Aula 01
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a mesma massa. Assim, já foi observado, por exemplo, o pósitron, partícula com massa igual à do elétron, mas com carga elétrica
positiva. Caso um elétron e um pósitron venham a se colidir, aniquilam-se mutuamente emitindo dois fótons de raios gama.
De uma forma muito sucinta, este é o conhecimento que possuímos hoje (até uma escala de ∼ 10−19 m) acerca da estrutura mais
fundamental da matéria. São os princípios fundamentais do modelo padrão, uma estrutura teórica que inclui a teoria eletrofaca
e a cromodinâmica quântica, aplicadas na explicação das interações entre os quarks, léptons e bósons e, consequentemente,
nas propriedades da matéria e das radiações e da estrutura e evolução do universo. Falta ainda uma análoga teoria quântica para
a quarta interação fundamental da natureza: a gravitacional, que seria mediada pelo gráviton, o seu bóson hipotético. Não
existem verificações experimentais para tais modelos, visto que suas previsões ocorrem na escala de Planck, isto é, na ordem de
∼ 10−35 m. Uma escala extremamente menor às acessíveis aos aceleradores de partículas que a ciência humana é ou será capaz
de construir nos próximos séculos. No entanto, não incluir a gravidade não é o único problema com o modelo padrão: o modelo
padrão contém muitos parâmetros (constantes de acoplamento, massas de léptons, quarks e bósons, etc.) que precisam ser tomados
experimentalmente, não se sabe o por quê de existem três famílias de léptons e três de quarks, ou por que a carga elementar dos
léptons é e = 1, 6 × 10−19 C e dos quarks é 13 e. Ademais, não sabe-se, nem experimentalmente, o valor exato das massas dos
neutrinos das três famílias de léptons, nem o seu ordenamento. Não são conhecidos os processos que aceleram e, por conseguinte,
a origem dos raios cósmicos às ultra-altas energias (> 1018 eV). Finalmente, as galáxias aparentam ter muito mais massa do que
infere-se a partir da matéria observável. De onde conclui-se que a maior parte de sua massa é de matéria escura. Na verdade,
estima-se hoje que o universo contém apenas 5% de matéria ordinária (ou bariônica), cerca de 27% do seu conteúdo é de matéria
escura e mais de 68% de energia escura. Há muito que ainda precisa ser aprendido e explicado.
cada um dos elementos primordiais a sólidos geométricos regulares, os sólidos platônicos: a terra foi associada ao cubo, o ar ao
octaedro, a água ao icosaedro, o fogo ao tetraedro e o quinto sólido, o dodecaedro, estaria reservado à matéria do cosmos. Seu
discípulo, Aristóteles9 , que foi um dos mais influentes filósofos gregos, aproveitou os princípios e os elementos empedoclianos,
acrescentando o que lhe faltava: o éter, uma quintessência rarefeira e imutável, etérea e eterna, responsável pela composição dos
corpos celestes. Aristóteles rejeitou a hipótese do vácuo, sustentando que o éter preencheria todo o espaço. Para ele, a matéria
podia ser infinitamente dividida. Em contraposição ao pensamento aristotélico, vinha o atomismo, formulado pelos filósofos
Leucipo10 e Demócrito11 . Para os atomistas, a matéria poderia ser dividida até uma estrutura básica indivisível: o átomo. Os
átomos filosóficos apresentam-se numa infinita variedade formas e tamanhos, todas imutáveis e indestrutíveis. Encontram-se em
eterno movimento através do vácuo. De seus diferentes formatos e arranjos espaciais vêm as diferentes propriedades dos materias
que compõem.
A filosofia grega influenciou por milênios o pensamento do mundo ocidental e oriental. Vários princípios aristotélicos ou
atomistas podem ser encontrados na antiga visão de mundo chinesa, indiana ou árabe. Mas, sem dúvida, as ideias de Aristóteles
dominaram a física e a cosmologia da Europa medieval. O Universo era geocêntrico e ptolomaico, com esferas sublunares e
imperfeitas de Terra, água, ar e fogo e esferas perfeitas de éter, compondo os objetos celestes conhecidos (Lua, Sol, Mercúrio,
Vênus, Marte, Júpiter e Saturno) e as estrelas. Não admira-se que tenha surgido um dogma medieval, segundo o qual “a natureza
tem horror ao vácuo.” Coube a nomes como Galileu12 , Torricelli13 e Otto von Guericke14 a tarefa de demonstrar empiricamente
que a natureza poderia, sim, dentro dos limites praticáveis, suportar o vácuo. Certamente, não é correto afirmar que a Idade Média
tenha sido a “idade das trevas”. A fervente religiosidade e a grande tendência de favorecer visões metafísicas e pseudocientíficas
culminam na alquimia medieval — mas, onde, inevitavelmente, encontramos as origens da química e da metalurgia modernas.
9
Aristóteles de Estagira (384 a.C.-322 a.C.), filósofo grego.
10
Leucipo de Mileto (do V século a.C.), filósofo grego.
