma vez que
muitas vezes ocorre em áreas de desmatamento ilegal. Esse
cenário contribui para a perpetuação de práticas insustentá-
veis que não só prejudicam o meio ambiente, mas também
afetam diretamente as condições de trabalho dos serradores.
A falta de controle nessas áreas aumenta o risco de acidentes
e doenças ocupacionais, tornando a atividade ainda mais pe-
rigosa.
Os esforços para melhorar as condições de trabalho
dos serradores de madeira incluem a criação e o fortaleci-
mento de políticas públicas que incentivem a formalização do
emprego e garantam a aplicação das Normas Regulamenta-
doras, como a NR 12, que estabelece requisitos de segurança
para o uso de máquinas e equipamentos. Além disso, é fun-
damental promover ações integradas que combinem a prote-
ção dos trabalhadores com a preservação ambiental, garan-
tindo um desenvolvimento sustentável para as comunidades
envolvidas na atividade madeireira.
Destarte, apesar dos avanços, é claro que ainda há
muito a ser feito para assegurar que os direitos dos serradores

192
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de madeira sejam plenamente respeitados, e que as práticas


de exploração sejam erradicadas. A melhoria das condições
de trabalho nesse setor é crucial para o desenvolvimento eco-
nômico e social do Brasil, especialmente nas regiões mais vul-
neráveis.

6.2 GARANTIAS JURÍDICAS EXISTENTES QUE PROTE-


GEM OS SERRADORES DE MADEIRA

As garantias jurídicas que protegem os serradores de


madeira podem variar conforme o país e a legislação aplicável,
mas, de forma geral, estão inseridas em normativas trabalhis-
tas, ambientais e de saúde e segurança no trabalho. No Brasil,
por exemplo, essas garantias são previstas por leis federais e
convenções internacionais ratificadas. Aqui estão algumas
das principais garantias jurídicas

6.2.1 DIREITOS TRABALHISTAS

CLT (Consolidação das Leis do Trabalho): Regula os


direitos trabalhistas dos empregados, inclusive dos trabalha-
dores do setor madeireiro. Garante salário mínimo, férias, 13º
salário, jornada de trabalho limitada e adicional de horas ex-
tras.

193
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço):


Prevê o depósito mensal por parte do empregador para asse-
gurar ao trabalhador uma reserva em caso de demissão sem
justa causa.

Seguro-desemprego: Em caso de demissão involun-


tária, os serradores têm direito ao seguro-desemprego para
garantir subsistência por um período determinado.

6.2.2 SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

Normas Regulamentadoras (NRs): As normas do Mi-


nistério do Trabalho estabelecem regras para a proteção da
saúde e segurança dos trabalhadores. A NR-12, por exemplo,
trata da segurança no trabalho em máquinas e equipamentos,
o que é especialmente relevante para serradores de madeira,
que operam máquinas de corte.

Equipamentos de Proteção Individual (EPIs): É obri-


gação de o empregador fornecer EPIs adequados, como lu-
vas, protetores auditivos, óculos de segurança e capacetes,
para proteger os serradores contra os riscos de acidentes.

194
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

6.2.3 PREVIDÊNCIA SOCIAL

Aposentadoria Especial: Os trabalhadores expostos a


condições insalubres ou perigosas, como os serradores, po-
dem ter direito à aposentadoria especial, que exige menos
tempo de contribuição.

Benefícios em Caso de Acidente de Trabalho: Em


caso de acidente de trabalho, o empregado tem direito ao au-
xílio-doença acidentário e, em caso de incapacidade perma-
nente, à aposentadoria por invalidez.

6.2.4 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

Código Florestal: Estabelece as regras para a explo-


ração sustentável de madeira, garantindo que os serradores
não sejam submetidos a condições de trabalho em atividades
ilegais. A exploração sustentável visa evitar que o trabalhador
seja envolvido em práticas ambientais ilícitas, que poderiam
resultar em penalizações.

Licenças Ambientais: As serrarias devem seguir as


normas de licenciamento ambiental, o que implica em contro-
les rigorosos de manejo florestal, evitando riscos ambientais
que possam afetar diretamente os trabalhadores.

195
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

6.2.5 CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

Convenção 155 da OIT (Organização Internacional


do Trabalho): Trata de segurança e saúde no ambiente de
trabalho, incluindo a prevenção de acidentes e a proteção con-
tra doenças ocupacionais.

