ODONTOLOGIA PARA BEBÊS
Professor(a) Beatriz Neves | Odontopediatria | Data: 20.09.2021
HISTÓRICO Período chave em que é possível adotar hábitos e atitudes que
irão influenciar o futuro do bebê, podendo ser positivo ou
O início da atenção odontológica para bebês no Brasil começou negativo
a ser falada em 1985 na Universidade Estadual de Londrina
Nesse período podemos determinar um futuro com uma boa
Bebê é considerado de 0 a 3 anos saúde bucal e geral
Vídeo mostrado em aula: Idealmente é que nesses mil dias ocorra a primeira consulta
https://www.youtube.com/watch?v=ttJtRokJJIk odontológica
• Primeira infância: até os 6 anos – período de Isso ocorre porque os primeiros 1.000 dias são quando o
PLASTICIDADE, ou seja, época que a criança é modada cérebro de uma criança começa a crescer e se desenvolver, é
quando os alicerces de sua saúde ao longo da vida são
PRIMEIROS MIL DIAS: INTERVALO DE OURO
construídos.
As pesquisas nas áreas de neurociência, biologia e
desenvolvimento da primeira infância fornecem informações
poderosas sobre como a nutrição, os relacionamentos e os
ambientes até os 2 anos moldam os resultados futuros.
Cabe aos profissionais de saúde conhecerem a fundo as
mudanças nessa faixa etária, atuando junto com a família
Estudos mostram que os países que não investem no bem-estar
de mulheres e crianças nos primeiros mil dias perdem bilhões de
dólares para diminuir a produtividade econômica e os custos
mais altos em saúde. É por isso que vários dos principais
economistas do mundo pediram maiores investimentos em
Esses 1000 mil dias compreendem desde o momento da gravidez nutrição e bem-estar das mães, bebês e crianças pequenas,
até os 2 anos,
como forma de criar futuros mais brilhantes e prósperos para O que esperar da consulta? O ambiente deve ser tranquilo,
todos nós explicando aos pais como poderá ser realizado o tratamento
com presença obrigatória de um cuidador dentro do ambiente
SEGUNDO O SB BRASIL 2010, 47,4% das crianças de 5 anos de odontológico, fechando assim uma melhor forma de realizar os
idade nunca haviam ido ao dentista, podemos citar alguns procedimentos – CONVERSA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE.
problemas como:
Uso de estabilização protetora, abridores de boca etc. Bebês
• Dificuldade de acesso ao serviço, muitos profissionais não podem querer fugir do atendimento. De 0 a 3 anos a única
atendem crianças pequenas opção farmacológica com muitas necessidades é a anestesia
• Muitas vezes pouca ou nenhuma atenção é dada aos geral. Como muitas vezes a criança não sabe se expressar e
dentes decíduos acabar vomitando ou se urinando de ansiedade e medo.
Devemos evitar palavras como dor, sangue e agulha, ou ficar
A primeira visita odontológica do bebê deve ocorrer desde o
amedrontando, para evitar gatilhos.
momento, ou se possível antes, da erupção do primeiro dente
Quando usar a estabilização protetora deve explicar os pais e ter
“Primeiro aniversário é igual ao primeiro check-up
a autorização, pela assinatura do TERMO DE
odontológico”
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO. Ativa com a ajuda
Como e em que momento atender? Além de ser após a dos pais ou passiva com ”pedi wrap” (lençol de contenção),
erupção do primeiro dente, uma consulta anterior pode ser feita abridores de boca e a posição de joelho- joelho, essa posição o
para serem passadas orientações e tirar dúvidas, sendo o mais responsável tem uma excelente visão das necessidades e o que
cedo possível. Os bebês são bem mais ansiosos e estudos têm se está sendo feito
mostrado que essa ansiedade diminui com o aumento de idade.
Em crianças menores o desenvolvimento emocional e cognitivo Não há necessidade de realizar profilaxia dentária nas primeiras
ainda é reduzido. Nas consultas iniciais o atendimento não consultas de bebês, estudos mostram que o uso de profilaxia
precisa ser na cadeira e temos que aprender a entender a dentárias em bebês, o uso do micromotor, ele pode aumentar o
criança, sabendo escutar qual o motivo do choro e que é nível de cortisol, hormônio do estresse. Com uma simples
esperado. Necessidade de ir a cadeira em procedimentos mais escovação dentária já ajuda, pode até pedir para ele trazer sua
complexos. escova de casa, e posterior exame clínico.