11
Demócrito de Abdera (c 460 a.C.-c 370 a.C.), filósofo grego.
12
Galileu Galilei (1564-1642), astrônomo, físico e matemático italiano.
13
Evangelista Torricelli (1608-1647), físico e matemático italiano.
14
Otto von Guericke (1602-1686), físico alemão.
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Renomados filósofos naturais, como Paracelso15 ou Newton16 , praticaram a alquimia. Uma das grandes buscas da alquimia era
a transmutação de elementos, como, por exemplo, transformar chumbo em ouro. Os médicos, químicos e alquimistas alemães
Becher17 e, seu discípulo, Stahl18 propuseram, no início do século XVIII, que os combustíveis continham uma substância chamada
flogisto, que seria liberada durante o processo de combustão, mas Lavoisier19 descobriu que a combustão podia ser explicada com
a introdução de um novo elemento: o oxigênio. No entanto, Lavoisier postulou a existência de um outro fluido hipotético para
explicar as transferências de calor: o calórico, que seria transferido do corpo mais quente para o mais frio. Foi somente em meados
do século XIX que os trabalhos de Joule20 e Clausius21 suplantaram a teoria do calórico pelo princípio da conservação de energia.
Figura 2: Os hemisférios de Magdeburgo, experimento com o vácuo feito por Otto von Guericke (1672).
O cientista mais influente dessa época foi decerto Isaac Newton. Em sua obra prima, Princípios Matemáticos da Filosofia
Natural (1687), Newton estabeleceu o conjunto de leis que regem os movimentos dos corpos físicos, as três leis de Newton,
que descrevem matematicamente como as forças atuam no movimento das partículas. Além disso, Newton apresentou a lei
da gravitação universal: a força gravitacional entre dois corpos massivos é proporcional ao produto das massas e inversamente
proporcional ao quadrado da distância entre eles. Com ela, explicou o movimento dos corpos em queda livre, dos planetas em torno
do Sol ou da Lua em torno da Terra. Newton verificou ainda que, partindo da lei da gravitação universal, demonstra-se a terceira lei
de Kepler. E não menos importantes foram suas contribuições no campo da óptica. Em 1704, publicou o livro Opticks, onde relata
seus resultados em diversos experimentos realizados com a luz. Em 1666, Newton observou que a luz solar de um orifício circular
que incide sobre um prisma é refratada formando uma imagem alongada e colorida. Newton demonstrou, com a lei da refração,
como a luz refratada pelo prisma desvia por ângulos diferentes cores diferentes. Em 1672, Newton realizou o experimentum
crucis, no qual demonstrou que a luz branca decompõe-se no espectro de cores do arco-íris (vermelho, laranja, amarelo, verde,
15
Paracelso, pseudônimo de Theophrastus von Hohenheim (1493-1541), físico, médico, alquimista e astrólogo suíço.
16
Isaac Newton (1643-1727), físico, astrônomo, matemático, filósofo natural, teólogo e alquimista inglês.
17
Johann Joachim Becher (1635-1682), médico, químico e alquimista alemão.
18
Georg Ernst Stahl (1659-1734), químico, médico e metalúrgico alemão.
19
Antoine-Laurent de Lavoisier (1743-1794), químico francês.
20
James Prescott Joule (1818-1889), físico britânico.
21
Rudolf Clausius (1822-1888), físico e matemático alemão.
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azul, anil e violeta) e, posteriormente, pode ser recomposta na cor branca. Ele concluiu que os telescópios refratores apresentavam
aberração cromática, como resultado do uso de lentes, e desenvolveu o telescópio refletor, ou newtoniano. Para Newton, a luz
era composta por partículas que pulavam dos corpos iluminados e viajavam em linha reta. E com sua teoria corpuscular da luz,
proveu explicações para os fenômenos da reflexão e da refração, assim como para a formação de sombras. Em contraposição
à visão corpuscular de Newton, já havia uma teoria ondulatória da luz. Em 1678, Huygens22 propôs, numa comunicação à
Academia de Paris, o seu princípio, segundo o qual as ondas se propagam com os pontos da sua frente servindo num dado instante
como novas fontes puntuais cujas superposições originam a nova frente da onda num instante consecutivo. Huygens deu as suas
explicações para os fenômenos da reflexão, da refração e da formação de sombras e também de penumbras.
(a) (b)
Figura 3: (a) Newton investigando a dispersão da luz; (b) o experimentum crucis, publicado em 1672.