Convenção 87 da OIT: Garante a liberdade sindical e


a proteção do direito de organização, permitindo que os serra-
dores se sindicalizem para lutar por melhores condições de
trabalho e negociar coletivamente com seus empregadores.

6.2.6 COMBATE AO TRABALHO ESCRAVO E INFANTIL

Art. 149 do Código Penal Brasileiro: Criminaliza o tra-


balho em condições análogas à escravidão, e há forte fiscali-
zação em áreas de exploração madeireira para combater es-
sas práticas.

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): Proíbe


o trabalho infantil, garantindo que menores de 18 anos não
sejam empregados em atividades perigosas como a serragem
de madeira.

196
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

A legislação trabalhista, as normas de segurança e sa-


úde, e a fiscalização do cumprimento das regras ambientais e
de combate ao trabalho escravo, contribuem para a criação de
um ambiente de trabalho mais seguro e justo. Contudo, é es-
sencial que haja uma fiscalização contínua e eficiente, assim
como a conscientização dos trabalhadores sobre seus direi-
tos, para que essas proteções sejam efetivas na prática e o
setor madeireiro opere de maneira ética e sustentável.
Desse modo, todas essas garantias visam proteger os
direitos e a integridade física dos trabalhadores da indústria
madeireira, além de assegurar que suas condições de traba-
lho estejam dentro das normas legais e de segurança estabe-
lecidas.

6.3 A EFICÁCIA DAS GARANTIAS JURÍDICAS NA LEGIS-


LAÇÃO NA PREVENÇÃO AO TRABALHO ANÁLOGO À ES-
CRAVIDÃO

A eficácia das garantias jurídicas na prevenção ao tra-


balho análogo à escravidão, especialmente no Brasil, é um
tema crucial que envolve a aplicação de diversas normativas
legais, a atuação de órgãos fiscalizadores e o compromisso
das empresas e da sociedade civil.

197
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Constituição Federal de 1988: O artigo 5º, inciso III, pro-


íbe expressamente qualquer forma de tratamento degradante
ou condições análogas à escravidão. Esse dispositivo é fun-
damental para a proteção da dignidade humana e serve como
base para outras legislações infraconstitucionais.
Art. 149 do Código Penal: Define o crime de trabalho
análogo à escravidão como aquele em que o trabalhador é
submetido a condições degradantes, trabalho forçado, jorna-
das exaustivas, restrição de locomoção ou servidão por dívida.
Lista Suja do Trabalho Escravo: É um instrumento ad-
ministrativo que expõe publicamente empregadores que foram
flagrados utilizando mão de obra análoga à escravidão, ser-
vindo tanto como uma forma de pressão social quanto de san-
ção econômica, uma vez que muitas empresas deixam de ne-
gociar com os listados.

6.3.1 ÓRGÃOS FISCALIZADORES E ATUAÇÃO

Grupo Móvel de Fiscalização: Um dos principais instru-


mentos de combate ao trabalho escravo, criado pelo governo
brasileiro em 1995. Ele é composto por auditores fiscais do
trabalho, procuradores e policiais federais que realizam ope-
rações em áreas de risco. A ação desses grupos tem resultado

198
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

no resgate de milhares de trabalhadores em condições degra-


dantes.
Ministério Público do Trabalho (MPT): Atua na fiscaliza-
ção do cumprimento das normas trabalhistas e pode ajuizar
ações civis públicas contra empregadores que utilizam traba-
lho análogo ao escravo.
Conselho Nacional de Justiça (CNJ): O CNJ tem pro-
movido ações para a implementação de varas especializadas
em julgar casos de trabalho escravo e contribuir para uma jus-
tiça mais célere e eficaz nesse tema.

6.3.2 DESAFIOS À EFICÁCIA

Fiscalização Insuficiente: Apesar dos mecanismos le-


gais, a vastidão territorial do Brasil, associada à falta de recur-
sos e estrutura, ainda limita a capacidade de fiscalização efi-
ciente em todas as regiões, especialmente em áreas rurais e
de difícil acesso.

Impunidade: A morosidade no julgamento de casos de


trabalho escravo e a aplicação de penas brandas aos infrato-
res muitas vezes desestimulam o cumprimento rigoroso das
leis. Isso contribui para a sensação de impunidade em certos
setores econômicos.