Nesse momento de primeira consulta nós usamos para passar Ocorre diante de uma ou mais episódios de estresse em que a
orientações preventivas sobre higiene bucal / cárie dentária (tipo experiência negativa foi muito intensa, frequente ou de longa
de escova, dentifrício que dever se sempre fluoretado, pedir para duração sem apoio ou suporte emocional adequado de um
o responsável trazer a escova e o ensinar), podemos solicitar um adulto
diário de dieta, e, se não for possível, um recordatório de 24h
Os estresses prévios como, conflitos familiares e internos
atrás. Passar orientações sobre hábitos de sucção não nutritivos
podem favorecer ao estresse tóxico, como o abuso do álcool,
(sucção de dedo ou chupeta) e prevenção de traumatismo buco
agressão, bullying.
dentário (o que fazer para evitar e como reagir a isso, o que
fazer). O estresse tolerável é quando começamos a aumentar o
tempo de determinados procedimentos, tendo um risco de
O importante é sempre distrair a criança
chegar no estresse tóxico. Quanto menor o bebê mais ele pode
confundir manipulação, dor e pressão. Procedimentos mais
complexos tendem a produzir situações de maiores estresses
não só para o bebê, mas também para o responsável
O estresse positivo, são situações do próprio cotidiano da
criança, coisas que ela enfrenta e mostra resiliência para
enfrentar os desafios da vida. Por exemplo a criança tomar
vacina vai trazer benefícios para ela, assim como escovar os
dentes. Podemos incluir no estresse positivos procedimentos da
ESTRESSE odontologia minimante invasiva, com atendimentos mais curtos.
O estresse tóxico é definido como um estresse alto e Devemos trabalhar entre o estresse positivo e tolerável
contínuo, que pode gerar danos irreversíveis ao através da odontologia da mínima intervenção, com
desenvolvimento neuropsicomotor da criança, além de aumentar procedimentos mais curtos. Procedimentos mais complexos, e
os riscos de doenças orgânicas, metabólicas e transtornos mais demorados, geram maior estresse para o bebê, profissional
comportamentais ao longo dos anos – do ambiente ou do e familiares presentes.
atendimento
atendimento irá prosseguir ou será finalizado e agendado para
um outro dia
CHORO TÓXICO
Choro em tom muito alto, contínuo e sem cessar
independentemente do uso de técnicas de abordagem de
comportamento por até 20-30 minutos desde o início do
procedimento clínico
Todas as crianças serão expostas, inevitavelmente, a situações
estressantes durante o seu desenvolvimento como • Relatado na literatura que o pico da secreção do cortisol
hospitalizações, doenças, acidentes, mudança de casa, nascimento salivar ocorre de 20-30 min depois de um estímulo
do irmão. Entretanto, deve-se ter em mente que o evento estressante (hormônio do estresse)
estressante com o qual a criança se depara deve ser,
necessariamente, proporcional à sua habilidade de lidar com ele, Caso a criança mantenha esse choro tóxico por esse período
à sua maturidade e ao seu estágio de desenvolvimento, de modo e/ou bom senso profissional indique que o desafio está sendo
que não lhe traga graves consequências. superior à capacidade da criança lidar com a situação estressora
ou/e se a mãe não desejar prosseguir, deve-se finalizar o
CHORO atendimento do dia e agendar uma segunda consulta para
finalizar o procedimento
Trabalhar em odontopediatria com bebês em abordagem não
farmacológica é saber lidar com o choro de bebê! Caso a criança adormeça em tempo inferior a 30 minutos ou
mantenha um choro em tom baixo, pausado e controlado, o
Equipe necessita de controle mental e emocional, além de procedimento pode ser finalizado no mesmo dia
compreender o choro do bebê e identificar as diferenças e tipos
de choro
Explicar aos responsáveis desde a primeira consulta sobre os
tipos de choro que existem, sendo parâmetro para definir se o
PROTOCOLO PARA PREVENÇÃO DE ESTRESSE • O último dente é a erupcionar são os 2º molares
TÓXICO EM CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS – superior, vindo entre o 25º e o 33º mês
ABORDAGEM NÃO FARMACOLÓGICA
• Prevenção (uma forma é passar orientações na educação
em saúde)
• Otimização do tempo (por exemplo: odontologia de
mínima intervenção, mas com respaldo científico)
• Presença obrigatória do cuidador
• Técnicas de manejo constantes
• Estabilização protetora amorosa
• Consulta tempo-estresse tóxico dependente (Quanto
mais longo o tempo de atendimento, mais riscos de
estresse tóxico)
Podemos citar algumas habilidades do profissional como
reconhecer o tipo de choro, aplicar bem a anestesia e o tempo
na cadeira odontológica
ERUPÇÃO DENTÁRIA
• De 0 a 3 anos de idade, há um intenso desenvolvimento e
transição na dieta da criança com a introdução de
alimentos sólidos.
• No terceiro ano já estamos com as raízes completas
• O primeiro dente a erupcionar é o incisivo central
inferior, vindo entre o 6º e 10º mês (pode haver
variações)
A coluna da direita “shed” mostra a idade em que eles esfoliam
A erupção surge aos pares.
Importante decorar a ordem! (professora falou bastante sobre a
cronologia de decíduos)
A coluna “tooth lost” mostra a idade que normalmente os dentes decíduos
devem cair.