Grandes progressos ocorreram no campo da eletricidade e do magnetismo entre os séculos XVI e XVIII. Em 1600, Gilbert23
publicou De Magnete, um tratado sobre as suas experiências com eletricidade e magnetismo. Ele concluiu que a Terra é magnética
e propôs um modelo para ela: a terrela . Explicou ser esta a razão pela qual as bússolas apontam para o norte, e cunhou o
termo pólo magnético. Gilbert utilizou o âmbar (elektron, em grego) para realizar suas experiências, as quais decidiu chamar de
eletricidade. Em 1670, Otto von Guericke desenvolveu a máquina eletrostática: uma esfera de enxofre que quando girada e
atritada adquiria a capacidade de atração e de expelir centelhas. Em 1705, Hawksbee24 adaptou um gerador eletrostático dentro
de um de vidro evacuado contendo mercúrio que, ao ser girada a esfera de metal, podia produzir um brilho devido ao atrito da
esfera com o mercúrio. O químico francês Du Fay25 descobriu que os corpos eletrificados podiam atrair ou repelir um ao outro,
concluindo haver dois tipos de eletricidade — a vítrea e a resinosa — e postulou que a eletricidade seria a interação entre esses
dois fluidos elétricos. Inventada por acaso, a garrafa de Leiden, constituída por uma garrafa de vidro revestida internamente com
folhas de metal e uma haste metálica passando por uma tampa de cortiça, foi o primeiro condensador. Ela foi aperfeiçoada por
Musschenbroek26 , em 1746, na tentativa de reproduzir os resultados de von Kleist27 que conseguira produzir, em 1745, centelhas
grandes o suficiente para acender uma quantidade de álcool. E foi carregando uma garrafa dessas numa pipa que Franklin28
coletou cargas elétricas durante uma tempestade, em 1750, demonstrando que os relâmpagos são fenômenos elétricos. Franklin
foi também o inventor do pára-raios e cunhou o termo bateria. Ele propôs um modelo mais simples para a eletricidade: de um
22
Christiaan Huygens (1629-1695), físico, matemático, astrônomo e horologista holandês.
23
William Gilbert (1544-1603), físico e médico inglês.
24
Francis Hawksbee (1660-1713), físico inglês.
25
Charles Du Fay (1698-1739), químico francês.
26
Pieter van Musschenbroek (1692-1761), cientista holandês.
27
Ewald Georg von Kleist (1700-1748), físico alemão.
28
Benjamin Franklin (1706-1790), cientista, inventor, autor e diplomata americano.
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único fluido elétrico com cargas positiva e negativa. Em 1767, Priestley29 descreveu em The History and the Present State of
Electricity o conhecimento sobre a eletricidade até então e relatou os seus próprios experimentos e descobertas, tais como, a da
condutividade do carvão. Foi ele quem propôs que a força elétrica varia com o inverso do quadrado da distância entre as cargas,
analogamente à lei da gravitação universal de Newton. Entretanto, coube a Coulomb30 a invenção da balança de torção (1777) e
a demonstração experimental da lei do inverso do quadrado da distância para a força elétrica (1785), ou seja, a lei de Coulomb.
Independentemente, Michell31 utlilizava uma balança de torção em 1783, com a qual demonstrou a lei análoga para a força
magnética. O instrumento de Michell passou para as mãos de Cavendish32 que, por sua vez, o utilizou, em 1798, para a medida da
intensidade da força gravitacional entre duas massas. Assim, Cavendish mediu a densidade da Terra e a constante gravitacional da
fórmula de Newton. Enquanto isso, na Itália, Galvani33 descobriu a bioeletricidade, em 1780, ao produzir contrações musculares
em pernas de rã com descargas elétricas. Galvani cunhou o termo “eletricidade animal”, mas Volta34 apelidou o fenômeno de
galvanismo. Volta também foi o inventor da pilha elétrica (1799), uma pilha de discos de cobre e zinco separados por papelão
úmido que produzia um fluxo contínuo de eletricidade.
(a) (b)
Figura 4: (a) o experimento de Franklin (1752); (b) a balança de torção de Cavendish (1798).
Cavendish deu também importantes contribuições para o campo da química. Ele isolou o gás hidrogênio, chamado por ele
de “gás inflamável”. Em um trabalho de 1766, Cavendish descreveu que este gás forma água durante a reação com o “gás
deflogisticado", isto é, com o oxigênio. Posteriormente, Laviosier repetiu o experimento de Cavendish e rebatizou também o
hidrogênio com o seu nome atual. Não há dúvidas de que Cavendish sabia que a água continha duas proporções de hidrogênio
em sua composição, mas foi Watt35 quem publicou primeiro, em 1783, um trabalho determinando da composição da água.
Posteriormente, Cavendish investigou e obteve com grande acurácia a composição atmosférica, além de conduzir experimentos
para extrair nitrogênio e oxigênio da atmosfera. A propósito, o hidrogênio fora obtido anteriormente por Boyle36 , mas Cavendish
é creditado como o seu descobridor, pois, além de produzí-lo, ele o indentificou como um elemento químico. Boyle já é mais
conhecido pela lei que descreve a relação inversa entre a pressão e o volume de um gás isolado mantido a temperatura constante,
a lei de Boyle. Ele foi um dos pioneiros da química moderna e da utilização do método científico experimental. O seu livro The
29
Joseph Priestley (1733-1804), físico e químico britânico.
30
Charles Augustin de Coulomb (1736-1806), físico francês.
31
John Michell (1724-1793), físico e geólogo inglês.
32
Henry Cavendish (1731-1810), físico e químico britânico.