199
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Pressão Econômica e Social: Setores como o agro-


negócio e a construção civil são mais vulneráveis a práticas de
trabalho escravo devido à mão de obra barata e à necessidade
de maximizar lucros, o que muitas vezes coloca trabalhadores
em situações de exploração.

Importância das Campanhas de Conscientização


A conscientização sobre o trabalho escravo moderno é
uma ferramenta poderosa para sua prevenção. O conheci-
mento dos direitos por parte dos trabalhadores, aliada à infor-
mação para a sociedade em geral sobre os sinais de explora-
ção, pode auxiliar na identificação e denúncia de práticas ilíci-
tas.
Organizações da Sociedade Civil: Organizações
como a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a ONG Repórter
Brasil têm atuado de maneira eficiente para expor casos de
trabalho escravo e promover campanhas educativas, aumen-
tando a pressão pública sobre empresas e empregadores.

Aspecto Preventivo das Leis


A legislação, ao impor sanções econômicas e sociais,
como a inclusão na "Lista Suja", medida esta cuja foi estipu-
lada por meio da portaria nº 540 do Ministério do Trabalho,

200
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

atua como um importante mecanismo de dissuasão. As em-


presas, cientes das consequências reputacionais e econômi-
cas, tendem a se adequar às normativas e garantir condições
dignas de trabalho. A inclusão do nome do infrator nesse ca-
dastro ocorre após a conclusão dos autos de infração lavrados
pelos auditores fiscais do trabalho e, além das questões le-
gais, há várias medidas punitivas, como o cancelamento de
crédito e o impedimento de financiamento pelos bancos ofici-
ais para os infratores como afirma Calisto Torres, auditor fiscal
do trabalho no Rio Grande do Norte.

A maioria dos trabalhadores daqui vão ser mão-


de-obra escrava em outros estados, mas o Rio
Grande do Norte já tem uma empresa do Distrito
Irrigado do Rio Açu, em Alto do Rodrigues, na
lista suja. A exclusão da lista só acontece depois
de dois anos do flagrante. Se, durante esse perí-
odo, não houver reincidência e forem pagas to-
das as multas impostas pela fiscalização e quita-
dos todos os débitos trabalhistas e previdenciá-
rios, o nome da empresa será retirado. O intri-
gante de tudo isso é que, mesmo sendo punidas,
muitas empresas são reincidentes. (Torres,
2006).

A eficácia das garantias jurídicas na prevenção ao tra-


balho análogo à escravidão dos serradores de madeira de-
pende de uma combinação de normas legais claras, fiscaliza-
ção eficiente, punição rigorosa aos infratores e uma rede de

201
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

apoio social que atue na conscientização e na denúncia. Em-


bora o Brasil possua uma das legislações mais avançadas
nesse tema, ainda enfrenta desafios consideráveis na sua im-
plementação plena, exigindo esforços contínuos para aprimo-
rar a fiscalização, a aplicação das sanções e a proteção dos
direitos humanos. Um dos principais obstáculos é a precarie-
dade da fiscalização em áreas remotas, especialmente na
Amazônia, onde a exploração madeireira ilegal é mais intensa.
O extenso território e a insuficiência de recursos huma-
nos e logísticos dos órgãos fiscalizadores criam um ambiente
favorável para que empregadores desonestos mantenham tra-
balhadores em condições de extrema vulnerabilidade, a exem-
plo disso, a auditora fiscal da Delegacia Regional do Trabalho
no Rio Grande do Norte Marinalva Cardoso destaca:

Em condições inferiores às dos animais em cati-


veiro e proibidos de regressarem para a cidade
de onde partiram, esses trabalhadores se sub-
metem a jornadas excessivas de trabalho, com
os direitos legais desrespeitados e pondo em
risco sua segurança e saúde física e mental.
(Cardoso, 2006).