Sequência de erupção dos decíduos favorável para a oclusão:
FATORES QUE PODEM ALTERAR TANTO A
CRONOLOGIA QUANTO A SEQUÊNCIA DE
ERUPÇÃO
LOCAIS
• Perdas precoces e retenções prolongadas (podem
prejudicar a erupção dos permanentes)
• Traumatismo
• Dentes supranumerários
• Anquilose
• Odontomas Existem evidências da ocorrência de sinais e sintomas durante a
erupção de dentes decíduos, 70,5% das crianças de 0 a 3 anos de
SISTÊMICOS idade apresentaram algum sinal ou sintoma
• Alterações nutricionais (Tipo de alimentação) Irritação gengival (mais comum), irritabilidade e salivação foram
• Alterações na tireoide (ela mencionou, não tem no slide) os mais comuns
• Baixo peso ao nascimento
• Displasia cleidocraniana Não há evidência científica suficiente para determinar a relação a
erupção de decíduos e febre. Para as análises da temperatura
• Síndrome de Down
corporal, foi possível avaliar que a erupção dos dentes decíduos
• Características hereditárias
está associada ao aumento da temperatura, mas não foi
SINTOMAS DA ERUPÇÃO DOS DECÍDUOS caracterizada como febre
Alguns pais relatam que durante a erupção dos dentes decíduos Os sintomas diminuem com o avançar da idade e da cronologia
as crianças apresentam geralmente: de erupção
• Irritabilidade Erupção de dentes decíduos não está associada com a
• Aumento de salivação, também é um momento que está presença de sinais severos e persistentes. Profissionais de
tendo a maturação das glândulas salivares saúde devem investigar outras causas antes de atribuir
• Distúrbio de sono manifestações severas à erupção de dentes decíduos.
• Inflamação gengival
MANIFESTAÇÕES LOCAL
• Alterações gastrointestinais
• Diminuição do apetite A inflamação gengival ele pode ocorrer de 2 a 3 dias e podendo
• Coceira na gengiva (colocar objetos na boca) persistir até 10 dias, sendo desconfortável para a criança.
• Elevação da temperatura, mas não febre
ALÍVIO DOS SINTOMAS:
Essas alterações são os principais motivos que os pais procuram
• Uso de mordedores resfriados (não congelar)
o dentista
• Massagem da gengiva (mão ou fralda limpa)
Segundo uma revisão sistemática: • Oferta de alimentos e bebidas frias (vasoconstrição ajuda)
• Alimentos fibrosos (alivia sensação de coceira) crianças, pois esses produtos podem trazer poucos
• Mordedor com cerdas é interessante, mas não deve ser ou nenhum benefício para tratar dor oral, podendo
usado como único meio de escovação. até causar uma metemoglobinemia
• Não há evidências para uso do colar de âmbar, fabricantes
comentam que nesses colares a um elemento chamado ácido
succínico que dá um efeito antinflamatório quando em
contato com a pele. Sendo não indicado o uso e que traz
riscos para o mesmo devido ao risco de estrangulamento ou
• No mercado existe medicamentos como a camomilina C,
asfixia. O seu uso é proibido pela FDA
que alguns pediatras prescrevem, mas não existe
evidência que resolva.
• O nenê dent não é indicado pelo fato de ser um
anestésico tópico, a criança pode deglutir bastante e
ocasionar uma superdosagem, mas a venda é liberada
➔ Muitos compostos anestésicos no Brasil são a base de
lidocaína.
➔ A FDA (anvisa americana) recomenda a não utilização
de produtos contendo benzocaína para tratar
HEMATOMAS OU CISTOS DE ERUPÇÃO DENTES NATAIS OU NEONATAIS
• Tumefação de tecido mole (aumento de volume no • Erupção prematura de dentes decíduos
alvéolo) → Natais: presentes no nascimento
• Fluído com aspecto claro ou sanguinolento →Neonatais: se rompem nos 30 primeiros dias de vida
• Poucas semanas antes da erupção • 85% incisivos decíduos inferiores
• Mais frequente em 2º molar decíduo ou 1º molar • Etiologia desconhecida, o germe dental pode estar numa
permanente localização mais superficial, e é relato ainda algumas
• Tratamento: remissão espontânea, em último caso realiza relação com hereditariedades, fendas palatinas, síndromes
uma incisão como Pierre Robin, mas estudos não confirmam essas
• As vezes pode ser ocasionado também por trauma associações
• Natais – 1 / 2.000 receém-nascidos
• Neonatais – 1º mês de vida
• Supranumerário ou série normal, importante avalizar
sendo diagnosticado pela radiografia
• Podem causar dor
• Desconforto materno durante a amamentação
• Decisão do tratamento: deve ser feita individualmente,
por exemplo, se o dente está como mobilidade excessiva,
com risco de aspiração dessa criança, deve indicar a
exodontia, mas em outras situações pode manter esse
dente. Ele pode ter contorno normal ou conoide
CASO CLÍNICO qualquer dente decíduo de uma criança com menos de seis anos
de idade
• Mãe percebeu a presença dos dentes com 3 dias de vida
• Dificuldade para amamentação (lesão no ventre da língua-
Doença de Riga Fede)
• Pouca mobilidade
O tratamento foi um polimento da incisal para manter o dente
em boca
CÁRIE NA PRIMEIRA INFÂNCIA (CPI)
É definida como presença de uma ou mais superfícies cariadas
(cavitada ou não), perdidas ou restauradas (devido à cárie) em