33
Luigi Galvani (1737-1798), médico e físico italiano.
34
Alessandro Volta (1745-1827), físico italiano.
35
James Watt (1736-1819), inventor, engenheiro e químico escocês.
36
Robert Boyle (1627-1691), químico e físico irlandês.
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Sceptical Chymist (1661) é tido como um marco para o nascimento da química. Uma segunda relação fora formulada na década de
1780 por Charles37 , mas mantida não publicada. A lei de Charles estabelece a proporcionalidade entre o volume e a temperatura
de um gás mantido a pressão constante. E, em 1802, Gay-Lussac38 formulou a terceira lei que estabelece que a pressão de um gás
aumenta linearmente com a temperatura, para o gás mantido a volume constante, a lei de Gay-Lussac. Ele também publicou a lei
de Charles, entretanto, deu o devido crédito a Charles.
(a) (b)
Figura 5: (a) hipótese atômica de Dalton (1803); (b) a eletrólise de Faraday (1834).
O terreno começava a ser preparado para a retomada da hipótese atômica, desta vez, com embasamento científico e
experimental. Em 1803, Dalton39 , após conduzir diversos experimentos com gases, formulou a lei da composição constante:
“dois elementos que formam uma série de componentes combinam-se em razões de pequenos números inteiros”. Isto só é
possível se as substâncias químicas forem constituídas por elementos de unidades indivisíveis, os átomos, que combinam-se
formando substâncias complexas, as moléculas, e que recombinam-se em reações químicas. Em 1808, Gay-Lussac estabeleceu
que o volume total dos gases numa reação deve ser conservado e que os volumes parcais dos reagentes e do produto também
são representados em razões de pequenos números inteiros. Em 1811, Avogadro40 hipotetizou que duas amostras de gases
nas mesmas condições de temperatura, pressão e volume contêm a mesmo número de moléculas, posteriormente chamado de
número de Avogadro. Avogadro não dispunha de formas de determinar esta quantidade na época, mas a simples hipótese da
existência do número corroborou a hipótese atômica, já que nele estão contidas informações sobre a granularidade das massas
atômicas. Em 1834, Michael Faraday41 , após medir cuidadosamente a massa coletada e a corrente elétrica passando através de
soluções eletrolíticas, descobriu a lei da eletrólise, que estabelece uma proporcionalidade entre o equivalente químico (razão
entre a massa medida e a massa molar do elemento) e o equivalente eletroquímico (razão entre a carga medida e a valência
do elemento). A proporcionalidade se dá através da constante de Faraday, cujo valor permite estimar a razão entre a carga
elétrica e a massa dos íons depositados nos terminais, isto é, a razão carga-massa do elemento em questão. O maior valor obtido
para a razão carga-massa foi para o íon hidrogênio, o mais leve dos elementos: q/m = 9, 578 × 107 C/kg. Hoje sabemos que
37
Jaques Alexandre César Charles (1746-1823), físico, químico, matemático e inventor francês.
38
Joseph Louis Gay-Lussac (1778-1850), físico e químico francês.
39
John Dalton (1766-1844), físico, químico e meteorolgista inglês.
40
Lorenzo Romano Amedeo Carlo Avogadro (1776-1856) cientista italiano.
41
Michael Faraday (1791-1867), físico e químico britânico.
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a constante de Faraday é um produto de duas outras constantes fundamentais: F = e · N0 , onde e é a carga elementar e N0
o número de Avogadro. Mas foi somente em 1865 que chegou-se a uma primeira estimativa de uma quantidade relacionada à
grandeza molecular: o número de Loschmidt. Utilizando-se de argumentos da teoria cinética dos gases, Josef Loschmidt42
relacionou o livre caminho médio das moléculas do ar com seus diâmetros, equacionando-os com o coeficiente de condensação
(a razão entre os volumes das fases gasosa para a líquida do ar, que poderia ser obtida experimentalmente) e determinou o número
de moléculas por unidade de volume de uma amostra de ar em condições normais de temperatura e pressão. As estimativas de
Loschmidt levaram-no a um valor uma ordem de grandeza menor para este número que o aceito atualmente. Apesar disso, ele
conseguiu chegar a uma razoável estimativa para o diâmetro molecular, em cerca de 1 nanômetro.