A legislação brasileira, como a Constituição Federal e o


Código Penal, protege os direitos fundamentais e estabelece
sanções severas para aqueles que submetem trabalhadores a

202
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

condições análogas à escravidão. No entanto, a simples exis-


tência de leis não é suficiente para garantir o cumprimento
desses direitos. O trabalho escravo contemporâneo é frequen-
temente disfarçado de informalidade e precarização, o que di-
ficulta a identificação e repressão por parte das autoridades.
Um ponto importante a ser considerado é a “Lista Suja”
do trabalho escravo, que funciona como um instrumento de
pressão econômica e social, coibindo empresas que utilizam
mão de obra escrava ao expô-las publicamente e restringir seu
acesso ao crédito e a contratos governamentais. Embora esse
mecanismo tenha se mostrado eficiente em alguns casos, sua
aplicação é muitas vezes limitada pela burocracia e pela resis-
tência de setores econômicos influentes.
Outro fator que compromete a eficácia das garantias ju-
rídicas é a impunidade. Muitas vezes, os casos de trabalho
escravo são tratados de forma lenta pelo sistema judiciário, e
as sanções aplicadas nem sempre refletem a gravidade da si-
tuação, o que acaba desestimulando a observância das leis
trabalhistas por parte de empregadores. A sensação de impu-
nidade enfraquece os mecanismos de proteção jurídica e cria
um ciclo de exploração que é difícil de romper.
Além disso, o aspecto econômico do setor madeireiro e
a pressão por lucros rápidos em um ambiente competitivo tor-
nam os trabalhadores ainda mais vulneráveis. A informalidade

203
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

e a terceirização contribuem para a precarização das condi-


ções de trabalho, facilitando a perpetuação do trabalho aná-
logo à escravidão. Nesse contexto, a aplicação de políticas
públicas que promovam a formalização das relações de traba-
lho e a inclusão de práticas sustentáveis no setor madeireiro é
essencial para que haja uma melhoria efetiva das condições
dos trabalhadores.
A conscientização dos trabalhadores sobre seus direi-
tos também é uma ferramenta poderosa na luta contra o tra-
balho escravo contemporâneo. No entanto, muitos serradores
de madeira são pessoas de baixa escolaridade, provenientes
de áreas rurais e com pouca ou nenhuma informação sobre os
direitos trabalhistas garantidos por lei. Isso reforça a necessi-
dade de campanhas educativas e o fortalecimento da atuação
de sindicatos e organizações da sociedade civil, como a Co-
missão Pastoral da Terra (CPT) e a ONG Repórter Brasil, que
têm desempenhado um papel importante na denúncia e cons-
cientização sobre o tema.
Por outro lado, é fundamental ressaltar que a moderni-
zação do setor madeireiro e a adoção de práticas de manejo
florestal sustentável oferecem uma oportunidade para a me-
lhoria das condições de trabalho. A implantação de tecnolo-
gias mais avançadas e a certificação de empresas que se-
guem normas de sustentabilidade podem criar um ambiente

204
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

de trabalho mais seguro e formalizado, onde os direitos dos


trabalhadores sejam respeitados.
No entanto, para que essas ações tenham êxito, é ne-
cessário que o Estado atue de maneira mais eficaz, tanto no
fortalecimento dos órgãos de fiscalização como no aprimora-
mento das leis e políticas públicas que garantam a dignidade
dos trabalhadores. A criação de varas especializadas no jul-
gamento de casos de trabalho escravo e o treinamento de ju-
ízes e procuradores sobre o tema são medidas que podem
acelerar o processo de justiça para aqueles que são vítimas
dessa prática.
A Instrução Normativa SIT nº 91 de 05 de outubro de
2011, emitido pela Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT),
vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil, que
estabelece procedimentos relacionados à fiscalização das
condições de trabalho no combate às práticas de trabalho em
condições análogas à escravidão tem como objetivo padroni-
zar a atuação dos auditores fiscais do trabalho no enfrenta-
mento desse tipo de exploração laboral, especificando diretri-
zes e orientações para as operações de fiscalização em seto-
res econômicos onde há maior incidência de trabalho escravo
contemporâneo, como a agricultura, pecuária, construção civil,
e a exploração de recursos florestais, como o setor madeireiro.

205
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

6.3.3 A INSTRUÇÃO NORMATIVA SIT Nº 91 TEM COMO


PONTO CHAVE A:

Definição de Trabalho Análogo à Escravidão: A nor-


mativa reforça que o trabalho em condições análogas à escra-
vidão, segundo o art. 149 do Código Penal, se caracteriza
pela submissão de trabalhadores a condições degradantes,
trabalho forçado, jornadas exaustivas, servidão por dívida, e
restrição de liberdade de locomoção.