O século XIX foi a época da consolidação do eletromagnetismo. Em 1803, com a observação das franjas de interferência
no experimento da dupla fenda de Young43 , a teoria ondulatória da luz foi evidenciada. A lei de Coulomb foi reescrita, em
1813, no formalismo do cálculo vetorial pelo matemático alemão Gauss44 , adquirindo a forma em que é conhecida como lei
de Gauss. Durante uma aula, em 1820, Örsted45 notou que a agulha de uma bússola deflete-se na proximidade de um fio com
corrente elétrica, demonstrando que fenômenos elétricos e magnéticos são correlacionados. Em 1823, foi descoberta a lei circuital
de Ampère46 , que relaciona o campo magnético produzido em torno de um fio à corrente elétrica que passa por ele. Em 1831,
Faraday demonstrou experimentalmente a lei da indução eletromagnética, que relaciona a força eletromotriz gerada num circuito
elétrico com a variação de fluxo magnético. Após fazer uma correção na lei de circuital de Ampère para incluir variações temporais
do campo elétrico e torná-la compatível com a equação da continuidade, Maxwell47 publicou, em 1865, o conjunto de leis do
eletromagnetismo na forma das equações de Maxwell; quando manipuladas, as equações de Maxwell preveem a existência de
ondas eletromagnéticas com velocidades iguais às medidas para a luz na época. Maxwell imediatamente concluiu que a luz é
uma forma de onda eletromagnética. A demonstração experimental da existência de ondas eletromagnéticas deu-se em 1887, após
Hertz48 produzir um aparelho transmissor e receptor de ondas de rádio, provando que elas viajam à velocidade da luz, além de
possuírem as propriedades de reflexão e refração.
Mais evidências para serem comprovadas a existência de átomos e moléculas foram obtidas com os estudos dos espectros
atômicos. Em 1814, Fraunhofer49 inventou o espectrógrafo, um prisma associado a um telescópio, com o qual ele pôde observar
linhas de absorção (escuras) no espectro da luz de estrelas. Ele identificou diversas linhas de absorção no espectro do Sol (as
574 linhas de Fraunhofer) e no de Sírius. Em 1849, Léon Foucault50 concluiu que uma substância que emite radiação em
42
Johann Josef Loschmidt (1821-1895), físico e químico austríaco.
43
Thomas Young (1773-1829), físico e fisiologista inglês.
44
Johann Carl Friedrich Gauss (1777-1855), matemático e físico alemão.
45
Hans Christian Örsted (1777-1851), físico e químico dinamarquês.
46
André-Marie Ampère (1775-1836), matemático e físico francês.
47
James Clerk Maxwell (1831-1879), físico escocês.
48
Heinrich Rudolf Hertz (1857-1894), físico alemão.
49
Joseph Ritter von Fraunhofer (1787-1826), físico e óptico alemão.
50
Jean Bernard Léon Foucault (1819-1868), físico e astrônomo francês.
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determinadas frequências também absorve nas mesmas frequências. Em 1860, Kirchhoff51 e Bunsen52 demonstraram que as
linhas de emissão de gases monoatômicos aquecidos, quando observadas num espectrógrafo, apresentam padrões específicos de
linhas, provendo assim uma assinatura experimental para cada elemento químico. Dessa forma, é possível inferir-se a composição
química das estrelas.
(a) (b)
Figura 7: (a) o experimento de Kirchoff e Bunsen; (b) espectros de emissão e de absorção de elementos.
Durante uma conferência da Sociedade Química de Londres, em 1881, Helmholtz53 propôs que se as substâncias são composta
por átomos, então a eletricidade também deveria ser composta por “átomos de eletricidade”. Posteriormente, esta mesma ideia
foi utilizada por Stoney54 para dar uma explicação simples para a lei da eletrólise de Faraday, numa publicação de 1894 em
que chama o átomo de eletricidade de elétron, transliterando a palavra grega para âmbar, elektron. Todavia a natureza e as
características desta partícula eram muito incertas. Os progressos obtidos depois vieram com experimentos de descargas elétricas
através de tubos com gases rarefeitos, sendo Crookes55 um dos pioneiros nestes estudos. O tubo de Crookes, ou tubo de raios
catódicos, foi aperfeiçoado no ano de 1875, tão logo ele notou que ao abaixar a pressão do gás no interior do tubo, raios eram
emitidos a partir do terminal negativo, ou seja, do cátodo. Vários estudos sobre as propriedades dos raios catódicos foram feitos
subsequentemente. Foi demonstrado que eles propagam-se em linha reta, exceto quando estão sob a ação de um campo magnético,
e que causam calor e fosforescência nos objetos sobre os quais incidem. Mas Crookes acreditava que os raios catódicos seriam
formados pelo próprio gás residual no interior do tubo, ionizado e repelido pelo cátodo. Entretanto, descobertas posteriores viriam
a contradizê-lo.
Vimos que Hertz, em 1887, construiu um aparato para a emissão de ondas eletromagnéticas, formado por dois eletrodos que,
quando submetidos a uma diferença de potencial, produziam faíscas. Para melhor observá-las, ele cobriu e levou o seu aparato para
o escuro, tendo notado que as faíscas diminuíam de tamanho. Ao instalar uma janela de vidro, observou que as faíscas diminuíam
ainda mais, mas isto não ocorria com uma janela de quartzo. Assim, Hertz concluiu que a luz ultravioleta favorecia a emissão
das faíscas, uma vez que o quartzo não absorve no ultravioleta. O fenômeno ficou conhecido como efeito fotoelétrico. Seu aluno
Lenard56 realizou, em 1894, melhorias nos tubos de Crookes, instalando janelas metálicas por onde os raios eram direcionados,
as janelas de Lenard, e conduziu, nos anos seguintes, um estudo sistemático dos raios catódicos e do efeito fotoelétrico. Uma
vez que os raios eram capazes de penetrar uma folha metálica, Lenard concluiu que não poderiam ser as moléculas do gás, como
supunha Crookes. Ele verificou ainda que os raios catódicos eram espalhados ao atravessarem uma camada de ar em condições
normais, sugerindo que deveriam ser compostos por partículas menores que as moléculas do ar. Lenard descobriu que havia uma
frequência de corte no efeito fotoelétrico, isto é, um limiar de frequências da luz incidente, abaixo do qual, o efeito não ocorre.
51
Gustav Robert Kirchhoff (1824-1887), físico e químico alemão.
52
Robert Wilhelm Eberhard von Bunsen (1811-1899), químico alemão.
53
Hermann von Helmholtz (1821-1894), físico e fisiologista alemão.
54
George Johnstone Stoney (1826-1911), físico irlandês.
55
William Crookes (1832-1919), físico e químico britânico.
56
Phillipp Lenard (1862-1947), físico húngaro e alemão.
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Este último resultado pôs em cheque a visão de que os raios catódicos seriam ondas eletromagnéticas, pois, de acordo com a teoria
ondulatória, a energia do feixe incidente aumenta com sua intensidade que, por sua vez, é proporcional ao quadrado da amplitude
da onda, portanto, não há relação ou razão física para a existir um corte na frequência, de acordo com a visão clássica.
No sul da Alemanha, em 1895, enquanto usava, no laboratório escuro, um tubo de raios catódicos, Röntgen57 notou que
uma placa de platinocianeto de bário emitia uma luminescência verde e que esta cessava quando o tubo era desligado. Os raios,
evidentemente, atravessavam as paredes de vidro do tubo e o ar, não podendo ser moléculas do gás. Além disso, não eram defletidos
por campos elétricos ou magnéticos. Röntgen concluiu que os enigmáticos raios eram ondas eletromagnéticas de comprimentos
de onda muito curtos e chamou-os de “raios-X”. Posteriormente, Röntgen percebeu que, ao direcionar os raios-X para uma chapa
fotográfica e pôr a mão no seu caminho, eles atravessavam a carne e não atravessavam os ossos, produzindo uma radiografia do
esqueleto. A descoberta causou um enorme impacto na imprensa da época o que trouxe grande notoriedade a Röntgen. Devido
à sua descoberta, Röntgen foi laureado com o primeiro prêmio Nobel de Física da história, em 1901. Ele doou o prêmio para
a Universidade de Würzburg, onde trabalhava, e não quis patentear a sua descoberta, pois desejava que toda a sociedade se
beneficiasse com ela. Röntgen morreu, em 1923, de câncer no intestino, muito provavelmente, causado pelas excessivas doses de
radiação que recebeu ao longo de sua vida.
(a) (b)
Ao investigar os traços produzidos em chapas fotográficas por radiações emitidas a partir de amostras contendo sais de urânio,
o físico francês Henri Becquerel58 notou que as emissões ocorriam de forma contínua e independente das amostras terem sido
expostas a uma fonte externa, como o Sol, por exemplo. Assim, em 1896, Becquerel chegou à acertada conclusão de que as
radiações eram provenientes do próprio urânio. Em 1901, ele descobriu que os materiais radioativos eram capazes de produzir
queimaduras na pele e que poderiam ser usados na medicina, dando origem ao ramo da radioterapia. Becquerel morreu aos
55 anos de idade de causa desconhecida, mas há relatos de ele que possuía graves queimaduras na pele. Após sua descoberta,
seguiram-se anos de intensas atividades de pesquisa no campo das radiações.
Enquanto isso, no Laboratório Cavendish da Universidade de Cambridge, o professor Thomson59 dedicava-se ao estudo dos
raios catódicos. Inicialmente, Thomson pôde medir a velocidade dos raios, cujo valor era cerca de 1600 vezes menor que a
velocidade da luz, resultado que o levou a abandonar a ideia de ondas eletromagnéticas e adotar o ponto de vista de que os
raios catódicos eram partículas. Ainda faltava medir as suas massa e a carga. Thomson montou, então, um arranjo de campos
elétricos e magnéticos no interior do tubo de Crookes, dispostos adequadamente de forma a cancelarem-se, e obteve a razão
q/m = 1, 759 × 1011 C/kg, ou seja, um valor 1836 vezes maior que o de Faraday para a mesma razão do íon hidrogênio. Como
estes cientistas estavam lidando, tanto na eletrólise de Faraday, quanto no experimento de Thomson, com as menores partículas
possíveis, em cada situação: o átomo de hidrogênio e o “átomo de eletricidade”, respectivamente; não havia motivos para a razão
57
Wilhelm Conrad Röntgen (1845-1923), físico alemão.
58
Antoine Henri Becquerel (1852-1908) físico francês.
59
Joseph John Thomson (1856-1940), físico inglês.