Diretrizes para a Fiscalização: Os auditores fiscais


devem seguir procedimentos específicos para identificar es-
sas condições, como verificar o estado dos alojamentos, a
existência de vínculos de servidão por dívida, condições de
higiene e saúde no trabalho, jornadas de trabalho excessivas,
entre outros aspectos.

Medidas a Serem Adotadas em Caso de Infração:


Caso sejam encontradas condições de trabalho análogas à es-
cravidão, os fiscais têm a responsabilidade de tomar medidas
imediatas para garantir a proteção dos trabalhadores. Isso
pode incluir o resgate desses trabalhadores, interdição das
atividades e a autuação dos empregadores responsáveis.

206
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

Colaboração Interinstitucional: A normativa também


incentiva a colaboração entre diferentes órgãos e instituições,
como o Ministério Público do Trabalho, a Polícia Federal e ou-
tras entidades, para garantir uma resposta coordenada e efe-
tiva contra o trabalho escravo.

A eficácia das garantias jurídicas na prevenção ao tra-


balho análogo à escravidão, como mencionado ao longo do
estudo, encontra respaldo na aplicação de normativas como a
Instrução Normativa SIT nº 91 de 05/10/2011. Ela fortalece o
arcabouço legal necessário para que a legislação trabalhista,
aliada à fiscalização eficiente, seja aplicada de maneira mais
robusta e efetiva no combate às condições degradantes de
trabalho, particularmente na indústria madeireira, onde esse
tipo de exploração ainda é uma realidade.
Ainda, é importante destacar outras Normas Regula-
mentadoras (NRs) que também desempenham um papel fun-
damental na proteção desses trabalhadores, além da já men-
cionada NR-12.
NR-6: Equipamentos de Proteção Individual (EPI). A
NR-6 estabelece a obrigatoriedade do fornecimento e uso de
Equipamentos de Proteção Individual (EPI) para os trabalha-
dores que atuam em atividades com riscos à saúde e segu-
rança, como é o caso dos serradores de madeira. Essa norma

207
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

garante que o empregador deve fornecer gratuitamente os


EPIs adequados às atividades desempenhadas, como luvas
de proteção, óculos de segurança, capacetes, protetores au-
ditivos, botas e roupas de proteção. O cumprimento dessa
norma é essencial para minimizar os riscos de acidentes gra-
ves ou fatais, comuns no trabalho com máquinas pesadas e
na extração de madeira.
NR-9: Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
(PPRA). A NR-9, que trata do Programa de Prevenção de Ris-
cos Ambientais (PPRA), exige que as empresas realizem um
levantamento detalhado dos riscos existentes no ambiente de
trabalho e adotem medidas preventivas. Para os serradores
de madeira, isso significa que o empregador deve identificar
riscos como exposição a poeiras, ruídos elevados, vibrações
e agentes químicos, e tomar as devidas providências para
controlá-los, seja com a implantação de medidas de engenha-
ria, organização do trabalho ou fornecimento de EPIs. O PPRA
é uma ferramenta estratégica na preservação da saúde dos
trabalhadores, ajudando a evitar doenças ocupacionais e aci-
dentes de trabalho.
NR-15: Atividades e Operações Insalubres. A NR-15 re-
gulamenta as condições de trabalho insalubres, que podem
causar danos à saúde do trabalhador. Ela define os limites de

208
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

tolerância para exposição a agentes físicos, químicos e bioló-


gicos prejudiciais. No caso dos serradores de madeira, essa
norma é particularmente relevante, pois eles podem ser ex-
postos a ruídos excessivos, poeiras de madeira e vibrações
constantes, o que caracteriza condições insalubres. Quando
constatada a insalubridade, os trabalhadores têm direito ao re-
cebimento de adicional de insalubridade, cujo valor varia con-
forme o grau de risco ao qual estão expostos.
NR-17: Ergonomia. A NR-17, que aborda a ergonomia,
trata da adaptação das condições de trabalho às característi-
cas psicofisiológicas dos trabalhadores. Para os serradores de
madeira, essa norma é importante para evitar o desgaste físico
excessivo e as lesões relacionadas à postura inadequada e à
movimentação manual de cargas pesadas. Ela determina que
o ambiente de trabalho e as atividades realizadas devem ser
planejados para evitar danos à saúde do trabalhador, promo-
vendo o bem-estar e a eficiência no trabalho.
NR-18: Condições e Meio Ambiente de Trabalho na In-
dústria da Construção. Embora voltada para o setor da cons-
trução civil, a NR-18 também é aplicável em casos de constru-
ção de infraestruturas ligadas ao manejo florestal, como ser-
rarias temporárias e galpões. Ela trata de medidas de segu-
rança para evitar acidentes em canteiros de obras, exigindo
organização do espaço, sinalização adequada e treinamento