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q/m dos raios catódicos ser maior devido à carga, mas somente devido à massa de seus constituintes. Por outro lado, já sabia-se
que tais partículas eram bem menores que os átomos. Então, após verificar que os resultados eram os mesmos para todos os gases
usados, Thomson concluiu que deveria tratar-se de uma partícula universal e estabeleceu, em 1897, a existência do elétron. Seus
resultados o levaram a propor, em 1904, um novo modelo para o átomo, o modelo atômico de Thomson (em analogia a um
pudim de ameixas): os átomos eram formados por esferas de eletrificação positiva uniforme (o pudim) cravejadas por corpúsculos
eletrificados negativamente, os elétrons (as ameixas).
(a) (b)
Figura 9: (a) Marie e Pierre Curie; (b) Rutherford e seus alunos, Geiger e Marsden.
Na mesma época, deu-se início ao monumental trabalho do casal Marie60 e Pierre Curie61 na descoberta e preparação de novos
materiais radioativos. Em 1898, eles descobriram a radiação da plechblenda mineral e depois, em condições muito precárias no
laboratório da Escola de Física e Química de Paris, isolaram dela dois elementos com atividades muito maiores: um foi batizado
de “polônio”, em homenagem ao país natal de Marie, e o outro de “rádio”. A “radioatividade”, termo cunhado pelo casal Curie,
não era afetada pela série de reações químicas necessárias para suas sintetizações. De onde concluíram que a radioatividade é uma
propriedade intrínseca dos átomos de cada elemento. Marie Curie tornou-se a única cientista na história a receber dois prêmios
Nobel: um de física, em 1903, dividindo-o com seu marido Pierre e com Henri Becquerel, e um de química, em 1911.
Neste mesmo ano de 1898, um ex-aluno de Thomsom, Ernest Rutherford62 , mudou-se de Cambridge e foi trabalhar como
professor de física na Universidade McGuill, no Canadá, onde dedicou-se ao estudo das radiações. Inicialmente, ele descobriu
dois tipos de raios, chamando-os de “alfa” e “beta”. Posteriormente, em colaboração com o colega Frederick Soddy63 , concluiu
que não tratavam-se de raios, mas de partículas que defletiam-se em direções opostas quando submetidos a um campo magnético.
Em 1903, os dois publicaram um trabalho demonstrando que, juntamente com as emissões radioativas, os átomos de um elemento
desintegravam-se espontaneamente em outros elementos. Já em 1900, Paul Villard64 descobriu um terceiro tipo de radiação, esta
sim na forma de radição eletromagnética e ainda mais penetrante que os raios X, que chamou de “raios gama”. E em 1903
Rutherford publicou um outro artigo com medidas das deflexões eletromagnéticas e absorções sofridas por estes três tipos de
radiação, emitidas pelo rádio.
60
Marie Sklodowska Curie (1867-1934), física e química polonesa.
61
Pierre Curie (1859-1906), físico francês.
62
Ernest Rutherford (1871-1937), físico e químico neozelandês.
63
Frederick Soddy (1877-1956), físico e químico britânico.
64
Paul Ulrich Villard (1860-1934), físico e químico francês
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(a) (b)
Outra questão que intrigava os físicos da época dizia respeito à radiação térmica emitida por metais aquecidos, a radiação
térmica de corpo negro. Um corpo negro, por definição, é um sólido perfeitamente absorvedor, toda a radiação que incide sobre
ele é absorvida e nenhuma é refletida, por isso, é dito um corpo negro. Suas emissões são provenientes apenas da agitação térmica
de seus átomos, por isso, radiação térmica. Por exemplo, à temperatura ambiente, o ferro emite quase toda a radiação térmica
no infravermelho, que não pode ser vista, mas quando fundido num forno siderúrgico o ferro adquire um brilho avermelhado.
Aumentando-se gradativamente a temperatura, ele passa a brilhar, sequencialmente, em cores alaranjadas, amareladas e branco-
azuladas. Acima de 700◦ C, todos os metais emitem radiação visível apresentando um brilho próprio. Em 1859, Kirchhoff formulou
a questão: “como a intensidade da radiação eletromagnética emitida por um corpo negro depende da frequência da radiação e
da temperatura do corpo?”. A primeira lei de distribuição foi deduzida por Wilhelm Wien65 , em 1896, que representava bem os
resultados experimentais em altas frequências, mas falhava em baixas frequências. Outra tentativa foi realizada pelo físico britânico
Lord Rayleigh66 que, no ano de 1900, derivou a partir de argumentos da física clássica a dependência da lei de distribuição com
λ−4 e, 5 anos depois, completou, em parceira com Sir James Jeans67 , a dedução obtendo a constante de proporcionalidade. A lei de
Rayleigh-Jeans, por sua vez, representava bem os resultados experimentais em baixas frequências, mas falhava miseravelmente em
altas frequências, prevendo uma intensidade infinita de radiação. Tal discrepância ficou conhecida como a catástrofe do ultavioleta,
já que para pequenos comprimentos de onda (ou altas frequências) a emissão de energia divergiria de acordo com a fórmula. Em
1900, o professor Max Planck68 apresentou a tese de que a radiação térmica de corpo negro não é emitida num fluxo contínuo,
mas em pequenos pacotes discretos, denominados quanta de energia. Com a hipótese dos quanta, Planck foi capaz de produzir
uma fórmula para a lei de distribuição que ajustava-se perfeitamente aos dados experimentais, tanto em baixas quanto em altas
frequências. Além de particionar o espectro de energias em quanta, Planck propôs que a energia de cada quantum é proporcional
à frequência da radiação eletromagnética, de acordo com a fórmula: E = hf , onde h é a constante conhecida como constante de
Planck. O seu valor foi obtido experimentalmente em 1916 após os trabalhos de Millikan69 em suas investigações acerca do efeito
fotoelétrico, tendo obtido o valor de h = 6, 57 × 10−27 erg · s. Millikan teve como motivação inicial sua desconfiança com relação
à interpretação dada por Einstein70 para o efeito fotoelétrico. Einstein utilizou-se da fórmula de Planck para atribuir um caráter
corpuscular à radiação eletromagnética que, de acordo com sua interpretação, provoca colisões com os elétrons na superfície dos
65
Wilhelm Carl Werner Otto Fritz Franz Wien (1864-1928), físico alemão.
66
Barão Rayleigh III, John William Strutt (1842-1919), físico britânico.
67
James Hopwood Jeans (1877-1946), físico, astrônomo e matemático britânico.
68
Max Karl Ernst Ludwig Planck (1858-1947), físico alemão.
69
Robert Andrews Millikan (1868-1953), físico norteamericano
70
Albert Einstein (1879-1955), físico alemão.
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metais como se fossem as colisões entre bolas de bilhar, ou seja, as colisões entre partículas. Para Einstein, a energia dos elétrons
no efeito fotoelétrico é dada pela diferença entre a energia do quantum de radiação eletromagnética e a energia gasta para arrancar
o elétron da superfície, isto é: E = hf − W . No final, Millikan acabou confirmando tanto a hipótese quanto a equação de Einstein,
apresentando como resultado valores cada vez mais precisos para a constante de Planck. Ambos foram laureados com o prêmio
Nobel de Física por seus trabalhos com o efeito fotoelétrico: Einstein em 1921 e Millikan em 1923.
Em 1907, Rutherford retornou à Inglaterra para trabalhar na Universidade de Manchester. Ele recebeu a visita do físico alemão
Hans Geiger71 (famoso pelo desenvolvimento do detector Geiger) e o convidou para integrar sua equipe. Juntamente com Geiger,
Rutherford descobriu que as emissões de radiação alfa, independentemente da fonte utilizada, sempre continham o espectro de
linhas correspondente ao gás hélio e tinham a mesma massa atômica deste elemento. De fato, os raios alfa são núcleos de átomos
de hélio. Em 1908, Geiger construiu um tubo de vidro de cerca de dois metros e posicionou uma fonte de rádio (emissor de
partículas alfa) numa extremindade do tubo. Na outra extremidade, havia uma tela fosforescente com um microscópio acoplado
e no meio do tubo uma fenda de 0,9 mm de largura. Geiger evacuou o tubo e registrou uma fina imagem das partículas alfa na
tela. Posteriormente, ele deixou o ar entrar no tubo e mostrou que a imagem formada era mais difusa. Finalmente, Geiger evacuou
novamente o tubo e posicionou uma folha de ouro na fenda, mostrando que as partículas alfa chegavam também espalhadas.
Porém, com este aparato, Geiger conseguia medir pequenas deflexões, de apenas alguns graus. Rutherford estava interessado
em espalhamentos maiores, de ângulos até maiores que 90◦ . Rutherford, chamou o então estudante Ernest Marsden72 e propôs o
célebre experimento de bombardeamento de partículas alfa sobre uma fina folha de ouro. Ao redor da folha de ouro foi posicionada
uma fita de material cintilador acoplada a um microscópio que, desta vez, podia girar a diferentes ângulos de deflexão. Geiger e
Marsden realizaram o experimento no ano de 1909. Eles contararam um grande número de partículas na direção frontal e uma
fração delas espalhadas a ângulos consideravelmente grandes. Contudo, . 0,01% delas eram espalhadas a ângulos maiores que
90◦ , o que só é possível se a maior parte da massa atômica estiver concentrada numa região muito menor que o átomo. Rutherford
realizou os cálculos e, no ano de 1911, propôs o modelo nuclear do átomo, no qual o átomo tem dimensão de 10−10 m, mas a
maior parte de sua massa está concentrada num núcleo central com dimensão da ordem de 10−14 m. Os elétrons bem mais leves
e de carga negativa orbitam o núcleo massivo e de carga positiva. Este modelo por vezes é chamado de modelo planetário de
Rutherford, em analogia a um sistema de planetas orbitando sua estrela central. O modelo de Rutherford é o precursor de toda a
física nuclear.
71
Johannes Wilhelm Geiger (1882-1945), físico alemão.
72
Ernest Marsden (1889-1970), físico inglês.