209
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

dos trabalhadores para o uso seguro das ferramentas e má-


quinas. Essa norma é relevante quando a atividade de serra-
gem de madeira envolve instalações temporárias, onde os ris-
cos de acidentes são potencialmente maiores.
NR-24: Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais
de Trabalho. A NR-24 estabelece os requisitos mínimos para
garantir condições sanitárias adequadas e de conforto nos lo-
cais de trabalho. Isso inclui a provisão de água potável, insta-
lações sanitárias adequadas, locais apropriados para refei-
ções e descanso. Para os serradores de madeira que muitas
vezes trabalham em áreas remotas, essa norma é vital, pois
garante que os trabalhadores tenham acesso a condições mí-
nimas de higiene e conforto durante o trabalho, o que contribui
para a dignidade no trabalho e a preservação da saúde.
NR-31: Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura,
Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura. A
NR-31 é uma das mais específicas para os trabalhadores do
setor madeireiro, abrangendo a exploração florestal. Ela esta-
belece diretrizes para garantir a segurança e a saúde dos tra-
balhadores rurais e da exploração florestal, como os serrado-
res de madeira. A norma aborda questões como o uso de
EPIs, a organização do trabalho, a prevenção de acidentes
com máquinas e equipamentos e o transporte seguro dos tra-
balhadores. Também trata da gestão de riscos específicos da

210
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

atividade florestal, como o manejo de árvores e a exposição a


pragas e doenças. Essa norma é crucial para a formalização
do trabalho no setor de exploração madeireira, pois regula-
menta de maneira detalhada todas as atividades envolvidas
no corte, transporte e processamento da madeira, prevenindo
acidentes e garantindo a saúde dos trabalhadores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise do histórico trabalhista dos serradores de ma-


deira no Brasil revela um cenário marcado por longos períodos
de exploração, precariedade e desafios contínuos. As garan-
tias jurídicas que existem para proteger esses trabalhadores,
como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e as Normas
Regulamentadoras (NR), representam um avanço significativo
em termos de direitos trabalhistas e segurança. No entanto, a
eficácia dessas garantias enfrenta sérias limitações, especial-
mente em áreas remotas e de difícil acesso, onde a fiscaliza-
ção é insuficiente e a informalidade prevalece.
As legislações que visam prevenir o trabalho análogo à
escravidão são cruciais, mas a aplicação prática ainda é um
desafio. A falta de controle efetivo e a persistência de práticas
ilegais, como a exploração madeireira sem regulamentação,
comprometem a efetividade dessas normas. Além disso, a

211
Ciências Jurídicas na Amazônia Sul-Ocidental

falta de informação e conscientização entre os trabalhadores


sobre seus direitos, bem como a vulnerabilidade econômica,
tornam muitos deles suscetíveis a situações de exploração e
abuso.
Em suma, é imprescindível que haja um esforço con-
junto entre o governo, a sociedade civil e as organizações sin-
dicais para fortalecer a implementação das leis existentes e
garantir que os direitos dos serradores de madeira sejam res-
peitados. A promoção de políticas públicas que incentivem a
formalização do trabalho, a capacitação dos trabalhadores e a
fiscalização rigorosa das atividades madeireiras são passos
fundamentais para erradicar práticas de exploração e promo-
ver um ambiente de trabalho seguro e justo, bem como a res-
ponsabilização efetiva dos infratores.

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ISBN 978-65-01-36460-5

Este livro reúne seis artigos, na área


de Ciências Jurídicas, redigidos por
concludentes do Curso de Direito da
UNINORTE – Ac, sob a supervisão da
Profa. Williane Tibúrcio Facundes
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E-book
TOMO 5

EAC Vol. I
Editor

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